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1 REGIÕES FUNCIONAIS URBANAS: O CASO DE PORTO ALEGRE RIO GRANDE DO SUL BRASIL Gislaine Cristina de Souza Rech - Universidade Politécnica de Valência Espanha* Eraida Kliper Rossetti Centro de Ensino Superior Cenecista de Farroupilha- CESF** Judite Sanson de Bem Unilasalle - Canoas - Brasil*** RESUMO As grandes aglomerações urbanas requerem análise específicas da ciência regional. Berg desenvolveu um modelo para estudar a evolução e dinâmica a longo prazo das grandes aglomerações urbanas denominado como “Functional Urban Region” (FUR) ou Região Funcional Urbana. v. Berg divide as FUR em duas partes o centro, denominado por CORE e a periferia, denominada de RING. O modelo propõe uma evolução temporal das FUR que se inicia com uma concentração da população no CORE Urbanização -, seguida de um proceso de descentralização, denominado Suburbanização. Este artigo descreve este modelo e o aplica à cidade de Porto Alegre (POA) e seu entorno, mostrando que os resultados seguem as suas linhas. Finalmente, o modelo permite traçar políticas urbanas e elaborar comparações com estudos similares realizados em outras FUR estudadas. PALAVRAS-CHAVE : Regiões Funcionais Urbanas, Urbanização, Suburbanização ABSTRACT Large cities require specific analysis of regional science. Berg developed a model to study the evolution and long-term dynamics of large urban agglomerations referred to as "Functional Urban Region(FUR). The author divides the FUR in two parts: the center, known as CORE and the periphery, called RING. The model proposes a temporal evolution of FUR that starts with a concentration of population in CORE - Urbanization-, followed by a process of decentralization, called Suburbanization. This article describes this model and applies it to the city of Porto Alegre (POA), and its surroundings showing the results, following its lines. Finally, the model allows us to draw urban policies and develop comparisons with similar studies conducted in other FUR studied. KEY WORDS: Functional Urban Region, Urbanization, Suburbanization ÁREA TEMÁTICA Políticas Urbanas e Metrópoles * Endereço para correspondência: Camino Alqueria de Gilet, 18. Valência España. CP 46016; e-mail: gisa_espanhaotmail.com ; Telefone: (0034) 96363-3447. ** Endereço para correspondência: R. Agostinho Péves,370 B. Petrópolis Caxias do Sul RS. CEP: 95070-350. E-mail: [email protected] Tel:54-3212.3879 *** Endereço para correspondência: R. Giordano Bruno, 231/21. Porto Alegre RS. CEP:90420-150. email: [email protected] Tel: 51-33306392

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REGIÕES FUNCIONAIS URBANAS: O CASO DE PORTO ALEGRE –

RIO GRANDE DO SUL – BRASIL

Gislaine Cristina de Souza Rech - Universidade Politécnica de Valência – Espanha*

Eraida Kliper Rossetti – Centro de Ensino Superior Cenecista de Farroupilha- CESF**

Judite Sanson de Bem – Unilasalle - Canoas - Brasil***

RESUMO

As grandes aglomerações urbanas requerem análise específicas da ciência regional. Berg

desenvolveu um modelo para estudar a evolução e dinâmica a longo prazo das grandes

aglomerações urbanas denominado como “Functional Urban Region” (FUR) ou Região

Funcional Urbana. v. Berg divide as FUR em duas partes o centro, denominado por CORE e a

periferia, denominada de RING. O modelo propõe uma evolução temporal das FUR que se

inicia com uma concentração da população no CORE – Urbanização -, seguida de um proceso

de descentralização, denominado Suburbanização. Este artigo descreve este modelo e o aplica

à cidade de Porto Alegre (POA) e seu entorno, mostrando que os resultados seguem as suas

linhas. Finalmente, o modelo permite traçar políticas urbanas e elaborar comparações com

estudos similares realizados em outras FUR estudadas.

PALAVRAS-CHAVE : Regiões Funcionais Urbanas, Urbanização, Suburbanização

ABSTRACT

Large cities require specific analysis of regional science. Berg developed a model to study

the evolution and long-term dynamics of large urban agglomerations referred to as

"Functional Urban Region” (FUR). The author divides the FUR in two parts: the center,

known as CORE and the periphery, called RING. The model proposes a temporal evolution of

FUR that starts with a concentration of population in CORE - Urbanization-, followed by a

process of decentralization, called Suburbanization. This article describes this model and

applies it to the city of Porto Alegre (POA), and its surroundings showing the results,

following its lines. Finally, the model allows us to draw urban policies and develop

comparisons with similar studies conducted in other FUR studied.

KEY WORDS: Functional Urban Region, Urbanization, Suburbanization

ÁREA TEMÁTICA

Políticas Urbanas e Metrópoles

* Endereço para correspondência: Camino Alqueria de Gilet, 18. Valência – España. CP

46016; e-mail: gisa_espanhaotmail.com ; Telefone: (0034) 96363-3447.

** Endereço para correspondência: R. Agostinho Péves,370 B. Petrópolis – Caxias do Sul –

RS. CEP: 95070-350. E-mail: [email protected] Tel:54-3212.3879

*** Endereço para correspondência: R. Giordano Bruno, 231/21. Porto Alegre – RS.

CEP:90420-150. email: [email protected] Tel: 51-33306392

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INTRODUÇÃO

O processo de urbanização, que desde 1800 com a 1ª Revolução Industrial se produziu

primeiramente na Europa e posteriormente a todas as nações, implica que uma proporção

crescente da população e da renda se localiza em um número pequeno de grandes

aglomerações urbanas. O estudo dessas constitui um objeto de pesquisa importante para a

Economia Urbana e Regional. A modo de exemplo, pode-se ver que na Espanha –que não é

um país grande nem muito povoado - 40% da população reside em cinco aglomerações

urbanas que cobrem 2% da superfície nacional. Curiosamente, estas mesmas proporções se

dão no Estado do Rio Grande do Sul, onde cerca de 40% da população se localiza na região

de Porto Alegre, cuja superfície também corresponde a aproximadamente 2 % da área do

Estado. Deve-se destacar que no caso da Espanha, estas cifras correspondem a 5 áreas

metropolitanas, enquanto que no Rio Grande do Sul os dados são apenas da região de Porto

Alegre

Estes processos de urbanização foram estudados no âmbito da economia urbana e

regional con enfoques estatísticos e descritivos. O modelo mais conhecido é o de Standard

Metropolitan Statistical Areas (SMSA) utilizado para a descrição e estudo das aglomerações

urbanas dos EUA. Na literatura européia foram definidas as Functional Urban Region (FUR)

ou Regiões Funcionais Urbanas como ferramenta de análise para modelizar e comparar a

estrutura e dinâmica das Áreas Metropolitanas e, deduzir destas análises comparativas as

políticas urbanas mais pertinentes, levando em conta a fase de evolução que se encontra uma

área urbana. Este último é o modelo que se utiliza neste artigo e foi desenvolvido por v. Berg

et Al. (1). Os autores propõem que uma área ou aglomeração urbana de grande dimensão é

composta por: a) uma cidade central, denominada de CORE e b) o entorno urbano imediato,

vinculado social, econômica e funcionalmente com o CORE, chamado de RING. Estas duas

partes interatuam entre si de acordo com pautas gerais que serão explicadas a posteriori.

Em primeiro lugar, v. Berg et Alt. (1) definiram as FUR, estabelecendo dimensão,

estrutura demográfica e econômica, como também os aspectos funcionais que as distinguem

de outros tipos de assentamentos urbanos. Em segundo lugar, desenharam um modelo que

indica a forma em que as FUR evoluem, identificando um conjunto de oito etapas possíveis

de processo de evolução a longo prazo de uma FUR. Cheshire P.C. e Hay D.G 1 (2) aplicaram

este modelo e suas pesquisas comprovaram que a evolução temporal das FUR pesquisadas

seguiam pautas comuns.

O presente trabalho desenvolve uma aplicação do mesmo modelo a uma grande

aglomeração urbana: Porto Alegre ( POA) no Rio Grande do Sul (RS) Brasil (BR). POA no

RS. O seu forte crescimento urbano e a difusão do mesmo às cidades próximas sugere que

POA pode ser considerada como o CORE de uma FUR e que a sua evolução pode ser

explicada mediante o modelo analítico selecionado pelos autores deste artigo. Os mesmos

também consideram que o modelo de v. Berg et al. (1) pode ser útil para pesquisar os padrões

de evolução temporal das grandes aglomerações do Brasil e proporcionar informações sobre

os problemas urbanos que surgem na evolução de uma FUR, além de sugerir propostas para

políticas urbanas.

O trabalho está estruturado em quatro partes: na primeira se descreve o modelo de v.

Berg et al.; na segunda, está delimitada a FUR de POA; na terceira, se analiza a Fur de POA

nos termos do modelo; e na quarta, se encontram as conclusões e os comentários.

1 Estes autores analizaram 53 FUR com população superior a 330.000 habitantes, no ano de 1981, em sete países

europeus.

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1- Descrição do Modelo

O modelo parte de um critério standard de delimitação de uma FUR, tendo como

propósito comparar as diferentes FUR e poder identificar as pautas temporais comuns entre

elas.

O modelo parte de um critério standard de delimitação de uma FUR, com o propósito

de poder comparar as diferentes FUR e poder identificar as pautas temporais comuns entre

elas. Para postular umas etapas de evolução comuns a todas as FUR estabelecem a hipótese de

que as mudanças urbanas estão apoiadas em mudanças na distribuição espacial da população,

em mudanças da estrutura da economia e em mudanças no nível de renda da população.

Em termos gerais, as mudanças urbanas mencionadas são as seguintes: em primeiro

lugar, parte-se de uma economia tradicional ou pré-industrial, de ampla base agrária, que

apresenta um processo de crescimento de sua população e um processo de industrialização;

em segundo lugar, em algum momento, esta economia industrial se converte em uma

economia em que predominam os serviços; e, em terceiro lugar, a economia de serviços se

transforma em uma economia de serviços maduros e muito especializados. Este processo de

mudança urbana está acompanhado de uma forte evolução positiva da renda urbana e em

mudanças na distribuição espacial da população.

Estas etapas da evolução econômica provocam mudanças na distribuição espacial

tanto da população, como das atividades econômicas. O comportamento dos diferentes

agentes urbanos, que atuam com o objetivo de melhorar seu bem-estar, provocam ao longo do

tempo esta evolução do sistema urbano.

A colocação anterior se concretiza na identificação de quatro estágios do

desenvolvimento urbano:

a.- Urbanização, etapa em que o CORE cresce populacionalmete;

b.- Suburbanização, etapa em que o crescimento do RING supera o do CORE;

c.- Desurbanização, etapa em que tanto o CORE como o RING decrescem;

d.- Reurbanização, o CORE volta a crescer.

A casuística detalhada de cada um destes estágios de desenvolvimento urbano pode ser

consultada na bibliografia. Aqui convém assinalar que o mecanismo econômico que

desencadeia esta evolução é a aparição do processo de industrialização na cidade central,

CORE, acompanhado de um forte processo migratório.

A Tabela 1 mostra esquematicamente, as etapas e sub etapas do modelo e as mudanças na

população no CORE, no RING e na FUR em seu conjunto que têm lugar em cada etapa.

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Tabela 1. Estágios de desenvolvimento das FUR

Mudanças Populacionais

Estágio Sub etapas CORE RING FUR

I.- Urbanização

1 Centralização absoluta + +2 - +

2 Centralização relativa + + + + + +

II.- Suburbanização

3 Descentralização relativa + + + + + +

4 Descentralização absoluta - + + +

III Desurbanização

5 Descentralização absoluta - - + -

6 Descentralização relativa - - - - - -

IV Reurbanização

7 Centralização relativa - - - - - -

8 Centralização absoluta + - - -

______________________________________________________________________ Fonte: Berg et al (1982)

Esta tabela evidencia que a população do CORE e do RING se incrementa ou diminui

em cada uma das 8 subetapas e que a população total da FUR varia em função da magnitude

das variações concretas de cada sub-área.

Com o objetivo de visualizar este processo de modo concreto nesta pesquisa, as

Tabelas 2 e 3 apresentam as variações de população da FUR de POA nas duas subetapas do

modelo de Berg et al., detectadas na FUR de POA.

2 Os símbolos + y – indicam que a população cresce (+) ou decresce (-).

5

Tabela 2. 2ª etapa: Urbanização. I.2. Centralização Relativa.

Mudanças Populacionais

Estágio Sub etapas CORE RING FUR

I.- Urbanização 2 Centralização relativa + + + + + +

FUR POA - 1940 a 1970

Crecimento da População Mil Hb 613 415 1.028

______________________________________________________________________ Fonte: Tabela 1 e FEE (2009)

Comprova-se que entre 1940 e 1970 cresce a população tanto do CORE como do

RING mas com mais intensidade a do CORE. É a etapa de Urbanização e a subetapa de

Centralização relativa.

A partir de 1970, invertem-se os papéis: cresce mais o RING que o CORE entrando-se

na etapa da Suburbanização.

Tabela 3. 2ª etapa: Suburbanização. II.3. Descentralização Relativa.

Mudança Populacional

Estágio Sub etapas CORE RING FUR

II.- Suburbanização 3 Descentralização relativa + + + + + +

Total periodo 1970-2007 535 1.461 2.194 a) FUR Porto Alegre 1970 a 2000

Crecimento da População (Mil Hb) 475 1.374 1.849

b) FUR Porto Alegre 2000 a 2007

Crecimento da População (Mil Hb) 60 187 245

______________________________________________________________________ Fonte: Tabela 1 e dados da FEE (2009)

Na Tabela 3, que mostra o processo de descentralização relativa da FUR de POA,

recortou-se a informação em dois períodos: 1970 a 2000 e 2000 a 2007, com o objetivo de

destacar que o processo de descentralização relativa se reduz, com o passar do tempo, o que

sugere que a FUR pode entrar numa fase de Descentralização Absoluta nos próximos anos.

2.-Delimitação da FUR de POA

A delimitação das FUR requer estabelecer critérios gerais de inclusão e exclusão das

áreas urbanas próximas à cidade central. Berg et Al. propõem critérios sistemáticos que

avaliam se um município pertence ou não ao mercado de trabalho que gravita sobre o CORE.

Neste artigo foi empregado um critério mais simples e operativo, utilizando as possibilidades

6

que oferecem as tecnologias modernas e, em concreto, as imagens noturnas de satélites, que

são acessíveis no Google.

As Figuras 1, 2 e 3 mostram imagens noturnas da região do POA. A Figura 1 mostra

todo o Estado do Rio Grande do Sul. As Figuras 2 e 3, são uma aproximação a dois níveis da

posição da FUR de POA.

Figura 1.- Fotografia noturna do Rio Grande do Sul, 2009. Fonte: Google Earth, 2009

7

Figura 2.- Fotografia noturna da região do Rio Grande do Sul em que está inserida a

FUR de POA, 2009. Fonte: Google Earth, 2009

A Figura 2 mostra uma ampla região em torno a POA. Observa-se a concentração

luminosa ao redor de POA e as grandes zonas de escuridão entre esta zona e as próximas

regiões mais povoadas: Caxias do Sul, Lajeado e Santa Cruz do Sul.

Partindo-se da hipótese de que as zonas mais iluminadas constituem as zonas

povoadas – urbanizadas - e do fato de que no entorno de POA se observa uma continuidade da

zona iluminada que chega até Novo Hamburgo, pode-se sugerir que a FUR de POA se

estende pela área contínua iluminada que mostra a Figura 3.

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Figura 3.- Foto noturna do entorno próximo de la FUR de POA 2009. Fonte: Google Earth, 2009

Ao sobrepor os limite da foto satélite da Figura 3 sobre um mapa convencional da

região de POA, identificam-se e listam-se as cidades que se incluem na fronteira traçada sobre

o mapa. As cidades mais periféricas: Guaíba, Capela de Santana, Nova Santa Rita, Parobé e

Taquara; cuja população total em 2007 era de 146 mil habitantes foram incluídas na

delimitação da FUR de POA.

3. Estudo da FUR de Porto Alegre

Nesta etapa do artigo será efetuado o estudo da FUR de POA, utilizando os seus dados

populacionais, as variações ocorridas no CORE e no RING e seu processo de Urbanização e

Suburbanização.

A Tabela 43, relaciona todas as cidades que, segundo os critérios propostos,

configuram a FUR de POA, com sua população (em milhares de habitantes) de todos os anos

disponíveis nos Censos.

3 Todos os datos estatísticos utilizados para a elaboração das Tabelas e Gráficos foram extraídos do site da FEE

(2009)

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Tabela 4 FUR DE PORTO ALEGRE -

POPULAÇÃO POR MUNICÍPIOS 1920 2007

MunicÍpio 1.920 1.940 1.950 1.960 1.970 1.980 1.991 1.996 2.000 2.007

Alvorada 0 0 0 0 0 40 91 142 162 207

Cachoeirinha 0 0 0 0 31 63 88 96 108 113

Campo Bom 0 0 0 9 17 34 48 51 54 57

Canoas 0 18 40 104 154 220 279 284 306 326 Capela de Santana 0 0 0 0 0 0 7 9 10 11

Eldorado do Sul 0 0 0 0 0 0 18 23 27 31

Estância Velha 0 0 0 11 9 14 28 31 35 41

Esteio 0 0 0 22 35 51 71 75 80 79

Gravataí 20 23 28 46 52 107 181 206 233 261

Guaíba 0 21 23 22 34 55 83 86 94 94

Nova Santa Rita 0 0 0 0 0 0 0 12 16 21

Novo Hamburgo 0 19 29 54 85 136 206 226 236 253

Parobé 0 0 0 0 0 0 32 40 45 49

Portão 0 0 0 0 8 11 19 22 25 29

Porto Alegre 179 272 394 641 886 1.125 1.263 1.289 1.361 1.421

São Leopoldo 48 52 76 64 64 99 168 181 194 208

Sapiranga 0 0 0 12 16 37 59 66 69 74

Sapucaia do Sul 0 0 0 0 42 79 105 114 123 122

Taquara 40 54 52 33 31 41 42 48 53 53

Viamão 16 17 21 51 66 118 169 197 227 253

FUR POA 302 477 662 1.070 1.530 2.232 2.958 3.198 3.457 3.702 Fonte: FEE ( 2009)

Observa-se que na Tabela 4 o forte crescimento demográfico da FUR de POA, assim

como o importante processo de criação de novos municípios com o passar do período, que

passa de 5 para 20 municípios. Este processo, que não ocorreu de modo tão forte e

significativo na Europa, introduziu dificuldades para a análise individualizada da evolução da

população de cada município. O fato de estarem adicionados, para efeito deste estudo, em

uma única subárea -o RING- simplifica a análise. Por isso, e no que segue, trabalha-se com os

três blocos de informação básicos: População do CORE – quer dizer, de POA-, População do

RING - isto é, a das demais cidades da área- e finalmente a população total, a da FUR.

A Tabela 5 e a Figura 4, mostram os valores da População da FUR em seus três

grupos: CORE, RING e Total da FUR.

10

Tabela 5 FUR DE PORTO ALEGRE.

POPULAÇÃO CORE, RING E TOTAL 1920 2007

1.920 1.940 1.950 1.960 1.970 1.980 1.991 1.996 2.000 2.007

CORE 179 272 394 641 886 1.125 1.263 1.289 1.361 1.421

RING 124 204 268 428 644 1.105 1.694 1.909 2.097 2.282

FUR 303 476 663 1.069 1.530 2.230 2.957 3.198 3.458 3.703 Fonte: FEE(2009)

Figura 4. FUR DE PORTO ALEGRE. POPULAÇÃO

CORE RING E TOTAL Mil/hb. 1920 - 2007

3.702

0

500

1.000

1.500

2.000

2.500

3.000

3.500

4.000

1.920 1.930 1.940 1.950 1.960 1.970 1.980 1.990 2.000 2.010 2.020

ANO

Mil

de

Ha

bit

an

tes

CORE

RING

FUR

Fonte: Tabela 5

A Figura 4 permite visualizar a evolução total da População que atinge, em 2007, um

total de 3,703 milhões de habitantes. Também se constata que a partir de 1980, a População

do RING supera a do CORE e que, com o passar do tempo, a diferença entre ambos

subgrupos se amplia. Este fato se deve, entre outros, ao crescente desmembramento dos

municipios na Região, ao mesmo tempo que atividades econômicas deixavam Porto Alegre

em direção aos municipios do entorno devido não poderem mais crescer horizontalmente.

Este fato leva a que muitos municipios recebam mão de obra ou se transformem em cidades

dormitórios.

O crescimento Interanual da População CORE, RING e Totais estão apresentados na

Tabela 6 e na Figura 5.

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Tabela 6 FUR DE PORTO ALEGRE

CRESCIMENTO INTERANUAL DA POPULAÇÃO CORE, RING E TOTAL Miles de hb.

1920 1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000

1940 1950 1960 1970 1980 1991 1996 2000 2007

CORE 93 122 247 244 240 138 25 72 60

RING 81 63 160 216 463 588 215 187 185

FUR 174 185 407 460 703 726 240 259 245 Fonte: FEE (2009)

Figura 5. FUR DE PORTO ALEGRE. CRESCIMENTO INTERANUAL DA

POPULAÇÃO

Mil/hb.

0

100

200

300

400

500

600

700

800

1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

ANO FINAL

CR

ES

CIM

EN

TO

Mil

/hb

CORE

RING

FUR

Fonte: Tabela 6

Uma primeira análise detalhada da evolução da População da FUR possibilita ver os

incrementos absolutos de população que se produziram em diversos períodos de tempo. As

fontes de dados não permitem estabelecer intervalos temporais de igual duração, por isso as

cifras mostradas não são estritamente comparáveis nestes termos. Assim, ao não dispor de

dados de 1930, o primeiro período abrange 20 anos. Entre 1940 e 1980, a informação é

decenal, assim as comparações entre esses períodos são homogêneas. Posteriormente, o

período que se inicia em 1980 e termina em 1991, amplia o intervalo em um ano. Finalmente

se dispôs e se utilizou os dados de população de 1996 e de 2007. Estas matizações não

impedem de constatar a evidência de uma queda importante do crescimento populacional a

partir de 1990. Esta pode ser explicada pelos deslocamentos, acima já expostos, ou mesmo

pela redução da taxa de natalidade destes municipios. No entanto, a Região como um todo é a

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maior concentração populacional do RS, o que não invalidou o crescimento de outra região: a

de Caxias do Sul, no Nordeste do RS o que deslocou mão de obra que anteriormente se

destinava à capital gaúcha.

Outra forma de apresentar o comportamento da FUR de POA é através de suas Taxas

Anuais de Crescimento de População (Tabela 7 e Figura 6).

Tabela 7 FUR DE PORTO ALEGRE.

TAXAS ANUAIS DE CRECIMIENTO POPULAÇÃO CORE, RING E TOTAL

1920 1.940 1.950 1.960 1.970 1.980 1991 1996 2000

1940 1.950 1.960 1.970 1.980 1.991 1996 2000 2007

CORE 2,6 3,8 5 3,3 2,4 1,1 0,04 1,4 0,04

RING 2,2 2,8 4,8 3,8 6,2 4,4 2,4 2,3 0,09

FUR 2,3 3,3 5,9 3,4 3,9 2,9 1,4 2 0,07 Fonte: FEE (2009)

Figura 6. FUR DE PORTO ALEGRE TAXAS ANUAIS DE CRESCIMENTO DA

POPULAÇÃO

0

1

2

3

4

5

6

7

1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000 2010

ANO FINAL DO PERÍODO

TA

XA

AN

UA

IL D

E C

RE

SC

IME

NT

O

CORE

RING

FUR

Fonte: Tabela 7

A Tabela 7 e a Figura 6 mostram os valores numéricos e gráficos das taxas anuais de

crescimento da população em cada um dos períodos estudados. Na tabela 6, observa-se uma

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redução do crescimento da população em termos absolutos4. Agora se comprova que as taxas

anuais de crescimento da população decrescem com o passar do tempo e, no caso da FUR de

POA esta ocorre a partir de 1960. Além disso, a partir desta data se inicia uma queda da taxa

do CORE – cidade de Porto Alegre - enquanto que o RING mostra o seguinte

comportamento: um crescente até 1980, salvo 1960/1970. Este comportamento é congruente

com o que se postula no modelo do Berg et al.: a partir de um certo momento (no caso

específico deste estudo, ocorre apartir de 1960), o CORE começa a crescer mais lentamente e,

eventualmente, a decrescer, muito antes do que o RING. Este passo, decrescer mais

rapidamente que o RING está estreitamente correlacionado à diversificação de atividades (o

CORE passa a ser terciário, redução da demanda por mão de obra, extravasamento de

atividades para o entorno do município, criação de oportunidades de emprego fora de POA).

O forte processo de crescimento demográfico da FUR de POA se apoiou em uma

corrente de emigração que desde 1920 até o ano 1990 alimentou este crescimento. Esta

população emigrante procedeu das áreas rurais do próprio Estado.

Na Tabela 8 e na Figura 7 estão apresentadas as Porcentagens Populacionais do CORE

e do RING sobre o Total da FUR de POA.

Tabela 8 FUR DE PORTO ALEGRE.

PORCENTAGEM POPULAÇÃO DO CORE E DO RING SOBRE TOTAL DA FUR

1.920 1.940 1.950 1.960 1.970 1.980 1.991 1.996 2.000 2.007

CORE 59 57 60 60 58 50 43 40 39 38

RING 41 43 40 40 42 50 57 60 61 62

FUR 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 Fonte: FEE ( 2009)

Figura 7. FUR DE PORTO ALEGRE PORCENTAGEM DE POPULAÇÃO DO CORE E DO RING

30

35

40

45

50

55

60

65

1.920 1.930 1.940 1.950 1.960 1.970 1.980 1.990 2.000 2.010

ANO

PO

RC

EN

TA

GE

M

CORE

RING

Fonte:

Tabela 8

4 Vale lembrar a existência de dificuldades que se derivam da diferente longitude dos períodos temporais

tomados e já comentados anteriormente.

14

As consequências desta dinâmica para o conjunto da FUR são claras e se apresentam

na Tabela 8 e na Figura 7. O peso relativo do CORE diminui a partir de 1960, passando de

60% da população da área para 38 % em 2007. Esta redistribuição espacial da população, em

que o RING incrementa seu peso demográfico é um processo típico e previsto no modelo de

Berg et al..

Figura 8. FUR DE PORTO ALEGRE

PROCESSO DE URBANIZAÇÃO E SUBURBANIZAÇÃO 1920- 2007

0,04; 0,092000/2007

1,4; 2,31996/2000

0,04; 2,41991/96

1,1; 4,41980/91

2,4; 6,21970/80

3,3; 3,81960/70

5; 4,81950/60

3,8; 2,81940/50

2,6; 2,21920/40

-8

-6

-4

-2

0

2

4

6

8

-6 -4 -2 0 2 4 6

% VARIAÇÃO ANUAL DA POPULAÇÃO DO CORE

% V

AR

IAÇ

ÃO

AN

UA

L D

A P

OP

UL

ÃO

DO

RIN

G

URBANIZAÇÃO

SUBURBANIZAÇÃO

DESURBANIZAÇÃO

REURBANIZAÇÃO

Fonte: Elaborada pelas autoras

15

Na Figura 8 se pode observar a evolução da FUR de POA de um processo inicial de

Urbanização a seu estágio atual de Suburbanização com tendência a estancar-se a população.

A Figura 8 mostra a evolução da FUR de POA entre 1920 e 2007. Entre 1920 e 1960

se observa um processo de urbanização que se acelera com o passar do tempo. Nesse período

(1920 a 1960) a taxa anual de crescimento do CORE passa de 2,6% anual a 5% anual entre

1950/60.

No período entre 1920 e 1950 o RING cresce a uma taxa anual inferior (1920/40 =

2,2%; 1940/50 = 2,8%) a do CORE. No decênio seguinte (1950/60), a taxa de crescimento do

RING iguala virtualmente a do CORE (4,8% frente aos 5%). Esta etapa é a de Urbanização

com Centralização Relativa.

A partir de 1960 se inicia uma etapa do Suburbanização em que a tendência geral é de

uma redução das taxas anuais de crescimento da população, salvo o período 1970/80. Desde

1960 o CORE reduz, sistemáticamente, sua taxa de crescimento anual passando de 3,3%

anual entre 1960/70 aos 0,04% em 200/07.

O RING neste mesmo período, mostra um comportamento menos regular o que requer

uma análise mas detalhada atravéz da Tabela 9 que apresenta as taxas anuais de crescimento

da população do RING entre 1950 e 2007.

Tabla 9. Taxas anuais de crecimento do Ring. FUR de POA

1950/60 1960/70 1980/70 1991/80 1996/91 2000/96 2007/00

4,8% 3,8% 6,2% 4,4% 2,4% 2,3% 0,09% Fonte: Organizada pelas autoras

Ao analisar a Tabela 9, é possível observar a existência de três etapas: a) entre 1950 e

1991, estas taxas de crecimento do RING são muito altas; b) entre 1991 e 2000, as taxas se

reduzem a menos da metade; e c) no período atual a taxa de crescimento é virtualmente zero.

Quer dizer, a tendência a longo prazo da evolução demográfica da FUR de POA parece

dirigir-se ao estancamento de sua população, tanto no CORE como no RING.

CONCLUSÕES

Há uma evidência de que o crescimento da população da FUR de POA, mais

concretamente, de seu RING foi conseqüência de um forte processo emigratório que foi

reduzindo-se com o passar do tempo. É verossímil pensar que no último período os saldos

migratórios da FUR de POA foram muito pequenos e que esta tendência se manterá em um

futuro próximo.

Outro mecanismo explicativo do crescimento demográfico da FUR de POA está no

âmbito da economia: o PIB total da FUR cresceu com força entre 1970 e 2000, assim como o

PIB per capita. Em 1970, o PIB per cápita da FUR superava em mais de 50% o PIB per capita

do RS. Em 2000, mantém-se essa diferença embora em menor medida –o que pode explicar a

diminuição do movimento migratório para a FUR de POA. Por outra parte, o PIB per capita

do RING em 1970 era 30 % inferior ao do CORE. Em 2000, o PIB per capita do RING

superava ao do CORE. Também o crescimento de outras regiões do Estado influi na redução

do crescimento demográfico da FUR

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Estes três dados econômicos podem ajudar a explicar: a) a migração de parte da

população de outras regiões do Estado para a FUR; b) a preferência dos emigrantes pelo

RING toda vez que o PIB per capita é mais alto e cresce mais depressa que no CORE; c)

crescimento de outras regiões que estão retendo a imigração, como por exemplo Caxias do

Sul, Rio Grande( Sul do estado), Ijuí ( norte do Estado).

Comparando a evolução da FUR de POA com as previsões do modelo se observa uma

discrepância importante: enquanto que o modelo sugere uma perda de população do CORE

(POA), a evidência empírica mostra um estancamento de sua população e o conjunto da área

tende a manter sua população estável. Os resultados obtidos neste estudo da FUR de POA são

similares aos obtidos nas FUR européias já estudadas5, ou seja, se conclui que os estágios de

Urbanização e Suburbanização ocorrem independentemente do nível de desenvolvimento que

se encontre um país.

REFERÊNCIAS

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1981. In H. J. EWERS, J. B. Goddard & h. Matzerath (eds), The Future of the Metropolis:

Economic Aspects, Berlin: de Gruyter, 1986, p.149-69.

CHESHIRE, P. C. & GORLA, G. Rates of growth in the urban system of Western

Europe, 1951 to 1981: quantification of causes. Discussion Paper in Urban and Regional

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Brasil. Disponível em: http://www.fee.tche.br Acesso em 25/03/2009.

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KNAAP, G. van der. Population growth and urban systems development. Boston:

Martinus Nijhff Publishing, 1980.

5 A FUR de Valencia (Espanh) entre 1940 y 1991 apresenta um comportamento muito similar ao de POA.

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KLAASSEN, L. H. & MOLLE, W. T. M.. The urban-rural, centre-periphery dichotomy

revisted in the case of the Netherlands. Foundations of Economic and Empirical Research,

Netherlands Economic Institute, 1981

PÉREZ, M. M. Las Áreas Metropolitanas Españolas. Valencia: UPV, 1988.

RECH, G.C.S., PÉREZ, M.M., LLORCA, A. P. Crescimento econômico e urbanização no

Rio Grande do Sul 1970-2000. Anais do VI Encontro Nacional ENABER, Aracaju (SE)

2008.