UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO FÁBIO ......3 Oliveira, Fábio Francisco de PROBABILIDADE...

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UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO FÁBIO FRANCISCO DE OLIVEIRA PROBABILIDADE CONDICIONAL Proposta de um experimento de ensino envolvendo registros de representações semióticas MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA UNIAN São Paulo 2014

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  • UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

    FÁBIO FRANCISCO DE OLIVEIRA

    PROBABILIDADE CONDICIONAL

    Proposta de um experimento de ensino envolvendo

    registros de representações semióticas

    MESTRADO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

    UNIAN São Paulo

    2014

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    UNIVERSIDADE ANHANGUERA DE SÃO PAULO

    FÁBIO FRANCISCO DE OLIVEIRA

    PROBABILIDADE CONDICIONAL

    Proposta de um experimento de ensino envolvendo

    registros de representações semióticas

    Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Universidade Anhanguera de São Paulo, como exigência parcial para a obtenção do título de MESTRE EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA, sob a orientação da Professora Doutora Monica Karrer.

    UNIAN São Paulo

    2014

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    Oliveira, Fábio Francisco de

    PROBABILIDADE CONDICIONAL

    Proposta de um experimento de ensino envolvendo registros de

    representações semióticas/Fábio Francisco de Oliveira. São

    Paulo: [s.n], 2014.

    _______f ; ____ ; _______.

    Dissertação (Mestrado Acadêmico) – Universidade

    Anhanguera de São Paulo, Programa de Pós-Graduação em

    Educação Matemática.

    Orientadora: Profª. Drª. Monica Karrer.

    1. Probabilidade Condicional 2. Registros de representações

    semióticas 3. Letramento Probabilístico 4. Design Experiment.

    5. Software R.

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    AGRADECIMENTOS

    Agradeço a Deus por ter me proporcionado tamanha oportunidade de crescimento

    pessoal e profissional.

    À minha esposa Juliana pelo incentivo, compreensão e apoio para que eu pudesse

    me dedicar ao programa de Mestrado.

    À minha família e amigos pela força e compreensão nos momentos em que a

    dedicação à vida acadêmica esteve acima dos demais compromissos sociais.

    À Professora Doutora Monica Karrer pela parceria, paciência, imensa dedicação,

    estímulo e competência na orientação deste trabalho.

    À Professora Doutora Verônica Yumi Kataoka pela parceria, paciência, dedicação e

    estímulo na co-orientação deste trabalho e por ter aceitado participar da banca,

    contribuindo com sua experiência e competência na realização desta pesquisa.

    À Professora Doutora Rosana Nogueira de Lima por ter aceitado participar da

    banca, pela dedicação e orientações dadas, de suma importância para o

    desenvolvimento deste trabalho.

    A todos os professores do Programa de Mestrado em Educação Matemática desta

    Instituição que, de forma direta ou indireta, contribuíram para o desenvolvimento

    deste trabalho.

    Aos estudantes participantes voluntários desta pesquisa pelo comprometimento e

    dedicação demonstrados nos encontros realizados.

  • 5

    “Não se deve ir atrás de objetos fáceis. É preciso buscar o que

    só pode ser alcançado por meio dos maiores esforços.”

    Albert Einstein

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    FÁBIO FRANCISCO DE OLIVEIRA

    PROBABILIDADE CONDICIONAL

    PROPOSTA DE UM EXPERIMENTO DE ENSINO ENVOLVENDO

    REGISTROS DE REPRESENTAÇÕES SEMIÓTICAS

    DISSERTAÇÃO APRESENTADA À UNIVERSIDADE ANHANGUERA

    DE SÃO PAULO COMO EXIGÊNCIA DO PROGRAMA DE PÓS-

    GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO MATEMÁTICA

    Presidente e Orientadora

    Nome: Profª Drª Monica Karrer

    Instituição: Universidade Anhanguera de São Paulo

    Assinatura:

    2ª Examinador:

    Nome: Profª Drª Verônica Yumi Kataoka

    Instituição: Universidade Estadual de Santa Cruz – UESC

    Assinatura:

    3ª Examinador:

    Nome: Profª Drª Rosana Nogueira de Lima

    Instituição: Universidade Anhanguera de São Paulo

    Assinatura: Biblioteca

    Bibliotecário:____________________________________________

    Assinatura:__________________________ Data____/_____/_____

    São Paulo, 15 de agosto de 2014.

  • 7

    RESUMO

    OLIVEIRA, F. F. de PROBABILIDADE CONDICIONAL Proposta de um experimento de ensino envolvendo registros de representações semióticas 2014. ___f. Dissertação de Mestrado em Educação Matemática, Universidade Anhanguera de São Paulo, São Paulo, 2014.

    Esta pesquisa teve por objetivo investigar a aprendizagem de estudantes diante de

    um experimento de ensino sobre probabilidade condicional, por meio de uma

    abordagem com material concreto, aliada à exploração de diferentes registros de

    representações semióticas. O estudo fundamentou-se na Teoria dos Registros de

    Representações Semióticas de Duval e no Letramento Probabilístico de Gal. Para a

    construção e condução do experimento, foi utilizada a metodologia de Design

    Experiment de Cobb et al. O design foi desenvolvido nos ambientes papel e lápis e

    software R e teve por foco a exploração das conversões e tratamentos envolvendo

    representações da língua natural, da tabela de dupla entrada e da árvore de

    probabilidades. O experimento elaborado foi aplicado em nove encontros a oito

    alunos voluntários do segundo ano do Ensino Médio de uma escola estadual da

    cidade de Guarulhos. Inicialmente, os alunos realizaram um levantamento de dados

    e exploraram situações de probabilidade com material concreto. Para a construção

    das probabilidades da intersecção e condicional, além do material concreto, foram

    utilizadas as representações da tabela de dupla entrada e da árvore de

    probabilidades, sendo proposta uma nova versão, denominada árvore de

    probabilidades na versão completa. Identificou-se que essa última representação

    favoreceu a extração das probabilidades simples, condicional e da intersecção.

    Apesar da importância de cada estratégia isolada, os resultados demonstraram que

    o trabalho integrando material concreto, recurso computacional e exploração de

    representações foi vital para o avanço dos estudantes em questões probabilísticas.

    Espera-se que a proposta deste estudo possa contribuir para o avanço do

    Letramento Probabilístico dos alunos da educação básica, representando um

    recurso adicional para a área de Educação Matemática.

    Palavras-chave: Probabilidade Condicional. Registros de representações

    semióticas. Letramento Probabilístico. Design Experiment. Software R.

  • 8

    ABSTRACT

    OLIVEIRA, F. F. CONDITIONAL PROBABILITY Proposal of a teaching experiment involving registers of semiotic representations 2014.___f Dissertation in Mathematics Education, Anhanguera University of São Paulo, São Paulo, 2014.

    This research study aimed to investigate students’ learning in a teaching experiment

    about Conditional Probability, through an approach with concrete material, added to

    the exploration of different semiotic representations. The study is based on Duval’s

    Theory of Semiotic Representations Registers and in Gal’s Probabilistic Literacy. To

    construct and to conduct the experiment, we have used Cobb et al’s Design

    Experiment Methodology. The design was developed in paper & pencil and

    software R environments and it focused on the exploration of the conversions

    between representations of the natural language, two-way table and probability tree.

    The experiment was administered in nine meetings to eight volunteer students at the

    second grade of High School in a public School in Guarulhos. First of all, the

    students did a data collection and explored probability situation with concrete

    material. For constructing the intersection and conditional probabilities, besides

    concrete material, representations of the two-way table and the probability tree have

    been used and a new version of it has been proposed, called complete probability

    tree. It has identified that this last representation supported the extraction of the

    simple, conditional and the intersectional probabilities. Despite the importance of

    every isolated strategy, the results have indicated that a work integrating concrete

    material, computational resources and representational exploration were vital for the

    students’ development in probabilistic matters. We hope the proposal of this study

    may contribute for the probabilistic literacy advance of the Elementary school

    students, representing an additional resource for the area of Mathematics Education.

    Key words: Conditional Probability, Registers of semiotic representations,

    Probabilistic Literacy, Design Experiment, Software R

  • 9

    LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 – A urna de Falk.......................................................................................... 32

    Figura 2 – Resolução do problema das três cartas de Falk...................................... 36

    Figura 3 – Possibilidades de gêmeos ....................................................................... 37

    Figura 4 – Árvore de frequências naturais................................................................ 43

    Figura 5 – Árvore de probabilidades na versão proposta por Martignon e Wassner

    (2002)........................................................................................................................ 46

    Figura 6 – Árvore de probabilidades na versão completa proposta por este

    estudo........................................................................................................................ 47

    Figura 7 – Design Experiment: Ecologia da aprendizagem do experimento............. 59

    Figura 8 – Primeiro protótipo da urna ....................................................................... 61

    Figura 9 – Segundo protótipo................................................................................... 61

    Figura 10 – Segundo protótipo à esquerda e o terceiro protótipo à direita............... 62

    Figura 11 – Abertura para retirada dos cartões......................................................... 62

    Figura 12 – Primeira versão dos cartões................................................................... 63

    Figura 13 – Cartões de ambos os tamanhos............................................................ 63

    Figura 14 – Cartões com papel adesivo ................................................................... 64

    Figura 15 – Apresentação dos dados em tabela simples ........................................ 71

    Figura 16 – Apresentação dos dados em língua natural materna ............................ 71

    Figura 17 – Apresentação dos dados em tabela de dupla entrada ......................... 71

    Figura 18 – Simulação do caso hipotético das retiradas por meio do software R

    ................................................................................................................................... 76

    Figura 19 – Cartões da probabilidade da intersecção .............................................. 77

    Figura 20 – Cartão branco com cartão azul sobreposto........................................... 81

    Figura 21 – Todas as possibilidades de intersecção................................................. 81

    Figura 22 – Organização dos grupos ..................................................................... 101

    Figura 23 – Ficha 1 ................................................................................................ 101

    Figura 24 – Produção do estudante A2................................................................... 102

    Figura 25 – Produção do estudante B3................................................................... 104

    Figura 26 – Produção do estudante B2................................................................... 105

    Figura 27 – Apresentação dos dados colhidos na pesquisa de opinião - Grupo

    A.............................................................................................................................. 107

  • 10

    Figura 28 – Apresentação dos dados colhidos na pesquisa de opinião - Grupo

    B.............................................................................................................................. 108

    Figura 29 – Resposta dada pelo estudante A1 – Questão 1 – Ficha 2

    ................................................................................................................................. 109

    Figura 30 – Resposta dada pelo estudante B3 – Questão 2 – Ficha 2

    ................................................................................................................................. 109

    Figura 31 – Organização das duplas....................................................................... 110

    Figura 32 – Ficha 3 - Parte 1 preenchida pela dupla A1.1..................................... 110

    Figura 33 – Ficha 3 - Parte 1 preenchida pela dupla A1.2 ..................................... 111

    Figura 34 – Ficha 3 - Parte 1 preenchida pela dupla B1.1. .................................... 112

    Figura 35 – Ficha 3 - Parte 1 preenchida pela dupla B1.2...................................... 113

    Figura 36 – Registros das retiradas da urna – Dupla A1.1 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 114

    Figura 37 – Registros das retiradas da urna – Dupla A1.2 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 115

    Figura 38 – Registros das retiradas da urna – Dupla B1.1 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 115

    Figura 39 – Registros das retiradas da urna – Dupla B1.2 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 116

    Figura 40 – Comparação entre as razões– Dupla A1.1 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 116

    Figura 41 – Comparação entre as razões– Dupla A1.2 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 117

    Figura 42 – Comparação entre as razões– Dupla B1.1 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 117

    Figura 43 – Comparação entre as razões– Dupla B1.2 – Ficha 3 - Parte 2

    ................................................................................................................................. 118

    Figura 44 – Ficha 3 - Parte 3................................................................................... 119

    Figura 45 – Ficha 3 - Parte 2 – Produção da dupla A1.1........................................ 120

    Figura 46 – Ficha 3 - Parte 2 - preenchida pela dupla A1.2................................... 120

    Figura 47 – Ficha 3 - Parte 2 - preenchida pela dupla B1.1................................... 121

    Figura 48 – Ficha 3 - Parte 2 - preenchida pela dupla B1.2................................... 121

    Figura 49 – Ficha 3 - Parte 5 – Produção da dupla A1.1........................................ 122

    Figura 50 – Ficha 3 - Parte 5 – Produção da dupla A1.2 ....................................... 122

  • 11

    Figura 51 – Ficha 3 - Parte 5 – Produção da dupla B1.1........................................ 123

    Figura 52 – Ficha 3 - Parte 5 – Produção da dupla B1.2........................................ 123

    Figura 53 – Produção da dupla A1.1 – Item e – Ficha 3 - Parte 5 ......................... 124

    Figura 54 – Produção da dupla B1.2 – Item e – Ficha 3 - Parte 5.......................... 124

    Figura 55 – Organização de duplas para grupos ................................................... 124

    Figura 56 – Produção do Grupo A........................................................................... 125

    Figura 57 – Produção do Grupo B........................................................................... 126

    Figura 58 – Estudantes confeccionando os cartões............................................... 126

    Figura 59 – Produção do Grupo A – Apresentação dos dados para a Ficha

    4............................................................................................................................... 127

    Figura 60 – Produção do Grupo B – Apresentação dos dados para a Ficha

    4............................................................................................................................... 127

    Figura 61 – Produção do Grupo A - Ficha 4 - Parte 2 ........................................... 128

    Figura 62 – Produção do Grupo B - Ficha 4 - Parte 2 ............................................ 128

    Figura 63 – Produção do Grupo A - Ficha 4 - Parte 3 ........................................... 129

    Figura 64 – Produção do Grupo B - Ficha 4 - Parte 3 ........................................... 129

    Figura 65 – Produção do Grupo A – Ficha 4 - Parte 4 ........................................... 130

    Figura 66 – Produção do Grupo A – Item e – Ficha 4 - Parte 5 ............................. 131

    Figura 67 – Produção do Grupo B – Item e – Ficha 4 - Parte 5.............................. 131

    Figura 68 – Produção do Grupo A – Ficha 5 - Parte 1............................................ 132

    Figura 69 – Produção do Grupo B – Ficha 5 - Parte 1 ........................................... 132

    Figura 70 – Produção do Grupo A – Ficha 5 - Parte 2............................................ 134

    Figura 71 – Produção do Grupo B – Ficha 5 - Parte 2............................................ 134

    Figura 72 – Produção do Grupo A – Registro das retiradas condicionais.............. 135

    Figura 73 – Produção do Grupo B – Registro das retiradas condicionais.............. 135

    Figura 74 – Produção do Grupo A – Ficha 5 - Parte 3............................................ 137

    Figura 75 – Produção do Grupo B – Ficha 5 - Parte 3............................................ 138

    Figura 76 – Produção do Grupo A – Ficha 6 - Parte 1............................................ 139

    Figura 77 – Produção do Grupo B – Ficha 6 - Parte 1............................................ 139

    Figura 78 – Ficha 6 - Parte 2 – Árvores de possibilidades – Grupo A ................... 140

    Figura 79 – Ficha 6 - Parte 2 – Questões árvores de possibilidades – Grupo A.... 141

    Figura 80 – Ficha 6 - Parte 2 – Árvores de possibilidades – Grupo B.................... 141

    Figura 81 – Ficha 6 - Parte 2 – Questões árvores de possibilidades – Grupo A.... 142

    Figura 82 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 1 ........................................... 143

  • 12

    Figura 83 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 1 ........................................... 144

    Figura 84 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 1 – Árvore iniciando pela variável

    “mais investimentos por parte do governo na Copa do Mundo do que nas áreas de

    Educação e Saúde................................................................................................. 145

    Figura 85 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 1 – Árvore iniciando pela variável

    “Série”..................................................................................................................... 145

    Figura 86 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 2 – Iniciando pela variável

    “Acreditar que as manifestações terão resultado”. ................................................ 146

    Figura 87 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 2 – Iniciando pela variável

    “Cursar ensino superior”......................................................................................... 147

    Figura 88 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 2 – Iniciando pela variável “Mais

    investimentos por parte do governo na Copa do Mundo do que nas áreas de

    Educação e Saúde. ............................................................................................... 148

    Figura 89 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 2 – Iniciando pela variável

    “Série”..................................................................................................................... 149

    Figura 90 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 3 – Iniciando pela variável

    “acredita que as manifestações terão resultado”.................................................... 150

    Figura 91 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 3 – Iniciando pela variável

    “Série”...................................................................................................................... 151

    Figura 92 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 3 – Iniciando pela variável “Mais

    investimentos por parte do governo na Copa do Mundo de que nas áreas de

    Educação e Saúde”................................................................................................. 152

    Figura 93 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 3 – Iniciando pela variável

    “Cursar ensino superior”.......................................................................................... 152

    Figura 94 – Produção do Grupo A – Ficha 7 - Parte 4 ........................................... 153

    Figura 95 – Produção do Grupo B – Ficha 7 - Parte 4 ........................................... 154

    Figura 96 – Montagem da árvore com os cartões do Grupo A .............................. 155

    Figura 97 – Montagem da árvore com os cartões do Grupo B............................... 156

    Figura 98 – Tarefa I – Ficha avaliativa.................................................................... 156

    Figura 99 – Produção do estudante A1 .................................................................. 157

    Figura 100 – Produção do estudante A2................................................................. 157

    Figura 101 – Produção do estudante B1................................................................. 158

    Figura 102 – Produção do estudante A2................................................................. 158

    Figura 103 – Produção do estudante B2................................................................. 158

  • 13

    Figura 104 – Produção do estudante A3................................................................. 159

    Figura 105 – Produção do estudante B1................................................................. 159

    Figura 106 – Produção do estudante B4................................................................. 160

    Figura 107 – Produção do estudante B4................................................................. 160

    Figura 108 – Produção do estudante B1................................................................. 161

    Figura 109 – Tarefa II – Ficha Avaliativa ................................................................ 161

    Figura 110 – Produção do estudante B1. ............................................................... 162

    Figura 111 – Produção do estudante A1................................................................. 163

    Figura 112 – Produção do estudante B3 ................................................................ 164

    Figura 113 – Produção do estudante B4................................................................. 165

    Figura 114 – Produção do estudante A2................................................................. 166

    Figura 115 – Produção do estudante A3................................................................. 167

    Figura 116 – Produção do estudante A2................................................................. 169

    Figura 117 – Produção do estudante A2................................................................. 170

  • 14

    LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 – Reportagem do BBC Journal.................................................................. 19

    Quadro 2 – Quadro de classificação dos registros de representações semióticas... 24

    Quadro 3 – Quadro de tipos e funções de representações....................................... 25

    Quadro 4 – Exemplos dos registros utilizados neste trabalho................................... 28

    Quadro 5 – Problema 8.............................................................................................. 39

    Quadro 6 – Problema 15............................................................................................ 46

    Quadro 7 – Ficha 1 – Sondagem dos conhecimentos prévios dos estudantes

    ................................................................................................................................... 69

    Quadro 8 – Ficha 2 - Apontamentos dos dados colhidos na pesquisa de opinião

    ................................................................................................................................... 70

    Quadro 9 – Ficha 3 - Parte 1 – Estimativas de probabilidades

    simples....................................................................................................................... 73

    Quadro 10 – Ficha 3 - Parte 2 – Registros das retiradas, análise das razões e

    verificação da convergência...................................................................................... 74

    Quadro 11 – Ficha 3 - Parte 3 – Familiarização com o software R........................... 76

    Quadro 12 – Ficha 3 - Parte 4 – Atividade com o software R................................... 77

    Quadro 13 – Ficha 4 - Parte 1 – Estimativa da probabilidade da intersecção .......... 79

    Quadro 14 – Ficha 4 - Parte 2 – Registros das retiradas e análise dos dados.......... 81

    Quadro 15 – Ficha 4 - Parte 3 – Apresentando a tabela de dupla entrada............... 83

    Quadro 16 – Ficha 4 - Parte 4 – Atividade com Software R...................................... 83

    Quadro 17 – Formalização da probabilidade ........................................................... 84

    Quadro 18 – Ficha 5 - Parte 1 – Atividade introdutória da probabilidade condicional

    ................................................................................................................................... 85

    Quadro 19 – Ficha 5 - Parte 2 – Atividade da probabilidade condicional com o banco

    de dados ................................................................................................................... 87

    Quadro 20 – Ficha 5 - Parte 3 – Cálculo da probabilidade condicional por meio da

    tabela de dupla entrada ............................................................................................ 88

    Quadro 21 – Ficha 6 - Parte 1 – Apresentando a tabela de dupla entrada

    ................................................................................................................................... 88

    Quadro 22 – Ficha 6 - Parte 2 – Revisitando as intersecções entre as

    possibilidades............................................................................................................ 90

  • 15

    Quadro 23 – Ficha 7 - Parte 1 – Apresentação da representação da árvore

    ................................................................................................................................... 91

    Quadro 24 – Ficha 7 - Parte 2 – Revisitando as intersecções entre as

    possibilidades............................................................................................................ 92

    Quadro 25 – Ficha 7 - Parte 3 – Análise da árvore de possibilidades

    completa.................................................................................................................... 93

    Quadro 26 – Ficha 7 - Parte 4 – Revisitando as probabilidades condicionais e suas

    inversas..................................................................................................................... 94

    Quadro 27 – Ficha 8 – Avaliação das contribuições proporcionadas pelo

    experimento............................................................................................................... 99

  • 16

    LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 – Relações entre as representações semióticas e os elementos

    cognitivos................................................................................................................... 66

    Tabela 2 – Apresentação da distribuição das tarefas do experimento

    ................................................................................................................................... 67

    Tabela 3 – Apresentação da distribuição das tarefas do experimento

    ................................................................................................................................. 100

    Tabela 4 – Dificuldades evidenciadas na obtenção da probabilidade e nas suas

    conversões.............................................................................................................. 106

    Tabela 5 – Frequências absolutas e relativas das respostas dadas ao exercício I -

    Ficha avaliativa ....................................................................................................... 157

    Tabela 6 – Frequências e porcentagens das respostas dadas aos itens a, b, f e g -

    Ficha avaliativa. ...................................................................................................... 163

    Tabela 7 – Frequências e porcentagens das respostas dadas aos itens c, d, e, h e i -

    Ficha avaliativa........................................................................................................ 164

    Tabela 8 – Frequências e porcentagens das respostas dadas aos itens 2, 3, 4, 5 e 6

    - Ficha avaliativa...................................................................................................... 165

    Tabela 9 – Respostas esperadas - Ficha avaliativa

    ................................................................................................................................. 172

  • 17

    SUMÁRIO

    INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 19

    1. REFERENCIAL TEÓRICO E REVISÃO DE LITERATURA................................. 23

    1.1 Registros de Representações Semióticas........................................................... 23

    1.2 Letramento Probabilístico................................................................................... 29

    1.3 Revisão de Literatura ......................................................................................... 31

    1.3.1 As relações entre causa e condicionamento ................................................... 31

    1.3.2 A problemática da definição do evento condicionante .................................... 35

    1.3.3 Falácia da conjunção ....................................................................................... 38

    1.3.4 Falácia da condicional transposta.................................................................... 40

    1.3.5 Utilizando representações para resolver situações condicionais..................... 42

    1.3.6 Recurso computacional na aprendizagem de Probabilidade........................... 48

    2. ORIENTAÇÕES CURRICULARES...................................................................... 50

    3. METODOLOGIA .................................................................................................. 57

    3.1 Design Experiment.............................................................................................. 57

    3.2 Sujeitos ............................................................................................................... 60

    3.3 Material e Ambiente de Trabalho...................................................................... 60

    3.4 Descrição do Experimento de Ensino................................................................ 60

    3.5 Apresentação da análise preliminar do experimento de ensino e previsão de

    organização............................................................................................................... 64

    3.5.1 Concepção do experimento.............................................................................. 64

    3.5.2 Análise preliminar das atividades..................................................................... 68

    3.5.2.1 Primeiro encontro.......................................................................................... 68

    3.5.2.2 Segundo encontro......................................................................................... 70

    3.5.2.3 Terceiro encontro.......................................................................................... 77

    3.5.2.4 Quarto encontro............................................................................................. 84

    3.5.2.5 Quinto encontro............................................................................................. 90

    4. ANÁLISE DOS DADOS...................................................................................... 101

    5. CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 173

    5.1 Síntese das etapas de pesquisa...................................................................... 173

    5.2 Contribuições evidenciadas durante a aplicação do experimento................... 174

    5.3 Relação dos resultados com a revisão de literatura......................................... 176

  • 18

    5.4 Retomando as hipóteses e a questão de pesquisa........................................... 178

    5.5 Perspectivas para novas investigações............................................................. 179

    REFERÊNCIAS....................................................................................................... 181

    ANEXOS.................................................................................................................. 184

  • 19

    INTRODUÇÃO

    Este estudo teve por objetivo investigar a aprendizagem de estudantes sobre

    probabilidade condicional numa abordagem experimental com a exploração de

    registros de representações semióticas, focando principalmente as relações entre as

    representações algébrica, da língua natural, da tabela de dupla entrada e da árvore

    de probabilidades.

    Cada vez mais, no cotidiano, surgem situações que envolvem conceitos

    probabilísticos, como, por exemplo, a análise de risco de doenças, a interpretação

    de resultados de testes de diagnóstico e a tomada de decisão sobre o tratamento a

    ser indicado para cada paciente.

    Na docência, temos observado as dificuldades dos alunos em ler, interpretar

    textos e determinar estratégias de resolução em situações envolvendo o conteúdo

    de Probabilidade e, de forma mais específica, de Probabilidade Condicional. Tal

    constatação representou a motivação para investigarmos o processo de

    aprendizagem desse conteúdo matemático e, no curso de mestrado, foi possível

    buscar, de forma mais efetiva na literatura científica, pesquisas que tratam dessa

    temática.

    A probabilidade condicional é um importante conteúdo de Probabilidade

    devido às aplicações existentes nos aspectos pessoais, profissionais e científicos.

    Em diversos momentos, por exemplo, é comum o contato com notícias que

    envolvam situações condicionais, conforme se observa na reportagem a seguir,

    sobre o falso positivo em exames diagnósticos (Quadro1).

    Quadro 1: Reportagem do BBC Journal de 12/01/2010 Fonte:www.bbc.co.uk/portuguese/ciencia/2010/01/100111_cancerprostata_testes_mv.shtml – em 18/09/2013.

    A literatura acadêmica identifica como problemática, no tocante à

    aprendizagem de probabilidade condicional, o equívoco cometido pelos alunos em

    considerar , evidenciando a não diferenciação entre o evento

    condicionado (o que irá ocorrer) e o evento condicionante (o que já ocorreu). Essa

    Um em oito homens submetidos a testes para câncer da próstata apresentam resultados positivos quando na verdade não estão sofrendo da doença, segundo um estudo europeu publicado na revista científica britânica British Journal of Cancer.

  • 20

    dificuldade foi identificada por pesquisadores, como, por exemplo, Falk (1986),

    Figueiredo (2000), Martignon e Wassner (2002), Diaz e La Fuente (2006), Estrada e

    Díaz (2006) e Borovcnik (2012).

    Estrada e Diaz (2006) realizaram uma investigação sobre o uso de tabelas de

    dupla entrada para a resolução de problemas de probabilidade. Os resultados desse

    estudo indicaram que os sujeitos de pesquisa, futuros professores, apresentaram

    vários problemas quanto à interpretação e à resolução de situações que envolviam

    conceitos probabilísticos. Dentre as dificuldades mais evidenciadas, as autoras

    destacaram a confusão entre um evento e seu complementar, entre uma

    probabilidade condicional e sua inversa, entre as probabilidades da intersecção e

    condicional e entre a probabilidade simples e as probabilidades da intersecção e/ou

    condicional.

    As autoras revelaram que a interpretação das informações contidas em uma

    tabela de dupla entrada é essencial na vida profissional e cotidiana. Elas também

    observaram que uma vantagem do uso desse tipo de representação é a

    possibilidade de sintetizar informações de uma população ou de uma amostra,

    favorecendo a tomada de decisões em situações de incerteza nas mais diversas

    áreas de conhecimento.

    Ainda nesse estudo, as autoras afirmaram que a linguagem cotidiana que

    usamos para propor um problema que envolve probabilidade condicional não possui

    precisão suficiente e, muitas vezes, o seu uso pode acarretar ambiguidades. No

    entanto, indicam que o professor deve diversificar a linguagem usada no ensino,

    para que possa despertar nos estudantes as habilidades de percepção crítica,

    fazendo com que eles, ao se depararem com esses diferentes tipos de informações

    presentes no cotidiano, possam ser capazes de ler, interpretar e lidar com situações

    que envolvam conceitos probabilísticos.

    Ao atuarem dessa forma, os professores estarão em consonância com o

    proposto no Letramento de Gal (2005, 2012), o qual será detalhado no Capítulo 1. A

    pesquisa também sugere aos professores formadores a necessidade de reformar e

    melhorar o ensino de probabilidade, por meio da formação de futuros professores

    Figueiredo (2000), Martignon e Wassner (2002) e Diaz e La Fuente (2006)

    apontaram estratégias para amenizar as dificuldades referentes à determinação de

    probabilidades, tais como o uso de tabelas de dupla entrada e o trabalho com a

    árvore de probabilidades.

  • 21

    As pesquisas de Falk (1986) e Borovcnik (2012) indicaram que o maior índice

    de conflitos ocorreu em conceitos que envolveram a probabilidade da intersecção e

    a probabilidade condicional. Esses pesquisadores revelaram que a adoção de

    procedimentos de cunho experimental e a utilização de estratégias de resolução que

    se utilizaram da árvore de probabilidades favoreceram a compreensão desses

    conceitos. O detalhamento desses trabalhos será apresentado no Capítulo 2 do

    presente trabalho.

    Partindo da problemática identificada, buscamos contemplar essas indicações

    de abordagens e estratégias de resolução em nosso experimento de ensino,

    promovendo um trabalho com o uso de material concreto, explorando diferentes

    representações do objeto matemático e integrando um software, com o intuito de

    fornecer aos estudantes um ambiente favorável para a aprendizagem de conceitos

    probabilísticos, com vistas a avançar no desenvolvimento do Letramento

    Probabilístico dos mesmos.

    Considerando a importância de um trabalho de integração entre

    representações de diversos registros para a aprendizagem matemática, optamos por

    fundamentar o estudo na teoria dos registros de representações semióticas de Duval

    (1995, 2003, 2009, 2011). O estudo tratou principalmente dos registros da língua

    natural materna, figural (com as representações da tabela de dupla entrada e das

    árvores de possibilidades e de probabilidades) e simbólico (com as representações

    algébrica e numérica).

    Além disso, a presente pesquisa se baseou no Letramento Probabilístico

    proposto por Gal (2005, 2012), o qual aponta a importância da formação do

    estudante como cidadão crítico diante dos diferentes tipos de informações presentes

    no cotidiano, tornando-o capaz de ler, interpretar e lidar com uma série de situações

    reais que envolvam interpretação ou geração de mensagens probabilísticas,

    auxiliando-o na tomada de decisões.

    Devido a essas características e considerando que a proposta do Letramento

    Probabilístico se adéqua às indicações dos Parâmetros Curriculares Nacionais

    (BRASIL, 1998, 2002 e 2006), essa pesquisa investigou as possíveis contribuições

    de uma abordagem experimental para a compreensão da probabilidade condicional

    por parte dos sujeitos deste estudo.

    Para a construção e condução do experimento, foi escolhida a metodologia de

    Design Experiment de Cobb et al. (2003), uma vez que esta é flexível, iterativa e

  • 22

    cíclica, permitindo que o desenho inicial seja adaptado durante a execução do

    experimento em função das produções dos sujeitos. Ao longo do trabalho, buscamos

    essa flexibilidade pelo fato de investigarmos as trajetórias dos estudantes na

    construção dos conhecimentos probabilísticos e na adaptação das produções

    propostas.

    Diante da problemática evidenciada, apresentamos a questão de pesquisa do

    presente estudo: Em que aspectos uma abordagem com uso de material concreto

    que prioriza um trabalho de relação entre representações de diversos registros

    influencia o estudante na compreensão do conteúdo de Probabilidade Condicional?

    A hipótese proposta é a de que o experimento elaborado favorece a

    construção do conceito de probabilidade condicional, partindo de uma abordagem

    com material concreto, e que o trabalho com diferentes registros proporciona uma

    compreensão mais efetiva deste conteúdo.

    O presente trabalho está organizado em cinco capítulos, além da presente

    introdução. No Capítulo 1, é apresentado o referencial teórico e a descrição dos

    trabalhos que compuseram a nossa revisão de literatura. O Capítulo 2 contém a

    descrição das orientações curriculares utilizadas e as relações delas com o nosso

    estudo. O Capítulo 3 traz a descrição da metodologia adotada e a relação dela com

    o nosso estudo, além também da primeira versão do experimento e a análise

    preliminar das atividades. O Capítulo 4 é reservado para a descrição da análise da

    aplicação do design e suas remodelações. Por fim, no Capítulo 5, apresentamos as

    conclusões do estudo e as indicações para futuras pesquisas.

  • 23

    1. REFERENCIAL TEÓRICO E REVISÃO DE LITERATURA

    Neste capítulo, apresentamos a descrição da teoria dos registros de

    representações semióticas de Duval (1995, 2003, 2009, 2011) e do Letramento

    Probabilístico de Gal (2005, 2012), os quais fundamentaram o presente estudo.

    Descrevemos, também, os trabalhos pesquisados na literatura acadêmica que

    contribuíram para a elaboração deste estudo.

    1.1 Os Registros de Representações Semióticas

    Segundo Duval (2009), as representações são produções constituídas pelo

    emprego de signos pertencentes a um sistema de representação, os quais têm suas

    dificuldades próprias de significado e funcionamento.

    Essas representações constituem os graus de liberdade de que um sujeito

    pode dispor para objetivar a si próprio uma ideia ainda confusa, um sentimento

    latente, para explorar informações ou simplesmente para poder comunicá-las a um

    interlocutor (DUVAL, 2009, p.37).

    Assim, podemos conceber registro como o sistema semiótico constituído por

    representações que possuem regras próprias e que permitem uma relação ou

    comparação com outras representações. Duval (1995) afirma que, para um sistema

    semiótico ser considerado um registro de representação semiótica, ele deve admitir

    três atividades cognitivas: a formação, o tratamento e a conversão. Essas

    atividades, quando verificadas, determinam a diferenciação entre os sistemas

    semióticos.

    Duval (2003) afirma que as representações semióticas não são somente meios

    de exteriorização de ideias e pensamentos, mas são também essenciais para a

    atividade cognitiva do pensamento. O autor difere a semiósis, capacidade de

    absorção ou produção de uma representação semiótica de um objeto, da noésis,

    apreensão conceitual do objeto representado. Ele afirma que, na aprendizagem

    matemática, semiósis e noésis são inseparáveis, isto é, para que ocorra a

    apreensão de um objeto matemático, é necessário que a formação do conceito

    (noésis) aconteça por meio do emprego de signos que possam gerar

    representações, ou seja, semiósis.

  • 24

    Os registros de representações semióticas são o resultado de uma produção

    pelo emprego de regra de sinais ou de símbolos, que são expressos por meio de

    enunciados em língua natural, fórmula algébrica, figuras e gráficos inerentes ao

    objeto. Proporcionam aos indivíduos a exteriorização de suas representações

    mentais, tornando-as visíveis por meio de uma troca de informações entre os

    participantes desse processo.

    Ainda segundo o autor, o objeto matemático possui conteúdo e forma, sendo o

    conteúdo o objeto pelo qual estamos nos referindo e a forma, o modo pelo qual ele

    está se apresentando. Na Matemática, somente conseguimos acessar os objetos

    por meio de representações, pois os conteúdos matemáticos são abstratos, fato que

    diferencia essa ciência das demais, dado que na Física, na Biologia e em outras

    áreas, é possível tal acesso por outros meios.

    As representações semióticas contribuem de forma muito significativa no

    desenvolvimento das capacidades de raciocínio, de análise e de visualização.

    Ainda, “os registros são sistemas cognitivamente produtores, ou mesmo criadores de

    representações novas, e a produção de novas representações permite descobrir

    novos objetos” (DUVAL, 2011, p. 72).

    Duval (2003) classifica as representações semióticas em quatro grandes

    registros, conforme o quadro a seguir:

    Quadro 2 : Classificação dos Registros de Representações Semióticas.

    Fonte: Duval, 2003, p. 14

    Representação Discursiva Representação Não Discursiva

    Registros Multifuncionais

    Os tratamentos não são algoritmizáveis.

    Língua natural Associações verbais (conceituais). Formas de raciocinar: argumentação a partir de

    observações, de crenças...; dedução válida a partir de

    definição ou de teoremas.

    Figuras geométricas planas ou em perspectivas (configurações em dimensão 0, 1 , 2 ou 3).

    apreensão operatória e não somente perceptiva;

    construção com instrumentos.

    Registros Monofuncionais

    Os tratamentos são principalmente algoritmos.

    Sistemas de escritas numéricas (binária, decimal,

    fracionária ...); algébricas; simbólicas (línguas formais).

    Cálculo

    Gráficos cartesianos mudanças de sistemas de coordenadas;

    interpolação, extrapolação.

  • 25

    Para Duval (2003), a compreensão em Matemática supõe a coordenação de ao

    menos dois registros de representação semiótica, que podem ser a própria língua

    natural e as figuras geométricas e os sistemas de escrita numérica, algébrica,

    simbólica, esquemática e gráfica.

    Os registros monofuncionais possuem características próprias na Matemática,

    pois seu uso é mais evidente nessa área de conhecimento. De forma mais

    específica e restrita, apresentam-se nos gráficos cartesianos e nos sistemas de

    escritas numérica, algébrica e simbólica.

    Os registros multifuncionais são utilizados também em outras áreas do

    conhecimento, cujo uso se concentra nas funções de objetivação e de comunicação.

    É possível identificá-los de forma mais evidente no uso da linguagem natural e nas

    representações das formas geométricas.

    As funções de representações podem ser classificadas em internas ou

    externas e, em relação ao nível de consciência aplicado pelo indivíduo no

    desenvolvimento de uma tarefa, são classificadas em conscientes ou não

    conscientes. Podemos representar essa classificação por meio do Quadro 3.

    Interna Externa

    Consciente Mental

    Função de Objetivação

    Semiótica

    Função de Objetivação

    Função de Expressão

    Função de Tratamento

    Intencional

    Não-consciente Computacional

    Função de tratamento

    automático ou quase

    instantâneo

    Quadro 3 – Tipos e funções de representações Fonte: Duval (2009), p.43

    As representações externas ocorrem por meio da operacionalização de um

    sistema semiótico. Elas possuem características da transmissão de informações

    entre os indivíduos, os quais estabelecem uma comunicação pela produção de

    representações. Dentre as funções que apresentam essas características, existem

  • 26

    as de tratamento e as de objetivação, sendo que estas últimas possuem

    características tanto externas quanto internas.

    A função de tratamento é caracterizada pela transformação de uma

    representação em outra no interior de um mesmo registro. A função de objetivação,

    quando externa, é caracterizada pela exteriorização daquilo que ainda não foi

    realizado e, quando interna, é caracterizada pela conscientização daquilo que ainda

    não foi realizado. As representações internas pertencem ao indivíduo e não são

    passadas pela produção de outras representações.

    Duval (2003) explica que, na resolução de um problema, um registro pode

    aparecer explicitamente privilegiado. No entanto, no ensino de Matemática, sempre

    devemos nos atentar para a possibilidade de utilização de mais de um registro.

    Neste caso, ele define a conversão como a transformação que parte de uma

    representação em um registro em direção a uma representação em outro registro.

    Para que isso ocorra, é necessário explicar as variáveis visuais pertinentes aos

    registros envolvidos. Essas transformações podem ser realizadas entre

    representações dos registros da língua natural, simbólico, figural e gráfico.

    As conversões, na perspectiva de Duval (2003), podem se apresentar de

    duas formas: como conversões congruentes ou como conversões não congruentes.

    Para verificar a congruência de uma conversão, devem ser analisados três critérios:

    a possibilidade de uma correspondência semântica entre os elementos significantes,

    a univocidade semântica e a ordem dentro da organização das unidades de

    composição de cada uma das duas representações.

    A possibilidade de uma correspondência semântica entre os elementos

    significantes é dada a partir da associação de cada unidade do significante da

    representação de partida com cada unidade do significante da representação de

    chegada. A univocidade semântica terminal é dada quando cada unidade

    significante da representação de saída corresponde a uma só unidade significante

    do registro de chegada. A ordem dentro da organização das unidades de

    composição é dada quando cada uma das duas representações apresentam o

    mesmo número de dimensões, ou a mesma arrumação das unidades quando as

    representações são comparadas.

    No presente estudo, foram utilizados os registros de representações

    semióticas da língua natural materna, figural e simbólico. Almejávamos, com o uso

    desses registros de representações, que os sujeitos de nossa pesquisa

  • 27

    construíssem o conhecimento por meio da mobilização e coordenação de diferentes

    registros.

    Para Duval “uma representação semiótica só é interessante à medida que ela

    pode se transformar em outra, e não em função do objeto que ela representa”

    (Duval, 2011, p.52). Dessa forma, a representação semiótica se torna interessante

    para a abordagem de algum conteúdo à medida que podemos utilizá-la para realizar

    uma conversão, o que poderá provocar uma reversão do ponto cognitivo sobre

    essas diferentes representações.

    Destaca-se, como característica fundamental dos encaminhamentos

    matemáticos em um registro de representação semiótica, o poder de criação

    inerente das operações discursivas dadas ou obtidas no contexto de um problema

    proposto, com sua diversidade de graus de explicitação ou de sintetização das

    variáveis presentes nesses registros. Esses graus estão relacionados com a

    congruência das representações.

    No esquema do Quadro 4, podem ser observados alguns exemplos de

    tratamento e de conversão de registros, dentro da perspectiva da probabilidade

    condicional.

  • 28

    Registro Exemplo

    Registro da Língua Natural Materna

    Num grupo de turistas temos dezoito argentinos, sendo oito mulheres e vinte

    e dois brasileiros, com 10 mulheres.

    18 argentinos, sendo 10 homens e 8 mulheres; 22 brasileiros, sendo 10 mulheres e 12 homens.

    Registro Figural

    de tabela de dupla entrada

    Homens 22

    Mulheres 18

    Brasileiros 22

    Argentinos 18

    Argentinos Brasileiros

    Homens 10 12

    Mulheres 8 10

    de árvore de possibilidades

    de árvore de probabilidades

    Registro

    Simbólico

    na forma algébrica

    na forma numérica

    Quadro 4 – Exemplos dos registros utilizados neste trabalho Fonte: Acervo próprio

    Tratamento

    Conversão

    Situação

    B

    A

    H

    M

    H

    M

    P (H I A)

    P (H I B)

    P (A) P (M I A)

    P (B)

    P (M I B)

    P (H ∩ A)

    P (M ∩ A)

    P (H ∩ B)

    P (M ∩ B)

    Situação

    B

    A

    H

    M

    H

    M

    H I A

    H I B

    A M I A

    B

    M I B

    H ∩ A

    M ∩ A

    H ∩ B

    M ∩ B

    Situação

    B

    A

    H

    M

    H

    M

    H I A

    H I B

    A M I A

    B

    M I B

    P (B I H)

    B

    A H

    M

    P (A I H)

    P (M)

    P (B I M)

    P (H)

    P (A I M)

    P (H ∩ A)

    P (M ∩ A)

    P (H ∩ B)

    P (M ∩ B)

    Situação

    BRA

    ARG

    H

    M

    H

    M

    P (H I A)

    P (H I B)

    P (A) P (M I A)

    P (B)

    P (M I B)

    P (H ∩ A)

    P (M ∩ A)

    P (H ∩ B)

    P (M ∩ B)

    A

    B

    Situação

  • 29

    Neste trabalho, ao propormos atividades de conversão entre esses registros de

    representação na exploração dos conteúdos de probabilidade e dos problemas

    condicionais, tivemos a intenção de propiciar um ambiente que permitisse ao

    estudante transitar por diversas formas de representação, visando à construção do

    objeto matemático deste estudo.

    No que tange à Probabilidade, foi proposto aos estudantes que realizassem a

    conversão da língua natural materna para os registros da tabela de dupla entrada ou

    para o registro do diagrama da árvore. Dependendo do problema de probabilidade, o

    custo do tratamento (transformação de uma representação dentro de um mesmo

    registro) pode ser menor dentro de um registro do que em outro.

    Além de utilizar o referencial teórico de Duval dos registros de representações

    semióticas, o experimento de ensino foi desenvolvido na perspectiva do Letramento

    Probabilístico proposto por Gal (2005, 2012), que dispõe sobre os requisitos

    desejáveis para que os estudantes alcancem o nível de letramento em

    Probabilidade.

    1.2 O Letramento Probabilístico

    Vários conceitos probabilísticos têm sido utilizados pela mídia para transmitir

    informações, como, por exemplo, notícias sobre previsões meteorológicas, cálculos

    dos riscos de incidência de doenças, aplicações de mercado, dentre outras.

    Dada a presença desses conceitos na vida cotidiana de nossos estudantes,

    Gal (2012) aponta que se torna necessário o desenvolvimento de certas habilidades

    para torná-los capazes de interpretar corretamente informações probabilísticas

    normalmente encontradas na mídia, no local de trabalho e em contextos de ação

    cívica. Dessa forma, o autor afirma que há a necessidade de se abordar situações

    que possam proporcionar aos estudantes a instrução necessária para acessar,

    utilizar, avaliar criticamente, comunicar e reagir a mensagens probabilísticas

    encontradas em contextos de leitura, compreender textos apresentados em gráficos

    e tabelas de dupla entrada.

    De acordo com Gal (2005), o individuo “letrado” em probabilidade é capaz de

    ler e interpretar informações probabilísticas presentes no seu cotidiano, tendo um

    conjunto mínimo de habilidades básicas formais ou informais (crenças e atitudes na

    perspectiva crítica).

  • 30

    Dessa forma, Gal (2012) define Letramento Probabilístico como:

    A capacidade de acessar, utilizar, interpretar e comunicar informações e

    ideias relacionadas com a probabilidade, a fim de envolver e gerir de forma

    eficaz as demandas de papéis do mundo real e as tarefas que envolvem

    incertezas e riscos. (GAL, 2012, p.4, tradução nossa).

    O autor propõe cinco elementos cognitivos, denominados Abordagem de

    Grandes Tópicos, Cálculos Probabilísticos, Linguagem, Contexto e Perguntas

    Críticas, e três elementos disposicionais, Postura Crítica, Crenças e Atitudes, e

    Sentimentos Pessoais sobre Incerteza e Risco. Segundo Gal (2005), esses

    conjuntos de elementos são necessários para que uma pessoa seja considerada

    letrada em Probabilidade.

    Tendo em vista que o presente estudo tem o interesse específico nos aspectos

    cognitivos, não nos aprofundaremos nos elementos disposicionais. Detalharemos,

    então, apenas os cinco elementos cognitivos propostos por Gal (2005).

    O primeiro elemento cognitivo, denominado Abordagem de Grandes Tópicos,

    envolve temas como variação, aleatoriedade, independência e previsão/incerteza.

    Para Gal (2005), a familiaridade com esses tópicos pode possibilitar aos alunos um

    entendimento da representação, da interpretação e das implicações de afirmações

    probabilísticas.

    O segundo elemento cognitivo, Cálculos Probabilísticos, é representado pelas

    formas de encontrar ou estimar a probabilidade de eventos. Nesse caso, os alunos

    devem se familiarizar com os diferentes caminhos para o cálculo de probabilidade

    dos eventos, para que, desta maneira, possam entender as afirmações

    probabilísticas feitas por outras pessoas, gerar estimativas sobre a possibilidade dos

    eventos e ter condições de se comunicar.

    O terceiro elemento cognitivo, Linguagem, refere-se aos métodos utilizados

    para comunicar resultados probabilísticos. O domínio de probabilidade requer

    familiaridade com vários conceitos complexos, especialmente variabilidade,

    aleatoriedade, independência, previsibilidade e certeza, chance, possibilidade ou

    risco. Entretanto, na maioria das vezes, esses termos abstratos não têm definições

    triviais que possam ser explicadas em linguagem simples ou por meio de referências

    a objetos reais. Por essa razão, os seus significados muitas vezes só podem ser

    entendidos depois de um processo acumulativo.

  • 31

    O quarto elemento cognitivo, Contexto, revela a importância da compreensão

    do papel e dos significados de mensagens probabilísticas em diferentes contextos,

    para desenvolver a capacidade de utilizar a Matemática na interpretação e

    intervenção no mundo real.

    O quinto elemento cognitivo, Perguntas Críticas, tem como propósito possibilitar

    ao estudante refletir e questionar criticamente uma estimativa ou uma declaração

    probabilística. Segundo Gal (2012), os alunos tendem a estimar probabilidades

    utilizando-se de certos métodos, sem necessariamente pensar sobre aleatoriedade,

    variedade, independência ou os riscos que podem surgir ao utilizar caminhos

    diferentes daqueles provenientes de aspectos formais.

    Na próxima seção, serão descritos os estudos presentes na literatura científica

    que colaboraram para a construção deste trabalho.

    1.3 Revisão de Literatura

    Nesta seção, são apresentados os trabalhos que tratam do conteúdo de

    probabilidade condicional e que contribuíram para a construção do presente estudo.

    A opção por analisar tais trabalhos segue as problemáticas inerentes ao estudo de

    probabilidade condicional, evidenciadas por Tversky e Kahneman (1980), Falk

    (1986), Diaz e La Fuente (2006) e Borovcnik (2012). Para isso, o ponto de partida é

    a organização das problemáticas proposta por Falk (1986), que identificou

    problemas relacionados às relações entre causa e condicionamento, à determinação

    do evento condicionante, às falácias da conjunção e da condicional transposta. São

    descritos, também, estudos que recomendam o uso de recursos didáticos e

    tecnológicos para o ensino da probabilidade condicional.

    1.3.1 As relações entre causa e condicionamento

    A maneira como os alunos compreendiam a probabilidade condicional foi

    objeto de investigação da pesquisadora da área de psicologia da Universidade

    Hebraica, Rumma Falk (1986). Em seu estudo, a autora apresentou aos sujeitos a

    seguinte situação-problema:

  • 32

    Uma urna contém duas bolas brancas e duas bolas pretas. Denotaremos o evento “sair bola branca” por (A) e o evento “sair bola preta” por (B). Ao retirarmos aleatoriamente duas bolas, uma após a outra e sem reposição, qual a probabilidade de a segunda bola ser branca dado que a primeira foi branca? Ou seja, P(A2 I A1)? (FALK, 1986, p. 292, tradução nossa).

    Figura 1: A urna de Falk

    Fonte: Acervo próprio

    Falk (1986) constatou que os sujeitos de sua pesquisa consideraram o

    problema de fácil resolução e apresentaram como resposta o valor correto

    .

    Ao propor a probabilidade inversa, P(A1 I A2), Falk (1986) constatou que alguns

    sujeitos consideraram o problema sem sentido, alegando inclusive que não seria

    permitido o condicionamento da probabilidade de um resultado de um evento que

    ocorre depois. Entre os sujeitos que apresentaram uma resolução, a maioria

    respondeu

    , enquanto o correto seria

    .

    Em relação às respostas dadas pelos sujeitos de sua pesquisa, a autora

    observou a recusa deles em aceitar evidências como a ocorrência posterior de um

    evento, a formação de julgamentos probabilísticos equivocados e a falta de reflexão

    em relação a situações que envolvem causalidade.

    Enquanto o resultado do segundo sorteio depende causalmente do que

    resulta o primeiro, o inverso não é verdadeiro. Ainda assim, temos o impacto

    informacional que a condicionalidade de A2 em A1 é a mesma que de A1 em A2.

    Segundo Falk (1986), psicologicamente esses dois problemas não são

    percebidos como simétricos e o centro do problema está na forma como este é

    direcionado ao nosso estado do conhecimento. A partir do momento em que

    soubermos que a segunda retirada resultou em uma bola branca, teremos avançado

    além do estágio inicial, ou seja, perceberemos que, neste caso,

    P(A2 I A1) = P(A1 I A2)=

    .

    Ao analisar esses resultados, a pesquisadora concluiu que os sujeitos do

    estudo basearam sua resposta apenas na composição da urna, desde o início da

    experiência, não considerando a informação sobre o resultado posterior. Os sujeitos

    da pesquisa argumentaram que, antes da primeira retirada, o segundo sorteio ainda

  • 33

    não havia sido realizado, e o resultado da primeira bola não sofreria interferência se

    o resultado da segunda fosse branca ou preta.

    Falk (1986) classifica a dificuldade de considerar a evidência após a

    ocorrência do evento, ou seja, de assumir que o evento condicionado deve preceder

    o evento condicional temporariamente, como falácia do eixo temporal.

    Como sugestão para amenizar essa dificuldade, a autora indicou a

    apresentação aos alunos de alguns exemplos de situações cotidianas ou de

    situações recentemente resolvidas a partir da informação utilizada, para modificar as

    avaliações anteriores da probabilidade de eventos incertos.

    Borovcnik (2012) utilizou em seu estudo o mesmo problema proposto por Falk

    (1986), evidenciando que seus sujeitos, assim como os de Falk, revelaram que a

    probabilidade de sair uma bola branca na segunda retirada era

    , considerando,

    assim, somente a composição inicial da urna. Os sujeitos não observaram que a

    probabilidade seria de

    , uma vez que haveria a possibilidade de se extrair somente

    mais uma bola branca dentre as três restantes na urna. Diante disso, a partir da

    produção dos sujeitos, Borovcnik (2012) concluiu que as causas precedem os

    efeitos.

    Para a obtenção da condicional inversa, Borovcnik (2012) afirmou que a

    diversidade de estratégias pessoais é de conhecimento geral, especialmente para a

    percepção de uma interferência causal. Dessa forma, considerando que no primeiro

    sorteio havia duas bolas brancas e duas bolas pretas, a probabilidade de obter a

    primeira bola branca, sabendo que a segunda era branca, era dada pelos sujeitos

    como

    , ou seja, eles acreditavam que essa probabilidade não se alterava na

    realização de eventos posteriores. Para os sujeitos, a probabilidade posterior não

    poderia influenciar a probabilidade do evento anterior, ao contrário do que ocorre

    com a condicional inversa.

    Para Borovcnik (2012), este pensamento é característico de um paradigma

    causal, ou seja, para os sujeitos, primeiro ocorre a causa e a consequência ocorre

    posteriormente. Além disso, essas variações da urna no problema de Falk (1986)

    indicam que parece haver certa divisão em dois níveis entre essas duas ideias. Para

    o autor, o nível mais alto atua por meio das razões lógicas, isto é, dos esquemas

    causais, e outro mais baixo, atua por meio do raciocínio probabilístico.

  • 34

    Diaz e La Fuente (2006), ao utilizarem a mesma situação-problema,

    observaram que os sujeitos apresentaram o mesmo tipo de dificuldade. Elas

    consideraram que, na primeira situação, a primeira inferência causal é natural e

    compatível com o eixo do tempo. Já a segunda "inferência para trás" parece criar

    uma dificuldade para o raciocíonio probabilístico, uma vez que é indiferente à ordem

    temporal.

    Em relação a mesma problemática, Tversky e Kahneman (1980) investigaram

    os julgamentos da probabilidade condicional de um evento X, dado em

    relação a D. Ao realizar uma análise, os autores relataram que é possível distinguir

    diferentes tipos de relações entre o juízo concebido entre D e X. Se D é percebido

    como causa de X, então D é uma referência causal. Por outro lado, se X é tratado

    como uma possível causa de D, D é tratado como um dado diagnóstico. Em um

    tratamento da probabilidade condicional, uma distinção entre os vários tipos de

    relação de D para X é imaterial e o impacto dos dados depende unicamente de sua

    informatividade.

    Tversky e Kahneman (1980) mostraram, em estudo que tratou da mesma

    problemática, que o impacto psicológico dos dados depende criticamente do papel

    deles sobre um esquema causal. Devido à prevalência de esquemas causais em

    nossa percepção do mundo, os dados causais têm maior impacto na nossa

    inferência probabilística do que outros dados de igual informatividade.

    Esses autores propuseram um problema no qual foi solicitado aos sujeitos

    que comparassem duas probabilidades condicionais, e para um

    par de eventos positivamente correlacionados X e Y, de tal modo que X era

    naturalmente visto como uma causa de Y, com = (tal como no

    exemplo anterior das duas retiradas). Foi observado nesse estudo que a maior parte

    dos sujeitos julgou uma relação causal mais forte do que a inversa (de diagnóstico),

    relacionando erroneamente que > .

    Esses autores contextualizaram essa situação com o seguinte exemplo:

    Considerando que as proporções de olhos azuis nas duas gerações de uma família são iguais, qual a probabilidade de uma menina ter olhos azuis sabendo que sua mãe tem olhos azuis? (TVERSKY E KAHNEMAM, 1980, p.118, tradução nossa).

    Diante dessa situação, a maior parte dos sujeitos da pesquisa considerou que

    a probabilidade de uma menina ter olhos azuis se a mãe tem olhos azuis, era maior

    que a probabilidade de a mãe ter olhos azuis se sua filha tem olhos azuis, embora

  • 35

    tenham sido consideradas as proporções de indivíduos de olhos azuis nas duas

    gerações como iguais.

    Essas situações trazem à luz conhecimentos psicológicos e didáticos

    envolvidos nesses casos das condicionais, porém, consideramos que o exemplo de

    Falk (1986) das duas retiradas (em que os dois eventos são negativamente

    correlacionados) fornece um caso de maior impacto na análise de desempenho das

    provas causais em relação às provas de diagnóstico, devido à total negação, por

    parte dos sujeitos da pesquisa, da relevância deste último tipo de prova.

    1.3.2. A problemática da determinação do evento condicionante

    A problemática da determinação do evento condicionante consiste na

    dificuldade de determinar que a probabilidade do evento em questão deve ser

    condicionada ao evento imediato, dado como ponto de referência no problema, e

    não em algum evento inferido. Essa problemática também foi destacada por

    diversos autores, tais como Gardner (1959), Freund (1965), Mosteller (1965), Falk

    (1978), Betteley (1979), Bar-Hillel e Falk (1982) e Falk (1986).

    Falk (1986) evidenciou essa problemática ao propor a seguinte situação,

    conhecida como o problema das três cartas.

    Três cartas estão em um chapéu. Uma carta é azul em ambos os lados, outra é verde em ambos os lados, e a outra é azul de um lado e verde do outro. Retiramos uma carta ao acaso de dentro do chapéu e colocamos em cima da mesa. O lado visível da carta retirada é azul. Qual é a probabilidade de que o lado oculto também seja azul? (FALK, 1986, p. 293, tradução nossa).

    Analisando o espaço amostral, verificam-se os seis resultados do

    experimento, ou seja, as seis faces das três cartas, as quais têm a mesma

    probabilidade de representar a face superior sobre a mesa, como garantido pelo

    procedimento experimental.

    Segundo Falk (1986), a maioria dos sujeitos de sua pesquisa forneceu

    espontaneamente a resposta

    , enquanto o correto seria

    . Eles condicionaram o

    cálculo desse evento ao fato de a carta com as duas faces verdes estar fora da

    análise e acabaram considerando que a probabilidade de sair face azul seria dada

    por um caso dentre as duas que tinham faces azuis. A autora revelou que, embora

    os sujeitos estivessem certos ao considerarem que a dupla carta verde não poderia

  • 36

    ser a carta que estava sobre a mesa e que não seria o caso condicionar a

    probabilidade do evento em questão, esse acontecimento condicionado não foi

    definido no espaço amostral, ou seja, não foi relacionado entre os possíveis

    resultados desse experimento.

    A resolução desse problema é apresentada a seguir.

    Frente Verso

    ou

    Figura 2 – Resolução do problema das três cartas de Falk Fonte: Acervo próprio

    Ao analisar as dificuldades dos sujeitos, Falk (1986) observou que os sujeitos

    não identificaram que a situação consistia em uma série de experiências sucessivas.

    A este respeito, a autora afirmou que existem dois tipos de situações relacionadas à

    probabilidade condicional, as situações sincrônicas e as situações diacrônicas.

    As situações sincrônicas são situações estáticas, isto é, são realizadas

    simultaneamente e, nesse caso, as probabilidades se mantêm. Nas situações

    diacrônicas, ou seja, situações nas quais uma experiência é efetuada após a outra,

    as probabilidades se alteram.

    O problema a seguir, que se trata de uma situação diacrônica, proposto por

    Tversky e Kahneman (1980), indica a extração das probabilidades condicionais, por

    meio da análise do resultado de um exame diagnóstico, amniocentese, para verificar

    as possibilidades dos sexos dos fetos, em caso de gêmeos.

    Situação

    3/6

    3/6

    1/3

    2/3

    1/3

    2/3

    A1

    A1

    V1

    A2

    V2

    V1

    A2

    A1

    V1

    A1

    V1

    V2

  • 37

    Uma mulher está grávida de gêmeos. Ao considerarmos as três combinações possíveis de gêmeos - dois meninos (XY e XY), duas meninas (XX e XX), um menino e uma menina (XY e XX) – estes resultados são conhecidos por serem equiprováveis. Um teste cromossômico é realizado em células aleatórias da bolsa amniótica e os resultados mostram que é um menino. Qual é a probabilidade de que a mulher esteja esperando dois meninos? (TVERSKY E KAHNEMAM, 1980, p.118, tradução nossa).

    Figura 3 – Possibilidades de gêmeos Fonte: Adaptado de HowStuffWorks, 2005

    Da mesma forma do problema das cartas, citado anteriormente, sabemos

    que, embora seja verdade que a possibilidade de duas meninas está descartada

    pelo resultado do teste, as outras duas possibilidades não são igualmente prováveis.

    Se a mulher está grávida de dois meninos, o resultado do teste é duas vezes mais

    provável do que no caso em que ela está esperando um menino e uma menina.

    Portanto, a probabilidade de serem dois meninos, sabendo que o teste demonstrou

    como resultado “menino”, é de

    .

    O foco principal das duas versões, das cartas no chapéu e do exame para

    identificar o sexo dos fetos, é a probabilidade de o evento alvo ser condicionado ao

    evento imediato, dado como ponto de referência no problema e não em algum

    evento inferido. O evento condicionado não deve coincidir com a conclusão válida "o

    cartão com as duas faces verdes está fora" ou "duas meninas estão fora". Ele deve

    ser definido diretamente pelo procedimento experimental do problema, ou seja, "um

    lado selecionado aleatoriamente de um cartão é azul" ou “um feto selecionado

    aleatoriamente a partir de uma gravidez de gêmeos é um menino”.

    Para analisar a importância do raciocínio condicional, Borovcnik (2012),

    investigou o conceito de probabilidade com o uso de ideias convergentes e de

    estratégias de resolução. Para isso, recorreu à exploração de contextos médicos,

    além de situações condicionais existentes na literatura acadêmica. O autor utilizou o

    problema acima, que possui resolução análoga ao problema das cartas no chapéu,

    citado anteriormente.

  • 38

    Ainda com relação ao uso de contextos médicos para a exploração de

    probabilidades, o autor destaca que além da equiparação dos resultados das

    condicionais, ainda temos o problema da interpretação entre causa e efeito.

    Nesse sentido, Borovcnik (2012) afirma que o cálculo de probabilidades

    condicionais corresponde às intuições das pessoas, unindo tanto estratégias não

    probabilísticas como probabilísticas em problemas bayesianos. Para o autor, as

    estratégias de ensino devem explorar essas condicionais sem envolver tempo e

    causa, apresentando-as como um conceito amplo para integrar qualquer tipo de

    tomada de decisão para avaliar uma probabilidade.

    Segundo Falk (1986), o método pelo qual obtemos os dados é crucial na

    determinação de um novo evento condicionado, ou seja, o importante não é apenas

    determinarmos o que sabemos, mas também determinarmos como conhecemos.

    Para Falk (1986), os exemplos das cartas no chapéu e da possibilidade de

    gêmeos do mesmo sexo destacam o papel vital do conceito básico explorado a partir

    de experimentos probabilísticos, ou seja, os resultados desses experimentos

    auxiliam a definir o novo espaço amostral do experimento. Assim, para a autora,

    uma forma de promover o ganho de conhecimentos referentes a tais problemas

    consiste na utilização de um dispositivo de modelos experimentais, a fim de explicar

    o procedimento exato que gerou os dados para descobrir pressupostos ocultos.

    1.3.3. Falácia da conjunção

    A falácia da conjunção foi evidenciada por Tversky e Kahneman (1980) como

    a crença de que é mais provável a intersecção de dois acontecimentos do que a

    probabilidade de qualquer um dos acontecimentos que constituem essa situação, ou

    seja, a probabilidade da intersecção é considerada maior do que a probabilidade

    isolada de cada evento, P(AB) > P(A) e P(AB) > P(B).

    Nesse mesmo sentido, Tversky e Kahneman (1980), Falk (1986), Einhorn e

    Hogarth (1986), Pollatsek, Well, Konold e Hardiman (1987), Ojeda (1995) e Diaz e

    La Fuente (2006) afirmam que a confusão entre as probabilidades condicional e da

    intersecção está relacionada com essa falácia.

    Pollatsek, Well, Konold e Hardiman (1987) reforçaram as afirmações de Falk

    (1986). Nesse estudo, os autores evidenciaram que muitos dos problemas que os

    sujeitos apresentaram na compreensão da probabilidade condicional foram

  • 39

    decorrentes de dificuldades de compreensão dos enunciados das tarefas. Nesse

    estudo, os pesquisadores verificaram que os alunos confundiam os significados das

    probabilidades condicionais e da intersecção, isto é, P(A | B) com P(A ∩ B),

    confusão que se tornou particularmente evidente quando da interpretação de

    enunciados de problemas que implicavam a identificação destas probabilidades.

    Einhorn e Hogarth (1986) propuseram um problema a vinte e quatro alunos,

    com frases que utilizavam a conjunção "e". Por exemplo, foi proposta a seguinte

    questão: "Qual é a probabilidade de eles irem ao supermercado e comprarem

    café?". Os autores concluíram que 9 dos 24 alunos interpretaram essa questão

    como uma situação condicional, entendendo-a como P(comprar café │ ir ao

    supermercado). Os autores observaram que esses tipos de frases podem levar os

    sujeitos a confundir a probabilidade da intersecção com a probabilidade condicional.

    Ojeda (1995) realizou uma pesquisa que consistiu em questões que

    envolviam a intersecção de eventos e eventos condicionais. Os sujeitos desse

    estudo consideraram que as questões sobre a probabilidade da intersecção são

    mais complexas que as de probabilidade condicional. Além disso, o autor apontou

    como resultado que mais da metade dos sujeitos de seu estudo interpretou a

    interseção como condicional. Ao final da pesquisa, o autor concluiu que essa

    confusão está ligada a dificuldades de interpretação, compreensão e execução de

    tarefas que envolvem situações condicionais.

    Tversky e Kahneman (1983) propuseram aos estudantes de um curso de

    formação em Estatística a situação apresentada a seguir, que também foi utilizada

    posteriormente por Diaz e La Fuente (2006).

    Quadro 5 – Problema 8 Fonte: Assessing Psychology Students Difficulties with conditional probability and Bayesian reasoning - Diaz e La Fuente, 2006 – p. 7

    Foi realizada uma pesquisa em um grupo de homens de uma população e como resultado dessa pesquisa, obtivemos os seguintes resultados:

    Menos de 55 anos Mais de 55 anos Total

    Sofreu ataque cardíaco 29 75 104

    Não sofreu ataque cardíaco 401 275 676

    Total 430 350 780

    Ao escolhermos ao acaso um desses homens: a) Qual o percentual de homens que tem mais de 55 anos que sofreu um ou mais ataques

    cardíacos?

    b) Qual o percentual de homens apresentou um ou mais ataques cardíacos?

  • 40

    Tversky e Kahneman (1983) relataram que a maior parte dos sujeitos indicou

    que (a) é mais provável que (b), o que viola a regra da intersecção. Além disso, eles

    relataram taxas similares de violações em várias variações dessa questão, inclusive

    injetando mais alternativas e usando um personagem fictício diferente. Os autores

    afirmaram que essa dificuldade, a falácia da conjunção, está associada ao fato de

    considerar um dos resultados do conjunto como o mais representativo da população,

    gerando, dessa forma, cada evento separadamente, bem como o fato de que ao

    pensar na intersecção, os sujeitos pensam ou imaginam uma categoria ou modelo

    mais restrito.

    Tanto Tversky e Kahneman (1980) quanto Diaz e La Fuente (2006)

    constataram que seus sujeitos deram uma porcentagem mais elevada para a

    primeira pergunta do que para a segunda.

    1.3.4. Falácia da condicional transposta

    Falk (1986) defende que o problema da condicional está associado ao fato de

    que muitos alunos não diferenciam adequadamente os dois sentidos da

    probabilidade condicional | e | . Esse erro foi denominado por esse

    autor como falácia da condicional transposta.

    Segundo Diaz e La Fuente (2006), fatores que geram dúvida na maioria dos

    alunos estão relacionados às situações sincrônicas (simultâneas) e as diacrônicas

    (sequenciais). As sincr�