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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLA DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS DECISO VIVIANE RODRIGUES DARIF SALDANHAS DE ALMEIDA RAMOS A METAMORFOSE DE CIRILO: RELAÇÕES RACIAIS E BRANQUIDADE NORMATIVA NA TELENOVELA INFANTIL CARROSSEL CURITIBA 2015

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES - SCHLA

DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS – DECISO

VIVIANE RODRIGUES DARIF SALDANHAS DE ALMEIDA RAMOS

A METAMORFOSE DE CIRILO: RELAÇÕES RACIAIS E BRANQUIDADE NORMATIVA NA TELENOVELA INFANTIL CARROSSEL

CURITIBA 2015

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VIVIANE RODRIGUES DARIF SALDANHAS DE ALMEIDA RAMOS

A METAMORFOSE DE CIRILO: RELAÇÕES RACIAIS E BRANQUIDADE NORMATIVA NA TELENOVELA INFANTIL CARROSSEL

Dissertação apresentada à Faculdade de Ciências, Letras e Filosofia da Universidade Federal do Paraná como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Sociologia. Orientador: Profª Drª Simone Meucci

Co-orientador: Prof° Dr° Paulo Vinicius Baptista da Silva

CURITIBA

2015

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AGRADECIMENTOS

À Deus, pela vida, pelo amparo e por sempre colocar em meu caminho pessoas

tão maravilhosas.

Ao meu amado esposo Leonardo por toda compreensão e o estímulo, não

apenas estando ao meu lado em todos os momentos.

Aos meus professores, que com suas vidas me ajudaram a trilhar esse caminho.

Aos meus amigos (de mestrado, da graduação, do trabalho, da vida) Tabata,

Noeli, Felipe, Bruno, Camila, Katiano, Viritiana e Caro pelo companheirismo,

amizade e carinho sempre, amo vocês!

À Profª Drª Simone Meucci e Prof° Dr° Paulo Vinicius Baptista da Silva pela

orientação, apoio e confiança depositados em mim.

Ao Prof° Dr° Alexandro Dantas Trindade e Profª Drª Regiane Ribeiro não apenas

por fazerem parte da minha banca, mas especialmente pelas contribuições no

decorrer de minha trajetória acadêmica.

Aos colegas NEAB Neli, Roberto, Jules, Jorge e Willian e do NEFICS Flora e

prof.º Fábio, em especial ao Anderson, pelo incentivo e conversas super produtivas.

Aos colegas do grupo do Pensamento Social Brasileiro Hilton, Arilda, Ana, Juan

Alexandre, Erivan, Ramiro, Paula, Caio, Walmir, Prof.º Igor, Prof.º Pedro, Prof.º

Rafael , Prof.º Ricardo, Prof.ª Valéria e Prof.ª Maria Tarcisa pela paciência e por tudo

que me ensinaram.

Aos companheiros de mestrado Tatiana, Morgana, Aknaton, Michele, Gabriel,

Terezinha, Yukako, Elisa, Eliandra, Cesar, Pablo e Amandine por compartilharem

seus anseios e felicidades comigo.

Ao corpo editorial da revista Sociologias Plurais, em especial Carolina e Diego,

pela oportunidade de trabalhar e aprender muito com vocês.

Á CAPES e ao programa de pós-graduação em Sociologia da UFPR, sеυ corpo

docente, direção е administração qυе oportunizaram tanto o apoio financeiro quanto

ao conhecimento.

Ao meu pai (Geraldo), minha mãe (Tânia), meus irmãos Veridiane e Ricardo pelo

apoio e compreensão nos momentos de ausência.

Ao Pingo por mais uma vez ser meu companheiro nas digitações de madrugada.

Enfim, à todos que me ajudaram nessa longa caminhada.

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RESUMO

É por intermédio de sua programação, que a televisão se articula com as demais instâncias de socialização, o que acaba ocasionando a uma espécie de disseminação e padronização de comportamentos, incentivando modos de consumo e propagação de valores, ideologias e conhecimentos, tornando-se capaz não apenas de atuar na reprodução e construção de estereótipos, como também de estimular preconceitos ou mesmo a estigmatização de determinados grupos sociais. E é justamente por ocupar esse lugar privilegiado, que surge a necessidade de analisar o papel que a televisão desempenha no que se refere às questões de discurso e consumo, principalmente em torno da repercussão da programação destinada ao público infantil. Assim, realizaremos uma análise das imagens e discursos dos produtos televisivos destinados ao público infantil. Deste modo, o principal objeto de análise será a trajetória do personagem negro Cirilo, apresentado na ficção seriada televisiva Carrossel. O objetivo central será tentar compreender como foi construído este personagem, tanto na versão mexicana produzida pela emissora Televisa em 1989 e exibida pela primeira vez no Brasil em 1991, quanto na versão brasileira da novela que foi apresentada em 2012 pelo canal SBT. Para tanto, foram comparadas algumas cenas das novelas que estão disponíveis no Acervo Televisa do canal Daylimotion e no site da emissora SBT, a fim de verificar se houve alguma alteração com relação ao modo com que foi constituído o personagem Cirilo em sua relação com os outros personagens em cada uma das referidas versões, principalmente levando em conta as mudanças na percepção das relações raciais no país, provocadas por algumas políticas sociais voltadas ao combate das desigualdades raciais entre a primeira e a segunda versão.

Palavra – chave: Telenovela. Crianças. Branquidade Normativa

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RESUMEN

Es a través de su programación, que la televisión está vinculada a las otras instancias de socialización, que termina a una especie de difusión y normalización del comportamiento, fomentando formas de consumo y la propagación de los valores, las ideologías y el conocimiento, convirtiéndose en poder no sólo para actuar sobre la reproducción y los estereotipos, pero también para animar a los prejuicios o la estigmatización de ciertos grupos sociais.E está legítimamente ocupan este lugar privilegiado, que hay una necesidad de considerar el papel que juega la televisión en relación para abordar las cuestiones y el consumo, sobre todo en torno al impacto de la programación dirigida a los niños. Por lo tanto, vamos a celebrar un análisis de las imágenes y los discursos de los productos de televisión para niños. Por lo tanto, el principal objeto de análisis será la trayectoria de caracteres negros Cyril presenta en la televisión de serie Carousel ficción. El objetivo principal será la de tratar de entender cómo se construyó este personaje, tanto en la versión mexicana producida por la estación de Televisa en 1989 y exhibido por primera vez en Brasil en 1991, ya que la versión brasileña de la novela, que fue presentado en 2012 por el canal SBT. Por lo tanto, algunas escenas de las novelas que están disponibles en la Colección Televisa y SBT sitio de la estación canal Daylimotion serán comparados con el fin de determinar si había algún cambio con respecto a la forma en que el personaje de Cyril se creó en su relación con los demás personajes de cada una de esas versiones, teniendo especialmente en cuenta los cambios en la percepción de las relaciones raciales en el país, causada por algunas políticas sociales encaminadas a combatir las desigualdades raciales entre la primera y la segunda versión.

Palabra - clave: Telenovela. Niños. Blancura Normativa

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO .............................................................................................................................. 1

2. PARA ENTENDER O OBJETO OU COMO SURGIU O FENÔMENO CARROSSEL ...... 7

2.1. DOS CUENTOS DE JACINTA PICHIMAHUIDA A CARROSSEL ................................ 7

2.2. CONSUMINDO CARROSSEL: INDÚSTRIA CULTURAL E A MASSIFICAÇÃO DA

CULTURA ........................................................................................................................................ 20

2.3. A CONTRIBUIÇÃO DA CULTURA DA MÍDIA PARA COMPREENDER O

FENÔMENO CARROSSEL .......................................................................................................... 24

2.4. A INFÂNCIA MEDIADA PELA TELEVISÃO: CULTURA, INFÂNCIA E A

SOCIALIZAÇÃO PELA MÍDIA ...................................................................................................... 30

3. A TELEVISÃO E SUA ATUAÇÃO: UMA ANÁLISE DA BRANQUIDADE NORMATIVA

NO CONTEXTO INFANTIL .............................................................................................................. 36

3.1. COMPREENDENDO O PAPEL DA TELEVISÃO NA CONTEMPORANEIDADE ... 36

3.2. DISCURSOS DA BRANQUIDADE NA MÍDIA E A QUESTÃO DO ESTIGMA NA

TELEVISÃO BRASILEIRA ............................................................................................................ 39

3.3. A TELENOVELA COMO INTÉRPRETE DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO

45

3.4. O LEGADO HISTÓRICO DAS TEORIAS DE BRANQUEAMENTO NO BRASIL .... 48

3.5. OS ESTUDOS E DISCURSOS DE BRANQUIDADE NO BRASIL ............................. 56

3.6. TELEVISÃO, INFÂNCIA E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS: ANALISANDO A

PROGRAMAÇÃO VOLTADA PARA O PÚBLICO INFANTIL.................................................. 61

4. EMBARCANDO NESSE CARROSSEL: OS ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA ................ 66

4.1. ANALISANDO IMAGENS EM MOVIMENTO DA TELENOVELA ............................... 66

4.2. CONSTRUINDO A ANÁLISE ........................................................................................... 68

4.3. A METAMORFOSE DE CIRILO: ANALISANDO E COMPARANDO AS VERSÕES

69

4.3.1. Cirilo, o pobre menino negro, e Maria Joaquina, a menina rica e branca: Raça

e Classe na construção dos personagens. ............................................................................ 70

4.3.2. Negro ou Sujo: Mudanças e permanências com relação aos adjetivos

atribuídos ao personagem Cirilo .............................................................................................. 78

4.3.3. Branquidade Normativa em Carrossel: Uma análise dos personagens Cirilo e

Maria Joaquina ........................................................................................................................... 86

4.3.4. Problematizando o preconceito: Uma nova possibilidade de abordagem em

Carrossel ...................................................................................................................................... 95

4.3.5. Metamorfose de Cirilo ou uma nova redenção de Cam: Análise da trajetória do

Personagem .............................................................................................................................. 106

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................... 110

6. REFERÊNCIAS ........................................................................................................................ 114

7. APÊNDICES ............................................................................................................................. 120

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1. INTRODUÇÃO

É inegável o lugar de destaque que a mídia ocupa na atualidade, ela é parte

integrante do cotidiano das pessoas e encontra-se presente em diversos espaços,

sejam eles públicos ou privados. Vivemos em uma época que por conta dos avanços

científicos e tecnológicos, o acesso à informação tornou-se quase que

universalizado, dados chegam instantaneamente aos mais diferentes locais, através

de diversos meios, veículos e recursos distintos.

Com isso, importantes elementos de transmissão e reprodução cultural, por

onde os indivíduos assimilam a cultura de seu grupo e interiorizam normas e valores

sociais, sofreram diversas transformações e a principal delas foi com relação às

formas de socialização das novas gerações. Se tradicionalmente as instâncias

socializadoras eram compostas pela família, igreja e escola, a geração atual convive

também com a mídia1.

Tais avanços e mudanças tecnológicas foram cruciais na história da

transmissão cultural, uma vez que “ela altera a base material, bem como os meios

de produção e recepção, dos quais depende o processo de transmissão cultural”

(Thompson, 2012, p.266).

Através da utilização de diferentes meios de comunicação de massa, (como

revistas, rádio, jornal, televisão, internet, dentre outros) a mídia atua disseminando

uma variedade imensa de informações e assim, atinge os mais diversos públicos. E

sem sombra de dúvidas, podemos dizer que dentre esses meios de comunicação,

um dos mais difundidos na sociedade atual é a televisão.

Tal fato pode ser confirmado por meio de diversas pesquisas, das quais se

destaca a realizada pela Secretaria de Comunicação Social da Presidência da

República, intitulada de Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, e que dentre os números

de destaque o que mais impressiona ainda se refere à televisão, uma vez que “nada

menos que 97% dos entrevistados afirmaram ver TV, um hábito que une

praticamente todos os brasileiros, com independência de gênero, idade, renda, nível

educacional ou localização geográfica” (BRASIL, 2014, p.7).

1 O conceito de mídia que será utilizado nessa dissertação vai de encontro com a teoria interacional

proposta por John B. Thompson, em seu livro Mídia e Modernidade, onde ressalta que meios de comunicação não são restritos aos aparatos técnicos utilizados para a transmissão de informações, enquanto as relações permaneceriam inalteradas. Pelo contrário, seria a partir do uso das mídias comunicacionais que as formas de agir e interagir seriam criadas e modificadas.

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Essa posição que a televisão atinge em nossa sociedade demonstra que este

veículo tornou-se parte integrante do cotidiano das pessoas, ela possibilitando

acesso não apenas à informação, mas também ao entretenimento. O predicado

principal da televisão é sua imensa capacidade de fascinar, estimular e até mesmo

de proporcionar encontros com diversas culturas, apresentando diferentes

“realidades” (ainda que distantes e por vezes ficcionais), ao introduzir em nossos

lares imagens, sons, textos, músicas, através de exibições de sua programação.

Nesse sentido a televisão não é mero instrumento de veiculação de

conteúdos específicos, mas também atua como agente formador de opinião,

propagador de comportamentos, que vão desde opiniões políticas, hábitos consumo,

até mesmo formulação de identidades.

De acordo com a Pesquisa Brasileira de Mídia 2014, realizada pela Secretaria

de Comunicação Social da Presidência da República, apesar do rápido crescimento

da internet, a presença da televisão nos lares do país continua sendo predominante

maior. Uma vez que nada menos que 97% das pessoas entrevistadas garantiram

assistir televisão, mostrando-se este ser “um hábito que une praticamente todos os

brasileiros, com independência de gênero, idade, renda, nível educacional ou

localização geográfica” (BRASIL, 2014, p.07).

Assim, em virtude de a mídia televisiva ser um dos meios mais acessados,

seja como fonte de informação ou de entretenimento, em detrimento de interesses

econômicos e políticos, o foco de sua programação tende a adquirir uma demanda

muito mais comercial, mas que nem por isso deixa de ser educativa, ainda que seja

educando para algum tipo de consumo. Dessa maneira, a programação voltada para

o público infantil pode ser considerada como um dos gêneros que mais concentra

exposição de produtos e publicidades de marcas diversas, que são apresentados

nesses programas como se estivessem em vitrines2.

Além disso, é por intermédio de sua programação, que a televisão se articula

com as demais instâncias de socialização, o que acaba ocasionando a uma espécie

de disseminação e padronização de comportamentos, incentivando modos de

consumo e propagação de valores, ideologias e conhecimentos, tornando-se capaz

2Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/jornal/edicoes/2014/04/29/medida-proibe-publicidade-

dirigida-ao-publico-infantil> Acesso em 05 abr. 2015

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não apenas de atuar na reprodução e construção de estereótipos, como também de

estimular preconceitos ou mesmo a estigmatização3 de determinados grupos sociais.

Em minha monografia intitulada “Infâncias Marcadas Pela Branquidade: Uma

Análise De Conteúdo Dos Programas Infantis Da Rede Globo De Televisão Entre

1986 E 2011” eu já havia constatado algumas nuances relacionadas a essa questão

da televisão como vitrine para o consumo, principalmente em relação a modelos e

comportamentos. De tal modo, compreendendo que a mídia atua como

disseminadora de moda, valores, comportamentos, podemos considerá-la como

sendo uma das principais instâncias sociais formadoras de ideologias em nossa

sociedade.

E é justamente por ocupar esse lugar privilegiado, que surge a necessidade

de analisar o papel que a televisão desempenha no que se refere às questões de

discurso e consumo, principalmente em torno da repercussão da programação

destinada ao público infantil, como podemos ver a partir das investigações

realizadas por Castro (1999), Sampaio (2000), Steinberg e Kincheloe (2001), Linn

(2006), Pontes (2005), Brito (2005), Kramer (2007) e Magalhães (2007),

pesquisadores que ocupam diferentes áreas tais como Comunicação, Psicologia,

Pedagogia e Marketing, dentre outras.

Todavia, como o campo de análise é amplo e perpassa por diversas variáveis

como as geracionais, de gênero, classe e raça, o foco dessa pesquisa será as

relações étnico-raciais. Isso se deve ao fato de que diversos estudos na atualidade

vêm demonstrando que os afrodescendentes são percentualmente pouco retratados

nos meios de comunicação e quando retratados, geralmente são deforma

estereotipada apontando para o surgimento de novas e complexas estratégias de

estigmatização dos negros na mídia4.

As diversas pesquisas sobre o tema assinalam que as representações do

negro na mídia refletem, em certa medida, o racismo na sociedade brasileira. Tais

estudos, baseados nas relações raciais na mídia brasileira, possuem como foco

alguns contextos específicos, como por exemplo, a imprensa, o cinema, a literatura,

3De acordo com Erving Goffman (2004) ressalta em seu livro Estigma: Notas Sobre A Manipulação

Da Identidade Deteriorada, a sociedade constitui modelos de categorias e procura catalogar as pessoas de acordo com atributos, que são considerados naturais e/ou comum pelos membros dessa categoria. Faremos análise um pouco mais elaborada do conceito no decorrer dessa dissertação. 4 Vide as produções de Araújo (1999), Trindade (2005), Faria & Fernandes (2007), Da Silva (2005),

dentre outros.

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livros didáticos, telenovelas e propagandas. Todavia a quantidade dessas

investigações sobre o fenômeno ainda é considerada bastante baixa (SILVA &

ROSEMBERG, 2007, p.76).

Assim, um dos principais motivos para pesquisar o impacto das mensagens

das mídias é porque tais sistemas simbólicos, conforme afirma Thompson (2002),

são constituídos por ideologias de grupos dominantes, podendo dessa forma,

contribuir tanto para reprodução quanto para a legitimação de relações de

dominação e/ou exclusão social.

Cabe ressaltar que os discursos da mídia causam um grande impacto na

sociedade e que, conforme aponta Kellner (2001) influenciam tanto na construção de

identidades individuais quanto oferecem modelos de comportamento a serem

seguidos.

A esfera televisiva é também um expressivo referencial de informações,

sejam sociais ou culturais, tornando-se parte integrante das interações emocionais e

afetivas, além de ter um significativo recurso subliminar, pois introduz diversas

informações que não são apreendidas de forma consciente.

E quando pensamos em programação voltada para o público infantil, tais

análises tornam-se ainda mais essenciais, uma vez que as crianças são parte de um

grupo social cuja socialização está em curso, seja por meio da observação e

imitação de comportamento de pessoas presentes em seu meio, e na sua relação

com instituições sociais como família, escola, incluindo a televisão, parte integrante

da vida doméstica e uma das principais formas de contato com os diversos produtos,

comportamentos e ideologias.

Desse modo, assumimos que essas relações de poder, através de

composições semióticas e semânticas transmitidas pela televisão, auxiliam a

estabelecer diversos estereótipos, que podem ecoar no processo de socialização de

diversas gerações. No caso das relações raciais, podemos perceber a partir de

diversas pesquisas que a mídia atua contribuindo para que ocorra manutenção da

ideologia da branquidade, ou seja, os brancos ainda sejam considerados como um

padrão a ser seguido, mas que em virtude das ressignificações quanto ao

racialismo, pode estar passando por modificações. Todavia, tal fato também

contribui para que haja uma dinâmica de mudanças/manutenção dessas relações

raciais e isso será analisado a partir do enredo da telenovela Carrossel.

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Nesses 24 anos após a exibição no Brasil da primeira versão da telenovela

Carrossel (em 1991), ocorreram muitas mudanças, principalmente com relação às

questões étnico raciais, como a criação da Secretaria Especial de Promoção da

Igualdade Racial (SEPPIR), em 21 de março de 2003, exatamente o Dia

Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e que acabou, em fevereiro

de 2008, sendo convertida em Ministério. Conforme a lei que a regulamenta, a

Secretaria tem como a principal atribuição a formulação, coordenação e articulação

de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade racial com vistas à

consolidação do tema da igualdade racial. E como integrante da estrutura básica da

SEPPIR também houve a criação o Conselho Nacional de Participação da Igualdade

Racial (CNPIR), que se trata de um órgão colegiado de caráter consultivo e que

possui como objetivo propor políticas de promoção da igualdade racial com foco

tanto na população negra quanto em outros segmentos étnicos da população

brasileira.

Então, pensando no contexto infantil, quais são as imagens transmitidas para

esse público por meio da televisão, especialmente após tais mudanças? Como são

tratadas e transmitidas às imagens de personagens negros para as crianças tanto

nas versões mexicana (1989) quanto na brasileira (2012)? Quais os papeis sociais

representados por estes personagens nas duas versões? Há alguma tentativa em

problematizar tais relações? E finalmente, quais são os avanços e permanências

com relação a tais representações nas duas versões? Assim, a pergunta que ainda

não conseguimos responder será “como essas imagens ecoam no imaginário

brasileiro? Talvez, essa questão seja respondida em uma próxima pesquisa.

Assim,realizaremos uma análise das imagens e discursos dos produtos

televisivos destinados ao público infantil. Deste modo, o principal objeto de análise

será a trajetória do personagem negro Cirilo, apresentado na ficção seriada

televisiva Carrossel. O objetivo principal será tentar compreender como foi

construído este personagem, tanto na versão mexicana produzida pela emissora

Televisa em 1989 e exibida pela primeira vez no Brasil em 1991, quanto na versão

brasileira da novela que foi apresentada em 2012 pelo canal SBT. Para tanto, serão

comparadas algumas cenas das novelas que estão disponíveis no Acervo Televisa

do canal Daylimotion e no site da emissora SBT, a fim de verificar se houve alguma

alteração com relação ao modo com que foi constituído o personagem Cirilo em sua

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relação com os outros personagens em cada uma das referidas versões,

principalmente levando em conta as mudanças na percepção das relações raciais no

país, provocadas por algumas políticas sociais voltadas ao combate das

desigualdades raciais entre a primeira e a segunda versão.

A escolha em analisar uma telenovela ocorreu em razão de esse produto

cultural ser um dos mais assistidos no Brasil, sendo que de acordo com a Pesquisa

Brasileira de Mídia 2014, 48% dos entrevistados afirmaram assistir. Além disso,

diversos autores e setores acadêmicos vêm pesquisando o desempenho

pedagógico da telenovela na sociedade brasileira, como Lopes (1996), Piveta

(1999), Motter (2002), Lopes, Resende, Borelli (2002), Souza (2004), dentre outros.

Para tanto, na abordagem dessa pesquisa foi utilizada a análise histórica da

questão racial e da mídia televisiva no Brasil, seguida da análise de imagens em

movimento referente à ficção Seriada Carrossel. Nesse sentido, primeiro buscarei

entender como surgiu o fenômeno Carrossel, ou seja, compreender o contexto

midiático em que surgiu este produto cultural, o papel e a influência da televisão –

em específico das ficções seriadas – na infância. Num segundo momento analisarei

a o papel da televisão na contemporaneidade, tendo como foco as questões raciais,

especialmente as relacionadas à ideologia do branqueamento, tendo como base o

conceito de “branquidade normativa” e o lugar dos afrodescententes na mídia. E por

fim, realizarei a análise referente à ficção Seriada Carrossel, comparando as duas

versões: mexicana de 1989 e brasileira de 2012, investigando a maneira como as

imagens e discursos de seus produtos foram transmitidos. Assim, relembrando um

trecho da música de abertura dessa telenovela:

“Embarque nesse carrossel

Onde o mundo faz de conta

A Terra é quase o céu.”

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2. PARA ENTENDER O OBJETO OU COMO SURGIU O FENÔMENO CARROSSEL

“Entre duendes e fadas, a terra encantada espera por nós

Abra o seu coração, na mesma canção, em uma só voz”

Era ao som dessa música5 e cantarolando essa letra é que crianças de todo

Brasil sentavam-se em frente à televisão em 1991 na primeira exibição da versão

mexicana da telenovela Carrossel, ansiosas por encontrar a Professora Helena e os

alunos da escola Mundial. E isso ocorreu também em 20126, dessa vez da nova

versão da novela, adaptada por Iris Abravanel7 e com elenco composto de atores

brasileiros.

Mas a história dessa ficção seriada começou muito antes, na década de 1940,

quando as peripécias da professora Jacinta e seus alunos do primário foram

publicados comoquadrinhos na revista argentina "Patoruzú" nos anos de 1940 e

depois, de duas décadas mais tarde,compiladas no livro Cuentos de Jacinta

Pichimahuida.Jacinta é uma personagem baseada em uma professora real que deu

aulas ao autor da história, Abel Santa Cruz, na década de 1920, no bairro argentino

chamado Caballito. (Montagner, 2012)

Assim, a telenovela que será analisada em suas versões

televisionadasresultounum sistema de produtos franqueados cerca de algumas

décadas depois.Desse modo, esse capítulo versará sobre a correlação entre a

indústria cultural, os meios de comunicação e culturas da mídia e como a professora

Helena e seus alunos ganharam não apenas a América Latina, mas de boa parte do

mundo.

2.1. DOS CUENTOS DE JACINTA PICHIMAHUIDA A CARROSSEL

O enredo-base da história da novela Carrossel é a realidade escolar , a

convivência, as descobertas e os dramas enfrentados por alunos do ensino

5YouTube. Carrossel Abertura (português) 1991. Vídeo (2min28s). Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=d1zPBN9jWeA >. Acesso em: 12 nov.2014. 6 YouTube. Abertura da novela Carrossel - SBT - 2012. Vídeo (1min07s). Disponível em:

<https://www.youtube.com/watch?v=Ree4202ov6Y>. Acesso em: 12 nov.2014. 7 Íris Passaro Abravanel é uma jornalista, empresária e autora de telenovelas brasileira, casada com

Silvio Santos, o comunicador e dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT), uma das principais emissoras de televisão do Brasil.

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fundamental. A Escola é local que serve como cenário principal para a trama, onde

os alunos buscam solucionar suas dificuldades contando com a ajuda de uma

professora que acaba se apresentando como um “anjo de candura”.

As estórias de Abel Santa Cruz tiveram sua primeira adaptação para os meios

eletrônicos de comunicação na forma de uma radionovela, produzida na Argentina

em 1964. A primeira adaptação para a televisão foi em 1966, em formato de

telenovela, intitulada Jacinta Pichimahuida ao que se seguiu várias adaptações do

mesmo gênero.

Quadro 1 – Adaptações para a televisão

Adaptação Ano Produto País Emissora

Jacinta Pichimahuida, la Maestra que no se Olvida

1966 Novela

Argentina

América Televisión

Señorita Maestra 1983-1985

Série ATC

Carrusel 1989 Novela

México Televisa Carrusel de las Américas 1992 Novela

¡Vivan los Niños! 2002 Novela

Carrossel 2012 Novela Brasil SBT

Fonte: A autora

Figura 1 – Jacinta Pichimahuida

FONTE: GONZÁLEZ, [s.d.]a, p.52-53

Em seu livro Televisión e Infancia: décadas 50-60-70-80, Concepción

González [s.d.], ressalta que, na Argentina, a adaptação de Jacinta Pichimahuida

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teve três adaptações principais que se distinguem pelas atrizes que a interpretaram:

Evangelina Salazar; (1966) María delosÁngelesMedrano (1974-1975) y, Cristina

Lemercier (Señorita maestra, 1982 a 1985).

Podemos considerar essa versão da telenovelaproduzida em 1966 como um

marco por ser pioneira em tratar questões relacionadas a problemas sociais tais

como, por exemplo, desemprego, separação dos pais ou mesmo o preconceito entre

os personagens "Cirilo Tamoyo" e "Etelvina" - apresentados posteriormente como

Cirilo e Maria Joaquina em Carrusel8, Ana Lucrécia e Martim em Carrusel de las

Américas9 e "Angelo" e "Simoninha" em Vivanlosniños10. A novela mostrava para

crianças uma realidade muitas vezes escondida por pais ou parentes, por meio de

uma linguagem simples e impregnada de fantasia, para assim não assustar seu

público alvo, mas ao mesmo tempo, garantir o interesse e atenção com relação à

discussão desses assuntos mais sérios.

Jacinta Pichimahuida es elnombre de unpersonaje de ficción,cuyo rol era el

de una maestra de escuela primaria em unbarrio de laCiudad de Buenos Aires. La maestra era muybuena y querida por losalumnos. Entre elloshabía distintos personajescon características propias que reflejaban distintos tipos de personalidad de losniños de la época. En general se presentabaunconflicto y entre losalumnos y la maestra u otros integrantes de laescuela se resolvía. (GONZÁLEZ, [s.d.]a, p.54)

Em 1974, as aventuras dessa professora e seus alunos também foram parar

nas telas do cinema.Oprimeiro filme foi chamado "Jacinta Pichimahuida, la maestra

que no se olvida11" , e o segundo, "Jacinta Pichimahuida se Enamora12" de 1977,

ambos produzidos na Argentina. E entre 1975 e 1976, também foi criada na

Argentina uma fotonovela13, que contava com os mesmos atores.

8 Versão mexicana, apresentado pela primeira em 1989 pela emissora televisa e exibida no Brasil em

1991 a 1992, 1995 e 1996pelo SBT. 9 Foi produzida em no México pela Televisa em 1996, como uma espécie de celebração aos 500 anos

de descobrimento da América. A novela foi apresentada em toda América Latina via satélite e no Brasil foi transmitida pelo SBT. 10

Também é uma novela mexicana produzida pela Televisa e exibida em 2002. No Brasil ficou conhecida como Viva às Crianças! - Carrossel 2 e foi exibida pelo SBT em 2003. 11

O primeiro filme foi escrito por Alfredo Lima e Abel Santa Cruz, produzido e dirigido por Juan David Elicetche e era uma espécie de versão cinematográfica da novela de 1966, ou seja, o enredo era o mesmo. O filme foi rodado a cores e os mesmos personagens foram interpretados por outros atores.Disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt0278207/combined>. Acesso em: 23 jan.2015. 12

Já o segundo filme foi produzido em 1977 e contou com o mesmo elenco do filme anterior. Foi escrito por Abel Santa Cruz e dirigido por Enrique Cahen Salaberry e contou novamente com a atriz Medrano intepretando a professora. O enredo do filme enfoca a vida amorosa da professora Jacinta. Disponível em: <http://www.imdb.com/title/tt0182252/?ref_=fn_al_tt_1>. Acesso em: 23 jan.2015. 13

Disponível em: <http://media.photobucket.com/user/Granduquesa/media/Jacinta%20Pichimahuida/JacintaPichimahuidayclase.jpg.html> Acesso em: 27 fev.2015.

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10

O grande sucesso do filme contribuiu para que em 1983 a emissora ATC,

produzisse mais uma versão para a televisão, como umseriado,intitulado "Señorita

Maestra" (Senhorita Professora) que chegou a ficar no ar por quase três anos (entre

1983 e 1985).

Figura 2 – Señorita Maestra

FONTE: González, [s.d.]a, p.208-209

A repercussão da história na América Latina acabou chamando a atenção da

rede de mexicana de televisão Televisa, que comprou os direitos e produziu em

1989 uma da novela com o título "Carrusel" (Carrossel).

A versão mexicana apresentava a professora Jacinta, como professora

"Jimena" ou "Ximena" na versão de 1989, mas que na dublagem brasileira se

transformou em "Professora Helena", enquanto que na versão produzida entre 2002

foi chamada de "Professora Lupita".

A versão que analisaremos é a mexicana de 1989 e ela conta com 375

capítulos. Os protagonistas são a professora e 16 crianças do 2o ano da Escola

Mundial, com idade entre 7 e 8 anos. Além destes, aparecem como personagens

coadjuvantes a diretora, o porteiro, a zeladora, a supervisora, outros professores e

os pais das crianças.

Figura 3 – Carrusel

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11

FONTE: González, [s.d.]a, p.274-275

Essa versão foi transmitida pela rede televisiva SBT entre os anos de 1991 a

1992, 1995 e 1996,tornando-se assim a versão mais conhecida pelo público

brasileiro. Segundo González (s.d), essa novela foi transmitida internacionalmente,

conforme a tabela abaixo:

Tabela 1 – Países onde foi transmitida a telenovela Carrusel (versão mexicana de 1989)

País Canal

México Canal 2 – Grupo Televisa

Argentina Telefe

Brasil SBT

Chile Canal 13 (1990)/ Meg

Colombia Cadena Uno/ Inravisión

Corea do Sul KBS 2TV

Costa Rica Repretel

Ecuador Teleamazonas / Canal Uno

El Salvador TCS

Estados Unidos Univisión / Telefutura

Grecia Ellinikí Radiofonía Tileórasi

Paraguai Canal 13/ Telefuturo

Perú Panamericana TV/ América Televisión

Porto Rico WAPA-TV

República Dominicana Color Visión

Turquía TRT

Ucrania ICTV Ukraine

Uruguai Canal 4

Venezuela Venevisión

FONTE: GONZÁLEZ, [s.d.]a, p.277

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12

No Brasil, as telenovelas da franquia tornaram-se as principais alternativas de

entretenimento voltado para o público infantil no horário nobre da televisão aberta.

Uma ocorrência bastante curiosa foi que a versão mexicana de 1989, "Carrusel", fez

um sucesso tão estrondoso na Coréia do Sul, que o livro "Cuentos de Jacinta

Pichimahuida" acabou sendo traduzido para coreano e lançado no país. Além disso,

em 1990, os mesmos atores que fizeram a novela, também saíram em turnê com

uma peça de teatro, intitulada “La Magia de Carrusel”14

Cosette Castro (1999), em seu artigo A Produção de Sentido da Telenovela

Chiquititas entre os Televidentes Mirins Brasileiros aponta que foi na década de

1990, sobretudo a partir da transmissão da produção mexicana "Carrossel" em 1991,

que a televisão brasileira voltou a destinar sua atenção ao público infanto-juvenil. E

de acordo com Mauricio Xavier e Nathalia Zaccaro (2012) já na primeira exibição,

entre maio de 1991 e abril de 1992, a novela Carrossel (versão mexicana) teve uma

média de 16 pontos de audiência. A segunda exibição,entre julho de 1995 e

fevereiro de 1996, ficou com 12 pontos, o que não é baixo considerando a

hegemonia da rede globo, principalmente no horário nobre.

Não só os personagens são os mesmos como também diversos episódios seguem enredo similar. A atriz que interpretava a professora Helena, a mexicana Gabriela Rivero, visitou o Brasil em 1991 com status de estrela internacional, sendo recebida até pelo então presidente Fernando Collor. (XAVIER e ZACCARO, 2012, s.p)

O sucesso do folhetim foi tão grande, que naquele período chegou a alcançar

21 pontos de audiência na cidade de São Paulo e pela primeira vez, o SBT

conseguiu preocupar a principal rede de televisão brasileira ao desbanca-la no

horário nobre,chegando a ser matéria de capa de uma das principais revistas da

época.A revista elencou alguns possíveis pontos responsáveis pelo grande sucesso

da trama infantil, dentre eles o direcionamento claro às crianças, a linguagem

simples e a abordagem de fatos presentes no cotidiano infantil.

Figura 4 – Capa da Revista Veja

14

Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=svm00KUVzZU > Acesso em: 27 fev.2015.

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13

FONTE: Veja on-line, Edição 1186 de 12/06/1991

Essa grande popularidade de Carrossel (1989) em terras brasileiras contribuiu

para que a atriz Gabriela Rivero, que interpretava a personagem Professora

(Jimena) Helena, desembarcar em Brasília e subir rampa do Congresso Nacional ao

lado do então presidente Fernando Collor de Mello15.

Nesse período, tanto o SBT e quanto a Televisa obtiveram lucro com a

“novelinha que uniu a família brasileira16”, pois, desfrutaram do sucesso para

comercializar vários produtos licenciados, como revistas, álbuns de figurinhas17 e

discos.

No ano de 1992 foi produzida pela rede Televisa uma quarta18 versão da

novela em comemoração aos 500 anos de descobrimento da América, chamada de

"Carrusel de las Américas" (Carrossel das Américas). Essa foi uma das mais

importantes versões da franquia que teve transmissão por toda a América Latina via

satélite.

En esta nuevaversión, laEscuela Mundial ha sido rebautizada como Escuela de las Américas. Además de Pollito y Nena, la Maestra Ximena ahoratieneensuclase a niñoscuyas personalidades son similares a las de losniños mostrados enlaprimeraversión de 1989 (aunque sus nombres y actoressean todos distintos).(González, s.d, p.210)

Carrusel de las Américas foi apresentada como uma espécie de continuação

da versão anterior de Carrusel, mas em virtude de sua trama, acabou se tornando

15

Disponível em: < http://www.sbtpedia.com.br/2014/08/o-dia-na-historia-16081991-gabriela.html > Acesso em: 27 fev.2015. 16

Jargão muito utilizado por Silvio Santos, dono do SBT, para se referir à telenovela. 17

Disponível em: <http://edasuaepoca.blogspot.com.br/2012/05/1989-album-de-figurinhas-carrossel. html > Acesso em: 27 fev.2015. 18

Nesse caso, não estamos considerando a radionovela de 1964 e nem os filmes.

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14

mais um remake desta, não alcançandoos altos índices de audiência da versão de

1989.

Figura 5 – Carrusel de las Américas

FONTE: GONZÁLEZ, [s.d.]b, p.208-209

Conforme González (s.d), em seu livro Televisión e Infancia: Década 90, essa

novela foi exibida nos seguintes países:

Tabela 3 – Países onde foi transmitida a telenovela Carrusel de Las Américas

País Canal

México Canal de las estrellas y Canal 4

El Salvado esTCS r

Colombia Señal

Estados Unidos Univisión

Venezuela Venevisión

Brasil SBT

Paraguai Canal 13

Perú América Televisión

Chile Megavisión

FONTE: GONZÁLEZ, S.D b, p.210

Em 2002, foi produzida sua quinta versão, também no México, pela Televisa,

mas dessa vez foi chamada de iVivanlosniños! . No Brasil, foi chamada de Viva às

Crianças! - Carrossel 2 e exibida em 2003, novamente pelo SBT. No entanto, assim

como Carrossel das Américas, essa versão não conseguiu obter no Brasil o

estrondoso sucesso da versão de 1989.

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15

Figura 6 – ¡Vivan los niños!

FONTE: GONZÁLEZ, [s.d.]c, p.190-191

De acordo com González [s.d.], em seu livro Televisión e Infancia: Década 00,

a nova versão foi apresentada nos seguintes países e emissoras:

Tabela 4 – Países onde foi transmitida a telenovela ¡Vivan los niños!

País Canal

Argentina Canal Trece

Brasil SBT

Chile Mega

Colombia Canal Caracol

Ecuador Gama TV

El Salvador TCS

México El canal de las estrellas.

Paraguai Telefuturo

Perú América Televisión

República Dominicana Telemicro

Venezuela RCTV

Espanha Canal Sul

Panamá, Telemetro

FONTE: GONZÁLEZ, [s.d.]c, p.192

Deste modo, a telenovela "Carrossel", na realidade, é apenas uma das

diversas versões televisivas baseadas em personagens e estórias escritas pelo

dramaturgo e escritor argentino Abel Santa Cruz. As três versões mexicanasforam

exibidas pelo canal SBT, porém em maio 2012(aproximadamente 23 anos após a

estreia da história original), após comprar os direitos da Televisa, a emissora de

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16

Silvio Santos produziu sua própria versão com atores brasileiros, inteiramente

inspirada na mexicana de 1989.

A novela já era sucesso em vários países e poderá ser exibida em Portugal19.

Além de ganhar um filme20 com estreia prevista para Julho de 2015.

Tabela 5 – Países onde foi (está sendo) transmitida a telenovela Carrossel (versão brasileira

de 2012)

País Canal

Angola TV Zimbo21

Bolívia Red UNO22

Costa Rica Repretel23

Equador Ecuavisa24

Ghana 4Kids25

Indonésia Trans7126

Moçambique TV Miramar27

Nicarágua Televicentro28

República Dominicana Telesistema

29

Venezuela Televen30

FONTE: A autora

E do mesmo modo que ocorreu com a versão mexicana, produzida pela

Televisa em 1989 e exibida no Brasil em 1991, a versão brasileira, produzida pelo

SBT e lançada em 2012 também obteve grande sucesso de público. Mas a

19

Disponível em: <http://natelinha.ne10.uol.com.br/noticias/2012/05/22/versao-brasileira-de-carrossel-pode-ser-exibida-em-portugal-114941.php>. Acesso em: 22 jan.2015. 20

Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2015/01/1581440-novela-carrossel-ganha-filme-em-julho-conheca-dia-a-dia-dos-atores.shtml>. Acesso em: 22 jan.2015. 21

Disponível em: <http://otvfoco.com.br/audiencia/carrossel-substitui-coracoes-feridos-na-angola/>. Acesso em: 22 jan.2015. 22

Disponível em: <http://tvbrasilbrasileira.blogspot.com.br/2014/08/carrossel-exibicao-internacional.html>. Acesso em: 22 jan.2015. 23

Disponível em: <http://www.repretel.com/carrusel>. Acesso em: 22 jan.2015. 24

Disponível em: <http://tvbrasilbrasileira.blogspot.com.br/2014/08/carrossel-exibicao-internacional.html>. Acesso em: 22 jan.2015. 25

Disponível em: <http://multitvworld.com/newworld/4kids/whatsnew_details.php?new=53>. Acesso em: 22 jan.2015. 26

Disponível em: < http://rd1.ig.com.br/carrossel-torna-se-sucesso-na-indonesia/ >. Acesso em: 22 jan.2015. 27

Disponível em: <http://otvfoco.com.br/audiencia/emissora-da-record-exibira-novela-carrossel-do-sbt-em-2015/>. Acesso em: 22 jan.2015. 28

Disponível em: <http://tvbrasilbrasileira.blogspot.com.br/2014/08/carrossel-exibicao-internacional.html>. Acesso em: 22 jan.2015. 29

Disponível em: <http://telesistema11.com.do/programas/carrusel-2/>. Acesso em: 22 jan.2015. 30

Disponível em: <http://novelike.com/sucesso-carrossel-chega-a-venezuela-nesta-quarta/>. Acesso em: 22 jan.2015.

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telenovela também se destaca por ter sido um grande fenômeno relacionado ao

consumo, fato que contribuiu para que novamente se tornasse capa de uma das

maiores revistas do Brasil.

Figura 7 – Capa da Revista Veja São Paulo

FONTE: Veja on-line, Edição 2285 de 08/09/2012

Houve uma grande expectativa com relação à adaptação da telenovela

Carrossel para o mercado brasileiro, principalmente em virtude do bom resultado da

versão mexicana exibida no Brasil em 1991. O sucesso de público foi gigantesco,

contribuindo para criação de produtos licenciados com a marca Carrossel. Além

disso, a partir da novela, foram criados três outros programas culturais distintos: o

Clube do Carrossel, a Patrulha Salvadora e o desenho animado do Carrossel.

O "Clube do Carrossel" estreou em 29/07/2012, foi um programa infantil

matutino apresentado por atores que interpretaram a novela Carrossel (versão

brasileira de 2012) e que trazia brincadeiras, prêmios e exibição dos desenhos com

a participação do público via telefone.

A série “Patrulha Salvadora”, cuja 1ª temporada foi ao ar de 11/01/2014 a

24/01/2015, e conta a estória de parte do elenco infantil da telenovela. Os

integrantes da Patrulha Salvadora ajudam crianças e animais que precisam de um

auxílio. São dotados de super poderes necessários para desvendar os crimes na

cidade fictícia chamada de Kauzópolis.

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O desenho animado contará estórias inéditas e contará com todos os

personagens da escola Mundial.Foi divulgado pela emissora, mas ainda não teve a

data de estréia anunciada.

Figura 7 – Divulgação do desenho animado Carrossel

Fonte: Site Folhinha31

Em reportagem da revista Veja, o diretor comercial Glen Valente disse que a

novela Carrossel se apresenta como um farol que iluminava toda a nossa grade de

programação e que com relação à venda de anúncios, ela só fica atrás da área de

jornalismo do SBT, que possui três programas diários.Em virtude da boa

performance financeira apresentada pela novela, o SBT passou a apostar

maciçamente na marca. Conforme XAVIER e ZACCARO (2012),havia contratos

firmados para o lançamento de 80 produtos licenciados por meio de14 empresas,

sendo que metade chegou às lojas em agosto de 2012, o restante estaria disponível

até o Dia das Crianças, em outubro de 2012.

Assim, Fernanda Brozinga, executiva de contas da área de licenciamento do

SBT, em entrevista32, afirmou que a novela Carrossel representava cerca de 70%

dos artigos administrados por seu setor. E em sua reportagem, os autores apontam

que tais itens, em poucos dias, evaporavam das prateleiras e exemplificaram o bom

desempenho a partir da promoção realizada pela empresa de chocolates Cacau

Show, que nos mesmos moldes do enredo do clássico filme A Fantástica Fábrica de

Chocolate33, espalhou seis cupons dourados (em um lote de 200.000 tabletes de

31

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folhinha/2013/04/1264107-apos-o-fim-novela-carrossel-voltara-em-forma-de-desenho-animado.shtml>. Acesso: 04 de abr. 15 32

Entrevista concedida à XAVIER e ZACCARO (2012) Disponível em <http://vejasp.abril.com.br/materia/carrossel-audiencia> Acesso em 07 out. 2014 33

No filme produzido em 1971, distribuído pela Warner Bros. e dirigido por Mel Stuart, cujo titulo original é Willy Wonka & the Chocolate Factory, conta a estória de Charlie Bucket (Peter Ostrum) é um menino pobre, que acha um dos cobiçados "bilhetes dourados" que dão direito a um carregamento vitalício de chocolates Wonka, além de poder conhecer a misteriosa fábrica de chocolates. Ele e mais quatro crianças passeiam pelo lugar, mas Willy Wonka (Gene Wilder), o dono

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chocolate) que davam direito tanto a uma visita à linha de produção da indústria

quanto às gravações da novela.

XAVIER e ZACCARO (2012) ressaltam que a novela atraiu cerca de 10%

dos telespectadores diários do canal e contribuiu para que o ibope do horário nobre

(entre 18 horas e meia-noite) crescesse 31%.

O impacto foi tão grande desde sua estréia, em 21 de maio, que fez o SBT ameaçar a vice-liderança da Record na média anual da faixa das 20h30, com 7,5 e 7,9, respectivamente. O desempenho pegou (quase) todos de surpresa. É voz corrente na empresa que os diretores não esperavam nem 10 pontos, enquanto o próprio Silvio Santos (bingo!) apostava nos 14. Trata-se de um projeto em família: a ideia de produzir um remake de "Carrossel" circulou no SBT por cinco anos antes de ser encampada pela diretora-geral da emissora, Daniela Beyruti, terceira filha de Silvio Santos. [...] As estatísticas do Ibope criaram uma ciranda animada no departamento comercial. (XAVIER e ZACCARO, 2012, s.p)

Conforme apontam XAVIER e ZACCARO (2012) as projeções em agosto de

2012 era de que a novela faturasse 100 milhões de reais com venda de CDs,

anunciantes e licenciamento de produtos até seu encerramento, em março. No mês

julho 15% do total embolsado pelo SBT com publicidade vieram da novela infantil e o

houve o crescimento de 13% do faturamento dessa área desde sua estréia.

E de volta à grade de programação do SBT a partir do dia 16 de março de

2015 (após quase 3 anos desde sua estréia na grade da emissora em 2012), trama

ganhará novos produtos licenciados. Barbara Sacchitiello (2015) ressalta que apesar

de a novelinha ser reprisada,o SBT já se preparou e fechou novos contratos de

licenciamentos e com marcas bastante consagradas como Tilibra, Grendene, Panini

e Online Editora e que a adaptação da novela Carrossel rendeu em torno de 300

contratos de licenciamentos.

Assim, como um grande fenômeno, a novela Carrossel se tornou um dos

principais responsáveis pela reconquista da vice-liderança pela emissora SBT. E em

virtude desse enorme sucesso, a emissora SBT passou a investir fortemente no

setor infantil das novelas, adaptando também uma nova versão da novela

Chiquititas34 (que atualmente está no ar) e já está preparando uma outra adaptação

para ser sua substituta, mas agora da novela infantil "Cúmplices de um Resgate35".

da fábrica. As crianças, ao mesmo tempo em que mergulham de cabeça nos seus desejos, pagam um preço por isso. 34

Chiquititas também é uma telenovela argentina que conta a estória de órfãs que moram no orfanato Raio de Luz, foi criada por Cris Morena em 1995, foi produzida pela emissora brasileira SBT em conjunto com a emissora Telefe em 1997. Em 2013, após a compra dos direitos autorais pelo SBT, foi

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Desse modo, é notável a capacidade de atração dos meios de comunicação

de massa. Mesmo quem não possui acesso, não está isento à recepção de

informações desses meios, uma vez que tais acessos são disponibilizados das

maneiras mais diversas - outdoors, jornais e revistas expostos em bancas até de

vitrines de lojas onde televisores ficam ligados.

Os diversos produtos culturais adaptados numerosas vezes de um quadrinho

publicado originalmente na década de 1940, demonstram emblematicamente a

atuação da indústria cultural como um sistema que articula produções no campo de

serviços e na indústria e consegue atingir diversos públicos, mantendo sua

influência, sobre diversas esferas, cada vez mais crescentes, da vida cotidiana.

Mas para compreendermos as ações desse sistema, temos que

primeiramente investigar o papel da mídia enquanto formadora de ideologias e nada

melhor para instruir tal análise do que averiguar as construções teóricas da Escola

de Frankfurt36.

2.2. CONSUMINDO CARROSSEL: INDÚSTRIA CULTURAL E A MASSIFICAÇÃO

DA CULTURA

De acordo com Barbara Freitag (2004), em seu livro A Teoria Crítica, o

conceito de Indústria Cultural difundido por Adorno e Horkheimer por meio do livro A

Dialética do Esclarecimento (1947), estabeleceu um dos conceitos base para os

estudos culturais acerca da Indústria Cultural, onde apontaram uma nova

compreensão com relação à cultura e a massificação da mesma, se tornando “parte

produzido o remake, mas agora escrito por Íris Abravanel. Esta estreou em 15 de julho de 2013, sucedendo a novela Carrossel. E diferente da primeira versão brasileira, a nova produção de Chiquititas foi realizada totalmente no Brasil e sem o envolvimento da emissora argentina. 35

Cómplices al rescate foi uma telenovela mexicana que conta o drama da separação de irmãs gêmeas, que se reencontram após alguns anos. Foi produzida para a Televisa em 2002. No Brasil, a trama foi chamada de Cúmplices de um Resgate e exibida pelo SBT, entre 2002 e 2003; e depois em 2006. O SBT fará uma versão brasileira da novela para substituir Chiquititas já em 2015 e terá Larissa Manoela (que interpretou Maria Joaquina em Carrossel) como protagonista. 36

O modelo de estudo cultural proposto pela escola de Frankfurt foi concebido através da

combinação da análise cultural de estudos acerca da recepção e efeito sociais e ideológicos da cultura e dos meios de comunicação de massa e a principal finalidade desse instituto era proceder com um exame crítico da sociedade, em geral, e em seus aspectos econômicos, culturais e de produção de conhecimento, se ancorando em teorias elaboradas por Karl Marx, porém, podemos dizer que de uma forma renovada, ou seja, sem se prenderem ao historicismo ou ao materialismo.

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integrante do conceitual das ciências sociais e da comunicação, onde tem

encontrado ampla aplicação (FREITAG, 2004, p. 10).

A escola de Frankfurt apresentou diversos pensadores, como Herbert

Marcuse, Walter Benjamim, Theodor Adorno e Max Horkheimer, dentre outros, mas

essa análise será pautada em Theodor Adorno e Max Horkheimer que foram os

criadores da noção base para os estudos culturais acerca da indústria cultural, onde

apontaram um novo conceito com relação à cultura e a massificação da mesma.

Assim, a partir de contribuições de Marx, Freud e Weber, os frankfurtianos37

foram construindo uma perspectiva mais ampla acerca das produções culturais de

massa, entendidas como parte da produção industrial, com as mesmas

características de alienação humana. Nesse perspectiva, os produtos produzidos

pelas indústrias culturais possuíam um caráter especifico: a legitimação ideológica e

a integração dos indivíduos na sociedade capitalista.Dessa maneira, Adorno e

Horkheimer, formularam o conceito de indústria cultural, que seria um mecanismo de

massificação da opinião, dos gostos e da necessidade de consumo.

Nesse sentido, segundo Adorno e Horkheimer (1986), ocorre a

industrialização da cultura, a tecnologia de reprodução utilizada como instrumento

no desenvolvimento, padronização e consolidação das formas de controle das

concepções sociais, a serviço da dominação. A mercantilização interfere de maneira

direta tanto nos conteúdos quanto nos processos de criação das obras., cooperando

para uma espécie de domesticação das manifestações e da cultura popular das

classes subordinadas.

Portanto, na indústria cultural tudo é transformado em mercadoria, um mero

produto de mercado, inclusive o próprio ser humano, e a real preocupação não seria

em transmitir informações ou conhecimento, mas sim vender cada vez mais

produtos e ideias homogeneizadas, a fim de se obter o lucro, contribuindo assim no

impedimento da “formação de indivíduos autônomos, independentes, capazes de

julgar e de decidir conscientemente” (ADORNO, 1986, p. 99).

Dessa forma, a arte, a música, a literatura se convertem em meros produtos

perdendo o valor e a essência da criação cultural. A indústria cultural gera “produtos

adaptados ao consumo das massas e que em grande medida determinam esse

consumo” (ADORNO, 1986, p. 91).

37

Termo utilizado por Bárbara Freitag (2004, p. 8)

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Na medida em que nesse processo a indústria cultural inegavelmente especula sobre o estado de consciência e inconsciência de milhões de pessoas às quais ela se dirige, as massas não são, então, o fator primeiro, mas um elemento secundário, um elemento de cálculo; acessório da maquinaria. O consumidor não é rei, como a indústria cultural gostaria de fazer crer, ele não é o sujeito dessa indústria, mas seu objeto. (ADORNO, 1986, p.93, grifo nosso).

Adorno e Horkheimer (1986) assinalam que a indústria cultural colabora para

um processo de servidão do corpo e do espírito, assim como o desencadeado pelo

sistema de trabalho. Com isso, o papel desempenhado pelo homem seria apenas de

objeto, um instrumento de trabalho e de consumo. Tal fato corrobora para que

momentos de lazer e divertimento se tornem extensão do trabalho.

Nesse contexto, sob o capitalismo tardio, a diversão é inexoravelmente

prolongamento do trabalho. Segundo os autores, esse processo de mecanização

atingiu tal domínio sobre a pessoa em seu lazer e sobre sua felicidade, que “ela

determina tão profundamente a fabricação das mercadorias destinadas à diversão,

que esta pessoa não pode mais perceber outra coisa senão as cópias que

reproduzem o próprio processo de trabalho” (ADORNO e HORKHEIMER, 1986,

p.128).

Noutras palavras, conforme apontamentos de Adorno e Horkheimer (1986),a

indústria Cultural pode ser pensada como sendo uma ideologia que visa ocultar a

percepção do indivíduo, de forma que valores sociais passam a ser regidos,

influenciados e condicionados por ela.

Adorno e Horkheimer (1986) ressaltam que a indústria cultural contribui para

o aprofundamento da condição alienada das massas e impede a formação de

indivíduos capazes de refletir autonomamente. Desse modo, ela teria em vista uma

integração das massas ao sistema capitalista, colaborando para a geração de

fragmentação e impotência. Assim, a Indústria Cultural apresentaria a difusão de

uma cultura de subserviência, tornando obstante qualquer mobilização crítica ou de

mobilização por parte dos indivíduos contra o sistema capitalista.

Contudo, Adorno e Horkheimer (1986) apontam que pode existir certa crítica

naqueles realizam uma forma de arte distante da indústria, mas ainda assim, é uma

tentativa que fica à margem do sistema, pois não agrada as consciências habituadas

com um modelo padronizado.

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23

Portanto, é possível considerar que, sob as regras da indústria cultural, a

cultura transforma-se em mera mercadoria, em um produto a ser explorado e

vendido de maneira comercial e que opera impedindo a formação de indivíduos

independentes, autônomos e capazes de julgar e decidir de forma consciente.

Assim, indústria cultural atua por meio da produção industrial de artigos

simbólicos e produzindo necessidades. E a novela Carrossel, assim como qualquer

outro produto dessa indústria cultural, se pauta na criação de necessidades de

consumo a partir da boa recepção do público, como é possível verificar por meio dos

dados do ibope38

A novela inflou o ibope do horário nobre (entre 18 horas e meia-noite) em 31% e atrai cerca de 10% dos telespectadores diários do canal. O impacto foi tão grande desde sua estréia, em 21 de maio, que fez o SBT ameaçar a vice-liderança da Record na média anual da faixa das 20h30, com 7,5 e 7,9, respectivamente. O desempenho pegou (quase) todos de surpresa. É voz corrente na empresa que os diretores não esperavam nem 10 pontos, enquanto o próprio Silvio Santos (bingo!) apostava nos 14. Trata-se de um projeto em família: a ideia de produzir um remake de "Carrossel" circulou no SBT por cinco anos antes de ser encampada pela diretora-geral da emissora, Daniela Beyruti, terceira filha de Silvio Santos. [...] As estatísticas do Ibope criaram uma ciranda animada no departamento comercial. (XAVIER e ZACCARO, 2012, s.p)

Quando analisamos os dados apresentados por XAVIER e ZACCARO (2012),

de que até agosto de 2012 foram vendidos 150 mil álbuns e três milhões de

figurinhas, 30 mil livros-diário, 200 mil tabletes de chocolate pela empresa Cacau

Show, 50 mil maletas com oito livros e um CD, 120 mil CDs com a trilha sonora e em

torno de 500 mil bonecos fabricados por quatro empresas diferentes, podemos

perceber como o sistema da indústria cultural é hábil em produzir necessidades.

Além disso, ao final das gravações da novela, os atores do elenco foram

escalados para apresentarem um show musical, onde cantam e dançam as músicas

que foram sucesso na novela. Esse é outro diferencial com relação às versões

produzidas no México, que mesmo tendo a trilha sonora adaptada para o português

e com canções interpretadas somente por artistas brasileiros, os clipes da versão

mexicana de 1989, não se pareciam em nada com os que integram o remake

brasileiro da novela e também não tiveram o sucesso que a versão brasileira de

2012 teve.

38

IBOPE é a sigla de Instituto Brasileiro de Opinião e Estatística e trata-se de uma multinacional brasileira especializada em pesquisas de opinião e estudos de mercado.

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Segundo Arthur Vivaqua (2013) em reportagem no portal IG, não foi apenas

o quesito audiência que fez da novela Carrossel um fenômeno, mas o próprio

faturamento através do licenciamento de produtos – que em janeiro de 2013 já

ultrapassava a marca de 300 itens e 33 marcas - além da venda de mais de 400 mil

CD’s e DVD’s entre o Dia das Crianças e o Natal de 2012. Os consumidores dos

produtos da novela, 70% são meninas entre 7 e 12 anos.

Assim, podemos constatar que a novela cumpriu seu propósito dentro da

indústria cultural que seria o de atingir o público, por meio dos veículos de

comunicação de massa.

Entretanto, as ideias de Adorno e Horkheimer (1986), de que as produções

culturais e artísticas sejam vistas exclusivamente a partir das relações econômicas

capitalistas acabou passando por um refinamento e veremos estas transformações

ocorridas a partir do viés da cultura da mídia.

2.3. A CONTRIBUIÇÃO DA CULTURA DA MÍDIA PARA COMPREENDER O FENÔMENO

CARROSSEL

O conceito de indústria é relevante para a análise da cultura da mídia,

especialmente por articular cultura, tecnologia e ideologia. Compreendemos, no

entanto, que o conceito de ideologia se apresenta também como um dos principais

pontos para análise de produtos da cultura da mídia, especialmente na avaliação de

bens culturais voltados para o público infantil como a novela Carrossel.

Conforme ressalta Douglas Kellner (2001) em seu livro A Cultura da Mídia39,

estudos de ideologia não podem se limitar apenas a análise de doutrinas de cunho

economicista e político, mas devem compreender também as diferentes formas

simbólicas. Opressão de sexo, sexualidade e raça também possuem uma

importância fundamental, além de muitas vezes também se encontrarem imbricadas

na dominação econômica.

39

Como fenômeno histórico, a Cultura da Mídia é relativamente recente. Embora as novas formas da

Indústria Cultural descritas por Horkheimer e Adorno (1972) nos anos 1940 – constituídas por cinema, rádio, revistas, histórias em quadrinhos, propaganda e imprensa – tenham começado a colonizar o lazer e a ocupar o centro do sistema de cultura e comunicação nos Estados Unidos e em outras democracias capitalistas, foi só com o advento da televisão, no pós-guerra, que a mídia se transformou em força dominante na cultura, na socialização, na política e na vida social. A partir de então, a TV a cabo e por satélite, o videocassete e outras tecnologias de entretenimento doméstico, além do computador pessoal – mais recentemente – aceleram a disseminação e o aumento do poder da cultura veiculada pela mídia. (KELLNER, 2001, p. 26).

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Assim, conforme John B. Thompson (2011) argumenta em seu livro

Ideologia e Cultura Moderna existe uma necessidade de reformular o conceito de

ideologia em termos da interação entre poder e sentido. Nesse caso, o estudo da

ideologia se configura como sendo a investigação acerca do “significado mobilizado

pelas formas simbólicas [e] serve, em circunstâncias específicas, para estabelecer,

manter e reproduzir relações sociais que são, sistematicamente, assimétricas em

termos de poder”. (THOMPSON, 2011, p.203).

Deste modo, a ideologia não deve ser entendida como uma prática qualquer,

uma vez que ela é utilizada para criar ou manter relações desiguais e injustas, ou

seja, como justificações em situações cotidianas, com a finalidade de estabelecer e/

ou sustentar relações de poder que são ordenadamente desiguais.

Thompson (2011) enfatiza que tais formas simbólicas, são submetidas de

maneira frequente aos processos de valorização que são de duas ordens: a

valorização simbólica e a valorização econômica. A valorização simbólica seria o

processo pelo qual é atribuído às formas simbólicas um determinado “valor

simbólico” pelos indivíduos que tanto as produzem quanto as recebem. O valor

simbólico é definido pelos indivíduos conforme a estima daqueles que os produzem

e recebem, sendo assim, eles podem vir a ser apreciados ou desprezados,

aprovados ou condenados. Já a valorização econômica decorre em razão do

processo mercadológico, isto é, os objetos que podem ser comprados ou vendidos

por um dado preço em um mercado.

Mas estas formas simbólicas também podem ser constituídas como

mercadorias, isso ocorre quando lhes é atribuído um determinado valor pelo qual

elas podem ser trocadas em um mercado. Essas formas simbólicas mercantilizadas

são denominadas por Thompson (2011) como bens simbólicos.

É comum que esses dois tipos de valorização, sejam acompanhados de

diferentes formas de conflito e podem ser atribuídos distintos graus de valor pelos

indivíduos, de tal maneira que um determinado objeto possa ser apreciado e

aprovado por alguns, enquanto pode se tornar condenado ou desprezado por outros.

Dessa forma, as valorizações simbólicas desempenhadas por diferentes indivíduos

ou mesmo grupos sociais, que estão diferentemente situados, raramente são de

mesmo status. Algumas valorizações podem obter maior importância do que outras

em razão do indivíduo ou grupo social “que as oferece e da posição da qual

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fala; alguns indivíduos estão em uma melhor posição do que outros para realizar

valorizações e, se for o caso, impô-las.” (THOMPSON, 2011, p.204).

Para Thompson (2011) essas relações de poder e dominação que atingem a

maior parte das pessoas, de forma mais direta, são as assinaladas pelos contextos

sociais onde se encontram introduzidas cotidianamente e que interagem na maior

parte do tempo, como a escola, trabalho, família.

Todavia, ele ressalta que em razão de na atualidade os discursos midiáticos

preencherem um lugar privilegiado na vivência dos indivíduos, estes passaram a ser

submetidos a distintas formas de socialização, não mais consequentes

simplesmente das instituições sociais tradicionais, como família, escola, religião ou

trabalho. Os indivíduos, ao receberem e interpretarem as formas simbólicas se

encontram envolvidos em um processo contínuo de construção e reconstrução de

significados, que Thompson (2011) chama de reprodução simbólica dos contextos

sociais.

O significado que é carregado pelas formas simbólicas e reconstituído no curso de sua recepção pode servir para manter e reproduzir os contextos de produção e recepção. Isto é, o significado das formas simbólicas, da forma como é recebido e entendido pelos receptores, pode servir de várias maneiras, para manter relações sociais estruturadas com características dos contextos dentro dos quais essas formas são produzidas e/ou recebidas. (THOMPSON, 2011, p.202).

Além disso, Thompson (2011) também considera que a ideologia opera a

partir do momento em que as produções culturais simbólicas de uma sociedade

atuam ideologicamente, ou seja, ao criar e manter relações de dominação entre

indivíduos, permitir ou não o acesso a bens, sejam culturais ou materiais. Uma vez

que “as formas simbólicas, ou sistemas simbólicos, não são ideológicos em si

mesmos: se eles são ideológicos, e o quanto são ideológicos, depende das

maneiras como eles são usados e entendidos em contextos sociais específicos."

(THOMPSON, 2011, p.17)

Kellner (2001) também aborda outro aspecto bastante importante com

relação à ideologia: a inferência na sociedade. Para o autor, a ideologia pressupõe a

ideia de uma norma, que geralmente tem referência ao padrão branco masculino,

ocidental, de classe média ou superior e onde aqueles que são diferentes a ela são

considerados “não normais”, ou seja, raças, classes, grupos e sexos que não

correspondem a esse padrão são considerados como inferiores e/ou secundários.

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Dessa maneira, a ideologia atuaria diferenciando e separando grupos em

dominantes/dominados e superiores/inferiores, e principalmente, “produzindo

hierarquias e classificações que servem aos interesses das forças e elites de poder”

(KELLNER, 2001, p.83).

A ideologia, portanto, faz parte de um sistema de dominação que serve para aumentar a opressão e legitimar forças e instituições que reprimem e oprimem. Em si mesma, constitui um sistema de abstrações e distinções em campos como sexo, raça e classe, de tal modo que constrói divisões ideológicas entre homens e mulheres, entre as ”classes melhores” e “as classes mais baixas”, entre brancos e negros, entre “nós” e “eles”, etc. Constrói divisões entre comportamento 'próprio' e 'impróprio', enquanto erige em cada um desses domínios uma hierarquia que justifique a dominação de um sexo, uma raça e uma classe sobre os outros em virtude de sua alegada superioridade ou da ordem natural das coisas. (KELLNER, 2001, p.84).

Por isso, tanto a crítica ao racismo quanto o feminismo integram um estudo

multicultural e é possível ver nas operações ideológicas que produzem coisas como

classismo, sexismo e racismo, a ação de uma abstração de ideologias que buscam

legitimar a superioridade, seja dos homens com relação às mulheres, ou do

capitalismo sobre outros sistemas sociais que buscam justificar privilégios dos

estratos ou classes dominantes ou de brancos sobre os negros. Essas ideologias

capitalistas patriarcais e racistas abstraem as iniqüidades, injustiças e o sofrimento

motivado pelo sistema capitalista racista e patriarcal como os “flagrantes os de

injustiças que representam o poder e a riqueza numa sociedade supostamente

igualitária e os sofrimentos dos grupos de indivíduos dominados” (KELLNER, 2001,

p. 84).

Kellner (2001) aponta que os meios dominantes de informação e

entretenimento tornam-se ferramenta de adestramento de comportamentos,

pensamentos, crenças, sentimentos, de temores e desejos. Segundo ele, a cultura

da mídia auxilia no estabelecimento da hegemonia de determinados grupos ao

produzir representações que visam induzir a anuência a certos valores. Deste modo,

A cultura da mídia, assim como os discursos políticos, ajuda a estabelecer a hegemonia de determinados grupos e projetos políticos. Produz representações que tentam induzir anuência a certas posições políticas, levando membros da sociedade a ver em certas ideologias “o modo como as coisas são” (ou seja, governo demais é ruim, dedução da regulação governamental e mercado livre são coisas boas, a proteção d pais exige intensa militarização e uma política externa agressiva, etc). (KELLNER, 2001, p.81).

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Dessa maneira, Kellner (2001) ressalta que da mesma forma que a cultura,

em seu sentido mais amplo, auxilia no processo de modelagem do individuo, a

cultura da mídia também cumpriria esse papel. Isso acontece pelo fato da cultura da

mídia apresentar uma grande presença na vida cotidiana dos indivíduos, uma vez

que estes passam grandes períodos de seu tempo consumindo diferentes produtos

culturais que são difundidos pelos meios de comunicação, como ouvir música,

freqüentar cinemas, assistir televisão, dentre diversas outras. E nessa cultura

vinculada pela mídia são produzidos novos modelos de identificação, estilo, moda e

comportamento, partindo de modelos e imagens de personalidades ou celebridades

criadas pela própria mídia e que “certas imagens da moda, do sexo e do modo de

ser estão veiculadas a determinados teores e valores, e, assim, constituem

determinadas modalidades e formas de identidades. (KELLNER, 2001, p. 317).

Não obstante, Kellner (2001) assinala que através da sociedade voltada para

o consumo e predomínio da mídia, a identidade vem sendo cada vez mais vinculada

à aparência pessoal, ou seja, à produção de uma imagem, sendo que muitos desses

modelos e estilos provêm da própria cultura da mídia. Com relação à novela

Carrossel, a partir da análise, foi possível localizar alguns sites que ensinavam como

ser igual à personagem Maria Joaquina. Em um deles, chamado Yahoo Respostas é

questionado “Como ficar igual a Larissa Manoela (Maria Joaquina Carrossel)?”por

uma menina que diz ter 9 anos e enfatiza que quer mesmo ser igual a personagem,

com a “pele branquinha”.

Figura – Print screen da pergunta “Como ficar igual a Larissa Manoela (Maria Joaquina Carrossel)”

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29

Fonte: Site Yahoo Respostas40

Já em outro site, fica evidente a importância com relação ao cabelo ser liso,

inclusive indicando para quem não tiver, pranchar ou alisar41.

Figura: Print screen explicando como ser como a personagem Maria Joaquina

Fonte: Site Vida de Patricete42

Assim, da mesma forma que as imagens e narrativas da cultura da mídia

também se encontram saturadas de ideologias e valores, Kellner (2001) ressalta que

a identidade nas sociedades contemporâneas também podem ser interpretadas

como “um constructo ideológico, como um meio pela qual a cultura age no sentido

de produzir ‘posições de sujeito’ que reproduzam valores e modos de vida

capitalistas e masculinistas dominantes” (KELLNER, 2001, p. 316)

Kellner (2001) destaca que a cultura da mídia coloca à disposição figuras e

imagens43 com as quais os públicos possam se identificar e imitar. Assim, ela atua

40

Disponível em: <https://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20130707062713AAI3i1G>. Acesso em: 29 jan.2015. 41

Estas informações estão presentes em blogs e sites não oficiais, mas escritos por crianças que se apresentam como fãs da novela Carrossel e que por isso se sentem “a vontade” para ensinar como se tornarem como os personagens da novela. 42

Disponível em: <http://vidadepatricete.blogspot.com.br/2012/09/como-ser-maria-joaquina.html>. Acesso em: 29 jan.2015.

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exercendo importantes efeitos tanto socializantes quanto culturais por meio de seus

modelos de papéis e das várias “posições de sujeito”que valorizam certas formas e

modos de comportamentos, enquanto denigrem e desvalorizam outros.

E com as crianças não ocorre de forma distinta, suas vidas são marcadas

pela experiência receptiva da cultura da mídia. Esse fato vem gerando diversas

discussões, tanto no âmbito da ética e do controle desses programas e publicidades

dirigidas ao público infanto-juvenil, principalmente através da televisão, que

permanece sendo um dos principais meios de comunicação presente nos lares

brasileiros.

2.4. A INFÂNCIA MEDIADA PELA TELEVISÃO: CULTURA, INFÂNCIA E A SOCIALIZAÇÃO

PELA MÍDIA

Por meio das imagens apresentadas cotidianamente, a televisão apresenta

para as crianças diversas representações, tanto daquilo que já conhecem, quanto do

que não. Assim, as vivências das crianças são ampliadas cada vez mais e isso

acontece também em virtude do contato com a mídia, especialmente com a

televisiva, que é um item da vida doméstica e parte do que se chamou de

socialização primária.

A televisão proporciona para as crianças conceitos e práticas diversos e

muitas vezes, diferentes daqueles partilhadas entre as estâncias tradicionais de

socialização, como a família, amigos, escola, dentre outras. Desse modo, investigar

as imagens disponibilizadas pela mídia televisiva para as crianças se estabelece

como sendo uma questão de grande relevância, uma vez que estas imagens

efetivamente se integram no processo de formação e nas vivencias das futuras

gerações.

43

“Há uma cultura veiculada pela mídia cujas imagens, sons e espetáculos ajudam a urdir o tecido da vida cotidiana, dominando o tempo de lazer, modelando opiniões políticas e comportamentos sociais, e fornecendo o material com que as pessoas forjam sua identidade. O rádio, a televisão, o cinema e os outros produtos da indústria cultural fornecem os modelos daquilo que significa ser homem ou mulher, bem-sucedido ou fracassado, poderoso ou impotente. A cultura da mídia também fornece o material com que muitas pessoas constroem o seu senso de classe, de etnia e raça, de nacionalidade, de sexualidade, de “nós” e “eles”. Ajuda a modelar a visão prevalecente de mundo e os valores mais profundos: define o que é considerado bom, mau, positivo ou negativo, moral ou imoral. As narrativas e as imagens veiculadas pela mídia fornecem os símbolos, os mitos e os recursos que ajudam a constituir uma cultura comum para a maioria dos indivíduos em muitas regiões do mundo de hoje”. (KELLNER, 2001, p. 9).

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Na contemporaneidade, as crianças têm sido cada vez mais confrontadas

com situações plurais, sendo socializadas desde muito novas e em diferentes

espaços e culturas como a família, a escola, o grupo de colegas, a internet, o

cinema, com as imagens de revistas e jornais e,sobretudo, pela a televisão.

Se tradicionalmente, as pessoas jovens eram educadas por meio de contos

de fadas, tradições populares e literatura infantil, tanto quanto por instituições como

família, escola e igreja. “Em nossa época, a cultura da mídia tomou o lugar de

instituições tradicionais como instrumentos principais de socialização [...] (KELLNER,

2001, p.135)

Assim, podemos dizer que a mídia se encontra em um lugar central no que

diz respeito à socialização de crianças e adolescentes, operando como uma espécie

de mediadora das relações do sujeito com o mundo tanto real quanto ficcional.

Portanto, conforme observam diversas pesquisas e estudos realizados em esfera

nacional e internacional, as formas de comportamento, entendimentos e mesmo

hábitos perpassam os conteúdos midiáticos, seja para o bem ou para o mal.

Diversas pesquisas44 vêm demonstrando que as crianças estão dedicando

cada vez mais tempo à interação com os meios de comunicação, especialmente a

televisão.

Entretanto, mais do que respaldar ou combater sua inquestionável presença

no cotidiano é preciso considerar o quanto seu impacto e sua disseminação

tornaram-se bastante expressivos no mundo moderno, observando a sua

importância como componente da cultura contemporânea.

44

Na América Latina, a pesquisa Kiddo´s (Latin América KidsStudy) que estabelece os hábitos comportamentais de crianças, realizada em 2003 pela empresa Multifocus, revelou que as crianças brasileiras têm uma relação mais forte com a TV que todas as demais da América Latina. Das 1.503 crianças entre 6 e 11 anos entrevistadas nas classes A, B e C, 99% têm a mídia televisiva como principal veículo de entretenimento e 81% assistem à TV duas ou mais horas por dia. Além disso, outra pesquisa intitulada “Kids Power”, da TNS InterSciense, realizado no Brasil, Argentina e México em 2007, comprovou a influência das crianças nas compras de produtos. No Brasil, a partir dessa pesquisa verificou-se que 98% dos pequenos são influenciados pela imagem de seus ídolos e que dessa forma, interferem nas compras dos pais. Além disso, 56% das mães latinas declaram que, quando uma marca é associada a um personagem famoso, as crianças definitivamente pedirão o produto, e 42% afirmam que seus filhos provavelmente pedirão o presente. Ainda, conforme foi revelado na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2009 (Pnad), divulgada setembro de 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a presença televisiva esta em 96% dos lares brasileiros, percentual maior do que o de geladeiras, que apresentaram o índice de 93,9% e segundo pesquisa divulgada pelo Ibope Mídia – media Workstation – PNT (Painel Nacional de Televisores), em 2011 a criança brasileira, entre quatro e 11 anos, passou em média, 5 horas, 17

minutos e 9 segundos por dia em frente à televisão.

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Assim, considerando que a mídia faz parte da cultura na qual as crianças

estão inseridas, a observação das ações voltadas para elas se torna necessária.

Temos que avaliar a influência desses meios de comunicação, realizando uma

reflexão acerca do conteúdo desses produtos culturais disponibilizados

cotidianamente para as crianças, especialmente no que se refere às relações étnico-

raciais, uma vez que estes conteúdos são repletos de significações e desempenham

uma parte considerável na socialização e construção do mundo infantil.

Esse consumo de mídias, sobretudo a televisiva, permite que a criança a

presente não apenas um significativo acréscimo informativo, como também auxilia

na multiplicação de referências que compõem suas vivências. Assim, muitas vezes,

antes mesmo de ir para escola, a criança já reúne uma grande quantidade de horas

em frente a televisão e como já vimos, diversas pesquisas constatam esse fato.

Tais pesquisas demonstram que, desde muito pequenas, as crianças

vivenciam uma realidade onde a presença da televisão converge para uma

construção de representações do mundo à sua volta. A televisão as deslumbra

exatamente por lhes contar histórias, mostrar imagens e acontecimentos que talvez

não pudessem vivenciar de outra forma.

Elas têm contato com uma diversidade enorme de sons e imagens que

colaboram para uma construção de conhecimentos culturais baseados em discursos

midiáticos, através do mecanismo de massificação da opinião, dos gostos e da

necessidade de consumo. Belloni (2005) adverte que é importante não esquecer que

a televisão, apesar de ser um objeto técnico, está absolutamente integrada ao

cotidiano das crianças, que interagem com ela espontaneamente, da mesma

maneira como elas interagem com um bichinho de estimação ou com seus

brinquedos.

E mesmo compreendendo que a relação da criança com a mídia ocorre de

forma ativa, ainda existem diversos questionamentos acerca de como acontece essa

interpretação e até mesmo, de que forma as mensagens transmitidas possam vir a

contribuir na sua vivência. Considerando que

Não há nada de transparente sobre programas de TV ou filmes infantis, mais mensagens vêm sendo enviadas às nossas crianças com a intenção de trazer a tona pontos de vistas particulares e ações que são o maior interesse daqueles que os produzem. (KINCHELOE, 2001 p.24).

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As experiências que fazem parte da vida das crianças e que auxiliam na

construção de suas histórias excedem as instâncias tradicionais, presentes nas

práticas infantis do brincar com amigos e freqüentar a escola e se antes da

televisão, a criança estabelecia relações a partir da socialização com os adultos e

seus pares, a partir dela as interações com a realidade passam a ser mediadas

tecnologicamente pela mídia, auxiliando na construção de realidades e habitus45.

Tais vivências fazem parte do cotidiano infantil concomitantemente com

outras, como acessar a internet, ouvir música, assistir televisão, dentre outras

opções ofertadas pelo acesso às mídias.Diferente do que o senso comum propõe, a

função televisiva na vida da criança vai muito além do entretenimento.As crianças

constroem significados a partir das articulações que fazem através de suas

percepções de mundo e em diversas ocasiões, essas relações com a mídia se

constituem a partir de determinadas conotações, transformando a televisão num

agente homogeneizador.

Dessa maneira, as crianças passam a construir suas referências e

preferências e comportamentos por meio da integração de imagens e modelos

construídos pela televisão.Segundo Belloni (2005), é através da reprodução de

estruturas significativas ocorridas durante o processo uniformizador das mensagens

televisuais, que a narrativa vai se constituindo a partir do que a autora chama de

“fórmulas de sucesso”. E em virtude de cada repetição, estereótipos vão sendo

aprimorados e acabam tornando-se mais intensos, de maneira que seu potencial

comunicativo atue da forma persuasiva. Desse modo,

Os jovens percebem os valores contidos nos personagens, aceitando-os ou não, segundo uma combinação sutil e complexa de múltiplos fatores, ligados às representações dominantes em seu grupo sociocultural. As mensagens da telinha, porém, também agem por impregnação, de modo quase subliminar, pois o "conteúdo" é mascarado pela forma, por apelo comunicacionais muito eficazes, tais como alusões arquetípicas, situações humorísticas ou de grande dramaticidade, personagens vividos por galãs ou atrizes muito apreciadas” (BELLONI, 2005, p.40)

Assim, Liliane Ferreira Neves Inglez Souza (2005) em seu artigo Televisão

aponta que existem evidências suficientes de que os modelos existentes na mídia,

independente de faixa etária, podem influenciar no comportamento do telespectador

45

“[...] habitus, sistema de disposições inconscientes que constitui o produto da interiorização das estruturas objetivas e que, enquanto lugar geométrico dos determinismos objetivos e de uma determinação, do futuro objetivo e das esperanças subjetivas, tende a produzir práticas e, por esta via, carreiras objetivamente ajustadas às estruturas objetivas" (BOURDIEU, 1987, p. 201).

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e diversas pesquisas demonstram essa ação exercida pela televisão sobre as

crianças. Como por exemplo, em um estudo realizado com crianças da quarta série

do ensino fundamental, sobre as instâncias socializadoras que influenciam na

construção de ideais de identificação (Goya, Araújo, Machado, Cruz, Cunha,

Saraiva, Bernardino e Melo, 2003)46, que demonstraram como a mídia tem tomado o

espaço de instâncias socializadoras tradicionais como a família, a escola e as

instituições religiosas na construção de ideais de identificação das crianças. Ou

ainda na pesquisa, realizadas com crianças da educação infantil, onde se constata

que os programas exibidos podem influenciar as crianças em seus padrões de

interação social (Peres, Cunha, Watanabe, Silva e Cotonhoto, 2003)47

Deste modo, podemos considerar que este turbilhão de imagens que

preenche o cotidiano das crianças e adolescentes vai formando sua personalidade

ao mesmo tempo (mas provavelmente não da mesma forma) que suas experiências

do mundo exterior, real, concreto (BELLONI, 2005, p.65).

Além disso, essas imagens simbólicas que ocupam o dia-a-dia das crianças

na televisão “tentam criar uma associação entre os produtos oferecidos e certas

características socialmente desejáveis e significativas, a fim de produzir impressão

de que é possível vir a ser certo tipo de pessoa.” (KELLNER, 2001, p.318)

É como se gerasse um círculo vicioso, onde para alcançar a imagem

oferecida pela televisão fosse preciso consumir sejam produtos ou ideologias,

entretanto, essa imagem sempre é modificada, através de modas e tendências,

levando a um consumo cada vez maior, para que se possa adotar a imagem da vez.

E assim como no mundo adulto, para as crianças e adolescentes as

vivências fora dos padrões culturais impostos pela sociedade são extremamente

difíceis. Frequentemente, esses modelos geram uma identificação difícil, fazendo

com que se inspire neles, ainda que o modelo seja irrealizável, seja por falta de

condições financeiras ou não ter nascido com determinada cor ou tipo de olho ou

cabelo.

46 Nesse estudo, perguntavam-se às crianças com qual pessoa elas gostariam de se parecer, e foram coletados dados de 1929 até 1944, onde demonstravam que a família era a principal fornecedora de modelos. Ao repetir a análise em 1998 e em 2003, ficou demonstrado que 40% das crianças se identificavam mais com personagens da mídia e menos de 25% gostariam de se parecer com algum membro familiar. 47 Nessa pesquisa, durante 15 minutos foi exibido um programa infantil classificado como educativo (TOTS TV) e após a exibição do filme, em duas sessões, registrando os comportamentos interativos do grupo de sujeitos, comparando-os com os personagens.

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35

Em se tratando das questões raciais, essa demanda pautada na

branquidade normativa na televisão atinge tanto as crianças brancas quanto afro-

descendentes. Mas enquanto as crianças brancas, principalmente as de padrão

ariano (louras dos olhos claros), assistem a uma hiper-representação de seu

modelo, as crianças afro-descendentes não são representadas senão de modo

depreciativo. Assim sendo, a televisão brasileira, através dessa invisibilidade atua

provocando distorções tanto nas crianças negras quanto nas brancas.

Dessa forma, é preciso analisar as imagens que a mídia fornece,

especialmente por meio da televisão, em programas direcionados ao público infantil.

Todavia, antes de investigarmos os programas voltados para esse público, é

necessário compreendermos como se configurou a entrada da televisão no Brasil.

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36

3. A TELEVISÃO E SUA ATUAÇÃO: UMA ANÁLISE DA BRANQUIDADE NORMATIVA

NO CONTEXTO INFANTIL

Além de exercer o papel de agente de informação, a mídia48atua como

formadora de opinião. Rondelli afirma que os meios de comunicação não apenas

moldam o que pensamos sobre a realidade exterior, mas principalmente, pautam a

agenda “daquilo sobre o que é necessário ter uma opinião e discutir” (1997, p. 155).

De um modo geral, a mídia exerce intensa influência em nossa cultura e nos

meios de comunicação, mas podemos considerar que entre os“meios mais

importantes de difusão são os que têm a ver com a transmissão televisiva [...]”

(THOMPSON, 2002, p. 25)

Partindo desse pressuposto que essas mídias - sobretudo a televisão49 -

atuam repercutindo e orientando determinados ideais formulamos a seguinte

questão: Como são tratadas e transmitidas as imagens que tratam de questões

étnico-raciais para as crianças? Será que a televisão favorece estereótipos em

relação a determinados grupos sociais? E principalmente, quais são as imagens dos

afrodescendentes transmitidas para o público infantil por meio da telenovela

Carrossel?

Antes de tentar responder tais questões, precisamos, no entanto,

compreender qual o papelda televisão no Brasil e principalmente, como esta vem

apresentando esse grupo em suas produções, além de refletir quanto ao

desenvolvimento do conceito “branquidade normativa50” na mídia, analise que

faremos no presente capítulo.

3.1. COMPREENDENDO O PAPEL DA TELEVISÃO NA CONTEMPORANEIDADE

48

A mídia se configura “como um sistema, um sistema em contínua mudança, no qual elementos diversos desempenham papéis de maior ou menor destaque.” (BRIGGS e BURKE, 2004,p.15). E que possui nos meios de comunicação a disponibilidade de difusão e compartilhamento de informações e ideias. 49

Quando tratarmos sobre a televisão não nos pautaremos em um canal ou emissora especifica, uma vez que estas atuam de maneira padronizada, visando sempre o maior alcance de público e audiência possível. 50

Nessa pesquisa, a adoção do termo “branquidade” substituirá o que muitos autores consideraram como “branquitude” ou mesmo “brancura”. A utilização desse termo se deve ao fato da pesquisa se pautar no conceito de “branquidade normativa”, proposto por Paulo Vinicius Batista Silva e Fulvia Rosemberg (2007) em seu artigo Negros E Brancos Na Mídia Brasileira.

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37

Os meios de comunicação de massa se caracterizam como importantes

veículos na disseminação das mais diversas informações por conseguir atingir os

mais amplos e diversificados públicos. E a televisão vem desempenhando uma

importante função na promoção de informações e cultura, pois, leva aos seus

telespectadores informações e imagens sobre outros povos e modos de vida, que

em razão da tecnologia podem estar disponíveis ao alcance dos olhos em poucos

segundos. Essa “existência generalizada da televisão constitui em si mesma um

fenômeno social, gerador de transformações de vida, nos hábitos, na maneira de

pensar e compreender” (LURÇAT, 1995, p.13)

Mesmo que desde sua origem seja possível observar diversas alterações,

seja com relação ao perfil cultural quanto sociológico de seus telespectadores, ainda

assim, é possível perceber que “(...) a televisão agrega audiência e se estabelece

como forma comunicativa de angariar legitimação e de se lançar como protagonista

privilegiada com grande poder de desempenho na construção de valores públicos e

de uma determinada ética (RONDELLI, 1997, p. 155)”.

Podemos dizer que um dos principais fatores (mas não único), que

contribuíram para que a televisão se tornasse um dos maiores artefatos culturais

midiáticos da atualidade foi o fato de que as mensagens audiovisuais demandam

baixo envolvimento e empenho por parte de seu receptor, diferente, por exemplo, da

leitura de um jornal ou de uma revista que demanda um conhecimento prévio, ou

seja, que o indivíduo saiba ler.

De acordo com os apontamentos de Penteado (2000), enquanto um canal

de comunicação sócio-cultural, a televisão produz ações que tendem à mobilização

do público e também opera promovendo a difusão dos bens materiais e simbólicos

por meio de sua programação, que se encontra em função do sistema social

dominante.

Assim, a televisão proporciona meios para difusão dos bens simbólicos que

ela mesma produz através de uma programação que, embora variada, “[...]

apresenta uma constância estrutural trazida nos tipos de apresentações levadas ao

ar: comerciais, jornais, novelas, shows, documentários, programas de auditório,

entrevistas, reportagens e transmissões de eventos”. (PENTEADO, 2000, p.34)

A emissão recepção televisiva não é equivalente a um diálogo entre

pessoas. A configuração de comunicação é distinta e conforme ressalta Thompson

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(2011), é possível considerar que, por mais que a comunicação de massa

compreenda a troca de formas simbólicas, configurações de comunicação

estabelecidas são totalmente distintas das implicadas e envolvidas em um diálogo

convencional (ou seja, com outro individuo).

De regra, a comunicação de massa, especialmente a televisiva, implica em

um curso de mensagens de via específica do produtor para o receptor. Diferente de

uma situação dialógica de conversação, onde quem ouve é um possível

correspondente também. Na comunicação de massa, é estabelecido “um corte

fundamental entre o produtor e o receptor, de tal modo que os receptores têm

relativamente pouca possibilidade de intervir no processo comunicativo e contribuir

para o seu curso e conteúdo” (THOMPSON, 2011, p. 26).

Obviamente que não podemos desconsiderar algumas estratégias dos

receptores com relação à intervenção, como por exemplo, os boicotes ao meio ou

mesmo as cartas, telefonemas ou e-mails para editores ou emissoras de televisão a

fim de expressarem seus pontos de vista. No entanto, por mais que estes admitam

determinados formatos de resposta, permanece intacta a assimetria essencial do

processo.

A televisão, enquanto dispositivo discursivo estabelece estratégias, a partir

de inserções publicitárias ou político-promocionais que se escondem por trás de

discursos apresentados, a princípio, como jornalísticos ou mesmo em textos

ficcionais para, literalmente, venderem opiniões e informações. “Uma estratégia de

usar, ou abusar, da confiabilidade depositada pelo receptor ao que lhe é

apresentado para lhe dirigir informações de natureza e objetivos duvidosos quanto à

sua veracidade, embora revestidos com tal verniz”. (RONDELLI,1997, p. 158).

E exatamente por se encontrar inserida em uma sociedade que é orientada

pela ética capitalista, as transmissões que a televisão veicula trazem em seu cerne

princípios e valores próprios deste sistema, como por exemplo, o materialismo, o

consumismo, dentre outros. Além disso, enquanto fonte de produção simbólica, ela

também pode operar em função de grupos sociais, ou mesmo raciais determinados.

Portanto, a televisão não se configura somente como um meio de

comunicação ou um veículo que transmite informações, mas ocupa uma posição

como agente de produção social.

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39

Deste modo, entender quais imagens são apresentadas na televisão é tão

importante. Sendo assim, se faz necessária uma análise quanto à questão do negro

na mídia brasileira e como se dá o processo de estigmatização.

3.2. DISCURSOS DA BRANQUIDADE NA MÍDIA E A QUESTÃO DO ESTIGMA NA

TELEVISÃO BRASILEIRA

A mídia televisiva pode ser exemplar na reprodução das relações raciais,

cumprindo papel tanto na produção quanto na manutenção do racismo51. Por meio

de seus produtos “as desigualdades raciais são naturalizadas, banalizadas e muitas

vezes racionalizadas. Em grande medida, através da mídia de massa as

representações raciais são atualizadas e reificadas”. (RAMOS, 2002, p. 09)

E como ressalta Ramos (2002), discutir as dinâmicas da mídia com relação

às questões raciais e etnicidade é também, de certa maneira, discutir algumas

matrizes do racismo no Brasil52, uma vez que podemos considerar os meios de

comunicação como espelhos das nossas relações raciais.

A maioria das investigações relacionadas ao racismo são focadas em formas

de desigualdade socioeconômica e exclusão e/ou atitudes e preconceito étnicos

raciais. No entanto, apesar de serem essenciais, tais análises não possuem

capacidade explicativa para as distintas procedências do racismo e nem dos

processos de suas reproduções no cotidiano. E mesmo reconhecendo que na

América Latina o racismo é entranhado por conta do colonialismo e pelas

configurações de dominação (econômica, social e cultural) desempenhadas pelas

elites - em especial as brancas - o Van Djik argumenta o fato de

[...] que o racismo não é inato, mas apreendido, deve haver meios para esse processo de aquisição ideológica e prática. As pessoas aprendem a ser racistas com seus pais, seus pares (que também aprendem com seus pais), na escola, com a comunicação de massa, do mesmo modo que com a observação diária e a interação nas sociedades multiétnicas. (VAN DJIK, 2008, p.15, grifo nosso)

Van Djik (2008) assinala que estes processos de aprendizagem são

amplamente discursivos, ou seja, fundamentados e apreendidos por meio de textos

51

Discutiremos de maneira um pouco mais aprofundada acerca do racismo no decorrer desse trabalho. 52

Apesar de fazer a comparação entre as versões mexicana e brasileira da novela Carrossel, não trataremos da representação do negro na mídia, televisão ou mesmo na telenovela mexicana por esse não ser o foco da analise, mas sim a adaptação da novela para o público brasileiro.

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40

e falas presentes nos mais diferentes eventos comunicativos, desde livros, jornal,

até programas de televisão, cinema, dentre outros. Com isso, muitas práticas de

racismo cotidiano são aprendidas no sentido de olhar para o Outro de forma

estereotipada e negativa.

O autor elenca quatro estratégias narrativas aplicadas a todos os níveis de

discurso de base ideológica, sejam sonoros, visuais, significados e ação, e como tais

estratégias tendem a resumir as propriedades discursivas de um grupo sobre o

Outro. A primeira se refere à ênfase nos aspectos positivos do Nós (do grupo de

dentro), a segunda é disseminar os aspectos negativos dos Outro53 (do grupo de

fora), a terceira seria não destacar os aspectos positivos dos Outros e a quarta não

demonstrar os aspectos negativos do Nós.

E é por intermédio dessa base que conceitos e posturas são estabelecidos,

contribuindo para que a maioria dos elementos de um determinado grupo reproduza

um status quo étnico, assumindo um consenso do grupo através das ideologias

dominantes que os legitime (a não ser que haja boas razões para desacordarem

com o grupo).

Contudo Van Djik (2008) adverte que esse processo não é determinante e

nem acontece de modo automático, cada elemento que participa de um grupo

específico apresenta relativa liberdade de admitir ou não os discursos dominantes e

suas ideologias subjacentes. Há possibilidade de desenvolverem atitudes diferentes,

visando o desenvolvimento de uma ideologia alternativa.

Porém, geralmente tais discursos são assimilados e reproduzidos

amplamente por meio das elites simbólicas “brancas”, ou seja, um grupo que detém

grande poder de influência e composto por pessoas brancas, como por exemplo,

jornalistas, políticos, escritores, pesquisadores, dentre outros.

E a própria sociedade, conforme Goffman (2004) é que constitui modelos de

categorias e procura catalogar as pessoas de acordo com atributos, que são

considerados naturais e/ou comum pelos membros dessa categoria. O que significa

que a sociedade determina um padrão externo ao indivíduo que permite prever a

categoria e os atributos, a identidade social e as relações com o meio. Assim,

53Nesse caso, Van Djik (2008) utiliza o termo Eles, mas como no decorrer do texto sempre trato da

dicotomia Nós (elite dominante “branca”) x Outros, optei por manter o termo outros.

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Os ambientes sociais estabelecem as categorias de pessoas que têm probabilidade de serem neles encontradas. As rotinas de relação social em ambientes estabelecidos nos permitem um relacionamento com "outras pessoas" previstas sem atenção ou reflexão particular. [...] Baseando-nos nessas pré-concepções, nós as transformamos em expectativas normativas, em exigências apresentadas de modo rigoroso. (GOFFMAN, 2004, pg.06)

Para Goffman (2004), a pessoa estigmatizada possuiria duas identidades:

areal e a virtual. O autor considera a identidade real como sendo o conjunto de

atributos e categorias que uma pessoa prova ter, ou seja, são aqueles que podem

demonstrar quais categorias o indivíduo pertence. Já a identidade virtual seria uma

espécie de modelo social do indivíduo dotado de um conjunto de categorias e

atributos que as pessoas têm para com o estranho (o outro), portanto, são

imputações de caráter e exigências cometidas pelos ditos normais, quanto ao modo

que o estranho deveria ser.

Desta maneira, uma determinada característica pode ser vista como sendo

um estigma, sobretudo quando existe uma dissonância específica entre a identidade

social virtual e a identidade social real. E a partir dessa relação entre as identidades

real e virtual é possível afirmar que o processo de estigmatização não acontece em

virtude da existência do atributo em si, mas por conta da relação deslocada entre os

atributos e os estereótipos. E quando os ditos normais criam estereótipos distintos

dos atributos de um determinado indivíduo, caracteriza o processo de

estigmatização.

Logo, o termo estigma é usado “em referência a um atributo profundamente

depreciativo [...]. Um atributo que estigmatiza alguém pode confirmar a normalidade

de outrem, portanto ele não é, em si mesmo, nem horroroso nem desonroso”.

(GOFFMAN, 2004, p. 7).

Com isso, aquela pessoa que demonstra pertencer a uma determinada

categoria que possua atributos diferentes ou incomuns tem pouca aceitação no

grupo social, que além de muitas vezes não conseguir lidar com o diferente, em

situações extremas pode converter a imagem deste “estranho” em uma pessoa

perigosa, fraca e até má, contribuindo para que esta pessoa não seja vista em sua

totalidade, ou seja, em sua capacidade de ação, transforma-a em um ser desprovido

de potencialidades.

Segundo Goffman (2004), o estigma estabelece uma relação impessoal com

o outro, ou seja, o sujeito aparece como uma representação de determinadas

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características ou marcas que possam sinalizar tanto um desvio como também uma

diferença de identidade social. Para o autor, existem três tipos de estigma

nitidamente diferentes. O primeiro tipo se refere às abominações do corpo, ou seja,

as deformidades físicas. O segundo tipo seria as culpas de caráter individual, que

podem ser caracterizadas como vontade fraca, desonestidade, crenças falsas e

rígidas, paixões tirânicas ou não naturais, que geralmente são inferidas por meio de

relatos conhecidos, como por exemplo, vício, distúrbio mental, prisão, alcoolismo,

homossexualismo, desemprego, dentre outros. E o terceiro tipo que seriam os

estigmas tribais de raça, nação e religião, que poderiam ser transmitidos por meio de

linhagem e contaminar igualmente todos os membros de uma família.

Sendo assim, esse sujeito passa a ser estigmatizado socialmente e anulado.

Ou seja, deixamos de considerá-lo criatura comum e total, reduzindo-o a uma

pessoa estragada e diminuída. E assim, os ditos “normais” constroem uma teoria do

estigma tanto para tentar explicar a inferioridade dos diferentes, quanto para

controlar o perigo que o Outro representa, crendo que alguém com um estigma não

é verdadeiramente um ser humano.

Henri Giroux (1999) ressalta que as mídias eletrônicas, como televisão,

música, cinema e notícias, se apresentam como uma intensa e não percebida fonte

de pedagogia cultural e demonstram serem importantes armas pedagógicas que

agem no condicionamento do imaginário social do indivíduo, na maneira como

modelam a visão que se tem não apenas de si mesmo, mas também da sociedade e

dos outros.

Além disso, estes meios dominantes de entretenimento e informação

também contribuem “para nos ensinar a como nos comportar e o que pensar e

sentir, e em que acreditar, o que temer e o que desejar – e o que não”. (KELLNER,

2001, p. 10)

E no centro dessa influência da mídia, encontra-se a política de

representação, que além de atuar abstraindo as histórias reais dos negros, age “ao

mesmo tempo reforçando todos os estereótipos demasiado familiares que vão do

preguiçoso e imóvel ao ameaçador e perigoso”. (GIROUX, 1999, p 114)

De acordo com as análises de Araújo (2004), no contexto brasileiro,essa

representação do “negro” e do “branco” na mídia buscou apagar as diferenças

étnico-raciais por meio de uma construção de identidade brasileira, utilizando o mito

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da democracia racial e das teorias da miscigenação que idealizavam o

branqueamento da nação, conforme já analisado no decorrer desse trabalho.

Por meio de investigações realizadas por Silva e Rosemberg (2007), ao

consultarem textos publicados entre 1987 e 2002, conseguiram verificar oracismo na

mídia presentes em 24 bases de dados bibliográficos, por tipo e meio discursivo.

Tabela 1 - Pesquisas brasileiras sobre racismo na mídia, por tipo e meio discursivo (1987-2002).

Meio Capítulos Artigos Artigos

Discursivo Total Dissertações Teses Livros em em em

Livros Revistas Anais

Livros didáticos

47 13 3 3 10 14 4

Jornais 16 6 2 2 2 6 2

Rádio 1 - - 1 - - -

Televisão 11 - 1 - 2 6 2

Cinema 4 - - 3 - 1 -

Publicidade 6 - 1 - 1 3 1

Mídia em geral

6 - - 2 1 3 -

Literatura e Poesia

40 3 8 19 4 26 -

Teatro 4 - - 1 - 3 -

Imagens 14 - 1 2 5 6 -

Discurso acadêmico

11 2 1 2 2 3 1

Outros 22 4 2 5 1 10 -

TOTAL 82 28 9 0 28 81 10

FONTE: Silva & Rosemberg, 2007, p.76.

A pesquisa proposta pelos autores focou em diversos campos, como o da

literatura e cinema, os da imprensa e televisão, o da literatura infanto-juvenil e do

livro didático estabelecendo os resultados encontrados na investigação acerca do

discurso racial na mídia brasileira em quatro pontos:

O primeiro de refere a manifesta sub-representação do negro nas mais

diferentes mídias; o segundo, quanto ao permanente silenciamento por parte das

mídias em relação às desigualdades raciais; o terceiro como a consideração do

“branco” como padrão universal de humanidade, sendo colocado como

representante natural da espécie, e o quarto, sendo a estereotipização na

representação do negro na mídia. E mesmo

[...] passados mais de cem anos do início do movimento eugenista, negros e índios continuam vivendo as mesmas compulsões desagregadoras de uma auto-imagem depreciativa, gerada por uma identidade racial negativa e

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reforçada pela indústria cultural brasileira, a qual insiste simbolicamente no ideal de branqueamento, sendo um dos seus corolários o desejo de euro-norte-americanização [...]. (ARAÚJO, 2004, p.25)

Outra questão é que no Brasil a branquidade não é pensada só como um

valor de normalidade, mas como um padrão estético também, que é idealizado e

buscado por pessoas das mais variadas faixas etárias, ou seja, de crianças até

idosos. E esse padrão estético não se destaca somente em razão de ser uma norma

social vastamente desenvolvida e cultivada em nossa sociedade, mas também pelo

fato de que os discursos midiáticos que apresentam mais acesso estabelecem

padrões e modelos de pessoas “perfeitas”, ou seja, brancas.

Tais produções e reproduções dessas formas simbólicas advêm por meio da

[...] midiação da cultura moderna – isto é, as maneiras como as formas simbólicas,

nas sociedades modernas, tornaram-se crescentemente mediadas pelos

mecanismos e instituições da comunicação de massa [...] (THOMPSON, 2002, p.

104).

Assim, conforme ressaltam Silva &Rosemberg (2007), a mídia, ao produzir e

veicular discursos que naturalizam e ressaltam essa branquidade normativa,

também colaboram na produção e reprodução de um racismo estrutural e simbólico

da sociedade. Isso acontece na medida em que os atributos imputados aos brancos-

quer sejam biológicos ou étnicos -, são negados tanto aos negros quanto às

pessoas mestiças de pele mais escura de forma veemente. E ainda que nas

pesquisas, realizadas pelos autores, seja demonstrada modificações com relação

aos discursos midiáticos sobre negros, isso ocorre de maneira bastante tímida.

Deste modo, ao utilizar tais discursos nas produções culturais, o racismo no

contexto brasileiro não somente se mantém, mas também atua como um produtor e

reprodutor de desigualdades sociais na sociedade brasileira, em plano estrutural e

simbólico, uma vez “que produz e veicula um discurso que naturaliza a superioridade

branca, acata o mito de democracia racial e discrimina os negros”. (SILVA e

ROSEMBERG, 2007, pg. 74)

Assim, para construir essa pesquisa, foi necessário também compreender

não somente o papel desempenhado pela televisão na contemporaneidade, mas da

telenovela, sobretudo pensando nessa como uma Interprete do Pensamento Social

Brasileiro, ou seja, servindo como uma espécie de espelho no que se referem às

repercussões das imagens do negro que são demonstradas.

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45

3.3. A TELENOVELA COMO INTÉRPRETE DO PENSAMENTO SOCIAL BRASILEIRO

Desde a década de 70 a telenovela tem ocupado um lugar de destaque

dentro da gama de produtos culturais de massa produzidos na América Latina. Mas

quando se trata do universo acadêmico, conforme relata Renato Ortiz (1989) a

telenovela não goza de um grande prestígio. Com exceção do campo da

comunicação, poucos são os trabalhos que privilegiam a telenovela como objeto de

estudo – em particular quando a temática se refere às questões étnico-raciais.

Mas ainda que não desfrutando de um grande prestígio acadêmico,

podemos dizer que as telenovelas ocupam um lugar privilegiado no contexto

brasileiro e Ortiz (1989) revela que isso se deve ao fato destas serem consideradas

"obras abertas", ou seja, seu enredo pode ser alterado para ir ao encontro das

reações do público que a consome.

As telenovelas também são consideradas como o produto da indústria

cultural do Brasil mais divulgado no exterior e surge como um objeto de padrão

massivo, construído em constante diálogo com matrizes populares. Além disso,

ressalta Borelli (2001), que esta também se apresenta como uma forma de

representação que revela características socioculturais do país.

Oriunda do folhetim do século XIX e da radionovela, a telenovela foi se

aperfeiçoando no decorrer do tempo, tanto em termos técnicos quanto artísticos.

Assim, a telenovela seria “uma história contada por meio de imagens televisivas,

com diálogo e ação, criando conflitos provisórios e conflitos definitivos (...) resolvidos

no final” (PALLOTTINI, 1998, p. 34).

Desse modo, a telenovela conseguiu desenvolver uma linguagem própria,

passando a atrair a atenção de diversos públicos, mesclando elementos

melodramáticos com conteúdos da realidade, garantindo a adesão e o fascínio dos

telespectadores às tramas.

Martin Barbero e Rey (2001) analisam algumas telenovelas latino-

americanas (colombianas, venezuelanas argentinas, mexicanas e brasileiras) a

partir da década de 1990. Ressaltam que a telenovela se consolidou industrialmente

a partir de um sistemático manejo da produção com o constante monitoramento da

reação do público. Os autores ressaltam que, em quase todas as televisões do

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continente, a telenovela se apresenta como o produto que recebe os maiores

investimentos econômicos, alocado nos horários que apresentam maior audiência.

Martin Barbero e Rey (2001) ressaltam que, a partir da década de 1990,a

telenovela passou de “criação” para obra de “produção”, ou seja, mais determinada

por variáveis comerciais e condições de distribuição que influem na elaboração de

estratégias de mercado do que pela autonomia criativa de diretores e produtores.

Esta lógica corporativa implica no próprio desenvolvimento do gênero a partir

de estratégias de merchandising, a escolha da trilha sonora, apresentação de

castings transnacionais (visando à circulação das novelas em diferentes mercados),

a simples ilustração (lançamento de modas) a fim de se converter em outra oferta

para o mercado e ainda a internacionalização. Assim, “desde seu delineamento, a

telenovela se pensa na perspectiva de sua circulação internacional, e é frequente

que, a poucas semanas de ser difundida no país de origem, já comece sua trajetória

pelas televisões de outros países” (MARTIN BARBERO e REY, 2001, p.169-170).

Com efeito, os departamentos comerciais têm mais a dizer hoje do que anos atrás e os grupos de pesquisa fazem acompanhamento rigoroso das reações de audiências. A composição populacional das faixas, os comportamentos rotineiros das audiências e articulações com outros momentos da programação do canal se tornaram elementos que não são negligenciados para poder garantir a acolhida da telenovela. Elementos que certamente se agregam ao delineamento dos personagens, às tensões internas e ao desenvolvimento da história. (MARTIN BARBERO e REY, 2001, p.173).

E ainda que as telenovelas sejam voltadas para o entretenimento, e

geralmente tenham seus direitos de exibição vendidos para diversos outros países,

algumas também explicitam polêmicas e certos temas de responsabilidade social em

suas histórias. Assim, as “questões relativas à percepção, sentimento e à moral

ligadas às vivências das desigualdades sociais na sociedade brasileira são tratadas

pelas telenovelas e lançam verdadeiras pautas de discussão.” (JUNQUEIRA, 2009,

p.20).

Todavia, no tocante à população negra, são frequentes as indagações em

relação ao modo como essa expressiva parcela da população e da cultura brasileira

tem sido retratada nos folhetins televisivos. Vimos que, a partir das análises

realizadas, a produção televisiva brasileira forneceu aparatos suficientes para a

manutenção de uma branquidade normativa, através de exaltações às

características estéticas euro-descendentes.

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Essa normatividade étnica apresentada na mídia brasileira seja pelas

televisões comercias ou pelas públicas, atinge também a autoestima de negros e

índios, uma vez que estes não são representados na televisão. Assim, podemos

perceber que,nas mãos de autores de telenovelas, a diversidade racial e cultural,

“transmuta-se em um Brasil branco, desrespeitando os anseios históricos não só das

entidades culturais, políticas e religiosas negras, como também das nações

indígenas” (ARAUJO, 2004, p.307).

Embora as telenovelas apresentem encenações de relações sociais sobretudo no âmbito privado, na família e nas relações amorosas, a construção das tramas e das personagens e a evolução das narrativas permite entrever o consenso sobre a lógica e o valor das características pessoais e das relações sociais. Nas novelas estão representadas as nossas crenças e nossos valores sociais ligados à ordem social, à hierarquia e ao direito social, como também os valores de exclusão e de participação social. (JUNQUEIRA, 2009, p.170, grifo nosso)

A telenovela atua como um espelho das relações sociais, mas não só isso:

ela também colabora na construção de uma imagem com relação ao Outro que

acaba sendo naturalizada, nesse caso, dos afrodescendentes.

Tal fato é possível observar não somente em relação à escassez de atores,

apresentadores e personagens afrodescendentes que estão na mídia, mas também

a partir das posições que eles ocupam nas tramas, uma vez que é raro perceber

uma imagem positiva e de êxito de afro-brasileiro no mundo midiático.

Segundo Araujo (2004), quando são retratados, os afrodescendentes

aparecem atuando em papéis de criados, domésticos, motoristas, escravos,

dançarinos, músicos, esportistas, comediantes.

Na sociedade da imagem em que vivemos, e com o nível de domínio alcançado pelas redes de TV sobre outros meios audiovisuais no Brasil, a televisão tornou-se o nosso mais poderoso espelho, a nossa janela para a realidade cotidiana. Nela, o telejornal apresenta o pretenso real e a telenovela traz a representação e os desejos da alma nacional. Entretanto, nessa realidade eletrônica, na qual só existe quem tem sua imagem espelhada em si, os negros vêem negada a sua história, os seus desejos e os seus sentimentos. [...] sempre representados por estereótipos e clichês negativos, como elementos de diversão para uma audiência com um pretenso imaginário eurocêntrico e não para uma cultura nacional fortemente influenciada por seu grupo étnico. (ARAUJO, 1996, p.247, grifo nosso)

Desse modo, podemos perceber que mesmo após tanto tempo, na

telenovela (e porque não dizer, na mídia brasileira em seu conjunto), o lugar do

negro não se alterou significativamente.Ideais, como o branqueamento,

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permanecem sendo reproduzidos ainda na contemporaneidade.As imagens

televisivas “continuam confirmando a vitória simbólica da ideologia do

branqueamento e da democracia racial brasileira”. (ARAÚJO, 2004, p.38).

Para entendermos melhor essa dita vitória simbólica apontada por Araújo

(2004) é preciso antes que compreendamos como ocorreu o processo de

racialização dos negros na história do Brasil.

3.4. O LEGADO HISTÓRICO DAS TEORIAS DE BRANQUEAMENTO NO BRASIL

Começaremos a partir do final do século XIX, onde diversas teorias racialistas

e, em particular, o darwinismo social, foram amplamente difundidos no Brasil. Tais

teorias receberam “uma entusiasta acolhida nos diversos estabelecimentos

científicos de ensino e pesquisa, que na época se constituíam enquanto centros de

congregação da reduzida elite pensante nacional (Schwartz, 2008, p.13). E essa

importante repercussão das ideias raciais e evolucionistas ocorreram, sobretudo nos

anos subseqüentes à emancipação do trabalho escravo.

Carone (2012) afirma que a eliminação da escravidão foi considerada

imprescindível porque o sistema escravista impedia não apenas o avanço

econômico, mas também impedia o progresso cultural e político no Brasil. O projeto

republicano abolicionista no Brasil, trazia em seu cerne diversas ideias de cunho

racista que sustentavam o diagnóstico de que o desenvolvimento da nação exigia a

modernização das instituições e o branqueamento da população.Grande parte dos

abolicionistas brasileiros, conforme aponta Skidmore (1976), previu uma espécie de

processo “evolucionista”, onde, gradualmente, através de políticas imigratórias

específicas, o elemento branco triunfaria.

No Brasil, conforme ressalta Guimarães (2008) houve apropriação de ideias

européias, mas com a especificidade em recusar duas importantes concepções

correntes em algumas teorias raciais: a primeira que postulava o caráter

inexoravelmente biológico das diferenças raciais e a segunda que acreditava que a

mistura racial acarretaria degenerescência.

As teorias racialistas, fonte de inspiração da elite brasileira do período,

acreditavam que o sangue branco seria uma fonte de purificação do sangue negro, o

que criava uma possibilidade para que os mestiços pudessem se aproximar, pouco a

pouco, a cada geração, do “estágio civilizado”.

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Schwarcz (2007) assim como Munanga (2012), assinala que havia a crença

de que, através da entrada dos migrantes brancos,haveria uma ‘purificação biológica

gradual54, com mais condições de adaptação ao meio geográfico. Dessa forma, esse

modelo de branqueamento considerava que através do avanço da miscigenação,

surgiria uma raça brasileira nova e/ou melhor, fenotipicamente mais branca, ainda

que mestiça genotipicamente. Fazendo com que desaparecessem os índios, negros

e os próprios mestiços, dos quais a presença poderia prejudicar os rumos do Brasil

em sua constituição enquanto povo e nação.

Com esses fundamentos, o país apostou no branqueamento populacional

como uma política de Estado. A tese do branqueamento foi utilizada como matriz

para a interpretação do desenvolvimento nacional brasileiro e como alicerce para

formulação de diversas políticas públicas, que tiveram uma grande contribuição para

o aprofundamento das desigualdades no país.

A partir de 1930, conforme Jaccoud (2008), ao lado das políticas de

branqueamento e mestiçagem da população, desenvolveu-se a ideologia da

democracia racial. Especialmente no contexto brasileiro, era comum a afirmação

de que não existiria racismo55 e nem discriminação racial, ou seja, um conceito de

que existiria uma “democracia racial”.

Híbrida desde o início, a sociedade brasileira é de todas da América a que se constituiu mais harmoniosamente quanto às relações de raça: dentro de um ambiente de quase reciprocidade cultural que resultou no máximo de aproveitamento dos valores e experiências dos povos atrasados pelo adiantado; no máximo de contemporização da cultura adventícia com a nativa, a do conquistador com a do conquistado. Organizou-se uma sociedade cristã na superestrutura, com a mulher indígena, recém-batizada, por esposa e mãe de família; e servindo-se em sua economia e vida doméstica de muitas das tradições, experiências e utensílios da gente autóctone. (FREYRE, 2004, p. 160, grifo nosso)

54

E vamos de encontro a Carone, quando a autora diz que essa “ideologia do branqueamento era uma espécie de darwinismo social que apostava na seleção natural em prol da “purificação étnica”, na vitória do elemento branco sobre o negro, com a vantagem adicional de produzir, pelo cruzamento inter-racial, um homem ariano plenamente adaptado condições brasileiras”. (CARONE, 2012, p. 16). 55

O racismo já foi objeto de distintas interpretações e leituras, suas manifestações, percepções e

definições são bastante variadas. O racismo seria uma ideologia bastante essencialista e que propaga a divisão da humanidade em raças, ou seja, em grupos que possuem características hereditárias e físicas comuns, usadas como suporte das características morais, psicológicas, intelectuais e estéticas, situando-se em uma escala de valores desiguais. E [...] “consiste em considerar que as características intelectuais e morais de um dado grupo, são conseqüências diretas de suas características físicas ou biológicas”. (MUNANGA, 2000, p.24)

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E essa dita convivência pacífica servia (e podemos dizer que ainda serve)

como uma espécie de pano de fundo para um racismo latente, mas praticado de

uma maneira bastante sutil, tese essa particularmente formulada por autores como

Gilberto Freyre. Essa noção de “democracia racial” foi elaborada como um traço

positivo da identidade nacional, que demarcava a tolerância e a paz racial como um

traço próprio do ‘ser brasileiro’.

E essa ideia de democracia racial, ao lado da “[...] ideologia do

“branqueamento” tem sido [...], um componente importante do racismo brasileiro”

(HOFBAUER, 2003, p.92)

Nesse sentido, ainda que a aparição das interpretações de Freyre tenha

representado uma mudança do viés racial para o viés cultural e uma transformação

da imagem do negro e do africano, os efeitos da ideia de um país “plástico” e

tolerante com as diversas raças favoreceu o ocultamento das tensões raciais. A

democracia racial atuou como uma falsa consciência sobre as relações étnicas e

raciais no Brasil.

Todavia este mito não nasceu de um momento para o outro, mas “germinou

longamente, aparecendo em todas as avaliações que pintavam o julgo escravo

contendo ‘muito pouco fel’ e sendo suave, doce e cristãmente humano”

(FERNANDES, 1964, p. 197).

Ainda segundo Fernandes (1964) o mito da democracia racial, se configuraria

como um discurso de dominação política, ou seja, não se apresentava com uma

existência efetiva, mas sim como uma ideia para a desmobilização da comunidade

negra e como discurso de dominação, este se constituía de forma puramente

simbólica, contribuindo assim tanto para o preconceito racial quanto a discriminação

sistemática dos negros.

E esse discurso de uma nação sem preconceito racial imbricado pela ideia de

“democracia racial”, para Fernandes (1964)corresponderia ao padrão de dominação

racial tradicionalista e presente no velho regime,uma vez que o preconceito que

lesava os negros continuava encoberto.

Todavia, o autor nega que houvesse uma elite “branca” brasileira disposta a

ter “tramado” de forma proposital para subjugação os “negros”, mas que foi a sua

omissão isentando de responsabilidades as instituições sociais com relação à

equivalência econômica, política, cultural e social do “negro” (mas também visando

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resguardar sua superioridade e posições de mando) que resultou não apenas na

perpetuação do que chama de status quo ante como ainda estorvou a formação de

uma resistência negra que pudesse lutar por estas garantias sociais.

Desse modo, Fernandes (1964) contesta essa concepção de ideologia da

democracia racial adotada e difundida por Freyre de que no Brasil não haveria

preconceito racial demonstrando, através de sua pesquisa, como a realidade dos

“negros” não mudou após a abolição, continuaram sendo inferiorizados e

discriminados.

Mas a ideia de uma pseudo democracia racial proposta por Freyre tornou-se

influente durante a Era Vargas, particularmente durante a ditadura do Estado Novo

(1937-1945), promovendo uma ressignificação dos negros e dos mestiços na cultura

nacional. Nesse período, a noção de que a formação da identidade nacional

brasileira era a miscigenação ganhou ampla aceitação. Através dessa

“representação vitoriosa dos anos 30, o mestiço56 transformou-se em ícone nacional,

em um símbolo de nossa identidade cruzada no sangue, sincrética na cultura, isto é,

no samba, na capoeira, no candomblé e no futebol” (SCHWARCZ, 2007, p.187).

No final dos anos de 1940, considerando a reputação de que no Brasil as

tensões étnico-raciais eram ausentes, a UNESCO, preocupada em investigar as

relações raciais no mundo, patrocinou pesquisas na sociedade brasileira. Tais

análises foram desenvolvidas pelos pesquisadores Roger Bastide, Florestan

Fernandes, Octávio Ianni57, Fernando Henrique Cardoso, Oracy Nogueira e outros e

o programa de estudos ficou conhecido como Projeto UNESCO.

Os resultados dessa investigação indicavam desigualdade entre brancos e

não-brancos, tanto no viés econômico quanto no social, evidenciando uma intensa

correlação entre cor, raça e status socioeconômico. Nesse sentido, foi colocada em

xeque a ideologia (ou o mito) da democracia racial brasileira, através de dados que

56

E ao analisarmos a questão da mídia no Brasil, especialmente a televisão brasileira, é possível pressupor que essa ressignificação ocorrida anos 30 contribuiu vastamente no que se refere à representação do negro brasileiro e que inclusive ainda vêm sendo difundida em novelas, filmes e mesmo em peças publicitárias. 57

Octávio Ianni (1962), em seu livro, As metamorfoses do escravo, reconstrói o processo de metamorfose ocorrida com relação ao antigo “escravo” da região paranaense em “negro” e em “cidadão” de “segunda linha”, ocorrida a partir da pós-abolição e nas primeiras décadas do século XX. Ianni se preocupava com a formação social do Brasil e considerava que tanto a economia, quanto as leis, o poder e mesmo as relações sócio-culturais tenham sido erigidos sobre um sistema de trabalho escravista, demonstrando que aqui, a escravatura se desenvolveu de uma maneira totalizante.

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demonstravam existência do preconceito e discriminação racial nas relações

cotidianas.

Estas análises também demonstraram que a situação de exclusão do negro

na sociedade brasileira é camuflada ideologicamente pela ideologia da democracia

racial.Com isso, foram estabelecidas, no campo das ciências sociais, produções

acadêmicas que criticavam a construção ideológica da democracia racial, concluindo

haver preconceito racial no Brasil e que a dita democracia racial não existia

concretamente, ou seja, não passava de um mito.

Entre as décadas de 1950 e 1960 aconteceram importantes mudanças

culturais, políticas e comportamentais em diversas partes do mundo, como os

movimentos contraculturais na Europa e nos Estados Unidos, os movimentos

feministas na Europa, luta dos negros norte-americanos pelos direitos civis, os

processos de descolonização no continente Africano, dentre outros.

Petrônio Domingues em seu artigo “Movimento Negro Brasileiro” ressalta no

começo da década de 1950, representantes da UHC (União dos Homens de

Cor)tiveram uma audiência com o então Presidente Getúlio Vargas, onde lhe foi

apresentada diversas reivindicações em favor da "população de cor". Além disso,

nesse período foi aprovada no Congresso Nacional em 1951 a primeira lei

antidiscriminatória do país, batizada de Lei Afonso Arinos, que tornava contravenção

penal a prática de atos resultantes de preconceito de raça e de cor e previa

igualdade de tratamento e de direitos.

No campo da comunicação e da cultura, Renato Ortiz (1989), ressalta que,

com a implantação da televisão brasileira a partir de 1950, a busca por um novo

padrão de desenvolvimento capitalista, o aparelho de televisão, ao lado do

automóvel, passou a ser considerado um indicador da modernidade. E a partir de

1960, se consolida uma sociedade de consumo e um mercado de bens culturais a

partir da concretização da televisão como veículo de massa.

Como resultado desse duplo processo de maior atuação do Movimento Negro

e expansão dos meios de comunicação no Brasil ao longo da década de 1950 e

1960, em 27 de agosto de 1962, foi aprovada a Lei N° 4.117, que instituiu o Código

Brasileiro de Telecomunicações com o artigo 53 que previa punição para ações

racistas das emissoras, prevendo até mesmo a cassação do alvará de licenciamento

da empresa. (ARAÚJO, 2004)

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53

Nos anos de 1980, ainda que o ideal proposto pela democracia racial fosse

hegemônico e criasse dificuldades para o reconhecimento da discriminação racial no

Brasil, a agenda política trouxe efeitos positivos na Constituição de 1988, com a

inclusão da condenação ao racismo e a aprovação da lei de autoria do deputado

federal Carlos Alberto Oliveira, chamada de Lei Caó, que tipifica o preconceito de

raça ou de cor como crime imprescritível e inafiançável.

Durante os anos de 1990, novas pesquisas passaram a demonstrar a

existência da desigualdade racial. Com isso, discussões passaram a considerar

iniciativas públicas necessárias para seu combate.

Em 1995, durante o Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso,

houve uma importante manifestação do movimento negro chamada de marcha

Zumbi dos Palmares. A marcha contra o racismo, pela cidadania e a vida foi uma

homenagem aos 300 anos da morte de Zumbi dos Palmares e ocorreu no dia 20 de

novembro, contando com a participação de aproximadamente 30 mil militantes, que

foram recebidos pelo Presidente e lhe apresentaram um documento que contava

com as principais reivindicações do movimento negro e diversas propostas de

políticas públicas. (LIMA, 2010)

No ano seguinte, ocorreu o lançamento do Programa Nacional de Direitos

Humanos (PNDH I), outro marco bastante importante nesse contexto. Nesse

documento o governo assumia o compromisso de realizar estratégias de combate às

desigualdades através de políticas específicas para a população negra, em curto,

médio e longo prazos. Entre as consideradas de curto prazo estavam o apoio a

grupos de trabalho e a criação de conselhos; o registro sobre a população negra e

bancos de dados públicos; a inclusão do quesito cor em todos e quaisquer sistemas

de informação, o estímulo à presença dos grupos étnicos que compõem a população

brasileira em propagandas institucionais do governo federal; apoio às ações da

iniciativa privada que selecionassem pessoas que estivessem em situação de

desvantagem, ou seja, que praticassem a chamada “discriminação positiva”. (LIMA,

2010)

Entre as proposições de médio e longo prazo, havia formulação de políticas

compensatórias que promovessem a comunidade negra de forma social e

economicamente, a ampliação do acesso de entidades da comunidade negra aos

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diferentes setores do governo, bem como a alteração do conteúdo de livros

didáticos.

Quanto às influências diretas nas programações televisivas, Araújo (2004)

relata que recursos jurídicos às emissoras passaram a ser parte importante da

realidade a partir da segunda metade da década de 90 favorecendo novas

estratégias de enfrentamento ao racismo pelo movimento negro, ocorrendo tanto

denúncias a diversos meios e ações lideradas por ONGs e representações judiciais

realizadas pelo ministério público.

A III Conferência Mundial Contra O Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia

e Intolerância Correlata em Durban, realizada na África do Sul e promovida pela

Organização Das Nações Unidas em 2001, foi marco para o futuro das políticas

públicas para negros e afrodescendentes no Brasil e considerada o ponto de

inflexão dessa temática na agenda governamental.

Lima (2010) ressalta que o Brasil obteve uma participação de ampla evidência

tanto no que se refere às reuniões preparatórias como na própria Conferência. Ainda

que muitos projetos já estivessem sendo delineados e implantados, essa posição de

destaque que o Brasil alcançou na Conferência, trouxe significativas mudanças,

especialmente com relação às ações afirmativas e as áreas de educação, saúde e

trabalho foram os temas prioritários nas recomendações realizadas pelo governo

brasileiro.

Outra conquista bastante significativa se refere às políticas de ações

afirmativas, como no caso das cotas raciais, que foram prioridades sempre

presentes nas proposições e na agenda do movimento negro e em 2002, a proposta

com relação ao ensino superior foi efetivada no Programa Nacional de Direitos

Humanos II

Importantes avanços com relação às políticas públicas segundo Lima (2010),

ocorreram principalmente a partir de 2003, no início do governo de Luis Inácio Lula

da Silva58, que marca uma intensa mudança não apenas na condução das políticas

com perspectiva racial, reflexo de Durban, mas também com relação à maior

conexão do Movimento Negro com o Estado, pois, até então, “essa relação era de

58 No campo da educação, um dos principais avanços se refere à mudança do currículo escolar a partir da Lei 10.639 assinada em 2003, no início do governo Lula. Como bem apontam Paulo Vinicius Baptista da Silva e Débora Cristina de Araújo (2011) somente a partir dessa Lei, que teve início um processo de inserção de conteúdos e de formação inicial e continuada de professores sobre História e Cultura Afro-Brasileira e Africana e sobre Educação das Relações Étnico-Raciais

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exterioridade, com os atores na condição de demandantes e com pouca inserção no

aparato governamental” (LIMA, 2010, p.82).

O movimento negro passou ter maior envolvimento na formulação de

políticas no governo Lula, a ocupar cargos e atuar como representante da sociedade

civil em diversos espaços de controle social instituídos por este governo. Deste

modo, segundo Lima (2010), se destaca a criação da SEPPIR, em 21 de março de

2003, exatamente o Dia Internacional pela Eliminação da Discriminação Racial e que

acabou, em fevereiro de 2008, sendo convertida em Ministério. Conforme a lei que a

regulamenta, a Secretaria tem como a principal atribuição a formulação,

coordenação e articulação de políticas e diretrizes para a promoção da igualdade

racial com vistas à consolidação do tema da igualdade racial.

As parcerias realizadas com a sociedade civil organizada e órgãos

internacionais também se destacam. De acordo com Lima (2010), como integrante

da estrutura básica da SEPPIR também houve a criação do CNPIR, que se trata de

um órgão colegiado de caráter consultivo e que possui como objetivo propor

políticas de promoção da igualdade racial com foco tanto na população negra quanto

em outros segmentos étnicos da população brasileira. Em se tratando de mudanças

institucionais, destaca-se a criação, em julho de 2004, da SECAD que se encontra

no âmbito do Ministério da Educação e é responsável pela execução de diversos

programas a fim de promover a igualdade racial.

É possível perceber que diversas estratégias para a promoção da igualdade

racial, principalmente no âmbito da administração pública, foram tomadas ao longo

das últimas décadas do século XX e início do XXI.

Nestas políticas, a categoria “raça” é usada usado com conotação política

permitindo, por exemplo, aos negros valorizar a característica que difere das outras

populações e romper com as teorias raciais que foram formuladas no século XIX e

até hoje permeiam o imaginário popular.

No meio acadêmico, aumentaram também análises referentes às

desigualdades raciais compreendidas não somente como um problema produzido

pelo processo histórico, mas como reflexos de mecanismos discriminatórios

reproduzidos socialmente.

Dentre os estudos desenvolvidos estão aqueles que visam não apenas

compreender o negro, mas também as normatividades e a identidade do branco.

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Estes estudos nos importam especialmente. Por isso realizamos breve levantamento

bibliográfico acerca dos estudos acerca da “branquidade”, que visam problematizar o

papel e a construção da identidade do branco nas relações binárias negro/branco.

3.5. OS ESTUDOS E DISCURSOS DE BRANQUIDADE NO BRASIL

O Brasil ficou marcado pela questão do racismo desde suas origens na

sociedade colonial, todavia, para além de ser uma simples herança histórica, essa

problemática racial permanece atingindo o nosso cotidiano de diferentes formas. E

para entender o que é ser negro ou afrodescendente, antes precisamos entender a

questão da branquidade.

Além disso, a história de seus conflitos e problemas envolveu bem mais do

que a formação de classes sociais distintas ou quanto às condições materiais.

Analisar as relações étnico-raciais partindo de comportamentos modelados pela

branquidade é uma forma de questionar essa construção ideológica da

representação do branco como modelo universal de humanidade.

Nos EUA, o campo de pesquisas chamado "Estudos Críticos da

Branquidade" (WhitenessCriticalStudies) vem sendo desenvolvido e intensificou-se a

partir da década de 1990. Já no Brasil, os estudos sobre a branquidade vêm sendo

feitos a partir de análises realizadas desde 1992 pela Professora IrayCarone e sua

equipe, no Instituto de Psicologia da USP.

No entanto, conforme Lourenço Cardoso (2010) em seu artigo Branquitude

acrítica e crítica, no entanto, talvez W. E. B. Du Bois seja o precursor em teorizar

sobre a identidade racial branca com sua publicação de 1935, Black Reconstruction

in the United State, onde analisará o trabalhador branco norte-americano do século

XIX. Mas não podemos deixar de considerar também Frantz Fanon, que já em 1952,

por meio de sua publicação Peau Noire, Masques Blancs.

Lourenço Cardoso (2010) ressalta que o termo “branquitude”, no contexto

brasileiro, foi sugerido por Gilberto Freyre ainda em 1962, tanto no sentido de

identidade racial branca quanto analogia à palavra negritude. Sendo que Alberto

Guerreiro Ramos, ao propor estudos sobre a identidade racial branca no país, fez

uso do termo “brancura”, que seria, em outras palavras, os traços fenotípicos

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atribuídos aos brancos, mas que constitui também para a literatura científica atual o

mesmo significado que “branquitude”.

Segundo Munanga (2012), a cor não é uma questão biológica, mas sim uma

das categorias cognitivas, herdadas do período colonial. E foi por meio de uma visão

político-ideológica, que os brancos foram alocados no topo da pirâmide social, do

poder e do comando. Ou seja, mesmo que de forma implícita, o discurso identitário

da branquidade também é uma construção social e não uma categoria fixa.

Todavia, conforme Maria Aparecia Silva Bento, em seu artigo

Branqueamento e Branquitude no Brasil, frequentemente o branqueamento é

“considerado como um problema do negro que, descontente e desconfortável com

sua condição de negro, procura identificar-se como branco, miscigenar-se com ele

para diluir suas características raciais” (BENTO, 2012, p. 25)

Para tanto, Frankenberg (2004) apresenta um importante conjunto de

aspectos para possíveis definições da “branquidade”, onde se destaca o fato de que

esta se apresenta como um lugar de vantagem estrutural nas sociedades

estruturadas na dominação racial. Além disso, a branquidade também se coloca

como um “ponto de vista”, ou seja, um lugar a partir do qual tanto nos vemos quanto

vemos os outros,inclusive proporciona um lócus de elaboração de uma gama

identidades e práticas culturais muitas vezes não denominadas e não marcadas, ou

ainda designadas como nacionais ou “normativas” em vez de especificamente

raciais.

Além disso, a branquidade é uma categoria relacional e se estabelece como

produto da história. Mas como outras localizações raciais, esta não possui

significado intrínseco, somente significados socialmente construídos e que ainda

podem parecer simultaneamente maleáveis e inflexíveis. Nesses termos, os

significados da branquidade trazem complexas camadas e variam tanto localmente

quanto entre os locais. Desse modo “o caráter relacional e socialmente construído

da branquidade não significa que esse e outros lugares raciais sejam irreais em seus

efeitos materiais e discursivos”. (FRANKENBERG, 2004, p.16)

Essas ideias de branqueamento auxiliam na construção da identidade

branca e nas representações dos lugares de “brancos” e de “negros” na sociedade.

E é a partir dessas relações, que o branco encontra-se sempre numa posição de

conforto social, num lugar de superioridade em relação aos “não brancos”, assim,

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partindo da perspectiva de questionar essa suposta superioridade do ser “branco”,

que utilizamos o conceito de branquidade.

Assim, conforme Silva e Rosemberg (2007) essa posição de superioridade

atribuída ao ser branco colaborou para a manifestação de uma “branquidade

normativa, isto é, no branco como norma de humanidade” (SILVA e ROSEMBERG,

2008, p. 105), colocando-os como uma espécie de modelo que orienta os padrões

na sociedade. Entretanto, esse papel atribuído à branquidade normativa vai além,

uma vez que atua como estratégia ideológica de uma elite hegemônica que agem

contribuindo tanto para manutenção quanto favorecimento das desigualdades

raciais.

De tal modo, de acordo com apontamentos de Teun Van Djik (2008), a “[...]

América Latina, infelizmente, segue os passos da Europa e da América do Norte,

além de outras regiões do mundo onde os europeus brancos são o grupo étnico-

racial dominante” (VAN DJIK, 2008, p.11).

E esse racismo tem como fundamento histórico os séculos de colonialismo

europeu, onde os não europeus, ou seja, os “outros”, foram sistematicamente

segregados e tratados como inferiores. E com isso, “o homem europeu ganhou, em

força e identidade, uma espécie de identidade substituta, clandestina, subterrânea,

colocando-se como o “homem universal” em comparação com os não-europeus.

(BENTO, 2012, p.31)

Van Djik (2008) ainda ressalta que mesmo após a abolição da escravatura

ocorrida no século XIX, o “colonialismo” cultural não foi eliminado, ao contrário disso,

explorações e opressões coloniais persistiram em distintas partes do mundo.

Durante esse período, várias formas de racismo também surgiram nos campos da

economia, literatura e política, mas, sobretudo no campo das ciências.

Conforme relata Van Djik (2008), inúmeros estudos e artigos de cunho

“científicos”, na primeira metade do século XX, foram publicados com a finalidade de

“provar” a superioridade dos homens brancos, ocorrências que ampararam a difusão

tanto de práticas quanto de políticas eugênicas em diversos países, assim como o

sucedido com a Alemanha nazista com relação o povo judeu.

Muitos continuam a celebrar a superioridade dos europeus brancos e a excluir, problematizar e discriminar pessoas de outras culturas. É desta Europa racista que muitos imigrantes da América Latina vieram, e isso serviu como exemplo para as políticas latino americanas, para a literatura e para as ciências por muitas décadas (VAN DJIK, 2008, p.12, grifo nosso).

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59

Assim, estes imigrantes europeus, operando como uma elite branca de donos

de terras, militares e políticos, tiveram acentuada participação em diferentes

momentos do século XIX, tanto na colaboração na criação dos estados recém-

independentes quanto na emancipação das colônias espanholas e portuguesas na

América Latina. Todavia, juntamente a alguns desses imigrantes europeus

chegaram também ideologias racistas que foram amplamente compartilhadas, até

mesmo por parte dos mestiços. “O olhar do europeu transformou os não-europeus

em um diferente e muitas vezes ameaçador Outro. Este Outro, construído pelo

europeu, tem muito mais a ver com o europeu do que consigo próprio” (BENTO,

2012, p.31)

Ademais, inclusive nos lugares onde foi comemorada a mestiçagem,

persistiram inalteradas as formas de desigualdade em se tratando de pessoas de

descendência africana e/ou indígenas. Segundo Van Djik (2008), as comunidades

compostas por pessoas de descendência africana e/ou indígenas continuaram a

serem exploradas e oprimidas, por meio de práticas mais ou menos explícitas de

legitimação, alicerçadas por sobre um alegado primitivismo ou inferioridade. Assim,

“preconceitos contra os negros aliados a uma vasta rede de práticas discriminatórias

reproduziram, por conseguinte, a pobreza, o baixo status e outras formas de

desigualdade social no que concerne ao branco dominante e às elites mestiças”

(VAN DJIK, 2008, p.13)

Dessa forma, podemos dizer que esses indivíduos foram sistematicamente

inferiorizados em diversos campos da sociedade. E esse sistema de desigualdade

socioeconômica e racista perdura até a atualidade em vários países, inclusive no

Brasil.

E o ser branco possui significados distintos que são atribuídos e

compartilhados culturalmente de acordo com cada sociedade. Ao considerar a

construção da branquidade no Brasil, Liv Sovik (2004), aponta que existe uma

argumentação de que não há linhas raciais nítidas, colaborando assim para que as

discussões quanto às relações étnico-raciais sejam sempre pautadas no quesito

mestiçagem da população, ou seja, numa identidade brasileira.

Contudo, as características assimilacionistas dessa pretensa identidade

brasileira, conforme argumenta Araújo (2004) auxiliam na criação do que ele chama

de dupla ambigüidade. Onde os negros, mesmo os que buscam assumir sua

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60

identidade racial, acabam sendo coagidos socialmente a negarem a si mesmos e os

brancos, esquivam-se em admitir sua identidade branca, porém, “tocam suas vidas

utilizando o privilégio de sua condição racial, escondendo-se atrás de uma pretensa

universalidade de sua cor, como se não vivessem numa sociedade racializada”

(Araújo, 2004, p.37).

Além disso, para a Liv Sovik (2004), esse silenciamento acerca da

branquidade contribui para que haja a manutenção e perpetuação de práticas

racistas, em decorrência dessa convivência inter-racial pseudo pacífica. Esse

silêncio pode ser utilizado pelas formas simbólicas como estratégia ideológica no

que se refere à hierarquização entre negros e brancos, exercendo “duplo papel, de

negar os processos de discriminação, buscando ocultar a racialização presente nas

relações sociais, ao mesmo tempo em que propõe uma homogeneidade cultural ao

brasileiro”. (Silva, 2005, p.15)

De acordo com Silva & Rosemberg (2007), os estudos relativos às

desvantagens da população negra no Brasil demonstram que as desigualdades

sociais e econômicas entre “brancos” e “negros” não se devem apenas ao passado

escravista, mas encontram-se atreladas à discriminação racial. Além disso, as

oportunidades de ascensão social são diferenciadas quando se tratam do acesso ao

negro, colaborando para que as desigualdades se perpetuem através de sucessão

de desvantagens repassadas aos negros.

O processo histórico, combinado ao racismo estrutural e simbólico auxilia na

construção do padrão das relações raciais no Brasil como um refinado sistema de

classificação racial, destacando diversas particularidades. Essa configuração das

relações raciais no Brasil comporta um vocabulário racial que compreende uma

pluralidade de termos, no que se refere à identificação pela raça ou pela cor, como a

auto-atribuição de uma categoria racial. Além do mais, outra particularidade

apresentada é a convivência de padrões de relações raciais “simultaneamente

verticais, produzindo intensa desigualdade de oportunidades e horizontais em que

não se observam hostilidades abertas ou ódio racial” (SILVA &ROSEMBERG, 2007,

p.77).

E a mídia e televisão brasileira tem reproduzido essa percepção social

acerca da latente desigualdade de oportunidades entre o branco e os outros (não-

brancos). Desse modo, é necessário entendermos como acontece esse discurso da

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61

branquidade no contexto midiático, especialmente em programas voltados ao

publico infantil.

3.6. TELEVISÃO, INFÂNCIA E QUESTÕES ÉTNICO-RACIAIS: ANALISANDO A

PROGRAMAÇÃO VOLTADA PARA O PÚBLICO INFANTIL

No Brasil, o desenvolvimento da programação infantil apresenta-se

intimamente atrelada à televisão privada e à busca por altas posições nos índices de

audiência. Em seu livro Os programas infantis da TV, Cláudio Márcio Magalhães

(2007) assinala que os programas voltados para o público infantil são divididos em

dois modelos distintos: o “educativo”, que em sua maioria é realizado por emissoras

estatais e basicamente visa agregar informações ao cotidiano, reforçando

conhecimentos apreendidos na educação formal da criança, e o “comercial”, que se

encontra nas emissoras privadas e que além de ter a função de entreter, está

intimamente atrelado ao mercado de consumo.

Conforme sustenta Inês Sílvia Vitorino Sampaio (2004) em seu livro

Televisão, publicidade e infância, foi por meio dos programas infantis que as

emissoras perceberam que poderiam ampliar expressivamente o seu público, uma

vez que através da criança atuando como interlocutor junto aos adultos possibilitaria

chegar a toda família. Outro mote relevante é que, ao direcionar uma programação

voltada ao público infantil, as empresas podem buscar estabelecer relações

instrutivas com as crianças, de maneira que possa ocorrer, consequentemente, a

sua fidelização através de relações comerciais futuras.

Desse modo, conforme Joe L. Kincheloe e Shirley R. Steinberg (2001) em

seu livro Cultura Infantil advertem, as crianças acabam se tornando foco da

chamada construção corporativa da infância59onde instituições comerciais tornam-se

agências educadoras, ofertando de maneira pedagógica, sob a camuflagem de

entretenimento, uma série de produtos culturais que fazem alusão a práticas e

conceitos essenciais ao ser humano, transformando-se em referenciais para os

processos de interiorização de valores e até mesmo na formação da identidade das

crianças.

59

Também chamada pelos autores como cultura infantil.

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62

Steinberge e Kincheloe (2001) apontam que estas instituições utilizam-se de

áreas pedagógicas, ou seja, áreas onde o poder60 é organizado e difundido,

inclusive em livros, televisão, cinema, jornais revistas propagandas, dentre outros. E

esse

poder produz imagens do mundo e das pessoas que o habitam que fazem sentido para aqueles que recebem essas imagens. Os filmes, livros, videogames e programas de tv da cultura infantil moldam a forma com que as crianças brancas, por exemplo, entendem a pobreza e as raças marginalizadas – e, por sua vez, como estas crianças, como brancos, vem a reconhecer seus próprios privilégios. Padrões de linguagem com essas produções de imagens conectados a essas produções de imagens para reforçar a influencia do poder são hábeis em abastecer o contexto no qual as crianças encontram o mundo. (STEINBERG e KINCHELOE, 2001, p.48).

Segundo Leila Maria Torraca de Brito (2005) em seu artigo De "papai sabe

tudo" a "como educar seus pais", os programas infantis passaram a ser comandados

por apresentadoras a partir dos anos 80. E entre uma brincadeira e outra, estas

aconselhavam e ensinavam as crianças atitudes cotidianas, como por exemplo, a

tarefa de escovar os dentes.

De acordo com apontamentos de Sampaio (2004), os programas voltados

para o público infantil são concebidos com o intuito de divertir e prender a atenção

da criança, não permitindo pausas para reflexão quanto ao que se vê ou mesmo

para mudar de emissora e funciona muito mais como mostruário de diversos

produtos, a relação entre programação infantil e lucro se tornou cada vez mais

presente.

Contudo, esse convite ao consumo, não diz respeito somente a produtos e

marcas, ele também se refere à adesão de atitudes e comportamentos. Além disso,

é imprescindível observar que cada vez que uma representação é preferida em

determinadas comunicações, outras são desprezadas, tornando-se necessário

questionar quais são estas imagens e por qual motivo estão sendo escolhidas ou

rejeitadas, tendo como referência não apenas o contexto televisivo, mas a própria

sociedade brasileira.

Além disso, deve ser levado em consideração que estas imagens também

se constituem como modelos de determinados referenciais de beleza, estilo de vida

e caráter para milhares de crianças, cooperando para que esses modelos

60

Os autores utilizam o termo poder no sentido de “conjunto de operações que trabalha para manter o status quo e conservá-lo funcionando como o menor atrito (conflito social) possível”. (STEINBERGe KINCHELOE, 2001, p.19).

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63

apresentados pela televisão brasileira representem um ideal a ser alcançado, uma

vez que:

[...] não há programa de TV que não tenha algum tipo de pretensão moral. Como instrumentos de extensão do homem, os meios refletem a estrutura de valores da sociedade em que estão inseridas. Isso não quer dizer que, refletindo, são como um espelho: um objeto inerte e imparcial. Antes disso, são coadjuvantes: em maior ou menor medida – mas sempre em alguma medida – têm atuação e influência no que se reflete. (MAGALHÃES, 2007, p.131)

E em virtude dessas influências que a mídia - principalmente a televisão -

torna-se fundamental para entender a questão acerca das relações étnico-raciais.

Uma vez que esses programas infantis tornaram-se presença constante no cotidiano

da criança, o papel destes deve ser submetido a um minucioso exame acerca de

como auxiliam na construção de imagens e estereótipos, internalizados desde a

infância, uma vez que muitos desses modelos que frequentemente são almejados e

apreciados são os mais próximos ao padrão euro-estadunidense.

As transformações e os efeitos relacionados à indústria cultural

contemporânea não influenciaram somente a vida da população adulta, a construção

social da infância também passou por mudanças drásticas. Contudo, o impacto

causado pela indústria cultural contemporânea, principalmente no que se refere às

imagens apresentadas e sua influência formação da criança ainda é uma questão

pouco pesquisada.

Peter Mclaren e Janet Morris (2001), em seu artigo, Power Rangers61 E A

Estética Da Justiça Falo-Militarista, ao analisarem a série infantil, apontam que

esses programas não buscam desafiar as estruturas de poder e produzir pontos de

vista alternativos sobre o mundo, mas que geralmente, “os ‘mocinhos’ da cultura

infantil, são também muitas vezes, homens brancos que lutam bem e limpo pelas

causas neo-imperialistas” (Steinberge Kincheloe, 2001, p.43).

Segundo Steinberge Kincheloe (2001), geralmente os heróis de televisão

são criados com base em valores culturais dominantes, ou seja, caracteristicamente

são homens, brancos e de classe média, que lutam contra violentos vilões que por

muitas vezes são não-brancos e/ou “forasteiros”. Nesse contexto, em razão de uma

61

É uma franquia de séries de televisão voltada para o público infantil, sendo basicamente composta por adolescentes ou jovens americanos que lutam contra seus inimigos, que geralmente são extraterrestres.

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64

cultura infantil hegemônica62, são ignoradas vivências de opressão e experiências de

desigualdade econômica sofridas por muitas crianças, de maneira que essas […]

diferenças raciais e culturais podem ser representadas pela TV, cinema ou produtos

gráficos, mas elas estão descontextualizadas e despojadas de qualquer

caracterização das diferenças de poder […]. (STEINBERG e KINCHELOE , 2001,

p.43)

Em seu livro O drama racial de crianças brasileiras, Fazzi (2004) visou

compreender modo de operação e as formas de percepção do racismo e do

preconceito racial entre crianças de 7 a 9 anos de idade, a partir de trabalho de

campo63 realizado em duas escolas públicas: uma freqüentada por estudantes de

camadas médias e outra por camadas populares. A autora parte da compreensão de

que o preconceito racial faz parte de uma realidade construída socialmente pelas

crianças e é no ambiente escolar, através de suas relações, que elas podem

explorar comportamentos e valores, além das noções raciais que aprendem em

outros ambientes, criando e recriando as imagens preconceituosas que recebem.

De acordo com Fazzi (2004), na pesquisa realizada, percebeu-se que a

ênfase dada pelas crianças no que se refere ao aspecto estético, como feio ou

bonito, sugere o que a autora chama de desenvolvimento do preconceito racial

visual. Em uma fala, também relacionado ao padrão estético, só que da cor, Fazzi

(2004) assinala que as crianças ressaltaram que “tem alguns pretos que é preto,

preto mesmo, só fica aparecendo os olhos de branco. Aí é feio demais, parece

Saci64“. (FAZZI, 2004, p. 116)

Muitas dessas noções raciais aprendidas pelas crianças são apresentadas

através da mídia televisiva, que contribuem significativamente para a consolidação

da imagem do branco como ideal, não apenas estético, mas como padrão de

superioridade, fato que culmina na negação e inferiorizarão do negro. Uma criança,

62

Segundo Sarmento (2005) as culturas da infância se apresentam como um conjunto de atividades ou rotinas, valores e ideias que as crianças constroem e partilham em interação com seus pares, estas são construídas de diferentes formas. Mas nesse caso, usamos o termo cultura infantil hegemônica para fazer um contraponto, uma vez que esta não levaria em conta as especificidades das vivencias infantis. 63

Tendo como foco dessa observação a socialização entre as crianças, uma vez que as interações

sociais que elas realizam entre seus pares, são importantes tanto para a sua socialização quanto para a relação com outros agentes socializadores. “E, nestas interações entre si, as crianças vão aprendendo o que significa ser de uma categoria racial ou de outra, criando e recriando o significado social de raça” (FAZZI, 2004, p. 218). 64

Uma lenda brasileira que se tornou personagem de livros escritos por Monteiro Lobato e posteriormente uma série de televisão e desenho infantil transmitidos pela rede Globo de Televisão.

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de qualquer etnia não branca, ao verem personagens brancos em programas de

televisão representando em posição de “superioridade” em relação aos outros e

verem seus pares em posições subalternas, provavelmente terão dificuldades para

perceber a beleza de uma pessoa que tem sua cor de pele, raça ou nacionalidade.

Com isso, é imprescindível a análise acerca dessas imagens repassadas através da

mídia televisiva.

E quando pensamos na criança afrodescendente, essa questão se

apresenta de maneira ainda mais complicada, uma vez que como vimos no decorrer

desse trabalho, a televisão brasileira praticamente não lhes oferece modelos

positivos. Agora, pensando o lugar que a telenovela ocupa em nossa sociedade e

como estes modelos são transmitidos faz com que investigar essas demandas se

torna fundamental e para isso, faremos uso do objeto Carrossel, uma telenovela

voltada para o público infantil, da qual trataremos no capítulo a seguir.

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4. EMBARCANDO NESSE CARROSSEL: OS ASPECTOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA

A partir da definição das versões da telenovela “Carrossel” como proposta

para análise e de estabelecer os pressupostos que nos guiariam para apreciação

dessa pesquisa, foi preciso definir a metodologia a ser utilizada.

Sem deixar de lado a compreensão de que a presença dos meios de

comunicação de massa no cotidiano dos indivíduos contribuiu para que a mídia se

estabelecesse como uma das principais fontes de socialização na

contemporaneidade, e com a finalidade de pensar a cultura da mídia e suas

composições semióticas e semânticas na possível composição de estereótipos,

tornou-se fundamental a análise dos diversos textos e imagens veiculados pela

mídia. Desse modo, nessa pesquisa foram utilizadas duas metodologias distintas: a

análise bibliográfica aliada à análise de imagens em movimento, mas considerando

também a análise crítica do discurso.

4.1. ANALISANDO IMAGENS EM MOVIMENTO DA TELENOVELA

O método da análise de imagens em movimento foi desenvolvido por Diana

Rose (2010) a fim de investigar as representações da loucura na televisão, mas o

conjunto de técnicas e conceitos pode auxiliar na orientação quanto à análise de

diversas representações sociais no mundo audiovisual. Nesse processo de análise

de matérias audiovisuais, a autora aponta que existe a necessidade de transladar,

ou seja, dar sentido aos materiais. E esse processo implica em escolhas e decisões,

pois “existirão sempre alternativas viáveis às escolhas concretas realizadas e o que

é deixado de fora é tão importante quanto o que está presente” (ROSE, 2010, p.

343).

Além disso, Rose (2010) argumenta que a análise nunca poderá captar uma

verdade única de um texto, pois, os elementos que compõem uma mensagem

audiovisual são distintos e as orientações teóricas que afetam nas escolhas de

seleção e na transcrição da mensagem, como também não existe uma forma

específica para coletar, transcrever e codificar um conjunto de dados. Assim, as

representações da mídia se configuram mais do que discursos “Elas são um

amalgama complexo do texto escrito ou falado, imagens visuais, e as várias técnicas

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67

para modular e seqüenciar a fala, as fotografias e a localização de ambas (ROSE,

2010, p. 345)

E em virtude dessa complexidade inerente às imagens audiovisuais, é que se

torna necessário compreender que não existe um caminho fixo pra captar essas

nuances. E mesmo visando produzir uma representação mais próxima da realidade,

Rose (2010) ressalta que algumas informações sempre serão perdidas, enquanto

outras podem ser acrescentadas, contribuindo para que o produto final seja uma

simplificação, ou seja, se configurando como uma tabela de frequências ou como um

conjunto de extratos ilustrativos. Por isso a necessidade em ser o mais explícito

possível sobre as técnicas utilizadas para seleção, transcrição e análise dos dados.

Além disso, quanto mais as técnicas forem claras, maior será a oportunidade de o

leitor julgar melhor a análise realizada, proporcionando um espaço aberto, prático e

intelectual, onde as análises podem ser discutidas.

E a primeira tarefa a ser feita é a construção de uma amostra, selecionando

diretamente o material a ser gravado. Mas como Rose (2010) propõe, a escolha dos

programas selecionados vai depender da orientação teórica e do tópico da área a

ser pesquisada. Um procedimento bastante comum na seleção de programas é

fazer uma extensa varredura do que é apresentado no tempo nobre, vendo o

conjunto inteiro de informações para após tomar um tópico de interesse. O problema

é que este método pode se constituir em um processo muito lento, pois, na

cobertura do tempo nobre, são centenas de horas de programação a serem vistas.

Depois de realizada a seleção, vem o momento da transcrição, que Rose (2010)

aponta como tendo a finalidade de gerar um conjunto de dados que possibilite uma

analise mais aprofundada, é ela que simplifica e translada a imagem complexa da

tela. Além disso, é muito importante decidir acerca da unidade de análise, pois, ela

serve tanto como base quanto como estrutura para a averiguação dos dados

obtidos, que pode ser realizada a parti de um critério bastante simplificado, como a

mudança de uma cena para outra.A autora assinala a importância em ser explicito

sobre as razões da escolha de uma determinada definição.

Como a televisão é um meio audiovisual, torna-se imprescindível considerar

as dimensões imagem e som na unidade de análise. No entanto, não é possível

descrever tudo o que está na tela, por isso, as decisões a respeito das transcrições

deve ser guiado pela teoria e “diferentes orientações teóricas levariam a diferentes

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escolhas sobre como selecionar e transcrever” (ROSE, 2010, p. 349). Sendo assim,

a análise de imagens em movimento é uma boa alternativa para análise de dados

em ficção seriada, uma vez que a amostra estatística nem sempre é adequada para

pesquisa com texto e imagem. Com a construção de um corpus, é possível tipificar

atributos encontrados em uma população, sem proceder com generalizações. Sendo

possível também aliar a estes o método de análise de imagens em movimento de

materiais audiovisuais, como em televisão e cinema.

4.2. CONSTRUINDO A ANÁLISE

Conforme já apresentado através da revisão bibliográfica, a televisão exerce

uma grande influência, ela viabiliza representações e significações que fazem parte

do mundo infantil, passando a fornecer conteúdos para as situações de interação

entre a criança, seus pares e os demais grupos em que se encontram inseridas. Ou

seja,

Na prática, as imagens transmitidas sem cessar pela televisão não só informam o indivíduo - mostrando-lhe o mundo - mas também formam sua personalidade, apresentando-lhe os modelos de comportamento vividos na telinha pelos personagens deste mundo idealizado da celebridade ao qual ele aspira. (BELLONI, 2005, p.63).

Dessa forma, a proposta dessa investigação a partir da ficção seriada

Carrossel é analisar, não apenas as relações étnico-raciais no referido produto

televisivo, como também as formas simbólicas da branquidade normativa atuantes e

o modo como são estabelecidas hierarquias sociais desiguais entre brancos e os

demais grupos étnicos.

Para isso, é preciso buscar identificar e levantar negros na ficção seriada

Carrossel, observando e descrevendo o papel desses personagens na narrativa

ficcional, além de avaliar, por meio de bibliografias especializadas, o modo como a

mídia brasileira fornece modelos através de programas voltados especificamente ao

público infantil.

Uma vez definido que o objeto de análise seria a telenovela “Carrossel”, foi

necessário estabelecer quais seriam os pressupostos que nos conduziriam aos

motes objetivos de pesquisa e final, pensando não apenas no contexto infantil, como

também nas questões relativas às relações raciais, quais os pontos para os quais

voltaríamos nosso olhar?

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69

Assim, a partir do questionamento quanto às imagens transmitidas para o

público infantil por meio da televisão, mais especificamente da ficção seriada

“Carrossel”, definimos estas questões como norteadoras: Como são tratadas e

transmitidas às imagens de personagens negros para as crianças tanto nas versões

mexicana (1989) quanto na brasileira (2012)? Quais os papeis sociais representados

por estes personagens nas duas versões? Há alguma tentativa em problematizar

tais relações? E finalmente, quais são os avanços e permanências com relação a

tais representações nas duas versões?

O principal conteúdo de análise será a trajetória do personagem negro

Cirilo.Serão comparadas a trajetória da personagem a partir das cenas das novelas,

a fim de verificar se houve alguma alteração entre a primeira versão, produzida em

1989 pela emissora mexicana e a versão brasileira, transmitida em 2012

principalmente em virtude da criação de algumas políticas sociais voltadas ao

combate das desigualdades raciais pelo governo do Brasil nos últimos anos.

A escolha pela telenovela ocorreu em razão de esse produto cultural ser um

dos mais assistidos no Brasil, sendo que de acordo com a Pesquisa Brasileira de

Mídia 2014, 48% dos entrevistados afirmaram assistir. Além disso, diversos autores

e setores acadêmicos vêm pesquisando o desempenho pedagógico da telenovela

na sociedade brasileira, como Lopes (1996), Piveta (1999), Motter (2002), Lopes,

Resende, Borelli (2002), Souza (2005), dentre outros.

4.3. A METAMORFOSE DE CIRILO: ANALISANDO E COMPARANDO AS VERSÕES

A escolha pelo personagem Cirilo se deu, pois, em um universo de 16

personagens protagonistas, ele é o único negro. Com relação aos critérios levados

em consideração para a escolha dos capítulos das novelas a serem analisados

foram:

Discurso explícito a respeito de relações raciais, realizada tanto por

personagens adultos quanto crianças;

Discurso explícito ou implícito com relação ao personagem Cirilo, por

parte dos demais personagens (adultos e crianças);

Cenas semelhantes e presentes nas duas versões.

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Após as definições dos indicadores, deu-se início o procedimento de análise

do material, realizado a partir da seleção capítulos da novela disponibilizados no

acervo dedicado à emissora mexicana de televisão TELEVISA, pelo site

Dailymotion65 e os disponíveis no site da emissora SBT66. Esse processo se constitui

em fazer um recorte do texto, ou seja, de determinados capítulos, enquanto que na

etapa quantitativa foram consideradas a contagem e a frequência dos discursos,

utilizadas no intuito de averiguar a alteração dos adjetivos usados com relação ao

personagem Cirilo, a quantidade de personagens afrodescendentes apresentados

na referida ficção seriada e principalmente, se houve algum tipo de alteração

relacionada às participações e discursos com relação a estes nas duas versões

analisadas.

Para uma compreensão dos capítulos, uma vez que a versão mexicana

(1989) conta com 375 e a versão brasileira (2012) com 310, foi realizada uma

seleção. Da versão mexicana de 1989estádisponívelapenas uma versão compilada

em 29 capítulos, o que limitou o repertório de seleção. Após assistir as duas

novelas, realizei a seleção de 8 capítulos de cada versão, totalizando 16 capítulos,

mas sempre considerando que estes fossem semelhantes e estivessem disponíveis

em ambas versões. Por isso optei por transcrevê-los em formato de resumos e com

as transcrições de diálogos, construindo assim um diário de campo, sem levar em

consideração o tempo e posição de cena, mas sim a conversas/ discursos dos

personagens que levem em consideração as questões e relações étnico-raciais.

4.3.1. Cirilo, o pobre menino negro, e Maria Joaquina, a menina rica e branca: Raça

e Classe na construção dos personagens.

O personagem Cirilo é apresentado como um ingênuo e inocente menino

negro e pobre, que costuma cair nas peças que seus colegas lhe pregam. Além

disso, é doce e de boa índole já que sempre ajuda os amigos. Por ser negro e de

família simples, sofre preconceito por parte de Maria Joaquina, por quem nutre uma

paixão platônica. Maria Joaquina, garota branca e rica,o despreza em virtude de sua

condição racial e social e responde as investidas do garoto com muita agressividade

e principalmente atitudes racistas. Enquanto tenta chamar a atenção da garota,

65

Disponível em: <http://www.dailymotion.com/playlist/x2wtyn_cybersprouse_carrossel-mx-compacto/1#video=x170be4> Acesso em: 05 nov. 2014 66

Disponível em: < http://www.sbt.com.br/carrossel/capitulos/> Acesso em: 05 nov. 2014

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Cirilo passa por diversas humilhações. Analisando o personagem Cirilo, é possível

perceber que este corresponde ao estereótipo descrito por Araújo (2000) como

“mulato trágico”.

O “mulato trágico” aparece no cinema norte-americano, em 1912, no filme The Debth. Nessa e em outras histórias do período, eram representados como pessoas simpáticas, agradáveis, vítimas de uma divisão racial herdada, embora a tragédia fosse o único desfecho para aqueles que tentassem ultrapassar a linha de cor, através casamento inter-racial ou da ocultação de sua origem negra, para participar do mundo branco. (ARAUJO, 2000, P.47)

E essa relação de Cirilo com a tragédia pode ser vista no decorrer de toda

novela, uma vez que ele passa a estória inteira sofrendo e sendo humilhado por sua

amada Maria Joaquina, a menina branca e rica.

Mas ao comparar as duas versões da novela, é possível perceber que

enquanto a versão mexicana, produzida em 1989, focaliza na relação binária entre a

menina branca e o menino negro, sem levar muito em conta a classe social, na

versão brasileira (2012) as relações raciais são tratadas de uma forma mais sutil, de

maneira que os problemas de convivência entre os dois personagens acabam sendo

relacionados à classe. E isso aparece já na cena inicial, quando a Maria Joaquina

ainda está em casa e maltrata sua empregada (que também é branca).

Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012)

(1) A cena 1 começa com Cirilo sendo acordado pelos pais e ganhando de presente, por seu primeiro dia de aula no 3º ano um estojo.

1 2 3

Transcrição dos diálogos 1 – Paula Rivera (Mãe de Cirilo): Acorda, meu filho, você sabia que hoje é seu primeiro dia de aula no 3º ano? Cirilo: Oba, cadê meu uniforme mãe? Paula Rivera (Mãe de Cirilo): Calma, meu filho 2 – José Rivera (Pai de Cirilo): Como vai meu garotão? Cirilo:Bem, você sabia que hoje é meu primeiro dia de aula do 3º ano, no 3º ano! José Rivera (Pai de Cirilo): Claro que eu sabia meu filho, por isso eu e sua mãe compramos um presente para você.Ah... 3 – Cirilo:Um estojo, nem tô acreditando! Vocês são os melhores pais do mundo. Paula Rivera (Mãe de Cirilo): Anda, Cirilo, vai guardar seu estojo na mochila

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72

Cena 2 do onde aparece Maria Joaquina em casa, escolhendo algo para

prender o cabelo.

4 5 6

Transcrição dos diálogos 4 – Maria Joaquina: Ai, podia ter comprado uma coisa nova Joana (Empregada de Maria Joaquina): Você já tem tanto que são tão bonitos. Olha só esse aqui. Maria Joaquina: Por acaso eu pedi a sua opinião, eu pedi? Joana (Empregada de Maria Joaquina): Desculpa 5 – Maria Joaquina: Pensa, pensa... Nada muito simples para não parecer pobre, mas também nada muito caro para não ser roubada. 6 – Miguel Medsen(Pai de Maria Joaquina): Filha, sua mãe já está te esperando. Joana (Empregada de Maria Joaquina): Com licença. Miguel Medsen(Pai de Maria Joaquina): Obrigado Maria Joaquina: Ah, pai, pede para ela esperar. Eu também preciso escolher minha mochila. Miguel Medsen(Pai de Maria Joaquina): Filha, eu não quero que você se atrase logo no seu primeiro dia de aula. Maria Joaquina: Mas eu também não posso ir de qualquer jeito. Eu preciso me arrumar! Miguel Medsen(Pai de Maria Joaquina): Você está indo para a escola, Maria Joaquina, não é para uma festa. Vamos logo com isso, tá bom?

Nestas cenas são mostradas as diferenças sociais entre a personagem Maria

Joaquina e Cirilo, enquanto a garota pode escolher entre seus muitos laços de

cabelo, estojos e mochilas; o menino Cirilo ganha apenas um estojo de presente de

seus pais. É importante ressaltar que na versão mexicana de 1989 não existem

estas cenas, elas foram uma adaptação feita pela versão brasileira da novela. A

introdução dessas cenas aparece como uma espécie de reforço explicativo quanto à

desigualdade social entre os dois personagens, uma tentativa de demonstrar que a

personagem Maria Joaquina maltrata a todos que não fazem parte de seu nível

social, e que o que mais teria peso com relação ao tratamento dispensado ao Cirilo

seria a questão de classe, não racial.

Essa questão também pode ser vista em outros capítulos, como por exemplo,

quando a Professora Helena pede para que as crianças escrevam um texto sobre

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suas férias e Cirilo diz que não tem o que escrever pois não viajou. Enquanto Maria

Joaquina pede para usar o outro lado da folha para escrever, já que viajou muito.

Nesse momento, a personagem Valéria interpela a garota e a chama de poderosa.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

8 9 10 8 - Alicia: Professora posso fazer um desenho final? Professora Helena: Pode sim. Lembrem-se que a redação é a lápis Adriano: Professora eu tenho uma dúvida Professora Helena: Pode falar... Adriano: Eu posso escrever de caneta? Toda a turma: Eeeeeeee Adriano: Do que vocês tão (sic) rindo? Professora Helena: Eu acabei de falar que a redação é a lápis Bibi:Ele vive no mundo da lua, teacher! 9 - Professora Helena: E você já terminou? Cirilo: É que eu não viajei nas minhas férias. Maria Joaquina: Professora eu posso usar a folha de trás para escrever mais? Professora Helena: Pode sim Maria Joaquina: É que eu viajo tanto que eu preciso de mais espaço para escrever. 10 – Valéria: Ui, poderosa. Professora Helena: Silencio meninas... Cirilo, quem disse que férias é só viagem? O mais importante é descansar. Você descansou? Você ficou com a sua família? Cirilo: Bastante! Professora Helena: Você brincou com seus amigos? Cirilo: Bastante! Professora Helena: Então, deve ter um monte de histórias para contar., Vai encher a folha Cirilo: Agora eu já sei.

Ou ainda quando Cirilo vê os colegas brincando de videogame e pede para

brincar também, mas Paulo diz que se o garoto quer brincar que compre um

brinquedo daquele para si.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

11 12 13

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74

Durante o recreio Paulo, Davi e Daniel jogam videogame 11 – Davi: Eba! Já passei as três primeiras fases. Paulo: Iii, essas eu já passei oh, faz tempo Daniel: Eba ganhei uma vida Paulo: Yes, venci o último chefão. Eu sou demais! Venci primeiro que vocês, seus bobões Davi: Ah, fica quieto Paulo, eles podem perceber que a gente está jogando Paulo: Nem ligo, eu já venci mesmo. Davi: É só que eles podem pegar seu videogame e depois só devolver pro seus pais. Paulo: Ah, em todo esse tempo eles nunca pegaram o meu ta(sic) Davi! 12 – Cirilo: O que vocês estão jogando? Paulo: Nada que te interesse Daniel: Os quatro chefões, Cirilo Cirilo: Que legal, posso jogar no seu, Paulo? Paulo: Claro, que não! Cirilo: Mas por quê? Você não terminou? Paulo: Porque esse é meu. Se você quiser jogar que compre um. Cirilo: Eu nem queria brincar mesmo... Daniel: Nossa, Paulo, como você é chato. Por que você trata o Cirilo assim? Paulo: E você, senhor educação que empresta tudo? Se liga, Daniel, um dia você vai acabar se dando mal sendo bonzinho desse jeito. O mundo é dos malandros, cara. 13 – Daniel: Não, o mundo é dos inteligentes, cara. Vou passar o último agora. Tó (sic) pode jogar Cirilo, já terminei esse jogo. Cirilo: Valeu Daniel! Davi: Cirilo toma cuidado com os lobos, eles atacam. Daniel: Você viu, péra(sic) aí.

O que chama a atenção é que estas também não são cenas presentes na

versão mexicana de 1989, (pelo menos não na versão disponível). Ainda assim, é

possível perceber que em cenas que na versão mexicana de 1989, o enfoque é

dado na questão racial e nas atitudes preconceituosas da personagem Maria

Joaquina, aparecem de forma minimizada na versão brasileira de 2012. Essa

questão pode ser vista no capítulo 3 da versão mexicana de 1989, quando ao

receber uma ligação de Cirilo, Maria Joaquina pergunta a sua empregada que

“quando esse negro vai compreender que deve respeitar as diferenças que há entre

nós e me deixar tranquila.”

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1 2 3 Transcrição dos diálogos

1 – Empregada dos Villaseñor: Casa do Dr. Villaseñor, um momento, vou avisar. Maria Joaquina, é para você, um tal de Cirilo Rivera Maria Jaquina: Mas quando esse negro vai compreender que deve respeitar as diferenças que há entre nós e me deixar tranquila.Diga que eu não posso atender. 2 – Empregada dos Villaseñor: Mas ele é só um menino, Maria Jaquina 3 – Maria Jaquina(gritando): Diz para ele! Empregada dos Villaseñor: Desculpe, mas Maria Jaquina não pode atender.

Sendo que no capítulo 8 da versão brasileira de 2012, Maria Joaquina

questiona sua empregada “quando esse moleque vai entender que deve respeitar as

diferenças entre nós e me deixar tranquila. Diga pra ele que eu não posso atender.

Capítulo 8 (versão Brasileira de 2012)

2 3 Transcrição dos diálogos

1 – Joana (Empregada dos Medsen): Casa do Dr. Medsen, um momento, por favor. Maria Joaquina é pra você, um colega seu, Cirilo. Maria Jaquina: Mas quando esse moleque vai entender que deve respeitar as diferenças entre nós e me deixar tranquila.Diga pra ele que eu não posso atender. 2 – Joana (Empregada dos Medsen): Mas ele é só um menino, Maria Jaquina 3 – Maria Jaquina(gritando): Diz pra ele Joana! Joana (Empregada dos Medsen): Desculpe, mas a Maria Jaquina não vai poder atender.

Ou seja, o termo negro é substituido por moleque, o que retira o sentido mais

voltado para a questão racial. Assim, nessa fala, é demonstrado que Maria Joaquina

não quer atender o telefonema do garoto por serem diferentes, mas não por conta

das diferenças raciais, ficando subtendido que pode ser por conta de suas

diferenças com relaçao à classe.

Outro momento em que demonstra essa minimização acerca das questões

etnico-raciais e consequentemente do próprio preconceito que Maria Joaquina nutre

pelos negros reside ainda no capítulo 7 da versão Mexicana, quando a menina

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enfatiza para o pai que não quer convidar Cirilo para sua festa de aniversário pelo

fato do menino ser negro.

7 Transcrição dos diálogos

7 – Professora Helena: Doutor, Maria Joaquina tem um bom coração,mas as vezes ela se engana Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Mas não quero que ela se engane dessa vez, por causa desse problema o mundo já derrubou muito sangue, Senhorita. Maria Joaquina: Com licença. Oi papai. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina):Escute minha filha, a professora me disse coisas que realmente não me agradaram nada Maria Joaquina: Que coisas? Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Que você não quer que um colega seu vá a sua festa de aniversário porque ele é negro.Sim ou não? Maria Joaquina: Sim. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Em casa falaremos a respeito e espero que seja bastante inteligente e humana o suficiente para entender certas coisas, por hora quero apenas fazer uma advertência e você sabe que quando seu pai decide não existem lágrimas que me façam mudar de ideia. Faltam poucos dias para o seu aniversário e se esse rapaz não for convidado como os outros, não haverá festa, entendeu? Maria Joaquina:Mas papai... Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Não haverá festa, não existirá presentes, nada! Esse garoto irá a sua festa e não quero que faça nenhuma distinção com ele, entendeu bem? Se ele fosse um garoto de maus hábitos, até poderia concordar com você. Mas a Senhorita me disse que ele é um bom menino. Assim não existe motivo para desprezá-lo. É tudo, o resto conversaremos em casa.

Na versão brasileira de 2012, esse preconceito que a menina sustenta passa

a ser não apenas com relação à raça, mas principalmenete a classe, pois é

enfatizado que o motivo pelo qual a menina não quer Cirilo em sua festa é pelo fato

deles não serem “da mesma cor ou classe social”.

Capítulo 8 (versão Brasileira de 2012)

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10 11 12 Transcrição dos diálogos

10 – Professora Helena: Pode entrar Maria Joaquina. Você espera um pouquinho aqui, ta(sic) bom Cirilo? Cirilo: Tá bom, professora. Maria Joaquina: Oi papai. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Escuta filha, a professora me disse coisas que realmente não me agradaram em nada Maria Joaquina: Que coisas? 11 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Que você não quer que um colega seu vá a sua festa de aniversário porque ele não é da mesma cor ou classe social. Sim ou não? Maria Joaquina: Sim. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Em casa falaremos a esse respeito, por hora eu só quero te fazer uma advertência e você sabe que quando eu tomo uma atitude, não existem lágrimas que me façam mudar de ideia. Seu aniversário já está chegando, se esse garoto não for convidado como todos os outros, não haverá festa, todos os alunos da sua sala serão convidados. 12 – Maria Joaquina:Mas papai... Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Não haverá festa, nem presentes, nem nada! Esse garoto irá a sua festa e você não vai tratá-lo com distinção. Vai tratá-lo de uma forma decente, senão eu cancelo tudo na mesma hora. Se esse garoto fosse ruim, se ele te fizesse algum mal, até entenderia o seu desprezo. Mas a professora me disse que ele é um bom garoto, aí você não tem razão e nem motivo para menosprezá-lo. È tudo, o resto conversaremos em casa.

E essa questão reaparece no capítulo 310 da versão brasileira, cena final da

novela, quando Cirilo comenta que Maria Joaquina tornou-se amiga de todos, mas

os personagens Valéria, Jaime e Davi afirmam que ela continua sendo esnobe, ou

seja, continua se sentindo superior aos demais por conta de sua classe social.

Capítulo 310 (versão Brasileira de 2012)

1 2 3 1 – Valéria: Se fosse você, fazendo isso pra mim, eu não resistiria. Cirilo: Maria Joaquina, e você? Gente, cadê a Maria Joaquina? Jaime: Já foi fazer a parte dela do plano. 2 – Cirilo: Eu não falei, eu sempre tive razão. A Maria Joaquina tá(sic) ajudando a gente e hoje ela é amiga de todo mundo. Valéria: Mas continua sendo esnobe Davi: E fresca

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3 – Jaime: E chata Cirilo: Ah, ta bom, ta bom. Eu só quis dizer. Mas ela é linda! Valéria: Ah, Cirilo!

Assim, é possível dizer que enquanto a versão mexicana demonstra a

presença de um racismo, de certa forma, mais desmascarado por parte da

personagem Maria Joaquina, no contexto brasileiro ainda existe uma tentativa de

aliar ao preconceito racial a categoria classe e assim construir, mesmo que de

maneira sutil, uma espécie de silenciamento, que podemos analisar a partir de dois

vieses: o primeiro seria como uma relutância relativa às políticas de combate à

desigualdade racial, não dando voz ao menino e minimizando as atitudes racistas de

Maria Joaquina, e a segunda seria a manutenção quanto ao mito da democracia

racial, de que não vivemos em uma sociedade com desigualdades raciais. Desse

modo, esse silenciamento por parte das mídias em relação às desigualdades raciais

acontece priorizando o critério classe, atualizando e reificando as representações

raciais.

4.3.2. Negro ou Sujo: Mudanças e permanências com relação aos adjetivos

atribuídos ao personagem Cirilo

A partir da análise das duas versões da telenovela foi possível perceber

também algumas nuances nas palavras usadas para se referirem ao personagem

Cirilo.Por isso foi construída uma categorização, a fim de compreender se alguns

estereótipos e estigmas foram mantidos nas duas versões.

Já no primeiro capítulo da versão Mexicana de 1989, em uma aula de música,

Cirilo se irrita com Maria Joaquina e pisa em seu pé.A partir disso o que se sucede é

uma série de atribuições com relação ao indivíduo negro ser perigoso, delinquente,

baderneiro67.

Capítulo 1 (versão Mexicana de 1989)

67

Para uma melhor compreensão do texto transcrito, optei por grifar em negrito as utilizar as palavras que seriam analisadas.

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10 11 12

13 14 15

Transcrição dos diálogos 10 – Professora Helena: O que aqonteceu, Firmino? Firmino: A senhorita Matilde vai lhe contar, ela vem vindo aí com um delinquente. Professora Helena: Como um delinquente? 11 – Firmino: Ah, Veja, veja. Eu vou preparar mais um pouco de chá. Professora Helena: Cirilo???? Professora Matilde: Aqui está esse sem vergonha! Professora Helena: Porquê sem vergonha? O que ele fez? 12 – Professora Matilde: Hunf, Ainda pergunta o que ele fez? Bom, aí está o que ele fez! Cirilo deu um pisão no pé dessa menina. Professora Helena: Cirilo???? Por que fez isso? 13 – Maria Joaquina (chorando): Por que é um criminoso que deveria estar preso!!! Ai, ai, deixe eu sentar que está doendo. Eu vou morrer. 14 - Professora Helena: Não chore mais minha querida Maria Joaquina (chorando): Como dói, foi um pisão de cavalo. 15 – Professora Helena: Cirilo, vem comigo até a secretaria

Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012)

10 11 12

13 14 15

Transcrição dos diálogos 10 – Professora Helena: O que aqonteceu, Firmino?

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Firmino: A professora Matilde vai lhe contar, ela vem vindo aí com um baderneiro. Professora Helena: Como um baderneiro? Firmino: Ah, Veja, veja. Eu vou preparar mais um pouco de chá. 11 – Professora Helena: Cirilo???? Professora Matilde: Aqui está esse sem vergonha! Professora Helena: Porquê sem vergonha? 12 – Professora Matilde: Como assim você me pergunta por que sem vergonha? Veja você mesma. Pisou no pé dessa menina de propósito. Professora Helena: Por que fez isso, Cirilo? 13 – Maria Joaquina (chorando): Por que é um criminoso que deveria estar preso!!! Ai, meu pé está doendo muito. Eu vou morrer. 15 – Professora Helena: Cirilo, me espere na sala dos professores. 14 - Maria Joaquina (chorando): Ai! Como dói, foi um pisão de cavalo.Ainda bem que meu pai é um médico muito bom e pode cuidar de mim.

O termo delinqüente, utilizado na versão mexicana de 1989se refere àquele

que cometeu um delito68, assim, se configura como aquele que comete uma Infração

de preceito ou regra estabelecida.

Já na versão a brasileira de 2012, com a tentativa de minimizar o termo, o

adjetivo atribuído ao Cirilo muda e ele passa a ser chamado de “baderneiro”, que

tem sua origem na palavra baderna69, ou seja, seria aquele que causa conflito ou

desordem.

Todavia, ao utilizarem tais termos, aliados ao discurso de que o menino seria

um “sem vergonha” e que seria “um criminoso70 que deveria estar preso”, a ficção

atua reproduzindo estereótipos e mesmo preconceitos presentes no cerne da

sociedade.

68

Delito/de.li.to / sm (lat delictu) 1 Fato ofensivo das leis ou dos preceitos do direito e da moral; crime, culpa, falta. 2 Infração de preceito ou regra estabelecida. Flagrante delito: delito quando o agente que o pratica é surpreendido. "Delito", in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=delito> Acesso em 01 fev.2015 69

Baderna / ba.der.na /sf (de Baderna, np) 1 Grupo de rapazes folgazões. 2 Pândega, boêmia, noitada. 3 Súcia, malta. 4 Conflito, desordem. 5 Coisa muito usada, já fora de serviço. 6 Pessoa a quem a idade ou a falta de saúde tornou inútil. "Baderna", in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=baderna> Acesso em 01 fev.2015 70

Criminoso /cri.mi.no.so /adj (lat criminosu) 1 Que cometeu crime. 2 Cheio de crimes. 3 Inspirado por uma ideia de crime. 4 Pertencente ou relativo ao crime. 5 Que concebe o crime ou serve para o executar. 6 Em que há crime. 7 Contrário às leis morais ou sociais. sm 1 Indivíduo que, por ação ou omissão, infringiu a norma penal. 2 Réu. "Sujo", in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/index.php?lingua=portugues-portugues&palavra=criminoso> Acesso em 01 fev.2015

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Mas o que mais chamou a atenção, é que apesar da tentativa em não focar

exatamente a hierarquização com relação à questão racial, ao trocar o termo “chato”

por “sujo”, a versão brasileira de 2012 ainda ressalta atributos negativos com relação

ao personagem Cirilo, uma vez que o adjetivo sujo71, dentre seus diversos

significados, corresponde ao que não é ou não está limpo; imundo, porcalhão, porco,

sórdido, não asseado, desonesto, indecente, indecoroso, torpe, Inepto, rude,

desmoralizado e em que não se pode confiar; ou que perdeu o crédito junto a

alguém.

Capítulo 1 (versão Mexicana de 1989)

4 5 6

Transcrição dos diálogos 4 - Cirilo: Maria Joaquina, olha só essas minhocas, não são tétricas? 5 - Maria Joaquina: Ai, sai de perto de mim, por que é que você tem sempre que fazer besteira? 6 - Marcelina: Porquê você é tão má? Por que você trata ele assim? Maria Joaquina:Por que ele é um chato! Marcelina: Mas ele gosta muito de você. Maria Joaquina: A mim pouco importa.

Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012),

4 5 6

71

Sujo /su.jo / adj (cast sucio) 1 Que não é ou não está limpo; imundo, porcalhão, porco, sórdido. 2 Não asseado. 3 Desonesto, indecente, indecoroso, torpe. 4 Inepto, rude. 5 Diz-se de uma cor que parece embaciada. 6 Desmoralizado. 7 Denunciante. 8 Em que não se pode confiar; que perdeu o crédito junto a alguém. 9 Diz-se do livro ou página com incorreções ou erros de imprensa. 10 Diz-se do porto de mar, onde grassa uma epidemia (cólera, febre amarela etc.). Antôn (acepções 1, 6 e 9): limpo; (acepção 2): asseado; (acepção 3): puro. sm pop O diabo. Ficar sujo com alguém: ficar mal visto por alguém. "Sujo", in Dicionário Michaelis da Língua Portuguesa. Disponível em: <http://michaelis.uol.com.br/moderno/portugues/definicao/sujo%20_1049242.html> Acesso em 01 fev.2015

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Transcrição dos diálogos 4 - Cirilo: Você que é a Aluna nova? Maria Joaquina: Sou Cirilo:Eu fiquei muito contente que você é da nossa turma. O seu é Maria Joaquina e o meu é Cirilo. Maria Joaquina: Tanto faz 5 – Cirilo:Olha só esse pote de minhocas, eu trouxe para a aula de ciências. 6 – Maria Joaquina: Ai que nojo, leve esses bichos para bem longe de mim, seu sujo!

E essa questão relacionada à sujeira é demonstrada também no capítulo 37

da versão brasileira, quando ao conversar com a professora Helena na cantina da

escola, antes de se sentar, Maria Joaquina limpa o local onde Cirilo estava sentado

antes.

Capítulo 37 (versão Brasileira de 2012)

4 5

Apesar de tantas permanências com relação aos adjetivos atribuídos ao

personagem Cirilo e na forma de tratamento negativa quanto ao personagem, houve

algumas mudanças significativas com relação à versão brasileira de 2012

especialmente quando ainda no capítulo 1, a fala do personagem Paulo foi

substituída de “Negro covarde” para “nanico folgado”.

Capítulo 1 (versão Mexicana de 1989)

2 3

Transcrição do diálogo entre Daniel, Cirilo e Paulo 1 - Cirilo: O Davi me disse que você me chamou, Daniel. Daniel: O Paulo bateu em Marcelina. 2 – Paulo: Um homem de verdade não bate pelas costas.

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Cirilo: Paulo, se você voltar a bater na Marcelina, você vai ter que se ver comigo. Paulo : Não se meta onde não é chamado. Marcelina é minha irmã e eu lhe bato quantas vezes eu quiser. Esse problema é meu!! 3 - Cirilo: A Marcelina é boa, enquanto você não vale nada. Paulo: Hunf, Negro covarde.

Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012)

1 2 3

Transcrição do diálogo Após pegar a boneca de Marcelina, Cirilo vai tirar satisfações com Paulo: Paulo se você voltar a 1 – Paulo: Um homem de verdade não bate pelas costas. Cirilo: Nem maltrata a própria irmã. Paulo, se você voltar a se meter com a Marcelina, você vai ter que se ver comigo. Paulo: Não se meta onde não é chamado. Marcelina é minha irmã e eu maltrato ela quantas vezes eu quiser. Cêta entendendo? Esse problema é meu! 2 – Cirilo: Nada disso. A Marcelina éminha amiga e eu não quero que você maltrate mais ela,entendeu??? Paulo: Você não manda em mim, seu nanico folgado. Cirilo: A Marcelina é legal e você não vale nada Paulo : Seu covarde. Cirilo: Covarde é quem maltrata a própria irmã 3 – Laura: É isso aí, Cirilo, mostra quem manda aqui!

Ao fazer o levantamento quanto aos adjetivos usados na versão mexicana de

1989, constatamos que dos 21 adjetivos/ termos/ atributos utilizados para designar o

personagem Cirilo, 7 se apresentavam como positivos e 13 como negativos, ou seja,

65% dos adjetivos.

Gráfico 1 – Adjetivos usados para se referirem ao personagem Cirilo

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FONTE: A autora.

Mas ao fazer o levantamento quanto aos adjetivos usados na versão

brasileira de 2012, a surpresa foi que dos 25 adjetivos atribuídos ao personagem

Cirilo, apenas 7 podem ser considerados positivos, o que significa que quase 72%

dos adjetivos encontrados na narrativa se apresentam de forma depreciativa.

Gráfico 2 – Adjetivos usados para se referirem ao personagem Cirilo

FONTE: A autora.

Outra tentativa de minimização do tratamento negativo/deprecativo e com

relação à questão racial está presente na cena em que Cirilo se impõe ao modo que

Maria Joaquina o trata na aula de música. Se na versão mexicana de 1989 a menina

fala para o garoto se meter “com os de sua cor”, na versão brasileira de 2012 ela diz

para que ele “se meta com os de sua laia”.

Capítulo 1 (versão Mexicana de 1989)

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7 8 9

Transcrição dos diálogos 7 – Cirilo: Eu consegui sentar do seu lado e a professora nem notou. Maria Jaquina (irritada): É que você não tem se visto no espelho. Meta-se com os de sua cor! 8 – Chateado com a menina, Cirilo pisa no pé de Maria Joaquina. 9 – Maria Joaquina (empurrando Cirilo): Ai, ai, ai, meu pé. Olha só o que você fez! Ai seu idiota, o meu pé está doendo. Como dói!

Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012)

7 8 9

Transcrição dos diálogos 7 – Cirilo: Maria Joaquina eu consegui chegar do seu lado e a professora nem viu. Maria Jaquina (irritada): É lógico que ela não reparou em você, né? Já se olhou no espelho, Cirilo? Se meta com os de sua laia! 8 – Chateado com a menina, Cirilo pisa no pé de Maria Joaquina. 9 – Maria Joaquina (empurrando Cirilo): Ai, ai, ai, meu pé! Seu idiota, idiota

E quando as meninas (Alicia e Bibi) repreendem o comportamento de Maria

Joaquina com relação ao modo que a menina tratou Cirilo na sala de música, a fala

de Maria Joaquina nas duas versões da novela também são diferentes:

Capítulo 1 (versão Mexicana de 1989)

19 Transcrição do diálogo

19 – Maria Joaquina: Ai... Alice: Não pode reclamar, você disse coisas horríveis ao Cirilo. Eu, no seu lugar teria dado uma boa palmada em você. Maria Joaquina: Claro, como você também é negra Alice, o defende.

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Alice: Você me dá pena, Maria Joaquina, assim nunca conseguirá um amigo. Maria Joaquina: Eu não preciso de ninguém e muito menos de vocês.

Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012)

19 Transcrição dos diálogos

19 – Alicia: Você não pode reclamar, disse coisas muito feias pro(sic) Cirilo. Se eu tivesse no lugar dele, teria feito a mesma coisa. Maria Joaquina: Como você é da mesma laia que ele, você defende, é claro. Alicia: Você me dá pena, Maria Joaquina, desse jeito você nunca vai conseguir um amigo. Maria Joaquina: Eu não preciso de ninguém, muito menos de vocês.

Assim, enquanto na versão mexicana de 1989 a personagemMaria Joaquina

enfatiza que maltrata Cirilo por causa de diferenças raciais entre os dois, é possível

dizer que na versão brasileira de 2012, ao ressaltar que tanto os personagens Cirilo

quanto Alícia são da mesma “laia”, é inserida novamente a categoria classe e

desviando o olhar da questão racial. E apesar da tentativa de substituição com

relação às palavras negativas/depreciativas na versão brasileira de 2012, muitas

atribuem um significado ainda mais carregado do que o que foi apresentado na

versão mexicana de 1989.

4.3.3. Branquidade Normativa em Carrossel: Uma análise dos personagens Cirilo e

Maria Joaquina

A conturbada relação entre os personagens Maria Joaquina e Cirilo aparece

dentre os principais temas da novela. E apesar da versão mexicana (1989) e

brasileira (2012) apresentar algumas semelhanças, ao analisar a forma com que

Cirilo é tratado nos capítulos disponíveis, é possível identificar a diferença quanto ao

lugar de fala disponibilizado ao personagem com relação á personagem Maria

Joaquina, como no exemplo abaixo:

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87

Capítulo 7 (versão Mexicana de 1989) Na sala de aula as crianças fazem a lição deixada pela professora, quando Maria Joaquina faz uma piada sobre a cor de Cirilo.

3 4 5 Transcrição dos diálogos

3 – Jaime: Ei, alguém aí me diz uma palavra paróxitona. Daniel: Amor, gato, papo, Jaime você tem que se lembrar que são as palavras que a sílaba tônica sempre é penúltima. 4 – Maria Joaquina: E qual a sílaba tônica da palavra negro? (risos) 5 – Cirilo se chateia com o modo da menina, mas fica quieto.

Outro exemplo com relação à submissão e principalmente ao silenciamento

realizado com o personagem Cirilo, não apenas pelo personagem de Maria

Joaquina, mas de outros também está disponível nos capítulos 2 e 3 da versão

brasileira de 2012, onde Paulo e Kokimoto mentem para Cirilo que a diretora Olívia

está com uma doença muito grave e rara no coração: hemorróida. Os garotos

pedem para Cirilo ir perguntar como a diretora está e ele, de forma muito ingênua,

atende o pedido daqueles que ele pensa serem seus colegas.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

15 15 – Diretora Olívia : Que isso menino? Que que ta(sic) parado aí que nem uma estátua? Cirilo: É que eu to muito preocupado com a senhora Diretora Olívia: Preocupado? Eu posso saber por quê? Cirilo: A senhora já ta(sic) melhor? Diretora Olívia: Melhor do que? Cirilo: Da sua hemorróida no coração Diretora Olívia: O que? Ah, seu moleque insolente. Você vai receber uma lição, seu insolente, seu moleque, onde já se viu? Olívia fica furiosa.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

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16 17 18 16 – Diretora Olívia: Atenção, todos em fila. Cirilo vem cá. Ah, você não é o Cirilo, vai, vai... Cada classe em sua respectiva fila, em ordem. Quando tocar o sinal eu quero silencio absoluto, não quero ouvir uma mosca viva nessa escola, entenderam, não é? Cirilo: Eu não entendi o porquê ela ficou tão brava 17 – Davi: Você é burro, Cirilo, hemorróida é uma doença que dá no bumbum Cirilo: (Arrependido) Ai não! 18 – Diretora Olívia: Marchando todos para a sala de aula, direita, esquerda. (Puxando o Cirilo da fila) Senhor não, senhor fica aqui comigo. Helena está aflita preenchendo os formulários que Olívia pediu, pois o horário do recreio já acabou. Olívia faz os alunos do terceiro ano marcharem em fila até a sala de aula. Olívia alerta Helena sobre os atrasos dela, pois são constantes. As duas discutem e Olívia pede para Cirilo acompanhá-la até a diretoria.

19 20 21 19 – Professora Helena: Por que ela levou o Cirilo com ela? Paulo: Eu não faço a menor ideia 20 – Maria Joaquina: Eu sei por que professora. Porque ele é um sem educação e não merece ficar com os que têm. Professora Helena: Esse não é o caso do Cirilo, Maria Joaquina e mesmo que fosse a vida não é assim. Maria Joaquina (se dirigindo à Valéria): Bem que você falou, a cobra já ta (sic) mostrando os dentes. Marcelina: Professora, o Cirilo vai levar uma advertência? 21 – Professora Helena: Eu não sei Marcelina, eu vou ver o que eu posso fazer por ele. Mas antes vou passar uma atividade. Olívia dá uma advertência a Cirilo, que conta que foi Paulo que mandou ele pergunta se ela estava melhor da hemorróida no coração.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

22 23 24 22 – Cirilo: Por favor, diretora, não faz isso.

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Diretora Olívia: Você vai leva isso daqui pro(sic) seus pais assinarem e vai trazer de volta. E não adianta fazer essa cara não, você devia ter pensado nisso, nas conseqüências antes de ter feito a gracinha. Cirilo: Mas meus pais vão ficar muito tristes se eu levar uma advertência pra casa Diretora Olívia: Tá(sic) aí uma outra coisa que você deveria ter lembrado Cirilo: Mas eu não sabia o que era hemorróidas 23 – Diretora Olívia: Xiii. Não repita essa palavra senão você vai ser suspenso Cirilo: Mas eu não sabia que esse negócio é desse negócio Diretora Olívia: Mas porque cê(sic) sai por ai falando uma coisa que você não sabe Cirilo: Foi porque eu achava que sabia que isso era uma doença no coração Diretora Olívia: É, mas não é, escuta o que cêis (sic) andam aprendendo na sala de aula, hein? Foi a professora Helena que ensinou um absurdo desse? Cirilo: Não diretora Diretora Olívia: Então quem foi que disse? 24 – Cirilo: Foi o Paulo da minha classe. Ele me fez perguntar se a senhora tinha melhorado da hemo... Diretora Olívia: Quer dizer então que você anda metido com o Paulo Cirilo: Não é que ele falou... Diretora Olívia: Não fala mais nenhuma palavra! Espera um pouco aqui Cirilo: Mas não é nada disso... Olívia afirma a Helena que Cirilo será suspenso. Ao entrar na sala de aula, a diretora Olívia flagra Paulo em cima da mesa da professora. A diretora chama os alunos de seres primitivos e leva Paulo para a diretoria. Capítulo 3 Helena comenta com os alunos que a diretora Olívia está uma fera. Olívia repreende Paulo e Cirilo. Cirilo tenta convencer a diretora de sua inocência, mas ela pede a agenda dos dois para dar advertência.

Capítulo 3 (versão Brasileira de 2012)

1 2 3 1 – Cirilo: Já falei toda a verdade, que você me fez perguntar da hemo... Paulo: Eu falo pra diretora que tudo que você falou é uma mentira, é sua palavra contra a minha Diretora Olívia: Muito bem, pestinhas, os dois, sentem-se. (Batidas na porta) Aguarde um momento, por favor. Paulo, você sabe que a escola não é um picadeiro de circo, não sabe? Paulo: Sim, sim, senhora diretora. Estou tão arrependido pelo que fiz Diretora Olívia: Você está aqui para se tornar uma pessoa civilizada, disciplinada. Subir em cima de uma mesa com um berrante, não é uma atitude civilizada Cirilo: O Davi disse pra mim que aquilo é um shofar Diretora Olívia: O que seja, continua sendo uma atitude reprovável Paulo: Me desculpe

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Diretora Olívia: Ou, você tá(sic) pensando que vai aonde? Paulo: Embora, posso ir? Diretora Olívia: Não, não acabei, senta. O Cirilo me contou que você o incentivou a fazer aquela brincadeira de mau gosto Paulo: Que brincadeira? Cirilo: Admite Paulo, fala que você me disse que a diretora Olívia tava(sic) doente daquele negócio do coração 2 – Paulo: Ah, você tá(sic) falando disso. Desculpe senhora diretora, é que o Cirilo bagunçou tudo o que eu falei, é um desmiolado. Cirilo: Que mentiroso, eu ouvi muito bem o que você me falou Paulo: Você não sabe de nada Diretora Olívia: Calem-se os dois, eu que quero que vocês tragam a agenda de vocês aqui na minha mesa. Cirilo: Mas dessa vez eu sou inocente 3 – Diretora Olívia: Vocês sempre são inocentes, eu conheço esse artifício, viu? Já que você não querem dizer a verdade, os dois vão receber advertência na agenda Paulo: Que? Cirilo: Ah não! Paulo: A senhora poderia pelo menos devolver a corneta? Diretora Olívia: O que você acha? Escuta, que que vocês estão esperando? Eu quero a agenda, vão buscar, vão. Energúmenos!

No exemplo acima, o personagem Cirilo é enganado por Paulo e por conta

disso acaba indo parar na diretoria. Além de não lhe ser presumida a inocência,

Cirilo também não consegue explicar o ocorrido, pois, a Diretora Olívia se quer o

deixa falar. Assim, Cirilo acaba levando a culpa por algo que fez ao ser induzido por

Paulo, que ainda o chama de desmiolado. Desse modo, é perceptível que Cirilo não

é vítima apenas de Maria Joaquina, mas de outros personagens também, que o

tratam por adjetivos pejorativos, que não se referem às questões raciais, mas que

não deixam de indicar uma forma de tratamento inferiorizante como o termo

insolente, burro, desmiolado e energúmeno.

Além disso, apesar de a personagem Maria Joaquina figurar como uma

espécie de antagonista na trama de Carrossel, seja na versão mexicana de 1989,

seja na versão brasileira de 2012, a garota se apresenta não apenas em um lugar de

destaque, mas principalmente em um lugar de fala privilegiado. Essa questão é

bastante visível no capítulo 29 da versão mexicana de 1989, episódio final da

novela, aonde a professora Helena vai até o Jardim Encantado e é surpreendida por

todos os seus alunos, mas quem toma a palavra é a Maria Joaquina.

Capítulo 29 (versão Mexicana de 1989)

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1 2 3 Transcrição dos diálogos

1 – Professora Helena: Crianças, o que significa isso? Daniel: Maria Joaquina vai tomar a palavra, Professora. Maria Joaquina: Professora Helena, já vão começar as aulas e todos estávamos muito tristes pois nós só veríamos você durante o recreio, mas ao saber que você será nossa professora no terceiro ano, nós ficamos muito felizes. Professora Helena: O que está dizendo Maria Joaquina? 2 – Maria Joaquina: Meu pai conseguiu convencer a Senhora Oliva. Continuaremos juntos, Professora Helena! Professora Helena: Obrigada crianças, é a surpresa mais bonita que eu já recebi em toda minha vida. Obrigada por me dar tanto amor. Maria Joaquina: Não nos agradeça professora, assim estamos correspondendo ao amor que você nos dá. 3 – Todas as crianças: Viva a Professora Helena! Professora Helena: Crianças agradeço essas palavras tão bonitas que a Maria Joaquina me disse em nome de todos vocês. Obrigada, graças a Deus estaremos juntos novamente, para compartilhar muitas experiências belas. Teremos diversas matérias, como sempre, mas além de matemática, de história ou de geografia, nós teremos a mais importante de todas: o amor. Que Deus os abençoe. Que Deus abençoe o amor.

Outra questão é que apesar de a personagem Maria Joaquina destratar e

humilhar o personagem Cirilo, ela é sempre vista como alguém de bom coração e

incapaz de maltratar o outro, ou seja, como se o preconceito da menina para com o

personagem Cirilo fosse não apenas minimizado, mas algo que não precisaria ser

problematizado, pois se trata de uma criação da cabeça do menino.

Capítulo 6 (versão Mexicana de 1989)

18 Transcrição dos diálogos

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Transcrição dos diálogos 18 -Cirilo: Firmino me conta uma coisa, você é espanhol? Firmino: Há muito tempo. Cirilo: Nascido mesmo na Espanha? Firmino: Onde queria que eu tivesse nascido? No Japão? Cirilo: Existem negros na Espanha? Firmino: Bem, um ou outro.. Cirilo: E na Espanha também se tem ódio da minha cor, Firmino? Firmino: Porque diz também tem ódio? Por acaso aqui existe? Cirilo: Sim, aqui existe ódio dos negros. Firmino: Quem foi que disse essa bobagem? Cirilo: Maria Joaquina Firmino: Ah, não diga isso. Essa menina tão bonita seria incapaz de dizer uma coisa dessas. E essa mesma ideia se repete na versão brasileira de 2012:

Capítulo 7 (versão Brasileira de 2012)

21 Transcrição dos diálogos

21 - Firmino: Podem brincar, podem brincar, eu já disse que não preciso de ajuda. Podem ir. Cirilo: Firmino o meu pai é carpinteiro, ele pode te ajudar com esse banco. Firmino: Oh, obrigado garoto. Mas a gente não quer incomodar seu pai com o conserto bobo desse aqui de uma cadeira. Cirilo: Firmino me conta uma coisa, você é português? Firmino: Sim, há muito tempo. Cirilo: Nascido mesmo em Portugal? Firmino: Sim, onde você queria que eu tivesse nascido? No Japão? Cirilo: Existem negros em Portugal? Firmino: Sim, claro que tem. Cirilo: E eles também têm ódio da minha cor? Firmino: Porque também esse ódio? Por acaso existe esse ódio aqui? Cirilo: Sim, aqui existe ódio contra os negros. Firmino: Mas quem foi que falou essa bobagem pra você? Cirilo: Ninguém disse, é a Maria Joaquina que me odeia porque eu não sou da mesma cor que ela. Firmino: Ah, não fala isso. A Maria Joaquina é uma menina tão bonita que seria incapaz de dizer uma coisa dessas.

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Além disso, apesar de a personagem Maria Joaquina ter um comportamento

bastante preconceituoso, o discurso sobre a personagem na novela é bastante

positivo, adjetivada como uma boa representante, como alguém de bom gosto e

organizada.

Capítulo 11 (versão Mexicana de 1989)

1 2 Transcrição dos diálogos

1 – Professora Helena: Eu quero te pedir um favor. Pode ir Cirilo. Cirilo: A professora a Helena disse que você gosta de mim. Maria Joaquina: Quem? Eu? Cirilo: Viva, viva!!! Maria Joaquina: Quando ele pula parece até um chimpanzé. Que favor você quer me pedir, professora? 2 – Professora Helena: Seus amigos resolveram fazer uma visita a avó de Davi, já que é aniversário dela, e como eu não poderia ir com vocês quero que me represente. Dificilmente encontraria melhor representante do que você, o que me diz? Você aceita? Maria Joaquina: Claro professora, eu nem pensava em ir. Mas como vou para representar você, aí já é outra coisa.

E analisando a fala da Transcrição dos diálogos do capítulo 11 da versão

mexicana, o fato de a personagem Maria Joaquina comparar o personagem Cirilo se

apresenta de uma maneira ainda pior, pois não se trata apenas de comparação com

relação à cor, no caso dizer que é porque a cor do chimpanzé é preta (até pelo fato

de que há muitos outros primatas de cores diferentes). Mas é sim, uma maneira de

inferiorizar um semelhante ao ponto de desumanizá-lo ou seja, de compará-lo com

um ser irracional.

Professora Helena: Obrigada.

Capítulo 37 (versão Brasileira de 2012)

4 5

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4 – Professora Helena: Senta aqui, meu amor, a Maria Joaquina é um pouquinho orgulhosa, mas ela tem um grande coração e eu sei que gosta de você. Cirilo: É sério, eu até orei pra que ela gostasse de mim. Maria Joaquina: Você me chamou professora? Professora Helena: Chamei sim, é que eu queria te pedir um favor... Cirilo: A professora a Helena disse que você gosta de mim. Maria Joaquina: Quem? Eu? Cirilo: Viva, viva!!! 5 – Antes de se sentar, a menina limpa o lugar onde Cirilo estava sentado. Maria Joaquina: Que favor você quer me pedir, professora? Professora Helena: É que os seus amigos querem visitar a avó de Davi, e eu queria que você fosse, pra me ajudar na organização. Ah e será bom contar com seu bom gosto pra escolher as flores que vamos dar pra dona Sara. E então, aceita? Maria Joaquina: Sabe professora, eu nem tava(sic) pensando em ir. Mas como é pra ajudar você, aí já é outra coisa, né? Professora Helena: Ah, obrigada.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

1 2 3 1 – Maria Joaquina: Ai meu Deus, cadê esse motorista, quem ele pensa que é pra me deixar esperando? Professora Helena: Maria Joaquina Maria Joaquina Oi professora Professora Helena: Eu posso te fazer uma pergunta Maria Joaquina: Pode 2 – Professora Helena: Você tem algum problema com o Cirilo? Maria Joaquina: Claro que tenho, ele deu o maior pisão no meu pé, professora. Professora Helena: Mas você sabe que ele não pisou no seu pé a toa. Maria Joaquina Hunf, é que eu não fui muito com a cara dele, não é minha culpa... Professora Helena: Mas vocês acabaram de se conhecer, tenta dar uma chance para ele. Maria Joaquina: Tá bom, eu vou tentar, mas professora, o que você achou do meu desenho sobre as férias? 3 – Professora Helena: Ah, tava muito bonito, dá pra ver que você é uma aluna muito dedicada. Maria Joaquina: Brigada, o meu pai me ajuda bastante nos estudos. Ele é médico sabia? Professora Helena: É, ouvi dizer, é uma profissão muito nobre. Maria Joaquina: Ele é um dos médicos mais importantes da cidade. Professora Helena: E você deve ter muito orgulho dele, não é? Maria Joaquina: Claro que sim. Mas se algum dia você precisar, é só me avisar, imediatamente eu chamo ele pra vir pra cá. Professora Helena: Tá bom, obrigada, bom saber Maria Joaquina. Até amanhã

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Maria Joaquina: Tchau professora.

Assim, a fala quanto ao fato de Maria Joaquina ser uma “menina tão bonita”

“uma boa representante”, ser quem “toma a palavra”, não apenas lhe tira a

capacidade de ser racista e preconceituosa, como também atua visando negar os

processos de discriminação e de certo modo, ocultando a racialização das relações

sociais. Essa construção da personagem Maria Joaquina contribui significativamente

para a consolidação de uma branquidade normativa, ou seja, onde “os brancos” são

escolhidos não apenas para representar o ideal de beleza, mas o de bondade e

principalmente um lugar de privilégio com relação à fala.

Assim, conforme ressaltam Silva & Rosemberg (2007), a mídia, ao produzir

e veicular discursos que naturalizam e ressaltam essa branquidade normativa

também colaboram na produção e reprodução de um racismo estrutural e simbólico

da sociedade. Isso acontece na medida em que os atributos imputados aos brancos,

quer sejam biológicos ou étnicos, são negados tanto aos negros quanto às pessoas

mestiças de pele mais escura de forma veemente. E ainda que nas pesquisas,

realizadas pelos autores, seja demonstrada algumas modificações com relação aos

discursos midiáticos sobre negros, mas isso ainda ocorre de maneira bastante

tímida.

4.3.4. Problematizando o preconceito: Uma nova possibilidade de abordagem em

Carrossel

Temos de convir que durante o período em que a versão mexicana foi ao ar

no Brasil, ainda estávamos em um contexto onde não havia uma grande discussão

quanto às questões raciais, menos ainda quanto ao racismo na mídia, fato que

contribuiu para uma certa tolerância com relação à veiculação de cenas que na

atualidade seriam/são consideradas absurdas.

E o argumento usado por Íris Abravanel, que assina a adaptação brasileira de

Carrossel, para conservar a discussão acerca do racismo é o de que em virtude do

preconceito racial no Brasil ainda existir é que precisa ser discutido.

Entretanto, a novela reafirma a hegemonia do branco na televisão brasileira,

uma vez que apenas 1 dos 17 personagens principais é negro, embora integrem o

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elenco representantes de populações numericamente menos expressivas, como por

exemplo, judeus e japoneses.

Ou seja, mesmo considerando as informações do Censo72, de que houve uma

significativa mudança no que se refere à estrutura da população brasileira e que se

no ano 2000, 44,7% dos entrevistados declararam-se como pretos e pardos, em

2010 esse número foi para 50,7%, ou seja, mais de 50% da população brasileira é

composta por negros e pardos, a novela ainda não representa a realidade brasileira.

Gráfico 2 – Adjetivos usados para se referirem ao personagem Cirilo

FONTE: A autora

Os personagens secundários como a diretora, os professores e os

funcionários da escola também são brancos, e apesar de a faxineira, ser nordestina,

é igualmente branca.

Cirilo se apresenta não apenas como o único aluno negro, mas

principalmente como um garoto dotado de uma ingenuidade exarcebada e essa

característica caricaturada do “bom selvagem”, tão presente em diversas literaturas

colonialistas brasileiras, contribui ao ponto de que o personagem sofra nas mãos

não apenas de Maria Joaquina, mas de diversos outros alunos.

Todavia, algo que chama a atenção é que poucos foram os capítulos onde a

questão do racismo foi problematizada na versão mexicana de 1989, fato que foi

explorado de forma melhor na versão brasileira de 2012, talvez até mesmo por conta

72

Disponível em: <http://www.brasil.gov.br/educacao/2012/07/censo-2010-mostra-as-diferencas-

entre-caracteristicas-gerais-da-populacao-brasileira> acesso em 31 mar. 2015.

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do debate midiático ter se acirrado nos últimos anos, por conta das diversas políticas

publicas já comentadas no decorrer desse trabalho.

Isso não significa que a versão mexicana de 1989 não problematizou tais

questões no decorrer da trama, muito pelo contrário, houve algumas cenas em que

estes assuntos foram bastante discutidos, inclusive no emblemático primeiro

capítulo, após Cirilo pisar no pé de Maria Joaquina:

Capítulo 11 (versão Mexicana de 1989)

16 17 18

19 20 21

Transcrição dos diálogos 16 – Professora Helena: Por que você deu um pisão na Maria Joaquina Cirilo: Por nada Professora Helena: Ah coisa que não se fazem por nada, ela te fez alguma coisa? Cirilo: (negando com a cabeça): Hum, hum 17 – Professora Helena: Ela não te fez nada? Cirilo: Professora eu fiz isso por que eu sou um menino mal. Professora Helena: Olha Cirilo, eu sei que você não é um menino mal. E por isso mesmo não acho que tenha feito isso por maldade. Quer alguma coisa Daniel? 18 – Daniel: Sim, senhorita. Cirilo não teve culpa de nada, ele é muito bom. E não quero que o castigue. Professora Helena: Diga-me a verdade, Daniel. O que aconteceu? Daniel: Na aula de música... (imagens do momento em que Maria Joaquina destrata Cirilo e este pisa no pé da menina na aula de música) E foi isso que aconteceu, professora. Não chore Cirilo, todos nós te queremos muito. 19 – Maria Joaquina: Ai... Alice: Não pode reclamar, você disse coisas horríveis ao Cirilo. Eu, no seu lugar teria dado uma boa palmada em você. Maria Joaquina: Claro, como você também é negra Alice, o defende. Alice: Você me dá pena, Maria Joaquina, assim nunca conseguirá um amigo.

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Maria Joaquina: Eu não preciso de ninguém e muito menos de vocês. 20 – Professora Helena: Cirilo olha pra mim. Cirilo: Eu gosto muito de Maria Joaquina, e ela faz pouco de mim só porque eu sou negro. Por que eu tive que nascer negro? Professora Helena: Cirilo, que bobagem você está dizendo? Não há cores lindas ou menos lindas que as outras. Simplesmente há cores diferentes. Cirilo: É que ela faz pouco de mim por outra coisa, professora. Professora Helena: Que outra coisa? Cirilo: É que o pai dela é médico, enquanto o meu não é nada mais que um carpinteiro. Professora Helena: Como nada mais que um carpinteiro? Você acha que o oficio de seu pai não é admirável? Você já tinha ouvido falar que o papai do menino Jesus também era carpinteiro? Cirilo: É verdade Professora Helena: E depois, não ouviu o que disse Daniel? Seus amigos lhe querem. E agora diz, qual é a mãe mais linda do mundo? A mãe mais boa do Universo? Cirilo: A minha mãe Professora Helena: E qual é a cor da sua mãe? Cirilo: A mesma que a minha Professora Helena: E você gostaria de trocá-la por uma mamãe branca? Cirilo: Não professora, eu não trocaria ela por nenhuma mãe do mundo. 21 – Professora Helena: Então, Cirilo, não há por que chorar. Todos da sua classe lhe querem muito bem. E eu, também te quero muito bem. Cirilo: Gosta de mim...

E o mesmo se repetiu na versão brasileira de 2012

16 17

18 Transcrição dos diálogos 16 – Professora Helena: Por que você pisou no pé da Maria Joaquina Cirilo: Por nada Professora Helena: Ah coisas que não se fazem por nada, ela te fez alguma coisa? Cirilo: (negando com a cabeça): Hum, hum 17 – Professora Helena: Conta a verdade Cirilo, pode confiar em mim. Cirilo: Professora eu fiz isso professora por que eu sou um menino muito mal. Professora Helena: Olha Cirilo, eu sei que você não é um menino mal. E por isso mesmo não acho que fez isso por maldade.

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Daniel: Licença Professora Helena: Daniel, eu não posso falar com vocêr agora. 18 – Daniel: Cirilo não tem culpa de nada, ele é um menino muito bom. E não quero que castiguem ele. Professora Helena: Então conta a verdade, Daniel. Daniel: Na aula de música, ele pisou no pé da Maria Joaquina sem querer...

(2) As meninas (Alicia e Bibi) repreendem o comportamento de Maria Joaquina, que diz que Alicia pertence à mesma laia que Cirilo. Maria Joaquina fala sozinha e afirma que não precisa de ninguém, muito menos das meninas.

19 Transcrição dos diálogos

19 – Alicia: Você não pode reclamar, disse coisas muito feias pro(sic) Cirilo. Se eu tivesse no lugar dele, teria feito a mesma coisa. Maria Joaquina: Como você é da mesma laia que ele, você defende, é claro. Alicia: Você me dá pena, Maria Joaquina, desse jeito você nunca vai conseguir um amigo. Maria Joaquina: Eu não preciso de ninguém, muito menos de vocês.

(3) Ao conversar com Helena, Cirilo afirma que queria ser amigo de Maria Joaquina e que a menina não gosta dele por conta da sua cor.

20 21 22 Transcrição dos diálogos

20 – Daniel: E foi assim que aconteceu, professora. Professora Helena: Obrigada por contar a verdade Daniel. Daniel: De nada. Não fica triste seu tonto, a gente gosta muito de você! Com licença. Professora Helena: Cirilo olha pra mim. Cirilo: Eu queria ser amigo da Maria Joaquina, mas ela mal me conhece e já não gosta de mim. Eu acho que é porque eu sou negro. Por que que eu tive que nascer negro? Professora Helena:Que bobagem que você tá(sic) dizendo Cirilo? Não há cores umas mais lindas que as outras. Todas as cores são bonitas, apenas há cores diferentes. Cirilo: Mas eu acho que ele me trata mal também por outra coisa, professora. Professora Helena: Que coisa? 21 – Cirilo: É que o pai dela é médicoe o meu apenas um carpinteiro.

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Professora Helena: Como assim“apenas um carpinteiro”? Você não acha que o trabalho do seu pai é admirável? Você nunca ouviu dizer que o pai do menino Jesus também era um carpinteiro? Cirilo: É verdade Professora Helena: E depois, você não ouviu o que o Daniel disse? Todos os seus amigos gostam muito de você. Agora me diz uma coisa: quem é a melhor mãe do mundo? A mãe mais bonita de todo Universo? Cirilo: A minha Professora Helena:E qual é a cor da sua mãe? Cirilo: A mesma que a minha Professora Helena:E você gostaria de trocar a sua mãe por uma mãe, de qualquer outra cor? Cirilo: Não professora Helena, eu não trocaria minha mãe por nenhuma outra mãe do mundo. 22 – Professora Helena: Então, Cirilo, não tem motivo pra você ficar triste. Todos da sua classe gostam muito de você e eu, também! Vamos

Apesar de as cenas serem muito semelhantes, temos aqui algumas

diferenças bastante relevantes, mas nessa cena apontaremos apenas três. A

primeira se refere ao fato de que o próprio Cirilo, após ser trazido pela professora

Matilde, sendo chamado de delinqüente (versão mexicana de 1989), baderneiro

(versão brasileira de 2012) e sem vergonha (nas duas versões), se apresenta para

professora Helena como sendo um menino mal por ter pisado no pé de Maria

Joaquina, ou seja, é como se o personagem internalizasse o estereotipo de sujeito

perigoso. Na versão mexicana ele afirma que Maria Joaquina não gosta dele pelo

fato de ser negro, mas na versão brasileira de 2012 ele comenta que acha que a

menina não gosta dele por ele ser negro, ou seja, ele acredita que pode ser esse o

motivo do desprezo por parte da garota, mas não teria certeza.

O segundo reside na maneira com que Maria Joaquina fala com Alicia após a

personagem defender a atitude de Cirilo em pisar no pé da menina. Na versão

mexicana de 1989, Maria Joaquina tenta associar à defesa de Alicia o fato de Cirilo

ser negro e por isso ressalta que a menina apenas defende o garoto por ela também

ser negra, ainda que ela não seja. Já na versão brasileira de 2012, Maria Joaquina

diz que Alicia pertence à mesma laia, ou seja, que ambos possuem a mesma índole

e por isso a menina o defenderia. Em ambos os casos as palavras “negra” e “laia”

são usadas por Maria Joaquina de maneira pejorativa, tentando associar

características negativas tanto a Cirilo quanto a Alicia.

E por terceiro e último a troca das palavras realizada pela professora Helena

ao perguntar se Cirilo trocaria sua mãe por outra por causa de sua cor, e se na

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versão mexicana de 1989 a professora usa o termo “mamãe branca” já na versão

brasileira ela é substituída por “mamãe de qualquer outra cor”.

Mas o ponto em que ambas convergem se trata da forma em que o racismo é

discutido nas duas versões a partir do discurso proferido pela professora Helena de

que não existiria uma hierarquia com relação às cores, mas que somente existem

cores diferentes.

Ainda se tratando da forma em que foram mantidas algumas estruturas

quanto à discussão acerca do racismo pode ser vista na cena em o pai de Maria

Joaquina, usando duas rosas como exemplo, tentando explicar para a menina que

não existiria diferença entre as pessoas:

Capítulo 2 (versão Mexicana de 1989)

1 2 3 Transcrição dos diálogos

1 – Clara Villaseñor:Como se chama a sua nova professora? Maria Jaquina: Helena Clara Villaseñor: Helena do quê? Maria Jaquina: Helena Fernandez Clara Villaseñor: Helena é um bonito nome. Me diz como ela é... Maria Jaquina: Jovem e muito bonita. Lhe disse que você é um médico muito importante e se algum dia chegar a precisar, para que me avise e você irá imediatamente. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Espero que não haja necessidade. Como são os seus colegas? 2 – Maria Jaquina: Mais ou menos, há de tudo. Como lhe disse, temos um colega negro. Eu não acho bom que nos misturem como se fossemos todos iguais. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): E quem disse que não somos todos iguais? Maria Jaquina:Mas papai, se esse menino é negro e eu sou branca, me parece que há alguma diferença. Clara Villaseñor: Maria Joaquina, não seja depreciativa. 3 – Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Escuta filha, em uma mão eu tenho uma rosa branca e outra uma vermelha, as cores são diferentes, mas as duas são rosa. Maria Jaquina:Hunf.

Capítulo 2 (versão Brasileira de 2012)

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6 6 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Minha filha, pega uma rosa pra mim, por favor. Clara, pegue uma também, por gentileza. Obrigada. Deixa eu te explicar uma coisa. Está vendo estas duas rosas aqui? Maria Joaquina: Sim Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Você vê alguma diferença entre elas? Maria Joaquina: Claro. Uma é branca e outra é vermelha Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Mesmo assim continuam sendo rosas, certo? Maria Joaquina: Hunf. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): O problema com seu colega de classe é a mesma coisa, vocês têm cores diferentes, mas continuam sendo pessoas iguais, entendeu, Maria Joaquina? Maria Joaquina:Ai, por favor né, papai!? Uma rosa vermelha pode ser a mesma coisa que uma rosa branca, mas uma pessoa como eu não é igual uma pessoa como ele. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Ai Maria Joaquina... Maria Joaquina:Que é? Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): A vida um dia há de ensinar você.

Em se tratando de mudanças com relação à forma de tratamento dispensada

acerca do racismo e preconceito, é possível considerar como sendo uma das mais

significativas alterações a discussão, realizada na versão brasileira de 2012, entre

as personagens Valéria, Carmen, Marcelina, Bibi, Laura e Alícia.

Na versão mexicana de 1989 as meninas conversam sobre um filme chamado

Cabana do Pai Tomás73, o filme apresenta Uncle Tom e Eliza, ambos escravos da

mesma casa em Kentucky e retrata a maneira violenta e ferina com que os senhores

tratavam os negros, além das intensas lutas entre os negros em situação de

escravidão e latifundiários americanos, no contexto da Guerra da Secessão, mas

não há nenhuma discussão efetiva com relação ao preconceito e ao racismo. Pelo

contrário, fica parecendo algo “naturalizado”, triste, mas “normal” e isso se torna

ainda mais evidente quando a personagem Valéria ainda caçoa do filme ao fazer a

73

Cabana do Pai Tomás é um filme mudo americano dirigido por J. Searle Dawley, lançado em 1918. Este filme é uma adaptação cinematográfica de A Cabana do Pai Tomás, livro escrito por Harriet Beecher Stowe, publicado em 1852. Disponível em http://elmaxilab.com/definicao-abc/letra-c/cabana-do-pai-tomas.php acesso em 04 abr. 15.

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seguinte pergunta para Carmen “Mas se todos os personagens são negro, pra que

você quer a cor?” e se assinala como se fosse uma pequena brincadeira.

Capítulo 6 (versão Mexicana de 1989)

11 Transcrição dos diálogos

11 – Carmen: No domingo de tarde, minha avó me levou ao cinema, vimos o filme “A cabana do pai Tomás”. Laura: É um filme que faz chorar? Carmen: E como! Marcelina: Me conta, do que eu fala o filme? Carmen: Dos negros quando eram escravos. Metade do filme eles passam rezando. Laura: Mas há amor? Carmen: Claro que sim Laura: Eu adoro os filmes que falam de amor. Valéria: Parece muito mais que você gosta de torta de queijo com feijão Todas: hahahaha Carmen: Quando querem tirar o filho da escrava pra vendê-lo, ela foge com ele, é dificil não chorar Marcelina: Me conta como é que termina o filme. Valéria: Quando as luzes se acendem e o público vai embora Valéria, Laura, Marcelina e Carmen continuam conversando sobre o filme “A Cabana do Pai Tomás” e as aflições da escravidão, enquanto Cirilo permanece sentado ao lado das meninas, ouvindo o que dizem

Capítulo 6 (versão Mexicana de 1989)

13 Transcrição dos diálogos

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13 – Carmen: A cena do filme que mais me chocou foi na hora que o pai Tomás morre Marcelina: Ele morre? Laura: Quando morre gente nos filmes eu fico muito,muito triste, eu fico muito chocada. Valéria: Em vez de ficar chocada, fica com muito mais fome Carmen: Valéria o filme é colorido Valéria: Mas se todos os personagens são negro, pra que você quer a cor? Todas: Êêêê

Já na versão brasileira de 2012 a cena apresenta grandes mudanças, pois

durante a conversa entre Valéria, Laura, Marcelina, Bibi, Alícia e Carmen as

meninas fazem uma importante discussão acerca do preconceito e racismo.

Capítulo 7 (versão Brasileira de 2012)

12

12 – Valéria: Ainda bem que vocês foram sorteadas pra a festa da Maria Joaquina. Eu não iria sem vocês Laura: Que jeito mais anti-romântico de convidar as pessoas pra uma festa Marcelina: Coitadinho do Cirilo, ele queria tanto ir... Bibi: A Maria Joaquina trata ele muito mal. Laura: Porque ela não é nada sentimental Valéria: Não é por isso, ela não deve gostar dele por que... Bibi: Por quê? Valéria: Porque ele é de cor diferente Carmen: Mas isso é um absurdo, só uma pessoa má maltrataria alguém por esse motivo Valéria: Minha mãe sempre diz que o mundo está cheio de pessoas ruins, acho que a Maria Joaquina é uma delas. Alícia: Não importa se a cor é diferente, se é rico, se é pobre, no final todo mundo é igual e não tem por que tratar diferente. As meninas continuam conversando sobre a forma como Maria Joaquina trata o Cirilo e sobre preconceito.

Capítulo 7 (versão Brasileira de 2012)

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17 Transcrição dos diálogos

17 – Valéria: A Maria Joaquina é preconceituosa isso sim Laura: Ela nem conhece o Cirilo direito pra fazer aquilo com ele Carmen: Se ele ainda fosse igual ao Paulo, dava até pra entender, né? Marcelina: Não fala mal do meu irmão não! Alícia: Gente, preconceito é coisa do passado. Carmen: Gente desinformada e sem educação Valéria: Tá fora de moda Bibi: Até nos Estados Unidos que tinha muito preconceito tá(sic) mudando. Agora o presidente é negro. Cirilo: Presidente.

Ao considerarem a personagem Maria Joaquina como preconceituosa e

reprovarem sua atitude para com Cirilo, as personagens Valéria, Laura, Marcelina,

Bibi, Alícia e Carmen trazem a tona uma problematização quanto ao racismo e ao

preconceito. Nessa cena é possível verificar não apenas a discussão acerca do

preconceito e do racismo, mas este sendo tratado como sendo algo negativo, como

coisa “coisa do passado” e de “Gente desinformada e sem educação”. Isso se

estabelece como uma espécie de combate a postura racista da personagem. Além

disso, quando Bibi comenta com as garotas a respeito do presidente dos Estados

Unidos ser uma pessoa negra se configura como um reforço positivo para Cirilo, que

vislumbra uma nova possibilidade.

E essa readaptação do enredo levando em consideração as discussões

atuais sobre preconceito e racismo na infância74 se mostra pertinente na medida em

que a televisão reflete não apenas valores e costumes, mas principalmente pelo fato

desta exercer um relevante papel no que diz respeito à formação de opinião, e na

retroalimentação da sociedade seja com papéis de gênero, estereótipos raciais,

sociais, dentre outros.

74

Como por exemplo, a Campanha "Por uma infância sem racismo" é lançada pelo UNICEF em 20 de novembro de 2010. Disponível em: <http://www.unicef.org/brazil/pt/multimedia_19296.htm> Acesso: 01 abr.15

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4.3.5. Metamorfose de Cirilo ou uma nova redenção de Cam: Análise da trajetória

do Personagem

No decorrer da novela Carrossel, a relação entre Cirilo e a personagem Maria

Joaquina esteve no cerne da trama, tanto na versão mexicana de 1989 quanto na

versão brasileira de 2012. Entretanto, os capítulos finais das versões apresentam

diferenças estruturais.

Na versão mexicana de 1989, o último capítulo é centrado na professora

Helena e em sua possibilidade de não dar aula para as crianças no 3º ano. Mas, o

pai de Maria Joaquina conseguiu convencer a Senhora Oliva a mudar de ideia e

deixar que a professora Helena fique com as crianças mais um ano e termina com

um discurso da professora dizendo o quanto gosta das crianças e como poderão

aprender ainda muito mais juntos.

Capítulo 29 (versão Mexicana de 1989)

4 - Transcrição dos diálogos

4 – Professora Helena: Teremos diversas matérias, como sempre, mas além de matemática, de história ou de geografia, nós teremos a mais importante de todas: o amor. Que Deus os abençoe. Que Deus abençoe o amor.

Mas na versão brasileira de 2012, a trama termina de maneira bastante

diferente, além de exibir o casamento entre a professora Helena e o professor René,

o capítulo final da novela apresentou ainda um sonho das crianças sobre como seria

o futuro.

E com relação aos personagens Maria Joaquina se Cirilo, eles se casam, a

menina se torna uma estilista famosa e ele um neurocirurgião muito prestigiado no

mundo todo.

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4 5 6 Transcrição dos diálogos

4 – Narrador: A Maria Joaquina se tornou uma estilista renomada e sua grife M.J Medsen é um ícone no mundo da moda. Margarida: Ai Maria Joaquina: Que que foi Margarida, apertou de mais? Margarida: Não, ela me espetou com a agulha mesmo. Narrador: E a Margarida, hoje é uma top model, é sua modelo preferida. Maria Joaquina: Tá quase viu? Só tem que soltar um pontinho a mais. Eu quero o caimento dessa roupa mais leve, tá? Maria Joaquina essa coleção de verão vai ser um estouro. Maria Joaquina: O jet set com certeza vai ficar com a cara no chão quando ver a minha modelo mais maravilhosa de todas vestindo essas roupas, é claro. Mas Margarida, é pra comer, viu!? Eu gosto de todas as modelos com o rosto cheio de vida. 5 – Cirilo: Querida, cheguei! Maria Joaquina: Que saudades eu estava de você, meu amor... 4 – Narrador: Como podem ver, o Cirilo se tornou médico, mais especificamente neurocirurgião e ainda ganhou diversos prêmios por suas pesquisas inovadoras

Mas apesar desse romântico final, fica uma lacuna com relação a esse

casamento entre os personagens Cirilo e Maria Joaquina. Durante toda a novela o

menino foi maltratado, subjugado e humilhado pela personagem. Houve alguns

momentos de problematização (por parte de outros personagens, não de Maria

Joaquina) quanto ao posicionamento racista e preconceituoso por parte da menina e

ainda assim, realizando seu grande sonho, Cirilo se casa com sua amada.

Esse capítulo final pode ser visto como uma metamorfose com relação ao

personagem Cirilo, que de garoto estigmatizado, pobre, vítima de preconceito e

racismo, dá a volta por cima e se casa com o grande amor de sua vida, a menina

branca e rica que antes o maltratava, de lambuja torna-se um renomado

neurocirurgião e ganhador de diversos prêmios por suas pesquisas inovadoras, um

típico caso de final feliz em novela. E evidente que por se tratar de uma ficção, tudo

pode acontecer, mas esse final também acende um questionamento, que reside no

seguinte: será que houve mesmo uma metamorfose com relação ao Cirilo, uma

ascensão do personagem por ter se casado sua amada (a menina que antes o

desprezava por ser negro e pobre) e ter se tornado um grande médico

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neurocirurgião ou uma nova redenção de Cam, um branqueamento por ter se

casado com Maria Joaquina?

Esse questionamento se apresenta exatamente por conta da pouca

participação do personagem em sua cena final. O personagem Cirilo tem apenas

uma fala: “Querida, cheguei”, totalmente condicionada à sua esposa Maria Joaquina,

enquanto a explicação sobre sua nova condição social fica a cargo de um narrador.

No quadro A Redenção de Cam, pintado pelo artista espanhol Modesto de

Barros (1852-1932), demonstra o ideal de branqueamento por meio da

miscigenação.

Neste quadro, é possível observar uma mulher negra e idosa, que seria uma

jovem senhora parda sentada e em seus braços uma criança branca e ao seu lado,

também sentado, um homem branco, que se assemelha muito a um imigrante. A

pintura é um retrato de família em três gerações, marcado pelas distintas gradações

de cor entre as personagens: à esquerda, a avó negra; ao centro, a mãe, “mulata”,

que carrega um bebê branco no colo; à direita, o presumido pai da criança, também

branco. (LOTIERZO e SCHWARCZ, 2013, p.4)

Fig. 1 : Modesto Brocos. A redenção de Cam (1895).

FONTE: LOTIERZO e SCHWARCZ, 2013, p.4

Assim, de forma sintética, temos apresentadas as conclusões dos teóricos do

branqueamento, que confiavam que no decorrer de algum tempo, a partir da

miscigenação, ou seja, de relacionamentos inter-raciais o país se tornaria branco,

assim como a criança retratada na tela. Lotierzo e Schwarcz (2013) afirmam que no

quadro A redenção de Cam tem-se uma reafirmação pictórica do casal branqueado.

O mesmo pode ser pensando com relação ao personagem Cirilo, uma vez que ao se

casar com a Maria Joaquina, a menina branca, estes também estariam vivendo em

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uma relação inter-racial e conseqüentemente haveria o branqueamento de seus

filhos.

Mas ao compararmos as duas versões, não é possível negar que Cirilo

conquistou um novo lugar na versão brasileira de 2012, afinal, ele se tornou um

grande médico neurocirurgião reconhecido por suas pesquisas, como também não

podemos dizer que essa ascensão não foi em decorrência de seu casamento com

Maria Joaquina.

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5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em virtude de a televisão ser uma das estâncias socializadoras que contribui

na elaboração e transmissão de modelos e padrões; e de que as telenovelas, muitas

vezes podem ser referencias para o espectador, seja com relação á bordões ou

mesmo moda ditada por um determinado personagem, não podemos deixar de

considerar que no contexto brasileiro, esta pode se estabelecer como um elemento

de ampla influência na construção do imaginário nacional. A telenovela opera de

forma ativa na construção da realidade, em um processo permanente onde a ficção

e realidade se alimentam uma da outra, de forma que ambas se modifiquem, e

podem acabar originando novas realidades, que nutrirão outras ficções, que podem

vir a produzir outras novas realidades, e assim sucessivamente.

Por isso torna-se primordial analisarmos pelo viés sociológico como estes

produtos culturais, tão presentes em nosso cotidiano, ainda reverberam questões do

passado em nossa contemporaneidade, fazendo parte do processo de construção e

de transformação da sociedade brasileira, como esse debate em torno das questões

raciais e do racismo.

Podemos dizer que telenovela, no contexto brasileiro não se apresenta

somente como um produto da cultura da mídia, ela se configura como um dos mais

relevantes produtos ficcionais tanto por sua capacidade de angariar audiência

quanto pela capacidade de repercutir ideias e comportamentos. Esse produto

cultural atua difundindo e estabelecendo uma hierarquia de concepções e padrões

através de discursos, por meio dos quais os sujeitos podem orientar a noção que

possuem tanto de si mesmos como dos “Outros”. Nesse caminho, uma das

temáticas escolhidas nesta análise foi a questão da representação do personagem

negro em duas versões da novela Carrossel, a mexicana de 1989 e a brasileira de

2012.

O que vemos no decorrer da novela Carrossel, em ambas as versões, é a

manutenção de uma esteriotipação, e caricaturização de dois personagens em

particular, acentuando posturas, gestos e comportamentos contribuindo para

generalizações acerca de determinados grupos sociais. No caso do personagem

Cirilo o que vemos na versão brasileira de 2012 é a entrada e predominância do

elemento classe, que é utilizado desconstruindo os argumentos racistas da

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antagonista Maria Joaquina, discursos presentes na versão mexicana de 1989.

Foram eleitas duas possibilidades explicativas para isso e que não são excludentes:

a primeira se refere á uma criminalização do racismo e maior controle da sociedade

sobre esses comportamentos e a segunda o argumento da democracia racial que

reforça a desigualdade econômica em detrimento do preconceito racial.

É possível ver mudanças com relação á versão brasileira de 2012,

principalmente no que se refere ás discussões realizadas sobre preconceito, algo

que até então havia sido pouco discutido na versão de mexicana de 1989, se deva

ao fato de tivemos muitas transformações no estado das relações raciais no Brasil,

trata-se de um período de políticas públicas e de ações afirmativas em benefício da

população negra, muito por conta de uma ampla luta por parte do movimento negro

brasileiro. Além disso, é preciso considerar que houve no Brasil a criminalização do

racismo a partir da lei nº 7.716 de 1989, fato que contribuiu para um maior controle

da sociedade sobre esses comportamentos. Inclusive, circulam algumas notícias75

na internet (sem confirmação oficial) de que o Ministério Público de São Paulo teria

orientado a autora Iris Abravanel a alterar a expressão “seu negro”, pronunciada

pela personagem Maria Joaquina à Cirilo, alegando que esta poderia ser tratada

como uma ofensa aos negros.

Outra mudança substancial com relação às versões analisadas é que na

versão brasileira de 2012 houve uma reafirmação a preponderância das

desigualdades sociais em relação às desigualdades raciais, uma vez que foram

acentuadas as características com relação à condição social elevada da

personagem Maria Joaquina, deixando subentendido seu preconceito racial. O

mesmo aconteceu com Cirilo, que teve uma alteração com relação ao personagem,

enfatizando a condição social (pobreza) e minimizando a vivencia e conflitos sofridos

em virtude da condição de ser negro. E isso pode ter sido em decorrência de uma da

sustentação do mito de democracia racial, que ainda está internalizada em nossa

sociedade e acaba sendo produzida e reproduzido por meio dos produtores de

cultura, ou seja, através daqueles que estão por trás da elaboração dos mais

diversos produtos culturais, televisivos ou não.

Esse argumento da democracia racial que reforça a desigualdade econômica

em detrimento do preconceito racial acaba sendo ainda mais acentuado pelo ideal

75

Disponível em <http://www.revistaafro.com.br/mundo-afro/carrossel-emociona-o-publico-ao-falar-de-racismo-do-ponto-de-vista-infantil/> Acesso: 11 abr.15

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da branquidade normativa presente no imaginário latino-americano, se apresentando

por meio de uma exaltação estética que coloca o “ser branco” como um padrão a ser

seguido e ainda que não tenhamos essa ideologia do branqueamento como uma

política oficial, essa imposição de modelos criados a partir do padrão europeu e

estadunidense se apresenta nas telas de televisão, não apenas quando não há

visibilidade a real composição racial do país, como também quando os não brancos

são colocados em papéis subalternos, ou seja, reforçando a condição social inferior

dos personagens.

Deste modo, ao substituírem as ofensas raciais ao personagem Cirilo por

ofensas de classe acabam representando uma tentativa de legitimar a desigualdade

social, mas por meio da cor da pele, descaracterizando assim a própria questão do

racismo. E mesmo a utilização da palavra preconceito ao invés de racismo por parte

dos personagens pode ser vista como uma tentativa de suavizar a expressão e

assim, o racismo acaba sendo reduzido a um problema secundário no cerne do

preconceito social e da pobreza. Ou seja, nesse quesito, a versão brasileira de 2012

da novela Carrossel aparece reafirmando o mito da democracia racial, ao sustentar

as desigualdades sócio–econômicas entre brancos e negros, dissimulando a

permanência das discriminações raciais e do preconceito de cor.

E apesar de serem bastante tímidas em comparação com a versão mexicana

de 1989 da novela Carrossel, ainda é possível encontrar alguns avanços na versão

Brasileira de 2012, como por exemplo, aparecer como um dos únicos protagonistas

que têm um meio social composto por sua família, o vislumbre de Cirilo sobre a

existência de um presidente negro nos EUA (capítulo 7), ao fato de no futuro

(capítulo 310 – final) ele ter se tornado um grande neurocirurgião e ganhador de

diversos prêmios por suas pesquisas, assim como às discussões mais abertas

acerca do preconceito.

Mas ainda não é possível considerar que a versão brasileira de 2012 da

telenovela Carrossel tenha rompido com os discursos dominantes acerca da do mito

da democracia racial, contudo essa metamorfose com relação ao personagem Cirilo

faz parte de um lento e complexo processo pelo qual vem passando toda a

sociedade brasileira, tanto com relação à representação do negro e quanto a própria

construção de imaginário nacional.

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Assim, a partir desse estudo de como foram tratadas e transmitidas pela

novela Carrossel as imagens do personagem Cirilo tanto nas versões mexicana

(1989) quanto na brasileira (2012), os papeis sociais representados por este

personagem nas duas versões e os avanços e permanências com relação a tais

representações, esta apreciação se abre como um ponto de partida para nos

aprofundarmos em uma nova pesquisa, seguindo para uma análise de recepção,

questionando sobre como (ou se) essas imagens impactam no imaginário das

crianças brasileiras.

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7. APÊNDICES

Tabela de personagens

Personagem76

Nome do ator/atriz (versão MX de 1989)

Nome do ator/atriz

(versão BR de 2012)

Características da personagem77

Manuel Fernández

Konstantino Atanassopolus

Sonhador e criativo, é disperso e inteligente. Não é estudioso, mas tira notas boas, o que é um mistério para os colegas, já que Adriano vive caindo no sono durante as aulas.

Silvia Guzmán

Fernanda Concon

Espoleta e moleca, gosta de esportes radicais e brincadeiras de menino. Vai para todos os lugares, até mesmo para a escola, de skate. Veste-se de forma descontraída e sem muitas combinações.

Karen Nisembaum

Victória Diniz

Tem um leve sotaque da língua norte americana e vive usando palavras em inglês para se expressar. Faz a política da boa vizinhança, mas não é muito fã de contato físico ou muita proximidade. Enfrenta alguns problemas de ortografia por ter sido alfabetizada em inglês, mas tira as matérias de letra.

Eduarda Gurrola

Stefany Vaz

Meiga e doce, é educada e respeita a todos. Míope, usa óculos grandes de lentes grossas, mas não tem o menor problema com isso. Carmen é madura e enfrenta com sua mãe uma situação muito difícil: o abandono do pai.

Pedro Javier

Viveros

Jean Paulo Campos

Ingênuo e inocente, Cirilo costuma cair nas peças que seus colegas lhe pregam. Doce e de boa índole, sempre ajuda os amigos. Por ser negro e de família simples, sofre preconceito por parte de Maria Joaquina, menina pela qual se apaixona.

76

Disponível em: <http://www.olaserragaucha.com.br/blogs/pink-purpurina/5269/Saiba-quem-e-quem-em-Carrossel-nova-novela-do-SBT.html> Acesso em: 30 mar. 2015 77

Disponível em: <http://www.sbt.com.br/carrossel/personagens/> Acesso em: 30 mar. 2015

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Abraham Pons

Thomas Costa

Aluno exemplar, não se deixa levar pelas más influências. Líder intelectual da turma, não consegue ver um amigo sofrendo, nem em apuros. Por isso, funda a “Patrulha Salvadora”, composta por seus colegas de classe.

Joseph Birch

Guilherme Seta

De personalidade doce, é judeu e muito sensível. A sensibilidade e o fato de ser medroso fazem com que Davi seja visto como o chorão da classe. A única coisa que o prejudica na escola é seu romance com Valéria, já que sempre a encobre em suas confusões.

Jorge Granillo

Nicholas Torres

Com o coração de ouro, mas sem muitos modos, Jaime é gordinho, bruto e costuma resolver seus conflitos com empurrões. Enfrenta sérias dificuldades pedagógicas, é repetente e come muito e de tudo.

Rafael Omar

Lozano Léo Belmonte

Vizinho de Maria Joaquina, é o menino mais rico da sala. Prepotente e orgulhoso, possui inteligência acima dos padrões de sua idade, é maduro e acha os colegas bobos. Egoísta, Jorge é malvado e tem apenas Maria Joaquina como amiga.

Yoshiki Taquiguchi

Matheus Ueta

Japonês espevitado e baixinho, sua marca registrada é uma faixa amarrada na cabeça. Tem raciocínio rápido e tira de letra. Tem raciocínio rápido e tira de letra os problemas matemáticos. Capanga de Paulo, sempre faz parte de seus planos mirabolantes.

Hilda Chávez

ysha Benelli

Gordinha e sentimental, é a romântica da classe. Está sempre beliscando um pedacinho de comida. Boa aluna, é muito participativa nas aulas. Iludida, volta e meia acredita que algum de seus colegas está apaixonado por ela.

Georgina García

Ana Victória Zimmermann

Amorosa e sensível, a irmã mais nova de Paulo defende os injustiçados sempre que sua coragem permite. Marcelina é facilmente dominada pelo irmão. É a mais baixinha da classe e seus amigos vivem fazendo piadinhas a respeito disso.

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Ludwika Paleta

Larissa Manoela

Arrogante, pensa que por ser filha de médico, rica e bonita é superior aos seus colegas. Racista e preconceituosa, não mede palavras para ofender seu colega Cirilo, o qual despreza também por gostar dela. Costuma delatar os colegas a fim de prejudicá-los, é orgulhosa e sempre os humilha quando tem oportunidade.

Gabriel Castañon

Gustavo Daneluz

Mario perdeu a mãe e, desde então, não acredita mais em Deus. Como defesa, maltrata as pessoas e se mantém distante, com medo de se magoar. Adora os bichos e com eles tem contato próximo. Após encontrar um cachorro com a pata quebrada, o adota para si. Rabito, batizado por Mario, se torna seu melhor amigo.

Mauricio Armando

Lucas Santos

Revoltado e sem limites, está sempre aprontando com os colegas. É fã dos estilingues e zarabatanas. Usa Kokimoto como seu capanga. Seus alvos prediletos são Laura e Cirilo. Muitas vezes, desconta a raiva na irmã Marcelina. O comportamento do menino na escola é reflexo do tratamento que recebe dos pais.

Krystel Klitbo

Maísa Silva

Sapeca, está sempre metida em confusão ou bolando um plano mirabolante. Inteligente e mandona, é do tipo que tem resposta pronta para absolutamente tudo e uma piadinha sempre na ponta da língua. Sonha em ser apresentadora de TV.

Fonte: A autora

Tela de freqüência de adjetivos dispensados ao Cirilo- Versão Mexicana de 1989

Adjetivos Capítulo

Nanico 1

Folgado 1

Covarde 1

Sujo 1

Baderneiro 1

Sem Vergonha 1

Criminoso 1

Cavalo 1

Mal 1

Coitado 2

Insolente 2

Sem Educação 2

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Desmiolado 3

Coitadinho 7

Pidão 7

Coitado 7

Coração que não

7 cabe no peito

Anjo 8

Anjinho 8

Bonito 8

Chato 9

Bonito 37

Valente 199

Bendito 199

Coração Bom 199

Fonte: A autora

Tela de freqüência de adjetivos dispensados ao Cirilo- Versão Mexicana de 1989

Adjetivos Capítulos

Negro Covarde 1

Chato 1

Idiota 1

Delinquente 1

Delinguente 1

Sem vergonha 1

Criminoso 1

Cavalo 1

Mal 1

Negro 3

Negro 6

Anjo 7

Anjinho negro 7

Negro 7

Lindo 7

Chimpanzé 11

Bonito 11

Valente 19

Bons sentimentos 19

Bendito 19

Excelente colega 19 Fonte: A autora

Diário de Campo/ Tela

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1. Capítulo 1 (versão Mexicana de 1989)

A novela começa com a professora Helena chegando à Escola Mundial. Helena vê Firmino cuidando do jardim e diz que precisa conversar com a diretora Olíva e que veio por causa da vaga do 2º ano. Firmino se apresenta e diz que ela já era esperada. Ao ir para a diretoria, Helena vê as crianças brincando no pátio e se depara com Marcelina Guerra triste. Helena chega até a menina e pergunta o que aconteceu, Marcelina diz que seu irmão lhe tirou o pirulito. Firmino fala para Helena que o nome do irmão de Marcelina é Paulo e que é um verdadeiro diabinho. Firmino pede para Helena aguardar, pois, avisará, avisara a diretora que Helena chegou. Nisso, a cena corta para Paulo, que coloca um sapo dentro de piano, enquanto Daniel enxuga as lagrimas de Marcelina. Daniel chama Cirilo e conta que Paulo bateu novamente em Marcelina. Cirilo dá um chute em Paulo por causa de Marcelina. Paulo diz para Cirilo que um homem de verdade não bate pelas costas Cirilo diz para Paulo que se ele voltar a bater em Marcelina, terá que se ver com ele. Paulo diz para Cirilo não se meter onde não é chamado e que Marcelina é sua irmã, e que bate nela quantas vezes quiser. Cirilo rebate dizendo Marcelina é sua amiga, que ela é boa e que Paulo não vale nada.

1 2 3 Transcrição do diálogo entre Daniel, Cirilo e Paulo 1 - Cirilo: O Davi me disse que você me chamou, Daniel. Daniel: O Paulo bateu em Marcelina. 2 – Paulo: Um homem de verdade não bate pelas costas. Cirilo: Paulo, se você voltar a bater na Marcelina, você vai ter que se ver comigo. Paulo : Não se meta onde não é chamado. Marcelina é minha irmã e eu lhe bato quantas vezes eu quiser. Esse problema é meu!! 3 - Cirilo: A Marcelina é boa, enquanto você não vale nada. Paulo: Hunf, Negro covarde. Laura vem chegando perto de Paulo e este a chama de "gorda tonta" e que ao invés de meter o nariz onde não é chamada, porque não perde uns quilos. Laura diz para Paulo que é melhor ser "gorda tonta" do que ficar batendo na irmã. Nisso chega Maria Joaquina, que pergunta para Laura o que aconteceu. Laura conta o que houve e Maria Joaquina diz que Marcelina se faz de vítima para que Daniel venha e lhe console. Ao ver Jaime "enforcando" seus amigos, Maria Joaquina chama o menino de selvagem que responde dizendo que ela é uma presunçosa. Na diretoria, Firmino oferece um café para professora Helena, mas a Diretora Oliva pede para que ele coloque as crianças do 2º ano

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em sala. Helena fala a Olívia sobre suas experiências escolares. Já em sala, Cirilo mostra para Maria Joaquina um pote com minhocas, a menina manda Cirilo sair de perto dela, dizendo que ele só sabe fazer besteiras. Marcelina questiona Maria Joaquina por ser tão má com Cirilo, mas ela diz achar o menino chato e que pouco se importa com ele.

4 5 6 Transcrição dos diálogos 4 - Cirilo: Maria Joaquina, olha só essas minhocas, não são tétricas? 5 - Maria Joaquina: Ai, sai de perto de mim, por que é que você tem sempre que fazer besteira? 6 - Marcelina: Porquê você é tão má? Por que você trata ele assim? Maria Joaquina:Por que ele é um chato! Marcelina: Mas ele gosta muito de você. Maria Joaquina: A mim pouco importa. Nisso, Jaime entra correndo em sala dizendo que a diretora e a nova professora estão chegando e as crianças voltam para seus lugares. Ao entrarem em sala, a diretora apresenta a professora aos alunos e pede para os alunos amor e disciplina. Marcelina diz para Maria Joaquina que a professora Helena é boa, Maria Joaquina diz não saber se Helena realmente é boa e Cirilo comenta com Paulo que gosta muito da nova professora. Paulo coloca o sapo no piano da professora Matilde, que sai correndo desesperada. Professora Helena pede ajuda para os alunos, pois é sua primeira turma e diz estar muito contente em ser a professora das crianças. Professora Matilde reclama sobre o incidente com o sapo para a diretora Oliva e professora Helena ensina as crianças a soletrarem. Valéria faz uma brincadeira na hora da aula e Helena pede para que ela fique m sala na hora do recreio. O sinal para o recreio toca e as crianças saem correndo. Valeria foi falar com a professora Helena, que pede para serem amigas. Firmino pede que a professora Helena o acompanhe até a diretoria, mas ainda no pátio, ela aconselha Laura a comer menos, alegando que depois ficará difícil para que a menina perca peso. Mas Laura justifica dizendo que sente muita fome. Ao chegar à sala da diretora Helena ouve as reclamações de professora Matilde com relação às crianças. Após o recreio, os alunos se direcionam para a sala de música, onde fazem um grande alvoroço, mas Professora Helena entra antes e organiza os alunos e antes de voltar para sua sala, pede para que se comportem bem. Quando começam a cantar, Cirilo sai de seu lugar e senta ao lado de Maria Joaquina:

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7 8 9 Transcrição dos diálogos 7 – Cirilo: Eu consegui sentar do seu lado e a professora nem notou. Maria Jaquina (irritada): É que você não tem se visto no espelho. Meta-se com os de sua cor! 8 – Chateado com a menina, Cirilo pisa no pé de Maria Joaquina. 9 – Maria Joaquina (empurrando Cirilo): Ai, ai, ai, meu pé. Olha só o que você fez! Ai seu idiota, o meu pé está doendo. Como dói! Firmino avisa a professora Helena que a Professora Matilde trazendo Cirilo:

10 11 12

13 14 15 Transcrição dos diálogos 10 – Professora Helena: O que aqonteceu, Firmino? Firmino: A senhorita Matilde vai lhe contar, ela vem vindo aí com um delinquente. Professora Helena: Como um delinquente? 11 – Firmino: Ah, Veja, veja. Eu vou preparar mais um pouco de chá. Professora Helena: Cirilo???? Professora Matilde: Aqui está esse sem vergonha! Professora Helena: Porquê sem vergonha? O que ele fez? 12 – Professora Matilde: Hunf, Ainda pergunta o que ele fez? Bom, aí está o que ele fez! Cirilo deu um pisão no pé dessa menina. Professora Helena: Cirilo???? Por que fez isso? 13 – Maria Joaquina (chorando): Por que é um criminoso que deveria estar preso!!! Ai, ai, deixe eu sentar que está doendo. Eu vou morrer. 14 - Professora Helena: Não chore mais minha querida Maria Joaquina (chorando): Como dói, foi um pisão de cavalo. 15 – Professora Helena: Cirilo, vem comigo até a secretaria

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Bibi repreende o comportamento de Maria Joaquina, que resmunga. Na secretaria, Professora Helena pergunta novamente o motivo pelo qual Cirilo pisou no pé de Maria Joaquina.

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19 20 21 Transcrição dos diálogos 16 – Professora Helena: Por que você deu um pisão na Maria Joaquina Cirilo: Por nada Professora Helena: Ah coisa que não se fazem por nada, ela te fez alguma coisa? Cirilo: (negando com a cabeça): Hum, hum 17 – Professora Helena: Ela não te fez nada? Cirilo: Professora eu fiz isso por que eu sou um menino mal. Professora Helena: Olha Cirilo, eu sei que você não é um menino mal. E por isso mesmo não acho que tenha feito isso por maldade. Quer alguma coisa Daniel? 18 – Daniel: Sim, senhorita. Cirilo não teve culpa de nada, ele é muito bom. E não quero que o castigue. Professora Helena: Diga-me a verdade, Daniel. O que aconteceu? Daniel: Na aula de música... (imagens do momento em que Maria Joaquina destrata Cirilo e este pisa no pé da menina na aula de música) E foi isso que aconteceu, professora. Não chore Cirilo, todos nós te queremos muito. 19 – Maria Joaquina: Ai... Alice: Não pode reclamar, você disse coisas horríveis ao Cirilo. Eu, no seu lugar teria dado uma boa palmada em você. Maria Joaquina: Claro, como você também é negra Alice, o defende. Alice: Você me dá pena, Maria Joaquina, assim nunca conseguirá um amigo. Maria Joaquina: Eu não preciso de ninguém e muito menos de vocês. 20 – Professora Helena: Cirilo olha pra mim. Cirilo: Eu gosto muito de Maria Joaquina, e ela faz pouco de mim só porque eu sou negro. Por quê eu tive que nascer negro? Professora Helena: Cirilo, que bobagem você está dizendo? Não há cores lindas ou menos lindas que as outras. Simplesmente há cores diferentes. Cirilo: É que ela faz pouco de mm por outra coisa, professora.

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Professora Helena: Que outra coisa? Cirilo: É que o pai dela é médico, enquanto o meu não é nada mais que um carpinteiro. Professora Helena: Como nada mais que um carpinteiro? Você acha que o oficio de seu pai não é admirável? Você já tinha ouvido falar que o papai do menino Jesus também era carpinteiro? Cirilo: É verdade Professora Helena: E depois, não ouviu o que disse Daniel? Seus amigos lhe querem. E agora diz, qual é a mãe mais linda do mundo? A mãe mais boa do Universo? Cirilo: A minha mãe Professora Helena: E qual é a cor da sua mãe? Cirilo: A mesma que a minha Professora Helena: E você gostaria de trocá-la por uma mamãe branca? Cirilo: Não professora, eu não trocaria ela por nenhuma mãe do mundo. 21 – Professora Helena: Então, Cirilo, não há por que chorar. Todos da sua classe lhe querem muito bem. E eu, também te quero muito bem. Cirilo: Gosta de mim...

2. Capítulo 2

A cena começa com Cirilo contando aos colegas que ganhou um beijo da professora Helena. Professora Helena entra em sala e vê Carmem sozinha, quieta em sua carteira, nisso pergunta a menina o que ela tem. Carmem responde que não tem nada e a professora argumenta que a menina tem se mostrado muito apática e demonstrado falta de interesse nas aulas, e que por isso terá que ir para a escola acompanhada de seu pai. Carmen questiona se pode ser sua mãe e a professora diz que pode ser qualquer um dos dois. Ao final da aula encontra seu pai e ele pergunta como está a mãe da garota. O ai de Carmen leva a garota para comer junto com ele. Professora Helena encontra Maria Joaquina no pátio e pergunta se o pai dela é médico e a menina responde que sim, e que caso a professora precise dele algum dia, é só comunicar a garota. Helena agradece e se despede de Maria Joaquina. No restaurante, Carmen conta para seu pai que sente muito a sua falta e que nem consegue comer direito de tanta saudade. O pai diz que ela é uma mocinha e que já tem idade para compreender o que está acontecendo, mas ela diz que esse não é um problema dela, que é apenas uma menina, mas das pessoas grandes e começa a chorar, dizendo que quer muito que seus pais fiquem juntos. Na hora do almoço, a família Villaseñor conversa sobre o primeiro dia de aula de Maria Joaquina.

1 2 3 Transcrição dos diálogos 1 – Clara Villaseñor:Como se chama a sua nova professora? Maria Jaquina: Helena Clara Villaseñor: Helena do quê? Maria Jaquina: Helena Fernandez

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Clara Villaseñor: Helena é um bonito nome. Me diz como ela é... Maria Jaquina: Jovem e muito bonita. Lhe disse que você é um médico muito importante e se algum dia chegar a precisar, para que me avise e você irá imediatamente. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Espero que não haja necessidade. Como são os seus colegas? 2 – Maria Jaquina: Mais ou menos, há de tudo. Como lhe disse, temos um colega negro. Eu não acho bom que nos misturem como se fossemos todos iguais. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): E quem disse que não somos todos iguais? Maria Jaquina:Mas papai, se esse menino é negro e eu sou branca, me parece que há alguma diferença. Clara Villaseñor: Maria Joaquina, não seja depreciativa. 3 – Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Escuta filha, em uma mão eu tenho uma rosa branca e outra uma vermelha, as cores são diferentes, mas as duas são rosa. Maria Jaquina:Hunf. Na hora do almoço, a família Rivera também indaga ao filho Cirilo como foi seu primeiro dia na escola.

4 5 6 Transcrição dos diálogos 4 – José Rivera (Pai de Cirilo): É boa a sua nova professora? Cirilo:É boa como um pedaço de pão. Belém Rivera (Mãe de Cirilo):Não vá sujá-la de marmelada, hein?! hahaha José Rivera (Pai de Cirilo): E seus colegas também são bons? Cirilo:Muito bons e nos divertimos muito.As meninas são lindíssimas José Rivera (Pai de Cirilo): Então filho, não é muito novo para entender que as meninas são lindas? hahaha Belém Rivera (Mãe de Cirilo):Herdou de você, paixãozinha! 5 – De todas as meninas há uma mais bonita, parece uma boneca. José Rivera (Pai de Cirilo): Como ela se chama? Cirilo:Se chama Maria Joaquina, seu pai é medico. 6 – Cirilo:Eu quero ser seu amigo, mas eu acho que ela não quer ser. Durante o almoço Maria Joaquina contesta se pai, dizendo que uma menina branca não pode ser o mesmo que um menino negro.

7 8 Transcrição dos diálogos

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7 – Maria Jaquina:Por favor, papai, uma rosa vermelha pode ser o mesmo que uma rosa branca, mas uma menina branca não pode ser o mesmo que um menino negro. 8 – Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Às vezes sinto pena de você, Maria Joaquina. Na oficina de Rafael Palilo (pai do Jaime), o menino chega da escola e diz que não entendeu a lição de matemática e seu pai diz que ele está cada dia mais burro, Jaime questiona o pai e diz que pode ter vindo de família, já que sua avó lhe contou que seu pai era o pior aluno da classe. O pai fala sozinho, dizendo que pelo menos Jaime é um bom menino. Antes de dormir Carmen conversa com sua mãe sobre não conseguir dormir e avisa que terá que lhe acompanhar na escola. No dia seguinte, Inês Carrilho (mãe de Carmen) vai conversar com a professora Helena. Miguel Villaseñor vai pegar seu carro na oficina de Rafael Palilo. Inês Carrilho conta para a professora Helena que ela e seu marido estão separados. Miguel Villaseñor conversa com Rafael Palilo sobre o comportamento de seus filhos. Professora Helena conversa com Inês Carrilho sobre a separação e sobre o comportamento de Carmen. As crianças são levadas para a sala de aula pela diretora Olivia, enquanto a professora Helena pede para Firmino levar Carmen até o laboratório. Professora Helena conversa com Carmen sobre a separação e a menina cai no choro.

3. Capítulo 3 Carmen chora e diz para Professora Helena que seu pai saiu de casa. Em sala de aula as meninas conversam sobre a bondade e aparência da Professora Helena, até que Firmino entra em sala para ver a bagunça das crianças. Professora Helena aconselha Carmen a se aproximar mais do pai, Firmino avisa a professora da bagunça que os alunos estão fazendo. Firmino repreende as crianças e pede para que eles se comportem. As crianças conversam sobre a situação de Carmen. Carmen agradece a professora Helena pelos conselhos. As crianças continuam fazendo bagunça. Professora Helena leva Carmen até a sala, quando encontram com a diretora no pátio. A diretora Oliva conversa com Firmino sobre as vidraças quebradas. Em sala de aula, Professora Helena pede para que Cirilo recolha as composições feitas por seus colegas. O sino do final da aula toca e ao sair de sala, Carmen encontra com seu pai no pátio. Já em casa, o pai de Cirilo pergunta o que o menino está fazendo e este responde que está separando algumas flores para entregar para sua amiga. Carmen conversa com o pai em um restaurante, quando ele avisa que irá jantar com ela e sua mãe. Na casa de Cirilo, o menino conta para seu pai que Carmen está muito triste com a separação dos pais e que ficou muito triste com a situação. Os pais de Cirilo comentam como criaram um bom menino. Já na casa de Jaime, a família conversa sobre a separação dos pais de Carmen enquanto almoçam. A família de Maria Joaquina faz o mesmo. Jaime diz que pouco se importa com a separação dos pais de Carmen e seu pai lhe dá um sermão, dizendo que menino precisa ter caridade. Carmen conta para a mãe que seu irá jantar com elas. Jaime brinca de bola quando o telefone toca e ao atender descobre que é sua amiga Carmen, a menina muito feliz, conta que naquela noite seu pai jantará com ela e a mãe. Jaime liga para Valeria e conta a novidade sobre os pais de Carmen para a colega. Por sua vez, Valéria liga para contar a novidade ao Cirilo. O menino agradece ao seu Santo de devoção pela boa notícia e liga para Maria

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Joaquina a fim de contar a novidade. Mas na casa dos Villaseñor, quando a empregada atende ao telefone...

1 2 3 Transcrição dos diálogos 1 – Empregada dos Villaseñor: Casa do Dr. Villaseñor, um momento, vou avisar. Maria Joaquina, é para você, um tal de Cirilo Rivera Maria Jaquina: Mas quando esse negro vai compreender que deve respeitar as diferenças que há entre nós e me deixar tranquila.Diga que eu não posso atender. 2 – Empregada dos Villaseñor: Mas ele é só um menino, Maria Jaquina 3 – Maria Jaquina(gritando): Diz para ele! Empregada dos Villaseñor: Desculpe, mas Maria Jaquina não pode atender. Os pais de Carmen conversam após o jantar e se reconciliam.

4. Capítulo 6 Cirilo vai até a igreja para rezar. Na casa dos Villaseñor, Maria Joaquina conversa com seu pai sobre sua festa de aniversário e avisa que convidará apenas alunos colegas de sua classe. Na casa de Cirilo, o menino pede dinheiro para comprar um presente de aniversário para a menina. Maria Joaquina avisa ao pai que fará um sorteio para selecionar os colegas. No lar de Jaime, durante o jantar, a família conversa sobre o sorteio que Maria Joaquina fará. Na residência da professora Helena, ela conversa com sua mãe sobre seus alunos e o quanto gosta deles. Assim como a família de Jaime, a família de Cirilo também conversa sobre o sorteio de Maria Joaquina e avisa ao menino que apenas comprará o presente se acaso for sorteado. No outro dia, Maria Joaquina se encontra com Paulo no pátio da escola e pergunta ao menino se ele quer ganhar um dinheiro para ajudá-la a retirar o Cirilo do sorteio.

1 Transcrição dos diálogos 1 – Maria Jaquina: Oi Paulo, quer ganhar um dinheiro? Paulo: Que que foi? Maria Jaquina: Quer ganhar um dinheiro?

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Paulo: Que que eu faço? Maria Jaquina: Vou organizar um sorteio pra ver quem eu convido para o meu aniversário. Não quero que o Cirilo seja sorteado de maneira alguma. Quero que você me ajude. Paulo acena que sim com a cabeça. Cirilo conversa com Daniel sobre o aniversário de Maria Joaquina. e pergunta o que ele. Daniel responde que não sabe e que vai esperar ver se será sorteado. Cirilo reponde que tem certeza que será sooreteado, pois foi a igreja e rezou muito.

2 Transcrição dos diálogos 2 – Cirilo: O que você está pensando em pretende dar de presente para Maria Jaquina Daniel: Eu não sei, primeiro vou ver se serei sorteado, Cirilo. Cirilo: Eu tenho certeza que serei sorteado porque eu fui a igreja e rezei como um louco.E se eu ando direito com Deus, então Deus também tem que andar direito comigo.Eu rezei também para São Martin dos pobres. Daniel sorri Maria Joaquina continua sua conversa com Paulo

3 Transcrição dos diálogos 3 – Maria Jaquina: Na hora de juntar os papeizinhos dentro da caixa, você diz pra o Cirilo: “me dá seu papelzinho que eu quero ver”. E ao invés de colocá-lo na caixa, voce joga fora, combinado? Paulo: Tá certo, mas eu sempre cobro adiantado. E se não me der nada agora, eu já conto pra todo mundo. Maria Jaquina: Tá certo, Paulo, eu te dou a metade agora e o resto depois. Paulo: Nada disso, eu quero esse pagamento agora

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Cirilo e Daniel continuam conversando e Cirilo comenta que gostaria muito de ir a festa de aniversário da menina. Nisso, Maria Joaquina vai até onde os meninos estão e diz o seguinte:

4 5 6 Transcrição dos diálogos

4 – Maria Jaquina: Daniel, isso é pra você (entregando o convite ao garoto) Daniel: O que é? Maria Jaquina: O convite para a minha festa de aniversário. 5 – Daniel: Mas você ainda não fez o sorteio. Maria Jaquina: É claro que o melhor aluno da classe não precisa entrar no sorteio. E o melhor aluno é Daniel. Assim eu te convido direto. Daniel: Muito obrigada. 6 – Cirilo: Maria Joaquina... Maria Jaquina:O que? Cirilo: E eu?Não serei convidado diretamente? Maria Jaquina:Cirilo, você é como os demais e não faça perguntas bobas, espero o sorteio. Maria Joaquina sai de perto dos garotos. Nisso chega Paulo, com uma caixa de sapato na mão, para que as crianças coloquem seus nomes a fim de participarem do sorteio.

7 Transcrição dos diálogos 7– Paulo: Coloquem aqui seus papeis pro sorteio. Cirilo: Aqui está o meu papel pro sorteio. Ai meu São Martin dos Pobres me ajude! Conforme combinado com Maria Joaquina, Paulo retira o papel com o nome de Cirilo de dentro da caixa. e pede para que as demais crianças coloquem os papeis com seus nomes dentro da caixa para o sorteio. Quando o sorteio começa, o nome de Cirilo não é chamado. Em casa, o Cirilo reclama para o pai que não foi sorteado. Nisso chega Daniel e pede para falar com o amigo. Daniel relata para Cirilo que não poderá ir a festa de Maria Joaquina,pois, saíra com seus pais e que por isso foi até lá ceder o convite para Cirilo. O garoto, muito feliz, liga em seguida para Maria Joaquina.

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8 9 10 Transcrição dos diálogos 8 – Maria Joaquina: Sim, quem fala? Ah, você 9 – Cirilo: Eu vi que quando meu papel não foi sorteado, você ficou muito triste, por isso eu liguei, pra você ficar contente.Porque o Daniel não pode ir a sua festa, então ele deu o convite dele pra mim. 10 – Maria Joaquina: Que? Como? Após desligar o telefone a menina diz: Maria Joaquina: Eu? Triste? Porque o Cirilo não foi sorteado? Antes de começar a aula, Valéria, Laura, Marcelina e Carmen conversam sobre o filme “A Cabana do Pai Tomás” e explica para as meninas que se trata de um filme sobre escravidão dos negros e que é impossivel de não se emocionar com a história.

11 Transcrição dos diálogos

11 – Carmen: No domingo de tarde, minha avó me levou ao cinema, vimos o filme “A cabana do pai Tomás”. Laura: É um filme que faz chorar? Carmen: E como! Marcelina: Me conta, do que eu fala o filme? Carmen: Dos negros quando eram escravos. Metade do filme eles passam rezando. Laura: Mas há amor? Carmen: Claro que sim Laura: Eu adoro os filmes que falamn de amor. Valéria: Parece muito mais que você gosta de torta de queijpo com feijão Todas: hahahaha Carmen: Quando querem tirar o filho da escrava pra vendê-lo, ela foge com ele, é dificil não chorar Marcelina: Me conta como é que termina o filem Valéria: Quando as luzes se acendem e o público vai embora

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Ao chegar na escola, Maria Joaquina vai direto falar com Daniel.

12 Transcrição dos diálogos

12 – Maria Joaquina: Daniel, preciso falar com você. Vamos para o outro pátio. Daniel: Está bem. Jaime: Ah, mas que bom, chegou a marquesa do orgulho. Daniel: O que você quer. Maria Joaquina: Ontem sorteamos os colegas que vão na minha festa. Eu te disse que você não entraria no sorteio, Daniel, e dei para você pessoalmente o convite. Daniel: Sim Maria Joaquina: Mas o que parece, o convite que eu dei pra você, você deu pro Cirilo. Daniel: É verdade, porque nesse dia eu tenho que sair com meus pais, assim não posso ir. Maria Joaquina: Se você não pode ir na minha festa, devia ter me dito.Me devolvido o convite, eu não ficaria chateada. Você não tinha o direito de convidar alguém por sua conta. È o meu aniversário e não o seu! Daniel: Me desculpe, mas Cirilo tinha tanta vontade de ir... Maria Joaquina: Pois que fique com a vontade dele, mesmo que ele tenha o convite, ele não vai entrar na minha casa. Vou falar com ele agora mesmo! Daniel: Não Maria Joaquina, não faça isso. Você vai causar a maior desilusão da vida dele. Maria Joaquina: Eu não tô nem aí, o que eu não quero é que ele entre na minha casa. Valéria, Laura, Marcelina e Carmen continuam conversando sobre o filme “A Cabana do Pai Tomás” e as tristezas da escravidão, enquanto Cirilo permanece sentado ao lado das meninas, ouvindo o que dizem

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Transcrição dos diálogos 13 – Carmen: A cena do filme que mais me chocou foi na hora que o pai Tomás morre Marcelina: Ele morre? Laura: Quando morre gente nos filmes eu fico muito,muito triste, eu fico muito chocada. Valéria: Em vez de ficar chocada, fica com muito mais fome Carmen: Valéria o filme é colorido Valéria: Mas se todos os personagens são negro, pra que você quer a cor? Todas: Êêêê Chega Maria Joaquina e pede para falar com Cirilo.

13 14 15 Transcrição dos diálogos

13 – Maria Jaquina: Cirilo... Cirilo: O que é? Maria Joaquina: Eu tenho que falar uma coisa. Cirilo: Comigo? Maria Joaquina: É, com você. Cirilo: Pode falar. 14 – Professora Helena: Assim é que eu gosto, conversando como dois bons amigos. Maria Joaquina: Olha aqui, quando sorteamos os convites para a festa do meu aniversário, você não foi sorteado Cirilo:Eu sei, Maria Joaquina, mas o Deniel me deu o seu convite pra eu poder ir na sua festa. Maria Joaquina:Mas não é bem assim. Os sorteios acontecem para que as pessoal saibam quem foi contemplado. E as pessoas que não foram contempladas tem que se conformar com a sorte.Mas com você foi diferente. Eu quero que me devolva o convite. Cirilo (chorando): Mas Maria Joaquina eu não roubei o convite, foi o Daniel que me deu. Pergunte a ele se quiser. Maria Joaquina (arrogantemente): Eu não tenho que perguntar nada. Absolutamente nada.Nas festas que eu dou eu só convido quem eu quero que realmente vá. Onde está o convite? Cirilo (chorando):Está na minha mochila, mas não me peça... Maria Joaquina (arrogantemente):Eu não estou pedindo em vão, eu só quero o que me pertence. Cirilo (chorando): Maria Joaquina, por favor! Maria Joaquina (brava): Me devolva o convite, antes que eu tenha que proibir sua entrada em minha casa.

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15 – Maria Joaquina toma o convite das mãos de Cirilo

16 17 Transcrição dos diálogos 16 – Maria Joaquina (com o convite na mão): Você poderia ter tido mais cuidado, está horrivel. 17 – A menina rasga o convite e joga os papéis em cima da cabeça de Cirilo. Nisso, Daniel chega perto de Cirilo, pergunta ao amigo se ele viu o que Maria Joaquina fez com o convite. Daniel pede para que Cirilo não chore, pois, existem coisas muito mais importantes na vida, como a nobreza de sua alma. Em sala de aula, Adriano é derrubado por Valéria e a professora Helena chama a atenção da menina. Durante o recreio Cirilo permanece em sala de aula e a professora pergunta o que ele tem e o menino responde que não é nada. Já no pátio, Cirilo inicia uma conversa com Firmino.

18 Transcrição dos diálogos 18 -Cirilo: Firmino me conta uma coisa, você é espanhol? Firmino: Há muito tempo. Cirilo: Nascido mesmo na Espanha? Firmino: Onde queria que eu tivesse nascido? No Japão? Cirilo: Existem negros na Espanha? Firmino: Bem, um ou outro.. Cirilo: E na Espanha também se tem ódio da minha cor, Firmino? Firmino: Porque diz também tem ódio? Por acaso aqui existe? Cirilo: Sim, aqui existe ódio dos negros. Firmino: Quem foi que disse essa bobagem? Cirilo: Maria Joaquina Firmino: Ah, não diga isso. Essa menina tão bonita seria incapaz de dizer uma coisa dessas. A cena corta para Maria Joaquina, que conversa com Daniel.

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19 Transcrição dos diálogos

19 – Maria Joaquina: Esse negro jamais entrará em minha casa,Daniel, nunca!. Daniel: Algum dia Deus castiga, Maria Joaquina, parece que você não tem coração. A cena retorna para a conversa entre Firmino e Cirilo.

20 Transcrição dos diálogos 20 – Firmino: Maria Joaquina tem um grande coração. Ela não lhe deu um convite para você ir a festa dela? Cirilo: Ela tirou o convite de mim Firmino: Como? Cirilo: E rasgou na minha cara. Firmino: Cirilo, uma andorinha não faz verão. Pelo fato dela ter sido injusta com você, não deve achar que todas as pessoas são iguais.

5. Capítulo 7 O capítulo inicia com a retomada da conversa entre Cirilo e Firmino. Em seguida, a cena corta para a sala de aula, onde está a professora Helena, Firmino bate na porta e pede lincença para entrar. Ao entrar em sala, Firmino inicia uma conversa com a professora e conta que Cirilo estava chorando por causa da atitude de Maria Joaquina.

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1 – Firmino: Com licença Senhorita Helena, aqui está o cesto de sua sala. Ah que bom, Firmino, pode deixá-lo aí. Firmino: Senhorita Helena Professora Helena: Que é? Firmino: Cirilo está chorando Professora Helena: Porque? Firmino: Maria Joaquina pediu de volta o convite de sua festa de aniversário e ainda rasgou na cara do menino. Professora Helena: Porque ela fez isso? Firmino: Bem, Cirilo acha que ela fez isso porque ele é negro. Professora Helena: Que menina insensivel Firmino: Tão bonita e com essas ideias. Eu não sei onde ela aprendeu essas coisas. Bem, está na hora de eu ir tocar a campainha Já em sala, a professora pede para que a garota avise seu pai para comparecer a escola, pois,precisam conversar. Já na casa dos Villaseñor, Maria Joaquina avisa ao pai que a professora preecisa falar com ele. Na casa de Jaime, o menino conversa com seu pai sobre sua ida a festa de Maria Joaquina. No outro dia, o pai de Maria Joaquina comparece a escola.

2 Transcrição dos diálogos

2 – Professora Helena: Bom dia Dr., eu sou professora de Maria Joaquina. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): È um prazer conhecê-la, senhorita. Maria Joaquina me disse que estão faltando alguns documentos. Professora Helena: Não doutor, esse foi apenas um pretesto, porque eu precisava falar com o senhor. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Algum problema com a minha filha? Professora Helena: Maria Joaquina é uma excelente aluna e tem uma conduta admirável.

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Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): E daí? Professora Helena: Bem doutor, é um assunto bastante delicado. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Sim, pode falar. Professora Helena: Maria Joaquina deixou de convidar alguns amigos para o seu aniversário, acabou fazendo sorteio, não sei se sabe disso. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Sim, eu sei, esse procedimento me chamou muito a atenção, senhorita. Professora Helena: Cirilo, um menino encantador que gosta muito de Maria Joaquina, infelizmente não foi sorteado, mas conseguiu um convite com outro aluno, mas Maria Joaquina pediu que ele devolvesse o convite e o rasgou na cara dele. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): O que? Rasgou? Professora Helena: Sim, ela não quer que o garoto vá a sua festa. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Por que? Professora Helena: Porque ele é negro. Doutor, não sei o que o senhor pensa a respeito de certas coisas. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Que coisas, senhorita? Professora Helena: A cor das pessoas. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Senhorita se você imagina que eu compactuo com injustiças, não, de jeito nenhum. Professora Helena: É bom ouví-lo falar assim. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Como é esse garoto, não me refiro a sua cor, mas a sua maneira de agir. Professora Helena: Um anjo, doutor, um anjinho negro Na sala de aula as crianças fazem a lição deixada pela professora, quando Maria Joaquina faz uma piada sobre a cor de Cirilo.

3 4 5 Transcrição dos diálogos 3 – Jaime: Ei, alguém aí me diz uma palavra paróxitona. Daniel: Amor, gato, papo, Jaime você tem que se lembrar que são as palavras que a sílaba tônica sempre é penúltima. 4 – Maria Joaquina: E qual a sílaba tônica da palavra negro? (risos) 5 – Cirilo se chateia com o modo da menina. De volta a conversa entre Professora Helena e Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina), a Professora continua falando sobre as virtudes de Cirilo.

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6 Transcrição dos diálogos 6 – Professora Helena:Cirilo é um menino muito bom, muito bom mesmo. Adora Maria Joaquina e vive fazendo favores só para se aproximar dela. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): E Maria Joaquina? Professora Helena: O despreza. Perdoa se estou sendo tão dura contando tudo isso. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): È muito pior do que imagina Professora Helena: É que eu tenho que cuidar dos meus alunos e o garoto sofre, não sabe o quanto! O aniversário de sua filha era um sonho pra ele, um grande sonho. Perdoa de novo. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Ao contrário, senhorita, sua atitude protege não apenas esse garoto, mas também a minha filha. Poderia chamar a Maria Joaquina Professora Helena: Pra quê? Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Não se assuste, senhorita. Farei o que precisa ser feito. Professora Helena: Está bem. Professora Helena abre a porta e chama Firmino, pede para que ele chame Maria Joaquina, e Miguel Villaseñor pede para que depois Cirilo seja chamado, mas sem que a filha saiba.

7 Transcrição dos diálogos 7 – Professora Helena: Doutor, Maria Joaquina tem um bom coração,mas as vezes ela se engana Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Mas não quero que ela se engane dessa vez, por causa desse problema o mundo já derrubou muito sangue, Senhorita. Maria Joaquina: Com licença. Oi papai.

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Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina):Escute minha filha, a professora me disse coisas que realmente não me agradaram nada Maria Joaquina: Que coisas? Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Que você não quer que um colega seu vá a sua festa de aniversário porque ele é negro.Sim ou não? Maria Joaquina: Sim. Miguel Villaseñor (Pai de Maria Joaquina): Em casa falaremos a respeito e espero que seja bastante inteligente e humana o suficiente para entender certas coisas, por hora quero apenas fazer uma advertência e você sabe que quando seu pai decide não existem lágrimas que me façam mudar de ideia. Faltam poucos dias para o seu aniversário e se esse rapaz não for convidado como os outros, não haverá festa, entendeu? Maria Joaquina:Mas papai... Não haverá festa, não existirá presentes, nada! Esse garoto irá a sua festa e não quero que faça nenhuma distinção com ele, entendeu bem? Se ele fosse um garoto de maus hábitos, até poderia concordar com você. Mas a Senhorita me disse que ele é um bom menino. Assim não existe motivo para desprezá-lo. È tudo, o resto conversaremos em casa. Maria Joaquina sai da sala muito brava com a professora Helena. Em seguida, Cirilo entra na sala.

8 Transcrição dos diálogos 8 – Miguel Villaseñor:Queria conhecer você, Cirilo. Eu gosto de saber como são os amigos de minha filha, os convidados de minha filha, sabe da festa de aniversário da Maria Joaquina? Nós esperamos você lá, não esquece. Cirilo: Verdade senhorita? Professora Helena: Claro! Miguel Villaseñor:Contar com sua presença será uma grande alegria. Cirilo: Mas e a Maria Joaquina, ela sabe Professora Helena: Ela sabe sim Miguel Villaseñor:Não esqueça do convite.Esperamos você na festa. Cirilo: Não, não vou esquecer e vou levar um presente. Miguel Villaseñor:Não é preciso Cirilo. Professora Helena: Pode voltar para a classe Cirilo. Cirilo: O senhor percebeu a minha cor Miguel Villaseñor:Sim, você é negro e também muito lindo. No dia da festa, Cirilo leva um grande buquê de flores para Maria Joaquina.

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9 Transcrição dos diálogos

9– Cirilo: Meus parabéns, você está muito bonita. Mas Maria Joaquina, muito irritada com a presença de Cirilo em sua festa, joga o buquê no chão.

10 11 12 No decorrer da festa, as crianças se divertem muito, menos Cirilo, por isso, o senhor Miguel Villaseñor vai conversar com o garoto.

13 Transcrição dos diálogos

13 – Miguel Villaseñor: Cirilo, você não sabe o prazer que nos dá, é mesmo um prazer ter você aqui! As crianças continuam brincando de corrida do saco, quando Cirilo se aproxima de Maria Joaquina e a menina o empurra.

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14 Transcrição dos diálogos

14– Maria Joaquina: Você não é da minha turma, vá com os outros. No dia seguinte, na escola, Maria Joaquina reclama para Firmino que em sua festa foram pessoas que ela não convidou. Na casa de Jaime, seus pais conversam sobre a indigestão do filho. Na escola, a diretora Oliva pede para Firmino avise Helena que a inspetora chegou. A inspetora vai até a sala e pede para que uma das crianças leia sua composição, mas ela não o faz, pois, Valéria escondeu seus sapatos.

6. Capítulo 11 As criança brincam no pário, mas não falam com Maria Joaquina em punição ao ter “fofocado” para a professora Helena que Marcelina estava colando em uma prova. O pai de Carmen avisa a menina que ela poderá continuar estudando na escola Mundial. Jaime conta a seu pai que Maria Joaquina será julgada por tratar mal os amigos. Na casa de Daniel, as crianças decidem que Maria Joaquina será punida por suas atitudes. Na casa de Maria Joaquina, a mãe da garota adverte que se ela continuar egoísta acabará ficando sozinha. As crianças decidem punir Maria Joaquina com o “castigo do silêncio”. Valéria sonha com a professora Helena. O pai de Jaime credita que as crianças encontraram um castigo justo para Maria Joaquina. No outro dia, na escola, Firmino avisa Daniel que a professora Helena precisa falar com ele. Já em sala, Daniel conta para a professora Helena que Maria Joaquina será punida com o silêncio, ou seja, nenhum colega falará com a menina. Maria Joaquina entra na sala e conta para a professora sobre o castigo e diz que não precisa da intervenção da professora e diz que não precisa dos colegas. Na escola, Jaime conta aos colegas que Carmen continuará na escola. Maria Joaquina pede ao pai para não ir à escola. O pai de Davi vai a escola conversar com o menino sobre a sobre a saúde de sua avó, professora Helena pergunta ao pai do garoto o que o médico disse. Davi vai visitar a avó. A avó de Davi acorda melhor e como é aniversário dela, Daniel tem a ideia de reunir todos os alunos para fazer uma surpresa a ela. Maria Joaquina acha a ideia uma besteira. Os alunos correm para contar a ideia a Helena. Valéria fala que Maria Joaquina disse que é uma grande besteira. A professora pede para os alunos chamarem Maria Joaquina. Helena conversa com a menina e pede a ajuda dela para organizar a visita.

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Transcrição dos diálogos 1 – Professora Helena: Eu quero te pedir um favor. Pode ir Cirilo. Cirilo: A professora a Helena disse que você gosta de mim. Maria Joaquina: Quem? Eu? Cirilo: Viva, viva!!! Quando ele pula parece até um chimpanzé. Que favor você quer me pedir, professora? 2 – Professora Helena: Seus amigos resolveram fazer uma visita a avó de Davi, já que é aniversário dela, e como eu não poderia ir com vocês quero que me represente. Dificilmente encontraria melhor representante do que você, o que me diz? Você aceita? Maria Joaquina: Claro professora, eu nem pensava em ir. Mas como vou para representar você, aí já é outra coisa. Professora Helena: Obrigada. Helena leva os alunos para fazer uma visita à avó de Davi, pois ela está fazendo aniversário e está muito doente. Helena e seus alunos chegam à casa de Davi e cantam uma música para a avó do garoto. Davi apresenta seus amigos a D. Sara, um a um, e Valéria faz algumas brincadeiras com os colegas:

3 Transcrição dos diálogos

3 – Davi: Essa é a Valéria D. Sara (avó de Davi): Ah é, A brincalhona? Valéria: Por favor, não liga não para o que ele falou, Dona Sara, essa gente é muito exagerada. Todos: Ahhhh. Davi: Paulo e Marcelina são irmãos Marcelina: Muito prazer, senhora. Davi: Esses dois são irmãos,mas eles não se parecem Todos: Nãoooo Valéria: É claro e para sorte dela rsrsr Paulo: Ah, mas péra (sic) aí, eu sou um santinho rsrsrs Davi:Essa é a Maria Joaquina D. Sara (avó de Davi): Que menina mais bonita Maria Joaquina: Eu vinha representando a professora Helena exclusivamente, mas nem foi necessário, porque ela decidiu vir. Davi: Essa aqui é a Bibi Smith Valéria: Essa aí a gente importou dos Estados Unidos Bibi: Muito prazer senhora D. Sara (avó de Davi): Que gracinha que ela é.

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Davi: Esse aqui é Kokimoto Valéria: Importado diretamente do Japão Kokimoto: Parabéns senhora D. Sara (avó de Davi): Obrigada filhinho, obrigada Kokimoto: Arigato Davi: Olha aqui, vózinha, essa aqui é Alice Gusmán Valéria: Ela é o verdadeiro produto nacional (risos) D. Sara (avó de Davi): Ah, muito prazer em te conhecer, muito prazer Alice: Senhora, estou contente de saber que está sã e salva D. Sara (avó de Davi): Obrigada, obrigada Davi: Esse aqui é o Cirilo Valéria: O Cirilo pegou uma canoa na África e veio remando Cirilo: A senhora melhorou? D. Sara (avó de Davi): Olha que moreno mais bonito Cirilo: Viu Maria Joaquina, ela disse que eu sou um moreno muito bonito. Davi continua apresentando seus amigos a D. Sara e ao final entrega flores para ela. As crianças fazem uma festa, abraçando e beijando a avó do garoto. D. Sara mostra para Davi um cartão com uma rosa seca, que ela ganhou de presente do avô do garoto quando ainda namoravam. O garoto pede as flores para mostrar aos colegas de escola. No outro dia, Davi mostra as flores para as colegas. Cirilo comenta com Maria Joaquina que o colega está mostrando as flores para as amigas, mas a menina é bastante grossa e diz que não pediu nenhuma informação. Paulo diz que acha bobeira admirar uma flor seca. Davi comenta com os amigos que sua avó ganhou as flores de presente do avô do garoto, antes de se casarem.

7. Capítulo 19

Mãe de Maria Joaquina está no hospital e precisa de uma transfusão de sangue. A menina sofre no hospital com a falta de informações sobre a cirurgia de sua mãe. Laura tenta estudar, mas não tira da cabeça os momentos de sofrimento que Maria Joaquina está passando com a internação de sua mãe. A família de Cirilo chega ao hospital e dizem que possuem o mesmo sangue que a mãe de Maria Joaquina e que foram para lá para doarem sangue. Mario, Jaime e estão brincando com Paulo em sua casa e comentam como deve ser horrível perder uma mãe. No hospital Cirilo conversa com o pai de Maria Joaquina.

1. Transcrição dos diálogos

1 – Cirilo: Doutor, eu darei meu sangue para sua esposa, eu não tenho medo. Miguel Villaseñor: Obrigado Cirilo, você é valente e esse gesto mostra a bondade que você tem, mas pela sua idade é impossível aceitar, mas mesmo assim... José Rivera (Pai de Cirilo): Mas eu estou aqui.

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Belém Rivera (Mãe de Cirilo): E eu. E em seu nome filhinho, doaremos o nosso sangue para ajudar a dona Clara, como se fosse seu. Miguel Villaseñor: Eu não encontro palavras para agradecer-lhes. Só quero que saibam que essa atitude ficará gravada para sempre em minha memória.Obrigado Cirilo. Na casa de Carmen, sua mãe pede para que a menina fique calma e que tudo correrá bem. Ela comenta que está preocupada, pois, não sabe se encontrarão o sangue para a mãe de Maria Joaquina. No momento da transfusão, Belém Rivera e Clara Villaseñor se dão as mãos. Ao final da doação, os pais de Cirilo e o menino ganham um lanche. Na casa de Valéria a menina reza para que a mãe de Maria Joaquina fique bem. Cirilo também reza para São Martin para que o sangue de seus pais seja útil para a mãe de Maria Joaquina. No hospital, Dr. Miguel diz que sua esposa já está fora de perigo graças ao sangue dos pais de Cirilo. Dr. Miguel telefona para a escola Mundial e conta para professora Helena que a família de Cirilo realizou a doação de sangue para sua esposa. E na diretoria, após a notícia, a professora Helena comenta com a professora Suzana e a Diretora Oliva sobre o ocorrido.

2 3 4 Transcrição dos diálogos

2 – Professora Helena: Doutor Miguel não sabe a alegria que me dá ao saber que sua senhora está se recuperando. A família do Cirilo doou o sangue? Fizeram isso, que bonito. Sim senhor, não se preocupe, estaremos esperando a Maria Joaquina. 3 – Professora Suzana: Realmente o Cirilo é um menino de bons sentimentos. Professora Helena: Ele estava tão preocupado que anotou o sangue que eles precisavam e implorou aos seus pais que fossem ao hospital sem perderem muito tempo. Professora Suzana: Mais uma vez Cirilo demonstrou a Maria Joaquina o quanto gosta dela. 4 – Diretora Oliva: Vejamos qual será o comportamento dela depois disso. Espero que seja favorável a esse menino. Professora Suzana: Ah, Maria Joaquina é muito orgulhosa, quem sabe como vai reagir. Firmino: Vejo que estão em conselho de classe. Já tiveram notícias da sra.Villaseñor? Professora Helena: Das melhores Firmino: Das melhores? Professora Helena: Ainda está no hospital, mas já está fora de perigo. Firmino: Ah, bendito seja Deus Professora Suzana: E bendito seja o Cirilo. Professora Helena: A Maria Joaquina volta a escola hoje, veremos como irá tratá-lo. Professora Suzana: O Dr. Villaseñor e merece o melhor. Diretora Oliva: Ele é um excelente homem.

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Professora Helena: E Cirilo um excelente colega. Cirilo comenta com os colegas que gostaria de ter doado seu próprio sangue, mas que como é uma criança, não poderia fazê-lo.

5 6 7 Transcrição dos diálogos

5 – Cirilo: Eu queria doar o meu sangue, mas só aceitam o de adultos. Daniel: Eu no seu lugar não teria agüentado que me espetassem uma seringa na veia, dizem que dó pra burro. Cirilo: Eu não me importo com isso, porque era para a mãe de Maria Joaquina Mario: Você não se arrepende disso? Cirilo: Claro que não Jaime: Anda, termina logo de contar, o que aconteceu depois? Cirilo: Os meus pais ganharam um enorme prato cheinho de hambúrgueres, deram para mim também um copo de leite com chocolate. Jaime: Ai, tem gente que tem sorte. Só porque tem o sangue meio raro, até uma refeição ganha de graça. 6 – Maria Joaquina: Meninos, meninas, venham, venham todos. Eu tenho uma coisa para dizer para o Cirilo e todos devem estar presentes. Cirilo: É pra mim? Maria Joaquina: Pra você. Cirilo: O que você tem pra me dizer. Maria Joaquina: Cirilo, eu gosto de você. Jaime: Cirilo, Cirilo, o que que você tem? Cirilo: Porque que você disse que gosta de mim. Maria Joaquina: A minha mãe estava muito mal e você levou os seus pais para que eles doassem sangue. Graças a isso a minha mãe se salvou. Cirilo: Ah, mas só foi um pouquinho de sangue negro. Maria Joaquina: O sangue de todos tem a mesma cor Laura: Eu já vivi muito, mas nunca vi uma cena tão romântica Professora Helena: Maria Joaquina... Maria Joaquina: Sim, professora Professora Helena: Também gosto muito de você. Já em casa, Cirilo reza para seu santo de devoção. 7 - Cirilo: São Martin dos pobres você fez o maior milagre da minha vida, a Maria Joaquina disse que gostava de mim. Ela me ama, ela me ama, ela me ama!!!! Após isso, Maria Joaquina vai visitar a mãe no hospital. Já no dia seguinte, Jaime se prepara para ir à escola. Na escola, um casal reclama com Firmino sobre a umidade da escola. Laura sonha que será a namorada de Jorge Del Salto. Paulo e Jaime riem da menina. Alicia foi recém operada e Maria Joaquina, Laura, Valéria e Carmem saem para visitar a colega. Lá conversam sobre um provável namorado de Laura. Já na escola, Jaime e Paulo mentem para Laura que Jorge quer namorar

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com ela. Na diretoria, a Sra. Oliva pede para que Firmino chame a professora Helena.

8. Capítulo 29 – (último capítulo) A cena se inicia com Daniel falando com pai de Abelardo. Mario havia escondido o menino em sua casa. No parque, Maria Joaquina convida as meninas para comerem um bolo em sua casa. Davi pede para falar com Valéria após o lanche das meninas. O pai de Abelardo vai até a casa de Mario para buscar seu filho e o menino diz que não quer ficar com o avô, pois, acredita que ele não o ama. Paulo vai até a casa de professora Helena e pega uma maça escondida. As meninas comem bolo na casa de Maria Joaquina e conversam sobre Abelardo. Paulo conversa com a professora Helena sobre Abelardo e conta que quem o escondeu foi a patrulha salvadora. Maria Joaquina convida as meninas para um fazerem um plano. Davi chega para falar com Valeria. O pai de Abelardo conversa com o filho sobre a sua mãe. Davi pede desculpas para Valeria e pede para que a garota volte a ser sua noiva. Maria Joaquina combina com as meninas de se encontrarem no Jardim Encantado. Davi e Valeria vão até a casa de Mario para avisar que a policia estava procurando Abelardo. Nisso, professora Helena chega à casa de Mario e diz que o avô do menino deve ser tranqüilizado, pois está sofrendo muito com a falta do neto. Maria Joaquina avisa Mario para que se encontrem no Jardim Encantado. O Pai de Abelardo vai até a casa de seu pai e diz que o garoto está na casa da professora Helena, mas que o levará até a sua casa. Professora Helena conversa com a mãe e diz que sentirá muita falta de seus alunos no próximo ano letivo, quando recebe um bilhete. Abelardo é levado pelo pai até a casa do avô e tem um reencontro repleto de abraços e pedidos de desculpas. Professora Helena vai até o Jardim Encantado e é surpreendida por todos os seus alunos.

1 2 3 1 – Professora Helena: Crianças, o que significa isso? Daniel: Maria Joaquina vai tomar a palavra, Professora. Maria Joaquina: Professora Helena, já vão começar as aulas e todos estávamos muito tristes pois nós só veríamos você durante o recreio, mas ao saber que você será nossa professora no terceiro ano, nós ficamos muito felizes. Professora Helena: O que está dizendo Maria Joaquina? 2 – Maria Joaquina: Meu pai conseguiu convencer a Senhora Oliva. Continuaremos juntos, Professora Helena! Professora Helena: Obrigada crianças, é a surpresa mais bonita que eu já recebi em toda minha vida. Obrigada por me dar tanto amor. Maria Joaquina: Não nos agradeça professora, assim estamos correspondendo ao amor que você nos dá.

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3 – Todas as crianças: Viva a Professora Helena! Professora Helena: Crianças agradeço essas palavras tão bonitas que a Maria Joaquina me disse em nome de todos vocês. Obrigada, graças a Deus estaremos juntos novamente, para compartilhar muitas experiências belas.

4 -

4 – Professora Helena: Teremos diversas matérias, como sempre, mas além de matemática, de história ou de geografia, nós teremos a mais importante de todas: o amor. Que Deus os abençoe. Que Deus abençoe o amor. Transcrição dos diálogos versão Brasileira

1. Capítulo 1 (versão Brasileira de 2012)

(4) A cena 1 começa com Cirilo sendo acordado pelos pais e ganhando de presente, por seu primeiro dia de aula no 3º ano um estojo.

1 2 3

Transcrição dos diálogos 1 – Paula Rivera (Mãe de Cirilo): Acorda, meu filho, você sabia que hoje é seu primeiro dia de aula no 3º ano? Cirilo: Oba, cadê meu uniforme mãe? Paula Rivera (Mãe de Cirilo): Calma, meu filho 2 – José Rivera (Pai de Cirilo): Como vai meu garotão? Cirilo:Bem, você sabia que hoje é meu primeiro dia de aula do 3º ano, no 3º ano! José Rivera (Pai de Cirilo): Claro que eu sabia meu filho, por isso eu e sua mãe compramos um presente para você.Ah... 3 – Cirilo:Um estojo, nem tô acreditando! Vocês são os melhores pais do mundo. Paula Rivera (Mãe de Cirilo): Anda, Cirilo, vai guardar seu estojo na mochila

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(5) (6) A cena 2 aparece Maria Joaquina em casa, escolhendo algo para prender o cabelo.

4 5 6

Transcrição dos diálogos 4 – Maria Joaquina: Ai, podia ter comprado uma coisa nova Joana (Empregada de Maria Joaquina): Você já tem tanto que são tão bonitos. Olha só esse aqui. Maria Joaquina: Por acaso eu pedi a sua opinião, eu pedi? Joana (Empregada de Maria Joaquina): Desculpa 5 – Maria Joaquina: Pensa, pensa... Nada muito simples para não parecer pobre, mas também nada muito caro para não ser roubada. 6 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Filha, sua mãe já está te esperando. Joana (Empregada de Maria Joaquina): Com licença. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Obrigado Maria Joaquina: Ah, pai, pede para ela esperar. Eu também preciso escolher minha mochila. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Filha, eu não quero que você se atrase logo no seu primeiro dia de aula. Maria Joaquina: Mas eu também não posso ir de qualquer jeito. Eu preciso me arrumar! Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Você está indo para a escola, Maria Joaquina, não é para uma festa. Vamos logo com isso, tá bom? Na cena 3 aparece a casa de Jaime e Rafael, seu pai dizendo que não quer que ele chegue atrasado logo no primeiro dia de aula e se queimando ao tomar café. Jaime reclama por ter que escovar os dentes e leva uma bronca do pai. Na cena 4, aparece a casa de Carmen, que pergunta para mãe o que ela levará de lanche e a mãe lhe diz que uma maçã, pois é apenas o que ela tem em casa. Na cena 5 aparece Valéria, sentada em sua penteadeira e arrumando os cabelos. Ela conversa carinhosamente com seu ursinho e pergunta para ele como será a nova professora, logo em seguida é chamada pela mãe para ir à escola.

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(7) Já na cena 6 aparece Helena, em sua casa ela se arruma para seu primeiro dia na Escola Mundial e pede à mãe um beijo e que lhe deseje sorte. (8) Na escola, cena 7, as crianças aparecem brincando de pega-pega e pula-corda, a professora de música Matilde toca piano para algumas crianças e Maria Joaquina é a única que não se entrosa, Valéria se apresenta e apresenta suas amigas para Maria Joaquina, mas esta as esnoba, dizendo que o pai a obrigou a estudar com essa “gentinha”. Valéria então comenta com as meninas que mau humor pega. Maria Joaquina se apresenta à diretora e de maneira arrogante, diz que é um absurdo ninguém recebê-la na porta da escola. A garota mimada acha a escola uma bagunça. Na cena 8 aparece Helena na rua, empolgada ao olhar o muro da escola Mundial. (9) Na cena 9, Helena aparece chegando um pouco atrasada à Escola Mundial. Ao ver as crianças brincando no pátio, ela fica encantada. Por acaso, Helena esbarra em Firmino. Paulo toma a boneca de sua irmã Marcelina, enquanto ela conversava com Laura (que comia um doce). Firmino mostra as dependências da escola à professora Helena e quando Paulo passa correndo com a boneca na mãe, ele diz que “as praguinhas estão cada dia piores”. Ao ver Marcelina triste, Helena vai até ela perguntar o que aconteceu. Marcelina conta que seu irmão, Paulo, roubou sua boneca e saiu correndo. Paulo entrega a boneca de Marcelina a Kokimoto, que lhe dá uma caixa com um sapo. Peralta, Paulo coloca o sapo no piano da professora Matilde. Ao ver Maria Joaquina, Cirilo sente amor à primeira vista. Os colegas chamam Cirilo e ele não ouve de tão encantado que está por Maria Joaquina. Firmino leva Helena até a sala da diretora Olívia, que pede para ele recolher os alunos do terceiro ano. Cirilo defente Marcelina dePaulo.

1 2 3

Transcrição do diálogo Após pegar a boneca de Marcelina, Cirilo vai tirar satisfações com Paulo: Paulo se você voltar a 1 – Paulo: Um homem de verdade não bate pelas costas. Cirilo: Nem maltrata a própria irmã. Paulo, se você voltar a se meter com a Marcelina, você vai ter que se ver comigo. Paulo: Não se meta onde não é chamado. Marcelina é minha irmã e eu maltrato ela quantas vezes eu quiser. Cêta entendendo? Esse problema é meu! 2 – Cirilo: Nada disso. A Marcelina éminha amiga e eu não quero que você maltrate mais ela,entendeu??? Paulo: Você não manda em mim, seu nanico folgado. Cirilo: A Marcelina é legal e você não vale nada Paulo : Seu covarde. Cirilo: Covarde é quem maltrata a própria irmã 3 – Laura: É isso aí, Cirilo, mostra quem manda aqui!

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(10) (11) Laura chega e apóia Cirilo, mas Paulo a chama de “balofa” e tonta. Firmino chega e dá uma bronca em Paulo, o fazendo pedir desculpas para Laura. Helena fala a Olívia sobre suas experiências escolares. Olívia pega o manual da Escola Mundial e começa a lê-lo para a professora Helena. Jaime observa o comportamento prepotente de Maria Joaquina e a chama de macarrão sem molho. Cirilo diz a Maria Joaquina que está contente por saber que ela é da mesma sala de aula que ele e que trouxe um pote de minhocas para a aula de ciências.

4 5 6 Transcrição dos diálogos

4 - Cirilo: Você que é a Aluna nova? Maria Joaquina: Sou Cirilo:Eu fiquei muito contente que você é da nossa turma. O seu é Maria Joaquina e o meu é Cirilo. Maria Joaquina: Tanto faz 5 – Cirilo:Olha só esse pote de minhocas, eu trouxe para a aula de ciências. 6 – Maria Joaquina: Ai que nojo, leve esses bichos para bem longe de mim, seu sujo! (12) Marcelina indaga o motivo de Maria Joaquina ser tão má com Cirilo, que diz achar o menino chato. Ao abrir o piano, a professora Matilde vê um sapo e se desespera. A diretora Olívia apresenta Helena aos alunos do terceiro ano como professora fixa. Helena fala aos alunos que eles vão se divertir muito, mas todos fazem cara de tédio. Helena começa a fazer a chamada e ao procurar o giz para escrever seu nome no quadro, percebe que o armário está trancado. Assim, Helena sai de sala para procurar o giz e acaba encontrando Graça, a zeladora da escola. Enquanto isso, Paulo, Kokimoto e Jaime fazem uma armadilha para a professora. Professora Matilde conta à diretora Olívia que os alunos colocaram um sapo no piano. Ao tentar abrir o armário, Helena é salva por Cirilo, que toma um banho de farinha. Maria Joaquina diz que “isso que dá se meter onde não deve”, enquanto a professora Helena diz que o Cirilo apenas tentou ajudá-la. Olívia vai à sala de aula perguntar aos alunos por que eles estavam rindo tão alto. Helena coloca panos quentes e Olívia pede que a professora a acompanhe até a diretoria. Começa o recreio e Helena vai até a sala da diretoria, onde a professora Matilde reclama das crianças. Marcelina recebe a boneca de Kokimoto toda rabiscada e comenta com as amigas que odeia o seu irmão Paulo. Kokimoto conta a Adriano e Davi que fez Marcelina ficar triste. Ainda durante o recreio, Professora Helena aconselha Laura a comer menos, pois ficará difícil para ela perder peso. Começa a próxima aula na sala de música e Cirilo chega perto de Maria Joaquina, o menino diz que a professora nem notou, nisso, a menina olha para Cirilo e diz que é lógico que a professora não o notou e que ele se meta com os da laia dele.Nisso, Maria Joaquina começa a gritar, dizendo que Cirilo pisou em seu pé e o chama de idiota.

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7 8 9

Transcrição dos diálogos 7 – Cirilo: Maria Joaquina eu consegui chegar do seu lado e a professora nem viu. Maria Jaquina (irritada): É lógico que ela não reparou em você, né? Já se olhou no espelho, Cirilo? Se meta com os de sua laia! 8 – Chateado com a menina, Cirilo pisa no pé de Maria Joaquina. 9 – Maria Joaquina (empurrando Cirilo): Ai, ai, ai, meu pé! Seu idiota, idiota (13) (14) Firmino avisa a professora Helena que a Professora Matilde está trazendo um aluno baderneiro. Nisso, aProfessora Matilde leva Cirilo para a sala de Helena, o chamando de sem vergonha e que o menino pisou no pé de Maria Joaquina de propósito. Maria Joaquina afirma a Cirilo que ele deveria ser preso, pois é um criminoso.

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Transcrição dos diálogos 10 – Professora Helena: O que aqonteceu, Firmino? Firmino: A professora Matilde vai lhe contar, ela vem vindo aí com um baderneiro. Professora Helena: Como um baderneiro? Firmino: Ah, Veja, veja. Eu vou preparar mais um pouco de chá. 11 – Professora Helena: Cirilo???? Professora Matilde: Aqui está esse sem vergonha! Professora Helena: Porquê sem vergonha? 12 – Professora Matilde: Como assim você me pergunta por que sem vergonha? Veja você mesma. Pisou no pé dessa menina de propósito. Professora Helena: Por que fez isso, Cirilo? 13 – Maria Joaquina (chorando): Por que é um criminoso que deveria estar preso!!! Ai, meu pé está doendo muito. Eu acho que vou morrer. 14 – Professora Helena: Cirilo, me espere na sala dos professores. 15 – Maria Joaquina (chorando): Ai! Como dói, foi um pisão de cavalo.Ainda bem que meu pai é um médico muito bom e pode cuidar de mim.

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Bibi: A culpa é toda sua Maria Joaquina, você não deveria ter falado aquilo para o Cirilo. (15) Na sala dos professores Cirilo conversa com a professora, quando entra Daniel e fala para Helena que Cirilo pisou no pé de Maria Joaquina sem querer.

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18 Transcrição dos diálogos 16 – Professora Helena: Por que você pisou no pé da Maria Joaquina Cirilo: Por nada Professora Helena: Ah coisas que não se fazem por nada, ela te fez alguma coisa? Cirilo: (negando com a cabeça): Hum, hum 17 – Professora Helena: Conta a verdade Cirilo, pode confiar em mim. Cirilo: Professora eu fiz isso professora por que eu sou um menino muito mal. Professora Helena: Olha Cirilo, eu sei que você não é um menino mal. E por isso mesmo não acho que fez isso por maldade. Daniel: Licença Professora Helena: Daniel, eu não posso falar com vocêr agora. 18 – Daniel: Cirilo não tem culpa de nada, ele é um menino muito bom. E não quero que castiguem ele. Professora Helena: Então conta a verdade, Daniel. Daniel: Na aula de música, ele pisou no pé da Maria Joaquina sem querer...

(16) As meninas (Alicia e Bibi) repreendem o comportamento de Maria Joaquina, que diz que Alicia pertence à mesma laia que Cirilo. Maria Joaquina fala sozinha e afirma que não precisa de ninguém, muito menos das meninas.

19 Transcrição dos diálogos

19 – Alicia: Você não pode reclamar, disse coisas muito feias pro(sic) Cirilo. Se eu tivesse no lugar dele, teria feito a mesma coisa. Maria Joaquina: Como você é da mesma laia que ele, você defende, é claro. Alicia: Você me dá pena, Maria Joaquina, desse jeito você nunca vai conseguir um amigo. Maria Joaquina: Eu não preciso de ninguém, muito menos de vocês.

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(17) Ao conversar com Helena, Cirilo afirma que queria ser amigo de Maria Joaquina e que a menina não gosta dele por conta da sua cor.

20 21 22 Transcrição dos diálogos

20 – Daniel: E foi assim que aconteceu, professora. Professora Helena: Obrigada por contar a verdade Daniel. Daniel: De nada. Não fica triste seu tonto, a gente gosta muito de você! Com licença. Professora Helena: Cirilo olha pra mim. Cirilo: Eu queria ser amigo da Maria Joaquina, mas ela mal me conhece e já não gosta de mim. Eu acho que é porque eu sou negro. Por que que eu tive que nascer negro? Professora Helena: Que bobagem que você tá(sic) dizendo Cirilo? Não há cores umas mais lindas que as outras. Todas as cores são bonitas, apenas há cores diferentes. Cirilo: Mas eu acho que ele me trata mal também por outra coisa, professora. Professora Helena: Que coisa? 21 – Cirilo: É que o pai dela é médicoe o meu apenas um carpinteiro. Professora Helena: Como assim“apenas um carpinteiro”? Você não acha que o trabalho do seu pai é admirável? Você nunca ouviu dizer que o pai do menino Jesus também era um carpinteiro? Cirilo: É verdade Professora Helena: E depois, você não ouviu o que o Daniel disse? Todos os seus amigos gostam muito de você. Agora me diz uma coisa:quem é a melhor mãe do mundo? A mãe mais bonita de todo Universo? Cirilo: A minha Professora Helena:E qual é a cor da sua mãe? Cirilo: A mesma que a minha Professora Helena: E você gostaria de trocar a sua mãe por uma mãe,de qualquer outra cor? Cirilo: Não professora Helena, eu não trocaria minha mãe por nenhuma outra mãe do mundo. 22 – Professora Helena: Então, Cirilo, não temmotivo pra você ficar triste. Todos da sua classe gostam muito de você e eu, também! Vamos (18) (19) No final da aula, os alunos saem correndo da sala. Helena se sente aliviada e diz para si mesma que terá muito trabalho pela frente.

2. Capítulo 2 -

Cirilo conta aos colegas que ganhou um beijo da professora Helena. Ao conversar com Maria Joaquina, Helena pergunta se a garota tem algum problema com Cirilo e pede para ela dar uma chance a ele.

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1 2 3 1 – Maria Joaquina: Ai meu Deus, cadê esse motorista, quem ele pensa que é pra me deixar esperando? Professora Helena: Maria Joaquina Maria Joaquina Oi professora Professora Helena: Eu posso te fazer uma pergunta Maria Joaquina: Pode 2 – Professora Helena: Você tem algum problema com o Cirilo? Maria Joaquina: Claro que tenho, ele deu o maior pisão no meu pé, professora. Professora Helena: Mas você sabe que ele não pisou no seu pé a toa. Maria Joaquina Hunf, é que eu não fui muito com a cara dele, não é minha culpa... Professora Helena: Mas vocês acabaram de se conhecer, tenta dar uma chance para ele. Maria Joaquina: Tá bom, eu vou tentar, mas professora, o que você achou do meu desenho sobre as férias? 3 – Professora Helena: Ah, tava muito bonito, dá pra ver que você é uma aluna muito dedicada. Maria Joaquina: Brigada, o meu pai me ajuda bastante nos estudos. Ele é médico sabia? Professora Helena: É, ouvi dizer, é uma profissão muito nobre. Maria Joaquina: Ele é um dos médicos mais importantes da cidade. Professora Helena: E você deve ter muito orgulho dele, não é? Maria Joaquina: Claro que sim. Mas se algum dia você precisar, é só me avisar, imediatamente eu chamo ele pra vir pra cá. Professora Helena: Tá bom, obrigada, bom saber Maria Joaquina. Até amanhã Maria Joaquina: Tchau professora. Jaime fala aos meninos que as mulheres são muito chatas. Valéria defende as mulheres e diz que elas estão à frente dos homens. Paulo chega e solta um arroto na cara das meninas. Olivia pergunta a Matilde se professora Helena se deu bem com os alunos. Helena se despede dos alunos com um beijo. Olívia e Matilde espiam Helena na sala de aula e comentam que ela não vai agüentar por muito tempo. Jaime, Adriano, Daniel e Cirilo decidem entrar numa casa abandonada. Helena conversa com Firmino sobre as crianças. 4 – Professora Helena: Pelo que eu vi hoje a diretora não mentiu, os alunos do terceiro ano são realmente muito levados. Firmino: Essa é a turma do barulho, estão sempre aprontando alguma. Aliás, a Graça me disse que hoje por pouco a senhorita não leva um banho de farinha. Professora Helena: Ai, pois é, O Cirilo levou em meu lugar, coitado. Firmino: Oh,Esse menino tem um coração que não cabe no peito. Professora Helena: É, eu vou ficar atenta, não quero que ele sofra com isso. Firmino: Faz bem, pelo menos a senhorita sobreviveu aos santos diabinhos...

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Professora Helena: Sim, sabe não foi tão difícil quanto eu imaginava, apesar deles terem aprontado comigo eu gostei de cada um deles. Pode ser que dê um certo trabalhinho conquistar o coração dos meus alunos, mas eu não desisto fácil, pode crer. Firmino: É assim que se fala. Olha professora, eu trabalho nessa escola há muitos anos, mas uma coisa eu aprendi: o coração de uma criança se conquista com fantasia. A criança precisa brincar, usar a imaginação e se sentir amada. Daniel, Adriano, Jaime e Cirilo têm a ideia de fazer da casa abandonada um clube, mas sem que as meninas saibam. Escondidos, Paulo e Kokimoto fazem barulho e os garotos saem correndo assustados. Em casa, durante o jantar, Maria Joaquina comenta sobre sua nova escola.

5 Transcrição dos diálogos 5 – Maria Joaquina: A minha professora nova se chama Helena Fernandez Clara Medsen (Mãe de Maria Joaquina): Helena é um nome muito bonito e como ela é? Maria Joaquina: Jovem, inteligente e muito bonita. Sabe o que eu disse pra ela? Que você é um médico muito importante e que se algum dia ela precisar, é só me avisar, que eu chamo o senhor pra socorrê-la imediatamente Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Esperamos que não seja necessário. Clara Medsen (Mãe de Maria Joaquina): Me conta da nova escola querida, o que você está achando? 2 – Maria Joaquina: Preferia muito mais a minha outra escola, era bem maior e mais legal, as pessoas de lá eram de outro nível. Clara Medsen (Mãe de Maria Joaquina): Eu disse pra você Miguel, eu disse. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Como são seus novos colegas? Maria Joaquina: São mais ou menos, meus amigos da outra escola tinham mais a ver comigo. Acredita que tem um menino negro na minha sala? Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): E qual é o problema? Maria Joaquina: Eu não acho bom que nos misturem como se fossemos todos iguais. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): E quem disse que não somos todos iguais? Maria Joaquina: Por favor, né, papai, esse menino é bem diferente de mim. Eu sou normal, entre o normal e o diferente há uma grande diferença. Jaime, já em sua casa, comenta com o pai como foi seu primeiro dia de aula. Na casa de Maria Joaquina, a conversa continua...

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6 6 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Minha filha, pega uma rosa pra mim, por favor. Clara, pegue uma também, por gentileza. Obrigada. Deixa eu te explicar uma coisa. Está vendo estas duas rosas aqui? Maria Joaquina: Sim Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Você vê alguma diferença entre elas? Maria Joaquina: Claro. Uma é branca e outra é vermelha Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Mesmo assim continuam sendo rosas, certo? Maria Joaquina: Hunf. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): O problema com seu colega de classe é a mesma coisa, vocês tem cores diferentes, mas continuam sendo pessoas iguais, entendeu Maria Joaquina? Maria Joaquina:Ai, por favor né, papai!? Uma rosa vermelha pode ser a mesma coisa que uma rosa branca, mas uma pessoa como eu não é igual uma pessoa como ele. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Ai Maria Joaquina... Maria Joaquina:Que é? Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): A vida um dia há de ensinar você. Na casa de Cirilo, seus pais perguntam como foi seu dia na escola.

7 Transcrição dos diálogos 7 – José Rivera (Pai de Cirilo): Então filho, sua professora, ela é boa mesmo? Cirilo: Boa como um pedaço de pão. Belém Rivera (Mãe de Cirilo): Ah, então tome muito cuidado se não cê(sic) vai sujar ela com geléia!? hahaha José Rivera (Pai de Cirilo): E seus colegas, gostaram dela também? Cirilo: Sim muito, a gente se divertiu muito. Tem uma menina na sala que ela é lindíssima. José Rivera (Pai de Cirilo): Hehehe, ei filho você não acha que é muito novo para entender que as meninas são bonitas não? Belém Rivera (Mãe de Cirilo):Ah, herdou de você, meu fofucho! Cirilo: De todas as meninas há uma mais bonita, parece uma boneca. Belém Rivera (Mãe de Cirilo): É? José Rivera (Pai de Cirilo): E como ela se chama, filho? Cirilo: Maria Joaquina, o pai dela é medico. Eu quero ser seu amigo, mas parece que ela não quer ser minha amiga

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Em discussão com Jaime, Maria Joaquina o chama de gordo e tonto. Helena chega ao pátio e pede para os alunos formarem duas filas. Na sala, Helena pede para um aluno começar a ler a redação. Ninguém se prontifica e ela pede para Jaime, que inventa uma desculpa. Olívia pergunta a Matilde se Helena está conseguindo domar os delinqüentes. Enquanto as crianças terminam de escrever as redações sobre as férias...

8 9 10 8 - Alicia: Professora posso fazer um desenho final? Professora Helena: Pode sim. Lembrem-se que a redação é a lápis Adriano: Professora eu tenho uma dúvida Professora Helena: Pode falar... Adriano: Eu posso escrever de caneta? Toda a turma: Eeeeeeee Adriano: Do que vocês tão (sic) rindo? Professora Helena: Eu acabei de falar que a redação é a lápis Bibi:Ele vive no mundo da lua, teacher! 9 - Professora Helena: E você já terminou? Cirilo: É que eu não viajei nas minhas férias. Maria Joaquina: Professora eu posso usar a folha de trás para escrever mais? Professora Helena: Pode sim Maria Joaquina: É que eu viajo tanto que eu preciso de mais espaço para escrever. 10 – Valéria: Ui, poderosa. Professora Helena: Silencio meninas... Cirilo, quem disse que férias é só viagem? O mais importante é descansar. Você descansou? Você ficou com a sua família? Cirilo: Bastante! Professora Helena: Você brincou com seus amigos? Cirilo: Bastante! Professora Helena: Então, deve ter um monte de histórias para contar., Vai encher a folha Cirilo: Agora eu já sei. As duas vão novamente espiar a professora. Olívia fica inconformada sobre como Helena consegue o respeito dos alunos. Olívia entra na sala de aula e pede para Helena preencher os formulários para a sua contratação. Durante o recreio, as meninas fazem uma votação para eleger o menino mais bonito da sala: Daniel ganha.

11 12 13

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Durante o recreio Paulo, Davi e Daniel jogam videogame 11 – Davi: Eba! Já passei as três primeiras fases. Paulo: Iii, essas eu já passei oh, faz tempo Daniel: Eba ganhei uma vida Paulo: Yes, venci o último chefão. Eu sou demais! Venci primeiro que vocês, seus bobões Davi: Ah, fica quieto Paulo, eles podem perceber que a gente está jogando Paulo: Nem ligo, eu já venci mesmo. Davi: É só que eles podem pegar seu videogame e depois só devolver pro seus pais. Paulo: Ah, em todo esse tempo eles nunca pegaram o meu ta(sic) Davi! 12 – Cirilo: O que vocês estão jogando? Paulo: Nada que te interesse Daniel: Os quatro chefões, Cirilo Cirilo: Que legal, posso jogar no seu, Paulo? Paulo: Claro, que não! Cirilo: Mas por quê? Você não terminou? Paulo: Porque esse é meu. Se você quiser jogar que compre um. Cirilo: Eu nem queria brincar mesmo... Daniel: Nossa, Paulo, como você é chato. Por que você trata o Cirilo assim? Paulo: E você, senhor educação que empresta tudo? Se liga, Daniel, um dia você vai acabar se dando mal sendo bonzinho desse jeito. O mundo é dos malandros, cara. 13 – Daniel: Não, o mundo é dos inteligentes, cara. Vou passar o último agora. Tó (sic) pode jogar Cirilo, já terminei esse jogo. Cirilo: Valeu Daniel! Davi: Cirilo toma cuidado com os lobos, eles atacam. Daniel: Você viu, péra(sic) aí. Perversos, Paulo e Kokimoto contam a Cirilo que a diretora Olívia está com uma doença muito grave e rara no coração: hemorróida. Os garotos pedem para Cirilo ir perguntar como a diretora está.

14 14 – Paulo: E aí amigão Kokimoto: E aí amigão Paulo: Coitada da diretora, né, Koki? Kokimoto: É mesmo, tadinha dela. Cirilo: Que que aconteceu com a diretora Olívia? Paulo: Ela está doente, uma doença rara e grave. Kokimoto: Eu até queria perguntar se ela já melhorou, mas eu não tenho coragem.

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Que que ela tem? Paulo: Hemorróida Cirilo: Hemorróida? Que que isso? Paulo: Uma doença que dá no coração, Cirilo Cirilo: Nossa, será que ela vai morrer? Kokimoto: Tomara que não, né, Cirilo? A Senhora Olívia é chatinha, mas nem tanto. Cirilo: Eu nunca ouvi falar dessa doença. Paulo: Seria muito atencioso da nossa parte perguntar se ela está melhor, né, Cirilo! Kokimoto: É, vamo(sic) lá? Vai lá, vai... Valéria comenta com as meninas que a cara de santa que a professora Helena faz não a engana. Cirilo pergunta à diretora Olívia se ela está melhor da hemorróida no coração.

15 15 – Diretora Olívia : Que isso menino? Que que ta(sic) parado aí que nem uma estátua? Cirilo: É que eu to muito preocupado com a senhora Diretora Olívia: Preocupado? Eu posso saber por quê? Cirilo: A senhora já ta(sic) melhor? Diretora Olívia: Melhor do que? Cirilo: Da sua hemorróida no coração Diretora Olívia: O que? Ah, seu moleque insolente. Você vai receber uma lição, seu insolente, seu moleque, onde já se viu? Olívia fica furiosa.

16 17 18 16 – Diretora Olívia: Atenção, todos em fila. Cirilo vem cá. Ah, você não é o Cirilo, vai, vai... Cada classe em sua respectiva fila, em ordem. Quando tocar o sinal eu quero silencio absoluto, não quero ouvir uma mosca viva nessa escola, entenderam, não é? Cirilo: Eu não entendi o porquê ela ficou tão brava 17 – Davi: Você é burro, Cirilo, hemorróida é uma doença que dá no bumbum Cirilo: (Arrependido) Ai não!

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18 – Diretora Olívia: Marchando todos para a sala de aula, direita, esquerda. (Puxando o Cirilo da fila) Senhor não, senhor fica aqui comigo. Helena está aflita preenchendo os formulários que Olívia pediu, pois o horário do recreio já acabou. Olívia faz os alunos do terceiro ano marcharem em fila até a sala de aula. Olívia alerta Helena sobre os atrasos dela, pois são constantes. As duas discutem e Olívia pede para Cirilo acompanhá-la até a diretoria.

19 20 21 19 – Professora Helena: Por que ela levou o Cirilo com ela? Paulo: Eu não faço a menor ideia 20 – Maria Joaquina: Eu sei por que professora. Porque ele é um sem educação e não merece ficar com os que têm. Professora Helena: Esse não é o caso do Cirilo, Maria Joaquina e mesmo que fosse a vida não é assim. Maria Joaquina (se dirigindo à Valéria): Bem que você falou, a cobra já ta (sic) mostrando os dentes. Marcelina: Professora, o Cirilo vai levar uma advertência? 21 – Professora Helena: Eu não sei Marcelina, eu vou ver o que eu posso fazer por ele. Mas antes vou passar uma atividade. Olívia dá uma advertência a Cirilo, que conta que foi Paulo que mandou ele pergunta se ela estava melhor da hemorróida no coração.

22 23 24 22 – Cirilo: Por favor, diretora, não faz isso. Diretora Olívia: Você vai leva isso daqui pro(sic) seus pais assinarem e vai trazer de volta. E não adianta fazer essa cara não, você devia ter pensado nisso, nas conseqüências antes de ter feito a gracinha. Cirilo: Mas meus pais vão ficar muito tristes se eu levar uma advertência pra casa Diretora Olívia: Ta aí uma outra coisa que você deveria ter lembrado Cirilo: Mas eu não sabia o que era hemorróidas 23 – Diretora Olívia: Xiii. Não repita essa palavra senão você vai ser suspenso Cirilo: Mas eu não sabia que esse negócio é desse negócio Diretora Olívia: Mas porque cê(sic) sai por ai falando uma coisa que você não sabe Cirilo: Foi porque eu achava que sabia que isso era uma doença no coração Diretora Olívia: É, mas não é, escuta o que cêis (sic) andam aprendendo na sala de aula, hein? Foi a professora Helena que ensinou um absurdo desse? Cirilo: Não diretora

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Diretora Olívia: Então quem foi que disse? 24 – Cirilo: Foi o Paulo da minha classe. Ele me fez perguntar se a senhora tinha melhorado da hemo... Diretora Olívia: Quer dizer então que você anda metido com o Paulo Cirilo: Não é que ele falou... Diretora Olívia: Não fala mais nenhuma palavra! Espera um pouco aqui Cirilo: Mas não é nada disso... Olívia afirma a Helena que Cirilo será suspenso. Ao entrar na sala de aula, a diretora Olívia flagra Paulo em cima da mesa da professora. A diretora chama os alunos de seres primitivos e leva Paulo para a diretoria.

3. Capítulo 3

Helena comenta com os alunos que a diretora Olívia está uma fera. Olívia repreende Paulo e Cirilo. Cirilo tenta convencer a diretora de sua inocência, mas ela pede a agenda dos dois para dar advertência.

1 2 3 1 – Cirilo: Já falei toda a verdade, que você me fez perguntar da hemo... Paulo: Eu falo pra diretora que tudo que você falou é uma mentira, é sua palavra contra a minha Diretora Olívia: Muito bem, pestinhas, os dois, sentem-se. (Batidas na porta) Aguarde um momento, por favor. Paulo, você sabe que a escola não é um picadeiro de circo, não sabe? Paulo: Sim, sim, senhora diretora. Estou tão arrependido pelo que fiz Diretora Olívia: Você está aqui para se tornar uma pessoa civilizada, disciplinada. Subir em cima de uma mesa com um berrante, não é uma atitude civilizada Cirilo: O Davi disse pra mim que aquilo é um shofar Diretora Olívia: O que seja, continua sendo uma atitude reprovável Paulo: Me desculpe Diretora Olívia: Ou, você tá(sic) pensando que vai aonde? Paulo: Embora, posso ir? Diretora Olívia: Não, não acabei, senta. O Cirilo me contou que você o incentivou a fazer aquela brincadeira de mau gosto Paulo: Que brincadeira? Cirilo: Admite Paulo, fala que você me disse que a diretora Olívia tava(sic) doente daquele negócio do coração 2 – Paulo: Ah, você tá(sic) falando disso. Desculpe senhora diretora, é que o Cirilo bagunçou tudo o que eu falei, é um desmiolado. Cirilo: Que mentiroso, eu ouvi muito bem o que você me falou Paulo: Você não sabe de nada Diretora Olívia: Calem-se os dois, eu que quero que vocês tragam a agenda de vocês aqui na minha mesa. Cirilo: Mas dessa vez eu sou inocente

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3 – Diretora Olívia: Vocês sempre são inocentes, eu conheço esse artifício, viu? Já que você não querem dizer a verdade, os dois vão receber advertência na agenda Paulo: Que? Cirilo: Ah não! Paulo: A senhora poderia pelo menos devolver a corneta? Diretora Olívia: O que você acha? Escuta, que que vocês estão esperando? Eu quero a agenda, vão buscar, vão. Energúmenos! Helena vai à diretoria conversar com Olívia. Davi está aflito porque a diretora pegou seu shofar, instrumento musical judaico. Helena fala da inocência de Cirilo a Olívia, que fala que a sala de aula da professora está fora de controle. Helena afirma a Olívia que não concorda com a postura dela. Olívia ameaça advertir Helena também. Na sala de aula, Jaime pega Cirilo e Adriano pelo pescoço. Daniel pede para Jaime soltar Cirilo, que cai no chão. Helena sai da diretoria e conversa com Graça, que a tranquiliza. Adriano começa a imaginar que Sherlock Holmes entra na sala de aula e começa a repreender Paulo. Adriano imagina que guardas ingleses levam Paulo para uma prisão. Professora Helena percebe que Adriano está em transe. Alícia conta a Helena que Adriano vive no mundo da imaginação. No recreio, Maria Joaquina e Valéria começam uma discussão. Valéria chama Maria Joaquina de exibida.

4 5 6 Valéria: E então, vamos montar uma torcida pros(sic) meninos? 4 – Bibi: Lá nos Estados Unidos isso é muito comum. Eles chama de teen leaders Maria Joaquina: Significa animadoras de torcida. Eu conheço porque eu já fui líder da teen leaders da minha escola. 5 – Valéria: Aham, que bom. Escuta aqui Maria Joaquina, ninguém nunca te disse que cê(sic) é muito exibida? Carmen: Para Valéria Valéria: Mas eu só tô(sic) falando a verdade, Carmen! Maria Joaquina: Eu posso ser exibida. Cirilo: Maria Joaquina, eu acho que você ia ficar muito bonita de líder de torcida 6 – Maria Joaquina: Ai, pena que ninguém pediu sua opinião, né? Se enxerga, garoto. Carmen: Ele só tava te elogiando, Maria Joaquina Maria Joaquina: Eu não gosto de ser elogiada por gente como ele. Ao chutar bola, Kokimoto quebra vidro da sala de aula. Maria Joaquina conta a Firmino que Kokimoto, Paulo, Jaime e Davi quebraram o vidro da sala de aula. Na sala dos professores, Matilde aconselha Helena a pedir demissão, pois os alunos do terceiro ano são terríveis. Firmino pergunta aos meninos quem quebrou o vidro da sala e ameaça contar à diretora. Paulo, Kokimoto, Davi e Jaime chegam atrasados à aula. Helena afirma que se eles estiverem envolvidos em confusão os levará para a diretoria. Matilde pergunta a Graça se ela gostou da professora Helena. A faxineira elogia Helena e Matilde fica com raiva. Valéria pede para professora deixá-la ir ao banheiro, mas ela fica no pátio da escola. Matilde vê a garota e pergunta se ela se

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deu bem com a nova professora. Valérica conta a Matilde que não foi com a cara de Helena. Matilde afirma que também não gostou de Helena. Ao chegar na sala de aula, Valéria comenta com Laura que a professora Helena é só um rostinho bonito. Termina a aula e Helena vai à diretoria pedir a Olívia para entregar o shofar de Davi. Helena consegue convencer a diretora e entrega o instrumento do garoto. Cirilo chega em casa e conta aos pais que levou uma advertência. José, pai de Cirilo, o repreende e manda o garoto ir para o quarto.

4. Capítulo 7 As meninas chegam à casa abandonada. Os meninos afirmam que as meninas terão que passar por um teste de resistência para fazer parte do clube. Kokimoto prepara a bebida, a batida da coragem, para as meninas tomarem. Alicia é a única menina a beber a batida e os garotos colocam as meninas para fora da casa. Maria Joaquina comenta com Miguel, seu pai, que não vai convidar todos os colegas da sala de aula para a sua festa de aniversário. Cirilo pede dinheiro ao pai para comprar um presente para Maria Joaquina. Laura e Valéria se aproximam de Carmen – elas percebem que a amiga está triste. Carmen revela que seus pais estão se separando. Olívia pede para Helena ter uma postura firme diante dos pais dos alunos. Helena conversa com a mãe de Carmen e afirma que a garota está pouco motivada com os estudos. Durante a aula de música, Cirilo conversa com Daniel sobre a festa de aniversário de Maria Joaquina

1 1 – Cirilo: Daniel Daniel: Fala, Cirilo Cirilo: O que você tá(sic) pensando em dar de presente pra Maria Jaquina? Daniel: Bom, é não sei, mas primeiro a gente tem que ver se vai ser sorteado, né!? Cirilo: Eu tenho certeza que eu vou ser sorteado pra festa da Maria Joaquina. Eu pedi muito pra Deus ontem. Daniel: Bom Cirilo, minha mãe sempre me fala que a gente não pode contar com o ovo que tá(sic) dentro da galinha. Cirilo:Como assim? Daniel: Hummm, éééééé, Vamos supor que você quer fazer um omelete, mas não pode contar com o ovo que a galinha ainda não botou. Cirilo:Ah, Daniel, você é um cara inteligente. Vai lá no mercadinmho e compra uma dúzia! Daniel: Hahaha, é isso aí, Cirilo! Cirilo:Mas Daniel, se eu faço a minha parte com Deus, ele tem que ser legal comigo. Enão, por isso eu tenho certeza que eu vou ser sorteado. Helena revela que no dia anterior Carmen disse que não queria voltar para casa. Inês, mãe de Carmen, conta a Helena que está separada do marido. Helena se comove. Durante a aula de música, Maria Joaquina entrega bilhete a Paulo, pedindo para falar com ele no intervalo da aula. Ela faz proposta a Paulo e promete dar um brinquedo a ele como recompensa. Maria Joaquina pede para Paulo tirar o nome de Cirilo do sorteio para a sua festa de aniversário.

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2 Transcrição dos diálogos

2 – Maria Joaquina: Brigada(sic) por ter esperado. Paulo: Fala logo o que você quer Maria Joaquina, o intervalo de uma aula pra outra é bagunça no pátio. Maria Joaquina: Você ta(sic) a fim de ganhar um brinquedo eletrônico? Paulo: Claro que tô, cadê? Maria Joaquina: Calma, pra você ganhar o brinquedo, você vai ter que fazer um trabalhinho pra mim. Paulo: Trabalho não é comigo, Maria Joaquina! Maria Joaquina: Eu tenho certeza que você não vai se arrepender, Paulo, o brinquedo que eu vou te dar é muito legal, é de última geração, só tem nos Estados Unidos. Paulo: Manda a letra. Maria Joaquina: Bom, eu vou fazer um sorteio entre o pessoal da classe pra ver quem vai ser convidado pra minha festa de aniversário. Mas eu preciso que você tire o nome do Cirilo pra ter certeza que ele não vai ser convidado, entendeu? Paulo: Pra fazer esse serviço eu quero, hummm(pensando), eu quero, o brinquedo e o convite pra festa. Maria Joaquina: Aí já é de mais, Paulo! Paulo: É pegar ou largar Maria Joaquina: Tá(sic) bom eu pego. Você vai ter que tirar o nome do Cirilo da caixa de sorteios. Paulo: Pra isso, eu preciso ficar perto da caixa de sorteios. Maria Joaquina: Você vai ter que segurar a caixa, mas pra isso acontecer, ninguém pode saber ou perceber desse nosso plano. Paulo: E quando eu ganho o meu brinquedo? Maria Joaquina:Só depois que você terminar, né? É obvio Paulo: Se você tentar passar a perna em mim, eu vou infernizar a sua vida até você pedir misericórdia Maria Joaquina: Selvagem Paulo (gritando): Rááááá Maria Joaquina: Hunf Carmen comenta com Helena que não tem vontade de brincar e estudar, pois sente saudade de seu pai. Maria Joaquina entrega convite a Daniel na frente de Cirilo.

3 4 5 Transcrição dos diálogos

3 – Maria Joaquina: Daniel, isso aqui é pra você (entregando o convite ao garoto) Daniel: O que é? Maria Joaquina: É O convite para a minha festa de aniversário.

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Daniel: Mas você ainda não fez o sorteio. Maria Joaquina: É claro, mas o melhor aluno da classe não precisa entrar no sorteio. E você é o melhor aluno Daniel. Daniel: Muito obrigada. 4 – Cirilo: Maria Joaquina... Maria Jaquina:Que é? Cirilo: Eu também vou ser convidado antes do sorteio? Maria Jaquina:Cirilo, você é como os outros, vai ter que esperar. Não me faça perguntas bobas. 5 – Paulo: Coloque aqui o papel para o sorteio. Cirilo: Ai meu Deus, me ajude! Cirilo coloca seu nome na urna para o sorteio, mas Paulo tira o papel às escondidas.Começa o sorteio para a festa de Maria Joaquina.

6 7 8 6 – Maria Joaquina: Vamos começar o sorteio pra ver quem vai ser sorteado pra minha festa de aniversário. Tudo mundo colocou o nome na caixa? Todos: Simmmmm Cirilo: Simmmm Maria Joaquina: Ótimo, então vamos começar! Jaime: Vamos dar uma rodadinha... 7 – Marcelina: Ai, não precisa não tô vendo nada. Jaime: Ah, é sempre bom prevenir, né!? Maria Joaquina: Jaime já chega, tá bom! Vai Marcelina, tira um papelzinho. Cirilo: Por favor, Senhor... Maria Joaquina: Valéria Valéria: Uuuuu! Eu sabia Maria Joaquina: Jaime Jaime: Uhuuuu! Óh, já vou avisando que é bom ter bastante brigadeiro, senão não vai sobrar pra ninguém. Maria Joaquina: Vai Marcelina. Cirilo: É agora, é agora... Maria Joaquina: Laura Laura: Obaaaaaaaa! Valéria: Xiiiii! Agora que não vai sobrar nenhuma comida mesmo... 8 – Cirilo: Por favor, meu Deus, por favor... Maria Joaquina: Marcelina. Marcelina: Yesssss! Maria Joaquina: Kokimoto. Kokimoto: Yesssss! Maria Joaquina: Adriano, Bibi, Alícia. Valéria, Jaime, Laura, Marcelina, Kokimoto, Adriano, Bibi e Alicia são sorteados para a festa. Decepcionado, Cirilo conta ao pai que não foi sorteado para a festa de Maria Joaquina. Daniel entrega seu convite a Cirilo, que liga para Maria Joaquina e conta que ganhou o convite do amigo. Ela o maltrata.

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9 10 11 Transcrição dos diálogos

9 – Maria Joaquina: Alô, quem fala? Cirilo: É o Cirilo Maria Joaquina: Ah, é você 10 – Cirilo: Eu vi que você ficou muito triste quando meu papel não foi sorteado. Maria Joaquina: Euuu? Cirilo:Aí eu quis te ligar antes de eu ir pro clube dos cuecas, pra te dar uma boa notícia. Maria Joaquina: Fala logo o que que cê(sic) quer Cirilo: Eu vou poder ir na sua festa, no mesmo dia o Daniel vai sair com os pais dele, assim ele me deu o convite. 11 – Maria Joaquina: O Que? Após desligar o telefone a menina diz: Maria Joaquina: Eu? Triste? Porque o Cirilo não foi sorteado? Até parece. Os meninos elegem Daniel como presidente do Clube dos Cuecas. No dia seguinte, antes de começar a aula, Valéria, Laura, Marcelina, Bibi, Alícia e Carmen conversam sobre a festa de Maria Joaquina e sua atitude com relação ao Cirilo e o menino escuta toda a conversa.

12 12 – Valéria: Ainda bem que vocês foram sorteadas pra a festa da Maria Joaquina. Eu não iria sem vocês Laura: Que jeito mais anti-romântico de convidar as pessoas pra uma festa Marcelina: Coitadinho do Cirilo, ele queria tanto ir... Bibi: A Maria Joaquina trata ele muito mal. Laura: Porque ela não é nada sentimental Valéria: Não é por isso, ela não deve gostar dele por que... Bibi: Por quê? Valéria: Porque ele é de cor diferente Carmen: Mas isso é um absurdo, só uma pessoa má maltrataria alguém por esse motivo Valéria: Minha mãe sempre diz que o mundo está cheio de pessoas ruins, acho que a Maria Joaquina é uma delas. Alícia: Não importa se a cor é diferente, se é rico, se é pobre, no final todo mundo é igual e não tem por que tratar diferente.

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Assim que chega a escola, Maria Joaquina pede para falar com Daniel. Transcrição dos diálogos

13 13 – Jaime: Sabe aquela casa de pastel, ali da esquina? Daniel: É do tio do Kokimoro, ele me falou. Maria Joaquina: Daniel, preciso falar com você agora. Meninos: Uiiiii Maria Joaquina: Vamos para o outro lado. Jaime: Já vai tarde a menina que tem o rei na barriga. Já no outro pátio...

14 15 16 Transcrição dos diálogos

14 – Daniel: Que cê(sic) quer, Maria Joaquina? Maria Joaquina: Olha aqui, quando eu tava(sic) preparando as coisas pra minha festa eu decidi que você não precisava entrar no sorteio dos convidados e já te entreguei pessoalmente o convite. Daniel: Sim Maria Joaquina: Aí você vai e dá o convite pro Cirilo? Daniel: Verdade, eu dei porque eu não sabia que a minha família tinha compromisso no mesmo dia. E como eu não podia ir no seu aniversário, resolvi dar o convite pro Cirilo. 15 – Maria Joaquina: Se você não ia na minha festa, devia ter me avisado. E devolvido o convite, eu não iaficar chateada. Daniel: Mas eu pensei... Maria Joaquina: Você não tinha o direito de ter convidadouma pessoa por conta propria. É meu aniversário, é minha festa e não sua! Daniel: Desculpa, é que o Cirilo estava com tanta vontade de ir... Maria Joaquina: Problem é daquele pidão, E ele que fique com vontade, mesmo com o convite, o Cirilo não vai entrar na minha festa. 16 – Daniel: Coitado! Maria Joaquina: E olha aqui, ele vai ficar sabendo disso aqgora mesmo. Daniel:Maria Joaquina, não faz isso. Vai causar a maior desilusão na vida dele. Maria Joaquina: Desilusão, eu não tô nem aí, só sei que na minha festa ele não entra.

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As meninas continuam conversando sobre a forma como Maria Joaquina trata o Cirilo e sobre preconceito.

17 Transcrição dos diálogos

17 – Valéria: A Maria Joaquina é preconceituosa isso sim Laura: Ela nem conhece o Cirilo direito pra fazer aquilo com ele Carmen: Se ele ainda fosse igual ao Paulo, dava até pra entender, né? Marcelina: Não fala mal do meu irmão não! Alícia: Gente, preconceito é coisa do passado. Carmen: Gente desinformada e sem educação Valéria: Tá fora de moda Bibi: Até nos Estados Unidos que tinha muito preconceito tá(sic) mudando. Agora o presidente é negro. Cirilo: Presidente. Maria Joaquina chama Cirilo para uma conversa.

18 19 Transcrição dos diálogos

18 – Maria Joaquina: Cirilo vem, eu preciso falar com você. Professora Helena: Assim que eu gosto, conversando como dois bons amigos. Maria Joaquina: Olha aqui Cirilo, você não foi sorteado para receber o convite da minha festa aniversário. Cirilo: Eu sei, Maria Joaquina, mas o Daniel deu o convite dele. Maria Joaquina: Só que não é bem assim. O sorteio foi justamente para definir os convidados. As pessoas que não foram sorteadas devem se conformar com a sorte. Por isso quero que me devolva o convite. Cirilo: Eu não roubei, foi o Daniel que me deu. Se quiser pode até perguntar pra ele. Maria Joaquina (arrogantemente): Eu não tenho que perguntar nada. Nas festas que eu dou eu só convido quem eu quero. Agora me dá o convite, vai Cirilo. Cirilo: Ele está na minha mala, mas não peça pra pegar ele. Maria Joaquina (arrogantemente):Eu não estou pedindo, eu só quero que você me devolva o que é meu. Cirilo: Maria Joaquina, por favor! 19 – Maria Joaquina (brava): Cirilo vai me dá o convite. Maria Joaquina pega o convite das mãos de Cirilo e rasga o convite em sua frente.

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20 Transcrição dos diálogos

20 – Maria Joaquina: Ai, olha aqui, ele está todo horrível, tá(sic) todo amassado. Você nem tomou conta dele. Nisso, Daniel chega perto de Cirilo, pergunta ao amigo se ele viu o que Maria Joaquina fez com o convite. Daniel pede para que Cirilo não fique triste, pois, existem coisas muito mais importantes na vida, como a nobreza de sua alma. Kokimoto pergunta para Paulo sobre o novo brinquedo. Em sala de aula, Adriano é derrubado por Valéria e a professora Helena chama a atenção da menina. Durante o recreio Cirilo permanece em sala de aula e a professora pergunta o que ele tem e o menino responde que não é nada. Já no pátio, Cirilo inicia uma conversa com Firmino.

21 Transcrição dos diálogos

21 - Firmino: Podem brincar, podem brincar, eu já disse que não preciso de ajuda. Podem ir. Cirilo: Firmino o meu pai é carpinteiro, ele pode te ajudar com esse banco. Firmino: Oh, obrigado garoto. Mas a gente não quer incomodar seu pai com o conserto bobo desse aqui de uma cadeira. Cirilo: Firmino me conta uma coisa, você é português? Firmino: Sim, há muito tempo. Cirilo: Nascido mesmo em Portugal? Firmino: Sim, onde você queria que eu tivesse nascido? No Japão? Cirilo: Existem negros em Portugal? Firmino: Sim, claro que tem. Cirilo: E eles também têm ódio da minha cor? Firmino: Porque também esse ódio? Por acaso existe esse ódio aqui? Cirilo: Sim, aqui existe ódio contra os negros. Firmino: Mas quem foi que falou essa bobagem pra você? Cirilo: Ninguém disse, é a Maria Joaquina que me odeia porque eu não sou da mesma cor que ela. Firmino: Ah, não fala isso. A Maria Joaquina é uma menina tão bonita que seria incapaz de dizer uma coisa dessas.

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Ainda no recreio, Daniel vai conversar com Maria Joaquina sobre a forma como a menina trata o Cirilo.

22 Transcrição dos diálogos

22 – Daniel: Maria Joaquina o que você fez com o Cirilo foi muito errado, ele ficou muito triste. Maria Joaquina: Azar, se você não tivesse dado seu convite pra ele, eu não teria feito o que fiz. Daniel: Eu não entendo o porquê que você não quer que ele vá a sua festa. Ele nunca te fez nada. Maria Joaquina: Uma pessoa como o Cirilo nunca vai entrar na minha festa. Daniel: O que você quer dizer com "Uma pessoa como o Cirilo"? Tem que parar de tratar o Cirilo assim. Ele é gente como a gente. Maria Joaquina: Não, ele é bem diferente da gente, Daniel. Daniel: Maria Joaquina eu acho que você não tem coração. Deus ta(sic) vendo, viu! Maria Joaquina: Ah, por favor, né, Daniel. Deus tem coisa muito mais importante pra fazer do que se importar com o Cirilo. A cena retorna para a conversa entre Firmino e Cirilo.

Transcrição dos diálogos

23 – Cirilo: Então Firmino, ela me tratou mal, falou coisas muito feias pra mim. Firmino: Ela deve ter um coração muito bom, apenas se expressa de uma forma errada. Cirilo: Não, ela não gosta de mim Firmino. Firmino: Ela até te convidou para a festinha de aniversário dela? Cirilo: Não mais, ela tirou o convite de mim Firmino: Como? Cirilo: Ela pegou o convite da minha mão, rasgou e jogou na minha cara. Firmino: Oh, Cirilo, pelo fato dela ter sido injusta com você, não deve achar que todas as pessoas são iguais. Paulo, Davi e Kokimoto pegam a Diretora Olívia dançando balé em sua sala. Graça ensina bordado para Carmen e a Diretora Olívia chama sua atenção. Ainda no pátio, Firmino fala com Helena sobre Cirilo.

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24 Transcrição dos diálogos

24 – Firmino: Professora Helena eu precisaria conversar com a senhorita a respeito do Cirilo Professora Helena: Eu percebi que ele está triste Firmino: Pois é, a Maria Joaquina está convidando todos os coleguinhas pra festa de aniversario dela.E segundo o que o Cirilo me contou, ela pegou de volta o convite que o Daniel tinha dado pra ele e o rasgou na cara dele. Professora Helena: Porque que a Maria Joaquina fez isso? Firmino: Vai saber professora? Professora Helena: Pensei que eles estavam ficando mais amigos... Firmino: Sabe professora, é chato ficar comentando sobre a vida dos alunos, mas eu achei que esse era um assunto muito importante para não dividir com a senhorita Professora Helena: Obrigada por ter me contado, Firmino. Bom, deixa eu entrar que eu preciso começar a aula Firmino: Claro, Claro Já em sala, a professora ensina para as crianças como fazerem rimas e ao final, pergunta se o Cirilo não fará o exercício proposto. O menino diz que está com uma dor no coração.

5. Capítulo 8 Helena diz para Cirilo escrever sobre sua dor. Helena pede para os alunos lerem os poemas. Olívia ouve Graça falando a Firmino que professora Helena daria uma ótima diretora. Cirilo faz um poema a Maria Joaquina, que levanta e pede para Cirilo esquecê-la de uma vez por todas. Helena diz para Maria Joaquina que precisa conversar com o pai dela e escreve um bilhete para Miguel na agenda da menina. Professora Helena diz para Maria Joaquina pedir desculpas a Cirilo. Maria Joaquina enfrenta Helena e afirma que não fez nada de errado. Olívia pergunta a Graça se ela insinuou que Helena é melhor que ela. Carmen pergunta ao pai o que vai acontecer com ele e sua mãe. Maria Joaquina dá o recado de Helena ao pai. Miguel dá uma bronca em Maria Joaquina e afirma que ela não pode tratar mal Cirilo. Carmem comenta com a mãe que seu pai irá jantar com a família. Adriano brinca de videogame em seu quarto. Jaime brinca de bola quando o telefone toca e ao atender descobre que é sua amiga Carmen, a menina muito feliz, conta que naquela noite seu pai jantará com ela e a mãe.Helena corrige algumas lições e conversa com sua mãe sobre a escola. Jaime liga para Valeria e conta a novidade sobre os pais de Carmen para a colega. Por sua vez, Valéria liga para contar ao Cirilo. O menino agradece a Deus pela boa notícia e diz que ligará para Maria Joaquina. Carmem e a mãe arrumam a mesa do jantar. Cirilo liga para Maria Joaquina a fim de contar a novidade, mas a menina se irrita e não atende ao colega.

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2 3 Transcrição dos diálogos

1 – Joana (Empregada dos Medsen): Casa do Dr. Medsen, um momento, por favor. Maria Joaquina é pra você, um colega seu, Cirilo. Maria Jaquina: Mas quando esse moleque vai entender que deve respeitar as diferenças entre nós e me deixar tranquila.Diga pra ele que eu não posso atender. 2 – Joana (Empregada dos Medsen): Mas ele é só um menino, Maria Jaquina 3 – Maria Jaquina(gritando): Diz pra ele Joana! Joana (Empregada dos Medsen): Desculpe, mas a Maria Jaquina não vai poder atender. Na casa de Carmen, seus pais conversam sobre reatar o casamento. No dia seguinte, na escola, a professora Helena passa um exercicio quando o pai de Maria Joaquina comparece a escola para conversarem.

4 Transcrição dos diálogos

4 – Professora Helena: Bom dia doutor, Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Olá, bom dia Professora Helena: Eu sou a professora da Maria Joaquina. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): A Maria Joaquina me mostrou um recado que você deixou na agenda dela. Pelo que eu entendi a situação com o Cirilo não ficou 100% resolvida e isso me preocupa. Professora Helena: Me preocupa também, doutor. AMaria Joaquina é uma excelente aluna, se comporta muito bem na sala de aula. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Sim e então? Professora Helena: Bom doutor, é um assunto bastante delicado. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Pode falar. Professora Helena: Sente-se, por favor. A Maria Joaquina não convidou a todos os amigos para a festa dela, ela acabou fazendo um sorteio, não sei se sabe disso. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Sim e eu não gostei nada dessa ideia. Professora Helena: Cirilo, um menino encantador que gosta muito da sua filha. Infelizmente ele não foi sorteado, mas acabou conseguindo um convite com outro aluno, mas Maria Joaquina pediu que ele devolvesse o convite e o rasgou, na cara dele. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): O que? Rasgou? Professora Helena: Ela não quer que ele vá a sua festa. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Mas por que? Professora Helena: Porque ele é negro. Doutor, não sei o que o senhor pensa a respeito de certas coisas.

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Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Que coisas? Professora Helena: A cor das pessoas. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Se a senhora acha que eu compactuo com essas injustiças, está enganada.. Professora Helena: É bom ouvir isso. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Como é esse garoto, eu não me refiro a sua cor, qual é a sua maneira de agir. Professora Helena: Um anjo, doutor, um verdadeiro anjinho. Maria Joaquina conversa com Alícia e Bibi sobre a sua desta e de todas as atrações contratadas para o seu aniversário. Na sala dos professores, a conversa entre a professora e o pai de Maria Joaquina continua.

5 Transcrição dos diálogos

5 – Professora Helena:Cirilo é um menino muito bom mesmo. E adora sua filha, vive fazendo favores só para se aproximar dela. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): E Maria Joaquina? Professora Helena: O despreza. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): È muito pior do que imaginava Professora Helena: É que eu tenho que cuidar dos meus alunos e o menino sofre muito. O aniversário da sua filha era um sonho pra ele, um grande sonho. Me perdoe se eu estou sendo muito dura te contando essas coisas. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Não precisa se desculpar, eu até agredeço por você ter me contado. A sua atitude nãoprotege somente esse garoto, mas sim a minha filha também. Eu poderia falar com a Maria Joaquina Professora Helena: Pra quê? Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Não se assuste. Eu só vou fazer o que precisa ser feito. Professora Helena: Está bem, eu vou mandar chamá-la. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Peça pra chamar o Cirilo também. Obrigada Professora Helena abre a porta e pede para que Graça chame Maria Joaquina e Cirilo na sala dos professores.

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6 Transcrição dos diálogos

6 – Professora Helena: Já pedi pra chamá-los. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Obrigada Professora Helena: Doutor, Maria Joaquina tem um bom coração,mas as vezes se engana Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Então ela tem que aprender a para de se enganar, por causa desse problema muito sangue já foi derramadono mundo todo. No caminho até a sala dos professores, Maria Joaquina discute com Cirilo.

7 8 9 Transcrição dos diálogos

7 –Maria Jaquina: O que foi que você fez dessa vez, hein? Cirilo: Eu não fiz nada Maria Joaquina 8 –Maria Jaquina: Não é o que parece, se não eles não estariam chamando a gente Cirilo: Eu não fiz nada Maria Joaquina, eu juro 9 –Maria Jaquina: Olha aqui, se isso tiver alguma coisa a ver com a minha festa, você me paga Cirilo. Ao chegar à frente da sala dos professores...

10 11 12 Transcrição dos diálogos

10 – Professora Helena: Pode entrar Maria Joaquina. Você espera um pouquinho aqui, ta(sic) bom Cirilo? Cirilo: Tá bom, professora. Maria Joaquina: Oi papai. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Escuta filha, a professora me disse coisas que realmente não me agradaram em nada Maria Joaquina: Que coisas? 11 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Que você não quer que um colega seu vá a sua festa de aniversário porque ele não é da mesma cor ou classe social. Sim ou não? Maria Joaquina: Sim.

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Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Em casa falaremos a esse respeito, por hora eu só quero te fazer uma advertência e você sabe que quando eu tomo uma atitude, não existem lágrimas que me façam mudar de ideia. Seu aniversário já está chegando, se esse garoto não for convidado como todos os outros, não haverá festa, todos os alunos da sua sala serão convidados. 12 – Maria Joaquina:Mas papai... Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Não haverá festa, nem presentes, nem nada! Esse garoto irá a sua festa e você não vai tratá-lo com distinção. Vai tratá-lo de uma forma decente, senão eu cancelo tudo na mesma hora. Se esse garoto fosse ruim, se ele te fizesse algum mal, até entenderia o seu desprezo. Mas a professora me disse que ele é um bom garoto, aí você não tem razão e nem motivo para menosprezá-lo. È tudo, o resto conversaremos em casa. Maria Joaquina sai da sala muito brava com a professora Helena. Em seguida, Cirilo entra na sala.

13 Transcrição dos diálogos

13 – Cirilo: Foi tudo bem, Maria Joaquina? Professora Helena: Pode entrar Cirilo. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Eu queria te conhecer, Cirilo. Eu gosto de conhecer os amigos de minha filha, aliás, os convidados da minha filha. Sabe da festa da Maria Joaquina? Esperamos você lá. Cirilo: Verdade professora? Professora Helena: Verdade Cirilo! Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Contar com a sua presença vai ser uma grande alegria, pra mim e pra toda minha família. Cirilo: E a Maria Joaquina já sabe? Professora Helena: Sabe sim Cirilo: Não vou me esquecer de levar um presente. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Não é preciso. Professora Helena: Pode voltar pro pátio Cirilo. Cirilo: O senhor percebeu a minha cor Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Sim, você é negro e também muito bonito. Cirilo: hehehe. Tchau Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina): Tchau Maria Joaquina se arruma para sua festa de aniversário. Jaime come antes da festa por medo de ter pouca comida. Paulo coloca um rato em uma caixa para presentear a Maria Joaquina. Na festa, a banda Restart faz um show. Valeria chega à festa e entrega o presente de Maria Joaquina. Valéria encontra com Laura, enquanto Adriano e Jaime tomam refrigerante. Marcelina e Paulo conhecem as primas de Maria Joaquina, que são tão arrogantes quanto ela.

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6. Capítulo 9 Laura começa a comer os doces compulsivamente e engasga. Cirilo chega à festa de sua amada com um lindo buquê de flores. As crianças ficam deslumbradas com os truques que o mágico faz na festa. Cirilo vai de encontro a Maria Joaquina para entregar o buquê.

1 Transcrição dos diálogos

1 – Cirilo: Meus parabéns Maria Joaquina, você está muito bonita. Mas a menina estraçalha as flores e as joga no chão. Cirilo fica desolado. Miguel observa a cena.

2 3 4 As crianças começam a dançar ao som da banda Restart. Miguel vai conversar com Cirilo e diz para o garoto se divertir.

5 6 7 Transcrição dos diálogos

5 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Oi Cirilo Cirilo: Oi Doutor Miguel Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Eu e minha esposa estamos muito felizes por você ter vindo, nos sentimos honrados. 6 – Cirilo: Brigado(sic), é uma festa muito bonita, nunca fui numa assim Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Então vai brincar. Você não vai fazer uma desfeita dessas de ficar aqui parado sozinho, vai? Cirilo: Hum, hum 7 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Olha, essa festa foi feita pra todos vocês. Eu quero que você se divirta bastante. Quer saber? Vem brincar comigo. Maria Joaquina se junta às primas para falar mal dos convidados.

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8 Transcrição dos diálogos

8 – Prima 1: Nossa, Maria Joaquina, esses amigos da sua escola são uns vândalos. Maria Joaquina:Eu sei, nem sei por que fui convidá-los Prima 2: Melhor você ficar só com a gente Cirilo: Maria Joaquina a sua festa está muito legal. 9 – Maria Joaquina esbarra em Cirilo e o empurra.

Davi consola Cirilo.

10 Transcrição dos diálogos

10 – Davi: Vamos Cirilo, tá(sic) todo mundo se divertindo Cirilo: Tô(sic) sem vontade. Davi: Ah, para com isso, vai ficar aí parado? Vamos se divertir na festa! Cirilo: Tá(sic) bom Doutor Miguel conversa com a esposa Clara sobre a atitude da filha.

11 Transcrição dos diálogos

11 – Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Nós precisamos ter uma conversa muito séria com a Maria Joaquina, essa história já tá(sic) fugindo do nosso controle, Clara.

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Clara Medsen (Mãe de Maria Joaquina):Já até imagino qual é o assunto Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Eu não vou aceitar esse tipo de atitude, muito menos vindo da nossa filha. Paulo solta um rato na festa. As crianças brincam de corrida do saco quando Cirilo se aproxima de Maria Joaquina e pede para brincar junto.

12 13 14 Transcrição dos diálogos

12 – Maria Joaquina posso brincar com vocês? 13 – Você não é da minha turma, vá com os seus. 14 – Cirilo chora de tristeza. Pe Lanza convida Maria Joaquina para subir ao palco e cantar uma música com o grupo. Do palco, a menina fulmina Cirilo com um olhar. Cirilo fica extremamente deslocado na festa. Chega a hora de cantar o parabéns a Maria Joaquina. Valéria vê um rato circulando pela mesa em que está o bolo. As crianças entram em desespero. Paulo aproveita a confusão para empurrar a cabeça de Maria Joaquina contra o bolo. Ao chegar em casa, Miguel repreende Maria Joaquina pela forma como ela tratou Cirilo.

15 Transcrição dos diálogos

15 – Clara Medsen (Mãe de Maria Joaquina):Gostou da sua festa, minha princesa? Maria Joaquina:É foi legal.Só não gostei da parte do parabéns, foi um vexame. Tenho quase certeza que foi aquele chato do Cirilo que armou tudo. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Chega Maria Joaquina, hoje você já passou dos limites. Maria Joaquina:Mas porque papai, eu não fiz nada Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Pensa que eu não vi como é que você tratou seu amiguinho durante toda a festa? Hã? Nós vamos ter que ter uma conversa muito seria a esse respeito. Maria Joaquina:O Cirilo não é meu amigo, ele só foi na minha festa por causa de vocês Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Pro quarto, Maria Joaquina Maria Joaquina:Mas isso é injusto. Injustiça é o que você fez com o Cirilo, Pro seu quarto agora. E só depois você vai poder abrir os seus presentes.

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Clara Medsen (Mãe de Maria Joaquina):Precisava ser tão duro Miguel, hoje é o aniversário dela. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Não importa, não importa, ela me desobedeceu maltratando o Cirilo. A Maria Joaquina ela tem que aprender a respeitar mais as pessoas independente da posição social, da cor ou da religião. Maria Joaquina afirma a Valéria e Alícia que foi Cirilo quem soltou o rato em sua festa e a empurrou contra o bolo. Cirilo enfrenta Paulo e afirma que ele fez mal em soltar um rato na festa de Maria Joaquina. Na sala de aula, Helena pede aos alunos para escrever uma redação sobre o tema “como é errado mentir”. Valéria esconde os sapatos de Laura, que os tirou porque estavam apertando os seus pés. Olívia leva a supervisora Bernadete para conhecer os alunos de Helena. A supervisora pede para Laura ler a redação que escreveu. Laura diz que não pode, pois está descalça. Todos começam a gargalhar. Helena fica desconcertada diante da situação. Olívia chama Helena à diretoria e passa um sermão na professora. Valéria se sente culpada pelo que fez. Olívia culpa Helena por passar a mão na cabeça dos alunos e afirma que Valéria é uma ameaça. Helena vai conversar com Valéria. Daniel comenta com Cirilo que Valéria será expulsa. Helena diz a Valéria que não pode mais ser sua amiga. No pátio da escola, a supervisora Bernadete pergunta de Helena aos alunos. Olívia observa Bernadete conversando com os alunos e entra em pânico. Helena afirma a Valéria que vai se distanciar dela, pois só assim ela irá conhecer os limites entre brincadeiras e travessuras. Valéria abraça a professora. Helena desabafa com a mãe e conta que foi extremamente difícil ser dura com Valéria. Os meninos falam que a única menina que pode integrar o Clube dos Cuecas é Alícia, pois ela é “moleca”.

7. Capítulo 37 Na retomada dos capítulos anteriores, durante o Jantar a família de Cirilo conversa com ele sobre Maria Joaquina.

1 2 3 1 – José Rivera (Pai de Cirilo): Meu filho, você não tem que pedir pra Deus, para a Maria Joaquina te aceitar. Não é, Paula? Você tem que pedir pra Deus curar o coração dela. 2 – Cirilo: Mas essa é uma doença no Coração? 3 – Belém Rivera (Mãe de Cirilo): Mais ou menos filho, é como se fosse uma doença da alma, que faz tão mal quanto uma doença de verdade. Adriano pergunta a Daniel se sua imaginação vai voltar. Valéria telefona para Davi, que conta que sua avó está melhor. Valéria afirma que não quer ver Davi triste. Adriano tem um pesadelo, no sonhos ele é raptado por Cartola Negra e acorda sobressaltado. A avó de Davi acorda melhor e ele vai para a escola. Todos comemoram a recuperação da avó de Davi. Como é aniversário da avó de Davi, Daniel tem a ideia de reunir todos os alunos para fazer uma surpresa a ela. Maria Joaquina acha a ideia uma besteira.Os alunos correm para contar a ideia a Helena.

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Valéria fala que Maria Joaquina disse que é uma grande besteira. A professora pede para os alunos chamarem Maria Joaquina. Helena conversa com a menina e pede a ajuda dela para organizar a visita, pois ela tem muito bom gosto, mas antes disso a professora cnversa com Cirilo sobre Maria Joaquina

4 5 4 – Professora Helena: Senta aqui, meu amor, a Maria Joaquina é um pouquinho orgulhosa, mas ela tem um grande coração e eu sei que gosta de você. Cirilo: É sério, eu até orei pra que ela gostasse de mim. Maria Joaquina: Você me chamou professora? Professora Helena: Chamei sim, é que eu queria te pedir um favor... Cirilo: A professora a Helena disse que você gosta de mim. Maria Joaquina: Quem? Eu? Cirilo: Viva, viva!!! 5 – Antes de se sentar, a menina limpa o lugar onde Cirilo estava sentado. Maria Joaquina: Que favor você quer me pedir, professora? Professora Helena: É que os seus amigos querem visitar a avó de Davi, e eu queria que você fosse, pra me ajudar na organização. Ah e será bom contar com seu bom gosto pra escolher as flores que vamos dar pra dona Sara. E então, aceita? Maria Joaquina: Sabe professora, eu nem tava(sic) pensando em ir. Mas como é pra ajudar você, aí já é outra coisa, né? Professora Helena: Ah, obrigada. Helena pede autorização a Olívia para levar o alunos para fazer uma visita à avó de Davi, pois ela está fazendo aniversário e está muito doente. Olívia pergunta a Helena o que os alunos podem aprender visitando uma senhora doente. Olívia afirma que precisa da autorização dos pais dos alunos. Helena pede para Olívia deixar os alunos usarem o seu telefone para avisar aos responsáveis. Irônica, Matilde insinua a Olívia que a diretora está cedendo a Helena. Olívia diz que se a avó de Davi morrer vai se sentir culpada por não ter autorizado a visita. Helena e seus alunos chegam à casa de Davi e cantam uma música para a avó do garoto. Davi apresenta seus amigos a D. Sara, um a um.

6 Transcrição dos diálogos

6 – D. Sara (avó de Davi): Crianças, professora Helena, muito obrigada, fico muito contente.

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Professora Helena: Todos nós ficamos muito felizes em saber que a senhora se recuperou. D. Sara (avó de Davi):Muito obrigada. Davi: Vovó, eu posso apresentar meu amigos pra você?Essa é a Valéria D. Sara (avó de Davi): Ah, a brincalhona? Todos: Éééééé Valéria: Por favor, dona Sara, não liga pro(sic) que o Davi faloue essa gente é muito exagerada. Todos: Uhhhh. Davi: Aquele dalí(sic) com fone, tá(sic) vendo? É o Paulo e essa é a Marcelina Marcelina: Prazer, senhora. D. Sara (avó de Davi): Prazer Davi: Eles são irmãos,mas bem diferentes. Valéria: Pra sorte dela Todos: Hahahaha Paulo: Como assim? Eu sou um santinho rsrsrs Davi: Aquela dali de luva é a Maria Joaquina Maria Joaquina: Oi, eu vim aqui pra te dar os parabéns e também pra ajudar a professora Helena a organizar toda a turma. D. Sara (avó de Davi): Você deve ser uma aluna muito dedicada, né? Maria Joaquina: Sou sim. Davi: Aquela do lado dela, a ruivinha é a Bibi Smith Valéria: Importada diretamente dos Estados Unidos Todos: Hahahaha Bibi: Muito prazer senhora D. Sara (avó de Davi): O prazer é todo meu. Davi: Aquele Dalí(sic), o japinha, é o Kokimoto Valéria: Ele é importado diretamente do Japão. Kokimoto: “Omedetou”, parabéns senhora D. Sara (avó de Davi): Obrigada muito, obrigada. Mas como você é bonito. Kokimoto: Arigato, Arigato D. Sara (avó de Davi): Primeiro japonês ruivo que eu conheço. Jaime: Isso é por que a mãe dele casou com um tomate. Todos: Hahahaha Davi: Aquela dalí(sic) de chapéu, é a Alícia. Valéria: Ela sim é um verdadeiro produto nacional. Todos: Hahahaha D. Sara (avó de Davi): Ah, muito prazer Alice: Eu to(sic)feliz que a senhora se recuperou, feliz aniversário. Na escola, Graça reclama do silencio da escola, enquanto varre a sala das crianças.Davi continua apresentando seus amigos a D. Sara.

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7 – Davi: Aquele dalí(sic) é o Cirilo Cirilo: Parabéns, senhora. D. Sara (avó de Davi): Puxa, mas como você é bonito. Cirilo: Viu Maria Joaquina, ela falou que eu sou bonito. Davi: Aquela dalí(sic) de óculos é a Carmen Carrilho. D. Sara (avó de Davi): Parabéns, minha filha! Carmen: Parabéns por que, senhora? D. Sara (avó de Davi): Porque você não vai mais sair da escola, Carmen: Você contou pra ela Davi? Davi: Claro que eu contei! Aquela dalí(sic) é a especial que tá(sic) perto dos doces, é a Laura. Valéria: A romântica da turma D. Sara (avó de Davi): Um prazer em conhecer você. Nada mai bonito do que ser romântica. Laura: Faz muito bem pra saúde. Todos: Hahahaha Davi: Aquele dalí(sic), que é o sério, é o Daniel. D. Sara (avó de Davi): Hum Daniel, já ouvi falar muito bem de você. Você é o exemplo da turma. Daniel: Seu neto é muito exagerado, nós estamos muito contentes de ver a senhora assim, tão bem. D. Sara (avó de Davi): Hum, muito obrigada, agora que vocês estão todos aqui comigo, eu estou melhor ainda. Davi: Aquele grandalhão, que já ta devorando a mesa é o Jaime Palilo. D. Sara (avó de Davi):: Vem cá Jaime. Jaime: Bom, sabe senhora, a gente até achou que a senhora iria morrer. A gente ficou muito preocupado. Mas graças a Deus que não morreu. D. Sara (avó de Davi): Você também vai ver que o altíssimo vai fazer você passar de ano. Jaime: Ah sim, e eu tenho que acreditar nesse milagre. Todos: Hahahaha Davi: Aquele vovó, que já tá(sic), viajando, é o Adriano. Adriano: Muitas felicidades, Senhora. D. Sara (avó de Davi): Muito obrigada Valéria: Com licença, D. Sara, agora gostaria de apresentar uma pessoa da qual todos nós gostamos muito, eu, um pouquinho mais, é o Davi. Todos: Heeeeeeeeeee D. Sara (avó de Davi):Obrigada Davi, obrigada crianças! Paulo diz a Kokimoto que visitar uma velhinha é muito chato. Paulo revela que vai jogar pó de mico numa pessoa muito especial.

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8. Capítulo 199 Maria Joaquina sofre no hospital com a falta de informações sobre a cirurgia de sua mãe, Clara. A professora Helena explica para seus alunos que é bela a atitude deles de querer doar sangue, mas que por serem crianças isso não será possível. Cirilo está triste com todo o ocorrido e pensa em ajudar, anota o tipo sanguíneo. Miguel acompanha a cirurgia. Atendendo um pedido da Helena, Rafael vai até a escola fazer companhia e dar suporte para Maria Joaquina. Cirilo conta sobre o acidente para seus pais e fala da dificuldade do tipo sanguíneo. Os pais de Cirilo confortam o filho e dizem que os três são do tipo O negativo. Empolgado em poder ajudar a salvar a mãe de Maria Joaquina, Cirilo leva seus pais até o hospital para que façam doação de sangue. Comovido, Miguel agradece a atitude da família de Cirilo.

Transcrição dos diálogos

1 – Cirilo: Doutor, eu quero dar o meu sangue para sua esposa, eu não tenho medo. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Você é um menino muito valente Cirilo, obrigada por oferecer para ajudar a Clara, mas você ainda é muito novo, não pode doar sangue. Cirilo: É, a Professora Helena, ela disse, mas eu só quis dizer... José Rivera (Pai de Cirilo): Mas nós podemos doutor, eu e a Paula nós somos O-. Belém Rivera (Mãe de Cirilo): E nós fazemos questão de doar o nosso sangue pra sua esposa, doutor. Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Eu não tenho palavras para agradecer. Saibam que a atitude de vocês vai ficar gravada para sempre na minha memória. José Rivera (Pai de Cirilo): Ah, imagina, doutor, foi tudo graças a esse menino que ficou atento às explicações da professora e contou pra gente que a sua esposa estava precisando, aí... Miguel Medsen (Pai de Maria Joaquina):Muito obrigado. Cirilo: De nada.

Rafael leva Maria Joaquina para casa e a deixa aos cuidados de Joana. Helena e Rafael falam sobre a situação. Mais tarde, Miguel diz para os pais de Cirilo que Clara já não corre mais risco. No outro dia, Helena conta a boa ação de Cirilo para Graça e Olívia. Eles querem ver como será a reação de Maria Joaquina quando souber que Clara recebeu sangue da família de Cirilo.

2 3 Transcrição dos diálogos

2 – Professora Helena: O Cirilo teve mesmo a quem puxar! Graça: Ai, ai, olhe, mas esse bichinho tem um coração bom por demais, né mesmo!

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Professora Helena: Vocês acreditam que ele estava tão preocupado com a mãe da Maria Joaquina que ele anotou qual o tipo de sangue dela pra encontrar um doador. Graça: Pra ver como é que ele gosta dessa menina, né? Professora Helena: E quando ele soube que a família inteira tinha o mesmo tipo sanguíneo, implorou para que os pais fossem imediatamente ao hospital fazer a doação. Diretora Oliva: Foi mesmo uma, uma atitude tão honrosa a desse menino e dessa família, não é? Nós precisamos mandar uma nota pra eles elogiando essa boa ação, não é? Graça: Olhe, mas que coincidência, né? Justo o Cirilo que Maria Joaquina trata tão mal. Ah, mas essa bichinha pagou a língua dessa vez, ah se pagou. Professora Helena: É eu quero ver como vai ficar o comportamento dela daqui por diante. Diretora Oliva: Bom, espero que seja favorável ao menino. Não é o mínimo que ela pode fazer, depois de ele e a família dele terem salvado a mãe dela. Graça: Hummm, sei não, vice, sei não Dona Olívia, eu hein, aquela bichinha orgulhosa do jeito que ela é, sabe lá como é que vai reagir. 3 – Firmino: Perdão, eu vejo que estão em conselho de classe. Graça:Hummm, tô me senti óh, importante agora! Firmino:Então, receberam alguma notícia da Clara? Professora Helena: Sim, ela continua no hospital, mas já está fora de perigo. Firmino: Oh, bendito seja Deus Graça: Oh, bendito seja o Cirilo. Professora Helena: Se não fosse a doação de sangue feita pela família do Cirilo, a dona Clara não teria conseguido fazer a transfusão a tempo. Firmino: Que bom que deu tudo certo Professora Helena: A Maria Joaquina vem hoje pra escola, ela pode nos contar os detalhes. Maria Joaquina chega à escola e reúne todos os colegas na sala de aula. Ela diz que sua mãe está melhor graças a Cirilo e agradece a ajuda dele. Os colegas parecem não acreditar no que estão ouvindo. Maria Joaquina pede para que Cirilo se levante e vá até perto dela. Desconfiado, o menino atende ao pedido. Surpreso, ele escuta as seguintes palavras de Maria Joaquina: "Eu gosto de você Cirilo". A patricinha abraça o garoto, que fica paralisado e encantado. Maria Joaquina está emocionada e com os olhos cheios de lágrimas e torna a repetir o abraço e sua gratidão. Helena chega à sala e se emociona com a cena que acaba de ver. Diz que em toda sua vida nunca viu nada mais romântico. Cirilo também se emociona.

4 5 6 Transcrição dos diálogos

4 – Cirilo: Na verdade eu que queria doar o meu sangue, mas eles só aceitam o de adultos, por isso que os meus pais que foram doar. Paulo: Também com esse tamanhinho, eles não iam conseguir tirar nem uma gota de sangue. Kokimoto: Já o Jaime...

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Jaime agarrando Kokimoto pelo pescoço Kokimoto: Me solta, me larga, me larga Jaime! Jaime: Isso é pra você aprender a para de ser folgado, cê ta(sic) entendendo? Kokimoto: Tô(sic) Daniel: Eles falam que eles enfiam uma agulha desse tamanho e dói pra caramba. Cirilo: Eu não me imporia com o tamanho da agulha, a mãe da Maria Joaquina precisava. Mario: Ai Cirilo, é só por causa da “mãe da Maria Joaquina”... Cirilo: Eu não gosto de ver a Maria Joaquina sofrendo Davi: Ninguém gosta de ver ninguém sofrendo. Paulo: Depende de quem! Adriano: Termina de contar Cirilo, o que aconteceu depois? Cirilo: Aí depois que os meus pais terminaram de doar o sangue, a gente ganhou um monte de comida e tava uma delicia! Jorge: Só você mesmo, né, Cirilo, pra ficar contente com comida de hospital Jaime: Eu também! Cirilo: Mas eu ganhei um sanduba que tava(sic) maneiro Jaime: É, tem gente que tem muita sorte mesmo, sabe, tipo, tem o sangue meio raro, sabe, e aí dá-lhe lanche na faixa! 5 – Maria Joaquina: Gente, atenção Paulo: Vixi abriu a gaiola das loucas Maria Joaquina: É sério, Paulo, o que eu tenho pra dizer é muito importante e que todo mundo tem que estar presente. Cirilo: Maria Joaquina, a sua mãe já melhorou? Maria Joaquina: Sim Cirilo e graças a você Cirilo: Graças a mim? Maria Joaquina: É Cirilo, eu tenho que agradecer pelo que você fez pela minha família, muito obrigada. Cirilo:Não precisa agradecer,Maria Joaquina, você faria o mesmo por mim. Maria Joaquina: Venha até aqui, Cirilo. Eu gosto de você, Cirilo. Daniel: Cê(sic) ta bem, Cirilo? Jaime: Ele tá(sic) pior do que o Adriano. Mario: Cirilo, ow Cirilo, acorda! Cirilo: Eu tô no céu? Sonhei que a Maria Joaquina tinha dito que gostava de mim e me dava um abraço. Alícia: Você não sonhou seu bobo, ela acabou de fazer isso. Cirilo: Mesmo? 6 – Maria Joaquina: Você e seus pais salvaram a minha mãe, eu tenho que retribuir de alguma forma. Professora Helena: Eu acho que em toda minha vida, eu nunca vi uma cena mais romântica Laura: Nem eu!

Mais tarde, Cirilo pula de alegrias em casa e conta o que aconteceu aos seus pais. No hospital, Clara acorda preocupada com a filha que chega com flores para presentear sua mãe. Muita emoção. No outro dia, Cirilo tenta falar com Maria Joaquina, pergunta se o que ela disse era verdade.

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7 Transcrição dos diálogos

7 – Cirilo: Bom dia Maria Joaquina, Maria Joaquina: Bom dia, Cirilo Cirilo: E a sua mãe? Maria Joaquina: Melhor Cirilo: Que bom! Maria Joaquina: E aí, mais alguma coisa? Cirilo: Ah, é verdade o que você tinha falado pra mim ontem? Maria Joaquina: Sobre? Cirilo: Sobre que você gostava de mim.

A patricinha respira fundo e o deixa falando sozinho.

9. Capítulo 310 - Final

Inicia com as crianças falando de um plano, para juntar a Professora Helena com René.

1 2 3 1 – Valéria: Se fosse você, fazendo isso pra mim, eu não resistiria. Cirilo: Maria Joaquina, e você? Gente, cadê a Maria Joaquina? Jaime: Já foi fazer a parte dela do plano. 2 – Cirilo: Eu não falei, eu sempre tive razão. A Maria Joaquina tá(sic) ajudando a gente e hoje ela é amiga de todo mundo. Valéria: Mas continua sendo esnobe Davi: E fresca 3 – Jaime: E chata Cirilo: Ah, ta bom, ta bom. Eu só quis dizer. Mas ela é linda! Valéria: Ah, Cirilo! Helena recebe a visita do aluno Adriano e se animou depois do garoto fantasiar uma vida para ela, como se fosse uma princesa. Com uma armação de Valéria, Maria Joaquina, Cirilo e outros alunos da escola Mundial, René conseguiu reatar com Helena e a pediu em casamento. Em seguida, Helena e René celebraram seu casamento com a presença de amigos e familiares. Logo depois os alunos apareceram fazendo um carrossel em volta da diretora Olívia e do porteiro Firmino.

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A novela termina em um sonho das crianças sobre o futuro: Daniel funda um centro de ajuda às crianças carentes sob o nome de Patrulha Salvadora; Kokimoto muda-se para o Japão e se torna um samurai; Paulo se elege deputado federal; Marcelina trabalha como assessora pessoal de seu irmão; Alícia conduz-se à carreira de piloto de avião; Bibi se estabelece na carreira de atriz; Jorge, solitário, fiscaliza os valores da bolsa; Carmem realiza seu desejo de ser professora; Jaime segue como jogador de futebol; Mário se torna veterinário; Davi casa com Valéria, apresentadora de televisão (homenagem à Hebe Camargo), e é pai de trigêmias; Laura integra-se como novelista;Margarida trabalha como modelo e Maria Joaquina é sua estilista, agora casada com Cirilo, neurocirurgião.

4 5 6 Transcrição dos diálogos

4 – Narrador: A Maria Joaquina se tornou uma estilista renomada e sua grife M.J Medsen é um ícone no mundo da moda. Margarida: Ai Maria Joaquina: Que que foi Margarida, apertou de mais? Margarida: Não, ela me espetou com a agulha mesmo. Narrador: E a Margarida, hoje é uma top model, é sua modelo preferida. Maria Joaquina: Tá quase viu? Só tem que soltar um pontinho a mais. Eu quero o caimento dessa roupa mais leve, tá? Maria Joaquina essa coleção de verão vai ser um estouro. Maria Joaquina: O jet set com certeza vai ficar com a cara no chão quando ver a minha modelo mais maravilhosa de todas vestindo essas roupas, é claro. Mas Margarida, é pra comer, viu!? Eu gosto de todas as modelos com o rosto cheio de vida. 5 – Cirilo: Querida, cheguei! Maria Joaquina: Que saudades eu estava de você, meu amor... 6 – Narrador: Como podem ver, o Cirilo se tornou médico, mais especificamente neurocirurgião e ainda ganhou diversos prêmios por suas pesquisas inovadoras Adriano constrói sua estação lunar. Por fim, os alunos da Escola Mundial apareceram cantando e dançando com a Orquestra Sinfônica de Jovens, regida pelo maestro Júlio Medaglia.

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