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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
AUTORA: ALESSANDRA CUNHA BARBATO
ORIENTADORA: MARIA POPPE
A IMPORTANCIA DA PSICOMOTRICIDADE NAS
DISGRAFIAS
27 SETEMBRO 2004
2 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
A IMPORTANCIA DA PSICOMOTRICIDADE NAS
DISGRAFIAS
OBJETIVOS: Identificar quais aspectos psicomotores contribuem para o desenvolvimento
correto da escrita
3RESUMO
O aprendizado da escrita é um processo complexo que envolve várias
habilidades.
Um desenvolvimento motor adequado é um requisitos importantes na
qualidade do traçado gráfico, basta dizer que a escrita é uma atividade motora
que obedece aos requisitos de orientação e organização espacial entre outros.
Logo está vinculada à psicomotricidade, pois é através do corpo que a criança
interage com o meio e com os outros.
Portanto, o corpo enquanto ponto de referencia, servirá de base para o
desenvolvimento de habilidades que se encontrem defasadas.
4METODOLOGIA
Esta monografia baseou-se numa pesquisa bibliográfica com objetivo de
mostrar como a psicomotricidade pode e deve auxiliar nos casos de crianças
escolares com alteração motora na escrita oferecendo a elas um conhecimento
corporal que lhe dará condições para melhor aproveitamento dos diferentes
segmentos do corpo utilizados para as situações de escrita.
Foi utilizada uma extensa bibliografia sobre a psicomotricidade e a
disgrafia.
5SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.........................................................................................6 CAPÍTULO I ----------------------------------------------------------------------------8 A PSICOMOTRICIDADE..........................................................................9 CAPÍTULO II --------------------------------------------------------------------------23 A DISGRAFIA.......................................................................................24 CAPÍTULO III --------------------------------------------------------------------------39 PSICOMOTRICIDADE E DISGRAFIA....................................................40 CONCLUSÃO........................................................................................58 BIBLIOGRAFIA....................................................................................60 ÍNDICE................................................................................................62
6INTRODUÇÃO
A criança para ser capaz de desempenhar o ato motor da escrita
necessita basicamente da aquisição e desenvolvimento de algumas
habilidades, tais como: lateralidade, equilíbrio, ritmo, esquema corporal,
orientação espacial, coordenação motora entre outras.
Para uma pessoa agir no meio ambiente é necessário que possua além
de uma organização motora, um desejo de realizar um movimento.
O movimento “pelo movimento” não leva a nenhuma aprendizagem. É
necessário e fundamental que a pessoa deseje e analise seus movimentos,
interiorizando-se.
É neste momento que a psicomotricidade enquanto importante
instrumento de elo entre movimento, emoção e cognição auxilia e capacita a
criança para uma melhor assimilação das aprendizagens escolares.
A psicomotricidade caracteriza-se por uma educação/ reeducação que
se utiliza do movimento para atingir aquisições mais elaboradas.
A proposta desta monografia é mostrar como a criança disgráfica
poderá ser beneficiada através da reeducação psicomotora.
7O capítulo I aborda o termo psicomotricidade, sua origem e definições
segundo diversos autores, sua relação com o afetivo e seus elementos
constituintes.
O capítulo II que trata da disgrafia traz sua conceitualização e suas
classificações, aborda também o desenvolvimento da escrita e os pré-
requisitos para um bom desenvolvimento da leitura/escrita.
O capítulo final procura estabelecer a relação da psicomotricidade com a
disgrafia, a importância de um bom desenvolvimento psicomotor nas
aprendizagens escolares, ou seja, a psicomotricidade como unidade
terapêutica reorganizadora pode eliminar os problemas do ato motor da escrita
assumindo um papel de grande importância.
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CAPÍTULO I A PSICOMOTRICIDADE
9A PSICOMOTRICIDADE
O estudo da Psicomotricidade é recente. Afirmou-se pouco a pouco e
evoluiu em diversos aspectos.
1.1 - CONCEITO DE PSICOMOTRICIDADE
A visão inicial que se tinha da psicomotricidade era principalmente
neurológica [Coste, 1985; Aucouturier, 1986]. Somente após algumas décadas
que a noção global do desenvolvimento da criança normal apareceu. Segundo
Coste [1985] , a psicomotricidade é uma técnica na qual encontramos
diferentes pontos de vista e que utiliza os conhecimentos de diferentes
ciências. Lapierre[1989] e Aucouturier [1986] ressaltam que a psicomotricidade
é muito mais que um conjunto de técnicas, é também a relação do
psicomotricista com a criança, seu corpo e sua personalidade. É um
instrumento do desenvolvimento global da criança.
Harrow [1972] fez uma análise do homem primitivo ressaltando como o
desafio de sua sobrevivência estava ligado ao desenvolvimento psicomotor. As
atividades básicas consistiam em caça, pesca e colheita de alimentos e para
isto, os objetivos psicomotores eram essenciais para a continuação da
existência em grupo.
Segundo Lapierre [1989], a psicomotricidade nasceu de duas correntes
de pensamento: uma que se inspira na epistemologia genética de Piaget, a
outra nasceu dos princípios da psicanálise de Freud. A primeira , piagetiana, é
associada à fenomenologia existencial de Merleau-Ponty. As pesquisas desta
corrente foram orientadas visando o desenvolvimento cognitivo e racional.
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Merleau-Ponti [1971] , numa visão muito própria, escreveu: “É na ação
que a espacialidade do corpo se completa e a análise do movimento próprio
deve permitir-nos compreende-la melhor”. A segunda, associada a não-
diretividade rogeriana, é orientada visando o domínio psicoafetivo. Portanto,
certos psicomotricistas [Aucouturier,1986; Donnet,1993] ,não utilizam essas
referencias psicanalíticas em sua prática. Para Aucouturier [1986], existe uma
discordância entre os conceitos utilizados em psicanálise e a prática
psicomotora desenvolvida com a criança. Segundo o autor, a utilização dos
princípios psicanalíticos provocam uma ambigüidade entre a prática
psicomotora e a prática psicanalítica.
Para Lapierre[1989], a psicomotricidade, com suas duas orientações,
coloca em questão o lugar do corpo no desenvolvimento da pessoa, e
consequentemente, o lugar do corpo na educação.
Wallon [1979] , salienta a importância do aspecto afetivo a qualquer tipo
de comportamento. Existe, para ele, uma evolução tônica e corporal chamada
diálogo corporal, este diálogo é fundamental na origem psicomotora, pois “a
ação desempenha o papel fundamental de estruturação cortical e está na base
da representação.”
Os estudos de Piaget [1968], atestam a importância da experiência
motora, da relação do corpo e o espaço para desenvolver a inteligência. A
partir dessas concepções, o corpo passa a ocupar um espaço importante na
educação.
11Lapierre e Aucouturier[1984], referem-se a diferentes autores: Freud,
Wallon, Piaget, Rogers, entre outros, delinearam e esclareceram, em certos
momentos, suas próprias observações. Os autores ressaltam que não se trata
de tentar uma impossível síntese entre estas diferentes concepções, mas de
utilizar, segundo as circunstancias, os conceitos que lhe pareçam, enquanto
educador, enquanto recreador, melhor se adaptar à prática da
psicomotricidade.
A psicomotricidade evoluiu no tempo e a necessidade de uma visão
global da criança apareceu. Esta visão é o encontro de todas as tentativas de
análise e de explicação sobre a pessoa e o resultado de observações e
experiências que diversos psicomotricistas realizaram em suas sessões de
psicomotricidade [Morales,1992]. Segundo Aucouturier [1986], a globalidade
criança manifesta-se em sua ação, que a liga emocionalmente ao mundo. Esta
ação deve ser vista como um elo entre a estrutura somática, afetiva e cognitiva
da criança. A visão global em psicomotricidade visa o desenvolvimento de
todas as funções motoras, cognitivas, afetivas e sociais da criança.
O movimento, assume uma grande significação. Inicialmente a criança
apresenta uma relação difusa e desorganizada com o meio ambiente, pouco a
pouco, começa a se expressar através dos gestos que estão ligados à esfera
afetiva e que são, portanto, o escape das emoções vividas.
Hoje o homem também necessita das habilidades psicomotoras, embora
tenha se aperfeiçoado mais para uma melhor adaptação ao meio em que vive.
Quando uma criança percebe os estímulos do meio através de seus
sentidos, suas sensações e seus sentimentos e quando age sobre o mundo e
12sobre os objetos que o compõem através do movimento de seu corpo, está
vivenciando, ampliando e desenvolvendo suas funções intelectivas. Por outro
lado, para que a psicomotricidade se desenvolva, também é necessário que a
criança tenha um nível de inteligência suficiente para faze-la desejar
experimentar, comparar e distinguir seus objetivos.
Como dizia Buytendyk, “o movimento é sempre a expressão de uma
existência. A existência corporal impõem ao homem um duplo papel – ele é
seu corpo e ele tem um corpo; talvez o corpo seja seu instrumento, talvez a
consciência de si coincida com sua corporalidade”.
1.2 - Desenvolvimento da Psicomotricidade
A Psicomotricidade destaca a relação existente entre a motricidade, a
mente e a afetividade e busca facilitar o desenvolvimento global da criança por
meio de uma abordagem.
O conceito de psicomotricidade foi marcado pela Neurologia, Psiquiatria,
Psicologia e pela Psicanálise.
Durante séculos, o corpo e o psiquismo foram dissociados. O termo
psicomotricidade apareceu pela 1A. vez com Dupré em 1920, significando um
entrelaçamento entre o movimento e o pensamento. Verificou que existia uma
estreita relação entre as anomalias psicológicas e motrizes, o que levou a
formular o termo psicomotricidade.
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Quando uma criança recebe os estímulos do meio através de seus
sentidos, suas sensações e seus sentimentos e quando age sobre o mundo
através do movimento de seu corpo, está vivenciando, ampliando e
desenvolvendo suas funções cognitivas.
Por outro lado, para que a psicomotricidade se desenvolva, também é
necessário que a criança tenha um nível de inteligência suficiente para faze-la
desejar vivenciar. Logo a psicomotricidade associa os potenciais intelectuais,
afetivos, sociais, motores e psicomotores da criança e lhe dá segurança,
equilíbrio, e permite o seu desenvolvimento, organizando corretamente as suas
relações com os diferentes meios nos quais tem de evoluir.
Segue abaixo um esquema básico para melhor compreensão da
psicomotricidade:
Competência Psicomotora [C.P]: como base, meio e expressão da
aprendizagem.
1.3 - O Desenvolvimento Motor e Psicomotor
Competência Neuro-Psicológica e Neuromotora
Competência Cognitiva
Competência Sócio-Afetiva
C. P
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O desenvolvimento motor infantil passa por uma série de etapas, em
função de sua maturidade nervosa e das experiências vividas, alcançadas por
meio de ensaio e erro, comparações, sensações e analogias.
A organização progressiva do movimento, o desenvolvimento motor e o
estabelecimento de condutas motoras cada vez mais aperfeiçoadas estão
sujeitos a um processo de aprendizagem. A partir de alguns esquemas
elementares inatos, de fato parece que a experiência assume um lugar
preponderante. Os “traços” deixados pela experiência na memória corporal
enriquecerão os componentes motores anteriores do indivíduo. Logo as
experiências motoras da criança são decisivas [Laborit,1980].
Paralelamente a todas as estimulações [ ou a sua ausência]
provenientes do meio, observa-se modificações provocadas “dentro” do
indivíduo pelos “traços” da experiência motora. Estas modificações atingirão a
organização e o funcionamento biológico do sistema. Darão uma coloração
afetiva às relações motoras da criança e repercutirão, por sua vez, no meio,
suscitando comportamentos individuais novos, condutas mais aperfeiçoadas e
atitudes motoras mais específicas
Assim, no decorrer do desenvolvimento que conduz a criança da
dependência a autonomia, ligando o biológico, o psicológico e a experiência,
vê-se pouco a pouco o comportamento motor do indivíduo tomar um sentido,
tornar-se uma conduta e inscrever-se num conjunto psicomotor que mobiliza a
personalidade.
15Logo, para que haja o desenvolvimento integral da criança é preciso
que ela realize por si mesma as suas ações [vestir-se, calçar-se, comer...], que
exercite seus músculos, aperfeiçoando seus movimentos; trabalhe a
coordenação e a concentração, exercendo assim, todas as atividades
psicomotoras que necessitam de repetição e de conscientização para se
aperfeiçoarem.
Outro fator a ser considerado é que o desenvolvimento obedece a uma
ordem e a uma seqüência mais ou menos invariáveis e está intimamente ligado
ao processo de mielinização do sistema nervoso. Este “amadurecimento” é
céfalo-caudal e próximo-distal, isto é, ele ocorre primeiro nas proximidades da
cabeça para depois chegar às partes mais baixas da coluna, e também
primeiro nas regiões em que os nervos saem da coluna e finalmente nas
extremidades dos nervos. Para exemplificar , pode-se citar que inicialmente a
criança sustenta a cabeça e ,após alguns meses, o tronco, assim como a
preensão é realizada com toda a mão, chegando mais tarde aos dedos em
pinça.
As primeiras evidencias de um desenvolvimento mental normal são
manifestações puramente motoras.
Um desenvolvimento psicomotor normal apresenta qualidades nos
movimentos que se integram numa certa ordem, obedecendo às seguintes
etapas:
- precisão: dos 0 aos 7 anos
- rapidez: dos 7 aos 10 anos
- força muscular: dos 10 aos 15 anos.
16Uma evolução psicomotora normal permite a criança passar dos
movimentos globais aos mais específicos e do movimento espontâneo ao
consciente.
A psicomotricidade existe nos menores gestos e em todas as atividades
que desenvolvem a motricidade da criança, visando ao conhecimento e ao
domínio de seu próprio corpo.
1.3.1 – Desenvolvimento da Preensão
A preeensão e seu aperfeiçoamento progressivo marcam o
desenvolvimento da criança que se apodera do meio. Para que esta ação
possa desenvolver-se de forma satisfatória, algumas condições devem ser
preenchidas. A principal é a coordenação óculo-manual.
No início, o olhar da criança coloca-se simplesmente sobre a mão e,
pouco a pouco, consegue segui-la. Tenta, a seguir, manter a mão dentro do
campo visual; depois, consegue apreender o objeto que vê mexer-se, mas
apenas quando se situa num campo que inclui também a sua mão. Mais tarde,
consegue pegar o objeto que vê, seja qual for a posição de sua mão.
A preensão é um ato complexo. Leva praticamente um ano para atingir
sua forma definitiva. Durante 8 meses aproximadamente, a criança vai praticar
exercícios que lhe permitirão encontrar, certos atos intermediários cada vez
mais eficazes, até chegar à pinça em que o polegar-indicador estão em
oposição. Uma vez efetuada esta aquisição, a criança poderá manter uma ação
sobre o mundo exterior. Com isso, ela realizará atividades cada vez mais
17complexas, mais precisas , e ao mesmo tempo aumentará seu conhecimento
sobre o próprio corpo.
1.4 – Áreas de Atuação da Psicomotricidade
Na psicomotricidade, além da educação e reeducação, existe a terapia.
Pela Educação Psicomotora, a criança reestuda dentro de si, as
informações recebidas de fora e, depois as exterioriza através da linguagem
corporal. A criança bem estruturada, internamente, trabalha com sucesso, os
três fatores básicos vitais: as sensações, as emoções e os movimentos.
Segundo Morales [1992], a educação psicomotora tem por objetivo instaurar
na criança uma identidade de sua própria personalidade assim como os meios
de comunicação com o outro e o mundo que a rodeia, com o objetivo de
facilitar as abordagens das aprendizagens escolares.
A Reeducação Psicomotora trata-se de nivelar as funções reduzidas e
elevá-las para que nos casos possíveis, consigam sustentar a aprendizagem
escolar, utilizando-se exercícios específicos e adequados. Para Morales [1992],
a reeducação é destinada a restabelecer a função motora perturbada, de
superar um déficit e ajudar a criança a refazer as etapas que não foram
vivenciadas no desenvolvimento. A reeducação situa-se entre a educação e a
terapia psicomotora. Esta por sua vez, nasceu da corrente psicanalística; seu
objetivo é de colocar em evidencia, pela relação corporal, os conflitos
inconscientes que perturbam a personalidade e acabam em comportamentos
patológicos, neuróticos ou psicóticos [Lapierre, 1989]. Coste [1985] define a
terapia como um meio de desenvolver as faculdades expressivas do sujeito
numa concepção que ressalta a relação entre o corpo e o psíquico.
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Logo, a ação psicomotora envolve algumas premissas, tais como:
a] Considera o indivíduo na sua unidade, logo a intervenção psicomotora
também se situaria à nível global, numa tentativa de modificar toda uma atitude
em relação ao seu corpo.
b] A abordagem psicomotora objetiva a tomada de consciência corporal,
como lugar de sensação, expressão e criação. Só depois da noção do próprio
corpo, o indivíduo inicia uma relação significativa com o meio e elabora, o seu
desenvolvimento significativo.
c] Procura a conscientização e integração por parte do indivíduo de
todas as atividades propostas.
d] Parte do concreto para o abstrato, graduando exercícios do mais fácil
ao mais difícil.
e] Respeita as diferenças individuais.
f] Associa a linguagem a conduta terapêutica e educacional. É pelo
movimento que a criança integra a relação significativa das primeiras formas de
linguagem
g] Grande influencia dos estímulos provenientes do meio externo. Cada
nova aquisição influencia as anteriores, tanto mental como motoramente, de
modo a valorizar as relações com o meio, através de uma adaptação a novas
circunstancias, provenientes de uma alteração do conteúdo significante das
situações vividas e experimentadas.
19A partir do que foi exposto acima, pode-se dizer que, tendo a
Psicomotricidade como objeto de estudo o homem, nas suas relações com o
corpo em movimento encontra sua aplicação prática unida a certos objetivos,
tais como:
1] Objetivos Gerais:
a] integrar a percepção e o movimento, melhorando ou normalizando o
comportamento geral do indivíduo.
b] buscar melhor organização do desenvolvimento das capacidades
intelectuais, psíquicas e adaptativas do indivíduo, tornando-o ajustado ao meio
em que vive.
2] Objetivos Específicos:
a] melhorar ou normalizar o comportamento geral do indivíduo.
b] desenvolver um trabalho sobre todas as condutas do indivíduo
[motoras, neuromotoras e perceptivo-motoras]:
- consciência do seu próprio corpo.
- desenvolvimento do equilíbrio.
- controle da sua Coordenação Global e Fina
- controle da respiração.
- desenvolvimento do esquema corporal e da orientação espaço-
temporal
1.5 – Elementos Psicomotores
O estudo da Psicomotricidade abrange:
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1- Desenvolvimento do Esquema Corporal: através do qual a criança toma
consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por meio desse
corpo. É a percepção geral e diferenciada que temos do nosso corpo. Através
do esquema corporal podemos perceber como nosso corpo se situa nos seus
diferentes segmentos, na relação entre eles e na sua globalidade estática ou
em movimento. Esta representação é dada a partir de sensações
interoceptivas [vísceras e labirintos], proprioceptivas [articulações, músculos e
tendões], exteroceptivas [tato, visão, audição, gustação e olfato] e a partir de
experiências de seu próprio corpo e do outro. O esquema corporal se
desenvolve a partir da aprendizagem e da experiência.
2- Lateralidade: através da qual a criança percebe que seus membros não
reagem da mesma forma. É a noção existente entre os dois lados do corpo
e da diferença que existe entre eles. A criança tem que perceber que tem
órgãos pares; depois vai escolher mais o lado que é melhor; para depois
saber denominar um lado e outro no seu corpo para, por fim perceber o lado
esquerdo / direito da outra pessoa.
3- Estruturação Espacial: é a maneira como a criança se localiza no espaço
que a circunda e como situa as coisas, umas em relação às outras.
4- Orientação Temporal: diz respeito à maneira como a criança se situa no
tempo. É a orientação temporal que lhe garantirá uma experiência de
localização dos acontecimentos passados, e uma capacidade de projetar-se
para o futuro, fazendo planos e decidindo sobre sua vida.
5- Coordenação Motora Global: a coordenação global diz respeito à
atividade dos grandes músculos. Depende da capacidade de equilíbrio
postural do indivíduo. Através do movimento e da experimentação, o
indivíduo procura seu eixo corporal, vai se adaptando e buscando um
equilíbrio cada vez melhor. Consequentemente, vai coordenando seus
movimentos, vai se conscientizando de seu corpo e das posturas. Quanto
21maior o equilíbrio, mais econômica será a atividade do sujeito e mais
coordenadas serão suas ações. A coordenação global e a experimentação
levam a criança a adquirir a dissociação de movimentos. Isto significa que
ela deve ter condições de realizar múltiplos movimentos ao mesmo tempo,
cada membro realizando uma atividade diferente.
6- Coordenação Motora Fina e Óculo-Manual: a coordenação fina diz
respeito à habilidade e destreza manual e constitui um aspecto particular da
coordenação global. É através do ato de preensão que uma criança vai
descobrindo pouco a pouco os objetos de seu meio ambiente.
A coordenação óculo-manual se efetua com precisão sobre a base de
um domínio visual previamente estabelecido ligado aos gestos executados,
facilitando, assim, uma maior harmonia do movimento. Esta coordenação é
essencial para a escrita.
7- Ritmo: o ritmo pode ocorrer em várias áreas de nosso comportamento.
Ele traduz uma igualdade de intervalos de tempo. O ritmo envolve pois, a
noção de ordem, de sucessão, de duração e de alternância.
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CAPÍTULO II
A DISGRAFIA
23A DISGRAFIA
Ajuriaguerra e Auzias [1953] conceituam a disgrafia como escrita defeituosa
sempre que não existir um déficit intelectual ou neurológico que o justifique.
Giordano define a disgrafia como todo transtorno da escrita de causa
ortográfica relacionado com o seu significado ou com a sua morfologia.
Marguerite Auzias diz que a criança disgráfica, já utilizando a direita ou
sendo canhota, é aquela que tem uma escrita deficiente sem que nenhum
atraso neurológico ou intelectual justifique essa deficiência.
Ainda que não se possa falar em disgrafia antes dos seis anos de idade,
que é quando começam a se manifestar os erros da escrita, Pérez propõem o
termo pré-disgrafia ao conjunto de alterações perceptivo-motoras que ocorrem
nas crianças de quatro e especialmente nas de cinco anos de idade e que vão
iniciar a aprendizagem em um quadro disgráfico.
Logo, a disgrafia pode ser definida como um transtorno funcional que afeta
a forma, o significado, a inteligibilidade e o ritmo da escrita, dificultando assim
a sua leitura. Para que um indivíduo possa ser definido como disgráfico é
necessário que apresente:
1- Capacidade intelectual nos limites normais ou acima da média: Os
indivíduos com deficiência mental ou os casos de inteligência limite podem
apresentar disgrafia, porém esta será um componente mais ligado a sua
limitação intelectiva;
242- Ausência de dano sensorial grave: A surdez, a cegueira ou os
traumatismos motores que se dão em pacientes com uma escrita deficiente
podem condicionar sua escrita de forma inevitável, sem que possa definir
como um transtorno disgráfico, ao menos em um sentido restrito;
3- Ausência de transtornos emocionais severos: As desordens intensas da
personalidade infantil, como a psicose ou quadros autistas, condicionam a
linguagem, porém a escrita dessas crianças não deve ser rotulada como
disgráfica;
4- Adequada estimulação cultural e pedagógica: As crianças que não tenham
freqüentado a escola ou que não o tenham feito de uma forma muito
regular, ambientes culturais degradados ou muito primários condicionarão
de forma muito grave a aprendizagem infantil e, por conseguinte, da
escrita, sem que constitua uma alteração propriamente dita;
5- Ausência de transtornos neurológicos graves: Lesões cerebrais com ou sem
componente motor podem impedir a aprendizagem normal da escrita. As
crianças com transtornos neurológicos muito intensos também não entram
na categoria dos disgráficos.
As disgrafias recebem vários tipos de classificações, a saber:
1- Disgrafia Primária: quando o transtorno mais importante que a criança
apresenta é a letra defeituosa, sem que existam causas que não sejam do
tipo funcional ou maturativo.
2- Disgrafia Secundária: é aquela que está condicionada por um componente
pedagógico, neurológico ou sensorial e é uma manifestação sintomática de
um transtorno de maior importância, e em que a letra “defeituosa” encontra-
se condicionada pelo dito transtorno.
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De acordo com Giordano, existem dois tipos de disgrafia:
1] Disgrafia disléxica: afeta o conteúdo da escrita. As manifestações desse tipo
de disgrafia são:
- omissão de letras, sílabas ou palavras;
- confusão de letras com som semelhante;
- confusão de letras com orientação simétrica similar;
- inversão ou transposição da ordem das silabas;
- inversão de palavras;
- agregação de letras e silabas;
- uniões ou separações indevidas de silabas, palavras ou letras.
2] Disgrafia motora ou caligráfica: afeta a qualidade da escrita, afetando o
grafismo em seus aspectos grafomotores. As manifestações desse tipo de
disgrafia são:
- transtornos da forma das letras;
- transtornos do tamanho das letras;
- deficiente espaçamento entre as letras dentro de uma palavra, entre as
palavras e entre as margens;
- inclinação defeituosa das palavras e das margens;
- ligamentos defeituosos entre as letras que conformam a palavra;
- transtorno da pressão ou colorido da escrita, por excesso ou por falta;
- transtornos da fluidez e do ritmo da escrita;
- transtornos da direção dos giros da escrita das letras;
- alterações tonico-posturais na criança.
Existe, ainda, uma outra classificação das disgrafias, a saber:
26. Disgrafia Ideomotora: existe uma disfunção na elaboração dos movimentos
gráficos, fazendo com que a pessoa apresente uma clara dificuldade de
organização dos movimentos direcionais das letras.
Características:
- a criança cai e tropeça muito;
- deixa cair objetos com facilidade;
- tem dificuldade para vestir-se e calçar-se;
- imagem corporal deficitária;
- inabilidade para manusear objetos.
.Disgrafia Ideográfica: ocorre uma dificuldade especifica para grafar quando a
criança esquece a imagem gráfica e tem dificuldade para escrever a letra.
Características especificas do traçado do sujeito disgráfico:
- incoordenação dos movimentos;
- repasses;
- rasuras;
- alterações direcionais das letras;
- falhas nas proporções das letras;
- escrita espelhada;
- letra muito grande;
- letra ininteligível;
- traçado leve, débil;
- dificuldade de copiar do quadro para o caderno;
- lentidão exagerada na escrita ou para executar tarefas;
- caderno sujo;
- paginas amassadas e furadas de tanto apagar os erros;
- “orelhas”;
- capas despencadas;
- mau uso do espaço gráfico.
27Com relação ao transtorno postural que os disgráficos apresentam,
podemos dizer que esta é uma dificuldade na aquisição de ações úteis ou
aprendizagens [incluindo a leitura e a escrita] em conseqüência de falhas
em diferentes estruturas que permitem a obtenção de uma “potencialidade
corporal” suficiente. Entende-se por “potencialidade corporal” a
possibilidade de exclusão de toda a interferência corporal que dificulte a
aprendizagem. Logo os transtornos posturais atuam sobre a leitura e a
escrita de forma direta. Então:
- não possuem lateralidade bem definida;
- alterações de posturas sérias;
- alterações espaciais;
- geralmente existem casos de desvios posturais na família;
- apresentam uma conduta inquieta e instável;
- motricidade fina perturbada pela alteração do sistema postural;
- manifestam problemas emocionais na escola
- evolução motora prejudicada no que diz respeito às aquisições posturais e
de equilíbrio.
2.1 - Etiologias
As dificuldades de leitura, escrita e cálculo são sintomas não específicos
que podem ser provocados por fatores variados.
As causas que levam um indivíduo a ter má letra não é somente um
fator que, de forma isolada, provoca o déficit da escrita e sim um conjunto de
fatores, tais como:
1] Transtorno de Eficiência Psicomotora:
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Crianças que apresentam uma motricidade débil, com uma idade motora
inferior à cronológica, fracassando em atividades de rapidez, equilíbrio e
coordenação motora fina. A escrita é muito lenta e o grafismo encontra-se
formado com letras de tamanho grande, sendo a pressão insuficiente e a
postura gráfica muito inadequada.
A criança hipotonica, terá problemas de “direção” do lápis, apresentará
tendência a escorregar sobre a folha de papel, e as letras serão disformes.
Quanto à pressão, a criança não saberá dosar a força com a qual deverá
apoiar o lápis para faze-lo “andar”. As letras ora não imprimem a folha, ora são
traçadas de várias espessuras, deixando marcas nas páginas seguintes.
O hipercinético manifesta-se desinibido e inquieto, com fortes alterações
em sua conduta motora e associativa. A sua escrita caracteriza-se por ser
muito irregular em dimensões, pressão muito intensa, às vezes grande
velocidade de escrita que se traduz em letras fragmentadas, com traços muito
imprecisos e ondulação de margem.
A criança hipertonica apertará o lápis até machucar os dedos, a mão, os
braços e às vezes até mesmo o ombro ou as costas. Não saberá dosar a
energia necessária para interromper um traço nua determinada altura.
2] Transtornos do Esquema Corporal e das Funções Perceptivo-Motoras:
Em muitas crianças disgraficas é freqüente uma alteração da
capacidade de integração viso-perceptiva. Tratam-se de crianças sem déficits
29sensoriais no órgão da visão porém são incapazes de perceber
adequadamente, devido a transtornos da codificação dos grafemas ou da
revisualização da escrita. A escrita apresenta dificuldades na execução dos
giros, tendência às inversões de simetria e omissões.
Muitas crianças disgráficas apresentam também dificuldades em
reconhecer noções espaciais como direita-esquerda em seu próprio eixo
corporal. A escrita apresenta-se como desordens de tipo topológico, alteração
da direção, alteração de grafemas com simetria similar.
3] Transtornos de Lateralidade:
É o mais freqüente agente etiológico de disgrafia.
O ambidestismo consiste no emprego indistinto da mão direita ou
esquerda para escrever ou da forma débil e pouco definida nos testes de
lateralidade manual por crianças destras ou canhotas. A escrita caracteriza-se
por ritmo lento, tendência à inversão dos giros, suporte deficiente do lápis.
O canhoto contrariado originariamente constitui-se de criança com
grande predisposição em ser canhota e que foi obrigada a escrever com a mão
direita. A troca de dominância manual, também uma interferência nos centros
de integração cortical que regem a linguagem. A escrita é
estrefosimbólica[escrita que se faz contrariamente ao normal, ou seja da direita
para a esquerda] ou apresenta inversões de silabas e de letras. A postura para
escrever[ombro, braço, mão e dedos] é muito deficiente e o suporte do lápis é,
inadequado.
304] Transtornos Emocionais:
A escrita remendada, repassada, instável, com falta de proporções
adequadas e com deficientes espaçamentos e inclinação é característica de
determinadas crianças com conflitos emocionais intensos. Costuma vir
associada a dificuldades perceptivas, motoras, de lateralização e que é produto
das tensões psicológicas da criança.
5] Causas Pedagógicas:
Falhas pedagógicas podem causar disgrafias pelos seguintes aspectos:
- instrução rígida e inflexível, que baseando-se em um sistema formal se
aplica de forma indiscriminada a todas as crianças, sem atender às suas
características individuais;
- deficiente orientação do processo de aquisição de destreza motora;
- pratica da escrita como uma atividade isolada das exigências gráficas e das
distintas atividades;
- materiais inadequados para o ensino
2.2 - Pré-requisitos para a aquisição da escrita.
Para uma boa escrita faz-se necessário que a criança tenha “enfrentado”
as etapas senso-perceptivo-motoras de modo satisfatório, propiciando, assim,
uma “boa letra”, uma escrita bem desenvolvida motoramente.
O preparo para iniciar a escrita depende de uma complexa integração
dos processos neurológicos e de uma harmoniosa evolução de habilidades
básicas, como percepção, esquema corporal, lateralidade e etc...
31
Segundo Feldman e colaboradores [1987] a criança apresenta-se pronta
para a aquisição do código gráfico por volta dos seis anos, pois nessa idade já
atingiu a maturidade neurológica, lingüistica, perceptual e de estruturação
lógica necessária para essa tarefa.
Os autores relatam que a maturidade neurológica é definida quando se
estabelece a dominância cerebral e explicam que essa dominância pode ser
observada pelo uso preferente de uma das mãos. No que se refere ao aspecto
perceptual, salientam que é importante que a criança tenha atenção, noções
espaciais e constância das formas e tamanhos.
Um dos aspectos que a experimentação do corpo todo favorece é a
independência do braço em relação ao ombro, e a independência da mão e
dos dedos, fatores decisivos de precisão da coordenação viso-motora. A
escrita necessita desta independência dos membros para se processar de
maneira econômica, sem cansaço, e para que o indivíduo consiga controlar a
pressão sobre os dedos [tonus muscular].
A criança deve viver o seu corpo através de uma motricidade
espontânea, em que os grandes grupos musculares participem e preparem
posteriormente os pequenos músculos, responsáveis por tarefas mais precisas
e ajustadas, Antes de pegar num lápis, a criança já deve ter, uma grande
utilização da sua mão em contato com inúmeros objetos.
O ensino da escrita exige também uma certa coordenação global do ato
de sentar. A criança precisa adquirir uma postura correta para realizar os
32movimentos gráficos no sentido de torná-la mais cômoda, mais relaxada.
Além disso necessita adquirir uma dissociação e controle dos movimentos. É
fundamental que consiga também controlar a pressão gráfica exercida sobre o
lápis e o papel, para alcançar maior destreza e consequentemente maior
velocidade no movimento. Isto é facilitado quando possui uma lateralidade bem
definida.
O desenho e o grafismo desempenham uma habilidade preparatória
muito importante para a escrita. Auxiliam a desenvolver a habilidade de pegar o
lápis de forma correta, facilitando uma maior harmonia dos movimentos. A
evolução do grafismo depende da evolução perceptiva e da compreensão da
atividade simbólica. Na medida em que essa etapa é alcançada, a criança
torna-se capaz de representar através de figuras geométricas e letras, e
também de evoluir no domínio gráfico, ou seja na escrita.
A escrita implica, pois, em uma aquisição de destreza manual
organizada a partir de certos movimentos, a fim de reproduzir um modelo. Só a
partir de um certo nível de organização motora, de uma coordenação fina dos
movimentos e de uma integração vivida espaço-temporal se pode caminhar
para as aprendizagens escolares.
A escrita passa por diferentes estágios de desenvolvimento, que acabam
sendo caracterizados pela atividade gráfica. Sendo assim a evolução gráfica da
criança é resultado de uma tendência natural, expressiva, representativa, que
revela o seu mundo particular.
33Ajuriaguerra [1977] a partir de seus estudos experimentais chegou à
conclusão de que o grafismo passa por três estágios de evolução: o pré-
caligráfico, o caligráfico infantil e o pós-caligráfico.
1] Estagio pré-caligráfico [5-6 a 8-9 anos]
. a criança não possui perfeito domínio motor para os traçados gráficos.
. não tem controle na inclinação e dimensão das letras.
. as margens são desordenadas, ausentes ou irregulares.
. tem postura errada do tronco, cabeça e braços ao escrever.
2] Estágio caligráfico [10 a 12 anos]
. a criança já domina as dificuldades em pegar e manejar os instrumentos
gráficos.
. a escrita é mais rápida e regular.
. as linhas são retas e espaçadas adequadamente; distribui as margens
corretamente.
. tem melhor postura de cabeça e tronco [mais longe do papel].
3] Estágio pós-caligráfico [11 anos em diante]
. modifica a escrita, tornando-a mais pessoal, dada a necessidade de maior
rapidez para acompanhar o pensamento e as atividades escolares.
. tem postura correta, a posição da coluna quase retilínea, ligeiramente
inclinada.
A partir do que foi exposto acima, pode-se concluir que o ato de escrever
não é natural; necessita domínio, coordenação, precisão, boa organização e
percepção. Não pode ser perfeitamente realizado de maneira espontânea, e a
34flexibilidade, a regularidade, a rapidez virão naturalmente, após uma
preparação cuidadosa.
2.2.1 - Postura para a escrita
As crianças com disgrafia, freqüentemente tem má postura para a
escrita. Algumas aproximam muito as suas cabeças do papel; outras
movimentam-se constantemente, em conseqüência mexem o papel ou cobrem
o trabalho com os braços de modo que não conseguem ver o que estão
fazendo.
Neste ponto, torna-se importante ressaltar a questão da dominância
lateral. Os canhotos que são os que se definem pelo uso preferencial do lado
esquerdo do corpo; os ambidestros, sinônimo de indiferenciação inter
hemisférica, que usam as duas partes do corpo; os que apresentam
lateralidade contrariada, que foram forçados a escrever com a mão não
dominante; e aqueles com uma lateralidade indefinida, ou seja, crianças que
por volta dos 6 anos de idade, ainda não se definiram pelo uso de um dos
lados do corpo. A lateralidade contrariada e a não lateralização, podem
interferir, na qualidade da escrita.
No caso da criança claramente canhota, esta deve ser orientada em
relação às posturas que devem ser adotadas durante o ato de escrever. Neste
caso, o papel deve ser colocado no campo esquerdo da criança e inclinado
para a direita; a mão deve ser colocada abaixo da linha para escrever, para
evitar a posição em “asa”.
35Geralmente, a criança canhota, que não foi orientada em relação à
postura correta para escrever, coloca a folha de papel reta e, a mão fica
posicionada acima da linha para escrever com torção de pulso.
Como resultado desta posição, a escrita é disforme, tremida, irregular e,
geralmente estão presentes problemas de orientação espacial – a escrita tende
a ascender ou a descender na folha de papel, as margens não são respeitadas,
etc.
No caso dos destros, a orientação para a escrita, faz-se quase que
espontaneamente. A folha de papel deve se colocada no campo direito da
criança e, ligeiramente inclinada para o lado esquerdo. Já a mão, deve ser
colocada abaixo da linha para escrever, evitando a posição da mão em “asa”.
Desta forma, a criança terá o campo visual ampliado, a folha receberá a
luminosidade necessária e, a mão pode-se deslocar ao longo da linha sem
muito esforço.
2.2.2 - Preensão do lápis
A preensão do lápis tem influencia na qualidade do traçado gráfico e,
dela dependem o tamanho da letra, a visualização do traçado e a fadiga
muscular.
Muitas crianças com disgrafia não sabem como segurar um lápis. Elas
vêem o que devem fazer e tentam manipular adequadamente os seus dedos,
mas não conseguem imitar o que vêem. Algumas seguram o lápis com as duas
36mãos e tentam escrever; outras recusam-se a tocar nos instrumentos de
escrita pois experimentaram fracassos sucessivos. As crianças com problemas
menos severos seguram o lápis muito perto da ponta; outras seguram o lápis
com muita força ou muito levemente
Segundo Franca [1969], a forma correta de segurar o instrumento de
escrita é entre os dedos médio, indicador e polegar. Nesta posição natural de
mão semi-fechada, podem-se realizar os movimentos gráficos sem muito
esforço. Esta posição parece ser a ideal para que os movimentos gráficos
sejam controlados e, consequentemente, se domine o tamanho e a firmeza das
letras e a velocidade para escrever. Assim os dedos também permitem que o
campo visual seja suficientemente amplo para que se controle a orientação do
traçado no papel.
A criança que segura o lápis muito perto da extremidade que toca o
papel, tem limitada a mobilidade dos dedos, o que acarreta a diminuição do
tamanho das letras e limita o campo visual. A criança não consegue ver o que
está escrevendo já que, a mão posicionada desta forma encobre a escrita. A
solução neste caso, é a inclinação da cabeça para um dos lados e a
aproximação do tronco da folha de papel. Esta postura é bastante incomoda e
acaba ocasionando problemas de coluna.
Outro ponto importante a ser visto é em relação ao tamanho do lápis.
Lápis curtos não devem ser usados. Eles forçam as crianças a segurarem com
muita força e sua escrita torna-se desajeitada ou pequena. Os lápis pequenos
também fazem com que as crianças exerçam pressão desnecessária, o que
por sua vez provoca cansaço e frustração.
37
CAPÍTULO III
PSICOMOTRICIDADE E DISGRAFIA
38Psicomotricidade e Disgrafia
A aprendizagem é a capacidade do indivíduo de modificar seu próprio
comportamento pela exercitação de suas experiências. E o ser humano é um
eterno aprendiz. Seu conhecimento é constituído enquanto brinca, faz
experiência e confere sentido ao mundo que o rodeia. À medida que as
dificuldades surgem, tenta resolve-las, por intermédio da aplicação de seus
esquemas e de suas representações da realidade. O corpo realiza uma
reflexão. Essa construção se dá a partir do contato que faz com outras
pessoas, e que o obriga a rever suas próprias idéias, em outras palavras, é
necessário que seja contagiado pelo outro para desejar ser.
3.1- Prontidão para aprender
Quando se fala das dificuldades da escrita, é muito importante que
sejam questionadas as condições de ensino da criança que o inicia, verificando
se ela já adquiriu suficiente desenvolvimento físico, intelectual e emocional,
bem como todas as habilidades e funções necessárias para aprender.
A prontidão para aprender já foi definida por vários autores. Todos
tentaram considerá-la como um nível suficiente de preparação para iniciar uma
aprendizagem, ou uma capacidade específica para realizar determinada tarefa;
as diferenças individuais seriam, na realidade, diferenças na prontidão para
aprender.
39Segundo Poppovic e Moraes, “prontidão para alfabetização significa
ter um nível suficiente, sob determinados aspectos, para iniciar o processo da
função simbólica, que é a leitura, e sua transposição gráfica, que é a escrita”
[1975]
A importância do desenvolvimento das habilidades básicas pode ser
vista de uma maneira mais sistemática na pré-escola, que tem a função de
fornecer à criança os pré requisitos necessários para a aprendizagem da
leitura/escrita.
1] Esquema corporal
É uma habilidade que implica o conhecimento do próprio corpo, de suas
partes, dos movimentos, das posturas e das atitudes.
A criança que não consegue desenvolver bem o seu esquema corporal
pode Ter sérios problemas em orientação espacial e temporal, no equilíbrio e
na postura; dificuldades de se locomover num espaço ou escrever obedecendo
aos limites de uma linha ou de uma folha.
2] Lateralidade
É definida a partir da preferencia neurológica que se tem por um lado do
corpo, no que diz respeito a mão, pé, olho e ouvido.
40As dificuldades de aprendizagem que surgem em crianças que ainda
não tem sua lateralidade definida, e naquelas que são canhotas mas foram
obrigadas a escrever com a mão direita, referem-se mais ao tipo de grafia que
elas apresentam[disgrafia], à orientação espacial na folha de papel e a
posturas inadequadas no ato de escrever.
3] Orientação espacial e temporal
Orientar-se no espaço, é ver-se e ver as coisas no espaço em relação a
si próprio. Enfim, é a consciência da relação do corpo com o meio.
A criança que inicia o processo de alfabetização sem possuir as noções
de posição e orientação espacial, pode apresentar os seguintes problemas em
sua aprendizagem:
- ser incapaz de locomover os olhos no sentido esquerdo-direito [pula uma ou
mais linhas durante a leitura];
- na escrita, não respeitar a direção horizontal do traçado;
- não respeitar os limites da folha;
A criança se organiza temporalmente a partir de seu próprio tempo.
Através da percepção do tempo vivido, ela adquire condições de dominar
determinados conceitos, como ontem, hoje, amanhã, dias da semana, meses,
horas etc.; pois todos os fatos que ocorrem no tempo apresentam uma certa
duração e uma determinada sucessão e alguns fatos acontecem antes e
outros depois.
A ausência do pré-requisito orientação temporal causará na criança:
41
- dificuldades na pronúncia e na escrita das palavras [troca ou inversão da
ordem das letras];
- dificuldade na retenção de uma série de palavras na frase e de uma série
de idéias dentro de uma história;
- dificuldade no ditado devido à não correspondência dos sons com as letras
que os representam.
4] Coordenação visomotora
É a integração entre os movimentos do corpo – globais e específicos- e
a visão.
As crianças que não conseguem coordenar o movimento ocular com os
movimentos das mãos terão dificuldade nas atividades que envolvem a
coordenação visomotora olho-mão. Nesse caso, a dificuldade na escrita fica
caracterizada, uma vez que os olhos não guiam os movimentos motores da
mão, impossibilitando a criança de perceber por onde deve iniciar o trabalho
das letras.
5] Ritmo
É uma habilidade importante, pois dá à criança a noção de duração e
sucessão, no que diz respeito à percepção dos sons no tempo.
Na parte gráfica, as dificuldades de ritmo contribuem para que a criança
escreva duas ou mais palavras unidas, adicione letras nas palavras ou
omita letras e sílabas.
42
3.2 – A Criança Disgráfica
Segundo Ajuriaguerra [1988] a escrita é uma atividade motora fina,
altamente complexa e diferenciada. O desenvolvimento psicomotor da criança
é, sem nenhuma dúvida, a base essencial do desenvolvimento da escrita, ou
melhor, a condição essencial.
A folha de papel é um espaço vazio no qual devem ser orientados e
reunidos os sinais gráficos. Cada um deles é definido pela sua forma e
orientação; sua própria sucessão deve ser respeitada. Já que há sucessão,
esta atividade se estrutura tanto no tempo quanto no espaço.
Já para Vítor da Fonseca [1988], todas as dificuldades escolares são
conseqüência de uma deficiência de adaptação psicomotora, que engloba
problemas de desenvolvimento motor, dominância lateral, organização
espacial, construção práxica e estabilidade emotiva-afetiva, que se podem
projetar em alterações do comportamento da criança. Para este mesmo
autor, as aprendizagens escolares exigem uma vivência do corpo. Vivendo
o seu corpo, reconhecendo espacializado, a criança obtém melhores dados
de referencia, podendo adquirir condições de resposta às situações
concretas de sua escrita, de sua escola. Logo, as aprendizagens do
grafismo estão ligadas à evolução das possibilidades motoras. Só a partir
de um certo nível de organização motora, de uma coordenação motora fina
e integração espaço-temporal se pode caminhar para as aprendizagens
escolares.
43
Le Boulch [1987] ressalta que a escrita é um aprendizado motor, que
envolve interiorização, percepção, lateralidade e domínio espaço-temporal e
corporal.
Segundo Zorzi [1998] os problemas de escrita são derivados de
alterações no chamado sistema funcional da linguagem, também conhecido
como funções psiconeurológicas. Tais funções dizem respeito,
basicamente, a aspectos perceptuais e motores: esquema corporal, noções
espaciais, temporais, ritmo, lateralidade, motricidade fina e habilidades
perceptuais e auditivas.
Zorzi diz ainda que, a escrita apresenta uma série de propriedades
espaciais e temporais, que a caracterizam. Assim sendo, aprender a língua
escrita também envolve a compreensão de aspectos como:
- a posição de cada letra no espaço gráfico e a direção da escrita. Isto quer
dizer que a escrita é organizada de maneira que as letras mantenham
relações espaciais e temporais entre si, sucedendo-se uma às outras numa
ordem determinada e seguindo o sentido da esquerda para direita, o que
caracteriza a horizontalidade. Também se distribui de cima para baixo no
espaço gráfico, caracterizando uma organização verticalizada.
- a linearidade, que corresponde ao fato de uma letra ser escrita após a
outra.
- a segmentação que se define pela ocorrência de pausas ou separações, ou
seja, a linearidade é que é quebrada em função do caráter descontínuo da
escrita, na medida em que tal descontinuidade marca a segmentação dos
elementos da escrita.
44Diante do que foi exposto até agora sobre a construção da escrita e
seus pré-requisitos, sobre a disgrafia enquanto alteração do ato motor da
escrita, destaca-se que a psicomotricidade constitui uma medida essencial,
suscetível de facilitar à criança a mudança de comportamento que as
aprendizagens escolares impõem, uma vez que ela pode ser entendida
como uma intervenção reorganizadora em todos os processos de
aprendizagem na vida em geral.
A terapia psicomotora utiliza o corpo, seus movimentos, suas
possibilidades expressivas significativo-vivencias para facilitar a
comunicação intra e interpessoal. A psicomotricidade integra várias
abordagens com as quais se pode trabalhar o corpo, relacionando-o com a
afetividade, o pensamento e o nível de inteligência.
Segundo Mucchielli [1972], é através do movimento [ação] que a criança
integra os dados sensitivo-sensoriais que lhe permitem adquirir a noção do
seu corpo e a determinação da sua lateralidade, estruturas que asseguram
a estabilidade do universo vivido e uma melhor adaptação às exigências
das aprendizagens escolares básicas evitando-se, assim, as desarmonias
evolutivas das aprendizagens escolares.
Surge então uma necessidade , isto é, alfabetizar a linguagem do corpo
e só então caminhar para as aprendizagens triviais que nada mais são que
investimentos perceptivo-motores ligados por coordenadas espaço-
temporais e correlacionadas por melodias rítmicas de integração e resposta.
3.3 - Fracasso Escolar
45Se por um lado o fracasso escolar quando se refere a escrita por
vezes é sintoma de graves problemas afetivos ou problemas de
personalidade, pode ser igualmente resultado da confusão em que se
encontra a criança às voltas com uma técnica que foi obrigada a tentar
dominar muito cedo e para a qual , não foi possível juntar os elementos
necessários para uma boa fixação das bases. Negligencia-se assim o
potencial que existe em cada criança, deixando passar o momento
favorável à eclosão de noções elementares, privilegiando aprendizados que
poderiam ser realizados mais tarde sem prejuízo para o seu futuro escolar.
Em um estudo realizado por Pérez [1979] em uma mostra de 850
escolares que foram submetidos a uma consulta por apresentarem
fracasso escolar, observou-se que em 72 do total existiam dificuldades de
leitura e escrita de diversas causas ou como causa dos transtornos de
aprendizagem e de rendimento escolar. A disgrafia de intensidade média ou
grave deu-se com maior freqüência onde as condições educativas eram
mais deficientes [aulas massificadas, ambientes socioculturais baixos,
zonas urbanas ou rurais marginalizadas etc.]
A disgrafia pode ser considerada um importante fator a se ter em conta
em relação ao fracasso escolar, tema que continuará polemico em qualquer
parte do mundo, a menos que se tenha uma perspectiva preventiva desde
os primeiros anos escolares e mesmo antes.
3.4 - O Professor e a Psicomotricidade
46O professor pode ajudar e muito, em todos os níveis, na estimulação
para o desenvolvimento cognitivo e para o desenvolvimento de aptidões e
habilidades, na formação de atitudes através de uma relação afetiva saudável
[que crie uma atmosfera de segurança e bem-estar para a criança] e,
sobretudo, respeitando e aceitando a criança como ela é.
A reeducação psicomotora é um processo, uma terapia programada que
visa modificar o comportamento. Parte dessa atuação é privativa do
psicomotricista. No entanto, as atitudes do professor tem de estar
relacionadas com a orientação específica do profissional habilitado.Na área
da educação, a psicomotricidade abrange um campo preventivo e o ideal
seria que todos os educadores tivessem conhecimentos básicos do
assunto.
Na época da alfabetização, a criança terá de saber usar a mão para
escrever e os olhos para ler. Deverá também dominar os movimentos
adequados para estas habilidades. Aquela que não tiver a representação
interna de seu corpo e de suas partes necessitará de uma maior
estimulação. Antes da alfabetização propriamente dita, a criança precisa
executas movimentos amplos, transportar objetos, exercitar movimentos de
pinça com o polegar e o indicador. Ela necessita movimentar ao máximo os
dedos, as articulações do braço, do pulso e das mãos, para perceber os
tipos de pressão, de resistência, de temperatura e as formas dos objetos.
Na idade pré-escolar, a prioridade é para a atividade motora global.
Nesse estágio, a criança dirige intencionalmente as explorações a um fim
especifico, chegando a ele com segurança e sem dificuldade. Ela dispõe de
uma verdadeira memória do corpo, carregada de afetividade. Orientada
também pelo afeto, ela depende de suas experiências vividas anteriormente
47com sucesso e valorizadas pelo adulto. A energia usada em seu
movimento não é impulsiva; já tem certo controle cortical.
A ação educativa da escola consistirá em desenvolver a espontaneidade
adaptada ao ambiente. Para isso é necessário que o professor tenha
conhecimento do ritmo de desenvolvimento da criança e crie as condições
para o seu progresso. O que só é possível num ambiente em que ela pode
se beneficiar do contato com outras crianças da mesma idade, participando
de atividades coletivas, alternadas com tarefas mais individuais.
É importante ver na atividade lúdica da criança em idade pré-escolar o
tipo de atividade criadora necessária para a expressão da personalidade e a
maturação da imagem do corpo.
Mediante uma atitude não diretiva, que garanta uma certa liberdade, o
educador permite à criança realizar sua experiência do corpo, indispensável
no desenvolvimento das funções mentais e sociais. Desenvolvendo-se
nesse clima, a criança vai adquirindo pouco a pouco confiança em si
mesma e melhor conhecimento de suas possibilidades e limites, condições
necessárias para uma boa relação com o mundo.
Por ser a expressão verbal um prolongamento natural do trabalho
psicomotor, é interessante levar a criança a expor fatos vivenciados, com a
finalidade de estabelecer uma ligação entre o imaginário e o real. Os
intercâmbios orais suscitados pela ação representam uma verdadeira
linguagem social, muito importante de ser desenvolvida na fase pré-escolar.
Tendo em conta as condições práticas nas quais trabalha e o conhecimento
48que tem das crianças, o professor deve imaginar situações que
possibilitem esses intercâmbios orais.
É preciso também que o professor ajude a criança a afirmar sua própria
lateralidade, permitindo-lhe realizar livremente suas experiências motoras.
Nas primeiras atividades gráficas, não exercer nenhuma pressão na criança
no sentido de incitá-la a usar a mão direita, a fim de que a coordenação
óculo-manual corresponda, verdadeiramente, a uma auto-organização. Do
mesmo modo, é precipitado associar a dominância lateral com a
verbalização das noções de direita e esquerda. Essa etapa só é possível
quando a função de interiorização é suficientemente trabalhada e quando a
criança tem condições de apoiar-se em suas próprias sensações
cinestésicas. Qualquer tentativa muito precoce nesse sentido,
principalmente para as crianças com dificuldades, pode desencadear
insegurança e frear o desenvolvimento.
Na criança pré-escolar, a precisão no jogo das contrações musculares é
possível para as coordenações mais comuns. Mas perante uma situação
nova, seja ela uma percepção desconhecida ou uma carga emocional
intensa, as descargas energéticas se tornam difusas, o tonus aumenta em
resistência e elasticidade, provocando paratonias e sincinesias. É
necessário que a criança alcance um certo domínio dessas irradiações
tônicas, com exercícios de percepção visual e sonora em um ambiente
calmo e descontraído.
Não se deve pensar que o domínio da unidade espaço-tempo seja fácil
para a criança, pois ela vai adquiri-lo de forma gradual, aprendendo a dirigir,
acelerando ou freando seu próprio ritmo.
49
Uma educação psicomotora deve ter como objetivo inicial ensinar a
criança a ficar sentada, adquirir boa postura, ouvir. Só depois de atingir
esse objetivo é que ela será capaz de receber ordens, concentrar-se, usar a
memória, executar tarefas do começo ao fim. O progresso pode ser lento,
mas como em todas as outras áreas, o grande e principal objetivo é o de
não deixar lacunas entre as etapas. Uma estimulação mal orientada
confunde ainda mais; daí a importância de o educador conhecer e perceber
a graduação necessária das técnicas a serem utilizadas.
O desenho e em particular o grafismo são muito importantes no
desenvolvimento da criança. A evolução do grafismo depende da evolução
perceptiva e da compreensão da atividade simbólica. Na medida em que
essa etapa é alcançada, a criança torna-se capaz de representar, através
de signos convencionais, figuras geométricas e letras, e também de evoluir
no domínio gráfico, cujo coroamento é a escrita. O progresso do grafismo
só é possível com o desenvolvimento das coordenações motoras; o controle
distal tornar-se-á proximal e os movimentos da mão e dos dedos liberar-se-
ão, permitindo a miniaturização do traçado.
A educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma
experiência ativa de confrontação com o meio. A ajuda educativa
proveniente dos pais e do meio escolar tem a finalidade não de ensinar à
criança comportamentos motores, mas sim de permitir-lhe exercer a sua
função de ajustamento, individualmente ou com outras crianças.
Todos os jogos e brincadeiras infantis, que parecem apenas
passatempos, na verdade preparam o terreno para um aprendizado
posterior. No entanto, embora brincar seja natural para a criança, não
50convém dar-lhe liberdade total, assim como é contraproducente dirigi-la
sempre.
O movimento da criança melhora através do pensamento enriquecido
pela representação interna da habilidade melhor desenvolvida e executada,
pois inteligencia-pensamento-ação constituem um círculo fechado.
Resta lembrar que, na pré-escola, o papel do professor não é só
alfabetizar, mas estimular funções psicomotoras necessárias ao
aprendizado formal. Através de seu conhecimento e sensibilidade, ele pode
dosar teoria e prática de maneira gradual, combinando os estímulos
adequados para cada tipo de aluno.
3.5 – Terapêutica das disgrafias
Para que não ocorra um afastamento das singularidade de cada sujeito
e para não cair numa generalização reeducativa, sustenta-se que não há
uma “técnica psicomotora”que possa ser transposta de um paciente para o
outro, já que esta modalidade implicaria o desconhecimento do sujeito, que
ficaria, situado como um objeto a “tecnificar”. Apesar de não existir uma
técnica, paradoxalmente, há uma para cada sujeito, para cada clínica
psicomotora que inicia a partir da especificidade de uma demanda em torno
do movimento e do corpo.
O que segue abaixo são duas sugestões que poderão servir de base par
um plano geral de reeducação propostos pela Fonoaudióloga Fátima Alves
[2001] e pela psicomotricista Renata Mousinho [1997].
51
Plano Geral de Reeducação por Fátima Alves:
1- Exercícios de Psicocinética:
Objetivos: melhorar a disponibilidade motora, a posição de gestos, a
estruturação do esquema corporal e o conhecimento das noções direita
e esquerda.
- relaxação
- movimentos segmentares.
- evolução [marchas – cadencia, ritmo].
- exercícios para inibição de movimentos.
- equilíbrio.
- exercícios para estruturação do esquema corporal.
- exercícios para dar noção de direita e esquerda.
2- Educação Gestual:
Objetivo: desenvolver a coordenação digital e os movimentos dos
cotovelos e punhos, proporcionando a sua liberação.
- exercícios com membros superiores.
- exercícios para punhos [bandeja, martelo].
- exercícios para coordenação digital; lúdica, fantoche, marionete, dedilhado].
3- Exercícios preparatórios para a escrita:
Objetivo: desenvolver através de atividades específicas, movimentos
necessários a aprendizagem da escrita:
- recorte.
- colagem.
52- pintura.
- seleção de objetos finos [pinça].
- dobradura [origami].
- tecelagem.
4- Técnicas Escriptográficas:
Objetivo: preparar para os movimentos dos símbolos gráficos, melhorar
a orientação espacial gráfica.
- ditado de símbolos [trabalho com paralelas, sinais alinhados e cópia
codificada].
5- Fixação e automatização da correção gráfica;
- cópia em papel pautado.
- cópia as cegas.
- cópia em papel liso.
6- Reeducação de letra e do fonema:
- ponto de articulação do fonema
- percepção cinestésica da leitura
- controle motor ritmado
7- Organização Perceptiva:
- visual
- tátil
- auditiva
- estimular todas as percepções, principalmente as que vão atuar no
desempenho da escrita.
53
Plano Geral de Reeducação proposto por Renata Mousinho:
1- Atividades Psicomotoras: os conteúdos que se apresentam a seguir incluem
funções psicomotoras necessárias à escrita em uma graduação progressiva
das atividades:
- coordenação dinâmica; atividades que desenvolvam a consciência global
do corpo, como caminhar, saltar, engatinhar, rodar ...
- equilíbrio estático e dinâmico: atividades destinadas a desenvolver o
equilíbrio postural e dinâmico.
- relaxação: diminuição da tensão muscular, conhecimento, manejo e
controle do corpo.
- dissociação de movimentos: realização de jogos e atividades que
desenvolvam o uso de determinadas partes do corpo, onde a criança
deverá verbalizar os exercícios.
- esquema corporal lateralizado: tomar consciência do eixo corporal, dos dois
lados do corpo.
- estruturação espacial: identificar os lados do corpo com noções espaciais
de direita e esquerda.
- motricidade fina: exercícios à nível de pulso, mão e dedos, destinados a
desenvolver a precisão, coordenação, rapidez, distensão e controle dos
gestos finos.
- estruturação temporal: atividades cujo objetivo seja desenvolver a
estimativa de fatores temporais envolvidos no movimento, tais como:
duração, ritmo e seqüência.
- atividades de integração: pretende-se que o ritmo coincida com a precisão.
2- Técnicas Pictográficas: desenvolvem o gosto pela atividade gráfica,
favorece o hábito de uma postura adequada e a fluidez de distenção do
movimento. São divididas em:
54- pintura e desenhos livres
- arabescos: linhas continuas não figurativas em todas as direções do
espaço, que facilitem a distenção motora e uma melhor postura.
- preenchimento de superfícies: elemento essencial de uma composição
pictográfica.
3- Técnicas Escriptográficas: melhoram a postura e os movimentos gráficos.
Estão divididas em:
- traçados deslizados: são traçados contínuos de deslizamento de todo o
antebraço e da mão sobre a mesa.
- exercícios de progressão: a progressão é o movimento relacionado mais
diretamente com a escrita.
- exercícios de inscrição: o objetivo principal é conseguir que os movimentos
das crianças sejam cada vez mais localizados e distais. Esses exercícios
requerem como condição prévia atividades de relaxação e coordenação.
55CONCLUSÃO
Considerando que um bom desempenho psicomotor proporciona a
criança algumas das capacidades básicas para o bom desempenho escolar, a
psicomotricidade enquanto unidade terapêutica que relaciona o pensamento, a
emoção e a ação pode minimizar os sintomas escolares assumindo uma
importância de grande alcance.
Para escrever a criança necessita de um desenvolvimento
neuropsicomotor que envolve desde a independência de ombros, braços e
dedos até uma integridade das funções psicológicas.
O corpo traz a essência do movimento, que é a primeira forma de
comunicação com o mundo. Internamente o movimento está continuamente
ocorrendo e, externamente sofrendo constantes modificações pelas
aprendizagens anteriores, pelo meio ambiente e pela situação imediata em que
o indivíduo se encontra. Através destes movimentos intencionais é que a
criança coordena os aspectos cognitivo, afetivo e psicomotor, ou seja, o
movimento transforma-se em comportamento significante. Na ação da criança,
articulam-se toda a sua afetividade, todos os seus desejos, mas também todas
as suas possibilidades de comunicação.
A atuação psicomotora se justifica na medida em que, por um lado está
instrumentalizada a avaliar as funções psíquicas que constituem a atividade da
mente e, por outro lado, investiga as condições subjetivas implícitas nos
sintomas, que se expressam por meio corporal.
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A intervenção psicomotora ocorre a partir do que a criança é, de suas
possibilidades limitadas de comunicar e de se afirmar. Esta limitação exige que
empreguem-se meios que podem aparecer como uma reapropriação
sensoriomotora e emocional que se encontrava distante da criança e que é
necessária a uma dinâmica de prazer até então desconhecida por ela,
tornando-se fonte de uma abertura nova ao mundo. Este é o grande desafio da
psicomotricidade.
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