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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
Luana Leite Soares
ORIENTADORA: Profª Solange Monteiro
Rio de Janeiro 2015
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
AVM – FACULDADE INTEGRADA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU
Apresentação de monografia à AVM Faculdade Integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicopedagogia. Por: Luana Leite Soares
Rio de Janeiro 2015
O PAPEL DO PSICOPEDAGOGO NA INSTITUIÇÃO ESCOLAR
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RESUMO
A monografia apresentada tem por objeto de estudo o papel do
psicopedagogo na instituição escolar. A psicopedagogia é um campo de
conhecimento e atuação que lida com os problemas de aprendizagem,
considerando a influência da família, da escola e da sociedade no seu
desenvolvimento e utilizando técnicas próprias. Sua intervenção ocorre de
forma institucional ou clínica, a nível preventivo e terapêutico. O objetivo deste
trabalho é demonstrar a importância da psicopedagogia nas escolas,
objetivando facilitar o processo de aprendizagem, bem como sua intervenção
no fracasso escolar e na interação família-escola. Busca-se investigar até que
ponto a psicopedagogia pode trabalhar as dificuldades de aprendizagem e
assessorar a coordenação pedagógica, professores e pais no processo de
ensino e aprendizagem. O estudo foi elaborado a partir de uma revisão
bibliográfica e aborda teorias e práticas psicopedagógicas no âmbito
institucional escolar.
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METODOLOGIA
Para a estruturação desse trabalho, adotou-se como procedimento
metodológico a pesquisa bibliográfica, utilizando-se como fonte de
consulta livros, monografias, artigos e publicações eletrônicas acerca do
assunto abordado. Os dados e informações foram buscados nas bibliotecas
públicas e privadas e na Internet.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I
Psicopedagogia e seu Campo de Atuação 10
CAPÍTULO II
A Psicopedagogia no Contexto Escolar: o seu Papel na Aprendizagem 18
CAPÍTULO III
Contribuições da Psicopedagogia na Relação Escola, Família e
Aprendizagem 30
CONCLUSÃO 39
BIBLIOGRAFIA 41
WEBGRAFIA 45
ÍNDICE 46
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INTRODUÇÃO
A presente monografia tem por objeto de estudo o papel do
psicopedagogo na instituição escolar. É do interesse da psicopedagogia o
processo de aprendizagem humana, compreender como ocorre o processo de
aprender e não aprender, tendo por foco prevenir e tratar possíveis dificuldades
que ocorrem durante o processo ensino-aprendizagem.
A psicopedagogia no contexto educacional tem como objetivo, fazer
com que os professores, diretores e coordenadores educacionais repensem o
papel da escola frente às dificuldades de aprendizagem da criança. Por outro
lado, mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de
aprendizagem, é provável que não consegue abarcá-los na sua totalidade,
algumas crianças com problemas escolares apresentam um padrão de
comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento
psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge a
necessidade de diferentes modalidades de atuação psicopedagógica: uma
mais preventiva com o objetivo de estar atenuando ou evitando os problemas
de aprendizagem dentro da escola e outra a clínico-terapêutica, onde seria
encaminhadas apenas as crianças com maiores comprometimentos, que não
pudessem ser resolvidos na escola. Daí a importância de se analisar o papel
desse profissional nas instituições escolares.
A partir das considerações citadas, este trabalho tem como objetivo
principal demonstrar a importância da psicopedagogia nas escolas, objetivando
facilitar o processo de aprendizagem, bem como sua intervenção no fracasso
escolar e na interação família-escola.
As questões que nortearam o presente estudo foram a respeito da
importância da atuação do psicopedagogo na escola e até que ponto a
psicopedagogia pode trabalhar as dificuldades de aprendizagem e assessorar
a coordenação pedagógica, professores e pais no processo de ensino e
aprendizagem, podendo assim contribuir para a redução do fracasso escolar.
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A relevância deste trabalho justifica-se pelo fato da escola ser
responsável por grande parte da formação e da aprendizagem do ser humano,
tornando-se, assim, também, responsável pela busca de soluções às
dificuldades de aprendizagem apresentadas pelos alunos. Tal fato gera a
necessidade de melhor conhecer o papel do psicopedagogo na instituição
escolar, sua importância e os aspectos relativos aos processos envolvidos.
A fundamentação teórica pretende descrever brevemente o
surgimento da Psicopedagogia, seu objeto de estudo, campo de atuação,
funções no contexto escolar. Em seguida, fazer uma avaliação geral do papel
do psicopedagogo no ambiente escolar, sua necessidade, importância e
intervenção no processo ensino-aprendizagem, nas dificuldades de
aprendizagem e no fracasso escolar. E por fim, estabelecer as contribuições do
Psicopedagogo na relação família e escola, junto aos alunos, professores e
pais, dentro da problemática da aprendizagem.
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CAPÍTULO I
PSICOPEDAGOGIA E SEU CAMPO DE ATUAÇÃO
1.1. Contexto Histórico
Os primórdios da Psicopedagogia ocorreram na Europa, no século
XIX, em razão da preocupação com problemas de aprendizagem na área
médica, que procurava identificar no físico as determinantes das dificuldades
do aluno. Estes estudos aconteceram em grandes centros europeus, como
França e Alemanha, unindo conhecimentos da psicologia, medicina e
psicanálise (Bossa, 2000).
Na literatura francesa – que, como vimos, influencia as ideias sobre psicopedagogia na Argentina (a qual, por sua vez, influencia a práxis brasileira) – encontra-se, entre outros, os trabalhos de Janine Mery, a psicopedagoga francesa que apresenta algumas considerações sobre o termo psicopedagogia e sobre a origem dessas ideias na Europa, e os trabalhos de George Mauco, fundador do primeiro centro médico psicopedagógico na França,..., onde se percebeu as primeiras tentativas de articulação entre Medicina, Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, na solução dos problemas de comportamento e de aprendizagem (BOSSA, 2000, p. 37).
No final do século XIX foi formada uma equipe médico-pedagógica
pelo educador Seguin e pelo médico psiquiatra Esquirol, passando a
neuropsiquiatria infantil a se ocupar dos problemas neurológicos que afetam a
aprendizagem. Posteriormente, em 1946, J. Boutonier e George Mauco
fundaram os primeiros centros psicopedagógicos na Europa, unindo
conhecimentos da Psicologia, da Psicanálise e da Pedagogia na abordagem a
crianças com dificuldades de comportamento, tanto na escola como na família,
objetivando, na medida do possível, sua readaptação por meio de um
acompanhamento psicopedagógico. “Através dessa cooperação Psicologia-
Psicanálise-Pedagogia, esperavam adquirir um conhecimento total da criança e
do seu meio, o que tornaria possível a compreensão do caso” (Côrtes; Rausch,
2009, p. 3808).
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Segundo Chamat (2004, p. 17):
[...] a própria história da Psicopedagogia que surge na França diante do caos social pós-guerra. Os educadores preocupados com o grande número de alunos com dificuldades de aprendizagem inseriram uma área intermediária entre a Psicologia e a Pedagogia que foi denominada Psicopedagogia.
De acordo com Rubinstein,
Num primeiro momento a psicopedagogia esteve voltada para a busca e o desenvolvimento de metodologias que melhor atendessem aos portadores de dificuldades, tendo como objetivo fazer a reeducação ou a remediação e desta forma promover o desaparecimento do sintoma. (...) a partir do momento em que o foco de atenção passa a ser a compreensão do processo de aprendizagem e a relação que o aprendiz estabelece com a mesma, o objeto da psicopedagogia passa a ser mais abrangente: a metodologia é apenas um aspecto no processo terapêutico, e o principal objetivo é a investigação de etiologia da dificuldade de aprendizagem, bem como a compreensão do processamento da aprendizagem considerando todas as variáveis que intervêm nesse processo (RUBINSTEIN, 2001, p. 103).
No Brasil, a Psicopedagogia surgiu na década de 1970, em uma
época em que as dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma
disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM). A
preocupação estava voltada mais para as deficiências que geravam problemas
de aprendizagem, do que a outros fatores. Renomados estudiosos argentinos,
como Jacob Feldmann, Sara Pain, Alícia Fernandez, Ana Maria Muñiz e Jorge
Visca, entre outros nomes que enriqueceram o desenvolvimento da
Psicopedagogia na Argentina, e, devido à proximidade geográfica e da língua,
também influenciaram o desenvolvimento da área psicopedagógica no Brasil
(Bossa, 2000). “Sob tais influências, igualmente ao que ocorria naquele país, a
Psicopedagogia brasileira também se construiu sob um enfoque médico-
pedagógico e com uma natureza mais prática do que acadêmica” (Ramos,
2007, p. 11).
A introdução dessa área de conhecimento no país ocorreu baseada
nos modelos médicos de atuação e foi dentro desta concepção de problemas
de aprendizagem que se iniciaram os primeiros cursos de formação de
10
especialistas ainda na década de 1970. Em 1980, em São Paulo, foi criada a
Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), considerado um marco inicial
na direção da institucionalização da profissão de psicopedagogo:
Além de sua atuação na promoção de encontros, congressos, seminários etc., a ABPp passou a agir na orientação dos psicopedagogos do país. Com esse objetivo, o Conselho Nacional da ABPp aprovou, em 2000, um documento (“Diretrizes Básicas da Formação de Psicopedagogos no Brasil e Eixos Temáticos para Cursos de Formação em Psicopedagogia”) em que constavam sugestões de diretrizes para a consolidação e identidade da formação do psicopedagogo nacional (RAMOS, 2007, p. 14).
Através de grupos de estudos, a ABPp expandiu cada vez mais a
Psicopedagogia no Brasil, ganhando âmbito nacional. Na década de 1990 os
cursos na área de Psicopedagogia se multiplicaram. Esta formação foi
regulamentada pelo Ministério da Educação e Cultura (MEC) em cursos de pós
graduação e especialização. É também na década de 1990 que por ocasião do
III Congresso Brasileiro de Psicopedagogia, foi aprovado o Código de Ética do
Psicopedagogo que assinala, dentre outros aspectos, ser a Psicopedagogia um
campo de atuação em saúde e educação, que tem por objeto de estudo o
processo de aprendizagem humana, de natureza interdisciplinar e cujo trabalho
pode ocorrer de forma clínica ou institucional, em caráter preventivo e/ou
terapêutica.
Ainda, segundo o Código, tal campo atuaria a partir de procedimentos, técnicas e métodos próprios e valer-se-ia das várias áreas do conhecimento humano voltadas para a compreensão do ato de aprender (em seu sentido ontogenético e filogenético), tendo em vista a sua natureza interdisciplinar. A base desse trabalho seria de origem clínica e institucional, de caráter preventivo e ou remediativo, tendo como metas essenciais a promoção da aprendizagem e a realização de pesquisas científicas no campo da Psicopedagogia (RAMOS, 2007, p. 15).
Assim, inicialmente a Psicopedagogia foi uma ação subsidiada da
Medicina e da Psicologia, posteriormente constitui-se como um campo de
conhecimento independente e complementar, com objeto de estudo (processo
de aprendizagem) e recursos diagnósticos, corretores e preventivos próprios
(Visca apud Bossa, 2000).
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1.2. O que é Psicopedagogia
Quanto à definição de psicopedagogia, no sentido da palavra,
constitui-se em uma justaposição dos saberes da Psicologia e da Pedagogia,
no entanto, essa área de conhecimento vai muito além da simples junção
dessas duas palavras. Esses dois campos de atuação profissional se
complementam na busca de compreender o processo de aprendizagem e às
causas das dificuldades que levam quase sempre ao fracasso escolar.
Segundo Scoz (2009, p. 02), “a psicopedagogia estuda o processo
de aprendizagem e suas dificuldades, e numa ação profissional deve englobar
vários campos do conhecimento, integrando-os e sintetizando-os”.
De forma mais detalhada, destaca Mendes (2010) que:
(...) a Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes Ciências Humanas com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar interessa a Psicopedagogia compreender como ocorrem os processos de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais com a Psicologia, a Psicanálise, a Filosofia, a Psicologia Transpessoal, a Pedagogia, a Neurologia, entre outros (MENDES, 2010, p. 12).
Segundo Bossa (2000), a Psicopedagogia estuda as características
da aprendizagem humana: como se aprende, como essa aprendizagem varia
evolutivamente e está condicionada por vários fatores, como se produzem as
alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las.
Complementando esse conceito, esclarece Pontes que,
Cabe ao psicopedagogo entender como se constitui o sujeito, como este se transforma em suas diversas etapas de vida, quais os recursos de conhecimento de que ele dispõe e a forma pela qual produz conhecimento e aprende em relação ao grupo e sua reação frente a este (PONTES, 2010, p. 423).
Nesse sentido, Montti (1991, p. 23) sugere, em termos gerais, ser o
psicopedagogo aquele profissional encarregado “dos problemas de
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aprendizagem, ou seja, dos transtornos no processo de transmissão e
apropriação do conhecimento”.
Em princípio, seu foco era as dificuldades de aprendizagem e o fracasso escolar. Atualmente sua preocupação se volta, de forma mais abrangente, para a compreensão do processo de aprendizagem, dentro ou fora do ambiente escolar, considerando a influência dos fatores físico, emocional, psicológico, pedagógico, social, cultural etc. (RAMOS, 2007, p. 16).
De acordo com Gonçalves (2002, p. 42), a Psicopedagogia estuda
as “relações com o conhecimento, a vinculação com a aprendizagem, as
significações contidas no ato de aprender (...) a fim de que possa contribuir
para a análise e reformulação de práticas educativas e para a ressignificação
de atitudes subjetivas”.
1.3. Campo de Atuação do Psicopedagogo
O psicopedagogo pode atuar em diversas áreas, com uma gama de
possibilidades de atuação. Na área da saúde, este profissional pode trabalhar
com crianças hospitalizadas e seu processo de aprendizagem em parceria com
a equipe multidisciplinar da instituição hospitalar, tais como psicólogos,
assistentes sociais, enfermeiros e médicos.
No campo empresarial, o psicopedagogo pode contribuir com a área
de Recursos Humanos trabalhando em conjunto com outros profissionais em
atuações como: elaboração do planejamento estratégico; seleção de pessoal;
plano de integração; formação dos funcionários; projeto de plano de carreira;
avaliação de desempenho; comunicação interna; prevenção de acidentes de
trabalho; cultura organizativa; ensino a distância, entre outros (Machineski et
al., 2011).
Na área da educação, a atuação psicopedagógica na instituição
escolar comporta duas naturezas: atuação junto aos alunos que apresentam
dificuldades na escola, com o objetivo de reintegrá-los e readaptá-los à sala de
aula; e, assessoria aos pedagogos, orientadores e professores, com o objetivo
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de trabalhar questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e
redefinição dos procedimentos pedagógicos.
Segundo Bossa, no âmbito institucional escolar,
O trabalho psicopedagógico a partir da instituição escolar cumpre uma importante função social: a de socializar os conhecimentos disponíveis, promover o desenvolvimento cognitivo e a construção de regras de conduta, dentro de um projeto social mais amplo. A escola afinal é responsável por grande parte da aprendizagem do ser humano (BOSSA, 2000, p. 67).
Nesse sentido, Calberg destaca que no campo da psicopedagogia
institucional escolar, compete ao psicopedagogo uma série de tarefas, dentre
as quais:
[[] administrar ansiedades e conflitos; trabalhar com grupos [[] identificar sintomas de dificuldades no processo de ensino-aprendizagem; organizar projetos de prevenção, clarear papéis e tarefas nos grupos, ocupar um papel no grupo; criar estratégias para o exercício da autonomia (aqui entendido segundo a teoria de Piaget: cooperação e respeito mútuo); fazer a mediação entre os subgrupos envolvidos na relação ensino-aprendizagem (pais, professores, alunos, funcionários); transforma queixas em pensamentos; criar espaços de escuta; levantar hipóteses; observar; entrevistar e fazer devolutivas; utilizar-se de metodologia clínica, olhar clínico; estabelecer vínculo psicopedagógico; não fazer avaliação psicopedagógica clínica individual dentro da instituição escolar [[]; fazer acompanhamentos e orientações; compor a equipe técnica-pedagógica (CALBERG, 2000, p. 17).
Conforme Sampaio (2014) a presença de um psicopedagogo no
contexto escolar é essencial e sua intervenção inclui: auxiliar aos professores
quanto às metodologias em sala de aula (planos de aula); ajudar na elaboração
do PPP (Projeto Político Pedagógico); levantar os principais problemas da
instituição; encaminhar os alunos com dificuldades de aprendizagem para um
profissional qualificado, quando necessário (Psicólogos, Fonoaudiólogos etc.);
intervir com a família dos alunos para fornecer orientações; auxiliar a equipe
pedagógica (assessorias permanentes).
Na instituição escolar, o trabalho do psicopedagogo tem um caráter
preventivo e assistencial. Na função preventiva, conforme destaca Bossa:
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Cabe ao psicopedagogo perceber eventuais perturbações no processo aprendizagem, participar da dinâmica da comunidade educativa, favorecendo a integração, promovendo orientações metodológicas de acordo com as características e particularidades dos indivíduos do grupo, realizando processos de orientação (BOSSA, 2000, p. 23).
Ou seja, numa linha preventiva, o psicopedagogo exerce a ação
antes que os problemas de aprendizagem surjam de fato. Sua função é que a
aprendizagem se processe em condições adequadas evitando
comprometimento no que tange ao processo ensino-aprendizagem. Para tanto,
o psicopedagogo analisa os aspectos que promovem e os que prejudicam a
aprendizagem, e, com base nos fatores identificados, elabora um plano de
atuação com alterações na metodologia de forma a adequá-la ao aluno, ou ao
grupo, não de forma isolada, mas aproximando interesses dispersos,
concentrando-os em um trabalho conjunto (Cassiani, 2009).
Geralmente, nesse tipo de ação, o psicopedagogo atua em três
níveis de prevenção:
(...) o primeiro, que visa analisar e modificar os processos educativos para diminuir a frequência dos casos de problemas de aprendizagem na instituição; o segundo, que objetiva analisar e modificar os processos educativos para baixar e tratar os casos já instalados no local; e o terceiro, que atua diretamente e de modo mais individualizado (sob uma perspectiva mais clínica, inclusive) com os sujeitos com problemas de aprendizagem, prevenindo-lhes o aparecimento de outros problemas. Nesse último caso, seu papel não seria o de eliminar os sintomas, agindo como um “professor de reforço”, ensinando de forma particular o conteúdo não aprendido. Ao contrário disso, sua atuação seria a de diagnosticar e intervir no problema gerador do referido sintoma (BOSSA apud RAMOS, 2007, p. 18).
E, quando os problemas de aprendizagem já existem, o
psicopedagogo realiza seu trabalho de forma a intervir e auxiliar o corpo
docente no processo de ensino, contribuindo, ao mesmo tempo, com o
processo e aprendizagem dos alunos.
No caráter assistencial, conforme destaca Bossa:
(...) o psicopedagogo participa de equipes responsáveis pela elaboração de planos e projetos no contexto teórico/prático das
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políticas educacionais, fazendo com que os professores, diretores e coordenadores possam repensar o papel da escola frente a sua docência e às necessidades individuais de aprendizagem da criança ou, da própria ensinagem (BOSSA, 2000, p. 23).
Numa linha terapêutica, o psicopedagogo trata das dificuldades de
aprendizagem, diagnosticando, desenvolvendo técnicas remediativas,
orientando pais e professores, estabelecendo contato com outros profissionais,
pois tais dificuldades são multifatoriais em sua origem e, muitas vezes, no seu
tratamento.
A atuação clínica da Psicopedagogia caracteriza-se por ter a
finalidade de reintegrar o sujeito com problemas de aprendizagem ao processo
(Ramos, 2007). Como destaca Cassiani:
No trabalho clínico, o psicopedagogo busca não só compreender o porquê de o sujeito não aprender algumas coisas, mas o que ele pode aprender e como aprende. A busca desse conhecimento inicia-se no processo diagnóstico, momento em que a ênfase é a leitura da realidade do sujeito, para então proceder a intervenção, que é o próprio tratamento ou encaminhamento (CASSIANI, 2009, p. 14).
A Psicopedagogia clínica procura compreender de forma global e
integrada os processos cognitivos, emocionais, sociais, culturais, orgânicos e
pedagógicos, que interferem na aprendizagem, a fim de possibilitar situações
que resgatem o prazer de aprender em sua totalidade, incluindo a promoção da
integração entre pais, professores, orientadores educacionais e demais
especialistas que transitam no universo educacional do aluno (Bossa, 2000).
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CAPÍTULO II
A PSICOPEDAGOGIA NO CONTEXTO ESCOLAR:
O SEU PAPEL NA APRENDIZAGEM
2.1. Aprendizagem
O objeto de estudo da Psicopedagogia, como abordado no capítulo
anterior, é a aprendizagem, processo que ocorre ao longo do decorrer da vida
do indivíduo, desde o momento de seu nascimento do indivíduo, como destaca
Fernández (1991, p. 20): “Este processo inicia-se quando a pessoa nasce e
com seus primeiros ensinantes, aqueles que lhe dão a sobrevivência, e
continua ao longo da vida com aquelas pessoas que intervêm na sua história e
lhe transmitem significações”.
A aprendizagem, portanto, decorre da interação que o indivíduo
realiza durante sua vida no âmbito familiar, social e institucional. Segundo
Fernández (1991, p. 30), a aprendizagem tem por função “incorporar o
indivíduo à espécie humana, fazendo-o sujeito de uma cultura”.
O ensino visa à aprendizagem, que é o objetivo de qualquer escola,
que constantemente está em busca de melhorias e condições para que o
processo ensino-aprendizagem alcance resultados satisfatórios. Nesse
aspecto, ressalta Porto que:
O aprender na escola, especialmente nas etapas iniciais de escolarização, cumpre papel no processo do desenvolvimento da criança. No processo de aprender, variáveis afetivas e cognitivas são consideradas como importantes na compreensão e no envolvimento da criança, influenciando o desempenho escolar. A aprendizagem deve começar pelos acontecimentos em que os alunos estão envolvidos (suas “crenças” prévias) e cujo significado procuram construir. Para se poder ensinar bem, é necessário conhecer os modelos mentais que os alunos utilizam na compreensão do mundo que os rodeia e os pressupostos que suportam esses modelos. Aprender é construir o seu próprio significado e não encontrar as “respostas certas” dadas por alguém (PORTO, 2009, p. 41).
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Muitas teorias buscam reconhecer a dinâmica envolvida no
processo ensino-aprendizagem, originando fundamentos diferentes e
intervenções distintas. O quadro a seguir aponta, de forma resumida, as
principais características de algumas delas.
Quadro 1 - Teorias de Aprendizagem
Teorias de aprendizagem Características Epistemologia Genética de
Piaget Ponto central: estrutura cognitiva do sujeito. As estruturas cognitivas mudam por meio dos processos de adaptação: assimilação e acomodação. A assimilação envolve a interpretação de eventos em termos de estruturas cognitivas existentes, enquanto que a acomodação se refere à mudança da estrutura cognitiva para compreender o meio. Níveis diferentes de desenvolvimento cognitivo.
Teoria Construtivista de Bruner O aprendizado é um processo ativo, baseado em seus conhecimentos prévios e os que estão sendo estudados. O aprendiz filtra e transforma a nova informação, infere hipóteses e toma decisões. Aprendiz é participante ativo no processo de aquisição de conhecimento. Instrução relacionada a contextos e experiências pessoais.
Teoria Sócio-Cultural de Vygotsky
Desenvolvimento cognitivo é limitado a um determinado potencial para cada intervalo de idade (ZPD); o indivíduo deve estar inserido em um grupo social e aprende o que seu grupo produz; o conhecimento surge primeiro no grupo, para só depois ser interiorizado. A aprendizagem ocorre no relacionamento do aluno com o professor e com outros alunos.
Aprendizagem baseada em Problemas/ Instrução ancorada (John Bransford & the CTGV)
Aprendizagem se inicia com um problema a ser resolvido. Aprendizado baseado em tecnologia. As atividades de aprendizado e ensino devem ser criadas em torno de uma “âncora”, que deve ser algum tipo de estudo de um caso ou uma situação envolvendo um problema.
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Teoria da Flexibilidade Cognitiva (R. Spiro, P.
Feltovitch & R. Coulson)
Trata da transferência do conhecimento e das habilidades. É especialmente formulada para dar suporte ao uso da tecnologia interativa. As atividades de aprendizado precisam fornecer diferentes representações de conteúdo.
Aprendizado Situado (J. Lave) Aprendizagem ocorre em função da atividade, contexto e cultura e ambiente social na qual está inserida. O aprendizado é fortemente relacionado com a prática e não pode ser dissociado dela.
Gestaltismo Enfatiza a percepção ao invés da resposta. A resposta é considerada como o sinal de que a aprendizagem ocorreu e não como parte integral do processo. Não enfatiza a sequência estímulo-resposta, mas o contexto ou campo no qual o estímulo ocorre e o insight tem origem, quando a relação entre estímulo e o campo é percebida pelo aprendiz.
Teoria da Inclusão (D. Ausubel) O fator mais importante de aprendizagem é o que o aluno já sabe. Para ocorrer a aprendizagem, conceitos relevantes e inclusivos devem estar claros e disponíveis na estrutura cognitiva do indivíduo. A aprendizagem ocorre quando uma nova informação ancora-se em conceitos ou proposições relevantes preexistentes.
Aprendizado Experimental (C. Rogers)
Deve-se buscar sempre o aprendizado experimental, pois as pessoas aprendem melhor aquilo que é necessário. O interesse e a motivação são essenciais para o aprendizado bem-sucedido. Enfatiza a importância do aspecto interacional do aprendizado. O professor e o aluno aparecem como os corresponsáveis pela aprendizagem.
Inteligências múltiplas (Gardner)
No processo de ensino, deve-se procurar identificar as inteligências mais marcantes em cada aprendiz e tentar explorá-las para atingir o objetivo final, que é o aprendizado de determinado conteúdo.
Fonte: http://www.nce.ufrj.br/ginape/publicacoes/trabalhos/renatomaterial/teorias.htm
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No processo ensino-aprendizagem necessário se faz que o aluno
queira aprender. Uma variedade de recursos, métodos e procedimentos podem
ser utilizadas pelo professor visando uma aprendizagem prazerosa e a
motivação dos alunos para o aprendizado. Como destaca Barbosa:
Transformar a aprendizagem em prazer não significa realizar uma atividade prazerosa, e sim descobrir o prazer no ato de: construir ou de desconstruir o conhecimento; transformar ou ampliar o que se sabe; relacionar conhecimentos entre si e com vida; ser coautor ou autor do conhecimento; permitir-se experimentar diante de hipóteses; partir de um contexto para a descontextualização e vice-versa; operar sobre o conhecimento já existente; buscar o saber a partir do não saber; compartilhar suas descobertas; integrar ação, emoção e cognição; usar a reflexão sobre o conhecimento e a realidade; conhecer a história para criar novas possibilidades (BARBOSA, 2001, p. 41).
Ainda argumenta Barbosa (2001, p. 42) que “a Psicopedagogia,
como área que estuda o processo ensino/aprendizagem, pode contribuir com a
escola na missão de resgate do prazer no ato de aprender e da aprendizagem
nas situações prazerosas”. Nesse processo, a função do Psicopedagogo é de
ajuda à escola no despertar de seus alunos pelo desejo de aprender e na
orientação aos professores e todos os envolvidos na aprendizagem destes
alunos.
No entanto, como destaca Barbosa,
O processo de aprender não acontece em linha reta, numa ascensão suave de aquisições que vão se somando simplesmente umas às outras; e sim apresenta um traçado acidentado, definido como “dente de serra”, com picos de alturas variadas, em que se soma, subtrai-se, divide-se e multiplica-se. Em alguns momentos o aprendiz resolve as situações com facilidades; em outros, surge a dificuldade que mobiliza para a solução (BARBOSA, 2001, p. 32).
Cabe ao psicopedagogo refletir sobre as ações pedagógicas e suas
interferências no processo de aprendizagem do aluno, eliminando fatores que
interferem negativamente na aprendizagem, orientando e direcionando todos
os envolvidos neste processo. Para tanto,
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O psicopedagogo vai fazer uma “leitura” nas entrelinhas, das narrativas, do currículo oculto, da dinâmica entre os atores da escola, das possibilidades de mudança, da necessidade de ajuda, dos trabalhos realizados, das dificuldades detectadas, dos vínculos estabelecidos, dos comportamentos e atitudes. (...) Ou seja, vai fazer um trabalho institucional: averiguar a formação dos professores; o currículo que está sendo dado e se está sendo adequado às necessidades dos alunos. E a partir dessas necessidades, se o professor está ou não preparado para atender ao aluno. O psicopedagogo vai intervir na formação do professor, supervisor ou orientador pedagógico (PONTES, 2010, p. 422-424).
O trabalho do psicopedagogo na escola envolve todas as questões
relacionadas ao ensinar e ao aprender, interagindo e articulando com os
demais agentes educacionais, devendo em sua atuação institucional:
- Estar em sintonia com o processo de aprender do estudante e a proposta metodológica da instituição de ensino;
- Intervir para a solução dos problemas de aprendizagem e de ensino;
- Realizar diagnóstico e intervir psicopedagogicamente, utilizando teorias, métodos, instrumentos e técnicas próprias da Psicopedagogia;
- Desenvolver pesquisas e estudos científicos relacionados ao processo de aprendizagem das diferentes faixas etárias do corpo discente;
- Assessorar psicopedagogicamente todos os trabalhos realizados no espaço da instituição escolar;
- Orientar, coordenar e supervisionar as questões de ensino e de aprendizagem decorrentes da estrutura curricular da instituição educacional;
- Monitorar e intervir na relação professor-aluno nos aspectos subjetivos;
- Orientar nas questões vocacionais do estudante;
- Assessorar e orientar a aplicação do Projeto Político Pedagógico bem como a implementação de novos projetos e/ou propostas metodológicas de ensino;
- Promover encontros socializadores entre equipes docente, discente, pedagógica, administrativo, de apoio etc.;
- Viabilizar na equipe docente, contextos de reflexões sobre o processo metodológico de ensino;
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- Mediar no processo de construção cognitiva do estudante;
- Sondar as dificuldades do processo de aprendizagem do estudante e intervir para a superação;
- Mediar na construção do conhecimento do aluno para que forme a consciência analítico-crítico (TANZAWA et al., 2014, p. 04-05).
Assim, no processo ensino-aprendizagem, o papel do
psicopedagógico é de orientação, no sentido de favorecer a apropriação do
conhecimento pelo aluno.
2.2. Dificuldades de Aprendizagem
No cotidiano das salas de aula é possível perceber alunos com
dificuldade de aprendizagem. Enquanto para alguns o processo da aquisição
de aprendizagens ocorre sem nenhuma dificuldade, para outros aprender pode
ser um desafio, necessitando de mais atenção nesse processo. Vários fatores
podem influenciar o processo ensino-aprendizagem, tais como o tipo de
metodologia utilizada na sala de aula; currículo escolar que é oferecido aos
alunos; a pouca falta de prática de alguns professores; conteúdos e exercícios
inadequados.
Não há uma definição única, aceita universalmente, do que seria
considerada “dificuldade de aprendizagem”, expressão utilizada para
caracterizar a não aprendizagem ou o fracasso escolar de crianças e de
adolescentes. No conceito elaborado pelo Comité Nacional de Dificuldades de
Aprendizagem (National Joint Committee of Learning Disabilities - NJCLD) é
proposta a seguinte definição:
Dificuldades de aprendizagem (DA) é um termo geral que se refere a
um grupo heterogêneo de desordens manifestadas por dificuldades
significativas na aquisição e utilização da compreensão auditiva, da fala, da
leitura, da escrita e do raciocínio matemático. Tais desordens, consideradas
intrínsecas ao indivíduo, presumindo-se que sejam devidas a uma disfunção do
sistema nervoso central, podem ocorrer durante toda a vida. Problemas na
autorregulação do comportamento, na percepção social e na interação social
22
podem existir com as DA. Apesar das DA ocorrerem com outras deficiências
(por exemplo, deficiência sensorial, deficiência mental, distúrbios sócio
emocionais) ou com influências extrínsecas (por exemplo, diferenças culturais,
insuficiente ou inapropriada instrução etc.), elas não são o resultado dessas
condições (PINHEIRO, s./d., p. 16).
O CID-10 (Código Internacional de Doenças, 1993) define as
dificuldades de aprendizagem sob o título de Transtornos específicos do
desenvolvimento das habilidades escolares, como:
Transtornos nos quais as modalidades habituais de aprendizado estão alteradas desde as primeiras etapas do desenvolvimento. O comprometimento não é somente a consequência da falta de oportunidade de aprendizagem ou de um retardo mental, e ele não é devido a um traumatismo ou doença cerebrais.
Na conceituação apresentada por Sisto:
(...) poder-se-ia definir que o termo de dificuldades de aprendizagem engloba um grupo heterogêneo de transtornos, manifestando-se por meio de atrasos ou dificuldades em leitura, escrita, soletração e cálculo, em pessoas com inteligência normal ou superior e sem deficiências visuais, auditivas, motoras ou desvantagens culturais. Geralmente não ocorre em todas essas áreas de uma só vez e pode estar relacionada a problemas de comunicação, atenção, raciocínio, coordenação, adaptação social e problemas emocionais (SISTO, 2001, p. 33).
Fernández (2001, p. 32) diferencia fracasso escolar de dificuldade
de aprendizagem, conceituando esta como uma situação “que provém
prioritariamente de causas que se referem à estrutura individual e familiar da
criança (problema de aprendizagem-sintoma ou inibição) torna-se necessária
uma intervenção psicopedagógica mais pontual”. Prossegue a autora
afirmando que,
Assim, considera-se dificuldade de aprendizagem quando o aluno passa a não conseguir ler, escrever, calcular ou desempenhar outras atividades escolares, com sucesso, independentemente, deste, ter ou não potencial normal ou superior para aprender.
23
Segundo Jardim (2001), alunos com dificuldades de
aprendizagem têm disfunções em habilidades necessárias para haver
aprendizagem efetiva, apresentando problemas na compreensão da leitura,
organização e retenção da informação e na interpretação de textos.
Geralmente são lentas ao processar informações, apresentam estratégias
pobres para escrever, problemas de organização espacial e muita distração o
que acarreta dificuldade de comunicação e hábitos ineficientes de estudo.
Diversos são os fatores envolvidos nas dificuldades de
aprendizagem. Pain (1992) caracteriza como fatores principais as condições
orgânicas (saúde física deficiente, falta de integridade neurológica, alimentação
inadequada), psicológicas (inibição, fantasia, ansiedade, angústia, inadequação
à realidade, sentimento generalizado de rejeição), e, ambientais (educação
familiar, influência dos meios de comunicação).
Na classificação apresentada por Rocha (2003, p. 09) tem-se como
principais causas das dificuldades de aprendizagem escolar:
– Causas Físicas: são aquelas representadas pelas perturbações somáticas transitórias ou permanentes; provenientes de qualquer tipo de perturbação do estado físico geral da criança; por exemplo: febre, dor de cabeça, asma, verminose, ou seja, todo e qualquer mal que atinja o físico de uma pessoa, levando a um estado alterado da sua saúde.
– Causas Sensoriais: São todos os distúrbios que atingem os órgãos dos sentidos, responsáveis pela percepção que o indivíduo tem do meio exterior. Qualquer problema que afete os órgãos responsáveis pela visão, audição, gustação, olfato, tato, equilíbrio, reflexo postural, ou os respectivos sistemas de condução entre esses órgãos e o sistema nervoso, causará problemas no modo de a pessoa captar as mensagens do mundo exterior e, portanto, terá dificuldade nos processos que a pessoa tem para compreender o que se passa ao seu redor.
– Causas Neurológicas: São perturbações do sistema nervoso, tanto do cérebro, como do cerebelo, da medula e dos nervos. O sistema nervoso comanda todas as ações físicas e mentais do ser humano.
– Causas Emocionais: São distúrbios psicológicos, ligados às emoções e aos sentimentos dos indivíduos e à sua personalidade. Esses problemas geralmente não aparecem
24
sozinhos, eles estão associados a problemas de outras áreas, como por exemplo, da área motora, sensorial, etc.
– Causas Intelectuais ou Cognitivas: São aquelas que dizem respeito à inteligência do indivíduo, isto é, à sua capacidade de conhecer e compreender o mundo em que vive, de raciocinar sobre os seres animados ou inanimados que o cercam e de estabelecer relações entre eles.
– Causas Educacionais: O tipo de educação que a pessoa recebe na infância irá condicionar distúrbios de origem educacional, que a prejudicarão na adolescência e na idade adulta, tanto no estudo quanto no trabalho. Portanto, as falhas de seu processo educacional terão repercussões futuras.
– Causas Socioeconômicas: Não são distúrbios que se revelam no aluno. São problemas que se originam no meio social e econômico do indivíduo; no habitat dos seres humanos, no meio físico e social em que vivem; podendo ser favorável ou desfavorável à sua subsistência e também aos processos de aprendizagem e conhecimento.
O psicopedagogo assume um papel relevante na abordagem e
soluções aos problemas de aprendizagem. Por meio de técnicas e métodos
próprios, esse profissional realiza uma intervenção psicopedagógica visando à
solução de problemas de aprendizagem na escola. Segundo Rubinstein:
A intervenção psicopedagógica focaliza o sujeito na sua relação com a aprendizagem. A meta do psicopedagogo é ajudar aquele que, por diferentes razões, não consegue aprender formal ou informalmente, para que consiga não apenas interessar-se por aprender, mas adquirir ou desenvolver habilidades necessárias para tanto [...] (RUBINSTEIN, 2001, p. 25).
Cabe ao psicopedagogo avaliar o aluno e identificar os problemas de
aprendizagem, buscando conhecê-lo em seus potenciais construtivos e em
suas dificuldades, encaminhando-o, por meio de um relatório, quando
necessário, para outros profissionais (Mendes, 2010).
O diagnóstico psicopedagógico é composto de vários momentos que temporal e espacialmente tomam dimensões diferentes conforme a necessidade de cada caso. Assim, há momentos de anamnese só com os pais, de compreensão das relações familiares em sessão com toda a família presente, de avaliação da produção pedagógica e de vínculos com objetos de aprendizagem escolar, busca da construção e funcionamento das estruturas cognitivas (diagnóstico operatório), desempenho em testes de inteligência e
25
visomotores, análise de aspectos emocionais por meio de testes expressivos, sessões de brincar e criar. Tudo isso pode ser estruturado numa sequência diagnóstica estabelecida a partir dos primeiros contatos com o caso (WEISS, 2004, p.35).
Nesse processo, cabe, ainda, ao psicopedagogo sugerir ações de
melhorias na prática pedagógica nas escolas com o objetivo de superar as
dificuldades apresentadas (Mendes, 2010).
2.3. Fracasso Escolar
O fracasso escolar se caracteriza nos altos índices de repetência e
evasão dos alunos e tem como principal causa a não-aprendizagem, ou seja,
por algum motivo o aluno não consegue aprender. Como afirma Weiss (2004,
p. 16): “Considera-se como fracasso escolar uma resposta insuficiente do aluno
a uma exigência ou demanda da escola. Essa questão pode ser analisada e
estudada por diferentes perspectivas: a da sociedade, a da escola e a do
aluno”.
O fracasso escolar, segundo Fernández,
(...) afeta o aprender do sujeito em suas manifestações sem chegar a aprisionar a inteligência: muitas vezes surge do choque entre o aprendente e a instituição educativa que funciona de forma segregadora. Para entendê-lo e abordá-lo, devemos apelar para a situação promotora do bloqueio (FERNÁNDEZ, 2001, p. 33).
Em muitos casos o fracasso é atribuído somente ao aluno, mas
segundo Weiss (2004), a escola, em seus diferentes níveis, é a maior
contribuinte para o fracasso escolar. Para esta autora, muitas vezes a
estratégia de ensino escolhida, ou aplicada de forma equivocada, provoca um
desestímulo na busca do conhecimento, e, consequentemente, baixo
desempenho escolar. Nas escolas brasileiras é comum a prática de técnicas de
aprendizagem passiva, ao que Paulo Freire denominou de educação bancária,
em que o aluno não participa ativamente do processo de construção de
conhecimento, é apenas ouvinte, assimila (ou não) o que o professor (detentor
do saber) tenta transmitir. Esta estratégia de ensino é, muitas vezes, repetitiva
e pouco interessante, levando a situações de distração, desmotivação e
26
cansaço. Diferentemente desta forma de ensino, a aprendizagem ativa tem o
aluno como principal construtor do processo de ensino; o conhecimento é
transmitido de forma dinâmica, através de atividades baseadas em projetos,
colaborativas e centradas em soluções de problemas; nessa modalidade, o
professor constrói juntamente com os alunos um ambiente favorável à
aprendizagem.
O trabalho do psicopedagogo institucional está relacionando tanto
com o prevenir como solucionar o fracasso escolar e refere-se, segundo Fagali
e Vale:
A assessoria junto a pedagogos, orientadores e professores. Tem como objetivo trabalhar as questões pertinentes às relações vinculares professor-aluno e redefinir os procedimentos pedagógicos, integrando o afetivo e cognitivo, através da aprendizagem de conceitos, nas diferentes áreas do conhecimento (FAGALI; VALE, 2009, p. 10).
Cabe ao psicopedagogo intervir de forma preventiva ou corretiva
para criar um ambiente propício a aprendizagem e eleger a estratégia para
contribuir com o sucesso escolar. Para prevenir o fracasso escolar, é
necessário trabalhar em e com a escola, diagnosticar possíveis problemas
pedagógicos que possam estar prejudicando a aprendizagem, e, em seguida,
orientar os professores sobre como ajudar os alunos a aprenderem com prazer.
Segundo Weiss (2004, p. 34), o diagnóstico psicopedagógico tem em seu
objetivo “identificar os desvios e os obstáculos básicos no modelo de
aprendizagem do sujeito que, o impedem de crescer na aprendizagem dentro
do esperado pelo meio social”.
Uma vez gerado o fracasso, o psicopedagogo também deverá
intervir para que o fracasso do aluno, encontrando um terreno fértil no
aprendente e em sua família, não se constitua em um sintoma neurótico
(Fernandez apud Fiale, 2014). Nesse sentido, Martini acrescenta que,
(...) o psicopedagogo pode auxiliar os alunos a lidarem com suas dificuldades circunstanciais de aprendizagem, a compreenderem o processo escolar e a descobrirem (ou redescobrirem) seus potenciais. Além disso, este profissional pode oferecer a estes alunos a possibilidade de resgatar a
27
própria autoestima e a motivação para a aprendizagem, bem como ajudá-los a acreditar que através de seu próprio esforço e capacidade podem aprender e se desenvolver com prazer (MARTINI, 2014, p. 03).
Por vezes o desempenho escolar insuficiente do aluno decorre de hábitos de estudo inadequados. Nesses casos, o psicopedagogo e o aluno podem, em conjunto, estratégias de estudo mais eficientes, levando em consideração a matéria a ser estudada, o local de estudo e o tempo disponível (Kauark; Silva, 2008).
28
CAPÍTULO III
CONTRIBUIÇÕES DA PSICOPEDAGOGIA NA RELAÇÃO
ESCOLA, FAMÍLIA E APRENDIZAGEM
3.1. Família e Escola
A relação família e escola é uma relação conflitante, porque apesar
de ambas terem como objetivo central a educação de uma criança, os papéis
de cada uma devem ser diferenciados durante este processo.
Parolin (2007) relata ser na família que a criança constrói seus
primeiros vínculos com a aprendizagem, isto porque, cabe a família os
primeiros ensinamentos através da educação doméstica na qual a criança
aprende a respeitar os outros, a conviver com regras e limites. Cabe a escola,
reforçar esses valores, pois nesse espaço a criança passa a conviver com
outras crianças, experimenta um ambiente novo, com regras e conceitos
novos, além de acrescentar informações e conhecimentos, como aponta Tiba
(2006, p. 111): “Teoricamente, a família teria a responsabilidade pela formação
do indivíduo, e a escola, por sua informação”. Heidrich (2009, p. 25) relata que
a “escola foi criada para servir à sociedade” e tem por obrigação explicar “como
conduz a aprendizagem das crianças e criar mecanismos para que a família
acompanhe a vida escolar dos filhos”, sendo função da escola educar para a
cidadania, formar cidadãos participativos e atuantes.
Ocorre que a família, de maneira generalizada, por vezes, delega
algumas obrigações da educação do filho à escola e ao professor, eximindo-se
do seu papel fundamental de parceira da instituição de ensino na educação da
criança. Os professores, frente a essa nova obrigação, se veem forçados a
responder pelo comportamento positivo ou negativo do aluno, além de se
preocupar com o programa curricular, provas, exercícios etc.
Infelizmente, alguns pais não se conscientizam da importância do
apoio deles junto à instituição escolar do filho e não conseguem ver que a
29
escola possui outros objetivos a serem desenvolvidos em seus filhos. Isso não
quer dizer que a escola não deva se preocupar com o desenvolvimento afetivo
e as relações de vínculo desenvolvidas pelos alunos, mas de forma diferente
da família a escola utiliza critérios específicos para avaliar o desempenho, a
maturidade e desenvolvimento desta criança. São essas peculiaridades que os
pais não conseguem internalizar.
Ao deixar seus filhos na escola, ou creche, os pais passam toda a
responsabilidade de educação desta criança aos educadores e à instituição e
caso o filho apresente um comportamento “inadequado”, os pais culparão a
escola, os professores, os colegas, mas nunca colocarão a culpa em si
mesmos ou assumirão o fato de contribuir para algumas atitudes do filho. A
escola, por sua vez, também procura subterfúgios para “escapar” da culpa
pelos possíveis fracassos escolares de seus alunos, entre as desculpas mais
frequentes está a de culpar os pais pela falta de tempo no convívio com os
filhos. Fato que acaba gerando alunos com problemas de aprendizagem,
relacionamento etc.
Observa-se, que o fundamental para a escola, professores e pais é
descobrir algo concreto para ser apontado como causador desses problemas
de aprendizagem, que prejudicam as crianças e aos adolescentes. Esquecem-
se, porém, que:
Tanto a família quanto a escola desejam a mesma coisa: preparar as crianças para o mundo; no entanto, a família tem as suas particularidades que a diferenciam da escola, e suas necessidades que a aproximam dessa mesma instituição. A escola tem sua metodologia e filosofia para educar uma criança, no entanto, ela necessita da família para concretizar o seu projeto educativo (PAROLIN, p. 2007, p. 99).
O que se pode observar é que a escola e a família, cada qual com
seus valores e objetivos específicos na educação de uma criança, constituem
um organismo intrínseco, onde quanto mais diferentes são, mais necessitam
uma da outra.
Dessa forma, cabe a toda sociedade, não só aos setores ligados à
educação, transformar através de pequenas ações o cotidiano da escola e da
30
família, para que esta compreenda a importância dos objetivos traçados pela
escola, assim como o seu lugar de corresponsável neste processo.
3.2. Escola, Problemas de Aprendizagem e Relações Familiares
A escola tem como foco central a apreensão do conhecimento,
baseada no currículo e nas práticas pedagógicas que lhe são próprias,
priorizando as atividades educativas formais. E, nesse cenário, a aprendizagem
ocorre à medida que o aluno constrói uma série de significados que são
resultado das interações que ele faz e continua fazendo no contexto em que
está inserido.
Como estrutura básica, a família tem função determinante no
desempenho do papel aprendiz do aluno, sendo a base para que o trabalho de
construção do conhecimento aconteça. Isto porque, é a família que transmite
noções iniciais de poder, autoridade, hierarquia, respeito, cidadania e onde se
aprende habilidades diversas. É na família que a criança aprende ainda, a
adaptar-se às diferentes circunstâncias, a flexibilizar, a negociar, enfim, a
família é o primeiro referencial de aprendizagem do aluno. À medida que vive
em família, e se submete aos seus rituais, processos e desenvolvimento, a
criança vai se individualizando, diferenciando-se em seu contexto familiar.
Deste modo, a criança constrói seu modelo de aprendiz e a forma como vai se
relacionar com o conhecimento.
No entanto, nesse processo, insere-se, por vezes, problemas e
dificuldades de aprendizagem, cujo conceito surgiu da necessidade de se
compreender o motivo pelo qual alunos, aparentemente normais,
constantemente apresentavam insucesso escolar, sobretudo na leitura, escrita
ou cálculo matemático.
Para Dockrell e McShane (2000), em alguns casos, o meio (aqui
compreendido como família, comunidade e relacionamento sócio afetivo) pode
ser o fator principal dos problemas de aprendizagem do aluno, e, ainda que
não seja o único fator, pode contribuir para aquisição de conhecimentos
acadêmicos.
31
Nesse sentido, Scoz (2009) aponta ser a influência familiar decisiva
na aprendizagem dos alunos. Argumenta esta autora que os filhos de pais
extremamente ausentes vivenciam sentimentos de desvalorização e carência
afetiva, gerando desconfiança, insegurança, improdutividade e desinteresse,
sérios obstáculos à aprendizagem escolar.
Ainda em relação a família, pesquisa publicada pela Fundação Itaú
Social, em 2008, demonstrou as relações entre grupo familiar e desempenho
escolar:
O contexto familiar é responsável por 70% do desempenho escolar de um estudante, restando à escola [...] interferir, positiva ou negativamente, nos 30% restantes. A conclusão surgiu de uma revisão da literatura sobre desempenho escolar existente no Brasil realizada pela Fundação Itaú Social. "Todas as pesquisas analisadas, nacionais e internacionais, mostram que a maior parte do desempenho escolar é explicada pelas características familiares do aluno. (...)”, explica Fabiana de Felício, responsável pelo estudo no Itaú Social e consultora do Ministério da Educação (MEC). (...) Segundo a pesquisadora, os levantamentos – feitos tendo como parâmetro os resultados em avaliações nacionais do MEC e os índices de aprovação e evasão – mostram que o aluno já chega à escola com diferenças que fazem com que ele tenha resultados maiores ou menores. Ou seja, sua condição e estrutura familiar já o colocam em vantagem ou desvantagem desde o início do ensino fundamental (O Estado de São Paulo, 30/10/08).
Assim, deve haver uma integração entre escola e famílias com o
objetivo de fazer com que o aluno estabeleça um ambiente favorável a
aquisição de conhecimentos.
Para Scoz (2009), o contato com a família pode trazer informações
sobre fatores que interferem na aprendizagem e apontar os caminhos mais
adequados para ajudar a criança. Cabe ao psicopedagogo, ao analisar as
dificuldades de um aluno, intervir junto à família, por meio de uma entrevista e
de uma anamese com essa família, para tomar conhecimento de informações
sobre sua vida orgânica, cognitiva, social e emocional. Fernández considera
que:
A presença da família no diagnóstico, à medida que ajuda a observar mais rapidamente a existência de significações sintomáticas localizadas em vínculos em relação ao aprender,
32
permite realizar diagnósticos diferenciais entre sintoma (problema de aprendizagem-sintoma) e problemas de aprendizagem-reativos (FERNÁNDEZ, 1991, p. 92).
O contato do psicopedagogo com a família também torna possível
orientar aos pais para que compreendam a influência das relações familiares
no desenvolvimento dos filhos.
3.3. A Interação Escola-Famílias
O conceito de família evoluiu juntamente com a sociedade, não
comportando mais uma definição uniforme e estática. A família nuclear (aquela
composta por pai, mãe e filhos biológicos), além de menos numerosa, não
constitui mais o modelo predominante de família, isto porque, surgiram novas
configurações familiares, de base social, afetiva ou econômica, sobretudo nas
classes sociais menos favorecidas (Sarti, 1997).
Diversos fatores contribuíram e influenciaram para a alteração da
organização e do cotidiano familiar, tais como:
(...) a presença da televisão, o acesso à escolaridade (especialmente no caso da mulher), o surgimento dos movimentos feministas, a mudança dos papéis sexuais, a modernização do discurso da igreja católica, a supervalorização do consumo, a psicologização das relações familiares e – devido ao ingresso da mulher na força de trabalho e como provedora do lar – a substituição dos cuidados maternos com os filhos pelas instituições como as creches, “escolinhas” (TRANCREDI; REALI, 2001, p. 03).
É comum a presença de crianças de pouca idade em diversos
ambientes socializadores, como creches e classes de educação infantil,
acarretando um maior convívio com outras pessoas que não aquelas do grupo
familiar. Com isso, tem-se uma divisão da responsabilidade pela educação das
crianças entre escola e família (incluindo os parentes, como, por exemplo,
irmãos, tios e avós) (Sarti, 1997).
A esse respeito, Trancredi e Reali afirmam que atualmente as
escolas,
33
(...) além de ter a função de ensinar o conhecimento sistematizado, passa a ser responsabilizada por desenvolver as habilidades sociais que tradicionalmente eram consideradas encargo das famílias, uma vez que para aquelas das classes populares, a escola é importante dado seu caráter instrumental e, mais do que isso, de formador de sujeitos políticos os cidadãos (TRANCREDI; REALI, 2001, p. 03).
Escolas e famílias são agências socializadoras e, como tal,
apresentam tanto aspectos comuns, como divergentes. Compartilham da tarefa
de preparar os jovens no desenvolvimento de habilidades que possibilitem uma
inserção crítica e participativa na sociedade. Divergem, contudo, nas tarefas de
ensinar.
A escola, segundo Szymanski (2007, p. 219) tem “a obrigação de
ensinar (bem) os conteúdos construídos de áreas de saber considerados como
fundamentais para a instrução de novas gerações” e às famílias cabe “dar
acolhimento a seus filhos um ambiente estável, provedor, amoroso”, pelo
menos no plano do ideal.
Nos termos da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), Lei nº
9.394/96, os profissionais da educação devem ser os responsáveis pelos
processos de aprendizagem, mas não estão sozinhos nesta tarefa, pois prevê
a referida Lei a ação integrada das escolas com as famílias:
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, terão a incumbência de:
(...) VI – articular-se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração da sociedade com a escola; (...)
Art. 13. Os docentes incumbir-se-ão de:
(...) VI – colaborar com as atividades de articulação da escola com as famílias e comunidade.
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino público na educação básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os seguintes princípios:
(...) II – participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou equivalentes.
34
A escola, aparentemente pode apresentar algumas dificuldades em
aceitar “mudanças sociais e familiares e incorporar as novas demandas no
desenvolvimento de seus papéis e de seu trabalho, embora esse processo não
seja tão recente” (TRANCREDI; REALI, 2001, p. 03).
Por outro lado, segundo Perrenoud (2000), para alguns pais restam
poucas opções para oferecer aos filhos uma educação similar à promovida pela
escola, devendo, portanto, necessariamente matriculá-los nessa instituição
para completar sua formação.
No entanto, apesar das similitudes e das diferenças do papel dessas
agências socializadoras na educação das crianças, torna-se importante a
participação dos pais na escola, isto porque,
Quando a família e a escola mantêm boas relações, as condições para um melhor aprendizado e desenvolvimento da criança podem ser maximizadas. Assim, pais e professores devem ser estimulados a discutirem e buscarem estratégias conjuntas e específicas ao seu papel, que resultem em novas opções e condições de ajuda mútua (LEITE; TASSONI, 2002 apud POLONIA; DESSEN, 2005, p. 304).
Segundo Trancredi e Reali (2001, p. 04), a participação dos pais na
escola “pode estar voltada para os aspectos financeiros, organizacionais ou
pedagógicos, dependendo das concepções que subsidiam as ações das
escolas nessa direção”. E acrescentam que:
Os pais podem e devem envolver-se com o processo escolar de seus filhos e exigir que a escola cumpra o papel que lhe cabe na educação sem descaracterizar a especificidade dos papéis que cada instância deve exercer. (...) Por parte dos pais, relações mais estreitas com a escola podem ajudá-los a compreender melhor o trabalho por ela realizado, a se envolverem – na medida de suas possibilidades – no processo educacional dos filhos, trabalhando de forma consoante com as necessidades educativas da vida e da participação no mundo atual (TRANCREDI; REALI, 2001, p. 04-05).
Assim, a família deve caminhar junto à escola no processo
educativo, participando da construção do conhecimento do educando,
contribuindo, assim, para a formação de cidadãos conscientes do seu papel na
sociedade.
35
De outro lado, a escola deve possibilitar essa participação, criando
oportunidades e momentos para que essa integração ocorra, estimulando a
participação dos pais nas ações realizadas pela escola, considerando as
particularidades e a realidade específica da escola e da comunidade em que
está inserida. Além disso, deve discutir, informar, aconselhar, encaminhar os
mais diversos assuntos à família, para que esta, em colaboração com a escola,
possa promover uma educação integral aos alunos.
A literatura pesquisada aponta a existência de dificuldades da
participação dos pais na escola. A esse respeito, Trancredi e Reali colocam
que,
Entre as dificuldades encontradas no estabelecimento de relações harmoniosas pode-se citar a forma geralmente adotada pela escola para estabelecer esse contato: além de serem unidirecionais – parte na maioria das vezes da escola em direção às famílias – predominam nas situações de baixo rendimento escolar e de mal comportamento dos alunos. Isso ocorre provavelmente porque os professores muitas vezes pensam que lhes cabe ensinar e que às famílias compete solucionar as dificuldades que enfrentam em sala de aula no contato cotidiano com os alunos, sejam eles referentes à sua aprendizagem ou às suas atitudes (TRANCREDI; REALI, 2001, p. 05-06).
Cabe a escola se preparar de forma a possibilitar a construção de
uma relação escola-família produtiva, sendo essa relação de fundamental
importância para o processo ensino aprendizagem. Nesse aspecto, Oliveira
(2009, p. 139) destaca ser o psicopedagogo o profissional capacitado a criar
“relações saudáveis com a escola, com a família e com a relação escola-
família, garantindo que a qualidade desse contato seja um fator preponderante
para o desenvolvimento das potencialidades do aprender”.
Ademais, a intervenção psicopedagógica deve incluir os pais no
processo, através de reuniões, possibilitando o acompanhamento do trabalho
junto aos professores. Segundo Monereo e Solé:
(...) O professor (...) geralmente, ao sentir que a família não colabora ou até atrapalha a sua tarefa, sente-se impotente e desvalorizado e faltam-lhe estratégias e habilidades para intervir. Nesses casos, fica difícil ajudar esse aluno [com
36
dificuldades], e a relação com a família torna-se frustrante e difícil. O psicopedagogo pode, então, ajudar a tomar distância, a analisar a situação com maior objetividade e a tentar mediar nessa relação para superar a incompreensão ou rejeição que possa gerar (MONEREO; SOLÉ, 2000, p. 100).
Ademais, o psicopedagogo, fazendo seu trabalho, necessita que a
família, os professores e a escola deem continuidade, pois se o aluno
apresentava alguma dificuldade, é porque as metodologias utilizadas, em casa
ou na escola, não estavam dando certo; e, um trabalho integrado trará bons
resultados (Aragão, 2010).
37
CONCLUSÃO
Este estudo buscou investigar o trabalho do psicopedagogo na
instituição escolar. Com base na revisão de literatura realizada pode-se
verificar que o psicopedagogo pode atuar juntamente com os professores e
todos os envolvidos no processo educacional no sentido de melhor desenvolver
a prática educativa, produzindo estratégias para proporcionar um processo de
ensino aprendizagem satisfatório.
Observou-se, também, ser o Psicopedagogo um profissional
capacitado para trabalhar com as dificuldades de aprendizagem, que acaba
levando ao fracasso escolar, que muitas vezes ocorre em razão da
metodologia de ensino bancária onde o aluno apenas absorve conteúdo e não
interage com os professores. É preciso considerar o aluno parte ativa do
processo de aprendizagem. A intervenção do psicopedagogo se torna
fundamental para o sucesso escolar em razão deste profissional utilizar vários
saberes para atuar junto a questões cognitivas, emocionais, orgânicas,
familiares, sociais e pedagógicas que permeiam a aprendizagem, orientando o
professor e o aluno referente as dificuldades. Nesse aspecto, a atuação do
psicopedagogo pode ocorrer por meio de ações preventivas ou recuperativas,
juntamente com os alunos, professores e todos os envolvidos no âmbito da
instituição escolar, criando condições, juntamente com os demais atores
pedagógicos, para que a aprendizagem ocorra de maneira eficaz, prazerosa e
significativa. É importante que o psicopedagogo e a equipe escolar se
mobilizem para que os alunos se desenvolvam, aprendam e superem suas
dificuldades de aprendizagem, pois como bem destaca Paro (2003, p. 159), “a
escola não existe para ensinar para a maioria, mas para ensinar para todos e
para cada um”.
Identificou-se, ainda, com este estudo, que a atuação do
psicopedagogo na escola comporta promover a interação família-escola. A
relação escola-família mostra-se importante para o processo ensino
aprendizagem e o sucesso escolar, não devendo sua participação limitar-se as
38
reuniões onde os pais são informados do desempenho de seus filhos, ou
apenas quando as notas estão baixas, ou quando se precisa de uma ajuda
pontual. A escola sozinha não é capaz de formar um ser humano completo
para a vida. Apenas com uma parceria entre a escola e a família será possível
atingir um desempenho escolar satisfatório, assim como um pleno
desenvolvimento físico e intelectual do sujeito que está se formando, sendo
certo que uma criança bem formada será um adulto completo, com valores e
ideais de cidadania.
39
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ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08
CAPÍTULO I Psicopedagogia e seu Campo de Atuação 10 1.1. Contexto Histórico 10 1.2. O que é Psicopedagogia 13 1.3. Campo de Atuação do Psicopedagogo 14 CAPÍTULO II A Psicopedagogia no Contexto Escolar: o seu Papel na Aprendizagem 18 2.1. Aprendizagem 18 2.2. Dificuldades de Aprendizagem 23 2.3. Fracasso Escolar 27 CAPÍTULO III Contribuições da Psicopedagogia na Relação Escola, Família e Aprendizagem 30 3.1. Família e Escola 30 3.2. Escola, Problemas de Aprendizagem e Relações Familiares 32 3.3. A Interação Escola-Famílias 34 CONCLUSÃO 39 BIBLIOGRAFIA 41 WEBGRAFIA 45