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Dirk Claudio Ahrens Rafael Fuentes Llanillo Róger Daniel de S. Milléo Diversificando Áreas Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco com Cultivo do Tabaco uma experiência no Centro-Sul do Paraná uma experiência no Centro-Sul do Paraná BOLETIM TÉCNICO Nº 74 - JULHO/11 - ISSN 0100-3054 BOLETIM TÉCNICO Nº 74 - JULHO/11 - ISSN 0100-3054

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CARLOS ALBERTO RICHAGovernador do Estado do Paraná

NORBERTO ANACLETO ORTIGARASecretário de Estado da Agriculturae do Abastecimento

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR

FLORINDO DALBERTODiretor-Presidente

ARMANDO ANDROCIOLI FILHODiretor Técnico-Científico

ALTAIR SEBASTIÃO DORIGODiretor de Administração e Finanças

ADELAR ANTONIO MOTTERDiretor de Recursos Humanos

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BOLETIM TÉCNICO Nº 74JULHO/2011

ISSN 0100-3054

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁLondrina

2011

DIVERSIFICANDO ÁREAS COM CULTIVO DO TABACOuma experiência no Centro-Sul do Paraná

Dirk Claudio Ahrens

Rafael Fuentes Llanillo

Róger Daniel de Souza Milléo

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Impresso no Brasil / Printed in Brazil2011

Comitê Editorial

Rui Gomes Carneiro - CoordenadorSéphora Cloé Rezende CordeiroTelma PassiniTiago Pellini

Editor ExECutivo

Álisson Néri

rEvisão

Bella Artes

FiCha CatalográFiCa ENormalização dE rEFErêNCias

Maria Balbina Costa de Souza

Editor dE layout/diagramação

Tiago Antonio Paulino

Capa

Bureau Londrina

distribuição

Área de Difusão de Tecnologia - [email protected] | (43) 3376-2373

tiragEm: 1.000 exemplares

Impresso na Imprensa Oficial do Estado do Paraná.

PubliCação FiNaNCiada Com rECursos do

miNistério do dEsENvolvimENto agrário - mda.

Todos os direitos reservados.É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.É proibida a reprodução total desta obra.

Ahrens, Dirk Claudio Diversificando áreas com cultivo do tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná / Dirk Claudio Ahrens, Rafael Fuentes Llanillo, Róger Daniel de Souza Milléo – Londrina : IAPAR, 2010. 65 p. ( IAPAR. Boletim Técnico, 74).

ISSN 0100-3054

1. Agricultura familiar. 2. Agroecologia. 3. Tabaco. 4. Socioeconomia I. Fuentes Llanillo, Rafael. II. Milléo, Róger Daniel de Souza. III. Instituto Agronômico do Paraná, Londrina, PR. IV. Título.

CDD 338. 98162

A287a

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ

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AUTORES

Dirk Claudio Ahrens

Graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (1977), Mestre em Ciência e Tecnologia de Sementes pela Universidade Federal de Pelotas (1993) e Doutor em Agronomia (Produção Vegetal) pela Universidade Federal do Paraná (2000). Atualmente é pesquisador científico e líder do Programa de Pesquisa em Agroecologia do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR). Representa a instituição junto ao Programa de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco, da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário.

Rafael Fuentes Llanillo

Graduado em Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz da Universidade de São Paulo (1978), Mestre em Economia Agrária pela mesma instituição (1984) e Doutor em Agronomia pela Universidade Estadual de Londrina (2007). Pesquisador da Área de Socioeconomia do IAPAR desde 1979, atualmente é gerente do projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar e líder do Programa Sistemas de Produção.

Róger Daniel de Souza Milléo

Graduado em Administração pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (1992), Especialista em Gestão Ambiental pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2003), em Educação e Gestão Ambiental pela Faculdades Integradas do Vale do Ivaí (2010) e em Gestão Pública pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (2010). Agente de Ciência e Tecnologia do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), tem atuado em trabalhos de pesquisa e desenvolvimento nas Redes de Propriedades Familiares Agroecológicas no Centro-Sul do Paraná e na implantação do Sistema de Gestão Ambiental do IAPAR.

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AGRADECIMENTOS

Agradecemos, em especial, às famílias dos agricultores que interagiram conosco na realização deste trabalho, pessoas sem as quais não seria possível a sua execução: família Pauluk, família Iaczaczaki, família Ramina, família Wenglarek, família Albuquerque, família Mangoni e família Wrubleski.

Reconhecemos, também, a colaboração dos colegas que se envolveram com o projeto: Albino Schraier, Alex Sander S. do Carmo, Ana Simone Richter, Dácio Antonio Benassi, Ednilson Pereira Gomes, Elton William Zemke, José Armindo Bonatto, Maria Isabel Radomski, Paulo Rogério Borszowskei e Rafael Oles dos Santos.

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1 INTRODUÇÃO ......................................................... 7

1.1 Opção pela Agricultura de Base Ecológica ............................... 8

1.2 Autoconsumo e Agroindústria Familiar ................................. 10

1.3 Áreas Cultivadas com Tabaco e sua Diversificação ............... 14

1.4 Caracterização das Áreas de Estudo ...................................... 17

1.4.1 Território Vale do Iguaçu .............................................. 17

1.4.2 Território Centro-Sul do Paraná ................................... 19

1.5 Breve Histórico do Projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas ..................................................... 22

2 ESCOLHA DAS FAMÍLIAS DE AGRICULTORES E SEUS HISTÓRICOS ..................................................25

2.1 Escolha das Famílias ............................................................... 25

2.2 Descrição dos Indicadores Selecionados ............................... 26

2.3 Histórico das Famílias e suas Propriedades ........................... 27

2.3.1 Família 1: sistema tabaco convencional mais leite no município de São Mateus do Sul ............ 27

2.3.2 Família 2: sistema tabaco orgânico mais grãos no município de São Mateus do Sul .......... 29

2.3.3 Família 3: sistema tabaco orgânico especializado no município de São Mateus do Sul ............................. 32

SUMÁRIO

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2.3.4 Família 4: sistema tabaco orgânico diversificado no município de São Mateus do Sul ............................. 34

2.3.5 Família 5: sistema tabaco orgânico mais grãos no município de Rio Azul .............................................. 38

2.3.6 Família 6: sistema agroindústria diversificado no município de União da Vitória ................................ 39

2.3.7 Família 7: sistema de produção de olerícolas e pequenos frutos no município de Rio Azul ............... 42

3 AVALIAÇÃO SOCIECONÔMICA DOS SISTEMAS ........473.1 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas de Produção ........................................................................... 47

3.2 Avaliação do Autoconsumo e de Outras Rendas na Composição da Renda Familiar ......................................... 49

3.3 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas por Unidade de Área.............................................................. 51

3.4 Diversificação dos Sistemas e a Independência em Relação ao Cultivo do Tabaco .......................................... 53

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................57

5 REFERÊNCIAS .........................................................59

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Este livro apresenta os resultados da comparação de desempenho entre os sistemas de produção de sete famílias de agricultores do Centro-Sul do Paraná realizada durante três anos, de 2005/2006 a 2007/2008.

O objetivo deste trabalho foi verificar a rentabilidade do sistema de tabaco convencional em relação a sistemas de base agroecológica com renda baseada em tabaco orgânico e outras culturas. Para tanto, foram estudados sistemas de: tabaco convencional; tabaco especializado; tabaco orgânico diversificado; frutas, mel e erva-mate orgânicos com agroindústria; e, hortaliças mais pequenos frutos orgânicos com valor agregado. Adicionalmente, avaliou-se o valor do autoconsumo e de outras rendas relevantes para os sistemas avaliados.

Esta publicação traz indicativos do desempenho econômico sobre a agricultura de base ecológica, a importância do autoconsumo, a agregação de valor da produção da agricultura familiar e o cultivo do tabaco com diversificação de espécies no Centro-Sul do Paraná. Na introdução, faz-se a caracterização das duas regiões onde se desenvolveu o estudo e um breve histórico do trabalho do projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas. No segundo capítulo, é descrita a metodologia utilizada na seleção das famílias de agricultores, suas histórias de vida e os sistemas de culturas que utilizam. No terceiro capítulo, são abordadas a avaliação socioeconômica dos sistemas, comparando-se a rentabilidade dos sistemas de produção, a avaliação do autoconsumo e de outras rendas na composição da renda familiar, a comparação da rentabilidade dos sistemas por unidade de área, a diversificação dos sistemas e a independência em relação ao cultivo do tabaco. No quarto e último capítulo, são apresentadas as considerações finais do trabalho.

Este livro compila os resultados obtidos pelo projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas que foi parcialmente financiado pelo Programa de Diversificação das Áreas de Cultivo com Tabaco, da Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA).

1 Introdução

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1.1 Opção pela Agricultura de Base Ecológica

Nesta publicação, o termo “agricultura de base ecológica” foi escolhido para distinguir os estilos de agricultura resultantes da aplicação dos princípios e conceitos da agroecologia1 e do modelo de agricultura convencional ou modelo agroquímico.

A agricultura de base ecológica compreende agriculturas alternativas com diferentes denominações: orgânica2, biológica, biodinâmica3, permacultura4, entre outras. Cada uma delas segue determinados princípios, tecnologias, normas, regras e filosofias, segundo as correntes teóricas a que estão vinculadas.

A agroecologia é uma ciência e fornece o suporte científico e as ferramentas metodológicas necessárias para que a participação da comunidade se torne a força geradora dos objetivos e atividades dos projetos de desenvolvimento rural sustentável. Altieri (2004) argumenta que:

sob a perspectiva da produção, a sustentabilidade somente poderá ser alcançada no contexto de uma organização social que proteja a integridade dos recursos naturais e estimule a interação harmônica entre os seres humanos, o agroecossistema e o ambiente.

Caporal e Costabeber (2009) destacam que os atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional são insustentáveis 1A agroecologia é entendida como um enfoque científico destinado a apoiar a transição dos atuais modelos de desenvolvimento rural e de agricultura convencional para estilos de desenvolvimento rural e de agricultura sustentáveis (CAPORAL e COSTABEBER, 2002). A agroecologia constitui um enfoque teórico e metodológico que, lançando mão de diversas disciplinas científicas, pretende estudar a atividade agrária sob uma perspectiva ecológica mais ampla.2Agricultura orgânica e biológica é o termo frequentemente utilizado para a produção de alimentos, produtos animais e vegetais sem o uso de produtos químicos sintéticos ou alimentos geneticamente modificados e geralmente adere aos princípios de agricultura sustentável. Seus produtos são certificados por empresas nacionais ou internacionais. (PLANETA ORGÂNICO, 2009).3A agricultura biodinâmica auxilia aqueles que lidam no campo a vencer a unilateralidade materialista na concepção da natureza, para que possam encontrar uma relação espiritual-ética com o solo, as plantas, os animais e os coirmãos humanos. O ponto central da agricultura biodinâmica é o ser humano, que conclui a criação a partir de suas intenções espirituais baseadas numa verdadeira cognição da natureza (SIXEL, 2009).4A permacultura é um método holístico para planejar, atualizar e manter sistemas de escala humana (jardins, vilas, aldeias e comunidades) ambientalmente sustentáveis, socialmente justos e financeiramente viáveis (PERMEAR, 2009).

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ao longo do tempo em função de sua grande dependência de recursos não renováveis e limitados. Estes modelos, também, tem sido responsáveis por crescentes danos ambientais e pelo aumento das diferenças socio-econômicas no meio rural, havendo necessidade de se buscar estilos de desenvolvimento rural e de agricultura que assegurem maior sustentabilidade ecológica e equidade social.

A construção desse processo de mudança tem impulsionado uma transição agroambiental que se materializa no estabelecimento de diferentes estilos de agricultura ecológica ou orgânica, entre outras denominações, e consideram enfoques de desenvolvimento local ou regional aqueles que levam em conta as realidades dos distintos agroecossistemas.

Nesse sentido, devem ser privilegiados espaços nos quais os participantes do processo possam expressar seus interesses e necessidades por meio de métodos e estratégias participativos capazes de assegurar o resgate da autoestima e o pleno exercício da cidadania. O intercâmbio de informações entre agricultores através de visitas, treinamentos adequados e permanência no campo devem ser incentivados, visando à expansão das trocas e a difusão de informações, como afirma Caporal e Costabeber (2002):

Uma forma de estimular o manejo agroecológico é a promoção de parcerias entre os diversos atores: pesquisadores, produtores rurais, agentes da extensão rural oficial, organizações não governamentais (ONGs) e outros.

O mercado de produtos orgânicos e/ou de base ecológica vem crescendo porque a sociedade de consumo deseja esses produtos. Surgem como alternativa ao que Khatounian (2001, p. 48) denomina de:

[...] alimento moderno, que não tem mais identidade, se internacionalizou [...] não pertence a lugar nenhum, não tem sabor de coisa alguma, enche o estômago, mas não alimenta a alma no contexto dos aromas, história, de vínculo com o meio ambiente. Enche o estômago, mas a alma percebe o seu vazio.

Na safra 2003/2004, o mercado de orgânicos no Paraná teve uma discreta produção de feijão orgânico ou de base ecológica (260 t), 200 t de hortaliças e 100 t de plantas medicinais (IAPAR, 2008).

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Pelos dados do IBGE (2006), o Brasil contava com 90.497 estabelecimentos orgânicos, com uma área total de 4.935.473 ha e renda total obtida de R$ 1.200.900,00. Assim, o Brasil é o terceiro maior país com áreas destinadas ao cultivo de orgânicos, com 1,8 milhão de hectares, superado apenas por Austrália e Argentina (IFOAM, 2009).

A seguir, é apresentada uma breve revisão bibliográfica sobre o autoconsumo e a agroindústria familiar com o objetivo de contextualizar melhor a importância destes temas para a agricultura familiar.

1.2 Autoconsumo e Agroindústria Familiar

O homem, ao deixar de ser nômade, estabeleceu-se para praticar a agricultura de subsistência, isto é, produzir para o autoconsumo. As aglomerações urbanas, ao se constituírem, eram alimentadas com os excedentes produzidos pelos agricultores. Entretanto, com a Revolução Verde5, muitos agricultores passaram a ocupar suas áreas com cultivos cuja totalidade da produção era vendida, sem disponibilizar espaço para a exploração de animais e vegetais destinados ao autoconsumo.

Santos et al. (2006a) descrevem o autoconsumo como uma renda interna da família, de baixo custo, que evita o desembolso e garante a qualidade e a variedade dos alimentos. A produção para o autoconsumo garante ao agricultor a possibilidade de superar crises de receita em virtude de adversidades climáticas ou de preços regionais e nacionais em queda. Ainda, os Valores Monetários Anuais do Autoconsumo (VMAA) fazem variar a oferta diária máxima de alimentos por grupo de valor. Se o VMAA for de até R$ 500,00 anuais, a oferta diária máxima de alimentos é de 0,535 kg.pessoa-1.dia. Com receitas de até R$ 5.000,00, esse valor passa para 5,351 kg.pessoa-1.dia. Há também um número significativo de famílias que necessitam recorrer à suplementação de alimentos comprados fora da propriedade para compor uma dieta mínima de 2.000 calorias diárias por pessoa, pois o cultivo destinado ao autoconsumo é insuficiente.

5A Revolução Verde é um modelo com elevadas produções agrícolas baseadas no uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos. Iniciada na década de 1960, teve seu apogeu em 1970 com Norman Borlaug, seu grande defensor, que recebeu o Prêmio Nobel da Paz daquele ano. Segundo Andrade e Ganimi (2007), apesar do aumento da produtividade, há uma série de contrapontos como: a deterioração das condições sociais, o êxodo rural, os prejuízos à saúde, a concentração fundiária e de renda, a marginalização da população rural, o envenenamento do ecossistema por agrotóxicos e a diminuição da biodiversidade e da biomassa, proporcionando intensa dependência de tecnologia de produção de empresas transnacionais.

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As avaliações de Buainain et al. (2003) confirmam que a renda agropecuária gerada pelos agricultores familiares varia, também, entre os sistemas produtivos adotados e o grau de capitalização desses agricultores (Tabela 1). Muitas vezes, a receita gerada na propriedade é baixa e insuficiente para elevar o nível de vida das famílias acima do patamar da pobreza e assegurar a sucessão na propriedade.

Alguns produtos do autoconsumo são processados para a sua melhor conservação (estoque de alimentos para os períodos de entressafra) e, de forma geral, o processamento começa a ser realizado nas dependências domésticas. Em determinado momento, o excedente passa a ser visto pelos agricultores como um produto comercial (com valor monetário de troca) e, portanto, como fonte de renda da unidade de produção familiar. Com o crescimento da atividade, são necessários maquinários e estrutura física mínima para a instalação de uma agroindústria familiar. Portanto, as motivações para constituir uma agroindústria familiar são de natureza econômica e social, sendo a principal delas de ordem econômica, com a agregação de valor aos produtos pela transformação artesanal ou semiartesanal aos excedentes que os produtores rurais não conseguem comercializar in natura.

Dentre as motivações sociais mais relevantes, destacam-se a fixação do agricultor na propriedade rural e a manutenção da integridade familiar pelo envolvimento de todos na produção, inclusive das donas de casa (RUIZ et al., 2009).

Tabela 1. Renda agropecuária dos principais sistemas de produção típicos da agricultura familiar da Região Sul do Brasil (adaptado de Buainain et al., 2003).

Sistemas de produçãoRenda anual (R$)

Máxima Mínima

Autoconsumo 1.458,00 1.388,00

Milho + autoconsumo 5.354,00 2.856,00

Fumo + autoconsumo 3.639,00 i.n.p.1

Milho + criações 4.060,00 i.n.p.

Soja e aveia + milho 5.609,00 i.n.p.

Soja, trigo e aveia + milho 20.945,00 i.n.p.

Soja, trigo e aveia + suínos 15.622,00 i.n.p. 1Informações não prestadas pelos autores.

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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR12

Na Região Oeste do Estado de Santa Catarina, segundo Mior (2009), os produtores excluídos da atividade de produção de suínos buscam outras atividades produtivas como o incremento da produção de fumo, a exploração leiteira e a agregação de valor por meio de estratégias de agroindustrialização. Tais atividades de agregação de valor proporcionam às famílias de agricultores a vivência de novos relacionamentos com outros agentes da cadeia produtiva como fornecedores de insumos, processadores, distribuidores de alimentos e consumidores. Portanto, ao iniciar o processamento de seus produtos, a família precisa conscientizar-se da radical mudança na sua comercialização, tanto na compra de novos insumos como dos novos consumidores que devem ser conquistados.

Dorigon (2009) afirma que existem problemas sérios de comercialização, pois na maioria das vezes os ingressantes na atividade agroindustrial familiar não conhecem as oportunidades do mercado. A informalidade é muito comum, há pouco aporte tecnológico e gerencial e reduzida capacidade de assimilar informações técnicas, gerenciais e mercadológicas. Como consequência, a pouca disposição de adaptação às mudanças do ambiente econômico faz com que apenas 3% desses novos empreendedores tenham sucesso na atividade.

No que se refere à agroindústria familiar de pequeno porte, Marques et al. (2006) consideraram 18 tipos de problemas reunidos em quatro grandes grupos. Relatam que 11,6% dos problemas estavam relacionados à seleção e oferta de matéria-prima; 32,3% vinculados à transformação (processamento, máquinas, equipamentos e instalações); 42,9% relativos à padronização de qualidade (apresentação do produto e embalagem) e comercialização; e apenas 13,15% relacionados a problemas de legislação e gestão.

Uma questão não estudada por Marques et al. (2006) é a ligação entre a eficiência da agroindústria e o associativismo. No Brasil, diversos pesquisadores (ROCHA et al., 2004; LAZZAROTTO, 2009; MIRANDA e ACUÑA, 2009) concluíram que iniciativas isoladas de agroindustrialização de pequeno porte têm poucas chances de se viabilizar e que para enfrentar novas formas de comercialização e as legislações sanitária e fiscal, dentre outros fatores, a organização dos agricultores precisa estar presente em três níveis: comunidade, município e região.

Mas, para Gomes (2006), a legislação sanitária impõe normas de estrutura física para pequenas e grandes agroindústrias. A legislação sanitária para produtos de origem animal limita a circulação dos produtos conforme o tipo de serviço de inspeção utilizado (municipal, estadual ou

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federal). Isso é um grande entrave à comercialização dos produtos da agroindústria familiar em mercados de pequeno e médio porte.

Ainda para Gomes (2006), a legislação fiscal brasileira não contempla um tipo de personalidade jurídica adequado às peculiaridades dos produtos industrializados nas unidades familiares, impedindo-os de circular sem o acompanhamento de nota fiscal. Obrigados a criar empresas, ficam excluídos da condição de agricultores familiares e de segurados especiais do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) pela legislação previdenciária, impossibilitando-os de receber, no futuro, a aposentadoria rural. Também acompanha essa situação uma série de desafios como impostos, taxas, contabilidade, gestão, transporte, embalagem, comercialização, marketing, responsabilidade técnica e escala de produção, entre muitos outros.

Para incentivar o crescimento da agroindústria familiar, foram criados nos últimos anos vários programas como:

a) Pronaf Agroindústria Familiar6;b) Programa de Verticalização da Pequena Produção Rural do

Distrito Federal (Prove/DF) e do Mato Grosso do Sul (Prove Pantanal);

c) Projeto de Agregação de Valor pela Verticalização da Produção, em Santa Catarina (Projeto Desenvolver/SC);

d) Programa Sabor Gaúcho, no Rio Grande do Sul;e) Programa Fábrica do Agricultor, no Paraná.

Mas, para os agricultores familiares ainda há uma gama de exigências legais, ligadas principalmente à legislação sanitária e fiscal, e a falta de recursos financeiros para realizar os investimentos necessários, o que resulta em um pequeno efeito em relação às potencialidades apresentadas pelo setor.

O cultivo do tabaco e as possibilidades de diversificação serão abordados na sequência deste livro, em função da região em estudo ser grande produtora desta cultura e por estar em concordância com o programa Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco, gerenciado pela Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA).6O Pronaf Agroindústria Familiar (MDA) tem por objetivo apoiar a agroindustrialização da produção dos agricultores familiares e a comercialização, de modo a agregar valor, gerar renda e oportunidades de trabalho no meio rural, com consequente melhoria da qualidade de vida dos agricultores.

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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR14

1.3 Áreas Cultivadas com Tabaco e sua Diversificação

A produção mundial de tabaco está migrando dos países desenvolvidos para aqueles em desenvolvimento, confirmando a projeção de crescimento da produção no Brasil para as próximas décadas. Avaliando-se os projetos de expansão de cada empresa do setor, pode-se afirmar que entre os anos de 2015 e 2020 o Brasil colherá mais de 1,5 milhão de toneladas de tabaco por ano, ampliando o número de agricultores envolvidos na produção primária, que avança sobre regiões ainda não cultivadas com fumo (GEWEHR, 2008).

Na Região Sul do Brasil, na safra 2003/2004, havia 411.290 hectares cultivados com fumo, sendo colhidas 851.060 t de folha, o que corresponde a 96,41% da área de fumo do país.

Na safra 2004/2005, a área cultivada passou para 446.180 hectares, com 884.510 t de folhas colhidas (AFUBRA citado por BIOLCHI, 2005).

Na safra 2005/2006 foram plantados 416.398 hectares e colhidas 774.767 t de fumo (SINDIFUMO citado por BONATO, 2007).

Nas safras 2006/2007 e 2007/2008, a área plantada com fumo foi reduzida em 22%, o que corresponde a 75.000 hectares a menos, com tendência à recuperação se não surgirem alternativas de diversificação para os agricultores.

Na safra 2008/2009, o plantio de fumo recuperou 20.000 hectares devido às estratégias de ampliação das indústrias do setor (GEWEHR, 2008).

A estrutura fundiária e o tamanho do estabelecimento são questões importantes para a opção no cultivo do tabaco. As famílias de fumicultores dispõem de pequenas áreas de terra, tendo em média 14,70 hectares, enquanto a média das propriedades entre as famílias que não produzem fumo é de 17,00 hectares. Além disso, em relação à posse, cerca de 10,6% destas famílias trabalham exclusivamente em terras de terceiros e 20,8%, além de possuírem terra própria, arrendam outras áreas, totalizando 31,4% o número de fumicultores que utilizam terras de terceiros. As limitações de área agrícola dificultam a migração desses agricultores para outras culturas, diversificando suas atividades (BONATO, 2007).

As 182.000 famílias que cultivam tabaco no Sul do Brasil têm um antecedente histórico de pluriatividade, diversificação e agroindustrialização de alimentos que, com o passar dos anos, em função da falta de políticas agrícolas adequadas, migrou para o sistema integrado da fumicultura, que de acordo com Bonato (2007) tem como

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vantagens a disponibilidade de crédito por parte da indústria fumageira, assistência técnica, entrega de insumos e recebimento da produção na propriedade, ou seja, mercado garantido e de fácil acesso, praticamente sem preocupação com a comercialização. Além disso, a cultura do tabaco tem uma capacidade de geração de renda razoavelmente estável, produzindo muito em pequenas áreas, adequando-se à realidade das famílias com pouca terra, e requer investimentos que podem ser amortizados ao longo de vários anos. Contudo, o tabaco cria maior dependência do fumicultor em relação à empresa.

Do total de 182.000 famílias citado anteriormente, cerca de 40.000 delas (22,2%) chegam a auferir renda superior a R$ 800,00 por pessoa ao mês, uma renda considerada boa, que ocorre em função da alta produtividade (entre 2.500 e 3.300 kg.ha-1) e da especialização no monocultivo de fumo.

Aproximadamente 80.000 famílias (44,5%) tem uma renda média inferior ao salário mínimo brasileiro, próximo de R$ 400,00 pessoa.mês-1, com produtividade média de 2.000 kg.ha-1.

As demais 60.000 famílias (33,3%) têm renda baixíssima, por não terem terras adequadas ao plantio, por falta de assistência técnica e organização produtiva.

A grande maioria desses trabalhadores necessitam do benefício do Programa Bolsa Família, do Governo Federal, para sobreviver. Estão neste grupo meeiros, arrendatários, agregados e parceiros (GEWEHR e ROCHINSKI, 2008).

Para Bonato (2007), na descrição das políticas públicas de apoio à agricultura familiar e fumicultura, destaca-se o Programa de Apoio à Diversificação Produtiva nas Áreas Cultivadas com Tabaco7, composto por quatro eixos:

7O Programa Nacional de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco foi lançado pela Secretaria da Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário (SAF/MDA), em 2005, para estimular a geração de renda e a qualidade de vida com o apoio a projetos de extensão rural, formação e pesquisa para o desenvolvimento de estratégias de diversificação nas produções agrícolas e não agrícolas em propriedades de agricultores familiares fumicultores. São 47 projetos apoiados na Região Sul, que abrangem 500 municípios, envolvendo representantes de organizações governamentais e não governamentais na implantação de ações do Programa de Diversificação. O programa é uma conquista das entidades que apoiaram a ratificação pelo Brasil da Convenção Quadro para o Controle do Tabaco. O programa apoia entidades que atuam em pesquisa, extensão rural e assistência técnica voltadas à busca de alternativas de desenvolvimento rural sustentável. Os resultados apresentados neste trabalho fazem parte do referido projeto.

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1) Financiamentos que incentivam a diversificação produtiva, com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf);

2) Acesso à tecnologia com incentivo a pesquisas e assistência técnica na diversificação produtiva;

3) Agregação de valor à produção local dos agricultores por meio da organização e agregação de valor local da produção rural primária;

4) Apoio à comercialização por meio do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)8.

Além desse, existem outros programas de desenvolvimento rural do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) que podem apoiar iniciativas de diversificação como:

1) Programa ATER na implementação e consolidação de estratégias de desenvolvimento rural sustentável;

2) Seguro Agrícola Familiar, exclusivo para financiamentos realizados pelo Pronaf;

3) Seguro de Preços Agrícolas da Agricultura Familiar, pelo sistema de equivalência-produto;

4) Programa Biodiesel, por meio do Selo Combustível Social, que obriga as empresas a adquirir óleo vegetal proveniente da agricultura familiar;

5) Programa de Turismo Rural, que incentiva o agricultor familiar a explorar melhor os recursos naturais de sua terra;

6) Programa Agroecologia, que será apoiado pelo Programa Nacional de Apoio à Agricultura de Base Ecológica nas Unidades Familiares de Produção, prevendo-se recursos para apoiar a produção, industrialização e comercialização de alimentos orgânicos.

O Programa de Diversificação das Áreas de Cultivo com Tabaco, segundo Gewehr (2008), precisa avançar rápido para que políticas públicas como Pronaf, PAA e Mais Alimentos9 cheguem aos fumicultores interessados em diversificar suas atividades, principalmente àqueles 8Programa para aquisição de alimentos, criado com a finalidade de incentivar a agricultura familiar, compreende ações vinculadas à distribuição de produtos agropecuários para pessoas em situação de insegurança alimentar e à formação de estoques estratégicos. Conta com o apoio do Ministério da Saúde e do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) com intermédio da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) entre os produtores e as entidades beneficiárias (creches, asilos e outros).9Plano Safra Mais Alimentos 2008/2009, que contou com recursos do Pronaf e teve a finalidade de incentivar a produção de alimentos pela agricultura familiar.

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que obtêm renda média ou insuficiente com o plantio de fumo. Dentre outras ações, para que isso ocorra é necessária a contratação de técnicos extensionistas com visão sistêmica de diversificação para atuar no campo e orientar os agricultores.

1.4 Caracterização das Áreas de Estudo

As estratégias para o desenvolvimento agrícola requerem a busca ativa por novos tipos de pesquisa, extensão e formação agrícola relacionados ao manejo de recursos naturais, fundamentados em princípios agroecológicos e em abordagens participativas em relação ao desenvolvimento e à difusão de tecnologia. O foco da atenção nos vínculos entre a agricultura e o manejo de recursos pode contribuir significativamente para a solução de problemas relativos à diversificação das áreas de cultivo com tabaco de forma sustentável, considerando as dimensões ambiental, ética, social, cultural, política e econômica.

Para a execução deste trabalho foram escolhidos dois Territórios da Região Centro-Sul do Estado do Paraná: o Território Vale do Iguaçu e o Território Centro-Sul. Os sistemas de produção predominantes nestes dois Territórios têm como características comuns:

a) Uso de mão de obra familiar;b) Tração animal como principal fonte de potência na propriedade,

sendo substituída gradativamente pelo trator;c) Cultivo de lavouras anuais em áreas com declividade acentuada;d) Baixa rentabilidade, em virtude do predomínio do cultivo de

milho e feijão.

1.4.1 Território Vale do Iguaçu

Este Território é constituído pelos dez municípios que compõem a Associação dos Municípios do Sul do Paraná (AMSULPAR): Antônio Olinto, Bituruna, Cruz Machado, General Carneiro, Paula Freitas, Paulo Frontin, Porto Vitória, São João do Triunfo, São Mateus do Sul e União da Vitória.

A população do Território é de 154.944 habitantes, com percentual médio de pessoas abaixo da linha da pobreza de 16,7% (10,8% para o Estado do Paraná, Tabela 2), conforme Doretto et al. (2003). O maior índice de pessoas abaixo da linha da pobreza foi verificado em Antônio Olinto, com 26,2%, sendo que 98,9% desta população reside no meio rural. Os dados demonstram a necessidade de investimentos governamentais em assistência social, saúde, educação e em atividades que gerem renda.

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Segundo Radomski et al. (2006), as áreas de abrangência dos municípios de Porto União - SC e União da Vitória - PR distribuem-se nos limites das formações sedimentares do Segundo Planalto e dos derrames basálticos do Terceiro Planalto. Estes municípios estão localizados às margens do Rio Iguaçu, onde se encontram extensas áreas de várzea.

Tabela 2. População rural e urbana dos municípios do Território do Vale do Iguaçu abaixo da linha da pobreza no ano de 2000 (Adaptado de DORETTO et al., 2003).

Municípios

População

Pessoas abaixo da linha de pobreza

Total Total Urbana Rural IDH-M1

nº % nº % nº %

Antônio Olinto 7.407 1.940 26,19 22 1,11 1.918 98,89 0,71

Bituruna 15.966 2.721 17,04 488 17,93 2.233 82,07 0,72

Cruz Machado 17.587 4.572 25,99 384 8,40 4.188 91,60 0,71

General Carneiro 13.879 1.937 13,96 1.015 52,38 923 47,62 0,71

PaulaFreitas 5.027 1.000 19,90 258 25,81 742 74,19 0,74

PauloFrontin 6.555 1.106 16,88 207 18,72 899 81,28 0,74

PortoVitória 3.994 537 13,44 224 41,71 313 58,29 0,73

São Joãodo Triunfo 12.464 3.504 28,11 687 19,61 2.816 80,39 0,68

São Mateus do Sul 36.422 6.781 18,61 3.606 53,17 3.175 46,83 0,77

União da Vitória 48.107 3.819 7,94 3.399 89,00 420 11,00 0,79

Total do Território 167.408 27.917 16,68 10.290 36,86 17.627 63,14

Total do Estado 9.501.559 1.029.012 10,83 667.728 64,89 361.284 35,11 0,79

1IDH-M – IPARDES (2009). Fonte: Microdados do Censo Demográfico do Paraná (IBGE, 2000).

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À exceção dessas áreas, o relevo regional é predominantemente forte ondulado, com 20-45% de declividade. Em São Mateus do Sul, Paula Freitas e Paulo Frontin prevalecem declividades de 0-10% (até 6 graus de inclinação), correspondendo às áreas dos Campos Naturais, aptas ao uso agrossilvopastoril, com solos do tipo regular, que apresentam problemas de erosão e fertilidade.

O restante da mesorregião apresenta declividades superiores a 20% (acima de 25 graus), condicionadas basicamente pela presença da Serra da Boa Esperança, onde o relevo é fortemente ondulado a montanhoso. Essas áreas compõem os municípios de Cruz Machado, Bituruna, União da Vitória, Porto Vitória, General Carneiro e são inaptas a atividades agrícolas. Em função das limitações do relevo para a prática de agricultura mais intensiva, predominam no Território atividades relacionadas ao extrativismo florestal como madeira, carvão, lenha e erva-mate. A substituição das florestas nativas pelo plantio de pínus passou a ser, nos últimos dez anos, prática comum.

1.4.2 Território Centro-Sul do Paraná

O Território compreende os dez municípios da Associação dos Municípios da Região Centro-Sul do Paraná (AMCESPAR): Fernandes Pinheiro, Guamiranga, Imbituva, Inácio Martins, Irati, Mallet, Prudentópolis, Rebouças, Rio Azul e Teixeira Soares, e dois municípios da Associação dos Municípios dos Campos Gerais (AMCG), Ipiranga e Ivaí (AMCESPAR, 2008).

A população deste Território, segundo a AMCESPAR (2008), é de 218.163 habitantes, sendo que 44.008 pessoas (20,1%) vivem abaixo da linha da pobreza. Boa parte desta população reside no meio rural (43,0%) e tem 50,0% da renda familiar dependente da produção de tabaco.

O Território destaca-se na produção de tabaco e possui a maior área cultivada do Estado, com 22,6% da área total e 21,3% da produção total.

Segundo Doretto et al. (2003), a região possui percentual médio de 20,2% de pessoas abaixo da linha da pobreza. O município de Rebouças alcança 29,4% de pessoas abaixo da linha da pobreza, com 71,3% destas residentes no meio rural (Tabela 3). O município de Guamiranga, com 25,1% das pessoas abaixo da linha da pobreza, possui 84,3% delas no meio rural, onde encontram-se 29.258 agricultores familiares, sendo que 26.124 destes possuem áreas de 1,00 hectare a 50,00 hectares e somente 3.314 possuem lotes superiores a 50,00 hectares (AMCESPAR, 2008).

A utilização das áreas com lavouras de culturas anuais, principalmente milho, feijão, fumo e soja representam 34,9% (299.290 hectares) da área

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total do Território. A cultura da soja corresponde a 2% em área e em produção do total do Estado, com 4.005.157 hectares na safra 2008/2009 (SEAB, 2009), de modo que a região tem pouca expressão em relação à produção estadual, mas sua produtividade supera em 29% a média estadual, o que demonstra uma prática agrícola tecnificada e especializada.

Tabela 3. População rural e urbana dos municípios do Território Centro-Sul abaixo da linha da pobreza no ano de 2000 (Adaptado de Doretto et al., 2003).

Municípios

População

Pessoas abaixo da linha de pobreza

Total Total Urbana Rural IDH-M1

nº % nº % nº %

Fernandes Pinheiro 6.364 1.568 24,64 300 19,14 1.268 80,86 0,71

Guamiranga 7.146 1.793 25,10 281 15,67 1.512 84,33 0,70

Imbituva 24.363 3.316 13,61 1.701 51,30 1.615 48,70 0,73

Inácio Martins 10.958 2.606 23,78 528 20,28 2.077 79,72 0,69

Ipiranga 13.281 2.213 16,66 466 21,08 1.746 78,92 0,73

Irati 51.853 7.132 13,75 4.032 56,54 3.100 43,46 0,74

Ivaí 11.759 2.617 22,25 736 28,11 1.881 71,89 0,70

Mallet 12.560 2.033 16,19 839 41,25 1.195 58,75 0,76

Prudentópolis 45.849 12.878 28,09 3.384 26,28 9.494 73,72 0,73

Rebouças 13.624 4.009 29,42 1.150 28,69 2.859 71,31 0,71

Rio Azul 12.939 2.476 19,13 647 26,12 1.829 73,88 0,71

Teixeira Soares

8.167 1.367 16,73 399 29,21 968 70,79 0,74

Total do Território 218.863 44.008 20,11 14.463 32,86 29.544 67,13

Total do Estado 9.501.559 1.029.012 10,83 667.728 64,89 361.284 35,11 0,79

1IDH-M – IPARDES (2009). Fonte: Microdados do Censo Demográfico do Paraná (IBGE, 2000).

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A fruticultura é uma das alternativas de produção para diminuir a dependência dos agricultores em relação à cultura do tabaco. Atualmente, os cultivos de kiwi, morango e uva apresentam maior expansão de área e o interesse dos agricultores familiares em cultivar essas espécies tem aumentado.

A piscicultura, uma referência de atividade alternativa para pequenas propriedades, ainda se encontra em fase de implantação.

O mel tem sido objeto de destaque na pauta de produtos para exportação, com qualidade apreciada na Europa e Ásia.

A produção florestal, extrativista e de reflorestamento possui grande importância para o Território, pois é responsável por grande parte do valor bruto da produção agropecuária. De maneira geral, a existência de várias atividades oriundas do setor madeireiro caracterizam o Território com produção significativa em relação à estadual.

O Território possui grande diversidade edafoclimática, conforme o mapa de solos elaborado por Bhering e Santos (2008) e pelas Cartas Climáticas do Estado do Paraná (IAPAR, 1994).

Os solos do Território formaram-se a partir de rochas do tipo arenito, siltito, argilito e folhelhos, e apresentam limitações de fertilidade em função da baixa disponibilidade de fósforo, cálcio e magnésio, e médios a elevados teores de alumínio trocável.

O relevo, em sua maioria, é suave ondulado a ondulado, o que dificulta as operações agrícolas. Predominam os solos litólicos, cambissolos – estes dois ocorrem em condições de topografia ondulada e forte ondulada, sendo pouco desenvolvidos –, podzólicos10 vermelho-amarelos, podzólicos vermelho-escuros e podzólicos bruno-acinzentados.

Os municípios de Rebouças e Rio Azul apresentam topografia com declividades de 0% a 10%. Terrenos mais íngremes (declividade entre 10% e 20%, até 12 graus) são encontrados nos municípios de Ipiranga, Imbituva, Teixeira Soares e Fernandes Pinheiro. As áreas inaptas a atividades agrícolas (acima de 25 graus de declividade) ocorrem principalmente nos municípios de Prudentópolis, Ivaí, Irati, Guamiranga e Mallet (RADOMSKI et al., 2006). Entretanto, Inácio Martins apresenta áreas com declividade superior a 45 graus (IPARDES, 2010), sendo a cidade mais alta do Paraná, localizada a 1.198 metros de altitude.

Segundo a classificação de Köeppen, o clima é Cfb - subtropical úmido mesotérmico com verões frescos, sem estação seca e com geadas

10Pela atual classificação de solos, os podzólicos passaram a argissolos bruno-acinzentados, argissolos vermelhos e argissolos vermelho-amarelos.

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severas. A temperatura do mês mais frio fica abaixo de 18oC e a do mês mais quente é inferior a 22oC. A precipitação total anual situa-se entre 1.300 mm e 1.800 mm, com chuvas relativamente bem distribuídas ao longo do ano. Mesmo em meses mais secos, como julho e agosto, as médias mensais são superiores a 80 mm (IAPAR, 1994).

Apesar da boa distribuição de chuvas, há risco de veranicos em novembro e dezembro, aproximadamente 20% para os veranicos de 5 dias, coincidindo com a fase de florescimento do feijão das águas (CARAMORI et al., 1991).

A temperatura é o fator climático mais limitante da região, em função da alta incidência de geadas que, dependendo do local, podem ocorrer desde o final de abril até o final de setembro. Tal fenômeno limita a possibilidade de plantios antecipados e tardios das lavouras de verão em áreas mais altas das propriedades e controla muitas das espécies vegetais de ciclo estival (principalmente o papuã, Brachiaria plantaginea) e de pastagens, resultando em baixa disponibilidade de forragem para as criações no outono e no inverno.

Segundo Chang e Sereia (1993), a região apresenta, ainda, grande diversidade socioeconômica, predominando numericamente os Produtores Simples de Mercadorias (PSM), com baixa contratação de mão de obra e baixo a médio grau de capitalização e receitas, e os Produtores de Subsistência (PS), agricultores familiares mais pobres, com baixa contratação de mão de obra, baixa capitalização e baixíssima receita. Milho, feijão, fumo e soja são as culturas mais importantes com relação ao número de produtores e/ou por sua participação no Valor Bruto da Produção Regional.

1.5 Breve Histórico do Projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas

O projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas do Centro-Sul do Paraná surgiu para atender à crescente demanda dos agricultores em dispor de tecnologias para migrar da agricultura tradicional para uma agricultura alternativa, baseada no menor impacto ao ambiente, na redução da utilização de insumos industriais, na busca pela sustentabilidade da propriedade e na qualidade de vida do agricultor (AHRENS et al., 2006).

O contato dos agricultores com os princípios da agroecologia ganhou forma quando lideranças regionais e locais organizaram o I Congresso de Agricultura Familiar: Alimentos para a vida, em julho de 1995. Concomitantemente à realização do evento, os 160 agricultores

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presentes, procedentes de 16 municípios, fundaram o Fórum Regional das Organizações dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais do Centro-Sul do Paraná, agrupando sindicatos de trabalhadores rurais, organizações de produtores, associações e a Pastoral da Juventude Rural. Alguns anos depois, em 1998, o Fórum promoveu o II Congresso de Agricultura Familiar e, neste evento, foram demandados trabalhos de pesquisa e de extensão rural voltados à agricultura familiar e ecológica.

Em 1999, firmou-se uma parceria entre o Fórum, a AS-PTA11 e o IAPAR com o objetivo de articular melhor estes atores, identificar demandas de pesquisa e executar projetos interinstitucionais de pesquisa e desenvolvimento. O resultado desta parceria foi a execução, no período de 1999 a 2004, do projeto Promoção e Participação de Agricultores-Experimentadores no Processo de Desenvolvimento Tecnológico, coordenado pelo IAPAR.

A proposta foi apresentada em agosto de 2000 no VI Encontro Regional dos Agricultores-Experimentadores em Manejo Ecológico de Solos, promovido pela AS-PTA/Fórum. Além disso, depois de seguidos encontros entre IAPAR e AS-PTA, foram desenvolvidas diversas propostas de pesquisa, destacando-se duas: 1) Validação de Sistemas de Plantio Direto Sem Herbicida; e, 2) Manejo da Fertilidade do Solo Com o Uso de Fosfatos Naturais.

O I Seminário da Agricultura Familiar Ecológica no Centro-Sul do Paraná ocorreu em julho de 2002, na cidade de Irati, sob a coordenação do IAPAR, com participação da EMATER, AS-PTA e Fórum. No ano seguinte, em novembro de 2003, na cidade de União da Vitória, foi realizado o II Seminário da Agricultura Familiar Ecológica no Centro-Sul do Paraná.

As demandas regionais por trabalhos de pesquisa em agroecologia e os bons resultados alcançados com o projeto Redes de Referência para a Agricultura Familiar em outras regiões do Estado, numa parceria entre IAPAR e EMATER, motivaram a equipe da Unidade Regional de Pesquisa Centro-Sul do IAPAR, sediada em Ponta Grossa, a desenvolver um trabalho semelhante na Região Centro-Sul do Paraná. Construiu-se, então, o projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas como forma alternativa de pesquisa e desenvolvimento.

Com enfoque sistêmico, as Redes prescrevem o trabalho em meio real, em contato estreito com os agricultores, levando em conta o sistema

11AS-PTA: Assessoria e Serviços a Projetos em Agricultura Alternativa, com sede no Rio de Janeiro e escritórios no Paraná, Santa Catarina (a partir de 1994) e Paraíba.

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de produção em sua totalidade, permitindo uma administração técnica, econômica e ambientalmente sustentável. Os trabalhos tiveram início nos municípios de Porto Vitória, São Mateus do Sul, União da Vitória, Fernandes Pinheiro, Rio Azul e Teixeira Soares.

As Redes de Referência para a Agricultura Familiar propõem que os agricultores familiares se tornem sujeitos de seu próprio desenvolvimento, condição indispensável para o avanço das comunidades rurais como protagonistas e tomadoras de decisão dos rumos dos processos de mudança social. Buscam-se nas Redes, metodologias que possam atender às novas exigências do mercado, considerando que tecnologias apropriadas podem ser desenvolvidas baseadas no conhecimento dos sistemas de produção existentes e que estas tecnologias devem ser avaliadas não apenas pelo seu desempenho técnico em ambientes específicos, mas também de acordo com os objetivos e a capacidade técnico-econômica dos agricultores.

Em outubro de 2004, a equipe de pesquisadores da Unidade Regional de Pesquisa Centro-Sul do IAPAR apresentou uma proposta de pesquisa e desenvolvimento tecnológico dentro do projeto Uso dos Subprodutos do Processamento do Xisto Pirobetuminoso na Agricultura, com o apoio da Petrobras. Este projeto tinha como objetivos identificar e caracterizar os sistemas de produção agroecológicos na área de abrangência do projeto assim como validar tecnologias de uso dos subprodutos do processamento do xisto em sistemas de produção familiar agroecológica.

Em março de 2007, foi aprovado pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), junto ao Programa de Apoio à Diversificação Produtiva em Áreas Cultivadas com Tabaco, o projeto Reconversão de Sistemas de Produção com Base no Fumo no Centro-Sul do Paraná: Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas e Produção de Oleaginosas para Biodiesel e Co-produtos para dar continuidade aos trabalhos em propriedades das Redes de Referência para a Agricultura Familiar.

No Capítulo 2 está apresentada a metodologia de trabalho utilizada na escolha das famílias, a descrição dos indicadores e a história de cada família participante do projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas.

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2 Escolha das Famílias deAgricultores e seus Históricos

2.1 Escolha das Famílias

O processo de seleção e escolha das famílias baseou-se em variáveis que permitiram garantir a representatividade da amostra frente às características da agricultura familiar descritas no capítulo anterior e a execução da metodologia (AHRENS, 2006), que prevê a atuação do agricultor em atividades como a anotação de dados e a apresentação de resultados.

No processo de escolha, a participação de extensionistas da EMATER, do Fórum e dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Rio Azul e de São Mateus do Sul foi fundamental na prestação de informações das propriedades e na viabilização dos contatos com os agricultores.

A escolha das famílias foi realizada em duas etapas. A primeira delas ocorreu a partir de informações do Fórum, dos Sindicatos dos Trabalhadores Rurais de Rio Azul e de São Mateus do Sul, da EMATER dos municípios de União da Vitória e Rio Azul e definiu um conjunto de 50 famílias que já praticavam ou tinham interesse em praticar a agroecologia em suas propriedades. Na segunda etapa, dois procedimentos metodológicos foram utilizados: a tipificação e o diagnóstico (MILLÉO et al., 2006). Um questionário para tipificação foi aplicado ao universo de 50 famílias com o objetivo de identificar o grau em que estas se encontravam no que tange às práticas voltadas à agroecologia em suas propriedades. Os resultados permitiram identificar 32 famílias já praticando a agricultura de base ecológica em processo de transição. Para estas famílias, aplicou-se um questionário de diagnóstico para se obter informações referentes à composição da mão de obra, uso da terra e dados econômicos das propriedades.

Para discutir a diversificação do cultivo de tabaco, foram escolhidas sete famílias de agricultores, em função de terem exercido ou exercerem atividades voltadas ao tabaco, em municípios dos dois Territórios estudados (Fig. 1).

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Municípios das Associações

1) Antônio Olinto2) Bituruna3) Cruz Machado4) General Carneiro5) Paula Freitas6) Paulo Frontin7) Porto Vitória8) São João do Triunfo9) São Mateus do Sul10) União da Vitória

1) Fernandes Pinheiro2) Guamiranga3) Imbituva4) Inácio Martins5) Ipiranga6) Irati7) Mallet8) Prudentópolis9) Rebouças10) Rio Azul11) Teixeira Soares

AMCESPARAMSULPAR

Municípios e produtores acompanhados

Município

Total 7

1141

Porto VitóriaRio AzulSão Mateus do SulUnião da Vitória

Número de propriedades

Figura 1. Municípios de atuação e número de famílias acompanhadas.

2.2 Descrição dos Indicadores Selecionados

Para a avaliação econômica nas safras de 2005/2006 a 2007/2008 foram escolhidos os seguintes indicadores: a) Custos Variáveis Totais (CVT) = insumos + combustíveis e manutenção

+ mão de obra contratada + aluguel de máquinas; b) Renda Bruta Total (RBT) = somatório da quantidade de produto x

preço do produto; c) Margem Bruta Total (MBT) = renda bruta total – custos variáveis totais; d) MBT/SAU1 = margem bruta por unidade de área utilizada; e) Unidade de Trabalho-Homem (UTH) = 2.400 horas de trabalho de

uma pessoa adulta (300 dias de 8 horas) f) Unidade de Trabalho-Homem familiar (UTHf) = total de horas

trabalhadas na produção pela família divididas por 2.400 horas, que representa um adulto com jornada diária de 8 horas, durante 300 dias úteis de trabalho do ano agrícola (RODRIGUES et al., 1997).

1SAU: superfície agrícola útil em hectares destinada ao cultivo em cada estabelecimento agrícola, descontando-se as áreas não cultivadas (florestas, áreas inaproveitáveis, construções e estradas).

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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná 27

Os valores monetários levantados em cada safra foram corrigidos para valores em Real do mês de junho de 20082 (SOARES JÚNIOR e SALDANHA, 2000; MILLÉO et al., 2006).

A avaliação do autoconsumo e de outras rendas na composição da renda familiar foram consideradas relevantes.

A avaliação econômica do autoconsumo foi realizada calculando-se o consumo de alimentos produzidos na propriedade pela cotação diária de preços médios no varejo do Paraná (SEAB/DERAL, 2008).

2.3 Histórico das Famílias e suas Propriedades

2.3.1 Família 1: sistema tabaco convencional mais leite no município de São Mateus do Sul

Na propriedade de 11,00 hectares, onde a família reside há 20 anos, as lavouras anuais representam 56% do total e as áreas de pastagem em torno de 30% do total. Os 14% restantes estão divididos em pequenas glebas com mata nativa, áreas reflorestadas com eucalipto, erva-mate e a sede (Fig. 2).

A cultura do fumo convencional e a produção de leite são as duas atividades agrícolas que geram renda para a família. O tabaco é mais intensamente trabalhado pelo agricultor, enquanto sua esposa é responsável pela produção leiteira. Na época da colheita e beneficiamento do tabaco, a esposa participa das duas atividades, além de cuidar do lar.

A família cultiva, há dez anos, 66.500 pés de tabaco a cada safra, em 4,40 hectares de área própria, distante 6 km da sede da propriedade. É esta área que concentra a maior UTHf (Tabela 4).

A atividade leiteira é mais recente, com cinco anos de produção e venda, e apesar da pouca tecnologia implantada, baseada em pasto nativo com baixa fertilidade natural, tem-se melhorado a produção constantemente: de 70 litros.dia-1 com 10 vacas mestiças, no início, para 200 litros.dia-1 com 20 vacas holandesas, em 2007. Os animais se alimentam de pastagem comum, parte implantada em sistema silvipastoril, de suplementação de silagem e ração.

A renda oriunda da venda das folhas de tabaco não permite à família deixar o exercício da atividade nas próximas safras por não haver

2Todos os valores obtidos de Rendas Brutas Totais (RBT), Custos Variáveis Totais (CVT) e Margens Brutas Totais (MBT) ao fim de cada ano-safra foram corrigidos para junho de 2008, pela inflação medida pelo Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI) da Fundação Getúlio Vargas (FGV).

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Figura 2. Vista parcial da propriedade com atividade leiteira (a) e sistema silvipastoril (b).

Tabela 4. Descrição do sistema de produção da Família 1 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

ha UTHf pés (no)

Área total (própria + arrendada) 18,26 -

Área cultivada com tabaco 4,40 1,17 66.500

Área cultivada com grãos 3,14 0,05

Área com pastagens de verão 5,33 0,02

Área adicional com pastagens de inverno 6,40 0,01

Área com mata 3,81 0,00

Área com outros usos 1,58 0,00

Mão de obra na atividade leiteira - 0,46

Mão de obra disponível - 3,00

alternativa tão boa em termos de receita para quitar as dívidas com a fumageira e os investimentos realizados na atividade leiteira.

A equipe técnica do IAPAR, na tentativa de diversificar as rendas da propriedade, promoveu ações propositivas na atividade leiteira com a instalação de uma unidade de validação de pastagens de inverno (Avena strigosa - aveia comum x aveia preta IAPAR 61), pastagem perene (Panicum maximum cv. Aruana), leguminosas de inverno (Vicia sativa L. - ervilhaca comum) e de verão (Crotalaria juncea e Arachis pintoi - amendoim forrageiro), fosfatagem (fosfato natural de Registro - SP), calagem e adubação.

a b

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Em 2008, a família interrompeu a atividade leiteira e vendeu as vacas em produção. Contudo, manteve as novilhas e a estrutura, constituída de ordenhadeira e resfriador, para um possível retorno à atividade. A decisão foi tomada em função dos baixos preços (R$ 0,45 por litro na safra 2007/2008) praticados pelo único laticínio da região e pelos bons resultados obtidos com o tabaco e o feijão, comercializado na safra das águas de 2007/2008 por R$ 200,00 a saca de 60 kg.

Parte das áreas reservadas à pastagem foi destinada ao tabaco e ao feijão das secas na safra 2008/2009.

2.3.2 Família 2: sistema tabaco orgânico mais grãos no município de São Mateus do Sul

Antes de se casar, o agricultor sempre trabalhou junto a seus pais e irmãos, na produção de feijão.

Com a introdução da fumicultura na região de São Mateus do Sul, a família ingressou nesta atividade que prometia ser a melhor opção para a agricultura familiar em pequenas áreas. Durante 12 anos, cultivaram tabaco de maneira convencional.

Após o casamento, nos primeiros dois anos, o casal dedicou-se à agricultura de subsistência em imóvel próprio. Com o nascimento do primeiro filho, a necessidade de elevar a renda os levou a reiniciar a fumicultura convencional, na qual atuaram por três anos.

Segundo o agricultor, a introdução da agricultura de base ecológica na propriedade se deu por influência e incentivo da AS-PTA. No ano de 1999, com o nascimento do segundo filho, que apresentava alergia à lactose e precisava ser alimentado com leite de soja, o casal decicidiu cultivar soja orgânica e processar o leite na propriedade, pois não tinha recursos financeiros suficientes para comprar o produto industrializado.

A partir disso, a família aumentou gradativamente a produção de alimentos cultivados de maneira ecológica para o autoconsumo e percebeu nessa mudança melhorias na saúde da família e nas finanças, com a redução dos custos de produção.

Durante esse período, a propriedade encontrava-se em fase de transição para uma agricultura de base ecológica, sendo que em 2003 a família iniciou o cultivo de tabaco orgânico certificado. A atividade proporcionava remuneração até 50% maior que a fumicultura convencional, porém demandava mais mão de obra e trabalho árduo.

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Em 2004, na tentativa de encontrar uma alternativa à cultura do tabaco na região e de comercializar o excedente da produção orgânica, os agricultores se mobilizaram para fundar uma cooperativa de produtores de base ecológica. Como resultado, em 2005 foi fundada a Cooperativa de Famílias de Agricultores Ecológicos em São Mateus do Sul (COFAECO).

A propriedade da família está dividida em glebas, nas quais são realizadas rotações de culturas, sendo uma parte utilizada para plantio de tabaco (Fig. 3), em média 30.667 pés em 2,10 hectares, que demandam boa parte da mão de obra (Tabela 5). No restante da propriedade, cultiva-se cebola, alho, batata, feijão (Fig. 4), milho e arroz orgânicos – principais fontes de renda da família, que produz as sementes da maioria das espécies cultivadas na propriedade, o que reduz ainda mais os custos de produção.

Segundo o agricultor, tem-se constatado a partir de análises do solo que a fertilidade vem melhorando gradativamente, em virtude do uso de cama de aviário e de adubação verde, aumentando a produtividade.

A família possui trator e implementos para o preparo do solo, porém a maior parte das atividades é realizada com o uso de tração animal.

Para eles, os principais problemas de ordem técnica na propriedade são: controle de plantas invasoras, alto custo dos insumos adquiridos, principalmente a cama de aviário, e a falta de equipamentos e implementos adequados ao sistema agroecológico.

O manejo do solo inadequado associado à declividade da área tem causado erosão na propriedade. As perdas de solo verificadas e contabilizadas pela equipe do IAPAR sensibilizaram a família, que passou a adotar medidas conservacionistas mais efetivas nas áreas com maiores

Figura 3. Cultivo de tabaco orgânico.

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Tabela 5. Descrição do sistema de produção da Família 2 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

ha UTHf pés (nº)

Área total (própria + arrendada) 18,37 -

Área cultivada com tabaco 2,11 0,99 30.667

Área cultivada com grãos 7,63 0,30

Área com pastagens nativas 0,70 0,01

Área com mata 4,36 0,02

Área com outros usos 3,57 0,00

Mão de obra com criações - 0,13

Mão de obra disponível - 2,00

Figura 4. Cultivo de feijão orgânico IPR Graúna.

problemas. Em parte da área foram construídas curvas de nível, sobre as quais foram plantadas mudas de laranjeira.

A família relata que o maior entrave encontrado é a dificuldade na comercialização dos produtos, pois não há certeza da comercialização e o tempo para desempenhar as tarefas de produzir e comercializar simultaneamente é escasso. A pouca organização comunitária também contribui com o aumento dessas dificuldades. Os problemas de ordem social da comunidade estão na infraestrutura insuficiente de saúde e educação e na ausência de lazer.

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O uso indiscriminado de produtos químicos na vizinhança inviabilizou a produção de base ecológica em certas áreas e obrigou a família a mudar o local da residência para outra área da propriedade, mais distante das atividades principais.

Nas últimas duas safras, foram feitos investimentos na construção de uma estufa e um galpão, próximos à residência, para secagem e preparo das folhas de tabaco. Antes, era utilizada a estrutura do pai, mais distante da sede, para a realização deste serviço. Também foi adquirida uma colhedora de milho de uma linha usada, acoplada ao trator, com o objetivo de diminuir a penosidade do trabalho e reduzir o tempo de colheita. O milho destinado ao consumo próprio ainda é colhido e armazenado em espigas, já o colhido à máquina é comercializado a granel, logo após a colheita. Na safra 2008/2009 foi possível aumentar a área cultivada com milho, diversificando mais a renda em relação ao tabaco.

2.3.3 Família 3: sistema tabaco orgânico especializado no município de São Mateus do Sul

Quando solteiro, o agricultor morava com os pais e dez irmãos, tendo a fumicultura como atividade principal da família. A propriedade tinha aproximadamente 120,00 hectares e foi dividida entre os irmãos logo após o falecimento dos pais, tendo cada irmão herdado aproximadamente 10,00 hectares, administrados em forma de condomínio. Na sua área, o agricultor produzia grãos, principalmente feijão, em sociedade com um cunhado. Com os lucros da atividade, investiu na compra de outras áreas e implementos de tração animal, possuindo atualmente 13,00 hectares.

Frustrações em safras anteriores e a baixa lucratividade das atividades agrícolas levaram o agricultor, já casado, a trabalhar como pedreiro por sete meses. No entanto, com o incentivo do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Mateus do Sul, que junto à AS-PTA promovia eventos de divulgação das práticas agroecológicas, a família iniciou alguns trabalhos nesta área. Convencidos de que não poderiam continuar trabalhando da maneira em que se encontravam, devido aos altos custos de produção, o agricultor relata que “ou mudavam o sistema de produção ou teriam que se mudar para a cidade.”

Decidiram, então, iniciar a conversão da propriedade para a agroecologia em 1998 e começaram a trabalhar com horticultura, mas tiveram problemas na produção devido à escassez de água na propriedade. Estavam com 70% da propriedade convertida, porém

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a atividade não era lucrativa devido à necessidade de mão de obra contratada e ao alto custo do transporte da produção até a cidade. Também, pela falta de mercado específico, comercializavam o produto orgânico pelo mesmo preço do convencional.

Em 2002, o agricultor iniciou o cultivo de tabaco orgânico certificado com 30.000 pés em 1,77 hectare. A atividade, que não permite o uso de produtos químicos, proporcionava remuneração até 50% superior ao da fumicultura convencional, porém demandava mais trabalho (1,05 UTHf) (Tabela 6). A família optou por essa atividade por possuir uma propriedade familiar pequena, mas tem esperanças de que outras alternativas mais rentáveis e menos onerosas possam substituir a fumicultura e manter a sustentabilidade da família e da propriedade.

A família cultiva tabaco orgânico em rotação com outras culturas como milho e feijão, no sistema orgânico, por exigência da empresa certificadora. A reposição de nutrientes é feita com cama de aviário e adubação verde (Raphanus sativus L. - nabo forrageiro IPR 116, Avena strigosa - aveia preta IAPAR 61, Lolium multiflorum L. - azevém comum e Vicia sativa - ervilhaca comum). O preparo do solo é mecanizado e os tratos culturais são realizados com implementos de tração animal (Fig. 5a) e manual (Fig. 5b). Na safra 2007/2008 foi implantado um pomar de pera e outro de uva com a intenção de comercializar a produção e diversificar um pouco a atividade.

Uma das dificuldades é que a propriedade é desprovida de nascentes de água, embora conte com uma área de mata nativa que está sendo mantida e conservada. Outro problema que impede a diversificação é a impossibilidade de obter financiamentos, pois a propriedade faz parte

Tabela 6. Descrição do sistema de produção da Família 3 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

ha UTHf pés (nº)

Área total 13,00 -

Área cultivada com tabaco 1,77 1,05 30.000

Área cultivada com grãos 3,24 0,20

Área com mata 4,45 0,02

Área com outros usos 3,54 -

Mão de obra disponível - 2,00

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Figura 5. Agricultor realizando capina mecânica com tração animal (a) e repasse manual (b) no tabaco.

de um condomínio e não está registrada em nome da família. A dificuldade de comercialização associada à pouca mão de obra e ao alto risco que a mudança de atividade pode trazer são outros entraves encontrados.

De acordo com o agricultor, ainda falta infraestrutura na comunidade, como posto de saúde, que está fechado, e o escoamento da produção é difícil. Esses fatores são limitantes para que a família permaneça na zona rural. Outra preocupação, segundo ele, está no choque cultural que as crianças da zona rural sofrem quando vão estudar na área urbana. Ele acredita que deveria se investir na formação dessas crianças no campo, evitando confrontos culturais e de valores.

A propriedade ainda possui alguns problemas de ordem ambiental como os resíduos de agrotóxicos de propriedades vizinhas e as pulverizações aéreas que têm limitado a produção de tabaco orgânico devido às rigorosas exigências da certificadora.

2.3.4 Família 4: sistema tabaco orgânico diversificado no município de São Mateus do Sul

O agricultor construiu, em 1974, a primeira estufa para secagem das folhas do tabaco em parceria com três de seus irmãos, pois a fumicultura prometia ser a melhor opção para a agricultura familiar. Aos poucos, adquiriram novas áreas e diversificaram a produção com o cultivo de batata, milho, feijão e extração de erva-mate.

A mudança para a agricultura de base ecológica deu-se em virtude de problemas de saúde resultantes de intoxicações por agrotóxicos e da busca por melhor qualidade de vida para a família.

Conhecimentos empíricos os levaram à adoção de novas práticas no sistema de produção tais como uso de adubo verde, camas de aviário

a b

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(frango e peru) e esterco de suíno. Observaram que o solo começou a melhorar, a aumentar seu teor de matéria orgânica e as análises de solo comprovaram a melhoria na fertilidade com o uso de calcário e fosfato natural, o que resultou no aumento de produtividade.

Inserida no contexto regional, a família sempre atuou politicamente em busca de melhorias e benefícios para a agricultura familiar, estando presente por mais de 20 anos na diretoria do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Mateus do Sul, onde contribuiu e difundiu seus conhecimentos. A família participou do projeto Agrofloresta, uma ação da AS-PTA na região.

O agricultor cita que em função dos altos custos das sementes e da não adaptação das cultivares à realidade da agricultura familiar estabeleceram, por intermédio do Fórum e com o apoio da AS-PTA, uma parceria com a Universidade Estadual de Londrina (UEL) para desenvolver o resgate e o melhoramento de variedades crioulas.

A propriedade está situada em um faxinal e possui 41,00 hectares divididos em glebas, numa das quais, de aproximadamente 9,00 hectares, cultiva-se erva-mate no sistema sombreado (Fig. 6), certificada como produto orgânico pela Rede Ecovida3. São realizados cortes regulares

Figura 6. Vista parcial do faxinal com erva-mate.3A Rede Ecovida de Agroecologia é constituída por agricultores familiares, técnicos e consumidores reunidos em associações, cooperativas, grupos informais, pequenas agroindústrias, comerciantes ecológicos e pessoas comprometidas com o desenvolvimento da agroecologia. A sua certificação é participativa, pois além de garantir a qualidade do produto ecológico, permite o respeito e a valorização da cultura local, aproximando agricultores e consumidores pela construção de uma rede que congregue iniciativas de diferentes regiões.

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de três em três anos, em sistema de rodízio, em áreas de tamanho similar, assim todos os anos há erva-mate para comercializar.

A erva-mate colhida é beneficiada dentro da propriedade, pois com o auxílio do projeto Agrofloresta a família recebeu um sapecador e um cancheador, que foram instalados com recursos próprios, visando a alcançar um mercado diferenciado com erva beneficiada e a contribuir com a comunidade no processamento. No faxinal, mantêm suínos para consumo próprio e algumas cabeças para venda a terceiros.

Nas outras glebas, são realizadas rotações de culturas, sendo que em 0,92 hectare são cultivados 13.467 pés de fumo. As demais áreas são ocupadas com batata (Fig. 7), feijão, milho, arroz, centeio, aveia e trigo orgânicos, que são as principais fontes de renda da família. Em área próxima à sede são criados suínos, galinhas e cultivadas hortaliças para consumo familiar e venda na feira de sábado, na cidade. Na Tabela 7 é apresentada a distribuição da mão de obra (UTHf) nas diferentes atividades na propriedade.

A família possui trator, semeadora à tração mecânica, distribuidora de calcário, trilhadeira, pulverizador, carreta, grade, arado e escarificador (pé de pato), que foram adquiridos em sociedade pelos três irmãos. Os tratos culturais são realizados com tração animal.

A família preserva a mata nativa, principalmente ao redor das nascentes, e faz um trabalho de conscientização na comunidade buscando melhorias na qualidade e manutenção da água.

Para o agricultor, os principais problemas de ordem técnica na propriedade são a falta de equipamentos e implementos adequados à

Figura 7. Cultivo de batata IAPAR Cristina.

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Tabela 7. Descrição do sistema de produção da Família 4 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

ha UTHf pés (nº)

Área total 41,00 -

Área cultivada com tabaco 0,92 0,56 13.467

Área cultivada com grãos 9,87 0,34

Área com mata 20,68 0,09

Área com outros usos 9,53 -

Mão de obra com criações - 0,08

Mão de obra na comercialização - 0,20

Mão de obra disponível - 3,00

realidade do sistema de base ecológica, o controle de plantas invasoras e o manejo de doenças, pois não há produtos ou práticas específicos e eficientes para todas as situações.

A dificuldade de comercialização dos produtos é o maior entrave encontrado pela família, que cita não haver garantia de venda da produção e que falta tempo para desempenhar bem as tarefas de produzir e comercializar. Na opinião do agricultor, tais limitações ocorrem pela pouca disponibilidade de mão de obra na família, constituída de três pessoas apenas, e pela falta de organização comunitária. Os integrantes da comunidade, segundo o agricultor, acomodaram-se em função do sistema de trabalho das empresas fumageiras, que fornecem financiamento, insumos e assistência técnica.

A distância de 11,5 km da propriedade até a cidade dificulta o transporte da produção, o que prejudica a comercialização. A família tem gastos com a compra de alimentos que não produz e são adquiridos em uma venda da comunidade, onde os preços são elevados.

A família comprou na última safra novas áreas agrícolas, um trator e um distribuidor de esterco sólido e corretivos (calcário e fosfato natural).

Com o projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas, a família tem interagido com técnicos do IAPAR na instalação de Unidades Técnicas de Validação (cultivares de feijão, milho, batata e centeio). Avanços no controle contábil dos gastos e receitas têm sido alcançados na gestão da propriedade, permitindo apostar na diversificação de atividades.

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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR38

2.3.5 Família 5: sistema tabaco orgânico mais grãos no município de Rio Azul

A cultura do tabaco se estabeleceu no município de Rio Azul em 1973 e a família aderiu ao plantio desta cultura até o ano de 1986. Em 1988, mudou-se para a cidade de Rio Azul, onde nasceu a filha mais velha. No ano seguinte, construíram uma casa em uma propriedade do pai, mudando-se novamente para a zona rural. Com as receitas advindas do tabaco, construíram uma estufa e um paiol. Durante os anos de 1990 a 1992, a venda das folhas de tabaco convencional foi a principal renda da família. Por ter boa relação com pessoas ligadas ao sindicato dos trabalhadores rurais do município, o agricultor foi eleito presidente da instituição e a família mudou-se novamente para a cidade de Rio Azul.

Como dirigente sindical, o agricultor dedicou-se à promoção da agricultura de base ecológica em parceria com a AS-PTA. Com o fim do mandato, em 1995, a família retornou à propriedade rural e iniciou o cultivo de feijão, milho e arroz com o uso mínimo de agrotóxicos, porém era a cultura de tabaco que gerava renda à família.

A família priorizou, em 1999, o cultivo de base ecológica na propriedade, com o apoio da Pastoral da Juventude Rural, escolhendo cultivares mais indicadas para esse sistema, entre elas a cultivar de feijão IAPAR 44. De 2000 a 2006, as culturas predominantes foram milho, feijão e arroz em cultivos de base ecológica e o tabaco convencional. Para maior conhecimento sobre temas relacionados à agroecologia, a filha mais velha fez o curso Técnico em Agroecologia no município de Palmeira, formou-se no final de 2006, mas não permaneceu na propriedade.

No transcorrer do trabalho de acompanhamento, a equipe do projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas observou significativas melhorias na propriedade, tais como: fertilidade do solo, melhora no manejo das culturas e crescimento da renda familiar. A família participa da maioria dos eventos relacionados à agroecologia na comunidade e repassa informações aos produtores próximos.

A safra 2006/2007 foi constituída, na sua maioria, pela produção de base ecológica de feijão e milho, sendo acompanhada por técnicos do IAPAR em experimentos relacionados a técnicas de base ecológica. Nos experimentos foram utilizadas as cultivares de feijão IPR Graúna, IPR Chopim (Fig. 8a), IAPAR 44 e o milho variedade IPR 114 (Fig. 8b).

Segundo o agricultor, a frustração nos preços do feijão os “obrigou” a voltar a trabalhar com tabaco, mas desta vez orgânico, com apoio dos

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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná 39

técnicos do IAPAR. Na média dos anos, a família cultiva 15.000 pés em 1,00 hectare, sem abdicar do feijão e do milho, mas em menor escala. A distribuição da mão de obra, em UTHf, está representada na Tabela 8.

Figura 8. a) Tabaco orgânico (esquerda), feijão IPR Chopim em emergência (centro) e feijão IPR Graúna (direita); b) Milho IPR 114.

Tabela 8. Descrição do sistema de produção da Família 5 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

ha UTHf pés (nº)

Área total 22,80 -

Área cultivada com tabaco 1,00 0,86 15.000

Área cultivada com grãos 3,99 0,23

Área com pastagens nativas 1,00 0,01

Área com mata 12,18 0,02

Área com outros usos 4,63 -

Mão de obra com criações - 0,08

Mão de obra disponível - 2,00

2.3.6 Família 6: sistema agroindústria diversificado no município de União da Vitória

A família relata que adquiriu a primeira propriedade, no município de Cruz Machado, com a venda de nove porcos que pesavam em média 100 kg cada. A produção era de subsistência, plantando milho, arroz, feijão e criando alguns animais, herança do pai do agricultor que dizia que na propriedade é bom ter de tudo, inclusive vários tipos de animais.

a b

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A propriedade onde a família reside atualmente, localizada no município de União da Vitória, tem aproximadamente 40,00 hectares e foi adquirida em 1983, com a venda da propriedade de Cruz Machado.

No início, exploravam lavouras de subsistência e a produção agrícola era baixa. Não tinham como, para quem e o que comercializar. O pouco que vendiam era para comprar sal e tecido para confecção de roupas para a família. O manejo das lavouras era no sistema “roça de toco”, utilizando tração animal para o plantio e capinas. Nas lavouras de arroz, utilizavam adubos químicos, porém não agrotóxicos. A propriedade era dividida em áreas de tamanhos iguais, nas quais era realizado o rodízio das lavouras com pousio. O retorno à primeira área para plantio ocorria após cinco anos, quando as capoeiras já estavam altas e a terra havia descansado o suficiente. O plantio do tabaco teve início em 1995 e a família permanece na atividade há dez anos para pagar algumas dívidas da propriedade (Fig. 9).

Com a passar dos anos, melhorias de infraestrutura chegaram à comunidade, como o asfalto, que permitiu impulsionar o processo de comercialização. Por incentivo da Associação dos Agricultores Orgânicos do Paraná (AOPA), a família foi estimulada a plantar verduras de forma agroecológica para vender em Curitiba e Região Metropolitana. Iniciaram vendendo cenoura e beterraba, produtos que resistiam melhor ao transporte e a maiores distâncias sem perder a qualidade. Obtinham com a atividade uma renda em torno de um salário mínimo por mês.

Percebendo que a agroecologia era uma boa opção para agricultores familiares, em 2003 foram feitos investimentos no plantio de 0,50 hectare de uva rústica, colhendo 1.000 kg de frutos já na primeira produção.

Figura 9. Tradicional tabaco de corda.

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Em 2004, a família iniciou a construção de uma unidade de alvenaria de 40 m2, com recursos do PRONAF Agroindústria, para a agroindustrialização do mel e da uva em forma de suco e vinho (Fig. 10). A venda desses produtos, feita pelo Programa de Aquisição de Alimentos, trouxe aumento na renda líquida familiar, atingindo o valor de R$ 8.000,00 na safra 2005/2006. A família participa do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e entrega mel e feijão em escolas, creches, asilos e outras entidades assistenciais do município de União da Vitória.

As decisões de planejamento da propriedade são discutidas em conjunto pela família, embora apenas um dos sete filhos ainda more na propriedade com os pais.

Os agricultores recebem assistência técnica do Instituto Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural (EMATER) e realizam pesquisas participativas desenvolvidas em parceria com o IAPAR no projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas.

As práticas de base ecológica adotadas na propriedade são o uso de adubos verdes em consórcio com lavouras, plantio de inverno, compostagem e aplicação das caldas bordalesa e sulfocálcica na uva. Faltam tecnologias de base ecológica para diminuir a necessidade de mão de obra para as capinas.

No decorrer de sua participação no projeto Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas, a família deixou de produzir tabaco em corda e instalou uma agroindústria. Na safra 2006/2007, produziu 1.600 unidades de pepino em conserva, 3.600 kg de uva comercializada in natura, vinho, suco, mel, milho e feijão embalados e comercializados

Figura 10. Mel e suco de uva processados na agroindústria.

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junto ao PAA. O recebimento de duas aposentadorias também contribuiu para a decisão de abandonar o cultivo de fumo.

Na safra 2007/2008, plantaram mais 1.000 pés de uva, sendo que suas receitas foram oriundas da comercialização de produtos da agroindústria: sucos, vinho e mel. Seus produtos são certificados pela Ecocert4, por intermédio da Cooperativa Agroecológicos do Vale do Iguaçu (Cooavi), com sede em União da Vitória. Na safra 2008/2009, produziram mel, suco, vinho e grãos para consumo próprio, vendendo o excedente.

Na Tabela 9 é apresentada a distribuição da mão de obra, em UTHf, demonstrando a diversidade presente na propriedade.

Tabela 9. Descrição do sistema de produção da Família 6 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

ha UTHf pés (nº)

Área total 40,00 -

Área cultivada com tabaco em 2005 0,31 0,26 5.000

Área cultivada com grãos 8,08 0,50

Área com videiras 0,50 0,09

Área com pastagens nativas 2,24 0,01

Área com mata 24,90 -

Área com outros usos 4,17 0,01

Mão de obra na agroindústria - 0,20

Mão de obra com criações - 0,23

Mão de obra disponível - 3,50

2.3.7 Família 7: sistema de produção de olerícolas e pequenos frutos no município de Rio Azul

O agricultor e sua esposa iniciaram a produção de tabaco logo que se casaram, em 1982. Um ano depois, mudaram-se para o município de Rio Azul, arrendaram uma área e uma estufa de tabaco e permaneceram

4A Ecocert Brasil utiliza a certificação ESR - comércio justo, solidário e responsável, que possui grande credibilidade e aceitação nos mercados internacionais, em especial na União Europeia.

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nesta atividade por quatro anos. Frustrações financeiras e o nascimento da primeira filha os levaram a desistir da atividade e procurar emprego e residência fora da zona rural. Durante esse período, foram adquirindo equipamentos agrícolas de tração animal para, no ano de 1993, retornarem à fumicultura, em área e estufa arrendadas. Com o apoio e financiamento da empresa fumageira, adquiriram a propriedade onde residem e trabalham até os dias de hoje. Permaneceram na fumicultura por mais sete anos, período em que também desenvolveram a horticultura.

Começaram a participar das atividades do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Azul que, junto à AS-PTA, promovia eventos para divulgação de práticas de base ecológica. A família também promovia o intercâmbio de informações entre os agricultores que já estavam inseridos no sistema. Gradativamente, adotaram práticas de base ecológica em função de problemas de saúde e da baixa lucratividade da fumicultura.

Com o início do trabalho da Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas e principalmente pela realização da análise socioeconômica da propriedade, constataram que a fumicultura já não era mais a melhor opção de renda da família. Pararam definitivamente com a atividade e fizeram novos investimentos para iniciar a produção de olerícolas e frutos como morango, amora e uva. Aos poucos, aumentaram e diversificaram a produção, de acordo com as exigências do mercado consumidor. Como possuem uma área pequena, ocupam os espaços livres no parreiral para produzir hortaliças (Fig. 11).

Atualmente, produzem uma grande diversidade de olerícolas que são vendidas diretamente aos consumidores finais nas formas in natura,

Figura 11. Vista parcial do parreiral com cultivo de hortaliças.

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semiprocessada e processada (Fig. 12). Além das olerícolas, a uva que produzem é vendida in natura e na forma de vinho e suco. O morango é vendido in natura e como geleia. Também produzem grãos e cereais como feijão, milho e arroz para autoconsumo, diminuindo custos externos à propriedade. Na Tabela 10 consta a distribuição da mão de obra, em UTHf.

A propriedade, de aproximadamente 1,00 hectare, tem rotação muito bem planejada para que a oferta esteja de acordo com a demanda.

Figura 12. Diversidade de produtos comercializados.

Tabela 10. Descrição do sistema de produção da Família 7 segundo o uso da terra e ocupação da mão de obra, na média de três safras agrícolas.

DescriçãoMédia de 3 safras

(2005 a 2008)

ha UTHf pés (nº)

Área total (própria + arrendada) 1,89 -

Área cultivada com tabaco 0,00 - 0

Área cultivada com grãos 0,89 0,02

Área com olerícolas e frutas 0,50 1,41

Área com mata 0,30 -

Área com outros usos 0,30 -

Mão de obra no preparo e na comercialização - 1,04

Mão de obra disponível - 3,00

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Como é realizada uma agricultura de base ecológica, o composto é produzido com restos de culturas e esterco de caprinos, ovinos e bovinos obtidos na propriedade vizinha. Também utilizam urina de vaca e supermagro5 como fonte de adubação e para o controle de doenças.

Os resultados das análises de solo feitas pelo IAPAR indicaram teores altos de matéria orgânica pelo uso de composto e de adubação verde.

A localização favorável, a estrutura adequada e a boa receptividade da família fazem com que vários eventos promovidos pelas instituições atuantes na região sejam realizados nesta propriedade que, mesmo sendo pequena, tem suas áreas da beira do rio preservadas para recuperação e proteção da mata ciliar, pois a família trabalha junto com a comunidade em um projeto de reposição da mata ciliar.

No Capítulo 3 está apresentado o desempenho comparado dos sistemas:

a) Família 1: sistema tabaco convencional mais leite;b) Família 2: sistema tabaco orgânico mais grãos;c) Família 3: sistema tabaco orgânico especializado;d) Família 4: sistema tabaco orgânico diversificado;e) Família 5: sistema tabaco orgânico mais grãos;f) Família 6: sistema agroindústria diversificado;g) Família 7: sistema de produção de olerícolas e pequenos frutos.

5Biofertilizante foliar obtido da mistura de materiais orgânicos, minerais, esterco e água.

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Os resultados apresentados nas Tabelas de 11 a 13 permitem comparar o sistema convencional de produção de tabaco e leite (Família 1) com quatro modalidades de produção de tabaco orgânico:

1) modalidade especializada em tabaco (família 3);2) modalidade diversificada com tabaco e outras atividades de

menor renda (famílias 2, 4 e 5);3) modalidade com dois sistemas alternativos ao tabaco envolvendo

um conjunto de produtos (frutas, hortaliças, erva-mate e mel) processados e com valor agregado de caráter agroindustrial (famílias 6 e 7).

3.1 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas de Produção

Na Tabela 11 são apresentadas as Rendas Brutas Totais (RBT), os Custos Variáveis Totais (CVT) e as Margens Brutas Totais (MBT) das unidades produtivas das sete famílias de agricultores.

A Margem Bruta Total (Receita Bruta Total - Custos Variáveis Totais) é a medida de rentabilidade mais utilizada por pesquisadores, técnicos e empiricamente pelos agricultores, devido à relativa facilidade de obtenção e pelo significado prático imediato de saber quanto sobra da receita total, retiradas as despesas diretas (Custos Variáveis). A margem bruta por unidade de área permite a comparação entre estabelecimentos, independentemente do tamanho (SOARES JÚNIOR e SALDANHA, 2000; CARVALHO et al., 2001; FUENTES LLANILLO, 2007).

A Família 1 é típica produtora de tabaco convencional e leite, com uma Margem Bruta Total (MBT) relativamente alta e estável de R$ 38.197,79 por ano, a maior de todo o grupo em análise. Tem Custos Variáveis Totais (CVT) elevados devido à intensidade de capital em insumos que a cultura de fumo convencional exige.

As Famílias 2, 3 e 4 produzem tabaco orgânico e obtiveram, em média, Margens Brutas Totais (MBT) relativamente semelhantes, porém

3 Avaliação Socieconômicados Sistemas

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Instituto Agronômico do Paraná - IAPAR48

Tabela 11. Renda Bruta Total (RBT), Custo Variável Total (CVT) e Margem Bruta Total (MBT) dos sistemas de produção e a RBT/CVT (R$/junho de 2008 - IGP-DI1).

Família Sistema de produçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

RBT CVT MBTRBT/CVT

1 Fumo convencional + leite 76.287,04 38.089,26 38.197,79 2,00

2 Fumo orgânico + grãos 29.664,23 8.050,72 21.606,84 3,68

3 Fumo orgânico especializado 34.004,54 8.311,41 25.814,70 4,09

4 Fumo orgânico diversificado 39.875,91 11.700,12 28.175,79 3,41

5 Fumo orgânico + grãos 14.412,79 3.354,40 11.058,39 4,30

6 Agroindústria diversificado 24.548,68 9.304,01 15.244,67 2,64

7 Olerícolas + pequenos frutos 25.259,77 4.272,16 20.987,60 5,91

mais próximas do padrão convencional, com valores que variam de R$ 22.000,00 a R$ 28.000,00 por ano. Os produtores de tabaco orgânico, inclusive a Família 5, apresentam RBT/CVT superior (de 3,41 a 4,30) à da Família 1 (2,0).

Os melhores resultados dos sistemas de tabaco orgânico podem ser explicados por duas razões: a primeira delas é que o tabaco orgânico, assim como outras atividades orgânicas, tem Custos Variáveis Totais (CVT) muito mais baixos que o tabaco convencional, facilitando a obtenção de Margem Bruta Total (MBT) com pouca inversão. A segunda é que à medida que a família passa pelo processo de transição, recebe bonificação nos preços (que chegam a 50% sobre o preço do convencional), fator que facilita o incremento na Margem Bruta Total (MBT).

A Família 5, produtora de tabaco orgânico mais grãos, apresentou a menor Margem Bruta Total (MBT) do grupo porque dispõe de pouca área de cultivo e está apenas começando a desfrutar dessa bonificação de tabaco orgânico certificado. Contudo, apresentou RBT/CVT superior (4,30) às demais famílias em função de praticamente não ter utilizado insumos externos à propriedade. A migração do fumo para o feijão na safra 2006/2007, período de baixa nos preços deste cultivo e da decorrente frustração econômica, também contribuiu para uma menor Margem Bruta Total (MBT).1IGP-DI: Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna, apurado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV) do primeiro ao último dia de cada mês.

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Diversificando Áreas com Cultivo do Tabaco: uma experiência no Centro-Sul do Paraná 49

Bertotti (2007) argumenta que a produção de tabaco orgânico com bônus de 50% é um forte atrativo para os agricultores da região, confirmando a tendência de ampliação da área cultivada com tabaco no Brasil. Assim, as fumageiras se adaptam para continuar garantido a produção de tabaco.

Pelinski e Guerreiro (2004) constataram, ainda, que a relação benefício/custo total na produção orgânica de tabaco proporcionou retorno de R$ 1,93 para cada unidade monetária aplicada, enquanto no sistema convencional correspondeu a R$ 1,36.

As Famílias 6 e 7 conduzem sistemas alternativos em relação ao tabaco e romperam o vínculo com a cadeia do fumo, que já foi a principal fonte de ingresso de receita no passado.

A Família 6 produzia tabaco de corda até 2005/2006, quando seu investimento na produção de uva (agroindustrializada em suco) e mel processado evoluiu, mantendo a Margem Bruta Total (MBT) em torno de R$ 15.000,00 por ano, além da produção para autoconsumo, como será discutido a seguir.

A Família 7 deixou a cultura do tabaco, que era plantada em área arrendada, na safra 2004/2005. A partir daí, começou a produzir hortaliças para venda no varejo, in natura e processadas (lavadas e cortadas, e em conservas), e frutas, in natura ou na forma de geleias. Esse conjunto de atividades gera atualmente uma Margem Bruta Total (MBT) de R$ 21.000,00 por ano, em média, com Custos Variáveis Totais (CVT) muito baixos, bem como um RBT/CVT superior a todos os sistemas estudados, demonstrando uma boa inversão de recursos financeiros.

3.2 Avaliação do Autoconsumo e de Outras Rendas na Composição da Renda Familiar

A produção para autoconsumo, apresentada na Tabela 12, é um importante componente na composição da renda e na qualidade de vida das famílias dos Territórios em estudo, constituindo uma renda não monetária importante para todos os sistemas estudados.

Nos casos de menor autoconsumo, estes assumem valores monetários de R$ 3.100,00/ano (12% MBT) no sistema tabaco orgânico especializado (Família 3) e R$ 4.600,00/ano (12% MBT) no sistema tabaco convencional mais leite (Família 1).

Em casos intermediários, assumem valores de R$ 5.800,00/ano (27% MBT), R$ 8.400,00/ano (31% MBT) e R$ 4.200,00/ano (38% MBT) para os sistemas de tabaco orgânico mais grãos (Famílias 2, 4 e 5, respectivamente).

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Tabela 12. Valor da produção de autoconsumo e outras rendas dos sistemas (R$/ano de junho de 2008 - IGP-DI).

Família Sistema de produçãoMédia de 3 safras (2005 a 2008)

Autoconsumo Outras rendas

1 Fumo convencional + leite 4.601,76 -

2 Fumo orgânico + grãos 5.837,56 2.235,32

3 Fumo orgânico 3.139,13 -

4 Fumo orgânico diversificado 8.367,26 -

5 Fumo orgânico + grãos 4.210,56 -

6 Agroindústria diversificado 12.314,00 5.908,28

7 Olerícolas + pequenos frutos 4.218,07 1.579,73

No sistema olerícolas mais pequenos frutos (Família 7), a Margem Bruta Total (MBT) passa a R$ 4.200,00/ano (20% MBT).

No caso de maior autoconsumo, destaca-se o sistema agroindústria diversificado (Família 6), que alcançou R$ 12.300,00/ano (81% MBT) na média das últimas três safras.

Em razão do valor do autoconsumo, ocorrem certas compensações na renda em favor de sistemas diversificados como o da Família 6, principalmente, mas também das Famílias 2 e 4. Assim, ao avaliarem socioenomicamente a Família 6, Ahrens et al. (2007) descreveram a grande diversidade de produtos consumidos: abóbora, abobrinha, alface, amendoim, arroz, batata-doce, batatinha, beterraba, carnes (frango, gado e suíno), cenoura, couve, erva-mate, feijão, leite, mandioca, mel, pepino, ovos, rabanete, repolho, salsa, tomate e suco de uva.

Buainain et al. (2003) verificaram, entre os produtores mais capitalizados da Região Sul do Brasil, um consumo de alimentos pela família correspondente a quase 20% dos produtos gerados na propriedade, denominado de autoconsumo. Ainda de acordo com pesquisa realizada na safra 2006/2007 por Carmo et al. (2008), a produção destinada ao autoconsumo totalizou 50 produtos, indicando diversificação da dieta, correspondendo, em média, a 28% do rendimento total da família. Assim, pode-se concluir que o autoconsumo é responsável pela segurança alimentar das famílias.

Pelinski et al. (2006a) confirmam a importância da produção destinada ao consumo de famílias de agricultores na Região Centro-Sul do Paraná. Constataram que a renda dessas famílias diminuiu 29%,

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principalmente devido à queda da renda monetária (40%) em razão dos problemas climáticos ocorridos na safra 2004/2005. A renda não monetária permaneceu praticamente a mesma, sendo responsável, em média, por 35,4% da renda total das famílias analisadas na safra 2005/2006. Esta estabilidade da produção para o autoconsumo é um indicativo de sustentabilidade quanto à permanência da família no meio rural e à segurança alimentar da agricultura agroecológica.

Gazolla e Schneider (2007) demonstraram que a produção para autoconsumo é importante para a autonomia familiar, a sociabilidade comunitária e interfamiliar, o repasse do conjunto de conhecimentos dos agricultores (denominado saber fazer) e a segurança alimentar das famílias.

De acordo com o DESER (2003/2004), Santos e Barreto (2005), Santos et al. (2006b) e Dombek et al. (2006), a renda total de uma família não advém exclusivamente da renda monetária, mas também da renda não monetária, oriunda da contabilização da produção destinada ao consumo interno, diminuindo as despesas com a manutenção alimentar e da saúde, garantindo qualidade de vida e a própria segurança alimentar.

Quanto à avaliação das outras rendas no sistema diversificado de olerícolas e pequenos frutos, destaca-se a Família 7, que tem garantida a aposentadoria do casal da família. Este recurso proporciona uma garantia de sobrevida, facilitando a decisão de não mais trabalhar com tabaco e injetando, na média dos três últimos anos, 39% a mais na Margem Bruta Total (MBT) da propriedade. O domicílio possui eletrodomésticos adquiridos após o ingresso desta renda suplementar.

Para Buainain et al. (2003), a aposentadoria é a principal responsável pelas rendas monetárias externas à propriedade e é importante na distribuição e garantia de uma renda mínima para muitos agricultores idosos e suas famílias. Corroborando esse estudo, Prieb et al. (2009), ao estudarem os efeitos da previdência social rural na produção fumageira dos municípios gaúchos de Candelária, Arroio do Tigre e Estrela Velha, observaram que os benefícios previdenciários implicam em mudanças positivas no comportamento dos principais indicadores de análise da condição de bem-estar social e de vida das famílias.

3.3 Comparação da Rentabilidade dos Sistemas por Unidade de Área

Na Tabela 13, são apresentadas as Rendas Brutas Totais (RBT), os Custos Variáveis Totais (CVT) e as Margens Brutas Totais (MBT) por hectare de Superfície Agrícola Útil (SAU), comparando os sistemas

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Tabela 13. Renda Bruta Total (RBT), Custo Variável Total (CVT) e Margem Bruta Total (MBT) por hectare de Superfície Agrícola Útil (SAU) dos sistemas (R$/ha de junho de 2008 - IGP-DI).

Família Sistema de produçãoSAU (ha)

Média de 3 safras (2005 a 2008)

RB CV MB

1 Fumo convencional + leite 17,87 4.269,00 2.131,46 2.137,54

2 Fumo orgânico + grãos 12,70 2.335,77 633,92 1.701,33

3 Fumo orgânico especializado 10,46 3.250,91 794,59 2.467,94

4 Fumo orgânico diversificado 23,52 1.695,40 497,45 1.197,95

5 Fumo orgânico + grãos 8,10 1.779,36 414,12 1.365,23

6 Agroindústria diversificado 10,17 2.413,83 914,85 1.498,98

7 Olerícolas + pequenos frutos 0,50 50.519,53 8.544,32 41.975,21

independentemente do seu tamanho. Este instrumento também foi considerado como o principal indicador de rentabilidade por Fuentes Llanillo et al. (2008).

Assim, é possível verificar que os sistemas agroecológicos requerem menores custos variáveis por hectare como ocorre com a Família 2 (tabaco orgânico mais grãos), Família 3 (tabaco orgânico especializado), Família 4 (tabaco orgânico diversificado), Família 5 (tabaco orgânico mais grãos), Família 6 (agroindústria diversificado) e Família 7 (olerícolas e pequenos frutos).

Na média de três anos, os Custos Variáveis Totais (CVT) destas famílias variaram de R$ 414,00 a R$ 914,00 por ha.ano quando comparados aos da Família 1 (sistema tabaco mais leite convencional), que investe R$ 2.131,00 por ha.ano.

A única exceção é a Família 7, que adota um sistema orgânico muito intenso e rotacionado, e que mesmo sem o uso de insumos agroquímicos desembolsa R$ 8.544,00 por ha.ano, em função da própria atividade olerícola.

A Renda Bruta Total (RBT) por ha.ano do sistema fumo mais leite convencional da Família 1 (R$ 4.269,00) só não supera o sistema olerícolas mais pequenos frutos da Família 7 (R$ 50.550,00), cujo valor é muito superior, em virtude da agregação do processamento da produção.

Com relação às Margens Brutas Totais (MBT) por ha.ano, o sistema de tabaco convencional mais leite da Família 1 (R$ 2.138,00) foi superado apenas por dois sistemas: o de tabaco orgânico especializado da Família 3

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(R$ 2.468,00) e o de olerícolas e pequenos frutos com agroindústria da Família 7 (R$ 41.975,00). Os demais sistemas de tabaco orgânico com outras atividades renderam de R$ 1.198,00 a R$ 1.701,00 por ha.ano.

O sistema de agroindústria diversificada de uva, mel e erva-mate da Família 6 está gerando, em média, R$ 1.498,98 por ha.ano de Margem Bruta Total (MBT).

Mesmo inferiores à Margem Bruta Total (MBT) do sistema tabaco mais leite convencional da Família 1, todos os sistemas orgânicos apresentaram margens superiores a R$ 1.200,00 por ha.ano, comparáveis aos sistemas familiares mecanizados especializados de grãos do Norte do Paraná, que variaram em média de R$ 967,00 por ha.ano a R$ 1.842,00 por ha.ano em análise de seis safras realizada por Fuentes Llanillo (2007).

3.4 Diversificação dos Sistemas e a Independência em Relação ao Cultivo do Tabaco

A diversificação do sistema atua como um mecanismo de diminuição da importância relativa do tabaco, com alguns destaques (Fig. 13).

Cerca de 70% da Margem Bruta Total (MBT) do sistema convencional de tabaco mais leite da Família 1 é dependente do tabaco (66.500 pés em 4,40 hectares).

A Família 2 (tabaco orgânico mais grãos) e a Família 3 (tabaco orgânico especializado) são ainda mais dependentes do tabaco na formação da renda, mesmo desenvolvendo uma agricultura de base ecológica.

Exemplos de real diversificação são os sistemas de tabaco orgânico diversificado da Família 4 (13.500 pés em 0,90 hectare), de agroindústria diversificado da Família 6 e de hortaliças mais pequenos frutos com agroindústria da Família 7, que ainda carecem de aumentar a produção voltada ao mercado. Estas duas últimas famílias deixaram o tabaco nas safras 2005/2006 e 2004/2005, respectivamente, diversificando sua produção a partir de então e obtendo rendimentos crescentes ano após ano.

A Família 4 apresenta uma grande diversidade de atividades em sua propriedade, agregando valor à maioria dos seus produtos de base ecológica, como a erva-mate processada a granel, farinhas de milho e de mandioca e polvilho. A família também comercializa produtos como feijão, batata e produtos da Rede Ecovida.

Talvez a situação mais difícil seja da Família 5, que deixou a especialização em tabaco convencional (safra 2005/2006), migrou para

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2005/2006 2006/2007 2007/2008Safra

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2004/2005 2005/2006 2006/2007 2007/2008Safra

Fumo

Leite

Outras

Família 1

Fumo

Grãos

Outras

Família 2

Fumo

Grãos

Outras

Família 3

Fumo

Grãos

Outras

Família 4

Fumo

Grãos

Outras

Família 5

Fumo

Grãos

Agroind.

Frutas

Outras

Família 6

Fumo

Olerícolas

P. frutos

Agroind.

Família 7

MB

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MB

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Figura 13. Composição da Margem Bruta Total (MBT) das famílias nas safras em estudo.

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grãos (2006/2007) e na safra seguinte (2007/2008) especializou-se em tabaco orgânico (15.000 pés em 1,00 hectare).

Pelinski et al. (2006b), ao estudar as famílias de agricultores da Rede de Propriedades Familiares Agroecológicas no Centro-Sul do Paraná, constataram que a diversificação influencia diretamente o aumento do lucro, sendo que a produção de apenas mais um item pode elevar a renda em R$ 1.775,54 por ano. Além disso, verificaram que propriedades menos diversificadas e que possuem como produto principal commodities (feijão e milho) auferiram renda inferior às demais propriedades analisadas.

De acordo com Sepulcri et al. (2009), existem várias propostas de diversificação das áreas com cultivo do tabaco nas propriedades familiares, com destaque para a calêndula (Calêndula officinalis) (margem bruta de 569% acima do tabaco), tomate (316%), mandioquinha salsa (299%) e melissa (288%). Contudo, os autores não detalham o mercado potencial. Afirmam, ainda, que a reconversão pode ser implementada de forma gradual e contínua, a médio prazo. No primeiro momento devem ser introduzidas alternativas de cultivo que permanecerão ao lado do tabaco por um certo período e à medida que as alternativas se estabilizem financeiramente, este pode ser eliminado da propriedade.

Segundo Wrubleski (2008), a saída da fumicultura está intimamente ligada a outras atividades econômicas que podem dar suporte ao sistema econômico-produtivo da família, conforme pode-se verificar nos dados relativos à Família 6 (Fig. 13).

Corroborando a inferência dos resultados obtidos, Bonato (2007) reporta famílias produtoras de tabaco de estufa com Valor Bruto da Produção (VBP)2 46% maior que entre os não fumicultores. Assim, o nível de renda entre as famílias produtoras de tabaco foi também um grande entrave para que fumicultores migrassem para outras atividades.

De acordo com Bonato (2007), na quase totalidade dos 40 municípios estudados, o tabaco ultrapassa 50% da produção agrícola municipal. Em mais de um terço desses municípios, a fumicultura representa mais de 80% do valor bruto da produção agrícola total. Além disso, essa estrutura do sistema de produção é fruto de um longo processo histórico e está bastante consolidada, criando dificuldades significativas para a introdução, a curto e médio prazos, de novos sistemas de produção.

Outro entrave para a diversificação é que a fumicultura ocupa pequenas áreas – em 1,00 hectare podem ser cultivados de 14.000 a

2O Valor Bruto da Produção corresponde ao resultado da multiplicação dos preços dos produtos pela respectiva quantidade produzida no período.

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16.000 pés, dependendo do sistema – e proporciona forte dependência para a geração de renda.

A Família 3 obteve Margem Bruta Total (MBT) de R$ 2.467,94 por ha.ano na produção orgânica de tabaco (Tabela 13). Segundo Bonato (2007), a cultura do tabaco tem uma capacidade de reter a população no meio rural e a exigência de mão de obra para a produção fumageira pode ser um dos fatores para manter o homem no campo, pois em mais da metade dos municípios a população rural representa mais de 60% da população total.

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4 Considerações Finais

A diversificação por meio da agregação de valor aos produtos é fator de estabilização dos sistemas e uma das únicas estratégias viáveis para diminuir a dependência do tabaco, mesmo que este permaneça no sistema.

Embora em fase de consolidação, existem sistemas potenciais para substituição completa da atividade fumageira, cuja viabilidade está apoiada na transformação e agregação de valor em frutas, hortaliças, erva-mate e mel.

A opção pelo autoconsumo é importante para a segurança alimentar da família, além de permitir compensações de renda bastante significativas.

Os sistemas agroecológicos diversificados têm a vulnerabilidade de não contar com uma cadeia produtiva organizada como a do tabaco, para a qual existe crédito, seguro e comercialização regulamentados.

A fumicultura é uma atividade típica da agricultura familiar, cujos resultados econômicos são difíceis de serem superados por outras alternativas de renda.

O tabaco orgânico aparece como atividade capaz de igualar ou superar a margem bruta e a renda bruta do fumo convencional sobre o custo variável, incorrendo em menores custos e eliminando a utilização de insumos agroquímicos industriais sem, no entanto, desvencilhar-se da cadeia produtiva do fumo.

A pesquisa e a extensão rural devem continuar estudando novas alternativas de renda para estes sistemas familiares.

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