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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C) CURITIBA 2008

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ FACULDADE DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DE SAÚDE

CURSO DE MEDICINA VETERINÁRIA

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO (T.C.C)

CURITIBA 2008

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Andréa Camargo da Silva

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2008

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TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2008

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Andréa Camargo da Silva

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

CURITIBA 2008

Relatório de estagio apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Médico Veterinário. Orientadora Acadêmica: Elza Maria Galvão Ciffoni Orientador Profissional: João Alfredo Kleiner

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Reitor Prof. Luiz Guilherme Rangel Santos Pró-Reitor Administrativo Sr. Carlos Eduardo Rangel Santos Pró-Reitoria Acadêmica Profa. Carmen Luiza da Silva Pró-Reitor de planejamento Sr. Afonso Celso Rangel Santos Pró-Reitoria de Pós Graduação, Pesquisa e Extensão Profa. Elizabeth Tereza Brunini Sbardelini Secretaria Geral Bruno Carneiro da Cunha Diniz Diretor da Faculdade de Ciências Biológicas e de Sa úde Prof. João Henrique Faryniuki Coordenador do Curso de Medicina Veterinária Profa. Ana Laura Angelli

CAMPUS SYDNEI LIMA SANTOS Rua: Sydnei Antonio Rangel Santos, 238 CEP: 820210-330 CURITIBA PARANÁ Fone: (41) 3331-7700

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TERMO DE APROVAÇÃO

Andréa Camargo da Silva

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO – T.C.C

Esta dissertação (Trabalho de conclusão de Curso) foi julgada e aprovada para

a obtenção do título de Médica Veterinária da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 27 de novembro de 2008.

______________________________

Medicina Veterinária

Universidade Tuiuti do Paraná

Profa. Dra.Elza Maria Galvão Ciffoni

UTP – Orientador

Prof. Dr.Ricardo Maia

UTP – Membro

Profa. Dra.Taís Rocha Moreira

UTP - Membro

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À Sonia e Carlos Alfanio

Pela oportunidade, dedicação e apoio

DEDICO

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Agradeço...

A Deus que nos fortalece nos momentos que mais precisamos.

A minha segunda família, que me deu esta grande oportunidade,

principalmente a Sonia e Carlos Alfanio, que apesar das adversidades, sempre

encontrou uma forma de me apoiar e estar presente.

A minha família também, que mesmo não muito perto, estava comigo

Ao meu orientador profissional, Dr. João Alfredo Kleiner e a minha orientadora

acadêmica, professora Elza Maria Galvão Ciffoni, que possibilitaram ampliar

meus horizontes muito mais do que poderia esperar, concluindo o que fui

percebendo durante esses cinco anos, de que o Médico Veterinário é e sempre

será o profissional mais completo que existe.

A todos os outros professores, profissionais e colegas. Por mais que não

saibam desta pequena lembrança, foram grandes alicerces da construção de

minha formação profissional, e que com certeza são exemplos que procurarei

seguir durante minha futura carreira.

A todos os funcionários do HVSB.

Ao meu namorado Diego, pela dedicação e paciência, sempre.

Aos meus queridos amigos

Principalmente aos animais, pela lição de vida e de amor incondicional.

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“De Tudo Ficam Três Coisas: A certeza de estarmos sempre começando...

A certeza de que é preciso continuar... E a certeza de que podemos ser

Interrompidos antes de terminarmos... Portanto... Devemos: Fazer da interrupção um caminho novo...

Da queda um passo de dança... Do medo uma escada... Do sonho uma ponte...

Da procura um encontro...” E assim terá valido a pena existir

Fernando Sabino

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APRESENTAÇÃO

Este trabalho de Conclusão de Curso (T.C.C) apresentado ao curso de

Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da

Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para a obtenção do título

de Médico Veterinário é composto de um Relatório de Estágio, no qual são

descritas as atividades realizadas por Andréa Camargo da Silva na área de

Clínica Médica e Cirúrgica de animais de companhia, sob a orientação

profissional do Dr. João Alfredo Kleiner e orientação acadêmica da professora

Elza Maria Galvão Ciffoni, durante o período de 04/09 a 03/10/2008, no

Hospital Veterinário São Bernardo, cumprindo 360 horas de estágio curricular.

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Andréa Camargo da Silva

RELATÓRIO DE ESTÁGIO

CURITIBA 2008

Relatório de Estágio apresentado ao Curso de Medicina Veterinária da Faculdade de Ciências Biológicas e de Saúde da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do titulo de Médica Veterinária. Professor Orientador : Elza Maria Galvão Ciffoni Orientador Profissional : Dr. João Alfredo Kleiner

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SUMÁRIO

LISTA DE ABREVIATURAS.............................. ......................................

LISTA DE FIGURAS................................ ................................................

LISTA DE TABELAS................................... .............................................

RESUMO..................................................................................................

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................

2 LOCAL DO ESTÁGIO................................. ..........................................

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS......................... ...............................

4 Facoemulsificação para tratamento de Catarata em cão–Relato

de Caso............................................ ........................................................

4.1 Resumo...............................................................................................

4.2 Introdução...........................................................................................

5. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA........................... .....................................

5.1 Anatomia do Globo Ocular..................................................................

5.2 A Catarata...........................................................................................

6 ELETRORETINOGRAFIA............................... .....................................

7 FACOEMULSIFICAÇÃO................................ ......................................

7.1 Seleção dos pacientes........................................................................

7.2 Terapia pré-operatória........................................................................

7.3 Procedimentos da facoemulsificação.................................................

7.4 Capsulorréxis contínua curvilínea (CCC)............................................

7.5 Hidrodissecção...................................................................................

7.6 Irrigação/Aspiração.............................................................................

7.7 Implantação básica da LIO..................................................................

i

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7.8 Fechamento da ferida.........................................................................

7.9 Irrigação e fornecimento de fluidos para a câmara anterior...............

7.10 Danos à córnea durante a facoemulsificação...................................

8 EXTRAÇÃO INTRACAPSULAR......................................... .................

9 EXTRAÇÃO EXTRACAPSULAR........................... ..............................

9.1 Cuidados posteriores..........................................................................

9.2 Prognóstico.........................................................................................

10. RELATO DE CASO................................. ...........................................

10.1 Discussão.........................................................................................

10.2 Conclusão.........................................................................................

11. REFERÊNCIAS..................................................................................

12. Afecções causados pelo coronavírus em gato..... .........................

12.1 Resumo.............................................................................................

12.2 Introdução.........................................................................................

12.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFIC A............................................................

VÍRUS DA IMUNODEFICIÊNCIA FELINA................... ............................

PERITONITE INFECCIOSA FELINA....................... ................................

13 RELATO DE CASO.................................. ..........................................

13.1 Discussão.........................................................................................

13.2Conclusão...........................................................................................

14 REFERÊNCIAS...................................................................................

15 CONCLUSÃO....................................... ..............................................

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LISTA DE ABREVIATURAS

AINE: Antiinflamatório Não Esteroidal

AZT: Zidovudina análogo nucleosídico azidotimidina

bpm: Batimentos por minuto

CCC: Capsulorrexis continua curvilínea

CFMV: Conselho Federal de Medicina Veterinária

DAPP: Dermatite Alérgica a picada de pulga

ELISA: Enzyme Linked Immunono Sorbent Assay

EPis: Equipamentos de proteção individual

ERG: Eletroretinografia

FC: Freqüência Cardíaca

FCoV: Coronavírus Felino

FECV: Coronavírus Entérico Felino

FeLV: Vírus da Leucemia Felina

FIPV: Vírus da Peritonite Infecciosa Felina

FIV: Vírus da Imunodeficiência Felina

FR: Freqüência Respiratória

GGT: Gama-glutamiltransferase

Hct: Hematócrito

HVSB: Hospital Veterinário São Bernardo

IV: Intravenoso

I/A: Irrigação/Aspiração

IFN: Interferon

Kg: Kilograma

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LIO: Lente intra-ocular

MPA: Medicação pré-anestésica

mpm: Movimentos por minutos

OD: Oculus Dexter (olho direito)

OSH: Ovoriosalpingohisterectomia

OU: Oculus Uterque (Ambos os olhos)

PCR: Reação de cadeia polimerase

PIO: Pressão Intra-ocular

PIF: Peritonite Infecciosa Felina

RT-PCR: Reverso da transcrição da reação de cadeia polimerase

SC: Subcutâneo

SRD: Sem raça definida

TGI: Trato gastrointestinal

TPC: Taxa de preenchimento capilar

VO: Via Oral

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 HOSPITAL VETERINARIO SÃO BERNARDO, Curitiba –PR,

out/2008.................................................................................2

FIGURA 02 CONSULTÓRIO A, HVSB, Curitiba – PR,

out/2008.................................................................................3

FIGURA 03 CONSULTÓRIO B, HVSB, Curitiba – PR, out/2008..............3

FIGURA 04 CENTRO CIRURGICO, HVSB, Curitiba – PR, out/2008.......4

FIGURA 05 SALA DE RAIO-X , HVSB, Curitiba – PR, out/2008..............4

FIGURA 06 SALA PARA FLUIDOTERAPIA, HVSB, Curitiba – PR, out/2008.................................................................................5

FIGURA 07 INTERNAMENTO PARA PACIENTES DE PEQUENO PORTE, HVSB, Curitiba – PR out/2008...............................5

FIGURA 08 INTERNAMENTO PARA PACIENTES DE GRANDE PORTE, HVSB Curitiba – PR, out/2008...............................6

FIGURA 09 ESTRUTURAS INTERNAS DO OLHO DO CÃO................14

FIGURA 10 CATARATA INCIPIENTE....................................................15

FIGURA 11 CATARATA IMATURA........................................................16

FIGURA 12 CATARATA MADURA.........................................................16

FIGURA 13 CATARATA HIPERMATURA..............................................17

FIGURA 14 CLASSIFICAÇÃO DA CATARATA DE ACORDO COM SUA

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POSIÇÃO DENTRO DA LENTE.........................................19

FIGURA 15 PACIENTE ANESTESIADO PARA ELETRORETINOGRA-

FIA.......................................................................................23

FIGURA 16 APARELHO PARA FACOEMULSIFICAÇÃO......................24

FIGURA 17 INSTRUMENTOS PARA MICROCIRURGIA......................25

FIGURA 18 INCISÃO COM BISTURI DE SAFIRA DE 3,2 MM..............27

FIGURA 19 CAPSULORRÉXIS..............................................................29

FIGURA 20 FRAGMENTO CIRCULAR DA CÁPSULA ANTERIOR

CORADA.............................................................................29

FIGURA 21 IRRIGAÇÃO e ASPIRAÇÃO...............................................31

FIGURA 22 LENTE INTRA-OCULAR.....................................................33

FIGURA 23 CATARATA MADURA NO OLHO DIREITO........................39

FIGURA 24 POSICIONAMENTO DO PACIENTE PARA FACOE-

MULSIFICAÇÂO E BLOQUEIO PERIBULBAR...................40

FIGURA 25 APLICAÇÃO DE AZUL DE TRIPAN PARA COLORAÇÃO

DA CÁPSULA ANTERIOR DO CRISTALINO.....................41

FIGURA 26 APLICAÇÃO DE VISCOELÁSTICO PARA PROTEÇÃO

ENDOTELIAL......................................................................42

FIGURA 27 PÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM LIO IMPLANTADA....43

FIGURA 28 ASPECTO FINAL DO PROCEDIMENTO APÓS

CORNEORRAFIA.......................................................................43

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CORNEORRAFIA.......................................................................43

FIGURA 29 UVEÍTE DEVIDO A PIF E FIV.............................................52

FIGURA 30 UVEÍTE DEVIDO A PIF E FIV............................................52

FIGURA 31 PRESENÇA DE LÍQUIDO NA CAVIDADE ABDOMINAL...56

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 – PROCEDIMENTOS ACOMPANHADOS NA ÁREA DE CLÍNICA

CIRÚRGICA.........................................................................................................7

TABELA 02 – CIRÚRGIAS DO SISTEMA GENITOURINÁRIO...........................7

TABELA 03 – SISTEMA TEGUMENTAR............................................................8 TABELA 04 – CASOS ACOMPANHADOS NA ÁREA DE OFTALMOLOGIA.....8 TABELA 05 – EXAMES COMPLEMENTARES........................................................9.

TABELA 06 – IMUNIZAÇÕES...........................................................................10

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RESUMO Este relatório tem como objetivo descrever as atividades desenvolvidas,

pela acadêmica Andréa Camargo da Silva, do Curso de Medicina Veterinária

da Universidade Tuiuti do Paraná, no Hospital Veterinário São Bernardo

(HVSB), nas áreas de Clinica Médica e Cirúrgica de pequenos animais, no

período de 04 de agosto a 03 de outubro de 2008 durante a realização do

estágio curricular, no qual se cumpriu 360 horas. As atividades realizadas

incluem acompanhamentos em atendimentos clínicos, auxílio em cirurgias,

procedimentos anestesiológicos, acompanhamentos na ala de internamento.

Esse relatório demonstra a rotina desenvolvida durante o estágio curricular, sob

a orientação profissional do Dr. João Alfredo Kleiner e acadêmica da

professora Elza Maria Galvão Ciffoni, bem como o relato de dois casos de

maior relevância acompanhados neste período.

Palavras chave: Medicina Veterinária, estágio curricular, clínica médica de

pequenos animais

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1 INTRODUÇÃO

O objetivo deste trabalho é relatar as atividades acompanhadas durante

o estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária da aluna Andréa

Camargo da Silva, voltado à área de clínica cirúrgica de pequenos animais. As

áreas de clínica médica, anestesiologia entre outras, que foram

complementares à proposta de estágio, foram abrangidas conforme fosse

necessário.

O estágio foi realizado no Hospital Veterinário São Bernardo, no período

de 04 de agosto a 03 de outubro de 2008. Durante o período foram

acompanhados casos em diversas especialidades como: dermatologia,

ortopedia, odontologia, diagnóstico por imagem e oftalmologia.

A infra-estrutura do HVSB para o atendimento clínico e cirúrgico atende

às necessidades hospitalares. Dispõe de setores de diagnóstico por imagem e

área de internação, canis para animais de pequeno e grande porte.

Neste relatório será apresentada a casuística acompanhada durante o

período de estágio e dois relatos de caso, entre eles a catarata em cães,

incluindo métodos diagnósticos e técnicas para a sua remoção.

O estágio teve como objetivo proporcionar conhecimento prático da

teoria antes vista em sala de aula, e conhecer a rotina de profissionais dentro

de um Hospital Veterinário.

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2 LOCAL DE ESTÁGIO

O HVSB está localizado na Avenida Munhoz da Rocha, 944 – Juvevê –

Curitiba – Paraná (FIGURA 01). O Hospital Veterinário atende animais de

companhia e foi fundado há cerca de 40 anos, sendo um dos primeiros da

cidade.

O atendimento no hospital é realizado de segunda a sábado das 8:00 às

21:00 horas, e conforme a resolução 670/2000 do CFMV, funciona 24 horas, e

em emergências o atendimento é feito pelo plantonista do dia.

Atualmente o corpo clínico é formado pelos veterinários: Dr. André Luiz

Eschholz, Dr. Élgio J. Pressoto, Dr. João Alfredo Kleiner, Dr. João Kleiner Neto,

Dr. Leonardo Stelle, Dr. Luimar C. Kavinski e Dra. Silvana Amália de Abreu

O quadro técnico administrativo é composto por três secretárias, cinco

enfermeiros que auxiliam nas consultas para conter os pacientes, uma diarista

que cuida da parte de limpeza e lavagem das roupas e uma pessoa que auxilia

no centro cirúrgico.

FIGURA 01 - HOSPITAL VETERINÁRIO SÃO BERNARDO, Curitiba – PR,

out/2008

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O hospital dispõe de uma recepção, onde são feitos os cadastros,

marcados exames de rotina e também cirurgias. Possui uma sala de espera,

onde os clientes juntamente com seus animais, aguardam até que sejam

atendidos. São atendidos pacientes com hora marcada e a clínica dispõe de

serviço 24 horas. Para o atendimento da casuística, o hospital dispõe de dois

consultórios (FIGURAS 02, 03) e um centro cirúrgico (FIGURA 04).

FIGURA 02 - CONSULTÓRIO A, HVSB, Curitiba – PR, out/2008

FIGURA 03 – CONSULTÓRIO B, HVSB, Curitiba – PR, out/2008

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FIGURA 04 - CENTRO CIRÚRGICO, HVSB, Curitiba – PR, out/2008

O setor de diagnóstico por imagens dispõe de uma sala de Raio - X

(FIGURA 05) com os EPIs necessários, e uma sala para ultra-som. O hospital

também dispõe de um ambulatório para fluidoterapia (FIGURA 06).

FIGURA 05 – SALA DE RAIO-X, HVSB, Curitiba – PR, out/2008

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FIGURA 06 – SALA PARA FLUIDOTERAPIA, HVSB, CURITIBA – PR, out/2008.

O setor de internamento dispõe de uma área com gaiolas para os

animais de pequeno e médio porte (FIGURAS 07 E 08)

FIGURA 07 – INTERNAMENTO PARA PACIENTES DE PEQUENO PORTE, HVSB, CURITIBA – PR out/2008.

FONTE: HVSB (2007)

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FIGURA 08 – INTERNAMENTO PARA PACIENTES DE GRANDE PORTE, HVSB, CURITIBA – PR out/2008

3 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS As principais atividades desenvolvidas durante o estágio foram: auxílio

de consultas de rotina e emergência, acompanhamento na realização de

exames radiológicos, ultrasonográficos, eletroretinografia, colheita de material

biológico para a realização de exames complementares, auxilio em cirurgias,

administração de medicação prescrita pelo Médico Veterinário para os animais

internados. Também a discussão de casos clínicos e leituras sugeridas pelos

clínicos e cirurgiões. Nessas atividades houve colaboração para a avaliação

clínica de terapias e procedimentos necessários a cada paciente.

Durante o período de estágio foram acompanhados 197 casos incluindo

consultas, vacinas e cirurgias, os quais estão representados de acordo como

sistema cometido.

Quanto ao sistema musculoesquelético (TABELA 01) foram

acompanhados 14 casos, onde todos os casos foram realizados cirurgia

ortopédica

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TABELA 01 – PROCEDIMENTOS ACOMPANHADOS NA ÁREA DE CLÍNICA

CIRÚRGICA

Afecções/Achados Clínicos nº de casos %

Sistema Músculo-Esquelético

Fratura de Tíbia 2 14,3

Fratura de Pelve 1 7,14

Fratura de Coluna 1 7,14

Fratura de Fêmur 3 21,4

Ruptura de Ligamento Cruzado 1 7,14

Luxação de Patela 3 21,4

Displasia Coxofemoral 3 21,4

TOTAL 14 100

Na tabela 02, estão descritas os procedimentos do sistema geniturinário

acompanhados durante todo o período de estágio.

TABELA 02 – CIRURGIAS DO SISTEMA GENITOURINÁRIO

Afecções/Achados Clínicos nº de casos %

Genitourinário

OSH 19 44,2

Orquiectomia 13 30,2

Mastectomia 7 16,3

Piometra 4 9,3

TOTAL 43 100

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As afecções do sistema tegumentar que foram acompanhadas durante o

período de estágio estão descritas na tabela 03.

TABELA 03 – SISTEMA TEGUMENTAR Afecções/Achados Clínicos nº de casos %

Dermatologia

Foliculite Furunculose Celulite do Pastor

Alemão

1 4,8

Demodicose 1 4,8

DAPP 3 14,3

Hipersensibilidade Alimentar 2 9,5

Otite 14 66,6

TOTAL 21 100

Na área de oftalmologia foram acompanhados dezenove casos, sendo

que a catarata foi a de maior prevalência, como mostra a tabela 04.

TABELA 04 – CASOS ACOMPANHADOS NA ÁREA DE OFTALMOLOGIA Afecções/Achados Clínicos nº de casos %

Oftalmologia

Enucleação 2 10,5

Catarata 11 57,9

Prolapso da Glândula da Terceira Pálpebra 4 21,0

Seqüestro Corneano 1 5,3

Perfuração da Córnea 1 5,3

TOTAL 19 100

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Além dos casos clínicos e cirúrgicos acompanhados durante o período

de estagio, também foram vistos exames como Raio-X, ultra-som,

eletroretinografia, como mostra a tabela 05.

TABELA 05 – EXAMES COMPLEMENTARES

Exames nº de casos %

Exames

Raio – X 30 44,1

Ultra-som 27 39,7

Eletroretinografia 11 16,2

TOTAL 68 100

Quanto à profilaxia, foram acompanhados 38 vacinações, sendo 23 em

cães e 15 em gatos (TABELA 06). A vacina octúpla é para a imunização contra

o vírus da Cinomose, Parainfluenza, Parvovirose, Coronavirose, e Adenovírus

tipo 1 e 2, e contra a bactéria da Leptospirose (2 sorotipos) a primeira dose e

aplicada com 50 dias de idade, a segundo com 70 dias, a terceira com 90 dias,

e a quarta dose com 110 dias de idade. A vacina anti-rábica realiza a

imunização contra o vírus da raiva é aplicada com 120 dias de idade. E a

vacina pneumodog® realiza a imunização contra o vírus da Parainfluenza tipo 2

e da bactéria Bordetella bronchissepticae, causadores da traqueobronquite

(tosse dos canis), sendo que a primeira dose é com 60 dias de vida e a

segunda dose é com 90 dias. A vacina quíntupla utilizada em gatos é

administrada a primeira dose quando o animal tem 60 dias, a segunda dose é

dada com 90 dias e a terceira com 120 dias, a vacina anti-rábica em gatos

administrada após uma semana da ultima dose da quíntupla.

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TABELA 06 – IMUNIZAÇÕES

VACINAS nº %

Cão

Octúpla + Raiva 17 44,74

Pneumodog® 6 15,79

23 60,53

Gatos

Quíntupla + Raiva 15 39,47

TOTAL 38 100

A seguir serão relatados dois casos clínicos acompanhados durante o

período: catarata, facoemulsificação e eletroretinografia em cães e sobre

afecções causadas pelos Coronavírus em gato.

4 Facoemulsificação para tratamento de Catarata em cão – Relato de Caso. 4.1 Resumo

O avanço da cirurgia de catarata deu um espaço de destaque para a FE,

sendo esta de muita importância em oftalmologia veterinária. O que se busca

hoje em cirurgia de catarata é utilizar o mínimo de manipulação, tempo

cirúrgico reduzido, incisões pequenas, mas tudo isso exige muita experiência

do cirurgião para se obter sucesso na cirurgia. Relata-se um caso de

facoemulsificação para tratamento de catarata madura em um cão, fêmea,

SRD, com 10 anos de idade.

4.2 Introdução

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A catarata é uma doença ocular que causa a opacificação ou perda da

transparência do cristalino, impedindo ou dificultando a passagem da luz até a

retina, deteriorando gradativamente a visão, podendo levar a cegueira.

Geralmente é o resultado de um dano bioquímico provocado por uma entrada

reduzida de oxigênio e maior entrada de água no cristalino, e conseqüente

perda de sua transparência. Quando a catarata está num grau mais avançado

pode-se observar na pupila uma mudança visível de cor que aparece num tom

azulado ou branco. O paciente poderá colidir com objetos ou demonstrar

insegurança em descer escadas. Uma avaliação geral feita pelo veterinário

clínico e uma avaliação detalhada feita por um veterinário oftalmologista

determinará se o seu paciente estará apto para ser submetido à cirurgia para

remoção da catarata (OLIVEIRA, 2008).

A seleção do paciente e a avaliação pré-operatória são essenciais para

obter um bom resultado nas cirurgias de catarata. Além do exames clínico geral

e complementares (ECG, exames laboratoriais de rotina e bioquímica) o

veterinário oftalmologista se encarregará de fazer o exame oftalmológico, além

dos exames complementares como o ERG (eletroretinograma) para avaliação

da função da retina e o US (ultra-som ocular) para avaliação da morfologia do

olho.

As cataratas podem ser classificadas de diversas maneiras, o que

determina a técnica cirúrgica a ser empregada para sua remoção. Pode ser

classificadas: pela consistência, pelo tempo de desenvolvimento, pela posição

dentro da lente, pela sua etiologia, e pelo estágio de desenvolvimento

(OLIVEIRA, 2008).

As cataratas Senis (animais acima de 6 anos) tem aumentado

consideravelmente devido ao aumento do tempo de vida dos animais

domésticos. As cataratas provocadas por inflamações (uveítes), também são

muito comuns. Com exceção das cataratas provocadas por diabetes, que

podem evoluir rapidamente a partir de quatro semanas do início da doença até

no máximo 10 a 12 meses e as de causa hereditária que podem provocar

cegueira entre 1 a 4 anos. De uma maneira geral é muito difícil prever o tempo

de desenvolvimento das cataratas.

Este relato tem como objetivo uma revisão sobre os aspectos

anatômicos, fisiológicos, clínico e cirúrgico da catarata em cão.

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5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

5.1 Anatomia do Globo Ocular

O globo ocular é constituído por três túnicas observadas em todos os

vertebrados: a camada externa chamada fibrosa (córnea e esclera), a camada

média ou túnica vascular (íris, corpo ciliar e coróide) e a camada interna ou

túnica nervosa (retina) (ANDRADE, 2004).

Segundo Andrade (2004), a córnea é uma estrutura anesférica e

transparente que, juntamente com a esclera, compõem a túnica fibrosa do olho.

A região de transição entre essas duas estruturas chama-se limbo

esclerocorneal. É formada por quatro camadas distinguíveis, da mais externa

para a mais interna: epitélio, estroma, lâmina limitante posterior (membrana de

Descemet), e endotélio.

A esclera é uma estrutura opaca na qual sua parede fibrosa é de

espessura variável. A esclera é constituída por fibras colágenas e elásticas, de

coloração branca, inervada e irrigada pelos nervos ciliares (DIESSEM, 1986).

Andrade (2004) descreve que a túnica vascular localiza-se entre a

camada fibrosa e a retina e é constituída pela íris, corpo ciliar e coróide. A íris e

o corpo ciliar fazem parte da úvea anterior, ao passo que a coróide faz parte da

úvea posterior. A coróide reveste a esclera a partir do nervo óptico até quase o

limbo. O tapetum lucidum é uma das camadas da coróide e se caracteriza por

uma camada fibrosa ou celular. O tapetum lucidum é responsável pelo brilho

dos olhos, observado durante um exame de fundo de olho, ou à noite, em

condições de iluminação reduzida.

O corpo ciliar (continuação da coróide) é um anel em relevo, com

arestas (conhecidos como processos ciliares) emitidas em direção à lente.

Entre o corpo ciliar e a esclera, localiza-se o músculo ciliar liso que atua na

acomodação visual que, por sua vez, é pobre nos animais (ANDRADE, 2004).

Quando há contração ou relaxamento do músculo ciliar, que está preso

a essas estruturas, ocorre o que é denominado acomodação visual definida

pela capacidade do olho em focalizar objetos próximos ou distantes, mudando

o formato da lente. O corpo ciliar do cão não possui grupos distintos de fibras

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musculares resultando, assim, em uma capacidade limitada de acomodação

(DIESSEM, 1986).

A íris é a extensão do revestimento da coróide para o compartimento

anterior. As suas margens livres da íris, que têm orientação radial, definem o

espaço pupilar ou pupila (ANDRADE, 2004).

Segundo Slatter (2005 c), a retina é primariamente responsável pela

visão. Os fotorreceptores da retina são uma camada complexa de células

especializadas – os cones e os bastonetes - que contém fotopigmentos que

produzem energia química quando expostos à luz.

A retina, também conhecida como túnica nervosa, é responsável pela

recepção e tradução do estímulo luminoso e a transmissão desses sinais pelo

nervo óptico, na forma de impulsos nervosos, para o córtex visual. A retina se

inicia onde o nervo óptico penetra na coróide, com o formato de um cálice

côncavo, revestindo a coróide e terminando na borda pupilar. Apenas dois

terços, da retina podem ser atingidos pela luz que penetra no olho através do

espaço pupilar. Com isso apenas essa porção da retina possui células

receptoras (ANDRADE, 2004).

Os receptores da retina do cão são predominantemente bastonetes, com

apenas alguns cones. A presença de bastonetes, mais o fato do cão possuir

um tapetum bem desenvolvido, indica que o cão tem melhor visão em

condições de iluminação reduzida do que na luz brilhante do dia (DIESSEM,

1986).

A retina é a membrana metabolicamente mais ativa do corpo, indicada

pelo alto consumo de oxigênio. Interrupção em qualquer vaso coroidal ou

retiniano resulta em rápida isquemia com grave e irreversível perda da função

(ANDRADE, 2004).

O humor aquoso preenche um compartimento aquoso, a câmara

anterior, entre a íris e a córnea, e a câmara posterior, entre a superfície anterior

da lente e a superfície posterior da íris (SLATTER, 2005 a).

Ele é produzido pelo corpo ciliar por meio de um processo de

ultrafiltração sanguínea sendo essencialmente drenado através dos espaços da

zônula ciliar para dentro do plexo nervoso da esclera (ANDRADE, 2004). A

câmara vítrea do bulbo esta situada entre a lente e a retina e contém o corpo

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vítreo. Segundo Diessem (1986) O humor vítreo é um gel complexo composto

por 99% de água, fibras colágenas, hialócitos e mucopolissacarídeos.

Segundo Slatter (2005a), as principais superfícies refratoras do olho são

a córnea e a lente. O poder de refração dessas estruturas é determinado pelo

raio de curvatura e do índice refratário do ar ou humor aquoso que as banham.

Quando a curvatura da superfície aumenta, ou seja, o raio da curvatura diminui

o poder refratário também aumenta. Se o comprimento focal do mecanismo

córnea-lente não se iguala ao comprimento do olho, há um erro de refração.

Ametropia significa que nenhum erro de refração está presente. Erros

refratários podem ser causados por variações tanto no poder óptico quanto no

comprimento do eixo do olho. Erros de refração podem ser estimados com

oftalmoscopia direta ou mensurados, mais precisamente, com um retinoscópio.

Cães geralmente têm varias dioptrias de miopia, embora ocorram

variações consideráveis. O clinico precisa ter certa noção sobre refração, para

responder questões dos proprietários, para relacioná-las com seus próprios

olhos e para explicar a visão afácica (sem lente) após a cirurgia de catarata

(SLATTER, 2005 a).

FIGURA 09 – ESTRUTURAS INTERNAS DO OLHO DO CÃO

FONTE: SLATTER (2005).

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5.2 A Catarata

O termo catarata compreende um grupo comum de distúrbios oculares,

manifestados por opacidades lenticulares de forma e tamanhos variáveis e com

variação na etiologia e na taxa de evolução (SLATTER, 2005 b).

A catarata é uma opacidade da lente ou da cápsula, podendo ser parcial

ou total. Pode ser desencadeada por vários fatores, como traumatismos,

idade, Diabetes Mellitus, uveítes, uso de medicamentos. A catarata pode ser

observada na pupila, que se torna opacificada. Além de causar diminuição da

visão, os animais podem observar imagens duplas, confusão para ver e

distinguir cores (LAUS, 2008).

A catarata pode ser congênita ou adquirida, sendo que a congênita é

mais rara de ocorrer. Cataratas congênitas não são necessariamente

hereditárias (SLATTER, 2005 b).

A maioria das cataratas em cães é herdada. A catarata pode se

desenvolver rapidamente em semanas, ou lentamente através de anos, em um

ou ambos os olhos (FUCK, 2006).

Uma catarata em particular pode ser descrita de acordo com o estágio

de desenvolvimento (incipiente, imatura, madura, intumescente, hipermatura),

posição dentro da lente (nuclear, subcapsular anterior e posterior, axial, polar

posterior, lamelar, equatorial, cortical periférica e posterior), e tempo de

desenvolvimento (embrionário, congênito, juvenil, senil, adquirido), são as

categorias mais utilizadas (OFRI, 2008).

Na catarata incipiente (FIGURA 10) há opacidade inicial com visão

inalterada. Em animais mais velhos, a esclerose nuclear pode ser difícil de

distinguir da catarata incipiente (SLATTER, 2005). É o estágio inicial, com

opacidade focal e sem déficit visual. Este tipo normalmente afeta de 10 a 15%

do cristalino e se localiza na região cortical ou subcapsular ou na área de

sutura “Y” (HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

FIGURA 10 – CATARATA INCIPIENTE

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FONTE: OLIVEIRA (2008)

Na catarata imatura (FIGURA 11) a opacidade é mais marcada, mais

ainda incompleta e o fundo pode estar, em aparte, obscuro

oftalmoscopicamente, com o reflexo tapetal ainda visível. A visão está

comprometida e a lente pode começar a aumentar de volume. Glaucoma por

bloqueio pupilar pode ocorrer por causa do aumento de volume lenticular. Há

deficiência visual se a condição for bilateral (SLATTER, 2005 b).

FIGURA 11 – CATARATA IMATURA

FONTE: OLIVEIRA (2008)

Esse estágio é intermediário, onde existe um aumento da opacidade que

envolve grande proporção do cristalino (HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

Já na catarata madura (FIGURA 12) a lente está opaca por completo e o

fundo não pode mais ser observado oftalmoscopicamente. Algumas fissuras

podem aparecer por vezes ao longo das linhas de suturas ou como linhas

dispostas radialmente. A lente pode estar intumescente. Se a catarata madura

for bilateral, o animal está cego. Este é o estágio ideal para remoção da

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catarata, antes de ocorrência de uveíte induzida pela lente. A opacidade é total,

existe bloqueio do reflexo tapetal e, em conseqüência, perda da agudeza visual

(HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

FIGURA 12 – CATARATA MADURA

FONTE: OLIVEIRA (2008)

Quando ocorre catarata intumescente a lente começa aumentar de

volume. Nem todas as cataratas passam por esse estágio. Com a tumefação

da lente, o olho está suscetível ao glaucoma de ângulo fechado secundário e

de bloqueio pupilar e à perda de proteínas, causando uveíte induzida pela lente

(SLATTER, 2005 b).

Na hipermaturidade (FIGURA 13), algumas lentes começam a liquefazer

em razão da proteólise e, ocasionalmente, alguma visão pode ser recuperada

(reabsorção da lente). O núcleo se liquefaz por último e pode se depositar na

parte inferior da lente, cujo córtex já está liquefeito (catarata morganiana). Em

cães, o córtex liquefeito extravasa, causando uveíte e participando na

característica aparência enrugada da cápsula; o extravasamento e o início da

uveíte grave podem ser rápidos durante o diabetes. O núcleo pode permanecer

com uma cápsula encolhida ao seu redor, após escape do córtex. Pequenas

partículas brilhantes podem estar presentes a partir das fibras lenticulares

degradadas. Com a redução do volume da lente, a câmara anterior se torna

mais profunda. A uveíte induzida pela lente pode fazer com que a íris adquira

aparência mais escura do que o normal. A combinação de uma íris escura,

injeção ciliar, câmara anterior com profundidade aumentada e enrugamento

capsular são maus indicadores prognósticos para a visão. Nesse estágio a

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amplitude da onda B no eletrorretinograma pode estar reduzida como seqüela

da uveíte (SLATTER, 2005 b).

FIGURA 13 – CATARATA HIPERMATURA

FONTE: OLIVEIRA (2008)

A catarata congênita está presente ao nascimento e por vezes

progressiva. As cataratas congênitas começam durante a vida fetal, estão

presentes ao nascimento e podem ser estacionárias ou progressivas. Essa

catarata é freqüentemente muito densa, branca, e usualmente progride

lentamente. Freqüentemente ocorre em combinação com outras anormalidades

congênitas como microftalmia, membrana pupilar persistente e artéria hialóide

persistente (SLATTER, 2005 b).

A catarata juvenil segundo Slatter (2005 b) desenvolve-se usualmente

entre o 1º e o 8º ano de vida. Se a causa como diabetes mellitus, trauma,

intoxicação ou radiação são pouco prováveis ou são excluídas, é possível que

a catarata seja hereditária. Essa catarata geralmente começa no córtex, e é

progressiva e bilateral.

Na catarata senil ocorre em todas as espécies domésticas e afeta

animais com mais de 8 anos de idade. Normalmente, é precedida por esclerose

nuclear densa, podendo iniciar-se no núcleo ou na cortiça do cristalino. Em

princípio, observam-se opacidades puntiformes ou lineares no núcleo do

cristalino. A progressão da opacidade é lenta, com evolução de meses até

anos, ocasionando a perda da agudeza visual (HERRERA e WEICHSLERY,

2007).

Quanto à catarata adquirida, que ocorre por qualquer causa não

congênita, podem aparecer entre 1 e 6 anos de idade. Elas em geral afetam

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primeiro o córtex e depois o núcleo, mas podem ser encontradas em ambas as

áreas simultaneamente (SLATTER, 2005 b).

Na catarata hereditária um efeito hereditário recessivo é a causa mais

freqüente de catarata em cães. Catarata hereditária é usualmente bilateral e

em geral começa no pólo posterior e/ou no córtex. É geralmente progressiva

(STADES, 1999).

Quanto à etiologia das cataratas, podemos classificá-las em:

Catarata traumática: pode ocorrer após lesão ocular, inflamação de

estruturas adjacentes ou no curso de doença sistêmicas. Se a cápsula

cicatrizar rapidamente (algumas vezes as duas camadas), a lesão pode

permanecer limitada a uma catarata local, não progressiva (HERRERA e

WEICHSLERY, 2007).

Catarata diabética: a maioria dos animais com diabete mellitus

eventualmente desenvolve catarata dentro de 12 a 18 meses, independente da

administração de insulina. No caso de diabetes, a concentração de glicose

aumenta no humor aquoso e na cápsula e as membranas celulares individuais

da lente são independentes de insulina, isto é, a insulina não é necessária para

a glicose passar através da parede celular (SLATTER, 2005 b).

Catarata induzida por drogas: naftaleno, disofenol, cetoconazol,

contraceptivos orais à base de progesterona, diazoxida, fenilpiperazina,

diniltrofenol, dimetil sulfoxido, pefloxacina, 2,6-dicloro-4-mitroaniline,

glimepiridine sulfonilurea, inibidores de hidroximetilglurail-coenzima A redutase,

corticóides, clorpromazina, bulsulfano, amiodarona, alopurinol (OLIVEIRA,

2008).

Catarata secundária: a catarata pode se desenvolver como uma

anormalidade associada ou secundária à uveíte, luxação de cristalino, atrofia

progressiva da retina ( FRANS, et al, 1999).

A característica da lente de ser macia, dura ou fluida determina o tipo de

técnica cirúrgica a ser empregada. Cataratas fluidas ou macias são mais

freqüentes em animais jovens (SLATTER, 2005 b).

Muitas vezes a catarata pode ser confundida com a esclerose senil do

cristalino, que se trata de uma alteração normal da lente aonde esta se torna

azulada devido à compressão das células lenticulares velhas em direção ao

núcleo. Na catarata existe uma perda de detalhe parcial ou total da retina

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devido ao bloqueio da luz pelas opacidades e na esclerose não. A

diferenciação entra catarata e esclerose pode ser feita através de um bom

exame oftálmico (KLEINER, 2007).

A localização da catarata dentro da lente pode ser: nuclear, subcapsular

anterior e posterior, axial, polar posterior, lamelar, equatorial, cortical periférica

e posterior (FIGURA 14).

FIGURA 14 – CLASSIFICAÇÃO DA CATARATA DE ACORDO COM SUA

POSIÇÃO DENTRO DA LENTE.

FONTE: SLATTER (2005)

Dentre os sinais relatados pelo proprietário do animal, a deficiência

visual é a mais mencionada. Muitas vezes a catarata pode ser confundida com

a esclerose senil do cristalino, que se trata de uma alteração normal da lente

aonde esta se torna azulada devido à compressão das células lenticulares

velhas em direção ao núcleo. Alteração no comportamento por causa de falha

visual ou cegueira total, colisão com objetos em ambientes familiares, timidez

ou alteração de personalidade, alteração no aspecto do olho, aparência branca,

que é pior à noite, quando a pupila esta dilatada (KLEINER, 2007).

Algum grau de visão é, por vezes, mantido até que se atinjam estágios

avançados de maturidade da catarata bilateral. Com exceção das cataratas

secundárias e traumáticas, o segundo olho freqüentemente ocorre catarata

(OFRI, 2008).

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A progressão da catarata, com exceção da catarata diabética que pode

evoluir rapidamente para a maturidade, isto é muito difícil de predizer. É

importante adquirir do proprietário se houve episódios de pouca visão noturna

durante o desenvolvimento da catarata, pois isso poderá indicar que a catarata

foi secundária à degeneração retiniana progressiva, se o fundo não puder ser

examinado de forma adequada (SLATTER, 2005 b).

Segundo Kleiner (2007), a catarata aparece mais comumente em cães

do que em gatos e dentre as raças predispostas à catarata hereditárias pode-

se citar: Poodle Toy, Cocker Spaniel ,Schnauzer, Pequinês ,Dachshund.

O prognóstico varia segundo a localização. Quando a opacidade se

encontra situada na cápsula anterior, geralmente não há progressão. Na região

cortical anterior a progressão é variável. A catarata equatorial é normalmente

progressiva; a nuclear costuma ser estática e tende a reduzir o tamanho. Na

região cortical posterior a progressão é variável e no eixo da cápsula posterior

não é progressiva (HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

O diagnóstico é feito através dos sinais observados durante o exame

físico, eletroretinografia, exames oftalmoscopia direta e indireta, ultra-

sonografia (OFRI, 2008).

6 ELETRORETINOGRAFIA

O eletroretinograma (ERG) é a resposta elétrica registrada quando retina

é estimulada pela luz. É utilizado para acessar a função retiniana

(considerando-se que as vias da retina para o córtex visual estejam intactas)

em animais afetados por distúrbios visuais. Mesmo na presença de opacidade

corneana ou catarata, luz suficiente atinge a retina para causar uma resposta,

considerando-se que a retina esteja funcional (SLATTER, 2005 C).

O ERG é gerado por células localizadas na capa retiniana externa. Os

fotorreceptores (bastões e cones) geram a onda “a”. Por outro lado, a onda “b”

se origina na capa nuclear interna, representa a atividade das células de Müller

e indiretamente avalia as capas médias da retina que influenciam sobre esta

última. A onda “c”, por último, tem sua origem no epitélio pigmentário. Tanto em

cachorros como em gatos os bastões predominam (no cachorro em uma

proporção de 18:1) e por esta razão o ERG reflete em maior medida a atividade

dos ditos bastões mais que dos cones (HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

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Segundo Herrera e Weichslery (2007) as respostas obtidas em um

ambiente iluminado (predomínio de cones), denominam-se fotópicas; já as que

se obtém em total escuridão (predomínio de bastões), escotópicas.

O estudo do funcionamento dos cones se efetuará em um ambiente de

nível luminoso (ambiente fotópico = luz) utilizando um estímulo acromático. O

estudo do funcionamento dos bastões se efetuará em um ambiente escuro

(ambiente escotópico = escuridão) utilizando um estímulo azul (onda de curta

longitude) de nível luminoso fraco (SLATTER, 2005).

O estímulo se caracteriza por sua composição espectral (colorida ou

não), seu nível energético (fotópico ou escotópico) e a freqüência a que é

emitida. Para poder registrar um ERG, é necessário por em atividade a retina

por uma variação breve de estímulo. Dois tipos de variações breves de

estímulo se utilizam em função da freqüência temporal. O estímulo breve,

repetido no tempo em baixa freqüência (0,5 a 4 Hz), permite registrar os ERG

flash. O estímulo breve, repetido no tempo a uma freqüência mais elevada (20-

30 Hz), permite registrar as ERG flicker. Os níveis luminosos do ambiente e do

estímulo, assim como a composição espectral do estímulo e da freqüência a

que é emitida devem ser indicados em todos os informes de exames

eletrorretinográficos (HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

Herrera e Weichslery (2007) citam que, o registro do sinal é um ponto

importantíssimo na realização prática de um ERG. Na prática, o animal deve

estar anestesiado. A anestesia deve cumprir vários critérios, como: poder

realizar um protocolo de aproximadamente 30 minutos, não modificar as

características do ERG ou modificá-las um pouco e permitir um bom

relaxamento muscular com a finalidade de evitar o registro de eletromiogramas

parasitos. Além disso, para que a iluminação retiniana seja máxima e

constante, convém efetuar uma dilatação pupilar e fixar o globo, este último

para evitar que o mesmo bascule e que se produza uma protusão da

membrana nictitante ligados à anestesia; também é necessário manter as

pálpebras abertas durante todo o exame.

O tratamento do sinal: este é indispensável para que o ERG seja

discriminatória do ruído de fundo eletromiográfico. O sinal recolhido deve estar

amplificado, filtrado por filtros eletrônicos e digitalizado. Em geral, a soma de 5

respostas provocadas pela repetição de um estímulo 5 vezes seguidas é

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suficiente para obter um sinal discernível do ruído de fundo (HERRERA e

WEICHSLERY, 2007).

Segundo Herrera e Weichslery (2007), os dois componentes primários

de um equipamento de ERG são o sistema de estímulo e o sistema de registro.

O sistema de estímulo usualmente consiste em uma unidade de luz azul-

branco de xenon que estimula a retina. O sistema de registro consiste em uma

série de eletrodos que enviam um sinal que é processado, amplificado e filtrado

por um computador, de modo a poder transformar isso em um gráfico com as

ondas obtidas.

Para realizar o ERG é necessário dilatar previamente a pupila com

algum midriático de ação curta para anular qualquer interferência no registro

produzido pelo reflexo de constrição pupilar. Em seguida se procede com a

anestesia geral (FIGURA 15). Para o registro se usam 3 eletrodos: um

ativo que registra as diferenças de potencial, o qual pode ser uma lente

aplicada sobre a córnea, ou uma agulha colocada em forma subconjuntival; a

diferença entre ambos os eletrodos é a referência, quando é colocado sobre a

córnea se obtém maiores amplitudes. Outro eletrodo é o de referência, que se

coloca em forma subcutânea no pavilhão auricular do mesmo lado do olho que

será avaliado. O terceiro eletrodo é o de base, que pode ser colocado

indiferentemente na zona interescapular, na protuberância occipital ou na zona

frontal entre os olhos (HERRERA e WEICHSLERY, 2007).

Segundo Herrera e Weichslery (2007) o primeiro ponto a ser avaliado é

a função fotópica, pela qual se realizam os estímulos luminosos com luz branca

e com as luzes do lugar acendidas. Da mesma forma se avalia o outro olho.

Em seguida se faz uma adaptação à escuridão de duração variável segundo o

protocolo a ser usado. Feito isso, procede-se a avaliação da função escotópica,

com luz azul e com o recinto às escuras. Por último, analisam-se as ondas

obtidas, tanto em amplitude como em latência, para poder chegar a um

diagnóstico correto.

FIGURA 15 – PACIENTE ANESTESIADO PARA ELETRORETINOGRAFIA

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7 FACOEMULSIFICAÇÃO

A facoemulsificação gera energia ultra-sônica que fragmenta o material

da lente em pequenos pedaços que possam ser aspirados a partir do saco

capsular e da câmara anterior, por uma incisão mínima. O sistema ultra-sônico

piezoelétrico é leve, durável e exige menos energia e tem uma velocidade e

freqüência extremamente alta (27, 000 a 60, 000 ciclos / seg. ou 27 a 60

quilohertz [kHz]) (GELATT e GELATT, 2001).

A utilização da facoemulsificação para a remoção da catarata tem se

mostrado promissora e com inúmeras vantagens quando comparada aos

procedimentos de remoção manual da catarata. Dentre as principais vantagens

da facoemulsificação, comparativamente às demais técnicas, estão à pequena

incisão, a manutenção da pressão intra-ocular intra-operatória, a pouca

manipulação das estruturas internas ao globo ocular. Também o menor índice

de contaminação, a menor ocorrência de inflamação intra-ocular pós-

operatória, o menor tempo operatório e a reabilitação precoce da visão. Entre

suas limitações estão o alto custo do equipamento e maior dificuldade de

aprendizado (PIGATO et al, 2007).

Os aparelhos (FIGURA 16) apresentam basicamente três partes,

incluindo o facoemulsificador, as canetas de ultra-som, de irrigação e

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aspiração, e o pedal. No facoemulsificador encontra-se o painel de controle

com as funções básicas: a potência de ultra-som, o controle de vácuo e do

fluxo de aspiração. A execução adequada das etapas cirúrgicas com a

utilização de instrumental (FIGURA 18) apropriado é fundamental para o

sucesso do procedimento cirúrgico. Na facoemulsificação as principais etapas

cirúrgicas incluem: incisões de córnea, injeção de substância viscoelástica,

capsulotomia circular contínua, hidrodissecção, remoção da catarata, aspiração

do material cortical, implante de lente intra-ocular, aspiração do viscoelástico e

sutura da córnea (PIGATO et al, 2007).

FIGURA 16 - APARELHO PARA FACOEMULSIFICAÇÃO

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FIGURA 17 – INSTRUMENTOS PARA MICROCIRURGIA

A caneta de ultra-som contém em seu interior um mecanismo que

transforma energia elétrica em vibração ultra-sônica. Isso é conseguido através

da utilização da propriedade pizoelétrica do cristal de quartzo que se expande e

se contrai ao ser estimulado eletricamente (PEREIRA, 2005).

A caneta de irrigação e aspiração é semelhante à caneta de ultra-som.

No entanto, não possui fio de alimentação elétrica. É utilizada para aspirar o

material cortical e as substâncias viscoelásticas. Em sua extremidade proximal,

a caneta de irrigação e aspiração possui um encaixe para a irrigação e outro

para conectar a via de aspiração. O pedal do facoemulsificador é constituído de

três estágios. No primeiro estágio a irrigação é liberada. No segundo estágio,

além da irrigação, inicia-se a aspiração. No terceiro estágio, a emissão de ultra-

som (PEREIRA, 2005).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001) principais funções integradas para a

facoemulsificação:

1) líquidos constituídos por sistemas de irrigação, aspiração, e refrigeração; e

2) um sistema ultra-sônico para fragmentar o cristalino.

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Durante a facoemulsificação a pressão intra-ocular é produzida para

manter o olho no seu tamanho normal, o que é particularmente importante nos

animais em baixa com a rigidez escleral e colapsos do segmento anterior,

então o humor aquoso é removido. A entrada e saída de solução salina

balanceada ou solução de Ringer lactato é controlada pelo cirurgião

oftalmológico através de um pedal de comando, que pode manter um equilíbrio

de irrigação e aspiração suficiente para fornecer a inflação do segmento

anterior, facilitar a remoção dos fragmentos da lente, e esfriar os componentes

de ultra-sons (GELAT e GELATT, 2001).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001) a vazão para irrigação, a quantidade de

vácuo para aspiração, e da amplitude de vibração (as configurações de

energia) são controlados por pedal. Muitas vezes o pedal tem três posições. O

primeiro nível ativa apenas os sistemas de irrigação; e com o pedal

completamente deprimido irrigação, aspiração e fragmentação são ativadas.

7.1 Seleção dos Pacientes

O primeiro passo na seleção do paciente está relacionado ao

temperamento do mesmo, uma vez que, pacientes rebeldes, nos quais será

difícil proceder a conduta pós-operatória, devem ser considerados inaptos para

a cirurgia. Uma rigorosa medicação pós-operatória é quase tão importante

quanto a própria cirurgia (PEREIRA et al,2006).

7.2 Terapia Pré-Operatória

Os objetivos pré-operatórios globais são alcançar midríase para a

exposição cirúrgica, suprimir a inflamação ocular, e minimizar a flora

microbiana ocular. Antibióticos tópicos de amplo espectro bactericida são

administrados a cada 6 horas com início de 12 a 24 horas antes da cirurgia. Os

corticosteróides tópicos são usados a cada 6 horas começando pelo menos 12

a 24 horas antes da cirurgia. Os corticosteróides tópicos devem ser potentes e

terem boa penetração corneana, sugerindo acetato de prednisolona 1% como

corticosteróide de escolha (WILKIE e COLITZ, 2007).

Segundo Wilkie e Colitz (2007), ambos os antibióticos e corticóides

tópicos continuam a cada 6 horas no período pós-operatório. Antiinflamatórios

não-esteroidais (AINEs) são usados para suprimir a inflamação e para impedir

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a miose. AINEs tópicos são administrados a cada 30 minutos começando a 1 a

2 horas antes da cirurgia, e um AINE sistêmico como flunexin meglumine (0,5 a

1,0 mg / kg IV) ou carprofeno (2,2mg/kg SC) é administrado na indução. Alguns

cirurgiões também administram um corticosteróide tópico a cada 30 minutos,

juntamente com o AINE tópico. A midríase é alcançada através do uso tópico

de atropina ou tropicamida 1%.

Embora apenas uma única dose é normalmente exigida 1 a 2 horas

antes da cirurgia, alguns cirurgiões escolhem usá-la com maior freqüência por

um período prolongado de tempo. Isto não é necessário ou aconselhável.

Prolongada atropinização não é recomendada porque pode contribuir para a

miose intra-operatória (WILKIE e COLITZ,2007).

7.3 Procedimento de facoemulsificação

Para facoemulsificação, uma incisão (FIGURA 18) periférica da córnea é

realizada cerca de 1 milímetro anterior ao limbo. Deve ter aproximadamente de

3,0 a 3,2 mm de comprimento e ser suficiente para acomodar o diâmetro da

ponta do facoemulsificador e, se indicado, e o diâmetro da LIO. A incisão

corneana envolve duas fases uma parcial, onde faz uma incisão com uma

lâmina n º 64 (50-70% espessura corneana). Na primeira metade da espessura

corneana, a incisão é inicialmente realizada com um bisturi castor com lamina

número 64 perpendicular à superfície da córnea; o seu comprimento é

determinado por apenas facoemulsificação ou facoemulsificação mais uma

lente intra-ocular (LIO). Se este último for antecipado, a incisão corneana é de

cerca de 8 a 10 mm de comprimento e estará concluída quando a

facoemulsificação terminar (GELATT e GELATT, 2001).

FIGURA 18 – INCISÃO COM BISTURI DE SAFIRA DE 3,2 MM.

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FONTE: KLEINER (2008)

Segundo Gelatt e Gelatt (2001) assim que a córnea está parcialmente

incisada, a lamina é inserida através do centro da córnea e incisão na câmara

anterior. O comprimento da incisão inicial da córnea é importante, já que

deverá ser grande o suficiente para acomodar a ponta do facoemulsificador,

mas não excessivamente longa que permita perda de fluidos, resultando em

volumes excessivos de fluidos a fugir da câmara anterior. Assim que a incisão

na córnea for concluída, o volume da câmara anterior é restaurado com agente

viscoelástico, e realizada a capsulorrexis anterior e também é realizada a

cantotomia se necessário.

7.4 Capsulorrexis contínua curvilínea (CCC)

Segundo Gelatt (2001) o procedimento de capsulectomia ou

capsulorrexis (FIGURA 19) é iniciado com uma incisão curva na cápsula

anterior da lente com uma agulha hipodérmica 22-25 g para reduzir as tensões

sobre a cápsula anterior da lente. A segunda incisão com agulha hipodérmica

geralmente é feita em 90 º da primeira incisão da cápsula anterior.

Ocasionalmente, a cápsula anterior ou parte dela aparece espessada, fibrótica,

e/ou opaca, e resiste ao fórceps. Uma tesoura intra-ocular é necessária para

estas áreas de incisão cápsula anterior da lente. A tesoura intra-ocular é

inserida cuidadosamente com as lâminas fechadas Então o fórceps é utilizado

para captar e cortar a cápsula anterior da lente entre as duas incisões,

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completando assim uma capsulectomia circular (FIGURA 20). Depois que uma

porção central da cápsula anterior da lente é atingida cerca de 7 milímetros de

diâmetro, a incisão na porção da cápsula é cuidadosamente removida por

pinça (GELATT e GELATT, 2001).

FIGURA 19 – CAPSULORRÉXIS

FONTE: KLEINER (2008)

FIGURA 20 – FRAGMENTO CIRCULAR DA CÁPSULA ANTERIOR CORADO

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FONTE: KLEINER (2008

7.5 Hidrodissecção

A Hidrodissecção é projetada para afrouxar a lente da cápsula da lente,

permitindo que a lente seja girada livremente dentro da bolsa capsular para

facilitar sua fragmentação (GELATT, 2001).

É realizada imediatamente após a capsulotomia, utilizando solução

salina balanceada (SSB) injetada por através de uma cânula tamanho 25 a 27

anexada a uma seringa de 3,0cm3. É importante que a cânula seja inserida

embaixo e imediatamente adjacente à cápsula anterior. A hidrodissecção

completa normalmente requer várias injeções em diferentes quadrantes da

lente. Uma onda de fluidos deve ser visualizada como a injeção ocorre (WILKIE

e COLITZ, 2007).

7.6 Irrigação/Aspiração

A aspiração ocorre através do furo da agulha da sonda ultra-sônica e

está ligada por uma tubulação de uma coleção reservatório. Na aspiração, dois

outros princípios são importantes: arejamento e reflexo. O Arejamento permite

que o cirurgião para que liberte os fragmentos lente, lente cápsula ou vítrea

que se conectam a agulha ultra-sônicos (GELATT e GELATT, 2001).

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Após a remoção do núcleo, todo o material cortical residual deve ser

aspirado. Este material cortical residual pode estar livre ou mais provavelmente

estará aderido a cápsula equatorial do cristalino. A remoção cortical completa

reduz a inflamação pós-operatória, formação de pós-catarata e

descentralização da LIO, e distorção e dobragem da bolsa capsular (WILKIE e

COLITZ, 2007).

A caneta de irrigação/aspiração pode ser reta, inclinada, ou curva para

permitir a remoção do córtex subincisional. A ponteira será arredondada e

ponta para aspiração é colocada ao lado em vez de no final da ponteira. A

caneta de I/A, quando usada em um método coaxial, tem de 0,3 a 0,7mm e

uma manga de infusão de silicone ou metal. Uma maior abertura aspiração (0,5

– 0,7 milímetros) funciona melhor para o córtex canino, que tende a ser denso,

viscoso, e é mais difícil de aspirar que o córtex humano. Uma manga de

silicone tem menos vazamento/dispersão do que uma manga de metal, mas

podem ser inadvertidamente ocluídas se a ponteira for manipulada muito

lateralmente. A infusão deve ser direcionada perpendicular à aspiração. O

pedal no modo I / A tem duas posições e no modo facoemulsificação tem três

posições (WILKIE e COLITZ, 2007).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001), a ponteira I/A é movida suavemente

para trás e para frente, e este procedimento é repetido em todos os setores,

tanto na cápsula anterior como na posterior. A finalidade deste processo é a

diminuição da opacificação da cápsula posterior pós-operatória.

A irrigação-aspiração (FIGURA 21) não gera energia ultra-sônica e é

usada depois que quase todo o material da catarata foi removido pela caneta

de facoemulsificação ultra-sônico, para remover todos os possíveis fragmentos

da lente com trauma mínimo para a cápsula e para a lente (WILKIE e COLITZ,

2007.

FIGURA 21 – IRRIGAÇÃO e ASPIRAÇÃO

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FONTE: KLEINER (2008)

7.8 Implantação Básica da LIO

Após I/A do material cortical residual e polimento da cápsula da lente, a

bolsa capsular e a câmara anterior são distendidas usando viscoelástico para

proporcionar espaço para implantação da LIO (WILKIE e COLITZ, 2007).

Se uma LIO (FIGURA 22) está prevista após a facoemulsificação ou

extração extracapsular, é inserida se todo o material da lente foi removido a

partir do saco capsular. No processo de facoemulsificação, a córnea é alargada

com uma incisão de 8-10 milímetros por tesoura corneoescleral, com diâmetro

suficiente para acomodar os 8-9 milímetros de diâmetro óptico da LIO. A

câmara anterior é reformada com agente viscoelástico para a colocação da LIO

no saco capsular posterior e proteger a superfície da córnea. As lentes

dobráveis podem ser inseridas através da incisão da córnea com 3-4

milímetros e diretamente no saco capsular, e não exigem mudanças no

tamanho original da incisão facocorneal (GELATT e GELATT, 2001).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001), uma vez que a LIO está posicionada

corretamente, o agente viscoelástico é lavado a partir da câmara anterior com

solução de ringer com lactato; para suturar a córnea é usada sutura

interrompida simples com fios absorvíveis 5-0 à 7-0.

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A implantação pode ser completada utilizando um manipulador LIO para

marcar a lente em sentido horário. A LIO é centrada no eixo visual (WILKIE e

COLITZ, 2007).

Se uma LIO dobrável acrílica precisar ser implantada, o procedimento

pode ser feito usando um injetor com cartucho e fórceps de LIO dobrável. Essa

implantação pose ser através de uma incisão pequena de aproximadamente

3,5 a 4 mm, e menor se a injeção cartucho é usada. A LIO é

apertada/alcançada utilizando fórceps na mão não-dominante. A LIO é girada

90 graus a partir da sua orientação final e inserida através da ferida corneal. O

fórceps é então girado para o lado direito e para trás então é aberto lentamente

e movido ligeiramente em direção à cápsula posterior da lente, permitindo a

LIO se abrir e ser dirigida posteriormente (WILKIE e COLITZ,2007).

Por ter baixa viscosidade é utilizado viscoelástico para encher o

cartucho, que juntamente com a LIO são colocados dentro do injetor. A

ponteira do cartucho é passada através da incisão corneana dentro da bolsa da

lente, só passada a capsulorréxis anterior, e dirigida para o equador capsular

ventral, a LIO então é injetada lentamente (GELATT e GELATT,2001).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001), a maioria dos cães está dentro de 1

DIOPTRO de emetropia. Um +41 DIOPTRO LIO após a cirurgia pode re-

estabelecer a emetropia, na maior parte dos cães. Como a maior parte dos

cães está dentro de uma DIOPTRO emetropia, a lente que é usada tem +41

DIOPTRO LIO. A facoemulsificação é preferida para a implantação da LIO

devido à reduzida dimensão da capsulotomia anterior (geralmente 1 milímetro

menor que o diâmetro da LIO óptica).

FIGURA 22 – LENTE INTRA-OCULAR

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7.9 Fechamento da Ferida

Os objetivos do fechamento da ferida é concluir um fechamento à prova

d’água com mínimo astigmatismo e reação da sutura, usando o menor fio de

sutura que é suficientemente forte para garantir um fechamento bem sucedido.

A maior parte dos cirurgiões usa fios de sutura 8-0 a 10-0, a 9-0. Fios tipo

polipropileno inabsorvível ou de poliglactina, são os mais comumente

escolhidos. Poliglactina pode ser usada como monofilamento no tamanho 9-0 e

resultando em mínima reação tecidual, é de fácil manipulação, e é forte o

suficiente. Padrões simples ou duplos contínuos são mais comuns, com o

último sendo preferido para aumentar a força e diminuir o astigmatismo

(WILKIE e COLITZ, 2007).

Segundo Wilkie e Colitz (2007), com o uso da facoemulsificação,

pequenas incisões, I/A automatizada, agentes viscoelásticos, e a melhoria dos

agentes antiinflamatórios e implantes de LIO, os resultados a curto e longo-

prazo da cirurgia de catarata canina tenham melhorado significativamente ao

longo das últimas décadas. Embora os resultados de cirurgia de catarata

canina têm melhorado (90% a 95% mais), dependendo do estágio da catarata,

cuidadoso e longo acompanhamento pós-operatório dos pacientes é essencial.

Descolamento da retina, glaucoma secundário, uveíte, deiscência de suturas,

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astigmatismo corneal induzido pela cirurgia, ulceração corneana, edema

corneano e descompensação endotelial e hifema podem ocorrer meses a anos

seguintes à cirurgia de catarata.

7.10 Irrigação e fornecimento de fluidos para a câm ara anterior

A entrega dos fluidos e de irrigação para a câmara anterior envolve uma

bomba (peristáltica ou diafragma) e um sistema IV com uma garrafa de ringer

com lactato ou solução salina balanceada (com 1,2 unidades / ml de heparina

adicionada). A heparina é adicionada para reduzir a formação de fibrina

durante a cirurgia. O sistema de irrigação ou de infusão consiste de um

reservatório de solução salina balanceada ou solução de Ringer com lactato

com um suporte que pode ser baixado ou levantado. Daí, os fluidos que entram

no olho são dependentes da gravidade, e para elevar o reservatório aumenta a

taxa de fluidos que entram na câmara anterior (GELATT e GELATT, 2001).

7.11 Danos à córnea durante a facoemulsificação

Com a entrada na câmara anterior e perda do endotélio corneano têm

sido associados com facoemulsificação, podendo ocorrer tanto danos físicos

como danos térmicos. Pequenas incisões podem resultar em prejuízos diretos

para o tecido da córnea e edema pós-operatório. No entanto, uma ferida maior

do que o necessário na córnea provoca excesso de perdas de fluidos e a

dificuldade de irrigar e de manter a inflação da câmara anterior. A

facoemulsificação com agulhas ultra-sônicas gera calor (danos térmicos)

(GELATT e GELATT, 2001).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001), a facoemulsificação deve proteger ao

máximo o endotélio corneano, e ser realizada dentro do saco capsular

(endocapsular facoemulsificação). Os fragmentos da facoemulsificação no

interior da câmara anterior e próximo do endotélio corneano, devem ser

evitados. A adição de agentes viscoelásticos pouco antes da inserção das

lentes intra-oculares (LIO) oferece excelente proteção para o endotélio

corneano.

Outros métodos também são utilizados para a remoção da catarata em

cães tais como a extração intracapsular e extracapsular:

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8 EXTRAÇÃO INTRACAPSULAR

Neste método, a lente é totalmente removida. Para isso, as fibras

zonulares devem ser quebradas ou dissolvidas e a lente deve ser solta do

vítreo. Em animais há grande risco de complicações com esse método

(sangramento e prolapso de vítreo) e, portanto, ele é raramente utilizado. Uma

vantagem é que nenhuma proteína da lente será liberada durante a extração. O

método é certamente indicado em cães com luxação da lente. Em extrações

intracapsular, toda a lente e a sua cápsula são removidas (STADES, 1999).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001), com as perdas zonulares todos os

anexos da lente pode deslizar para a câmara anterior normalmente com a sua

membrana posterior hialóide. A luxação anterior da lente tem contato com a

superfície posterior da córnea provocando a perda de células e endotélio, e

variável edema de córnea. Pelo aderente formato do vítreo, pode ocorrer

oclusão da pupila e o humor aquoso fluir através da pupila para a câmara

anterior. Como resultado, ocorre elevação da pressão intra-ocular no segmento

posterior do olho. A alta pressão no segmento anterior do olho causa danos à

retina disco óptico, provavelmente prejudicando o fluxo sanguíneo regional e

mecanicamente distorcendo a lâmina cribrosa escleral.

9 EXTRAÇÃO EXTRACAPSULAR

Nesse método a parte central da cápsula anterior e o conteúdo

opacificado da lente são removidos. A cirurgia consiste dos seguintes passos:

após o globo ser aberto, a parte central da cápsula anterior é removida

circularmente por uma capsulorrexis controlada (por exemplo, com fórceps,

tesouras ou arranhada por uma agulha curva). O núcleo da lente é esguichado

ou pressionado onde a córnea esta metade aberta (STADES, 1999).

O método extracapsular deixa a cápsula da lente posterior intacta. Para

a realização da técnica, o animal é colocado sob anestesia inalatória geral, e

cortam-se suavemente os pêlos das pálpebras. Coloca-se a cabeça de forma

que a íris fique paralela à mesa. Esse posicionamento ajuda a exposição

cirúrgica e minimiza a probabilidade de um prolapso vítreo (WILKIE e WOLF

2005).

Segundo Wilkie e Wolf (2005), utiliza-se um espéculo palpebral de

arame fino para retrair as pálpebras; caso se precise de uma exposição maior,

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pode-se realizar uma cantotomia lateral. As suturas de seda 4-0 a 6-0,

colocadas através da cápsula de Tenon, facilitam a exposição e a manipulação

do globo. Cria-se um flap conjuntival com base no limbo sobre 180º da face

dorsal do globo. Continua-se a dissecção para o limbo; não se deve incluir

nenhuma parte da cápsula de Tenon no flap. Uma vez que se alcance o limbo,

a tão chamada linha azul torna-se visível; essa é a junção entre córnea e a

esclera.

A abordagem corneal oferece tanto a velocidade e a ótima visibilidade

do segmento anterior e catarata. A combinação perpendicular e biselado da

incisão da córnea é recomendada. O exterior de uma meia espessura periférica

da córnea se faz com uma incisão cirúrgica com lâmina de cerca de 140 º a

180 º, dependendo do tamanho da catarata (GELATT e GELATT, 2001).

Deve-se controlar toda a hemorragia nesse ponto, preferivelmente com

um de eletrocautério de baixa temperatura ou uma coagulação em campo

úmido (WILKIE e WOLF, 2005).

Segundo Gelatt e Gelatt (2001), o fórceps intracapsular é

cuidadosamente inserido na câmara anterior com as pontas fechadas e

manipulado para o centro da lente da cápsula anterior. Uma vez que a cápsula

anterior da lente está ligeiramente levantada, é rodada no sentido horário para

iniciar o arrancamento do centro da metade a dois terços da cápsula anterior.

Realiza-se a entrada na câmara anterior com uma lâmina de bisturi

Beaver nº65 ou uma de BardParker nº11 ou com um fragmento de lâmina de

barbear; deve-se ter cuidado em não se danificar a íris ou a córnea. Ao se

entrar na câmara, o humor aquoso escapa e pode-se alargar a incisão em 150

a 180º com uma tesoura de secção corneana. Remove-se a cápsula da lente

anterior, segurando-se a cápsula da lente com as lâminas largamente abertas e

fechando-se suavemente para romper a cápsula em sua região equatorial

relativamente fraca. Alternativamente, pode-se cortar suavemente a cápsula

anterior na região equatorial antes de rompê-la em um esforço de minimizar a

forca exigida para removê-la (WILKIE e WOLF 2005).

Deve-se ter cuidado nesse ponto para evitar traumatismo da íris e do

corpo ciliar. Remove-se então o córtex e o núcleo da lente sem perfurar a

cápsula posterior do olho. Para fazer isso, coloca-se um gancho de músculo

contra o limbo exterior em posição de 180º, e aplica-se uma pressão suave.

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Posiciona-se um gancho de lente em 360º da borda posterior da incisão. À

medida que o gancho de músculo empurra a lente para cima da incisão, utiliza-

se o gancho da lente para removê-lo. Inspeciona-se então a câmara anterior e

irriga-se suavemente qualquer material da lente remanescente com uma

solução salina balanceada para removê-lo. Deve-se evitar a manipulação

excessiva porque a irritação da íris aumenta significativamente a inflamação

pós-operatória (WILKIE e WOLF 2005).

Segundo Wilkie e Wolf (2005) pode-se realizar o fechamento do ferimento de

varias formas. A sutura com fio de acido poliglicolitico 9-0 (vicril), de poliglactina

(Dexon) ou nylon, com uma agulha de espátula moldada, em padrão simples,

continuo interrompido. Deve-se aprofundar essas suturas abaixo do flap

conjuntival e selar a câmara anterior. A aproximação anatômica correta nesse

ponto é obrigatória. Reforma-se então a câmara, se necessário, com uma

solução salina balanceada. Fecha-se a conjuntiva com suturas absorvíveis 7-0

em um padrão contínuo.

As desvantagens mais freqüentemente citadas incluem a necessidade

de uma ampla incisão corneana, que provoca o colapso da câmara anterior

acompanhadas de miose, dificultando a remoção de restos córtico e núcleos,

bem como mais intensa inflamação pós-operatória. Além disso, edema

corneano, uma maior freqüência de deiscências, ruptura da cápsula posterior,

vítreo apresentação, hifema, sinéquias, maior astigmatismo, maiores danos ao

endotélio corneano, mais freqüentes casos de descolamento da retina cápsula

posterior opacificação têm sido relatadas como desvantagens

comparativamente à facoemulsificação (PEREIRA, 2006).

9.1 Cuidados Posteriores

Após a cirurgia, os seguintes colírios são administrados: neomicina-

polimixina 4-6 vezes ao dia; eventualmente também atropina 1% ou pilocarpina

2% (dependendo do tamanho da pupila que se deseje) por três semanas;

dexametasona 0,1% (4-6 vezes ao dia) por 2-6 meses. Se a cápsula posterior

foi removida ou foi realizada extração intracapsular da lente, a pupila é mantida

em um diâmetro de 2-5 mm pelo uso de pilocarpina 1% a 2%. As suturas

podem ser removidas 16 a 20 dias após a cirurgia (dependendo do tecido

cicatrizado) ou deixadas (material de sutura 9-0 ou 10-0). O paciente deve

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utilizar ainda colar protetor por mais cinco dias e somente sair com coleira

(gatos não devem sair de casa) (STADES,1999).

9.2 Prognóstico

Segundo Stades (1999), a taxa de sucesso para uma extração

extracapsular varia de 80 a 95%, dependendo do tipo de catarata, da

habilidade do cirurgião, do método utilizado e da cooperação (parcialmente

relacionada à idade) do paciente. Complicações freqüentes são de adesões e

catarata secundária. Em uma pequena porcentagem de casos isso pode

resultar em recorrência de cegueira.

10 RELATO DE CASO

A paciente Pitica da espécie canina, SRD, 10 anos pesando 7,700 kg, foi

levada ao HVSB, pela proprietária, pois o olho do animal estava opaco. A

proprietária relatou que a paciente era diabética.

Durante a anamnese a proprietária relatou que a paciente vinha se

batendo nos móveis de casa e mudou o comportamento. No exame

oftalmoscópio foi diagnosticada catarata madura em OU (FIGURA 22) e uveite.

Ao exame físico a paciente apresentava temperatura retal de 38,5º C,

freqüência cardíaca de 115 bpm, freqüência respiratória de 25 mpm, TPC 2’’,

normohidratado, normocorado, estado nuricional normal e comportamento

dócil. 1 Foram realizados os seguintes exames complementares: hemograma

completo e Bioquímico.

No exame bioquímico apresentaram os seguintes resultados: GAMA – GT: 19,3

UI/ L (valores de referência estão em 1 UI/ L à 16,4UI/ L), e a glicose

apresentava-se em 26 mg/ dl (valores normais estão dentro de 65 mg/ dl à 120

mg/ dl). Os demais componentes apresentavam-se dentro dos valores de

referência.

1 Atropina 1%, Allergan Prods. Farms. Ltda, São Paulo, SP

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O animal foi selecionado para cirurgia de facoemulsificação por possuir

uma catarata madura em OU. Mas foi necessário o tratamento da uveíte para

que ocorresse a cirurgia.

Devido ser diabética, foi feita a administração de insulina NPA, 10 UI

SIO razão pela qual na análise da glicemia observou-se resultado abaixo dos

valores normais

OD foi escolhido para a cirurgia (FIGURA 23) usando-se como critério a

administração de colírio de atropina¹ e verificação do olho que apresentar uma

melhor midríase no dia da cirurgia.

FIGURA 23 – CATARATA MADURA EM OD

2Aproximadamente 10 dias antes do procedimento cirúrgico, a paciente

foi submetida a uma associação de colírios com lágrimas artificiais¹ e cloridrato

¹ Genteal Colírio 3mg/g 10mL hipromelose, Novartis Biociência SA. São Paulo, SP ² Cilodex ,Alcon Labs. do Brasil Ltda. São Paulo, SP ³ Atropina 1%, Allergan Prods. Farms. Ltda. São Paulo, SP 4 Still, Labs. Allergan Frumtost. São Paulo, SP 5 Vetaset, Fort Dodge Saúde Animal Ltda, Campinas, SP 6 Diazepan, 10mg/2ml, União Quím. Farm. Nacional S.A. São Paulo, SP

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de ciprofloxacina e dexametasona² uma gota três vezes ao dia, sempre com

intervalo de 15 minutos entre os colírios (OU).

Após esse período a paciente foi preparada para a cirurgia de

facoemulsificação. No dia da cirurgia estava em jejum de doze horas. Então foi

iniciado o processo de dilatação pupilar, através do emprego de atropina a 1%³,

e diclofenaco sódico4 intercalados com intervalos de 20 minutos; isso foi

iniciado três horas antes do procedimento cirúrgico. Foi então realizada a

anestesia inalatória. A indução foi com Quetamina5 5mg/kg e Valium6, a

manutenção com isofluorano7. a paciente foi posicionada em decúbito dorsal,

com o plano rostral paralelo ao teto (FIGURA 24).

Após ser realizada a depilação e assepsia iniciou-se a

facoemulsificação.

FIGURA 24 - POSICIONAMENTO DO PACIENTE PARA

FACOEMULSIFICAÇÃO E

BLOQUEIO PERIBULBAR

3 Com a utilização de lidocaína a 2%¹ sem vasoconstritor, realizou-se um

bloqueio peribulbar em posição de 12, 3, 6 e 9 horas (no sentido do relógio).

7 Isoforine, Cristália Produtos Químicos Farmacêuticos Ltda. Itapira, SP ¹ Lidocaína 2% Ariston, Ariston Inds. Químs. e Farms. Ltda. São Paulo, SP

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Foi administrado aproximadamente 0,8 ml em cada ponto para se obter uma

boa centralização do globo ocular.

Para facilitar a realização da capsulotomia, principalmente pela ausência

de reflexo de fundo de olho, corou-se a cápsula anterior com corante azul de

tripan (FIGURA 25), que é menos tóxico às estruturas intra-oculares.

FIGURA 25 - APLICAÇÃO DE AZUL DE TRIPAN PARA COLORAÇÃO DA

CÁPSULA ANTERIOR DO CRISTALINO

Pouco antes da inserção da LIO foi feito a adição de agente

viscoelástico (FIGURA 26) para proteger o endotélio corneano.

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FIGURA 26 – APLICAÇÃO DE VISCOELÁSTICO PARA PROTEÇÃO

ENDOTELIAL

FONTE: KLEINER (2008).

A seguir, a paciente após a cirurgia com a lente intra-ocular já

implantada (FIGURA 27) na paciente e após a corneorrafia (FIGURA 28).

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Os animais que fazem cirurgia de facoemulsificação e não colocam uma

lente intra-ocular ficam hipermetropes com + 14 dioptrias, e possuem uma

razoável visão de longe conseguindo viver muito bem, enquanto aqueles que

colocam lente intra-ocular ficam com a visão praticamente normal, recuperando

a visão de perto e com detalhes. Estudos sugerem que as opacidades

capsulares originadas pelo implante de lentes intra-oculares são menores e o

eixo visual (KLEINER, 2007).

FIGURA 27 – PÓS FACOEMULSIFICAÇÃO COM LIO IMPLANTADA

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FIGURA 28 - ASPECTO FINAL DO PROCEDIMENTO APÓS

CORNEORRAFIA.

4Após o procedimento foi prescrito ao paciente uma combinação de

colírios, antibióticos e antiinflamatórios para se evitar qualquer tipo de infecção

local. Foram realizados os seguintes medicamentos:

USO OFTÁLMICO

Gatifloxacino¹ 0,03% : uma gota quatro vezes ao dia, durante 20 dias.

Atropina² 1%: uma gota BID ao dia durante 10 dias.

Trometamol Cetorolaco³ 5% - 5mg/ml : uma gota BID ao dia por 30 dias.

¹ Zymar Colírio 0, 03%, Allergan Prods. Farms. Ltda. São Paulo, SP ² Atropina 1%, Allergan Prods. Farms. Ltda. São Paulo, SP ³ Acular, Allergan Prods. Farms. Ltda. São Paulo, SP 4 Tears, Labyes. São Paulo, SP 5 Pred Fort, Labs. Allergan Frumtost, São Paulo, SP 6 Rymadil, Pfizer. São Paulo, SP

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Sulfato de Condrointina4 “A” 200mg. Cloreto de sódio 9mg/ml (lagrima artificial):

uma gota BID ao dia por 25 dias.

Acetato de prednisolona5 1% uma TID vezes ao dia durante 20 dias, após usar

uma gota uma SID por mais 15 dias, e depois em dias intercalados por mais

uma semana.

Além do uso da medicação, o uso do colar elisabetano 24 horas por dia é

indispensável até a retirada dos pontos, que foi realizada apos 15 dias da

cirurgia.

USO ORAL

Carprofen 6 5mg BID ao dia por 14 dias.

10.1 Discussão

A paciente do caso relatado era uma fêmea SRD, diabética, com

catarata bilateral, 10 anos de idade. Foi necessário estabilizar a glicose para a

realização da cirurgia.

No retorno da paciente uma semana após a cirurgia, foi realizado o

exame físico e oftalmoscópio e a LIO estava com perfeita, e apresentava

discoria discreta.

Vinte dias após a cirurgia ao novo exame físico e oftalmoscópico, e a

LIO estava centralizada e o olho da paciente já estava sem discoria.

Em geral, pacientes diabéticos são bons candidatos à cirurgia de

catarata, desde que estejam livres de maiores complicações do diabetes, tais

como cetoacidose e falência renal ou hepática (SLATTER, 2005).

No caso relatado a paciente apresentava quase todos os parâmetros

normais no hemograma, e exame bioquímico. Porém alguns parâmetros

estavam alterados como: GGT e glicose (26mg/ dl). E apresentava os

seguintes sinais clínicos: alteração no comportamento por causa de falha

visual, colisão com objetos em ambientes familiares, alteração no aspecto do

olho, aparência branca, que é pior à noite, quando a pupila esta dilatada.

Segundo a literatura, são os principais sinais visualizados em cães acometidos

com catarata.

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O diagnóstico do caso relatado procedeu-se a partir de exame

oftalmoscópico, e eletroretinografia, que avalia a atividade elétrica da retina em

resposta a um estímulo luminoso. O eletroretinograma é utilizado quando o

oftalmologista não consegue examinar a retina, porque a lente encontra-se

opacificada. Se a eletroretinografia for negativa, a retina não é funcional, neste

caso, a cirurgia deve ser considerada apenas para a preservação do globo

ocular, e por estética.

O tratamento realizado foi a extração por facoemulsificação, que é uma

técnica citada por vários autores como tratamento de eleição para esta afecção

Outras técnicas são realizadas para a extração da catarata, como por exemplo

a extração extracapsular.

A facoemulsificação é uma técnica de aperfeiçoamento da facectomia

extracapsular. A utilização da facoemulsificação tem algumas vantagens desta

técnica em relação às outras descritas na literatura como: pequena incisão, a

manutenções da pressão intra-ocular intra-operatória, a pouca manipulação

das estruturas internas ao globo ocular. Também o menor índice de

contaminação, a menor ocorrência de inflamação intra-ocular pós-operatória, o

menor tempo operatório e a reabilitação precoce da visão. Entre suas

limitações estão o alto custo do equipamento e maior dificuldade de

aprendizado (PIGATO et al, 2007).

O implante da lente-intraocular após a remoção da catarata em cães

ainda é motivo de controvérsias, sendo necessária a realização de estudos

adicionais, tanto quanto para avaliar a necessidade do implante quanto suas

complicações. Segundo Kleiner (2008), quando a catarata é bilateral é

necessário o uso da LIO ao menos em um dos olhos, pois sem a lente o animal

enxergará bem de longe, ao passo que de perto a visão não será muito boa.

Às vezes ocorre da cápsula toda ser removida, então não será possível

o uso da LIO, sendo que esta fica alojada na cápsula (KLEINER, 2008).

A cirurgia de catarata é muito delicada e depende muito do cuidado

intensivo no pós-operatório, juntamente com cooperação do paciente e do

proprietário para administrar a medicação necessária e cumprir os horários são

essências para o sucesso do procedimento.

10.2 Conclusão

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No caso relatado a paciente que foi submetida, à facoemulsificação teve

um excelente resultado pós-operatório, recuperando a visão com algum grau

de melhora significativa para o proprietário, e para qualidade de vida do próprio

animal.

11 REFERÊNCIAS

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Publishing, 2007. Pg. 888-925.

12 Afecções causadas pelo Coronavirus em gato 12.1 Resumo A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença fatal em gatos,

causada por uma reação de hipersensibilidade do tipo III e/ou IV induzida pelo

vírus da PIF, um mutante do coronavírus entérico felino. A doença pode ter

caráter sistêmico ou localizar-se em qualquer órgão, principalmente no sistema

nervoso central, intestinos e olhos.

O FIV a família coronavirus felina pode causar importantes infecções em

gatos domésticos. Essas doenças são caracterizadas por um longo período de

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incubação, febre, depressão, perda de apetite, emagrecimento e aumento

abdominal progressivo. A infecção das células da linhagem do monócito-

macrófago parece ser essencial na patogênese da PIF, enquanto na FIV possui

um tropismo por linfócitos, macrófagos, glândulas salivares e SNC.

Palavras chaves: PIF, Coronavírus, FIV, infecções, felino.

12.2 Introdução

A Peritonite Infecciosa Felina (PIF) é uma doença crônica de gatos

semelhante à AIDS humana causada pelo vírus da imunodeficiência felina

(FIV). pertence à família Retroviridae, da subfamília dos lentivírus, foi descrito

em 1986 por Pederson e colaboradores na Califórnia em gatos domésticos, e

foi designado de vírus T - linfotrópico (FTLP), pois foi encontrado em células

linfocíticas do sangue periférico de gatos infectados e por seu aparente

tropismo por células T in vitro (SHERDING, 2004).

Alterações relacionadas com um estado de imunodeficiência dos gatos

foram associadas com a infecção pelo vírus T - linfotrópico (FTLP). Tal como

na AIDS no humano, a infecção pelo FIV processa-se em dois tempos: uma

fase de penetração do vírus, seguida de uma fase de propagação no

organismo hospedeiro. Uma enzima viral, a transcriptase inversa, permite que

o vírus (cuja informação genética é constituída por um filamento único de RNA)

se transcreva num filamento de ADN (retro transcrição). Este se duplica e

os dois filamentos integram-se no próprio seio dos cromossomas dos linfócitos

infectados (ZANUTTO e HAGIWARA, 2007).

12.3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

VÍRUS DA IMUNODEFICIENCIA FELINA (FIV)

O FIV foi isolado originalmente em 1986 a partir de um gatil no norte da

Califórnia. Este vírus encontra-se disseminado na população desde pelo menos

os anos 1960 (SHERDING, 2004).

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Lutz citado por Teixeira et al diz que o vírus da imunodeficiência felina

(FIV) e o PIF pertencem à família Retroviridae, da subfamília dos lentivírus e

acometem gatos domésticos em todo o mundo (TEIXEIRA et all, 2007).

O FIV possui um tropismo por linfócitos, macrófagos, glândulas salivares

e SNC. Este vírus infecta primariamente e destrói gradualmente populações

selecionadas de linfócitos T e a perda progressiva desses linfócitos resulta em

uma síndrome de imunodeficiência caracterizada por infecções crônicas e

recorrentes, sendo esta vitalícia e fatal (SHERDING, 2004).

As taxas mais altas de infecção têm sido encontradas em gatos machos

adultos com livre acesso às ruas, os quais, freqüentemente, apresentam

comportamento agressivo (TEIXEIRA et al, 2007).

As espécies susceptíveis incluem o gato doméstico, o leão, o tigre, a

onça-pintada, o leopardo-das-neves, o leopardo e o lince-vermelho

(SHERDING, 2004).

A infecção por FIV ocorre em gatos domésticos de todo o mundo, com

prevalências que variam de 1% a 44% e de 1% a 38%, respectivamente. No

Brasil, já foi detectada por meio de pesquisas sorológicas e pela PCR, em

gatos domésticos domiciliares e de rua, nos estados de São Paulo, Rio de

Janeiro, Rio Grande do Sul e Minas Gerais, com prevalências que variam de

menos de 2,0% a 37,5% para FIV (TEIXEIRA et al, 2007).

Os gatos machos superam em números as gatas em 3 para 1. O FIV

afeta gatos de todas as idades (a variação descrita é de 2 meses a 18 meses),

no entanto, a incidência aumenta com a idade e o FIV e mais prevalente em

gatos acima de 5 anos de idade ou mais (SHERDING, 2004).

Segundo Sherding (2004) devido ao período latente assintomático

extensivo típico dos lentivírus, a maior parte dos gatos infectados com FIV que

apresentam sinais clínicos tem mais de seis anos de idade.

A forma mais comum de transmissão do vírus é através de dentadas, em

que a saliva entra em contacto com o sangue. Ainda em estudo está a

possibilidade de transmissão através do contacto sexual, embora durante o

mesmo haja freqüentemente dentadas do macho na fêmea, aumentando o

risco de transmissão. As mães infectadas podem transmitir a doença aos

filhos, mas a transmissão depende da carga viral da mãe durante a gravidez

(PORTAL VETERINARIO, 2008).

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A mordedura constitui o modo de transmissão principal do FIV. O risco

mais alto é encontrado em gatos machos intactos que se permite que vaguem

livremente fora de casa, pois a transmissão por ferimento de mordedura pode

ocorrer durante as disputas territoriais além de inoculações orais, vaginais, e

retais e através de inseminação artificial, no entanto essas vias são

improvavelmente importantes sob condições naturais (SHERDING, 2004).

Os sinais clínicos são de acordo com a fase de infecção, que são:

FASE DE INFECÇÃO PRIMÁRIA AGUDA

Este estágio começa com 4- 6 semanas após exposição. Os sinais que

podem ocorrer são: febre transitória, neutropenia e linfopenia, linfadenopatia

generalizada, também sepse, celulite, dermatite facial pustular, anemia, diarréia

e estomatite (SHERDING, 2004).

FASE DE INFECÇÃO LATENTE ASSINTOMÁTICA

Segundo Sherding pode ocorrer uma latência prolongada de duração

variável, que pode durar anos antes de ocorrerem sinais de imunodeficiência.

FASE DE INFECÇÃO TERNIMAL CRÔNICA

Infecções oportunistas recorrentes crônicas com sinais que aumentam e

diminuem e pioram progressivamente em meses a anos e podem envolver

qualquer combinação das manifestações seguintes: perda de peso e

debilitação progressiva, infecções bacterianas recorrentes crônicas, que podem

se resolver com antibióticos, mas podem recidivar, febres recorrentes de

origem desconhecida, infecções oportunistas especificas, encefalopatias

(demência, perambulação, ataques convulsivos, efeito direta no SNC),

neoplasias, manifestações oculares( figuras 29 e 30). Como uveíte anterior,

glaucoma, pars planitis, hemorragias e degeneração retinianas, falência renal

crônica (SHERDING, 2004).

FIGURA 29 – UVEÍTE DEVIDO A PIF E FIV

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FIGURA 30 – UVEÍTE DEVIDO A PIF E FIV

O diagnóstico para este vírus é feito através da análise do sangue. A

existência de anticorpos específicos faz com que o teste dê positivo a FIV, mas

podem ocorrer falsos positivos ou falsos negativos e os testes feitos nas

clínicas devem ser sempre repetidos em laboratório. Gatos até os seis meses

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de idade podem ter estes anticorpos provenientes do leite materno, do qual

literalmente bebem a proteção contra as doenças. Gatos em fase terminal

podem originar falsos negativos devido à inexistência de anticorpos ( PORTAL

VETERNIARIO, 2008).

O diagnóstico para FIV baseia-se geralmente na demonstração de

anticorpos sericos anti-FIV usando um dos dois formatos: ELISA, ou borrão

ocidental, Anticorpos contra FIV indicam uma exposição e uma

infecção anterior e como a infecção com FIV é vitalícia, um resultado de teste

de anticorpos de FIV positivo significa que o vírus se encontra presente no gato

e assim permanecerá por toda a vida (SHERDING, 2004).

Para o tratamento recomenda-se o isolamento dos gatos de outros

felinos. Não só porque os gatos infectados podem transmitir a doença aos

gatos saudáveis, mas porque os gatos com FIV devem estar o mais protegidos

de outros vírus que possam constituir infecções secundárias. Este isolamento

não se aplica, contudo aos donos que não correm qualquer perigo por estarem

em contacto com o gato. O isolamento dos donos pode contribuir para o

aparecimento de estrese ou depressão que acelera o avanço da doença

(PORTAL VETERNIARIO, 2008).

Mesmo que o FIV seja incurável, os gatos assintomáticos podem viver

por anos antes de desenvolver sinais clínicos, e os gatos sintomáticos podem

ser mantidos freqüentemente por muitos meses com o uso criterioso de

antibióticos para controlar infecções secundárias combinados com terapia de

suporte (SHERDING, 2004).

Segundo Sherding (2004), nenhum tratamento específico contra FIV

elimina efetivamente as infecções: quando um gato se infecta contra FIV, fica

infectado por toda a vida. Têm-se experimentado algumas drogas anti-HIV

atuais e estas são demasiadamente tóxicas nos gatos. O tratamento de gatos

infectados com FIV com o análogo nucleosídico azidotimidina (AZT), em

15mg/kg, VO ou SC, a cada 12 horas, tem produzido melhora no estado

imunológico e regressão de estomatite. O AZT pode causar anemia, por isso

gatos tratados com essa medicação devem ser monitorados com hemogramas

completos constantemente.Os gatos doentes com infecções bacterianas

relacionadas com FIV podem responder algumas vezes drasticamente a

antibióticos. Trate cada episódio de infecção à medida que ele surge, utilizando

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uma orientação de cultura e antibiograma sempre que for possível. A de

estomatite deve ser tratada com metronidazol (10mg/kg, VO, a cada 12 horas)

e clindamicina (12,5mg/kg, VO, a cada 12 horas),ou prednisona (5mg/animal

VO, a cada 12 horas). O uso de fluidoterapia e suporte nutricional, conforme a

necessidade do paciente. Evitar a exposição a outras doenças infecciosas

devido a queda na resistência. Nos animais com risco de exposição, continuar

com as vacinas (nas fases iniciais, os gatos FIV-positivos responderão), mas é

preferível produtos in vitro (SHERDING, 2004).

Como o FIV está associado a lutas entre gatos, onde são trocadas

dentadas e abertas feridas, a castração do animal reduz o risco de contágio. A

castração atenua também a vontade de os gatos irem ter com fêmeas em cio e

por isso o gato terá menos vontade de ir ao exterior. Caso consiga fugir de

casa, como estão castrado, as hipóteses de enfrentar gatos vadios são

menores. A castração é aconselhada pela tanto para gatos infectados como

para gatos saudáveis (PORTAL VETERINÁRIO, 2008).

Recomendar ao proprietário não adquirir outros gatos sem saber a

procedência, e também sobre a necessidade de levá-lo ao veterinário antes de

levá-lo para casa. Também é necessário fazer testes nos gatos que já são da

casa para não passar nenhuma doença para o novo animal (SHERDING,

2004).

O vírus é pouco resistente se não estiver alojado num hospedeiro, e por

isso não são precisos cuidados especiais em relação aos objetos. Lavar os

pratos de comida e água, servem para matar o vírus que tenha sido transferido.

É necessário isolar os animais doentes dos animais sadios (PORTAL

VETERINARIO, 2007).

A melhor forma de prevenção contra FIV consiste em não permitir que

gatos perambulem livremente fora de casa (SHERDING, 2004).

PERITONITE INFECCIOSA FELINA

A peritonite infecciosa felina (PIF) é a principal causa infecciosa de

morte nos gatos. Ocorre quando o gato reage inadequadamente ao

coronavírus (FCOV). Muitos gatos são simplesmente infectados, emitem o

FCOV durante um ou dois meses, montam uma resposta imunitária, eliminam o

vírus e vivem normalmente. No entanto, por razões que ainda não se entende

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totalmente, em vez de se libertarem do FCOV, alguns gatos desenvolvem a

PIF (PAIXAO et al, 2004).

Esta infecção foi descrita pela primeira vez na década de 60 e, desde

então, foram relatados casos em felinos domésticos e selvagens em todo o

mundo (OLIVEIRA, 2003).

A PIF é uma doença sistêmica progressiva e fatal dos gatos causada

pelo coronavírus felino. As lesões de PIF não se restringem ao peritônio e há

formas efusiva e não-efusiva da doença. Os macrófagos replicam o vírus e o

transportam para os tecidos-alvos, tais como peritônio, pleura, úvea, meninges

(SHERDING, 2004).

O agente etiológico foi identificado como um coronavírus, denominado

de vírus da peritonite infecciosa felina (FIPV), que é uma mutação do

coronavírus entérico felino (OLIVEIRA et al ,2003).

As cepas produtoras de PIF do coronavírus (FIPV) possuem um

tropismo por macrófagos e são antigenicamente indistinguíveis dos coronavírus

intestinais felinos (FECV), que se replicam somente nas células epiteliais

intestinais. O FIPV é aparentemente um mutante do FECV e, na maior parte

dos casos, a mutação acomete durante a replicação, dentro do trato intestinal

de gatos, que prosseguem para desenvolver a PIF.

Segundo Oliveira et al (2003), esse vírus infecta macrófagos e a

infecção é, às vezes, ajudada pelo conceito da intensificação dependente de

anticorpo, na qual a presença de imunoglobulinas contra o FECV, aumenta a

entrada do vírus em macrófagos, pela ligação do complexo antígeno-anticorpo

ao receptor.

O vírus da PIF causa uma infecção sistêmica do sistema macrofágico e

induz uma vasculite mediada por imunocomplexos disseminada e severa com

necrose e inflamação piogranulomatosa. Os anticorpos contra coronavirus

sensibilizam os gatos à PIF, e os anticorpos humorais exercem um papel

importante na patogênese da doença (SHERDING,2004).

A PIF distribui-se mundialmente entre os gatos domésticos. Afeta

também felidae exóticos, incluindo o leão, a suçuarana, o guepardo, a onça-

pintada, o leopardo, entre outros felídeos selvagens (SHERDING,2004).

Segundo Sherding (2004) o FIPV é excretado em secreções orais e

respiratórias, nas fezes e, possivelmente, na urina. A infecção ocorre através

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de ingestão e, possivelmente, de inalação sob condições de contato íntimo. As

evidencias sugerem que o FIPV pode sobreviver no ambiente por até sete

semanas na forma seca, conseqüentemente, a transmissão por fomites

também constitui uma possibilidade.

A maior parte dos gatinhos se infecta com menos de 4 meses de idade,

e a PIF ocorre mais entre os 6 meses e 2 anos de idade, mas pode afetar gatos

de qualquer idade (SHERDING, 2004).

Segundo Sherding (2004), é uma infecção viral intercorrente com o vírus

da leucemia felina ou o vírus da imunodeficiência felina.

Os gatos com PIF com freqüência se apresentam inicialmente com

sinais inespecíficos e não-localizados, tais como febre, anorexia, perda de

peso, vômito, diarréia, desidratação e palidez (anemia). À medida que a

doença avança, os sinais inespecíficos progridem e os sinais clínicos são

dominados por derrames em cavidade corporal na forma ‘úmida’ da doença ou

por achados órgãos-específicos na forma sem derrame ou ‘seca’. Alguns gatos

manifestam características de ambas às formas da doença.

PIF úmida ou efusiva

Esta é a forma mais grave da doença, em que muitos vasos sanguíneos

são gravemente danificados e há acúmulo de líquido no abdômen e no tórax.

Quando os vasos sanguíneos do abdômen são afetados, a barriga do gato

incha devido à ascite (FIGURA 31). Quando são afetados os vasos sanguíneos

do tórax, observa-se hidrotórax, que impede os pulmões de se expandir e

dificultam a respiração do gato (PAIXÃO, 2004).

Na forma efusiva ou úmida da PIF, 85% dos gatos infectados

apresentam derrame inflamatório na cavidade abdominal e 35% apresentam

derrame na cavidade torácica (SHERDING, 2004).

Sherding (2004) quando ocorre peritonite, há uma distensão progressiva

e indolor do abdômen com fluido. Pode ocorrer também inchaço escrotal em

machos intactos como uma extensão direta do processo de derrame abdominal

no interior das túnicas testiculares.

A extensão da inflamação peritoneal pode envolver o TGI (vômito e

diarréia), o sistema hepatobiliar (icterícia) ou o pâncreas (vômito devido à

pancreatite). O derrame deve ser detectado por meio de palpação e percussão.

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Mas deve ser confirmado por meio de radiografia e abdominocentese e uma

análise do fluido geralmente indica PIF.

Quando ocorre derrame torácico (pleurite) existe dispnéia e intolerância

a exercícios, pois há expansão pulmonar pela compressão decorrente do fluido

no espaço pleural (SHERDING, 2004).

Ainda podem ser encontrados ruídos cardíacos e pulmonares abafados

na ausculta. O derrame torácico deve ser confirmado por meio de radiografia

ou toracocentese. A análise do fluido geralmente indica PIF.

FIGURA 31 - PRESENÇA DE LÍQUIDO NA CAVIDADE ABDOMINAL

FONTE: ALVES (2004)

PIF seca ou não-efusiva

É a forma mais crônica da doença. O gato normalmente tem sintomas

vagos, tais como anorexia, perda de peso, pelagem com pouco brilho. Muitos

gatos com PIF seca tornam-se ictéricos. As mucosas encontram-se

ictéricas.em muitos casos, aparecem marcas nos olhos, geralmente na íris que

muda de cor e algumas partes podem ficar castanhas. Pode haver hifema, ou

aparecimento de depósitos brancos na córnea (PAIXÃO et al, 2004).

Cerca de 12% dos gatos com PIF não-efusiva desenvolvem sintomas

neurológicos: ataxia (desequilíbrio, incordenação motora), podendo ter

também tremores de cabeça, convulsões, o olhar pode deslocar-se em

direções diferentes sem focarem um ponto definido (PAIXÃO et al, 2004).

A forma sem-derrame se caracteriza por uma inflamação

piogranulomatosa e uma vasculite necrosante em vários órgãos. Os

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piogranulomas podem ser observados como massas nodulares branco-

acinzentadas e múltiplas de tamanho variável na superfcie e dentro do

parênquima dos órgãos afetados. O derrame geralmente é mínimo ou ausente.

Os órgãos específicos afetados e o grau de insuficiência dos órgãos resultante

determinam os sinais clínicos. Pode ocorrer nefrite granulomatosa, quando

ocorre envolvimento renal extenso podem se desenvolver sinais de

insuficiência renal e azotemia. Proteinúria constitui o achado laboratorial mais

compatível na PIF renal (SHERDING, 2004).

No caso de envolvimento hepático pode ocorrer hepatite

piogranulomatosa (hepatomegalia, icterícia etc.). Anormalidades laboratoriais

podem ser bilirrubinenia e hiperbilirrubinemia. Elevações leves a moderadas de

enzimas hepáticas séricas (ALT, FA) e ácidos biliares séricos (SHERDING,

2004).

As lesões oculares da PIF são geralmente bilaterais e afetam a túnica ou

a úvea (FIGURAS 27 e 28), odendo prejudicar ou não a visão. Além desses

sinais podem ocorrer sinais nervosos, pulmonares e reprodutivos (SHERDING,

2004).

Geralmente o diagnóstico é baseado nos sinais clínicos, exames laboratoriais

(hemograma completo, bioquímica sérica, citologia, sorologia), radiografias e

biopsia (SHERDING, 2004).

Os sinais clínicos e os resultados das avaliações laboratoriais em gatos

com PIF são geralmente inespecíficos para a doença, no entanto, podem

proporcionar para um diagnostico (PAIXAO et al, 2004).

DETECÇÃO DO CORONAVÍRUS:

Existem vários testes para detectar a presença do coronavírus (PAIXÃO

et al, 2004).

O teste ELISA

Trata-se de um teste baseado na detecção de anticorpos ao

coronavírus. A detecção faz-se através de uma amostra sanguínea. O

inconveniente deste teste é que apresenta muitos falsos negativos, mas

também muitos falsos positivos. Este teste não é considerado confiável (como

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todos os testes ELISA, em geral feitos no consultório veterinário, para o FIV ou

FELV).

Contagem de anticorpos

Sob este termo genérico, englobam-se todas as técnicas que consistem

em determinar a taxa de anticorpos anti-coronavírus presente na amostra

sanguínea. Contrariamente ao teste ELISA, é testada uma série de diluições da

amostra sanguínea, o que permite ter uma idéia da taxa de anticorpos. É

importante referir que a contagem obtida é variável em função do laboratório

que a pratica, o que significa que este teste também não é confiável.

Teste RT – PCR (Reação em cadeia pela polimerase)

Este teste é considerado o mais fiável para detectar a carga viral. Os

testes PCR detectam diretamente os coronavírus, ou mais exatamente o seu

material genético, o ARN. A técnica chamada de RT-PCR quantitativa permite

quantificar com grande precisão o número de partículas virais na amostra.

O teste ideal é praticado por esfregaço retal, mas também pode ser

praticado sobre uma amostra de fezes. Constitui uma "fotografia" do estatuto

do gato (excretor ou não excretor) no momento em que a amostra é colhida.

Para determinar com exatidão a negatividade de um gato, é necessário obter

cinco resultados negativos com um mês de intervalo entre si (OLIVEIRA, 2003).

Segundo PAIXAO et al (2004), nenhum teste permite dizer que um gato poderá

vir ou não a desenvolver uma PIF. Um gato pode ter um nível elevado de

coronavírus e gozar de excelente saúde e viver mais de 15 anos. Pode

igualmente evitar, eliminando o vírus em poucos meses.

A peritonite infecciosa felina é vista, de um modo geral, como uma

doença incurável. A maior parte das “convalescenças” participadas são,

provavelmente, doenças curáveis diagnosticadas como PIF. No entanto,

ocasionalmente o tratamento pode ter como conseqüência uma remissão, que

pode durar vários meses. Como a PIF é uma doença imune mediada, a terapia

inclui a supressão da resposta imunitária, normalmente com corticosteróides.

Os tratamentos antivirais só por si não prolongam muito a vida do gato e muitos

são bastante tóxicos para o animal. É também importante manter o seu estado

geral de nutrição, introduzindo vitaminas e antioxidantes. Antes de adotar

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qualquer das terapias que se seguem, é essencial ter a garantia que o

diagnóstico está correto, uma vez que os medicamentos imuno-supressivos

podem agravar outras doenças, tais como peritonite bacteriana ou pleuresia

(PAIXÃO et al, 2004).

Imunossupressores

Os gatos submetidos a tratamentos com imunossupressores devem

também tomar antibióticos para proteção contra outras infecções.

Prednisolona

A prednisolona é o principal imunossupressor utilizado no tratamento da

peritonite infecciosa, é segura e faz com que o gato se sinta melhor e estimula

o apetite. A prednisolona suprime tanto a resposta humoral como a resposta

imunitária celular mediada.

Dose: 2-4mg/kg/dia por via oral, aplicar dose durante 10-14 dias, até

encontrar a dose ideal para o gato.

Talidomida

A justificativa para utilizar talidomida no tratamento da peritonite

infecciosa felina prende-se com a redução de inflamação e a resposta

imunitária humoral do coronavírus felino, deixando intacta a resposta imunitária

da célula mediada (antiviral).

Dose: 50-100/mg à noite. Não administrar durante a gravidez, pois é

teratogênico.

Interferon

Interferon omega felino

Virbagen Omega é um recombinante interferon omega felino (IFN

omega). O IFN omega foi inicialmente administrado por via subcutânea 1

MU/kg com um dia de intervalo, e depois uma vez por semana durante um

perído variável se se verificar a remissão (SHERDING, 2004).

O Interferon Omega parece surtir um efeito curativo em cerca de um

terço de gatos com PIF; bons resultados em gatos mais jovens e também gatos

com PIF não-efusiva. O IFN Omega mantém a sua potência preservado no frio

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até 3 semanas, por isso deve manter-se grande parte do IFN Omega no frio até

ser necessário utilizá-lo.

Na PIF efusiva podem ser administradas 30 u.i./dia, ou doses mais

elevadas de interferon através de injeção (10, 000 – 1,000,000 u.i. por dia). Ao

fim de 6-7 semanas, se o gato ainda estiver vivo, o interferon não fará efeito

com esta dose, porque o seu organismo criou anticorpos contra esta

substância. Para obter interferon-alfa humano (Roferon ou Intron A), é

necessária uma receita. Como é óbvio, em locais onde exista interferon felino,

é preferível utilizá-lo pois será mais eficaz que o interferon humano

(SHERDING, 2004).

Vitaminas e antioxidantes

Outros medicamentos de apoio

Aspirina

Para agir como antiinflamatório e aliviar a dor.

Dose: 10mg/kg a cada 48-72 horas.

Ampicilina

A profilática antibiótica é essencial quando os gatos são submetidos a

tratamentos com imunossupressores.

Para o tratamento de PIF ocular, o uso de corticosteróides

oftalmológicos tópicos e atropina tópica para a midriase. Alguns clínicos

recomendam injeções subconjuntivais ou retrobulbares de corticóides de longa

ação (SHERDING, 2004).

Para tratamento de suporte algumas medidas são necessárias para melhorar a

qualidade de vida e possivelmente o tempo de sobrevivência como: drenagens

intermitentes da cavidade corporal (em casos efusivos), fluidoterapia

parenteral, transfusões sangüíneas em casos de anemia não regenerativa

severa (SHERDING, 2004).

A vacinação ainda é a melhor forma de prevenção. Isolamento de gatos

com sinais de PIF, controle de FeLV em gatis por meio de vacinações, testes e

remoções, permitir somente a entrada de animais soronegativos, as gatas

devem parir e amamentar seus gatinhos longe de outros gatos. Gatinhos

oriundos de gatas soropositivas devem ser desmamados cedo e isolados a

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partir de sua mãe com 4-6 semanas de idade. Usar um bom manejo, por

exemplo, práticas de higiene e alimentação boas, evitar superpopulações e

limitação de contaminação feco-oral diminuem as chances de contrair a PIF

(SHERDING, 2004).

Segundo Paixão et al (2004), seja qual for o tratamento que escolha, é

importante a vigilância ao desenvolvimento do gato. No inicio é necessário

realizar hemogramas e testes bioquímicos, pesar o animal sempre, mais tarde

esses teste podem ser feitos mensalmente se o gato estiver bem. Não vale a

pena medir o título para anticorpos do FCOV mais do que uma vez por mês,

visto que não haverá uma 7diferença notória num período de tempo mais

reduzido. Quando a percentagem de hematócrito é menor que 20% e é não-

regenerativo, então provavelmente deverá recorrer-se à eutanásia, se verificar

que o gato já não tem qualidade de vida.

Evidentemente que se o gato não estiver em perigo em qualquer fase do

tratamento, será aconselhável o recurso à eutanásia. Infelizmente, os gatos

com peritonite infecciosa felina na forma efusiva normalmente só sobrevivem

alguns dias, talvez algumas semanas na melhor das hipóteses. Os gatos com

PIF não-efusiva podem sobreviver durante várias semanas ou meses. Porém,

após o início dos sintomas neurológicos, geralmente procura-se quase de

imediato a eutanásia (PAIXÃO et al, 2004).

13 RELATO DE CASO O proprietário levou o paciente Mohamed, da espécie felina, da raça

siamês com 6 anos de idade e pesando 4,5k/g ao HVSB para uma consulta,

pois percebeu que apresentava-se com a pupila eritematosa e havia dilatação

do globo ocular bilateral, e que o quadro foi progressivamente se agravando.

Ao exame físico, o paciente apresentou temperatura de 37,8º C, FC de 140

bpm, TPC de 2’’, FR de 28 mpm, e outros parâmetros normais.

¹ Clamoxil LA, Pfiezer, São Paulo, SP ² Meticorten Veterinário 5mg, Schering-Plough Vetrinaria. Cotia São Paulo ³ Vitaminthe, Virbac. São Paulo, SP

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Ao exame oftalmoscópico foram observadas lesões inflamatórias na

retina (retinite), diminuição da PIO, mas a visão ainda estava boa. E uveíte, a

pupila não estava responsiva a luz (afetados os bastonetes).

Então foi solicitado exames laboratoriais para FIV, PIF, e FeLV. O

resultado para FeLV foi negativo, e para PIF e FIV foram positivos , sendo a

titulação para PIF de 1/200 (valores de referencia são: menores que 1/10).

No dia da consulta foi aplicado amoxicilina¹ na dose de 15mg/kg.

Foi prescrito prednisona² - VO na dose de 0,5mg/kg a cada 8 horas por 7

dias, após sete dias dar um dia sim outro não, depois a cada dois dias , depois

parar.

Uso de suplemento vitamínico³, 5 ml por dia.

Para o tratamento de PIF ocular, o uso de corticosteróides

oftalmológicos tópicos e atropina tópica para a midríase. Foram feitas injeções

subconjuntivais de corticóides de longa ação.

13.1 Discussão

O FIV afeta gatos de todas as idades (a variação descrita é de 2 meses

a 18 meses), no entanto, a incidência aumenta com a idade e o FIV e mais

prevalente em gatos acima de 5 anos de idade ou mais (SHERDING, 2004). O

paciente do caso relatado apresentava-se com seis anos. Alguns autores citam

que os gatos ficam com comportamento agressivo, o que não ocorreu neste

caso.

Não se sabe ao certo a idade em que o animal foi infectado, pois ainda

não havia sido feito exames para comprovar. Mas o animal só começou a

apresentar os sinais clínicos com seis anos de idade. Como descreve

Sherding, que devido ao período latente assintomático extensivo típico dos

lentivirus, a maior parte dos gatos infectados com FIV que apresentam sinais

clínicos tem mais de seis anos de idade.

O paciente pode ter sido infectado de várias maneiras, pois são muitas

as vias de transmissão, já que este animal ficava tanto em ambientes externos

quanto internos. Segundo Sherding (2004) como a mordedura constitui o modo

de transmissão principal do FIV, o risco mais alto é encontrado em gatos

machos intactos que se permite que vaguem livremente fora de casa, pois a

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transmissão por ferimento de mordedura pode ocorrer durante as disputas

territoriais.

Provavelmente este animal estava em uma fase de infecção latente

assintomática, pois, não apresentava febre, anemia nem estomatite o que

segundo Sherding (2004) ocorre na fase de infecção primária aguda. Mas o

animal apresentava um sinal de uveíte que é um sinal de infecção terminal

crônica (SHERDING 2004).

O tratamento recomendado ao paciente foi o que segue na literatura,

mas ainda ressaltando ao proprietário que este tipo de infecção não têm cura.

A terapia utilizada foi com o uso de antibióticos para evitar infecções

secundárias que podem ocorrer (SHERDING, 2004). O uso de vitaminas

também foi indicado como terapia de suporte.

Como o paciente não apresentava sinais de estomatite não foi

necessário o uso de medicamentos como o metronidazol.

Este paciente também apresentou PIF e foi necessário associar alguns

medicamentos para esta afecção.

A prednisolona é o principal imunossupressor utilizado no tratamento da

peritonite infecciosa, é segura e faz com que o gato se sinta melhor e estimula

o apetite. A prednisolona suprime tanto a resposta humoral como a resposta

imunitária celular mediada (PAIXÃO et al, 2004).

O uso de complexos vitamínicos também foi indicado ao paciente, e

também medicamentos para o tratamento da uveíte que foi a base de colírios a

com corticosteróides e atropina tópica para a midríase. Foi realizado também

injeções subconjuntivais de corticóides de longa ação segundo indica a

literatura.

Alguns tratamentos que foram citados na literatura não foram de uso

rotineiro para o caso relatado como: fluidoterapia, que não foi necessária, pois

o paciente não se apresentou desidratado nem em estado debilitado. Outras

formas de medicação tanto para o FIV quanto para o PIF também não foram

utilizados (interferon, talidomida, interferon felino, etc).

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13.2 Conclusão

Não existe nenhum tratamento médico que possa curar este tipo de

afecção. O tratamento utilizado é apenas de suporte, proporcionando aos

animais uma melhor condição de vida.

O tratamento para o paciente foi realizado segundo protocolos citados

pela literatura. O paciente estava em boas condições de vida, sendo que não

foi necessário o uso da fluidoterapia, que é bastante importante. Não se

descarta o uso da mesma se a condição de vida do paciente vier a piorar,

como é bastante provável de ocorrer.

Nestes casos onde na existe cura, os tratamentos somente são

realizados para proporcionar melhor qualidade de vida, mas depende dos

resultados de exames laboratoriais, se estes aparecerem muito alterados o

melhor recurso é a eutanásia. Deve-se isolar os doentes dos animais sadios,

para tentar diminuir a disseminação da doença.

14 REFÊRENCIAS

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Infecciosa Felina- Relato de Caso. Dezembro de 2007. Disponível em:

www.vetnot.famev.ufu.br/include. Acesso em: 02/10/2008.

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15 CONCLUSÃO

O estágio curricular supervisionado em Medicina Veterinária foi uma

ferramenta fundamental para o aprimoramento e preparação para o mercado

de trabalho, seja qual for à área ao qual ele é voltado. Os ensinamentos e

fundamentos discutidos durante os cinco anos de Faculdade foram

complementados e auxiliados por novas fontes de ensino, permitindo ampliar

esses conhecimentos, assim como desenvolver a capacidade de avaliar e

comparar as formas com que este ensino é desempenhado em diferentes

instituições.

O convívio com a rotina de uma clínica, com os animais e com os

proprietários foi de alta relevância para o aprendizado tanto da parte didática

quanto emocional.

Portanto, este estágio permitiu aprimorar conhecimentos, além da

conduta ética e profissional, itens fundamentais à formação de todo profissional

de qualidade.

Na parte pessoal acrescentou ainda mais respeito pelos animais, pela

profissão e a vontade sempre de ajudar a amenizar o sofrimento e sempre que

for possível, salvar vidas.

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