UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO LUANA ......interventricular, persistência de forame oval14 e...

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO LUANA CAROLINA GNANN SANTOS DIAGNÓSTICO ECOCARDIOGRÁFICO DE MALFORMAÇÃO CARDÍACA COMPLEXA EM POTRO QUARTO DE MILHA CUIABÁ-MT 2017

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

LUANA CAROLINA GNANN SANTOS

DIAGNÓSTICO ECOCARDIOGRÁFICO DE MALFORMAÇÃO CARDÍACA

COMPLEXA EM POTRO QUARTO DE MILHA

CUIABÁ-MT

2017

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LUANA CAROLINA GNANN SANTOS

DIAGNÓSTICO ECOCARDIOGRÁFICO DE MALFORMAÇÃO CARDÍACA

COMPLEXA EM POTRO QUARTO DE MILHA

CUIABÁ-MT

2017

Trabalho de conclusão de curso apresentado

ao Programa de Pós-Graduação em

Residência Uniprofissional em Medicina

Veterinária da Universidade Federal de

Mato Grosso, como requisito parcial para

obtenção do título de Especialista em

Diagnóstico por Imagem.

Orientador: Prof.º Pedro Eduardo Brandini

Néspoli

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AGRADECIMENTOS

Agradeço em primeiro lugar meus pais, Edna e Abelardo, que sempre estiveram ao meu

lado, tanto nos momentos bons e, principalmente, nos ruins sempre.

Durante esses dois anos várias pessoas foram importantes, mas um agradecimento em

especial para as amigas e companheiras de residência Aline, Ludmila, Helena,

Gabriela, Deise, Fabiana, Ana, Lívia, Johanna, e Bianca (não poderia ter tido melhor

dupla de plantão!!!) pelos momentos de alegria, parceria, correria e principalmente

pela força e compreensão nos momentos difíceis e de estresse, pois sem elas os dias não

seriam os mesmos.

Ao Professor Pedro, pela orientação e pelos vários momentos de descontração e

conversas, além da paciência pela minha total falta de habilidade com artigos(!).

E à todos os colaboradores do hospital veterinário, muito obrigada por sempre

tentarem fazer o melhor que podem.

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Diagnóstico ecocardiográfico de malformação cardíaca complexa em potro 1

quarto de milha 2

[Echocardiographic diagnosis of complex cardiac malformation in a quarter house 3

foal] 4

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Santos, L. C. G.*1, Avila, H. B. S1., Schenkel, D. M.1, Colodel, E. M.1, Veronezi, R. 6

C.1, Néspoli, P.B.1 7

1 Universidade Federal de Mato Grosso – Cuiabá, MT 8

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RESUMO 10

Descreve-se caso de um potro Quarto de Milha recém-nascido com malformação 11

cardíaca complexa, diagnósticada através do exame ecodopplercardiográfico e 12

necropsia. Os achados morfológicos incluíram atresia de valva tricúspide, comunicação 13

interventricular, persistência de forame oval e aplasia de cúspide pulmonar. Havia 14

alteração do fluxo sanguíneo cardíaco, com fluxo turbulento interventricular, interatrial 15

e na artéria pulmonar. Apesar do aspecto complexo das malformações, os achados 16

diferiram tanto morfologicamente como pela analise do fluxo sanguíneo dos casos de 17

tetralogia de Fallot ou suas derivações, por não haver dextroposição da aorta, 18

concomitante hipertrofia do ventrículo direito, e pelas ocorrências de atresia de 19

tricúspide e persistência do forame oval. 20

Palavra-chave: doença congênita; cardiologia; ecocardiografia; equino. 21

22

ABSTRACT 23

Case of a Newborn Quarter Horse Colt, attended at the Veterinary Hospital of the 24

Federal University of Mato Grosso, with complex cardiac malformation, diagnosis 25

made through the Doppler echocardiography examination and afterwards performed 26

necropsy, in which interventricular communication, persistence of oval foramen, 27

Pulmonary cusp aplasia, and tricuspid atresia. There was alteration of the cardiac blood 28

flow, with turbulent interventricular, interatrial and pulmonary artery flow. There was 29

* Autor para correspondência (corresponding author)

[email protected]

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alteration of the cardiac blood flow, with turbulent interventricular, interatrial and 30

pulmonary artery flow. The case could not be classified as tetralogy of Fallot or some 31

deviration for not having dextroposition of the aorta and still for the occurrence of the 32

persistence of the oval foramen. 33

Keywords: congenital disease; cardiology; echocardiography; foal. 34

35

INTRODUÇÃO 36

A taxa de ocorrência de malformações cardíacas oscila em torno de 3,5% dos distúrbios 37

congênitos de equinos (Hall et al. 2010; Marr, 2015; Coelho et al., 2016), e a sua 38

ocorrência tem sido associada a alta atividade física dos animais, com maior prevalência 39

em pôneis (Hall et al., 2010) e em animais da raça Árabe (Coelho et al., 2016). 40

Dentre às anormalidades cardíacas mais reportadas para espécie equina, pode-se 41

destacar a comunicação interventricular, persistência do forâmen oval, ducto arterioso 42

persistente, anormalidades das válvulas aórticas, atrioventricular e pulmonar; 43

transposição dos grandes vasos e tetralogia de Fallot (Hadlow e Ward, 1980). As formas 44

isoladas são mais comumente observadas, enquanto os distúrbios cardíacos complexos 45

tendem a ocorrer com menor frequência (Hadlow e Ward, 1980; Reef, 1998). 46

Dentre as alterações cardíacas complexas, a Tetralogia de Fallot é a mais prevalente em 47

equinos e apresenta quatro alterações cardíacas simultâneas: estenose pulmonar, 48

hipertrofia do ventrículo direito secundário, dextroposição da aorta e defeito do septo 49

ventricular (Hadlow e Ward, 1980; Silva Junior et al., 2012; Coelho et al., 2016). A 50

sintomatologia clínica é influenciada principalmente pelo grau de estenose pulmonar e 51

pode ser expressa por quadros de síncope, cianose, dispneia, policitemia, crescimento 52

retardado, hiperviscosidade do sangue, fraqueza ao exercício, hipoxemia e sopro 53

sistólico com maior intensidade sobre o foco pulmonar (Silva Junior et al., 2012). 54

O diagnóstico e o prognóstico das anomalias cardíacas são obtidos mediante a avaliação 55

conjunta dos aspectos clínicos e do exame ecodopplercardiográfico. Nessa avaliação é 56

possível distinguir os diferentes tipos de anomalias através da análise ultrassonográfica 57

da morfologia cardíaca, da aferição de índices de contratilidade e da avaliação do fluxo 58

sanguíneo (Reef, 1998; Schober, et al., 2000). 59

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O objetivo do presente relato foi descrever os aspectos clínicos e ecocardiográficos de 60

um potro recém-nascido Quarto de Milha com malformação cardíaca complexa 61

atendido no Hospital Veterinário da Universidade Federal do Mato Grosso (UFMT). 62

63

RELATO DE CASO 64

Um paciente da espécie equina, da raça Quarto de Milha, com 35 dias de idade, foi 65

examinado clinicamente e submetido a exame ecodopplercardiográfico. Animal 66

apresentava desenvolvimento tardio, relutância ao exercício, mucosas cianóticas e sopro 67

pansistólico com máxima auscultação sobre o foco pulmonar, acompanhado de frêmito 68

intenso. 69

A área cardíaca foi escaneada nas projeções paraesternal direita e esquerda com 70

aparelho de ultrassonografia (Esaote, MyLabFiveVet) e transdutor setorial de frequência 71

5 – 7,5 MHz. A avaliação do modo M revelou fração de ejeção de 73%, fração de 72

encurtamento de 43%, e valores sistólicos e diastólicos respectivos de 17,7 e 7,2mm 73

para o septo interventricular; 35,4mm e 61,7mm para o ventrículo esquerdo e 22,5 e 74

11,5mm para a espessura da parede livre do ventrículo esquerdo. A relação observada 75

entre o átrio esquerdo e a aorta foi de 1,2, com dimensões de 43,3mm do átrio esquerdo 76

e 36,2mm da aorta. 77

No exame das câmaras cardíacas observou-se aumento das dimensões do átrio direito, 78

átrio e ventrículo esquerdos; discreta presença de líquido em saco pericárdico, 79

comunicação interventricular, imediatamente ventral à válvula aórtica, com 80

turbilhonamento sanguíneo no sentido esquerdo para direito (Figura 1 A e B); 81

comunicação interatrial em que se evidenciou o fluxo sanguíneo turbilhonado no 82

sentido direito para esquerdo (Figura 1 C e D). A válvula tricúspide apresentou atresia, 83

superfície irregular e aumento de espessura (Figura 1 E). Não foi possível analisar a 84

válvula pulmonar, no entanto observou-se turbilhonamento do fluxo sanguíneo no 85

doppler colorido na artéria pulmonar e velocidade de fluxo de 1,6 m/s no doppler 86

pulsado (Figura 1 F). 87

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Figura 1. Imagens ecocardiográficas do paciente. A e B varredura transversal, paraesternal direita, 90 imediatamente distal à valva aórtica evidencia descontinuidade do septo interventricular (seta) e fluxo 91 sanguíneo turbulento do ventrículo esquerdo para o direito através do doppler colorido; C e D Varredura 92 longitudinal, paraesternal direita demonstra descontinuidade do septo interatrial (seta) e fluxo turbulento 93 do átrio direito para o esquerdo ao doppler colorido. E. Varredura longitudinal, paraesternal direita 94 evidencia ventrículo direito com diâmetro reduzido e constrição e alteração do formato da valva 95 tricúspide. F. Varredura transversal, paraesternal direita, demonstra fluxo turbulento na artéria pulmonar 96

A

ve

vd siv

B

fiv

C

ad

ae

D

fia

E

ae

ve

F

ao

fap tc

siv

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ao doppler colorido. Abreviações: ae – Átrio esquerdo, ad – átrio direito, ao – aorta, fap – fluxo da artéria 97 pulmonar, fia – fluxo interatrial, fiv – fluxo interventricular, siv – septo interventricular, vd – ventrículo 98 direito, ve – ventrículo esquerdo. Fonte: Setor de Diagnóstico por Imagem - UFMT 99

100

Devido à complexidade das alterações cardíacas, a debilidade clínica do paciente e 101

prognóstico ruim, optou-se pela realização da eutanásia. No exame macroscópico 102

constatou-se a persistência do forâmen oval de 1,8 cm de diâmetro; estenose da válvula 103

atrioventricular direita, com hipotrofia de músculo papilar, cúspide angular, parietal e 104

septal pouco definida. Ademais, observou-se comunicação interventricular medindo 1,4 105

cm de diâmetro e aplasia da cúspide semilunar intermediária da válvula pulmonar. A 106

válvula aórtica e a válvula mitral apresentavam localização e aspecto normais. 107

108

DISCUSSÃO 109

A tetralogia de Fallot é comumente atribuída à anomalias cardíacas complexas em 110

potros, pela sua frequência e por ser um conjunto de quatro alterações cardíacas: 111

estenose pulmonar, hipertrofia secundária do ventrículo direito, dextroposição da aorta e 112

defeito do septo ventricular (Vitums e Bayly, 1982; Silva Junior et al., 2012; Coelho et 113

al., 2016). Porém, o presente relato não pode ser classificado como sendo uma tetralogia 114

de Fallot ou alguma derivação, principalmente, por não haver dextroposição da aorta e 115

hipertrofia concomitante do ventrículo direito. Ou ainda por ter apresentado atresia de 116

tricúspide e a persistência de forâmen oval. Por outro lado, os achados encontrados 117

foram similares a outros casos descritos em potros na literatura. Há um caso idêntico 118

relatado em que todas as alterações cardíacas coincidiram com as do presente relato 119

(Rooney e Ranks, 1964) e dois casos em que as alterações cardíacas se assemelhavam, 120

exceto pela ausência de aplasia de cúspide pulmonar observada nesse caso (Rooney e 121

Ranks, 1964; Hadlow e Ward, 1980). 122

Quanto à direção de fluxo sanguíneo, observado através do doppler colorido, verificou-123

se diferenças importantes dos casos de tetralogia de Fallot. A orientação sanguínea 124

interventricular mais comum na tetralogia de Fallot é da direita para a esquerda, por 125

influência da estenose de válvula pulmonar (Marr, 2015). No presente caso o fluxo 126

ocorreu da esquerda para direita, similar aos casos de comunicação interventricular 127

simples ( Reef, 1998; Marr, 2015). Além disso, constatou-se fluxo interatrial intenso da 128

direita para esquerda; e um fluxo turbulento em alta velocidade através da artéria 129

pulmonar, provavelmente determinado pela aplasia de cúspide valvular. 130

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A atresia de tricúspide e a comunicação interventricular dentro do complexo de 131

malformações foram as alterações mais significativas observadas. A persistência do 132

forâmen oval, observados nesse caso provavelmente teve relação com a atresia de valva 133

tricúspide, uma vez que o aumento de pressão interatrial resultante mantém o fluxo 134

intenso do átrio direito para o átrio esquerdo, mantendo assim a funcionalidade do 135

forame oval, mesmo após o nascimento (Reef, 1998). A velocidade desse fluxo, que 136

pode ser mensurada através do Doppler pulsado, é proporcional à estenose/atresia 137

valvular por desencadear um aumento de pressão no átrio direito (Boon, 2011). Já a 138

comunicação interventricular possibilita a circulação sanguínea, mesmo que em 139

quantidade deficitária, da pequena circulação. Caso não houvesse essa comunicação 140

haveria redução drástica do fluxo sanguíneo pulmonar, resultando em um quadro crítico 141

e fatal de hipóxia. 142

143

REFERÊNCIAS 144

BOON, J.A. Veterinary echocardiography. 2 ed. Wiley-Blackwell: Iowa. cap.10. 2011. 145

p.477-525. 146

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Crioulo Foal. Acta Sci. Vet., v. 44, n.129, p.1-4, 2016. 148

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foal. Vet. Pathology, v.17, p.622-637, 1980. 150

HALL, T.L.; MAGDESIAN, K.G.; KITTLESON, M.D. Congenital Cardiac Defects in 151

Neonatal Foals: 18 Cases (1992 –2007). J. vet. Intern. Medic., v.24, p. 206-212, 2010. 152

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clin. North Am.: equipe pract., v.31, p.545-565, 2015. 155

REEF, V.B. Equine diagnostic ultrasound. Ed.Saunders: Philadelphia. cap.5. 1998. 156

p.215-272. 157

ROONEY, R.J.; FRANKS, W.C. Congenital Cardiac Anomalies in Horses. Path. 158

vet., v.1, p.454-564, 1964. 159

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cien. elet. de med. vet., Garça, n.18, p. 1-9, 2012. 164

VITUMS, A.; BAYLY, W.M. Pulmonary atresia with dextroposition of the aorta and 165

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