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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA ANA PAULA DOS SANTOS SILVA HABILIDADES SOCIAIS COMO ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: Análise das habilidades sociais de educadoras da Rede Municipal de João Pessoa JOÃO PESSOA - PB 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA CENTRO DE EDUCAÇÃO CURSO DE PEDAGOGIA

ANA PAULA DOS SANTOS SILVA

HABILIDADES SOCIAIS COMO ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: Análise das

habilidades sociais de educadoras da Rede Municipal de João Pessoa

JOÃO PESSOA - PB

2011

ANA PAULA DOS SANTOS SILVA HABILIDADES SOCIAIS COMO ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: Análise de habilidades sociais de educadoras da

Rede Municipal de João Pessoa

JOÃO PESSOA – PB 2011

Monografia submetida ao Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba como parte dos requisitos para a obtenção do grau de Licenciada Plena em Pedagogia, Orientadora: Profa Dra. Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos.

S586h Silva, Ana Paula dos Santos.

Habilidades sociais como estratégias para prevenção da violência

na escola: análise das habilidades sociais de educadores da rede municipal de João Pessoa / Ana Paula dos Santos Silva. – João Pessoa: UFPB, 2011.

61f. Orientadora: Profa. Dra Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos Monografia (graduação em Pedagogia) – UFPB/CE

1. Habilidades sociais. 2. Violência nas escolas. 3. Gestão e prevenção da violência na escola. I. Título.

UFPB/CE/BS CDU: 37.06(043.2)

ANA PAULA DOS SANTOS SILVA HABILIDADES SOCIAIS COMO ESTRATÉGIAS PARA PREVENÇÃO DA VIOLÊNCIA NA ESCOLA: Análise de habilidades sociais de educadoras da

Rede Municipal de João Pessoa

Monografia apresentada ao Centro de Educação da Universidade Federal da Paraíba, como

requisito obrigatório para obtenção do título de Licenciatura Plena em Pedagogia.

Aprovada em 30 de junho de 2011.

BANCA EXAMINADORA

__________________________________________________ Prof. Dr. Fernando Cézar Bezerra de Andrade (UFPB)

__________________________________________________ Prof.ª Ms. Alásia Santos Ramos do Nascimento (UFPB)

__________________________________________________ Prof.ª Dra. Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos (UFPB)

(Orientadora)

Ao meu esposo Igor José da Silva Florentino, pelo apoio

incondicional de todas as horas, por sempre ter me

incentivado a estudar e a buscar o crescimento pessoal e

profissional.

Ao meu pai José da Silva, in memoriam, pois sei que se

estivesse comigo estaria me apoiando e bastante orgulhoso

de minhas conquistas.

AGRADECIMENTOS

A Deus, por ser o doador da vida e da saúde que tenho e que me possibilita novas forças a cada

amanhecer.

Aos meus orientadores de pesquisa e extensão, Carmen Sevilla e G. dos Santos e Fernando Cézar

Bezerra de Andrade, pela oportunidade de obter novas experiências através de seus projetos e

pelo carinho e dedicação a mim proporcionados.

A professora Alásia Santos Ramos do Nascimento, pelo apoio e dedicação a este trabalho.

A minha mãe Maria de Lourdes dos Santos Silva pelo amor a mim dedicado.

As minhas irmãs Inácia dos Santos Silva, Maria da Penha dos Santos Silva, Maria Daguia dos

Santos Silva, Luciene dos Santos Silva, Luciana dos Santos Silva, Maria do Carmo dos Santos

Silva e ao meu irmão Luciano dos Santos Silva, por estarmos sempre juntos e unidos.

As minhas colegas do grupo de pesquisa, Geysia de Andrade Silva, Regina Coeli, Kally Samara,

Marília Gabriela e Andréa Alves pela oportunidade de aprendermos em conjunto e crescermos

juntos com o trabalho.

As minhas colegas de classe, em especial meu grupo de estudo Daiane Firino, Roberta Aguiar e

Aline Cordeiro, por estarmos sempre unidas na busca do conhecimento.

Aos amigos Leandro Rodrigues e Hugo da Silva pelos momentos de descontração e diversão

vivenciados fora da academia.

Ao Programa Conexões de Saberes pela oportunidade e pelo apoio nos meus primeiros meses

dentro da Universidade.

A educação do homem começa no momento do seu nascimento; antes de falar, antes de entender, já se instrui.

(Jean Jacques Rousseau)

RESUMO

Este trabalho objetivou analisar as habilidades sociais como estratégias para subsidiar as

educadoras na gestão e prevenção da violência e dos conflitos relacionais no ambiente escolar.

Tomou-se como objeto de estudo 65 educadoras da Rede Municipal de João Pessoa. Foram

analisados os perfis sociais deste grupo no que concerne às suas habilidades gerais para o

convívio em diferentes contextos, bem como suas habilidades relevantes para o trabalho docente.

Utilizou-se no estudo o método qualitativo, tendo como principal instrumento o Inventário de

Habilidades Sociais – IHS-Del-Prette (2001), Teste que tem por finalidade aferir o repertório de

habilidades sociais de um indivíduo. Os dados coletados possibilitaram a classificação dos perfis

sociais gerais das educadoras em: “Repertório Bastante Elaborado de Habilidades Sociais (HS)”,

“Bom Repertório de HS – acima da mediana”, “Repertório Médio”, “Bom Repertório em HS –

abaixo da mediana”, “Indicação para o Treinamento em HS quando os déficits se tornam fontes

de problemas”, escala trazida pelo próprio instrumento. Em relação às HS mais relevantes para o

trabalho docente, especialmente para gestão e prevenção da violência, os perfis sociais das

educadoras foram classificados em “Baixo”, “Regular”, “Bom”, “Ótimo” e “Excelente”. O estudo

também contemplou o treino em HS por meio de vivências em Oficinas Pedagógicas executadas

durante o Encontro Te pego na escola: convivendo com a violência, realizado em novembro de

2010 para coleta de dados do Projeto de pesquisa Competência inter-relacional: estudo a partir

da competência social, vinculado ao CNPq/CE/UFPB e do trabalho ora apresentado. Dentre as

Oficinas ministradas no Evento, foi selecionada para detalhamento e análise neste trabalho a

oficina Acima de qualquer suspeita, que teve como objetivo treinar a assertividade das

educadoras da Rede Municipal de João Pessoa a partir de duas vivências: a Dança das Vogais e

O Envelope. No que tange aos resultados, a classificação dos perfis sociais gerais analisados pelo

IHS-Del-Prette identificou que 60% das educadoras apresentaram um nível de habilidades sociais

satisfatório, enquanto 38,46% encontraram-se abaixo da média estabelecida pelo IHS-Del-Prette

(50), precisando, portanto, de treinamento nestas habilidades. Em relação à classificação dos

perfis sociais, considerando as habilidades mais relevantes para o trabalho docente e para gestão e

prevenção da violência na escola, observou-se que 61,5% apresentaram altos perfis em

habilidades sociais e 38,4% estão com suas habilidades sociais abaixo da média estabelecida pelo

Teste, o que nos permite inferir interações educativas pouco eficazes no que concerne ao trabalho

pedagógico, bem como na gestão e prevenção da violência no âmbito escolar para o segundo

grupo. No que diz respeito ao Treino em HS, vivenciado pelas educadoras, este se constituiu em

um espaço de aprendizagem de introdução à Teoria das HS e da assertividade, contribuindo no

desenvolvimento de habilidades relevantes para a prática docente. Concluiu-se que existe uma

parcela significativa de educadoras hábeis socialmente no grupo amostral das 65 docentes

pesquisadas da Rede Municipal de João Pessoa. Por outro lado, verificou-se também um número

crescente de educadoras com perfis em habilidades sociais relativamente baixos, o que por sua

vez é preocupante, devido à natureza do trabalho desenvolvido por estas profissionais.

Palavras-chave: Habilidades Sociais. Violência na escola. Gestão e prevenção da violência na escola.

ABSTRACT

This monography examines the social skills as strategies to support educators in management and

prevention of violence and of relationship conflicts in school environment. The study involved 65

educators of João Pessoa’s municipal schools, whose social profiles were analyzed about their

general skills in living within different contexts, as well as the relevant ones in teaching. The

qualitative method was used with the Inventário de Habilidades Sociais – IHS-Del-Prette (2001)

as main instrument, a test that has the purpose of assessing an individual’s social skills repertoire.

The collected data allowed to classify the general social profiles of the educators in: “Quite

Elaborate Repertoire of Social Skills (HS)”, “Good Repertoire of HS – Above Median”,

“Intermediate Repertoire of HS”, “Good Repertoire of HS – Below Median”, and “HS Training

Indication when deficits become sources of problems”, according to the test degrees. Regarding

to the most relevant HS for teaching, especially for violence management and prevention, the

social profiles of the study group were classified as “low”, “regular”, “good”, “optimum” and

“excellent”. The study also covered the HS training through experiences in pedagogical

workshops during the event Te Pego na Escola: Convivendo com a Violência, held in November

2010 in order to collect data for the research project Competência Inter-Relacional: Estudo a

Partir da Competência Social, linked to the CNPq/CE/UFPB and for the present study. Among

the event’s workshops, it was selected for detailing and analysis in this paper the workshop

Acima de Qualquer Suspeita that had the objective of training the assertiveness of the educators

of João Pessoa’s municipal schools in two experiences: A Dança das Vogais and O Envelope.

According to the results, the classification of general social profiles analyzed by the IHS-Del-

Prette identified that 60% of educators showed a satisfactory level of social skills, while 38.46%

were below the IHS-Del-Prette average and, therefore, needing training in those skills. The social

profile classification considering the most relevant skills for teaching and for management and

prevention of violence within school environment showed that 61.5% of the profiles had high

degrees in social skills and 38.4% had social skills below the test average, which allows to infer

less effective educational interactions in pedagogical work, as well as less effective management

and prevention of violence within school environment for the second group. The HS training

experienced by the educators became an opportunity of introducing oneself to the HS Theory and

to assertiveness, contributing to the development of relevant skills for teaching practice. This

study concluded that there is a significant amount of social skilled educators in the João Pessoa’s

municipal schools. On the other hand, there is also a crescent number of educators with low

social skills, which is worrying, due to the nature of work developed by those professionals.

Words-key: Violence in the school. Social skills. Management and prevention of school violence.

LISTA DE TABELAS

Tabela 1 - Escolas municipais por Polos e o total de educadoras participantes do encontro Te pego na escola: convivendo com a violência.......................................................................

23

Tabela 2 - Classificação geral do nível em habilidades sociais das educadoras a partir do Escore Total..............................................................................................................................

25

Tabela 3 - Perfis sociais docentes a partir das habilidades selecionadas no IHS-Del-Prete (2001) .......................................................................................................................................

28

Tabela 4 - Habilidades sociais da atividade docente e o número de educadores com carência de treinamento ...........................................................................................................

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SUMÁRIO

I INTRODUÇÃO...................................................................................................................... 14 II ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS................................................................................ 20

2.1 Procedimentos de coleta de dados ................................................................................. 21 III PERFIS SOCIAIS DE EDUCADORAS DA REDE MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA 24

3.1 Classificação dos perfis gerais em Habilidades Sociais das educadoras ...................... 24 3.2 Classificação dos perfis em Habilidades Sociais das educadoras em relação às habilidades relevantes para a docência ................................................................................

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IV O TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS (THS) ............................................. 32

4.1 Programa de Desenvolvimento Interpessoal para educadores – PRODIP-E ................ 33 4.2 “Acima de qualquer suspeita”: um treino em habilidades sociais ................................ 34

V AVALIAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................. 40 VI REFERÊNCIAS ................................................................................................................. 43 VII ANEXOS ........................................................................................................................... 46

I INTRODUÇÃO

Dentre as várias questões sociais que afligem a sociedade, a violência está entre as mais

estudadas, isso porque vivenciamos na contemporaneidade momentos de insegurança, impotência

e medo de sermos atingidos por este problema. Tal fenômeno está presente em nosso cotidiano e

nas diversas instituições, inclusive nas escolares. Seu caráter multifacetado no ambiente escolar

impõe uma série de desafios no que tange a sua prevenção nesse contexto. Assim como ocorre

com a violência no geral, a violência nas escolas pode ser definida de várias maneiras: como

sinônimo de agressão física, delito ou crime, agressão verbal, diferentes formas de discriminação,

ataques ao patrimônio, assédio sistemático (bullying) etc (ABRAMOVAY, 2005). Nesta

perspectiva, a violência escolar se “caracteriza como todo ato que impede, em sentido amplo, o

pleno desenvolvimento dos atores sociais ali presentes; consiste em qualquer ação consciente ou

voluntária de um indivíduo, grupo ou classe com o propósito de impedir o pleno exercício de um

direito” (LOPES; GASPARIM, 2003, p. 297).

A violência na escola tem se constituído, nos últimos anos, em um grave problema de

ordem mundial. Amplamente divulgada e explorada pelos meios de comunicação, tornou-se tema

de debate público e vem despertando o interesse de um número crescente de pesquisadores. No

Brasil, esse assunto ganhou espaço nas pesquisas acadêmicas a partir do final da década de

oitenta e início da década de noventa. Neste sentido, podemos destacar os trabalhos de Fukui

(1992), Zaluar (1992), Adorno (1992) e Morais (1995). Em relação aos estudos atuais podemos

citar ainda os achados de Abramovay e Castro (2002, 2006), Abramovay e Rua (2003),

Abramovay et al (2004), Abramovay (2005, 2009). Em pesquisa recente sobre o panorama de

estudos sobre a violência nas escolas no Brasil entre 1980 e 2009, Sastre (2009) enfatiza as

produções acadêmicas sobre este fenômeno, indo desde artigos científicos até dissertações e

teses.

Os estudos descritos por Sastre (2009), bem como os demais acima citados, evidenciam a

amplitude do problema da violência escolar, o que tem impulsionado uma vasta produção

acadêmica sobre o tema, além de iniciativas práticas no que concerne à prevenção, intervenção e

gestão do fenômeno nas diversas instituições escolares brasileiras. Vale ressaltar que as

investigações e intervenções a respeito da violência escolar que vem afligindo gestores,

educadores, pais e os próprios alunos, têm se estendido para fora da universidade. No Brasil,

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existe todo um leque de instituições que se ocupa com esse problema, entre elas, a UNESCO,

ONGs, o Ministério de Educação, Secretarias Municipais e Estaduais de Educação.

A UNESCO no Brasil vem realizando pesquisas e programas em torno do desenvolvimento

de uma Cultura de Paz. Assim, tem financiado estudos sobre a violência juvenil e escolar nos

quais se identificam atos violentos quantitativamente alarmantes. Os jovens brasileiros entre 15 e

24 anos estão na faixa populacional mais exposta ao fenômeno, quer como vítimas ou como

agentes, é o que aponta esses estudos: O Mapa da Violência contra os jovens do Brasil (1998); O

Mapa da violência II (2000); O Mapa da violência III (2002); O Mapa da violência IV: os Jovens

do Brasil (2004); O Mapa da violência V: os jovens do Brasil (2006); O Mapa da violência dos

municípios brasileiros (2008); O Mapa da violência 2010: anatomia dos homicídios no Brasil;

Violência nas Escolas (2003); Droga nas Escolas (2002). Na perspectiva desses trabalhos, a

escola é um aglutinador de fenômenos que são permeados de violência. Porém, essa instituição

ainda é vista como um locus concreto de mudança e de mobilidade social para uma grande

parcela da população. Investir, portanto, em ações de intervenção neste espaço é essencial. O que

se tem observado é que aos poucos, este aspecto tem se tornado uma realidade, a exemplo dos

projetos “Parâmetros em Ação1”, “Brasil sem Homofobia2”, “A Escola que Protege3” e o “Projeto

Não Violência- PNV4”, dentre outros. Tais ações possuem como uma de suas características

gerais a formação dos educadores para melhor atuarem no âmbito escolar diante das situações de

violências. Basicamente todas elas vêm enfatizando e agindo em função da preparação dos

educadores para gerirem de forma eficaz os problemas relacionados à violência escolar. Tal

preocupação pode ser explicada pelo fato de serem os educadores os principais agentes que lidam

frequentemente, em suas salas de aulas, com esse fenômeno.

Alguns estudos têm apontado o fazer docente como um elemento capaz de subsidiar a

gestão e a prevenção da violência no ambiente escolar. A exemplo, podemos citar Andrade

1 Conjunto de materiais, publicado em 2001 pelo MEC através da Secretaria de Educação Fundamental, com o

propósito de apoiar os educadores em seu trabalho de formação de cidadãos conscientes e preparados para a convivência democrática.

2 Projeto que objetivou capacitar oitenta professores da Rede Pública do Distrito Federal, implementando ações com a finalidade de re-significar atitudes sexistas e homofóbicas, refletir sobre a heteronormatividade, inclusão e promoção das diversidades sexuais no âmbito escolar e o papel do educador em ações não discriminatórias.

3 Projeto do MEC que orienta alunos, pais e professores sobre violência, drogas e abuso sexual. É voltado para a promoção e defesa dos direitos de crianças e adolescentes, além do enfrentamento e prevenção das violências no contexto escolar a partir de projetos de formação continuada de profissionais da educação.

4 Uma ONG internacional que atua desenvolvendo e fortalecendo uma cultura de não violência por intermédio das escolas. Uma de suas prioridades é formar profissionais das escolas e pais para trabalharem os valores de não violência junto à crianças, adolescentes e jovens.

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(2007a), que denominou de competência inter-relacional o saber necessário ao educador para

gestão e prevenção da violência na escola. Esta competência define-se segundo o autor, como, de

uma parte, um saber conviver, gerindo relações intersubjetivas e organizando as condições e

atividades de ensino e aprendizagem na escola; e, de outra, um saber ensinar a conviver,

resolvendo pacificamente conflitos e prevenindo a violência com intervenções de natureza

técnico-comportamental, comunicacional, afetiva, relacional e pedagógica.

Essa competência possui várias dimensões, dentre as quais se destaca a dimensão social,

sendo esta a dimensão que se manifesta através das habilidades sociais, definidas por Del Prette e

Del Prette (2001, p. 12) como “aquelas classes de comportamentos existentes no repertório do

individuo que compõem um desempenho socialmente competente”.

A aplicação das habilidades sociais no âmbito escolar se justifica pela natureza

essencialmente interativa dos processos educativos, pela configuração desse sistema como

complexo de relacionamentos interpessoais e intragrupais e pelo caráter social do ambiente

educacional (DEL PRETTE, 2001).

Essas habilidades vêm sendo estudadas na área de educação, especialmente pelo grupo

Relações Interpessoais e Habilidades Sociais - RIHS da Universidade de Federal de São Carlos

(DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1998). O referido grupo possui três principais vertentes de

investigação relacionando habilidades sociais e educação, a saber: o papel da competência social

dos alunos como correlato ou fator de aprendizagem acadêmica; a viabilidade e a necessidade de

incluir as habilidades sociais como objetivos de uma educação (regular e especial) comprometida

com a formação para a cidadania e para a vida social em geral; a análise das condições sociais de

ensino em suas relações com o repertório profissional do professor. Nessa perspectiva, os autores

destacam as habilidades sociais educativas e as descrevem como aquelas intencionalmente

voltadas para a promoção do desenvolvimento e da aprendizagem do outro, em uma situação

formal ou informal.

Dentre as habilidades sociais educativas mais relevantes para o contexto escolar, podem-

se citar: habilidade de comunicação (conversar e fazer perguntas), de expressividade (sentimentos

positivos, elogios, opiniões), de estabelecimento de limites (fazer e recusar pedidos, lidar com

críticas, admitir erros, pedir desculpas, estabelecer regras) (BOLSONI-SILVA, 2008).

As habilidades sociais incluem a assertividade (expressão apropriada de sentimentos

negativos e defesa dos próprios direitos) e também habilidades de comunicação, de resolução de

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problemas interpessoais, de cooperação e de desempenhos interpessoais nas atividades

profissionais. Além dos componentes verbais das habilidades sociais, há também, conforme Del

Prette e Del Prette (1999), os componentes não verbais da comunicação: olhar e contato visual,

sorriso, expressão facial, gestualidade, postura corporal, movimentos com a cabeça, contato físico

e distância/proximidade.

Considerando que na perspectiva institucional a violência na escola não é apenas exógena,

mas também, muitas vezes, endógena, reconhece-se a responsabilidade profissional de todo

educador, tanto ética quanto pedagógica, de comprometer-se com a gestão e a prevenção desse

problema. No entanto, para que essa atividade se reflita no cotidiano da escola é preciso que os

educadores dominem algumas habilidades e que eles sejam competentes inter-relacionalmente,

ou seja, apresentem comportamentos que garantam a qualidade das relações interpessoais

(ANDRADE, 2007a).

Conforme Del Prette (2001, p. 117), a “qualidade e a natureza dos processos educacionais

(relacionais) que ocorrem no ambiente escolar remetem para a análise das habilidades sociais e

da competência social dos agentes educativos e dos alunos”. Isso porque essa relação é também

apontada como um dos grandes problemas existentes na escola, caracterizada muitas vezes como

institucionalmente violenta, conforme destaca Abramovay (2003):

No cotidiano das escolas, existem vários exemplos de violência institucional, como por exemplo, alunos que relatam que há professores que têm dificuldade de dialogar com eles, humilhando-os e ignorando completamente seus problemas, não querendo nem sequer escutá-los, pois a professora fala que não tem nada a ver com isso. Outros tratam mal os alunos – safado, marmanjão -, recorrem a agressões verbais e os expõem ao ridículo quando estes não entendem algo ou quando não conseguem responder a uma pergunta (p. 74).

Essa realidade conflituosa tem dificultado a relação-professor aluno, fato que tem exigido cada vez

mais dos docentes habilidades e competências necessárias à gestão e prevenção desses fenômenos, bem

como tem deixado visível a necessidade de novas condutas por parte dos educadores, conforme destacam

Lopes e Gasparim (2003),

Entre essas novas e diversificadas competências que a sociedade “cobra” do professor destaca-se a aptidão para enfrentar situações conflituosas. Parece-nos fato que o crescimento da violência no espaço escolar tem ampliado de forma considerável os conflitos presentes na relação professor-aluno, e que estes conflitos não podem mais ser geridos pelos padrões tradicionalmente convencionados (p. 298).

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Nesse sentido, cabe-nos indagar: a aquisição e o domínio de habilidades sociais,

especialmente aquelas mais relevantes para o trabalho docente, podem subsidiar o educador e a

educadora na gestão/prevenção de situações de violência no ambiente escolar? Tendo em vista

nosso contexto local, como se classificam os perfis de habilidades sociais do grupo amostral

pesquisado de educadoras da Rede Municipal de João Pessoa?

A escola é palco de constantes interações, pois neste espaço convivem pessoas de diferentes

idades, raças, costumes e valores, no entanto, estão unidos pelo fato de terem tarefas

convergentes: para os alunos o desejo e a necessidade de aprender, e para os professores, a tarefa

de ensinar tais conteúdos necessários à aprendizagem e ao desenvolvimento social do alunado.

Tal relação nem sempre acorre de forma harmônica, pois além dos processos de ensino e

aprendizagem, no espaço escolar acontecem outras atividades que requerem, sobretudo, um saber

relacionar-se corretamente por parte dos atores escolares, ou seja, interagir com o outro

respeitando seus direitos, bem como considerando também o seu próprio direito, causando assim,

o mínimo de incômodo possível à pessoa e a si mesmo. A apresentação de uma conduta pautada

nestes princípios, pelos alunos e professores e demais membros escolares, pode garantir relações

interpessoais mais eficazes, resultando em um ambiente harmonioso e menos propenso à

violência.

Nesta perspectiva, para melhor gerir as questões relacionadas à violência no ambiente

escolar, segundo Andrade (2007a), é fundamental que os atores da escola apresentem a

competência inter-relacional: ela é elemento necessário para a garantia da qualidade das relações

interpessoais, dado que as situações de violência exercem forte efeito sobre o cotidiano das

escolas, deteriorando o clima escolar, ao mesmo tempo em que enfraquecem as relações

interpessoais, incidindo diretamente sobre a qualidade das aulas e no desempenho dos alunos

(ABRAMOVAY, 2005). Sendo as habilidades sociais um fator importante da competência inter-

relacional, o estudo dessas habilidades para a prática docente torna-se essencial para a melhoria

do trabalho dos educadores.

Mesmo percebendo-se os resultados positivos das habilidades sociais na vivência

cotidiana, existem poucos estudos acadêmicos sobre o tema, sendo no Brasil ainda pouco

difundido em universidades, escolas e outras instituições de trabalho. Nesse sentido, o

desenvolvimento de um estudo sobre o domínio das habilidades sociais como estratégia para a

gestão/prevenção de conflitos e violência na escola é de grande relevância acadêmica e social,

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pois permitirá a difusão do termo entre os docentes, tornando possível o acesso à teoria que o

abrange. Se conhecida e colocada em prática, as pesquisas na área (Vide estudos produzidos pelo

grupo de estudo do Laboratório de Interações Sociais, LABINT, da Universidade Federal de São

Carlos) revelam resultados que ajudaram e ajudarão ao docente em suas atividades pedagógicas,

nas suas relações interpessoais no interior da escola e em seu convívio na sociedade como um

todo. Ademais, o estudo tende a se constituir em mais uma ferramenta de ação e intervenção no

que tange à gestão/prevenção da violência no ambiente escolar.

A partir do pressuposto de que o domínio das habilidades sociais por parte de educadores

e educadoras pode servir como estratégia para a prevenção da violência na escola, tomamos como

objeto de estudo a análise das habilidades sociais de 65 educadoras do Ensino Fundamental I e

dos Centros de Referências em Educação Infantil (CREIs) da Rede municipal de João Pessoa.

Nesta perspectiva, o objetivo geral deste trabalho consistiu em analisar as habilidades sociais

deste grupo de educadoras da Rede municipal de João Pessoa, observando suas implicações na

gestão e prevenção da violência na escola. Para alcançar tal meta, foram delineados os seguintes

objetivos específicos:

• Identificar os perfis gerais em habilidades sociais de sessenta e cinco educadoras do

Ensino Fundamental I de diferentes polos, incluindo CREIs, da Rede Municipal de João

Pessoa;

• Classificar os perfis em habilidades sociais das educadoras, segundo escala do Inventário

de Habilidades Sociais Del Prette e Del Prette (2001);

• Analisar, a partir da literatura da área, as possíveis implicações das habilidades sociais na

gestão e prevenção de conflitos e violência na escola;

• Treinar algumas habilidades sociais do grupo de educadoras participantes do IHS-Del-

Prette (2001).

Visando atingir estes objetivos, utilizou-se o método qualitativo, que teve como principal

instrumento o Inventário de Habilidades Sociais - IHS Del-Prette (2001), o qual se encontra

melhor descrito no próximo Capítulo (que trata das Orientações Metodológicas). Assim, o

trabalho desenvolveu-se por meio das seguintes etapas (pormenorizadas também no Capítulo II):

a) a aplicação do Teste em habilidades sociais, IHS Del-Prette (2001), para identificação

dos perfis em habilidades sociais de sessenta e cinco educadoras de diferentes polos da Rede

Municipal de João Pessoa, incluindo alguns CREIs;

20

b) a apuração do IHS Del-Prette (2001) para classificação dos perfis em habilidades

sociais das educadoras segundo escala do referido Teste.

c) a observação, a partir da literatura da área, das implicações das habilidades sociais na

gestão e prevenção da violência no ambiente escolar, realizada concomitantemente a cada

capítulo.

d) o treino das educadoras no desenvolvimento de habilidades sociais.

II ORIENTAÇÕES METODOLÓGICAS

Para a consecução dos objetivos do presente trabalho foi realizado um estudo de método

qualitativo, porque se compreende que, em geral, as investigações que se voltam para uma análise

qualitativa têm como objeto situações complexas, como é o caso das relações sociais e da

violência na escola. Na concepção de Marconi e Lakatos (2006), a metodologia qualitativa

preocupa-se em analisar e interpretar aspectos mais profundos, descrevendo a complexidade do

comportamento humano. Ela fornece análise mais detalhada sobre as investigações, hábitos,

atitudes, tendências de comportamento etc. Nessa perspectiva, Minayo (1996, p.21) afirma:

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. (...) com um nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com um universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores, atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis.

A metodologia qualitativa pode descrever a complexidade de determinado problema,

analisar a interação de certas variáveis, compreender e classificar as vivências de grupos sociais,

além de possibilitar um maior entendimento do comportamento dos indivíduos de grupos onde

estão inseridos (COSTA; COSTA; MENDONÇA, 2006). A opção pela pesquisa qualitativa,

portanto, ocorreu não por uma questão de exclusão de outro tipo de pesquisa, mas porque se

entende que questões como as relações sociais e a violência são difíceis de compreender através

de métodos quantitativos. Serão utilizados, entretanto, em alguns momentos, recursos

quantitativos para complementar as análises.

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A compreensão da metodologia, enquanto caminho que possibilita a apreensão da

realidade do nosso objeto, incluindo as concepções teóricas, o conjunto de técnicas e o potencial

criativo do pesquisador (MINAYO, 1994), nos conduziu à escolha de um instrumento

metodológico específico da área das habilidades sociais, ou seja, ao Inventário de Habilidades

Sociais – IHS-Del-Prette, teste psicológico aplicado aos professores do campo pesquisado como

primeira parte do estudo.

O Inventário de Habilidades Sociais – IHS-Del-Prette foi elaborado por Zilda A. P. Del

Prette e Almir Del Prette e é definido por esses autores “como um instrumento de auto-relato para

aferir o repertório de habilidades sociais usualmente requerido em uma amostra de situações

interpessoais cotidianas” (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001, p.15).

Uma observação importante diz respeito às razões que nos levaram à escolha por esse

instrumento. Primeiro, por atender perfeitamente à necessidade de identificação dos perfis em

habilidades sociais das educadoras; segundo, devido a sua praticidade, já que de acordo com Del-

Prette e Del-Prette (2001, p.15) é “de fácil aplicação e tabulação”.

2.1 Procedimentos de coleta de dados

A coleta de dados para este estudo ocorreu em novembro de 2010. Foi realizado um Evento

pelo grupo de pesquisa Competência inter-relacional: estudo a partir da competência social,

vinculado ao CNPq/UFPB/CE, de que esta autora fez parte como bolsista de iniciação científica

no período compreendido entre agosto de 2008 a julho de 2011.

O Evento intitulado Te pego na escola: convivendo com a violência, organizado pela equipe

de pesquisadores (orientador, professora colaboradora, bolsistas, voluntárias), teve como

finalidade introduzir as educadoras no conhecimento sobre as habilidades sociais e a gestão

competente de conflitos relacionais na escola e também reunir educadoras do Ensino

Fundamental I e dos CREIs da rede Municipal de João Pessoa para aplicação do IHS-Del-Prette

(2001). O referido estudo objetivou analisar a coesão entre a dimensão social da competência

inter-relacional com as suas outras quatro dimensões (a afetiva, a desiderativa, a comportamental

e a cognitiva), verificando se seria possível inferir outras habilidades nestas dimensões a partir da

dimensão social, pois para a existência da competência inter-relacional é necessária a articulação

interdimensional das cinco dimensões, mesmo de modo latente (ANDRADE, 2007a).

22

Neste contexto, foi necessário coletar dados para identificar os perfis em habilidades sociais

das educadoras do Ensino Fundamental e CREIs da Rede Municipal de João Pessoa. Os dados

coletados neste encontro foram, assim, utilizados nos dois estudos: na pesquisa Competência

inter-relacional: estudo a partir da competência social, realizada no biênio 2009/2011 com a

finalidade de verificar a coesão entre as dimensões da competência inter-relacional e, empregada

também neste trabalho com o objetivo de analisar o perfil em habilidades sociais do grupo

pesquisado de educadoras da Rede Municipal de João Pessoa e suas possíveis implicações na

gestão e prevenção dos conflitos relacionais e da violência na escola.

O planejamento das atividades para o Evento de coleta de dados ocorreu nas reuniões de

orientação do grupo de pesquisa, em que foram organizadas as oficinas e vivências para o

Encontro. No que diz respeito a sua execução, o mesmo ocorreu no dia 10/12/10, no CECAPRO

da Av. Beira Rio em João Pessoa, em dois turnos: manhã (8h às 11h30) e tarde (13h às 17h). As

condições ambientais deste espaço foram favoráveis à coleta de dados, concorrendo para uma

maior fidedignidade dos dados.

A programação das atividades foi única para os dois turnos, sendo composta pela aplicação

do IHS-Del Prette; Palestra: Habilidades Sociais como ferramentas educativas (professora

colaboradora); Intervalo para café; Oficinas em subgrupos; Socialização geral das oficinas;

Fechamento: Palestra A importância das habilidades sociais na gestão dos conflitos em sala de

aula (Orientador da pesquisa). Ressalta-se que todo o Encontro, sobretudo, as oficinas

pedagógicas foram gravadas em áudio e vídeo para coleta de dados e análise do processo.

O Evento contemplou um total de 80 educadoras de diferentes escolas do Ensino

Fundamental I e CREIs da Rede Municipal da capital, conforme Tabela 1 abaixo:

Polos/Total de educadoras

Escolas Total de educadoras participantes por

escola/CREI Polo 1 /1 educadora Escola Municipal Zumbi dos Palmares 1 Polo 2 /12 educadoras Escola M. Rotary Francisco Edward Aguiar 10

CREI Rodrigo Moreno 2 Polo 3/ 4 educadoras Escola Municipal Euclides da Cunha 4 Polo 4/ 6 educadoras Escola Municipal Carlos Neves da Franca 5

CREI Dom Marcelo Pinto Cavalheira 1 polo 5/ 11 educadoras Escola Municipal Matias Freire 3

Escola M. José Peregrino de Carvalho 2 Escola Municipal João Coutinho 4

23

CREI Júlia Ramos 2 Polo 6 / 4 educadoras E. M. E. F. José de Barros Moreira 3

CREI Antonio Varandas de Carvalho 1 polo 7/ 18 educadoras Escola Municipal João Monteiro da Franca 6

Escola Municipal Ernani Sátyro 6 Escola Municipal Monteiro Lobato 4 CREI Mayara Lima 2

Polo 8/11 educadoras Escola Municipal Celso Furtado 7 Escola Municipal Darcy Ribeiro 1 Escola Municipal Pedra do Reino 1 CREI Stelina Nunes 2

Polo 9/ 13 educadoras Escola Municipal Almirante Barroso 8 Escola Municipal Renato Lima 4 Escola Municipal Adalgisa Vieira 1

Total geral 80 Tabela 1: Escolas municipais por Polos e o total de educadoras participantes do encontro Te pego na

escola: convivendo com a violência

Observa-se na Tabela 1 que houve representatividade de todos os Polos da Rede

Municipal no Encontro. Destaca-se, no entanto, que alguns se envolveram com maior intensidade

do que outros, a exemplo do Polo 7, do qual participaram 18 educadoras, e do Polo 1, em que

houve a presença apenas de uma professora. Ressalta-se que foi convidado um total de 180

docentes; contudo, compareceram 80, o equivalente a 44,44% do número previsto. As educadoras

que compareceram relataram que tinham expectativas negativas sobre o Encontro, pois

acreditavam “ser apenas mais um curso de capacitação”. Ao término do Evento, todavia, elas

mostraram-se motivadas, demonstrando interesse em participar de outros, caso houvesse. Apesar

da ausência da maioria das educadoras, avaliou-se como positivo o resultado da coleta, pois o

Evento atingiu professoras de diferentes áreas escolares de João Pessoa, oportunizando-as um

contato inicial com o conhecimento sobre as habilidades sociais, bem como a discussão sobre sua

relevância na gestão competente da violência na escola.

Em relação à coleta de dados através do IHS-Del-Prette (2001), aplicou-se o total sessenta

e seis testes no Encontro. Destes, um foi excluído, pois a participante não era educadora do

Ensino Fundamental I nem educadora dos CREIs, e sim participante da equipe técnica de uma

das escolas. Restaram, portanto, sessenta e cinco testes, os quais foram divididos entre o

orientador, as bolsistas e as voluntárias para serem apuradas as notas e, a partir desse resultado,

verificar o nível dos perfis de habilidades sociais das educadoras participantes do evento.

24

A partir dos dados coletados foi realizada uma análise individual dos perfis em habilidades

sociais de cada educadora das escolas envolvidas, seguindo o modelo de análise oferecido pelo

próprio instrumento. Os testes foram analisados pelos Professores Fernando Cézar B. de Andrade

e Carmen Sevilla G. dos Santos, tendo em vista serem ambos psicólogos, condição colocada pelo

próprio instrumento.

III PERFIS SOCIAIS DE EDUCADORAS DA REDE MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA

As habilidades sociais são consideradas como uma ferramenta que garante a qualidade dos

processos relacionais no contexto familiar, no trabalho, enfim nos diversos espaços sociais,

inclusive na escola. Por ser um lugar privilegiado, onde se dá um conjunto de interações

interpessoais, seus atores necessitam de tais habilidades para a melhoria das relações sociais neste

ambiente, bem como para o aprimoramento das competências sociais dos alunos, professores e

demais membros da escola.

Objetivando classificar os perfis de habilidades sociais de educadoras da Rede Municipal de

João Pessoa, foram analisados sessenta e cinco testes que aferiram o repertório em habilidades

sociais dessas educadoras, identificando seus níveis gerais nestas habilidades, bem como

definiram seus níveis em habilidades sociais no que concerne a atividade docente. Assim, a

análise dos dados foi centrada em dois momentos: o primeiro, observando os perfis gerais em

habilidades sociais das educadoras, considerando o Escore Total do IHS-Del-Prette de cada

participante, ou seja, a nota geral de cada professora obtida no teste; e o segundo, verificando

apenas as habilidades sociais relevantes para a docência presente em cada Fator respectivo.

3.1 Classificação dos perfis gerais em Habilidades Sociais das educadoras

Após a apuração do IHS-Del-Prette, os perfis em habilidades sociais das educadoras

foram classificados a partir do Escore Total (nota obtida pela participante), segundo escala

apontada pelo Teste. Assim a apuração apontou os seguintes resultados, conforme Tabela 2:

25

Dados referenciais do Escore Total e Posição Percentil para amostra feminina do

IHS-Del-Prette (2001)

Situação dos seus perfis em Habilidades Sociais (HS) /Número de educadoras

Repertório bastante elaborado de Habilidades Sociais (HS) com posição percentil entre 75 e 100 e Escore Total entre 103 e 137.

Total com repertório bastante elaborado em HS = 24 educadoras

Bom repertório de HS (acima da mediana) com posição percentil entre 55 e 70 e Escore Total entre 93 e 101.

Total com bom repertório = 15 educadoras.

Repertório médio, com posição percentil situada em 50 e Escore Total situado em 92.

Total com repertório médio =1 educadora

Bom repertório em HS (abaixo da mediana) com posição percentil entre 25 e 45 e Escore Total entre 81,75 e 89.

Total abaixo da mediana=13 educadoras

Indicação para treinamento em HS quando os déficits se tornam fontes de problemas com posição percentil entre 01 e 20 e Escore Total entre 54,35 e 80.

Total indicado para treinamento = 12 educadoras

Tabela 2: Classificação geral do nível em habilidades sociais das educadoras a partir do Escore Total.

O resultado das análises dos perfis gerais em habilidades sociais do IHS-Del-Prette

possibilitou um panorama geral das habilidades dessas educadoras. Nesta situação, observamos

que o resultado, em parte, foi considerado satisfatório, pois mais da metade das educadoras (39, o

correspondente a 60%) encontraram-se com o repertório acima da mediana (Bom e Bastante

Elaborado), uma educadora localizou-se na média, enquanto 13 estavam em situação abaixo da

mediana e 12 indicadas para Treinamento em Habilidades Sociais. Assim, verificamos que 25 das

educadoras, o equivalente a 38,46%, encontraram-se abaixo da média estabelecida pelo IHS-Del-

Prette (50), precisando, portanto, de treinamento nestas habilidades, visto que elas contribuem

para a qualidade e a efetividade das relações pessoais (DEL PRETTE; DEL PRETTE, 2001).

Considerando que estamos analisando os níveis gerais em habilidades sociais das educadoras, sua

carência nesta parcela significativa identificadas nestes perfis permite inferir relações pessoais

26

ineficazes e não assertivas para o grupo que se encontra abaixo da mediana, não apenas na escola,

mas também nos demais contextos sociais, por exemplo, na família.

No contexto familiar, a aquisição de habilidades sociais é normalmente mediada pelos

pais. Eles são verdadeiros “espelhos” para seus filhos. Nesse sentido, a família é o primeiro grupo

social da criança, em que ela inicia o longo processo de aprendizagem de convivência social. Em

se tratando do grupo amostral das educadoras da Rede Municipal de João Pessoa, elas são

professoras, mas são, também, muitas delas, mães que inseridas em uma estrutura familiar

convivem com vários tipos de relações (marido-mulher, mãe-filhos, entre irmãos e parentes),

vivenciando assim, uma ampla diversidade de demandas interpessoais; necessitam, portanto,

fazer uso em várias situações de um conjunto de habilidades sociais para relações interpessoais

harmoniosas.

Os perfis gerais em habilidades sociais dessas educadoras indicaram que existe uma

parcela significa (38,46%) abaixo da mediana; no entanto, os dados apontam que a maioria, 60%

das docentes obtiveram níveis gerais acima da mediana, o que nos permite deduzir a

probabilidades de relações sociais eficazes para estas educadoras, seja na família ou em contextos

de trabalho. Vale lembrar que, no âmbito familiar, pais competentes socialmente tendem a

ensinar tais condutas para seus filhos que, por sua vez, trazem estes comportamentos para a

escola tornando-se, assim um ciclo.

3.2 Classificação dos perfis em Habilidades Sociais das educadoras em relação às habilidades relevantes para a docência

No que diz respeito às habilidades sociais mais relevantes para o trabalho docente, foi

feita uma reanálise dos Testes, considerando apenas algumas habilidades tidas como necessárias

para uma prática pedagógica eficaz e para a gestão competente de conflitos e violência na sala de

aula, conforme apresentado em anexos5. Foram selecionadas, deste modo, algumas habilidades

por Fator respectivo do Teste, a saber: F1– Enfretamento e autoafirmação com risco (Discordar

do grupo, Fazer perguntas a conhecidos, Falar a público conhecido Manter conversa com

desconhecidos); F2– Autoafirmação na expressão de sentimento positivo (Participar de

5 Anexo A: perfis sociais baixos, indicados para Treinamento em HS; Anexo B: perfis sociais Regulares; Anexo C:

perfis sociais Bons; Anexo D: perfis sociais Ótimos.

27

conversação, Expressar sentimento positivo, Defender outrem em grupo, Elogiar outrem); F3 –

Conversação e desenvoltura social (Encerrar conversação, Manter conversação, Reagir a elogio);

F4 – Autoexposição a desconhecidos e situações novas (Falar a público desconhecido, Falar a

público conhecido); F5 – Autocontrole da agressividade (Lidar com chacotas); Itens que não

entraram em nenhum fator (Pedir mudança de conduta, Lidar com críticas justas, Interromper a

fala do outro).

As reanálises destas habilidades possibilitaram a visualização dos perfis sociais das

educadoras em relação ao trabalho docente, conforme Tabela 3, abaixo:

Situação geral dos perfis em relação às habilidades selecionadas para a atividade docente dentre as listadas no IHS, em razão de sua relevância para a gestão de conflitos e a prevenção à violência

Baixo (Escores altos em até 6 itens)

Não qualificada para atuação docente sem anterior treinamento em HS

Regular (Escores

altos de 7 a 9 itens)

Bom (Escores altos

de 10 a 12 itens)

Ótimo (Escores

altos de 13 a 16 itens)

Excelente (Escores altos em 17 itens)

8 17 19 21 -

12,3% 26,1% 29,2% 32,3% - Tabela 3: Perfis sociais docentes a partir das habilidades selecionadas no IHS-Del-Prete (2001).

Observa-se nestes dados que, se por um lado há um total de 40 educadoras com

repertórios “bons” e “ótimos” em habilidades sociais, há, porém 25 educadoras com perfis

“regular” e “baixo”, estando oito destas indicadas para Treinamento em habilidades sociais. Tal

resultado é preocupante por se tratarem de professoras que, como tais, precisam dominar

habilidades, não apenas para gerir conflitos e violência na sala de aula, mas para interagir em

situações comuns na escola e no seu dia a dia.

As habilidades sociais favorecem a expressão adequada de sentimentos negativos, bem

como a defesa dos direitos em situações diversas do cotidiano (comunicação, resolução de

problemas interpessoais, cooperação, desempenhos interpessoais nas atividades profissionais etc

(DEL PRETTE; DEL PRETTE, 1999). A professora assume em sala de aula um papel de

mediadora, que domina ao mesmo tempo em que coordena as interações neste espaço. Diante de

tal situação, como interagir de forma eficaz sem o domínio de habilidades que favorecem a

efetividade das relações? Para Davis, Silva e Esposito (1989), o provimento de interações

educativas entre os discentes em sala requer, além de um razoável “controle da classe” (no

28

sentido tradicional da disciplina), um conjunto de habilidades interpessoais do professor para

conceber, planejar, participar e coordenar estas interações e atividades com e entre os alunos.

Os perfis sociais do grupo amostral das educadoras da Rede Municipal de João Pessoa

apontaram que cerca de 38,4% estão com suas habilidades sociais abaixo da média estabelecida

pelo Teste, o que nos permite inferir interações educativas pouco eficazes no que concerne ao

trabalho pedagógico, bem como na gestão e prevenção da violência âmbito escolar para este

grupo, visto que as habilidades sociais têm sido consideradas, na literatura da área, com um fator

que contribui para a prevenção de comportamentos problemáticos (DEL PRETTE; DEL

PRETTE, 2005), incluindo as habilidades de solução de problemas (ELIAS; MARTURANO,

2004).

Apesar destes percentuais relativamente baixos, destacamos também que é louvável

verificarmos que temos uma parcela significativa de educadoras hábeis socialmente no grupo

pesquisado de docentes da Rede Municipal de João Pessoa, como nos mostram os percentuais

referentes a “bom" (29,2%) e “ótimo” (32,3%). Tal resultado sugere que temos em algumas salas

de aulas professoras com importantes habilidades interativas e comunicacionais e,

consequentemente elas tendem a relacionar-se de forma mais efetiva com seus alunos, garantindo

o respeito mútuo e um processo de ensino e aprendizagem mais produtivo, já que estudos sobre

relações entre dificuldades de aprendizagem e desempenho interpessoal apontam tal desempenho

como um dentre os fatores possíveis ou correlatos ao fracasso escolar, sendo este último também

uma variável que impulsiona a violência nos contextos escolares (DEL PRETTE; DEL PRETTE,

1998).

Nesta perspectiva, cabe-nos ressaltar que os comportamentos são socialmente aprendidos,

assim, professores hábeis socialmente tendem a ensinar tais condutas para seus alunos. Sendo o

grupo de participantes analisadas, educadoras do Ensino Fundamental I e CREIs da Rede

Municipal de João Pessoa e como tais, ensinam para crianças, elas sendo hábeis socialmente

existe a probabilidade de ensinarem estas condutas para seus educandos. Este aspecto constitui

um elemento relevante, visto que o aprimoramento destas habilidades nos primeiros anos de vida

repercute no desenvolvimento social e afetivo da pessoa na infância e quando adulta, conforme

afirma Silva,

Boa parte do desenvolvimento da criança estará ligada às experiências vivenciadas em casa e na escola. Dá-se aqui a importância do aprendizado das

29

habilidades sociais na infância uma vez que dela dependerá o sucesso e/ou o fracasso social, pessoal e acadêmico do educando, seja ele sem ou com necessidades educacionais especiais. Saber quando, onde e como utilizar de forma competente um conjunto de habilidades sociais, que o indivíduo pode aprender em família ou na escola, pode ser a chave para uma vida melhor (SILVA, s.d)

Além do planejamento das atividades, pois dele decorrerá em grande parte, a

aprendizagem do educando em sentido amplo, cabe ao professor reconhecer a importância que as

relações sociais têm para o desempenho acadêmico de qualquer aluno. O professor na sala de

aula constitui um modelo para ensinar o aluno a lidar consigo e com o outro. Assim, considera-se

que no espaço escolar está no educador a principal referência para que o aluno se desenvolva de

maneira harmoniosa, pois a ele cabe,

A criatividade para conceber condições variadas de interações educativas, a flexibilidade para mudar o curso da própria ação em função do desempenho do educando, a observação, a análise e discriminação dos progressos obtidos, o encorajamento das tentativas de solução de problemas e a apresentação de novos desafios. (DEL PRETTE E DEL PRETTE, 2001, p. 95)

Neste prisma, a aprendizagem das habilidades sociais pela criança no ambiente escolar

depende, em grande parte, da maneira como os educadores organizam e administram suas

atividades e interações em sala de aula. Suas condutas podem prevenir situações que conduzem a

violência, como a indisciplina dos educandos.

Os comportamentos indisciplinados podem ser resultados da ausência de normas para o

trabalho educativo, pois na perspectiva de La Taille (1994 apud GUIMARÃES, 1996, p. 86) “as

crianças precisam, sim, aderir às regras (que implicam valores e formas de conduta) e estas

somente podem vir de seus educadores, pais ou professores”. Salienta-se que no plano educativo,

um aluno indisciplinado não é entendido como aquele que questiona, pergunta, se inquieta e se

movimenta na sala, mas sim como aquele que não tem limites, que não respeita a opinião e

sentimentos alheios, que apresenta dificuldade em entender o ponto de vista do outro, e ainda no

enfoque dado por Vygotsky (1984), aquele aluno que não consegue compartilhar, dialogar e

conviver de modo cooperativo com seus pares. Não se pode, todavia, responsabilizar apenas os

alunos pelos seus comportamentos inadequados em sala de aula, pois na relação pedagógica deve

existir um contrato implícito, ou seja, um conjunto de regras funcionais que precisa ser conhecido

e respeitado para que a ação possa se concretizar a contento.

30

Em se tratando das habilidades e das práticas docentes, os alunos sabem identificar quando

o professor está exercendo suas funções, cumprindo seu papel. Sobre este aspecto, Aquino (2000)

ressalta bem a importância de um bom modelo pedagógico para a prevenção da indisciplina.

Estes [referindo-se aos alunos] sabem reconhecer e respeitar as regras do jogo quando ele é bem jogado, da mesma forma que eles também sabem reconhecer imediatamente quando o professor abandona seu posto ou nele titubeia. Nesse sentido, a indisciplina parece ser uma resposta clara ao abandono ou à labilidade das funções docentes em sala de aula, porque é só a partir de seu papel evidenciado concretamente na ação que eles podem ter clareza quanto ao seu próprio papel de aluno, complementar ao de professor (grifo nosso, p.112).

A partir desta ótica, de que forma o professor pode evidenciar o seu papel como mediador

da aprendizagem e dos conflitos relacionais sem o domínio de habilidades relevantes para o

desenvolvimento de sua prática? Que habilidades sociais podem contribuir nesta tarefa? Em quais

os professores têm maior dificuldade em apresentar?

Considerando a classificação das habilidades relevantes para a docência, a partir do IHS-

Del-Prette, buscamos também nas reanálises dos testes das educadoras participantes identificar,

em conjunto, quais habilidades selecionadas para a atividade docente as professoras tinham maior

dificuldade em executar. Observa-se essas habilidades e o número de educadores com carência de

treinamento em cada uma delas na Tabela 4:

Tabela 4: Habilidades sociais da atividade docente e o número de educadores com carência de treinamento.

Habilidades Nº educadoras Manter conversa com desconhecidos 40 Discordar do grupo 33 Interromper a fala do outro 32 Lidar com chacotas 32 Expressar sentimento positivo 28 Encerrar conversação 28 Elogiar outrem 28 Pedir mudança de conduta 27 Falar a público conhecido 27 Falar a público desconhecido 25 Participar de conversação 22 Defender outrem em grupo 20 Reagir a elogio 19 Lidar com críticas justas 19 Fazer perguntas a conhecidos 14 Manter conversação 13

31

Conforme se pode observar, para todas as habilidades há um número de educadoras com

necessidade de treinamento, seja em uma habilidade que dependa única e exclusivamente do

desejo da pessoa em particular, como elogiar outrem, seja em uma habilidade que exija uma ação

do professor em uma situação interpessoal em sala de aula, por exemplo, pedir mudança de

conduta. Segundo Del Prette e Del Prette,

Habilidades como liderar, convencer, discordar, pedir mudança de comportamento, expressar sentimentos negativos, lidar com críticas, questionar, negociar decisões, resolver problemas etc, precisam também ser promovidas pela escola. A emissão competente de tais habilidades pode constituir um antídoto importante aos comportamentos violentos, se desenvolvidos paralelamente às habilidades de expressar sentimento positivo, valorizar o outro, elogiar, expressar empatia e solidariedade e demonstrar boas maneiras (2001, p. 55).

Verifica-se que em algumas habilidades de Fatores como, por exemplo, F1 –

Enfretamento e autoafirmação com risco e F5 – Autocontrole da agressividade, mais conspícuos

para atividade docente, especialmente em situações de conflitos e violência, os perfis de uma

parcela significativa das docentes da Rede Municipal apresentaram carência de treinamento,

especialmente em habilidades como Discordar do grupo, Lidar com chacotas e Expressar

sentimento positivo, Elogiar outrem etc.

As habilidades sociais presentes nos desempenhos dos agentes escolares funcionam como

um elemento que favorece uma convivência mais harmoniosa no ambiente escolar. Professores

hábeis socialmente tendem a respeitar seus alunos e colegas, bem como defender seus direitos,

sem, contudo, agredir o outro.

O fato de o educador dominar habilidades comunicacionais (fazer e responder perguntas),

de enfrentamento (manifestar opinião, concordar, discordar, expressar raiva e pedir mudança de

comportamento), por exemplo, pode contribuir para um clima social agradável e menos propenso

à violência, seja ela, física, institucional ou simbólica.

Ter professores hábeis socialmente no ambiente escolar, no entanto, por si só, não garante

a ausência da violência neste espaço, pois a mesma constitui-se, sobretudo, em um problema de

ordem social, política e econômica. Tais fatores devem ser considerados, já que a escola é um

lugar onde convivem pessoas de diferentes classes, etnias, religiões e costumes. Tendo em vista

estes aspectos é que podemos conceber as habilidades socais como uma importante estratégia na

garantia de interações sociais bem sucedidas, favorecendo a diminuição dos conflitos e violência

32

no espaço escolar. Isso porque tais habilidades fazem parte dos componentes de um desempenho

socialmente competente, ou seja, um desempenho em que o indivíduo tenha a capacidade de

organizar pensamentos, sentimentos e ações, para então, emitir uma conduta diante das demandas

do lugar onde se encontra, neste caso, na escola. Ressalta-se que as habilidades sociais, por se

tratarem de comportamentos, podem também serem aprendidas por meio de Treinamento em

habilidades Sociais (THS). Assim, aquelas pessoas que não conseguem desenvolver suas

habilidades de forma natural, por meio de suas interações sociais, podem aprimorá-las via treinos

sistemáticos em habilidades sociais.

IV O TREINAMENTO EM HABILIDADES SOCIAIS (THS)

O Treinamento em Habilidades Sociais (THS) constitui, na contemporaneidade, um

campo de investigação e de aplicação do conhecimento da psicologia sobre o desempenho social.

Trata-se de uma área com questões teóricas e práticas com significados e desdobramentos amplos

e complexos, não se restringindo apenas a regras de convivência e programas de adaptabilidade

social, como pensam membros de outras áreas do conhecimento.

Para Del Prette e Del Prette (1999, p. 28), o Treinamento em Habilidades Sociais consiste

em “um conjunto de técnicas que se aplica a todo e qualquer déficit de natureza interpessoal”.

Os programas para treinamento em habilidades sociais abarcam os mais diversos âmbitos

de intervenção e instrução, indo desde problemas clínicos à formação profissional, inclusive à

própria formação de professores. Esses programas variam conforme o âmbito de intervenção e as

características dos aprendizes a que são destinados, porém em geral tendem a utilizar técnicas

para promover tais aprendizagens.

Para Pozo (2002), a técnica mais comum e generalizada para o THS é a modelagem,

baseada mais ou menos nas ideias de Bandura (1976, 1986 apud POZO, 2002) que costuma

constar, segundo o autor, de cinco frases principais: a) informação verbal sobre as habilidades

treinadas e seus objetivos, atraindo a atenção do aprendiz sobre os aspectos mais relevantes; b) a

apresentação de um modelo eficaz, destacando ao mesmo tempo esses aspectos fundamentais; c)

prática da habilidade treinada por parte do aprendiz em condições simultâneas ou reais; d)

33

correção e, se for o caso, reforço dessas habilidades para novas situações; e) manutenção e

generalização dessa habilidade para novas situações.

O processo geral de modelagem, com pequenas variantes, constitui o esquema básico de

treinamento em habilidades sociais e pode ser complementado com outras técnicas adicionais

úteis para desenvolver, com maior profundidade, algumas das fases do modelo proposto. Logo, a

fase C (de prática) pode se apoiar em um role playing ou num processo de adoção de papéis, em

que o aprendiz deve ser comportar “como se” estivesse em determinada situação (pedir a

mudança de comportamento de um aluno que está perturbando a aula).

Embora alguns programas se limitem a treinar certas rotinas sociais que devem depois ser

exercitadas de maneira repetitivas, em muitos outros casos, as habilidades adquiridas deverão ser

transferidas para novos contextos, às vezes, imprescindíveis no momento de sua aquisição, que

exigirão do aprendiz certa compreensão e autocontrole sobre o que está fazendo. De acordo com

Pozo (2002, p. 195) “Quanto mais diversas forem as situações a que devam se aplicar as

habilidades adquiridas, maior será a necessidade de que o aprendiz adote uma posição estratégica,

que requer um treinamento em problemas e não em simples exercícios repetitivos”. Muitos

programas transformam o treinamento de habilidades sociais em situações de solução de

problemas interpessoais; nestes casos, o aprendiz não pode se limitar a reproduzir modelos de

comportamentos, mas criar suas próprias soluções para os novos problemas que surgirem.

A aquisição de habilidades sociais, assim como tantos outros âmbitos, foi deixando cada

vez mais seu enfoque comportamental e original para adotar um enfoque cognitivo, visto que, se

aprende mais quando há consciência do que se está fazendo e para o que está sendo realizado.

4.1 Programa de Desenvolvimento Interpessoal para educadores – PRODIP

A formação de educadores em habilidades sociais é um requisito imprescindível para a

formação socioemocional, ética e política do aluno. O domínio dessas habilidades por parte dos

professores reflete diretamente na qualidade de suas relações interpessoais com seus alunos,

constituindo em uma importante ferramenta para gestão e prevenção da violência no ambiente

escolar, sobremaneira na sala de aula, local em que são os educadores os principais responsáveis

por mediar tais relações.

34

Tendo em vista a capacitação dos professores para promoverem suas habilidades sociais,

bem como para melhorarem a qualidade da relação com os alunos, uma alternativa que vem

sendo implementada, especialmente no Sul do país, pelo grupo Relações Interpessoais e

Habilidades Sociais – RIHS é o programa PRODIP, direcionado especificamente para educadores

e demandas próprias do contexto educacional.

Segundo Del Prette e Del Prette (2006), o PRODIP para educadores consiste em um

programa que tem como finalidade o aperfeiçoamento do repertório de habilidades sociais

profissionais e a qualidade das relações interpessoais com profissionais do contexto escolar e

extraescolar. A filosofia do programa é totalmente baseada em técnicas e procedimentos

positivos, não aversivos e motivacionais, sendo estruturado em sessões que abordam

sequencialmente um conjunto de módulos temáticos selecionados de acordo com as necessidades

dos aprendizes. Os módulos definem objetivos específicos que podem ser flexibilizados de um

grupo para outro em função das necessidades percebidas na instituição e do diagnóstico realizado

junto à pessoa específica.

A metodologia baseia-se em atividades e vivências de grupo, com intensiva permuta de

experiências e crescimento pessoal e profissional. Os módulos são transmitidos por meio de

atividades que unem a exposição dialogada com as atividades de vivências, role-playing e

discussão em pequenos grupos.

O resultado final do programa é acompanhado e monitorado por meio de avaliações antes

e depois, utilizando instrumentos desenvolvidos pelo próprio grupo. Um desses instrumentos é o

Inventário de Habilidades Sociais (descrito na seção 2.1 deste trabalho), aprovado pelo Conselho

Federal de Psicologia. No que diz respeito à duração de cada sessão, ao número de sessões, à

periodicidade e à duração total de cada programa, este é organizado em conformidade com as

necessidades e os objetivos do grupo a ser treinado.

4.2 “Acima de qualquer suspeita”: um treino em habilidades sociais

Buscando estimular educadoras da Rede Municipal de João Pessoa a desenvolver suas

habilidades sociais implementamos, durante o Encontro Te pego na Escola: convivendo com a

violência, vivências de treino em habilidades sociais. O termo “vivência”, no que tange ao

Treinamento em Habilidades Sociais (THS), é definido por Del Prette e Del Prette (2001, p.106),

35

“como uma atividade, estruturada de modo análogo ou simbólico a situações cotidianas de

interação social dos participantes, que mobiliza sentimentos, pensamentos e ações, com o

objetivo de suprir déficits e maximizar habilidades sociais em programas de THS em grupo”.

As vivências são utilizadas visando propiciar desempenhos e experiências interpessoais

significativos que articulam, simultânea ou alternadamente, demandas cognitivas, emocionais e

comportamentais, além disso, possibilitam a oportunidade do aprendente receber feedbacks dos

desempenhos treinados. Outro fator importante da vivência é o seu caráter lúdico que, ao

favorecer a formação de um ambiente de apoio mútuo, contribui para diminuição da ansiedade

social.

As oficinas pedagógicas compostas por vivências, objetivando treinar as educadoras no

desenvolvimento de habilidades sociais, foram ministradas pelas bolsistas e voluntárias do

Projeto de pesquisa Competência inter-relacional: estudo a partir da Competência social,

responsável pela organização do evento para coleta de dados, conforme descrito anteriormente.

Para coordenarem as oficinas pedagógicas através de vivências, as bolsistas e voluntárias

receberam treinamento. Nesta atividade, o orientador e a professora colaboradora dividiram a

equipe, formando três duplas, uma dupla para cada oficina. Cada dupla ficou encarregada de

estudar e treinar a forma de apresentação das atividades que compunham a sua oficina e a cada

reunião de orientação uma equipe se apresentava para o grupo de pesquisa. Após a apresentação,

o orientador e a professora colaboradora emitiam um feedback, instantaneamente, de nossa

desenvoltura enquanto ministrantes, avaliando o desempenho de cada dupla no cumprimento da

tarefa de coordenação das oficinas pedagógicas, no sentido de alcançar a promoção der uma

oportunidade para o THS das educadoras. Tal dinâmica constituiu-se em uma atividade que

resultou conhecimentos significativos para as bolsistas e voluntárias em relação ao aprendizado

sobre postura corporal, ritmo da fala, domínio dos passos da oficina e dos conteúdos abordados

(assertividade, habilidades sociais e violência escolar), dentre outros aspectos.

Na execução das oficinas pedagógicas, esta autora ministrou a Oficina Acima de qualquer

suspeita, objetivando treinar por meio de vivências a assertividade das educadoras. Ressalta-se que

a assertividade envolve a afirmação dos próprios direitos e expressão de pensamentos, sentimentos

e crenças de maneira direta, honesta e apropriada, respeitando o direito das outras pessoas (DEL

PRETTE; DEL PRETTE, 1999).

36

Na referida oficina, esta autora conduziu a vivência denominada Dança das Vogais, cujo

objetivo geral consistiu em trabalhar conteúdos de ordens psicológicas, conceituais e atitudinais.

Como objetivos específicos desta vivência destacamos: desenvolver a expressão corporal e

emocional; interagir grupalmente; treinar a assertividade; refletir sobre aspectos de liderança,

individualidade, o indivíduo como parte do grupo; trabalhar ritmo, musicalidade, espaço, memória,

psicomotricidade e indisciplina; aprender a vivência para aplicação de conteúdos didáticos em sala

de aula, por exemplo, vogais, separação silábica etc.

A vivência Dança das Vogais procedeu-se a partir dos seguintes passos: o grupo de

participantes ficou em pé e em círculo. No centro a ministrante explicou que as vogais seriam

representadas com o corpo e fez o gesto de cada vogal6, ao passo que todos a imitaram. Depois foi

iniciada uma música e juntamente com o grupo a ministrante liderou a “coreografia”: pronunciou

uma vogal juntamente com seu gesto e colocou o movimento no ritmo da música. As vogais foram

“interpretadas” de modo seguido e salteado; depois foi mostrado ao grupo como formar palavras7.

Algumas palavras foram testadas: habilidades, assertividade, interação, o nome da ministrante.

Então, cada participante foi ao centro e disse seu nome, em seguida, fez o gesto junto com o

grande grupo, retornando para o círculo. Demonstrou-se como fazer a vírgula8. O centro foi

ocupado por mais uma integrante. Foi demonstrado como se dava espaço entre uma palavra e

outra9; Mais uma integrante foi ao centro. Ensinou-se a apagar10 e o ponto final11. Cada novo

“ensinamento” foi intercalado por uma integrante que foi ao centro dizer seu nome. Para finalizar,

ditou-se uma frase12 ligada ao conteúdo do curso para o grupo fazer os gestos e em seguida pôr um

ponto final, fechando a “coreografia”. A reflexão teórica foi intercalada com os gestos (por

6 A: os dois braços abertos e retos; E: os dois braços cruzados sobre o tórax; I : o braço esquerdo para baixo estendido

ao longo do corpo e o direito erguido de modo reto; O: as duas mãos entrelaçadas com as palmas voltadas para o corpo da pessoa como se segurasse uma grande bola; U: os dois braços erguidos meio arqueados assemelhando-se a letra em foco.

7 Cada sílaba é representada apenas por sua vogal, assim a palavra pipoca, por exemplo, constaria dos gestos referentes ao I, ao O e ao A.

8 Com o braço dominante levantado na horizontal, à frente da pessoa e a mão com a palma voltada para fora faz-se um movimento semelhante ao da vírgula (de modo grande).

9 Ergue-se um dos braços e arqueia-se o corpo em posição contrária ao braço levantado, em seguida repete-se o gesto com o lado contrário.

10 Com as duas mãos espalmadas para fora e os cotovelos próximos ao corpo a pessoa dá três passinhos para a direita e três para a esquerda, enquanto gira as duas mãos em círculo num movimento similar a apagar.

11 Fecha-se a mão dominante, colocando-a para trás, depois lança-a para frente ao mesmo tempo em que a abre. 12 “A assertividade é importante para uma cultura de paz na escola”.

37

exemplo, o que significa estar no centro, voltar ao grupo, ser a líder, os gestos são iguais, mas a

forma de reproduzi-los é idiossincrática, o que significa “apagar” etc).

Na execução da vivência, nos dois turnos, as educadoras participaram ativamente,

aprendendo o gesto de cada vogal e demonstrando o aprendizado através da apresentação

individual de seus nomes com a representação das respectivas vogais. Ao passo que as

educadoras iam se apresentando, a ministrante foi refletindo alguns aspectos relacionados à

assertividade, tais como: o respeito ao outro e ao seu espaço, o jeito individual e o ritmo que cada

um tem de fazer as coisas, enfatizando que em uma sala de aula o professor tem vários perfis

individuais que precisam ser trabalhados também de uma forma individual. Para aquelas

educadoras que estavam tímidas e não quiseram ir ao centro do círculo para fazer seu nome, a

ministrante procurou motivá-las com pequenas frases, exemplo: “Estou vendo que tem gente com

vontade de ir, mas está tímida. Não podemos deixar a oportunidade passar. Você faz isso na sua

vida? Permite que as oportunidades passem?” Ao término da atividade, foi perguntado para as

educadoras o que elas tinham sentido ao realizar a vivência. Logo algumas respondiam:

“Descontração”, “Relaxamento”, enquanto outra afirmou que foi mais uma experiência, pois já

conhecia a vivência e usava para ensinar as sílabas a seus alunos, no entanto, ainda não a

conhecia sendo trabalhada com a apresentação de nomes.

Também foi perguntado às participantes qual a relação da atividade com a assertividade.

Nesse sentido, algumas educadoras destacaram: “o respeito ao outro” (ritmo e espaço); “a

agressividade” (de alguns quererem forçar o outro para ir ao centro); “a aceitação do erro e a

possibilidade de consertar esse erro” (representado pela borracha); “o aspecto lúdico”; “a

concentração que tem que se manter na hora de fazer cada palavra utilizando apenas o som das

vogais”. Por fim, foi enfocada também a questão da disciplina, necessária para fazer cada gesto

com o corpo, bem como o dever de manter essa disciplina para não invadir o espaço que é do

outro.

No segundo momento da Oficina de treino em habilidades sociais foi marcado por uma

segunda Vivência denominada “Envelope”, conduzida pela também bolsista Kally Samara S.

Medeiros Gomes. A referida atividade teve como objetivo geral, assim como a anterior, treinar a

assertividade. Como objetivos específicos da vivência destacamos: promover a habilidade de

comunicação, a liberdade de escolha; refletir sobre aspectos de liderança; analisar o sentimento

de ser ou não escolhido diante de uma situação.

38

A atividade foi iniciada, com as participantes sentadas e em círculo. Foi feito um breve

comentário sobre a oficina e o que seria treinado, ou seja, a assertividade. Em seguida, foram

entregues folhas de papel ofício e lápis e pediu-se que cada participante colocasse seu nome e três

características pessoais. Na sequência a ministrante esclareceu ao grupo que existiam tarefas

importantes para serem cumpridas por quatro equipes e que cada uma deveria conter uma líder.

Logo após, entregou-se consignas para as participantes com os seguintes dizeres: “líder”,

“plateia”, “aceite o convite”, “Não aceite o convite”, “chame atenção para pertencer ao grupo”,

“fique à vontade para escolher”. As líderes escolhidas a partir das consignas circularam pela sala

e observando apenas as características das pessoas, selecionaram duas para fazerem parte do seu

grupo. Após esta etapa, a ministrante solicitou que as líderes se ausentassem da sala e explicou

para o restante do grupo as comandas, reforçando a importância do cumprimento das mesmas.

Em seguida, solicitou-se às líderes que entrassem na sala e comunicassem as pessoas eleitas,

observando se houve repetição nas preferências. Aos poucos as líderes iam apresentando suas

opções e as pessoas escolhidas iam dando as respostas conforme o indicativo das consignas. A

coordenadora ia questionando sobre o porquê das preferências da líder e como se sentiu a pessoa

eleita para fazer parte do grupo. Seguiu-se esta sequência até todas as líderes apresentarem suas

escolhas. Por fim, apresentou-se um envelope com a seguinte frase: “Não há tarefas para os

grupos! A tarefa é ser assertivo na vida”. No final, socializou-se a vivência, analisando a presença

ou não de assertividade nos argumentos das participantes. Por exemplo, se a pessoa escolhida

seguiu a ordem de sua consigna; como a pessoa se sentiu sendo líder? Como se sentiu sendo

preterida etc. Também foi enfatizado pela ministrante que a atividade remeteu também para a

importância da negociação, do diálogo e da relevância desses aspectos na sala de aula para gestão

e prevenção da violência.

Observou-se que no início da Oficina as educadoras revelavam indícios de desmotivação,

apresentando certa resistência em participar do trabalho, no entanto, ao término, elas demonstram

satisfação em ter vivenciado aquele momento de THS. As professoras saíram da atividade alegres

e sorridentes, afirmando ter gostado de participar, a exemplo da Educadora E2P2 (nome fictício

da participante), membro da Oficina do turno da manhã. Ela fala sobre suas impressões e de sua

satisfação em participar do Evento em um depoimento no término da atividade:

Quando eu cheguei aqui meu nome não estava [na lista], pois fiz minha inscrição no dia anterior ao evento. Se fosse outra tinha ido embora. Eu disse: não, eu vou

39

ficar como ouvinte, posso ficar? Perguntei a Regina [voluntária do projeto e membro da equipe organizadora] (...). E eu fiquei assim... vou para casa ou não vou. Liguei para a vice-diretora, ela disse: se você quiser ir pode cuidar. Mas eu me empolguei, achei uma dinâmica muito bonita, uma palestrante muito boa, agente fica o dia todo com ela. Aquele acolhimento, aquela coisa. Fui ficando, fui ficando, daqui a pouco terminei o questionário, entreguei. Cheguei aqui [referindo-se à Oficina], fiquei, depois botei o crachá e coloquei meu nome. Repare só porque às vezes a gente fica um peixe fora d’água, mas depois o peixe mergulha e esse mergulho serve de quê para a gente? Serve de conhecimentos, sabedoria, né? Persistência, paciência. E se eu fosse embora? Eu estou numa sala de leitura. Eu trabalho em duas escolas da Rede Municipal, as mesmas realidades. Eu trabalho em cima da escrita e leitura. Então, eu disse: eu vou ficar porque tem algo para eu aprender. A gente está sempre a aprender. A gente não está aprendido. A gente está sempre a aprender. Eu pedi a Deus a sabedoria, veio dois anjos para cá, vocês [referindo-se as ministrantes da Oficina] com uma dinâmica boa. Eu nem fui lá pra frente [referindo-se a vivência Dança das Vogais] porque eu sou meio tímida para começar, entendeu? (...) É porque às vezes vem à timidez num grupo que você não conhece. Isso acontece com nós professores. A gente vai para um lugar e você se sente estranha. Você não sabe o que vai acontecer do outro lado, se você é bem recebida (E2P2, EDUCADORA DA REDE MUNICIPAL DE JOÃO PESSOA).

Percebe-se na fala da educadora a sua insegurança, a princípio, em fazer parte de um

grupo de pessoas desconhecidas, já que tanto a equipe do evento quanto as outras participantes

eram todas estranhas para ela. as atividades do evento (palestras e oficinas), no entanto, bem

como o acolhimento da equipe para com ela, a motivou a permanecer no evento, deixando-lhe

também mais segura para participar da Oficina. Em seu discurso, observamos que a educadora

trabalhou habilidades relevantes para o aprimoramento de sua conduta, principalmente as

habilidades comunicacionais de “falar a público desconhecido”, “manter conversa com

desconhecidos”, “ participar de conversação”, “manter conversação”, “expressar sentimento

positivo”, pois mesmo tímida ela participou ativamente de todo trabalho. O treino destas

habilidades, de forma natural por meio das vivências, possibilitou a educadora a superação, de

forma parcial de sua timidez, visto que a mesmo admitindo este problema, se propôs a falar de

forma espontânea sobre sua experiência no Evento. Assim como as demais, a educadora

reconheceu a importância dos conhecimentos adquiridos no momento de THS vivenciado na

Oficina.

40

V AVALIAÇÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escola, por ser um espaço de convívio diário, tem se tornado locus de ocorrência de

conflitos interpessoais e violências. Porém ela ainda é vista como um espaço legítimo de

educação para atitudes civis e políticas de não violência.

Nossos jovens e crianças que frequentam diariamente o ambiente escolar precisam

receber um aprendizado efetivo, especialmente no campo das relações sociais, que fortaleça suas

alternativas para escapar do que muitos já vêm como destino: o caminho da violência, expresso

nas escolas por meio de diferentes formas: agressões físicas e verbais, violência institucional e

simbólica, bullying etc.

Embora se reconheça a articulação entre os fatores micro e macroestruturais que tornam

esse problema complexo e de difícil solução, não se pode negar o papel crucial da educação no

desenvolvimento de formas mais produtivas e saudáveis de relações humanas. Nesta perspectiva,

os atores sociais da escola, principalmente os educadores, assumem uma importante tarefa: servir

como modelos de condutas assertivas para seus alunos, o que inclui, além da transmissão de

conhecimentos próprios do currículo, o desenvolvimento de valores, atitudes e habilidades de

convivência.

O presente trabalho buscou analisar as habilidades sociais, na ótica do educador, como

estratégia para gestão e prevenção da violência no ambiente escolar. Discutiu-se assim, a

importância de interações sociais na escola pautadas, sobretudo, no uso dessas habilidades por

parte das docentes, a fim de que elas possam lidar de forma eficaz diante das situações de

indisciplina e violência na sala de aula e no contexto escolar em geral, bem como conseguir

relações sociais na escola baseadas no respeito mútuo entre os membros escolares, especialmente

entre professores e alunos.

Tendo como pressuposto a hipótese de que o domínio das habilidades sociais pode

fortalecer as relações sociais neste espaço, contribuindo para um clima social, menos aversivo e

menos propenso a violência, tomou-se como foco para o trabalho, o contexto local, ou seja,

algumas educadoras do Ensino Fundamental I e de alguns CREIs da Rede Municipal de João

Pessoa e observou-se a classificação dos seus perfis em habilidades sociais, o que nos conduziu a

seguinte conclusão: temos uma parcela significativa de educadoras hábeis socialmente no grupo

amostral pesquisado. Por outro lado, verificou-se também um número crescente de educadoras

41

com perfis em habilidades sociais relativamente baixos, o que por sua vez é preocupante, devido

à natureza do trabalho desenvolvido por estas profissionais, uma atividade que requer

constantemente o emprego habilidades sociais para que ocorram relações sociais agradáveis, seja

entre professores e alunos, seja entre professores e demais membros da escola.

Em se tratando especialmente da violência na escola, o domínio dessas habilidades por

parte dos educadores funciona como uma importante estratégia para soluções de problemas de

comportamentos. Conforme Bolsoni-Silva (2008) é possível que condutas socialmente

habilidosas possam prevenir o surgimento de comportamentos problemáticos na medida em que

possibilitam as pessoas interagirem mais positivamente com os colegas, além de conseguirem

resolver problemas, sem, contudo, utilizarem a agressividade, por exemplo.

Tal relação é também descrita por Del Prette e Del Prette (2006, p. 2) quando afirmam

que “a promoção de habilidades sociais de convivência tem se tornado ainda mais crítica no

contexto educacional devido às dificuldades da escola em administrar os conflitos interpessoais

em sala de aula ou em outros espaços acadêmicos”. Andrade (2007b) também destaca a

importância das habilidades sociais para a gestão competente da violência no ambiente escolar.

Neste caso, a hipótese correlativa de que as habilidades sociais podem subsidiar ações no sentido

de gerir e/ou prevenir situações de violência no ambiente escolar é evidenciada, pois estudos

como Del Prette e Del Prette (2006), Bolsoni-Silva (2008) e Andrade (2007b) enfatizam a

questão das habilidades do professor para o manejo de comportamentos problemáticos, bem

como a necessidade de promoção das habilidades sociais no contexto educacional para a gerência

de conflitos interpessoais.

A partir desta ótica, podemos constatar que, no caso do grupo das educadoras pesquisadas

da Rede Municipal de João Pessoa, as professoras que apresentaram perfis relativamente altos em

habilidades sociais, tendem a gerir as situações de conflitos e violência na escola de forma mais

eficaz do que aquelas que obtiveram perfis sociais abaixo da média estabelecida no IHS-Del

Prette (DEL PRETTE, 2006)

Considerando a perspectiva do Treinamento em Habilidades Sociais, os comportamentos

podem ser aprendidos por meio de diferentes técnicas, dentre elas as vivências. Assim, com o

intuito de utilizar esta metodologia para introduzir o grupo de educadoras participantes do estudo

da Rede Municipal de João Pessoa no Treinamento em Habilidades Sociais é que aplicamos as

Oficinas Pedagógicas durante o Encontro Te pego na escola: convivendo com a violência, dentre

42

elas a Oficina Acima de qualquer suspeita, aqui descrita, a qual funcionou como um instrumento

para que essas educadoras tivessem a oportunidade de conhecer a teoria das habilidades sociais,

bem como sua relevância no campo educativo, especificamente no que tange à gestão e

prevenção de conflitos e violência no contexto escolar. A participação ativa das educadoras no

treino possibilitou um contato inicial com este campo, que aos poucos ganha mais e mais espaço

na área educacional.

43

VI REFERÊNCIAS

ABRAMOVAY, Miriam; CASTRO, Mary. Drogas nas escolas. Brasília: UNESCO, Coordenação DST/AIDS do Ministério da Saúde, Secretaria de Estado dos Direitos Humanos do Ministério da Justiça, CNPq, Instituto Ayrton Senna, UNAIDS, Bando Mundial, USAID, Fundação Ford, CONSED, UNDIME, 2002. ABRAMOVAY, Miriam; RUA, Maria das Graças. Violências nas escolas: desafios e alternativas. Brasília: UNESCO, 2003. _____ et al. Escolas inovadoras: experiências bem sucedidas em escolas públicas. Brasília: Unesco, 2004. _____. (Coord.). Cotidiano das escolas: entre violências. Brasília: UNESCO. Observatório de Violência, Ministério da Educação, 2005. ABRAMOVAY, M. ; CASTRO, M. G. . Caleidoscópio das violências nas escolas (Séria Mania de Educação). 1. ed. Brasília: Missão Criança Editora, 2006. v. 30000. 76 p. ______. Revelando tramas, descobrindo segredos: violência e convivência nas escolas. Brasília: Rede de Informação Tecnológica Latino-americana - RITLA, Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal - SEEDF, 2009. 496 p. ADORNO, Sérgio. A socialização incompleta: alunos delinqüentes expulsos da escola. In SEVERINO, Antônio J. et al. Sociedade Civil e educação. Campinas: Papirus, 1992, p. 125-134. ANDRADE, Fernando C. B. de. Ser uma lição permanente: psicodinâmica da competencia inter-relacional do(a) educador(a) na gestão de conflitos e na prevenção da violencia na escola. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação. Universidade Federal da Paraíba. João Pessoa, 2007a. 220 p. AQUINO, Julio Groppa. A desordem na relação professor-aluno: indisciplina, moralidade e conhecimento. In ______Indisciplina na escola: alternativas teóricas e práticas. São Paulo: Summus, 2000. BOLSONI-SILVA, Alessandra Turini. Práticas educativas: manejo comportamental e comportamentos pró-sociais. In CAPELLINI, Vera Lúcia Messias Fialho (org). Práticas em educação especial e inclusiva na área de deficiência mental. Bauru: UNESP/FC, 2008 COSTA, Juliana Pereira da; COSTA, Maria Amélia Silva da; MEDONÇA, Maria de Fátima Félix. Violência na escola: o dito e o vivido pelos professores do ensino fundamental. Trabalho de Conclusão de Curso. João Pessoa: UFPB, 2006. DAVIS, C; SILVA, M.A; ESPOSITO, Y. Papel e valor das interações sociais em sala de aula. Cadernos de Pesquisa, 1989, 71, 49-54.

44

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45

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46

ANEXO A – Modelo de Perfil social “Baixo” (Escores altos em até 6 itens). Não qualificada para atuação docente sem anterior treinamento em HS

47

IHS - ANÁLISE DA FICHA DE APURAÇÃO

E1P4

É importante salientar que não há um Fator mais importante para o desempenho das

funções docentes, visto que todas são essenciais, mas há itens mais conspícuos para a atividade

docente em cada fator. Assim, a análise em pauta centrar-se-á nos seguintes itens de cada Fator.

Em F1: 16, 29, 14 e 01; F2: 08, 35, 30 e 06; F3:17, 36 e 13; F4: 09 e 14; F5: 38 e itens que não

entraram em nenhum fator (mas são pontuados): 02, 25 e 04.

Tabela para classificação da atuação em termos de Habilidades Sociais (HS) concernentes à

tarefa docente:

Escores altos em 17 itens: excelente atuação

Escores altos de 13 a 16 itens: ótima atuação

Escores altos de 10 a 12 itens: boa atuação

Escores altos de7 a 9 itens: regular atuação

Escores altos em até 6 itens: não qualificado(a) para atuação docente sem anterior treinamento de

HS

Com base na ficha de apuração da educadora, é possível extrair as seguintes conclusões e

interpretações:

a) O Escore Total de 68 pontos resultante da soma dos fatores, com percentil situado em 08

(escala de 0 a 100), aponta para um Baixo Repertório em Habilidades Sociais com

indicação para Treinamento quando os déficits se tornam fontes de problemas, visto que

E1P4 encontra-se abaixo da média estabelecida pelo IHS-Del-Prette.

b) Quando se examinam os escores fatoriais, verifica-se que em F1 a educadora localiza-se

acima da média em duas habilidades, destas, uma é relevante para função de educadora

(fazer perguntas a conhecidos); encontra-se abaixo da média em nove habilidades,

sendo três importantes para seu cargo (falar a público conhecido; discordar do grupo;

manter conversa com desconhecidos). Em F2, o desempenho de E1P4 está acima da

48

média em uma habilidade, sendo esta importante para o trabalho docente (expressar

sentimento positivo); situa-se abaixo da média em seis habilidades, sendo três destas

necessárias a sua função (defender outrem em grupo; elogiar outrem; participar de

conversação). Considerando que são importantes para educadores a autoafirmação e a

expressão de sentimentos positivos em relação aos seus alunos e colegas de trabalho, a

ausência de habilidades nesse fator ou seu baixo nível permite inferir baixa probabilidade

de uma intervenção eficaz na gestão de conflitos. No que diz respeito a F3, E1P4 situa-se

acima da média em três habilidades das sete contidas neste fator; destas, uma é

importante para a docência (manter conversação) e está abaixo da média em quatro

habilidades, sendo duas relevantes para seu trabalho (encerrar conversação; reagir a

elogio). Em relação a F4, a educadora encontra-se acima da média em três habilidades,

destas, uma é relevante para seu cargo (falar a público desconhecido) e está abaixo da

média em uma habilidade importante para sua função (falar a público conhecido). E em

F5, a docente está acima da média em duas habilidades, ambas irrelevantes para a

atividade docente e está abaixo da média em uma habilidade, sendo esta importante

para sua função (lidar com chacotas). Nos itens que não entraram em nenhum fator,

E1P4 encontra-se acima da média quatro habilidades, destas, uma é necessária para seu

cargo (lidar com críticas justas); e situa-se abaixo da média em três habilidades, sendo

duas necessárias para seu trabalho (pedir mudança de conduta; interromper a fala do

outro).

c) Ao comparar a posição percentil de E1P4 (situada em 08) com a média nacional (50),

estabelecida pelo IHS-Del-Prette (2001) constatamos que a educadora situa-se abaixo da

média do grupo. Esse conjunto de dados permite inferir que a avaliada apresenta um

baixo repertório de habilidades sociais em relação grupo nacional.

Tomando o conjunto desses dados, as habilidades sociais específicas para o

desempenho das atividades docentes apresentadas por E1P4 e o perfil da educadora, pode-

se esperar uma baixa atuação no que concerne à exibição de HS na atividade docente,

não estando qualificada para atuação docente sem anterior treinamento de HS, pois a

educadora possui escores altos em apenas 05 itens (dentre os 17 considerados importantes

49

para tal desempenho) e 12 escores abaixo da média. Conclui-se que a avaliada apresenta

déficit e carência de treinamento em 12 habilidades necessárias à sua função, a saber:

falar a público conhecido; discordar do grupo; manter conversa com desconhecidos;

defender outrem em grupo; elogiar outrem; participar de conversação; encerrar

conversação; reagir a elogio; falar a público conhecido; lidar com chacotas; pedir

mudança de conduta; interromper a fala do outro.

Fernando Cézar Bezerra de Andrade Psicólogo

Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos Psicóloga

50

ANEXO B – Modelo de perfil social “Regular” (Escores altos de 7 a 9 itens)

51

IHS - ANÁLISE DA FICHA DE APURAÇÃO

E1P8

É importante salientar que não há um Fator mais importante para o desempenho das

funções docentes, visto que todas são essenciais, mas há itens mais conspícuos para a atividade

docente em cada fator. Assim, a análise em pauta centrar-se-á nos seguintes itens de cada Fator.

Em F1: 16, 29, 14 e 01; F2: 08, 35, 30 e 06; F3:17, 36 e 13; F4: 09 e 14; F5: 38 e itens que não

entraram em nenhum fator (mas são pontuados): 02, 25 e 04.

Tabela para classificação da atuação em termos de Habilidades Sociais (HS) concernentes à

tarefa docente:

Escores altos em 17 itens: excelente atuação

Escores altos de 13 a 16 itens: ótima atuação

Escores altos de 10 a 12 itens: boa atuação

Escores altos de7 a 9 itens: regular atuação

Escores altos em até 6 itens: não qualificado(a) para atuação docente sem anterior treinamento de

HS

Com base na ficha de apuração da educadora, é possível extrair as seguintes conclusões e

interpretações:

a) O Escore Total de 93 pontos resultante da soma dos fatores, com percentil situado em 55

(escala de 0 a 100), aponta para um Bom Repertório em Habilidades Sociais, visto que

E1P8 encontra-se acima da média estabelecida pelo IHS-Del-Prette.

b) Quando se examinam os escores fatoriais, verifica-se que em F1 a educadora localiza-se

acima da média em cinco habilidades, destas, uma é relevante para função de educadora

(falar a público conhecido); encontra-se abaixo da média em seis habilidades, sendo

três importantes para seu cargo (discordar do grupo; fazer perguntas a conhecido; manter

conversa com desconhecido). Em F2, o desempenho de E1P8 encontra-se acima da

média em três habilidades, sendo duas destas importantes para o trabalho docente

52

(participar de conversação; defender outrem em grupo); está abaixo da média em

quatro habilidades, sendo duas necessárias a sua função (expressar sentimento positivo;

elogiar outrem). Considerando que são importantes para educadores a autoafirmação e a

expressão de sentimentos positivos em relação aos seus alunos e colegas de trabalho, a

ausência de habilidades nesse fator ou seu baixo nível permite inferir baixa probabilidade

de uma intervenção eficaz na gestão de conflitos. No que diz respeito a F3, o desempenho

de E1P8 é considerado ótimo, pois a mesma situa-se acima da média em seis

habilidades das sete contidas neste fator; destas, duas são importantes para a docência

(encerrar conversação; reagir a elogio) e está abaixo da média em uma habilidade,

sendo esta relevante para o seu trabalho (manter conversação) Em relação a F4, E1P8

apresenta um Excelente desempenho, pois a educadora encontra-se acima da média em

todas as habilidades, inclusive naquelas relevantes para seu cargo (falar a público

desconhecido; falar a público conhecido). E em F5, a educadora está acima da média

em uma habilidade, irrelevante para a atividade docente e está abaixo da média em

duas habilidades, sendo uma importante para sua função (lidar com chacotas). Nos itens

que não entraram em nenhum fator, E1P8 encontra-se acima da média quatro

habilidades, destas, duas são necessárias para seu cargo (interromper a fala do outro;

pedir mudança de conduta) e encontra-se abaixo da média em três habilidades, sendo

uma relevante para seu trabalho (lidar com críticas justas).

c) Ao comparar a posição percentil de E1P8 (situada em 55) com a média nacional (50),

estabelecida pelo IHS-Del-Prette (2001) constatamos que a educadora situa-se acima da

média do grupo. Esse conjunto de dados permite inferir que a avaliada apresenta um

bom repertório de habilidades sociais em relação grupo nacional.

Tomando o conjunto desses dados, as habilidades sociais específicas para o desempenho das

atividades docentes apresentadas por E1P8 e o perfil da educadora, pode-se esperar uma atuação

regular no que concerne à exibição de HS na atividade docente, pois a educadora possui

escores altos em 9 itens (dentre os 17 considerados importantes para tal desempenho) e 8 escores

abaixo da média. Conclui-se que a avaliada apresenta déficit e carência de treinamento em 8

habilidades necessárias à sua função, a saber: discordar do grupo; fazer perguntas a conhecido;

53

manter conversa com desconhecido; expressar sentimento positivo; elogiar outrem; manter

conversação; lidar com chacotas; lidar com críticas justas.

Fernando Cézar Bezerra de Andrade Psicólogo

Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos Psicóloga

54

ANEXO C – Modelo de perfil social “Bom” (Escores altos de 10 a 12 itens)

55

IHS - ANÁLISE DA FICHA DE APURAÇÃO

E4P2

É importante salientar que não há um Fator mais importante para o desempenho das

funções docentes, visto que todas são essenciais, mas há itens mais conspícuos para a atividade

docente em cada fator. Assim, a análise em pauta centrar-se-á nos seguintes itens de cada Fator.

Em F1: 16, 29, 14 e 01; F2: 08, 35, 30 e 06; F3:17, 36 e 13; F4: 09 e 14; F5: 38 e itens que não

entraram em nenhum fator (mas são pontuados): 02, 25 e 04.

Tabela para classificação da atuação em termos de Habilidades Sociais (HS) concernentes à

tarefa docente:

Escores altos em 17 itens: excelente atuação

Escores altos de 13 a 16 itens: ótima atuação

Escores altos de 10 a 12 itens: boa atuação

Escores altos de7 a 9 itens: regular atuação

Escores altos em até 6 itens: não qualificado(a) para atuação docente sem anterior treinamento de

HS

Com base na ficha de apuração da educadora, é possível extrair as seguintes conclusões e

interpretações:

a) O Escore Total de 99 pontos resultante da soma dos fatores, com percentil situado entre

65 e 70 (escala de 0 a 100), aponta para um Bom Repertório em Habilidades Sociais,

visto que a educadora encontra-se acima da média estabelecida pelo IHS-Del-Prette.

b) Quando se examinam os escores fatoriais, verifica-se que em F1 a educadora localiza-se

acima da média em nove habilidades, inclusive nas quatro habilidades que são

relevantes para função de educadora (fazer perguntas a conhecidos; discordar do grupo;

falar a público conhecido; manter conversa com desconhecidos). Em F2, E4P2 situa-se

acima da média em cinco das habilidades, sendo três destas importantes para o trabalho

56

docente (participar de conversação; defender outrem em grupo; expressar sentimento

positivo) e está abaixo da média em uma habilidade relevante para a docência (elogiar

outrem). Considerando que são importantes para educadores a autoafirmação e a

expressão de sentimentos positivos em relação aos seus alunos e colegas de trabalho, a

presença de habilidades nesse fator ou seu alto nível permite inferir a alta probabilidade

de uma intervenção eficaz na gestão de conflitos. No que diz respeito a F3, o desempenho

de E4P2 é considerado baixo, pois a mesma situa-se abaixo da média em cinco

habilidades, sendo duas importantes para o seu trabalho (encerrar conversação; reagir a

elogio); está acima da média em uma habilidade (manter conversação) considerada

também relevante para a sua função. Em relação a F4, E4P2 apresenta duas habilidades

acima da média, sendo estas as habilidades deste fator importantes para o seu trabalho

(falar a público desconhecido; falar a público conhecido) e localiza-se abaixo da média

em duas habilidades, irrelevantes para seu cargo. E em F5, a educadora encontra-se

acima da média em todas as habilidades, inclusive na habilidade deste fator que é

necessária para a atividade docente (lidar com chacotas). Nos itens que não entraram

em nenhum fator, E4P2 encontra-se acima da média em cinco habilidades; destas,

uma é necessária para seu trabalho (interromper a fala do outro), e está abaixo da média

em duas habilidades relevantes para sua função (pedir mudança de conduta; lidar com

criticas justas).

c) Ao comparar a posição percentil de E4P2 (situada entre 65 e 70) com a média nacional

(50), estabelecida pelo IHS-Del-Prette (2001) constatamos que a educadora situa-se acima

da média do grupo. Esse conjunto de dados permite inferir que a avaliada apresenta um

bom repertório de habilidades sociais em relação grupo nacional.

Tomando o conjunto desses dados, as habilidades sociais específicas para o

desempenho das atividades docentes apresentadas por E4P2 e o perfil da educadora, pode-

se esperar uma boa atuação no que concerne à exibição de HS na atividade docente,

pois esta possui escores altos em 12 itens (dentre os 17 considerados importantes para tal

desempenho) e 5 escores abaixo da média. Conclui-se que a avaliada apresenta déficit e

carência de treinamento em cinco habilidades necessárias à sua função, a saber:

57

Elogiar outrem, Encerrar conversação, Reagir a elogio, Pedir mudança de conduta,

Lidar com críticas justas.

Fernando Cézar Bezerra de Andrade Psicólogo

Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos Psicóloga

58

ANEXO C – Modelo de perfil social “Ótimo” (Escores altos de 13 a 16 itens)

59

IHS - ANÁLISE DA FICHA DE APURAÇÃO

E4P7

É importante salientar que não há um Fator mais importante para o desempenho das

funções docentes, visto que todas são essenciais, mas há itens mais conspícuos para a atividade

docente em cada fator. Assim, a análise em pauta centrar-se-á nos seguintes itens de cada Fator.

Em F1: 16, 29, 14 e 01; F2: 08, 35, 30 e 06; F3:17, 36 e 13; F4: 09 e 14; F5: 38 e itens que não

entraram em nenhum fator (mas são pontuados): 02, 25 e 04.

Tabela para classificação da atuação em termos de Habilidades Sociais (HS) concernentes à

tarefa docente:

Escores altos em 17 itens: excelente atuação

Escores altos de 13 a 16 itens: ótima atuação

Escores altos de 10 a 12 itens: boa atuação

Escores altos de7 a 9 itens: regular atuação

Escores altos em até 6 itens: não qualificado(a) para atuação docente sem anterior treinamento de

HS

Com base na ficha de apuração da educadora, é possível extrair as seguintes conclusões e

interpretações:

a) O escore total de 110 pontos resultante da soma dos fatores, com percentil situado 88

(escala de 0 a 100), aponta para um Excelente Repertório em Habilidades Sociais,

visto que E4P7 encontra-se acima da média estabelecida pelo IHS-Del-Prette.

b) Quando se examinam os escores fatoriais, verifica-se que em F1 a educadora localiza-

se acima da média em sete habilidades, inclusive nas quatro habilidades deste fator

que são relevantes para função de educadora (fazer perguntas a conhecidos; discordar

do grupo; falar a público conhecido; manter conversa com desconhecidos); encontra-

se abaixo da média em quatro habilidades, sendo estas irrelevantes para seu cargo.

Em F2, o desempenho de E4P7 situa-se acima da média em todas as habilidades, e

60

consequentemente também naquelas habilidades importantes para o trabalho docente

(participar de conversação; elogiar outrem; defender outrem em grupo; expressar

sentimento positivo). Considerando que são importantes para educadores a

autoafirmação e a expressão de sentimentos positivos em relação aos seus alunos e

colegas de trabalho, a presença de habilidades nesse fator ou seu alto nível permite

inferir a alta probabilidade de uma intervenção eficaz na gestão de conflitos. No que

diz respeito a F3, o desempenho de E4P7 é considerado excelente, pois a mesma

situa-se acima da média em cinco habilidades, inclusive nas habilidades deste fator

que são relevantes para a docência (encerrar conversação; manter conversação;

reagir a elogio); encontra-se abaixo da média em duas habilidades, sendo estas

desnecessárias para sua função. Em relação a F4, E4P7 apresenta um excelente

desempenho, pois a educadora encontra-se acima da média em todas as habilidades,

inclusive naquelas relevantes para seu trabalho (falar a público desconhecido; falar a

público conhecido). E em F5, a educadora está acima da média em duas

habilidades, ambas irrelevantes para a atividade docente; e está abaixo da média em

uma habilidade, sendo esta importante para sua função (lidar com chacotas). Nos

itens que não entraram em nenhum fator, E4P7 encontra-se acima da média

quatro habilidades; destas, duas são necessárias para sua função (lidar com críticas

justas; interromper a fala do outro); e encontra-se abaixo da média em uma

habilidade, relevante para seu trabalho (pedir mudança de conduta).

c) Ao comparar a posição percentil de E4P7 (situada em 88) com a média nacional (50),

estabelecida pelo IHS-Del-Prette (2001), constatamos que a educadora situa-se acima

da média do grupo. Esse conjunto de dados permite inferir que a avaliada apresenta

um Excelente repertório de habilidades sociais em relação grupo nacional.

Tomando o conjunto desses dados, as habilidades sociais específicas para o

desempenho das atividades docentes apresentadas por E4P7 e o perfil da educadora, pode-

se esperar uma ótima atuação no que concerne à exibição de HS na atividade docente,

pois esta possui escores altos em 15 itens (dentre os 17 considerados importantes para tal

desempenho) e 2 escores abaixo da média. Conclui-se que a avaliada apresenta déficit e

61

carência de treinamento apenas em duas habilidades necessárias à sua função, a saber:

Lidar com chacotas e Pedir mudança de conduta.

Fernando Cézar Bezerra de Andrade Psicólogo

Carmen Sevilla Gonçalves dos Santos Psicóloga