Unnamed CCI EPS

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Padeiro de São Gonçalo ensina produção do pão à população carente de Moçambique B Um dos alimentos mais po- pulares do mundo, o pão — que ganhou uma data só sua, instituída pela União Internacional de Padeiros, celebrada hoje —, mesmo sendo peça-chave da ali- mentação diária em muitos países, pode ser um luxo em mesas mais pobres. Pensan- do nisso, o padeiro Alex Du- arte, de 45 anos, morador de São Gonçalo, Região Metro- politana do Rio, criou o pro- jeto social “Pães para todos”, realizado em áreas pobres da cidade de Quelimane, em Moçambique, África. — Meu tio já realizava tra- balhos voluntários por lá. Em 2017, senti o desejo de parti- cipar. Trabalhava com tecno- logia da informação e fazia pães como hobby. Foi aí que nasceu o desejo de levar os pães para a África, de ensinar jovens da aldeia a arte de fa- zer pães — explica Alex, que viaja uma vez por ano para o país e sonha ver o projeto em áreas carentes do Rio: — Ho- je a proposta consiste em ape- nas uma pessoa, que sou eu. Recebo muitos elogios e qua- se nenhuma ajuda. Mas já es- tamos com o Instituto Água Viva no sertão nordestino. Para concretizar o projeto, Alex começou uma campa- nha com familiares e amigos para levantar os R$ 20 mil necessários para o pontapé inicial. A ideia era produzir a maior quantidade possível de massa nos sete dias que ele permaneceria na cidade, para que depois os morado- res fossem assando o alimen- to nos fornos construídos com vasos de barro, pedra e carvão. Mas um fator o fez mudar os planos: a fome. — Uma massa acabou fi- cando de lado, no primeiro dia de curso. Um dos alunos, usando uma folha de bana- neira, pegou aquela massa e comeu crua. Percebi que terí- amos que assar todas as mas- sas produzidas. Eu estava li- dando com algo que eu não conhecia, a fome! Foi então que começamos a assar os pães sob as brasas do carvão. Os pães são feitos com fa- rinha, leite de coco natural, fermento biológico seco, sal, manteiga e bagaço do coco. A intenção é valorizar e usar os produtos locais e a mão de obra da região. Alex hoje envia, mensal- mente, recursos para manter a produção de pães e alimen- tar 90 crianças órfãs, 48 viú- vas e 15 idosos. Ele conta que, antes dos pães, o ali- mento principal era uma mistura de farinha de mandi- oca e água quente. O padei- ro, que ministra workshops no Brasil, afirma também que os moçambicanos res- ponsáveis por conduzir a pa- daria na África são estimula- dos a produzir mais fornadas para que o excedente possa ser vendido em Quelimane. — É preciso ensinar a pes- car, dar a vara, como é dito por aí. Nada acontece por acaso. Este amor que sinto pe- la panificação, pelos pães com fermentação natural, não brotou em meu coração à toa. Nasceu para um propósi- to, com um objetivo maior, de alimentar vidas em outro continente. De alimentar es- perança de dias melhores. Diego Amorim [email protected] O padeiro Alex e a multiplicação dos pães pela África REPRODUÇÕES DO INSTAGRAM Quarta-feira, 16 de outubro de 2019 extra.globo.com CIDADE 3 B Nas padarias do Rio, o Dia Mundial do Pão será celebrado desde o café da manhã. Na Pa- daria Milu, na Tijuca, Zona Norte carioca, a expectativa é vender pe- lo menos os 3,5 mil pãezi- nhos diários. Há 60 anos na esquina das ruas Had- dock Lobo e Matoso, o co- mércio é tradicional na re- gião. O aposentado Alge- mir Albernaz, de 65 anos, não dispensa o desjejum com café preto e pão quen- tinho com manteiga. — Como pão todos os di- as. É tradição, não posso deixar essa rotina de lado. Sempre peço o francês, que agrada a todo mundo — diz. Padaria que foi cenário do filme “Minha mãe é uma peça”, a Beira Mar, em Ica- raí, é frequentada até por quem não mora na cidade. A professora Carla Santos, de 34 anos, toma café com as filhas lá pelo menos duas vezes por mês: — Tem pão para todos os gostos, desde o tradicional até os mais elaborados, com queijo gorgonzola e nozes. A gente fica até sem saber o que comer. Pão é sempre uma delícia, né? Pensando na qualidade dos produtos e na varieda- de do cardápio, a direção da Beira Mar decidiu ino- var e incluiu uma linha de pães feita com uma farinha especial vinda da França. São 15 dias no mar, entre os portos de Leavre e Itajaí, em Santa Catarina, mais cinco dias de rodovia até chegar ao Rio de Janeiro. Aqui, ela dá origem a folhe- ados, pães de fermentação natural (fermento levain) e outras delícias. — Prezamos muito pela qualidade. Buscamos ino- var vendo o que está sendo lançado no mercado inter- nacional. O atendimento é nossa prioridade. Criamos pães com recheios dife- rentes, como o de calabre- sa com provolone, e temos um pão a base de batata doce, com 50% da receita composta pelo tubérculo — diz Maria Célia, respon- sável pelo estabelecimen- to, que busca inspirações em viagens pelo mundo. s t No Rio, todo dia é de ‘comemorar’ << Esse amor pelos pães nasceu com o objetivo de alimentar esperança de dias melhores>> Alex Duarte padeiro B HOJE É O DIA DO PÃO 500g de farinha forte 375g de água filtrada ou mineral 30g de cacau em pó (100% cacau) 125g de levain (fermento natural ativado) 75g de gotas de chocolate belga 75g de cranberry (frutas secas) 12g de sal 1 kg de farinha de trigo 650g de leite de coco natural (fresco) 10g de fermento biológico seco 20g de erva doce 150g de bagaço do coco (opcional) 30g de manteiga 20g de sal Misturar a farinha e o cacau, depois toda a água. Deixar descansar por uma hora (autólise). Depois colocar todo o levain (fermento natural ativado). Após a mistura, colocar o sal e incluir as gotas de chocolate e o cranberry. Deixar descansar por 30 minutos. Observar a temperatura da massa em 26°C. Fazer quatro dobras de 30 em 30 minutos, modelar e levar para a geladeira até o ponto ideal para assar. Deixe esfriar! Essa etapa é fundamental para apurar os aromas, sabores e a textura do pão. Misturar o leite de coco com a farinha. Depois, acrescente o fermento biológico, a erva doce e o sal. Após aproximadamente dez minutos de mistura (sova), acrescentar o bagaço do coco (opcional), em seguida a manteiga. Misturar até agregar toda a manteiga. Fazer uma bola com a massa. Deixar descansar por uma hora coberta com um plástico. Observar a temperatura da massa em 26°C. Após o descanso, corte a massa em pedaços de 70g cada. Modele os pães em formato de bola, coloque na forma e deixe fermentar por aproximadamente 1h30min. Após a fermentação final, coloque os pães em um forno pré-aquecido na temperatura de 180°C, por cerca de 20 minutos. Ingredientes Modo de fazer Ingredientes Modo de fazer Pão de cacau e cranberry com fermentação natural Pãozinho da África com leite de coco Alex, de palhaço, o forno para assar pães em Moçambique e o projeto de vento em popa

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Padeiro deSão Gonçaloensinaprodução do pão àpopulaçãocarente deMoçambique

B Um dos alimentos mais po-pulares do mundo, o pão —que ganhou uma data sósua, instituída pela UniãoInternacional de Padeiros,celebrada hoje —, mesmosendo peça-chave da ali-mentação diária em muitospaíses, pode ser um luxo emmesas mais pobres. Pensan-do nisso, o padeiro Alex Du-arte, de 45 anos, morador deSão Gonçalo, Região Metro-politana do Rio, criou o pro-jeto social “Pães para todos”,realizado em áreas pobresda cidade de Quelimane, emMoçambique, África.

— Meu tio já realizava tra-balhos voluntários por lá. Em2017, senti o desejo de parti-cipar. Trabalhava com tecno-logia da informação e faziapães como hobby. Foi aí quenasceu o desejo de levar ospães para a África, de ensinarjovens da aldeia a arte de fa-zer pães — explica Alex, queviaja uma vez por ano para opaís e sonha ver o projeto emáreas carentes do Rio: — Ho-je a proposta consiste em ape-nas uma pessoa, que sou eu.Recebo muitos elogios e qua-se nenhuma ajuda. Mas já es-tamos com o Instituto ÁguaViva no sertão nordestino.

Para concretizar o projeto,Alex começou uma campa-nha com familiares e amigospara levantar os R$ 20 milnecessários para o pontapéinicial. A ideia era produzir amaior quantidade possívelde massa nos sete dias queele permaneceria na cidade,para que depois os morado-res fossem assando o alimen-to nos fornos construídoscom vasos de barro, pedra ecarvão. Mas um fator o fezmudar os planos: a fome.

— Uma massa acabou fi-cando de lado, no primeirodia de curso. Um dos alunos,usando uma folha de bana-neira, pegou aquela massa ecomeu crua. Percebi que terí-amos que assar todas as mas-sas produzidas. Eu estava li-dando com algo que eu nãoconhecia, a fome! Foi entãoque começamos a assar ospães sob as brasas do carvão.

Os pães são feitos com fa-rinha, leite de coco natural,fermento biológico seco,sal, manteiga e bagaço dococo. A intenção é valorizareusar os produtos locais e amão de obra da região.

Alex hoje envia, mensal-mente, recursos para manteraprodução de pães e alimen-tar 90 crianças órfãs, 48 viú-vas e 15 idosos. Ele contaque, antes dos pães, o ali-mento principal era umamistura de farinha de mandi-oca e água quente. O padei-ro, que ministra workshopsno Brasil, afirma tambémque os moçambicanos res-ponsáveis por conduzir a pa-daria na África são estimula-dos a produzir mais fornadaspara que o excedente possaser vendido em Quelimane.

— É preciso ensinar a pes-car, dar a vara, como é ditopor aí. Nada acontece poracaso. Este amor que sinto pe-la panificação, pelos pãescom fermentação natural,não brotou em meu coração àtoa. Nasceu para um propósi-to, com um objetivo maior, dealimentar vidas em outrocontinente. De alimentar es-perança de dias melhores.

Diego [email protected]

O padeiroAlex e amultiplicaçãodos pães pelaÁfrica

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Quarta-feira, 16 de outubro de 2019 extra.globo.com CIDADE ⟨ 3

B Nas padarias do Rio,o Dia Mundial do Pãoserá celebrado desde ocafé da manhã. Na Pa-daria Milu, na Tijuca,Zona Norte carioca, a

expectativa é vender pe-lo menos os 3,5 mil pãezi-

nhos diários. Há 60 anosna esquina das ruas Had-dock Lobo e Matoso, o co-mércio é tradicional na re-gião. O aposentado Alge-mir Albernaz, de 65 anos,não dispensa o desjejumcom café preto e pão quen-tinho com manteiga.

— Como pão todos os di-as. É tradição, não possodeixar essa rotina de lado.Sempre peço o francês, queagrada a todo mundo — diz.

Padaria que foi cenáriodo filme “Minha mãe é umapeça”, a Beira Mar, em Ica-raí, é frequentada até porquem não mora na cidade.A professora Carla Santos,de 34 anos, toma café comas filhas lá pelo menos duasvezes por mês:

—Tem pão para todos osgostos, desde o tradicionalaté os mais elaborados,com queijo gorgonzola enozes. A gente fica até semsaber o que comer. Pão ésempre uma delícia, né?

Pensando na qualidadedos produtos e na varieda-de do cardápio, a direçãoda Beira Mar decidiu ino-var e incluiu uma linha depães feita com uma farinhaespecial vinda da França.São 15 dias no mar, entreos portos de Leavre e Itajaí,em Santa Catarina, maiscinco dias de rodovia atéchegar ao Rio de Janeiro.Aqui, ela dá origem a folhe-ados, pães de fermentaçãonatural (fermento levain)e outras delícias.

— Prezamos muito pelaqualidade. Buscamos ino-var vendo o que está sendolançado no mercado inter-nacional. O atendimento énossa prioridade. Criamospães com recheios dife-rentes, como o de calabre-sa com provolone, e temosum pão a base de batatadoce, com 50% da receitacomposta pelo tubérculo— diz Maria Célia, respon-sável pelo estabelecimen-to, que busca inspiraçõesem viagens pelo mundo. s

t

No Rio, tododia é de‘comemorar’

<< Esseamorpelos pãesnasceucom oobjetivodealimentaresperançade diasmelhores>>Alex Duartepadeiro

B HOJE É O DIA DO PÃO

500g de farinha forte375g de água filtrada ou mineral30g de cacau em pó (100% cacau)125g de levain(fermento natural ativado)75g de gotas de chocolate belga75g de cranberry (frutas secas)12g de sal

1 kg de farinha de trigo650g de leite de coconatural (fresco)10g de fermento biológico seco20g de erva doce150g de bagaço do coco (opcional)30g de manteiga20g de sal

Misturar a farinha e o cacau, depois toda a água. Deixar descansar por uma hora (autólise). Depois colocar todo o levain (fermento natural ativado). Após a mistura, colocar o sal e incluir as gotas de chocolate e o cranberry. Deixar descansar por 30 minutos. Observar a temperatura da massa em 26°C. Fazer quatro dobras de 30 em 30 minutos, modelar e levar para a geladeira até o ponto ideal para assar. Deixe esfriar! Essa etapa é fundamental para apurar os aromas, sabores e a textura do pão.

Misturar o leite de coco com a farinha. Depois, acrescente o fermento biológico, a erva doce e o sal. Após aproximadamente dez minutos de mistura (sova), acrescentar o bagaço do coco (opcional), em seguida a manteiga. Misturar até agregar toda a manteiga. Fazer uma bola com a massa. Deixar descansar por uma hora coberta com um plástico. Observar a temperatura da massa em 26°C. Após o descanso, corte a massa em pedaços de 70g cada. Modele os pães em formato de bola, coloque na forma e deixe fermentar por aproximadamente 1h30min. Após a fermentação final, coloque os pães em um forno pré-aquecido na temperatura de 180°C, por cerca de 20 minutos.

Ingredientes Modo de fazer

Ingredientes Modo de fazer

Pão decacau e

cranberry com

fermentação

natural

Pãozinho

da África

com leite

de coco

Alex, de palhaço, o forno para assar pães emMoçambique e o projeto de vento em popa