Universidade e Comunidade

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História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 18, p. 97-119, set. 2005 Universidade e comunidade na perspectiva dos movimentos estudantis dos anos 1960 Luís Antonio Groppo Resumo Neste artigo, procuro discutir a práxis dos movimentos estudantis universitários dos anos 1960 em relação às "comunidades" no entorno das unidades de ensino. Constata-se, primeiro, uma relativa carência de ações efetivas, principalmente porque os movimentos estudantis se preocupavam, sobretudo, com a intervenção na política nacional e nos rumos gerais da sociedade de que faziam parte. Ainda assim, na sua riqueza e complexidade, os movimentos estudantis dos anos 1960 enfrentaram a questão da relação com a "comunidade", o que se observa em projetos e propostas criativas de ação prática, revelando uma potencialidade que poderia ter sido mais bem aproveitada. Palavras-chave: Movimentos estudantis; Universidade; Comunidade. Abstract In this article I intend to discuss the praxis from student movements of sixties, in its relations with the "communities" in the universities ‘neighborhoods. I evidence, first, a relative failure of effective actions, principally because the student movements preoccupy, especially, with the intervention in national politic and in the general ways of their societies. Indeed, in their wealth and complexity, the student movements from the sixties confront the question of the relation with the "community", what it looks in creative projects and propositions of practical action, what reveals a potentiality what can be better used. Key-words: Student movements; University; Community.

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História da Educação, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 18, p. 97-119, set. 2005

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  • Histria da Educao, ASPHE/FaE/UFPel, Pelotas, n. 18, p. 97-119, set. 2005

    Universidade e comunidade na perspectiva dosmovimentos estudantis dos anos 1960

    Lus Antonio Groppo

    Resumo

    Neste artigo, procuro discutir a prxis dos movimentos estudantis universitrios dos anos 1960em relao s "comunidades" no entorno das unidades de ensino. Constata-se, primeiro, umarelativa carncia de aes efetivas, principalmente porque os movimentos estudantis sepreocupavam, sobretudo, com a interveno na poltica nacional e nos rumos gerais dasociedade de que faziam parte. Ainda assim, na sua riqueza e complexidade, os movimentosestudantis dos anos 1960 enfrentaram a questo da relao com a "comunidade", o que seobserva em projetos e propostas criativas de ao prtica, revelando uma potencialidade quepoderia ter sido mais bem aproveitada.

    Palavras-chave: Movimentos estudantis; Universidade; Comunidade.

    Abstract

    In this article I intend to discuss the praxis from student movements of sixties, in its relationswith the "communities" in the universities neighborhoods. I evidence, first, a relative failure ofeffective actions, principally because the student movements preoccupy, especially, with theintervention in national politic and in the general ways of their societies. Indeed, in their wealthand complexity, the student movements from the sixties confront the question of the relationwith the "community", what it looks in creative projects and propositions of practical action,what reveals a potentiality what can be better used.

    Key-words: Student movements; University; Community.

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    Neste artigo, procuro discutir a prxis dos movimentos estudantisuniversitrios dos anos 1960 em relao s "comunidades" no entorno dasunidades de ensino. Um tema em que, na verdade, residem mais projetos,propostas, boas intenes e potencialidades do que aes efetivas. Isto sedeve a dois motivos. Por um lado, como ainda hoje acontece em relevantegrau, os estudantes se originavam, em sua maior parte, de fora dacomunidade do entorno das unidades de ensino universitrio. Por outro, osestudantes, em seus movimentos, preocupavam-se, sobretudo, com ainterveno na poltica nacional e nos rumos gerais da sociedade de quefaziam parte. Nos seus discursos e lemas, tendiam muito mais a falar dapoltica internacional, do imperialismo, da ditadura ou da democracialimitada, das injustias sociais gerais e da alienao gerada peloconsumismo do que sobre as necessidades e os interesses das populaesconcretas vizinhas s unidades de ensino.

    Ainda assim, na sua riqueza e complexidade, os movimentosestudantis dos anos 1960 enfrentaram a questo da relao com a"comunidade". Esta questo pode ser flagrada no apenas nas respostascriativas que, muitas vezes, foram dadas, mas principalmente napotencialidade no aproveitada ainda que desperta desta relao.Potencialidade revelada, por exemplo, na solidariedade prestada aosmovimentos de libertao nacional, s lutas antiimperialistas e aosmovimentos dos negros norte-americanos, no uso e inveno de tcnicas decomunicao e propaganda para levar os ideais do movimento para apopulao comum (como as brigadas estudantis mexicanas) e, enfim, emcertos aspectos das ocupaes de universidades pelos estudantes e dacriao de antiuniversidades ou universidades crticas, que buscavamcolocar em prtica a concepo de uma universidade aberta e democrtica.

    Outrora, fiz estudos sobre os aspectos poltico-sociais dosmovimentos estudantis dos anos 1960 (Groppo, 2000). Ali, preocupavammemais em compreender e caracterizar, como um movimento mundial, asrebeldias juvenis de 1968. Neste sentido, este artigo visa complementaraqueles estudos, demonstrando que, ao lado das preocupaes generalistas egeneralizantes dos movimentos estudantis, puderam se desenvolver aindaque em carter precrio e nem sempre consciente experincias, ensaios ousimplesmente propostas voltadas resoluo de questes relativas aombito do "micro", do cotidiano, das comunidades envolventes.

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    Uma onda mundial de revoltas

    Os movimentos estudantis dos anos 1960 no foram umfenmeno exclusivo dos pases "desenvolvidos", nem se pode dizer quetenham se iniciado a ou a foram mais longe. Isto no significadesconsiderar a importncia dos movimentos do Primeiro Mundo, pelocontrrio. Na Frana, destacaram-se o Maio de 68 em Paris e a greve queparou o pas neste ms; na Alemanha, movimentos estudantis na entoBerlim Ocidental desde o incio da dcada de 1960; na Itlia, uma greve deamplas propores em 1969; nos EUA, amplos movimentos estudantis e degrupos de esquerda contra a Guerra do Vietn etc.

    Na Amrica Latina, destacam-se o Brasil e o Mxico (onde ogoverno mexicano mandou o Exrcito atirar contra multido desarmada naPraa das 3 Culturas, matando centenas de pessoas e prendendo 2 mil). Nasia, Japo, Vietn, Paquisto e Bangladesh (onde, em 1968, quando eraainda parte do Paquisto, a ocupao do pas pelo Exrcito resultou namorte de milhares de pessoas, inclusive 500 estudantes da Universidade deDacca), Sri Lanka, ndia, Iraque, Ir, Sria, Israel, Palestina, Turquia,Lbano, Tailndia, Birmnia, Malsia etc. Na frica, Nigria, Senegal,Egito (onde uma batalha entre polcia e estudantes resultou na morte de 60pessoas), Arglia, Marrocos, Mauritnia, Congo, Camares etc. No antigomundo socialista, Polnia, ex-Iugoslvia, ex-Checoslovquia, antigaAlemanha Oriental e, na China, a Revoluo Cultural Chinesa.

    Apesar da diversidade nacional, regional e tnica dosmovimentos estudantis, havia uma base comum. Primeiro, se tratava demovimentos de juventude universitria com origem principalmente dasclasses mdias (principalmente das "novas classes mdias"). Segundo, osmovimentos se deram principalmente nas grandes cidades, que eram centrospolticos e econmicos (So Francisco, Washington, Nova York, Londres,Berlim, Paris, So Paulo, Rio de Janeiro, Cidade do Mxico, Praga, Tquio,Cairo etc.). Terceiro, tinham como "causa" um contexto histrico geral emcomum: fatores geopolticos como a Guerra Fria e a descolonizao da siae da frica; fatores scio-econmicos como o enorme avano da economiamundial no Ps-2a Guerra e a ascenso das novas classes mdias (maisligadas aos setores de servios e tcnicos); e fatores poltico-culturais comoas transformaes nas universidades, os novos radicalismos e acontracultura.

    Foram inmeros os temas comuns originados por esta "ondamundial" de revoltas juvenis: a forte crtica ao "imperialismo" norte-americano (inclusive dentro dos EUA, nos protestos contra a Guerra doVietn); a crtica conivncia sovitica para com o imperialismo americano

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    e sua tese da "convivncia pacfica"; os temas da democracia radical nasociedade e na Universidade; solidariedade aos movimentosantiimperialistas de libertao nacional, no Vietn, na frica, sia eAmrica Latina; influncia dos socialismos do "3o Mundo" ou heterodoxos,como o maosmo e a Revoluo Cultural Chinesa, a Revoluo Cubana, omito do Che e a teoria do foco, muitas vezes incentivando aesrevolucionrias e a luta armada; propostas de reestruturao etransformao da vida cotidiana e da cultura em conjunto (no aps) atransformao poltica e econmica, sob a influncia da Revoluo CulturalChinesa, por um lado, e da Contracultura e dos hippies, por outro. Arespeito deste ltimo aspecto, em todos os movimentos sempre houve aesefetivas na arte e na contestao de valores e tradies da vida cotidiana: noBrasil (cinema novo, cano de protesto e tropicalismo), nos EUA(movimento hippie, drogas psicodlicas, relaes tensas, mascomplementares entre radicalismo estudantil e contracultura), na Frana(grafites, panfletos), no mundo socialista sovitico (literatura e teatro dedissidentes), na Revoluo Cultural Chinesa (cartazes e caricaturas) etc.

    Acredito que a verdadeira questo no por que os estudantes dehoje no seriam to politizados ou no se revoltam tanto quanto antes, maspor que se revoltaram nos anos 1960. A resposta est na conjugao detodos estes fatores agravantes. As alternativas oferecidas pelo "sistema"eram, ento, insatisfatrias, seja da mdia e indstria cultural massificada,seja do discurso de fundo moralizante e tradicionalista do mundo"democrtico", seja a estreita viso ortodoxa vinda do comunismo sovitico.Contra isto, os jovens buscaram respostas e modelos alternativos: CheGuevara e Cuba, Mao e China, Vietn e lutas dos povos oprimidos nospases do 3o Mundo, intelectuais e novas organizaes de esquerda quecriticavam o comunismo sovitico (Marcuse e Escola de Frankfurt, novasrevistas e organizaes de nova esquerda na Europa, grupos de discusso eao estudantil) e contestadores culturais (no Brasil, o Centro Popular deCultura da Unio Nacional dos Estudantes, cinema novo, msica de protestoe tropicalismo; nos EUA, poesia beat, descoberta e uso de drogas"psicodlicas", hippies, contraculturas e a busca de misticismos orientais).

    Nos anos 1960, entre as vises alternativas, funcionandoinclusive como detonador dos movimentos estudantis, estava a crtica dauniversidade e sua relao com a sociedade. Inclusive - como o tema destetexto com propostas e atuaes em prol de novas relaes entre auniversidade e a "comunidade" ainda que com muita incipincia, limites eequvocos.

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    Reviravolta nas universidades

    Um importante ponto de partida para compreender os movimentoestudantis dos anos 1960 e as perspectivas de sua "ao comunitria", so astransformaes enfrentadas pela instituio de onde brotaram taismovimentos, a universidade. A primeira grande reviravolta dasuniversidades, em todo o mundo, no ps-Segunda Guerra Mundial, foi seuprocesso de "massificao" o que no deve ser confundido com sua"democratizao":

    Antes da Segunda Guerra Mundial, mesmo a Alemanha, Frana eGr-Bretanha, trs dos maiores pases, mais desenvolvidos einstrudos, com uma populao total de 150 milhes, no tinhamjuntos mais que aproximadamente 150 mil universitrios, umdcimo de 1% de suas populaes somadas. (No final dos anos1980) os estudantes eram contados aos milhes na Frana,Repblica Federal da Alemanha, Espanha e URSS..., isso sem falarno Brasil, ndia, Mxico, Filipinas e, claro, EUA, que tinham sidopioneiros na educao universitria de massa (Hobsbawm, 1995, p.290).

    Como se percebe pelos dados acima, este processo demassificao no era exclusivo do Primeiro Mundo, mas tambm se viapresente em alguns nichos de "desenvolvimento" no Terceiro Mundo, semesquecer do antigo mundo socialista. No Brasil, por exemplo, os 27 milestudantes universitrios em 1945 se transformariam nos 425 mil no ano de1970 (Reis Filho, 1998, p. 66; Martins Filho, 1998, p. 11-26).

    Mas esta reviravolta mais visvel tinha vinculao orgnica comoutra ainda mais importante: a transformao na "funo social" dasuniversidades, que passam a ser, de modo mais patente, centros de formaoprofissional e de mo-de-obra tcnica especializada. Um primeirocomponente da "crise da universidade" dos anos 1960 est dado: oconfronto entre o modelo tradicional e elitista, visando formar as "elites"intelectuais e polticas, e o modelo tecnicista-profissionalizante. Enquanto omodelo tradicional possua uma concepo contemplativa do saber, osegundo propunha a formao de tcnicos especializados em dadas reas dacincia aplicada, valorizando a cincia no seu aspecto instrumental.1

    Galbraith, em 1967, descrevendo a tecnoestrutura que passou adirigir as grandes empresas no capitalismo mundial de ento, demonstravaque a grande expanso nas matrculas para o ensino superior

    1 Segundo Michel Foucault, "Maio de 68 matou o ensino superior nascido no sculo XIX, essecurioso conjunto de instituies que transformou uma pequena frao da juventude na elitesocial" (apud Singer, 1997, p. 153).

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    principalmente nos EUA, mas no apenas se explicava pelo fato de que asnovas tecnologias, nas mos das grandes empresas, exigiam mo-de-obraespecializada, a ser formada, a partir de ento, pelas universidadesmassificadas (Galbraith, 1977). Apesar de Galbraith tomar como modelo,principalmente, os EUA, esta promiscuidade entre universidade, tecnologiae mercado era denunciada em outros pases, como na Itlia, em 1968, emque o documento produzido pela Comit de Agitao dos estudantes queocuparam a Universidade de Turim afirmava:

    A investigao cientfica na Itlia est organizada e dirigidadiretamente pelas indstrias e exclusivamente para seu proveito... Ospesquisadores da Universidade se convertem praticamente emdependentes da indstria que d a eles o encargo. Se a soma dadapara o financiamento da pesquisa demasiadamente grande, oinstituto de pesquisa se transforma praticamente em umdepartamento da oficina de projetos da indstria que financia econtrola a pesquisa, como o caso da maioria dos institutos daPolitcnica de Turim e de alguns institutos da Faculdade de Qumica(Documento estudantil produzido pela Comit de Agitao dosestudantes que ocuparam a Universidade de Turim, "Didattica erepressione", apud Viale,1969, p. 16).

    Enquanto isto, nos pases do "Terceiro Mundo", no apenas naAmrica Latina, mas tambm naqueles territrios recm-libertos doimperialismo ocidental, a educao superior passou a ser vista como umaespcie de garantia elite poltica e social. Classes populares e classesmdias, onde se desenvolveram, passaram a considerar a educao e noapenas a superior como parte nodal dos projetos familiares de "ascensosocial". No era evidente que a universidade estava deixando de serprodutora instantnea de novos quadros para as elites intelectuais epolticas. Logo, portanto, teria de vir a frustrao. Parte da rebeldiaestudantil dos anos 1960 , muito provavelmente, fruto mais ou menosinconsciente da frustrao de classes sociais mdias e subalternas diante dosresultados mais ou menos magros do investimento de recursos e deesperanas nos filhos que foram graduar-se. Provavelmente, mais que noPrimeiro Mundo, foi no Terceiro Mundo que mais se evidenciou estacontradio da universidade em sua relao com a nova estrutura dasociedade e da economia. Na verdade, cronologicamente, talvez excetuandoo caso particular da Universidade Livre de Berlim Ocidental, oasuniversidadew do Terceiro Muodo que a "questo universitria" comea agerar mais claramente movimentos estudantis que passariam, logo, acontestar todos os demais aspectos sociais, polticos e econmicos domundo nos anos 1960.

    Foram diversas as tentativas dos governos de implementarreformas universitrias, no apenas no Brasil, mas tambm em pases

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    "desenvolvidos" como a Frana (cujo Plano Fouchet, introduzido no final de1967, foi uma das causas do Maio de 1968), reformas estas que,simplesmente, tentavam adaptar as universidades a esta nova realidadeprofissionalizante e tecnicista. Nos trs "mundos", inclusive nasuniversidades da Amrica Latina e da antiga Iugoslvia, os estudantesviram-se em meio a um contraditrio processo de "reviravolta" dasuniversidades, processo do qual nem sempre puderam compreender aessncia. Contudo, em geral, foi da crtica condio da universidade quesurgiram os principais movimentos estudantis. Foi a partir da reflexo sobrea crise do ensino superior que os jovens partiram crtica de quase todas asquestes mais gerais sobre a sociedade, poltica e economia de sua nao edo globo. Os movimentos estudantis chegaram a considerar que, no fim, oque seria realmente importante aprender estava no apeoas fora dasuniversidades, como tambm era desconsiderado pelos professores de ento,nos anos 1960, temas como "a psicanlise, Vietn, o desenvolvimentoeconmico,... a difuso social e poltica da pesquisa filosfica etc. etc."((Documento estudantil produzido pela Comit de Agitao dos estudantesque ocuparam a Universidade de Turim, "Didattica e repressione", apudViale,1969, p. 24).

    Na viso dos movimentos estudantis, portanto, no se tratava deopor o elitismo massigicao, ou a cincia contemplativa razoinstrumental, mas sim, fundamentalmente, de pregar a politizao da cinciae a funo social da educao:

    Nossa preocupao no somente formar tcnicos, cientistas ouartistas, mas que eles tenham uma formao integral, com umafuno engajada, uma dimenso social, voltada para o progresso desua ptria, de liberdade para os homens, de humanizao para estemundo de todos os homens (Jorge Fagali Neto apud Revista DCEUSP Livre,, p. 1).

    Nos falam de "tratamento etiolgico". Nos falam de"profissionalismo assptico". So termos incompatveis... necessrio, como mdicos, que nos politizemos. necessrio quevelemos pela SADE DE TODOS OS HOMENS, no s dos quevo aos consultrios particulares e clnicas de luxo... O doutorGuevara2 no era um "profissional assptico" (Boletim informativode grupo de estudantes de medicina de Salamanca, em fevereiro de1968, apud. Garrig, 1970, p. 122).

    Estes dois relatos exemplificam a concepo generosa, masidealista e at elitista, que os movimentos estudantis tinham a respeito doseu papel na transformao da sociedade, de como deveria ser a relao 2 Referncia a Ernesto "Che" Guevara, mdico de naturalidade argentina, que foi brao direitode Fidel Castro na Revoluo Cubana que tomou o poder em 1959.

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    com as camadas populares e as comunidades. Como se ver adiante, estapostura s vezes elitista se chocar com outra concepo forte presente nointerior das ideologias destes movimentos, vindo do iderio das esquerdassocialistas: o poder da transformao social estaria nas mos das classesproletrias, transformao (ou "revoluo") esta da qual os estudantesparticipariam apenas como uma espcie de detonador, de estopim. Naverdade, talvez o mais profundo entre os vrios dilemas e contradiesenfrentados pelos movimentos estudantis nos anos 1960.

    Movimento estudantil e classes populares

    Entre os fenmenos scio-culturais que mais influenciaram osmovimentos estudantis dos anos 1960, destaco trs: o terceiro-mundismoexpresso pelas lutas dos povos do "Terceiro Mundo" pela independnciae/ou contra o imperialismo; as "novas esquerdas" (incluindo aquisocialismos heterodoxos como o foquismo e o maosmo); e ascontraculturas.

    Quanto ao tema aqui discutido, sobre a relao entre movimentoestudantil e comunidade, o terceiro mundismo apareceu expressoprincipalmente na forma da solidariedade prestada s lutas dos povosoprimidos em 1968, principalmente aos vietnamitas.

    No caso dos Estados Unidos, esta solidariedade significavatambm o apoio e at a participao nas lutas dos "povos oprimidosinternos", ou seja, dos movimentos dos negros norte-americanos. Aps asvitrias de Martin Luther King no final dos anos 1950, a estratgia dadesobedincia civil contra as leis discriminatrias recomearia, mais oumenos espontaneamente, em 1960, quando estudantes negros passaram afreqentar restaurantes reservados aos brancos. Logo, estudantes deuniversidades para negros em todos os Estados Unidos agitavam-se,invadindo pacificamente locais reservados para brancos e fazendo sit-ins(ttica de permanecer sentados no cho durante protestos proibidos, mesmodurante a represso policial, sem nunca resistir violentamente). Estas aeslogo passaram a ser organizadas por associaes como o SNCC (Comit deCoordenao Estudantil No-Violento) e o CORE (Congresso pelaIgualdade Racial), contando inicialmente com brancos ao lado dos negros,que tambm realizaram diversos programas de educao ao cidado comoparte delas, militantes viajavam aos Estados do Sul, onde o racismo eramais forte, para conhecer suas realidades e, ao mesmo tempo, participaremde programas sociais.

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    Contudo, na segunda metade dos anos 1960, duas tendnciasmudaram um pouco esta relao inicialmente promissora entre estudantesbrancos e movimentos negros. Primeiro, dada a violncia policial crescente mesmo contra protestos pacficos e a influncia das ideologias terceiro-mundistas e novo-esquerdistas que advogavam o uso da violncia, osmovimentos negros tenderam a legitimar o uso da violncia e seaproximaram, tambm, de uma concepo que considerava inconcilivel aconvivncia entre negros e brancos o que levou ao SNCC e o CORE adispensarem os voluntrios brancos. Segundo, os movimentos estudantis(brancos) norte-americanos passaram a se preocupar, sobretudo, com aquesto da Guerra do Vietn, um problema aparentemente mais distante era mais fcil ser solidrio com o diferente que estava distante a milhares dequilmetros e mais prximo eram os jovens quem estavam sendoconvocados para lutar e matar, e at morrer, numa guerra consideradairracional. Isto talvez explique o comportamento de um militante negrodurante o Congresso do SDS (Estudantes por uma Sociedade Democrtica),a mais importante organizao estudantil norte-americana na segundametade dos anos 1960, que afirmou veementemente:

    ... ns negros suspeitamos de vocs, os revolucionrios brancos,porque no estamos seguros da firmeza do seu compromisso. O quepreocupa vocs a Universidade, que abandonaro dentro de 4 ou 5anos, e vocs esto se evadindo do principal problema social... Umproblema que est fora do campus. Muitos negros como eu h tempoque abandonaram o campus, dando exemplo de como algum podesair do sistema. S acreditaremos em vocs quando deixarem de serestudantes. Enquanto seguirem considerando-se estudantescontinuaro jogando os jogos que jogam os estudantes... e estesjogos se jogam na Universidade (Garrig, 1970, p. 25).

    Trata-se de uma crtica radical estratgia da "reforma" dauniversidade, que cosidera esta instituio incapaz de realmente se engajarna resoluo dos problemas sociais mais imediatos do seu entorno. Contmuma crtica, justa at certo ponto, de que o movimento estudantil conseguiaser solidrio com povos distantes e discutir problemas de mbito geral commuito mais facilidade do que se engajar em lutas contra injustiasarraigadas na sua prpria sociedade, contra injustias sofridas por camadaspopulares vizinhas da prpria universidade.

    Assim, um grande paradoxo invadiu o movimento estudantil,principalmente, como na Amrica Latina, onde a influncia das ideologiasdas novas esquerdas era maior. Ele se referia relao do movimentoestudantil com as classes populares trabalhadoras.

    Mxico, Brasil, Frana, Alemanha, ex-Checoeslquia etc.tiveram, em 1968, movimentos estudantis que, no discurso e na prtica,

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    tentaram ir ao encontro das "classes populares" com diferentes graus desucesso. O movimento estudantil oscilava entre conceber o operrio e ocampons como lderes de uma revoluo em que o estudante deveria seengajar (a viso ortodoxa da luta de classes), ou conceber a si mesmo estudante como mobilizador e educador das massas populares (uma visoelitista do populismo). Contudo, principalmente a partir de 1968, as novasesquerdas estudantis tenderam a concluir que o capitalismo, o imperialismoe os regimes coniventes s poderiam ser vencidos atravs do recurso violncia. Com a violncia organizada, mesmo que em pequenos gruposterroristas, acreditavam estar contribuindo com a revoluo popular ou,ento, despertando nas camadas populares a conscincia revolucionria.Numa contradio inusitada, no mesmo momento que o movimentoestudantil conseguia inflamar o mundo, atravs da mobilizao em massa deestudantes, em geral apoiados pela populao, principalmente nas grandespasseatas nas principais cidades do mundo, a maior parte de seus lderes informados pelas novas esquerdas concebiam solues voluntaristas eviolentas de "revoluo".

    No Brasil, diante do apoio massivo de populares vindos noapenas das classes mdias s passeatas estudantis no incio de 1968,vrios lderes estudantis quiseram ler este fenmeno como prova dadisposio do povo de usar at mesmo a violncia para "derrubar aditadura" e combater o imperialismo: "As mais variadas parcelas do povosaram da passividade em que se viam e despertaram para a luta. No setrata de meras exploses passageiras, trata-se de uma ofensiva das foraspopulares revoltadas..." ("Ante Projeto de Carta Poltica para UNE", 1968,p. 1).

    Enquanto isto, na Frana, a partir de Paris, acontecia o famoso"Maio de 68". Destaca-se, na manh do dia 13, a Jornada Nacional deProtesto, convocada pelo movimento estudantil e as centrais sindicais contraa represso aos estudantes, numa passeata que reuniu entre 700 e 800 milpessoas. Iniciava-se a greve geral, que deveria durar apenas 24 horas nosplanos das centrais sindicais, mas que se estendeu para muito alm doesperado no seu auge, em 3 de junho, contou com 9 milhes de grevistasem todo o pas. Mas a greve foi refluindo a partir de ento, apesar dedesesperadas tentativas do movimento estudantil de estabelecer o contatodireto com as "bases" operrias. Diante dos acordos entre as centraissindicais principalmente a CGT, informada pelo poderoso partidocomunista francs com o patronato e o governo francs, e diante docontra-ataque das foras conservadoras da sociedade francesa, o movimentoestudantil e a greve geral foram se enfraquecendo, at desaparecer, e srestar, aparentemente, a fora renovada do governo conservador de De

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    Gaulle. Contudo, restou tambm a inesperada experincia de uma unio efmera no tempo, poderosa no espao entre estudantes e trabalhadores,principalmente os jovens operrios, que foram os ltimos a acatar a ordemde desmobilizao dada pelos comunistas franceses.

    No prprio antigo Bloco Sovitico se deram experincias deunio entre trabalhadores e estudantes, principalmente na ex-Checoslquia.A partir de revoltas estudantis, no final de 1967, iniciou-se o processo queculminaria na "Primavera de Praga", quando um novo secretrio geral dopartido comunista, Alexandre Dubcek, esboaria o projeto de um"socialismo com face humana", com intenso apoio da sociedade checo-eslovaca processo brutalmente interrompido pela invaso das tropassoviticas em agosto de 1968. Enquanto durou a primavera, os estudantesforam uma espcie de "vanguarda" na mobilizao da sociedade civil,tomando a frente na formao de organizaes autnomas em relao aopartido comunista. A partir de maro de 1968, os estudantes diretamente seencarregaram de agitar os meios operrios. No dia 13, estudantes daFaculdade de Filosofia em Praga publicaram a "Carta Aberta aosOperrios", rechaando as acusaes dos conservadores de que elesdesejavam "restaurar o capitalismo na Checoeslovquia, quer dizer, odesemprego, a fome e a pobreza" e apelando aos operrios para que, juntocom os estudantes, faam "a unio das foras progressistas da sociedade"(apud Brou, 1979, p. 64). Nos dias seguintes, foram feitos os primeiroscontatos entre fbricas e faculdades. O porta-voz dos metalrgicos de umafbrica declarou em uma assemblia estudantil: "Aqueles que so seusinimigos no so os verdadeiros operrios, so os parasitas, os burocratas dopartido que no sabem nem mesmo manejar uma chave-de-fenda" (apudBrou, 1979, p. 64-5).

    Aps a invaso pelas tropas russas e a tentativa de"normalizao" do paw ou seja, o retrocesso em relao s mudanasfeitas durante a primavera de Praga , os estudantes voltaram a agitar a vidapoltica, com intensas discusses, recriao de Parlamentos Estudantis econtatos com organizaes populares e comits operrios. Foi convocadauma greve geral em novembro de 1968, quando os estudantes ocuparam asunidades de ensino e, diante do silncio da imprensa, utilizaram acomunicao oral direta, panfletos e boletins mimeografados para expressarsuas idias. Delegaes de operrios se dirigiram s universidades,ocupadas pelos estudantes, para demonstrar solidariedade. Pressionadopelos russos, o governo ainda controlado por Dubcek pediu o fim dagreve, o que se deu no dia 20 de novembro de 1968.

    Quanto influncia das contraculturas, sua principal influnciaem relao ao tema aqui discutido se refere s universidades crticas e as

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    anti-universidades fenmeno em que foi igualmente importante ainfluncia das novas esquerdas. Tratarei desta questo mais adiante.

    Da questo universitria crtica poltico-social

    Influentes lderes estudantis nos anos 1960, como Daniel Cohn-Bendit (na Frana) e Mario Svio (em Berkeley, Estados Unidos),reconhecem que a questo universitria foi a ponta de lana que levou omovimento estudantil a questionar praticamente todas as instituies,valores e polticas da sociedade e do sistema mundial de ento:

    A crtica da universidade era uma crtica fundamentalmente poltica,to radical que colocava em questo toda a sociedade (Cohn-Bendit,1988, p. 49).

    A universidade o lugar onde as pessoas comeam seriamente aquestionar as condies de sua existncia e levantam o tema arespeito da maneira como podem se comprometer com a sociedadeem que nasceram (Savio, 1965, p. 181).

    A partir da insatisfao e protestos contra a "crise dauniversidade", os movimentos ampliaram seus questionamentos a ponto deabarcar praticamente todos os problemas sociais, como se os estudantes seconsiderassem a conscincia crtica de um sistema social que se auto-alienava diante das injustias econmicas e dos desmandos da geopolticada Guerra Fria.

    A abrangncia das preocupaes do movimento estudantil dosanos 1960 logo extrapolou o universo das unidades acadmicas, ainda que,como se viu, esta prxis em direo sociedade envolvente estivesse muitasvezes carregada de arrogncia, elitismo, populismo e pretenso. Certamente,informados pela condio juvenil que sobrevalriza a experimentao(mais do que a experincia) e a vivncia desabonada e idealista de aesque se acreditam transformadoras -, os movimentos estudantis foramcapazes de grande criatividade, foram ousados em prticas querevolucionaram (mesmo que apenas momentaneamente) as relaes deensino, as relaes cotidianas, as artes e os valores. Em si mesmos, osmovimentos estudantis eram uma forma de "educao comunitria", comoprticas de transformao social, como exemplos a serem seguidos ouinvejados por outros jovens e outros setores sociais. As reaes dos diversossegmentos sociais foram variadas entre os extremos do apoio entusiasta dapopulao s passeatas estudantis e da averso dos adultos que chegou acaracterizar um verdadeiro "conflito de geraes".

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    So os casos bem sucedidos de relao com outros setores sociaisque mais aqui nos interessam. Primeiro, justamente a integrao de diversossetores sociais com os estudantes nas passeatas. Este foi um fenmenomuito mais caracterstico dos movimentos do Terceiro Mundo,principalmente na Amrica Latina como Mxico e Brasil, casos em que omanifesto estudantil representava diversos graus de insatisfao e demandasda sociedade civil em seu todo contra regimes autoritrios. Um lderestudantil de Minas Gerais, em 1968, afirmava cruamente que o assassinatodo estudante Edson Lus estopim do movimento estudantil brasileiro em1968 era parte das comemoraes do quarto ano do golpe militar de 1964,e provocava: "Devemos nos calar, devemos nos largar em nossas salas deaula? Devemos nos largar nas Universidades, ou em nossas residncias,enquanto companheiros nossos, irmos nossos foram ontem assassinadosviolentamente na Guanabara, por uma polcia orientada, por um governoorientado, por uma ditadura orientada? Ns achamos que no".3 O relatorepresenta os estudantes se colocando na responsabilidade de tomarem afrente na luta contra um regime imposto pela fora, ilegtimo, carregandoem seus ombros a misso de toda uma sociedade civil.

    Em 26 de junho de 1968, na cidade do Rio de Janeiro, aconteceuo mais importante evento do movimento estudantil brasileiro de 1968, aPasseata dos 100 Mil. Foi uma marcha pacfica de uma multido formadano s por estudantes, mas pela populao da metrpole, com o apoio dediferentes categorias sociais, em destaque as classes mdiasintelectualizadas. Notas de solidariedade aos estudantes foram feitas pororganizaes das mes de alunos, professores, jornalistas, servidorespblicos, a Ordem dos Advogados do Brasil, setores do clero etc. (Dirceu &Palmeira, 1998).

    Na Cidade do Mxico, por sua vez, no dia 13 de setembro domesmo ano, o movimento estudantil convocou a "Marcha do Silncio".Uma quase surrealista passeata, com centenas de milhares de pessoas emcompleto silncio, foi organizada para provar que o movimento estudantilno era formado por arruaceiros e vndalos, como queria fazer crer ogoverno mexicano, mas sim por jovens organizados e com objetivos claros:"Parecia que estvamos pisoteando toda a verborragia dos polticos, todosos seus discursos, sempre os mesmos, a demagogia, a retrica, o monte depalavras que os fatos jamais respaldavam... amos varrendo tudo debaixo denossos ps" (Luis Gonzlez de Alba, delegado do CNH (Conselho Nacionalde Greve), apud Poniatowska, 1987, p. 60).

    3 Jorge Batista, em programa da Rdio Itatiaia, de Belo Horizonte, em 29 de maro de 1968.

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    Perspectivas de ao comunitria

    Os movimentos estudantis, nos anos 1960, esboaram diversasprticas e rascunharam concepes do que hoje conhecido como"educao comunitria". Procuro, abaixo, discutir alguns exemplos dasprticas esboadas a partir dos movimentos estudantis, tentando caracterizarque concepo ou concepes de educao comunitria emanavam doradicalismo estudantil da dcada de 1960.

    J no incio dos anos 1960, no Brasil, a Unio Nacional dosEstudantes (UNE) e os estudantes participaram de vrias aes de educaoe cultura popular, principalmente no Nordeste, como o Movimento deCultura Popular, de Paulo Freire, vinculado Prefeitura de Recife, e oMovimento de Educao de Base, criado pelo CNBB (ConfederaoNacional dos Bispos do Brasil). Em Natal (RN), por exemplo, com aparticipao ativa dos estudantes da esquerda catlica "ao lado dasatividades de coordenao, treinamento, produo e transmisso de aulasradiofnicas, o Sistema Natal chegou a compor folhetos de cordel, comoinstrumento a ser utilizado na tarefa de conscientizao do trabalhadorrural" (Silva, 1989, p. 87). Como se sabe, tais campanhas, muito combatidaspor setores tradicionais da sociedade antes mesmo do regime militar, foramreprimidas e silenciadas com o golpe de 1964.

    Outra ao muito importante foi o Centro Popular de Cultura(CPC), organizado pela UNE no Rio de Janeiro, em 1961. Peas teatrais,shows musicais, filmes de cinema, folhetos de cordel e revistas foramproduzidos durante os poucos anos de ao do CPC. O CPC representava aintegrao entre arte, cultura e movimentos estudantis que atingiria seuauge, em todo o mundo, na segunda metade dos anos 1960 com destaque Contracultura. Se a idia do CPC era a de produzir uma "arte popular" queseria instrumento de conscientizao poltica das classes trabalhadoras numa proposta que misturava populismo e elitismo com generosidade , oCPC se notabilizou principalmente por animar encontros e reunies deestudantes promovidos pela UNE em todo o pas.

    Durante o movimento estudantil mexicano de 1968, foi criadoum notvel instrumento de propagao das idias e demandas domovimento: eram as "brigadas estudantis". Cada brigada reunia de 8 a 15estudantes, sob a coordenao de uma organizao criada especialmentepara o movimento, o CNH (Conselho Nacional de Greve). Entre asatribuies dos brigadistas, coletar dinheiro entre a populao da capitalpara sustentar o movimento e realizar pequenos comcios-relmpagos nasruas, nibus, mercados, bairros operrios e fbricas. Tambm se formarambrigadas mdicas, para atender feridos pela polcia durante manifestaes, e

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    brigadas com funes logsticas, como a de suprir as necessidades dosdelegados do CNH durante suas longas assemblias. Segundo dados,chegaram a funcionar simultaneamente mais de 800 destas brigadas (JorgeCarrin et. al., 1969):

    Nas escolas nos organizvamos da seguinte forma: ao terminar asassemblias nos reunamos em trs salas e nos pnhamos de acordosobre os lugares que devia se dirigir cada brigada, repartamos ossacos para coletar o dinheiro e a propaganda que necessitvamos. interessante assinalar que nestes dias se repartiam aproximadamente600 mil panfletos dirios e juntvamos de mil a dois mil pesosdirios. Ademais, nos comcios relmpagos, j no falvamos apenasns, mas tambm convidvamos o povo a tomar a palavra (SalvadorMartnez de la Roca apud Poniatowska, 1987, p. 33).

    Os panfletos distribudos pelas brigadas ewtudantis logopassaram da publicizao das demandas estudantis para a tarefa deconscientizar a populao sobre os problemas polticos (como o regimeautoritrio travestido de democracia revolucionria) e os problemas scio-econmicos (como a extrema desigualdade social e a excluso de enormesmassas populares).

    O movimento mexicano logo teve ao seu lado o apoio deprofessores e autoridades acadmicas. Mas quando o movimento migrouseu epicentro para o bairro de Tlatelolco aps a ocupao do campus daUniversidade Autnoma do Mxico pelo exrcito , o principal apoio socialpassou a vir dos moradores deste bairro de classe mdia, onde moravamvrios professores, funcionrios pblicos e pais dos estudantes das escolassecundrias a instaladas. Gerou-se em Tlatelolco uma verdadeiraintegrao entre estudantes universitrios e secundaristas e moradores.Os moradores chegaram a auxiliar os estudantes nos seus conflitos com asforas policiais, fornecendo "munio" em forma de pratos, garrafas e guafervente que eram jogados contra os policiais, ou informando aosestudantes, do alto dos prdios, a posio das tropas. Havia tambm umaorganizao de pais de famlia e vizinhos que apoiavam os estudantes e atos defendiam durante os ataques dos policiais e soldados (Poniatowska,1987). Entretanto, no final da tarde de 2 de Outubro de 1968, cerca de 10mil soldados do exrcito atacaram os estudantes reunidos em Tlatelolco,disparando durante pelo menos meia hora contra os manifestantes, fazendopelo menos 400 mortos e milhares de presos.

    Um outro interessante caso de inter-relao entre populao eestudantes se deu no Maio de 68 em Paris. No dia 11, diante do fracasso deuma nova tentativa de ocupar a Universidade de Sorbonne, os estudantesresolveram ocupar o Teatro Odon, onde foi inscrita a famosa frase "aimaginao no poder". O Comit de Ao Revolucionria que ocupou o

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    Teatro Odon teria afirmado que seu objetivo era "a sabotagem sistemticada indstria cultural, em particular do espetculo, a fim de deixar livreespao a uma verdadeira criao coletiva" (Dumazedier, 1968, p. 64).Foram promovidos no teatro verdadeiros psicodramas coletivos, quandopessoas comuns, jovens ou adultas, subiram no palco e expuseramlivremente seus pensamentos e experincias, diante da platia abarrotada deouvintes, que reagiam com aplausos, apupos ou desaprovaes, numaverdadeira terapia de grupo.

    Durante o Maio de 68 francs um outro fenmeno importante quando novamente pessoas comuos se integraram ao movimento estudantil foi a produo de cartazes pelo Ateli Popular, um "anrquicoinstrumento de propaganda dos manifestantes", criado aps a invaso daEscola de Belas Artes de Paris. Quase todos os cartazes continham umafrase de efeito e desenhos monocromticos simples, nos quais frase edesenho combinavam-se para criar sentidos inesperados e bem humorados.Qualquer interessado poderia participar, de modo que a grande maioria doscartazes foi fruto da criao de "pessoas annimas, que passavam por l". Ouso de uma tcnica simples, a serigrafia, facilitava isto. Cerca de 1 milhode cartazes foram produzidos durante um ms, produo interrompidaquando a polcia desocupou a Escola (Fraga, 19/05/1968).

    O maior desejo dos estudantes quase sempre foi o de "mobilizar"as classes trabalhadoras. No Rio de Janeiro, segundo Vladimir Palmeira, oprincipal lder estudantil fluminense de ento, quase todas as passeatasestudantis passavam ou terminavam na Central do Brasil, terminalferrovirio que liga o centro do Rio aos subrbios: "A Central se tornarauma tradio para ns, uma espcie de marca registrada, porque em volta daestao se reunia o pessoal mais pobre, a massa de operrios indo ouvoltando dos subrbios, e por isso costumvamos terminar l nossaspasseatas" (Vladimir Palmeira apud Dirceu & Palmeira, 1998, p. 92-3).

    No Mxico, os estudantes preocuparam-se com a populaopobre e miservel do interior do pas, principalmente os camponeses. Apreocupao, em geral, gerou mais discursos apologticos do que aesefetivas. Mas em pelo menos um caso foi-se para alm da retrica, nopovoado de Topilejo, prximo do Distrito Federal. Em agosto de 1968, umdos nibus que fazia a ligao deste povoado com a Cidade do Mxicosofreu um acidente, com vrios mortos e feridos. A empresa queria pagaruma pequena indenizao s famlias dos mortos. Os habitantes do vilarejose indignaram e comearam a reter os carros desta empresa, exigindo amodernizao destes veculos, a melhoria da estrada e uma maiorindenizao. "Ento o povo, reunido em assemblia, decidiu recorrer aosestudantes. Foram expor seu problema Escola Nacional de Economia da

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    UNAM (Universidade Autnoma do Mxico) e, ao invs de discuti-lobrevemente, os estudantes resolveram ajudar em tudo que fosse possvel aTopilejo" (Gilberto Guevara apud Poniatowska, 1987, p. 45). Um nibus daUNAM passou a refazer a linha interrompida pela empresa, enquantoestudantes de enfermagem, agricultura, servio social e medicina foram aopovoado prestar servios de orientao. Os camponeses do vilarejoformaram uma nova comisso para sua luta, com a participao deestudantes, fazendo a empresa recuar e prometer, primeiro, uma melhorindenizao e, aps a chegada de novas brigadas estudantis, tambmmodernizar seus veculos. Enquanto isto, autoridades prometiam a melhoriada estrada. Porm, este parece ter sido o nico contato mais srio domovimento estudantil com a massa desprivilegiada de que tanto falavam.

    Provavelmente, o caso mais forte de converso da rebeldiaestudantil em uma forma de "educao comunitria" na verdade, maisprximo do que seria um trabalho de "promoo social" os EstadosUnidos. nos Estados Unidos que o mpeto dos movimentos estudantisparece ter gerado mais aes efetivas com as "comunidades". Experinciasmuitas vezes inusitadas, mas principalmente variadas e criativas. OsEstados Unidos, desde os prprios anos 1960, quase imediatamenterenderam frutos no que seria a transformao dos anseios da juventuderebelada nas universidades em "educao comunitria", em projetos eprticas que, assim como nos aspectos de atuao poltica direta dosmovimentos estudantis, ilustram tambm os limites e as possibilidades, aansiedade e a generosidade, os rancores e os desejos da onda mundial derevoltas dos anos 1960.

    Andrs Garrig (1970) demonstrou como, nos Estados Unidos,no final dos anos 1960, muitos estudantes rebeldes partiram para trabalhosde benefcio social, ingressando em diversas instituies de promoo socialcriadas pela sociedade civil, ou formando suas prprias instituies,inclusive dentro das universidades. Ele conta mais de duas mil instituiesdeste tipo, na sua maior parte criada pelos prprios estudantes, com diversosmtodos de trabalho, da alfabetizao de crianas rfs e adolescentes emconflito com a justia presso poltica para reformar a instituio deensino. So muitos os exemplos retratados, nem todos originados a partir doradicalismo do movimento estudantil, outros procurando canalizar arebeldia juvenil (como os Corpos de Paz, criados por John Kennedy). Porexemplo, o Conselho de Voluntrios das Montanhas do Sul estimulava asfamlias pobres dos Apalaches a utilizar melhor os recursos oferecidos pelogoverno, inclusive fazendo com que estudantes voluntrios vivessem comfamlias locais. Outras associaes trabalhavam em comunidades pobres debrancos, com estudantes que se empregam em fbricas procurando

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    conscientizar os pobres sobre como evitar o recrutamento do exrcito. OArmy 10 Project mobilizava estudantes para o trabalho social em cidadesque tinham bases militares, tentando conscientizar os soldados sobre oabsurdo que era a Guerra do Vietn. O American Friends Service Committe,por sua vez, procurava fazer um trabalho social em relao s classesmdias, buscando "eliminar o complexo de frustrao individual e deisolamento, mediante sua participao em atividades que tenham sentidopara sua vida" (Garrig, 1970, p. 95), como grupos de discusso e festivaisartsticos e, principalmente, a conscientizao contra o forte racismoimpregnado. Tambm hawia programas para jovens de origem latino-americana que estavam fora da escola, oferecendo-lhes tutores e animandosua cultura latina. Os estudantes negros, por sua vez, organizavamcampanhas paralelas, como os Institutos de Estudos Negros, tutorias negrase associaes anti-recrutamento. Em vrias universidades, os estudantesanimavam a formao de comunidades e cooperativas, como naUniversidade de Oxford, Estado de Nova Iorque, onde foi criada umaSociedade para a preservao dos costumes americanos primitivos, quecultivava uma granja e adotava como estilo de vida a pobreza voluntria emuma vida rural simples. J o Programa de Desenvolvimento de Cooperativasdo Sul tinha o objetivo de organizar pobres brancos e negros comcooperativas que produziam e distribuam alimentos, em que os estudantestrabalhavam como contadores, gerentes, empregados ou diretores demarketing.

    Outro importante fenmeno em que se podem interpretar asperspectivas do movimento estudantil em relao comunidade, so asocupaes de unidades estudantis. Inicialmente realizadas, em geral, comoforma de presso contra autoridades acadmicas e polticas, vrias vezestransformaram as universidades ocupadas em locais de experimentao denovas formas de ensino. Em geral, o que se pretendia era criar umauniversidade aos moldes dos desejos e interesses dos estudantesmobilizados promovendo cursos e eventos na medida de suas demandas,ministrados por convidados ou pelos prprios estudantes. Mas, muitasvezes, estas iniciativas abriram as unidades de ensino para as pessoascomuns inclusive as comunidades envolventes , para participarem decursos e eventos de diversos tipos, alguns especialmente dirigidos para apopulao no estudantil.

    No ms de julho de 1968, quando deveriam ocorrer as friasescolares, muitas das faculdades do Rio de Janeiro e de So Paulocontinuaram repletas de estudantes. Destacava-se a Faculdade de Filosofiada Universidade de So Paulo, ocupada pelos estudantes. O jornal da UnioEstadual de Estudantes de So Paulo anunciava que "a ocupao das

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    Faculdades tem um sentido eminentemente poltico" (Jornal da UEE, julhode 1968, p. 8). As atividades programadas para o ms de julho incluamdiscusses para a reformulao dos cursos, discusses polticas, cursos-piloto, conferncias e a preparao do Congresso da Unio Nacional dosEstudantes da UNE.. No jornal eram anunciados tambm shows musicais,filmes e peas de teatro.

    Nas lembranas de Jos Dirceu, que presidia ento a UnioEstadual dos Estudantes de So Paulo, as faculdades ocupadastransformavam-se em verdadeiras "repblicas livres, onde se fazia poltica,arte, cultura e at se estudava":

    L comamos e bebamos, fazamos reunies, eventos, conferncias;l dormamos e namorvamos. Milhares de estudantes circulavampelos ptios e corredores, era uma verdadeira feira, em ebuliopermanente. Festivais, aulas paralelas, seminrios, exposies,cineclube... Imagine o que era uma universidade ocupada em 68.Parecia que estvamos diante do embrio de uma sociedadediferente, inaugurando novas formas de relacionamento e decooperao entre as pessoas. Aquilo era uma festa (Jos Dirceu apudDirceu & Palmeira, 1998, p. 120-1).

    Nos Estados Unidos, nas universidades de Cornell, Boston, Ohio,Berkeley e Columbia os estudantes tambm ocuparam as universidades emabril de 1968. Destacou-se a ocupao da Universidade de Columbia, emNova York, em 23 de abril. Os estudantes chegaram a manter o reitordurante alguns momentos como refm, protestando contra os vnculos dauniversidade com uma instituio militar (evocando a questo da Guerra doVietn) e contra prticas consideradas segregacionistas a universidadeconstrura um ginsio vizinha ao bairro negro do Harlem, cujos moradoresforam relegados a espaos marginais, reservando-se os melhores espaosexclusivamente para os alunos da universidade. O movimento estudantiladeriu s reclamaes de jovens extremistas da comunidade negra e ops-se prtica de segregao.

    Dos movimentos juvenis dos anos 1960, para alm da questo dareforma ou revoluo da universidade, surgiram as universidades crticas eas anti-universidades. Um exemplo nos Estados Unidos foi a MidepeninsulaFree University, em Palo Alto, estado norte-americano de Califrnia, umauniversidade dirigida pelos prprios estudantes, sem edificaes, sem notas,exames, reitores, decanos, catedrticos, sem burocracias e nem o conceitode disciplina,. Na declarao de princpios da fundao desta universidadelivre, destacam-se como valores a liberdade de investigao, a auto-programao individual da educao, a viso qualitativa da educao contraa concepo quantitativa (que mede a educao em unidades, notas e graus),a elevao da conscincia e, enfim, dois princpios que apontam para duas

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    direes diferentes: "a educao que no tem conseqncias para a aosocial ou para o desenvolvimento pessoal vazia"; "o estado natural dohomem a contemplao exttica" (Garrig, 1970, p. 70-1).

    O primeiro princpio alude aos desejos das novas esquerdas deuma universidade aberta para as populaes trabalhadoras. O segundo,reflete a "invaso" das universidades crticas pelas contraculturas (algo maisforte oo Estados Unidos, mas observado tambm na Europa). Ascontraculturas logo passaram a dar o tom dos cursos dados nas anti-universidades norte-americanas. Curiosamente, atingiam tais universidadeslivres uma instigante relao com as comunidades envolventes asuniversidades se tornavam locais de atrao de jovens hippies e beatniks,que vinham oferecer ou fazer cursos sobre esoterismos, exotismos,filosofias transcendentais etc.. Muitas universidades, como a unidade deBerkeley, da Universidade da Califrnia, viviam envoltas por comunidadesde jovens e adultos ligados contracultura, que participaram ativamente dosmovimentos estudantis e ajudaram a inserir neles suas experinciasalternativas, enriquecendo e tornando ainda mais complexas asperspectivas de integrao dos movimentos estudantis com a comunidade.

    Concluso

    Nos anos 1960 se tornou evidente a massificao dasuniversidades, inclusive no antigo mundo socialista e no "Terceiro Mundo".Na verdade, um sintoma do novo papel atribudo ao ensino superior nassociedades industriais, em que as "novas classes mdias" deveriam ocuparfunes de carter tcnico especializado e qualificado, seja na indstria, sejano setor de servios. A um primeiro choque entre a concepo tradicional/elitista da universidade e a concepo moderna/ tecnicista, soma-se umconflito mais importante ainda, nos anos 1960, de ambas estas concepescontra a viso politizante dos movimentos estudantis, que advogavam umafuno, antes de tudo, social da universidade e dos profissionais formadospor ela.

    Foi nesta instituio em expanso, mas em crise de identidade elegitimidade a universidade , que se deu o incio dos movimentos juvenisdos anos 1960, uma verdadeira onda mundial de revoltas, que, apesar daenorme diversidade e complexidade de eventos, organizaes, temas, lemase interesses, estavam unidos em torno de questes essenciais comuns.Questes estas no apenas relativas crise da universidade, masprincipalmente em relao ao contexto geopoltico gerado pela Guerra Fria.

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    Os estudantes universitrios de ento assim como hoje muitasvezes vindos de fora das comunidades que envolviam as unidadesacadmicas, mesmo quando despertos para a participao scio-poltica,tendiam a falar e agir mais em prol das questes gerais da sociedade epoltica em mbitos nacional e internacional do que em relao aosproblemas imediatos do entorno das universidades. Inclusive, h casos emque uma interessante inter-relao inicial entre movimento estudantil emovimento de minorias logo recrudesceu como nos Estados Unidos, entreestudantes radicais brancos e movimentos dos afro-americanos.

    Ainda assim, como dito, houve vrias aes reais de integraoentre movimentos estudantis e comunidades envolventes durante a ondamundial de revoltas dos anos 1960. Mas, principalmente, uma torrente deboas intenes e perspectivas criativas de "educao comunitria". Aes,intenes e perspectivas que derivam da real ou desejada integrao dosestudantes na "revoluo popular" de onde emerge tambm o dilema ques vezes paralisaria esta integrao entre estudantes e classes populares: osestudantes deveriam dirigir a revoluo popular, ou servir somente comoestopim para a transformao social dirigida diretamente pelostrabalhadores? Nos extremos do elitismo populista e da viso ortodoxa daslutas de classe, entretanto, muitas foram as aes efetivas dos estudantes eseus movimentos, como se discutiu.

    Para os militantes dos movimentos juvenis de hoje, os anos 1960talvez tragam, como "lio", no apenas o que seus estudantes radicaisefetivamente fizeram (e tentaram fazer), mas tambm o que no fizeram (ouno fizeram na intensidade necessria). A distncia histrica ajuda a tornarmais consciente a necessidade de se trabalhar tambm com a comunidade,com o mbito do local e do micro, e no apenas contemplar as questesmais gerais, do mbito do macro (nacional e global). Talvez melhor, revela-se a necessidade de partir do local e do comunitrio enfocando seusproblemas para alcanar o nvel do geral e do global.

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    Recebido em: 17/07/2005Aceito em: 20/04/2005