ORIENTAÇÃO VOCACIONAL - O PAPEL DOS PAIS · Na verdade, o que frequentemente me inquieta, quer...

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Decidir uma área de estudos ou um curso superior pode ser tão assustador para pais como para os filhos. Doze anos de escolaridade obrigatória que ficam marcados pelas escolhas que temos de fazer nos últimos quatro. Apoiar as decisões dos nossos filhos é um dos grandes desafios que nos são colocados.

Joyce L. Epstein, da Universidade John Hopkins nos EUA, dedicou boa parte da sua carreira a estudar a relação entre escolas, famílias e comunidade e o seu impacto no envolvimento e nos resultados dos alunos. Criou há 30 anos uma rede que reúne escolas e responsáveis pela educação a nível da administração para conceber programas que estabeleçam um envolvimento real destes players para promover o sucesso dos alunos nas escolas. Epstein sugere que as escolas devem desenvolver programas que promovam a intervenção das famílias desde muito cedo na discussão de oportunidades de carreira, alertando-as para a importância do seu papel neste processo ao longo de toda a escolaridade.

A comunicação e a partilha da informação são o u t ro s a s p e to s f u n d a m e n t a i s d a e d u c a ç ã o destacados por Epstein. Apesar de existir muita informação produzida, continuam por satisfazer as necessidades dos pais que pretendem aceder a essa informação, promover a educação e utilizar serviços que potenciam a exploração de opor tunidades para os seus f i lhos. O acesso à informação é fundamental para motivar os compor tamentos das famílias no encorajamento dos estudos dos filhos. Daí que quanto mais recursos e informações as escolas providenciem, maior será a motivação dos pais para a par t i lhar com os seus f i lhos.

Em 2001, Epstein utilizou as expressões escolas como famílias e famílias como escolas (“school-like families” e “family-like schools”) para descrever os comportamentos das famílias e das escolas que acreditam na importância mútua uma da outra, valorizando-se reciprocamente. Nas escolas como famílias, os pais encorajam, apoiam e desenvolvem as competências académicas dos filhos participando nas atividades. Estas famílias ensinam os seus filhos

a olhar para a escola como um elemento natural da rotina diária. As escolas como famílias agem de forma idêntica: tratam cada um dos alunos como se fossem seus filhos, dando-lhes uma atenção individualizada, alterando regras e normas quando é necessário e esforçando-se para criar relações abertas e recíprocas entre alunos e professores. Epstein lembra-nos que os alunos têm melhores resultados quando os pais e os professores trabalham juntos (are partners). Acrescenta que numa escola acolhedora (welcoming school) os educadores valorizam as diferenças e envolvem as famílias de muitas formas e transversalmente na escola.

A s e s c o l h a s , a o r i e n t a ç ã o e o n o s s o p a p e l de pais, mães ou educadores é o tema desta conferência que visa fazer uma reflexão sobre um momento crucial da vida dos nossos filhos.

Contamos com a generosa participação do Professor Doutor José Morgado, professor universitário que tem dedicado a carreira aos temas da educação e que nos recorda que «para muitos jovens pode não ser uma tarefa fáci l construir a “escolha acer tada”». A Drª Joana França destaca que a «tomada de decisão deverá ser planeada e não ao acaso e o mais acompanhada possível». A diretora do agrupamento, Drª Hermínia Silva começa por nos lembrar que é na escola que os nossos filhos «passam grande parte do seu tempo» e que por isso exerce «forte influência no seu desenvolvimento pessoal». Diversos olhares sobre a mesma questão, todos com a mesma f inal idade: ajudarmos os nossos filhos a escolher o melhor percurso possível.

Para esta publicação, apresentamos contributos de José Morgado e Joana França e Hermínia S i l va que a judam a enquadrar a re f lexão e , ainda, os depoimentos de três alunas da escola que aceitaram par t i lhar a sua exper iência: a Sofia do 9º ano, a Carolina Santos do 12º ano e a Maria Bebiano do 12º ano que é também membro do Conselho Geral do Agrupamento.

APEE / ES RAINHA DONA LEONOR

ORIENTAÇÃO VOCACIONAL - O PAPEL DOS PAIS

CONFERÊNCIA - ORIENTAÇÃO VOCACIONAL, O PAPEL DOS PAIS - 01

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8 MARÇO 2018ESCOLA SECUNDÁRIA RAINHA DONA LEONOR

ABERTURAEng.ª SANDRA CANDEIASPresidente Associação de Pais e Encarregados de Educação da ES Rainha Dona Leonor

O PAPEL DA ESCOLA NO PROCESSO DE ORIENTAÇÃODr.ª HERMÍNIA SILVADiretora Agrupamento de Escolas Rainha Dona Leonor

QUEM DECIDE? O PAPEL DOS PAISProfessor Doutor JOSÉ MORGADODepartamento de Psicologia da Educação ISPA – Instituto Universitário

ESCOLHAS E FATORES DE SUCESSODr.ª JOANA FRANÇAPsicóloga Serviço Psicologia e Orientação ES Rainha Dona Leonor

CONVERSA COM OS PAIS – MODERAÇÃODr.ª PATRÍCIA GALVÃOPsicóloga Clínica

ENCERRAMENTODr. RICARDO VARELAVogal Educação Junta Freguesia Alvalade

OrganizaçãoAssociação Pais e Encarregados de Educação ES Rainha Dona Leonor

ApoiosAgrupamento de Escolas Rainha Dona LeonorAssociação Pais e Encarregados de Educação EB23 Eugénio dos SantosJunta de Freguesia de Alvalade

ORIENTAÇÃO VOCACIONAL - O PAPEL DOS PAIS

Nunca é demais enfa t i zar a impor tânc ia de níveis de formação superior no nosso país que ainda estão abaixo dos objectivos estabelecidos. A ideia tão divulgada de que somos um “país de doutores” não corresponde à realidade. Para além disso, Portugal é um dos países em que a formação superior se torna mais compensadora.

Quanto à escolha do curso, sendo cer to que mui tos jovens têm a sua dec isão tomada, a questão é muito frequentemente colocada em formulações desta natureza, a escolha deve assentar no conhecimento e informação sobre o mercado de trabalho que forneça indicadores sobre “empregabilidade”, “saídas profissionais”, “estatuto salarial”, “oportunidades de carreira”, etc., ou por outro lado, a decisão deve ser tomada a partir dos interesses e motivações individuais?

J u l g o q u e n ã o e r r a r e i s e d i s s e r q u e p a r a m u i t o s d e n ó s a r e s p o s t a n ã o s e r á d i f í c i l e s e r á s e g u r a , qu a l qu e r qu e s e j a a o p ç ã o .

A lgumas vozes defenderão sem dúv idas que cada indivíduo deve considerar a sua motivação, o s s e u s i n te r e s s e s e g o s to s . S ó d e c i d i n d o a s s i m p o d e r á te r u m p ro j e c to d e v i d a c o m m a i s p ro b a b i l i d a d e d e r e a l i z a ç ã o p e s s o a l .

Para outros, esta opção será ingénua ou romântica. Corre o enorme risco de não considerar a realidade e, mais grave, conduzir directamente ao desemprego. Estas decisões são “sérias”, devem ser tomadas com racionalidade, com pragmatismo, só vale a pena estudar, aceder a uma formação que garanta emprego e, melhor ainda, um estatuto salarial significativo e oportunidade de carreira. Por i sso se to rna tão impor tante fazer uma prospecção da oferta formativa com critérios desta natureza e então escolher de forma ponderada.

Os primeiros responderão que não seguir motivações e desejos pode ser um caminho seguro para mais cedo ou mais tarde “chocar” com a frustração

e desencanto que germinam muito faci lmente em quem “não faz o que gosta” e os segundos ins is t i rão no pragmat ismo do “mundo rea l” .

Esta escolha é ainda por vezes complicada pela pressão familiar ou de outras pessoas, conheço muito jovens que foram, são, pressionados para realizar formação de acordo com a “tradição” d a fa m í l i a o u c o n fo r m e o d e s e j o d o s p a i s .

Na verdade, para muitos jovens pode não ser uma tarefa fácil construir a “escolha acertada”.

Com base na exper iênc ia e no meu p rópr io entendimento afirmo muitas vezes a este propósito e não só que cada um de nós deve poder e tentar escrever a sua narrativa, sonhar e cumprir esse sonho. No entanto, a experiência e o conhecimento também nos sugerem a importância de considerar as circunstâncias de cada momento, as dimensões ou factores que as influenciam, mas também não esquecer que volatil idade e mudanças rápidas são caracter ís t icas muito for tes do mercado de trabalho das sociedades actuais. O tempo de uma formação universitária é um espaço de tempo significativo que deve ser tido em conta.

Neste contexto, impor ta que cada jovem deva sentir-se seguro do que a sua escolha representa nas circunstâncias actuais, enfatizo “actuais”, do mercado de trabalho, que a realize a partir das suas motivações ou vislumbrando o projecto d e v i d a q u e te n t a r á c o n s t r u i r. S e r á e n t ã o importante colher informação sobre as diferentes opções ao d ispor no que respe i ta a cursos , escolas e respectivos indicadores de qualidade.

Finalmente, para além da escolha mas também considerando a escolha, parece-me de afirmar que apesar de a empregabilidade ser uma questão pertinente e a ter em conta, boa parte desta questão, mesmo em situações de maior constrangimento ou dificuldade, está profundamente associada à competência, esta é um factor essencial e começa a mostrar-se durante o curso, não apenas à saída.

AGORA NO ENSINO SUPERIOR. EM QUE CURSO?

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Na verdade, o que frequentemente me inquieta, quer at ravés da minha exper iênc ia , quer do contacto com muit íss imos colegas de outras instituições, é a forma pouco empenhada e de alguma “ligeireza” como alguns alunos do ensino superior parecem encarar o seu trajecto académico.

A fo r m a c o m o a l g u n s “ e s c o l a n te s ” , a l u n o s que não estudam só vão à escola, vivem o seu percurso escolar parece evidenciar desde aí um comportamento e atitudes pouco “profissionais”. D i to de ou t ra fo rma e pa ra reco r re r a uma expressão actual, cumprem os “serviços mínimos” e , poster io rmente , ver-se -á o que acontece .

A formação académica traduzida no acesso a saberes, competências, visão, valores etc., é mais do que conseguir um título que se cola ao nome, é um imprescindível conjunto de ferramentas que alavancam a construção e desenvolvimento de um projecto de vida pessoal e profissional c o m m e l h o r e s p e r s p e c t i v a s d e s u c e s s o .

Mesmo considerando sectores actualmente com um baixo nível de empregabi l idade, ou assim percebido, continuo a acreditar e a defender que, apesar dos maus exemplos que todos conhecemos, a competência e a qual idade da formação e preparação para o desempenho profissional, são a melhor ferramenta para entrar nesse “longínquo” mas ao mesmo tempo tão perto mercado de trabalho.

A verdade é que em condições “normais”, profissionais menos competentes, pior preparados, sentirão sempre maiores dificuldades, independentemente d a m a i o r o u m e n o r a b e r t u r a d o m e r c a d o .

Ass im sendo, impor ta que o invest imento, a preocupação com a aprendizagem e a aquisição de saberes e competências possam ser uma preocupação que pode e deve coexistir com o desenvolvimento de uma vida académica socialmente rica, divertida e fonte de bem-estar e satisfação. É desejável resistir à tentação do facilitismo, do passar não importa como, da fraude académica,

da competição desenfreada que inibem partilha, cooperação e apoio para momentos menos bons.

O f u t u ro v a i c o m e ç a r d e n t ro d e m o m e n to s .

Termino com um voto de boa sorte e boa viagem para todos, espero que sejam muitos, os que vão iniciar agora esta fase fundamental nas suas vidas.

De qualquer forma e como diz o Sérgio Godinho será “apenas” o primeiro dia do resto da vossa vida.

JOSÉ MORGADOProfessor Universitário, Departamento de Psicologia da Educação ISPA – Instituto Universitário

[Texto escrito conforme a antiga ortografia. Publicado originalmente na revista Visão em 3/7/2017.]

Para fazer esta tomada de decisão relativamente ao percurso escolar e profissional – a orientação vocacional – é crucial o conhecimento do meio e o conhecimento de si.

Para o conhecimento do meio os jovens precisam de conhecer bem as alternativas de formação escolar e profissional, as exigências de cada modalidade de formação, e perspetivas futuras. Não é possível tomar boas decisões vocacionais sem conhecer as hipóteses de formação, os cursos e as respetivas saídas profissionais. Por outro lado, é igualmente importante que os alunos tenham uma perspetiva global da evolução da sociedade, da economia, da empregabilidade, das oportunidades de carreira e que desenvolvam competências de procura, recolha, utilização e interpretação de informação vocacional.

O conhec imento de s i ou autoconhec imento envolve conhecer as suas motivações, interesses, a personalidade, capacidades e aptidões onde se incluem as competências sociais mas também os seus hábitos, nomeadamente os de trabalho e de organização. Além disso, há as chamadas competências transversais ou seja, aquelas que são sempre necessárias em qualquer situação da vida, tais como: ler, escrever e contar, pensar/raciocinar, procurar e utilizar informação, utilizar as novas tecnologias da informação e comunicação, observar, relacionar-se com os outros, planear, organizar-se, saber comportar-se nas diferentes situações da vida.

Esta tomada de dec isão deverá ser p laneada e n ã o a o a c a s o e o m a i s a c o m p a n h a d a poss íve l pe la famí l ia , professores, ps icó logos e s c o l a r e s e p e l a s o c i e d a d e e m g e r a l .

Chegados ao ensino secundár io e, por vezes ao ensino super ior ou até mesmo ao mundo do trabalho, há jovens e adultos que seguem percursos diferentes dos que haviam planeado.

No 10.º ano temos todos os anos alunos que após as primeiras avaliações ou já para o final do ano

ORIENTAÇÃO ESCOLAR E PROFISSIONAL OU VOCACIONALESCOLHAS E FATORES DE SUCESSO

Atua lmente os a lunos chegam ao 9º ano de escolaridade seguindo um percurso pré-definido onde têm de fazer poucas ou nenhumas escolhas – eventualmente apenas uma ou duas disciplinas como as de oferta de escola ou língua estrangeira II.

Na transição para o ensino secundário são chamados a tomar aquela que é, ou parece ser, a “decisão da sua vida”.

Num processo de tomada de decisão é necessário conhecer bem a questão ou problema que se nos coloca, identificar as alternativas ou opções, tomar a decisão no sent ido de selecionar ou implementar uma alternativa ou opção e avaliar o resultado ou impacto dessa tomada de decisão.

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Sempre me preocupei muito com o meu futuro. Tenho sempre medo do que me irá acontecer a seguir. Desde o 7º ano que eu tenho estado quase todos os dias a pensar: Que área vou escolher? Que caminho vou tomar? Será que vou ser boa naquilo que escolher? Ou vou ser um desastre? Todas estas perguntas consomem-me e fazem-me ficar ainda mais confusa quanto à decisão que tenho de tomar.

Cada dia que passa sinto que vou perdendo cada vez mais opções, porque penso que em nada me encaixo bem. No meu caso, ou vou para Artes ou vou para Humanidades. Mas se for para Ar tes, queria mudar de escola, o que me faria afastar da maior parte dos meus amigos, o que me custa. Mas, no entanto, acho que seria a área onde seria mais feliz, o que me faz ficar AINDA mais indecisa.

S e i q u e n ã o d e v o s e r a ú n i c a a t e r e s t e s p rob lemas e dúv idas , por i sso d iscordo um pouco de termos de escolher o nosso possível f u t u r o e m p r e g o c o m a p e n a s 14 / 1 5 a n o s .

SECUNDÁRIO

ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

No 9º ano, com 14 anos, não tinha ideias para o meu futuro e confesso que ainda hoje, com 17 anos, continuo sem ter. Na minha opinião, com 14 anos, ainda se é muito jovem para se tomar uma decisão que afeta tanto nosso futuro.

Durante o 9º ano tomei mais consciência de que tinha uma decisão importante a tomar, escolher uma área onde continuar os estudos. Ora, esta escolha é muito importante e tem de ser tomada com alguma reflexão e conhecimento das opções, na medida em que condiciona o nosso futuro a nível profissional. Penso que esta decisão deve ser tomada inteiramente pelos alunos, pois é o seu futuro que está em jogo. No meu caso senti o apoio dos meus pais sem sentir pressão por nenhuma área ou profissão específica, fomos conversando para poder tomar uma decisão, mas fui eu que escolhi. Senti que o mais importante seria seguir uma área que gostasse e que fosse do meu interesse.

Falando agora um pouco sobre o meu percurso, como era prática na escola, tive várias sessões de orientação vocacional onde nos foram apresentadas informações sobres as opções de escolha no 10º ano e onde realizámos os testes psicotécnicos. Após a realização destes testes, foram-nos entregues relatórios com o resultado.

Era uma boa aluna no 9º ano e sem dificuldades nas várias disciplinas, por isso não havia assim nada que excluísse logo de início. No entanto, nada me despertava interesse e não me revia a trabalhar no futuro em nenhuma área em específico, o que tornou a decisão mais difícil. Contudo, a minha família sempre me deu total liberdade e apoio para escolher o que achava melhor para mim e, assim, acabei por ir para a área de Ciências e Tecnologias com Biologia e Geologia. Esta escolha foi baseada na diversidade de áreas que o curso cientifico-humanístico de Ciências e Tecnologias abrange e também devido ao facto de nenhum dos outros cursos me despertar interesse.

Apesar de ainda hoje ter alturas em que ponho em causa se estou ou não na área certa, acabo por chegar sempre à conclusão de que não poderia ter feito outra escolha. Porém, a única coisa que me arrependo, no 10º ano, é ter escolhido Biologia e Geologia em vez

letivo ou até mesmo ao longo do 11.º ano ponderam a mudança de curso procurando novamente, ou pela primeira vez, orientação do psicólogo escolar.

Analisada cada situação, verificamos que houve alunos que tomaram uma decisão ao acaso, sem acompanhamento e sem conhecimento do meio, ou de si, seguindo o percurso dos amigos, por exemplo; ou com base em preconceitos muitas vezes proferidos por familiares, colegas, ou mesmo professores como “aquele curso é o que tem mais saídas”, “nesse curso não há emprego”, “esse curso é apenas para alunos com dificuldades”, “ tens de seguir o ensino super ior” , ou “esse não é um curso para rapazes/raparigas”, “tens de seguir o percurso do teu/da tua…” (estes últimos felizmente já cada vez menos frequentes).

Por out ro lado, por vezes a reor ientação de percurso também surge na medida em que a vida é um processo contínuo, estamos sempre em desenvolvimento, estamos sempre a aprender e a tomar consciência do meio que nos rodeia.

Em suma, em qualquer momento se pode tomar uma decisão importante. No entanto, há momentos próprios no sistema educativo português que exigem a tomada de decisões importantes para o futuro do aluno e que são: final do ensino básico, final do ensino secundário e final do ensino superior. As decisões devem ser planeadas atempadamente, decidir no momento e/ou totalmente ao acaso não é recomendável. Preparar atempadamente as decisões permite estar bem informado, pensar nos vários caminhos possíveis, pedir opiniões, preencher requisitos e amadurecer a decisão. Desta forma, as mudanças de percurso tornam-se muito menos frequentes e complicadas ou dolorosas.

JOANA FRANÇAPsicóloga Serviço de Psicologia e Orientação ES Rainha Dona Leonor

Penso que todos nós deveríamos escolher uma área que nos f izesse realmente fel izes, e que não a escolhêssemos apenas pelo dinheiro que poderíamos vir a receber num emprego dessa área, ou por um amigo ir para ela. A decisão do nosso futuro é nossa e deve ser tomada pensando no nosso próprio bem, pensada conscientemente.

Mas há algo que todos os alunos do 9º ano deviam saber, é que não há problema em errar. A meu ver, se alguém não se sentir confortável numa área e quiser mudar, não deve ter medo de o fazer. Por vezes temos de arriscar para chegarmos mais longe. Tenho a certeza que um dia todos nós vamos sentar-nos à frente da nossa secretária de trabalho e, olhando para trás no tempo, veremos o quão longe chegámos.

SOFIAAluna ES Rainha Dona Leonor

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A orientação vocacional é à partida, para muitos alunos, um estranho conceito que se revela de extrema impor tância no início dos estudos do ensino secundário e que terá um papel fundamental na escolha da área de estudos, seja ela a via profissional ou futuramente o ensino universitário.

Como a luna do secundár io , pe lo quar to ano (s im, o secundár io tem apenas 3 anos, mas eu estou a fazer o quar to, como mais à frente perceberão) , venho aqui em breves palavras partilhar um pouco da minha experiência como aluna, que tendo terminado este ciclo de estudos, se prepara para ingressar no Ensino Superior.

Neste sentido, irei abordar a minha experiência pessoal como estudante do ensino secundário,

ORIENTAÇÃO VOCACIONAL NA VIDA DE UM ES-TUDANTE DO ENSINO SECUNDÁRIO

Relativamente àqueles que efetivamente ainda não sabem “o que querem ser quando forem grandes” aconse lho -vos a segu i r o caminho que acharem mais adequado, retirando dele o máximo, porque um dia o click acaba por se dar.

Boa sorte a todos! E bom trabalho!

PS. Num caso ou noutro não desistam dos vossos sonhos.

MARIA BARBOSAAluna ES Rainha Dona Leonor

de Geometria Descritiva. Na altura do meu 9º ano, não excluía a hipótese de seguir algo relacionado com a área da saúde e, por isso, escolhi a disciplina de Biologia e Geologia. Tanto no 10º ano como no 11º ano esta foi sempre a minha pior disciplina e também a mais trabalhosa. Assim, o interesse também foi diminuindo, acabando por quase nunca gostar das matérias, o que me levou a crer que se tivesse ido para Geometria Descritiva teria obtido uma melhor classificação em termos de nota final e, além disso, as aulas teriam tido mais interesse para mim.

Nos dois primeiros anos do secundário andei um pouco menos focada na escola, o que teve obviamente consequências nas notas. Este ano, no 12º ano, estou muito mais focada e sei bem o que quero alcançar em termos de notas. Mesmo assim, continuo um pouco à deriva no que toca a faculdades e cursos. Ainda não tenho áreas que ache interessantes e muito menos hipóteses de cursos para escolher.

Apesar da escolha da área no 10º ano ser bastante decisiva, no 12 º ano voltamos a ter de escolher duas disciplinas de opção e, no meu caso, optei pela Química, porque é uma área em que tenho algum interesse. Também escolhi Aplicações Informáticas por ser a única opção disponível na turma com Química, mas até estou bastante satisfeita. É uma disciplina mais prática, com temas diferentes dos que já tinha estudado e onde consegui bons resultados.

A escola ajuda bastante os alunos nestas escolhas, tanto no 9º ano como no 12º ano. Temos a oportunidade de assistir a exposições sobre universidades e cursos e também algumas palestras, contadas na primeira pessoa, de várias áreas e diversos cursos. Aqui os alunos podem falar diretamente com essas mesmas pessoas que se deslocam à nossa escola, o que complementa a informação que temos disponível para fazermos as nossas escolhas para o futuro, não só para alunos na minha situação, mas também alunos com ideias um pouco mais definidas.

CAROLINA SANTOSAluna ES Rainha Dona Leonor

da Esco la Secundár ia Ra inha Dona Leonor, os meus processos de decisão e todo o leque de intervenientes que participaram na minha escolha para prosseguir os estudos no Ensino Superior.

Assim, ao longo do meu percurso escolar, fui encontrando vários colegas, que de uma forma prática, vou categorizar agora conforme a sua posição relativamente à sua orientação vocacional.

Falemos, então, de dois grupos de alunos: o primeiro, é reconhecido pelos restantes colegas, como o sortudo que desde muito cedo sabe “o que quer ser quando for grande” e, para que tal aconteça, tem já na sua posse uma panóplia de informações sobre o curso a que vai concorrer e a que faculdades se vai candidatar, bem como as médias necessárias para o mesmo. Ou seja, tem bem definido os seus objetivos e como os atingir. O segundo, por sua vez, é um especialista em multitasking e, de certa forma, um interessado diletante, conhecedor de um pouco de todas as áreas; com um pezinho nesta e um dedinho noutra, que tão distantes estão de serem equiparáveis. Neste caso é fundamental o Gabinete de Psicologia das escolas, de forma a que, numa primeira fase, oriente estes alunos para a área de estudos, na qual irão iniciar no Ensino Secundário. Aqui os Pais e/ou Encarregados de Educação são também muito importantes porque poderão ajudar o aluno, em função dos resultados da avaliação vocacional e resultados escolares, a projetar o seu futuro mais imediato, seja ele o Ensino Profissional ou outro.

Muitos de nós conhecem exemplos de alunos, que já depois de iniciarem o seu percurso no ensino universitário, optam por trocar de curso ou por fazer qualquer outro trabalho que nada tem a ver com a escolha inicial. O meu caso, em particular, enquadra-se no primeiro grupo. Desde muito cedo, que quero ser médica e como não entrei no ano seguinte ao ano da conclusão do ensino secundário, decidi repetir os exames este ano. A vocação é muito importante e o apoio da famí l ia tem sido indispensável .

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O PAPEL DA ESCOLA NA ORIENTAÇÃO VOCACIONAL

A escola, sendo o lugar onde os jovens passam grande parte do seu tempo, constitui-se como um meio de forte influência no seu desenvolvimento pessoal. Com a conclusão do 9º ano de escolaridade, os jovens chegam ao fim de um percurso formativo semelhante para todos. O prosseguimento de estudos de nível secundário confronta-os com uma escolha, provavelmente a primeira com consequências na sua vida futura, tanto a nível escolar como profissional.

Na escolha da área de estudo ou do curso a frequentar no 10º ano ou na escolha do percurso a seguir terminado o 12º ano, é frequente os alunos sentirem dúvidas, hesitações e até angustias, pelos mais diversos motivos: a incerteza sobre os seus próprios interesses, o medo de optar por um caminho que venha a revelar-se errado, a falta de conhecimento sobre determinada área profissional, ou o receio de desapontar as expectativas da família.

Com os avanços tecnológicos ocorridos nas últimas décadas e as alterações constantes no mercado de trabalho, os alunos de hoje têm à sua disposição uma grande variedade de opções, quer em termos de profissão quer em termos de locais de trabalho, o que nem sempre é facilitador da tomada de decisão.

Os psicólogos afetos aos serviços de psicologia e orientação vocacional existentes nas escolas, bem como os professores, exercem um papel muito relevante no acompanhamento dos alunos e na clarificação das trajetórias possíveis. O seu trabalho visa auxiliar o aluno no seu processo de tomada de decisão, através da avaliação e análise do seu perfil de competências e interesses.

O processo de Orientação Vocacional para além de permitir ao aluno desenvolver e consolidar o conhecimento sobre as suas capacidades, aptidões e interesses profissionais, faculta-lhe informação sobre os percursos formativos, as oportunidades no mundo do trabalho, bem como sobre as aptidões requeridas para o exercício de diversas profissões. Pretende-se uma tomada de decisão informada,

consciente e consistente, que lhe proporcione um percurso escolar com sucesso e o conduza a uma plena integração e satisfação num mundo do trabalho, que exige dos indivíduos cada vez mais competências e capacidade de adaptação.

O Serviço de Psicologia e Orientação, do nosso Agrupamento dispõe de profissionais dedicados e empenhados em facultar aos nossos alunos os meios necessários para refletirem e planearem consistentemente o seu futuro. Neste âmbito, estes profissionais para além da aplicação de testes de orientação vocacional a todos os alunos do 9.º ano, cujos resultados são dados a conhecer aos alunos e aos encarregados de educação, têm vindo a dinamizar atividades diversas que proporcionam aos alunos, em particular do 9º e 12º anos, informações relativas aos percursos escolares existentes, competências e conteúdos correspondentes e aos requisitos inerentes aos diversos cursos superiores e atividades profissionais.

O trabalho desenvolvido por todos os profissionais, na área da orientação vocacional, v isa evitar situações em que a escolha efetuada pelo aluno se revele desajustada. Porém, embora as decisões tomadas sejam vinculativas, não são irreversíveis, pois o jovem tem sempre a possib i l idade de a l terar as suas escolhas. O que a l iás é uma exigência frequente no atual mundo do trabalho.

HERMÍNIA SILVADiretora Agrupamento Escolas Rainha Dona Leonor

“Ser-se culto não implica ser-se sábio; há sábios que não são homens cultos e homens cultos que não são sábios”. Bento de Jesus Caraça, A Cultura Integral do Indivíduo - problema central do nosso tempo, 1939

Entendemos a escola e a educação como garantias de uma elevação cultural para todos, de forma democrática e inclusiva, uma ferramenta essencial para desenvolvimento das qualidades humanas nas suas diferentes acepções - física, intelectual, moral e artística.Os nove anos de escolaridade em que se inserem os três primeiros ciclos de ensino básico devem ir ao encontro dessa formação alargada, e serem contributo para a aquisição de conhecimento diversificado, p lu ra l , que supor te cu l tu ra lmente os jovens .

Entendemos que quanto mais sustentado e diversificado for este conhecimento, mais aptos os estudantes estarão a fazerem ponderadamente uma escolha que vá ao encontro dos seus mais profundos interesses e que se alicerce com responsabilidade na sua felicidade.

10 - CONFERÊNCIA - ORIENTAÇÃO VOCACIONAL, O PAPEL DOS PAIS CONFERÊNCIA - ORIENTAÇÃO VOCACIONAL, O PAPEL DOS PAIS - 11

A DIVERSIDADE DE CONHECIMENTO COMO CONTRIBUTO

Consideramos que no desfecho do ensino básico se devem desenvolver formas de orientação escolar e profissional que permitam aos jovens terem um conhecimento adequado das opções de formação subsequentes e da inserção na vida ativa, sempre no respeito pelas suas vocações e realizações individuais. Os Serviços de Psicologia e Orientação devem funcionar, efectivamente e com qualidade, como “unidades especializadas de apoio educativo integrados na rede escolar” e que “desenvolvem a sua ação nas áreas do apoio psicopedagógico” (tal como prevê a legislação), colaborando de forma útil nesta escolha.Mas ainda assim, entendemos que esta tomada de decisão não tem de prever um caminho linear e exclusivo. Nesta idade e pela vida fora, o desejo de aprender novas matérias, de alargar horizontes, de conhecer, é infindo e os jovens não devem estar sujeitos a caminhos sem saídas. Por isto, é de muita importância assegurar-se a mobilidade e permeabilidade entre diferentes cursos no final do ensino básico,e garantir

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12 - CONFERÊNCIA - ORIENTAÇÃO VOCACIONAL, O PAPEL DOS PAIS

que o aceso ao ensino superior é uma possibilidade real, sem constrangimentos de natureza económica, social ou curricular (como os que se sentem no desfecho do Ensino Profissional).

Acreditamos que a decisão que concedemos aos jovens deve assentar na sua felicidade e na esperança. Algo que não se coaduna c o m o c o n d i c i o n a m e n t o o u a r e s t r i ç ã o .Neste sentido, não se pode esgotar no terceiro ciclo a construção do homem culto. A escola, e a comunidade escolar, são e devem continuar a ser um dos principais construtores deste projecto, contribuindo para a diversidade de conhecimento dos jovens, e para fomentar oportunidades para o seu crescimento cultural nas diversas áreas.

A Junta de Freguesia de Alvalade, como órgão do poder Local Democrático, colabora com as escolas e com a comunidade escolar para a persecução deste objetivo, procurando favorecer e complementar a formação das crianças e jovens da freguesia. O Pelouro da Educação e o recente Pelouro da Juventude têm procurado, juntamente com as Direções do Agrupamento, as Coordenações das Escolas, as Associações de Pais e Estudantes de Alvalade, contribuir para a formação alargada das suas crianças e jovens, sobretudo pelo desenvolvimento da prática desportiva e da expressões artísticas, pela colaboração com projectos curriculares e extracurriculares, pelo apoio às visitas de estudo, às hortas e jardins, pela atenção à suas atividades regulares e pontuais.

Trata-se de um projeto contínuo, que nos impele a estarmos abertos, aprofundando e frutificando relações, e procurando contribuir localmente para a construção de homens cultos e felizes.

RICARDO VARELAVogal Pelouro Educação e Juventude – Junta de Freguesia de Alvalade

A Associação de Encarregados de Educação dos Alunos da Escola Secundária Rainha Dona Leonor agradece o apoio concedido para a organização desta conferência. Ao Dr. Ricardo Varela, Vogal com o Pelouro da Educação e Juventude da Junta de Freguesia de Alvalade pelo excelente diálogo e apoio à iniciativa e pelo apoio na conceção gráfica e impressão dos materiais de divulgação da conferência e execução desta publicação; à Dr.ª Hermínia Silva, Diretora do Agrupamento de Escolas Rainha Dona Leonor pela disponibilidade e acolhimento das propostas que lhe têm sido apresentadas pela associação; à Associação de Pais e Encarregados de Educação da EB23 Eugénio dos Santos pelo diálogo frutífero no desenvolvimento e promoção de atividades de interesse comum no seio do agrupamento. Agradecemos a enorme generosidade do Professor Doutor José Morgado, da Dr.ª Joana França e da Dr.ª Patrícia Galvão que aceitaram participar pro bono nesta conferência partilhando com as famílias dos alunos o seu conhecimento e sabedoria. Por fim, agradecemos também a Fernando Guerra pela disponibilização das fotografias da Escola Secundária Rainha D. Leonor.

AGRADECIMENTOS

Edição:APEE/Rainha

Fotografia: Fernando Guerra / ultimasreportagens.com

(p.6, p.8 e p.12)

Design: Nuno Costa / Junta de Freguesia de Alvalade

Apoios:Agrupamento de Escolas Rainha Dona Leonor,

Associação de Pais e Encarregados de Educação EB23 Eugénio dos Santos,Junta de Freguesia de Alvalade

Lisboa, Março 2018

apeerainhadleonor.wordpress.com

FICHA TÉCNICA

CONFERÊNCIA - ORIENTAÇÃO VOCACIONAL, O PAPEL DOS PAIS - 13

Page 9: ORIENTAÇÃO VOCACIONAL - O PAPEL DOS PAIS · Na verdade, o que frequentemente me inquieta, quer através da minha experiência, quer do contacto com muitíssimos colegas de outras