vinho-avieira

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Alberto Vieira, Membro da Academia Portugucsa de História e Investigador do Centro ele Estudos elc História cio Atlântico 2 o Vinho Alberto Vieira _.- _.- o Vinho Alberto Vieira APOIANTES PATROCINADORES OFICIAIS Plúlíps Portuguesa Siemens CIT - Correios de Portugal Novapista -Ampliação do Aeroporto do Jornal da Madeira -Empresa do J umal ela Jorge de Sá, LI1\. Funchal, A.C.E. 6

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Alberto Vieira, Membro da Academia Portugucsa de História e Investigador do Centro ele Estudos elc História cio Atlântico

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o Vinho Alberto Vieira

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o Vinho Alberto Vieira

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GRANDES PATROCINADORES

ANMI- Aeroportos e Navegação Aérea da Madeim,SA BANIF - Banco Internacional do Funchal, SA. BNU - Banco Nacional Ultramarino Companhia de Seguros Bonança, SA Empresa de Cervejas da Madeira, LI\\. EEM - Empresa de Electricidade da Madeira, SA. Grupo Cimentos Madeira Macieira Tccnopolo Marconi Portugal Petrogal tvIadeira, L'li. Pestana Hotels & IW;orts Porto Santo Une, LI\\. SEAT -Sociedade Hispânica de Automóveis, SA SlET - Hotel Savoy Sonasa, i'vfA - Sociedade de Segurança da tvIadeira e Açores, L'li. Sulzer Portugal, 1'11. TAP - Air Portugal Telecel- COrnlUÚCaÇÕC5 Pe>soais, SA. Telmague - Sociedade de Construções e Empreendimentos da Madeim, SA

PATROCINADORES OFICIAIS

CIT - Correios de Portugal Novapista - Ampliação do Aeroporto do Funchal, A.C.E. Jorge de Sá, LI1\. Plúlíps Portuguesa Siemens

APOIANTES

Cabo TV Madeirense Diário de Notícias - Empresa Diário de Notícias da Madeira, 1'''. Ernst&Yowlg GrafUl1adeira - Empresa de Artes Gráficas da Madcira,SA Jornal da Madeira - Empresa do J umal ela Madeira, Lda. Marina EXPO'98 RDP i'v1'ldeira - Rac1ioclifllsão Portuguesa, SA RTP Madeira - Radiotelevisão POItuguesa, SA Taboac1a & Barros, SA 111e ClilTBay Resort & Eden Hotels

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PARTICIPAÇÃO DA REGIÃO AUTÓNOMA DA MADEIRA NA EXPO'98

Organização Governo da Região Autónoma da Madeira

Tutela Governamental José Agostinho Gomes Pereira de Gouveia Secretário Regiunal da Economia e Cooperação Externa

Mandatário do Governo Carlos Lélis

Comissão de Acompanhamento José Agostinho Gomes Pereira de Gouveia - Presidente Carlos Lélis - Mandatário do Governo Conceição Estudante - DRT João Henrique da Silva - DRAC Ricardo Bazenga Marques - Representante da SRAFP Paulo Jorge Gomes da Silva - Representante da SRESA Pedro Ventura - Madeira Tecnopolo Ricardo Vclosa - IBTAM Constantino Lopes Palma - IVM Francisco Faria Paulino - Edicartc

Consultores Elisabeth Nunes - Chefe de Gabinete do SRECE Francisco Maçareco - DGCG

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Gestão do Pavilhão Edicartc

Directora do Pavilhão Paula 11an50

Coordenadores de Serviço Susana Silva Lígia Basílio Salomé Relvas

Logotipo e Mascote Catarina Araújo

Uniformes - Design e Produção Fátima Lopes

Secretariado Teresa Lopes Filipa Portela Vera Oliveira Paula Manins Marta Figueira

Selecção de Pessoal Multitempo

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AGRADECIMENTOS

Excelência Reverendíssima D. Teodoro ele Faria Bispo do Funchal

lIIiguel de Albuquerquc Presidente da Câmara do Funchal

Conceição Estudante Direc/ora Regional da 'lil1'ismo

Joiío Hcnrique ela Silva Dil'el'ior Regional dm AB"ulltm Culturais

Ricm'elo Velosa Presidente do Ills/itu/o do Bordado, 111/"(llIia, Ar/R.mlw/o da lV!ruliâm

Constantino Palma Presidell/e do Institu/o do Vinha da Madeira

Francisco CIo ele lJírec!{)r de S(~r7lir(Js dos Al11.H~ll.\·

Amândio de Sousa Direc/or do lvluselt Quin/a das CnlUS

Luísa Cio de Direc/ora do ivIuseu de Ar/e Sacm do FUlldwl

Manuel BiscoiLo Direc/or dlllvluSfll lvIllllirijJal His!â,-;a Na/uml

Helena Aral!jo Direcloro do 1'vhuell - PI/D/ograjJhill. \fiem/es

Daniela Correia Núcleo Museológico do ,\flíca,-

Isabel Morgado Nlusell J-/emique e Frallcüm Franro

Teresa Braziío Direclorn do DejJar/a(lmenlll de ClIltllrtl da Câmara MUlliri/Ht! do [';mdud

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EXPOSiÇÃO

Concepção do Projecto Expositivo, Produção e Montagem da Exposição Edicarte

Consultores Luisa Clode Francisco Clode Amândio Sousa Teresa Pais Rui Carita Alberto Vieira Manuel Biscoito Paulo Rosa Gomes

Concepção Plástica e Arquitectura lvIacua & Garcia Ramos

Projectos de Engenharia Pengest

Construção Jiz, Lda.

Audiovisuais AVS Mandala Rumavídeo

Embalagens e Transportes de Peças Feirexpo

Segurança Sonasa, lVIA

Seguros Bonança

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PUBLICAÇÕES

Edição Edicarte

Coordenação Francisco Faria Paulino Susana Silva

Concepção Gráfica Celso Caires Duarte Belard da Fonseca João Brandão Mafalda Teles

Fotografia Agostinho Spínala Alfredo Rodrigues CEHA Fernando Chaves João Delgado João Paulo MarLÍns Jorge Torres Laura Castro Caldas & Paulo Cintra Madeira Tccnopolo Miguel Pcrestrelo

Paula Manso' Pedro Clode Photographia - !v[useu Vicentes Peclro Gomes Perestrcllas Photographas Raimundo Quintal Rui Camacho Rui Cat'ita Rui MaJ'Ole Rui Martins SDM

Pré-Impressão Policor

Impressão Santas c Casta, Leia,

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pÀmNA r~ BI!ANCO

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Exposição lvIundial de Lisboa é um escaparate único em que Portugal se mostra ao

l\Jundo, espelha a torça da sua cultura, a diversidade das suas potencialidades económicas

e as realidades do seu desenvolvimento.

Esta exposição é um acon tecimento de uma importância excepcional, quer pela sua

rcpercussão directa e indirecta na economia do país, quer pela demonstração das

capacidades técnicas e profissionais dos portugueses.

A Região Autónoma da Madeira ao participar cmpcnhadamente na EXPO'98, contribui

para o esforço nacional que este emprcendimento representa e potencia esta oportunidade

para divulgar a sua cultura e o desempenho do seu povo neste fim de milénio.

Com esse objectivo, a representação da Região é constituída por um Pavilhão com três

núcleos expositivos, uma reprcsentação náutica cm que se mostram embarcações tradi­

cionais restauradas para esta oportunidade, uma programação que revela aspectos da

cultura e do desporto insulares e se desenvolve ao longo de todo o período da EXPO,

uma exposição que se inaugurará no navio "Madeirense" c um programa editorial que

procura divulgar aspectos cla história e da vicia das Ilhas.

Além das monografias que aqui se apresentam, realizadas por especialistas dos temas

tratados, este programa engloba também um catálogo lotográfico da Região, um livro

sobre a música madeirense, com um CD, os números especiais das revistas "Islcnha" c

"Margem" e o programa das actividades culturais e desportivas.

Queremos agradecer aos autores dos textos e das lotogralias a sua pronta colaboração

neste projecto, que torna possível deixar da participação da Região Autónoma ela Macieira

na EXPO'98, quando ela não for mais do que uma memória de todos os que a visitaram,

um testemunho exemplar das realidades regionais em 199B.

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íNDICE

1. Introdução

2. O Vinho da Madeira. Breve historial

3. O Vinho e os seus apreciadores

4. A arte e o vinho

5. Um olhar sobre a actualidade: os exportadores de Vinho Madeira

6. Os diversos tipos de Vinho Madeira

7. Da qualidade à tradição

8. Bibliografia

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"Perfu ma e alegra o solo um vinho histórico, produto de castas primitivas, san!:,'lU' de raça a pel1>etuar na ilha o nome de Ponoga!. Foi este vinho compa­nheiro dos colonos na rOta da descoberta; poStou-se de guarda à porta de suas casas, de braços abenos, numa remada acolhedora a parentes, amigos e vizinhos; dá-lhe vida no trabalho; \ibra-lhe na alma cm festas de fa mília e todos os anos Se reno\'a no barril ou quartola para o aquecer no Inverno, estugar-Ihe o passo nas romarias do Verão, firmar promessas, selar contratos, fechar negócios e ser prO\'idcncia económica no seu lar." Pe. Eduardo Pereira

o ta] Honício ellg<U10u-sc, nào conheceu a parreira; Não se chama Falerno; SI' era bom, era Madeira, Nicolau Tolenti"o

I, Arn 'lIS dH Cidade (10 f""dud , COlrim e Maninni , 1888, 17

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o vinho da Madeira. Breve Historial

i\ presença da vinha na l\'ladeira era uma inevitabilidade do mundo cristão. O ritual religioso lez do pão e do \'inho os dois elementos substanciais da sua prática, fazendo-os símb()los da essência da vida humana e de Cristo. O \1nho C

o pão são parceiros do avanço da Cristandade, sendo levados por monges e bispos. Esta realidade veio revolucionar os hábitos alimeIltares do Ocidente cristão, a partir d() séc. VII, estabelecendo o comer pão e beber \1nho como o símbolo do sustento humano. Em meados do século XV é dada como certa a introdução de cepas vindas do reino e, mais tarde, do Mediterrâneo. João Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Percstrello, que receberam o domínio das capitanias do arquipélago, sob a direcção do monarca e do Infante D. Henrique, procederam ao desbravamento e ocupação do solo com diversas culturas trazidas do reino. Em pouco tempo, a paisagem da ilha transformou-se. As escarpas foram traba­lhadas para fazer brotar as culturas c o denso arvoredo lüi cortado para construir habitações, erguer latadas c dar outras possibilidades de lixação. Nas planuras junto ao oceano, onde havia local para \'arar um barco, surgiu o Homem. Em fllria constante l'Cllltra a natureza, traI/lU socalcos que fá decorar de dourados trigais e ele verdejantes vinhas e caml\1ais. No Funchal do funcho fez resplandecer os campos de trigo, entremeados aqui e acolá por canaviais e \'inhedos. Em Câmara de Lobos, ali.tgcntados os lobos marinhos, subiu encosta acima de picareta na mão traçando o rendilhado cios socalcos de onde fez '

2. Borracheiros transportando vinho debaixo de uma latada 19

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plantar a videira em vistosas latadas. Segundo a tradição Ibi aqui que se Icz a primeira plantação de eepas. A vinha conquistou o solo ilhéu em todas as direcções, tOl'llando-se o vinho um produto importante na actividade agrícola do ilhéu, logo no início. Assim, já em 1455 Cadamosto ficara deslumbrado com o que vira na área vitieola elo Funchal; « ... tem vinhos, mesmo muitíssimo bons, se considerar que a ilha é habitada há pouco tempo. São em tanta quantidade, que chegam para os da ilha e se exportam muitos deles.» O vinho apresentava-se no séc. XV como um produto competitivo ao trigo e açúcar e com grande peso na economia local. Daqui resulta que Ibi, desde o início, um potencial produto do mercado extcl'110 da ilha. Os testemunhos abonatórios da sua importância no eomércio externo são múltiplos. Shakespeare não se laz rogado na alusão insistente nalgumas das peças de teatro que o imor­talizaram. Depois, os trigais e canaviais deram lugar às latadas e balsciras e a vinha tornoil-se na cultura exclusiva do eolono madeirense, na qual aplicou todo o seu engenho e arte. Tudo isto projectou o vinho para o primeiro lugar na actividade económica da ilha, onde se manteve por mais de três séculos. O madeirense, desde o último quartel do séc. XVI, apostou em exclusivo na cul­tura da vinha, tirando dcla o necessário para o seu sustento diário, para a manutenção de uma vida de luxo c para a ediricação de sumptuosos palácio~ e igrejas. Se para Hans Stanelen, cm 1547, a economia ela ilha se cleline pelo binómio vinho/açúcar, já cm 1578 Duarte Lopes coloca o vinho cm plimciro lugar nas exportações c, cm 1669, o cônsul francês aIll'lI1a que () vinho é ()

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Ilt",\:ôcio principal da ilha. Toda a documemaç;i.o dos sécs. XVII I c XIX é un~nime cm cOIhider.tT o ,i.nho COIno a principal c lotai rique'l.a da ilha, a única Illocda de noca. :\ ~Iadeira não linha com flue acenar aos navios (Iue por ela pa.,o;a, amo ou a demandavam. senào o copo de \i.nho. Tudo islO fez aumentar fi

"

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dcpend~llci'l da CCOllomia madeirense. Contra esta políli,:I r\;du~id 'ila illlpO~I:I pelo Ill('rcalltilismo il1Klc~ se manif~­

laram. quer o gO\ocrn:ldor e capil<lo general Sá Pereira . cm rcl,rimelllo de at:;:ri· cultura pam o ]'ono Salllo, quer o corregedor c dc.'scmh;ugadOl'. \llIóllio Rochigucs \ closo. em 1782. lias itl5lrt1,õcs que dc'ixou na Cámar:l da Calhela. ~ I as lUdo isto foi cm \,io. poi~ l1il1gtl(;m foi cap'" de frenar a "fehre vilícola".

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nem de couvencer o \'iticultor a abandonar a vinha, num momento cm que o Yinho da ilha tinha grande procura no mercado internacionaL !vIesmo assim, poucos eram os anos cm que a colheita era suficiente para satisfazer a grande procura. Por isso, socorria-se dos vinhos inferiores do uorte, e até mesmo do Yinho dos Açores c Canárias, para dcssedel1lar o colonialista europ(~u. Desde (J século XV que o ilhéu tra~ou a mta no mercado internacional, acom­panhando o colonialista llas suas expedições e fixação na Ásia e Am{~rica. O comerciante inglês, aqui implantado desde o séc. XVII, soube tirar partido do produto fazendo-o chegar cm quantidades suficientes às mãos dos seus compa­triotas, que se haviam espalhado pelos quatro cantos do mundo colonial europeu, O movimento do comércio do vinho da Madeira ao longo dos sécs. XVIII e XIX compromete-se de forma directa no traçado das rotas malÍtimas coloniais, que tinham passagem obrigatória na ilha. A estas juntaram-se outras sub­sidiárias, quase todas sob controlo inglês: são as rotas da Inglaterra colonial que fazem cio Funchal porto de refiTsco e carga de vinho no seu rumo até aos mer­cados das Índias Ocidentais c Orientais, de onde regressavam, via Açores, mm o recheio colonial; são os navios portugueses da rota das Índias ou do Brasil, que escalam a ilha onde recebem o vinho quc conduzem às praças lusas; são, ainda, os navios ingleses que se dirigem à Madeira com mallufacturas e fazcm (J

retorno tocando Gibraltar, Lisboa, Porto; e, finalmente, os Ilorte-americanos que trazem as farinhas para os madeircnses c regressam carregados de vinho, Por todas estas razões, o vinho CDnquisLDu, desde o séc, XVI, o mercaclo

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5. Ernharqur <k Ilipas dr \"inho. CalhMa. Últ imo quarld do "':(ulo XIX.

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colonial em Africa, Âsia e América afirmando-se até meados do séc. XIX como a bebida por excelência do colonialista e das tropas coloniais em acção. Regressado à sua lerra de origem, após o surtO do movimento ind(:pcndcntista, o colonialista levava na bagagem o vinho da ilha e fazia-o ser apreciado pelos seus palricios. O momento de apogeu da exportação do vinho da ilha para estes mercados situa-se emre finais do séc. XVIII e princípios do séc. XIX, altura em que as exportações atingiram uma média de vinte mil pipas. Durante este pcliodo, mais de 2/3 do vinho exportado sCb'lJia para o mercado cololl ial americano, com especial destaque para as Antilhas, a.-,

plantações do sul da América do

Norte e Nova Iorque. A primeira fi metade do séc. XIX é o momento de &DRAl. alteração na geografia do mercado do ~ \~nho da r..'ladeira. A partir de 1831 , a Inglaterra e a Rússia tomam O lugar do mercado colonial. Neste momento, a concorrênci.t nos mercados do vinho era feroz, desta­cando-se os de França, Espanha e Cabo. Mais uma vez, o curso da História atraiçoou-nos_ A situação é simples. O fim das gucrrds europeias,

6. Rótulo antigo. 25

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cm princípios do séc. XIX, abriu as comportas do vinho europeu ao potencial mercado colonial asiático c americano. 1\ retirada do colonialista elas áreas colo­nizadas fez perder o gosto pelo vinho ela ilha. Os primeiros sintomas disto surgem a partir de 1814·, agravando-se de ano para anuo As colheitas ele 1819 a 1821 mantiveram-se estagnadas nos armazéns, pelo que, cm 1B20, vinte mil pipas aguardavam comprador. O retrato verdadeiro da situação encontramo-lo no voz desesperada elo homem da época: «Estão as casas ricas de vinho, pobres de sustento c ele alimento». Por tu elo isto, a rccordaç~ã.n do período que decorre entre os anos de 184·0 a 1860 faz-se com muita dor e lágrimas. Foi a época ele maior sofrimento elo produtor \~nícola. 1\ única soluçãu possível j()i a emigração madeirense, mercê ela solicitação c aliciamento de ingleses e seus acólitos, que fez com que a força de trabalho do ilhéu chegasse a longínquas paragens para substituir os escravos, agora libertados. Entre lIHO-50, o madeirense perdeu o amor à sua terra c foi ao encontro de um novo paraíso f'ügaz, criado pelo inglês nas Antilhas. Uma elas características do vinho lvladeira prende-se com o processo de vinifi­cação. Primeiro {oram os ingleses a apostar na sua alcoolização, depois {c)i o rccurso a um sistema particular ele envelhecimcnto através cio calor, nos porões dos navios c depois em cstUÜIS. Esta situação está depcndente ela conjuntura cm que a ilha e o comércio elo seu vinho estiveram envolvidos a partir de meados do século XVII. A Macieira tornou-se, a partir do século XVII, uma passagem obrigatúria para os navios ingleses que {~lziam a rota da Índia. Esta escala era aprovcÍtada para

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1~lIn'~:lr \inho-. ('fim

tintineI (W' IX\I'IO' da~ rolÓIli:h in,l(k,as, l11a~ 1,lIllh,hll p.U'.1 o ,lha~t('ç i lLl,' U IO da~

própri", \'Inb,u'·

(; ,( (It'" \luilO d,"le \'illbo f,tú.t o IX'" ('u ,..,o de ida l' \'Oha: uo por.l0 (I.b elllhar­I':lçtw~, o~ lOul:i ~ dl'

\'inhn ""1>("10' ao c,lo .. do, 1ropieo, e ii. { OU,lal llt ' 1':II,I,'a(:Io J't"lIh,1II11' ,I;t~ ('(11'­

I'('IH," IIl:lritima"

adquiri.1II1 pro­pril'(I.ldt'~ gU'lali\ 'a ~

,lift ' f'('lIIl"!> d" "I1I11U1I1.

Er:, o elln-lh, ',·imt'1II0 )lll'm:tturo do \i llho, IJ,I nUhl ,n,LI\;io d." ta rt",tli c!;I (I l' :, ~ua

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prátíca corrente foi um salto. Os ingleses, princípais apreciadores do vinho Madeira, foram os primeiros a reivindicar este tipo de vinho. Por isso, no mer­cado britânico, desde finais cio século XVIII, os "Common l'vladeira", "London Market" e "London Particular" foram preteridos em favor do "East India l'vIadeira", que entre nós ficou conhecido como o vinho da Roda. A di[(~rellr,:a de preços entre um e outro era o dobro, não só em resultado dos custos do trans­porte, mas também da elevada procura. Note-se que nos meses de Setembro e Novembro de 1790, rI/Ir. Christie colocou à venda 110 mercado britânico três pipas de vinho Madeira vindo da Índia c trinta c nove do Brasil. A par disso, generalizou-se o uso das estufas quc, com uma maior economia de tempo e de custos, permitia colocar à disposição do cliente um vinho envelhe­cido. Por toda a ilha sUl'giram estes compartimentos aqueciclos. Era vulgar ver-se as pipas jacentes nos [01'1105 de pão da cidade, ou simplesmente expostas ao sol. Mas este vinho estufado, para além dc tcr gerado acesa polémica cm prindpios do século XIX, não mereceu os elogios do consumidor. O primeiro, que ficou conhecido como o vinho da Roda, era muito dilerentl~ e tinha o condão de melhorar as qualidades organolépticas do vinho, sem as degradar, o que não sucedia COIll o vinho cstulhdo. Por isso, aJullta da Real Fazenda do Funchal procurou promover esta prática, criando incelltivos, corno o rccmbolso dos direitos pagos à saída ou lima simples fiança até ao retol'llo. A par disso, a própriaJuI1ta proCUl'ClU promover este tipo de envelhecimento do vinho em detrimcnto do uso ela cstu[a, enviandD algulllils pipas de ,dnho para Cabo Verde para aí permanecerem durante o período estival. A partir de 1823

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9. ,\ "n .. '.':" • • k Kmhtt RrOlher"1 "O Funch,\1. 11180.

)O

~c'I1{'r;llizou-st' l'M:t prátic;I, "t'ndo d l"\-:Ido O numero dl' pipas de \inho sujeito a l'~t e I~rcurso e ~ i~ ll"rna de Irm:unt'lI\o .. \ titulo dI: I:xl'rnplo rdira-~ que nos anos dl' 1823 t' 182-1 \,tir,IIII~) :{16 pipas nt.'SSaS"colldiçõc~. 0\ iuhu da Roda ê par;1 o hrit:'miro ulIla d:idi\'a do QCl:imu .. \s agitadas águas do .\tl:inrk o trallSformaralll _sl'. a~~im, na grande adq.;a onde OS \;nhos

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madeirenses dos séculos XV III e X IX envelheciam, Foi uma mais-valia, sabia­mente aproveitada pelos insulares, que cativou os tradicionais apreciadores britânicos. As estufas primiti\'3s de sol que resultaram do ,~nho da Roda evoluíram c deram lugar ao processo que é, hoje cm dia , um método eneológico

de envelhecimento do , 'inho da ~, I ade ira,

10. Estura de Gossan , Gordon & Coo 1880

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madei renses dos séculos XVII I e XIX cl1\'c1hecia m. Foi uma mais-va lia,.sabia­mente aproveitada pelos insulares, que cat ivou os tradicionais apreciadores britânicos. As esturas primiti\'as de sol que resul ta ram do ,;nho da Roda evolu íram c deram lugar ao processo que é, hoje cm dia , um mélOdo encológico

de envelhecimento do "inho da ~ I ade ira.

10. ESlura de Gossa n , Gordon & Coo 1880 31

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o vinho e os seus apreciadores

o \inho .\ladtira é indispen­sá\"cl para a garrafeira dos aprtciadorcs do fino ruhim:ctar em todos os rtTlIntos do Ocidente, Os epitctos proferidos por ponas, e~cri\Ores, políticos e via­jantes, que tivcram a p()~ihili­

dade de o prO\<lr t apn'dar poder:io ser um bom teste­munho desta fama, Todos ficaram cleslumbrados com seu aroma e trago c ninguem se escusou ii tecer-lhe os maiores c' mdhores c'logios. Akis!' dc' Ca da l\ lnstn, lIome

sugesliHI cm questão de \'inhos mio hcsitanl t ' lJ1

afirmar, !las suas 'S;l\'cgaçõcs" escri tas c'm 1455,

li, Vindimall

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que os da ilha eram "bons" e para que não restassem dúvidas reforçava a ideia apontando-os como "muilissimo bons". Oitenta anos passados, outro italiano, Giulio Landi, rejubila de novo com o rubinéctar madeirense, comparando-o "ao grego de Roma". Quanto à malvasia, refere que se fazia melhor vinho que o tão celebrado de Cândia. De entre todos os ingleses, Shakespeare (1564-1616) foi um dos seus mais notados apreciadores. A sua obra assim o testemunha. Primeiro é-nos dito, na 'peça Ricardo III, que em finais do século XV o Duque de Clarence, prisioneiro na Torre de Londres, se teria afogado num tonel de malvasia madeirense. Já na peça Henrique N, o dramaturgo coloca o beberão John Falstaff a negociar a sua alma com o Diabo por "um copo de Madeira e uma pata de capão". Esta referência ao vinho Madeira na obra de Shakespeare é mais um testemunho da importância que ele adquirira no mercado londrino. Os mais assíduos elogios são ditados no século XVIII, época nobre para o vinho Madeira. Em 1687, Rans Sloane dá conta da sua exportação para as plantações das Índias Ocidentais "pois não há nenhuma espécie de vinho que se mantenha tão bem em climas quentes". A ideia repete-se em todos, chamando G. Forster, em 1777, a atenção para o facto ele ter sido o vinho que deu à ilha "fama e sus­tento". É um vinho capaz de resistir às mais bruscas mudanças ele temperatura. Assim o proclama em 1792]. Barrow: "Este vinho tem a fama ele possuir muitas qualidades extraordinárias. Tenho ouvido dizer que se Madeira genuíno for exposto a temperaturas muito baixas até ficar congelado numa massa sólida de gelo e outra vez descongelado pelo fogo, se for aquecido até ao ponto de fervura

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e depois deixado arrefecer ou se ficar exposto ao sol durante semanas seguidas em barris abertos ou colocado em caves húmidas não sofrerá o mínimo dano, apesar de sujeito a tào violentas alterações". Foram estas pro­priedades que fizeram vingar o vinho Madeira no mundo colonial inglês e o levaram a bater-se de uma forma privilegiada, face à concorrência dos outros vinhos europeus ou das ilhas \~zinhas dos Açores e Canárias. A adoração pelo Macieira foi grande nos Estados Unidos da América do Norte. George vVashington e convivas regalaram-se com ele na sua boda, em IvIaio de 1759, enquanto John Aclams exclamava, com alegria nu seu diário, que sempre bebeu "grande porção de Madeira", não venelo "nenhum inconveniente nisso". Ademais, segundo constatou este estadista, ele é diferente de todos os outros, pois mantém-se "salutar c agradável no calor de Verão ou no frio do Inverno". Até mesmo Thomas J cfferson, em Paris, não prescindia do seu 1hdeira, pois era "ele superior qualidade e o melhor". Foi certamente com a inspiração do seu aroma que se formou o grande empório. Com ele se celebrou a independência, acto que é anualmente recordado da mesma forma. Já em 1840, Fitch W. Taylor afirma que a Madeira é conhecida dos

12. Vindima no Estreito de Câmara de Lobos. I' metade do século XX.

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:ulIl'I"1I-anm IX'Ios seus \1nhos, qUI ' :ti dlt~ga lll pcl:l mào drn. IlIcrcadorc.) illglc5t's. Os l'llropc US, Ic\'ados por t.:~ la

l.":..:all<l,.10 do.) políticos alw:ri· C.1II0.), dt.:~pt.: naral1l de 110\'0 p:lra Ú \inhu :\ Iadcirn. Em I7~G, (I

Dr. Wfig" t e:..:clamava: "SI' I-Io mt'nt I) tivnsl' I)('hido, afir­maria qUI ' I) Olilll] )() rt 'nasá,

al)!',ar (k m dc 'ust's estan'llI j;i fjll":I (I!- moda" , O mesmo

l't'(>onlC'tlda o scu uso aos seus p:lt"il , tll! '~ idosos, pois j' "uma das

I)( ' hid:t ~ Ilw is üH.'i ~ c t:finl 'l.I'S para

a ~ pessoas de idadt: , a qtu'm as fu nções fisieas começam :1 (;11har". Da í o epíteto de "kiw do) velhos", Oiz-se até que a longt'\'idadc do Conde de Cana,;altcroÍ rcsultado do :\ladcira que bebia todos os (lias

em jéjlllll .

U. \ ·indillla .•

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o \;l1ho da :\ Ia(!t:im nào foi ill>cuas wlllllanhciro dos gr.lndcs momcntos fcs­ti\"Qs e de euforia, I>ois tamhélll se postou de guardal1as dificuldades c solidão, como sucedeu com Xapolcão Bonarlllne. Quando da sua passagem pelo Funchal.

"

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em Agosto de 1815, o deposto imperador recebeu das mãos do cônsul britânico uma pipa de Madeira. Esta foi sua companheira até à morte, no exílio de Santa Helena. O general nunca provou o vinho e, à data da sua morte, em 1820, o cônsul solicitou a sua devolução, o que ocorreu passados dois anos. Com este vinho da volta fez-se uma importante garrafeira, para gáudio dos colec­cionadores, sob o título dc "Battle of Waterloo". Winston Churchill, quando fez férias na Madeira, em 1950, teve oportu­nidade de apreciar este vinho que Napoleão nunca bebeu. Na ilha, são poucos os elogios ao vinho Madeira. Até parece que os literatos e poetas o ignoraram, talvez porque nunca tiveram o atrevimento de o provar. Dispomos, todavia, de três testemunhos, raros é certo, mas que corroboram até à saciedade aquilo que haviam escrito os estrangeiros. Em 1891,]. A. Marlins, um forasteiro continental, caso raro nesta situação, declarava que "as mulheres como os vinhos sabcm enlevar o espírito fazendo pal­pitar os coraç.õcs", para depois concluir que "o vinho não é uma simples combinação química; é um problema de gosto, é um ali­mento e um agcnte terapêutico de primeira ordem". Para os madeirenses, a exaltação do vinho assenta na sua presença nas mesas nobres c, por isso, ele é ° embaixador capi­toso da ilha. Eduardo Nunes recorda que o vinho ~vladeira "correu mundo - singrou po!' todos os mares e rompeu todas

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16. Co....,. rom pipa. Cos,.an , Gonlon & C·

as fromeiras", por isso "é oferecido a reis c a príncip(s-rcgemes. a chefes de estado (' a ministros, a senhores feudais e à burguesia opulenta." Idêntica é a opção de Eduardo Pereira, tal como poderá constatar-se a partir do texto que abre este 0pllsculo.

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A arte e o vinho

Os shulos X\" I II (> X IX

s:iu IIlU lll e ll tO~ de aposta na \'alorizaçào da arquitectura e arte madeirensC"s. A afi r­mação do \'inho no mer­cado consumidor colonial conduziu ine\·ita\·elll1ente a uma desusada riquC"za que foi milizada em beneficio prôprio por todos os inter­vcnicntes. O s grandes pro­prietários aformosearam as suas casas de residência. Os mercadores, nomeadamente os ingleses, Ifansformaram 'l~ vi\'Cndas sobradadas de

17. Etlilido elo In"i , ,,,,, elo Vinho da .\lad('irao

cidade ,om lojas '0 C"scrit ilrios de convh~o, e as casas solarengas c quintils adap­taram-nas au seu gosto e exigências de conforto. O s artefactos ingleses invadem o mercado madei rense e (hio-nos meios mais adequados para a afirmação do conforto di.ír io. t\ isso junt a-se o gOSto pelo clássico. A tosca c utilitária mohília, muitas vezes feita com a madeira que

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do Brasil transportava o aç:úcar para a ilha dá lugar ao mobiliário estilizado. A chamada mobília Chippendale e Hepplewhite - sofás e cadeiras - dá o toque de classe e compõe o ambiente para os saraus dançantes ou o célebre chá das cinco. Os museus da Quinta das Cruzes e Frederico de Freitas são, hoje, os depositários de alguns dos exemplares mais significativos deste tipo de mobil­iário que resistiram ao uso secular. O espaço interior é valorizado. A casa torna­se no principal centro de convívio. Daqui resulta que os espaços interiores se transformaram. Surgem as amplas salas ou salões de música, palcos de inúmeras festas e saraus dançantes. Os tectos destas amplas salas são em estuque profusa­mente trabalhado e muitas vezes pintado. A História de muitos dos prédios que se anicham nas ruas vizinhas do cabrestante e da alfandega são o alvo preferencial dos mercadores estrangeiros que chegam ao Funchal, no decurso do século XVIII, atraídos pelo comércio do vinho. Muitas das pequenas casas térreas são demolidas para dar lugar às de sobrado, servidas de amplas caves para as pipas, sobrados de habitação e escritórios. Uma imponente fachada ornada de cantarias e rerragens, uma torre adsta-na\~os dão o tom característico da arquitectura do vinho na ilha. Ao per­correr as Ruas da Carreira, Netos, Pretas, Mouraria, Mercês, Nova de S. Pedro, Conceição, Aranhas, Ferreiros, João Gago, o transeunte depara-se com este espectáculo. O eclificio-sede do Instituto do Vinho da Madeira é um local de passagem obri­gatória nesta peregrinação do vinho através da Cidade. As suas paredes guardam a memória de dois séculos de História do vinho Madeira. E no rés-do-chão,

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soh os crll1cnares tr.wc­jamrmos. encontram-se algum materiais rela­cionados mm a faina ,itidnícola. acompa­nhados de fotografias c granlras alusivas ao tema. Pcrallle nós pcr­filha-se uma possh'tl dagem ao pass.'\do, impn .. scindível para conhecer o percurso histórico do nosso vinho. O percurso con­tinua na \ Iadcira \\'ine Company, onde um mustu de empresa conduz ao passado dI; fulgor das empresas que estiveram na sua origem, I:ln principios do sCculo. 1),1Ji demais cmpn:sas, só em D'Oli,'Ciras

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c Arlur Barros e Sousa a imagt'm do pa.s.~ado persiste quase intacta, :"as rnl ;Ulle~, as memórias do passado COlI\,jn'm amenamenle com os ava nços It'l' llol,')!:,rkns,

Se, na cidadt" as casas Icrreas d:io luga r aos imporll'ntn pa1:icios, casas de

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habitação, escritórios e lojas ele comércio, os arreelores ganham outra animação com a proliferação elas Quintas. Estas são urna criação madeirense, a expressão volumétrica da importância ele algumas elas famílias madeirenses, onde o lazer se conjuga com o sector produtivo. A quinta não se resume apenas ao l;spaço agrícola e à casa de habitação, pois a ela estão indissociavelmente ligados um jarelim e mata. Foi com os ingleses que elas ganharam nova forma e animação, persistindo até aos nossos dias. Assim, perdem o seu carácter rústico e trans­formam-se em espaços aprazíveis servidos de amplas ruas e jardins de inspiração oriental. N[uÍlas das quintas madeirenses mudaram de mãos no decurso do século XVIII. Os ingleses, enriquecidos com o comércio do vinho, fazem investi­mentos fundiários na ilha, com especial destaque para as quintas e serrados de vinhas. Alguns adquirem as habitações já existentes e transformam-nas cm amplas quintas '\iardinadas, à moda da época. Outros fazem ergucr imponentes casas no espaço arável ou de pascilgo. Estão neste último caso: a Quinta cio Vale Paraíso na Camacha, de John Halloway; a Quinta do Jardim da Serra, Calaça e do Santo ela Serra, de Henry Veilch; a Quinta elo IV[ontc, de James David Gordon.

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Um olhar sobre a actualidade: os exportadores de Vinho Madeira

o panorama actual do comércio de exportação de vinho é distinto do dos séculos anteriores. A crise que atormentou o produto desde finais do século XIX levou a uma mudança neste espectro. A maioria dos estrangeiros abandonou a ilha e muitas das empresas fundiram-se. Hoje, o vinho adquiriu nova pl~ança nas exportações da Madeira e o quadro empresarial mantém-se maioritaria­mente fiel à tradição. No presente, a exportação do vinho Madeira assenta nas seguintes empresas:

Artur Barros & Sousa Ld": Casa fundada em 21 de Julho de 1954 por Artur de Barros e Sousa e Edmundo Menezes Olim, que reuniram numa só casa comer­cial os vinhos velhos, hoje religiosamente preservada pelos seus herdeiros.

H. M. Borges sucrs. Ld": Casa fundada em 1877 por Henrique de Menezes Borges, que após a sua morte em 1917 passou a ser gerida pelos filhos.

Henrique & Henriques: Empresa criada em 1850 por João Joaquim Gonçalves Henriques, com base nas propriedades de família em Belém (Câmara de Lobos). Em 1913, surgiu a actual empresa, resultando da sua fusão a Casa de Vinhos da Madeira Lda., Belém's Madeira Lda., Carmo Vinhos Lda. e António Eduardo Henriques Sucrs. Lda. Mais tarde, em 1960, foi a vez de Freitas Martins Caldeira & Cia. A firma está hoje em mãos dos sócios A. N.Jardim,

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Justino Henriques Filhos Lda: A firma foi estabelecida em 1870 c mantém-se na actualidade como uma sociedade constituída por Sigfredo Costa Campos c a empresa francesa La Martinknais. Tem sede na zona industrial da Cancela.

Madeira Wine Association: Em 1913, Harry Hinton entra no mercado vitiviní­cola juntando-se à Blandy Madeira Ltd. (l8ll) Welsh & Cunha e Henriques & Câmara, a que aderiu depois a Donaldson e Krohn Brothers. Passados doze anos surgem outras casas comerciais que se associaram a esta sociedade: Abudarham & Filhos, Luís Gomes ela Conceição & Filhos (1863), Miles Madeira Lda, F. F. Ferraz & Cia, T. T. da Câmara Lomelino (1820). Cossart Gordon & Co Ltd. (17+5) foi o último ajuntar-se ao grupo cm 1953. A partir de 31 de Dezembro de 1981, a firma alterou a sua designação para Madeira Wine Company. Dispõe de Instalações à Rua dos Ferreiros e uma adega e museu à Rua de S. Francisco.

Pereira D'Oliveira (Vinhos) Lda: A firma começou em 1820 com João Pereira d'Oliveira a que sejuntararn, em 1975, outras duas Uoaquim Cam acho eJúlio Augusto Cunha Sucrs.) e, depois, a de Vasco Luís Pereira. Sucrs.

Silva Vinhos Lda: É a mais recente casa de vinhos da Madeira, com sede no Estreito de Câmara de Lobos, onde dispõe desde 1990, de modernas adegas de vinificação. A empresa foi constituída cm 1989 pelos irmãos José Olavo c João Alexandre Rodrigues da Silva.

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Vinhos BarbeilO (Madeira) Lda: Casa rund.1da em 1946 por ~ Iá rio

Barbeito de \ ·ascollcclos. Ficou instalada num antigo engenho de aguardclllc. A sua loja de vcndas 11 0 Funchal cstá associada a uma bibliOlcca C'\ocati\'a do navegador Cristóvão Colombo.

:n. eon.. COm caix:u <k!!,.,,-;ÚaJ dr _inl>o palõl rxponaçio. União V; nícola da Mark;",

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Os diversos tipos de vinho Madeira

As castas que deram nome ao vinho Madeira são preferencialmente a Malvasia, Sercial, Verdelho e Boa!. Com o aparecimento da filoxera, cm 1872, esta situ­ação alterou-se. O insecto devorou as raízes das videiras europeias fazendo-as definhar. A partir de então, a cultura da vinha só foi possível em terrenos arenosos, como o Porto Santo, ou com o recurso às castas americanas a servirem de produtores directos ou dc cavalos porta-enxertos. Entre as que se mantiveram por muitos anos, como produtores directos, destacamos jaquez, herbemont, cunningham e isabelIa. Hoje, o grande combate do sector é a substi­tuição das castas americanas pelas europeias. Actualmente são consideradas como castas tradicionais do vinho Madeira. Boal: existem três variedades: o boal da Madeira, de cheiro e do Porto Santo. Na Madeira, o espaço preferencial para a sua cultura é os 400m, com especial incidência nas zonas ribeirinhas. Malvasia: é de todas as castas a mais conhecida e celebrizada pelo vinho aromático. A sua presença na ilha está documentada desde meados do século Xv. Hoje é habitual nas zonas baixas junto ao mar, conhecidas como fajãs. Cultiva-se no Paul do Mar,Jardim do Mar, Arco da Calheta, Madalena e Canhas. A mais popular saiu da Fajã dos Padres, em Campanário. Sereial: popularmente conhecido por esgana e esgana-cão, produz um \~Ilho seco de grande qualidade. É uma casta das ZOIlas altas, entre os 600 e 700 metros, por isso surge noJarclim do Mar, Santo António e Estreito de Câmara de Lobos.

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Tinta Negra Mole: esta casta pode confundir-se com outras três variedades (a tinta da Madeira, de Lisboa e Porto Santo) hoje praticamente desaparecidas. O seu ecossistema mistura-se com o das similares, surgindo em Câmara de Lobos, Estreito de Câmara de Lobos e Santo António. Hoje, no norte ela ilha, nas zonas altas é a casta que tem substituído com sucesso a vinha ameri­cana. Isto faz de S. Vicente, no presente momento, um importante produtor. Verdclho: casta branca que nos oferece um bom vinho e boas uvas de mesa. Foi muito frequente, quer a norte, quer a sul ela ilha. Hoje cultiva-se apenas em áreas intermédias junto ao mar, situadas entre os 400 e 500 metros de altitude. Pode ser encontrada em Câmara de Lobos, Estreito e Ribeira c1aJanela. Com estas castas faz-se o vinho Madeira que, ele acordo com a legislação em vigor, é apresentado ao consumidor em vários tipos, consoante as caracterís­ticas e idade:

Vintage: vinho leito de uma casta nobre, numa colheita especial, que deve permanecer um mínimo ele 20 anos encascado e 2 anos engarrafado.

23. Borracheiros. Firma de vinhos Henriques & Henriques 53

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I .. :xtra re$rrvf". vi nho composto di' pdo

menos 85% da casla rcfedda no rótulo, com O míni mo dt, 15 anos:

Sp'rial reserve : IIIt'smo tipo de vinho do amerior com apt'nas dez anos; RM".ve. o mesmo que o amerior, mas só com cinco anos; Fillest usa apenas 1I0011C de !\Iadcirn associado ;1 sua sit uação - Dr,!" ~ I cdillm, Swet' t - seudo um vinho com três anos que tem eOIllO base a tinta negra-mole; Raillll/atel: o \'crdelho com apenas Ires lUl OS; o LISO desle nome deri\"Ou da difi­culdade dos ingleses cm pronu nciar a pala\'rol \'crdelho. Solems: \;n ho datado qu~ ao longo dos anos recebe a adição de ou tros, sendo csta dc apcnas 10% ao ano.

24. Gal"rar: .. ti .. ,·j"ho 80al

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MADEIRA WINE

malrnsev Slvle

---

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Da qualidade à tradição

A necessidade de defesa da qualidade do vinho da ilha, tão evi­dente em momentos de crise, levou à implementação de estru­turas institucionais. A primeira ideia surgiu em 1774, mas não se concretizou, Todavia, só a partir de 1937 esta foi uma realidade através da Junta Nacional do Vinho, que teve uma delegação na Madeira. Em 1979, o sector foi regionalizado tendo sido criado na ilha o Instituto do Vinho da Madeira. A primeira iniciativa do Instituto foi adequar a viticultura, vinificação e comércio aos padrões estabelecidos pela CEE. No primeiro caso, salienta-se a política de reconversão da vinha, com o arranque dos bacelas americanos e a sua substituição pelas castas tradicionais, A isto acresce a reformulação da rotulagem do vinho de acordo com os padrões europeus e norte-americanos. Hoje, o vinho Madeira é evocado em dois museus: o do Instituto de Vinho da Madeira, inaugurado em 18 de Setembro de 1984, na sede do mesmo instituto, e o da Madeira Wine Company, Em ambos, o visitante pode recordar o passado da faina vitiviní­cola através ele fotografias e objectos a ela alusivos. No segunelo, o interesse do visitante é suscitado pelos painéis pintados na sala de provas por Max Romer e o arquivo ela documentação das diversas empresas familiares que se integraram

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27. Gra\'.r<I lUlIiga

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a 22 de Abril de 1988, sob os auspícios do Instituto do Vinho da Madeira, sendo Cancelário-mor o Dr. Alberto João Jardim, Presidente do Governo Regional da Madeira. No presente, conta com cerca de uma centena de associados, oriundos das mais diversas áreas da vida política e económica da região. Todos os anos, pelo São Martinho, os confrades reúnem-se para degustar o vinho novo e honrar e defender o prestígio do velho. Tudo isto vai ao encontro da mais valia que é hoje o vinho Madeira na economia da ilha. A tradição histórica testemunha a sua evolutiva afirmação e o insistente interesse dos seus apreciadores num cálice deste rubinéctar cada vez mais apurado. Perante tudo isto, o vinho Madeira continuará a ser um referen­cial destacado da ilha, do seu passado e do seu presente, firmando-se como um recurso destacado nos contextos da economia local e da sua afirmação no mundo. O vinho firmou-se, assim, como uma das dominantes do quotidiano e da história da ilha.

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pÀmNA r~ BI!ANCO

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8. Bibliografia

Cannavial, Conde de, 1889, Os vinhos da Madei", e Se1l de,,:rédilo f!eil", "'IIIJm. Nlnlo"., Funchal. - 1882 Breve I/olíria sobre o Imlmllell!O do vinho pelo calO/; Funchal. - 1892 Notiria sobre o ninho Camzavial, digeslivD, an!i\'ejJli(,"(), maliana!, alimenlirio! Funchal. - 1900 Os 1m s)'-,I",II((s de Imlflnumlo dos vinhos da lvlatleim, Funchal.

Reis Gomes,João dos, 1937, O vinho da lVIl1deim. Coma se jJ1~/Jam 11111 nérllll; Funchal.

Sousa, A. TeLxdra, 1930, Subsídio Imra o esludo tias carIas rIo vinho da iVladeim.

Vieira, Alberto, 1990 (I' cd.), 1991, lJrellitÍlio da Finha e do l'il///O da Mm/eira, PDIJla Delgada. _. t~193 Histária do vinho da Nladeira. Dorllmenlw; e textos} Funchal.

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FOTOGRAFIAS

Henry Vizetelly fig. 9

Miguel Perestrelo lig. 2, 7, 11, 12, 13.

Museu de Photographia Vicentes fig. 14·, 17, 22, 23, 24, 27.

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A REGIÃO AUTÓNÓMA DA MADEIRA NA EXPO'98 Monografias

I. A Autonomia - AlbertoJoão Jardim 2. Geografia e Descobrimento - Rui Carita 3. O Açúcar - Alberto Vieira 4. O Vinho - Alberto Vieira 5. O Turismo. Elementos para a sua História - Iolanda Silva 6. A Diáspora - Rui Carita 7. Memória e Arte - FranciEco Clode 8. As Plantas - Raimundo Quintal 9. Os j\,tIares - Manuel Biscoito e António Domingos Abreu 10. Festas e Tradições - Associação Xarabanda e Jorge Torres II. A Economia - Sílvio San los 12. Inovação e Tecnologia - Pedro Vcntl1J'a 13. Desporto e Lazer - Fernando Ferreira 1+. Escritores - Viajantes - Margarida Falcão 15. O Ensino - Universidade da l'v1adeira

. l~~i . I I • 1998.

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