VALDECI FONTES DE SOUSA Orientador: Prof. Dr. Leonardo de ... · APA Bonfim - Guarairas - Disserta...
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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
UNIDADE ACADÊMICA ESPECIALIZADA EM CIÊNCIAS AGRÁRIAS - UAECIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS FLORESTAIS
LEVANTAMENTO FLORÍSTICO E POTENCIAL ORNAMENTAL DE PLANTAS DA
RESTINGA DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL: SUBSÍDIOS PARA UM
PAISAGISMO SUSTENTÁVEL
VALDECI FONTES DE SOUSA
Orientador: Prof. Dr. Leonardo de Melo Versieux
MACAÍBA - RN
DEZEMBRO - 2016
I
VALDECI FONTES DE SOUSA
LEVANTAMENTO FLORÍSTICO E POTENCIAL ORNAMENTAL DE PLANTAS DA
RESTINGA DO RIO GRANDE DO NORTE, BRASIL: SUBSÍDIOS PARA UM
PAISAGISMO SUSTENTÁVEL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Ciências Florestais, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, para obtenção do
Título de Mestre em Ciências Florestais da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte -
UFRN.
Orientador: Prof. Dr. Leonardo de Melo Versieux
MACAÍBA - RN
DEZEMBRO - 2016
II
À minha mãe Maria Cecília e minha esposa Rejane, pelo amor, carinho, amizade,
incentivo e por não medirem esforços para que eu chegasse até aqui, aos meus filhos, pelos
momentos de alegria. A José Camilo e Justa Ângelo.
DEDICO.
III
Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN
Sistema de Bibliotecas - SISBI
Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial da Escola Agrícola Jundiaí - EAJ
Sousa, Valdeci Fontes de.
Levantamento florístico e potencial ornamental de plantas da
restinga do Rio Grande do Norte, Brasil: subsídios para um
paisagismo sustentável / Valdeci Fontes de Sousa. - Macaíba, 2016.
101f.: il.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Unidade Acadêmica Especializada em Ciências Agrárias.
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais. Orientador: Leonardo de Melo Versieux.
1. APA Bonfim-Guarairas - Dissertação. 2. Espécies nativas -
Dissertação. 3. Flora Potiguar - Dissertação. I. Versieux,
Leonardo de Melo. II. Título.
RN/UF/BSPRH CDU 581.9
IV
“Levantamento florístico e potencial ornamental de plantas da restinga do
Rio Grande do Norte, Brasil: subsídios para um paisagismo sustentável”
VALDECI FONTES DE SOUSA
Dissertação julgada para o título de MESTRE EM CIÊNCIAS FLORESTAIS, na área de
concentração em CIÊNCIAS FLORESTAIS (Linha de Pesquisa em MANEJO E
UTILIZAÇÃO DOS RECURSOS FLORESTAIS), e aprovada em sua forma final pelo
Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, da Universidade Federal do Rio Grande
do Norte (UFRN).
__________________________________________________
Prof. Dr. Mauro Vasconcelos Pacheco
Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais
Banca Examinadora:
_____________________________________________
Prof. Dr. Leonardo de Melo Versieux
(UFRN)
____________________________________________
Profª. Drª. Alice de Moraes Calvente Versieux
(UFRN)
____________________________________________
Prof. Dr. Gustavo Heiden
(EMBRAPA)
MACAÍBA - RN
DEZEMBRO - 2016
V
AGRADECIMENTOS
À minha esposa Rejane, pelo amor, carinho, amizade, sempre me apoiando em todas as
horas. Obrigada por fazer parte de minha vida!
À minha mãe, uma pessoa humilde e batalhadora.
Aos meus irmãos, irmãs e a toda minha família.
Ao meu orientador, Leonardo de Melo Versieux, obrigado por me aceitar como seu
orientando, e pelos ensinamentos durante esses dois anos.
À M.Sc. Juliana Leroy que foi parceira nas saídas a campo, o meu muito obrigado pela
amizade e companheirismo e autorização pelo uso de algumas fotografias.
Aos colegas do Laboratório de Botânica Sistemática e Herbário UFRN, por todas as
suas contribuições.
Ao CNPq e ao projeto Reflora, na pessoa da Dra. Rafaela Forzza, pela bolsa de
Desenvolvimento Tecnológico Industrial do CNPq - Nível C concedida.
Às Dras. Alice Calvente e Fernanda Carvalho, pelas sugestões feitas ao Cap. I, quando
do exame de qualificação.
Ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais (PPGCFL/UFRN), professores
e discentes, pelas disciplinas e formação oferecidas.
VI
LISTA DE FIGURAS
CAPÍTULO I
Figura 1. Mapa mostrando o município de Nísia Floresta (verde), RN, destacando os cinco
pontos de amostragem (círculos pretos) que indicam as lagoas no entorno das quais foram
percorridos cerca de 800 m em trilhas para coleta do material botânico. ................................ 28
Figura 2. Caracterização fotográfica das fisionomias amostradas na área de estudo, Lagoas
Amarela, Sete Lagoas, da Juventude e da Ilhota. A. Vegetação de restinga herbácea sobre
dunas na margem da Lagoa Amarela, B. Restinga arbustiva aberta em flanco de duna, Sete
Lagoas, C. Formações de adensamento de arbustos, Sete Lagoas, D. Restinga arbustiva com
predomínio de Guajirú (Chrysobalanus icaco, Chrysobalanaceae), E-F. Aspecto da vegetação
arbustiva em torno das lagoas da Juventude e da Ilhota. (Fotos: A: VF Sousa, B-F: J Leroy).
.................................................................................................................................................. 29
Figura 3. As 13 famílias mais ricas em espécies (em valores relativos) seguidas pelas demais
(outras), na restinga da APA Bonfim-Guarairas, Nísia Floresta, RN, Brasil. .......................... 32
CAPÍTULO II
Figura 1. Mapa mostrando o município de Nísia Floresta (círculo vermelho), RN, destacando
os cinco pontos de amostragem (pontos vermelhos) para coleta do material botânico. ........... 68
Figura 2. Fotografias das espécies indicadas para uso ornamental da APA Bonfim-Guarairas.
A. Anthurium affine (Araceae), B. Aristolochia setulosa (Aristolochiaceae), C.
Chhrysobalanus icaco (Chrysobalanaceae), D. Cissus erosa (Vitaceae), Comolia ovalifolia
(Melastomataceae), F. Lundia longa (Bignoniaceae). (Fotos: VF Sousa). .............................. 80
Figura 3. Fotografias das espécies indicadas para uso ornamental da APA Bonfim-Guarairas.
A. Ipomoea brasiliana (Convolvulaceae), B. Euploca paradoxa (Boraginaceae), C-D.
Anthurium affine (Araceae), E. Tetracera breyniana (Dilleniaceae), F. Philodendron
acutatum (Araceae), G. Pilosocereus catingicola (Cactaceae), H. Lundia longa
(Bignoniaceae). (Fotos: V.F. Sousa, exceto F, de J. Leroy). .................................................... 81
VII
CAPÍTULO III
Figura 1. Geographical distribution map of Justicia thunbergioides in Brazil ........................95
Figura 2. Justicia thumbergioides (Lindau) Leonard. A. Flower; B. Fruit; C. Habitat; D-F.
Floral visitors (Photoed by V.F. de Sousa in August, 2015) .................................................. 96
VIII
LISTA DE TABELAS
CAPÍTULO I
Tabela 1. Lista de espécies de plantas Lista das espécies de plantas vasculares registradas em
Nísia Floresta, APA Bonfim-Guarairas, RN, Brasil. Hábito: erv = erva, arb = arbusto, subarb
= subarbusto, árv = árvore e trep = trepadeira. Padrão biogeográfico: Ama = Amazônica, Caa
= Caatinga, Cer = Cerrado, Atl = Atlântica e Par = Paranaense. Distribuição geográfica no
Brasil: CA = contínua ampla, CR = contínua restrita, D = disjunta e R = restrita. (*) =
primeira ocorrência para o RN. (†) = endêmica do Brasil. Síndromes de dispersão: AU =
Autocórica, AN = Anemocórica e ZO = Zoocórica. As ocorrências estão indicadas por
vouchers (todos depositados no herbário UFRN)..................................................................... 51
Tabela 2. Comparação entre a riqueza de espécies e de famílias entre alguns estudos sobre a
flora de restinga no Nordeste brasileiro. ................................................................................... 40
CAPÍTULO II
Tabela 1. Atributos utilizados para a avaliação das caractrísticas ornamentais das espécies
nativas da APA Bonfim-Guarairas, RN, com possibilidade de uso no paisagismo. ................ 70
Tabela 2. Lista de plantas nativas de potencial ornamental da APA Bonfim-Guarairas, RN,
indicadas para uso no paisagismo. ............................................................................................ 87
IX
SUMÁRIO
RESUMO ................................................................................................................................ 11
ABSTRACT ............................................................................................................................ 12
INTRODUÇÃO GERAL ........................................................................................................ 13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 17
CAPÍTULO I ......................................................................................................................... 21
Levantamento florístico na restinga da APA Bonfim-Guarairas, RN, Brasil ......................... 22
RESUMO ................................................................................................................................ 22
ABSTRACT ............................................................................................................................ 23
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 24
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................... 26
Área de estudo ......................................................................................................................... 26
Metodologia ............................................................................................................................. 30
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 31
CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 40
AGRADECIMENTOS ............................................................................................................ 41
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................... 42
CAPÍTULO II ........................................................................................................................ 61
Potencial ornamental de plantas da restinga do Rio Grande do Norte: subsídios para um
paisagismo sustentável ............................................................................................................ 62
RESUMO ................................................................................................................................ 62
ABSTRACT ............................................................................................................................ 63
INTRODUÇÃO ....................................................................................................................... 64
MATERIAL E MÉTODOS ..................................................................................................... 66
Área de estudo ......................................................................................................................... 66
Metodologia ............................................................................................................................. 67
X
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................ 70
CONCLUSÕES ....................................................................................................................... 78
REFRÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ....................................................................................... 82
CAPÍTULO III – ARTIGO PUBLICADO NA REVISTA PHYTOTAXA ..................... 93
Notes on the ornamental potential and taxonomy of Justicia (Acanthaceae, Justicieae),
including a first record for the Paraíba flora, Brazil
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO ...……..………………………….... 101
11
RESUMO
A dissertação compreende o levantamento florístico de plantas vasculares em fragmentos de
restinga da Área de Proteção Ambiental Bonfim-Guarairas, no estado do Rio Grande do
Norte, Brasil, na análise e indicação de plantas nativas com potencial ornamental e
possibilidades de uso em projetos paisagísticos. Apresenta-se inicialmente uma caracterização
geral das restingas brasileiras, do objetivo e da justificativa da dissertação, que segue
estruturada em capítulos. O capítulo I apresenta um levantamento florístico das plantas
vasculares ocorrentes em um trecho da APA Bonfim-Guarairas, com base em coletas de
campo, consulta de herbário e literatura e discussão de aspectos fitogeográficos e ecológicos,
na tentativa de se compreender melhor a composição de tais comunidades. Como resultados
deste capítulo destaca-se o reconhecimento de 58 famílias, 131 gêneros e 169 espécies das
quais 23 são novas ocorrências para o Rio Grande do Norte. As angiospermas foram
responsáveis por 166 espécies (98,2% do total), 125 gêneros (97,6%) e 55 famílias (94,8%)
enquanto que as monilófitas incluíram três famílias (5,1%). Registrou-se pela primeira vez a
ocorrência da família Orobanchaceae para a flora Potiguar, representada por Agalinis
hispidula e Buchnera palustris. A maioria das espécies tem padrão de distribuição amplo,
uma vez que ocorrem em províncias biogeográficas adjacentes, confirmando uma origem
diversificada e generalista para a flora das restingas, e um padrão de dispersão
predominantemente autocórico, seguido pelo zoocórico. No capítulo II, é apresentado o
potencial ornamental de plantas nativas de restinga do Rio Grande do Norte, com base na
análise de características estéticas. É apresentada uma lista de plantas com nome científico,
família, hábito, características estéticas e possibilidade de uso em paisagismo. Os resultados
mostram um total de 25 espécies com potencial ornamental, distribuídas em 22 gêneros e 16
famílias. Convolvulaceae (3 spp.), Apocynaceae, Araceae, Cactaceae, Chrysobalanaceae e
Rubiaceae (2 cada) foram as que mais de destacaram. A maioria das espécies indicadas, 17
(81%), é endêmica do Brasil e duas (Aspilia procumbens e Melocactus violaceus) são
consideradas ameaçadas de extinção segundo o Ministério do Meio Ambiente. No capítulo III
é apresentado o potencial ornamental das espécies do gênero Justicia (Acanthaceae) para a
flora da Paraíba. Uma chave dicotômica para identificação das espécies encontrada no
referido estado, além de uma nova ocorrência, (Justicia thunbergioides) e comentários
taxonômicos.
Palavaras chave: APA Bonfim-Guarairas, composição florística, espécies nativas, flora
Potiguar.
12
ABSTRACT
The dissertation includes the floristic survey of vascular plants in fragments of restinga of the
Bonfim-Guarairas Environmental Protection Area, in the state of Rio Grande do Norte, Brazil,
as well as the analysis and indication of native plants with ornamental potential and
possibilities of its use in landscape projects. Initially, we present a general characterization of
the Brazilian „restingas‟, the objectives and justification of the dissertation, which is
structured in chapters. The chapter I provide a floristic survey of vascular plants occurring in
Bonfim-Guarairas Environmental Protection Area, based on field collections, herbarium and
bibliography. The results of this chapter include the recognition of 58 families, 131 genera
and 169 species of which 23 are new occurrences for Rio Grande do Norte. The angiosperms
were responsible for 166 species (98.2% of total), 125 genera (97.6%) and 55 families
(94.8%) and three families (5.1%) were composed of monilophytes. Cyperaceae (11.8% of
species), Poaceae (10.6%), Fabaceae (8.8%), Rubiaceae and Orchidaceae (4.7%) were the
richest families in number of species. Also, the occurrence of the Orobanchaceae represented
by Agalinis hispidula and Buchnera palustris is the first record for the family in the Rio
Grande do Norte flora‟s. A broad distribution pattern was confirmed for most species, which
also occur in adjacent biogeographic provinces, reinforcing the mixed origin of restinga flora.
Aditionally, we found a predominantly autochoric dispersion pattern, followed by zoocoric. In
chapter II we discuss the ornamental potential of native plants from restinga of Rio Grande do
Norte, based on the analysis of their aesthetic characteristics. A list of plants with their
scientific name family, habit, aesthetic characteristics, and possible use in landscaping is
provided. The results show a total of 25 species grouped in 22 genera and 16 families with
ornamental potential. Convolvulaceae (3 spp.), Apocynaceae, Araceae, Cactaceae,
Chrysobalanaceae and Rubiaceae (2 each) are highlighted for their aesthetic characteristics.
Most of the species (17; 81%) are endemic to Brazil and two (Aspilia procumbens and
Melocactus violaceus) are endangered. In chapter III we present and discuss the ornamental
potential of the genus Justicia (Acanthaceae) for the Paraíba flora. Dichotomous key for
identification of species found in that state, in addition to a new occurrence, Justicia
thunbergioides, followed by taxonomic commentaries, are also presented.
Key words: Bonfim-Guarairas Environmental Protected Area, floristic composition, native
species, Potiguar flora.
13
INTRODUÇÃO GERAL
A Floresta Atlântica apresenta elevada diversidade florística e faunística, abrigando
muitas espécies endêmicas, sendo considerada uma das áreas prioritárias para a conservação
da biodiversidade mundial (LAGOS; MULLER, 2007). De acordo com o Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais (INPE, 2005‒2008), a Floresta Atlântica é considerada um dos
ambientes mais ameaçados do mundo devido aos constantes riscos de destruição dos habitats
nas suas variadas tipologias, bem como de seus ecossistemas associados. A Floresta Atlântica
está presente tanto na região litorânea como nos planaltos e serras do interior do Brasil, do
Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul, ao longo de toda costa. A sua área principal está
nas grandes Serras do Mar e da Mantiqueira, abrangendo os Estados de São Paulo, Minas
Gerais, Rio de Janeiro e Espírito do Santo. No Nordeste Oriental, a Floresta Atlântica inclui
as restingas e, principalmente, a formação dos Tabuleiros Costeiros, desde o Rio Grande do
Norte até Alagoas (BARBOSA; THOMAS, 2002). As restingas são um tipo de vegetação
mesoesclerófila, crescendo sobre solos litorâneos arenosos recentes, porosos, em geral ricos
em água, pobres em nitrogênio, que podem incluir comunidades halófilas, xerófilas, hidrófilas
e litófilas, com uma flora cosmopolita tropical (RIZZINI, 1997).
O litoral nordestino possui aproximadamente uma extensão de 3.306 km entre os
estados do Maranhão e Bahia, o que corresponde a 45% da costa brasileira e apresenta grande
diversidade vegetal pouco pesquisada (BRITO et al., 2006). No estado do Rio Grande do
Norte há predominância do domínio Caatinga com 95%; o domínio Floresta Atlântica
representa apenas 5% do territótio (IBGE, 2004). Nas últimas décadas, os estudos com
vegetação foram intensificados enfocando, principalmente, a florística e a fitossociologia
(PEREIRA; ASSIS, 2000), porém o conhecimento sobre os fragmentos vegetacionais do Rio
Grande do Norte ainda é escasso.
As regiões litorâneas em toda a Floresta Atlântica, principalmente as restingas, vêm
sofrendo ao longo dos tempos com a degradação e perdas ambientais em razão da exagerada
especulação imobiliária associada ao fluxo turístico (STEHMANN et al., 2009; SILVA;
MENEZES, 2012), o que causa sérios danos à vegetação nativa (QUEIROZ et al., 2012),
visto que as cidades litorâneas são as que mais crescem e, por consequência, desmatam a
vegetação. No Brasil, as restingas ocorrem ao longo da costa em extensões variadas, podendo
compor um mosaico vegetacional, agrupadas desde áreas florestadas até áreas com vegetação
herbácea (BRAZ et al., 2013).
14
No Nordeste do Brasil, as restingas compreendem uma estreita faixa arenosa ao longo
de toda a costa, desde o rio Parnaíba, no Piauí, até o Recôncavo Baiano (SUGUIO;
TESSLER, 1984). Contudo, devido ao longo tempo de ocupação, as restingas estão parcial ou
totalmente descaracterizadas (ZICKEL et al., 2015). Muitas dessas áreas foram modificadas
pela agricultura, pela intensificação do turismo predatório ou pela especulação imobiliária.
Apesar de sua grande importância ecológica e social, as restingas são os ecossistemas
menos conhecidos em termos de diversidade e conservação (PEREIRA; ARAÚJO, 2000;
FERNANDES; QUEIROZ, 2015) e são ambientes extremamente frágeis e de baixa
capacidade de resiliência (GUEDES et al., 2006). Apesar da fragilidade, sua vegetação exerce
papel fundamental para a estabilização dos sedimentos e manutenção da drenagem natural,
bem como para a preservação da sua fauna residente e migratória (FALKENBERG, 1999). A
rápida devastação da restinga por pressão do setor imobiliário e outras intervenções
antropogênicas, torna urgente a obtenção de dados a fim de subsidiar estratégias
conservacionistas (MARTINS et al., 2008).
De acordo com Scarano (2002), as restingas têm sido negligenciadas, provavelmente
por possuírem baixa diversidade e pouco endemismo, dois critérios fundamentais, utilizados
como parte das iniciativas para conservação. No entanto, estes ecossistemas abrigam diversos
gêneros da fauna e flora nativa, incluindo espécies em risco de extinção.
Muitos estudos têm mostrado que as restingas apresentam uma grande diversidade
ecológica e características próprias quanto à composição florística e estrutura vegetacional
(SUGIYAMA, 1998; ASSUMPÇÃO; NASCIMENTO, 2000; PEREIRA et al., 2001; ASSIS
et al., 2004a,b), e abrigam diversas espécies endêmicas (MORI et al., 1981; BRITTO et al.,
1993; STEHMANN et al., 2009; QUEIROZ et al., 2012).
No estado do Rio Grande do Norte, as florestas costeiras ocorrem em uma estreita faixa
do litoral oriental (TAVARES, 1960). De acordo com Rizzini (1997), as dunas da região
Leste potiguar estão cobertas por uma vegetação arbustivo-arbórea, sendo que nos vales
podem existir florestas que atingem até 10 m de altura, correspondendo a um dos limites da
Floresta Atlântica. É provável que eventos dinâmicos associados ao transporte da areia pelos
ventos podem ter soterrado partes dessa floresta, a qual deveria já existir antes das formações
das dunas (RIZZINI, 1997). Segundo Oliveira-Filho e Carvalho (1993), em diversas regiões
costeiras do Nordeste, o litoral se confronta com fitofisionomias do Cerrado principalmente
onde as faixas arenosas penetram profundamente no continente. Tais informações nos
fornecem questionamentos sobre a composição e origem da flora das restingas, já que se
15
observa um relacionamento estreito com a Floresta Atlântica, mas também podendo assumir
fisionomias semelhantes ao cerrado.
A fisionomia de uma vegetação varia dentro de uma mesma formação, se essa ocupar
extensas áreas com heterogeneidade de condições ambientais como é a restinga, que se
estende por planícies arenosas da região costeira e dunas; a fisionomia varia de herbáceo
praiano a floresta fechada, a depender, dentre outros fatores, do solo (RIZZINI, 1997).
A escassez de informações florísticas sobre a vegetação de restinga do estado do Rio
Grande do Norte mantem uma grande lacuna de conhecimento botânico. Tais dados, se
disponíveis, poderiam ser úteis em comparações fitogeográficas com outras restingas do
Brasil. Além disso, as restingas apresentam uma flora com componentes sabidamente
ornamentais e úteis ao paisagismo. Famílias como Araceae, Arecaceae, Bromeliaceae e
Cactaceae são muito citadas em levantamentos florísticos de restinga, sendo que estudos sobre
o potencial de espécies dessa vegetação para fins paisagísticos são ainda incipientes.
Entretanto, o emprego de espécies nativas em jardins, é um tema ainda subexplorado no
Brasil, mas já com crescente preocupação em outros países, especialmente em razão da
rusticidade, demanda por menor irrigação e associações com outros organismos, fornecidos
pelas plantas nativas (GODDARD et al., 2009).
Na presente dissertação, selecionou-se como foco de estudo uma área de restinga, às
margens de diferentes lagoas, dentro da APA Bonfim-Guarairas, Nísia Floresta, Rio Grande
do Norte (RN). A área amostrada encontra-se inserida no sistema aquífero Dunas-Barreiras,
onde se estabelece a restinga herbácea e arbustiva. As dunas exercem a transferência das
águas de infiltração em direção aos planos inferiores do Grupo Barreiras. As águas
subterrâneas dentro da APA são utilizadas para abastecimento humano, sendo evidente a
importância da área pelo potencial hídrico. Dentre os impactos ambientais descritos, há
instalação de edificações e supressão da vegetação do entorno das lagoas (IDEMA, 2001). Em
análises de qualidade da água feitas em algumas dessas lagoas, observou-se que pontos de
amostragens próximos a áreas antropizadas (como canaviais) apresentaram parâmetros muito
inferiores de qualidade se comparados aos pontos onde havia vegetação nativa de restinga
cobrindo as margens (DUARTE et al., 1997). Assim, uma das justificativas da dissertação é,
além de lançar luz sobre a composição florística, aprofundar o conhecimento das espécies que
ocorrem em tais ambientes, com a possível utilização das mesmas na recuperação de área
degradadas dentro deste aquífero.
A área é importante como remanescente de vegetação nativa e para a recarga dos
lençois freáticos, devido às extensas lagoas temporárias ou permanentes que ali se encontram.
16
Apesar do crescente desmatamento e fragmentação do habitat, a área de estudo é relevante
para o estabelecimento de metapopulações e corredores ecológicos da Floresta Atlântica do
Rio Grande do Norte, seguindo as restingas arbustivo-arbóreas do litoral, até a cidade de
Natal (MMA, 2012). A diversidade florística da APA é conhecida apenas de dois estudos. O
primeiro trata de um levantamento fitossociológico, onde foram registradas 58 espécies
agregadas em 30 famílias, sendo que Fabaceae (10 spp.) e Myrtaceae (7) foram as mais
representativas em número de espécies (MMA, 2012). O outro é referente ao levantamento
das macrófitas aquáticas dentro da APA, Leroy (2015) encontrou 67 espécies, sendo 13 novas
ocorrências para o RN.
Ressalta-se como justificativa ao trabalho seu impacto na sustentabilidade, tanto pela
listagem e indicação das espécies nativas de potencial ornamental, quanto pela relação direta
entre a preservação e conhecimento da flora local, atrelados à manutenção da qualidade dos
corpos hídricos ali existentes.
Neste sentido, o presente estudo foi delineado tendo como objetivos o levantamento
florístico em um fragmento de restinga, em um trecho da APA Bonfim-Guarairas no
município de Nísia Floresta (RN), visando contribuir para o conhecimento desse tipo
vegetacional no estado e, paralelamente, eleger espécies nativas com potencial ornamental
para elaboração de jardins residenciais, comerciais e espaços públicos.
Dessa maneira, o presente trabalho consta de uma Introdução Geral que contextualiza a
investigação e aborda tópicos relevantes sobre as áreas de restinga; seguida de três capítulos
em forma de artigos correspondentes aos objetivos específicos da proposta de estudo:
Capítulo I – intitulado “Levantamento florístico na restinga da APA Bonfim-Guarairas,
RN, Brasil”, que teve como objetivo inventariar as espécies de plantas vasculares ocorrentes
na APA. Este artigo será submetido à Acta Botanica Brasilica, e o texto apresentado segue a
mesma estrutura exigida pela revista; Capítulo II – intitulado “Potencial ornamental de
plantas da restinga do Rio Grande do Norte: subsídios para um paisagismo sustentável”
teve como objetivo caracterizar espécies nativas da restinga com potencial para uso no
paisagismo. Este artigo será submetido à Landscape Review e o texto apresentado segue a
estrutura exigida pela revista; Capítulo III – intitulado “Notes on the ornamental potential
and taxonomy of Justicia (Acanthaceae, Justicieae), including a first record for the
Paraíba flora, Brazil”, que objetivou indicar o potencial ornamental das pécies de Justicia
(Acanthaceae) para o paisagismo com espécies nativas no bioma Caatinga, o mesmo já
publicado, em 2016, no periódico Phytotaxa.
17
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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no Parque Estadual Paulo César Vinha, Setiba, município de Guarapari (ES). Revista
Brasileira de Botânica, v. 27, n. 2, p. 349–361, 2004a.
ASSIS, A.M.; THOMAZ, L.D.; PEREIRA, O.J. Florística de um trecho de floresta de
restinga no município de Guarapari, Espírito Santo, Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 18, n.
1, p. 191–201, 2004b.
ASSUMPÇÃO, J.; NASCIMENTO, M.T. Estrutura e composição florística de quatro
formações vegetais de restinga no complexo lagunar Grussaí/Iquipari, São João da Barra, RJ,
Brasil. Acta Botanica Brasilica, v. 14, n. 3, p. 301–315, 2000.
BARBOSA, M.R.V.; THOMAS, W.W. Biodiversidade, conservação e uso sustentável da
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BRAZ, D.M.; JACQUES, E.L.; SOMMER, G.V.; SYLVESTRE, L.S.; ROSA, M.M.T.;
MOURA, M.V.L.P.; FILHO, P.G.; COUTO, A.V.S.; AMORIM, T.A. Restinga de Praia das
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BRITO, A.E.R.; MADEIRA, Z.R.; COSTA, FA. P.; NUNES, E.P.; MATIAS, L.Q.; SILVA,
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Flora fanerogâmica das dunas e lagoas do Abaeté, Salvador, Bahia. Sitientibus, n. 11, p. 31–
46, 1993.
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21
CAPÍTULO I
Levantamento florístico na restinga da APA Bonfim-Guarairas, RN, Brasil1
Valdeci Fontes de Sousa2,3
1 Parte da Dissertação de Mestrado
2 Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais. Autor para correspondência
3 Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia - Centro de Biociências, Universidade Federal do
Rio Grande do Norte, Campus Universitário, 59072‒970, Natal - RN, Brasil
*Manuscrito a ser submetido ao periódico Acta Botanica Brasilica
22
Levantamento florístico na restinga da APA Bonfim-Guaraíra, RN, Brasil
Survey floristic in restinga APA Bonfim-Guarairas, RN, Brazil
Valdeci Fontes de Sousa
Resumo
Restinga é um nome luso-brasileiro específico para cordões de areia gerados em fundos de
enseadas ou grandes recortes topográficos de litorais tropicais. Sua vegetação é heterogênea e
composta por fisionomias herbáceas, arbustivas e arbóreas, ainda pouco investigadas quanto
sua riqueza e diversidade no estado do Rio Grande do Norte (RN). O presente estudo
apresenta o levantamento florístico de plantas vasculares em áreas de restinga no município
de Nísia Floresta, dentro da Área de Proteção Ambiental (APA) Bonfim-Guarairas, RN,
Brasil. O levantamento foi realizado por meio de coletas não sistematizadas de amostras
férteis entre dezembro de 2015 a setembro de 2016 e por consulta de exsicatas depositadas no
herbário UFRN. A área de estudo caracteriza-se por ser uma formação transicional entre áreas
de restingas, vegetação psamófila sobre dunas e encraves de floresta atlântica, além de possuir
dezenas de lagoas interdunares que abastecem de água dece vários municípios. Um total de
169 espécies pertencentes a 131 gêneros e 58 famílias foi documentado. As angiospermas
foram responsáveis por 166 espécies (98,2% do total), 128 gêneros (97,7%) e 55 famílias
(94,8%) e três famílias (5,1%) restantes foram compostas pelas monilófitas (“pteridófitas”),
cada uma com uma espécie. As famílias mais ricas foram Cyperaceae (11,8% das espécies),
Poaceae (10,6%), Fabaceae (8,8%), Rubiaceae e Orchidaceae (4,7%). Entre as espécies
listadas, 51 (30,1%) são endêmicas do Brasil e 23 (13,6%) são novas ocorrências para a flora
do RN. Confirmou-se um padrão de distribuição amplo para a maioria das espécies, que
também ocorrem em províncias biogeográficas adjacentes e um padrão de dispersão
predominantemente autocórico, seguido por zoocórico. A fragmentação e os impactos
antrópicos verificados na área estudada reforçam a necessidade urgente de medidas de
conservação da flora na APA Bonfim-Guarairas.
Palavras-chave: APA Bonfim-Guarairas, conservação, flora, Floresta Atlântica, psamo-
bioma, riqueza de espécies.
23
Abstract
Restinga is a Luso-Brazilian name specific for sand stripes generated along the back of coves
or bays or large topographic cutouts of tropical coasts. Restinga vegetation is heterogeneous,
and composed by herbaceous, shrubby, and arboreal physiognomies so far poorly investigated
in Rio Grande do Norte state (RN), Northeastern Brazil. This paper aims to fill this gap and
presents an intensive field work floristic survey of the vascular plants from a restinga patch in
Nísia Floresta, an area belonging to the Bonfim-Guarairas Environmental Protection Area
(APA). This survey was based on field work and collection of fertile samples along the study
area from December 2015 to September 2016, as well as on specimens available in UFRN
herbarium collection. The study area is characterized by a transitional formation between
areas of salt marshes, sand dunes vegetation and patches of Atlantic forest, besides having
dozens of interdune lakes, which supply several municipalities with fresh water. A total of
169 species belonging to 131 genera and 58 families were listed. The angiosperms were
responsible for 166 species (98.2% of total), 128 genera (97.7%) and 55 families (94.8%) and
the remaining three families (5.1%), each one with a single species, were composed of
monilophytes. The richest families in number of species were Cyperaceae (11.8% of species),
Poaceae (10.6%), Fabaceae (8.8%), Rubiaceae and Orchidaceae (4.7%). Among the species
listed, 51 (30.1%) are endemic to Brazil and 23 (13.6%) are new records for the Potiguar
flora. A broad distribution pattern was confirmed for most species, which also occur in
adjacent biogeographic provinces and a predominantly autochoric dispersion pattern,
followed by zoocoric. The fragmentation and anthropic impacts verified in the studied area
reinforce an urgent need for conservation of the flora of the APA Bonfim-Guarairas.
Key words: Atlantic Forest, Bonfim-Guarairas Environmental Protected Area, conservation
flora, psamo-biome, species richness.
24
Introdução
Restinga é um nome luso-brasileiro específico para cordões de areia gerados em fundos
de enseadas ou grandes recortes topográficos de litorais tropicais (Ab‟Saber 2006). As
restingas compreendem um mosaico de comunidades que ocorrem em áreas costeiras,
formando estratos herbáceos, arbustivos e arbóreos sobre planícies arenosas, estas resultantes
das regressões e transgressões do mar e cuja datação é do período Quaternário (Suguio &
Tessler 1984; Araújo & Henriques 1984; Souza et al. 2008; Magnago et al. 2013). No Brasil,
as restingas ocorrem ao longo de toda a costa, em extensões variadas, formando desde campos
abertos até áreas florestadas (Braz et al. 2013; Silva et al. 2016). As espécies que se
desenvolvem nesses ambientes são típicas de ecossistemas adjacentes como a Floresta
Atlântica, a Mata de Tabuleiro Litorâneo e a Caatinga, mas com variações fenotípicas devido
às novas condições ambientais (Freire 1990; Oliveira-Filho & Carvalho 1993; Rizzini 1997;
Assumpção & Nascimento 2000), sendo que para os animais, como as aves, por exemplo, a
composição de espécies não se limita à dos biomas vizinhos, sendo bastante heterogênea
(Sick 2001).
Na Região Nordeste, o litoral possui aproximadamente 3.306 km de extensão, entre os
Estados do Maranhão e Bahia, correspondendo a 45% da costa brasileira e com grande
diversidade vegetal ainda pouco pesquisada (Brito et al. 2006). Nas últimas décadas, os
estudos com vegetação de ambientes costeiros foram intensificados enfocando,
principalmente, a florística e a fitossociologia (Pereira & Assis 2000; Almeida Jr. et al. 2007a,
2009; Almeida Jr. & Zickel 2009; Dias & Soares 2008; Silva & Menezes 2012; Menezes et
al. 2012; Almeida Jr. & Zickel 2012; Queiroz et al. 2012; Santos-Filho et al. 2011, 2013;
Fernandes & Queiroz 2015; Serra et al. 2016), porém o conhecimento sobre os fragmentos
vegetacionais do Rio Grande do Norte (RN) e os dados sobre a ocorrência precisa das
espécies ainda são escassos (Freire 1990; Almeida Jr. & Zickel 2009, 2012; Damaso 2009;
Versieux et al. 2013; Magalhães et al. 2014). No RN, a vegetação de restinga e os ambientes
dunares dominam quase toda a paisagem litorânea.
As regiões litorâneas em toda a costa brasileira, principalmente os ambientes de
restingas, vêm sofrendo ao longo do tempo com a degradação e perdas em razão da exagerada
especulação imobiliária associada ao fluxo turístico (Stehmann et al. 2009; Silva & Menezes
2012; Santos-Filho et al. 2013), o que causa sérios danos à vegetação nativa (Queiroz et al.
2012), demandando ações urgentes em prol da conservação para esse ecossistema (Dias &
Soares 2008; Serra et al. 2016).
25
Apesar da grande importância ecológica e social, as restingas são os ecossistemas
menos conhecidos em termos de diversidade e conservação (Fernandes & Queiroz 2015), são
ambientes extremamente frágeis e de baixa capacidade de resiliência (Guedes et al. 2006).
Essa vegetação exerce papel fundamental para a estabilização dos sedimentos e manutenção
da drenagem natural, bem como para a preservação da fauna residente e migratória
(Falkenberg 1999; Scherer et al. 2005).
Estudos recentes têm mostrado que as restingas apresentam uma grande diversidade
ecológica e características próprias quanto à composição florística e estrutura vegetacional
(e.g. Sugiyama 1998; Assumpção & Nascimento 2000; Pereira et al. 2001; Assis et al.
2004a,b), abrigando diversas espécies endêmicas, algumas em risco de extinção (Mori et al.
1981; Britto et al. 1993; Stehmann et al. 2009; Queiroz et al. 2012). Atualmente, a restinga
brasileira abriga 2.471 espécies de angiospermas das quais 295 (11,9%) são endêmicas (BFG
2015). Para a restinga do Rio Grande do Norte, é citada a ocorrência de 501 espécies e 362
gêneros agrupados em 109 famílias (Flora do Brasil 2020).
No Estado do Rio Grande do Norte, as florestas costeiras ocorrem em uma estreita faixa
do litoral oriental (Tavares 1960). As dunas da região leste potiguar estão cobertas por uma
vegetação arbustivo-arbórea, sendo que nos vales podem existir florestas que atingem até 10
m de altura, correspondendo a um dos limites da Floresta Atlântica (Rizzini 1997). É provável
que eventos dinâmicos associados ao transporte da areia pelos ventos podem ter soterrado
partes dessa floresta, a qual deveria já existir antes das formações das dunas (Rizzini 1997).
Em diversas regiões costeiras do Nordeste, o litoral se confronta com fitofisionomias do
Cerrado principalmente onde as faixas arenosas penetram profundamente no continente
(Oliveira & Carvalho 1993). Assim, como observado por Sick (2001), pela sua vegetação, a
restinga pode lembrar o cerrado, em alguns casos chamados de “cerrado do litoral”, sendo que
para o RN foi documentada uma área onde manchas de cerrado estariam vizinhas ao litoral
(Oliveira et al. 2012b).
A escassez de informações florísticas sobre a vegetação de restinga do estado do Rio
Grande do Norte implica em limitadas ações de conservação ou, no caso de unidades de
conservação, no manejo das comunidades remanescentes. Além disso, o conhecimento das
diversidades alfa e beta de tais comunidades poderiam ser úteis em comparações
fitogeográficas com outras restingas do Brasil. Desta forma, tornou-se necessário aprofundar
o conhecimento florístico das restingas do RN, em especial da APA Bonfim-Guarairas, que é
uma área próxima à capital do estado, importante manancial e que vem sofrendo invasões e
perda de hábitats. As perguntas que pretendemos responder no presente trabalho são: Qual é a
26
composição florística da área de estudo? Ela inclui espécies raras, endêmicas ou ameaçadas
de extinção? Qual é a distribuição geográfica das espécies inventariadas na área estudada? As
espécies registradas possuem ocorrências em outros domínios fitogeográficos brasileiros?
Neste sentido, o presente estudo foi delineado tendo como objetivo realizar o levantamento
florístico na restinga da APA Bonfim-Guarairas no município de Nísia Floresta, no Rio
Grande do Norte, visando contribuir para o conhecimento desse tipo vegetacional no estado
do RN.
A escolha de tal área, inserida dentro da APA Bonfim-Guarairas, justifica-se por sua
importância para a recarga dos lençóis freáticos, devido às extensas lagoas temporárias ou
intermitentes que ali se formam e também por ser urgente a conservação de sua biota. Apesar
do crescente desmatamento e fragmentação do habitat, a área de estudo dada a sua
proximidade com a cidade de Natal, é relevante para o estabelecimento de metapopulações e
corredores ecológicos na Floresta Atlântica do Rio Grande do Norte, seguindo as restingas
arbustivo-arbóreas do litoral, até a capital (MMA 2012).
Material e Métodos
Área de estudo ‒ Os fragmentos de restinga estudados localizam-se dentro da APA Bonfim-
Guarairas no município de Nísia Floresta, Rio Grande Norte (RN), distando cerca de 30 km
de Natal. Foram amostrados cinco pontos de coletas, todos dentro de um raio de cerca de 800
m nos espaços interdunares, amostrando as plantas a partir do limite final da lâmina d´água:
Lagoa Amarela (6°00'15.5"S, 35°09'39.8"W), Lagoa da Juventude (6°00'12.5"S,
35°09'20"W), Sete Lagoas (6°00'46.4"S, 35°07'03.0"W), Lagoa da Ilhota (5°59'27.3"S,
35°07'33.7"W) e Lagoa de Alcaçuz (6°59'46.1"S, 35°08'26.2"W) (Figuras 1 e 2). A área total
de estudo abrangeu 8,24 km2. O clima da região é do tipo AS‟ (quente e úmido), com estação
chuvosa entre os meses de fevereiro até julho, e uma estação seca, com estiagem mais
rigorosa entre outubro e dezembro (Köppen 1948). A temperatura média anual está em torno
de 26°C, com pluviometria média anual de 1.455 mm e umidade relativa média anual de 76%
(IDEC 1991).
A vegetação da APA é dominada por vegetação herbácea esparsamente distribuída em
estreita faixa de praia e sobre as dunas, até arbustiva, mais exuberante, que recobre flancos de
dunas, cordões e planícies interdunares (IDEMA 2008). Em uma avaliação preliminar para
escolha da área, visualmente, observou-se que o componente herbáceo é, aparentemente,
dominado por representantes das famílias Poaceae, Cyperaceae, Fabaceae e Rubiaceae. O
estrato arbustivo é também um elemento importante na fixação e estabilização das dunas. A
27
altura desse componente varia de 2 a 3,5 m e por formar densas populações fornece cobertura
ao solo, protegendo-o dos processos erosivos. A espécie aparentemente mais abundante neste
componente é Chrysobalanus icaco L. (Chrysobalanaceae).
A área da APA abrange os municípios de Nísia Floresta, São José de Mipibú,
Goianinha, Senador Georgino Avelino, Tibau do Sul e Arês (Ministério do Meio Ambiente
2012). Essas lagoas encontram-se inseridas no sistema aquífero Dunas-Barreiras, onde se
estabelece a restinga herbácea e arbustiva; as dunas exercem a transferência das águas de
infiltração em direção aos planos inferiores do Grupo Barreiras. As águas subterrâneas dentro
da APA são utilizadas para abastecimento humano, sendo evidente a importância da área pelo
potencial hídrico (IDEMA 2001). Em torno das lagoas observa-se a instalação de edificações
civis e supressão da vegetação para finalidades turísticas.
28
Figura 1. Mapa mostrando o município de Nísia Floresta (verde), RN, destacando os cinco pontos de amostragem (círculos pretos) que indicam as lagoas no entorno das
quais foram percorridos cerca de 800 m em trilhas para coleta do material botânico.
29
Figura 2. Fisionomias amostradas. A. Vegetação herbácea e arbustiva nas margens das Sete
Lagoas, B. Restinga arbustiva aberta em flanco de duna, Sete Lagoas, C. Formações de
adensamento de arbustos, Sete Lagoas, D. Restinga arbustiva com predomínio de Guajirú
(Chrysobalanus icaco, Chrysobalanaceae), E-G. Aspecto da vegetação arbustiva em torno das
lagoas da Juventude, da Ilhota e de Alcaçuz, H. Vegetação herbácea nas dunas da Lagoa
Amarela. (Fotos: A-F: J. Leroy: G-H: V.F. Sousa).
30
Metodologia ‒ Foram realizadas expedições de coletas mensais entre dezembro
de 2015 e setembro de 2016. Além disso, foram realizados levantamentos de materiais
já depositados do herbário UFRN. As coletas concentraram-se em plantas vasculares
nos pontos delimitados através de caminhadas não sistematizadas. Os espécimes foram
coletados percorrendo toda a área definida por um raio de, aproximadamente, 800 m a
partir das margens de lagoas. O material botânico coletado foi processado de acordo
com os métodos usuais em taxonomia vegetal (Fidalgo & Bononi 1989; Bridson &
Forman 1999) e a identificação foi realizada com o auxílio de literatura especializada,
comparação com material depositado no herbário UFRN e consultas a especialistas.
Os nomes das espécies e os dados sobre a distribuição geográfica foram revistos e
atualizados de acordo com a Flora do Brasil (2020). Exsicatas foram montadas e
depositadas no Herbário UFRN e as duplicatas enviadas aos herbários do Jardim
Botânico do Rio de Janeiro (RB) e da Universidade Estadual de Feira de Santana
(HUEFS) (acrônimo de acordo com Thiers 2016, continuamente atualizado).
Objetivando-se caracterizar também possíveis mecanismos ecológicos,
biogeográficos e adaptativos que explicassem a composição florística da área, foi feito
um levantamento de dados relativos à dispersão das espécies, padrão de distribuição
geográfica e endemismo, com base em dados compilados da literatura. A dispersão foi
categorizada em anemocórica, zoocórica ou autocórica. Os padrões de distribuição
geográfica foram estabelecidos baseados nos Domínios e Províncias Biogeográficas de
Cabrera & Willink (1980). Foram consideradas contínuas aquelas espécies com conexão
entre as Províncias biogeográficas, enquanto que as espécies disjuntas foram aquelas
que apresentaram um isolamento evidente em sua distribuição espacial, através de uma
barreira física ou geográfica (aqui tal barreira foi caracterizada pela vegetação) e
espécies restritas, aquelas que ocorrem em uma única Província.
Para a classificação de espécies endêmicas e a identificação dos primeiros
registros para o RN foram consultadas diferentes obras na literatura e a Lista de
Espécies da Flora do Brasil (Flora do Brasil 2020). Também foi consultado o livro
Plantas Raras do Brasil (Giulietti et al. 2009) para verificar possível ocorrência de
espécies raras dentre as amostradas na área de estudo.
31
Resultados e Discussão
A flora vascular da vegetação de restinga da APA Bonfim-Guaraíras no município
de Nísia Floresta foi representada por 169 espécies classificadas em 131 gêneros e 58
famílias (Tabela 1). As angiospermas foram responsáveis por 166 espécies (98,2% do
total), 128 gêneros (97,7%) e 55 famílias (94,8%). Dessas, 58 espécies (34,9%), 41
gêneros (32%) e 10 famílias (17,2%) são monocotiledôneas. As Eudicotiledôneas
incluíram 43 famílias (74,1%), 90 gêneros (68,7%) e 108 espécies (65,1%). No grupo
das Rosídeas, que se mostrou o mais rico em famílias, posicionam-se 16 famílias
(27,5%) incluídas em Eurosídeas I e três (5,1%), em Eurosídeas II. O clado Asterídeas
inclui, além das 13 famílias (22,4%) como Euasterídea I e uma família como
Euasterídea II (Asteraceae). Uma espécie, um gênero e uma família (Aristolochiaceae)
posicionam-se dentre as magnoliídeas e outra (Cabombaceae) encontra-se entre as
angiospermas basais, na ordem Nymphaeales. As três famílias (5,1%) restantes foram
compostas pelas monilófitas (samambaias).
O destaque ao número de espécies e famílias dentre as monocotiledêas,
especialmente da ordem Poales, tendo Cyperaceae e Poaceae como grupos mais ricos, e
também ao grupo das Rosídeas, provavelmente se devem às várias adaptações
morfológicas e ecofisiológicas observadas nesses táxons. Dentre as Rosídeas, figuram
ordens ricas em famílias, muitas delas com marcante ocorrência em áreas de restinga,
como as Fabales, Myrtales e Malpighiales. As Rosídeas compõem um grupo bastante
heterogêneo, formado for dois grandes clados, Eurosídeas I e II ou Fabídeas e
Malvídeas, com ordens ricas, destancando-se as Fabales, que integram o único clado de
angiospermas onde há fixação de nitrogênio gasoso nas raízes, sendo essa uma
adaptação para várias espécies crescerem em solos oligotróficos (Soltis et al. 2005).
As famílias melhor representadas em número de espécies foram: Cyperaceae (20),
Poaceae (18), Fabaceae (15), Rubiaceae e Orchidaceae (8 cada), Convolvulaceae e
Lentibulariaceae (5 cada), Apocynaceae, Asteraceae, Euphorbiaceae, Lamiaceae,
Malvaceae e Turneraceae (4 cada), que somaram 60,9% do total da flora amostrada
(Figura 3).
32
Figura 3. As 13 famílias mais ricas em espécies (em valores relativos) seguidas pelas demais (outras), na restinga da APA Bonfim-Guarairas,
Nísia Floresta, RN, Brasil.
33
Os gêneros que apresentaram maior riqueza de espécies foram Utricularia L.
(Lentibulariaceae), com cinco espécies, Bulbostylis Kunth, Eleocharis R. Br. e
Rhynchospora Vahl (Cyperaceae), com quatro, Ipomoea L. (Convolvulaceae),
Paspalum L. (Poaceae), Stylosanthes Sw. (Fabaceae) e Xyris Gronov. ex L.
(Xyridaceae), com três espécies.
Das 58 famílias amostradas, 30 apresentaram uma espécie cada, correspondendo a
20,8% do total de espécies e 51,7% das famílias. Tal distribuição sugere uma
diversidade filogenética considerável para famílias, em termos de composição, mas, ao
mesmo tempo, indica que há um filtro atuando, selecionando poucos táxons de uma
dada família, talvez a depender da presença de adaptações ao ambiente da restinga. Na
área estudada, as espécies herbáceas foram predominantes, sendo a distribuição do
hábito assim representada: ervas (100 espécies; 59,1% do total), arbustos (20; 11,8%),
subarbustos (27; 15,9%), árvores (5; 2,9%) e trepadeiras (17; 10%). Entre as espécies
registradas, 51 (30,1%) são endêmicas do Brasil e 23 (13,6%) são consideradas como
novos registros para a flora Potiguar (Tabela 1), se considerarmos as distribuições
apresentadas na Flora do Brasil (Flora do Brasil 2020). Esta porcentagem de novas
ocorrências deve-se principalmente a escassez de levantamentos florísticos em áreas
litorâneas do RN, mostrando a importância de mais estudos não só de florística como
também taxonômicos e ecológicos.
Cyperaceae foi à família mais abundante em número de taxa (20 spp.) na APA
Bonfim-Guarairas. Resultado semelhante a esse foi encontrado por Silva & Menezes
(2012) na restinga de Massarandupió, Bahia. Ela tem sido apontada como a segunda
família mais importante nos inventários florísticos das restingas do estado do Ceará
(Matias & Nunes 2001; Santos-Filho et al. 2011), Pernambuco (Almeida Jr. et al.
2007a; 2009), Sergipe (Oliveira et al. 2014) e até mesmo no Rio Grande do Norte
(Almeida Jr. & Zickel 2009). Provavelmente, a maior expressividade desta família na
região deva-se à capacidade adaptativa em colonizar áreas abertas, de elevada
salinidade, com estresse hídrico e alta incidência de luz (Cabral-Freire & Monteiro
1993; Bove et al. 2006; Maganago et al. 2011).
A família Poaceae foi a segunda mais abundante em número de espécies (18 spp.).
No levantamento florístico de Freire (1990) realizado no Parque Estadual das Dunas de
Natal, Poaceae também foi a segunda maior família em diversidade. A diversificação
ecológica das Poaceae deve-se principalmente à ampla gama de adaptações
morfológicas e ecofisiológicas a ambientes diversos. A tolerância à dessecação, caules
34
subterrâneos e a capacidade de crescer em lugares secos e abertos são exemplos das
adaptações que as espécies de Poaceae desenvolveram ao longo da sua evolução para
colonizar ambientes xéricos (Kellogg 2001).
Entre as espécies de Poaceae registradas no presente estudo, merece atenção
Paspalum maritimum Trin. que cresce formando densas populações em áreas com
vegetação esparsa, sobre dunas. É uma espécie vigorosa e resistente ao pisoteio e à seca
(Maciel et al. 2009), caracterizada pelo crescimento de rizomas longos e estolhos que
podem alcançar considerável comprimento em ambientes abertos (Oliveira et al. 2013)
tornando-se um elemento muito importante na fixação de dunas (Leite & Andrade 2004;
Araújo et al. 2016).
A ocorrência das espécies de Cyperaceae, como também de Poaceae, em áreas de
restinga pode gerar alta competição entre as espécies e retardar o processo de sucessão
devido ao seu rápido crescimento na cobertura do solo e dificultar a entrada de outras
plantas no ambiente (Santos et al. 2000). No entanto, como os ambientes costeiros são
influenciados por fatores abióticos intensos e extremos, os representantes dessas
famílias são elementos importantes para a formação e caracterização da fisionomia
psamófila-reptante (Almeida Jr. & Zickel 2009).
Embora Fabaceae seja a terceira em números de espécies no presente estudo, ela
tem sido encontrada como a família mais numerosa nas restingas do Ceará (Santos-
Filho et al. 2011), Maranhão (Cabral-Freire & Monteiro 1993), Rio Grande do Norte
(Freire 1990; Almeida Jr. & Zickel 2009), Bahia (Queiroz et al. 2012; Fernandes &
Queiroz 2015), Sergipe (Oliveira et al. 2014) e Piauí (Santos-Filho et al. 2013, 2015) e
a segunda mais importante nos levantamentos feitos em Pernambuco (Silva et al. 2008)
e Bahia (Queiroz 2007). A presença dos representantes desta família nos solos
distróficos de restinga é extremamente importante, uma vez que as suas raízes mantêm
simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio (Faria et al. 1994).
Diferentemente de outros estudos realizados em ambientes de restinga (Freire
1990; Mantovani 1992; Oliveira-Filho & Carvalho 1993; Assumpção & Nascimento
2000; Lemos et al. 2001; Pereira et al. 2001; Assis et al. 2004b; Scherer et al. 2005;
Sacramento et al. 2007; Silva et al. 2008; entre outros), a família Myrtaceae não
apresentou grande riqueza de espécies. Em uma análise correlacionando riqueza de
táxons em famílias e fisionomias vegetais, as Myrtaceae se destacaram como a segunda
melhor família indicadora de vegetação de restinga arbórea (Murray-Smith et al. 2009).
No presente levantamento foram registradas apenas três espécies, número igual àquele
35
encontrado por Almeida & Zickel (2009) na composição florística da praia da Pipa, RN.
Entretanto, no levantamento florístico realizado por Freire (1990) no Parque Estadual
das Dunas do Natal, RN, Myrtaceae esteve representada por 15 espécies, sendo
considerada a terceira família mais diversa e Damaso (2009) registrou a ocorrência de
11 espécies de Myrtaceae na vegetação dunar de Natal.
Apesar da proximidade geográfica entre o Parque Estadual das Dunas e a área de
estudo, variações edáficas, e o predomínio de vegetação arbustiva na área aqui
amostrada (e de manchas de mata no parque), talvez expliquem a menor riqueza, porém
não descartamos a possibilidade de que novos registros para essa família sejam obtidos
com novas idas a campo. A baixa representatividade dessa família, na qual há
predomínio de frutos carnosos zoocóricos, também pode ter afetado os valores
observados para a dispersão por animais na área. Não há como afirmar se tal baixa
riqueza de Mirtáceas arbóreas na área é natural ou consequência de um empobrecimento
antrópico. Entretanto, observam-se várias construções praieiras na região que usam
troncos de Campomanesia dichotoma (O. Berg) Mattos, guarabiraba, sugerindo que
haja corte seletivo de madeira na região da APA.
A lista florística encontrada neste estudo destaca que a riqueza de espécies na
restinga da APA Bonfim-Guarairas é elevada e superior à encontrada em outros estudos
realizados em restingas do Nordeste (Tabela 2), especialmente se for levado em
consideração o tempo e a área amostrada.
O maior número de ervas, subarbustos e arbustos encontrados na área de restinga
da APA Bonfim-Guarairas pode refletir a predominância das fitofisionomias herbácea e
arbustiva (Oliveira et al. 2014). Em um levantamento realizado em áreas de restinga no
Estado do Ceará, a maioria das espécies encontradas pertencia ao estrato herbáceo
(Santos-Filho et al. 2011). Ainda, de acordo com esses autores, a presença do
componente herbáceo em ambientes de restingas reflete a característica pioneira da
vegetação, adaptada aos locais de condições ambientais adversas e abertas. Dentre as
famílias mais ricas e totalmente de herbáceas, destacam-se Poaceae e Cyperaceae. Essas
famílias sempre estão presentes nos levantamentos florísticos de restingas que incluem
o estrato herbáceo em suas análises (Pereira & Assis 2000; Araújo et al. 2009).
Neste estudo registra-se pela primeira vez a ocorrência da família Orobanchaceae
para a flora do RN, representada por duas espécies: Agalinis hispidula (Mart.) D‟Arcy
distribuída na Venezuela, Guianas, Suriname, Honduras, Cuba, Trinidad e Tobago e
Brasil, nos estados do Acre, Amazonas, Amapá, Pará, Roraima, Alagoas, Bahia, Ceará,
36
Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Sergipe, Goiás, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul
(Souza & Giulietti 2009; Souza 2015) e Buchnera palustris (Aubl.) Spreng., encontrada
nos campos da Venezuela e Guianas até o Brasil Central, diferindo facilmente das
demais espécies do gênero por suas folhas uninérveas, híspido-escabras e lacínios do
cálice ciliado (Souza & Giulietti 2009). Na região Nordeste esta espécie ocorre apenas
nos estados da Bahia, Maranhão e Piauí (Souza & Giulietti 2009).
A ecologia da dispersão de diásporos tem sido estudada em diferentes tipos de
vegetação, como na floresta atlântica (e.g. Silva & Tabarelli 2000), no cerrado (e.g.
Mantovani & Martins 1988; Weiser & Godoy 2001) e na caatinga (e.g. Griz &
Machado, 2001; Tabarelli et al. 2003). Para as áreas de restinga, poucos estudos foram
realizados acerca do tema e estes estão mais concentrados no Sudeste do Brasil (Talora
& Morellato 2000; Bencke & Morellato 2002; Medeiros 2005; Almeida Jr. et al.,
2007b; Amaral et al. 2015; Morellato et al. 2000).
Quanto à dispersão dos diásporos, os resultados mostraram predominância de
autocoria (53,2%, 90 spp.). Este modo de dispersão é o resultado de mecanismos
próprios das plantas em dispersar os diásporos através de deiscência (muitas vezes
explosiva) de seus frutos secos e posterior queda da semente. A segunda síndrome mais
representativa foi a zoocoria, com 31,3% (53 spp.) das espécies registradas. Nesta
síndrome, as plantas necessitam dos animais para a dispersão e apresentam, em geral,
frutos carnosos. A anemocoria compreende 15,3% (26 spp.). Nesta categoria, as plantas
dependem do vento para dispersar os seus diásporos.
A dispersão zoocórica é a dominante em florestas úmidas tropicais (Tabarelli &
Peres 2002), sendo também esperado que esta proporção ocorra em florestas litorâneas
(Talora & Morellato 2000; Almeida Jr. et al. 2007b; Amaral et al. 2015). No entanto, os
resultados obtidos apontam proporções diferentes daqueles registrados na literatura,
provavelmente porque nessas áreas amostradas, as espécies herbáceas e arbustivas são
predominantes, caracterizando-as como comunidades pioneiras.
O hábito trepador está representado pelas famílias Apocynaceae, Passifloraceae e
Convolvulaceae, Aristolochiaceae, Bignoniaceae, Dilleniaceae, Euphorbiaceae,
Fabaceae, Marcgraviaceae, Orchidaceae, Sapindaceae e Vitaceae (1 cada).
Aristolochiaceae encontra-se representada por Aristolochia setulosa A.A.M. Araújo,
descrita por Araújo & Alves (2013), para as áreas de caatinga e restinga dos estados da
Paraíba e Rio Grande do Norte.
37
De acordo com Gentry (1991), 26 famílias de angiospermas abrangem 85% de
todas as lianas do Novo Mudo, sendo Apocynaceae, Convolvulaceae, Fabaceae,
Bignnoniaceae, Malpighiaceae, Sapindaceae, Passifloraceae e Cucurbitaceae as mais
ricas em espécies. Apesar de sua elevada importância nas florestas tropicais,
levantamentos florísticos envolvendo as trepadeiras ainda são escassos no Brasil,
especialmente na região Nordeste (Oliveira et al. 2012a). No presente estudo, as
famílias mais ricas em número de espécies foram Apocynaceae (3 spp.), Passifloraceae
(2 spp.) e Convolvulaceae (3 spp.). A baixa diversidade listada aqui (17 espécies) é
semelhantes aos dados registrados por Oliveira et al. (2012a) que também encontraram
uma baixa riqueza de trepadeiras (20 spp.) em um fragmento de mata no município de
Parnamirim, vizinho à Nísia Floresta. Ainda, pela fisionomia amostrada ser
predominantemente herbáceo-arbustiva, é de se esperar que o número de trepadeiras não
se destaque.
Foram encontradas três famílias de monilófitas no estrato inferior. Cyclosorus
interruptus (Willd.) H. Ito (Thelypteridaceae) e Ceratopteris thalictroides (L.) Brongn.
(Pteridaceae) crescem em áreas alagadas, entre as espécies de Eleocharis R. Br.
(Cyperaceae). Microgramma vacciniifolia (Langsd. & Fisch.) Copel. (Polypodiaceae) é
encontrada no interior da floresta, sobre a serrapilheira e próximo ao caule das árvores.
As monilófitas são elementos importantes florística e fisionomicamente em áreas
costeiras. No entanto, o conhecimento deste grupo em áreas de restinga, especialmente
na Região Nordeste ainda é escasso (e.g. Pontual 1972; Barros et al. 1988; Cantarelli et
al. 2012; Queiroz et al. 2012; Oliveira et al. 2014).
Algumas espécies mencionadas neste estudo são consideradas como novas
ocorrências para a flora do RN. No entanto, estas já foram citadas em outros trabalhos
sem, contudo, ocorrer à atualização na plataforma de dados da Lista de Espécies da
Flora do Brasil. São elas: Cenchrus echinatus L. (Poaceae), Anthurium affine Schott
(Araceae), Coccoloba alnifolia Casar (Polygonaceae), citadas em Freire (1990),
Dalechampia convolvuloides Lam. (Euphorbiaceae) em Oliveira et al. (2012a) e
Axonopus complanatus (Nees) Dedecca (Poaceae) que foi registrada em Oliveira et al.
(2012b).
Espécies consideradas ruderais e que ocorrem em outros ecossistemas também
fazem parte da composição do estrato herbáceo na restinga da APA Bonfim-Guaraíras,
tais como Centrosema brasilianum L. (Benth.), Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwin &
Barneby, Chamaecrista flexuosa (L.) Greene, Stylosanthes viscosa (L.) Sw.,
38
Mycrostachys corniculata (Vahl) Griseb., Euphorbia hyssopifolia L., Borreria
verticillata (L.) G. Mey., Richardia grandiflora (Cham. & Schltdl.) Steud., Cenchrus
echinatus L., Commelina erecta L., Commelina obliqua Vahl e Mollugo verticillata L.
(Leite & Andrade 2004; Pereira et al. 2004; Almeida Jr. et al. 2007a; Silva et al. 2008).
As plantas ditas ruderais apresentam elevada produção de sementes e outras estratégias
de reprodução assexuada, tem alta capacidade de adaptação e são resistentes às
condições adversas do ambiente (Bove et al. 2003) e sua presença em planícies costeiras
(do Brasil ou em outros países) indica quanto o desenvolvimento urbano pode interferir
na composição florística (Rickard et al. 1994; Leite & Andrade 2004).
Cuscuta racemosa Mart. (Convolvulaceae), planta desprovida de raízes e folhas e
Psittacanthus dichroos (Mart.) Mart. (Loranthaceae) foram as espécies parasita e
hemiparasita, respectivamente, registradas na área de estudo. A espécie P. dichroos é
conhecida popularmente como erva-de-passarinho, uma vez que seus frutos são
dispersos por pássaros. É facilmente reconhecida em campo pelas suas folhas semi-
crassas e beleza de suas flores, sempre de coloração intensa (alaranjada).
Nenhuma das espécies inventariadas no presente estudo está incluída na categoria
de espécie rara por Giulietti et al. (2009). No entanto, na lista de espécies da flora
brasileira ameaçadas de extinção, Aspilia procumbens está inserida na categoria
criticamente em perigo (Ministério do Meio Ambiente 2008). A sua ocorrência estava
restrita apenas ao semiárido potiguar, uma área com forte intervenção antrópica, tendo
sua distribuição ampliada para uma comunidade de Cerrado no município de Rio do
Fogo, RN (Oliveira et al. 2012b). Neste estudo é confirmada a sua ocorrência no
ambiente de restinga, pois na revisão taxonômica do gênero Aspilia Thou. para o Brasil,
Santos (1992) registrou uma coleta em dunas costeiras no município de Natal,
considerando-a uma espécie muito importante na fixação das dunas do RN.
Espécies ameaçadas como Cattleya granulosa Lindl. (Orchidaceae), endêmica da
região costeira do nordeste brasileiro (Ministério do Meio Ambiente 2008; Barros et al.
2012; Martinelli & Moraes 2013; Fajardo et al. 2015) e Melocactus violaceus Pfeiff.
(Cactaceae) também são encontradas na APA Bonfim-Guarairas, evidenciando a
urgência da implantação de medidas efetivas, como a criação de unidades de
conservação mais restritivas, o que protegeria não apenas estas, mas também àquelas
com dados insuficientes, tal como a Bromeliaceae endêmica do nordeste brasileiro,
Cryptanthus zonatus (Vis.) Beer (Ministério do Meio Ambiente 2008; Martinelli &
39
Moraes 2013), que recentemente teve sua distribuição ampliada para o RN (Versieux et
al. 2013).
A fragmentação de habitat das restingas ocasionada principalmente pela expansão
imobiliária e a pressão de coleta predatória de plantas, pelo seu valor ornamental, são
considerados aqui fatores de ameaça. A presença de espécies que estão incluídas em
alguma das categorias de plantas ameaçadas de extinção justifica a criação de Unidades
de Conservação de uso mais restritivas dentro da APA Bonfim-Guarairas,
especialmente no município de Nísia Floresta, onde se concentram numerosas lagoas,
cujas águas são usadas no abastecimento humano. Durante o trabalho de campo foram
observadas aberturas de trilhas, retirada de madeira, abandono de resíduos, uso indevido
da área por quadriciclos, vestígios de queimadas e turismo predatório em lagoas. Tais
ameaças devem ser avaliadas no plano de manejo da APA e sugere-se que medidas
eficazes de fiscalização aconteçam.
Nenhuma espécie endêmica de restinga foi encontrada na APA Bonfim-Guarairas,
RN. Rizzini (1997) e Scarano (2002) afirmam que o baixo endemismo das restingas se
deve à sua origem geológica recente, e, portanto, por não ter havido tempo suficiente
para que ocorressem processos de especiação in situ. Pelos dados aqui apresentados,
nota-se que a colonização é dominada por espécies provenientes dos biomas adjacentes,
sendo que a maioria das espécies aqui amostradas apresentam registros de ocorrência
em outros biomas como a Amazônia, a Caatinga, o Cerrado e a Floresta Atlântica
(Tabela 1). Tal resultado vai de encontro à generalização de que as formações pioneiras
são, em geral, dominadas por espécies de ampla distribuição, que conseguem colonizar
ambientes e ocupar nichos vagos em distintas localidades, apresentando ampla
tolerância aos condicionantes bióticos e abióticos encontrados.
As espécies levantadas apresentam distribuição geográfica contínua ampla (99
spp.; 58,5%), ocorrendo em todos os biomas brasileiros, contínua restrita (37 spp.;
21,9%), representadas em dois ou três domínios fitogeográficos contínuos, restrita (11
spp.; 6,5%) distribuídas apenas em uma província e 21 (12,%) espécies com distribuição
disjunta (Tabela 1). A Província que mais compartilhou espécies na formação da
composição florística da restinga estudada foi a Atlântica (com 144 spp. do total
amostrado; 85,2%), seguida, muito proximamente, do Cerrado (139; 82,2%), da
Caatinga (138; 81,6%) e pela Amazônica (115; 68%). A interpentração de espécies
entre as diferentes fitosionomias tem sido observada por vários autores (e.g. Pereira &
Araújo 2000; Cerqueira 2000; Scarano et al. 2004). Levando em consideração esses
40
resultados e a fisionomia da vegetação, pode-se apresentar a área de restinga da APA
Bonfim-Guarairas como recoberta por um tipo de formação vegetacional em que há
predominância de elementos peculiares à vegetação de Floresta Atlântica, seguidas de
espécies do Cerrado e da Caatinga. Conforme observado por Rizzini (1997), a flora que
se desenvolve na restinga é, de maneira geral, oriunda da Floresta Atlântica. Contudo,
esses resultados reforçam o caráter de espécies generalistas para a restinga, como
observado por Sick (2001) para a avifauna, já que muitas das espécies que ocorrem na
restinga ocorrerão em mais de uma província biogeográfica.
Conclusões
O ambiente de restinga analisado mostrou uma considerável riqueza de espécies
(13,8% da flora de todo o RN), incluindo aí táxons pouco conhecidos, com 23 novas
ocorrências para a flora Potiguar e também espécies ameaçadas. As áreas de restinga do
estado do Rio Grande do Norte são ainda pouco estudadas, tendo em vista que a área é
vizinha à capital do estado que detém o maior herbário da flora potiguar e, ainda assim,
guarda novidades. A maior parte das espécies listadas pertence ao estrato herbáceo,
configurando esta comunidade como pioneira, o que é esperado para áreas dominadas
por neossolos.
Tabela 2. Comparação entre a riqueza de espécies e de famílias entre alguns estudos
sobre a flora de restinga no Nordeste brasileiro.
Estado
No.
Espécies
No.
Famílias
Referências Área Tempo de
amostragem
CE 87 39 Matias & Nunes
(2001)
5.480 ha 12 meses
MA 260 76 Freire & Monteiro
(1993)
15 km 18 meses
PE 124 55 Sacramento et al.
(2007)
147 ha 28 meses
PE 112 43 Almeida Jr. et al.
(2007a)
------ 12 meses
PE 47 20 Leite & Andrade
(2004)
6 km 9 meses
PE 104 54 Silva et al. (2008) 41 ha 18 meses
PE 187 71 Almeida Jr. et al.
(2009)
76,2 ha 2 anos
41
RN 64 29 Almeida Jr. &
Zickel (2009)
2 km 2 anos
RN 264 78 Freire (1990) 30 km² 2 anos
RN 168 58 Presente estudo 8,24 km²
10 meses
Agradecimentos
À Universidade Federal do Rio Grande do Norte, por disponibilizar as
dependências do Laboratório de Botânica para a realização deste trabalho. Agradecemos
à MSc. Juliana Leroy pelo auxílio nas expedições a campo. O primeiro autor agradece
ao Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais pelo seu Mestrado. Às profas.
Alice Calvente e Fernanda Carvalho do Dept. de Botânica e Zoologia pela leitura crítica
de uma versão anterior deste texto. O primeiro autor tem uma bolsa CNPq/Reflora.
LMV agradece ao CNPq pela bolsa de produtividade.
42
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Tabela 1. Lista de espécies de plantas Lista das espécies de plantas vasculares
registradas em Nísia Floresta, APA Bonfim-Guarairas, RN, Brasil. Hábito: erv = erva,
arb = arbusto, subarb = subarbusto, árv = árvore e trep = trepadeira. Padrão
biogeográfico: Ama = Amazônica, Caa = Caatinga, Cer = Cerrado, Atl = Atlântica e Par
= Paranaense. Distribuição geográfica no Brasil: CA = contínua ampla, CR = contínua
restrita, D = disjunta e R = restrita. (*) = primeira ocorrência para o RN. (†) = endêmica
do Brasil. Síndromes de dispersão: AU = Autocórica, AN = Anemocórica e ZO =
Zoocórica. As ocorrências estão indicadas por vouchers (todos depositados no herbário
UFRN).
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
ANACARDIACEAE
(Eurosídea II)
Anacardium occidentale L. árv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
347
ALISMATACEAE
(Monocotiledônea)
Helanthium tenellum
(Mart.) Britton
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU J.A.S. Leroy
30
APOCYNACEAE (Euasterídea I)
† Ditassa crassifolia
Decne.
tre Cer-Atl D AN V.F. Sousa
247
Hancornia speciosa Gomes arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
100
† Mandevilla moricandiana
(A.DC.) Woodson
tre Caa-Cer-Atl CR AN V.F. Sousa
265
Mandevilla scabra
(Hoffmmans. ex Roem. &
Schult.) K. Schum.
tre Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AN V.F. Sousa
214
ARACEAE (Monocotiledônea)
† Anthurium affine Schott erv Caa-Cer-Atl CR ZO V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 293
Philodendron acutatum
Schott
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
438
ARISTOLOCHIACEAE (Magnoliídea)
† Aristolochia setulosa
A.A.M. Araújo
tre Caa-Atl. CR AN V.F. Sousa
446
ASTERACEAE (Euasterídea II)
† Aspilia procumbens
Baker
erv Caa R AN V.F. Sousa
179
† Elephantopus hirtiflorus
DC.
erv Caa-Cer-Atl CR AN V.F. Sousa
230
Emilia sonchifolia (L.) DC.
ex Wight
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AN V.F. Sousa
445
52
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
† Stilpnopappus
trichospiroides Mart. ex
DC.
erv Caa-Cer CR AN V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 307
BIGNONIACEAE (Euasterídea I)
† Lundia longa (Vell.) DC. tre Caa-Cer-Atl CR AN V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 324
BORAGINACEAE (Euasterídea I)
† Euploca paradoxa
(Mart.) J.I.M. Melo &
Semir
erv Caa-Cer CR AU V.F. Sousa
183
Euploca polyphylla
(Lehm.) J.I.M. Melo &
Semir
erv Ama-Caa-Atl D AU V.F. Sousa &
420
Myriopus candidulus
(Miers) Feuillet
sub Caa-Cer CR ZO V.F. Sousa
234
BROMELIACEAE (Monocotiledônea)
† Cryptanthus zonathus
(Vis.) Beer
erv Atl R ZO G.S. Garcia
et al. 135
† Hohenbergia ridleyi
(Baker) Mez
erv Atl R ZO V.F. Sousa
440
CABOMBACEAE (Grado
ANITA)
Cabomba aquatica Aubl. erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
338
CACTACEAE (Eudicotiledônea)
† Cereus jamacaru DC. árv Caa-Cer CR ZO D.S.C.
Morais 01
† Melocactus violaceus
Pfeiff.
sub Caa-Atl CR ZO A.E.C.S.
Melo 24
† Pilosocereus catingicola
(Gürke) Byles & Rowley
arv Caa-Atl CR ZO G.S. Garcia
& L.M.G.
Gonçalves
125
CELASTRACEAE (Eurosídea I)
† Maytenus erythroxyla
Reissek
arb Caa-Cer-Atl CR ZO V.F. Sousa
170
COMMELINACEAE (Monocotiledônea)
Commelina erecta L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 325
Commelina obliqua Vahl erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
405
CONVOLVULACEAE (Euasterídea I)
Cuscuta racemosa Mart. erv Cer-Atl D AU V.F. Sousa
175
† Daustinia montana
(Moric.) Buril & A.R.
Simões
tre Caa-Cer-Atl CA AU V.F. Sousa
407
53
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
Ipomoea asarifolia (Desr.)
Roem. & Schult.
erv Ama-Caa-Atl D AU V.F. Sousa
380
† Ipomoea brasiliana
(Choisy) Meisn.
tre Caa-Cer CR AU G.S. Garcia
193
† Ipomoea rosea Choisy tre Caa-Cer-Atl CR AU V.F. Sousa
408
CHRYSOBALANACEAE (Eurosídea I)
Chrysobalanus icaco L. arb Ama-Atl D ZO V.F. Sousa
108
Hirtella racemosa Lam. arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
95
CYPERACEAE (Monocotiledônea)
Bulbostylis capillaris (L.)
C.B. Clarke
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
112
Bulbostylis conifera
(Kunth) C.B. Clarke
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
169
Bulbostylis junciformis
(Kunth) C.B. Clarke
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
189
Bulbostylis scabra (J. Presl.
& C. Presl.) C.B. Clarke
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa &
LM Versieux
311
Cyperus meyenianus Kunth erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
253
Cyperus ligularis L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
433
† Eleocharis atropurpurea
(Retz.) J. Presl. & C. Presl.
erv Ama-Caa D AU J.A.S. Leroy
62
Eleocharis minima Kunth erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
442
Eleocharis geniculata (L.)
Roem & Schult.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU L.M.
Versieux 594
Eleocharis interstincta
(Vahl) Roem. & Schult.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
357
Fimbristylis cymosa R. Br. erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
209
Fuirena umbellata Rottb. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
168
Kyllinga squamulata Vahl erv Caa-Cer_Atl CR AU R.C. Oliveira
et al. 1697
Kyllinga vaginata Lam. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU E.O. Moura
et al. 239
Lagenocarpus rigidus
(Kunth) Nees
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
182
Rhynhospora aberrans C.B.
Clarke
erv Caa R AU V.F. Sousa
101
Rhynchospora barbata
(Vahl) Kunth
erv Ama-Caa-Cer CR AU G.S. Garcia
et al. 27
Rhynchospora
holoschoenoides (Rich.)
Herter.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU J.A.S. Leroy
223
Rhynhospora tenerrima
Nees ex Spreng.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
257
Scleria secans (L.) Urb. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
215
54
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
DILLENIACEAE (Eudicotiledônea)
† Tetracera breyniana
Schltdl.
tre Atl R ZO V.F. Sousa
194
ERIOCAULACEAE (Monocotiledônea)
Eriocaulon cinereum R. Br. erv Ama-Caa-
Cer-Par
D AU J.A.S. Leroy
55
Tonina fluviatilis Aubl. erv Ama-Caa-Atl D AU V.F. Sousa
381
EUPHORBIACEAE (Eurosídea I)
Cnidoscolus urens (L.)
Arthur
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
421
† Dalechampia
convolvuloides Lam.
tre Ama-Caa-Atl D AU V.F. Sousa
237
Euphorbia hyssopifolia L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
366
Microstachis corniculata
(Vahl) Griseb.
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
233
FABACEAE (Eurosídea I)
† Andira fraxinifolia Benth. árv Caa-Cer-Atl CR ZO L.M.
Versieux et
al. 581
† Andira humilis Mart. ex
Benth.
sub Ama-Caa-Cer CR ZO W.M.B. São-
Mateus & D.
Cardoso 117
Centrosema brasilianum
(L.) Benth.
tre Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 328
Chamaecrista ramosa
(Vogel) Irwin & Barneby
sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
103
Chamaecrista flexuosa (L.)
Greene
sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
195
Clitoria laurifolia Poir. arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
352
Crotalaria pallida Aiton sub Ama-Cer-Atl-
Par
CA AU V.F. Sousa
343
† Indogofera microcarpa
Desv.
erv Caa-Atl CR AU V.F. Sousa
391
† Mimosa misera Benth. erv Caa-Cer CR AU
Mimosa somnians Willd. sub Ama-Caa-
Cer-Par
CA AU V.F. Sousa
384
Stylosanthes viscosa (L.)
Sw.
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
390
Stylosanthes angustifolia
Vogel
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
235
Stylosanthes gracilis
Kunth
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
242
† Tephrosia egregia
Sandwith
sub Caa-Atl CR AU V.F.
Sousa348
Zornia latifolia Sm. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
363
GENTIANACEAE (Euasterídea I)
55
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
Schultesia guianensis
(Aubl.) Malme
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 309
KRAMERIACEAE (Eurosídea I)
Krameria tomentosa A.St.-
Hil.
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
226
LAMIACEAE (Euasterídea I)
† Eplingiella fruticosa
(Salzm. ex Benth.) Harley
& J.B. Pastore
sub Caa-Atl CR AU V.F. Sousa
93
Hypenia salzmannii
(Benth.) Harley
erv Caa-Cer-Atl CR AU G.S. Garcia
194
Hyptis brevipes Poit. erv Ama-Cer-Atl-
Par
CA AU V.F. Sousa
443
Marsypianthes chamaedrys
(Vahl) Kuntze
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 304
LENTIBULARIACEAE (Euasterídea I)
Utricularia gibba L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
464
Utricularia cornuta Michx. erv Cer R AU J.A.S. Leroy
41
Utricularia resupinata B.D.
Greene ex Bigelow
erv Ama-Atl D AU J.A.S. Leroy
59
* Utricularia simulans Pilg. erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU G.S. Garcia
et al. 32
Utricularia subulata L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU J.A.S. Leroy
60
LINDERNIACEAE (Euasterídea I)
Torenia thouarsii (Cham. &
Schltdl.) Kuntze
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
212
LOGANIACEAE (Euasterídea I)
† Strychnos parvifolia A.
DC.
arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
460
LORANTHACEAE (Eudicotiledônea)
† Psittacanthus dichroos
(Mart.) Mart.
arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
202
LYTHRACEAE (Eurosídea I)
† Cuphea flava Spreng. sub Atl R AU V.F. Sousa
96
MALPIGHIACEAE (Eurosídea I)
† Byrsonima gardneriana
A. Juss.
arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
116
Byrsonima cydoniifolia A.
Juss.
arb Caa-Cer-Par CA ZO V.F. Sousa
120
† Stigmaphyllon paralias
A. Juss.
arb Caa-Cer_Atl CR AN A.S. Soares
et al. 57
56
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
MALVACEAE (Eurosídea
II)
Pavonia cancellata (L.)
Cav.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
447
Sida brittoni León sub Caa-Atl CR ZO V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 308
Sida linifolia Cav. sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
344
Waltheria indica L. sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
210
MARCGRAVIACEAE (Clado das Asterídeas)
† Schwartzia brasiliensis
(Choisy) Bedell ex Gir.
Cañas)
tre Cer-Atl D ZO V.F. Sousa
117
MAYACACEAE (Monocotiledônea)
Mayaca fluviatilis Aubl. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU J.A.S. Leroy
53
MELASTOMATACEAE (Eurosídea I)
Acisanthera bivalvis
(Aubl.) Cogn.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
118
† Comolia ovalifolia (DC.)
Triana
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
98
MOLLUGINACEAE (Eudicotiledônea)
Mollugo verticilata L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 323
MYRTACEAE (Eurosídea
I)
† Myrcia bergiana O. Berg. arb Caa-Atl CR ZO V.F. Sousa
172
Myrcia guianensis (Aubl.)
DC.
arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
240
Myrciaria floribunda (H.
West. & Willd.) O. Berg
arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
248
NYCTAGINACEAE (Eudicotiledônea)
† Guapira pernambucensis
(Casar.) Lundell
arb Atl R ZO V.F. Sousa
329
OCHNACEAE (Eurosídea
I)
Sauvagesia erecta L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 299
ONAGRACEAE (Eurosídea I)
Ludwigia octovalvis (Jacq.)
P.H. Raven
sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
388
ORCHIDACEAE (Monocotiledônea)
Brassavola tuberculata
Hook.
erv Caa-Cer-Atl CR AN G.S. Garcia
191
57
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
† Cattleya granulosa Lindl. erv Atl R AN M.R.O.
Trindade &
F.S.R. Sousa
41
† * Cyrtopodium flavum
Link & Otto ex Rchb.
erv Cer-Atl D AN G.S. Garcia
& L.M.G.
Gonçalves
108
† Cyrtopodium holstii L.C.
Menezes
erv Ama-Caa-Atl D AN V.F. Sousa
463
† * Encyclia oncidioides
(Lindl.) Schltr.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AN G.S. Garcia
& L.M.G.
Gonçalves
121
† Epidendrum
cinnabarinum Salzm. ex
Lindl.
erv Caa-Cer-Atl CR AN L.M.
Versieux et
al. 589
Prescottia leptostachya
Lindl.
erv Caa-Cer CR AN G.S. Garcia
190
† Vanilla bahiana Hoehne tre Caa-Cer-Atl CR AN V.F. Sousa
461
OROBANCHACEAE (Euasterídea I)
Agalinis hispidula (Mart.)
D‟arcy
erv Ama-Caa-
Cer-Par
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 320
Buchnera palustris (Aubl.)
Spreng.
erv Ama-Caa-
Cer-Par
CA AU V.F. Sousa
109
PASSIFLORACEAE (Eurosídea I)
† Passiflora silvestris Vell. tre Cer-Atl D ZO V.F. Sousa
382
Passiflora foetida L. tre Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
415
PHYTOLACCACEAE (Eudicotiledônea)
Microtea paniculata Moq. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
456
PLANTAGINACEAE (Euasterídea I)
† * Bacopa arenaria (J.A.
Schmidt.) Loefgr. &
Edwall.
erv Ama-Par D AU J.A.S. Leroy
39
Scoparia dulcis L. sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
349
POACEAE (Monocotiledônea)
Andropogon selloanus
(Hack.) Hack.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AN V.F. Sousa
180
Aristida setifolia Kunth erv Caa-Cer-Atl CR AU V.F. Sousa
187
Axonopus capillaris (Lam.)
Chase
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AN V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 315
† Axonopus complanatus
(Nees) Dedecca
erv Ama-Caa-Cer CR AN V.F. Sousa
260
58
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
Cenchrus echinatus L. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
340
Gouinia virgata (J. Presl.)
Scribn.
erv Caa R AU V.F. Sousa
254
Gymnopogon foliosus
(Willd,) Nees
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
432
Hymenachne amplexicaulis
(Rudge) Nees
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
368
Melinis repens (Willd.)
Zizka
erv Caa-Cer-Atl CR AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 313
Mesosetum annuum
Swallen
erv Ama-Caa-Cer CR AN V.F. Sousa
206
Paspalidium geminatum
(Forssk.) Stapf
erv Ama-Caa-Atl-
Par
CA AU V.F. Sousa
426
Paspalum gardnerianum
Nees
erv Ama-Caa-Cer CR AU V.F. Sousa
251
Paspalum maritimum Trin.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 333
Paspalum pumilum Nees erv Ama-Cer-Atl-
Par
CA AU V.F. Sousa
113
Reimarochloa brasiliensis
(Spreng.) Hitch.
erv Ama-Caa-
Cer-Par
CA AU V.F. Sousa
188
Streptostachys asperifolia
Desv.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
197
Trachypogon spicatus (L.f.)
Kuntze
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
178
Trichanthecium parvifolium
(Lam.) Zuloaga & Morrone
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
181
POLYGALACEAE (Eurosídea I)
Asemeia violacea (Aubl.)
J.F.B.Pastore & J.R.Abbott
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
377
† Polygala trichosperma
Jacq.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
252
POLYGONACEAE (Eudicotiledônea)
† Coccoloba alnifolia
Casar.
arb Caa-Atl CR ZO V.F. Sousa
186
Coccoloba ramosissima
Wedd.
arb Ama-Atl D ZO V.F. Sousa
171
POLYPODIACEAE (Monilófita)
Microgramma vacciniifolia
(Langsd. & Fisch.) Copel.
erv Cer-Atl D AN V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 314
PRIMULACEAE (Clado
das Asterídeas)
Myrsine guianensis (Aubl.)
Kuntze
arb Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
458
PTERIDACEAE (Monilófita)
Ceratopteris thalictroides
(L.) Brongn.
erv Atl-Par D AN V.F. Sousa
395
59
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
RUBIACEAE (Euasterídea
I)
Borreria verticillata (L.) G.
Mey.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
397
Diodela apiculata (Willd.
ex Roem. & Schult.)
Delprete
sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
164
Guettarda platypoda DC. arb Ama-Atl D ZO V.F. Sousa
201
† Mitracarpus eichleri K.
Schum.
erv Atl R AU V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 295
Mitracarpus robustus E.B.
Souza & E.L. Cabral
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA AU V.F. Sousa
404
Richardia grandiflora
(Cham. & Schltdl.) Steud.
erv Caa-Cer-Atl-
Par
CA ZO V.F. Sousa
383
Staelia virgata (Link ex
Roem. & Schult.)
K.Schum.
sub Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
97
† Tocoyena sellowiana
(Cham. & Schldtl.) K.
Schum.
arb Ama-Caa-Atl D ZO V.F. Sousa
238
SAPINDACEAE (Eurosídea II)
Serjania glabrata Kunth tre Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AN V.F. Sousa
267
SOLANACEAE (Euasterídea I)
Solanum paludosum Moric arb Ama-Caa-Atl D ZO V.F Sousa
216
THELYPTERIDACEAE (Monilófita)
Cyclosorus interruptus
(Willd.) H. Ito
erv Ama-Cer-Atl CR AN V.F. Sousa
167
TURNERACEAE (Eurosídea I)
† Piriqueta duarteana (A.
St.–Hil., A. Juss. &
Cambess.) Urb.
sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO L.M.
Versieux et
al. 590
Piriqueta viscosa Griseb. sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa &
L.M.
Versieux 298
Turnera melochioides A.
St.–Hil. & Cambess.
erv Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
452
Turnera subulata Sm. sub Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
392
URTICACEAE (Eurosídea I)
Cecropia pachystachya
Trécul
árv Atl-Caa-Cer-
Atl-Par
CA ZO V.F. Sousa
236
VIOLACEAE (Eurosídea
I)
Pombalia calceolaria (L.)
Paula-Souza
erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
300
VITACEAE (Eudicotiledônea)
60
Famílias/Espécies Hábito Padrão
biogeográfico
Distribuição
geográfica
no Brasil
Síndromes
de
Dispersão
Voucher
UFRN
† Cissus erosa Rich. tre Ama-Caa-
Cer-Atl
CA ZO V.F. Sousa
245
XYRIDACEAE (Monocotiledônea)
Xyris anceps Lam. erv Ama-Cer-Atl CR AU J.A.S. Leroy
27
Xyris jupicai Rich. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
99
Xyris savanensis Miq. erv Ama-Caa-
Cer-Atl-Par
CA AU V.F. Sousa
122
61
CAPÍTULO II
Potencial ornamental de plantas da restinga do Rio Grande do Norte: subsídios
para um paisagismo sustentável1
Valdeci Fontes de Sousa2,3
1 Parte da Dissertação de Mestrado
2 Programa de Pós-graduação em Ciências Florestais. Autor para correspondência
3 Depto. de Botânica, Ecologia e Zoologia - Centro de Biociências, Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, Campus Universitário, 59072‒970, Natal - RN, Brasil
*Manuscrito a ser submetido ao periódico Landscape Review
62
Potencial ornamental de plantas da restinga do Rio Grande do Norte: subsídios
para um paisagismo sustentável
Ornamental potential of restinga plants from Rio Grande do Norte: subsidies to a
sustainable landscaping
Valdeci Fontes de Sousa1
RESUMO
Aliar desenvolvimento e conservação do meio ambiente consiste em um dos maiores
desafios da atualidade. Com o aumento da urbanização e a consequente fragmentação
de habitats naturais, os espaços verdes em áreas urbanas tornam-se uma importante
ferramenta para conservação da biodiversidade. No entanto, para conservar a
biodiversidade em espaços urbanos, é necessário envolver o uso das espécies nativas,
sendo também um método de conservação ex-situ. O presente estudo objetivou
identificar espécies nativas da restinga da APA Bonfim-Guarairas, RN, que tenham
potencial ornamental para ser empregadas em projetos paisagísticos. O levantamento foi
realizado por meio de coletas não sistematizadas de amostras férteis entre dezembro de
2015 a setembro de 2016. Foram selecionadas e analisadas 25 espécies vegetais com
potencial ornamental, distribuídas em 22 gêneros e 16 famílias. As famílias que mais
apresentaram característica estéticas para o uso paisagístico foram Convolvulaceae (3
spp.), Apocynaceae, Araceae, Cactaceae, Chrysobalanaceae, Fabaceae e Rubiaceae (2
cada). Observou-se um predomínio de trepadeiras (10 spp), seguido por herbáceas (4).
A maioria das espécies analisada aqui é citada pela primeira vez quanto ao seu potencial
ornamental.
Palavras-chave: APA Bonfim-Guarairas, biodiversidade, conservação ex situ, espécies
nativas.
63
ABSTRACT
Combining development and conservation of the environment is one of the greatest
challenges of our time. With increasing urbanization and the consequent fragmentation
of natural habitats, green spaces in urban areas become an important tool for
biodiversity conservation. However, to conserve biodiversity in urban areas, it is
necessary to involve the use of native species, also being an ex-situ conservation
method. The present study aimed to identify native species of the restinga of APA
Bonfim-Guarairas, RN, that have ornamental potential to be used in landscape projects.
This survey was based on field work and collection of fertile samples along the study
area from December 2015 to September 2016. Twenty-five species grouped in 22
genera and 16 families with ornamental potential were selected and analyzed. The
families that presented the most esthetic characteristics for landscape use were
Convolvulaceae (3 spp.), Apocynaceae, Araceae, Cactaceae, Chrysobalanaceae,
Fabaceae and Rubiaceae (2 each). A predominance of vines (10 spp) was observed,
followed by herbas (4). Most of the species analyzed here are cited for the first time
concerning to their ornamental potential.
Key-words: APA Bonfim-Guarairas, biodiversity, ex situ conservation, native species.
64
INTRODUÇÃO
Aliar desenvolvimento e conservação do meio ambiente consiste em um dos maiores
desafios da atualidade. Com o avanço da ciência e da tecnologia, a espécie humana
almeja qualidade de vida para o futuro, esquecendo-se, entretanto do presente, gerando
problemas imediatos que afetam o equilíbrio do ambiente. Dados da United Nations
Population Fund (UNFPA, 2007) indicam que cada vez mais a população mundial está
se tornando urbana. Em 2008 atingiu-se a marca de mais de 50% da população do globo
vivendo em ambiente urbano (Goddard et al, 2009).
Com o aumento global da urbanização, o ambiente natural torna-se cada vez mais
fragmentado, evidenciando a importância dos espaços verdes no meio urbano a fim de
conservar a biodiversidade. Embora sujeito às consequências da densidade populacional
humana, as áreas verdes em espaços urbanos estão se tornando refúgios cada vez mais
importantes para a biodiversidade nativa em comparação àquelas antropizadas como
áreas desmatadas, improdutivas, degradadas, ambientes poluídos e de monoculturas
(Goddard et al, 2009).
A vegetação desempenha papel fundamental em ambientes urbanos, fornecendo
alimentos, locais de reprodução e abrigo para fauna local, além de propiciar um
microclima mais agradável (Smith et al, 2006). Dentre os benefícios trazidos pela
convivência em um meio urbano saudável e com áreas verdes ressaltam-se os serviços
fornecidos para o meio ambiente, manutenção da biodiversidade urbana, aumento da
reputação social da cidade, contribuição para a saúde e bem estar, influência da
jardinagem e paisagismo no status social e no preço de imóveis (Goddard et al, 2009).
Macintyre et al (2003) afirmam que as pessoas que vivem no meio urbano sem acesso a
jardins apresentam maiores taxas de sintomas de ansiedade e quadros de depressão.
Em todo o mundo desenvolvido, grande ênfase tem sido dada à biodiversidade de
jardins cultivados dentro de áreas urbanas. No entanto, para conservar a biodiversidade
em espaços urbanos, é necessário envolver o uso das espécies nativas (Isernhagem et al,
2009). Além disso, usar espécies nativas em áreas verdes urbanas é um método de
conservação ex-situ (Reis et al, 2003; Clarkson et al, 2007) e neste sentido enfatiza-se a
utilização de espécies nativas ameaçadas de extinção como forma de incorporar valores
de conservação (Barroso et al, 2007; Isernhagem et al, 2009; Silva e Perelló, 2010). O
emprego de espécies nativas nos espaços urbanos permite alcançar objetivos de
educação ambiental, difundindo a identidade paisagística natural e regional, além de
65
representar custos mais baixos de instalação e manutenção dos espaços e contribuir com
a biodiversidade regional (Silva e Perelló, 2010).
No Brasil, o paisagista Roberto Burle Marx estimulou a pesquisa de novas plantas
para o emprego ornamental (Abbud, 2006). Burle Marx preocupava-se com a
funcionalidade das composições vegetais, empregando em seus projetos espécies
nativas com as condicionantes bioclimáticas de cada local e o respeito às condições
geomorfológicas encontradas na natureza (Tabacow 1996). Apesar do pioneirismo de
Burle Marx, com a sensibilidade de introduzir várias espécies nativas, adaptadas às
condições locais nos jardins que projetava, pouco avanço tem sido registrado na
pesquisa e produção comercial de mudas de espécies nativas.
No estado Rio Grande do Norte (RN) este quadro não é diferente, se não for pior
do que no restante do Brasil. Em uma análise prévia, foram visitadas quatro lojas de
jardinagem de Natal e, através de entrevista ficou evidente que esses estabelecimentos
revendem plantas oriundas de outras cidades ou estados (indicando a pequena produção
local) e estimando em 80% de fornecimento de espécies exóticas, na maioria dos casos
sem conhecimento de quais são as espécies nativas ou de como distingui-las das
exóticas. Muitas vezes nos estabelecimentos são utilizados estilos paisagísticos que
copiam a urbanização de Los Angeles ou Miami, com paisagismo e arborização urbana
elaborada como resultado de um processo de adaptação ao clima frio, com adoção de
espécies de pequeno porte.
As plantas ornamentais diferenciam-se das demais por suas características
estéticas. Distinguem-se pela duração do florescimento, pela forma e colorido das
folhas, das flores e das inflorescências, bem como, pela aparência e arquitetura da planta
(Lorenzi e Souza, 2001). O Brasil possui uma flora muito rica em espécies e muitas
delas apresentam elevado potencial ornamental, as quais poderiam ser empregadas em
projetos paisagísticos. Entretanto, devido à escassez de estudos voltados ao
conhecimento destas plantas, a sua utilização com esta finalidade ainda é restrita e,
muitas vezes desconhecida (Lorenzi, 2009; Brandão et al, 2011; Santos, 2011; Vale et
al, 2011; Zamith, 2016). De fato, desde a época do Brasil Colonial, as espécies nativas
são substituídas pelas exóticas em decorrência da falta de informações sobre espécies
nativas com potencial ornamental para serem utilizadas em projetos paisagísticos (Leal
e Biondi, 2006).
A prospecção de plantas nativas ornamentais representa um grande potencial de
produção e comercialização para o mercado interno e externo (Heiden et al, 2006). No
66
entanto, prospectar e introduzir espécies nativas ornamentais no mercado da floricultura
demanda investimentos na pesquisa e produção.
No paisagismo moderno, as plantas nativas desempenham importantes funções
destacando a baixa necessidade de manutenção, a valorização da identidade regional
(regionalismo), a preservação da diversidade biológica e habitat para a fauna silvestre
local (Backstrup e Bassuk, 1997; Heiden et al, 2006). As plantas nativas estão adaptadas
às condições ambientais onde se desenvolveram e são resistentes às variações climáticas
e a incidência de pragas e moléstias do seu habitat. Desta forma, a inserção destas
plantas nos espaços verdes urbanos além de criar microclimas agradáveis aos seus
usuários pode minimizar as ameaças de invasões por espécies exóticas e reduzir a
introdução de novos patógenos (Heiden et al, 2006; Heiden e Iganci, 2009).
Em relação ao paisagismo de áreas litorâneas, as plantas nativas com potencial
ornamental são pouco utilizadas (e.g. Favacho et al, 2013; Loges et al, 2013; Zamith,
2016), geralmente devido à escassez de informações. Considerando que o paisagismo
realizado nos jardins de casas de veraneio e mesmo em áreas públicas é dominado por
espécies exóticas, sendo que algumas oferecem risco de invasão biológica, como
Cryptostegia madagascariensis Bojer ex Decne. (Apocynaceae), faz-se necessário
indicar espécies potenciais para um uso mais sustentável, que demandem por menos
irrigação e interajam com a fauna local. A introdução de espécies da flora nativa
substitue as exóticas e preserva as características naturais das áreas litorâneas (Loges et
al, 2013) além de salvaguardar a identidade biológica regional (Kabashima et al, 2011).
Ressalta-se também que a substituição das espécies exóticas pelas nativas é uma
tendência no paisagismo (Heiden et al, 2006). Neste sentido, as plantas nativas de áreas
litorâneas, especialmente da restinga são ideais por serem mais adaptadas e,
consequentemente, necessitarem de menor manutenção, água e fertilizantes.
Assim, o presente estudo teve como objetivo identificar espécies nativas da APA
Bonfim-Guarairas com características e potencial de uso semelhante àquele das exóticas
de uso consagrado no paisagismo brasileiro. A apresentação dessas espécies servirá para
subsidiar pesquisas de cultivo e adaptação, para futura implantação em espaços
ajardinados, substituindo espécies exóticas análogas.
MATERIAL E MÉTODOS
Área de estudo - A seleção e coleta de material foram realizadas em um trecho da APA
Bonfim-Guarairas (Figura 1), em área coberta por vegetação de restinga, no município
67
de Nísia Floresta, RN, distando cerca de 30 km de Natal (capital do Estado). Foram
amostrados cinco pontos de coletas: Lagoa Amarela (6°00'15.5"S, 35°09'39.8"W),
Lagoa da Juventude (6°00'12.5"S, 35°09'20"W), Sete Lagoas (6°00'46.4"S,
35°07'03.0"W), Lagoa da Ilhota (5°59'27.3"S, 35°07'33.7"W) e Lagoa de Alcaçuz
(6°59'46.1"S, 35°08'26.2"W) (Figura 1). A área total de estudo abrangeu 8,24 km2. O
clima é do tipo AS‟ (quente e úmido), com estação chuvosa entre os meses de fevereiro
até julho, e uma estação seca, com estiagem mais rigorosa entre outubro e dezembro
(Köppen, 1948). A temperatura média anual está em torno de 26°C, com pluviometria
média anual de 1.455 mm e umidade relativa média anual de 76% (IDEC, 1991).
Metodologia - A seleção das espécies considerou todos os hábitos (ervas,
subarbustos, arbustos, árvores, epífitas e trepadeiras). Cada planta é apresentada por
família, com seu nome popular (se conhecido), apresentando-se também aspectos
relativos a características vegetativas (caule ereto ou decumbente, folhas perenes ou
caducas, coloração e textura das folhas) ou das porções reprodutivas, como a cor
dominante da flor, inflorescência ou do fruto.
68
Figura 1. Mapa mostrando o município de Nísia Floresta (círculo vermelho), RN, destacando os cinco pontos de amostragem (pontos vermelhos)
para coleta do material botânico.
69
Também foi utilizada a Lista Oficial das Espécies da Flora Brasileira Ameaçadas
de Extinção - Instrução Normativa n. 6, de 23 de setembro de 2008 - (MMA, 2008),
com o objetivo de avaliar a pertinência da inclusão desses vegetais na seleção, visto que
sua inclusão poderia aumentar o risco de exploração extrativista. Optou-se, assim, por
utilizar espécies de plantas ameaçadas que estivessem incluídas, no máximo, na
categoria vulnerável.
A avaliação do potencial ornamental das plantas nativas foi feita com análise das
características estéticas. As definições das variáveis estéticas como hábito, forma,
simetria, textura e cor foram adaptadas de Stumpf et al (2009), a fim de nortear as
descrições das características ornamentais e eliminar preferências pessoais (Tabela 1). A
simetria nas plantas depende do tipo de esgalhamento ou ramificação que forma a copa
e do direcionamento do seu crescimento (Leal e Biondi, 2006). Em relação à indicação
de uso, as espécies foram categorizadas em plantas de jardim e paisagismo (indicadas na
formação de maciços, cercas-vivas, bordaduras, forrações ou uso isolado em canteiros)
e plantas de vaso (cultivadas em recipientes).
A coleta do material vegetal para identificação das espécies, a avaliação de suas
características estéticas, local de ocorrência e dados de floração foram realizados
durante os meses de dezembro de 2015 a setembro de 2016. Além disso, foi realizado
uma busca no banco de dados SpeciesLink (2016) para consultar materiais já
depositados nos herbários UFRN e MOSS com o objetivo de complementar as
informações sobre os dados da fenofase de florescimento das espécies. O material
botânico coletado foi processado de acordo com os métodos usuais em taxonomia
vegetal (Fidalgo e Bononi, 1989; Bridson e Forman, 1999) e a identificação foi
realizada com o auxílio de literatura especializada e de comparação com material
depositado no herbário UFRN.
Os nomes das espécies e os dados sobre a distribuição geográfica foram revistos e
atualizados de acordo com a Lista de Espécies da Flora do Brasil (Flora do Brasil,
2020). Exsicatas foram montadas e depositadas no Herbário UFRN e as duplicatas
doadas aos herbários do Jardim Botânico do Rio de Janeiro (RB) e da Universidade
Estadual de Feira de Santana (HUEFS) (acrônimo de acordo com Thiers, 2016,
continuamente atualizado). Aqui, o termo „trepadeiras‟ foi empregado para designar
tanto os indivíduos lenhosos quanto herbáceos (Gentry, 1991; Morellato e Leitão Filho,
1998).
70
Dados sobre o potencial ornamental e uso de espécies nativas são ainda escassos
na literatura, mas a obra de Lorenzi e Mello-Filho (2001), que ressalta as espécies
utilizadas pelo paisagista Burle Marx foi consultada como fonte de dados para se
caracterizar o potencial ornamental das espécies, quando disponíveis.
Tabela 1. Atributos utilizados para a avaliação das características ornamentais das
espécies nativas da APA Bonfim-Guarairas, RN, com possibilidade de uso no
paisagismo.
Atributos Caracterização
Hábito Arbóreo, arbustivo, subarbustivo, herbáceo, trepador,
epifítico.
Forma Verticalizada (altura maior > diâmetro da copa).
Horizontalizada (diâmetro da copa > altura).
Equilibrada (diâmetro da copa semelhante à altura).
Sem forma definida (são modeladas para assumir
diferentes formas).
Simetria dos ramos Simétrico (conformação geral é uniforme);
Assimétrico (quando os ramos se desenvolvem em
diferentes direções).
Textura das estruturas Brilhante/opaca; lisa/rugosa; pilosa/glabra.
Cor das estruturas Determinação visual.
Adaptado de Stumpf et al (2009)
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram selecionadas e analisadas 44 espécies vegetais das quais 25 foram consideradas
com potencial ornamental (Tabela 2). As 25 espécies estão distribuídas em 22 gêneros e
16 famílias. As espécies listadas estão incluídas nos grupos das monocotiledôneas
(Hohenbergia ridleyi (Baker) Mez, Anthurium affine Schott e Philodendron acutatum
Schott), três Eudicotiledôneas (Melocactus violaceus Pfeiff., Pilosocereus catingicola
(Gürke) Byles & Rowley, Tetracera breyniana Schltdl.), uma espécie como
magnoliídea (Aristolochia setulosa A.A.M. Araújo), Rosídeas (Cissus erosa Rich.),
Eurosídeas I (Passiflora silvestresVell., Chrysobalanus icaco L., Hirtella racemosa
Lam., Andira fraxinifolia Benth., Chamaecrista ramosa (Vogel) Irwin & Barneby,
Comolia ovalifolia (DC.) Triana), Euasterídeas I (Daustinia montana (Moric.) Buril &
71
A.R. Simões, Euploca paradoxa (Mart.) J.I.M. Melo & Semir, Ipomoea brasiliana
(Choisy) Meisn., Ipomoea rosea Choisy, Hancornia speciosa Gomes, Mandevilla
moricandiana (A. DC.) Woodson, Lundia longa (Vell.) DC., Guettarda platypoda DC.,
Solanum paludosum Moric., Tocoyena sellowiana (Cham. & Schltdl.) K. Schum.) e
Euasterídeas II (Aspilia procumbens Baker). As famílias que apresentaram maior
número de espécies com maior potencial ornamental foram Convolvulaceae (3 spp.),
Apocynaceae, Araceae, Cactaceae, Chrysobalanaceae, Fabaceae e Rubiaceae (2 cada).
Em relação ao hábito observou-se um predomínio de trepadeiras (10 spp), seguido por
herbáceas (4). A maioria das espécies analisada é aqui citada pela primeira vez quanto
ao seu potencial ornamental.
Das 25 espécies analisadas, 19 (76%) são endêmicas do território brasileiro e duas
(Aspilia procumbens e Melocactus violaceus) são consideradas como ameaçadas de
extinção pelo Ministério do Meio Ambiente (2008). A maioria das espécies neste estudo
ainda é desconhecida quanto ao seu potencial ornamental. Foram encontradas apenas
citações do potencial ornamental para as espécies Chrysobalanus icaco (Queiroz, 2007;
Silva e Peixoto, 2009), Anthurium affine (Queiroz, 2007; Freitas et al, 2010),
Philodendron acutatum, Hancornia speciosa, Melocactus violaceus, Comolia ovalifolia
e Guettarda platypoda (Queiroz, 2007) e Andira fraxinifolia (Souza et al, 2013),
equivalendo a 38,1% do total das espécies analisadas. No entanto, embora existindo a
indicação destas espécies para o uso ornamental, elas ainda não são comercializadas.
A maioria das espécies analisada (10 spp.; 47,6%) possui porte trepador, podendo
ser usadas em treliças, arcos, pérgulas, caramanchões, alambrados e composição com
arbustos ou árvores.
As cores das folhas das espécies variaram de verde-claro a verde-escuro,
indicando um efeito monocromático. A grande maioria das espécies (17 spp.; 81%)
possui folhas ou folíolos brilhantes, lisos e glabros. Enquanto para as cores das flores
oito espécies (38%) têm flores de cores frias. As espécies com cores de flores quentes
são as mais vistosas, por exemplo, Lundia longa, Dustinia montana e Tocoyena
sellowiana.
Em relação à forma das plantas, sete (33,3%) das espécies foram caracterizadas
com formas verticalizadas e apresentam os ramos simétricos, cujo crescimento está no
sentido de alongamento dos ramos, ótimo para produzir efeitos verticais.
A análise dessas variáveis estéticas é importante para indicar a melhor utilização
destas espécies em projetos paisagísticos. Algumas podem ser empregadas em praças,
72
jardins, canteiros de avenidas e outras como Melocactus violaceus podem ser usados em
jardins e vasos.
Andira fraxinifolia (Fabaceae) é conhecida popularmente como „Angelim doce‟.
Espécie de porte arbóreo que pode atingir até 8 m altura, de forma verticalizada e
assimétrica. Possui folhas dispostas em 5-11 folíolos verde-escuros, brilhantes, lisos e
glabros. Apresenta inflorescências dispostas em panículas axilares e terminais com
flores de coloração rosa e odor adocicado. Devido à folhagem perenifólia, brotações
novas avermelhadas que ocorrem uniformemente em toda copa, de grande efeito visual,
pela copa compacta e levemente arredondada são características que favorecem o seu
uso no paisagismo. Ocorre principalmente em restingas e florestas úmidas (Pennington,
2003). No Rio Grande do Norte, a espécie foi encontrada em florestas estacionais
semideciduais de terras baixas e restinga arbustivo-arbórea (São-Mateus et al, 2013).
Coletada no RN com flores de julho a dezembro.
Anthurium affine (Araceae), conhecida popularmente como „Milho-de-urubu‟
(3C-D). Espécie de porte herbáceo que pode atingir até 1,5 m de altura, de forma
verticalizada e simétrica. Possui folhas dispostas em rosetas, coloração verde-escura,
brilhantes, lisas e glabras. A inflorescência é ereta e pedunculada, verde ou púrpura na
parte apical. Espécie de grande potencial como planta ornamental, já que suas folhas são
atrativas e duradouras, e de aspecto exuberante. Sua propagação efetiva se dá por meio
de perfilhamento ou por sementes.
Aristolochia setulosa (Aristolochiaceae) é conhecida popularmente como
„Jarrinha‟ (Figura 2A). É uma trepadeira volúvel que não apresenta copa definida.
Possui folhas cartáceas, brilhantes, lisas, glabras e de coloração verde-escuro. Apresenta
inflorescência racemosa com flores amareladas. Os frutos são cápsulas cilíndricas e
glabras, de deiscência septicida, e que na maturação abrem-se por fendilhamento do
pedicelo, assumindo forma de cestas pendentes (Capellari Júnior, 2005). São plantas
rústicas, cresce tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins pode ser
usada em pérgulas, caramanchões e alambrados.
Aspilia procumbens (Asteraceae) é conhecida popularmente como „Pirrichea do
mato‟. Caracteriza-se pelo hábito herbáceo e prostrado, com caule arroxeado, de forma
verticalizada e simétrica. Apresenta folhas verde-claras, cartáceas, opacas, glabras e
inflorescência em capítulos solitários no ápice dos ramos com flores amarelas. A
coloração verde-arroxeada dos ramos contrastando com o verde-claro das folhas e o
amarelo das flores são características que favorecem o uso no paisagismo. Em jardins
73
pode ser utilizada como planta de forração. Floresce o ano inteiro fornecendo recurso
floral a fauna local.
Chamaecrista ramosa (Fabaceae) é uma espécie subarbustiva decumbente e
densamente ramificada (Figura 2C) e que apresenta porção aérea horizontalizada e
ramos se desenvolvendo em várias direções (assimétrica). Suas folhas são constituídas
por dois pares de folíolos membranáceos, verde-escuros, opacos, glabros. As flores são
solitárias, de coloração amarela. A combinação das flores amarelas com as sépalas
vermelho-vináceas que contrastam com o verde-claro de seus folíolos caracterizam o
seu uso como ornamental. O fruto é um legume, linear, esparsamente estrigoso e na
maturação apresenta coloração marrom. São plantas rústicas, cresce tanto em solos
secos e úmidos, ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins pode ser usado como
plantas de forração, sempre cultivada a pleno sol.
Chrysobalanus icaco (Chrysobalanaceae) é conhecido popularmente como
„Guajirú‟ (Figura 2E). Ocorre em regiões litorâneas do Brasil. Espécie de porte
arbustivo ou pequena arvoreta que pode atingir até 5 m altura, de forma horizontalizada
e assimétrica. Possui ramos acinzentados e com lenticelas esbranquiçadas, folhas
cartáceas, verde-escuras, brilhantes, lisas e glabras. Apresenta inflorescência em
racemos terminais e axilares, com flores de coloração branca. Os frutos ovoides a
obovoides, lisos e glabros, são de coloração verde-clara quando imaturos tornando-se
vináceo na maturação. Em jardins pode ser utilizada para formar maciços ou
agrupamentos, além de ter um excelente potencial para formação de cercas vivas. É uma
planta rústica, tolerante a ambientes salinos, e que suporta bem o clima quente e os
ventos fortes do litoral do RN. Pode ser plantada para estabilizar dunas e prevenir a
erosão do solo. Floresce e frutifica o ano inteiro. O fruto com polpa branca e adocicada
é comestível. É utilizada também como planta ornamental na América do Norte (Silva e
Peixoto, 2009).
Cissus erosa (Vitaceae) é conhecida popularmente como „Parreira-brava‟ (Figura
2B). É uma trepadeira lenhosa e perene, que não apresenta copa definida. As folhas são
trifolioladas, os folíolos cartáceos, brilhantes, lisos, glabros e de coloração verde-escuro.
Apresenta inflorescência em umbela com pedúnculo esverdeado ou avermelhado
contendo flores vermelhas. Os frutos são bagas oblongas, imaturos verdes, glabros.
Atrai a avifauna local. Em jardins pode ser usada em pérgulas, caramanchões e
alambrados.
74
Comolia ovalifolia (Melastomataceae) é caracterizada pelo porte subarbustivo,
formando pequenas moitas de até de 1 m altura, de forma verticalizada e simétrica.
Apresenta folhas cartáceas, verde-escuras, brilhantes, rugosas, ásperas e esparsamente
pilosas. Suas flores são de coloração rosa a púrpura. A coloração acinzentada a
ferrugínea dos ramos mais jovens contrastando com o verde-escuro das folhas e o rosa a
púrpura das flores, dos estames e dos filetes são características que promovem o uso no
paisagismo. É uma planta própria para jardins com fontes de água ou localizados em
terrenos alagadiços. Além disso, a espécie atrai várias espécies de abelhas como
visitantes florais (Oliveira-Rebouças e Gimenes, 2004).
Daustinia montana (Covolvulaceae) é uma espécie de trepadeira herbácea que
apresenta copa não definida. Seus ramos são lanosos, as folhas simples, cartáceas,
verde-claro, opacas, lanosas. As flores estão agrupadas em cimeiras capituliformes com
cerca de sete flores, de coloração amarela. Os frutos são cápsulas globosas de deiscência
septicida. São plantas que crescem tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes.
Em jardins podem ser usadas em estruturas leves como treliças, grades, arcos e
composição com arbustos. Pode ser cultivada a pleno sol.
Euploca paradoxa (Boraginaceae) é caracterizada pelo porte herbáceo, prostrado
(Figura 3B), de forma horizontalizada e assimétrica. Apresenta folhas cartáceas a
subcarnosas, verde-escuras, opacas, lisas e pilosas. Suas flores são solitárias, situada na
axila da folha e de coloração amarela. A coloração verde-escuro das folhas e o amarelo
intenso das flores promovem o uso no paisagismo. É uma planta própria para jardins
com fontes de água ou localizados em terrenos úmidos. Pode ser usada como planta de
forração.
Guettarda platypoda (Rubiaceae), conhecida popularmente como „Angélica‟.
Ocorre em regiões litorâneas do Brasil (Pereira e Barbosa, 2004). É uma espécie de
porte arbustivo que pode atingir até 4 m altura, de forma verticalizada e simétrica.
Possui folhas cartáceas, verde-escuras, brilhantes, lisas e glabras. Apresenta
inflorescência em cimeiras escorpioides, multifloras, com flores de coloração branca. A
coloração acinzentada a ferrugínea dos ramos contrastando com o verde das folhas,
flores brancas com aroma adocicado são característica favoráveis para o uso no
paisagismo. Em jardins pode ser utilizada para formar maciços ou agrupamentos, além
de ter um excelente potencial para formação de cercas vivas. É uma planta rústica, que
tolera bem o clima quente e os ventos fortes do litoral do RN. Floresce e frutifica o ano
inteiro.
75
Hancornia speciosa (Apocynaceae) é conhecido popularmente como „Mangaba‟.
É um arbusto ou arvoreta de até 5 metros de altura, com ramos acinzentados, glabros,
látex branco, de forma horizontalizada e assimétrica. Possui folhas opostas, cartáceas,
brilhantes, lisas, glabras e de coloração verde-escuro. Inflorescências racemosas,
axilares, com uma a cinco flores de coloração branca. O fruto é uma baga, arredondada,
amarelo-esverdeada com máculas ferrugíneas a avermelhada na maturação, glabra. São
plantas rústicas, crescem tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins
pode ser usada isolada ou em agrupamentos.
Hirtella racemosa (Chrysobalanaceae) é caracterizada pelo porte arbustivo ou
arvoreta de até 5 m de altura, de forma horizontalizada e assimétrica. Apresenta folhas
verde-escuras, coriáceas, brilhantes, lisas e glabras e inflorescência em racemos
terminais e axilares com flores rosa. A coloração acinzentada dos ramos contrastando
com o verde-escuro das folhas e o rosa das flores, estames e filetes são característica
que favorecem o uso no paisagismo. Em jardins pode ser utilizada como planta de
destaque ou mesmo para compor agrupamentos. O seu fruto é de formato elipsoide, liso
e glabro, verde quando imaturo e vináceo na maturação. Além disso, atrai várias
espécies de abelhas como visitantes florais.
Hohenbergia ridleyi (Bromeliaceae) caracteriza-se pelo porte herbáceo (Figura
2F), folhas coriáceas, verdes, esverdeado-flavescentes, flavescentes ou castanhas,
dispostas em rosetas amplamente funelformes ou crateriformes, inflorescência laxo-
piramidal, ereta, algumas vezes pendente, esparsamente branco-lanado ou flavo-lanado,
características que a tornam atraente para ser empregada no paisagismo como
ornamental. Além disso, a espécie atrai beija-flores como visitantes florais (Siqueira
Filho e Machado, 1998). Em jardins pode ser usado de maneira isolada ou agrupada,
podendo ser cultivada a pleno sol ou a meia sombra. A presença de espinhos nas
margens das folhas requer certo cuidado na escolha do lugar onde será colocada a
planta, sendo mais indicado, um local de circulação restrita.
Ipomoea brasiliana (Covolvulaceae) é uma espécie de trepadeira volúvel (Figura
3A) e lenhosa que apresenta copa não definida. Suas folhas são cartáceas, verde-claro,
opacas, vilosas. As flores podem ser solitárias ou em dicásios com três flores, de
coloração rosa. A floração intensa que contrasta com o verde-claro de suas folhas e o
verde-cinéreo de seus ramos são características que a qualificam como ornamental. Os
frutos são cápsulas globosas e glabras, de deiscência septicida. São plantas rústicas,
76
crescem tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins podem ser usadas
em pérgulas, caramanchões, alambrados e composição com árvores.
Ipomoea rosea (Covolvulaceae) é uma espécie de trepadeira herbácea (figura 2D)
que apresenta copa não definida. Suas folhas são trifolioladas, membranáceas, verde-
claro, opacas, glabras. As flores são dicásios com até oito flores, de coloração rosa. Os
frutos são cápsulas subglobosas e glabras, de deiscência septicida. São plantas que
crescem tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins podem ser usadas
em estruturas leves como treliças, grades, arcos e composição com arbustos. Pode ser
cultivado a pleno sol.
Lundia longa (Bignoniacee) é uma espécie de trepadeira volúvel (Figura 3H) com
ascensão por gavinhas e que apresenta copa não definida. Suas folhas são bi a
trifolioladas, os folíolos cartáceos, brilhantes, de coloração verde-escuro, lisos e glabros.
Apresenta inflorescência em dicásio terminal ou axilar com exuberantes flores de
coloração magenta ou avermelhada. Os frutos são cápsulas lineares planas, coriáceas,
lisas e glabras, verde-escuro quando imaturas e marrom-claro quando maduras. São
plantas rústicas, crescem tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Nos jardins
podem ser usadas em pérgulas, caramanchões, alambrados, coroamento de muros e
composição com árvores. Floresce e frutifica o ano inteiro. Atrai a avifauna local.
Mandevilla moricandiana (Apocynaceae) é uma trepadeira herbácea com látex
branco (Figura 2G), que não apresenta copa definida. Possui folhas opostas, cartáceas,
brilhantes, lisas, glabras e de coloração verde-escuro. Inflorescências racemosas,
axilares, com duas a seis flores de coloração rosa. O fruto é um folículo, verde-escuro
quando imaturo e marrom na maturação, glabro. São plantas rústicas, crescem tanto em
solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins pode ser usada em pérgulas,
alambrados e composição com arbustos.
Melocactus violaceus (Cactaceae) é conhecido pelo nome popular de „coroa-de-
frade‟ (Figura 2H). Habita formações florestais ou campestres (Floresta Atlântica e
Restinga) ocorrendo principalmente sobre substratos arenosos (Menezes et al.,
2012). Encontra-se na lista de plantas vulneráveis à extinção (MMA, 2008). É uma
planta suculenta de porte subarbustivo, subgloboso e espinhoso, apresentando forma
equilibrada e simétrica, podendo alcançar 20 cm de altura. Apresenta um cefálio de
cerdas avermelhadas e brancas onde se desenvolvem as flores e frutos de coloração
rosa. Por suas características ornamentais, pode ser usada isoladamente ou em grupo, e
por se tratar de planta suculenta adaptada às condições semiáridas, mostra-se adequada
77
para ser cultivado a pleno sol. Por outro lado, o pequeno porte favorece o seu cultivo em
vasos. A presença de espinhos, no entanto, requer critério na escolha do lugar onde será
colocada a planta, sendo mais indicado, um local de circulação restrita.
Passiflora silvestris (Passifloraceae) é uma trepadeira herbácea com gavinhas, que
não apresenta copa definida. Possui folhas coriáceas, brilhantes, lisas, glabras e de
coloração verde-escuro. Apresenta flores solitárias, sépalas verde-claras, pétalas brancas
e estames amarelos. O fruto é uma baga deiscente, obovoide e glabra. São plantas
rústicas, cresce tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins pode ser
usada em pérgulas, caramanchões e alambrados e composição com arbustos e árvores.
Philodendron acutatum (Araceae) é popularmente conhecida como „Imbé‟ (Figura
3F). É uma espécie hemiepífita, escandente, com exsudato marrom, e que não apresenta
copa definida. As folhas são cartáceas, sagitadas, brilhantes, lisas, glabras e de
coloração verde-escuro. Em jardins pode ser usada em pérgulas, caramanchões e
alambrados e composição com árvores. As espécies de Philodendron Schott têm sido as
mais populares plantas utilizadas em interiores, porque, a grande maioria resiste a
baixos níveis de luminosidade e proporciona uma destacada coloração verde (Coelho,
2000). Devido a estas características Philodendron acutatum pode ser utilizada em
ambientes de meia-sombra.
Pilosocereus catingicola (Cactaceae) é uma espécie perene de hábito arbustivo a
arbóreo (Figura 3G), e dependendo do habitat pode atingir 6 metros de altura e que
apresenta copa verticalizada e simétrica. É uma espécie que possui cladódios colunares,
eretos, costelas não segmentadas, de coloração verde-escuro; os espinhos são
cilíndricos, aciculados e pungentes. Apresenta flores isoladas, grandes e esbranquiçadas.
Os frutos são subglobosos, verde-escuros quando imaturos, e vermelhos a magenta na
maturação. Os frutos são consumidos por pássaros e as sementes dispersas pela
avifauna. São plantas rústicas, cresce tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes.
Em jardins pode ser usada de forma isolada, semple a pleno sol. Assim como
Melocactus violaceus, a presença de espinhos requer que o seu plantio seja feito em um
local de circulação restrita.
Solanum paludosum (Solanaceae) é conhecida pelo nome popular de “Jurubeba-
roxa” (Figura 2I). Tem porte arbustivo que pode atingir até 4 m de altura, de forma
horizontalizada e assimétrica. Os ramos são providos de acúleos ferrugíneos, folhas
cartáceas, verde-escuras, brilhantes, lisas e pilosas. Apresenta inflorescência em
cimeiras simples, com 5 a 15 flores, de coloração violácea ou púrpura e os frutos são
78
bagas com epicarpo verde-variegado a marrom-ferrugíneo durante a maturação. A
coloração acinzentada a ferrugínea dos ramos jovens contrastando com o verde das
folhas, flores púrpura são característica que favorecem o uso no paisagismo. Em jardins
pode ser utilizada para formar cortinas ou pequenos agrupamentos, além de ter potencial
para formação de cercas vivas por causa da presença de acúleos. É uma planta que
tolera bem o clima quente do litoral do Potiguar.
Tetracera breyniana (Dilleniaceae) é uma espécie de trepadeira volúvel e lenhosa
(Figura 3E) que apresenta copa não definida. Possui ramos marrons, folhas simples,
coriáceas, brilhantes, de coloração verde-escuro, lisas e glabras. Apresenta
inflorescência paniculada com flores pequenas esbranquiçadas. Os frutos contêm de 1-6
folículos, piriformes, coriáceos, dispostos em forma de estrela, verde-escuro quando
imaturos e castanhos na maturação, sementes com arilo vermelho. São plantas rústicas,
cresce tanto em solos ricos quanto pobres em nutrientes. Em jardins pode ser usada em
pérgulas, caramanchões e coroamento de muros.
Tocoyena sellowiana (Rubiaceae), é conhecida popularmente como „Jenipapo-
bravo‟. Geralmente é encontrada na mata úmida e em outros ambientes litorâneos
(Pereira e Barbosa, 2004). É uma espécie de porte arbustivo a arbóreo que pode atingir
até 6 m de altura, de forma horizontalizada e assimétrica. Possui folhas cartáceas, verde-
escuras, brilhantes, lisas e glabras. Apresenta inflorescência em dicásio composto
terminal e pedunculado, com flores vistosas de coloração amarela. Os frutos são
globosos, glabros e passam do verde até o negro durante a maturação. Pela arquitetura
diferenciada, a coloração das folhas, flores e frutos, e pelo longo período de floração e
frutificação, mostra plenas condições para uso no paisagismo. Em jardins pode ser
utilizada como planta de destaque ou mesmo para compor pequenos agrupamentos.
Ainda que apresente deciduidade marcada, seu uso na arborização urbana pode ser
considerado também. Sua forma permite o uso em terrenos irregulares, atribuindo ideia
de amplitude e horizontalidade aos espaços. Além disso, a espécie atrai mariposas e
outros visitantes florais. Apresenta floração conspícua e contrastante, devido ao forte
amarelo-alaranjado de suas flores.
CONCLUSÕES
Espécies nativas ocorrentes em áreas ameaçadas pelo crescente processo de urbanização
(como é o caso dos ambientes de restinga) podem ser extintas antes que o seu potencial
79
seja utilizado e a introdução destas em cultivo pode ser uma ferramenta muito
interessante de conservação e valorização da biodiversidade.
Neste sentido, as espécies aqui indicadas apresentam características estéticas
apropriadas para o seu emprego no paisagismo. De acordo com Halevy (1999),
estabelecer características ornamentais desejáveis é o primeiro passo no
desenvolvimento de estratégias para inserir uma nova planta no mercado, e as espécies
listadas no presente estudo merecem a atenção da pesquisa no sentido de desenvolver
técnicas de multiplicação e manejo, com vistas à produção comercial.
Todas as espécies aqui listadas poderão ser usadas como plantas de pleno sol,
sendo que Hohenbergia ridleyi, Anthurium affine, Philodendron acutatum podem ser
empregadas como plantas de meia-sombra. Todas apresentam grande potencial
ornamental para diversos usos e efeitos paisagísticos e a indicação delas reforça e
estimula o uso de espécies nativas do ecossistema restinga em projetos de paisagismo.
80
Figura 2. Fotografias das espécies indicadas para uso ornamental da APA Bonfim-
Guarairas. A. Aristolochia setulosa (Aristolochiaceae), B. Cissus erosa (Vitaceae), C.
Chamaecrista ramosa (Fabaceae), D. Ipomoea rosea (Covolvulaceae), E.
Chhrysobalanus icaco (Chrysobalanaceae), F. Hohenbergia ridleyi (Bromeliaceae), G.
Mandevilla moricandiana (Apocynaceae), H. Melocactus violaceus (Cactaceae), I.
Solanum paludosum (Solanaceae). (Fotos: V.F. Sousa).
81
Figura 3. Fotografias das espécies indicadas para uso ornamental da APA Bonfim-
Guarairas. A. Ipomoea brasiliana (Convolvulaceae), B. Euploca paradoxa
(Boraginaceae), C-D. Anthurium affine (Araceae), E. Tetracera breyniana
(Dilleniaceae), F. Philodendron acutatum (Araceae), G. Pilosocereus catingicola
(Cactaceae), H. Lundia longa (Bignoniaceae). (Fotos: V.F. Sousa, exceto F, de J.
Leroy).
82
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87
Tabela 2. Lista de plantas nativas de potencial ornamental da APA Bonfim-Guarairas, RN, indicadas para uso no paisagismo. (♯): Espécie
endêmica do Brasil.
Espécies Família Hábito Cor Textura Forma Simetria Uso
♯ Andira
fraxiniffolia
Benth.
Fabaceae Arbóreo Folíolos verde-
escuros; flores
rosa; frutos verde-
escuros.
Folíolos
cartáceos,
brilhantes, lisos
e glabros; caule
rugoso; frutos
glabros.
Verticalizada Assimétrica Jardim
♯ Anthurium
affine Schott
Araceae Herbáceo Folhas verde-
escuras.
Folhas
subcoriáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Verticalizada Simétrica Jardim/Vaso
♯ Aristolochia
setulosa
A.A.M. Araújo
Aristolochiaceae Trepador Folhas verde-
escuras; flores
amarelas.
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
♯ Aspilia
procumbens
Baker
Asteracae Herbáceo Folhas verde-
claras; flores
amarelas.
Folhas cartáceas,
opacas, ásperas e
pilosas.
Verticalizada Simétrica Jardim
Chamaecrista Fabaceae Subarbustivo Folíolos verde- Folíolos Horizontalizada Assimétrica Jardim
88
Espécies Família Hábito Cor Textura Forma Simetria Uso
ramosa (Vogel)
H.S. Irwin &
Barneby
claros; flores
amarelas; frutos
marrons quando
maduros.
membranáceos,
opacos, lisos e
glabros.
♯ Cissus erosa
Rich.
Vitaceae Trepador Folíolos verde-
escuros; flores
vermelhas.
Folíolos
cartáceos,
brilhantes, lisos
e glabros.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
Chrysobalanus
icaco L.
Chrysobalanaceae Arbustivo/Arbóreo Ramos
acinzentado, com
lenticelas brancas;
folhas verde-
escuras; flores
brancas.
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Horizontalizada Assimétrica Jardim
♯ Comolia
ovalifolia (DC.)
Triana
Melastomataceae Subarbustivo Caule e ramos
quadrangulares;
folhas verde-
escuras; flores
rosas.
Folhas cartáceas,
brilhantes,
rugosas, ásperas
e esparsamente
pilosas.
Verticalizada Simétrica Jardim
89
Espécies Família Hábito Cor Textura Forma Simetria Uso
♯ Daustinia
montana
(Moric.) Buril
& A.R. Simões
Convolvulaceae Trepador Folhas verde-
claras; flores
amarelas.
Folhas cartáceas,
opacas, rugosas
e pilosas.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
♯ Euploca
paradoxa
(Mart.) J.I.M.
Melo & Semir
Boraginaceae Herbáceo Folhas verde-
escuras; flores
amarelas.
Folhas cartáceas
a subcorácea,
opacas, lisas e
pilosas.
Horizontalizada Assimétrica Jardim
♯ Guettarda
platypoda DC.
Rubiaceae Arbustivo Ramos castanho a
ferrugíneos;
folhas verde-
escuras; flores
brancas; frutos
brancos na
maturação.
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Verticalizada Simétrica Jardim
Hancornia
speciosa
Gomes
Apocynaceae Arbustivo/Arbóreo Folhas verde-
escuras; flores
brancas; frutos
amarelo-
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Horizontalizada Assimétrica Jardim
90
Espécies Família Hábito Cor Textura Forma Simetria Uso
esverdeados.
Hirtella
racemosa Lam.
Chrysobalanaceae Arbustivo/Arbóreo Ramos
acinzentado;
folhas verde-
escuras; flores
rosas.
Folhas coriáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Verticalizada Assimétrica Jardim
♯ Hohenbergia
ridleyi (Baker)
Mez
Bromeliaceae Herbáceo Folhas verde-
escuras a verde-
amarelas; flores
roxas.
Folhas coriáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Verticalizada Simétrica Jardim
♯ Ipomoea
brasiliana
(Choisy) Meisn.
Convolvulaceae Trepador Folhas verde-
claras; flores rosa.
Folhas cartáceas,
opacas, rugosas
e pilosas.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
♯ Ipomoea
rosea Choisy
Convolvulaceae Trepador Folhas verde-
escuras; flores
rosa.
Folhas
membranáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
♯ Lundia longa
(Vell.) DC.
Bignoniaceae Trepador Folhas verde-
escuras; flores
Folíolos
cartáceos,
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
91
Espécies Família Hábito Cor Textura Forma Simetria Uso
magenta. brilhantes, lisos
e glabros.
♯ Mandevilla
moricandiana
(A.DC.)
Woodson
Apocynaceae Trepador Folhas verde-
escuras; flores
rosas.
Folhas
brilhantes, lisas e
glabras.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
♯ Melocactus
violaceus
Pfeiff.
Cactaceae Subarbustivo Cladódio verde-
escuro; flores
rosa; frutos rosa.
Brilhante;
espinhos
acinzentados.
Equilibrada Simétrica Jardim/Vaso
♯ Passiflora
silvestris Vell.
Passifloraceae Trepador Folhas verde-
escuras; flores
brancas.
Folhas coriáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim.
♯ Pilosocereus
catingicola
(Gürcke) Byles
& Rowley
Cactaceae Arbustivo/Arbóreo Flores
esbranquiçadas.
Cladódios lisos. Verticalizada Simétrica Jardim
Philodendron
acutatum
Schott
Araceae Trepador Folhas verde-
escuras.
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
92
Espécies Família Hábito Cor Textura Forma Simetria Uso
Solanum
paludosum
Moric.
Solanaceae Arbustivo Folhas verde-
escuras; flores
violáceas a
púrpuras.
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
esparsamente
pilosas.
Horizontalizada Assimétrica Jardim
♯ Tetracera
breyniana
Schltdl.
Dilleniaceae Trepador Ramos
amarronzado;
folhas verde-
escuras; flores
esbranquiçadas.
Folhas coriáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Sem forma
definida
Assimétrica Jardim
♯ Tocoyena
sellowiana
(Cham. &
Schltdl.) K.
Schum.
Rubiacee Arbóreo Ramos marrom,
rugoso; folhas
verde-escuras;
flores amarelo-
pálidas; frutos
verdes, negro na
maturação.
Folhas cartáceas,
brilhantes, lisas e
glabras.
Horizontalizada Assimétrica Jardim
93
CAPÍTULO III
“Notes on the ornamental potential and taxonomy of Justicia (Acanthaceae,
Justicieae), including a first record for the Paraíba flora, Brazil”
Publicado, em 2016, no periódico Phytotaxa 270: 203-209
94
P h y t o t a x a 270 (3): 203–209 Article ISSN 1179-3155 (print edition)
Copyright © 2016 Magnolia Press ISSN 1179-3163 (on line edi tion)
http://www.mapress.com/j/pt/ PHYTOTAXA
http://dx.doi.org/10.11646/phytotaxa.270.3.4
Notes on the ornamental potential and taxonomy of Justicia (Acanthaceae,
Justicieae), including a first record for the Paraíba flora, Brazil
VALDECI FONTES DE SOUSA1 & LEONARDO M. VERSIEUX1, 2 1 Programa de Pós-Graduação em Ciências Florestais, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, RN 160 - Km 03 - Distrito
de Jundiaí, 59280-000, Macaíba, Rio Grande do Norte, Brazil
2 Departamento de Botânica e Zoologia, Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 59072-970,
Rio Grande do Norte, Brazil
* Author for correspondence, E-mail: [email protected]
Abstract
Justicia thunbergioides (Acanthaceae, Justicieae) is reported for the first time from Paraíba State, northeastern Brazil. It was
collected in the municipality of Cuité, Agreste region, a transitional area between the ―Zona da Mata‖ and ―Sertão‖. This new
occurrence in Paraíba extends its range approximately 140 km from the closest population and it was found in hypoxe-rophytic
caatinga, forming dense clumps in open but shaded areas, under scrub vegetation and on stony soil. Acanthaceae in general has a
great ornamental potential and this species, in particular, may be used in native plant gardens since it is adapted to semi-arid
weather conditions and also attracts local fauna. Description, taxonomic comments, distributional map and im-ages are presented
for this taxon. Additionally, a key to distinguish the native species of Justicia in Paraíba is provided. Keywords: Agreste region, Brazil Flora Group, Municipality of Cuité, Native ornamental species
Introduction
Acanthaceae comprises approximately 240 genera and 3,250 species of herbs, shrubs, climbing herbs or, less often,
small trees (Wasshausen & Wood 2004). The family has a pantropical distribution, with centers of diversity in
Africa, Indo-Malaysia, Brazil, and México-Central America (Daniel 2000). In Brazil there are about 40 genera and
450 species distributed in all habitats, the most prominent being Justicia Linnaeus (1753: 15), Ruellia Linnaeus
(1753: 634) and Aphelandra Brown (1810: 475) (Profice et al. 2015). The family has a great potential as ornamental
plants (Sartin et al. 2014). Justicia consists of more than 700 species worldwide (Daniel & Lott 2009) and it is cited in the literature as one
of the largest and taxonomically most complex genus in the family (Wasshausen & Wood 2004). In Brazil, it is
represented by 128 species occurring all over the Brazilian territory with only 26 species recorded for the
Northeastern region (Profice et al. 2015). Regarding the conservation, six species are considered to be threatened
(Profice et al. 2013): Justicia clausseniana (Nees 1847: 111) Profice (1996: 2), J. genuflexa Nees & Martius (1823:
57), J. paranaensis (Rizzini 1952: 162) Wasshausen & Smith (1969: 122), J. polita (Nees 1847: 109) Profice (1996:
30), J. ramulosa (Morong 1893: 194) Ezcurra (1988: 350) and J. tijucensis Graham (1988: 601). Six species including three native species, Justicia aequilabris (Nees 1847: 134) Lindau (1895: 350), J. comata
(Linnaeus 1759: 850) Lamarck (1785: 632) and J. laevilinguis (Nees 1847: 120) Lindau (1894: 20) and three
cultivated species, Justicia gendarussa Burman f. (1768: 10), J. carnea Lindley (1831: 1397) and J. pectoralis
Jacquin (1760: 11) may be recorded in Paraíba state in on-line databases (SpeciesLink network 2015). However, the
Brazilian Plants Checklist (Profice et al. 2015) does not record any species in that state.
Brazil is world renowned for its rich biodiversity, and outstanding ornamental plants whose commercial value
has been practically unexplored (Almeida & Aki 1995, Romão et al. 2015). Native plants have an important role in
modern garden landscape, mainly because of their lower maintenance costs as well as for conserving biological
diversity in urban gardens thus providing habitat and resources for the local fauna (Buckstrup & Bassuk 2015,
Heiden et al. 2006). In caatinga dry woodland, native species with ornamental potential have rarely been explored
(Versieux et al. in press).
Accepted by Yunfei Deng: 28 Jul. 2016; published: 19 Aug. 2016 203
95
By documenting new records of families known to have ornamental potential and by making such plants known to
the community this scenario could be changed. A recent account indicates that at least 273 species occurring in
caatinga and distributed in 61 families have ornamental potential (Versieux et al. in press). Additionally, a recent
survey has identified the species of Acanthaceae used for ornamental purposes in Brazil as totaling 69 species in 27
genera (Sartin et al. 2014) in which the genus Justicia was represented by five species. In Brazil, native species of Justicia have been cultivated and domesticated due to their easiness to grow and to
be propagated. Usually bearing conspicuous and colored bracts, which may attract hummingbirds, e.g. J. carnea
Lindley (1831: 17) and J. scheidweileri Graham (1988: 617) this genus has elevated ornamental potential (Lorenzi &
Mello Filho 2001). In this paper, Justicia thunbergioides (Lindau 1895: 350) Leonard (1959: 10) is reported in
Paraíba state for the first time. Description and illustration of the taxon, as well as data on its geographical
distribution and ecology are provided. Furthermore, an identification key for the native species of Justicia found in
Paraíba is presented.
Figure 1. Geographical distribution map of Justicia thunbergioides in Brazil.
Materials and Methods
Cuité (Figure 1), is located at the central-north portion of the state of Paraíba, in the Agreste, a region dominated by
dry woodlands (caatinga biome), at the coordinates 06°29‘06‖S, 36°09‘25‖W. The Agreste region comprises a
transitional area between the ―Zona da Mata‖ and ―Sertão‖ (Rizzini 1979), which flat areas and elevated surfaces of
the eastern portion of the Borborema Plateau (Pereira et al. 2002). Lourenço & Barbosa (2003) argue that the physi- 204 • Phytotaxa 270 (3) © 2016 Magnolia Press SOUSA & VERSIEUX
96
cal differences found in this environment are reflected in the floristic composition of the remaining caatinga
fragments.
The municipality has a mean altitude of 667 m.a.s.l. (Mascarenhas et al. 2005) and according to Köppen‘s
classification (1948), the climate type is hot and semi-arid (BSh). Cuité has two distinct seasons, a rainy season from
February to June and a pronounced dry season between July and January. The vegetation type in Cuité varies from
low and sparse shrub to trees, growing in sandy, rocky or sandy-stony soils (Velloso et al. 2002).
Justicia thunbergioides was observed in ‗Horto Florestal Olho d‘Água da Bica‘, in stony soil and sunny open
habitat, in scrub vegetation. This 75 hectare area belongs to the Federal University of Campina Grande and the
‗Horto Florestal Olho d‘Água da Bica‘ is located in the southern side of the hillside of Cuité Plateau (Sousa et al.
2014). This specimen was photographed in the field (Figure 2 A‒F), then collected and deposited in Herbaria of the
Federal University of Rio Grande do Norte (UFRN) and Herbarium of the Federal University of Paraíba (EAN). The
species was identified following descriptions and keys published by Wasshausen & Wood (2004) and Côrtes &
Rapini (2013). In addition, comparisons with other specimens deposited in herbarium MOSS and UFRN were
performed.
Figure 2. Justicia thunbergioides (Lindau) Leonard. A. Flower; B. Fruit; C. Habit; D.–F. Floral visitors (Photoed by V.F. de Sousa in
August, 2015).
Taxonomy
Justicia thunbergioides (Lindau) Leonard (1959: 10). Basionym: Beloperone thunbergioides Lindau (1905: 372).
TYPE:—Brazil. Mato Grosso, Malme 3026 (holotype B, destroyed, F photo 8949; isotype S). Notes on Justicia Phytotaxa 270 (3) © 2016 Magnolia Press • 205
97
Synonym: Justicia allocota Leonard (1959: 7). Type:—Brazil. Rio de Janeiro, forested area near Ribeirão Cristalino, 34 km east of
Formoso, E. Yale Dawson 15023 (R, isotype US!).
Subshrub, 0.8–2 m tall. Stems ascending, branches subtetragonal, puberulous to sparsely hairy, trichomes simple.
Leaves chartaceous, petiolate; petioles 2‒5 mm long, hairy; leaf blade ovate, 1.5‒4.5 × 0.7‒2 cm, base attenuate,
apex acute to attenuate, margins entire, with simple trichomes. Flowers 1‒2, axillary or terminal, sessile to
subsessile; bracts 12‒15 × 1‒1.5 mm, lanceolate, green, leaf-like, minutely tomentose; bracteoles 6‒12 × 1‒1.3 mm,
lanceolate, puberulous; calyx ca. 1.5 cm long, 5-lobed, lobes ca. 1 cm long, lanceolate, puberulous. Corolla 2.5‒3 cm
long, 2-lipped, lilac, tube subcylindrical for 1.5‒2.0 cm long, 3‒5 mm in diam., upper lip ca. 1‒1.3 cm long, shortly
bilobed, lower lip 1.2‒1.5 cm long, 3-lobed, lobes oblong. Stamens 2, exserted, filaments ca. 6 mm long, anthers ca.
3.5 mm long, thecae oblique. Ovary ca. 2 mm long, oblong, glabrous; style ca. 2.5 mm long. Capsule 1‒1.2 mm
long, oblong, glabrous. Seeds 4, suborbicular, smooth. Specimens examined:—BRAZIL. Paraíba: Cuité, Sítio Olho d‘Água da Bica, 20 August 2015, V.F. de Sousa 61
(UFRN, EAN); same locality, 18 August 2015, V.F. de Sousa 91 (UFRN, EAN).
Discussion
Justicia thunbergioides is characterized by having 1‒2 flowers axillary or terminal, the lanceolate bracts, lilac corolla with
light-colored markings on lower lip, white and exserted stamens, white and oblique anther thecae and the glabrous
capsules. The following key is provided for the native species of Justicia in Paraiba, Northeastern Brazil:
1. Subshrubs, erect to suberect, 0.8‒1.8 m tall ........................................................................................................................ 2 - Herbs, 0.2‒0.6 m tall ....................................................................................................................................................... 3 2. Flowers 1–2, axillary or terminal; blades ovate, apex acute to attenuate; bracts lanceolate; corolla lilac ............. J. thunbergioides -. Inflorescence of dense, terminal or axillary, pedunculate spikes; blades ovate-lanceolate, apex acute to acuminate, bracts ovate;
corolla red ..................................................................................................................................................... J. aequilabris 3. Blades narrowly lanceolate; corolla purple with light-colored on lower lip; seeds tuberculate ................................ J. laevilinguis - Blades ovate to lanceolate; corolla purplish white; seeds papillose............................................................................ J. comata
Justicia thunbergioides occurs in Argentina, Paraguay, Bolivia and Brazil (Wasshausen & Wood 2004). It was
originally described by Lindau (1905) as Beloperone thunbergioides based on the specimens collected from the state
of Mato Grosso. Currently, it is reported from the states of Alagoas, Bahia, Pernambuco, Distrito Federal, Goiás,
Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais and São Paulo (Profice et al. 2015). It is now recorded from the
Paraíba state, northeastern Brazil for the first time. It grows preferentially in dry forests at low altitudes in areas of
limestone outcrops (Wasshausen & Wood 2004), and was observed to be blooming in summer to autumn and
fruiting from the late autumn and in winter (Côrtes & Rapini 2013). In the municipality of Cuité, Justicia thunbergioides grows in dense clumps in open but shaded areas, under
scrub vegetation and on stony soil. The flower anthesis occurs between 06:30 AM and 04:00 PM, period in which
the corolla lobes are fully recurved. Its flowers are visited often by butterflies and wasps (Figure 2 D‒F). Flowering
and fruiting occurs from February to August during the rainy season. The fruit is dry and the seeds are directly
dispersed from the mother plant (autochory). In Justicia thunbergioides, the lilac color with white nectar guides on the lower lip contrasts with the green of
the leaves producing an ornamental effect, and it may be used in native plant gardens. Its use should be encouraged
since it is also a resource to the local fauna. The collection of J. thunbergioides from Cuité municipality represents
the first record of this species for the state of Paraíba, extending its distribution approximately 140 km south of
Equador municipality, in Rio Grande do Norte state. Currently, there is no record of a threatening situation for the
species or direct evidence of population decline. Lourenço & Barbosa (2003) assert that few floristic studies were carried out in the Agreste region, in Paraíba
state. Probably, this species has been overlooked due to the scarcity of floristic studies so far carried out in this
region. Although not mentioned in Brazilian Plants Checklist (Profice et al. 2015), Justicia aequilabris is another
species found in caatinga areas in the state of Paraíba, growing in moist and shady environments on the slopes,
inside the forests with records previously documented in the literature (Pontes & Agra 2001, Agra et al. 2004, Sales-
Rodrigues et al. 2014). This first record of J. thunbergioides for the state of Paraíba helps to increase the knowledge about the biogeography
206 • Phytotaxa 270 (3) © 2016 Magnolia Press SOUSA & VERSIEUX
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of this species and to update the data on the Flora of Paraíba as well as to increase the native Acanthaceae taxa with
ornamental potential available for landscape designers in this dry biome to five (Versieux et al. in press).
Conclusion
There are few floristic studies on the Agreste region, a transition area between the ―Zona da Mata‖ and ―Sertão‖ in
Paraíba state. The new finding of Justicia thunbergioides in the municipality of Cuité, Paraiba, reinforces the need
for floristic surveys in this transitional area. In addition, it increases options for landscape designers to use caatinga
native and locally adapted species in dry areas gardens.
Acknowledgments
We are grateful to Federal University of Campina Grande, Campus Cuité, for making available the dependences of
Botany Laboratory to perform this work as well as the Herbarium UFRN. The first author thanks the Programa de
Pós-Graduação em Ciências Florestais for his master‘s graduate program. The first author has a CNPq/Reflora
fellowship. LMV thanks CNPq for his productivity grant. We thank Rob and Barbara Murray for their careful
proofreading of this text and editor and reviewers for their much valuable comments.
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Notes on Justicia Phytotaxa 270 (3) © 2016 Magnolia Press • 2
101
CONSIDERAÇÕES FINAIS DA DISSERTAÇÃO
Esta dissertação avançou o conhecimento florístico de uma área de restinga dentro da APA
Bonfim-Guaraíra, RN, revelando não apenas a diversidade local, com novas ocorrências, mas
também aspectos importantes para a conservação e valorização dos recursos vegetais.
As áreas amostradas, dominadas por restinga arbustiva, indicaram uma dominância de espécies
de ambientes abertos, como Poales, e o número de espécies encontradas (168), que quase se
aproxima de 10% de toda a Flora citada para o RN, revelando a importância da área e a
necessidade de se repetir estudos desse tipo em outras UC‟s estaduais.
A falta de registros botânicos e de conhecimento básico sobre a composição de espécies limita
estudos de cunho fitogeográfico. Neste trabalho conseguiu-se avançar no conhecimento da flora
das restingas como um todo, ao se analisar as províncias biogeográficas e atributos ecológicos,
e se observar que a maior parte das espécies amostradas é de ampla distribuição.
Além de novos registros, observou-se em campo que algumas das áreas amostradas sofrem com
desmatamento e queda da qualidade ambiental, o que exigirá das autoridades competentes
maior vigilância da APA.
Ficou evidenciado o potencial e que deve ser incentivado o emprego de espécies de plantas
nativas de restinga no paisagismo. Novos estudos envolvendo a produção de mudas de plantas
adaptadas ao ambiente costeiro podem ter impacto muito positivo, tanto nos aspectos bióticos
como para economia e conservação, almejando-se o paisagismo sustentável e a recuperação de
áreas degradadas, como as margens das lagoas desse aquífero.
Conforme demonstrado no Cap. 3, o bioma da caatinga também apresenta espécies de elevado
potencial ornamental e que podem ser empregadas em jardins. Integrar o conhecimento da
biologia/botânica à exploração sustentável pode ser um caminho para a conservação de plantas
no Brasil.