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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JULIO DE MESQUITA FILHO” FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIAL CAMPUS DE FRANCA EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL: FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS FRANCA 2003

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA“JULIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE HISTÓRIA, DIREITO E SERVIÇO SOCIALCAMPUS DE FRANCA

EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL:FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS

FRANCA2003

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EDSON MARQUES OLIVEIRA

EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL:FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS

Tese apresentada ao Curso de Pós-Graduaçãoem Serviço Social da Faculdade de História,Direito e Serviço Social da UNESP – campus deFranca, como pré-requisito para defesa de Tesede Doutorado do Programa de Pós-graduaçãoem Serviço Social, Área de concentração:Serviço Social: trabalho e Sociedade, linha depesquisa: Serviço Social, mundo do trabalho esociedade, para obtenção do título de Doutor emServiço Social, sob a orientação do Prof. Dr.José Walter Canôas.

Franca2003

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EDSON MARQUES OLIVEIRA

EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL:FUNDAMENTOS E ESTRATÉGIAS

Tese aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor no Curso de Pós-

Graduação em Serviço Social na Faculdade de História, Direito e Serviço Social da

UNESP – campus de Franca na área de concentração: Serviço Social: trabalho e

Sociedade, linha de pesquisa: Serviço Social, mundo do trabalho e sociedade, pela

seguinte banca examinadora:

BANCA EXAMINADORA

Orientador: Prof. Dr. José Walter Canoas, Departamento de Serviço Social da Unesp,

Frana-SP

Examinador: Prof. Dr. Alfredo Argus, Fundação Educacional de Barretos, Barretos-SP

Examinador: Prof. Dr. Pe. Mário José Filho Presidente da Pós-Graduação de Serviço

Social Unesp, Franca-SP

Examinadora: Profa. Dra. Íris Fenner Bertani, Departamento de Serviço Social da

Unesp, Franca-SP

Examinador: Prof. Dr. Ladislau Dowbour, Departamento de Administração PUC-SP

Franca-SP, 11 de Fevereiro de 2004.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a

Zacarias Bruno Marinho (in memória) por ter acreditado que, um dia, o seu neto

seria um doutor, mesmo não tendo noção exata do que isso significaria, por sua

simplicidade e carinho bahiano.

À Marta minha esposa, meus filhos Gabriel e Louise, que tiveram de suportar a

tensão do fazer esta tese, bem como o sacrifício de minha ausência para esta empreitada;

Aos meus pais, Inair e Eurípedes, que mesmo não sendo letrados, ensinaram-me a

amar a vida, a respeitar o próximo, apoiaram-me, acreditaram em mim e dedicaram-me

amor e gratidão pela vida afora;

Aos meus irmãos, Cida, Wilson, Simone, Marli e seus filhos para que, a exemplo

de tudo, seja mostrado que todos nós somos capazes, ninguém é melhor que ninguém,

pelo carinho e compreensão;

A Rosinha e Pedro, professoras e anjos, que me deram a base intelectual de saber

pensar e aprender a aprender.

Ao meu sogro, Alcinio Genari, minha sogra Vanda Nogueira Genari, minhas

cunhadas, Miriam, Esther, Janaína e meus cunhados, Onésimo, Elizeu, Edis, Haroldo e

seus respectivos filhos.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, supremo criador do céu e da terra, doador da vida, por um dia em meados

de abril, na caatinga do sertão baiano, mesmo tendo nascido de sete meses e sem condição

nenhuma para sobreviver, deu-me a oportunidade de viver e gozar a vida que tenho da

melhor maneira e de ter chegado até aqui.

São inúmeras as pessoas que contribuíram para a realização deste trabalho, pois o

mesmo é expressão do coletivo humano, sozinhos não podemos fazer muita coisa, afinal o

“conhecimento é vida e a vida é conhecimento”, diz Maturana. Mas algumas pessoas

foram significativas para este processo, e correndo o risco de ser injusto com alguém, o

meu agradecimento é para as seguintes pessoas:

Às meninas da Lua Nova pelo aprendizado que, mesmo sem saber, me

proporcionaram; também à coordenadora geral, a senhora Raquel Barros, por quem

agradeço a todos os demais funcionários daquela organização que é exemplo do que o

Terceiro Setor tem feito e poderá fazer pelos cidadãos deste país;

Aos fellows da Ashoka que acreditaram em meu trabalho, ousaram ser

independentes, e provaram que o empreendedor social deve, como sugere Dees, “nunca

dizer não é possível”;

Aos alunos, professores, funcionários e coordenação da graduação e pós-

graduação em Serviço Social da Unesp, pelo apoio, carinho e respeito com que fui tratado

ao longo de minha permanência nesta casa e neste processo de doutoramento;

Ao meu orientador, Dr. José Walter Canôas, pelo respeito e pluralidade

profissional na construção deste trabalho, pela oportunidade e confiança nos vários

trabalhos que realizamos, pelo companheirismo, pela amizade, pelo aprendizado e por ter

sido, mesmo não crendo, um instrumento de Deus e de benção para minha vida.

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Empreendedor social é “...aquele que promove mudanças que

servem à comunidade através da identificação de novos

processos, serviços e produtos, criando formas de

sustentabilidade e replicabilidade da atividade e/ou solução

encontrada.”

Klaus Schwab, Fundação Schwab, Suíça (www.schwabfound.org)

“... nós vamos fazer primeiro o necessário, depois o possível e,

quando menos se espera, nós estaremos fazendo o impossível.”

Sr. Presidente da República Brasileira, Luis Inácio

Lula da Silva (Folha de são Paulo, 09/09/2002, p. B1)

MUTANTIS MUTANDIS (mudando-se o que deve ser mudado)

Provérbio latino

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Oliveira, Edson Marques Empreendedorismo social no Brasil: fundamentos e

estratégias

/ Edson Marques Oliveira. – Franca, SP 2004.

Tese – Doutorado – Faculdade de História, Direito e Serviço Social – UNESP – Franca.

1. Serviço Social – Terceiro Setor 2. Globalização – Aspectos Sociais. 3. Pobreza. 4.Empreendedorismo Social. 5. Gestão Social

CDD – 362.854

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

1. Esquema gráfico do método científico 132

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Comparativo dos produtos da Daslu 74

Tabela 2 – Lista de termos de A-Z 193

Tabela 3 – Eixos temáticos do glossário do ISE 195

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Síntese do esquema do método operacional contextualizado.................... 139

Quadro 2 – Características das organizações internacionais de empreendedorismo

social.......................................................................................................... 167

Quadro 3 – Lista de termos sobre empreendedorismo social de A a Z........................ 193

Quadro 4 – Lista de termos da ISE por Jerr Boschee................................................... 194

Quadro 5 – Comparação entre organizações sociais e empresariais............................. 196

Quadro 6 – Comparação entre tipos de empreendedores.............................................. 197

Quadro 7 – Comparação entre empreendedorismo privado e social............................ 214

Quadro 8 – Organização que dissemina direta e indiretamente o empreendedorismo

social no Brasil........................................................................................... 241

Quadro 9 – Diferença de gestão negócio em uma organização privada e uma do

Terceiro Setor............................................................................................. 314

Quadro 10 – Estrutura plano de negócio social – modelo Ashoka............................... 317

Quadro 11 – Comparativo do grau de impacto do empreendedorismo na gestão....... 335

Quadro 12 – Perfil dos empreendedores sociais para os fellows da Ashoka................ 342

Quadro 13 – Comparação entre os perfis da gestão e do empreendedorismo social.... 351

Quadro 14 – Categorias analíticas da gestão organizacional de organizações sociais 359

Quadro 15 – Comparação entre os componentes de uma gestão social

empreendedora......................................................................................... 395

Quadro 16 – Comparação entre o perfil do empreendedorismo social......................... 395

Quadro 17 – Classificação dos termos para designar a atividade e o sujeito da

atividade e empreendedorismo social....................................................... 407

Quadro 18 – Papel e objetivos do empreendedorismo social...................................... 410

Quadro 19 – Perfil do empreendedorismo social.......................................................... 413

Quadro 20 – Comparação das diferenças entre Serviço Social como profissão e o

empreendedorismo como atividade.......................................................... 440

Quadro 21 – Síntese das similitudes e ambivalências entre Serviço Social e

Empreendedorismo Social....................................................................... 441

Quadro 22 – Síntese do perfil do empreendedorismo social........................................ 460

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LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS

ENE Escola de Novos Empreendedores

FENEAD Federação Nacional dos Estudantes de Administração

CEFET-PR Centro Federal de Educação Tecnológica do Paraná

CTS Clipping do Terceiro Setor

BID Banco Interamericano de Desenvolvimento

CCES Centro de Competência para Empreendedores Sociais

EIC Escola de Informática e Cidadania

PNS Plano de Negócio Social

ABEPSS Associação Brasileira de Ensino e Pesquisa em Serviço Social

CNESS Conselho Regional de Serviço Social

CFESS Conselho Federal de Serviço Social

IES Instituição de Ensino Superior

IUPFR Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro

OMC Organização Mundial de Comércio

CETS Centro de Estudos do Terceiro Setor

USP Universidade de São Paulo

CEATS Centro de Estudos e Administração do Terceiro Setor

NEPO Núcleo de Estudos da População

SEAD Sistema Estadual de Análise de Dados

FGV Fundação Getúlio Vargas

ISTR International Society for Thied-Fector e Research

ONG Organização Não-Governamental

AACD Associação dos Amigos dos Deficientes

CDI Comitê de Democratização da Informática

AIB Aldeia Infantil Besteda

CMAS Conselho Municipal de Assistência Social

SSE School Social Entrepreneurship

CCSE Canadian Center Social Entrepreneurship

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ISE Institute-Social Entrepreneurship

CSI Center Social Invovetion (Stanford)

ES Empreendedor Social

SER Responsabilidade Social Empresarial

ESC Empreendimento Social Comunitário

ESO Empreendimento Social Organizacional

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RESUMO

Neste trabalho, procuramos apresentar a investigação sobre as origens,significados e caracterização dos fundamentos e estratégias do empreendedorismo socialno Brasil. O tema emerge da constatação do paradoxo entre globalização e pobreza, esseprocesso produz novos e velhos desafios para o desenvolvimento humano e aemancipação social, e de gerar uma sociedade sustentável, justa e humana. Nestecontexto, emergem várias ações alternativas, de combate à pobreza, principalmente nofinal dos anos de 1990, entre elas o empreendedorismo social. Vários elementospermeiam esse cenário, destaca-se o surgimento de novas dimensões, como a pobrezaperceptiva; o crescimento e intervenção do Terceiro Setor; e a polêmica em torno damudança da lógica de intervenção dessas organizações, que, nos anos de 1960 e 1970,tinham uma postura mais contestatória, e, após os anos de 1980, apresentam uma novaracionalidade, menos contestatória, e mais participativa e propositiva, fato que altera asrelações entre sociedade civil e estado, bem como dos movimentos sociais. Comodesdobramento deste fenômeno, observa-se a crescente participação das empresas nocampo social. Essa relação, junto com o crescimento do Terceiro Setor, a redução dasfontes de financiamento, sucateamento das políticas públicas levam as organizações doTerceiro Setor a buscarem formas alternativas de gestão na busca de sustentabilidade,onde as empresas privadas começam a transferir conceitos e ferramentas de gestão paraessas organizações. É no epicentro desses acontecimentos emerge o empreendedorismosocial, como uma forma de inovação gestão e tecnologia social. Logo, procuramosanalisar se o empreendedorismo social se caracteriza como uma ação de emancipaçãosocial, desenvolvimento humano, ou é mais uma forma de manutenção do status quo e dadesigualdade. É o que procuramos refletir, a partir da análise da produção teórica sobre oassunto, bem como de estudos de caso de organizações e profissionais que estão atuandonessa área, o que permitiu apresentar, como fruto deste processo investigativo, propostaspara o aprofundamento, teórico e prático do empreendedorismo social no Brasil.

PALAVRAS-CHAVE/DESCRITORES:

1) Empreendedorismo Social, 2) Desenvolvimento Sustentável, 3) Emancipação Social,4) Desenvolvimento Humano, 5) Pobreza, 6) Terceiro Setor

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ABSTRATC

In this work we have tried to present the searching on the origins, meanings andcharacterization of the social entrepreneurship foundations and strategies in Brazil. Thetheme emerges from the paradox between globalization and poverty, whose processproduces new and old challenges for human development and social emancipation, andtries to generate a maintainable, fair and human society. In this point several alternativeactions emerge, seeking to fight poverty, mainly in the nineties, among which is socialentrepreneurship. Several elements permeate this scenery, among which we point out theresearch interest on poverty, and the appearance of new dimensions, such as perceptivepoverty. Another factor is the growth and intervention of the third sector and thecontroversy around the change in these organizations intervention logic, which in thesixties and seventies had a more contesting posture, and which, after the eighties, havepresented a new, less contesting, and more participative and propositional rationality, afact which alters the relationships between civil society and state, as well as socialmovements. As this phenomenon unfolded, an ever increasing participation of thecompanies in the social field was observed. This relationship, along with the third sectorgrowth, the reduction of financing sources, the dismantling of the public politics, lead thethird section organizations to look for alternative forms of administration in search forsustainability, in which the private companies begin to transfer concepts andadministration tools to these organizations. It is in the epicenter of these events that thesocial entrepreneurship emerges as a means of innovation in social administration andtechnology. We have found there is shortage of informational material on the subject,therefore, this is an exploratory investigation, of qualitative approach, based on scientificmethodology, which has as basic problem the inquiry on the fact that the socialentrepreneurship is an emergent action of human development and social emancipation,or one more artifice of poverty and social exclusion maintenance. And the centralhypothesis is that it is configured as an emergent action for this purpose, as means ofverification of the hypothesis, we have used the techniques of case study, descriptive andin depth, interviews, bibliographical and documental researches, semi-structuredquestionnaire and computerized system for data treatment. It is presented in threechapters. In the first we have presented the context and the problem of the investigationobjective, besides our conception of doing science, the theoretical and methodologicalaspects, and investigation strategies. In the second, we have presented bibliographicalreview systematization on the subject, dividing this presentation into two parts. The first,on the international view and the second on the Brazilian reality. On this second part, wehave deepened into the bibliographical data, the spaces and examples, cases of productionand reproduction of the concepts and of the practices of the social entrepreneurship. Wehave presented the results of the case study in two social organizations, Ashoka in Brazil,and the New Moon Association in Sorocaba-SP. In the third chapter, we havesystematized the main results of the investigation on the origins and characteristics of thefoundations and strategies of the social entrepreneurship, which has made it possible toconfirm our hypothesis. Finally, we have presented some actions of application of theknowledge generated in this investigation, as well as suggestions for better spreading andrefining it.PASSE WORD:1) Social Entrepreneurship, 2) Maintainable Development, 3) Social Emancipation, 4)Developmen Human, 5) Poverty, 6) Third Section.

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SUMÁRIO

LISTA DE ILUSTRAÇÕES......................................................................................... 08

LISTA DE TABELAS.................................................................................................. 09

LISTA DE QUADROS................................................................................................ 10

LISTA DE ABREVIATURAS E SÍMBOLOS............................................................ 11

RESUMO...................................................................................................................... 13

ABSTRACT................................................................................................................ 14

INTRODUÇÃO............................................................................................................ 22

PRIMEIRA PARTE: A GUISA DE ELEMENTOS REFERENCIAIS,CONTEXTUALIZAÇÃO, PROBLEMATIZAÇÃO EMETODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO..................... 34

1 – O FAZER CIÊNCIA E O VIVER COTIDIANO.......................................... 34

1.1 Conhecimento científico no século XXI – ciência clássica e ciência moderna-

contextualizada................................................................................ 35

1.1.1 Ciência clássica......................................................................................... 35

1.1.2 Ciência moderna-contextualizada............................................................. 38

2 – GLOBALIZAÇÃO, POBREZA, DESENVOLVIMENTO HUMANO EEMANCIPAÇÃO SOCIAL NO CENÁRIO DA DÉCADA DE 90........... 42

2.1 A globalização como fenômeno multidimensional e paradoxal....................... 44

2.2 Pobreza globalizada: velhos e novos desafios de enfrentamento..................... 55

2.2.1 Breve histórico do desenvolvimento e tratamento da pobreza................. 57

2.2.2 Novas clivagens sobre o tema pobreza..................................................... 59

2.2.3 Os novos desafios no enfrentamento da pobreza globalizada – a pobreza

perceptiva.................................................................................. 63

3 – O CRESCIMENTO, AVANÇOS E A INFLUÊNCIA DO TERCEIRO

SETOR....................................................................................................... 84

3.1 Embate e polêmica quanto ao papel das organizações do Terceiro Setor........ 85

3.1.1 Grupo de análise crítica moderada ao Terceiro Setor.............................. 88

3.1.2 Grupo de análise crítica acentuada ao Terceiro Setor.............................. 94

3.1.3 Grupo de análise do Terceiro Setor como fenômeno social.................... 100

3.2 Crescente busca pela qualificação e profissionalização das pessoas que

trabalham no Terceiro Setor............................................................................ 112

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3.3 Crescente transferência de conceitos, técnicas e métodos de trabalho do setor

privado para o Terceiro Setor................................................................. 114

4 – O DESAFIO DA QUALIDADE PARA A EMANCIPAÇÃO SOCIAL E DO

DESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL............................................... 119

5 – ELEMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO PROPOSTA 124

5.1 O que estamos entendendo por pesquisa?........................................................ 124

5.2 O que estamos entendendo por método?.......................................................... 124

5.3 O que estamos entendendo por metodologia?.................................................. 125

5.4 Qual o significado de se fazer uma tese em Serviço Social em específico?..... 125

5.5. A proposta e o desenvolvimento metodológico da investigação..................... 130

5.5.1 A opção do método.................................................................................. 130

5.5.1.1 Método de abordagem..................................................................... 131

5.5.1.2 Método de operacionalização.......................................................... 136

5.5.2 Análise do quadro 1 – Esquema de metodologia da investigação........... 137

5.5.2.1 Parâmetros...................................................................................... 139

5.5.2.2 Níveis de articulação....................................................................... 141

5.5.2.3 Operacionalização........................................................................... 142

5.5.2.4 Indicadores...................................................................................... 143

5.5.2.5 Aspectos técnicos operacionais...................................................... 145

5.5.2.6 Técnicas de coleta de dados............................................................ 152

5.5.2.7 Tratamento dos dados..................................................................... 159

SEGUNDA PARTE: MAPEANDO O DEBATE E RASTREANDO ASORIGENS, SIGNIFICADOS E CARACTERIZAÇÃODO EMPREENDEDORISMO SOCIAL......................... 161

6 – REFLEXÕES E CONSTATAÇÕES PRELIMINARES SOBRE AINVESTIGAÇÃO DOS FUNDAMENTOS E AS ESTRATÉGIASDO EMPREENDEDORISMO SOCIAL............................................... 162

6.1 As primeiras pistas e rastros............................................................................. 162

6.2 Outras pistas e outros caminhos....................................................................... 164

7 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL: UMA VISÃOINTERNACIONAL................................................................. 165

7.1 Espaços de produção e reprodução do conceito e da prática do

empreendedorismo social no exterior (E.U.A., Canadá e Europa)................. 166

7.1.1 Análise do quadro................................................................................. 171

7.1.2 Ligação e integração dos três setores................................................... 171

7.1.3 Missão, visão e estratégias.................................................................... 171

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7.1.4 Produção, técnicas e publicação.......................................................... 172

7.1.5 Criação de uma comunidade de apoio ao empreendedorismo social... 174

7.1.6 Preocupações centrais com o processo de mudança............................. 175

7.1.7 Ações do empreendedorismo social voltados para empresa, governo e

sociedade civil.................................................................................... 177

7.1.8 Compreensão quase que homogênea quanto ao conceito de

empreendedorismo social.................................................................. 177

7.2 O mosaico de conceitos e termos chaves sobre empreendedorismo social...... 178

7.2.1 O significado do empreendedorismo social......................................... 179

7.2.2 Outras definições e termos chaves sobre empreendedorismo social.... 183

7.2.3 Os oitos princípios básicos do empreendedorismo social por Jerr

Boschee............................................................................................... 184

7.2.4 O que é empreendedorismo social por Jane Berry............................... 191

7.2.5 Empreendedorismo social – glossário de termos mais importantes

(proposta do instituto para empreendedores sociais, EUA).................. 194

7.2.6 A diferença entre empreendedorismo de negócios e sociais e

organizações sociais tradicionais e empreendedoras.......................... 195

7.2.7 Diversidade de entendimento sobre empreendedorismo social............ 197

7.3 Síntese da visão internacional sobre empreendedorismo social....................... 200

8 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL: SIGNIFICADO,CARACTERIZAÇÃO E ATUAL CONFIGURAÇÃO....................... 202

8.1 As primeiras pistas........................................................................................... 202

8.2 A construção do mosaico de conceitos e termos chaves sobre

empreendedorismo social............................................................................... 205

8.2.1 A trilogia de Melo Neto e Fróes........................................................... 204

8.2.1.1 Primeira obra: Responsabilidade social & cidadania

empresarial: a administração do Terceiro Setor....................... 207

8.2.1.2 Segunda obra: Gestão da responsabilidade social corporativa: o

caso brasileiro............................................................................. 208

8.2.1.3 Terceira obra: Empreendedorismo social: a transição para a

sociedade sustentável................................................................. 212

8.2.2 Síntese da trilogia de Melo Neto e Fróes............................................ 230

8.3 Empreendedorismo social na mídia.................................................................. 233

8.4 Espaços de produção e reprodução do conceito e da prática do

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empreendedorismo social.............................................................................. 239

8.4.1 Análise do quadro................................................................................. 242

8.4.2 Grau de disseminação indireta.............................................................. 243

8.4.3 Grau de disseminação direta e indireta................................................. 250

8.4.4 Grau de disseminação direta................................................................. 255

8.5 O caso do Instituto Academia de Desenvolvimento Social............................ 255

8.5.1 História................................................................................................. 255

8.5.2 Primeiro texto: O que é empreendedorismo......................................... 261

8.5.3 Segundo texto: O empreendedorismo social........................................ 262

8.5.4 Terceiro texto: Seleção dos empreendedores sociais............................ 270

9 – CASO DA ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS - ESCRITÓRIO DESÃO PAULO/BRASIL.......................................................................... 274

9.1 Antecedentes do estudo: avanços, retrocessos e novas trilhas......................... 274

9.2 Novos rumos, novas estratégias........................................................................ 280

9.3 Os limites e possibilidades da informação qualitativa..................................... 281

9.4 Histórico da Ashoka......................................................................................... 283

9.5 Formatação e organização................................................................................ 284

9.6 Estratégias de ação............................................................................................ 286

9.7 Apoio e capacitação dos fellows....................................................................... 287

9.8 Exemplos de fellows que ganham projeção e causam impacto nacional e

internacional................................................................................................... 290

9.8.1 Modelo exportação............................................................................... 291

9.8.2 Modelos nacionais................................................................................ 293

9.9 Novos fellows 2003, perfil e exemplificação.................................................... 300

9.10 Divulgação e informação................................................................................ 304

9.11 Principais conceitos e princípios sobre empreendedorismo social................. 305

9.11.1 Lucro social......................................................................................... 305

9.11.2 Capital de risco social......................................................................... 306

9.11.3 Perfil dos empreendedores sociais...................................................... 307

9.11.4 Terceiro Setor engajado diferente da caridade religiosa..................... 308

9.11.5 O voluntariado no Terceiro Setor sendo substituído pelo

empreendedorismo social............................................................... 308

9.11.6 O empreendedorismo social como carreira profissional.................... 308

9.11.7 O que é empreendedorismo social?.................................................... 309

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9.11.8 Empreendedorismo social como paradigma....................................... 309

9.11.9 O empreendedorismo social surge do crescimento do Terceiro Setor 309

9.11.10 Empreendedorismo social – participação e cidadania...................... 309

9.11.11 Integração entre os três setores......................................................... 310

9.11.12 O ciclo de vida dos empreendimentos sociais.................................. 311

9.11.13 Gestão de organização social e organização privada........................ 313

9.11.14 Plano de negócio social..................................................................... 315

9.11.15 Contribuição dos empreendedores sociais........................................ 321

9.11.16 Globalização, desenvolvimento local e espaços públicos................ 323

9.11.17 Vida, emoção, paixão e ética no desenvolvimento do trabalho do

empreendedor social......................................................................... 324

9.12 A percepção dos fellows................................................................................. 326

9.12.1 Análise – Bloco A............................................................................... 327

9.12.2 Síntese – Bloco A............................................................................... 335

9.12.3 Análise – Bloco B............................................................................... 337

9.12.4 Síntese – Bloco B................................................................................ 345

9.12.5 Análise – Bloco C............................................................................... 349

9.12.6 Síntese – Bloco C................................................................................ 352

10 – ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO LUA NOVA – SOROCABA-SP................................................................................................................ 357

10.1 História e contextualização............................................................................. 357

10.2 Formatação e organização.............................................................................. 359

10.2.1 Planejamento....................................................................................... 360

10.2.2 Organização........................................................................................ 362

10.2.3 Direção................................................................................................ 366

10.2.4 Controle.............................................................................................. 367

10.2.5 Síntese da formatação organizacional da Lua Nova........................... 368

10.3 Percepção de quem está no processo.............................................................. 369

10.3.1 Relato da visita e aplicação de técnicas de grupo local...................... 370

10.3.2 Análise do questionário semi-estruturado.......................................... 372

10.3.2.1 Sobre o questionário.................................................................. 373

10.3.2.2 Análise do Bloco A.................................................................... 374

10.3.2.3 Análise do Bloco B.................................................................... 376

10.3.2.4 Análise do Bloco C.................................................................... 384

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10.4 Síntese do estudo de caso da Lua Nova.......................................................... 397

TERCEIRA PARTE: A GUISA DE ELEMENTOS CONCLUSIVOS,PERSPECTIVAS E PROPOSIÇÕES........................... 399

11 – PRINCIPAIS CONSTATAÇÕES SOBRE AS ORIGENS, SIGNIFICADOS ECARACTERIZAÇÃO DOS FUNDAMENTOS E DASESTRATÉGIAS DO EMPREENDEDORISMOSOCIAL............................................... 399

11.1 Refazendo o trajeto de investigação e construção do conhecimento.............. 400

11.2 Estratégias de reconstrução............................................................................ 404

11.3 As principais constatações sobre o empreendedorismo social no Brasil........ 406

11.3.1 O que é empreendedorismo social?................................................ 406

11.3.2 Qual é o seu papel e o objetivo?..................................................... 408

11.3.3. Qual perfil desejado? ................................................................... 411

11.3.4 Principais autores........................................................................... 413

11.3.5 Principais conceitos e teorias......................................................... 414

11.3.6 Elementos gnosiológicos e antológicos......................................... 415

11.3.7 Elementos epistemológicos, metodológicos e estratégias............. 417

11.3.8 Tipologia do empreendedorismo social......................................... 418

11.3.9 Palavras chaves de maior freqüência no vocabulário do

empreendedorismo social............................................................ 419

11.3.10 As dez palavras mais citadas no empreendedorismo social......... 420

11.4 Similitudes e ambivalências do empreendedorismo social no Brasil – a

proposta da Ashoka....................................................................................... 421

11.4.1 O que estamos entendendo por similitudes e ambivalências........ 422

11.4.2 Serviço Social e empreendedorismo social como profissão – a

origem da questão das similitudes e das ambivalências.............. 422

11.4.3 A diferença entre uma atividade e uma profissão........................ 427

11.4.4 Síntese histórica do surgimento do Serviço Social e do

empreendedorismo social............................................................ 428

11.4.5 Síntese das características entre profissão e atividade e das

similitudes e ambivalências entre Serviço Social e

Empreendedorismo Social.......................................................... 440

12 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL: AFINAL, DE QUE SETRATA? ........................................................................................... 443

12.1 Verificação da hipótese da tese...................................................................... 443

12.2 Do que não se trata o empreendedorismo social no Brasil?........................... 447

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12.3 Do que se trata o empreendedorismo social no Brasil?.................................. 448

12.3.1 É um paradigma............................................................................. 448

12.3.2 É um processo................................................................................ 449

12.3.3 É uma ciência e uma arte............................................................... 450

12.3.4 É um estilo de inovação em tecnologia e gestão social................. 458

12.3.5 Tem como principal objetivo........................................................ 459

12.3.6 Apresenta o seguinte perfil............................................................ 460

12.3.7 Usa as seguintes e principais estratégias....................................... 460

12.3.8 Apresenta os seguintes e principais valores e pressupostos.......... 461

12.3.9 Tem uma metodologia e um processo de trabalho inovador......... 461

13 – PERSPECTIVAS – DESAFIOS, LIMITES E POSSIBILIDADES DOEMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL............................... 463

13.1 Dos desafios.................................................................................................... 463

13.1.1 Capital social................................................................................. 463

13.1.2 Pobreza perceptiva....................................................................... 463

13.1.3 Empoderamento............................................................................ 464

13.2 Dos limites e das possibilidades – qualidade política e social........................ 464

13.3 Das proposições possíveis e necessárias......................................................... 467

13.4 Como esta proposta poderá ser colocada em prática?.................................... 471

CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................... 473

BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................... 477

ANEXO A................................................................................................................... 492

ANEXO B.................................................................................................................... 511

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INTRODUÇÃO

Findando o século XX e iniciando o século XXI, deparamo-nos com uma

diversidade de acontecimentos que marcaram e estão marcando este momento histórico.

Um deles é, sem dúvida, a globalização como um dos fenômenos mais marcantes deste

último século, resultante das mudanças do capitalismo moderno. Sua configuração é

paradoxal, pois ao mesmo tempo em que há que os avanços tecnológicos, aliados aos

avanços das informações e produção abundante de conhecimento, deparamo-nos com

níveis sociais e humanos os mais baixos e alarmantes de toda a história. O próprio sistema

capitalista, causador desses impactos, não consegue dar respostas eficientes e eficazes.

Neste sentido, constatamos que as teorias e alardes neoliberais de que o mercado

por si só resolveria tudo caem por terra, pois a economia cresceu, mas ficou na mão de

poucos (Cf. KLISKNBER, 2000). As exigências do mercado, tanto comercial, como do

trabalho, são crescentes, mas poucas são as condições que possibilitam a inclusão de uma

grande parte da humanidade, que, historicamente, esta excluída do acesso a bens e

serviços sociais necessários à sua sobrevivência.

A reestruturação produtiva, a globalização da pobreza (Cf. CHOSSUDOVSKY,

1999) a exclusão social, o subdesenvolvimentismo são marcas paradoxais desse processo

(Cf. DEMO, 2001), que, na atualidade, alcança níveis insuportáveis, seja pela

intransigência de organismos internacionais, tais como o FMI (Cf. KORTEN, 2001), seja

pela especulação financeira, seja pela lógica de mercado, que não valoriza a vida humana,

seja pelo desgoverno e falta de ética política; tudo isso faz com que novos manifestos

surjam por toda a parte do planeta, em contestação ao rumo atual da globalização.

A degradação do planeta, a falta de ações governamentais mais efetivas fazem

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com que diversos setores da sociedade se manifestem, cada qual com seus ideais e

objetivos. Alguns velhos, mas contextualizados, outros novos e diversificados, mas todos

com um propósito fixo: dizer não à lógica que vem predominando, a uma hegemonia

neoliberal que globaliza a pobreza e concentra a riqueza, em que vários meios, não só

políticos e econômicos, são usados para fabricar, não só a pobreza estrutural, mas a

política e a alienação total através de um espírito consumista e da superficialidade da

vida, o que é transferido para as relações humanas e sociais (Cf. MANFESOLI, 1997).

A pobreza, neste processo, é a expressão mais concreta do fracasso de qualquer

que seja o projeto de sociedade e, aqui, não resta dúvida de que o capitalismo não venceu

o comunismo, e que não há perdedores, pois tanto um como outro não conseguiram dar

diferença quanto aos aspectos de liberdade, emancipação e humanização das relações e

gestão humano-social.

O fato concreto é a pobreza encarna o que há de mais desprezível e repugnante do

sistema social humano, pois permite que seres da mesma espécie estejam em condições

de subvida e subsistência, enquanto uma minoria goza de uma vida de abundância e

regalia.

Esta constatação faz com que novos sujeitos, formas e ações se apresentem como

alternativas emergentes contra o atual sistema e gestão da vida em sociedade, inclusive e,

em específico, o empreendedorismo social. Isso porque a injustiça, a exclusão social e o

fracasso do desenvolvimento social estão desafiando a raça humana, para buscar uma

nova forma de viver em sociedade já não só pensado em si e em seu território, mas na

totalidade da vida no planeta, e que começa, paradoxalmente, em nosso quintal, em nossa

vida.

O local e o global, o coletivo e o individual, o uno e o múltiplo estão interligados,

não é possível ter uma visão de totalidade, nem querer intervir para transformar a

realidade, se não for observada a complexidade destes múltiplos fenômenos.

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Desta forma, é que consideramos o nosso objeto de investigação, o surgimento,

significado e caracterização do empreendedorismo social como um fenômeno que surge

em meio a este contexto paradoxal, por um lado, há as múltiplas expressões dos impactos

da globalização; por outro as ações de enfrentamento da pobreza. Este cenário que marca

a expressão contraditória tem provocado a inquietação e ações de diversos grupos, tanto

para libertação e emancipação social, como para controle e manutenção do status quo.

Neste sentido, centramos nossa atenção nas várias propostas de enfrentamento da

pobreza. Neste cenário, dos múltiplos impactos da globalização, com especial ênfase

investigativa, no estudo do empreendedorismo social, no Brasil, a partir dos anos 90,

partindo da hipótese de que o empreendedorismo social emerge como uma destas ações e

com grande potencial de provocar emancipação social, democracia e cidadania e, enfim, o

desenvolvimento humano. Ingredientes estes necessários para um desenvolvimento social

e econômico sustentável, que privilegie a articulação do desenvolvimento humano, social

e não só o econômico, como historicamente se tem feito.

A curiosidade de investigar o presente tema advém de nossa prática profissional,

seja como professor, consultor, palestrante, conferencista e como voluntário junto a

organizações, tanto públicas, como privadas e da sociedade civil que, doravante usarei o

termo Terceiro Setor, por julgar um termo de maior consenso, o que não significa mais

adequado, pois o fato é polêmico, mas a despeito desta polêmica é o termo mais usual, o

qual usarei várias vezes ao longo deste trabalho e, no devido momento, estaremos

analisando esta controvérsia, pois a mesma faz parte de nossa investigação. Esta, por sua

vez, surge de nossa observação cotidiana, face aos impactos recentes dos processos da

globalização mundial e das transformações sofridas ao longo da recente década de 90, que

finda o século XX e abre as portas do limiar do século XXI.

É neste cenário conturbado por grandes descobertas e expansão de muitas

descobertas e invenções, tais como o genoma, a internet, a clonagem, entre tantos outros,

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que também trazem em seu bojo a constatação do desmatamento, do esgotamento das

reservas naturais, da poluição desenfreada, da queda do muro de Berlim, da abertura dos

países da chamada cortina de ferro, da crise do comunismo e do capitalismo, do fim da

guerra fria, o início da guerra morna e da eclosão das guerras, não só interesses

territoriais, mas étnicos, financeiros, do crescimento do terrorismo, da violência do

desemprego, etc, etc.

A lista é enorme, os acontecimentos também. Mas, ao mesmo tempo, em que

observamos e sentimos os impactos deste processo e desses acontecimentos, o nosso dia

se apresenta cheio de desafios, tanto pela própria sobrevivência como pela luta de

contribuir para reverter esta situação, que não se limita aos aspectos socioeconômicos,

mas de comportamento, sentimentos de prioridades, o que implica em percepção do

mundo e da vida, e que também são alterados profundamente, sob os ditames de um

processo onde uma das indústrias que mais crescem é a do entretenimento. Quase tudo se

torna entretenimento, inclusive a pobreza e a miséria, como mostra uma reportagem da

Folha de São Paulo, intitulada “Favela vira atração em novo parque americano” (Cf.

COELHO, 2003), “Depois de cenário de filmes e decoração de bares da moda, favela

agora é atração de parque temático nos Estados Unidos.”

Face a isto, vemos outros fenômenos ocorrerem, entre eles, o crescimento do

Terceiro Setor, que tem na década de 90 o seu ápice, tanto em relação à quantidade, como

à qualidade de sua importância e controvérsia no cenário paradoxal, em que o governo,

eivado por falácias neoliberais, afasta-se de seu principal papel, que é cuidar da coisa

pública, e deixa um espaço enorme entre as necessidades dos cidadãos excluídos e a

capacidade governamental de agir frente a estas demandas.

Outro fator que paralelamente surge é a intervenção de empresas privadas no

campo público, gerando não só mudanças, mas também controvérsias quanto ao

enfrentamento das questões sociais. O que se observa também, neste contexto, é que, na

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mesma medida em que crescem as demandas de resolução das questões sociais, também

crescem as organizações sociais em busca de verbas para dar conta de suas tarefas.

Crescimento de organizações, diminuição do investimento e fontes de

financiamento geram, o que Tenório chama de “espectro do mercado” que começa a

rondar o Terceiro Setor (Cf. TENÓRIO, 1999), ou seja, assim como entre as empresas, as

organizações do Terceiro Setor começam a buscar novas formas de melhoria de sua

gestão para conseguir atrair mais investimento para suas causas.

Esta equação começou a nos chamar a atenção, a partir de nossa própria vivência,

principalmente, como representante da universidade em que trabalhamos1 no Conselho

Municipal de Assistência Social de Toledo, e fazíamos parte de uma comissão técnica,

além do trabalho como voluntário, em uma organização sem fins lucrativos da cidade, a

Aldeia Infantil Betesda, que mantém uma creche e um centro de atividades ocupacionais

para jovens.

Particularmente, começamos a ter os primeiros contatos quando colaboramos na

preparação da inscrição da creche em um concurso promovido pela Ashoka

Empreendedores Sociais e a McKinsey Co., no ano de 2000. Anterior a este momento, já

havíamos nos aproximado do tema, através de outros trabalhos, entre eles de uma aluna

do curso de Serviço Social, do quarto e último ano, que elaborou neste mesmo ano um

Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) sobre Gestão de Pessoas em Organizações do

Terceiro Setor, que culminou, num artigo (Cf. OLIVEIRA e LAUTERT, 2000)

apresentado em um seminário em São Leopoldo-RS, na Unisinos, sobre gestão de

organizações do Terceiro Setor. Por este tema por diversos seguimentos, tanto

acadêmicos, como governamentais e privados. O que culmina, como indicamos, na

ampliação de conceitos e práticas de responsabilidade social empresarial, investimento

social, filantropia de auto-rendimento e da necessidade de profissionalização dos

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profissionais e das organizações do Terceiro Setor, em específico dos voluntários para os

quais a utilização de técnicas e processos de gestão empresarial são adaptados para o

campo social.

Isso é o que, por exemplo, a Ashoka e a McKinsey estão fazendo, tanto através da

seleção de empreendedores sociais, chamados por eles de fellows (companheiros em

inglês), como através de cursos e concursos, como o que tivemos a oportunidade de

participar por duas vezes (2001 e 2002), e que têm como propósito, como é visto no site

da Ashoka, concretizar a sua missão, “estimular a profissão de empreendedor social”.

Vamos mostrar ao longo de nossa explanação que a Ashoka aplica em sua lógica

exatamente a perspectiva empresarial, e não poderia ser por menos. Seu fundador, o

norte-americano Draytonn, é um ex-consultor da McKinsey Co., dos Estados Unidos, que

inspirado em sua experiência profissional em gestão empresarial estratégica criou a

Ashoka.

Controvérsias e polêmicas à parte, o fato é que este chamado Terceiro Setor, em

conjunto com a intervenção das empresas privadas, iniciou um modo diferente de

trabalhar e intervir no campo social, onde é perceptível a transferência de uma lógica

empresarial e de mercado para o campo social para resolução de problemas sociais,

procurando superar a mesmice dos projetos sociais tradicionais, tanto governamentais

como filantrópicos e de caridade, que criam mais a manutenção do que a emancipação e o

desenvolvimento social.

Exemplo disto, recentemente, na revista Forbes Brasil, uma versão Brasileira da

Forbes norte-americana, (Cf. DOLAN, 2003), especializada em assuntos empresarias e de

mercado, mostrado este grau de transferência da lógica empresarial para o campo social.

Referimo-nos ao exemplo do empresário Lynn Fritz, herdeiro de uma grande empresa de

logística com sede em São Francisco, EUA, que investiu UU$ 4 milhões em uma

1 Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Toledo. Curso de Serviço Social.

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organização que aplica os conhecimentos empresarias e de empreendedorismo no campo

social, em específico ao socorro de vitimas de calamidades, como terremotos, inundações

e guerras.

Seu trabalho faz com que organizações, como a Cruz Vermelha, melhorem seu

trabalho de socorrer estas vitimas destas catástrofes humanas em tempo mais curto, o que,

segundo o empresário, “Má logística significa mais fome” (Cf DOLAN, 2003, p.58).

Como exemplo, cita o processo de compra de material que em um processo burocratizado

pode demorar mais tempo e atrasar o auxílio a vitimas necessitadas. Com o trabalho de

Fritz, através de um software desenvolvido pelo Instituto Fritz (Cf.

www.fritsinstitute.org), “a geração desses pedidos pode levar apenas alguns minutos” (Cf.

DOLAN, 2003, p. 58).

Este exemplo é, sem dúvida, uma pequena parte do grande movimento que esta

relação está provocando, ou seja, as organizações do Terceiro Setor, em todo o mundo em

geral e, no Brasil em específico, estão sendo concebidas como empreendedorismo social.

Além destes fatos, sendo um profissional de Serviço Social, inquieta-nos

profundamente um momento, em que vivemos na profissão, denominado crise de

materialidade (Cf. SERRA, 2000), ou seja, uma profissão, que surgiu há mais de 70 anos

no Brasil e há cem anos no mundo, tem todo um discurso e leitura da realidade bem

articulada, numa perspectiva crítica, mas não consegue propor efetivamente ações de

impacto social, que dêem à profissão um status profissional diferenciado do atual. E, de

repente, surge um fenômeno na atualidade, que é muito semelhante ao que justificou a

necessidade de criar um curso de Serviço Social aqui no Brasil em 1936, ou seja, a

profissionalização da caridade, a profissionalização e preparo técnico aos profissionais do

campo social, como afirma Yasbek,

finalmente, a 15 de fevereiro de 1936 inaugura-se sob essas influências aEscola de Serviço Social de São Paulo, que, conforme consta do Relatório doCentro de Estudos e Ação Social de 1936, tem como finalidade oferecer às

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organizações de assistência social em geral “um elemento imprescindível: aassistente social tecnicamente preparada. (YASBEK, 1980, p. 37) [grifonosso]

Em outras palavras, o contexto, as tendências circundantes, tanto de nossa vida

profissional como vida pessoal, estão imbricados ao tema investigado. O que suscitou

uma série de indagações, entre elas a principal: o empreendedorismo social é uma ação

emergente de combate à pobreza e exclusão social, que gera emancipação social e

desenvolvimento humano, ou é mais uma forma de dar manutenção ao status quo e

formas paliativas de gestão da pobreza? Sendo assim, qual é sua origem, seu verdadeiro

significado, compreensão e configuração na realidade Brasileira ?

Com estas indagações, desde o ano 2000, estamos rastreando os passos e as

marcas deste fenômeno. Assim, após um perídio árduo e cotidiano de busca,

apresentamos o resultado de nossa investigação. Ele tem como principal objetivo levantar

dados e informações que possibilitem sistematizar este fenômeno e estabelecer

parâmetros de interpretação e conhecimento de seus fundamentos além das estratégias

que tornam este conceito e prática de intervenção social, marcantes e profundamente

instigantes. Nossa esperança é que este exercício redunde em conhecimento que seja

frutífero e que as reflexões, bem como as proposições sejam factíveis e possam alavancar

o interesse, não só teórico, mas também da práxis desta proposta que é o

empreendedorismo social.

Desta forma, o presente trabalho é apresentado em três partes. Na primeira,

apresentamos os elementos que consideramos referenciais quanto à concepção do fazer

científico, bem como as opções teóricas e metodológicas adotadas para esta investigação.

Procuramos também contextualizar o surgimento, a problematização e inserção do tema

no contexto atual, dando uma introdução e base da problematização e foco do objeto de

investigação.

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Na segunda parte, apresentamos o mapeamento do debate sobre o tema, bem

como o resultado da pesquisa bibliográfica e empírica sobre empreendedorismo social.

No primeiro, apresentamos os resultados básicos, as primeiras pistas sobre o

empreendedorismo social e suas principais características e fatos de sua origem. Isso para

melhor apresentação sobre a abrangência e profundidade do assunto. No segundo,

apresentamos uma visão internacional sobre o empreendedorismo social. Para melhor

analisarmos, estabelecemos as seguintes categorias: a) espaços de produção e reprodução

dos conceitos e práticas de empreendedorismo social, ou seja, organizações internacionais

de maior proeminência e que têm se destacado no cenário internacional; b) o mosaico de

conceitos, derivados de várias fontes; c) exemplos de projetos de empreendedorismo

social internacional. Finalizando esta parte, apresentamos uma síntese desta análise

internacional do empreendedorismo social.

É importante salientar que nossa intenção primeira não é realizar um estudo

comparativo sobre o empreendedorismo social internacional e o nacional, mas, conforme

estaremos melhor explicitando, a quantidade de dados internacionais que encontramos,

bem como a sua relação com a realidade nacional, levaram-nos a fazer esta apresentação.

Na seqüência, apresentamos a realidade Brasileira, seguindo em certa medida as

categorias de análise da primeira parte e, nesta, ampliamos os elementos estudados,

ficando assim as categorias de análise: a) as primeiras pistas; b) o mosaico de conceitos;

c) revisão da literatura a partir da trilogia de Melo Neto e Fróes, que são dois professores

do Rio de Janeiro que, nos últimos anos, escreveram três livros que enfocam a questão do

empreendedorismo social. Em específico, o último, lançado em 2002, foca mais esta

questão, mas a sua obra apresenta um conjunto que nos permite analisar a construção do

entendimento do empreendedorismo social no Brasil; d) empreendedorismo social na

mídia, onde apresentamos a análise de duas fontes: revistas e jornais que focam o

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empreendedorismo social; e) produção acadêmica, onde apresentamos o levantamento

sobre teses e dissertações, e artigos sobre o tema empreendedorismo social; f) espaços de

produção e reprodução dos conceitos e práticas do empreendedorismo social

apresentando as principais organizações que apresentam características dos conceitos e

práticas, as mesmas são apresentadas em três categorias: grau de disseminação indireta,

grau de disseminação direta e indireta e grau de disseminação direta.

Neste último bloco, são apresentadas duas em específico, A Academia de

Desenvolvimento Social de Recife a Ashoka, de São Paulo. Destas, a que melhor tem

aprofundando, tanto o conceito como a prática de empreendedorismo social, é a Ashoka.

Desta forma, vamos afunilar a apresentação da Ashoka, seguindo a seguinte

caracterização: 1) antecedentes à pesquisa; 2) novos rumos e novas estratégias; 3)

História; 4) formatação; 5) exemplos de empreendedores sociais da Ashoka; 6)

divulgação e comunicação; 7) principais conceitos e princípios sobre empreendedorismo

social da Ashoka; 8) a percepção dos empreendedores da Ashoka (uma amostra); 9)

impactos da ação da Ashoka, o estudo de caso da LUA NOVA.

Para melhor aprofundar o estudo de caso, apresentamas o resultado da pesquisa

junto a esta ONG de Sorocaba-SP, que foi uma das empreendedoras da Ashoka,

entrevistas.

Nesta ONG, seguimos em certa medida as mesmas categorias de análise: 1)

antecedentes; 2) história; 3) formatação e organização; 4) percepção de quem está no

processo, onde apresentamos a análise de entrevistas, e do questionário aplicado,

dinâmica de grupo focal e de fotos e gravações que foram realizadas na pesquisa de

campo.

Finalizando esta parte e, a partir do que foi apresentado até aí da investigação,

apresentamos alguns elementos críticos quanto ao que estamos denominando de

similitudes e ambivalências do empreendedorismo social brasileiro, ou seja, nossa análise

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nos permitiu constatar que o empreendedorismo social está, via de regra, associado a

outras categorias, o que apresenta certa similitude; mas, uma melhor análise, nos revela a

sua ambivalência.

Escolhemos uma das várias categorias que apresentam esta relação, o Serviço

Social, principalmente pela proposta da Ashoka em “promover a profissão de

empreendedor social”, discurso muito semelhante ao que foi defendido por pessoas

ligadas à igreja católica, na década de 30, aqui no Brasil, e que justificava a necessidade

de profissionalização das pessoas que trabalham no campo social, propostas até

semelhantes mas com caminhos e perspectivas diferentes (ambivalência).

No sexto item do segundo capítulo, a partir da exposição dos fatos, dados e

conotações dos demais itens, apresentamos a síntese sobre as origens, significados,

caracterização dos fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social.

A terceira parte deste trabalho, foi reservado para apresentar o que denominamos

de guisa de elementos conclusivos e propositivos. Nele apresentamos a reflexão final

sobre os dados apresentados nos itens anteriores, bem como a partir da hipótese

formulada quais as principais conclusões tiradas com nossa investigação.

Tal reflexão e conjunto de elementos nos permitiram formular algumas assertivas

quanto ao que é empreendedorismo social no Brasil, bem como delinear o que

acreditamos ser as possibilidades e limites do empreendedorismo social, frente ao desafio

do desenvolvimento humano e da emancipação social.

Tal reflexão e aprofundamento no assunto, frente a nossa proposta inicial,

permitiu-nos formular algumas propostas sobre o tema e a destinação possível do

conhecimento gerado em nossa investigação, o que apresentamos em uma seção final

como forma propositiva.

Fazemos algumas considerações finais e concluímos o trabalho com o qual

esperamos estar contribuindo de forma significativa com a sistematização sobre o

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assunto. Desde já, assumimos os limites e falhas do presente estudo, considerando que

dada a complexidade do assunto, temos a convicção, e isso não é falsa modéstia, de que

ainda há muito por pesquisar, e construir, tanto na teoria, como na prática do

empreendedorismo social.

Mas algumas certezas ficaram marcadas profundamente nesta experiência:

aventura de investigar o empreendedorismo social, novos sujeitos, novas ações, novos

modos de associação e agir interventivo estão se formando a cada dia. Novos horizontes

são criados na mesma proporção dos desafios, mas cremos que há esperança para o

homem olhar para si e o seu próximo e buscar com humildade e humanidade caminhos

mais justos, dignos e, sobretudo, emancipatórios e efetivos quanto à eliminação da

desigualdade, exclusão e pobreza em suas múltiplas expressões. Diante disso, pensamos

como Rubem Alves, “...mais belo o risco ao lado da esperança que a certeza ao lado

de um universo frio e sem sentido.” (ALVES, 1984 p. 126). [grifo nosso] 2

Muita paz e prosperidade a todos.

2 ALVES, Rubem. O suspiro dos oprimidos. Rio de Janeiro: Vozes, 1984.

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PRIMEIRA PARTE: A GUISA DE ELEMENTOS REFERENCIAS,CONTEXTUALIZAÇÃO, PROBLEMATIZAÇÃO EMETODOLOGIA DE INVESTIGAÇÃO

1 - O FAZER CIÊNCIA E O VIVER COTIDIANO

Gostaríamos, inicialmente, de deixar claro que não pretendemos esgotar e nem,

necessariamente, polemizar o assunto mesmo porque não é ele o nosso objeto de estudo.

Principalmente porque no meio acadêmico e científico, sempre suscitam discussões

infindáveis. Elas são, em sua maioria, infrutíferas e estéreis para a vida cotidiana.

Queremos, nesse sentido, privilegiar e salientar o que entendemos na atualidade

como ciência e conhecimento científico e, com isso, dar base e justificativa para as

escolhas teóricas e metodológicas que fizemos para realização desta pesquisa. Atendemos

assim as exigências acadêmicas do chamado rigor científico, com o qual não

concordamos na íntegra, pois mais serve, às vezes, para inibir do que para ampliar a

esfera do conhecimento. Referimo-nos não à qualidade técnica e rigor teórico, de

aprofundamento e embasamento científico, referimo-nos especificadamente ao que

chamamos de ditadura do método ou da teoria, onde abordagens diferenciadas têm

dificuldades em serem aceitas, tal realidade é contundente, mas real, principalmente no

Serviço Social, onde, com raras exceções, encontramos o verdadeiro pluralismo e respeito

às diferenças.

Creio este ter sido um dos principais problemas enfrentados ao longo de nossa

investigação, pois não optamos na totalidade por uma linha chamada hegemônica no

Serviço Social, a do materialismo histórico dialético em Marx. Nem tampouco nos

sentimos confortáveis em abordagens que venham a escamotear elementos efetivos que

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nos permitem fazer uma abordagem crítica e muito menos a elaboração de uma ação

criativa. Procuramos assim abordar de forma crítica, mas com uma perspectiva que

possibilite apontar ações propositivas, frente ao objeto de estudo proposto. E porque isso?

Exatamente é o que procuramos salientar nesta parte introdutória do trabalho.

O conhecimento científico, em nossa concepção, não pode mais se dar ao luxo de

elaborar “conhecimento” para si, ou para um grupo específico, no caso, a academia,

conhecimento é coisa viva e pública, deve ser criado para dar vida, para se fazer entender.

Tal percepção e compreensão são de suma importância para deixarmos claro, desde o

início, uma melhor compreensão do desenho e base do quadro referencial teórico e

metodológico que optamos. Procuramos a seguir diferenciar o fazer ciência num modo

clássico (de tipo newtoniano) e o fazer ciência num modo moderno-contextualizado

(atual, não positivista, anti-cardesiano) e, na seqüência, propor uma concepção

contextualizada de fazer ciência hoje, relacionando o viver cotidiano como categoria vital

do viver em sociedade hoje no cenário do século XXI .

1.1 Conhecimento científico no século XXI – ciência clássica e ciênciamoderna-contextualizada

1.1.1 Ciência Clássica

Por ciência clássica, entendemos a compreensão da ciência como coisa formal,

sisuda, restritiva e legalista. Trata-se de tipo de ciência que até pouco tempo permeou (e

tem permeado) a vida científica, cultural, educacional e social de nossa sociedade. É a

ciência que só considera o provável, o testado e o experimentado.

Em uma brilhante análise, Carvalho (1995, p. 7), define bem as principais críticas

a respeito deste tipo de ciência, destaca os seguintes pontos: Pretensão de padronização;

restrição ao domínio cognitivo, excluindo a emoção, paixão, imaginação e a intenção;

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restrição à lógica do universal, negando como científico o particular, o acaso, o

fragmentado e o inédito; perspectiva determinística sobre a operacionalização de leis,

regularidades, onde o improvável, o acaso e o imprevisível não tinham vez; pretensão de

prever acontecimentos e controle.

É inegável que tal modelo de ciência teve, apesar desses pontos, o seu mérito,

principalmente no desenvolvimento de que o conhecimento científico não pode fugir e

abrir mão de certa lógica e organicidade formal. (Cf. DEMO, 2001).

Nesta perspectiva, Ruiz (1991) explicita bem esta diferença que, no momento, é

oportuno salientar:

a palavra ciência pode ser assumida em duas acepções: em sentido duplo,ciência significa simplesmente conhecimento, como na expressão tomar ciênciadisto ou daquilo; em sentido restrito, ciência não significa um conhecimentoqualquer, e sim um conhecimento que não só se aprende ou registra fatos, mastambém os demonstra pelas suas causas determinantes ou constitutivas. (RUIZ,1991, p. 129)

Desta forma, podemos verificar que a ciência clássica apresenta, por um lado, a

formatação justa e necessária para distinguir o conhecimento científico de outros tipos,

por outro, restringe e limita, através de esquemas metódicos uma maior amplitude da

realidade humana. Nesta perspectiva, Galliano (1979) aponta as seguintes características

do conhecimento científico clássico e, portanto, do fazer ciência:

transcender os fatos; é analítico; requer exatidão e clareza; comunicável; éverificável; depende de investigação metódica; é sistemática; busca aplicarleis; é explicativa; pode fazer predições; é aberto; é útil. (GALLIANO, 1979,p. 23) [grifo nosso]

Esta descrição aponta para o que inicialmente destacamos como ciência clássica, a

que em si contém não só elementos positivos (comunicável, aberta, útil, etc.) mas também

restritiva (requer exatidão, busca e aplica leis, pode fazer predições). A limitação deste

tipo de ciência, frente à complexidade do mundo atual, é fortemente criticada na

atualidade, principalmente no campo das ciências sociais e humanas. A este respeito,

Demo (1997, p. 45) salienta o seguinte:

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parece cada vez mais consolidada a percepção de que a realidade apresenta- secomo algo marcado pela imprecisão, não como defeito, mas como modo de ser.A idéia já anteriormente reconhecida de que o real é complexo foiconsideravelmente ampliada para a idéia de que o real não é somentecomplexo, mas impreciso. A diferença está em que, antes, pensávamos que acomplexidade servia mais da ordem da aparência, como quis, por exemplo, oestruturalismo francês (Levi-Strauss). Agora achamos que, por mais quepossamos aprofundar a análise, decompondo a complexidade em seuscomponentes mínimos, o que encontramos não é algo simples, mas ao mesmotempo complexo e impreciso.

Este é, sem dúvida, o ponto de colapso que desencadeou o que tem sido chamado

de crise de paradigmas. Modo de construção, apreensão do conhecimento da realidade

que foram criados em um determinado contexto e momento histórico e que, na atualidade,

face à complexidade da vida pós-moderna, não conseguem mais dar conta dessa tarefa

com um modelo de ciência que dê ênfase a precisa e previsibilidade. Morin (1991, p. 16),

chama isto de “patologia do saber e inteligência cega”.

Patologia, pois a persistência em uma postura clássica, em uma realidade

complexa, torna-se cega e, portanto, sem condição de realmente ler, compreender e

intervir na realidade. “A inteligência cega destrói os conjuntos e as totalidades, isola todos

os objetos à sua volta. Não pode conceber o elo inseparável entre o observador e a coisa

observada. As realidades chaves são desintegradas.” (MORIN, 1991, p. 17).

Devemos então buscar um olhar mais adequado ao complexo, correndo o risco de

mutilarmos o fazer ciência, como adverte Morin:

o meu propósito não é enumerar aqui os “mandamentos” do pensamentocomplexo que tentei libertar. É sensibilizar para as enormes carências que umpensamento mutilador conduz necessariamente a ações mutiladoras. (MORIN,1991, p. 19) [grifo nosso]

A ciência tipo clássica, em uma conjuntura, contexto e questões complexas, como

a do enfrentamento da pobreza em um mundo globalizado na atualidade, torna-se inviável

e inadequada. Novos atores surgem com discursos e intenções antigas, exemplo, os

empresários em relação à pobreza, à inclusão social, à cidadania. As organizações do

Terceiro Setor e o papel do Estado e da sociedade civil. Não é possível só afirmar que

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isso é uma nova roupagem do sistema capitalista para explorar o trabalhador (Cf.

MONTAÑO, 2002). Cremos que há muito mais envolvido nesse processo, o que também

vale para o tema que nos propomos investigar, o empreendedorismo social.

Para compreender o complexo é preciso que primeiro haja a simplificação e isso

passa por um procedimento que primeiramente é de desconstrução da realidade para

depois construir, de modo mais fácil e simples, o que possibilita o conhecimento da

validade e, portanto, viabiliza uma ação efetiva de intervenção sobre esta realidade. Esta

perspectiva deve ser perseguida principalmente, por profissões como o Serviço Social que

até se propõe a construir conhecimento em sua prática, mas não só para teorizar, mas

também substancialmente para intervir.

Como salienta Demo (1996, p. 50)

...ciência procede por simplificação, já que explicar coincide,pelo menos naintenção, com simplificar. A complexidade para ser compreendida precisa seranalisada, ou seja, debulhada em suas partes porque entendemos melhor o que émais simples.

Diante dessa distinção da ciência clássica, vemos que falar em ciência hoje requer

a superação de um grande desafio, conforme aponta Demo (1996, p. 51) “Temos, assim,

diante de nós um desafio metodológico: combinar a pretensão formalizante da ciência

com a imprecisão da realidade” (grifo nosso).

Logo, um primeiro esforço é entender e praticar o fazer ciência e produzir

conhecimento de modo mais contextualizado, dinâmico, crítico, mas sobretudo, criativo,

interventivo, transformador da realidade cotidiana. A essa perspectiva chamamos de

Ciência Moderna-Contextualizada, como procuramos melhor explicitar a seguir.

1.1.2 Ciência Moderna-Contextualizada

O que estamos entendendo como ciência moderna-contextualizada? Se a ciência

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classificada se fecha e restringe em vários aspectos particulares à realidade, e que são

parte da realidade; a ciência, ou o modo de produzir conhecimento que estamos

chamando de moderna-contextualizada, é aberta, principalmente a estes aspectos. A este

respeito, afirma Prigogine:

durante muito, o caráter absoluto dos enunciados científicos foi consideradocomo um sinal de racionalidade universal; neste caso, a universalidade serianegação e superação de toda particularidade cultural. Pensamos que a nossaciência se abrirá ao universal, logo que cesse de negar, de se pretender [...] àspreocupações e interrogações das sociedades no seio das quais se desenvolve,no momento em que for, finalmente, capaz de um diálogo com a natureza, daqual saberá apreciar os múltiplos encantos, e, com os homens de todas asculturas, cujas questões ela saberá no futuro respeitar. (PRIGOGINE, 1994, p.14)

O autor dá várias pistas do que entendemos como ciência moderna-

contextualizada, ou seja, uma ciência que de fato se abre, que respeite, que seja sensível,

que supere as diferenças não como erro, mas como parte de um todo e que, enfim, dialoga

com a vida.

Ciência moderna-contextualizada é ciência feita com vida e para a vida, como

salienta Carvalho, frente à tendência atual de buscar e resgatar a relação dialética entre o

geral e o particular.

...combinar o universal com o particular. Isso é essencial ao pensamentodialético. Temos que, em um mundo que se universalizou, falar de tal maneiraque se descubra critérios comuns, gerais. Mas esses critérios também têm quedar conta daquilo que se chama de diferente, de particular. Os critérios éticosuniversais não podem ser nivelados. O interesse na reflexão contemporânea éque ela tenta justamente a superação desse problema dicotômico entreparticular e universal. Não se pode ver unicamente o particular, que se tornainaceitável em um mundo que se fez universal, ou se enxergar o puramenteuniversal, que não dá conta das diferenças e das riquezas culturais. Isto ébásico: conciliar o individual com o coletivo. Pensar o universal e o particularjuntos é um dos desafios contemporâneos. (CARVALHO, 1995, p. 24) [grifonosso]

Portanto a ciência moderna-contextualizada deve trabalhar essa perspectiva da

realidade complexa e contextualizada, considerando as particularidades do atual contexto

e vida cotidiana, a partir dessa compreensão de que se deve valorizar o particular, o uno, o

fragmento, o hoje e o agora, o nosso tempo. O que não significa abandonar a história, mas

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sim não se apegar só aos paradigmas clássicos, como se os mesmos fossem os únicos a

darem conta da realidade de hoje e do agora.

Por mais que nos esforcemos para entender à totalidade da realidade atual, ainda

assim, é patente o fato de não darmos conta desta tarefa por completo, e sim por

aproximação, por pistas. Podemos perceber que o máximo que conseguimos é a

constatação de que estamos sempre próximos dos fatos concretos do cotidiano do espaço

em que estamos inseridos, pois o mesmo muda a cada momento.

É nessa direção e espaço que encontramos as pistas, os vestígios, que devidamente

trabalhados, fornecem-nos informações do real e da realidade, é no viver cotidiano das

pessoas e das mudanças organizacionais e seus desdobramentos que podemos ir além da

aparência e do dado analisado. Tal importância é ressaltada por Carvalho (1995, p. 26),

“Parece-me que o pesquisador, ao trabalhar com o particular, com o micro, com o

pontual, constitui um caminho para recompor o cenário, a cena, o trama, a paisagem,

e, neste esforço, é que se produz o conhecimento científico”. [grifo nosso]

Nessa perspectiva, a ciência moderna-contextualizada dá maior ênfase ao

inesperado, ao improvável, ao falado, e ao que não é falado, ao silêncio, à imagem, ao

som. Foram por muito tempo excluídos, tidos como não “científicos”, o acaso, a intuição,

o imaginário e a percepção.

Daí decorre o crescente número e disseminação das ciências chamadas cognitivas,

e o modelo epistemológico indiciário /pictórico, abordado com maior propriedade pela

semiótica, onde os signos, as imagens, são informações ambientais que estabelecem uma

linguagem que se desenvolve no cotidiano da vida e que têm os seus significados (Cf.

FERRARA, 1993; SANTAELLA, 2002, SANTAELLA, 2001 e BAUER e GASKELL,

2002).

Entender a vida, as pessoas, encontrar alternativas é hoje necessário para

transformar o vivenciado, o que passa necessariamente por captar o percebido, pois em

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um mundo globalizado o que mais se atinge é a percepção da realidade e

conseguintemente o viver em sociedade.

Hoje, mais do que nunca, a imagem é a linguagem de maior disseminação e poder

de influência. Assistimos a uma verdadeira semiotização da vida, onde passamos, como

afirma Maffesoli (1996), da era do homo economicus (industrialização) para o homo

estethicus (imagem). É necessário não só ver o homem como ser de carências, como

também vítima do sistema, como um ente econômico, mas integral, complexo. Essa

necessidade de abordagem científica é reforçada por Carvalho:

o modelo epistomológico indiciário/semiótico, funda-se no saber venatório quese caracteriza pela capacidade de, a partir de dados, aparentementenegligenciáveis, remontar a uma realidade complexa não experimentáveldiretamente. (CARVALHO, 1995, p. 28)

Estes elementos básicos do que entendemos como ciência moderna-

contextualizada que se contrapõem à ciência clássica apresentam algumas características

fundamentais, tais como: a) é organizada e sistemática, mas não restritiva e dogmática; b)

é flexível, sensível e atenta ao improvável, ao inédito, uno e múltiplo da realidade; c) vê o

complexo a partir de uma perspectiva integrada e articulada com o todo, procura, desta

forma, desconstruir para simplificar e compreender; d) é plural e interdisciplinar,

comporta o diálogo e o pensar com outros olhares, considera o diferente como parceiro e

não como inimigo; e) permite o conhecer contínuo, cria acessibilidade, produz e

possibilita o planejamento e proposição de intervenção na realidade; f) é inovadora e

transformadora da realidade, pois é aplicável, inteligível e operacional; g) é de

importância vital para a vida humano-social, respeita a vida e a relação com a natureza e

tudo que nela há; h) produz liberdade, democracia, cidadania e qualidade de vida.

Posto isso, concordamos com Demo (1996, p.177), quando afirma que

conhecimento moderno é um instrumento metodológico que possibilita a intervenção,

fator preponderante de uma ciência moderna-contextualizada, que não se limita a

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elucidações e devaneios intelectuais, (fato predominante na produção atual do Serviço

Social), mas se desdobra em ação efetiva e transformadora da realidade. Sendo assim:

“conhecimento não é propriamente fim, mas meio, que à primeira vista, poderia parecer

uma limitação, é sua força maior. [...] assim, conhecimento não é a intervenção, mas o

método mais decisivo de intervenção”.

Dessa forma, comparando as características da ciência clássica e da moderna-

contextualizada, podemos aqui concluir que ciência e conhecimento científico na

atualidade e ao nosso ver são um conjunto de atitudes, ações, procedimentos, que visam

estabelecer o entendimento da complexidade do real, a partir da captação dos fragmentos,

signos, imagens, representações, que apontem o conhecimento do real e que possibilitem

o intervir e transformar com ética, justiça, dignidade e respeito ao homem,seu meio e a

vida. [Grifo nosso]

Nessa perspectiva e, a partir dessas considerações, apresentamos a seguir os

elementos metodológicos da investigação proposta sobre o tema apresentado, antes,

porém, procuramos contextualizar este tema e, em seguida, apresentar a metodologia de

abordagem.

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2 - GLOBALIZAÇÃO, POBREZA, DESENVOLVIMENTO HUMANO EEMANCIPAÇÃO SOCIAL NO CENÁRIO DA DÉCADA DE 90

Uma análise aproximativa do conceito de empreendedorismo social, face às

dimensões históricas da questão social, nos revela que o mesmo apresenta um grande

potencial quanto a realizar ações de impacto no campo social, no entanto apresenta certa

limitação no que entendemos como qualidade política (ética, política, ideologia, etc.),

pois gera um grau de despolitização coletiva do entendimento e tratamento das questões

públicas. Sobre isso, mais à frente, daremos o devido enfoque. Mas, para melhor

entendermos tanto as limitações como o potencial de sua qualidade formal (técnicas,

metodologia de trabalho), que vêm impactando significativamente as novas ações e

estratégias de enfrentamento da pobreza na sociedade capitalista globalizada, é preciso

que vejamos outros pontos correlacionados. O que poderá nos auxiliar a compreender a

nossa proposta alternativa e preliminar do desenvolvimento de um Empreendedorismo

Social Solidário, que alia de modo equilibrado à qualidade formal e política, produzindo

ações que são críticas, criativas, integradas e de emancipação social e desenvolvimento

humano sustentável para o contexto da sociedade do século XXI.

Outro ponto relevante quanto à investigação bibliográfica é a polêmica sobre a

questão social e o Terceiro Setor. Passa-se por várias compreensões, mas nota-se que

fatos concretos sinalizam o surgimento de novos fatores que, aliados ao processo histórico

da questão social, apresentam novos desafios. Não vamos aprofundar esta discussão no

momento, pois receberá um tratamento mais específico mais à frente. Mas, de imediato,

procuramos sinalizar os principais pontos que servem de escopo e contextualização para

refletirmos sobre a investigação da questão no Brasil.

Tais mudanças requerem um novo olhar e agir sobre este amplo e complexo

cenário, como bem salientado por Iamamoto (2000), ao se referir às necessidades de

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novas “estratégias do enfrentamento da questão social” pelo Serviço Social, onde a autora

salienta:

isso requer também estratégias técnico-políticas no campo da comunicaçãosocial – no emprego da linguagem escrita oral e midiática-, para odesencadeamento de ações coletivas que viabilizem propostas profissionaiscapazes para além das demandas institucionais. (IAMAMOTO, 2000, p. 24)

Estas questões estão surgindo em um determinado contexto histórico. O da

globalização onde velhos e novos desafios se entrecruzam: é o que procuramos mostrar a

seguir.

2.1 A globalização como fenômeno multidimensional e paradoxal

A globalização é um fenômeno complexo, partindo de sua própria conceituação e

análise dos muitos impactos que vêm provocando na vida das sociedades humanas,

principalmente no final do século XX e início do século XXI. Alguns autores apontam

várias perspectivas de entendimento sobre o que é globalização. Entre eles, Ianni (1997)

que destaca como um dos fatores de maior impacto do processo de globalização a

alteração quanto à compreensão da noção de Nação ou de Estado-Nação. Ressalta que o

objeto das ciências sociais, historicamente, tem enfatizado os seguintes temas: sociedade

nacional, Estado-Nação, atores sociais, entre outros. No entanto, enfatiza, como núcleo

central desta problematização, os estudos da sociedade e o indivíduo e, na atualidade, a

interrogação sobre a sociedade nacional, o estado-nação, o projeto nacional, a soberania,

as possibilidades de hegemonia.

O processo de Globalização faz com que o objeto das ciências sociais se

modifique de modo constante, empírico, metodológico e historicamente. Desta forma, o

autor destaca que, neste processo, surge como maior desafio o pensar a formação da

sociedade face à Globalização, indagando sobre “qual o lugar e o significado da

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sociedade nacional” (IANNI, 1997, p. 67). Nesta perspectiva, a sociedade Global pode ser

entendida como: “um todo abrangente,complexo e contraditório, subsumindo formal ou

realmente a sociedade nacional [...] a sociedade global não é nem soma aritmética em

uma composição geométrica de sociedades nacionais...”.

Desta compreensão, percebe-se que a questão dos paradigmas clássicos de

conceituação sobre sociedade e sociedade nacional, bem como de Nação-Estado, (IANNI,

1997, p. 70-71), dando ênfase ao fato destes conceitos serem desenvolvidos em um

processo histórico, destaca que a globalização, face a este processo é : “simultaneamente

à continuidade e reiteração da idéia de nação, os processos sociais, econômicos, políticos

e culturais deflagrados pelo mundo a fora promovem a globalização.” (IANNI, 1997, p.

72)

Conclui o autor que, a partir do entendimento de que este fenômeno, apresenta um

impacto significativo na noção de nação, pois,

as nações transformam-se em espaços territoriais ou elos da sociedade global.Essa é a nova totalidade em movimento, problemática e contraditória. Namedida em que se desenvolve, a globalização confere novos significados àsociedade nacional, como um todo e em suas partes. (IANNI, 1997, p. 73)

E, paradoxalmente a globalização cria limites; mas, ao mesmo tempo, cria novas

possibilidades, tanto no pensar como no agir sobre e nesta realidade.

Assim como [a globalização] cria inibições e produz anacronismo, tambémdeflagra novas condições para uns e outros, indivíduos, grupos, classes,movimentos, nações [...] Cria outras possibilidades de ser, agir, pensar,imaginar. (IANNI, 1997, p. 79) [grifo nosso]

Esta complexidade e fator paradoxal da globalização fazem com que outras

dimensões sejam afetadas. É o que Teixeira (2001) procura apontar ao estudar “o local e

o global: limites e desafios da participação do cidadão”. O autor investiga como a

participação e a cidadania estão sendo construídas face ao processo de globalização,

estabelecendo uma relação sobre os processos globalizantes e localizados que

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estabelecem os limites e desafios da participação cidadã. Destaca a complexidade do

conceito de sociedade civil, bem como apresenta o conceito de sociedade civil global.

Vê a globalização da seguinte forma:

nos últimos anos acelera-se e aprofunda-se o processo de globalização não sóem termos econômicos, mas sobretudo de comunicação, resultante da revoluçãotecnológica nos meios de informação, que veio permitir intercâmbios emtermos mundiais e de forma instantânea e diária. Tudo isso acarreta mudançasnas formas de pesar, informar, produzir, consumir, gerir, fazer política, levandoa uma sociedade cada vez mais organizada em torno da produção, distribuição emanipulação de símbolos, e uma cultura construída em torno do audiovisual,com a crescente digitalização das mensagens. (TEIXEIRA, 2001, p. 56-57)

Logo, sociedade civil global o autor entende como sendo um

...conjunto de atores transacionais (associações civis, organizações não-governamentais, movimentos sociais) que tentam monitorar questões que estãofora do controle de cada nação (sistema monetário internacional, meioambiente, novas formas de comunicação) e que buscam redefinir o papel dasagências internacionais e suas relações com as instituições nacionais,organizações da sociedade civil, de forma a adotar regras e princípiosdemocráticos. (TEIXEIRA, 2001. p. 55)

Sinaliza que os processos de participação, na atualidade, estão cada vez mais se

globalizando, decisões vitais que afetam toda a humanidade estão ocorrendo em níveis

supranacionais, mas o poder decisório e efetivo destes níveis está ocorrendo e sendo

impulsionado pelo poder local e pelas formas inovadores da sociedade civil. Como

enfatiza o autor:

a sociedade civil pode contribuir para a democratização do poder político e paramudar as relações com o Estado e o mercado, e, para isso, suas organizaçõesnecessitam de uma base econômica própria que garanta sua autonomia epermita-lhes desenvolver experiências concretas [...] O conjunto diversificadode exemplos que recolhemos em várias partes do mundo, especialmente noBrasil, mostra-nos que as organizações da sociedade civil começam adesenvolver esse papel, sobretudo no espaço local, e que, sem disporem aindade força suficiente para mudar as relações, persistem, com erros e acertos, nabusca de caminhos para uma efetiva participação cidadã . (TEIXEIRA, 2001,p. 200) [grifo nosso]

Estas constatações, paradoxos e evidências já haviam sido apontados por Naisbitt,

(1994) no seu trabalho Paradoxo Global, em relação ao mundo empresarial, a partir da

análise das mudanças na área organizacional e das formas de gestão empresarial. As

observações desse autor apontam uma nova configuração do fazer negócios num mundo

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em constante mudança. Faz referência e dá grande ênfase ao que chama de paradoxo

global, onde “as tendências mundiais apontam, predominantemente, para a independência

política e o autogoverno, por um lado, e para a formação de alianças econômicas, por

outro lado” (NAISBITT, 1994, p. 3), e ainda as mudanças nos vários cantos do mundo

globalizando.

Em todo o mundo, os povos estão concordando em comercializar uns com os

outros mais livremente. Também em todo o mundo, os povos estão reafirmando a sua

independência, a sua soberania e a sua distribuição (NAISBITT, 1994, p. 4). O paradoxo

global, desta forma, caracteriza-se pela constatação de que “quanto maior a economia

mundial, mais poderosas são os seus protagonistas menores” (NAISBITT, 1994, p. 4).

Aponta como principal agente de mudanças o papel do empreendedor. “O empreendedor

é, também, o protagonista mais importante na construção da economia global.”

(NAISBITT, 1994, p. 4)

Assim, “as empresas grandes estão descentralizando e reconstituindo a si mesmas

como redes de empreendedores” (NAISBITT, 1994, p. 5). Conclui-se, desta forma, que

...a disseminação da democracia pelo mundo e a nova revolução nastelecomunicações, as oportunidades e as possibilidades para os indivíduos, asfamílias, as empresas e as instituições são extremamente maiores do que foramaté hoje na vida de qualquer um de nós.“O paradoxo global nos indica que asoportunidades para cada um de nós como indivíduos são bem maiores do queem qualquer outra época da história humana. (NAISBITT, 1994, p. 319)

Esse autor faz uma análise sobre uma ótica empresarial e mercadológica, o que é

uma parte da verdade. No entanto, os processos de globalização são mais amplos e,

profundamente, paradoxais como nos mostra o trabalho de Dantas (1999) “capitalismo na

era das redes: trabalho, informação e valor no ciclo da comunicação produtiva”.

Esse artigo faz parte de uma coletânea de outros artigos que dão ênfase ao

processo de globalização, tendo como fatores preponderantes a informação e o

conhecimento, desencadeando novos processos na produção, bem como no trabalho e na

vida em sociedade.

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Esse autor destaca ainda o conceito de “capitalismo informacional”, dada a

importância da informação nesta nova fase da globalização da economia mundial.

E aponta uma série de fatores teóricos e práticos, destacando que as organizações

do atual estágio do capitalismo moderno se caracterizam como organizações-redes.

Apresenta como exemplo a Benetton, e outras que, a partir de uma rede de

informações e processos flexíveis, estão espalhadas por várias partes do mundo. Diferente

de Naisbitt (1994), o autor afirma que este processo traz à tona um grande perigo e

desafio:

a possibilidade de a sociedade humana vir a se dividir entre os que têm e os quenão têm condições materiais e culturais de obter informação- informaçãoprodutiva, informação que gera trabalho e riqueza nas sociedadescontemporâneas – é real e já está em curso. O modelo de democracia, qualquerque seja, esta posto em questão. (NAISBITT, 1994, p. 257)

Podemos salientar que, além destes fatores sócio-econômicos, outras dimensões

da globalização são percebidas por outros autores. É o caso de Dreifuss (1996) em A

época das perplexidades: mundialização, globalização e planetarização – novos

desafios, apresenta aí uma série de dados e constatações (perplexidades) onde há

mudanças constantes, sejam de ordem econômica ou social e como isso vem afetando os

processos de organização social. Ressalta que a globalização da economia faz surgir

outros conceitos como de mundialização e planetarização e que a cidadania não é mais só

local mas global,

...a mundialização, a globalização e a planetarização política se entrelaçam coma configuração de macrossociedades transfronteiriças e com os processos dedesnacionalização societária e desterritorialização da cidadania, é necessáriorefletir a respeito de quais os princípios das “sociedades civis” extranacionaisem gestação que acompanham o processo de “planetarização” da cidadania,ampliando a noção e estendendo os limites da inclusão na outorga dessacondição. (DREIFUSS, 1996, p. 339)

Conclui o autor :

continuamos a lidar com o antigo, mas atual e inevitável desafio: a questão dopoder [...] inconformados, mesmo assim, contamos histórias, histórias que de

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diferentes formas não deixam de registrar, através dos tempos, o nosso estadode perplexidade. (DREIFUSS, 1996, p. 340)

Estas reflexões sobre globalização já sinalizam sua complexidade, bem como as

múltiplas faces deste processo. Esta constatação e problematização ficam ainda mais

evidentes a partir do trabalho de Vieira (1997), Cidadania e globalização. O autor faz

uma análise entre a cidadania e os efeitos da globalização, considerando-a como:

...uma nova configuração espacial da economia mundial, como resultando geralde velhos e novos elementos de internacionalização e integração [...] interaçõesinternacionais [...] difusão de padrões internacionais de organização econômicae social, consumo, vida ou pensamento. (VIEIRA, 1997, p. 74)

Destaca esse autor cinco dimensões de maior expressão para caracterizar a

globalização na atualidade, porém seu conceito é algo complexo e não encontra consenso.

Tais dimensões seriam: econômica, política, social, ambiental e cultural. Vejamos alguns

detalhes sobre cada uma delas.

1) Econômica: caracterizada pela influência e impacto de grandes corporações

transnacionais, que têm revolucionado os processos de intercambiação econômica ao

ponto de os Estados perderem o controle de mecanismos financeiros de grande e vital

importância, tais como taxa de juros, câmbio, rendimento de poupança, investimentos,

etc. Em meio a este processo de circulação rápida e de grandes volumes financeiros,

surgem outros mega-setores não convencionais, como o narcotráfico. Este setor já é

considerado o segundo maior setor comercial do mundo, movimenta cifras de 500 bilhões

de dólares, diante do qual os Governos oficiais se vêem impotentes e sem condições de

um maior controle efetivo deste processo.

Outro aspecto da dimensão econômica é o desemprego estrutural que causa

mudanças nas relações de trabalho, através dos contratos “flexíveis”, seguidos da

implementação de novas tecnologias, do reordenamento dos espaços e da organização do

trabalho e das relações entre produtores e consumidores.

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Estes elementos explicitam uma das facetas mais paradoxais da globalização, o

aumento da pobreza, mesmo face ao grande desenvolvimento técnico-científico e elevada

produção e aumento significativo de ganhos financeiros.

Esta faceta é, em geral, provocada pela concentração de renda, o que sinaliza que

o que é produzido não é justamente repartido. Conflitos sociais crescentes, provocados

pelas diferenças étnicas e políticas, bem como a deteriorização dos serviços públicos e os

cortes de políticas sociais e restrições de proteção social, outrora garantidos pelo Welfare

State e, agora, sendo pulverizados pelas políticas de cunho neoliberal. Essa dimensão

assinala o que poderíamos denominar de globalização da pobreza, como bem ressalta

Vieira:

a abertura econômica, a integração dos mercados e a privatização têm sidoapresentadas como a panacéia do desenvolvimento. As conseqüências sociaissão graves: aumento do desemprego, queda dos níveis salariais, aumento dapobreza e da concentração de renda e deterioração da qualidade de vida eambiental. (VIEIRA, 1997, p. 84) [grifo nosso].

2) Política: a questão política na globalização, aliada aos impactos dos processos

econômicos, é de grande preocupação entre os países envolvidos neste processo, pois, ao

mesmo tempo que novas relações políticas são estabelecidas no nível global, ocorre uma

perda sensível quanto às dimensões locais. Vieira (1997) sinaliza algumas questões mais

importantes:

a) renegociação da dívida externa, o que tem forçado muitos países a adotarem

medidas de “ajuste estrutural” que muitas vezes não respeitam as prioridades

e necessidades reais internas de cada nação, o que agrava o processo social

de apartheid;

b) a queda do muro dos países comunistas e a entrada do sistema capitalista

aborda o estreitamento das relações comerciais entre os países do terceiro

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mundo e, portanto, de novas formas de relação internacional entre países da

América Latina e o Leste Europeu (vide a questão da ALCA);

c) os “ajustes estruturais” fazem com que a questão da dívida não tenha tanta

expressão nos debates, mas na realidade este processo traz um agravamento

nas condições sócio-econômicas dos países devedores.

Isso faz com que as relações sociais sejam mercantilizadas e as decisões quanto à

gestão social vinculada aos ditames econômicos e das relações comerciais. “Os Estados

nacionais ficam privados da possibilidade de articular uma política autônoma de

desenvolvimento” (VIEIRA, 1997, p. 86). Conseqüentemente, as reais necessidades no

enfrentamento da pobreza e vocação genuína de cada nação ficam comprometidas.

3) Social: como já sinalizamos, a maior contradição da globalização é que, apesar

do crescimento e desenvolvimento das economias globalizadas, o século XX é marcado

pelo avanço de igual ou maior crescimento da pobreza e deteriorização da qualidade de

vida de uma grande parte da humanidade. Isso vem se agravando no bojo do processo e

até se nutrindo deste estado; como assinala Vieira “a nova ordem financeira internacional,

parece nutrir-se da exclusão social e degradação ambiental” (VIEIRA, 1997, p. 87).

Para demonstrar esta afirmativa, o autor apresenta uma série de dados globais.

Ressaltamos a seguir alguns destes indicadores:

a) desnutrição: em 1990, 20 milhões de pessoas morriam de fome no mundo, 800

milhões passavam fome e, a cada minuto, 47 bebês nasciam em meio à

pobreza; em 1996 na Conferência Mundial de Alimentação - Roma, constatou-

se que a América Latina ocupava a quarta posição em número de famintos;

b) urbanização: em 2025, estima-se que 2/3 (dois terços) da população mundial

estarão habitando nas áreas urbanas; dos 20 maiores centros, 17 estarão na

Ásia e América Latina, trazendo o desemprego e a exclusão social como um

dos principais impactos deste processo;

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c) trabalho: cerca de 1/3 (um terço) da força de trabalho mundial encontra-se

ociosa;

d) habitação: 600 milhões de habitantes da Ásia, África e América Latina moram

em localidades que não têm as condições mínimas de segurança e saúde.

Estes dados reforçam o que acabamos de afirmar como sendo o processo da

globalização da pobreza, ou seja:

a globalização da pobreza ocorre em época de notável progressotecnológico nas áreas de engenharia de produção, telecomunicação,computadores e biotecnologia, caracterizando este processo como um novopadrão mundial de acumulação e desenvolvimento , [...] assentado nodomínio das informações, do saber e das novas tecnologias e não apenas docapital e do poder de coerção [...] reduz a oferta de empregos produtivos ereforça as tendências de exclusão social . (VIEIRA, 1997, p. 90) [grifo nosso]

4) Ambiental: constata-se que as questões de meio ambiente estão relacionadas ao

domínio dos processos produtivos e de industrialização de matéria-prima, o que faz com

que esta dimensão tenha uma maior aproximação e relação intrínseca, pois, “a atividade

humana modificou radicalmente a configuração da camada natural das terras do mundo”

(VIEIRA, 1997, p. 92), e ainda se pode constatar que este processo é principalmente

decorrente do “modo de produção e vida da população, mais do que seu número”

(VIEIRA, 1997, p. 93) [grifo nosso], ou seja, o modo de viver, os valores e prioridades

das pessoas é compreendido hoje como um dos principais elementos de degradação do

meio ambiente, o que nos remete ao entendimento da influência dos meios de

comunicação e uma mídia que dissemina cada vez mais um modo individualista e

predatório de consumo, afetando os padrões de produção e o nível de qualidade de vida.

Entre tantos problemas ecológicos, alguns têm mostrado o quanto esta dimensão

deixa de ser um problema local para ser uma preocupação global. É o caso da água, visto

que cerca de 170 milhões de pessoas do primeiro mundo, na área urbana, e 885 milhões,

na área rural, não têm água limpa e potável para beber ou cozinhar.

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Estes pontos, além de uma infinidade de problemas relacionados ao meio

ambiente, mostram-nos o quanto esta dimensão da globalização está relacionada à

questão do enfrentamento da pobreza numa perspectiva de melhoria contínua da

qualidade de vida das populações, trazendo novos valores e hábitos de consumo, onde o

modo de vida não seja só pelo consumo, mas pelo sentido do uso do necessário, bem

como na noção de preservação dos recursos naturais.

5) Cultural: um dos principais elementos desta dimensão é a capacidade de troca

de informações, de valores e hábitos entre os países. Destacam-se os processos de

dominação e choque entre o intercâmbio e das relações, sejam políticas, econômicas, ou

diplomáticas, alterando profundamente as noções de centralização e dominação cultural,

ou seja:

a circulação de idéias e de objetos culturais pode ser melhor compreendidaquando analisada em termos de mundialização, e não como difusão, desde quenão se percam as relações da globalização com as instâncias de poder. [...] Cadalocal revela o mundo; o global sobrepõe-se e penetra o local, abrindo apassagem para referências culturais globalizantes. (VIEIRA, 1997, p. 98)

Um bom exemplo deste processo pode ser demonstrado através da fabricação de

tênis da empresa norte-americana Nike, em que 9000 funcionários nos E.U.A. só

trabalham com projetos de planejamento e marketing, sendo que o processo de

fabricação, ou seja, colagem, costura, embalagem, é feito por cerca de 75000 outros

funcionários alojados em várias partes do mundo. É o exemplo de uma empresa que se

transformou em transnacional.

Percebe-se que, ao mesmo tempo, que o processo é global, sua exploração é local,

pois procura-se tirar o maior proveito do processo local, tal como mão-de-obra barata e

desimpedimento tributário e “problemas” sindicais. Outro aspecto desta dimensão é a

pluralidade de religiões, visões de mundo, teorias explicativas da realidade, que já não são

mais universais, elas diluíram-se em meio a “flexibilidades”, os relativismos do pós-

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moderno, produzindo o que Guidens chama de “desencaixe” (VIEIRA, 1997, p. 99), ou

seja:

a globalização rompe com as fronteiras nacionais, acaba com a divisãointerno/externo. A cultura mundializada se internaliza dentro de nós. O espaçolocal “desencaixado” aproxima o que é distante e afasta o que é próximo,isto é, o local é influenciado pelo global, ao mesmo tempo que o influencia.(VIEIRA, 1997, p. 100) [grifo nosso]

Eis o grande paradoxo deste final de século, em que a globalização, como um dos

processos mais expressivos desse momento histórico, faz com que o mesmo seja odiado e

amado, considerado e desconsiderado, mas inegavelmente um fator impactante onde, ao

mesmo tempo em que um grande centro é afetado, vemos que também pequenas cidades

ou regiões rurais ou urbanas são influenciadas.

Nessa constatação, Auge (1993) alerta-nos para a necessidade de aprendermos a

ver o espaço em que estamos inseridos e isso requer um novo olhar quanto aos impactos

da globalização, o que não pode ficar em meras críticas reducionistas quanto a esse

processo ser “uma nova roupagem” do capitalismo de exploração e exclusão social, nem

da extrema valorização desse processo como sendo o ápice da modernidade sem levar em

conta o preço social que o mesmo tem levado a humanidade a pagar, como bem apontado

por Santos:

para a maior parte da humanidade a globalização está se impondo como umafábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobrezaaumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médiotende a baixar. A fome e o desemprego se generalizam em todos os continentes[...] A perversidade sistêmica que está na raiz dessa evolução negativa dahumanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentoscompetitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essasmazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo deglobalização. (SANTOS, 2001, p. 19) [grifo nosso]

A partir destas perspectivas de compreensão sobre a globalização, podemos

verificar: a) o conceito de globalização é complexo e paradoxal; b) ele apresenta várias

dimensões e impactos; c) alguns pontos são comuns às várias abordagens, entre elas:

cultura, economia e comportamento; d) conceitos e necessidades de enfrentamento e

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perspectivas e expectativas como sendo incertas, mas predominantemente como

desafiadores.

Cremos que o maior desafio é olhar para a globalização como fator paradoxal, o

que remete a uma múltipla forma de olhar e compreender esse processo que, sem dúvida,

faz parte de um processo histórico, que vai além do econômico, abrange a vida humana

em sua totalidade. É necessário um olhar contextualizado, crítico, mas, sobretudo,

propositivo e criativo, seja no modo de viver e intervir nessa realidade.

É salutar a perspectiva apontada por Ianni (1997, p. 79), com a qual concordamos

integralmente, pois a globalização fecha, destrói, mas, sobretudo, abre novos horizontes,

para se pensar, ver e agir sobre um mundo em constante transformação, ou seja,

assim como [a globalização] cria inibições e produz anacronismos, tambémdeflagra novas condições para uns e outros, indivíduos, grupos, classes,movimentos, nações. Cria outras possibilidades de ser, agir, pensar, imaginar.

É nessa perspectiva que nos propomos a investigar os aspectos da globalização

que afetam e propiciam o desenvolvimento da vida em sociedade, principalmente quanto

aos entraves e alternativas emergentes de enfretamento à pobreza e luta por novos

manifestos e por um novo desenvolvimento social, focando a investigação no

empreendedorismo social, e que o mesmo emerge neste cenário globalizado e paradoxal,

onde novos e velhos desafios são encontrados como a seguir procuramos destacar.

2.2 Pobreza globalizada: velhos e novos desafios de enfrentamento

Como procuramos evidenciar no tópico anterior, a nossa investigação se dá junto a

um cenário paradoxal, onde o fator de maior evidência é a “convivência” de uma

sociedade altamente avançada em conhecimentos científicos e tecnológicos e,

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absurdamente, incompetente quanto ao trato da preservação dos recursos naturais e da

vida humana.

Destacamos, nesse cenário, a questão da pobreza, que não é uma questão recente,

ao contrário, acreditamos que seja tão antiga como a própria história da humanidade.

Vemos em registros, os mais antigos, como o dos textos bíblicos e dos escritos de

comunidades remotas como a dos essênios descobertos no mar morto.3

Neste estudo e em outros, observa-se que há varias designações para a pobreza.

Entre eles o mais citado é a palavra hebraica ebion que, na bíblia, segundo Grigg4,

aparece cerca de 61 vezes, além de outras 184 expressões sobre pobre e pobreza. Ebion,

na bíblia, tem o sentido de “necessitado e dependente” (GRIGG, [s.d.], p. 26) e “um

homem pobre, em busca daquilo que não possui; refere-se também ao homem oprimido e

ressentido” (GRIGG, [s.d.], p.159).

O sentido empregado pela expressão ebion,é de pessoas que são pobres tanto no

sentido material como social. Este registro, além de outros estudos da pobreza na idade

média (Cf. MOLLAT, 1989), demonstram que o tema é antigo e tem, ao longo da história

humana, recebida formas diferentes de entendimento e tratamento.

Não é nossa intenção aprofundar nessa temática, mas é necessário pontuar a

compreensão contemporânea sobre este tema, pois, como veremos mais à frente, grande

parte das ações no campo social tem como bandeira o enfrentamento à pobreza. Também

a nossa investigação está intrinsecamente relacionada com ela.

Verificamos que no atual contexto globalizado da informação e do conhecimento,

surgem novos desafios, para combater velhas causas. A seguir, para melhor compreensão

de nossa análise, apresentamos um breve resgate histórico do entendimento e tratamento

da pobreza, e, na seqüência, apresentamos as novas dimensões deste velho problema, a

3 TYLOCH, W. J. O socialismo religioso dos essênios. São Paulo: Perspectiva, 1990.4 GRIGG, Viv. Servos entre os pobres São Paulo: Comibam Brasil. [s.d].

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qual denominamos de pobreza perceptiva. Ele é fruto do processo histórico deste tema,

bem como fruto dos atuais impactos da globalização.

2.2.1 Breve histórico do desenvolvimento e tratamento da pobreza

Vamos dividir a nossa análise em quatro “eras” e verificar que, na atualidade,

surge um novo tipo de pobreza que requer uma nova “era” e um novo olhar para esse

velho problema.

Era da ajuda pela ajuda: período da pré-história, os povos humanos viviam como

nômades, passando para um sistema sedentário dominando o plantio de alimentos, a caça

e a pesca. Organizavam-se em tribos ou clãs, os pobres eram os acometidos por doenças,

catástrofes naturais ou guerras. As vítimas, ou desamparados, órfãos, idosos, viúvas,

doentes eram tratados pela tribo ou clã a que pertenciam.

Era da Caridade: período medieval, quando as formas de produção e dominação

política eram caracterizadas pelo resultado da dominação de grandes impérios, como o

Romano e, posteriormente, pelo domínio religioso e político da Igreja cristã. Os pobres

eram os desprovidos de bens, riquezas e títulos de nobreza. A forma de escravidão

predominava em conjunto com a submissão ao império. A pobreza era entendida como

“destino” divino. A caridade e benemerência dos “senhores” e religiosos eram as formas

de entender e tratar a pobreza. O governo se restringia a ações do tipo “pão e circo”.

Era da Filantropia: marco divisor do desenvolvimento dos meios de produção que

passando do feudalismo, mercantilismo, já anunciava a passagem para o capitalismo. Isso

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causava sérios impactos sociais, quando grandes multidões vinham da área rural para a

área urbana a busca de emprego. Os pobres são os que não possuíam o capital e meios de

produção, além de sua própria força de trabalho, e o ganho desta troca, bem como as

condições de vida eram insuficientes e injustas para um viver melhor.

O Estado apresentava algumas leis e “garantias” sociais, ia assumindo uma maior

participação neste processo. A filantropia, ou ajuda da nobreza, de forma organizada

destacava como elemento propulsor de uma forma específica de tratar a pobreza.

Era das Políticas Sociais: já em meados do século XX e, com o desenvolvimento

tecnológico dos meios de produção e forma social e política de organização das chamadas

sociedades modernas, a pobreza também assumiu novos contornos. É “preocupação”

constante dos organismos internacionais, das grandes potências.

Esta era foi caracterizada pelo pós II Guerra Mundial, quando a pobreza

decorrente dos resultados da guerra, bem como do cenário econômico internacional,

recebeu um novo tratamento, quando o Estado, principalmente dos países de primeiro

mundo, assumiram a questão social como sendo sua responsabilidade; surgiram a noção

de Estado de direito, as políticas de atendimento e amparo social, a seguridade social e,

principalmente, o chamado Welfere State, ou Estado de Bem-Estar Social.

A partir deste breve histórico, podemos concluir que pobreza:

a) não é coisa do acaso ou desvio moral;

b) pobreza não é só responsabilidade de religiosos ou de pessoas “bem

intencionadas”;

c) pobreza não atinge só o corpo, mas a alma, a consciência, a auto-estima, a

dignidade de vida;

d) o combate à pobreza não se restringe a ações “humanitárias”, caridade e

filantropia, mas é, antes de tudo, uma questão política de direitos e deveres, é

um processo resultante da injustiça social, da injusta distribuição e

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redistribuição de renda, falta de serviços e condições de auto-sustentabilidade

de uma parcela significativa da humanidade; é histórica, não só estrutural, é

política;

e) a pobreza, ao longo da história da humanidade, mostra-se como um processo

intencionalmente vinculado a propósitos de uma minoria que almeja o poder

em detrimento de uma grande massa que só serve ao interesse de acumulação

de bens e riquezas, produzindo a indignação, injustiça e desigualdade de

direito à vida. Portanto, o entendimento da pobreza e seu tratamento devem

passar por mudanças radicais, tanto para quem a “assiste”, como paraquem é

assistido. Pois “se o pobre não descobrir um dia que pobreza é injustiça, não

chegará a tornar-se sujeito de seu próprio destino” (DEMO, 1991, p. 7).

2.2.2 Novas clivagens sobre o tema pobreza

A este respeito, vemos que o início da década de noventa é marco referencial do

surgimento de vários estudos sobre pobreza, muitos procuraram ir além da mera

dependência de fatores econômicos.

Este revigoramento sobre o tema pode ser observado, entre outros indicados, pelo

exemplo da Organização das Nações Unidas (ONU), que, a partir de 1990, através do

Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento Humano (PNUD) (1990/2001),

iniciou a publicação anual do relatório do desenvolvimento humano, tendo como

indicadores básicos: a ) educação, b) longevidade e c) poder de compra.

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Sobre este indicador, concordamos com Demo5, quando sinaliza que este conceito

e esta organização, apesar de ter um viés e nicho neoliberal, aponta para uma inovação, a

de considerar o desenvolvimento como oportunidade, ou seja,

indicando a preponderância de fatores políticos em sua gestação e gestão. Ocrescimento econômico passa à condição de instrumento do desenvolvimento,deixando de lado a tradicional noção de razão de ser.6

Ainda segundo este autor, essa perspectiva conduz a uma abertura de novas

dimensões do conceito de pobreza, mais qualitativas do que só quantitativas, fato este

notoriamente desenvolvido por ele, a partir do conceito de pobreza política (Cf. DEMO,

1999), que enfatiza a dimensão qualitativa da pobreza, que é um dos grandes impeditivos

para a emancipação social efetiva, pois ela requer construção própria do fazer história, o

que sem consciência crítica de sua própria condição não pode ser realizado.

A não-compreensão desta dimensão da pobreza faz com que concepções e ações

de combate à pobreza, mesmo vindo de setores tidos de esquerda, podem muito mais

contribuir para a manutenção do que para a emancipação dessa perspectiva, diz esse

autor, “nesse sentido, parece claro que, ao lado da pobreza material, é preciso atacar com

tanto ou maior vigor, a pobreza política.” (DEMO, 2002, p. 77)

E adverte,

o traço mais forte da pobreza política é o efeito de poder, ou efeito deimbecilização. Não se trata de ignorância que todo pedagogo ou antropólogosabe que não existe – porque todos temos algum patrimônio histórico e cultural,manejamos língua e saberes próprios – mas da ignorância cultivada,reproduzida no e pelo sistema, mantida estrategicamente. A população não éimbecil, mas imbecilizada. 7

Desta forma, o foco não é só em ações materiais, ou recursos financeiros, também

e, principalmente, nos recursos de consciência, ou seja,

o que falta ao pobre, além de recursos materiais, é consciência crítica eorganização cidadã para poder confrontar-se, assumindo a posição de figura

5 DEMO, Pedro. Politicidade: razão humana . São Paulo: Papirus, 2002a.6 DEMO, Op. Cit., 2002a, p. 75.7 DEMO, Op. Cit., 2002a, p. 79.

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chave do combate à desigualdade social [...] a ideologia dominante faz de tudopara manter o pobre na condição de objeto inconsciente. Evita de todas asmaneiras o pobre que sabe pensar.8

O grande desafio nesta perspectiva é, além de gerar os recursos materiais

necessários para sair da condição de dependente para a sobrevivência básica, é preciso

gerar uma consciência crítica no pobre, para ele saber sobretudo pensar na sua própria

condição e relação com os poderes e as forças sociais, pois,

o pobre não consegue perceber que, por trás dessa cortina de fumaça, a eliteinterfere, do modo mais politiqueiro imaginável, no Estado e no mercado... [épreciso tocar no ponto nervoso do problema para romper o processo deimbecilização]... promover o acesso popular ao saber pensar, para não cair nosefeitos de poder das políticas sociais vigentes, sobretudo, da direita, masigualmente em muitas esquerdas. 9

A esse respeito, o autor é enfático quanto às várias ações de combate à pobreza e

das relações que permeiam este processo, as negociações os pactos das elites e dos

governos para de fato alcançar a eliminação da pobreza, o que não ocorre de modo

simples, sem haver alterações profundas, ou seja,

na verdade, não se atinge a lógica concentradora do sistema. Imagina-se, emum truque monumental e que funciona na proporção da ignorância produzida,que pobreza pode ser resolvida mantendo-se tudo como está sobretudo osprivilégios da elite. 10

Nessa mesma linha, mas em outra obra11, Demo faz uma série de declarações

emblemáticas, que se seguem:

“a sociedade que não sabe cuidar de suas crianças, idosos e excepcionais não pode

falar de democracia e direitos humanos minimamente.”12

8 Idem, p. 79-80.9 Idem, p. 80.10 DEMO, Op. Cit., 2002a, p. 81.11 DEMO, Pedro. Educação pelo avesso: assistência como direito e como problema São Paulo: Cortez,

2000.12 DEMO, Op. Cit, 2000a, p. 81

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“O combate à pobreza implica, ademais, mudança cultural radical, a começar por

superar as ‘bagatelizações’ comuns, inclusive na assistência, de que algumas sobras dão

conta do problema.”13

Mudança cultural mais importante, todavia, é privilegiar processosemancipatórios acima da assistência, sem jamais descartá-los [...] Por isso éverdade: o sistema não teme o pobre com fome – basta, como regra, cestabásica para driblar o problema -, mas teme o pobre que sabe pensar. Épreciso, definitivamente, combinar assistência com saber pensar. 14 [GrifoNosso]

Como podemos perceber, esta perspectiva conduz ao surgimento, ao longo da

década de noventa, de uma série de estudos que vão além dos conceitos de pobreza

relativa (falta de recursos e poder de compra) ou pobreza absoluta (não ter acesso aos

bens e serviços essenciais), ou seja, além de não ter é também uma questão de não ser.

Desta forma, vários trabalhos começam a estudar outras dimensões,

principalmente, a própria percepção dos pobres e sua condição (Cf. ZALUAR, 1985;

ESCOREL, 1999), outros relacionados os impactos da globalização ao processo de

empobrecimento global (Cf. CHOSSUNDOVSKY, 1999; SANTOS, 2001; SOUZA

SANTOS, 2002).

Outros estudos têm aprofundado as formas de combate, a gestão e formas de

enfrentamento, bem como as alterações sociais, políticas e organizações que envolvem

este processo (Cf. ROMÃO, 1993; SPOZATI, 1988; GAIGER, 1996, DEMO, 1996).

Mas é mais recentemente, final dos anos 90 e inicio de 2000, que vem surgindo

um interesse acentuado e renovado interesse pelo tema pobreza. Seja nos discursos

políticos, nas políticas públicas através de programas e projetos, seja de estudos, o que faz

surgir várias abordagens sobre as formas de medir, analisar e enfrentar à pobreza, face às

novas configurações societárias da globalização, das políticas neoliberais e dos processos

de transformação reprodutiva (Cf. SALOMA e DESTREMAN, 1999; ROCHA, 2003;

13 Idem, p. 81.

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POCHAMANN e AMORIM, 2003; SILVA e SILVA, 2002; FERNADEZ, 2002;

ALIENA, 1996).

Além disso, há outros estudos que consideram fatores contextualizados e

pertinentes, as características da chamada sociedade da informação e do conhecimento,

onde as políticas têm o desafio, como já mencionado, de potencializar a capacidade de

pensar, o que passa pelo acesso e gestão adequada da informação e formulação de

conhecimento (Cf. DEMO, 2000), bem como a relação de fatores pouco potencializados

no enfrentamento da exclusão social, e que recentes estudos têm ressaltado a importância

da organização da família, da comunidade local, do capital social e da cultura como

elementos fundamentais para um processo de desenvolvimento, não só econômico mas

social e humano (Cf. DEMO, 1998; KLIKSBERG, 2001, 2000, e 1997).

Também pode-se observar o recente revigoramento pelo interesse em estudar e

tratar a questão da pobreza pela quantidade de eventos, tanto no nível internacional

(Copenhague, 1995, Istanbul, 1996, RIO+10, 2002) e como no nacional, a organização de

conclaves em vários estados do país, e mais recentemente a criação da ONU de um centro

de estudos sobre enfrentamento da pobreza, em parceria com o IPEA, (International

Center on Poverty Reduction Polices), que segundo o IPEA,

...pretende fazer com que os países pobres e em desenvolvimento-principalmente na América Latina e na África – troquem experiências decombate à pobreza e à desigualdade. A intenção é fortalecer a capacidadedoméstica desses países em formular políticas sociais, diminuindo, assim, adependência desses países em formular políticas sociais, reduzindo adependência de fontes estrangeiras. 15

2.2.3 Os novos desafios no enfrentamento da pobreza globalizada – a pobrezaperceptiva

Como verificamos, a globalização produz vários efeitos complexos e paradoxais.

Esta constatação é mais expressiva quando observamos que, em meio aos avanços

14 DEMO, Op. Cit., 2000a, p. 84.

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científicos e tecnológicos e a importância da informação e do conhecimento, da

acumulação e da circulação cada vez maior de capital, constata-se a incompetência

humana de enfrentamento da pobreza, fator este aliado à desigualdade social, um dos

grandes empecilhos para um real desenvolvimento social (Cf. KLIKSBERG, 2000 e

KLIKSBERG, 2001).

Vemos que a pobreza, face às múltiplas dimensões paradoxais da globalização, não

pode ser vista e nem analisada só pela perspectiva econômica, mas também por sua

dimensão qualitativa, ou como chama DEMO (1996), a pobreza política, o que implica,

mais do que ter condições materiais de superação da pobreza, é preciso estimular o ser

sujeito/ator/participante, consciente e crítico da superação do estado de pobreza, seja

estrutural (falta de condições e autonomia de subsistência básica), como política

(consciência desta exclusão como sendo proposital, histórica e política e que não pode

esperar pelos outros para superar a sua própria condição de dependência).

Neste sentido, verificamos que a globalização, no atual contexto, produz não só a

globalização da pobreza estrutural, absoluta e política, mas também afeta profundamente

a percepção dos excluídos e dos demais atores, em específicos da elite (tanto empresarial,

política, como social) e faz com que a cultura de consumo roube a capacidade de análise

coletiva e a possibilidade de superação da pobreza que, ao nosso ver, depende

substancialmente de uma “democracia participativa” e de “uma cidadania ativa”. Souza

Santos, 2002 diz que a individualidade consumista dá espaço para aspirações coletivas,

mas que considera as individualidades e especificidades locais e humanas.

Tal constatação é evidenciada por Ferrara (1993) que, a partir da análise da

representação simbólica do mapa da Europa na Idade Média, em relação ao novo mapa do

mundo atualmente, destaca a importância da compreensão da correlação de forças para

melhor compreensão da nova formatação do contexto globalizado. Coloca como eixo a

15 Disponível em <http;//www.ipea.gov.br > acesso em 20/05/2002.

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informação e, em específico, o processo de informação instantânea relacionada ao

processo da globalização como a questão e importância do espaço local.

Explicita o caso brasileiro e enfatiza o poder de interferência na percepção da

sociedade quanto a esta nova formatação do mundo global, tendo a TV como principal

meio de comunicação e manipulação de onde são transmitidos e disseminados valores de

consumo e de alienação dos objetos, quando é passada a ilusão de termos o global dentro

de nossa casa (local), o que gera um processo de fetiche mercadológico, afasta a

compreensão e leitura mais crítica da realidade, reforça a mera leitura mecânica das

informações transmitidas em tempo real e em grande escala.

Este fato é decorrente da urbanização e inovação nos processos tecnológicos. É de

grande relevância, principalmente, quando observamos que, no último censo (IBGE,

2000), foi constado que cerca de 87% dos brasileiros têm uma TV, e que cerca de mais de

50% estão abaixo da linha de pobreza, ou seja, mesmo os mais pobres e, talvez,

principalmente os mais pobres têm um televisor em sua casa, e, portanto, a porta aberta

para a disseminação de informações de consumo e alienação cultural, principalmente,

considerando a qualidade das programações da TV aberta. Segundo a autora,

...o que se globaliza não é o mapa do mundo, mas a percepção desse mundofeito de fragmentos globais e diferentes ao mesmo tempo: o espaço global só serevela pelo encontro do particular fragmentado, mas reconhecido. Desse modo,entende-se o planeta como um organismo onde a ruptura, a decadência ou osubdesenvolvimento de qualquer parte será fatal para o todo. Apenas nessesentido, pode-se entender o desenho de um novo mapa do mundo. Construiresse mapa supõe rejeitar as prerrogativas que sustentam a mentalidade culturaldo Primeiro Mundo como território civilizado, secundado pelos mais pobresque a ele se subordinam [...] para que um país subdesenvolvido tenha condiçãode processar uma informação integrada com sua realidade, é indispensáveluma cirurgia perceptiva que desnude a passividade e a solidão de umarecepção mecanicamente manipulada [...] Essa consciência supõe não apenasdesenhar um novo mapa mas construir uma insólita arquitetura do mundo ondetodos, desenvolvidos e subdesenvolvidos, sejam capazes de produzir umainformação diversificada, apoiada nas particularidades locais que sustentamuma diferente cultura global, onde todos serão mais capazes de avançar doque de acompanhar . (FERRARA, 1993, p. 170-171) [grifo nosso]

Através de outro estudo, Ferrara (1993) reforça ainda mais esta problemática de

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distorção perceptiva das camadas excluídas. Esta constatação é realizada através de um

estudo que enfatiza a análise da percepção ambiental.

Percepção entendida a partir da perspectiva da semiótica, na perspectiva da

semiótica em Peirce (Cf. PEIRCE, 1972; PEIRCE, 1977; Cf. SANTAELLA; NÖTH,

1998; SANTAELLA, 1996, SANTAELLA, 1983, SANTAELLA, 1998, SANTAELLA,

2002).

Segundo Ferrara (1993), a semiótica é considerada a ciência dos signos. Signo é

lógica de linguagem e entende que o raciocínio, experiência, associação e percepção “são

faces da mesma folha e constituem elementos fundamentais da linguagem, enquanto

representação.”16

Para Pierce, o que percebemos se subdivide em duas formas de percepção, a saber:

a) o percepto; e b) o juízo percepto.

O primeiro compreendido como sendo inconsciente, ou seja,

...não agride ou estimula a percepção, daí ser uma fala ausente ‘o percepto [dizPeirce] é completamente mudo’ força a percepção pelo seu caráter desegundidade viva e total; é uma imagem que se apresenta na sensação de suamaterialidade, freqüentemente visual, sem nós permitir o conhecimento ou aconsciência do modo pela qual se constrói. 17

Em linhas gerais, o percepto só capta e registra o percebido sem, necessariamente,

ter consciência crítica do mesmo, ou seja, “apenas do receptor: uma percepção passiva,

próxima a um hábito de perceber espontânea e incontrolável, ao qual não corresponde

crença ou descrença.”18

O segundo, compreendido como consciente,

é uma percepção ativa que depende, integralmente da consciência do receptor,porque é da memória das suas experiências passadas e arquivadas nas suasassociações que ele extrai os predicados que permitem quebrar a singularidade

16 FERRARA, Lucrecia D’Alessio. Olhar periférico: informação, linguagem e percepção ambiental. São

Paulo: EDUSP, 1993. p. 172.17 PIERCE, Charles Sanders. Semiótica e filosofia. São Paulo: Cultrix, 1972, p. 201.18 PIERCE, Op. Cit., 1972, p. 202.

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do percepto, na medida em que lhe impõe uma diversificação de aspectos quese valorizam no conhecimento, porque começam a significar mais. 19

Desta forma, o juízo percepto não é um registro apenas, mas um processo, onde

não se registra, por exemplo, só as qualidades de objeto (cor, tamanho), mas permite

distinguir de outras espécies e gera valor de significado, ou seja, “Esse valor é uma

operação perceptiva mais complexa, porque gera a mudança de um significado.” 20

Neste sentido, as pessoas e o espaço de suas relações contêm uma produção

insessoriável de produção de elementos que estabelecem um processo comunicativo. O

espaço urbano, as mudanças sociais, econômicas podem produzir e afetar esta operação

perceptiva e, conseqüentemente, influir no modo de ver e agir no mundo e no viver em

sociedade, como salienta, a autora.

Além das explicações socioeconômicas do urbano, estão as imagens da cidadeque assinalam uma robusta realização humano uma forma distinta decivilização,. Nessas imagens, estão as representações, a linguagem urbanaatravés da qual não apreendemos as explicações abstratas, mas aquelasconstantes que atingem e modelam o nosso cotidiano.21

Nesta perspectiva e entendimento, é possível, como a autora propõe, falar de uma

semiótica do espaço social que tem como objeto “a linguagem do espaço, o modo como

se representam as suas transformações.”22

Estas representações, segundo a autora,

são os sinais as marcas os processos de transformação deixam no espaço e notempo contando uma história não verbal que nutre de imagens, máscaras,fetiches, que designam uma expectativa, um cotidiano, valores, usos, hábitos ecrenças do homem que dinamiza o espaço social. 23

A percepção nesta linha não trabalha só no entendimento de informações externas

que são jogadas nos indivíduos e provocam um tipo de programação, mas um processo de

19 Idem, p. 201.20 Idem, p. 202.21 FERRARA, Op. Cit., 1993, p. 201.22 Idem, p. 233.23 Idem, P. 233.

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o individuo ter a capacidade de processar as informações geradas por sua experiência

ambiental, em outras palavras, “trata-se de pesquisar a natureza da informação e o modo

como se produz, entendimentos, ambos signos, como representação do processo

perceptivo ambiental.”24

Para melhor ilustrar o uso desta perspectiva, bem como evidenciar os traços do

que estamos entendendo como pobreza perceptiva, a autora apresenta o resultado de uma

pesquisa de percepção espacial/ambiental com base na teoria da percepção semiótica em

Pierce.

A pesquisa foi realizada junto a uma população pobre da cidade de São Paulo, no

bairro de São Miguel Paulista. Além de questionários e entrevistas, a autora fez uso da

técnica de fotografia e da análise semiótica, tendo a foto como índice (pista) para captar a

percepção/representação dos moradores da periferia em relação ao espaço e impacto dos

processos urbanos.

O resultado é que grande parte das fotos e depoimentos não identificam o espaço

coletivo, nem público, mas centralizam o espaço privado à casa e à relação com a posse

de bens materiais, sinaliza um agravamento do processo de participação e das relações

sociais de troca e cooperação para resolução de problemas coletivos, fatores estes que nos

levam a compreender que o processo de urbanização tem grande importância para

compreender a atualidade, pois a urbanização é um processo histórico, considerando que,

no Brasil, há 50 anos, éramos 36% urbanos, 64% rurais e que em, 2000, o censo

demonstra que somos 80% urbanos e 20% rurais (Cf.www.ibge.gov.br, 2000). Esse

processo agasalha várias informações, muitas delas manifestadas na formatação

arquitetônica e nas formas de vivência e organização da população e sua interação com o

seu meio.

Este fato gera um modo diferente de apreender os impactos da

24 Idem, p. 265.

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globalização/metropolização, à medida que a cidade apresenta uma linguagem quase que

invisível, mas que sinaliza vários aspectos do cotidiano e, portanto, do processo de

constituição retórico de uma sociedade.

A pesquisa de percepção semiótica, através da técnica de fotografia, explicita

fatores relevantes para a compreensão dos processos de urbanização na vida cotidiana de

seus moradores, principalmente os da periferia, e dos que vivem à margem dos processos

e avanços tecnológicos e estão na luta pela sobrevivência, mas são profundamente

afetados pelos meios de informação e da cultura consumista e de alienação,

principalmente de elementos do viver comunitário, como bem expressado pela autora a

partir da conclusão da referida pesquisa:

a sociedade de consumo, marcada por certa especialidade técnica no campo detrabalho, e sobretudo, pelo vintém poupado que permite o acesso, ainda quesuperficial, ao mundo do valor de posse, privatiza as aspirações coletivas e ascentraliza na habitação e na tecnologia dos objetos, que isolam ao mesmotempo que satisfazem [...] Vivencia-se uma mudança perceptiva que aspopulações periféricas têm do seu espaço e, conseqüentemente, de simesmas, coloca-se em questão a cooperação mútua, a coesão e açãocoletiva. (FERRARA, 1993, p.125) [grifo nosso]

Não se processa à transformação social, porque não se cria o significado dolugar urbano como coletivo, capaz de elaborar, argumentar e produziridéias e ações, ainda que contraditórias. Elimina-se o espaço urbano comoaquele onde são gerados os valores do debate, da opinião: o espaço como signode coisa viva em processo. (FERRARA, 1993, p. 125) [grifo nosso]

Dessa forma, vemos que a pobreza, diante das múltiplas faces e impactos da

globalização, está apresentando “novas” dimensões, não só estruturais, relativas,

absolutas, políticas, mas agora também a pobreza perceptiva.

Nesse sentido, e como ressalta Nogueira,

os programas de combate à pobreza devem objetivar explicitamente o combatenão só à fome e demais necessidades mínimas de sobrevivência, mas também àfalta de participação e de consciência crítica dos excluídos sociais.(NOGUEIRA, 1991, p. 112)

Isso que não pode ocorrer se as pessoas não percebem de forma favorável a este

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processo.

Assim, a pobreza, como uma das expressões mais paradoxais e marcantes do atual

mundo globalizado, tem levado um grande número de pessoas e organizações a buscarem,

constantemente, novas formas e estratégias de superação dessa ferida que rouba cada vez

mais e de um maior número de pessoas o direito à vida e a dignidade humana. Exemplo

disso é marcado na atualidade pelas prioridades do encontro internacional de meio-

ambiente, a “Rio +10”, que continuando a mudança quanto ao foco do movimento

ecológico, destaca como prioridade a proteção ao meio ambiente e o combate à pobreza.

Para melhor ilustrar esta questão da pobreza perceptiva, a seguir apresentaremos

alguns pontos da evidência acelerada desse processo em nossa realidade.

No início dos anos 80, ficou muito conhecida uma música que tinha o seguinte

refrão: “troque o seu cachorro por uma criança pobre”, e, no final da década de 90, um

fato inusitado trouxe à tona a pertinência desta crítica musical.

Mais especificadamente, em outubro de 1999, a Revista Época (Cf. CAMACHO,

1999, p.122-123) apresentou uma reportagem com o título: “Parabéns au você”, falando

sobre a festa de aniversário de “Pepezinha”, cadela da socialite carioca Vera Loyola,

considerada como o maior símbolo de extravagância da Barra da Tijuca.

Quando questionada pelo ato, no mínimo acintoso, a dama argumentou da

seguinte forma: “meu coração é grande como de São Francisco de Assis e Brigitte Bardot,

gosto de animais. A Pepezinha me dá amor sem cobrar nada. É como se fosse uma

filha. Só fiz esta festa para reunir minhas amigas e trocar amor com os bichos.”25

[grifo nosso]

Além desse fato, e também criticada pelos meios de comunicação sobre atitudes

de ostentação e incoerência, a socialite fez a seguinte justificativa:

estou sempre ajudando crianças carentes, já dei um pingente de ouro e

25 CAMACHO, Marcelo. Parabéns au você. Revista Época, 1999, p. 122.

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brilhantes Cartier meu para uma rifa. Minhas lojas distribuem pão para aspessoas carentes todos os dias [...] Não é o tipo de coisa que se deva ficarespalhando por ai, mas estão falando tanto de mim que acho melhor que saibamque eu ajudo, sim. Só que não posso salvar o mundo [...] Só gastei R$ 500reais na festa: não é tanto assim26 [Grifo nosso].

Mais recentemente, o tema e a pessoa voltaram à cena nacional em um programa

de TV em horário nobre e cadeia nacional e ao vivo (TV Bandeirantes, programa Alô

Brasil, de 11/09/2003 às 22h00), em que Vera Loyola foi sabatinada pelo público e por

um grupo de jornalistas no programa.

Foram feitas várias perguntas, entre elas a principal estava relacionada a seu

comportamento excêntrico e, em específico, ao caso de Pepezinha e do uso de carpetes

persas que foram colocados no chão para que os carros das visitas de uma festa pudessem

passar.

Sobre os tapetes ela respondeu, “o tapete é meu [...] eu uso do jeito que eu quero

... cuida do seu tapete [falando para a repórter que fez a pergunta] que eu cuido do meu.”

(sic)

Sobre o aniversário da cadela, afirmou que: “é mostrar o como eu gosto de

animal.” (sic)

Para justificar este ato, ela disse que, logo após a festa de Pepezinha, deixou de

fazer uma festa de aniversário para ela e fez uma grande festa para crianças pobres do

Rio de Janeiro, gastou, para isso, R$ 1.500,00, enquanto que na festa da Pepezinha, só

gastou R$ 500,00, e conclui, “estava com a minha consciência tranqüila” (sic) [Grifo

nosso].

Ainda foi questionada sobre uma doação para o programa Fome Zero do governo

Lula, para o qual ela teria doado um cheque, mas que ainda não havia sido entregue,

porém foi anunciado em toda mídia. Ela afirma que: “sou muito preocupada com o social

[...] eu estou com o cheque, quero entregar em Brasília para o Lula.” (sic)

26 CAMACHO, Op. Cit, 1999, p. 122.

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Dessas declarações, podemos perceber como exemplo talvez, não predominante,

mas fatalmente presente no imaginário da maioria das pessoas ricas e milionárias, não só

do Brasil como do mundo, uma percepção distorcida do que é “ajuda”, do que é ser pobre

e de como resolver, se e quando se quer resolver a questão de forma mais efetiva, vemos

que é mais do que pobreza, estrutural, absoluta ou política. A pobreza perceptiva anula a

capacidade de ver e agir, frente às questões de pobreza concreta, principalmente da elite e

de quem tem poder de alterar o curso da história.

Essa é, sem dúvida, a essência do que estamos chamando de pobreza perceptiva,

não é nem política, pois beira a banalização, ou seja, a questão para muitos é só de

filantropia, de caridade, e com um objetivo, como, no exemplo citado, “estou de

consciência limpa” (sic)

Em outras palavras, aqui está um tipo exemplar do que o professor Pedro Demo

denomina de “dialética da ajuda”, ou seja, a ajuda é mais para aplacar a consciência de

quem dá a “ajuda” do que para quem recebe a “ajuda”, o que explicita o cúmulo, não de

extravagância, mas do egoísmo humano, pois “ajudar” serve mais para si do que para os

outros, não há honra, nem dignidade e nem efetiva ação de mudança, e, neste sentido,

afirma Demo, “...até santos poderiam ser tachados de egoístas, ao organizar suas vidas de

sacrifícios para ingressar no céu.” 27

Isto aponta para a contradição do discurso falacioso da solidariedade, como

ressalta Demo,

a solidariedade tem sido um discurso contraditório ao extremo, quandoanalisado na trama de poder pode ser algo honesto e desonesto, bem como ter,em posturas que se querem honestas, efeito contrário à revelia, à medida queprovoca subalternidades imperceptíveis e não menos eficazes. 28

Em contra-partida, percebem-se outros seres, crianças sem lar educação e

perspectiva de um futuro melhor, que são tratadas como “cães”, e não como “filhos”,

27 DEMO, 2002, p. 87.

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como certas cadelas são tratadas. É, sem dúvida, uma troca de valores, e fica ecoando a

crítica musical, “troque o seu cachorro por uma criança pobre”, só migalhas não basta. E

é importante ressaltar que não somos contra ao tratamento e cuidado de cães ou outros

animais, mas nos indignamos quando vidas humanas são desprezadas, enquanto outros

seres são mais valorizados, só por que “dão amor sem cobrar nada...”, a vida humana,

neste século XXI, não vale mais do que a de um animal!

Um outro exemplo, que destaca esta questão da pobreza em meio à riqueza, é

explicitado através de outra reportagem da revista Veja, sobre o perfil dos ricos

brasileiros. Nogueira (2000, p. 106), a partir de uma série de fontes, faz um perfil de

quem são, o que pensam e como agem e gastam os ricos brasileiros.

Uma destas fontes de pesquisa, quando declaram, foi a receita federal, onde se

constata que, entre os brasileiros que declaram sua renda, cerca de 2.745 tem um

rendimento superior a meio milhão de reais ano. Isto corresponde a um em cada 60.000

brasileiros que têm esta renda: 9 mil – tem uma renda de mais de 10 milhões; 7 mil – são

homens; 2 mil – mulheres. E todos com mais de 40 anos donos de um patrimônio de 200

milhões de reais.

Entre estes 2.745, de renda superior, as principais ocupações profissionais são

(vejamos só as principais): 1) 697, diretores de empresa; 2) 237, tabelião; 3) 205,

serventuário de justiça; 4) 193, advogados; 5) 177, engenheiros; 6) 110, proprietários de

imóvel; 7) 98, administradores; 8) 83, economistas; 9) 81, comerciantes; 10) 76, membros

do poder legislativo.

Nestes itens, “o que fazem”, além destas 10 principais ocupações, são

apresentadas mais 26 outras ocupações, no total de 36. Curioso mesmo é perceber que,

entre estas 36 ocupações quem têm o maior rendimento do país, 10 são relacionadas a

cargos públicos, ou seja, 27,7% dos nossos ricos são ligados ao poder público, seja

28 DEMO, Op. Cit. p. 12.

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federal, estadual ou municipal!!!

Continuando a análise do perfil dos ricos brasileiros, chamou-nos, mais a atenção

ainda, o item “o que eles pensam”, e em especial sobre o que pensam a respeito da

pobreza. Segundo os entrevistados, o pobre é pobre por dois motivos:

o primeiro está associado à negligência ou à indolência. Acham que o pobrepoderia estar melhor de vida se fossem dedicados ao trabalho, se tivessemmaior envolvimento com aquilo que fazem e valorizassem mais a disciplina e adeterminação. O povo Brasileiro é muito acomodado29.

E a segunda razão está relacionada à força do destino, ou seja, “graças a Deus não

me falta nada, por isso sou mais feliz que a maioria dos brasileiros [...] O rico se sente

como um eleito, um privilegiado.” (NOGUEIRA, 2000, p. 106)

Tais argumentos beiram as idéias da Antiguidade e Idade Média, típicas, como

apresentamos no início deste trabalho, das eras da caridade e da filantropia, e isto em

pleno século XXI.

Outro fato importante de destaque é a percepção de quem deve ter a

responsabilidade de resolver este problema segundo os ricos, quem têm que resolver é o

governo, pois “...eu faço a minha parte...”30.

Não há dúvidas que o modo como vemos e sentimos nos direcionam em relação

ao nosso agir, o que pode ser mostrado através do item “como eles gastam”, onde

poderemos constatar o ápice da pobreza perceptiva em nosso país e mundo. A fonte de

pesquisa é uma das lojas mais caras do Brasil, a Daslu. A reportagem, para ilustrar os

valores dos produtos mais consumidos e em relação à realidade, apresenta uma lista de

produtos e seus respectivos preços e compara a outros produtos, como poder ser vista na

tabela seguinte.

Tabela 1: Comparativo dos produtos da Daslu.

29 NOGUEIRA, César. O que eles pensam. Revista Veja. Ano 3, n.28, de 12/07/2000, p. 106-113.30 NOGUEIRA, Op. Cit., 2000, p. 107.

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Qt. produto Valor R$ QT produto

1 Tamanco 4.000,00 1 Motocicleta

1 Sobretudo 8.600,00 1 Nootbook

1 Bolsa 20.000,00 1 Gol Zero 0k

1 Roupa de noite completa 70.000,00 1 Apartamento dois

dormitórios

Fonte: elaborado pelo autor a partir de PINHEIRO, 2000, p. 108.

Outro levantamento revela que uma cliente típica dessa loja apresenta o seguinte

consumo mínimo ao ano: 20 bolsas, 35 pares de sapatos, 15 blazers, 15 vestidos de noite,

20 taillers, 10 calças jeans, 6 sapatos, com um total de R$ 400.000,00. O perfil deste

consumidor apresenta as seguintes características: renda familiar de R$ 40.000,00/mês,

três viagens por ano ao exterior, casa própria de R$ 500.000,00, motorista particular e

quatro empregadas em casa.

Além desses dados, o depoimento de uma cliente reforça nossa tese, “eu quero

gastar e gasto porque gosto. É meu prazer. Se posso gastar é isso que me dá satisfação

porque não fazê-lo?”31 [Grifo nosso].

Outro fato que nos chama a atenção, mas que também é revelador, mostra o

porquê da percepção e ânsia de querer ter cada vez mais dinheiro e riqueza, o medo e a

angústia de um dia ficar pobre, o que faz com que o dinheiro seja a lente e visão de seu

existir. “Quase todos os entrevistados têm medo de ficar pobre. Não acreditam que

tenham acumulado o suficiente para viver no mesmo padrão para o resto da vida [...] O

dinheiro é a lente através da qual vêem o mundo, ‘para mim, dinheiro é segurança

emocional’”.32

Estes fatos e exemplos, refletidos pela mídia do nosso cotidiano, podem até

parecer superficiais e sem “cientificidade”, mas outras pesquisas, de cunho acadêmico e

não jornalístico, também chegaram a conclusões muito próximas. É uma pesquisa tipo

31 NOGUEIRA, 2000, p. 113.

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survey realizada no Rio de Janeiro pelo IUPERJ – Instituto Universitário de Pesquisa do

Rio de Janeiro, no período de 1993-1995 (Cf. REIS, 2000). Vejamos alguns destes dados

para melhor fundamentar nossa defesa quanto à chamada pobreza perceptiva.

A referida pesquisa faz parte de uma pesquisa ampla e comparativa sobre a

percepção dos ricos ou das elites de alguns países, entre eles Brasil, África do Sul, Índia,

Bangladesch. No Brasil, a pesquisa foi realizada com uma amostra aleatória de 320 casos,

distribuídos nos estados de Rio de Janeiro, São Paulo, Bahia e Ceará, foram realizadas

entre 15 e vinte entrevistas entre a elite brasileira, dividida em quatro grupos: políticos,

burocratas, líderes empresariais e líderes sindicais.

Uma das primeiras constatações, tanto através dos questionários como das

entrevistas, que se sobressae é o discurso de preocupação com a questão social, e em

específico com a pobreza, ou seja, “assim por exemplo, interrogados sobre quais os

principais problemas do Brasil, nossos entrevistados tendem a conferir prioridade a

questões sociais.”33

É apontada como grande causa e desafio e superação da desigualdade e pobreza a

falta de educação. O que fica mais expresso ao responderem, “...quais são os principais

problemas nacionais”, em que 17,5% apontam a inflação, seguida de educação e saúde,

15,9% e pobreza com 14,3%.

Quando indagados sobre o que fazer para combater estes problemas, temos o

seguinte resultado:

1. melhorar os níveis de educação, 23%;

2. reduzir o tamanho do estado, 18,2%;

3. erradicar a pobreza, 17,6%;

4. aumentar a participação popular, 16,4%;

32 Idem, p. 107.

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5. preservar o regime democrático, 11, 3%.

Um dado a ser ressaltado é no item 3 – erradicar a pobreza: do total de 17,6%;

verifica-se que, em relação aos grupos pesquisados, o que apresenta maior freqüência

neste item é o grupo das elites políticas, com 26,9%; seguido do grupo sindical, com

19,8%; da elite burocrática, 19,1%; e, por último, da elite empresarial, 9,6%.

Neste sentido, a

educação é vista como um recurso a ser explorado pelo poder público tendo emvista dotar os setores mais pobres da população de condições para competir porum lugar melhor na estrutura social sem envolver uma ativa redistribuiçãode renda e riqueza [...] Em suma, as elites apostam na possibilidade demelhoria para os pobres sem custos diretos para os não-pobres.34 [grifonosso]

Tal resultado corrobora para a afirmação de Demo ao defender que a elite

brasileira quer resolver a pobreza com pobreza, ou seja,

na verdade, não se atinge a lógica concentradora do sistema. Imagina-se, numtruque monumental e que funciona na proporção da ignorância produzida, que apobreza poder ser resolvida mantendo-se tudo como está, sobretudo osprivilégios da elite. (DEMO, 2002, p. 81)

A pesquisa ainda aponta um fato curioso, o da elite apoiar a reforma agrária como

uma das saídas, mas, segundo observa Reis, isto é facilmente explicável, quando se

percebe que a elite não está mais concentrada no campo, ao contrário, está na cidade; e

esta forma, é melhor que o problema vá para o campo, longe da cidade, ou seja,

quanto mais óbvios os problemas sociais nas áreas mais urbanizadas, maisaqueles que se sentem afetados por tais problemas apostam na volta dasmigrantes pobres e miseráveis ao campo.35

Também é indagado aos pesquisados sobre o fato de que as políticas e ações de

combate à pobreza não dão resultados, a elite culpa o Estado como o grande responsável

por tal fracasso, sendo que os empresários são os que mais acentuam esta idéia, ou seja,

33 REIS, Elisa P. Percepção da elite sobre pobreza e desigualdade. Revista Brasileira de Ciências Sociais –

RBCS, vol.15, nº 42, fev./2000, p. 190.34 NOGUEIRA, Op. Cit, 2000, p. 142.35 REIS, Op. Cit., 2000, p. 147.

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“o padrão de respostas mais comum entre as elites sugere que elas acreditam que as coisas

poderiam mudar se houvesse vontade política e se o Estado cumprisse seu papel.”36

Tal constatação mostra que a elite não se vê como responsável pela desigualdade e

a existência da pobreza na sociedade, além desta transferência de responsabilidade para o

Estado, que tem pouca vontade política e é ineficiente para cumprir com seu papel.

Ao se fazer um comparativo entre as elites do Brasil e da África do Sul, é

perceptível alguns pontos em comum, principalmente quanto ao fato da origem da

desigualdade, a pobreza, se restringir à questão econômica. Como afirma Reis,

ambas as elites nacionais tendem a ver a pobreza, e mesmo a desigualdade,basicamente como corolários de insuficiente crescimento econômico [...]tendem a acreditar que a melhor opção para se combater a pobreza seria oEstado prover as condições necessárias para que o setor privado gere maisriquezas, o que naturalmente criaria oportunidades de melhoria para os setoresmais pobres da população. 37

Receita esta que, ao longo das últimas décadas, está mais que provado que não

funciona, pois a história do “crescer o bolo para depois dividir” ficou só no crescer o bolo

e o dividir de forma concentrada, gerando mais pobres e preservando os ricos,

principalmente em se tratando da situação da América Latina. (Cf. KLIKSBERG, 2000).

Em relação à pesquisa que estamos analisando, ela ainda apresenta outros dados

significativos. Entre eles, a percepção das elites em relação ao Terceiro Setor. Segundo

Reis,

os entrevistados em geral revelam uma clara preferência pela atuação do poderpúblico no combate à pobreza,manifestando descrença na eficiência doTerceiro Setor na área social e, muitas vezes, uma atitude de ceticismo oumesmo desconfiança em relação à atuação de organizações voluntárias. (REIS,2000, p. 150)

Tal fato já não ocorre em outros países, como exemplo Bangladesch, “entre eles

não há dúvida que as ações voluntárias e filantrópicas em geral são percebidas como as

36 Idem, p. 147.37 Idem, p. 149.

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mais eficazes e desejáveis para fazer frente à pobreza e à miséria.”38

O que também difere quanto ao papel da educação, pois, para as elites de

Bangladesch, a educação é primordial, mas para conscientizar, mobilizar e criar formas de

associativismo; já para as elites brasileiras, é um meio para acender socialmente. Fato este

facilmente contestável, pois os dados recentes sobre o desemprego mostram que até quem

tem escolaridade e qualificação está sem emprego.

Desta forma, o estudo de Reis aponta algumas conclusões, as quais apresentamos

resumidamente, dando ênfase aos principais pontos.

1) As elites não assumem o seu papel em relação à questão da pobreza, ou seja,

não parecem reconhecer a interdependência existente entre elas próprias e ossetores da população, nem tampouco parecem, absolutamente convencidas danecessidade de coletivização das soluções sociais [...] atribuem ao poderpúblico a responsabilidade de solucionar problemas, fazem-no, com freqüência,como uma maneira de se eximirem de obrigações sociais.39 [grifo nosso]

2) Esta percepção está intrinsecamente ligada à forma de entendimento do porquê

das desigualdades e da existência da pobreza, bem como a capacidade do Estado em

resolver os problemas a ele determinados.

3) Há uma grande necessidade de melhor apreender a percepção da elite brasileira,

pois querem alterar as ações do Estado no combate à pobreza, sem alterar as relações de

mercado: é impossível o que depende em geral de medidas de outras ações, e dos

envolvimentos dos vários atores existentes na sociedade, dessa forma, conclui Reis,

referente à importância de estudar e agir para alterar a percepção da elite Brasileira:

para ser possível concluir também que se identificarmos as motivações daselites será mais fácil assegurar sua adesão. Se pudermos identificar queargumentos sensibilizam os interesses desses atores teremos expandido nossoconhecimento de forma a precisar melhor que tipo de incentivos seletivospodem ser administrados para fomentar a cooperação ou pelo menos aaquiescência das elites. 40

A partir desses dados, podemos ver que, enquanto países mais desenvolvidos têm

38 REIS, Op. Cit., 2000, p. 151.39 Idem, p. 151.40 REIS, Op. Cit., 2000, p. 151.

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potencializado o Terceiro Setor e a atuação de um estado forte, mas que encontram na

sociedade civil o apoio necessário para o desenvolvimento de suas funções, a elite

brasileira apresenta uma mentalidade muito próxima à da Idade Média e início do século

XIX, ou seja, de caridade, filantropia e de empurrar para o Estado o dever de resolver os

problemas que, via de regra, são acentuados historicamente por eles próprios, além de

cobrar a eficiência de um Estado, que a própria elite debilita, quando faz uso de seus

recursos e poder, de forma privativa, momento este que o Estado se apresenta com grande

eficiência, pois está atendendo aos interesses privativos de grupos minoritários mas que

demandam o poder de articulação política e econômica.

Tal fato fica mais evidente quando percebemos que a elite, ou seja, os donos do

poder político também são os donos dos meios de comunicação41 e de produção, e que

estes é que compõe o quadro das elites que se apresentam com uma percepção distorcida,

equivocada e superficial sobre as origens, conseqüências e responsabilidades de

tratamento e enfrentamento da pobreza, em suas múltiplas dimensões; mas, como vimos,

a globalização traz uma “nova” face da pobreza, que é a percepção já não só do pobre que

não percebe que a pobreza é induzida e fabricada, mas do que tem poder financeiro,

político e meios de persuasão para eliminar, mas que não quer enxergar o seu papel e sua

culpa neste processo.

Desta forma, cremos que os programas e ações de combate à pobreza vão além da

redistribuição de renda, ou de destruir e gerar renda, é preciso trabalhar a mudança da

cultura, de valores e da conduta para que haja comprometimento dos vários atores, e que

os sacrifícios não fiquem mais só na classe pobre, mas todos, cada qual com sua

possibilidade e condição, devem dar sua colaboração para se resolver um problema que

não é só de quem é pobre, mas de todos nós, seres humanos.

41 OLIVEIRA, Edson Marques O tratamento da informação na prática profissional do assistente social:

um estudo de caso São Paulo: PUC, 1996 (Dissertação de mestrado).

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É preciso resgatar valores de humanidade que vão além dos interesses meramente

econômicos, gerar um padrão de consumo que não seja supérfluo, frívolo, desnecessário,

exorbitante e arrogante. Não é possível alguém ser feliz, estar gozando do bom e do

melhor, e além do necessário, enquanto que outros seres da mesma espécie não têm o que

comer para o dia, entre outras palavras, a sabedoria espiritual bem que poderia ser

prevalecida e resgatada, ou seja, “o pão nosso de cada dia nos dá hoje...”, e não o

acumular o pão para poucos enquanto muitos ficam sem.

Ao nosso ver, as políticas de combate à pobreza passam por um controle mais

rigoroso pelos meios de comunicação, da qualidade das programações e do estímulo a

atividades culturais, bem como ações de conscientização por um consumo mais

consciente, mais solidário, e menos superficial, menos arrogante, e menos elitista. Como

bem afirma Maturana (1999).

A miséria não é um acidente histórico, é uma obra nossa [seres humanos],porque queremos o mundo com as vantagens anti-sociais que traz, consigo ajustificação ideológica da competição na justificação da acumulação da riqueza,mediante a geração da escravidão sob o pretexto da eficácia produtiva.42

Dessa forma, não há como ficarmos apáticos e só empurrarmos para os outros

aquilo que temos todos de fazer, pois, como afirma Maturana,

os problemas sociais são sempre problemas culturais porque têm a ver com osmundos que construímos na convivência. Por isso, a solução de qualquerproblema social sempre pertence ao domínio da ética, isto, é, ao da aceitação dalegitimidade de todo ser humano, de todo outro, em suas semelhanças ediferenças [...] A saída, entretanto, está sempre à mão porque, apesar da nossadecadência, todos sabemos que vivemos o mundo em que vivemos, porquesocialmente não queremos viver outro mundo.43

Na negação da elite ou na ineficiência do estado e imobilização dos excluídos,

nota-se o fracasso humano, tanto ético como moral e político de dar prioridade à vida, ao

coletivo, à cooperação, à preservação da espécie humana com dignidade, mas acentuando

42 MATURANA, Humberto. A ontologia da realidade. Belo Horizonte: UFMG, 1999.

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o individualismo, o que gera o que estamos defendendo, como sendo a pobreza

perceptiva, que só poderá ser quebrada com ações que captem o percebido e alterem o

vivenciado, o que requer de todas as partes a capacidade um sentimento que,

infelizmente, está banalizado, o amor.

Na perspectiva da biologia do conhecimento de Maturana, amor tem um sentido

de preservação, de respeito e cuidado não só consigo, mas com o outro, como bem afirma.

Todo sistema social humano se funda no amor, em qualquer de suas formas, oque une seus membros e o amor é a abertura de um espaço de existência para ooutro como ser humano junto a alguém. Se não há amor não há socializaçãogenuína e os seres humanos se separam. Uma sociedade, na qual se acaba oamor entre seus membros, se desintegra. Somente a coerção de um tipo ououtro, isso é, o risco de perder a vida, pode obrigar um ser humano, que não éum parasita, à hipocrisia de conduzir-se como membro de um sistema socialsem amor. Ser social envolve sempre ir com o outro, e só se vai livrementecom quem se ama. (MATURANA, 1999, p. 208) [grifo nosso]

Desta forma, não adiante só distribuir renda, vales, ou cestas básicas, é preciso

mudar a percepção e fomentar o amor, o comprometimento de todos e alterar

profundamente as prioridades. A exemplo que demos no inicio deste tema, o caso da

socialite Vera Loyola, que não é um exemplo isolado, a mesma lógica pode ser vista na

pesquisa da percepção das elites brasileiras e de outros países. Para finalizar esta parte,

mais recentemente vimos um ato mundial retratar bem a percepção das elites globais, que,

se não forem alteradas, pouca coisa de concreto poderá mudar.

Referimo-nos ao embate da conferência da OMC (Organização Mundial do

Comércio),onde em uma ação inédita os países em desenvolvimento, liderados pelo

Brasil, posicionaram-se firmes no tocante a exigir um tratamento mais justo nas relações

internacionais do comércio e, em específico, no campo da agricultura.

Os dados apresentados e as atitudes demonstradas reforça a nossa tese da chamada

pobreza perceptiva, pois ao verificarmos que os subsídios governamentais para

43 MATURANA, Op. Cit., 1999, p. 208.

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agricultores europeus apresentam, além da disparidade do protecionismo comercial, a

desvalorização que tem o ser humano. Tal fato é observado quando constatamos que os

cofres públicos dão 3 dólares por dia em subsídios para a criação de vacas; enquanto que

no mundo, atualmente, 2,8 bilhões de pessoas, e destas, 627 milhões na China; 180

milhões na África Subsariana; e 132 milhões na América Latina vivem com 2 dólares por

dia, isto quando tem (Cf. PERES e SILVA, 2003, p. 44).

Organismos tidos como neoliberais já sinalizam preocupações que outrora não

eram nem cogitadas e até assumem uma “mea culpa”, pelo o atual estado de pobreza no

mundo. Referimo-nos ao Banco Mundial que, recentemente, vem divulgando uma série

de informes e incentivando a criar ações e condições específicas para o combate à

pobreza, ou seja,

se não for proporcionado aos pobres do mundo – da Ásia Meridional à AméricaLatina e à África Subsaariana - maior acesso a serviços de transporte,eletricidade, água e telecomunicações, continuarão pairando sérias dúvidasquanto à possibilidade de atingir a meta internacionalmente ajustada de até2015, reduzir à metade a pobreza extrema.44

A elite é como muitos estudiosos da pobreza na academia que, através de um

discurso de defesa aos pobres, ficam só na retórica metralhando tudo e todos sem nada

propor e, ao contrário, dizendo que “tenho mais dúvidas do que certezas” num ar de

sabichões, são tão culpados quanto aqueles que sabidamente jogam para um Estado falido

a incumbência de resolver o que também é problema deles.

Por isso, cabe bem prestar a atenção na resposta do ministro das Relações

Exteriores do Brasil, Celso Amorim, na OMC, para o comissário da agricultura européia,

Fraz Fischeler, ao se referir a articulação dos países em desenvolvimento dirigidos pelo

Brasil, classificando-a como “é uma coisa do outro mundo. Precisa voltar correndo ao

planeta terra.”45 A resposta acertada e digna, foi: “o comissário europeu é austríaco e vive

44 Disponível em http://worldbank.org acesso em 16/09/2003.45 PERES, Leandro; SILVA, Chrystiane. Morte na festa dos ricos. Revista Veja. nº 37 de 13/09/2003, p.

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nas nuvens dos Alpes frios. Precisa descer ao fundo dos vales do comércio internacional,

até aqui monitorado de modo indecoroso pelos países ricos.”46

Para a academia, é aconselhável sair dos muros das universidades e ver de perto o

que ocorre no mundo real.

Como procuramos mostrar, a globalização gera velhos e novos desafios e em

específico, quanto à pobreza, que não atinge só os excluídos, como historicamente se

constata, mas, principalmente, os que podem fazer alguma coisa efetiva, pois a percepção,

e, conseguintemente, as ações e comprometimento são afetados. A isso chamamos de

pobreza perceptiva.

Antes de passarmos para o próximo tópico, para fecharmos este capítulo sobre a

contextualização e problematização do objeto de nossa investigação, o empreendedorismo

social, queremos ressaltar que, entre os vários fatores de distorção e de percepção, a

pesquisa de Reis ressalta a descrença da elite em relação ao papel do Terceiro Setor, fator

este diferenciado em relação a outros países, tanto desenvolvidos como subdesenvolvidos,

e que em muito pode comprometer o processo de desenvolvimento sustentável, ou seja,

não que estas organizações devam assumir obrigações que são exclusivas do Estado, mas

é inegável a importância das mesmas no tocante ao desenvolvimento do capital social, e

da capacidade de mobilização e articulação da sociedade civil.

O assunto não é pacífico e no cenário da década de 90, é também outro elemento

fundante para a nossa investigação, como procuramos apresentar a seguir.

3 – O CRESCIMENTO, AVANÇOS E A INFLUÊNCIA DO TERCEIRO SETOR

Um primeiro desdobramento dos impactos da globalização da luta no combate à

42-45

46 PERES & SILVA, Op. Cit., 2003, p.45.

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pobreza em suas múltiplas dimensões está na constatação do crescimento, valorização e

polêmica do chamado Terceiro Setor.

Esta constatação pode ser observada, de várias formas. Entre elas, pelo número de

organizações que estão criando centros de estudos, como é o caso da FGV que, desde

1995, criou o CETS – Centro de Estudos do Terceiro Setor; e a USP com o CEATS,

Centro de Estudos e Administração do Terceiro Setor, criado em 1999.

E, mais recentemente, o lançamento de grandes bases de dados sobre o Terceiro

Setor, denominado de “Guia do Terceiro Setor”, elaborado e disponibilizado pela

Fundação Mário Covas, (Cf. www.covas.org.br) em convênio com o NEPO – Núcleo de

Estudos da População da Unicamp e da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados

(Sead); outro denominado de “Mapa do Terceiro Setor”, elaborado e disponibilizado na

internet pelo trabalho do CETS da FGV (Cf. www.mapadoteceirosetor.org.br).

Além de fóruns e organizações de âmbito internacional, como é o caso da ISTR –

International Society for Thierd-Sector e Research (Cf. www.istr.org), e da preocupação

nacional é definir melhor o papel do Terceiro Setor, levando alguns setores a formular o

chamado “Estatuto do Terceiro Setor (Cf. www.rtsoline.org de 26/setembro/2002, acesso

em 10/11/2002). Dessa forma e, necessariamente, não vamos aqui aprofundar o tema no

sentido de esgotar o debate sobre o assunto, até porque o mesmo faz parte de uma gama

ampla de outros fatores de nossa investigação e não é o nosso tema central. Logo,

apresentamos a seguir os elementos que acreditamos serem suficientes para nossa análise,

principalmente para situar o surgimento do empreendedorismo social que está ligado

concomitantemente a este processo. Para tanto, apresentaremos os seguintes tópicos:

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a) embate e polêmica quanto ao papel das organizações do Terceiro Setor;

b) crescente busca pela qualificação e profissionalização das pessoas que

trabalham no Terceiro Setor;

c) crescente transferência de conceitos, técnicas e métodos de trabalho

(gerenciamento e gestão social em específico) do setor privado para o Terceiro

Setor.

3.1 Embate e polêmica quanto ao papel das organizações do Terceiro Setor

Aliada ao crescimento do Terceiro Setor, surge, quase que na mesma proporção,

uma grande polêmica quanto ao seu papel e seu impacto, principalmente frente ao papel

do Estado e da sociedade civil. Tal polêmica faz surgir um interesse cada vez maior de

estudo sobre esta temática (Cf. COELHO, 2000). Há alguns estudiosos defensores que o

Terceiro Setor, além de ser considerado como uma alternativa da sociedade civil, de

intervir efetivamente junto às questões sociais, tem sido considerado como um campo de

desenvolvimento de carreira profissional, e abertura de novos postos de trabalho

principalmente no tocante ao processo de gestão (Cf. TEODÓSIO et.all, 2000, p. 6 e

OLIVEIRA,1996, p. 94). Outros acreditam que este movimento rouba o papel do Estado

que, cada vez mais, se afasta de seu real papel e obrigação, além de produzir um processo

acelerado de “despolitização da questão social” (YAZBEK, 2000).

Partimos do pressuposto de que o crescimento do Terceiro Setor é resultante da

equação, mais problemas sociais, menos soluções por parte do governo e, com isso,

observamos, a partir dos anos 80 e mais acentuadamente nos anos 90, o espantoso

crescimento do Terceiro Setor, não só do ponto de vista numérico (quantidade) mas das

múltiplas formas de organização, finalidades e de resultados (qualidade) frente aos

desafios do enfrentamento dos problemas sociais deste século.

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Um exemplo, ao que estamos nos referindo sobre a capacidade de intervenção

destas organizações, pode ser visto na conquista da aprovação da resolução do Brasil na

ONU (em 2001) que classifica o acesso a medicamentos como direito básico, o que abala

o poder e monopólio das indústrias farmacêuticas, destaca-se,

a briga avança sob a coordenação de organizações não-governamentais(ONGs). Médicos sem Fronteiras e a Oxfam, com sede em Londres e filiais em11 países, trabalham desde o ano passado na Campanha para o acesso aosRemédios Essenciais. (ROSA, 2001, p. 81)

No entanto, a questão não é pacífica e muito menos de consenso, apesar desta

força de intervenção na realidade social e política do contexto do século XXI.

Encontramos pelo menos três grupos de posicionamento.

O primeiro, de estudos que considera o Terceiro Setor como um fenômeno social,

que apresenta uma série de alterações quanto ao associativismo, a gestão das organizações

das políticas públicas e mudanças na forma de ocupação do espaço público e relação entre

estado, empresas e sociedade civil. Destacamos, neste grupo, os trabalhos de Gohn (1996,

1998), o de Melucci (2001) e de Souto-Maior Fontes (2000), como exemplos dos

inúmeros trabalhos nesta perspectiva. A este grupo vamos denominar de Análise do

Terceiro Setor como fenômeno social, como veremos mais à frente. Trata-se de um

grupo que necessariamente não é contra ou a favor, mas vê o mesmo como algo que tem

provocado alterações historicamente determinadas e, como tais, devem ser consideradas

como fatores ou fenômenos emergenciais de uma nova racionalidade e forma associativa

da sociedade civil.

Um segundo grupo vê, com restrições, este crescimento e o papel bem como o

termo Terceiro Setor, como elemento despolitizador, mesmo considerando os benefícios e

a importância da intervenção social destas organizações. Destacam-se, nesta perspectiva,

as reflexões de Yazbek (2002, 2000), de Paoli (2002) e Tenório (1999). A este grupo,

denominamos de análise crítica moderada ao Terceiro Setor, ou seja, faz críticas ao

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novo padrão organizativo das organizações sociais frente à política de seguridade social e

às relações políticas e de cidadania que envolve este processo, apesar de considerarem a

importância e o mérito da ações de inúmeras organizações sociais e empresariais no

campo social.

Finalmente, um terceiro grupo que, de forma mais “radical”, não concorda nem

com o termo Terceiro Setor nem com o debate e nem com a existência destas

organizações que, além de despolitizarem a questão social, são funcionais ao sistema

capitalista e aprofundam as questões de dependência e conservação da desigualdade

social. Destacam-se, nesta perspectiva, os trabalhos de Montaño (2002), Fraga (2003) e

Dupas (2003). A este grupo chamaremos de análise crítica acentuada ao Terceiro

Setor.

A seguir, os principais pontos apresentados por estes três grupos, bem como nossa

compreensão sobre o tema e a inserção de nosso objeto de estudo neste debate.

Lembrando que esta apresentação e análise, que se segue, não tem a pretensão de

abarcar todo o debate em torno da questão, mas sinalizar os principais elementos que são

pertinentes a nossa investigação e melhor compreensão do contexto em que a mesma está

inserida.

3.1.1 Grupo de análise crítica moderada ao Terceiro Setor

Deste grupo, a primeira autora que queremos destacar é a profa. Dra. Maria

Carmelita Yazbek, coordenadora da PUC-SP, do curso de Serviço Social e, mais em

especifico, dois trabalhos seus.

O primeiro (YAZBEK, 2002) dá ênfase ao processo de despolitização do

crescimento e intervenção das organizações do Terceiro Setor. A autora fundamenta sua

crítica a partir da compreensão de que a questão social bem como a da pobreza tem

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sofrido um deslocamento de foco. Quanto ao padrão de tratamento dado ao estado de

bem-estar social, que sequer foi efetivado na realidade brasileira, mas que se agravou a

partir da perspectiva neoliberal de desregulação e afastamento do estado das suas

principais obrigações, ou seja, a questão social como a pobreza, entende-se como

questão e como figuração pública de problemas nacionais: de um lugarpoliticamente construído – lugar da ação, da intervenção, da crítica, dapolêmica e do dissenso – para o lugar da não política, onde é figurado comodado a ser administrado tecnicamente ou gerido pelas práticas da filantropia.47

Segundo a autora, este processo é decorrente da reestruturação produtiva e

desmonte da proteção social e da política social, a partir dos mecanismos do capitalismo

globalizado; neste sentido, “são propostas reducionistas, que esvaziam e descaracterizam

os mecanismos institucionalizados de proteção social.”48

Essa autora faz uma série de críticas a determinadas organizações do Terceiro

Setor, concluindo sua crítica quanto ao papel e interferência no processo das políticas de

seguridade social, e no trabalho dos assistentes sociais, ou seja:

assim, inserido neste contexto em que ganham evidências alternativasdespolitizadas, privatizas e fora das arenas públicas de negociação democrática,para a questão social, os assistentes sociais se vêem confrontados com esteconjunto de transformações que já interferem, ou tenderão a interferir em seutrabalho. (YAZEBK, 2001, p. 2)

Em um segundo trabalho,49 segue quase a mesma lógica de crítica, avançando

mais em específico ao papel do voluntariado e sua relação com a prática profissional do

Serviço Social e o que isso implica, não só na despolitização da questão social, mas na

perda e no agravamento da precarização das condições do trabalho dos profissionais

formados para atuar no campo social, no caso os assistentes sociais. Todos estes aspectos

47 YAZBEK, Maria Carmelita. Terceiro Setor e a Despolitização da Questão Social. Revista Inscrita,

nº 6, Brasília-DF: CEFSS, 2001.48 YAZBEK, 2001, p. 2.49 YAZBEK, Maria Carmelita. Voluntariado e profissionalidade na intervenção social. Políticas Públicas ,

São Luiz, v. nº 6, nº2, p. 23-40, jan./jun. 2002.

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são pesquisados a partir da analise da valorização do trabalho voluntário, da filantropia e

do crescimento do Terceiro Setor, face à contenção ou retração das políticas públicas.

Ela centra a sua crítica no modelo neoliberal, pela “destituição de direitos

trabalhistas e sociais e pela erosão das condições políticas que conferem um caráter

público à demanda por direitos sociais.”50

Este processo faz com que haja a substituição do discurso da cidadania pelo

discurso da filantropia, o que reduz as responsabilidades do Estado e transfere para a

sociedade civil suas atribuições, valorizando com isso as “as virtudes de regulação pelo

mercado e desqualificam-se os mecanismos de regulação pública.”51

Com isso, o cerne de sua crítica pode ser entendida na seguinte afirmação:

confronta práticas igualitárias e constrói uma forma despolitizada deabordagem da questão social fora do mundo público e dos fóruns democráticosde representação e negociação dos diferentes interesses em jogo nas relaçõesEstado/Sociedade [...] Coloca em questão os espaços de reconhecimento dapobreza, e da exclusão social como manifestações da questão social brasileira,como expressão das relações vigentes na sociedade e, neste sentido, comoexpressão pública desta sociedade desigual.52

Destaca essa autora que este processo valoriza, ou revaloriza, práticas de caridade

e filantropia, ou, ainda, o crescente conceito de nonprofit sector (setor não lucrativo),

lembrando que o trabalho voluntário está enraizado na história do Brasil, e que,

decorrente ao surgimento de novos atores como as empresas, nota-se a valorização desta

lógica o que acentua não só a dispolitização deste processo, como também a adesão às

teses neoliberais,

numa clara adesão às teses neoliberais do Estado mínimo, as financiadoraspúblicas a essas entidades configuram-se como subsídios em troca de serviçosprestados, em um processo de cooperação estabelecida contratualmente,configurando uma rede sócio-assistencial formalmente credenciada paraprestação de serviços sociais.53

50 YAZBEK, Op. Cit., 2002, p. 24.51 Idem, p. 25.52 Idem, p. 25.53 YAZBEK, Op. Cit., 2002, p. 29.

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A este fenômeno chama de um encontro com duas lógicas filantrópicas, uma

tradicional e outra “moderna”, ao que chama de “moderna filantropia solidária do

Terceiro Setor.”54

Na seqüência, reforça a crítica ao trabalho voluntário, pois o mesmo

resulta em grande dele mesmo pois, sem dúvida, a filantropia e provisãoassistencial tem sido, ao longo da história, campo de valores como o altruísmo,o solidarismo e da ação voluntária [...] É o voluntário um disfarce para aprecarização do trabalho ou para o desemprego? Ou faz parte dos valores queconstituem um pacto antropológico da sociedade atual?55

Neste sentido, a autora afirma ainda que o trabalho voluntariado contribui, embora

com restrições, ou seja, “mas sabemos também que o trabalho voluntário pode reiterar a

atual despolitização do Estado no encaminhamento de suas políticas sociais, além de

contribuir para despolitizar e refilantropizar a abordagem da questão social.”56

A partir destas colocações, é feita uma série de reflexões sobre a condição epapel de trabalho do assistente social face a estes processos. Aponta comoprincipal desafio ‘...construir um projeto profissional ético e político na direçãode uma sociedade mais justa, mais igualitária e na qual direitos sociais sejamobservados.de articulação: são valores, saberes e escolhas teóricas, práticas,ideológicas, políticas, éticas, normalizações acerca de direitos e deveres,recursos político organizativos, processos de debate e investigação.’57

Propõe, ao final, que se avance quanto ao estudo e maior profundidade para se

identificar tendências, conseqüências e possibilidades deste processo, salientando que a

“intervenção cuja finalidade não será alcançada sem o aprofundamento de práticas

públicas, democráticas, participativas e voltadas à efetivação de direitos de cidadania.”58

O segundo texto, nesta linha, é da Professora Paoli59, da USP, em específico neste

trabalho, ela concentra sua análise na questão da inserção das empresas no campo social,

54 Idem, p. 30.55 Idem, p. 31.56 Idem, p. 31.57 Idem, p. 38.58 YAZBEK, Op. Cit., 2002, p. 39.59 PAOLI, Maria Célia. Empresas e responsabilidade social: os enredamentos da cidadania no Brasil. In.

SOUZA SANTOS, Boaventura de. (org.) Democratizando a democracia: os caminhos da democraciaparticiativa. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002 (reiventar a emancipação social: para novosmanifestos, volume 1).

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mas deixa claro que isso está relacionado ao crescimento do Terceiro Setor. Vejamos

quais seriam as principais críticas sobre o assunto.

A partir do referencial do conceito e noção de política e da compreensão da

indissociabilidade entre público e bem comum, a autora insere o crescimento do Terceiro

Setor neste contexto, onde o processo de reodernação produtiva e o avanço do

neoliberalismo alteram os processos de gestão da coisa pública.

Tais impactos fazem com que a população altere sua visão e percepção de futuro, ou seja,

pede-se,então que a população aprenda a viver sem o horizonte das garantiascoletivas, ou, para evocar a expressão de Beck (1992), acostume-se a uma‘sociedade de risco’, o que de fato não mudaria muito o conhecimento da vidaque a população brasileira trabalhadora pobre já tem, há muito tempo, dasociedade na qual vivem. Na falta de um contrato social real, resta ‘humanizar’,eficientemente esta perspectiva, realizado-a radicalmente com uma sociedadecivil auto-referida.60

Aponta ela que a experiência do voluntariado, bem como a participação do

empresariado, tanto diretamente, como através de organizações formadas por elas, são

válidas, mas são privativas, pois as escolhas das áreas de atuação não passam pelo crivo

democrático e de uma política pública, em outras palavras, a crítica da autora poderia ser

resumida na seguinte declaração:

de fato, essas iniciativas marcaram o lado positivo da presença empresarialmobilizadora de energias de doação que se remetem discursivamente àcidadania , e nada se poderia dizer contra elas se funcionassem dentro deuma sociedade apoiada em garantias reais de direitos universalizantes.Mas para ser também politicamente relevante como uma experiência deformação de atores investidos de responsabilidade social, seria preciso queo movimento de filantropia empresarial reconhecesse, na sua própriaconstituição, a projeção da sombra da disputa pelo poder de enunciar oespaço público e a cidadania sob o cenário da deregulamentação estatal.61

[Grifo nosso]

Como podemos ver, a crítica está muito próxima da análise anterior, e, como

veremos, a terceira também apresenta cerca similitude, pois o autor o Professor Tenório,

60 PAOLI, Op. Cit., 2002, p. 385.61 PAOLI, Op. Cit., 2002, p. 414.

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do curso de Administração Pública, da FGV62, em seu escopo de análise, faz menção

justamente a este aspecto da institucionalização do Terceiro Setor, face aos

desdobramentos recentes da sociedade, verifica-se que o mesmo é reconhecido pelo

desempenho em áreas que não têm sido devidamente tratado tanto pelo mercado, como

pelo governo.

Esse professor também parte do princípio do conceito de espaço público, como

sendo fundamental para as ações que, independentemente de sua origem, afetam e

interferem no espaço público, ou seja,

o conceito de esfera pública pressupõe igualmente de direitos individuais ediscussão, sem violência, de problemas através da autoridade negociada [...] é oespaço inter-subjetivo, comunicativo, no qual as pessoas tematizam suasinquietações por meio do entendimento mútuo.63

Ressalta ainda que, a partir deste entendimento, não se pode atribuir à sociedade

civil o papel que cabe ao Estado, principalmente quanto à elaboração de estratégias para

resolução de problemas a vida socioeconômica e política da sociedade.

Considera que, no fluxo em que andam o processo de desregulação do papel do

Estado, muito mais a serviço do mercado do que da sociedade, esse processo poderá

ocorrer com o Terceiro Setor, e enquadrar-se no que o autor chama de pensamento único

e não cumprir com o seu verdadeiro papel de “agente social na sociedade”.

Mas esse autor considera que o Terceiro Setor é importante, pois representa uma

forma diferenciada de atendimento das demandas da esfera pública. Sua crítica, porém,

pode ser apreendida na seguinte questão:

nos nossos estudos, ainda que preliminarmente, podemos observar por um ladoque a procura de ‘profissionalização’, do setor tem, na realidade, objetivadomais a busca de estratégias de sobrevivência organizacional e/ou de grupos, doque tornar mais efetiva as suas ações enquanto agentes sociais da sociedade [...]os profissionais desempregados e/ou aposentados dos primeiros e segundossetores, procurando sobreviver na sociedade de risco dos dias atuais, levam

62 TENÓRIO, Fernando G. Um espectro ronda o Terceiro Setor: o espectro do mercado Chile: ISTR-Lac,

1999.63 TENÓRIO, Op. Cit., 1999 , p. 8.

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suas tecnologias gerenciais de orientação estratégica, para os espaçosdestinados a orientação dialógica.64

Em outros termos, à medida em que o Terceiro Setor se aproxima do estilo

gerencial do segundo e o primeiro não cumpre com seu papel de financiador de políticas

públicas eficazes, o terceiro acaba entrando num processo semelhante ao do mercado

empresarial competitivo, para sobreviver no escasso espaço público de investimento e

demais recursos para cumprir com suas tarefas.

Neste sentido, o autor propõe que o Terceiro Setor

deve atuar numa perspectiva dialógica, comunicativa, na qual suas ações devamser implementadas por meio da intersubjetividade racional dos diferentessujeitos sociais a partir de esferas públicas em espaços organizativos dasociedade civil, a fim de fortalecer o exercício da cidadania deliberativa.65

A partir do exposto, é possível fazer uma síntese destas críticas.

1) O primeiro ponto a ser ressaltado é a preocupação quanto à questão política

compreendida de forma a privilegiar o espaço do debate e do planejamento

participativo nas escolhas e deliberações o que, em muitos casos, não ocorre no

Terceiro Setor.

2) A crítica quanto ao voluntariado e ao empresariado junto à prestação de

serviços no campo público, que seria de exclusividade do Estado.

3) A inoperância e desmantelamento das políticas públicas, de conquistas de

direitos e a desresponcibilização do Estado e delegação para a sociedade civil

resolver os problemas sociais.

4) Há, porém, o reconhecimento da importância e da validade deste trabalho,

desde que se salvaguarde as considerações quanto à quebra do ciclo de

caridade, privacidade e falta de universalidade das ações.

64 TENÓRIO, Op. Cit., 1999 , p. 18.65 Idem, p. 19.

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Passemos agora à análise do segundo grupo, no qual podemos verificar certa

semelhança com a diferença de uma postura mais radical, que é marcada pela

desconsideração, quase que total em alguns casos, da ação destas organizações.

3.1.2 Grupo de análise crítica acentuada ao Terceiro Setor

O primeiro trabalho a ser destacado, deste grupo, e, talvez o mais enfático, é do

Prof. Dr. Carlos Montaño66

O estudo é realizado a partir de textos, ou seja, uma análise bibliográfica do que se

tem produzido sobre o assunto, Terceiro Setor, termo considerado pelo autor como

inadequado, por ser mais uma ideologia do que um conceito propriamente dito.

Propõe-se a fazer uma leitura crítica, pautada na perspectiva da crítica à economia

política em Marx, e se intitula como uma análise de totalidade do real. No entanto, o seu

estudo, como o próprio autor explicita, só faz uma análise externa do fenômeno.

Se não contamos com uma ampla visão de dentro das organizações dochamado ‘Terceiro Setor’, limitando nosso domínio da enorme variedade dedados produzidos neste debate, nossa abordagem de fora permite compreendero debate no seu verdadeiro papel e significado social, como umaparticularidade de um processo social mais amplo. [grifo nosso]

Após fazer uma longa e exaustiva análise dos fatores socioeconômicos do sistema

capitalista, ele centra sua tese no tocante a afirmar que o Terceiro Setor, seu debate e a

existência destas organizações só servem para afirmar os processo históricos de exclusão

social e são de maneira “inovadora”, uma forma conservadora de manipulação dos

interesses da classe dominante, ou seja:

o debate do ‘Terceiro Setor’ desenvolve um papel ideológico claramentefuncional aos interesses do capital no processo de reestruturação neoliberal, nocaso, promovendo a reversão dos direitos de cidadania por serviços e políticassociais e assistenciais universais, não contratualistas e de qualidade,desenvolvidas pelo Estado e financiadas num sistema de solidariedadeuniversal compulsória.67

66 MONTAÑO, Carlos. Terceiro Setor e Questão Social: crítica ao padrão emergente de intervenção

social. São Paulo: Cortez, 2002.67 MONTAÑO, Op. Cit., 2002, p. 259.

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As principais conclusões e críticas do autor seriam:

1. induz a uma postura de desintegração e de possibilidades de mudança, sem

contudo haver a interferência efetiva do cumprimento do Estado neste

processo;

2. gera uma sociedade civil dócil e dentro dos ideais e interesses de manipulação

do estado neoliberal, que estimula a sociedade civil a agir como estado;

3. elimina o debate, a disputa, e cria o consenso, a apaziguação das massas e,

portanto, a desmobilização da sociedade quanto aos movimentos

reividicatórios;

4. ressalta que, na luta travada no espaço público, o principal ator é a sociedade

civil, e as organizações sociais meros coadjuvantes;

5. a lógica do debate em torno do Terceiro Setor é mais do ponto de vista

gerencial do que político, ou seja,

na melhor das hipóteses de gestão controlada de recursos comunitários para asrespostas concretas a demandas pontuais e individualizadas. Esta lógica éfortemente funcional à manutenção da ordem, porquanto elimina do seuhorizonte político as contradições de interesse de classes. Esta é umamobilização por gestão controlada de recursos comunitários.68

6. fragmenta as ações sociais, o que imobiliza os setores, pois cada qual está na

sua área e problema a ser resolvido, ou seja, “com tudo isso, o conceito e o

debate sobre o ‘Terceiro Setor’ prestam um grande serviço ao capital e à

ofensiva neoliberal, nossa luta pela hegemonia da sociedade civil.”69

Ao final, o autor faz uma, entre poucas ou quase que nenhuma, proposta:

“revitalizar os movimentos sociais articulados e não a sociedade civil – e restringir a

68 Idem, p. 277.69 MONTAÑO, Op. Cit., 2002, p. 280.

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ONG como sua ‘parceira’ – e não do Estado ou da empresa/fundação capitalista - é tarefa

essencial.”70

O segundo texto, dentro deste grupo, é o de Fraga 71, que resgata o surgimento das

ONG (organizações não-governamentais) e dá ênfase ao contexto da década de 90, como

sendo um momento histórico de mudança quanto ao papel e influência destas

organizações e o surgimento do conceito de Terceiro Setor.

Entre estas mudanças, está a alteração das relações com o Estado, que antes, nos

anos 60 e 70, eram de oposição, ou contestação, o que modificou o seu papel, agora mais

como parceiras do que contestadoras.

Também ressalta a relação com os movimentos sociais, e a questão da

representação, pois, em certa medida, as ONGs substituem os movimentos sociais que

nesta época sofrem uma queda em sua participação nos processos de reivindicação. No

entanto, segundo o autor, isso não é verdadeiro

apesar de constituírem grandes parceiras, a participação de instituições nãogovernamentais com representantes da sociedade civil é bastante criticada pelosmovimentos sociais, pois as ONGs não representam nenhuma parcela dasociedade, embora haja o reconhecimento da importância dos trabalhosdesenvolvidos.72

Ressalta também que, nos anos 90, é nítido o crescimento destas organizações e a

diminuição das fontes financiadoras, principalmente internacionais que, decorrente a

eclosão do leste Europeu, começaram a transferir para estes espaços a concentração de

investimentos que levaram estas organizações a buscarem a sua sobrevivência de outras

formas, inclusive de parcerias com o estado.

70 Idem, p. 274.71 FRAGA, Paulo César Pontes. As ONGs e o Espaço Público no Brasil. Disponível na internet em

www.unesco.org.uy/most/seminario/ones-gobernancia/docuemento/PauloFontes Fraga.doc acessoem 11/09/2003.

72 FRAGA, Op. Cit., 2003, p. 7.

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Critica eletambém o papel destas organizações quanto ao espaço público,

reafirmando que as mesmas não podem de modo algum exercer um papel que não lhes

cabe, em síntese, a crítica poderia ser vista da seguinte afirmação:

de outro modo, não concordamos com o papel assumido por determinadossetores do campo de reivindicar, de forma cada vez mais freqüente, a condiçãode ator social. Não concordamos com esta posição [...] Por mais quereconheçamos mudanças significativas no papel exercido pelas ONGs na esferapública, reafirmamos a noção de campos.73

O terceiro trabalho, nesta linha, é o de Dupas74, que, em um capítulo específico,

faz uma análise sobre a crise neoliberal e sociedade civil, centrando a análise no papel das

ONGs e da responsabilidade social empresarial neste contexto.

Apresenta uma série de fatores conjunturais que levaram a recentes embates na

esfera pública, em específico, o resultado do surgimento de uma nova sociedade civil que

veio ocupando enormes espaços deixados tanto pelo mercado como pelo Estado. Nestas

ocupações, surgem com força as ONGs e grande corporações empresariais a entrarem no

cenário de intervenção social, ou seja,

o recuo das políticas públicas e a admissão de esgotamento dos Estadosnacionais em sua inissão de mediar, pelo exercício da política, as crescentestensões sociais fruto dos efeitos negativos do capitalismo global, levaram asgrandes corporações – por sua vez a descobrirem um novo espaço que estárendendo altos dividendos de imagem pública e social: o desejo do governo deempurrar para o âmbito privado as responsabilidades e os destinos dadesigualdade.

Tais fatores alteraram profundamente as relações entre o setor público e o privado,

pois “privatizou-se a esfera pública e publicitaram-se os interesses privados”75,

acarretando, desta forma, em práticas que diluem a referência das coisas públicas e

políticas com um discurso de redução da injustiça social.

73 FRAGA, Op. Cit., 2003, p. 9.74 DUPAS, Gilberto Tensões contemporâneas entre o público e o privado. Rio de Janeiro: Paz e Terra,

2003.75 DUPAS, Op. Cit., 2003, p. 78.

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O autor, apesar de também reconhecer em grande medida estas ações, não deixa

por menos ao destacar o fator mais agravante deste processo, a despolitização da coisa

pública, como ele mesmo ressalta:

a responsabilidade social das empresas é despolitizadora da questão social, poisparte da desqualificação do poder público e, portanto, desconhece apossibilidade aberta pelo conflito interno no terreno das práticas políticaspúblicas visando criar compromisso e qualidade diante dos cidadãos [...] Mas opressuposto essencial para a prática da cidadania é a existência e a explicitaçãodos conflitos [...] a luta pela cidadania é um embate por significados, pelosdireitos à fala e à política, que se faz aprofundando-se do léxico dos direitos eredefinindo-os em outro patamar mais abrangente.76

Nesta perspectiva, esse autor propõe que se introduza nestas organizações a

dimensão da universalização, ou seja, “trazer para dentro delas o conflito, as grandes

divisões da sociedade, os crivos principais que dividem, hierarquizam, estruturam,

discriminam e privam na e a sociedade.”77

Neste grupo, como procuramos evidenciar, há uma crítica mais acentuada e

contudente que, apesar de considerações favoráveis, no caso dos dois últimos, a crítica é

severa, principalmente quanto às relações e modos políticos de negociação, planejamento

e ações no campo social e espaço público. Mais contundente ainda foi o primeiro que

ressalta a problemática até em discutir, muito menos ainda de considerar qualquer fator

positivo.

É preciso, neste caso, fazer uma síntese separada, entre os dois últimos e o

primeiro texto. Os dois últimos são semelhantes quanto à crítica sobre espaço público e

alteração das relações e a necessidade de mudança quanto à representação das

organizações que compõem o Terceiros Setor, além de verem a necessária e efetiva

participação do Estado no papel de protagonista principal, sem delegar à sociedade civil o

papel de resolvedor dos problemas sociais.

76 Idem, p. 80.77 Idem, p. 80.

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Já o primeiro, além também de conter estes elementos, se diferencia pela

intrangigência e pessimismo exacerbado quanto ao fato destas organizações estarem,

apesar das contradições, efetuando algum efeito positivo e, além e lamentavelmente, de

não propor nada e sinalizar de forma muito superficial alternativas de substituição desta

relação das organizações do Terceiro Setor.

Mas tal visão não poderia ser diferente, principalmente quanto à possível

proposição ou consideração quanto ao lado positivo destas ações. Fato este considerado,

ora mais e ora menos, por autores também críticos deste fenômeno, é decorrente a

limitação de uma análise pretensamente totalizante,mas que fica só na esfera externa e na

produção literária, sem contudo destacar ou analisar fatos empíricos que são contundentes

para uma análise verdadeiramente mais ampla e crítica, que vai além da ideologia.

Sobre este tipo de abordagem, Nassif78 faz uma crítica muito apropriada, a qual

reproduzimos por entender adequada ao fato detectado na análise referida:

“o processo de conhecimento é invertido. Primeiro define-se os princípios

ideológicos, depois adaptam-se os fatos a eles. E, em qualquer circunstância, querem

‘refundar’ tudo – do que está errado ao que deu certo.”

Tal perspectiva ignora as possibilidades de que este fenômeno pode também, e

paradoxalmente, como é o próprio sistema capitalista, estar engendrando novas formas de

intervenção na realidade social, o que não passa pela aplicação de dogmas que mais se

prestam a seitas religiosas que perspectiva científica de conhecimento e intervenção na

realidade.

É o que encontramos no grupo que denominamos de análise do Terceiro Setor

como fenômeno social, ou seja, o mesmo não é acrítico, ou pior, não é apolítico,

simplesmente, não coloca uma ideologia em cima e depois faz a análise, mas antes

78 NASSIF, Luiz. Os acadêmicos e o governo Lula. Folha de São Paulo. Caderno Dinheiro, p. B3, de 4 de

fevereiro de 2003.

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procura evidenciar os fatos e considerá-los como elementos novos de um novo momento

e que, em si, trazem a contradição e neste espaço a possibilidade de se verificar novos

contornos de associação e cooperação entre os atores que, sem dúvida, devem estar

atentos às novas e velhas artimanhas de velhos atores que aproveitam dos momentos

históricos para dar continuidade e manutenção ao estado de pobreza, o que não é difícil de

se perceber como veremos a seguir.

3.1.3 Grupo de análise do Terceiro Setor como fenômeno social

Uma autora que tem chamado a atenção quanto ao modo de estudar nesta

perspectiva é a professora Gohn, da Unicamp-SP, que apresentaremos a partir de um

trabalho que se refere a79, alteração dos movimento sociais e o surgimento de novas

formas de associativismo, que está relacionado ao processo de crescimento do Terceiro

Setor.

Segundo a autora, os movimentos sociais tiveram o seu auge no inicio dos anos

80, quando da abertura da política com a queda da ditadura militar, mas sofreu um refluxo

nos anos 90, o que é decorrente do despreparo dos movimentos sociais quanto ao novo

cenário, já não tanto de reivindicação mas de uma postura diferenciada, ou seja,

a maior parte dos movimentos sociais populares entrou, nos anos 90,despreparados diante da nova conjuntura de políticas sociais estatais deparcerias entre estado e entidades da sociedade civil organizada.80

Destaca que, aparentemente, tem-se a idéia de que, nos anos 90, os movimentos

sociais tenham desaparecido ou se enfraqueceram, mas o fato é que, diferente dos anos 80

quando havia um número menor de organizações sociais, os investimentos eram mais

ampliados. Nos anos 90, cresceram as organizações e diminuíram as fontes de captação

79 GOHN, Maria da Glória. O novo Associativismo e o Terceiro Setor. Revista Serviço Social e Sociedade.

Ano XIX, nº 58. São Paulo: Cortez, 1998.

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de recursos, levando muitos líderes dos movimentos a buscarem a sobrevivência não só

das organizações, como também deles próprios, havendo assim uma desmobilização dos

movimentos e crescimento da preocupação da sobrevivência dos líderes e das

organizações.

Segundo Gohn, “luta social nunca morre e ela se apresenta historicamente de

várias formas”81 o que apresenta outras formas de atuação e não necessariamente o

desaparecimento. Dá como exemplo a mudança do foco de alguns movimentos ainda

atuantes, como os sem-terra, que atuam mais no campo do que na cidade, alterando as

formas e estratégias de ação, mas não desaparecendo a característica de movimento

social.

Tal fato leva as organizações e os movimentos a mudarem de atitude, ou seja, de

uma postura simplesmente de contestação, pressão e reivindicação, típica dos anos 70,

passam, nos anos 80 e 90, para um processo de negociação, ou seja, de um agir coletivo e

não só de reivindicação/contestação,

estamos trabalhando com a concepção de que o movimento social recentedefinido por Castells ‘como ações coletivas propositivas, as quais resultam, navitória ou no fracasso em transformações nos valores e instituições dasociedade.’82

Nesta perspectiva, a autora apresenta uma distinção entre as ONGs até os anos

70/80 e das ONGs, nos anos 90/00. Na primeira fase 70/80, eram ONGs mais politizadas

ligadas a partidos políticos; já na segunda fase 90/00, estão se expandindo como

empresas, e, como sem fins lucrativos, se denominam cidadãs atuando em áreas sociais de

maior precariedade.

Ressalta também que as ONGs resgatam o conceito e sentido de sociedade civil,

além de mudarem o padrão de relacionamento com os investidores internacionais que

80 GOHN, Op. Cit., 1998, p. 11.81 GOHN, Op. Cit., 1998, p. 12.82 Idem, p. 14.

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começam a atuar mais como assessores e consultores do que investidores para, com isso,

dinamizar os processos de gestão destas organizações. Isso a fim de realizarem

verdadeiras reengenharias em seus processos para sobreviverem, ou seja,

se a palavra de ordem passou a ser eficiência e produtividade na gestão deprojetos sociais, para gerir recursos que garantam a sobrevivência das própriasentidades, ter pessoal qualificado com competência para elaborar projetosqualificados passou a ser uma diretriz, e não mais a militância, oengajamento à causa em ação. 83[grifo nosso]

Com isso, a forma de se relacionar dos atores, Estado e ONGs se altera, pois se

deixa de ser o reivindicador, para ser o parceiro e cooperador, deixando simplesmente de

só criticar ou virar as costas e começar a largar o espaço publico de intervenção e

contribuir para84 a criação de mais espaços democráticos de inclusão social, o que gera,

segundo a autora, um processo de um novo tipo de associativismo.

Os fenômenos associativos que ocorrem no espaço urbano, construídos a partirdo estímulo do poder público à mobilização da população organizada em redesinterativas, apresentam grande base de institucionalidade e pouca mobilizaçãode fato, assim como pequena visibilidade política na mídia.

Desta forma, a organização e eixo articulador está pautada em princípios de

solidariedade em torno de causas de identidade mais localizadas, e menos de mobilização

de massa e, com isso, nos anos 90, surgiram vários tipos de sociabilidades,

como forças vivas e atuantes, compondo, com as redes associativas plurais, umnovo campo de força democrática na sociedade. O cenário se amplia quandoacrescentamos as formas de sociabilidade de mundo do lazer e do socioculturalcompondo um universo de identidades coletivas muito ampla e diferenciada. 85

Essa perspectiva é ressaltada pela autora em outro trabalho86 onde analisa o

impacto do movimento feito por Betinho pela fome e pela vida, onde a autora destaca os

motivos do sucesso deste movimento social, pois,

83 GOHN, Op. Cit., 1998, p. 15.84 Idem, p. 17.85 Idem, p. 15.86 GOHN, Maria da Glória. A ação da cidadania contra a miséria e pala vida ou quando a fome se

transforma em questão nacional. In. GAIGER, Luiz Inácio. Formas de combate e de resistência àpobreza. São Leopoldo: Unisinos, 1996.

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na realidade, foi a simples tomada de consciência da população que gerou aexplosão do crescimento dos comitês em 1993. Uma boa porcentagem deles foiorganizada a partir de estruturas organizativas já existentes, formada a partir doaprendizado prévio das experiências coletivas em movimentos sociais como asCEBS.87

Dessa forma, o sucesso maior foi pela base religiosa e a influência que estes

valores tem na população, ou seja, “os laços de solidariedade criados baseavam-se numa

consciência moral momentânea.” (GOHN, 1996). A campanha em si não resolveu o

problema do país mas, sem dúvida, trouxe o exemplo da capacidade de articulação da

população e a possibilidade de associação que tanto têm sido afetadas pela violência e

intolerância que assolam nossa sociedade.

A autora destaca uma frase do Betinho, que marca a essência do movimento, e

enfatiza que um dos primeiros grupos a contribuírem para o movimento veio do mundo

da cultura “foi o mundo da cultura que primeiro aceitou o desafio de mudar. De criar um

outro Brasil. Sem pobreza e sem a arrogância dos ricos. Sem miséria.” (GOHN, 1996, p.

55)

O que marca a análise, tanto de um texto como de outro, é o fato de as ONGs

passarem de uma lógica crítica-contestatória para uma lógica crítica-propositiva-

operatória, ou seja, o agir em solidariedade, construindo espaços públicos de exercício da

cidadania. O Terceiro Setor, neste caso, contribui fundamentalmente para este processo.

O segundo texto deste grupo irá corroborar ainda mais nesta perspectiva, pois

Souto-Maior Fontes88 apresenta o conceito de capital social e faz uma análise do

crescimento do Terceiro Setor como um fator propulsor deste conceito, bem como aponta

para a criação de uma rede social significativa a partir das ações das organizações sem

fins lucrativos e do voluntariado.

87 GOHN, Op. Cit., 1996, p. 37.88 SOUTO-MAIOR FONTES, Breno Augusto. Capital social e Terceiro Setor sobre a estruturação as redes

sociais em associações voluntárias. Anais do II Seminário sobre Gestão Organizacional do TerceiroSetor: cidadão e voluntariado São Leopoldo: Unisinos, 2000.

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Segundo o autor, as associações se mostram, na atualidade, como o locus e ponto

de encontro e ligação entre as pessoas e as práticas de sociabilidade e solidariedade, o que

se materializa em uma rede social estruturada onde a centralidade é o processo de

sociabilização entre os indivíduos em seu cotidiano.

Ainda ressalta que os motivos para esta sociabilidade são de origem religiosa,

território, questões de gênero e etnia, o que traz a este fenômeno uma complexidade de

análise onde formas clássicas já não dão conta da leitura deste fenômeno, ou seja,

o que pode ser caracterizado como um paradoxo: diante de um mundo cada vezmais globalizado: se localizam cada vez mais em laços ancorados emsociabilidades específicas; conceitos totalizantes utilizados até então pelasciências sociais, como classe, Estado se tornam inadequados para explicar estanova realidade. 89

E, nesse contexto, o voluntariado assume um papel muito importante, pois gera

um recurso vital quanto ao estoque de capital humano e social. O primeiro, em relação ao

conhecimento, experiência e capacidade de inovação; e o segundo, como sendo a

capacidade e a habilidade de gerar livremente formas de associação e solidariedade entre

as pessoas, bem como na geração de novos valores.

O capital social, desta forma, é o fator diferenciado e de maior impacto quanto à

relação do voluntariado, ou seja,

o que caracteriza, desse modo, uma associação voluntária é exatamente estavinculação com uma prática que se consubstancia a partir de um estoque decapital social, que por sua vez depende de um padrão de estruturação desociabilidade particular.90

Dessa associação voluntária e de fomento do capital social é que emana o

crescimento do Terceiro Setor e, segundo o autor, floresce dessas organizações

instrumentos de potencialização de uma cultura cívica que, por sua vez, geram novos

padrões de associação, cooperação e tipos específicos de estruturação de redes sociais.

89 SOUTO-MAIOR FONTES, Op. Cit., 2000, p. 16.90 SOUTO-MAIOR FONTES, Op. Cit., 2000, p. 10.

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Nota-se que, entre os processos inovadores de associação, destaca-se a geração de

laços de união que se diferem de padrões anteriores, ou seja, “...são antes de tudo,

identidades construídas a partir de reconhecimento difuso do eu e do outro, que transpassa

rígidas fronteiras de sociabilidade antes predominantes, definidas, por exemplo das

identidades de classe e de nação.”91

Com isso, as ONGs desempenham papel significativo quanto à prestação de

serviços sociais, o que se dá em uma estruturação de redes, atuando em espaços públicos

que não são atendidos pelo Estado.

Também faz alusão ao que alguns autores têm chamado de declínio dos

movimentos sociais. O autor considera que não se trata de um declínio, ou até

desaparecimento dos movimentos sociais, mas que, decorrente do crescimento do

Terceiro Setor, observa-se o surgimento de novos processos de participação, ao contrário

do desaparecimento dos movimentos sociais, ou seja,

verifica-se uma associação mais estrita destes movimentos como ONGs,entidades religiosas, setor público, etc, para a produção de serviços,abandonando práticas antes dominantes de protesto e contestação.92 [grifonosso]

Ainda, segundo o autor, o protesto, a contestação dá espaço para o agir, não menos

crítico, mas substancialmente mais propositivo, além de só reivindicar também contribui

com a criação de serviços e produtos com impacto social.

Nesse processo, as organizações buscam formas alternativas de sobrevivência,

entre elas a organização em redes, o que afeta profundamente as noções de território,

esfera local, relações nacionais e até internacionais.

Desta forma, as organizações do Terceiro Setor contribuem junto com o

voluntariado, na fomentação de novos laços e vínculo de solidariedade, fundados em

estruturas de redes sociais, que influenciam nos processos de sociabilidade tanto local

91 Idem, p. 11.

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como global, bem como gera capital social, fator essencial para criar mudança dos

processos de gestão da mudança social.

No terceiro texto, que a seguir vamos analisar, Melucci,93ao estudar as novas

formas dos movimentos sociais em sociedades complexas, refere-se em específico ao

voluntariado como um tipo de fenômeno sociológico e de ação coletiva, que se

caracteriza pelo vínculo espontâneo de pessoas para a realização de uma tarefa e que, não

recebe nenhum retorno econômico imediato, o que significa uma adesão livre.

Sobre os principais aspectos deste processo ressalta o autor quatro pontos

fundamentais:

através da ação voluntária se formam e se consolidam habilidades técnicas,profissionais, políticas, que podem gradativamente ser gastas no mercado ounas instituições públicas [...] segundo lugar, a participação na ação voluntáriadesenvolve uma função expressiva para os próprios participantes. Agratificação psicológica e social que pode derivar da alta altruística, opertencimento a uma rede de iguais e a intensidade emocional ligada aocontexto com certas formas de sofrimento são todos os elementos que tornamaltamente expressiva a participação [...] terceiro lugar, a ação voluntáriadesenvolve uma indubitável função de democratização: entendendo com essetermo o processo de alargamento dos canais de participação, a extensão da suaflexibilidade e o aumento da ‘sociedade civil’ e sua capacidade de pressãosobre as instituições políticas [...] quarto lugar, existe uma função de controlesocial. A ação voluntária absorve uma certa quota de tensões e de desordempotencial, ocupando-se daquele ‘lixo social’ que uma sociedade produz e que associedades complexas contemporâneas parecem destinadas a produzir emquantidades crescentes.94

Nessa perspectiva, o autor ainda destaca a ação voluntária de uma função de

mudança, que se caracteriza por duas dimensões:

a) INOVAÇÃO – “a ação voluntária é o laboratório no qual são preparados

os modelos culturais, organizativos relacionais que podem ser transferidos ao

mercado ou às instituições.”

b) FUNÇÃO PROFÉTICA –

92 Idem, p. 14.93 MELUCCI, Alberto A invenção do presente: movimentos sociais nas sociedades complexas Rio de

Janeiro: Vozes, 2001.94 MELUCCI, Op. Cit., 2001, p. 120-121.

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A ação voluntária, por sua própria presença, revela e anuncia: revela aexistência escondida de grandes dilemas que atravessam as sociedadescomplexas, anuncia que ‘algo novo’ é possível [...] a ação voluntária assinalanecessidades humanas e demandas que não se pode reduzir a procedimentosformais.95

Também reforça o papel de revitalização da sociedade civil, e que o mesmo pode,

em muitos casos, ter a função tanto de protesto social, como de reforçar os laços de

solidariedade, revigorar o espaço público. Quanto a isso afirma:

a inovação da mudança possível pelas formas políticas de exercício do controlecoletivo, através das garantias de democracia política à qual se submetem osaparatos de decisão é que planificam o desenvolvimento nas sociedadescomplexas.96

Estes acontecimentos provocam uma mudança quanto à forma de ver e agir das

organizações e das pessoas no contexto das sociedades complexas, pois a sociedade civil

se mescla com o Estado, apresentando novas formas de gestão da coisa pública muito

mais complexas como anteriormente se viu. Isso também gera uma mudança no conceito

de democracia que pode ser entendido como

a criação das condições que permitem aos atores sociais reconhecerem-se eserem reconhecidos por aquilo que são e o que querem ser, isto é, aspossibilidades de reconhecimento e autonomia. A democracia é, neste sentido,liberdade de pertencimento, isto é, liberdade para construir espaços sociais dereconhecimento: portanto, liberdade de representação, de exprimir a identidadedefinida como sistemas de representação que permitem mantê-la no tempo. 97

Nesta linha de pensamento, bem oposta a dos dois primeiros grupos, nota-se o

respeito e consideração às pessoas enquanto sujeitos capazes de pensar e considerar que

não estão sendo massa de manobra, ou funcionais ao sistema, mas, ao contrário,

considera-se este processo, tanto do voluntariado como do crescimento do Terceiro Setor,

como uma nova forma de sociabilidade, com possibilidades intrínsecas de revitalização

do espaço público e de expressão de vontades coletivas, a partir de ações espontâneas,

95 Idem, p. 121.96 Idem, p. 128.97 MELUCCI, Op. Cit., 2001, p. 137.

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mas com forte vínculo a partir da solidariedade. A este respeito, reforça o autor com as

seguintes proposições de análise deste fenômeno.

1) Considerar o tipo e formatação destas ações, “a ação como um campo de

significados que são construídos através de relações sociais no interior de recursos e de

vínculos.”98

2) Reconhecer que os atores têm clareza quanto ao que está ocorrendo, “é

imperioso reconhecer, ao contrário, que os atores possuem o sentido daquilo que fazem,

independentemente das intenções salvíficas ou manipulativas dos pesquisadores.”99

3) Perceber que a ação coletiva se dá a partir de demandas individuais, mas não

perdem a sua capacidade e impacto de mudança social.

4) É necessário, portanto, que, para uma melhor apreensão destes fenômenos,

tenha-se uma visão mais abrangente para melhor compreender sua complexidade e

múltiplas especificidades.

Impossibilidade de compreender a evolução da ação coletiva [...] semconsiderar, como hipótese, a presença de demandas antagonistas e anecessidade de analisar as relações sistêmicas e não a pura seqüência deeventos, mostrando os nexos que ligam as demandas, as respostas e os efeitosdo sistema.100

A partir destas colocações, vemos que este grupo apresenta uma perspectiva de

entendimento e de abordagem diferenciada quanto ao crescimento do Terceiro Setor e

seus rebatimentos no contexto do século XXI.

Destaca-se o fato de considerar os últimos acontecimentos como fatores de

mudança e não somente de alienação e subjugação das pessoas e dos movimentos sociais

pura e simplesmente aos interesses da classe dominante. São consideradas formas

inovadoras de associatividade e sociabilidade, baseadas não só em vínculos pessoais, na

98 Idem, p. 162.99 Idem, p. 162.100 Idem, p. 191.

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solidariedade, mas também com impactos sociais de mudança junto às questões socais e

relações entre Estado e sociedade civil. O que diferencia este grupo dos demais.

Como ressaltamos no início, não tínhamos a pretensão de esgotar o assunto, mas

sinalizar e sistematizar os principais elementos constitutivos do contexto de nossa

investigação.

A seguir, a título de conclusão desta parte, poderíamos sintetizar a partir das

principais questões sobre o debate referente ao crescimento do Terceiro Setor. Ao

apresentar estas questões, estaremos também fazendo algumas considerações finais e

sinalizando que o nosso entendimento é mais próximo a este último grupo, sem

desconsiderar que os demais apontam questões que não podem ser desprezadas, tais

como: a despolitização, o enfraquecimento proposital do papel do Estado e necessidade

de se revitalizar os espaços públicos e as esferas democráticas. Mas que, decorrente a

complexidade e múltiplas dimensões que o tema desdobra no contexto e na realidade

social, é preciso considerar um entendimento mais amplo, que também seja não só crítico,

mas também propositivo, vendo, nos meandros e detalhes deste processo, um padrão de

novas formas de gestão social participativa e de busca da mudança social, já não mais de

forma coletivista, mas localizada e que, paradoxalmente, rebate no contexto globalizado.

Assim consideramos que o crescimento e influência do Terceiro Setor no contexto

social brasileiro, principalmente a partir da década de 90, apresentam os seguintes

elementos de maior importância.

I - O crescimento do Terceiro Setor é considerando como um fenômeno típico dos

impactos sociais recentes e apresenta grande complexidade em seus desdobramentos;

II - apresenta formas de organização e os sentidos de organização e sociabilidade

das pessoas e das organizações;

III - tais mudanças apresentam um novo processo e padrão de sociabilidade e

associatividade, não mais sob o manto da contestação e reivindicação apenas, mas de

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ações efetivas e da produção de serviços e produtos que atendam às demandas e anseios

de grupos sociais;

IV - o que permite verificar é que estas aproximações, bem como as formas de

ação coletivas são fundadas em demandas específicas, relacionadas a questões de gênero,

etnias, baseadas no vínculo pessoal e da solidariedade espontânea, materializada no

voluntariado;

V - revigorando com isso a capacidade de novas articulações e formas de

organização coletiva para reivindicar e pleitear as condições e recursos necessários para

sanar as suas necessidades;

VI - a necessidade de sobrevivência das organizações do Terceiro Setor levam-nas

a buscarem novas estratégias e mudança de gestão, tanto das organizações como dos

movimentos, o que propicia a estruturação de redes sociais organizativas que geram a

troca de novas idéias e fortalece os laços de fraternidade e colaboração, à medida que há a

troca de experiências, o que viabiliza o surgimento do capital social;

VII - ao contrário que muitos estudiosos afirmam, não há um simples declínio dos

movimentos sociais nos anos 90, mas sim o surgimento de novas formas de ação, quando

uma lógica, crítica-contestatória-reivindicativa é substituída por uma lógica crítico-

propositivo-operativa, quando o conflito é substituído pelo diálogo, pela parceria, a luta

pela cooperação, a discussão emblemática sem fim, onde o que argumenta mais vence (o

que nem sempre é o melhor) é substituída, pela discussão objetiva de busca pelo

consenso, o que não se caracteriza, ao nosso ver, por uma domesticação, ou

apaziguamento, pois saber negociar é uma arte que poucos dominam, mas que as

circunstâncias na busca de recursos e a garantia do atendimento à população têm

conduzido muitos seguimentos a dominarem esta arte. Isso bem mais difícil do que ficar

só na retórica, na mobilização coletivista que, muitas vezes, mais enrijece as condições de

negociação do que amplia o diálogo possível e necessário;

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VIII - tais fatores nos desafiam a buscar novos olhares que não perdem de vista as

reais intenções dos inúmeros atores deste processo. Isso para só não cair na ingenuidade,

mas também não ser extremista e não considerar que as pessoas neste processo não são só

massa de manobra, mas sujeitos portadores de vontades. Além disso, que, a despeito de

setores da academia, dos movimentos tidos progressistas e revolucionários, ou de

Governos que só prometem e não fazem nada, a sociedade está se movimentando e

estamos vendo o surgimento de novas formas organizativas que, em si, estão gerando o

embrião de uma nova sociedade;

IX- esta sociedade que acreditamos necessariamente não ser predominantemente

socialista, com os excessos coletivistas que historicamente se mostraram ineficientes, nem

ter o excesso individualista do capitalismo, mas um sistema social onde prevaleça a

democracia, a liberdade e a solidariedade, onde as pessoas percebam o seu papel, a sua

responsabilidade e a importância de não ficar inerte, e nem só reclamar por direitos, mas

também considerar os seus deveres, agir crítica, criativa e propositivamente, na

construção de uma sociedade justa e digna de se viver. É o que acreditamos e

consideramos ao analisar o crescimento do Terceiro Setor.

A partir dessas considerações, veremos, a seguir, outros pontos que devem ser

considerados, sobre a influência do crescimento do Terceiro Setor. Isso frente ao contexto

de onde extraímos o nosso objeto de investigação e cujo conjunto de fatores estabelece os

elementos de problematização, bem como possibilita a elaboração de nossa hipótese

central e os demais desdobramentos de nossa investigação.

3.2 Crescente busca pela qualificação e profissionalização das pessoas que trabalhamno Terceiro Setor

Em certa medida, este ponto já foi salientado, queremos, no entanto, ressaltar que,

além da polêmica quanto ao entendimento do Terceiro Setor, outro fator desencadeador

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deste processo é à busca da qualificação de seus agentes.

Entre as várias características deste ponto, vários autores têm dado ênfase ao mesmo

(Cf. FONTES, 2000; LIMA, 2000; CARRION, 2000; GONZÁLEZ, 2000). Destaca-se,

neste sentido, que, tradicionalmente, o Terceiro Setor é suprido por voluntários, pelo

menos em sua maioria, e que, decorrente das novas demandas e configurações da questão

social e adoção de novos modelos de gerenciamento social, há uma necessidade cada vez

maior de aprimoramento/qualificação das pessoas que têm se envolvido neste campo (cf.

CKAGNAZAROFF, 2000).

Frente às inúmeras polêmicas, anteriormente referidas, constatamos que a busca por

melhor qualificação neste setor é hoje um dos fatores de maior evidência. Tal constatação

faz lembrar, em certa medida, um fenômeno que ocorreu, aqui no Brasil nos anos 30, que

– decorrente do processo histórico de tratamento da questão social à época, passando de

uma questão de polícia e de caridade para uma ação mais sistematizada e organizada

como de uma política social, necessitando de profissionais devidamente

habilitados/preparados para esta tarefa, e, para suprir esta demanda – é fundada em 1936 a

Escola de Serviço Social (Cf. YASBEK, 1980).

Este fato fica mais evidente quando cursos como da FGV que, desde 1994, vêm

formando os chamados “gestores sociais”, recebem pela mídia e produção acadêmica,

ares de novidade e ineditismo, como se nunca houvesse a formação profissional para esta

área e isto apesar da consolidação do Serviço Social como profissão há mais de 60 anos

só no Brasil, além de uma considerável produção teórica e espaços de ocupação já

consolidados no mercado de trabalho.

Outro exemplo é o da USP, onde os ex- alunos de pós-graduação MBA prestam

serviços para organizações do Terceiro Setor como forma de exercício de aplicação dos

conhecimentos e atos de cidadania e se autodenominam como Consultores Sociais. O

SESI criou um programa de Iniciativas Sociais na perspectiva de Educação Continuada

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(cf. www.sesi.org.br) para profissionais desta área, ou que queiram nela ingressar.

Entre os vários conteúdos ofertados, vemos os seguintes: História e Atualidade da

Política Social Brasileira, Planejamento Estratégico para Gestão Social, Ética e

Responsabilidade Social, Articulação e Gestão Social, Planejamento, Marketing para

Gestão Social, entre outros.

O que fica patente é a busca frenética quanto à qualificação, o que provoca o

surgimento de várias modalidades de capacitação que, além das apontadas, verificamos os

seguintes:

1. concursos e prêmios;

2. criação de cursos de pós-graduação;

3. cursos de curta e média duração.

Podemos também constatar que este crescimento traz um outro efeito que tem

como principais pontos, a transferência.

3.3 Crescente transferência de conceitos, técnicas e métodos de trabalho do setorprivado para o Terceiro Setor

Na busca de qualificação das pessoas que trabalham no Terceiro Setor,

constatamos outro processo, em larga escala, a transferência de tecnologia de gestão do

campo privado para ser aplicada no campo social (Cf. RICO, 1998 e CABRAL, 2000),

onde inclusive o conceito e a prática do empreendedorismo voltados para o campo social

(empreendedorismo social) é oriundo deste processo, como veremos com maior

detalhamento mais à frente de nosso estudo.

Desta forma, percebe-se, num primeiro momento, que a finalidade desta

transferência é para se obter melhores resultados (eficiência e eficácia) na gestão de

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organizações do Terceiro Setor, onde trabalhar com pessoas qualificadas torna-se fator

decisivo para o sucesso destes empreendimentos sociais.

Como exemplo deste processo, podemos destacar aqui no Brasil o recente caso da

AACD; há alguns anos quase fechando as portas, após uma crise financeira, e que hoje

apresenta um “lucro” da ordem de R$ 7,4 milhões (dados de 2000). O segredo deste

sucesso,

tratar a instituição beneficente como se fosse uma empresa comum, com adiferença de que os lucros invariavelmente viram investimentos no anoseguinte. No mais, a rotina é a mesma: corte de gastos, procura de novos “negócios”, seleção de bons profissionais.101

Outro exemplo deste processo é a implantação de sistemas de certificação da

qualidade da Responsabilidade Social, semelhante à certificação da série ISO 9000 de

qualidade e produtividade. A versão no campo social em específico empresarial é

denominada de SA 8000 (Social Accountability 8000), criado pela SAI – (Social

Accountability Internacional) e aplicado e disseminado pela CEPAA (Coucil on

Economic Priorities Accreditation Agency, New York) (Cf. www.cepaa.org/sa8000.htm).

No Brasil, algumas empresas já têm esta certificação, uma das primeiras foi a De

Nadai. Empresa do ramo de alimentos é considerada a primeira a ser certificada (Cf.

www.denadai.com.br).

No Brasil, já existem empresas credenciadas para o processo de certificação, como

é o exemplo da SGS Certificadora Ltda (Cf. www.sgsgroup.com/ics).

Mais recentemente surge um outro modelo de transferência de ferramenta de

gestão para o campo social, a chamada Franquia Social.

Este sistema funciona como o da franquia empresarial, só que o retorno é

totalmente revertido para a organização social e seu projeto. Segundo depoimento de

101 Folha de São Paulo. Caderno Cotidiano, 29/abril de 2000, p. C4.

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experiências práticas recentes, o método é eficiente e tem produzido impactos

significativos, como ressalta Viviane Sena do Instituto Airton Sena de São Paulo,

a maior vantagem do método é a construção de novas tecnológicas dedesenvolvimento social que permitem ‘replicar sem reiventar a roda’ [...] Afranquia social traz um patamar mais sofisticado ao Terceiro Setor, compatívelcom a demanda no Brasil, em que os problemas existem por atacado, mas sãocombatidos no varejo, ou seja, por meio de projetos isolados [...] se a caridadenão resolveu o problema do país em 500 anos, não é agora que vai fazê-lo. Porisso é importante construir uma nova tecnologia adequada. 102 [grifo nosso]

Como exemplo de sucesso deste modelo, é destacado o exemplo da ONG carioca

CDI – Comitê de Democracia da Informática, criada e dirigida por Rodrigo Baggio, que é

um empreendedor social ligado a duas grandes organizações sociais internacionais de

apoio e disseminação do empreendedorismo social, não só no Brasil mas no mundo – a

Ashoka dos EUA e a Fundação Schwab da Suíça – sobre as quais mais à frente estaremos

detalhando informações.

Esta ONG que tem conseguido ampliar o seu trabalho, tem como objetivo criar

escolas de informática e cidadania em favelas ou bairros periféricos. Já existem (dados de

2003) cerca de 621 unidades, destas mais de 50 estão fora do Brasil e espalhadas pelo

mundo. Essa ONG pode ser comparada a uma empresa privada, por exemplo o

McDonald’s, que é um modelo de franquia no campo privado e tem no Brasil cerca de

580 lojas.

O custo desta franquia do CDI é de aproximadamente, R$ 9.600,00, o que

possibilita populações de baixa renda se organizarem e implantarem e desenvolverem

com sustentabilidade as suas unidades, bem como a ampliação e multiplicação da idéia

sem perder sua essência, adequando-se aos espaços e necessidades das populações. Esse

é, sem dúvida, o tipo de exemplo concreto da lógica empresarial aplicada na solução de

problemas sociais.

102 FRANCHISING SOCIAL. Folha de São Paulo. Caderno Negócios. Disponível em

http://www.metaong.org.br acesso em 12/03/2003.

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Estes exemplos indicam uma tendência deste processo principalmente decorrente

dos indicadores e necessidades das organizações em adotar o estilo empresa-cidadã como

vantagem competitiva. Exemplo disso é o ranking anual das Cem Melhores Empresas

para se trabalhar no Brasil, em que um de seus indicadores é o de responsabilidade social

empresarial. Fato que tem impulsionado as empresas a buscarem modelos de implantação

e gestão social mais próximas de sua dinâmica e propósitos de trabalho.

Dessa forma, este processo de constante transferência produz uma série de novos

desafios e entendimentos, pois as organizações do Terceiro Setor têm, a cada momento,

se configurado como uma organização de empreendimento social, ou seja, mesmo sendo

do campo social, a mesma deve ser gerida como uma empresa privada.

Isto traz novos contornos, tanto positivos como negativos. Entre os positivos,

destaca-se a busca por maior eficiência e eficácia o que é benéfico, pois os recursos sejam

governamentais como de doações estão sendo melhor aplicados e dando retorno efetivo e

impactos significativos para a sociedade.

Negativo, pois gera, como Tenório coloca, o surgimento e a possibilidade do que

há de mais negativo, o “espectro do mercado que ronda o Terceiro Setor”, ou seja, isso

pode gerar um processo competitivo entre as organizações sociais na busca frenética por

recursos que mais desagregam do que agregam, valores e forças e distancia, cada vez

mais, as organizações de um ideal comunitário, solidário, cooperativo e cidadão onde é

necessário, mais do que lutar por recursos não perder de vista os valores norteadores da

existência de uma organização social com fins de construção associativa, democrática e

justa.

Mas temos visto que este processo é repleto de surpresas e têm surgido várias

experiências que demonstram que o “espectro do mercado” pode ficar bem longe do

Terceiro Setor. A cooperação tem mais possibilidades efetivas de melhorar a gestão e

condições das ONGs do que o isolacionismo. É o exemplo da ONG Paulista Corrente

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Viva.

Tendo como lema “articulando esforços para o bem da sociedade”, esta ONG,

criada em meados de 2000, a partir dos investimentos de outras ONGs internacionais, está

desenvolvendo um trabalho de rede onde se agregam cerca de 30 organizações sociais da

cidade de São Paulo. Ela se organiza através de elos que são unidades territoriais,

localizadas em pontos estratégicos da cidade. Cada elo tem um consultor que, junto às

organizações de cada região, reúne-se periodicamente para discutir e planejar ações a fim

de resolver as demandas de gestão.

São criados grupos de trabalho – GTs, que focalizam as tarefas, por exemplo, o

GT de construção estará pensando estratégias de melhoria e facilitação dos projetos de

construção e ampliação das organizações.

Desta forma, o objetivo principal é

fortalecimento de entidades de base por meio da sua própria articulação, e quepretende mobilizar a cooperação com outros setores da sociedade para ampliarseus resultados. Em outras palavras, a Corrente Viva possibilita queorganizações de base possam trocar experiências, captar recursos e encontrarsoluções para oferecer serviços cada vez mais profissionalizados. (Cf.www.correnteviva.org.br)

Em virtude destes pontos até o momento apresentados, verificamos que o contexto

em que realizamos nossa investigação caracteriza-se por inúmeros fatores.

Predominantemente, destacamos a globalização que produz uma série de efeitos,

notadamente paradoxais, inclusive um novo tipo de pobreza, a perceptiva, o que, em

conjunto com outras variáveis, entre elas o crescimento do Terceiro Setor, verifica-se o

surgimento de novos e velhos desafios que se configuram a partir da década de 90.

Principalmente em relação ao enfrentamento da pobreza e das formas de articulação,

organização e mobilização, tanto da sociedade civil, como dos demais segmentos e atores

sociais, sejam governamentais ou do setor privado.

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Todo este processo leva à busca de uma nova compreensão, o que está relacionado

a um paradigma que possibilite articular a compreensão e ação frente a estes fatores tão

complexos e paradoxais. A isso chamamos de desafio em busca da qualidade na leitura e

na ação do enfrentamento das questões sociais deste contexto inicial do século XXI.

Qualidade esta, como veremos, que não se limita só aos aspectos técnicos e

quantitativos, como são preconizados pela Qualidade Total, mas principalmente por seus

aspectos qualitativos, a saber, qualidade política e qualidade formal, que, junto à

compreensão de que toda e qualquer ação de enfrentamento à pobreza, deve considerar o

contexto que procuramos até aqui sinalizar. Além disso, quebrar o ciclo vicioso da

dependência e da manipulação do pobre como massa de manobra e dos que ajudam mais

a si mesmos do que pretensamente os excluídos.

Em outras palavras, vemos que nossa investigação sobre o empreendedorismo

social insere-se no bojo de um dos maiores desafios do presente e do futuro: o do

desenvolvimento humano e da emancipação social. É o que apresentamos a seguir.

4 – O DESAFIO DA QUALIDADE PARA A EMANCIPAÇÃO SOCIAL E DODESENVOLVIMENTO HUMANO SUSTENTÁVEL

Por qualidade, estamos entendendo algo que vai além dos princípios preconizados

pela Qualidade Total. Pautamo-nos na proposta de Demo 103, que propõe uma outra

perspectiva.

Para esse autor, “qualidade significa a perfeição de algo diante da expectativa das

pessoas”104. Mas esta expectativa, bem como sua execução, é antes de tudo um ato

humano, ou fruto da ação humana, ou seja, “com efeito, somente poderia ser intenso

aquilo que tem a marca do homem, por ser questão de vivência, consciência, participação,

103 DEMO, Pedro. Educação e Qualidade. São Paulo: Papirus, 1994.104 DEMO, Op. Cit., 1994, p. 11.

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cultura e arte.” É a partir dessa perspectiva que o conceito de desenvolvimento humano,

criado pela ONU, torna-se importante.

Segundo, Demo

trata o desenvolvimento sob uma única adjetivação, a saber, a humana, tendodeixado de lado outras ainda correntes, mas tidas por ultrapassadas como aeconômica e mesmo a social. Assim, seria o caso falar tão-somente de ‘políticade desenvolvimento humano’, e não mais de política econômica, ou social, ouambiental, ou cultural etc. (DEMO, 1996, p. 9)

Logo, o entendimento de qualidade tem duas dimensões, a qualidade formal e a

qualidade política. Por qualidade formal, entende-se

a habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentosdiante dos desafios do desenvolvimento. Entre eles, ressaltam manejo eprodução de conhecimento. São o expediente primordial de inovação.105

E, por qualidade política,

a competência do sujeito em termos de se fazer história, diante dos finshistóricos da sociedade humana. É condição básica da participação, mantervalores e conteúdos. É naturalmente ideológica, porque definição política é suamarca, perdendo qualidade, se ideologia se reduzir a justificações desumanas ea partidarismos obtusos. Inclui ética na política. (DEMO, 1994, p. 14)

Sendo assim, Desenvolvimento Humano de fato só é possível com qualidade

formal e qualidade política, o que pode ser observado quando as pessoas não precisam

mais de “ajuda”, o que só ocorre quando alcançam a emancipação social.

Essa, segundo Souza Santos (2002, p. 27), “só haverá emancipação social na

medida em que houver resistência a todas as formas de poder.” Poder aqui entendido que

não permite a solução dos problemas; mas, ao contrário, dá propositalmente manutenção,

o que impede o real desenvolvimento humano e, ainda, como afirma Demo 106

ninguém se emancipa sem ajuda, mas emancipar-se é especificamente saberdispensar ajuda [...] Mais que ajudar, trata-se de saber ajudar em mão dupla: noajudado, é mister emergir capacidade crítica e autocrítica dos riscos da ajuda,de sua necessidade e sua dispensa; no doador, é mister haver a mesmaconsciência para evitar a estigmatização do pobre e para sair da cena.

105 DEMO, Op. Cit., 1994, p. 14.

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Este desafio de criar ações de desenvolvimento humano e de emancipação social é

uma tarefa que requer novos manifestos e busca de novos paradigmas, ações e leituras

que sejam mais propositivas e efetivamente transformadoras. Vemos que o contexto

paradoxal da sociedade global faz surgir novas manifestações de diversos espaços e

seguimentos da sociedade em todo o planeta. Souza Santos (2002, p. 23), refletindo sobre

o assunto, destaca que é perfeitamente compreensível tal fenômeno, que pode ser

considerado também global pois, se entendermos que a globalização tem múltiplas

dimensões, as formas de confronto e manifestações contrárias também são e têm que ser

múltiplas e globais.

Por isso, tanto o desenvolvimento humano como a emancipação social deve ter um

entendimento de contextualização cultural e política, pois as prioridades, os meios, as

condições de reivindicações e luta, principalmente pela emancipação, são diferentes, daí o

autor faz a seguinte indagação, “todas as lutas contra a opressão, quaisquer que sejam os

seus meios e objetivos são lutas pela emancipação social?”. A este questionamento,

acrescentamos: Será que todas as manifestações, mesmo aquelas que vêm de seguimentos

como das empresas, são neoliberais ? Tudo o que se produz no capitalismo é só para

servir ao próprio capital?

O fato é que há varias manifestações, teóricas e práticas que buscam, de uma

forma ou de outra, um objetivo: reverter o curso presente de uma globalização perversa

que se alimenta da pobreza em suas múltiplas dimensões e, conseqüentemente, gera a

degradação da vida no planeta terra. O desafio é permitir que estas múltiplas ações não

percam de vista este paradigma do desenvolvimento como oportunidade e, portanto, se

materializem na emancipação efetiva dos sujeitos.

Na atualidade, são inúmeras as ações nesta perspectiva, a algumas já fizemos

menção anteriormente, outras podem ser destacadas, como é o caso do conceito de

106 DEMO, Op. Cit., 1994, p. 56.

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civismo associativista, em Putman, ou da teoria comunitarista, de Walzer (Cf.

FERNANDES, 2000). Estas, por sua vez, trazem à tona o conceito de Capital Social, que

resgata a centralidade do desenvolvimento das ações comunitárias locais, através do

fortalecimento da família, da cultura e da participação efetiva da sociedade civil, isso

como estratégia de desenvolvimento social e humano (Cf. KLIKSBER, 2001).

Recebem destaques outras ações crescentes e alternativas, como do

cooperativismo, de movimentos como dos sem-terra, da criação de fóruns internacionais

de manifestos de anti-globalização, como exemplo, o Fórum Social, ações que compõem

o que Souza Santos chama de novos manifestos em busca da reinvenção da emancipação

social (SOUZA SANTOS, 2002), onde a articulação e troca de novos saberes de

diferentes partes do mundo e em específico, dos blocos marginalizados pela economia

mundial, que só poderão de fato criar a emancipação social, a partir, da “resistência a

todas as formas de poder.” (SOUZA SANTOS, 2002, p. 27)

Entre estas formas, identificamos outras ações e processos que se apresentam

como alternativos para lidar com os problemas derivados da globalização, e isso a partir

de mecanismos de mercado que utilizam tecnologias de gestão, outrora a serviço das

grandes empresas e para acúmulo de capital individual, mas agora são aplicadas no

campo social. Alteram a forma de distribuição dos rendimentos e ganhos e socializam os

resultados, bem como causam impactos sociais e contribuem para o desenvolvimento

sustentável e para a emancipação social.

Uma delas é a chamada economia solidária que, no Brasil, surge, em meados da

década de 80, e que, segundo Paul Singer, apresenta a seguinte característica:

a economia solidária compõe-se das empresas que efetivamente praticam osprincípios do cooperativismo, ou seja, a autogestão [...] constitui um modo deprodução que,ao lado de diversos outros modos de produção – o capitalismo, apequena produção de mercadorias, a produção estatal de bens e serviços, aprodução privada sem fins lucrativos – compõe a formação social capitalista,que é capitalista porque o capitalismo não só é maior dos modos de produção,mas a molda a superestrutura legal e institucional de acordo com os seusvalores e interesses. (SINGER, 2002, p. 86)

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Este processo tem, de forma não muito alardeadora, provocado o que Mace (1999)

chama de “revolução das redes e da colaboração solidária”.

Em virtude disto, chegamos a um ponto de nosso objeto de investigação que é o

empreendedorismo social, que, a partir de todas as questões postas, emerge exatamente

deste contexto de múltiplas transformações e impactos da globalização, do enfrentamento

da pobreza e do desafio de produzir, neste presente século, ações que superem o ciclo

vicioso da dependência e manutenção da pobreza e que também produza de fato o

desenvolvimento humano e a emancipação social.

Essa, em um primeiro momento, caracteriza-se como uma derivação do

empreendedorismo empresarial que surge no bojo do crescimento do Terceiro Setor e do

processo de transferência de tecnologias de gestão do segundo setor e com adaptações

para o campo social. Nesse aspecto, o objetivo principal é a busca de ações com alto

impacto e auto sustentabilidade destes projetos. Tal proposta vem do campo empresarial e

de ações derivadas da chamada Responsabilidade Social Empresarial. (Cf. OLIVEIRA,

2002 e OLIVEIRA, 2003)

Verificamos que este processo e este fenômeno ainda não recebem o devido

tratamento investigativo, tendo, na atualidade, como uma das reflexões mais próximas do

tema o trabalho de Melo Neto e Fróes107, ou seja, este processo ocorre em meio a um dos

grandes paradoxos da globalização e tem tomado vulto e efetuando impactos

significativos que necessitam de uma abordagem em que se aprofunde os seus

fundamentos e suas estratégias. É este o objetivo maior do presente trabalho.

Analisar, neste contexto, e face a estes processos e impactos da globalização,

especificamente, as ações de enfretamento à pobreza, o desafio da qualidade no

107 MELO NETO, Francisco R. de; FRÓES, César. Empreendedorismo social: a transição para a

sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

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desenvolvimento humano e da emancipação social onde o empreendedorismo social,

surge como uma das inúmeras ações com esta finalidade. Assim, surge um grande

questionamento ou problemática, se o empreendedorismo social se apresenta como uma

efetiva ação de combate à pobreza no entendimento que hora apresentamos, ou se essa

forma de atuação é historicamente mais um elemento de mera manutenção do ciclo

vicioso de pobreza e domesticação.

Logo, nossa tese tem como principal hipótese o empreendedorismo social que

apresenta as condições emergentes de uma ação de enfrentamento à pobreza de modo a

propiciar o desenvolvimento humano e a emancipação social.

Nesta perspectiva, a seguir, apresentamos os elementos constitutivos de nossa

metodologia de investigação, bem como os principais resultados, as conclusões e

proposições que este processo de conhecimento nos permitiram construir.

5 - ELEMENTOS METODOLÓGICOS DA INVESTIGAÇÃO PROPOSTA

Procuramos, neste momento, explicitar o entendimento que temos sobre

metodologia, bem como expor e fundamentar a nossa proposta de investigação face aos

elementos contextuais e de problematização até aqui apresentados. Para tanto,

abordaremos os seguintes tópicos: a) o que estamos entendendo por pesquisa; b) o que

estamos entendendo por método; c) o que estamos entendendo por metodologia; d) o

significado de fazer uma tese no Serviço Social e sobre o tema proposto; e) a proposta e o

desenho metodológico que aplicamos em nossa investigação.

5.1 O que estamos entendendo por pesquisa?

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Nossa concepção de pesquisa parte da perspectiva que colocamos a respeito da

ciência como coisa viva. Logo, é preferível o uso do termo investigação, pois remete a

uma atividade mais instigante; é, antes de tudo, o ato de busca de desvendar, inquirir, ou

seja, vai além de seguir regras preestabelecidas, técnicas apuradas. É uma ação e uma

atitude dinâmica criativa e motivadora, que, a partir de uma ação pensada e sistematizada,

bem como do uso de determinadas técnicas, possibilitam construir conhecimento de

determinados fenômenos.

5.2 O que estamos entendendo por método?

Método seriam os passos práticos e as operações mentais de se organizar o ato de

investigar. Desta forma, método é a forma com que nós caminhamos na busca do que

estamos investigando. É mais do que passos, mas modo de como damos estes passos.

Logo, na perspectiva que defendemos de ciência como coisa viva, não existe o método,

que dê conta de tudo e de todos, mas pode existir a partir de critérios estabelecidos com

certo grau de formalidade (sem excessos para não cair no positivismo e cartesianismo) e

princípios lógicos, a sistematização de um método científico de investigação.

5.3 O que entendemos por metodologia?

Entendemos metodologia como sendo um conjunto de procedimentos e registros

planejados das ações para se operacionalizar a investigação e efetivamente abordar a

realidade como sujeito interativo. Além disso, pôr em prática o método estabelecido, as

técnicas escolhidas e facilitar a organização dos dados para serem analisados por um

quadro referencial teórico.

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5.4 Qual o significado de se fazer uma tese, em geral, e no serviço social, emespecifico?

Antes de tudo, produzir conhecimento vivo, como estamos defendendo, ou seja,

conhecimento que produza diferença, que cause mudança, faz com que o desejo maior

desta investigação e seu desenvolvimento resultem na tese, mas que possa ir além disso,

ou seja, que tenha sentido e seja útil para a comunidade, para a sociedade, no sentido de

atender além das exigências da academia, mas, principalmente, às necessidades da

sociedade, dos cidadãos do mundo e do tempo em que estamos produzindo este

conhecimento (contexto atual).

Neste sentido, concordamos com Minayo (1994, p. 16) quanto ao entendimento

sobre metodologia: “o caminho do pensamento a prática exercida na abordagem da

realidade”. Em se tratando do Serviço Social, não dá para ficar só em elucubrações sobre

a realidade, por mais importante que este exercício seja. Só criticar, só ver limites e só

produzir indagações não é o bastante, é preciso objetivar e apresentar para a sociedade, e

não para o deleite da academia, idéias bem fundamentadas e teoricamente articuladas,

mas primordialmente propositivas, exeqüíveis, plausíveis, compreensíveis,

decodificáveis, acessíveis e aplicáveis na realidade, com vista a não menos do que uma

ação interventiva e que provoque mudança.

Partimos do pressuposto de que, apesar do Serviço Social não ter um método

próprio e ter que se apoiar em outros métodos, em específico, o das ciências sociais, a

experiência nos tem demonstrado que o olhar do Assistente Social em relação a

determinados fenômenos é diferenciado do olhar de outros profissionais e de outras

disciplinas. Tal entendimento tem como base a afirmação de Maturana quanto ao ato

operacional de observar, ou seja,

nós, cientistas, fazemos ciência como observadores explicando o queobservamos. Como observadores, somos seres humanos. Nós, seres humanos,já nos encontramos na situação de observadores observando quando

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começamos a observar nosso observar em nossa tentativa de descrever eexplicar o que fazemos. (MATURANA, 2001, p. 126)

Dessa forma, o observar está ligado ao viver. Logo, é compreensível que

determinadas leituras de determinados fenômenos só ocorram com uma visão de fora,

externa, ficando generalizada, mesmo que pretensamente queira desvendar o “real” em

sua totalidade, mas na realidade fica na superfície e uma visão parcial, pois não ultrapassa

a crítica e não consegue propor nada para pôr no lugar do que se criticou. Tal

característica tem sido quase que uma rotina e unanimidade nas recentes produções de

Serviço Social. Um exemplo representativo atual e que já apresentamos neste trabalho é a

colocação de Montaño ao analisar o Terceiro Setor, quando afirma:

se não contamos com uma visão ampla, visão de dentro das organizações dochamado “Terceiro Setor”, limitando nosso domínio da enorme variedade dedados no seu verdadeiro papel e significado social, como uma particularidadede um processo social mais amplo. O caminho escolhido, portanto, não derivade um acaso do caminhante sem rumo, mas de uma opção teórico-metodológicaclara e explícita: aquela que concebe o real como uma totalidade concreta,saturada de determinações, mediações e particularidades interconectadas, queentendem a realidade social como um processo histórico, desenvolvidofundamentalmente mediante as lutas de classes, portanto, com centralidade nacategoria trabalho e nas contradições entre capital e trabalho, como umprocesso social que tanto tende a reproduzir sua dinâmica e estrutura(positividade) quanto contém sua negação, a possibilidade de transformação.Enfim, nosso caminho é o da recuperação da crítica da economia políticadesenvolvida por Marx, e centrada agora no capitalismo monopolista e suareestruturação. (MONTAÑO, 2002, p. 17) [grifo nosso]

Ora, a questão aqui não é fazer uma crítica da crítica, ou quanto à opção

metodológica, até por que não existem opções boas ou más, mas, sim, adequadas ao que

se pretende estudar. Queremos, com este exemplo, explicitar certa incoerência e paradoxo

quanto a querer ter uma visão de “totalidade”, sendo que só se tem uma visão parcial. No

caso apontado, limita-se a dados externos ao fenômeno estudado, sem experiência

vivencial, sem o contato com a realidade, com os fatos dinâmicos do cotidiano.

É exatamente nesta limitação que não procuramos em nossa investigação incorrer.

Com isso, não desconsideramos a análise crítica global, histórica, mas não nos atemos só

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a esta dimensão, pois, via de regra, por uma questão de método, ao que parece, só se

limita a refletir e a fazer a crítica, ou quando muito a saída se torna quase que utópica, ou

seja, mudança das grandes estruturas de poder, que não cabem a uma categoria

profissional, nem são responsabilidade de um profissional fazer, mas de toda uma

sociedade.

Outro fator é que esta leitura tem uma conotação mais economicista, vital para o

entendimento da complexidade da globalização no seu sentido econômico, mas limitado

quanto à gama de outras dimensões e da complexidade do viver no atual mundo e

sociedade complexa e paradoxal que é a nossa.

Limitar é querer ter uma visão de totalidade na intenção e, na realidade, uma

leitura parcial e generalista faz com que o ato de pensar e construir conhecimento não

produza impacto na realidade que se está estudando e não causa impacto, não produz e

não causa alteração: O conhecimento ficará restrito a um espaço e a um grupo, no caso, a

academia, pois para a vida cotidiana pouco ou nada trará, como afirma Maturana:

simplesmente vamos ter discursos maravilhosamente acadêmicos que nada têma ver com o humano. E vamos notar que isso acontece porque fazemos nossodiscurso e nada acontece. E por que não acontece nada? Porque ou acontece noespaço de preocupações pelo outro, ou é escutado a partir de outro domínio derealidade. (MATURANA, 2001, p. 50)

Nesta linha, o autor ainda reforça, “somos observadores no observar, no suceder

do viver cotidiano na linguagem, na experiência na linguagem (MATURANA, 2001, p.

28), e o ato de explicar, é

sempre uma reformulação da experiência que se explica [...] As explicações sãoreformulações da experiência, mas nem toda reformulação da experiência éuma explicação. Uma explicação é uma reformulação da experiência aceita porum observador. (MATURANA, 2001, p. 29)

Em virtude disso, dependendo de sua vida cotidiana, de sua prática profissional,

assim será a forma de seu olhar. A maioria das produções teóricas do Serviço Social

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partem de pessoas que não têm vida profissional prática, institucional. Elas agem, como

no exemplo dado, colocando a ideologia antes dos fatos e vendo parcial e

superficialmente, mesmo tendo a pretensão de totalidade crítica. Totalidade, entendemos

como o todo, relações internas e externas, fatores globais e locais, a emoção, o

engajamento, as razões, percepção a compreensão, principalmente dos sujeitos envolvidos

neste processo. Mudança só ocorre de fato quando o que é falado é vivido e esta relação

faz sentido tanto para quem fala, como para quem ouve, pois, como diz Rubem Alves,

“uma idéia não é aceita porque ela é verdadeira, e sim porque é prática.” (ALVES, 1984)

Logo, uma tese de doutorado em Serviço Social, face às novas demandas para a

profissão, face à concepção de ciência como coisa viva e conhecer para intervir e

transformar, não é possível pensar o processo de construção para se limitar a só analisar, e

analisar generica e superficialmente. É preciso pensar na análise e na formulação do que

fazer com este conhecimento o que não ocorre na etapa final, mas deve ser preocupação

desde a etapa inicial, é colocar os fatos e depois ouvir, ler, decodificar o que estes fatos

têm a dizer, e não colocar a ideologia à frente e dizer aquilo que quero que os fatos digam

para os outros ouçam o que quero que ouçam.

No tocante ao tema proposto, percebe-se que existem críticas a este e outros

relacionados, como procuramos demonstrar (Cf. MONTAÑO, 2002; PAOLI, 2002;

YASBEK, 2000; DEMO, 2002), o que apresenta um lado de uma discussão e de um tema,

que não pode ser desconsiderado, mas não pode também ser absolutizado, senão este

debate e compreensão deixam de ser científicos para se tornarem dogmáticos, a realidade

é complexa não existe um só fator, uma só face da verdade.

Nesse sentido, é que uma tese no curso de Serviço Social – na atualidade, e em se

tratando de temas como o Terceiro Setor, responsabilidade social empresarial e

empreendedorismo social, enfrentamento da pobreza, questão social – não pode ficar só

na defensiva, ou melhor, na acusação e pretensa denúncia, e só na rejeição por que estes

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temas emergem do campo empresarial e, portanto, emanam da lógica capitalista em sua

essência; antes de tudo, são fenômenos que estão intervindo na realidade e estão alterando

comportamentos, mentalidades, paradigmas, condições de vida de inúmeras pessoas,

alterando as relações entre Estado e sociedade civil e, portanto, produzindo impactos

significativos na realidade, coisas que muitas vezes não vemos acontecer no Serviço

Social.

É preciso estudar as coisas não só como um sujeito que se põe na cena que sente,

mas que também vê além do aparente, do óbvio que, de fato, aprofunda esta questão de

totalidade, ou, pelo menos, se aproxima o máximo dela.

Logo, uma tese de doutorado no Serviço Social têm uma dupla função e sentido:

dar qualidade investigativa e propor ações de intervenção e transformação da e na

realidade. Pois, assim como o texto bíblico nos ensina e exorta “filhinhos, não amemos de

palavras, nem de língua, mas de fato e de verdade” (1ª João, 3, 18, Bíblia Sagrada); assim

devemos mais do que falar, criticar sobre a realidade, devemos de fato e de verdade

apontar saídas possíveis e exeqüíveis para mudar o que estamos criticando.

Cremos que se não agirmos desta forma estaremos só atendendo a academia e não

a sociedade e, ao nosso ver, na perspectiva de um Serviço Social crítico e

contextualizado, é mais importante atender a sociedade e ao excluído do que a academia.

Com isso, não queremos dizer que não devemos atender a academia, pois não há

possibilidade de entrar ou sair dela sem atendê-la, então é melhor atendê-la com ênfase

nas necessidades da sociedade e do cidadão do século XXI. É o que propomos a fazer e, a

seguir, apresentamos o como realizamos isso, bem como os resultados esperados deste

processo de construção de conhecimento com vista na intervenção e transformação da

realidade.

5.5 A proposta e o desenvolvimento metodológico da investigação

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A partir do que até o momento foi colocado, optamos por definir a apresentação

desta seção da seguinte forma: 1) a opção do método; 2) tipo de abordagem; 3) as

técnicas; 4) as estratégias de coleta dos dados; e 5) processo de tratamento dos dados,

geração de informação, conhecimento e proposição.

5.5.1 A opção do método

Decorrente da concepção que adotamos sobre ciência e construção de

conhecimento e, em específico, quanto a fazer ciência no Serviço Social, optamos por

dividir o método de investigação em duas partes. A primeira, denominamos de método de

abordagem e, a segunda, de método de operacionalização. Entendemos abordagem como

forma de elaboração e raciocínio mental e operacionalização como sistematização de

ações coordenadas de execução.

Tal modelo se assemelha à proposta de Lakatos & Marconi (1999) e Gil (1994),

ou seja, estamos considerando o processo metodológico em duas dimensões de

operacionalização, um de raciocínio amplo (método de abordagem) e outro de ação,

articulação e operacionalização (método de operacionalização).

5.5.1.1 Método de abordagem

Para o primeiro método, apoiamo-nos na proposta e entendimento de Laville e

Dionne (1999), esses autores consideram que – na atualidade e decorrente das mudanças

dos processos de paradigmas e superação das formas positivistas de se fazer ciência, em

especifico, nas ciências sociais, e analisando as várias propostas de superação da

influencia inicial desta perspectiva – conclui-se que todo o processo investigativo surge

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de um problema o que conduz à construção de hipóteses, como respostas provisórias e

que possibilita o delineamento de ações de verificação para comprovação ou não das

mesmas, ou seja, “desse modo, cada um poderá julgar os saberes produzidos e sua

credibilidade. Essa operação de objetivação, como a concentração em um problema, está

hoje no centro do método científico” (LAVILLE; DIONNE, 1999, p. 46) [grifo nosso].

Desta forma, nossa opção de método de abordagem é o método científico na perspectiva

colocada pelos autores.

Optamos por esta proposta por perceber que ela permite uma ação e uma

abordagem objetiva, e que não trabalha com um olhar já determinado, ou seja, procura

levantar dados da realidade e escutar, compreender, decifrar o que estes têm a dizer. Não

entramos na investigação com um olhar já enviesado, colocando e entendendo o

fenômeno estudo já com um pré-conceito; mas, ao contrário, procura considerar as

múltiplas variáveis e os elementos levantados. Os autores apresentam um esquema

operacional do método científico que, de forma resumida, apresentamos a seguir.

Figura – 1: Esquema gráfico do método científico

Fonte: elaborado pelo autor a partir de Lavine e Dionne (1999, p. 47).

A) Propor e definir um problema

B) Elaborar uma hipótese

C) Verificar a hipótese

D) Concluir

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Cada etapa tem uma série de procedimentos. Vejamos quais são e suas respectivas

operações.

a) Propor e definir um problema: o propósito desta etapa é ter clareza de que se

está realmente investigando algo, que mereça de fato o esforço de uma investigação

científica. Desta forma, a formulação do problema deve apresentar as seguintes

características: 1) conscientização de um problema; 2) tornar este problema significativo e

delimitá-lo; 3) formular este problema delimitado em forma de uma pergunta.

b) Elaborar uma hipótese: para os autores, hipótese é a passagem da formulação de

um problema percebido pessoal e sensivelmente em relação ao contexto vivido pelo

pesquisador e que, a partir de aproximações através da leitura e comparações iniciais do

problema, chega-se a uma pergunta mais madura e efetiva, racional quanto à possível

solução do problema delimitado. O mesmo é provisório, mais como um fator orientador

do que pré-resposta ou conhecimento a priori. Para tanto, é preciso que este processo

apresente as seguintes ações: 1) analisar os dados disponíveis; 2) formular a hipótese

tendo consciência de sua natureza provisória; 3) prever suas implicações lógicas. Neste

último item, “prever” não tem a conotação de prever conforme no modelo clássico de

ciência, mas no sentido de exercitar a imaginação como fator construtivo de proposição

provisória de construção da solução possível ao problema apresentado.

c) Verificar a hipótese: após estabelecer a hipótese em forma de pergunta, fato que

surge a partir da delimitação do problema, que surge a partir da aproximação do objetivo

que vem da revisão da literatura e dos dados preliminares, passamos para a etapa da

verificação, da confirmação ou não da hipótese. Tal procedimento é pertinente e permite

um caminhar investigativo ordenado, onde a formulação das conclusões tem apoio e

referencia, não só teórica, mas lógica. Ao elaborar uma resposta provisória, ao verificar,

olhar, escutar e interpretar o que os dados da realidade têm a dizer, poderemos fazer o

exercício de confirmar ou não a hipótese estabelecida. Apresentar os elementos

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constitutivos deste processo investigativo de forma objetiva, direta, clara, aprofundada e

fundamentada. Para tanto, esta etapa requer: 1) decidir sobre novos dados necessários; 2)

recolhê-los; analisar, avaliar e interpretar os dados em relação à hipótese estabelecida.

d) Concluir: por fim, a verificação possibilitará a inferência de vários dados que

permitiram proceder com as seguintes ações: 1) invalidar, confirmar ou modificar a

hipótese; 2) traçar um esquema de explicação significativo; 3) quando possível,

generalizar e concluir e acrescentamos outro elemento de vital importância nesta etapa; 4)

possibilita elaborar proposições de melhor aplicação das informações e conhecimentos

construídos no processo investigativo, possibilitando elucidar ações que poderão servir

para intervenção e transformação da realidade.

Tal método nos leva a perceber que este processo é muito semelhante ao que

desenvolvemos no mestrado, quando investigamos sobre o tratamento da informação na

prática do assistente social (OLIVEIRA, 1996) onde, ao estudar as várias propostas de

tratamento da informação, chegamos à conclusão que, pelo menos no campo social, é

possível estabelecer um fluxo padrão de tratamento da informação.

O mesmo parte sempre de uma fonte, dela extrai os dados, estes por sua vez

sofreram um tratamento organizativo, que dará forma e sentido a estes dados, gerando

uma certa quantidade de informação. As informações, devidamente tratadas,

possibilitarão a construção de um determinado conhecimento.

Dessa forma, elaborar um processo de transformação de dados em informação,

informação em conhecimento e conhecimento que poderá permitir a tomada de decisão

quanto ao que fazer com tal conhecimento.

Isso dialeticamente irá gerar novos dados, novas informações e novos

conhecimentos e novas ações. Estes processos buscam, nas fases de tratamento e

transformação de dados para informação e informação para conhecimento, estabelecer a

compreensão dos mesmos face a um contexto mais amplo, o que permite ler e

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compreender a realidade de forma multifacetada e, portanto, em suas múltiplas

determinações, internas e externas do fenômeno estudado.

Seguindo este modelo, a seguir, apresentamos a formulação efetuado das duas

primeiras etapas, a saber, o delineamento do problema e elaboração da hipótese.

Problema:

A elaboração do problema é resultado de toda a análise que realizamos

anteriormente, face ao contexto e impactos da globalização, a questão do combate à

pobreza em suas múltiplas formas, o surgimento de novas formas de combate à pobreza e

desigualdade social, do desafio de imprimir a qualidade formal e política com vistas ao

desenvolvimento humano e a emancipação social. É nesse sentido que surge como forma

emergente o empreendedorismo social.

Desta forma, o empreendedorismo social emerge na atualidade em meio a várias

outras propostas de enfrentamento à pobreza e das expressões da questão social face ao

contexto da sociedade globalizada e, portanto, em uma realidade paradoxal e complexa.

O seu surgimento é derivado do crescente envolvimento do Terceiro Setor e das

empresas no processo chamado Responsabilidade Social Empresarial, na transferência de

princípios, técnicas e métodos de gestão para o campo social e para o enfrentamento das

questões sociais. Em face dos elementos históricos sobre o enfrentar a pobreza, nota-se

que o desafio maior no século XXI é produzir ações eficientes e eficazes que, de fato,

produzam a emancipação social e desenvolvimento humano dos sujeitos que são objeto

destas ações, e que superem o círculo vicioso de manutenção da pobreza e regulação do

pobre para servir de massa de manobra e perpetuação da exclusão e da desigualdade

social.

Desta forma, destacamos como problema central a seguinte questão: O

empreendedorismo social se apresenta como uma ação estratégica de

desenvolvimento humano e de emancipação social no enfrentamento da pobreza, ou

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se configura como mais uma ação paliativa de regulação e controle da pobreza e,

portanto, de manutenção do “status quo”?

Hipótese:

Como afirmação provisória,estabelecemos a seguinte questão:

O estágio atual do capitalismo globalizado gera um grande paradoxo, produz

riqueza e pobreza e obstaculiza políticas sociais eficazes, mas cria um ambiente onde

surgem novas manifestações e estratégias possíveis de gerar o desenvolvimento

humano e a emancipação social, entre elas, o empreendedorismo social.

Acreditamos que o método científico nos permitiu realizar uma verificação

objetiva quanto à problemática estabelecida e a hipótese formulada. A seguir, procuramos

apresentar a estratégia de verificação a partir do método de operacionalização, tal

apresentação é componente da terceira etapa do método de abordagem, a verificação, ou

seja, como proceder para melhor captar os dados, informações e gerar com isso o

conhecimento necessário para propor ações efetivas de intervenção na realidade.

5.5.1.2 Método de operacionalização

Como já sinalizado, por método de operacionalização entendemos o caminho de

operacionalização do processo de coleta e tratamento dos dados para geração de

informação e de conhecimento e formulação de ações interventivas.

Esta proposta teve como inspiração duas outras propostas. A primeira, de Santos Filho

e Gamboa (1995) e, a segunda, de Demo (2001 e 2002). A primeira proposta é

denominada pelo autor de “análise paradigmática”, configurando-se “como uma lógica

reconstituída., ou maneira de ver, decifrar e analisar a realidade” (SANTOS FILHO e

GAMBOA, 1995, p. 69). Os autores apresentam o seguinte esquema desta proposta.

q Níveis articulação/ Grupos de pressupostos:

o Técnico-instrumentais = coleta de dados

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o Metodológicos = passos e procedimentos

o Teóricos = conceitos, teorias, autores

o Epistemológicos = critérios de cientificidade

q Pressupostos

o Gnosiológicos = maneiras de tratar o real

o Ontológicos = concepção de homem, da sociedade, da historia, da

realidade.

A segunda proposta o autor denomina de “dialética histórica-estrutural” com

ênfase hermenêutica e que procura interpretar comportamentos, atitudes e discursos. Tem

como base a proposta do historiador Inglês Thompson,

a proposta de Thompson está ligada à análise da ideologia e detém importânciareconhecida, a começar pela definição mais acurada da ideologia como discursointeressado em sustentar relações de dominação. (DEMO, 2001, p. 35)

Em relação à dialética-estrutural, ele afirma que:

por ser tanto estrutural quanto dinâmica, cata dinâmicas das estruturasutilizando formalizações flexíveis para abarcar também as ambigüidades eambivalências dos fenômenos. Por ser método esmera-se na formalização –compreende tanto melhor o que pode ser melhor formalizado – mas, temconsciência de que esse intento também é intervenção e deturpação. (DEMO,2002, p. 23)

Ainda, segundo o autor, “em termos de método, trata-se de tipo de hermenêutica

que interpreta comportamentos, atitudes e discursos, considerando, no fundo, a sociedade

como texto a ser decifrado e compreendido.” (DEMO, 2002, p. 24)

Propõe, desta forma, um roteiro ilustrativo como fio condutor para

operacionalização desta proposta.

a. Contextualização sócio-histórica:

a. situações espaço-temporais;

b. campos de interação;

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c. instituições sociais;

d. estrutura social;

e. meios técnicos de transmissão;

b. Análise formal:

a. análise semiótica;

b. análise da conversação;

c. análise sintática;

d. análise narrativa;

c. Interpretação/reinterpretação:

a. “standpoint epistemolgy”;

b. questionamento próprio;

c. reinterpretação;

Com base nestas duas propostas, bem como no problema e hipótese estabelecidos,

verificamos que, para uma melhor apreensão deste fenômeno e seu significado, em vista

do referencial da emancipação social e do desenvolvimento humano como marcos

conceituais para romper com o círculo vicioso da manutenção da pobreza, partimos do

pressuposto que isto envolve mais do que a elaboração técnica de planos, programas e

projetos sociais, bem como da utilização de instrumentais teórico-metodológicos na

gestão de organizações sociais.

Mas sobretudo envolve várias dimensões que dizem respeito à percepção das

pessoas envolvidas e sua ação, escolha, modo de ver, sentir e agir frente aos desafios

históricos da pobreza, que novas faces complexas e paradoxais.

Neste sentido, a nossa proposta como método de operacionalização, tem como

objetivo captar elementos que permitam reconstruir, rastrear, decifrar, analisar,

compreender o significado do fenômeno e crescimento do empreendedorismo social em

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suas múltiplas dimensões.

Desta forma, o método operacional fica constituído dos seguintes elementos: a)

parâmetros de análise; b) níveis de articulação dos parâmetros; c) forma de

operacionalização metodológica e articulação dos pressupostos. A seguir, apresentamos

um esquema geral e, na seqüência, a sua explicação e detalhamento.

Quadro – 1: Síntese do esquema do método operacional contextualizado

Parâmetros Níveis dearticulaçã

o

Conteúdos dosníveis de

articulação

Operacionalização

Indicadores

Aspectos técnicosoperacionais

Gnosiológicos

QualidadeFormal:

técnicas,instrumentos,modo deoperacionalizaçãodas ações,elaboração dosplanos, programase projetos eserviços, o comofazer

TIPO DE PESQUISASUJEITOSUNIDADE DEESTUDO DE CASOCAMPOESTRATÉGIAS

Ontológicos QualidadePolítica:

Teorias,conceitos,autores, modelos,percepção,impactos das ações,papel, processo departicipação,percepçãoambiental, impactodas ações nacomunidade e navida dos usuários,alterações na vidadas pessoas, oporque do fazer.

1º Coleta dedados fonte:interna e externa2º Tratamentodos dadostransformandoem informação:forma e sentido3º Tratamentodas informaçõestransformandoinformação emconhecimento:análise einterpretação4º Decisãoquanto aoconhecimentoadquirido:estratégica eoperacional

1)Espaçosdeproduçãoereprodução2)Teoriaseconceitos3) Autoresmaisrecorrentes;4)Estratégias5) gestãoorganizacional6) Análisedecontexto

TÉCNICAS DECOLETA DE DADOS;1.Entrevista2.Questionários3.Grupo focal4.Pesq.Bibliográfica5.Pesq. documental6.Obs. participante7.Gravação9.Depoimentos10.Software depesquisa

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Epistemológicos

TRATAMENTO DOSDADOS1.Quantitativo:freqüências, percentuais,estatística,cruzamentos, gráficos,tabelas, quadros.2. Qualitativo: análisesignos, transcrição dasentrevistas e dosdepoimentos,elaboração de códigos,categorias,agrupamento analíticoparâmetros, indicadorese níveis de articulação.

Fonte: elaborado pelo autor, 2002/2003.

5.5.2 Análise do quadro 1 – Esquema de metodologia da investigação

5.5.2.1 Parâmetros

São indicativos globais dos aspectos norteadores de análise. A seguir, vamos

apresentar cada um dos parâmetros estabelecidos.

1) Gnosiológicos: são a caracterização e forma de entendimento das pessoas e dos

processos quanto a “maneira de tratar o real, o abstrato e o concreto [...] o que implica

diversos modos de abstrair, conceitualizar, classificar e formalizar...” (SANTOS FILHO

E GAMBOA, 1995, p. 71), ou seja, como as organizações e seus gestores estão

compreendendo a questão do atendimento à sua clientela e usuários e à população

excluída. Como estão sendo relacionadas as questões de compreensão e tratamento dos

fatores abstratos e subjetivos do processo de trabalho no enfrentamento da pobreza e seus

derivados, face às questões concretas e historicamente determinadas e vividas no dia-a-

dia.

2) Ontológicos: são os que dizem respeito às “concepções de homem, da

sociedade, da história, da educação e da realidade” (SANTOS FILHO E GAMBOA,

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1995, p. 71), ou seja, qual a visão e compreensão que os sujeitos, gestores e usuários têm

da vida, do mundo, das questões socais, da pobreza, da “ajuda”, das relações

estabelecidas nos processos de trabalho, etc.

3) Epistemológicos: no sentido de “validade de cientificidade”, ou ainda, se há ou

não cientificidade nos processos de análise, tratamento e encaminhamentos no campo da

gestão de empreendimentos sociais empreendedores, procurando com isso encontrar quais

as bases teóricas, metodológicas e discurso de profissionalização e cientificidade do

empreendedorismo social.

A partir dos parâmetros, olhamos para os dados coletados e, após o devido

tratamento, esses nos permitiram aprofundar e explicitar os fundamentos do

empreendedorismo social, entendendo-os como formas: gnosiológico, ontológico,

teórico-metodológica, epistemológica e semiótica de se constituir, bem como as formas

de se desenvolver e se fazer presente e existir, ou seja, as estratégias.

5.5.2.2 Níveis de articulação

São considerados elementos de base analítica para situar a referência teórica e

interligar com os parâmetros analíticos. Permitem analisar, comparar e inferir a dimensão

da qualidade em seus aspectos formais e políticos. Tal proposta tem base no entendimento

elaborado por Demo (1994). Por qualidade, compreende-se como sendo “questão de

competência humana. Implica consciência crítica e capacidade de ação, saber e mudar.

Diante da sociedade, pode ser resumida em dois desafios principais: o construtivo e o

participativo”. Neste sentido, o termo qualidade vai além do conceito ligado mais

usualmente como sendo conformidade às necessidades do cliente. Aponta para o fazer

com intensidade e profundidade que relaciona o toque humano no aprimoramento

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contínuo de suas atividades, ou seja: “todavia, o termo aplica-se mais propriamente à ação

humana, até o ponto de defini-lo como o toque humano na quantidade ou na realidade

como tal. Isso se deve à sua ligação com intensidade.” (DEMO, 1994, p. 14)

Demo distinguiu qualidade em duas dimensões, a saber: qualidade formal e

qualidade política. A primeira remete à compreensão do como fazer, ou seja, “significa a

habilidade de manejar meios, instrumentos, formas, técnicas, procedimentos diante dos

desafios do desenvolvimento. Entre eles, ressalta manejo e produção de conhecimento.

São o expediente primordial de inovação.” (DEMO, 1994, p. 14)

E a segunda, como:

competência do sujeito em termos de se fazer história, diante dos fins históricosda sociedade humana. É condição básica da participação. Dirige-se a fins,valores e conteúdos. É naturalmente ideológica, porque definição política é suamarca, perdendo qualidade, ideológica se reduzir a justificações desumanas e apartidarismo obtusos. inclui ética na política. (DEMO, 1994, p. 11)

Tais níveis de articulação se justificam e são de grande importância pelo fato de

que o empreendedorismo social se desenvolve em um ambiente paradoxal, mas marcado

profundamente pela geração de informação e conhecimento. Desta forma, surge a

importância de se avaliar de maneira mais ampla as dimensões do que Demo chama de

política social do conhecimento, “podemos entender por política do conhecimento

sobretudo o processo de reconstrução e uso do conhecimento para fins sociais, quer dizer,

a serviço dos excluídos” (DEMO, 2000, p. 43). E, neste processo, as dimensões da

qualidade política e formal são basilares quanto à identificação da configuração dos

processos relacionados ao campo social, principalmente quanto ao enfrentamento da

pobreza.

Como ressalta Demo

o combate à pobreza implica, ademais, mudança cultural radical, a começar porsuperar as ‘bagatelizações’ comuns, inclusive na assistência, de que algumassobras dão conta do problema [...] o sistema não teme o pobre com fome –basta, como regra, cesta básica para driblar o problema – mas teme o pobre quesabe pensar. (DEMO, 2000, p. 82- 83)

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5.5.2.3 Operacionalização

São consideradas as etapas operacionais, onde os parâmetros e os níveis de

articulação recebem os insumos para o seu processamento propriamente dito. A

operacionalização parte da compreensão de que existe uma enorme diferença entre dados,

informação e conhecimento e que há um processo dinâmico de transformação para este

processo, o qual denominamos em outro trabalho (OLIVEIRA, 1996), como sendo “fluxo

de tratamento da informação”.

Dados são considerados elementos brutos, números, freqüências, marcas,

indicativos que, em si, não dizem nada, são elementos descritivos, podem ser coletados

externa e internamente, global ou localmente (1º) a medida que estes dados passam por

um tratamento, vão se tornar informação, a partir do recebimento de uma forma e de um

significado. O que pode ocorrer a partir da classificação, identificação e agrupamento

sistematizado, (2º) informação, neste sentido, é um conjunto de dados com forma e

sentido e que permite a compreensão mínima de determinado fenômeno.

A partir deste processo, tem-se a possibilidade de construir o conhecimento, (3º),

que é um conjunto de informações que possibilitam a compreensão de determinados fatos,

fenômenos e relações estabelecidas de forma coerente e inelegível. Tal conhecimento

permite, via de regra, a tomada de decisão (4º). O que para o campo social e, na

perspectiva que estamos encaminhando nossa investigação, significa possibilitar a

elaboração de propostas a partir do conhecimento estabelecido e que produzam os fins a

que se querem chegar, o desenvolvimento humano, a emancipação social, a democracia,

exercício da cidadania e da real qualidade de vida.

5.5.2.4 Indicadores

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São elementos que compõem a indicação delimitada de fatores a serem estudados

e inter-relacionados com os parâmetros e os níveis de articulação. Esta delimitação não

deve ser entendida como limitar o escopo, mas sim, de focar, e gerar um processo de

objetivação do núcleo central ou objeto a ser investigado.

Estabelecemos os indicadores a partir dos parâmetros e dos níveis de articulação.

Vejamos, de forma mais detalhada, o que queremos dizer com cada um deles. Antes,

porém, cabe explicitar que o problema estabelecido e a hipóteses delineadas é que

conduziram a esta formulação. Se observarmos, não é uma construção aleatória, mas

interligada, procurando, ao mesmo tempo, ser abrangente, formal, mas também objetiva,

aprofundado e flexível.

Abrange aspectos que vão desde a análise de contexto a captar a percepção dos

sujeitos quanto ao real impacto das ações tidas como empreendedoras e estabelece, a

partir disso, elementos concretos para extrair os fundamentos, os limites, as possibilidades

e as múltiplas dimensões sociais, psicológicas, semióticas e ideológicas deste processo.

Vejamos os indicadores.

1. Espaços de produção e reprodução dos conceitos, princípios e práticas do

empreendedorismo social; local geográfica e institucional.

2. Gestão Organizacional: procuramos levantar, analisar e compreender os

elementos que compõem esta dimensão, a saber: aspectos do estilo gerencial

(planejamento, controle, organização e direção), o que implica em analisar: técnicas,

instrumentos e métodos de gestão, estrutura organizativa, procedimentos, rotinas,

investimentos, entre outros. Tal indicador possibilitou explicitar os elementos da

qualidade formal e dos parâmetros gnosiológicos, ontológicos e epistemológicos.

3. Teorias adotadas e conceitos mais utilizados: procura identificar quais teorias

se apresentam implícitas e explicitas na elaboração do processo do empreendedorismo

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social, o que explicita os parâmetros epistemológicos, ontológicos, bem como a qualidade

política. Também procura apreender quais conceitos são mais utilizados e articulados com

as teorias e procedimentos e cultura organizacional, parâmetros epistemológicos e

gnosiológicos e qualidade política.

4. Autores mais recorrentes: da mesma forma dos itens anteriores, este indicador

pode facilitar a identificar os aspectos teóricos, conceituais e, portanto,

epistemológicos,gnosiológicos, ontológicos do processo de empreendedorismo social,

como também os níveis de qualidade formal e política.

5. Estratégias adotadas para a disseminação dos conceitos, valores, princípios,

técnicas, métodos do empreendedorismo social, o que explicita os parâmetros

ontológicos, epistemológicos e os níveis de qualidade formal e político.

6. Contexto: refere-se à análise sócio-histórica do contexto em que está sendo

analisado o processo de investigação. Procura explicitar os elementos constitutivos da

historicidade dos fatos a inserção histórica do empreendedorismo social no processo de

enfrentamento da pobreza e junto às questões sociais.

5.5.2.5 Aspectos técnicos operacionais

Tipo de pesquisa: Decorrente da escassez de material bibliográfico e de estudos

mais aprofundados sobre o empreendedorismo social, bem como a necessidade de melhor

sistematizar, teórica e empiricamente, este conhecimento, a presente investigação se

caracterizou como sendo: a) exploratória; b) qualitativa; c) estudo de caso. Vejamos qual

entendimento e justificativa para a escolha destas características.

a) Pesquisa exploratória: segundo Gil

as pesquisas exploratórias têm como principal finalidade desenvolver,esclarecer e modificar conceitos e idéias, com vistas à formulação de problemasmais precisos ou hipóteses pesquisáveis para estudos posteriores [...]

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Habitualmente envolvem levantamento bibliográfico e documental, entrevistasnão padronizadas e estudos de caso [...] Este tipo de pesquisa é realizadoespecialmente quando o tema escolhido é pouco explorado. (GIL, 1994, p. 44)

A presente investigação apresenta todas estas características, pois há pouca

bibliografia sobre o assunto, não há trabalhos mais sistematizados, o assunto, assim como

as formulações de conceitos e teoria ainda estão em construção e requerem uma

formalização de seus fundamentos e melhor delineamento das idéias em torno deste

fenômeno.

b) Qualitativa: na atualidade, há um grande debate sobre os aspectos da relação

entre pesquisa qualitativa e quantitativa (Cf. ALVES-MAZZOTTI e

GERWANDSNAJDER, 1998; SANTOS FILHO e GAMBOA, 1995; DEMO, 1996;

BAUER e GASKELL, 2002). Tal perspectiva é mais adotada nas ciências humanas e

sociais e tem como principal ênfase o estudo e aprofundamento dos elementos subjetivos

e qualitativos de determinados fenômenos, além de centrar esforço no tocante aos

aspectos políticos, ideológicos e perceptivos, bem como das relações e interações sociais.

Lüdke e André ressaltam cinco características básicas que marcam a pesquisa qualitativa:

1) a pesquisa qualitativa tem o ambiente natural como sua fonte direta de dados e o

pesquisador como seu principal instrumento; 2) os dados coletados são

predominantemente descritivos; 3) a preocupação com o processo é muito maior do que

com o produto; 4) o ‘significado’ que as pessoas dão às coisas e à sua vida são focos de

atenção especial pelo pesquisador 5) a análise dos dados tende a seguir um processo

indutivo, ou seja:

envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto dopesquisador com a situação estudada, enfatiza mais o processo do que oproduto e se preocupa em retratar a perspectiva dos participantes. (LÜDKE eANDRÉ, 1986, p. 13)

Outra característica que salienta a escolha desta pesquisa é destacada por

Goldenberg, “os pesquisadores que adotam a abordagem qualitativa em pesquisa se

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opõem ao pressuposto que defende um modelo único de pesquisa para todas as ciências,

baseado no modelo de estudo das ciências da natureza” (GOLDENBERG, 1997, p. 16).

Segundo Pedro Demo (2001), esta pesquisa é denominada pelo autor como sendo

“informação qualitativa”. Destaca que todo fenômeno qualitativo traz elementos

quantitativos,

dependendo do objeto e dos propósitos da pesquisa pode-se preferir umprocedimento mais qualitativo, mas seria equivocado não perceber que ‘dados’qualitativos também são, de alguma forma, ‘dados’, ou seja, possuemreferências como tamanho, freqüência, escala, extensão. (DEMO, 2001, p. 9)

Por informação qualitativa, apresenta a seguinte compreensão:

buscamos na realidade informação –‘dados’ – sobre ela, de sorte que possamosmanipular cientificamente, permitindo tanto sua melhor compreensão, quanto,sobretudo, condições de intervenção e mudança [...] vou privilegiar aqui ainformação interpretativa, da qual é necessário sempre duvidar e que precisa serrefeita. Esse tipo de dado é sobretudo ‘construído’, não apenas ‘colhido’.(DEMO, 2001, p. 10)

O autor delimita este entendimento de modo que o mesmo se adequou aos nossos

propósitos e que nos levou a adotar a pesquisa qualitativa em nossa investigação, ou seja,

a forma como procuramos captar os dados e informações qualitativas, como ressalta

Demo,

limito também o âmbito da discussão ao contexto da informação obtida pelacomunicação humana ou por ela permeada: entrevistas dialogadas (abertas),observação participante, avaliações qualitativas, pesquisa participante,pesquisa-ação de cariz comunitário, e assim por diante. Não me atenho àanálise do discurso, porque ressalto o caráter performativo da comunicaçãoligada não só ao dizer, mas igualmente ao fazer. (DEMO, 2001, p. 11) [grifonosso]

Como procuramos grifar, nossa busca é de analisar precisamente este aspecto do

dizer, entender, compreender o que vem a ser o empreendedorismo social, seu significado

e, também, como ele é feito e aí extrair os demais indicadores e varáveis que

estabelecemos anteriormente.

Tais aspectos reforçam a pertinência e adequação da escolha deste tipo de

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pesquisa e abordagem para nossa investigação, onde procuramos dar ênfase à busca de

elementos interpretativos dos significados, dos sentidos, das formas de entendimento e do

fazer (gnosiológicos, ontológicos, epistemológicos, qualidade formal e política), o que

possibilitou-nos extrair uma gama de dados e informações para construção do

conhecimento dos fundamentos do empreendedorismo social, e sua inserção no atual

contexto. Isso possibilitou a verificação de nossa hipótese e a elaboração de proposições

concretas face os elementos analisados.

c) Estudo de caso: a escolha pela modalidade de estudo de caso está relacionada à

própria abordagem por ser ela predominantemente qualitativa e não quantitativa. Segundo

Goldenber (1997).

O termo estudo de caso vem de uma tradição de pesquisa médica e psicológica,na qual se refere a uma análise detalhada de um caso individual que explica adinâmica e a patologia de uma doença dada [...] supõe que se pode adquirirconhecimento do fenômeno estudado a partir da exploração intensa de umúnico caso [...]. O estudo de caso não é uma técnica específica, mas uma análiseholística, a mais completa possível, que considera a unidade social estudadacomo um todo, seja um indivíduo, uma família, uma instituição ou umacomunidade, com o objetivo de compreendê-los em seus próprios termos.O estudo de caso reúne o maior número de informações detalhadas por meio dediferentes técnicas de pesquisa tem como objetivo de apreender a totalidade deuma situação e descrever a complexidade de um caso concreto.(GOLDENBER, 1997, p. 33-34)

Lüdke e André (1986, p. 19-20) apresentam algumas características que

identificam o estudo de caso: 1) visam à descoberta; 2) visam à interpretação em

contexto; 3) procuram retratar a realidade de forma complexa e profunda; 4) usam uma

variedade de fontes de informação; 5) revelam experiências vividas e generalizações

naturalísticas, ou seja, explicitam os fatos como se apresentam; 6) procuram apresentar as

diferenças e conflitos existentes no fenômeno estudado; 7) apresentam os fatos em uma

linguagem mais acessível que outros relatórios de pesquisa.

Ainda, segundo Gil (1994, p. 78), “o estudo de caso é caracterizado pelo estudo

profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira a permitir conhecimento

amplo e detalhado do mesmo” Como se pode perceber, este autor, aponta para tal estudo

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como sendo não só de uma única unidade/objeto, mas também de outras unidades e assim

ainda ser um estudo de caso. Chama atenção para a limitação desta modalidade, pois, se

escolher unidades de estudo inadequadas, poder-se-á comprometer os resultados.

Segundo Roche o estudo de caso é entendido como

uma abordagem para se conseguir informações completas, sistemáticas edetalhadas a respeito de um caso de interesse [...]. Os estudos de caso podemexaminar, entre outras coisas, as pessoas individualmente, as comunidades, osacontecimentos, os períodos de tempo, os programas ou organizações.Independentemente da unidade de avaliação, eles geralmente procuramdescrever de forma holística, determinada unidade de forma intensa edetalhada, de forma a encaixá-la no contexto [...] são em geral empregadosquando se precisa compreender mais profundamente um grupo especifico depessoas, determinados problemas ou uma situação singular; onde se podeidentificar os casos ricos em informação – no sentido de que muito pode seraprendido a partir de alguns exemplos. (ROCHE, 2000, p. 185)

Segundo este autor, existem os seguintes tipos de estudo de caso: 1) casos

incomuns, externos, ou divergentes; 2) típicos ou médios; 3) homogêneos ou similares; 4)

variados ou heterogêneos; 5) críticos; 6) ‘bola da vez’; 7) conveniência (idem, p.188).

Este autor apresenta o estudo de caso na aplicação de uma pesquisa de avaliação de

impacto de ONG´s internacionais.

Tais perspectivas e entendimento se apresentam adequados aos nossos objetivos.

A escolha por essa modalidade se deu pelo objetivo de aprofundar o estudo sobre o

empreendedorismo social, bem como de analisar seu impacto sobre a vida das pessoas

envolvidas, e também analisar uma organização social com estas características, e

verificar se o empreendedorismo social estaria ou não desenvolvendo a emancipação

social e o desenvolvimento humano.

A escolha também se deve a uma quantidade considerável de organizações com

este perfil, mas que não podem passar por um processo mais amplo de análise em

profundidade. O estudo de caso permitiu o aprofundamento dos parâmetros e indicadores

e variáveis estabelecidos para a investigação.

Esta abordagem foi utilizada de duas formas. Uma primeira, a relatar as

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organizações de reprodução e disseminação dos conceitos e práticas do

empreendedorismos social, tanto no nível nacional como internacional.

Uma segunda, foi no aprofundamento, primeiramente da ONG Academia Social e

da Ashoka. Esta segunda de forma mais aprofundada, em que estudamos uma

organização que é fruto de sua atuação, ou seja, a Associação Lua Nova, onde nos

permitiram fazer uma visita in loco e um trabalho mais próximo desta realidade para

captar através de questionários, entrevistas e observação elementos empíricos

valiosíssimos que deram à investigação uma dinâmica mais viva e efetiva.

Os critérios e a escolha da unidade de caso serão detalhados mais à frente neste

trabalho. Em síntese, a pesquisa se caracteriza como sendo qualitativa, exploratória e de

estudo de caso.

Sujeitos da pesquisa:

Consideramos as pessoas que participaram desta pesquisa como sujeitos ativos e

não como meros objetos ou fontes de informação. Desta forma, e considerando todos os

fatores de acessibilidade e disponibilidade de investigação, os sujeitos participantes da

investigação foram:

a) organizações sociais, que tinham um envolvimento, tanto direto como indireto,

com a perspectiva do empreendedorismo social;

b) seus gestores e seus usuários.

No segundo grupo, só foi possível no estudo de caso da Lua Nova, onde a gestora,

primeiramente, foi entrevistada e preencheu um questionário e, posteriormente, os

usuários, também participaram no processo. Nesse grupo, limitamo-nos ao estudo a partir

de dados disponíveis na literatura e internet.

Unidade de estudo de caso:

Como estabelecido em nosso primeiro projeto de pesquisa, primeiramente

escolhemos a ONG Ashoka. Mas tivemos complicações quanto a esse estudo, pois o

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retorno dos contatos não foram favoráveis, em um primeiro momento, como mostraremos

mais à frente. Isso nos levou a mudar de estratégia, ou seja, não nos centrarmos só na

Ashoka. Procuramos descobrir outras organizações com características em

empreendedorismo social e que estavam, em certa medida, sendo influenciadas pela

perspectiva do empreendedorismo social, além de ser acessíveis. Havia na ocasião três

possibilidades de escolha para a unidade de estudo de caso do primeiro grupo.

Primeira opção: seria uma ONG de Atibaia-SP, chamada “Projeto Curumim”, que

se mostrou aberta, e fazia parte da rede da Ashoka, mas que, até a qualificação

(julho/2003), ainda não havia se posicionado quanto a fazer ou não o estudo de caso; esta

organização se inseria no campo da assistência social, fornecendo atendimento a crianças

e adolescentes, famílias, projetos de geração de renda entre outras.

Uma segunda opção era uma ONG de Recife-PE, chamada Academia Social, que

trabalha com o protagonismo social juvenil, através de uma modalidade criada por eles

denominada de “Incubadora Social Jovem”. Nesse caso, já haviam se mostrado abertos e

já estávamos preenchendo o questionário inicial, em plena negociação para realizarmos o

estudo de caso.

Para o segundo grupo, ainda não tínhamos uma escolha efetiva. Procuramos,

primeiro, definir a primeira organização para, depois, escolher uma outra que pudesse

propiciar um estudo de caso em profundidade.

Por fim, em meados de julho, iniciamos o estudo com a Academia Social, que

infelizmente não se concretizou na fase de visita e de trabalho de campo, ficando só no

preenchimento de questionários, dos quais nem todos puderam ser utilizados. Dessa

forma, só contamoscom a descrição e não apresentamos dela um estudo de caso em

profundidade.

Optamos então para um estudo em profundidade da Ashoka. Avaliamos que já

tínhamos um material extenso sobre a mesma, e que, apesar da recusa e negação de

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investigarmos a organização em si, conseguimos, no final de julho/2003, ter um retorno

de quatro questionários e uma organização, a Associação Lua Nova aceitou sem maiores

problemas, participar do estudo de caso em profundidade. Como nossa perspectiva não é

qualitativa, mas sim quantitativa, os quatro questionários das organizações ligadas à

Ashoka mostraram-se ricos em conteúdos que serviam de análise para o nosso propósito

que, aliado à possibilidade de completar o segundo grupo de sujeitos, tornou rico o estudo

de caso, como mostraremos mais à frente.

Estratégias:

Como já sinalizado, uma primeira estratégia foi entrar em contato com algumas

organizações que estavam envolvidas, a partir do Prêmio Empreendedor da Ashoka, no

Estado de São Paulo, no período de 2000 a 2002. Enviamos um questionário amplo, semi-

estruturado para algumas organizações. Enviamos cerca de 20 questionários e só

retornaram quatro, dentre eles: do “Projeto Curumim” de Atibaia-SP, Projeto Quixote de

São Paulo-SP, História do Presente de São Paulo-SP e da Associação Lua Nova de

Sorocaba-SP.

Foram estabelecidos contatos telefônicos na primeira fase. Na segunda, estivemos

pessoalmente realizando a coleta de dados, efetuando as observações, coordenando as

atividades de preenchimento dos questionários e conduzindo dinâmicas de grupo e

registro/gravação das entrevistas.

5.5.2.6 Técnicas de coleta de dados

As técnicas também foram escolhidas a partir do estabelecimento dos indicadores

e variáveis, pois as estendemos como formas de alavancar e extrair da realidade os

elementos brutos (dados) para serem tratados, analisados e interpretados (informação e

conhecimento). Assim apresentamos as técnicas que foram utilizadas para coletar e as

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formas de tratar esses dados. Será também apresentado mais detalhadamente e

procuraremos explicar as razões de sua escolha, assim como foram aplicadas.

a) Questionário semi-estruturado com escala social

Segundo Gil, o questionário pode ser definido como

técnica de investigação composta por um número mais ou menos elevado dequestões apresentadas por escrito às pessoas, tendo por objetivo oconhecimento de opiniões, crenças, sentimentos, interesses, expectativas,situações vivenciadas, etc. (GIL, 1994, p. 124)

O questionário que escolhemos se caracteriza como sendo do tipo semi-

estruturado e com escala social.

É semi-estruturado, pois apresenta certa flexibilidade em sua estrutura mas, ao

mesmo tempo, restringe as questões dentro dos parâmetros, indicadores e variáveis

estabelecidas, com perguntas abertas e fechadas. As escalas sócias, que compõem o

questionário, são consideradas como “instrumentos construídos com objetivo de medir a

intensidade das opiniões e a atitude da maneira mais objetiva possível” (GIL, 1994, p.

134).

Foram elaborados dois questionários (vide em anexo).

O primeiro foi criado e destinado para a primeira fase da pesquisa, que traçava um

perfil da organização do gestor empreendedor e da sua concepção quanto às questões

referentes aos conceitos de empreendedorismo social, emancipação social,

desenvolvimento social.

Este primeiro questionário, como pode ser visto no modelo em anexo, é composto

de 127 questões, divididas em três blocos.

O primeiro, que vai da questão (1 a 54) se refere a organização e ao gestor. O

segundo, refere-se (55-107) à compreensão do empreendedorismo social e das

organizações empreendedoras. O terceiro (108-127) aborda o entendimento e

desenvolvimento humano, pobreza, empreendedorismo social, questão social. As escalas

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foram elaboradas na modalidade proposta por Likert (apud GIL, 1994, p. 142), que se

caracteriza como de “elaboração mais simples e de caráter ordinal, não mediando,

portanto, o quanto uma atitude é mais ou menos favorável.”

Elaboramos perguntas que permitissem estabelecer os níveis de concordância e

discordância, bem como de satisfação e insatisfação em relação às variáveis e indicadores

elaborados. Foi efetuado um pré-teste e feitas algumas correções.

Ele foi enviado para algumas organizações, via correio, pessoalmente ou por e-

mail, no entanto, só obtivemos o retorno de quatro questionários preenchidos. A Lua

Nova foi à única que aceitou a participar do estudo de caso.

Para a realização do estudo de caso, também elaboramos um questionário

específico que seguisse, em certa medida, os mesmos itens, com exceção dos que eram

muito pertinentes ao gestor. Desta forma, elaboramos o segundo questionário, com 97

questões (ver em anexo) que foram aplicadas simultaneamente com a presença do

pesquisador. Os critérios e o seu desenvolvimento estão contidos detalhadamente na

apresentação dos dados desta atividade.

b) Entrevista, depoimento e gravação

A entrevista pode ser considerada como,

a técnica em que o investigador se apresenta frente ao investigado e lhe formulaperguntas, com o objetivo de obtenção dos dados que lhe interessam àinvestigação. A entrevista é uma forma de interação social. (GIL, 1994, p. 113)

Assim como o questionário, optamos para realizar uma pesquisa semi-estruturada,

ou seja, que focaliza, mas, ao mesmo tempo, flexibiliza a rota do diálogo que se

estabelece entre o entrevistador e o entrevistado. A intenção é estabelecer uma forma para

coletar a opinião, o significado; assim, queremos extrair o depoimento das pessoas

envolvidas, ou não, como o empreendedorismo social. Logo, o depoimento não se

restringe a coletar respostas mecanizadas e restritas, mas amplas o suficiente para

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trazerem à tona elementos significativos da percepção e da leitura da realidade dos vários

conceitos e situações analisados.

Queiroz (1991) exemplifica este aspecto com maior propriedade quando

diferencia história de vida e depoimento,

a diferença entre história de vida e depoimento está na forma específica de agirdo pesquisador ao utilizar cada uma destas técnicas [...] só lhe interessam osacontecimentos que venham se inserir diretamente no trabalho [...] A entrevistapode se esgotar num só encontro; os depoimentos podem ser muito curtos.(QUEIROZ, 1991, p. 7)

Procuramos ampliar a coleta de depoimentos.

Desta forma, dos quatro questionários que retornaram, somente em dois pudemos

confirmar uma entrevista com os gestores empreendedores. Uma, com o presidente da

História do Presente, e, o outro, com a presidente da Associação Lua Nova. Com os

demais não foi possível.

No segundo grupo, com as usuárias dos serviços e projetos da Lua Nova, optamos

por realizar uma entrevista coletiva, grupo focal, com alguns depoimentos avulsos, que

também se encontram registrados e serão melhor apresentados mais à frente.

Após a gravação das entrevistas e os devidos registros em caderno de campo, nós

mesmos efetuamos a transcrição das fitas e, posteriormente, o tratamento de seus

conteúdos.

Neste sentido, fizemos uso desta técnica em duas modalidades, individuais e

grupais. As entrevistas grupais foram desenvolvidas a partir da técnica de grupo focal e de

uma dinâmica de grupo de colagem. Vejamos com maiores detalhes estas duas técnicas.

c) Grupo focal, dinâmica de colagem e gravação

O grupo focal se caracteriza por uma modalidade de entrevista coletiva, grupal.

Segundo Bauer e Gaskell (2002),

o objetivo do grupo focal é estimular os participantes a falar e a reagir àquiloque outras pessoas no grupo dizem. É uma interação social mais autêntica doque a entrevista em profundidade, um exemplo da unidade social mínima em

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operação e, como tal, os sentidos ou representações que emergem são maisinfluenciados pela natureza social da interação do grupo em vez de sefundamentarem na perspectiva individual, como no caso da entrevista emprofundidade. (BAUER e GASKELL, 2002, p. 75)

Segundo Roche,

os grupos focais são pequenos (variam de seis a doze pessoas), constituídos oudos atuais agrupamentos de pessoas com interesses ou identidade similares [...]ou especificadamente escolhidos para representar uma variedade de opiniões econtextos. (ROCHE, 2000, p. 151)

A escolha dessa técnica se justifica pela problemática estabelecida e, que só

poderá ser verificada, se estabelecermos um espaço possível de verificação através da

vida das próprias pessoas e de sua opinião, percepção sobre o impacto das ações das

respectivas organizações sociais (tanto empreendedora como não) se estão de fato

emancipando e desenvolvendo humanamente ou não. Acreditamos que, no confronto de

grupos, esse elemento que poderá ficar mais explícito.

O grupo foi constituído de usuários que são assistidos/atendidos pela organização

em estudo, e seguiram um roteiro de discussão prévia, que procurou estar em consonância

com os parâmetros, indicadores e variáveis estabelecidos. A técnica foi complementada

pela observação participante e dinâmica de colagem para captação da percepção

ambiental e dinamização da fala das participantes.

Para a realização desta atividade, utilizamos cartolinas brancas, que foram

distribuídas entre as participantes, uma cola e uma tesoura, bem como uma quantidade

razoável de revistas e jornais variados, para que as participantes, a partir de um tema eixo,

dessem suas respostas sem ter que escrever com letras, palavras, ou seja, só como as

imagens que escolheram nos jornais e revistas.

A atividade foi gravada, com autorização do grupo e da coordenação da

organização, e, posteriormente, tanto as imagens da colagem como o registro do debate

do grupo, foram transcritos e analisados, tanto semiótica (imagens, gestões, posturas, voz,

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atitude, palavras) discursivamente (conceitos, valores, princípios). Além da transcrição da

fita, os cartazes foram retidos por nós e, posteriormente, foram tiradas fotos dos mesmos,

para melhor serem analisados e anexados ao corpo do relatório final.

d) Observação participante e caderno de campo

No estudo de caso, foi efetuada uma visita onde compartilhamos de alguns

momentos da vida e dinâmica de trabalho da organização. Utilizamos, neste momento as

técnicas de observação e principalmente a participativa.

Segundo Laville e Dionne (1999), “a observação revela-se certamente nosso

privilegiado modo de contato como o real: é observando que nos situamos, orientamos

nossos deslocamentos, reconhecemos as pessoas, emitimos juízos sobre elas” (LAVILLE

e DIONNE, 1999, p. 176). Já a observação participante não se limita a estabelecer

critérios a serem observados de maneira estruturada. Segundo esses autores, “nessa forma

de observação, o pesquisador-observador não fica retirado [...] mas se integra à situação

por uma participação direta e pessoal.” (LAVILLE e DIONNE, 1999, p. 180)

Escolhemos esta técnica por entender que o observar é a principal ferramenta do

investigador, em especial na perspectiva que estamos propondo. Essa técnica seguiu os

parâmetros, variáveis e indicadores estabelecidos e as impressões foram registradas em

um caderno de campo e, posteriormente, serviram de material analítico para cruzar e

complementar outros dados da investigação coletados através de outras técnicas.

e) Colagem/imagem

A primeira intenção era utilizar a fotografia, considerando que ela é uma técnica

de registro da informação perceptiva do espaço social, ou da percepção do ambiente

social, ou seja, semitoticamente consideramos que, ao retratar através de fotos aquilo que

define ou representa algo para alguém, essa representação indica e sinaliza dados e

informações relevantes para captar o percebido pelos sujeitos em relação a sua inserção

num determinado espaço, contexto ou conjuntura social. Possibilita, assim, a

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decodificação dos significados dos mesmos face aos impactos e processos vividos, o que,

juntamente com as outras informações, poderá explicitar os elementos possíveis para

comprovar ou não a hipótese estabelecida.

Tal escolha deriva do entendimento de que

além das explicações socioeconômicas do urbano estão as imagens da cidadeque assinalam uma robusta realização humana, uma forma distinta decivilização. Nessas imagens, estão as representações, a linguagem urbanaatravés da qual não apreendemos as explicações, abstratas, mas aquelasconstantes que atingem e modelam o nosso cotidiano. (FERRARA, 1993, p.201)

Esta compreensão nos leva a considerar a existência de uma semiótica do espaço

social, que tem por objetivo captar os significados da vida cotidiana através da percepção

ambiental dos sujeitos. O objetivo é captar os

sinais, as marcas que os processos de transformação social deixam no espaço eno tempo contando uma história não verbal que se nutre de imagens, máscaras,fetiches, que designam uma expectativa, um cotidiano, valores, usos, hábitos ecrenças do homem que dinamiza o espaço social. (FERRARA, 1993, p. 233)

A fotografia apresenta-se como uma forma de registro da percepção, como afirma

Ferrara, “a imagem fotográfica tem o poder de reter, fixar, congelar a realidade no espaço

e no tempo” (FERRARA, 1993, p. 267), reforça que a fotografia é estratégica no tocante à

pesquisa de percepção ambiental,

a fotografia mostra-se como recurso altamente estratégico, porque, ao mesmotempo que permite a identificação do próprio ambiente que serve de base aoprocesso perceptivo, tenciona esse processo ideologicamente. Explicita mantera informação por ele produzida [...] a fotografia mostra uma dimensão invisívelda informação que é possível extrair do cotidiano, exatamente porque essainformação não está na realidade ambiental, mas é elaborada a partir dosimpactos que aquela realidade cria diariamente . (FERRARA, 1993, p. 268)[grifo nosso]

A escolha deve-se ao fato da necessidade de captar o percebido quanto ao impacto

ou não das ações empreendedoras e, com isso, constatar, ou não, as mudanças da vida

cotidiana e, em específico, na representação ou percepção dos sujeitos que estão inseridos

em um determinado contexto, espaço social e são influenciados pelo processo.

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No entanto, não foi possível aplicar esta técnica, pois ela se mostrou inviável, não

só pelo custo, como também pela operacionalização e dificuldade das pessoas em

executar a proposta.

Utilizamos, desta forma, as imagens e fotos já existentes, partindo do pressuposto

de que o ato de olhar e escolher também se assemelham ao ato de escolher uma cena e

registrá-la pela foto. No caso da colagem, a busca é dentro de um universo já existente,

mas que passa, a partir da escolha de outro, a representar outras coisas que não mais a sua

original.

A forma de aplicação, bem como os resultados serão posteriormente apresentados.

f) Pesquisa bibliográfica e documental

Segundo Medeiros (1999) “a pesquisa bibliográfica caracteriza-se como

documentação indireta [...] é aquela que busca o levantamento de livros e revistas de

relevante interesse para a pesquisa que será realizada” (MEDEIROS, 1999, p. 40- 41). Já

a pesquisa documental,

assemelha-se muito á pesquisa bibliográfica. A única diferença entre ambasestá na natureza das fontes [...] a pesquisa documental vale-se de matérias quenão receberam ainda um tratamento analítico, ou que ainda podem serreelaborados de acordo como os objetivos da pesquisa. (GIL, 1994, p. 73)

A pesquisa bibliografia foi constituída de livros, revistas especializadas, textos da

internet sobre o empreendedorismo social e das demais categorias: pobreza, globalização,

emancipação social, desenvolvimento humano, entre outros.

Os documentos que foram escolhidos foram analisados a partir da aproximação e

definição/disponibilização das organizações e dos gestores em fornecer. A princípio,

foram analisados programas, projetos, e planos de negócios sociais e projetos sociais,

além de relatórios, atas, folhetos e outros.

5.5.2.7 Tratamento dos dados

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Esta etapa foi dividida em duas dimensões, tratamento dos dados qualitativos e os

dados quantitativos. Vejamos com mais detalhes.

Quantitativos : foram criados padrões de freqüência, estatística básica

(percentual), cruzamento de dados, elaboração de gráficos, tabelas e quadros, o que foi

possível e utilizado principalmente na análise dos dois questionários;

Qualitativos: análises de discurso e conteúdo, transcrição e codificação dos

conteúdos das entrevistas e depoimentos, elaboração e agrupamento de categorias

analíticas, análise de imagens (cartazes), descrição e análise de apontamentos do caderno

de campo e transcrição das entrevistas com o registro da observação participante.

Após apresentarmos o contexto e problematização do objeto da investigação, bem

como as estratégias para coleta e análise de dados, na seqüência apresentaremos os

resultados da aplicação desta metodologia e as principais conclusões a que chegamos ao

investigar o empreendedorismo social no Brasil.

Desta forma, a próxima parte e seus respectivos capítulos são frutos da pesquisa

bibliográfica, documental e de campo, bem como uma revisão ampla da literatura vigente

sobre o assunto.

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SEGUNDA PARTE - MAPEANDO O DEBATE E RASTREANDO AS ORIGENS,SIGNIFICADOS E CARACTERIZAÇÃO DOEMPREENDEDORISMO SOCIAL

A partir das questões colocadas na primeira parte e do desenho metodológico

proposta para esta investigação, a seguir, apresentamos, neste capítulo, o resultado da

sistematização dos dados e informações, tanto bibliográficos como empíricos de nossa

investigação. Esses serão apresentados da seguinte forma:

Primeiramente, apresentamos uma série de reflexões e constatações que fizemos

sobre o tema e objeto delimitados. Esta reflexão se divide na apresentação de uma visão

internacional do empreendedorismo social e, em seguida, uma visão sobre a realidade no

Brasil. A segunda, é bem mais aprofundada e, a primeira, de maneira a apresentar só os

dados de maior relevância para nossa investigação.

Ainda neste primeiro momento, na visão da realidade brasileira, apresentaremos

um estudo de caso, para o que coletamos dados empíricos e exemplo efetivo do impacto

da ação do empreendedorismo social.

Em um segundo momento, estaremos apresentando, a partir dos demais dados já

explicitados, uma reflexão sobre as questões que são de similitudes e ambivalências no

empreendedorismo social, em comparação a outros conceitos, o do Serviço Social como

profissão já constituída no campo social.

Depois, procuramos sintetizar os dados e informações apresentadas e destacarmos

os principais fatores referentes aos fundamentos e estratégias do empreendedorismo

social.

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6 – REFLEXÕES E CONSTATAÇÕES PRELIMINARES SOBRE AINVESTIGAÇÃO DOS FUNDAMENTOS E AS ESTRATÉGIAS DOEMPREENDEDORISMO SOCIAL

6.1 As primeiras pistas e rastros

Como já sinalizamos na guise de elementos introdutórios, a nossa primeira

aproximação sobre o tema se deu no final de 1999 e início de 2000. Na ocasião,

estávamos nos preparando para escolha de um tema de pesquisa para o doutorado. Além

de outras atividades, na ocasião estávamos realizando uma atividade como voluntário em

uma organização social, a creche Aldeia Infantil Betesda (AIB), em Toledo/PR, bem

como atuando como membro do Conselho Municipal de Assistência Social do Município

(CMAS). Tais atividades levaram-nos a buscar novos subsídios para melhor adequação

das demandas e necessidades de cada atividade.

No CMAS, fazia parte da comissão técnica de análise dos projetos que seriam

analisados para aprovação nas reuniões do conselho. Na AIB, fazia parte do conselho

técnico consultivo e estava auxiliando no processo de elaboração do planejamento

estratégico.

Nesta ocasião, e por conta da busca por mais informações e sobre gestão de

organizações sociais, tivemos conhecimento da realização do Prêmio Empreendedor

Social, promovido pela Ashoka, em São Paulo.

Inteiramo-nos sobre a proposta do prêmio, levamos a idéia de inscrever a AIB no

referido concurso. Conseguimos, na ocasião, ser aprovados para a segunda fase108, mas

não conseguimos passar para a terceira. O concurso visava à elaboração de um Plano de

Negócio para implantação de um projeto social. As orientações eram feitas via internet e a

equipe composta de membros da organização mais um estudante da área de administração

108 Mais a frente estaremos detalhando o processo deste prêmio.

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ou outro curso superior, além do auxílio de especialistas ligados à Ashoka.

Apesar de não termos alcançado as expectativas, este exercício foi decisivo para

que aprofundássemos a investigação sobre o tema.

Iniciamos um processo mais sistemático de pesquisa bibliográfica inicial para uma

aproximação e ampliação sobre o empreendedorismo social. Verificamos,

preliminarmente, que a Ashoka, no Brasil, era a organização que mais divulgava e

apresentava uma prática efetiva com este termo. Tal constatação foi se confirmando a

partir do instante em que fomos caminhando e rastreando os passos do surgimento do

empreendedorismo social.

Ao longo dos últimos dois anos (2000-2002), foram surgindo algumas literaturas

sobre empreendedorismo social, mas nada substancial. Na sua maioria, pequenos artigos

em revistas, jornais e na Internet; somente a partir de 2002, é que surgiram alguns

trabalhos mais sistematizados, mas ainda só sobre a prática e com pouco aprofundamento

conceitual, como é o caso do trabalho de Rouere & Padua 109 (2001) “Empreendedores

sociais em ação” que sistematiza as ações de vários projetos, na sua grande maioria, sobre

empreendedorismo social e meio-ambiente.

Tanto as autoras como os casos apresentados, fazem parte da rede de fellows110, da

Ashoka, e não apresentam conceitos e nem pontuam alguma temática mais aprofundada

sobre empreendedorismo social. O mesmo ocorre com outra obra, também da Ashoka111,

“Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócio para

organizações sociais” (2001), que sistematiza os resultados do Prêmio Empreendedor

Social. Outros dois materiais, também da Ashoka, são os manuais para participação do

Prêmio Empreendedor Social (disponível na internet www.empreendedorsocial.org.br), e

109 ROUERE, Mônica de; PADUA, Suzana Machado. Empreendedores sociais em ação São Paulo:

Petropólis, 2001.110 Fellows, em inglês significa companheiro, termo usado para os membros da Ashoka.111 Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócio para organizações sociais?

Ashoka Empreendedores Sociais e McKinsey & Company, Inc. – São Paulo: Petrópolis, 2001

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um caderno, contendo idéias inovadoras em captação de recursos, também fruto da

experiência do Prêmio Empreendedor Social, na edição de 1999.

Começamos a fazer um monitoramento quase que diário quanto ao site e

publicações da Ashoka, bem como de outras fontes. Uma das estratégias foi utilizar de

modo padronizado o sistema de busca Google considerado um dos mais eficientes,

sempre indicando a palavra chave-“empreendedorismo social” em português ou, a mesma

expressão, em inglês social entrepreneurship. Para se ter uma idéia, no inicio de nossa

pesquisa (2000), quando entrávamos com esta palavra, a pesquisa apresentava cerca de

4.890 itens relacionados, já em meados de 2002, 599.000 e, mais recentemente, (setembro

de 2003), cerca de 14.100 itens relacionados.

Só este fato já indica o crescimento do termo e suas variantes. Mas grande parte

destes itens estavam quase sempre relacionados, direta ou indiretamente, a algumas fontes

específicas. Entre elas, a ONG Ashoka. Isso nos levou a estudar a possibilidade de

convidarmos essa ONG para ser um estudo de caso em nossa tese de doutoramento, o que

infelizmente foi frustrado por várias razões.

Entre as razões, segundo a diretora Anamaria Schindler, seria a impossibilidade de

atender ao pesquisador, ou seja, não dispunham de tempo e pessoa para dar atenção a

todas as demandas, pois havia muitas solicitações e não tinham condição de atender a

todos. A partir desta negativa, começamos a estudar outras possibilidades para o estudo

empírico, mas este é outro fato que será melhor detalhado mais à frente, quando da

metodologia de estudo de caso.

6.2 Outras pistas e outros caminhos

Mas estes primeiros contatos e aproximação, via internet, fizeram com que,

através do site da Ashoka, localizássemos um link que disponibilizava o acesso a uma

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outra ONG internacional relacionada ao Empreendedorismo Social, a Changemakers

Library Tools for Social Change, um site com uma relação extensa endereços na rede

relacionados ao Empreendedorismo Social mundial.

A partir desta abertura, o rastreamento se tornou mais amplo e outros caminhos

possíveis se abriram. No entanto, como o foco de nossa investigação é o

empreendedorismo social no Brasil, não poderíamos e nem temos condição de expandir

além destes limites. Logo, ao compararmos o material nacional, vimos que grande parte

das fontes são do exterior, em específico dos EUA e da Inglaterra.

Desta forma, mesmo de um modo panorâmico, é necessário abrirmos a reflexão

sobre o empreendedorismo social, apresentando as principais idéias e autores, trabalhos e

organizações que estão disseminando os princípios e práticas do empreendedorismo

social em caráter mundial. Esta nomenclatura, visão mundial, é pretensiosa, mas é

utilizada mais pela falta de um termo mais adequado do que sua real sinalização, pois,

como já apontado, não é o nosso foco de investigação uma análise desta envergadura.

Sendo assim, esta reflexão sobre os fundamentos e estratégias se dividem em

cinco partes: a) empreendedorismo social uma visão internacional; b) o

empreendedorismo social no Brasil; c) similitudes e ambivalências do empreendedorismo

social; d) principais elementos chaves dos fundamentos e das estratégias do

empreendedorismo social.

7 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL: UMA VISÃO INTERNACIONAL

Constatamos que as origens do empreendedorismo social está além-mar.

A partir deste ponto, procuramos verificar quais espaços estariam fomentando os

princípios, teorias e prática do empreendedorismo social. A primeira constatação é que,

mesmo nos grandes centros, o tema ainda é novo e não há produção significativa.

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7.1 Espaços de produção e reprodução do conceito e de prática doempreendedorismo social no exterior (E.U.A, Canadá e Europa)

Não há dúvida de que são inúmeras as organizações. Isso foi constatado em dois

sites que têm a preocupação de dar suporte e criar uma rede sobre empreendedorismo

social internacional: um deles é o da organização Rede de Ação Comunitária de suporte

ao ensino e aprendizagem em empreendedorismo social,veja em www.can-oline.org.uk,

com sede no Reino Unido; o outro é a Changemarkers Libray – Tools for Social Change,

veja em www.changemarkers.org que, além de fornecer uma lista de endereços de

organizações, também disponibiliza uma lista de produção neste campo e de outros

correlatos.

Selecionamos cinco organizações para fazermos uma análise mais geral sobre as

concepções e estratégias que estão sendo utilizadas para a produção teórica e estímulo à

prática do empreendedorismo social. No Quadro – 01, apresentamos uma síntese de

alguns pontos que julgamos ser mais importantes para o nosso estudo, entre eles: 1)

conceito e entendimento sobre empreendedorismo social que a organização apresenta; 2)

missão; 3) visão; 4) objetivos/metas; 5) estratégias; 6) parcerias; 7) data de fundação e

fundador.

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Quadro: 2 - Características das organizações internacionais de empreendedorismo social

organizações

características

SSE – School SocialEntrepreneurship,UK- Reino Unido

CCSE –Canadian

Center SocialEntrepreneurshi

pCanada

FOUD SCHWABSuiça

ISE – TheInstituteSocial

EntrepreneursEUA

CSICenterSocial

IvovetionStanford

EUAConceitode E.S

“É alguém quetrabalha de umamaneira empresarial,mas para um públicoou um benefíciosocial, em lugar deganhar dinheiro.Empreendedoressociais podemtrabalhar emnegócios éticos,órgãosgovernamentais,públicos, voluntáriose comunitários [...]Empreendedoressociais nunca dizem`não pode ser feito`”

“Umempreendedorsocial vem dequalquer setor,com ascaracterísticas deempresáriostradicionais devisão,criatividade edeterminação, eempregam efocalizam nainovação social[...] Indivíduosque ... combinamseu pragmatismocom habilidadesprofissionais,perspicácias

São agentes deintercambiação dasociedade através de :propor a criação deidéias úteis pararesolver problemassociais, combinandopráticas econhecimentos deinovação, criandoassim novosprocedimentos e eserviços;

Criarparcerias eformas/meios deauto-sustentabilidadedos projetos

Transformação das comunidadesgraças às associaçõesestratégicas

Utilizaçãode enfoques baseadosno mercado pararesolver os problemassociais

Identificaçãode novos mercados eoportunidades parafinanciar uma missãosocial. Apresentacertas característicascomuns aosempreendedoressociais: apontamidéias inovadoras, evem oportunidadesonde outros não vemnada; combinamrisco e valor comcritério e sabedoria;estão acostumados aresolver problemasconcretos, sãovisionários comsentido prático, cujamotivação é amelhoria de vida daspessoas, trabalham 24horas do dia paraconseguir seu

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objetivo social

Missão Existe para promovertreinamento eoportunidades parapermitir as pessoas ausarem a criatividadedeles e habilidadesempreendedorasvoltados parabenefícios sociais [...]recrutar as pessoasmais inovadoras ecapazes entrevoluntários, escolas eorganizações”

Construir nossoentendimentocoletivo daextensão doempreendedorismo social eencorajar opensamentoempreendedor eaproximação dosinteresses deorganizaçõesgovernamentais,públicas eprivadas

Ser uma referênciamundial emempreendedorismosocial tanto para ospraticantes comaqueles que queiramapóiá-los, desde ossetores públicos,privados, civil emeios decomunicação

Oferecerserviçosdeeducação,treinamento econsultoria paraempreendedoressociaisnosEstadosUnidos enoexterior

Promoversoluçõesinovadoras,efetivas, eeficientesaproblemas sociaisnosEstadosUnidos eao redordo mundoporpesquisaensino e(outreach),

Visão Ser um pioneironoencorajamentodoempreendedorismo social, oCentrocanadense para oEmpreendedorismo social seráum líderreconhecidofortalecendo acapacidadecomunidades poraliançasestratégicas,pensamentocriativo epráticasinovadoras

Objetivos/metas

Selecionar pessoasque são inovadorasApoiá-las em seusprojetosDifundir as idéias eações doempreendedorismosocial

Se tornar umeixo para criar ecompartilharconhecimento eprática deempreendedorismo social noCanadáProveroportunidadespara diálogo queenfatizainovação emassuntos deimportânciasocial eeconômicaApoiar eencorajar os

Criar umacomunidade deempreendedoressociais e difundirsuas iniciativasPropiciar indicadorespara medir aexcelência doempreendimentosocialEstimular e catalisarpolíticas públicasMelhorar oconhecimento sobreempreendedorismosocial no mundo eseu papel para atransformação social

Conhecimentoempresarialadaptado,Experiência ehabilidades para osdesafiosqueenfrentamosgerentes eorganizações quetrabalhamparamelhorar

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empreendedoressociaiscanadensesPosicionar aEscola deAdministraçãocomo um líderemempreendedorismo social

condiçõessociais,Rigoracadêmicotrazendopara ageraçãodeconhecimento novoqueaumentanossoentendimentocoletivodo setorsocial,Apoiandoefacilitandoinvestigação queilumina anaturezafundamental deproblemas sociaisimportantes

Estratégias

Oferece cursos decapacitação paraempreendedoressociaisSustentafinanceiramentevários voluntáriosProjetos especiais deempreendedorismosocialDisponibiliza artigossobreempreendedorismosocialRealiza encontrosperiódicos

Três Programas:PesquisaEducação:aumentar aliderança ehabilidade deadministraçãorelacionada aatividades deempreendedorismo socialCompromissocom acomunidade:criar um foro deunificação dossetores privado,público evoluntariadopara examinarmodos ealternativasinovadoras degerenciar edirigirnecessidadessocais eeconômicas

Tem uma juntadiretora compersonalidadescelebres de váriaspartes do mundoUma equipe técnicade renomadosprofissionaisSustenta 65 fellowsem todo o mundo, 8são do BrasilDivulga no siteartigos (53),pesquisas einformações sobre oempreendedorismosocialRealiza encontrosentre osempreendedoresassociados, inclusiveem DavosRealiza um curso decapcitação emparceria coUniverisdade deGeneve, Suíça e oDep. De Economia

ProgramasespeciaisdetreinamentoCursos adistânciaLivrosArtigosVídeosWorkshopsSeminários

Assessoria eConsultoriaSemináriosPublicaçõesPesquisas

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Disonibilizarartigos epesquisas sobre oempreendedorismo social

“Alavancando açõesde mercado baseadana mudança positivo:um seminário emempreendedorismosocial”

Parcerias Univerisdade deGeneve, Suíça, Dep.De Economia

AllianceforChildrenandFamilies,NationalCongressforCommunityEconomicDevelopment,Volunteers ofAmérica,alé deoutrasorganizaçõesligadas aoensino :SeattleUniverity,NewwSchoolUniversity, GeorgeMasonUniversity

Data defundação

1997, por MichaelYoung (Lord Youngde Dartington)

1998, por Klaus eHilde Schwab, sedeem Genebra - Suiça

1999, porJerrBoschee,ex-Diretor doCentroNacionalparaEmpreendedoresSociais,ligado aogovernonorteamericano

1999,pelaEscola deAdministração deStanford

Fonte: Elaborado pelo autor, tradução livre a partir dos seguintes endereços da internet:SSE – School Social Entrepreneurship, UK, Reino Unido (Europa), www.sse.org.uk/networkCCSE – Canadian Centre for Social Entrepreneurship em Valberta, Canadá, www.bus.valberta.ca/ccseSCHWAB FOUNDATION FOR SOCIAL ENTREPRENEURSHIP, Genébra-Suiça, www.schwabfoud.orTHE INSTITUTE FOR SOCIAL ENTREPRENEURS EUA, www.sociallent.orgTHE CENTER SOCIAL IVOVETION, EUA, Stanford University,www.gsb.satanford.edu/csi

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7.1.1 Análise do quadro

Um dos primeiros pontos que salta aos olhos é a data de fundação destas

organizações, todas são pós-1995, ou seja, final da década de 90 e início de 2000,

portanto, todas muito jovens. Destas, com exceção do ISE, que tem em seu fundador, Jerr

Boschee, uma experiência neste campo que data do início dos anos 80 junto ao governo

norte-americano, as demais são bem recentes, o que já aponta o recente interesse por esta

temática, mesmo em países que apresentam uma maior tradição no campo do chamado

Terceiro Setor, ou de organizações e empreendimentos não lucrativos (organization

nonproft social), que culminam com o crescimento e influência destas organizações em

diversos setores da sociedade no enfrentamento dos impactos da globalização.

7.1.2 Ligação e integração dos três setores:

Outro fator a ser destacado é a preocupação das organizações em ser um elo de

ligação entre os setores governamentais, civis e voluntariado e empresas no tocante ao

desenvolvimento das idéias e práticas do empreendedorismo social.

Todas estão direta ou indiretamente ligadas a um centro universitário,

variavelmente junto aos cursos de administração e economia. Os parceiros são grandes

organizações, tanto de ensino superior como de ONGs com maior tradição no campo da

filantropia.

7.1.3 Missão, visão e estratégias

As estratégias variam conforme a missão e objetivos, mas centram esforços em

três pontos comuns: 1) pesquisa; 2) capacitação; e 3) serviços de consultoria, tanto para

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órgãos governamentais, empresas e organizações do Terceiro Setor.

Na missão e visão das organizações, fica também constatado certo padrão

intencional. Entendendo aqui que missão de uma organização é a expressão de sua “razão

de ser e existir”, e visão “como se quer ser reconhecido pelo trabalho que está sendo

realizado”. As organizações têm os seguintes pontos comuns em sua existência e

perspectiva de futuro: 1) promover atividades educativas para melhor qualificar os

empreendedores socais; 2) integrar em rede as ações e os atores dos processos de

empreendedorismo social; 3) ser uma referência no tocante a pesquisa, conhecimento e

inovação em empreendedorismo social, tanto em seus países de origem como mundial; 4)

preocupar-se em ser um elo de integração dos três setores, público, privado e civil; 5)

promover, incentivar e valorizar a inovação de soluções no campo social; 6)

disponibilizar publicações na área para uma maior aprofundamento.

7.1.4 Produção teórica e publicações

Neste item, queremos dar um destaque para três destas organizações, a ISE, CSI,

nos EUA, e o CCSE, no Canadá. Ao analisar o material publicado e disponível, é

perceptível a quantidade e diversidade que estas organizações concentram. Por exemplo,

o ISE, a partir da experiência de Jerr Boschee, apresenta uma quantidade significativa de

textos sobre empreendedorismo social, esta produção trata desde os aspectos conceituais,

termos chave, estudo de caso e de um manual para empreendedores sociais, que queiram

aplicar as ferramentas criadas pelo ISE, que abordam fatores de gestão e captação de

recursos até elementos do planejamento estratégico e plano de negócio voltados para o

campo social. Destaque para um artigo que tem sido recorrente na literatura sobre

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empreendedorismo social, “Eigtt Basic Principles for Nonprofit Entrepreneurs”112 (oito

princípios básicos para empreendedores sem fins lucrativos) e o lançamento recente de

um livro intitulado “The social enterprise sourcebook” (o livro das origens do

empreendimento social), que apresenta 14 estudos de casos para ilustrar o processo de

trabalho do empreendedorismo social.

O mesmo ocorre com o CSI, da Universidade de Stanford, que, ligada ao curso de

administração desta universidade, tem apresentado uma série de trabalhos com destaque

para a produção do Prof. Dr. J. Gregori Dees, que tem sido uma das fontes mais citadas,

em específico, o artigo intitulado “The meaning of Social Entrepreneurship”113 (o

significado do empreendedorismo social), publicado em 31 de outubro de 1998, e,

segundo o site da ONG Joshua Venture, o Professor Dees é considerado o primeiro a

empregar nos EUA o termo empreendedor social num artigo público em 1990 pelo

Kauffman Center on Entrepreneurial Leadership (Cf. www.josuaventure.org), além de

outras produções em conjunto com outros pesquisadores da Stanford e da Duke Univerty,

EUA.

Mais recentemente, o CCSE tem intensificado o trabalho de análise teórica e do

estudo empírico sobre empreendedorismo social. Em certa medida, trata-se de uma

perspectiva endógena, ou seja, com uma forte ênfase sobre a realidade do Canadá, como

pode ser comprovado pela pesquisa recente “Young Social Entrepreneurs in Canadá114”

(jovem empreendedor social no Canadá), na qual o pesquisador Sherril Johnson traça um

perfil do empreendedor social do Canadá, tem a que se torna cada vez mais de interesse,

não só da universidade, mas do governo, estudar e criar um aprofundamento sobre este

fenômeno recente que está impactanto os espaços e formas de ações frente a resolução de

112 BOSCHEE, Jerr Eigth. Basic princples for nonprofit entrepreneurs Nonprofit Worl, vol. 19, number

4 july/august 2001 (Plublished by The Society for Nonprofit Organizations, EUA).113 DEES, J. Gregory. The meaning of social entrepreneurship. Disponível na internet

http://www.gsb.satanford.edu/services/new/DeesSocentrtrepPapper.html acesso em 15/09/2003.

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problemas sociais.

Outro trabalho, do mesmo pesquisador, que merece destaque, “Literature Review

on Social Entrepreneurship”115 (revisão da literatura sobre empreendedorismo social), o

que demonstra preocupação quanto ao aprofundamento do tema, de forma a ir além de

artigos pequenos, que mais giram em torno de comentários do que uma análise teórica ou

produção sistematizada.

7.1.5 Criação de uma comunidade de apoio ao empreendedorismo social

Neste item, somente as organizações Foud Schwab, na Suíça e a SSE no Reino

Unido, mantêm uma modalidade de apoio a empreendedores sociais, que vai além do

treinamento, contatos e orientação técnica. Existe um programa de manutenção financeira

para os Fellows (companheiros), mas não conseguimos obter os valores nem a forma com

que esta ajuda financeira chega aos empreendedores sociais.

Entre as duas, destaca-se a Fundação Schwab, que tem uma maior abrangência,

pois não só atinge a Europa, como é o caso da SSE, mas também outras partes do mundo,

inclusive o Brasil, que conta com 8 empreendedores sociais, que, diga-se de passagem,

são os pioneiros aqui. Mais à frente, trataremos com maior profundidade este assunto.

Esta fundação também adota uma estratégia interessante: em sua junta de conselheiros,

encontram-se personalidades de diversos países e áreas, música, esporte, literatura,

política, inclusive do Brasil destaca-se o escritor Paulo Coelho. Outro ponto a ser

salientado é o da organização, é a realização de curso de capacitação em forma de

seminário, “Leveraging market-based action for positive change: a seminar on social

114 JOHNSON, Sherrill Young. Social entrepreneurs. In: Canadá Schoo of Business University of

Alberta: Canadian Centre for Social Entrepreneurship, may 2003.115 JOHNSON, Sherrill. Research Associate Canadian Centre for Social. Entrepreneurship , novembro

2000.

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entrepreneruship” (algo como alavancando ações de mercado para mudanças positivas:

um seminário em empreendedorismo social), realizado em parceria com o Departamento

do curso de Economia da Universidade de Geneve, Suíça.

7.1.6 Preocupações centrais com o processo de mudança

Outro fator padrão entre as organizações, mesmo entre aquelas que não financiam o

sustento dos fellows, é a preocupação quanto ao estímulo de ações inovadoras e o uso de

princípios de mercado, ou seja, do empreendedorismo clássico empresarial voltado para o

campo social a fim de dar maior eficiência e eficácia quanto aos processos de gestão.

Tudo visando principalmente à auto-sustentabilidade do projeto e da organização. Dessa

forma, são estabelecidos critérios rigorosos quanto à escolha dos fellows. Como é o

exemplo da Fundação Schwab, que estabelece os seguintes indicadores para aprovação

dos projetos:

1. inovação: o candidato deve apresentar uma idéia, um produto ou um serviço que

dê um novo enfoque para solucionar problemas sociais;

2. alcance e expansão: a ação deve extrapolar o local onde foi gerada a idéia, e

possa aplicá-la ou adaptá-la em outras localidades com problemas similares;

3. replicabilidade: a idéia deve apresentar condições de ser aplicável em qualquer

outra região;

4. sustentabilidade: a iniciativa deve demonstrar condições de auto-

sustentabilidade, seja por parcerias entre outros setores ou para seus próprios

esforços;

5. impacto social positivo e direto: a iniciativa deve apresentar o envolvimento

com os principais envolvidos no processo e se deve ter indicadores concretos

dos impactos da ação direta junto à comunidade, o que deve ser amplamente

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documentado e comprovado;

6. modelo a seguir: o candidato deve apresentar qualidades que são referência para

outros empreendedores e para a sociedade em geral. Estas devem comprovar a

sua integridade;

7. valor adicionado: o candidato deve apresentar condições de se comprometer

com a necessidade de pensar na alimentação e apoio da rede de empreendedores

sociais da Fundação não só com o seu projeto.

A decisão final passa por um processo, onde a primeira fase: são comprovados ou

não os requisitos nomeados; segunda fase: buscam-se outras informações sobre o

candidato, seja pela internet ou contato com outros organismos; há uma comissão de

especialistas para análise do projeto e as informações e que dá um parecer que é

encaminhado para a junta da Fundação, que dará o parecer final.

O candidato aprovado receberá um valor em dinheiro para seu sustento e

dedicação integral ao projeto, bem como apoio e capacitação técnica da Fundação,

podendo participar de encontros anuais da Fundação e do encontro anual do Fórum

Economia Mundial, em Davos, além de fazer parte de uma rede de empreendedores

sociais de todo o mundo e contar com o apoio e facilitação para contatos e estratégias de

captação de recursos.

Dessa forma, a preocupação é investir em projetos que sejam inovadores, criem

auto-sustentabilidade, sejam replicados e sejam geridos por pessoas éticas que tenham a

capacidade de interagir na sociedade e envolver a população e demais seguimentos da

sociedade, provocando transformação social através da inovação, criatividade,

comprometimento e elevado senso de organização, profissionalismo e uma ampla rede de

contatos e parcerias.

Nota-se que este modelo é bem semelhante ao utilizado pela ONG internacional

Ashoka, por nós estudada, mas que traz um diferencial em relação aos demais, como

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passamos a explicitar.

7.1.7 Ações de empreendedorismo social voltados para empresas, governo esociedade civil

Outro fator a ser observado é que se nota uma diferença quanto ao envolvimento e

direcionamento das ações e produção. As organizações CSI, ISE, CCSE estão voltadas

para os seguimentos empresarial e governamental, em específico, e as demais, Fundação

Schwab e SSE, para a comunidade; o principal ponto diferenciador, como já sinalizamos,

é o fato destas duas últimas apoiarem financeiramente empreendedores sociais (Fellows)

enquanto os outros só trabalham com programas de cursos e consultoria a projetos. No

entanto, todos dão ênfase ao uso dos instrumentais de mercado, ou seja, da administração

para o melhor desempenho dos projetos, principalmente na inovação, no impacto e na

auto-sustentabilidade, além da ética dos processos de gestão e envolvimento da

comunidade.

7.1.8 Compreensão quase que homogênea quanto ao conceito de empreendedorismosocial

Apesar de ser um tema novo e, ao que parece, o seu entendimento, como podemos

ver no quadro-1, é quase que homogêneo. Ressaltamos os seguintes pontos:

1. o empreendedor social pode ser qualquer pessoa, de qualquer idade, formação,

credo, cor, etc;

2. são pessoas que sabem trocar, intercambiar, são criativas, inovadoras, tenazes,

bem relacionadas, objetivas, sensíveis;

3. tem conhecimento de negócios apreendidos em suas práticas comerciais e que

são voltadas para o campo social na mesma perspectiva de busca por

oportunidades e sucesso na realização de seu sonho;

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4. são pessoas, como diz a SSE, que nunca dizem “não pode ser feito”, ou, ainda,

como afirma o ISE, “onde as pessoas vêem problemas os empreendedores

sociais vêem solução”;

5. sua motivação está em construir e transformar a sociedade, dando melhor

qualidade de vida e gerar soluções concretas para problemas concretos;

6. é um agente de mudança catalisador de energia para transformação através de

esforços coletivos e integrados com todos os seguimentos da sociedade.

7.2 O mosaico de conceitos e termos chave sobre empreendedorismo social

No dicionário Houaiss116, a palavra mosaico apresenta uma série de significados

entre eles: imagem ou padrão visual [...] obra trabalho composto de pedaços

justapostos [...] ligados à noção conjunta de elementos justapostos ou variados.

Este título O mosaico de conceitos, e a estratégia de organização das idéias sobre o

tema, tanto da realidade internacional como nacional sobre o empreendedorismo social,

foi inspirado na obra “O mosaico partido: a economia além das equações”, do Professor

Dr. Ladislau Dawbor (Cf. DAWBOR, 2003), tal escolha é pela objetividade com que

determinados elementos complexos foram montados e explicados na referida obra, e pela

constatação de que as informações sobre o tema investigado, ainda se encontram

dispersas e fragmentadas, ou seja, como pedaços de um mosaico, e que no presente

exercício investigativo, nos propomos a juntar e montar, e com isso, dar uma forma e

explicitar os seus sentidos e significados deste mosaico, ou seja, “o que é realmente

interessante, não é a caminhada científica em si, e sim como esta caminhada se cruza com

os dilemas simples que cada ser humano enfrenta.” (DAWBOR, 2003, p. 1)

116 HOUAISS, Antônio; VILLAR, Moura de Salles. Dicionário Houaiss da língua portuguesa. Rio de

Janeiro: Objetiva, 2001.

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Logo, o mesmo é resultante do levantamento que temos realizando nos últimos

dois anos, e chegamos a uma primeira conclusão: a de que os registros e produção

literária sobre o assunto, que é recente, e está em desenvolvimento, assemelha-se a um

grande mosaico, que necessita de tomar forma, além de um processo de conexão entre as

suas várias partes, ainda fragmentadas. Estaremos usando esta mesma formatação de

análise quando passarmos a apresentar o caso brasileiro. Ressaltamos, novamente, que

não queremos com isso realizar um estudo comparativo, caso contrário a pesquisa tomaria

outro vulto, que não o que delineamos, mas dar coerência à análise de modo que esta

parte corrobore com a segunda.

7.2.1 O significado do empreendedorismo social

Como já sinalizamos, um dos textos mais recorrentes pelo levantamento que

fizemos junto as principais organizações fomentadoras do empreendedorismo social é o

do Prof. Dees, “The Meaning of Social Entrepreneurship” (DEES, 2002)117, “O

significado do empreendedorismo social”. Neste texto, lançado em outubro de 1998, o

autor apresenta os principais conceitos e características do empreendedorismo social.

Destaca que o mesmo sofreu, inicialmente, grande resistência, principalmente por parte

de algumas organizações sem fins lucrativos e algumas empresas de consultoria. Mas que

o atual contexto em que vivemos está mais apto a receber e elaborar este conceito, como

ele mesmo afirma: “nosso tempo esta mais maduro para uma abordagem empreendedora

aos problemas sociais.” (DEES, 2002, p. 1) [grifo nosso]

Segundo o autor, o empreendedorismo surge a falha governamental e, filantrópica

e ineficiência das organizações sociais em resolver os problemas sociais, sendo assim: “os

empreendedores sociais são necessários para desenvolverem novos modelos para um

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novo século” (DEES, 2002, p. 1), pois, o termo é novo, mas o fenômeno não, “...o novo

termo é importante, uma vez que implica na indistinção das fronteiras do setor social.”

(DEES, 2002, p. 1)

Esse autor destaca que o termo traz um fator de vital importância: a inovação, pois

os empreendedores sociais procuram encontrar métodos mais adequados às soluções

sociais necessárias e efetuação de sua missão. São ações que têm por base realizar

negócios com propósitos sociais, visam a um “lucro” sem necessariamente ser o lucro

conforme seria numa organização privada. Como exemplo, citam os projetos de bancos

comunitários, abrigos para sem-tetos que geram uma atividade para criar emprego e renda

para os usuários do programa.

Desta forma, o termo empreendedor social apresenta vários sentidos. O autor

destaca os seguintes:

1. exclusivamente associado a organizações sem fins lucrativos que iniciam

empreendimentos com esses fins;

2. descreve qualquer um que inicie uma organização sem fins lucrativos;

3. empresários que aderem a práticas de responsabilidade social.

A partir desses apontamentos, o autor procura refletir sobre qual é o real

significado e entendimento de empreendedorismo social. Para tanto, ao longo do texto, o

mesmo apresenta as origens do empreendedorismo, pois o empreendedorismo social,

segundo o autor, seria uma derivação de si.

A raiz etimológica da palavra empreendedorismo está na raiz da palavra francesa,

“entreprener”, surge na França entre o século XVII e XVIII, e significa “aquele que se

compromete com um trabalho ou uma atividade específica e significante”.

Em seguida, apresenta os principais teóricos clássicos e contemporâneos deste

117 No Brasil, este texto foi traduzido pela equipe da Academia social, que utilizamos para fazer a presente

análise, (CF. www.academiasocial.org.br, acesso em 8/9/2002, e o texto original pode ser acesado em

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conceito. Dentre os clássicos, ressalta-se a influência do francês Jean Baptiste Say, século

XIX, que entendia que os empreendedores “geram valores”. Um outro economista,

austríaco, e posteriormente naturalizado americano, Josefh Schumpeter, já no século XX,

entedia os empreendedores como sujeitos inovadores, cunhando o termo “processo

criativo-destrutivo”, ou, ainda, “o papel do empreendedor é reformar ou revolucionar o

modelo de produção.” (DEES, 2002, p. 2)

Como teóricos contemporâneos, apresenta Peter Drucker e Howard Stevenson. O

primeiro segue em certa medida o conceito de Say, mas dá ênfase ao que denomina de

oportunidade,

neste sentido uma oportunidade, presumidamente, significa uma oportunidadede criar valor. Os empreendedores têm a mente programada de tal forma quevêem mais as possibilidades do que os problemas criados pelas mudanças.(DEES, 2002, p. 2)

Já Stevenson, professor de Harvard, enfatiza a diferença entre gestão

administrativa e gestão empreendedora, sendo que o empreendedorismo orienta pela

oportunidade, “a perseguição da oportunidade sem considerar os recursos normalmente

controlados [...] empreendedores não permitem que seus próprios talentos iniciais limitem

suas opções [...] seu alcance excede o alcance de suas garras” (DEES, 2002, p. 2). Em

outras palavras, os empreendedores têm a capacidade de movimentar recursos e pessoas

para alcançarem seus objetivos e projetos que venham a impactar os processos produtivos

e o mercado.

Dees ainda apresenta uma diferenciação quanto ao empreendedorismo social e o

empreendedorismo de negócios, mas destaca que a origem do primeiro está relacionada

ao segundo, ou seja, “o empreendedorismo social é uma das espécies do gênero dos

empreendedores. São empreendedores com uma missão social” (DEES, 2002, p. 3). Esse

autor ressalta que os empreendedores sociais não estão sujeitos à dinâmica de mercado,

<http://www.gsb.stanford.edu/services/news/DeesSocentrepPaper.html.

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como estão os de negócio, pois,

para os empreendedores sociais a riqueza é apenas um meio para umdeterminado fim. Já para os empreendedores de negócio, a geração de riquezasé uma maneira de mensurar a geração de valor [...] em particular, as leis demercado não fazem um bom trabalho na valorização de melhorias sociais, benspúblicos, prejuízos e benefícios para pessoas que não podem pagar. (DEES,2002, p. 3)

Neste sentido, dada a busca de ações empreendedoras no campo social, percebe-se

também uma dinâmica semelhante do mercado, o processo de competitividade na busca

por recursos entre as organizações sociais. Tal aproximação dificulta este processo,

principalmente quanto ao fator mensuração do valor criado, em se tratando do campo e

situações sociais,

é eminentemente difícil de mensurar a geração de valor social. Este é geradopor se ter diminuído a população em determinado riacho, ou por se ter salva acoruja malhada, ou por se ter provido a terceira idade de companheirismo?(DEES, 2002, p. 4)

A partir destas indagações, que não são necessariamente trabalhadas pelo autor,

pois em seguida ele apresenta uma definição do significado e conceito de

empreendedorismo social, apresenta como parâmetro de análise para definição do

empreendedorismo social os seguintes fatores: a) ênfase na disciplina; b) no resultado; c)

geração de valor, tendo como base teórica os seguintes autores e seus eixos conceituais: a)

Say, inovação; b) Schumpeter, agentes de mudança; c) Drucker, busca pela oportunidade;

d) Stevenson, máxima dos valores.

Logo, o principal papel dos empreendedores sociais é serem “agentes de mudança no

setor social”. A seguir, o autor apresenta uma lista sobre as razões fundamentais deste

perfil e papel que transcrevemos resumidamente.

1. adotar uma missão de gerar e manter valor social (não apenas valor privado);

2. reconhecer e buscar implacavelmente novas oportunidades para servir a tal

missão;

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3. engajar-se em um processo de inovação, adaptação e aprendizagem contínua;

[grifo nosso]

4. agir arrojadamente sem se limitar pelos recursos disponíveis;

5. exibir um elevado senso de transparência para com seus parceiros e público e

pelos resultados gerados.

Na seqüência da apresentação desta fundamentação, o autor aprofunda estes

pontos de forma mais detalhada. Destacamos os pontos mais relevantes para nossa análise

a partir da expressão do próprio autor.

“Onde outros vêem problemas, empreendedores vêem oportunidade” (DEES,

2002).

“Os empreendedores sociais são guiados simplesmente pela percepção de uma

necessidade social ou pela sua compaixão, ao invés disso ele têm uma visão de como

alcançar melhorias e são determinados para fazer sua visão funcionar” (DEES, 2002).

O elemento chave é a persistência combinada a uma disposição de realizarajuste como parte do objetivo, ao invés de desistirem quando encontram umobstáculo. [...] Como podemos superar este obstáculo ? Como podemos fazerisso dar certo? (DEES, 2002)

Empreendedores sociais são inovadores, “eles superam novas motivações,

desenvolvem novos modelos e são pioneiros em novas abordagens” (DEES, 2002).

“Eles se fazem ter certeza de que conhecem corretamente as necessidades e os

valores do seu público alvo e das comunidades onde estes estão situados” (DEES, 2002).

“Eles buscam promover reais melhorias para seus beneficiários e suas

comunidades bem como atrair retornos (sociais e/ou financeiros) para aqueles que

apostam nas suas missões” (DEES, 2002).

Eles avaliam seu progresso em termos de resultados sociais, financeiros e degestão, e não simplesmente em termos do seu tamanho, produtos, gerados ouprocessos. Eles também usam essas informações para fazer correção de cursode acordo com o necessário. (DEES, 2002)

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Concluindo o trabalho, o autor enfatiza que o empreendedor social é na atualidade

uma espécie rara de líder:

descrevem um conjunto de comportamentos que são excepcionais [...]Empreendedores sociais são uma rara espécie de líderes. Eles devem serreconhecidos como tal [...] Precisamos de empreendedores sociais para nosajudar a encontrar novos caminhos em direção a melhorias sociais neste novoséculo. (DEES, 2002)

7.2.2 Outras definições e termos-chave sobre empreendedorismo social

A nossa pesquisa nos levou a várias referências bibliográficas, mas uma grande

parte deste material é constituída de pequenos textos, que mais sinalizavam opiniões do

que propriamente estudos em profundidade.

Mas em se tratando de um tema em construção, alguns destes textos são úteis para

nossa análise. Desta forma, a seguir apresentamos alguns dos mais significativos. Entre

eles destaca-se um artigo de Jerr Boschee, executivo do Instituto para Empreendedores

Sociais, EUA, intitulado, “Eight basic principles for nonprofit entrepreneus“ (Oito

princípios básicos para empreendedores sem fins lucrativos) e um trabalho, também deste

Instituto, “A glossary of useful terms” (Glossários de termos usados no

empreendedorismo social) outro texto de Jane Berry do Reino Unido, “hat is social

entrepreneus” (O que é empreendedor social), e uma coletânea de conceitos

disponibilizados pelo Center Inovation Social, da Universidade de Stanford, EUA.

7.2.3 Os oito princípios básicos do empreendedorismo social por Jerr Boschee

Segundo Jerr Boschee, “Eigth Basic Principles for Nonprofit entrepreneurs”118

Por muito tempo o empreendedorismo social ficou à margem das e restrito só às

118 Os dados analisados são pela tradução livre do autor a partir do texto original (Cf. www.

Sociallent.org.articles.htlm).

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organizações sem fins lucrativos (hoje, Terceiro Setor) e, atualmente, vários seguimentos,

estudantes, professores, pesquisadores, consultores estão procurando atuar na área sem as

devidas ferramentas e conhecimentos. Experiência esta que se encontra com pioneiros

deste campo, que há mais de vinte anos vêm aprendendo com seus próprios erros.

A partir desta constatação e sua experiência, esse autor apresenta oitos princípios

básicos relacionados ao trabalho das organizações sem fins lucrativos e o papel dos

empreendedores. São apresentados neste texto, oito princípios básicos para quem é ou

quer ser um empreendedor social.

Desta forma, os oito princípios são fatores que estão relacionados ao cotidiano da

gestão de organizações sem fins lucrativos (Terceiro Setor) na perspectiva do

empreendedorismo social. Vejamos alguns pontos mais relevantes de cada princípio

apresentando pelo autor

1) O Princípio: a primazia de renda merecida

Por renda merecida, o autor se refere à relação, dita ultrapassada, de organizações

que, para o seu sustento, dependem basicamente de incentivos governamentais e da

caridade, ou filantropia. Segundo o autor, “ a renda merecida tem sido vista como algo

extra”, pois as organizações sociais e sem fins lucrativos, a partir dos anos 60 e 70,

começaram a expressar a sua importância e, nos anos 80 e 90, esta importância aconteceu

devido ao seu crescimento. Assim, os investimentos, e as fontes de financiamentos,

começaram a se esgotar, levando um grande número à busca de alternativas para sua auto-

sustentabilidade e sobrevivência. A este processo o autor denomina de “deslocamento

tectônico”, vira de cabeça-para-baixo o processo de condução da gestão destas

organizações.

Ainda, segundo o autor, este processo não tem sido compreendido por muitas

pessoas e organizações por duas razões: 1) não perceber a diferença entre inovação (fazer

algo novo) e empreendedorismo (fazer algo que gere dinheiro), a questão maior é ter um

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programa que garanta os objetivos sociais sem depender de subsídios governamentais e

da filantropia; 2) confusão entre rendimento ganho e rendimento dado, segundo o autor,

um leva à sustentabilidade e autodeterminação o outro não; cabe a cada organização

melhor definir e clarear esta perspectiva, pois “inovação é uma fonte preciosa e funciona

como o motor primário do crescimento do setor sem fins lucrativos”.

Tal característica tem levado, principalmente a partir dos anos 90, muitas das

organizações deste setor a se tornarem empreendedores sociais e não mais serem a “renda

merecida”; se ele vem, ótimo; mas não se pode mais ficar na dependência dos incentivos

e da caridade.

2) O Princípio: ser um jogador ou não jogar nada

Neste princípio, o autor reforça uma questão relevante quanto aos processos de

gestão e sobrevivência de uma organização. Cita o diálogo entre um grande executivo da

General Eletric, Jack Welch, e o guru da administração, Peter Drucker, quando o

primeiro lhe pergunta o que fazer em relação ao crescimento de sua empresa e este

responde: “se os seus produtos e serviços não são o número um ou número dois no

mercado, mate eles”, ao que o autor afirma: “em outras palavras, pare de tentar ser todas

as coisas para todas as pessoas.”

Este princípio destaca a importância da focalização em relação ao que faz uma

organização sem fins lucrativos, pois isto é determinante para sua sobrevivência num

processo de empreendedorismo social. Segundo Drucker, é preciso deixar algumas coisas

e priorizar outras. Este processo ele denomina de “abandono organizado”. Mas, segundo

Boschee, este princípio, aplicado em organizações sem fins lucrativos, é complexo, mas

necessário, porque os resultados são mais significativos, como afirma:

os resultados têm valido a pena, e os últimos ganhadores tem sido os clientes.Os empreendedores sociais têm descoberto que reduzindo o número deprogramas que eles oferecem tem realmente tornado possível servir maispessoas – porque eles têm o tempo e recursos para expandir os seus esforços.

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3) O Princípio: entre estratégias de renda ganha e negócio de risco

A partir do momento em que as organizações sem fins lucrativos ingressam no

processo de empreendedorismo social, na busca de auto-sutentabilidade, existe um

processo arriscado que ocorre, o autor chama a isto de estratégia de renda ganha e

negócio de risco. O primeiro, está relacionado a um trabalho de gestão empreendedora no

campo social, que possibilita o necessário, sem que haja dependência e nem apertos,

principalmente no campo financeiro. Já o segundo, está relacionado ao processo de

evolução, onde uma organização, já estabilizada, vê uma oportunidade de expansão e cria

um processo mais amplo, portanto, de risco para sua organização.

Tal decisão pode levar a organização a se reordenar interinamente e até, como

afirma o autor, a encontrar estratégias fora da própria organização, enfim, é uma nova

perspectiva que deve ser cuidadosamente avaliada e planejada.

4) O Princípio: o perigo das atividades empresariais sem conexão

Ainda referente ao princípio anterior, o autor alerta para o risco de uma

organização sem fins lucrativos entrar em num negócio de risco, sem que esteja claro que

este novo empreendimento esteja relacionado à sua principal atividade, pois “tentar

começar uma empresa de risco não relacionada, significa que eles jogam com um duplo

olho grande.”

O autor observa que as organizações bem sucedidas neste campo são aquelas que

emanam os seus empreendimentos a partir da relação direta entre a sua missão e suas

reais condições de efetividade. Há na atualidade duas modalidades de empreendimentos

deste tipo: uma, denominada de negócio afirmativo, onde as empresas abrem programas

que privilegiam as minorias, seja por questões raciais, ou de necessidades especiais. A

outra, é o aumento de serviços pessoais e organizacionais, tais como: assessoria a

conselhos, ajuda pessoas idosas a permanecerem em suas casas para não ficarem jogadas

em asilos, seminários, aconselhamento para casais em fase de separação, entre outros.

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Esse autor dá como exemplo o crescimento de negócios afirmativos, como o caso

de Duran, da Minenesuta Diversified Industries - MDI que, em 1989, em um programa

inicial investiu $ 100 e empregou 7 pessoas; atualmente investe 68 milhões e 600

empregados. Este mesmo empresário é fundador da Roberts Entreprise Development

Fund, ligada a Bussiness Alliance of North América, que tem 43 membros em 16 estados

dos EUA e no Canadá, difunde o chamado “negócio afirmativo”, mas que apresenta o

princípio de fazer algo relacionado/conectado à missão das organizações.

5) O Princípio: a necessidade de paciência e capital

Esse princípio ressalta que os empreendedores sociais, tanto quanto outros

empreendedores, estão à mercê das derivações do mercado e da conjuntura econômica.

Principalmente aqueles que subestimam os custos e o tempo para realização de seus

projetos, pois “empreendedores sociais estão tão expostos aos caprichos do mercado

como em qualquer outro negócio, e isso significa o único grande perigo na sub-

capitalização-lucro não é capitalização. O elemento crucial é o fluxo de caixa.”

Destaca esse autor que as oportunidades para crescer, expandir os projetos não

avisam e, se a organização não estiver preparada, pode se complicar e não ter como

garantir o melhor aproveitamento das oportunidades de manutenção e crescimento.

Sugere que “as organizações sem fins lucrativos devem investir nos seus negócios de

risco se elas aderirem a uma mentalidade de custos, as suas chances de sucesso serão

mínimas.”

6) O Princípio: as diferenças entre os inovadores, empresários e gerentes

profissionais

Quanto às pessoas mais experientes no campo das organizações sem fins

lucrativos, afirma o autor ter percebido que o insucesso de muitas é decorrente de

condição destas estarem sendo realizadas por pessoas erradas e com habilidades

equivocadas. Segundo o autor, existem três tipos de líderes: inovadores, empresários e

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gerentes profissionais.

Os inovadores são sonhadores e criam novas coisas, mas logo ficam entediados e

largam tudo para iniciar algo novo.

Os empreendedores são os construtores, aqueles que movimentam as coisas e as

pessoas, mas também logo se cansam e não dão continuidade ao processo.

Os gerentes profissionais são os depositários, aqueles que implementam e mantêm

as coisas funcionando.

A partir desta tipologia, o autor afirma que, no campo das organizações sem fins

lucrativos, há uma confusão quanto à inversão de papéis e, muitas vezes, pessoas certas

estão em lugar errado, como afirma:

infelizmente no setor das organizações sem fins, freqüentemente, por que osrecursos são escassos, as organizações tentam colocar as pessoas em posiçõesonde elas não se encaixam, e muitos dos problemas que o setor sem finslucrativos tem, surgem quando eles começam a adotar estratégias deempreendedorismo sugeridas por um inovador, tentando fazer o trabalho de umempreendedor ou um gerente profissional, fazer o trabalho de um inovador, eassim vai. (BOSCHEE, 2001)

Em outras palavras, em um trabalho na perspectiva do empreendedorismo social, é

preciso que as pessoas certas estejam no lugar certo.

7) O Princípio: a necessidade de uma mudança cultural

No tocante ao processo de mudanças nas organizações sem fins lucrativos, o autor

ressalta a dificuldade que se tem no ponto de mudar a cultura, os valores, as atitudes e não

só a partir de acordos mal elaborados como é habitual fazer nestas organizações.

Muitas vezes, não paramos para analisar as mudanças necessárias na cultura

organizacional, mas as pessoas e o dia-a-dia são marcados por este processo,

principalmente quando está ocorrendo mudança, como afirma o autor: “mas a cultura

come as mudanças no café da manhã, e qualquer organização sem fins lucrativos que

intenciona-se tornar um empreendedor, apesar de estar começando uma empresa de risco

ou perseguindo oportunidades de lucros dentro destes programas, deve submeter-se a um

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radical conjunto de mudança.”

Enfatiza que a primeira mudança é saber correr riscos, pois “existe um mito de que

empreendedores adoram correr riscos. Isto não é verdade. Mas eles vão correr. Isto é parte

do que fazem”. E isto é decorrente do perfil do empreendedor social, como afirma o

autor: “empreendedores sociais sem fins lucrativos entram no jogo sabendo que três

quartos do que eles vão tentar irá falhar, mas eles têm a coragem pessoal e institucional

para cometer os erros, levantarem, aprender das experiências e começar de novo.”

A partir desta explanação, o autor apresenta quatro lições fundamentais para este

processo:

1. fazer escolhas difíceis com relação aos membros da equipe, em outras

palavras, em um processo de mudança, quem resistir e não cooperar,

infelizmente deve ser remanejado ou até demitido;

2. abrir mão do controle, não ser uma organização centralizada e burocrática, há

momentos que decisões precisam ser tomadas e rapidamente para acompanhar

as mudanças;

3. influência do mercado, ou seja, fazer como as empresas, focar no atendimento

do seu cliente e não da organização. “Apesar dos seus protestos para o

contrário, planejadores de organizações sem fins lucrativos ainda começam

muito freqüentemente com as necessidades da sua própria organização, não

das pessoas que eles servem”;

4. venda agressiva: esta lógica, segundo o autor, leva a uma mudança quanto ao

se conformar só em cobrir as despesas, ou ir além e saber render os

investimentos, “se as organizações sem fins lucrativos, fizerem uma séria

tentativa de tornar-se auto-suficiente financeiramente, elas terão que adotar

políticas de vendas mais agressivas.”

8) O Princípio: o princípio Noé

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Finalizando, o último princípio está relacionado ao processo de se fazer

“comprometimentos”, ou seja, realizações significativas, que vão além do discurso e

materializam sua ações, como afirma o autor: “existem muitos pretendentes a ser

empreendedores sociais no mundo, que falam e planejam, e planejam e falam... mas

nunca fazem coisa alguma! A coragem para agir é de forma angustiante de pouco

estoque.”

Neste sentido, esse autor ressalta a importância de que o processo de mudança, na

perspectiva do empreendedorismo social, só ocorre efetivamente a partir da mudança

concreta, ou seja, “se você sempre faz o que você sempre faz, você sempre vai conseguir

o que você sempre conseguiu [...] Nenhum prêmio para quem prevê a chuva. Você

somente tem o prêmio se você construir uma arca.”

“Eu sempre perdi cem por cento dos lances que eu não dei.”

Wayne Gretzky, jogador de Hockey, EUA

7.2.4 O que é empreendedorismo social por Jane Berry

Jane Berry119 apresenta alguns conceitos sobre o entendimento de

empreendedorismo social, descreve algumas habilidades e atitudes, tem como principal

referência a sua proporia experiência. A apresentação segue um esquema, no estilo mini-

dicionário, onde os principais conceitos são apresentados em ordem alfabética e são

chamados de “A-Z do empreendedorismo social”. Antes, porém, a autora apresenta uma

série de pontos básicos que um empreendedor social deve ter para ser bem sucedido em

seus empreendimentos, o mesmo deve ser um líder local e deve saber o que D Tony

Gibson, fundador da ONG Iniciativas de vizinhos, chamada de “mover espíritos”.

A importância dos empreendedores sociais, reforçando o destaque que o primeiro

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ministro da Inglaterra, Tony Blair, deu aos empreendedores sociais num discurso em

junho de 1997, “nós estaremos apoiando milhões de empreendedores sociais, aquelas

pessoas que trazem para os problemas sociais o mesmo empreendimento e imaginação

que os empreendedores comerciais trazem para a criação de lucros”. Em seguida,

apresenta oito características fundamentais do empreendedor social que, a seguir,

transcrevemos na íntegra, por acreditar serem importantes para nossa análise.

q “Empreendedores sociais são o equivalente dos empreendedores comerciais,

mas eles operam no setor sem fins lucrativos construindo alguma coisa do

nada e procurando novas e inovadoras soluções para os problemas”;

q o seu objetivo é construir capital social e lucros sociais para melhorar a

qualidade de vida em algumas das mais difíceis e excluídas comunidades;

q eles identificam a ações mais apropriadas às necessidades sociais e geram

soluções baseadas em uma leitura bem próxima das visões daqueles mais

diretamente afetados;

q eles normalmente trabalham em parceria criativa com o governo municipal e

Federal, empresas, igrejas, caridades e outras instituições locais e nacionais e

estão preparados para construir tais parcerias;

q eles têm freqüentemente alcançado projetos ambiciosos e alcançadas

mudanças, em situações não muito promissoras e circunstâncias e recursos

mínimos;

q eles reconhecem, encorajam e empregam habilidades de diferentes fés,

culturas, tradições e conhecimentos adquiridos trazendo-os juntos de novas e

criativas formas para aplicá-las em problemas práticos;

q eles são hábeis em redirecionar, usar e regenerar forças pouco usadas,

abandonadas, excedentes ou negligenciadas recursos humanos e físicos

119 O original esta disponível em www.can-oline.org.uk/entrepreneurs, tradução livre do autor.

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(habilidade, especialidades, contatos, construções, equipamentos, espaços

abertos).”

Após esta apresentação, é listada uma série de termos, que reforçam as

características e habilidades necessárias para o empreendedorismo social, ao todo são 26

itens. Para facilitar a nossa análise deste material, agrupamos os mesmos em uma lista,

codificamos com um número, conforme mostra no quadro 3. Percebemos que é possível

distinguir quatro blocos/eixos desta lista de termos, como mostramos na tabela 2:

Quadro 3: Lista de termos sobre empreendedorismo social de A –Z

Nº Termo Nº Termo

1 Advogar 14 Habilidade para negociar

2 Habilidade comercial 15 Habilidade de organização

3 Construindo consensos 16 Habilidade de RP (Relações Públicas).

4 Delegação 17 Qualidade consciente

5 Habilidades empresariais 18 Realismo

6 Habilidades financeiras 19 Senso de Humor

7 Sociabilidade 20 Jogadores em time

8 Trabalho Duro 21 Antiortodoxia

9 Idealismo 22 Visionário

10 Malabarismo 23 Bem conectado

11 Conhecendo o mercado 24 Fato X (intuição, sorte, fé, etc)

12 Habilidade de liderança 25 Coração jovem

13 Motivador 26 Zelo

Fonte: Feito pelo autor, a partir de Jane Berry, 2001.

Tabela 2:: Eixos temáticos da lista de A-Z de Berry

EIXO TEMÁTICO QT. %

MEDIADOR 2 7,7

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GESTÃO 11 42,3

SOCIABILIDADE 1 3,8

PERSONALIDADE/CARÁTER 12 46,2

Total 26 100

Fonte: Feito pelo autor, a partir de Jane Berry, 2001.

Como se pode perceber, há um grau acentuado em dois eixos, gestão com 42,3% e

personalidade/caráter com 46,2%; este com maior percentual, chegando próximo à quase

que metade das indicações dos termos e conceitos apresentados na lista. O que se pode

perceber é que a atuação do empreendedor social, pelo menos na visão desta autora, tem

uma ponderação maior entre a personalidade e capacidade técnica do empreendedor

social, como condição para o sucesso de seu trabalho.

7.2.5 Empreendedorismo social - glossário de termos mais importantes (proposta doInstituto para Empreendedores Sociais, EUA120)

Analisando a lista de termos, num total de 32, e uma aproximação, mesmo que

ainda breve, da literatura produzida por Jerr Boschee, percebe-se que é de sua produção

que ele os extrai. Procedendo da mesma forma que anteriormente, com a lista de Jane

Berry, criamos uma tabela e um quadro destes termos e agrupamos os mesmos de modo a

identificar seis eixos temáticos. Vejamos.

Quadro 4: Lista de termos do ISE, Jerr Boschee

Nº TERMO Nº TERMO Nº TERMO

1 Empreendedor 14 Estratégias de lucros

merecidos

27 Auto-suficiência

2 Empreendedorismo

Social

15 Parcerias empreendedoras 28 Sustentabilidade

3 Empreendedor social 16 Plano estratégico empresarial 29 Empresa de risco com

propósito social

4 Empreendedor sem fins

lucrativos

17 Energia ambiental 30 Retorno social do

investimento

120 O original pode ser acessado em www. Socialnet.org/glosary.html.

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5 Empresa sem fins

lucrativos

18 Pagamento de taxas por

serviços

31 Lucros não relacionados

aos negócios

6 Setor de negócio com

propósito social

19 Retorno financeiro do

investimento

32 Filantropia de risco

7 Negócio afirmativo 20 Inovadores, empreendedores

e gerentes profissionais

33

8 Comércio relacionado a

uma causa

21 Mercado de impulso/mercado

de tração

34

9 Aquisição relacionada a

uma causa

22 Produtos dirigidos a uma

missão ou negocio de serviço

35

10 Capacidade central 23 Cultura organizacional 36

11 Valores centrais 24 Abandono organizado 37

12 Duplos pontos principais 25 Paradigmas 38

13 Lucro merecido 26 Modelo paralisado

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de Jerr Boschee.

Tabela 3: Eixos temáticos do Glossário do ISE

Nº EIXO TEMÁTICO QT. %

1 Definição de atividades 5 15,6

2 Definição dos atores das atividades 2 5,5

3 Definição dos espaços/atividades 4 8,3

4 Definição de tipos de ações 8 22,2

5 Definição de valores 2 5,5

6 Definição de ferramentas e teorias de gestão 12 33,4

Total 32 100

Fonte: Feito pelo autor, a partir de Jerr Boschee.

Como podemos perceber, há uma predominância entre os eixos, 6 (33,4%),

seguido do eixo 4 (22,2%), e do eixo 1 (15,6%); ressalta-se a preocupação sobre termos

técnicos voltados para as ferramentas e teorias de gestão, seguido da definição das ações,

o que expressa uma concentração no fazer prático da atividade do empreendedor social.

7.2.6 A diferença entre empreendedores de negócios e sociais e das organizaçõessociais tradicionais e empreendedoras

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Segundo Jim Thalhuber, no National Centere for Social Entrepreneur, 121tanto os

empreenderes sociais, como os clássicos (empresariais), têm coisas em comum, pois

“ambos estão criando demanda, obtendo recursos e convertendo idéias em produtos e

serviços [...] são orientados à ação e focados na realidade.” (THALHUBER, 1998)

A grande diferença, segundo esse autor, está no sentido do empreendedor social

apresentar algumas características especiais: a) focam ganhos a longo prazo; b) lucros são

um meio e não um fim; c) o lucro é investido na própria organização, não vai para os

sócios e gera autonomia para a organização. Conclui o autor,

os empreendedores sociais parecem combinar o melhor dos dois mundos. Elessintetizam o foco, com a orientação necessária nos resultados para ter sucessono mundo dos negócios, com a abnegação, a paixão e a humanidade quedirigem os ativistas sociais. (THALHUBER, 1998)

Nesta perspectiva, o autor apresenta a diferença que este processo provoca entre os

gestores e as organizações. Primeiramente, diferenciando as organizações sociais entre

tradicionais e empreendedoras, o que pode ser melhor visualizado no quadro 5.

Quadro 5: Comparação entre organizações sociais e empresariais.

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

TRADICIONAIS

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

EMPREENDEDORAS

Estatuto e regras direcionadas Missão direcionada

Hierarquia Time/trabalhos orientados

Especialização de responsabilidade Integração de responsabilidade

Controle centralizado Descentralização/empowerment

Contabilidade conforme as regras Contabilidade conforme os resultados

Foco no que é melhor para as organizações Foco no que é melhor para o cliente

Ênfase nos programas Ênfase no centro das competências

Valor uniforme Valor flexível

Qualidade baseada no padrão profissional Qualidade indo ao encontro ou excedendo as

121THALHUBER, Jim. The definition of a social entrepreneur. Found on National Centre for Social

Entrepreneurs website (www.socialentrepreneurs.org/entredef.html), disponível emwww.socialentrepreneus.org.

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expectativas do cliente

Gerenciamento dos custos Gerenciamento dos valores

Ordem de recursos Escolha e competição

Dependente de recursos Financeiramente auto-suficiente

Tentar ser todas as coisas para toas as pessoas Nicho-orientado

Fonte: THALHUBER, Jim, The National Center for Social Entrepreneurs, inwww.socialentrepreneurs.org.entredef.html

Outra diferenciação feita pelo autor reside no papel do gestor, onde se encontram

os empreendedores de negócios e os empreendedores sociais, conforme o quadro 6.

Quadro 6: Comparação entre tipos de empreendedores

Empreendedores de negócio Empreendedores sociais

Força é experiência pessoal, conhecimento e

energia

Força é sabedoria coletiva e experiência de

organizações, é a chave de financiadores

Foco em pequenos termos financeiros ganhos Foco na construção de longos termos da

capacitação organizacional

Sem limite no tipo ou liberdade de idéias Idéias baseadas na organização estão na missão

e no centro de competências

Lucro é um fim Lucro é um significado

Lucro embolsado e/ou distribuído para

acionistas

Lucro retorna à organização na ordem para

servir mais pessoas e/ou encontrar grandes

resultados

Riscos pessoas e/ou financiador em ativos Riscos ativos organizacional, imagem e crença

pública

Fonte: THALHUBER, Jim, The National Center for Social Entrepreneurs, inwww.socialentrepreneurs.org.entredef.html

Dessa forma, uma característica marcante do empreendedor social é a capacidade

de tornar sonhos em realidade, como ressalta o autor:

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os empreendedores sociais devem possuir idéias inovadoras para mudar omodelo da sociedade [...] partem de uma única qualidade organizacional paraperseguir sua visão até tornarem-se uma realidade socialmente extensa.(THALHUBER, 1998)

Finalizando esta parte de apresentação de conceitos, apresentamos alguns

conceitos extraídos de diversas fontes. A intenção é fazer um comparativo entre os termos

já apresentados para melhor analisarmos e aprofundarmos o entendimento que, em uma

visão internacional, está se sabendo sobre o que é empreendedorismo social.

7.2.7 Diversidade de entendimentos sobre empreendedorismo social

1) Stanford – Center Social Inovation, EUA

Empreendedores sociais tomam aproximações inovadoras para resolver assuntos

sociais, usando habilidades tradicionais dos negócios para criar valor social de preferência

em relação ao valor privado. Englobados nesta definição estão:

• organizações com fins lucrativos que usam seus recursos para criativamente

endereçar assuntos sociais;

• organizações sem fins lucrativos que ajudam indivíduos a lançar seus

próprios pequenos negócios com fins lucrativos, relativos à micro empresas

ou auto emprego;

• empresas sem fins lucrativos que criam valor econômico para as suas

populações de clientes.

Fonte: www.gsb.satanford.edu/cess/socialentrepreneuship.html.

.

2) School for Social Entrepreneurs,UK (Europa)

É alguém que trabalha de uma maneira empresarial, mas para um público ouum beneficio social, em lugar de ganhar dinheiro. Empreendedores sociaispodem trabalhar em negócios éticos, órgãos governamentais, públicos,voluntários e comunitários [...] Empreendedores sociais nunca dizem não pode

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ser feito. Fonte: www.sse.org.uk/networ .

3) Canadian Center Social Entrepreneurship, Canadá

Um empreendedor social vem de qualquer setor, com as características deempresários tradicionais de visão, criatividade e determinação, empregam efocalizam na inovação social [...] Indivíduos que combinam seu pragmatismocom habilidades profissionais, perspicácias. Fonte: www.bus.valberta.ca/ccse.

4) Foud Schwab, Suíça

São agentes de intercambiação da sociedade através de:

q propor a criação de idéias úteis para resolver problemas sociais, combinando

práticas e conhecimentos de inovação, criando assim novos procedimentos e

serviços;

q criar parcerias e formas/meios de auto-sustentabilidade dos projetos;

q transformação das comunidades graças às associações estratégicas;

q utilização de enfoques baseados no mercado para resolver os problemas

sociais;

q identificação de novos mercados e oportunidades para financiar uma missão

social. ;

q apresentação de certas características comuns aos empreendedores sociais:

apontam idéias inovadoras, e vêem oportunidades onde outros não vêem nada;

q combinam risco e valor com critério e sabedoria;

q estão acostumados a resolver problemas concretos, são visionários com

sentido prático, cuja motivação é a melhoria de vida das pessoas, trabalham 24

horas do dia para conseguir seu objetivo social. Fonte: www.schwabfoud.org .

5) Jane Berry, UK (Europa)

Empreendedores sociais são o equivalente dos empreendedores empresariais mas

que operam dentro do setor sem fins lucrativos construindo alguma coisa do nada e

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buscando soluções novas inovadoras para problemas sociais. Fonte: www.can-

oline.org.uk?entrepreneurs.

6) Joshu Venture (Europa)

Empreendedores sociais são indivíduos que aplicam princípios de liderança em

negócios sem fins lucrativos para afetar mudanças fundamentais na sociedade e

enriquecer a vida comunitária. Fonte: www.joshuaventure.org.

7) J. Gregory Dess

Empreendedores sociais são uma rara espécie de líderes que devem ser

reconhecidos como tal. Essa definição preserva sua distinta condição e garante que o

empreendedorismo social não é tratado em segundo plano. Fonte:

www.gsb.stanford.edu/services/news/DeesScocentrepPaper.html.

8) Fundação Kellog

Pessoa que é responsável pela mudança no setor social por:

q perseguir oportunidades para criar e sustentar o valor social;

q aplicar abordagens inovadoras no seu trabalho e em seus recursos;

q atuar firmemente sem se sentir constrangido como os recursos em seu poder;

q exibir uma elevada compreensão dos elementos a quem ele serve

(comunidades financiadores), e dos efeitos que ele cria. Fonte: www.wkkf.org.

7.3 Síntese da visão internacional sobre empreendedorismo social

A partir dos dados apresentados, podemos destacar algumas questões de maior

importância e que sintetizam o que procurarmos apreender, ou seja, como está sendo

desenvolvido o conceito, o apoio e disseminação das práticas de empreendedorismo

social em caráter mundial. Sem dúvida, uma tarefa pretensiosa, daí a razão de afirmarmos

que nossa intenção não passou de fazer uma visão panorâmica, pois o nosso foco maior é

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a realidade brasileira, e não a mundial, pelo menos em profundidade.

A seguir, apontamos os principais pontos de maior relevância na análise até aqui

realizada:

q o conceito de empreendedorismo social é recente, mas sua prática já vem

sendo realizada há muito tempo por diversas personalidades;

q na atualidade o conceito assume um novo sentido e significado;

q isso é decorrente de quatro fatores conjunturais que aparecem em quase todos

os textos: 1) desenvolvimento econômico globalizado, conjuntamente com o

crescimento dos problemas sociais; 2) crescimento das organizações sem fins

lucrativos nas décadas de 60 e 70; 3) ineficiência da ação governamental, das

organizações e da filantropia na resolução dos problemas sociais; 4)

crescimento do chamado setor sem fins lucrativos, ou Terceiro Setor a partir

da década de 1990 e, conseqüentemente, a redução de fontes e recursos de

financiamento, o que conduz a busca de uma nova lógica de gestão para auto-

sustentabilidade destas organizações e suas missões;

q esta busca por uma nova lógica da gestão das organizações sem fins lucrativos

abre espaço para um novo paradigma, o empreendedorismo social, que é uma

derivação do empreendedorismo de negócios, mas com finalidades sociais;

q decorrente a recente evolução do conceito, há certas confusões entre o

conceito de empreendedorismo social. Alguns autores já apresentam estudos

que fazem diferenciações, como vimos, mas sempre muito próximas ou

sempre fazendo um paralelo com o campo empresarial privado;

q isso poder ser visto a partir de termos, ferramentas, conceitos que são

empregados no campo social, mas com um viés empresarial, inclusive com

uma lógica mercadológica muito forte quanto aos processos de competição,

reestruturação, foco, resultados e operações de risco;

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q é perceptível a diferença entre as organizações que fazem um fomento mais

voltado para o campo empresarial e outro para o comunitário e do

desenvolvimento auto-sustentável; é o caso das organizações Fundação

Schwab e da School Social Entrepreneurs, que mantêm uma rede de projetos

voltados para as comunidades e financiam o sustento de empreendedores

sociais, enquanto que outras organizações, como o ISE e o CSI, nos Estados

Unidos, fomentam mais uma aproximação junto às empresas e órgãos

governamentais;

q há uma unanimidade quanto a alguns fatores, entre eles: a) integrar os esforços

entre os três setores (governo, empresas, sociedade civil); b) dar qualidade e

profissionalismo nas atividades do Terceiro Setor; c) enfatisar o processo de

inovação; d) ênfase na geração de projetos que possam ser duplicados e de alto

impacto social; e) na formação de um perfil específico dos empreendedores

sociais, principalmente quanto à qualidade técnica e de gestão como da

postura, caráter e perfil do empreendedor quanto a valores éticos e

comprometimento ferrenho com as causas sociais em busca da transformação

social;

q também podemos observar que nenhum trabalho fala diretamente e

explicitamente da origem do empreendedorismo social, apenas fazem menção

a algumas personalidades como Gandi, Luther King, e até Moisés como sendo

pioneiros nesta prática, ou seja, a ação de empreender no campo social não é

nova, mas o termo e as novas configurações, principalmente o uso de

ferramentas de gestão e princípios de mercado, são; e isto é que está fazendo a

diferença histórica deste processo;

q é, sem dúvida, um processo crescente e que as organizações de fomento

apresentam, variavelmente, três eixos de ação: a) educação e capacitação de

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novos empreendedores; b) pesquisa e divulgação do empreendedorismo social

como alavanca da inovação e transformação no campo social; c) prestação de

serviços e projetos através de consultoria e assessoria; d) apoio e sustento

direto a empreendedores sociais que comprovem a inovação de suas idéias e a

capacidade, num curto espaço de tempo, ser auto-sustentável;

q é nítida também a abertura para a troca, a disposição em abrir o conhecimento

e fazer das idéias verdadeiros exemplos para serem “copiados”, gerando, desta

forma, um processo contínuo de ações que mudam de forma concreta

situações concretas.

8 – EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL: SIGNIFICADO,CARACTERIZAÇÃO E ATUAL CONFIGURAÇÃO

8.1 As primeiras pistas

Como já mencionado no início deste capítulo, as primeiras pistas sobre

empreendedorismo social foram pela aproximação do concurso do Prêmio Ashoka de

Empreendedorismo Social. Além das fontes citadas, ficamos atentos a todo e qualquer

indicativo sobre o tema. Esta pesquisa, quase que numa forma de garimpagem de dados e

informações, levou-nos a estar atentos a todo e qualquer evento, publicação, curso,

folheto, folder, que fizessem menção ao empreendedorismo social.

Foram analisados cerca de 367 artigos, 150 extraídos da internet, 110 de jornais de

circulação nacional, 48 de revistas de circulação nacional, 29 Clipping´s do Terceiro

Setor, um jornal eletrônico da Academia Social e 30 textos da Ashoka via internet. No

entanto, deste universo, somente cerca de 31 falam diretamente sobre empreendedorismo

social, o restante é de forma indireta, ou seja, só 8,4% é que estão focados no nosso objeto

de análise. Além destes textos, analisamos duas dissertações de mestrado, que tratam

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diretamente do assunto, e cinco livros, quatro diretamente e um indiretamente, três são

publicados pela Ashoka do Brasil.

Como podemos perceber, há uma considerável quantidade de material, no entanto,

com alguma substância foram poucos. Esta é a primeira constatação concreta sobre o

conceito de empreendedorismo social no Brasil, é algo novo, a produção cientifica é

escassa e recebe várias interpretações, como veremos a seguir.

Seguindo o proposto metodológico, estabelecemos os seguintes pontos de maior

relevância para a análise do material citado:

a) espaços e produção e reprodução do conceito e da prática do empreendedorismo

social;

b) principais conceitos e princípios norteadores sobre empreendedorismo social;

c) termos chaves utilizados no empreendedorismo social;

d) estratégias para disseminação do conceito e da prática do empreendedorismo

social.

8.2 A construção do mosaico de conceitos e termos-chave sobre empreendedorismosocial no Brasil

Semelhantemente ao que realizamos no item Visão Internacional do

empreendedorismo social, também procuramos, neste momento, realizar, ou seja, agrupar,

de uma maneira mais ordenada, os fragmentos e elementos conceituais e exemplos das

práticas de empreendedorismo social no Brasil.

Para melhor visualização e ordenamento, estaremos apresentando este mosaico, na

seguinte seqüência e conteúdos: 1) a trilogia de Melo Neto e Fróes; 2) empreendedorismo

social na mídia; 3) espaços de produção e reprodução dos conceitos e práticas do

empreendedorismo social no Brasil; 4) estudo de caso descritivo de organizações que

disseminam de forma direta, indireta e direta/indiretamente o empreendedorismo social;

5) estudo de caso descritivo em profundidade de duas organizações que mais representam

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o desenvolvimento e produção de empreendedorismo social no Brasil: Academia de

Desenvolvimento Social, Recife/PE, Ashoka Brasil/SP e um estudo de caso em

profundidade da Associação Lua Novas, em Araçoiaba da Serra/SP; 6) similitudes e

ambivalências do empreendedorismo social através da proposta da Ashoka Brasil; 7)

síntese das principais constatações sobre as origens, significados, caracterização dos

fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil.

8.2.1 A Trilogia de Melo Neto e Fróes

Antes de examinarmos o material referido, é preciso um pequeno esclarecimento

quanto ao título do subtema deste capítulo. A trilogia é decorrente do que estamos

considerando um trabalho que tem uma certa continuação e, até mesmo, evolução e é

apresentado em três livros pelos professores Francisco Paulo de Melo Neto e do Professor

César Fróes, do Rio de Janeiro e ligados à Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro.

Além de professores universitários, são consultores e palestrantes de organismos e

instituições nacionais e internacionais.

Os autores lançaram o primeiro livro enfocando o tema em 1999, com o título:

“Responsabilidade Social & Cidadania Empresarial: a administração do Terceiro

Setor”122, esses autores defendem, como indica o próprio titulo da obra, que há uma

relação intrínseca entre a responsabilidade social empresarial e a gestão do Terceiro Setor.

Eles ressaltam o crescimento do Terceiro Setor face aos problemas sociais e a gestão

social para o enfrentamento da pobreza e miséria. Enfocam o conceito de cidadania

empresarial e composição de ações empresariais no campo social que se materializam

com a Responsabilidade Social Empresarial. Assim, a principal característica a questão do

122 MELO NETO, Francisco Paulo de; FRÓES, César. Responsabilidade Social & Cidadania

Corporativa: a administração do Terceiro Setor. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1999.

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desafio de integrar esforços de todos os seguimentos para esta tarefa da resolução dos

problemas sociais do país.

Na segunda obra, lançada em 2001, esses autores abordam a mesma temática, mas

apresentando outros conceitos, o que já se nota pelo título: “Gestão da responsabilidade

social corporativa: o caso Brasileiro”123, dando continuidade ao trabalho anterior, com

ênfase no tocante à participação das empresas no campo social. Daí, mais ênfase ao

processo de gestão, ou seja, de como implantar e processar a gestão da responsabilidade

social empresarial. Apresentam, além de conceitos e estratégias, casos de empresas

brasileiras que têm desenvolvido esta modalidade de gestão. Ressaltam a relação existente

entre o crescimento do Terceiro Setor e a crescente participação das empresas em ações

sociais. Além destes aspectos, apresentam um novo conceito que está relacionado a esta

ação, o novo paradigma da gestão da responsabilidade social empresarial, o que é

denominado pelos autores como sendo empreendedorismo social e filantropia de alto

rendimento. A partir deste conceito e princípio, apresentam definições de

responsabilidade social empresarial e cidadania corporativa que estão ligadas ao

crescimento do Terceiro Setor e a sua profissionalização e aperfeiçoamento técnico

através das empresas.

Na terceira obra, mais recente, lançada em 2002, os autores já não se referem à

responsabilidade social empresarial como centralidade, mas como fator complementar

para o que eles chamam de uma nova transição paradigmática, o que é ressaltado e

diferenciado já no próprio título da obra: “Empreendedorismo social: a transição para a

sociedade sustentável.” 124

Nesta obra, que fecha a trilogia, o conceito e foco no empreendedorismo social é

123 MELO NETO, Francisco Paulo de.; FRÓES, César. Gestão da Responsabildiade Social Corporativa:

o caso Brasileiro. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2001.124 MELO NETO, Francisco Paulo de.; FRÓES, César. Empreendedorismo social: a transição para a

sociedade sustentável. Rio de Janeiro: Qualitymark, 2002.

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mais acentuado do que nas outras duas. Pouco se dá conotação à questão empresarial

como centralidade analítica e propositiva, mas avança-se para o conceito de sociedade

sustentável, numa perspectiva de desenvolvimento da comunidade sendo a empresa um

dos elos deste processo.

O trabalho é constituído de oito capítulos dos quais seis falam diretamente sobre o

empreendedorismo social, além de outros conceitos como: capital social,

desenvolvimento sustentável, tecnologias sociais, entre outros. O eixo principal é o

empreendedorismo social, esses autores apresentam vários conceitos e associações do

entendimento do que seja empreendedorismo social.

Até onde conseguimos alcançar com nossa pesquisa bibliográfica no Brasil e isto

até setembro de 2003, quando encerramos a busca por obras com esta temática, não

encontramos outra obra nacional que venha tratar diretamente e com maior profundidade

como este trabalho. Diga-se de passagem, nem a Ashoka, que é referência nacional e

internacional, produziu algo de tamanha envergadura.

Neste sentido, a seguir apresentamos os principais aspectos captados destas obras.

As duas primeiras servem muito mais de pano de fundo, ou base para a alavancagem do

entendimento e configuração do empreendedorismo social; nesta última, vamos nos ater

com maior detalhamento.

8.2.1.1 Primeira obra: Responsabilidade social & cidadania empresarial: aadministração do Terceiro Setor

Ela é constituída de dez capítulos dos quais os dois primeiros são direcionados à

análise do crescimento e definição do Terceiro Setor e a relação e importância deste

fenômeno face aos problemas sociais e aos desafios de gerenciamento social.

Apresenta as novas tendências quanto à elaboração dos projetos sociais e sua

gestão, que partem da questão do diagnóstico a um processo de planejamento e

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intervenção social.

Tal processo está provocando uma mudança significativa.

A relevância, a gravidade e a complexidade dos problemas sociais estãoprovocando uma verdadeira revolução no processo de gerenciamento de planos,programas e projetos sociais. (MELO NETO & FRÓES, 1999, p. 66)

Destacam que a importância da gestão de qualidade, tanto em organizações

governamentais como do Terceiro Setor, são importantes para a gestão social do país.

Apontam que, neste contexto, se percebe cinco tendências: 1) descentralização das ações;

2) participação da comunidade; 3) implantação de programas e projetos sociais auto-

sustentáveis; 4) implantação do tipo renda mínima; 5) implantação com o fomento ao

emprego, o que abre a possibilidade de novos arranjos em projetos sociais.

Nos capítulos seguintes, de 8 a 9, são apresentados elementos constitutivos da

responsabilidade social empresarial.

Apresenta responsabilidade social empresarial (R. S. E) como sendo um conjunto

de ações das empresas, que podem ser de ordem interna, junto aos funcionários e de

ordem externa, junto à comunidade. Isso pode ocorrer de forma direta, quando a empresa

elabora ações e projetos em que ela, através de uma fundação ou ONG, presta serviços à

comunidade, ou, de forma indireta, fazendo investimento social, através de doações ou

parcerias com ONGs que já atuam no campo social.

Segundo os autores, decorrente desta intervenção das empresas, o conceito de

R.S.E. está relacionado a um processo mais amplo, “o conceito de responsabilidade social

tornou-se parte de um conceito mais amplo: desenvolvimento sustentável.” (MELO

NETO & FRÓES, 1999, p. 87)

Ressalta a importância de conceitos como balanço social, marketing social e do

retorno social, que se intensificam a partir da intervenção no campo social de forma

estratégica e como comprometimento de cidadania. O retorno social “ocorre quando a

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maioria dos consumidores privilegia a atitude da empresa de investir em ações sociais, e o

desempenho de empresa obter o reconhecimento público” (MELO NETO & FRÓES,

1999, p. 164), os tipos de retorno podem ser: 1) imagem; 2) vendas; 3) acionistas; 4)

publicitário; 5) tributário; 6) produtivo; 7) desenvolvimento da comunidade, entre outros.

8.2.1.2 Segunda obra: gestão da responsabilidade social corporativa: o casobrasileiro

Cabe, antes de iniciarmos a análise desta segunda obra, mencionar que, tanto no

texto como na relação bibliográfica da obra anterior, nada aparece sobre

empreendedorismo social. Já nesta segunda, nota-se a intenção sinalizada em discutir, ou

pelo menos introduzir o assunto no subtítulo da capa do livro, onde se lê: “da filantropia

tradicional à filantropia de alto rendimento e ao empreendedorismo social”. Destacamos

que é esta a primeira vez que os autores fazem menção direta ao termo.

Esta obra é constituída de nove capítulos, dos quais o primeiro é dado um pano de

fundo quanto ao que os autores chamam de uma nova racionalidade econômica no mundo

globalizado. É seguido de uma análise da importância da R.S.E neste contexto e do

crescimento do Terceiro Setor e sua relação com os demais setores, empresarial e

governamental. No terceiro capítulo, apresenta os fundamentos do chamado novo

paradigma da gestão da responsabilidade social, o empreendedorismo social e a

filantropia de alto rendimento.

Nos capítulos seguintes, são enfatizados aspectos referentes a chamada R.S.E e a

gestão corporativa da cidadania. O último capítulo, apresenta alguns exemplos de

empresas brasileiras e um modelo de implementação da gestão da R.S.E e da cidadania

empresarial.

Destacam-se algumas concepções que não foram enfatizadas na obra anterior,

como por exemplo, a empresa como sendo o pólo radiador de solidariedade, “A ênfase é

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na prática da solidariedade empresarial. Isto é, a empresa é o foco irradiador da

solidariedade, e não a sociedade” (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 7).

Ressalta a importância da ética nos negócios e como isto hoje, mais que em

qualquer momento da história da humanidade, afeta os negócios e o futuro das empresas.

Pois isso está ocorrendo num momento quando a humanidade, como um todo, sofre uma

crise de civilização.

As ações de responsabilidade social corporativa buscam aprimorar as relaçõesdas empresas com seus diversos públicos, inseri-las devidamente no âmbitosocial das comunidades vizinhas e, sobretudo, reforçar a atuação das ONGs,associações comunitárias, entidades filantrópicas e governo local. (MELONETO & FRÓES, 2001, p. 22)

Apontam como conseqüência do crescimento do Terceiro Setor o envolvimento

das empresas, como fator propulsor do surgimento de empreendimentos sociais.

Os resultados produzidos pelo desenvolvimento da nova tecnologia social sãotambém intitulados de ‘capitais sociais’. São exemplos de capitais sociais osempreendimentos sociais criados, a profissionalização inerente à ação dosnovos agentes de economia social, os novos modelos de parcerias aimplantadas, a capacitação profissional dos cidadãos, as ONGs criadas comapoio de empresas. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 25)

Faz uma diferenciação entre a atual R.S.E e a antiga forma de filantropia. A

primeira está relacionada à consciência social e ao dever cívico; a segunda, a uma relação

de assistencialismo e caridade. Como sinalizam os autores, “a responsabilidade social

busca estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e

coletiva. Sua ética social é centrada no dever cívico” (MELO NETO & FRÓES, 2001, p.

27), e, ainda “a filantropia objetiva contribuir para a sobrevivência de grupos sociais

desfavorecidos. A responsabilidade social busca a sustentabilidade e a auto-

sustentabilidade de grandes e pequenas comunidades” (MELO NETO & FRÓES, 2001, p.

27).

Nesta perspectiva, é que surge um novo paradigma, o empreendedorismo social:

ele nasce do envolvimento das empresas no campo social,

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um fato digno de atenção vem surgindo no mundo com o exercício daresponsabilidade social corporativa. Trata-se da emergência de um setor socialturbinado pelas ações sociais das empresas [...] Tornam-se ações sociais quevisam resultados expressivos no âmbito da sociedade e das comunidades, comfocos de atuação bem definidos e não mais de caráter puramente assistencialistae filantrópico. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 45)

Esses autores destacam um ator como sendo o motor desta mudança, o

“empreendedor social”, e o empresário como sendo este empreendedor, “o empresário

atuante no setor social [...] são empreendedores que tiveram sucesso em seus negócios e

que agora estão inovando no setor social.” (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 45)

É importante ressaltar este ponto, pois é neste momento que os autores,

apresentam uma definição do que é empreendedorismo o que irá mudar

consideravelmente na obra seguinte, como veremos mais à frente. Mas vejamos nesta

obra qual o entendimento que os autores apresentam sobre empreendedorismo social.

Vejamos os principais conceitos.

OBJETIVOS:

o empreendedorismo social tem como objetivo obter resultados sociaissignificativos, produzir mudanças para melhorar a vida das pessoas, fortalecer oauto-conceito e a descoberta das próprias capacidades clarificar valoresgenuínos, preservar a riqueza da vida humana e renovar as razões de esperançano futuro do mundo. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 46)

PERFIL DO EMPREENDEDOR SOCIAL

q tende a operar fora da linha principal do trabalho filantrópico e sob oradar da mídia;

q sua presença em geral ainda não é percebida pelo setor institucionalformal, sem fins lucrativos, nem pela grande sociedade;

q rompe paradigmas e atua como agente do desenvolvimento social e;q é orientado para promover mudanças sociais significativas. (MELO

NETO & FRÓES, 2001, p. 46)

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E FILANTROPIA DE ALTO

RENDIMENTO

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Designa, como sendo filantropia de alto rendimento, todas as ações sociais

empreendedoras,

é focada em resultados, mobilizadora de vontades, geradora de grandestransformações, promotora do desenvolvimento social e da cidadaniaresponsável e difusora de novos valores e comportamentos éticos e de práticasde gestão. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 47)

NOVO PARADIGMA DOS NEGÓCIOS

Esses autores defendem que este se torna um novo paradigma para se fazer

negócios, pois as empresas ao

assumir(rem) um papel criativo, desenvolver uma cultura sustentável, enfim,contribuir de forma mais direta na solução dos problemas sociais, o quesomente será possível através do exercício da responsabilidade socialcorporativa. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 47).

Neste sentido, a sociedade passa por uma mudança quanto à busca de um novo

modelo de sociedade, onde, segundo estudo da ONU e outros organismos internacionais,

tem apontado para a necessidade de rever o conceito de sociedade de bem-estar social,

das políticas sociais e da prioridade de populações específicas que têm sido mais

vulneráveis aos impactos da sociedade de mal-estar social, que seriam as crianças e os

jovens.

8.2.1.3 Terceira obra: Empreendedorismo social: a transição para a sociedadesustentável

A obra é constituída de 8 capítulos, dos quais 6 fazem referência direta ao

empreendedorismo social. Diferente das outras duas obras, nesta, o foco é o conceito de

empreendedorismo social e logo no prefacio do livro, já posiciona o entendimento chave

deste conceito.

Quando falamos de empreendedorismo social, estamos buscando um novoparadigma.O objetivo não é mais o negócio do negócio [...] trata-se, sim, donegócio do social, que tem na sociedade civil o seu principal foco de atuação ena parceria envolvendo comunidade, governo e setor privado a sua estratégia.(MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 15)

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Em outras palavras, o foco de desenvolvimento de ações de combate à pobreza e

aos problemas sociais já não são como nas outras obras anteriores, a empresa e sua

participação no campo social, mas a relação entre os três setores, tendo o

empreendedorismo social como um paradigma, ou seja, um modo de pensar e agir sobre a

realidade a ser trabalhada, isso tendo como base o exercício da cidadania e o

desenvolvimento sustentável.

Nesta perspectiva, o empreendedorismo social, alicerçado nos valores dacidadania, surgiu como um avanço, uma nova proposta de desenvolvimentosocial. É algo que só pode ocorrer mediante a intermediação da sociedade, porser esta o motor da atual ativação, em colaboração com a administraçãopública, e a principal responsável pelo direcionamento de comportamentosempreendedores. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 17)

Assim, os autores ressaltam que a meta é como tornar as comunidades auto-

sustentáveis e desenvolver o exercício da cidadania e demais dimensões da vida, social,

econômica, cultural política, etc. Têm como fator decisivo uma nova concepção de se

fazer negócios, a de só para gerar riqueza para poucos, dá lugar para uma nova ética, onde

as empresas colocam sua excelência de gestão a serviço de ações sociais, objetivando

impacto social significativo nas comunidades-alvo de suas ações cidadãs. É o social do

negócio (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 17). E ainda percebe-se a mudança vinda dos

próprios empresários,

cremos que os negócios já se transformaram. Atingiram o seu limite demudança. Empresários dotados de maior discernimento elegeram o social comofoco de suas ações empreendedoras. Internalizaram os conceitos deresponsabilidade social e de cidadania empresarial. (MELO NETO & FRÓES,2002, p. 17)

Desta forma, os autores apresentam esta obra a partir do aprofundamento do

conceito de empreendedorismo social, o que é apresentando nos dois primeiros capítulos;

no terceiro e quarto, os autores fazem uma relação entre o conceito de empreendedorismo

social com outros temas, como: capital social e desenvolvimento sustentável.

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Nos seguintes capítulos, cinco, seis e sete, eles retomam o conceito de

empreendedorismo social, agora apresentando formas e estratégias de utilização deste

conceito, enfatizando a questão do gerenciamento de ações de empreendedorismo social,

tecnologias sociais e de uma tipologia de empreendedorismo, relacionada às dimensões

políticas e cívicas para o desenvolvimento das comunidades e, finalmente, no capítulo

oito, apresentam vários modelos de desenvolvimento sustentável.

Vejamos, agora, os principais pontos que selecionamos da análise desta obra e, na

seqüência, faze-mos uma análise final desta trilogia. Cabe destacar que é nítida a

evolução do pensamento dos autores sobre o tema empreendedorismo social. Na primeira

obra, nem sequer é feita menção ao termo; já, na segunda, ainda de modo vago e breve,

surgem os primeiros comentários e ensaios sobre o conceito, como sendo ainda uma ação

estritamente relacionada à ação da empresa e do empresário no campo social e, portanto,

uma derivação da chamada filantropia clássica para um novo tipo de filantropia,

denominada de auto-rendimento, que seria o empreendedorismo social face às muitas

ações sociais das empresas no campo social.

Já nesta obra, é nítida a relação mais ampliada da compreensão e da ação do

conceito, agora surgindo mais como um paradigma e não só como um conjunto de ações,

o que faz com que os autores apontem outros conceitos e um novo entendimento sobre o

perfil do empreendedor social, como veremos mais à frente.

No primeiro capítulo, os autores fazem uma introdução ao que eles chamam de “a

nova visão do empreendedorismo” e, com base em Souza Santos acerca dos efeitos da

globalização, os autores apresentam o cenário de mudanças significativas, principalmente

na movimentação global em busca de uma nova globalização, o que traz à tona uma nova

racionalidade da gestão da vida humana, ou seja, “trata-se de um desenvolvimento

comunitário, sustentado e integrado [...] o foco é na comunidade, em sua

capacitação,‘empoderamento’, mobilização e conscientização” (MELO NETO & FRÓES,

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2002, p. 5).

Apresenta as várias correntes do empreendedorismo empresarial clássico e faz

uma distinção entre empreendedorismo social e empresarial e apresenta um quadro

comparativo, como apresentamos a seguir.

Quadro 7: Comparação entre empreendedorismo privado e social

Empreendedorismo privado Empreendedorismo social

1) é individual 1. é coletivo

2) produz bens e serviços para o

mercado

2. produz bens e serviços para a comunidade

3) tem foco no mercado 3. tem o foco na busca de soluções para os

problemas sociais

4) sua medida de desempenho é o lucro 4. sua medida de desempenho é o impacto

social

5) visa satisfazer necessidades dos

clientes e ampliar as potencialidades do

negócio

5. visa resgatar pessoas da situação de risco

social e promovê-las

Fonte: Elaborada pelo autor a partir de MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 11.

Dessa forma, é possível perceber que o empreendedorismo social é diferente do

empreendedorismo privado, pois

o 1º não produz bens e serviços para vender, mas para solucionar problemassociais, e 2º não é direcionado para mercados, mas para segmentospopulacionais em situações de risco social (exclusão social, pobreza, miséria,risco de vida). (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 9)

A partir deste ponto, começam a apresentar uma série de conceitos sobre

empreendedorismo social, tais quais:

o empreendedor social é um tipo especial de líder – suas idéias e inovações nãosão incorporadas aos produtos e serviços a serem produzidos e prestados. Mas,sobretudo, são adicionados à metodologia utilizada na busca de soluções paraos problemas sociais, o objetivo das ações de empreendedorismo. (MELONETO & FRÓES, 2002, p. 9)

Um adendo é importante ser feito. Este conceito é muito semelhante ao de Dees e

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ao da Ashoka. No entanto, os autores, ao longo do trabalho, não fazem menção ao

primeiro, mas fazem referência ao segundo. Ao longo da análise, estaremos fazendo

algumas observações em relação à similitude de alguns termos e estaremos colocando

ente parênteses estas observações.

Vejamos outros conceitos sobre o que é empreendedor social. “São pessoas que

trazem aos problemas sociais a mesma imaginação que os empreendedores no mundo dos

negócios trazem à criação de riqueza” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 9),

(observação: igual à concepção de Drayton da Ashoka).

“Os empreendedores sociais têm idéias ao identificarem oportunidades. Os

empreendedores sociais buscam soluções inovadoras para problemas sociais existentes e

potenciais.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 9)

“Suas idéias, conceitos e metodologias não são objeto de apropriação individual e

registro de propriedade material e intelectual, como o fazem os empreendedores

privados.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 10)

O que o empreendedorismo social busca, na verdade,não é o seu sucesso devendas, como o faz o empreendedor privado, sua medida de sucesso é oimpacto social. Ou seja, o número de pessoas beneficiadas como a soluçãoproposta no programa ou projeto de empreendedorismo social. (MELO NETO& FRÓES, 2002, p. 11)

“No empreendedorismo social, o foco é nos problemas sociais, e o objetivo a ser

alcançado é a solução a curto, médio e longo prazo destas questões.” (MELO NETO &

FRÓES, 2002, p. 10)

“O escopo [...] do empreendedorismo social é a comunidade ou são as

comunidades afetadas pelos problemas, uma vez que a solução das questões sociais é o

objetivo a ser alcançado.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 12)

“O objetivo final do empreendedor social é retirar as pessoas da situação de risco

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social, e, na medida do possível, desenvolver-lhes as capacidades e aptidões naturais,

buscando propiciar-lhes plena inclusão.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 12)

Vale citar o trabalho de Pádua e Rouere, da Ashoka, que enfatizam o papel de

cidadania do empreendedor social,

consciente do seu valor e da sua capacidade transformadora, os indivíduos-cidadãos passam a exercer, alguns em maior escala, e outro em menor, a suacidadania-empreendedora. Assumem a sua condição de ‘empreendedoressociais locais.’ (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 14)

Criam novas organizações, abrem seus próprios negócios, vão em busca derecursos, tecem novas redes de colaboração e apoio mútuo, investem seu tempoe seus poucos recursos naquilo em que acreditam e acalentam dia-a-dia seussonhos de transformação. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 14)

Tal entendimento, segundo as autoras, provoca uma profunda mudança na relação

entre Estado, Comunidade e Terceiro Setor.

Intelectuais, políticos, empresários e pesquisadores sociais apontam distorções,culpam o governo, criticam as políticas públicas e identificam gestores einstituições corruptas, ineficientes e ineficazes. Muito se fala, e pouco se fazconcretamente e efetivamente. Muitas vezes o que se fala esconde a inércia, oconformismo, a visão banalizada dos problemas, o ceticismo diante dasquestões sociais. (PÁDUA & ROURE, 2001, p. 15)

“Empreendedores sociais são atores relevantes deste modelo.” (PÁDUA &

ROUERE, 2001, p. 15)

Tais estratégias visam dotar as comunidades de capacidades e habilidadesempreendedores (abrir e gerir seus próprios negócios) conscientizá-losmobiliza-los para as mudanças com base numa educação libertadora, sem noentanto, violar suas culturas e tradições. (PÁDUA & ROUERE, 2001, p. 17)(Observação: muito próximo do conceito da Ashoka, de intervenção dos fellowse o respeito às características da comunidade)

Voltando às colocações de Melo Neto & Fróes, como podemos constatar, as

colocações são muito parecidas com as que encontram a nível internacional,

principalmente relacionadas aos conceitos da Fundação Schwab, School Social

Entreprenewship e do Canadian Centre for Social Entreprenewship (ver quadro 2).

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“O segredo do sucesso resume-se no seguinte ponto de referência, ‘para superar as

desigualdades sociais é necessário primeiramente transformar a realidade social de

maneira paradigmática.” (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 17)

Fecha o capítulo um, é dado ênfase à importância do desenvolvimento do capital

social, tomando como exemplo as comunidades da Itália que passaram por processos de

mudanças, onde este fator foi decisivo e o desenvolvimento foi pensado coletivamente.

No capítulo dois, os autores procuram ampliar o conceito e natureza de

empreendedorismo social e seus desafios. Inicialmente, fazem menção a uma certa

comparação ao conceito de economia solidária, ou sócio-econômica solidária, que é um

novo paradigma da economia.

Destaca que esta nova lógica econômica é caracterizada pela solidariedade e

cooperação, neste sentido, economia solidária

é aquela que segue o caminho da cooperação em vez da competitividade, daeficiência sistêmica em vez de eficiência apenas individual, do ‘um por todos,todos por um’, em vez de ‘cada um por si e Deus só por mim’. (SINGER, 2000,p. 25)

Tendo como base a compreensão de uma economia voltada para a sociedade, ou

seja, “significa economia a serviço da sociedade humana e não um fim em si mesmo.”

(SOUZA SANTOS, 2000, p. 25)

Aqui temos que fazer uma ponderação que é freqüente ao longo de todo o

trabalho. Referimo-nos a uma certa descontinuidade de idéias no texto como um todo. Por

exemplo, neste início do capítulo dois, os autores iniciam falam sobre economia solidária

e não deixam claro, em certos momentos, se empreendedorismo social seria também o

conceito de economia solidária, pois, no sub-tópicoseguinte, os autores apresentam o

empreendedorismo social como um processo que estaria interligado ao núcleo mais amplo

da economia solidária.

Para que o processo de empreendedorismo social ocorra, requer, segundo os

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autores, que se tenha certos pré-requisitos que, em suma, são considerados pelos autores

como “uma atitude de mudança, inovadora em sua natureza e essência, voltada para o

desenvolvimento sustentável das comunidades e geral e, sobretudo, das comunidades de

baixa renda.” (SOUZA SANTOS, 2000, p. 31)

E segundo os autores, empreendedorismo social como processo é entendido como

sendo

o processo de empreendedorismo social exige principalmente o redesenho derelações entre comunidade, governo e setor privado, que se baseiaM no modelode parcerias. (MELO NETO & FRÓES, 2000, p. 25)

Algo semelhante ao que outra autora, no campo da Responsabilidade Social

Empresarial denomina como o desafio das alianças (Cf. FISCHER, 2002): tal princípio

está ancorado em ações sustentáveis, como afirmam os autores.

Baseada em ações sustentáveis, desenvolve-se o fenômeno do empoderamentoeficiente, bem-sucedidos e eficazes na busca de soluções para os problemassociais vigentes. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 25)

Dessa forma, esta nova perspectiva e este processo requerem um novo paradigma,

que é o empreendedorismo social. Com referência à proposta da Ashoka, especificamente

das autoras Pádua e Rouer, apresentam os fundamentos do empreendedorismo social. A

seguir, apresentamos os principais elementos apresentados pelos autores.

“O paradigma do empreendedorismo social objetiva, portanto, transformar a

realidade social com base nos seguintes pressupostos fundamentais.” (MELO NETO &

FRÓES, 2001, p. 33) [grifo nosso]

q reflexão junto às comunidades;q criação e desenvolvimento de soluções antes impossíveis de inserção

social em seu sentido mais amplo;q existência do exercício pleno da cidadania;q enfoque da sociedade em termos de geração de renda, produtividade,

justiça social e ética;q estabelecimento de novas parcerias, com a total integração entre governo,

comunidade e setor privado;q foco na melhoria da qualidade de vida dos atores sociais;q reversão do distanciamento entre economia, sociedade e ética;q incremento de práticas sociais empreendedoras e reforço da solidariedade

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social local. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 31)

Com esta base, os autores, na seqüência, apresentam o perfil deste empreendedor

social, inclusive designando quem pode ser um empreendedor social.

Não é qualquer um que pode ser um empreendedor social. Oempreendedorismo social é um misto de ciência e arte, racionalidade e intuição,idéia e visão, sensibilidade social e pragmatismo responsável, utopia erealidade, força inovadora praticidade. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p.,34)

O empreendedor social deve ser alguém que gosta de, e que sabe, ‘pensar osocial’, subordina o econômico ao humano, o individual ao coletivo e quecarrega consigo um grande ‘ sonho de transformação da realidade atual.(MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 34)

Nota-se nesta última citação, a mudança do conceito, que, na obra anterior era de

forma muito precisa, os empresários, donos de empresas que atuavam no campo social.

Vejamos mais.

“É movido a idéias transformadoras e assume uma atitude de inconformismo e

crítica diante das injustiças sociais existentes em sua região e no mundo.”

O desejo maior do empreendedor social é ajudar as pessoas, desenvolver asociedade, criar coletivamente e comunidade, vê-las crescerem e fortalecerem-se para nelas implementar ações auto-sustentáveis que lhes garantam o sustentoe a melhoria contínua do seu bem-estar. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 34)

“Empreendedor social é alguém que tem idéias novas, pensa e age criativamente,

tem que pensar e faz o ideal de produzir impacto social benéfico.” (MELO NETO &

FRÓES, 2001, p. 35)

Aponta os seguintes fatores como sendo de desafio para o empreendedorismo

social:

os desafios são de outra natureza (diferente do empreendedorismo privado).Decorrente de condicionamentos sociais, econômicos, políticos, e sobretudoculturais e ambientais. Este empreendedorismo social tem na comunidade o seuprincipal eixo de atuação, diferentemente do empreendedorismo convencional,cuja principal força motriz é o mercado. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p.36)

Para que tal processo seja bem sucedido, os autores apontam a necessidade de

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algumas exigências serem atendidas. Como,

• mudanças de comportamento da população;• preservação das culturas locais;• desenvolvimento de processos de participação;• introdução e prática de novas formas de inserção social;• engajamento das pessoas no processo;• incentivo a iniciativas de auto-sustentabilidade;• incentivo a adoção de comportamentos responsáveis e éticos;• garantia do uso sustentável de áreas naturais e proteção das culturas locais;• autogeração de renda e emprego. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 36)

A partir de delimitação das condições e dos desafios, os autores defendem que o

processo de empreendedorismo social implica o entender suas várias dimensões que

seriam: 1) psicossocial; 2) cultural; 3) econômica; 4) política; 5) ambiental; e 6)

regulatório/institucional (política pública, leis, etc).

Esses autores ressaltam que tudo tem início na primeira dimensão que implica a

mudança de valores, atitudes, comportamentos, o que trará resultados significativos,

assegurados os novos comportamentos, incentivado o seu uso pela população econsolidando a cultura da auto-sustentabilidade, sem destruir os traços culturaisvigentes naquela comunidade, implementa-se mecanismos geradores de renda eemprego. Surgem as novas organizações sociais. É a dimensão econômica quese materializa em conjunto com a dimensão política. (MELO NETO & FRÓES,2001, p. 40)

O entendimento apresentado é que, a partir da mudança de comportamento e de

ações empreendedoras, pode-se processar as mudanças rumo ao processo de

autosustentabilidade da comunidade; neste sentido, o empreendedorismo social é

considerado um processo que produz ações de mudança e transformação social

caracterizado, segundo a proposta dos autores:

- conhecimento da comunidade;- consciência da comunidade;- mudança de valores;- maior participação;- sentimento de conexão local;- novas idéias;- população sendo proprietária dos empreendimentos sociais;- inclusão social; - auto-suficiência;- qualidade de vida. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 41)

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Nota-se, nesta relação, o item “população sendo proprietária dos empreendimentos

sociais” apresenta-se como a sinalização de uma compreensão muito próxima dos

projetos de economia solidária, que são voltados para processos de economia

associativista e auto-gestão, onde pessoas que um dia foram empregados hoje são patrões,

o que difere, como até aqui estamos vendo, do empreendedorismo social, que, via de

regra, são ações sociais sem fins lucrativos.

Aponta um elemento interessante, quanto à visão e observação do empreendedor

social, pois “o empreendedor social conhece os problemas sociais prioritários e

emergentes da cidade, região e país onde atua. Sua idéia corresponde à sua visão dessas

questões” (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 44). Como esta observação, em certa

medida, os autores apresentam o processo de trabalho do empreendedor social, que se

inicia exatamente neste processo de observação e leitura da realidade, o que irá culminar

com uma proposta, que deve ser inovadora e de alto impacto.

A idéia também deve ser facilmente assimilada por todas as pessoasenvolvidas, agentes de mudança, gestores e executores do projeto, parceiros e,sobretudo pela população beneficiada. Sua difusão e adoção devem serimediatas, contínuas e permanentes. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 45)

O empreendedorismo social é um tipo de ação socialmente transformadora. E,como tal, diferencia-se de todas as demais idéias de negócio pelo seu caráterinovador [...] no âmbito do empreendedorismo social, a inovação é maior emelhor, porque envolve a projeção de mudanças significativas na sociedadeonde elas serão implementadas. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 49)

Como se pode ver, em grande medida, não há muita alteração quanto ao

entendimento sobre empreendedorismo social das concepções da Ashoka, que os autores

citam várias vezes, o que não ocorreu nas demais obras.

Ao longo dos capítulos 3 e 4, os autores vão trabalhar a importância desta idéia

inovadora através do empreendedorismo social associado a outros conceitos como de

capital social e desenvolvimento sustentável. No capítulo 4, em específico, ressalta-se

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uma ênfase quanto ao conceito de empreendedorismo cívico e empreendedorismo

político, como sendo resultantes dos processos de desenvolvimento sustentável e do

capital social.

Apresentam conceitos relacionados à caracterização de cidades que são

sustentáveis e insustentáveis. Assim, um dos principais pontos de colaboração para este

processo são as relações e a formação de redes sociais, ou seja,

aglomerado de pessoas de natureza cooperativa. Pessoas que reúnemperiodicamente para discutir e projetar soluções para os problemas que afetamseus bairros, distritos e localidades. (MELO NETO & FRÓES, 2001 p. 77)

O esforço cooperativo gera o capital social que, por sua vez, pode diferenciar, o

que os autores chamam de lugares vivos e lugares mortos. Os primeiros têm redes sociais

em abundância; os segundos, ações fragmentadas.

A partir da perspectiva apresentada por Drayton, criador da Ashoka, onde a

sociedade seria dividida em duas partes, de um lado, o mercado e, do outro, o social, onde

o governo tem sido ineficiente no campo social o que oportuniza o surgimento de outras

ações, entre elas o empreendedorismo social, “as iniciativas empreendedoras nascem

dentro da própria sociedade. São, por natureza, de empresas e organizações sociais.”

(MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 80)

Fazem, nesta perspectiva, uma crítica ao Estado e sua forma de gestão.

O Estado, quando investe na metade social, o faz de forma errada, como afirmaDraytonn. São projetos assistencialistas, clientelistas, movidos a intençõespopulistas e objetivos meramente eleitoreiras. As políticas sociais quandoexistentes são mal formuladas e pior ainda implementadas. (MELO NETO &FRÓES, 2001, p. 81)

Desta crítica ao Estado e do surgimento e fortalecimento do Terceiro Setor, é que,

segundo os autores, surge o empreendedorismo social.

A idéia de empreendedorismo social evolui a partir da necessidade de integrarambas as metades – econômica e social – em benefício do bem-estar dasociedade [...] ou seja, desenvolver na metade social ações empreendedoras quepossam solucionar os problemas sociais vigentes e dar-lhes suporte cívico,político, ético moral e cultural. (MELO NETO & FRÓES, 2001, p. 81)

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Citam, como exemplo deste conceito, o estudo de Souza Santos sobre os “micro-

movimentos da Índia”.

A importância desses movimentos reside no seu papel transformador desociedade através da expressão dos espaços políticos e da conscientização daspopulações e da construção de suas próprias organizações. (MELO NETO &FRÓES, 2001, p. 88)

Estes micro-movimentos sociais, com base na proposta de Souza Santos, os

autores apresentam alguns conceitos que são gerados a partir da mobilização das

comunidades vivas que desenvolvem melhor o capital social, através do processo de

empreendedorismo social.

A situação ideal é [...] altos níveis de capital social e humano. Neste caso,vicejam o empreendedorismo político, cívico e social [...] Grande parcela dapopulação sabe como desenvolvê-las na busca da melhoria da qualidade de vidae no atingimento dos reais e elevados padrões de desenvolvimento, ética esocial. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 62).

Desta relação, os autores apresentam outros conceitos relacionados ao

empreendedorismo social, vejamos quais são.

EMPREENDEDORISMO CÍVICO

Aumenta a conscientização da população local, fortalecida a sua visão críticadas macroestruturas predominantes de representação política. Além disso,envolve a população nas lutas políticas. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 86)

TECNOLOGIAS SOCIAIS

São arranjos institucionais definidos, implementados por associações, governosfederal, estadual e local, universidades, sindicatos, equipes gestores dosprogramas e projetos de desenvolvimento social numa comunidade e pelospróprios membros da comunidade. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 64)

E segundo os autores, existem sete tipos de tecnologias sociais, a saber:

1) redes e inter-redes (rede de organizações de pessoas, de relações);

2) modelos de empreendedorismo;

3) projetos e programas sociais;

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4) empreendimentos sociais comunitários;

5) grupos de pequenos produtores;

6) fóruns;

7) agendas;

8) pólos;

9) núcleos institucionais de fomentos;

10) associações;

11) sistemas cooperativos.

EMPREENDEDORISMO COMUNITÁRIO

“São iniciativas que reúnem pessoas de uma mesma comunidade, em sua maioria

marginalizadas do mercado formal de trabalho.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 73)

COMUNIDADE CÍVICA

Dá, como exemplo, eleitores que não têm consciência cívica, que vão

individualmente aos candidatos pedir favores pessoais. Numa comunidade cívica, “não

existem tais contatos e predominam reuniões com debates sobre assuntos públicos, no

interior das associações cívicas e partidárias.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 91)

Esta postura é decorrente de um fator preponderante em sociedades com alto grau

de civismo, que é confiança. Tal afirmação está pautada na proposta de Fukuyama, pois

“a habilidade de formar modelos de grupo que revelarão positivos [...] depende

basicamente da confiança” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 91), o que, para o

empreendedorismo social, é fundamental, como afirmam os autores, “o

empreendedorismo social exige uma sociedade civil forte, atuante, saudável e dinâmica,

com grande potencial de capital social disponível.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p.

93)

CAPITAL SOCIAL

Apresenta o conceito de capital social, em Putnam, que é entendido como, “...

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confiabilidade, apoio recíproco, cooperação espontânea, confiança mútua, normas, cadeia

de relações sociais.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 93)

Desta forma, quando uma comunidade apresenta um grau elevado de capital

social, é possível ver concretamente o exercício da cidadania, ou seja,

a sociedade civil consciente de seus direitos e deveres torna-se apta aoexercício da cidadania e inicia a ocupação gradual desses novos espaçospúblicos. Toma ciência de que existem outras instâncias participativas ecapacita-se para usufruir o seu direito legítimo de participação-cidadã. (MELONETO & FRÓES, 2002, p. 93)

PAPEL DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Cívico, político e social, “como ‘agentes promotores da participação da

comunidade’, fazendo-a ocupar novos espaços públicos.” (MELO NETO & FRÓES,

2002, p. 93)

PRESSUPOSTOS BÁSICOS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL

“...as pessoas possam participar das atividades sociais, políticas, culturais,

econômicas que afetam seu desenvolvimento e qualidade de vida.” (MELO NETO &

FRÓES, 2002, p. 93)

SOCIEDADE SUSTENTÁVEL

São coletividades onde o consumismo é substituído pelo crescente montante derecursos destinados à inserção e ao reivestimento na própria comunidade. Ondeexiste uma vontade política forte e direcionada para o desenvolvimento auto-sustentável do local e da região, e cujo resultado final é o bem-estar social.(MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 103)

COMUNIDADES SUSTENTÁVEIS E O EMPREENDEDORISMO SOCIAL

O empreendedorismo social depende de comunidades sustentáveis para gerarresultados satisfatórios. Sem a força da comunidade, sem a prática de cidadaniaativa, projetos de empreendedorismo social tornam-se insustentáveis, definhamrumo ao desaparecimento. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p.103)

Uma comunidade é sustentável quando possui alta capacidade de gestão,participação, integração, iniciativa, produção, articulação, mobilização,organização, aliada a um alto grau de conscientização, sensibilização, senso desolidariedade e preservação de sua identidade e objetivo comum. (MELONETO & FRÓES, 2002, p. 110)

CIDADES SUSTENTÁVEIS E OS DESDOBRAMENTOS DE TIPOS DE

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EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Ao conceituarem o que seria uma cidade sustentável, os autores apresentam que,

vinculado a este conceito, está o desenvolvimento do empreendedorismo em três

dimensões. Cidades para serem sustentáveis devem apresentar três ações substantivas, a

saber: 1) organização da vida coletiva; 2) promoção de mudanças endógenas; e 3)

maximização do capital social, o que gera três tipos de empreendedorismo social: 1)

político = vida coletiva; 2) cívico = gera mudanças endógenas; e 3) social = processo de

desenvolver idéias, identificar oportunidades, ações empreendedoras locais –

maximização do capital social.

Concluem os autores sobre cidades sustentáveis:

as cidades sustentáveis, portanto, apresentam um elevado grau deempreendedorismo político, cívico e social. As cidades insustentáveis carecemde organização da vida cotidiana, de capacidade endógena de gerar mudanças ede capital social. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 115)

EMPREENDEDORISMO SOCIAL COMO ÉTICA (VALOR)

Segundo os autores, o processo para o desenvolvimento sustentável leva também a

uma mudança quanto à questão ética, onde se substitui uma ética da dependência,

submissão, conformismo, passividade, por uma ética empreendedorismo social. Esta

última fundada nos seguintes valores:

1. estímulo ao pensamento crítico; 2. adoção de práticas sociais emancipatórias;3. fortalecimento do processo democrático; 4. fortalecimento do espaço públicoatravés de maior acesso de todos; 5. enfoque da sociedade em termos degeração de renda, de produtividade e de justiça social; 6. transformação dascomunidades em atores e gestores de um novo tempo; 7. prática da cidadaniaativa. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 117)

A inovação, a mudança, os novos valores, novas idéias e mudança de

comportamento “são o primeiro passo para a transformação da realidade social.” (MELO

NETO & FRÓES, 2002, p.118)

EMPREENDEDORISMO SOCIAL E EMPODERAMENTO

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O empoderamento é tornar as ações das comunidades e de seus cidadãos cada vez

mais fortes e significativos. Os autores apresentam uma tipologia onde se verificam vários

tipos de empoderamentos que, ao todo, são seis, a saber:

a) econômico = controle da gestão produtiva;

b) social = integração da comunidade;

c) política = organização da comunidade;

d) mental = energia de inovação;

e) psíquica = auto-estima, valorização e solidariedade;

f) espiritual = respeito humano, veneração pelo universo.

Deste modo, diferenciam projetos de empreendedorismo social e projetos sociais.

Os primeiros, tendem a ser mais extensos e atingem maior impacto na comunidade, pois

ativam as ações participativas e de desenvolvimento comunitário e sustentabilidade. O

segundo, em ações que via de regra são paliativas, não produzem mudança, mas dão

manutenção e melhorias não-significativas. Ou seja,

os projetos sociais identificam demandas e priorizam ações capazes de gerarprodutos, informação, tecnologia, mão-de-obra treinada, bens e serviços [...] osprojetos de empreendedorismo social criam ‘processos de participação, deideação de ações, de integração de cooperação, de parcerias, de troca de bens eserviços. (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 130)

VERTENTES DO PROCESSO DE EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Decorrente desta compreensão, os autores apresentam o que eles chamam de

vertentes do empreendedorismo social que seriam duas: a) empreendedorismo social

comunitário (ESC); e b) empreendedorismo social organizacional (ESO).

ESC =

o conjunto de ações de capacitação, mobilização e fomento de iniciativasempreendedoras com o foco em uma comunidade [...] fortalecimento doconceito de cidadania, o reforço e o desenvolvimento do senso de comunidadee solidariedade, o despertar de iniciativas próprias e o fortalecimento daparticipação e mobilização para o desenvolvimento. (MELO NETO & FRÓES,

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2002, p. 132)

ESO = “fornecer maior embasamento e ferramentas básicas de planejamento

estratégico de finanças e organização capaz de conduzi-las ao crescimento e

desenvolvimento.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 130)

Concluem os autores sobre estas duas vertentes:

uma comunidade desenvolvida tem alto nível de cidadania ativa, organização,integração, participação, visão de futuro e objetivo comum [...] Umaorganização social com bom desempenho é bem gerenciada, dispondo demecanismos modernos de planejamento, organização, controle, coordenação edireção; e demonstra ser capaz de desenvolver projetos sociais bem-sucedidos.(MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 133)

Assim, o desdobramento, destas duas vertentes, são também dois tipos de

gerenciamento:

ESC = “temos a gestão comunitária (programas de integração comunitária;

projetos comunitários; organização comunitária; planejamento participativo; mecanismos

de sustentabilidade)” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 134).

ESO = “prevalece o dinamismo da gestão do negócio propriamente dito

(gerenciamento de projetos; visão de mercado; produto/serviços; público-alvo).” (MELO

NETO & FRÓES, 2002, p. 134)

AÇÃO INSTITUCIONAL DO EMPREENDEDORISMOS SOCIAL

Por ação institucional, entende-se como uma ação que “procura garantir suporte

técnico interdisciplinar a para qualificar a população e fomentar sua atuação como

elemento ativo e determinante do seu desenvolvimento e defesa do meio ambiente.”

SCANNAVIANO apud MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 135)

Em síntese, no tocante ao empreendedorismo social, a sua institucionalização se

dá a partir de: qualificar, mobilizar e conscientizar a população para fortalecer as ações e

projetos de empreendedorismo social.

Isso só poder ser feito a partir de ações de gestão adequada. É o que os autores

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chamam de “ações de gestão nos projetos de empreendedorismo social”, que se resumem

da seguinte forma:

• difusão e intercâmbiação de conhecimentos (difusão);• desenvolvimento de capacidades e aptidões (capacitação);• identificação e desenvolvimento de potencialidades (potencialização);• divulgação dos conhecimentos, capacidades e potencialidades

(comunicação);• ampliação do espaço público (participação);• criação de novas organizações sociais (institucionalização organizações);• integração de todas as organizações atuais (integração);• fomento às iniciativas empreendedoras (empresarização). (MELO NETO

& FRÓES, 2002, p. 139)

Esta proposta apresenta em grande medida um processo lógico, que pode ser

representado da seguinte forma:

1) difusão => 2 capacitação => 3 potencialização => 4 comunicação => 5

participação => 6 organização => 7 integração => 8 organização.

CICLO DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL VOLTADOS PARA

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS

Os autores apresentam o mesmo modelo usado pela Ashoka, ressaltando a

importância do gerenciamento das parcerias como fator fundamental para o sucesso do

empreendimento social. Dessa forma, o ciclo de vida do empreendimento social é

apresentado assim: 1) percepção de um problema social e busca de uma solução; 2) teste

da solução; 3) aprendizagem; 4) institucionalização; e 5) estabelecimento e multiplicação

do modelo.

O gerenciamento de parcerias apresentam os seguintes pontos de maior

importância: 1) análise da situação; 2) definir prioridades; 3) parceiros; 4) reunião para

planejamento de ação conjunta, onde são estabelecidos: objetivo, missão, identidade,

visão, compromissos, riscos e benefícios.

EMPREENDEDORISMO SOCIAL POLÍTICO E O MODELO DE CLOSTERS

Definem empreendedorismo político como “aquele que exerce essencialmente sua

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função produtiva realizando a reunião das condições sociais, administrativas e políticas de

produção.” (MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 161)

Como exemplo, citam um modelo muito conhecido no campo empresarial, o

chamado Clusters, que seria um agrupamento de empresas com finalidade de crescimento

conjunto, ou seja,

significa reunir capacidades e competências num único local, relacionado a umúnico setor de atividades, sob a forma de um conjunto integrado de empresasque, atuando juntas e de forma cooperativa, agregam valor à cadeia produtiva.(MELO NETO & FRÓES, 2002, p. 166)

A idéia de Clusters conduz ao processo de criação de redes de inovação, ou seja,

busca associar pesquisa e desenvolvimento e produção através do quedenominamos de knowledge sharing [...] Trata-se, portanto, de uma forma de selidar como desenvolvimento da pesquisa e inovação produtiva. Pressupõe aexistência de uma base cooperativa entre os diversos agentes locais (empresas,governos, universidades, centro de pesquisa, etc). (MELO NETO & FRÓES,2002, p. 177)

Desta forma, o empreendedorismo social tem a função de intermediar e facilitar

este processo de integração.

8.2.2 Síntese da trilogia de Melo Neto & Fróes

Um dos traços marcantes desta trilogia é que se percebe o crescimento quanto ao

foco no tema empreendedorismo social, que é crescente. Pois, no primeiro, praticamente

nada se menciona, dando-se ênfase à questão do Terceiro Setor e da responsabilidade

social empresarial.

No segundo, já se levanta o conceito de empreendedorismo social relacionado à

filantropia de auto rendimento, sendo o empreendedor social o empresário que atua no

campo social, aplicando os seus talentos do empreendedorismo empresarial e a empresa é

tida como motor de propulsão de mudanças sociais.

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Já na terceira obra, a centralidade é o empreendedorismo social, já não mais

associado somente à gestão da responsabilidade social empresarial, mas substancialmente

ao desenvolvimento da comunidade. Reforça-se a necessidade da integração dos três

setores, governamental, privado e sociedade civil. Nesta obra, percebe-se uma infinidade

de conceitos. Ao longo da leitura e análise, percebemos certa descontinuidade entre os

assuntos, pois em muitos dava-se início a um assunto sem necessariamente terminar o

outro ou fazer uma relação mais precisa entre eles.

A impressão que passa é que a obra é constituída de vários artigos escritos ao

longo da trajetória dos autores em sua prática acadêmica e profissional no campo da

consultoria. Mas, mesmo apresentando este fato, é inegável a contribuição dos vários

elementos sobre o tema que no Brasil ainda é raro.

Outro fator a ser ressaltado é que apesar de não citarem nenhum das bibliografias

internacionais, exceto o da Ashoka, muitos conceitos, como procuramos observar, são

semelhantes. Como também é semelhante à compreensão histórica do momento e

surgimento do empreendedorismo social, ou seja, no crescimento do Terceiro Setor, a

redução de verbas e a necessidade de se trabalhar pela autosustentabildiade, o que é

buscado em conhecimentos da administração, com base no empreendedorismo.

Neste sentido, o empreendedorismo, para os autores, passa de uma atividade de

ação empresarial para um paradigma e processo de intervenção social com vistas à

transformação social e o desenvolvimento sustentável, através da geração de capital social

e dos tipos de empreendedorismo: político, cívico e social, que se desdobram através de

estilos e uma nova lógica de gestão, tanto das organizações como da comunidade, sendo

um dos fatores de maior importância a mudança de comportamento, para que haja o

empoderamento, a consciência cívica e cidadã, que se materializa na participação,

articulação e cooperação entre as pessoas de uma mesma comunidade.

Ao final, percebe-se que os autores apresentam muitos conceitos co-relacionados

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ao empreendedorismo social, mas não chegam a apresentar um conceito mais claro e

preciso, mas que se percebem, pelo menos, quatro eixos fundantes, principalmente nesta

última obra, que seriam:

1) o empreendedorismo social é um paradigma a medida que altera o modo de

ver e agir frente aos desafios da gestão social, de forma geral, e das

organizações sociais, de forma específica, que têm como meta se tornarem

mais eficientes e eficazes e auto-sustentáveis. Isso é permeado por valores e

perspectivas quanto à inovação com vistas à melhoria da qualidade de vida,

exercício da cidadania, emancipação social, desenvolvimento humano,

participação e agregação de novos valores que superem o assistencialismo e

paternalismo;

2) o empreendedorismo social é um processo a medida que pressupõe um

conjunto articulado de ações com objetivos específicos que se materializam no

ciclo de empreendimento social e nas dimensões não só humanas mas técnicas

processuais e políticas de se fazer e operar na perspectivas do

empreendedorismo social;

3) fica claro que é uma ferramenta de origem empresarial para resolver

problemas sociais, ou seja, “soluções de mercado para problemas sociais”;

4) não é uma ação isolada, mas, ao contrário, necessita da articulação e

participação da sociedade para que se institucionalize e apresente resultados

que atendam às reais necessidades da população sendo duradouras e de auto

impacto social.

A maior contribuição desta obra, cremos, está no fato de reforçar que o tema é

novo. Carece de maior aprofundamento, mas, inevitavelmente, já faz parte da cultura de

gestão e se mostra uma ação emergente e de grande potencial para o desenvolvimento

humano e emancipação social, principalmente, se o mesmo se constituir na base da busca

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pelo exercício da cidadania, no empoderamento, na participação e o reforço da

democracia. Esses são os elementos vitais para a superação de ações assistencialistas,

paternalistas e de filantropia que mais contribuem para a manutenção da miséria do que

para resolvê-la.

8.3 Empreendedorismo social na mídia

A importância de dar, mesmo que minimamente, a atenção para o

empreendedorismo social na mídia está na constatação de que ela, principalmente a

escrita, ainda tem muita influência no pensamento coletivo e na percepção da população

que, por sua vez, é geradora de opinião e formadora de interpretações do real.

Desta forma, apresentamos algumas pontuações sobre as informações coletadas

nesta dimensão. É importante ressaltar que, seguindo as primeiras pistas, não

encontramos muito material, também encontramos elementos que fazem menção mas não

aprofundam, bem como, exemplos que se caracterizam como de empreendedorismo

social, mas não se apresentam como tal.

A seguir, apresentamos os principais resultados de nossa investigação nesta área,

para melhor análise, dividimos nos seguintes blocos analíticos: a) revistas; e b) jornais.

REVISTAS:

Procuramos monitorar as principais revistas de circulação nacional no Brasil, entre

as mais conhecidas: Veja, Isto é, Época, Exame e Você S/A e outras mais novas e não tão

conhecidas, como: Sucesso, Vencer. Eis o que encontramos.

Revista Você S/A

Uma revista que está em circulação há mais de cinco anos, é considerada no

mercado editorial como um fenômeno de vendas. Tem em seu eixo a disseminação de

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informações voltadas para a carreira profissional. Desta forma, foca as notícias e

reportagens e dicas, em relação ao mundo corporativo e às questões que estão

relacionadas a este tema.

Verificamos que, ao longo de seus mais de 60 exemplares, o assunto

empreendedorismo social surge de forma amena, sempre enfatizando os resultados de

uma organização, a Ashoka. Das sete ocorrências que encontramos, cinco são referentes à

essa empresa.

Destacam-se duas. A primeira, que inclusive foi tema de capa, encontramos o

seguinte assunto em tela: “ Você S/A - Profissão: fazer o bem (Cf. Você S/A de

1/1/2001).

Pelo título, vemos a associação que se faz do trabalho social, “fazer o bem”,

apresenta uma série de reportagens sobre os fellows da Ashoka no Brasil, destaque para o

projeto da Crecheplan, que foi uma das primeiras empreendedoras sociais no país. Além

de uma entrevista com Drayton, fundador da Ashoka.

A outra reportagem está na revista nº 47 de maio de 2002, sobre Empreendedores

de sonhos. Fala sobre a premiação de um concurso feito pela revista sobre Jovens

Empreendedores. Dentre os 11 ganhadores, Egídio Guerra de Freitas recebe um prêmio

especial, pois este jovem criou um empreendimento onde a organização de várias

pequenas empresas e ONGs fizeram com que ações efetivas afetassem a vida de milhares

de pessoas. Através de uma ONG chamada Empreendedores de Sonhos, gera 2.150

empregos por ano no Ceará, distribuídos numa rede de 380 pequenas empresas (Cf.

www.empreendedoresdesonho.org.br). Este jovem empreendedor é também fellow da

Ashoka.

Fora estas duas reportagens de maior peso, as demais são bem curtas e apresentam

mais comunicados, como por exemplo, o resultado do concurso da Ashoka.

Revista Veja de 25/12/2002

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Apresentou um encarte especial que traz os paulistas mais conhecidos e famosos,

são mais de 50 personalidades. Chama a atenção pelo fato de que mais da metade das

personalidades são reconhecidas por suas ações no campo social, destaca um grande

número de pessoas que estão abrindo fundações e ONGs, entre elas os jogadores Cafú,

que criou a Fundação Cafú, e os jogadores Leonardo e Raí que criaram a ONG Gol de

Letra, ambas em São Paulo.

Revista Sucesso

Uma revista nova que atualmente (setembro de 2003) está em seu sexto exemplar.

Chamamos a atenção o fato desta revista, voltada para o campo da carreira profissional,

como a Você S/A, mas com uma ênfase direcionando, seu slogan é “pessoas inspirando

pessoas”, e que procura apresentar em cada revista uma história ou mais de pessoas que

são exemplo quanto à forma com que conduziram suas carreiras profissionais. Mas, em

específico, há uma coluna que trata de apresentar ações sociais que ocorrem diariamente,

bem como de empresas que estão apresentando ações efetivas no campo social.

Em uma destas reportagens, na revista nº 2 de maio/2003, na p. 54, fala sobre o

Banco Real que apresenta uma linha de credito, na modalidade do microcrédito, fato este

inusitado por se tratar de um banco privado.

Outra, com o título “ Vitrine do Bem” (nº 3, de junho/2003, p. 50), fala sobre uma

loja que se especializou em vender produtos de artesanato de primeira qualidade de

organizações sem fins lucrativos, encontrando, desta maneira, uma forma rentável e

também de colaboração com ações sociais e da auto-sustentabilidade de projetos sociais.

Revista Época

Uma revista semanal de impacto nacional, que traz várias reportagens, mas

nenhuma diretamente falando sobre empreendedorismo social. Porém chamamos a

atenção para uma reportagem de capa, da revista nº 154, de abril de 2001, onde o tema é

Missionária da Vida. Trata-se da Dra. Zilda Arns, criadora da Pastoral da Terra, ONG

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nacional, que tem contribuído para a diminuição da mortalidade infantil no país e que

goza de reconhecimento nacional e internacional, principalmente por ser uma ação

organizada pela população, basicamente voluntária, feminina, mas que, de forma barata,

apresenta resultados e impactos sociais significativos e mostra que determinadas ações

não necessitam de tanto dinheiro, mas sobretudo de vontade política, de capital social, de

civismo de consciência cidadã.

Ainda nesta revista, encontramos em outros números os seguintes assuntos

referentes ou interligados ao tema empreendedorismo social:.

A nº 75, de 25/10/1999, fala sobre voluntariado, principalmente de grandes

personalidades e da contribuição de voluntários especializados, que contribuem para a

qualificação dos trabalhos em organizações sociais.

A nº 43, de 27/10/1999, traz uma reportagem com o título “Parabéns a você” em

que a socialite Vera Loyola, do Rio de Janeiro, faz uma festa de aniversário para sua

cadela. Isso em um país onde crianças morrem de fome e a violência bate em nossas

portas; esta é a expressão mais pobre de percepção quanto ao mundo em que vivemos.

Com todo o respeito aos animais, que têm o direito de serem bem tratados, mas não mais

que um ser humano e sequer sabe o que é aniversário.

Neste mesmo número, há uma reportagem que fala sobre a filantropia dos famosos

e como músicos, atrizes e empresários estão ajudando no campo social.

Revista Exame

Uma revista voltada para o público executivo e empresarial que, nos últimos cinco

anos, tem lançado um exemplar especial, intitulado Guia dos melhores lugares de se

trabalhar no Brasil, em 2003, está na sua sétima edição. Uma observação interessante é

que este concurso cria um ranking entre as empresas participantes, notamos que os

indicadores vão desde salário, ambiente de trabalho a formas de política e ética no

trabalho. A partir do número 3, é incluído um outro indicador, Responsabilidade Social

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Empresarial, o que aponta para o conceito de que ser um bom lugar de se trabalhar,

também tem que ser um lugar socialmente responsável.

A partir deste trabalho, periodicamente, a exame lança outro caderno especial,

“Guia Exame de Boa Cidadania”, que aprofunda os dados analisados do quesito

Responsabilidade Social Empresarial das melhores empresas de se trabalhar no Brasil.

Em suma, como podemos observar, não há nada além da Ashoka, que se

identifique com o termo empreendedorismo social, mas que indiretamente trata de

elementos que estão interligados à temática, sendo que o voluntariado, a criação de

fundações, ONGs, e de exemplos de trabalhos sociais estão cada vez mais no cotidiano da

população brasileira que, com isso, vai assimilando uma percepção diferente, que está

muito relacionada à questão do “fazer o bem” e, no caso da Ashoka, como referência

sobre o assunto, bem como da defesa de estar em desenvolvimento “a profissão de

empreendedor social”. São marcas que estão sendo lançadas pela mídia sobre este assunto

que, por um lado, distorce o sentido mais complexo do tema, não informa, mas

simplesmente apresenta o que dependerá da capacidade interpretativa das pessoas para

entenderem as informações que estão sendo repassadas.

O fato é que ainda o tema empreendedorismo social nas revistas ainda está muito

vinculado ao voluntariado e ao trabalho filantrópico.

JORNAIS

Procuramos monitorar os jornais de maior circulação nacional, em específico o

Jornal Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo. Ao todo, foram analisados 110

exemplares, 79 da Folha, 19 do OESP e 12 diversos.

Não muito diferente das revistas, os jornais não apresentam temas diretamente

relacionados ao empreendedorismo social, com exceção do Jornal Valor Econômico, que

tem uma coluna específica para uma representante da Ashoka do Brasil, a socióloga

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Anamaria Schinadler, que apresenta assuntos diretamente relacionados ao

empreendedorismo social, na perspectiva da Ashoka. Seguem os principais pontos de

maior interesse para nossa pesquisa nos jornais:

Jornal Folha de São Paulo

Uma coluna, chamada “No Planalto”, do jornalista Josias de Souza, durante um

certo período, quase que todos os domingos, apresentava um artigo sobre organizações

sociais sem fins lucrativos. Acompanhamos os artigos publicados desde fevereiro de 2002

até maio do mesmo ano, e praticamente o enfoque foi o mesmo: denúncia das

atrapalhações do Conselho Nacional de Assistência Social, órgão normatizador da

Assistência Social no Brasil, que, segundo o jornalista, apresentou várias falhas quanto à

liberação e renovação dos chamados títulos de filantropia. Diante disso, muitas

organizações, ditas sem fins lucrativas, demonstraram dúvidas quanto a este processo,

entre elas: PUC/SP. Hospital Sírio Libanês, Beneficência Portuguesa, Ubra, entre outros.

Outra reportagem importante foi uma entrevista feita com o sociólogo norte-

americano Robert Putnam sobre capital social. (Cf. FREIRE, 1994, p. 12)

Outra que nos chamou a atenção refere-se a um fato no mínimo pitoresco, que

ocorreu nos EUA, o titulo por si já fala muito. “Favela vira atração em novo parque

americano”, conta que uma empresa dos EUA de entretenimento abriu um parque onde há

réplicas de favelas de várias partes do mundo, em outras palavras, a miséria virou

espetáculo e entretenimento. (Cf. COELHO, 2003, p.1 A)

Mais duas reportagens falam de ações de empreendedorismo social, mas sem usar

esta denominação. Uma é a reportagem sobre a AACD de São Paulo, com o título:

“Assistência: empresariado voluntário faz AACD crescer” (CF. DURAN, 2001, p. C4),

que mostra que a partir do trabalho voluntário de empresários a AACD vem conseguindo

ano após ano superávits maiores que muitas empresas do mercado. Ressalta que o

resultado é decorrente da dinâmica de gestão ser da mesma forma do que o gerenciamento

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de um negócio, aspecto este característico do empreendedorismo social.

A outra reportagem fala sobre o microcrédito, cujo título é “Mundo real:

microcrédito une opostos na cidade de Deus” (Cf. VARGA, 2002, p. B7) que apresenta

vários exemplos de moradores de favelas do Rio de Janeiro e outras localidades pobres do

Brasil que, o microcrédito tem mudado suas vidas. Esta modalidade é típica do

empreendedorismo social, mas não é apresentado desta forma.

Jornal OESP (O Estado de São Paulo)

Basicamente os textos encontrados são relacionados ao voluntariado, ONG e ao

Terceiro Setor, mas uma reportagem chama a atenção, com o título: “Projetos sociais,

item de exportação Brasileira” (Cf. AVANCINI, 2001, p. a15) aí é apresentada uma série

de projetos brasileiros que foram premidos pela ONU, como sendo pioneiros e de

exemplo para serem duplicados em outras localidades, o que demonstra a criatividade e o

reconhecimento da capacidade de criação e inovação que nosso povo tem.

8.4 Espaços de produção e reprodução do conceito e da prática doempreendedorismo social

O termo empreendedorismo social começa a surgir de forma mais continua a partir

de 2002. No início de nossa pesquisa, eram poucas a indicações, a fonte de maior

proeminência e difusão do termo e de ações é a ONG Ashoka. Ela poderia também ser

destacada como sendo pioneira no nível internacional, mas preferimos deixar para dar

destaque para ela, no âmbito nacional, pois é uma organização global, mas que o

escritório no Brasil, segundo os seus dirigentes, apresenta-se com peculiaridades e

diferenciações significativas em relação aos demais espalhados pelo mundo, daí darmos

um foco maior nesta parte de nosso trabalho, para não ficarem repetitivas as informações

de âmbito internacional e nacional.

Mas, além da Ashoka, outras organizações começam a apresentar indicativos e

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241

produzir algumas ações neste âmbito. Algumas mais direta e explicitamente se referindo

ao empreendedorismo social, outras, de forma ainda mais indireta, porém fomentando

ações e conceitos ligados à lógica do empreendedorismo social. Destacam-se entre elas:

ASHOKA Empreendedores Sociais, Academia Social, CEATS/FEA/USP, ENE/UFSC,

FENEAD, Fundação Banco do Brasil, CETS/FGV e SOCIALTEC. A seguir,

apresentamos as características de cada uma destas organizações bem como sua

contribuição quanto à disseminação do conceito e prática do empreendedorismo social no

Brasil.

Quadro: 8 - Organizações que disseminam direta e indiretamente o empreendedorismosocial no Brasil.

Indicadoresorganizações

OBJETIVOS NATUREZA ESTRATÉGIAS PRODUÇÃO GRAU DEDISSEMINAÇÃO

ASHOKA

Fundada em 1986

SP/SP

Criar a profissão de

empreendedor

social e Apoiar

empreendedores

socais,

profissionalizar o

trabalho de gestão

Organização

não

governamental

sem fins

lucrativos

Centro de

capacitação:

eventos cursos,

site

Prêmio

Empreendedor

social

Livros

Artigos

Entrevistas

DIRETO

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242

no Terceiro Setor Sustento de

projeto e

empreendedores

sociais por três

anos.

ACADEMIA

SOCIAL

Fundada em 1995

Recife-PE

Tornar a

inquietação

humana e

transformação

social,

ONG, sem fins

lucrativos

Formação

Informação

Serviços

Incubadora

Social de Jovens

Cursos para o

Terceiro Setor

Eventos

Campanhas

Clipping do

Terceiro Setor

Artigos

DIRETO

CEATS/FEA/USP

Fundado em 1998

SP/SP

Atividade deeducação superior,capacitaçãoprofissional,estudos epesquisas, apoioconsultivo eserviços deextensão àsorganizações dasociedade civil, domercado e doEstado.”

ONG, sem fins

lucrativos,

ligada a USP

SP

Pesquisa

Consultoria

Cursos

Eventos

Livro

Artigos

Pesquisas

INDIRETO

ENE/UFSC

Fundado em 1992

Florianópolis/SC

Desenvolveratividades dedisseminação doempreendedorismo,através de cursos,consultorias,eventos epublicações eoutras atividades.

ONG, sem fins

lucrativos,

ligada a

UFSC,

engenharia de

produção

Pesquisas

Consultoria

Eventos

Cursos

Anais dos

eventos

Artigos

DIRETO

FENEAD

Fundado em 1995

SP/SP

Despertar nosestudantes deadministração o seupapel de agentetransformador

ONG, sem fins

lucrativos,

ligada a

UFSC,

engenharia de

produção

Prêmio Nacional

FENEAD de

inovação social

para o Terceiro

Setor

Site

Artigos

INDIRETO

FUNDAÇÃO

BANCO DO

BRASIL

Fundado em 1985

Estatuto

reformulado em

1995

Apoio einvestimento emtecnologias e açõessociais para odesenvolvimentosocial e local.

Fundação,

ligada ao BB

Banco de

Tecnologias

sociais

Projetos

Eventos

Investimento

Site

Artigos

Entrevistas

INDIRETO

CETS/FGV

Fundado em 1994

SP/SP

Realizar atividadesde ensino,pesquisa,treinamento,consultoria e

ONG, sem fins

lucrativos,

ligada a

Pesquisa

Consultoria

Base de dados

Artigos

Site

Pesquisa

INDIRETO

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243

assessoria aorganizações doTerceiro Setor,quanto aosprocessos degestão.

UFSC,

engenharia de

produção -

Cursos

Pós

SOCIALTEC

Fundado em 2000

SP/SP

Disponibilizarconhecimento einformação paraempreendedoressociais, ênfase nomarketing social

ONG, sem fins

lucrativos,

ligada a

UFSC,

engenharia de

produção -

Pesquisa

Consultoria

Base de dados

Artigos

Site

Pesquisa

INDIRETO

Fonte: Elaborado pelo autor a partir de dados coletados pela Internet nos seguintes endereços:Ashoka = www.ashoka.org.brAcademia Social = www.academiasocial.org.brCeats = www.ceats.org.brENE = www.ene.ufsc.brFenead = www.fenead.org.brFundação Banco do Brasil = www.cidadania-e.com.brCets = www.cets.org.br ou www.fgvsp.brSocialtec = www.socialtec.org.br

8.4.1 Análise do quadro

Como se pode perceber, destas somente a Ashoka e a Academia Social têm um

grau direto de disseminação, seguido da ENE – Escola de Novos Empreendedores da

UFSC, que apresenta um grau tanto direto como indireto. Mais à frente, mostraremos a

diferença entre um e outro. Constatamos que os demais todos indiretamente. Isso porque é

importante ressaltar que a referência para discernir entre uma disseminação direta e

indireta está pautada na seguinte compreensão.

Direta, quando o termo empreendedorismo social, bem como a preocupação de

designar e dar exemplos sobre este conceito faz parte integrante da ação,da produção e

das atividades enunciadas pela organização, como vimos no caso das organizações

internacionais.

Indireta é quando a organização, apesar de não tratar diretamente do

empreendedorismo social, apresenta certas características típicas do empreendedorismo

social, alguns termos, técnicas, princípios estratégias, mas que, na essência, não estão

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direcionando sua análise, produção e enunciado diretamente ao empreendedorismo social.

Esta diferenciação pode ser percebida a partir dos dados já apresentados sobre os

conceitos e principais características na visão internacional. Não que estejamos nos

balizando como uma camisa de força e fazendo um simples enquadramento, como ser ou

não enquadra-se, ao contrário, o que estamos verificando é que existem diferenças quanto

à compreensão sobre empreendedorismo social, o que leva a múltiplas interpretações, e o

que estamos procurando fazer é dar uma melhor visibilidade a estas diferenças que

encontramos ao analisarmos a produção sobre o assunto aqui no Brasil. Como passamos a

melhor detalhar a seguir, apresentando as características das organizações que apresentam

direta e indiretamente as questões relacionadas ao empreendedorismo social no Brasil.

8.4.2 Grau de disseminação indireta

As organizações nesta categoria são CEATS, FENEAD, FUNDAÇÃO BB, CETS

E A SOCIALTEC.

CEATS - Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro

Setor – DA FEA/USP de São Paulo.

O CEATS, curiosamente, tem em sua origem uma centralidade na questão da

gestão do Terceiro Setor e nitidamente uma aproximação maior com a questão da

responsabilidade social empresarial, tanto que vem promovendo cursos, workshops e

publicações com esta temática, bem como, pesquisas de peso, tanto no nível nacional e

internacional (Cf. www.ceats.org.br).

Mais recentemente, final de 2002, lançou um MBA com o título: Gestão e

Empreendedorismo Social, a partir deste momento nota-se no site uma mudança quanto à

própria nomenclatura da organização.

Pois em 12/03/2002 era CEATS – Centro de Estudos em Administração do

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Terceiro Setor; em 02/09/2003 CEATS – Centro de Empreendedorismo Social e

Administração em Terceiro Setor, tendo como, objetivo “realizar estudos, pesquisas,

programas de ensino, de consultoria e de capacitação, voltados para o empreendedorismo

e gestão social”.

Nota-se que, originalmente, em sua fundação em 1998, o foco era a administração

do Terceiro Setor, e em meados de 2000 intensificam-se os estudos sobre filantropia

empresarial e mais recentemente sobre responsabilidade social e cidadania corporativa e,

atualmente, pela gestão social e o empreendedorismo social. Ao colocarmos o CEATS

como forma indireta, é exatamente em decorrência desta constatação mais recente, pois,

ao analisarmos a produção, conteúdo dos cursos, necessariamente não foca o

empreendedorismo social, de modo direto, mas indiretamente, pois está correlacionando

às ações sociais de empresas e do empreendedorismo social, bem como a necessidade de

profissionalização da administração das organizações do Terceiro Setor, tendo o perfil

empreendedor como fator de inovação para o campo social, utilizando assim

formas/ferramentas de mercado para solução de problemas sociais.

O que se percebe é que, de um momento para outro, principalmente a partir de

2002, o CEATS percebe que há uma demanda crescente para o conceito e prática do

empreendedorismo social, que é mais amplo do que responsabilidade social empresarial e

cidadania corporativa e do que a administração do Terceiro Setor. Mas em momento

algum deixa isto claro.

O que fica nítido é que o foco está centrado em duas vertentes: responsabilidade

social empresarial e cidadania corporativa e administração de organizações do Terceiro

Setor; não há, portanto, pelo que pudemos ter acesso, um foco em ações de

empreendedorismo social, no tocante à inovação, duplicação e apoio a empreendimentos

sociais. Mas nota-se que surgem alguns tópicos relacionados ao empreendedorismo

social, como por exemplo: auto-sustentabilidade, gestão social empreendedora,

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planejamento estratégico.

Desta forma, a questão da disseminação do empreendedorismo é indireta, pois não

trata dele especificadamente, mas lida com alguns elementos constitutivos do conceito e

da prática do empreendedorismo social.

FENEAD - Federação Nacional dos Estudantes De Administração

Uma organização estudantil, que reúne mais de 330.000 estudantes no Brasil,

fundada em 1995, tem organizado várias atividades de apoio à formação do estudante de

administração, tanto empresarial como pública. Chama a atenção em sua missão:

“despertar no estudante de administração seu papel de agente de mudanças sociais,

econômicas e políticas, proporcionado seu crescimento pessoal e profissional, através da

busca da qualidade de ensino e formação, da integração entre os estudantes e da

representatividade imparcial.” Tem como visão para o ano de 2004: “sermos a maior

promotora estudantil de desenvolvimento social, realizando e atuando como parceira em

projetos, idéias e sonhos do estudante de administração, despertando seu potencial

empreendedor. Nossas ações servirão de modelo ao movimento estudantil, resgatando sua

credibilidade.”

Para consecução destes objetivos, conta com várias atividades, entre elas

chamamos a atenção o Prêmio FENEAD, que vem sendo realizado desde 1996, “I

Concurso Nacional de Projetos Sociais para Estudantes de Administração”, e os três

melhores projetos receberam cerca de R$ 20 mil cada para sua implementação. É

decorrente deste projeto que acreditamos que a FENEAD dissemina de forma indireta,

pois, ao mesmo tempo que apresenta várias características típicas do empreendedorismo

social, como exemplo: os projetos têm que apresentar uma inovação social, devem ser de

fácil aplicação e mesmo em outras regiões, deve ser auto-sustentável.

No entanto, como CEATS, não apresenta uma referência direta ao

empreendedorismo social, mesmo tendo mais que o primeiro uma relação explícita

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quanto ao desenvolvimento de uma cultura empreendedora social na formação dos futuros

administradores que é um dos cursos que mais têm investido neste campo, e cresce o

interesse da área de administração.

Prova disso, que junto ao movimento de empresas juniores, a FGV, além da FGV

Júnior, uma das pioneiras nesta modalidade no Brasil, há pouco tempo (2002), foi criada a

FGV Pública Jr., voltada para o Terceiro Setor, e com perspectivas de empreendedorismo

social.

Mas, apesar de uma exposição maior, não encontramos uma definição explícita

quanto a focar o termo e as práticas do empreendedorismo social.

FBB - Fundação Banco do Brasil

A FBB tem como objetivo principal “disseminar experiências e conhecimentos

geradores de transformação social positiva. Atuar como articuladora de tecnologias

sociais capazes de resolver questões nas áreas de educação, saúde, assistência social,

ciência, tecnologia, cultura e assistência a comunidades urbano-rurais.” Estas diretrizes

são recentes. A fundação foi criada em 1985, com a finalidade voltada para “o

desenvolvimento social do país.”

Ao longo deste tempo, sofreu alterações necessárias para acompanhar às

necessidades e demandas da conjuntura nacional. Em 2001, foi marcada por uma

profunda mudança, na qual a centralidade de seu papel é de “articuladora para soluções

sociais” e, para materializar esta perspectiva, lançou o Prêmio Fundação Banco do Brasil

de Tecnologias Sociais”, com o objetivo de mobilizar “ONGs, universidades, governos

estaduais, prefeituras, fundações e institutos de todo o país, o que possibilitou criar um

cadastro de soluções inovadoras para problemas sociais em áreas diversificadas...”

constituindo, assim, um Banco de Tecnologias Sociais.

Por tecnologias sociais, a FBB entende como sendo

uma solução que pode ser aplicada em diferentes populações que se apresentem

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com os mesmos problemas, tais como analfabetismo ou mortalidade infantil.Não têm prazo de validade e proporcionam transformações sociais efetivas nascomunidades onde são aplicadas. (MARCONDES, 2001)

Um lema e slogan publicitário chama mais a atenção e reforça a nossa tese,

“tecnologia social é uma solução simples que começa agindo em uma comunidade, vai se

estendendo e muda tudo.” Tem como símbolo a borboleta, de maneira a representar o

sentido de espalhar, compartilhar e de semear novas idéias e ações,

ao espalhar o pólen, uma borboleta cria condições para a reprodução de flores efrutos. O processo transformador da Fundação Banco do Brasil não é diferente.A partir das soluções disseminadas pelo Banco de Tecnologias Sociais, nasceuma nova realidade para muitos. Esse é um ciclo de esperança e detransformação. (Folheto Publicitário Fundação Banco do Brasil, acesso emjulho/2003).

Desta forma, e até mais que os outros exemplos, a FBB apresenta, através do

Prêmio Tecnologia Social, outros programas e projetos, uma relação indireta com o

conceito e prática do empreendedorismo social, visto que um fator preponderante é o

estimulo à inovação e à duplicação desta inovação, com vista ações de impacto social

relevantes.

No entanto, não apresenta, de forma focada e explícita, a adoção do conceito e

prática de um empreendedorismo social. Apresenta sim um conceito básico e chave de

sua ação que é o de tecnologia social. Este está próximo ao de empreendedorismo social,

mas tem diferenças significativas.

CETS – Centro de Estudos do Terceiro Setor da FGV

O CETS foi fundado em 1994, pertence à área de fomentação de iniciativas

voltadas para o Terceiro Setor, tidas como pioneiras no Brasil. Segundo o principal

coordenador do CETS, o Professor Merege,

constitui-se em uma iniciativa pioneira no país nas áreas de ensino, pesquisa,treinamento e assessoria a organizações do Terceiro Setor, servindo inclusivede modelo para outras organizações de ensino superior. (Cf.www.fgvsp.br/institucional/pesquisas/terceiro.htm)

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Esse aoutro atua em três grandes áreas:

Ensino: promove cursos, seminários, programas de graduação e pós-graduação.

Inclusive foi um dos primeiros cursos voltados para formação de gestores sociais para a

gestão de organizações do Terceiro Setor.

Pesquisa: disponibilização de dados recentemente mapa e um grande cadastro

geral de organizações sociais do Terceiro Setor no Brasil.

Consultoria: desenvolvendo projetos, assessoria e consultoria para organizações

sociais, elaboração de projetos sociais e articulação entre governo, setor privado e o

Terceiro Setor.

Treinamento: programa de treinamento para gestores do terceiros setor, realização

de palestras, seminários, workshops.

Sua relação indireta com o empreendedorismo social está mais próxima em

decorrência da capacitação e profissionalização do trabalho dos gestores das organizações

do Terceiro Setor, mas não apresenta, mesmo em sua produção de artigos e pesquisas,

menção direta ao empreendedorismo social. Desde 2002, tem disponibilizado via internet,

uma revista eletrônica chamada de Integração (Cf. www.fgv.br).

Assemelha-se ao caso do CEATS da USP, diferenciando-se no tocante a não

manifestar uma relação mais próxima com o empreendedorismo social, e nem uma

conotação mais acentuada com a responsabilidade social empresarial, mas com ênfase nas

organizações do Terceiro Setor e a gestão governamental, ou administração pública.

SOCIALTEC.

Socialtec é um fórum [...], utiliza-se da internet como veículo para divulgação de

conceitos e experiências sobre as tecnologias sociais desenvolvidas nessa área por

diversas instituições governamentais, empresariais e da sociedade civil. É também um

mecanismo de distribuição de informações e de encontro que permite aos empreendedores

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sociais obter idéias e informações específicas, eletronicamente.”

Como uma ONG, mantida por uma empresa de consultoria, a Johnsnow e a

Fundação Promundo (Cf. www.socialtec.org.br), e como podemos verificar no enunciado

de sua própria definição: aponta para uma perspectiva de compartilhamento de

informação e conhecimento, com vistas ao empreendimento social.

A sua proposta, apresenta vários valores, conceitos e idéias do empreendedorismo

social, no entanto, como os demais, não trabalha o conceito e nem se apresenta como

fundante de sua atividade, além do enunciado já explicitado.

A base de sua produção está voltada para o marketing social, que é entendido

como

a gestão do processo de inovações sociais a partir da adoção decomportamentos, atitudes, práticas individuais e coletivas, orientadas porpreceitos éticos. Estes são fundamentados nos direitos humanos e na equidadesocial [...] uso sistemático de princípios e técnicas orientadas para promoveraceitação de uma causa ou idéia. Tem como objetivo principal transformar amaneira por um determinado público-adotante perceber uma questão epromover mudanças comportamentais visando melhorar à qualidade de vida deum segmento populacional. (www.socialtec.org.br )

Essa empresa trabalha com conceitos de mercado, voltados para finalidades

sociais, avaliação de impacto social, planejamento estratégico e investimento social.

Desta forma, apresenta elementos peculiares do empreendedorismo social, tais

como: inovação, compartilhamento de informação e conhecimento, uso de ferramentas

empresarias voltados para o campo social, sendo sua base focada no marketing social.

Mas também não trata do conceito e nem apresenta um formatação específica de

empreendedorismo social, enunciado em sua auto-definição; portanto tem uma relação

indireta com empreendedorismo social no Brasil.

8.4.3 Grau de disseminação direta e indireta

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ENE – Escola de Novos Empreendedores - UFSC

É um órgão ligado ao curso de engenharia da produção da Universidade Federal

de Santa Catarina (UFSC), fundado em 1992, tem como principal objetivo

promover e estimular a capacitação de empreendedores, fomentar a criação deempreendimentos e desenvolver a mentalidade empreendedora através dedisseminação do pensamento empreendedor, treinamento do empreendedor,criação de empreendimentos, promoção de pesquisa relacionadas aempreendimentos e empreendedores. (Cf. www.ene.ufsc.br)

Ao longo das várias consultas que realizamos, não encontramos muito do

empreendedorismo social junto a outras universidades, e sim sobre empreendedorismo

empresarial. No caso do ENE da UFSC, foi onde, no Brasil, que mais encontramos

exemplos de produção sobre o tema. Inclusive a UFSC tinha uma linha de pesquisa no

nível de mestrado na engenharia de produção referente ao empreendedorismo social, mas,

ao que parece, o programa vem sofrendo algumas alterações desde 2001 foram até aqui

defendidas duas dissertações de mestrado sobre o tema.

As duas dissertações foram orientadas pelo Professor Dr. Gauthier e têm em si

uma certa complementação, pois a primeira, intitulada “Elaboração de Projetos sociais:

uma aplicação”125, apresenta uma série de conceitos comparativos entre a perspectiva de

gestão empreendedora e a clássica e vários conceitos relacionados ao empreendedorismo

social. Destes estaremos detalhando. Cabe ressaltar que, neste trabalho, a autora apresenta

uma sistematização do conceito de elaboração de projetos aplicados para a gestão de

organizações sociais. A formatação é de um plano de negócios, mas não é utilizado este

termo. Além da revisão bibliográfica e a adoção de um modelo, a autora faz um

experimento e narra em seu trabalho o desenvolvimento desta aplicação.

Nota-se que, no item avaliação, a autora não dá nenhum aprofundamento, o que é

proposital, pois a segunda dissertação é exatamente aprofundada neste aspecto.

125 VIEIRA, Renata de Martins Faria. Elaboração de projetos sociais: uma aplicação Santa Catarina:

UFSC, 2001 (Dissertação de Mestrado).

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Com o título de “Critérios de avaliação para projetos empreendedores sociais”126,

o autor praticamente repete as mesmas fontes bibliográficas e tópicos em relação ao

empreendedorismo social, diferenciado-se no tocante à questão da avaliação que é mais

aprofundado.

Outra fonte é o ENEMPRE - Encontro Nacional de Empreendedorismo,

organizada pelo ENE e outros parceiros, que vem apresentado vários artigos, que surgem

a partir de sua segunda edição em 2000. Nos anos anteriores, cresceu o número de

trabalhos focando o tema empreendedorismo social. A seguir, apresentamos, em linhas

gerais, cada qual em sua ordem de publicação nos anais do ENEMPRE.

2º ENEMPRE, realizado em 2000

Só apresenta um trabalho, o de Vieira e Gaithier127, em certa medida, a primeira

parte do que seria em 2001 a dissertação de mestrado de Vieira. No texto, são

apresentados os principais conceitos de empreendedorismo de forma geral e

empreendedorismo social de forma específica. Utiliza textos de Dees (2002) e da

Fundação Kellog, da Fundação Robert Enterpreise e da Ashoka. No final, apresenta

alguns exemplos de aplicação e desenvolvimento do empreendedorismo social, bem como

um anexo com várias traduções de termos sobre o tema.

3º ENEMPRE, realizado em 2001

São apresentados três trabalhos relacionados ao empreendedorismo social. O

primeiro, é de três autores, Macedo, Vieira, e Gauthier128, e enfocam o crescimento das

organizações sociais do Terceiro Setor com ênfase da sua relação com as empresas e os

conceitos de responsabilidade social empresarial,balanço social, marketing social e

contabilidade social. Elementos que configuram como um estudo comparativo entre

126 AGOSTIN, João Paulo. Critérios de avaliação para projetos empreenderes sociais. Santa Catarina:

UFSC, 2001 (Dissertação de Mestrado).127 VIEIRA, Renata de Martins Faria; GAUTHIER, Fernando Alvaro Ostuni. Introdução ao

empreendedorismo social. Anais do 2º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2000.

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empresas privadas e organizações sociais, ou seja, com fins lucrativos e sem fins

lucrativos. No tocante ao empreendedorismo social, as fontes praticamente são as

mesmas: Fundação Kellog, The National Center for Social Entrepreneurs.

O terceiro artigo deste ano é de Franco e Pereira129, ambos abordam o surgimento

e o fortalecimento do Terceiro Setor, que, em relação ao primeiro, Governo e o segundo

empresas, vem crescendo e demonstrando importante papel no desenvolvimento do país.

Enfatizam a participação das empresas e o desenvolvimento do conceito de

responsabilidade social empresarial e apresentam alguns conceitos sobre

empreendedorismo social e algumas características. Colocam primeiramente a origem do

empreendedorismo a partir da noção do empreendedorismo clássico empresarial. E, em

seguida, é apresentada a definição de Dees e Boschee e Drucker e a importância do

gerenciamento social, a partir da proposta de Melo e Fróes. Como se pode ver, não se

alteram muito as fontes dos demais artigos.

O terceiro artigo deste ano é de Vieira e Gauthier130que já foi apresentado no ano

anterior mas, desta vez, já como parte conclusiva da dissertação de mestrado, não altera

em grande parte os dados, fontes e princípios já apresentados.

4º ENEMPRE, outubro de 2002

No ano de 2002, foi realizado o 4º ENEMPRE, que apresentou uma configuração

diferenciada dos demais, foram simultaneamente realizados outros três eventos: II

EMPRETUR – Encontro Empreendendo no Turismo, I CBE – Congresso Brasileiro de

Empreendedorismo e o I FNES – Fórum Nacional de Empreendedorismo Social.

Este último destaca a importância que, a partir deste ano, foi dado ao tema, bem

como o estímulo à quantidade de trabalhos apresentados. Tivemos a oportunidade de

128 MACEDO, Marcelo, VIEIRA, Renata de M. F.; GAUTHIER, Fernando Álvaro Ostuni. Organizações

empreendedoras sem fins lucrativos. Anais do 3º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2001.129 FRANCO, Juliana; PERERIA, Marcelo Farid. A importância do empreendedorismo social no

desenvolvimento de projetos sociais . Anais do 3º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2001.

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apresentar um trabalho e debater sobre este tema131. Sobre a produção, mais a frente

estaremos dando uma maior atenção e aprofundamento. Destaca-se que, dos 80 trabalhos

inscritos, 9 eram do campo social e 4 diretamente relacionados ao empreendedorismo

social. Esses serão relacionados na seqüência.

O primeiro artigo é de nossa própria autoria. Ele, em grande medida, sintetiza o

que aqui já estamos apresentando, mas com ênfase no aspecto político do trato com a

pobreza e o devido tratamento de projetos que sejam geradores de emancipação social.

Colocamos que o empreendedorismo social apresentava certos limites no tocante à

dimensão da qualidade política e que, para sua superação, seria necessário uma nova

perspectiva à qual denominamos de Empreendedorismo Social Solidário. Este mescla,

com equilíbrio, as dimensões da qualidade política e da qualidade formal; esta última,

muito bem elaborada pelo empreendedorismo social como está sendo desenvolvido e

proposto, em específico pela Ashoka do Brasil nossa fonte mais próxima na ocasião.

Segundo artigo de David e Gauthier132, que, a partir da apresentação do conceito

de intra-empreendedorismo utilizado e ampliado em organizações empresariais,

demonstra, a partir da experiência de funcionários do CEFET-PR, que é possível e existe

esta modalidade também para o campo do empreendedorismo social, ou seja, o intra-

empreendedorismo social, que se caracterizou, na experiência relatada, na auto-

organização de funcionários que tomaram a iniciativa de realizar ações de cunho social,

mesmo não tendo o respaldo da direção da organização, mas que posteriormente, após os

impactos das primeiras ações, recebeu apoio e institucionalização do programa. Isso

demonstra outra dimensão da ação possível do empreendedorismo social. As fontes são as

mesmas quanto aos conceitos de empreendedorismo social.

130 VIERIA, Renata de M. F.; GAUTHIER, Fernando Álvaro Ostuni. Elaboração de projetos sociais. Anais

do 3º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2001.131 OLIVEIRA, Edson Marques. Empreendedorismo social solidário: qualidade formal e política no

combate à nova pobreza globalizada. Anais do 4º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2002.

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O terceiro artigo, do Professor Emanual Leite133, apresentou o caso do modelo de

incubadora social jovem do Instituto da Academia de Desenvolvimento Social de Recife,

que estaremos apresentando em maiores detalhes.

O quarto artigo, de Franco e Pereira134, trata de estratégias adotadas por

organizações sociais da cidade de Maringá-PR, e a aplicação de princípios estratégicos do

empreendedorismo social. Verificamos que, apesar dos objetivos, o trabalho apresenta

mais uma análise em como as organizações têm feito e quais as suas principais

dificuldades neste campo. Esse trabalho apresentou alguns tópicos, sem maiores

aprofundamentos, de ferramentas empresariais, que podem ser utilizadas para esta

finalidade, entre elas o marketing social.

Em suma, estes foram os trabalhos a que tivemos acesso. É este ponto que

caracteriza o ENE e a UFSC como uma organização que nutre diretamente o conceito de

empreendedorismo social no Brasil, principalmente por proporcionar um espaço de

âmbito nacional como é o caso do ENEMPRE, em geral, e agora do FNES, em específico,

da UFSC de abrir uma linha de pesquisa no mestrado e no doutorado, neste campo. Fatos

estes inéditos no Brasil, pelo menos no que pudemos pesquisar. Mas é também indireto,

pois seu foco maior é o empreendedorismo de forma genérica e ampla. Considera o

empreendedorismo social como sendo uma das espécies de empreendedorismo e a UFSC

sendo o do campo da educação de forma mais ampla e não de formação específica do

empreendedorismo social.

8.4.4 Grau de disseminação direta

132 DAVID, Denise E. Hey; GAUTHIER, Fernando A.O. Intra-empreendedorismo social ações no CEFET-

PR. Anais do 4º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2002.133 LEITE, Emanual. Incubadora Social: a mão visível do fenômeno do empreendedorismo criando

riquezas. Anais do 4º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2002.134 FRANCO, PERERIA, Op. Cit., 2003.

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Na seqüência, apresentamos o caso das organizações que, tem disseminado a

noção e prática do empreendedorismo social no Brasil de forma mais direta e específica, a

Academia Social e Ashoka.

É importante ressaltar que diferentemente das demais organizações, a

apresentação destas duas será mais aprofundada, dada a relevância do material coletado e

das constatações realizadas ao longo da investigação. Mais especificada ainda será a

segunda, a Ashoka, devido a sua centralidade e a possibilidade que nos deu de

aprofundar, a percepção de alguns de seus empreendedores além de realizar um estudo de

caso de uma organização que vem implantando os princípios do empreendedorismo social

e é fruto das ações da Ashoka aqui no Brasil.

8.5 O caso do Instituto Academia de Desenvolvimento Social

8.5.1 História

A Academia, como é mais conhecida, constitui-se numa organização da sociedade

civil, sem fins lucrativos, criada em 1999, com sede em Recife – Pernambuco. Tem como

principal missão: “canalizar etiquetações humanas para gerar mudanças sociais”. A idéia

inicialmente veio de jovens recém-formados em administração: Rui Mesquita e Romel

Pinheiro, canalizaram suas forças e talentos no tocante à gestão, voltadas para o campo do

Terceiro Setor.

É definida sua estratégia de ação em três grandes áreas:

• Área de informação: com o núcleo de informação e comunicação

• Área de formação: com o núcleo de Gestão social

• Área de intervenção: com o núcleo de assessoria

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Para a primeira área, têm sido intensificadas, através da home page da Academia,

informações, orientações e conhecimento voltados para a gestão social das organizações

do Terceiro Setor. Destaca um projeto de disseminação de informação e comunicação, o

Clipping Terceiro Setor que, a partir de 2001, contaria com mais de 3.000 assinantes. São

partes de informações de vários jornais, ONGs, informativos sobre temas relacionados ao

Terceiro Setor e, principalmente, sobre as ações de inovação e intervenção social,

incluindo assim o empreendedorismo social. Estes clippings serão trabalhados no decorrer

deste trabalho.

Ainda quanto à primeira área, outra ação interessante é o Ponto de Encontro,

caracterizado como um evento sistematizado, para reunir os cidadãos do Recife para

debater sobre as questões pertinentes ao aprofundamento de temas como: o que é

Terceiro Setor, voluntariado, papel do governo, fórum social mundial, entre outros.

A segunda área é composta da oferta de cursos de extensão em gestão social,

através do núcleo de gestão, entre eles destacam-se: elaboração de projetos sociais

orientados por objetivos (método ZOPP), marketing social para organizações sem fins

lucrativos, comunicação estratégica para o Terceiro Setor, legislação para o Terceiro

Setor, repensando a organização do Terceiro Setor e estratégias de captação de recursos

internacionais.

A terceira área, a de intervenção, está em andamento a partir do Projeto

Incubadora Social de Ação Jovem. Trata-se de um projeto em que jovens de 18-28 anos

têm como principal ponto metodológico, oferecer estrutura física, capacitação, formação

de rede, apadrinhamento e bolsa-auxílio para ajuda de custos. Isso para que os jovens

possam implementar idéias inovadoras no campo social, seja na cultura, na educação, na

assistência social.

O tripé da ação desta organização é informação, formação e ação, apresenta com

relevância os conceitos e práticas ao empreendedorismo social e, principalmente, com o

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projeto da Incubadora Social estão

avançando mais um degrau para o alcance dos [...] objetivos sociais, não maisapenas informando e formando, agora também apoiando e orientandodiretamente jovens e profissionais do Terceiro Setor para transformar e formar.Queremos também incubar aqueles que realmente tenham o espíritoempreendedor social , que possam gerar novas tecnologias sociais, mudando arealidade dos problemas sociais e comunitários que enfrentam no seu contextosocial. (www.academiasocial.org.br )

No IV ENEMPRE e I FNESS, tivemos a oportunidade de assistir à apresentação

deste projeto. Ele foi apresentado pelo Prof. Dr. Emanuel Leite, um dos idealizadores e

apoiadores deste projeto, e um especialista no campo do Empreendedorismo 135. Na

ocasião, foi possível constatar os principais conceitos sobre empreendedorismo social. A

seguir, apresentamos uma síntese deste evento, que foi realizado em outubro de 2002 em

Florianópolis-SC.

Segundo o autor, o empreendedorismo social é derivado do empreendedorismo. Já

o empreendedorismo é uma palavra de origem francesa que surgiu na economia francesa

do século XVII e XVIII, e significa “aquele que se compromete com um trabalho ou uma

atividade específica e significativa”.

Têm-se como principais fundamentos as idéias dos economistas Jean Baptiste Say,

no século XIX, com ênfase na geração de valor e Joseph Schumpeter no século XX,

entendendo o empreendedor como um agente de inovação e de mudança. Na atualidade,

destaca-se Peter Drucker, que defende a idéia do empreendedor como sendo um indivíduo

que sabe detectar as “oportunidades que as mudanças criam...”.

Assim, o empreendedor social é considerado como um empreendedor, mas com

características especificas. O autor, a partir de uma planilha, apresenta a diferença entre

os empreendedores, destacando as seguintes diferenças:

q o empreendedor social é uma das espécies do gênero dos empreendedores;

q são empreendedores com uma missão social, que é sempre central e explicita;

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q isso afeta a maneira como os empreendedores sociais percebem e avaliam as

oportunidades;

q a criação central torna-se o impacto relativo à missão e não geração de riqueza

econômica;

q para os empreendedores de negócio, a geração de riquezas é uma maneira de

mensurar a geração de valor;

q os empreendedores de negócio estão sujeitos à disciplina do mercado;

q as leis de mercado não fazem um bom trabalho na valorização de melhorias

sociais, bens públicos, prejuízos e benefícios para pessoas que não podem

pagar – elementos essenciais na sociedade civil.

Cabe, nesse ponto, uma observação. Esta descrição, apesar de o autor não citar, é

muito semelhante às colocações do professor Dees, no artigo já citado “O significado do

empreendedorismo social”.

Desta forma, o autor reforça o papel do empreendedor social, destacando os

seguintes pontos de maior importância:

q adotar uma missão de gerar e manter valor social;

q reconhecer e buscar implacavelmente novas oportunidades para servir a tal

missão;

q engajar-se em um processo de inovação, adaptação e aprendizado contínuo;

q agir arrojadamente sem se limitar pelos recursos disponíveis;

q transparência com os parceiros, o público e os resultados.

Percebe-se que o enfoque é na potencialização do talento humano e na capacidade

de gestão organizacional com vistas a uma ação social de impacto. Parte de uma

incomodação ou inquietação de um jovem para com sua realidade e passa-se para o apoio

e preparo deste jovem para uma ação eficiente e eficaz, no campo social. Como afirmam

135 LEITE, Emanual. O fenômeno do empreendedorismo: criando riquezas. 3. ed. Recife: Bagaça, 2002.

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os dirigentes da Academia,

esse projeto (Incubadora Social Jovem) visa,, em linhas gerais, apoiar jovenscom perfil de empreendedor social, ou seja, jovens que, inquietos comproblemas sociais, propõem soluções aplicáveis a alguns deles. É um projetopioneiro no Brasil que une os conceitos ‘incubação’, ‘empreendedorismo’ e osaplica à área social. (Cf. Clipping Terceiro Setor nº 696 de 01/10/2002, item 1)

Apresenta uma lógica interessante, principalmente quando se trata de um público

jovem, que hoje tem sido prioridade em programas e campanhas sociais de caráter

internacional, como é o caso da ONU, ao destacar que a população jovem mundial

cresceu de 1.026 milhões para 1.066 milhões nos últimos cinco anos (1995-2000), o que

“coincide” com o aumento da violência, da criminalidade, exclusão social, desemprego.

Isso leva a uma preocupação considerável com este fenômeno que é crescente em todo o

mundo, mas em específico para os países em desenvolvimento como o Brasil.

A participação do jovem e sua inclusão social é fator de desenvolvimento,

segundo análise e proposta da ONU,

considerar o jovem como co-responsável pelo desenvolvimento social, significasubstituir a palavra ‘futuro’ por ‘presente’ como tempo de ação [...]participação juvenil tem ligação direta com capacitação. Ninguém é capaz depromover mudanças sem ser capaz de identificar o que precisa ser mudado ecomo isso pode ocorrer. (Cf. www.obj.org.br, acesso em 01/08/2002)

Isto mostra que este projeto está em sintonia com uma demanda cada vez mais

crescente, a da inclusão de jovens, e principalmente de jovens excluídos e marginalizados

a quem, além de não terem acesso aos bens e serviços mínimos para o seu

desenvolvimento, é vedada a capacidade de sonhar e projetar um futuro.

Fato que, a partir do trabalho e perspectiva do empreendedorismo social, é

intensificado, pois a proposta é trabalhar a partir de suas inquietações, que não devem ser

poucas.

Além desta formatação de atuação, a Academia Social contribui com a

disseminação de conceitos sobre empreendedorismo social, através do Clipping do

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Terceiro Setor, que já foi mencionado, em específico, no ano de 2002, e concentra as

informações mais focadas sobre o empreendedorismo social.

Até o momento em que estávamos levantando dados para nossa pesquisa e

monitorando este documento (setembro/2003), já haviam sido publicados 923 Clippings,

destes, 173 são relacionados ao empreendedorismo social, e outros nove apresentavam

registro direto sobre o empreendedorismo social. A seguir, mais detalhadamente, cada um

destes documentos e seu conteúdo sobre o nosso objeto de estudo, bem como o

referencial que a Academia Social tem por base para o desenvolvimento de suas

atividades neste campo.

Em 18/02/2002, no Clipping do Terceiro Setor (CTS), nº 540, surgiu o primeiro

registro falando sobre empreendedorismo social. A proposta foi apresentar uma série de

artigos, conforme o editorial,

a partir de hoje a Academia de Desenvolvimento Social vai lançarperiodicamente alguns textos sobre Empreendedorismo Social aqui no ClippingTerceiro Setor, como o intuito de difundi-lo entre aqueles que fazem o TerceiroSetor no Brasil.

Nota-se que se deixa claro o público alvo, gestores das organizações do Terceiro

Setor e a intenção maior: disseminar/difundir o conceito de empreendedorismo social no

Brasil.

A partir deste número, foram apresentados outros textos nos CTS nº 550, 555,

565, 560, 569, 690, 786 e 868, sendo que todos, com exceção dos dois últimos, foram

lançados no ano de 2002, demonstrando que o assunto só teve uma maior alavancagem a

deste período em diante.

O primeiro texto apresentando no CTS nº 540 foi o texto de J. Gregori Dees,

“Significado de empreendedorismo social” (DEES, 2002), que já foi apresentado na

primeira parte deste capítulo. O mesmo foi desmembrado em seis partes: 1) o significado

de empreendedorismo social; 2) as origens da palavra “empreendedor”; 3) teorias atuais

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de empreendedorismo; 4) diferença entre empreendedores sociais e de negócios; 5)

definindo empreendedorismo social; e 6) empreendedores sociais: uma rara espécie.

Isso não contempla o conteúdo do texto em sua íntegra, mas em partes. Como já

apresentamos detalhadamente o conteúdo do mesmo, não vamos aqui repeti-lo. Seguem

os demais textos.

No CTS nº 550, de 04/03/2002, é apresentada parte da dissertação de mestrado de

um aluno da pós-graduação do curso de engenharia de produção na Universidade Federal

de Santa Catarina136. A apresentação foi dividida em duas partes, a primeira “O

empreendedorismo” e a segunda: “O empreendedorismo social”.

(EMPREENDIMENTOS SOCIAIS SUSTENTÁVEIS: como elaborar planos de negócios

para organizações sociais. Ashoka - Empreendedores Sociais e Mckinse & Cpmany,

2001)

8.5.2 Primeiro texto: O que é empreendedorismo

“O empreendedor é um ser social, produto do meio que habita (época ou lugar). Se

uma pessoa vive em um ambiente em que ser empreendedor é visto com algo positivo,

então terá motivação para criar o seu próprio negócio.”

“O empreendedorismo é uma revolução silenciosa, que será para o século XXI

mais do que a revolução industrial foi para o século XX.” (DORNELAS, 2001, p. 37)

“O empreendedor é aquele que cria um equilíbrio, encontra uma posição clara e

positiva em um ambiente de caos e turbulência, ou seja, identifica oportunidades na

ordem presente.” (DORNELAS, 2001, p. 37).

O empreendedor é aquele que detecta uma oportunidade e cria um negócio paracapitalizar sobre ele, assumindo riscos calculados. Em qualquer definição deempreendedorismo encontra-se, pelo menos, os seguintes aspectos referentesaos empreendedores:

136 AGOSTINI, Op. Cit., 2001.

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1) iniciativa para criar um negócio e paixão pelo que faz;2) utiliza os recursos disponíveis de forma criativa transformando o ambientesocial e econômico onde vive;3) aceita assumir os riscos e a possibilidade de fracassar. (DORNELAS, 2003,p. 37).

8.5.3 O segundo texto: O empreendedorismo social

Os empreendedores sociais criam valores sociais através da inovação e daforça de recursos financeiros, independente da sua origem, sempre com opropósito do desenvolvimento social, econômico e comunitário. Sãoconduzidos por duas correntes, a primeira predomina o desejo social naturalque muda freqüentemente os benefícios desde sua inovação ou solução deprincípios da empresa, já na segunda há a predominância da sustentabilidadeda organização, com a criação do salário ganho ou sociedade com fimlucrativo.

“O centro do empreendedorismo social é uma boa administração.”

(BRICKERHOFF, 2000, p.11)

Segundo Brickerhoff, que considera estes profissionais “sempre dispostos a

agregar valores aos serviços existentes, bem como a servir aos seus colaboradores com

novas formas para isso”, e que apresentam as seguintes características:

1. sempre dispostos a correr riscos razoáveis em favor das pessoas as quais a

organização serve;

2. entendem a diferença entre necessitar e querer;

3. entendem que todos os recursos alocados são realmente investimentos

administrados;

4. mesuram o retorno social e financeiro de cada um dos investimentos;

5. sempre têm uma missão, mas sabem que sem dinheiro não há missão que se

conclua.

Evolução do empreendedorismo social,

o histórico do empreendedorismo social praticamente se confunde ao doempreendedorismo propriamente dito, porém pode-se diferenciá-lo mormentena origem da palavra ‘caridade’ de origem latina, caritas, significando amor aopróximo, beneficência e da palavra ‘filantropia’ de origem grega, significandoboa vontade para com as pessoas. (HUDSON, 1999, p. 1)

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Na Índia, o imperador budista Ashoka (próximo a 200 a.C), providenciouinstalações médicas, mandou cavar poços e plantou árvores para o deleite dopovo. Mas foram os profetas judeus os pioneiros a trabalharem pela justiçasocial, política e econômica e pressionarem os seus governos a mudarem aspolíticas administrativas. (HUDSON, 1999, p. 1)

Quanto ao seu perfil,

Os empreendedores sociais possuem características distintas dosempreendedores de negócios. Eles criam valores sociais através da inovação aforça de recursos financeiros em prol do desenvolvimento social, econômico ecomunitário. Alguns dos fundamentos básicos do empreendedorismo socialestão diretamente ligados ao empreendedor social, destaca-se a sinceridade,paixão pelo que faz, clareza, confiança pessoal, valores centralizados, boavontade de planejamento, sonhar e uma habilidade para o improviso.(Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios paraorganizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

Empreendedor social é a pessoa responsável pela mudança e inovação noTerceiro Setor, perseguindo de oportunidades para criar e sustentar o valorsocial. Aplica novas abordagens no seu trabalho e recursos, atua sobre essessem constrangimento, e ainda tendo uma elevada compreensão a quem eleserve (comunidade e financiadores). (Empreendimentos sociais sustentáveis:como elaborar planos de negócios para organizações sociais –Ashoka/Mckinsey, 2001)

Na seqüência, neste mesmo CTS, no item 3, é apresentada a idéia da Incubadora

Social Juvenil, como sendo modelo no Brasil, destacando que

antes de ser lançado oficialmente, este projeto acaba de ser classificado peloBanco Interamericano de Desenvolvimento – BID [...] como uma das quatromelhores práticas sobre o tema empreendedorismo juvenil executadas porjovens. (Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos denegócios para organizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

No CTS nº 555, de 11/03/2002, é apresentado outro texto “Empreendedorismo

social: uma experiência africana”, que é a tradução de um texto em Inglês escrito por

Kamau Mucoki, intitulado “Social entrepreneurism: market solutions to social problems”

(Cf. www.africawired.com/soclentr.hatm),ou seja, “Empreendedorismo social: soluções

de mercado para problemas sociais., Com este tema, o autor relata sua experiência, um

empreendedor social que, após ter feito um curso de pós-graduação, procura dar retorno a

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sua comunidade.

Esta vontade, segundo o autor, vem da seguinte constatação, “meus pensamentos

se concentram em como eu poderia combinar minha experiência empresarial com minha

profunda paixão em melhorar o bem estar dos menos favorecidos do meu país natal,

Quênia, e da África em geral.”

Ao longo do texto, o autor expressa a sua preocupação qual a relação paradoxal

entre riqueza e pobreza, e se existe uma “vocação” para aliar conhecimentos empresariais

com a paixão pelo social e a necessidade de se fazer algo contra a injustiça social, como

ele mesmo ressalta.

Entretanto, de forma introspectiva, há algo profundamente descontente sobre aidéia de vir a trabalhar pelo resto de minha vida em algum tipo de grandeempresa multinacional, acumulando riquezas e experiências enquanto criançasafricanas continuam morrendo todo dia de fome e de doenças conhecidas, asquais possuem fáceis e baratas curas. Minha pergunta é se há uma vocação quepermita alguém juntar esses dois institutos aparentemente opostos.(Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios paraorganizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

Segundo o próprio autor, existe, ele é o empreendedor social, ou seja, empresas e

organizações sociais resolveram juntar-se para fazer algo efetivo pelo social, existem

algumas razões para que isto ocorra:

uma é que as organizações que tipicamente têm liderado causas sociais estãoachando muito mais difícil de manter seus financiamentos, tendo muitas sidosolicitadas a ter melhores performances fiscais e sociais pelos seusfinanciadores. Como um resultado, elas têm tido que explorar meios de seremauto-sustentáveis e de mesclar habilidades profissionais individuais ehabilidades organizacionais do mundo dos negócios. (Empreendimentos sociaissustentáveis: como elaborar planos de negócios para organizações sociais –Ashoka/Mckinsey, 2001)

Em um outro aspecto, o surgimento de novas e baratas tecnologias estápermitindo às pessoas vejam velhos problemas sob uma diferente luz [...] Estácada vez mais difícil de se desfrutar da riqueza e da prosperidade e continuar sesentido como cidadão global responsável, quando ainda há pessoas que vivemem condição precária e de ignorância, sem nenhuma esperança por um futuromelhor. (Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos denegócios para organizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

“Este desconforto mobilizou a energia e a criatividade de pessoas de negócio e

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outros, que estão aplicando suas ferramentas e recursos para remediar esse desequilíbrio.”

(Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios para

organizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

A partir destas considerações, o autor apresenta uma série de definições sobre

empreendedorismo social e o papel do empreendedor social. Vejamos os principais

conceitos apresentados.

Empreendedores sociais são pessoas nas quais a criatividade e odirecionamento abrem a maioria das novas possibilidades em educação, saúde,meio-ambiente e outras áreas das necessidades humanas. Assim como osempreendedores de negócios lideram as inovações no comércio, osempreendedores sociais dirigem mudanças sociais. (Empreendimentos sociaissustentáveis: como elaborar planos de negócios para organizações sociais –Ashoka/Mckinsey, 2001)

Esta definição, apresentada pelo autor, é da Ashoka nos EUA, que ressalta outro

fator deste conceito a partir da rede de fellows da Ashoka: “permitem indivíduos a

encontrar e ajudar uns aos outros, através da troca de suas experiências profissionais e

suas metodologias.”

Cita também outra fonte, já arrolada atrás, que é o conceito e diferença entre

empreendedor social e de negócios elaborada por Jim Thalhuber, vice-presidente e chefe

de operações do Centro Nacional de Empreendedores sociais (National Center for social

Entrepreneurs, EUA), e que destaca as diferenças que o empreendedor social tem em

relação ao de negócios:

• focam na construção de capacidades de longo prazo para suaorganização, ao invés de focar ganhos de curto prazo;

• usam os lucros como um meio e não como fim;• direcionam os lucros para dentro da organização, para servir mais

pessoas de forma melhor, e nunca os distribui para ‘sócios’, parceiros einvestidores;

• habilitar a própria organização de estar encarregada de seu própriodestino, e não seus doadores. (Empreendimentos sociais sustentáveis:como elaborar planos de negócios para organizações sociais –Ashoka/Mckinsey, 2001)

Finalizando, o autor explicita que

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os empreendedores sociais parecem combinar o melhor dos dois mundos. Elessintetizam o foco, com a orientação necessária nos resultados para ter sucessono mundo dos negócios, com a abnegação, a paixão e a humanidade quedirigem os ativistas sociais. (Empreendimentos sociais sustentáveis: comoelaborar planos de negócios para organizações sociais – Ashoka/Mckinsey,2001)

Como exemplo de um tipo de empreendedor social, cita o caso de Mohammed

Yunus, criador de um dos mais conhecidos projetos de empreendedorismo social do

mundo, o Banco Grameem, ou “Banco dos pobres”, que disseminou a idéia do micro-

crédito.

O caso de Yunus está disponível em outro artigo, que seria uma segunda parte do

presente texto. (Cf. www.africawied.com/socletr2.htm )

Como se pode notar, as fontes se repetem, os conceitos também, com exceção de

um ponto ou outro, a conotação é a mesma, o que fica claro a partir deste artigo, que faz

uma relação entre o uso de “soluções de mercado”, aplicados para resolver problemas

sociais, e, como exemplo, a Ashoka, que investe capital de risco para o desenvolvimento

de empreendimentos sociais sustentáveis, o que será mais à frente visto em detalhes.

Esta constatação poderá ficar mais clara ainda, se observarmos o conteúdo dos

demais textos do CTS, como se segue.

No CTS nº 565 de 25/032002, são apresentado dois textos, um, no item 1; e, outro,

no item 7. O primeiro, Empreendedorismo social apresenta parte da dissertação de

mestrado da UFSC137, da professora Renata, sobre Projetos Sociais: uma aplicação que,

em síntese, seria a apresentação da elaboração de um plano de negócios para o Terceiro

Setor, a qual já fizemos menção. O segundo é uma entrevista da Fundação Banco do

Brasil, com Anamaria Schindler, da Ashoka.

Vejamos, a seguir, os principais pontos do primeiro texto.

Empreendedores sociais são aqueles que criam valores sociais por meio da

137 VIEIRA, Renata de Martins Faria; GAUTHIER, Fernando Alvaro Ostuni. Introdução ao

empreendedorismo social. In: Anais do 2º ENEMPRE. Santa Catarina: UFSC/ENE, 2000.

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inovação e da força de recursos financeiros, independentes de sua origem,visando ao desenvolvimento social, econômico e comunitário. Assim oempreendedorismo social é conduzido por duas fortes correntes:primeiramente, o desejo social natural muda freqüentemente os benefícios deuma inovação,de uma organização empreendedora e de uma organizaçãobaseada na solução. Em segundo lugar, a sustentabilidade da organização e adiversificação dos seus serviços requerem capital, freqüentemente incluindo acriação de lucro ou uma sociedade com organizações lucrativas.(SCHINDLER, 2002)

Estas mudanças são ilustradas por Roberts Entrepreise Development Fund e

Staford Business School, e do professor J. Gregory Dees.

“Nós não podemos escapar do fato que você não faz serviço para pessoas que

estejam fora do estado de pobreza. A habilidade para sair da pobreza é uma questão de

trabalho, bens acumulados e investimento na riqueza.” (DEES, 2002, p. 3)

Face o aumento do preço, maior competição por menores doações econcessões, e ampliada à concorrência de organizações lucrativas passando porsetor social, setores que não visam ao lucro estão em torno da alavanca domundo lucrativo ou substitui sua origem tradicional de capital. No aumento,líderes sociais olham para os recursos comerciais na convicção de que a base domercado pode ter rendimentos públicos fáceis para crescimento e maiorrecuperação que recursos filantrópicos. (DESS, 2002, p. 55-56)

“O centro do empreendedorismo social é uma boa administração”

(BRINCKERHOFF, 2000, p. 1).

Ainda, segundo este autor,

os empreendedores sociais são pessoas que estão constantemente procurandonovas maneiras de servir seus colaboradores e adicionam valor aos serviçosexistentes, além disso devem estar dispostos a:a) correr riscos razoáveis em favor das pessoas às quais a organização serve;b) entender a diferença entre precisar e querer;c) entender que todos os recursos alocados são realmente investimentosadministrados;d) pensar o retorno social e financeiro de cada um dos investimentos;e) sempre possuir uma missão, mas saber que, sem dinheiro, não há missão quese conclua. (BRINCKERHOFF, 2000, p. 1)

Segundo Dees (1998),

o empreendedor social disputa a posição de agente no setor social pelaadaptação de uma missão para criar e sustentar o valor social e não apenas oprivado. O autor afirma que o empreendedor social deve buscar: a)reconhecimento e perseguição incansáveis de novas oportunidades para seguiraquela missão; b) engajamento em um processo de inovação, adaptação eaprendizagem contínuas; c) exibição de um senso elevado de responsabilidade

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para serviços constitucionais e criação de resultados. (DEES, 2002, p.)

Jim Thalhuber (1999) diz que “os empreendedores de organizações sociais devem

gradualmente adaptarem-se às estratégias que ocasionam a mudança de sua cultura

organizacional.”

Em seguida, é apresentada a diferença entre organizações sociais tradicionais e

empreendedoras, bem como a diferença entre empreendedores de negócio e

empreendedores sociais, já especificados anteriormente.

O próximo tópico trabalhado é sobre o “histórico do empreendedorismo social”. A

referência também já foi citada, e Peter Drucker é a base teórica para esta definição, que

dá ênfase à passagem de uma sociedade agrícola para uma sociedade da informação e do

conhecimento em que o cuidar das questões sociais, não são só Estado, mas

principalmente da sociedade civil e, em específico, junto ao trabalho das organizações do

Terceiro Setor.

Na sociedade do conhecimento ocorre a mobilidade social, onde as pessoas têmmais chances de serem bem-sucedidas como fracassadas [...] Quem cuida dosdesafios sociais da sociedade do conhecimento ? [...] Não pelo governo, nem aorganização empregadora. A resposta é um novo setor social separado.(DRUCKER, 1996, p. 165)

A sociedade do conhecimento necessita ser uma sociedade de três setores: umsetor público de governo, um privado de organizações e um social. Dessaforma, esta ficando cada vez mais claro que através do setor social, umasociedade desenvolvida moderna pode novamente criar cidadania responsávelrealizadora e dar novamente às pessoas – em especial aos trabalhadores doconhecimento – uma esfera na qual eles possam fazer uma diferença nasociedade e recriar a comunidade. (DRUCKER, 1996, p. 165)

Apresenta a concepção da Ashoka sobre o perfil do empreendedor social,

os empreendedores sociais de negócios e os empreendedores sociais têm avisão, criatividade e determinação para redefinir os seus campos. Osempreenderes sociais devem possuir idéias inovadoras para mudar o modelo dasociedade. Esses líderes excepcionais encontram, pelo mundo, muitosconhecimentos diferentes, partem de uma única qualidade organizacional paraperseguir sua visão até tornar-se uma realidade sociavelmente extensa.(Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios paraorganizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

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Apresenta também o ciclo do empreendimento social da Ashoka.

A partir do exemplo da Fundação Kellogg, destaca uma série de terminologias, já

anteriormente apresentadas, bem como a que a autora apresenta como sendo “as

características do empreendedor social” de Jerr Boschee, como sendo: 1) sinceridade; 2)

paixão; 3) clareza; 4) confiança pessoal; 5) valores fundamentais; 6) sempre começar com

eles; 7) mensurar a idéia de interesse; 8) boa vontade para planejar; 9) construir a equipe

certa; 10) ter recursos suficiente; 11) habilidade para improvisar.

Segundo texto do CTS nº 565

O texto é a transcrição de uma entrevista realizada por Tatiana Wittmann, da

Fundação Banco do Brasil, em Brasília no dia 25/03/2002, e disponibilizado na internet

(Cf. www.cidadania-e.com.br).

A entrevista foi realizada com Anamaria Schindler, mestre em sociologia,

pesquisadora sobre violência e direitos humanos que, desde 1996, faz parte integrante da

Ashoka no Brasil, no cargo de diretora internacional de parcerias estratégicas entre

setores privado e social.

As perguntas giram em torno do que é a Ashoka, o seu funcionamento, o número

de fellows, os planos da Ashoka para o Brasil e a relação e papel da sociedade civil na

atual conjuntura. A seguir, destacamos os principais elementos de relevância para nossa

investigação.

“A Ashoka foi fundada na Índia em 1981, por William Draytonn com o objetivo

de desenvolver a profissão de empreendedor social.”

A Ashoka está hoje em 42 países do mundo.

“No Brasil, o nosso trabalho consiste na identificação e seleção de

empreendedores sociais, começou em 1986.”

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8.5.4 Terceiro texto: Seleção dos empreendedores sociais

Uma vez selecionado, o fellow passa a fazer parte da rede nacional einternacional de empreendedores sociais da Ashoka. Nesta rede, ele temdiversas possibilidades de interação, troca de experiências e de realizar umtrabalho em conjunto com outros empreendedores. O fellow da Ashoka tambémrecebe uma bolsa salário mensal por três anos, para poder se dedicarintegralmente ao seu projeto. Esta bolsa é calculada, individualmente, deacordo com as despesas pessoais do empreendedor, mas tem um teto de R$2.700,00. (Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos denegócios para organizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

No Brasil, já temos 220 empreendedores sociais e a cada ano selecionamosentre 12 e 15 novos fellows. Somos o maior programa da Ashoka no mundo.Algumas razões que justificam este título é que a nossa sociedade é muitodinâmica e criativa [...] temos uma sociedade civil que está cada vez maisorganizada, mais mobilizada e em ascensão. Tudo isso leva ao crescimento doempreendedorismo social e o desenvolvimento de projetos de qualidade.(Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios paraorganizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

Áreas de atuação:

Os empreendedores sociais da Ashoka no Brasil atuam basicamente em seisáreas: participação social civil, desenvolvimento econômico, meio ambiente,saúde, direitos humanos e educação. Temos fellows em todas as regiões do paíse a área com maior número de projetos é educação. (Empreendimentos sociaissustentáveis: como elaborar planos de negócios para organizações sociais –Ashoka/Mckinsey, 2001)

Ashoka no Brasil, planos. “Em 2002 pretendemos selecionar entre 12 e 15 novos

empreendedores sociais. Também queremos desenvolver metodologias específicas para

empreendedores sociais, realizar um encontro de fellows com o tema Raça, treinamentos,

concursos e premiações, publicações, disponibilizar o acesso à Rede de Contato, fazer

uma ponte entre o setor privado para a realização de parcerias e captação de recursos e

promover o Seminário Internacional de Mobilização de Recursos, que deve acontecer em

abril, em Recife.”

Sobre as parcerias:

“As parcerias são fundamentais. Só com o envolvimento dos três setores é que

poderemos garantir a sustentabilidade, o impacto dos projetos sociais e a solução dos

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problemas sociais. Estamos caminhando bastante pra isso.”

Quanto ao crescimento do Terceiro Setor

Acho que o crescimento do Terceiro Setor no Brasil se deve a vários motivos,muitos deles ligados à condição do país. Existe uma realidade internacional queé o declínio da atuação do estado, o que faz com que a sociedade civil seja maisdemandada a assumir responsabilidades e vemos um movimento muitointeressante no país, que vem desde o final da ditadura. São grupos politizadosque trabalham para o desenvolvimento da cidadania, promovem a atuaçãocidadã. Agora acredito que estamos em uma terceira fase, a da mobilizaçãomais intensa da sociedade civil, a da participação dos indivíduos.(Empreendimentos sociais sustentáveis: como elaborar planos de negócios paraorganizações sociais – Ashoka/Mckinsey, 2001)

No CTS nº 560 de 18/03/2002, é apresentado um artigo da revista americana Time

de 21/02/2002, com o titulo: “Um tipo dinâmico de empreendedor está usando estratégias

de negócio para combater problemas sociais.” Apresenta vários exemplos de

empreendedores e ações de empreendedorismo, do Brasil, Inglaterra e E.U.A.

No Brasil, o exemplo vem da ONG Comitê de Democracia da Informática – CDI,

criada por Rodrigo Baggio no Rio de Janeiro. Ela leva cursos de informática para favelas,

opera 177 escolas de informática em favelas de 13 estados. Destaca que o trabalho de

Baggio não seria possível sem a ajuda e investimento da Ashoka.

Destacam-se várias opiniões e depoimentos de William Drayton, fundador da

Ashoka, e ressaltam algumas de maior importância:

na visão de Draytonn não há nenhuma diferença entre as pessoas que usam suashabilidades no negócio e aquelas que as usam para alcançar objetivos sociais.Cada vez mais pessoas concordam. A medida que pressões políticas eeconômicas redefinem a fronteira entre os mundos corporativo e social, umnovo tipo de bem feitor está surgindo, aquele que utiliza técnicas e ferramentasque foram desenvolvidas no escritório para enfrentar problemas sociais. Namaioria dos casos, eles começam com pequenos empreendimentos. Mas emconjunto, estão mudando o perfil e o funcionamento das empresas sem finslucrativos e, estão trazendo um novo dinamismo ao negócio de fazer bem.

A seguir, apresenta outros exemplos, como da Inglaterra, e seu apoio

governamental e iniciativas de personalidades de destaque da sociedade civil.

Seus esforços estão sendo reconhecidos pelos políticos de centro-esquerda que

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reconhecem as reservas do governo não como ilimitadas e que a de tripudiar egastar é tabu. Tony Blair, o primeiro-ministro da Grã-Bretanha, declarou queseu governo abraça a idéia de empreendedores sociais, descrevendo-os como‘pessoas que trazem aos problemas sociais a mesma imaginação que osempreendedores do mundo de negócios trazem à criação de riqueza.’

“Youg, Lord Young de Darlington, de 84 anos (…) abriu uma escola para

empreendedores sociais em Londres há dois anos e afirma que é ‘para pessoas idealistas e

práticas’...”

Nos EUA, destaca-se o afloramento de organizações e espaços de educação e

difusão do conceito como da prática do empreendedorismo social.

Nos Estados Unidos, o ensino de técnicas de empreendedorismo social tornou-se padrão nas principais escolas de economia, e os resultados já estãocomeçando a aparecer. Em 1994, seis ex-alunos da Stanford Graduate Schoolof Business [...] dedica a auxiliar potenciais empreendedores em umacomunidade pobre da Califórnia conhecida como Palo Alto do Leste. A cidadede 24.000 habitantes é vizinha da maior concentração do mundo de riqueza naárea da tecnologia, mas o incrível sucesso do Vale do Silício não chegou àcomunidade, deixando problemas urbanos como a pobreza, as drogas e uma dastaxas mais elevadas de homicídio nos Estados Unidos. Em sua tentativa deajudar os pobres e desempregados, Start Up , agora em seu sexto ano, dá umacapacitação de 12 semanas sobre como administrar um pequeno negócio. Aorganização também fornece auxilio técnico, consultoria e serviços emquestões legais e assessoria àqueles que se registram.” “Nos fazemos parte deuma geração que vem acreditando mais e mais em soluções de mercado para osproblemas da sociedade.(Greg Sands, capitalista de risco)

Na universidade de Stanford, existe um programa de pós-graduação que “ensina

organização, geração de lucros e gerenciamento, habilidades necessárias para aqueles que

desejam entrar na área de empreendedorismo social.”

Outro CTS, que apresenta uma matéria sobre empreendedorismo social, é o de nº

569, com o título: “Juventude e empreendedorismo social”, que delinea em linhas gerais,

o projeto de Incubadora social, que já apresentamos anteriormente, e mostra outros dados

sobre este mesmo assunto nos CTS números 786 e 868 e que também não acrescentam

nenhum dado novo ao nosso objetivo de pesquisa.

Por fim, um dos últimos CTS, nº 690 de 23/09/2002, com o título “Profissão:

empreendedor social”, dá um destaque quanto à concepção do empreendedorismo social,

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no Brasil, estar se transformando numa profissão.

Segundo Carolina Cordioli, Criatividade, determinação, iniciativa, senso deresponsabilidade, concentração, paixão pelo trabalho, ética e inovação.Segundo várias entidades do Terceiro Setor, estas são algumas dascaracterísticas que definem empreendedores social. Trata-se de uma novaprofissão que vem atraindo cada vez mais jovens brasileiros. [grifo nosso]

Há vários exemplos já citados, como Ashoka e a Academia Social, que se

destacam pelo seguinte conceito: “empreendedor social é aquele que disponibiliza uma

considerável parte do seu tempo para resolver uma inquietação social”, Maurício

Bernadino Gonçalves

A palavra empreendedor sempre foi ligada à área econômica e de negócios. Com o

crescimento do Terceiro Setor, ela também passou a ser usada para a área social. Para

Gonçalves, “uma das principais características dos empreendedores sociais é

procurar não ver as coisas como obstáculos, mas sim como etapas a serem

superadas.” [grifo nosso]

9 – CASO DA ASHOKA EMPREENDEDORES SOCIAIS - ESCRITÓRIO DESÃO PAULO/BRASIL

Deixamos a apresentação da Ashoka entre as organizações que diretamente tratam

sobre o conceito e prática do empreendedorismo social por último por duas grandes

razões: primeiro e como se pode observar por tudo que já foi apresentado, esta

organização é referência, tanto em âmbito nacional como internacional. Seus conceitos,

estratégias, princípios estão permeando quase que tudo do que se fala e se produz sobre

empreendedorismo social, portanto merecendo uma atenção mais centralizada e

aprofundada.

Segundo, porque os dados históricos indicam que esta organização é pioneira, tanto

no estilo metodológico quanto na aplicação e uso do termo empreendedorismo social, no

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exterior e principalmente aqui no Brasil, o que torna a Ashoka uma referência e

construtora de opinião sobre este assunto.

Desta forma, apresentaremos este estudo de caso, de forma mais detalhada, por isso o

chamamos de estudo descritiva em profundidade. Trabalharemos a partir das fontes que

nos foram disponibilizadas e acessíveis, e do material publicado pela Ashoka, nos últimos

dois anos.

9.1 Antecedentes do estudo: avanços, retrocessos e novas trilhas

É importante destacar que, em um primeiro momento, nossa intenção era fazer um

estudo de caso único sobre esta organização aqui no Brasil. Um estudo que abrangeria

tanto os aspectos históricos como de gestão e do impacto de suas ações na aplicação dos

conceitos, princípios e práticas do empreendedorismo social, chegando até os fellows e

seus usuários, fechando assim um circuito linear e complexo.

Os primeiros contatos se deram no início de 2001, quando de nossa participação

no Prêmio Empreendedor Social pela Aldeia Infantil Betesda em Toledo-PR, o que

ocorreu paralelamente ao preparo para o processo de saída para o doutorado. Após uma

série de solicitações, geralmente via telefone e e-mail, convidando a Ashoka para ser um

estudo de caso de nossa pesquisa de tese de doutorado, recebemos a negativa da

impossibilidade de realizarmos um estudo em profundidade com esta organização.

Como pode ser observado pela resposta por e-mail de 23/01/2002 (em anexo), que

hora transcrevemos:

“infelizmente como já lhe foi explicado por telefone nossa organização, apesardo grande impacto social das atividades que realiza, tem uma equipe bastanteenxuta. Neste momento somos duas pessoas atuando em SP e três no Rio deJaneiro. Assim, é extremamente difícil disponibilizarmos nosso tempo paraprojetos e pesquisas que não constem de nosso foco principalmente deatuação: os fellows associados da Ashoka. [grifo nosso]

Mesmo após esta negativa, ainda tentamos outras vezes demover a direção desta

barreira, procurando mostrar que seria possível não tomar tanto tempo e, ao contrário,

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beneficiar a Ashoka no sentido de fazer uma pesquisa que não só atendesse as nossas

necessidades enquanto pesquisador e tese, mas também de avaliação das atividades e

impactos das ações que a mesma estava desenvolvendo.

Mas, infelizmente, no dia 29/11/2002 às 12h25, foi feita uma ligação da sra.

Viviane, reiterando a negativa que já havia sido dada,

“alega que recebe inúmeros pedidos desta natureza, tanto no Brasil como doexterior, e não tem quadro de funcionário suficientes para atender estademanda. Sendo esta uma postura para todos pedidos desta natureza... solicitouque não insistisse mais neste pedido.” [sic] (Diário de pesquisa de campo,29/11/2002, 12h25)

Na altura do desenvolvimento de minha pesquisa, inclusive o projeto já estava

estruturado contanto com esta participação, tivemos que alterar substancialmente nossa

estratégia, e procuramos outros caminhos, rotas para captar os dados necessários, pois,

independentemente da recusa, o fato é que a Ashoka era e é referência neste campo.

Desta forma, verificamos que na internet havia uma gama razoável de informações

sobre a Ashoka, além de vários artigos sobre seu trabalho, disponibilizados nos livros e

em vários artigos de jornais e revistas. Outra estratégia que tomamos foi o contato direto

com alguns fellows da Ashoka e organizações que passaram pela experiência e contato

com a perspectiva do empreendedorismo social proposta por ela.

A partir dos dados disponibilizados na internet, no site da Ashoka, criamos uma

lista com os participantes do Prêmio Empreendedor Social, realizados em 1999 (projeto

piloto), em 2000, 2001 e 2002, cujos dados estão disponibilizados no site da Ashoka. (Cf.

www.ashoka.org.br)

Devido a uma maior consistência dos dados, optamos por analisar as organizações

participantes do ano de 2000, 2001 e 2002. Estas apresentaram as seguintes

características:

2000 = 15 organizações, 3 foram premiadas, 7 classificadas e 5 consideradas como

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melhores idéias de captação de recursos. Destas, 8 eram oriundas de São Paulo, 2 do CE,

4 do Rio Grande do Sul e 1 do RJ.

2001 = 15 organizações, 3 foram premiadas, 7 classificadas e 5 melhores idéias de

captação de recursos. Destas, 9 eram de SP, 1 da BA, 3 de PE, 1 do PR e 1 RJ.

2002 = 15 organizações, 3 foram premiadas, 7 classificadas e 5 melhores idéias de

captação de recursos. Destas, 6 do RJ, 4 de SP, 1 da BA, 1 de PE, 1 do CE e 1 do RS.

De forma geral, as áreas de atuação destas organizações eram diversificadas, mas

com certa acentuação na área de saúde (21,3%), seguido de educação (17%), meio-

ambiente (14,9%), e em menor percentual outras áreas como: assistência social,

cidadania, voluntariado, gênero, desenvolvimento urbano, portadores de necessidades

especiais, desenvolvimento rural, terceira idade e capacitação.

Selecionamos 45 organizações, que estavam concentradas em SP, e que

correspondiam a cerca 42% no universo. Desta forma, planejamos estabelecer uma

amostra destas organizações para entrar em contato e verificar a possibilidade de as

mesmas participarem da pesquisa. Propusemos que a primeira fase seria do

preenchimento de um questionário semi-estruturado e com escalas de valor e, se

permitido, passaríamos para uma segunda que seria constituída de uma visita à

organização e um estudo de caso em profundidade, envolvendo os usuários dos

programas, projetos e serviços da organização, mais detalhado.

Como estávamos em Franca-SP e por uma questão de viabilidade e acessibilidade,

selecionamos uma amostra de organizações participantes do Prêmio Empreendedor Social

da Ashoka, só do Estado de São Paulo: obtivemos 19 organizações, 13 eram da capital, 5

do interior e 1 do litoral paulista.

A partir dos dados indicados no site da Ashoka, construímos uma planilha com

todos os dados gerais das organizações (endereço eletrônico, telefone, fax, etc.), e uma

ficha/formulário padrão com dados mais específicos e com espaço para registro das

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atividades, contatos e ocorrências (em anexo) para com isso ter uma memória deste

processo.

Elaboramos um questionário (em anexo), constituído de 127 questões, abrangendo

três eixos: a) dados sobre a organização e seus serviços; b) sobre a Ashoka, os fellows, e o

significado e entendimento sobre empreendedorismo social; c) sobre a compreensão e

entendimento referente à questão e problemas sociais, pobreza, emancipação social,

desenvolvimento humano.

Elaboramos cinco quadros contendo a transcrição de frases sobre afirmações de

conceitos referentes ao empreendedorismo social, oriundas de fontes que estão sendo

mais utilizadas e já apresentadas neste trabalho.

As pessoas que estivessem preenchendo o questionário deveriam ler e dar sua

opinião sobre a questão, esta seria registrada em uma escala de grau de concordância. (ver

o exemplo no questionário em anexo, nas questões de nº 79, 80, 81, 89, 119).

Realizamos um pré-teste junto a duas organizações sociais de FRANCA, a fim de

verificar o nível de compreensão do mesmo. Uma organização foi a Associação Metodista

de Assistência Social e o IDESUFRAN – Instituto de Desenvolvimento Sustentável de

Franca. Deste pré-testes, obtivemos os seguintes e principais resultados:

- o questionário se mostrou extenso;

- algumas questões apresentavam certa semelhança;

- alguns termos estavam difíceis de entender sem que alguém explicasse o seu

significado.

Ao analisarmos estas considerações, fizemos algumas alterações de linguagem e

um ordenamento diferente das questões, mas não alteramos o número, pois, ao analisar a

sua formatação, acreditamos que a abrangência seria importante manter, mesmo correndo

o risco de cansar as pessoas.

Após a elaboração do novo questionário e as devidas atualizações, elaboramos

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uma carta e um resumo do projeto de pesquisa e, a partir da lista que havíamos construído

com os dados das organizações selecionadas, enviamos o convite para participarem da

pesquisa.

Da amostra selecionada de 19 organizações e, ao longo do período de fevereiro de

2002 até maio de 2003, totalizando 15 meses de trabalho de contato, obtivemos os

seguintes resultados:

7 organizações deram retorno;

9 não deram retorno algum;

6 aceitaram participar da pesquisa;

1 não aceitou participar da pesquisa;

2 aceitaram participar, mas não devolveram os questionários;

4 aceitaram participar e devolveram os questionários;

4 não conseguimos nenhum tipo de contato.

Das 4 organizações que aceitaram e preencheram os questionários, só duas

aceitaram participar de um estudo de caso em profundidade, ou seja, da segunda fase da

investigação realizando a visita in loco. Dessas duas, somente com uma foi possível

realizar o estudo de caso, a Associação Lua Nova de Araçoiaba da Serra – SP, próximo à

Sorocaba-SP.

Houve um incidente: uma das participantes da pesquisa relatou que um

representante da Ashoka e do Instituto Fonte veio realizar uma pesquisa de avaliação em

sua organização. Ao ler o questionário da Ashoka/Fonte, percebe que era bem semelhante

ao nosso, e sugeriu: por que não fazer em parceria esta pesquisa conosco.

Este representante mostrou-se surpreso e solicitou cópia de nosso questionário

para examinar melhor. Dias depois, este fellows e outros receberam um e-mail da Ashoka,

dizendo que “o professor Edson não estava autorizado a realizar a pesquisa, globalização,

pobreza e empreendedorismo social” o que causou uma série de constrangimentos, e até a

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manifestação de desistência de uma pessoa que já havia preenchido e entregue o

questionário e que se “mostrou indignado” com o fato de estarmos realizando uma

pesquisa sem autorização da Ashoka.

Após vários contatos, inclusive com a Ashoka, não conseguimos encaminhar os

devidos esclarecimentos, a direção se mostrou hostil e não quis dialogar, até fazendo

ameaças de processo jurídico. Procuramos conversar com as pessoas que se mostraram

abertas e deixamos claro que a Ashoka não teria poder de “autorizar ou não a realização

desta pesquisa”, pois, por ter se recusado em participar, as demais organizações eram

livres e autônomas para decidirem ou não participarem da pesquisa.

Este episódio, apesar de constrangedor, demonstra que a pesquisa é um processo

vivo, dinâmico e surpreendente; envolve pessoas, valores, interesses, muitas vezes os

mais diversos, e não se pode saber em que tocamos, mesmo não querendo, pois este ser

humano, que somos, é complexo, e quase que imprevisível.

Há também aqui uma contradição. Prega-se que uma das maiores virtudes do

empreendedor social é a transparência, e nunca dizer “não é possível” e “persegue os seus

objetivos até o fim”, sempre dizer sim, o que não cria problemas mas sim apresenta

soluções? Então por que neste caso, estes princípios não foram aplicados?

Finalmente, venceram o bom senso e a compreensão, e nos foi possível aprofundar

o conhecimento deste fenômeno e organização de modo amplo e satisfatório, como

procuramos a seguir apresentar.

9.2 Novos rumos, novas estratégias

O estudo de caso, segundo Farina138, pode ser feito de maneira descritiva, a partir

de dados que são disponíveis, e de modo mais aprofundando, a partir do contato direto e

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efetivo com a unidade de caso.

Como já salientamos, não foi possível investigar a Ashoka de forma direta, mas

foi possível fazermos um estudo de caso descritivo em profundidade, a partir de fontes

secundárias, obtidas através da Home Page (www.ashoka.org.br ou

www.empreendedorsocial.org.br) e de textos produzidos em jornais e revistas, bem como

do material publicado em três livros. O estudo de caso em profundidade de forma a

produzir informação de fonte primaria foi possível no estudo da Associação Lua Nova,

que mais à frente estaremos detalhando.

9.3 Os limites e possibilidades da informação qualitativa

Decorrente deste quadro circunstancial para realização de nossa investigação e por

ser a mesma de natureza qualitativa, temos claro os limites científicos que esta

circunstância apresenta, (limites), bem como a riqueza que apresenta (possibilidades).

Dos quatro fellows que retornaram o questionário totalmente preenchido, só dois

aceitaram participar de um estudo de caso em profundidade (projeto Curumim de Atibaia

– SP, e a Associação Lua Nova de Araçoiaba de Serra–SP), desta só foi possível realizar

o estudo na segunda organização.

Isso nos permitiu, tanto junto aos quatros fellows, como junto à Associação Lua

Nova, obtermos vários dados e informações de grande importância, principalmente

quanto à percepção dos mesmos em relação ao empreendedorismo social que está em

crescimento, de forma mais geral, e da proposta da Ashoka, em específico. Não

pretendemos aqui fazer uma avaliação da Ashoka ou das organizações em si, mas realizar

uma aproximação mais sistematizada do conceito e da experiência destes empreendedores

e de sua vivência.

138 FARINA, Elizabeth. Estudos de Caso em agribusiness. São Paulo: Pioneira, 1997.

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Logo, a amostra, como vimos, é pequena em relação ao universo. Isso se

considerarmos quantitativamente, pois das 45 organizações que participaram do Prêmio

Ashoka, durante o período de 2000-2002, só conseguimos o retorno efetivo dos

questionários da primeira etapa, de 4 organizações, ou seja, uma amostra de 8,9% do

universo, e do universo extraído deste que se concentrava no Estado de São Paulo e que

possibilitariam uma aproximação, que foram 19, temos uma amostra de 21%.

No entanto, o que buscamos são informações qualitativas e não elementos

probabilísticos, por se tratar da busca por informação de ordem qualitativa, como afirma

Demo.

Falo de ‘informação qualitativa’ no sentido de que buscamos na realidadeinformação –‘dados’- sobre ela, de sorte que possamos manipularcientificamente, permitindo tanto sua melhor compreensão quanto, sobretudo,condições de intervenção e mudança [...] informação interpretativa, da qual énecessário sempre duvidar e que precisa de ser refeita. Esse tipo de dado ésobretudo ‘construído’, não apenas ‘colhido’. (DEMO, 2001, p. 10)

A partir desta premissa, entendemos também que nesta amostra, possível e

acessível que tivemos139, contém o principal elemento que a abordagem ou amostra

qualitativa necessita. As fontes têm qualidade, ou representam a possibilidade de extrair a

intensidade do que se está investigando.

Em outros termos, apesar de quantitivamente não ser tão significativa a amostra

em estudo ela possibilita, inferir uma série de elementos que, no estudo de caso em

profundidade (da Associação Lua Nova), tivemos não um caso que representa as demais

organizações e que assim possamos chegar a conclusões generalistas inconseqüentes e

infundadas, e a partir destes casos, todos os outros serão considerados.

Ao contrário, e como afirma, Demo, a este respeito,

Entre os desafios metodológicos da pesquisa qualitativa está o problemas da

139 Gil (1994, p. 97), fala de um tipo de amostra que se aproxima do que aqui realizamos, ou seja, de uma

amostragem de acessibilidades, ou seja, “constitui o menos rigoroso de todos os tipos de amostragem. Porisso mesmo é destituído de qualquer rigor estatístico. O pesquisador seleciona os elementos a que têmacesso, admitindo que estes possam, de algum forma, representar o universo. Aplica-se este tipo deamostragem em estudos exploratórios ou qualitativos, onde não é requerido elevado nível de precisão.”

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generalização.[grifo do autor] Até que ponto é possível, partindo de algunscasos, embora analisados em profundidade, inferir para algum universo similar?[...] Mas podemos falar de exemplaridade, no sentido de que o presidente daassociação[ou da organização social que participou do Prêmio da Ashoka]manifesta um comportamento que não seria, primeiro excepcional e, segundo,seria possivelmente exemplar [...] Sendo o caso exemplar, pode-se retirardele muitas lições que foram sugeridas na análise, sobretudo no item da visãocrítica interpretativa. (DEMO, 2001, p. 116) [grifo nosso]

É nesta perspectiva que estamos entendendo o presente estudo de caso e os seus

resultados, tanto no estudo descritivo em profundidade da Ashoka como no estudo em

profundidade na Associação Lua Nova são, sem dúvida, casos exemplares do que está

ocorrendo e, como veremos, estaremos apresentando lições significativas para melhor

formatação de nosso mosaico do empreendedorismo social no Brasil.

Desta forma, a apresentação a seguir será efetuada seguindo o seguinte roteiro: 1º)

o estudo descritivo em profundidade do caso da Ashoka, contendo os seguintes pontos: a)

histórico; b) formatação e organização; c) estratégias; d) exemplos de fellows; e)

divulgação e informação; f) principais conceitos, precipícios sobre empreendedorismo

social; g) a percepção dos fellows. Na seqüência, o estudo de caso em profundidade da

Associação Lua Nova.

9.4 Histórico da Ashoka

A Ashoka foi fundada por Bill Drayton140, graduado em estudos Asiáticos em

Havard, direito pela universidade de Yale, mestre em economia pela universidade de

Oxford, professor de Direito e Administração na Faculdade de Direito de Stanford e na

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John F. Kennedy School of Government de Havard e trabalhou como consultor da

Mckinsey & Company, uma das maiores consultorias de gestão estratégica.

A idéia de criar uma organização social vem desde sua juventude, quando nos

anos 60 participou ativamente do movimento dos direitos civis nos EUA, além de viagem

à Índia e países asiáticos. Sua experiência é com órgãos governamentais de proteção ao

meio ambiente de seu país. Em 1980, pediu demissão da agência de proteção ambiental e

realizou o seu maior sonho, “criar uma instituição que apoiaria indivíduos dinâmicos com

idéias inovadoras e, ao mesmo tempo, práticas, capazes de provocar mudanças sociais

abrangentes”. Após debater e amadurecer a idéia com outros empreendedores sociais e

futuros parceiros, foi criada em 1981, na Índia, a Ashoka: Innovators for the Public

(Ashoka: inovadores em defesa do povo).

O nome Ashoka é derivado de um personagem histórico da Índia, no século 3 a. C.

Segundo Lobo (2001),

A história conta que Samarat Ashoka, imperador da Índia do século 3º a.C.,depois de unificar o sudeste da Ásia à força, foi tomado de remorso e adotou anão-violência. Daí em diante, teria professado a tolerância em relação a todasas religiões e dedicado o resto da sua vida à promoção do bem-estar social.Ashoka é lembrado por ter instituído os primeiros serviços públicos deassistência médica e um grande programa de perfuração de poços. Realizouvárias obras de infraestrutura e determinou que se plantassem milhares deárvores às margens das estradas quentes e empoeiradas da região.

A palavra se pronuncia Ashôka e serviu de exemplo e inspiração para Drayton

criar uma organização que viabiliza as condições básicas para a realização de ações de

transformação social. O símbolo utilizado pela organização é uma pequena árvore que,

segundo o seu fundador, parte de um provérbio oriental, de que “de pequenas sementes

crescem as grandes árvores...”.

A sede mundial fica na cidade de Arlington, Washington- DC, EUA, e está

atualmente em mais de 40 países, e com uma rede de mais de 1.200 fellows

140 Em alguns textos encontramos com Willian e algumas vezes Bill, não conseguimos descobrir qual a

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(companheiros). Tendo iniciado suas atividades na Índia, em pouco tempo expande suas

atividades: em 1984, estabelece sua base na Indonésia; em 1986, no Brasil; em 1988, cria

o escritório de apoio internacional aos fellows em Washington, EUA e o escritório em

Bangladesh; 1991, na África; 1992, Costa do Marfim; 1993, cria a Changemarkers, uma

rede com base de dados internacionais sobre empreendedorismo social no mundo. A

partir de 1994, segue sua expansão para América Latina, Gâmbia e outras localidades na

Europa, além de uma série de programas e projetos inovadores.

Esta ampliação levaram ao reconhecimento por vários organismos internacionais.

Ganhou vários prêmios de reconhecimento pelas ações inovadores no campo social, e não

só em uma localidade mas em várias partes do mundo, abriu a cada dia novos horizontes e

espaços de atuação.

Na América Latina, tem escritórios na região andina (Bolívia, Colômbia, Equador,

Peru, Venezuela), com sede em La Paz, Bolívia. Está presente na América Central

(México, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Nicarágua), com o escritório no México.

No Cone Sul (Argentina, Chile, Uruguai) com escritório na Argentina.

No Brasil, conta com dois escritórios, um no Rio de Janeiro, o outro em São

Paulo; o primeiro, é responsável pelo apoio ao Paraguai que faz divisa com o Brasil.

9.5 Formatação e organização

A Ashoka é uma organização social sem fins lucrativos.

A missão (razão de ser) da Ashoka é “promover a profissão de empreendedor

social”, ou seja, “buscar indivíduos com idéias inovadoras voltadas para a solução de

diferença. Ao que parece Willian seria o nome e Bill um apelido.

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problemas sociais e lhes oferecer, entre outros serviços, uma bolsa de manutenção e

capacitação profissional.”

Sua atuação é em rede, com escritórios em lugares centrais e chaves em cada

região do globo, e com um escritório central nos EUA em sua capital federal.

Tem como eixo condutor três linhas de ação:

q identificar e investir em indivíduos com idéias inovadoras voltadas para a

solução de problemas sociais;

q construir uma rede internacional de empreendedores sociais;

q promover a profissão de empreendedor social e fortalecer as instituições que

podem contribuir para o crescimento do Terceiro Setor (ou setor social).

Essas ações são materializadas da seguinte forma:

1) seleção anual de 12 a 15 fellows, bolsa-salário por três anos, é oferecido

treinamento, apoio técnico e eventos de capacitação continuada;

2) a partir da home page Changemarkers (Cf. www.chagemarkers.org.br) tem

possibilitado a disseminação e o contato entre os empreendedores sociais;

3) tem promovido vários eventos e programas de formação técnica, através de

centros de treinamento. Além de disponibilizar artigos e publicações sobre

empreendedorismo social.

Vejamos mais detalhadamente, tomando como exemplo concreto o caso do

Escritório do Brasil, quais são as estratégias para se materializar estas ações e essas

estrutura.

9.6 Estratégia de ação

As estratégias são basicamente as seguintes: a) seleção de novos fellows; b)

capacitação e apoio técnico a estes fellows; c) estabelecimento de parcerias entre o setor

privado e a sociedade civil.

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SELEÇÃO E CAPACITAÇÃO DE FELLOWS

A seleção de novos integrantes da Ashoka é constituída de um processo rigoroso,

que primeiramente estabelece alguns critérios que se caracterizam como sendo os

principais elementos constitutivos da personalidade e postura do empreendedor social, são

eles: a) uma idéia nova; b) criatividade; c) personalidade empreendedora; d) impacto

social; e) fibra ética.

Estes indicadores serão utilizados para avaliar o candidato que passará por uma

série de etapas, que, a seguir, apresentamos resumidamente.

ETAPA 1 – Recomendação: é constituída em cada país uma rede de

empreendedores. São pessoas ligadas à Ashoka e, muitas vezes, fellows, que conhecem o

processo e os critérios, e efetuam o conhecimento do candidato, que, sendo recomendado,

pressupõe ter todas ou várias características exigidas no processo de seleção;

ETAPA 2 – Triagem preliminar/entrevista: após a recomendação, o candidato

deve apresentar uma proposta, que segue um roteiro pré-estabelecido, e sendo conferidas

e atendidas as exigências, poderão ser convidados para uma entrevista com representante

local da Ashoka, além de ser feita uma visita ao local do projeto para conferir às

informações apresentadas. Estando tudo em conformidade, é passado para a próxima

etapa.

ETAPA 3 – A entrevista de segunda opinião é uma entrevista com um

representante do conselho internacional de Washington, EUA, preparado para essa

entrevista, que pode durar de três a sete horas, e será analisado tudo sobre o candidato e

sua proposta. Após este processo, o entrevistador decidirá se o candidato passa ou não

para a etapa seguinte.

ETAPA 4 – O painel de seleção: esta dinâmica é composta de três a quatro

integrantes representantes da Ashoka. Participam mais de um candidato. Cada painelista

tem aproximadamente uma hora para entrevista. Posteriormente, os painelistas se reúnem

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e decidem se encaminham para aprovação ou não, e quais candidatos. Seguem três

princípios básicos: a) confidencialidade das deliberações; b) vigilância rigorosa quanto a

favorecimento; ou c) interesse pessoal na aprovação do candidato e decisão por consenso.

ETAPA 5 – Aprovação pelo Conselho Internacional: o Conselho é a última

instância de deliberação. Ele faz uma avaliação minuciosa de cada candidato e pode

conduzir para as seguintes deliberações: a) ratificação; b) rejeição; c) pedir mais

informações. Após esta decisão final, sendo aprovado, o candidato passa a compor a

Fellowship da Ashoka.

9.7 Apoio e capacitação dos fellows

Após ter sido aprovado e, neste processo, ter sido estudado quais as necessidades

da manutenção do projeto e da vida do fellow, este será ajudado durante três anos,

recebendo uma bolsa, dependendo da análise, que varia de país para país, de R$ 2.700,00

por mês. A idéia é que, neste meio tempo, o projeto possibilite a auto-sustentábilidade,

tanto do empreendedor social como do projeto.

Segundo Lobo141, o orçamento global da Ashoka é da ordem de US$ 12 milhões,

62% vêm de empresários; 20% doações; e 12% de fundações e 6% empresas.

No Brasil, são mais de 220 fellows mantidos pela Ashoka, o que representa um

investimento da ordem de R$ 594.000 ano.

Recentemente (Cf. Boletim Ashoka – maio 2003), um fellow se torna doador da

Ashoka. Fato este tido como inédito, em todo o mundo.

Pela primeira vez, um fellow também um apoiador da organização fundada porBill Drayton. A decisão de financiar a bolsa de um novo integrante daFellowship , comunicada em 2002 pelo fellow Adair Meira (1996), acaba de serformalizada com decisão do Conselho Diretor da Fundação Pro-Cerrado (FPC),de Goiânia GO. Assim, a FPC, criada em 1994 por Adair, contribuíra nos

141 Op. Cit., p. 3.

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próximos três anos com a quantia de R$ 108.000 para que a Ashoka possaampliar sua missão de promover a profissão de empreendedor social .(Boletim Ashoka, maio 2003) [grifo nosso]

Para dar continuidade e aperfeiçoamento ao trabalho profissional do

empreendedor social da Ashoka, é oferecida uma série de atividades, através do setor de

capacitação, denominado de CCES – Centro de Competência para Empreendedores

Socais Ashoka/McKinsey,

é uma parceria inovadora da Ashoka com a McKinsey & Company, empresainternacional de consultoria em alta gestão estratégica [...] sedia um escritórioda Ashoka em São Paulo desde 1996 [...] com finalidade de desenvolverprojetos de consultoria e serviços de suporte para empreendedores sociais comenvolvimento voluntário dos seus consultores.

Através desta unidade, já foram criados vários momentos de integração e

capacitação, destacam-se entre eles os seguintes:

q programa Iniciativas Sociais e Desenvolvimento; a arte de empreender e

transformar;

q concurso nacional de idéias inovadoras em mobilização de recursos;

q mobilização: seminário internacional de mobilização de recursos;

q oficina de Comunicação;

q oficina de mobilização de recursos;

q prêmio empreendidos Social.

Este último merece um maior destaque, pois, como atitude inovadora, apresenta

uma forma, que, ao mesmo tempo, gera um processo de aprendizado, de estímulo a novas

idéias e apoio financeiro para que estas saiam do papel.

O Prêmio Empreendedor Social é

um concurso-treinamento de âmbito nacional, realizado por três edições entre2000 e 2002 pela Ashoka [...] O Prêmio tem por objetivo capacitarorganizações da sociedade civil a desenvolverem profissionalmente seusprojetos e promover conceitos inovadores de negócios para captação derecursos, geração de renda e desenvolvimento de parcerias na área social.

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Neste período de três edições, participaram mais de 600 organizações e 720

universitários. Em linhas gerais, o concurso é realizado em três etapas. E ao longo das

fases, cada organização tem que apresentar um documento, trabalho, que se caracteriza

como sendo um plano de negócio para sua organização.

Na primeira etapa, deve-se apresentar um resumo executivo, que, caso seja

convincente, passa para a segunda etapa, que é uma elaboração mais detalhada do plano,

apresentando aspectos sobre: organização e produto/serviço, mercado e marketing. O

trabalho é analisado por consultores da McKinsey, e aprovado, passa para a última etapa

que consiste em apresentar o plano de negócio completo.

As duas primeiras etapas são realizadas na própria organização, a partir das

orientações dadas via internet ou por telefone a distância. A equipe da organização é

composta por um representante e responsável pela área de projetos da organização e mais

um estudante escolhido ou indicado pela Ashoka, além de empresários, outros

especialistas que podem compor e ajudar nos trabalhos. Na última etapa, os finalistas

estarão trabalhando na sede da Ashoka em São Paulo, por dois dias.

São escolhidas cerca de 15 organizações. As três melhores são premiadas, com

valores em dinheiro R$ 30 mil, para o primeiro colocado; R$ 20 mil para o segundo; e R$

10 mil para o terceiro. Outras 7 organizações recebem um prêmio de menção honrosa

“idéia inovadora em mobilização de recursos”, além de um valor em dinheiro de R$ 7 mil

.

No total, estima-se que, nas três edições do Prêmio, tenha havido o investimento

direto da ordem de R$ 327 mil.

Segundo dados fornecidos no Boletim Ashoka, maio 2003, levantamentos internos

da organização apontam o êxito de suas ações, pois:

q 85% dos integrantes permanecem comprometidos com a implementação e

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ampliação de suas idéias e projetos, após o termino do período de apoio

financeiro;

q 82% têm seu trabalho replicado pó organizações independentes;

q 73% influíram por sua ação na elaboração de novas políticas públicas.

A seguir, a título de ilustração, selecionamos alguns dos exemplos mais notórios

dos fellows da Ashoka no Brasil, e alguns extrapolaram as fronteiras nacionais e estão em

outros países.

9.8 Exemplos de fellows que ganham projeção e causam impacto nacional einternacional

Segundo dados da Ashoka, atualmente142 no Brasil a sua rede de empreendedores

sociais, ou fellows, como são denominados, consta de cerca 220 empreendedores sociais,

em vários Estados brasileiros. Cerca de 190 estão em andamento com seus projetos,

outros 150, em fase final da bolsa, mas que ainda permanecem ligados à Ashoka.

Anualmente são encaminhadas para a Ashoka cerca de 300 propostas, das quais são

escolhidas de 12 a 15.

Para nossa investigação, não foi possível ter acesso a todas. Mas dentro do

possível e, através da internet, conseguimos detectar algumas das experiências, bem como

constatar, através dos meios de comunicação, que alguns projetos têm alcançado destaque

e notoriedade nacional e internacional. Também o financiamento e apoio não só da

Ashoka, aqui no Brasil, mas também de outras organizações internacionais, como é o

caso da Schwab Foundation For Social Entrepreneurship, (Cf. www.schwabfoud.org)

que tem em sua rede de fellows, os principais projetos brasileiros.

Desta forma, apresentamos o exemplo em dois blocos. O primeiro, constituído de

142 CANTEIRO, Christye. Gente do bem. Consumidor Moderno, junho 2001, nº 46, ano 7. Disponível em

www.ashoka.org.br, acesso em 11/03/2002.

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um exemplo considerado na atualidade o melhor deste processo e genuinamente

brasileiro, e que apresenta características, como estamos denominando, de modelo de

exportação, pois ultrapassou as fronteiras nacionais.

O segundo bloco são exemplos de âmbito nacional, alguns também têm

conseguindo notoriedade internacional, mas muito mais dentro do nosso país. Também

apresentamos um terceiro bloco que são os novos fellows, selecionados neste ano (2003) e

que apresentam em linhas gerais os perfis do empreendedor e de seus projetos. Estes

exemplos são extraídos da Home Page da Ashoka, no período que compreende, abril de

2001 a setembro de 2003.

9.8.1 Modelo exportação

PROJETO:

CDI - Comitê de democracia da Informática, fundado em 1995 (Cf.

http://www.cdi.org.br).

EMPREENDEDOR SOCIAL:

Rodrigo Baggio, Rio de Janeiro.

HISTÓRICO

Em 1994, Rodrigo era professor de ciências de informática em um colégio da elite

carioca. Percebeu que a tecnologia poderia ser uma grande ferramenta para lutar contra a

exclusão social. Primeiramente criou um link para unir todos os jovens de todas as classes

sociais, JovemLink. Notou que só os que tinham computador é que acessavam a rede.

Verificou que era necessário levar a tecnologia ao “outro lado da fronteira digital”.

Assim, criou a primeira escola de informática na favela de Dona Marta, no subúrbio do

Rio de Janeiro.

CONFIGURAÇÃO ORGANIZAÇÃO

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Uma organização não-governamental tem como missão institucional “promover a

inclusão social utilizando a tecnologia da informação como um instrumento para a

construção e exercício da cidadania.” (Cf. www. cdi.org.br)

Com sede no Rio de Janeiro, hoje está construída e consolidada uma rede de

Escolas de Informática e Cidadania – EIC, de forma autônomas e auto-sustentáveis, são

cerca de 789, já foram capacitadas cerca de 461.440 crianças e jovens.

Tem atuação em âmbito nacional, em 38 cidades e 20 estados, entre eles: AL, AM,

BA, DF, CE, ES, GO, MA, MT, MS, MG, PR, PA, PE, RJ, RN, RS, SC, SP e SE. E

internacionalmente se encontra em cerca de 10 países, entre eles: Japão, Colômbia,

Uruguai, México, Chile, África do Sul, Angola, Honduras, Guatemala e Argentina.

O CDI mantém uma vasta rede de parceiros para dinamizar suas atividades, tanto

nacional como internacionalmente, destacam-se entre elas: BNDES, Fundação Avina,

Fundação W.K.Kellogg, Philips, BID, Accenture Foudation, Fundação Vale do Rio Doce,

Banco Mundial, Xerox, Fundação EDS, Esso, entre outros.

Devido a estes resultados e seu impacto social, este projeto é considerado pela

ONU um dos quarenta projetos mundiais de maior impacto, pois pode e como está sendo,

aplicado em vários lugares e alcançar a um custo barato com resultados significativos,

quanto a inclusão, não só digital, mas social e de exercício da cidadania.

9.8.2 Modelos nacionais

Estes dados são transcrição literal da Ashoka no link Ashoka na Impressa,

disponível em www.ashoka.org.br, acessado em 28/04/2002.

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MARILENA LAZZARINI é responsável pela fundação de uma das maiores

referências nacionais quando se trata de direito do consumidor: o Instituto Brasileiro de

Defesa do Consumidor (IDEC). Criado em 1987 e consolidado no início da década de

90, quando conseguiu o desbloqueio de contas confiscadas pelo governo Collor, o Idec

atua diretamente em 12 estados. Com sede em São Paulo e escritórios em Brasília e no

Rio de Janeiro, contribui para a criação e o fortalecimento de movimentos semelhantes

em todo o país. Em 1999, criou o Fórum Nacional de Entidades Civis de Defesa do

Consumidor, que já conta com 25 associados, em 13 estados.

WELLINGTON NOGUEIRA criou os Doutores da Alegria para levar alegria a

crianças hospitalizadas, baseado em sua experiência anterior no projeto novaiorquino

Clown Care Unit. Atualmente uma equipe de 26 atores profissionais, especializados na

arte do teatro clown, atua em 7 hospitais na cidade de São Paulo, dois, no Rio de Janeiro e

um, em Campinas. Só na capital paulista, cerca de 150.000 crianças enfermas são

atendidas. Seu trabalho foi reconhecido pela ONU como uma das 40 melhores práticas

humanas mundiais, num prêmio concedido em 1998.

DORA ANDRADE oferece às meninas carentes do Ceará um caminho alternativo

à vida nas ruas e à prostituição: a auto-estima e a criatividade, incentivadas durante as

aulas na Edisca, uma escola idealizada por ela para ajudar crianças pobres a

desenvolverem novas habilidades. Além do conteúdo programático, a Edisca promove

aulas de dança, teatro, mímica, coral, artes plásticas e música clássica, assim as crianças

são encorajadas a permanecer mais tempo na escola. As famílias também são chamadas

para participarem de várias atividades.

SUELI CARNEIRO criou o Geledés Instituto da Mulher Negra, no Rio de

Janeiro, para combater a discriminação racial e de gênero na sociedade brasileira e

desenvolver propostas de políticas públicas que promovam a eqüidade de gênero e raça.

O Geledés atua em quatro áreas: direitos humanos, saúde, comunicação e

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capacitação/profissionalização. Além desses programas, mantém projetos como o SOS

Racismo e Rappers, voltados principalmente para a ação política de jovens negros.

SEBASTIÃO ROCHA acredita que a escola é muito mais que um espaço físico

limitado, podendo ser até mesmo a sombra de uma árvore. Partindo deste princípio,

dedicou-se à formação do Centro Popular de Cultura e Desenvolvimento (CPCD), na

região metropolitana de Belo Horizonte. Lá, apoiado na comunidade e em elementos da

cultura local, criou um projeto de educação popular cujo objetivo é fazer com que o

estudante sinta prazer em ir às aulas. Em quinze anos de existência, seu projeto já

beneficiou em torno de quinze mil crianças e professores, treinados segundo essa

metodologia.

DANIEL RAVIOLO fundou o Centro de Comunicação e Cultura em Fortaleza,

que, pelo sistema de cooperativas, possibilita a publicação de jornais comunitários auto-

sustentáveis, que funcionam como um instrumento de trabalho de educação não-formal

para a cidadania. Como desdobramento do projeto, lançou o Clube do Jornal escolar, que

íntegra a educação escolar a uma educação voltada para a responsabilidade civil, o meio

ambiente e a preservação do patrimônio histórico. Em 1999, o programa Escola de

Cidadãos recebeu o Prêmio Itaú/Unicef na categoria Educação e Participação.

VERA CORDEIRO criou a Associação Renascer, no Rio de Janeiro, para ajudar

crianças e adolescentes miseráveis a escapar do círculo vicioso miséria-doença-

internação-reinternação-morte que acompanha as famílias após a alta hospitalar. O projeto

foi iniciado em um dos maiores hospitais da cidade, onde Vera Cordeiro trabalha como

pediatra, e já atingiu cerca de 25.000 pessoas em três estados brasileiros.

SÍLVIA CARVALHO foi uma das primeiras bolsistas da Ashoka. Como

assistente social, trabalhava na Prefeitura de São Paulo, onde se via diante das limitações

do serviço público. Em 1986, fundou o Crecheplan, cuja idéia era desenvolver creches

de primeira qualidade, a partir de sua maior carência: a falta de formação de seus

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profissionais. Começou desenvolvendo cursos de curta duração voltados para a melhoria

do atendimento e, atualmente, cerca de 5.500 crianças de comunidades carentes são

beneficiadas com o trabalho de formação dado para cerca de 600 trabalhadores do setor.

Em fase de expansão para outros estados, o Crecheplan também idealiza e intrumentaliza

planos vinculados a instituições como a Abrinq, o Pão-de-Acúcar e o Instituto C&A.

HARLEY NASCIMENTO percebeu o impacto que o vírus HIV poderia causar

nas populações de baixa renda de Salvador logo no início da epidemia de Aids no Brasil,

na década de 80. Ao detectar a carência de informações, ele resolveu criar um centro de

referência que evoluiu para a fundação, em 1989, do Grupo de Apoio à Prevenção à Aids

da Bahia, conhecido como Gapa - Bahia. O projeto, que já passou por muitas

dificuldades, é hoje um modelo de trabalho voluntário e engajamento de vários setores

sociais. Conta com cerca de 400 agentes multiplicadores espalhados por 12 comunidades

carentes e realiza, entre palestras e reuniões, em torno de 600 ações por ano. Atende

diretamente cerca de 45.000 pessoas e, graças a parcerias com veículos de comunicação

de massa locais, atinge mais de um milhão de pessoas com campanhas de prevenção.

ISMAEL FERREIRA DE OLIVEIRA extrai do solo semi-árido condições para a

melhoria da qualidade de vida dos moradores do sertão da Bahia. Com a criação da

Associação dos Pequenos Agricultores do Município de Valente (APAEB), passou a

enfrentar os problemas gerados pelas sucessivas secas com a organização em grupo da

produção, comercialização e industrialização do sisal. Atualmente a APAEB beneficia

cerca de 2.268 famílias com 748 empregos diretos, crédito e orientação técnica para 520

famílias, 400 vagas na colheita e comercialização e 600 alunos nos programas de

capacitação e escola agrícola. Tamanhos resultados lhe renderam o Prêmio Bem Eficiente

da Fundação Kanitz, em 1997, e, no ano seguinte, a seleção pela Fundação Getúlio

Vargas entre 10 projetos de cidadania e combate à pobreza no Brasil.

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JUREMA WERNECK passou a fazer parte da Ashoka quando coordenava a

denúncia da esterilização em massa de mulheres negras. Com esse apoio, criou o Projeto

Criola, voltado para o fortalecimento - ou empowerment, conceito desenvolvido no

interior do feminismo - de mulheres, adolescentes e meninas negras. O crescimento do

seu trabalho, sediado no Rio de Janeiro, deu origem à atuação em vários campos: direitos

humanos, auto-estima, profissionalização e geração de renda, informação e reflexão, além

de saúde e auto-cuidado. Em seu sétimo ano de existência, a organização tem um público

direto cadastrado de aproximadamente 3.000 pessoas e instituições, tanto do Rio de

Janeiro quanto de outras cidades brasileiras.

FÁBIO ROSA é engenheiro agrônomo e desenvolveu um trabalho de eletrificação

rural a baixo custo no interior do Rio Grande do Sul, proporcionando a pequenos

proprietários o acesso à luz, água e outros benefícios. Com a criação do Projeto Luz,

garantiu o acesso à eletricidade de 25.000 pessoas de baixa renda, em 42 cidades gaúchas.

O Projeto Luz II, apoiado pelo governo do estado, ampliou o alcance desta iniciativa para

mais 160.000 pessoas. A experiência de Rosa comprova que é possível instalar energia

elétrica de maneira prática e econômica, mediante a utilização da tecnologia adequada a

cada condição natural. Ele também trabalha com manejo ecológico de pastagens e energia

solar.

LIANE MARCONDES trabalha para o desenvolvimento do ser humano, por meio

da Dialog, organização da qual é presidente, utilizando como instrumento a tecnologia da

informação. A tarefa da Dialog é sistematizar técnicas e instrumentos de formação

adquiridos com a experiência, para disponibilizar seu know-how para outras organizações

e profissionais ligados ao Terceiro Setor. Assim, capacita empreendedores sociais em

mobilização e organização comunitária e promoção do voluntariado.

SUELY CARVALHO é enfermeira e, percebendo as deficiências do sistema de

saúde durante o pré-natal e o parto, criou, no estado de Pernambuco, o Centro Ativo de

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Íntegração do Ser - C.A.I.S. do Parto para dar cursos de capacitação para parteiras

tradicionais. O resultado é a diminuição do número de doenças e mortes de gestantes e

recém-nascidos, a redução dos custos para o sistema de saúde público que adviriam da

hospitalização e o reconhecimento trabalhista da profissão. O projeto já formou 3.200

parteiras, garantindo o atendimento para cerca de 16.000 famílias das regiões Norte,

Nordeste e Centro-Oeste.

CLOVIS BORGES, biólogo e veterinário, converteu sua preocupação com a

extinção da fauna brasileira na mola propulsora de consultoria técnicas para escolas,

comunidades, empresas e entidades do governo envolvidas com a educação ambiental.

Acreditando que a informação precisa e a ajuda de experts é única forma de ação eficaz

para a preservação do meio ambiente, Borges organizou um grupo de voluntários entre

seus colegas cientistas: a Sociedade de Pesquisa da Vida Selvagem (SPVS), em

Curitiba.

NORMANDO BATISTA SANTOS fundou o Centro de Educação e Cultura

Popular (Cecup), em Salvador, com o objetivo de habilitar educadores para áreas pouco

assistidas pelo poder público (trabalhadores rurais, populações afro-brasileiras e

moradores de favelas), utilizando a força das próprias comunidades para criar escolas e

postos de saúde. O sucesso de seu plano, que já atingiu cerca de 3.500 educandos e 130

educadores, mereceu o apoio do Fundo das Nações Unidas para a Criança e a

Adolescência (UNICEF) e da Organização Mundial de Saúde (OMS).

GRAÇA PIZÁ é psicanalista que, quando constatou, numa pesquisa realizada para

sua tese de mestrado, 90% das crianças internadas em hospitais públicos do Rio de

Janeiro foram vítimas de violência sexual, familiar e social, resolveu criar a Clínica da

Violência. Uma de suas conclusões foi que o despreparo dos profissionais para

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diagnosticar casos de violência física e psíquica acabava duplicando seu efeito nas

instituições hospitalares, numa situação agravada pelo medo do comprometimento legal

que implicaria a denúncia de maus tratos, conforme prevê o Estatuto da Criança e do

Adolescente. Além dos cursos de capacitação, a clínica dá atendimento psicanalítico para

pacientes, familiares e comunidades em geral. Atualmente, também desenvolve projetos

pioneiros de psicanálise a arte com crianças, além de cursos para professores e

profissionais da área jurídica.

CELERINO CARRICONDE foi exilado político e, em 1980, quando voltou do

Chile, onde realizava trabalhos como médico nas favelas, criou o Centro Nordestino de

Medicina Popular (CNMP), em Olinda. A fitoterapia é um dos principais recursos

utilizados pelo centro para o tratamento das camadas marginalizadas da população do

interior e da capital do estado. O trabalho é realizado por meio de grupos comunitários,

além de programa de rádio e televisão, e atinge cerca de 50.000 pessoas. Também são

realizados seminários e assessorias em outros estados. As atividades do CNMP,

atualmente, estão se estendendo para o MST e para municípios além da região

metropolitana.

JOSÉ MARMO tornou-se membro da Ashoka quando coordenava um projeto de

prevenção da Aids nas comunidades de terreiros de umbanda e candomblé. Hoje, atua em

dois segmentos: em saúde, com um trabalho de prevenção da Aids voltado para toda a

comunidade afro-brasileira e que atinge direta ou indiretamente cerca de 40.000 pessoas,

o qual também avalia o impacto socioeconômico da epidemia na população negra; e, em

cultura afro-brasileira, com o Programa de Saúde do Grupo Cultural AfroReggae, voltado

para jovens da periferia. Do Rio de Janeiro, sua ação se estendeu para outras cidades

(Salvador, Recife, São Luís, Maceió e Belo Horizonte) e foi adotado como modelo de

intervenção para populações de baixa renda pela Secretaria Municipal de Saúde do Rio de

Janeiro. O projeto também virou um documentário, intitulado Odô-Ya! Life with Aids, que

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conquistou o prêmio de melhor documentário no Pan African Film Festival, o festival de

cinema negro mais importante dos Estados Unidos.

SUZANA PÁDUA atua em um projeto de educação ambiental, a partir do

envolvimento comunitário, no Pontal do Paranapanema, no estado de São Paulo. Seu

grupo, o Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPE), promove cursos de conservação da

natureza e temas afins em Nazaré Paulista, Brasília e São Paulo, com trabalhos dirigidos

aos assentados. Só no Pontal, o programa de educação ambiental festejou, no ano

passado, a marca de 50.000 visitas. Cerca de 400 famílias de assentados estão envolvidas

no projeto de agroflorestas, recebendo workshops e acompanhamento para a plantação de

árvores que unem fragmentos de matas, a fim de viabilizar o fluxo genético de várias

espécies da flora regional.

LEONARDO PESSINA é arquiteto e dá apoio e capacitação técnica, social e

organizativa para as comunidades que querem resolver solidariamente seu problema

habitacional e urbano. No Centro de Assessoria à Autogestão Popular (CAAP),

localizado em Santo André, no estado de São Paulo, ele orienta famílias e grupos

comunitários em torno da idéia de construir suas próprias casas, a preços baixos e com

boa qualidade. O processo inclui a formação de cooperativa para a compra do terreno e

dos materiais.

EDUARDO VALARELLI é artista plástico e, depois de viver uma experiência de

hospitalização, criou o Projeto Carmim, que promove ações educativas e culturais em

hospitais da cidade São Paulo, como uma forma de resgate da cidadania em situações de

total abandono. O Carmim não conta com nenhum patrocínio, motivo pelo qual, há 4

anos, Valarelli vinha atuando sozinho em 4 hospitais. No início de 1999, quando tornou-

se fellow da Ashoka, Valarelli passou a receber uma bolsa-manutenção paga pela

empresa seguradora Suiss Re. Com condições de dedicar-se íntegralmente à sua causa,

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começou a criar um grupo de voluntários e a exercitar uma parceria direta com a

seguradora para a confecção de cartões.

Um fato que nos chama a atenção é a data de fundação destes projetos, a sua

grande maioria na segunda metade da década de 90. O que é significativo, pois é neste

período que o crescimento e visibilidade do terceiros setor, da intervenção mais acentuada

das empresas, e o surgimento do conceito e prática do empreendedorismo social aparecem

de forma acentuada. Podemos até afirmar que este é um marco histórico quanto ao

surgimento deste fenômeno, bem como, da caracterização do estilo made in Brazil de

empreendedorismo social.

9.9 Novos fellows 2003, perfil e exemplificações

Os dados que a seguir são apresentados, são a transcrição literária extraída do

Boletim Ashoka, Junho 2003 , disponível em www.ashoka.org.br acesso em 21/08/2003.

ALEXANDRO SILVA CHAVES

Alexandro percebeu que, apesar da existência de exemplos bem sucedidos de

métodos alternativos de lavouras agroecológicas que aumentam a produção sustentável

entre pequenos produtores, o acesso das lavouras familiares aos mercados continua

pequeno. Para reverter essa situação, ele está implementando métodos agroecológicos

diversificados e ecologicamente sustentáveis, que unem sustentabilidade econômica,

inclusão social, preservação ambiental e geração de renda. Entretanto, o cerne da sua

idéia é proporcionar viabilidade econômica e agregar valor social, ecológico e cultural a

esses métodos por meio da agroecologia. Porto Seguro-BA.

AMÁLIA FISCHER

Amália criou um mecanismo de diversidade de foco para o investimento social no

Brasil, colocando a promoção dos direitos humanos da mulher no centro de uma nova

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filantropia. Sua mensagem é que o investimento bem aplicado no fortalecimento

socioeconômico, cultural e tecnológico das mulheres é um investimento em crianças,

adolescentes e na população em geral para promover a transformação social. Rio de

Janeiro-RJ.

ELIE GHANEM

A idéia de Elie rejeita a escola como uma instituição transmissora de um conjunto

ultrapassado de conhecimentos sem sentido ante os complexos problemas sociais e o

excesso de informação dos dias de hoje. Elie está modificando a orientação da educação

escolar, para fazer com que as escolas se tornem uma força mobilizadora na comunidade.

A escola rompe, assim, sua rotina e passa a lidar com questões como segurança pública,

desigualdade, desemprego, corrupção e conflitos domésticos e com os mecanismos

estruturais que os reforçam. São Paulo-SP.

GUILHERME SOUZA

Guilherme está transformando pescadores em produtores de pescado e protetores

do meio ambiente. Seu programa, o Projeto Piabanha, se destina a recuperar reservas de

peixe que estão diminuindo, principalmente de espécies nativas, e a usar essa atividade

como ponto de partida para um trabalho muito mais amplo, de recuperação do meio

ambiente e de criação de novas atividades econômicas no rio e às suas margens.

Itaocara-RJ.

HERIVELTO SILVA TEIXEIRA

Em seu projeto, denominado Minha história...minha vida, Herivelto mobiliza os

adolescentes e jovens envolvidos diretamente com o crime e a violência, tornando-os

conscientes de seus direitos e de suas responsabilidades como cidadãos. Ele está

formando educadores sociais da própria comunidade para trabalhar com os jovens no

restabelecimento de uma relação de confiança e respeito mútuo entre esses adolescentes,

suas famílias e suas comunidades. A idéia de Herivelto é colocar ao alcance desses jovens

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algumas oportunidades de apoio no processo de promoção de sua cidadania, oferecendo

ações educacionais, profissionais e culturais que lhes permitam fazer planos para um

futuro sem crime e violência. Fortaleza-CE.

KARLA EMMANUELA RIBEIRO HORA

Karla percebeu que a maior causa da baixa produção e do abandono da terra entre

as comunidades rurais beneficiadas pela reforma agrária é a falta de participação das

próprias famílias no planejamento e na administração da produção e do uso dos recursos.

Por meio de uma série de workshops, reuniões e cursos, Karla reuniu as famílias no

estágio inicial da formação de uma comunidade rural. Juntas, elas deram início a um

processo de organização da comunidade para criar entendimento, colaboração e

identidade entre famílias com diferentes origens geográficas e meios culturais. Goiânia -

GO.

LAURY CULLEN

Em uma ação em defesa dos últimos resquícios de mata atlântica, Laury está

utilizando seus conhecimentos como engenheiro florestal e sua capacidade de negociação

para introduzir a preservação ambiental entre os camponeses beneficiados pelo programa

governamental de reforma agrária, trabalhadores sem-terra e grandes proprietários

Teodoro Sampaio-SP.

MARLUZE DOS SANTOS

Agrônoma e defensora do meio ambiente e da igualdade de raça e gênero, Marluze

está mobilizando mulheres em comunidades rurais negras em uma experiência de

mudança de métodos agrícolas tradicionais para sistemas mais produtivos e sustentáveis,

que atendam melhor às necessidades de suas famílias. São Luís-MA.

MIRIAN ASSUMPÇÃO E LIMA

Mirian está trabalhando para desenvolver um sistema de policiamento mais eficaz

que integre policiais e membros da comunidade. Substituindo a força pela inteligência,

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ela introduz, em workshops para oficiais da polícia, o debate de temas como direitos

humanos, mediação de conflitos e solução de problemas. Mirian também elabora, em

conjunto com a comunidade, projetos sociais para melhorar as relações entre a população

e a polícia. E, o que é mais importante, cria novos caminhos e novas oportunidades para

que os jovens construam seu próprio futuro. Belo Horizonte-MG.

PAULO CÉLIO FIGUEIREDO

Paulo Célio está usando a água (ou a falta dela) para unir diferentes setores da

sociedade, criar parcerias e desenvolver ações que melhorem a qualidade de vida das

populações ribeirinhas no Brasil a partir da bacia do rio Doce. Ao contrário de outras

iniciativas para o aproveitamento da água, a abordagem de Paulo Célio, mais conhecido

como Catatau, utiliza a legislação em vigor para envolver a comunidade na tomada de

decisões sobre a terra e a água da bacia do rio Doce, criando comitês de bacia,

organizações não governamentais, conselhos e outros fóruns coletivos, ampliando sua

ação para outras bacias hidrográficas do país. Governador Valadares-MG.

RUBENS GOMES

Rubens está promovendo uma nova dinâmica de desenvolvimento regional que

tem por prioridade o manejo sustentável dos recursos naturais. Rubens elaborou técnicas

para promover o uso múltiplo e sustentável dos recursos da floresta da região amazônica.

Seu projeto pioneiro para produção de instrumentos de corda com madeira certificada,

dirigido a jovens da periferia de centros urbanos, é o centro de um programa mais amplo

para treinar comunidades urbanas e rurais na transformação de recursos naturais em bens

sociais. Manaus-AM.

SOCORRO GUTERRES

Socorro está implementando um sistema contra o preconceito e o racismo na

escola por meio do treinamento dos professores das zonas rurais de população negra. Em

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sua ação para valorizar a riqueza e a diversidade cultural nas salas de aula, Socorro

estimula a auto-estima dos estudantes negros e contribui para sua permanência e suas

possibilidades de êxito na escola. O seu sistema reduz a evasão escolar, a repetição e as

reprovações, que contribuem para a marginalização econômica e social. São Luís-MA.

VALDECIR PEDREIRA DO NASCIMENTO

Valdecir Nascimento coordena um programa educativo e de formação de

cidadania de jovens adolescentes negros com ênfase em trabalhadoras domésticas que

visa humanizar e profissionalizar o trabalho doméstico, com a criação de novas

oportunidades educacionais e profissionais. A idéia de Valdecir é fortalecer as jovens

trabalhadoras domésticas para que exerçam seus direitos e se tornem articuladoras de uma

nova forma de trabalho doméstico respeitada e valorizada econômica e socialmente.

Salvador-BA.

9.10 Divulgação e informação

Através da Home Page e de um Boletim eletrônico, a Ashoka mantém informados

os fellows e a quem mais se interessar sobre as noticias e informações sobre

empreendedorismo social, no Brasil e no mundo. Disponibiliza também uma série de

artigos, elaborados por seus membros como outros colaboradores. São também

publicados trabalhos e livros sobre empreendedorismo social. Este é fruto das ações e das

atividades da Ashoka, exemplo do livro, “Empreendimentos sociais sustentáveis: como

elaborar planos de negócio para organizações sociais”, isso decorrente do Prêmio

Empreendedor Social. São realizados encontros entre os fellows para avaliação dos

trabalhos e troca.

Todas essas atividades e estratégias são permeadas, tendo com base um série de

princípios e conceitos chaves. Procuramos selecionar os principais.

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9.11 Principais conceitos e princípios sobre empreendedorismo social

A Ashoka propõe a construção de uma modalidade diferente de organização,uma associação mundial de empreendedores sociais baseada no respeito mútuoe na colaboração, uma instituição feita para os empreendedores sociais comopor eles. (Cf. www.ashoka.org.br/comunicacao/sobre_associacao.htm)

A Ashoka sempre acreditou que mudanças sociais são lideradas e disseminadaspor pessoas com capacidade de liderança, criatividade e comprometimentosuficiente para resolver de forma efetiva problemas sociais em sua comunidadeou num âmbito maior. (Cf. www.ashoka.org.br/comunicacao/sobre_associacao.htm)

9.11.1 Lucro social

A mesma força empreendedora que leva gente como o fundador da Microsof(Bill Gates) a erguer impérios move milhões de pessoas, em vários cantos domundo, a tentar solucionar problemas sociais. (LOBO, 2002, p. 3)

“Entre os objetivos perseguidos por seus membros estão a diminuição dos abismos

econômicos entre diferentes grupos sociais e entre as nações e o aprofundamento da

democracia.” (LOBO, 2002, p. 3)

“Os fellows apresentam alternativas inovadoras de atuação social que podem e

devem ser multiplicadas por outras pessoas, ONGs e governos.” (LOBO, 2002, p. 3)

A adoção da idéia pelo poder público é uma meta já alcançada por váriosmembros da Ashoka Brasil. Inclusive por um dos 14 fellows recém aprovados,cuja história de vida é, no mínimo surpreendente. (LOBO, 2002, p. 3)

Fala sobre Roberto Silva, ex-interno da FEBEM, que hoje é doutor em educação e

professor na USP, de SP e presidente da ONG História do Presente.

A entidade seleciona pessoas que demonstrem já terem adquirido, antes deiniciar o projeto, competência suficiente para tornar a tarefa factível. Mas issonão quer dizer que a ONG tem a pretensão de encontrar profissionais 100%preparados para enfrentar os desafios a que se propõem. (LOBO, 2002, p. 3)

“O papel mais importante da entidade é proporcionar o contato entre diversos

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empreendedores sociais ao redor do mundo.” (LOBO, 2002, p. 3).

Pesquisa realizada no 1º Encontro empresarial, 73 %, já estabeleceram parcerias

com empreendedores sociais e ONGs; 92%, a busca do parceiro foi através de contatos

pessoais, empresários ou indicação de organizações do Terceiro Setor, tendo

predominância nos seguintes critérios:

q 33%, credibilidade da organização (sendo determinante);

q 26%, projeto social deve estar afinado com os interesses da empresa;

(despolitização);

q 22%, a qualidade do projeto;

q 7 %, o orçamento ser compatível com a disponibilidade da empresa.

Para a empresa, é a possibilidade de exercer seu papel com relação a sociedade.Para o empreendedor social é o canal para fortalecer seu trabalho e projetar ummaior impacto social. Para ambos, é um meio de agregar valores, técnicas,conhecimentos e recursos para um objetivo comum: o desenvolvimento social.(LOBO, 2002, p. 3)

“Empreendedores sociais, indivíduos que desejam colocar suas experiências

organizacionais e empresariais mais para ajudar os outros do que para ganhar dinheiro.”

(RAO, 2002)

Um empresário de negócios possui níveis de visão, criatividade e determinaçãoexcepcionais e, freqüentemente, cria indústrias totalmente novas [...] Umempreendedor social possui exatamente as mesmas qualidades, porém ele – ouela – dedica-se a encontrar novas soluções para problemas sociais.(DRAYTON)

9.11.2 Capital de risco social

Assim com um aprovisionamento de capital de risco, a Ashoka busca pessoascom energia, entusiasmo e projetos claramente definidos. A instituição lhesgarante um pequeno apoio financeiro para cobrir despesas pessoas demanutenção, deixando-os livres para se dedicarem totalmente aos seus sonhos.Ajuda-os a adquirir as habilidades que lhes faltam – como divulgar sua história,levantar fundos para executar e expandir seu trabalho e os coloca em uma redeinternacional de indivíduos com os mesmos interesses, com os quais trocamidéias, contatos e fellowship. (DRAYTON)

Dinheiro não é a resposta. Nós damos aos empreendedores sociais das

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comunidades o poder para conduzir seus projetos e depois saímos de seu caminho. É

impressionante como se tornam eficientes na busca de suas próprias soluções.”

(DRAYTON) [grifo nosso]

“Drayton acredita que, muitas vezes, o próprio governo é o problema. Ele sabe

que o governo não somos ‘nós’, mas apenas um outro ‘eles’.” (DRAYTON)

“São consultados assistente sociais, o clero, políticos, burocratas, educadores e

ambientalistas. Quais são os problemas sociais que vocês estão enfrentando?”

(DRAYTON).

9.11.3 Perfil dos empreendedores sociais

Eles precisam ter idéias criativas e inteligentes que possam se transformar emum novo padrão para a sociedade como um todo. Devem ser totalmenteconfiáveis. O mundo já possui um número suficiente de líderes corruptos. AAshoka não deseja aumentar o estoque. (DRAYTON)

Não desejamos ajudar a abrir novas escolas, porém queremos fazer todo opossível para ajudar alguém que está apresentando um método melhor deensino – uma idéia que possa ir muito além dos muros da escola onde foiprimeiramente apresentado. (DRAYTON)

“Mais de 900 fellows da Ashoka em todo o mundo destroem pouco a pouco a

injustiça e estão tornando a vida mais enfrentável para mais necessitados.” (DRAYTON)

O governo será responsabilizado por muitas coisas boas, porém, tem-seprovado que nenhum governo pode resolver os problemas intrínsecos de nossacidade [...] Esses esforços funcionam apenas quando as pessoas estão convictasde sua responsabilidade, e isto não pode ser produzido por uma secretária deestado. Numa época em que o socialismo provou ser um triste fracasso e osprogramas de governo criam mais problemas do que resolvem, a Ashoka podemuito bem estar nos mostrando um caminho para um mundo melhor.(DRUCKER, 1997)

9.11.4 Terceiro Setor engajado diferente da caridade religiosa

O movimento da sociedade é muito mais amplo do que a caridade. O TerceiroSetor engajado não se limita a uma visão religiosa da solidariedade, sua

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concepção da sociedade em si e dos deveres e direitos do cidadão que nela viveé muito mais vasta e abrangente. Não pretende apenas amenizar as dores damiséria, mas antes despertar no indivíduo a consciência de sua cidadania, comtudo o que isso representa. (ROMEU, c-145)

O estado e o mercado já perceberam seu potência (Terceiro Setor) e sua imensacapacidade de atuação, e delas se valem para formar parcerias e fortalecer suaatividades de modo harmonioso. São características essenciais da atividade doTerceiro Setor a convicção da necessidade de intervir para consertar os erros esuprir as falhas do primeiro e do segundo setores, a profunda solidariedade aooutro, a certeza da responsabilidade de cada um na construção de umasociedade sem exclusão. (ROMEU, 2003)

9.11.5 O voluntariado no Terceiro Setor sendo substituído pelo empreendedorismosocial

Aos poucos, a essa característica se acrescentou outras: a do empreendedorsocial, aquele que trabalha em tempo integral pelo aperfeiçoamento dasinstituições sociais e por melhores condições de vida de imensos segmentoscarentes da população e recebe um salário, isso sem que comprometa seufundamento: a solidariedade social e a noção de estar melhorando o exercícioda cidadania, em si mesmo e nos que são objeto de seu trabalho. (ROMEU,2003)

9.11.6 O empreendedorismo social como carreira profissional

Para o indivíduo que anseia pela oportunidade de trabalhar pela sociedade e aomesmo tempo fazer uma carreira profissional de sucesso, sendo seu própriopatrão, há caminhos que se abrem desde que sua idéia seja viável, seu projetocoerente, bem elaborado e capaz de provocar mudanças profundas em suaárea de atuação e que se disponha a trabalhar duro para concretizar seuobjetivo de tornar um ‘empreendedor social’ (ROMEU, 2003) [grifo nosso]

“Os empreendedores sociais são uma categoria profissional que veio para ficar e

se multiplicar no futuro.” (DRAYTON apud ROMEU, 2003)

O Terceiro Setor não muda apenas as condições de vida das comunidadescarentes. Também modifica a realidade do mercado de trabalho, com a aberturade um novo e promissor ramo de atividade remunerada para dezenas demilhares de pessoas, ampliando as possibilidades de emprego e de satisfação notrabalho, elemento indispensável para realização pessoal e a felicidade dotrabalho. (DRAYTON apud ROMEU, 2003)

9.11.7 O que é empreendedor social?

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Chamados de fellows na Ashoka, são pessoas que têm idéias inovadoras parasolução de problemas na comunidade. Inovação, aliás, é o principal quesitopara se tornar um membro da instituição – a Ashoka não investe, por exemplo,em projetos para construção de creches, mas naqueles que transformarão toda ametodologia de ensino dentro das creches. (CANTERO, 2002)

9.11.8 Empreendedorismo social como paradigma

Uma das forças mais poderosas no mundo é uma grande idéia capaz depromover uma mudança de paradigma, se ela estiver nas mãos de umempreendedor. A conseqüência é uma mudança de várias inovações,adaptações a aplicações locais. Para que ocorra a mudança de paradigmassociais, duas coisas são necessárias: uma nova idéia e um empreendedor socialque a conceba, desenvolva e lidere sua implementação. (SCHINDLER, 2002)

9.11.9 O empreendedor social surge do crescimento do Terceiro Setor

As últimas duas décadas representam uma extraordinária virada, a quebra davisão do setor social como um setor esquálido. Em quase todo o globo o setorsocial despontou. O empreendedorismo social se multiplicou, a competiçãosurgiu e cresceu. Em vários países, o número de organizações sociais dobrou.(SCHINDLER, 2002)

Por trás deste crescimento, estão muitos empreendedores sociais. O trabalhodeles é promover uma mudança, reconhecendo quando a sociedade está paradaem um paradigma ineficiente e concebendo uma alternativa melhor e maiseficiente. Eles enfrentam todos os obstáculos para tornar sua idéia umarealidade e não descasam enquanto não envolvem toda a sociedade. Sãoessencialmente, indignados com as injustiças sociais e com velhos padrõescomportamentais comprovadamente ineficazes. Buscam, encontram eimplementam soluções inovadoras para problemas sociais. Não vão fundar umacreche, uma escola ou um hospital, mas tentarão reformular toda a estruturaeducacional, de saúde ou a metodologia de se trabalhar com crianças.(SCHINDLER, 2002)

9.11.10 Empreendedorismo social participação e cidadania

Os empreendedores sociais necessitam de um forte suporte da sociedadecivil e seus cidadãos necessitam desenvolver as bases para que seusempreendimentos sociais alcancem impacto: recursos financeiros, humanos,técnicos, informação e mensuração de resultados. Precisam alcançarsustentabilidade. Se não houver uma base de cidadania nas organizaçõessociais, ou seja, enquanto não houver uma participação dos cidadãos, essasorganizações correrão o risco de dependerem de poucas fundações e dogoverno. (SCHINDLER, 2002) [grifo nosso]143

143 Este texto é uma tradução do texto em inglês: The entrepreneur´s revolution and you (Mudanças sociais

que dependem de nós) Agust, 2, 2000.

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9.11.11 Integração entre os três setores

Algumas questões sociais importantes no Brasil estão sendo colocadas empauta ativamente pelo setor empresarial. Não se trata do fato que os setorespúblico e social não tenham despendido devida atenção a tais questões nasúltimas décadas. Mas sim que elas passaram a ter maior visibilidade, à medidaque as empresas estão sendo chamadas a desempenhar seu papel social, atravésdo cumprimento de legislações que as obrigam a incluir camadas sociais antesdeixadas de lado pelo mundo do trabalho. (SCHINDLER, 2002)

“Para alguns economistas e cientistas sociais, o crescimento espantoso de

organizações lideradas pela sociedade civil sinaliza uma nova forma de revolução

mundial.” (BORNSTEIN, 1999)

Organizações fundadas por indivíduos desempenharam, historicamente, umpapel vital nas democracias. Aléxis de Tocqueville, escritor na década de 30,observou que nada era mais digno de atenção do que as associações existentesna América. O direito de voto das mulheres, a organização do trabalho, osdireitos civis, a proteção ao consumidor, a proteção ambiental, a liberdade doshomossexuais e dos direitos dos deficientes são, todos, movimentosencabeçados por organizações da sociedade civil. (BORNSTEIN, 1999, p. 2)

O que diferencia hoje, contudo, não é apenas o número crescente desses gruposno mundo, mas também a visão de que eles são parte de um setor distinto, setoresse que, assim como o governo, atende a funções sociais essenciais, porémcom muitas qualidades de negócios empresariais. O resultado, nesse caso, éprimordialmente o progresso social. (BORNSTEIN, 1999, p. 3).

As organizações estão competindo por dinheiro, por reconhecimento e porequipes [...] o setor civil está liderando o lado social da sociedade através dasmesmas mudanças que transformaram a economia européia três séculos atrás[...] Assim como o comércio e a indústria eram monopolizados séculos atrás, osgovernos colônias e autoritários também monopolizaram muito o cenáriosocial. Os vice-reis na Índia, os comunistas na Europa Central e os generais naAmérica Latina tiveram pouca tolerância com os cidadãos que tentaramengendrar um reforma social mais abrangente. (BORNSTEIN, 1999, c-127)

Assim que as colônias ganharam independência e a democracia se espalhou,surgiram oportunidades para aqueles que Drayton definiu comoempreendedores sociais. Essas pessoas, diz ele, têm visão estratégica,habilidade e determinação, não descansam enquanto não resolverem osproblemas sociais não apenas na sua localidade, mas em todo o sistema.(BORNSTEIN, 1999, p. 4)

9.11.12 O ciclo de vida dos empreendimentos sociais

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Outro conceito defendido e, atualmente adotado, por muitas organizações sociais,

é o entendimento de que um empreendimento social tenha um ciclo de vida próprio e que

se diferencia de outros projetos sociais.

Em geral, o empreendimento se inicia com a percepção de um problema sociale a busca de soluções – inovadoras ou já conhecidas, seguindo-se uma fase deteste da solução e sua implementação no público beneficiário ou nacomunidade. (Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar planos denegócios para organizações sócias. (Empreendimentos Sociais sustentáveis:como elaborar planos de negócios para organizações sociais.Ashoka/McKinsey, 2001, p. 17)

Desta forma, o ciclo é composto de cinco fases que, a seguir, veremos mais

detalhadamente.

1ª FASE: Percepção de um problema e proposição para resolver:

Nesta primeira fase, o empreendedor social se vale de sua capacidade de

percepção, principalmente local, ou seja, das necessidades da comunidade e dos desafios

para o enfrentamento das mesmas. Neste instante, procura não só olhar o problema mas

busca encontrar uma solução para o que foi observado, e isto de forma inovadora, como

afirma a Ashoka, “o empreendimento se inicia com a percepção de um problema social e

a busca de soluções – inovadoras ou já conhecidas.” (Empreendimentos Sociais

Sustentáveis: como elaborar planos de negócios para organizações sociais.

Ashoka/McKinsey, 2001, p. 7)

2ª FASE: Teste da solução proposta:

Após a observação, busca e apresentação de uma solução, segue a fase de teste da

solução, junto ao público alvo ou na comunidade como um todo.

3º FASE: Aprendizagem:

Esta fase é considerada um momento em que o empreendedor social

enfrentará os mais diversos obstáculos para gerar os primeiros resultadossociais na comunidade [...] desenvolvimento da metodologia, passando pelofinanciamento pessoal, da equipe e do projeto, até sua implementação.

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(Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar planos de negóciospara organizações sócias. Ashoka/McKinsey, 2001, p. 17)

4ª FASE: Institucionalização:

É a fase onde o processo de aplicação ocorre de fato e verifica se realmente produz

ou não impacto social e mudanças significativas quanto ao problema enfrentado. É um

momento que requer o uso de ferramentas de gestão na busca de eficiência e eficácia para

sua sustentabilidade.

Esta é provavelmente a fase mais longa do ciclo de vida, na qual é fundamentalconduzir análises como as desenvolvidas em um plano de negócio, pois oempreendedor deve estruturar-se para gerar impacto social e buscar suasustentabilIdade a longo prazo. ((Empreendimentos Sociais Sustentáveis: comoelaborar planos de negócios para organizações sócias. Ashoka/McKinsey, 2001,p. 17)

5ª FASE: Maturidade, multiplicabilidade e visibilidade

A fase seguinte é talvez a que mais caracteriza o empreendimento social, pois

diferente de outros empreendimentos comerciais, é onde se esconde o “pulo do gato”,

para que o concorrente não faça o mesmo, no empreendimento social; esta é a principal

idéia, a solução proposta não deve ficar restrita a sua localidade, mas, ao contrário, deve

atingir uma maturidade tal, que possa ser duplicada. Um caso exemplar, citado não só

pela Ashoka, mas também por vários outros especialistas, é o do Grammen Bank,

programa de microcrédito criado por Mohames Yunnis em Bangladesch, isto na década

de 70. Hoje, a idéia é reconhecida e multiplicada em várias partes do mundo, inclusive

como programa de política pública, em âmbito nacional, estadual e municipal. (Cf.

FONTES, 2003 e PUCHMANN, 2002)

É também, neste momento, que a proposta se torna visível, notória e reconhecida,

e significa que o empreendedor social “está pronto para empreender novas idéias e novas

soluções para problemas sociais.” (Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar

planos de negócios para organizações sociais. Ashoka/McKinsey, 2001, p. 7)

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9.11.13 Gestão da organização social e organização privada

A partir da realidade da sociedade Brasileira e sua diversidade de organizações,

bem como a legislação vigente, a Ashoka apresenta uma concepção diferenciada de

organização social que pode ser considerada como organização do Terceiro Setor sem

fins lucrativos e voltados especificadamente para ações sociais. Isso contrapõe a outros

tipos de organizações, que fazem parte do Terceiro Setor, mas não necessariamente,

trabalham no campo social e na resolução de seus problemas. Desta forma, a Ashoka

entende que,

Para simplificar as conceituações apresentadas na legislação brasileira,consideramos como parte do Terceiro Setor organizações que:q tenham uma clara atuação social, em uma das suas mais diversas formas;não tenham fins lucrativos, isto é, direcionam todo o superávit de suasoperações para a própria organização. (Empreendimentos Sociais Sustentáveis:como elaborar planos de negócios para organizações sociais.Ashoka/McKinsey, 2001, p. 18)

Para melhor ilustrar a gestão de organizações do Terceiro Setor na perspectiva do

empreendedorismo social, faz um comparativo entre o ciclo de um negócio privado e um

negócio desenvolvido em uma organização do Terceiro Setor. Constatamos no quadro

abaixo:

Quadro 9: Diferença da gestão de um negócio em uma organização privada em uma do

Terceiro Setor.

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Indicador Organização privada Organização Terceiro Setor

Investimento

(recursos para

manter a operação

da organização)

Investimento de capital financeiro

(dinheiro), conseguido por empréstimos,

ou acionistas;

Investimento de capital humano (pessoas),

contratados

- Investimento de capital financeiro

(dinheiro) conseguido doações,

jurídicas, ou pessoas físicas;

- Investimento de capital humano

(pessoas), voluntários ou

contratação144

Operação

(processos que

agregam valor ao

investimento)

-Gera lucro a partir da fabricação de um

produto ou prestação de um serviço;

-Não gerando superávit, causam prejuízo

e fecham,

-Perdem a razão de existir

- Deve gerar impacto social;

- Processos que gerem benefícios

para a sociedade

- Gerar recursos para seu custeio

- Não precisa apresentar superávit

como a organização privada

Resultado - Quantidade de lucro – superávit

- Superávit distribuído entre os acionista e

agregado ao seu patrimônio particular;

- Outra parte retorna para o negócio

- Impacto social das ações da

organização

- Analisar o superávit e seu

reinvestimento na organização

- Não gerando superávit fica

dependente, o contrário a torna

auto-sustentável

Fonte: Criado pelo autor a partir de Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar planos denegócios para organizações sociais. Ashoka/McKinsey, 2001, p. 20.

Nesta perspectiva, no entendimento da Ashoka, a diferença entre a gestão de

organizações e negócios privados, e de organizações sociais do Terceiro Setor estão

basicamente em dois pontos: a) pelos objetivos; e b) pelas alianças. Desta forma, e sob o

aspecto de processos internos, uma organização do Terceiro Setor pode ser tão ou mais

complexa de administrar do que uma empresa privada, já que, ao adotar operações para

geração dos recursos, está utilizando processos idênticos ao de uma empresa privada.

(Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar planos de negócios para

organizações sociais. Ashoka/McKinsey, 2001, p. 21)

Ressalta também que, apesar desta constatação, muitas organizações do Terceiro

Setor não fazem uso das principais ferramentas de gestão e gerenciamento empresarial

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mais modernos, entre elas, o plano de negócios, que a Ashoka apresenta adaptado para o

campo social, a partir da experiência vivenciada com o do Prêmio Empreendedor Social,

que foi vivenciado por gestores sociais e auxiliado por consultores da McKinsey e da

Ashoka.

O plano de negócio social se apresenta como uma ferramenta estratégica para a

gestão social empreendedora. No Brasil, não encontramos, além da Ashoka, outro

material mais consistente voltado para o empreendedorismo social. Um único trabalho

que se assemelha a esta proposta é o da Professora Renata Vieira, da UFSC que, em seu

mestrado, apresentou uma proposta de desenvolvimento de Projeto Social, no entanto sua

estrutura, que tem como parâmetro e base teórica as propostas oriundas da área

empresarial e da administração, caracteriza-se mais como um plano de negócio.

A seguir, vamos analisar este conceito e proposta de Plano de Negócio da Ashoka.

9.11.14 Plano de negócio social

No campo empresarial, o plano de negócio ou “Buseness Plan” foi criado nos

EUA com a finalidade de apresentar projetos para captar recursos e financiamentos de

risco. Segundo a proposta da Ashoka, o plano de negócio é uma ferramenta muito

importante para aumentar o impacto social gerado pelo seu negócio, além de fornecer

subsídios para a busca da sustentabilidade do empreendimento em longo prazo.

A importância do PN é propiciar uma análise clara e aprofundada de todos os

passos do projeto, o que pode dar maior qualidade ao processo como um todo.

Com uma análise clara da situação, o plano de negócio torna-se ferramenta

importante para superar problemas, contribuindo de forma significativa para aumentar a

144 A Ashoka ressalta que as organizações do Terceiro Setor, que contratam profissionais, se encontram

num estágio mais evoluído de gestão.

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probabilidade de sucesso de um empreendimento. (Empreendimentos Sociais

Sustentáveis: como elaborar planos de negócios para organizações sociais.

Ashoka/McKinsey, 2001, p. 23)

Na atualidade, tanto na área privada como social, o PN é um instrumento de

análise e estruturação que possibilita a visualização da proposta, bem como dá maior

visibilidade à proposta.

Segundo a proposta da Ashoka, o PN, voltado para o campo Plano de Negócio

Social (PNS), tem como principal desafio à geração de recursos. Mas, além desta

finalidade, há outras que são destacadas:

A) ferramenta para captação de recursos;

B) estruturação de uma nova linha de atuação;

C) planejamento de atividades para gerar recursos;

D) auto-análise da organização e orientação estratégica para o futuro.

Em síntese, o PNS segue um fluxo com as seguintes questões a serem

respondidas: 1) elaboração de uma idéia; 2) possui um diferencial?; 3) existe mercado?;

4) os riscos são aceitáveis; 5) é possível obter financiamento, qual é a melhor opção?

Desta forma, a Ashoka apresenta três tipos de PNS: 1) para captação de recursos,

de futuros investidores; 2) geração de recursos por meio de produção; e 3) geração de

recursos por meio de serviços.

Considera-se que o PNS seja um processo formal, culminando no registro de um

documento que atendam às necessidades de apresentação da idéia de modo a convencer e

captar recursos e apoio para sua implementação.

A Ashoka propõe o seguinte roteiro e formato do PNS:

1. sumário executivo: uma visão sumária mas aprofundada da proposta;

2. organização: dados referentes à organização e as atividades desenvolvidas;

3. produto/serviço: descrição dos produtos e serviços a serem elaborados;

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4. mercado: estudo de mercado, apresentando dados que demonstrem a

viabilidade de aceitação do produto ou serviço;

5. marketing: um plano de marketing e de distribuição do produto, formas de

apresentação para o público alvo;

6. equipe gerencial: deixa claro que faz o que e a forma de gestão do negócio;

7. planejamento financeiro: demonstra quanto e como será investido e o retorno

deste investimento;

8. riscos e oportunidades: apresenta as possibilidades e limites do negócio, mas

ressaltando o fator oportunidade o que pode uma margem maior, de sucesso;

9. plano de implantação: o como e quando será implantada a idéia.

Esta estrutura e roteiro também seguem a prescrição de um quantitativo de páginas,

para que o documento final não se torne extenso e permita a objetividade. O resultado é

vista da seguinte forma:

Quadro 10: Estrutura Plano de Negócio Social, modelo Ashoka.

Elementos Número máximo de páginas

Sumário executivo 3

Organização 3

Produto/serviço 5

Mercado 5

Marketing 5

Equipe gerencial 2

Planejamento financeiro 6

Riscos e oportunidades 4

Plano de implantação 1

Total 34

Fonte: Empreendimentos Sociais Sustentáveis: como elaborar planos de negócios para organizaçõessociais. Ashoka/McKinsey, 2001, p.27.

Como podemos ver, é uma proposta formal e sistemática. Esse aspecto tem levado

a Ashoka a receber algumas críticas, como sinaliza Lobo (2002), ao entrevistar uma

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diretora da Ashoka.

Uma crítica comumente feita à Ashoka diz respeito à adoção de critériosempresariais uma elaboração e gestão de projetos sociais. Às vezes, noscriticam, dizendo que impomos uma formatação empresarial aos projetossociais, quando a nossa intenção é que as técnicas sejam postas a serviço dosideais e da paixão dos empreendedores sociais. Diz Anamaria. Ela acredita queé importante passar esse tipo de conhecimento aos fellows para que eles possamconquistar maior autonomia, eficiência e poder de persuasão. ‘Transferimosconhecimento empresarial para a área social, sem tentar abolir as característicasque diferenciam os dois setores.’ Afirma [...] a Ashoka não pretende aboliressas diferenças, mas transferir conhecimento útil das empresas para osprojetos. ‘Às vezes, a cooperação faz com que os empreendedores empresariaisacabem absorvendo valores e conhecimentos dos que trabalham com asquestões sociais, o que também é ótimo.’ (LOBO, 2002, p. 4)

Caberia, neste momento, um adendo sobre este conceito e sua efetividade. Não

que tenhamos dados levantados sobre o assunto, mas por termos participado do processo

em 2001 e 2002, através da ONG Aldeia Infantil Bedesda (AIB) em Toledo-PR, além de

analisar o material, tanto da apostila do concurso, como do livro, o que nos confere certa

condição de uma análise crítica a tal assunto.

Um primeiro ponto a ser ressaltado é a questão da rigidez quanto ao estilo

empresarial. Na primeira vez que participamos do processo, pudemos constatar que, de

fato, ela existe. Esta rigidez a que se refere Lobo, em relação à crítica que é feita a

Ashoka, bem como em relação à questão de se “impor” um estilo empresarial, pode ser

visto quando da primeira inscrição da AIB. Na ocasião, tivemos dificuldade de conseguir

um aluno de administração, o que seria uma das orientações e condições para inscrição da

ONG.

Ligamos para a coordenadora da Ashoka, sra. Ani, e solicitamos na época, que se

poderia o aluno ser de um outro curso, por exemplo, o de Serviço Social. Ela foi taxativa

“preferivelmente de administração, só se não for mesmo possível, pode até ser de Serviço

Social.” (sic) Quando indagamos sobre o porquê desta colocação, respondeu-nos “é

decorrente ao conteúdo teórico e técnico serem muito específicos da área de

administração.” (sic)

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Felizmente, na ocasião, tínhamos uma aluna na Unioeste, que estava no quarto ano

de Serviço Social, mas também estava fazendo o terceiro de administração em outra

Universidade, o que preencheu satisfatoriamente as exigências da Ashoka e a necessidade

da AIB. O resultado mostrou uma experiência muito gratificante.

Um segundo ponto é a questão da formalidade que se mescla à necessidade do

processo ser participativo, dinâmico o que, muitas vezes, não ocorre quando muitas vezes

há uma formalização rígida.

O terceiro ponto a ser destacado é o retorno do processo, principalmente, para

quem é desclassificado, como no caso da AIB. Quando soubemos que não havíamos

passado para a segunda fase, a apresentação e descrição da organização e produto, só nos

foi comunicado a desclassificação, nada mais.

Como a intenção era aprender, e acreditamos que a proposta do concurso era

ensinar, entramos em contato novamente, agora por e-mail, para saber o porquê de nossa

desclassificação. Procuramos deixar claro em nossa solicitação que não estávamos

duvidando da desclassificação, não era um questionamento de protesto, mas sim de saber

qual fora o erro, até para corrigi-lo e melhor se preparar para um outro momento, e

internamente, prosseguir com o processo que foi desencadeado.

A resposta demorou um pouco e, quando veio, não foi no sentido de apontar, mas

simplesmente dar uma vaga razão da desclassificação, e o reconhecimento deste ponto, ou

seja, um retorno, ser uma falha do concurso, como poder ser visto no e-mail devolvido

pela coordenação, em 11/12/2001 (em anexo), de que, em seguida, transcrevemos alguns

trechos.

“Prezado Edson,

Realmente este é um ponto crítico do processo que necessita ser repensado.

(grifo nosso)

Estamos já caminhando neste sentido e para o ano que vem esperamos estar

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melhor preparados para dar um feedback mais personalizado.

Dentre os vários critérios da ficha de avaliação estou destacando alguns trechos

que mais influenciaram na nota final da sua OSCs e de muitas outras:

q o negócio é uma idéia de caráter inovador para geração de renda, mas ele em

si não está diretamente ligado à missão da OSC;

q o negócio proposto parece ser implementável, mas OSC não apresentou

claramente o caminho que pretende percorrer.

q o negócio tem um impacto social significativo para a comunidade específica,

mas não parece ser replicável ou ter o potencial de gerar novos projetos.

Um outro ponto que está interligado a este fator é que o PNS, em sua fase inicial e

no seu desenvolvimento, pressupõe que a organização já tenha elaborado o seu

planejamento estratégico, o que não é um fato, e que pode ser comprovado a partir da

experiência relatada, onde a própria IAB, que já existe há mais de 30 anos antes deste

processo, não havia feito um planejamento estratégico, e foi exatamente este ponto, em

relação à sua proposta, que a desclassificou no concurso.

Em outras palavras, deve-se aplicar um modelo empresarial, dentro de uma

cultura, como é predominante nas organizações do Terceiro Setor, que ainda não tem a

vivência como outros processos necessários, principalmente quanto ao estilo gerencial e

da relação de poder que está incutido neste processo.

Logo, esta rigidez pode ser tanto proveitosa, pois, em muitas organizações, a

experiência mostra que há uma dispersão muito grande, necessitando de uma maior

objetividade e pragmatismo, mas que deve, como propõe a Ashoka, respeitar as

especificidades e dinâmica de cada uma e, ao mesmo tempo, promover a mudança

efetiva, como bem defende Argus (2001), é preferível uma abordagem interdisciplinar

para se evitar tal rigidez.

Ainda sobre o PNS, a Ashoka estabelece alguns critérios quanto à qualidade do

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mesmo, e deve apresentar três pontos fortes: 1) clareza; 2) objetividade; e 3) redação

uniforme e profissional em que trata sobre este assunto, há algo que é digno de nota. São

apresentadas várias figuras para ilustrar estes conceitos, em sua maioria, apresentam-se

homens de gravata e terno em um ambiente de escritório, retratando um cenário

empresarial, o que é diferente do ambiente de uma organização social, tanto quanto da

vestimenta como da organização do ambiente de trabalho. Isso reforça, consciente ou não,

a perspectiva empresarial da abordagem do empreendedorismo social.

Como forma e/ou estratégia para elaboração do PNS é proposta a metodologia de

trabalho: 1) planeje o seu trabalho; 2) enfoque o produto final; 3) adapte as orientações ao

seu negócio; e 4) procure apoio (empresário).

9.11.15 Contribuição dos empreendedores sociais

O trabalho de Pádua e Rouere (2002), onde se apresenta o resultado de um

encontro de empreendedores sociais ligados a projetos de proteção ambiental, mostra o

conceito e compreensão do papel do empreendedor social no Brasil. Ressaltamos a seguir

os principais pontos deste trabalho.

Relatos reais, experiências factíveis e de integração entre os três setores.

“Os relatos aqui expostos são trabalhos exitosos que vêm para somar no redesenho da

relação entre comunidade, governo e setor privado” (PÁDUA & ROUERE, 2002, p.13),

ou seja:

constituem a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores, cujoprotagonismo na área social produz desenvolvimento sustentável, qualidade devida e mudança de paradigma de atuação em benefício de comunidades menosprivilegiadas. (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 13).

Entre a mudança de paradigmas e de ações, as autoras ressaltam o conceito de

empoderamento da comunidade, ou seja, o fortalecimento dos cidadãos, de apontar

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caminhos inovadores de promoção de “equidade social, cultural, econômico e ambiental

pela otimização de recursos e competências que possibilitem atividades financeiramente

viáveis e ambientalmente sustentáveis.” (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 13)

Aponta com clareza o papel significativo da Ashoka para esta finalidade, tem

como missão e compreensão sobre o que empreendedor social.

Identidade da Ashoka:

organização da sociedade civil que tem por missão investir em empreendedoressociais, e conseqüentemente, promover o conceito de empreendedorismosocial como profissão no Brasil. (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 13) [grifonosso]

Compreensão sobre o que é um empreendedor social:

Os empreendedores sociais fellows da Ashoka são um tipo especial de líderes,cujo pensamento prático e estratégico estão dedicados a buscar alternativasconcretas para superar desigualdades sociais e transformar a realidade social demaneira paradigmática. (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 13)

Este conceito está muito próximo ao que é apresentado por Dess (1998), quando

afirma que o empreendedor social é uma espécie rara de líder e que aplica o

conhecimento e habilidade empresarial para resolver problemas sociais. Não constatamos,

ao longo deste e de outros trabalhos, alguma menção a esta literatura, ou a qualquer outra

que já apontamos no início deste capítulo, em específico na visão internacional.

As autoras também ressaltam o rigor da seleção destes fellows, deixando claro o

perfil desejado para esta ação. “Porque não busca apenas um pensador de vanguarda, mas

uma pessoa que reflita junto às comunidades e impulsione soluções antes impensáveis de

inserção social em seu sentido mais amplo.” Ou seja, tem que ser um profissional que

pensa, mas não sozinho, mas principalmente com a comunidade, e este pensar é no

tocante à focalização do problema local e às possíveis ações de sua solução.

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9.11.16 Globalização, desenvolvimento local e espaço público

As autoras apontam que o empreendedor social, ao interferir na realidade local,

frente aos processos de globalização, altera significativamente a relação dos espaços

públicos e o comportamento dos sujeitos frente a estas alterações e que, neste processo de

mudança, o Terceiro Setor tem um papel vital.

“Os padrões de comportamento humano altera-se em direção ao fortalecimento de

um espaço público que implica o acesso de todos e que, sobretudo, contemple a melhoria

da qualidade de vida de diversos atores.” (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 14)

“Reconhece-se que o estabelecimento de ações afirmativas faz-se necessário.

Identificar-se que a globalização deve se recobrir de fins humanitários e que a prática

social se torna condição sine qua non para atingi-la.” (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 14)

Há uma mudança sensível de mentalidade em que a sociedade procuradescobrir uma real transformação do teatro da vida. A descoberta de um novofuturo de sustentabilidade continuada significa encontrar soluções outras quecontemplem geração não apenas de riqueza, mas também de valores em formade vida digna. (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 14).

O fortalecimento do processo democrático e o crescimento do Terceiro Setor naconstrução e mobilização da sociedade civil em prol de sua participação maisefetiva na tessitura social trazem como conseqüência o redesenho do espaçopúblico, em que os indivíduos privados e seus interesses passam a interagir deforma diferenciada na geração de novos valores e de uma nova cultura.(PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 14).

“Em suma, este é o relato de experiências práticas que demonstram ser possível

transformar problemas sociais cruciais em soluções bem-sucedidas, geram impacto social

e modificam a realidade social brasileira.” (PÁDUA & ROUERE, 2002, p. 15)

Neste ponto, cremos, ser um grande diferenciador, tanto na produção literária

como sobre questão social, problema social, enfrentamento da pobreza, desigualdade,

etc., pois, necessariamente, não trabalha conceitos em profundidade, tais como:

movimentos sociais, espaço público x espaço privado, papel do estado x papel da

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sociedade civil, como é de comum em trabalhos desta ordem (Cf RAICHELIS, 1998), a

partir de experiências reais, mostra algo que vai além do só criticar e só dizer “eu tenho

mais dúvidas do que respostas...”, ou ainda, como esta em modo, “escrevo para

intelectuais e não para leigos...” ou ainda pior, “não quero dar receitas... o que fazer é um

problema de vocês...”.

Além de uma visão crítica da realidade, as autoras apresentam com clareza o

compromisso com a construção de uma sociedade justa, digna onde principalmente o

excluído tenha vez, voz, e ação, participando de seu próprio destino, da construção de sua

própria solução e tendo o empreendedor social, como um facilitador deste processo.

9.11.17 Vida, emoção, paixão e ética no desenvolvimento do trabalho doempreendedor social

Outro ponto que nos chamou a atenção, principalmente, neste trabalho de Pádua e

Roure, é a explicitação sem restrições de muito sentimento, na narrativa das introduções e

no relato dos casos, que não se restringem a só destacar os elementos técnicos, mas

sobretudo ao fator humano, da capacidade de estar juntos, de caminhar espontaneamente

com consciência de sua participação, como pode ser observado nas seguintes passagens:

“Utopias serviram de base para a concretização de mudanças ousadas, cheias de

energia, que muitas vezes beneficiam grande número de pessoas.” (PÁDUA &

ROUERER, 2002, p. 17)

Os autores deste livro certamente souberam transformar suas crises individuaisem oportunidades que representaram mudanças e melhorias para muitos,mantendo como pano de fundo a preocupação conservacionista, fatorfundamental sobretudo em um país como o Brasil, que é um dos líderesmundiais em bio diversidade. (PÁDUA & ROUERER, 2002, p. 18)

Muitas lembram a flor de lotos, que nasce da lama e desabrocha em rara beleza,pois vêm conseguindo fazer brotar esperança em meio dominados peladesesperança, fé onde a tônica era a descrença; oportunidade onde havia totalcarência, e conservação da natureza onde existia devastação. (PÁDUA &ROUERER, 2002, p. 18)

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“Cada indivíduo tem um potencial para melhor ver a realidade ao seu redor, e é

preciso incentivar aspectos como reflexão, crítica, ousadia, rebeldia, criatividade e ações

que favoreçam o planeta como um todo.” (PÁDUA & ROUERER, 2002, p. 18)

Condição primordial para legitimar a atividade de um empreendedor social é asua postura ética. Este é um fato natural, visto estarmos mergulhados em umasociedade onde muito do que se faz pela sociedade está a serviço de outrosinteresses. (PÁDUA & ROUERER, 2002, p. 21)

Assim ações incisivas, modelares, revolucionárias sob a ética da efetivatransformação (é preciso lembrar da pregação das mudanças que nãotransformam), inovadoras, passam a ter sua própria existência e importânciaquestionadas a partir dos fins a que se destinam. (PÁDUA & ROUERER, 2002,p. 21)

Em linhas gerais, esta obra da Ashoka expõe em grande medida sua compreensão

quanto a vários fatores relacionados ao surgimento do empreendedorismo social e sua

caracterização, principalmente aqui no Brasil. Dela, ressaltamos os seguintes pontos:

q com crescimento do Terceiro Setor, há um processo de participação das

empresas;

q com isso, cresce o número de organizações e diminui as fontes de

financiamento;

q tal fato obriga as organizações do Terceiro Setor a se profissionalizarem e

procurarem alternativas que atendam as suas necessidades;

q dois fatores se tornam o alvo principal destas organizações: a) a busca pela

profissionalização; e b) a sustentabilidade, como afirma a própria Ashoka:

O fato de as empresas passarem a atuar em projetos sociais influenciousignificativamente o desenvolvimento das organizações da sociedade civil(OSCs) [...] O desenvolvimento das organizações sem fins lucrativos e doTerceiro Setor mostra a dependência que tais organizações sempre tiveramde uma fonte ou outro de recursos [...] A busca por sustentabilidade marcao fim desse processo de dependência. Isso implica a necessidade dediversificar fontes de financiamento, desenvolve projetos de geração dereceitas, profissionalizar recursos humanos e voluntariado, atrair membrossócios das organizações, estabelecer estratégias de comunicação, avaliarresultados e desenvolver uma estrutura gerencial altamente eficiente.(PÁDUA & ROUERER, 2002, p. 16)

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q apresenta uma visão formal, pragmática e não apresenta uma análise crítica

quanto ao sistema, à condição de pobreza e às questões sociais, beirando quase

a uma postura apolítica;

q procura aplicar uma abordagem complexa e sistemática, acredita que

minimamente as organizações estariam preparadas para isso, o que não é o

caso, principalmente se observarmos que a aplicação do PNS pressupõe a

existência de um Planejamento Estratégico, o que muitas organizações ainda

não têm.

9.12 A percepção dos fellows

Após analisarmos estes fatores técnicos e principais termos, vejamos, a seguir,

qual a percepção de um grupo de fellows da Ashoka. E como já mencionado, os dados,

que serão analisados, fazem parte de um grupo de organização que participaram do

Prêmio Empreendedor Social e fazem parte de fellows da Ashoka.

Para melhor aproveitamento e aprofundamento dos dados coletados nesta fase de

nossa investigação, estaremos apresentando os resultados e fazendo sua análise a partir da

síntese dos blocos analíticos que estabelecemos.

Bloco “A” – das questões 1 – 55, que tratam dos dados referentes ao perfil da

organização e sua caracterização e sua gestão organizativa;

Bloco “B” – das questões 56 – 107, que tratam sobre compreensão, sobre o

empreendedorismo social e das organizações e estratégias empreendedoras no campo

social;

Bloco “C” – das questões 108-127, que tratam da compreensão sobre temas como:

emancipação social, desenvolvimento humano, pobreza, questão social e a relação do

empreendedorismo social com estas temáticas.

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9.12.1 Análise do Bloco A

Constamos inicialmente que, do ponto de vista jurídico, as organizações

pesquisadas são do estilo Associação, 75%, e, além disso, estão atreladas a órgão público,

25%.

O tempo de funcionamento, para 50%, é de 3-5 anos; e para 50%, de 6-8 anos, de

fundação. Isso sinaliza, que são organizações jovens na sua grande maioria e que foram

criadas na metade da década de 90.

Notamos também que grande parte dos recursos financeiros têm origem

governamental: no nível estadual, 70%; federal, 50%; e Municipal, 50%. E o menor

percentual tem fontes de doação esporádica, 50%; doação fixa, 25%; parcerias diversas,

25%; doações internacionais, 25%; e de venda de produtos e serviços, 25%.

Tais dados revelam, em grande parte, que existe uma dependência dos recursos

financeiros governamentais para sua subsistência, o que não foge à realidade mais global

destas organizações na atual conjuntura, não só nacional mas também internacional.

Em relação à gestão das organizações, verificamos que 50% têm mais de 31

funcionários e 25% cerca de 12 a 19, compostos por cargos como de presidente, vice-

presidentes, diretores, consultores, auxiliares, coordenadores, educadores, recepcionistas e

secretárias, além de profissionais especializados com nível superior, como assistentes

sociais, psicólogos, nutricionistas, entre outros. Mostra organicidade, hierárquica de tipo

matricial.

Constatamos também que há predominância da formação de profissionais da área

de humanas, 100%; com alguma indicação em menor percentual, na área de biomédicas,

25%.

A média da faixa-salarial está concentrada entre 3 e 5 salários mínimos, indicado

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por 50%; e de 1-2 s/m, indicado por 25%, o que representa uma média salarial, nos

valores atuais (2003) da ordem de R$ 720,00145, o que não representa um salário elevado,

mas dentro da média da renda nacional, segundo dados recentes revelados pelo IDH –

Índice de Desenvolvimento Humano. (Cf. Folha de São Paulo, Caderno Especial

“Qualidade de Vida: renda baixa segura avanço social do país”, 3/outubro/2003, p. A1)

Verifica-se que, entre os benefícios concedidos aos profissionais destas

organizações, há pouco além dos benefícios legais, como 13º salário; daqueles destacam-

se cesta básica e auxilio educação, em específico para curso superior.

Em relação ao trabalho voluntário, 100% das organizações pesquisadas afirmaram

ter este tipo de atividade, e a quantidade varia entre 1 a 5 voluntários para 50%; de 6 a 10

voluntários, para 25%: e de 16 a 20 voluntários, para 25%. A escolaridade destes

voluntários é predominantemente de ensino superior, 50%; seguido de ensino médio

incompleto, para 25%; e pós-graduação, para 25%. Também predomina a formação na

área de humanas e sociais, com 100% de indicação, sem nenhuma outra para as demais

áreas.

Ainda na gestão organizacional, em específico, sobre as ferramentas de maior

utilização, as mais indicadas foram:

q plano de negócio social, 33,33%;

q capacitação continuada, 25%;

q técnicas ao estimulo à criatividade, 25%;

q técnicas de tomada de decisão, 8,33%;

q educação à distância, 8,33%;

q planejamento estratégico, 8,33%.

Observa-se, com este resultado, que o instrumento de maior peso é o Plano de

145 Indicadores econômicos, Caderno Dinheiro Folha São Paulo, de 03/10/2003, p. b8, salário mínimo em

outubro/2003, R$ 240,00.

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Negócio, e o de menor pontuação é o planejamento estratégico. Tal fato, aliado a outros

dados, aponta para uma certa contradição, pois acreditamos que, para a elaboração do

plano de negócios, é necessário já existir o Planejamento Estratégico minimamente

elaborado. Tal contradição será, mais à frente, melhor sinalizada e analisada, após a

apresentação de outros dados, que a seguir passamos a demonstrar.

Quanto à opinião sobre a qualidade da gestão no momento da pesquisa, 50%

sinalizaram como sendo boa; 25%, ruim; e 25%, média; nenhuma pontuação para

excelente. Perguntado sobre este mesmo aspecto, qualidade da gestão, mas em relação à

percepção da comunidade, ou seja, externa, da gestão. O que observa é uma concentração

na resposta muito boa, com 75%; e 25%, boa.

Ao que parece, em relação à percepção interna, a externa é mais elevada, o que

sinaliza, por um lado, a auto-critica dos gestores e a boa imagem na comunidade.

No tocante às áreas de atuação das organizações pesquisadas, nota-se que há uma

concentração em três áreas: educação, assistência social/criança e adolescentes e geração

de emprego e renda, respectivamente, com 15,79% das indicações, e a única mais

específica, a de presídios.

Seguem, em menor percentual, as seguintes áreas: cultura arte de recreação, saúde,

capacitação e assessoria, com 10,53%, respectivamente; desenvolvimento comunitário

com 5,26%. Seguindo, em certa medida, a tendência da área, a população atendida é, em

sua maioria, de crianças e adolescentes e jovens, com 37,50% e 25%, respectivamente das

indicações; seguindo de mulheres, 25%; e outros, com menor percentual, como a

população carcerária no caso da história do presente.

Todos apresentaram ter elaborado a missão e visão de sua organização com as

seguintes construções. É importante esclarecer que, ao elaborar esta questão, após análise

criteriosa da literatura vigente, o entendimento que se tem de missão é a razão de ser da

organização; e a visão de onde se quer chegar e ter reconhecimento pelo trabalho

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desenvolvido.

1) Quixote

a. Missão: “contribuir para o desenvolvimento de políticas públicas na área da

prevenção e tratamento de drogas entre crianças e adolescentes em situação de

risco

b. Visão: “a questão do uso de drogas é um fenômeno circunstancial ao circuito

de vida dos atendidos relacionada à exclusão social, desta forma busca-se

construir um circuito alternativo através da arte e da educação em ações

integradas de rede,”

2) Curumim

a. Missão: “melhoria da qualidade de vida das famílias que vivem nos entornos

de áreas degradadas pelo homem..”

b. Visão: “tornar-se até 2006, modelo de sustentabilidade de comunidades

existentes nos entornos de área degradas pelo homem.”

3) Associação Lua Nova

a. Missão: “resgatar a auto-estima, o espaço social, a cidadania e o direito à

maternidade com responsabilidade de jovens mães em situação de risco social,

possibilitando a vivência prazerosa do papel materno e a formação de crianças

psiquicamente saudáveis.”

b) Visão: ser “referência para programas de reinserção social de mães

adolescentes e seus filhos expostos a situações de risco, capazes de evitar a sua

marginalização e discriminação social, bem como a dolorosa e freqüente

separação das famílias.”

4) História do Presente:

a. Missão:

b. Visão:

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Sobre a gestão da organização procuramos saber se havia algum sistema de

avaliação: onde o cliente/usuário pode usufruir 50% disse ter; e 50% disse não ter algum

tipo de sistema de avaliação. Dos que disseram sim, há os seguintes modos: qualitativa,

institucional, por órgão governamental (externa), pesquisas internas e externas, reuniões e

assembléias. Nesta mesma linha, perguntamos se havia a participação dos

clientes/usuários na gestão da organização, no que 100% disseram que sim, o que em

certo ponto, é até contraditório com a questão anterior, na qual mais da metade diz não ter

nenhum modo de avaliação, mas consegue ter um nível de 100% de participação dos

clientes/usuários.

Como todos haviam participado do Prêmio Ashoka (critério de amostragem

inclusive), perguntamos se a organização havia recebido outra premiação, 100% disse que

sim. E até premiações de nível internacional, como é o caso da História do Presente, que

recebeu em 2001 um prêmio do Reino Unido; o Quixote recebeu o prêmio Abriq, 1999 e

Vida Senad; a Lua Nova, Abriq 2000; e o Curumim, prêmio BCC, em 1999 e 2000; e a

Gazeta em 2001.

Os programas e projetos são elaborados a partir dos seguintes motivos e razões:

q necessidade de uma intervenção mais qualificada do governo em determinadas

áreas (História do Presente);

q “acreditar que é possível mudar o mundo com pequenas ações e muita fé”

(sic), (Projeto Curumim);

q “o desenvolvimento de um novo olhar para a questão da exclusão [...] uso de

drogas entre crianças e jovens.” (sic) [Quixote)

q “a necessidade de trabalhar esta população de mães em situação de risco”

(sic) (Lua Nova)

Nota-se que em nenhuma resposta encontra-se menção ao estudo, diagnóstico de

demandas, mas percebe-se que mais se trata da percepção das demandas de cada

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organização e de sua população atendida e, portanto, endógena. Tal perspectiva se

confirma, ao observarmos o surgimento das organizações, onde 28,57% foram de

iniciativa própria; 28,57% grupo de pessoas e profissionais; 28,57% de órgãos públicos e

pela comunidade com 14,29%.

Os dois primeiros inter-relacionados e juntos somam cerca de 57,14% das

indicações, configurando o surgimento das organizações sociais, mais como ações de

ordem pessoal do que pública. No entanto, como já vimos, é o governo, em grande parte,

que dá a manutenção a elas. Isso, ao nosso ver, não é nem bom nem ruim, correto ou não,

o fato é que comprova que há mais pessoas inquietas com a questão social. Elas,

independentemente de uma série de variáveis, estão se movendo, vendo e agindo em

torno do que lhes é mais visível e o papel a ser trabalhado.

Sobre a qualidade dos programas e projetos, na visão dos entrevistados, 50%

dizem ser satisfatório; 25% muito insatisfatório e 25% muito insatisfatório; 100%

afirmam que as mesmas contribuem muito para o desenvolvimento humano e só 50%

afirmam que contribuem razoavelmente 25% muito pouco para a geração de emancipação

social; e no tocante a contribuir para que os seus clientes/usuários saiam da pobreza, 50%

afirmaram que era muito; 25% razoável; e 25% pouco.

Confirmando certa coerência quanto ao senso de autocrítica, percebe-se que a

qualidade dos programas atinge indicadores coerentes, mas com necessidade de

melhorias, e atingem de forma mais impactante só a dimensão do desenvolvimento

humano, com baixos níveis no tocante à emancipação social e saída da pobreza.

Ainda sobre a qualidade dos programas e projetos perguntamos se, após ter

participado do prêmio da Ashoka, com acesso e aplicação aos princípios e técnicas do

empreendedorismo social, se houve alguma alteração nesta qualidade. Obtivemos os

seguintes resultados:

q 50% satisfatório;

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q 25% insatisfatório;

q 25% muito satisfatório.

Como podemos ver, se somarmos os indicadores voltados para satisfação, teremos

um total de 75% quando houve uma melhoria significativa nos programas e projetos após

a implementação dos princípios e práticas do empreendedorismo social.

Tal indicativo é reforçado pelo resultado da questão onde perguntamos sobre a

existência ou não de alguma atividade alternativa de geração de recursos auto-

sustentáveis. Nesse caso, 75% disseram sim. Percebe-se ser a maior característica de uma

organização que quer ser empreendedora, apesar de ainda depender dos cofres públicos

para o sustento de uma parte significativa de seu sustento. Estas atividades vão desde

serviços de consultoria e assessoria em projetos e políticas e gestão social, confecção de

produtos para serem comercializados.

Sobre qual ou quais problemas seriam atualmente considerados de maior

problemática de gestão, obtivemos os seguintes indicadores:

q 33,33%, captação de recursos;

q 22,22%, gestão de pessoal;

q 22,22%, maior tempo para trabalhar e planejamento estratégico;

q 11,11%, conseguir pessoal qualificado;

q 11,11% qualidade no trabalho.

Aqui reside a contraditoriedade aparente a que nos referimos anteriormente, em

que o planejamento estratégico quase não aparece como ferramenta mais utilizada, sendo

o plano de negócio o principal; e aqui, um dos maiores problemas é o tempo e o

planejamento, que está abaixo da captação de recursos. Será que o não-planejamento

dificulta a captação de recursos?

Cremos que uma das explicações e possíveis foi a influência recente da Ashoka,

mas que foi ou está sendo aplicada em uma cultura organizacional ainda não apropriada,

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ou não adequada a um pensar e planejar estratégico que, ao nosso ver, é o solo primeiro

que deve ser construído e solidificado para aí serem utilizadas outras ferramentas

estratégicas, seja para a captação de recursos, como é o caso do plano de negócios, como

para a dinamização da gestão em si e melhoria contínua dos processos da qualidade dos

programas projetos e serviços.

Dessas questões de maior problemática, solicitamos para que fossem escolhidas as

três maiores, sintetizando: 1) auto-sustentabilidade e captação de recursos; 2) tempo para

gestão e gestão de pessoal; e 3) conseguir pessoal especializado e qualificado para este

trabalho.

Apesar de uma amostra qualitativamente pequena, representa de forma precisa o

que outras pesquisas de maior porte, como já sinalizamos no início deste trabalho, os

esforços das ONGs dos anos 90/00 estarem na busca pela sustentabilidade, e não mais

para a contestação social e política, como era nos anos 60/70. Além da busca por

profissionais qualificados para esta atividade e um componente não muito propalado, mas

a questão da gestão do tempo, como mencionado, que está relacionada à sobrevivência

dos gestores que, além das atividades na ONG exercem outros papéis, dos quais são

auferidos os recursos para sua sobrevivência pessoal. Fatores estes, que afetam a

qualidade da gestão.

Na seqüência deste raciocínio, finalizando este primeiro bloco, perguntamos aos

entrevistados se o grau de impacto que as ações da organização estariam atingindo antes e

depois da aplicação dos conhecimentos do empreendedorismo social. Obtivemos os

seguintes resultados:

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Quadro 11: Comparativo do grau de impacto do empreendedorismo na gestão

GRAU DE IMPACTO ANTES % DEPOIS %

N/R* 50 25

Muito satisfatório 0 25

Insatisfatório 0 0

Indiferente 25 0

Satisfatório 25 25

Muito satisfatório 0 25

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002.(*) não responderam a questão.

Nota-se que não houve uma alteração expressiva, só o grau, muito

satisfatoriamente, mas só para 25%; o restante fica entre satisfatório, 25%; e muito

insatisfatório. Isso pode apontar para uma mudança lenta, até porque as organizações

estudadas, apesar de inúmeros predicados, ainda estão sofrendo questões similares às das

demais organizações com maior tradição, ou seja, gestão, financiamento do governo, falta

de gente especializada, tempo para gestão, entre outros.

9.1.2.2 Síntese do Bloco A

A seguir, apresentamos uma síntese deste bloco, ressaltando os principais pontos

relevantes dos dados até aqui apresentados:

1. é visível que as organizações são jovens, apresentam uma estrutura que

possibilita a participação, mas não apresentam um sistema efetivo de avaliação

e gestão participativa, também que a maioria dos gestores desta amostragem é

feminino, com 75%, o que não está fora das pesquisas de maior âmbito;

2. a maior parte dos recursos vem de fontes governamentais, a maior dificuldade

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é a auto-sustentabilidade, qualidade na gestão e de pessoal especializado,

apesar do nível de escolaridade, tanto dos profissionais já inseridos, como dos

voluntários;

3. as questões de maior problemática apontadas não diferem de outras

organizações, ou seja, sustentabilidade, captação de recursos, qualidade no

trabalho e nos serviços, que devem estar plenamente contemplados na

estratégia das organizações. Fato este que é contraditório, pois uma das

ferramentas menos apontadas é exatamente o planejamento estratégico

(8,33%), é a mais usada, 100% o Plano de Negócio Social (PNS), sem dúvida

pela influência da Ashoka, mas que demonstra que, antes do PNS, deve-se

investir mais no planejamento estratégico, até para que a gestão do tempo

possa ser também combatida;

4. nesta linha de pensamento, os entrevistados consideram sua própria gestão

somente como boa, e até ruim, mas que externamente, pela comunidade, é

considerada 100% boa, o que sinaliza que os problemas internos não afetam a

imagem e impacto de ação das organizações junto às suas respectivas

comunidades;

5. nota-se, desta maneira, que a visão/entendimento quanto à elaboração dos

programas e projetos, passam pelo crivo da inovação e de ações que causem

impacto neste sentido, a ênfase recai predominantemente na qualidade formal,

o que acreditamos estar relacionado ao fato de que a criação das mesmas, além

de serem recentes, foram, na sua maioria, por iniciativa própria e pessoais;

6. fato este que também, ao nosso ver, esta intrisincamente ligado à percepção

dos entrevistados quanto à contribuição de suas atividades para com o

desenvolvimento humano, a emancipação social e redução da pobreza, em que

a primeira tem maior preponderância sobre as demais. Isso aponta para a

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transparência e coerência das demais respostas, bem como da avaliação das

ações;

7. percebe-se, desta forma, que o perfil é de organizações que, apesar de estarem

envolvidas com atividades e aplicação de conceitos e ferramentas de

empreendedorismo social, ainda não têm alterações profundas, mas já são

visíveis, principalmente, quanto a clareza do perfil desejado e das prioridades,

que são bem claras, e apontam para uma visão de futuro e da ação propositiva

e de auto-impacto social.

9.12.3 Análise bloco B

Dos quatro entrevistados, somente 1 não é fellows da Ashoka, o que dará um

significado especial às respostas seguintes, pois estão intrinsecamente relacionadas a esta

visão de dentro da organização e seus impactos. Dos que são fellows, 50% estão entre 3

anos; e 25%, 2 anos de ingresso na Ashoka. As formas de conhecimento sobre a proposta

da Ashoka variaram entre: internet, participação do Prêmio em 1999 (projeto piloto) e,

através de amigos que indicaram.

Cerca de 75% passaram pelo treinamento da Ashoka. Destes, 50% acreditam que

o treinamento foi ótimo; 50% acreditam que foi bom; foi muito importante para 50%;

importante para 25% em relação a melhoria da gestão da organização.

O nível de escolaridade dos fellows pesquisados é de ensino superior completo,

25%; mestrado completo, 25%; especialização completa, 25%; e doutorado completo,

25%; 75% são casados; e 25% solteiros; 75% tem filhos, com predominância de 2 filhos

por família.

O vínculo com a organização pesquisada de 50% é como voluntários; e 50%

autônomo; os cargos exercidos são de presidente e coordenação geral; 75% trabalham

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cerca de 45 horas semanais; 25%, 40 horas.

Mais da metade dos entrevistados se mostram satisfeitos; 50%, muito satisfeitos;

50% com o trabalho que está realizando na organização. Entre as motivações/razões para

estar nesta atividade, destacam-se as seguintes:

q história de vida associada à área e à população atendida, como é o caso da

História de Vida, onde o presidente foi um ex-interno da FEBEM;

q acreditar em mudanças profundas;

q indignação e busca de soluções;

q a possibilidade de provocar a transformação.

Nota-se que, diferente de outras questões, a dimensão da qualidade política, neste

caso, assume uma maior preponderância que a qualidade formal, ou seja, a maior parte é

de elementos subjetivos qualitativos, e de ordem política, mas também, em menor

expressão. Fica nítido o caráter da experiência pessoal que motiva, em outras palavras, o

viver cotidiano de cada pessoa, influencia em suas escolhas, prioridades e motivações,

somo sinaliza Dowbor, “o que é realmente interessante não é a caminhada científica em

si, e sim como esta caminhada se cruza com os dilemas simples que cada ser humano

enfrenta.” (DOWBOR, 2003, p. 1)

Perguntado sobre a opinião, em relação a alguns conceitos aqui trabalhados, entre

eles das causas da pobreza, em nosso país, obtivemos as seguintes concepções:

q não ter uma fonte de renda que permita sua proteção social;

q é um estado de acomodação e conformação das pessoas que não têm a

oportunidade de ‘sonhar colorido’;

q é a carência de recursos possíveis de transformar.

Sobre emancipação social:

q adquirir estabilidade de vida, com autonomia e sem depender do Estado;

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q é um processo de crescimento emocional/material/espiritual;

q ser protagonista da busca dos recursos para uma vida digna;

q poder chegar à sustentabilidade econômica e gestão social.

Sobre desenvolvimento humano:

q talento competência;

q é quando uma pessoa atinge a consciência do “ser”;

q crescimento da condução digna de vida da população.

O trabalho realizado para 100% dos entrevistados contribue para o

desenvolvimento humano, a emancipação social e a erradicação da pobreza.

Quanto ao grau de concordância sobre o conceito de empreendedorismo social:

pessoa que é responsável pela mudança no setor social por perseguiroportunidades para criar e sustentar o valor social, aplicar abordagensinovadoras no seu trabalho e em seus recursos; atuar firmemente sem sentirconstrangido com os recursos em seu poder; exibir uma elevada compreensãodos elementos a quem ele serve (comunidade e financiadores), e dos efeitos queele cria (THALHUBER, Jim The National Center Social Entrepreneurs, in:www.socialentrepreneurs.org)

E, 75% concordam e 25% discordam, da mesma forma em relação à segunda

afirmação para análise dos entrevistados, sobre o perfil do empreendedor social,

ser sincero, ter paixão, clareza, confiança, valores fundamentais começam apartir das pessoas/clientes/usuários, saber mensurar as idéias/interesses, temboa vontade, saber construir a equipe certa, saber obter os recursos suficientes,saber improvisar. (BOSCHEE, in: www.socialentrepreneurs.org)

Também, 75% concordam e 25% discordam desta afirmação.

Em outra afirmação, agora sobre a defesa da Ashoka aqui no Brasil, de considerar

o empreendedorismo social como profissão, ou seja,

trata-se de uma nova profissão em construção [...] é uma profissão emcrescimento na atualidade [...] Não só surgem mais indivíduos que se dedicam aesta profissão, como também cresce a visibilidade e o reconhecimento que amídia e a sociedade dão a eles. (www.ashoka.org.br)

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Nota-se que 75% discordam e 25% sinalizam com indiferença; na seqüência,

pergunta-se se eles acreditariam que o empreendedorismo social poderia um dia vir a ser

constituído como uma profissão de fato, 75% disseram que sim; e 25% disseram que não,

entre os comentários sobre esta questão destacam-se:

q “já estamos conseguindo chamar a atenção de empresas e mídia...”

q “é impossível viver sem eles [empreendedores sociais]”

Fazendo uma auto-análise, 100% dos entrevistados consideram-se

empreendedores sociais; quando solicitados a darem uma nota para si mesmos, obtivemos

os seguintes resultados:

q 25% = -75

q 25% = de 80 a 85

q 25% = de 90 a 95

q 25% = de 95 a 100

Sobre a possibilidade de outros gestores virem a ser empreendedores sociais,

100% disseram não ser possível.

Em relação ao surgimento/origem do empreendedorismo social, 75% disseram ser

originário da sociedade civil, que é decorrente da espiritualidade elevada e da paixão.

Também indagamos sobre as críticas que são feitas ao Terceiro Setor em específico, mas

que podem ser redirecionadas ao empreendedorismo social. Isso foi apresentado em um

quadro para saber qual o grau de concordância desta questão,

é funcional ao sistema capitalista, presta mais ao assistencialismo, despolitizaas relações sociais e a construção de políticas públicas, reforça oindividualismo, paternalista, está a serviço dos donos do capital e reforça amanutenção da pobreza, da desigualdade, da exclusão social e alienação.

O resultado foi que 75% discordaram totalmente e 25% discordaram, ou seja, a

crítica externa não coincide com a crítica dos valores favoráveis. Aqui, é importante

ressaltar que até o momento o grupo se mostrou muito coerente e com auto-crítica

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elevada, o que aponta para uma visão vivencial que se contrapõe a uma visão mais

analítica do que de experiência cotidiana.

Tal constatação nos faz refletir criticamente quanto às análises ditas críticas.

Nesse caso em específico, em que indagamos qual análise/ponto de vista tem maior

“verdade” quanto à realidade atual? Uma opinião que emana de quem tem uma vivência,

e experimenta cotidianamente a sua dinâmica é analisada de forma “totalizante”; ou, neste

caso, dar credibilidade a uma visão e análise/opinião de quem tem “uma visão de fora”?

Colocamos a palavra “verdade” entre aspas, propositalmente, pois poderíamos

dizer que existem verdades, e portanto pontos de vistas diferentes, que devem ser

considerados, mas, com certeza, é na perspectiva que aqui estamos defendendo do fazer

ciência, para a vida e intervenção na realidade, somos mais favoráveis à primeira visão do

que à segunda.

Outros argumentos de outros empreendedores sociais experientes procuram em

certa medida, corroborar com as respostas dos respondentes de nossa investigação. Como

exemplo, Mônica De Raure gerente de operações internacionais da Ashoka para América

Latina, quando questionada sobre o papel da Ashoka, em sendo uma organização norte-

americana e, desta forma, não “seria a Ashoka uma daquelas iniciativas por meio das

quais os sábios desenvolvidos do Norte pretendem salvar e civilizar os silvícolas do

Sul?”146.

Argumenta “que não, pois, com a crescente internacionalização da diretoria da

entidade [...] e com a participação de representantes e fellows de diversas nacionalidades

nas decisões tomadas, inclusive na seleção de novos membros”, isso não pode ocorrer.

Sobre o entendimento do perfil do empreendedorismo social, verificamos que

predominaram cinco características que podem melhor ser observada no quadro a seguir.

146 PARDINI, Flavia; LOBO, Flavio. Os pioneiros da mudança. Disponível em www.cartacapital.com.br

acesso em 18/05/2002.

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Ainda sobre o papel dos empreendedores sociais, em contrário às críticas que são

feitas, Romeu147, a partir do depoimento do fundador da Ashoka, Bill Dreyton, afirma

que:

para ele [Bill], o motivo básico desse crescimento é a maior democratização domundo, a grande revolução da atualidade. Os empreendedores sociais são aexpressão mais evidente dessa nova realidade. A atuação do empreendedorsocial não substitui as tarefas do governo, segundo ele, mas ensina o estado afazer melhor seu papel, com mais entusiasmo e competência. (ROMEU, 2003)

Quadro 12: Perfil dos empreendedores sociais para os fellows da Ashoka.

CLASSIFICAÇÃO CARACTERISTICAS % FREQ.

1º Visão de futuro 15,38

Elaborar ações inovadoras 15,38

Ética 15,38

Confiança 15,38

2º Não se preocupar em errar, 7,69

Planejar estrategicamente 7,69

Criatividade 7,69

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002.

Perguntamos também se haveria alguma diferença entre o empreendedorismo

social no Brasil e o empreendedorismo social em outros países. As opiniões ficaram

divididas, 50% dizem que sim e 50% dizem que não. Lembrando que pelo menos metade

dos entrevistados têm expressão e contato internacional. Aqueles que indicaram sim

apontam as seguintes diferenças: iniciativa corporativa, individual, solidário, criatividade.

Sobre a forma como a Ashoka vem disseminando o empreendedorismo social no

Brasil, 50% dizem ser ótimo e 50%, bom. O Prêmio Empreendedor Social da Ashoka foi

considerado como primordial para 50% dos entrevistados, muito importante para 25% e

importante para 25%. Ainda sobre o prêmio, solicitamos que fosse quantificada uma nota,

de 0 – 100 sobre o processo como um todo, 50% consideram de 98-100 e 50% - de 92.

147 ROMEU, Celina. Livro do ano: barsa planeta internacional. Disponível em <www.ashoka.org.br>,

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Ainda quanto ao empreendedorismo social ser diferente em relação à economia

solidária, os respondentes afirmaram 100% que sim, e essas diferenças seriam:

q inovação como fator impactante;

q “são complementares, mas bem diferentes. Um é prático operacional, outro é

gestão.” (sic)

É interessante notar que, mesmo sutilmente, é atribuída ao empreendedorismo

social uma noção de prática/operacional, e à economia solidária, não.

Não vamos aqui adentrar esta questão, pois ela é polêmica e necessitaria mais do

que um breve comentário, mas temos algumas pistas, como a que vimos agora, existem

várias semelhanças entre o empreendedorismo social e a economia solidária, entre elas o

uso de ferramentas de gestão, como por exemplo, o plano de negócios, que é proposto

pela Ashoka, também é proposto por Mace148, inclusive fontes semelhantes, como é o

caso do SEBRAE. A diferença, caso realmente existir, está mais no aspecto semântico ou

mais ainda, ideológico.

Perguntamos também qual foi o grau de melhoria nos programas e projetos da

organização após participarem do Prêmio Ashoka, 50% afirmava que foi elevada e, 50%

muito elevada, demonstrando o auto-impacto da experiência, pelo menos a curto prazo.

Semelhante a resposta quanto ao grau de aprendizado que, na opinião dos respondentes,

fica entre 25% elevada e 75% muito elevada.

Nota-se que o grau de impacto e satisfação para o aprendizado é maior do que das

mudanças provocadas o que, em certa medida, fica contraditório quanto a respostas sobre

o grau de dificuldade da aplicabilidade destes conhecimentos. Nesses, 50% consideram

alto e 50% mediano o grau de dificuldade, o que fica mais acentuado se esta

aplicabilidade for sem o auxílio de um especialista, 50% consideram esta dificuldade

artigos, acesso em 22/08/2003.

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mediana; 25% muita alta; e 25% alto, ficando um paralelo entre média e alta neste item.

Isoa em certa medida, explica o baixo impacto de mudança e alto nível de

aprendizado, ou seja, a experiência de aprender teoricamente é boa. Ruim fica pôr em

prática sem auxílio de especialistas, o que, em si, põe em cheque, talvez, não o processo

de aprendizado, mas o conteúdo.

Tal questão é registrada em uma entrevista, em que Anamaria Schindler,

representante da Ashoka Brasil, responde a uma crítica que é feita a Ashoka sobre “à

adoção de critérios e métodos empresariais na elaboração e gestão de projetos sociais.”149

Resposta:

“às vezes, nos criticam, dizendo que impomos uma formatação empresarial aosprojetos sociais, quando a nossa intenção é que as técnicas sejam postas aserviço das idéias e da paixão dos empreendedores sociais [...] Transferimosconhecimento empresarial para a área social sem tentar abolir as característicasque diferenciam os dois setores [...] a Ashoka não pretende abolir essasdiferenças, mas transferir conhecimento útil das empresas para os projetos. Àsvezes, a cooperação faz com que os empreendedores empresariais acabemabsorvendo valores e conhecimentos dos que trabalham com as questõessociais, o que também é ótimo.”

Percebe-se nitidamente que o processo de mera transferência não é suficiente, sem

que haja uma adaptação e adequação, principalmente cultural. (Cf. ARGUS, 2001)

A nossa experiência nos mostra que, geralmente, as organizações sociais têm

grande dificuldade para incorporar em sua cultura o hábito do pensar e planejar

estrategicamente, pois a dinâmica cotidiana destas organizações, muitas vezes, não

permite despender um determinado tempo para isso.

Tal constatação reforça a argumentação feita anteriormente, sobre a contradição

detectada quanto ao uso do PNS mais do que o PE, ou seja, um PNS não pode sair bem

feito se não houver clareza quanto ao PE da organização.

Tal questão fica mais clara quando perguntamos sobre qual parte do PNS

148 MACE, Euclides André. (org.) Como organizar redes solidárias Rio de Janeiro: Fase/Ifil/ DP&A,

2002.149 PARDINI & LOBO, Op. Cit., 2002.

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(proposto pela Ashoka) seria considerado por eles como mais difícil. A resposta ficou

bem pulverizada, pois 25% disseram ser a parte do produto/serviço; 25% mercado; 25%

marketing; e 25% plano de implementação. Sobre o grau de dificuldade destes pontos do

PNS, predominou a opinião de ser alta, para 75%; seguida de média por 25%; além de se

observar que 75% pretendem, a despeito destas dificuldades, continuar a aprimorar o

domínio sobre esta ferramenta, dado o seu valor.

Finalizando este bloco, indagamos para o respondente o que, na opinião dele, seria

necessário para ser um empreendedor social no Brasil. Três características ficaram em

evidência:

q nicho social claro, é preciso definir a especificidade e especialização, não é

possível fazer tudo;

q criatividade, persistência, fé, acreditar que é possível mudar o mundo, valores

inabalados;

q ética e visão de futuro.

9.12.4 Síntese do bloco B

Sendo a maioria do grupo fellows da Ashoka, como apontamos no início, ficou

muito rica a opinião dos mesmos, tanto sobre si como do entorno das múltiplas ações de

sua formação e prática no empreendedorismo social e, em específico, sobre a experiência

propiciada pela Ashoka que, sem dúvida, foi única, o que nos permite fazer a seguinte

síntese deste bloco de questões:

1) Sobre a Ashoka e o Prêmio empreendedor social

É inegável a inovação, seja na temática, como no conteúdo e na metodologia, a

forma de transmissão de conhecimento do empreendedorismo como a Ashoka tem feito,

no entanto ficou claro que, no processo de transmissão deste conhecimento, ainda é

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necessário um melhor aprimoramento, principalmente, considerando a cultura de gestão

das organizações do Terceiro Setor, que são bem diferentes das empresas. Isso requer

adequações mais precisas, talvez este seja um dos motivos que fizeram a Ashoka

suspender o Prêmio Empreendedor Social em 2003, para uma avaliação. Ação louvável,

pois só fará com que esta brilhante idéia se aperfeiçoe.

Fica também claro que as críticas feitas ao Terceiro Setor e conseqüentemente ao

empreendedorismo social não são aceitas por aqueles que estão vivendo o processo, e se

tenta provar o contrário que este processo não vem para tomar o lugar do Estado, mas

para qualificar o seu papel, bem como potencializar a gestão das organizações sociais e

governamentais. No entanto, como podemos verificar na bibliografia revisada, não há

indícios mais aprofundados da preocupação com o porquê dos pobres, da pobreza, mas

sim com os problemas em si, como afirma Dreyton, “onde os outros vêem problemas o

empreendedores sociais vêem solução”.

Acreditamos que esta perceptiva é importante, no entanto é preciso se ter muito

cuidado, pois o agir pragmaticamente sobre uma realidade, principalmente como a nossa

que é contraditória e complexa, sem pensar criticamente sobre ela, pode resultar em

outros efeitos contrários ao desejado. Corre o risco de se contribuir mais para a

manutenção do que para a emancipação dos excluídos, principalmente se governos

“espertos” transferirem suas responsabilidades para a sociedade, sem cumprir com o seu

papel efetivo.

Isso, infelizmente, não é nada difícil. Também não concordamos com posturas que

ficam eternamente discutindo a sociedade e suas causas, bombardeando tudo o que de

novo aparece, e rotulando como se fosse só uma nova roupagem, não propõem nada,

ficando só de plantão para criticar as ações de outrem.

Enquanto isso, o pobre fica mais pobre, os ricos mais ricos e os intelectuais mais

cheios de livros. O tempo passa e ficam ainda discutindo as relações de poder, as

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contradições do capitalismo, as totalidades, “as verdades” as “lutas de classes”, etc.

Cremos que só análise crítica não enche a barriga de ninguém, e tampouco gera

emancipação, além daquelas que estão no papel ou nos discursos. Isso principalmente

para quem tem na fome e na pobreza as únicas coisas concretas, e que, nesta hora, a

abstração nada toca sua mente, muito menos o seu coração, ou razão, ficando o seu

desespero e sua aflição para sobreviver às coisas mais importantes para serem resolvidas,

e não mudar o mundo, seja ele capitalista ou socialista.

Cremos que uma ação crítica e criativa operativa, como a da professora na favela

em Minas, ministrando aula de empreendedorismo e gerando com isso uma mobilização

entre os jovens e a comunidade, tirando os mesmos do laço do tráfico e das drogas,

resgatando a dignidade humana, isso sim pode produzir efeitos concretos que permitiram

no tempo certo e oportuno o aprofundamento de grandes questões que estejam

interligadas às relações sociais e ao pleno exercício da cidadania. “Barriga vazia não tem

ouvidos”, assim como reflexão sem ação não traz emancipação.

2) Sobre o papel e do empreendedor social

O papel por sua vez é centralizado nas seguintes dimensões:

a) idéia inovadora;

b) articulação de vários atores e seguimentos para materializar esta idéia

inovadora;

c) potencialização e empoderamento dos cidadãos;

d) mudança social através de ações de impacto social.

Destaca-se, no entanto, que a Ashoka apresenta uma proposta de desenvolver a

profissão de empreendedorismo social, com a qual os fellows não concordam, sugerindo,

desta forma que a configuração do papel do empreendedorismos social seja outro, muito

mais de um novo paradigma, no sentido de modo de visão e leitura da realidade e de um

processo, entendendo como modo metodologicamente específico de operar ações de uma

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lógica de mercado (empresarial) para o campo social (Terceiro Setor).

3) Pobreza, desenvolvimento humano e emancipação social

As ações dos empreendedores sociais têm, na visão dos respondentes, maior

impacto no desenvolvimento humano do que na emancipação social e na erradicação da

pobreza. O entendimento de DH é em relação ao talento e competência o ser atingir a

consciência do existir e do crescimento da condução de forma digna de sua própria vida.

Para a maioria, pobreza é entendida ainda como um aspecto socioeconômico,

restrito à falta de recursos, mas também da falta de oportunidade.

Emancipação social é entendido como autonomia de vida, estabilidade,

crescimento emocional, material e espiritual, bem como, ser protagonista na busca dos

recursos para uma vida digna, poder chegar à sustentabilidade econômica e participar da

gestão social.

Isso denota uma compreensão acertada dos conceitos, o que sinaliza uma visão

coerente, crítica e, sobretudo, propositiva, traços que acreditamos ser desta nova geração

de gestores do Terceiro Setor, que não têm uma visão política de contestação

ideologizada, nos anos 60/70, mas não são alienados, e têm consciência quanto à

necessidade de romper com o círculo vicioso da dependência, da caridade, da filantropia e

da manutenção política e alienante, ou seja, uma visão crítica, criativa, operativa

transformadora.

4) Perfil do empreendedor social e autocrítica

Também é percebido que a percepção sobre o perfil e papel do empreendedorismo

social de nossos empreendedores não difere da literatura corrente, tanto nacional como

internacional, que destaca os seguintes aspectos de maior relevância: a) visão de futuro,

elaboração de ações inovadoras, ética, confiança, não têm medo de errar. O perfil do

empreendedor social, é destacado de forma diferenciada, principalmente em dois

aspectos. O primeiro, pela criatividade, e o segundo, pela tenacidade, ou seja, a execução

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e efetivação dos projetos.

Tal constatação é reforçada não só pela opinião dos respondentes de nossa

pesquisa, mas também pelo prestígio e destaque nacional e internacional que a Ashoka

recebe em sua rede de fellows, sendo o Escritório do Brasil considerado modelo

exatamente por estes dois aspectos.

9.12.5 Análise do Bloco C

Indagamos sobre qual seria o principal problema do Brasil, na opinião dos

respondentes: 50% afirmam ser a corrupção o principal problema; seguido de falta de

ética na política, 25%; desemprego, 25%; e exclusão social, 25%; e a imagem e auto-

imagem do brasileiro, 25%.

Sobre quais seriam as causas da existência da pobreza, obtivemos as seguintes

respostas:

q condição natural do ser humano;

q distribuição da renda e recursos;

q falta de participação da sociedade nas políticas públicas;

q má gestão.

Com exceção da quarta indicação, que não explicita, mas deixa nítida, a má gestão

governamental, nenhuma das falas remete só ao governo a culpa da existência da pobreza.

Sobre a importância do voluntariado, 75% disseram ser importante; e 25% pouco

importante a sua atuação no campo social. Chama a atenção a centralidade de resposta,

quanto de quem seria a responsabilidade de resolver os problemas sócias e do combate à

pobreza; 75% disseram ser da integração entre o governo, sociedade civil e empresários; e

25%, dos próprios excluídos. Sobre a importância do Terceiro Setor, 50% afirmam ser

muito importante; 25% importante; e 25% primordial.

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Em relação ao desempenho do governo Fernando Henrique Cardoso, no campo

social, 50% afirmam ter sido regular; e 50%, ruim. Já a expectativa em relação ao atual

governo Lula, neste campo, é de 75% maior; e 25% igual.

Indagado sobre a possibilidade efetiva do empreendedorismo social vir a ser uma

ação emergente e estratégica para o desenvolvimento humano e a emancipação social,

75% disseram que sim e 25% disseram que não.

Sobre a idéia perfil do empreendedor social, vinculada à literatura atual

disponibilizada para leitura dos respondentes no quadro 5, obtivemos os seguintes

resultados quanto ao nível de concordância; 50% afirmam discordar; 25% indiferentes; e

25% concordam totalmente. Como vemos, há uma predominância em não concordar com

esta perspectiva, principalmente, levando em conta a realidade vivida cotidianamente pelo

grupo respondente da pesquisa.

Na opinião dos mesmos, a criatividade é para 50% a característica mais

importante para uma gestão social empreendedora; é a cooperação, para 25%; e trabalho

em equipe, para 25%. Neste ponto, chama a atenção um fator comparativo. Se

compararmos os itens desta última questão com o perfil do empreendedor social, veremos

que existe na gestão social um item de relevância, o pensar e planejar estrategicamente,

como pode ser visto no quadro a seguir.

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Quadro 13: Comparação entre os perfis da gestão e do empreendedor social

PERFIL EMPREENDEDOR SOCIAL PERFIL GESTÃO SOCIAL

EMPREENDEDORA

Visão de futuro Criatividade

Elaborar ações inovadoras Cooperação

Ética Trabalho em equipe

Confiança Inovação

Não ter medo de errar Parcerias

Criatividade

Planejamento estratégico

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002.

Tal constatação fica mais evidente quando solicitamos que se destacasse os três

fatores mais importantes para o desenvolvimento da gestão social empreendedora, os

resultados foram os seguintes elementos:

1º) planejar e pensar estrategicamente, criatividade, inovação;

2º) cooperar, planejar e pensar estrategicamente;

3º) trabalhar em equipe, cooperação, qualidade;

Ficando, assim, o seguinte conjunto de maior importância para a gestão social

empreendedora: 1) planejar estrategicamente; 2) criatividade; 3) inovação; 4) cooperação;

5) trabalho em equipe; 6) qualidade do trabalho.

Na seqüência, solicitamos a opinião dos respondentes, sobre a contribuição do

empreendedorismo social, para gerar capital social, riqueza, desenvolvimento sustentável;

100% concordam totalmente com o item.

Entre um rol de ações consideradas eficazes para combater à pobreza, foram

sinalizadas as seguintes opções:

25% - empreendedorismo social;

25% - economia solidária;

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16,67% - cooperativismo;

16,67% - auto-gestão;

16,67% - outros, entre eles: política de seguridade social, crescimento econômico,

geração de emprego.

Sobre a diferença que pode existir entre o empreendedorismo social e as demais

ações, obtivemos os seguintes apontamentos: 1) compromisso social; 2) engajamento

social e político; 3) profissionalismo; 4) criatividade; 5) inovação; 6) espiritualidade; 7)

efetividade nas ações continuidade ns propostas.

Nota-se que elementos como inovação e criatividade estão sempre presentes e

sendo referência das ações e da identidade do empreendedorismo social, o que aponta

para uma configuração padrão e consensual entre os especialistas da área.

Sobre querer participar de uma pesquisa de estudo de caso, só uma disse sim, foi a

que conseguimos pesquisar e realizar um estudo de caso em profundidade. Sobre o

questionário, 50% não responderam; 25% disseram ser compreensivo; e 25% extenso.

9.12.6 Síntese do bloco C

1) Quanto à percepção do contexto, nota-se que a preocupação dos fellows é até

diferenciada de uma grande maioria, pois quando indagamos sobre qual o

principal problema do Brasil, a corrupção e a má administração pública são

destacados em primeiro plano, e nem sequer se assinala os fatores fome e

pobreza, tão em voga ultimamente.

2) As razões da existência da pobreza e da responsabilidade de combatê-la,

também reafirmam a problemática nacional. Destaque para uma situação que

diz ser “uma condição natural do ser humano”, as demais mostram senso

crítico e em sintonia com o discurso do Terceiro Setor, que considera

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necessário uma ação conjunta entre os três setores, ou seja, 75% afirmam que

o governo, as empresas e sociedade juntos devem combater à pobreza em

nosso país.

3) Destaca-se a questão sobre o voluntariado e o Terceiro Setor, onde existe a

importância, mas não tão expressiva, pois 75%, sobre o voluntariado, diz ser

importante, e até surge uma outra questão negativa, 25% considerando pouco

importante.

4) Observamos também que em relação à gestão das organizações existe um

certo paradoxo, pois sendo o Plano de Negócio Social (PNS) a principal

ferramenta utilizada, outro, que ao nosso ver é base para o PNS, e nos

referimos ao Planejamento Estratégico (PE), é o menos citado pelos

respondentes; e que no item sobre as características mais importantes de uma

gestão social empreendedora, um dos itens é o “pensar e agir estratégico”, uma

das explicações que vemos decorrente à urgência de captação de recursos, e à

experiência recente com a Ashoka, tenha levado a centrar a preocupação neste

ponto e neste instrumento, mas é evidente que o PE é fundamental até para se

planejar as estratégias para se tornar autônomo e mais sustentável, onde o PNS

pode auxiliar.

5) Ainda nesta perspectiva, é possível distinguir, na opinião dos respondentes,

seis elementos chaves para a realização de uma gestão social empreendedora:

1) compromisso social;

2) engajamento social e político;

3) profissionalismo;

4) criatividade;

5) inovação;

6) espiritualidade.

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6) Tal constatação da percepção dos respondentes está em sintonia com as

demais interpretações deste perfil, como é o caso já apresentado da proposta

de Jerr Boschee (1998), de Jim Thalhuber (1998) e de Jane Berry (2003), que

apresentam como elementos vitais da gestão do empreendedorismo social os

elementos de inovação, criatividade, trabalho em equipe, o pensar estratégico e

a criatividade.

7) Sobre o empreendedorismo social e a percepção do contexto brasileiro,

verificamos que 75% dos respondentes consideram o empreendedorismo

social como uma ação emergente com potencial de desenvolvimento humano e

gerar emancipação social Demonstram também coerência, não concordando

com conceitos que colocam o empreendedorismo social como o salvador da

pátria, como o que é apresentado por Jim Thalhumber e apresentado para

análise do grupo no quadro 5 (ver em anexo), onde 75% discordam; e 25%

concordam totalmente.

8) O perfil do empreendedor social, na percepção dos respondentes, fica próximo

dos demais perfis apresentados na literatura corrente, mas verificamos também

que o apresentado pelo grupo mostra-se como referencia real de sua prática,

sendo assim, destacam-se: visão de futuro, elaborar ações inovadoras e éticas,

confiança, criatividade, planejamento estratégico.

9) Percebe-se que são fatores exigidos diariamente para sua própria atuação e

pelas demandas do trabalho desenvolvido; observamos também que, tirando o

fator ética e confiança, que poderiam ser considerados como fatores de

qualidade política, os demais são relacionados à qualidade formal, centralidade

que já foi sinalizada e agora reforçada.

10) Um fato que nos chama a atenção é a experiência e vivência dos respondentes,

nota-se a baixa incidência sobre apontar o empreendedorismo social entre

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outras estratégias de combate à pobreza, só recebem 25% das indicações, o

mesmo que a economia solidária, sendo que, num item anterior, o

empreendedorismo social foi considerado 100% como fator de produção, de

emancipação social e desenvolvimento humano.

11) É nítido, também, e não é exclusividade dos respondentes, uma confusão

quanto à comparação entre os conceitos de empreendedorismo social e

economia solidária; 75% acreditam que o empreendedorismo social tenha

diferenças e sugerem algumas que, ao nosso ver, não são pontos tão

diferenciadores, entre eles: compromisso social, engajamento social e político,

profissionalismo, criatividade, inovação, espiritualidade, efetivar as ações

propostas.

12) Nota-se que, ao fazer esta diferenciação, surgem mais elementos de qualidade

política do que de qualidade formal, o que, em relação ao perfil do

empreendedor social, ocorre o inverso.

13) Vemos também que se destaca, neste momento, a explicitação de dois

elementos que não haviam surgido anteriormente: o engajamento social

político e a espiritualidade.

14) O primeiro relacionado a uma lógica típica das organizações sociais dos anos

60/70 e de uma visão mais política da intervenção social.

15) A segunda, de base espiritual, o que, necessariamente, seja religiosa, mas

fundamentalmente do tipo de organizações religiosas ligadas e engajadas em

movimentos sociais e organizações de intervenção social, também oriundos

dos anos 70 no período da ditadura militar que assolou o Brasil e todo a

América Latina150. Este ponto da religiosidade não foi possível aprofundar em

150 Confira o trabalho sobre religião e política de LÖWY, Michael. A guerra dos deuses: religião e política

da América Latina. Rio de Janeiro: Vozes, 2000.

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nosso estudo, no entanto é patente a influência desta dimensão, tanto pela fala

como pela visão de mundo e de sociedade e de perspectivas, que são eivadas

de dimensões de espiritualidade, mas fato este que deverá ficar para um outro

estudo de empreendedorismo social e espiritualidade.

A partir desta síntese, é possível perceber que, neste processo de coleta e análise

de dados, que entre os respondentes constata-se que a vivência junto à questão do

empreendedorismo social apresenta três eixos fundantes:

a) a busca da inovação e do fazer diferente às formas de intervenção no campo

social;

b) esta busca tem como base a criatividade pautada em uma perspectiva

estratégica e de cunho ético e comprometimento participativo dos atores

envolvidos;

c) busca para a implantação de ações estratégicas e inovadoras, tem a intenção de

extrapolar o local e o específico, ou seja, a idéia de inovação surge de um

indivíduo em um lugar determinado e localizado, mas o seu pensar e agir são

com vistas ao coletivo e com o impacto global.

Com isso, podemos destacar também que, mesmo tendo esta perspectiva, as lutas,

prioridades e problemas destas organizações de empreendedorismo social não são muito

diferentes de outras organizações tidas como tradicionais. Cremos que essa deva ser pela

juventude destas organizações, bem como da aplicação dos princípios e técnicas do

empreendedorismo ser recente e estar em amadurecimento.

Mas fica também nítido, e talvez mais ainda, que a grande diferença está em

como encarar no presente e pensar no futuro e enfrentar estes problemas, estas lutas e

saber dar prioridades, em outras palavras, há um agir coletivo diferenciado, mais

envolvente, mais engajado que contagia as pessoas envolvidas e convida à participação

espontânea e comprometida.

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Este aspecto ficará mais claro ao apresentarmos o resultado do estudo de caso em

profundidade da Associação Lua Nova. Estaremos assim apresentando o relato de sua

história, da visita e das atividades que foram desenvolvidas neste estudo de caso.

10 - ESTUDO DE CASO DA ASSOCIAÇÃO LUA NOVA – SOROCABA/SP

Conforme já sinalizado, estaríamos apresentando um estudo de caso em

profundidade, o que significa um maior aprofundamento e detalhamento de uma

organização social que está envolvida diretamente com a transmissão e prática do

empreendedorismo social.

A unidade de caso para esta finalidade é a Associação Lua Nova. Sua

coordenadora geral, a senhora Raquel Barros, foi uma das participantes da primeira fase

do estudo de caso da Ashoka, e se dispôs a participar desta segunda fase da pesquisa de

campo.

Para melhor apresentação e análise dos dados coletados neste estudo de caso,

serão apresentados: a) histórico e contexto; b) formatação e organização; c) relato da

visita e desenvolvimento das atividades e estudo de grupo focal; d) percepção de quem

está dentro do processo.

10.1 História e contextualização

A Associação Lua Nova, mais conhecida como Lua Nova, foi fundada em

01/01/2000. Sua fundadora e coordenadora geral é a psicóloga Raquel da Silva Barros. A

associação é composta de duas unidades, uma administrativa e oficina de costura, que fica

no centro da cidade de Sorocaba, a 75 km da capital; e a outra unidade de alojamento, na

cidade de Araçoiaba da Serra, cerca de 20 km de Sorocaba.

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A idéia de criar a Lua Nova é decorrente da experiência da senhora Raquel que, na

Itália, vivenciou, junto a uma cooperativa chamada Villa Renata em Veneza, um projeto

de atendimento a dependentes químicos. Experiência esta que existe na Itália há mais de

20 anos e que vem desenvolvendo bases teóricas e práticas inovadoras, neste campo, de

modo a proporcionar aos seus usuários uma nova forma de tratamento e de rumos de vida,

em uma perspectiva autônoma e progressiva.

Um dos aspectos que mais chamaram a atenção da senhora Raquel nesta vivência

foi o tratamento específico com mães dependentes químicos. Geralmente nestas situações,

elas se separam dos filhos no período de tratamento. Mas, neste projeto, as mães

permaneciam com seus filhos e eram realizadas atividades conjuntas; constata-se que, de

um grupo de 40 mulheres, 70% obtiveram sucesso no tratamento e em sua recuperação.151

Com esta experiência e modelo, quando a sra. Raquel retornou ao Brasil, para

Sorocaba, onde reside, teve o propósito de reeditar este projeto da Villa Renata,

adaptando-o à nossa realidade e clientela.

Em meados de 1999, procurou reunir algumas pessoas, apresentou a idéia e

conseguiu primeiramente uma chácara em Araçoiaba da Serra. Segundo depoimento da

sra. Raquel, “algumas pessoas me disseram que elas tinham uma quantia, e que se eu

conseguisse algo dentro dessa quantia, seria minha [...] aí consegui a chácara.” (sic). Esta

propriedade não foi doada, segundo a coordenadora, foi entregue em comodato, foi o

início do surgimento da Lua Nova. Assim iniciou-se o atendimento a um grupo de

meninas mães também com a ajuda da Ashoka, que foi decisiva para implantação e

materialização do projeto.

Este apoio da Ashoka não foi só financeiro, mas também de contatos e capacitação

além a troca de experiência, o que permitiu com que a Lua Nova em 2000 fosse uma

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realidade.

Desta forma, a Lua Nova tem por objetivo trabalhar a auto-estima e gerar o

processo de reinserção social de jovens mães em situação de risco social, estimular o

papel materno e formar crianças psiquicamente saudáveis.

É uma organização social que vem sendo reconhecida por seu trabalho, o que tem

sido materializado, não só por premiações da Ashoka, como pela Abrinq e outras

organizações, mas também pelo apoio institucional governamental e das próprias usuárias

deste processo, como mais à frente veremos, a partir dos depoimentos coletados.

Apesar de ser jovem, a Lua Nova é um projeto que inova, quanto ao tratamento da

maternidade responsável, e do apoio na perspectiva da autonomia progressiva, a partir de

ações sócio-educativas de reinserção social, principalmente para uma população, que, via

de regra, não encontra amparo e quase nenhuma política social. São mães adolescentes,

grávidas e invariavelmente envolvidas com drogas, dependência química, violência

familiar e outras situações. Isso poderá ser melhor observado a partir dos demais dados

que a seguir apresentamos.

10.2 Formatação e organização

Para melhor aprofundar este item de análise do estudo de caso e contemplar os

indicadores de gestão organizacional e estratégias de nosso método operativo,

estabelecemos um conjunto de categorias de análise para estudar a formatação e

organização da Lua Nova, a partir da proposta de Tenório152. Ele apresenta as principais

funções gerenciais para a gestão organizacional compostas pelos seguintes elementos:

151 ASSOCIAÇÃO LUA NOVA Atenção para mães e filhos, documento interno cedido em 19/09/2003 pela

coordenação do curso e que foi a principal fonte da análise que se segue, e será doravante identificadocomo doc. Lua Nova.

152 TENÓRIO, Fernando. (org.) Gestão de ONGs: principais funções gerenciais . Rio de Janeiro: Ed.Fundação Getulio Vargas, 1997.

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planejamento, organização, direção e controle.

Segundo o autor, essas funções devem “ser entendidas como um ciclo que se

repete dentro da organização e que está relacionado à previsão, à divisão do trabalho, o

exercício e o acompanhamento.”153

Desta forma, ao estabelecer estas categorias, face aos indicadores estabelecidos

para serem apurados, pretendemos explicitar os principais elementos constitutivos da

formatação e organização da Lua Nova.

Cada categoria tem uma série de elementos constitutivos; a seguir, a título de

ilustração, criamos um quadro que sintetiza esta composição.

Quadro 14: Categorias analíticas da Gestão Organizacional de Organizações Sociais.

01 Planejamento Missão, visão, objetivos, ações, programas, projetos, serviços

02 Organização Estatuto, organograma, divisão departamental, normas,

03 Direção Coordenação, liderança, decisões, motivações

04 Controle Acompanhamento, monitoramento, avaliação, padrões de

desempenho, mensuração dos resultados, comparação do

desempenho ações corretivas, investimento, retorno, fluxo de

caixa, etc.

Fonte : Elaboração pelo autor a partir de TENÓRIO, 1997.

A partir destas categorias e conforme disponibilidade de dados e informações,

podemos analisar grande parte destas categorias. Estas fontes foram documentos internos,

artigos publicados em jornais e revistas, bem como do próprio depoimento de técnicos e

usuários da Lua Nova, como a seguir demonstramos, na seguinte seqüência: 1)

planejamento; 2) organização; 3) direção; e 4) controle.

10.2.1 Planejamento

153 TENÓRIO, Op. Cit., 1997, p. 21.

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Juridicamente, a Lua Nova não só é uma associação civil sem fins lucrativos, mas

também considerada uma organização governamental de utilidade pública.

Tem como missão:

resgatar a auto-estima, o espaço social, a cidadania e o direito à maternidadecom responsabilidade de jovens mães em situação de risco social,possibilitando a vivência prazerosa do papel materno e a formação de criançaspsiquicamente saudáveis. (Doc. Lua Nova, p. 12)

Tendo como visão:

a construção de referências para programas de reinserção social de mãesadolescentes e seus filhos expostos a situações de risco, capazes de evitar a suamarginalização e discriminação social, bem como, a dolorosa e freqüenteseparação das famílias. (Doc. Lua Nova, p. 12)

Seus objetivos de ação são:

1) apoio ao projeto de vida das jovens por meio de um trabalho de reeducação epsicoterapia;2) a inserção das jovens no mundo do trabalho e geração de renda;3) o fortalecimento de vínculo materno;4) a reinserção social. (Doc. Lua Nova, p. 12)

Para alcançar estes objetivos, missão e visão, a Lua Nova estabeleceu as seguintes

estratégias:

a) integração com a comunidade local;b) a formação de redes de atendimento;c) o acolhimento das duplas[mãe e filho] em regime residencial;d) a criação de um espaço transitório entre a comunidade e a reinserção social;e) a construção de um espaço seguro para crianças;f) a profissionalização e geração de renda. (Doc. Lua Nova, p. 13)

Para materialização dessas estratégias, são desenvolvidos vários programas e

projetos, dentro de uma estrutura gerencial, a partir das seguintes diretrizes: a) residência

e acomodação para mãe e filho; b) reinserção social; c) gerar renda e profissionalização.

Entre os vários programas e projetos, destacam-se:

1) Reeducação: trata-se da proposta que ocorre na residência e exercitada na

vivência cotidiano da Lua Nova, onde todas as atividades, tanto de limpeza, conservação,

preparação do alimento, da arrumação das acomodações são realizadas pelas residentes.

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2) Reinserção social: desenvolve ações que procuram estabelecer a ponte entre a

residência e a saída das duplas com condições de autonomia e adequação de vida, o que

ocorre na residência, denominada de República Lua Nova, que fica em Araçoiaba da

Serra.

3) Profissionalização: é realizada a partir das atividades programadas na Oficina

de costura, dentro do projeto denominado de Criando Arte, onde são confeccionadas

bonecas e bonecos artesanais de pano, além do projeto Buffet escola, onde se ensina

exercer o preparo de alimentos para festas, bem como o atendimento do serviço de Buffet.

4) Criança: organização de ações e atividades dirigidas e programadas para as

crianças, separadamente, como em conjunto com as respectivas mães, inclui o projeto

Casa da Criança.

5) Formação de Rede local: desenvolve projetos em parcerias com a comunidade

do bairro, onde está instalada a comunidade, bem como outros órgãos governamentais e

do Terceiro Setor.

Ao longo da vivência e experiência da Lua Nova, percebe-se que foi gerada uma

metodologia de trabalho para este tipo de situação e clientela. É perceptível a referência

ao modelo Italiano, mas, sem dúvidas mostra-se autônoma e singular, dadas as

características culturais e realidade local onde as ações estão sendo desenvolvidas.

Desta forma, nota-se que o planejamento é pautado na realidade global e local, ou

seja, são considerados dados da problemática da juventude, no mundo e no Brasil, bem

como as relações e realidades locais, uma ação em rede e composição de parcerias, num

processo socioeducativo, interativo e participativo.

10.2.2 Organização

Nesta categoria, verificamos que a Lua Nova apresenta uma formatação

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hierárquica no estilo matricial. Isso pode ser visto a partir de seu organograma, cedido

pela coordenação, na época de nossa visita de estudo de caso (19/09/2003), quando,

estava sofrendo alteração, pois os programas e projetos estavam sendo ampliados e

remodelados. (ver em anexo)

Segundo informações da coordenação, cada projeto tem uma gerência que

coordena as atividades. Essas são técnicas mas também podem ser as próprias usuárias da

Lua Nova, chamadas carinhosamente de meninas e que doravante vamos tratar desta

forma.

Um exemplo de proposta que presenciamos em nossa visita é o Projeto Criando

Arte. Ele faz parte da linha de produção da oficina de costura e do processo de

profissionalização. Tem uma equipe dirigida pela técnica Silvina, que é de nacionalidade

Argentina, e os demais membros da equipe são compostos das meninas. Estas estão sendo

preparadas também para, no devido tempo, assumirem a gerência da equipe assim como

de outros projetos de desdobramento desta atividade.

Segundo a gerente Silvina, a idéia é tornar o Criando Arte em uma incubadora de

negócios, “e contribuir na geração de renda, mas também de um novo negócio que poderá

ser desenvolvido pelas meninas, além da profissionalização e reinserção social.” (sic)

O ingresso de novas mães passa por um processo de triagem, depois se aprovado,

passa por um processo de adaptação. Segue-se até a inclusão nos programas e projetos de

profissionalização, e tratamento e ações de reinserção.

São realizadas reuniões administrativas periódicas para tomada de decisões e

correções. Para a execução de suas tarefas, conta também com voluntários, alguns vindos

de outros países. Segundo a coordenação geral, isto ocorre devido aos contatos com

outras organizações e fellows (empreendedores sociais) de outros países, em específico da

Itália.

Um exemplo, conferido por nós, foi à atuação de um voluntário, vindo da Itália,

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que era fotógrafo. Ele, além de ministrar um curso de fotografia para as meninas,

patrocinou uma exposição desse trabalho, também a confecção de um livro de fotografias.

Com este processo e metodologia de trabalho, a Lua Nova atende, desde sua

fundação, cerca de 643 pessoas, destas foram assistidas 312 eram crianças e faziam parte

da comunidade. Acolheu cerca de 79 mães, 78 crianças, das quais 40% já foram

reinseridas (Doc. Lua Nova, p. 16).

Essas 79 mães apresentavam uma faixa etária média de 15 a 25 anos e 78 crianças

na faixa etária de 0 a 9 anos. Destas, 28 mães já acompanhadas dos seus respectivos filhos

e 21 sozinhas.

O grupo composto de 19 gestantes e 10 mães estavam com seus filhos em abrigos

de outras instituições. Há uma concentração, na faixa etária de 16 a 18 anos,

demonstrando a necessidade de um trabalho específico para jovens mães neste período da

vida.

O histórico delas, em sua grande maioria, é dramático, com situações que

envolvem a dependência de drogas, 73%; prostituição, 51%; violência sexual, 48%;

moram na rua, 46%; contaminação com HIV, 18% (Doc. Lua Nova, p. 24).

Em cada estágio e local de atividade, existe uma equipe. Na residência, há uma

equipe de educadores, em torno de três a quatro. Cada educador é monitor de um grupo

de meninas, e é chamado pelas meninas de “monitor de referência”, pois todas são

monitoras, mas apenas uma pessoa da apóio específico para determinado grupo.

A experiência da Lua Nova fez como que pudesse apresentar uma metodologia de

trabalho neste campo e com esta população. Segundo estudo efetuado pelos técnicos da

Lua Nova, existem nove ações para implementação de programas e projetos desta

natureza, são eles:

1) diagnóstico e conhecimento da região;

2) formação da rede de atendimento;

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3) mobilização da comunidade local;

4) identificação do local e organização da estrutura da equipe de trabalho;

5) construção da proposta de residência;

6) construção do projeto para crianças;

7) o desenho do trabalho para reinserção social das jovens;

8) a profissionalização.

Em relação às regras e normas, principalmente para com as mães residentes,

percebe-se que são flexíveis e apresentam um padrão de controle não exagerado, também

não se limitam a determinar uma certa ordem, tudo é entendido como forma de

aprendizado, como afirma a coordenação:

partimos da certeza de que elas irão infringir [as regras e normas estabelecidas],é algo esperado. Acreditamos ser nesse processo de discussão das regras,infrigi-las e novamente discuti-las, faz parte do processo. Elas serão, aospoucos, e incorporadas à nova postura de vida. Negociá-las é uma forma deimpulsionar a adesão dos jovens. (Doc. Lua Nova, p. 49)

Para reforçar o trabalho estratégico e participativo, são realizadas reuniões

semanais entre os educadores e as meninas, além de trabalhos de psicoterapia, artes,

dança, cultura, e de lazer, individualmente com as mães e em conjunto com seus filhos.

Um ponto a ser destacado referente aos filhos e com às regras e normas é a

valorização quanto ao cuidado com os filhos, o que, ao contrário, pode também culminar

no desligamento e saída do projeto, caso se constate maus tratos e falta de

comprometimento com os cuidados maternos.

Além das atividades pedagógicas, são realizadas palestras, oficinas, encontros.

Algumas meninas já se encontram em um estágio de maior maturidade. Atuam como

multiplicadores de informação junto à comunidade local, indo a escolas e associações de

bairros, apresentando palestras sobre sexualidade, AIDS, prevenção de drogas, de forma a

valorizar seu aprendizado e seu papel junto à sociedade.

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Em linhas gerais, estas seriam as principais características da categoria

organização da Lua Nova.

10.2.3 Direção

Na coordenação geral da Lua Nova, cada departamento tem uma gerência ou

coordenação, além do pessoal técnico administrativo e dos educadores. A parte

administrativa e oficina ficam na unidade do centro de Sorocaba, a unidade de residência

em Araçoiaba da Serra. Essas compõem o conjunto estrutural da organização.

É estabelecido o papel e função de cada componente e é exigido um conhecimento

básico e perfil para atuar nesta área, destacam-se os seguintes componentes e conteúdos

exigidos:

q concepção de criança, jovem, processo educativo e terapêutico;q conhecimentos gerais sobre, saúde, higiene, doenças sexualmente

transmissíveis;q conhecimento sobre a legislação: ECA, LOAS, LDB;q saber trabalhar em grupo;q estar preparado para enfrentar desafios;q capacidade de decisão, iniciativa e flexibilidade. (Doc. Lua Nova, p. 40)

As meninas que são encaminhadas para a Lua Nova vêm de vários lugares e de

várias formas, mas nota-se uma concentração dos encaminhamentos vindos de outras

organizações e instituições sociais, o que representa cerca de 43%; seguido do Conselho

Tutelar, 29%; igrejas, de forma espontânea, vara da infância, todos com percentuais

menores.

Percebe-se que as formas de decisão e continuidade das atividades após o

acolhimento (recepção das novas mães) são acompanhadas e avaliadas periodicamente,

como já relatado anteriormente.

Um dos fatores de maior evidência da Lua Nova é sua ampla rede social que foi

criada entre os vários seguimentos da sociedade e das organizações da comunidade local.

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Como exemplo, uma das residentes relata que a creche pública e o posto de saúde

de Araçoiaba da Serra dão atendimento específico para as mães da Lua Nova, inclusive na

creche, mais da metade das crianças são de mães da Lua Nova.

10.2.4 Controle

Do ponto de vista do controle financeiro, percebe-se que cerca de 53% da receita

anual é de origem governamental; 1,09% de doações/contribuições individuais; 7,95% de

empresas; 14,82% entidades religiosas; 2,65% vendas de produtos/serviços; 19,61% de

agências internacionais. Em termos de valores, tomando como base o ano de 2002, a fonte

governamental foi responsável pelo total de R$ 203.449,00; as doações R$ 4.117,71;

empresas, R$ 30.000,00; entidades religiosas R$ 55.963,51; vendas R$ 10.000,00;

organizações internacionais, R$ 74.023,53; totalizando R$ 377.544,75.154

Se considerarmos uma medial anual de 22 mães em regime residencial, isto

equivale a um valor per capita de R$ 17.161,12 ao ano e 1.430,09 ao mês de investimento

nos programas e projetos da Lua Nova.

Ainda verificamos que as residentes, segundo informação da coordenação geral,

quando aprovadas pela triagem e processo de adaptação, recebem uma bolsa auxílio que

dependendo do estágio de desenvolvimento, varia de R$ 240,00 a R$ 327,00; todas são

consideradas aprendizes.

Não tivemos acesso a nenhuma planilha que demonstrasse a relação custo

beneficio, ou investimento e retorno, mas um terceiro documento, onde é apresentado o

detalhamento do Projeto Criando Arte, apresenta com detalhes uma formatação precisa de

controle de produção, qualidade dos produtos, investimento e retorno.

154 Os dados apresentados são de um projeto de caracterização da organização para captação de recursos,

chamaremos o mesmo de Doc. Caracterização Projeto Lua Nova.

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Tal fato mostra o grau de organização e controle efetivo dos processos, tanto

financeiro, como de material, dos investimentos, dos custos, e demais componentes desta

categoria controle.

10.2.5 Síntese da formatação e organização da Lua Nova

Assim, após termos visto os principais elementos constitutivos das categorias de

gestão organizacional da Lua Nova, podemos a seguir sintetizar este processo destacando

os seguintes pontos de maior relevância para nossa investigação:

1. certa dependência e comprometimento das receitas e operações relacionadas à

fonte governamental e baixa contribuição referente à produção e prestação de

serviços;

2. processo organizativo, baseado em ações pedagógicas, psicoterapêuticas,

sócio-educativas que lidam com o emocional e a preparação social;

3. gestão participativa, dinâmica, formação de ações externas em rede, através de

parcerias, projetos que impactam a comunidade local, e favorecem uma

aproximação maior da reinserção social;

4. é dada ênfase à noção do trabalho em rede, trabalho em equipe, co-

responsabilidade, relação profissional que não cai no autoritarismo, mas no

processo de interação e participação, dentro de limites e regras claras quanto

os papéis e os limites a serem observados;

5. as meninas participam de todas as tarefas de modo que tudo o que se faça

tenha um processo de aprendizado, seja nas atividades individuais como

coletivas;

6. é inovadora, pois consegue gerir o processo de tratamento e preparação de

inclusão social, sem separar mãe e filho, bem como viabilizar um processo de

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aprendizado para a vida, com ênfase na emancipação social e no

desenvolvimento humano;

7. notamos, porém, que não existe ainda uma sistematização organizada do

material de apresentação, ou seja, os registros ainda estão formatados de modo

a atender as necessidades internas e não externas, exemplo do Doc. Lua Nova,

que tem um ótimo conteúdo, mas não está editorado. Assim, podemos dizer, é

preciso fazer uma capa, deixar mais claro qual é o tema do documento, uma

folha de rosto, fazer a ficha catalográfica, relação bibliográfica, uma melhor

finalização quanto aos capítulos e fechamento das informações por capítulo,

etc;

8. não há duvida de que essa empresa apresenta traços inegáveis de uma gestão

organizacional empreendedora, como exemplo, a questão do projeto Criando

Arte, que já está sendo ampliado; a partir desta atividade, estão surgindo

outros projetos.

Em suma, a Lua Nova, apesar de apresentar características idênticas a qualquer

outra organização social, apresenta também traços efetivos de influência do estilo

empreendedor social, seja em sua fundação, no desenvolvimento das atividades, como em

seus frutos.

Tais considerações ficaram mais evidentes com os demais dados que a seguir

apresentamos.

10.3 Percepção de quem está no processo

O presente tópico visa ampliar e aprofundar o estudo de caso da Lua Nova. E será

apresentado na seguinte seqüência: a) relato da visita a Lua Nova, onde narramos o

preparo e execução da visita e seus desdobramentos; b) a opinião dos principais sujeitos

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do processo; onde procuramos, a partir da dinâmica de grupo e entrevista coletiva, grupo

focal, e aplicação de um questionário-semi aberto, extrair os elementos representativos da

percepção das meninas, principais protagonistas deste processo e desta luta.

10.3.1 Relato da visita e aplicação de técnica de grupo focal

O relatório completo e detalhado deste momento está em anexo, queremos, neste

momento, apenas reforçar os seguintes elementos de impressões desta atividade e, na

seqüência, apresentar a análise do questionário que, juntos, nos dão uma visão ampla e

aprofundada da percepção e caracterização deste trabalho, além do impacto e influência

do empreendedorismo social neste processo:

1) a visita nos permitiu uma maior aproximação da realidade vivida por estes

atores sociais, frente a situações concretas e com a utilização de instrumentos e ações

estratégicas de empreendedorismo social;

2) a história de vida, como o viver cotidiano destas meninas e jovens mães, não se

compara à grande experiência e vivência de ampla parcela da sociedade. A Lua Nova é,

sem dúvida, um oásis num deserto de recursos. Possui espaço organizado e devidamente

preparado para receber, preparar e incluir socialmente pessoas, cidadãs que estão à

margem da sociedade, não só como um índice estatístico e número, mas além do que

podemos imaginar exclusão social;

3) o fato não é só a exclusão mas a condição concreta de sair dela, o que não

passa, como podemos ver no relatório em anexo, não basta dar renda, conceder recursos,

mas substancialmente, reaprender a viver, projetar e acreditar em sonhos, não utópicos e

discursivos, mas simples, factíveis, o básico da vida. As pessoas precisam ser amadas

(os), ter a quem amar, ter onde morar, trabalhar, alimentar-se, divertir-se, enfim viver;

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4) percebemos também que, apesar de todas as limitações postas, as meninas

mostraram clareza quanto à situação que estão vivendo. Quanto ao que querem e como

conseguir, impressionaram-nos, pois em momento algum foi dirigida à responsabilidade

de outros para se sanar as situações de pobreza, de dependência e a possibilidade de re-

construir suas vidas; ao contrário, apoio sim, mas delas mesmas, primeiramente;

5) além da visão crítica, dentro dos seus limites, de que as coisas públicas

poderiam ser bem melhor se não houvesse a corrupção, a injustiça e a desigualdade. A

repartição da riqueza e das condições de vida refutam a tese de que o trabalho das

organizações sociais são alienantes, que são funcionais ao sistema, a Lua Nova pode não

ser a totalidade desta perspectiva, mas é, sem dúvida, exemplar neste processo, o que nos

leva a considerar com cautela determinadas afirmações generalistas e superficiais que não

consideram a dinâmica do real e tantos outros fatores da real totalidade dos fenômenos

sociais recentes. Há entre eles o empreendedorismo social e a atuação das organizações

do Terceiro Setor no Brasil;

6) fica também nítido que ninguém é obrigado, coagido e nem pressionado por um

sistema de internato. As relações são claras tanto em relação aos direitos como dos

deveres, dos níveis de participação e comprometimento, quem quer ajuda recebe, quem

não quer vai caminhar só, e, pelo que vimos, são poucos os que não querem caminhar

juntos;

7) em virtude disso, é perceptível o espírito do empreendedorismo social. Ele é

gestado nas ações, nos espaços e liberdades de criação, do apoio e incentivo ao novo.

Trata-se da liberdade de pensar, de opinar, de ousar, mesmo que errando, fazer por si,

aquilo que nunca e ninguém deveria fazer por nós. É andar com nossas pernas e cabeças,

o que redunda em sinais concretos de efetivo desenvolvimento humano e emancipação

social.

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373

Tal afirmação ficará ainda mais clara e melhor complementada com a análise do

questionário que foi aplicado junto a um grupo de meninas, como veremos a seguir.

10.3.2 Análise do questionário semi-estruturado

Antes de iniciarmos a análise do questionário, cabe antes fazer algumas

considerações. Como já ressaltamos no relatório da visita de estudo de caso (em anexo),

em específico no momento de seu preenchimento, esse se mostrou rico.

Uma das questões que nos levaram, mesmo correndo o risco de não ser bem

sucedido nesta empreitada, foi perceber a reação das moças participantes frente a um

instrumento que as colocava em uma situação de limite de suas capacidades e observar

sua reação natural frente ao desafio.

A experiência se mostrou, principalmente para nós, elaboradores e observadores,

angustiante.

É duro perceber que, na era da informação e do conhecimento, quando, no

epicentro desta revolução toda, existem pessoas que trazem um histórico de vida

dramático e sofrível. A exclusão não é um mero dado estatístico, mas a encarnação da

dor, da impotência em todos os sentidos, o que frente a um exercício, “relativamente”

simples, o de preencher um questionário, se mostra monstruoso, assim como, o

enfrentamento dos desafios de se inserir e se manter inserido no mundo atual.

A não-compreensão, bem como a análise de uma frase de um pedido mostram o

limite e a profundidade da exclusão social, que coloca um fosso enorme não só de

alfabetização simplesmente, mas de compreensão de acessibilidade, foi o que percebemos

ao observar aquelas moças, com histórias de vida tão dramáticas e com tanta vontade de

fazer mais. Muitas vezes foram limitadas por não compreender, não poder abstrair uma

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questão que, além de estar escrita, foi por nós, em alguns casos, várias vezes explicada de

diversas formas e, mesmo assim, não obtivemos sucesso na compreensão.

Também notamos que, mesmo e até a despeito desta limitação, muitas meninas

que participaram mostram-se fortes e determinadas, cumpriram o solicitado, mostraram

que são capazes de enfrentar toda e qualquer barreira, mesmo as que se mostrem quase

que intransponíveis. Esta força e coerência nos ficaram marcadas no depoimento de uma

das participantes, quando da avaliação do questionário, afirmando que: “o problema não é

o questionário, somos nós, que não temos as informações suficientes para entendê-lo”

(sic), e é aqui que reside a força que emana de maneira viva e pulsante nessas pessoas

que, apesar da adversidade, são humildes em reconhecer seus limites, mas nem por isso

desistem, e lutam, e, de um jeito ou de outro, estão na luta e superando os obstáculos e

vencendo a cada dia o seu Golias no campo de batalha.

Esta reflexão preliminar é para ressaltar que não consideramos a quantidade de

dados coletados como meros dados frios, mas sinais, sintomas, vindos da parte que

expressa esta arte do saber viver cotidiano, de cidadãs que querem, como qualquer outra

pessoa, a sua felicidade e a de seus entes, o que fica marcante face ao histórico de vida

das respondentes e da percepção quanto a uma miríade de questões que foram colocadas

para elas pensarem e darem suas opiniões. Como veremos a seguir, esses dados são mais

do que dados, são informação viva, extraída do esforço dessas pessoas em participar e dar

a sua opinião, o que torna este processo muito rico e significativo.

10.3.2.1 Sobre o questionário

A elaboração do questionário seguiu, em certa medida, os parâmetros do primeiro,

aplicado aos Fellows da Ashoka, com as devidas adaptações.

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Ele foi composto de 92 questões, na sua maioria fechadas, em estilo escala social,

para tentar captar o nível de concordância e de opinião em relação a uma série de

questões, que foram organizadas em três eixos, a saber:

Bloco – A: da questão 1 a 12, referem-se ao perfil das respondentes e sobre as

atividades desenvolvidas na Lua Nova;

Bloco – B: da questão 13 a 43, sobre a percepção do impacto e mudança que as

atividades da organização Lua Nova tem provocado em suas vidas e o grau de noção e

entendimento sobre o empreendedorismo social155;

Bloco – C: da questão 44 a 92, procurou-se captar o entendimento sobre alguns

conceitos relacionados ao empreendedorismo social, emancipação social,

desenvolvimento humano, questão social, problema social, conjuntura social brasileira e o

trabalho da Lua Nova em relação ao empreendedorismo social.

Para melhor sistematização, apresentação e análise dos dados coletados, após os

termos tabulado, separamos a apresentação em blocos. Dessa forma, a seguir,

apresentaremos os dados e sua análise em três blocos:

10.3.2.2 Análise bloco A

Das pessoas que responderam os questionários, todas eram do sexo feminino,

100%; destas, 33,33% tem o ensino fundamental completo; 16,67%, não são

alfabetizadas; e as demais entre o ensino médio incompleto. Todas 100% se consideram

solteiras e com filho, em média 1 a 2 por mãe.

155 Sobre esta questão, também tínhamos sido avisados pela coordenação, que este assunto não era de

conhecimento das respondentes, mesmo assim, queríamos saber qual a noção e percepção das mesmas,daí o motivo de mantermos estas questões.

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Quando perguntado pela casa de origem, 33,33%, disseram que era alugada;

16,67% era grande; e 33,33% pequena; sendo que na mesma casa moravam cerca de 2 a 4

pessoas, para 50%; de 4 a 6 pessoas para 16,67%; e mais de 10 pessoas para 16,67%.

Deste grupo de pessoas de mesma casa, 66,67%, somente de 1 a 2 pessoas teriam

condição de estar trabalhando; e mais de 9 para 16,67%; dessas, com condição de

trabalho, somente 1 para 33,33% estavam trabalhando; 2 estavam empregados para

16,67%; e mais de 3 para 16,67%.

Nota-se que, apesar de ser um grupo pequeno, é representativo, quanto à situação

global do país, ou seja, famílias numerosas, morando de aluguel, desempregadas e

vivendo em condições precárias.

Sobre o vínculo das respondentes para com a Lua Nova, 66,67% entendem que

são empregadas e 33,33% são voluntárias.

Na realidade as que recebem bolsas são consideradas aprendizes e não têm vínculo

empregatício, mas por estarem realizando uma tarefa considerada profissional é, portanto,

trabalho, e que os meios de produção não são delas, a percepção, apesar de isso ser

explicado, como vimos pessoalmente, a compreensão de uma maioria ainda é distorcida

quanto a este vínculo.

Em relação à carga horária despendida para a realização da tarefa semanalmente,

50% afirmam ser de 40 horas; 16,67% mais de 40 horas; 16,67% 32 horas; e 16,67% 24

horas. Sobre os cargos exercidos foram apresentados os seguintes: ex-residente,

funcionária, residente e funcionária da confecção, residente aprendiz.

Nota-se que não há exatidão quanto à carga horária, apesar de prevalecer a noção

de 40 horas semanais que parece ser a mais correta, mas não está claro para todos, assim

como a opinião do papel de cada um. Percebemos que há uma diversidade de

interpretações, se considerando empregada nas atividades que são realizadas. São

aprendizes, até para não conflitar com a Lei.

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10.3.2.3 Análise bloco B

Avaliando a gestão da Lua Nova, 66,67% consideram-na boa; 16,67% excelente; e

16,67% média. Quanto ao nível de satisfação da atividade desenvolvida na Lua Nova,

66,67% indicaram ser satisfatória; e 33,33% muito satisfatória, apresentando um alto

nível de contentamento pelas atividades e forma organizativa da organização.

Tal resultado, tanto sobre a gestão, como dos indivíduos, demonstra o grau de

satisfação e contentamento, o que fica mais claro e evidente, quando verificamos que as

respostas sobre quais as razões e motivações de estar na Lua Nova. Obtivemos as

seguintes razões:

q a vontade de aprender algo diferente;

q aprender a ter responsabilidade;

q o aprendizado e porque eu gosto de trabalhar com bonecos;

q por causa da filha e porque gosto da atividade;

q a satisfação pela minha recuperação;

q o aprendizado de coisas diversas.

Nota-se que a palavra mais destacada é aprender/aprendizado, seguida da palavra

gosto/gostar/prazer/satisfação. É importante ressaltar que isso ficou marcante, estas

expressões representam a realidade, pois, ao longo de nossa visita, que foi muito

espontânea apesar de ter sido agendada, não notamos nenhuma expressão de desânimo, de

murmuração, de fatalismo, ou de auto-comiseração como é típico em população com o

histórico e quadro circunstancial como o das moças da Lua Nova.

Ao contrário, nota-se um entusiasmo, a motivação no que se está fazendo, porque

é gostoso, e não porque é obrigado ou não se tem outra alternativa. Percebe-se o resgate

da auto-estima, na seguinte declaração, “a satisfação pela minha recuperação.” (sic) Ela

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não se considera uma vítima do sistema, ou um crítico de plantão que só faz reivindicação

de direitos.

Logo, há prazer e satisfação, a percepção delas é que estão aprendendo, e um

aprender com satisfação, o que só pode trazer bons resultados.

Tal percepção é reforçada nos resultados de alto índice sobre o grau de impacto

dos programas e projetos da Lua Nova, na vida de seus usuários, onde 66,67%

consideram satisfatório; e 33,33% muito satisfatório; somados, apresentam um índice de

100% de satisfação.

Queremos chamar a atenção para um fato importante dessas respostas, são muito

sinceras, pois as meninas não se sentiram constrangidas e nem foram escolhidas a dedo

para dar respostas boas, ao contrário, semanas antes dessa atividade, havíamos solicitado

a coordenadora geral, Senhora Raquel, que designasse de forma aleatória um grupo de

moças de mais ou menos 5 a 7 participantes.

Como relatamos no relatório de visita, não houve esta escolha antecipadamente,

ela ocorreu no momento da atividade e em nossa frente, de forma muito espontânea,

muitas não sabiam exatamente o que ocorreria.

Outro fator a ser destacado foi que, ao longo das atividades, não tivemos a

intervenção da coordenadora ou de qualquer técnico, o que poderia influenciar o

resultado.

Desta forma, isso fez com que a participação fosse flexível, respeitando os limites

e desejos das meninas, não foi obrigatóri preencher o questionário, ou falar durante a

dinâmica de grupo. Assim, as respostas, tanto anteriores, como as demais que serão

apresentadas, sinalizam a coerência das respostas e sua veracidade, como sendo expressão

de suas percepções mais legítimas, o que torna esses dados uma contribuição ímpar para

nossa investigação.

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Continuando nossa análise, perguntamos qual seria a percepção das moças sobre a

opinião da comunidade externa, sobre o trabalho da Lua Nova com elas 50% disseram ser

muito boa; 33,33% boa; e só 16,67 ser indiferente. Algumas revelaram que existe um fato

algo desfavorável; a de que a Lua Nova seria uma “casa de prostitutas e drogadas”,

opinião que, na percepção das moças, é minoritário.

Uma das possíveis explicações, segundo o pessoal técnico e das moças, é o fato da

maioria delas não serem de Sorocaba e, sim, de várias outras cidades e até de outros

Estados.

A Lua Nova está consolidada e conta com o reconhecimento da comunidade no

investimento, nas parcerias e nas premiações que vem recebendo ao longo de uma curta

existência, coisa que muitas organizações sociais, mais tradicionais, não têm alcançado, o

que demonstra haver uma diferença quanto à gestão e ao desenvolvimento das atividades

desta organização, que atribuímos pelo envolvimento com o empreendedorismo social.

Nesta perspectiva, perguntamos se as moças saberiam dizer em quais áreas a Lua

Nova atuava; obtivemos os seguintes resultados: 66,67% sinalizam assistência social,

criança e adolescente; 50% educação; 50% assistência jurídica; 66,67% geração de renda;

33,33% capacitação e treinamento.

Chama-nos a atenção uma resposta no item “outros”, “um futuro bom”, ou seja,

uma área que não foi indicada por nós, mas sinalizada pela percepção das respondentes,

como sendo uma forma de ver uma área não convencional, mas que represente, em

grande medida, e para elas, o que está sendo realizado pela Lua Nova, em outras palavras,

a Lua Nova atua na área dos sonhos, das possibilidades utópicas como coisa possível,

tangível, factível. Área esta em que poucos podem atuar, mas, pelo que estamos

constatando, existe neste lugar.

Na seqüência, retomamos as questões voltadas para a Lua Nova e sua organização,

perguntamos se as moças saberiam dizer se a organização teria uma missão e uma visão e

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qual seria. Tivemos, como era esperado, de minimamente explicar o que era missão e

visão. Demos um tempo, elas pensaram e responderam as seguintes questões:

q vejo que hoje sabemos conseguir coisas através de nosso próprio esforço;

q a Lua Nova é para ajudar pessoas a se levantar na vida, a ater uma vida de

responsabilidade;

q reinserir as jovens na sociedade e ensinar a cada jovem um trabalho;

q missão: tirar as pessoas da escuridão da dependência química e nos colocar

outra vez na sociedade;

q desenvolver a maturidade com responsabilidade e prazer e obter condições de

ter auto-sustentabilidade.

Estas expressões são muito ricas. Para melhor analisá-las, vejamos, a título de

comparação, a resposta da coordenadora Raquel sobre este item no questionário dos

fellows da Ashoka. Cabe ressaltar que, ao formularmos esta questão, tínhamos clareza

quanto aos limites das respostas, mas que, no final, como poderemos ver, ao fazermos a

comparação com a resposta oficial, as respostas das meninas não estão tão longe, e ao

contrário, do jeito delas, demonstraram ter noção da visão e missão, em seu sentido mais

amplo.

Missão:

resgatar a auto-estima, o espaço social, a cidadania e o direito à maternidadecom responsabilidade de jovens mães em situação de risco social,possibilitando a vivência prazerosa do papel materno e a formação de criançaspsiquicamente saudáveis. (Doc. Lua Nova, p. 12)

Visão:

ser referência para programas de reinserção social de mães adolescentes e seusfilhos expostos à situação de risco, capazes de evitar a sua marginalização ediscriminação social, bem como a dolorosa e freqüente separação das famílias.(Doc. Lua Nova, p. 12)

Comparando a entrevista oficial com a opinião das moças, verifica-se que grande

parte é percebida, e ressalta uma palavra, que surge constantemente na fala das moças e

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nas respostas, “responsabilidade”; o oposto de jogar para os outros a “responsabilidade”

de resolver o meu problema, o que mostra a consciência e clareza destas moças em ver

que elas têm a responsabilidade de assumir a própria história e rumo de suas vidas, além

de ver na Lua Nova, um apoio transitório para tomar novos rumos.

Ainda sobre a percepção da gestão da Lua Nova, perguntamos se elas sabiam dizer

se existia algum tipo de avaliação dentro da organização: 66,67% disseram que sim; e

16,67% disseram que não; e 16,67% não responderam.

Das que disseram sim, sinalizaram algumas formas de avaliação, entre elas

destacam-se: “a criação dos projetos mães e filhos que a gente aprende a ter vínculo com

os filhos”, “reunião com equipe semanal” e “as reuniões semanais”.

Na análise dos documentos a que tivemos acesso, não encontramos nada que

deixasse claro algum tipo específico de avaliação, além dos que as moças apontaram, o

que sinaliza que resposta e percepção desses jovens estão corretas.

Mas esta questão da chamada cultura da avaliação não é um problema só da Lua

Nova, e sim de uma grande parcela das organizações sociais em geral. Até porque a

experiência mostra que a dinâmica cotidiana destas organizações não permite, mesmo

querendo, um processo avaliativo sistemático e constante, pois as coisas vão acontecendo

muito rapidamente, mas, sem dúvida, é um desafio a ser superado.

Sobre a participação das mesmas na gestão da Lua Nova, 83,33% disseram que

participam sim; 19,67% não participam, o que sinaliza a sua compreensão, que todas as

atividades são inter-relacionadas, e que todas participam do processo de organização e

administração, e isto dentro de limites e responsabilidades, mas que há, e é perceptível, a

sua participação no processo de gestão da Lua Nova.

Quanto ao reconhecimento da Lua Nova, através de premiações, 100% disseram

saber disso, e identificaram as seguintes premiações: Abriq, Pró-Vida e Ashoka, além do

seguinte comentário, “cada dia que passa a Lua Nova [...] através do Criando Arte, passa

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a ser mais conhecido assim a gente sempre recebe gente aqui...” (sic, residente da Lua

Nova).

Tal fato denota uma percepção clara do potencial e dimensão do reconhecimento,

não só da Lua Nova como organização social, mas também dos resultados do seu

trabalho. É tão marcante este fato que, na unidade de alojamento, existe um lugar especial

próprio para tirar fotos e fazer filmagens de reportagens sobre a Lua Nova, e denominam

este lugar de “jardim das fotos”. Sinaliza a territorialização simbólica do espaço social de

representação e expressão da identidade organizacional, o que é motivo de orgulho e

satisfação. Contribui para a auto-estima, motivação e dinamismo das atividades.

Outro ponto perguntado foi se elas sabiam a origem e forma como a Lua Nova foi

criada: 33,33% disseram saber e 33,33% não saber. Dessas que sabem, as alternativas

mais sinalizadas, indicando o surgimento da organização, foram: atitude

própria/individual, 66,67%; comunidade, 66,67%; grupo e pessoas/profissionais, 66,67%

Isso demonstra, em certa medida, a dúvida quanto à origem. Existe um grau de

desconhecimento quanto à história da criação da Lua Nova. Um outro fato ocorrido e que

nos chama a atenção e foi a “falta” de conhecimento, quando, ao perguntamos, para a

coordenadora senhora Raquel, que é a fundadora da Lua Nova, qual seria a sua formação,

na frente de duas moças. Elas tiveram uma reação de surpresa quando ouviram a resposta

da psicóloga. Acreditaram que a sra. Raquel fosse uma empresária rica.

Isto pode sinalizar, em certa medida, uma falha quanto ao processo de integração,

momento adequado para se apresentar estas informações para os novos integrantes da

Lua Nova, tanto para as usuárias como para os voluntários e funcionários, que são

relevantes para o processo de conhecimento e reconhecimento da missão, visão e

estratégias da organização.

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Ao longo de nossa análise, não constatamos se este processo de integração

ocorresse, além do processo de “acolhimento”, pelo menos na descrição dos documentos

e depoimentos.

Sobre a qualidade dos programas e projetos da Lua Nova, a opinião das moças é

que 50% se mostram satisfeitas; 50% muito satisfeitas, e, na opinião de 100%, estes

programas e projetos contribuem para o desenvolvimento humano; 100% acreditam que

também contribuam para gerar a emancipação social; e 66,67% sinalizam que contribuem

muito para sair da pobreza: 16,67%, razoavelmente; e 16,67%, pouco.

Um fato digno de destaque foi a dificuldade de apresentar e explicar o significado

das “expressões desenvolvimento humano” e “emancipação social”, no momento do

preenchimento do questionário. Este esclarecimento foi realizado de forma coletiva, e,

posteriormente, reforçado individualmente em alguns casos, e alguns não respondidos.

Acreditamos, porém, que as respostas são coerentes e quem as respondeu fez

sabendo o que estava fazendo, pois, como vemos, desenvolvimento humano e

emancipação social tiveram índices de apontamento maiores que pobreza, pois, de fato, as

ações da Lua Nova não erradicam a pobreza, de forma direta, e sim potencializa as formas

para que isto seja feito, através das ações das próprias meninas, mas que, sem dúvida,

dependem do grau de desenvolvimento humano e da emancipação social alcançadas por

elas, o que parece estar ocorrendo.

Numa outra questão, seguindo a seqüência dos questionamentos, fizemos uma

afirmação de que este sucesso das ações da Lua Nova seria resultantes da influência do

empreendedorismo social: 100% concordaram com a afirmação. Ainda sobre a Lua Nova,

perguntamos sobre a percepção das moças em relação aos principais problemas de gestão

que são enfrentados pela Lua Nova, destacando-se as seguintes indicações: para 33,33%,

a bolsa baixa seria um problema; para 33,33% seria “não há comprometimento e

responsabilidade dos participantes”.

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Chamam a atenção dois aspectos dessas indicações. Primeiro, a centralidade da

insuficiência da bolsa para sua realidade quanto ao projeto de reinserção social, bem

como as necessidades prementes que se apresentam no custo dos bens e serviços de nossa

sociedade, quando, uma bolsa de 200 a 300 reais não dá conta para se projetar um futuro.

Sabemos que isso não ocorre por que não se quer, mas esta é uma triste realidade de uma

grande parte dos programas de inclusão social que, neste aspecto, perdem para ações

como os do narcotráfico, que pagam muito mais, por menos, e isso apesar do alto grau de

risco.

Incluir socialmente e projetar um projeto de vida, com filhos, família, pagar

aluguel, etc, com pouco recurso, têm as suas limitações o que denota que a percepção das

moças é correta e coerente. É importante ressaltar que esta constatação, em momento

algum, soou como reclamação, ou lamúria, ao contrário, como uma evidência apenas, o

que indica certa maturidade quanto à insuficiência, mas que é, sem dúvida, um problema.

A segunda questão a ser destacada aponta “o não comprometimento das pessoas”.

Praticamente foi a única vez em todos os depoimentos e respostas no questionário, que

surgiu este tipo de expressão, ou “denúncia”, pois em todo o momento vimos a forma de

trabalho em que predominou o comprometimento. Logo, este fato deve ser melhor

estudado e investigado pela organização, pois pode ser considerado como um sinal de

algo que precisa ser tratado, pois pode estar ainda em crescimento, podendo ser tratado

em tempo, antes que se generalize.

Quanto às ações e princípios do empreendedorismo social, perguntamos se eles

causaram algum efeito, diferença e impacto na Lua Nova, e se isto fez com que ela fosse

considerada diferente de outras organizações sociais mais tradicionais: 16,67% disseram

que concordaram; 33,33% discordam; e 50% não responderam. Pelo resultados de outras

questões e o alto índice de não respostas, bem como nossa observação no momento do

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preenchimento da questão, indica a sua não-compreensão, mesmo dos que responderam,

fato que não ocorreu quando a pergunta foi diretamente ligada à vida de cada um.

Quando perguntamos se o trabalho da Lua Nova contribuiu para trazer alguma

mudança na vida delas, 83,33% disseram que sim; e 16,67% não responderam. Isso

sinaliza não só a compreensão da pergunta, como também constata o efeito e impacto das

ações da organização em suas vidas sendo positivo e efetivo, o que foi reforçado, quando

perguntamos sobre o grau deste impacto: 83,33% disseram ser muito mais.

10.3.2.4 Análise bloco C

Neste bloco, fizemos várias perguntas sobre o entendimento delas a respeito da

pobreza que foram respondidas de forma livre, pois eram abertas. Obtivemos as seguintes

respostas:

q “É a gente não ter a vida boa;

q Normal;

q Só existe pobreza de espírito;

q É ser desprovido de dinheiro e moradia.”

Nota-se que, com exceção da segunda resposta, as demais manifestam uma

compreensão limitada do termo, e, ao mesmo tempo, ampla, quanto sinaliza “não ter vida

boa”, o que é “ter vida boa”? O que estaria por trás disso?

Tal fato ficou explicito na dinâmica de grupo, em específico na colagem, onde as

figuras de representação do sonho foram objetos como casa, carro, lazer, escola; em

outras palavras, ter aquilo que todo ser humano precisa e, hipócritamente, está contido em

nossa Constituição, as condições necessárias, note, não são mínimas, de mínimos todo

mundo está cheio. A questão é o necessário, que nos remete à elite que esbanja e

desperdiça recursos com vaidade e exibicionismos, enquanto muita gente passa

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necessidades elementares. Vida boa é ter uma percepção correta e uma atitude humana e

solidária e não como sinalizado pelas moças, ser “pobre de espírito”.

Sobre o conceito de emancipação social, tivemos os seguintes resultados.

q “É ser independente;

q Não sei;

q Independente;

q Independente de outros programas para sobreviver.”

Nota-se certa clareza e coerência nas respostas, destacando a questão da

independência como elemento mais representativo da emancipação social para elas.

Sobre o desenvolvimento humano, houve as seguintes compreensões:

q “Acreditar e ser capaz;

q É o crescimento como pessoa;

q Não sei;

q Independência financeira;”

Praticamente e de forma simples, mas enfática, só não surgem os indicadores de

longevidade, mas de educação e poder aquisitivo, que compõem tecnicamente o índice de

DH da ONU, eles se apresentam de forma implícita nas falas das moças, como pode ser

observado acima.

Perguntamos ainda sobre esses três elementos e a contribuição da Lua Nova junto

aos mesmos: 100% disseram sim.

Na seqüência, utilizando o mesmo apoio dos quadros de questões para serem

analisadas, perguntamos sobre o grau de concordância da afirmação em relação ao

empreendedorismo social apresentados no quadro 1 (ver em anexo): 66,67% disseram

concordar; e 33,33% não responderam. Já em relação ao perfil do empreendedor social,

quadro-2 (ver em anexo): 83,33% concordam; 16,67% não responderam.

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Ainda nesta dinâmica de concordância, perguntamos sobre a proposta da Ashoka

em tornar o empreendedorismo social profissão, quadro – 3 (ver em anexo): 83,33%

disseram concordar e 16,67% não responderam. Opinião esta oposta a dos fellows,

quando 75% discordam e 25% acreditam ser indiferente.

Tal fato corrobora para o entendimento de que as moças participantes não têm

noção dos conceitos de empreendedorismo social para o que, desde o início, a

coordenadora já nos havia advertido. Na entrevista na unidade de Araçoiaba da Serra, ela

mesma afirmou “Edson, desta estória do empreendedorismo social as meninas não tem

muito conhecimento.” [sic] (Relatório de Visita, em anexo)

Isso mostra que este tema não é repassado para elas em momento algum, e que tal

conceito fica restrito aos técnicos e à coordenação.

Talvez aqui resida, ao nosso ver, uma contradição. Como pode uma organização

social, que procura implementar ações de empreendedorismo social e em seus programas

de forma tão explicita, não transmita este conhecimento para as principais envolvidas e

talvez as mais beneficiadas com este conhecimento?

Afirmamos isso, pois presenciamos e constatamos as ações típicas deste processo,

e um bom exemplo é o seguinte depoimento.

“[...] E assim, recentemente, e de forma espontânea, surgiu a fabricação de umnovo produto, o jacaré de miçanga, que é vendido, e é até terceirizado, parteda produção entre as meninas. Já criaram até uma sociedade, a Tata fazparte...” [sic] (Depoimento de Raquel, coordenadora, Cf. Relatório de Visita)

No entanto, acreditamos que neste ponto, o ensino do empreendedorismo e

empreendedorismos social possam ser melhor trabalhados, pois temos constatado que já

existem várias experiências nesta direção, mesmo em bairros de periferia dos grandes

centros.

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Dolabela156 relata a experiência marcante sobre o ensino do empreendedorismo,

com a seguinte e pertinente indagação:

como fazer com que comunidades pobres, distantes dos eixos da economia,possam se desenvolver? Como um indivíduo com baixa ou nenhumaescolaridade, sem experiência relevante no trabalho, sem dinheiro epossibilidade de obtê-lo, pode gerar o próprio sustento? Isso é possível.(DOLABELA, 2003, p. 126)

Com isso, narra uma experiência recente que ocorreu em uma escola municipal na

favela de Alto Vera Cruz em Belo Horizonte, em Minas Gerais. Segundo Dolabela,

naquela escola há uma disciplina sobre empreendedorismo e é ministrada a partir de duas

perguntas básicas:

a) Qual é o seu sonho?

b) O que você vai fazer para realizá-lo?

Segundo o relato, um dia a pergunta foi realizada em plena aula e um aluno de 15

anos levantou a mão e disse: “eu quero traficar drogas porque minha mãe passa fome”.

A reação da professora não foi moralizar, dar um sermão, ou ignorar e continuar a

aula, ou uma atitude de caridade, por exemplo, de ir após a aula para ajudar aquela

família.

A resposta foi outra, afinal a aula era a aula dos sonhos, como é conhecida na

escola e a resposta foi “entrar” no sonho do menino, lógico que não o auxiliando entrar no

tráfico, mas de que forma se poderia resolver o problema da fome.

Após muito pensar e planejar, decidiram se unir e abrir uma empresa de produtos

de limpeza, que chamaram de “Tá Limpo”. Resultado, “o adolescente não entrou no

tráfico e a partir de então sua mãe teve três pratos de comida por dia.” (DOLABELA,

2003, p. 126)

O impacto desta ação não se limitou ao espaço local, a prefeitura de BH, ao saber

da experiência, se dispôs a comprar os produtos da “Tá Limpo”.

156 DOLABELA, Fernando. Qual é o seu sonho? Revista Exame, n. 20, ano 37, 1/10/2003, p. 126.

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Dolabela ressalta algo muito importante, ou seja, o estímulo, diz ele, “não foi:

Abrãm uma empresa”, em outras palavras,

Foi algo diferente, e os transformou em cidadãos: Qual é o seu sonho? [...]Com isso eles se sentiram autores, a auto estima renasceu. Esse é um dascentenas de casos que tenho visto. São todos diferentes (...) Mas ficaevidenciado que o caminho está em devolver a dignidade às pessoas. Ederrubar o mito de que empreendedorismo é coisa de rico. (DOLABELA,2003, p. 126) [grifo nosso]

Desta forma, cremos que esta é uma das poucas, mas é uma lacuna a ser sanada

pela Lua Nova, principalmente na perceptiva de tornar as moças autônomas, sujeitas; este

conhecimento, como explicitamos no exemplo dado por Dolabela, hoje uma das

autoridades mais eminentes sobre este assunto, é imprescindível.

Tal constatação ficou ainda mais reforçada, com o resultado da questão quando

perguntamos se elas se viam como empreendedoras: 66,67% disseram que não e só

16,67% disseram que sim.

Dessas que se consideraram empreendedoras, solicitamos que se avaliassem:

33,33% se deram uma nota menor que 17; 16,67% ,de 17 a 33; 16,67, de 50 a 67; e

16,67% mais de 83, ou seja, há uma predominância de nota baixa, o que confirma a

necessidade, tanto de ensino e aprendizado, como da valorização desta habilidade e perfil.

Perguntamos também sobre a possibilidade de todas as pessoas virem a ser

empreendedoras sociais: 50% disseram que sim, e 33,33% disseram que não. Sobre a

origem do empreendedorismo social, foram feitas as seguintes indicações: 14,29%, do

governo; 14,29%, das empresas, 14,29% outros; e 14,29% não responderam.

Solicitamos ainda que fosse lida a questão apresentada no quadro – 5, referente a

uma série de críticas ao empreendedorismo social. Solicitamos a opinião e o nível de

concordância desta afirmação: 33,33%, discordam totalmente; 16,67%, discordam;

16,67%, indiferente. Isso demonstra que, mesmo não tendo total clareza do conceito, não

compactuam de uma visão obtusa e quase que beirando ao absurdo e intolerância, pois

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elas estão vivendo e sentindo que estas relações vão além da ideologia das análises de

superficialidades, querendo ser totalizantes, o que, ao nosso ver, reflete, em grande

medida também, um grau de pobreza perceptiva.

Apresentamos uma série de alternativas sobre elementos que identificariam o

perfil empreendedor e pedimos que fossem sinalizados os mais importantes. Verificamos

a concentração em três elementos e em outros com menor percentual; destacam-se neste

sentido os seguintes:

19,05% - criatividade;

19,05% - visão de futuro;

14,29% - confiança;

Estes elementos, como podemos constatar se compararmos a outros conceitos, são

os básicos e representam uma percepção correta das moças em relação ao conceito, o que

demonstra que não é o conceito em si que é importante introjetar, mas a noção correta do

perfil e da atitude que vimos ao longo de nossa pesquisa e das várias outras evidências já

apresentadas. Isso demonstra que, com uma instrução e capacitação específicas, os

resultados serão mais que animadores.

Uma outra questão a ser ressaltada foi a solicitação das moças para responderem

se haveria ou não alguma diferença do empreendedorismo social brasileiro e o

estrangeiro. O que poderia soar, pelo histórico e condições das respondentes, um quase

que absurdo. No entanto não o foi, pois elas estão em constante contanto com voluntários

vindos de várias partes do mundo: Itália, Alemanha, Argentina, Espanha, entre outros.

O que pode dar uma noção, talvez não tão específica, quanto ao

empreendedorismo social, mas ao estilo de trabalho de tratamento no campo social, como

ficou patente nas respostas, em que 50 % disseram que tem diferença sim.

Sobre a Ashoka, perguntamos qual a opinião delas quanto à forma desta

organização apresentar e divulgar o empreendedorismos social no Brasil. A opinião de

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66,67% considerou “ótima”; e 33,33%, boa. Em relação à importância do Prêmio Ashoka

de Empreendedorismo Social, disseram ser muito importante, 33,33%; e muito

importante, 33,33%.

Ao aplicar os princípios e métodos do empreendedorismo empresarial no campo

social, indagamos se haveria algum problema: 66,67% não responderam e 33,33%

disseram ser mediano. O que, ao nosso ver, é notável tal resultado, dada a complexidade

do tema, mas as que responderam, cremos terem sido conscientes e coerentes, pois estão

envolvidas diretamente na gestão da oficina de costura e têm uma boa noção deste

assunto, claro que dentro de seus limites e forma de apreender.

O mesmo ocorre na questão sobre a aplicação das ferramentas/instrumentos do

empreendedorismo social, sem o auxílio de especialistas e consultores, como ocorreu no

concurso da Ashoka, quando 66,67% não responderam, e as demais questões a este

respeito, foram idênticas, ou seja, não houve respostas. O que demonstra a falta, que já

era esperada, de conhecimento sobre o assunto, principalmente num nível de

complexidade deste.

Surpreende-nos quando vemos as respostas em relação ao perfil do empreendedor

social, houve indicações e muito interessantes, quando foram sinalizados os seguintes

componentes: criatividade, ética, confiança e visão de futuro. Para um grupo que não tem

um conhecimento aprofundado do tema, este apresentou os principais elementos

constitutivos do perfil do empreendedor social, o que confirma o que já havíamos

anteriormente sinalizado, o aprendizado e a vivência prática são maiores que a

transmissão de conceitos.

Isso nota-se na questão onde perguntamos sobre qual seria o principal problema

do Brasil. Obtivemos o seguinte resultado:

1º) violência, 19,23%;

2º) desemprego, 19,23%;

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3º) pobreza, 15,38%;

4º) fome, 15,38%;

5º) exclusão social, 7,69%;

6º) corrupção, 7,69%;

7º) falta de ética na política, 7,69%;

8º) falta de fé (espiritualidade), 3,85%.

Comparando as respostas dos fellows, em relação a esta questão, verificamos que,

por um lado, para eles, pobreza e fome não são sinalizadas, por outro, é justamente isso

que para as moças apresenta-se em primeiro plano, o que em grande medida retrata com

precisão a realidade vivida por elas. O problema do país, dependendo de quem responde,

é bem diferente, pois o problema maior é o que está me afetando diretamente, não o que

os dados numéricos apontam como sendo prioridade, logo, combater os problemas do

país passa pelo saber o que é de fato problema para os principais atores deste processo e,

em se tratando de enfrentamento à pobreza, os “pobres” deveriam ser os primeiros a

serem consultados e não as estatísticas frias e classificatórias.

Um fato que reforça isso é que entre a lista de escolha, apresentamos o item

“economia”, que está zerado, ou seja, as moças não indicaram a economia como sendo

um problema.

Indagadas sobre as causas que originam a pobreza, obtivemos os seguintes

resultados:

q porque não tem emprego;

q falta de escola;

q porque existem muitos corruptos;

q egoísmo de uns;

q falta de oportunidade;

q não sei explicar.

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Como podemos ver, com exceção de uma resposta, as demais apontam com

clareza a percepção dos elementos que mais provocam as desigualdades, menos as

dimensões mais políticas que não aparecem, nem a questão da distribuição e

redistribuição de renda, melhores salários, etc.

Mas fica claro que há um entrave na dimensão governamental e que salta

expressivamente, já foi sinalizado anteriormente, é a corrupção, a falta de escola, sendo

elementos que elas sentem como de maior importância para sua vida e para o processo de

reinserção social.

Assim, a visão de homem e de mundo não passam necessariamente por uma teoria

única, bem formulada, mas antes de tudo pela coerência do seu viver e do resultado

concreto de suas ações frente aos inúmeros desafios impostos pela vida, em outros

termos, não é a muita educação que torna as pessoas politizadas, mas a própria vida.

Este fato fica ainda mais nítido quando fazemos a mesma pergunta, ou seja, quais são

as causas que fazem surgir as questões sociais/problemas sociais, quando obtivemos o

seguinte resultado:

q povo não tem emprego;

q muita corrupção;

q má distribuição da renda;

q não sabe;

q tudo, falta de emprego e violência;

q má distribuição da renda.

Já, neste ponto, a distribuição da renda surge mais acentuadamente, mas a falta de

emprego é o fator preponderante, tanto para explicar os problemas sociais como a

pobreza.

Perguntamos sobre a importância do papel do voluntariado e, na opinião de

66,67% é muito importante; e para 33,33% importante. Esta questão é do conhecimento

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das meninas, pois a Lua Nova constantemente recebe voluntários, inclusive do exterior,

então elas sabem qual a sua importância.

Uma questão que surpreendeu foi quando perguntamos sobre de quem seria a

responsabilidade de resolver os problemas sociais, praticamente na mesma proporção dos

fellows, o índice com maior indicação foi integração do governo empresa e sociedade:

83,33%; e só 16,67% sinalizou que seria somente do governo. Uma percepção muito

próxima da resposta dada pelos fellows e da lógica do Terceiro Setor, o que fica mais

reforçado ainda, com a valorização dada ao Terceiro Setor. Pois, para 50%, esse setor é

considerando muito importante; para 33,33% importante; e para 16,67% primordial.

Outra questão em destaque foi a resposta sobre a opinião em relação ao governo

de Fernando Henrique Cardoso, avaliando a sua gestão quanto ao campo social. Na

opinião de 33,33%, foi péssimo; 33,33% o consideraram ruim; e 16,67% regular; e

16,67% bom. No momento do preenchimento desta questão, algumas expressaram

verbalmente o seu descontentamento, o que posteriormente foi relatado para a

coordenação e a sr. Raquel se mostrou surpresa quanto a este nível de compreensão e

opinião, considerando o histórico das meninas e suas limitações.

Esta capacidade analítica ficou ainda mais evidente, quando perguntamos sobre a

expectativa em relação ao governo de Luís Inácio Lula da Silva, no campo social e

comparado ao governo anterior, observou-se que 66,67% disse ser maior e 33,33% ser

igual.

Perguntadas se o empreendedorismo social pode ser considerado uma ação

alternativa e estratégica para a emancipação social e o desenvolvimento humano: 83,33%

disseram sim e 16,67% não.

Sobre a possibilidade e importância do papel do empreendedorismo social em

relação ao processo de mudança, o que foi colocado no quadro 5: 50% disseram

concordar e 50% não responderam.

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Quando perguntamos sobre quais elementos compõem a gestão

social/empreendedora, foram sinalizadas as seguintes questões:

q cooperação, 29,41%;

q atenção aos detalhes, 17,65%;

q qualidade dos produtos e serviços, 11,76%;

q trabalho de equipe, 11,76%;

q planejar e pensar estrategicamente, 11,76%;

q criatividade, 11,76%.

É importante salientar que a convivência com o processo produtivo, inclusive na

elaboração de custos e preços, a indicação dada tem um grande teor de verdade. Não

acreditamos ser ao acaso, mas estes fatores são prioritários em seu cotidiano, como pode

se ver, criatividade aparece em último e representando 11,76%, que cooperação, atenção

aos detalhes, e qualidade dos produtos, estão em primeiro plano, sinalizando como fatores

de maior importância, principalmente no tipo de atividade em que as mesmas estão

envolvidas.

Ainda sobre esta questão, solicitamos que apontassem, entre estes elementos que

compõem a gestão empreendedora, os três fatores de maior importância, ficando assim:

q cooperação, criatividade;

q trabalho em equipe, planejar e pensar estrategicamente;

q pensar e planejar estrategicamente, qualidade dos produtos.

Neste sentido, a percepção da maioria vê a gestão social empreendedora tendo como

principais elementos:

1) cooperação;

2) criatividade;

3) trabalho em equipe;

4) pensar e agir estrategicamente;

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5) qualidade dos produtos e serviços.

Este resultado demonstra certa similitude com a resposta/opinião dos fellows,

como podemos conferir no quadro seguinte.

Quadro 15: Comparação entre os componentes de uma gestão social empreendedora

Fellows Meninas da Lua Nova

Criatividade Cooperação

Cooperação Criatividade

Trabalho em equipe Trabalho em equipe

Inovação Pensar e planejar estrategicamente

Parcerias Qualidade produtos

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002

Quadro 16: Comparação entre o perfil do empreendedorismo social

Fellows Meninas da Lua Nova

Visão de futuro Criatividade

Elaborar ações inovadoras Visão de futuro

Ética Confiança

Confiança Planejamento estratégico

Não ter medo de errar Transparência

Criatividade Ética

Planejar Estrategicamente Elaborar ações inovadoras

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002

No quadro comparativo sobre a gestão social empreendedora, podemos observar

que, dos cinco elementos, pelo menos 3 são idênticos aos dos fellows (criatividade,

cooperação e trabalho em equipe), os outros dois são diferenciados, mas perfeitamente

coerentes do papel de cada grupo.

Nos fellows, os dois elementos diferenciados são inovação e parceria; nas meninas

planejamento estratégico e qualidade. Os dois primeiros se referem a uma visão ampla da

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organização, típica de quem esta à frente e tem que pensar na sobrevivência a médio e

longo prazo. Já os dois elementos das meninas são organizativos/operativos,

principalmente quando observamos a preocupação com a qualidade do trabalho,

preocupação típica de quem está com a mão na massa e são diretamente responsáveis por

este fator.

Mas uma coisa que nos chama a atenção é o fato de um elemento tão importante

como o planejamento estratégico ficar quase de fora da visão dos fellows, e mais

lembrados pelas meninas. Esta é uma questão a ser aprofundada e, com certeza, em outro

estudo.

Perguntamos também se o empreendedorismo social poderia contribuir para gerar

capital social, riqueza e desenvolvimento sustentável no Brasil e, apesar da complexidade

desta questão, e desses conceitos terem gerado inúmeras perguntas no momento de

responder, 50% disseram que sim e 33,33% disseram que não, o que, em certa medida, é

coerente com outras respostas que são similares a este raciocínio.

Fato este que fica ainda mais acentuado quando verificamos as respostas em

relação à questão sobre qual ou quais ações seriam mais eficientes para combater a

pobreza no Brasil, quando obtivemos os seguintes resultados:

q empreendedorismo social, 20%;

q economia solidária, 20%;

q cooperativismo, 20%;

q vale educação, 15%;

q distribuição de cestas básicas, 10%;

q vale fome, 5%;

q microcrédito, 5%.

Além destas que foram classificadas, também apresentamos auto-gestão que não

recebeu nenhuma indicação, o que indica que as alternativas, de uma forma ou outra, são-

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lhes conhecidas, mesmo que não de modo teórico e metodológico, pelo menos em ações

cotidianas de tratamento produtivo e relação econômica, daí os três primeiros serem

empreendedorismo social, cooperativa e economia solidária.

Finalizando, perguntamos a opinião sobre o questionário quando 33,33% disserem

que o foi claro; para 33,33% objetivo; para 16,67% compreensivo; e 16,67% não

compreensivo.

10.4 Síntese do estudo de caso da Lua Nova

A partir dos dados apresentados, tanto da visita como dos questionários, podemos

ressaltar os seguintes fatores de maior relevância deste estudo.

1) a organização é nova, tem somente três anos, apresenta quase os mesmos

problemas que qualquer outra organização social tem nos termos atuais;

2) no entanto é visível a diferença quanto às formas de enfrentamento destes

problemas, destacando a influencia do empreendedorismo social para esta

diferenciação;

3) a organização apresenta uma estrutura participativa e inovadora quanto à

forma de tratar problemas sociais de um forma diferente e com resultados

significativos, a exemplo do acolhimento de jovens mães e seus filhos, onde

ambos fazem o processo de tratamento e de reinserção social;

4) percebe-se que os resultados são positivos e que a percepção das moças é

diferenciada e, apesar das limitações tanto educativas como sociais, elas

apresentam uma postura de ver que o seu problema não só deve ser resolvido a

partir de si e dos mecanismos lhe são de direitos, mas também do que é de sua

responsabilidade;

5) e apesar de não haver, pelo menos de forma mais explícita e sistematizada, o

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ensino do empreendedorismo e empreendedorismo social, é nítido que há um

experimentar deste processo, a liberdade de opinar com responsabilidade e

valorização das iniciativas;

6) o que gera um clima que propicia, como vemos, um olhar diferenciado quanto

a encarar o desafio de se incluir socialmente a partir do apoio da organização,

mas principalmente da superação da dependência da ajuda, seja de onde for, e

o resgate da auto-estima e valorização das ações que conduzem à emancipação

social e ao desenvolvimento social;

7) fica para nós a satisfação de perceber que o empreendedorismo social,

efetivamente, contribui para alterar a cultura de gestão bem como de ações que

primam pela inovação, mas sobretudo pela humanização destas ações; e que

devemos mais do que nunca, principalmente a academia, em ter mais cautela

em generalizar as teses de que quem trabalha ou é usuário dos serviços das

organizações sociais do Terceiro Setor são funcionais ao sistema, e não

contribuem para a mudança das ações de desigualdade social de nosso pais, e

ao contrário a conservam;

8) pensamos, ao constatar o histórico destas jovens e o papel e importância da

Lua Nova neste processo: e se não houvesse esta ação, e só tivéssemos as

brilhantes análises totalizantes, estas e milhares de cidadãs deste país estariam

mais ainda no fuso da exclusão e no abandono social, o que nos lembra um

provérbio africano que diz: “barriga vazia não tem ouvidos”, e nós

completamos, e nem soluções as questões se resolvem com criticas apenas.

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TERCEIRA PARTE: A GUISA DE ELEMENTOS CONCLUSIVOS,PERSPECTIVAS E PROPOSIÇÕES

Nesta parte apresentamos o fechamento de nossa investigação. Após a

apresentação dos dados teóricos e empíricos, sintetizamos os principais elementos

conclusivos, bem como os desdobramentos deste processo e apontamos os desafios e

proposições quanto ao que vislumbramos com ações concretas de aplicação do

conhecimento gerado em nosso estudo.

Para tanto, se faz necessário seguir um roteiro que sistematize, de forma ordenada,

o que até o momento foi apresentado, a começar pelo resgate sócio-histórico de que

extraímos a problemática e elaboramos a hipótese central, extraímos os dados e as

informações necessárias à nossa análise. Desta forma, esta parte constatará: 1) principais

constatações sobre as origens, significados e caracterização dos fundamentos e estratégias

do empreendedorismo social no Brasil; 2) similitudes e ambivalências do

empreendedorismo social no Brasil; 3) perspectivas – desafios, limites e possibilidades do

empreendedorismo social no Brasil; 4) considerações finais.

11 - PRINCIPAIS CONSTATAÇÕES SOBRE AS ORIGENS, SIGNIFICADOS ECARACTERIZAÇÃO DOS FUNDAMENTOS E DASESTRATÉGIAS DO EMPREENDEDORISMO SOCIAL

Neste tópico, procuramos realizar uma síntese conclusiva a partir do que até o

momento apresentamos, bem como preparar as considerações finais e a apresentação de

proposições sobre o tema investigado. Como a quantidade de elementos apresentados

anteriormente é grande, é necessário que se faça antes de mais nada um resgate da

proposta de análise, os caminhos que trilhamos e como chegamos à construção da síntese

que apresentaremos.

Para tanto, faremos esta apresentação da seguinte forma: a) refazendo o trajeto de

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construção; b) as estratégias de reconstrução; c) as principais constatações sobre o

empreendedorismo social no Brasil.

11.1 Refazendo o trajeto de investigação e construção do conhecimento

Inicialmente, havíamos ressaltado que o tema é novo e que não consta de

bibliografia consistente, mas ainda de pequena e não tão aprofundada, além de se

encontrar dispersa e fragmentada em artigos, livros, outras modalidades e fontes, como

internet, revistas e jornais.

Notamos também que grande parte da produção nacional tem grande influência da

literatura internacional. Como não é o foco de nossa pesquisa fazer um comparativo, mas

considerar a importância de uma apresentação desta dimensão, procuramos sistematizar a

apresentação das reflexões sobre empreendedorismo social em uma visão internacional e

numa visão nacional.

Verificamos também que o empreendedorismo social surge no bojo de um cenário

marcado pela globalização, seus múltiplos impactos e desdobramentos paradoxais. Em

específico, salientamos o paradoxo entre pobreza e riqueza, ou seja, no mesmo terreno

convivem os avanços extraordinários da ciência e da tecnologia, também da inegável

incapacidade de gestão da vida humana mais justa, com menos seres humanos em estado

de pobreza.

Verificamos que esta questão, no cenário da globalização, traz velhas e novas

facetas e desafios. Entre elas, destacamos a pobreza política, apontada pelo professor

Pedro Demo, e uma nova dimensão da pobreza, que denominamos de pobreza perceptiva.

Esta não só atinge os pobres excluídos, mas também e, principalmente, as elites que

podem e devem fazer alguma coisa para mudar o caos gerado pela globalização da

pobreza.

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Destacamos que, face ao processo histórico do significado e formas de tratamento

da pobreza, urge pensar um novo paradigma deste processo, onde o apresentado pela

ONU, a partir do desenvolvimento humano e da emancipação social, é tido como

desejável para superação do ciclo vicioso da pobreza em suas múltiplas dimensões e

desdobramentos sócio-políticos-culturais e econômicos e, sobretudo, humanos.

Vimos também que no epicentro destes acontecimentos, na década de 90, houve o

emergir de organizações sociais, paralelo ao desmonte das políticas do estado de bem

estar-social, e processos de reestruturação produtiva, configurando-se como o chamado

Terceiro Setor.

Procuramos explicitar que este crescimento está intrinsecamente ligado a outros

fatores de importância e influência. Isso a ponto de criar cisões quanto às opiniões, das

quais apresentamos três vertentes, verificamos as críticas mais acentuadas, criticas

moderadas e a perspectiva de consideração do crescimento do Terceiro Setor como um

novo fenômeno social, frente às lutas de enfrentamento à pobreza, onde, nota-se, que se

gera uma nova racionalidade de ação destas organizações.

Essas organizações, nos anos 60/70, apresentavam uma lógica

crítica/contestatória, e nos anos 80/90/00, começam a apresentar uma outra lógica, o que

denominamos de crítica criativa operativa/propositiva. Este processo e nova racionalidade

são decorrentes, entre vários fatores, do crescimento quantitativo destas organizações e a

redução das fontes de financiamento.

Isto levou as organizações a buscarem novas formas e estratégias de gestão para

sua sobrevivência e continuação de suas atividades. Ocorre um processo onde as relações

Estado, Sociedade civil se alteram. Antes, estas organizações tinham no Estado o seu

“inimigo”, só contestava, e exigia, hoje, tornaram-se “parceiros” deste Estado, sendo não

só contestadoras, mas participantes e até extensão das ações do estado, fato que gerou

profundas mudanças das relações de ocupação do espaço público.

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Neste cenário, também constatamos outro fato intrinsecamente ligado a este novo

movimento, a inserção das empresas na intervenção social. Nessa intervenção, entre

outros fatores, destaca-se a transferência cada vez maior de tecnológicas de gestão

empresarial para a gestão de organizações do Terceiro Setor.

Deste processo, emerge o que se configura como o nosso objeto de estudo, o

empreendedorismo social, que, face ao processo paradoxal da globalização e do

enfrentamento da pobreza, produzida por ele mesmo, traz várias indagações, uma em

específico se caracterizou como o problema central de nossa investigação, a saber:

O empreendedorismo social se apresenta como uma ação estratégica de

desenvolvimento humano e de emancipação social no enfrentamento da pobreza, ou

se configura como mais uma ação paliativa de regulação e controle da pobreza,

portanto, de manutenção do “status quo”?

Desta problemática, face aos aspectos sócio-históricos e contextuais de onde se

encontra esta problemática, elabora a seguinte hipótese:

O estágio atual do capitalismo globalizado gera um grande paradoxo, produz

riqueza e pobreza, obstaculiza políticas sociais eficazes, mas cria um ambiente onde

surgem novas manifestações e estratégias possíveis de gerar o desenvolvimento

humano e a emancipação social, entre elas o empreendedorismo social.

Optamos pelo método científico, na perspectiva apresentada por Laville e Dione

(1999), onde o esquema apresentado consta da elaboração de: a) problema, b) hipótese, c)

verificação; c) conclusão.

Dentro do processo de verificação, optamos por uma abordagem qualitativa que,

decorrente da complexidade da proposta, sentimos a necessidade de elaborarmos o que

denominamos de método operacional, para efetuar a coleta de dados, formulação de

informações e construção do conhecimento, para verificação e comprovação ou não da

hipótese estabelecida.

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404

Estabelecemos, neste método operacional, três parâmetros analíticos: a)

gnosiológico; b) ontológico; c) epistemológico.

Nível de articulação, qualidade formal e político e os seguintes indicadores:

1) espaços de produção e reprodução;

2) teorias e conceitos;

3) autores mais recorrentes;

4) estratégias;

5) gestão organizacional;

6) análise do contexto.

As técnicas de coleta de dados, foram: pesquisa bibliográfica, entrevista semi-

estruturada, questionário semi-estruturado, com escalas de valor, estudo de caso,

descritivo e em profundidade, que constou de uma visita a uma organização social ligada

a Ashoka.

A partir deste processo, seguimos os seguintes passos de operação da pesquisa,

levantamento de: a) dados; b) informação; c) conhecimento. Verificamos que, ao estudar

a realidade brasileira, encontramos referência a várias obras internacionais, o que nos

levou a fazer uma apresentação desta dimensão, mesmo não sendo com a finalidade de

um estudo comparativo, mas de sinalização referencial, contextualização e mapeamento

do debate. Procuramos seguir a apresentação dos dados coletados, de modo similar, e, no

caso do Brasil, as informações foram mais aprofundadas e ampliadas. Para tanto, os dados

e informações bibliográficos e empíricos coletados na pesquisa de campo, foram

apresentados da seguinte forma: a) espaços de produção, reprodução do conceito e prática

do empreendedorismo social: visão internacional e nacional; b) mosaico de conceitos e

termos-chave sobre o empreendedorismo, e no Brasil ampliamos as fontes: mídia,

academia, obras específicas, organizações que disseminam de forma direta, indireta e

direta/indireta estes elementos constitutivos do empreendedorismo social; c) estudo de

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405

caso, como exemplos concretos: um, da Academia Social, foi descritivo, e, da Ashoka,

uma parte descritivo e outro, a partir de um a organização ligada à rede de fellows dela,

foi estudado de forma aprofundada, a Lua Nova; destes apresentamos os fatores

estabelecidos nos indicadores, de modo a explicitar os elementos necessários para análise

e verificação de nossa hipótese.

A partir do momento em que os dados foram coletados, apresentamos as

informações sistematizadas, estas, por sua vez, nos permitem, agora, fazer as inferências

conclusivas de nossa verificação.Como apresentamos a seguir.

11.2 Estratégias de reconstrução

A partir dos parâmetros estabelecidos, os indicadores sinalizados e os dados

coletados, seja pelas fontes bibliográficas, pelos questionários, entrevistas, grupo focal,

dinâmica de colagem, visita e caderno de campo, procuramos agir da seguinte forma:

1. Codificamos os parâmetros e os indicadores, através de cores, ficando da

seguinte forma:

1.1. parâmetro gnosiológico = verde;

1.2. parâmetro ontológico = vermelho;

1.3. parâmetro epistemológico/metodológico = preto;

1.4. estratégias = azul.

2. Extraímos do texto matriz que é composto da parte II na sua íntegra, e

extraímos dele vários extratos a partir dos parâmetros e indicadores, da

seguinte forma:

2.1. principais teorias e conceitos;

2.2. autores mais citados e recorrentes;

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406

2.3. gestão organizacional157;

2.4. estratégias.

3. estes extratos foram organizados em uma listagem, posteriormente foram

recortados e colados em cartazes, e foram colados na parede numa seqüência

de blocos temáticos e respectivamente sinalizados e, a seguir analisado um a

um;

4. os extratos totalizaram 112, a análise minuciosa ocorreu mais de uma vez,

sinalizando com os códigos de cor estabelecidos previamente. Conseguimos

inferir os principais elementos constitutivos dos parâmetros estabelecidos,

realizar cruzamentos e comparações e destacar os principais conceitos,

propostas, entendimentos, significados sobre o empreendedorismo social;

5. este trabalho possibilitou estruturar os fundamentos e explicitar as principais

estratégias utilizadas pelo empreendedorismo social, além de expor de forma

ampla os vários entendimentos e seus pontos convergentes e divergentes.

Também permitiu estabelecer padrões que nos sinalizam uma maior

compreensão dos seguintes fatores: a) o que é empreendedorismo social; b)

qual é o seu papel e objetivos; c) perfil desejado; d) principais autores; e)

principais conceitos e teorias; f) elementos gnosiológicos e ontológicos; g)

elementos epistemológicos, metodológicos e estratégias; h) tipologia do

empreendedorismo social; i) palavras chaves de maior freqüência no

vocabulário do empreendedorismo social.

Seguem esses itens de forma mais detalhada:

157 Este indicador não será neste momento computado de forma direta e aprofundada, pois o mesmo foi

tratado no estudo de caso da Lua Nova

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407

11.3 As principais constatações sobre o empreendedorismo social no Brasil

11.3.1 O que é empreendedorismo social?

q Uma nova racionalidade de gestão da vida humana (a);

q uma espécie do gênero do empreendedorismo (a);

q é um paradigma de transformação social da realidade (a);

q gera valor social em suas ações (a);

q procura o desenvolvimento sustentável e mudança social (a);

q é uma nova profissão (a);

q uma pessoa que cria valores, tem desejo de mudança (b);

q são pessoas inovadoras, buscam a sustentabilidade (b);

q vem oportunidades, para gerar mudança através da inovação (b);

q é um ser, um agente de intercambiação (b);

q uma pessoa (b);

q uma espécie rara de líder (b);

q tem espírito empreendedor privado para resolver problemas sociais (b);

q são pessoas que geram novos processos (b);

q tornam sonhos em realidade (b);

q nunca dizem não é possível (b);

q pessoa que conhece os problemas sociais (b);

q é uma pessoa que não se limita as suas ações com a falta de recursos (b);

q alguém que trabalha de modo empresarial para obter resultados sociais

significativos (b).

Pode-se notar que as definições estão carregadas de adjetivos, ora qualificando a

atividade, ora qualificando a pessoa que realiza a atividade. No quadro seguinte,

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408

procuramos sintetizar ainda mais estes termos, distinguindo-os em dois grupos de

entendimento: a) o processo/atividade; b) a pessoa/ator que desenvolve a atividade,

ficando assim:

Quadro 17: Classificação dos termos para designar a atividade e o sujeito da atividade

em empreendedorismo social

EMPREENDEDORISMO SOCIAL O (A) EMPREENDEDOR (A) SOCIAL

1) Uma nova racionalidade de gestão da vida

humana

2) Uma espécie do gênero do

empreendedorismo

3) É um paradigma de transformação social da

realidade

4) Gera valor social em suas ações

5) Procura o desenvolvimento sustentável e

mudança social

6) É uma nova profissão

1) Uma pessoa que cria valores, tem desejo de

mudança

2) São pessoas inovadoras, buscam a

sustentabilidade

3) Vêm oportunidades, para gerar mudança

através da inovação

4) É um ser, um agente de intercambiação

5) Uma pessoa

6) Uma espécie rara de líder

7) Tem espírito empreendedor privado para

resolver problemas sociais

8) São pessoas que geram novos processos

9) Tornam sonhos em realidade

10) Nunca dizem não é possível

11) Pessoa que conhece os problemas sociais

12) É uma pessoa que não se limita as suas

ações com a falta de recursos

13) Alguém que trabalha de modo empresarial

para obter resultados sociais significativos

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002

Como podemos perceber, dos 19 termos selecionados e mais representativos para

designar a atividade e os sujeitos, 13 são para designar o sujeito e a atividade. Ao longo

da investigação, esta foi sempre uma marca presente, ou seja, os conceitos sobre

empreendedorismo social sempre enfatizaram mais as qualidades dos sujeitos da ação do

que atividade em si, fato este que sinaliza como a questão está mais relacionada com a

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409

ação dos sujeitos sobre o processo, e o não consenso em definir a atividade para assim dar

uma longa lista de qualidades aos sujeitos.

11.3.2 Qual é o seu papel e o objetivo?

• Elaborar idéia inovadora para transformação social; (o)

• nunca dizem não é possível; (o)

• são persistentes; (o)

• correm riscos calculados; (o)

• conscientização da população (o)

• ajuda às pessoas; (o)

• desenvolver a sociedade; (o)

• implantar ações auto-sustentáveis nas organizações sociais; (o)

• melhorar a qualidade de vida e o bem-estar social e exercício da cidadania;

(o)

• resolver problemas sociais; (o)

• estabelecer condições de garantir a democracia, justiça social, e resolver os

problemas sociais; (o)

• gerar novos procedimentos e estratégias de gestão social; (o)

• vêem oportunidade onde outros não vêem; (o)

• onde outros vêem problemas eles vêem solução; (o)

• resolvem problemas concretos; (o)

• nunca dizem não pode ser feito; (o)

• focalizam a ação social; (o)

• não têm medo de errar ou de se ariscar; (o)

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• mover e integrar setores e recursos e envolver parceiros para os seus

objetivos; (o)

• gerar valor social; (p)

• são agentes de intercambiação e integração da comunidade; (p)

• gera emponderamento, emancipação social, desenvolvimento humano e

capital social; (p)

• integração entre os três setores; (p)

• influência na elaboração de políticas públicas; (p)

• aplica lógica de mercado para resolução de problemas sociais; (p)

• atuar com protagonista para o desenvolvimento social; (p)

• são atores sociais; (p)

• intermediador (p).

Quase na mesma perspectiva, verificamos que há uma concentração mais do agir

(objetivos) do sujeito da ação do que na designação da ação, fato que fica mais nítido ao

ser demonstrado e organizado no quadro seguinte.

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Quadro 18: Papel e objetivos do empreendedorismo social

PAPEL OBJETIVOS

1) Gerar valor social;

2) São agentes de intercambiação e

integração da comunidade;

3) Geram emponderamento, emancipação

social, desenvolvimento humano e capital

social;

4) Integração entre os três setores;

5) Influência na elaboração de políticas

públicas;

6) Aplica lógica de mercado para resolução de

problemas sociais;

7) Atua com o protagonista para o

desenvolvimento social;

8) São atores sociais;

9) Intermediador.

1)Elaborar idéia inovadora para

transformação social;

2) Nunca dizem não é possível;

3) Ser persistente;

4) Correr riscos calculados;

5) Conscientizar da população;

6) Ajudar as pessoas;

7) Desenvolver a sociedade;

8) Implantar ações auto-sustentáveis nas

organizações sociais;

9) Melhorar a qualidade de vida, o bem-

estar social e exercício da cidadania;

10) Resolver problemas sociais;

11) Estabelecer condições de garantir a

democracia, justiça social, e resolver os

problemas sociais;

12) Gerar novos procedimentos e

estratégias de gestão social;

13) Ver oportunidade onde outros não

vêem;

14) Ver solução em lugar de problemas;

15) Resolver problemas concretos;

16) Nunca dizer não pode ser feito;

17) Focalizar a ação social;

18) Não ter medo de errar ou de se ariscar;

19) Mover e integrar setores e recursos

e envolver parceiros para os seus

objetivos;

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002.

11.3.3. Qual perfil desejado?

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412

• Ter visão clara; [h]

• ter iniciativa; [h]

• é equilibrado; [h]

• participar; [h]

• saber trabalhar em equipe; [h]

• saber negociar; [h]

• saber pensar e agir estrategicamente; [h]

• ser perceptivo e atento aos detalhes; [h]

• ser ágil; [h]

• ser criativo; [h]

• ser crítico; [h]

• ser flexível; [h]

• ser focado; [h]

• ser habilidoso; [h]

• ser inovador; [h]

• ser inteligente; [h]

• ser objetivo; [h]

• ser inconformado e indignado com a injustiça e desigualdade; [p]

• ser determinado; [p]

• ser engajado; [p]

• ser apaixonado pelo que faz (campo social); [p]

• ser comprometido e leal; [p]

• ser ético; [p]

• ser profissional; [p]

• ser transparente; [p]

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413

• ser visionário; [cp]

• ter senso de responsabilidade; [cp]

• ter senso de solidariedade; [cp]

• ser sensível com os problemas sociais; [cp]

• ser persistente; [cp]

• ser líder; [cp]

• ser consciente; [cp]

• ser competente; [cp]

• saber usar forças latentes, e regenerar forças pouco usadas; [cp]

• saber correr riscos calculados; [cp]

• saber integrar vários atores em torno dos mesmos objetivos; [cp]

• saber interagir com diversos seguimentos e interesses dos diversos setores da

sociedade; [cp]

• saber improvisar; [cp]

• saber aproveitar as oportunidades; [c]

• ter competência gerencial; [c]

• ser pragmático responsável; [c]

• saber trabalhar de modo empresarial para resolver problemas sociais [c].

O perfil pode ser distinguindo em quatro fatores: 1) habilidades [h]; 2)

competência [cp]; 3) conhecimento [c]; e 4) postura [p].

Quadro 19: Perfil do empreendedor social

CONHECIMENTO HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS

1) Saber aproveitar as

oportunidades;

2) ter competência

1) Ter visão clara;

2) ter iniciativa;

3) ser equilibrado;

1) Ser visionário;

2) ter senso de

responsabilidade;

1) Ser inconformado

e indignado com a

injustiça e

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414

gerencial;

3) ser pragmático

responsável;

4) saber trabalhar de

modo empresarial

para resolver

problemas sociais;

4) participação;

5) saber trabalhar

em equipe;

6) saber negociar;

7) saber pensar e

agir

estrategicamente;

8) ser perceptivo e

atento aos detalhes;

9) ser ágil;

10) ser criativo;

11) ser crítico;

12) ser flexível;

13) ser focado;

14) ser habilidoso;

15) ser inovador

16) ser inteligente;

17) ser objetivo;

3) ter senso de

solidariedade;

4) ser sensível com os

problemas sociais;

5) ser persistente;

6) ser consciente,

7) ser competente;

8) saber usar forças

latentes e regenerar

forças pouco usadas;

9) saber correr riscos

calculados;

10) saber integrar

vários atores em torno

dos mesmos objetivos;

11) saber interagir com

diversos seguimentos e

interesses dos diversos

setores da sociedade;

12) saber improvisar;

13) ser líder.

desigualdade;

2) ser determinado;

3) ser determinado;

4) ser engajado;

5) ser comprometido

e leal;

6) ser ético;

7) ser profissional;

8) ser transparente;

9) ser transparente;

10) ser apaixonado

pelo que faz (campo

social).

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002.

11.3.4 principais autores

q Brinckerhoff vê o empreendedorismo social como uma forma de

administração empreendedora no campo social;

q Melo Neto e Froes vêem o empreendedorismo social como impulsionador

para o desenvolvimento social sustentável;

q Drucker vê o empreendedorismo social como uma ação de inovação através do

aproveitamento de oportunidades;

q Thalhuter vê o empreendedorismo social como uma administração estratégia;

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q Dees, como uma espécie rara de líder empreendedor para o campo social, ou

sem fins lucrativos (nonproft);

q Say, como um gerador de valores;

q Schumpeter, como um agente que gera riquezas através da inovação;

q Steveson, um processo e agente que move recursos, gera oportunidades;

q Berry, um tipo de empreendedor para o campo social;

q Boschee, solução de mercado para resolver problemas sociais;

q Ashoka, uma nova profissão.

11.3.5 Principais conceitos e teorias

q Desenvolvimento sustentável;

q capital social;

q gestão social;

q tecnologia social;

q emponderamento;

q cidadania e cidadania ativa;

q democracia;

q closter social;

q franquia social;

q capital de risco social.

11.3.6 Elementos gnosiológicos e ontológicos

q Sociedade civil e estado e empresas juntos para resolver os problemas sociais;

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416

q as pessoas têm que participar da solução dos problemas sociais;

q o ser humano é capaz de cooperar e de se associar para resolver os seus

problemas;

q desenvolvimento humano é entendido como talento humano, consciência do

ser e não só do ter, condições concretas do sujeito conduzir de forma digna a

sua própria vida;

q pobreza é acomodação de não sonhar e expressão concreta da falta de recursos

para sua vida;

q emancipação social é ter estabilidade de vida, com autonomia sem depender

do Estado, crescimento emocional, material e espiritual, ser protagonista na

luta por recursos para uma vida digna, poder chegar a sustentabilidade

econômica e gestão social;

q o Terceiro Setor cresce e veio para resolver os problemas que nem o primeiro,

o segundo setor e nem a filantropia e a caridade resolveram;

q não que substituir o Estado em suas funções, mas torná-lo mais eficiente e

eficaz;

q sociedades sustentáveis são as que têm maior estoque de capital social,

capacidade de organização da comunidade, participação e resolução coletiva

dos problemas sociais e econômicos;

q objetiva apresentar ações de impacto que possam transformar a realidade

social;

q acreditam na mobilização da sociedade civil na busca de alternativas efetivas

para sua participação no processo de transformação social;

q a prática social é uma condição necessária para humanização da globalização

atual;

q parte da observação de uma necessidade e problema (oportunidade) local, gera

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uma solução inovadora, com vistas a sua multiplicação para que possa ser

aplicada em outras localidades, e assim provocar uma ação e impacto global;

q trabalha a partir das inquietações humanas;

q tem como pressupostos: participação, política, cultura;

q desejo profundo pela mudança da realidade;

q organização baseada na solução objetiva;

q tem na comunidade o seu terreno fértil e necessário para desenvolver suas

ações;

q acredita e trabalha para a mudança de comportamento da comunidade com

fator essencial para a transformação social;

q acredita em valores como cidadania, colaboração, associação e integração

entre os três setores para resolução dos problemas sociais;

q para ocorrer à mudança são necessárias duas coisas: 1) uma nova idéia; e 2)

um empreendedor social;

q transfere princípios, técnicas e metodologias de gestão empresarial para o

campo social, sem querer perder a identidade e sua realidade, a fim de torná-

las mais eficientes e eficazes em suas ações;

q fortalecimento e melhoria do papel do Estado, ênfase no emponderamento dos

cidadãos, melhoria do espaço público e das formas de participação da

sociedade;

q acreditam na mudança e na transformação social;

q propõe uma nova modalidade de organização e de gestão social, mais

profissional, estratégica, objetiva, e menos caritativa, filantrópica e

conservadora.

11.3.7 Elementos epistemológicos, metodológicos e estratégias

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418

q Plano de Negócio Social;

q ciclo de vida do empreendimento social;

q gestão de Projetos;

q lógica de gestão de projetos de desenvolvimento sustentável;

q incubadora social;

q programas de capacitação continuada;

q socialização de informações;

q closter social;

q franquia social;

q seleção de boas idéias e perfil empreendedor;

q investimento inicial no projeto, com vista a se tornar auto-sustentável e que

seja multiplicado por outras localidades e populações;

q sustento financeiro de empreendedores sociais;

q prestação de serviços de consultoria e assessoria;

q base teórica advinda da administração e da economia;

q na administração com forte influência de Peter Drucker e na economia dos

clássicos Schumpeter e Say;

q pautado numa abordagem sistêmica e numa epistemologia socioconstrutivista;

q ações locais de alta participação social e com responsabilidade global.

11.3.8 Tipologia do empreendedorismo social

q Empreendedorismo social: arte, ciência, processo e paradigma voltados para o

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419

planejamento estratégico de ações sociais inovadoras que produzam

transformação social através do desenvolvimento sustentável, aplicando uma

lógica de mercado para resolver os problemas sociais e maximização do

capital social;

q intra – empreendedorismo: é a ação do empreendedorismo social, de forma

interna numa organização, seja pública ou privada;

q empreendedorismo social comunitário: é o empreendedorismo social focado

no desenvolvimento de atividades voltadas para a participação da comunidade

e elaboração de ações materializadas em programas e projetos;

q empreendedorismos social cívico: é a ação do empreendedorismo social com

ênfase em processos de conscientização dos vários atores e, seguimentos da

sociedade e potencialização de mudanças endógenas, tornando os cidadãos

construtores de seu processo histórico;

q empreendedorismo social político: visa à articulação das várias organizações e

seguimentos sociais e atores sociais, com vistas à unificação de esforços,

recursos e metas em prol do desenvolvimento social sustentável;

q empreendedorismo social empresarial/filantropia de auto-impacto: é a ação do

empresariado na intervenção social, o que é materializado em ações internas e

externas caracterizadas como de responsabilidade social empresarial e

cidadania corporativa;

q empreendedorismo social solidário: une as dimensões da qualidade política e

qualidade formal, do empreendedorismo social, buscando um equilíbrio de

ação, que seja ao mesmo tempo, crítica, (política) e criativa/operativa (formal)

com vista ao desenvolvimento humano sustentável à emancipação social e à

qualidade de vida com justiça, democracia e dignidade para todos.

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11.3.9 Palavras chaves de maior freqüência no vocabulário do empreendedorismosocial

q Ajuda;

q capital social parcerias iniciativa;

q comunidade;

q criatividade;

q democratização;

q desenvolvimento sustentável;

q ética;

q idéia;

q inovação;

q integração cooperação;

q líder;

q mudança;

q oportunidade;

q paixão;

q participação;

q problemas sociais;

q sociedade;

q solidariedade;

q sustentabilidade;

q transformação;

q valor social.

11.3.10 As dez palavras mais citadas no empreendedorismo social

q Inovação (1º);

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q valor social (2º);

q problemas sociais (3º);

q criatividade (4º);

q mudança (5º);

q sustentabilidade (6º);

q ética (7º);

q idéia (8º);

q transformação (9º);

q oportunidade (10º).

Este conjunto de palavras sinaliza que o empreendedorismo social está

relacionado a três eixos fundamentais: :

a) comportamentais e posturas morais (ética, valor social, problemas sociais);

b) habilidades gerenciais (criatividade, idéia, inovação, oportunidade,

sustentabilidade);

c) aspectos políticos de ação (transformação e mudança).

Nota-se a concentração nos aspectos ligados à dimensão da qualidade formal, uma

preocupação na centralidade do como fazer, mas que também envolve dimensões claras

de uma politicidade quanto à necessidade de mudança e transformação do que está posto,

ou da forma com que as coisas estão sendo conduzidas na sociedade, o que aponta para

uma dimensão também da qualidade política.

Também mantém limites, além de ambivalências que precisam ser analisadas e

sanadas. Apresentamos a seguir, para finalizar este tópico, a análise final quanto à

comprovação ou não da hipótese central de nossa tese, e apresentarmos o que

consideramos a partir da investigação realizada, os desafios, limites e possibilidades do

desenvolvimento do empreendedorismo social no Brasil, além de apresentar os frutos e

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422

desdobramentos de nossa investigação e as proposições que este exercício nos permitiu

formular.

11.4 Similitudes e ambivalências do empreendedorismo social no Brasil – a propostada Ashoka

Inicialmente, pensamos em não colocar este tópico em nossa tese, mas, ao analisar a

seqüência dos fatos colocados, bem como as principais conclusões e necessidades do

aprofundamento do debate, resolvemos apresentar este aspecto que é de grande

relevância, não só para os assistentes sociais, mas também para os atuais e futuros

empreendedores sociais do Brasil. Deparamo-nos com um processo de construção do

conceito de empreendedorismo social, como mostram as inúmeras abordagens que até o

momento apresentamos.

Vemos, no entanto, que equívocos históricos estão ocorrendo e que podem ser

evitados, como diz um velho provérbio francês, “a se a juventude soubesse, a se a velhice

pudesse”, ou seja, há questões que tanto para atividades como para a vida humana só se

aprende com o tempo, e é um princípio de sabedoria saber ouvir e aprender com que tem

maior vivência e maturidade em certas áreas, ou, ainda, como diz o sr. Meirelles, atual

presidente do Banco Central, “é melhor aprender com os erros dos outros do que com os

nossos erros, se podemos evitar para que errar para depois aprender?”

É desta forma que vemos a relação entre a atividade empreendedorismo social e a

profissão Serviço Social e aqui sintetizamos esta reflexão de modo a corroborar com

nossa análise sobre os fundamentos e as estratégias do empreendedorismo social no

Brasil. Desta forma, apresentaremos na seqüência o entendimento do que é similitude e

ambivalência. Em um segundo momento, apresentamos a problematização da questão

entre similitude e ambivalência entre o Serviço Social e o empreendedorismo social; em

seguida, apresentamos uma síntese do desenvolvimento histórico do surgimento do

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Serviço Social como profissão e do empreendedorismo social; finalmente apresentamos

uma síntese entre as similitudes, ambivalências e algumas considerações finais sobre este

tópico. Formulamos também algumas proposições que estarão junto com as proposições

gerais deste trabalho.

Cabe também ressaltar que, ao elegermos o Serviço Social, não temos a pretensão

de aprofundar sobre o Serviço Social, pois essa área não é foco de nossa investigação.

Além do Serviço Social, outros conceitos e categorias estabelecem esta relação de

similitude e ambivalência desta que para a economia solidária a responsabilidade social

empresarial, entre outros.

Ao darmos ênfase ao Serviço Social, queremos salientar elementos que não são

novos, mas que assumem novos contornos, como procuramos mostrar a seguir:

11.4.1 O que estamos entendendo por similitude e ambivalência

Similitudes: no dicionário da língua portuguesa, significa: “semelhança”

(Dicionário Brasileiro Globo). Semelhança, por sua vez, remete ao entendimento de algo

parecido, mas não necessariamente igual, idêntico. Desta forma, por similitude estamos

entendendo que entre o Serviço Social e o Empreendedorismo Social existem certas

questões ou fatores que apresentam uma grande semelhança. Por exemplo, o campo de

atuação é o social, tanto de um como do outro.

Ambivalências: já a palavra ambivalência significa “dupla diretiva no modo de

sentir ou querer; qualidade de ambivalente”, e ambivalente significa “que tem dois

valores” (Dicionário Brasileiro Globo)

Neste sentido, ambivalência aponta para a compreensão de que algo é ambivalente

ou apresenta ambivalência, quando apresenta certa semelhança (similitude) mas tem um

rumo ou sentido diferente (ambivalência). Ultimamente, este termo tem sido muito

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utilizado para análise dos aspectos paradoxais e contraditórios da sociedade globalizada

(Cf. BAUMAN, 1999). Recentemente, numa análise sobre Solidariedade como poder,

Pedro Demo (Cf. DEMO, 2002) utiliza este termo para designar que, no contexto em que

se insere, o desenvolvimento da solidariedade é uma realidade ambivalente, ou seja, “A

realidade se diz ambivalente quando sua dinâmica manifesta direção oposta no mesmo

todo” (DEMO, 2002, p. 21). Como exemplo, o sentido de solidariedade

é bem-vinda, eticamente considerada necessária, mas pode representar discursodos dominantes para acalmar os excluídos. Menos que crítica da realidadeatual, pode ser apenas efeito de poder, ao repor o mesmo e velho sentidocolonialista de propostas advindas do centro. (DEMO, 2002, p. 21)

Neste sentido, utilizamos este termo para apontar que determinadas similitudes

entre Serviço Social e Empreendedorismo Social são em grande medida ambivalentes.

Por exemplo, trabalham no mesmo campo, no entanto a direção ético-política do Serviço

Social, como mostraremos, segue em uma direção que, historicamente, foi construída, e o

Empreendedorismo Social tem outra perspectiva, que à frente apresentaremos com

maiores detalhes, mas que não se configura como sendo um código de ética, mas alguns

pressupostos e indicativos do comportamento ético, o que se diferencia do Serviço Social,

que tem um código de ética, devidamente analisado e referendado por uma categoria

profissional.

E para melhor clareza de nossa reflexão, a seguir apresentamos o como e o porquê

surge em nossa investigação esta questão.

11.4.2 Serviço Social e o empreendedorismo social como profissão – a origem daquestão das similitudes e das ambivalências

Como já vimos no início deste trabalho, a atual conjuntura da sociedade global, a

questão do desemprego atinge a todas as categorias profissionais. O Serviço Social não é

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exceção. Vários trabalhos apontam para a necessidade de uma maior instrumentalização

de modo a criar uma maior materialidade da prática profissional, sem perder a visão

crítica da realidade, avanço e conquista histórica da categoria profissional nas últimas

décadas.

Nos primeiros anos do século XXI, verificamos que surgem novos e velhos

desafios para a profissão. Entre eles, a de dar respostas mais concretas, tanto para a

sociedade como para a realidade e o conjunto em que estamos atuando. Os novos

desafios, cremos, estão na ordem do dia quanto à atuação de várias outras disciplinas e

novos agentes no campo social, com vistas ao enfrentamento da pobreza e das

desigualdades sociais. Destacam-se inúmeras perspectivas, seja quanto à economia

solidária (Cf. MACE, 2002), seja pelo micro-crédito (Cf. FONTES, 2003), pela renda

mínima e tantos outros modos não capitalistas de produção, tanto pelo cooperativismo

como pelo associativismo e de produção alternativa (Cf. SANTOS, 2002). Todas trazem

visões de mundo, modos de operacionalização e ações com vistas à construção de uma

sociedade melhor e mais justa.

Também ganha destaque a participação crescente de empresas no campo social, que

tem sido denominada de Responsabilidade Social Empresarial (Cf. MELO NETO e

FROES, 2001; FISCHER, 2002, GRAYSON e HODGES, 2002). Isso, aliado ao

crescimento das organizações do Terceiro Setor, faz surgir um movimento paradoxal

quanto ao tratamento das expressões da questão social, onde as opiniões são divergentes

e, muitas vezes, antagônicas, como vimos aqui ao longo deste trabalho.

E em meio a este processo surge uma outra perspectiva, o empreendedorismo

social. Ele ainda não apresenta uma construção teórica consistente, é um conceito em

construção, mas tem causado impacto e tido notoriedade pela mídia e a adesão de vários

seguimentos da sociedade. O cerne da questão surgiu quando do aprofundamento e

análise do tema, como já apresentamos, e constatamos um discurso de justificação da

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necessidade de “profissionalização” dos profissionais que trabalham no Terceiro Setor.

Algo bem parecido com o mesmo discurso que vimos na década de 30 no Brasil e que

levou a criação da primeira Escola de Serviço Social (YASBEK, 1980).

Mas o mais intrigante é que ao longo de nossa análise, em momento algum,

encontramos algo que mencione o fato de existem há muito tempo profissionais nesta

área, o que mostra uma total desconsideração e reconhecimento de que há mais de 70

anos já existe uma profissão que forma os profissionais neste campo, o Serviço Social,

que, além de curso superior, já tem consolidado cursos de pós-graduação e uma

considerável produção teórica própria. Neste meio tempo, é perceptível que surgiu a partir

do final da década de 90 uma modalidade e um paradigma que vêm assumindo

proporções significativas: o empreendedorismo social. Modalidade que é derivada do

empreendedorismo empresarial, mas com aplicação no campo social (Cf. OLIVEIRA,

2002). Geralmente é associado o trabalho de uma empresa a uma ONG. O exemplo mais

emblemático deste modelo, como apresentamos, é o da Ashoka, que, em parceira com a

empresa norte-americana a McKinsey, vêm apoiando e financiando as atividades no

campo social, e também transfere os métodos e técnicas de gestão empresarial para o

campo social (Cf. RASIEL, 2000 e ASHOKA/Empreendimentos Sociais Sustentáveis,

2001).

Chamou-nos mais ainda a atenção a defesa que a Ashoka faz, e que pode ser visto

logo ao abrir a sua Home Page, onde se lê : “desenvolvendo a profissão de empreendedor

social”, além das declarações de seus representantes, tais como:

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é uma profissão que veio para ficar. Estamos assistindo à sua decolagem econstruindo sua institucionalização. Dedicados à árdua tarefa de mudarparadigmas sociais, os empreendedores sociais estão nos deixando como legadoe usufruto uma sociedade mais vibrante, ativa e participante. (Cf.www.ashoka.org.br, Ashoka na impressa, fev/2002).

Tais questões são de vital importância para o Serviço Social, seja em relação à sua

formação, como em sua prática, pois, como diz Rubem Alves, “idéias não são aceitas ou

mantidas por serem verdadeiras mas por serem práticas” (ALVES, 1984, p. 17), e o que

temos percebido é que, apesar do SS ter toda uma “verdade” quanto ao campo social, esse

curso não tem apresentado à sociedade uma maior materialidade, o que já tem ocorrido

com a atividade do Empreendedorismo Social.

Ao aprofundar a investigação, foi possível verificar que as similitudes contém

ambivalências que diferem o Serviço Social do Empreendedorismo Social (Cf.

OLIVEIRA, 2003a), e também a constatação de que uma atividade (ES) está na

atualidade tendo maior visibilidade e materialidade que uma profissão (SS), o que aponta

novos desafios para a categoria, principalmente quanto à “competição” por espaços de

trabalho, onde quem dá respostas mais condizentes às necessidades da população acaba

sendo mais requerido, conquistando espaços e notoriedade, bem como pode contribuir

para com o empreendedorismo social, visto que o caminho que está trilhando é bem

parecido com o que o Serviço Social trilhou há mais de 70 anos; desta forma, acreditamos

ser pertinente esta análise e isto por algumas razões.

Primeiro, como o Serviço Social pode enfrentar estas questões, face ao histórico

desafio de “materialidade”? (Cf. SERRA, 2000) e, segundo, como o empreendedorismo

social pode caminhar sem necessariamente atropelar outras categorias profissionais já

consolidadas e com maior experiência? Terceiro, o que é possível fazer para que haja uma

troca e não um processo de rivalidade?

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É sobre isto que gostaríamos de refletir. Para tanto, a seguir, apresentamos, para

melhor fundamentar a nossa análise, a diferença entre uma atividade e uma profissão.

11.4.3 A diferença entre uma atividade e uma profissão

Para melhor compreensão da análise, é preciso explicitar o entendimento e

diferença entre uma atividade (ES) e uma profissão (SS). Para tanto, pautamo-nos na

proposta de Paulo Rosas (BOFF, 1998, p.53).

Segundo este autor, “As profissões representam o modo prático e teórico,

sistemático e ordenado como o homem aborda e se senhoria do mundo” (BOFF, 1998, p.

53), e mesmo apresenta cinco atributos para distinguir uma atividade como sendo

profissional.

Primeiro, corpo sistemático de teoria: as profissões se assentam em um sistema de

abstrações que descrevem em termos gerais as classes de fenômenos compreendidos em

seu centro de interesses, existem instituições especializadas onde se formam os

profissionais.

Segundo, autoridade profissional:

uma ocupação não profissional tem fregueses [...] tem clientes. Um cliente dizque serviços e que artigos deseja. O cliente propõe um problema aoprofissional. Este é quem diz o que é aconselhável ou desaconselhável, cabendoao cliente a opção entre as várias alternativas. (BOFF, 1998, p. 53)

Terceiro, sanção da comunidade: a legislação civil protege e enquadra o exercício

das funções profissionais, assegura o sigilo profissional e a imunidade em face de

julgamento de leigos.

Quarto, código de ética: se a comunidade protege os profissionais, assegura

também os direitos dos clientes contra o monopólio profissional e estabelece as relações

entre os profissionais.

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Quinto, cultura profissional: cada profissão possui sua tradição cultural, sua

história, seus grandes homens [e mulheres], seus veículos de informação e formação, suas

associações e seus serviços de mútua cooperação e assistência. Cada profissão permite

fazer carreira que presume o êxito profissional e a competência. (BOFF, 1998, p. 54)

A partir desta referência, vejamos as principais características do Serviço Social e

do Empreendedorismo Social, e, a partir disto, apresentar um quadro comparativo, tanto

dos atributos que caracterizam uma profissão como das similitudes e das ambivalências

entre Serviço Social e Empreendedorismo Social.

11.4.4 Síntese histórica do surgimento do serviço social e do empreendedorismosocial

Serviço Social – uma atividade que se transformou em uma profissão: um

breve relato

Não temos pretensão de fazer uma análise histórica do SS, pois não é nosso

objetivo principal, até porque já temos outros trabalhos, considerados clássicos na área,

que podem melhor explicitar os detalhes deste processo (Cf. MARTINELLI, 1989;

IAMAMOTO e CARVALHO, 1993; YASBEK, 1980; MELO NETO, 1991 e 1992;

VIEIRA, 1980 e 1982; BACKX, 1994; ANDER-EGG, 1995 e 1976 e KISNERMAN,

1978); além de outros trabalhos mais recentes que destacam questões mais

contemporâneas sobre a atual configuração do SS como profissão. (Cf. SERRA, 2000 e

ABREU, 2002)

Desta forma, nossa abordagem compreende que há uma relação com os processos

produtivos, e que a história do Serviço Social se insere no contexto e origem da sociedade

capitalista. No entanto, independentemente da abordagem ou do método de análise, o fato

histórico é que o Serviço Social é derivado de uma atividade, caracterizada como de ajuda

e caridade, passando por um processo de consolidação para uma profissão. Desta forma,

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brevemente destacamos os seguintes e principais pontos:

1) Origem histórica

Segundo Martinelli, é no epicentro das grandes transformações sociais e

econômicas do final do século XVIII e início do século XIX que surgem as primeiras

ações organizadas para o tratamento da pobreza. A materialização da ação profissional de

tratamento da pobreza surge na Inglaterra, por volta de 1869, a partir da união entre

Estado, Igreja e Burguesia, como ressalta a autora:

na Inglaterra, o resultado material e concreto dessa união foi o surgimento daSociedade de Organização da Caridade em Londres, em 1869, congregando osreformadores sociais que passavam agora a assumir formalmente, diante dasociedade burguesa constituída, a responsabilidade pela racionalização e pelanormatização da prática da assistência. Surgem assim no cenário histórico osprimeiros assistentes sociais, como agentes executores da prática da assistênciasocial. (MARTINELLI 1989, p. 57)

A assistência social tem outro entendimento, o da ajuda. A, ajuda por sua vez, é

tão antiga como a própria origem do ser humano, como afirma Ander-egg, “a ajuda aos

necessitados é tão antiga quanto a humanidade, ou ao menos desde o momento que se tem

noticias da presença do homem na terra.” (ANDER-EGG, 1995, p. 67)

Este autor afirma que a origem do SS é a derivação do ato de ajudar que apresenta

registros dos tempos mais remotos da história humana, que vem desde a antiguidade,

como é o caso do código de Hamurabi, datado de 2100 anos antes de Cristo. Passando por

ações de religiões milenares, como o Budismo e o Hinduísmo, chegando a ações mais

sistematizadas como de um sistema alimentício, encontrado em Roma no final do século

I. Essa área foi implantada pelo imperador Marco Nerva, era executado por pessoas

devidamente designadas para esta função e eram chamados de questores alimentorum.

Depois a Idade Média, quando da influencia crescente do Cristianismo e formas diversas

de atender aos pobres, recebendo uma das primeiras sistematizações a partir dos estudos

do humanista espanhol Juan Luis Vives (1492-1540) . Na idade moderna, varias ações,

emanadas tanto de igrejas católicas, através São Vicente de Paulo, na França, como de

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igrejas protestantes, como o exemplo de William Booth, que criou o exército da Salvação

em 1878, e que existe até os dias atuais; e de governos, como a Lei de Pobres da

Inglaterra, em 1601 e 1834, e criação dos primeiros seguros sociais na Alemanha por

Bismark, por volta de 1802-1845.

Mas o ápice histórico é com o surgimento das Organizações Sociais da Caridade

na Inglaterra e posteriormente nos EUA e em outros países. Os impactos do processo

crescente do sistema capitalista, que provocou o êxodo rural para a cidade, fez surgir

inúmeros problemas sociais que já não poderiam ser atendidos só como ação filantrópica

e de caridade religiosa, mas necessitavam de uma abordagem mais profissional. Estas

organizações foram as percussoras da sistematização do atendimento aos pobres e da

profissionalização dos profissionais para se trabalhar nesta área, surgindo assim os

primeiros profissionais do campo social, os assistentes sociais, como afirma o autor:

Em vista do processo todo, nesse momento histórico podemos dizer: uma novaprofissão institucionalizou-se. O que antes a família e o meio faziam demaneira espontânea e depois foi realizado por pessoas impulsionadas porsentimentos humanitários e religiosos, ou até por simples destaque social,acabou sendo uma profissão institucionalizada. Nos anos vinte começa aaparecer, em diferentes países, o que os ingleses chamam de gente paga para sepreocupar com outra gente [...] Isto significa que ajudar, certas formas deajuda, se tornaram uma profissão. O Trabalho Social [Serviço Social] nasceu.(ANDER-EGG, 1995, p.78)

Desta forma, o SS tem sua origem no epicentro dos acontecimentos complexos da

sociedade moderna, do sistema capitalista e dos grandes impactos sociais decorrentes da

urbanização, do desenvolvimento tecnológico, da complexidade da pobreza e da

necessidade de profissionalização do ato de ajudar, e, de vários fatores políticos e

ideológicos, mas que culminam na necessária criação de uma atividade profissional.

2) Campo de ação

Como vimos, o campo de ação é a sociedade, é o espaço social junto às

organizações e instituições sociais, tanto públicas, privadas como governamentais, seja na

área da assistência social, na saúde, na empresa, no sindicato, na escola, entre outros

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3) Sujeitos da ação

São, em sua grande maioria, os cidadãos que necessitam de serviços sociais e são

o público-alvo dos programas, projetos e serviços, podendo incluir: idosos, crianças,

adolescentes, trabalhadores, mulheres, família, povos de rua, funcionários de uma

empresa, sindicalistas, cidadãos comuns, entre outros.

4) Objetivos/metas

Resumidamente e a partir do código de ética do Assistente Social (Cf. Código de

Ética do Assistente Social, 1997), o objetivo primordial do Assistente Social é viabilizar a

participação do usuário [cliente]; garantir plena informação; respeitar a sua vontade;

democratizar as informações e dar acesso aos programas e serviços; informar a população

sobre os direitos e utilização de matérias e outras informações; agilizar formas de

melhoria da qualidade dos serviços prestados; esclarecer os usuários sobre o modo de

trabalho e procedimentos. Em linhas gerais, é permitir que os serviços sociais sejam de

acesso a todo e qualquer cidadão que necessitar, bem como zelar pela qualidade destes

serviços e garantir o acesso justo e em condições dignas para apoiar esse cidadão em sua

necessidades e permitir com isto o exercício pleno de seus direitos..

5) Forma de atendimento dos clientes/usuários

Realizar, para isso, pesquisas e diagnósticos, planejamento social e gestão

organizacional, entrevistas, visitas, relatórios, análise de casos e trabalhos com grupos e

atividades comunitárias, palestras, treinamentos, consultorias, assessoria, elaboração e

execução de projetos sociais, materializando suas ações através de programas, projetos e

serviço sociais.

6) Forma de profissionalização

Curso superior de quatro anos, cursos de pós-graduação, especialização, mestrado

e doutorado. Cursos de curta duração, tais como de extensão e palestras, seminários,

congressos, e eventos científicos.

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7) Foco de ação

Luta pela democratização dos serviços das políticas sociais, pelo atendimento de

qualidade técnica e humano dos usuários/clientes, de modo a serem considerados como

sujeitos portadores da capacidade de construção de história e do exercício efetivo de sua

cidadania, da emancipação e autonomia. Isso como forma de liberação da tutela do Estado

e da manipulação do poder vigente que quer mais manter do que acabar com a pobreza e a

dependência assistencial, o que ocorre quando os cidadãos conseguem se mobilizar,

reivindicar, participar e intervir no processo de gestão das ações públicas de forma

consciente e participativa.

8) Compromisso ético

a) desempenhar suas atividades profissionais, com eficiência eresponsabilidade, observar a legislação em vigor; b) utilizar seu número deregistro no Conselho Regional no Exercício da Profissão; c) abster-se, noexercício da Profissão, de práticas que caracterizem a censura, o cerceamentoda liberdade, o policiamento dos comportamentos, denunciando sua ocorrênciaaos órgãos competentes; d) participar de programas de socorro à população emsituação de calamidade pública, no atendimento e defesa de seus interesses enecessidades. (Código de Ética, p. 21)

9) Impactos das ações na sociedade

Este indicador talvez seja o mais difícil de mensurar, pelo menos, dentro dos

limites deste estudo. Não existem pesquisas que avaliem o impacto social das ações do

Serviço Social, o que se pode perceber é que por outro indicativo possamos tentar

visualizar este ponto. Quanto à valorização da profissão, o estudo de Serra, em relação à

realidade do Rio de Janeiro, pode servir de parâmetro, por ser uma dos maiores centros do

Brasil e o segundo de maior concentração de profissionais do país. Segundo a autora, nas

esferas governamentais federais e municipais, em mais de 50% das organizações o

assistente social não ocupa espaços de comando e liderança, e em 26% das organizações

Estaduais. Após apresentar outros dados, a autora conclui: “conforme os dados, em quase

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80% das instituições estaduais e em mais de 80% das municipais não há plano de carreira

para o assistente social, significando que essa categoria está a descoberto”

Não podemos generalizar, mas, infelizmente, a valorização profissional na

atualidade não é das melhores. Apesar de termos mais de 70 anos, não temos um piso

salarial, muitas das atividades estão sempre atreladas à execução de atividades. A

percepção das pessoas ainda é de uma atividade de ajudar, ou seja, “temos uma identidade

historicamente atribuída”, conforme afirma Martinelli. Só em 2000 é que tivemos

publicado pelo Conselho Federal a primeira tabela nacional de honorários, e que ainda se

apresenta superficial e frágil. Não há estudos avaliativos quanto ao impacto das ações e

não se faz nenhuma campanha de esclarecimento da imagem da profissão. Não vemos

visibilidades nas práticas profissionais, apesar do grande esforço de profissionais. Há

muito retórica, pouca visibilidade e concretude nas ações, bem como no impacto das

atividades profissionais.

10) Base referencial teórica e metodológica

Não tendo um método próprio, o SS tem como base os conhecimentos das ciências

sociais e humanas: economia, sociologia, psicologia, administração, antropologia,

política, entre outras. Historicamente foi influenciado por teorias como: Sistêmica,

Fenomenológica, Positivista, a partir da década de 60, do materialismo histórico em

Marx. A primeira formulação teórica foi elaborada por Mary Ellen Richmond por volta de

1917 com o trabalho Diagnóstico Social, criando o método de trabalho conhecimento

como estudo de caso. Nos anos 40 e 50, por influência da psicologia de grupo, surge o

método de estudo de grupo; nos anos 50, o método de desenvolvimento de comunidade; e

nos anos 60, a abordagem do grupo, de caso e da comunidade foi gradativamente sendo

substituído por uma outra concepção. Com as reformulações sofridas, a partir dos anos

60, no Brasil em específico, não se tem mais esta aplicação, e o método de trabalho é

construído a partir da realidade, tendo como referência o método dialético e a perspectiva

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crítica sociológica marxista como predominante, pelo menos na literatura corrente. Nos

EUA, em países europeus e em alguns países da América Latina ainda se utiliza o que

Ander-Egg chama de Métodos Clássicos do Serviço Social (caso, grupo e comunidade).

Não há, desta forma, uma maneira específica de se trabalhar este fator. O fato do

SS não ser uma ciência, e sim uma prática profissional, tem levado a constatação de uma

atual crise de “materialidade”, como afirma Serra:

em síntese, o Serviço Social só melhora sua performance como conjunto, comocategoria profissional se for capaz de instrumentalizar seus agentesprofissionais para responder com competência e comprometimento aosinteresses da população, às necessidades e demandas sociais, à luz da teoriacrítica, e em consonância com a natureza e limites de (sua) prática profissional.Prática essa que se admite em permanente desafio em face da sua pretensão dese opor a essa ordem (im)posta e contribuir para a construção de uma novasociedade. (SERRA, 2000, p. 186)

1) Origem histórica

Não há um trabalho específico que esse curso trate objetivamente. Um único

material que faz menção direta como “o histórico do empreendedorismo social” é um

texto elaborado pela ONG, Academia Social, através de seu informativo eletrônico

chamado de Clipping do Terceiro Setor, no nº 550, de 4/3/2002

(Cf.www.academiasocial.org.br).

Sinaliza esse textoque a história do ES se confunde com o empreendedorismo

empresarial. O empreendedorismo empresarial, por sua vez, surge por forte influência dos

economistas franceses durante os séculos XVII e XVIII, a partir das obras de Jean

Baptiste Say, e, no século XX, com maior vigor, a partir da proposta de Joseph

Schumpeter.

No entanto, o mesmo pode ser diferenciando quanto às origens das palavras,

enquanto o empreeendedorismo empresarial tem origem nas ciências econômicas e

administrativas, o empreendedorismo social, segundo o Clipping, é derivado da palavra

caridade, ou seja, “caridade de origem latina, cáritas, significando amor ao próximo,

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beneficência e da palavra ‘filantropia’ de origem grega, significando boa vontade para

com as pessoas.” (DEES, 2002, p. 3)

Para aprofundar a historicidade e “evolução” do empreendedorismo social, tem-se

como base o livro de Mike Hudson sobre Gestão de Organizações do Terceiro Setor (Cf.

HUDSON, 1999), que aponta, como principais características históricas da origem do

Eempreendedorismo Social, as ações sociais da Antigüidade, mostrando com exemplo do

Imperador Budista Ashoka, que viveu cerca 200 a C, além de ações governamentais do

Império Romano e das organizações sociais da Caridade na Inglaterra, no século XVIII e

XIX, até chegar às ações das políticas sociais na atualidade. O que se percebe é que a obra

em momento algum faz menção ao termo empreendedor social.

Percebemos que o termo Empreendedorismo Social é derivado de práticas e

lógicas exercidas nas empresas e vêm sendo transferidas para a área social. Tal fato pode

ser constatado na seguinte afirmação de uma organização internacional,

em 1997, a Escola de Economia lançou a iniciativa do empreendedorismosocial, baseada no Centro para Estudos Empreendedores. A escola reconheceua crescente importância do empreendedorismo dentro do setor social e o estáexplorando. Assim pode contribuir para uma grande compreensão dos desafiosdo gerenciamento. Cerca de 3% dos graduados GSB entram em serviçospúblicos ou organizações sem fins lucrativos. (Cf.www.gbs.stanford.edm/ces/socialentrepreneurship.html )

Este fato conduz a uma grande confusão quanto ao significado real do ES, como

salienta Dees,

muitos associam o termo empreendedorismo social exclusivamente aorganizações sem fins lucrativos que iniciam empreendimentos com fins delucro. Outros o usam para descrever qualquer um que inicie uma organizaçãosem fins lucrativos. Ainda outros o usam para se referir a empresários queaderem a práticas de responsabilidade social. (DESS, 2002, p. 3)

E, segundo este mesmo autor, “o empreendedor social é uma das espécies do

gênero dos empreendedores. São empreendedores com uma missão social”. (DEES, 2002,

p. 3)

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Esta afirmação fica nítida a partir da criação de ONGs que são derivadas de

empresas. Exemplo da Ashoka, criada na década de 80 por Wiiliam Drayton, ex-consultor

da McKinsey & Co., uma das maiores empresas de consultoria organizacional do mundo.

Em grande medida, é transferido o jeito McKinsey de ser (Cf. RASIEL, 2000) para o

campo do Terceiro Setor, como o próprio criador afirma, “empreendedores sociais,

indivíduos que desejam colocar suas experiências organizacionais e empresariais mais

para ajudar os outros do que para ganhar dinheiro.” (RAO, 1998)

Desta forma, o ES surge como uma atividade, ou até mesmo, como definem

MELO NETO & FROES (2002, p. 4), “é um misto de ciência e arte, racionalidade e

intuição, idéia e visão, sensibilidade social e pragmatismo responsável, utopia e realidade,

força inovadora e praticidade.” Ou ainda, “o empreendedorismo social é um tipo de ação

socialmente transformadora. Diferencia-se de todas as demais idéias de negócio pelo seu

caráter inovador.” (MELO NETO & FROES. 2002, p. 49)

A Ashoka afirma que o ES é uma profissão. “Segundo a diretora internacional de

parcerias estratégicas da Ashoka Empreendedores Sociais, Anamaria Schindler, o

empreendedorismo social é uma profissão que veio para ficar.

Dedicados à difícil tarefa de mudar paradigmas sociais, os empreendedoressociais estão nos deixando como legado uma sociedade mais vibrante, ativa eparticipativa (Cf. Clipping do Terceiro Setor, nº 690, de 23/10/2002).

2) Campo de ação

O campo de atuação são, em grande medida, as organizações do Terceiro Setor ou

empresas que contratam profissionais para gerenciar programas e projetos sociais.

3) Sujeitos da ação

São populações carentes: e em situação de risco social crianças e adolescentes,

idosos, mulheres, famílias, empresas, a comunidade de forma mais geral.

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4) Objetivos/metas

Em linhas gerais, são profissionais do Terceiro Setor que desenvolvem projetos

que têm duas motivações, metas, objetivos, básicos:

a) o desejo social natural de mudar freqüentemente os benefícios de umainovação, de uma organização empreendedora e de uma organização baseadana solução [...] b) a sustentabilidade da organização e a diversificação dos seusserviços requerem capital, freqüentemente incluindo a criação de lucro ou umasociedade com organização lucrativa. (Clipping, nº 565,www.academiasocial.org.br)

5) Forma de atendimento dos clientes/usuários

É feita de maneira direta, através de programas, projetos e serviços sociais

destinados ao público-alvo.

6) Forma de profissionalização

Não existe uma legislação e nem uma formatação. Na atualidade, são várias as

formas adotadas. Exemplo da Ashoka, com um programa de capacitação que não tem

uma legalidade formal quanto ao ser um curso profissionalizante. É mais de capacitação

de curta duração, o que também auxilia pela modalidade concurso chamado Prêmio

Empreendedor Social, realizado desde de 1999, onde são transmitidas as técnicas de

gestão organizacional empreendedora. (Cf. ASHOKA, 2000)

Várias outras organizações mantêm cursos de capacitação, tais como o Centro de

Inovação Social da Universidade de Stanford. Nos EUA (Cf.

www.socialentrepreneurs.org) e aqui no Brasil vários outros cursos, um, mais recente, é o

MBA, da USP/FEA, de nível especialização. Mas todos não têm uma formatação de

profissionalização no sentido estrito do termo, ou seja, formar um profissional, mas sim

dar um sentido profissional a prática social, com um viés empresarial.

7) Foco de ação

Segundo Brinckerhoff,

o centro do empreendedorismo social é uma boa administração [...] osempreendedores sociais devem: a) estar dispostos a correr riscos razoáveis em

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favor das pessoas as quais a organização serve; b) entender a diferença entreprecisar e querer; c) entender que todos os recursos alocados são realmenteinvestimentos administrados; d) pesar o retorno social e financeiro de cada umdos investimentos; e) sempre possuir uma missão, mas saber que sem dinheiro,não há missão que se conclua. (Clipping do Terceiro Setor, nº 565, de25/3/2002)

8) Compromisso ético

Não existe um código de ética, mas uma noção de que um dos itens do perfil do

ES é ser ético, como salienta os pressupostos da Ashoka (Cf. www.ashoka.or.br). O perfil

desejado do empreendedor social na atualidade seria: 1) ter uma idéia nova; 2)

criatividade; 3) personalidade empreendedora (Visão de futuro); 4) idéias e ações de

impacto social significativo; 5) ter ética; 6) ser confiável. A este respeito, Dees, ressalta

que um dos papeis do ES é ser um agente de transformação e que um dos fatores de maior

importância é “exibir um elevado senso de transparência para com seus parceiros e

público e pelos resultados gerados”, ou seja,

eles se fazem ter certeza que conhecem corretamente as necessidades e osvalores do seu público alvo e das comunidades [...] Eles buscam promover reaismelhorias para seus benefícios e suas comunidades, bem como atrair retornos(sociais e/ou financeiros) para aqueles que apostam nas suas missões [...]Quando possível, os empreendedores sociais criam mecanismos de feedbacksemelhante aos do mercado, para reforçar sua transparência. Eles avaliam seuprogresso em termos de resultados sociais, financeiros e de gestão e nãosimplesmente em termos do seu tamanho, produtos gerados ou processos.”(www.academiassocial.org.br)

9) Impactos das ações na sociedade

Segundo Rouer e Pádua ,

a contribuição efetiva de empreendedores sociais inovadores, cujoprotagonismo na área social produz desenvolvimento sustentado, qualidade devida e mudança de paradigmas de atuação em benefícios de comunidadesmenos privilegiadas [...] gera formulações de ‘emponderamento’, devidamenteadaptadas a realidades sociais diferenciadas e capazes de se converter emcaminho de sucesso no combate à pobreza e à degradação humana e ambiental.(PÁDUA & ROUER, 2001, p. 13)

No trabalho citado, há uma série de exemplos concretos das práticas dos

empreendedores sociais.

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Tais práticas resultam em ações que mexem com a comunidade, fortalecem laços,

trazem esperança e possibilidade de participação das pessoas para resolverem seus

próprios problemas., além de motivar e estimular os trabalhadores deste setor, de maneira

a criar, mais do que o altruísmo costumeiro, uma visão e sentido de profissionalismo.

Podemos verificar no depoimento de um empreendedor social da Ashoka.

Quando a Ashoka investiu em mim, senti como se alguém finalmente tivesseacreditado em mim. Eu passei a ser reconhecimento como um profissional,como um empreendedor social. Só então outras organizações começaram a merespeitar e dar suporte para o trabalho que eu estava fazendo. [Rodrigo Baggio,Presidente do Comitê de Democratização da Informática] (Cf.www.ashoka.org.br)

Nos últimos dois anos, tem crescido a quantidade de eventos, livros, cursos e

estudos sobre ES, dando uma maior evidência ao impacto cada vez maior de suas ações.

10) Base referencial teórica e metodológica

Não encontramos uma metodologia propriamente dita, mas o mais concreto é a

proposta da Ashoka, quanto a um modo de processar o ES, ou seja, assim como no mundo

dos negócios, todo o empreendimento social tem um Ciclo de Vida: 1)estudo e

diagnóstico de uma situação problema; 2) concretiza a idéia, colocar em prática a que foi

idealizado, planejado; 3) maturação da idéia, estabilização da idéia, momento de expandir

ou duplicá-la. Um bom exemplo deste processo é a idéia do Banco do Pobre, que foi

criado na Índia nos anos 70 e hoje está em vários países de todo o mundo, bem como a

idéia da informática do Rodrigo Baggio, do Rio de Janeiro, premiado pela ONU, que tem-

se expandido em vários Estados do Brasil e em outros países.

Grande parte da base teórica vem das ciências sociais e humanas, principalmente

da economia e da administração. Segundo Dees, na atualidade, a base teórica do ES

estaria em: Peter Drucker, que vê o ES como oportunidade de mudança; Howard

Stevenson, especialista em empreendedorismo da Harvard Business School nos EUA, que

considera que o ES mobiliza recursos de outros para alcançar objetivos públicos.

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11.4.5 Síntese das características entre profissão e atividade e das similitudes eambivalências entre serviço social e empreendedorismo social

Quadro 20: Comparação das diferenças entre SS como profissão e o ES como atividade

ATRIBUTOS SERVIÇO SOCIAL EMPREENDEDORISMOSOCIAL

CORPO SISTEMÁTICODE TEORIA

Predominância, pelo menosna produção teórica,materialismo dialético emMarx, mas com base emoutros conhecimentos comoAntropologia, economia,psicologia

Base nas teorias daadministração e economia ealguns princípios dapsicologia

AUTORIDADEPROFISSIONAL

São os usuários dosserviços prestadosconsiderados cidadãosportadores de direito.

Não tem uma definiçãoprecisa a não ser os usuáriosdos serviços e produtos.

SANÇÃO DACOMUNIDADE

Sim, por enquanto, mascom restrições e equívocos,sempre associado a açõesassistencialistas

Sim, e crescentemente commaior empenho evisibilidade, reconhecidopela postura de mudança einovação no campo social

CÓDIGO DE ÉTICA Sim, devidamentelegalizada e amplamentereconhecido, mas nãonecessariamente preciso ouadequado aos dias de hoje

Não há um código, masprincípios e posturas queprivilegiam a transparência, ahonestidade, a humanidade edemocracia no trabalho doES

CULTURAPROFISSIONAL

Sim, pois a profissão temuma história, em partemuitas vezes negada emrelação a suas origens, mastem um quadro depersonalidades que hoje sãoclássicas em nossaprofissão.

Mais ou menos, pois não háuma “paternidade”, por setratar de um conceito, muitosprofissionais de áreasdiferentes tem se destacado, eestá em aberto para outrasdarem um tom diferenciadoao mesmo.

Fonte: adaptado a partir de OLIVEIRA, 2003.

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Quadro 21: Síntese das similitudes e ambivalências entre SS e ES

Nº SIMILITUDES AMBIVALÊNCIASSS ES

1 Origem histórica, relacionado aodesenvolvimento de uma racionalização doprocesso de ajuda.

Sociedade capitalismo Ajuda pela ajuda

2 Campo de ação, o social frente àsdesigualdades e injustiças sociais

Questões Socais Sociedade comoum todo

3 Sujeitos objetos da ação pessoas em riscosocial e excluídos

Cidadãos portadoresde direitos

Pobres carentesnecessitados

4 Objetivos/metas Transformação social Mudança social5 Pratica direta com os clientes/usuários Orientação,

informação, programase serviços

Serviços ações

6 Busca pela profissionalização eaperfeiçoamento técnico e científico

Qualificaçãopermanente elegalizada de nívelprofissionalizante,curso superior,especialização e pós

Irregular,superficial e decurta duração nãoprofissionalizantedo ponto de vistalegal

7 Foco na de ação Emancipação social Sair da pobreza8 Compromisso ético Liberdade,

participação e acesso aserviços e informaçõespara o exercício plenoda cidadania

Não tem definido,mas tem comoprincípios atransparência, ajustiça e alealdade.

9 Impactos das ações na sociedade Não mensurável Evidenciado pelamídia e pelasorganizações

10 Base referencial teórica e metodológica Perspectiva Teórica-crítica pelo menos naprodução acadêmica.

Gestãoorganizacional eeconomia

Fonte: elaborado a partir de OLIVEIRA, 2003a.

A partir dos dados demonstrados, pode ser percebido que o SS apresenta e

contempla todas as características e atributos de uma profissão, o que não ocorre com ES.

Também é nítido que há certas similitudes entre o SS e o ES, seja em sua origem, público

alvo, ou campo de atuação, entre outros.

Mas percebe-se também que estas mesmas similitudes apresentam um sentido de

ambivalência, em específico pela compreensão e amadurecimento acerca da origem e das

causas das expressões mais amplas da questão social, o do embate político e ideológico

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que permeia o enfrentamento da pobreza, da desigualdade social e da exclusão social,

principalmente a partir da relação Estado e sociedade.

Entendimento e preocupação que não se percebem no ES. Sem dúvida, este é uma

das limitações quanto à possibilidade de se gerar emancipação social e desenvolvimento

humano sustentável, e que geram em certa medida a despolitização das políticas públicas,

principalmente quanto ao seu caráter universalizante e com prioridades coletivas. Em

outro estudo, sinalizamos esta questão, bem como apontando também as possibilidades do

ES, nesta perspectiva (Cf. OLIVEIRA, 2002).

Estes elementos de possibilidades que, em síntese seriam:

1) gera dinamismo e objetividade; 2) gera resultados sociais de impacto; 3)criar capital social e empoderamento; 4) resgata auto-estima e visão de futuro;5) é dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico; 6) ênfase nageração de novos valores e mudança de paradigmas. (OLIVEIRA, 2002, p. 8)

Tais possibilidades são marcadas principalmente pela parte metodológica, à

medida que o modelo da Ashoka ilustra as características preponderantes do ES,

assim como no mundo dos negócios, todo o empreendimento social tem umCiclo de Vida: 1) estudo, diagnóstico de uma situação problemas; 2) concretizaa idéia, colocar em prática a que foi idealizado, planejado; 3) maturação daidéia, estabilização da idéia, momento de expandir ou duplicá-la. (OLIVEIRA,2002,. p. 7)

Como exemplo já citado, o projeto Democratização da Informática, de Rodrigo

Baggio, (Cf.www.academiasocial.org.br), no Rio de Janeiro, onde a Ashoka, financiou os

primeiros passos, pagou um salário para este ES, ele desenvolveu um projeto de inclusão

digital, ou seja, permitiu que adolescente e adultos das favelas pudessem ter acesso a esta

tecnologia.

Este projeto foi reconhecido pela ONU como um, entre os 40 projetos sociais mais

inovadores, e já foi aplicado em vários países e Estados do Brasil. Esta visibilidade, este

impacto, esta materialidade é que faltam ao SS. É exatamente este ponto que faz com que

uma atividade ES tenha maior visibilidade e materialidade que uma profissão SS.

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A partir destas constatações, urge mais que nunca uma reação efetiva de toda a

categoria, e principalmente de seus órgãos representativos, por espaços de formação

profissional. Temos que deixar de lado o preconceito, a presunção e arrogância e sermos

humildes em considerar que há muito que aprender, principalmente dentro das

características do contexto da sociedade do século XXI.

É preciso nos contextualizar para que o SS começe a pulsar e atender o chamado

deste novo tempo. Falar e agir coerentemente, refletir criticamente, agir propositivamente

eis um dos maiores, velhos e novos desafios. O empreendedorismo, em geral, (Cf. LEITE,

2002) e o empreendedorismo social, em específico, sendo devidamente adaptados e

inseridos em nossa cultura profissional, a exemplo de tantas outras áreas (Cf. TORRES,

2002 e ROMANO, 2002), podem fazer diferença e valer a experiência crítica adquirida ao

longo das últimas décadas.

É nesta perspectiva que mais à frente, estaremos fazendo algumas propostas tanto

de forma geral, como de forma específica.

12 - EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL: AFINAL, DO QUE SETRATA?

12.1 Verificação da hipótese da tese

“O estágio atual do capitalismo globalizado gera um grande paradoxo,

produz riqueza e pobreza e obstaculiza políticas sociais eficazes, mas cria um

ambiente onde surgem novas manifestações e estratégias possíveis de gerar o

desenvolvimento humano e a emancipação social, entre elas o empreendedorismo

social.”

Isso se confirmou integralmente pelas seguintes razões e evidências:

1) o empreendedorismo social emerge em um cenário paradoxal onde o avanço

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científico e tecnológico cresce tanto quanto a pobreza e a desigualdade. Ele

surge da relação entre o crescimento das organizações do Terceiro Setor, da

redução das políticas públicas, das fontes de investimento, e da crescente

necessidade de elaborar ações estratégicas de gestão para captação de recursos,

onde as empresas privadas também intensificam sua participação na

intervenção social;

2) isso é marco do aprofundamento da transferência de tecnologias, princípios e

estratégias de gestão empresarial para as organizações do Terceiro Setor, o que

tem manifestado na geração de estilos gerencias mais ágeis, objetivos focados e

de alto impacto social, mostrando maior eficiência e eficácia quanto à gestão

dos investimentos voltados para o campo social;

3) como vimos e destacamos como prova irrefutável desta perspectiva,

ressaltamos o caso de Rodrigo Baggio da Ashoka e o trabalho desenvolvido no

CDI – Comitê de Democracia da Informativa, bem como o Banco do Povo, na

modalidade do microcrédito. Ambos estão além dos espaços locais onde foram

gerados e o microcrédito inclusive se tornou em política pública, de âmbito

federal e estadual e em alguns casos até municipais;

4) é um processo e alternativa emergente com forte influência e impacto na

realidade. Apresenta uma racionalidade diferenciada quanto à visão de mundo,

de homem e de sociedade. Não é acritico ou apolítico, mostra um

comprometimento com a causa humana e a condição de vida não só dos seres

humanos, mas com a natureza, a economia e o ciclo da vida como um todo;

5) tal fato refuta a tese de que o Terceiro Setor, em geral, e o empreendedorismo

social em específico, seja funcional ao sistema capitalista, bem como

apresenta-se como um fator de despolitização do espaço público, como

inclusive nós mesmos já havíamos afirmado em outros trabalhos;

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6) ao contrário disso, o que se pode perceber é que a construção do

empreendedorismo social está gerando uma nova forma de consciência e de

postura no enfrentamento das questões sociais e no enfrentamento da pobreza,

da desigualdade social e da exclusão social, mais próxima da população, mais

centrada na realidade e necessidades locais, envolvendo vários atores e

seguimentos deste espaço;

7) em outros termos, está em pleno nascedouro uma racionalidade crítica-criativa-

propositiva, que supera a mera postura crítica-contestadora e avança na

perspectiva de criticar o que está errado e não funciona, pois sabe o que é

melhor e, por isso, propõe alguém para substituir o que foi criticado, e, por

acreditar no que está propondo, faz a sua parte. Dá sua contribuição concreta

fazendo com que o seu sonho seja materializado e de forma coletiva, pois a

base de ação e materialização das ações do empreendedorismo social é a

sociedade, é a comunidade local;

8) seu impacto se diferencia não como um o marketing barato, populista e só de

perfumaria, mas o real empreendedorismo social tem como principal

característica a socialização, de fato e verdade, das idéias. As mesmas não são

patenteadas, posse exclusiva de quem as gerou, mas, ao contrário, são pensadas

e executadas já se pensando exatamente em sua duplicação e multiplicação,

gerando com isso o processo que se inicia individual e local, mas se torna

coletivo e global;

9) este processo envolve mais do que racionalidade política e ideológica, envolve

emoção (paixão, amor, comprometimento, envolvimento), postura ética,

engajamento político e sobretudo utopia possível, ou seja, tudo começa com

uma inquietação, uma indignação, inconformismo e gera ações que buscam a

materialização do sonho, o que provoca mudança e gera transformação;

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10) atinge uma grande massa de pessoas que cada vez mais estão buscando sentido

para suas vidas, enquanto os rumos da globalização materialista, consumista,

superficial e descartável não conseguem dar conta de apontar soluções e

alternativas viáveis e decentes para a preservação da raça humana e a

construção de um projeto civilizatório condizentes às reais necessidades

humanas deste presente século;

11) isso prova que a utopia é possível, concreta e não só imaginária, o que se

apresenta não é nada que se compare aos modelos historicamente apresentados

de sociedade, seja na centralidade individualista e consumista do capitalismo,

ou na ditadura do coletivismo do socialismo, mas uma nova sociedade que está

sendo gerada, tendo como base a participação, o exercício da cidadania e o

sonho da construção de uma sociedade mais justa, solidária, digna;

12) a nossa investigação também demonstrou que o empreendedorismo social está

fazendo, enquanto outros seguimentos, bem intencionados, estão a discutir, e

como diz o velho adágio popular, “de boas intenções o inferno esta cheio”;

logo, o grande desafio para quem está no campo social, com intenção de

mudanças efetivas, e não mais paliativas, deve-se aprender com o

empreendedorismo social.

A partir destas afirmações, podemos a seguir delinear a nossa concepção e

caracterização do empreendedorismo social no Brasil. Para tanto, e considerando a

complexidade do assunto, iniciamos nossa proposta procurando deixar claro o que não é o

empreendedorismo social, e, na seqüência, o que, é o empreendedorismo social. É claro

que, ao fazermos tais afirmações, não consideramos esta proposta absoluta, ao contrário,

temos clareza que outros fatores ainda virão, outros ainda necessitam ser aprofundados,

mas como construção de um primeiro mosaico, cremos que esta é nossa maior

contribuição.

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12.2 Do que não se trata o empreendedorismo social no Brasil?

a) Não é uma profissão pelo menos no momento;

b) não é um modismo, pois modismos não afetam a realidade e nem têm poder de

criar tendências e mudanças de comportamento duradouro;

c) não é uma empresa ou empresário que exerce atividades no campo social,

como vimos, não basta fazer uma ação social que, muitas vezes, nem isso

ocorre e, com isso, considerar que esta fazendo empreendedorismo social;

d) não é responsabilidade social empresarial, da mesma forma a responsabilidade

social empresarial se caracteriza por objetivos específicos e relações

interligadas de forma interna e externa aos objetivos da empresa. A sua

intervenção, seja direta ou indireta, não se caracteriza por ser de

empreendedorismo social, por não ter uma ação voltada e focada no

desenvolvimento sustentável e potencialização da comunidade, e isso de forma

direta, e que envolva os três setores, fato que é mais pertinente ao

empreendedorismo social;

e) não é uma organização social sem fins lucrativos que realiza alguma atividade

produtiva para gerar recursos, pois não se caracteriza por um empreendimento

empresarial, mas sobretudo social, e se perde esta finalidade maior. Já não se

pode considerar a sua missão efetiva; o simples fato de fabricar ou prestar

serviço não caracteriza como empreendedorismo social, que se utiliza da

lógica de mercado para resolver problemas sociais, mas sem perder a sua

característica social e não se tornando uma unidade produtiva. Sua finalidade é

social manter e as estratégias de geração de renda uma forma de sobreviver e

dar continuidade as suas atividades de forma auto-sustentável (meio). O

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resultado é o negócio social, a qualidade de vida, a cidadania, a inclusão social

e justiça social.

12.3 Do que se trata o empreendedorismo social no Brasil?

12.3.1 É um paradigma

Partimos do entendimento de que paradigma se caracteriza como a forma como

vemos/percebemos o mundo e elaboramos nossas ações para intervir nele,

o tempo todo estamos vendo o mundo por meio de nossos paradigmas. Elesfuncionam como filtro que selecionam o que percebemos e reconhecemos e quenos levam a recusar e distorcer os dados que não combinam com asexpectativas por eles criadas. (VASCONCELOS, 2002, p. 30)

Desta forma, e por tudo que foi apresentado sobre o empreendedorismo social, ele

configura como um novo paradigma, principalmente no campo da gestão e intervenção

social, pois apresenta uma forma diferenciada de ver o mundo, as relações sociais, as

formas de se organizar, de agir, de focar, de se integrar para e, com isso, estabelecer

inovações de intervenção social. Esta deve ter uma perspectiva onde os problemas sociais

são vistos como oportunidades e não como barreiras, procurando encontrar soluções de

forma objetiva e de grande impacto social. Isso ocorre principalmente decorrente à

capacidade destas idéias serem materializadas e possíveis de serem duplicadas e aplicadas

em outras localidades, inclusive como políticas públicas.

Como afirma Schindler

uma das forças mais poderosas no mundo é uma idéia capaz de promover umamudança de paradigma, se ela estiver nas mãos de um empreendedor. Aconseqüência é uma mudança de várias inovações, adaptações e aplicaçõeslocais. Para que ocorra a mudança de paradigmas sociais, duas coisas sãonecessárias: uma idéia e um empreendedor social que a conceba, desenvolva elidere sua implementação. (SCHINDLER, 2002)

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Só se altera o modo de ver e agir sobre a na realidade, como o empreendedorismo

social tem feito, o que o caracteriza como sendo um paradigma que tem em sua essência a

busca de transformação da sociedade, como afirma Melo Neto e Froes (2002, p. 33).

O paradigma do empreendedorismo social objetiva, portanto, transformar arealidade social com base nos seguintes pressupostos fundamentais:q reflexão junto com as comunidades;q criação e desenvolvimento de soluções antes impossíveis de inserção

social em seu sentido mais amplo;q existência do exercício pleno da cidadania;q enfoque da sociedade em termos de geração de renda, produtividade,

justiça social e ética;q estabelecimento de novas parcerias, com a total integração entre

governo, comunidade e setor produtivo;q foco na melhoria da qualidade de vida dos atores sociais;q reversão do distanciamento entre economia, sociedade e ética;q incremento de práticas sociais empreendedoras e reforço da

solidariedade social local.

Aqui reside a maior contribuição do empreendedorismo social como paradigma,

ou seja, a questão não é priorizar o social, ou o econômico, a classe trabalhadora ou a

burguesia, mas sim como integrar ambos. A questão não é distribuir cestas básicas e

comida para quem está com fome, ou tirar mais do rico para dar mais ao pobre; mas como

tornar este individuo auto-suficiente, consciente de sua responsabilidade, e não só de seus

direitos, para não precisar mais receber cesta básica, de caridade, e como envolver todos

os setores, atores e sujeitos nesta tarefa que é mais do que ajudar o pobre. É construir um

processo de transformação do tipo de sociedade que queremos o que passa pela alteração

de valores, posturas, prioridades e ações efetivas para isso.

12.3.2 É um processo

Segundo Prazeres, processo apresenta vários significados Entre eles,

a) organização lógica detalhada de pessoas, máquinas, materiais, procedimentose energia em uma série de atividades de trabalho e funções, de forma a produzirum trabalho final específico (output ou produto do trabalho); b) conjunto deatividades planejadas e interrelacionadas , realizadas com o objetivo degerar produtos e/ou serviços que atendam as necessidades de clientes[cidadão] , sejam internas ou externas. Qualquer que seja os fatores, sua

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combinação deve ser definível, repetível e previsível. (PRAZERES, 1997, p.190) [grifo nosso]

Desta forma, o empreendedorismo social é também um processo, pois o mesmo

realiza-se processo sistematizado e ordenado de atividades que cominam em ações

concretas de intervenção na realidade social. Não se propõe a abrir uma creche, a alterar

os processos de educação, e assim contribuir para ações de impacto social, ou ainda como

ressalta Melo Neto e Fróes,

o processo de empreendedorismo social exige principalmente o redesenho derelações entre comunidade, governo e setor privado, que se baseia no modelode parcerias [...] o resultado esperado é a vigência de novos padrões desociedade que se traduz na emergência de comunidades ativas, beminformadas, participativas e com alto grau de mobilização e articulação.(MELO NETO & FROES, 2002, p. 31)

Devido a sua complexidade seja no surgimento de uma idéia, no planejamento e

sua materialização e sua multiplicação e alto impacto social, o empreendedorismo social é

um processo voltado para gerar a inovação em ações de intervenção social.

12.3.3 É uma ciência e uma arte

Para melhor exemplificação desta característica do empreendedorismo social,

segue o exemplo dado por Schwartz, num artigo intitulando “ Bach, Einstein e o novo

trabalho” (Cf. www.aprendiz.org.br). Segundo esse autor Einstein representaria a ciência,

pois descobriu uma das mais brilhantes e importantes teorias, a da relatividade. No

entanto, se Einstein não tivesse feito esta descoberta, com certeza outros cientistas a

teriam descoberto, pois os avanços científicos e tecnológicos estavam levando para esta

direção. Bach foi um dos maiores músicos e compositores da música clássica, representa

a arte, e segundo Schwartz, se Bach não tivesse existido, sua obra também não teria sido

conhecida, pois a obra o talento de Bach são únicos.

Todas as definições centram seu entendimento no fator humano, na habilidade e

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competência do agir criativo, inovador, fator esse da própria natureza humana, que

diferentemente dos outros animais que têm em seus corpos a determinação de um código

genético determinado ao nascer, viver e morrer, pelo contrário o ser humano é o único

capaz de dizer não à sua proporia trajetória. Esta capacidade o torna ao mesmo tempo o

artista de sua própria vida, onde e a partir de suas qualidades, criatividade e inovação

pode dar um toque todo especial no que faz.

O mais fascinante é que uma mesma atividade e processo podem ser repetidos por

várias pessoas, mas cada um dará o seu toque, a sua marca, a sua assinatura neste ato de

fazer, processar, construir. Essa dimensão e característica do empreendedorismo social,

pois as atividades podem ser feitas por qualquer pessoa que se propõe, mas nada será

igual, idêntico, pois cada homem e mulher têm o seu jeito de ser, de fazer.

A dimensão da ciência é aqui entendida ciência no sentido estrito, forma de

conhecer, de saber, de racionalizar o ato de apropriação do real e não necessariamente no

sentido amplo, ciência como um conjunto de métodos e técnicas próprias e que compõem

as áreas do saber humano.

Froes e Melo Neto confirmam esta perspectiva, afirmando que:

não é qualquer um que pode ser um empreendedor social. O empreendedorismosocial é um misto de ciência e arte, racionalidade e intuição, idéia e visão,sensibilidade social e pragmatismo responsável, utopia e realidade, forçainovadora e praticidade. (MELO NETO & FROES,. 2002, p. 34)

Chama-nos a atenção à expressão “pragmatismo responsável”. Tal fator é típico da

busca pelo equilíbrio, entre teoria/prática, real/virtual, sonho/realidade, pois a questão ou

a questão da arte é ser critico, sem ser obtuso e dogmático, ser ativo sem cair no ativismo

sem reflexão, refletir o suficiente e necessário, para não cair em devaneios e elucrubações

infrutíferas e circulares, que não ultrapassam a circunferência de nosso umbigo, a isso só

a arte e a ciência juntas é que podem dar este equilíbrio.

Pelo que procuramos demonstrar, o empreendedorismo social se caracteriza

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também como sendo uma ciência e uma arte, pois para dar vida e materialidade a uma

idéia, é preciso dominar conhecimentos específicos e ter um arcabouço de conhecimentos

que não só viabilizem, mas também façam isso sem cair no tecnicismo e na frieza do

fazer pelo fazer, mas sentir, com clareza do que se alcançar, impactar e para isso cabe

bem a paixão, o amor, a intuição, a inspiração, coisa que só encontramos na arte.

4) É um indutor de auto-organização social

Esta dimensão, no início de nossa investigação, já havíamos percebido, e com o

aprofundamento ela só veio a se confirmar. (Cf. OLIVEIRA, 2000)

Analisando a sociedade como um sistema, percebe-se que ela é composta de várias

partes e elementos que constituem sua totalidade. Essas estão interligadas e se inter-

relacionam provocando mudanças no sistema em decorrência destes movimentos. Os

sistemas podem ser abertos ou fechados, os abertos trocam energia e informação entre si,

os sistemas fechados não, é o processo de auto-organização e ação interna do sistema,

que provoca alterações no sistema como um todo.

Dessa forma, o sistema que sofre o processo de auto-organização pode apresentar

graus alterados de intensidade de informação, ordem (e desordem), incertezas e

ambigüidades. Quanto ao campo social, encontramos a abordagem apresentada por Boff

(1998), onde o padrão de auto-organização pode ser encontrado em uma molécula e até

em uma sociedade avançada, ou seja, “é a maneira como as partes se relacionam entre si

de tal forma que possamos distinguir uma abelha de um cavalo, um cavalo de um ser

humano e um ser humano de uma sociedade concreta como a brasileira.” O singular dos

seres vivos reside no fato de eles se autoproduzirem e continuamente se autocriarem e se

auto-recriarem em rede (autopoise, na linguagem de Maturana e de Valera). “Cada

componente ajuda na criação, manutenção e regeneração do outro e todos do conjunto”.

(MATURANA, 1997, p. 58)

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Nesse sentido, vemos que Maturana apresenta uma reflexão e abordagem que se

mostra no mínimo interessante e reveladora, principalmente quando verificamos o

emergir de novas formas de leitura e enfrentamento dos problemas sociais como é o caso

do empreendedorismo social.

Auto-organização em Maturana é definida, por ele mesmo, como autopoise, ou

seja, “uma rede de produção de componentes na qual os componentes produzem o

sistema circular que os produz.” (MATURANA, 1997, p. 21)

Esta perspectiva aplicada na análise dos seres vivos e dos seres humanos e sua

organização social, denominada por Maturana de biologia do fenômeno social

(MATURANA, 1997, p. 195), apresenta alguns conceitos que, face aos elementos de

complexidade do cenário da sociedade da informação e do conhecimento no

enfrentamento aos problemas sociais, são reveladores e sinalizam formas diferenciadas de

se ver e agir nesta realidade.

Segundo o autor, os sistemas sociais podem ser entendidos da seguinte forma:

cada vez que os membros de um conjunto de seres vivos constituem, com suaconduta, uma rede de interações que opera para eles como um meio no qualeles se realizam como seres vivos e no qual eles, portanto, conservam suaorganização e adaptação e existe em uma co-deriva contingente com suaparticipação em tal rede de interações, temos um sistema social.(MATURANA, 1997, p. 199).

Os seres humanos, para Maturana, se distinguiram dos demais seres vivos pela

capacidade de produzir linguagens e significados. Afirma que para haver um sistema

social humano, é necessário que, decorrente às interações, haja o resultado de recorrências

de cooperação. A importância deste fator é decisiva para que haja o processo de

autopoise, “de fato, se há recorrência de interações cooperativas ente dois ou mais seres

vivos, o resultado pode ser um sistema social se tal recorrência de interações passar a ser

um mecanismo mediante o qual eles realizam sua autopoises.”

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A recorrência de interações cooperativas é sempre expressão do operador dos

seres vivos participantes de um domínio de acoplamento estrutural recíproco. Ela durará

enquanto esse durar. Em nós, seres humanos, esse acoplamento estrutural recíproco se dá

espontaneamente em muitas circunstâncias diferentes como expressão de nosso modo de

ser biológico atual, além de aparecer um observador, como uma pedajosice que pode ser

descrita com o prazer da companhia, ou como amor em qualquer uma de suas formas.

Sem essa pegajosice biológica, sem prazer da companhia, sem amor, não há

socialização humana, e toda sociedade, na qual se perde o amor, se desintegra

[...] em suma, existimos como seres humanos somente em um mundo socialque, definido por nosso ser na linguagem, é o meio no qual nos realizamoscomo seres vivos, e no qual conservamos nossa organização e adaptação. Emoutras palavras, toda nossa realidade humana é social, e somos indivíduos,pessoas, somente enquanto somos seres sociais na linguagem. (MATURANA,1997, p. 203) [grifo nosso]

Maturana afirma que o modo como os seres vivos estabelecem sua forma

organizativa de viver determina os valores e condutas deste sistema social. Desta forma,

todo sistema social apresenta processos de conservação, o que provoca uma resistência ao

processo de mudança. Essa só ocorre quando há sedução ou quando não se pode evitar o

crescimento dentro do sistema. Conclui o autor:

como toda sociedade se realiza na conduta dos indivíduos que a compõem, hámudança social genuína em uma sociedade, somente se houver uma mudançagenuína na conduta de seus membros. Toda mudança social é cultural.(MATURANA, 1997, p. 206)

Ainda ressalta que a conduta social é caracterizada pela cooperação, o que leva a

compreensão. Segundo esse autor, o sistema social humano se funda no amor. Amor

como fator biológico de interação e reciprocidade entre os membros de um sistema social,

fator este fundamental para o processo de autopoieses, pois esta só ocorre na interação

dos seres vivos, no caso dos sistemas sociais, sem amor não há socialização.

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Se não há amor, não há socialização genuína e os seres humanos se separam.Uma sociedade na qual se acaba o amor entre seus membros, desintegra-se. [...]Ser social envolve sempre ir com o outro e só se vai livremente com quem seama. (MATURANA, 1997, p. 206)

Dessa forma, o ser humano convive entre processos de competição e de

cooperação. As sociedades que sabem melhor alimentar a primeira obtêm resultados

significativos quanto só desenvolvimento do sistema, ao contrário da primeira, percebe-

se, verifica-se a presença da negação do outro e portanto da desintegração do sistema

social.

Segundo Maturana, ao refletir sobre os problemas sociais, esses são

historicamente constituídos, criados pelos próprios seres humanos, pois esses, através da

justificativa da competição, encontram as razões e justificativas para exclusão, escravidão

e exploração dos sistemas produtivos. Assim sendo, “os problemas sociais são sempre

problemas culturais porque têm a ver com os mundos que construímos na convivência.”

Assim, a solução de qualquer problema social sempre pertence ao domínio da

ética, isto é, ao domínio da seriedade na ação frente a cada circunstância que parte da

aceitação da legitimidade de todo ser humano, de todo outro, em suas semelhanças e

diferenças. (MATURANA, 1997, p. 208)

Logo, verificamos que o empreendedorismo social se apresenta como um indutor

deste processo de auto-organização, pois fomenta em seu modo de ser e agir os elementos

necessários para gerar auto-organização social e produzir ações que alterem o sistema

maior da sociedade.

Suas ações e impactos reforçam o que afirma BOFF:

a vida, pois, resulta de um processo de auto-organização complexo da matéria eda energia do universo que forma a teia da vida, que vem da mais altaancestralidade. Foi adquirindo complexidade e emergência ao longo de todo oprocesso de evolução, até ganhar uma forma singular, consciente, inteligente eamorosa no ser humano. (BOFF, 1998, p. 59)

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Pensar na existência e potencialidade da auto-organização social é poder pensar e

resgatar a utopia possível de uma “nova terra e um novo céu”, pois é próprio do ser

humano ser um ser inacabado e, portanto, em plena condição de se auto-organizar e

restaurar sua condição de vida e sociedade.

Essa revolução de sociedade pode e deve ser em outros moldes, que não sejam

como o atual e predominante (Capitalista) e nem como o outro que pretendia ser oposto,

mas que a história provou ser também ineficiente (socialismo/comunismo). É possível e

desejável um novo projeto civilizatório, onde de fato a democracia, a cidadania sejam

exercidas, onde não só a revolução da fome possa ocorrer, mas também a revolução da

beleza, da criatividade, na solidariedade, na cooperação e interação e amor entre seus

membros, ou seja,

democracia popular que vem de baixo para cima, participativa, cotidiana,assentada no funcionamento das associações da sociedade civil, solidária,libertária e espiritual. Este é o projeto que está sendo gestado e já antecipado navasta rede do movimento popular em quase todos os países do mundo. (BOFF,1998, p.152-153).

Neste sentido, acreditamos que o empreendedorismo social tem provocado,

induzido a este novo movimento de ver e agir sobre a realidade e em específico sobre as

questões sociais. Tem como base o equilíbrio entre arte e ciência, e potencializa o fator

humano, e sua capacidade de re-começar e re-construir o novo a cada momento. Tal

afirmação tem como pressuposto não só os elementos até aqui apresentados sobre o

empreendedorismo social, mas também e em específico pelos seguintes pontos de maior

relevância:

1) Primeiro: por entender que a aplicação do empreendedorismo social propicia e

impulsiona não só a criação de formas de gestão, mas também novas formas de

relação das pessoas envolvidas e de vários seguimentos da sociedade, pois o

empreendedor social se caracteriza como um ser de mudanças, ou seja,

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os empreendedores sociais são os reformadores e revolucionários descritos porSchumpeter, mas com uma missão social. Eles realizam mudançasfundamentais na forma com que as coisas são feitas no setor social. Suas visõessão arrojadas. Eles atacam as causas básicas dos problemas, ao invés de apenastratar os sintomas. (DEES, 2002, www.academiasocial.org.br)

2) Segundo: sendo uma ferramenta propulsora de ações inovadoras, dinamiza e

estimula a integração, cooperação e auto-sustentabilidade das organizações,

seus gestores e dos serviços e produtos que oferece, gera o principal elemento

na atualidade para impulsionar ações transformadoras, o capital social.

3) Terceiro: este processo ocorre nas organizações sociais ou do Terceiro Setor,

que se diferem das organizações do primeiro setor (privadas – mercado- lucro)

e das Governamentais (Estatais, municipais, federais, autarquias, etc.), o que

gera uma forma de auto-organização social, afeta o modo de conservação

histórico de tratamento da pobreza e demais problemas sociais.

4) Quarto: a partir da perspectiva de autopoises e a perspectiva da biologia do

conhecimento em Maturana, é possível perceber a contribuição significativa

para uma melhor compreensão do fenômeno dos problemas sociais, bem como

da abertura de novos olhares da complexidade dos problemas sociais, não

sendo somente econômicos, mas sobretudo ético e referente à conduta social, a

falta de amor e seriedade quanto ao uso correto dos recursos, seja

informacionais, de conhecimentos ou financeiros para uma melhor aplicação e

resultados mais significativos, o que só pode ocorrer se houver, como disse

Maturana, uma verdadeira e genuína mudança de conduto de todos os membros

da sociedade e, em específico, destacamos as autoridades de nosso país o que o

empreendedorismo social tem atingido e, em específico, aplacando a pobreza

perceptiva.

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12.3.4 É um estilo de inovação em tecnologia e gestão social

Segundo Melo Neto e Froes,

tecnologias sociais são arranjos institucionais definidos e implementados porassociações, governos federal, estadual e local, universidades, sindicatos,equipes gestoras dos programas e projetos de desenvolvimento social em umacomunidade e pelos próprios membros da comunidade. (MELO NETO &FROES, 2002, p. 64)

Por estilo, estamos entendendo como a forma de agir e ser diferente e isso com

personalidade, originalidade. A marca e a diferença maior de um empreendimento dito de

empreendedorismo social e outro residem exatamente neste ponto em que a inovação, a

criatividade dão vazão ao novo, ou pelo menos uma forma diferente de fazer o que outros

não conseguiram mudar. Daí defendermos que o empreendedorismo social não pode vir a

ser uma profissão, como querem alguns, pois ele não pode ser de uma única categoria,

restrita a um único santuário do saber. O empreendedorismo social é um processo de

inovação em tecnologia e gestão social, pois a sua marca é a inovação contínua. Neste

sentido, é que Melo Neto e Froes diferenciam os projetos sociais dos projetos de

empreendedorismo social.

O foco está no ‘desenvolvimento comunitário’ e não na solução do problemaespecífico. O processo básico é simples: se houver o desenvolvimentocomunitário, global e sustentado, será mais fácil resolver os problemas sociaisexistentes [...] Os projetos sociais identificam demandas e priorizam açõescapazes de gerar produtos, informação, tecnologia, mão-de-obra treinada, bense serviços [...] Os projetos de empreendedorismo social criam ‘processos departicipação’, de ideação de ações, de integração, de cooperação, de parcerias,de troca de bens e serviços. (MELO NETO & FROES, 2002, p. 130)

Neste sentido, o empreendedorismo é, na atual conjuntura, um novo estilo de

tecnologia e gestão social.

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12.3.5 Tem como principal objetivo

Objetivos também poderão ser traduzidos, como metas, direção, neste sentido:

a) observar a realidade local;

b) detectar os problemas e as necessidades;

c) elaborar uma idéia e uma solução inovadora;

d) envolver a sociedade nesta idéia;

e) executar, amadurecer e institucionalizar esta idéia;

f) fazer as correções e com isso gerar a duplicação desta idéia, alcançando assim

as dimensões globais;

g) provocar com isso a interação da comunidade local, fortalecer o capital social,

potencializar o espaço público, ampliar o exercício da cidadania e da

democracia com qualidade de vida, justiça social, solidariedade e humanidade;

h) contribuir assim, para a concretização, e não só idealização de um projeto

civilizatório onde os sujeitos são participantes e co-autores desta história,

através do pleno desenvolvimento humano e da emancipação social dos

mesmos.

12.3.6 Apresenta o seguinte perfil

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Quadro 22: Síntese do perfil do empreendedor social

CONHECIMENTO HABILIDADES COMPETÊNCIAS POSTURAS1) Gestãoorganizacional;2) Gerencial;3) Trabalhar de modoempresarial pararesolver sobre osproblemas sociais;4) Das políticassociais;5) Da história econfiguração dosconflitos e dasdesigualdades sociais7) A realidade local8) Do comportamentohumanoTécnico9) Legislativo10) logístico eestratégico

1) Ter visão clara;2) Ter iniciativa;3) É equilibrado;4) Participação;5) Saber trabalhar emequipe;5) Saber negociar;6) Saber pensar e agirestrategicamente;7) Saber observar e serperceptivo e atento aosdetalhes;8) Ser ágil;9) Ser criativo;10) Ser crítico;11) Ser flexível;12) Ser focado;13) Saber consultar;14) Saber inovar;15) Saber solucionarproblemas;16) Ser objetivo;

1) Apreende a aprender;2) Ter senso deresponsabilidade;3) Ter senso desolidariedade;4) Ser sensível aosproblemas sociais;5) Ser persistente;6) Ser consciente,7) Ser competente;8) Saber usar forçaslatentes e regenerar forçaspouco usadas;9) Saber correr riscoscalculados;10) Saber integrar váriosatores em torno dosmesmos objetivos;11) Saber interagir comdiversos seguimentos einteresses dos diversossetores da sociedade;12) Saber improvisar;13) Ser líder;14) Ser visionário15) Comunicação16) Dirigir reuniões17) Tecnologia

1) Ser inconformadoe indignado com ainjustiça edesigualdade;2 )Ser determinado;3) Persistente eesperançoso;4) Ser engajado;5) Ser comprometidoe leal;6) Ser ético;7) Ser profissional;8) Ser transparente;9) Pragmáticaresponsável;10) Ser apaixonadopelo que faz (camposocial);

Fonte: Elaborado pelo autor, a partir da pesquisa junto a organizações que participaram do Prêmio deEmpreendedorismo Social da Ashoka/Brasil, 2000-2002.

12.3.7 Usa as seguintes e principais estratégias

q Capacitação contínua;

q socialização da informação e do conhecimento;

q parcerias como forma de potencialização dos empreendimentos;

q buscar a sustentação do projeto na comunidade;

q integração de vários setores e atores no desenvolvimento dos projetos;

q estímulo à inovação e geração de ações de auto-impacto;

q investimento social e de manutenção de empreendedores sociais, por período,

mas dando suporte técnico para neste meio tempo, se tornar auto-sustentável e

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independente;

q uso ético e adequado dos meios de comunicação para viabilidade de suas

ações.

12.3.8 Apresenta os seguintes e principais valores e pressupostos

q Cada ser humano é capaz de fazer sua própria história;

q a cooperação é fator essencial para o desenvolvimento de ações de alto

impacto social e transformação social;

q o governo não deve ser substituído em suas funções, mas não é

suficientemente capaz de conduzir a gestão social sozinho, é preciso que todos

os setores, estejam imbuídos desta responsabilidade social e fortaleça o Estado

para melhor gerir os recursos e demandas coletivas da sociedade;

q as ações transformadoras têm início na localidade com vistas a ações

elaboradas com inovação e busca de impactos sociais globais e significativos;

q a ética, a transparência, a lealdade são elementos vitais para fortalecer a

cooperação, associação e o estoque de capital social necessários para o

desenvolvimento humano e a emancipação social.

12.3.9 Tem uma metodologia e um processo de trabalho inovador

Esta metodologia é apresentada por diversos autores, como vimos, como ciclo de

vida dos empreendimentos sociais que, no Brasil,tem como principal difusora a Ashoka,

e, como já foi apresentado, é composto de cinco fases: 1) percepção do problema e

proposição de resolução do mesmo; 2) teste da solução; 3) aprendizagem; 4)

institucionalização; e 5) maturidade e multiplicação da idéia.

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A partir do aprofundamento de nossa investigação, comparadas as várias propostas

sobre este aspecto, chegamos à conclusão de que o projeto de empreendedorismo social

apresenta quatro fases e não cinco:

1ª Fase: a idéia: nasce da observação atenta da realidade local e da sensibilidade e

percepção dos problemas de forma sistêmica;

2ª Fase: maturação da idéia, elabora-se uma proposta, faz-se o planejamento para

colocá-la em prática;

3ª Fase: coloca-se em prática a idéia amadurecida, faz-se com que seja

institucionalizada, faz-se o controle e avaliação de suas ações e as devidas correções;

4ª Fase: a idéia e a ação produzem efeitos e impactos significativos e poderão ser

aplicadas em outras realidades.

Como podemos perceber, a primeira fase está relacionada às seguintes: pois, ao

elaborar uma nova forma de intervenção, a exigência é que se apresente desde o início o

como ela poderá realizar a 4º fase, ou seja, ao projetar o início, já se deve ter em mente o

futuro concreto de como poderá ser viabilizado. Isso pode ser observado nas listas dos

requisitos para seleção de novos empreendedores sociais, como vimos tanto na Ashoka

como na Fundação Swab, o que difere da metodologia tradicional dos projetos sociais,

que não se preocupam em ser socializados, em causar impactos locais, mas que podem e

devem vir a serem globais.

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13 – PERSPECTIVAS – DESAFIOS, LIMITES E POSSIBILIDADE DOEMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL

13.1 Dos desafios

13.1.1Capital social

Acreditamos que um dos maiores desafios para o desenvolvimento do

empreendedorismo social no Brasil seja o estoque de capital social, pois, apesar de dar

sinais de uma sociedade solidária em vários momentos históricos, a sociedade brasileira

carrega em sua cultura lastros de individualidade e dificuldade de uma postura coletiva,

principalmente a nossa elite. Esta pode ser vista a partir da cultura política onde os

eleitores, após as eleições, buscam resolver seus problemas indo aos gabinetes dos

candidatos, ao invés de resolver coletivamente chamando este representantes no bairro e

em fóruns coletivos. A capacidade de ser cooperativo e de se associar é ainda um

processo de aprendizado que precisa a cada dia ser estimulado.

13.1.2 Pobreza perceptiva

Ela está atrelada ao desafio do capital social, principalmente das elites que teimam

em querer resolver a miséria e exclusão social com migalhas e sem perdas de privilégios,

e os pobres em esperar que um dia alguém possa fazer alguma coisa por eles. Isso sem

uma sociedade consciente de suas limitações e possibilidades, assim o empreendedorismo

social terá grandes problemas de se expandir, pois, como vimos, sua base de ação

depende da participação de todos os seguimentos da sociedade, o que significa alterar

profundamente a visão e percepção dos atores de nossa sociedade, tarefa essa nada fácil.

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13.1.3 Empoderamento

Na perspectiva colocada por Melo Neto e Froes (2002, p. 120), o empoderamento

se caracteriza por mudança de valores, sensibilização, encorajamento e fortalecimento da

capacidade das pessoas em participar e agir coletivamente na sociedade, principalmente

quanto à resolução dos problemas que os afligem. Os autores apresentam seis tipos de

empoderamento: 1) econômico; 2) social; 3) mental; 4) psíquico; 5) espiritual; e 6)

político. Desta forma e considerando os outros desafios já apresentados, a tarefa é mudar

comportamento, visão, percepção, o que é preciso mais do que discurso, palavras, e

projetos, mas uma mudança nos sistema de educação, de comunicação e de gestão social.

13.2 Dos limites e das possibilidades – qualidade e política social

Verificamos que as possibilidades do empreendedorismo social são evidenciados

na materialização do que Demo (1994) chama de qualidade formal, ou seja, o

empreendedorismo social traz do campo empresarial ferramentas de grande potencial para

a elevação da qualidade da gestão destas organizações (Cf. Empreendimentos Sociais

Sustentáveis 2001; HUDSON, 1999). Dessa forma, as possibilidades são nítidas,

principalmente em decorrência dos resultados, o que permite destacar os seguintes

elementos como sendo de possibilidades:

1) gera dinamismo e objetividade;

2) gera resultados sociais de impacto;

3) cria capital social e empoderamento;

4) resgata auto-estima e visão de futuro;

5) é dinâmico, cativa e motiva as pessoas ao engajamento cívico;

6) ênfase na geração de novos valores e mudança de paradigmas;

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7) tem na inovação, criatividade, cooperação os pilares de suas ações.

O crescimento do empreendedorismo social se dá em meio a um processo

histórico mais amplo, o das políticas sociais no Brasil, que vêm oscilando entre um estilo

filantrópico, que não resolve o problema, mas, ao contrário, o tem agravado mais e entre

ações de políticas sociais de direito, que priorizam uma relação mais de cidadania e de

direitos do que de caridade. (Cf. MESTRINER, 2001)

Como vimos, muito acerca do debate e da polêmica em relação ao Terceiro Setor e

conseqüentemente ao empreendedorismo social, exemplo desta critica é o da professora

Paoli (2002), que aponta vários fatores favoráveis neste processo no sentido de que toda a

ajuda para eliminar a pobreza é bem vinda, mas de “boas intenções o inferno esta cheio”,

não basta querer ser bom, fazer o bem, é preciso ter uma consciência crítica sobre este

fazer. Aqui reside a limitação do empreendedorismo social, em possibilitar o

desenvolvimento humano e a emancipação social na perspectiva mais ampla da qualidade

política, como sinaliza Paoli.

...creio ser importante esclarecer minha hipótese de que o sentido da‘filantropia empresarial cidadã’ e de sua auto-investida responsabilidade socialno Brasil está indiretamente ligada à substituição da idéia de deliberaçãoparticipativa ampliada sobre os bens públicos pela noção de gestão eficaz derecursos sociais, cuja distribuição é decidida aleatória e privativamente. Nessesentido, são práticas que desmancham a referência pública e política parareduzir as injustiças sociais [...] Apenas pela participação no sentido e espaçodos direitos é que podem ser configuradas novas formas de resistência e desociabilidade que, em si mesmas, são opostas às vazias idéias de futuro, semcrítica e sem projetos, das variantes mercantis do neoliberalismo. (PAOLI,2002, p. 413) [grifo nosso]

Como já demonstramos, esta crítica não é totalmente procedente, pois, ao apontar

esta limitação, não cremos que seja um impasse, ou um motivo para repudiarmos e

negarmos o empreendedorismo social, pois, ao contrário, o empreendedorismo social

conta com um fator de máxima importância que muitos projetos governamentais e

movimentos sociais não conseguem obter: a confiança, a motivação e o envolvimento das

pessoas em causas sociais.

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Verificamos que, em certa medida, a ênfase maior recai na qualidade formal e em

menor intensidade na qualidade política, no entanto os resultados são estimulantes e

apontam para ações que estão dinamizando os espaços públicos e as lutas coletivas, bem

como grande emancipação social e desenvolvimento humano em grande medida.

Acreditamos, neste sentido, que há sim uma limitação na qualidade política, mas

não o suficiente para afirmar que está havendo uma despolitização da questão pública, até

porque não podemos nos basear em um único modelo de politização e achar que o resto

não é politizado, as pessoas estão se movendo, agindo, buscando de seus interesses e de

sua coletividade, isso não é ser político? Isso não é ser protegido?

Mas está limitação qualidade política tem que ser sanada, é necessário uma ação

que contemple tanto a qualidade política quanto a qualidade formal. Tal perspectiva

poderia ser possível a partir do que estamos propondo como sendo um

Empreendedorismo Social Solidário, onde se busca não fazer uma mera transposição de

ferramentas e princípios de gestão da área empresarial para a área social, mas em se

adequar à realidade social sem forçar a sua principal caracterização, o de agente social

público, conscientizador, mobilizador e girador de inovações sociais de impacto

significativo.

Fundamentalmente, procura ter uma abordagem diferente, ou seja,

envolvimento com a causa dos excluídos, não aquela para salvar o próprio pêlo.Indicava, sem sobra de dúvida, a necessidade de redistribuir renda e terra,muito além da mera distribuição. Neste sentido, solidariedade que não implicareestruturar as desigualdades sociais é farsa. (DEMO, 2001, p. 68) [grifo nosso]

Ter sobretudo humildade de considerar que temos muito a aprender, como ensinar

e trocar experiências com outros trabalhadores do campo social, por exemplo, assistentes

sociais. Outra medida é que os empreendedores sociais participem e influenciem os

espaços públicos já consolidados com sua filosofia e ferramentas de trabalho e não os

ignore.

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Estes espaços são os conselhos municipais, frutos dos processos de

descentralização e consolidação das políticas públicas, seja da criança e do adolescente,

da assistência social, da saúde, etc. É preciso fortalecer e caminhar juntos e, como ressalta

Maturana, “ser social envolve sempre ir com o outro, e só se vai livremente com quem se

ama.” (MATURANA, 1997, p. 206).

Desta forma, vamos fortalecer os laços de amor, fraternidade, cooperação e efetiva

solidariedade, pois todos, indistintamente, estão no mesmo barco (sociedade) e todos

somos responsáveis pelo rumo que estamos tomando. O novo e velho devem estar se

intecambiando, como diz o ditado francês, “a se a juventude soubesse, a se a velhice

pudesse.” Afirmamos isso, principalmente em relação ao Serviço Social e ao

empreendedorismo social, que apresentam não só certas similitudes mas também são

ambivalentes, ambos têm muito a apreender, a ensinar e, principalmente, muito a fazer

para a construção de um projeto de civilização condizentes às aspirações mais nobres,

humanas e justas de dignidade e igualdade na cena do século XXI.

13.3 Das proposições possíveis e necessárias

Ao concluirmos nossa jornada investigativa, sentimo-nos satisfeitos,

principalmente por sentir ter cumprindo um fato diferenciado e que apontamos com

deficiência em muitos trabalhos acadêmicos, ou seja, o melhor aproveitamento do

conhecimento formulado para a vida prática e cotidiana.

Este trabalho, antes de sua finalização, já apresentou vários desdobramentos, a

seguir apontamos os principais:

q a produção e publicação de 12 artigos sobre a temática e suas variáveis e

correlações;

q a formulação e apresentação de um curso, que foi ministrado para a prefeitura

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de Franca, gestores do IDESUFRAN – Instituto de Desenvolvimento

Sustentável de Franca, e um curso para a Prefeitura e organizações sociais de

Toledo-PR, que teve início com a primeira fase em setembro de 2002 e

finalizando em outubro de 2003, configurando-se como um experimento da

aplicação dos conhecimentos adquiridos com essa investigação, e resultou

entre várias ações, na elaboração de uma estratégia inovadora, a criação da

rede de gestão social empreendedora de Toledo, procurando unir forças para

gerar recursos e melhorias no processo de gestão. A idéia é criar uma

cooperativa ou associação das organizações sociais e envolver mais a

sociedade local e reduzir custos e atender demandas não atendidas. Um

exemplo concreto é a elaboração de um calendário único anual de eventos e

campanhas para captar recursos e a criação de uma rede de consumo solidário;

q um livro sobre empresa júnior e consultoria que foi decorrente da aproximação

com projetos sociais desenvolvidos pelas empresas juniores e a necessidade de

disponibilizar este conhecimento para esta população;

q além do livro, já ministramos um mini-curso, e até dezembro de 2003, estão

programadas mais três palestras, relacionadas ao tema empresa júnior e

empreendedorismo social;

q uma lista com mais de 160 itens, que nos permitirá elaborar um dicionário

analítico do empreendedorismo social brasileiro, trabalho este para após a

tarefa do doutorado;

q um resultado que é significativo é a possibilidade de intuir um projeto que

possibilita a aplicação deste conhecimento (Projeto Casulo Técnico-Social), e,

ao mesmo tempo, faz com que seja disseminado e compartilhado para outras

áreas além de atender a comunidade local, no caso a cidade de Toledo-PR,

através de uma projeto de extensão, que, no momento de redação final desta

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tese, já estava em negociação. Trata-se da apresentação da idéia para

representantes e autoridades da sociedade local, o que nos sinaliza que os

resultados finais já estão à mostra, o que nos deixa profundamente satisfeitos,

mesmo sabendo que a presente tese tem suas lacunas que necessitam de ser

aprimoradas.

Desta forma, além destes resultados, a investigação nos permitiu vislumbrar algumas

sugestões de ações que podem melhor contribuir para a dinamização e disseminação do

empreendedorismo social no Brasil, bem como sanar, em grande parte, os limites e os

desafios apontados anteriormente. É o que a seguir apresentamos:

a) inclusão do empreendedorismo social na formação profissional universitária e

no ensino médio, a exemplo do que está ocorrendo com o empreendedorismo

empresarial;

b) implementação e adoção do empreendedorismo social no campo da gestão

social pública, nos níveis federal, estadual e municipal;

c) implementação e adoção do empreendedorismo social nos Conselhos de

Direito;

d) criar mais espaços de apoio, incentivo, pesquisa e disseminação dos

fundamentos e das estratégias do empreendedorismo social no Brasil como

uma política nacional de estímulo à inovação de novas tecnologias sociais

empreendedoras;

e) implantar o Projeto Casulo Técnico-social nos municípios (ver projeto

detalhado, em anexo) e desenvolver ações de fortalecimento do capital social,

do humano e da gestão adequada do capital financeiro, bem como aprofundar

o conhecimento sobre empreendedorismo social;

f) em relação ao Serviço Social e ao empreendedorismo social, propomos as

seguintes ações específicas:

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criar um Programa Nacional de Capacitação Empreendedora para assistentes

sociais, voltado tanto para os alunos que estão em formação como para os profissionais

que já estão formados, para os que já estão empregados mas principalmente para os que

não estão empregados. O programa abrange não o empreendedorismo empresarial,

objetivando o preparo do(a) assistente social como gerenciador de seu próprio negócio,

que pode ser tanto no campo da assessoria, consultoria, clínica, como de alguma outra

atividade, bem como, com capacidade de gerenciamento organizacional empreendedor

que é requisitada hoje em todas as organizações, como também o empreendedorismo

social, pois nessa área este princípio tem sido amplamente requisitado, principalmente

pelo perfil empreendedor de captação de recursos e gestão social na perspectiva da auto-

sustentabilidade, questão que hoje não é simplesmente um modismo, mas uma tendência.

Ações concretas de implementação, tais como:

a) inclusão e criação de uma disciplina ou atividade como oficina de

empreendedorismo e empreendedorismo social nos cursos superiores e especialização: o

Programa Nacional de Capacitação Empreendedora para Assistentes Sociais – PNCESS

poderá se materializar através de atividades contínuas e devidamente programadas, a

exemplo de outros cursos, isto poderia ocorrer nos núcleos e nas oficinas, de modo a

conciliar teoria e prática. Entre as atividade a serem implantadas no PNCESS, destaca-se:

• criação de Incubadoras de Gestão e Tecnologia Social: objetivando a relação

de teoria e prática podendo ocorrer através da criação de projetos de extensão

nas universidades (exemplo do projeto casulo-sociotecnológico) que poderão

não só servir de espaço para aprendizado, como também de serviço para a

comunidade e de pesquisa, pois a incubadora social procura apoiar

tecnicamente os novos projetos, bem como aperfeiçoar a gestão das

organizações já existentes e também projetos governamentais e de movimentos

sociais;

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• incentivar e apoiar a criação de Empresas Juniores nos cursos de Serviço

Social: esta modalidade tem sido amplamente utilizada por outros cursos,

trazendo grandes resultados, teóricos e práticos, pois os alunos,

supervisionados por professores, realizam práticas teóricas e técnicas de

prestação de serviços às organizações da comunidade, aprendem a gerenciar

uma organização em suas múltiplas funções, o que facilita o aprendizado e a

experiência principalmente no campo da consultoria e no desenvolvimento das

habilidades empreendedoras necessárias para sobreviver no mercado de

trabalho.

13.4 Como esta proposta poderá ser colocado em prática?

a) Capacitar professores e profissionais já formados para melhor disseminação do

conceito e da prática do empreendedorismo e do empreendedorismo social;

b) através de oficinas nacionais regionalizadas pelo conjunto de organizações da

categoria: ABEPSS/ CRESS/CFESS/ IES e demais instituições com maior tradição e

experiência neste campo;

c) ampliar a publicação e estimular a pesquisa, tanto bibliográfica como empírica,

principalmente na modalidade estudo de caso;

d) realizar concursos nacionais, regionais e locais para estudantes, professores,

pesquisadores e profissionais;

e) realizar eventos e intercâmbios entre outras áreas, tanto na produção teórica

(seminários, simpósios, congressos, etc.) como na execução de projetos;

f) rever a posição e condição legal quanto ao apoio e incentivo para quem quer ser

autônomo, rever a tributação que incide sobre quem quer e/ou tem uma consultoria,

estimular e não desestimular esta prática, pois ela se apresenta como uma das poucas

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alternativas de sobrevivência profissional no mercado de trabalho para os (as) assistentes

sociais na atual e futura conjuntura e contexto do século XXI;

g) o CFESS deveria rever a tabela de honorários, que é insuficiente para melhor

elaboração, preparo e apresentação de propostas de honorários de serviços no campo

social;

h) ampliar a publicação de material mais prático e instrumental para os

profissionais do tipo manuais que facilitem o processo de aprendizado e uso objetivo do

planejamento e da intervenção crítica, criativa e operativa.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

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Com estas colocações e proposições finais, damos por finalizado o presente

trabalho, onde procuramos ressaltar que o tema/objeto de nossa investigação, o

empreendedorismo social, surge em meio a um cenário paradoxal, propiciado pelo avanço

e dos impactos de uma globalização, que mais globaliza a pobreza do que seus resultados

positivos.

Um dos elementos mais paradoxais é a constatação dos altos níveis de pobreza e

desigualdade social que, contraditoriamente, fazem emergir deste processo várias ações

de combate à pobreza em suas múltiplas dimensões inclusive a perceptiva. Constata-se

que entre estas ações emergentes surge o empreendedorismo social. Seu emergir é no

epicentro dos acontecimentos da década de 90, onde, entre tatos fatores, chama à atenção

o crescimento das organizações do Terceiro Setor, face ao desmonte das políticas sociais

e o crescimento da problematização das questões sociais em nosso país e no mundo.

Neste cenário, surgem vários movimentos e ações contra-globalização, bem como

inúmeras alternativas de enfrentamento dos desafios postos pelos velhos e novos

problemas, causados pelas mudanças de reestruturação produtiva, sistema financeiro,

guerras, poluição e tantos outros fatores marcantes deste início de século.

Verificamos que o empreendedorismo surge da relação entre o crescimento do

Terceiro Setor e da redução das fontes de financiamento que levaram essas organizações a

buscarem estratégias de captação de recursos para sobrevivência e continuidade de suas

atividades. Tal fato, como vimos, leva a uma mudança no padrão de comportamento

destas organizações que, nos anos 60/70/80, operam numa lógica crítica-contestatória e

que, nos anos 90/00, atuam numa outra lógica, a qual denominamos de critica-criativa-

propositiva/operatória, ou seja, muda-se as relações entre Estado e organizações sociais e

sociedade civil, novos movimentos sociais surgem, com outra mentalidade e forma de

organização e reivindicação de direitos e ações efetivas de combate à pobreza.

Nesse contexto é que verificamos a nossa principal indagação sobre o

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empreendedorismo social considerado uma ação emergente, ação que gera

desenvolvimento social e emancipação social, ou seria mais uma ação de manutenção do

status quo? Partimos da hipótese de que o empreendedorismo social é entre os grandes

paradoxais da sociedade capitalista uma ação emergente para o desenvolvimento social e

a emancipação social.

Após apresentarmos os dados e informações coletados em nossa pesquisa

bibliográfica e empírica, através de estudo de caso, de organizações e pessoas envolvidas

direta e indiretamente com os conhecimentos principais e ações práticas do

empreendedorismo social, podemos comprovar que nossa tese se confirmou e, além disso,

refutamos uma crítica que diz ser o empreendedorismo social funcional ao sistema

capitalista, na medida em que o mesmo não se propõe a substituir o Estado, mas, ao

contrário, favorecer práticas que sejam democráticas, participativas, e que busquem a

potencialização do espaço público e o empoderamento através da gestão social

empreendedora e do desenvolvimento do empoderamento dos atores participantes do

processo.

Mas também reconhecemos que há uma centralidade na dimensão da qualidade

formal e menor intensidade na qualidade política, o que acreditamos ser necessário

corrigir, para que se busque ações equilibradas, que prezem pela crítica, pela criatividade

e pela ação transformadora. Além desta centralidade, apresentamos os fatores de

similitude e ambivalência que o empreendedorismo social apresenta no Brasil, em

específico na proposta da Ashoka, quanto à promoção do empreendedorismo social ser

uma profissão e isso face a existência da formação profissional para este campo, o

Serviço Social.

Tais constatações nos permitiram elaborar, além da tese em si, outros produtos,

inclusive a elaboração de uma proposta que condensa grande parte do conhecimento aqui

formulado, o Projeto Casulo Sócio-Tecnológico.

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Enceramos este trabalho não com o sentimento de dever cumprido, mas também

com a clareza de suas limitações face à imensidão de possibilidades e aprofundamentos

que poderiam ser estabelecidos.

Fica, no entanto, marcada a certeza de que, no epicentro do turbilhão de uma

sociedade paradoxal, está a cada dia surgindo em algum lugar, deste país e do mundo,

alguém com uma idéia, uma equitação e um desejo profundo de fazer algo diferente, e

que, de uma maneira ou outra, saberá materializar este sonho, este desejo, pois muitos não

sabem, mas são, por excelência, empreendedores sociais.

Mas, ao mesmo tempo, ao aprofundar o conhecimento de nossa realidade, assusta-

nos e atemoriza-nos a brutalidade das diferenças e indiferenças que permeiam o nosso

cotidiano, temos a esperança de que novas ações são possíveis e que o desenvolvimento

humano e a emancipação social são possíveis, principalmente pelos exemplos de pessoas

empreendedoras como a Raquel Barros, da Associação Lua Nova, e de organizações,

como a Ashoka, que primam pela inovação e melhoria da qualidade da gestão das

organizações sociais, além da disseminação e ampliação da prática do empreendedorismo

social, no Brasil e no mundo.

Neste sentido, faço minhas as palavras de David C. Korten158, quando, no final do

livro “Quando as corporações regem o mundo”, afirma:

devemos nos aproximar deste período difícil com o mútuo interesse e atolerância para com as diversidades que são a base essencial das sociedadessaudáveis que esperamos criar. Mesmo quando procuramos permanecercentrados em valores básicos e construir alianças com aqueles que partilhamdesses, valores, devemos sempre ter a consciência de que estamos empenhadosnum ato de criação para o qual não existe cópia heliográfica. Somos todosaprendizes de um processo revelador, que exige observação, com olhocrítico e mente aberta, o âmago da verdade em cada idéia e a centelha dabondade em cada pessoa. Estamos embarcando na que pode ser a maisprofunda mudança de curso da História humana, e isto requer quereunamos todo o potencial criativo de nossa espécie. [grifo nosso]

Cremos que vivemos este momento, optamos por fazer parte do grupo daqueles

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que querem fazer algo e não se conformam e não se acomodam na posição de arautos da

verdade absoluta, do muito falar e do pouco fazer. Além disso, que este fazer, mesmo

pouco, seja impactente, faça diferença para aqueles que dele necessitam. Assim,

esperamos ter contribuído.

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ANEXO A

QUESTIONÁRIOS

E

QUADROS DE PERGUNTAS

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1. Masculino

2. Feminino

1. casado(a)2. solteiro(a)3. divorciado(a)4. viúvo(a)5. outro

EMPREENDEDORISMO SOCIAL NO BRASIL - FUNDAMENTOS EESTRATÉGIAS

ESTUDO DE CASO LUA NOVAQUESTIONÁRIO 02 - USÚARIOS/CLIENTES PROGRAMAS/PROJETOS SOCIAIS

COORDENAÇÃO: PROF. EDSON MARQUES OLIVEIRA

INSTRUÇÕES PARA PREENCHIMENTO:

1. Leia com atenção;2. Responda com sinceridade e com suas próprias palavras;3. Não é necessário se identificar;4. Sua opinião é muito importante, não deixe de preencher nenhuma questão;5. Qualquer dúvida fale com com o pesquisador;

1. Qual é o seu sexo ?

2. Qual o seu nível de escolaridade ?

3. Qual é o seu estado civil ?

1. 2. Ensino Fundamental 3. Ensino Fundamental 4. Ensino Médio 5. Ensino Médio 6. Ensino Superior 7. Ensino Superior 8. Pós-Graduação especialização completa 9. Pós-graduação especialização10. Pós-graduação mestrado11. Pós-graduação mestrado12. Pós-graduação doutorado13. Pós-graduação doutorado

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1. sim

2. não

1. 12. 23. 3

4. 45. 56. + 5

1. 2- 42. 4-63. 6-84. 8-105. + 10

4. Se 'outro', qual?:

_____________________________________________________________________________

5. Você tem filhos ?

6. Se 'sim', quantos?:

7. Onde você mora ?

_____________________________________________________________________________

8. Como é sua casa ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

9. Quantas pessoas moram em sua casa?

1. 2. alugada 3. sedida 4. 5. 6. casa 7. 8. grande 9.10. pequena11.

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1. 1-22. 2-53. 5-74. 7-95. + 9

1. funcionário2. voluntário3. terceirizado4. consultor/assessor5. cliente/usuário do projeto6. outro

1. 8 horas2. 16 horas3. 24 horas

4. 32 horas5. 40 horas6. + de 40 horas

10. Quantos que moram nesta casa e estão em condição de trabalhar ?

11. Quantos dos que tem condição de trabalhar estão empregados ?

A resposta deve estar entre 1 e 10.

12. Qual o tipo de vínculo que você tem com esta organização ?

13. Se 'outro', qual?:_____________________________________________________________________________

14. Qual a carga horária-semanal que você dedica para participar das atividades da LUA NOVA?Assinale um das alternativas abaixo que se aproxima de sua realidade.

15. Qual é o seu papel neste organização ?__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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1. Muito insatisfeito2. Insatisfeito3. Indiferente4. Satisfeito5. Muito satisfeito

1. Muito insatisfatório2. Insatisfatório3. Indiferente4. Satisfatório5. Muito satisfatório

16. Como você avalia a atual organização da LUA NOVA ?

17. Qual é o seu nível de satisfação quanto a atividade que você realiza na LUA NOVA ?

18. O que motiva você a participar das atividades da LUA NOVA ?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

19. Qual seria o grau e impacto dos programas, projetos e serviços desta organização, em sua vidaa partir da aplicação dos princípios, métodos e técnicas do empreendedorismo social ?

20. Você saberia dizer em qual ou quais bairros as atividades desta organização estão presentes ?

_____________________________________________________________________________

21. Você saberia dizer qual a opinião/percepção da comunidade/sociedade de Recife em relaçãoas atividades da Academia Social?

1.2.3.4.

1. muito2. boa3. não perceptível4.5.6. muito

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1. Assistência Social, Criança e Adolescente 2. Educação 3. Cultura,Arte e Recreação 4. Desenvolvimento Comunitário 5. Saúde 6. Assistência Juridica 7. Meio ambiente 8. Consultoria e Assessoria 9. Capacitação e Treinamento10. Terceira Idade11. Responsabilidade Social Empresarial12. Geração de emprego e renda13. outro

1. sim

2. não

1. não

2. sim

22. Qual é a área de atuação desta organização ? Assinale a ou as área que correspondem à suarealidade.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

23. Se 'sim', qual?:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

24. Esta organização tem uma missão e uma visão. Você saberia dizer qual é essa visão e missão ?

25. Se a resposta anterior foi sim, qual é a visão e missão desta organização ?

_______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

26. Você saberia dizer se existe algum sistema de avaliação da qualidade dos programas, projetose serviços desta organização?

27. Se 'sim', qual?:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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1. sim2. não

1. sim2. não

1. Sim2. Não3. Propria e individual4. Grupo de pessoas/profissionais5. Comunidade6. Órgão Público7. Empresa8. outro

28. Você participa da vida e gestão ( ADMINISTRAÇÃO) desta organziação ?

29. Você saberia dizer se esta organização, já recebeu alguma premiação ?

30. Se 'sim', qual?:______________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

31. Você sabe como surgiu esta organização ? E e de quem partiu esta iniciativa ? Assinale um oumais alternativas abaixo relacionadas.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

32. Se 'outro', qual?:

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

33. Na sua opinião, na atualidade, qual é o nível da qualidade dos programas, projetos e serviçosdesta organização ?

1. Muito2.3.4.5. Muito

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1. muito2. resoavelmente3. indiferente4. pouco5. muito pouco

1. muito2. resoavelmente3. indiferente4. pouco5. muito pouco

1. muito2. razoavelmente3. indiferente4. pouco5. muito pouco

1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

34. Você acredita que os programas, projetos e serviços desta organização contribuiem para oDESENVOLVIMENTO HUMANO de seus usuarios/clientes ?

35. Você acredita que os programas, projetos e serviços desta organização contribuiem para aEMANCIPAÇÃO SOCIAL de seus usuarios/clientes ?

36. Você acredita que os programas, projetos e serviços desta organização contribuiem para queos seus usuarios/clientes saiam da pobreza ?

37. Na sua opinião, a qualidade dos programas, projetos e serviços desta organização sãodecorrentes da aplicação dos métodos, técnicas e principios do empreendedorismo social ?

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1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

1. sim

2. não

38. Na sua opinião, quais seriam os maiores problemas/desafios desta organização ? Assinaleabaixo e/ou os iten/s que se refe/rem a sua opinião.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas (11 no máximo)

39. Se 'outro', qual?:

_____________________________________________________________________________

40. Destas questões, anteriormente sinalizadas, quais seriam as três maiores ? Coloque em ordemcrescente, da maior para a menor.

_____________________________________________________________________________

41. Você acredita que as atividades desta organização por serem de empreendedorismo socialproduzem mais impactos sociais do que as outras organizações sociais tradicionais?

42. Na sua opinião, a sua vida mudou ao participar das atividades da Academia social ?

1. falta de 2. mal 3. difícil acesso a 4. transmissão de conhecimentos inadequados 5. pouco tempo para estudar 6. a bolsa é baixa 7. o local de estudo é longe 8. o material é 9. têm poucos10. têm muita gente por11. não há comprometimento e responsabildiade dos12. nenhuma das13.

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1. Muito menos2. Menos3. Igual4. Mais5. Muito mais

1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

43. Se, "sim", quanto foi esta mudança ?

44. Na sua opinião, o que é pobreza ?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

45. Na sua opinião, o que é emanciapação social ?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

46. Na sua opinião, o que é desenvolvimento humano ?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

47. Você acredita que o trabalho da Academia sociallcontribua para o desenvolvimento humano,para a emancipação social e superação da pobreza e da desigualdade social ?

48. Leia no quadro-1 sobre o conceito de empreendedorismo social. Diga, face a sua vivência,prática e conhecimento, qual é o nível de concordância com este conceito ?

49. Da mesma forma., qual o grau de concordância com as características descritas no quadro-2,em relação ao empreendedor social, face a sua vivência e conhecimento ?

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1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

1. sim

2. não

1. não2. sim

1. não2. sim

1. Das empresas2. Do governo3. Da sociedade civil4. Da luta de classes5. Da religião6. outro

50. Partindo de sua experiência e vivência e, em relação à proposta da Ashoka, ler quadro-3, qualo nível de concordância com esta perspectiva para o empreendedorismo social no Brasil ?

51. Você acredita que o empreendedorismo social podera vir a se constituir como uma profissãono Brasil ? De maneira formal e legal ?

52. Se 'sim', comente:

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

53. Você se considera um (a) emprededor (a) social ?

54. De 0 a 100, qual a nota que você daria para você como empreendedor/ra social?

A resposta deve estar entre 0 e 100.

55. Você acredita que todos as pessoas podem vir a ser empreendedores sociais ?

56. Na sua opinião, qual seria a origem do empreendedorismo social ? Assinale um ou maisalternativas abaixo sinalizadas.

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1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

1. não2. sim

1. diariamente2. semanalmente3. mensalmente4. semestralmente5. anualmente

57. Se 'outro', qual?:

_____________________________________________________________________________

58. Existem algumas críticas ao empreendedorismo social, veja no quadro-4 uma síntese destascríticas. A seguir, assinale. Qual é o seu grau de concordância com estas criticas?

59. Você mantém contato com outros empreendores sociais?

60. Se 'sim', qual/quais?:

_____________________________________________________________________________

61. Se 'sim', qual a periodicidade ?:

62. Qual dos itens abaixo relacionados você identifica como sendo uma característica deempreendedorismo social ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

1. 2. visão de 3. elaborar ações inovadoras e de impacto 4. ética 5. confiança 6. transparência 7. não se preocupa em errar 8. é confuso

9. planeja10.

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1. não

2. sim

1. Ótimo2. Bom3. Regular4. Ruim5. Péssimo

1. Sem importância2. Pouco importante3. Importante4. Muito importante5. Primordial

1. muito alto2. alto3. mediano4. baixo5. muito baixo6. nenhum

63. Você acredita que haja alguma diferença entre o empreendedorismo social no Brasil emrelação ao de outros países ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

64. Se 'sim', qual?:

_____________________________________________________________________________

65. Qual a sua opinião quanto ao projeto de empreendeorismo social da LUA NOVA

66. Qual a sua opinião quanto ao Prêmio Empreendedor Social da Ashoka para odesenvolvimento do empreendedorismo social no Brasil?

67. Você acredita que ao aplicar certos conhecimentos e principios do empreendedorismoempresarial no campo social, exista algum grau de dificuldade para esta aplicação ?

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1. muito alto2. alto3. mediano

4. baixo5. muito baixo6. nenhum

1. Sumário executivo2. organização3. produto/serviço4. mecado5. marketing6. equipe gerencial7. planejamento financeiro8. riscos e oportunidads9. plano de implementação

1. alto2. médio3. baixo

68. Na prática, e sem o auxilio de consultores especializados, qual é o grau de dificuldade para porem prática os princípios, métodos e técnicas do empreendedorismo social ?

69. Sendo o Plano de Negócio Social uma ferramenta do empreendedorismo social, qual é a partemais dificil de elaboração e prática no campo social? Assinale um ou mais itens

70. Qual seria o grau desta(as) dificuldade (s)?

71. Na sua opinião o que é preciso para ser um empreendedor social no Brasil ?

__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

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1. Pobreza 2. Fome 3. corrupção 4. falta de ética na política 5. economia 6. desemprego 7. exclusão social 8. violência 9. falta de fé (espiritualidade)10. outro

1. Sem importância2. Pouco importante3. Importante4. Muito importante5. Primordial

72. Na sua opinião qual é o principal problema do Brasil hoje ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas (2 no máximo)

73. Se 'outro', qual?:

_____________________________________________________________________________

74. Na sua opinião, a pobreza existe por quê ?_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

75. Na sua opinião ,a questão social/problema social poder ser entendido como ?

_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

76. Na sua opinião, qual o grau de importância do voluntário na gestão (administração ) deorganizações do Terceiro Setor? (organizaçãoes não governamentais como a LUA NOVA)

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1. Sem importância2. Pouco importante3. Importante4. Muito importante5. Primordial

1. Ótimo2. Bom3. Regular4. Ruim5. Péssimo

1. Menor2. Igual3. Maior

1. não2. sim

77. Na sua opinião, o enfrentamento das questões/problemas sociais, da pobreza, desigualdade eexclusão social é responsabilidade de quem ?

78. Se 'outros', qual?:__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

79. Na sua opinião qual é a importância das organizações do Terceiro Setor no combate a questãosocial/problemas sociais em nosso país ?

80. Na sua opinião, o governo de Fernando Henrique Cardoso, em relação ao enfrentamento dasquestões sociais/problemas sociais, como pode ser ser considerado ?

81. Qual é a sua espectativa em relação ao novo governo de Lula, em relação ao governo de FHC,no tocante ao enfrentamento da questão/problema social e enfrentamento da pobreza ?

82. O empreendedorismo social, frente aos vários problemas do Brasil, pode ser consideradocomo uma ação alternativa e estratégica para a emancipação social e desenvolvimento humano?

1. somente do2. da sociedade3. dos4. da integração Governo-Empresas-5. do

6. dos próprios7.

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1. Discordo totalmente2. Discordo3. Indiferente4. Concordo5. Concordo totalmente

1. criatividade e inovação2. planejar e pensar estratégicamente3. cooperação4. trabalho em equipe

5. atenção aos detalhes6. qualidade dos produtos e serviços7. outros

1. não

2. sim

83. Tendo em vista sua experiência e vivência, qual é o grau de concordância em relação àseguinte atribuição e perspectiva sobre o papel do empreendedor social. Leia quadro-5.

84. Na sua opinião, quais os elementos abaixo relacionados são importantes para uma gestãosocial empreendedora ?

85. Se 'outros', qual?:_____________________________________________________________________________

86. Destes elementos, anteriormente relacionados, para o sucesso de uma gestão socialempreendedora, quais são os três itens mais importantes. Coloque em ordem crescente._________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

87. Você acredita que o empreendedorismo social pode produzir riqueza, capital social, edesenvolvimento sustentável para o Brasil ?

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88. Qual das ações abaixo relacionadas, você acredita ser a mais eficiente e eficaz para combater apobreza e desigualdade no Brasil ? Você pode marcar mais de uma alternativa.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

89. Se 'outro', qual?:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

90. Cite três pontos que diferenciam o empreendedorismo social de outras estratégias de gestãosocial.__________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

91. Qual a sua opinião sobre este questionário ? Assinale as alternativas que expressam suaopinião.

92. Se 'outro', qual?:_________________________________________________________________________________________________________________________________________________________

OBRIGADO POR SUA COLABORAÇÃO,Prof. Edson marques Oliveira

Assistente social/cress 2767-PR

1. empreendedorismo2. economia3.4. auto-gestão5. distribuição de cestas básicas6. vale educação7. vale8. micro-9.

1. 2. não 3. 4. não 5. 6. não 7. 8. extenso 9. bem10. mau11. questões relacionadas12. questões mau relacionadas13.

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QUADRO DE PERGUNTAS PARA LEITURA, ANÁLISE

RESPOSTA - QUESTIONÁRIO - 02

QUADRO – 1:

“Pessoa que é responsável pela mudança no setor social por perseguir oportunidades para criar esustentar o valor social, aplicar abordagens inovadoras no seu trabalho e em seus recursos; atuarfirmemente sem sentir-se constrangido com os recursos em seu poder; exibir uma elevadacompreensão dos elementos a quem ela serve (comunidade e financiadores), e dos efeitos que elacria” (Thalhuber, Jim The National Center Social Entrepreneurs, in:www.socialentrepreneurs.org)

QUADRO – 2:

“...ser sincero, ter paixão, clareza, confiança, valores fundamentais começam a partir daspessoas/clientes/usuários, saber mensurar as idéias/interesses, ter boa vontade, saber construir aequipe certa, saber obter os recursos suficientes, saber improvisar”(Jerr Boschee, in: www.socialentrepreneurs.org)

QUADRO – 3 :

“Trata-se de uma nova profissão em construção (...) é uma profissão em crescimento na atualidade(...) Não só surgem mais indivíduos que se dedicam a esta profissão, como também cresce avisibilidade e o reconhecimento que a mídia e a sociedade dão a elas.” (www.ashoka.org.br)

QUADRO – 4:

“É funcional ao sistema capitalista, presta mais ao assistencialismo, despolitiza as relações sociaise a construção de políticas públicas, reforça o individualismo, paternalista, está a serviço dosdonos do capital e reforça a manutenção da pobreza, da desigualdade, da exclusão social ealienação.”

QUADRO – 5

“Os empreendedores sociais devem possuir idéias inovadoras para mudar o modelo da sociedade(...) partem de uma única qualidade organizacional para perseguir sua visão até tornar-se umarealidade sociavelmente extensa.” (Thalhuber, Jim The National Center Social Entrepreneurs, in:www.socialentrepreneurs.org).

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ANEXO B

QUESTIONÁRIO –01

E

QUADRO DE PERGUNTAS

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1. 1-2 anos2. 3-5 anos3. 6-8 anos

4. 9-12 anos5. 1-15 anos6. + 15 anos

ORGANIZAÇÕES SOCIAIS EMPREENDEDORASQUESTIONÁRIO 01- FELLOWS DA ASHOKA

PROF. EDSON MARQUES OLIVEIRA

1. Qual a natureza jurídica desta organização?

2. Se 'outro', qual?:

3. Há quanto tempo esta organização está em funcionamento ?

4. Qual é a estrutura organizativa desta organização? Assinale abaixo oscomponentes que idenfiquem a realidade de sua organização.

1. OSCIP (organização social de interesse 2. Fundação Pública 3. Fundação Privada 4. 5. Associação 6. Sociedade 7. Governamental 8. Governamental 9. Governamental10. Consórcio11. Consórcio12. Sindicato13. Sindicato dos14. Sociedade Cooperativa15. Cooperativa16. Serviço Social17. Auto-18.

Data preenchimento:

Responsável:

Cargo:

Visto:

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1. Conselho Consultivo

2. Conselho deliberativo, Diretoria executiva3. Diretoria/comissão administrativa

4. Diretoria/comissão de Marketing

5. Diretoria/comissão financeira6. Diretoria/comissão de projetos

7. Diretoria/comissão de captação de recursos8. outro

1. Governo Federal2. Governo estadual3. Governo Municipal4. Doações Espontâneas e varial5. Doação fixa de associados/padrinhos

6. Parcerias com empresas7. Organizações de Investimento Social Nacional8. Organizações de Investimento Internacional9. outro

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

5. Se 'outro', qual?:

6. Quais as principais fontes de captação de recursos financeiros destaorganização ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

7. Se 'outro', qual?:

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1. 5 - 10% 2. 11 - 20% 3. 21 - 30% 4. 31 - 40% 5. 41 - 50% 6. 51 - 60% 7. 61 - 70% 8. 71 - 80% 9. 81 - 90%10. 91 - 100%

1. Presidente

2. Vice-Presidente3. Diretor

4. Vice-Diretor

5. Técnico Especializado6. Auxiliar

7. Consultor

8. Assistente Social9. outro

8. Das fontes indicadas anteriormente, qual o percentual de participação noconjunto total dos recursos financeiros da organização ?

9. Quantas pessoas trabalham como funcionáriosefetivos nesta organização ?

A resposta deve estar entre 1 e 100.

10. Quais os cargos existentes ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas (8 no máximo)

11. Se 'outro', qual?:

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1. Analfabeto 2. Ensino Fundamental Completo 3. Ensino Fundamental incmpleto 4. Ensino Médio completo 5. Ensino Médio Incompleto 6. Ensino Superio Completo 7. Ensino Superio Incompleto 8. Pós-Graduação especialização completa 9. Pós-graduação especialização incompleta10. Pós-graduação mestrado completo11. Pós-graduação mestrado incompleto12. Pós-graduação doutorado completo13. Pós-graduação doutorado incompleto.

1. HUMANAS E SOCIAIS2. EXATAS3. BIOMÉTICAS4. OUTRAS

1. 1-2 salários minimos2. 3-5 s/m3. 6-8 s/m4. 9-11 s/m5. + 11 s/m

12. Qual o nível de escolaridade destes funcionários efetivos ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

13. Quais as áreas de conhecimento dos profissionais formados e efetivos ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

14. Qual é a faixa salarial média paga para os funcionários efetivos nestaorganização ?

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1. sim2. não

15. Para os funcionários existe algum beneficio ? Assinale um ou mais dos itensa seguir relacionados.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

16. Esta organização tem voluntário em seu quadro profissional ?

17. Qual é a quantidade de voluntários que trabalham nesta organização ?1. 1-2. 6-3. 11-4. 16-5. 21-6. 26-7. + de

1. 13º 2. 14º 3. Asistência 4. Vale 5. Vale 6. Convênio com 7. Convênio com 8. Aponsetadoria 9. Seguro de vida10. Cesta básica11. Bônus de12. Licença13. Complemento para curso14.

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1. HUMANAS E SOCIAIS2. EXATAS3. BIOMÉTICAS4. OUTRAS

18. Qual o nível de escolaridade dos voluntários ?

19. Quais as áreas de conhecimento dos profissionais VOLUNTÁRIOS destaorganização ?

20. Se 'OUTRA', qual?:

21. Quais ferramentas gerenciais de gestão você utiliza em sua organização ?Assinale as que estão sendo utilizadas.

1.2. Ensino Fundamental3. Ensino Fundamental4. Ensino Médio5. Ensino Médio6. Ensino Superior7. Ensino Superior8. Pós-Graduação especialização completa9. Pós-graduação

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Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

22. Se 'outro´, qual:

23. Como você avalia a atual gestão desta organização ?

24. Em qual ou quais bairros as atividades desta organização estão presentes ?

1. Planejamento 2. Gestão da Qualidade 3. Educação a distância 4. Capacitação Continuada 5. Gestão do conhecimento 6. Gerenciamento por 7. Gestão de Pessoas (RH) 8. Plano de negócios 9.10. Atendimento ao

12. Instrumentos de tomada de decisão (multi-13. outro,

11. Técnicas de estímulo a criatividade (tempestade de

1.2.3.4.

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1. muito boa2. boa3. não perceptivel

4. indiferente5. ruim6. muito ruim

25. Qual seria a opinião/percepção da comunidade em relação a estaorganização e seu trabalho?

26. Qual é a área de atuação desta organização ? Assinale a ou as áreas quecorrespondem a sua realidade.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

27. Se 'sim', qual?:

28. Qual a população que é atendida por esta organização ?

1. Assistência Social, Criança e 2. Educação 3. Cultura,Arte e 4. Desenvolvimento 5. Saúde 6. Assistência 7. Meio 8. Consultoria e 9. Capacitação e10. Terceira

11. Responsabilidade Social12. Geração de emprego e renda13.

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Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas (10 no máximo)

29. Esta organização tem sua missão e visão já formulados ?

30. Se a resposta anterior foi sim, qual é a visão e missão desta organização ?

31. Qual é o quantitativo/mês de clientes atendidos por esta organização ?

A resposta deve estar entre 1 e 200.

32. Quais são os programas desenvolvidos por esta organização ?

33. Quais são os projetos desenvolvidos por esta organização ?

34. Quais são os serviços desenvolvidos por esta organização ?

1. Criança e adolescente 2. Idosos/Terceira Idade 3. 4. Desempregados 5. Doentes 6. Portadores de necessidades especiais 7. Jovens 8. Outras 9.10. Violência11.12.

1.2. não

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35. Existe algum sistema de avaliação da qualidade dos programas, projetos eserviços desta organização POR PARTE DOS USUÁRIOS ?

36. Se 'sim', qual?:

37. Os clientes/usuários desta organização participam da vida e gestão damesma ?

38. Esta organização, além do Prêmio Ashoka, já recebeu outra premiação ?

39. Se 'sim', qual?:

40. O que motiva e/ou motivou a criação dos programas, projetos e serviçosdesta organização ?

41. A iniciativa da criação/estruturação desta organização partiu de que tipo deiniciativa. Assinale um ou mais alternativas abaixo relacionadas.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas (5 no máximo)

42. Se 'outro', qual?:

1. Própria e2. Grupo de3.4. Órgão5.6.

1. não2.

1.2. não

1.2. não

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43. Na sua opinião, na atualidade, qual é o nível da qualidade dos programas,projetos e serviços desta organização ?

44. Você acredita que os programas, projetos e serviços desta organizaçãocontribuem para o DESENVOLVIMENTO HUMANO de seus usuários/clientes ?

45. Você acredita que os programas, projetos e serviços desta organizaçãocontribuem para a EMANCIPAÇÃO SOCIAL de seus usuários/clientes ?

46. Você acredita que os programas, projetos e serviços desta organizaçãocontribuem para que os seus usuários/clientes saiam da pobreza ?

1. Muito2.3.4.5. Muito

1.2. Razoavelmente3.4. Pouco5. Muito

1.2. Resoavelmente3.4. Pouco5. Muito

1.2. Razoavelmente3.4. Pouco5. Muito

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47. Na sua opinião, qual era o nível da qualidade dos programas, projetos eserviços desta organização ANTES de ter aplicado os métodos, técnicas eprincípios do empreendedorismo social ?

48. Na sua opinião, qual é o nível da qualidade dos programas, projetos eserviços DEPOIS de ter aplicado os métodos, técnicas e princípios doempreendedorismo social ?

49. Para manter os programas, projetos e serviços desta organização, existealguma atividade que gere autosustentabilidade ?

50. Se 'sim', qual?:

51. Na sua opinião, na atualidade, qual/quais seria/seriam a/as maior/maiorespreocupação (ções) desta organização ? Assinale abaixo o/ou os iten/s que serefe/rem a sua realidade.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

1. Gestão de pessoal 2. Captação de recursos 3. Pessoal especializado 4. Comprometimento dos 5. Gestão dos 6. Qualidade no 7. Insatisfação interna 8. Insatisfação externa 9. Interverência e10.

1. Muito2.3.4.5. Muito

1. Muito2.3.4.5. Muito

1.2. não

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52. Se 'outro', qual?:

53. Destas questões, anteriormente sinalizadas, quais seriam as três maiores ?Coloque em ordem crescente, da maior para a menor.

54. Qual seria o grau de impacto dos programas, projetos e serviços destaorganização, junto à sociedade ANTES da aplicação dos princípios, métodos etécnicas do empreendedorismo social ?

55. Qual seria o grau de impacto dos programas, projetos e serviços destaorganização, junto à sociedade DEPOIS da aplicação dos princípios, métodos etécnicas do empreendedorismo social ?

56. Você é um fellow da Ashoka ? Caso sua resposta seja SIM, continue aresponder as questões, caso seja NÃO, pule para a questão número 63.

57. Há quanto tempo você é um fellow da Ashoka ?

1. Muito2.3.4.5. Muito

1. Muito2.3.4.5. Muito

1.2. não

1. 1 ano 2. 2 anos 3. 3 anos 4. 4 anos 5. 5 anos 6. 6 anos 7. 7 anos 8. 8 anos 9. 9 anos10. + 10 anos

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58. Como você ficou sabendo do trabalho e proposta da Ashoka ?

59. Você passou pelo treinamento da Ashoka ?

60. Qual é a sua opinião sobre este treinamento ?

61. Qual o grau de importância deste treinamento para a melhoria da gestão eautosustentabilidade da organização ?

62. Qual o grau de importância deste treinamento para melhoria da qualidadedos serviços prestados por esta organização ?

63. Qual é o seu sexo ?

1.2.3.4.5.

1. Muito2.3.4. Pouco

1. Muito2.3.4. Pouco

1.2.

1.2. naõ

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64. Qual o seu nível de escolaridade ?

65. Qual é o seu estado civil ?

66. Se 'viúvo(a). outro', qual?:

67. Você tem filhos ?

68. Se 'sim', quantos?:

1. 2. Ensino Fundamental 3. Ensino Fundamental 4. Ensino Médio 5. Ensino Médio 6. Ensino Superior 7. Ensino Superior 8. Pós-Graduação especialização completa 9. Pós-graduação especialização10. Pós-graduação mestrado11. Pós-graduação mestrado12. Pós-graduação doutorado13. Pós-graduação doutorado

1.2.3.4.5.

1.2. Não

1. 12. 23. 34. 45. 56. +

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69. Qual o tipo de vínculo que você tem com esta organização ?

70. Se 'outro', qual?:

71. Qual a carga horária-semanal que você dedica para o trabalho nestaorganização ?

A resposta deve estar entre 1 e 45.

72. Qual é o seu cargo neste organização ?

73. Qual é o seu nível de satisfação quanto ao trabalho que você realiza nestaorganização ?

74. O que motiva você a trabalhar nesta organização e neste setor ?

75. Na sua opinião o que é pobreza ?

76. Na sua opinião o que é emancipação social ?

77. Na sua opinião o que é desenvolvimento humano ?

78. Você acredita que o seu trabalho contribua para o desenvolvimento humano,para a emancipação social e superação da pobreza e da desigualdade social ?

79. Leia no quadro-1 o conceito sobre empreendedorismo social. Diga, em facede sua vivência, prática e conhecimento, qual é o nível de concordância comeste conceito ?

1.2.3.4. Consultor/assessor5.

1. Muito2.3.4.5. Muito

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80. Da mesma forma. Qual o grau de concordância com as característicasdescritas no quadro-2, em relação ao empreendedor social, em face de suavivência ?

81. Partindo de sua experiência em relação à proposta da Ashoka, ler quadro-3,qual o nível de concordância com esta perspectiva para o empreendedorismosocial no Brasil ?

82. Você acredita que o empreendedorismo social poderá vir a se constituircomo uma profissão no Brasil ?

83. Se 'sim', comente:

84. Você se considera um (a) empreendedor (a) social ?

85. De 0 a 100, qual a nota que você daria para você como empreendedorsocial?

1. Discordo2.3.4.5. Concordo

1. Discordo2.3.4.5. Concordo

1. Discordo2.3.4.5. Concordo

1.2. não

1. não2.

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A resposta deve estar entre 0 e 100.

86. Você acredita que todos os gestores sociais podem vir a serempreendedores sociais ?

87. Na sua opinião, qual seria a origem do empreendedorismo social ? Assinaleum ou mais alternativas abaixo sinalizadas.

88. Se 'outro', qual?:

89. Existem algumas críticas ao empreendedorismo social, veja no quadro-4 umasíntese destas criticas. A seguir, assina qual é o seu grau de concordância comestas críticas?

90. Você mantém contato com outros fellows da Ashoka?

91. Se 'sim', qual a periodicidade ?:1.2.3.4.5.

1. não2.

1. Das empresas2. Do3. Da sociedade4. Da luta de classes5. Da

6.

1. Discordo2.3.4.5. Concordo

1. não2.

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92. Qual dos itens abaixo relacionados você identifica em sua prática profissionalcomo sendo uma ação de empreendedorismo social ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

93. Você acredita que haja alguma diferença entre o empreendedorismo socialno Brasil em relação ao de outros países ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

94. Se 'sim', qual?:

95. Qual a sua opinião quanto a disseminação do empreendedorismo social noBrasil pela Ashoka ?

96. Qual a sua opinião quanto ao Prêmio Empreendedor Social da Ashoka parao desenvolvimento do empreendedorismo social no Brasil?

1. 2. Visão de 3. Elaborar ações inovadoras e de impacto 4. 5. 6. Transparência 7. Não se preocupa em 8. É 9. Planeja estratégicamente10.

1.2.3.4.5.

1. Sem2. Pouco3.4. Muito5.

1. não2.

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97. De 0 - 100, qual a nota que você daria para o processo como um todo, doPrêmio Empreendedor Social da Ashoka ?

A resposta deve estar entre 0 e 100.

98. Você vê alguma diferença entre empreendedorismo social e economiasolidária ?

99. Se 'sim', qual?:

100. Qual o grau de melhoria que foi agregado ao seu trabalho APÓS terparticipado do Prêmio da Ashoka ?

101. Qual o grau de aprendizado que este método (Prêmio) proporcionou a suavida profissional e o trabalho de gestão na organização ?

102. Qual o grau de dificuldade da aplicabilidade dos conhecimentos e princípiosapreendidos ?

1. Pouco elevado2.3.4. Muito

1. Pouco elevado2.3.4. Muito

1. Muito

2.3.4.5. Muito6.

1. não2.

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103. Na prática, e sem o auxilio dos consultores da Ashoka, qual é o grau dedificuldade para por em prática o que foi transmitido ao longo do Prêmio ?

104. Qual foi à parte do Plano de Negócio que se mostrou mais difícil deapreender e praticar ? Assinale um ou mais itens.

105. Qual seria o grau desta(as) dificuldade (s)?

106. Você pretende continuar a aprimorar os princípios, métodos e técnicas doempreendedorismo social em sua organização ?

107. Na sua opinião o que é preciso para ser um empreendedor social no Brasil?

1. Muito2.3.4.5. Muito6.

1. Sumário2.3. Produto/serviço4.5.6. Equipe7. Planejamento8. Riscos e9. Plano de

1.2.3.

1. Não2.

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108. Na sua opinião qual é o principal problema do Brasil hoje ?

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas (9 no máximo)

109. Se 'outro', qual?:

110. Na sua opinião, a pobreza existe por quê ?

111. Na sua opinião a questão social/problema social poder ser entendido como?

112. Na sua opinião qual o grau de importância do voluntário na gestão deorganizações do Terceiro Setor?

113. Na sua opinião, o enfrentamento dos problemas sociais, da pobreza,desigualdade e exclusão social é responsabilidade de quem ?

1. Pobreza2.3.4. Falta de ética na5.6.7. Exclusão8.9.

1. Sem2. Pouco3.4. Muito5.

1. Somente do2. Da sociedade3. Dos4. Da integração Governo-Empresas-5. Do6. Dos próprios7.

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114. Se 'outros', qual?:

115. Na sua opinião qual é a importância das organizações do Terceiro Setor nocombate à questão social/problemas sociais em nosso país ?

116. Na sua opinião, o governo de FHC, em relação ao enfrentamento daquestão social/problemas sociais, como pode ser considerado ?

117. Qual é a sua expectativa em relação ao novo governo de Lula, em relaçãoao gov. de FHC, no tocante ao enfrentamento da questão social / problemassociais ?

118. O empreendedorismo social, frente aos problemas sociais no Brasil, podeser considerado como uma ação alternativa e estratégica para a emancipaçãosocial e desenvolvimento humano?

119. Tendo em vista sua experiência e vivência, qual é o grau de concordânciaem relação a seguinte atribuição e perspectiva sobre o papel do empreendedorsocial. Leia quadro-5.

1. Sem2. Pouco3.4. Muito5.

1.2.3.4.5.

1.2.3.

1. não2.

1. Discordo2.3.4.5. Concordo

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120. Na sua opinião, quais os elementos abaixo relacionados são importantespara uma gestão social empreendedora ?

121. Se 'outros', qual?:

122. Destes elementos para a gestão social empreendedora, quais são os trêsmais importantes. Coloque em ordem crescente.

123. Você acredita que o empreendedorismo social pode produzir riqueza,capital social, e desenvolvimento sustentável para o Brasil ?

124. Qual das ações abaixo relacionadas, você acredita ser a mais eficiente eeficaz para combater a pobreza e desigualdade no Brasil ? Você pode marcarmais de uma alternativa.

Indique as respostas selecionando uma ou diversas casas

125. Se 'outro', qual?:

1. Criatividade e2. Planejar e pensar estrategicamente3. Cooperação4. Trabalho em5. Atenção aos detalhes6. Qualidade dos produtos e7.

1. Empreendedorismo2. Economia3.4. Auto-5. Distribuição de cestas básicas6. Vale educação7. Vale8. Micro-9.

1. não2.

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126. Cite três pontos que diferenciam o empreendedorismo social de outrasestratégias de gestão social.

127. Você aceitaria participar de uma pesquisa de estudo de caso emprofundidade ?

128. Qual a sua opinião quanto ao questionário que preenchido ? Assinale asalternativas que expressam sua opinião.

129. Se 'outro', qual?:

1. 2. Não 3. 4. Não 5. 6. Não 7. 8. 9. Bem10. Mal11. Questões relacionadas12. Questões mau relacionadas13.

1. não2.

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QUADRO DE PERGUNTAS PARA LEITURA – QUESTIONÁRIO 01

QUADRO – 1: 79

“Pessoa que é responsável pela mudança no setor social por perseguir oportunidades paracriar e sustentar o valor social, aplicar abordagens inovadoras no seu trabalho e em seusrecursos; atuar firmemente sem sentir-se constrangido com os recursos em seu poder;exibir uma elevada compreensão dos elementos a quem ela serve (comunidade efinanciadores), e dos efeitos que ela cria” (Thalhuber, Jim The National Center SocialEntrepreneurs, in: www.socialentrepreneurs.org)

QUADRO – 2: 80

“...ser sincero, ter paixão, clareza, confiança, valores fundamentais começam a partir daspessoas/clientes/usuários, saber mensurar as idéias/interesses, ter boa vontade, saberconstruir a equipe certa, saber obter os recursos suficientes, saber improvisar”(Jerr Boschee, in: www.socialentrepreneurs.org)

QUADRO – 3 : 81

“Trata-se de uma nova profissão em construção (...) é uma profissão em crescimento naatualidade (...) Não só surgem mais indivíduos que se dedicam a esta profissão, comotambém cresce a visibilidade e o reconhecimento que a mídia e a sociedade dão a elas.”(www.ashoka.org.br)

QUADRO – 4: 89

“É funcional ao sistema capitalista, presta mais ao assistencialismo, despolitiza asrelações sociais e a construção de políticas públicas, reforça o individualismo,paternalista, está a serviço dos donos do capital e reforça a manutenção da pobreza, dadesigualdade, da exclusão social e alienação.”

QUADRO – 5 119

“Os empreendedores sociais devem possuir idéias inovadoras para mudar o modelo dasociedade (...) partem de uma única qualidade organizacional para perseguir sua visão atétornar-se uma realidade sociavelmente extensa.” (Thalhuber, Jim The National CenterSocial Entrepreneurs, in: www.socialentrepreneurs.org).