UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA E GESTÃO DO CONHECIMENTO Marisa Araújo Carvalho FRAMEWORK CONCEITUAL PARA AMBIENTE VIRTUAL COLABORATIVO DAS COMUNIDADES VIRTUAIS DE PRÁTICA NAS UNIVERSIDADES NO CONTEXTO DE e-GOV Tese apresentada ao Programa de Pós- Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do grau de Doutora em Engenharia e Gestão do Conhecimento. Orientador: Prof. Dr. Aires José Rover Coorientador: Prof. Dr. Tarcísio Vanzin Florianópolis 2013

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  • UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

    PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM

    ENGENHARIA E GESTO DO CONHECIMENTO

    Marisa Arajo Carvalho

    FRAMEWORK CONCEITUAL PARA AMBIENTE VIRTUAL

    COLABORATIVO DAS COMUNIDADES VIRTUAIS DE

    PRTICA NAS UNIVERSIDADES NO CONTEXTO DE e-GOV

    Tese apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento da Universidade Federal de Santa Catarina, como

    requisito parcial para obteno do grau de Doutora em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento. Orientador:

    Prof. Dr. Aires Jos Rover Coorientador:

    Prof. Dr. Tarcsio Vanzin

    Florianpolis

    2013

  • Marisa Arajo Carvalho

    FRAMEWORK CONCEITUAL PARA AMBIENTE VIRTUAL

    COLABORATIVO DAS COMUNIDADES VIRTUAIS DE

    PRTICA NAS UNIVERSIDADES NO CONTEXTO DE e-GOV

    Esta Tese foi julgada adequada para a obteno do Ttulo de

    Doutora em Engenharia e Gesto do Conhecimento na rea de

    Concentrao Mdia do Conhecimento, e aprovada em sua forma final

    pelo Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento.

    Florianpolis, 10 de maio de 2013

    _________________________________________

    Prof. Gregrio Jean Varvakis Rados, Dr.

    Coordenador do Programa

    Banca examinadora:

    _________________________________________

    Prof. Aires Jos Rover, Dr.

    Orientador

    Universidade Federal de Santa Catarina

    _________________________________________

    Prof. Tarcsio Vanzin, Dr.

    Coorientador

    Universidade Federal de Santa Catarina

  • _________________________________________

    Prof. Alice Theresinha Cybis Pereira, Dr.

    Universidade Federal de Santa Catarina

    _________________________________________

    Prof. Fernando Ayuda Galindo, Dr.

    Universidad de Zaragoza

    _________________________________________

    Prof. Gustavo Raposo Pereira Feitosa, Dr.

    Universidade de Fortaleza

    _________________________________________

    Prof. Luiz Antnio Moro Palazzo, Dr.

    Universidade de Federal de Santa Catarina

    _________________________________________

    Prof. Orides Mezzaroba, Dr.

    Universidade de Federal de Santa Catarina

  • Dedico esta Tese memria de meu

    pai que tanto privilegiou minha

    educao

  • AGRADECIMENTOS

    Deus

    Aos meus antepassados que oportunizaram a concluso de mais uma

    etapa de vida

    minha famlia que compreendeu o processo exaustivo da pesquisa

    Aos professores Aires Rover e Tarcsio Vanzin pelo processo de

    orientao pesquisa

    Aos membros da banca examinadora os professores Alice T. Cybis

    Pereira, Luiz Antnio Moro Palazzo, Orides Mezzaroba, Fernando

    Ayuda Galindo, Gustavo Raposo Pereira Feitosa pela apreciao,

    reviso e avaliao crtica que contribuiu para o aperfeioamento da

    pesquisa

    Aos especialistas que colaboraram na aplicao do mtodo Grupo Focal

    para verificao dos requisitos-orientaes

    Aos professores do EGC pelas disciplinas ministradas proporcionando o

    entendimento e contribuio a pesquisa

    Aos meus colegas do EGC e os queridos amigos pela convivncia e

    apoio durante a pesquisa

    A todos que, direta ou indiretamente, proporcionaram realizao desta

    Tese

  • RESUMO

    A evoluo da mdia Internet tem favorecido a reunio de pessoas com

    interesses comuns na aprendizagem situada e coletiva, facilitando a

    formao, comunicao e colaborao entre as Comunidades Virtuais de

    Prtica (VCoPs) por meio da interface digital interativa. As VCoPs

    tornam-se mais visveis a partir do uso das Tecnologias da Informao e

    Comunicao (TICs), tais recursos disponibilizados pela mdia Internet

    ampliam a condio da Rede no contexto das aplicaes de Governo

    Eletrnico (e-Gov), especificamente as Universidades. Ressalta-se que a

    Rede promovem as tecnologias colaborativas e, por conseguinte formas

    de comunicao adequadas ao perfil e conhecimento especfico das

    VCoPs. O Ambiente Virtual Colaborativo chamado de espao Ba onde se estabelece as interaes e a criao, organizao, aquisio,

    disseminao, acesso, compartilhamento do conhecimento novo, por

    conseguinte, as melhores prticas colaborativas das VCoPs. Entretanto,

    pouco se investiga como formalizar e representar os processos

    estruturantes- formao, comunicao e colaborao- das VCoPs nas

    Universidades e sua contribuio efetiva na interao com o Governo.

    Esta Tese tem como objetivo propor um framework conceitual do Ambiente Virtual Colaborativo para formalizar e representar os

    processos estruturantes das VCoPs, e assim especificar uma

    metodologia projetual da interface digital interativa, na promoo do

    acesso e compartilhamento do conhecimento entre as VCoPs as

    Universidades. As abordagens utilizadas nesta pesquisa so Interao

    Humano-Computador (IHC) e Design Centrado no Usurio (DCU) e

    apia-se na convergncia interdisciplinar de vrios modelos tericos das

    VCoPs, Colaborao 2.0, Comunicao em Rede e Criao do

    Conhecimento, expandindo assim a Teoria da Cognio Situada.

    Respondendo questes referentes aos aspectos comunidade, ambiente e

    conhecimento como conceitos-chave gerados a partir da inter-relao e

    integrao conceitual destes modelos. O entendimento destes aspectos

    contribuiu para elaborar e verificar os requisitos-orientaes que do

    suporte metodologia projetual na concepo da interface digital

    interativa. Para isso apresenta-se as telas da interface digital do

    Ambiente Virtual Colaborativo.

    Palavras-chave: Governo Eletrnico. Comunidades Virtuais de Prtica.

    Ambiente Virtual Colaborativo. Framework Conceitual

  • ABSTRACT

    The evolution of Internet media has favored for bringing people together with common interests in situated learning and collective,

    facilitating the formation, communication and collaboration between the Virtual Communities of Practice (VCoPs) through the interactive

    digital interface. The VCoPs become more visible with Information and

    Communication Technologies (ICTs), these resources made available by the Internet media amplify the condition of the network in the context of applications of Electronic Government (e-Gov), specifically the Universities. It is emphasized that the network promotes collaborative

    technologies and therefore forms of communication appropriate to the profile and expertise the VCoPs. The Collaborative Virtual Environment is named the Ba space which establishes the interactions and the

    creation, organization, acquisition, dissemination, access, sharing new knowledge, therefore, best practices collaborative of VCoPs. However,

    do not is researched as formalized and represent the processes

    structural- training, communication and collaboration- VCoPs of the Universities their effective contribution in interacting with the Government. This thesis aims to propose a conceptual framework of the

    Collaborative Virtual Environment to formalize and represent the

    processes of structuring of the VCoPs, and thus specify a methodology projetual interactive digital interface, in promoting access and sharing

    of knowledge between VCoPs Universities. The approaches used are the Human-Computer Interaction (HCI) and User Centered Design (DCU),

    and is based on the interdisciplinary convergence of various theoretical models, providing the formalization and representation of the

    conceptual framework as from the interrelation and integration of conceptual the models of VCoPs, Collaboration 2.0, Communication under Network and Knowledge Creation, thereby expanding the Theory

    of Situated Cognition. Answering questions pertaining to community aspects, environment and knowledge as the key concepts generated from the interrelation and integration conceptual of these models.The

    understanding of these aspects has contributed to elaborate and verify requirements-guidelines that give support to the project methodology in

    the design of interactive digital interface. For that is presented the

    wireframe of the digital interface Collaborative Virtual Environment.

    Keywords: Electronic Government. Collaborative Virtual Environment. Virtual Communities of Practice. Conceptual Framework

  • SUMRIO

    INTRODUO .................................................................................... 15

    1.1 CONTEXTUALIZAO DA PESQUISA ................................ 15 1.2 PROBLEMA DE PESQUISA .................................................... 23 1.3 QUESTO DE PESQUISA ........................................................ 27 1.4 OBJETIVOS ............................................................................... 28

    1.4.1 Objetivo Geral ................................................................... 28 1.4.2 Objetivos Especficos ........................................................ 28

    1.5 JUSTIFICATIVA E ESCOPO DA PESQUISA ......................... 29 1.6 RELEVNCIA E CONTRIBUIO TERICA ...................... 31 1.7 ADESO DA PESQUISA AO PPEGC ...................................... 32 1.8 METODOLOGIA E REVISO SISTEMTICA ...................... 36 1.9 DESCRIO DOS CAPTULOS .............................................. 40

    2 GESTO DO CONHECIMENTO E GOVERNO ELETRNICO ... 41 2.1 CRIAO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL ...... 41 2.2 GESTO DO CONHECIMENTO ............................................. 56 2.3 GOVERNO ELETRNICO ....................................................... 67 2.4 GESTO DO CONHECIMENTO E GOVERNO ELETRNICO

    ........................................................................................................... 82 3 COMUNIDADES VIRTUAIS DE PRTICA................................... 95

    3.1 CULTURA MIDITICA E CIBERCULTURA ......................... 95 3.2 COGNIO SITUADA E COMUNIDADES DE PRTICA . 103 3.3 MODELO DE COMUNIDADES DE PRTICA .................... 106 3.4 COMUNIDADES DE PRTICA E COMUNIDADES

    VIRTUAIS ...................................................................................... 122 4 PROCESSOS DE COMUNICAO .............................................. 135

    4.1 CONCEITO DE COMUNICAO ......................................... 135 4.2 PARADIGMAS E TEORIAS DA COMUNICAO ............. 141 4.3 ABORDAGEM SISTMICA DA COMUNICAO ............. 146 4.4 EVOLUO DOS MODELOS DE COMUNICAO ......... 153 4.5 MODELO DE COMUNICAO EM REDE ......................... 166 4.6 COMUNICAO NAS COMUNIDADES VIRTUAIS DE

    PRTICA........................................................................................ 179 5 AMBIENTE VIRTUAL COLABORATIVO .................................. 197

    5.1 INTERAO HUMANO-COMPUTADOR E AMBIENTE

    VIRTUAL ....................................................................................... 197 5.2 AMBIENTE VIRTUAL E AMBIENTE VIRTUAL

    COLABORATIVO ......................................................................... 208

  • 5.3 AMBIENTE VIRTUAL COLABORATIVO DE E-GOV........ 228 5.4 PROCESSOS COLABORATIVOS E MODELO DE

    COLABORAO .......................................................................... 276 6 FRAMEWORK CONCEITUAL PARA AMBIENTE VIRTUAL

    COLABORATIVO DE E-GOV .......................................................... 311 6.1 DEFINIO DE FRAMEWORK CONCEITUAL .................. 313 6.2 FRAMEWORK CONCEITUAL PARA AMBIENTE VIRTUAL

    COLABORATIVO DE E-GOV...................................................... 318 6.3 DESCRIO E REPRESENTAO DO FRAMEWORK

    CONCEITUAL ............................................................................... 323 6.3.1 Mdulo Esquema Inter-relacional ................................... 325 6.3.2 Mdulo Mapa Conceitual Integrativo .............................. 331

    6.4 REQUISITOS DO AMBIENTE VIRTUAL COLABORATIVO

    DE E-GOV ...................................................................................... 340 6.5 VERIFICAO DOS REQUISITOS-ORIENTAES .......... 344 6.6 INTERFACE DIGITAL DO AMBIENTE VIRTUAL

    COLABORATIVO DE E-GOV...................................................... 356 6.6.1 Metodologia Projetual para Interface Digital .................. 357 6.6.2 Mdulo Projeto Conceitual ............................................. 367

    7 CONCLUSES ................................................................................ 379 REFERNCIAS .................................................................................. 385 APNDICES ....................................................................................... 429 APNDICE A- Comunidade............................................................... 430 APNDICE B- Ambiente ................................................................... 431 APNDICE C- Conhecimento ............................................................ 432

  • 15

    INTRODUO

    1.1 CONTEXTUALIZAO DA PESQUISA

    Para Lemos (2004) o comeo do sculo XXI propiciou uma nova fase

    da Sociedade da Informao, iniciada com a popularizao da Internet na

    dcada de 80, e radicalizada com o desenvolvimento da computao sem fio,

    pervasiva e ubqua, a partir da popularizao dos telefones celulares, das

    Redes de acesso Internet sem fio Wi-Fi e Wi-Max, e da tecnologia bluetooth e 3G. Trata-se de transformaes nas prticas sociais, na vivncia do espao urbano e na forma de produzir e consumir informao, afirma o

    autor. O termo Sociedade da Informao passou a ser utilizado como

    substituto do conceito de Sociedade Ps-industrial e como forma de

    transmitir o contedo especfico do novo paradigma tcnico-econmico,

    afirma Werthein (2000). Uma Sociedade integrada por Redes complexas de

    comunicao, que rapidamente produz e compartilha informaes chamada

    de Sociedade da Informao.

    A Sociedade da Informao est centrada nas Tecnologias da

    Informao e Comunicao (TICs) e utiliza-se deste termo para descrever

    uma Sociedade e uma economia que faz o melhor uso possvel das inovaes

    tecnolgicas. A propagao mundial de TICs criou novas condies para a

    emergncia da Sociedade do Conhecimento, incluindo a dimenso social,

    cultural, econmica, poltica e institucional, e uma perspectiva mais

    pluralstica e desenvolvimentista, como a globalizao. Sociedade do

    Conhecimento compreendida como aquela na qual o conhecimento o

    principal fator estratgico de riqueza e poder, tanto para as organizaes

    quanto para os pases. Abrange as capacidades de criar, armazenar,

    compartilhar e disseminar o conhecimento (Sveiby, 1998; Dvila Calle e

    Silva 2008).

    Segundo Castells (1999), o termo Rede denomina a um modo da

    organizao social, cunhado pelo autor como Sociedade em Rede, resultante

    da revoluo das TICs e da reestruturao da Sociedade capitalista. As

    dimenses da complexidade espao-temporal da organizao social o ponto

    de partida para a anlise de modelos de comunicao. Entende-se como

    dimenses da complexidade espao-temporal a dimenso econmica e a

    evoluo dos mercados. A Rede enquanto sistema de mdia se encontra

    estruturada em torno principalmente da mdia Internet embasada em vrias

    TICs. Destacando que a relao entre o mercado e a comunicao contribuiu

    para a globalizao comunicativa, permitindo que diferentes membros da

    comunidade, possam compartilhar conhecimentos, este o resultado trazido

    pelas mudanas tecnolgica e comunicacional (Cardoso, 2011).

  • 16

    A evoluo da Teoria da Comunicao baseado no Modelo de

    Comunicao em Massa e para o Modelo baseado na Comunicao em Rede

    resultado de uma mudana tecnolgica, que imprime uma alterao no

    sistema de mdia. E na forma como os usurios se utilizam da mdia, nos

    processos de mediao tecnolgica, seja no espao privado ou pblico. O

    Modelo de Comunicao em Rede refere-se a um sistema de mdia

    principalmente a Internet onde a alta interatividade forma o seu modelo

    organizacional.

    A forma organizacional da Sociedade em Rede se caracteriza pela

    interao, pela transformao das bases materiais da vida, do espao e tempo,

    bem como pela cultura da Realidade Virtual construda por um sistema de

    mdia, interconectado e diversificado, possibilitando diferentes nveis de

    interao com o ambiente virtual. Os ambientes virtuais so projetados a

    partir de tcnicas de computao grfica, que por meio de um sistema que

    consiste na integrao de diversos componentes que permitem a execuo de

    um mundo virtual. Uma vez que possvel interagir e explorar um mundo

    por meio de dispositivos de entrada e de sada, se transforma em um

    ambiente virtual ou ambiente de Realidade Virtual (Vince 2004).

    A criao de ambientes virtuais est diretamente ligada com realismo

    visual e interao usando os outros sentidos, e o usurio torna-se parte do

    mundo virtual. O termo mundo virtual usado para denotar o mundo digital.

    A Realidade Virtual ainda uma tecnologia que est constantemente em

    desenvolvimento, e as novas tendncias tm como objetivo tornar a

    computao e a comunicao abundantes e naturais, sem os jarges tcnicos

    e outros dispositivos especializados que so disponibilizados pela Internet,

    afirmam Carvalho e Rover (2006).

    Para Kirner, (1996) a Realidade Virtual vem trazer ao uso do

    computador um novo paradigma de interface digital interativa com o usurio.

    Neste paradigma, o usurio no estar mais em frente ao monitor, mas sim,

    sentir-se- dentro da interface digital. uma dimenso virtual da realidade,

    onde os usurios interagem atravs de computadores interligados, que

    conduz ao desenvolvimento de um ambiente virtual, promovendo a formao

    de uma comunidade virtual que disponibiliza as informaes e se comunica

    por meio das TICs, afirmam Guimares (1997) e Monteiro (2007).

    As comunidades no Ciberespao esto ampliando e popularizando a

    utilizao da Internet e das TICs. Os indivduos presentes no Ciberespao,

    com objetivos semelhantes e com interesse comum no aprendizado, formam

    as comunidades de prtica (CoPs). O conceito foi cunhado por Lave e

    Wenger (1998) como comunidades que renem indivduos, especialistas e

    amadores, por interesses comuns no aprendizado e principalmente na

    aplicao prtica do aprendido. Estas se formam e interagem nos ambientes

  • 17

    virtuais, onde a participao e a colaborao so voluntrias ou incentivadas

    pelo contexto organizacional, cujo propsito principal criar e compartilhar

    os conhecimentos, tornando efetiva a comunicao.

    A Teoria da Cognio Situada transfere o foco do aprendizado

    individual para o aprendizado que acontece na interao com o meio, pois

    os processos cognitivos so determinados pelo ambiente e pela ao do

    indivduo ali inserido, afirma Vanzin (2005:43). A Cognio Situada deriva

    das teorias cognitivistas e dos princpios scio-interacionistas. A

    aprendizagem e criao do conhecimento sendo um processo de interao do

    indivduo com o ambiente proporciona ao conhecimento uma dinmica em

    permanente transformao e reconstruo em relao aos condicionantes

    situacionais, possibilitando assim uma experincia adaptativa ao contexto

    social, ecolgico e cultural. Lave e Wenger (1998) argumentam que a Teoria

    da Cognio Situada remete ao processo denominado de Participao

    Perifrica Legtima- a relao entre amadores e especialistas de uma

    determinada profisso, pois o ponto de partida para a aprendizagem a

    participao social em um determinado grupo. Cuja essncia no se restringe

    ao conceito de proximidade, mas sim qualidade dos sistemas sociais,

    contextos histricos e culturais na criao de conhecimento de determinadas

    competncias, prticas e relaes.

    Ao ingressar no ambiente virtual, as CoPs passam a ser consideradas,

    de acordo com Terra e Gordon (2002) e por Von Wartburg et al (2005), como Virtual Communities of Practice (VCoPs) caracterizadas por interaes virtuais, pois baseiam-se primordialmente em espaos virtuais. Conforme

    Preece (2000) pressupe um conjunto de diferenas ligadas especificidade

    de novas formas de interao, existentes na Web 2.0. Anthony et al (2009)

    consideram que as VCoPs aplicadas nas organizaes, reunidos em um

    ambiente virtual colaborativo, proporcionam um trabalho com iniciativas

    conjuntas, de forma colaborativa, proporcionando solues para problemas

    comuns.

    Straus (2002) refere-se ao termo colaborao como o processo de

    planejar, resolver problemas e tomar decises, empregado pelas pessoas que

    trabalham juntas em grupo, organizao ou comunidades. Segundo Pallof e

    Pratt (2007), interao e colaborao so fatores crticos no processo de

    desenvolvimento das VCoPs, sem estes conceitos no haveria comunidade.

    A incluso de prticas colaborativas aumenta a comunicao e a

    interatividade. Coleman e Levine (2008) desenvolveram o Modelo de

    Colaborao 2.0 destacando o fator tecnolgico para efetiva colaborao. O

    papel crtico da tecnologia de ajudar nas interaes entre as pessoas para

    que estas possam estabelecer uma relao de confiana, a qual lhes permitir

    compartilhar e coordenar o seu trabalho. A colaborao trata primeiramente

  • 18

    das pessoas, da confiana e da vontade de compartilhar conhecimento e

    trabalho de uma maneira coordenada a fim de atingir um objetivo comum,

    afirmam os autores.

    Coleman e Levine (2008) afirmam que o sucesso para a colaborao

    no depende apenas das funes, nem dos recursos, mas sim de como a

    tecnologia se integra e apoia os processos crticos de uma organizao, e

    como esta organizao administra o processo de mudana sistmica. Ento,

    se faz necessria uma abordagem sistmica, para alcanar um sistema de

    colaborao de sucesso. Pode-se afirmar que a utilizao das tecnologias

    propicia o compartilhamento do conhecimento, porm a dimenso humana

    como a comunicao, cognio e criatividade no so afetadas pelas

    tecnologias.

    O avano na computao e, por conseguinte, das novas TICs tornou o

    computador mais acessvel e mais til, passando a atender mais indivduos

    em diversos contextos. A rea de investigao da Interao Homem-

    Computador (IHC) ganha importncia neste contexto, no fato de embasar os

    seus estudos, estritamente, no ambiente virtual. A rea de IHC prioriza o

    estudo de boas interfaces digitais e a relao entre o projeto e a efetiva

    interao humana com os computadores e seus sistemas, e as aplicaes de

    computador. A IHC constitui-se como uma rea da Tecnologia da

    Informtica, voltada para a compreenso das relaes do homem com o

    computador, assim sendo, abrange o Design Centrado no Usurio (UCD) que

    est relacionado com os aspectos envolvidos desta interao. Sejam aspectos

    fsicos, psicolgicos, comunicao, sade, relaes sociais ou prticas de

    trabalho, afirma Andrade (2007). As pesquisas realizadas em IHC esto

    embasadas nas caractersticas do comportamento humano que busca

    informao e realiza tarefas no ambiente virtual, com objetivo de reformular

    a interface digital e acomodar essas caractersticas, para obter boas

    interfaces digitais. Dias (1994:1) define interface digital como uma

    superfcie de contato com a informao, e tambm como um envelope para o

    contedo, procurando-se adequar esta superfcie aos fatores humanos

    envolvidos no processo de contato e s normas da organizao da

    informao. O objeto principal de estudo da IHC o homem, mas, o objeto

    de interesse prtico o sistema computacional (Andrade, 1998).

    As TICs disponibilizadas na Internet alteram no apenas a velocidade

    da comunicao, mas tambm o comportamento dos usurios no ambiente

    virtual. Aplicando estas ao Governo Eletrnico (e-Gov), promovem

    mudanas na forma como o Governo funciona internamente, como se

    relaciona com a comunidade externa e interna, e como se relaciona com

    outros Governos. Essa aproximao feita para superar obstculos da

    comunicao entre as duas esferas. O termo e-Gov pode ser definido como o

  • 19

    uso das TICs disponibilizadas pela mdia Internet e, que objetiva o acesso as

    informaes, servios e produtos de interesse pblico, assim como

    conhecimento nos processos internos de Governo, de modo a agregar valor

    a todos os envolvidos com a esfera pblica, como os cidados, as empresas,

    entidades pblicas e outros Governos. Royo (2003) complementa que o e-

    Gov se refere a programas de ao pblica que objetivam introduzir o uso

    intensivo das TICs nos distintos processos de Design, implementao e

    avaliao da Administrao Pblica.

    A Internet tem como objetivo, no contexto do e-Gov, promover a

    interao entre Governo e cidado, articular movimentos sociais, estabelecer

    comunicao bidirecional, dentre tantas outras possibilidades de promoo da

    Democracia e da participao dos cidados por meio do ambiente virtual.

    Permite que os cidados localizados em posies geogrficas distintas

    colaborarem atravs de um mundo sinttico controlado por computadores,

    utilizando formas especficas de comunicao integradas a uma infra-

    estrutura tal como a Internet. As formas de comunicao esto

    disponibilizadas com objetivo dos usurios possam colaborar, produzir,

    editar, comentar e avaliar contedos.

    Por e-Gov entende-se substancialmente Administrao Pblica com o

    apoio das TICs. Administrao Pblica definida no Brasil como rgos e

    entidades que desempenham a atividade administrativa do Estado. A

    organizao da Administrao Pblica Brasileira divide-se em administrao

    direta e indireta, sendo que a direta composta pela Presidncia da Repblica e

    pelos ministrios e a indireta composta por pessoas jurdicas de direito

    pblico de capacidade exclusivamente administrativa, como as fundaes,

    sociedade de economia mista, empresa pblica e autarquias, como por

    exemplo, as Universidades Pblicas, vinculadas respectiva administrao

    direta, que tm o objetivo de desempenhar as atividades administrativas de

    forma descentralizada.

    A evoluo das aplicaes de e-Gov est nas camadas de integrao de

    servios, de gesto e entre poderes; participao nas decises; comunicao

    de mltiplas vias e colaborao na disponibilizao de formas de

    comunicao adequadas para formao de VCoPs, utilizando para isso a Web 2.0, Redes Sociais, crowdsourcing e Governo Aberto. Verifica-se que estas

    aplicaes esto presentes por meio de ambientes virtuais com Dados Abertos

    dos pases como os Estados Unidos, Austrlia, Reino Unido, Noruega, Nova

    Zelndia, Grcia e Estnia. No Brasil citam-se como exemplos dos Dados

    Abertos: IBGE, DataSus, IPEA, INPE, Portal da Transparncia.

    No Brasil, o e-Gov segue uma srie de diretrizes e determinaes com

    o objetivo de tornar o Governo acessvel ao cidado, aprimorando a prestao

    dos produtos e servios pblicos para fortalecer a participao do cidado

  • 20

    pelo acesso a informao. Foram desenvolvidas diretrizes normativas e

    recomendaes tcnicas para o Design e a administrao de websites ou

    portais de e-Gov, respeitando os parmetros universais de gesto,

    interoperabilidade, acessibilidade e usabilidade, focadas nas reais

    necessidades dos cidados. Citam-se as diretrizes e determinaes registradas

    em Modelos ou forma de Cartilhas: e-Ping (Padres de Interoperabilidade), e-

    Mag (Modelo de Acessibilidade) e Padres Brasil e-Gov (Cartilha de

    Usabilidade), Projeto Padres Brasil e-Gov (Cartilha de Redao Web), assim

    como os projetos e iniciativas que esto aderentes a esses padres como os

    portais: Brasil, Rede Governo/Guia de Servios Pblicos, Governo

    Eletrnico, Documentao Civil, Quero Participar, Pginas da Transparncia

    e Sistema de Gesto de Domnios (Bem-te-vi), Software Pblico.

    A Gesto do Conhecimento compreendida, no mbito das polticas de

    e-Gov, como um conjunto de processos sistematizados, com vistas conectar

    pessoas com pessoas, pessoas com o conhecimento, promovendo a prtica

    eficaz da criao de um novo conhecimento. Assim como processos

    articulados e intencionais, capazes de incrementar a habilidade dos gestores

    pblicos em criar, coletar, organizar, transferir e compartilhar informaes e

    conhecimentos estratgicos para a tomada de decises, para a gesto de

    polticas pblicas e para a incluso do cidado como produtor de

    conhecimento coletivo. As prticas de Gesto do Conhecimento

    organizacional, segundo o seu propsito central so: 1. captar e reutilizar o

    conhecimento estruturado; 2. captar e compartilhar lies aprendidas com a

    prtica; 3. identificar fontes e redes de expertise; 4. estruturar e mapear

    conhecimentos necessrios para aumentar a performance; 5. mediar e

    controlar o valor econmico do conhecimento; 6. sintetizar e compartilhar

    conhecimento advindo de fontes externas (Batista et al, 2005).

    Leask (2008, 2009) identifica duas tendncias pelas quais acredita que

    a Gesto do Conhecimento torna-se importante para e-Gov: 1. aumento das

    pesquisas e evidncias que do sustentao s decises dos profissionais, pois

    a Sociedade tem uma expectativa de que os profissionais da rea pblica

    demonstrem que seu trabalho realizado com base em pesquisas e

    evidncias. Sendo que a Gesto do Conhecimento atualmente oferece

    condies para o acesso e compartilhamento do conhecimento. A segunda

    sobre o trabalho colaborativo virtual como meio de construir e manter o

    conhecimento da organizao a exemplo das VCoPs.

    Apesar dos nmeros crescentes, Fresneda (2009) adverte que a

    formao de VCoPs ainda tem muito a avanar no Brasil, pois se trata de

    mudana cultural para a Administrao Pblica. O trabalho nessas

    organizaes ainda muito voltado para o aspecto presencial. Do total de

    membros de uma comunidade, apenas 20% participam intensamente,

  • 21

    postando e-mails e discutindo os assuntos propostos. Os 80% restantes so

    chamados de aprendizes legtimos perifricos, pois sua atitude passiva,

    lendo as mensagens trocadas pelos demais. O Brasil ocupa uma posio

    pouco privilegiada no cenrio cientfico internacional.

    Nos anos 90, o e-Gov disponibilizou o acesso s Redes informatizadas

    na esfera pblica, permitindo o processo de interao do cidado com os

    vrios rgos. Para Fresneda e Gonalves (2007) implantar Gesto do

    Conhecimento na Administrao Pblica no significa apenas disponibilizar

    os servios pblicos on-line e melhorar sua forma de acesso ao cidado, mas implementar um conjunto de processos, mediados pela tecnologia, que

    modifiquem as interaes entre os cidados e o Governo, e entre as

    instituies das trs esferas de Poderes Federais e Governos Estadual e

    Municipal. Assim como criar oportunidades para aperfeioamento dos

    programas de e-Gov, pela incorporao de resultados de pesquisas recentes,

    que indicam processos e tecnologias capazes de tornar esses programas mais

    eficazes. Tais resultados tm sido objeto de estudo e desenvolvimento em

    Universidades e centros de pesquisa, no Brasil e no exterior, desenvolvidos

    colaborativamente, afirma Silva (2010). As agncias brasileiras de

    financiamento incentivam a produo brasileira em veculos internacionais,

    mas Meneghini (1998) alerta que os resultados de pesquisas brasileiras

    publicados em bases indexadas correspondem apenas 20% a 25% do total. O

    que no est indexada corresponde a cerca de 80% que se mantm pouco

    visvel, Se os ttulos no so indexados, os autores no so citados, afirmam

    Targino e Garcia (2000).

    Diversos modelos de interao podem ser constitudos para formalizar

    e garantir a interao produtiva do Governo com a Academia representada

    pelas Universidades e centros de pesquisa. Os modelos bem formalizados e

    regulados devem possibilitar aes colaborativas mais eficazes. O valor das

    Universidades e centros de pesquisa pode ser objetivamente medido por sua

    capacidade de produzir resultados analticos, cientficos e tecnolgicos que se

    revertam em benefcios sociais, econmicos e culturais. O Governo se

    beneficia de tais resultados, pois contam com estudiosos e especialistas nas

    questes cientficas e tcnicas relevantes para seus projetos, de forma

    operacionalmente otimizada, afirma Silva (2010).

    Destacam-se como exemplo, os projetos da Organizao das Naes

    Unidas (ONU), que mantm a Universidade das Naes Unidas (UNU)

    www.unu.edu, uma instituio de pesquisa e ensino, possui o Centro de

    Pesquisas em Governabilidade Eletrnica- http://www.egov.iist.unu.edu.

    Com caractersticas semelhantes, mas com o escopo de atuao mais

    diretamente focado s interaes do Estado com as Universidades, nos

    Estados Unidos, pode ser destacado o Centro para Tecnologia em Governo,

    http://www.unu.edu/http://www.egov.iist.unu.edu/

  • 22

    filiado Universidade de New York Albany- http://www.ctg.albany.edu.

    Outro exemplo da Universidade de New York, o Instituto de Direito da

    Informao e Poltica, com ateno especfica a questes regulatrias e legais,

    assim como prticas sociais e de negcios, destaca-se o Workshop para

    Projeto da Democracia- www.dotank.edu.

    Cita-se como exemplo no Brasil, a interao entre Governo,

    Universidades e centros de pesquisa como compartilhamento de

    conhecimento, o Portal Inovao, www.portalinovacao.mct.gov.br que visa

    facilitar a colaborao entre os membros das comunidades que atuam em

    inovao, em particular a colaborao entre comunidade tcnico-cientfica e

    empresas. Este projeto foi desenvolvido para a realizao dos objetivos da Lei

    de Inovao Brasileira. Nesse contexto, os portais de websites apresentam-se

    como ambientes virtuais integradores de vrios sistemas de informao,

    facilitando a colaborao, capaz de coordenar, por meio de uma interface

    digital, funcionalidades da intranet e extranet com os diversos sistemas

    (Pacheco e Kern, 2003).

    Outro exemplo no Brasil o Portal de e-Gov, Incluso Digital e

    Sociedade do conhecimento- www.e-gov.ufsc.br, projeto de parceria entre a

    Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de Zaragoza

    (UNIZAR) e Agncia Espanhola de Cooperao Internacional para o

    Desenvolvimento (AECID). O portal consultado com frequncia, com um

    registro de 130.000 acessos ao ms. Tem como um dos projetos principais o

    Observatrio de e-Gov, com o objetivo de pesquisar e desenvolver um

    sistema de informao georeferenciada do oramento do Estado de Santa

    Catarina. Cujo ambiente virtual permite ao cidado ter acesso s informaes

    nas reas da sade, educao, judicirio, ambiental e segurana pblica, por

    conseguinte, interagir e monitorar os produtos e servios especficos. Para

    isso conta com o mapeamento das aes democrticas digitais e a

    socializao das informaes extradas dos estudos do grupo de

    pesquisadores de mestrado e doutorado dos programas de ps-graduao em

    Direito e de Engenharia e Gesto do Conhecimento, no qual o observatrio se

    mantm (Carvalho e Rover, 2010 b).

    No estudo de Silva (2010) destacam-se evidncias existentes de que o

    Governo Brasileiro se dirige para a constituio de modelos de interao forte

    com as Universidades, contribuindo para o desenvolvimento de seu projeto de

    e-Gov. Sendo que a participao das VCoPs nas Universidades, na discusso

    dos rumos a seguir neste projeto, tem sido fomentada e bem recebida. Assim,

    os Ambientes Virtuais Colaborativos so desenvolvidos e aprimorados para

    atender s mais diversas instituies. Com a identidade e misso de criar e

    compartilhar novos conhecimentos, e que estes venham atender a Sociedade.

    As Universidades criam um ambiente favorvel a discusses entre as mais

    http://www.ctg.albany.edu/http://www.dotank.edu/http://www.portalinovacao.mct.gov.br/http://www.e-gov.ufsc.br/

  • 23

    diversas reas com a inteno de responder s questes e problemas como o

    desenvolvimento sustentvel na Sociedade contempornea e de outros

    contextos atuais que permeiam o mundo. A produo de novos

    conhecimentos fortalecer a Sociedade, no sentido de que se torne mais

    humana, justa, democrtica e solidria.

    neste dilogo entre as questes levantadas pela Sociedade e os novos

    conhecimentos criados nas Universidades, se faz necessrio adeso aos

    novos paradigmas: complexidade social, que definido por Capra (1992:25)

    como uma constelao de concepes, de valores, de percepes e de

    prticas compartilhados por uma comunidade, que d forma a uma viso

    particular da realidade, a qual constitui a base da maneira como a comunidade

    se organiza, e o paradigma tecnolgico que ...no evolui para seu

    fechamento como um sistema, mas rumo a abertura como uma Rede de

    acessos mltiplos. forte e impositivo em sua materialidade, mas adaptvel e

    aberto em seu desenvolvimento histrico. Abrangncia, complexidade e

    disposio em forma de Rede so seus principais atributos, afirma Castells

    (1999:113). Resume-se o paradigma tecnolgico mdia Internet e as TICs

    nas aplicaes de e-Gov. O ideal de Universidade para o sculo XXI, como

    objeto processual, que se constri a medida das reflexes e necessidades

    humanas, e que vo requerendo conhecimentos mais avanados de acordo

    com a sua realidade social/econmica/poltica, caracterizao maior do locus

    universitrio, afirma Lima et al (2000).

    1.2 PROBLEMA DE PESQUISA

    Verifica-se que o e-Gov um conceito em consolidao. Significa

    mais que um Governo informatizado, com vistas a criar um Estado aberto e

    gil para atender s necessidades da Sociedade. De acordo com Chua et al (2012) os Governos no mais estabelecem sua presena por meio de

    interfaces digitais dos websites de e-Gov, com contedos estticos e capacidades transacionais. Fornecem a colaborao bilateral para que os

    cidados e funcionrios do Governo se tornem parceiros e co-criadores de

    informao e servios, para efetividade de acesso e compartilhamento do

    conhecimento.

    O advento da Internet no s revolucionou a forma como os Governos

    recolhem e divulgam informaes aos cidados, mas tambm redefiniu as

    expectativas pblicas de rgos governamentais e seus servios. Em grande

    medida as interaes entre os Governos e cidados so moldadas por

    iniciativas do e-Gov, que se referem a uma variedade de esforos que vo

    desde a criao de uma participao online. Esta participao favorece os

  • 24

    cidados possam realizar transaes, assim como a integrao de sistemas

    dispersos em diferentes nveis e para diferentes servios.

    As VCoPs apoiam os processos da Gesto do Conhecimento nas

    organizaes (Gouva et al, 2006), para isso o Governo Brasileiro vem desenvolvendo, programas de e-Gov que tm conduzido uma modernizao

    do Estado mais participativo, transparente e eficiente. E suas funes, as

    quais, ao se apropriarem da mdia Internet e das TICs, criam oportunidades

    para aperfeioamento que ampliam sua eficcia, por meio da integrao com

    as Universidades. As VCoPs nnas Universidadesas Universidades tm

    condies de contribuir ativamente e de forma relevante para essa

    proposio, afirma Silva (2010). Conforme o autor um Modelo de Interao

    forte, produtivo e eficiente do Estado com as Universidades no Brasil, com

    objetivo de modernizao da Administrao Pblica, tem se desenvolvido de

    forma consistente e perene.

    O problema inicial se caracteriza, apesar do nmero crescente na

    Administrao Pblica das aplicaes de e-Gov que utilizam as VCoPs para

    efetivao da colaborao, com um ndice baixo de investigao sobre como

    visualizar o processo de comunicao mediada nas interfaces digitais.

    Tambm no investigado como se d a colaborao por meio de um

    ambiente virtual, para que se obtenha o sucesso no ciclo de vida de uma

    VCoP. Para verificar as prticas colaborativas em um Ambiente Virtual

    Colaborativo e como a sua interface digital favorece a visualizao dos

    contedos e a interao em Rede, apresentam-se os termos relacionados s

    VCoPs, os seus processos estruturantes- formao, comunicao e

    colaborao. E sua importncia para a criao, acesso, compartilhamento do

    conhecimento novo e as interaes advindas deste ambiente virtual chamado

    de espao Ba.

    A Web 2.0 se apresenta como um conjunto emergente de aplicativos interativos, com contextos ricos e fceis de usar. Chua et al (2012) em seu estudo sobre Web 2.0 no e-Gov investigaram, com base nas categorias de criao de conhecimento e processamento de uso destas aplicaes, quais as

    formas de comunicao que so prevalentes em websites de e-Gov e de Bibliotecas Acadmicas e Pblicas. Investigaram tambm como a presena de

    aplicaes da Web 2.0 se correlaciona com a qualidade percebida pelos

    usurios. Em termos de aspectos especficos da qualidade do website, a fora de correlao mais forte para a qualidade do servio, seguido pela qualidade

    do sistema e qualidade da informao. Isto implica que as agncias do

    Governo continuam a adicionar vrias aplicaes da Web 2.0, no que se refere a qualidade percebida de seus websites provvel que melhore, afirmam os autores.

  • 25

    As Bibliotecas Acadmicas so consideradas o elo de conexo entre os

    diversos departamentos de estudo e pesquisas nas Universidades. Por suas

    caractersticas multidisciplinares, dispem de potencial intrnseco para

    servios de Web 2.0, pois representa a memria institucional, afirma Garca- Rivadulla (2010). Implementar um Ambiente Virtual Colaborativo em uma

    Universidade promover a aproximao entre pesquisadores, professores e

    estudantes de reas distintas estabelecendo a colaborao, potencializando o

    fluxo de informao, melhorando o aprendizado e acelerando a inovao.

    Para Garca- Rivadulla (2010) as Bibliotecas Acadmicas tem uma excelente

    vantagem para implementar aplicativos de Web 2.0 em seus servios, pois muitos de seus usurios esto familiarizados com a linguagem e

    hipermeditica. Neste ponto especfico pode-se considerar a Biblioteca como

    um espao de relaes para acessar e compartilhar o conhecimento,

    considerado como espao Ba no paradigma da Gesto do Conhecimento.

    Pode-se constatar nos estudos levantados, no mbito nacional e

    internacional, que as Universidades Privadas privilegiam os processos mais

    gerais relacionados ao atendimento do aluno, ao suporte para os cursos

    oferecidos e divulgao de informaes destinadas ao pblico interessado

    em ingressar na instituio. Enquanto que as Universidades Pblicas

    analisadas priorizam informaes mais especficas, direcionadas

    disseminao da pesquisa desenvolvida internamente ou em carter

    institucional. Disponibilizando o acesso do registro dos contedos

    informacionais e do conhecimento produzido na Universidade em

    repositrios sem comunicao integrada e colaborativa como, por exemplo, o

    banco de dados dos cursos de ps-graduao, ou mesmo pesquisas

    interdepartamentais, portanto, no sistmica. O pouco acesso pertinente

    produo de conhecimento de cada rea de pesquisa e seus respectivos

    pesquisadores, sendo estes silos de conhecimentos no mbito da

    Universidade.

    Destaca-se que, de acordo com os estudos sobre Web 2.0 em e-Gov e Bibliotecas 2.0, as aplicaes mais utilizadas RSS e os blogs esto em

    segundo lugar na maioria das Bibliotecas Acadmicas. O uso de redes sociais

    no parece estar amplamente difundido, mesmo entre Bibliotecas. As

    aplicaes wikis no so utilizadas para prestao de servios e assim

    envolver os usurios participar como parceiros ativos, de acordo com

    resultados destas investigaes, afirma Garcia-Rivadulla (2010). Estes

    estudos mostraram que no h uma diretriz nica para o sucesso das VCoPs,

    mas h indcios atravs de pesquisas empricas que apontam caminhos para

    responder alguns pontos crticos nesse sentido quanto as formas de

    comunicao mediadas.

  • 26

    O problema a ser abordado a formalizao e representao dos

    processos estruturantes das VCoPs: quanto formao os fatores crticos de

    sucesso para sua sustentao reside na cultura e no perfil de seus membros.

    Segundo o Modelo de VCoPs, sob a perspectiva scio-tecnicista, as relaes

    se estabelecem por meio de uma comunicao mediada por computador

    conectado Rede. considerada tambm como fator crtico a atmosfera de

    confiana nas relaes que se estabelecem no ambiente virtual com apoio de

    uma plataforma tecnolgica confivel; reconhecimento dos seus membros

    nos principais objetivos da comunidade; envolvimento com o domnio de

    conhecimento da comunidade e declarao clara dos benefcios oferecidos

    aos membros da comunidade.

    Quanto colaborao as barreiras a serem transpostas, para a sua

    efetivao, foram identificadas como: interpessoais, processuais,

    tecnolgicas e culturais, tendo como resposta um Modelo de Colaborao 2.0

    que se baseia em processos, tecnologia e pessoas, estando de acordo e em

    correspondncia com as barreiras citadas acima. Neste modelo destacada a

    importncia da seleo de tecnologias colaborativas, porm no so

    indicadas as formas de comunicao mediadas decorrentes desta seleo.

    Quanto ao processo de comunicao destaca-se que este se estabelece

    a partir da seleo das formas de comunicao mediadas, mais adequadas ao

    perfil dos participantes das VCoPs, logo, h um aumento da colaborao.

    Adotando para isso um ambiente virtual fundamentado na Realidade Virtual,

    onde a interface digital interativa a motivadora deste processo. Verificou-se

    uma vasta pesquisa voltada aos aspectos da usabilidade e acessibilidade das

    interfaces digitais e que devam fazer parte da natureza de todo o ambiente

    virtual, devido aos diferentes perfis de usurios que o acessam. Entretanto,

    constatou-se a ausncia ou poucos registros de estudos em Web 2.0

    apontando as formas de comunicao mediadas em ambientes virtuais, como

    por exemplo, os chats, wikis e os fruns de discusso disponveis para o perfil das VCoPs- pesquisadores das Universidades.

    Destaca-se na reviso de literatura que no houve identificao de um

    ambiente virtual facilitando os processos estruturantes de formao,

    comunicao e colaborao das VCoPs em vrias reas de pesquisa existente

    nas Universidades. Os conhecimentos cientficos dos centros e

    departamentos das Universidades no esto disponveis como Dados

    Abertos, por isso no h o Empoderamento por parte dos participantes das

    VCoPs, conceitos estes principais para o Governo 2.0 que privilegiam a

    transparncia e a interao com o usurio por meio das aplicaes da Web 2.0.

    Inicialmente a formulao do problema se faz a partir da compreenso

    dos Modelos de Interao entre Governo e as VCoPs nas Universidades, que

  • 27

    apoiam Gesto do Conhecimento, no que diz respeito o acesso e

    compartilhamento do novos conhecimentos, contribuindo para gesto interna

    nas Universidades e governana eletrnica. Sendo que os estudos de e-Gov

    destacam as formas de comunicao mais utilizadas nas aplicaes de Web 2.0 direcionadas s Bibliotecas Acadmicas apoiadas na Gesto do

    Conhecimento no que diz respeito s categorias do conhecimento. Verifica-

    se na reviso de literatura de que no h estudos que inter-relacione e integre

    os processos estruturantes das VCoPs, assim como no h o estabelecimento

    das caractersticas fortes de e-Gov como Dados Abertos e Empoderamento

    para as VCoPs nas Universidades. Para que isso acontea se faz necessrio

    que a Universidade tenha uma Gesto interna baseada em Dados Abertos e

    Empoderamento para que as VCoPs atuantes e futuras se tornem mais

    visveis e transparentes por meio de um Ambiente Virtual Colaborativo. A

    visibilidade das VCoPs atuais e futuras tem resultado na promoo da

    interao, acesso e compartilhamento do conhecimento, e por conseguinte,

    na gerao das prticas colaborativas.

    A presente Tese prope um framework conceitual de um Ambiente

    Virtual Colaborativo para as VCoPs nas Universidades. Para isso

    selecionado o espao virtual compartilhado Ba, de acordo com a proposta de Nonaka, Toyama e Konno (2000), situado na Biblioteca Acadmica Central.

    Espao este selecionado por representar e preservar a memria institucional,

    assim como convergir e integrar os vrios sistemas de informao existentes

    em cada centro de pesquisa das Universidades e dos sistemas polticos do

    Governo, se estendendo Sociedade. E por fim especificar uma metodologia

    projetual para a concepo das interfaces digitais que favoream a

    visualizao das formas de comunicao mediadas nas interfaces digitais.

    Com vistas ao entendimento de como se formaliza os processos

    estruturantes das VCoPs nas Universidades e como podem ser representados

    por meio das interfaces digitais do Ambiente Virtual Colaborativo, a Tese

    presente oferece uma possibilidade de resposta por meio de uma proposio

    de um framework conceitual. A pesquisa das VCoPs no contexto de e-Gov

    apresenta a convergncia das principais caractersticas: Dados Abertos e

    Empoderamento, promovendo o acesso e compartilhamento do

    conhecimento.

    1.3 QUESTO DE PESQUISA

    Como formalizar e representar os processos estruturantes das

    Comunidades Virtuais de Prtica nas Universidades em um Ambiente Virtual

    Colaborativo?

  • 28

    1.4 OBJETIVOS

    De modo a responder pergunta de pesquisa que norteia este estudo

    de tese, foram definidos os objetivos apresentados a seguir:

    1.4.1 Objetivo Geral

    A presente Tese tem por objetivo geral formalizar e representar os

    processos estruturantes das Comunidades Virtuais de Prtica nas

    Universidades na proposio de um framework conceitual para Ambiente Virtual Colaborativo

    1.4.2 Objetivos Especficos

    As etapas necessrias consecuo do objetivo geral so:

    1. Identificar na reviso de literatura os modelos e estudos para estruturao dos processos de formao, comunicao e colaborao das Comunidades

    Virtuais de Prtica

    2. Identificar um espao Ba virtual na Universidade para o acesso e compartilhamento de novos conhecimentos

    3. Indicar as formas de comunicao que esto alinhadas s categorias da criao do conhecimento para efetivao das prticas colaborativas

    4. Identificar a inter-relao e integrao dos conceitos-chave dos Modelos de Comunidades Virtuais de Prtica, Comunicao, Colaborao,

    Conhecimento e estudos de aplicaes de Web 2.0 em e-Gov

    5. Propor um framework conceitual para o Ambiente Virtual Colaborativo na formalizao dos processos estruturantes das Comunidades Virtuais de

    Prtica nas Universidades

    6. Elaborar e verificar os requisitos-orientaes para o Ambiente Virtual Colaborativo levando em conta modelos, abordagem e aspectos inter-

    relacionados para representao do framework conceitual no contexto de e-Gov

    7. Especificar uma metodologia projetual para interface digital interativa do Ambiente Virtual Colaborativo para promover os processos estruturantes das

    Comunidades Virtuais de Prtica nas Universidades

  • 29

    1.5 JUSTIFICATIVA E ESCOPO DA PESQUISA

    A pesquisadora atua desde 2002 na rea da docncia em Design,

    destacando os estudos de IHC e Ergonomia de Interfaces Digitais que

    propiciou, a saber, das dificuldades, necessidades e o potencial das

    comunidades virtuais na mdia Internet, sob o foco das interfaces digitais.

    Por outro lado, o seu envolvimento no estudo dos ambientes virtuais de e-

    Gov, aconteceu quando do ingresso no grupo de pesquisa CNPQ: Governo

    Eletrnico, Incluso Digital e Sociedade do Conhecimento, no qual este

    grupo estabeleceu parceria com a Universidade de Zaragoza nos estudos e

    aplicaes de e-Gov Ibero-Americano.

    A parceria possibilitou-lhe vrias publicaes nacionais e

    internacionais na rea de concentrao de pesquisa- Mdias e Conhecimento

    e linha de pesquisa- Teoria e prtica em Mdias e Conhecimento. Embora de

    forma resumida, este histrico define o envolvimento da pesquisadora com a

    temtica proposta nesta pesquisa de tese. Destaca-se o estudo de IHC com

    foco em interfaces digitais para as VCoPs, pouco explorada nos estudos de e-

    Gov, consequentemente nas Universidades. Ratifica-se, que o objeto de

    estudo elencado para esta investigao, ir agregar valores em sua formao

    acadmica, bem como, para a realizao de pesquisas futuras no grupo de

    pesquisa a qual pertence.

    O tema da presente pesquisa envolve as VCoPs no contexto do e-Gov,

    apresentando alguns pontos especficos que so citados pela convergncia de

    assuntos abordados. Nesta pesquisa prope-se um framework conceitual que

    visa formalizar e representar os processos de formao, comunicao e

    colaborao, a partir do entendimento dos modelos inter-relacionados e

    integrados, embasado na comunicao e colaborao das VCoPs. O

    framework conceitual integra e expande o Modelo de Colaborao 2.0 proposto Coleman e Levine (2008), na stima etapa do processo colaborativo

    indicando quais as formas de comunicao correspondentes as categorias de

    criao do conhecimento e processamento das aplicaes de Web 2.0. Para

    conceber framework conceitual sero abordadas as reas de IHC e Design Centrado no Usurio para dar suporte Metodologia projetual da interface

    digital interativa do Ambiente Virtual Colaborativo. Faz-se necessrio

    elaborar os requisitos-orientaes para complementar a proposio do

    framework conceitual direcionando os aspectos comunidade, ambiente e

    conhecimento pertinentes concepo da interface digital interativa.

    O framework conceitual composto de um esquema e mapa conceitual formalizando os processos estruturantes das VCoPs e que possam convergir e

    integrar os vrios sistemas de informao existentes em cada centro de

    pesquisa da Universidade, em um nico ncleo principal, compreendido

  • 30

    como espao virtual compartilhado definido de Ba. Um espao para

    estabelecer o acesso e compartilhamento de conhecimento entre os

    laboratrios e centros de pesquisa das Universidades e Governo. O

    framework conceitual direcionado aos tomadores de deciso e equipe multi e interdisciplinar no desenvolvimento do Ambiente Virtual

    Colaborativo.

    Para elucidar como as VCoPs representam a base de uma estratgia de

    acesso e compartilhamento de conhecimento, apoiando-se nas aes de

    planejamento estratgico com foco na expertise dos seus membros, ou seja,

    visam tornar insumos sua poltica de Gesto do Conhecimento nas

    aplicaes de e-Gov. Para isso busca-se teorias e estudos em Web 2.0 que

    possam favorecer uma proposta de um framework conceitual mais prximo

    da realidade, que promova os processos estruturantes nas VCoPs nas

    Universidades, assim como as referencias de sucesso das aplicaes de e-

    Gov. Entende-se as VCoPs nas Universidades- os pesquisadores que

    produzem o conhecimento cientfico integrados reas de competncia e

    interesses coletivos ou individuais, resultando em acesso e compartilhamento

    desse conhecimento.

    Os Ambientes Virtuais Colaborativos representam uma contribuio

    aos sistemas de Governo especificamente o Governo Brasileiro, para

    construir sistemas inovadores que levem desejada modernizao do Estado,

    apropriam-se dos resultados provenientes das Universidades e centros de

    pesquisa. Dessa forma, a aproximao do Governo com os centros de

    pesquisa e inovao , na realidade, inevitvel e incontestvel, afirma Silva

    (2010). Entretanto, no seu desenvolvimento, as metodologias exploram

    pouco os processos comunicativos e colaborativos entre as VCoPs, o que

    dificulta, assim o acesso e compartilhamento do conhecimento.

    Pode-se citar, como importante questo desta pesquisa e muito visvel

    nos artigos relacionados, a ineficincia na investigao dos processos

    estruturantes das VCoPs da Universidade em Ambiente Virtual Colaborativo.

    Nesta Tese no ser estudado o contexto da aprendizagem e da cognio, ou

    mesmo os fatores de sucesso das VCoPs, assuntos caractersticos do tema. O

    objetivo aqui a pesquisa efetivo dos ambientes virtuais para formalizao e

    representao dos processos estruturantes das VCoPs ao longo do seu ciclo

    de vida. Apontando para isso os requisitos-orientaes para concepo das

    interfaces digitais. A presente pesquisa abordar as VCoPs em Ambientes

    Virtuais Colaborativos no contexto de e-Gov, especificamente aplicado

    Universidade.

  • 31

    1.6 RELEVNCIA E CONTRIBUIO TERICA

    A relevncia desta pesquisa est circunscrita a constatao da ausncia

    de uma proposta de um framework conceitual para o Ambiente Virtual Colaborativo das VCoPs nas Universidades, localizado em um nico ncleo

    de acesso e compartilhamento do conhecimento. Entende-se por ncleo uma

    unidade acadmica como a Biblioteca Acadmica Central, considerada nesta

    pesquisa como um espao virtual para interaes e estabelecimento das

    relaes sociais em Rede, intitulado de Ba. Na reviso sistemtica de literatura evidencia-se diversos estudos para

    a formao das VCoPs, identificando diversos fatores que so denotados

    como crticos de sucesso para a sobrevivncia dessas comunidades.

    Entretanto, na fase de reviso sistemtica desta Tese, no foram encontradas

    evidncias de estudos que abordassem a interligao entre os termos VCoPs,

    e-Gov e Gesto do Conhecimento, de forma a promover a criao, acesso e o

    compartilhamento de conhecimento pelas VCoPs nas Universidades. Diante

    disso, entende-se que tais estudos apresentem pouca consistncia operacional

    no entendimento das VCoPs investigando seus processos estruturantes, que

    se estendem na criao, acesso e o compartilhamento de conhecimentos.

    Pelo exposto, salienta-se que a originalidade desta pesquisa reside na

    proposio de um framework conceitual de Ambiente Virtual Colaborativo

    no contexto de e-Gov. A lacuna diagnosticada na investigao cientfica

    fomentou o aprofundamento dos estudos na rea. Desta forma, a reviso de

    literatura permitiu estabelecer um dilogo com teorias, modelos e estudos

    atuais. A inter-relao e integrao conceitual de modelos tericos como:

    Criao do Conhecimento, Comunicao em Rede, Comunidades Virtuais de

    Prtica, Colaborao 2.0 e mais os estudos de Web 2.0, traduziram a

    abordagem sistmica desta Tese. O resultado no a seleo de uma Teoria

    como aporte para a pesquisa e sim a elaborao de novos conhecimentos que

    surgem a partir de vrias Teorias pertinentes teorizao do framework conceitual.

    Como resultado do dilogo, a pesquisa amplia o entendimento dos

    fundamentos da Teoria da Cognio Situada por meio da contribuio da

    abordagem IHC e Design Centrado no usurio, contribuindo para o

    aperfeioamento e avano da cincia ao propor um framework conceitual na formalizao em ambiente virtual dos processos de formao, comunicao e

    colaborao das VCoPs. Constitui-se de importncia para a aplicao de e-

    Gov, por conseguinte, a originalidade e relevncia descrita acima, e

    qualificam esta pesquisa acadmica na categoria de Tese.

  • 32

    1.7 ADESO DA PESQUISA AO PPEGC

    Considerando a dinmica multidisciplinar, dialgica das pesquisas

    desenvolvidas no Programa de Ps-Graduao em Engenharia e Gesto do

    Conhecimento/PPEGC e, tendo o conhecimento como fator principal de

    investigao cientfica, o tema de pesquisa abordado apresenta aderncia, na

    medida em que busca valer-se das trs reas constituintes do PPEGC, para

    estabelecer a proposta do framework conceitual para Ambiente Virtual

    Colaborativo para o acesso e compartilhamento de conhecimento das VCoPs.

    O presente e o futuro sero determinados essencialmente pela

    habilidade em usar o conhecimento, sendo que o importante recurso a

    incorporao dos ativos de conhecimento: capital intelectual humano e a

    tecnologia para a qualidade e produtividade do conhecimento, afirma Shariq

    (1997). Pode-se definir conhecimento como o estado interno dos seres

    humanos que resulta da entrada e processamento da informao durante o

    aprendizado, a realizao de tarefas e solues inovadoras do conhecimento.

    Esta definio implica que o conhecimento, em sentido estrito, deve ser

    associado com os seres humanos (Stanoevska-Slabeva, 2002).

    Segundo Takeuchi e Nonaka (2008), pode-se distinguir dois tipos de

    conhecimento: tcito e explcito. O conhecimento explcito dito em

    linguagem e nmeros; pode ser codificado e transmitido, precisamente,

    porque foi analisado e separado em partes discretas. Os elementos modelos

    mentais, premissas, habilidades e capacidades e que no se tem muita

    conscincia, os quais Polanyi (apud Sveiby, 1998) chama de conhecimento

    tcito.

    A principal questo a ser levantada nos estudos de Gesto do

    Conhecimento como o conhecimento tcito e explcito nos indivduos e

    organizaes pode ser codificado, armazenado e faz-lo disponvel para uso

    ou reuso posterior, de forma independente do ser humano (Stanoevska-

    Slabeva, 2002). O conhecimento tcito individual e est nas aes e

    experincias, bem como em suas ideias, valores e emoes. Este tipo de

    conhecimento difcil de formalizar, adquirir, comunicar e compartilhar.

    Aquisio de conhecimento, ou seja, sua transformao de tcito para

    explcito conhecimento, bem como armazenamento e compartilhamento de

    conhecimento so duas grandes preocupaes de pesquisa em Gesto do

    Conhecimento. Ento a Gesto do Conhecimento refere-se a todas as

    atividades necessrias para a gesto efetiva da criao, aquisio,

    armazenamento, compartilhamento, estruturao, representao e

    distribuio dos ativos de conhecimentos, internamente e entre organizaes

    e indivduos.

  • 33

    O instrumento bsico para a compartilhamento de conhecimento a

    comunicao. Como resultado, ocorre o intercmbio de conhecimentos em

    espaos de comunicao, o que Nonaka e Konno (1998) chamam de Ba. O Ba um espao de encontro fsico ou um espao virtual criado pela mdia digital. Ao longo da histria, vrios meios de comunicao tm aparecido e

    so capazes de armazenamento e compartilhamento de conhecimento. A

    mdia pode ser classificada em dois grupos: mdias naturais ou humanas

    vinculadas, como por exemplo, o DNA e o crebro humano; e a mdia

    independente dos seres humanos, tais como o papel e os ambientes virtuais.

    O conceito de Mdias do Conhecimento foi introduzido por Stefik em

    1986, com base na interao e no meio digital inteligente, afirma

    Stanoevska-Slabeva (2002). Os meios de comunicao mais recentes para o

    armazenamento e compartilhamento de conhecimentos so as mdias digitais

    resultante da convergncia de informaes e tecnologia de comunicao. A

    autora enfatiza, que nos estudos de Stefik, a integrao, a interao e a

    interoperao dos sistemas especialistas proporcionaria uma nova infra-

    estrutura de comunicao que permitiria a rpida difuso do conhecimento.

    Para contemplar a discusso da difuso do conhecimento Lvy (1993),

    (1998) estudou a relao das tecnologias e a inteligncia humana e cunhou os

    termos tecnologias da inteligncia e inteligncia coletiva. Lvy (1998)

    utiliza analogia da Rede para indicar a formao de uma inteligncia

    coletiva e distribuda por toda parte, incessantemente valorizada,

    coordenada em tempo real, e que resulta em uma mobilizao efetiva das

    competncias. Nos estudos mais recentes o autor defende a participao em

    comunidades virtuais como um estmulo formao de inteligncias

    coletivas, s quais os indivduos podem recorrer para trocar informaes e

    conhecimentos (Lvy, 1999, 2001 e 2002).

    As VCoPs pelas suas caractersticas sociais e de comunicao

    representadas pelo resultado da interao e colaborao, situa-se mais

    efetivamente na rea da Mdia e Conhecimento. Esta oferece Gesto do

    Conhecimento metodologias e formas de compartilhamento e disseminao,

    tornando a comunicao mais efetiva no processo de gesto. Estas

    metodologias e recursos tecnolgicos de compartilhamento compem a parte

    estrutural de uma comunidade.

    A Gesto do Conhecimento substancialmente reforada atravs dos

    recursos que as TICs oferecem. O uso de tecnologias avanadas aproxima

    indstria, laboratrios de Governo e a comunidade de inteligncia,

    conduzindo programas de desenvolvimento e aplicaes computacionais

    especficas apoiando as necessidades dos profissionais do conhecimento e

    das organizaes, afirma Shariq (1997). A Sociedade de Gesto do

    Conhecimento proposta pelo o autor requerer um forte e sustentando

  • 34

    compromisso da instituio/organizao, de uma liderana visionria, de um

    grupo empreendedor de Universidades/comunidades, conduzindo parceiros

    principais na indstria e Governo. O autor defende que a pesquisa deve ser

    mantida pela colaborao das Universidades, Governo e indstria organizada

    como Sociedade. Os tpicos a serem aplicados e estudados para

    compreenso dos processos e prticas para gerao, identificao,

    assimilao e compartilhamento do conhecimento, como um recurso de

    inovaes fundamentais ao indivduo nos nveis organizacionais, poltica e

    Sociedade.

    Antes de compartilhar o conhecimento, dever ser externalizado,

    afirma Nonaka (1997). Um sistema baseado em conhecimento visto como a

    construo de um conjunto de modelos relacionados a um comportamento de

    soluo de problemas (Abel, 2007). A construo de sistemas que utilizam o

    conhecimento so chamados de sistemas de inteligncia artificial, e que esto

    voltados para as tcnicas de aquisio para explicitao do conhecimento de

    especialistas, da organizao e de seu contexto; da codificao em diversos

    formalismos de representao, assim como a transferncia do conhecimento

    de um especialista para uma base, o que prope a Engenharia de

    Conhecimento. Um sistema especialista uma forma de sistema baseado no

    conhecimento especialmente projetado para emular a especializao humana

    de algum domnio especfico, permitindo e definindo estratgias de

    integrao com os demais sistemas da organizao. Os sistemas baseados em

    conhecimento so sistemas computacionais que tratam problemas

    complexos, como o uso do conhecimento.

    A Engenharia do Conhecimento est voltada em dois

    desenvolvimentos: a estrutura de compartilhamento do conhecimento

    estabelecida pelo crescimento da World Wide Web (www), e a identificao

    do conhecimento como fator chave de produo, ao lado do capital e trabalho

    (Studer et al 2004). A sobrecarga da WWW com informaes irrelevantes levou necessidade do desenvolvimento da computao para apoio a Gesto

    do Conhecimento. Os recursos computacionais objetivam aquisio e/ou

    utilizar o conhecimento organizacional para a tomada de deciso, assim

    como para a comunicao via intranet ou extranet.

    A Gesto do Conhecimento dada sua viso de organizao como uma

    estrutura de conhecimento, permite novas abordagens de bases cognitivas

    para concepo e desenvolvimento das pesquisas. A importncia da Gesto

    do Conhecimento reconhecido no apoio das prticas processuais para

    codificar ou mesmo recuperar o conhecimento explicitado ou armazenado

    nos repositrios, neste caso das VCoPs. Para codificar e recuperar o

    conhecimento tcito torna-se mais complexo, pois este tipo de conhecimento

    est interiorizado nos indivduos. O conhecimento tcito decorrente de

  • 35

    experincias profissionais, relatos, ideias, valores e emoes, tornando-se um

    grande desafio para a Gesto do Conhecimento recuperar, codificar e

    armazenar e assim conceber e desenvolver inovao sob o ponto de vista

    cientfica.

    Enfatiza-se que o conhecimento tcito est materializado ou descrito

    nos relatos registrados nos ambientes virtuais das VCoPs, ento se faz

    necessrio que as formas de comunicao sejam adequadas e

    disponibilizadas na interface digital interativa para facilitar a aquisio e

    compartilhamento do conhecimento tcito. As Mdias do Conhecimento

    oferece Gesto do Conhecimento metodologias e tcnicas de criao,

    compartilhamento e transferncia de conhecimento, tornando a comunicao

    mais efetiva no processo de gesto para assim incrementar os ativos

    intangveis que as interaes virtuais que proporcionam ao colaborativa,

    por isso a rea das Mdias do Conhecimento ganha importncia, justificando

    o estudo a ser apresentado nesta Tese.

    O desenvolvimento da investigao da Tese, por meio de uma

    abordagem interdisciplinar, ser proporcionado pela rea de Engenharia e

    Gesto do Conhecimento, tendo um aporte terico de maior concentrao na

    rea de Mdias do Conhecimento, sendo que a integrao e a analogia do

    tema a ser estudado se estabelecem com as outras reas do programa da

    seguinte forma: 1. a Gesto do Conhecimento, que envolve a formao, a

    cultura e a infra-estrutura da organizao est relacionado com as VCoPs

    porque possibilita o entendimento dos processos estruturais do conhecimento

    e o contexto da comunidade ; 2. a Engenharia do Conhecimento, com seus

    processos e recursos tecnolgicos de aquisio, armazenamento e

    representao do conhecimento de especialistas est relacionado com

    sistemas computacionais integrados que possibilitar para a concepo e

    aplicao de novos artefatos para representao do conhecimento; e 3. as

    Mdias do Conhecimento, se preocupa com o processo comunicacional,

    assim como a visualizao, disseminao e compartilhamento de

    conhecimento por meio do conceito da interface digital, visando os ativos de

    conhecimento, conforme a Figura 1:

    Figura 1: Abordagem Interdisciplinar de Pesquisa Fonte: Elaborado pela Autora

  • 36

    1.8 METODOLOGIA E REVISO SISTEMTICA

    A metodologia estuda os meios ou os mtodos de investigao do

    pensamento correto e do pensamento verdadeiro, que visam delimitar um

    determinado problema, analisar e desenvolver observaes, critic-las e

    interpret-las a partir das relaes de causa e efeito, afirma Oliveira (2000).

    Este pesquisa se enquadra por identificar um problema e, a partir do seu

    escopo, resolv-lo seguindo mtodos. Adotouse a pesquisa exploratria, que

    visa proporcionar tornar o problema explcito ou construir o conhecimento

    cientfico. A pesquisa exploratria envolve levantamento bibliogrfico,

    entrevistas com especialistas com experincia prtica em relao ao

    problema pesquisado e anlise de benchmarking na busca das melhores

    prticas, assim como o estudo de caso. O benchmarking um mtodo em que o processo sistemtico estruturado etapa a etapa, a fim de recolher

    informao e avaliar os mtodos de trabalhos no mercado. Estudo de Caso

    pressupe-se que o conhecimento s possa ser obtido atravs de construes

    sociais (Klein e Myers, 1999). Este mtodo adequado para pesquisar a

    relao entre o contexto e o fenmeno (Pinsonneault e Kraemer, 1993).

    A reviso de literatura levantada nesta Tese evidencia a possibilidade

    de fazer convergir os temas de Teoria da Cognio Situada, da Teoria da

    Comunicao, dos estudos de IHC e da abordagem do Design Centrado no

    Usurio na proposta de um framework conceitual. Permite estruturar o domnio do conhecimento e a arquitetura das plataformas computacionais

    voltadas construo dos ambientes virtuais. Para tanto, a metodologia

    utiliza-se do Mtodo de Triangulao (Denzin, 1979) ou Pesquisa Multi-

    mtodos (Brewer e Hunter, 1989), que reconhece a combinao e o

    cruzamento de mltiplos pontos de vista.

    Conforme Creswell (2003:18), os pressupostos (ou paradigmas), as

    estratgias e o mtodo contribuem como um todo para uma abordagem de

    pesquisa quantitativa, qualitativa ou multi-mtodos. Para o autor a

    importncia das trs abordagens devido a um crescente interesse no uso da

    pesquisa qualitativa, uma emergncia nas abordagens multi-mtodos e um

    contnuo uso das formas tradicionais de delineamento quantitativo. Sendo

    assim, este trabalho ir adotar como instrumentos de investigao a pesquisa

    bibliogrfica sobre o tema e a problemtica das VCoPs- pesquisadores em

    Ambientes Virtuais Colaborativos, contendo anlises qualitativas e

    quantitativas, e uma elaborao de requisitos-orientaes com a aplicao de

    questionrio fechado verificados por especialistas em VCoPs e e-Gov. Todas

    as anlises adotadas referem-se identificao das formas de comunicao

    usadas pelas VCoPs, o modo como acessam e compartilham o conhecimento

    no ambiente virtual.

  • 37

    A abordagem da pesquisa qualitativa adotada um mtodo de

    investigao til para explorar e compreender um fenmeno central. Elabora-

    se questes gerais e analisam-se as opinies registradas dos participantes

    especialistas envolvidos no processo. A partir desses dados, interpreta-se o

    significado das informaes com base em pesquisas anteriores. Para que

    possam ser identificadas as formas de comunicao, necessita-se de uma

    anlise sobre os requisitos ou conceitos-chave comuns que caracterizam as

    formas de comunicao mais usadas pelas VCoPs e como a literatura aborda

    essas questes de comunicao no sentido de enfatizar a colaborao em

    uma comunidade, tendo em vista os seus processos estruturantes.

    Nesta Tese so utilizados vrios mtodos para a anlise e verificao

    da questo de pesquisa. Richardson (1999) define mtodo como um

    procedimento regular, explcito e possvel de ser repetido para efetivao do

    objetivo, seja material ou conceitual. Mtodo pode ser considerado como o

    procedimento ao longo de um caminho. Os mtodos constituem-se nos

    instrumentos bsicos que ordenam o pensamento em sistemas, pois traam de

    modo ordenado forma de proceder do pesquisador ao longo de um processo

    para alcanar um objetivo.

    A abordagem dos mtodos nesta Tese, conforme sugerem Lakatos e

    Marconi (2005) segue o mtodo indutivo e dedutivo. O mtodo indutivo de

    acordo com as autoras um processo mental, a partir de dados constatados,

    infere-se uma verdade geral ou universal, no contida nas partes examinadas.

    A generalizao no buscada como ponto de partida, pois pode ser

    constatada a partir da observao de um nmero de casos concretos e

    confirmados dessa realidade. Os dados obtidos por meio deste mtodo

    podem ser qualitativos. Busca-se ento interpretar o objeto em termos do seu

    significado, fornecendo subsdios para que se possa descrever o fenmeno

    posteriormente.

    Deste modo, o objetivo dos argumentos indutivos levar a concluses

    cujo contedo muito mais amplo do que o das premissas na quais se

    basearam. Para o mtodo dedutivo parte-se do geral para o particular,

    explicitando o que est implcito atravs de uma lgica, ou seja, nesta Tese a

    interpretao da inter-relao e integrao dos Modelos Tericos dedutivo,

    na indicao das formas de comunicao indutivo a partir da identificao

    de um gap no Modelo de Colaborao 2.0 apresentado posteriormente. Sob o ponto de vista da abordagem do problema, o mtodo

    qualitativo. Segundo Richardson (1999) o mtodo qualitativo quando

    estabelece a compreenso detalhada dos significados e das caractersticas

    situacionais apresentadas pelo problema. Tem como objetivo descrever a

    complexidade do problema, analisar a interao de certas variveis,

    compreender e classificar processos dinmicos vividos por grupos sociais, ao

  • 38

    invs da produo de medidas quantitativas de caractersticas ou de

    comportamentos.

    No que se refere abordagem dos objetivos, esta pesquisa

    considerada exploratria e descritiva. A pesquisa exploratria

    caracterizada, para Alyrio (2008), pela existncia de poucos dados

    disponveis, em que se procura aprofundar e apurar ideias e a construo de

    hiptese. A pesquisa exploratria, segundo Gil (1995), desenvolvida com

    objetivo de proporcionar viso geral, de tipo aproximativo, acerca de

    determinado fato. Este tipo de investigao realizado em rea na qual h

    pouco conhecimento acumulado e sistematizado que, por sua natureza de

    sondagem no comporta hipteses, sendo possvel que as hipteses possam

    surgir durante ou ao final da pesquisa. Esta pesquisa de Tese foi realizada por

    meio de um levantamento bibliogrfico, com o objetivo de proporcionar uma

    maior familiaridade com o problema, com vistas a torn-lo mais explcito

    (Lakatos e Marconi, 2005).

    Em seguida tal pesquisa realizada por um levantamento de estudos

    de aplicaes de Web 2.0 em e-Gov, com o auxlio da pesquisa descritiva. A

    pesquisa descritiva , segundo Trivios (1987) e Gil (1995), uma busca em

    reconhecer e interpretar a realidade sem interferir ou modific-la. Visa

    descrever as caractersticas de determinada populao, fenmeno ou o

    estabelecimento de relaes entre variveis. Envolve o uso de tcnicas

    padronizadas de coleta de dados: questionrio e observao sistemtica,

    procurando descrev-los, classific-los e interpret-los.

    Busca tambm a enumerao e a ordenao de dados, sem o objetivo

    de comprovar ou refutar hipteses exploratrias, abrindo espao para uma

    nova pesquisa explicativa, fundamentada na experimentao ou assume, em

    geral, a forma de levantamento. A pesquisa descritiva aquela com que o

    pesquisador observa, registra, analisa e correlacionam fatos ou fenmenos.

    Neste tipo de pesquisa, no h interferncia do pesquisador, isto , no h

    manipulao do objeto da pesquisa. Procura descobrir a frequncia com que

    um fenmeno ocorre, sua natureza, caracterstica, causas, relaes e

    conexes com outros fenmenos.

    Os dados coletados desta Tese tiveram como base a reviso

    bibliogrfica, que contemplou questes a respeito da formalizao e

    representao dos processos estruturantes das VCoPs; da apresentao das

    funcionalidades e aspecto tecnolgico do ambiente virtual da comunidade;

    descrio da dimenso do processo de comunicao em sua evoluo; dos

    aspectos crticos das prticas colaborativas das VCoPs; da inter-relao dos

    elementos estruturais principais dos Modelos Tericos; e a integrao dos

    principais conceitos-chave destes modelos e relacionados criao, ao

    acesso e o compartilhamento de conhecimentos resultando em requisitos-

  • 39

    orientaes para a elaborao da interface digital Ambiente Virtual

    Colaborativo.

    A reviso sistemtica uma reviso planejada para responder a uma

    pergunta especfica e que utiliza mtodos explcitos e sistemticos para

    identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos, e para coletar e

    analisar os dados destes estudos includos na reviso. Os resultados obtidos e

    sintetizados nesta pesquisa foram realizados por meio de disciplinas no EGC,

    reunies de orientao. E, principalmente, estudos especficos de livros,

    artigos cientficos, documentos publicados em diversos anais, journals, revistas cientficas nacionais e internacionais, relacionados com o tema de

    interesse, tendo como referencial terico de reviso sistemtica dos autores

    Crossan e Apaydin (2009).

    Para identificar o problema de pesquisa, foi realizada uma pesquisa

    bibliogrfica em bases de dados nacionais e internacionais. Destaca-se que

    na reviso de literatura realizada para investigar a questo de pesquisa, ou

    seja, a inexistncia acerca dos Ambientes Virtuais Colaborativos para VCoPs

    nas Universidades. Na literatura existente encontra-se muitos estudos

    especficos para Ambientes Virtuais de Aprendizagem inseridos no mbito

    da Universidade, aps essa anlise inicial o tema de pesquisa foi

    determinado. A reviso sistemtica se deu por meio das bases de dados

    nacionais e internacionais. Para identificao do problema foram

    selecionadas e utilizadas oito publicaes principais de um total de quinze

    publicaes cientficas relevantes pesquisa entre os anos de 1990 2012,

    sendo as reas de pesquisa: multidisciplinar e sociais aplicadas.

    A partir dos cinco artigos selecionados e analisados na reviso

    sistemtica, foi possvel sintetizar os termos e conceitos dos diferentes

    autores e aportes tericos. Estabeleceu-se relaes importantes entre os

    principais conceitos, visando alcanar os objetivos iniciais do estudo no

    entendimento 1. da criao e compartilhamento do novo conhecimento; 2.

    dos processos de formao, comunicao e colaborao das VCoPs, e 3. das

    caractersticas dos conceitos-chave do Governo 2.0. Assim, a pesquisadora

    selecionou os estudos: de Nonaka; Toyama; Konno (2000) investigando a

    Teoria da Aprendizagem Organizacional no Espao Ba como fator principal do Modelo de Criao do Conhecimento; de Lave; Wenger (1988), pela

    Teoria da Cognio Situada estabelecida no Modelo de VCoP; de Cardoso

    (2003;2007;2009) na evoluo da Teoria Sociolgica da Comunicao que se

    apresenta no Modelo de Comunicao em Rede; de Coleman; Levine (2008)

    na investigao dos processos tecnolgicos como suporte para o Modelo de

    Colaborao 2.0. E na definio do termo Governo 2.0, os estudos de

    Ropponen (2010) e no Modelo de Maturidade de e-Gov pelos autores Lee e

    Kwak (2012); na interao do Governo e Universidades tem-se o Modelo de

  • 40

    Interao proposto por Silva (2010); e nos estudos de Chua et al (2008;

    2010; 2012) as aplicaes de Web 2.0 em obteno de perspectivas na

    proposio do framework conceitual para Ambiente Virtual Colaborativo.

    1.9 DESCRIO DOS CAPTULOS

    Apresenta-se os captulos que compem a proposio do texto de

    Tese:

    1. No captulo I apresenta-se o projeto de pesquisa e a reviso sistemtica de literatura, a qual apresenta um conjunto de consideraes de pesquisas,

    relacionada s caractersticas das VCoPs e o estado da arte das propostas de

    aplicaes de Ambiente Virtual Colaborativo de e-Gov, e apresenta-se o

    procedimento metodolgico da pesquisa, bem como, o processo emprico

    para subsidiar e possibilitar a verificao da proposta de framework conceitual

    2. No captulo II delineia-se a Fundamentao Terica para subsidiar a elaborao da pesquisa. Inserem-se neste captulo a relao da Gesto do

    Conhecimento e e-Gov, e a contribuio do Modelo de Criao do

    Conhecimento traz para o estabelecimento da evoluo do Governo 2.0

    3. O captulo III apresenta-se os fundamentos da Cultura Meditica e na sequncia, apresentam-se os fundamentos da Teoria da Cognio Situada

    para explicar as caractersticas e o comportamento das VCoPs na

    Cibercultura

    4. O captulo IV apresenta-se a evoluo dos processos comunicativos e o atual Modelo de Comunicao situado no paradigma em Rede para discutir o

    processo de comunicao nas VCoPs

    5. O captulo V descreve-se os fundamentos da IHC para compreender o desenvolvimento dos ambientes virtuais sob a abordagem de Design

    Centrado no Usurio. Destaca-se o Modelo de Colaborao 2.0 para

    responder a seleo das formas de comunicao para favorecer as prticas

    colaborativas

    6. No captulo VI proposto um framework conceitual para o Ambiente Virtual Colaborativo, embasados na inter-relao e integrao conceitual dos

    modelos tericos estudados anteriormente, para delinear os requisitos-

    orientaes que correspondem a primeira fase da metodologia projetual da

    interface digital interativa

    7. No captulo VII encerra-se o texto apresentando as consideraes finais, estudos futuros e as referncias bibliogrficas

  • 41

    2 GESTO DO CONHECIMENTO E GOVERNO ELETRNICO

    2.1 CRIAO DO CONHECIMENTO ORGANIZACIONAL

    O que conhecimento? Esta questo estudada pelos filsofos ao

    longo do tempo sem que se tenha chegado a um consenso. O termo

    epistemologia - teoria do conhecimento provm da palavra grega episteme

    que significa verdade absolutamente certa ou crena verdadeira justificada. O

    conhecimento, indicando uma teoria, isto , uma explicao ou interpretao

    filosfica do conhecimento humano. Conhecimento um peculiar fenmeno

    da conscincia, apresentando trs elementos principais: o sujeito, a imagem e

    o objeto. Pelo sujeito, o fenmeno do conhecimento toca na esfera

    psicolgica; pela imagem, com a lgica; pelo objeto, com a ontolgica. Um

    conhecimento diz-se verdadeiro se o seu contedo concorda com o objeto

    designado. O conceito de verdade assim, o conceito de uma relao.

    Exprime uma relao de contedo, do pensamento, da imagem, com o

    objetivo (Hessen, 1987).

    No dicionrio Webster, conhecimento definido como os fatos,

    verdades ou princpios adquiridos a partir de estudo ou investigao;

    aprendizado prtico de uma arte ou habilidade; a soma do que conhecido

    com o que ainda pode ser aprendido. Conhecimento pode ser considerado

    como uma forma de capital. Neste mesmo dicionrio define-se capital como

    qualquer forma de riqueza empregada com objetivo de se produzir mais

    riqueza, a habilidade do ser humano, sua formao, gerando uma forma de

    conhecimento, podendo ser considerado capital na forma humana ou capital

    humano. No mesmo dicionrio, define-se tecnologia como aplicao do

    conhecimento no trabalho. O desenvolvimento do conhecimento um pr-

    requisito para o desenvolvimento de tecnologia, pois novos conhecimentos

    levam a novas tecnologias, gerando mudana na economia e que, por sua

    vez, promove mudana social e, consequentemente, mudana poltica e de

    paradigma, ou seja, conduzindo um processo de mudana como um todo.

    A palavra conhecer deriva do grego gnosis, atravs do latim noscere significando tambm saber. A palavra cognio e o verbo notar derivam da

    mesma fonte. O sufixo mento se relaciona a processo ou ao. Existem

    muitas definies para conhecimento, mas uma definio que se provou ser

    til a capacidade para ao eficaz, no contexto atual. Esta definio no

    considera conhecimento sinnimo de informao acumulada. Informao

    confundida com conhecimento, sendo definida como notcia ou inteligncia

    transmitidas por palavras ou na forma escrita; fatos ou dados. Na opinio de

    Crawford (1994) quando se diferencia informao de