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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … · Um planejamento estratégico que inclua...
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
GERENCIANDO A CRISE ATRAVÉS DE UMA COMUNICAÇÃO
EFICAZ.
Por: Felipe Leal França
Orientador
Prof. Fernando Lima
Rio de Janeiro 2010
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
GERENCIAMENTO A CRISE ATRAVÈS DE UMA
COMUNICAÇÃO EFICAZ.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Comunicação
Empresarial.
Por: Felipe L. França
3
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus, e a meus pais por
proporcionarem meus estudos ate este
momento.
4
DEDICATÓRIA
... Dedico este trabalho a minha namorada
e amigos que ajudaram nesta nova conquista...
5
RESUMO
No universo das grandes empresas, não só para o público interno, mas
também em grande escala para o público externo, crise é um fator de risco
para abalo da estrutura organizacional. Ao analisar a fundo tal assunto, pensa-
se em maneiras corretas e eficazes de gerir um possível acontecimento ou fato
gerador de crise. Pensar em comunicação como fator preponderante, é no
mínimo lógico, porém como comunicar de forma eficaz foi o fato gerador da
pesquisa proposta.
Pode-se no decorrer deste trabalho, apresentar dados, fatos e
orientações para utilizar-se da comunicação de uma forma clara, verdadeira e
eficaz, que alem de minimizar os possíveis danos causados pela crise, também
pode fazer com que as organizações tirem proveito do momento de crise, a fim
de trazer reposicionamento e maior credibilidade ao maior patrimônio de uma
corporação, sua marca.
6
METODOLOGIA
Para a realização deste estudo foi adotada a metodologia da pesquisa
bibliográfica / social, por permitir a exploração do tema junto a autores que a
ele se dedicaram. Através também via web, foi possível realizar consultas a
variadas obras de formadores de opinião, tanto brasileiros, mas também de
muitos autores de outras nacionalidades onde o tema é mais discutido a fundo.
Inicialmente através da revisão bibliográfica, pode-se dar diversas
definições para crise, tanto de um modo cotidiano, como também definições de
crise de imagem dentro de corporações. No segundo momento, novamente
através de consulta bibliográfica, foi possível definir o papel da comunicação
dentro do gerenciamento da crise e mostrar maneiras básicas de como
encarar este temor para as empresas. No terceiro e ultimo momento da
pesquisa, foi realizado estudo de caso da empresa TAM, ao qual teve dois
momentos distintos em sua historia, com acidentes graves que culminaram em
grandes crises. E também um breve estudo de caso da empresa norte-
americana Johson&Johson, no caso Tylenol, onde a mesma teve tamanho
sucesso na administração da crise, que muitos autores consideram um método
a ser seguido por qualquer empresa.
7
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - Definindo crise 10
CAPÍTULO II - No momento da crise 18
CAPÍTULO III – A realidade de quem esteve diante da crise 32
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41
FOLHA DE AVALIAÇÃO 42
8
INTRODUÇÃO
Uma crise pode afetar ou destruir a reputação, a imagem, a confiança e
a credibilidade de uma empresa ou instituição, pública ou privada, por vários
anos, prejudicar seus resultados econômicos e financeiros, assim como trazer
prejuízos profissionais a seus funcionários.
Um planejamento estratégico que inclua Gerenciamento e Comunicação
de Crises Corporativas é hoje uma exigência da economia globalizada e
apresenta demanda crescente em vários países do mundo. Sua importância
estratégica pode ser atribuída à valorização que a opinião pública está dando
para as questões comportamentais, à ética empresarial, o respeito aos valores
e à possibilidade de quantificação econômico/financeira das crises mal
administradas. Os públicos internos e externos esperam que as empresas
tenham e divulguem a existência desses planos de gerenciamento,
demonstrando sua responsabilidade social.
Um assunto negativo que ganhe projeção pode desencadear uma crise.
E a crise quando desencadeada dificilmente pode ser contida. Uma crise mal
gerenciada pode culminar na falência de uma empresa e até mesmo no fim de
carreira de uma personalidade. Daí se justifica a importância da prática
sistemática de gerenciamento de crise nas corporações. A melhor maneira de
lidar com a crise é através da prevenção. Medidas preventivas facilitam o
gerenciamento de uma crise. Fazendo uso de medidas preventivas, é mais
fácil amenizar os estragos da crise e até mesmo preservar a imagem da
empresa.
Neste trabalho acadêmico, estaremos analisando, através de obras de
especialistas, o que é crise e os diversos fatores que a geram, seus possíveis
malefícios e ate mesmo benefícios que podem ser tirados deste momento de
turbulência. Serão também expostos cases de sucesso em comunicação de
crise, e como objetivo principal, indicar métodos eficazes para se comunicar
com seus públicos prioritários, interno e externo nos momentos da crise
corporativa.
9
CAPÍTULO I
DEFININDO CRISE.
A palavra “crise”, se procurada em enciclopédias e dicionários, possui
diferentes significados. A Grande Enciclopédia Larousse Cultural define crise
como “mudança brusca no estado de um doente, causada pela luta entre o
agente agressor infeccioso e as forças de defesa do organismo” ou ainda
“manifestação violenta de um estado mórbido, que aparece em plena saúde
aparente (crises de apendicite, de gota, de epilepsia, de cólica renal etc.)”
(CRISE, 1998: 1695). No sentido figurativo, o Dicionário Caldas Aulete
conceitua crise como “conjuntura cheia de incertezas, de aflições ou de
perigos, momento perigoso ou decisivo” (CRISE, 1987: 480).
Talvez a definição mais aproximada de crise no âmbito da comunicação,
entre os dicionários e enciclopédias pesquisados, encontre se justamente a no
verbete do Aurélio: “situação grave em que os acontecimentos da vida social,
rompendo padrões tradicionais, perturbam a organização de alguns ou de
todos os grupos integrados na sociedade”
Coincidência ou não, todas as declarações listadas – e muitas outras
que não foram aqui mencionadas – possuem um elemento em comum: o fato
de acontecerem bruscamente, além de representarem enfraquecimento,
momento perigoso, algo embaraçoso. Nas organizações, a “doença”
demonstra praticamente os mesmos sintomas: manifestação violenta em plena
saúde aparente, tensão, conflito etc. Tanto no tratamento de enfermidades
quanto no gerenciamento corporativo ainda é válido o bom e velho ditado “é
melhor prevenir do que remediar”.
Seguindo ainda a lógica clássica, continuamos com a definição do
dicionário Aurélio que classifica a palavra crise:
s.f. Mudança brusca que se produz no estado de um doente e que se
deve à luta entre o agente agressor infeccioso e as forças de defesa do
organismo. / Período de manifestação aguda de uma afecção: crise de
apendicite. / Manifestação violenta, repentina e breve de um
10
sentimento, entusiasmo ou afeto; acesso: crise de gargalhadas; crise
de arrependimento. / Fig. Momento perigoso ou difícil de uma evolução
ou de um processo; período de desordem acompanhado de busca
penosa de uma solução: a adolescência é uma crise necessária. / Fig.
Conflito, tensão: crise familiar. / Fig. Ausência, carência, falta, penúria,
deficiência: crise de mão-de-obra. / Decadência; queda;
enfraquecimento: crise de moralidade. // Crise econômica, ruptura
periódica do equilíbrio entre produção e consumo, que traz como
conseqüências desemprego generalizado, falências, alterações dos
preços e depreciação dos valores circulantes. // Crise ministerial,
período intermediário entre a dissolução de um governo e a formação
de outro em regimes parlamentares.
Analisada essas definições, vimos que a crise sempre será um
acontecimento precedido de aflição, seja na vida comum de um ser humano
quando é afetado por uma doença, ou um casal em uma crise conjugal, crises
diárias encaradas pela família, crises de imagem acometidas a artistas e
celebridades, e como objeto principal objeto desta pesquisa, crises de imagem
no âmbito organizacional de grandes corporações.
Entende-se segundo (WILCOX: 2001) que crise é: "um acontecimento
extraordinário, ou uma série de acontecimentos, que afeta de forma diversa à
integridade do produto, a reputação ou a estabilidade financeira da
organização.”
Levando em consideração esta ultima definição, podemos abrir novo
campo de atuação, no que diz respeito a falar da crise de imagem de uma
instituição e/ou organização.
1.1 – Crise de imagem na corporação.
Da mesma forma, iremos seguir o principio da definição de imagem
segundo o dicionário Aurélio:
s.f. Representação de uma pessoa ou uma coisa pela pintura, a
escultura, o desenho etc. / Pequena estampa que representa um
assunto religioso ou qualquer outro. / Reprodução visual de um objeto
dada por um espelho, um instrumento de óptica. / Parecença,
semelhança: o homem foi feito à imagem de Deus. / Representação
11
das pessoas, dos objetos no espírito: a imagem dela me persegue. /
Metáfora, processo pelo qual se tornam mais vivas as idéias,
emprestando ao objeto uma forma mais sensível: há belas imagens
neste poema. / Matemática Na aplicação do conjunto E ao conjunto F,
elemento de F que corresponde a um elemento dado de E.
E ainda para uma melhor base, o mesmo dicionário diz sobre
corporação o seguinte:
s.f. Organismo social que congrega todos os membros de uma mesma
profissão. / Associação de pessoas sujeitas às mesmas regras,
obrigações, direitos, deveres, privilégios etc.
Sendo assim, a imagem de uma corporação é a principal representação
do que esta instituição significa a seus públicos, seja ele o seu próprio, o
interno, mas também para o público externo, seus clientes.
Segundo BIRCH (1993. P 9-12):
“crise é um evento imprevisível que, potencialmente provoca prejuízo
significativo, e ate mesmo em certos casos, irreparáveis a uma
organização, e logicamente, a seus colaboradores, produtos, sua
saúde financeira, serviços e a sua reputação e imagem.”
Para LERBINGER (1997):
“crise pode ser definida com um evento que traz, ou tem potencial para
trazer, à organização, uma ruptura em sua lucratividade,
desestabilizando a saúde financeira da instituição, como também,
atravancando seu crescimento e possivelmente sua própria existência.”
LERBINGER, ainda menciona uma definição dada por Charles F.
Hemann para que se haja crise:
“Para que ela exista, é preciso que haja três características: Os
administradores devem reconhecer o risco ou ameaça e acreditar que
ela possa impedir as metas prioritárias da corporação, deve reconhecer
a degeneração e irreparabilidade de uma situação se eles não tomarem
nenhuma ação e devem ser pegos de surpresa. Essas três
características da crise refletem essas descrições: subtaneidade,
incerteza e falta de tempo.”
O Institute for crisis management classifica crise Institucional como:
“Uma ruptura empresarial significante que estimula e gera grande
cobertura. O resultado minucioso feito pelo público afetará as
operações normais da organização, podendo ter um impacto político,
legal, financeiro ou governamental nos negócios”
12
Sabemos mediante as definições colocadas, que crise sempre foi fator
preponderante para preocupação, não só de instituições, corporações, como
também de qualquer outra organização, na qual vive e relaciona-se com seus
públicos diariamente. Mas para um melhor plano de como evitar crise, ou caso
ela tenha se estalado, gerenciá-la, devemos definir como elas podem eclodir, e
de que forma podemos classificá-las para melhor prevenção. Seguira abaixo,
segundo LERBINGER, um breve esclarecimento dos tipos de crises que
podem instalar-se em uma instituição. Essas são dividas em sete tipos, dentro
de três categorias: crises do mundo físico – crises naturais e tecnológicas;
crise de clima humano – crises de confronto, de malevolências e crises de
distorção de valores administrativos; e crises de falha administrativa –
crises de decepção e crises de má administração.
1. Crises naturais: São fenômenos da natureza, ou seja, é a “vontade de
Deus” se manifestando, e não há culpa humana. São aceitas como
fatalidades. Ex.: Furacão, tornados, terremoto, inundações entre outras.
2. Crises tecnológicas: São causadas pelo homem, uma vez que pode
representar um risco que não existia, por exemplo, as usinas nucleares,
os implantes de silicone, e outros. Nestes casos, é necessário fazer um
exame de custo-benefício, ou seja, essa nova tecnologia pode ate gerar
um risco a mais, entretanto, trará muitos benefícios para a sociedade.
As Empresas são culpadas e responsabilizadas por esse tipo de crise.
3. Crises de confronto: Envolve a atuação de grupos civis, organizações
não governamentais, movimentos ambientalistas, e de consumidores,
enfim, grupos organizados que se reúnem para lutar pelos interesses
que defendem. Geralmente a pressão se dá por meio da Imprensa, uma
vez que esta é a forma mais rápida e eficaz para mobilizar a opinião
pública.
4. Crises de malevolência: Ocorrem quando grupos, indivíduos e ate
mesmo empresas concorrentes usam atividades ilícitas ou de pura
maldade para causar danos à imagem de uma empresa. Terrorismo,
atentado, falsificação, boatos, mentiras e rumores são alguns tipos de
ataque neste tipo de crise.
13
5. Crises de distorção de valores administrativos: Ocorrem quando a
empresa se preocupa com o interesse em particular em muitas vezes, o
que é bom para um, é ruim para outro, por exemplo, acionistas que
querem aumentar o lucro mesmo causando a demissão de vários
colaboradores e corte de benefícios. Neste caso, enquanto a
administração satisfaz a vontade de um público, causa grande
insatisfação no outro, com isso gera crise.
6. Crises de decepção: Originam-se quando há uma diferença entre o
produto ou serviço que a empresa anuncia e o que realmente é. Quando
isso realmente acontece, chamamos esse fenômeno de dissonância
cognitiva, a distancia entre a expectativa do cliente e o que ele encontra.
Essa dissonância pode ser positiva ou negativa. Não se pode criar uma
expectativa no público que não possa ser suprida pela instituição. Os
casos mais graves são aqueles que causam danos à saúde da
população.
7. Crises de má administração: São caracterizadas pelos atos ilegais ou
imorais feitos pelos indivíduos que tem a função de administrar a
empresa. Ocorre quando os diretores da corporação vêem seus nomes
envolvidos em fraudes, subornos, roubos e outros escândalos, etc.
Nesse momento, podemos já afirmar que existem diversas maneiras de
classificar os tipos de crise que atingem a corporação. Esta divisão e
classificação feita por LERBINGER é a mais adequada, visto que ela possibilita
enxergar a crise de maneira mais especial e especifica. Elas foram geradas de
maneiras distintas e a sua identificação detalhada permite a criação de ações e
estratégias mais eficazes para enfrentar a crise com destreza.
Ainda segundo LERBINGER, as grandes e pequenas empresas podem ser
acometidas por uma crise de duas formas distintas:
1. Crises anunciadas: São aquelas situações que tem potencial de gerar uma
crise e que a empresa conhece previamente quando ela pode se iniciar. Quase
sempre é a própria empresa que gera a crise. Podemos apontar como fatos
geradores, uma possível fusão de empresas, fechamento de fábricas ou
14
escritórios regionais, demissão de funcionários, mudança nos benefícios dos
colaboradores e greves.
2. Crises não anunciadas: São aquelas que pegam a empresa de surpresa.
Exemplos claros deste tipo de conflito são os acidentes com vítimas fatais,
acidentes ambientais, contaminação alimentícia, e atos da natureza, como
enchentes e terremotos.
No primeiro caso, a corporação já deve criar através do departamento
de comunicação estratégias para que os fatos não gerem uma crise maior em
seu público interno, e muito ainda mais preocupante, gere crise ao público
externo. No segundo caso, não há como mensurar os possíveis danos de uma
crise sem anunciação. O que deve ser feito é agir com rapidez e destreza, a
fim de conter ao máximo os efeitos negativos deste tipo de conflito.
Com a crise já acometida, podemos ainda classificar seus momentos como
abaixo:
• Fase aguda – É caracterizada pela pressão de todos os públicos
envolvidos no negócio, mídias, colaboradores e outros afetados pela
crise. Tem bastante variação em sua duração, podendo levar dias,
horas e ate meses para passar.
• Fase crônica – Neste momento a empresa terá de enfrentar as
conseqüências jurídicas, administrativas, corporativas e financeiras
geradas pelo conflito.
• Fase da recuperação – A empresa deve tentar através de estratégias,
recuperar a saúde de sua imagem, finanças, e tentar se restabelecer
como anteriormente.
Não há temor maior do que ter a reputação de uma empresa abalada,
ou até mesmo destruída, em conseqüência de um desgaste na imagem. Crise
é igual à reputação em risco. E é nela que desaparecem empresas que não
conseguem se adaptar e outras surgem com novos paradigmas de mercado.
Momentos críticos estão cada vez mais presentes nas grandes empresas,
devido ao imenso volume de informação. Pequenas e médias companhias
também as enfrentam, mas com muito menos preparo e recursos. A crise se
propaga de forma instantânea, por isso ela é devastadora. Crise é uma ruptura
15
na situação cotidiana, motivada por fatores internos ou externos, o que
pressupõe dificuldades para o crescimento ou para a sobrevivência da
organização. Um problema enquanto é interno, é apenas um problema, ao qual
se deve dar solução, porém quando chega à imprensa e ao público externo,
torna-se uma crise. Muitas vezes, ela nem necessita de um fato, pode-se
iniciar apenas através de um boato mesmo, ou comentário impróprio e
inadequado.
A imagem é um patrimônio de relações que as organizações constroem.
Um ativo intangível. Trata-se de uma percepção que se tem sobre determinada
organização e o que entra em xeque quando a crise vem. Quando a imagem é
arranhada, há inúmeros prejuízos, como a perda de clientes, a queda nos
preços das ações, e a falta de motivação dos funcionários. A direção tem suas
atenções desviadas para a eliminação do problema e, muitas vezes, é
obrigada a abandonar temporariamente algumas operações, o que significa
perda de oportunidades.
Mas as crises não acontecem por acaso, elas existem porque as
empresas têm dado permissão para que elas ocorram. Ela geralmente é
precedida por sinais, que se interpretados, codificados e combatidos, podem
evitar o agravamento de uma situação. Começa como uma simples chama,
quase imperceptível, que vai se alastrando lentamente, alimentada pela
incompetência, omissão e falta de planejamento. As empresas subestimam os
riscos, mas se deparam com consumidores mais esclarecidos, mais exigentes,
mais cuidadosos. Normalmente, isso acontece porque nunca acreditamos que
a crise ira nos atingir. Muitas empresas também têm dificuldade para identificá-
la e costumam demorar a adotar uma estratégia de recuperação. Mas todas as
organizações certamente as enfrentarão um dia. Todos estão sujeitos, e elas
acontecem quando menos se espera. As atividades que envolvem pessoas
estão sempre sujeitas a crise.
Com a ausência de uma cultura de prevenção, muito se fala, mas pouco
se entende sobre a gravidade do assunto. Quem não estiver preparado,
deverá contar com muita sorte, pois partirá de uma base muito ruim. E, nessa
hora, o caminho escolhido sempre será salvar o cofre da empresa. Quanto aos
16
prejudicados, se transformarão em inimigos. A cultura aparece de forma
gritante na hora crítica.
Ao longo deste capítulo, minuciosamente pode-se dar as definições do
que é crise, suas diferentes formas de classificação, maneiras de como ela
instala-se, não só na vida cotidiana, como nas corporações. Desta forma,
podemos dar continuidade ao trabalho monográfico com boa base de
sustentação para criar hipóteses eficazes de como comunicar no momento da
crise.
17
CAPÍTULO II
NO MOMENTO DA CRISE
Velocidade da comunicação (informação), amplitude de alcance e uma
enorme diversidade de novos canais, mídias e interlocutores. É cada vez mais
difícil omitir informações. A imprensa fica sabendo dos acontecimentos antes
dos interessados e o mundo inteiro toma conhecimento de um fato enquanto
ele acontece. As más “novas” tendem a alcançar uma platéia cada vez maior e
não há como evitar que a noticia se espalhe por todos os veículos de
comunicação. A simultaneidade plural do pensamento também acontece por
que nos encontramos numa aldeia tribal de escala planetária, a aldeia global.
Sendo assim, a mesma experiência comunicativa e compartilhada por
diferentes culturas.
Os jornalistas querem incorporar demandas sociais do cidadão, fazer
reportagens sobre noticias das quais falam as pessoas na rua. Se a crise
envolver o publico, é função da mídia descobrir tudo, acompanhar os
desdobramentos e a forma de relacionar-se com os clientes atingidos. A
imprensa assumiu o papel de fiscal dos que não tem voz e é raro hoje os
veículos de comunicação não procurarem “o outro lado”. A verdade dos fatos é
o objetivo do jornalismo e como repórteres não gostam de ser desmentidos,
analisam bem a dimensão das matérias. Mas a versão da imprensa nem
sempre é correta, trata-se de uma variante dos fatos e, como tal, ideológica e
encadeada segundo valores. A mídia é competitiva, principalmente no que diz
respeito ao “furo”, e com apurações apressadas, já causou prejuízos à vida de
muitas personalidades e empresas.
Nesse momento, a imprensa torna-se arrogante, exigente, envolvendo
principalmente quem não tem bom relacionamento com os jornalistas. Ela quer
ter a iniciativa, por isso incorpora e media discursos, organizando interesses
em competição. E a dimensão e o enfoque podem maximizar os efeitos de
uma noticia e dar lugar ao espetáculo.
18
Grandes catástrofes ou desastres quem envolvem vidas humanas ficam
na memória coletiva, afetam a vida de muita gente e são sempre lembrados
cada vez que a imprensa recorda o fato. O estrago é incomensurável e
raramente tem conserto. E a imprensa é um componente decisivo nos jogos de
poder e nas disputas de mercado. Como se não bastasse o fato negativo, as
empresas tem que administrar a versão da crise. Nesse contexto, uma
publicação pode ser o estopim ou a pólvora.
Como vimos no primeiro capítulo, onde foram dadas diversas definições
de crise, crise tende a ser qualquer coisa negativa que pode ganhar visibilidade
e não pode ser contida dentro das paredes de uma organização. Com
potencial explosivo ou inesperado, acaba por comprometer os negócios e
ameaçar estruturas. Alem é claro, de mexer com a vida de todo mundo,
interferir nas condições ambientais, sociais e econômicas do planeta. Algumas
chegam a custar milhões de dólares em investimento publicitário, outras são
mais complicadas em seus desdobramentos. Algumas ainda surgem de fatos
insignificantes que assumem dimensões maiores do que as empresas
imaginam.
A crise provoca prejuízos significantes a uma empresa, afetando
diretamente o seu relacionamento com os públicos estratégicos e sua
reputação. Pode, inclusive, desestruturar operações, reduzir as vendas, abalar
os resultados financeiros, desmotivar os funcionários, obrigar o pagamento de
indenizações e representar uma ameaça à sobrevivência da organização.
Em outras palavras, crise é tudo que envolve risco eminente, como
acidentes involuntários, contaminação do meio ambiente, como vazamento de
produtos petroquímicos, problemas com produtos defeituosos. A crise pode ser
também resultado de erro humano em grandes proporções como má
administração, denuncias, violação de produto, crime envolvendo a empresa
ou seus colaboradores, crise financeira, reclamação de cliente, programas de
demissão em massa, greves e reengenharia na corporação. Falhas humanas
podem ser previstas e, por esse motivo, o público se sente escandalizado
quando ocorrem. Pode, ainda, ter a crise de origem criminosa como,
sabotagens, desvios de dinheiro publico, incêndios, custeio de festas,
19
dispêndios supérfluos, viagens inexplicadas, chantagens, fraudes e
desmandos éticos.
Nasce de vazamentos, quando um documento não destinado à
publicação chega às mãos de um jornalista, por exemplo. É uma nota plantada
em coluna de grande circulação, comentário de algum âncora de TV, desafeto,
cliente insatisfeito (testemunho de pessoas prejudicadas) ou concorrente. Seus
impactos se propagam com a curiosidade da mídia, a mobilização da opinião
pública e a conseqüente perda de controle. As crises repercutem rapidamente
nos meios de comunicação, por conta do sensacionalismo que podem
representar e do espetáculo que podem se transformar.
A crise quando instaurada, passa por três estágios. No primeiro deles,
acontece a simplificação do boato, pois ainda não se tem muitas informações
sobre o fato. No segundo estágio, os detalhes são aumentados e a historia
ganha dramaticidade. No ultimo, a opinião pública interpreta o boato de acordo
com a sua visão de mundo, com os seus valores. Esse é o momento mais
critico. Qualquer erro na gestão da crise pode acarretar graves conseqüências.
Muitas empresas ainda não possuem essa cultura e acabam saindo muito
“machucadas”. O problema é a inexperiência, precipitação e a falta de hábito
em lidar com a crise. O que é pior, as empresas brasileiras demonstram
normalmente displicência pela prevenção e apostam numa atitude reativa, o
que faz a margem de manobra ser menor, e quem não se preparou não será
capaz de agir com eficiência. As áreas operacionais, onde o risco de acidentes
é maior, são despreparadas para gerenciar a comunicação da crise.
Funcionários do segundo escalão são postos de uma hora pra outra em
contato com jornalistas no momento mais delicado de uma crise.
Segundo FORNI (2003):
“Existem duas tendências nos dirigentes das empresas quando uma
crise bate a porta. A primeira é quase entrar em pânico e imaginar
ações mirabolantes para reverter o impacto na imagem: publicar nota
paga (sem melhor avaliação), ligar para o diretor do veículo de
imprensa, ou até mesmo fingir-se de “morto” e aguardar os
acontecimentos. Outra incorpora o espírito policial e tenta descobrir
quem vazou ou quem está “por trás” da noticia ou nota.”
20
As empresas também subestimam a capacidade do público em
compreender dada situação, por isso, muitas vezes sonegam informações. No
entender de Forni, há casos em que a repercussão acaba tendo mais
importância e se tenta esconder ou mascarar o problema. A primeira
preocupação das empresas é tentar resolver o operacional e as conseqüências
parecem não incomodar. Ate porque nesse momento a ética já foi por água
abaixo. Nesse aspecto, desprezar a pauta de um jornalista deixá-lo sem
retorno ou omitir-se são erros imperdoáveis. Supõe culpa e ele irá se sentir no
direito de publicar o que bem entender.
Nenhuma empresa está totalmente preparada para enfrentar uma crise.
Mas a boa noticia é que apesar de inevitáveis, as pesquisas mostram que, com
planejamento, as organizações superam melhor os momentos difíceis. O
processo permanente de planejamento torna-se um diferencial, facilitando a
execução das atividades. A organização e avaliação evitam que ate mesmo as
situações mais inesperadas pequem o assessor desprevenido. Mesmo que o
planejamento não preveja exatamente o caso, vai estabelecer que tipo de
atitudes tomar em situações semelhantes.
Os executivos também já têm condições de avaliar eventuais
repercussões negativas de algumas decisões. As ameaças passaram a fazer
parte de qualquer organização e eles puderam aprender a lição com quem
errou e acertou. As crises também têm um padrão e a mídia vive dando sinais
de problemas potenciais, o que quer dizer que todas podem ser previstas. Uma
pesquisa norte-americana mostrou que em mais de 80% das entrevistas de
imprensa que acontecem na Casa Branca, os assuntos já apareceram na
primeira página de um jornal.
Felizmente, a sociedade da informação tem passado por mudanças.
Parece que a integração das mídias tem alterado o perfil das empresas, o
relacionamento entre elas e seus públicos de interesse. Mesmo que
lentamente, a comunicação passa a ter função relevante, transforma-se em
insumo estratégico para fidelizar clientes, sensibilizar a opinião e interagir com
a comunidade. A comunicação potencializada começa a depender da versão
21
dos fatos, o que as anima a estabelecer políticas de comunicação de estreita
afinidade com interesses mercadológicos.
Em situações de crise é preciso centralizar a gestão da comunicação nas mãos
de um profissional, de forma a fazer o repasse de informações de maneira
rápida e correta. Ao ser deflagrada, normalmente a empresa é colocada na
condição de culpada e o desafio da comunicação é minimizar os efeitos da
publicidade negativa.
Em momentos de crise, devem-se levantar todos os dados com a maior
transparência e formular uma estratégia de esclarecimento. É preciso
identificar os públicos que podem ser afetados e provar que já esta fazendo
algo. Quem deve assumir o comando da dinâmica das informações é a
empresa. O êxito está em se voltar a ser fonte oficial do que aconteceu.
Abordar tudo rapidamente para interromper o assunto e reduzir a duração da
cobertura. Outro aspecto importante é não se deixar pautar pelas
especulações da mídia, mas focar esforços, oferecendo apoio para amenizar o
sofrimento dos envolvidos. Em alguns casos, quando as organizações
possuem varias plantas, é necessário montar uma redação. Dependendo da
dimensão do problema, deve-se recorrer à parceria com a agencia de
publicidade e à contratação de consultoria externa. O importante é uniformizar
o discurso.
2.1 – O gerenciamento da crise.
O início do gerenciamento da crise é fundamental para seu sucesso.
Dentro da lógica organizacional, a primeira providencia a ser tomada, é a
criação de um comitê de crise. Ele caracteriza-se pela união de pessoas
ligadas a diretoria da corporação, com poder de decisão, acionados tão logo
ocorro algum acontecimento capaz de ameaçar a imagem da empresa.
Incluem poucas pessoas, conhecedoras da organização e com disposição pra
prestar qualquer tipo de esclarecimento. Abrange altos executivos (o
presidente da organização), grupo de apoio (o setor envolvido diretamente com
o problema, a área de operações, um consultor externo, recursos humanos e o
22
departamento jurídico e comunicações (atendimento ao cliente). O comitê de
crise deve ter pessoas com características diferentes, pois a combinação de
diversas personalidades faz com que o grupo seja completo. Todos devem
saber escutar, pois qualquer ação tomada por impulso pode danificar a
reputação.
O comitê deve ser treinado para diferentes situações, pois sua função é
identificar os pontos vulneráveis a partir de um diagnóstico e definir objetivos
para corrigir os pontos fracos. De acordo com FORNI (2003), “a pratica
começou com os americanos, na década de 80,a partir do que aconteceu com
a Exxon, no vazamento de óleo no Alasca, e com a Johnson & Johnson, no
caso do envenenamento do Tylenol.”
Deve-se eleger um porta-voz que passe credibilidade, controle e
conheça a empresa e o problema. Alguém experiente, que saiba ouvir e
mantenha-se calmo sob pressão. Que fale com clareza, esteja acessível e
diante do qual o público não se sinta diminuído. Tem que ser alguém que se
sinta preparado para falar sobre qualquer tema polemico, por mais inusitado
que seja. O diretor ou gerente da área pode ser uma boa opção, mas nem
sempre é o mais qualificado. No caso de se tornar fonte para uma matéria,
saiba seu estagio, as fontes que o repórter já consultou e a versão que ele tem
dos fatos. Reúna o máximo de informações sobre o ocorrido e cerque-se de
pessoas-chaves.
Segundo FORNI (2003), um exemplo de má administração de crise pode ser
vista no caso Palace II em 1998:
“Quem conhece o episódio da queda do Edifício Palace II, no Rio de
Janeiro, no carnaval de 1998, certamente se lembra das declarações
precipitadas e infelizes do ex-deputado Sérgio Naya. O empresário,
todas as vezes que apareceu na imprensa, carecia de uma qualidade
fundamental para que vítimas, jornalistas e opinião pública
acreditassem nele: credibilidade.”
A preocupação com a opinião pública, outro fator relevante, e um
conjunto de crenças a respeito de temas, passa a ser fator de referencia a
orientar a ação de empresas. Segundo FREITAS, “as reivindicações deixaram
de representar apenas os interesses de um grupo dominante”. A mídia, espaço
23
de atuação e conjunto de instituições que tornam as coisas públicas e ao qual
todos os grupos estão expostos, é parte de uma esfera onde se vai formatá-la.
De acordo com a “Teoria Hipodérmica”, ela seria entendida como arma
poderosa para moldar a consciência da massa, influenciando, assim, na
formação da opinião pública. Dessa forma, os veículos de comunicação
desempenham um papel importante na construção de realidade ao estruturar a
imagem da realidade social e influenciar o modo como o público receptor
organiza sua imagem do ambiente, formando opiniões.
No “Modelo Cascata”, a opinião pública se formaria através de
pequenos grupos situados no topo da pirâmide social, a elite econômica e
social. Esse agregado de opiniões predominantes viria “descendo”, passaria
pelas elites políticas, pela mídia, pelos chamados formadores de opinião
(jornalistas), até chegar à base, onde se encontra a maioria da população. No
entender de FERRARETO e KOPPLIN (2001), “o trabalho do assessor de
imprensa está relacionado com a formação da opinião pública, na medida em
que influencia o que pensam os receptores da mensagem.” Ele organiza a
informação, foca a atenção sobre aspectos particulares e seleciona um ponto
de vista.
Segundo MOLLEDA (2003):
“Aqui, a metáfora de uma janela vem à mente. Quem enquadra a
mensagem tem a chance de escolher o que deve ser enfatizado na
mensagem, assim como a visão por meio de uma janela é dirigida pelo
local onde o marceneiro enquadra ou faz a abertura. Se a janela é
colocada ou enquadrada em uma parede diferente, a visão será
diferente.”
Mas os efeitos de comunicação são limitados, segundo a “Teoria funcionalista”.
Há uma pluralidade de fontes de canais, mídias e interlocutores e as
experiências de vida fazem com que o receptor tenha um certo discernimento
sobre as coisas, impedindo sua utilização com fins autoritários. No entender de
Danton, a visão de que o jornalista deveria simplesmente relatar a realidade
ganhou destaque em 1856, com a declaração de um correspondente da
Associated Press, demonstrando sua contraposição ao jornalismo ideológico.
No final do século XIX, o jornalismo norte-americano passou a ser um negócio
24
altamente lucrativo. Na verdade, a grande mídia nunca deixou de ser parcial e
subjetiva, nem de demonstrar a diversidade de opiniões.
A área de comunicação deve conhecer a fundo os públicos alvos da
empresa. O público interno deve ser o primeiro a saber, para que tenha
condições de rebater prontamente o que estão falando da organização. A
empresa tem de conseguir o engajamento dele, pois os primeiros formadores
de opinião podem ser seus mais fieis aliados. Com a tendência à
segmentação, é possível buscar canais alternativos para públicos específicos e
a dimensão da explicação deve ser proporcional à versão. O meio mais efetivo
de atingir os clientes e dar atenção à imprensa, por isso ela deve ter
tratamento diferenciado. Mas para se chegar aos veículos de comunicação, é
preciso linguagem própria e muito conhecimento. E os assessores são
treinados para extrair conteúdo útil e transformá-lo em linguagem acessível.
As pessoas constroem credibilidade com uma atuação transparente e
ética. As reações passam a ser vistas em função desse “patrimônio”, pois é um
aspecto que resiste ao tempo e aos fatos. Funciona como se fosse uma
“coluna” de crédito, um ativo importante na hora de episodio negativo.
Passado e credibilidade não imunizam ninguém, mas dão amplas
possibilidades de dar a volta por cima. A mídia, por exemplo, tem alta
consideração na hora de julgar comportamentos e atitudes. Mas o
relacionamento deve ser consolidado antes dos momentos de dificuldades e
basear-se na transparecia e atenção dos jornalistas. A construção da
credibilidade também passa pelo respeito ao meio ambiente, à comunidade,
aos empregados, às leis, ou seja, tem de haver identificação com as
aspirações da sociedade.
As recentes crises empresariais demonstram que a imagem corporativa
é um dos ativos mais importantes no valor das companhias. Esses, intangíveis
das grandes empresas, como experiência, imagem pública e posicionamento,
exercem cada vez mais importância em sua cotização nos mercados.
E, pois, é na crise que os princípios éticos se sobressaem ou capitulam
ante a pressão. É possível conviver cm uma crise, desde que a empresa seja
reconhecida por sua atuação moral, com o que propõe FERRARETO e
25
KOPLIN (2001): “servindo aos objetivos de uma sociedade que se pretende
verdadeiramente justa.” Para isso, o jornalista de assessoria de imprensa deve
pautar sua conduta pelo Código de Ética em vigor; o qual define o direito
publico à informação e estipula o compromisso com a verdade. Também
observa que é dever do jornalista lutar pela liberdade de expressão e o livre
exercício da profissão.
Torna-se muito mais difícil exercitar a ética quando se devem cultivar
duas lealdades: à sociedade e à instituição. No entender de LIMA (1985 – P.
39), “nesse choque entre interesses econômicos e isenção jornalística abre-se
uma brecha (...) tentam influir ou persuadir a opinião pública.”
O caso Tylenol, outro exemplo, aconteceu em 1982. O medicamento foi
adulterado com cianeto, ou seja, alguém colocou o material nas cápsulas que
já estavam nas lojas, matando sete pessoas nos Estados Unidos. A diretoria
assumiu a responsabilidade, recolheu todo o produto, auxiliou as pessoas
afetadas e tratou a imprensa como parceira na divulgação dos fatos.
A crise exige que a empresa se coloque ao lado do cidadão, pois é ela
que a mídia vai estar. A construção de sentido se dará envolvendo os mais
fortes contra os mais fracos e essa atitude expressa uma solidariedade
simbólica. A empresa é também um dos componentes da estrutura social, tem
seus efeitos sobre a comunidade e é a sociedade a principal responsável pelo
seu lucro. Por isso, tem a obrigação de prestar contas à sociedade.
Sinalizando a sensibilidade da empresa para com o problema,
consegue-se reduzir o temor criado e fazer com que ela seja vista de maneira
mais favorável. Isso é aceitável se existem capacidade e interesse para
comunicar-se de forma transparente, continuada e próxima às pessoas. Com
uma maior consciência sobre a importância da comunicação também será
possível prevenir acontecimentos indesejáveis. Dessa forma, será muito mais
provável que a versão e o desdobramento dos fatos não afetem os negócios,
nem a imagem da empresa.
Uma vez estourada a emergência da crise e tendo se preparado, a
empresa poderá responder de forma bem mais rápida e efetiva, focará sua
ações na analise do fato gerador, identificando as mensagens fundamentais e
26
alinhando as estratégias de comunicação. Com esse tipo de atitude, será
possível conquistar empatia da sociedade.
As crises também podem ser uma fonte de oportunidades. Tanta
exposição pública gratuita não se conseguira nunca mais. E é nesse momento
que o público esta mais atento. Será possível, então, lançar mensagens
positivas sobre a empresa, seus produtos e serviços. A mesma facilidade de
comunicar um acontecimento negativo deve ser aproveitada para informar a
favor da solução dos problemas.
2.1.1 – O que não deve ser feito.
Segundo o especialista em crise Nemércio Nogueira, em seus
treinamentos estratégicos, verificam-se muitas vulnerabilidades nas grandes
corporações no que diz respeito à crise. Estaremos enumerando abaixo para
um melhor entendimento:
1. Perplexidade com a imprensa. Mesmo companhias
organizacionalmente equipadas para o relacionamento rotineiro com os
jornalistas se vêem muitas vezes atarantadas em face do telefonema de
um repórter que surpreende a empresa com uma colocação
questionadora ou a inesperada revelação de um fato ameaçador.
2. Cabeça quente. Ceder à emoção e ao envolvimento pessoal é outro
aspecto que frequentemente se registra entre os executivos que se
defrontam com uma crise institucional. Administrar com o fígado é o pior
caminho, prejudica o julgamento na tomada de decisões e dificulta a
estruturação organizacional do comitê de crise, emperrando a execução
das ações necessárias.
3. Esquecer a Norma. Também se percebe que pontos importantes das
políticas e procedimentos de Crisis Management são frequentemente
esquecidos pelos executivos, no calor da refrega. As consequências
podem ser as mais diversas, mas todas prejudiciais à empresa. A causa
desse problema provavelmente é o fato de que os executivos lêem as
normas de forma passiva, não crítica, não refletindo sobre seu
27
conteúdo, portanto não as sentem, não as internalizam como deveriam,
para poder vivenciá-las.
4. Desorganização. Outro ponto que muitas vezes se observa em
gerenciamento de crise, é que, acuados por esta que eclodiu e tendo
cedido à emoção (vizinha próxima do pânico), os executivos por vezes
esquecem até mesmo de, logo no primeiro momento, organizar-se,
atribuir funções e, em geral, determinar quem faz o que. A impressão de
quem observa de fora é de um bando atabalhoado, não um comitê de
crise.
5. Falhas de cobertura. Não dar a devida atenção aos diversos públicos
importantes para a empresa, também é uma falha que ocorre com
frequência. Isso acontece principalmente porque os executivos acabam
tão preocupados com os jornalistas, que esquecem os demais públicos.
Por isso, Nemércio costuma dizer que nas empresas, uma situação só
passa a ser chamada de crise, quando sai ou pode vir a sair no jornal.
Caso contrário, é apenas um problema.
6. Insensibilidade política. Acostumados à vida empresarial, os
executivos muitas vezes não têm a necessária sensibilidade política
exigida para administrar uma crise institucional. Não estão habituados a
cultivar essa arte, que, no fundo, é a principal ferramenta e
característica de uma crise institucional. Os políticos lêem nas
entrelinhas, têm jogo de cintura, são atentos aos detalhes, não perdem
de vista sua meta e sabem jogar xadrez. Antes de mover uma peça,
avaliam rapidamente todas as conseqüências e as futuras jogadas
possíveis, suas e do seu adversário.
7. Comunicação falha. Por mais experientes que sejam em seu trabalho
no dia-a-dia, muitas vezes os executivos – mesmo os profissionais de
comunicação – acabam por sucumbir à pressão e à emoção e passam a
violar regras básicas de Media Training, reagindo a um rumor sem
investigar se ele tem base de realidade, respondendo a situações
hipotéticas ou especulativas colocadas por jornalistas, usando excesso
28
de palavras para responder a perguntas simples, perdendo a paciência
com a imprensa.
8. Presumir culpa. Em face da alegação de que a empresa teve algum
comportamento irregular, é bastante frequente que os executivos
responsáveis pela administração da crise presumam que essa
afirmação é correta, sem dar a devida prioridade à investigação da
realidade. Ou seja, sua primeira inclinação é presumir que a empresa
está errada. Um executivo que não conhece em profundidade e
amplitude a empresa em que trabalha desconhece suas
vulnerabilidades e aspectos positivos. Por isso, na hora de enfrentar
uma alegação ou situação crítica, por vezes é incapaz de reagir com a
necessária rapidez para evitar ou extinguir uma crise.
9. Falta de registro. Uma das regras básicas do funcionamento de um
comitê de crise é o relato escrito (um diário) de todas as ações
realizadas, para permitir posterior avaliação e aprimoramento do
processo. Essa é mais uma falha que se observa com freqüência nos
treinamentos práticos. Espicaçados pelas dificuldades, os membros do
comitê muitas vezes esquecem de indicar um “relator” para essa
importante função.
10. Ficar a reboque da crise. Envolvidos pela emoção, insuficiente
informados, atabalhoados pela desorganização, os integrantes do
comitê de crise lembram por vezes o ambiente de uma campanha
eleitoral de centro acadêmico – e o resultado é que, por isso, não
conseguem passar a frente do processo, como deveriam. Em vez disso,
vêem-se arrastados pela crise.
2.1.2 – O que deve ser feito.
Ainda segundo Nemércio, a metodologia globalmente aceita para uma
empresa encarar e ultrapassar uma crise institucional baseia-se em algumas
recomendações básicas, como as seguintes:
29
1. A empresa deve dispor de uma norma escrita de administração de
crises: um documento formal, preferivelmente preparado com a
participação dos vários setores da empresa, para assegurar o amplo
envolvimento de todos;
2. Essa norma deve conter as regras do processo de administração de
crises, indicando também a constituição de comitês de crise no nível
corporativo e em cada uma das instalações locais (nomes das pessoas,
seus telefones profissionais, residenciais e celulares, endereços
residenciais e demais indicações para sua rápida localização a qualquer
momento);
3. Também é importante que todos esses gestores estejam sempre
preparados (técnica, organizacional e emocionalmente) para administrar
crises, o que requer treinamento prático periódico – da mesma forma
como se faz costumeiramente nas empresas para que todos saibam
escapar de um incêndio sem tumulto.
4. Avaliação dos resultados dos treinamentos e do desempenho dos
participantes e, se necessário, atualização da norma – o que, em si,
também constitui um reforço para a internalização da norma pelos
executivos;
5. Envolvimento de todas as áreas nos treinamentos, porque uma crise
pode abranger varias delas simultaneamente.
2.2 – Crises como oportunidade
Os que vêem nas crises unicamente problemas, se esquecem que
também podem ser uma fonte de oportunidades, que infelizmente, só podem
surgir nesses momentos difíceis. A exposição pública gratuita a que se vê
submetida uma empresa quando está sofrendo uma crise não conseguirá
nunca mais. O público estará mais atento que o normal sobre o que aconteça
com uma empresa enquanto durem os acontecimentos. Neste sentido, se
gestiona bem uma crise, se tem a oportunidade de atenuar o signo negativo da
cobertura mediática e, inclusive, é possível lançar mensagens positivas sobre a
30
empresa, seus produtos e serviços. Esta oportunidade não pode ser vista nos
últimos momentos da crise, quando a atenção aos fatos esteja decaindo e as
mensagens sejam vista como uma reação retardada e suspeita por parte da
empresa. Seria recomendável buscar a oportunidade desde os primeiros
instantes, ainda que isso nem sempre seja possível e até mesmo
desaconselhável algumas vezes.
Um clássico exemplo de como aproveitar uma crise foi protagonizado
por Johnson & Johnson em Estados Unidos, em 1986. Naquele ano alguém
colocou cápsulas envenenadas com cianureto em frascos de Tylenol que já
estavam nas lojas. Morreram sete pessoas. A empresa tomou a decisão de
recolher todo o produto (com um custo de 300 milhões de dólares), entrou em
contato com as famílias das vítimas para oferecer seu apoio e adotou novas
medidas de segurança para suas embalagens.
Johnson & Johnson transmitiu uma imagem de preocupação pela
segurança de seus produtos, de interesse pelas pessoas e de solidez em sua
gestão. Isto foi reconhecido pelos meios e pelo público, que continua tendo
Tylenol como um dos analgésicos líderes de mercado.
Faremos a partir de agora, o estudo de casos de sucesso de algumas
empresas, onde através de boas estratégias, conseguiram amenizar os danos
causados à sua imagem. Estaremos também estudando casos de insucesso
para mostrar quanto certas estratégias mal definidas podem ser terríveis para a
imagem da empresa.
31
CAPÍTULO III
A REALIDADE DE QUEM ESTEVE DIANTE DA CRISE.
3.1 – Caso Vôo 402 da TAM. Um caso de sucesso.
No dia 31 de Outubro de 1996, a aeronave pertencente À TAM linhas
aéreas se preparava no aeroporto de Congonhas para decolar com destino
ao Rio de Janeiro. A aeronave caiu apenas 24 segundos após sua
decolagem, no bairro do Jabaquara, zona sul de São Paulo, causando a
morte de 99 pessoas. O avião colidiu com um prédio de dois andares, outro
prédio de três andares, arrancou o telhado de um sobrado e mergulhou no
asfalto. No queda, a aeronave ainda destruiu oito casas na Rua Luís Orsini
de Castro.
O plano de vôo consistia em que o avião saísse do aeroporto com cerca
33 metros de altura e mudasse sua direção. Isso não foi possível devido a
uma pane no reversor do motor direito. Ele se desligou na subida devido à
perda de velocidade e impediu o recolhimento do trem de pouso. Houve
rápida perda de altura na saída do aeroporto. Quando os alarmes de
velocidade soaram na cabine, o comandante simplesmente os ignorou e
aumentou a potencia do motor, pois eles usualmente davam sinais falsos.
A TAM não tinha um plano definido de administração de crise. A
companhia, então, entrou em contato com a American Airlines, que enviou
um manual americano e um funcionário especializado na gestão de crise. O
comandante Rolim Amaro, Fundador da Empresa TAM, estava no Caribe e
quem assumiu a gestão da crise até que ele voltasse foi o executivo Luís
Eduardo Falco, então vice-presidente de Marketing.
A empresa não parou de operar e disponibilizou as linhas telefônicas
que geralmente recebiam reclamações e sugestões. Alugou um hotel
próximo ao aeroporto para acomodar as famílias das vitimas e concedeu
entrevista coletiva menos de quatro horas depois do acidente. Os porta-
32
vozes conseguiram se comunicar bem ao dar satisfação à opinião publica.
Em sete dias o problema foi detectado e o resultado oficial publicado um
mês depois. A companhia não anunciou a lista com os nomes das vitimas,
sem antes confortar todos os familiares. A TAM divulgou boletins oficiais a
cada 12 horas e suspendeu todas as peças publicitárias em veiculação.
Em julho do ano seguinte ao desastre, a companhia aérea recebeu o
premio “Melhores e Maiores” da revista Exame, pela habilidade em lidar com
momentos de crise; esteve em 2005 entre as 15 marcas mais valiosas do
país em uma avaliação da Isto É, e no mesmo ano, conquistou Top of Mind
da Folha. Naquela época, o comandante esperava os passageiros com o
tapete vermelho estendido à frente das aeronaves, simbolizando o
diferencial da empresa de tratar sempre muito bem o cliente. Nesse caso,
vender a imagem de bom moço de Rolim ajudou muito. Esse sentimento é
imprescindível nessas horas.
A TAM se profissionalizou e criou um plano detalhado de ação para
administração de crise. Depois do acidente de 1996, o comandante Rolim
por fim ao amadorismo e copiou o manual para que, caso houvesse uma
nova tragédia, a companhia estivesse preparada para reagir de acordo com
o esperado. E como o Fokker-100 era o símbolo desse período infeliz, a
empresas ao longo do tempo, decidiu substituir sua frota por aeronaves da
marca Airbus.
3.2 – Caso Tylenol – Uma lição a ser seguida.
No ano de 1982 a empresa Johson&Johson, laboratório responsável
pelo medicamento Tylenol, gerenciou sua crise com tamanho
profissionalismo, que é lembrado até hoje como sucesso absoluto quando
se pensa em administração de crise.
Tylenol. Medicamento que ocupava na época cerca de 35% do mercado
norte-americano de analgésicos, no qual devido a crise, teve um prejuízo de
aproximadamente US$ 50 milhões. O medicamento teve sua composição
33
adulterada por cianeto, o que resultou na morte de sete pessoas nos
Estados Unidos.
Apesar de o caso ser muito grave, a reputação da empresa fabricante
do medicamento, a Johson&Johson, não foi afetada. Tudo isso se deu
devido ao modo ao qual a empresa administrou sua crise.
A diretoria da empresa assumiu a responsabilidade pelo ocorrido
rapidamente, não omitiu nenhuma informação à mídia, e ainda melhor,
transformou-a em aliada para levantar e divulgar fatos sobre o caso.
Solicitou através da imprensa a população que suspendesse de imediato o
uso do medicamento em sua versão cápsula. A empresa continuou na sua
estratégia e fez o recolhimento de todo o estoque do Tylenol dos hospitais,
farmácias e outros pontos de venda, e ainda ofereceu a seus clientes a
possibilidade da troca do medicamento em cápsulas já adquirido pela
versão tablete que não teriam a chance de adulteração.
Ao fim da fase turbulenta, a empresa ainda fortaleceu sua imagem, pois
mostrou credibilidade quando assumiu o fato e não mediu gastos para dar
todo apoio a seus consumidores.
3.3 – Caso Vôo 3054, aeronave A320 – O drama da TAM, que
desencadeou uma crise ainda maior.
A aeronave A320 saiu de Porto Alegre no dia 17 de julho de 2007, com
destino ao Aeroporto de Congonhas em São Paulo. Ela pousou na pista
com dificuldade de frenagem e fez uma curva para a esquerda,
sobrevoando a Avenida Washington Luis, e chocou-se contra o prédio da
TAM Express. A colisão causou um grande incêndio no local e a edificação
teve que ser implodida posteriormente. Foi o pior acidente aéreo ate então
da América latina, com número total de 199 vítimas fatais.
O diretor de segurança da empresa acionou o presidente, que
determinou a abertura da sala de crise. A gestão estratégica foi deflagrada
15 minutos após o acidente, e em menos de 30 minutos a sala estava cheia.
Uma estrutura de apoio, informação e assistência as vitimas foi montada. A
34
existência desta sala demonstra planejamento por parte da empresa, e a
estrutura de apoio é estratégia fundamental para dar amparo às famílias no
momento em que mais necessitam.
Segundo comunicado da TAM na época:
“Neste momento não podemos determinar a extensão dos
danos ou de possíveis lesões sofridas pelos ocupantes do
avião, passageiros e tripulantes. Uma equipe da TAM já
esta no local e outros técnicos da companhia estão a
caminho. A assistência de emergência também esta sendo
prestada pelo Corpo de Bombeiros, Infraero e outras
autoridades aeronáuticas. A TAM já ativou seu Programa
de Assistência às vitimas e familiares, e disponibilizou um
numero de chamadas gratuitas voltado para o atendimento
aos familiares dos passageiros e tripulantes deste Vôo:
0800 117900. Qualquer outra informação relevante será
comunicada imediatamente pela TAM.“
Cerca de 150 funcionários deixaram suas funções dentro da companhia
para prestar apoio aos familiares, mas só depois a empresa foi atrás de
ajuda especializada. Psicólogos e padres são fundamentais nesse processo.
A TAM perdeu um pouco de tempo, e também errou ao colocar tantos
funcionários para o atendimento dos familiares, pois é inevitável que não
associem estas pessoas a marca e assim tratá-los como co-responsáveis
pelo acidente.
O telefone colocado à disposição só dava ocupado, o que a TAM
alegava culpa dos diversos trotes passados para a empresa. De qualquer
forma, ela deveria ter previsto isso e ter disponibilizado mais linhas
telefônicas, como fez em seu primeiro grave acidente em 1996.
Os funcionários que atenderam diretamente o público ficaram abalados
e não conseguiram dar o atendimento devido. Houve muita confusão, o que
demonstra falta de treinamento para momentos de crise. Outra agravante foi
o fato de que a TAM ao disponibilizar um avião para os parentes de vitimas
fora da cidade, fez com que estes ficassem mais de uma hora dentro de um
35
Airbus, avião semelhante ao do desastre, a espera para decolagem devido a
checagem dos documentos destes e também porque a empresa decidiu
incluir passageiros regulares nas poltronas vazias. Eles ainda foram
acomodados em um hotel repleto de fotógrafos. Neste momento, a TAM não
demonstrou a sensibilidade necessária com os familiares das vitimas.
Era obrigação da empresa informar primeiro os familiares, depois a
imprensa. A TAM não quis anunciar a lista com nomes das vitimas, sem
antes confortar todos os familiares. Porem, alguns parentes e amigos em
Porto Alegre tiveram a confirmação pelo rádio. Faltou bom senso nesse
aspecto, pois não era difícil de imaginar que com a velocidade de
informação a qual o mundo esta submetido atualmente, que os familiares
teriam acesso a esses dados. As testemunhas da tragédia relatavam o que
viam mesmo antes da imprensa tomar consciência do fato. Informações
foram produzidas por pessoas comuns através de todas as ferramentas
contemporâneas de comunicação. Não se atentaram para a velocidade da
informação. Câmeras digitais, laptops e celulares registravam cada
movimento da equipe de resgate, e os blogs e chats não paravam de
contribuir para que a noticia chegasse a todos.
Todos esses pequenos erros no desenrolar da gestão da crise, provam
que a prevenção e o treinamento para casos de conflito são imprescindíveis.
A empresa TAM não teve um grande impacto em seus resultados
financeiros, já que as despesas com perdas materiais e indenizações foram
cobertas pelo seguro, mas as ações recuaram no mercado financeiro e sua
imagem ficou arranhada para sempre na historia da aviação civil nacional.
Fatalidades acontecem, mas a diferença está em como lidamos com
elas. Na primeira grande crise, desencadeada pelo acidente em 1996, a
empresa não estava tão preparada, porem agiu da melhor forma possível,
com grande sensibilidade e atenção aos familiares das vitimas e todos que
pela tragédia foram afetadas. No segundo momento, a TAM dispunha de um
calhamaço de centenas de paginas que mostrava, passo a passo, o que
fazer. Mas não basta só agir de forma racional e correta, conforme
recomenda o manual. O erro da companhia, talvez tenha sido segui-lo a
36
risca. Um manual não prevê tudo. Nestes casos, é preciso sensibilidade e
bom senso.
3.3.1 – Desencadear da crise aérea nacional
O acidente agravou ainda mais a crise no setor aéreo do país,
deflagrada após o acidente do avião da GOL em 2006. Na época oito
controladores foram afastados para investigações de possível falha
operacional. E as companhias aéreas não conseguiram, por diversos
motivos, entre eles problemas com manutenção e falhas de comunicação
com a Infraero, absorver com eficiência a demanda da Varig, que passou
por uma grande crise financeira.
O acidente pôs em xeque a capacidade brasileira de gestão aérea e
levou à troca do comando no Ministério da Defesa. Os parlamentares que
faziam parte da CPI do apagão aéreo na Câmara dos Deputados decidiram
abrir mão do recesso para investigar a tragédia. O Presidente da Infraero
também foi substituído.
37
CONCLUSÃO
No Brasil, o tema gerenciamento de crise ainda encontra-se em um
estágio menos desenvolvido do que nos países da Europa e Estados Unidos.
Porém mediante grandes crises enfrentadas nos últimos tempos pode-se
perceber que esta evolução já ocorre em grande escala.
Os públicos já não são mais leigos. A grande maioria dos cidadãos
conhece pelo menos algum dos seus mais importantes direitos, logo sabem
recorrer quando se sentem lesados por uma empresa, o que pode gerar uma
grande crise para a corporação. A velocidade da informação acarretada pelas
novas tecnologias, também contribui para geração de crises.
No decorrer do trabalho, vimos as diversas definições para crise, tanto no
cotidiano do ser humano, quando se deparam com crise em suas relações
diárias, como também crise no âmbito corporativo de empresas. E nesse
momento foi estudado e dado formas de como administrar, gerenciar e superar
as crises. Existem diversos fatores que contribuem para que a crise seja bem
gerida, assim como há eventos que independem da vontade ou desejo de seus
gestores. Uma boa política de comunicação em momentos de crise é crucial,
porém não resolve, pois é preciso que o plano seja estudado e treinado para
controlar e reduzir os danos. A melhor alternativa para o gerenciamento de
crise é a prevenção e ser sempre totalmente responsável e transparente com
seus públicos.
Segundo alguns autores citados nesta obra, vimos que as organizações
devem se preparar para a crise quando ainda não há crise, o que ainda é
muito incomum. Mas é preciso aprender a lidar com as crises antes que elas
aconteçam. Como ela não escolhe hora para estourar, as empresas devem
estar permanentemente preparadas. Quanto mais pronta estiver, menos
afetada será sua imagem junto à opinião pública.
A gestão de comunicação deve ter inicio com um planejamento
preventivo e estar alinhada ao plano de gestão de crise da companhia. Trata-
se, portanto de um ato de relacionar e avaliar informações a serem executadas
38
num prazo definido, visando à consecução de objetivos. Significa definir
claramente planos (providencias), estratégias (inesperadas), metas objetivos,
públicos-alvo e políticas de comunicação.
A companhia precavida é capaz de responder prontamente, de modo a
sofrer menor prejuízo. A antecipação da maior segurança para a tomada de
decisões e permite minimização de impactos. Sobreviverá a empresa que
estiver mais bem preparada, pois não há espaço para improvisações. A crise
terá seus efeitos em acordo com a maneira que tenha sido administrada, ou
seja, o tratamento é proporcional. Uma boa imagem pode, junto aos públicos,
minimizar os efeitos de uma crise.
Erguer uma reputação durante anos é o melhor antídoto para a crise. Se
a empresa tem uma boa reputação, uma boa imagem perante aos seus
públicos, terá sempre o beneficio da duvida. Faz sentido para as empresas
acumularem um investimento adicional em boas ações, mas o sucesso do
resgate de uma reputação perdida depende mesmo da imagem que a
empresa passa no momento em que é atingida por uma crise.
Em um bom plano de gerenciamento de crise deve-se pensar no pior
antes que ele aconteça. As empresas precisam se convencer que a melhor
solução é prevenir. O primeiro estágio busca a preparação para os “piores”
cenários possíveis. O segundo passo especifica as orientações para a ação e
a ultima etapa analisa os fatos ocorridos após a recuperação da organização.
Concluímos após todo o trabalho monográfico que a implementação de
um programa de prevenção de gestão de crises é essencial para a vida de
qualquer pessoa, como também para o sucesso dos negócios de qualquer
organização.
39
BIBLIOGRAFIA
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Públicas. Estratégias y Tácticas. 6 a. Ed. Pearson Educacion. Madrid. 2001
41
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8
CAPÍTULO I - Definindo crise 9
1.1 - Crise de imagem na corporação 10
CAPITULO II - No momento da crise 17
2.1 - O gerenciamento da crise 21
2.1.1 – O que não deve ser feito. 26
2.1.2 – O que deve ser feito. 28
2.2 - Crises como oportunidade 29
CAPITULO III - A realidade de quem esteve diante da crise 31
3.1 - Caso Vôo 402 da TAM. Um caso de sucesso. 31 3.2 - Caso Tylenol – Uma lição a ser seguida 32
3.3 - Caso Vôo 3054, aeronave A320 –
O drama da TAM, que desencadeou uma crise ainda maior. 33
3.3.1 – Desencadear da crise aérea nacional 36
CONCLUSÃO 37
BIBLIOGRAFIA 39
ÍNDICE 41
42
FOLHA DE AVALIAÇÃO
Nome da Instituição: UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
Título da Monografia: GERENCIANDO A CRISE ATRAVÉS DE UMA
COMUNICAÇÃO EFICAZ.
Autor: Felipe Leal França
Data da entrega: 21/08/2010
Avaliado por: Conceito: