Uma Mente Inquieta Kay Redfield Jamison

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Uma Mente Inquieta ( Kay Redfield Jamison) Este livro é um relato da autora sobre a doença Psicose Maníaco-Depressiva (PM camada de "ranstorno #ipolar$ %a& 'ed iled amison a descreve como uma *doença biol+ ica nas suas ori ens, d a impress.o de ser psicol+ ica na viv/ncia que se tem dela0 uma doença sem de proporcionar vanta ens e pra1er e que, no entanto, tra1 como co so rimento quase insuport vel e, n.o raramente, o suicídio3 (p$45)$ Este livro tem a intenç.o de in ormar, alar dos preconceitos vividos e so rid de conseq2/ncias em termos pessoais e pro issionais, e da import6ncia de se pr e de tomar a medicaç.o adequada, entre outros acontecimentos vividos pela auto usa as pr+prias e7peri/ncias da doença para embasar suas pesquisas, ensino, pr e trabalo de divul aç.o e conscienti1aç.o$ 8 autora inicia o livro apresentando sua amília9 : av; materno morreu antes que %a& nascesse$ Era pro essor universit rio e ormaç.o$ Di1iam que era espirituoso, entil além de intelectuali1ado$ 8 av+ materna era uma muler carinosa e a etuosa que, < semelança da m.e nutria um interesse pro undo e enuíno pelas pessoas$ 8s pessoas vinam sempr primeiro lu ar$3 (p$=>) ?.o era intelectuali1ada, mas muito or ani1ada, cons decidida e incapa1 de uma indelicade1a$ : pai o icial de carreira da @orça 8érea (cientista e piloto)$ A divertido, curioso sobre tudo$ Beu umor era inst vel, quando as coisas iam be disposiç.o era alta, que conta iava tudo, quando as coisas pioravam se também passava para os amiliares$ Era quem brincava com os ilos$ E oi dele erdou *o cavalo selva em3 que vivia dentro dela$ 8 m.e vivia < sombra do marido$ Muler alta, ma ra e bonita tina uma orm !usta, enerosa de tratar as pessoas$ Era com ela que os ilos conversavam$ ami os antes do casamento, quando ainda aparentava ser eli1, sem sombras a o @oi ela quem a!udou %a& domar seu cavalo selva em (interno)$ : irm.o o mais velo dos tr/s ilos, era o aliado iel de %a&$ Inteli ente se uro, era o ilo per eito$ Muito parecido com a m.e$ 8o lado dele, %a& sen prote ida$ Cobria todos os uros e problemas causados por ela em suas crises depress.o$ 8 superprote ia dos problemas cotidianos da vida, estando presente lu ares e situaç es importantes para %a&$ 8 irm. era a bele1a da amília$ "ina uma consci/ncia dolorosa de tudo que Beu estilo era carism tico, contudo tina um temperamento ero1$ Bo r sombrios e passa eiros$ 8cava que a vida militar conservadora aprisionava a desa iadora e rebelde$ 8 *imper eita3$ "ambém oi contra a necessidade de %a& ítio$

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Uma Mente Inquieta

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Uma Mente Inquieta Kay Redfield jamison

Uma Mente Inquieta (Kay Redfield Jamison)Este livro um relato da autora sobre a doena Psicose Manaco-Depressiva (PMD), hoje chamada de Transtorno Bipolar. Kay Redfiled Jamison a descreve como uma doena biolgica nas suas origens, mas que d a impresso de ser psicolgica na vivncia que se tem dela; uma doena sem par no fato de proporcionar vantagens e prazer e que, no entanto, traz como conseqncia um sofrimento quase insuportvel e, no raramente, o suicdio (p.07).Este livro tem a inteno de informar, falar dos preconceitos vividos e sofridos, do medo de conseqncias em termos pessoais e profissionais, e da importncia de se procurar ajuda e de tomar a medicao adequada, entre outros acontecimentos vividos pela autora. Kay usa as prprias experincias da doena para embasar suas pesquisas, ensino, prtica clnica e trabalho de divulgao e conscientizao.

A autora inicia o livro apresentando sua famlia:

O av materno morreu antes que Kay nascesse. Era professor universitrio e fsico por formao. Diziam que era espirituoso, gentil alm de intelectualizado.

A av materna era uma mulher carinhosa e afetuosa que, semelhana da me de Kay, nutria um interesse profundo e genuno pelas pessoas. As pessoas vinham sempre em primeiro lugar. (p.21) No era intelectualizada, mas muito organizada, conservadora, fina, decidida e incapaz de uma indelicadeza.

O pai oficial de carreira da Fora Area (cientista e piloto). Homem entusistico, divertido, curioso sobre tudo. Seu humor era instvel, quando as coisas iam bem sua disposio era alta, que contagiava tudo, quando as coisas pioravam seu mau humor tambm passava para os familiares. Era quem brincava com os filhos. E foi dele que Kay herdou o cavalo selvagem que vivia dentro dela.

A me vivia sombra do marido. Mulher alta, magra e bonita tinha uma forma delicada, justa, generosa de tratar as pessoas. Era com ela que os filhos conversavam. Teve muitos amigos antes do casamento, quando ainda aparentava ser feliz, sem sombras agourentas. Foi ela quem ajudou Kay domar seu cavalo selvagem (interno).

O irmo o mais velho dos trs filhos, era o aliado fiel de Kay. Inteligente, justo e seguro, era o filho perfeito. Muito parecido com a me. Ao lado dele, Kay sentia-se protegida. Cobria todos os furos e problemas causados por ela em suas crises de mania e depresso. A superprotegia dos problemas cotidianos da vida, estando presente em todos os lugares e situaes importantes para Kay.

A irm era a beleza da famlia. Tinha uma conscincia dolorosa de tudo que a cercava. Seu estilo era carismtico, contudo tinha um temperamento feroz. Sofria de humores sombrios e passageiros. Achava que a vida militar conservadora aprisionava a todos. Era desafiadora e rebelde. A imperfeita. Tambm foi contra a necessidade de Kay em tomar Ltio.

Kay a perfeita. Tinha muita facilidade para fazer amigos. Os humores sombrios s apareceram aos dezessete anos. Aos 12 anos se interessou pela medicina e, sempre que possvel, assistia a equipe mdica, de um hospital prximo sua casa, fazer pequenas cirurgias. O pais e os amigos do pai incentivavam Kay nas suas experincias e dissecaes de pequenos animais e insetos. Quando ela acompanhou a dissecao de um cadver, Kay relata que precisou ter um grande controle emocional para suportar aquele momento. Aos 15 anos visitou um hospital psiquitrico, que gerou ansiedade por sentir que tinha uma fissura no seu temperamento. Assustou-se com a estranheza das pacientes, principalmente pela expresso de dor que existia nelas e que de certa forma ela compreendia muito bem.

Kay convivia com pessoas que adoravam os entusiastas como ela. Ela tinha uma vida cheia de amigos, natao, equitao, softball, festas, namorados, porm a independncia e o temperamento instvel eram de difcil combinao com o mundo militar tradicional. Era esperados dos filhos do militares as boas maneiras e o respeito a hierarquia (onde todos so superiores s crianas, e ainda os meninos superiores s meninas). Era uma sociedade construda em torno da tenso da aventura e da disciplina, da busca do prazer de voar e da morte sbita, era civilizada, graciosa, elitista e intolerante s fraquezas pessoais. O domnio sobre si mesmo e o comedimento eram exigidos das esposas, no podiam irritar seus maridos antes de um vo, pois isto poderia ser perigoso, elas poderiam ser responsveis pela queda de um avio. A raiva e a insatisfao deveriam ser guardadas no ntimo de cada uma para no causarem mortes.

Aos 15 anos mudou-se com a famlia para a Califrnia, quando o pai reformou-se na fora area. Os bons costumes de Kay eram motivos de chacotas para os colegas de classe. Alm disso, ela havia deixado em Washington o namorado, amigos e o estilo de vida conservador e militar que conhecia desde pequena, um mundo pequeno, aconchegante, enclausurado e pouco ameaador. A Califrnia era fria e escandalosa. Em Washington ela era importante, na Califrnia Kay era mais uma. Aos poucos foi se adaptando. O irmo foi para a faculdade, os pais estavam mais distantes um do outro. O pai entrou em depresso constante e comeou a beber, e no final do 2 ano Kay teve sua primeira crise manaco-depressiva. Primeiro veio a fase da mania, cheia de planos, projetos, ao. Essa primeira crise manaca foi leve e branda. Ento o cho comeou a sumir debaixo da vida e da cabea de Kay, o raciocnio ficou tortuoso, nada fazia sentido, tudo se voltava para o tema da morte. Sentia-se exausta, com o corao morto e crebro frio como barro. Cansao profundo, indiferena diante da vida. E ningum da famlia dela percebeu estas mudanas. At porque ela fez uma fora enorme para no demostrar isto. Afinal, tinha sido criada para guardar os problemas s para si. Sentiu que amadureceu rapidamente durante este perodo de tanta perda de identidade.

O tempo da faculdade foi um tempo inconcebvel, um pesadelo frente aos estados de humor violentos e apavorantes. Nos perodos de entusiasmo muito dinheiro era gasto, mesmo sem poder pagar. Ficava extremamente inquieta, furiosa, irritadia e sentia-se incapaz de pedir ajuda a qualquer pessoa.

Aos 20 anos foi estudar na Universidade de Sta Andrews, na Esccia. Sua estada durou um ano, que proporcionou a Kay um suave esquecimento dos dolorosos anos anteriores, funcionando como um amuleto contra todo tipo de anseio e perdas. Ano de lembranas felizes, guardadas com seriedade.

Aos 21 anos voltou para a Universidade da Califrnia (UCLA). Foi uma mudana de humor abrupta. Precisava conciliar trabalho, aulas, vida social e humores destrutivos (p.63).

Os planos de carreira de Kay havia mudado, pois a medicina exigiria que ela ficasse sentada horas a fio e ela no conseguia ficar parada. Ao mesmo tempo, estava apaixonada pelas diferenas individuais estudadas no curso de psicologia. Sentia curiosidade em estudar as alteraes de humor. Iniciou os estudos pelos efeitos psicolgicos e fisiolgicos de drogas modificadoras do humor, como por exemplo LSD, maconha, cocana, narcticos, barbitricos e as anfetaminas. Tanto ela quanto o professor desta disciplina tinham alteraes de humor, mas se recusavam tomar qualquer tipo de medicamento. Achavam que anti- depressivos era para pacientes psiquitricos, no para eles. Assim, se faziam refns de suas formaes e de seus orgulhos. Kay sentia-se segura com este professor. Decidiu fazer o doutorado em psicologia, ao invs de residncia em medicina. A ps-graduao deu uma trgua ilusria no curso violento da doena no tratada. A esta altura, Kay estava casada com um artista francs, pintor talentoso, delicado e gentil.

O nimo, o cabelo, as roupas, tudo mudava de uma semana para outra, mas o marido era constante. Nesta poca comeou estudar psicologia clnica, psicofarmacologia, psicopatologia, mtodos clnicos e psicoterapia. Atendia psicticos com mais desenvoltura do que os outros alunos. Sua superviso a princpio era psicanaltica, passando em seguida para uma abordagem mais mdica da psicopatologia, centrada no diagnstico, nos sintomas, na doena e nos tratamentos mdicos.

Kay finalizou seu doutorado defendendo a tese sobre a dependncia da herona. Pouco depois foi contratada como professora assistente da UCLA, subindo na cadeia alimentar da academia. Trs meses depois disto estava descontroladamente psictica.

Na fase da mania Kay sentia-se extrovertida, sensual, desenvolta, cheia de energia, bem estar, onipotncia financeira e euforia. Mas em algum ponto sentia que tudo mudava, a velocidade do pensamento tornava-se excessivo e uma confuso arrasadora tomava o lugar da clareza, a memria desaparecia, o humor era substitudo por medo e preocupao. Irritao, raiva, susto, tudo emaranha na caverna mais sinistra da mente (P.80). Kay fala dos questionamentos que surge a partir de ento: Quando isso vai acontecer de novo? Quais dos meus sentimentos so reais? Qual dos meus eus sou eu? (P.80) e o que mais intrigava era o fato de haver algum tipo de premonio e razo nos primeiros dias da loucura iniciar. Pouco tempo depois seu casamento comeou desmoronar.

A mania no um luxo que se possa sustentar com facilidade. O uso do ltio se fazia extremamente necessrio e implicava a Kay entrar no mesmo ritmo que todas as outras pessoas. Ela no se conformava em ter que tomar a medicao constantemente. Sua irm tambm era contra, dizia que a personalidade ficava rida. Seu irmo, como sempre, a superprotegia. Durante o divrcio dos pais, ele a protegeu at de seus humores turbulentos. E foi depois de uma sria confrontao com um amigo que Kay comeou reavaliar seus preconceitos com relao ao Ltio.

O psiquiatra de Kay era um homem de boa aparncia, inteligente, inflexvel, disciplinado que apesar de acreditar no tratamento mdico precoce achava imprescindvel a psicoterapia para a obteno da cura e da mudana duradoura. Kay fez terapia semanal durante um longo perodo e foi um fator fundamental para mant-la viva durante uma tentativa de suicdio. O desafio estava em aprender a distinguir os papis do ltio, da vontade e do insight na recuperao e na tentativa de levar uma vida significativa. Era essa a tarefa e o dom da psicoterapia (P.105). O Ltio evita as euforias sedutoras, ameniza as depresses, elimina as teias de aranha do pensamento desordenado, permite que a pessoa fique fora de um hospital, viva, e possibilita a psicoterapia Mas esta que cura (P.105). Foi difcil para Kay renunciar aos altos vos da mente e da emoo, todos esperavam que ela acolhesse bem a normalidade, mas sempre foi complicado para ela se manter altura de suas expectativas.

O Ltio, s vezes, causava intoxicao e seus efeitos colaterais eram tremedeira, perda da coordenao motora, viso embaraada, perda de concentrao, ateno e memria. Para quem era to estudiosa e dedicada s leituras, Kay sentia uma saudade incrvel de seus livros e de sua mente, alm de ter se tornada viciada nos humores ascendentes. Compreendia que sem o Ltio a doena voltaria de forma ainda mais grave, e que tratar essa doena sem medicao era ser extremamente negligente. Pouco tempo depois desta conscientizao, Kay perdeu um cliente que se recusou a tomar a medicao, assim como acontece com milhares de pessoas que tem este tipo de preconceito. O paciente considera a medicao uma promessa de cura, e um meio para o suicdio se no funcionar. Teme que, ao tomar a medicao, esteja arriscando seu ltimo recurso (p.123).

Kay tambm tentou suicdio. Ela relata a dificuldade de reconciliar a imagem que tinha dela, com a da mulher totalmente louca, desbocada, sem nenhum acesso a razo ou controle que havia se tornado neste perodo de depresso. Fala das discrepncias entre o que se , e o que se foi criado para acreditar ser o comportamento correto para os outros. Para ela o transtorno manaco-depressivo uma doena que tanto mata quanto d vida, assim como o fogo que tanto cria quanto destri (P.147).

A partir de ento, Kay decidiu usar sua doena para extrair algo de bom de toda sua dor. Instalou uma clnica ambulatorial na UCLA, especializada no diagnstico e tratamento de transtornos afetivos, que logo se tornou uma grande instituio de pesquisa e ensino. Davam grande nfase ao tratamento que combinava medicaes e psicoterapia. Salientavam a importncia da informao sobre as doenas, seus tratamentos ao paciente e suas famlias.

Outra preocupao que Kay passou a ter com relao a doena a forma como se fala, os termos que so usados para se referir aos pacientes. Faz uma reflexo sobre a mudana do nome Psicose Manaco-Depressiva para o termo Transtorno Bipolar. Questiona se esta realmente uma mudana necessria para evitar rtulos e estigmas, j que esta medida s faz obscurecer (o que representa a doena) e encobrir a realidade dessa condio. Ao mesmo tempo informa que a classificao em transtorno unipolar e bipolar pressupe uma distino entre a depresso e a doena manaco-depressiva. Outra informao curiosa a de recentes pesquisas que demonstram a existncia de genes causadores da doena e do alto ndice de ocorrncia em famlias que tm em sua rvore genealgica pessoas manaco-depressivas. E mais um questionamento de Kay se segue a este fato, quais serio as conseqncias dessa descoberta? No correremos o risco de tornar o mundo um lugar mais ameno, mais homogneo se esse gene for eliminado? (P229). E como manaco-depressiva ela afirma que nunca arrependeu de ter nascido, nem nos perodos de depresso mais aguda. Fala das vantagens e contribuies, tanto para o indivduo, quanto para a sociedade da existncia de pessoas com esse transtorno. Durante todo o livro fica claro como ela sente falta dos perodos de mania, e como, s vezes, a mania valia a pena mesmo tendo que deprimir depois.

Como coloquei no incio deste resumo, a autora fala de sua vida, de suas relaes familiares e afetivas para descrever como ter e conviver com a doena manaco-depressiva. Fala das inmeras perdas que teve durante sua vida e distingue claramente depresso de dor. Diz que quando sentimos a dor da perda (de algum ou de algo) ainda assim a esperana permanece, na depresso isso no acontece. A depresso instala o nada, o vazio. E afirma que o amor pode no curar, mas um remdio essencial.A mensagem que fica o que Jaqueline sempre nos lembra: Cada um sabe da dor e da delcia de ser quem se . E que devemos usar isso a nosso favor.

H muito tempo, abandonei a noo de uma vida sem tempestades, ou de um mundo sem estaes secas e assassinas. A vida por demais complicada, constante demais nas suas mudanas para ser diferente do que realmente (P.258)