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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO DOUTORADO EM ODONTOLOGIA INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DE CLOREXIDINA EM ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES NA RESISTÊNCIA DE UNIÃO EM DENTINA SADIA LETÍCIA BUSANELLO Orientador: Prof. Dr. Danilo Antonio Duarte Tese apresentada ao Doutorado, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Odontologia. SÃO PAULO 2014

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UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

DOUTORADO EM ODONTOLOGIA

INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DE CLOREXIDINA EM

ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES NA RESISTÊNCIA DE

UNIÃO EM DENTINA SADIA

LETÍCIA BUSANELLO

Orientador: Prof. Dr. Danilo Antonio Duarte

Tese apresentada ao Doutorado, da Universidade Cruzeiro do Sul, como parte dos requisitos para a obtenção do título de Doutora em Odontologia.

SÃO PAULO

2014

AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.

FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA BIBLIOTECA CENTRAL DA

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

B982i

Busanello, Letícia. Influência da incorporação de clorexidina em adesivos

autocondicionantes na resistência da união em dentina sadia / Letícia Busanello. -- São Paulo; SP: [s.n], 2014.

35 p. : il. ; 30 cm. Orientador: Danilo Antonio Duarte. Tese (doutorado) - Programa de Pós-Graduação em

Odontologia, Universidade Cruzeiro do Sul. 1. Dente decíduo 2. Clorexidina - Efeitos 3. Resistência de união

(Odontologia). I. Duarte, Danilo Antonio. II. Universidade Cruzeiro do Sul. Programa de Pós-Graduação em Odontologia. III. Título.

CDU: 616.314(043.2)

UNIVERSIDADE CRUZEIRO DO SUL

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

INFLUÊNCIA DA INCORPORAÇÃO DE CLOREXIDINA EM

ADESIVOS AUTOCONDICIONANTES NA RESISTÊNCIA DE

UNIÃO EM DENTINA SADIA

LETÍCIA BUSANELLO

Tese de doutorado defendida e aprovada

pela Banca Examinadora em 12/11/2014.

BANCA EXAMINADORA:

Prof. Dr. Danilo Antonio Duarte

Universidade Cruzeiro do Sul

Presidente

Profa. Dra. Renata de Oliveira Guaré Romano

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Wanessa Christine de Souza Zaroni

Universidade Cruzeiro do Sul

Profa. Dra. Monique Saveriano De Benedetto

Faculdade São Leopoldo Mandic

Profa. Dra. Adriana Furtado de Macedo

Associação Paulista dos Cirurgiões Dentistas

DEDICATÓRIA

À minha filha Bruna

Por entender minha ausência e sempre me apoiar. Ë

pra VOCÊ!

Ao meu irmão Rafael

Pela incansável dedicação ao me auxiliar. Obrigada!

Aos meus pais Leodózio e Antoninha

Por sempre exigirem o máximo de mim.

À minha cunhada Cléris

Por ter cedido seu tempo para me ajudar.

Ao meu professor Danilo

Por não ter desistido de mim. Obrigada!

AGRADECIMENTOS

A Deus Por ter me dado a oportunidade de viver este momento. Ao meu Prof. Dr. José Carlos Pettorosso Imparato Por ter lembrado de mim e, pelas oportunidades que me concedeu. Ao meu Prof. Dr. Danilo Antonio Duarte Pela conclusão deste sonho e por ter sido muito mais do que um professor. Aos meus colegas, Rodrigo Beledeli, Rogério Solimam e Fernanda Menegati Por sempre me incentivarem a concluir esta etapa. As minhas queridas colegas de doutorado Pelas mensagens de apoio no momento de ansiedade. A Prof. Célia Regina Antonio Por ter me orientado na redação final da tese. Ã Universidade de Passo Fundo Em especial aos amigos e colegas do laboratório de Pós Graduação, por disponibilizarem o espaço físico e o uso dos equipamentos para a realização desta pesquisa.

Busanello L. Influência da incorporação de clorexidina em adesivos autocondicionantes na resistência de união em dentina sadia [tese]. São Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul; 2014.

RESUMO

O objetivo do estudo foi avaliar o efeito da incorporação de digluconato de

clorexidina 20%, diretamente ao primer do sistema adesivo autocondicionante,

Clearfil SE Bond, da Kuraray, gerando duas diferentes concentrações de 0,1% e 1%,

na resistência de união à dentina de dentes decíduos, imediatamente e após seis

meses. O estudo foi composto de seis condições experimentais, de acordo com a

combinação dos seguintes fatores: tratamento da dentina (3 níveis) e tempo (2

níveis). Foram utilizados 42 molares decíduos humanos hígidos esfoliados.

Posteriormente aos procedimentos restauradores, os dentes foram armazenados em

água destilada a 37%C por 24 horas, para então, serem submetidos a cortes

seriados gerando os corpos-de-prova. Imediatamente após a obtenção dos corpos-

de-prova, metade destes foram submetidos a testes de microtração na máquina de

ensaios Emic. A outra metade, ficou armazenada por 6 meses em saliva artificial

para serem testados. Os dados obtidos nas avaliações foram submetidos ao teste de

ANOVA e Tukey. O estudo apresenta como resultado a confirmação de que a

Clorexidina diluída em diferentes concentrações no primer do sistema adesivo, como

forma de prevenção da degradação da interface adesiva, não influenciou nos valores

de resistência de união à dentina de dentes decíduos imediatamente e após 6

meses de acompanhamento.

Palavras-chave: Clorexidina, Resistência de união, Microtração, Dentes decíduos.

Busanello L. Chlorhexidine incorporation Influence of self-etch adhesives in the bond strength in sound dentin [tese]. Sao Paulo: Universidade Cruzeiro do Sul; 2014.

ABSTRACT

The objective of the study was to evaluate the effect of incorporation digluconate

chlorhexidine 20%, directly to the primer self-etching adhesive system, Clearfil SE

Bond, Kuraray, generating two different concentrations of 0.1% and 1%, the bond

strength to dentin of deciduous teeth, and immediately after six months. The study

was composed of six experimental conditions, according to the combination of the

following factors: treatment of dentin (3 levels) and time (2 levels). 42 exfoliated

human primary molars were used. Later the restorative procedures, teeth were

stored in distilled water at 37% C for 24 hours, then, be submitted to serial sections

generating the bodies of the test piece. Immediately after obtaining the bodies of the

test piece, half of these were submitted to microtensile test in Emic testing machine.

The other half was stored for 6 months in artificial saliva to be tested. The data

obtained in the evaluations were submitted to ANOVA and Tukey test. The study has

resulted in the confirmation that the diluted chlorhexidine in different concentrations

in the primer adhesive system, in order to prevent the degradation of the adhesive

interface, did not influence the bond strength values to dentin of primary teeth

immediately and after 6 months monitoring.

Keywords: Chlorhexidine, Bond strength, Microtensile, Teeth deciduous.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Fluxograma sobre Materiais e Método ................................................. 17

Figura 2 Clearfil SE Bond – Kuraray, Osaka, Japan. .......................................... 18

Figura 3 Digluconato de Clorexidina 20% ........................................................... 19

Figura 4 Eppendorfs com concentrações de 0,1% e 1% de digluconato de

Clorexidina .............................................................................................. 20

Figura 5 Resina Composta Filtek Z250 – 3M/ESPE, St. Paul, USA. ................... 21

Figura 6 Máquina de Corte de Tecidos Duros Struers Minitom ........................ 22

Figura 7 Máquina de Ensaios EMIC para Microtração ....................................... 23

Figura 8 Realização do Teste ............................................................................... 24

Tabela 1 Medidas de tensão de ruptura por tração da dentina (MPa). Média

(desvio padrão) ....................................................................................... 25

Tabela 2 Resultado da Análise de Fraturas (Tempo Imediato) .......................... 27

Tabela 3 Resultado da Análise de Fraturas (Após 6 Meses) .............................. 27

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .................................................................................................... 9

2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................ 11

3 PROPOSIÇÃO .................................................................................................. 16

4 MATERIAIS E MÉTODOS ................................................................................ 17

4.1 Seleção e preparo dos dentes ....................................................................... 17

4.2 Preparação do primer do adesivo autocondicionante ................................ 18

4.3 Procedimento adesivo .................................................................................... 20

4.4 Procedimento restaurador ............................................................................. 21

4.5 Preparo dos corpos-de-prova ........................................................................ 21

4.6 Ensaio de microtração dos corpos-de-prova ............................................... 23

4.7 Análise estatística ........................................................................................... 24

5 RESULTADOS ................................................................................................. 25

6 DISCUSSÃO..................................................................................................... 28

7 CONCLUSÃO ................................................................................................... 31

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 32

ANEXOS ................................................................................................................... 35

9

1 - INTRODUÇÃO

A investigação de fatores responsáveis pela degradação das estruturas da

adesão tem sido estudada pelos pesquisadores da área odontológica (SANTERRE

et al., 2001). A expectativa é que se possa evitar a substituição de restaurações de

resina pelo conhecimento dos mecanismos responsáveis pela preservação delas em

boas condições clínicas. Também é preciso levar em consideração as diferenças

morfológicas das dentições decíduas e permanentes (PASHLEY; CARVALHO, 1997;

HOSOYA; MARSHALL, 2005). Evidências científicas sugerem que o

comprometimento da interface adesiva dentina/resina é provavelmente a maior

causa da perda de adesão (HASHIMOTO et al., 2000; LOGUERCIO et al., 2005;

CARRILHO et al., 2005).

Autores sugerem que há contribuição de proteinase do hospedeiro na

patogênese da cárie dental (TJÄDERHANE et al., 1998; SULKALA et al., 2002; VAN

STRIJP et al., 2003,). Pesquisas demonstram que a degradação das fibrilas

colágenas possa ser acelerada pela presença de enzimas endógenas conhecidas

como metaloproteinases (MMPs), mesmo na ausência de bactérias (HASHIMOTO et

al., 2003; PASHLEY et al., 2004; HEBLING et al., 2005; CARRILHO et al., 2007a).

As MMPs, segundo Bourd-Boittin et al., 2005, são um grupo de 23 enzimas que

apresentam atividade metabólica de remodelação e degradação de vários tipos de

colágenos. A dentina humana contém colagenase (MMP 8), gelatinase (MMP 2 e 9)

e enamelase (MMP 20) (MARTIN DE LAS HERAS et al., 2000; MAZZONI et al.,

2006; SULKALA et al., 2007). Em função do processo de mineralização da dentina,

estas enzimas ficam retidas na matriz extracelular em estado latente (TJÄDERHANE

et al., 1998), mas podem ser ativadas se, por alguma razão, a dentina for

desmineralizada (FUKAE et al., 1991), como por exemplo, no condicionamento ácido

da dentina.

Ambos, sistemas adesivos convencionais e sistemas adesivos

autocondicionantes, possuem acidez e capacidade de liberar e ativar

metaloproteinases endógenas durante os procedimentos adesivos (MAZZONI et al.,

2006). Dessa forma, pode-se esperar que essas enzimas possam ser liberadas no

10

processo de degradação do colágeno exposto pelo procedimento adesivo, suspeita

que merece estudos mais profundos.

A baixa, porém persistente atividade endógena colagenolítica pode ser

completamente bloqueada pelo uso de inibidores de protease, indicando que a

inibição das MMPs pode ser benéfica na preservação da camada híbrida (PASHLEY

et al., 2004). Estudos têm demonstrado que o uso de clorexidina, um potente agente

anti-proteolítico, melhorou significativamente a integridade da camada híbrida e

resistência de união em sistemas adesivos convencionais (HEBLING et al., 2005;

BRACKETT et al., 2007; CARRILHO et al., 2007a, BRESCHI et al., 2009;

LOGUERCIO et al., 2009). No entanto, a preservação da resistência de união

quando a clorexidina é aplicada ao sistema adesivo autocondicionante ainda não é

clara.

Zhou et al. 2009, descreveu a influência da clorexidina incorporada no primer

de sistemas adesivos autocondicionantes na resistência de união em dentes

permanentes ao longo de doze meses e, obteve resultados positivos com relação a

preservação da interface de união.

11

2 - REVISÃO DE LITERATURA

A evolução dos sistemas adesivos tem sido considerável nos últimos tempos,

principalmente com relação às propriedades químicas, mecânicas, técnicas e

tempos de aplicação. Em função da grande quantidade de sistemas adesivos, a

maneira mais conveniente de classificá-los é dividí-los em dois grandes grupos:

sistemas adesivos convencionais e autocondicionantes (VAN MEERBEEK et al.,

2003).

Os sistemas adesivos convencionais, são compostos de um condicionamento

ácido prévio da superfície dental, para a aplicação do monômero que hibridizará a

dentina. Este grupo ainda pode ser subdividido em dois grupos onde, um apresenta

três passos (ácido+primer+adesivo) e, outro, dois passos (ácido+adesivo), onde o

primer já está adicionado ao adesivo (CARVALHO et al., 2004).

Os sistemas adesivos autocondicionantes usam na sua formulação,

monômeros acídicos que desmineralizam o substrato dentinário, ao mesmo tempo

em que se infiltram pelas porosidades criadas (DE MUNCK et al., 2005). Estes

também podem ser classificados em dois grupos denominados de

autocondicionantes de dois passos, combinando monômero acídico e primer em um

frasco e adesivo em outro, e, de passo único, onde estão unidos numa única

aplicação, monômero acídico, primer e adesivo (HALLER, 2000).

É inegável o sucesso do uso de sistemas adesivos mas, a durabilidade da

interface de união resina/dentina ainda é questionável sendo provavelmente a maior

causa da perda de adesão (LOGUERCIO et al., 2005; CARRILHO et al., 2005).

Analisando a degradação de interfaces adesivas, Breschi et al. em 2008,

perceberam que adesivos simplificados de um passo mostraram serem menos

duráveis, comparado a adesivos convencionais de três passos e autocondicionantes

de dois passos. Também confirmaram que, a redução da longevidade da interface

de união tem como causa vários fatores, principalmente, a ativação de enzimas

colagenolíticas endógenas. Reforçam que a utilização de inibidores de proteases,

12

que levam ao aumento da estabilidade das fibrilas colágenas dentro da camada

híbrida, reduzem a atividade colagenolítica intrínseca da dentina humana.

Pashley, et al. já em 2004, apresentaram a hipótese de que a degradação das

fibrilas colágenas possa ser acelerada pela presença de enzimas do próprio

hospedeiro, conhecidas por metaloproteinases (MMPs). As MMPs são consideradas

por Sorsa et al. também em 2004, como uma classe de endopeptidases cálcio e

zinco dependentes, que apresentam atividade metabólica de remodelação e

degradação de vários tipos de colágenos (MAZZONI et al., 2006).

A dentina humana contém colagenase (MMP-8), gelatinase (MMP-2 e MMP-9)

e enamelase (MMP-20). As MMPs são retidas na matriz dentinária mineralizada

durante o desenvolvimento dentário e permanecem em um estágio latente depois de

sua formação (SULKALA et al., 2002).

Em 2009, Mazzoni et al. num estudo visando analisar a distribuição e

localização de MMP-2 e MMP-9, confirmaram que ambas são componentes

endógenos da matriz orgânica dentinária humana, e que possuem relação

tridimensional entre elas e as fibrilas colágenas, comprovando que essas enzimas

são componentes intrínsecos da matriz orgânica de dentina.

Um dos principais problemas inerentes aos procedimentos restauradores

adesivos é a degradação da camada híbrida da dentina pela participação das MMPs

endógenas, e, devido às características ácidas dos sistemas adesivos. Pensando

nisso, Lehmann et al. em 2009, realizaram um estudo onde comprovaram que, a

utilização de adesivos autocondicionantes estimula a secreção de MMPs pelo

complexo dentino-pulpar, acelerando o processo de degradação e diminuindo a

resistência da interface dentina/resina.

A baixa, porém persistente atividade endógena colagenolítica pode ser

impedida pelo uso de inibidores de protease, indicando que a inibição das MMPs

pode ser benéfica na preservação da camada híbrida (PASHLEY et al., 2004).

Estudos têm demonstrado que o uso de clorexidina, um potente agente anti-

proteolítico, melhorou significativamente a integridade da camada híbrida e

resistência de união em sistemas adesivos convencionais (HEBLING et al., 2005;

BRACKETT et al., 2007; CARRILHO et al., 2007a, BRESCHI et al., 2009;

13

LOGUERCIO et al., 2009). No entanto, a preservação da resistência de união

quando a clorexidina é aplicada ao sistema adesivo autocondicionante ainda não é

clara.

Carrilho et al. 2007b, analisaram a hipótese de que a degradação da interface

de união resina/dentina pode ser prevenida com a aplicação de clorexidina após o

condicionamento ácido da dentina. Este estudo, in vivo, durou 14 meses e a

resistência de união permaneceu estável para os espécimes tratados com

clorexidina, enquanto uma redução significativa foi observada no grupo controle. Foi

identificada através do microscópio eletrônico de varredura, uma progressiva

degradação das fibrilas colágenas no grupo controle, e integridade da rede colágena

na dentina tratada com clorexidina.

Soares et al. em 2008, resolveram testar o efeito de clorexidina a 0,2% e 2%

em diferentes momentos (previamente, durante e após) do condicionamento ácido

em dentina bovina. O uso de clorexidina não afetou significativamente os valores de

resistência de união do sistema adesivo utilizado.

Komori et al. 2009, em seu estudo, concluíram que o uso de clorexidina 2%

como primer terapêutico aplicado por 1 minuto previamente a 2 sistemas adesivos

em dentina hígida e afetada por cárie, não alterou a resistência de união imediata

dos adesivos. No sistema adesivo de três passos, a utilização de clorexidina 2%

produziu uma união mais estável, não sofrendo alterações no período de seis meses

segundo os resultados obtidos pelos testes de microtração.

Tendo em mente que procedimentos adesivos dentinários podem estimular

MMPs endógenas e, iatrogenicamente iniciar a degradação da interface de união

resina/dentina, De Munck et al. em 2009, avaliaram a possibilidade de que

adicionando um inibidor de MMPs ao primer adesivo, pode-se prevenir essa

degradação endógena enzimática e, consequentemente melhorar a durabilidade da

união. Concluíram que os inibidores de MMPs, como a clorexidina, foram

importantes na redução da perda de resistência de união em sistemas adesivos de

dois passos. Porém, consideraram que o principal mecanismo responsável pela

degradação das interfaces adesivas, continua sendo a sorção de água pelas

interfaces.

14

Pensando na aplicação de clorexidina a 0,2% e 2% na superfície dentinária

após o condicionamento ácido, Breschi et al. em 2009, investigaram qual seria o

efeito imediato, em 6 meses e em um ano, na resistência de união utilizando dois

sistemas adesivos. Os autores chegaram à conclusão de que os fatores endógenos

responsáveis pela degradação da interface de união resina/dentina podem ser

inibidos pela clorexidina, mantendo os valores de resistência de união no decorrer

dos prazos estipulados.

Breschi et al. 2010, estudaram o papel da MMPs endógenas na auto

degradação das fibrilas colágenas presentes em substratos dentinários infiltrados

por resina. A dentina foi tratada ou não com clorexidina a 0,2% e 2%, para avaliar a

atividade enzimática das MMPs e, a resitência a microtração foi avaliada

imediatamente e após 2 anos de envelhecimento em saliva artificial. A aplicação de

clorexidina inibiu toda a atividade colagenolítica e aumentou a resistência de união a

longo prazo, independente da concentração testada.

Avaliando a influência da aplicação de digluconato de clorexidina na dentina

de 24 molares decíduos, previamente ao condicionamente ácido, Ricci et al. 2010,

concluíram que, independente do material restaurador empregado, houve um

aumento significativo nos resultados de microtração realizados em tempo imediato.

Visando melhor compreender a atuação da clorexidina na preservação da

união dentina/resina, Carrilho et al. em 2010, pesquisaram sobre a substantividade

da clorexidina à dentina humana. O efeito observado na inibição de proteases

dentinárias explica porque a clorexidina pode prolongar a durabilidade da união

dentina/resina, comprovando assim, a excelente substantividade da clorexidina à

dentina humana.

Manfro, 2011, utilizou 21 molares decíduos extraídos para verificar se houve

alteração na resistência de união da interface adesiva com a aplicação de

clorexidina 0,5% e 2%, após o condicionamento ácido, em sistemas adesivos

convencionais. Concluiu que a aplicação de clorexidina nesta situação previne a

degradação das fibrilas colágenas e reduz a perda de resistência de união ao longo

de 1 ano.

15

Stanislawczuk et al. 2011, testaram a resistência à microtração imediatamente

e após 2 anos, incorporando a solução de digluconato de clorexidina a 2% no

condicionador ácido fosfórico em 42 terceiros molares livres de cárie. Concluíram

que esta adição foi efetiva na redução da degradação da interface de união à

dentina no período de 2 anos, e portanto, pode ser uma excelente ferramenta para

aumentar a estabilidade em longo prazo das fibrilas de colágeno na camada híbrida

contra a atividade de MMPs, sem a necessidade de medidas adicionais no processo

de adesão.

Zhou et al. 2009, descreveu a influência da clorexidina incorporada no primer

de sistemas adesivos autocondicionantes na resistência de união em dentes

permanentes, ao longo de doze meses. Utilizou 16 molares permanentes extraídos e

utilizou diferentes concentrações de digluconato de clorexidina: 0,05%, 0,1%, 0,5% e

1%. Os dentes foram seccionados em duas metades e uma delas serviu de grupo

controle. Após 12 meses, os autores concluíram que quando a clorexidina é

incorporada diretamente ao primer de sistemas adesivos autocondicionantes, pode

preservar a resistência de união da interface adesiva em concentrações superiores

ou iguais a 0,1%.

Surgem aí, algumas lacunas a serem pesquisadas como: a necessidade de

estudos que se propunham a avaliar a influência de diferentes concentrações de

clorexidina na resistência de união imediata e ao longo do tempo e, mais pesquisas

com dentes decíduos.

16

3 - PROPOSIÇÃO

O objetivo do estudo foi avaliar o efeito na resistência de união à dentina de

dentes decíduos, imediatamente e após seis meses, utilizando digluconato de

clorexidina 0,1% e 1%, adicionado diretamente ao primer do sistema adesivo

autocondicionante.

17

4 - MATERIAIS E MÉTODOS

Figura 1 - Fluxograma sobre Materiais e Método

4.1 Seleção e preparo dos dentes

O estudo foi composto de seis condições experimentais, de acordo com a

combinação dos seguintes fatores: tratamento da dentina (3 níveis) e tempo (2

níveis). Foram utilizados nesta pesquisa, 42 molares decíduos humanos hígidos

esfoliados provenientes do Banco de Dentes Humanos da Universidade de São

Paulo – USP, que foi submetida ao Comitê de Ética para Análise de Projetos de

Pesquisa da Universidade Cruzeiro do Sul e, aprovada sob o protocolo de número

071/2010 (ANEXO A). A amostra foi dividida aleatoriamente em três grupos: grupo

controle (14 dentes), grupo concentração 0,1% (14 dentes) e grupo concentração

1% (14 dentes). Destes dentes foram originados 336 corpos-de-prova dos quais, 84

foram eliminados por imperfeições, restando apenas 252 (84 corpos-de-prova em

18

cada grupo) para análise de microtração. Os dentes foram armazenados em solução

de cloramina a 0,5% por 24 horas e, posteriormente em água destilada a 4ºC (De

Wald, 1997) com intuito de manter a hidratação até o momento de serem utilizados

no estudo.

As superfícies oclusais foram submetidas a uma profilaxia com escova tipo

Robinson e suspensão de pedra pomes. Seguidamente, o esmalte da superfície

oclusal dos dentes foi desgastado com lixa de carbeto de silício (granulação 180)

sob irrigação, até ser obtida uma superfície dentinária sem remanescentes de

esmalte, tendo por guia o esmalte das proximais. Para obter uma smear layer

padronizada, as superfícies foram tratadas com lixas de carbeto de silício

(granulação 600) por 60 segundos sob pressão manual. Os dentes foram lavados

sob água corrente e secos com jato de ar por 10 segundos.

4.2 Preparação do primer do adesivo autocondicionante

O sistema adesivo autocondicionante 2-passos Clearfil SE Bond (Kuraray,

Osaka, Japan) foi usado nesse estudo.

Figura 2 - Clearfil SE Bond – Kuraray, Osaka, Japan.

19

Diferentes quantidades de digluconato de clorexidina 20% foram adicionadas

diretamente ao primer do Clearfil SE Bond para o preparo de misturas contendo

duas diferentes concentrações 0,1% e 1%.

Figura 3 - Digluconato de Clorexidina 20%

A obtenção das concentrações de 0,1% e 1% foram alcançadas utilizando

pipetas de alta precisão em ambiente controlado.

A concentração de 0,1% foi atingida combinando 5,0 µl de digluconato de

clorexidina em 995,0 µl de primer SE Bond. Para a concentração de 1%, foram

utilizados 50 µl de digluconato de clorexidina em 950 µl de primer SE Bond.

A armazenagem das duas soluções geradas (0,1% e 1%) foi feita em

eppendorfs devidamente lacrados e conservados sob refrigeração até o momento da

utilização.

20

Figura 4 - Eppendorfs com concentrações de 0,1% e 1% de digluconato de Clorexidina

4.3 Procedimento adesivo

A seguir, descreve-se detalhadamente a sequência de aplicação de cada grupo:

Grupo Controle: aplicação em dentina do sistema adesivo autocondicionante

Clearfil SE Bond conforme as instruções do fabricante. Secar o dente com

jato de ar e aplicar o Primer ativamente por 20” com microbrush. Utilizar

levemente o jato de ar e não há necessidade de fotopolimerizar. Aplicar Bond,

com microbrush e após um leve jato de ar. Em seguida fotopolimerizar por

10”. A fotoativação foi realizada com o aparelho GNATUS, Optilight LD Max,

600 mW/cm2

Grupo Concentração 0,1%: similar ao grupo referência, porém foi utilizada a

solução com primer do sistema adesivo contendo digluconato de clorexidina a

21

0,1%. A seguir fotoativação por 10 segundos (GNATUS, Optilight LD Max,

600 mW/cm2 ).

Grupo Concentração 1%: similar ao grupo referência, porém foi utilizada a

solução com primer do sistema adesivo autocondicionante contendo

digluconato de clorexidina a 1,0%. A seguir fotoativação por 10 segundos

(GNATUS, Optilight LD Max, 600 mW/cm2 ).

4.4 Procedimento restaurador

Após o procedimento adesivo, foram confeccionadas restaurações de resina

composta FiltekTM Z250 (3M/ESPE, St Paul, USA) com 3,0 mm de altura, em três

porções. Cada uma das porções foi fotoativada com luz halógena por 20 segundos

com potência média de 600mwcm² (GNATUS, Optilight LD Max). Na sequência, os

dentes foram armazenados em água destilada a 37C por 24 horas. Todos os

procedimentos restauradores foram realizados por um único operador a uma

temperatura ambiente de 24C e uma umidade relativa do ar de 75% (ASMUSSEN;

PEUTZFELDT, 2001).

Figura 5 - Resina Composta Filtek Z250 – 3M/ESPE, St. Paul, USA.

4.5 Preparo dos corpos-de-prova

Ao término dos procedimentos restauradores, os mesmos foram fixados com

godiva de baixa fusão a um dispositivo a ser anexado em uma máquina de corte de

22

tecidos duros Struers Minitom com a interface de união perpendicular ao disco de

corte.

Figura 6 - Máquina de Corte de Tecidos Duros Struers Minitom

Foram realizadas sequências de cortes longitudinais e perpendiculares entre

si, utilizando uma rotação de 250 rpm no disco de corte, para obtenção de corpos-

de-prova com área de seção retangular de aproximadamente 1,0 mm2, variando

entre 0,95 e 1,05 mm2. Em média, foram obtidos 8 corpos-de-prova por dente, sendo

eliminados da amostra os corpos-de-prova periféricos que não apresentaram as

dimensões propostas no estudo, bem como, aqueles que se mostraram imperfeitos.

Os corpos-de-prova foram testados da seguinte maneira: metade dos corpos-de-

prova de cada grupo, no tempo imediato, e, a outra metade dos corpos-de-prova

após 06 meses. O grupo de corpos de prova do tempo imediato foi armazenado em

saliva artificial (composição: 0.70 mmol/L CaCl2; 0.20 mmol/L MgCl2.6H2O; 4.00

mmol/L KH2PO4; 30.0 mmol/L KCL; 0.30 mmol/L NaN3; 20.0 mmol/L HEPES)

(PASHLEY et al., 2004), refrigerado e testado após 24 horas. O restante dos corpos-

de-prova foi armazenado em saliva artificial e refrigerados por seis meses, e

testados após esse período. A solução de armazenamento foi trocada

semanalmente.

23

4.6 Ensaio de microtração dos corpos-de-prova

Cada corpo-de-prova foi fixado com cola de cianocrilato (Zapit, Dental

Ventures of North América, Carona, CA, USA) a uma plataforma desenvolvida para

os ensaios de microtração acoplada à máquina de ensaios (EMIC, São José dos

Pinhais, PR, Brazil), onde as tensões de tração ocorrem perpendiculares à interface

de colagem.

Figura 7 - Máquina de Ensaios EMIC para Microtração

A máquina foi operada a uma velocidade de 0,5 mm/min. Foram submetidos à

análise em estereomicroscópio (40X), 20 corpos-de-prova de cada um dos seis

grupos experimentais, selecionados aleatoriamente, para verificar os padrões de

fratura. As fraturas foram classificadas nos seguintes padrões: 1) coesiva de dentina;

2) coesiva de resina composta; 3) adesiva/mista na interface.

24

Corpo-de-prova iniciando teste Corpo-de-prova após a ruptura

Figura 8 – Realização do Teste

4.7 Análise estatística

A unidade experimental do estudo foi corpos-de-prova (“palitos”), sendo que a

metade dos corpos-de-prova obtidos foram testados imediatamente, e a outra

metade testada somente após seis meses.

As variáveis em estudo: tratamento de dentina e tempo, foram analisados em

combinações de análises de variância, de acordo com os objetivos do estudo. Para

o contraste das médias foi utilizado o teste de Tukey (=0,05), mas também os

dados da resistência foram submetidos ao teste ANOVA de dois fatores, tratamento

X tempo de armazenagem.

25

5 - RESULTADOS

Consideramos que a média da área de seção transversal dos corpos-de-

prova variou entre 0,95 e 1,05 mm² e não foram detectadas diferenças entre os

grupos. Após os ensaios, os resultados obtidos nos testes de tração foram listados

em uma planilha para serem submetidos à análise estatística.

Os dados foram analisados considerando o experimento como do tipo Fatorial

Completo sem interação entre os fatores pela técnica ANOVA – Análise de Variância

para efeitos fixos.

O foco principal desta análise foi no fator tempo e no fator concentração, e na

tabela 1 é possível verificar que os valores não variam para nenhuma das

concentrações após 6 meses, enquanto que os valores para as três concentrações

nos ensaios imediatos apresentam pequenas variações.

Tabela 1 – Medidas de tensão de ruptura por tração da dentina (MPa). Média (desvio padrão)

Tempo Concentração

Grupo Controle Grupo Concentração 0,1% Grupo Concentração 1%

Imediato 14,4 (2,5)A 14,2 (3,1)A 13,9 (3,8)A

Após 6 meses 13,0 (2,2)B 13,0 (1,8)B 13,0 (2,4)B

Grupos com letras iguais representam médias estatisticamente semelhantes entre si (Tukey’s test, p= 0,001).

Analisando os resultados obtidos, pode-se notar que o maior efeito aparece

no fator Tempo, enquanto no fator Concentração o efeito é mais diminuto. Observa-

se também, que embora as tensões de ruptura apresentem valores diferentes para

as três concentrações nos ensaios realizados no tempo Imediato, elas convergem

para um valor muito próximo entre si nos ensaios realizados após seis meses.

Vendo esse mesmo experimento usando o diagnóstico da ANOVA, as

diferenças entre as médias para o fator concentração não são significantes do ponto

de vista estatístico, enquanto as diferenças entre as médias para o fator tempo é

significativa estatisticamente.

26

Com a preocupação de que alguns valores discrepantes obtidos nos testes de

microtração pudessem interferir na avaliação dos resultados, foi dada uma atenção

especial a esses pontos e constatamos que, embora fora do padrão, não podem ser

considerados influentes, ou seja, não modificariam substancialmente os resultados

caso fossem retirados da amostra sob estudo.

Quando se encontra diferenças estatisticamente expressivas em uma

ANOVA, a próxima questão a ser investigada é quais das possíveis diferenças são

as que têm a significância.

No caso da análise deste trabalho, apenas o fator Tempo mostrou que a

hipótese das médias serem todas iguais para todos os níveis desse fator (hipótese

nula) pode ser rejeitada, dado o valor encontrado.

Como esse fator tem apenas dois níveis, há apenas uma diferença para ser

avaliada: a diferença entre as médias do Teste Imediato - Após 6 meses. O valor

dessa diferença é -1,14 MPa com IC 95% -1,81 a - 0,47 Mpa (calculado usando o

método de Tukey).

Considerando a questão da pesquisa, a incorporação da clorexidina não

apresentou variações estatisticamente significativas em relação ao grupo controle.

A maior diferença encontrada nos ensaios feitos no tempo Imediato foi 0,5

Mpa é claramente de pequeno efeito se considerada em relação à média geral para

a tensão de ruptura por tração.

Devido o tempo ter sido dicotimizado para se transformar em dois fatores

nesta ANOVA, houve uma queda linear dos valores de ruptura do tempo imediato

para os ensaios após seis meses. Porém essa “linearidade” não deve se empregar

para extrapolar o valor que teria a tensão de ruptura em um tempo maior após a

preparação das amostras.

O fato das médias para as três concentrações terem “convergido” após seis

meses nos faz crer que a relação funcional é mais complexa, provavelmente

“estabilizando-se” após um intervalo de tempo.

27

Como curiosidade útil, verificamos o padrão de fratura observada após a

realização dos testes de resistência de microtração. Essa verificação pode ser

conferida nas tabelas 2 e 3, sendo que a fratura predominante foi de coesão na

resina independente do grupo experimental e tempo de armazenagem.

Tabela 2 - RESULTADO DA ANÁLISE DE FRATURAS (Tempo Imediato)

Grupo Experimental Coesão Dentina Coesão Resina Coesão

Adesiva/Mista

Grupo Controle 2/20 – 10% 18/20 – 90% 0/20 – 0%

Grupo Cocentração 0,1% 4/20 – 20% 14/20 – 70% 2/20 – 10%

Grupo Cocentração 1% 2/20 – 10% 16/20 – 80% 2/20 – 10%

Tabela 3 - RESULTADO DA ANÁLISE DE FRATURAS (Após 6 Meses)

Grupo Experimental Coesão Dentina Coesão Resina Coesão

Adesiva/Mista

Grupo Controle 2/20 – 10% 16/20 – 80% 2/20 – 10%

Grupo Cocentração 0,1% 4/20 – 20% 14/20 – 70% 2/20 – 10%

Grupo Cocentração 1% 4/20 – 20% 12/20 – 60% 4/20 – 20% Obs: Em ambas as tabelas, foram analisados 20 corpos-de-prova de cada Grupo Experimental.

28

6 - DISCUSSÃO

O pleno sucesso da odontologia adesiva depende principalmente do

conhecimento, tanto do material envolvido, como das condições a que esse material

será submetido. A longevidade de restaurações adesivas está sob influência de

inúmeros fatores, como: força de oclusão durante a mastigação, tensões geradas

pela alteração de temperatura na cavidade oral, alteração de pH da saliva pela

ingestão de alimentos e bebidas, e produtos bacterianos (HASHIMOTO et al., 2000,

2003; BRESCHI et al., 2008). Diversos estudos revelaram ainda, que há contribuição

de proteinases como fator adicional na degradação da matriz colágena, implicando

na durabilidade das restaurações adesivas (PASHLEY et al., 2004; BRESCHI et al.,

2009; MAZZONI et al., 2009).

Preocupados em otimizar o tempo dos procedimentos adesivos na

odontopediatria, pesquisadores realizaram estudos visando reduzir passos no

processo de restauração (STANISLAWCZUK et al., 2011). Neste estudo, o objetivo

era saber o efeito da clorexidina adicionado diretamente ao primer adesivo (ZHOU et

al., 2009) em dentes decíduos, visto que, já é conhecida a capacidade da clorexidina

em inibir as metaloproteinases (HEBLING et al., 2005; BRACKETT et al., 2007;

CARRILHO et al., 2007a; RICCI et al., 2010).

O uso de sistemas adesivos tem sido considerável nos últimos tempos, sendo

empregados principalmente em pesquisas envolvendo a resistência de união da

interface resina/dentina (SANTERRE et al., 2001), bem como, a variação desta

mesma resistência em função das propriedades químicas, técnicas e tempos de

aplicação (HALLER, 2000; VAN MEERBEEK et al., 2003; CARVALHO et al., 2004;

DE MUNCK et al., 2005). Algumas avaliações indicam que a durabilidade da

interface de união resina/dentina é provavelmente a maior causa da perda de

adesão (HASHIMOTO et al., 2000; LOGUERCIO et al., 2005; CARRILHO et al.,

2005; BRESCHI et al., 2008; LEHMANN et al., 2009).

A busca por uma maior durabilidade das restaurações de resina levaram

alguns pesquisadores a aprofundar seus conhecimentos a respeito das metalo-

proteinases (TJADERHANE et al., 1998; SULKALA et al., 2002; VAN STRIJP et al.,

29

2003; HASHIMOTO et al., 2003; PASHLEY et al., 2004; SORSA et al., 2004;

MAZZONI et al., 2006; CARRILHO et al., 2007a). Mazzoni et al. em 2009,

comprovou que essas enzimas são componentes intrínsecos da matriz orgânica da

dentina (FUKAE et al., 1991; MARTIN DE LAS HERAS et al., 2000; BOURD-

BOITTIN et al., 2005; MAZZONI et al., 2006; SULKALA et al., 2007).

Estudos comprovaram que inibidores de proteases inibem a atividade

endógena colagenolítica, preservando a camada híbrida (PASHLEY et al., 2004).

Nos sistemas adesivos convencionais o uso de clorexedina, melhorou

significativamente a integridade da camada híbrida por ser um potente agente anti-

proteolítico (HEBLING et al., 2005; BRACKETT et al., 2007; CARRILHO et al.,

2007a; BRESCHI et al., 2009; LOGUERCIO et al., 2009; BRESCHI et al., 2010).

Na tentativa de alcançar melhores resultados com uso da clorexidina, alguns

pesquisadores testaram sua aplicação diretamente na dentina, incluído nos sistemas

adesivos, em concentrações diversas e em períodos de tempo variados (CARRILHO

et al., 2007b; SOARES et al., 2008; BRESCHI et al., 2009; DE MUNCK et al., 2009;

KOMORI et al., 2009; ZHOU et al., 2009; BRESCHI et al., 2010; CARRILHO et al.,

2010; MANFRO, 2011).

Aprofundando cada vez mais as pesquisas, sempre buscando descobrir os

limites da influência da aplicação de digluconato de clorexedina, autores concluíram

que independente do material restaurador empregado houve um aumento

significativo nos resultados de microtração imediato (RICCI et al., 2010) e, a longo

prazo (CARRILHO et al., 2010; STANISLAWCZUK et al., 2011).

Neste estudo, os resultados indicaram que o uso da solução de digluconato

de clorexedina a 20% diluído no primer de um sistema adesivo autocondicionante

não levou a um aumento na resistência de adesão nem em tempo imediato e nem

após 6 meses. Uma das possíveis causas de não ter ocorrido um incremento dos

valores de resistência, se deve ao fato do digluconato de clorexedina ter sido diluído

no primer e não utilizado previamente a ele. Provavelmente possa existir um conflito

entre os componentes químicos do primer e a clorexidina, não possibilitando que

esta atue como inibidora das metaloproteinases mesmo em concentrações variadas

(antagonismo).

30

Os resultados obtidos neste estudo, não apontaram diretamente para os

resultados obtidos em similares. Devemos levar em consideração as diferentes

concentrações de digluconato de clorexidina incorporadas ao primer adesivo, bem

como, a utilização de dentes decíduos. A dentina decídua difere muito da

permanente devido há diferenças morfológicas e estruturais entre os tecidos

(HOSOYA; MARSHALL, 2005). Em dentes decíduos os túbulos dentinários são

chamados de gigantes devido a seu amplo tamanho em comparação com a dentina

de dentes permanentes que é uma camada bem mais espessa e com túbulos

menores (PASHLEY; CARVALHO, 1997), fato este que parece ser responsável pela

menor resistência de união destes dentes.

Desta forma, este estudo abre novas frentes de pesquisa, como a diluição de

clorexidina no próprio adesivo de sistemas autocondicionantes e, a realização de

estudos como fez Hebling et al. em 2005, Brackett et al. 2007 e Ricci et al. 2010, in

vivo, visando submeter o experimento a condições reais.

31

7 - CONCLUSÃO

Esgotadas todas as possibilidades de analisar os resultados obtidos nos

testes executados neste estudo, in vitro, podemos concluir que o digluconato de

clorexidina a 0,1% e 1% adicionado ao primer do sistema adesivo

autocondicionante, não influenciou nos valores de resistência de união da dentina

nem no momento imediato nem 6 meses após o preparo.

32

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ANEXOS