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UMA ALIANÇA RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO E COESÃO SOCIAL
NUNO VIEIRA E BRITO|VICTOR MENDES| PATRICIA FONSECA|PAULO BARREIRO DE
SOUSA|VASCO FERRAZ|ANA MARIA MACHADO|JOÂO MÁRIO AMARAL
MOÇÃO SETORIAL
CONGRESSO AVEIRO
25-26 JANEIRO 2020
NUNO VIEIRA E BRITO|VICTOR MENDES| PATRICIA FONSECA|PAULO BARREIRO DE SOUSA|VASCO FERRAZ|ANA MARIA MACHADO|JOÃO MÁRIO AMARAL
UMA ALIANÇA RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO
E COESÃO SOCIAL
1. ENQUADRAMENTO
Portugal está a envelhecer e o Interior a desertificar. A progressão dos fluxos migratórios locais
e/ou regionais naturalmente, impelem a população ativa no sentido das cidades de
média/grande dimensão e/ou do litoral, contrariando, assim, a coesão territorial, condição
prévia e essencial para o sucesso económico e desenvolvimento sustentável de uma sociedade
e de um País.
Numa breve análise de dado estatísticos, entre 1960 e 2011, apesar da tendência de redução
desde 2010, a população residente portuguesa aumentou aproximadamente 24% (de 8.292.500
para 10.276.617 habitantes), em contraciclo à tendência das populações dos territórios do
interior, com uma redução aproximada de 30% de população. De facto, presentemente, 43% da
população portuguesa vive (2018), nos principais núcleos urbanos, 159 cidades, do país1.
Simultaneamente, constata-se o envelhecimento da população, com maior incidência europeia
e regional na Península Ibérica, traduzido pelo crescimento da população idosa em quase 10%
no conjunto dos concelhos de Portugal continental, contrastando com a regressão da população
jovem em 11%, e atenuado, sob o aspeto económico, pelo sensível aumento (1%) da a
população ativa. O índice de envelhecimento em Portugal é de 159, correspondendo a 159
idosos (+65 anos) por cada 100 jovens (0-14 anos), ou seja, vivemos um verdadeiro inverno
demográfico.
Na verdade, encontramo-nos perante uma imposição nacional e internacional de
implementação de políticas que fomentem o desenvolvimento social e económico em zonas
rurais (ou territórios de baixa densidade) através de estratégias que respeitem as caraterísticas
sociais da região e da sociedade nela integrada, que promovam a qualidade de vida dos
cidadãos, que assegurem a disponibilidade e acessibilidade aos serviços públicos, em particular
os sociais, que favoreçam a equidade e justiça social, enfim, que sejam atrativas a novos
residentes e dissuasoras do êxodo populacional.
São, também, essas as preocupações das Nações Unidas e da Agenda 2030 para o
Desenvolvimento Sustentável: Transformar o nosso Mundo, em particular através do reforço do
investimento em infraestruturas, conhecimento e desenvolvimento, assim como da interligação
dos vínculos económicos, sociais e ambientais entre áreas urbanas, suburbanas e rurais, num
coerente e harmonioso planeamento e gestão de território, à escala regional e nacional.
Este desenvolvimento dos territórios do interior, ou mesmo de territórios de baixa densidade,
far-se-á através de estratégias e políticas de desenvolvimento regional e rural, em que um setor
agrícola robusto e dinâmico será um pilar estruturante e fortemente conectado com outros
setores da economia. É determinante uma maior participação das pessoas e das comunidades
na gestão de seus próprios objetivos sociais, económicos e ambientais, o reforço da capacitação
1 Anuário Estatístico de Portugal, 2019
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e do conhecimento, a atração de mais públicos e dos mais jovens, uma mais estreita relação
entre áreas rurais e urbanas, reduzindo disparidades, expandindo oportunidades e incentivando
a retenção e captação de pessoas qualificadas.
O reforço da notoriedade e o reconhecimento do papel social desta população é indispensável.
O seu contributo para o harmonioso desenvolvimento de todos os territórios tem de ser
reconhecido. O respeito e a valorização das suas opções e das suas tradições, como sociedade
rural, tem de ser considerada, em liberdade e democracia.
Neste particular momento, de desvalorização do Mundo Rural e da sua diminuição social,
política e económica, uma AGENDA RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO E COESÃO SOCIAL é
urgente, agregando todos aqueles que o preservam, respeitam e valorizam.
Porque o CDS esteve sempre presente nestas causas e no respeito pelo Mundo Rural e, fê-lo de
forma ativa e motivadora, é igualmente oportuno, neste preciso momento de decisões
estruturantes, relembrar e reforçar políticas estruturantes que estiveram sempre na base do
nosso Partido.
2. VISÃO
A coesão territorial e social, com políticas de desenvolvimento específicas, tem de ser um
objetivo estruturante para Portugal, quando o território rural é altamente predominante (90%
do país é rural), a atividade agrosilvopastoril ocupa cerca de 75% do território e cerca de 50% é
considerado como de baixa densidade;
A redução das assimetrias entre populações e regiões tem de ser uma realidade sustentada
numa abordagem multissetorial, que inclui para além do produção agrícola e valorização dos
recursos naturais, o desenvolvimento de outros setores económicos conexos, o reforço das
infraestruturas, o acesso a serviços públicos de qualidade – saúde, educação, desporto e cultura;
A importância do contributo destas áreas rurais para a sustentabilidade ambiental e a sua
elevada dependência dos fatores climáticos e a riqueza única da biodiversidade, que nos
distingue entre as diferentes Nações, transformando cada região num fator singular de
oportunidades;
A forte contribuição para a soberania alimentar, promovendo produtos únicos em qualidade e
segurança, favorecendo circuitos curtos de comercialização e interligando-se com setores ativos
da economia, como o turismo;
O papel social e interventivo das populações, hoje muitas vezes desconsiderado e reduzido por
minorias pseudo-urbanas e pouco conhecedoras do Mundo Rural, a necessitar de estímulo e
apoio;
Numa altura de afirmação nacional e europeia, em que o próximo quadro comunitário tem
particular influência, Portugal deve adotar, quer do ponto de vista politico quer social,
orientações claras de dinâmicas demográficas, territoriais, ambientais, económicas e do
conhecimento que reforcem a coesão e competitividade, sejam criadoras de riqueza e emprego.
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Portugal necessita de políticas e políticos que vivam, também, o Mundo Rural. Urge
compreender para decidir, conhecer para valorizar. Implementar, desenvolver e construir.
Enfim, que sejam realmente promovidas estratégias que valorizem o território, especialmente
o mais envelhecido e desertificado, indo ao encontro, de forma firme e inequívoca, de uma
maior coesão territorial e social, tendo sempre como fator indicador – AS PESSOAS PRIMEIRO.
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3. UMA AGENDA
3.1 – UMA AGENDA PARA A COMUNIDADE
Portugal apresenta, dentro do conjunto dos vários países da UE, áreas com densidade
populacional muito baixa, sendo imperioso identificar as razões de abandono das regiões rurais
e promover políticas de atração de novos habitantes e contenção do êxodo dos locais. É
fundamental evitar a manutenção de um 'círculo vicioso de declínio', em certas áreas rurais que
sofrem com o despovoamento pela pressão da migração na procura de (melhores)
oportunidades de emprego e/ou pela redução (ou ausência) de prestação de serviços
públicos/privados, em particular nas áreas da saúde e da educação.
O desenvolvimento económico e social de qualquer região requer infraestruturas, incluindo uma
moderna rede de transportes e serviços rápidos de banda larga, cobertura de serviços de saúde
adequados, presença de serviços públicos com qualidade e eficiência, disponibilidade e acesso
à cultura, ao desporto e ao lazer.
O desequilíbrio entre regiões, rurais e suburbanas ou urbanas, revela este aprofundar de
assimetrias sociais, culturais e económicas, que se tem vindo a agravar. O reduzido desempenho
das economias locais, a falta de oportunidades de emprego e perspetivas de carreira muito têm
contribuído para este, cada vez maior, gap entre regiões e consequente empobrecimento e
despovoamento do Mundo Rural.
Efetivamente, em 20152, mais de um quarto (25,5%) da população rural europeia estava em
risco de pobreza ou exclusão social, valor comparativamente superior com a população que
habita nas cidades (24,0%), tendência que se acentuou nos anos seguintes. Comportamentos,
como o abandono relativamente mais precoce, da educação e formação, dos jovens acentuam
desigualdades - a percentagem de jovens (entre os 18 e os 24 anos) que viviam em áreas rurais
da UE e não estavam empregados, a estudar ou em formação complementar foi 3,7% superior
à dos seus pares nas cidades. O uso das novas tecnologias, como o acesso diário à Internet, é
igualmente menor em zonas rurais, mais um indicador negativo relativo ao desenvolvimento
pessoal e bem-estar da população rural.
Uma política nacional de desenvolvimento rural pressupõe uma perspetiva de estímulo de
desenvolvimento integrado das regiões, no seu conjunto e diversidade territorial, através da
valorização eficiente e inteligente dos recursos e potencialidades existentes em cada uma delas,
reconhecendo a necessidade de mecanismos de compensação específicos.
Estas estratégias de desenvolvimento conjunto podem ser potenciadas pela presente tendência
europeia de deixar as áreas urbanas em busca de mais espaço (acessível) nos subúrbios, cidades
intermédias ou no campo, em particular impelidos pelos elevados custos da vida urbana. Estas
opções de vida por cidades próximas, subúrbios ou pequenas áreas urbanas/rurais apresentam
vantagens evidentes de menores custos de habitação e de habitabilidade, mais espaço
disponível, ambiente menos poluído e um estilo de vida menos intenso e stressante. Como
exemplo, no que diz respeito à habitação, a taxa de sobrecarga de custos da UE-28, em 2015,
2 Eurostat,2015
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foi mais baixa nas áreas rurais (9,1%), relativamente à registada para nas cidades e subúrbios
(10,6%) e muito inferior à exclusivamente relativa às cidades (13,3%)1.
Não existindo, até ao momento, qualquer desagregação ao nível geográfico dos indicadores do
EU-SILC para Portugal, a única leitura territorial é obtida pela análise dos indicadores por grau
de urbanização do território3. Os dados indicam que pobreza ou exclusão social, a pobreza
monetária e a intensidade laboral muito reduzida, atingem proporções mais elevadas das
populações que residem nas zonas rurais, no entanto, a população dos grandes centros urbanos
está mais exposta à privação material severa. Assim, nas zonas rurais cerca de 27.5% da
população está em risco de pobreza ou exclusão social, quase 23% está em risco de pobreza
monetária e mais de 9% vive em agregados com intensidade laboral muito reduzida. A privação
material severa atinge 8.2% da população dos grandes centros urbanos e 6.5% da população das
zonas rurais.
Em consequência, verifica-se uma diferenciação no influxo populacional nas áreas rurais em que
as que se encontram mais próximas das cidades/centros urbanos tendem a um reduzido
declínio, ou mesmo algum crescimento populacional, ao contrário das áreas remotas de
fronteira, mais sensíveis ao despovoamento. Uma política de desenvolvimento regional e rural
tem, assim, de prosseguir objetivos para uma maior coesão, competitividade e equidade
territorial.
Inovar politicamente num contexto depressivo não é fácil, particularmente em regiões rurais
que geralmente são caracterizadas por estruturas mais conservadoras e menos sensíveis à
mudança. Todavia, são fundamentais o reconhecimento e a perceção de uma realidade menos
competitiva, valorizando as tendências emergentes de uma população envelhecida e em
declínio, promovendo o desenvolvimento de soluções multidimensionais, holísticas e
inovadoras, adaptadas à realidade das próprias regiões.
No entanto, independentemente de políticas vocacionadas para o crescimento, mais
consensuais e tradicionais, urge um olhar diferenciador para estratégias destinadas a adaptação
de regiões em retração, que necessitam uma maior representatividade e afirmação. Nestas
regiões, que não possuem escala e a massa crítica necessárias para a sua viabilização
sustentável, o nível regional é o mais ajustado para aproximar os níveis de decisão sobre as
soluções à origem dos problemas, contribuindo para respostas públicas mais adequadas e
eficientes, para aumentar a confiança dos cidadãos nas instituições e estimular maior
participação cívica.
Políticas de desenvolvimento de territórios de baixa densidade, implicam estratégias integradas
de planeamento e ordenamento do território, que permitam uma visão que ultrapassa o local e
tenha um âmbito regional, senão mesmo, nacional, em particular na necessária alocação de
recursos financeiros e de fundos comunitários. Esta escala regional é essencial no que se refere
ao planeamento para a sustentabilidade, a coesão social e territorial, o crescimento e
desenvolvimento económico, em particular, nas áreas rurais, em regiões mais frágeis ou mesmo
deprimidas.
A coordenação estratégica para e entre as regiões é determinante e necessária, fortalecendo as
redes inter-regionais, reforçando a qualidade da prestação de serviços públicos, o uso mais
eficiente dos recursos e infraestruturas públicas em condições fiscais mais competitivas,
3 POBREZA E EXCLUSÃO SOCIAL EM PORTUGAL – 2016-2017 (ONLCP,2018)
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incentivando a cooperação regional e limitando os impactos negativos da competição
intrarregional, mas sempre com respostas locais que permitam instrumentos personalizados e
estratégias de crescimento/adaptação.
Um olhar atento e realista sobre as políticas de crescimento demográfico, fortemente
relacionadas com a dinâmica económica do território, com a educação e formação da
população, nomeadamente através de programas de capacitação e desenvolvimento de
competências profissionais, determinantes para a implementação de estratégias que
compreendam as mudanças demográficas e as realidades de adaptação/crescimento das
regiões rurais. Políticas demográficas devem simultaneamente considerar o desenvolvimento e
as oportunidades decorrentes das mudanças demográficas das últimas décadas e promover a
manutenção do equilíbrio intra e inter geracional, uma condição necessária para a manutenção
de um crescimento sustentável e coeso.
O declínio demográfico, o envelhecimento e a reduzida taxa de fertilidade, particularmente mais
acentuados nas zonas rurais, não se traduz apenas em desequilíbrios entre jovens e idosos, mas
implica alterações na duração dos diferentes estadios subsequentes da vida, especialmente
entre os períodos de vida ativa profissional e de reforma da atividade profissional.
Políticas de favorecimento demográfico deve contemplar, desde logo investimentos antes da
conceção e durante a infância, que têm um efeito positivo, em questões individuais, económicas
e sociais ao longo de toda a vida e influenciam a saúde e as capacidades cognitivas na velhice.
Têm, obrigatoriamente, de integrar medidas que contemplem a população em todas as idades,
os efeitos multidimensionais e multiníveis das mudanças nas estruturas da família e de
parentesco, bem como as perspetivas de desenvolvimento e bem-estar das populações nos
diversos ciclos de vida. A renovação demográfica pode ser considerada não apenas como uma
medida para reduzir os desequilíbrios entre jovens, adultos e idosos, mas também um estímulo
ao crescimento e desenvolvimento do capital humano, aumentando o seu número.
Um dos maiores desafios é adotar estratégias de longo prazo, o que implica um modelo de
governança regional com uma visão clara, objetivos operacionais e recursos de longo prazo;
compromisso e liderança que incorporam a cooperação local, regional e intermunicipal e a
colaboração de partes interessadas públicas e privadas. As soluções para regiões deprimidas
contemplam, para além de medidas de incidência económica, respostas claras e objetivas aos
problemas sociais e ambientais que caraterizam o território.
Políticas não imediatistas têm, manifestamente, de reconhecer a especificidade dos territórios
e das suas populações, fortalecendo a resiliência local a forças exógenas e oferecendo
ambientes sustentáveis e atrativos para novos residentes. Daí que incentivos fiscais a residentes,
famílias e profissionais (nomeadamente de saúde), complementados com programa de
empréstimos bonificados a estudantes do ensino superior, para as zonas do interior, ou créditos
e benefícios fiscais ao emprego (instrumento fundamental para a sua recuperação), devem ser
implementados, simultaneamente com outros, como a isenção, benefícios fiscais ou sistemas
inovadores de incentivos às empresas, fundamentais para a sustentabilidade e desenvolvimento
económico dos territórios, particularmente numa visão a médio e/ou longo prazo.
Estas estratégias permitem reforçar e dinamizar o ecossistema empresarial do interior, numa
diversificação económica que promova a resiliência local, focada no aproveitamento de recursos
endógenos e, sempre que possível, incentivando a instalação de empreendedores nas regiões
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rurais. Por outro lado, é necessário apoiar a capacitação dos agentes locais, o desenvolvimento
de economias alternativas e a diferenciação inteligente, numa ótica de inovação regional.
O reforço do sentido de comunidade, conseguido através de maior inclusão social, da maior
comunicação e participação da comunidade, do estímulo de parcerias e da apropriação do seu
futuro, das dinâmicas sociais, económicas e culturais, da cooperação institucional e empresarial,
permite uma maior confiança e o envolvimento das populações e será, obviamente, um fator
decisivo de integração e fixação da população.
ESTRATÉGIAS PRINCIPAIS – AGENDA PARA A COMUNIDADE
Uma Agenda para o reforço da comunidade rural tem de considerar o desenvolvimento
económico e social das diferentes regiões, pressupondo a valorização integrada das regiões,
através da otimização eficiente e inteligente dos seus recursos e potencialidades.
Reconhecer a especificidade de uma realidade menos competitiva, considerando as
tendências emergentes de uma população envelhecida e em declínio, para o
desenvolvimento de soluções multidimensionais, holísticas e inovadoras, conciliando
políticas vocacionadas para o crescimento com estratégias destinadas a adaptação em
regiões em retração, que necessitam de maior representatividade e afirmação;
Promover estratégias integradas de planeamento e ordenamento do território, que
permitam uma visão que ultrapassa o local e tenha um âmbito regional, senão mesmo,
nacional, determinante no que se refere ao planeamento para a sustentabilidade, a
coesão social e territorial, o crescimento e desenvolvimento económico. Uma
coordenação estratégia para as regiões é necessária, fortalecendo redes e o uso mais
eficiente dos recursos e de infraestruturas públicas;
Implementar políticas de crescimento demográfico que devem contemplar
investimentos ao longo de toda a vida e que permita reduzir os desequilíbrios entre
jovens, adultos e idosos, e, simultaneamente, estimular o crescimento,
desenvolvimento e qualificação do capital humano;
Adotar estratégias de longo prazo, com medidas de incidência económica e respostas
claras e objetivas aos problemas sociais e ambientais que caraterizam o território.
Políticas não imediatistas que fortaleçam a resiliência local a forças exógenas e
oferecendo ambientes sustentáveis e atrativos para novos residentes;
Promover uma politica fiscal positivamente discriminatória dos residentes, famílias e
profissionais, complementada com incentivos a estudantes e ao emprego, bem como
isenção, benefícios fiscais ou sistemas inovadores de incentivos às empresas, são
fundamentais numa visão de sustentabilidade e desenvolvimento económico,
particularmente a médio e/ou longo prazo;
Reforçar o sentido de comunidade, através de maior inclusão social, de dinâmicas
sociais, económicas e culturais, capacitando os agentes locais, promovendo a
diversificação económica e incentivando a instalação de empreendedores, fatores de
coesão, inovação e competitividade territorial.
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3.2 – UMA AGENDA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO
Sendo Portugal um país rural, onde a agricultura, as pastagens e a floresta ocupam 90% do
território, faz todo o sentido reconhecer e valorizar estas atividades no potenciar do
desenvolvimento económico do país e, em particular, das regiões mais do interior.
O dinamismo do sector agrícola é uma realidade irrefutável. Nos últimos anos tem-se vindo a
assistir a uma cada vez maior utilização da área com potencial para uso agrícola que não estava
a ser aproveitada nesse sentido, o que é um indicador positivo. Paralelamente, o sector agrícola
nacional tem conseguido aliar a tradição à modernidade, com a manutenção das atividades mais
tradicionais ou extensivas como os cereais, alguma pecuária ou os produtos regionais de
qualidade reconhecida, a par do surgimento e reforço de outras mais competitivas como as
frutas e hortícolas e até inovadoras como alguns produtos resultantes da transformação
agroindustrial.
Apesar de serem cada vez mais o número de empresas agrícolas, 95% das explorações são ainda
de produtores singulares. Também na grande maioria são de reduzida dimensão (cerca de
metade têm menos de 10 hectares) mas as de maior área ocupam a maior fatia do território. Se,
por um lado, as explorações de maior dimensão, mais competitivas e empresariais, contribuem
mais significativamente para a produção nacional, por outro, as de menor dimensão
representam um maior número de população, para quem são com um importante
complemento de rendimento e mantêm o território ocupado e gerido, contribuindo ainda assim
com uma parte significativa da produção nacional.
Estes indicadores revelam a especificidade dum sector económico que tem por isso necessidade
de políticas públicas diferenciadas – de formação profissional, de apoios ao investimento ou a
fundo perdido, de uma maior facilidade de acesso ao crédito, de maior concentração da oferta
com o reforço da organização da produção, de medidas de apoio ao rendimento, aos produtos
regionais de qualidade certificada, aos circuitos curtos de comercialização, de investigação
aplicada e inovação, entre outros.
Um fator de competitividade transversal a todo o sector é o regadio, nomeadamente porque o
rendimento gerado pelo regadio é, em média, sete vezes superior ao gerado pelo sequeiro. É
por isso necessário apostar em mais e melhor regadio, mais eficiente, que permitirá aumentar
as áreas regadas sem necessariamente aumentar o consumo de água global do sector.
Num momento de transição entre Quadros Comunitários de Apoio, é essencial o
estabelecimento de estratégias que não permitam a redução de investimento – menos apoios
da PAC a Portugal - que assegurem uma maximização da comparticipação nacional nos fundos
e garantam a sua complementaridade, concorrendo para um maior desenvolvimento das
regiões rurais.
Também o sector florestal é estratégico para a economia nacional, pelas exportações que gera
e o emprego que cria, para além das externalidades positivas que tem, dificilmente mensuráveis,
nomeadamente as de carácter social e ambiental. Dos mais de 3 milhões de hectares de floresta,
97% da área é privada e de muito pequena dimensão (87% têm entre 0,5 e 3 hectares), pelo que
a estrutura da propriedade é a principal limitação à rentabilidade e competitividade.
Assim, urge atrair investimento privado que potencie a gestão e a investigação para transformar
a floresta num ativo rentável que possa ser corretamente gerido. Este é um dos casos em que
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se justifica uma especial intervenção do Estado, com políticas públicas de incentivo quer ao
investimento e à boa gestão florestal, quer à conservação e manutenção da biodiversidade, com
retorno para a economia e um contributo significativo para a neutralidade carbónica.
A jusante dos sectores agrícola e florestal há toda uma indústria cada vez mais profissional,
tecnológica, inovadora, competitiva e exportadora, que acrescenta valor, contribui para o
desagravamento do défice da balança comercial do país e garante uma significativa parte da
soberania alimentar, cumprindo os mais elevados padrões de segurança alimentar.
A indústria alimentar é a principal indústria transformadora nacional e representa 12,6% do total
do volume de vendas e prestação de serviços4, com cerca de 11,6 milhões de euros.
Globalmente, as indústrias ligadas ao sector agrícola - alimentares, de bebidas, de
transformação da madeira e de pasta de papel -, representam cerca de um quarto (24%) das
vendas da indústria nacional.
Para o desígnio de desenvolvimento produtivo agroalimentar e florestal, é fundamental a aposta
na melhoria da produtividade, no empreendedorismo, com especial destaque para o jovem, na
investigação e inovação e na internacionalização, para o equilíbrio da balança comercial.
Na realidade, todas estas atividades e muitas outras conexas, coexistem no nosso país, numa
mesma região, mesmo ao nível de uma mesma propriedade. Existe com efeito uma forte ligação
entre a agricultura, a floresta, os recursos endógenos e as atividades da economia local como a
caça, o turismo, a agroindústria ou a produção de energia, pelo que só com o apoio e o reforço
da multifuncionalidade dos territórios rurais será possível afirmar a oferta nacional e garantir
mais e melhor emprego, mais desenvolvimento económico e uma verdadeira coesão social e
territorial.
A nossa ruralidade e a nossa diversidade devem ser vistas como uma oportunidade, de
desenvolvimento económico e do território, e não como uma ameaça.
ESTRATÉGIAS PRINCIPAIS – AGENDA PARA O DESENVOLVIMENTO PRODUTIVO
Uma agenda para o desenvolvimento produtivo no mundo rural implica um conjunto de políticas
e estratégias que promovam a multifuncionalidade dos territórios e a complementaridade das
atividades.
Colocar a agricultura e atividades do mundo rural como áreas politicamente relevantes
e investir nas novas gerações de agricultores e empresários rurais para que as
populações do interior se sintam valorizadas, ao invés de se sentirem ameaçados por
políticas de constante desconfiança e ataques às suas atividades, modos de vida e
tradições;
Garantir um setor agroalimentar forte, competitivo e sustentável, com dimensão para
competir num mercado global e que contribua para o crescimento económico e
responda aos desafios das alterações climáticas, nomeadamente apostando na
organização da produção e na investigação, na inovação e na internacionalização.
Assegurar que não há redução de verbas dos fundos comunitários para Portugal e
reforçar a comparticipação nacional nesses fundos, de forma a beneficiar do efeito
4 Estatísticas de Produção Industrial 2018
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multiplicador desse investimento na economia e a promover a sustentabilidade e a
biodiversidade na agricultura, aprofundando o conceito de intensificação sustentável;
Reforçar a posição dos produtores na cadeia de valor e fortalecer as cadeias de
distribuição e comercialização, nomeadamente dos produtos agrícolas regionais de
qualidade reconhecida (DOP, IGP ou outros), apostando nos circuitos curtos de
comercialização e na discriminação positiva da pegada ecológica nas compras públicas;
Para promover o valor da floresta nacional, deve ser aprofundada a fiscalidade florestal,
com mecanismos que favoreçam a poupança e o investimento para uma gestão
profissional e à escala da paisagem, melhorando a produtividade e estimulando a
certificação florestal.
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3.3 – UMA AGENDA PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Os territórios rurais são essenciais para o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento
Sustentável da ONU (ODS 2030), seja no desenvolvimento económico, como já referido, seja no
social ou, também, no ambiental. São territórios que estão mais vulneráveis às alterações
climáticas, onde muito há a fazer em termos de adaptação, em particular no domínio da água,
mas também são, igualmente, aqueles territórios que mais podem contribuir para a mitigação
dessas mesmas alterações climáticas, em particular como sumidouros de carbono.
De facto, as características mediterrânicas que caracterizam o nosso país fazem da água um
fator crucial de competitividade e modernização da agricultura, mas também determinante para
o combate à desertificação e a adaptação às alterações climáticas. A água é, em Portugal, um
elemento de coesão territorial. É essencial maximizar o armazenamento de água nos períodos
e anos de maior pluviosidade para garantir a sua disponibilidade nos períodos e anos de maior
escassez. Por isso, o armazenamento e aproveitamento dos recursos hídricos através de charcas
e barragens, bem como o estudo da viabilidade de construção de interligações de norte para sul
do país (transvases) de modo a aproveitar a maior precipitação que se verifica a norte para
encher reservatórios a sul, devem estar nas nossas prioridades.
A reutilização das águas residuais e o estudo de centrais de dessalinização da água do mar para
utilização em rega devem ser vistas como complemento importante desta equação, a par com
o cada vez maior uso eficiente da água, sendo que o financiamento destes investimentos tem
de ser assegurado numa lógica plurifundo.
A floresta, o uso do solo, em particular as pastagens permanentes, e as zonas húmidas (LULUCF),
foram reconhecidos no Acordo de Paris como setores chave para o cumprimento dos objetivos
de procurar limitar o aumento da temperatura mundial a 1,5ºC em relação aos níveis pré-
industriais. É também reconhecida a importância de que os países reforcem os seus sumidouros
e reservatórios de gases com efeitos de estufa.
O setor LULUCF não está à data enquadrado nas medidas de política de mitigação dos gases com
efeito de estufa, mas o Regulamento (UE) 2018/841 do Parlamento Europeu e do Conselho, de
19 de junho de 2018, estabelece as suas regras de contabilização para 2021-2030 e Portugal
comprometeu-se a apresentar um Plano de Contabilidade Florestal Nacional. Este Regulamento
reconhece que o investimento em medidas de prevenção e as práticas de gestão sustentável
podem reduzir os riscos associados às perturbações naturais.
Em Portugal, a floresta é privada numa larga maioria da área, 92%, sendo 5% comunitária
(baldios) e apenas 3% é área pública. Este é um caso único a nível europeu, onde a floresta
pública representa cerca de 40%5 da área florestal total, dos 19% na Áustria aos 86% na Bulgária.
Com efeito, as florestas constituem um dos nossos maiores sumidouros e reservatórios de
carbono e Portugal foi um dos poucos países que, no âmbito do Protocolo de Quioto (2008-12),
5 https://apambiente.pt/_zdata/Alteracoes_Climaticas/Mitigacao/National%20Forestry%20Accounting%20Plan_Portugal_final.pdf
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optou por utilizar esse potencial para compensar as emissões de outros sectores, como os
transportes ou a indústria, os maiores emissores de gases com efeitos de estufa (GEE).
Os relatórios que Portugal tem produzido no âmbito da Convenção Quadro das Nações Unidas
sobre Alterações Climáticas (UNFCCC) revelam claramente que as emissões de GEE pela
agricultura são largamente compensadas pelo efeito sumidouro da floresta e do uso do solo
(LULUCF), com um balanço muito positivo. É assim falsa a tentativa de imputar ao sector agrícola
a maior responsabilidade pelas emissões de GEE como tem sido prática nos últimos tempos.
Se o nosso maior sumidouro de carbono é a floresta e as pastagens permanentes, em particular
as biodiversas; se a propriedade dessas áreas é maioritariamente privada; se este contributo
positivo para as metas ambientais do país ocorre nas áreas rurais, na sua maioria vulneráveis e
desertificadas; então os proprietários têm de ser remunerados pelo serviço que prestam à
sociedade e o CDS deve estar na linha da frente desta defesa intransigente.
São também estes territórios rurais que garantem a riqueza da nossa biodiversidade. Portugal é
um dos países da UE com maior percentagem de área classificada: temos 8% do território
classificado com Área Protegida, dos quais grande parte, mas não toda, se sobrepõe aos 22% de
Rede Natura 2000. E existem ainda 6 Reservas da Biosfera - áreas onde os valores que se
pretendem proteger estão precisamente ligados às atividades humanas envolventes – 18 Sítios
Ramsar e 4 Geoparques.
Por isso mesmo, a gestão das áreas protegidas deve envolver os atores locais nos processos de
decisão, permitindo a compatibilização da preservação da biodiversidade com a existência de
outras atividades económicas, nomeadamente turísticas, mas também de cariz educacional.
O desenvolvimento sustentável é uma responsabilidade de todos, nomeadamente para com as
próximas gerações, mas a proteção do ambiente pode e deve ser uma oportunidade e não um
encargo, pelo que é necessária uma perspetiva económica da proteção ambiental, sem
preconceitos, sustentada na inovação e no progresso tecnológico, que foram o que, ao longo da
história, nos permitiu evoluir e alcançar a prosperidade atual.
Em suma, olhamos para o nosso território, tão exposto às alterações climáticas, como um ativo,
uma riqueza que temos de preservar, potenciar e legar às novas gerações melhor do que
encontrámos. A nossa ruralidade e a nossa diversidade devem ser vistas como uma
oportunidade, de desenvolvimento económico e do território, e não como uma ameaça.
ESTRATÉGIAS PRINCIPAIS – AGENDA PARA A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL
Uma agenda para a sustentabilidade ambiental do mundo rural implica o reconhecimento do
importante papel da complementaridade das atividades no território e uma visão integradora
das medidas de política.
Reconhecer que as medidas de política ambiental devem ter uma visão integrada e
cientificamente sustentada, numa perspetiva económica da proteção ambiental,
alicerçada na inovação e no progresso tecnológico;
Assumir que, em Portugal, a água é um fator de coesão social e territorial mais do que
de competitividade, e que é urgente desenvolver e assegurar financiamento para um
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plano de armazenamento plurianual de água que garanta essa coesão e essa
competitividade num futuro cada vez mais sujeito a aleatoriedades climáticas;
Assegurar que os proprietários rurais são remunerados pelos serviços ambientais que
prestam à sociedade, nomeadamente pelo sumidouro de carbono e salvaguarda da
biodiversidade;
Sustentar cientificamente as áreas protegidas que devem manter-se com menor ou
nenhuma intervenção humana e as que podem e/ou devem coexistir com alguma, e em
que moldes, atividade económica, garantindo dessa forma uma maior sustentabilidade
dessas áreas, em todas as suas vertentes.
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3.4 – UMA AGENDA PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL
A reflexão sobre os vetores que explicam o progressivo definhamento que o mundo rural tem
vivenciado em Portugal, marcado por uma expressiva perda populacional, quer em volume de
emprego relacionado com as atividades tradicionalmente ligadas ao setor primário, quer em
população residente em territórios de baixa densidade e rurais, é determinante na abordagem
a adotar para uma agenda para o desenvolvimento social no mundo rural.
Assim, é importante reter três pressupostos essenciais para esta abordagem: o problema de
coesão territorial em Portugal; a consciencialização de que o território híbrido urbano-rural é
uma realidade objetiva e concreta, que resulta do progresso e afirmação simultânea das
realidades territoriais urbanas e rurais; e, em resultado, das duas premissas anteriores, o futuro
do desenvolvimento territorial em Portugal é um futuro de hibridização urbano-rural.
A coesão e a competitividade constituem-se como duas dimensões que devem ser ambas
encaradas na sua dupla leitura, económica e social, as quais devem ser geridas com equilíbrio
visando a mitigação dos problemas de coesão territorial em Portugal.
O futuro da coesão dos territórios em Portugal só poderá ser positivo e efetivo se o referencial
definido for assente na capacidade de aproveitar as oportunidades de desenvolvimento, na
Europa e no mundo. Porquanto, é necessário6:
em primeiro lugar, considerar o princípio da diferenciação territorial como fator de
sucesso na integração europeia e na globalização (O desenvolvimento territorial está
cada vez mais dependente da respetiva capacidade em alimentar processos cumulativos
da ocupação humano, empresarial e institucional na valorização aberta dos seus
recursos endógenos, materiais e imateriais, naturais e patrimoniais e na realização de
funções económicas específicas e distintivas na produção para o mercado nacional e
para o mercado mundial).
em segundo lugar, a colaboração supramunicipal para garantir uma descentralização
regional autónoma dos limites físicos dos concelhos, mas ancorada na legitimidade
democrática do poder local (O pleno desenvolvimento das regiões depende em larga
medida do abandono integral da fragmentação, implícita na reduzida escala concelhia,
combinando a efetiva provisão, em qualidade e quantidade, dos serviços estratégicos
de proximidade).
em terceiro lugar, uma muito maior valorização do papel dos territórios na renovação
dos paradigmas competitivos em Portugal (O futuro das regiões rurais portuguesas
depende do desenvolvimento de sinergias territoriais combinando modelos de
economias de aglomeração e de especialização suficientemente diferenciadas e
descentralizadas, capazes de gerir e valorizar os ativos existentes ou em construção em
termos de capital humano, natural e patrimonial).
O mundo rural é um espaço de oportunidades de desenvolvimento económico, social, cultural
e ambiental, que cria um crescente interesse de pessoas – que procuram novos modos de vida
6 Estudo “O mundo rural e o desenvolvimento económico e social de Portugal: uma agenda para o
futuro” EY-AM&A. 2017.
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e experiências apenas aqui alcançáveis – e de empresários e empreendedores – sabedoras do
seu potencial valor acrescentado.
Assim, as alavancas7 para a valorização do mundo rural incluem a identidade e os recursos
endógenos (para povoar e atrair pessoas); a inovação e produção (para criar riqueza e atrair
empresas e investimento); o turismo, a cultura e o património (como meio de
internacionalização e plataforma avançada de consumo) e a sustentabilidade ambiental (para
preservação e valorização do capital natural).
As oportunidades do Mundo Rural estão, igualmente, relacionadas, entre outros aspetos, com
a crescente procura de alimentos saudáveis e de qualidade, com as mudanças no turismo e nos
padrões residenciais e com novas políticas de apoio à evolução da agricultura. Além disso, as
economias 'grisalha' e 'branca' tornar-se-ão cada vez mais importantes no futuro, impulsionadas
tanto pelo surgimento de novos mercados de consumo de produtos e serviços adaptados ao
envelhecimento da população quanto pela necessidade de melhorar a sustentabilidade dos
gastos públicos relacionados com o envelhecimento.
As regiões rurais em retração estão também em posição ideal para capitalizar a economia
"verde". No contexto do rápido esgotamento dos recursos naturais e das pressões ambientais,
a relevância da economia verde para as áreas rurais é mais ampla do que apenas a agricultura e
a silvicultura, mas também está ligada a outras políticas ambientais e económicas, incluindo a
economia circular e a biodiversidade.
Os potenciais de inovação regional deverão ser capitalizados através de investimentos
direcionados em TIC no contexto de estratégias de adaptação regional conjuntas, numa
estratégia económica, que valoriza uma abordagem abrangente para enfrentar os desafios
ecológicos, ambientais, energéticos, de alimentação, recursos naturais e sociais, 'produzindo
mais com menos' e como um elemento-chave para o crescimento inteligente e verde na Europa.
ESTRATÉGIAS PRINCIPAIS – AGENDA PARA O DESENVOLVIMENTO SOCIAL
Uma agenda para o desenvolvimento social do mundo rural implica um conjunto de princípios,
políticas e estratégias que promovam uma maior equidade económica e social e a redução das
assimetrias entre os territórios portugueses.
O desenvolvimento social, o crescimento económico e a adaptação e mitigação das
alterações climáticas estão interligados com o investimento em infraestruturas
adequadas, numa indústria moderna, empreendedora e sustentável, no progresso
tecnológico e na digitalização da economia e, para tal, é necessário desenvolver um
conjunto de recursos, públicos e privados para o efeito;
Partindo do princípio que a promoção da justiça social se traduz, por exemplo, na
proteção dos mais vulneráveis e desfavorecidos, na garantia da igualdade de
oportunidades e da correção das desigualdades na distribuição de riqueza e
rendimento. A verdade é que em Portugal o custo de acesso a um serviço público
essencial como a Saúde, a Educação ou a Justiça pode tornar-se bastante distinto para
7 Estudo “O mundo rural e o desenvolvimento económico e social de Portugal: uma agenda para o
futuro” EY-AM&A. 2017.
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um cidadão que viva em Melgaço, Alfandega da Fé, Mêda, Piódão, Mação, Arronches,
Barrancos ou São Marcos da Serra, por exemplo, (custo do transporte e o tempo
despendido) e outro que viva numa área urbana com os mesmos rendimentos. Assim,
para travar o êxodo rural que estamos a assistir é necessário adotar políticas públicas
de compensação às populações que vivam mais deslocadas dos serviços públicos
essenciais;
O princípio da coesão económica, social e territorial, reconhecida como uma nova
abordagem de desenvolvimento do território, procura combater as desigualdades
socioeconómicas e as disparidades regionais, alicerçado no desenvolvimento de
estratégias de promoção de justiça social, um princípio normativo associado à equidade
ou igualdade de oportunidades. Para tal, torna-se premente que o Governo adote um
modelo de impostos em que alguns deles sejam ajustados à realidade do território,
adaptando-o às suas assimetrias de modo a proporcionar uma maior equidade perante
todos os contribuintes;
A procura crescente por alimentos saudáveis e de qualidade tem impulsionado a fixação
de novas famílias em meios rurais e o surgimento de novos mercados de consumo de
produtos e serviços, com destaque para os adaptados ao envelhecimento da
população;
Deve ser criada uma carta social, por concelho, devidamente aprovada pelo Ministério
do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, consolidando a zona de abrangência dos
seus utilizadores/clientes. Atualmente, gastam-se milhões de euros anualmente em
custos logísticos na prestação de serviços ao domicílio e em outros serviços sociais, uma
vez que não há critérios de racionalização territorial que determinem quais as
instituições que devem prestar um determinado serviço. É nos territórios de baixa
densidade onde se constata mais facilmente esta dispersão de recursos, os quais
poderão ser otimizados e reinvestidos no aumento ou ampliação de novas valências,
sempre que se justifique;
A inovação regional pode e deve ser potenciada face ao rápido esgotamento dos
recursos naturais e às alterações climáticas, apostando na economia verde para as
áreas rurais, desde a agricultura e a silvicultura, a economia circular e a biodiversidade.
Através desta estratégia económica propõe-se uma abordagem agregadora para
enfrentar os desafios ecológicos, ambientais, energéticos, de alimentação, recursos
naturais e sociais, 'produzindo mais com menos' e como um fator-chave para o
crescimento inteligente e verde de Portugal;
Os territórios rurais, com as paisagens cuidadas e preservadas, constituem-se como um
ativo valioso para a qualidade de vida em qualquer região e, em paralelo, para a
descentralização turística. O reforço do apoio ao Turismo em Espaço Rural e o incentivo
direto aos agricultores e proprietários florestais devem ser considerados como
estratégicos, quer pelo trabalho de manutenção e preservação das paisagens rurais,
quer no ordenamento e manutenção das áreas verdes (reduzindo-se as áreas expostas
aos incêndios e aumentando-se potencialmente a capacidade de regeneração social e
económica dos territórios);
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Os territórios de baixa densidade podem e devem ser alvo de projetos ligados às
indústrias criativas. Já dispomos de alguns, mas poucos casos de sucesso no país,
contudo temos de alavancar um conjunto de estímulos, capacitações, projetos, cadeias
de comercialização que permitam aos artesãos obter um maior valor acrescentado das
suas criações, assim como a fixação de artistas das várias áreas que possam desenvolver
a sua atividade nos territórios rurais. As indústrias criativas permitem induzir novos
processos de inovação e criação social, que vão desde a criação se novos produtos e
serviços ligados à economia social, quer ao reforço da coesão social das respetivas
comunidades rurais.
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3.5 – UMA AGENDA PARA O CONHECIMENTO
Os programas de desenvolvimento rural fundamentam-se no conhecimento das
particularidades dos territórios e das regiões, priorizados em estratégias de transferência de
conhecimento e inovação nas áreas agrícola, florestal e rural, no incentivar do
empreendedorismo e no desenvolver das suas capacidades. Estes programas e estratégias
necessitam, hoje e na discussão de novos quadros comunitários, de maior ampliação e
aprofundamento, como resultado de mudanças demográficas, estilos de vida ou da cada vez
mais presente, conscientização sobre as opções de equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
O impulso a novas abordagens e intervenções nas áreas rurais têm sido promovidas a nível
europeu e as smart villages (aldeias inteligentes) são um bom exemplo desta estratégia, que é
necessário desenvolver e implementar. Smart vilages são comunidades que se recusam a
simplesmente esperar a mudança, recorrendo a novas metodologias e ferramentas, como as
tecnologias digitais, quando adequadas, que têm uma abordagem não limitada à própria
comunidade ou agregado populacional, mas envolvendo a paisagem circundante.
Esta nova forma de organização Inteligente e colaborativa significa construir novas formas de
cooperação e alianças: entre agricultores e outros atores rurais, entre municípios, entre o setor
privado e a sociedade civil, de bottom-up e de top-down. O foco concentra-se as comunidades
locais, que tomam o futuro em suas próprias mãos - frequentemente, mas não exclusivamente,
com a ajuda das tecnologias digitais e na inovação social, reforçando o papel das áreas rurais na
transição para uma sociedade mais verde, saudável e solidária.
Assim, a implementação de estratégias ajustadas às expectativas adequadas aos desafios
económicos e societais, promovendo sustentabilidade e coesão territorial, deverá ser feita
recorrendo ao conhecimento e inovação, produzido preferencialmente pelas instituições de
ensino superior das várias regiões. Desenvolver novas atividades e negócios, para além da
agricultura, é vital para a atratividade dos territórios e, consequentemente, as comunidades
rurais devem participar da economia do conhecimento para utilizar plenamente os avanços da
pesquisa e desenvolvimento.
A criação de plataformas de desenvolvimento local e regional, juntando o conhecimento e o
papel das Instituições de Ensino Superior a atores de diferentes setores, será também um
importante instrumento para as economias dos territórios, contribuindo para a fixação e atração
de população e investimentos.
Estas plataformas de conhecimento, formação e capacitação terão especial proximidade com a
região, das suas estratégias de desenvolvimento, das necessidades de conhecimento e inovação,
bem como de qualificação da população, num forte enfoque político na inovação social,
aprendizagem, educação, aconselhamento e capacitação vocacional. A premência destas
plataformas revela-se cada vez mais necessária quanto as redes de interação e colaboração
entre as entidades com intervenção nos domínios da educação, formação profissional,
investigação e inovação se encontram menos estabelecidas ou fortalecidas.
Simultaneamente, será necessário reforçar e fortalecer o relacionamento entre pares e a criação
de redes e cooperação entre agricultores e empresários rurais, nomeadamente através de
centro de competências para o desenvolvimento regional, envolvendo as instituições de ensino
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superior sediadas nas regiões, pondo em comum as competências necessárias para a projetos
de intervenção e desenvolvimento de maior interesse regional.
Empresas do agro-negócio, de cariz profundamente rural, incluindo agrícolas e silvícolas, de
diferentes características e dimensões, devem ter acesso à tecnologia apropriada, conectividade
de ponta, bem como a novas ferramentas de gestão para proporcionar benefícios económicos,
sociais e ambientais. É essencial que a identificação do potencial de desenvolvimento das
regiões do “interior” não se limite ao óbvio, como o complexo agroalimentar e florestal, as
indústrias tradicionais ou o turismo, sem retirar importância a estas.
Algumas inovações rurais precisam de longos períodos de teste e incubação - o sistema precisa
testar e validar e a compatibilização entre o surgimento de economias rurais criativas e sistemas
de inovação com um tempo de incubação mais longo e ajustado à realidade dos territórios, deve
ser considerado.
Obviamente, a cultura local, a identidade rural e o conhecimento devem ser fortemente
considerados como ativos importantes da região. Esta identidade de região é, igualmente, uma
oportunidade para o desenvolvimento de políticas e estratégias em áreas distintas, como as
atividades criativas, que permitam melhorar a qualidade de vida, para atuais e novos residentes,
promovam as artes e o artesanato, desenvolvam o turismo e atividades relacionadas, a
gastronomia, a paisagem e a preservação do ambiente
Por outro lado, o surgimento de novas tecnologias e a conectividade infraestrutural reforçada
oferecem oportunidades de diversificação em novos setores de emprego e contribuindo para a
criação e crescimento de muitas empresas, nacionais ou de capital estrangeiro, que promovem
o emprego em áreas rurais. Identificam-se e surgem diversas outras atividades de negócio,
designadamente na área dos bens e serviços transacionáveis, indo ao encontro das prioridades
estratégicas tecnológicas, como as digitais, como nos transportes, saúde e serviços sociais,
ensino à distância e teletrabalho.
Pretende-se a criação de ecossistemas regionais de inovação, com forte componente
tecnológica e novos modelos de negócio, suportados na valorização do conhecimento, com forte
componente local e em recursos humanos, com todos os níveis formativos. Permitirá que as
empresas aproveitem melhor os recursos existentes, ganhem escala e massa crítica, aumentem
a sua eficiência produtiva e, por essa via, sejam mais competitivas nos mercados internacionais.
Todo este ecossistema inovador deve ter um modelo de atividade adaptado às especificidades
locais e que integre as características económicas, sociais e culturais da região, com um
conhecimento das necessidades do mercado e suas tendências, orientadoras das áreas de
definição da inovação. Estes ecossistemas implicam parceria que garanta motivação,
competências e conhecimentos, devem comunicar, cooperar e motivar potenciais inovadores.
Implicam assumir riscos, mas ser suficientemente flexível, a nível regulamentar para permitir a
implementação de uma política de desenvolvimento rural que apoie a inovação em constante
evolução.
O empreendedorismo é um fator determinante e o empreendedorismo rural é responsável por
liderar a mudança. Para escalar a inovação, os empreendedores precisam aproveitar todas as
parcerias eficazes e encontrar parceiros com complementaridade em produtos e serviços, para
menor dependência e maior flexibilidade. A promoção do empreendedorismo e a qualificação
de ofertas produtivas, reforçando inovação em toda a cadeia de valor, implicam educação e
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formação ajustadas às realidades do interior, que se traduza, necessariamente, no apoio à
criação e desenvolvimento de negócios - da geração e teste de novas ideias, à incubação, ao
financiamento, ao scale up e à internacionalização de empresas.
ESTRATÉGIAS PRINCIPAIS – AGENDA DO CONHECIMENTO
Uma agenda de conhecimento para o mundo rural implica um conjunto de políticas e estratégias
que promovem atividades inovadoras para atingir objetivos sociais.
Atividade inovadora que promove a criação, adaptação e adoção de produtos,
processos e serviços novos ou valorizados, não limitada às atividades tradicionais da
agricultura e silvicultura;
Recurso a novas formas de organização Inteligente e colaborativa, construindo novas
formas de cooperação e alianças, com suporte nas tecnologias digitais e na inovação
social, reforçando o papel das áreas rurais na transição para uma sociedade mais verde,
saudável e solidária – smart villages;
Plataformas de conhecimento, formação e capacitação com especial proximidade com
a região, das suas estratégias de desenvolvimento, das necessidades de conhecimento
e inovação, bem como de qualificação da população;
Cultura empreendedora como motor de liderança, reforçando inovação ao longo de
toda a cadeia de valor.
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4. UMA AGENDA RURAL PARA O DESENVOLVIMENTO - SÚMULA
Portugal está a envelhecer e o Interior a desertificar. O reforço da notoriedade e o
reconhecimento do papel social do Mundo Rural é indispensável e uma AGENDA RURAL PARA
O DESENVOLVIMENTO E COESÃO SOCIAL é urgente, agregando todos aqueles que o preservam,
respeitam e valorizam.
Porque o CDS esteve sempre presente nestas causas e no respeito pelo Mundo Rural e, fê-lo de
forma ativa e motivadora, é igualmente oportuno, neste preciso momento de decisões
estruturantes, relembrar e reforçar políticas estruturantes que estiveram sempre na base do
nosso Partido.
Os territórios rurais, com as paisagens cuidadas e preservadas, constituem-se como um ativo
valioso para a qualidade de vida em qualquer região. Para tal, uma abordagem de
desenvolvimento social e económico é determinante, para que se reduza e contrarie a atual
tendência de envelhecimento e desertificação desses territórios.
A valorização das comunidades implica reconhecer a especificidade de uma realidade menos
competitiva, adotar estratégias de longo prazo, com medidas de incidência económica
(nomeadamente fiscais), sociais e ambientais, implementar políticas de crescimento
demográfico que contemplem investimentos ao longo de toda a vida, promover estratégias
integradas de planeamento e ordenamento do território, de âmbito regional, enfim, reforçar o
sentido de comunidade, através de uma maior inclusão social.
Urge reforçar a coesão económica, social e territorial, combatendo as desigualdades
socioeconómicas e as disparidades regionais. O desenvolvimento social, o crescimento
económico e a adaptação e mitigação das alterações climáticas estão dependentes do
investimento em infraestruturas adequadas, de uma indústria moderna, empreendedora e
sustentável, do progresso tecnológico e da digitalização da economia, de serviços públicos de
qualidade, da intervenção ativa do terceiro setor, em particular nos territórios de baixa
densidade.
Rejuvenescer e investir nas novas gerações de agricultores e empresários rurais para que as
populações do interior se sintam valorizadas, respeitando os estilos de vida e tradições e
assegurar a disponibilidade de financiamento, através da manutenção dos fundos comunitários
para Portugal e reforço da comparticipação nacional, é determinante na dinâmica económica e
social do espaço rural.
É fundamental um setor agroalimentar forte, competitivo e sustentável, com dimensão para
competir num mercado global, permitindo reforçar a posição dos produtores na cadeia de valor
e fortalecer as cadeias de distribuição e comercialização, apostando nos circuitos curtos de
comercialização e na discriminação positiva da pegada ecológica nas compras públicas.
A sustentabilidade ambiental do mundo rural implica o reconhecimento do importante papel da
complementaridade das atividades no território, uma visão integrada e cientificamente
sustentada, numa perspetiva económica da proteção ambiental, alicerçada na inovação e no
progresso tecnológico.
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Considerar a água um fator de coesão social e territorial mais do que de competitividade,
promover o valor da floresta nacional e assegurar a remuneração dos proprietários rurais pelos
serviços ambientais que prestam à sociedade, nomeadamente pelo sumidouro de carbono e
salvaguarda da biodiversidade, são estratégias cada vez mais urgentes perante a emergência
climática e as medidas necessárias para a mitigação das alterações climáticas.
O recurso a novas formas de organização inteligente e colaborativa, com suporte nas tecnologias
digitais e na inovação social, reforçando o papel das áreas rurais na transição para uma
sociedade mais verde, saudável e solidária – smart villages, deve ser promovida, nomeadamente
através de plataformas de conhecimento, formação e capacitação.
Potenciar a inovação regional, promovendo a criação, adaptação e adoção de produtos,
processos e serviços novos ou valorizados, apostando na economia verde para as áreas rurais,
desde a agricultura e a silvicultura, a economia circular e a biodiversidade. O reforço do apoio a
outras atividades económicas, como o turismo ou as indústrias criativas, serão exemplos de uma
estratégia potenciadora da capacidade de regeneração social e económica dos territórios rurais.
Porque o CDS, desde sempre, se apresentou como um partido de propostas e soluções para
estas populações e espaços; porque o CDS tem (e teve), em diferentes dimensões (locais ou
nacionais) responsabilidades nas políticas de desenvolvimento rural e social; porque o CDS
não se pode alhear do momento de inação e menorização de valores e estilos de vida desta
população; porque em momento de mudanças devemos reconhecer e valorizar, também, as
orientações e eixos que nos agregam, apresentamos a Moção UMA ALIANÇA RURAL PARA O
DESENVOLVIMENTO E COESÃO SOCIAL.