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    REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 60(2): 233-239, abr. jun. 2007234

    Sobre a reviso da norma brasileira de projeto de estruturas de ao e estruturas mistas de ao e concreto...

    1. Introduo1.1 Breve histrico

    A primeira norma brasileira que tra-tava do projeto e da execuo de estru-turas de ao de edifcios constitudas por

    perfis laminados e soldados tempera-tura ambiente foi a NB-14 (1958), quesofreu uma reviso em 1968. Essa normase baseava, principalmente, na norma ale-m DIN 4114 (1952) e utilizava o mtodode clculo das tenses admissveis, omais difundido na poca, e, com o pas-sar dos anos, foi ficando ultrapassada,conduzindo, em certos casos, a estrutu-ras inadequadas.

    A partir dos anos 70, a falta de umanorma brasileira atualizada forava o uso

    de normas e especificaes estrangei-ras. Tal fato prejudicava a difuso e odesenvolvimento das estruturas de aono pas, pois dificultava uma padroniza-o do ensino oferecido nas escolas tc-nicas e superiores, impedia que profissi-onais de regies distintas do Brasil, oumesmo de empresas distintas, pudessemusar as mesmas referncias e desestimu-lava a pesquisa cientfica e tecnolgicae a produo de textos e artigos tcni-cos. Adicionalmente, no eram devida-mente contempladas as particularidades

    da construo metlica nacional.

    No incio dos anos 80, especia-listas comearam a trabalhar na pro-duo de uma nova norma brasileirapara estruturas de ao de edifcios.Como resultado, foi editada a normaABNT NBR 8800:1986, trazendo um im-portante avano na questo da seguran-a estrutural, ao substituir o mtodo dastenses admissveis pelo mtodo dosestados-limites, ou seja, trocava-se ummtodo de clculo antigo, de base deter-

    minstica, que se encontrava em desusoem grande parte do mundo, por outromais moderno, de base probabilstica. AABNT NBR 8800:1986 inclua, ainda,como grande novidade, prescries parao projeto vigas mistas de ao e concre-to, que comeavam a ser cada vez maisutilizadas no Brasil.

    Com exceo das curvas mltiplasde flambagem, que seguiram o modelo

    proposto na Europa pelo ECCS (1976), edos anexos relacionados a valores dedeformaes, a vibraes em pisos, considerao do efeito p-delta, flam-bagem de barras axialmente comprimidaspor flexo-toro e a aberturas em almas

    de vigas, que seguiram a norma cana-dense CAN/CSA-S16.1 (1984), a ABNTNBR 8800:1986 baseou-se nas recomen-daes de uma verso preliminar da es-pecificao americana do AISC-LRFD(1986).

    Por volta de 1995, surgiu a necessi-dade de se ter, no Brasil, uma norma deprojeto de estruturas de ao de edifciosem situao de incndio, um assuntopraticamente desconhecido no pas. Al-gumas universidades, como a UFMG, a

    USP e a UFOP, comearam a desenvol-ver estudos e pesquisas sobre o assun-to, a partir dos quais tornou-se possvela edio da norma brasileira que trata daquesto, a ABNT NBR 14323:1999. Essanorma, no entanto, inclui, tambm, ele-mentos estruturais mistos de ao e con-creto, quais sejam, vigas mistas, pilaresmistos e lajes mistas, e, no caso dos doisltimos, tambm as prescries para oprojeto temperatura ambiente (isso,embora parea estranho, foi feito porqueno existia norma brasileira que tratasse

    de pilares mistos e lajes mistas tempe-ratura ambiente, etapa inicial do projetoem situao de incndio).

    Em maio de 2001, um grupo de es-pecialistas das reas de estruturas de aoe estruturas mistas, formado por profes-sores e pesquisadores de importantesuniversidades, representantes de rgosde classe e da ABNT e engenheiros es-pecializados, com apoio do IBS (Institu-to Brasileiro de Siderurgia), sob coorde-nao do autor deste artigo e subcoor-

    denao do professor Glson Queiroz, co-meou a produzir um texto-base de revi-so da norma ABNT NBR 8800:1986.Novos processos e produtos haviamsurgido no mercado, novos conhecimen-tos tcnicos e cientficos estavam dis-ponveis, inclusive produzidos por cen-tros de pesquisas brasileiros, e novasnormas e especificaes de reconheci-mento internacional foram editadas.Logo de incio se constatou que a ABNT

    NBR 8800:1986 se encontrava to obso-leta que o processo de reviso, na ver-dade, teria de ser transformado na ela-borao de uma nova norma.

    Em junho de 2003, foi concludo,disponibilizado aos interessados via in-ternet e encaminhado ABNT para osprocedimentos formais de discusso eaprovao o primeiro texto-base de revi-so da ABNT NBR 8800:1986. Formou-se a Comisso de Estudos CE-02:125.03,tendo sido eleito coordenador o Prof.Julio Fruchtengarten e nomeado secre-trio o autor do presente artigo. Trs reu-nies dessa Comisso foram realizadasem So Paulo, no Instituto de Engenha-ria, nos meses de novembro de 2003, fe-vereiro e abril de 2004, quando puderam

    ser percebidas as expectativas dos inte-grantes com relao ao contedo que anorma deveria ter. Assim, decidiu-se ela-borar um novo texto-base para o prosse-guimento das discusses.

    O novo texto-base foi divulgadopela internet em dezembro de 2005. Re-solveu-se pedir comunidade interes-sada que se manifestasse sobre o mes-mo, de preferncia por escrito. Muitassugestes de melhoria foram encaminha-das, a grande maioria acatada pela coor-denao dos trabalhos de reviso danorma. Em abril de 2006, foi divulgadapela internet uma nova verso do texto-base, incorporando as citadas sugestese, mais uma vez, solicitou-se aos interes-sados que se posicionassem. Adicional-mente, palestras e discusses foram fei-tas em entidades representativas da reade engenharia, como o Instituto de En-genharia de So Paulo, o Clube de Enge-nharia do Rio de Janeiro e a ABECE, As-sociao Brasileira de Engenharia e Con-sultoria Estrutural, sediada em So Pau-

    lo. De novo, dezenas de comentrioschagaram coordenao dos trabalhos,os quais foram devidamente avaliadose, muitas vezes, incorporados ao texto-base. Finalmente, foi produzido e divul-gado pela internet um ltimo texto-base,verso de setembro de 2006, que, acredi-ta-se, dever ser aprovado em futurasreunies da Comisso de Estudos daABNT e submetido consulta pblicasem alteraes substanciais.

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    Ricardo Hallal Fakury

    1.2 Sobre o presente trabalho

    Esse artigo procura apresen-tar as bases util izadas na produ-o dos textos-base de reviso daAB NT NBR 8800:1986, as diretrizes

    fundamentais seguidas e as principaismudanas ocorridas em relao nor-ma em vigncia, datada de 1986. Pro-cura, tambm, destacar a importnciade se ter uma norma atualizada para oavano consistente da construometlica no Brasil. Por simplicidade,todas as citaes aos textos-base dereviso esto relacionadas s prescri-es do ltimo texto-base divulgado,ou seja, o de setembro de 2006, queser tratado nesse trabalho de PRNBR 8800:2006, onde a sigla inicial PR

    significa Projeto de Reviso.

    2. Compatibilidadecom outras NormasBrasileiras

    P r o c u r o u - s e , s e m p r e q u epossvel, manter a compatibilida-de do PR NBR 8800:2006 com todasas normas brasileiras correlacionadas.Esse procedimento abrange desde ossmbolos grficos utilizados para re-

    presentar as diversas grandezas, queobedecem ABNT NBR 7808:1983, atos critrios de segurana adotados,que seguem fielmente a norma ABNTNBR 8681:2003. Assim, por exemplo,os coeficientes de ponderao da re-sistncia, ao invs de terem valoresinferiores ou iguais a 1,0 e apareceremnas expresses dos esforos resisten-tes de clculo no numerador (multipli-cando os esforos nominais), como naABNT NBR 8800:1986, agora situam-se no denominador das expresses eso, evidentemente, superiores ouiguais a 1,0. Tambm segue fielmentea ABNT NBR 8681:2003 toda a parterelacionada a aes e suas combina-es. No caso das estruturas mistasde ao e concreto, as referncias a esteltimo material so direcionadas ABNT NBR 6118:2003, com exceo doconcreto de baixa densidade, que no previsto pela mesma.

    3. Formato e filosofiaO PR NBR 8800:2006 constitudo

    por um corpo principal e um nmeromuito grande de anexos, a rigor dezoito

    normativos, portanto de uso obrigat-rio, e um informativo. Na verdade, esseformato j adotado pela ABNT NBR8800:1986 e simplesmente foi mantido,considerando que: (a) os usurios j es-to habituados ao mesmo, e; (b) apre-senta a vantagem de permitir que sejamcompartimentadas, em uma mesma parteda norma, todas as regras relacionadas aum determinado assunto.

    Procurou-se, na medida do poss-vel, produzir uma norma aberta, no res-

    tritiva, permitindo que os projetistasusem os seus melhores conhecimentostcnicos para que as estruturas de ao emistas sejam exploradas em todas assuas potencialidades. Por exemplo, hautorizao explcita para que, nas situa-es no cobertas pela norma, o proje-tista empregue um procedimento aceitopela comunidade tcnico-cientfica,acompanhado de estudos para manter onvel de segurana previsto. Nas situa-es cobertas de maneira simplificada, oprojetista poder usar um procedimento

    mais preciso.

    4. Principais mudanasem relao ABNTNBR 8800:19864.1 Contedo

    Em termos de contedo, merecem,inicialmente, destaque duas mudanasmarcantes. A primeira a eliminao noPR NBR 8800:2006 da parte relacionada execuo de estruturas (atual anexo Pda ABNT NBR 8800:1986). Considerou-se que esse assunto, presentemente, bastante amplo e deve constituir umanorma prpria. Dessa forma, a futuraABNT NBR 8800 passar a ser uma nor-ma exclusivamente de projeto de estru-turas. Tal procedimento j seguido pe-las normas de concreto, onde a ABNTNBR 6118:2003 trata de projeto e a ABNT

    NBR 14931:2004 trata de execuo. A se-gunda a incluso dos elementos estru-turais mistos de ao e concreto que noconstavam da norma de 1986, caso depilares e lajes, e, ainda, de ligaes mis-tas. Com isso, a futura ABNT NBR 8800

    pode ser considerada, de fato, uma nor-ma de estruturas de ao e mistas. Essasduas mudanas se refletiram, diretamen-te, no seu prprio ttulo, que passa a serProjeto de Estruturas de Ao e Mistas

    de Ao e Concreto de Edifcios (a pala-vra Execuo foi eliminada e acrescen-tada a referncia s estruturas mistas).

    Uma outra mudana importante o acrscimo de um anexo relacionado durabilidade das estruturas de ao,que o nico anexo informativo do

    PR NBR 8800:2006. Esse anexo trata daquesto da proteo do ao frente cor-roso atmosfrica, no apenas para ga-rantir sua durabilidade, mas, tambm, porrazes estticas.

    Outras mudanas so a incluso deum anexo com os requisitos para dimen-sionamento de barras de ao de seovarivel em formas de I, H ou caixo, ten-do em vista o uso crescente das mes-mas, e a eliminao do anexo relaciona-do determinao da fora cortante re-sistente levando em conta o efeito docampo de trao (atual anexo G da ABNTNBR 8800:1986), pelo fato de esse pro-cedimento encontrar-se em desuso nasvigas de edifcios.

    4.2 Anlise e estabilidadeestrutural

    Uma mudana importante diz res-peito ao procedimento para anlise es-trutural. Optou-se por utilizar as prescri-es da norma americana ANSI/AISC360-05, com inseres adicionais parafacilitar o entendimento e algumas sim-plificaes para tornar a anlise mais ex-pedita. Em linhas gerais, a anlise estru-tural deve ser feita em teoria de segundaordem, em regime elstico, levando-seem conta as influncias das imperfeiesiniciais geomtricas e de material. for-necido um mtodo simplificado para aanlise de segunda ordem, chamado de

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    Mtodo da Amplificao dos Esforos

    Solicitantes, que conduz a resultadosconsiderados bons na prtica. As imper-feies geomtricas iniciais podem serconsideradas assumindo para a estrutu-ra um desaprumo especificado ou subs-

    tituindo esse desaprumo por foras ho-rizontais equivalentes, chamadas de for-as nocionais. As imperfeies de mate-rial so consideradas reduzindo-se a ri-gidez axial e a rigidez flexo das barras.

    A intensidade da considerao dasimperfeies iniciais geomtricas e dematerial depende da sensibilidade daestrutura a deslocamentos laterais. Se,em todos os andares, a relao entre odeslocamento lateral obtido na anlisede segunda ordem e o obtido na anlise

    de primeira ordem for igual ou inferior a1,1, a estrutura classificada como depequena deslocabilidade, se a relao forsuperior a 1,1 e igual ou inferior a 1,5, demdia deslocabilidade e, se a relaosuperar 1,5, de grande deslocabilidade.Nas estruturas de pequena deslocabili-dade, pode-se dispensar a consideraodas imperfeies iniciais de material. Nasestruturas de pequena e mdia desloca-bilidades, as imperfeies geomtricasno precisam ser consideradas em con-junto com o vento. Nessas ltimas es-

    truturas, no entanto, permite-se que sejafeita anlise de primeira ordem, desdeque as foras axiais de compresso nasbarras no superem certos limites e quesejam aplicadas foras nocionais de va-lores mais elevados.

    Com a anlise estrutural sendo fei-ta em segunda ordem, ou mesmo em pri-meira ordem caso isso seja permitido, ocoeficiente de flambagem das barrascomprimidas pode ser tomado igual a1,00 no dimensionamento. Isso facilita,

    enormemente, o clculo estrutural, poisevita que o projetista tenha de fazer es-tudos complexos e de resultados, s ve-zes, pouco precisos para obteno docitado coeficiente.

    No PR NBR 8800:2006 foram inclu-das exigncias de resistncia e rigidezque as contenes (escoras) devem pos-suir para que o comprimento destravadode pilares e vigas possa ser tomado igual

    distncia entre os pontos nos quaisessas contenes estejam presentes, demaneira similar ANSI/AISC 360-05. Isso muito importante para um projeto es-trutural mais consciente, pois evita anecessidade de avaliaes subjetivas

    como as que, normalmente, so feitaspara se saber se determinada conteno ou no efetiva.

    4.3 Dimensionamento debarras de ao

    No dimensionamento de barras axi-almente tracionadas, a nica alterao dizrespeito ao coeficiente de reduo darea lquida de sees abertas, C

    t, no

    estado limite ltimo de ruptura da seo

    lquida. Ao invs de se usarem valoresfixos de 0,90, 0,85 ou 0,75, de precisodiscutvel, como na ABNT NBR 8800:1986,esse coeficiente no PR NBR 8800:2006 fornecido por uma expresso igual daANSI/AISC 360-05, que leva em conta oefeito favorvel do comprimento da liga-o e o efeito desfavorvel da excentri-cidade da ligao. Essa expresso em-prica e fornece resultados com desviosmximos da ordem de 10% em relaoaos ensaios at ento realizados. Umaoutra vantagem da mesma a possibili-dade de seu emprego ruptura da seolquida de sees fechadas, como as tu-bulares retangulares, quando a fora detrao for transmitida por meio de umachapa de ligao concntrica ou por cha-pas de ligao em dois lados opostos daseo, e as tubulares circulares, quandoa fora de trao for transmitida por meiode uma chapa de ligao concntrica.

    Nas barras axialmente comprimidas,no existem grandes alteraes. As maissignificativas so as mudanas na curva

    de resistncia compresso de algumassees transversais. o caso das canto-neiras laminadas, que passam da curvacpara a curva b, em decorrncia de pes-quisas recentes, seguindo o EN 1993-1-1:2005. , tambm, o caso dos perfis I ouH soldados, fabricados por deposiode metal de solda e com chapas cortadasa maarico, comuns na construo me-tlica nacional, que, dependendo do eixo

    de instabilidade e das dimenses dasmesas, passam da curva c ou dpara cur-va b. Tal mudana justificada por es-ses perfis apresentarem tenso residualde trao nas bordas das mesas, o queos torna mais resistentes instabilidade

    por flexo, o que foi comprovado em pes-quisas feitas no Brasil. Observa-se quea permisso para uso dessas curvas maisfavorveis para os perfis soldados noconsta do EN 1993-1-1:2005, que serviude referncia para o PR NBR 8800:2006.

    Nas barras fletidas, a maior novida-de a adoo do mesmo fator de mo-mento equivalente, C

    b, instrumento im-

    portante no clculo de determinadas vi-gas flambagem lateral com toro, indi-cado pela ANSI/AISC 360-05, mais pre-

    ciso e abrangente que o existente naABNT NBR 8800:1986. Por ser mais pre-ciso, torna possvel obter vigas com se-o transversal mais leve, especialmen-te aquelas com cargas transversais atu-antes ao longo dos comprimentos des-travados e com grandes comprimentosdestravados. A maior abrangncia impli-ca a possibilidade de se tratarem situa-es anteriormente no previstas na nor-ma, como a de vigas com uma das mesaslivre para se deslocar lateralmente sub-metida tenso normal de compressoem algum trecho de seu comprimento e aoutra mesa com conteno lateral cont-nua contra esse tipo de deslocamento.Um exemplo dessa situao, muito co-mum na prtica, ocorre nos prticos rgi-dos em que as vigas de ao so sobre-postas por laje de concreto solidarizada mesa superior (a mesa superior fica comdeslocamento impedido e a inferior apre-senta compresso nos trechos junto sligaes com os pilares).

    Outra mudana importante nas bar-ras fletidas foi um ajustamento geral dasequaes que fornecem os momentosresistentes e as foras cortantes resis-tentes, seguindo em grande parte asprescries da ANSI/AISC 360-05. Nocaso do momento resistente, as equa-es referentes ao estado limite de flam-bagem lateral com toro se aplicam acargas aplicadas na semi-altura da se-o transversal, mesmo nas sees mo-

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    nossimtricas, o que fica mais prximodo que ocorre na prtica. Embora a ANSI/AISC 360-05 apresente uma formulaoque incorpora o estado limite de flamba-gem local da alma na flambagem lateralcom toro, optou-se, no PR NBR 8800:2006,

    por manter esses dois estados-limitesseparados para efeito de dimensiona-mento, preservando uma forma de trata-mento familiar aos profissionais brasilei-ros e facilitando o entendimento dos fe-nmenos de flambagem. Uma outra dife-rena entre a ANSI/AISC 360-05 e o PRNBR 8800:2006 que o primeiro utilizaum valor nico de tenso residual decompresso nas mesas de perfis I, iguala 30% da resistncia ao escoamento doao, enquanto o segundo procura con-templar melhor a realidade brasileira,

    assumindo um valor de 70 MPa nosperfis laminados e perfis soldados fabri-cados por deposio de metal de soldacom chapas cortadas a maarico e iguala 115 MPa nos demais perfis soldados, oque permite chegar, em alguns casos, aum momento resistente um pouco supe-rior.

    Para as barras submetidas combi-nao de esforos solicitantes, no casocomum da atuao conjunta de fora axi-al e momentos fletores em relao aos

    eixos centrais de inrcia, o modo de di-mensionamento previsto pela ABNTNBR 8888:1986 foi, significativamente, al-terado no PR NBR 8800:2006. Pela normade 1986, deveriam ser atendidas duasexpresses de interao relacionando osesforos solicitantes e resistentes declculo, uma ligada ao colapso por esco-amento da seo transversal e outra aocolapso por instabilidade. O projeto dereviso adota o mesmo procedimento daANSI/AISC 360-05, que resume a verifi-cao ao atendimento de uma nica ex-

    presso de interao e que consegue re-presentar adequadamente a curva de re-sistncia das barras, considerando apossibilidade de runa por escoamentoou instabilidade. Na verdade, apenasuma expresso de interao utilizada,mas esta deve ser escolhida entre duas,em funo do valor da relao entre afora axial solicitante de clculo e a foraaxial resistente de clculo. Adicionalmen-

    te, o PR NBR 8800:2006 apresenta, comonovidade, prescries para o dimensio-namento de barras de seo fechadaquando um dos esforos solicitantes omomento de toro, tambm seguindo oANSI/AISC 360-05. Trata-se, sem dvi-

    da, de um avano que vem solucionarum problema muitas vezes enfrentadopelos projetistas, que tinham grandesdificuldades para efetuar o dimensiona-mento, quando atuava sobre a barra ummomento de toro.

    4.4 Dimensionamento deligaes metlicas

    No dimensionamento de ligaesmetlicas, foi feita uma atualizao ge-

    neralizada dos procedimentos, seguin-do as prescries da ANSI/AISC 360-05.Chama-se a ateno para a permisso,no existente na ABNT NBR 8800:1986,para o uso de parafusos de alta resistn-cia sem protenso inicial, em algumassituaes.

    Merecem, tambm, ser menciona-das as novas prescries para conside-rao do efeito de alavanca, na determi-nao da fora de trao de clculo emparafusos e barras redondas rosquea-

    das, produzido pelas deformaes daspartes ligadas. Trata-se de prescriessimplificadas, de uso bastante simples,que substituem, com bons resultados,verificaes complexas e de uso compli-cado na prtica.

    4.5 Dimensionamento deelementos estruturais mistos

    Conforme j foi exposto, o PR NBR8800:2006 trata de pilares mistos, vigas

    mistas, incluindo o controle de fissurasdo concreto nessas vigas, lajes mistas eligaes mistas de ao e concreto.

    O PR NBR 8800:2006 fornece pres-cries para pilares mistos submetidos fora axial e a momentos fletores, comsees transversais totalmente revesti-das com concreto (perfis I ou H com-pletamente envoltos por concreto), par-cialmente revestidas com concreto (per-

    fis I ou H com concreto entre as facesinternas das mesas), tubulares retan-gulares preenchidas com concreto ecirculares preenchidas com concreto.Essas quatro sees so previstastambm pelo EN 1994-1-1:2004, mas a

    ANSI/AISC 360-05 no trata das seesparcialmente revestidas com concreto,justamente as mais utilizadas no Brasil.Para a verificao dos efeitos da foraaxial de compresso e dos momentos fle-tores, so oferecidos dois modelos declculo, um mais simples, baseado naANSI/AISC 360-05 e outro mais rigoro-so, baseado no EN 1994-1-1:2004. O mo-delo mais simples, denominado Modelode Clculo I, utiliza as mesmas expres-ses de interao entre esforos solici-tantes desenvolvidas para os pilares

    puramente de ao. O modelo mais rigo-roso, Modelo de Clculo II, baseia-sena obteno do diagrama de interaodos esforos solicitantes considerandouma distribuio plstica das tenses,com as imperfeies ao longo do pilartratadas como excentricidades proporci-onais ao comprimento destravado dapea. Embora oModelo de Clculo Isejamais fcil de usar, fornece resultadosconservadores nos pilares com esbeltezbaixa e pequena contribuio do perfilde ao na capacidade resistente.

    Nas vigas mistas, destacam-se trsgrandes novidades, que, certamente,contribuiro para o uso cada vez maiordesses elementos estruturais em nossopas. A primeira so prescries para oemprego de trelias mistas biapoiadas,elemento estrutural com enorme poten-cial de uso, baseadas na norma cana-dense em vigor, CAN/CSA S16-01:2001.A segunda novidade a permisso paraemprego de conectores de cisalhamentoconstitudos por perfis C formados a frio,

    fundamentada em pesquisas realizadasno Brasil, uma vez que tal prtica noexiste nos pases europeus e da Amricado Norte. Curiosamente, esse tipo de co-nector j muito empregado, especial-mente em pequenas obras, mesmo sem onecessrio amparo normativo. E a ter-ceira novidade a introduo no PRNBR 8800:2006 de procedimentos quepermitem o uso de vigas mistas contnu-

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    as e semicontnuas, que apresentam emdiversas situaes a vantagem de levara perfis de ao mais leves. Esses proce-dimentos so baseados no EN 1994-1-1:2004 e incluem um processo para veri-ficao da flambagem lateral com distor-

    o, estado limite ltimo relacionado sregies de momentos negativos das vi-gas.

    O PR NBR 8800:2006 fornece regraspara o dimensionamento de lajes mistasde ao e concreto, apoiadas na direoperpendicular s nervuras, tendo porbase o EN 1994-1-1:2004. Embora o di-mensionamento desses elementos noseja simples, dependendo de parmetrosobtidos experimentalmente, sua inclusona norma tem o importante papel de di-

    fuso do uso e de servir de base paraindicar os parmetros que devem serobtidos nos ensaios. A realidade mostraque a prtica usual consiste em os pr-prios fabricantes encomendarem os en-saios e, com os parmetros relevantesobtidos, fazerem tabelas de uso prticoespecficas para seus produtos.

    4.6 Ligaes mistas

    De forma completamente indita noBrasil, o PR NBR 8800:2006 apresenta as

    prescries necessrias para o dimensi-onamento de ligaes mistas, que soligaes em que a laje de concreto parti-cipa da transmisso de momento fletorde uma viga mista para um pilar ou paraoutra viga mista no vo adjacente, emregio de momento negativo. So abor-dadas ligaes mistas com trs configu-raes predefinidas, pertencentes a vi-gas mistas semicontnuas que no parti-cipam do sistema de estabilidade lateralda edificao.

    4.7 Estados-limites de servio

    O PR NBR 8800:2006 trata dos se-guintes estados-limites de servio: des-locamentos excessivos, fadiga, vibraesinaceitveis em pisos, vibraes inacei-tveis devidas ao vento, fissuras inacei-tveis do concreto em vigas mistas.

    A forma de verificao dos limites

    aceitveis para os deslocamentos da es-trutura sofreu substancial mudana emrelao ABNT NBR 8800:1986. Emborao PR NBR 8800:2006 indique valores li-mites para os deslocamentos, cabe aoprojetista definir quais combinaes de

    servio devem ser usadas no clculo dosdeslocamentos (quase permanentes, fre-qentes ou raras), conforme o elementoestrutural considerado, as funes pre-vistas para a estrutura, as caractersti-cas dos materiais de acabamento vincu-lados mesma e a seqncia de constru-o. Trata-se de um procedimento ino-vador no Brasil, que segue a filosofia doEN 1993-1-1:2005. Os valores limites ta-belados se basearam nessa norma euro-pia e tambm na experincia brasileira.

    A avaliao da vibrao em pisos sempre um problema complexo, quedepende de anlise dinmica, devendo-se levar em conta fatores como as ca-ractersticas e a natureza das excitaesdinmicas, os critrios de aceitao paraconforto humano em funo do uso eocupao, a razo de amortecimentomodal e os pesos efetivos do piso. OPR NBR 8800:2006 fornece uma biblio-grafia referencial para uma avaliao con-siderada precisa da questo e regras deuso imediato para uma avaliao simpli-

    ficada nos casos de atividades humanasnormais, como o caminhar de pessoas emovimentos rtmicos de salto ou dana.

    Da mesma forma que a vibrao empisos, o movimento causado pelo ventoem estruturas de edifcios de andaresmltiplos ou outras estruturas similarespode gerar desconforto aos usurios. OPR NBR 8800:2006 fornece indicaespara uma avaliao mais rigorosa do pro-blema e providncias que devem ser to-madas na fase de projeto para sua mini-mizao.

    O estado limite de servio relacio-nado fissurao do concreto deve ser,obrigatoriamente, verificado nas regiesde momento negativo ou com tendnciade continuidade das vigas mistas, comopor exemplo, junto aos apoios de vigasbiapoiadas. Para esse estado limite, oPR NBR 8800:2006 tomou, como base, aABNT NBR 6118:2003.

    5. A importncia daNorma Brasileira

    Ao longo dos trabalhos de revisoda ABNT NBR 8800:1986, certos setores

    da comunidade de estruturas de ao che-garam a discutir a convenincia da ado-o, no Brasil, da norma americana ANSI/AISC 360-05, que poderia, inclusive, sertraduzida para a lngua portuguesa. Osdefensores da idia alegavam, at comcerta dose de lgica, que ficaramos li-vres da desgastante, demorada e onero-sa misso de fazer norma e estaramosinseridos em um cenrio internacional,ainda mais que, possivelmente, a ALCA,Associao de Livre Comrcio das Am-

    ricas, em breve poderia alcanar o Brasil,levando a uma inevitvel padronizaodas normas tcnicas no continente ame-ricano.

    Caso esse pensamento prevaleces-se, certamente a construo metlicabrasileira sofreria um baque, uma vez quea norma americana no atende, totalmen-te, s necessidades nacionais. Os se-guintes inconvenientes, entre outros, sefariam presentes:

    a) As particularidades do comporta-mento dos perfis I ou H soldados,fabricados por deposio de metal desolda e com chapas cortadas a maa-rico, largamente utilizados no Brasil,no seriam contempladas.

    b) No haveria regras referentes aosestados-limites de servio, tendo emvista que a ANSI/AISC 360-05 nocontm limitaes para deslocamen-tos e procedimentos, mesmo que sim-plificados, para avaliao de vibra-

    es em pisos devidas ao vento, e,tambm, regras para controle de fis-suras do concreto em vigas mistas. de se imaginar, por exemplo, a inten-sidade dos problemas que surgiriamquando houvesse alguma discussosobre qual seria a melhor limitaopara a flecha de determinada viga.

    c) No haveria possibilidade de uso deprocedimentos simplificados, exis-

  • 8/7/2019 Visao_sobre_NBR8800

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    239REM: R. Esc. Minas, Ouro Preto, 60(2): 233-239, abr. jun. 2007

    Ricardo Hallal Fakury

    tentes apenas no PR NBR 8800:2006,para tratar, de forma segura, situaescomplexas, como o efeito de alavan-ca na determinao da fora de tra-o de clculo em parafusos e barrasredondas rosqueadas.

    d) No haveria possibilidade de uso deconectores de cisalhamento consti-tudos por perfis U formados a frio.

    e) No haveria procedimentos para di-mensionamento de pilares mistosparcialmente revestidos com concre-to, de vigas mistas contnuas e semi-contnuas, de trelias mistas, de la-jes mistas e de ligaes mistas.

    f) No haveria um anexo relacionado durabilidade das estruturas, de gran-

    de importncia para orientao dosprofissionais no quesito referente corroso.

    Adicionalmente, as estruturas deao e mistas de ao e concreto no teri-am, no Brasil, uma norma compatvel comas demais normas brasileiras. No mais, aausncia de uma norma genuinamentenacional inibiria as pesquisas cientficase tecnolgicas feitas nas universidadese centros de pesquisa.

    6. ConclusesO PR NBR 8800:2006 um texto atu-

    alizado, que, certamente, vai contribuirpara o avano da construo metlica emista de edifcios no Brasil, uma vez queincorpora o que existe de mais modernono mundo sobre o dimensionamentodessas estruturas. As normas interna-cionais usadas como principais refern-cias, as europias EN 1993-1-1:2005 e

    EN 1994-1-1:2004 e a americana ANSI/AISC 360-05 so muito recentes. A adap-tao realidade brasileira foi feita comcuidado, procurando tratar, com consci-ncia, situaes comuns em nosso pas,que no tm paralelo em outros lugares,

    e procurando fornecer procedimentossimplificados para situaes complexas,com objetivo de tornar o clculo estru-tural acessvel ao maior nmero poss-vel de profissionais.

    7. AgradecimentosAo CBCA, Centro Brasileiro da

    Construo Metlica, e ao CNPq, Con-selho Nacional de Pesquisa, que torna-ram possvel a elaborao desse traba-lho.

    8. RefernciasbibliogrficasABNT NBR 6118:2003. Projeto de estruturas

    de concreto. Associao Brasileira deNormas Tcnicas, Rio de Janeiro, Brasil.

    ABNT NBR 7808:1983. Smbolos grficospara projetos de estruturas. AssociaoBrasileira de Normas Tcnicas, Rio deJaneiro, Brasil.

    ABNT NBR 8681:2003. Aes e segurananas estruturas. Associao Brasileira de

    Normas Tcnicas, Rio de Janeiro, Brasil.ABNT NBR 8800:1986. Projeto e execuo

    de estruturas de ao de edifcios.Associao Brasileira de Normas

    Tcnicas, Rio de Janeiro, Brasil.ABNT NBR 14323:1999. Dimensionamento

    de estruturas de ao de edifcios emsituao de incndio. AssociaoBrasileira de Normas Tcnicas, Rio deJaneiro, Brasil.

    ABNT NBR 14931:2004. Execuo deestruturas de concreto. Associao

    Brasileira de Normas Tcnicas, Rio deJaneiro, Brasil.

    AISC-LRFD-1986. Load and resistancefactor design specification for structuralsteel buildings. American Institute ofSteel Construction, Chicago, USA.

    ANSI/AISC 360-05. Specification for

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    CAN/CSA S16.1:1984. Steel structures forbuildings - limit states design. CanadianInstitute of Steel Construction, Rexdale,Ontario, Canadian.

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    DIN 4114 (1952). Berechnungsgundlagen frstabilittsflle in stahlbau. DeutscheIndustrie Normen, Knickung, Kippung,Beulung, Germany.

    ECCS (1976). Manual on the stability of steelstructures. European Convention forConstructional Steelwork - Committee

    8, 2a. Ed.EN 1993-1-1: 2005. Design of steel

    structures-Part 1.1: General rules andrules for buildings. EUROCODE 3,European Committee for

    Standardization, Brussels, Belgium.EN 1994-1-1:2004. Design of composite steel

    and concrete structures: Part 1.1: Generalrules and rules for buildings.EUROCODE 4, European Committeefor Standardization, Brussels, Belgium.

    NB 14-1952 (revisada em 1968). Clculo eexecuo de estruturas de ao (edifcios).Associao Brasileira de Normas

    Tcnicas, Rio de Janeiro, Brasil.PR NBR 8800:2006. Projeto de estruturas

    de ao e de estruturas mistas de ao econcreto de edifcios, Projeto de Reviso,Verso Setembro de 2006. AssociaoBrasileira de Normas Tcnicas, Rio deJaneiro, Brasil.

    Artigo recebido em 07/12/2006 e

    aprovado em 08/12/2006.

    REM - Revista Escola de Minas

    71 anos divulgando CINCIA.