Variações no Padrão de Consumo de Alimentos na Economia...

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VARIAÇÕES NO PADRÃO DE CONSUMO DE ALIMENTOS NA ECONOMIA BRASILEIRA: uma análise do período 1987-2003 Cláudia Bueno Rocha 1 Maria Helena Ambrósio Dias 2 RESUMO O presente trabalho tem por objetivo verificar como os padrões de consumo alimentar, com relação à aquisição domiciliar per capita e em diferentes faixas de renda, mudaram em perfil na economia brasileira no período de 1987 a 2003, analisando as principais transformações e suas implicações econômicas. Para tanto, utilizou-se dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs), realizadas pelo IBGE, dos anos de 1987/1988, 1995/1996 e também 2002/2003. A análise das mudanças no consumo alimentar de diferentes classes de rendimento permitiu verificar a diminuição na aquisição total de alimentos, exceto para as famílias com rendimento de até dois salários mínimos. Houve redução no consumo per capita anual principalmente de produtos que demandam maior tempo para o preparo e elevação na aquisição de alimentos mais práticos e de rápido preparo. A busca por maior praticidade, devido ao novo estilo de vida adotado pelas famílias, tem demonstrado o surgimento de um novo mercado consumidor para alimentos prontos e de rápido preparo, em detrimento do consumo de alimentos considerados mais tradicionais. Palavras-chave: Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), Consumo Alimentar, Famílias Brasileiras. ABSTRACT The present study aimed to verify how the patterns of food consumption, in relation to the per capita home purchase and in different household income ranges, changed in profile in the Brazilian economy in the period from 1987 to 2003, examining the main transformations and their economic implications. To that end, data from the Research of Family Budgets (POF), conducted by IBGE for the years of 1987/1988, 1995/1996 and 2002/2003, were utilized. The analysis of changes in food consumption of different classes of income allowed verifying the reduction in the total food purchase, except for families with incomes up to twice the minimum wage. There was reduction in per capita annual consumption of products that require more time for preparation, and increase in the acquisition of more practical and easy-to-prepare food. The search for practicality, due to the new life style adopted by families, has demonstrated the appearance of a new consumer market for ready and easy-to-prepare meals at the expense of consumption of more traditional foods. Key words: Research of Family Budgets (POF), Food consumption, Brazilian families. 1 Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Mestranda em Economia Aplicada pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Economia pela University of South Carolina (USC). Professora do Departamento de Economia da Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: [email protected]

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VARIAÇÕES NO PADRÃO DE CONSUMO DE ALIMENTOS NA ECONOMIA

BRASILEIRA: uma análise do período 1987-2003

Cláudia Bueno Rocha1

Maria Helena Ambrósio Dias2

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo verificar como os padrões de consumo alimentar, com relação à

aquisição domiciliar per capita e em diferentes faixas de renda, mudaram em perfil na economia

brasileira no período de 1987 a 2003, analisando as principais transformações e suas implicações

econômicas. Para tanto, utilizou-se dados das Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs), realizadas

pelo IBGE, dos anos de 1987/1988, 1995/1996 e também 2002/2003. A análise das mudanças no

consumo alimentar de diferentes classes de rendimento permitiu verificar a diminuição na aquisição

total de alimentos, exceto para as famílias com rendimento de até dois salários mínimos. Houve

redução no consumo per capita anual principalmente de produtos que demandam maior tempo para o

preparo e elevação na aquisição de alimentos mais práticos e de rápido preparo. A busca por maior

praticidade, devido ao novo estilo de vida adotado pelas famílias, tem demonstrado o surgimento de um

novo mercado consumidor para alimentos prontos e de rápido preparo, em detrimento do consumo de

alimentos considerados mais tradicionais.

Palavras-chave: Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), Consumo Alimentar, Famílias Brasileiras.

ABSTRACT

The present study aimed to verify how the patterns of food consumption, in relation to the per capita

home purchase and in different household income ranges, changed in profile in the Brazilian economy

in the period from 1987 to 2003, examining the main transformations and their economic implications.

To that end, data from the Research of Family Budgets (POF), conducted by IBGE for the years of

1987/1988, 1995/1996 and 2002/2003, were utilized. The analysis of changes in food consumption of

different classes of income allowed verifying the reduction in the total food purchase, except for

families with incomes up to twice the minimum wage. There was reduction in per capita annual

consumption of products that require more time for preparation, and increase in the acquisition of more

practical and easy-to-prepare food. The search for practicality, due to the new life style adopted by

families, has demonstrated the appearance of a new consumer market for ready and easy-to-prepare

meals at the expense of consumption of more traditional foods.

Key words: Research of Family Budgets (POF), Food consumption, Brazilian families.

1 Graduada em Ciências Econômicas pela Universidade Estadual de Maringá (UEM) e Mestranda em Economia Aplicada

pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de Queiroz” – ESALQ/USP. E-mail: [email protected] 2 Doutora em Economia pela University of South Carolina (USC). Professora do Departamento de Economia da

Universidade Estadual de Maringá (UEM). E-mail: [email protected]

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1 INTRODUÇÃO

Importantes mudanças nos hábitos alimentares das famílias brasileiras têm sido observadas

desde meados da década de oitenta até os dias atuais. A principal delas refere-se ao aumento no

consumo de alimentos prontos ou semi-prontos, mais práticos e de fácil preparo, em detrimento de

alimentos tradicionais, que necessitam maior dedicação ao preparo. Como principais responsáveis por

essas mudanças estão as alterações na estrutura familiar, com redução no número de membros,

principalmente nas áreas urbanas, e também a maior participação da mulher no mercado de trabalho,

que passou a alocar seu tempo não apenas em atividades domésticas e cuidados aos filhos, mas também

ao trabalho fora de casa. Além desses, destaca-se o processo de intensificação da urbanização, que

levou os indivíduos a alterarem seus estilos de vida, uma vez que seus afazeres demandam menor

esforço físico e maior tempo de dedicação.

Todas essas transformações no âmbito socioeconômico remetem à busca pela otimização do

tempo, visto que as famílias, em especial aquelas que têm as mulheres como chefe, têm se dedicado

mais ao trabalho.

Considerando a distribuição dos gastos relativos intra e entre níveis de renda, constata-se

também uma disparidade relevante entre os percentuais da renda destinados ao consumo de alimentos,

demonstrando que os diferenciais de rendimento podem interferir de modo substancial nas preferências

dos agentes.

Ao analisar pesquisas de orçamentos familiares, observa-se que diferenciais de renda implicam

em padrões distintos de consumo de alimentos. Verifica-se que famílias com baixo rendimento

destinam a maior parte de suas despesas ao consumo de alimentos3, em especial aqueles considerados

essenciais, como o arroz, o feijão, as carnes, etc. Contrariamente, famílias com elevado rendimento

mensal, a saber – mais de R$6.000 de acordo com a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF 2002/2003)

– destinam pouco mais de 9% de suas despesas ao consumo de alimentos (IBGE, 2004).

Verificam-se ainda, mudanças no perfil do consumo de alimentos ao longo do período de 1987

a 2003, no Brasil. Segundo uma pesquisa realizada por Kassouf e Schilidwein (2007), entre o período

de 1974 a 2003, houve uma redução significativa na demanda por alguns alimentos adquiridos para

serem consumidos dentro do domicílio, dentre eles o arroz polido, 46% e a batata-inglesa, 59%.

Entretanto, observou-se também um aumento considerável no consumo de produtos como iogurte,

702%; refrigerante, 490%; alimentos preparados, 216%; dentre outros, de modo que mereça destaque a

significativa influência do preço na determinação da aquisição de tais itens.

Diante de tais ocorrências, o estudo das despesas com alimentos de diferentes classes de

rendimentos torna-se relevante, uma vez que podem ser verificadas quais as preferências e restrições

dos consumidores, bem como suas implicações econômicas à sociedade. De acordo com Maluf (2008),

os gastos com alimentação têm um peso muito distinto na composição das despesas das famílias nos

diversos estratos de renda e o acesso regular e adequado aos alimentos para as famílias pertencentes aos

estratos inferiores é custoso no sentido de que absorve parcela significativa da renda familiar e isso

pode comprometer o acesso a outros bens e serviços necessários a uma vida digna.

De igual modo, a análise das mudanças no padrão alimentar das famílias brasileiras em um

determinado período, permite conhecer os principais itens demandados pelas famílias atualmente,

assim como identificar quais as principais transformações nos hábitos dos consumidores. Entender

melhor quais as mudanças ocorridas contribui para a formulação de políticas públicas relacionadas à

alimentação, à saúde e à qualidade de vida, portanto, ao desenvolvimento socioeconômico do país.

Neste sentido, e considerando a deficiência de estudos empíricos relacionados ao tema, este

estudo se realiza. Propõe-se verificar como os hábitos alimentares, com relação à aquisição domiciliar

3 Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) do ano de 2002/2003, realizada pelo IBGE, as famílias com rendimento

monetário e não monetário mensal familiar de até R$400 destinavam, em média, 32,68% de suas despesas com consumo ao

dispêndio com alimentação.

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per capita e em diferentes faixas de renda, mudaram em perfil na economia brasileira no período de

1987 a 2003, analisando as principais transformações e suas implicações econômicas.

2 ABORDAGENS TEÓRICAS DO COMPORTAMENTO DO CONSUMIDOR

É de grande importância econômica o desenvolvimento de teorias que busquem explicar o

comportamento dos consumidores frente às inúmeras decisões que lhes são impostas, visto que esses

possuem desejo ilimitado por maior consumo e se defrontam com a existência de restrições

orçamentárias. O estudo do comportamento do consumidor, segundo Barros (2001), tem sido a

ocupação de muitos economistas, uma vez que o consumidor encontra-se como elemento central nas

atenções da análise econômica, pois o desempenho de um sistema econômico, bem como o grau de

bem-estar oferecido pelo consumo, podem ser mensurados pela capacidade que o sistema tem de alocar

eficientemente seus recursos escassos de maneira que satisfaça as necessidades e desejos dos

consumidores da melhor maneira possível.

O consumo é tido como um componente de importante participação na demanda agregada, uma

vez que suas variações são tidas como elemento de percepção entre picos e recessões dos ciclos

econômicos.

A importância do consumo da sociedade foi mencionada em 1776, com a publicação de A

Riqueza das Nações, obra do filósofo e precursor da Economia, Adam Smith, a qual foi considerada o

marco inicial do enfoque científico dos fenômenos econômicos. Smith enfatiza que, uma vez a divisão

do trabalho plenamente implantada, o homem não é capaz de satisfazer totalmente suas necessidades

através do resultado do seu próprio trabalho, mas grande parte de seus anseios são atendidos com o

produto do trabalho alheio. Dessa forma, o homem participa com uma pequena fração de contribuição

com o produto do seu trabalho e torna-se consumidor de tudo o que é produzido na sociedade.

Devido à grande complexidade na qual se insere o comportamento do consumidor, são

abordadas as diferentes teorias conhecidas na literatura econômica relacionadas à função consumo,

sendo estas, base para a realização da pesquisa. Inicialmente é realizado um estudo referente à função

consumo na perspectiva keynesiana; posteriormente é apresentado o Modelo de Escolha Intertemporal

no Consumo, desenvolvido por Irving Fisher; na seqüência, é estudada a hipótese do ciclo de vida,

analisada por Franco Modigliani e Richard Brumberg e também a hipótese da renda permanente, de

Milton Friedman; e por fim, são consideradas as contribuições das expectativas racionais inseridas na

hipótese da renda permanente.

2.1 Função Consumo Keynesiana

Um dos primeiros trabalhos relevantes em que se tratou do consumo inserido na

macroeconomia foi publicado em 1936, por John M. Keynes, em sua obra General Theory. A partir de

então, a função consumo passou a desempenhar um papel de grande importância na análise

econômica4. Em sua teoria, Keynes fez pressuposições a respeito da função consumo a partir da

introspecção e de sua experiência pessoal, sem que houvesse maiores fundamentos teóricos ou

empíricos, pois ele não dispunha de dados agregados e detalhados sobre o desempenho da economia

global. De igual modo, não existiam computadores com programas sofisticados utilizados em análises

estatísticas, os quais abarcam grandes conjuntos de informações para realização de cálculos complexos

com extrema facilidade.

A função adotada por Keynes relaciona o consumo, medido em unidades de salário (Cw); com a

renda, também medida em unidades de salário (Yw), que corresponde a um dado nível de emprego.

Dessa forma, observa-se que, para Keynes, o principal determinante do consumo é a renda. Esta é uma

4 A expressão “função consumo” foi originalmente chamada por Keynes (1996) de “propensão a consumir”.

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proposta inovadora e contrasta fortemente com o pensamento clássico, o qual considera que o consumo

está intimamente ligado à taxa de juros, de forma que uma elevação nesta diminuiria

consideravelmente o consumo, uma vez que recursos seriam atraídos para a poupança com a alta dos

juros. Para Keynes, a influência da taxa de juros sobre o consumo é apenas um aspecto da teoria

econômica, no entanto, é secundária e relativamente sem importância no curto prazo. Mesmo que

outros fatores possam provocar variações no consumo, Keynes considera que “a renda agregada

medida em unidades de salário é a principal variável que depende o componente consumo da função de

procura agregada” (KEYNES, 1996).

Outra importante hipótese colocada por Keynes se refere à lei psicológica fundamental, onde de

modo geral, as pessoas estão dispostas a aumentar seu consumo quando ocorre um aumento na renda,

porém esse aumento não ocorre na mesma proporção. Esta relação funcional entre renda e consumo é

chamada de “propensão marginal a consumir”, sendo representada por um coeficiente que varia entre

zero e um, indicando quanto de uma variação da renda a sociedade tem como propensão psicológica e

hábito destinar ao consumo. De acordo com Keynes (1996), “ C tem o mesmo sinal que Y, porém é

de grandeza menor, isto é, YC / é positivo e inferior à unidade” (KEYNES, 1996).

A terceira propriedade proposta por Keynes se relaciona à tendência decrescente da razão entre

consumo e renda, ou seja, a propensão média a consumir diminui à medida que a renda aumenta. O

autor acreditava que a poupança era um luxo, desfrutado pelos indivíduos com maior renda, de modo

que esperava que os ricos poupassem uma parcela maior de sua renda do que os mais pobres, que

dedicam, geralmente, sua renda à satisfação das necessidades imediatas.

2.2 Modelo da Escolha Intertemporal no Consumo

Anteriormente à Teoria Geral de Keynes, Irving Fisher elaborou o Modelo de Escolha

Intertemporal no Consumo em 1930, que partiu da teoria dos juros para organizar uma teoria da

avaliação dos investimentos, na qual a taxa de retorno sobre o custo é uma taxa de desconto que

equaliza o valor presente do rendimento nas maneiras possíveis de se realizar investimentos, e seu

retorno depende das taxas de juros utilizadas, que podem diferir de um período para o outro. Este

conceito se aplicou à função consumo no sentido de que os consumidores são racionais e realizam

decisões que envolvem períodos distintos, ou seja, realizam escolhas intertemporais. Desta forma, os

consumidores se deparam com um trade-off entre consumo e poupança.

Semelhantemente à proposição feita por Keynes, Fisher também considera a renda agregada

como principal variável de influência ao consumo agregado, porém este último destaca a importância

do rendimento não apenas em um período, mas em todos os períodos de atividade. O consumidor

decide, supondo conhecer seu rendimento ao longo de toda a vida, como pretende gastá-lo. O indicador

que auxilia o consumidor em sua escolha intertemporal é a taxa de juros e o preço do consumo no

período futuro é avaliado em termos do consumo presente, ou seja, é a parcela que o consumidor deve

abrir mão no presente para obter uma unidade do consumo no futuro.

2.3 Hipótese do Ciclo de Vida

Uma nova perspectiva é dada à função consumo nos estudos de Franco Modigliani e Richard

Brumberg (1956), que utilizam como base o modelo do comportamento do consumidor desenvolvido

por Irving Fisher. Segundo os autores, o consumo depende da renda que o indivíduo aufere durante sua

vida, porém a renda não é constante, fazendo com que o consumidor desloque parte da mesma de um

período para o outro através da poupança e também de empréstimos. Ainda acrescentam que, a riqueza

inicial (W) faz parte dos recursos que o consumidor dispõe ao longo de sua vida.

O modelo proposto por Modigliani deriva a função consumo agregada da função utilidade do

consumidor individual, o qual busca a maximização da utilidade conforme sua disponibilidade de

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recursos. Considera que os recursos são a soma da riqueza inicial e dos ganhos correntes e futuros

logrados no decorrer da vida e que, a partir do somatório das funções consumo individuais, chega-se à

função consumo agregada da sociedade.

De acordo com o modelo, para a maximização intertemporal da utilidade, o consumo está em

função da taxa de juros, do patrimônio inicial e das rendas do trabalho. Ademais, admite-se que as

rendas esperadas do trabalho para o futuro dependem da renda do trabalho presente. Portanto, a renda

corrente total disponível será a soma da renda corrente do trabalho juntamente à renda líquida do

capital.

2.4 Hipótese da Renda Permanente

A hipótese da renda permanente, publicada por Milton Friedman em 1957, tem como base o

desenvolvimento alternativo da teoria da função consumo como forma de explicar o comportamento

dos agentes consumidores. Assim como a hipótese do ciclo de vida, a hipótese de Friedman utiliza a

teoria do consumidor de Fisher para afirmar que o consumo não é dependente apenas da renda corrente.

A hipótese da renda permanente enfatiza que a experiência do indivíduo altera sua renda de maneira

aleatória e temporária ao longo do ciclo de vida.

De acordo com Friedman (1957), os indivíduos formam seu comportamento de consumo em

relação às oportunidades de consumo de longo prazo, levando em consideração as rendas de vários

períodos, e não conforme o nível de renda corrente. As despesas são realizadas ao longo de um período

após o recebimento da renda, dessa forma, o indivíduo opta por um fluxo de consumo estável, não

concentrando todo-o em um único dia.

A hipótese apresenta a renda como sendo a soma de dois componentes: uma parte permanente e

outra transitória. A primeira pode ser interpretada como a renda auferida pelo indivíduo de forma

estável, ou seja, aquela que não varia com o tempo e nem com a circunstância. O componente

transitório da renda refere-se aos rendimentos obtidos por ocasiões, de forma efêmera, considerando-se

também as flutuações cíclicas da atividade econômica desenvolvida pelo indivíduo.

Segundo o autor, o consumo é determinado pela renda permanente, de modo que a renda

transitória altera o consumo apenas em momentos posteriores e caso se mantenha constante por um

determinado período.

2.5 Expectativas Racionais na Função Consumo

Na década de oitenta, inúmeros trabalhos surgiram incorporando a hipótese das expectativas

racionais, fundamentados na idéia de que os consumidores planejam seus consumos com base nas

informações disponíveis no momento da tomada de decisão, incluindo também as informações acerca

da renda futura.

O primeiro a difundir as expectativas racionais no contexto das Ciências Econômicas, segundo

Barros (2001), foi Robert Lucas (1982), com a famosa crítica aos modelos econométricos apresentados

em 1973.

Lucas argumentava que uma modificação na visão dos agentes sobre os futuros movimentos de

uma variável relevante causaria mudanças em suas regras de decisões, uma vez que a relação

comportamental do modelo é derivada de regras de decisões ótimas dos agentes econômicos.

De acordo com o autor, o nível atual de consumo é o nível escolhido pelo consumidor para

maximizar sua utilidade levando em consideração sua expectativa de vida. Esta escolha baseia-se em

todas as informações disponíveis sobre a renda corrente e futura, bem como o comportamento dos

preços. Ademais, os consumidores usam todo conhecimento disponível sobre o comportamento de

outros participantes da economia no processo de informação, inclusive o do governo, verificando qual

o grau de confiabilidade dessas informações.

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Posteriormente ao desenvolvimento da idéia de expectativas racionais no consumo, Robert Hall

(1978) formulou um instrumento empírico cuja idéia principal consistia em mostrar que os

consumidores maximizam o valor esperado da utilidade de vida sujeito a uma taxa de juros real

constante.

As implicações das expectativas racionais no consumo incorporam a hipótese da renda

permanente e o modelo de Fisher da escolha intertemporal, pois seu princípio básico é de que os

consumidores racionais, atentos ao futuro, realizam suas decisões considerando não apenas a renda

corrente, mas também o que esperam receber no futuro. Dessa forma, destaca-se a idéia de que o

consumo depende das expectativas formadas ao longo da vida do consumidor e também que as

alterações no consumo são imprevisíveis uma vez que dependem das informações disponíveis a cada

momento sobre a renda futura.

Segundo Barros (2001), as implicações das expectativas racionais sobre o consumo abrangem

não apenas as formulações de previsões, mas alcançam também a análise do impacto das políticas

públicas sobre a economia. Caso os consumidores se comportem conforme a hipótese da renda

permanente e tenham expectativas racionais, os formuladores de política econômica influenciam a

economia tanto através de suas ações, como através da impressão que suas ações conseguem moldar as

expectativas do público. As transformações nos hábitos dos consumidores somente ocorrerão caso

ocorra uma mudança programada na economia, pois caso ela tenha sido pré-anunciada, os indivíduos

anteriormente terão revisado suas expectativas e não serão influenciados pela política. Diante de tal

fato, as mudanças no consumo ocorrerão apenas como resultado de alterações inesperadas na renda que

levem a mudanças na renda permanente estimada.

O conhecimento das teorias de consumo agregado mostra-se relevante ao demonstrar que o

comportamento do consumidor depende de variáveis como a renda, a riqueza, a taxa de juros e as

preferências individuais. Além disso, essas teorias apontam o papel das expectativas no comportamento

dos agentes enquanto componentes da demanda agregada.

No entanto, este trabalho objetiva investigar, dentro do componente que representa as

preferências dos consumidores, outros fatores que possam ser responsáveis pelas mudanças nos hábitos

de consumo, dentre elas as transformações socioeconômicas e demográficas ocorridas nos últimos

anos. Diante disso, a presente pesquisa se concentra em um aspecto do comportamento do consumidor,

enfatizando os responsáveis pelas mudanças no consumo de alimentos e as possíveis conseqüências

econômicas dessas para a demanda de itens selecionados para a investigação empírica.

3 MUDANÇAS NOS HÁBITOS ALIMENTARES DAS FAMÍLIAS BRASILEIRAS

Importantes trabalhos, atualmente, têm sido desenvolvidos com o intuito de auxiliar o

entendimento do comportamento da demanda por alimentos no Brasil e suas alterações nas últimas três

décadas. Utilizando-se de teorias inovativas e incorporando novas ferramentas de análise empírica,

esses trabalhos também chegaram à conclusão de que os hábitos alimentares das famílias brasileiras

sofreram alterações determinadas pelas transformações socioeconômicas ocorridas no período. Dentre

essas transformações, podem ser destacadas a maior participação da mulher no mercado de trabalho;

alterações na estrutura familiar, com redução no número de membros; intensificação do processo de

urbanização; e variações na renda e em seu processo distributivo (SCHLINDWEIN, 2006;

SCHLINDWEIN e KASSOUF, 2007; MONDINI e MONTEIRO, 1994). Cabe destacar ainda que,

apesar do avanço teórico e empírico alcançado por esses trabalhos, algumas limitações são observadas,

como a não utilização das preferências dos consumidores na modelagem econométrica, uma vez que

não consideram as variações de preços como determinantes à escolha do consumidor (MENEZES et

al., 2006). São consideradas apenas as quantidades adquiridas dos alimentos, a renda familiar ou per

capita e os percentuais da renda destinados a cada um dos itens de despesa. As alterações nos preços

como um dos determinantes das transformações nos hábitos alimentares é de extrema importância, uma

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vez que os agentes consumidores, racionais, fazem suas escolhas considerando os níveis de preços

relativos.

3.1 A Participação da Mulher no Mercado de Trabalho

A participação feminina no mercado de trabalho, um dos fatores considerados responsáveis

pelas mudanças nos hábitos alimentares, intensificou-se a partir da década de 1970, num contexto de

expansão da economia com acelerado processo de industrialização e urbanização. Apesar da

estagnação da atividade econômica e da deterioração das oportunidades de ocupação, prosseguiu na

década de 1980 e, nos anos 1990, continuou a tendência de crescente incorporação da mulher na força

de trabalho (HOFFMANN e LEONE, 2004).

Entre os anos de 1981 a 2002, a taxa de atividade feminina elevou-se de 33% para 47%, ou seja,

um acréscimo de 14 pontos percentuais em 21 anos (Gráfico 1).

0

10

20

30

40

50

60

1981 1985 1990 1995 2002

Anos

%

Gráfico 1 – Taxas de atividade feminina no mercado de trabalho (em %) – Brasil, vários anos Fonte: Elaborado pelas autoras com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE.

De acordo com Scorzafave e Menezes-Filho (2001), pode-se afirmar que o aumento da

qualificação e mudanças de atitude ante os desafios do mercado de trabalho contribuíram para que mais

mulheres se lançassem à procura de novos postos de trabalho e também melhor colocação profissional

nos diversos setores da atividade econômica. Deve-se destacar ainda que, de acordo com os dados da

POF 2002/2003, atualmente 54% das mulheres brasileiras chefes de família ou cônjuges trabalham, o

que possivelmente reduz o tempo disponível às atividades do lar, dentre elas a dedicação às refeições.

Destarte, eleva-se o consumo de alimentos que demandam menor tempo de preparo, assim como

refeições prontas, alimentos congelados ou enlatados.

3.2 Transformações na Estrutura Familiar Brasileira

Outro fator determinante às alterações nos hábitos alimentares das famílias está relacionado às

transformações na estrutura familiar das últimas décadas. De acordo com Senna e Antunes (2003) apud

Simionato e Oliveira (2003), a composição das famílias brasileiras, especialmente nas últimas três

décadas, vem passando por várias alterações do ponto de vista demográfico e, embora tais alterações

ocorram de forma diferenciada nas diversas regiões do país, algumas ocorrem de forma mais ou menos

similar, como a redução da natalidade e o aumento da longevidade das pessoas.

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Intimamente relacionado à maior participação feminina no mercado de trabalho, observa-se,

atualmente, mudanças no que se refere à divisão tradicional de tarefas dentro do lar (SIMIONATO e

OLIVEIRA, 2003). Com a inserção da mulher no mercado de trabalho, e conseqüente redução de seu

tempo ao cuidado dos filhos e às atividades domésticas, tais responsabilidades foram transferidas aos

homens, cabendo a estes também as obrigações de compra e preparo das refeições.

As mudanças na estrutura familiar exercem influência significativa nas transformações dos

hábitos alimentares, uma vez que, com menor número de membros nas famílias, a quantidade de

alimentos adquirida para o consumo familiar é reduzida.

3.3 O Processo de Urbanização Brasileiro

Intensificado na década de 1930, com a queda da hegemonia da economia agrícola e ascensão

do setor industrial, o processo de urbanização no Brasil trouxe consideráveis transformações ao estilo

de vida adotado pela sociedade (MARTINE et al., 2008). Dentre estas, têm destaque o sedentarismo e o

consumo de alimentos prontos ou de fácil preparo. A maior dedicação ao trabalho e o ritmo das

atividades desenvolvidas, não permitem que os indivíduos destinem grande parte de seu tempo ao

preparo de alimentos, sendo preferíveis aqueles que já estiverem prontos, mesmo que não tenham as

qualidades nutricionais adequadas. A urbanização é também acompanhada por um maior número de

atividades que demandam menor esforço físico devido, especialmente, às novas tecnologias.

Várias implicações associadas à urbanização podem ser citadas, tais como as mudanças nos

padrões dietéticos, com maior consumo de gorduras e açúcar refinado, que aliadas ao sedentarismo,

aumentam os riscos de obesidade, doenças cardiovasculares e também alguns tipos de câncer.

3.4 Alterações na Renda e em seu Processo Distributivo

Indubitavelmente, as decisões dos consumidores são afetadas diretamente por alterações na

renda, assim como em seu processo distributivo, uma vez que se comportam como agentes racionais e

maximizadores de utilidades.

Com o advento do Plano Real, em julho de 1994, houve, especialmente nos primeiros anos,

uma recuperação expressiva do nível de rendimentos, acompanhada por importantes progressos nos

processos distributivos (RAMOS e VIEIRA, 2008). A exemplo de tal fato tem-se que, em 1993, os

10,0% brasileiros mais ricos detinham 49,0% da renda total, e este mesmo extrato de renda da

população apropriou 47,1% em 1995. Ou seja, entre o ano imediatamente anterior e o ano

imediatamente posterior à implementação do Plano Real, ocorreu uma modesta melhora no perfil

distributivo (MICHEL, 2008). Parte importante desta modesta melhora no perfil distributivo deve ser

atribuída ao processo de estabilização em si, que trouxe o fim do imposto inflacionário. Conforme

assinala Michel (2008), fundamentalmente, em um contexto marcado por elevada inflação, é racional

que os agentes econômicos mantenham suas rendas protegidas em aplicações financeiras. Contudo, os

extratos de renda inferior têm dificuldades de acesso ao sistema financeiro, sendo que na maioria das

vezes são privados da tradicional conta corrente. Diante de tal fato, o racional para esses atores quando

do recebimento de suas rendas de trabalho é a formação de estoques, quase em sua totalidade

compostos por gêneros de primeira necessidade.

A dúvida ainda existente, de acordo com Ramos e Vieira (2008), é se os avanços na renda e em

seu processo distributivo foram suficientes para compensar a deterioração ocorrida no período anterior

ao plano de estabilização, assim como em que extensão eles foram afetados pelas adversidades

enfrentadas pela economia, em especial pelo mercado de trabalho, em fins dos anos 1990. Vale

ressaltar ainda, segundo os autores, que a desigualdade de rendimentos no Brasil, além de ser uma das

maiores do mundo, permaneceu em patamares bastante elevados principalmente na década de 1980,

com sensível melhora na década de 1990.

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Atualmente, o processo de distribuição de renda vem assumindo destaque na pauta de

discussões econômicas e sociais. Tal fato deve-se ao governo ter como prioridade absoluta o combate à

fome, estabelecendo programas como o Fome Zero, cujo principal objetivo é assegurar o direito

humano à alimentação adequada para as pessoas com dificuldades de acesso aos alimentos (Brasil,

2008a).

3.5 Mudanças nos Preços dos Alimentos

Diferentemente de trabalhos anteriores, este considera que as variações de preços dos alimentos

nas últimas duas décadas são de extrema importância às transformações nos hábitos alimentares das

famílias brasileiras.

De acordo com Farina e Nunes (2002), a queda nos preços relativos da agricultura na década de

1990, a qual tem influência direta nos preços relativos dos alimentos, está relacionado a um conjunto de

fatores, a saber: a elevação da produtividade da terra; a valorização cambial, que teria acentuado os

efeitos da liberalização comercial durante a maior parte da década de 90; a pressão exercida pela

abertura comercial, que teria reduzido margens de lucro ao longo da cadeia produtiva e promoveu a

redução dos custos de produção; a queda acentuada nos preços internacionais dos produtos agrícolas

após a crise asiática; e a “normalização” dos funcionamentos dos mercados depois de superada a

confusão de preços relativos, típica de períodos de hiperinflação, que teria permitido a redução de

preços ao consumidor final.

Após o Plano Real, os preços reais dos alimentos reduziram-se drasticamente, exatamente no

período de maior aquecimento da demanda (1994 a 1997), segundo Farina e Nunes (2002). Ao serem

observados os dados do INPC/IBGE, verifica-se no período de agosto de 1994 a fevereiro de 2002,

redução média de 20% no índice de preços reais dos alimentos no Brasil (IBGE, 2008c).

A alimentação fora do domicílio, por sua vez, apresenta menor redução dos preços reais, embora

por um período mais longo de tempo, chegando a 2001 com índices reais de preços 15% inferiores aos

de 1994. Dessa forma, pode-se afirmar que, tanto os preços dos alimentos adquiridos para consumo no

domicílio quanto os preços dos serviços de alimentação, sofreram reduções significativas.

3.6 Aquisição Alimentar

As mudanças no padrão de consumo alimentar podem ser verificadas ao serem analisadas as

quantidades adquiridas de determinados alimentos ao longo de um período. Em estudo realizado pelo

IBGE5, analisando os hábitos alimentares das famílias brasileiras nos últimos trinta anos, tornou-se

evidente que as preferências dos consumidores se modificaram (IBGE, 2008a). Observando um período

mais recente, a pesquisa mostrou que, desde fins da década de 1980, o brasileiro diversificou sua

alimentação, reduzindo o consumo de gêneros tradicionais como arroz, feijão, batata, pão e açúcar e

aumentando, por exemplo, o consumo per capita de iogurte, que passou de 1,14 kg (POF 1987/1988)

para 2,91 kg (POF 2002/2003), e também de refrigerante sabor guaraná, que era de pouco mais de dois

quilos (2,67 kg) por pessoa/ano e passou a ser aproximadamente 8 kg (7,7 kg). Outro item que

despertou curiosidade foi o leite de vaca pasteurizado, produto consumido em grande quantidade pelas

famílias, que teve seu consumo reduzido em 40%. Por outro lado, o consumo de água mineral passou

de 0,96 kg para 18,5 kg per capita por ano. Um outro sinal de mudança nos hábitos é dado, por

exemplo, pelo consumo dos alimentos preparados, que elevou-se de 1,38 kg, de acordo com os

resultados da POF 1987/1988, para 5,40 kg per capita, segundo a POF 2002/2003 (Tabela 1).

5 Verificou-se divergência entre os valores de alguns itens alimentícios apresentados na tabela do Informativo do IBGE e as

tabelas obtidas no sítio oficial do IBGE, as quais contém os resultados das POFs dos anos de 1987/1988, 1995/1996 e

2002/2003 (ver IBGE 2008a e Anexos). Tal divergência não foi esclarecida quando solicitada explicação à Central de

Atendimento do IBGE.

10

Tabela 1 – Quantidade anual per capita de alimentos selecionados adquiridos para consumo no

domicílio – 1987-2003 (kg)

Produtos selecionados

Quantidade anual per capita de alimentos adquiridos para consumo no

domicílio (kg)(1)

POF

1987-1988

POF

1995-1996

POF

2002-2003

Arroz polido 29,73 26,48 17,11

Feijão 12,13 10,19 9,22

Batata-inglesa 13,11 9,22 5,47

Abóbora comum 1,18 1,21 4,17

Fubá de milho 2,15 1,74 1,34

Farinha de trigo 4,09 3,10 2,63

Farinha de mandioca 4,68 3,77 3,31

Macarrão 4,27 4,08 4,25

Açúcar refinado 15,91 13,20 8,27

Açúcar cristal 6,53 6,87 4,70

Carne bovina 18,51 20,80 14,57

Frango 22,84 22,68 14,19

Leite de vaca pasteurizado (2) 62,44 51,36 38,04

Iogurte 1,14 0,73 2,91

Pão francês 20,16 18,40 17,82

Refrigerante de guaraná (2) 2,67 4,28 7,66

Água mineral (2) 0,96 0,60 18,54

Café moído 2,56 2,33 2,27

Alimentos preparados 1,38 2,72 5,40

Óleo de soja (2) 8,76 6,94 5,85

Fonte: IBGE (2004).

(1) Regiões Metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba,

Porto Alegre e Brasília-DF.

(2) As quantidades foram transformadas em quilogramas (kg), considerando-se volume igual a peso (1 litro = 1 kg).

Conforme pode ser observado na Tabela 1, mudanças consideráveis ocorreram no consumo de

diversos alimentos. Deve-se destacar que os dados apresentados referem-se aos alimentos adquiridos

para consumo no domicílio no período analisado pelas pesquisas e que parte das variações (quedas nas

quantidades consumidas) se deve à migração para o consumo de alimentos fora do domicílio. Outro

ponto a ser destacado relaciona-se com as variações de preços ocorridas no período, as quais, sem

dúvida, influenciaram as mudanças no padrão de aquisição dos alimentos.

De acordo com Schlindwein e Kassouf (2007), os dados da Tabela 1 indicam mudanças nos

hábitos alimentares da população brasileira. Percebe-se uma considerável redução no consumo

domiciliar de alimentos que demandam maior tempo para o preparo das refeições, como o arroz, a

batata-inglesa e as carnes. Todavia, verifica-se significativo aumento no consumo de alimentos

preparados, iogurtes e refrigerantes, considerados menos saudáveis e de rápido preparo.

Cabe ressaltar ainda que a quantidade anual per capita adquirida de alguns tipos de alimentos

difere bastante entre as áreas rurais e urbanas. Nas áreas rurais, por exemplo, o consumo de arroz

polido é aproximadamente o dobro do consumido nas áreas urbanas, consome-se quase três vezes mais

feijão, quase sete vezes mais farinha de mandioca e quase oito vezes mais fubá de milho do que nas

11

áreas urbanas consideradas na análise, a saber –Regiões Metropolitanas de Belém, Fortaleza, Salvador,

Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, e também Brasília-DF. Entretanto,

nas áreas urbanas adquiri-se quase seis vezes mais leite pasteurizado de vaca e quase quatro vezes mais

pão francês do que nas áreas rurais (IBGE, 2008a).

Uma comparação entre a POF de 2002/2003 e as anteriores (de 1987/1988 e 1995/1996),

considerando apenas cinco regiões metropolitanas (Belém, Recife, Rio de Janeiro, São Paulo e Porto

Alegre), revela que, de um modo geral, aumentaram as participações dos itens Panificados e Bebidas e

infusões no total das despesas com alimentação no domicílio; por outro lado, diminuíram as

participações de Carnes, vísceras e pescados, Leites e derivados, Açúcares e derivados e Frutas (IBGE,

2008a).

De acordo com o IBGE (2008a), ao serem analisados os tipos de produtos consumidos nas duas

classes extremas de rendimento mensal familiar (até R$400 e mais de R$4.000), observa-se que a

classe mais alta gasta um percentual maior de sua despesa total com alimentação em itens como: frutas

(3,54%, contra 2,44% da classe de até R$ 400); leites e derivados (9,21% contra 7,72%), com destaque

para queijos (2,67% contra 0,42%); azeite de oliva (0,45% contra 0,05%); refrigerantes (2,44% contra

1,34%); enlatados e conservas (0,90% contra 0,41%); e alimentos preparados (2,56% contra 0,81%).

As despesas com carne de boi também diferem significativamente quando analisadas as

diferentes classes de rendimento. A classe mais alta tem um gasto maior com carne de primeira (3,93%

contra 2,43% da classe mais baixa), enquanto a classe de renda mais baixa gasta um percentual maior

com carne de segunda (4,47% contra 1,06% da classe mais alta).

3.6.1 Aquisição Alimentar para Consumo Fora do Domicílio

Uma análise mais detalhada das despesas com alimentação, segundo o IBGE (2008a), revela

que 75,9% destas são destinadas à alimentação no domicílio, enquanto 24,05% destina-se ao consumo

alimentar fora do domicílio. O percentual gasto com alimentação fora do domicílio nas áreas urbanas é

praticamente o dobro do gasto nas áreas rurais, evidenciando algumas das diferenças existentes entre as

famílias que vivem nessas duas áreas.

Grande parte das despesas com alimentação fora do domicílio é empregada em refeições como

almoço e jantar (10,05% do total de gastos com alimentos) e lanches (3,81%). Ao serem comparadas as

classes extremas de rendimento mensal familiar, observa-se que a classe de rendimentos mais baixos

(até R$ 400) destina 88,19% do total gasto com alimentos à alimentação no domicílio e 11,81% à

alimentação fora do domicílio. Entretanto, a classe de rendimentos mais altos (mais de R$ 4.000)

destina 62,95% à alimentação no domicílio e 37,05% à alimentação fora do domicílio. Ou seja, a classe

mais alta de rendimento gasta mais que o triplo do percentual da mais baixa para alimentar-se fora do

domicílio. Além disso, despende com alimentação pouco mais que o dobro da média nacional, e o

quádruplo da classe mais baixa (IBGE, 2008a).

3.6.2 A Lei de Engel

Conhecida por descrever o comportamento do consumidor quanto ao dispêndio com

alimentação em suas diferentes classes de rendimentos, a Lei de Engel, formulada pelo estatístico

alemão Ernest Engel, afirma que a participação do gasto com alimentação no orçamento das famílias

declina com o nível de renda (MENEZES et al., 2006). O caso brasileiro segue tal comportamento,

uma vez que a participação percentual das despesas com alimentação no total das despesas familiares

apresenta-se decrescente quando observadas as diferentes classes de rendimentos (Gráfico 2).

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1 2 3 4 5 6 7 8 9 10

POF 1987/1988

POF 1995/1996

POF 2002/2003

Gráfico 2 – Participação das despesas com alimentação no orçamento das famílias brasileiras para as

dez classes de rendimentos apresentadas pelas Pesquisas de Orçamento Familiar de

1987/1988, 1995/1996 e 2002/2003 Fonte: IBGE, 2008b.

Como pode-se constatar, ao serem analisados os diferentes decis – o primeiro representando as

famílias pertencentes à classe de menor rendimento – nota-se um declínio na participação das despesas

com alimentação conforme os níveis de renda se elevam. A redução também se verifica ao longo do

tempo, demonstrando que para todas as classes de rendimentos a participação das despesas com

alimentação têm caído.

4 ANÁLISE DESCRITIVA DAS MUDANÇAS NOS HÁBITOS ALIMENTARES DO

CONSUMIDOR BRASILEIRO POR CLASSES DE RENDIMENTO: 1987 – 2003

Esta pesquisa tem por base as Pesquisas de Orçamentos Familiares (POFs), realizadas pelo

IBGE, dos anos de 1987/1988, 1995/1996 e também 2002/2003.

Realizada periodicamente, a POF é uma pesquisa domiciliar por amostragem que investiga

informações sobre características de domicílios, moradores e, principalmente, seus respectivos

orçamentos, isto é, suas despesas e recebimentos. De acordo com o IBGE (2008b), a POF analisa a

composição dos gastos e do consumo das famílias segundo suas classes de rendimentos e a estrutura de

seus orçamentos domésticos. A mesma tem por objetivo principal mensurar as estruturas de consumo,

dos gastos e dos rendimentos das famílias, possibilitando traçar um perfil das condições de vida da

população brasileira a partir da análise de seus orçamentos domésticos.

Destarte, as Pesquisas de Orçamentos Familiares apresentam relevantes aplicações, como para

a gestão pública, contribuindo para subsidiar o estabelecimento de prioridades na área social, visando

melhorias da qualidade de vida da população, inclusive de políticas nos campos da nutrição, saúde,

moradia, entre outras. Para o setor privado, a pesquisa pode ser útil na definição de estratégias de

investimentos em que o conhecimento do perfil do consumidor e da demanda por bens e serviços seja

determinante. Destaca-se também a importância para as estatísticas públicas, possibilitando a

atualização das estruturas de ponderação das medidas de inflação, em particular do Sistema Nacional

de Preços ao Consumidor, produzido pelo IBGE, e da parcela de consumo das Contas Nacionais e

Regionais.

Para a realização deste trabalho, são utilizadas as informações obtidas no sítio oficial do IBGE,

os microdados das pesquisas anteriormente citadas, além de outros estudos relacionados através de

ampla revisão de literatura. Como método de abordagem, utiliza-se a modelagem de sistemas

13

econômicos com base na observação dos fatos sobre as mudanças nos hábitos alimentares das famílias

brasileiras.

4.1 As Classes de Rendimento

A estrutura de consumo de alimentos das famílias brasileiras apresenta-se bastante diferente

quando analisadas as diversas classes de rendimento. Devido a tal constatação, optou-se por analisar

duas classes de rendimento distintas, dessa forma, podendo ser conhecidos os perfis de consumo das

mesmas e também as alterações sofridas ao longo dos últimos vinte anos. As classes analisadas

compreendem as famílias com rendimento de até dois salários mínimos mensais e também famílias

com rendimento entre seis e oito salários mínimos mensais, ou seja, a classe de menor rendimento e a

de rendimento mediano, as quais têm representatividade significativa no total de famílias (IBGE,

2004). Cabe destacar que as POFs dos anos de 1987/1988 e 1995/1996 apresentam a mesma estrutura

quanto às classes de rendimento, não necessitando qualquer tipo de adaptação. No entanto, a POF

2002/2003 apresenta estrutura diferenciada, com os rendimentos das famílias explicitados em valores

nominais. Diante disso, as classes de rendimentos selecionadas com base no salário mínimo vigente do

período em que realizou-se a pesquisa são as de até R$400 e entre R$1.000 e R$1.600 (BRASIL,

2008b).

A POF 2002/2003 apresentou algumas informações relevantes quanto às características das

classes de rendimentos selecionadas, dentre elas a origem dos rendimentos, características das famílias

nelas compreendidas e a situação do domicílio.

Segundo o IBGE (2004), com relação às famílias de rendimento de até R$400 mensais, tem-se

que a principal fonte dos rendimentos é o trabalho, representando 44,36% do total dos rendimentos,

seguido pelas transferências, com 21,53%. Tal classe era composta, no período de realização da

pesquisa, por aproximadamente 8 milhões de famílias, cujo tamanho médio era de 3,34 membros.

Deve-se destacar ainda, que mais da metade dessas famílias apresentavam muita dificuldade em chegar

ao fim do mês com os rendimentos monetários auferidos.

As famílias pertencentes à classe de rendimento entre R$1.000 e R$1.600 também apresentaram

o trabalho como a principal fonte dos rendimentos, porém a representatividade deste é de mais de 60%.

Aproximadamente 8,6 milhões de famílias compunham tal classe de rendimento e apresentavam

tamanho médio de 3,72 membros. Salienta-se, também, que em torno de 20% dessas famílias sentiam

muita dificuldade em chegar ao fim do mês com o rendimento monetário familiar, resultado bastante

inferior quando comparado com a classe anteriormente observada.

4.2 Seleção de Produtos

Os produtos selecionados para análise quantitativa e qualitativa das mudanças nos hábitos

alimentares das famílias brasileiras no período de 1987 a 2003 foram o arroz polido; o feijão, sem

especificação de tipo; a batata-inglesa; as carnes, que incluem as carnes de boi, de porco, de cabrito e

de carneiro; o leite de vaca pasteurizado; o iogurte; a água mineral; o refrigerante de guaraná e também

foram observadas as quantidades de refeições prontas adquiridas. Esses produtos foram selecionados

com base em critérios de tempo de preparo e praticidade, sendo os cinco primeiros os que demandam

maior tempo para serem preparados, e os quatro últimos os de maior praticidade e rápido preparo.

14

4.3 Análise do Consumo dos Produtos Selecionados Segundo as Diferentes Classes de

Rendimento

As mudanças no padrão de consumo alimentar das famílias, considerando seus diferenciais de

renda, podem ser verificadas ao analisar as quantidades adquiridas de determinados alimentos ao longo

de um período.

Puderam ser observadas importantes mudanças nos hábitos alimentares das famílias brasileiras

com rendimento familiar de até dois salários mínimos e também de rendimento entre seis e oito salários

mínimos ao longo dos últimos vinte anos (Tabela 2). Considerando as diferentes classes analisadas e o

total apresentado, cujo valor se dá através da ponderação entre as representatividades das famílias em

cada classe de rendimento, verifica-se que há diferentes padrões de consumo e que esses sofreram

significativas alterações desde o ano de 1987. Deve-se salientar que a quantidade anual total per capita

de alimentos adquiridos para consumo no domicílio sofreu uma queda de 12,49%, demonstrando que,

de modo abrangente, sem distinção entre as classes de rendimento, as famílias brasileiras estão

consumindo menos alimentos. Porém, quando observadas as diferentes classes de rendimento

separadamente, isso não necessariamente se verifica, como ocorre com as famílias de rendimento entre

seis e oito salários mínimos, cujo aumento na aquisição per capita de alimentos nos últimos vinte anos

foi de 1,35%.

Tabela 2 – Quantidade anual per capita de alimentos selecionados adquiridos para consumo no

domicílio segundo classes de rendimentos – 1987-2003 (kg)

Produtos

POF 1987/1988 POF 1995/1996 POF 2002/2003

Classes de Rendimento Classes de Rendimento Classes de Rendimento

Total(2)

Até 2

salários

mínimos

Mais de

6 a 8

salários

mínimos

Total(2)

Até 2

salários

mínimos

Mais de

6 a 8

salários

mínimos

Total(2)

Até 2

salários

mínimos

Mais de

6 a 8

salários

mínimos

Total 377,416 247,979 338,989 339,742 206,235 311,196 330,255 234,478 343,576

Arroz polido 29,913 22,910 27,886 26,483 20,440 25,293 24,546 23,319 26,122

Feijão 11,515 11,987 11,477 10,028 9,559 9,591 12,394 14,690 12,147

Batata-inglesa 13,042 8,361 11,382 9,218 4,835 8,624 5,271 2,245 6,096

Carnes 25,546 14,322 23,455 28,093 14,564 27,131 25,237 16,859 27,373

Leite de vaca pasteur.(1) 62,343 39,086 54,156 51,36 25,350 44,794 27,055 8,579 29,299

Iogurte (1) 1,147 0,271 0,900 0,732 0,221 0,637 1,967 0,600 2,192

Água mineral (1) 0,943 0,226 0,332 0,596 0,039 0,328 10,954 3,496 10,817

Refrig. de guaraná (1) 2,695 1,079 2,242 4,28 1,306 3,084 7,074 2,542 7,414

Refeição pronta 0,395 0,154 0,370 0,365 0,078 0,041 0,666 0,300 0,498

Fonte: IBGE (2008b).

Notas: (1) As quantidades foram transformadas em quilogramas (kg), considerando-se volume igual a peso (1 litro = 1 kg). (2) Total da quantidade anual per capita de alimentos adquiridos ponderadas as participações de todas as classes de

rendimentos.

Como forma de corroborar as afirmações feitas anteriormente, é importante observar as

representatividades dos alimentos selecionados, verificando a importância relativa de cada um na dieta

das famílias e como os mesmos sofreram alterações de consumo nos últimos anos.

A partir dos dados contidos na Tabela 3, observa-se que a representatividade no total de

alimentos adquiridos para consumo no domicílio do arroz polido, da batata-inglesa e do leite de vaca

pasteurizado sofreu redução, embora deva-se destacar que a representatividade do primeiro item não

reduziu-se na mesma proporção que a redução na quantidade adquirida, demonstrando a importância do

mesmo às famílias brasileiras. Os itens feijão, carnes, iogurte, água mineral, refrigerante de guaraná e

15

refeição pronta, apresentaram aumentos relevantes em suas representatividades quando analisadas as

POFs de 1987/1988 e de 2002/2003, com destaque para as carnes, que passaram a ser o segundo item

mais representativo, dos itens aqui analisados, na última pesquisa.

Tabela 3 – Representatividade da quantidade anual per capita de alimentos selecionados para consumo

no domicílio segundo classes de rendimentos – 1987-2003 (%)

Produtos

POF 1987/1988 POF 1995/1996 POF 2002/2003

Classes de Rendimento Classes de Rendimento Classes de Rendimento

Total

Até 2

salários

mínimos

Mais de

6 a 8

salários

mínimos

Total

Até 2

salários

mínimos

Mais de

6 a 8

salários

mínimos

Total

Até 2

salários

mínimos

Mais de

6 a 8

salários

mínimos

Arroz polido 7,93 9,24 8,23 7,80 9,91 8,13 7,43 9,95 7,60

Feijão 3,05 4,83 3,39 2,95 4,64 3,08 3,75 6,26 3,54

Batata-inglesa 3,46 3,37 3,36 2,71 2,34 2,77 1,60 0,96 1,77

Carnes 6,77 5,78 6,92 8,27 7,06 8,72 7,64 7,19 7,97

Leite de vaca pasteuriz. 16,52 15,76 15,98 15,12 12,29 14,39 8,19 3,66 8,53

Iogurte 0,30 0,11 0,27 0,22 0,11 0,20 0,60 0,26 0,64

Água mineral 0,25 0,09 0,10 0,18 0,02 0,11 3,32 1,49 3,15

Refrig. de guaraná 0,71 0,44 0,66 1,26 0,63 0,99 2,14 1,08 2,16

Refeição pronta 0,10 0,06 0,11 0,11 0,04 0,01 0,20 0,13 0,14

Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

É importante destacar ainda que as representatividades dos alimentos também sofreram

alterações quando analisadas as duas diferentes classes de rendimentos, em que, segundo os dados da

POF 2002/2003, o arroz polido passou a ser o item mais consumido em detrimento do leite de vaca

pasteurizado, conforme os itens selecionados, pelas famílias com rendimento familiar de até dois

salários mínimos. De modo adverso, para as famílias com maior rendimento, o item de maior

representatividade no total de alimentos adquiridos permanece sendo o leite de vaca pasteurizado,

embora em menor proporção.

Para melhor visualização dos resultados obtidos, os alimentos selecionados foram analisados

separadamente, sendo apresentadas as quantidades totais adquiridas, considerando todas as classes de

rendimentos, nos diferentes anos pesquisados e também segundo as duas diferentes classes de

rendimentos.

4.3.1 Consumo Anual per capita de Arroz Polido

Ao observar o consumo total anual per capita das famílias brasileiras nos últimos vinte anos,

verifica-se significativa redução (Gráfico 3). O mesmo não ocorre quando analisadas as diferentes

classes de rendimento, de modo que a comparação entre os anos de 1987/1988 e 2002/2003 mostra que

a quantidade do produto adquirida para consumo no domicílio oscilou, com queda num primeiro

momento e posterior elevação. É importante destacar que as famílias pertencentes à classe de

rendimento de até dois salários mínimos, em todos os anos, consomem quantidades menores de arroz

polido do que as famílias de maior rendimento.

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POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal.mínimos

Gráfico 3 – Aquisição per capita anual de arroz polido segundo as classes de rendimento de até 2

salários mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

A redução no consumo total de arroz polido pelas famílias brasileiras, desconsiderando as

diferenças entre as classes de rendimento, pode ser explicada pelas recentes transformações

socioeconômicas e demográficas ocorridas, dentre elas a maior participação da mulher no mercado de

trabalho e o processo de urbanização, que propiciaram um estilo de vida menos saudável, com a

redução no consumo de itens que demandam maior tempo ao preparo, porém mais saudáveis

(SCHLINDWEIN e KASSOUF, 2007).

4.3.2 Consumo Anual per capita de Feijão

A aquisição anual de feijão para consumo no domicílio sofreu expressivas alterações desde fins

da década de 1980. O consumo total de feijão, ponderando as representatividades de todas as classes de

rendimento, e o consumo das famílias com rendimento entre seis e oito salários mínimos, apresentaram

alterações bastante próximas, com redução no consumo na década de 1990 e elevação posterior, nos

anos de 2002/2003 (Gráfico 4).

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POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal. mínimos

Gráfico 4 – Aquisição per capita anual de feijão segundo as classes de rendimento de até 2 salários

mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

17

Ademais, observa-se que as famílias com rendimento de até dois salários mínimos passaram a

consumir, mais recentemente, uma quantidade consideravelmente maior do que a consumida nos anos

de 1987/1988. Os programas de transferência de renda do Governo Federal são de extrema importância

para tal fato, uma vez que elevam o poder de compra das famílias de baixa renda e permitem que essas

adquiram maiores quantidades de alimentos (BRASIL, 2008a). 4.3.3 Consumo Anual per capita de Batata-Inglesa

As mudanças no consumo de batata-inglesa seguem o mesmo padrão de outros alimentos mais

tradicionais e que demandam maior tempo para serem preparados. Conforme pode ser visto através do

Gráfico 5, o consumo total de batata-inglesa caiu significativamente desde os anos 1987/1988, o

mesmo ocorrendo quando observadas as classes de rendimentos de até dois salários mínimos e

rendimentos entre seis e oito salários.

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POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal. mínimos

Gráfico 5 – Aquisição per capita anual de batata-inglesa segundo as classes de rendimento de até 2

salários mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

De acordo com Legnaro, Boteon e Nakano (2008), os novos hábitos alimentares, em

conseqüência da modernização da vida doméstica e urbana, buscam uma alimentação com maior

praticidade e agilidade no preparo das refeições em casa. Assim, a tendência é diminuir o consumo

domiciliar per capita do produto fresco, em detrimento de uma alimentação fora de casa ou de pratos

“preparados”. Cabe destacar que o consumo de batata-inglesa é realizado em maior quantidade por

famílias de renda elevada, segundo IBGE (2004), as quais têm reduzido o consumo do produto ao

longo dos últimos vinte anos.

4.3.4 Consumo Anual per capita de Carnes

O consumo anual per capita de carnes apresenta variações distintas quando analisado o período

de 1987 a 2003. A aquisição total de carnes, ponderando as representatividades das classes de

rendimento, elevou-se no início da década de 1990, porém sofreu redução nos anos subseqüentes

(Gráfico 6). É importante salientar que todas as classes de rendimento estão inseridas ao se considerar a

aquisição do produto, de forma que as classes de maior rendimento são as principais responsáveis pela

queda no consumo total anual de carnes, segundo IBGE (2008a). Um fator explicativo para tal

ocorrência é a preferência recente por alimentos mais práticos e de rápido preparo, principalmente

18

pelas famílias de maior poder aquisitivo, que tendem a consumir alimentos que demandam mais tempo

ao preparo fora do domicílio (SCHLINDWEIN e KASSOUF, 2007).

0

5

10

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20

25

30

POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal. mínimos

Gráfico 6 – Aquisição per capita anual de carnes segundo as classes de rendimento de até 2 salários

mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

Deve-se destacar, no entanto, que as famílias pertencentes às classes de rendimento de até dois

salários mínimos e de seis a oito salários mínimos mensais aumentaram o consumo de carnes ao longo

dos anos observados. Esse aumento na demanda pode ser explicado pela redução nos preços das carnes

ao longo dos últimos anos, conforme analisado por Barros e Rizzieri (2008). Embora o consumo pelas famílias de menor rendimento seja baixo quando comparado às

famílias pertencentes às demais classes, é válido salientar, de acordo com Mondini e Monteiro (1994),

que o estado nutricional melhora significativamente ao inserir maiores quantidades de carnes na dieta,

principalmente pelo aumento da ingestão de ferro, reduzindo a incidência de doenças como a anemia.

4.3.5 Consumo Anual per capita de Leite de Vaca Pasteurizado

Seguindo a mesma tendência de queda no consumo de alimentos citados anteriormente, como a

batata-inglesa e o arroz polido, a aquisição de leite de vaca pasteurizado pelos consumidores brasileiros

vem sofrendo redução ao longo dos últimos vinte anos. Tal fato pode ser verificado também entre as

classes de rendimento, cuja queda mais expressiva se deu para as famílias com rendimento de até dois

salários mínimos (Gráfico 7).

19

0

10

20

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40

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60

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POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal. mínimos

Gráfico 7 – Aquisição per capita anual de leite de vaca pasteurizado segundo as classes de rendimento

de até 2 salários mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

Não obstante o preço do leite de vaca pasteurizado tenha sofrido reduções nos últimos anos,

conforme demonstra Barros et al. (2008), a demanda pelo produto mostra-se decrescente, o que remete

aos motivos citados pelas reduções no consumo de outros itens alimentícios. Deve-se destacar que a

queda no consumo de leite ocorreu em detrimento do aumento do consumo de itens derivados, como

queijos e iogurtes (IBGE, 2008a).

4.3.6 Consumo Anual per capita de Iogurte

Dentre os alimentos que sofreram aumento no consumo nos últimos anos encontra-se o iogurte.

Como pode-se observar através do Gráfico 8, o consumo per capita anual de iogurte sofreu

considerável aumento desde 1995/1996, com destaque para a demanda realizada pelas famílias com

rendimento entre seis e oito salários mínimos.

0

0,5

1

1,5

2

2,5

POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal.mínimos

Gráfico 8 – Aquisição per capita anual de iogurte segundo as classes de rendimento de até 2 salários

mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

20

Ainda que crescente a demanda por iogurte pelas famílias com rendimento de até dois salários

mínimos, permanece bastante inferior ao total demandado, que representa a média do consumo de todas

as classes de rendimento.

O aumento da aquisição de iogurte pode ser explicado pela substituição de parte do consumo de

leite de vaca pasteurizado, principalmente por ser mais prático, não necessitando muito tempo para que

seu consumo seja realizado.

Segundo estudo realizado por Schlindwein e Kassouf (2007), a probabilidade de consumo de

iogurte está positivamente relacionada com o nível de renda da família, assim como com o nível de

escolaridade da mulher e da possibilidade desta ser a chefe da família, o que propiciaria o consumo de

alimentos mais práticos como o iogurte.

4.3.7 Consumo Anual per capita de Água Mineral

Indubitavelmente, o consumo de água mineral chama a atenção por ter-se elevado

substancialmente desde os anos de 1995/1996 (Gráfico 9).

0

2

4

6

8

10

12

POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal. mínimos

Gráfico 9 – Aquisição per capita anual de água mineral segundo as classes de rendimento

de até 2 salários mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

O crescimento da aquisição de água mineral para consumo no domicílio, em especial pelas

famílias de maior poder aquisitivo, mostra a preocupação com relação à qualidade da água consumida e

também à maior praticidade, visto que não há necessidade de fervura para o consumo adequado.

4.3.8 Consumo Anual per capita de Refrigerante de Guaraná

A aquisição de refrigerante de guaraná, assim como de outros produtos que têm representado a

busca pela praticidade das famílias brasileiras, mostra-se crescente ao longo dos últimos vinte anos

(Gráfico 10). Como provável substituto dos sucos de frutas naturais e acompanhamento das refeições

realizadas fora do domicílio, os refrigerantes têm sido elemento fundamental na alimentação de muitos

brasileiros.

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0

1

2

3

4

5

6

7

8

POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal.mínimos

Gráfico 10 – Aquisição per capita anual de refrigerante de guaraná segundo as classes de rendimento

de até 2 salários mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

De acordo com Schlindwein e Kassouf (2007), a probabilidade de consumo de refrigerantes,

como exemplo de alimentos “poupadores de tempo”, se eleva com o aumento nos anos de escolaridade

da mulher chefe de família, que representa o custo de oportunidade do tempo da mulher. Dessa forma,

quanto maior o nível de escolaridade da mulher e esta sendo a chefe do lar, maior a probabilidade de

consumo de refrigerantes e de outros produtos de maior praticidade.

4.3.9 Consumo Anual per capita de Refeição Pronta

O aumento no consumo anual de refeição pronta, conforme pode ser observado pelo Gráfico 11,

evidencia as transformações nos hábitos alimentares das famílias brasileiras ocorridas nos últimos anos.

Como se verifica, há tendência de crescimento na demanda por produtos mais práticos e de rápido

preparo, sejam eles congelados, enlatados ou pré-cozidos.

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

POF 1987/88 POF 1995/96 POF 2002/03

Total (todas as classes)

Até 2 sal. mínimos

Mais de 6 a 8 sal.mínimos

Gráfico 11 – Aquisição per capita anual de refeição pronta segundo as classes de rendimento

de até 2 salários mínimos e mais de 6 a 8 salários mínimos (Kg) Fonte: Elaboração das autoras a partir de dados do IBGE (2008b).

22

Em todas as classes de rendimento o que se observa é o aumento na aquisição per capita anual

de refeições prontas para consumo no domicílio, inclusive das famílias de menor poder aquisitivo.

Como conseqüência dessas transformações nos hábitos alimentares, principalmente com a

aquisição de refeições prontas, problemas de saúde podem vir a acometer a população brasileira no

médio e longo prazos, devido, sobretudo, à grande incidência de conservantes nesses produtos, além de

muitas vezes não estarem balanceados corretamente ou não apresentarem todos os nutrientes

necessários a uma alimentação saudável (SCHLINDWEIN, 2006).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve por objetivo verificar como os hábitos alimentares, com relação à

aquisição domiciliar per capita e em diferentes faixas de renda, mudaram em perfil na economia

brasileira no período de 1987 a 2003, analisando as principais modificações e suas implicações

econômicas.

Observou-se que importantes transformações socioeconômicas e demográficas ocorreram nos

últimos vinte anos, e que estas foram determinantes para as modificações nos hábitos de alimentação da

população brasileira. Dentre essas mudanças estão a maior participação da mulher no mercado de

trabalho; alterações na estrutura familiar, com redução no número de membros; intensificação do

processo de urbanização; e alterações na renda e em seu processo distributivo. Essas transformações,

juntamente às mudanças nos níveis de preços dos alimentos, influenciaram a maior demanda por

produtos de mais rápido e fácil preparo, em grande parte industrializados, em detrimento de alimentos

mais tradicionais, que demandam maior tempo ao preparo.

Verificou-se redução de 12,49% na quantidade total anual per capita de alimentos adquiridos

para consumo no domicílio entre os anos 1987 e 2003, ressaltando que tal percentual é obtido sem que

seja feita distinção entre as classes de rendimento. Porém, ao serem observadas as diferentes classes de

rendimento separadamente, o que se conclui é que houve aumento de 1,35% na aquisição per capita de

alimentos nos últimos vinte anos pelas famílias com renda entre seis e oito salários mínimos, e redução

de 5,44% na aquisição feita pelas famílias com rendimento de até dois salários mínimos.

Diferentes padrões de consumo puderam ser observados ao considerar as famílias com

rendimento de até dois salários mínimos e as famílias com rendimento entre seis e oito salários

mínimos, sendo que mais da metade das que possuem menor rendimento sentem muita dificuldade em

chegar ao fim do mês com o montante recebido (IBGE, 2004).

Com relação aos produtos selecionados para análises individuais, houve redução nos últimos

vinte anos no consumo total de arroz polido, ponderando as representatividades das diferentes classes

de rendimento. No entanto, a aquisição do produto para as famílias com renda de até dois salários

mínimos e para as de rendimento entre seis e oito salários mínimos, oscilou durante os anos analisados,

sofrendo redução na década de 1990 e posterior elevação em 2002/2003.

O consumo per capita anual de feijão apresentou elevação, principalmente para as famílias de

menor rendimento, contrariamente ao que ocorreu com o consumo de batata-inglesa, que reduziu-se

substancialmente desde 1987.

A aquisição de carnes para consumo no domicílio oscilou entre os anos de 1987 e 2003, com

destaque para a classe de rendimento de até dois salários mínimos, que passou a consumir mais do

produto. Houve queda na aquisição de leite de vaca pasteurizado, que pode ser explicado, em parte,

pelo aumento no consumo de itens derivados como o iogurte, o qual é mais prático e não necessita

muito tempo para que seu consumo seja realizado.

Comprovando as significativas mudanças nos hábitos alimentares das famílias brasileiras,

verificou-se elevação significativa no consumo de itens como iogurte, água mineral, refrigerante de

guaraná e refeições prontas. Tais elevações foram verificadas em todas as classes de rendimento, mas

principalmente na de maior renda.

23

A busca por maior praticidade, devido ao novo estilo de vida adotado pelas famílias, tem

demonstrado um crescente mercado consumidor para alimentos prontos ou semi-prontos e de rápido

preparo. Porém, deve-se destacar que esses novos hábitos podem ser maléficos a longo e médio prazos,

uma vez que muitos alimentos são industrializados e não oferecem os nutrientes necessários a uma

dieta saudável. Diante disso, e destacando a escassez de trabalhos abordando o tema para a economia

brasileira, torna-se necessário o desenvolvimento de mais estudos que tenham por objetivo conduzir a

sociedade ao consumo de alimentos mais saudáveis. Deve-se ressaltar não apenas as vantagens

nutricionais, como também as vantagens econômicas de se realizar uma alimentação equilibrada e

salutar.

24

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