Um Modelo de Interpretador Para Libras

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1 Resumo - Este trabalho tem como público alvo a comunidade brasileira dos surdos, em vista da necessidade de adaptação de métodos e ferramentas de ensino às características particulares desta comunidade. Trata-se de um primeiro passo de “formalização” da gramática da Língua Brasileira de Sinais – LSB, onde nosso principal objetivo é a definição de um modelo, que possa ser utilizado na construção de um tradutor que faça as transições entre LSB e Português de forma gramaticalmente correta. Para que o modelo fosse definido foi necessário fazer um estudo da estrutura sintática da LSB, bem como da sua correlação com a língua portuguesa. Esperamos contribuir com um estudo que vise como objetivo final a construção de um tradutor automático entre as duas línguas. Tal tradutor pode ser usado como interface de comunicação para ferramentas de ensino na comunidade dos surdos. Abstract – This article is directed to the brazilian community of problem hearing people, since they need to adapt to methods and tools more adequate to them. The result of this work is only the first step to grammar formalization of the Brazilian Sign Language – LSB, where our main objective is to define a model to be used to construct an automatic translator between LSB and Portuguese languagens. To define this model we had to study the sintactical structure of LSB and its correlation to Portugues. We hope our work may contribute to the development of automatic translators, that might be used as an interface to educational tools to problem hearing people in Portuguese speaking countries. Index Terms People with special needs (PNE), Brazilian Sign Language (LSB), special grammars. I. INTRODUÇÃO A questão do Portador de Necessidades Especiais (PNE) sempre esteve profundamente entrelaçada a sua realidade social e cultural. No passado, o PNE era, em algumas culturas, visto como um “castigado”, como alguém que não obedecia a um padrão pré estabelecido de “normalidade”. Ainda hoje, em algumas sociedades, o PNE é tratado não como alguém que possui uma necessidade especial incomum, em função de uma diferença acentuada, mas sim como um “doente” que precisa de “cura”. Estas necessidades incomuns advindas das diferenças geraram e geram a necessidade de adaptações, com o propósito de igualar os direitos garantindo a liberdade individual, em meio a nossa natural diversidade [5]. A integração de um PNE a sociedade é feita através da adaptação de recursos físicos e humanos mediados por alguma forma de educação especial. A educação especial propicia a inclusão [3], ainda que de forma precária, de um PNE na comunidade em que vive. Uma inclusão mais adequada pode ser alcançada se pudermos fazer com que as diversas comunidades, sejam elas PNEs ou não, consigam se comunicar usando as suas particulares formas de linguagem. Neste trabalho procuramos contemplar a integração entre as comunidades surdas e não surdas. A partir dos trabalhos da doutora Ronice Müller de Quadros [13], focamos algumas estruturas lingüísticas da LSB e identificamos formas equivalentes na língua portuguesa do Brasil. Uma vez realizada esta identificação procedeu-se a especificação formal da gramática de ambas as línguas. O presente artigo esta estruturado da seguinte maneira. Na seção II apresentamos a metodologia utilizada e na seção III um resumo da estrutura gramatical da LSB. A seção IV apresenta um resumo da estrutura gramatical da língua Portuguesa, enquanto a seção V delineia algumas conclusões. II. METODOLOGIA Procuramos a princípio capturar frases do cotidiano da comunidade de deficientes auditivos objetivando a classificação das mesmas com respeito a padrões gramaticais. Adotamos [13] como referência para os padrões gramaticais de LSB. A partir do estudo de [13], centralizamos nossa proposta sobre as estruturas verbais denominadas “plain verbs”, ou seja, verbos principais da língua inglesa, os quais correspondem principalmente aos verbos intransitivos da língua portuguesa e aos verbos sem concordância em LSB. Buscamos então correlacionar sentenças da língua portuguesa com LSB usando como modelo formal as gramáticas livres de contexto. A escolha recaiu sobre as linguagens livres de contexto não apenas pela simplicidade destas, mas também pela ausência de concordância, no sentido tradicional das línguas orais, que pode ser observada no “fragmento” de LSB abordado neste trabalho e apresentado na Seção IV, item C- Especificação dos Dialetos em LSB. III. ESTRUTURA GRAMATICAL DE LSB Neste trabalho vamos abordar algumas sentenças geradas a partir dos verbos sem concordância em LSB, cuja a origem está nos verbos principais da língua inglesa¹, os quais correspondem aos verbos intransitivos da gramática da língua portuguesa. A grosso modo, os verbos intransitivos da língua portuguesa são aqueles que não necessitam de complementos, pelo menos nas suas acepções mais correntes. Nas línguas espaço visuais o canal de comunicação se estabelece através da visão e dos movimentos corporais, em particular as expressões faciais. Portanto, para percebermos os tipos de frases que estão sendo executadas, se afirmativa, ________________________ ¹Os primeiros estudos de línguas de sinais foram realizados com a língua de sinais norte-americana, denominada “American Sign Language-ASL”. Um Modelo de Interpretador para a Língua Brasileira de Sinais Célia Ghedini Ralha, Josué de Araújo, Cristiano da Silva Melônio e José Carlos Loureiro Ralha Departamento de Ciência da Computação - Universidade de Brasília Campus Universitário Darcy Ribeiro - Caixa Postal 4466 - CEP 70.919-970 [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

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Resumo - Este trabalho tem como público alvo acomunidade brasileira dos surdos, em vista da necessidade deadaptação de métodos e ferramentas de ensino àscaracterísticas particulares desta comunidade. Trata-se de umprimeiro passo de “formalização” da gramática da LínguaBrasileira de Sinais – LSB, onde nosso principal objetivo é adefinição de um modelo, que possa ser utilizado na construçãode um tradutor que faça as transições entre LSB e Portuguêsde forma gramaticalmente correta. Para que o modelo fossedefinido foi necessário fazer um estudo da estrutura sintáticada LSB, bem como da sua correlação com a língua portuguesa.Esperamos contribuir com um estudo que vise como objetivofinal a construção de um tradutor automático entre as duaslínguas. Tal tradutor pode ser usado como interface decomunicação para ferramentas de ensino na comunidade dossurdos.

Abstract – This article is directed to the braziliancommunity of problem hearing people, since they need toadapt to methods and tools more adequate to them. The resultof this work is only the first step to grammar formalization ofthe Brazilian Sign Language – LSB, where our main objectiveis to define a model to be used to construct an automatictranslator between LSB and Portuguese languagens. To definethis model we had to study the sintactical structure of LSB andits correlation to Portugues. We hope our work may contributeto the development of automatic translators, that might beused as an interface to educational tools to problem hearingpeople in Portuguese speaking countries.

Index Terms – People with special needs (PNE), BrazilianSign Language (LSB), special grammars.

I. INTRODUÇÃO

A questão do Portador de Necessidades Especiais (PNE)sempre esteve profundamente entrelaçada a sua realidadesocial e cultural. No passado, o PNE era, em algumasculturas, visto como um “castigado”, como alguém que nãoobedecia a um padrão pré estabelecido de “normalidade”.Ainda hoje, em algumas sociedades, o PNE é tratado nãocomo alguém que possui uma necessidade especialincomum, em função de uma diferença acentuada, mas simcomo um “doente” que precisa de “cura”. Estasnecessidades incomuns advindas das diferenças geraram egeram a necessidade de adaptações, com o propósito deigualar os direitos garantindo a liberdade individual, emmeio a nossa natural diversidade [5].

A integração de um PNE a sociedade é feita através daadaptação de recursos físicos e humanos mediados poralguma forma de educação especial. A educação especialpropicia a inclusão [3], ainda que de forma precária, de umPNE na comunidade em que vive. Uma inclusão maisadequada pode ser alcançada se pudermos fazer com que asdiversas comunidades, sejam elas PNEs ou não, consigamse comunicar usando as suas particulares formas delinguagem.

Neste trabalho procuramos contemplar a integração entreas comunidades surdas e não surdas. A partir dos trabalhosda doutora Ronice Müller de Quadros [13], focamosalgumas estruturas lingüísticas da LSB e identificamosformas equivalentes na língua portuguesa do Brasil. Umavez realizada esta identificação procedeu-se a especificaçãoformal da gramática de ambas as línguas.

O presente artigo esta estruturado da seguinte maneira.Na seção II apresentamos a metodologia utilizada e na seçãoIII um resumo da estrutura gramatical da LSB. A seção IVapresenta um resumo da estrutura gramatical da línguaPortuguesa, enquanto a seção V delineia algumasconclusões.

II. METODOLOGIA

Procuramos a princípio capturar frases do cotidiano dacomunidade de deficientes auditivos objetivando aclassificação das mesmas com respeito a padrõesgramaticais. Adotamos [13] como referência para ospadrões gramaticais de LSB.

A partir do estudo de [13], centralizamos nossa propostasobre as estruturas verbais denominadas “plain verbs”, ouseja, verbos principais da língua inglesa, os quaiscorrespondem principalmente aos verbos intransitivos dalíngua portuguesa e aos verbos sem concordância em LSB.

Buscamos então correlacionar sentenças da línguaportuguesa com LSB usando como modelo formal asgramáticas livres de contexto.

A escolha recaiu sobre as linguagens livres de contextonão apenas pela simplicidade destas, mas também pelaausência de concordância, no sentido tradicional das línguasorais, que pode ser observada no “fragmento” de LSBabordado neste trabalho e apresentado na Seção IV, item C-Especificação dos Dialetos em LSB.

III. ESTRUTURA GRAMATICAL DE LSB

Neste trabalho vamos abordar algumas sentenças geradasa partir dos verbos sem concordância em LSB, cuja aorigem está nos verbos principais da língua inglesa¹, osquais correspondem aos verbos intransitivos da gramática dalíngua portuguesa. A grosso modo, os verbos intransitivosda língua portuguesa são aqueles que não necessitam decomplementos, pelo menos nas suas acepções maiscorrentes.

Nas línguas espaço visuais o canal de comunicação seestabelece através da visão e dos movimentos corporais, emparticular as expressões faciais. Portanto, para percebermosos tipos de frases que estão sendo executadas, se afirmativa,________________________

¹Os primeiros estudos de línguas de sinais foramrealizados com a língua de sinais norte-americana,denominada “American Sign Language-ASL”.

Um Modelo de Interpretador para a LínguaBrasileira de Sinais

Célia Ghedini Ralha, Josué de Araújo, Cristiano da Silva Melônio e José Carlos Loureiro RalhaDepartamento de Ciência da Computação - Universidade de Brasília

Campus Universitário Darcy Ribeiro - Caixa Postal 4466 - CEP [email protected], [email protected], [email protected], [email protected]

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interrogativa, negativa ou imperativa, precisa-se estar alertaaos movimentos corpóreos do sinalizador, simultaneamentecom o sinal ou toda frase. Por exemplo, frases afirmativassão gesticuladas mantendo a expressão facial neutra.

Entender os espírito da gramática de uma língua éaprender as regras de formação de suas palavras e arquitetaruma estrutura frasal a partir de seus elementos básicos. ALSB pode ser compreendida como qualquer outra língua,guardadas suas peculiaridades espaço visuais; no entanto,apresenta as mesmas riquezas das línguas orais auditivas.Segundo [13], a ordem das palavras é o conceito básicorelacionado a estrutura frasal de uma língua. A idéia daslínguas poderem diferenciar-se em sua ordem básica daestrutura frasal apresenta um papel significativo para análiselingüística. Para [6], apud [13], existem seis combinaçõespossíveis para estrutura frasal nas línguas de sinal,considerando-se sujeito (S), verbo (V), e objeto (O). Entreestas possíveis combinações, as seguintes sãopredominantes: SOV, SVO, VSO.

Neste artigo investigaremos apenas a estrutura SVO, aqual está ilustrada na Fig. 1. Esta estrutura se encaixa maisfacilmente no estudo das frases geradas pelos verbosintransitivos em LSB, cuja rigidez da forma frasal é maisevidente.

Fig. 1. Estrutura SVO.

Segundo [13] as sentenças SVO não possuem,foneticamente, marca de concordância. Em LSB estruturascomplexas apresentam mais restrições na distribuição deseus componentes; entretanto há várias possibilidades paraagregar componentes acessórios às formas de ordem básicadas palavras, o que é imprescindível para identificar asdiferentes línguas. Neste momento podemos supor que aordem SVO é a ordem subjacente em todas as sentenças deLSB, que não possuem informação gramatical adicional.

Desta forma passamos a distribuir os advérbios, osadjetivos, a negação e os pronomes dentro da estrutura dosverbos sem concordância da gramática de LSB. Osadvérbios formam uma classe especial em LSB, porque elespodem habitar vários locais na sentença, além de influenciarno movimento de outros constituintes da frase.

Os adjetivos são sinais que formam uma classe específicaem LSB e estão sempre na forma neutra, não havendo,portanto marcas para gênero masculino e feminino, e marcaspara singular e plural. Os adjetivos são colocados nasentença geralmente após os substantivos para qualificá-los.

Em LSB, temos um sistema para representar as pessoasdo discurso de tal modo que, diferentemente do Português, oqual possui apenas as formas singular e plural, inclui umavariedade mais rica de expressões morfológicas e sintáticas.

A seguir as Fig. 2 exemplifica o modo como osinalizador utiliza a pronominalização. Esta figura apresentao sinalizador, aquele de quem partem os sinais, ointerlocutor, ou seja, o receptor, aquele que é o “alvo” direto

dos sinais e os referentes, que são aqueles a quem pode seestar referenciando em terceira pessoa.

Fig. 2 Pronominalização (fonte: [13])

Os pronomes pessoais, como os possessivos edemonstrativos, também não possuem marca para gênero eestão relacionados às pessoas do discurso e não à coisapossuída, como acontece em Português.

Com respeito aos verbos, tanto em LSB como em outraslínguas de sinais e orais auditivas, padroniza o movimentodos sinais para distinguir entre os aspectos pontual, contínuoou duradouro e iterativo. O aspecto pontual caracteriza-sepor se referir a uma ação ou evento ocorrido e terminado emalgum ponto do passado.

Na língua Portuguesa flexiona-se o verbo para indicaração de passado, presente e futuro, em LSB tem-se umapartícula que vai indicar estes estados.

Este tipo de afixação encontrado em LSB, através daalteração do movimento, da configuração da mão e/ou doponto de articulação do verbo não está contemplado nalíngua portuguesa. A LSB não possui em suas formasverbais a marca de tempo como em Português. Assim,quando um verbo refere-se a um tempo passado, presente oufuturo, o que irá assinalar o tempo de ação ou o evento serãoos itens lexicais ou os sinais adverbiais. Por isso, não secorre o risco da ambigüidade; o que está sendo narradoiniciou-se no passado, presente ou futuro.Consequentemente, infere-se que a LSB e a línguaportuguesa não estão tão apartadas, no que independe damodalidade espaço visual, pois se aproximam bastante nosaspectos semântico, gramatical e lexical.

Segundo [13] os verbos em língua de sinais são aindaum fenômeno misterioso, ainda que eles tenham sidoestudado por vários pesquisadores. O comportamentodiferenciado dos verbos principais em LSB e ASL suscitaquestões sobre morfologia e mecanismos sintáticos queainda estão em aberto.

Em LSB as pesquisas ainda são parcas, requeremexames mais robustos e minuciosos, mas [1] propôs umadescrição tipológica funcional dos verbos em LSB.

Em [12] existe uma classificação dos verbos em ASL, emtrês categorias:1) “plain verbs” (sem concordância): não flexionam em

número e pessoa, nem aceitam afixos localizados;2) “agreement verbs” (com concordância): flexionam em

número e pessoa , mas não aceitam afixos localizados;3) “agreement verbs/spatial verbs” (com concordância

espacial): não flexionam em número, pessoa ouaparência, mas aceitam afixos localizados.

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A respeito dos verbos sem concordância, [4] enumerou-os como exceção. Alguns exemplos de verbos nessacategoria são: ouvir, escutar, comer, decidir, elogiar, juntare associar.

Eles apresentam-se como exceção porque estão numaclasse de verbos que não flexionam em pessoa e número(pelo menos morfologicamente). É conveniente lembrar queestas conjecturas sobre os verbos sem concordância”decorreu da teoria dos verbos principais da língua inglesa,os quais possuem as seguintes características:1) Eles não podem preceder a negação;2) A negação não pode segui-los sem o auxiliar (do-

support);3) Eles não podem preceder advérbios situados à esquerda

de VP;4) Eles podem suprimir a identidade (substantivo, sujeito).

Com relação aos verbos sem concordância [13] afirmaque:

“Os verbos sem concordância são produzidos pelaflexão afixal unidos por uma operação de fusão, seguindo aproposta de [4] para verbos principais em inglês”. Portanto,podemos supor que os verbos sem concordância são verbosfoneticamente vazios. Fazendo-se uma analogia entre verbosfoneticamente vazios da língua inglesa e os mesmos emLSB, veremos que eles comportam-se similarmente como‘verbos principais da língua inglesa’. Todavia temos umproblema empírico com esta análise. De acordo com [4],verbos principais em inglês são ‘afixais’ no sentido que osafixos verbais não estão unidos lexicamente, mas imersosnuma operação de PF que corresponde a afixos em posiçãode “espera”. Isto significa que, se os verbos semconcordância em LSB forem afixais, então há, no mesmosentido, uma operação similar (PF) em LSB, desde que osplain verbs sejam pronunciados normalmente em suasformas simples. Além do mais, é difícil se verificar se elespossuem os afixos independentes ou unidos a eles.Independentemente disto, os verbos sem concordânciahipoteticamente têm ‘afixos virtuais’ ” ([13] pag 125-126)

Vamos observar como se comporta a ‘negação’ naderivação dos verbos sem concordância.

Há pelo menos duas possibilidades para a negação,desde que não intervenha entre VP: a negação pode sermarcada através de um sinalizador não manual negativo oupela negação lexical na posição final da sentença.

Em LSB, nós observamos que parece haver um afixovirtual que não pode fundir com o verbo devido à exigênciada “aderência” que não pode ser quebrada pela negação.Conseqüentemente, a negação com verbos “semconcordância” não pode ser introduzida nem antes nem apóso verbo, posto que ela obstruirá a “aderência” da estruturafrasal ([13] pag 128).

Os plain verbs terão a negação sempre no final da frase,ou incorporarão a negação no próprio sinal (isso somenteacontece com alguns verbos). Alguns exemplos sãocaracterizados pelos pares: TER, NÃO-TER, GOSTAR,NÃO-GOSTAR, QUERER, NÃO-QUERER. Há, também,possibilidade de negação supra segmental, onde o sinal semantém associado ao movimento de negação.

Para o nosso trabalho, vamos apenas considerar a‘negação’ restrita ao final da frase, isto é, a ‘negação’lexical, gerada pelos verbos “sem concordância”.

IV. UM SUBCONJUNTO DA LÍNGUAPORTUGUESA

Apresentamos aqui a formalização de um dialeto paralíngua portuguesa extraído do Relatório referente ao projeto52.880648.00 – FINEP relacionado ao sistemaSAFONAT/SAFO – tradutores, interpretadores e linguagemnatural, esta formalização será tomada como referência paraas estruturas em português.

A seguir apresentamos a especificação de subconjunto doPortuguês em níveis de complexidade crescente. O maissimples desses subconjuntos, que vamos chamar de dialetos,será denotado por Di=, 0,1,2,...

Sejam:T- conjunto de símbolos terminaisN- conjunto de símbolos não terminaisP- regras de produçãoS- sentenças de linguagem

Onde,T={sub, adj, np, v, adv, prep, pron}N={S, SN0, FV, SN1, FV1, SP, LNAAD}P={produções de D0, D1}.

Os elementos de T:

sub:Substantivosart:artigonp:nomes próprios

v:Verbosadv:Advérbioadj:Adjetivo

prep:Preposiçõespron:pronomes pessoais, demonstrativo e interrogativos

Os elementos de N:

S:AxiomasSN0:sintagma nominal fundamental

LNAAD:sintagma nominal estendido por listas de adj, sub, nomes,advérbio e negação

SNP:sintagma nominal estendido por preposição e negação.SP:sintagma proposicional estendido.FV:sintagma verbal

FV1:sintagma verbal estendido por preposição e negação

Sejam produções:

A. DIALETO Do

< S >::= < SN0 > ‘sub’ < SN0 > ‘adj’ < SN0 > < FV >

< SN0 >::= ‘np’ ‘sub’ art’ ‘sub’ ‘negação’ ‘pron’ ‘subs’ ‘art’ ‘np’ ’pron’ ‘subs’ ‘negação’‘pron’ ‘subs’ ‘art’ ‘sub’ ’pron’ ‘art’ ‘sub’ ‘adj’

< FV >::= ‘v’ ‘v’ ‘adv’ ‘subs’ ‘adv’ ‘v’ < SN0 >

LISTAS de SUBSTANTIVOS, ADJETIVOS, NOMES, ADVÉRBIOSE NEGAÇÃO.

< LNAAD > ::= ‘adj’ ‘adj’ ‘subs’ ‘subs’ ‘adj’ ‘np’ ‘adj’ ‘negação’ ‘subs’ ‘adj’ ‘negação’

‘art’ ‘subs’ ‘adv’

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B. DIALETO D1

< S > ::= < SN0 > < LNAAD > < SN0 > ‘neg’ < LNAAD > < SN0 > < LNAAD > ‘neg’ < FV1 > < SN0 >

< SNP > ::= ‘prep’ < SN0 > < SN0 > ‘prep’ ‘prep’ <LNAAD >

< SP > ::= ‘prep’ ‘prep’ ‘art’ ‘prep’ ‘verbo’ ‘prep’‘subst.’

‘prep’ ‘adj’ ‘prep’ ‘adv.’

< FV1 > ::= ‘neg’ ‘v’ ‘v’ ‘prep’ sinal_neg. ‘v’ < SN0 > ‘prep’ <

LNAAD > < SP > < SN0 >

Apresentamos, a partir deste ponto a formalização dotrecho da gramática de LSB escolhida, os plain verbs, com aconstrução das regras de formação e alguns exemplos emárvores de derivação.

C. Especificação dos Dialetos em LSB

Sejam,ST- Conjunto de Símbolos TerminaisLSB- Conjunto de Símbolos não TerminaisRP- Regras de ProduçãoSL- Sentenças de Linguagem

Onde,ST={ pron, subs, v, neg, adv, np, adj}LSB={ SL, SL0, SLV}RP={ DSL0}

Elementos de ST:- Pronomes (pron)- Substantivos (subs)- Verbos (v)- Nomes Próprios (np)- Negação (neg)- Advérbios (adv)- Adjetivos (adj)

SL: AxiomasSL0: Sintagma Nominal Fundamental e NegaçãoSLV: Sintagma Verbal e NegaçãoSLBn: Sinal de negação

Regras de Produção

DSL0

<SL>::= < SL0 > < SL0 > < SLV > < SL0 > < SLV > < SL0 > <SLBn>

< SL0 >::= ‘np’ ‘subs’ ‘pron’ ‘adj’ ‘adv’ <SLBn> ‘pron’‘subs’’adv’ ‘subs’’subs’ ‘subs’’subs’ ‘adv’’subs’‘adj’’np’ ‘adv’ ’adv’ ‘np’ ‘adj’ ‘subs’ ‘subs’ ‘subs’‘adv’ ‘subs’ ‘subs’ ‘adj’ ‘subs’ ‘subs’ ‘adv’ ‘subs’‘subs’ ‘adj’

<SLV >::= ‘v’ ’v’ < SL0 > ’v’ < SL0 > <SLBn> ’v’ <SLBn>’v’ ‘v’ <SLBn>

Apresentamos agora algumas árvores de derivaçãoconstruídas a partir das regras da Gramática Livre deContexto para alguns dos exemplos de frases traduzidas dalíngua portuguesa para LSB.

Português12) A polícia fechou a rua

A seguir apresentaremos um modelo de tradutor com umaconjunto restrito de regras usando uma notação similar aoda ferramenta YACC GNU-BISON, de acordo com aseguinte convenção:

1) Letras minúsculas representam símbolos nãoterminais da gramática sendo analisada;

2) Letras maiúsculas são símbolos terminais (categoriasgramaticais como substantivo, adjetivo, artigo, ...);

3) Os símbolos $$ é o valor a ser retornado que seráassociado ao lado esquerdo da regra;

4) O símbolo $ seguido de um número ($nº) são osvalores associados às posições dos elementos no lado direitodas regras.

Então seja,s: sn sadv { $$ = $2 $1;}

sn: ART SUBS { $$ = $2;}

sadv: VERBO ADV { $$ = $2 $1;)

<s> � <sn> <sadv>

<sn> � (ART) (SUBS)

<sadv> � (VERBO) (ADV)

A seguir apresentamos um exemplo de árvore dederivação utilizando o conjunto de regras listados acima.

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Podemos observar que as estruturas sintáticas dosfragmentos das duas linguagens focalizado neste trabalhosão muito semelhantes. È possível transformar uma árvorede derivação na outra. Os aspectos mais difíceis einteressantes desse processo são:• De Português para LSB: associar um dicionário de

imagens associados aos itens lexicais. Dessa forma, umPNE veria em sua própria língua as sentençasproferidas/escritas por uma pessoa não proficiente meLSB.

• De LSB para Português: como flexionar os elementosconstituintes da sentença. Algumas marcas doe espaçovisual devem ser enquadradas na gramática a fim detornar possível a tradução para Português; essas seriamincorporadas a um tradutor dirigido por sintaxe.

V. CONCLUSÃO

A língua é o principal meio de comunicação em umasociedade. Portanto, expandir suas possibilidades épromover a integração e a inclusão social de todos em umasociedade. Este trabalho contempla a comunidade brasileirados alunos com deficiência auditiva, tendo em vista anecessidade de adaptação de métodos e ferramentas deensino as características particulares desta comunidade.Foram apresentados os passos iniciais para a formalizaçãode um tradutor entre as duas línguas abordadas.

Durante o andamento do trabalho buscamos conhecer aestrutura sintática da LSB e as correspondentes estruturas nalíngua portuguesa através de exemplos de correlações. Aestrutura SVO da LSB utilizada neste trabalho foidesenvolvida em [13]. A partir destas estruturasestabeleceu-se um co-relacionamento entre as estruturasgramaticais das duas línguas. Acreditamos que a partirdesta correlação possa ser desenvolvido um tradutorautomático entre as duas línguas que sirva de interface decomunicação para ferramentas de ensino na comunidadebrasileira dos alunos com deficiência auditiva.

VI. REFERÊNCIAS

Artigos de Anais de Conferência (Publicado):

[1] T Felipe, "Por uma Tipologia dos Verbos da LSCB",Anais do VII Encontro Nacional da ANPOLL, Goiânia[s.n.] , 1993.

Periódicos:

[2] H. Lasnik, "Verbal Morfology: Syntactic StructuresMeets the Minimalist Program”, Evolution and

Revolution in Linguistic Theory: Enssays in HonororCarlos Otero", Georgetown , University Press, 1995.

[3] Ronice Müller de Quadros. “Situando as diferençasimplicadas na educação de surdos: inclusão/exclusão,”Revisa Ponto de Vista. NUP/UFSC, Florianópolis,2003, no prelo.

[4] Fischer, Susan D. and Bonnie Gough. "Verbs inAmerican Sign Language." Sign Language Studies, 17-48. Reprinted 1980 in Stokoe (1978), p.149-79.

Legislação:

[5] Lei nº.10.436 de 24 de abril de 2002. [Online].http://www.mec.gov.br.

Livros:

[6] J. H. Greenberg-, ed. “Universals of Language”,Cambridge (MA): M.I.T. Press, 1966.

[7] Ines Instituto Nacional de Surdos [Online]:http://www.ines.org.br/ines_livros.

[8] N. Chomsky, "Bare Phrase Structure", Blackwell.Oxford & Cambridge USA, 1995.

[9] L. S. Vygotsky, "A formação social da mente", MartinsFontes, 1998.

[10] L. F. Brito, "Integração Social e Educação de Surdos",Babel Editora, 1993.

[11] J. A. Valente, "Liberando a mente: Computadores naEducação Especial", Campinas/SP, Unicamp, 1991,p.294-96.

Dissertações:

[12] C. Padden, “Interaction of morphology and syntax inASL”, PhD dissertation, University of California, SanDiego, 1983.

[13] Ronice Müller de Quadros, "Phrase Structure ofBrazilian Sign Language", Doctorate dissertation,Porto Alegre, 1999.

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