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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA O PRAZER DO BRINCAR, AUXILIANDO NO PROCESSO DA APRENDIZAGEM Por: Nádia Regina Figueiredo Ferreira Orientador Prof. Dayse Serra Niterói 2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O PRAZER DO BRINCAR, AUXILIANDO NO PROCESSO DA

APRENDIZAGEM

Por: Nádia Regina Figueiredo Ferreira

Orientador

Prof. Dayse Serra

Niterói

2012

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

AVM FACULDADE INTEGRADA

O PRAZER DO BRINCAR, AUXILIANDO NO PROCESSO D

APRENDIZAGEM

Apresentação de monografia à AVM Faculdade

Integrada como requisito parcial para obtenção do

grau de especialista em psicopedagogia.

Por: Nádia Regina Figueiredo Ferreira

AGRADECIMENTOS

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Aos meus queridos filhos, Adriana e Douglas, que muito me incentivaram no

decorrer do curso e me ajudaram na realização desse trabalho acadêmico.

As minhas colegas de curso Rita e Rosemary pela ajuda e carinho no

decorrer do curso.

A minha profª Dirce Morrissy pelo seu apoio e entusiasmo.

E a minha orientadora Dayse Serra pela sua atenção e orientação.

DEDICATÓRIA

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Aos meus dois anjos, Meus Filhos, Adriana e Douglas, que são a minha força de vida e muito me ensinaram na Pedagogia do Amor. Ao meu Marido, Rolph, pelo seu apoio e dedicação. Ao meu JESUS, por me dar forças e equilíbrio, para prosseguir sempre.

RESUMO

O brincar é tão importante para o aprendizado da criança, porque

brincando a criança aprende muito. É importante verificar como vem ocorrendo

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a forma de brincar, tanto em casa quanto na escola, utilizando como

ferramenta a aprendizagem. As crianças atualmente passam muito tempo no

computador, deve-se, portanto, resgatar o valor do brincar, como facilitador no

processo da aprendizagem estimulando a criança nos aspectos físicos,

sociológicos e psicológicos, ou seja, a criança como um todo.

Na brincadeira, a criança não está, apenas, desenvolvendo

comportamentos, mas manipulando as imagens, as significações simbólicas

que constituem uma parte da impregnação cultural a qual está submetida. O

jogo e o brinquedo são distintos em diversos aspectos, porém ambos podem

expressar uma brincadeira. Quando uma criança está jogando com regra ou

sem regra , ela pode estar brincando, bem como no caso do brinquedo que

funciona como um objeto que dá suporte para a brincadeira.

METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, porque se vale de material já

publicado disponível em livros, artigos bem como em material disponibilizado

na rede eletrônica.

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PENSAMENTO

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“Sem a curiosidade que me move, que me inquieta, que me insere na busca, não aprendo, nem ensino.” (Paulo Freire)

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 09

CAPÍTULO I - A Importância do brincar e seu significo 11

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CAPÍTULO II - Atividades Lúdicas: Um pouco da sua história 20

CAPÍTULO III – O jogo e a educação infantil 32

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA 46

ÍNDICE 47

FOLHA DE AVALIAÇÃO 63

INTRODUÇÃO

Jogos, brinquedos e brincadeiras sempre ocuparam um lugar importante

na vida de toda criança, exercendo um papel fundamental no desenvolvimento.

Desde os povos primitivos aos mais civilizados, todos tiveram e ainda

tem instrumentos de brincar. Em qualquer país, rico ou pobre, próximo ou

distante, no campo ou na cidade, existe a atividade lúdica.

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Em um enfoque sociológico,podemos dizer que as atividades lúdicas

são responsáveis, em parte, pela transmissão da cultura de um povo, de uma

geração para a outra, tendo diferentes objetivos – ora são usadas para divertir,

ora para socializar, também são usadas para ensinar, ou ainda, promover a

união de grupos.

Já do ponto de vista pedagógico, as atividades lúdicas são usadas como

instrumentos para transmitir conhecimentos. Muitas delas são praticadas

apenas com o corpo, como é o caso das danças, das cirandas, dos jogos de

saltar, correr, esconder, pegar. Outras necessitam do objeto brinquedo, como a

bola, a corda, a peteca, o pião, a pipa, entre outros.

O primeiro capítulo irá abordar a importância do brincar e o seu

significado. Que através da brincadeira, a criança se apropria de conhecimento

que possibilitará sua crença sobre o meio em que se encontra. A brincadeira

tem caráter importante para aquisição do código da linguagem e para a

organização do pensamento.Que através do brinquedo, a criança estabelece

sua relação com a vida real. Vale ressaltar que, optei por tratar jogos,

brinquedos e brincadeiras como atividades lúdicas, abrangendo esses

conceitos de forma mais ampla, inclusive por entender que são instrumentos

importantes, capazes de modificar os processos de desenvolvimento e

aprendizagem quando interagem no cotidiano infantil.

Já o segundo capítulo, trata de atividades lúdicas com um pouco de

história. Diz que todo o jogo, brinquedo ou brincadeira, é como uma parte da

cultura que está sendo manipulada pela criança, que aprende, então, sobre

modos e costumes da vida cotidiana.Podemos dizer também que o brinquedo

é um meio de transferir e transformar a realidade interna e externa da criança,

e que as brincadeiras são os primeiros recursos no caminho rumo à

aprendizagem. Não são apenas diversões, mas um modo de criar

representações do mundo concreto com a finalidade de entendê-lo. Que o jogo

constitui o mais alto grau de desenvolvimento da criança, que é a manifestação

espontânea e natural do mundo intuitivo, imediatamente provocada pelo

mundo interior. Por isso, quando brinca, a criança está imersa em um mundo

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de alegria, contentamento paz e harmonia, proporcionados pelo brincar

espontâneo.

No terceiro capítulo,vamos ver a relação do jogo e a educação infantil.

Existe uma importante consideração que envolve a idéia de jogo diz respeito à

aprendizagem. Não mais pode existir no educador a idéia classificatória de

“jogos que divertem” e “jogos que ensinam”, pois se o jogo que se aplica

envolve de forma equilibrada o respeito pelo amadurecimento da criança,

exercita e coloca em ação desafios a sua experiência, promove sua relação

interpessoal exaltando as regras de convívio, será sempre um jogo educativo-

ainda que possa simultaneamente ensinar e divertir. Jogos bem organizados

ajudam a criança a construir novas descobertas, a desenvolver e enriquecer

sua personalidade e é jogando que se aprende a extrair da vida o que a vida

tem de essencial. Nesse sentido, toda essência do jogo se sintetiza em suas

regras pois é operando dentro de algumas regras e percebendo com clareza

sua essência que vivemos bem e nos relacionamos com o mundo. Jogar é

plenamente viver O jogo é um recurso didático que, ao mesmo temo, pode

ensinar, pode aprimorar relações interpessoais e ainda causar intensa

sensação de alegria, prazer e motivação. A aprendizagem é tão importante

quanto ao desenvolvimento social e o jogo constitui uma ferramenta

pedagógica ao mesmo tempo promotora do desenvolvimento cognitivo e do

desenvolvimento social. Mais ainda, o jogo pedagógico pode ser instrumento

da alegria. Uma criança que joga antes de tudo o faz porque se diverte, mas

dessa diversão emerge a aprendizagem e a maneira como o professor, após o

jogo, trabalhar suas regras pode ensinar-lhe esquemas de relações

interpessoais e de convívios éticos

CAPÍTULO 1: A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E O SEU

SIGNIFICADO

1.1 Piaget

Jean Piaget durante seus estudos,reuniu um modelo para descrever como os

seres humanos atribuem sentido ao seu mundo, e através do estudo das suas

concepções, sobre o desenvolvimento do pensamento. Analisar a importância

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do brincar, do brinquedo, do jogo, nesse processo, auxilia a entender o quanto

é importante usarmos esses recursos nas atividades pedagógicas.

O brinquedo estimula a representação da realidade para a criança; ao

representá-la ela estará vivendo algo ou alguma situação remota e irreal

naquele momento. Um exemplo é o fato de que, ao brincar de casinha, ao

representar o papai, a mamãe, a filhinha e, ao conversar com o seu coleguinha

e com sua boneca, vai reproduzir diálogos que presenciou. Vai repetir o modo

pelo qual os adultos ali representados a tratam e como conversam com ela.

“Admite-se que o brinquedo represente certas realidades. Uma representação

é algo presente no lugar de algo. Representar é corresponder a alguma coisa e

permitir sua evocação, mesmo em sua ausência. O brinquedo coloca a criança

na presença de reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as

constrições humanas. Pode-se dizer que um dos objetivos do brinquedo é dar

à criança um substituto dos objetos reais, para que possa manipulá-los.”

[Kishimoto, org, (1999, p. 18)]

De acordo com Piaget, o desenvolvimento da inteligência está voltado

para o equilíbrio; a inteligência é adaptação. O homem estaria sempre

buscando uma melhor adaptação ao ambiente. Dessa forma podemos

entender a importância do brincar para o desenvolvimento da criança. Através

da brincadeira, a criança se apropria de conhecimentos que possibilitarão sua

ação sobre o meio em que se encontra. Toda atividade do homem visa atingir

o equilíbrio; suas ações acontecem em função de alguma necessidade que irá

provocar no sujeito um estado de desequilíbrio. Nesse momento o sujeito é

obrigado a buscar novas formas de se relacionar com o meio para melhor

adaptar-se ao mesmo. Podemos ver aí os processos de equilibração. A criança

passa de um estado de equilíbrio para outro.

“Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo à sua

maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto

não depende da natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui.”

[Kishimoto, org. (1999,p.59)]

Aqui iniciamos o estudo sobre o brincar, de acordo com as fases de

desenvolvimento, segundo Piaget.

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1.1.1 Brincando e interagindo com o mundo (até dois anos)

Entre um e dois anos, aproximadamente, começa o estágio sensório-motor. O crescimento cognitivo durante este estágio se baseia, principalmente, em

experiências sensoriais e ações motoras. As ações sensoriais e motoras são

utilizadas para atingir uma meta. Piaget diz que os bebês adquirem

conhecimentos sobre os objetos através de suas interações com eles. Durante

esse período a inteligência se manifesta em ações. Através dos reflexos, o bebê se relaciona com o mundo. Por

intermédio da amamentação ele incorpora os mecanismos necessários ao ato

de sugar e forma seus esquemas, que de acordo Piaget, esquema, “uma

estrutura interna de ações”, incorporando este ato e estendendo o mesmo para

outras ações, tais como chupar o dedo. Nesse momento, suas mãos são um

brinquedo para ele e a generalização do ato de sugar com a capacidade de

coordenar seus movimentos poderão levá-lo a colocar outros objetos na boca

e dessa forma brinca com eles de maneira significativa, uma vez que estará

sucessivamente construindo novos esquemas.

O seu corpo é o primeiro brinquedo utilizado pela criança; desde os

primeiros meses de vida ela explora seu corpo e a partir dele começa a

conhecer os estímulos externos, provocando assim, a adaptação do seu corpo

ao meio.

A partir dos seis meses aproximadamente, a criança pode começar a se

interessar sobre os efeitos que os seus atos produzem sobre o ambiente que a

cerca; por exemplo, ela pode alcançar o móbile que se encontra sobre o seu

berço e percebe o som que ele produz ao ser sacudido; então passará a

prestar atenção nos resultados dessa ação, desviando o foco de atenção do

seu próprio corpo.

O desenvolvimento cognitivo dos bebês vai acontecendo a partir do

desequilíbrio provocado pelas suas necessidades, tais como conhecer,

descobrir as conseqüências resultantes de determinados atos seus, ou seja,

suas brincadeiras irão incorporar-se através dos seus sentidos ao cérebro e

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consequentemente irão provocar o processo de equilibração e desta forma

farão aflorar o desenvolvimento cognitivo.

São importantes neste momento, os estímulos enviados ao cérebro destas

crianças. Nesta fase é fundamental a presença do adulto, pois dele irá

depender o crescimento do bebê e sua relação com o meio. Os laços de

afetividade presentes na relação do adulto com a criança já estabelecem uma

relação lúdica desta com o mundo.

1.1.2 Brincando e entendendo o mundo (de dois a sete anos)

Este estágio é denominado pré-operacional. Vamos levar em

consideração o estágio anterior, quando a criança assimila as suas

experiências e, a partir delas, passa a entender o mundo que a cerca e vai se

adaptando a ele. Agora, esta visão egocêntrica iniciada no estágio sensório-

motor vai continuar com ela até iniciar o momento das operações concretas. É

com essa percepção fechada em si que a criança ingressa na fase pré-

operacional. Em princípio sua relação com o mundo permanece a mesma,

somente com o início da linguagem é que a criança vai redimensionar seus

esquemas, gerando novos quadros mentais e reestruturando os já existentes.

Neste momento, a criança começa a usar os processos de imitação, e a

“brincadeira” passa a ter o sentido de assimilar o que ela percebe no seu

ambiente. Ela irá reproduzir o seu meio. Inicialmente a criança imita o que vê,

posteriormente ela já consegue fazer uma cópia do que não vê, ou seja,

representa o que já viu. Essa representação é o início do pensamento.

Nesta fase, a brincadeira de faz-de-conta, é extremamente importante pois

possibilita o entendimento do mundo que a cerca. Ela brinca de casinha, de

comidinha, de carrinho, mesmo sem estar manipulando os objetos relativos a

cada uma. Ela representa; afinal, já possui uma imagem mental interiorizada

daquilo que está representando. Então aí é capaz de pegar várias caixinhas de

fósforos e brincar imaginando serem carros que estão na rua; e até de colocar

sua boneca que projeta andar numa suposta calçada.

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A imitação que dá origem à imagem mental, através de cenas já

interiorizadas, chamamos de jogos simbólicos. Por intermédio dos jogos

simbólicos, a criança irá adquirir a linguagem convencional. Aprenderá a

nomear os objetos de acordo com seu conceito cultural. Assim, por mei das

brincadeiras e dos jogos simbólicos, a linguagem vai se estruturando. A criança

começará a trabalhar com suas imagens mentais e estas, segundo Piaget, são

os primeiros elementos de articulação entre ação e pensamento.

Neste estágio de desenvolvimento, a brincadeira assume caráter

importante para aquisição do código de linguagem e para a organização do

pensamento. É necessário fornecer vários estímulos para que a criança possa

relacionar os objetos que a cercam com seus nomes propriamente ditos e criar

suas imagens mentais. É preciso que ela conheça, por exemplo, a bicicleta,

que reconheça e relacione o nome atribuído a este objeto, para que

posteriormente ela poder atribuir este nome à figura de uma bicicleta, e ao

ouvir a palavra bicicleta possa formar sua imagem mental.

A capacidade de trabalhar com símbolos é denominada função semiótica.

Através de brincadeiras, de jogos, a criança desenvolverá essa função

normalmente. Ao brincar de pentear o cabelo da mamãe, ou de sua boneca,

sem estar com o pente nas mãos, a criança estará criando símbolos de ação.

Nesta fase, a aquisição da linguagem é o mais importante sistema de símbolos

adquirido pela criança.

Outra função do brincar no desenvolvimento mental da criança está

relacionada com a reversibilidade. É muito difícil para a criança pensar do final

para o começo, ou seja, como retornar ao início de uma tarefa simplesmente

desfazendo seus passos. Tão difícil quanto o pensamento reversível é o

conceito de conservação, ou seja, a criança entender que a quantidade de

determinada coisa vai permanecer a mesma, ainda que sua disposição ou

aparência seja alterada. Entendemos aqui a importância do simples quebra-

cabeça, em que, inocentemente, a figura está inteira e você a divide em várias

partes para que a criança torne a montá-la.

Na fase dos quatro aos sete anos, aproximadamente, os jogos assumem

um papel definitivo; passam a ter mais seriedade, ficando muito importantes na

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vida das crianças. Elas passam a gostar de participar de brincadeiras com o

próprio corpo, movimentando-se.

Dessa forma, elas desenvolvem cada vez mais ou músculos, correndo,

brincando, pulando. Os músculos responsáveis pela coordenação motora fina,

aquela responsável pelos movimentos da escrita, serão desenvolvidos através

das brincadeiras, onde se faça necessário rasgar, picar papel, costurar,

amassar etc.

1.1.3 O corpo ganha espaço na brincadeira (de sete a onze

anos)

Esta fase chamada de operacional-concreta, foi denominada por Piaget de

estágio prático do pensamento.

Começa, agora, a sistematização do conhecimento da criança; e é nesse

momento que as práticas esportivas passam a ter significado para elas.

É importante que o corpo esteja integrado às demais áreas de

conhecimento. O corpo vai ocupar um lugar de destaque em suas brincadeiras,

através do movimento.

Por meio da curiosidade, a criança é capaz de romper os esquemas já

existentes, ela estará mais questionadora, gostará de desafios, de resolver

situações-problema. A criatividade será sua principal característica.

As brincadeiras, nessa fase, devem ter sempre o objetivo da interação

social; os jogos com regras devem ter prioridade. Com os jogos ela vai

aprender a relacionar-se e respeitar os outros colegas como também aceitar as

regras para a convivência.

1.1.4 Estou crescendo: do que brincar?

Este é o estágio operacional-formal. Na fase anterior, vimos que a criança,

entrou sob o ponto de vista orgânico, na puberdade, já tendo desenvolvido um

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sistema completo e lógico de pensamento. Nessa fase, ela não resolve as

situações por ensaio e erro, já consegue analisar as situações antes de agir.

Os adolescentes adoram a sensação da conquista de algo novo e os jogos

intelectuais vão atrair suas atenções. Discutir, pesquisar, estar em contato com

o grupo, arriscar-se em aventuras e os desafios dos jogos eletrônicos, são o

seu forte, nessa fase.

1.2 Vygotsky

Brincar também é social:

A opinião de Vygotsky sobre o desenvolvimento da criança é evidenciar

a importância do lúdico, na sua formação.

Vygotsky admite que, no começo da vida de uma criança, os fatores

biológicos, superam os sociais. Só depois, aos poucos, a integração social

será o fator decisivo para o desenvolvimento do seu pensamento.

Vygotsky entende a brincadeira como uma atividade social da criança

e através desta a criança adquire elementos imprescindíveis para a construção

de sua personalidade e para compreender a realidade da qual faz parte.

Apresenta a concepção da brincadeira como sendo um processo e uma

atividade social infantil

.

1.2.1 Brincadeira

A porta do mundo adulto

A habilidade de aprender com o passado para interferir no presente não

nasce com o homem, mas já a partir dos três anos de idade a criança é capaz

de perceber que determinadas situações só poderão ser aprendidas no futuro

e outras, imediatamente.

A importância que Vygotsky atribui ao ato de brincar, pois para ele a

criança se inicia no mundo adulto por meio da brincadeira e pode antever os

seus papéis e os valores futuros. Por meio da brincadeira a criança vai se

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desenvolver socialmente, conhecerá as atitudes e as habilidades necessárias

para viver em seu grupo social.

A criança aprende a conviver com as atividades culturais; usando a

brincadeira ela estará estimulando o seu desenvolvimento, aprendendo as

regras dos mais velhos.

A fala certamente irá introduzir mudanças significativas na forma com que

a criança se relacionará com as outras funções sensoriais.

A fala, a linguagem, segundo Vygotsky “ é parte essencial do

desenvolvimento cognitivo da criança”.

1.2.2 Aprendizagem e desenvolvimento

As pesquisas realizadas por Vygotsky apontam para o fato de que a

linguagem e a percepção estão intimamente ligadas desde os estágios iniciais

do desenvolvimento humano.

Uma questão muito importante a ser estudada, segundo a visão

vygotskyana, é a relação entre a aprendizagem e o desenvolvimento. Levando-

se em consideração de que o aprendizado da criança começa muito antes dela

iniciar o período de escolarização, podemos dizer que as situações de

aprendizado teriam sempre uma história anterior.

“ A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o

primeiro dia de vida da criança.” [ Vygotsky (1991, pg. 95)]

1.2.3 As regras no brincar

Vygotsky ensina sobre a brincadeira, no desenvolvimento da criança,

dizendo que brincar nem sempre é algo prazeroso. Segundo ele, existem

outras coisas que dão mais satisfação à criança. O ato de ganhar ou perder no

final, podem ser extremamente desagradáveis para elas.

A criança satisfaz algumas de suas necessidades usando o brinquedo. As

ações que realiza estão diretamente relacionadas com suas necessidades,

com suas motivações e também de acordo com o seu desenvolvimento.

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Todos os desejos e necessidades da criança podem ser atingidos usando os

brinquedos, ou o imaginário.

O jogar com normas, o brincar com regras são mais praticados na idade

em que a criança ingressa no pré-escolar e continua daí em diante, no seu dia-

a-dia.

É interessante a situação descrita por Vygotsky:

“Pode-se propor que não existe brinquedo sem regras. A situação

imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de

comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais

estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca como

criança e dessa forma, deve obedecer as regras do comportamento maternal...

o que na vida real passa despercebido pela criança torna-se uma regra de

comportamento no brinquedo.” (1991,pg.108).

Pelo uso do brinquedo, a criança aprende a agir de forma cognitiva; os

objetos tem um aspecto motivador para as ações da criança, desde a idade

mais tenra idade. A percepção é um motivo para a criança agir. Mais tarde, a

ação começa a se desvincular da percepção: o pensamento começa a se

separar do que a criança imagina ser o objeto e do que o objeto é, realmente;

a criança vai fantasiando o que ela gostaria de que determinado objeto fosse.

Essa transição é gradual no desenvolvimento de cada uma. É importante notar

também que, no brinquedo, a criança transforma as regras em desejos seus.

1.2.4 Nem sempre é só prazer

É com a brincadeira que a criança reproduz a realidade; ao brincar de

papai e mamãe,por exemplo, imita o seu cotidiano. Podemos dizer que o

brinquedo é uma recordação concreta de situações já vividas, mais até do que

a imaginação. De acordo com a maneira de brincar ela percebe qual é a forma

para conseguir alcançar seus objetivos; daí, brincar pode não ser mais tão

prazeroso. Podemos verificar isso quando uma criança entra em uma disputa e

não consegue vencer: a derrota é um processo doloroso.

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O esforço realizado pode também fazer com que ela experimente

sensações que não lhe trazem o prazer. Quando as regras assumem papel

preponderante no jogo, vemos então que a tensão aumenta sensivelmente na

brincadeira. O brincar pode ser visto, de um lado como uma ação livre,

imaginária, e de outro, pode ser visto como uma maneira de desenvolver a sua

capacidade de abstração, quando cria uma situação imaginária.

Através do brinquedo, a criança estabelece suas relações com a vida real.

Ela vai experimentar sensações que já conhece e vai desenvolvendo regras de

comportamento que imagina serem corretas.

CAPÍTULO 2- ATIVIDADES LÚDICAS: UM POUCO DA

SUA HISTÓRIA

Na Antiguidade, a atividade lúdica não era ligada exclusivamente à

infância, mas às pessoas em geral. Mesmo assim,alguns filósofos, como

Platão e Aristóteles, já pensavam o brinquedo na educação, associando a idéia

de estudo ao prazer.

Para Aristóteles (344 a.C.), o jogo é uma atividade que toma a si mesma

como fim, idéia também desenvolvida mais adiante por pesquisadores russos,

como Leontiev, Vygostky e Elkonin. A recreação um descanso do espírito,

como vem sendo discutida por educadores e pesquisadores, que ressaltam a

importância de o brincar acontecer de forma espontânea, não devendo ser

associado à idéia de prêmio ou castigo.

De acordo com Vial(1981), na Antiguidade, para o ensino das crianças,

utilizavam-se dados, bem como doces e guloseimas em forma de letras e

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números. A importância da educação sensorial nesse período determinou,

portanto, o uso do “jogo didático” por professores das mais diferentes áreas,

como Filosofia, Matemática, Linguagem e outras.

Segundo os autores, a partir da Idade Média, jogos, brinquedos e

brincadeiras eram comuns a toda sociedade, sem distinção de idade e classe

social, formando um dos principais meios de promover a coletividade e

estreitar os laços de união.

Os brinquedos eram iguais tanto para menina como para menino; alguns muito

comuns eram a bola, o catavento, o pião, o cavalo de pau, a peteca, a boneca,

as miniaturas, entre outros. E, no caso da sociedade europeia, jogos,

brinquedos e brincadeiras eram evidenciados nas grandes festas tradicionais,

onde crianças, jovens e adultos desempenhavam papéis que lhes eram

reservados pela tradição. Essas atividades aparecem como divertimentos que

levam os cidadãos a participarem da comunidade e estabelecerem relações

sociais, além de enfatizar o papel de cada um dentro do grupo.

No início da industrialização, apesar da vida difícil da estrutura familiar

operária, ainda se preservava forte relação dos indivíduos com a comunidade.

Dentre as atividades que reforçavam esse vínculo, estavam as festas, os jogos

e as brincadeiras, comuns a todos, adultos e crianças. Não havia separação

entre brincadeiras e jogos reservados às crianças e aos adultos, pois estes

representavam um elo entre o indivíduo e sua comunidade; além disso, jogos

e brincadeiras representavam, e continuam representando, também, a

possibilidade, manutenção e transformação de conteúdos históricos da

humanidade.

Assim, todo jogo, brinquedo ou brincadeira é como uma parte da cultura

que está sendo manipulada pela criança, que aprende, então, sobre modos e

costumes da vida cotidiana. Podemos dizer também que o brinquedo é um

meio de transferir e transformar a realidade interna e externa da criança.

2.1 – Atividades lúdicas no Brasil

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No Brasil, Freire (1988) e Kishimoto (1993) retrataram a infância da

criança brasileira desde a colonização, caracterizando os jogos nos diferentes

momentos da história.

No período colonial brasileiro, havia certos traços de hostilidade nos

jogos, como, por exemplo, “o jogo do beliscão”, que consistia em dar um

beliscão forte e doloroso nas crianças que perdiam o jogo. Outro jogo que

demonstra agressividade era o “brincar de cavalo”, usando uma criança negra

como cavalo que era chicoteada com galhos de goiabeira.

Nesse período as atividades dos meninos e das meninas eram

diferenciadas. Os meninos ganhavam uma “faquinha de pontacomo brinquedo

e passavam parte do seu tempo tirando a vida de pequenos animais e

destruindo ninhos. Já as meninas, em função do bom comportamento, eram

proibidas de brincar, pular, saltar ou subir em árvores, de correr ao ar livre.

Essas atividades eram comuns entre os meninos brancos e negros, apelidados

de “leva-pancadas”.

Kishimoto (1993) destaca que é difícil especificar a influência negra nos

jogos infantis brasileiros, uma vez que os negros misturavam-se ao cotidiano

do período colonial, nos engenhos, nas plantações, nas minas e nos trabalhos

das cidades do litoral, dificultando a distinção entre o que é específico da

população africana e suas adaptações.

A autora também estudou as atividades lúdicas na vida das crianças indígenas.

Para estas, o brincar representava uma espécie de treino para a vida adulta.

“Atirar com arco e flecha não é brincadeira, é um treino para a caça”.

(KISHIMOTO, 1993, p. 62)

Outra autora que trouxe contribuições importantes sobre o tema foi

Friedmann (1996), que ressalta a importância dos jogos tradicionais, por estes

representarem uma tentativa de resgatar e guardar os valores da cultura lúdica

e por contrapor-se aos brinquedos industrializados.

Friedmann (1996) reuniu cerca de trezentos jogos tradicionais só na

cidade de São Paulo, sendo esse trabalho ampliado para vários outros estados

do Brasil, perfazendo uma média de mais de mil jogos. A partir desse

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levantamento, fez uma análise das atividades lúdicas espontâneas e das

razões de sua mudança e/ou desaparecimento no decorrer deste século.

Apesar de sabermos da importância dos jogos, dos brinquedos e das

brincadeiras para as crianças, essas atividades não tem tido espaço dentro

das escolas. A grande preocupação é preparar o aluno para o processo de

alfabetização e desenvolver suas habilidades cognitivas.

“Nesse sentido, a civilização tem se preocupado com a formação de novos

indivíduos, moldando suas habilidades produtivas e racionais.” (FRIEDMANN,

1996, p. 46)

2.2. – Contribuições de Froebel para o uso dos jogos na

educação Infantil

Não podemos deixar de citar as contribuições de Froebel, importante

personagem na história da Educação Infantil e da construção e da utilização

dos jogos como recurso facilitador da aprendizagem para as crianças.

Ele foi um dos primeiros educadores a considerar o início da infância

como uma fase decisiva na formação das pessoas – idéia hoje também

consagrada pela Psicologia. As técnicas utilizadas até hoje em Educação

Infantil devem muito a Froebel. Para ele, as brincadeiras são os primeiros

recursos no caminho rumo à aprendizagem. Não são apenas diversões, mas

um modo de criar representações do mundo concreto com a finalidade de

entendê-lo.

Depois de ter observado crianças montando e desmontando jogos,

Froebel propõe jogos de construção a fim de possibilitar-lhes a decomposição

e recomposição. O autor entende que a manipulação e a expressão são

indissolúveis: é a exploração do material livre, espontâneo e simbólico que leva

a criança a criar seus próprios jogos.

Ele ressalta que o jogo constitui o mais alto grau de desenvolvimento da

criança, a manifestação espontânea e natural do mundo intuitivo,

imediatamente provocada por uma necessidade interior. Por isso, quando

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brinca, a criança está imersa em um mundo de alegria, contentamento, paz e

harmonia, proporcionados pelo brincar espontâneo.

Assim como Vygotsky, que vê a interação como ação que provoca

intervenção no desenvolvimento da criança, Froebel também defende que, a

partir dos jogos, a criança tem a oportunidade de expor sua capacidade

representativa e a interação com outras crianças. Desta forma, podemos

pensar que as atividades lúdicas cooperativas contribuem e oportunizam para

as crianças momentos de expressão, criação e de troca de informação, além

de trabalhar a cooperação.

Para Froebel (2001), o brinquedo é um ato que faz parte da natureza

infantil, sendo assim a atividade principal desta faixa etária e a única forma que

a criança tem de expressar seu mundo interior, de se conhecer e de se

organizar. Afirma ainda que a brincadeira é a fase mais alta do

desenvolvimento da criança, porque na brincadeira a criança está

exteriorizando seus impulsos internos.

Se considerarmos que a criança pré-escolar aprende de modo intuitivo,

adquire noções espontâneas, em processos interativos, que a envolvem por

inteiro – sua cognição, afetividade, corpo e interações sociais- o brinquedo

adquire um papel de grande relevância para o desenvolvimento.Ao permitir a

ação intencional(afetividade), a construção de representações

mentais(cognição), a manipulação de objetos e o desempenho de ações

sensório-motoras(físico) e as trocas nas interações(social), o jogo completa

várias formas de representação da criança ou suas inteligências múltiplas.

(KISHIMOTO,2005)

Para educar de forma lúdica temos de entender o universo da criança e

compreender o mecanismo do conhecimento. Tratar das inteligências múltiplas

é de real importância para aplicarmos o jogo certo à criança certa. A atividade

lúdica deve contribuir no processo de aprendizagem e não ser, simplesmente,

um ato para passar o tempo, sem finalidade pedagógica.

A teoria das inteligências múltiplas foi concebida por um psicólogo

desenvolvimentista, de tradição piagetiana. Um especialista em

neuropsicologia, tendo trabalhado no hospital dos veteranos de Boston, foi

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convidado a fazer uma pesquisa sobre inteligência. Ele iniciou sua pesquisa

apagando a idéia de que a inteligência tem como característica ser estável no

ser humano, e também com a idéia de que ela poderia ser testável. Ele

pesquisou vários profissionais de sucesso incontestável e procurou saber que

tipo de inteligência cada um precisou ter para chegar até aquele ponto de

sucesso na sua área. Ele queria ver quais as atividades que foram valorizadas

pelas diferentes culturas. A partir daí ele utilizou a sua concepção de

inteligência e passou a pesquisar o desenvolvimento de crianças que se

desenvolviam normalmente e de outras consideradas anormais, e ainda

crianças consideradas problemáticas em determinadas áreas e que eram

prodigiosas em outras.

Ele concorda com Piaget no eu diz respeito às fases do desenvolvimento

mental, afirmando que uma fase depende do término da imediatamente

anterior, mas em sua opinião o indivíduo pode estar em várias fases

dependendo do enfoque da área do conhecimento. Por exemplo: Ele pode

estar na fase das operações concretas numa área do conhecimento e estar na

fase sensório-motor em outra.

Desde que mantidas as condições intencionais da criança no brincar, livre

ou dirigido, no jogo, no brinquedo ou na brincadeira, estarão asseguradas as

situações de aprendizagem.

2.3 – A aplicação pedagógica do jogo, do brinquedo e da brincadeira na Educação Infantil O brincar é fonte de lazer, mas é, simultaneamente, fonte de

conhecimento; e esta dupla natureza que nos leva a considerar o brincar como

parte integrante da atividade educativa.

O jogo, o brinquedo e a brincadeira são analisados e estudados na

Pedagodia, tendo em vista as possibilidades práticas de sua utilização no

processo de ensino e aprendizagem. Brincar é uma situação em que a criança

constitui significados para assimilação dos papéis sociais e compreensão das

relações afetivas que ocorrem em seu meio, bem como para a construção do

conhecimento.

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As dificuldades de utilização dos jogos, dos brinquedos e das brincadeiras

com o intuito pedagógico acontecem em função das divergências existentes

entre as características, que são inerentes aos jogos, aos brinquedos e às

brincadeiras, e os objetivos educacionais. Como já foi dito, a atividade lúdica

possui um fim em si mesma, isto é, ela é diferente de uma tarefa didática e não

se destina à realização de um objetivo preestabelecido. Na Educação Infantil,

as atividades realizadas tem um objetivo específico, algo a ser aprendido.

A atividade lúdica é uma situação em que a criança realiza, constrói e se

apropria de conhecimentos das mais diversas ordens. Ela possibilita,

igualmente, a construção de categorias e a ampliação dos conceitos das várias

áreas do conhecimento. Neste aspecto, o brincar assume um papel didático e

pode ser explorado pela Pedagogia.

Quando utilizamos os jogos, os brinquedos e as brincadeiras como

instrumento educativo, precisamos levar em conta que o fato de participar de

um jogo não garante a aprendizagem da criança. Outra questão importante, é

que ao se propor a atividade lúdica como instrumento educativo, podem-se

eliminar as características desta atividade, igualando-as a outras atividades

pedagógicas.

Em meados do século XVIII, segundo Nicolau (1986), Rousseau propôs

para a educação de crianças os jogos, o esporte e as atividades manuais.

Outro educador importante, Pestalozzi, com vasta prática n ensino às crianças,

defendia uma educação que pudesse unir o trabalho manual aos

conhecimentos elementares. Para ele, o princípio fundamental de seus

métodos era a descoberta que deveria acontecer no momento da manipulação

dos objetos concretos.

Outro educador importante foi Froebel, continuador de Pestalozzi, que

defendia a idéia de que as crianças deveriam aprender pela experimentação e

pela prática. Porém, apesar de salientar uma educação que respeitasse o

interesse da criança, como bem afirmou Soares(1937), os jogos condicionados

pelos dons são pautados, monótonos e, por vezes, irritáveis por conter

ocupações manuais mecânicas e regulares, incluindo muitas regras e pouca

espontaneidade e fantasia.

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Para Soares(1937), Maria Montessori ultrapassou os pressupostos de

Froebel, discutindo a possibilidade de uma escola que permitisse o

desenvolvimento das manifestações espontâneas da criança. O método

montessoriano consiste no exercício sensorial e no seu aproveitamento no

processo lúdico e pedagógico.

Esses autores defenderam a adoção de jogos e brincadeiras e de

materiais pedagógicos na educação de crianças pequenas. Apesar de eles

terem contribuído para o avanço das teorias, nas práticas pedagógicas, é

possível afirmar que as atividades definidas e utilizadas pelos professores

como sendo lúdicas, são atividades dirigidas e controladas, com o intuito de

atingir determinados objetivos educativos. São mais um instrumento de ensino

com algumas características lúdicas.

O brinquedo utilizado na escola não deve ser muito diferente daqueles

com os quais as crianças estão acostumadas a brincar fora do espaço escolar;

deve ser algo que elas conheçam, que faça parte de sua realidade. A escola

deve, portanto, resgatar os brinquedos pertencentes à cultura lúdica dos

alunos e proporcionar ressignificações, mudanças de materiais adaptados,

novos jogos, novas brincadeiras.O ambiente coletivo permite que essas ações

sejam realizadas com sucesso, pois a interação com outras crianças possibilita

que culturas sejam compartilhadas e novas idéias sejam expostas e

apreendidas. Assim, na escola, o principal propósito de utilização do brinquedo

é sugerir idéias, fazer fluir a imaginação e ultrapassar os limites da criatividade.

Muitas vezes, o brinquedo não apresenta realmente a função que

parece ter, mas a imagem atrai a representação e induz aos significados do

mundo real, inserindo a criança em um meio social. No entanto, se

observarmos as relações que a criança estabelece com o conteúdo da

televisão e com o brinquedo, percebemos que, no brinquedo, ela tem a

possibilidade de criar e recriar ativamente, porque pode manipulá-lo para

continuar brincando, e assim conduz a brincadeira para o caminho que

desejar.

Oliveira(1989) salientou que a televisão tem muita influência sobre os

brinquedos; para o autor, são os personagens, os nomes, as atitudes e os

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valores que são transplantados, sem cerimônia, e divulgados a toda sociedade.

Infelizmente, os meios de comunicação abusam da idéia de que quem tem os

brinquedos mais caros são os que estão na moda, ou ainda transmitem a idéia

de certo “status”, sendo que, geralmente, esses brinquedos da mídia são

acessíveis apenas para a menor parte da população. Devemos defender um

brinquedo que possibilite à criança um espaço de criação e de abertura para

as suas ações.

2.4 – Espaço para o brincar e o papel do professor

Na escola, desde cedo, a criança tem a necessidade de brincar como

forma de socialização e de interação com a experiência sócio-histórica, dos

adultos e do mundo por eles criado. Dessa forma, a brincadeira é uma

atividade humana na qual as crianças são introduzidas, constituindo-se em um

modo de assimilar e recriar a experiência sociocultural dos adultos.

Porém, vemos que, embora algumas escolas tenham aderido a um

espaço para brincar possa acontecer, por exemplo, a criação da

brinquedotecas- espaços criados especialmente para promover a brincadeira

dirigida ou espontânea, visando ao desenvolvimento e à aprendizagem global

da criança-, os professores parecem estar mais preocupados em cumprir os

objetivos estipulados pelos programas escolares fixados para cada faixa etária.

Com isso, o brincar fica restrito a intervalos entre as atividades.

O brincar pode e deve não só fazer parte das atividades curriculares,

especialmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, mas também

ter um tempo preestabelecido durante o planejamento em sala de aula. É,

pois, fundamental selecionar brinquedos que levem os alunos a

transformarem, criarem e ressignificarem sua realidade, estimulando não só a

criatividade, por meio da atividade lúdica, mas também a tomada de decisão, a

resolução de problemas e a cooperação no trabalho em grupo.

A proposta de utilização do brinquedo na escola, e principalmente como

recurso pedagógico, objetiva então estimular o desenvolvimento dos alunos

por meio de um elemento comum. Para que o brincar aconteça, é necessário

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que o professor tenha consciência do valor dos jogos e das brincadeiras, bem

como saber usá-las e orientá-las. Há, de fato, diversas formas de o brincar

acontecer: o brincar livremente, quando o prazer está na atividade em si, sem

um fim propriamente dito; e o brincar dirigido, no qual há presença de um

adulto.

O que todo professor que deseja utilizar o brinquedo precisa saber é que

sua principal característica como instrumento de mediar a aprendizagem é o

prazer.Um “termômetro” para medir se o que o professor está fazendo está

dando certo é a alegria que deve estar estampada nos olhares das crianças, a

motivação em querer fazer parte da atividade, o interesse em continuar brincan

do. O professor que não observar essas características atentamente estará

sujeito a desistir da atividade lúdica no processo ensino aprendizagem.

Quando o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil –

RCNEI(1998) trata o professor como mediador, aponta o brincar como

instrumento próprio e necessário para a criança. Com a brincadeira, cria-se um

espaço no qual as crianças podem experimentar o mundo e internalizar uma

compreensão particular sobre as pessoas, os sentimentos e os diversos

conhecimentos. A intervenção do educador durante as brincadeiras realizadas

pelas crianças nas instituições escolares é de suma importância, mesmo que

seja no brincar espontâneo. O professor deve oferecer materiais, espaço e

tempo adequados para que a brincadeira ocorra em sua essência.

Ao utilizar o brinquedo nas aulas como material pedagógico, é

importante que o professor não se deixe levar por uma liberdade de

exploração, ou seja, simplesmente deixar os alunos em um determinado

espaço brincando sem nenhuma orientação e consciência de suas ações.

Deve haver planejamento, e as atividades devem ser mediadas pelo professor,

desafiando os alunos na resolução de problemas, aumentando o repertório de

respostas para suas ações, estimulando sua criatividade e, principalmente,

contribuindo para sua formação. Pensar na atividade lúdica como meio

educacional significa menos o “brincar por brincar” e mais o brincar como

instrumento de trabalho, como meio para atingir objetivos preestabelecidos.

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Deve haver uma conscientização dos profissionais da escola acerca da

importância das atividades lúdicas no processo ensino aprendizagem, pois

estas tem sido vistas por alguns educadores apenas como uma brincadeira

sem um fim pedagógico. Por meio do brincar, a criança aprende; porém, se a

brincadeira é usada como recurso didático para algum conteúdo,deixa-se de

lado a especificidade desta. Os conhecimentos produzidos e os repassados

para as crianças podem auxiliá-la a aumentar seu repertório, e isso se

manifesta em seu brincar.

2.5 – A Brinquedoteca

No Brasil as brinquedotecas começaram a surgir na década de 80.

Segundo Cunha (1997), as brinquedotecas despertam encantamento, mas foi

preciso enfrentar as dificuldades financeiras para conseguir sobreviver

economicamente e se impor como instituição reconhecida e valorizada na

educação.”A brinquedoteca é o espaço criado com o objetivo de proporcionar

estímulos para que a criança possa brincar livremente.” (CUNHA, 1997 p.13)

É importante ressaltar que os termos BRINQUEDOTECA e

BRINQUEDISTA (profissional capacitado para atuar na brinquedoteca) foram

cunhados pela pedagoga Nylse Helena da Silva Cunha, fundadora da

Associação Brasileira de Brinquedotecas (ABBri). A proposta da brinquedoteca

criada pela professora Nylse é a do brincar pelo brincar, onde não há um

objetivo específico, as crianças brincam livremente com o que querem e do

jeito que querem. Assim, estabelecem-se alguns objetivos da brinquedoteca:

• Tentativa de salvaguardar a infância, nutrindo-a para um crescimento

saudável;

• Trabalho terapêutico e preventivo (doença grave e problema familiar);

• Brinquedos que atendam às suas reais necessidades;

• Atender as crianças com necessidades especiais;

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• A resiliência no brincar: termo da Física que a Psicologia e a Pedagogia

usam para dizer que a criança, por mais pressão que tenha, ela volta ao

estado normal por meio do brincar.

Fatores que interferem na qualidade do trabalho na brinquedoteca:

• Quando a preocupação com que a criança aprenda pelo seu brinquedo

supere a função lúdica do brincar;

• O desconhecimento do papel do brinquedista e/ou do professor;

• Não dá a devida importância ao brincar;

• Não tem objetivo claro quando está na brinquedoteca;

• Não gosta de brincar.

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CAPÍTULO 3 – O JOGO E A EDUCAÇÃO INFANTIL

Do ponto de vista educacional, a palavra jogo se afasta do significado de

competição e se aproxima de sua origem etimológica latina, com o sentido de

gracejo ou mais especificamente divertimento, brincadeira, passatempo.

Desta maneira, os jogos infantis podem até excepcionalmente incluir

uma ou outra competição, mas essencialmente visam estimular o crescimento

e aprendizagens e seriam melhor definidos se afirmássemos que representam

relação interpessoal entre dois ou mais sujeitos realizada dentro de

determinadas regras. Mesmo que um dos sujeitos seja imaginário, uma criança

que em seu quarto, entretida, joga botões nunca estará mentalmente sozinha.

Acompanham-na duas equipes em disputa, um locutor e um repórter narrando

e um imenso público vaiando ou aplaudindo. Toda uma multidão em uma só

criança.

Esse conceito já deixa perceber a diferença entre usar um objeto como

brinquedo ou como jogo. O brinquedo supõe, na relação com a criança, a

indeterminação quanto ao seu uso, ou seja, sem regras fixas; o jogo, por sua

vez,inclui intenções lúdicas; muitas vezes é não-literal (por exemplo, a boneca

não é literalmente filha da criança , mas “é como se fosse”); estimula a alegria

e flexibilidade do pensamento, mas mantém um controle entre os jogadores e,

portanto, uma relação interpessoal dentro de determinadas regras.

Entendendo o jogo dessa forma, percebemos que passamos grande

parte do nosso tempo “jogando” porque estamos muitas vezes interagindo

dentro de regras. Quando jogamos com crianças ou mediamos seus jogos

temos pois

que ter em mente que “vencer” ou “não vencer” constitui acidente irrelevante

diante da magnitude das regras que se cumpriu. O jogo possui implicações

importantíssimas em todas as etapas da vida psicológica de uma criança e

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representa erro inaceitável considerá-lo como atividade trivial ou perda de

tempo.

Outra importante consideração que envolve a idéia de jogo diz respeito à

aprendizagem. Não mais pode existir no educador a idéia classificatória de

“jogos que divertem” e “jogos que ensinam”, pois se o jogo que se aplica

envolve de forma equilibrada o respeito pelo amadurecimento da criança,

exercita e coloca em ação desafios a sua experiência, promove sua relação

interpessoal exaltando as regras de convívio, será sempre um jogo educativo-

ainda que possa simultaneamente ensinar e divertir. Jogos bem organizados

ajudam a criança a construir novas descobertas, a desenvolver e enriquecer

sua personalidade e é jogando que se aprende a extrair da vida o que a vida

tem de essencial. Nesse sentido, toda essência do jogo se sintetiza em suas

regras pois é operando dentro de algumas regras e percebendo com clareza

sua essência que vivemos bem e nos relacionamos com o mundo. Jogar é

plenamente viver.

Todos nós deveríamos criar um arquivo onde seriam colocadas as

brincadeiras e os jogos na medida em que fossem sendo utilizados; desse

arquivo constariam as possíveis variações e as áreas de desenvolvimento

onde os jogos poderiam intervir e também os conteúdos a que se prestariam,

para que dessa forma, pudéssemos construir o nosso cervo lúdico em prol de

um ensino mais natural, divertido e muito mais feliz.

Não podemos deixar de preparar o aluno para o período seguinte, nem

afastar uma das características inerentes ao ser humano – a enfrentar

desafios- já que o jogo faz parte do nosso cotidiano. Estar reparando a criança

para a vida, deve ser o nosso principal objetivo e auxiliá-la, quase que uma-a-

uma, deve ser a nossa principal preocupação. Utilizar o jogo como instrumento

educacional e curricular é descobrir uma importante fonte de aprendizagem e

de desenvolvimento infantis.

Todo processo de mudança requer um esforço interno significativo. Para

mudar, precisamos estar conscientes da necessidade da mudança e da busca

de novos caminhos para promovermos tais transformações. Não podemos

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deixar de nos preocupar com as fases do desenvolvimento intelectual das

criança.

3.1- Objetivos do jogo

As regras de um jogo definem seu caráter, da mesma forma que as

regras que se usa para viver definem nosso traço distintivo. Se elegermos o

egoísmo como forma de concepção do eu e optamos pela competição

predatória- na qual sempre se busca a vantagem nas relações interpessoais-,

traçamos uma linha existencial marcada por um caráter que privilegia a

ambição à solidariedade, à competição, à cooperação. O mesmo pode ser dito

em relação ao jogo.

O importante não é apenas conhecer jogos e aplicá-los, mas

essencialmente refletir sobre suas regras e, ao explicitá-las, delas fazer

ferramenta de afeto, instrumento de ternura, processo dwe realização do eu

pela efetiva descoberta do outro. Um verdadeiro educador não entende as

regras de um jogo apenas como elementos que o tornam possível, mas como

verdadeira lição de ética e moral que, se bem trabalhadas, ensinarão a viver,

transformarão, portanto, efetivamente educarão.

O jogo é um recurso didático que, ao mesmo temo, pode ensinar, pode

aprimorar relações interpessoais e ainda causar intensa sensação de alegria,

prazer e motivação. A aprendizagem é tão importante quanto o

desenvolvimento social e jogo constitui uma ferramenta pedagógica ao

mesmo tempo promotora do desenvolvimento cognitivo e do desenvolvimento

social. Mais ainda, o jogo pedagógico pode ser instrumento da alegria. Uma

criança que joga antes de tudo o faz porque se diverte, mas dessa diversão

emerge a aprendizagem e a maneira como o professor, após o jogo, trabalhar

suas regras pode ensinar-lhe esquemas de relações interpessoais e de

convívios éticos.

Um único jogo pode em determinadas circunstâncias proporcionar

elemento de intenso prazer na criança, MS sua aprendizagem somente se

concretizará quando este jogo estiver imerso em um projeto, com etapas

claramente estabelecidas. Podemos aplicar um jogo para melhorar a

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sensibilidade tátil de uma criança, mas só se notará progresso sensível nessa

sensibilidade diferentes da de Freud significação. Os objetivos de um jogo –

sejam eles cognitivos ou socializantes – não se definem antecipadamente e

não estão presentes na essência do jogo, mas da reflexão e da sistemática

com que é o mesmo trabalhado.

3.2 – A importância do brincar: onde Freud, Vygotsky e Piaget

se encontram

Freud atribuía uma enorme importância ao ato de brincar, o qu o

aproximava, neste aspecto, de Piaget, Vygotsky e tantos outros.

A linguagem de Piaget e de Vygotsky, certamente de Maria Montessori

também, ainda que diferentes da de Freud, caminhava em igual direção e

ampliava o imenso universo que hoje se descobre na importância do brincar.

Desde o início do século XX, quando os adultos teimavam em ver na criança

um cérebro imaturo e ofereciam brinquedos tão somente para o lazer, esses

educadores ressaltavam a enorme influência do brinquedo no desenvolvimento

da aprendizagem, na sociabilidade e na criatividade infantil.

Vygotsky, já em 1933, produziu um campo teórico no qual privilegia a

linguagem e o significado no desejo de brincar. Já Jean Piaget destacava a

ação sobre o brincar como elemento que estrutura a situação simbólica

inerente à brincadeira. A criança que brinca está desenvolvendo sua linguagem

oral, seu pensamento associativo, suas habilidades auditivas e sociais,

construindo conceitos de relações espaciais e se apropriando de relações de

conservação, classificação, seriação, aptidões visuo-espaciais e muitas outras.

Uma criança de um ano, se vê um gatinho, sabe de sua existência pela

experiência concreta, enquanto este estiver sob o jugo de seu olhar; imaginar

que ao apropriar-se das palavras essa mesma criança, pouco mais tarde,

possa construir conceitos que tragam aos seus olhos imagens que recriam o

objeto ausente, revela o quanto é imensa essa passagem e o quanto

brinquedos que exercitem sua ação possam facilitá-la.

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O brinquedo, desta maneira não tem função apenas para dar prazer à

criança, mas de libertá-la de frustrações, canalizar sua energia, dar motivo a

sua ação, explorar sua criatividade e imaginação.

Pela força dessas idéias, e de outras muitas que a consolidam, é que é

importante compreender os diferentes estágios do desenvolvimento mental

infantil, proporcionar brinquedos adequados a essa potencialidade e,

sobretudo, diversificá-los na tarefa de explorar áreas e inteligências

diferenciadas.

Dar qualquer brinquedo a qualquer criança pode agradar seu sentimento

de posse, mas compreender a mente dessa criança e, com cuidado, e critério,

selecionar esse brinquedo, ensinando-a a brincar, e é ir muito além, é em

verdade, educar.

3.3 – A natureza do jogo

Durante cada um dos estágios de desenvolvimento da criança, os adultos

podem e devem estabelecer metas e objetivos com que os jogos possam ser

orientados. Mas percebe-se claramente que jogos usados como estímulos

específicos – desenvolver o tato, estimular a reflexão, aprimorar o paladar,

despertar a atenção, dinamizar o movimento corporal ec. – apresentam uma

natureza vertical e, assim, através de desaios de dificuldades crescentes,

podem ser programados para diferentes idades. Os jogos sociais, no entanto,

somente ganham projeção quando a criança atingir o estágio social.

Os jogos funcionais são para os bebês, estimulando ações coordenadas

como bater palmas, dar até logo, identificar objetos ou ainda estimular funções

sensoriais. Para o segundo ano de vida, são os jogos ficcionais que envolvem

as histórias e a fantasia, o adorável faz-de-conta em que a criança atribui a si

ou aos objetos um determinado papel. Nessa linha, vídeos ou desenhos na TV

podem ajudar não para que a criança fique “quietinha e entretida” mas para,

após breves sessões, explorar suas falas e suas histórias atribuindo-se e

atribuindo aos outros s papéis que vive e sente. Logo depois ou até mesmo

simultaneamente aparecem os jogos receptivos, que podem envolver o adulto

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interagindo com a criança,estimulando sua fala e sua reflexão, mostrando-lhe a

distância imensa que existe entre o dizer e o falar, o olhar e o ver, o ouvir e o

escutar. Por volta do terceiro ou quarto ano de vida ganham destaque os jogos

construtivos envolvendo brincadeiras com blocos, desenhos, areia ou outros

materiais naturais. É uma fase para se explorar intensamente a sensibilidade e

as linguagens naturalistas da criança. A partir dos quatro anos, alcançando seu

auge em torno dos seis, evidenciam-se os jogos com regras que abrigam

desde brincadeiras em grupo, quanto ao uso de alguns brinquedos por meio

dos quais se explorará princípios éticos e valores morais.

Em todas as fases e através de qualquer tipo de jogo, entretanto, a ação

do professor pode ajudar a criança em alguns pontos cruciais à sua formação.

Entre estes, cabe destacar:

• Construir a historicidade, ampliando o vocabulário e fazendo-a pensar

em termos de passado, presente e futuro.

• Desenvolver seus pensamentos lógicos, levando-a a associar

quantidade a números e evoluindo pelo domínio de conceitos como

muito, pouco, grande, pequeno.

• Ampliar suas linguagens, fazendo com que busque alternativas (frases,

cores, figuras, cantos, mímicas, colagens etc.) para expor seus

pensamentos.

• Desafiando-a a pensar propondo questões interrogativas que a façam

falar sobre coisas reais e imaginárias, e, dessa forma, associar-se ao

que convencionalmente se considera “aprender”.

• Estimulando a capacidade de associação, fazendo-a ligar figuras a sons,

imagens a textos, músicas a palavras.

• Aprimorando seu domínio motor, ensinando-a a escovar os dentes,

amarrar os sapatos, usar talheres ou palitos orientais para comer,

ensinando-a a martelar, parafusar, encaixar, arrumar coisas, varrer,

pescar em tabuleiros de areia.

• Libertando-a de estereótipos- coisas de meninos e de meninas,

profissões de homem e de mulher- e mostrando-lhe a riqueza que existe

nas diferenças e a beleza na diversidade cultural.

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• Ajudando-a a fazer amigos, ensaiando teatrinhos, mostrando relações

pertinentes em histórias,aprendendo a aceitar o ganhar e o perder nos

jogos que realiza.

Para Piaget(1946), os jogos dividem-se em jogos de

exercícios,simbólicos, de construção e de regras. Os jogos de exercício

dividiam-se em sensório-motores e de exercícios de pensamento e,

típicos dos primeiros dezoito meses, reapareciam durante toda infância e

mostrar-se-iam presentes em atividades lúdicas adultas. Os jogos

simbólicos expressam-se através do fantástico mundo do “faz-de-conta”

e de ficção e se estendem do aparecimento da linguagem até por volta

dos seis ou sete anos. Os jogos de regras possuem sua regularidade

imposta pelo grupo, resultado da sociabilidade necessária, e passam de

uma condição motora e egocêntrica para a cooperação e até mesmo

codificação.

Erikon(1976) estabelece diferenças entre jogos de auto-esfera (jogo

consigo mesmo no domínio do corpo e suas reações); micriesgera (jogos

que envolvem relações interpessoais).

Finalmente Maudry e Nekula buscam classificar os jogos segundo tipos

de interação que favorecem e, dessa forma, falam em jogos solitários

(geralmente no primeiro ano de vida); paralelos (entre o segundo e o terceiro

anos de vida, com crianças que brincam “ao lado de outras”; de cooperação

(quando se organiza e se atribui papéis); e grupais que já supõem objetivos

comuns e não implicam somente em uso coletivo e troca de brinquedos, mas

também troca de fantasias.

O Guia de brinquedos da Fundação Abrinq sugere também interessante

tipologia que entretanto exige cuidadosa adaptação do educador em

transformar brinquedos em jogos. São eles:

• Da faixa etária de 0 a 18 meses: a atividade principal seria

manipular(atividade oral ou manual). Os brinquedos sugeridos são:

chocalhos, brinquedos para martelar e empilhar, brinquedos que flutuam,

brinquedos com guizos, blocos com ilustração.

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Com a atividade de explorar(apertar botões e mover alavancas), os

brinquedos sugeridos são: móbiles,brinquedos de puxar e empurrar,

quadro colorido e sonoro de engrenagens com botões e manivelas,

mesa de ferramentas.

Já a atividade de encaixar os brinquedos são: copos, caixas, argolas,

blocos que se empilham ou se encaixam .

Finalmente a atividade de compreender situações são: livros de rima,

ilustração e estribilhos, brinquedos musicais e com guizo. Telefones de

brinquedo.

• Da faixa etária de 18 a 36 meses: a atividade principal seria dirigir. Os

brinquedos sugeridos são: cavalinhos de pau, triciclos, carrinhos de mão,

carrinhos de boneca.

Com a atividade de manipular os brinquedos sugeridos são: objetos para

caixas de areia (baldes, pás, formas etc.), blocos de formas e tamanhos

diferentes, bolas de tamanhos e cores diferentes.

A atividade de organizar cenários os brinquedos seriam: caixas de areia,

água, mobiliário e utensílios domésticos proporcionais ao tamanho da

criança.

Com a atividade de imitar outros seres ou pessoas os brinquedos são:

fantasias, animais de pelúcia ou fantoches.

A atividade de solucionar problemas são os quebra-cabeças simpls, blocos

de construção com peças grande

Já a representação de objetos são a argila e massa de modelar. Giz de cera

grande, quadro-negro e giz, tinta para pintar com os dedos, instrumentos

musicais.

Finalmente construir objetos e relacionar objetos semelhantes são:

trens,carrinhos, serviços de chá, blocos.

• Da faixa etária de 36 meses a 6 anos: a atividade principal seria criar

cenários para brincar e ambientes. Os brinquedos sugeridos são:

fantasia,fantoches e teatrinhos. Telefone e relógio de brinquedo.

Casinha de brinquedo e brinquedos para brincar de casinha.

“Homenzinhos” (soldados,superheróis), etc.). Garagem, posto de

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gasolina e carrinhos. Fazendinhas, autoramas e ferrorama simples. Lego

e suas variações.

Já a atividade de movimentar-se no espaço são brinquedos: triciclos

maiores, equipamentos de ginástica para playground.

E finalmente, a atividade de compreender os meios de comunicação são os

CDs, livros de colorir, cadernos de desenhos, livros de história.

3.4- Os jogos e a aprendizagem significativa

Constitui tese absolutamente indiscutível garantir que as crianças

aprendem jogando, assim como aprendem –consciente ou inconscientemente-

com qualquer tipo de experiência; havendo entretanto sensível diferença sobre

a natureza da aprendizagem ao longo de sua evolução biológica. As crianças

até três anos de idade, quando jogam, não percebem nessa ação qualquer

diferença com o que os adultos consideram trabalho. Vivem a fase que Piaget

chamava de anomia e, dessa forma, não podem compreender regras. Assim

adoram ajudar a mãe a varrer a casa ou fazer bolos não porque existia valor ou

utilidade nessas ações, mas porque são essas atividades interessantes e

divertidas, essa fprma de pensar, entretanto, modifica-se e já a partir dos

quatro a cinco anos é que buscam benefícios através do jogo, mesmo que

estes sejam o elogio por sua ação. A partir dessa idade, como Piaget sugere, o

jogo pode contribuir para desenvolver formas mais complexas de pensamento

na medida em que são levadas a se empenharem em refletir sobre seu

procedimento. Por essa razão é que o jogo pelo jogo deve ser substituído pelo

jogo seguido de um debate e uma reflexão sobre suas regras, sobre o que é e

o que não é aceitável para as pessoas com as quais se está interagindo. É

nesse contexto que, ainda uma vez, se ressalta o papel do educador infantil

constituindo-se como uma saudável ponte entre a brincadeira e as reflexões

sobre a mesma e, assim agindo, jamais perde a oportunidade de atuar como

facilitador de discussões entre os jogadores, que coletivamente construirão sua

aprendizagem.

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Essa relação entre os jogos e a aprendizagem significativa destaca que

a boa escola não é necessariamente aquela que possui uma quantidade

enorme de caríssimos brinquedos eletrônicos ou jogos ditos educativos, mas

que disponha de uma equipe de educadores que saibam como utilizar a

reflexão que o jogo desperta, saibam fazer de simples objetos naturais uma

oportunidade de descoberta e exploração imaginativa. Uma caixa de fósforos,

uma lupa e uma fita métrica em mãos de uma verdadeira educadora infantil

valem mais que uma coleção fantástica de brinquedos eletrônicos que emitem

sons e luzes e que, por se apresentarem perfeitos demais, roubam espaço à

imaginação. Justamente pensando na importância dessa educadora e de sua

ação construtiva sobre a mente infantil

Experimentos de Piaget, Gardner, Montessori, Freire, Emilia Ferreiro e muitos

outros passaram pelo crivo crítico de circunstâncias múltiplas e comprovaram

sua capacidade de inovar a aula e dinamizar a relação ensino-aprendizagem,

dispensando assim “novas modas” inventadas aqui ali, cheias de boas

intenções. A sala de aula é e sempre será um espaço mágico que, guardando-

se as devidas proporções, lembra uma sala de cirurgia. Não há nessa

realidade momento para se trocar a lucidez do que é comprovadamente

valioso pela aventura prosaica do que se acredita interessante. Existe mais

sabedoria em se usar bem as rodas que a tentativa de reinventá-las.

A Neuropsicologia chegou bem depois de Piaget, mas nem por isso

seus extraordinários avanços ofuscam as teorias desse incrível cientista da

inteligência. Este quadro(aprendizagem X jogo) visa sintetizar pontos comuns,

associando o jogo à aprendizagem significativa. São eles:

1. A aprendizagem resulta da recepção e troca de informações entre o

meio ambiente e diferentes centros nervosos do cérebro. Assim o meio

ambiente fornece estímulos que são transformados pelo córtex cerebral

em sensações as quais muitas vezes são “usinadas” e evoluem para o

estágio mais complexo a que se dá o nome de percepções,isto é,

imagens com significados.

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2. Destas áreas, o estímulo rapidamente associa-se a saberes contidos no

cérebro e evolui para percepção mais global.

3. Ainda em mutação, as zonas secundárias e terciárias do c´rtex

transformam essa percepção em imagens sensoriais, o que, entretanto,

requer a imprescindível colaboração da linguagem, mesmo que seja a

linguagem interior. Assim linguagem e memórias começam juntas, se

desenvolvem unidas e uma sempre necessitará do apoio da outra.

4. Como produto desses processos neuronais temos a assimilação e seus

“produtos” mais importantes: aprendizagem e pensamento, que são

desmembrados em coisas diferentes apenas para sua análise e melhor

compreensão.

5. Entre os fatos facilitadores da aprendizagem cabe destacar a motivação,

a curiosidade e alegria da descoberta, satisfação pelos resultados

alcançados, o elogio, o bom e estimulante ambiente, a empatia do

professor e simpatia dos colegas e tudo isso resumido nas expressões

Afetividade ou Ternura.

6. Provavelmente não existe qualquer outro recurso material ou não que

como o jogo possa propiciar a integração de todos os elementos

facilitadores que envolvem a Afetividade:

a) O conhecimento não é pois “cópia da realidade”, mas uma

reconstituição da informação que chega, sua usinagem pela mente e

associação com os saberes existentes na memória.

b) A assimilação é uma transformação da sensação de forma a torná-la

compatível com nossas estruturas mentais, e estas, por sua vez,

dependem da maturação.

Essa “estrada rodoviária” que nos leva do estímulo ambiental ao cérebro e sua

“usinagem” transformando a informação em conhecimento mostra-nos que

saberes não são coisas que vem de fora ou se captam do meio, mas sim

processo interativo de construção e reconstrução interior e, dessa forma,

jamais será cópia da realidade. Poucas atividades desenvolvidas pela criança

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em sua interação com o ambiente podem abrigar tantos estímulos para essa

usinagem como as experiências e os jogos.

CONCLUSÃO

Vale ressaltar na conclusão que na área da educação, entre outros aspectos,

as atividades lúdicas são vistas como objetos e/ou ações que permitem às

crianças se divertirem, ao mesmo tempo em que aprendem sobre algo. O

brincar deve levar a criança a tornar-se mais flexível e a buscar alternativas de

ação ,porque, enquanto brinca, ela concentra a sua atenção na atividade em si

e não em seus resultados e efeitos; a ênfase é dada na atividade e não nos

fins.

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O jogo, o brinquedo e a brincadeira são analisados e estudados na

Psicopedagogia, tendo em vista as possibilidades práticas de sua utilização no

processo de ensino e aprendizagem. Brincar é uma situação em que a criança

constitui significados para assimilação dos papéis sociais e compreensão das

relações afetivas que ocorrem em seu meio, bem como para a construção do

conhecimento. As brincadeiras são os primeiros recursos no caminho rumo à

aprendizagem.

A atividade lúdica dirigida ocupa um lugar proeminente no

desenvolvimento cognitivo, afetivo, social, lingüístico, na motricidade e na

construção de regras e valores do educando. O professor deve ajudar seus

alunos a interagirem, incentivando a participação, fazendo perguntas para

quem não sabe como fazê-lo ou é mais inibido. Sua participação é adequada à

medida que sua presença for um aval para que todos participem com liberdade

e espontaneidade.

Enfim, para que o brincar aconteça, é necessário que o professor tenha

consciência do valor das brincadeiras e dos jogos para a criança, o que indica

a necessidade deste profissional conhecer as implicações nos diversos tipos

de brincadeiras, bem como usá-las e orientá-las. Na escola, o principal

propósito de utilização do brinquedo é sugerir idéias, fazer fluir a imaginação e

ultrapassar os limites da criatividade.

Devemos estimular o aspecto tecnológico na criança, mas

principalmente dar ênfase ao brincar, buscando o aprendizado e

desenvolvendo acima de tudo a criatividade, a alegria e o prazer no brincar,

tornando-a futuramente um adulto mais feliz.

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BIBLIOGRAFIA

FERNÁNDEZ, A. O saber em jogo: psicopedagogia proporcionando autorias

de pensamento. Porto Alegre;Amed, 2001.

WEISS, M.L.Z. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnóstica dos problemas

de aprendizagem escolar. 5ed. Rio de Janeiro: Vozes, 1999.

VISCA, J. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. Porto Alegre:

Artes Médicas, 1987.

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SILVESTRE, M. L. Jogos e Brincadeiras. Caderno Pedagógico, 2ª edição.

KISHIMOTO, T.M. Jogos Infantis. 8ª Ed. Rio de Janeiro: Vozes,2001.

KISHIMOTO, T.M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo:

Cortez, 1996.

PERTERSON, Rosemere e Felton, Vitória. Manual piagetiano para professores

e pais. Crianças na idade das descobertas. [tradução: Ana Maria Breenier].

Porto Alegre: Artmed,2002.

SOUZA, S.J. e KRAMER, S. O debate Piaget/ Vygotsky e as políticas

educacionais em: cadernos de pesquisa. São Paulo: Fundação Carlos Chagas,

n77, maio, 1991, p.69.

OLIVEIRA, Marta Kohi, Vygotsky Aprendizado e desenvolvimento: um

processo sócio-historico, São Paulo: Scipione, 1997.

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO

02

AGRADECIMENTO

03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

PENSAMENTO 07

SUMÁRIO 08

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INTRODUÇÃO

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DO BRINCAR E SEU SIGNIFICADO 11

1.1 - Piaget 11

1.2.2 Brincando e interagindo com o mundo (até dois anos) 12

1.2.3 Brincando e entendendo o mundo (de dois a sete anos) 13

1.2.4 O corpo ganha espaço na brincadeira(deste a onze anos) 15

1.2.5 Estou crescendo: do que brincar? 16

1.2 – Vygotsky 16

1.2.1 - Brincadeira 17

1.2.2 – Aprendizagem e desenvolvimento 17

1.2.3 – As regras do brincar 18

1.2.4 – Nem sempre é só prazer 19

CAPÍTULO II

ATIVIDADES LÚDICAS: UM POUCO DA SUA HISTÓRIA 20

2.1 – Atividades Lúdicas no Brasil 21

2.2 - Contribuições de Froebel para o uso dos jogos na educação Infantil 22

2.3 - A aplicação pedagógica do jogo, do brinquedo e da brincadeira na

Educação Infantil 25

2.4 - Espaço para o brincar e o papel do professor 28

2.5 - A Brinquedoteca 30

CAPÍTULO III

O JOGO E A EDUCAÇÃO INFANTIL 32

3.1 – Objetivos do jogo 34

3.2 - A importância do brincar: onde Freud, Vygotsky e

Piaget se encontram 35

3.3 - A natureza do jogo 36

3.4 - Os jogos e a aprendizagem significativa 40

CONCLUSÃO 44

BIBLIOGRAFIA 46

ÍNDICE 47

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