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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ JUSSARA DE JESUS...
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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
JUSSARA DE JESUS PEREIRA BALDISSERA
UM OLHAR PSICOPEDAGOGICO SOBRE A CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO ATRAVÉS DA TECNOLOGIA
CURITIBA
2014
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Jussara de Jesus Pereira Baldissera
UM OLHAR PSICOPEDAGOGICO SOBRE A CONSTRUÇÃO DO
CONHECIMENTO ATRAVÉS DA TECNOLOGIA
Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado ao Curso de Pós Graduação em Psicopedagogia da Faculdade de Ciências Humanas e Letras da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção de Especialização em Psicopedagogia. Orientação: Laura Bianca Monti e Jurândi Serra Freitas.
CURITIBA 2014
3
AGRADECIMENTOS
Este trabalho tem como fonte de inspiração as experiências e inquietações
acumuladas em uma longa trajetória como educanda, mãe e educadora.
Inquietações e paixões deram origem ao tema: a construção do conhecimento e a
tecnologia. Contudo, posso afirmar que o mesmo não seria possível sem a
compreensão, incentivo, colaboração e apoio dos que me acompanharam ao longo
de vários anos e que instigaram em mim esse desejo de busca por novos caminhos
teóricos e práticos para compreender de forma mais clara a construção do
conhecimento e a tecnologia.
Meus agradecimentos iniciais é a Faculdade de Ciências Humanas e Letras
da Universidade Tuiuti do Paraná, Instituição de Ensino que me acolheu, a todos os
professores, coordenadores do curso de Pós Graduação em Psicopedagogia, que
fizeram parte da minha formação e de alguma forma contribuíram para a realização
deste trabalho.
Aos colegas de curso pela rica troca de saberes e companheirismo
vivenciado durante o decorrer deste percurso.
A toda minha família, filhos em especial ao meu marido Fabiano Nunes
Baldissera, que se dedicou muito para que eu pudesse concluir mais essa etapa da
vida, que sempre tem e terá presença marcante no meu caminhar.
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A verdadeira viagem da descoberta não
consiste em procurar novas paisagens,
mas em possuir novos olhos.
Marcel Proust
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SUMÁRIO
01. INTRODUÇÃO................................................................................................08
02. EDUCAÇÃO NA ERA INFORMÁTICA................. ..........................................09
03. OBJETIVOS PARA A EDUCAÇÃO COM A APLICAÇÃO DE MEIOS
TECNOLOGICOS................................................................................................... 15
04. EDUCAÇÃO E SUAS TECNO-POSSIBILIDADES........ .................................20
04.1. APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA NO CONTEXTO PSICOPEDA GOGICO....26
05. CONSIDERAÇÕES FINAIS........................ ......................................................29
06. REFERÊNCIAS.................................................................................................33
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LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Mapa conceitual
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RESUMO
Diante da evolução da sociedade e da incessante mudança de paradigmas,
o agir pedagógico deve ser redimensionado, integrar novas práticas na construção
do processo ensino aprendizagem, levando em consideração a atualidade e o meio
em que o educando esta inserido, respeitando seus direitos, interação social,
cognitiva, epistemológica, colocando a práxis de fato o tema educação e a
modernidade. Ressaltando e valorizando o devir humano que também é
proporcionado através das interfaces digitais dentro da educação, contribuindo para
a democratização da construção do conhecimento mediado por diferentes
tecnologias as quais influenciam diretamente as relações entre educandos e
educadores, transformando-os efetivamente em pesquisadores do seu
conhecimento, transformando a educação em uma pratica concomitante de
estimulação da produção individual e coletiva.
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INTRODUÇÃO
O presente trabalho partiu da necessidade de se discutir as metodologias
para o ensino com o uso da tecnologia.
Por ser mãe e acompanhar o desenvolvimento do ensino durante todo o
ciclo de Educação Básica de meus filhos e perceber a carência de uma metodologia
adequada para a apreensão dos conteúdos através da tecnologia.
Outro fator importante é o papel da escola na formação e transformação do
cidadão, e a relação direta que ela tem com a inclusão social desse mesmo sujeito,
num mundo cada vez mais tecnológico e globalizado, colocando-a como um dos
fatores que definem o grau de alienação dos indivíduos.
Concomitantemente, devemos lembrar que as leis (LDBs) norteadoras da
Educação Básica no Brasil, especialmente as referentes ao Ensino Médio, prevêem,
desde 1996 a inclusão do ensino tecnológico, ressaltando que aos alunos do Ensino
Médio deverá ser possibilitado o “domínio dos princípios científicos e tecnológicos
que prescinde a produção moderna, conhecimento das formas contemporâneas de
linguagem”, (LEI Nº 09394/96; SEÇÃO IV; ARTIGO 036; 1º, I e II. pg. 313).
Portanto acreditando e tendo como base a Pedagogia Histórico Critica dos
Conteúdos formulado por Demerval Saviani; a questão precípua é: qual a relevância
da utilização dos meios tecnológicos na escola e como se dá a articulação entre
teorias e leis sobre o uso e benefícios desta tecnologia?
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EDUCAÇÃO NA ERA INFORMÁTICA
Figura 1
A sociedade atual traz a trama da informação como instrumento que inclui,
exclui e modifica as relações sociais, construindo sentidos e identidades de grupos.
A educação tem, entre suas tarefas, auxiliar os indivíduos a ampliar o seu
grau de autonomia social, moral e intelectual. Autonomia implica em respeito mútuo
e cooperação; em exercitar a escolha, a opção, o que inclui a informação, a escolha
dela e sua fonte.
Como compreender as linguagens das novas gerações e integrá-las ao
ensino?
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Não há como negar a importância das evoluções (transformação)1 na nossa
sociedade. Estamos, sim, na era do computador das mídias informáticas; essas
interfaces fazem parte da atualidade. No entanto, não se quer negar com isso o que
foi de relevante até agora no ensino, mas, ressaltar a capacidade de aprender, de
conhecer a si mesmo, de procurar ultrapassar e respeitar os próprios limites, como
aceitar e respeitar o limite do outro; vindo assim o ensino da tecnologia mostrar ao
sujeito que não se deve jogar fora o que foi importante, mas analisá-lo sob os
refletores da modernidade, resgatando-o e integrando-o aos conhecimentos novos.
O conhecimento é uma condição necessária para a estabilidade humana, a proteção
do meio ambiente e a paz.
O novo não pode ser negado, nem ser acolhido aleatoriamente apenas
porque, é o novo.
Somos cada vez mais pessoas que tem acesso à tecnologia2 uma sociedade
de consumo, ávida não só por ter, como carente por saber.
Num certo sentido, o argumento de que as coisas estão mudando é
obviamente verdadeiro: a tecnologia está fadada a afetar outros aspectos
da sociedade. Mas isso é completamente diferente de dizer que a
tecnologia está fornecendo a base de uma sociedade totalmente nova, ou
que passará a ser o elemento de unificação no seio da nova civilização. Os
efeitos das mudanças tecnológicas podem, em lugar disso, ser o
deslocamento, a distinção entre as idéias e a realidade, a confusão e uma
sociedade desarticulada e desunida. (FERKISS, 1976, p. 88).
1 Entre algumas das transformações na história da humanidade, que posemos mencionar as decorrentes, da agricultura, da linguagem oral e escrita, da invenção da imprensa, da revolução industrial etc. 2 Ao citar o termo tecnologia estou referindo-me as novas linguagens da comunicação e da informação.
11
Desde o final da década de mil novecentos e sessenta, Seymour Papert3,
um dos maiores visionários do uso da tecnologia na educação, defendeu a ideia de
que toda criança deveria ter um computador na sala de aula; essa ideia, na época
parecia loucura porque computadores pessoais não eram comuns. Atualmente, a
maioria das escolas tem, no mínimo, um laboratório com computadores, mas seu
uso ainda é de suporte para formas e currículos. (PAPERT, 1994).
Papert fundamentou-se no processo construtivista de Jean Piaget4, teórico
da educação com o qual trabalhou durante quatro anos, ressaltando a importância
de se educar a partir do novo, formar um cidadão que soubesse como lidar com
desafios que fosse capaz de enfrentar um problema inesperado para o qual não há
uma explicação preestabelecida.
Outro aspecto relevante nos estudos de Papert foi a ênfase na necessidade
de aquisição das habilidades necessárias para participar da construção do novo ou
então nos resignarmos a uma vida de dependência. A verdadeira habilidade
competitiva é a habilidade de aprender. E que não devemos aprender a dar
respostas certas ou erradas, temos de aprender a solucionar problemas.
Neste sentido, Paulo Freire em harmonia com as idéias de Papert nos
esclarece:
Mais uma vez os homens, desafiados pela dramaticidade da hora atual, se
propõem a si mesmos como problema. Descobrem que pouco sabe de si,
de seu “posto no cosmos”, e se inquietam por saber mais. Estará, aliás, no
reconhecimento do seu pouco saber de si uma das razões desta procura.
Ao se instalarem na quase, senão trágica descoberta do seu pouco saber
de si, se faz problema a eles mesmos. Indagam. Respondem, e suas
3(Seymour Papert) matemático, Ph.D, diretor do grupo de Epistemologia e Aprendizado do Massachusetts Institute of Technology (MIT) e um dos fundadores do MIT Media Lab, também trabalha em um programa de educação de jovens infratores em Maine. 4 Jean Piaget, 1896 a 1980, desenvolveu entre outras, a Teoria Cognitiva, a Epistemologia da Evolução e a Psicologia do Desenvolvimento.
12
respostas os levam a novas perguntas. O problema de sua humanização,
apesar de sempre dever haver sido, de um ponto de vista axiológico, o seu
problema central, assume, hoje, caráter de preocupação
iniludível.’(FREIRE, 1967. p. 29)
Partindo desse raciocínio Papert, desenvolveu uma ideia de tecnologia
educacional (programa) que oferece à criança controle sobre a mais poderosa
tecnologia disponível em nossos tempos, a linguagem LOGO5. Essa linguagem foi
desenvolvida para permitir que as crianças programassem a máquina, em vez de
serem programadas por ela. Para ele os educandos são pequenos cientistas que
testam constantemente suas teorias sobre o mundo, sendo, portanto, construtoras
ativas de conhecimento. Pois só se aprende o que não se sabe. É contrário, por
conseguinte a uma educação bancária. Paulo Freire diagnostica esta educação.
Há uma quase enfermidade da narração. A tônica da educação é
preponderantemente esta — narrar, sempre narrar. Falar da realidade como
algo parado, estático, compartimentado e bem-comportado, quando não
falar ou dissertar sobre algo completamente alheio à experiência existencial
dos educandos vem sendo, realmente, a suprema inquietação desta
educação. A sua irrefreada ânsia. Nela, o educador aparece como seu
indiscutível agente, como o seu real sujeito, cuja tarefa indeclinável é
“encher” os educandos dos conteúdos de sua narração. Conteúdos que são
retalhos da realidade desconectados da totalidade em que se engendram e
em cuja visão ganharia significação. A palavra, nestas dissertações, se
esvazia da dimensão concreta que devia ter ou se transforma em palavra
oca, com verbosidade alienada e alienante. Daí que seja mais som que
significação e, assim, melhor seria não, dizê-la.[...] A narração, de que o
educador é o sujeito, conduz os educandos à memorização mecânica do
conteúdo narrado. Mais ainda, a narração os transforma em “vasilhas”, em
5A linguagem LOGO para programar computadores em sala de aula, utiliza uma versão não formalizada de um tipo de Matemática chamada geometria tartaruga. (PAPERT, 1994. pg. 22).
13
recipientes a serem “enchidos” pelo educador. Quanto mais vá “enchendo”
os recipientes com seus “depósitos”, tanto melhor educador será. Quanto
mais se deixem docilmente “encher”, tanto melhores educandos serão.
Desta maneira, a educação se torna um ato de depositar, em que os
educandos são os depositários e o educador o depositante. (FREIRE, 1967.
p. 57).
“A maioria das pessoas, porém está mais interessada no que aprendem do
que em como a aprendizagem ocorre”. (PAPERT, 1994, p. 33)
Cabe então, ao educador fomentar este desejo, este interesse em seus
educandos, contextualizando realmente os conteúdos didáticos com o mundo ao seu
redor, se privilegia então uma educação que utilize a tecnologia como ferramenta
para construir e reconstruir saberes e sentimentos. Papert pensa, assim, a criança
como “pequeno cientista” (PAPERT, 1994, p. 36).
Porém, a falta de domínio desta tecnologia, por parte do professor pode
além de causar desinteresse ainda provocar certa “indisciplina” do educando.
Desencadeando também “questionamentos variados e infundados, opiniões
antagônicas e ilusórias, mistificando as reais possibilidades e limitações deste
instrumento no processo de ensino e aprendizagem”. (HASSE, 1999). No entanto
não é objetivo desta pesquisa analisar a indisciplina ou a formação do professor em
interfases digitais, mas sim a construção do conhecimento através da tecnologia.
Diante da constatação deste fato, a educação em concordância com as leis
que a norteiam, deverá proporcionar ao educando meios de desenvolvimento
durante seu percurso escolar que o capacitem intelectualmente, permitindo a
assimilação destes conhecimentos historicamente acumulados e ainda mediar uma
integração critica das novas linguagens na atualidade.
14
O processo de ensino aprendizagem baseia-se, portanto na elaboração
critica do conhecimento feito pelo próprio educando acerca do mundo que lhe é
apresentado, tendo o professor o papel de mediador, assim como os colegas ou
instrumentos6.
Num contexto atual, indubitavelmente um dos principais instrumentos que se
pode valer à educação, é o da tecnologia.
6 Instrumento no sentido de tudo que é material e está disponível ao educando, exemplo lápis, computador, caderno etc.
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OBJETIVOS PARA A EDUCAÇÃO COM A APLICAÇÃO DE
MEIOS TECNOLOGICOS
Segundo o PCN, o avanço tecnológico impingiu à educação um
redirecionamento de metas: os objetivos hoje vão além dos das décadas de 1960 e
1970, onde o ensino tecnicista era a ordem do dia: mão de obra para a indústria,
formação de pessoas capazes de dominar saberes sobre a utilização de máquinas
responsáveis pela linha de produção industrial o que caracterizava o Ensino Médio
como profissionalizante.
Com o desafio de dar conta de um volume de informação muito maior, à
formação do cidadão é redirecionada à autonomia.
A formação do educando deve ter como alvo principal a aquisição de
conhecimentos básicos, a preparação cientifica e a capacidade de utilizar as
diferentes tecnologias relativas às áreas de atuação. Propõem-se no nível
do Ensino Médio, a formação geral em oposição a formação específica;
desenvolvimento de capacidades, buscar informações, analisá-las e
selecioná-las;a capacidade de aprender, criar, formular, ao invés do simples
exercício de memorização. (PCN. vol. I. p. 6).
Isso implica como citado no PCN vol.I, pg. 14 no rompimento com os
modelos tradicionais da educação. Pensar em uma formação continuada tendo
como norte a construção da cidadania em função da mutação dos processos sociais,
uma aprendizagem permanente, resultando no triplo papel da educação: econômica,
cientifica e cultural; estruturada nos quatro pilares para a educação segundo a
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UNESCO, e incorporando a lei nº 9.394/967 que são: aprender a conhecer, aprender
a fazer, aprender a viver e aprender a ser.
Para tanto o artigo 35 e 36 da mesma lei sobre citada nos incisos IV e I,
recomendam respectivamente:
– a compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada
disciplina. – destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do
significado da ciência, das letras e das artes; o processo histórico de
transformação da sociedade e da cultura. (LEI nº 9.394/96, artigo 35-36).
No artigo 36, parágrafo um ressalta ainda que: Os conteúdos, as
metodologias e as formas de avaliação serão organizados de tal forma que, ao final
do Ensino Médio o educando demonstre: “I – domínio dos princípios científicos e
tecnológicos que precedem a produção moderna; II – conhecimento das formas
contemporâneas de linguagem;” (9394/96 art.36).
Para que possa abraçar em sua totalidade os objetivos e levar do plano
abstrato “ideia” ao real “ação”. Faz-se mister que se expressem de maneira
concreta, apoio por parte do estado com material didático apropriado e sequencias
pedagógicas escolhidas pelo professor, tanto em conteúdos como em atividades,
exercícios e contextualização histórico; sugerindo com isso a intermediação do
professor com seu posicionamento da práxis8, posicionamentos estes que se
referem a todos os processos de construção do fazer e do conhecimento.
7 Que estabelece as bases e diretrizes da educação nacional. 8 Práxis: No marxismo, o conjunto das atividades humanas tendentes a criar as condições indispensáveis à existência da sociedade e, particularmente, à atividade material, à produção prática. (AURÈLIO, 1999, p.1622)
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Aqui a tecnologia pode ser entendida como uma das linguagens a que o
homem utiliza como meio de comunicação “signo9”, além também de ser uma
construção social à qual se realiza e se amplia historicamente, servindo para a
transformação das relações socioeconômicas e culturais. Assim sendo o uso da
máquina “computador” na educação proporciona novas relações de trabalho
pedagógico que através da mediação10 do professor e da própria tela informática,
proporciona então, a melhoria da qualidade social da educação.
O potencial metodológico que os sistemas tecnológicos dispõem, devem ser
entendidos como mediações instrumentais, materializadas no atual momento
histórico.
Sobre a mediação ou intermediação sabemos que:
Desde o nascimento, a criança tem com o mundo uma relação mediada
pelo outro e pela linguagem. O adulto ensina a criança a utilizar os objetos –
ele agita o chocalho diante dela, ajuda-a a pegá-lo, ensina-a a chutar a
bola, a comer com talheres, a tomar banho, a vestir-se, a falar ao telefone.
O adulto aponta, nomeia, destaca, indica os objetos do mundo para a
criança, ao mesmo tempo em que atribui significações aos seus
comportamentos. Quem já viu um adulto lidando com um bebê, sabe que o
adulto fala o tempo todo, dando nomes para objetos, dirigindo a atenção da
criança e interpretando tudo o que ela faz. Aos poucos a criança aprende a
falar e passa a utilizar a própria linguagem para regular suas ações, conferir
9 O signo é comparado por Vygotzky ao instrumento e denominado por ele “instrumento psicológico”. Tudo o que é utilizado pelo homem para representar, evocar ou tornar presente o que esta ausente constitui um signo: a palavra, o desenho os símbolos ( como a bandeira ou o emblema de um time de futebol), etc. Enquanto o instrumento está orientado externamente, ou seja, para a modificação do ambiente, o signo é internamente orientado, modificando o funcionamento psicológico do homem. (CRUZ. 1997. p. 59) 10 Mediação segundo Vigotsky: relação sujeito, objeto e sujeito nas relações sociais e/ou de ensino aprendizagem, em outras palavras: O sujeito agindo sobre o objeto de conhecimento auxiliado por um outro sujeito “sempre”.
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sentido as coisas. [...] Logo para Vygotsky as origens e as explicações do
funcionamento psicológico do homem devem ser buscadas nas interações
sociais. É aí que o individuo tem acesso aos instrumentos e aos sistemas
de signos que possibilitam o desenvolvimento de formas culturais de
atividade e permitem estruturar a realidade e o próprio pensamento. (CRUZ,
1997, p. 60-61).
Então, nesse sentido a tela informática, “É um instrumento de mediação na
medida em que possibilita o estabelecimento de novas relações para a construção
do conhecimento e novas formas de atividade mental”. (PCN, 1998).
A educação pode e deve oferecer os caminhos para que o mundo se abra à
leitura de um sujeito; para tanto, necessita apresentar-se de modo instigador, e não
dogmático.
O uso do computador vai possibilitar e integrar a produção de conhecimento
no espaço e no tempo. O meio informático possibilita diferentes formas de
comunicação, produzindo ou recebendo informações. Ele, mais que simplesmente
criar com efeitos especiais, vai permitir criar ambientes de aprendizagem
significativa, que farão surgir novas formas de pensar e aprender, gerando
consequentemente maior grau de autonomia. O discente com esta ação pedagógica
diferenciada, modificada tem a oportunidade de tomar iniciativas, de resolver
problemas, corrigir erros e criar soluções.
Servindo para enriquecer o ambiente educacional, propiciando a construção
de conhecimentos por meio de uma atuação ativa, crítica e criativa por parte do
educando e educador.
19
Agindo assim, como superação das práticas meramente expressivas, em
favor de uma abordagem que engendra a apropriação, a construção e a
reconstrução deste conhecimento.
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A EDUCAÇÃO E SUAS TECNO-POSSIBILIDADES
Na contemporaneidade a tecnologia atua como canal informativo e
apreciativo de alta rotatividade no ciberespaço11, canal este que a educação não
poderia deixar de usar.
Quando ouvimos a expressão ‘tecnologias da informação’, costumamos
pensar nas máquinas e meios que processam as mensagens produzidas
pelos homens, veiculando um conteúdo imaterial – textos, imagens e sons;
nesse caso, a informação é então entendida em seu sentido jornalístico,
como esse dado da realidade que, uma vez trabalhado pela linguagem
humana, torna-se o componente das mensagens capaz de estruturar a
comunicação entre emissor e receptor e manifestar a originalidade da troca
simbólica que se estabelece. Mais ainda: quando se fala em tecnologias da
informação, costumamos pensar na mídia, isto é, no sistema de produção
industrial de informações. Entretanto, é preciso deixar claro, desde já, que a
mídia, tal como existe hoje, é apenas um segmento, ainda que relevante, da
virada cibernética; esta implica em muito mais do que o simples uso dos
meios eletrônicos para transmitir informações. (Santos. 2001).
“O professor e o educando precisam tornar-se proficiente no uso desses
recursos disponíveis.” (Mattar e Valente, 2007, p.89).
A principal função da educação é gerar motivações que contemplem os
desejos e anseios do ser humano. Capacitar o “eu” a identificar-se com a vida dos
outros, incorpora a si aquilo que não é, mas que tem possibilidade de ser, mostra
instrumentos para a transformação, além de aflorar o devir humano.
11 O que forma o Ciberespaço para Duarte é a trama informacional construída pelo entrelaçamento de meios de telecomunicação e informática, tanto digitais como analógicos, em escala global ou regional, como telefones convencionais, telefones celulares, rádio, televisão; infraestrutura de cabos de cobre, fibras óticas, ondas de rádio ou satélite, organizado em redes locais, globais, tendo seus terminais de comunicação ou suas informações gerenciadas por computadores.
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O devir humano é o que leva a pessoa a sair da estagnação, do patamar
evolutivo onde se encontra, está relacionado à ideia de evolução conquistada, é a
possibilidade de ser. Permite que a identidade realize a sua humanidade de maneira
mais plena; o devir humano também é devir consciência e, consequentemente, devir
evolução.
Por isso, o uso destas interfaces geradas e aprimoradas com potencial de
interatividade tem sido de grande significado para aprendizagem e construção do
que chamamos de inteligência coletiva12.
Na fala do pensador francês Pierre Lévy13, a criação coletiva de idéias se da
de forma mais plena e facilitada através das interfaces tecnológicas.
Considero que, através da cooperação intelectual a criação coletiva de
idéias se dá fundamentalmente pela internet e mais particularmente pelo
ciberespaço. A conexão cada vez mais ativa entre os indivíduos
verdadeiramente colabora para ações coletivas. Os debates de matérias
relevantes para a sociedade encontram o seu apogeu na facilidade de
comunicação, através dos meios eletrônicos e da mídia. A internet traz em
si a potencialidade para a conexão do pensamento humano e a cibercultura
tem evidenciado a competência que o homem tem de reconstruir sua idéia
de mundo, de incluir e interagir com o seu igual em um novo cenário de
relacionamentos, buscando um necessário diálogo para a sua vivência.
O alicerce para a disposição desse novo cenário já está disponibilizado
12 De acordo com Pierre Lévy, “a inteligência coletiva desenvolve-se à medida que a linguagem evolui”. Com a divulgação das ideias através dos discursos e da escrita houve a disseminação do conhecimento. A inteligência coletiva pode ser dividida em inteligência técnica, conceitual e emocional. A inteligência técnica se realiza através do mundo concreto e dos objetos, como a engenharia. A inteligência conceitual se relaciona ao conhecimento abstrato e não ocorre sobre a materialidade física, como as artes e a matemática. A inteligência emocional concebe a relação entre os seres humanos, confiança e sinceridade que a envolve, e se vincula ao direito, a ética e a moral. 13 Tido como um dos maiores nomes nos estudos relativos à internet, o professor francês Pierre Lévy esteve no Congresso Internacional de Net-Ativismo, que reuniu pesquisadores do Brasil e do mundo no Teatro Laboratório da ECA; Escola de Comunicação e Artes de São Paulo, para ministrar a palestra ‘A democracia algorítmica’. Com formação em História das Ciências, Sociologia e Filosofia, e com experiência técnica na concepção de sistemas de informação inteligentes, Lévy leciona Hipermídia na Universidade Paris-VIII.
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através dos computadores e da Internet. Com o desenvolvimento de novos
artifícios e novas tecnologias de comunicação à distância cada vez mais,
serão expandidos os conhecimentos e as idéias para a integração
planetária. Os que têm acesso à Internet estão conectados com a
inteligência coletiva. Em um futuro próximo deverá haver a queda das
fronteiras nacionais, estará existindo então um governo planetário, uma
nova forma de democracia mais participativa. Hoje, o uso que fazemos da
memória é completamente diferente, pois a memória, a percepção e o
aprendizado são coletivos. Atualmente, as competências adquiridas por um
indivíduo no começo de sua trajetória profissional serão obsoletas no fim de
sua carreira. Devemos construir novos padrões de ambientes dos
conhecimentos, que são emergentes, abertos, contínuos, de maneira
reorganizada adaptada aos contextos que cada um ocupa em uma escala
individual e evolutiva. A Inteligência Coletiva é uma inteligência distribuída
por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que
resulta em uma mobilização efetiva das competências. (Pierre Lévy).
Lévy também contribui que sobre a relevância das transformações
provocadas pelo avanço das tecnologias digitais, e aponta para uma realidade futura
em que as interações e as ações tidas pelos cidadãos no mundo virtual serão, como
no mundo real, alvo de observação coletiva e fruto de uma estratégia, de uma tática
adotada por cada indivíduo a partir de suas concepções.
O mundo tecnológico virtual nasceu da sociedade, para a sociedade.
Atualmente o espaço desta consciência esta se ampliando de maneira
impressionante isso é notório e é normal que a educação acompanhe essa
evolução, essa nova forma de interação com o saber, esse movimento cultural e
principalmente a transformação do espirito humano, da maneira de estarmos no
mundo, de nos comunicar uns com os outros que esta ligada a todos os
instrumentos da cibercultura.
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No entanto como já me referi anteriormente não se pode negar a forma de
construção de saberes já existente em prol do novo, aqui se defende uma mescla de
meios e a importância de seu uso para educação dentro de seu tempo, da
atualidade, não que seja a forma mais importante à formação a que tem como
principio o uso das interfaces digitais. É certo que não se pode afirmar que é esse o
rumo que a educação teve tomar, de forma alguma, mesmo porque a educação a
aquisição de saberes pode ir para qualquer parte, em qualquer direção; cabe ao
educador explorar novos espaços.
Contudo é preciso compreender que na atualidade uma das direções
interessantes para a educação é aquela que se utiliza desses novos recursos
tecnológicos, a utilização desses novos meios técnicos digitais, numéricos, oferece
certo número de características a essa educação eletrônica, podemos assim
chamar.
Pode-se afirmar que se trata de uma educação de interatividades14. Não se
trata de propor uma nova forma ou uma mensagem particular, mesmo se essa
mensagem é longa e complexa, mas pode propor uma matriz de mensagens, ou
14 O termo interatividade resume de certa forma, tudo o que de diferente é atribuído às novas tecnologias da informação e da comunicação por diferentes autores em função das suas posições teóricas. Na tentativa talvez de justificar o valor heurístico desse termo, vários autores discutem a existência ou não de diferenças semânticas e técnicas entre os termos interatividade e interação. Sem negar as razões plausíveis que os autores podem ter para fazer essa discussão, talvez maiores que as próprias implicações práticas, pode ser que ela não seja tão fundamental, pois, afinal de contas, o valor do termo depende da sua capacidade de sintetizar (uma das funções dos conceitos) as qualidades atribuídas aos novos meios de comunicação, algumas das quais são também reconhecidas como qualidades de outros meios menos novos. Sem especificar essas qualidades corre-se o risco de usar o mesmo termo para designar coisas diferentes a partir de posições teóricas diferentes. Se a interação define, entre outras coisas, a existência de reciprocidade das ações de vários agentes físicos ou biológicos (dentre estes os humanos), a interatividade traduz, mais particularmente, uma qualidade técnica das chamadas máquinas ``inteligentes''; qualidade técnica que investe essas máquinas de um conjunto de propriedades específicas de natureza dinâmica, pois elas se alteram com a própria evolução técnica. (http://www.lite.fae.unicamp.br/sapiens/interatividade.htm)
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uma matriz de formas educacionais virtuais com o qual o educando vai interagir, este
sujeito passa de um expectador, de um leitor, ou ouvinte a um construtor do seu
próprio conhecimento, podemos afirmar que as interfaces digitais têm o poder de
transformar o pesquisador15. Por conta dessa matriz de educação virtual que o
“intereducando” vai explorar, ou atualizar na medida em que interage com ela.
Em principio de forma muito simples. Um simples site da web ou um CD-
ROM é alguma coisa do gênero. Se construirmos um mundo virtual com um tipo de
simulação espaço tridimensional labiríntico teremos então uma forma mais
complexa. Se esse espaço pode ser habitado por um grande número de
“intereducandos” ou personagens que podem construir para a sua construção, a
forma será ainda mais complexa.
Em geral podemos dizer que, ainda que isso não seja uma regra absoluta e
universal frequentemente a educação dentro do ciberespaço é meio que deve ser
explorados. São espaços onde o individuo é levado a emergir. Eis o motivo pelo qual
frequentemente se compara as pessoas que trabalham utilizando esses novos meios
com arquitetos, muito embora elas não construam um espaço físico, mas um espaço
virtual, que pode ser chamado de espaço a medida que pode ser habitado e onde, é
claro, cada uma vai habitar de forma diferente. Ele deixa espaço para o aluno que
não é mais aluno e oferece a oportunidade de construir um conhecimento conjunto.
15 O pesquisador é um homem ou uma mulher com uma inserção social determinada e com uma
experiência de vida e de trabalho que condicionam sua visão do mundo, modelam o ponto de vista a
partir do qual ele ou ela interagem com a realidade. E é esta visão de mundo, esse ponto de vista que
vai determinar a intencionalidade de seus atos, a natureza e a finalidade de sua pesquisa, a escolha
dos instrumentos metodológicos a serem utilizados. (BRANDÃO, 1999).
25
Acredita-se que isso é algo novo, muito embora a educação de outrora possibilitasse
a liberdade de interpretação individual e construção do conhecimento, um texto da
literatura pode ser interpretado de maneira diferente por pessoas diferentes, pois
cada um vive um texto, uma imagem, uma música de forma diferente. Com a
educação nas interfaces digitais, no ciberespaço, não é somente a interpretação que
é deixada aquele que experimenta essa forma de agregação do conhecimento, mas,
sobretudo a sua construção e a manifestação coletiva de construção desses saberes
para a qual ele é levado a participar.
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APLICAÇÃO DA TECNOLOGIA NO CONTEXTO PSICOPEDAGÓGICO
Para a psicopedagogia, é necessário ter presente três instâncias para que a
aprendizagem aconteça: o aprendente, o ensinante e o objeto de conhecimento.
Quando os laços que se estabelecem entre essas instâncias são apropriados,
configura-se a aprendizagem.
Segundo Mantovani e Santos16:
Em nossa concepção, a aprendizagem se dá na trama dialética de interação
com o mundo objetivo e sociocultural, entrelaçada na estruturação da lógica
(estrutura epistêmica) e da dramática (estrutura desejante) do sujeito. São
duas estruturas constituídas no nível de representações e manifestadas por
meio da linguagem. Apesar de estarem intrinsecamente entrelaçadas, pois
ambas definem e são determinantes na geração de nossas ações e
reações, elas não são idênticas. (MANTOVANI e SANTOS. 2011)
Para Fernàndez (1991), o poder de organização logica, vai-se
autoconstruindo e é fator genético, enquanto a significação simbólica acontece no
decorrer da história do próprio sujeito ao que se denomina estrutura desejante.
Portanto, visto isto, o processo de aprendizagem ocorre nas relações estabelecidas
com o outro por meios de laços sócio afetivos.
16 Ana Margô Mantovani. Mestre em Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Psicopedagoga e Docente do Programa de Pós-Graduação - Mestrado em Memória Social e Bens Culturais e Graduação do Centro Universitário La Salle (UNILASALLE), Canoas, RS, Brasil. Bettina Steren dos Santos - Pós-doutorado no College of Education, The University of Texas at Austin, EUA. Doutorado em Psicologia Evolutiva e da Educação - Universidad de Barcelona. Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação e da Faculdade de Educação/ Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), Porto Alegre, RS, Brasil.
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Situamos aqui o contexto de construção de um corpo teórico
psicopedagógico que, usando as diversas áreas do conhecimento, tem o
propósito de compreender o sutil entrelaçamento entre a inteligência e o
desejo do sujeito que "suporta" a aprendizagem. (MANTOVANI e SANTOS.
2011).
Segundo Fernández(1991), para compreender uma dificuldade no processo
de aprendizagem é preciso reconhecer, identificar em que lugar no simbólico está
envolvido o problema, visto que existe uma correlação entre o simbolizado e o
símbolo eleito. Portanto, segundo a autora, a dificuldade de aprendizagem que é o
sintoma está relacionada ao fracasso da simbolização diante da anulação do
desconhecido. Então o entrave ao simbolizar é que provoca a dificuldade ou
“sintoma”. Para a autora compreender a diferença e acabar com a distância entre o
real e o abstrato consiste em ressignificar na ordem do simbólico; conforme
Fernàndez, o caminho da simbolização possibilita engessar a circulação patológica
do processo de aprendizagem, dando acesso assim a uma nova via de reelaboração
da aprendizagem.
Mandovani e Santos pensam da seguinte forma:
Acreditamos que, nos espaços digitais virtuais, a simbolização se insinua a
todo instante. A "navegação" nesses ambientes possibilita um grande
"mergulho" no simbólico e as crianças de hoje, os nativos digitais, já são
testemunhas do revestimento simbólico proporcionado pelo computador e
suas múltiplas interconexões, porque as tecnologias fazem parte do seu
mundo, da sua cultura. Então, não seriam os espaços digitais virtuais
instrumentos ou recursos propícios para investigação e/ou manifestação dos
problemas de aprendizagem?
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Por isso, a importância de utilizarmos o computador e suas múltiplas
conexões, por meio das TDVs, como instrumentos de construção simbólica,
que podem participar desse processo de desvelamento do simbólico e, por
consequência, dos sintomas de aprendizagem. Consideramos importante
utilizar essas tecnologias, enquanto psicopedagogos, para que as crianças,
adolescentes e até mesmo os adultos, estabeleçam novos vínculos e/ou
relações com a aprendizagem. (MANTOVANI e SANTOS. 2011).
Considerando as palavras sobre citadas podemos dizer que o uso das
interfaces digitais vai muito além do instrucionismo ou de uma mera ferramenta mais
atrativa que demanda menos tempo. Quando o profissional da psicopedagogia lança
mão desse recurso midiático ele pode compreender de forma mais clara como se
constrói o entrelaçamento entre a inteligência e o desejo do sujeito que "suporta" a
aprendizagem como citado anteriormente por Mandovani e Santos. Tornando esse
processo mais translucido para o psicopedagogo que poderá observar a
representação da expressão da estrutura mental do sujeito.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
Jorge Visca(2009), afirma que a aprendizagem não é unicamente escolar e
que por este motivo ao se detectar o sintoma se deve investigar todos os objetos e
cenários pertinentes ao processo de ensino aprendizagem, sejam eles humanos ou
não, dentro e fora do ambiente escolar. Para tanto existem várias técnicas17
investigatórias as quais não serão citadas no presente trabalho.
Sob um olhar psicopedagógico, no processo de construção do
conhecimento, os ambientes tecnológicos de aprendizagem têm papel especial na
mediação pedagógica entre o aprendente, o ensinante e o objeto de conhecimento,
que se encontram lado a lado ou muitas vezes separados espacial e temporalmente,
mas unidos por meio de recursos que a tecnologia proporciona. Então se pode
afirmar que a aprendizagem acontece em meio a ambientes tanto físicos como
digitais/virtuais, sendo que o uso dessas interfaces pode potencializar mais
significativamente esse processo.
Porém, interfaces digitais precisam ser direcionadas para o contexto
dinâmico, visando garantir a interatividade, modificando a sensação de educação
bancaria e também minimizando o sentimento de solidão aparente dos educandos
que estudam “sozinhos”, mas que participam virtualmente das redes de conexões da
inteligência coletiva. Nesse sentido, os ambientes virtuais podem estimular os
processos de comunicação síncrona e assíncrona entre os aprendizes, além de
motivar o trabalho cooperativo, a autoria compartilhada, a pesquisa baseada nos
17 Para saber mais consultar: VISCA Jorge. Técnicas projetivas psicopedagógicas e pautas gráficas para sua interpretação. 2ª ed. Buenos Aires:Visca & Visca Editores; 2009. CHAMAT, Leila Sara José. Técnicas de diagnóstico psicopedagógico. São Paulo:Vetor;2004.
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materiais e recursos didáticos disponíveis, visando que os educandos conquistem a
autonomia em seu percurso de aprendizagem. E é por meio de atividades baseadas
na interação e no armazenamento de informações importantes para o
acompanhamento da formação dos educandos que esses recursos tecnológicos
tentam estimular a autonomia dos aprendentes. Permitindo também que o ensinante
reveja suas estratégias didáticas e metodológicas a fim de potencializar, motivar e
até mesmo recriar constantemente e de forma efetiva a aprendizagem de seus
educandos.
Contudo á de se cuidar com seu uso indiscriminado destes meios,
Mandovani e Santos esclarecem:
Em relação aos requisitos pedagógicos, os recursos computacionais
deverão ser didaticamente bem estruturados, explorando a interatividade
proporcionada pelos recursos multimídia, aliados aos ambientes hipermídia,
para instigar o sujeito a: • Desenvolver a capacidade de representação por
meio de palavras (signos verbais) e/ou imagens mentais (símbolos
imagéticos); • Testar diferentes caminhos; • Visualizar conceitos de
diferentes pontos de vista; • Relacionar conceitos, organizar e construir
conhecimentos; • Comprovar e formular novas hipóteses; • Tomar decisões
e resolver problemas; • Aguçar a curiosidade, criatividade e imaginação; •
Trabalhar em equipe promovendo os processos de colaboração e
cooperação; • Promover situações que favoreçam a independência e a
autonomia; • Instigar o desenvolvimento de diversas competências e
habilidades; • Ampliar as possibilidades de interação por meio de atividades
variadas, criativas e com nível de complexidade. (MANTOVANI e SANTOS.
2011).
As autoras ressaltam ainda a importância de ter bem claro seus objetivos
didáticos - pedagógico e clínico ao se utilizar os meios tecnológicos e sobretudo, ter
como enfoque a expressão do pensamento dentro do processo de aprendizagem,
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assegurando que o educando se torne protagonista de sua própria aprendizagem e
se reconhecendo como autores dessa produção de saberes.
Ao educador cabe propiciar essa ferramenta ao educando como mediador.
[...] estimulando a capacidade de concentração e de percepção do
educando. E como mediador entre o educando e o computador, o educador
propicia a construção significativa do conhecimento. É dessa forma que os
softwares educativos favorecem a aprendizagem. (SCATTONE 2004).
Ainda dentro do enfoque psicopedagógico Scattone18 afirma que os
software19 educativos desafiam educandos com dificuldades no aprendizado sem
destruir a confiança e o desejo de aprender, essas tecnologias, segundo a autora
amenizam a má disposição frente ao processo educacional, pois desafia e desperta
a curiosidade do aprendente. Além de permitir um trabalho personalizado para o
educando pois, ao educador é possibilitado adequar o veículo de ensino as
carências e ao ritmo do educando, com isso tem um feedback20 imediato o que
contribui para a organização e comparação das informações e idéias.
Além de colaborar significativamente para a observação de como se dá o
processo de ensino aprendizagem nesse sujeito, indicando em que e onde se faz
necessário a ressignificação neste processo. 18 Cristiane Scattone - Pedagoga, Psicopedagoga Clínica e Mestre em Distúrbios do Desenvolvimento pela Universidade Presbiteriana Mackenzie.
19 Rubem Alves nos fornece uma explicação simplificada e de fácil entendimento sobre computadores; sob seu ponto de vista: O funcionamento dos computadores, como todo mundo sabe, requer a interação de duas partes. Uma delas chama-se hardware, “equipamento duro”, e a outra o software, “equipamento macio”. O hardware é constituído por todas as coisas solidas com que o aparelho é feito. O software é constituído de entidades “espirituais” – símbolos que formam os programas e ficam gravados na memoria do computador. (ALVES. 2012, p.25)
20 No âmbito da Psicologia, o feedback é também descrito como retroação ou devolutiva, uma vertente da comunicação interpessoal que pode servir para minimizar conflitos entre indivíduos.
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Outro beneficio que o uso das interfaces digitais propicia conforme a
psicopedagoga Scattone esta no fato da máquina não causar constrangimento ao
educando ao ser corrigido na ocasião do erro, amenizando os sentimentos negativos
correlatos a correção.
Para concluir é possível afirmar que os erros cometidos pelos educandos
podem interferir no processo de ensino-aprendizagem e que com os
softwares educativos a resistência pela aprendizagem é amenizada mesmo
diante das dificuldades. Este é um recurso apropriado para mediar o acerto
e, por que não, desmistificar a correção. Vale dizer que a interatividade e o
feedback imediato dos programas contribuem para este fator. (SCATTONE
2004).
Ainda a muito que se explorar no sentido da utilização dessas interfaces que
tanto favorecem, estimulam e nos ajudam a compreender o processo de ensino
aprendizagem. Contudo isso é tema para pesquisas futuras. Pois segundo
Freire(1996) “O exercício da curiosidade convoca a imaginação, a intuição,
às emoções, a capacidade de conjecturar e de comparar.”
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