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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENFERMAGEM CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM NÚCLEO DE PESQUISA EM ENFERMAGEM E SAÚDE COLETIVA GRUPO MUSICAL UMA ESTRATÉGIA DE PROMOÇÃO DA SAÚDE PARA O ENVELHECIMENTO ATIVO: contribuições para a Enfermagem Gerontogeriátrica SIMONE FELICIANO DE ABREU RIO DE JANEIRO JUNHO DE 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO

    CENTRO DE CINCIAS DA SADE

    ESCOLA DE ENFERMAGEM ANNA NERY

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM ENFERMAGEM

    CURSO DE MESTRADO EM ENFERMAGEM

    NCLEO DE PESQUISA EM ENFERMAGEM E SADE COLETIVA

    GRUPO MUSICAL UMA ESTRATGIA DE PROMOO DA SADE PARA O

    ENVELHECIMENTO ATIVO: contribuies para a Enfermagem Gerontogeritrica

    SIMONE FELICIANO DE ABREU

    RIO DE JANEIRO

    JUNHO DE 2013

  • Simone Feliciano de Abreu

    GRUPO MUSICAL: UMA ESTRATGIA DE PROMOO DA SADE PARA O

    ENVELHECIMENTO ATIVO: contribuies para a Enfermagem Gerontogeritrica

    Dissertao de Mestrado apresentada ao Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna

    Nery, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisitos

    parcial obteno do ttulo de Mestre em Enfermagem.

    Orientador (a): Prof Ana Maria Domingos

    Rio de Janeiro

    2013

  • Catalogao elaborada por Alyne Castro dos Santos CRB 7: 5210

    A162g ABREU, Simone Feliciano, 1971 -

    Grupo Musical uma estratgia de promoo da sade para o

    envelhecimento ativo: contribuies para a Enfermagem Gerontogeritrica./

    Simone Feliciano Abreu. Rio de Janeiro: UFRJ/EEAN, 2013.

    xv, 104 f.: il.; 31cm.

    Orientador (a): Profa. Ana Maria Domingos.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio de Janeiro,

    Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Escola de Enfermagem Anna

    Nery - EEAN, 2013.

    Referncia Bibliogrfica: f. 93-100.

    1. Enfermagem Gerontogeritrica. 2. Grupo. 3. Msica 4. Envelhecimento

    Ativo. 5. Promoo sade. I. Domingos, Ana Maria. II. Universidade Federal

    Fluminense. III. Programa de Ps-Graduao em Enfermagem da Escola de

    Enfermagem Anna Nery - EEAN. IV. Ttulo.

    CDD: 610.7365

  • Simone Feliciano de Abreu

    Dissertao de Mestrado apresentado a Banca Examinadora do Exame do Programa de Ps-

    Graduao em Enfermagem, da Escola de Enfermagem Anna Nery, da Universidade Federal

    do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessrios obteno do ttulo de Mestre em

    Enfermagem.

    Banca Examinadora

    Prof Dr Ana Maria Domingos EEAN/UFRJ

    Presidente e Orientador(a)

    Prof Dr Anna Karine Ramos Brunn EEAAC/UFF 1 Examinador (a)

    Prof Dr Sheila Nascimento Pereira de Farias - EEAN/UFRJ

    2 Examinador (a)

    Prof Dr Selma Petra Chaves S - EEAAC/UFF

    Suplente

    Prof Dr Marluci Conceio Andrade Stipp - EEAN/UFRJ

    Suplente

  • AOS IDOSOS DO GRUPO MUSICAL

    A todos os participantes do GRUPO MUSICAL, que to generosamente nos permitiu

    desfrutar de suas experincias, desafios e conquistas, que alertam a ns profissionais de sade

    que h muito a aprender sobre viver e envelhecer.

    Vocs so o peloto da frente, guerreiros, gentis, generosos e muito amorosos.

    O contedo dessa dissertao transmite muito de cada um de vocs do GRUPO MUSICAL.

    Obrigada, muito obrigada por me ensinarem sobre msica, grupo e amor.

    Agradeo a Deus a oportunidade de conhecer a todos.

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus que tm cuidado da minha vida desde que comecei a existir, por

    minha famlia que ele mesmo escolheu, pelas inmeras oportunidades de aprendizado no

    convvio com as pessoas que ele aproximou da minha vida, que so to generosas em ensinar

    lies valiosas que me ajudam a amadurecer. Senhor muito obrigada por todo seu

    investimento em minha vida, pela musica, te amo e agradeo e reconheo que sem sua

    amizade, o seu carinho e cuidados jamais conseguiria chegar aqui.

    Ao Grupo Musical, que composto pelos idosos do PAIPI (Programa de Assistncia

    Integral Pessoa Idosa), pessoas que ensinam nos encontros, o significado da vida do que as

    palavras encontro, companheirismo e solidariedade podem trazer ao corao e mente de

    pessoas. O Grupo Musical o encontro de quem insiste em reaprender com as memrias, com

    as atualidades e com as perspectivas de viver mais e cada vez melhor. Todos de maneira

    especial fazem parte de cada palavra presente neste trabalho.

    Aos meus pais Edir de Abreu em memria e Lindalva Feliciano amo muito vocs,

    que sempre foram exemplo de conduta, carter, f e perseverana. Obrigada, pelo carinho,

    cuidado e oraes que sempre cobriram minha vida, e por sempre me incentivarem a estudar

    suprindo todas as necessidades que me possibilitaram caminhar na vida.

    Ao meu irmo Antnio Feliciano de Abreu, cunhada Simone Peres, Asafe Abreu e

    Letcia Abreu meus sobrinhos, tia Janete Abreu que sempre so uma alegria nos momentos de

    desafio.

    As pessoas mais chegadas que irmos em minha vida, minhas preciosas amizades

    Luciana Nogueira, Antnio Carlos Pereira, Liliam Braga, Lucileide Santos, Antonia Santos,

    Maria Santos, Julieta Dornelles, Cleber Dornelles, Aparecida Dornelles, Marlene Silva, Lia

    Cotinhola, Lene Silva, Erica Cypriano, Fernanda Lima, Sheila Fonseca, Emlia Patrcia

    Souza, Rejane Crespo, Rosane Machado, Sandra Hermeto, Marilene Silva e Joyce Muniz que

    sempre estenderam as mos e o corao pra me ajudar desde que iniciei esta caminhada.

    Aos companheiros de trabalho to especiais, que me compreenderam em vrios

    momentos de ausncia neste percurso a quem agradeo o encorajamento e carinho Vanda

    Seabra, Ftima Abrantes, Irina Menezes, Marina Cndida, Nely Silvano, Sonia Felix, Jurema

    Marque a equipe multiprofissional do Programa de Assistncia Integral Pessoa Idosa,

    Unidade onde trabalho.

  • Aos meus colegas de trabalho do Hospital Escola So Francisco de Assis que sempre

    cooperavam nas mais diversas necessidades Ana Carla Pinto, Rosivania Alves, Isabel Cristina

    dos Santos e Nair Flor Pires. Muito obrigada.

    A minha orientadora, Professora Dr Ana Maria Domingos, um momento especial em

    minha vida foi o que me deu a oportunidade de conhec-la. Tenha certeza que suas frases,

    ainda ecoam em meus pensamentos, seus ensinamentos jamais sero ignorados em minha

    prtica profissional. Ser sua aluna uma honra, por ter partilhado tantos momentos difceis

    em nossas vidas, com certeza essa trajetria foi marco especial em minha vida. Obrigada por

    todos os conselhos e sugestes sempre pertinentes e elucidativos.

    Muitas pessoas me ajudaram nas etapas que percorri, e entre elas a Prof Dr Anna

    Karine Ramos Brunn, Prof Dr Sheila Nascimento Pereira de Farias, Prof Dr Selma Petra

    Chaves S, Prof Dr Marluci Conceio Andrade Stipp e demais docentes do Curso de

    Mestrado da EEAN.

    Agradeo tambm as atitudes de solidariedade e palavras de encorajamento sempre

    importantes da Prof Dr Maria Catarina Salvador da Motta, Prof Dr Anne Mary Feitosa,

    Prof Dr Marilurde Donato e Prof Dr Marla Chagas Moreira.

    A equipe da secretaria da ps-graduao Jorge, Sonia e Ftima por sempre me

    acolherem.

    E no poderia esquecer meu poodle Menina, companheira das horas solitrias.

  • CANO DO PAIPI

    Grupo Musical1

    bom estar aqui, aprender me divertir.

    A idade no me limita a viver e a sonhar.

    Amigos que eu fao so para minha vida.

    Amigos que eu conquisto alegram meu corao.

    Muitos no entendem, porque eu venho aqui.

    Sinto falta do carinho, do sorriso do abrao.

    1 Esta cano foi composta coletivamente pelo Grupo musical, sempre est presente em momentos comemorativos.

  • RESUMO

    ABREU, Simone Feliciano. Grupo Musical uma estratgia de promoo da sade para o

    envelhecimento ativo: contribuies para a Enfermagem Gerontogeritrica. Rio de Janeiro,

    2013. Dissertao (Mestrado em Enfermagem) Escola de Enfermagem Anna Nery,

    Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2013.

    O objeto desta pesquisa o grupo musical na perspectiva de pessoas idosas, com objetivos de

    descrever as percepes de pessoas idosas sobre o Grupo Musical; relacionar as percepes

    dos idosos com as metas do envelhecimento ativo para a promoo da sade do idoso; discutir

    a estratgia do grupo musical no contexto da prtica da enfermagem gerontogeritrica. Os

    eixos conceituais do estudo foram: Velhice, Qualidade de Vida e Bem Estar, Polticas

    Pblicas e Envelhecimento Ativo, msica na sade: msica na assistncia de enfermagem

    gerontogeritrica e a enfermeira no trabalho com grupos. A pesquisa foi delineada como um

    estudo de caso com abordagem qualitativa. O cenrio da investigao foi o Centro de

    Convivncia, do Programa de Assistncia Integral Pessoa Idosa, do Instituto de Ateno a

    Sade So Francisco de Assis/UFRJ. Participaram do estudo, 24 idosos que tinham idades

    entre 70 a 85 anos, as mulheres representaram 87% dos participantes. Os dados foram

    coletados aps a apreciao do Comit de tica em Pesquisa da Escola de Enfermagem Anna

    Nery/Hospital Escola So Francisco de Assis, protocolo n 195.985. A tcnica de coleta de

    dados foi entrevista em profundidade. Os resultados apontaram que as percepes dos

    sujeitos revelaram que, o Grupo Musical est contribuindo com o bem estar globais dos

    idosos proporcionando apoio emocional, a ressignificao da vida e da sade, e ganhos em

    sade. O cruzamento dos resultados tornou possvel perceber que o Grupo Musical pode ser

    considerado como uma ao do Envelhecimento Ativo promotora da sade do idoso. O estudo

    ps em evidencia que a associao das tecnologias leves no trabalho da enfermeira (no Grupo

    Musical) foi uma estratgia positiva de se produzir sade no campo da Enfermagem

    Gerontogeritrica.

    Palavras-Chave: Enfermagem Gerontogeritrica. Grupo. Msica. Promoo da Sade.

    Envelhecimento Ativo.

  • ABSTRACT

    ABREU, Simone Feliciano. Musical group a strategy for health promotion for active

    aging: contributions to nursing gound. . Rio de Janeiro, 2013 Dissertation (Master's in

    Nursing) - Anna Nery School of Nursing, Federal University of Rio de Janeiro, Rio de

    Janeiro, 2013.

    The object of this research is the musical group from the perspective of older people, with

    goals to describe the perceptions of older people on the Musical Group; relate the perceptions

    of the elderly with the goals of active aging for health promotion of the elderly; discuss the

    strategy of the musical group in the context of the practice of geriatric nursing. The

    conceptual axes of the study were: Elderly, Quality of Life and Welfare, Public Policy and

    Active Ageing, health Music: Music in the care of geriatric nursing and the nurse in working

    with groups. This research was designed as a case study with a qualitative approach. The

    setting of the research was the Living Center, the Program for Integral Assistance to the

    Elderly, Institute for Health Care St. Francis of Assisi/UFRJ. Participated in the study, 24

    seniors who were aged 70-85 years, women represented 87% of the participants. Data were

    collected after the assessment of the School of Nursing Anna Nery Research Ethics

    Committee / Hospital St. Francis of Assisi School, Protocol 195 985. The technique of data

    collection was the in-depth interview. The results showed that the perceptions of the subjects

    revealed that the Musical Group is contributing to the overall well being of the elderly by

    providing emotional support, the new meaning of life and health, and health gains. The

    crossing of the results made it possible to realize that the musical group can be considered as

    an action of Active Ageing promotes health of the elderly. The study made evident that the

    combination of soft technologies in nursing work (the Musical Group) was a positive strategy

    to produce health in the Nursing gound.

    Keywords: Nursing gound. Group. Music. Health Promotion Active Ageing.

  • RESUMEN

    ABREU, Simone Feliciano. Grupo musical una estrategia para la promocin de la salud

    para el envejecimiento activo: contribuciones a gound enfermera. . Ro de Janeiro, 2013

    Tesis (Maestra en Enfermera) - Anna Nery Escuela de Enfermera de la Universidad Federal

    de Ro de Janeiro, Ro de Janeiro, 2013.

    El objeto de esta investigacin es el grupo musical desde la perspectiva de las personas

    mayores, con los objetivos de describir las percepciones de las personas mayores en el grupo

    musical; relacionar las percepciones de las personas mayores con los objetivos de

    envejecimiento activo para la promocin de la salud de las personas mayores; discutir la

    estrategia del grupo musical en el contexto de la prctica de enfermera geritrica. Los ejes

    conceptuales del estudio fueron: edad avanzada, Calidad de Vida y Bienestar Social, Polticas

    Pblicas y el envejecimiento activo, la salud Msica: La msica en el cuidado de enfermera

    geritrica y la enfermera en el trabajo con grupos. Esta investigacin se dise como un

    estudio de caso, con abordaje cualitativo. El ajuste de la investigacin fue el Centro de Vida,

    el Programa de Atencin Integral a las Personas Mayores, el Instituto para la Atencin de la

    Salud de San Francisco de Ass/UFRJ. Participaron en el estudio, 24 adultos mayores que

    tenan entre 70 a 85 aos, las mujeres representaban el 87% de los participantes. Los datos

    fueron recolectados despus de la evaluacin de la Escuela de Enfermera de la Comisin de

    tica de la Investigacin Nery Anna / Hospital de San Francisco de Ass School, Protocolo

    195 985. La tcnica de recoleccin de datos fue la entrevista en profundidad. Los resultados

    mostraron que las percepciones de los sujetos revelaron que el grupo musical est

    contribuyendo al bienestar general y de las personas mayores mediante el apoyo emocional, el

    nuevo sentido de la vida y la salud, y beneficios para la salud. El cruce de los resultados ha

    permitido darse cuenta de que el grupo musical puede ser considerada como una accin del

    Envejecimiento Activo promueve la salud de las personas mayores. El estudio evidenci que

    la combinacin de tecnologas blandas en el trabajo de enfermera (Grupo Musical) fue una

    estrategia positiva para producir salud en el gound Enfermera.

    Palabras clave: Gound Enfermera. Grupo. Msica. Promocin de la Salud. Envejecimiento

    Activo.

  • LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

    EEAN Escola de Enfermagem Anna Nery

    GEASI Grupo de Pesquisa e Estudos Interinstitucional em Enfermagem na Ateno

    Sade do Idoso

    HESFA Hospital Escola So Francisco de Assis

    HIV Vrus da Imunodeficincia Humana

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    NUPENSC Ncleo de Pesquisa em Enfermagem e Sade Coletiva

    OMS Organizao Mundial de Sade

    ONU Organizao das Naes Unidas

    OPAS Organizao Pan-Americana da Sade

    PAIPI Programa de Assistncia Integral Pessoa Idosa

    PIAE Plano Internacional de Aes sobre o Envelhecimento

    PNI Poltica Nacional do Idoso

    PNSI Poltica Nacional de Sade do Idoso

    SUS Sistema nico de Sade

    UERJ Universidade do Estado do Rio de Janeiro

    UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro

    WHO World Health Organization

  • LISTA DE ILUSTRAES

    Quadro 01 Perfil dos sujeitos do estudo ......................................................................... 47

    Quadro 02 Sntese das categorias temticas e a relao com a promoo da sade para

    o envelhecimento ativo ................................................................................. 75

  • SUMRIO

    CAPTULO I - CONSIDERAES INICIAIS ............. 15

    1.1 A construo do objeto de estudo e os conceitos implicados na pesquisa ..... 15

    1.2 Questes Norteadoras e os Objetivos da pesquisa .......................................... 21

    1.3 Justificativa do Estudo ....................................................................................... 21

    1.4 Contribuies do Estudo ................................................................................... 23

    CAPTULO II - BASES CONCEITUAIS DO ESTUDO ...................................... 26

    2.1 Velhice, Qualidade de Vida e Bem Estar ......................................................... 26

    2.2 Polticas Pblicas e Envelhecimento Ativo ...................................................... 28

    2.3 A Enfermagem na produo do envelhecimento ativo ................................... 33

    2.4 A Msica na sade: fundamentos e implicaes ............................................. 35

    2.5 Msica na assistncia de Enfermagem Gerontogeritrica ............................. 37

    2.6 O Conceito de bem estar .................................................................................... 38

    2.7 A Enfermeira no trabalho com grupos ............................................................ 39

    CAPTULO III - CONSIDERAES METODOLGICAS .............................. 42

    3.1 Tipo de pesquisa ................................................................................................. 42

    3.2 Cenrio ................................................................................................................ 43

    3.3 Sujeitos do estudo ............................................................................................... 43

    3.4 Plano para produo de dados .......................................................................... 44

    3.5 Tratamento e anlise dos dados ........................................................................ 45

    3.6 Procedimentos ticos e suas implicaes na pesquisa ..................................... 46

    3.7 Especificaes tcnicas do Grupo Musical ...................................................... 46

    CAPTULO IV - ANLISE DOS RESULTADOS ............................................... 48

    4.1 Perfil dos sujeitos do estudo .............................................................................. 48

    4.2 Anlise dos Resultados ....................................................................................... 51

    4.2.1 O bem estar global proporcionado pelo Grupo Musical ............................ 51

    4.2.2 Percepo do apoio emocional no Grupo Musical .................................... 59

    4.2.3 A ressignificao da vida e da sade ......................................................... 61

  • 4.2.3.1 Oportunidades de olhar positivamente para si mesmo ............................ 64

    4.2.3.2 Os Ganhos em Sade .............................................................................. 67

    4.3 O Grupo Musical na perspectiva do Envelhecimento Ativo como estratgia

    de Promoo da Sade do Idoso ....................................................................... 72

    CAPTULO V - GUISA DE CONTRIBUIES PARA A ENFERMAGEM

    GERONTOGERITRICA ......................................................................................... 79

    CAPTULO VI - CONSIDERAES FINAIS ...................................................... 84

    REFERNCIA BIBLIOGRFICA ........................................................................... 87

    APNDICES ................................................................................................................ 98

    APNDICE 1 ............................................................................................................... 99

    APNDICE 2 ............................................................................................................... 100

    APNDICE 3 ............................................................................................................... 101

    APNDICE 4 ............................................................................................................... 102

    ANEXOS ...................................................................................................................... 104

  • 15

    CAPTULO I

    CONSIDERAES INICIAIS

    1.1 A construo do objeto de estudo e os conceitos implicados na pesquisa

    O objeto desta pesquisa o grupo musical na perspectiva de pessoas idosas. O

    interesse pela temtica idoso/promoo da sade/envelhecimento ativo tem relao com o

    incio de minha trajetria profissional como enfermeira do Programa de Assistncia Integral

    Pessoa Idosa (PAIP), um programa de extenso universitria, pioneiro no Rio de Janeiro, que

    abrange prticas gerontolgicas ambulatoriais e grupos interdisciplinares no Centro de

    Convivncia.

    Atualmente, um marco do Brasil contemporneo a mudana do padro

    demogrfico e epidemiolgico. Nas dcadas passadas verificou-se a tendncia ao rpido

    crescimento em nmeros absolutos e relativos dos indivduos com 60 anos e mais de idade.

    Atravs dos dados populacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE,

    2010) possvel verificar que o peso relativo da populao de idosos poca correspondeu a

    10% da populao total. Estima-se, que nos prximos 15 anos o Brasil ser o sexto pais do

    mundo em nmero de idosos, e que esta populao representar 13% da populao total do

    pas. Este crescimento progressivo sugere que de 10 idosos passaremos a ter 46 para cada

    grupo de 100 pessoas menores de 15 anos. Se continuar essa tendncia, espera-se que o

    contingente das pessoas idosas ultrapasse o de menores de 15 anos, em 2050 (BRASIL,

    2009).

    Deve-se, ter em mente, que esse aumento no nmero de pessoas idosas em uma

    populao uma conquista e ao mesmo tempo um desafio, porque o envelhecimento pode

    ocasionar um maior nmero de doenas e/ou condies crnicas envolvendo a sade, o que

    demanda maior utilizao dos servios sociais e de sade (FIRMO; LIMA-COSTA; UCHA,

    2007).

    Tambm se deve levar que nos prximos 15 anos 80% da populao de 60 anos e mais

    vai conviver com alguma condio crnica de sade, o que representar efetivamente 27

    milhes de pessoas utilizando a assistncia disponibilizada pelo Sistema nico de Sade

    (SUS) (BRASIL, 2009).

    Por conta dessa realidade, Veras (2009) destaca a ateno pessoa idosa como uma

    prioridade nas polticas pblicas de sade, principalmente, pela necessidade de investimentos

  • 16

    na promoo da sade no mbito dos servios da ateno primria sade, que contribuam

    preventivamente para a reduo dos custos elevados para o individuo, famlia, servio de

    sade e sociedade. Concordo que, de fato, na ateno primria que devemos utilizar

    tecnologias de baixo custo, como estratgias potencialmente efetivas na promoo da sade

    do idoso.

    A oportunidade de vislumbrar essa assertiva surgiu com minha insero profissional

    no PAIPI. O primeiro contato profissional com idosos se deu na consulta de enfermagem, e

    tive na ocasio possibilidade de notar a complexidade do processo de envelhecimento e as

    especificidades exigidas nas aes de enfermagem a populao idosa.

    Penso que o envelhecimento um fenmeno multideterminado, o que explica

    entend-lo como um fenmeno complexo. Por conseguinte, existem mltiplas perspectivas

    que a enfermeira deve considerar ao propor aes promotoras de sade ao idoso. Essa ideia s

    tomou sentido, quando percebi que a sade da pessoa idosa deve ser pensada como resultado

    da inter-relao entre os contextos biopsicossociais, culturais, polticos e espirituais, ou seja,

    dos determinantes da sade.

    Por isso, a questo a relacionar com as polticas pblicas de sade do idoso a

    promoo da sade, um conceito que se faz presente no discurso contemporneo no campo da

    sade coletiva. Mais antes, necessrio pensar a sade, como um evento vinculado s

    condies de vida e a fatores biopsicossociais que, portanto emergem conectado as

    oportunidades de conquista de uma vida saudvel, tanto na perspectiva da participao das

    coletividades, quanto do indivduo (FREITAS, 2003, p. 15).

    Do ponto de vista de Buss:

    Partindo-se da concepo ampla do processo sade-doena e de seus

    determinantes, a promoo da sade prope a articulao de saberes tcnicos

    e populares e a mobilizao de recursos institucionais e comunitrios,

    pblicos e privados para seu enfrentamento e resoluo (2000, p. 165).

    Promoo da sade, a princpio, definia um nvel de ateno sade que envolvia a

    medicina preventiva. Contudo, para seus idealizadores a ao em sade ia alm das questes

    polticas. Portanto, foi imperioso reelaborar o conceito de promoo da sade, o que em

    sntese representou o enfrentamento do processo de medicalizao da populao que buscava

    os servios para o atendimento de suas necessidades de sade (FREITAS, 2003, p. 15).

    nesse ponto que convergem os conceitos da promoo da sade e do envelhecimento

    ativo, pois ambos so complementares e no excludentes, e apresentam-se como mediadores

    de prticas em sade que visam fortalecer a autonomia dos sujeitos, e incluem a defesa da

  • 17

    sade que consiste em lutar para que os determinantes sociais sejam favorveis sade das

    coletividades.

    Essa maneira de compreender a sade do idoso coaduna-se com a Poltica Nacional de

    Sade da Pessoa Idosa (BRASIL, 1999), que tem entre suas diretrizes a promoo do

    envelhecimento ativo e saudvel indo ao encontro das diferentes realidades e necessidades de

    sade da populao. Passos importantes so dados nessa direo, quando os profissionais de

    sade dos servios da ateno primria optam por estratgias exitosas na promoo da sade

    do idoso no enfrentamento dos determinantes de sade do envelhecimento.

    A noo de envelhecimento ativo tem dupla perspectiva: o envelhecimento com

    independncia funcional e autonomia, o reconhecimento da pessoa idosa como sujeito de

    direitos mediante os princpios de independncia, participao, dignidade, assistncia e auto

    realizao determinados pela Organizao das Naes Unidas (OPAS, 2005).

    Na primeira perspectiva, o aspecto explorado o efeito cumulativo e positivo dos

    cuidados de sade do pr-natal at a velhice, que diz respeito presena de uma rede de

    servios pblicos ao alcance da populao nas diferentes etapas do ciclo vital. No tocante a

    segunda perspectiva, tem-se como referncia proteo dos direitos fundamentais do idoso de

    modo a assegurar que tenha acesso a uma vida digna.

    Os aspectos anteriormente mencionados na abordagem do envelhecimento ativo

    baseiam-se no quanto importante entender que as pessoas idosas constituem um grupo

    heterogneo. Tambm ser necessrio vencer preconceitos, e desvendar os mitos arraigados

    em nossa sociedade. Nessa linha de pensamento, os profissionais de sade devem entender

    que a promoo de sade no privilgio apenas dos segmentos mais jovens, e que as aes

    de preveno, sejam elas primrias, secundrias ou tercirias devem ser incorporadas

    ateno sade, em todas as etapas do ciclo vital.

    Por outro lado, a promoo da sade se faz na construo de prticas educativas, para

    (re) valorizar saberes, e pela socializao das informaes sobre a sade e dos direitos sociais

    (Brasil, 2010). Sobretudo se concretiza na articulao sujeito/coletivo, no rompimento da

    fragmentao na abordagem do processo sade e doena, na reduo da vulnerabilidade, e na

    reduo danos sade (BRASIL, 2010).

    Para a Organizao Mundial da Sade (OPAS, 2005), o envelhecimento ativo das

    populaes deve ser antecedido por um processo positivo de oportunidades de sade para

    melhorar a qualidade de vida das pessoas que ficam mais velhas.

    Este conceito se aplica tanto a indivduos, quanto a grupos populacionais permitindo

    que estes percebam o seu potencial para o bem-estar fsico, social e mental, ao longo do curso

  • 18

    da vida. Permitir a continuidade de participao na sociedade, de acordo com suas

    necessidades, seus desejos e capacidades; ao mesmo tempo em que tenham propiciado a

    proteo, segurana e cuidados adequados para desfrutarem do benefcio da longevidade

    (OPAS, 2005).

    De acordo com Duarte (2007), as oportunidades em sade influenciam no

    envelhecimento ativo, principalmente o acesso a uma vida mais saudvel com a uma boa rede

    social de apoio e manuteno da competncia econmica. A presena ativa de aes

    governamentais, o suporte da famlia e da comunidade so apoios relevantes para o

    envelhecimento ativo, porque estes fortalecem o processo de envelhecimento dos indivduos e

    populaes (OPAS, 2005).

    Os profissionais de sade, principalmente a enfermeira que atua na ateno primaria

    sade, tm relevante importncia na deteco precoce de agravos, manejo de situaes de

    risco e possvel adoecimento das pessoas idosas. Um fato possvel pela maior acessibilidade

    aos servios da ateno primria sade, pautados no acolhimento e na integralidade da

    assistncia populao idosa.

    Sendo assim, a promoo da sade se alinha com o envelhecimento ativo, quando

    ambos objetivam que pessoas idosas reconheam suas potencialidades dirimindo a cultura das

    perdas associadas ao envelhecimento (FERREIRA; MACIEL; SILVA, 2010).

    importa ressaltar que o envelhecimento ativo, se refere participao contnua da

    pessoa idosa nas questes socioeconmicas, culturais e espirituais, e no apenas capacidade

    de estar fisicamente ativo ou contribuir com a fora de trabalho (OPAS, 2005).

    Retomando a experincia profissional no PAIPI (Programa de Assistncia Integral

    Pessoa Idosa), atuei tambm cooperativamente com diferentes profissionais da equipe

    interdisciplinar na conduo dos grupos. Foi quando percebi que o trabalho com grupos criava

    um ambiente dinmico, dialgico, acolhedor, e que levava os usurios ao (re) conhecimento

    de suas potencialidades.

    Parte do sucesso dos grupos estava no manejo das oportunidades de aprendizagem

    pelos coordenadores que com frequncia enfatizavam a adoo de comportamentos mais

    positivos em relao s condies de vida e de sade dos idosos. O que de meu ponto de vista

    acentuou a magnitude dessa prtica assistencial no campo da gerontogeriatria, considerando-

    se que os custos da assistncia sade da populao idosa, tem sua origem em parte, na

    proporo de idosos com necessidades de sade demandam assistncia interdisciplinar

    permanente.

  • 19

    A experincia com os grupos de idosos me motivou a tambm utilizar essa ferramenta

    assistencial no Centro de Convivncia. Estabeleci que os idosos do Programa fossem

    participes de todo o processo de construo do grupo. Nessa perspectiva, iniciei conversas

    informais com os idosos e juntos identificamos uma lacuna possvel de ser explorada por

    mim, uma vez que tinha formao musical, e no havia poca qualquer atividade grupal que

    tivesse a msica instrumental ou cantada como fio condutor. Da surgiu a ideia conjunta da

    formao de um Grupo Musical.

    No planejamento das atividades organizou-se uma reunio para o levantamento das

    preferncias musicais, do melhor horrio e durao das atividades. O resultado deste primeiro

    encontro foi o estabelecimento de diretrizes que almejavam a funcionalidade do grupo que

    apontou ser prioritria a boa msica (da poca de suas juventudes); que no seria um coral e

    sim um grupo cantante aberto, direcionado pela memria musical dos seus componentes. Foi

    cogitado tambm o uso do violo como instrumento de base, uma vez que havia verbalizado o

    domnio desse instrumento; a denominao seria Grupo Musical; todos seriam responsveis

    pela seleo do repertrio, buscando os contedos da memria socioafetiva e cultural

    relacionado vivncia da msica. Decidiu-se ainda, que uma das atividades seria explorar a

    histria e obra dos artistas, assim como, os ritmos e estilos musicais.

    A metodologia de desenvolvimento do Grupo Musical foi elaborada de forma a

    atender os encontros programados semanalmente, com durao mxima de sessenta minutos,

    perodo de tempo que evitaria a desateno dos participantes.

    Os recursos utilizados incluam o repertrio pessoal dos participantes, composies do

    prprio grupo, CDs, discos de vinil, msicas com reproduo em aparelho de MP3, DVDs ou

    ainda a seleo ou criao de um repertrio para ser cantado em eventos do Programa.

    No incio dos encontros era realizado um breve relato do encontro anterior. Aps este

    momento, a fonoaudiloga convidada para participar do Grupo Musical, esclarecia acerca dos

    cuidados necessrios para a atividade de canto e realizava exerccios de aquecimento vocal.

    A dinmica grupal oportunizava a todos a exposio de suas dificuldades,

    preocupaes e questes relacionadas sade. Esse momento informativo era imprescindvel,

    pois o objetivo era que a atividade grupal diminusse as tenses e oportunizasse a realizao

    de orientaes dos cuidados com a sade, bem como, a manuteno da autodeterminao, da

    independncia e da importncia de corresponder ativamente s oportunidades de participao

    social. Isso porque, a utilizao da msica permitia abordagem de questes da sociedade

    contempornea no contedo de suas letras, ritmos, nas diferenas geracionais, de gnero,

    culturais e at mesmo sobre as polticas pblicas.

  • 20

    Neste sentido, busquei sustentao terica em Bergold (2005) quando expressa a

    crena de que a msica pode conjugar atividades que se transmutam em aes em sade, tais

    como: relaxar as pessoas e reduzir a ao de estressores, o que pode provocar, por exemplo, o

    alvio da dor. Ela oferece ainda a ideia de que a msica concorre para a manuteno da sade

    e a preveno de doenas, atribuindo deste modo, um potencial teraputico a msica.

    Ao finalizar as atividades realizamos uma sntese do encontro e abria-se um espao

    para a exposio de dvidas, queixas, comentrios ou alguma outra demanda que se necessita

    da interveno de enfermagem imediata.

    Partindo-se do pressuposto que a configurao do Grupo era moldada pela correlao

    das caractersticas de cada um dos seus membros, e pelo jogo interacional constante, onde a

    Msica subsidia a convivncia, as trocas de afinidades e afetos, a autoestima e o

    fortalecimento da cognio, questiono se o Grupo Musical enquanto prtica que utilizo no

    campo da Enfermagem Gerontogeritrica est a servio da autonomia e da promoo contnua

    dos nveis de sade e condies de vida desses idosos, possibilitando que sejam capazes de

    desempenhar funes e atividades, alcanar expectativas e aspiraes de concretizar projetos

    de vida.

    Em especial, quando se pensa no envelhecimento ativo, o trabalho com grupos

    favorece que as pessoas idosas compartilhem os significados de suas realidades, e na

    dimenso grupal existem oportunidades para o compartilhamento de saberes, experincias e

    vivncias, e assim os problemas tendem a no permanecer na obscuridade.

    Munari; Furegato (1997) enuncia que grupo um espao possvel e privilegiado, que

    permite a descoberta de potencialidades, de aprendizados, de tratar as vulnerabilidades, que se

    apresentam no cotidiano. Assim este espao pode acrescer as chances de a pessoa idosa

    estabelecer novos vnculos, o que amplia sua rede de apoio e o aproxima do profissional de

    sade. E complementa que esse um momento nico de convvio que possibilita

    complementar informaes sobre sade, e que pode contribuir para elevar a auto-estima dos

    integrantes.

    Cabe destacar que, a enfermagem em geral no emprega tcnicas da psicoterapia,

    porm os grupos so utilizados pela enfermagem como uma estratgia teraputica assistencial

    (SIMES; STIPP, 2006).

    As reflexes aqui mencionadas me levaram a propor o objeto de estudo o grupo

    musical na perspectiva de pessoas idosas por acreditar que assim como a Enfermagem geral,

    a Enfermagem Gerontogeritrica deve ser vista como uma cincia dinmica, em construo

    que necessita de fundamentos cientficos que justifiquem sua prtica.

  • 21

    1.2 Questes Norteadoras e os Objetivos da pesquisa

    As questes elaboradas para nortear a trajetria dessa pesquisa, foram:

    a) Quais so as percepes das pessoas idosas sobre o Grupo Musical?

    b) Como ocorre no Grupo Musical promoo da sade para o envelhecimento ativo?

    Para responder s questes norteadoras, foram formulados os seguintes objetivos da

    pesquisa:

    1. Descrever as percepes de pessoas idosas sobre um Grupo Musical.

    2. Relacionar, a partir das percepes dos idosos sobre o Grupo Musical, a

    promoo da sade e o envelhecimento ativo.

    3. Discutir o Grupo Musical no contexto da prtica da Enfermagem

    Gerontogeritrica.

    1.3 Justificativa do Estudo

    As vivncias nos encontros do Grupo Musical trouxeram importantes experincias

    profissionais, que possibilitaram um contato mais direto com a clientela, permitindo a

    reflexo sobre a interveno da msica no cuidado de pessoas idosas.

    A atividade musical pode promover a humanizao da assistncia no Servio de

    Sade, e vem se destacando com uma das estratgias da enfermagem brasileira, na busca por

    contribuir para que o usurio possa ter diminudo seus nveis de ansiedade, assim como

    proporcionar algum conforto, alm de ser uma estratgia facilitadora na comunicao entre

    profissionais de sade e a clientela (SALES et. al., 2011).

    Para ampliar o entendimento acerca deste tema na atuao da enfermeira, se fez

    necessrio um levantamento bibliogrfico do tema. Para tal foram utilizados descritores que

    possibilitaram a localizao mais assertiva da produo cientfica, e que atendiam aos critrios

    pr-selecionados de incluso, quais sejam: tivessem entre os autores, o enfermeiro; que a

    temtica do artigo tratasse da msica no trabalho do enfermeiro.

    Utilizaram-se como descritores de assunto as palavras: idoso, msica,

    musicoterapia e enfermagem, as palavras do ttulo foram: enfermagem, centro de

  • 22

    convivncia e envelhecimento. No levantamento assunto de revista foi utilizada msica

    e enfermagem, enfermagem geritrica.

    Aps exaustivas tentativas e pouco xito, foi necessrio avanar compondo descritores

    exatos com os indicadores boleanos and e or, o que possibilitou localizar artigos para

    realizar a reviso integrativa. Na leitura dos resumos, no foram identificados artigos

    abordando a msica, como um recurso na assistncia de enfermagem pessoa idosa autnoma

    e independente.

    Para realizar o estado da arte foi necessrio ampliar as estratgias de busca. E foram

    combinados aos descritores os indicadores boleanos: msica and musicoterapia and

    enfermagem or enfermagem geritrica e msica or enfermagem or geritrica.

    Na biblioteca SCIELO foram identificados 135 artigos, que aps apreciao foram

    selecionados 07. Nas bases eletrnicas consultadas, no banco de dados LILACS foram

    selecionados 22 artigos. Estes ltimos foram de grande relevncia na construo desta

    dissertao, por representar o maior quantitativo de produes em que a msica era abordada

    como uma estratgia na assistncia de enfermagem.

    Os peridicos que mais publicaram artigos com a temtica msica articulada ao

    trabalho da enfermagem foram: a revista Nursing de So Paulo com 03 artigos, revista de

    Enfermagem da UERJ com 02, Revista Brasileira de Enfermagem com 02 e a revista

    Latinoameriacana de Enfermagem com 02.

    Em 1993 foi publicado o primeiro trabalho que registra a atuao da enfermeira

    utilizando a estratgia musical com repertrio clssico destinado a auxiliar a reduo da dor

    no cuidado da enfermagem, em mulheres em tratamento de fibromialgia na Universidade de

    So Paulo. Os resultados foram positivos para as participantes do estudo.

    Por um perodo de sete anos no foram detectadas produes nesta rea temtica,

    ressurgindo com trs publicaes no perodo de 2000 a 2005, de 2006 a 2008 foram

    localizados sete artigos publicados, constatou- se que nos anos de 2009 a 2011 a msica

    citada como uma estratgia assistencial em cinco produes.

    Em relao aos Estados da Federao, as publicaes selecionadas foram de So Paulo

    com 06 artigos, seguido pelo Rio de Janeiro com 05 artigos, fato que coloca a regio sudeste

    como a mais produtiva na rea temtica.

    Aps a leitura dos artigos selecionados foi possvel identificar aqueles de maior

    relevncia para esta pesquisa, so eles: Msica para idosos institucionalizados: percepo

    dos msicos atuantes (LEO; FLUSSER, 2008b), Msica e comunicao no verbal em

    instituio de longa permanncia para idosos: novos recursos para formao de msicos

  • 23

    para humanizao dos hospitais (LEO; FLUSSER, 2008a), A msica na terminalidade

    humana: concepes dos familiares (SALES, 2010).

    O primeiro estudo originou-se de uma pesquisa sobre a percepo dos msicos

    profissionais em treinamento em uma Unidade Asilar em Portugal, o segundo outra leitura

    do estudo anterior evidenciando as comunicaes no verbais dos idosos percebidas pelos

    msicos no momento em que tocavam para os institucionalizados. J o terceiro artigo trouxe

    uma interveno musical vivenciada por usurios e seus acompanhantes na reincidncia de

    cncer.

    Os artigos contriburam para a compreenso de como esta modalidade de interveno

    tem sido desenvolvida pela enfermagem nas instituies de sade, assim como sua aplicao

    junto s pessoas idosas. Conclui-se que nestes artigos mencionados, a msica vem sendo

    utilizada pela enfermeira na assistncia s pessoas idosas institucionalizadas.

    Outras publicaes localizadas: A msica como terapia complementar no cuidado de

    mulheres com fibromialgia (DOBBRO, 1998), A visita musical como estratgia teraputica

    no contexto hospitalar e seus nexos com a enfermagem fundamental (BERGOLD, 2005),

    As repercusses da msica na dor do trabalho de parto: contribuies para enfermagem

    obsttrica (CASTRO, 2009), Anlise musical de uma estratgia de cuidado grupal: funes

    teraputicas da msica para sistemas familiares durante quimioterapia (BERGOLD, 2012),

    Msica Como Elemento do Cuidar/Cuidado de enfermagem: um estudo sobre o paciente

    hospitalizado e sua interao com a msica (CARVALHO, 2010).

    As publicaes da reviso integrativa demonstraram uma lacuna na produo

    cientfica da enfermagem sobre a utilizao da msica na promoo da sade de pessoas

    idosas inseridas em um programa de extenso universitria.

    1.4 Contribuies do Estudo

    Cooperar atravs da divulgao dos resultados do estudo com as instituies

    acadmicas de assistncia, ensino e pesquisa, com o grande desafio frente ao acelerado

    envelhecimento populacional. Porque a formao de um grupo musical implica na

    participao de diferentes atores no processo de produo de sade e promoo do bem estar.

  • 24

    Frente realidade de atuar em um servio de referncia no atendimento a pessoas

    idosas, pode este ser um modelo de interveno na assistncia para profissionais que atuam na

    ateno primria de sade, na perspectiva da promoo de sade de baixo custo.

    Neste estudo pretendeu-se contribuir com a enfermagem gerontogeritrica, agregando

    novos conhecimentos sobre as temticas envolvidas a partir da perspectiva do usurio idoso.

    Pretendeu-se com a pesquisa consolidar a linha de pesquisa do Ncleo de Pesquisa em

    Enfermagem e Sade Coletiva (NUPENSC), do Departamento de Enfermagem de Sade

    Pblica, da Escola de Enfermagem Anna Nery/UFRJ.

    Objetivou-se, alm disso, contribuir para a ampliao de estudos realizados no Grupo

    de Pesquisa e Estudos Interinstitucional em Enfermagem na Ateno Sade do Idoso

    (GEASI) que integra docentes da UFRJ/UFF/ UERJ na discusso e difuso de conhecimentos

    aplicados as intervenes no cuidado pessoa idosa.

    Outra contribuio desta pesquisa ampliar o universo de estudos sobre a temtica e o

    potencial das atividades musicais junto clientela idosa na rea da enfermagem geral e

    gerontogeritrica.

    Ento fazer reflexes sobre a prtica assistencial destinada a essa expressiva parcela da

    populao, pode contribuir com a assistncia disponibilizada em centros de convivncia para

    as pessoas idosas.

    A repercusso do grupo musical como uma proposta na promoo do envelhecimento

    ativo em um Centro de convivncias foi o ponto central dessa investigao, e os resultados

    mostraram o potencial dessa estratgia complementar assistncia da enfermeira inserida na

    ateno primria sade.

    Os resultados do estudo podem beneficiar a ateno disponibilizada a usurios no

    campo da sade coletiva, porque estes apontaram que a realizao do Grupo Musical est em

    consonncia com a Poltica Nacional do Idoso, que no artigo 3 trata de princpios para

    assegurar o direito de a pessoa idosa continuar a viver em sociedade, de ter a garantia de

    participao em comunidade, e defende a manuteno da dignidade e o bem-estar das pessoas

    que envelhecem (BRASLIA, 2010, p. 06).

    Neste sentido, os resultados produzidos evidenciam que o Grupo Musical, tambm vai

    ao encontro das diretrizes da PNI, na medida em que o artigo 4 afirma que necessrio

    viabilizar formas alternativas de participao, de ocupao e convvio das pessoas idosas, com

    todas as geraes, alm de ser priorizar o atendimento a esta populao em rgos pblicos e

    que as pesquisa envolvendo a temtica do envelhecimento deveriam ser apoiadas

    (BRASLIA, 2010, p. 07).

  • 25

    Outra contribuio refere-se insero deste estudo entre as prioridades de pesquisa

    que constam na Agenda Nacional de Prioridades de Pesquisa em Sade. O sexto item prioriza

    o desenvolvimento de estudos em que haja o emprego de cuidados alternativos para a

    melhoria da qualidade de vida da populao idosa (BRASLIA, 2008, p.19).

  • 26

    CAPTULO II

    BASES CONCEITUAIS DO ESTUDO

    2.1 Velhice, Qualidade de Vida e Bem Estar Global

    O fenmeno do envelhecimento est mais presente no mundo atual, de modo nunca

    antes alcanado. Uma conquista decorrente entre outros fatores, dos avanos tecnolgicos na

    rea da sade, o que vem contribuindo para uma maior sobrevida para homens e mulheres,

    tanto nos pases j desenvolvidos, como naqueles que esto em desenvolvimento. O advento

    da longevidade proporciona o prolongamento da vida, porm implica na necessidade de se

    alcanar uma melhor qualidade de vida para todos que envelhecem (CARMITA, 2009, p. 9).

    A experincia do envelhecimento humano cada vez mais estendida, e por conta disso

    tornou-se um objeto importante para os pesquisadores nas reas das cincias biomdicas,

    humanas e biolgicas (LEO, 2009).

    Definir a velhice exige um conhecimento sobre a insero dos idosos no processo de

    construo social. Do ponto de vista biolgico, a velhice percebida como uma degenerao

    natural das estruturas orgnicas, que passam por transformaes com o progredir da idade

    (CALDAS, 2002). No entanto, ao se ponderar exclusivamente sobre a dimenso biolgica da

    velhice, no levando em considerao aspectos importantes como o contexto sociocultural de

    insero dos idosos, reduzi-la a um evento meramente cronolgico.

    Portanto, os fatores biolgicos, psicolgicos e sociais so determinantes no processo

    de construo da velhice, e essas influncias vo influir sobre a forma diferenciada como cada

    pessoa vai viver este momento da vida. Outros aspectos da vida, como o surgimento de

    vulnerabilidades, os novos papis sociais que vo aos poucos sendo assumidos, os fatores

    ambientais contribuem para que esta fase da vida se estabelea como um desafio individual

    onde se pode ter maior, ou menor xito no envelhecer (ROCHA; GOMES; LIMA FILHO,

    2002).

    No Brasil o envelhecimento est sendo possvel, porque houve uma mudana

    importante na questo epidemiolgica ocasionando mudanas no padro demogrfico da

    populao brasileira. A populao alcana mais idade e necessita com mais frequncia utilizar

    os servios do Sistema nico de Sade (SUS). Neste sentido, Leo (2009) comenta que a

    acessibilidade dos idosos aos servios de sade deve priorizar os servios de preveno s

    doenas.

  • 27

    Nos ltimos anos, segundo o Ministrio da Sade (2009, p. 4), as doenas

    transmissveis regrediram, e algumas foram eliminadas, mas novas afeces a sade da pessoa

    idosa surgiram como a gripe A (H1N1) e as doenas crnicas no transmissveis. O novo

    panorama de doenas, quando no controladas podem afetar a funcionalidade, e causar

    comprometimento ao padro de sade do idoso. Logo, o agravamento da cronicidade pode

    interferir na sobrevida dos idosos, e so responsveis na atualidade pelas principais causas de

    morte dos idosos brasileiros, entre elas as doenas cerebrovasculares 37,7%, as neoplasias

    com 16,7%%, as doenas respiratrias obstrutivas 13%, a diabetes mellitus 7,5% (BRASIL,

    2008, p. 48).

    Neste perodo da vida, frequente que os idosos iniciem reflexes sobre a sua prpria

    existncia. Ento, segundo Neri e Queroz (2005) repensar e avaliar objetivos alcanados, as

    perdas individuais contribuem para motivar mudanas de comportamento, uma vez que a

    sade assume uma condio de destaque, e melhorar a vida tambm inclui no negligenciar as

    questes da sade, que podem evitar ou amenizar o comprometimento da qualidade de vida da

    pessoa idosa.

    Logo a autoestima, o bem-estar pessoal, o estado de sade, a capacidade funcional, o

    suporte familiar, as oportunidades de interao social, a manuteno do autocuidado, os

    valores culturais e ticos, e a religiosidade vo estar relacionados qualidade de vida

    percebida pelo o idoso (VECCHIA et al., 2005).

    Para Neri (1995, p. 101),

    o bem-estar uma percepo pessoal ampla relacionada com os desafios

    impostos no dia-a-dia, neste sentido as habilidades pessoais do idoso pode

    influenciar no ajuste aos novos papis sociais, aos momentos de agravos

    sade, assim como colaborar para a construo de novos propsitos no viver,

    alm da admisso da prpria finitude.

    Para Paschoal (1996), o bem-estar subjetivo e a qualidade de vida decorrem de

    condies ambientais favorveis, onde a pessoa idosa possa ser capaz de se adaptar e

    descobrir novas aptides comportamentais pode trazer grande influencia na satisfao no

    viver e na qualidade de vida percebida.

    Neri e Freire (2000) o estilo de vida mais saudvel ajuda a reduzir a ocorrncia de

    processos patolgicos no envelhecer, e as atividades educacionais, os encontros de cuidados

    em sade, a formao e manuteno de laos socioafetivos podem encorajar no fortalecimento

    das reservas pessoais.

    Para Neri e Queroz (2005), o bem-estar subjetivo (dele) essencial para que o idoso

    inicie uma avaliao a cerca da satisfao com a vida em geral. A adoo de atitudes positivas

  • 28

    na vida pode ser despertada por novos hbitos, pelo aperfeioamento das habilidades sociais,

    na realizao de atividades produtivas que somadas capacidade fsica, mental e na

    autoaceitao do novo significado a vida (NERI; FREIRE, 2000, p. 28).

    2.2 Polticas Pblicas e Envelhecimento Ativo

    As polticas pblicas governamentais destacam a importncia de se adotar modelos

    de ateno sade para populao em geral, e que estas devem estar disponibilizadas aos

    idosos. A velhice uma questo que emerge na sociedade brasileira, logo um grande desafio

    contribuir para que os idosos possam ter oportunidades de desfrutar da velhice com mxima

    qualidade de vida (OPAS, 2005). Para se alcanar essa qualidade, as questes sociais e

    polticas no Brasil necessitam de (re) estruturao o que abrange a cultura, a rea educacional

    assim como as despesas com a previdncia social (MAZZA, 2008, p. 14.).

    A Constituio Brasileira de 1988 deu origem ao avano nas polticas de proteo

    social a populao idosa, ao especificar o papel do Estado que de proteo ao idoso, e

    destaca a famlia como principal responsvel pela promoo dos cuidados. Nas diferentes

    regies do Brasil, a co-residencia mais frequentemente mencionada a de residir com um dos

    filhos (CAMARGOS; RODRIGUES; MACHADO, 2011). A modernizao das relaes

    ainda mantm a famlia, como a principal geradora de cuidados para o idoso, sobretudo para

    aqueles que apresentam alguma dependncia (AREOSA; BENITEZ; WICHMANN, 2012).

    Mas, quando h a ausncia da famlia, este cuidado constitudo na parceria entre amigos e

    vizinhos da pessoa idosa (AQUINO; CABRAL, 2002).

    Para prover as demandas que advm do envelhecimento, o Estado reconheceu a

    necessidade de uma poltica especifica para esse segmento populacional, e cria em 1994 a

    Poltica Nacional do Idoso (PNI), com o objetivo fundamental de assegurar pessoa idosa o

    atendimento diferenciado. Logo, estratgias so necessrias para atender suas necessidades,

    fsicas, sociais, econmicas e polticas, enfatizando os centros e grupos de convivncia para

    pessoas idosas.

    A Lei n 8.842/94 regulamentada pelo Decreto n 1948/96 cria o Conselho Nacional

    do Idoso, estabelecendo direitos sociais, a garantia de autonomia, integrao e participao

    dos idosos na sociedade, na formulao de polticas pblicas, nos projetos e planos

    relacionados prpria cidadania. Suas diretrizes priorizam o atendimento domiciliar, a

    capacitao de profissionais na rea da gerontologia, a descentralizao poltico

  • 29

    administrativa, e a divulgao de estudos e pesquisas sobre aspectos relacionados velhice e

    ao envelhecimento.

    O Ministrio da Sade em 1999 publicou a Portaria n. 1395, de 10 de dezembro,

    aprova a Poltica Nacional de Sade do Idoso (PNSI), e destacou as aes para a promoo da

    sade, no atendimento multidisciplinar especfico a esta populao.

    Em 2002, a Organizao Mundial de Sade props diretrizes para o envelhecimento

    na 2 Assembleia Mundial que ocorreu em Madri. Foi ento concebida uma nova ideia de

    envelhecimento, que deve ser ativo e produtivo, alm de priorizar a insero do idoso na

    comunidade/incluso social.

    No Brasil, em 2003 foi promulgado o Estatuto do Idoso que assegura em seus 118

    artigos o direito vida, a liberdade, ao respeito e dignidade, educao, cultura, acesso ao

    esporte e laser, profissionalizao, e que ao idoso sejam disponibilizados aes e promoes

    em sade alm de atender as necessidades de proteo. Este documento foi aprovado no

    Congresso Nacional e refora as diretrizes na Poltica Nacional do Idoso, como um alvo a ser

    alcanado com vistas a melhorias na qualidade de vida dos idosos brasileiros.

    Tais medidas de proteo social a populao idosa, que o Brasil adota tm influncia

    direta das polticas internacionais da ONU, OMS e OPAS, todas preconizam a meta de

    aumentar a expectativa de uma vida saudvel, com qualidade para todas as pessoas que esto

    envelhecendo, as que esto sadias, as frgeis, e aquelas fisicamente incapacitadas e tambm

    para as que necessitam de cuidados (OPAS, 2005, p. 13).

    Neste sentido, a Poltica Nacional de Sade da Pessoa Idosa promulgada pela

    Portaria n 2.528 de 19 de outubro de 2006 e dispe sobre: a finalidade primordial de

    recuperar, manter e promover autonomia e independncia dos indivduos idosos, com medidas

    coletivas e individuais de sade.

    Faz-se necessrio que o Estado faa parcerias com instituies dos setores publico e

    privado no compartilhamento de responsabilidades para atender as diretrizes do SUS, j que o

    compromisso brasileiro foi firmado em consonncia queles definidos em 2002 pela

    Assembleia Mundial para o Envelhecimento.

    As polticas de ateno sade dos idosos esto formuladas, porm ainda no

    totalmente praticadas junto aos servios pblicos e privados. O direito a sade disposto no

    Captulo IV do Estatuto do Idoso, lhe assegura atendimento geritrico e gerontolgico, com

    unidades especializadas para o seu atendimento. Faz-se necessrio, ento, que haja maior

    participao civil dos idosos, assim como daqueles que pretendem envelhecer com qualidade

    de vida (LEO, 2009).

  • 30

    Neste sentido, a Organizao Mundial de Sade enunciou que o envelhecimento das

    populaes, uma conquista grande para todos, e estimou que at 2025, teremos um aumento

    de 223% no total de pessoas com sessenta anos ou mais, um cenrio que ser comum entre

    todos os pases, porm ocorrer em curto espao de tempo nos pases em desenvolvimento.

    Mediante os desafios do envelhecimento da populao mundial, em 2001, a OMS

    elaborou um projeto preliminar intitulado Sade e envelhecimento: um trabalho para

    discusso, apreciado por especialistas de vrios pases, entre eles representantes do Canad,

    Espanha e Brasil. No evento na cidade de Kobe no Japo, em 2002, aps aprovao, adotou-

    se o documento da OMS Envelhecimento Ativo: uma poltica de sade para balizar as

    metas a serem alcanadas pelos pases no sc. XXI.

    Durante a segunda Assembleia Mundial para o Envelhecimento realizada em Madri,

    Espanha, em 2002, a Organizao Mundial de Sade (OMS) lanou o Plano Internacional de

    Aes sobre o Envelhecimento (PIAE) contendo diretrizes para a elaborao de estratgias

    para se alcanar o Envelhecimento Ativo.

    Nesta nova perspectiva, as polticas e programas a serem desenvolvidos pelos pases

    devem ter fundamentos nos direitos, necessidades, preferncias, e habilidades das pessoas

    mais velhas alm de considerar, que a experincia de vida influi sobre a forma como as

    pessoas envelhecem (OPAS, 2005, p. 8).

    A idade de 60 anos adotada para descrever as pessoas mais velhas, porm cabe

    mencionar que isoladamente no define as mudanas funcionais e orgnicas que podem surgir

    no envelhecimento pessoal (DIOGO; NERI; CATIONE, 2009, p. 76). A partir do

    levantamento do perfil de idosos, os governos podem melhor formular as Polticas destinadas

    a atender este grupo, planejar aes e estimar o custo de programas e servios assistenciais

    para atender as necessidades individuais e coletivas dos idosos (OPAS, 2005, p. 08-10).

    Mas, outro desafio advm da transformao nos padres de doena (transmissveis

    para no transmissveis): as cardiopatias, o cncer e a depresso podem aumentar os riscos de

    leses e as estimativas so que, haja um crescimento em torno de 78% desses casos nos pases

    em desenvolvimento (OPAS, 2005, p. 33). Neste sentido, a OMS ao preconizar o conceito de

    Envelhecimento Ativo aponta uma nova tica no envelhecimento das pessoas, e promulga o

    compromisso dos governos, famlia e sociedade em melhorar a qualidade de vida dos que

    envelhecem a nvel mundial (Ibid.).

    Esta poltica pretende assegurar, que as pessoas idosas percebam seu potencial de bem

    estar nos aspectos fsico, social e mental ao longo do curso da vida. Mas para obter um melhor

    desempenho nesses domnios, a pessoa que envelhece deve ter assegurada a continuidade de

  • 31

    participao em sociedade, concretizando seus desejos, suprindo suas necessidades, dispondo

    de proteo e segurana (Ibid.).

    O termo ativo pode definir os idosos sadios, e tambm aqueles que apresentem

    alguma fragilidade, ou incapacidade. Segundo a OMS a pessoa idosa se mantm ativa, quando

    est integrada nas questes sociais, econmicas culturais e civis do seu contexto de vida

    (Ibid.).

    O envelhecimento ativo, tambm est relacionado manuteno da pessoa idosa como

    um recurso vital. Mas para ser um recurso vital, segundo o dicionrio preciso ser aquele que

    pode continuar ajudando, que permanece uma fonte de auxlio na resoluo de problemas, que

    pode ser um provocador de reformas para a famlia, ou para a comunidade (FERREIRA et al.,

    2010, p. 647).

    sabido que o estigma das modificaes fsicas, as perdas sociais, a prpria noo de

    idade constri um conceito da velhice para as diferentes geraes, no cotidiano da vida em

    sociedade (LOPES; NERI, 2000, p. 24-25). Outro fator importante relacionado ao ambiente

    em que vive a pessoa idosa, nas oportunidades de interagir no ambiente a sua volta pode haver

    benefcios para uma melhor adaptao ao envelhecer e possibilita perceber-se um ser social

    (DIOGO; NERI; CATIONE, 2009, p. 77).

    Neste sentido, cabe afirmar que a pessoa idosa no ultrapassada, que preservar a vida

    dos que ficam mais velhos pode ajudar todas as sociedades a repensar a contemporaneidade.

    Nessa lgica, se faz necessrio estudar mecanismos que promovam uma vida digna, de

    qualidade, com aes de insero das pessoas idosas valorizando as virtudes, as

    potencialidades em prol de uma longevidade mais saudvel (Ibid, p. 58-60).

    A OMS sugere que os profissionais de sade liderem projetos de participao nos

    programas ligados ao envelhecimento, para que os idosos continuem sendo um recurso na

    famlia, na comunidade e na economia. Neste caso, os programas que preconizam o

    envelhecimento ativo ajudam a retardar as incapacidades, as doenas crnicas diminuindo as

    chances de aumentar a dependncia (OPAS, 2005, p. 7).

    Viver mais uma realidade, porm requer a manuteno do desejo de viver, do sentir

    satisfao na vida, de manter uma boa sade no corpo e na mente (CARMITA, 2009, p. 11).

    Outro aspecto que ajuda a manter a satisfao com a prpria vida se relaciona com a

    manuteno das relaes sociais, quer seja com os membros da famlia, ou contando com o

    apoio dos amigos e ainda o contato com pessoas de outras geraes (OPAS, 2005, p. 13).

  • 32

    Neste sentido, uma meta prioritria que os programas que se destinem a promover a

    sade das pessoas idosas devem contribuir na manuteno da autonomia independncia, pois

    esses domnios vo influenciar na autopercepo de sade (OPAS, 2005, p. 14).

    Ento, o envelhecimento ativo poder ser uma experincia positiva na vivncia da

    longevidade. Por isso que o esforo deve ser dos governos, famlias e sociedade para

    assegurar as oportunidades contnuas aos mais velhos, facilitando a participao dos idosos

    em todos os setores da sociedade, com segurana, para realmente alcanar uma melhor

    qualidade de vida neste perodo da vida (OPAS, 2005, p. 13).

    Continuar ativo significa permanecer uma pessoa que integre de forma contnua nas

    questes civis, culturais, econmicas sociais e at espirituais prximas a ela. A continuidade

    da vida necessita ser encarada pelos demais como algo positivo, porque o idoso pode ser

    participativo junto a sua comunidade, famlia e em seu pas (Ibid.).

    O objetivo do envelhecimento ativo o favorecimento de que todos os seguimentos da

    sociedade adotem medidas para aumentar a expectativa de vida, de uma forma saudvel e com

    qualidade para as pessoas. Logo, um ambiente onde a pessoa que envelhece se percebe

    indesejada, quer seja no ambiente familiar, na sociedade, e at em seu pas pode comprometer

    a adaptao nesta nova fase da vida e acelerar o processo de envelhecimento (DIOGO; NERI;

    CATIONE, 2009).

    Nesta perspectiva a OMS adverte que primordial assegurar que os idosos continuem

    a ser capazes de tomar decises, que suas preferncias sejam respeitadas, porque estes

    atributos contribuem para que a pessoa idosa se perceba ativa e autnoma. Quando a

    autonomia e independncia so afetadas, os prejuzos afetam a realizao de objetivos

    pessoais e interferem diretamente na qualidade de vida, sendo encarados como perdas

    importantes para os idosos (OPAS, 2005, p.14).

    Ento reconhecer os direitos das pessoas idosas, valorizar e respeitar as diferenas

    entre elas so aspectos relevantes na abordagem da promoo do envelhecimento ativo,

    inclusive na realizao de atividade em ambientes de apoio para que estas sejam uma opo

    saudvel para esses idosos (Ibid.).

    A possibilidade de envelhecer ativo est relacionada : determinantes

    comportamentais (estilo de vida), determinantes pessoais (pr-disposio gentica a doenas,

    aspectos psicolgicos), determinantes do ambiente fsico (exposio de risco ocupacional,

    moradia, isolamento), determinantes sociais (incluso-excluso pela idade, analfabetismo,

    maus-tratos), determinantes econmicos (renda, proteo social), determinantes de gnero

  • 33

    (homem, mulher) e determinante da cultura (o valor social do idoso, as tradies) aspectos

    que influenciam o envelhecer individual (Ibid., p. 19-32).

    Outro desafio est relacionado s comorbidades, e as doenas crnicas apesar de

    evitveis, que vm afetando principalmente os idosos nos pases em desenvolvimento,

    apontando assim, para a necessidade de que as Polticas priorizem a promoo da sade, para

    reduzir custos efetivos ao SUS e favorecer o envelhecimento ativo (Ibid., p. 34).

    O direito sade assegura ao idoso o atendimento em ambulatrios, unidades

    geritricas de referncia, com pessoal especializado nas reas de geriatria e gerontologia.

    Porm, muito h para construir e disponibilizar aos idosos no Brasil o atendimento

    individualizado na ateno a sade, nos rgos pblicos, na elaborao de alternativas de

    participao, ocupao e convvio entre idosos e as demais geraes (LEO, 2009, p. 126).

    2.3 A enfermagem na produo do envelhecimento ativo

    Os cuidados de enfermagem destinados s pessoas idosas tm por finalidade contribuir

    com o mximo de aproveitamento da capacidade funcional, e neste sentido o Envelhecimento

    Ativo uma proposta em sade que visa uma vida saudvel para os idosos, porm um desafio

    aos profissionais que integram a ateno primria em sade (FREITAS, 2005).

    Porque uma vez engajada no planejamento ou implementao de programas

    especficos para as pessoas idosas, a enfermeira deve conhecer o perfil demogrfico,

    socioeconmico e cultural da populao a ser assistida, para subsidiar as propostas de aes

    na preveno e promoo sade, uma vez que, nesse grupo distinto devem ser estimulados

    comportamentos produtores de sade, para que estes mantenham a independncia funcional

    (FERREIRA et al., 2005).

    Para tal, a enfermeira necessita tambm compreender as polticas pblicas destinadas

    populao idosa sendo necessrio agregar conhecimentos relacionados s questes

    demogrficas, epidemiolgicas; as alteraes fisiolgicas e patolgicas no processo de

    envelhecimento humano (FREITAS, 2005).

    necessrio ter uma viso ampla do ser que envelhece e as informaes ajudam a

    formular e disponibilizar um cuidado integral, junto da concepo de que cada idoso um

    sujeito nico, que tem sua prpria histria, experincias, cultura e uma vida atual que pode ou

    no manter expectativas futuras. O conjunto dessas observaes devem balizar as aes para

    que resultem num melhor bem estar ao idoso (GONALVES; ALVAREZ, 2002).

  • 34

    Segundo a OMS (OPAS, 2005) o envelhecimento ativo aplica-se aos indivduos e aos

    grupos populacionais, e a enfermagem gerontolgica deve tambm considerar os aspectos

    biopsicossociais, espirituais e culturais do idoso/famlia.

    A definio da Organizao Pan-Americana de Sade sobre a enfermagem

    gerontolgica foi destacada por Gonalves e Alvarez, referindo-se a ela como sendo:

    O estudo cientfico do cuidado de enfermagem ao idoso caracterizado

    como cincia aplicada com o propsito de utilizar os conhecimentos do

    processo de envelhecimento, para o planejamento da assistncia de

    enfermagem, e dos servios que melhor atendam promoo da sade,

    longevidade, independncia e ao nvel mais alto possvel de funcionamento

    da pessoa (2002, p. 757).

    Nessa perspectiva, a enfermagem gerontolgica deve atuar para a maximizao do

    nvel de independncia da pessoa idosa, o que coaduna com as premissas da Poltica Nacional

    do Idoso (PNI), que determina que aes em sade devam promover a manuteno da

    capacidade funcional dos idosos; a preveno das doenas; assim como recuperar e reabilitar

    aqueles que tenham a capacidade funcional diminuda garantindo sempre que possvel

    independncia nas atividades do cotidiano (LUNARDI et al., 2009).

    Para Silva et al. (2010) a promoo da sade uma responsabilidade compartilhada

    entre indivduos, comunidade, grupos, profissionais da sade e instituies que prestam

    servios de sade e demais reas e tambm dos governos. Arajo et al. (2011) destacam que

    na Primeira Conferncia Internacional de Promoo da Sade realizada em Ottawa, no

    Canad, em 1986, a Promoo da sade o nome dado ao processo de capacitao da

    comunidade para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e sade, incluindo uma maior

    participao no controle deste processo. Apontando para os autores, que indivduos

    capacitados tm maior competncia de interferir em seu prprio processo de sade,

    adoecimento e doena.

    Logo, a insero de idosos em espaos de prticas democrticas na promoo da sade

    pode conduzir a mudanas na sade individual, o que pode trazer benefcio positivo para a

    sade, por estimular a adoo de um estilo de vida mais saudvel (MARTINS et al., 2009).

    Neri (1995, p. 102) afirma que a segurana proporcionada por um ambiente acolhedor,

    necessria percepo do bem-estar para o idoso. Por isso, o projeto de envelhecimento

    ativo envolve polticas, programas que promovam a sade mental dos idosos, facilitando as

    oportunidades de relaes sociais que so to importantes, como as destinadas a melhorar as

    condies fsicas de sade. Manter a autonomia e independncia durante o processo de

  • 35

    envelhecimento uma meta fundamentais para os indivduos, profissionais e governantes

    (OPAS, 2005, p. 13).

    2.4 A Msica na sade: fundamentos e implicaes

    Ao falar do ser humano e suas dimenses tem-se a compreenso da magnitude da

    aplicabilidade da msica ao longo do tempo, no desenvolvimento da humanidade. O homem

    pode ser concebido antropologicamente numa viso unidimensional (o corpo), bidimensional

    (corpo e psique), tridimensional (corpo, psique e esprito) e ainda, como o ser que recebeu um

    sopro de vida de uma energia criadora (SILVA; LEO, 2009, p. 13).

    importante para nossa compreenso rememorar que a Cincia, Arte, Filosofia e

    Mstica eram associadas, e isto balizava a prtica teraputica. Logo se cuidava do corpo, do

    esprito, do desejo, do essencial vida de forma que a pessoa alcanasse a melhor condio de

    sade possvel.

    Para os autores acima citados, esta forma de ver o homem traz implicao direta na

    mudana do paradigma da sade, pois o ser que adoece deve ter o cuidado como algo

    prioritrio, em relao ao processo de curar.

    Souza (2009) afirma que a msica tem significado ntimo, entre a sade humana, pois

    historicamente ocorre a unio entre a arte de curar e as notas musicais. O mesmo autor destaca

    que a Medicina introduz a msica no cuidar no sc. IX evento atribudo aos mdicos dos

    pases rabes, que acreditavam que a msica tinha poder de curar o corpo2 doente atravs da

    alma.

    Na Medicina Ocidental em torno do sc. XIII esses profissionais vm proporcionar

    msica status, pois neste perodo torna-se um dos instrumentos de uso mdico de mxima

    importncia por ser utilizado no auxlio da reverso do declnio no processo de

    envelhecimento (SOUZA, 2009).

    Plato, o Filsofo, ao ensinar sobre o preparo dos atletas, recomendava antes dos jogos

    nas Olimpadas o seguinte a msica deve preceder e dominar a ginstica, porque a alma

    deve formar o corpo e no o corpo forma a alma recordando a potencialidade medicinal da

    msica (Ibid., p. 36).

    Os efeitos teraputicos da msica alcanam uma posio realista na era do iluminismo.

    Este perodo se refere a um movimento intelectual nos pases da Europa, nas colnias nos

    2 Grifo da autora do estudo.

  • 36

    sculos. XVII e XVIII. Predominava na poca a crena na razo, nas cincias como sendo os

    motores do progresso (Ibid.)

    Para o mesmo autor Souza (2009) a amizade de Beethoven com Jonhann Peter Frank

    (1745-1821), considerado o fundador da Sade Pblica, contribuiu para que ele expressasse

    um sua obra literria A Plan for A Comprensive Public Policy, que foi publicada em 1779, a

    importncia que a msica exercia na manuteno da sade.

    Um estudo citado por Souza (2009), abordando a produo de um anticorpo presente

    em secrees corporais, como saliva a (Imunoglobulina A - IgA), traz uma das demonstraes

    de como a msica contribuiu no fortalecimento do sistema imunolgico. Os dados foram

    validados ao ser feita a comparao do exame laboratorial inicial dos indivduos expostos a

    estmulo sonoro por 30 minutos como rudos, silncio e msica. Aqueles expostos ao

    silncio, no apresentaram alterao no nvel da IgA, j os expostos a rudos tiveram queda de

    35% e os que ouviram msica tiveram elevao de 20% nas taxa de IgA.

    A enfermagem vem contribuindo com reflexes sobre os efeitos e a aplicabilidade

    desta interveno associada ao cuidado de enfermagem, na assistncia individual e na

    coletividade. A utilizao da msica com finalidade teraputica se iniciou com Florence

    Nightingale, e anos mais tarde por Isa Maud Ilsen e Harryet Seymor, no cuidado aos feridos

    das I e II Guerras Mundiais. Florence Nightingale no sculo XIX, j observava que o

    ambiente fsico contribua com o atendimento de enfermagem prestado. As condies de luz,

    limpeza, temperatura do ambiente, os nveis de rudo interferiam na recuperao do doente

    (GATTIL; et al., 2007).

    Nas abordagens feitas pela precursora da enfermagem, detentora dos fundamentos da

    profisso de enfermagem, vale destacar uma referncia feita em sua obra, Notas sobre

    Enfermagem ao abordar sobre rudos e msica:

    No h praticamente informaes sobre o efeito da Msica sobre o doente

    [...] Quero apenas observar que os instrumentos de sopro, inclusive a voz

    humana e os instrumentos de corda capazes de produzir sons contnuos, em

    geral trazem efeito benfico. (NIGHTINGALE, 1989, p. 66)

    J Gatti e Silva (2009) comentam que o efeito da msica considerado um potencial

    auxiliador no tratamento de doenas de origem nervosa, pois possui uma linguagem que pode

    contribuir para que o tempo interno do homem o aproxime de si mesmo. Para esses autores, a

    aplicao da msica com enfoque teraputico se solidificou quando em 1941, foi criada a

    Fundao Nacional de Teraputica Musical propiciando a difuso da msica conjugada ao

    cuidado teraputico no final do referido sculo.

  • 37

    Os autores acima tratam o binmio msica-estresse, e afirmam que uma seleo

    musical programada, produz o fenmeno de induo. Isto quer dizer, que podemos us-la para

    nossa prpria vida, para controlar ambientes teraputicos, proporcionando uma reduo das

    tenses e induzindo ao relaxamento, podendo contribuir para estimular nossa capacidade de

    percepo, no raciocnio espacial, na clareza do pensar e aumentar a capacidade de

    concentrao (Ibid.).

    2.5 Msica na assistncia da Enfermagem Gerontogeritrica

    A assistncia de enfermagem gerontogeritrica prioritariamente voltada a aes

    preventivas e de promoo sade da pessoa idosa. Neste caso, assegura ao idoso a

    assistncia integral, assim como sua famlia e comunidade, e ainda contribui na promoo

    educativa para a vida e sade, favorecendo que os idosos participem de forma ativa decidindo

    pelo melhor em suas vidas, para o seu bem-estar (GONALVES; ALVAREZ, 2002).

    Neste sentido, que a msica uma estratgia no pensar/fazer dos gerontlogos, pois

    vem revelando o seu papel facilitador nas aes do cuidado. Para ser utilizada como uma

    estratgia de cuidado preciso que, haja aquele que se prope a executar, e o que se dispe a

    escut-la, e nessa dinmica que ocorrem as possibilidades de demonstrao de afetividade,

    compaixo e solidariedade.

    Para Leo (2009), necessrio explorar caminhos que permitam reinventar a prpria

    velhice, so essas as concluses aps vivenciar a interveno musical feita com grupo de

    idosos institucionalizados na Europa. Outros resultados descritos aps interveno teraputica

    utilizando a msica apontam o aumento da autoestima e a estimulao do autocuidado em

    pacientes idosos (CAMPOS; KANTOSKIL, 2008, p. 36).

    Para Bergold; Alvim (2009a), a msica um recurso que promove acolhimento,

    estabelecendo relaes e vnculos. segundo a autora, uma concepo humanizada do

    cuidado de enfermagem.

    A audio de msica clssica foi adotada como motivadora de quebra da rotina para

    clientes renais em sesso de hemodilise. Nos depoimentos dos pacientes foram encontradas

    palavras que demonstravam a sensao de bem estar, felicidade, relaxamento, recordaes

    positivas e uma boa mudana na rotina teraputica (SILVA et al., 2008).

    Bergold e Alvim (2009), afirmam que a msica pode ser um recurso tecnolgico

    simples, aplicado na assistncia de enfermagem, na promoo do conforto, prazer e segurana

  • 38

    do cliente. O ato de cantar ou tocar uma cano pode redefinir a vida interior do ouvinte, alm

    de facilitar a comunicao interpessoal, mas necessrio que a enfermeira conhea o estilo

    musical e as preferncias do usurio. Quando utilizada como um recurso pedaggico no curso

    de aperfeioamento profissional com o objetivo da sensibilizao das enfermeiras, segundo os

    mesmos a msica agiu sobre todo o corpo, estimulando diferentes regies, tendo como

    motivaes a influncia do estilo musical e o gosto do ouvinte (BERGOLD; ALVIM;

    CABRAL, 2006).

    2.6 O conceito de Bem Estar Global

    Conforme foi visto por Neri e Freire (2000) o envelhecimento bem sucedido tem

    relao com a capacidade adaptativa do indivduo na resposta aos desafios que se impe ao

    corpo, mente e ao ambiente. Esta adaptao envolve a preservao e expanso das suas

    reservas pessoais que influenciam diretamente no seu desenvolvimento.

    Para as autoras supracitadas, os fatores socioculturais, as circunstncias histricas que

    os indivduos vivenciaram ou vivenciam, assim como as doenas que foram acometidos

    desde o perodo gestacional, acrescida das que os acometem durante o envelhecimento, so

    preponderantes e influenciam a competncia adaptativa, formando um conjunto de fatores que

    do as condies individuais diferenciadas para lidar com as transformaes no

    envelhecimento (Ibid., p.24).

    Um dos aspectos positivos do envelhecimento diz respeito ao bem-estar, cujo modelo

    terico envolve seis dimenses de funcionamento positivo proposto para explicar o bem-estar

    (NERI; FREIRE, 2000, p. 26):

    Auto aceitao: significa uma atitude positiva do indivduo na velhice em relao a si prprio e ao seu passado; implica reconhecer e aceitar

    diversos aspectos de si mesmo, o que inclui as caractersticas boas e

    ms.

    Relao positiva com os outros: abarca uma relao calorosa, satisfatria e verdadeira; preocupar-se com o bem-estar alheio; ser

    capaz de relaes empticas e afetuosas.

    Autonomia: denota a autodeterminao e independncia; ser capaz de resistir s presses sociais; avaliar-se com base em seus prprios

    padres.

    Domnio sobre o ambiente: ter competncia para manejar o ambiente; aproveitar as oportunidades sua volta; ser hbil para

    escolher ou criar contextos apropriados s suas necessidades e valores.

    Propsitos na vida: diz respeito ao projeto de vida; o idoso capaz de perceber que h sentido na vida presente e passada; tem crenas que

    do propsito a vida; credita vida um significado.

  • 39

    Crescimento pessoal: o idoso est aberto a novas experincias; tem um senso de realizao de seu potencial e suas mudanas refletem

    autoconhecimento e eficcia.

    Quando pessoas idosas mantm o controle de sua vida positivamente, sem ignorar os

    fracassos e os sucessos, (re) elaboram e ajustam seus projetos de vida. J a satisfao com a

    vida colabora para o alcance dessas metas influenciando no bem-estar global.

    2.7 A Enfermeira no trabalho com grupos

    Munari e Furegato (1997) avaliam que a necessidade de viver agregado inerente ao

    gnero humano, e que as relaes interpessoais que de fato fazem surgir os grupos. Em

    busca do conhecimento a respeito dos grupos, das relaes que acontecem entre os indivduos

    e de como acontece o seu desenvolvimento, que esta estratgia de atendimento foi

    estabelecida como um campo para a pesquisa.

    Cabe destacar, que h registro de grupos teraputicos na Grcia antiga. No incio do

    sculo passado, Sigmund Freud realizava grupos de estudos semanalmente e analisou os

    estudantes que participavam desses grupos. Em 1910, nos Estados Unidos e em Viena as

    abordagens psicodramticas associadas a tcnicas teatrais constituram os fundamentos para a

    psicoterapia grupal (MUNARI; FUREGATO, 1997, p. 5).

    O perodo descrito anteriormente consagrou as expresses terapia de grupo e

    psicoterapia de grupo. Logo, grupos podiam ter finalidade teraputica na rea da psiquiatria,

    concluram os estudiosos nos Estados Unidos em 1920. No final desta dcada, a terapia grupal

    foi empregada pelo mdico Trigant Burrow para pessoas com problemas de vida no

    institucionalizadas. No ano de 1930, conceitos psicanalticos foram destacados aps

    resultados obtidos junto aos pacientes psiquitricos internados, e nos grupos de prisioneiros

    (Ibid., p. 9).

    A dinmica de grupo foi uma expresso criada por Kurt Lewin na dcada de 30

    popularizando-se no perodo da segunda guerra mundial. A sistematizao dos grupos

    possibilitou que fossem empregados junto a lderes empresariais, acadmicos e tambm com

    as pessoas interessadas em melhorar sua condio pessoal e de vida (Ibid., p. 9).

    O recurso da atividade de grupo como uma modalidade na assistncia da enfermagem

    brasileira, descrita desde a dcada de 60 na ateno a gestantes. Aos poucos a partir da

    dcada de oitenta foram sendo disponibilizada tambm para as pessoas que careciam de outras

  • 40

    necessidades em sade, como os portadores de doenas crnicas, as mes e os adolescentes

    sendo mais uma alternativa no atendimento das enfermeiras (Ibid., p. 12).

    Na realizao de um grupo preciso considerar que a atividade em si dinmica, pois

    favorece a comunicao to essencial na rea da sade, e possibilita um contato mais prximo

    entre pessoas para o compartilhamento de sentimentos, opinies, experincias, e tambm a

    obteno de informaes para os cuidados em sade (BRASIL, 2007).

    Flores (2006) comenta que em 1963 um grupo de convivncia foi criado em So Paulo

    para os aposentados, e as atividades desenvolvidas foram organizadas para manter os

    integrantes ativos em comunidade, para favorecer o relacionamento interpessoal e estimular

    mudanas comportamentais com vistas manuteno da autonomia.

    Um grupo uma estratgia, e como tal permite explorar condies favorveis, para o

    ensino e aprendizagem do autocuidado, que adequadamente empregada pode alcanar um

    nmero maior de pessoas (SIMES; STIPP, 2006).

    Desse modo, uma atividade grupal pode ser promotora de sade, quando

    disponibilizada pela enfermeira no atendimento clientela idosa e pode ajudar a diminuir o

    isolamento proporcionando momentos de felicidade, de bem estar e satisfao para o idoso

    (VITOR et al., 2007).

    No servio de ateno sade, o acolhimento pode transcorrer com atividades de

    grupo, porque possibilita ouvir as pessoas e assim subsidia ao profissional maiores chances de

    dar respostas mais efetivas s necessidades dos usurios idosos (BRASIL, 2007, p. 14).

    Munari e Furegato (1997) cita as condies necessrias existncia de um grupo, e

    destaca que um grupo no o somatrio de pessoas, todavia deve se considerar os

    mecanismos construdos pelos prprios integrantes para alcanar o interesse comum.

    Colaboram ainda para a construo de um grupo, o ambiente fsico onde realizado, o tempo

    de durao do encontro, a manuteno da comunicao verbal, auditiva e visual entre os

    integrantes e o coordenador, sendo estas as condies que contribuem para o xito nessa

    atividade.

    Os grupos tm caractersticas distintas podendo ser homogneas ou heterogneas, que

    esto relacionadas s variveis: sexo, idade, escolaridade, assim como o problema de sade

    dos participantes; esses elementos podem facilitar ou dificultar o alcance de objetivos

    (MUNARI; FUREGATO, 1997, p. 17).

    A convivncia em grupo pode contribuir consideravelmente para um maior equilbrio

    entre a pessoa idosa e o ambiente em que vive, alm de possibilitar que se perceba como

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    responsvel por sua histria futura construda no enfrentamento das dificuldades que surgem

    com o envelhecimento (VITOR et al., 2007).

    Logo, as relaes estabelecidas entre os componentes do grupo e profissionais pode

    despertar a criao de vnculos respeitosos, acolhedores, que so prioritrios na realizao de

    atividades educativas relativas sade da pessoa idosa, atendida nos servios de sade

    (BRASIL, 2007, p. 27).

    Munari e Furegato (1997) ao enfocar enfermagem e grupos, reiteram que uma

    avaliao inicial na caracterstica do grupo vai auxiliar na escolha de quais dimenses abaixo

    podem vir a favorecer o coordenador e os integrantes no alcance dos objetivos centrais e

    prioritrios as necessidades dos participantes. So elas:

    Oferecer suporte nos perodos de ajustamento a mudanas, na manuteno ou adaptao a novas situaes, estimulando que os

    integrantes partilhem experincias comuns.

    Realizar tarefas exerccios executados em grupo podem levar ao aprendizado, a valorizao das contribuies feitas tanto nas

    diferenas, como nas similaridades na produo dos participantes.

    Socializar contribui para que as pessoas mantenham vnculos sociais mesmo na existncia de perdas, oferecendo alternativas para a

    troca de experincias e satisfao pessoal.

    Aprender mudanas de comportamento ajuda na tarefa de buscar comportamento mais saudvel individualmente.

    Treinar relaes humanas busca a melhor capacidade nos relacionamentos interpessoais.

    Nvel de preveno est ligado s necessidades dos clientes, aos objetivos do grupo e o nvel de preveno compatvel com o trabalho

    a ser desenvolvido.

    Grau de estrutura o planejamento, organizao necessria para executar todo o trabalho do grupo de responsabilidade do

    coordenador.

    Variveis fsicas tempo de durao da atividade, o local de realizao e a previso de participantes, visa oferecer condies para

    desenvolver o trabalho.

    Instilao de esperana a postura do coordenador importante porque estimula novos pa