unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA · artistas do circo e da comunidade do entorno da lona. Com...

59
unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO” Campus de Rosana - SP RENATO NICOLIN C C I I R R C C O O S S P P A A C C I I A A L L : : E E S S P P E E T T Á Á C C U U L L O O S S C C I I R R C C E E N N S S E E S S O O P P O O R R T T U U N N O O S S A A O O L L A A Z Z E E R R E E A A P P O O T T E E N N C C I I A A L L I I D D A A D D E E P P A A R R A A O O T T U U R R I I S S M MO O . . ROSANA SÃO PAULO. 2012

Transcript of unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA · artistas do circo e da comunidade do entorno da lona. Com...

unesp UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA

“JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

Campus de Rosana - SP

RENATO NICOLIN

CCCIIIRRRCCCOOO SSSPPPAAACCCIIIAAALLL::: EEESSSPPPEEETTTÁÁÁCCCUUULLLOOOSSS CCCIIIRRRCCCEEENNNSSSEEESSS

OOOPPPOOORRRTTTUUUNNNOOOSSS AAAOOO LLLAAAZZZEEERRR EEE AAA PPPOOOTTTEEENNNCCCIIIAAALLLIIIDDDAAADDDEEE

PPPAAARRRAAA OOO TTTUUURRRIIISSSMMMOOO...

ROSANA – SÃO PAULO.

2012

RENATO NICOLIN

CCCIIIRRRCCCOOO SSSPPPAAACCCIIIAAALLL::: EEESSSPPPEEETTTÁÁÁCCCUUULLLOOOSSS CCCIIIRRRCCCEEENNNSSSEEESSS

OOOPPPOOORRRTTTUUUNNNOOOSSS AAAOOO LLLAAAZZZEEERRR EEE AAA PPPOOOTTTEEENNNCCCIIIAAALLLIIIDDDAAADDDEEE

PPPAAARRRAAA OOO TTTUUURRRIIISSSMMMOOO...

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso

de Turismo – Unesp/Rosana, como requisito parcial

para obtenção do título de Bacharel em Turismo.

Orientador: Prof. Dra. Renata Maria Ribeiro

ROSANA– SÃO PAULO.

2012

“Dedico este, ao meu rei e a minha rainha...

Meus queridos e amamos pais; João e Neuza!”

AGRADECIMENTOS

Um novo começo; diversos universos, várias horas e muitos minutos! Será que é assim,

que resumi o tal mundo da universidade?! Ou seria melhor... Muitas cores, amores e esplendores;

alegrias, fantasias e diversão?! Ou se não... A mais bela fase da vida, daqueles que um dia poderá

alcançar o seu sonho... Enfim, poderia ser tudo isso e mais um amontoado de palavras, para

descrever este belo momento da vida!

Mas, falando em momentos... Começarei pela primeiro que vivi neste tal universo! Muito

obrigado Champ’s (Campo Mourão - PR) por todas as histórias que pude viver nessa terra linda.

Agradeço por sua cultura e por sua arte, pelo pôr do sol e por seus incríveis vales. Agradeço

também as belas pessoas que pude conhecer por lá. A elas, o meu muito obrigado, pelas músicas

na praça, pelos fins de semana no Salto do Boicotó, pelo rock’n roll, pelos bingos no Bar da D.

Alice, pelas diversas tardes no maravilhoso Parque do Lago, pelos risos lisérgicos em noites

coloridas... E por aí vai. São milhares os agradecimentos e os momentos vivenciados com esse

povo de bem! Mas em especial... Agradeço ao Ronnye, por me mostrar que longe de casa, pode-

se fazer uma nova família; obrigado meu irmão! A Letícia (Lesada) por me ensinar que o amor

está nas simples coisas da vida. A Lara Bonini, pela sua forma de compreender e entender o

mundo e as culturas alheia; muito obrigado roxinha! Ao Sushi (Ronaldo), o meu brotherzinho,

queria dizer que com ele Champ’s ficou ainda mais perfeita... Muito obrigado por me mostra que

com sabedoria e força de vontade, conquistamos tudo e a todos na vida. E a Paulinha’Paulete,

agradeço por sua calmaria e paz. Pois agora, agradecerei aos cianortenses que conheci nessa terra

e que me mostraram a perfeição do que venha ser a palavra amizade...

Alô, alô, Mariana... Aquele abraço, e a sua torcida do Flamengo, também mandarei aquele

abraço, pois com você pude ver que não precisa ser só mês de fevereiro ter aquele traçado, e que

o samba é pra vida toda. Agradeço a Steh, por compartilhar comigo o seu tal belo mundo de cores

e de Almodóvar, e por me ensinar que rir e gargalhar, são os melhores remédios da vida;

momentos mágicos.

Pois bem! E agora, o que dizer da nova era, da nova Terra e da maravilhosa natureza da

bela Primavera? Acho eu, que poderia começar assim: são passarinhos coloridos, macacos

brincando e borboletas voando. Rios, riachos, lagoas e atoleiros, que por fim, refresca o seu povo

o ano inteiro. Terra de encontro das águas, onde o sagrado e o profano, o amor e o tédio, a

diversão e a fadiga, oscilam feitas suas águas cristalinas. Mas além dessas intensidades, a vida

nessa terrinha é como se fosse uma pintura de aquarelas... Um cenário esplendoroso. Onde o céu

azul brilha mais que os verdes dos bambus. Onde o sol judia, mas ao mesmo tempo traz alegrias.

Contudo, passaria várias horas descrevendo essa cidadezinha fenomenal... Mas agora, é hora de

agradecer as maravilhosas pessoas que me proporcionaram mil e uns momentos de sabedorias,

descontrações e emoções.

Então, vamos lá... Agradeço a Nathália Pascoalique, pela excelente recepção. Ao Aslan,

por me mostrar que na vida, cantar e ser feliz são palavras-chave para o sucesso. A Samira, por

ensinar que amor de mãe é hereditário, pois seu coração é do tamanho do universo. Agradeço a

Deh pelos diversos papos maravilhosos, onde pude sugar um pouquinho de sua sabedoria e

espontaneidade. A Annie, o meu muito obrigado por me mostrar que por mais que as ideias não

possam corresponder aos fatos, o dia nascerá feliz; valeu caju. Agredeço ao Marcelo (Sukitão)

por mostrar que atrás deste homem forte, existe um homem mais bonito ainda. A Sumaya

agradeço, pelo seu companheirismo e doçura. A Mari (Mari’Anta) agradeço por ter tido você ao

meu lado, e poder perceber que a inteligência de um ser, está em sua humildade. A Didi, muito

obrigado pela criatividade e pela arte. A Ana Laura, por me mostrar que na vida há muitas cores

do que parece. Cris, muito obrigado por embelezar os meus dias. Ao Roberto, vulgo Sininho,

agradeço por ter me revelado que a vida é um palco de teatro, onde tudo acontece ao vivo e a

cores, e que o sorrir, é a melhor performance. A Maria Louca vulga Luana, muito obrigado, hoje

e sempre, por voar comigo. A Ypioca (Laís) agradeço pelas boas e fantásticas conversas

banhadas a gargalhadas. A Vetenha, Rita baiana, muito obrigado pelos bons momentos e pelas

deliciosas comidas. Ao Cocão (Lucas), pelas suas mentiras verdadeiras, e por mostrar que meter

o louco, é coisa específica de um bom artista. Ao 3D, muito obrigado por me ensinar que a vida

pode ser feita de silêncio. A Araguaya (Camila), por me mostrar que meninas podem ser

mulheres, assim como você! A Amara, que amarei mesmo que o amarou partirá, agradeço por me

mostrar que caras e bocas também pode. Agradeço também a Ju (Foca), pois “quando cheguei

tudo, tudo, tudo estava virado, apenas viro e me viro, mais eu mesmo virei os olhinhos”... E

percebi com você, que dar tempo ao tempo, é a melhor forma de conhecermos as pessoas. Ao

Bac (Alisson) pelos bons e singelos acordes de bossa no seu violão.

E agora em especial... Agradeço a Mari... Por sua leveza, honestidade e pureza, por sua

alegria, descontração e emoção, e por todas as belas qualidades que você tem; muito obrigado por

ser como uma mãe para mim (amo você). Ao Tiozão, Korea, Thiago pescador, muito obrigado

por me ensinar que respeitar o próximo, independente de seus hábitos e costumes, é a melhor

forma de viver em paz e em sociedade, obrigado também, por me mostrar que com paciência e

cautela, sempre conquistaremos tudo. Mas que também, tudo e todos, têm o seu tempo.

Agradeço, ao Kazu (Hélio) por me mostrar a doçura de um amor, a alegria de uma paixão e o

sorriso de emoção, e também por aturar todas minhas maluquices. E para a princesa mais bela, e

o ursinho mais lindo do mundo, os cachorros: Sassá e Trambique... Agradeço pela felicidade de

todos os dias. Assim como aos meus queridíssimos amigos de Cianorte: Amanda Massucato,

Rodrigo Gaspar, Fernanda da Silva, Tharles Faé e Gabriela Gomes por sempre estarem ao meu

lado, independente de minhas idas e vindas e das voltas e reviravoltas de minha vida; muito

obrigado!

Ainda em especial, agradeço a Prof. Dra. Renata Maria Ribeiro, que com sua clareza,

confiança, inteligência e obstinação, decidiu navegar comigo no mesmo barco. Sempre me

guiando e mostrando os caminhos certos a ser percorridos. E que independente de grandes

correntezas e vendavais, somos capazes de desenvolver um bom trabalho. Muito obrigado, minha

conterrânea.

E se utilizando das palavras de (SUMAYA, 2012) “Agradeço aos que, por algum lapso,

não foram citados, mas que, se entendem e conhecem quem sou, sabem também que o sentimento

que tenho é maior que a minha memória ao escrever esses agradecimentos.”

“Vai, vai, vai começar a brincadeira

Tem charanga tocando a noite inteira

Vem, vem, vem ver o circo de verdade

Tem, tem, tem picadeiro e qualidade

Corre, corre, minha gente que é preciso ser esperto

Quem quiser que vá na frente, vê melhor quem vê de perto[...]”

(SIDNEY MILHER; NARA LEÃO, 1976).

RESUMO

A presente pesquisa tem como objetivo, compreender brevemente a história do circo nas terras

brasileiras e suas transformações, desde o início do século XIX ao XXI, focando em sua recente

forma de estruturação e organização, o circo-empresa; assim como caracterizar o lazer e a sua

relação com o circo através da comunidade de entorno e as potencialidades que o circo e seus

espetáculos oportunizam para o turismo na cidade de São Paulo-SP. São visíveis os interesses

artísticos, culturais e de lazer compostos no turismo, que oportunizam novos cenários e atrativos,

fomentando outras formas de vivências e experiências aos indivíduos que vão à busca destas

práticas. O circo, por sua vez, se remonta na atualidade com uma amplitude de potencialidades

para este segmento, pois, deixa o aspecto tradicional de circo família para moldar-se nos

parâmetros de uma empresa, promovendo e oferecendo produtos ao lazer e ao turismo. Inclusive,

o circo oportuniza para a cidade em que se instala, momentos de magias e diversão, atraindo

públicos que vão a busca do fantástico show da vida, difundindo os meios culturais e artísticos,

mantendo viva a ludicidade do lazer popular. Os objetivos deste estudo foram alcançados por

meio de levantamentos bibliográficos e por fontes de entrevistas orais com participação dos

artistas do circo e da comunidade do entorno da lona. Com isso, detectaram-se no decorrer da

pesquisa, potencialidades consideráveis para que possa se fazer este viés, onde o circo é tido

como um potencial para a atividade do turismo.

Palavras – chave: Circo. Lazer. Turismo. Oportunidades. Potencialidades.

ABSTRACT

The following research has as main objective, comprehend long before the history of the circus at

Brazilian lands and its transformation, since the beginning of the 19th century to 21th, focusing

its recent way of structuring and organizing, the circus-company; thereby, how to characterize the

leisure and its relation with the circus through the community around and the potentiality that the

circus and its shows gives opportunity to the tourism in São Paulo-SP city. It is visible the

interests artistical, cultural and the leisure composts on tourism, which gives opportunities to new

sceneries and attractions, fostering another forms of living experiences and experiments to the

individuals that goes on search of these practices. The circus, on the other hand, goes back in the

news with huge potentialities for this segment, because, it keeps the traditional aspects of family

circus to mold itself on the parameters of a company, promoting and offering products for the

leisure and the tourism. Indeed, the circus gives opportunities for cities, in which they install,

magic moments and fun, attracting publics that are looking for the fantastic life show, spreading

the cultural and artistic means, keeping alive the joyfulness of the popular leisure. The objectives

of this study were reached by resources such as oral interview with the participation of the circus

artists and the community around the canvas. This way, it was detected during the researches,

potentialities that turn possible the union, of the circus being considered a potential activity for

the tourism.

Keywords: Circus, Leisure, Tourism, Opportunities, Potentialities.

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 Marlene Querubim (Proprietária do circo) /Fonte: CASAES, 2012 . ............................. 5 Figura 2 Roger Querubim (artista de circo) /Fonte: CASAES, 2012. ........................................... 5 Figura 3 Vista lateral do Circo Spacial na Represa Guarapiranga/Fonte: NICOLIN, 2012. ...... 11

Figura 4 Técnicas corporais sobre tecidos/Fonte: NICOLIN, 2012. ........................................... 14 Figura 5 Destrezas corporais em mastro/Fonte: NICOLIN, 2012. .............................................. 15 Figura 6 Localização do circo Spacial, no mês de julho/Fonte: Google Earth. .......................... 19

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

OMT – Organização Mundial do Turismo

AMFORT – Associação Mundial para Formação Profissional Turística.

ECA-USP – Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo.

MTUR- Ministério do Turismo.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 1

2 METODOLOGIA ................................................................................................................... 4

3 HISTÓRIA DE CIRCO NAS TERRAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XIX AO XXI ... 7

3.1 Um circo do futuro: a história do Circo Spacial .............................................................. 10

3.1.1 Sob a lona mágica do circo: o espetáculo do corpo ................................................ 13

4 LAZER NO PICADEIRO: CONCEITUANDO A PRÁTICA ......................................... 17

4.1 Lazer e diversão: o circo no parque urbano ..................................................................... 18

4.1.1 O resgate do lazer popular por meio da nostalgia ................................................... 22

5 TURISMO E CULTURA: A BUSCA PELO LAZER E ARTE ...................................... 26

5.1 Circo-empresa: arte, lazer e turismo. ............................................................................... 29

5.1.1 Circo Spacial: uma potencialidade para o turismo na cidade de São Paulo .......... 32

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 36

REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 39

1

1 INTRODUÇÃO

Buscando por compreender o universo do circo, desde seu surgimento, é considerável que

o mesmo seja ambiente propício para se praticar o lazer popular, assim como, responsável por

difundir a cultura nas terras brasileiras e por atrair expectadores em seu picadeiro, por isso,

percebeu a importância de abordar tal manifestação artística; uma vez que o circo, nos dias atuais,

se organiza através de uma nova estruturação, deixando o aspecto de circo família para se

mercantilizar, se estruturando como circo-empresa itinerante, que se dispõe, contratando mão de

obra terceirizada, tanto para seus espetáculos quanto para os demais serviços. Isso faz com que o

circo, detenha de potencialidades para o turismo, oportunizando que se faça um viés com a

atividade, que ao contextualizar as questões artísticas culturais e de lazer popular da sociedade,

poderá se inserir, passando a ser uma oferta turística itinerante, podendo se deslocar, oferecendo e

promovendo seu principal produto, o espetáculo.

A expansão dos setores industriais e as reformas nos meios de produção e de trabalho

instigaram o individuo moderno a buscar por um maior tempo, sendo este, livre de afazeres

voltados as relações profissionais, e sim, para seu repouso. Isto fez com que o mesmo, procurasse

por novas práticas e meios de se entreter, de se divertir, vivenciando outras experiências, a fim de

sanar seus anseios, propósitos e desejos, aliás, ANDRADE (2001, p. 109) confirma, “o trabalho e

as apreensões desgastam muito as pessoas e lhes causam diferentes tensões e cansaços. O lazer as

revigora psicológica e fisicamente, as relaxa e as ajuda a viver com alegria, tornando-as

produtivas, realistas [...]”.

Porém, essas novas práticas causou uma série de consequências no contexto atual. Com

inúmeras atrações, produtos e serviços de lazer sendo ofertados e comercializados pela mídia,

captados e oferecidos pela atividade do turismo, levaram o individuo a deslembrar de certas

práticas de lazer popular tradicional presente em seu contexto; isso venha ser o caso do circo, que

independente de seus auges e declínios, de trâmites burocráticos e/ou por falta de expectadores,

se mantém vivo até os dias de hoje. Proporcionando a alegria e a diversão aos que se interessam

pela sua arte, assim como, difundindo o lazer e a cultura popular pelas cidades que se insere.

Atentando-se a resistência do circo, suas transformações internas/externas a partir de sua

instalação itinerante e da sociedade, observou-se a problemática da pesquisa, em que esta

2

procurava por compreender a agregação de valores que o circo Spacial juntamente com seus

espetáculos, proporciona para o lazer e o turismo das cidades que os recebem.

Para tanto, o objetivo geral da pesquisa consistiu em compreender o circo Spacial (circo-

empresa itinerante) como oportunidade de lazer e potencialidade para o turismo na cidade de São

Paulo. E os objetivos específicos, foram:

Relatar brevemente a história do circo no Brasil do século XIX ao XXI;

Caracterizar o lazer e a sua relação com o circo através da comunidade do entorno da

lona;

Compreender as potencialidades do circo Spacial para o turismo na cidade de São Paulo –

SP;

O circo Spacial, foi idealizado como objeto de estudo da pesquisa, pelo fato de ter se

transformado no primeiro circo-empresa itinerante do Brasil, anos mais tarde, este mesmo

modelo foi seguido pelo Beto Carreiro (SPACIAL, 2012). Entretanto, o circo Spacial assim como

os demais, detém de um produto específico para oferecer ao mercado e/ou para o turismo; o

espetáculo:

Não há circo sem espetáculo [...] o que une os circenses é o espetáculo, é o seu trabalho,

sua forma de sobrevivência pautada na prática, criação, organização e apresentação

espetacular dessas práticas. O centro desse espetáculo é o corpo, e mais ainda um corpo

em performance de movimento, performance especifica a qual se difere de todas as

outras práticas e/ou formas de espetáculo: a performance circense de quem trabalha para

o lazer (ROSA, 2010, p. 36-37).

São percebíveis os interesses artísticos, de lazer e de cultura que são vinculados ao turismo, e

difundidos pelo circo. Pois, de acordo com Marcellino (2002) as atividades de turismo entendidas

como manifestações culturais e artísticas, de modo não exclusivo, são consideradas como práticas

de lazer; esse entendimento significa que os interesses turísticos estão incluídos entre os

conteúdos culturais do lazer. Com isso, o circo, torna-se uma potencialidade para o turismo das

cidades que se insere, pois, além de se constituir nos parâmetros de uma empresa, oferecendo seu

produto específico, o espetáculo; o mesmo sempre foi o principal difusor do lazer e cultura

popular nas civilizações.

Assim, a estrutura da presente pesquisa, foi organizada da seguinte forma: o primeiro

capítulo objetivou a contextualizar brevemente a história do circo, desde a sua chegada ao Brasil

3

no século XIX até os dias atuais, no século XXI; assim como, o histórico do circo Spacial e a

relação do corpo no espetáculo, trabalhado para o lazer. Ainda, para melhor complementação, no

segundo capitulo, procurou-se por compreender o conceito de lazer que fosse mais cabível para

tal prática, relatando também a busca pela diversão em parques urbanos e no circo, assim como

caracterizar a oportunidade de lazer que o circo trouxera para a cidade de acordo com a visão da

comunidade de entorno; neste capítulo, optou-se por entrelaçar os olhares e observações do autor

da pesquisa, com as opiniões dos entrevistados, envolvendo ambas as descrições no escopo do

capítulo (isto também foi utilizado para a estruturação do capítulo seguinte). E por fim, o terceiro

capítulo, que buscou por compreender as questões de turismo e cultura por meio do lazer e da

arte, assim como as relações do circo-empresa com a arte, o lazer e o turismo, para que pudesse

compreender a potencialidade que o mesmo seria para a cidade de São Paulo.

4

2 METODOLOGIA

A presente pesquisa teve seu caráter classificatório pautado no ponto de vista da pesquisa

aplicada, objetivando a geração de conhecimentos a fim de arranjar soluções para sanar

problemas específicos de certa realidade.

Em relação à forma de abordagem do problema, o mesmo se concretizou por meio dos

modos da pesquisa qualitativa, onde Dencker (1998) expõe a mesma, como um tipo de

metodologia, que implica a participação do pesquisador no universo de ocorrência do fenômeno

pesquisado, buscando por vivenciar tal contexto.

Entretanto, as técnicas e métodos científicos que foram utilizados para alcançar os

objetivos propostos se constituíram em duas etapas; a primeira deu-se a partir de processos

metodológicos de levantamento de obras bibliográficas e de endereços eletrônicos, por meio de

teses, artigos, periódicos e livros acadêmicos relacionados à literatura da história do circo, dos

equipamentos e práticas de lazer popular e da atividade turismo, abordando seus contextos

culturais, artísticos e de lazer. Sendo assim, Dencker (1998, p. 125), afirma que “a pesquisa

bibliográfica permite um grau de amplitude maior, economia de tempo e possibilita o

levantamento de dados históricos”.

Já na segunda etapa, esta se concretizou a partir de entrevistas, que de acordo com Gil

(2003) ela é adequada para que se tenha o alcance de informações acerca do que as pessoas

creem, sabem, esperam, sentem ou desejam. Optou-se então, pela técnica de entrevistas

estruturadas, que, ainda de acordo com Gil (2008, p. 113) “desenvolve-se a partir de uma relação

fixa de perguntas, cuja ordem e redação permanece invariável para todos os entrevistados [...]

torna-se o mais adequado para o desenvolvimento de levantamentos sociais.” Aliás, todas as

entrevistas cedidas para está pesquisa, tiveram o consentimento dos entrevistadores, onde, todos

autorizaram o uso de suas falas na compilação dos resultados.

As entrevistas no primeiro momento foram direcionadas ao circo, tentando compreender

através dos relatos da proprietária Marlene Querubin, juntamente com o de dois artistas, as

potencialidades que circo Spacial, poderia oportunizar para atividade do turismo. Sendo que, a

entrevista com a proprietária do circo, foi idealizada por conveniência do autor, e os demais,

foram os artistas que estavam disponíveis no momento e que poderão cooperar com a pesquisa.

5

Figura 1 Marlene Querubin (Proprietária do circo)

/Fonte: CASAES, 2012 .

Figura 2 Roger Querubin (artista de circo) /Fonte:

CASAES, 2012.

No segundo momento, foram dirigidas ao público da comunidade do entorno da lona e

para os indivíduos que se encontrava passeando e/ou caminhando pelo Parque Ecológico

Guarapiranga, sendo este, o local de instalação do circo no mês de julho, assim como, o mês de

realização das entrevistas, nos dias 20, 25 e 26; buscando por caracterizar a oportunidade de lazer

que o circo oferece para as cidades que se instala. Os relatores deste momento, não foram

idealizados muito menos escolhidos pelo autor, pois as entrevistas foram realizadas ao ar livre e

em ruas, ficando a critério de escolhas os indivíduos que passavam pelo autor e que tinham

condições e tempo de ceder tais relatos. Com isso, foram entrevistados 22 indivíduos da

comunidade de entorno, sendo eles, homens e mulheres, entre os 16 a 65 anos.

Para a condução das entrevistas, foi utilizado como instrumento o celular, que detinha a

função de gravação de voz, sendo esta, a maneira mais prática que o autor da pesquisa encontrou.

No entanto, houve alguns transtornos pela utilização de tal aparelho, pois, assim como já relato

acima, as entrevistas que foram gravadas na rua e ao ar livre, só teriam boa qualidade de som, se

o mesmo fosse apontado próximo ao rosto dos entrevistados. Atitude esta, que é condenável e

inaceitável por alguns autores, porém, de acordo com Gil (2003, p. 115), “torna-se difícil,

portanto, determinar a maneira correta de se conduzir uma entrevista. Isto dependerá sempre de

seus objetivos, bem como das circunstâncias que a envolvem [...]”.

6

Entretanto, para facilitar a compreensão e compilação dos relatos obtidos, assim como, às

observações contextualizadas pelo autor no desenvolvimento das entrevistas, optou-se por

entrelaçar estas informações, descrevendo-as no decorrer dos capítulos que abordaram tais

contextos cabíveis.

A partir destas aplicações o estudo assumiu o caráter de pesquisa explicativa, procurando

“identificar os fatores que determinam ou que contribuem para a ocorrência dos fenômenos [...]”

(GIL, 2003, p. 24), aprofundando o conhecimento da realidade, explicando o porquê das coisas. E

em relação aos procedimentos técnicos para a realização da prática da pesquisa, foi pautado no

modo de pesquisa participante, que de acordo com Gil (2003) esta se caracteriza pelo

envolvimento do pesquisador com o pesquisado, respondendo especialmente as necessidades de

certa população; contribuindo para o envolvimento dos modos de cooperação e participação entre

ambos.

Por fim, o estudo cumpriu com seus objetivos proposto; assumindo o seu caráter de

pesquisa qualitativa, que de acordo com Queiroz (2008, p.33) “somente o procedimento

qualitativo possibilita um aprofundamento real do conhecimento e uma acumulação do saber,

dois predicados fundamentais da ciência”. Gerando assim, benefícios para o campo acadêmico,

que pela inovação da temática, o mesmo servirá de estimulo para outras produções cientificas

e/ou trabalhos, assim como, para o circo, que pela dificuldade de preservar sua historia, ajudará

para mantê-la viva, fomentando assim, a conservação dos meios artísticos e culturais da

humanidade.

7

3 HISTÓRIA DE CIRCO NAS TERRAS BRASILEIRAS DO SÉCULO XIX AO XXI

“A história do circo vem de longe e longe vai” (TORRES, 1998, p. 15). E no Brasil não

seria diferente. Antes mesmo de chegar às terras brasileiras, essa arte milenar foi registrada em

várias localidades pelo mundo afora. São diversas as influências e concepções que se tem da arte

circense em seus trajetos na antiguidade. E umas delas, é a herança que o circo herdara dos

saltimbancos1; o bem precioso, tido como alicerce de sustentação da organização circense: a

transmissão do saber de geração a geração; um saber que engloba toda a vida cotidiana de um

grupo nômade.

Silva (1996) aponta, que desde o inicio do século XIX, foi registrado a presença de várias

famílias circenses européias que chegavam ao Brasil como saltimbancos, trazendo sua tradição da

transmissão exclusivamente oral do saber; (que ainda perdura até os dias de hoje, principalmente

pelas companhias circenses de lona itinerante).

No entanto, é necessário ter-se um ressalto em relação ao século XVIII nas terras

brasileiras, onde já existia o “povo do circo”; os ciganos:

Sabe-se também que no último quarto do século XVIII já existiam grupos circenses indo

de cidade e cidade, em lombo de burros, fazendo de tudo um pouco em pequenos

espetáculos em dia de festa. Acredita-se que, com as constantes perseguições aos

ciganos na Península Ibérica, muitos tenham chegado ao Brasil e entre suas atividades

incluíam-se a doma de ursos, o ilusionismo e as exibições com cavalos [...] (TORRES,

1998, p. 20).

Há relatos que expõe a obrigatoriedade da presença dos ciganos nas festas populares

brasileiras. Pois traziam a música, a diversão, a dança, e até mesmo teatro de bonecos em suas

andanças, em uma época onde a única forma de diversão eram as apresentações circenses

exibidas per eles; os responsáveis pela introdução da arte circense no Brasil.

Com isso, verifica-se que já existia a arte circense nas terras brasileiras. Mais foi no

século XIX, que grandes circos começam a desembarcar com suas companhias nos portos do

Brasil, dispostos a percorrer trajetos por diversas localidades do território.

Eram visto por muitos, como desbravadores e aventureiros em constante movimentação;

“[...] em cada destino, inumeráveis desafios: trilhas remotas, caminhos de burros, atoleiros,

1 Artistas de rua, que exibiam suas habilidades em feiras e lugares públicos.

8

barreiras, montanhas inóspitas, entraves burocráticos, preconceitos. Com obstinação e bravura,

abriu estradas e enfrentou toda a sorte de dificuldades. A seu modo, mapeou o Brasil [...]”

(TORRES, 1998, p. 24). Deixou sua marcar registrada por onde passara, carregando em seu

semblante o fantástico show da vida, harmonizando a alegria e diversão das cidades na época.

Com isso, o circo ganhou a preferência do público em relação ao teatro; sendo estes, as únicas

formas de lazer e diversão das terras brasileiras no século XIX.

Diferentes das plateias europeias e americanas, que apreciavam as técnicas circenses tidas

como habilidade da expressão artística; o público das plateias brasileiras se atentava aos números

de riscos que continham perigos, como: os com animais ferozes, as apresentações de trapézios,

“corda bamba” entre outros (TORRES, 1998).

Com isso, “outra data que merece menção é a do ano de 1837: foi quando chegou ao

Brasil o primeiro elefante, para exibir-se no Circo Olímpico [...] no Rio de Janeiro, onde já existia

um local conhecido como circo” (TORRES, 1998, p. 23). A partir daí, o gosto dos brasileiros

pelos animais exóticos nos espetáculos se tornara uma paixão:

No final do século XIX e primeira metade do século XX, o circo certamente era a única

diversão que chegava até muitas regiões do Brasil. Levava o exótico, como os animais

ou as fantásticas proezas realizadas com os corpos; encenava esquetes, pequenas

comédias e peças teatrais, nunca antes vistos pela maior parte da população [...] (SILVA

e ABREU, 2009, p. 140).

Isso, fez com que companhias que detinham de posses, investissem em seus espetáculos,

indo à busca de animais pelos diversos continentes do mundo, principalmente os oriundos da

fauna africana e asiática, como tigres, leões, zebras, chimpanzés, etc.; sendo que estes,

despertavam grandes interesses e curiosidades no público. No entanto:

[...] pressionadas pelas constantes crises econômicas e mudanças no sistema de

governo, as companhias não tiveram mais condições de continuar importando animais

para encher os olhos dos espectadores, foi preciso pensar em uma solução rápida que

substituísse as atrações em extinção e mantivesse o público interessado no espetáculo.

É nesse instante que nasce o circo-teatro, encontrando no Brasil o solo mais fértil para

a multiplicação de sua arte (ANDRADE, 2006, p. 63).

Além das crises e mudanças nos governos, surgiram também as novas tecnologias; o

cinema e a fotografia; responsáveis por fazer diminuir o prestígio pelos espetáculos circenses e

teatrais na época. Com isso, o circo e o teatro unem forças, estruturando uma nova linguagem do

9

circo; o circo-teatro, como já mencionado acima. Que consistiu em uma divisão do espetáculo,

onde na primeira parte, apresentavam-se as práticas circenses de acrobacias, equilibrismo,

malabarismo, etc.; e na segunda, a apresentação de melodramas2.

Logo após, na década de 1940 e 1950, é a vez dos artistas de rádio e do disco almejarem

se apresentar nos palcos do circo, sendo esta, à maneira mais fácil de ficarem próximo aos

diversos expectadores do país. Apesar disso, no final da década de 70, começam a serem

articuladas as primeiras escolas de arte circense no Brasil, com intuito de difundir as práticas

circenses fora das lonas:

O advento das escolas de circo no mundo, assim como no Brasil, é o fato realmente novo

na história dessa arte: antes, os saberes do circo eram passados dentro do circo, nas

escolas permanentes e itinerantes que eram os circos de lona; hoje, cada vez mais artistas

se fixam em determinada cidade e passam seu conhecimento em troca de remuneração.

Naturalmente, há um crescimento no número de artistas no mercado (SILVA e ABREU,

2009, p. 181).

Atentando-se a este detalhe, nos anos 80 começa a criar-se também, um novo modo de

organização do circo. Por diversas influências ocorridas, o mesmo passa a ser organizado como

empresa, deixando de lado o seu modo tradicional. Aliás, Bolognesi (2003) relata que neste

processo de organização empresarial, o circo tem valorizado a prática da empresa capitalista,

contratando mão de obra especializada, tanto para seus espetáculos quanto para os afazeres

gerais. As grandes companhias passam a adotar uma forte divisão de trabalho; ficando a cargo

dos artistas apenas sua apresentação e o cuidado com os aparelhos e com o público. E, no

entanto, Magnani (2003, p 49) afirma: “[...] o circo é uma empresa, com divisão de trabalho,

pesquisa de mercado e um sistema de deslocamento periódico, oferecendo um produto específico,

o espetáculo [...]”.

Contudo, outro acontecimento marcante na história do circo nas terras brasileiras, ainda

na década de 1980, foi o surgimento de propostas de desenvolvimento de projetos sociais, de

iniciativas governamentais e de organizações não governamentais, que viam no aprendizado

circense em geral, uma forma de educação, recreação e cidadania. Configurando outra forma de

2 Melodrama é uma forma de manifestação teatral circense que segue influências do estilo das peças teatrais do final

do século XIX, sendo desenhado em ações com grandes conflitos; sua atuação se dá de forma exagerada e grandiosa.

10

organização da arte circense; uma organização que está em constante proliferação no século XXI,

denominada por SILVA (2003) como “circo social”.

Todavia, o circo não perderá seu encanto e magia. Independente de suas transformações

organizacionais, de diversas influências, sejam elas econômicas, políticas e sociais; com seus

auges e declínios, sempre levará alegrias e diversões por onde estiver. Pois, utilizando-se das

palavras de Torres (1998) o circo é o maior espetáculo da Terra. Aliás:

nas diversas regiões do Brasil, o circo desempenha o papel de produtor e difusor da

cultura, especialmente para aquelas localidades desprovidas de outros equipamentos

culturais [...]. Provavelmente, a pluralidade e a diversidade dos espetáculos venham ao

encontro dos anseios populares. O espetáculo circense é plenamente aberto e receptivo

às mais diversas e contrastantes manifestações culturais. Ele não se rege pelo estigma da

obra enclausurada em si mesma; ele não se deixa levar pelo referencial estético da obra

dada à apreciação. O circo incorpora em seu espetáculo o público (BOLOGNESI, 2003,

p. 249-250).

3.1 Um circo do futuro: a história do Circo Spacial

Com as constantes mudanças ocorridas na contemporaneidade, com a inovação de

diversos meios de comunicações e mídias, de criações e arte, fez com que o circo reinventasse

seus espetáculos e sua forma de organização e estruturação.

Nos dias atuais, encontram-se diversas estruturas de circo: os itinerantes de famílias

tradicionais, circos fixos instalados em grandes centros, os circos sociais que realizam diversos

tipos trabalhos visando à inclusão social, as apresentações de companhias circenses de rua, entre

outros. Porém a presente pesquisa optou-se pela a estrutura considerada recente, no mundo dos

circenses; o circo-empresa itinerante:

[...] aquele que é constituído juridicamente através de CNPJ, razão social, com

profissionais registrados em carteira de trabalho. A maioria destes circos possui uma

independente estrutura para funcionamento como carretas, motor-homes, trailer, gerador

de energia entre outros para que seja instalado e montado em determinado local. São

compostas por grande elenco de artistas, lona com capacidade para centenas de pessoas

em um só espetáculo, atrações especiais voltado ao publico em geral. Apresenta-se em

todo território nacional. Exemplo: Circo Spacial, Circo D’Napoli, entre outros

(RODRIGUES JUNIOR e FARIA, 2009, p. 14).

Atentando-se a este tipo de estrutura circense, o circo escolhido para o desenvolvimento

da pesquisa foi o Circo Spacial. Fundado em 9 de agosto de 1985, pela empresária e proprietária

11

Marlene Querubin; que ao tentar almejar o sonho de seu filho, que sonhará com uma nave

espacial, que através de uma viagem fantástica, a mesma levaria diversão, alegria e muitas

emoções a distantes crianças de todas as idades, fez nascer o circo do futuro. “Nascia assim o

espetacular Circo Spacial que abriu pela primeira vez suas cortinas com uma equipe composta

por artistas, parentes, amigos e outros profissionais que acreditaram no sonho. O Spacial acabou

se transformando no primeiro circo empresa, modelo seguido anos depois por Beto Carreiro”

(CIRCO SPACIAL, 2012).

Figura 3 Vista lateral do Circo Spacial na Represa Guarapiranga/Fonte: NICOLIN, 2012.

Com o passar do tempo o circo Spacial foi modernizando-se e a companhia cresceu; hoje

o mesmo conta com aproximadamente 35 famílias que percorrem o Brasil todo, levando o lazer e

diversão ao seu público, totalizando 120 indivíduos envolvidos diretamente com o circo (artistas,

técnicos, costureiras, aderecistas3, camareiras, cenógrafos, motoristas, produtores, além do

pessoal terceirizado):

3 Responsável pelos adereços do circo.

12

O Circo Spacial mostra ao vivo e a cores um espetáculo grandioso, com muito luxo e

brilho. Num show com muitos talentos e reunindo música, dança, teatro e circo, os

artistas provam força e coragem desafiando limites. Coreografias, performances e belos

figurinos complementam o espetáculo. Ao mesmo tempo em que é um circo moderno, o

Spacial preserva a tradição da legítima arte circense valorizando malabaristas,

contorcionistas, equilibristas, acrobatas, trapezistas e os eternos palhaços. O resultado é

um espetáculo dinâmico e criativo, mas que resgata as raízes e os valores dessa

expressão artística. (CIRCO SPACIAL, 2012)

Aliás, são aproximadamente 20 carretas, carros de som e trailers, responsáveis pela

locomoção e divulgação do circo. “São 200 toneladas de ferro, lonas, equipamentos e um guarda-

roupa com mais de dois mil itens, com muito brilho e luxo. O grand stand4 – com capacidade

para abrigar até três mil espectadores em cadeiras confortáveis – possibilita uma visão

privilegiada de todo o espetáculo, por todos os ângulos” (CIRCO SPACIAL, 2012). Possui

também um espaço multiuso composto por hall de entrada e praça de alimentação.

Além do espetáculo da lona itinerante, que venha ser o principal produto do circo Spacial,

o mesmo na atualidade, por ser um circo-empresa, desenvolve também outros tipos de atividades,

como: “[...] lançamento de produtos, oficinas circenses, palestras, workshops, pocket shows5,

bem como locação de equipamentos de lonas, luz, sonorização, figurinos e cenários” (CIRCO

SPACIAL, 2012). Com isso, tornaram-se pioneiros na realização a esses tipos de atividades e

produtos circenses. Conquistando uma posição de liderança neste mercado específico,

principalmente no atendimento a grandes empresas nacionais e multinacionais.

Adaptação e resistência são as palavras-chave do sucesso. Visionária e determinada, a

empresária Marlene Querubim, fundadora e presidente do Spacial é a única mulher a

montar e gerenciar um grande circo no Brasil. Com sua filosofia e coragem, inovou,

arriscou e conseguiu mostrar que com criatividade e perseverança as crises são

superadas (CIRCO SPACIAL, 2012).

Todavia, foi consagrado pela crítica e pelo público; é considerado atualmente o melhor

circo do Brasil e nos últimos anos seus artistas e diretores receberam diversas premiações,

inclusive uma em especial, da Secretaria de Cultura de São Paulo (CIRCO SPACIAL, 2012).

4 Arquibanca (tradução da palavra em inglês).

5 Expressão usada para shows e espetáculos de curta duração.

13

E é assim... De idas e vindas que o circo Spacial se mantém! Sempre incrementando

variedades, seja em sua forma de estruturação ou em seus espetáculos; indo à busca de captar as

evoluções e modificações do mercado que está inserido, para que o resultado final – o espetáculo

ou os serviços e produtos oferecidos – sejam apreciados e reconhecidos com tal mérito; fazendo

com que a arte circense não seja esquecida, mas sim enaltecida, por todos que estão à procura de

fantasias e diversão.

3.1.1 Sob a lona mágica do circo: o espetáculo do corpo

Em busca de alegrias e diversões, de fantasias e emoções, o circo tornou-se o fascínio de

muitos; buscando sempre, incorporar o público em seus espetáculos. “Os elementos que

constituem esse espetáculo não são desconhecido do público, pois fazem parte de seu dia-a-dia,

seus costumes, seu lazer: folguedos de antiga tradição, lendas transformadas em peças teatrais, os

‘produtos culturais’ dos meios de comunicações de massas, etc.” (MAGNANI, 2003, p. 49),

acaba por ser um lugar-comum de todos, onde a arte transcreve a vida.

Sob a majestosa lona, o circo interpreta sua maior obra artística, o espetáculo; uma arte,

onde o corpo é vanguart, a frente de tudo e de todos. Que através de números (tipos de

modalidades artísticas) é apresentado o mais belo show da vida.

14

Figura 4 Técnicas corporais sobre tecidos/Fonte: NICOLIN, 2012.

O corpo é tido como o instrumento principal; através de um trabalho performático, o

espetáculo é encarado pelos artistas, como um modo de vida, de prática e disciplina, carregando

em sua essência, toda uma aprendizagem e corporeidade tradicional. Por este motivo, “um

circense autêntico, quer tenha ele nascido ou não no circo, a partir do momento em que o assumiu

como opção profissional e, indissociavelmente, de vida, vive para o circo e morre pelo circo. Não

há arte que tenha seguidores tão fiéis.” (ILKIU, 2011, p. 100). Os espetáculos:

[...] presenteia o público com boas doses de destreza e habilidade corporal dos artistas.

Músicas animadas, figurinos coloridos e maquiagens gritantes. O desafio à gravidade e

ao risco é uma constante no espetáculo e impressiona em absoluto, embora o bom humor

dos palhaços ainda seja unanimidade entre o público. As cores da lona, dos figurinos,

dos aparelhos dos artistas e demais objetos de cena e do próprio chão do picadeiro são

fortes e vivas [...]. A maquiagem das mulheres são exuberantes e repletas de brilho e

purpurina, saltando aos olhos do público (ILKIU, 2011, p. 101).

Pela busca de contemplar o público através de suas performances, os artistas circenses

elevam seus corpos a grandes riscos. Testando todos os limites corporais possíveis, buscam

15

compreender formas de superações que lhes permitam quebrar barreiras; perfazendo acréscimos

no processo de criação de suas performances.

[...] quando o corpo sobe à cena para dizer, contraditoriamente, que ele está

costumeiramente esquecido. O corpo deixa de lado a roupa cotidiana que o esconde para

apresentar sua grandeza, no caso do acrobata, e sua deformidade, no caso do palhaço.

Espetacurlamente, o corpo se desnuda para revelar, a partir de pólos opostos, toda sua

potencialidade (BOLOGNESI, 2003, p.159).

Figura 5 Destrezas corporais em mastro/Fonte: NICOLIN, 2012.

Sendo assim, o espetáculo torna-se o elo maior entre os artistas circenses. Não há circo

sem espetáculo; o mesmo é tido como um trabalho, forma única de sobrevivência e subsistência

dos artistas, que através de seus aprendizados, organizações, criações e exibições espetaculosas

16

desta arte, concretizaram práticas e destrezas corporais habilidosas; de um corpo moldado pela

arte e que trabalha para proporcionar o lazer ao seu público. “[...] em nenhuma outra atividade

artística a cooperação e o trabalho de equipe são tão necessários. O espetáculo acontece com a

colaboração de todos, até porque são os próprios artistas que trabalham na organização e na

manutenção de toda a estrutura.” (ILKIU, 2011, p. 100).

17

4 LAZER NO PICADEIRO: CONCEITUANDO A PRÁTICA

Desde o surgimento das fábricas, o ser humano buscou por criar modelos de

entretenimentos para usufruir em seus momentos de lazer e que pudessem lhe causar sensações

de distração e relaxamento, procurando por equipamentos de lazer que possam oferecer novos

tipos de experiências, conforto e bem-estar, ou por práticas que elevem e agreguem maiores

sentidos em sua filosofia de vida. Aliás:

Acompanhando a história da organização da sociedade no decorrer do tempo,

verificamos que, no contexto de seus costumes e hábitos, a espécie humana

constantemente buscou formas de diversão, importantes em seu cotidiano tanto quanto

as formas de trabalho, religiosidade ou constituição familiar. Isto é, não é possível

separar as maneiras de jogar, de brincar e de se distrair do conjunto geral das atividades

cotidianas (MELO e ALVEZ JUNIOR, 2003, p. 2).

Com isso, o conceito de lazer utilizado na pesquisa é referente ao de Joffre Dumazedier

(2004a), aonde a prática do lazer venha ser algo indefinido, não havendo categoria que defina tal

comportamento social. Pois todos os tipos de comportamentos nas diversas categorias podem vir

a ser um tipo de lazer, até mesmo o trabalho profissional. Aliás:

[...] o lazer não é uma categoria, porém um estilo de comportamento, podendo ser

encontrado em não importa qual atividade: pode-se trabalhar com música, estudar

brincando, lavar a louça ouvindo rádio, promover um comício político com desfiles de

balizas, misturar o erotismo ao sagrado, etc. Toda atividade pode pois vir a ser um lazer

[...] (DUMAZEDIER, 2004a, p. 88).

Ainda de acordo com Dumazedier (2004a), esta concepção, estudada também por alguns

outros sociólogos, oferece certas vantagens. Pois mostra, que os diversos modos de práticas de

lazer podem ser penetráveis em variadas atividades, e que o lazer pode proporcionar desde a

origem de um novo estilo de vida ou até mesmo um modelo que venha contribuir para que se

tenha uma mudança na qualidade de vida. Entretanto:

[...] esta definição é mais psicológica que sociológica: ela diz a respeito à atitude de

alguns nos comportamentos comuns a todos. Confunde lazer e prazer, lazer e jogo. Não

permite definir um campo específico entre as diferentes atividades que assumem

diferentes funções na sociedade. Lança a confusão sobre uma relação capital na

dinâmica do lazer, entre a redução do tempo das obrigações institucionais e o aumento

18

do tempo liberado para a atividade pessoal dentro das novas normas sociais

(DUMAZEDIER, 2004a, p. 88).

Atentando-se a isto, pode-se perceber que tal conceituação privilegia o indivíduo em

buscar ideais para seu modo de vida. Pois o mesmo acaba desenvolvendo novos interesses em

relação às práticas de lazer, tentando cada vez mais, distanciar de suas obrigações profissionais

para contextualizar momentos de diversão, entretenimento e recreação. Satisfazendo-se a si

próprio, independente da atividade ou prática de lazer que esteja desenvolvendo. Pois:

Nos momentos de lazer, observamos as mais diferentes posturas possíveis. Um

indivíduo pode tirar o domingo para ir com a família a um jogo de futebol do

Campeonato Brasileiro; estará assistindo ao espetáculo esportivo, e isso é uma atividade

de lazer. Mas também pode ter o seu joguinho de futebol semanal (conhecido em muitos

lugares como “pelada”) e essa é também uma atividade de lazer. Pode assistir a uma

peça de teatro ou participar de um grupo amador organizado na Associação de

Moradores local. Pode se deliciar com um espetáculo de música erudita ou cantar no

grupo-coral de sua igreja. Assistir e praticar são, então, duas possíveis posturas nos

momentos de lazer (MELO e ALVEZ JUNIOR, 2003, p. 33).

Aliás, com as diversas práticas de lazer “[...] podemos apreender, conhecer, relaxar e

refletir sobre a vida, sobre as pessoas, sobre a natureza e sobre as coisas e também sobre as

próprias obras de arte” (CARVALHO, 2000, p. 145). Sendo assim, é possível vislumbrar os

interesses artísticos vinculados aos interesses sociais que são buscados pelos indivíduos nas

práticas do lazer, fazendo com que surjam maiores incentivos em preservar contextos culturais

populares em risco de esquecimentos, assim como o circo.

4.1 Lazer e diversão: o circo no parque urbano

O ser humano, desde os tempos remotos, esteve em constante contato com o meio natural.

Com o desenvolvimento da espécie e com o surgimento de variados meios de produções e

tecnologias indústrias, fizeram com o mesmo distanciasse da natureza, utilizando-se dela para

fins de lucratividade e exploração, deslembrando de sua essência de vida.

Com passar do tempo, as cidades foram sendo moldadas e planejadas, substituíram o

então espaço “verde”, por alvenarias e madeiras, dando lugar ao meio urbano. Nos grandes

centros, é nítido e visível todo este processo; restando apenas pequenas áreas naturais. Aliás:

19

Figura 6 Localização do circo Spacial, no mês de julho/Fonte: Google Earth.

Em grandes cidades como São Paulo, que ainda enfrentam problemas de crescente

urbanização associada ao uso e ocupação do solo, as unidades de conservação e áreas

correlatas representam, talvez, os últimos refúgios para a proteção e conservação da

biodiversidade, além de oferecerem espaços para lazer e educação em contato com a

natureza, contribuindo para a melhora da qualidade de vida. O parque é também um

espaço de cultura de paz, onde as camadas sociais convivem com direitos e deveres

iguais e onde os humanos convivem com as outras espécies vivas, vegetais e animais

(MARTINS SOBRINHO; RIBEIRO 2008, p. 15).

O dia a dia em meio urbano, tendenciam e levam os indivíduos em busca de momentos de

lazer nos variados espaços da cidade. O encontro com a natureza em parque urbanos (vestígios de

áreas verdes nos grandes centros) satisfaz esse anseio, proporcionando um contato diverso ao

meio urbano, um contato com o “natural”. Esses elementos dão ao espaço (parque) interpretações

diversas.

20

Para os paisagistas, sanitaristas, arquitetos, biólogos, enfim, os que se aventuraram em

definir o que é um parque, é clara a diferença de concepção. Esta por sua vez parece

estar relacionada com a expectativa de como consideram o meio ambiente – se como

natureza, como problema, como recurso – e como se dá a relação com ele a partir dessa

definição. Outro aspecto que também parece influenciar esta concepção está relacionado

com a gênese do espaço, ou seja, se foi um espaço originário de um loteamento, ou de

uma praça, as expectativas sobre ele parecem ser diferentes das que recaem sobre um

lugar desapropriado, grandes áreas de mata preservada (OS PARQUES..., 2008, p. 35).

Os parques urbanos, valiosos para as populações das cidades, são espaços

potencializadores de momentos e vivências sociais e culturais, fomentando o desenvolvimento às

práticas de lazer junto à natureza, proporcionando bem-estar e bons momentos a quem usufruiu

de seus equipamentos e instalações.

“Bom, eu sai com os meus amigos, vou em parques i tudo mais que tem aqui ao redor da

minha casa, e curto conversar com eles tranquilamente” (CLARA, A., 2012).

Além de servir como refúgio para aqueles que estão cansados dos grandes e imensos

arranha-céus dos espaços urbanos, os mesmos, detém de diversos equipamentos que oferecem a

prática de lazer para as populações, que vão desde as atividades náuticas, a parques de diversões,

pista de caminhada, trilha em bosques, quadra poliesportivas, entre outros, e até mesmo, espaços

que abriguem possíveis eventos ou atrações culturais.

Ah, eu trago praticamente meu menino, entendeu?! Pra brincar aqui na quadra de

futebol[...] (SANDRA., 2012).

Pensando desta forma, com o circo instalado nas dependências do parque ecológico,

percebeu-se que havia dois atrativos em um mesmo espaço, onde ambos eram detentores de

equipamentos e instalações para a prática de lazer. Com isso, tanto o circo quanto o parque,

tornam-se vulneráveis a atrair variados públicos em busca de atividade e práticas como estás.

“[...] Inclusive a gente já veio até, no circo Spacial. Circo muito bom! Dos que eu já fui

aqui na, na, São Paulo; um dos melhores. Nessa, nessa, ultima temporada deles aqui na,

na, próxima a Guarapiranga, ainda não tive a oportunidade de ir. Mas ainda, antes

deles ir embora, quero dá uma volta ali.” (ALEXANDRE, C., 2012).

21

Isso também se comprova, quando se perguntava aos entrevistados o que faziam em seus

momentos de lazer para se divertir? Houve respostas, que além das práticas de lazer diárias ou

comuns de suas vidas, como: assistir TV, ir ao shopping, cinema, andar a cavalo, passear e

caminhar no parque, andar de bicicleta, conversa entre amigos, bares e baladas, jogos online,

entre outros, os mesmos também relataram que iam ao circo; respostas como estás, fez com que o

autor da pesquisa percebesse que os entrevistados, se referiam ao circo como uma de suas

práticas de lazer, pelo fato de já saberem ou teri-se-a deparado anteriormente com a lona

instalada no parque.

“Ah, eu gosto de fazer caminhada, andar de bicicleta, gosto de programas culturais,

como ir ao teatro, cinema; fui ao circo[...]”(KELLY, 2012).

“Eu, passeio, ando de bicicleta. Atualmente eu não to fazendo nada, mas gosto de

passear de bicicleta. Ir ao circo também, teatro” (PIRES, M., 2012).

Nota-se, no entanto, que as respostas acima correspondem à fala anterior. Ao estarem

passeando, caminhando ou andando de bicicleta pelo parque, logo, os entrevistados ou os demais

indivíduos que circulavam pelo mesmo espaço, estavam sujeitos e vulneráveis a deparar-se com o

cenário do circo que ali encontrava instalado; podendo este, ser o fator responsável por instigar os

mesmos, a procurar por vivenciar tal prática de lazer, além das exercidas diariamente. Aliás

ANDRADE (2011), expõe, que o melhor lazer não é aquele que se perfaz de situações de

disputas ou beligerâncias, nem de outras atitudes que causam desgastes, estresses e

distanciamentos. O melhor lazer é aquele que acontece e se plenifica nas atitudes mais simples e

cordiais e que agrada indistintamente a todas as pessoas cujas atitudes as revelam equilibradas.

Sendo assim, pode-se compreender que o indivíduo ao instigar-se pela busca de

contemplar tal prática de lazer popular, possa estar sujeito a relembrar de seu passado; uma vez

que tal prática foi vivenciada em outro momento de sua vida, o homem acaba por rever questões

de sua memória. Podendo até encontrando-se em um estado nostálgico, relembrando dos bons

momentos vividos.

22

4.1.1 O resgate do lazer popular por meio da nostalgia

Para que uma teoria cultural possa ser considerada viva, precisa corresponder não só um

conjunto de valores como também ao modo como esses valores são vividos pelas várias

classes ou categorias sociais. Nos dias de hoje, essa cultura depende, cada vez mais, dos

ideais e das maneiras de como o lazer é praticado (DUMAZEDIER, 2004b, p. 35).

Atentando-se a citação acima, buscou-se no presente capítulo, compreender as demais

relações tidas pelos moradores da comunidade de entorno da lona, sobre a difusão do lazer

popular que o circo oportuniza através de sua arte; em virtude, da grande parcela de respostas

incomuns apresentadas pelos entrevistados, que ao se depararem com o circo instalado nas

proximidades de seu bairro, logo, remeteu-se a lembranças do passado, recordando de sua

infância e encontrando-se em um momento de nostalgia.

No entanto, desde o surgimento das fábricas, é visível a busca do homem por momentos

de diversão e entretenimento longe de seus compromissos profissionais, mas, com o

aceleramento das novas tecnologias e com repentinas mudanças ocorrendo na

contemporaneidade, o mesmo acaba por se esquecer de certas práticas de lazer da cultura popular

existentes desde a antiguidade e que se mantém até os dias atuais (o que venha ser o caso do

circo), optando na maioria das vezes, pelas comercializadas e oferecidas na mídia. Deslembrando

que “[...] as manifestações da cultura popular são tão importantes e valorizáveis quanto qualquer

outra.” (MELO e ALVEZ JUNIOR, 2003, p. 25).

Sendo assim, percebeu-se a importância de se fazer um viés da relação do indivíduo com

suas práticas de lazer, que quando vivenciadas em cenários que elevam a memória de um

passado, podem ocasionar sensação de nostalgia em quem prática ou a quem se depara;

instigando a vontade de reviver o que já foi testemunhado, podendo até ajudar no resgate de

práticas de lazer popular, uma vez que essa sensação é passada ou demonstrada para membros

familiares ou terceiros.

“Não, curiosidade não. Mas recordações, sempre, sempre... No meu caso, sendo pai, a

gente sempre pensa primeiramente, trazer minha filha aqui, entendeu?! Porque é uma

fantasia da criança, e a gente como pai e mãe, sempre quer tá mantendo essa fantasia

na cabeça da criança pra, tirar um pouco da realidade que está hoje em dia (SANDRO,

2012).

23

Este sentimento e/ou sensação está presente em diversos momentos na vida dos que

optam pelas práticas de lazer popular. Nos dias atuais, o mesmo, acaba indo além da procura de

um simples produto; buscando pelo encontro de novas vertentes que elevem a valorização deste

produto, e que ocasionem prazeres, emoções, fomentos a cultura, ao simbolismo, à busca da

fantasia e magia, que quando contextualizadas ou admiradas, possam remeter a lembranças de

seu passado, evidenciando um bom momento de sua vida.

“[...] eu lembro dos meus tempos de criança. Eu to com 52 anos, e não consegui

esquecer da fantasia que era né.[...]”(PINHEIROS, G., 2012).

“Recordação sim. Fui com pessoas da minha família. Fui muito bom!” (ELTON, 2012).

“Recordação da infância né. Da época dos, dos circos da minha infância. Uma

recordação boa. Sempre gostei de circo né; uma recordação, uma lembrança muito

boa!” (ALEXANDRE, R., 2012).

A infância, por sua vez, foi à palavra mais evidenciada nas entrevistas. Sendo assim, é

possível compreender, que o individuo neste período da vida, busca por momentos que são

motivados pelo sonho e pela fantasia, que com o passar do tempo, tornam-se fatores perduráveis

por toda vida, que através das boas lembranças e memórias, fortalecem o sentimento de nostalgia.

“Ah sim, né; revê sua infância sabe?Aquela vontade! Aí tipo assim, a desculpa de levar

o sobrinho; avisou os amigos, e aí vai todo mundo, né” (KELLY, 2012).

“Infância. Eu lembro da infância, de outra vez que estivesse no circo.” (PIRES, N.,

2012).

“Cara, me remeteu a minha infância, que sempre tive vontade de ir, mas nunca pôde,

não tinha condições. Mais foi bem, bem bacana.” (NILDO, 2012).

Com isso, as respostas descritas acima, confirmam este sentimento e/ou sensação de

nostalgia que o individuo encontra ao se deparar com a lona do circo. Mostrando que as vivências

da infância são refletidas constantemente na vida adulta do ser. Entretanto, houve também as

respostas dos indivíduos que ficaram curiosos ao se deparar com o cenário:

24

“Eu tive, curiosidade de saber como é lá dentro. Como que é, assim, o pessoal lá

dentro. Os palhaço, as coisas...” (MERCIA., 2012).

“Curiosidade ao fato de saber como qui funcionava tudo... Por fora do espetáculo.”

(CLARA, A., 2012).

“Ah, com certeza. Sempre chama a atenção da gente né. A gente sempre fica curioso

pra saber o que tem a mais, né!” (HELENA., 2012).

Isto significa, que além das transformações ocorridas na trajetória de sua história, o circo,

ainda detém este poder, que instiga o individuo a buscar por esta vivência, procurando por sanar

dúvidas e anseios carregados durante toda infância. Com seu modo de vida peculiar, que se

remonta nos parâmetros do nomadismo, e que se difere dos convencionais da vida comum, causa

no individuo, sensações de curiosidade, por ser algo distinto, diferente de sua cultural.

“Ah, houve quando era pequeno, que tinha esses circos pequenos, é, que ficava perto da

casa da gente né. Aí, isso me lembrou muito.”(CARLOS, A. 2012).

No entanto, independente das reações causadas nos entrevistados, o circo ainda se

caracteriza como um difusor do lazer popular, assim como o radio, a televisão, o cinema, o teatro,

entre outros, que buscam suas configurações por meio de conteúdos estéticos artísticos, captados

através de imagens, emoções e sentimentos tidos no imaginário do ser humano e que alimenta o

encantamento, o belo, e que motivam a busca pelo sentimento e/ou sensação de nostalgia do

adulto, fazendo-o voltar ao passado.

“Éé, bom, volta à infância né. As pessoas mais velhas voltam à infância, que lembram

de tudo. E os mais novos, vê o que tinha antigamente. Que era lá, a área de lazer de

todo mundo.”(LUIZA, A., 2012).

O circo está atrelado ao campo de domínio de interesses artísticos das práticas de lazer

popular, onde o corpo é trabalhado para a arte e para proporcionar o momento de lazer e diversão

de um público expectador; em muitas vezes, acaba por ser a única fonte de cultura de

determinadas localidades. Deixando sempre, a sua marca registrada por onde passara, fazendo

com que a lembrança permaneça e que a vontade de contempla-lo, continua. “O circo, por sua

vez, é a versão moderna de entretenimentos antiquíssimos vivenciados por diferentes povos e

25

diferentes culturais” (GASPARI e SCHWARTZ, 2007, p. 159). Isto também torna-se plausível

ao se atentar aos relatos abaixo:

“É bom, porque, a gente se diverte lá, né. Distrai! É bom pras crianças também, que faz

lembrar que diversão não é só internet, e é uma coisa diferente.”(PIRES, N., 2012).

“[...] eu acho que é a importância de estar em um circo e valorizar o trabalho que eles

fazem e saber que isso é uma coisa, que a gente tem que saber valorizar.”

(SCARPELLI, P., 2012).

“Ah, num todo né. É, são artistas que levam o circo né, pra várias cidades. São as

mesmas pessoas; então elas montam o circo, fazem o espetáculo, vendem a pipoca.

Então é uma família né, que estabelece, leva essa, essa cultura pra vários países,

cidades, bairros. É uma família assim, ambulante, como se fossem os nômades né. Bem

bacana, bem... A gente faz parte da cultura.[...]” (ALEXANDRE, R., 2012).

Relatos estes, que expõem e constrói a concepção de que o individuo busca por este

sentimento e/ou sensação de nostalgia, relembrando das questões e momentos vivenciados em

seu passado. Que ao serem contemplados no presente, faz manter-se em seu psicológico todo um

processo de transição e evolução de sua vida e de sua história; procurando por manter viva tal

experiência e memória.

26

5 TURISMO E CULTURA: A BUSCA PELO LAZER E ARTE

Havendo um maior tempo livre e geração de rendas elevadas, os indivíduos comuns,

inseridos no processo de globalização e da evolução tecnológica, acabam por desenvolver outros

tipos de preocupações quando optando por sair de casa, buscando por setores que ofereçam

prestações de serviços variadas; preocupam-se com o bem-estar e a obtenção cultural por meio

destas ofertas.

Isso se torna características do turismo, onde este se consolida, desde seu surgimento,

como uma atividade capaz de causar transformações sociais e econômicas na localidade ou

espaço em que se insere, fazendo desencadear novos hábitos e meios de viajar, procurando

sempre, por novos tipos de turistas; abrindo-se um leque de segmentações que possam servir a

variados gostos. Porém ao procurar conceituar tal atividade, é visto que há diversas

complicações, pela grande quantidade de conceitos já estabelecidos.

[...] como há uma farta bibliografia sobre o tema [...] falar em turismo significará fazer

referencia àquelas pessoas que saem das suas rotinas espaciais e temporais por um

período de tempo determinado: o cidadão que sai em férias, os netos que visitam os

avós, o executivo que viaja a negócios, mais não regularmente, para o mesmo destino.

Ou seja, mesmo aquelas pessoas que, morando numa grande cidade, num determinado

bairro, aproveitam o fim de semana para buscar outros espaços nessa mesma cidade –

um parque, uma praia, um grande evento acontecendo num centro de convenções, uma

festa de devoção religiosa... -, essas também serão consideradas turistas. O que pode

haver em comum entre um deslocamento para além das fronteiras nacionais ou para

além das fronteiras do bairro de residência? Diria que, em comum aos dois, há o

estranhamento, o prazer e uma certa ansiedade diante do desconhecido e do novo

(GASTAL, 2005, p. 12).

No entanto, como já previsto e questionado por muitos estudiosos da área e pela OMT

(Organização Mundial do Turismo), o turismo veio a ser um dos segmentos que desde a década

de 1990, está em constante expansão e desenvolvimento. Fez surgir maiores competições entre

regiões e países com destinos a serem escolhidos pelos turistas, tornando seus consumidores mais

exigentes com os produtos e serviços, pois, como consequência, começaram a ter mais

conhecimentos em relação aos destinos e opções de viagens; PANOSSO NETTO e TRIGO

(2009).

Com o processo de internacionalização das economias e da cultura, com a melhora dos

meios de comunicações e nos transportes, sendo estes também, outros avanços acarretados pela

27

atividade, fizeram com que o turismo expandisse ainda mais. A busca pelo exótico e pelo

desconhecido tornou-se gosto dos consumidores extasiados pelas viagens. Essas facilidades

geradas a partir de evoluções políticas e sociais, fez com que diversos lugares do mundo a fora,

sejam eles turísticos ou não, recebesse a visita de turistas ao longo dos anos; são poucos os

lugares nos dias atuais que se encontram intocáveis e inacessíveis.

O surgimento do turismo na forma que o conhecemos hoje não foi um fato isolado; o

turismo sempre esteve ligado ao modo de produção e ao desenvolvimento tecnológico. O

modo de produção determina quem viaja, e o desenvolvimento tecnológico, como fazê-

lo (BARRETO, 1996, p. 51).

Enfim, são diversos os avanços que a atividade do turismo constatou e continua

presenciando no decorrer de sua história. Pelo seu caráter multidisciplinar, abrigou diversas

ciências, que se tornaram fundamentais para o embasamento teórico da atividade. De acordo com

PANOSSO NETTO e TRIGO (2009) ainda nos anos 90, no Brasil, já existiam acadêmicos

dispostos a discutir as tendências do turismo para os próximos anos:

[...] em maio de 1990, a Associação Mundial do turismo para Formação Profissional

Turística (AMFORT) e a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo

(ECA-USP) organizaram um seminário em São Paulo intitulado Turismo:grande desafio

dos anos 1990. Ali estavam vários pesquisadores que se posicionaram em relação ao

turismo e aos desafios globais [...] (PANOSSO NETTO; TRIGO, 2009, p. 20)

Independente das discussões a partir de congressos acadêmicos, organizados com intuito

de debater tendências, meios e formas de estruturação e ordenamento da atividade, o turismo

também se desenvolve a partir de variadas formas, contemplando uma infinidade de questões

culturais, econômicas e sociais. Com isso:

“o turismo moderno, assim, emerge, também, de um ambiente romântico de descobertas

e de construções de valores que buscam memorizar o passado, relembrá-lo, apreendê-lo,

guardá-lo, co-memorá-ló. [...] enquadra o turismo moderno em um contexto que o faz

nascer, essencialmente, como um turismo cultural. A atividade turística assim permanece

por muito tempo, e hoje, a despeito de uma setorização maior e mais ampla, o atrativo

artístico-histórico-cultural é, ainda, substrato essencial do setor turístico (MENESES,

2004, p. 39).

28

Adentrando aos interesses artísticos no desenvolvimento da humanidade, percebe que

com o passar do tempo, esses interesses foram sendo absorvidos tanto pela atividade do turismo

quanto pelo próprio homem. A este tipo de prática e atividade, refere-se como Turismo Cultural,

que de acordo com o Ministério do Turismo (BRASIL, 2010) é compreendido como atividades

turísticas que são relacionadas à vivência do conjunto de elementos significativos de patrimônio

histórico e cultural e dos eventos culturais, procurando por valorizar e promover os bens

materiais e imateriais de certa cultura.

Nos dias atuais, tornou-se comum a busca por atividades que oferecem e contemplam os

valores artísticos e culturais que são buscados pelo individuo em seu tempo livre, como forma de

entretenimento e lazer. Aliás:

As artes e o entretenimento proporcionam a oportunidade de ampliar a mente e os

sentidos, mas também de relaxar, escapar e fantasiar, de estar fora de casa na companhia

de outras pessoas, além de uma oportunidade de se expor. Enquanto essas razões se

aplicam a todas as formas de arte e de entretenimento, as motivações para estabelecer

ligações em níveis mais elevados de entendimento e de apreciação estão frequentemente

associadas às artes, enquanto fatores como escapismo e relaxamento se associam ao

entretenimento. (HUGLES, 2004, p. 18).

Sendo assim, são visíveis os aspectos de interesses culturais, artísticos e de lazer que o

circo carrega consigo. Seus interesses artísticos acabam sendo o resumo de sua obra (o

espetáculo); recheados de apresentações acrobáticas, de contorcionismo e malabarismo, entre

outras, que pela sua complexidade, não existe em nenhum outro evento ou espaço. Os interesses

culturais são almejados, na tentativa dos circos itinerantes serem reconhecidos através de sua arte

circense, fazendo surgir melhores reconhecimentos e valorização da atividade assim como para a

sua forma de se organizar. Consequentemente, estes são interligados a oportunidade de lazer que

através desta vivência, se contextualiza. Aliás:

[...] as atividades de turismo, entendidas como manifestações culturais, configuram-se,

fundamentalmente, ainda que de modo não exclusivo, como práticas de lazer. Esse

entendimento significa que os interesses turísticos estão incluídos entre os conteúdos

culturais do lazer (MARCELLINO, 2002. p. 73).

29

Apesar disso, segundo Meneses (2004) o turismo pode contribuir para a preservação,

conservação e interpretação de espaços de lazer e cultura. Desde que o mesmo consiga interpretar

a memória de uma dada história, a fim de compreender sua contextualização:

[...] pode-se pressupor o quanto a interpretação histórica contribui com uma nova

perspectiva para o turismo cultural, na medida em que amplia as possibilidades de

objetos de interpretação e das formas de interpretar as culturas passadas, ampliando,

ainda, as possibilidades de transformação dessas culturas em atrativos a serem

problematizados e valorizados pelo visitante. Em decorrência direta dessa perspectiva,

há que se prever as formas variadas e diversas e, portanto, ricas, de apreender a

interpretar os objetos que motivam a busca de entendimento que leva o turista a

abandonar o seu cotidiano e ir de encontro ao cotidiano do outro.” (MENESES, 2004. p.

48).

Entretanto, “nos últimos anos, novos produtos turísticos culturais vêm ampliando a

percepção das possibilidades de interpretação e sentidos para os bens culturais do país”.

(BRASIL, 2012. p. 11).

5.1 Circo-empresa: arte, lazer e turismo.

Voltando a considerar o espetáculo circense como a principal atração ou produto que o

circo possa oferecer ao seu público, onde, na maioria das vezes, o mesmo é ofertado

comercialmente como um tipo de evento ou apresentação artística; logo poderá se fazer um viés

com as relações culturais, artísticas e de lazer propagados pela atividade do turismo, assim como,

especificamente, para a segmentação de turismo cultural (como já mencionado no capítulo

anterior).

“[...] quando você divulga é, nas cidades, estado, a nível nacional; que tem um belo

espetáculo isso gera o interesse no público em frequentar o circo [...]” (QUERUBIN,

M., 2012).

Com isso, o circo itinerante, caracterizado como circo empresa, sendo esta, uma nova

forma de referirem-se sobre o mesmo nos tempos modernos, acaba por ser “[...] uma casa de

espetáculos em forma circular, coberta, cercada de lona ou outro material resistente e

desmontável, pois é de uma de suas características poder transferir-se de um lugar para outro

30

[...]” (ANDRADE, 2001, p. 167), levando a arte, o entretenimento e a cultura para diversas

localidades.

“[...] o circo empresa, já é um pouco mais amplo... Ele contrata as pessoas, contrata

tanto os artista, como técnicos, como uns administradores... Ele fomenta toda uma

atividade empresarial.” (QUERUBIN, M., 2012).

“Hoje, é, a gente tem o circo que funciona como empresa, que a gente acaba vendendo

alguns espetáculos da empresa, e isso vai, a gente vai entrando em um outro, outro

ramo também, a gente acaba competindo também um pouco, competindo não é a

palavra certa, eu acho, mas... Acaba entrando também um pouco no espaço do teatro

também, que vai até o palco e tals, e agente tem uma outra visão né, então vamos

fazendo outros, outros caminhos, outros lugares.” (QUERUBIN, R., 2012).

A partir do momento em que o circo se consolida como empresa, acaba por oferecer seus

serviços a uma parcela de consumidores que buscam por atividades turísticas e formas

diversificadas de entretenimento e lazer em seu tempo livre. Optando por sair de casa para

vivenciar outras práticas ainda não contextualizadas ou para reencontrar-se ou relembrar-se de

momentos que já foram vivenciados; características como estas, se insere em muitas vezes, aos

praticantes do turismo cultural.

Os circos multiplicaram-se com rapidez, pois a maioria das cidades não possuía casas de

festas nem espaços seguros e apropriados ao lazer de grandes grupos. Livres da censura

oficial ao riso, desenvolveram as artes circenses do equilibrismo, do malabarismo, magia

e ilusionismo; demonstrações de técnicas, artes equestres e domação de animais;

evoluções sobre veículos movidos por força humana, animal ou motora e exibições de

força física (ANDRADE, 2001, p. 168).

Denota-se, que desde sempre, o circo é considerado um espaço propício e essencial para

oportunizar e praticar-se o lazer, como também, um resinto que sempre atraiu milhares de público

e expectadores. Tornou-se responsável por difundir a cultura através de sua forma lazer que é

popular, e que, independente, de seus auges e declínios, sempre permaneceu na mente das

crianças, jovens ou idosos. Entretanto, o seu valor artístico também merece resalvas, pois,

independente da forma que se contextualiza tal arte, todas, são de extrema importância e

merecem sobreviver, mesmo que não comercializadas. Sua importância reside pelo fato de

representarem o melhor da realidade humana e de serem capazes de proporcionarem melhoras na

31

qualidade de vida dos indivíduos que se depare com ela. O público, por sua vez, atinge as mais

altas experiências intelectuais e emocionais (HUGLES, 2004).

“[...] o povo senti falta disso, o povo precisa muito, é... Desse negocio do circo assim...

A gente compete com muita coisa, a gente compete com FaceBook, Twitter, a gente

compete com n coisas. Mas é, é se ve pessoas... Tem pessoas que vem aqui tipo, se vê ali

na frente, pessoas com celular mexendo ali... E são duas horas tipo, que a pessoa fica

extasiada de não coseguir olhar... Ela não quer olhar o horário, não quer ver se chegou

email, na caixa de mensagem, não quer nada, tipo... quero me entregar ao circo, quero

vivenciar essas duas horas[...]” (QUERUBIN, R., 2012).

Percebesse então, que o relato acima expõe realmente, está busca do individuo em suprir

suas expectativas emocionais e intelectuais ao vivenciar questões culturais e artísticas; acaba por

se encantar com o conteúdo estético da obra: o espetáculo.

“[...] o circo tem isso né... Essa tradição de con, de conservar sua história, muitas vezes

oral; o circo, á a nação circense, ele tem uma conexão cultural muito antiga, que

demanda mais de 5 mil anos, e aí todos os elementos né, é inerente a própria atividade,

e ela é uma atividade cultural muito forte, talvez uma das mais antigas do

mundo[...]”(QUERUBIN, M., 2012).

Com isso, qualquer que seja a expressão de arte, todas merecem ser reconhecidas e

admiradas com tal mérito, assim como o circo. Pois todas as vertentes artísticas detêm de

processos culturais que se estabeleceram ao se tornarem memória ou identidade, de um povo ou

nação. O turismo, por sua vez, acaba por entender as relações tidas neste sentido, e que neste

momento, não venha a ser o foco da pesquisa, porem “[...] cada manifestação cultural é rica o

suficiente para possibilitar várias interpretações distintas e não uniformizadas e que são

estimuladas por novos interpretes e novas visões.” (MENESES, 2004, p. 55).

Toda forma de manifestar-se, independente qual que seja, carrega em seu escopo um

conjunto de tradições, hábitos, costumes e crenças, que quando vivenciados, faz surgir e/ou

degenerar novos ideais e percepções para com o mundo das artes.

Entretanto, reafirma-se a concepção de Magnani (2003) em relação ao circo; o mesmo é

classificado como uma forma particular de cultura e lazer popular, que diferente de outras

manifestações culturais, este se consolida como empresa itinerante, realizando pesquisa de

mercado e divisões de trabalhos; oferecendo um só produto: o espetáculo.

32

Contudo, “o circo é um universo de vida e espetáculo, uma realidade de trabalho e lazer

que sobrevive a muitas mudanças culturais; constituindo uma atividade milenar e complexa de

lazer da cultura popular”. (ROSA, 2010, p. 16).

5.1.1 Circo Spacial: uma potencialidade para o turismo na cidade de São Paulo

No começo do século XIX, houve na cidade de São Paulo uma aceleração de todas as

atividades. A cidade deixou de ser com as cidades medievais, guiadas pelos

campanários, onde os sinos repicavam quase todas as horas do dia e da noite,

sincronizando a vida dos moradores da cidade. As festas religiosas, com a mudança da

vida econômica, perderam grande parte do sentido que as mantinha que era a

necessidade de sociabilidade. Agora, São Paulo ganhava novas opções de lazer e

sociabilidade (PIRES, 2002, p. 97-98).

Desde então, a cidade não parou de crescer, e consecutivamente os meios de

entretenimento e lazer, foram aparecendo, com novas tendências, temáticas e diferentes

elaborações; surgiu então, o cinema, as casas de variedades, óperas, shows, de jogos, as

associações recreativas, entre outros (PIRES, 2002). Por sua vez, o turismo também foi se

consolidando e desenvolvendo-se conforme a passagem do tempo; nos dias atuais, a atividade

turística se tornou uma das principais fontes econômicas que movimentam a cidade:

São Paulo não é apenas o maior centro econômico da América Latina. É a capital da

cultura, da moda, do entretenimento e do conhecimento da região. Metrópole antenada,

que aponta tendências, não há outra cidade que conviva de forma tão saudável com

tamanha diversidade. Formada por mais de 70 nacionalidades e brasileiros de todas as

regiões, aqui se realiza a maior Parada LGBT do mundo e convivem as mais variadas

religiões e credos que dividem espaços urbanos em harmonia. São igrejas católicas ou

ortodoxas, sinagogas, mesquitas, templos budistas e muitos outros (SPTURIS, s/d, p.4).

“Há ainda quem resista à idéia de ver a cidade como um destino turístico. Especialmente

se o tema for lazer. Maior pólo de negócios e eventos do País, a capital paulista acostumou-se a

receber os viajantes [...]” (SPTURIS, s/d, p. 1), tornou-se o principal portão de entrada do país.

Procurando sempre proporcionar aos seus visitantes, variadas formas de se praticar o lazer e o

turismo, seduzindo o imaginário daqueles que vão ao encontro do turismo em espaços urbanos.

São Paulo se posiciona, cada vez mais, como uma cidade cosmopolita que oferece o

mundo aos brasileiros e, ao mesmo tempo, proporciona um gostinho do Brasil aos

milhões de estrangeiros que aqui chegam movidos principalmente por negócios e

33

eventos. São duas experiências distintas. O estrangeiro busca encontrar o Brasil em uma

cidade que é parte do circuito das grandes metrópoles mundiais. O público doméstico,

que já vive no Brasil, prefere uma experiência global. E São Paulo, como uma cidade

rica em diversidade, atende ambos (SPTURIS. s/d, p. 4).

No entanto, nota-se a importância da atividade turística para a cidade de São Paulo,

atividade está, que ao se inserir no contexto de uma sociedade, gera benefícios e desenvolvimento

tanto para a cidade quanto para sua população, motivando benfeitorias continuas, para usufruto

de todos.

Quatro anos após começar a ser promovida como um grande pólo de lazer e

entretenimento, os resultados mostram um destino vencedor. A cidade fechou 2007 com

índice de ocupação hoteleira inédito de 67% e crescimento de 28% na receita por quarto

de hotel ocupado. Ganhou a liderança nas Américas entre os destinos de eventos

internacionais e sua arrecadação anual de ISS ultrapassou R$110 milhões, em um

incremento de 97% desde o início da década. Essas conquistas mostram que é hora de

chegar a novas conclusões, acreditando e investindo na cidade como destino turístico.

Mesmo sem a tradicional combinação sol e mar, São Paulo é hoje a primeira do País em

turistas e oferece o mundo aos brasileiros e, ao mesmo tempo, um gostinho de Brasil a

milhões de estrangeiros (SPTURIS, s/d, p. 1).

Com isso, percebesse que pela diversidade cultural, artística e de entretenimentos que a

cidade de São Paulo absorveu com o desenvolvimento da atividade turística, logo, mostra que a

mesma, possa contextualizar os circos de lonas itinerantes como potencialidades de ofertas para o

turismo da cidade, em virtude também, de ter sido palco para a apresentação da trupe do Cirque

Du Soleil (SPTURIS, s/d). Circo este, que carrega em sua formatação, maneiras e técnicas de

organizações semelhantes aos dos circos de lona itinerantes, assim como o caráter nômade, a

estrutura de lona impermeável, as arquibancas, o picadeiro, a praça de alimentação, artistas

terceirizados, ingressos vendidos em web sites, entre outros; ambos se constituem e oferecem

seus produtos através de seus circos-empresas.

No entanto, buscando por maiores informações, onde, através de entrevistas realizadas

com dois artistas circenses e com a proprietária do circo, Marlene Querubin; sobre as possíveis

relações que o circo Spacial teria com o turismo, assim como, o mesmo ser uma oportunidade

para o turismo na cidade de São Paulo, pode-se compreender a outras visões.

34

“[...] ele gera vários produtos, e esses produtos geram o turismo né, tanto

nacionalmente, como é ... a nível estadual, municipal; o circo, incluindo o circo spacial

é um fator para o turismo.” (QUERUBIM, M., 2012).

“Com certeza, assim, oouh circo spacial agora está em São Paulo mais, a gente durante

um tempo, a gente fez uma temporada em Águas de Lindoia que é uma cidade turística,

do lado, perto de Minas, ali... Então, tipo, o circo foi convidado a ir, justamente por

isso; com final do ano sempre vai bastante turista, então o circo chega também ser um

atrativo [...”] (QUERUBIN, R., 2012).

Atentando-se a esta ultima fala, pode-se perceber que além de servir de potencialidade

para o turismo na cidade de São Paulo, o mesmo venha ser um potencial para todas as outras

cidades que se insere. Além de atrair diversos turistas expectadores provindos de outras cidades

estados ou países, o circo, contempla a comunidade local onde se instala; proporcionando a eles,

um convívio com uma cultura diferente, assim como, oportunidades de lazer e entretenimento.

“[...] às vezes o cara da padaria acaba vindo, tipo, mais de cinco vezes por que fez

amizade com a gente. Então de uma forma ou outra ele vai acabar curtir um pouco da

nossa cultura, porque a gente tem uma vida diferente, uma visão de vida diferente [...]”

(QUERUBIN, R., 2012).

Além de haver essa troca de cultura com a comunidade do entorno da lona, o circo arrasta

uma multidão de expectadores de outros bairros e regiões da mesma cidade, que procuram por

momentos de alegrias e diversões em seu tempo de lazer.

“[...] estamos agora na Guarapiranga, tipo, até então é uma região que todo mundo

fala: ah, só tem a árvore de natal, que tem a arvore de natal aqui, que todo mundo sabe.

Mas o circo acaba movimentando um outro tipo de relações porque tem pessoas que

vem da zona leste aqui pra assistir o circo sabe, então acaba tendo isso. Pô, alguém da

zona leste vem pra zona sul pra assistir um espetáculo?! E assim também, se o circo

estivesse em outra área, também tem muito disso, dá pessoa... Vem de uma zona, de uma

área da cidade e vir até aqui pra ver o circo, porque conhece um pouco do espetáculo,

comece um pouco a historia do circo, conhece alguém por aqui ... então por ai vai;

assim, acaba fazendo turismo dentro da própria cidade.” (QUERUBIN, R., 2012)

Isso acontece, pois como já relatado e mencionado a visão de (GASTAL, 2005), o

individuo que reside em grandes centros, num determinado bairro, e que buscam outros para

aproveitar o seu fim de semana ou feriado contextualizando novas práticas de lazer ou turismo,

dentro da própria cidade, são considerados por ela, como turistas. Pois, ao sair de seu habitat

35

comum, o individuo pode defrontar-se com o desconhecido, e a partir disso, gerar-se o prazer, o

novo e o inusitado.

Verifica então, que o Circo Spacial, e os demais circos de lonas itinerantes, possam ser

uma potencialidade para o turismo nas cidades; por mais que o circo se instale em cidades

detentoras de equipamentos e atrativos de turismo e lazer, ele se torna mais um entre os outros;

competindo com os demais. E onde não existe essa prática e/ou equipamentos da atividade

turística, o mesmo, se torna a grande atração da cidade e da região.

“[...] ó, por exemplo, estarei em bauru, toda região do entorno da cidade de Bauru, vai

migrar pra cidade pra conhecer o espetáculo do circo spacial, e ai consumir os bens

próprios culturais ou gastronômico ou de lojas né, du dus comerciais, enfim. E o circo

acaba atraindo atenção pra si né; faz uma grande mídia e ai também contribuindo com

a cidade [...]” (QUERUBIN, M., 2012)

“[...] o circo, meio que vamos dizer assim, busca o publico também né ... Vai ser na tal,

uma região turística, vai ter um publico, a gente vai fazer um esquema com a prefeitura,

com os hotéis, não sei o que ... E ai leva o circo pra lá e o público também acaba indo.”

(QUERUBIN, R., 2012).

Contudo, é perceptível o potencial turístico que o circo carrega em seu escopo. Desde

sempre é considerado como espaço propício para se praticar o lazer, fazendo parte da cultura

popular de diversas nações. Que através de constantes mudanças, o mesmo conseguiu superar

barreiras, consolidando-se nos dias atuais, como circo-empresa, sendo este, um fator que o

aproxima mais ainda com a atividade do turismo. Pois sendo uma empresa, que seu principal

produto, são seus espetáculos, como não aceitar, que o circo possa ser uma potencialidade para o

turismo, uma vez que está atividade contempla o sistema do capital?

36

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o turismo, como atividade produtiva em constante expansão na atualidade,

abrangendo e contextualizando os processos de evolução das civilizações, que nos últimos anos,

fez surgir novos produtos e atrativos turísticos, ampliando a percepção das potencialidades de

interpretação do individuo, perante o novo, ao inusitado e o desconhecido, fez com que, o mesmo

buscasse por vivenciar diferentes hábitos, costumes e tradições.

Questões como estas, foram introduzidas no contexto da humanidade, por decorrência de

sua constante evolução; fazendo repercutir novos olhares e percepções aos meios de expressões

culturais e artísticas, despertando no individuo uma nova concepção de valorização das culturas

locais e regionais, assim como, a preservação de folguedos das antigas tradições, respeitando os

valores simbólicos e aos significados dos bens materiais e imateriais da cultura popular, gerando

um sentido de resgate das questões históricas do homem.

O circo, objeto central da pesquisa, corresponde aos anseios desta formatação do turismo,

o turismo cultural, pelo seu caráter imaterial de representação de sua cultura, que além de ser uma

expressão tradicionalíssima de nossa sociedade, o mesmo, oportuniza ao indivíduo um espaço

ideal para a prática de lazer popular, senda esta, outra vertente absorvida pelo turismo.

Com as constantes transformações ocorridas em sua forma de organização e estruturação,

fez com que os grandes circos de lona itinerante, como o circo Spacial, consolidassem uma nova

formatação (o circo-empresa), terceirizando mão de obra especializada tanto para os serviços

gerais até a contratação de artistas profissionais provenientes de escolas circenses; oferecendo

novos recursos e produtos no mercado e potencialidades ao turismo.

Pode-se compreender por meio dos relatos cedidos dos artistas do circo Spacial, circo

este, que se destaca no mercado de entretenimento nos dias atuais, pela variedade de produtos que

oferecem aos meios de produção do lazer nas cidades onde se instala, assim como para a cidade

de São Paulo. Pois além de promover seus espetáculos, desenvolve palestras, workshops,

treinamento, espetáculos para eventos e festas particulares, e uma série de outros produtos.

Isto demonstra que tal prática de lazer popular, corresponde aos anseios e expectativas do

turismo, uma vez que esta atividade procura por potencialidades em risco de esquecimento,

preservando-as e promovendo suas expressões culturais e artísticas. A busca por este tipo de

37

vivencia, é evidenciada a cada dia que passa, instigando o individuo que contempla, a rever

questões de vida e memória, indo atrás de suas lembranças.

Pois, ao buscar por caracterizar o lazer através dos relatos da comunidade do entorno da

lona, percebeu que, os entrevistados ao se depararem com circo, logo, remeteram-se a questões

do passado, encontrando-se em um momento e/ou sensação de nostalgia, relembrando de sua

infância; período este de vida, que é marcado por diversas experiências e descobertas, que com o

passar do tempo, são relembradas através de bons momentos e outras vivências do ser humano.

Retroceder no túnel do tempo da vida, motiva-o a propagar tal ideia ou concepção tida com a

experiência de seu o passado com a vivenciada novamente no presente, relatando-as aos

membros que se encontram próximo a ele; ajudando no processo de resgate e preservação do

mais fabuloso espetáculo da Terra, mantendo vivo toda sua fantasia e magia, por mais que tempo

passe.

Sendo assim, a pesquisa atinge suas expectativas, que além de alcançar seus objetivos e

resultados almejados, a mesma torna-se um documento de extrema importância para os artistas

que o sangue da arte corre entre as entrelinhas do corpo; os circenses! Que além dos trâmites e

barreiras ditas no decorrer de suas histórias, faz manter-se viva e existente a mais bela expressão

artística da vida; por meio de seus espetáculos difunde a cultura e proporciona o lazer popular ás

distintas populações, levando sempre a alegria e a diversão para aqueles que por algum motivo,

nunca presenciaram e/ou vivenciaram tal experiência.

A potencialidade do circo para o turismo é ampla; de um lado imaginamos os

entrevistados (comunidade de entorno e os artistas do circo), que não viram essa potencialidade,

entretanto, para ambos o circo mantém em seus espetáculos a magia da ludicidade e do lazer. Por

outro lado, tradicionalmente, imaginamos que o circo por proporcionar e caracterizar-se como

lazer, atrai e/ou traz o turista. Porém, os resultados foram além, mostrando ao pesquisador que

para o artista, ele é o turista, pois ele se desloca em função do seu trabalho: “[...] É... nós já

visitamos todos os pontos turísticos mais conhecidos do Brasil, é ... Foz do Iguaçu, Rio Grande

do Sul, Rio de Janeiro, São Paulo, as praias né ... do nordeste, fizemos todas as capitais do

nordeste é ... Cuiabá, Mato Grasso ... do Sul, Mato Grosso, Goiana, Brasília, então é muito

interessante esse esse ... essa movimentação que o circo faz junto com os ponto turísticos.”

(QUERUBIN, M., 2012). Isso mostra, numa visão inovadora do turismo, fazendo com que não

38

fiquemos atrelados apenas às definições de que turismo se contextualiza somente as atividades

realizadas fora do habite comum do individuo, e sim que ele pode se desenvolver de variadas

formas e sentidos.

Inclusive, o circo no cenário do turismo passa a ser uma oferta turística itinerante. Uma

vez que pode se deslocar, ao contrario de outros produtos e atrativos, leva o seu espetáculo a

diversas localidades, sendo este o seu principal meio de se promover no mercado, fomentando a

prática de lazer popular; isso também se torna um panorama inovador.

Com isso, a pesquisa pode comprava suas hipóteses, afirmando que os espetáculos do

circo Spacial são consideráveis sim para o turismo, assim como, por meio dos relatos da

comunidade de entorno da lona, compreendeu-se que os mesmos, consideram o circo Spacial

com um difusor do lazer popular. E ao tentar comprovar a hipótese de que o circo Spacial

prolonga suas temporadas em grandes centros detentores de outros equipamentos turísticos, isso

se confirma com o relato do artista Roger Querubin: “[...]circo mesmo, fica bastante em São

Paulo é, éé é central mas ... sempre tem uma temporada ... Tipo, em tal lugar, final do ano, é

ótimo para o circo, onde tem bastante turistas, na verdade, pessoas que vão gostar, então a gente

faz meio, que vai mesclando né, muito assim. Mais no meio do ano, é época de férias, fica mais

em São Paulo e no fim do ano como todo mundo quer viajar, o circo, meio que vamos dizer

assim, busca o publico também né ... Vai ser na tal, uma região turística, vai ter um publico, a

gente vai fazer um esquema com a prefeitura, com os hotéis, não sei o que ... E ai leva o circo

pra lá e o público também acaba indo. (QUERUBIN, R., 2012)

Aliás, o presente estudo pode concluir que o circo ainda não é visto como produto para o

turismo, que as pessoas em geral não o percebem como atrativo, e que os artistas (mesmo no

circo empresa) ainda possuem dificuldade de planejar seu empreendimento a partir dessa

perspectiva, mas que o pesquisador numa visão futurista e com base nesse estudo infere ao circo

um potencial ainda a ser desvendado para o turismo no Brasil e no mundo. Contudo é necessário

pensar novas pesquisas, em que o circo juntamente com os demais equipamentos que são

ofertados pelo turismo, possa ser também idealizado como atrativo para a atividade, independente

de sua característica itinerante.

39

REFERÊNCIAS

ANDRADE, José Carlos dos Santos. O espaço cênico circense. 2006. 206 f. Dissertação

(Mestrado em Artes Cênicas). Universidade de São Paulo/Escola de Comunicações e Artes, São

Paulo, 2006. Disponível em: <www.circonteudo.com.br>. Acessado em: 16 mai. 2012.

ANDRADE, José Vicente de. Lazer: princípios, tipos e formas na vida e no trabalho. Belo

Horizonte: Autêntica, 2001.

ALEXANDRE, R. Rafael Alexandre: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin.

São Paulo, 2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do

Trabalho de Conclusão de Curso.

AVANZI, Roger; TAMAOKI, Verônica. Circo nerino. São Paulo: Codex e Pindorama Circus,

2004.

BRASIL, Ministério do Turismo. Turismo cultural: orientações básicas. 3. ed. Brasília:

Ministério do Turismo, 2010.

BARRETO, Margarida. Manual de iniciação ao estudo do turismo. 19. ed. Campinas: Papirus,

2003.

BARRETO, Margarida. Cultura e Turismo. Campinas: Papirus, 2007.

BOLOGNESI, M. Circos e palhaços brasileiros. São Paulo: Editora da UNESP, 2009.

Disponível em: <www.circonteudo.com.br>. Acessado em: 16 mai. 2012.

BOLOGNESI, M. Palhaços. São Paulo: Editora da UNESP, 2003.

40

CARLOS, A. Antônio Carlos: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São

Paulo, 2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do

Trabalho de Conclusão de Curso.

CIRCO SPACIAL. A história. s/d. Disponível em: < htpp://www.circospacial.com.br >. Acesso

em: 23 abr. 2012.

CLARA, A. Ana Clara: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012.

Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

DENCKER, Ada de Freitas Maneti. Métodos e técnicas de pesquisa em turismo. 8. ed. São

Paulo: Futura, 2007.

DUMAZEDIER, Joffre. Sociologia empírica do lazer. 2. ed. São Paulo: Perspectiva/SESC São

Paulo, 2004a.

DUMAZEDIER, Joffre. Lazer e cultura popular. 3. ed. São Paulo: Perspectiva, 2004b.

ELTON. Elton: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012.

Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

GASTAL, Susana. Turismo, Imagens e imaginários. São Paulo: Aleph, 2005.

GIL, Antônio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

HELENA. Helena: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012.

Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

41

HUGLES, Howard. Artes, entretenimento e turismo. São Paulo: Roca, 2004.

ILKIU, Elisângela Carvalho. Respeitável público, o circo chegou: trajetórias e malabarismos de

um espetáculo. Temporalidades, Belo Horizonte, v. 3, 2011. Disponível em:

<ww.fafich.ufmg.br/temporalidades>. Acessado em: 15 jun. 2012.

KELLY. Kelly: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012. Arquivo

digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de Conclusão de

Curso.

LUIZA, Ana. Ana Luiza: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo,

2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

MAGNANI, José Guilherme Cantor. Festa no pedaço: cultura popular e lazer na cidade. 3. ed.

São Paulo: Hucitec; Editora UNESP, 2003.

MARCELLINO, Nelson Carvalho. Estudos do lazer: uma introdução. 3. ed. Campinas:

Autores Associados, 2002.

MARTINS SOBRINHO, Eduardo Jorge; RIBEIRO, Mônica Cristina. Novas áreas verdes para

São Paulo. In: WHATELY, Marussia et al. (Org.). Parques urbanos municipais de São Paulo.

São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008. p. 15.

MENESES, José Newton Coelho. História & turismo cultural. Belo Horizonte: Autêntica,

2004.

MELO, Victor Andrade de; ALVEZ JUNIOR, Edmundo de Drummond. Introdução ao lazer.

Barueri-SP: Manole, 2003.

42

MERCIA. Mercia: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012.

Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

NAKAYAMA, Sumaya Suemy. Viagens turísticas literárias nas obras de Mario de Andrade:

roteiro literário em São Paulo. 2012. 81 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em

Turismo) – campus experimental de Rosana, Universidade Estadual Paulista, Rosana, 2012.

NILDO. Nildo: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012. Arquivo

digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de Conclusão de

Curso.

OS PARQUES urbanos municipais de São Paulo In: WHATELY, Marussia et al. (Org.).

Parques urbanos municipais de São Paulo. São Paulo: Instituto Socioambiental, 2008. p. 35.

PANOSSO NETTO, Alexandre; TRIGO, Luiz Gonzaga Godoi. Cenários do turismo brasileiro.

São Paulo: Aleph, 2009.

PIRES, Mário Jorge. Lazer e turismo cultural. 2. ed. Barueri: Manole, 2002.

PIRES, M. Marlene Pires: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo,

2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

PIRES, N. Nayara Pires: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo,

2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

43

PINHEIROS, G. Graça Pinheiros: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São

Paulo, 2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do

Trabalho de Conclusão de Curso.

QUEIROZ, Maria Isaura. O pesquisador, o problema da pesquisa, a escolha de técnicas:

algumas reflexões. In: LUCENA, Célia Toledo; CAMPOS, M. Cristina; DEMARTINI, Zeila

(orgs). São Paulo: CERU. 2008. P.15-34

QUERUBIN, M. Marlene Querubin: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin.

São Paulo, 2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do

trabalho de conclusão de curso.

QUERUBIN, R. Roger Querubin: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São

Paulo, 2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do trabalho

de conclusão de curso.

RODRIGUES JUNIOR, Reynaldo Alberto; FARIA, Paulo Sergio de. A importância do circo

como atrativo turístico no século XXI. 2009. 84 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação

em Turismo) – Projeto Integrador do Planejamento Acadêmico – PIPA, Faculdades Integradas

Torricelli, 2012.

ROSA, Cintia Maria da. Corpo espetáculo circense, uma prática tradicional para o lazer

popular. 2010. 74 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Escola de Educação Física) -

Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2010.

SANDRA. Sandra: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012.

Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

44

SANDRO. Sandro: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin. São Paulo, 2012.

Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do Trabalho de

Conclusão de Curso.

SCARPELLI, Paulo. Paulo Scarpelli: depoimento [jul. 2012]. Entrevistador: Renato Nicolin.

São Paulo, 2012. Arquivo digital em formato mp3. Entrevista concedida para a realização do

Trabalho de Conclusão de Curso.

SILVA, Erminia. O circo: sua arte e seus saberes. O circo no Brasil do final do século XIX a

meados do XX. Dissertação (Mestrado em Filosofia e Ciências Humanas) – Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, 1996. Disponível em: <www.circonteudo.com.br>. Acessado

em: 16 mai. 2012.

SILVA, Erminia; ABREU, Luís Alberto de. Respeitável Público... O circo em cena. Rio de

Janeiro: Editora Funarte, 2009. Disponível em: <www.circonteudo.com.br>. Acessado em: 16

mai. 2012.

SPTURIS. Notícias. s/d. Disponível em: < htpp://www.spturis.com.br >. Acesso em: 23 out.

2012.

TORRES, Antônio. O circo no Brasil. Rio de Janeiro/São Paulo: Editora Funarte e Atração

Prod. Ilimitadas, 1998.

45

APÊNDICES

Apêndice – A: Modelo de Formulário de Entrevista para integrantes do Circo

Spacial.

Prezado (a) ________________. Essa pesquisa faz parte do estudo de Trabalho de

Conclusão de Curso e tem como objetivo, compreender o Circo Spacial como oportunidade

de lazer e potencialidade para o Turismo na cidade de São Paulo – SP. Os resultados

servirão para possibilitar uma visão mais ampla da arte circense, e averiguar se a mesma

possa ter relevâncias ao turismo, assim como ao seu segmento cultural. Sendo assim, solicito

sua autorização para que as informações aqui compiladas possam fazer parte da análise e

dos resultados da minha pesquisa de TCC.

1- Sua história se entrelaça ao Circo Spacial em que momento.

2- Qual a sua visão sobre a difusão cultural e artística que o circo Spacial promove nas

cidades onde se instala.

3- Qual a diferença entre o circo tradicional e o circo empresa?

4- O Circo Spacial, sendo um circo empresa, pode ser uma potencialidade para o turismo?

5- Quais seriam as possíveis relações que o Circo Spacial e seus espetáculos possam ter com

a atividade turística.

6- O turismo possui diversos segmentos. Destacando o turismo cultural (segmento que

procura compreender os valores históricos de uma nação ou de um povo, a fim de

valorizar e promover os bens imaterial ou material de certa cultura), pergunto:

Você acredita que o circo poderia ser relacionado com o segmento cultural do turismo,

seja para atrair mais expectadores ou para preservar sua história? Fale sua opinião.

7- Em relação à procura de praças para instalação do circo; procuram-se cidades que são

destinos turísticos?

8- E qual seria a diferença de instalar-se em cidades turísticas e em cidades que não

oferecem atrativos turísticos?

46

Apêndice – B: Modelo de Formulário de Entrevista para a comunidade de entorno

da lona.

Prezado (a) ______________. Está pesquisa faz parte do estudo de Trabalho de

Conclusão de Curso e tem como objetivo, compreender o Circo Spacial como oportunidade

de lazer para a cidade de São Paulo – SP, sob a visão da comunidade do entorno da lona. Os

resultados servirão para possibilitar uma visão de como é compreendido as oportunidades

de lazer que o circo proporciona na cidade onde se instala. Sendo assim, solicito sua

autorização para que as informações aqui compiladas possam fazer parte da análise e dos

resultados da minha pesquisa de TCC.

1- Nos momentos de lazer, o que você faz para se divertir?

2- Já esteve em algum circo? Comente sobre sua experiência.

3- Ao se deparar com a lona colorida do Circo Spacial, qual sua recordação ou curiosidade?

4- Qual sua imagem em relação ao circo como um espaço de lazer e diversão. Fale sobre.

*AS ENTREVISTAS SE ENCONTRAM EM FORMATO DIGITAL MP3 E TRANSCRITA (PDF)

EM POSSE DO AUTOR.