UM ESTUDO SOBRE DEFINIÇÕES DE COMPORTAMENTO

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47 Revista Brasileira de Análise do Comportamento / Brazilian Journal of Behavior Analysis, 2013, vol. 9, Nº 1, 47-65 UM ESTUDO SOBRE DEFINIÇÕES DE COMPORTAMENTO A STUDY ON DEFINITIONS OF BEHAVIOR Definições de Comportamento Filipe Lazzeri Universidade de São Paulo RESUMO Neste trabalho, eu: (1) distingo e caracterizo alguns diferentes sentidos da noção de comportamento, com ênfase naquele de comportamento enquanto ocorrência de uma ação ou reação de um organismo; (2) identifico os tipos de definição possivelmente adequados para a noção tomada em tal sentido e para propósitos que podemos chamar de teóricos; (3) apresento uma lista de desideratos para os tipos de definição delimitados; (4) faço um exame crítico de várias (nomeadamente, doze) definições de comportamento – mais especificamente, definições com aquele sentido do conceito como definiendum – encontradas na literatura científica e filosófica; e (5) proponho uma versão modificada de duas delas. Palavras-chave: comportamento; definições de comportamento; definições; teleologia; ação; análise conceitual. ABSTRACT In this paper, I attempt to: (1) distinguish and clarify some different senses of the notion of behavior, with emphasis upon that of behavior as the occurrence of an organism’s action or reaction; (2) identify the types of definition possibly suitable for the notion taken in this sense and for theoretical proposals; (3) devise a list of desiderata for the types of definition picked out; (4) make a critical survey of several (to wit, twelve) definitions of behavior more specifically , definitions that have that sense of the concept as definiendum found in the scientific and philosophical literature; and (5) suggest a modified version of two of them. Keywords: behavior; definitions of behavior; definitions; teleology; action; conceptual analysis. Este trabalho foi realizado com apoio de bolsa de doutorado concedida ao autor pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), # 12/00059-2; e corresponde a uma versão enxuta do (a princípio) Capítulo 3 (também com o título ‘Um estudo sobre definições de comportamento’) de sua Tese de Doutorado, a ser defendida no começo de 2015 no Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade de São Paulo. Uma versão em inglês ainda mais sucinta do capítulo, mas que contém alguns elementos diferentes do presente trabalho, será publicada como Lazzeri (no prelo 1). O autor agradece de modo especial a Caetano E. Plastino, Maria Helena L. Hunziker e Osvaldo Pessoa Jr., pelos comentários a uma versão preliminar do trabalho. O conteúdo, no entanto, é de responsabilidade apenas do autor. Correspondência pode ser enviada para e-mail: [email protected]

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    Revista Brasileira de Anlise do Comportamento / Brazilian Journal of Behavior Analysis, 2013, vol. 9, N 1, 47-65

    UM ESTUDO SOBRE DEFINIES DE COMPORTAMENTO

    A STUDY ON DEFINITIONS OF BEHAVIOR

    Definies de Comportamento

    Filipe Lazzeri

    Universidade de So Paulo

    RESUMONeste trabalho, eu: (1) distingo e caracterizo alguns diferentes sentidos da noo de comportamento, com nfase

    naquele de comportamento enquanto ocorrncia de uma ao ou reao de um organismo; (2) identifico os tipos de definio possivelmente adequados para a noo tomada em tal sentido e para propsitos que podemos chamar de tericos; (3) apresento uma lista de desideratos para os tipos de definio delimitados; (4) fao um exame crtico de vrias (nomeadamente, doze) definies de comportamento mais especificamente, definies com aquele sentido do conceito como definiendum encontradas na literatura cientfica e filosfica; e (5) proponho uma verso modificada de duas delas.

    Palavras-chave: comportamento; definies de comportamento; definies; teleologia; ao; anlise conceitual.

    ABSTRACTIn this paper, I attempt to: (1) distinguish and clarify some different senses of the notion of behavior, with emphasis

    upon that of behavior as the occurrence of an organisms action or reaction; (2) identify the types of definition possibly suitable for the notion taken in this sense and for theoretical proposals; (3) devise a list of desiderata for the types of definition picked out; (4) make a critical survey of several (to wit, twelve) definitions of behavior more specifically, definitions that have that sense of the concept as definiendum found in the scientific and philosophical literature; and (5) suggest a modified version of two of them.

    Keywords: behavior; definitions of behavior; definitions; teleology; action; conceptual analysis.

    Este trabalho foi realizado com apoio de bolsa de doutorado concedida ao autor pela Fundao de Amparo Pesquisa do Estado de So Paulo (FAPESP), # 12/00059-2; e corresponde a uma verso enxuta do (a princpio) Captulo 3 (tambm com o ttulo Um estudo sobre definies de comportamento) de sua Tese de Doutorado, a ser defendida no comeo de 2015 no Programa de Ps-Graduao em Filosofia da Universidade de So Paulo. Uma verso em ingls ainda mais sucinta do captulo, mas que contm alguns elementos diferentes do presente trabalho, ser publicada como Lazzeri (no prelo 1). O autor agradece de modo especial a Caetano E. Plastino, Maria Helena L. Hunziker e Osvaldo Pessoa Jr., pelos comentrios a uma verso preliminar do trabalho. O contedo, no entanto, de responsabilidade apenas do autor.Correspondncia pode ser enviada para e-mail: [email protected]

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    Um estudo sobre definies de comportamento

    H mltiplas definies de comportamento na literatura cientfica e filosfica (algumas delas sustentadas argumentativamente, mas outras apenas afirmadas). Quais dentre essas definies se mostram, se que alguma delas, suficientemente plausveis? Neste trabalho, procuro contribuir para uma resposta razovel a essa questo. Especificamente, nele eu: (1) distingo e caracterizo alguns diferentes sentidos da noo de comportamento, com nfase naquele de comportamento enquanto ocorrncia de uma ao ou reao de um organismo; (2) identifico os tipos de definio possivelmente adequados para a noo tomada em tal sentido e para propsitos que podemos chamar de tericos; (3) apresento uma lista de desideratos para os tipos de definio delimitados; (4) fao um exame crtico de vrias definies de comportamento mais especificamente, definies com aquele sentido do conceito como definiendum encontradas na literatura cientfica e filosfica; e (5) proponho uma verso modificada de duas delas. O mtodo que adoto para tanto predominantemente o de anlise conceitual. O trabalho est estruturado na respectiva ordem de objetivos.

    Sentidos da noo de comportamento e algumas de suas nuanas

    A noo de comportamento possui vrias acepes, dentre as quais: (i) comportamento como ocorrncia de uma ao ou reao de um organismo; (ii) comportamento como padro ou classe; (iii) comportamento de grupo; e (iv) comportamento como mudana ou movimento de um objeto (Lazzeri, 2014). As definies em pauta neste trabalho tm como definiendum, em geral, o conceito na acepo (i). A seguir, procuro distinguir algumas nuanas mnimas dessas diferentes acepes, com nfase em (i) (distinguirei ainda outras na seo 3), ou seja, explicitar algumas regras que governam os usos tpicos da noo, esmiuando tipos de inferncias aos quais esses usos esto associados e tipos de inferncias com os quais contrastam. Embora esta seo tenha um propsito associado busca pela determinao de quais seriam definies plausveis de comportamento, no corresponde, por si prpria, a uma resposta questo inicial.

    (i) Comportamento enquanto ocorrncia de uma ao ou reao de um organismo. Comportamento, nessa acepo, algo frequentemente chamado tambm de resposta, em anlise do comportamento, psicologia experimental de modo mais geral e reas afins. Trata-se de algo emitido ou realizado por (tipicamente) um organismo, em um momento e um local especficos1. Essa acepo do conceito abrange desde coisas realizadas de maneira relativamente espontnea e flexvel, como uma pessoa erguer o brao para fazer uma pergunta ou um gato abrir a porta de um recinto para dele sair; at coisas realizadas de modo relativamente automatizado e rgido, como uma pessoa afastar a mo de uma superfcie abrasante ao toc-la ou um coelho piscar o olho frente a uma rajada de vento (que so, a princpio, ocorrncias de reflexos incondicionados). Os ltimos casos (os quais podemos chamar de reaes), diferentemente dos primeiros (os quais podemos chamar de aes), so fenmenos cuja probabilidade relativamente alta, dada a presena mudana no ambiente ao qual os padres dos quais so casos esto associados2.

    Na medida em que so fenmenos emitidos ou realizados pelo organismo, comportamentos, nessa acepo, contrastam com, dentre outras coisas: (1) estados do organismo, como, por exemplo, humores (e.g., estar tranquilo, estar triste, estar radiante) e apetites (e.g., estar com fome, estar com sede), posto que estados no so o tipo de coisa que um organismo realize (cf. Kenny 1963/2003, p. 120ss; White 1968, p. 1-3); (2) coisas que correspondem produo de um resultado incidental pelo organismo, como, por exemplo, os casos tpicos de um organismo atrair um predador, produzir sombras, movimentar ar no ambiente, esmagar uma grama, etc. (cf., e.g., Wright 1976); e (3) coisas que lhe acontecem por inteira 1 Apesar de falar, aqui, em fenmenos do mbito dos organismos

    por esses sistemas serem aqueles que tipicamente exibem comportamentos em tal acepo da noo , deixo em aberto se outros tipos de sistemas, tais como robs e artefatos, podem exibir comportamentos nessa acepo.

    2 Por vezes chamamos de reaes alguns comportamentos que envolvem as caractersticas associadas aos itens aqui denominados de aes, e vice-versa. Isso acontece, por exemplo, quando dizemos que uma pessoa reagiu bem determinada notcia. Meu uso das expresses ao e reao, neste trabalho, procura apenas salientar que a gama de itens comumente considerados como comportamentos envolve desde itens relativamente automatizados e rgidos at aqueles mais espontneos e flexveis, bem como permitir-me apontar comportamentos de um ou de outro lado desse espectro.

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    Definies de comportamento

    fora de objetos ou eventos do ambiente externo imediato, como, por exemplo, ter um brao ou uma pata erguido por outrem, receber um empurro, ser arrastado por uma correnteza, os casos tpicos de cair, tropear, resvalar, etc. (cf., e.g., Allen & Bekoff 1997, p. 42; Dretske 1988, p. 1-2). Digo os casos tpicos porque, evidentemente, h casos em que um organismo produz sombras, cai, etc. de modo deliberado e, por conseguinte, com um propsito, ao invs de como produo de um resultado incidental ou por inteira fora do ambiente externo imediato (o que, claro, no significa que qualquer propsito envolva deliberao)3. Isso ocorre, por exemplo, quando uma pessoa projeta com a mo sombra sobre o prprio rosto para proteger-se da incidncia solar ou tropea, em uma pea de teatro, para representar um personagem.

    Poder-se-ia pensar que as reaes incluindo ocorrncias de padres inatos de comportamento (como pelo menos vrios reflexos incondicionados e, apesar da terminologia, os padres modais de ao) e de padres afins (como pelo menos vrios reflexos condicionados)4 so, pelo seu relativo automatismo e rigidez, coisas efetuadas pela simples fora do ambiente externo imediato; e, desse modo, coisas que no so realmente realizadas pelo organismo. Porm, esse no o caso5. Pois essas ocorrncias devem sua existncia, em parte, a interaes passadas com 3 Quando eu falar de propsito, aqui, salvo qualificao em

    contrrio, estarei falando simplesmente da propriedade de ser dirigido a objetivos ou de ter uma ou mais funes. Ocorrncias de reflexos e de padres fixos (ou modais) de ao, por exemplo, possuem esse carcter. No estou, de modo nenhum, assumindo que aes (que podem ser entendidas como ocorrncias de padres operantes) derivem de modo geral seu carter propositivo ou funcional a partir deliberao. Antes, manterei, em grande parte deste trabalho, relativa neutralidade sobre a melhor maneira de modelar a noo de propsito ou funo. Apenas as minhas propostas na parte final deste trabalho (especificamente, final da seo 4) envolvem uma compreenso mais especfica dela.

    4 A qualificao de que pelo menos vrios reflexos incondicio-nados ou condicionados contam como reaes visa preservar a intuio de que, prima facie, no totalmente claro se alguns casos desses reflexos, como, por exemplo, os condicionados relacionados a secrees endcrinas, contam ou no como comportamentos no sentido de (i). Entretanto, no contexto de uma definio terica de comportamento, pode-se distinguir critrios que tornem mais claras as fronteiras da noo e que, assim, permitam determinar se casos como esses a satisfazem ou no. A noo de definio terica, como a entenderei no trabalho, brevemente caracterizada na seo 2.

    5 Uma observao em certa medida semelhante a esta feita por Dretske (1988, p. 3-5). Minha observao neutra com respeito sua concepo particular das aes.

    o ambiente podendo ser no mbito filogentico ou no ontogentico (ou seja, respectivamente, da histria da espcie do qual o organismo membro ou de sua histria individual), possivelmente em ambos os mbitos. Se, por exemplo, como ocorrncia de um reflexo (no caso, condicionado), um coelho contrair a pata dianteira direita frente a apresentao de um som, o fenmeno acontece sob condio de que certos fenmenos passados tiveram lugar resultando em o coelho ser sensvel ao respectivo estmulo. Um coelho sem ter passado por uma histria de pareamento do som (estmulo eliciador condicionado) com um estmulo eliciador incondicionado relevante no tenderia, tudo o mais sendo igual, a contrair a referida pata dada a presena daquele som. Alm disso, o fato de que a mera movimentao da pata dianteira direita do coelho por inteira fora de algo externo (e.g., a fora do brao de algum) no contaria como aquele comportamento tambm revela que se trata de um caso da acepo (i) da noo.

    (ii) Comportamento enquanto padro ou classe. Comportamento, na acepo (i), uma ocorrncia, isto , um exemplar (instance) de um padro (pattern) ou classe, ou uma entidade que, junto com entidades que possuem uma ou mais propriedades relevantes em comum, forma um padro ou classe ao longo do tempo. O comportamento qua ocorrncia um processo, que tipicamente acontece em um momento e lugar especficos; por exemplo, erguer o brao para fazer uma pergunta a um palestrante, entre 17h30min10s e 17h30min16s do dia 14 de fevereiro de 2013, em tal e tal auditrio de certa instituio. J o comportamento qua padro ou classe (e.g., um padro operante, um reflexo) algo realizvel em momentos e lugares distintos, ou pelo menos formado por coisas que ocorrem em momentos e lugares distintos, mas sem ele mesmo ter tal momentaneidade e localizabilidade (cf., e.g., Lee 1983). Por exemplo, erguer o brao para fazer uma pergunta, qua padro ou classe de comportamento, o tipo de coisa do qual faz sentido dizer poder, a princpio, existir desde a infncia de uma pessoa e perdurar por toda sua vida, ser realizado hoje, amanh, etc., e em mltiplos locais (e.g., diferentes salas de aula e auditrios). Logo, referncia a um comportamento na acepo (i) implica, em geral, em referncia implcita a um padro ou classe que ele exemplifica ou forma, mas se trata de coisas diferentes.

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    (iii) Comportamento de grupo. No s organismos singulares exibem comportamentos, mas tambm grupos de organismos; por exemplo, o comportamento de vigiar uma colmeia ou de fabricar favos por um grupo de abelhas, o de caa por um grupo de lees, etc. Comportamentos de grupo, de modo anlogo aos comportamentos dos organismos singulares, admitem ser entendidos como ocorrncias ou como padres. Quando so ocorrncias, envolvem caractersticas similares quelas associadas acepo (i) da noo. Trata-se de coisas realizadas e que se do em momentos e locais particulares. Correlatamente, no faz sentido dizer, por exemplo, que coisas que correspondem produo de resultados incidentais por um grupo de organismos (e.g., a produo de sombras e sons no solo pelos lees ao estarem em grupo caando gnus) contem como comportamentos do grupo (salvo, como veremos a seguir, em uma acepo diferente da noo). No entanto, ocorrncias de comportamentos de grupo tm caractersticas peculiares, as quais residem em serem realizadas por meio de comportamentos na acepo (i) de dois ou mais organismos coordenadamente, de tal modo que produzem como consequncia um resultado comum, por contraste a ser um resultado de apenas algum dos membros (cf., e.g., Pacherie 2011, p. 174-175; Searle 2002/1990, p. 94-95).

    (iv) Comportamento como mudana ou movimento de um objeto (com relao aos seus arredores). A noo de comportamento empregada em tal acepo tipicamente quando atribumos comportamentos a objetos ditos inanimados, tais como rochas, fludos, partculas e projteis. Por exemplo, o movimento (ou mudana de posio espacial) de uma rocha ao afundar em uma superfcie aqutica comportamentos em tal sentido. Podemos dizer, dentre outras coisas, que a rocha est se comportando a uma determinada velocidade mdia.

    coerente atribuir comportamento em tal sentido a organismos tambm, mas, em tais casos, a atribuio diferente daquela de comportamento na acepo (i). Pois as atribuies de comportamento na acepo (i) excluem que conte como tal algo correspondente mera produo de um resultado incidental pelo organismo e algo que faa por causa inteiramente de foras do ambiente externo imediato. Distinguimos, por exemplo, entre uma pessoa erguer seu brao para fazer uma pergunta e o brao

    mover-se por outrem ergu-lo; etc. Alm disso, se uma pessoa ergueu a mo para fazer uma pergunta a um palestrante e aconteceu de o movimento do brao projetar uma sombra em algo (e.g., sobre uma formiga que acontecia de estar passando por perto), esse projetar a sombra, sendo meramente incidental (e no, e.g., algo feito pela pessoa para proteger-se da incidncia solar), no algo realizado pela pessoa, portando contando como comportamento apenas em outro sentido. Em outras palavras, comportamento na acepo (i) tem o que por vezes chamado de um carter teleolgico, propositivo ou de ser dirigido a objetivos, ao passo que comportamento na acepo (iv) no (cf., e.g., Taylor 1964; Wright 1976). Portanto, comportamentos no sentido de (i) so fenmenos que dependem no s de mudana ou movimento de um organismo, mas tambm a outras propriedades. Logo, mudana ou movimento de um organismo no constitui uma condio suficiente de comportamento no sentido de (i), ainda que constitua uma condio necessria dele e, nessa medida, (i) possa ser considerado uma subcategoria de (iv) (cf. Rosenblueth et al. 1942).

    Formas de definio possivelmente adequadas para a noo e o contexto em

    pauta, e os desideratos para elas

    Nesta seo, procuro, primeiro, delimitar as formas de definio possivelmente adequadas para a noo de comportamento na acepo (i) doravante, referida apenas pelo termo comportamento ou sua forma plural, salvo qualificao em contrrio e para o contexto aqui relevante; e, segundo, delimitar os principais desideratos para elas.

    Apenas alguns tipos de definio so possivelmente adequados para a noo e o contexto em pauta. Pois (A) esse contexto o de definies com o propsito de explicitar as condies que delimitam o que conta e o que no conta como comportamento (na acepo relevante). Algumas dessas definies podem dispensar comprometimento com a ideia que haja algo como a natureza dos comportamentos em geral; mas h em comum entre as definies nesse contexto o interesse pelo menos em explicitar as condies que determinam o que conta como comportamento e, desse modo, o que fica de fora da extenso do conceito. Alm disso, (B) a noo em

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    Definies de comportamento

    pauta no nova, antes sendo uma noo ordinria, da qual j se possui um domnio tcito. No de interesse nele atribuir um significado inteiramente novo noo, antes suas nuanas mnimas sendo pressupostas. E (C) a noo (conforme se segue da seo anterior) tal que os itens de sua extenso possuem feies em comum. Estas devem figurar ou ser preservadas, de alguma maneira (mesmo que reduzidas a outras noes), no definiens, em termos de uma ou mais condies necessrias (salvo se houver justificao para uma grande mudana na maneira como o conceito funciona; mais sobre isso adiante).

    Em (A), expressa-se que o tipo de definio de interesse aqui quanto ao propsito que uma definio pode ter aquele por vezes chamado de terico (cf., e.g., Copi 1982). Esse tipo de definio contrasta, por exemplo, com definies persuasivas, cujo propsito muito diferente (a saber, provocar uma atitude de apreo ou desapreo com relao ao que designado pelo definiendum). De (A) e (B) segue-se, por exemplo, que definies inteiramente lexicogrficas (cujo propsito aumentar o vocabulrio de algum e.g., quando se ensina um vocbulo a um aprendiz de uma lngua , ou distinguir diferentes acepes do definiendum reduzindo sua ambiguidade e.g., a entrada de um dicionrio distinguir diferentes significados de um termo) no servem para o contexto aqui relevante (para detalhes, ver Lazzeri no prelo 1).

    Tem-se de (A)-(C) que, quanto tcnica subjacente, os tipos de definio possivelmente adequados para a noo e o contexto em pauta so, em geral: definies por gnero e diferena especfica (as quais envolvem a tcnica de especificar condies individualmente necessrias e conjuntamente suficientes para o definiendum); definies operacionais (as quais tm como tcnica especificar operaes no sentido de procedimentos de teste ou de mensurao que, uma vez efetuadas, estabelecem se algo satisfaz ou no o definiendum); e definies disjuntivas (as quais tm como tcnica especificar disjunes no sentido inclusivo de disjuno de duas ou mais condies individualmente suficientes, mas no conjuntamente necessrias, para a predicao do definiendum), em particular as disjuntivas que admitem que o definiens inclua uma ou mais condies necessrias relevantes, ainda que implicitamente (a saber, como elementos

    comuns aos diferentes disjuntos) (para detalhes, ver Lazzeri no prelo 1). Ficam excludas definies de tipo extensionais (cuja tcnica explicitar a extenso do definiendum e.g., definir comportamento por enumerao de exemplos de comportamento) e sinnimas (cuja tcnica estabelecer uma palavra sinnima quela que nomeia o definiendum e.g., definir comportamento como conduta). Tambm o ficam o subtipo de definies disjuntivas que Cooper (1972) chama de definies de suficincia (as quais no admitem sequer implicitamente que o definiens inclua uma ou mais condies necessrias relevantes no definiens como ocorre, e.g., em uma caracterizao adequada da noo de jogo segundo celebremente sugeriu Wittgenstein 1953, 65ss), o que se segue em particular de (C). Em outras palavras, tem-se de (C) que o conceito de comportamento na acepo aqui relevante no um conceito de agregados (cluster concept) ou de semelhanas de famlia (em uma caracterizao usual de conceitos de agregados ou de semelhanas de famlia, isto , como conceitos que no admitem como definiens nenhuma condio relevante necessria). Por fim, deixo em aberto se as definies recursivas (cuja tcnica consiste nos trs respectivos passos: identificao de membros iniciais do conjunto sendo definido; especificao de uma condio de acordo com a qual determinados itens so membros do conjunto se possuem certas relaes com os membros inicialmente especificados; e declarao de que nada mais conta como membro dele) so apropriadas para o conceito na acepo relevante. Aparentemente no se trata de um conceito para o qual possa haver uma condio correspondente ao segundo passo desse tipo de definio; mas, em todo caso, os desideratos que sugiro a seguir aplicam-se tambm a ele.

    Estou agora em posio de listar desideratos para uma definio de comportamento (na acepo i), uma vez que os desideratos para uma definio no so absolutos, antes sendo relativos aos tipos de definio que se tenha em vista. Logo, os desideratos a seguir so relativos pelo menos aos tipos de definio delimitados anteriormente (a saber, definies tericas, sob a forma de definies por gnero e diferena especfica, definies disjuntivas que admitam alguma condio necessria e definies operacionais; qui tambm as recursivas). Ei-los:

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    (a) No ser demasiado abrangente: o definiens no deve denotar mais coisas do que denotado pelo definiendum;

    (b) No ser demasiado restritiva: o definiens no deve denotar menos coisas do que denotado pelo definiendum;

    (c) No ser viciosamente circular: o definiendum no deve figurar no definiens, sequer implicitamente (excetuando-se uma circularidade no viciosa6);

    (d) Ser informativa: o definiens deve contribuir para aclarar nosso entendimento intuitivo do definiendum;

    (e) Capturar, em geral, as nuanas mnimas do conceito: o definiens deve preservar as regras associadas ao uso tpico do conceito (excetuando-se reviso conceitual justificada).

    Segundo o desiderato (a), falha uma definio de comportamento segundo a qual, por exemplo, ele equivale a movimentos do corpo; pois acaba incluindo na extenso do definiendum itens que contam como comportamento apenas na acepo (iv) da noo (como o frequente movimento de um organismo em torno do eixo terrestre). Segundo (b), falha uma definio de comportamento de acordo com a qual, por exemplo, ele apenas algo feito deliberadamente, porquanto exclui da extenso do definiendum comportamentos relativamente automatizados (como as ocorrncias de padres inatos de comportamento). Conforme (c), mostra-se implausvel uma definio de comportamento em termos, digamos, de ao causada por evento do ambiente, se o termo ao estiver sendo usado por referncia a uma subclasse de (i) (a saber, a de ocorrncias de aes), ou como um sinnimo de comportamento no sentido de (i); porque, nesse caso, tenta-se elucidar o definiendum em termos que j o pressupem, de modo vicioso. Por sua vez, o critrio (d) visa evitar que a definio no cumpra o papel de uma definio terica. Afirmar, por exemplo, que comportamento consiste em atividade do organismo no aumenta nosso entendimento intuitivo sobre as condies que estabelecem a extenso do conceito.

    Uma pergunta que pode surgir naturalmente

    6 Segundo alguns autores (e.g., Burgess 2008), a circularidade no viciosa (mas, antes, virtuosa) quando acaba sendo informativa.

    acerca desses desideratos, sobretudo de (a) e (b), : qual pedra de toque, ou parmetro, que temos para aplic-los? Considero que um parmetro principal que temos para tanto capturada pelo desiderato (e). Ou seja, sugiro que as nuanas mnimas associadas noo em pauta, as quais podem ser trazidas tona por meio de anlise conceitual, constituem um parmetro geral para aplicao dos outros desideratos sugeridos, em particular (a) e (b). Ao dizermos, por exemplo, que demasiado abrangente uma definio de comportamento que conte como tal coisas como um organismo sendo empurrado ou girando em torno do eixo terrestre, estamos detectando uma incoerncia com nuanas mnimas da noo; nomeadamente, uma incoerncia com seu carter teleolgico. Ao dizermos que demasiado restritiva uma definio de comportamento que no conte como tal ocorrncias de reflexos, estamos apontando para o fato de que, na verdade, as nuanas mnimas da noo so satisfeitas por esses itens. Na formulao de uma definio terica de comportamento, podemos qui seja at preciso ir alm do que a anlise das regras subjacentes ao uso tpico da noo por si s revela; mas desejvel que, ao faz-lo, mantenhamos coerncia com essas regras, sob pena de incorrer em arbitrariedade no definiens e perder de foco o definiendum.

    Isso no significa, entretanto, que nuanas associadas noo no possam legitimamente ser questionadas. Com a qualificao em geral, em (e), viso salientar que essa possibilidade no est excluda. No entanto, nem toda reviso conceitual justificvel, sob pena de perder de vista a noo. Por exemplo, se quisermos dizer que o comum girar em torno do eixo terrestre comportamento, estaremos rejeitando as particularidades da acepo (i) e equiparando-a acepo (iv). Por isso, penso que, muitas vezes, quando um autor faz uma reviso conceitual, no o faz por realmente querer modificar a noo (no caso anterior, por exemplo, o autor provavelmente no o faria por desejar nivelar os comportamentos dos organismos a comportamentos no sentido de iv), mas, antes, por negligenciar suas nuanas7.

    7 A meu ver, portanto, no satisfatria a ideia de que a noo em pauta, quando presente no mbito de uma teoria cientfica, deva ter seu significado adquirido simplesmente em razo dos comprometimentos da teoria (se esta realmente tiver em vista a noo). Ela poder fazer reviso conceitual, mas essa reviso ter que ter justificao.

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    Definies de comportamento

    Por fim, saliento que a lista de desideratos aqui sugerida no pretende ser exaustiva. Pode-se considerar como um desiderato que a definio seja econmica, de modo a no emperrar o uso do conceito (e.g., Levitis et al. 2009, p. 104). Porm, uma definio que no tida como econmica em um momento pode tornar-se econmica, em razo do que optei por prescindir desse critrio neste trabalho. Em todo caso, sugiro que um tal desiderato deve andar em harmonia com aqueles aqui apontados.

    Algumas definies de comportamento encontradas na literatura cientfica e

    filosfica: uma reviso crtica

    Com base nas distines estabelecidas nas sees anteriores, procedo a um exame de vrias definies de comportamento (na acepo i) encontradas na literatura cientfica e filosfica (algumas delas apenas afirmadas ou assumidas)8.

    (I) Comportamento como mudana ou movimento do corpo, ou (se for uma ao) mudana ou movimento do corpo causado por estados mentais apropriados. Alguns autores supem que os comportamentos, ou pelo menos aqueles que no correspondem a aes, equivalem a simples movimentos ou mudanas do corpo. Goldberg e Pessin (1997, p. 128-129), por exemplo, sugerem, ao caracterizarem as aes, que os comportamentos que no so aes equivalem a isso. As aes, segundo Goldberg e Pessin (1997), so movimentos e rudos do corpo causados por fenmenos mentais apropriados (em especial, crenas e desejos), diferindo de comportamentos que no so aes apenas em terem essas supostas causas:

    instrutivo considerar a distino que frequentemente fazemos entre movimentos e rudos corporais que so aes daqueles que so meros movimentos e rudos corporais. Para comear, os movimentos e rudos corporais em questo (roncos no estmago, reflexos, movimento forado externamente) no so movimentos iniciados pela prpria pessoa. [] manifesto que esses movimentos e rudos corporais no contam como aes , pela simples razo de que nenhum deles tm uma causa mental. A distino entre aes

    8 As ponderaes feitas nesta seo no tm necessariamente por implicao um questionamento de outros aspectos dos trabalhos em que essas definies se encontram.

    e meros movimentos corporais, portanto, parece ser uma distino entre comportamentos que tm uma causa mental e comportamentos que no a tm. (Goldberg & Pessin 1997, p. 129; grifos dos autores)

    Mele e Moser (1994), de modo semelhante, declaram: Remova o intencional inteiramente da ao intencional e voc tem mero comportamento: bruto deslocamento corporal no dissimilar ao movimento da areia varrida pelo vento nas margens do Lago Michigan (p. 39). Depreende-se do texto de Mele e Moser que, nesse caso, esto empregando o termo ao sem a qualificao intencional como sinnimo de comportamento e, por sua vez, o termo intencional com a conotao de alguma forma de causao mental no envolvida em ocorrncias de reflexos e padres similares. Tal caracterizao sugere haver em comum entre os comportamentos que so aes e os demais apenas as feies de comportamento na acepo (iv).

    Conforme apontam Block e Hornsby, as verses tradicionais de (o que no significa qualquer) funcionalismo em filosofia da mente assumem uma definio de comportamento nesses termos. Hornsby (2006/1986) afirma: Quando os funcionalistas falam em comportamento, falam ... em movimentos corporais, ou ento falam em respostas motoras (p. 34). Nas palavras de Block (1978): Os funcionalistas tendem a especificar ... sadas [outputs] em termos de movimentos de braos e pernas, som emitido e coisas do tipo (p. 316). Lewis (1974) explcito a esse respeito ao dizer que emprega o conceito para se referir a movimentos corporais e afins (p. 338). possvel, porm, que as referidas abordagens assumam, implicitamente, uma distino similar quela de Goldberg e Pessin (1997) e de Moser e Mele (1994). Entretanto, no quero entrar em uma questo exegtica aqui. O importante que, em qualquer caso, essas caracterizaes implicam na seguinte definio (disjuntiva): algo comportamento se, e apenas se, uma mudana ou um movimento do corpo, ou (caso for uma ao) uma mudana ou um movimento do corpo causado por estados mentais apropriados. Tal de definio acaba sendo, no mnimo, demasiado abrangente, isto , transgride o desiderato (a), como indico a seguir.

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    correto contrastar aes (aes intencionais, na terminologia de Mele e Moser) com comportamentos tomados acepo (iv), j que estes, diferentemente daquelas, no possuem feies teleolgicas (conforme salientei na seo 1). Pode-se dizer isso independentemente de entrar no mrito de se tais autores oferecem ou no uma caracterizao apropriada das aes. Contudo, ao equipararem todo comportamento que no ao com comportamento na acepo (iv), eles incorrem em um grande equvoco, uma vez que (consoante apontei na seo 1) h comportamentos que no so aes e que, no entanto, so itens da extenso do conceito na acepo (i); a saber, comportamentos relativamente mais automatizados e rgidos, como, por exemplo, as ocorrncias de padres inatos de comportamento. Tais fenmenos possuem caractersticas em comum com as aes e que os tornam, no menos do que estas, incompatveis com uma reduo a movimentos ou mudanas do corpo tomados por si.

    (II) A definio de Tinbergen. Tinbergen (1951) define comportamento como o total de movimentos feitos pelo animal intacto (p. 2). Na medida em que se cinge a movimentos do animal intacto, trata-se de uma definio em termos puramente topogrficos (isto , relativos a propriedades fsicas do corpo do organismo).

    Essa definio revela-se insatisfatria sob alguns aspectos. O primeiro deles (o qual, entretanto, menor, porque pode ser retificado sem dificuldade) falhar quanto ao desiderato (b), isto , ser muito restritiva, posto que limita o mbito do conceito apenas aos animais, quando, na verdade, plantas tambm realizam comportamentos. Alguns dos comportamentos de plantas conhecidos popularmente so aqueles do girassol inclinando-se em direo luminosidade do sol, da planta sensitiva (Mimosa pudica) fechando as folhas de seus ramos ao serem tocados e da planta carnvora capturando um inseto. Algum poderia pensar que, por serem automatizados e rgidos, esses comportamentos no diferem daqueles tomados na acepo (iv). Porm, esse no o caso. Se o fosse, ento, por exemplo, se um girassol, por simples fora de uma ventania ou de uma pessoa que o contorcesse pelo caule, exibisse os mesmos movimentos que costuma exibir quando se volta para o sol, tais movimentos contariam como seu comportamento, o que no ocorre. Alm disso, note-

    se que a individuao do comportamento da planta se d pela referncia a um propsito ou funo (sem, evidentemente, envolver deliberao) no caso, relacionado obteno da luz do sol , portanto no sendo apenas movimentos. Contudo, a definio de Tinbergen pode abranger comportamentos de plantas bastando substituir animais por organismos em seu definiens.

    No entanto, essa definio falha quanto a (b) tambm pelo fato de que movimentos no constituem sequer uma condio necessria para a individuao de todos os comportamentos (ainda que, sim, de vrios deles), havendo comportamentos que no envolvem movimentos. Por exemplo, isso parece ser o caso nos comportamentos de certas cobras fingirem-se de mortas ficando imveis, de um animal esconder-se de um predador em uma rvore, de uma pessoa ficar sentada aguardando algo, de fingir estar dormindo, dentre outros (cf., e.g., Allen & Bekoff 1997, p. 41-42; Dretske 1988, p. 1-2, p. 28-29). O organismo pode mover-se enquanto realiza um desses comportamentos, mas seus movimentos no constituem condio necessria deles.

    Pode-se tentar contornar esse ltimo problema qualificando que o total de movimentos feitos pelo animal intacto admite ser nulo. Entretanto, essa definio, em todo caso, mostra-se incapaz de capturar nuanas mnimas da noo. Em particular, ela no captura o carter teleolgico dos comportamentos, revelando-se falha quanto ao desiderato (a), ou seja, demasiado abrangente. Um animal intacto pode executar um total de movimentos que no corresponde a um comportamento, como pode acontecer, por exemplo, se resvalar, cair, sofrer um empurro, ser arrastado por uma correnteza, etc. Note-se que essa definio acaba incluindo na extenso do definiendum at mesmo o comum giro em torno do eixo da Terra feito pelo organismo intacto. Assim, a definio mostra-se implausvel.

    (III) A definio de Watson (1919). Watson (1919) define comportamento como o total de mudanas de msculos estriados e no estriados e de glndulas que se segue a um dado estmulo (p. 14). Como menciona Watson (1919, p. 13), os msculos estriados esto envolvidos na movimentao de braos, pernas, lngua, tronco e laringe, ao passo que os no estriados no controle de vasos sanguneos, intestinos, rgos de eliminao e rgos reprodutivos.

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    Definies de comportamento

    Por estmulo, ele entende uma mudana do ambiente que causa o comportamento, seja uma mudana no ambiente externo ao corpo ou uma correspondente aos movimentos musculares e secrees no interior do corpo (Watson 1919, p. 9-10). Comportamentos e estmulos complexos (e.g., o comportamento de dirigir um carro), para Watson, reduzem-se a conjuntos de (respectivamente) comportamentos e estmulos entendidos nesses termos (Watson 1919, p. 10-14).

    A meu ver, essa definio mostra-se igualmente implausvel. Uma primeira limitao dela falhar quanto ao desiderato (b), posto que se cinge a animais. Esse problema, porm, como no caso de (II), pode ser evitado pela introduo em seu definiens de uma ou mais disjunes que acomodem os movimentos de estruturas similarmente relevantes de outros seres vivos.

    No entanto, uma segunda limitao dela mais central; a saber, quanto ao desiderato (a), porque um total de mudanas de msculos e glndulas que se segue a um dado estmulo pode corresponder a coisas que no so comportamentos. Por exemplo, pode corresponder ao total de mudanas de msculos e glndulas ocorrido ao um organismo cair (o que inclui, e.g., os msculos e glndulas moverem-se at a altura do solo), considerando-se que o respectivo total de mudanas envolvido causado por certos acontecimentos antecedentes do ambiente (e.g., a presena de um buraco no caminho). incoerente com as nuanas do conceito dizer que esse total de mudanas de msculos e glndulas qua total de mudanas da queda corresponde a um comportamento (salvo, claro, em outro sentido do conceito, que no aquele do definiendum). Se o organismo, quando estiver caindo, mover membros do corpo de modo a acomodar a queda, ento parte de seu total de movimentos de glndulas e msculos pode contar como comportamento; mas qua total de mudanas da queda no contam como comportamento. Mesmo que se considere que possa contar como tal, note-se que o organismo pode cair sem se proteger ou fazer algo similar. Em outras palavras, a definio de Watson (1919) no capaz de preservar as nuanas teleolgicas da noo, acabando por incluir em sua extenso acontecimentos que no possuem nenhum carter propositivo ou funcional9.9 Tolman (1932, p. 4ss) pioneiramente ponderara isso a respeito

    dessa definio, mas, a meu ver, de modo no inteiramente

    (IV) Comportamento como qualquer coisa que um organismo faa. Muitos autores (incluindo Bunge & Ardila 1987, p. 222; Chance 2003, p. 37, p. 448; Davis 1966, p. 2, p. 4-5; Lehner 1996, p. 8; Myers 2010, p. 6; Peirce & Cheney 2004, p. 1; Solomon et al. 2008, p. 1101; Watson 1930, p. 6-7)10 definem comportamento em termos de qualquer coisa que um organismo faa ou aquilo que o organismo faz. H variantes dessa definio. Na formulao de Chance (2003), Peirce e Cheney (2004) e Watson (1930), supe-se que se trata de algo que possa ser mensurado, ainda que no necessariamente observvel no exterior do corpo. Tais autores desejam contar como itens da extenso do definiendum fenmenos psicolgicos ou mentais entendidos por eles como sendo inobservveis exteriormente mas suscetveis mensurao, como os de raciocinar, os humores e assim por diante. J Myers especifica a condio complementar de que se trata de algo que possamos observar e registrar, pretendendo explicitamente com isso excluir da extenso da noo fenmenos psicolgicos. Ele diz: Processos mentais so as experincias internas, subjetivas, que inferimos a partir do comportamento (Myers 2010, p. 6; meu grifo).

    Essa definio possui dificuldades conceituais. Uma primeira ponderao que ela requer, em particular a verso dela em que se pretende considerar fenmenos psicolgicos como comportamentos, de que alguns fenmenos psicolgicos tm carter de estados. Esse o caso, por exemplo, dos humores e apetites. Estados, diferentemente de comportamentos, no so coisas que um organismo realiza. Sequer faz sentido dizer que um estado seja algo que um organismo faa (antes sendo algo em que um organismo est). No quero dizer com isso que esses fenmenos no sejam constitudos por comportamentos. Na verdade, eu penso (por razes que esto para alm do mbito deste trabalho) que comportamentos so componentes centrais deles e de outros fenmenos psicolgicos (Lazzeri no prelo

    satisfatrio. Isso porque Tolman considera que a definio de comportamento presente em Watson (1930) a saber, em termos de qualquer coisa que um organismo faa abrange seu carter propositivo (Tolman 1932, p. 5-7), o que, como apontarei a seguir, na verdade no o caso.

    10 A definio dada por Skinner (1938, p. 6), que no totalmente clara, talvez se qualifique como outro exemplo aqui. Porm, a maneira como Skinner pensa a noo diferente; e uma maneira que tem provavelmente uma de suas melhores expresses na formulao de Moore (2008), que examinarei mais adiante.

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    2, no prelo 3). Porm, no se deve considerar um fenmeno psicolgico que tenha carter de estado como um comportamento simpliciter.

    Dito isso, chamo ateno para o fato de que essa definio, em qualquer uma de suas variantes, transgride o desiderato (a), pois h coisas que um organismo faz que no contam como comportamento. Apesar de ela ter o mrito de excluir da extenso do definiendum coisas tais como uma mera queda de um cabelo e um arranho (j que esse no o tipo de coisa que um organismo faa), no exclui vrias outras coisas que tampouco contam como itens da extenso dele. Como coloca Millikan:

    Na verdade, muito poucas coisas que um organismo faz so comportamentos. Fazer uma noo bem mais geral do que a de comportar-se. Para fazer [algo], precisa-se meramente satisfazer um verbo ativo. Verbos ativos, em sua maioria, so sem compromisso quanto a se aquilo que descrevem ou no a realizao de uma funo ou propsito. (Millikan 1993a, p. 144; grifos da autora)

    Ou seja, frequentemente, basta haver a aplicao efetiva de um verbo ativo para termos a designao de algo que um organismo faz. Porm, tais verbos, em muitos casos, no designam comportamentos. Por exemplo, um organismo, ao forragear, pode projetar sombra no cho, despertar ateno de um predador, tropear em um galho, etc., o que so coisas que ele faz; mas, como o faz incidentalmente, no se trata de comportamentos. Em outras palavras, esses acontecimentos, diferentemente dos comportamentos, no possuem nenhum propsito ou funo.

    Alm disso, de modo correlato, algo que um organismo constantemente faz movimentar-se; mas (conforme argumentei na seo 1), movimentos de um organismo, considerados por si mesmos, esto longe de constituir uma condio suficiente para haver comportamento. Em suma, tem-se que, embora o comportamento seja em parte algo que o organismo faz, dizer que ele consiste nisso simplesmente sem mais implica em falha quanto ao desiderato (a).

    (V) Comportamento como atividade do organismo, ou como atividade em que se engaje. Vrios autores (incluindo Donahoe & Palmer 1994, p. 3; Powell et al. 2009, p. 3, p. 501; S. T. Watson & Brown 2011, p. 221) definem comportamento em termos de qualquer atividade do organismo. No caso

    da formulao de Donahoe e Palmer (1994, p. 3) e de S. T. Watson e Brown (2011, p. 221), comportamento definido, mais especificamente, como qualquer atividade na qual um organismo se engaje. Tanto nessa formulao como naquela de Powell et al. (2009, p. 3, p. 501), as atividades so concebidas como podendo ser internas (e.g., secreo de saliva por um co). Consideram como atividades internas do organismo inclusive pelo menos alguns fenmenos psicolgicos (mas no fica claro qual o mbito deles que os autores pretendem abranger).

    primeira vista, tal definio pode aparentar praticamente no diferir da definio (V). No entanto, trata-se, na verdade, de definies com diferenas, porque nem tudo que um organismo faz uma atividade. Por exemplo, um organismo refletir luz ao ser exposto ao sol, tropear em um galho e atrair ateno de um predador so coisas que ele faz, mas no so, nos casos tpicos, atividades. A definio de comportamento em termos de atividade tem a vantagem sobre (V) de excluir da extenso do definiendum esses acontecimentos.

    Entretanto, penso que essa definio tampouco se releva suficientemente plausvel pelo menos como definio terica. Uma primeira ponderao que ela requer, em particular sua variante que pretende incluir fenmenos psicolgicos como comportamentos, de que (conforme apontei anteriormente) alguns fenmenos psicolgicos tm carter de estados, o que contrasta com atividades do organismo. No claro qual exatamente o leque de categorias de fenmenos psicolgicos os autores pretendem abranger nessa definio, mas convm ter em conta esse pormenor, sob pena de transgredir nuanas mnimas do definiendum.

    Esse possvel problema no crucial, uma vez que pode ser contornado sem dificuldade (bastando no fazer meno no definiens possibilidade de incluso de fenmenos psicolgicos com carter de estado). Porm, pelo menos a variante dessa definio sem a condio de que as atividades sejam aquelas nas quais um organismo se engaje revela-se insatisfatria por outra razo, em particular quanto ao desiderato (a). A razo de que acaba incluindo atividades desenvolvimentais na extenso do definiendum, tais como aquelas de formao ou crescimento de sistemas e rgos do corpo (e.g., sistema digestivo, corao, ossos, dentes) e de partes

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    Definies de comportamento

    afins da anatomia do organismo (e.g., braos, pernas, patas, bicos, penas, cabelos, pelos, unhas, escamas, carapaas). Pelo menos muitas dessas atividades no so o tipo de coisa que conta comportamento, antes estando relacionadas apenas a precondies de comportamentos, na medida em que eles dependem de substratos resultantes de tais atividades.

    Tal como os comportamentos, as atividades desenvolvimentais possuem funes e, alm disso, possuem um carter episdico ainda que geralmente sejam muito mais estendidos no tempo , o que faz com que seja pouco claro em que elas exatamente diferem dos comportamentos. Acredito que um critrio que delimita a fronteira entre atividades desenvolvimentais pelo menos aquelas que claramente no chamamos de comportamentos e atividades comportamentais o de que estas ltimas envolvem influncia direta de estmulos sensoriais, sejam exteroceptivos, proprioceptivos ou interoceptivos (isto , relacionados respectivamente aos sistemas sensoriais exteroceptivos, proprioceptivos ou interoceptivos), enquanto que pelo menos muitas daquelas outras (presumivelmente) no.

    Pode-se alegar que a variante dessa definio em que comportamento caracterizado como atividade na qual um organismo se engaje escapa a esses contraexemplos. Em qualquer caso, sugiro que tanto esta como a outra variante da definio no servem como definies tericas, embora eventualmente possam servir como definies lexicogrficas e bem possvel que seus autores tenham-nas formuladas no mais do que como tais. A algum que procure saber as condies que delimitam a extenso do conceito, h pouco acrscimo de entendimento em dizer que comportamento qualquer atividade do organismo ou qualquer atividade em que se engaje. Isso semelhante a, diante de algum que esteja interessado em saber, digamos, em que consiste o processo de ouvir algo, dizer que se trata de qualquer processo pelo qual um organismo percebe os sons aos seus arredores; ou seja, algo pouco informativo. Em outras palavras, trata-se de uma definio que no satisfaz ao desiderato (d).

    (VI) A definio de Marken. Segundo Marken (1982), Comportamento pode ser objetivamente definido como resultados controlados das aes de um organismo (p. 650). Por um resultado controlado, Marken entende um resultado que

    mantido em combinao com uma referncia interna dentro do organismo para o estado daquele resultado. A referncia interna corresponde a uma inteno e a causa do resultado tencionado (Marken 1982, p. 648). Ou seja, Marken sugere que comportamentos so os resultados causados por intenes, estas tomadas por ele como entidades internas ao organismo. O autor tem como motivao explcita para essa definio excluir que meros efeitos incidentais contem como comportamentos. A proposta consegue inclusive ficar imune de maneira mais geral s ponderaes de demasiado abrangncia a definies anteriormente examinadas. Pois eventos que ocorrem por simples fora do ambiente externo imediato, bem como atividades desenvolvimentais, tampouco so o tipo de coisa que resultante das concebidas intenes internas.

    No entanto, essa proposta insatisfatria sob outros aspectos. Em primeiro lugar, equivocado dizer que comportamentos sejam, em geral, resultados de aes. Resultados so produzidos por comportamento. Alm disso, muitas vezes o so sem eles mesmos serem comportamentos. Quando, por exemplo, uma pessoa escova bem os dentes, tem como resultado os dentes ficarem limpos, mas os dentes ficarem limpos no algo que corresponda a um comportamento. Em segundo lugar, essa definio pode ser acusada de falhar quanto a (b), pela razo de que nem tudo que comportamento envolve inteno no sentido de deliberao ou vontade conotao que o autor parece adotar , como o caso das ocorrncias de padres inatos de comportamento11.

    (VII) Comportamento como relao entre organismo e ambiente. Alguns autores (e.g., Jessor 1958, p. 172-173; Maturana 1995, p. 151-152) consideram que o comportamento consiste em uma relao do organismo vivo inteiro e o ambiente. Nos termos de Maturana (1995), comportamento uma relao entre um sistema vivo operando como um todo e o meio operando como uma entidade independente (p. 151). Nessa definio, comportamento no entendido como o elemento de uma relao do organismo com o ambiente, mas como sendo ele prprio a relao.

    11 Saliento ainda que Marken adota pressupostos muito problemticos sobre a noo de inteno em seu definiens, mas no discorrerei sobre isso neste trabalho; a respeito desse assunto, cf., e.g., Lazzeri 2013b, no prelo 3.

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    Essa definio bem motivada, pretendendo evitar confuses entre os sentidos (i) e (iv) do conceito, mas no imune a dificuldades conceituais. Em particular, ela incoerente com a nuana do conceito segundo a qual comportamento algo emitido ou realizado pelo organismo. Como aponta Todorov (2012), no faz sentido dizer que um organismo emite ou realiza uma relao entre ele e o ambiente. correto dizer que o comportamento um elemento de uma relao com o ambiente, j que, no se reduzindo a mudanas ou movimentos do corpo, ele individuado por referncia a propriedades para alm das dimenses topogrficas que possua. Porm, isso no significa que ele seja a prpria relao entre o organismo vivo inteiro e o ambiente. H uma diferena entre comportamento ser uma relao organismo-ambiente e comportamento ser algo que possui propriedades relacionais envolvendo elementos do ambiente como relata.

    (VIII) A definio de Bergner. Uma das propostas mais recentes de definio de comportamento (at o momento) foi feita por Bergner. Sua definio a seguinte:

    Qualquer comportamento um estado de coisas complexo que inclui como estados de coisas que o compem uma pessoa especfica agindo para realizar os propsitos W1...Wn, agindo sob as discriminaes K1...Kn, exercitando competncias [competences] K-H1...K-Hn, engajando-se em processos fsicos ou realizaes [performances] P1...Pn, alcanando resultados A1...An, expressando caractersticas pessoais PC1...PCn e engajando-se em aes tendo os significados S1...Sn. (Bergner 2011, p. 148-149)

    Bergner (ao falar em termos de uma pessoa agindo, etc.) utiliza a noo de ao no definiens, de modo que, salvo se a utiliza significando algo que no implique o conceito de comportamento, incorre em problema quanto ao desiderato (c); ou seja, em circularidade viciosa. Como convm adotar o princpio de caridade na interpretao, assumo que o autor no esteja utilizando o conceito de ao de modo equivalente ao de comportamento (na acepo i) ou de modo dependente dele. Podemos entender a presena dele em tal definiens em termos, por exemplo, de fazer algo.

    Cabe apontar que, ainda assim, a proposta de Bergner implausvel, posto que transgride (b), dado que se limita aos comportamentos de pessoas, deixando de lado a rica gama de comportamentos que encontramos nos seres vivos em geral. Esse problema, no entanto, pode ser retificado substituindo-se no definiens pessoas por organismos.

    Porm, a proposta transgride (b) de modo mais grave. Pois no inclui comportamentos relativamente automatizados e rgidos na extenso do definiendum (e.g., as ocorrncias de padres modais de ao). Em primeiro lugar, dbio dizer que qualquer comportamento seja exerccio de uma competncia. Pois a noo de competncia conota tratar-se de algo de algum modo til ao organismo, mas h reflexos, particularmente de tipo condicionado, que no so teis (e.g., uma pessoa aumentar o batimento cardaco cada vez que v determinado tipo de objeto totalmente inofensivo, por algo muito desagradvel ter acontecido alguma vez com ela ao mesmo tempo em que um objeto desse tipo estava presente). Em segundo lugar, as ocorrncias de padres inatos, pelo menos comumente, no expressam caractersticas pessoais. Que caracterstica pessoal expressa, por exemplo, o comportamento de dana de uma abelha para indicar a direo e a distncia de nctar? Bergner reconhece deixar de lado esses fenmenos, sob a assuno explicita que so meros movimentos, e no comportamentos no sentido relevante (Bergner 2011, p. 151). Isso, conforme previamente argumentei, um grande equvoco.

    (IX) A definio de Dretske. Drestke (1988, p. 1ss) define comportamento como o processo de uma causa no interior do organismo produzir um movimento corporal ou (de modo mais geral) uma mudana corporal (incluindo inibio de movimento do corpo). Segundo Dretske, a mudana corporal pode ter um efeito (possivelmente remoto) no ambiente externo, de modo que, nesse tipo de caso, comportamento, alm de ser um processo de uma causa interna produzir essa mudana corporal, tambm, por transitividade, o processo de certa causa interna produzir certo efeito no ambiente externo (Dretske 1988, p. 21-22). Alm disso, a causa interna pode ser, antes, um conjunto de causas internas. Esquematicamente, tem-se que, comportamento, segundo essa perspectiva, : o processo de um conjunto C de estados ou eventos localizados no

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    Definies de comportamento

    interior do corpo causar uma mudana corporal M ou uma consequncia externa, possivelmente remota, N. Note-se que, nessa proposta, comportamento no algo causado por um ou mais estados ou eventos internos; mas, antes, um processo de um ou mais estados ou eventos internos causarem um movimento corporal ou consequncia externa. Dretske enfatiza ser uma condio necessria para que algo seja comportamento que envolva uma causa com locus interno ao corpo, julgando que essa condio exclui que coisas que aconteam ao organismo por inteira fora externa sejam comportamentos. Ademais, essa definio acomoda a ideia de que alguns comportamentos no requerem movimento (e.g., um urso hibernar, algum ficar sentado).

    Para auxiliar sua definio, Dretske (1988, pp. 42-44) apresenta uma distino entre causas disparadoras (triggering causes) e causas estruturadoras (structuring causes). Causas disparadoras so eventos S do ambiente que causam C (que, por sua vez, causa um movimento M ou consequncia N). Causas estruturadoras so eventos que determinaram um processo de C causar M ou N, isto , eventos que causaram C causar M ou N ao invs de causar outra coisa. Por exemplo, no caso do co com o reflexo de salivar quando toca determinado som, este estmulo (um estmulo eliciador condicionado) causa disparadora de um evento fisiolgico que provoca saliva. J a causa estruturadora do processo a aprendizagem por pareamento qual o co fora submetido (isto , o condicionamento de tipo clssico). Ele saliva, ao invs de, digamos, pular, diante do estmulo sonoro, por no ter sido os movimentos e efeitos relacionados ao pular o alvo da aprendizagem, mas sim aqueles relacionados ao de salivar. Assim, um comportamento, segundo Dretske, um processo, determinado por causas estruturadoras, de uma causa interna produzir uma mudana corporal ou um efeito no ambiente a partir de uma causa disparadora.

    A proposta de Drestke possui vrias qualidades. Pois no s consegue excluir que coisas que acontecem ao organismo por simples fora do ambiente externo imediato contem como comportamentos; mas tambm estados, ao especificar a condio de que comportamento processo, bem como coisas que correspondem produo de meros resultados incidentais pelo organismo, ao especificar que as variveis envolvidas no processo so individuadas

    conforme as chamadas causas estruturadoras. primeira vista, poder-se-ia acusar sua definio de incluir na extenso do definiendum a produo de resultados incidentais, posto que C pode ser (por meio de mudanas corporais) causa de mltiplos efeitos no ambiente, muitos dos quais incidentais. Porm, creio que, se entendermos que a definio estabelece a condio de que as variveis C, M e N relevantes so determinadas por causas estruturados, o problema bloqueado.

    Contudo, penso que a definio de Dretske enfrenta pelo menos duas dificuldades. A primeira delas a de que se segue de sua definio que comportamento no algo que comumente observamos. A partir dessa proposta, tem-se que quando estamos diante de um co latindo, um pssaro pousando em uma rvore, uma pessoa cumprimentando outra com aperto de mo, etc., o que observamos so apenas sons e partes do corpo externo em movimento, e no os comportamentos desses organismos. Evidentemente, comportamentos envolvem processos causais neurofisiolgicos ou afins. Alm disso, h, arguivelmente, comportamentos que no transparecem na parte externa do corpo. Porm, dizemos pelo menos de muitos (provavelmente a maioria dos) comportamentos (tal como aqueles recm mencionados) que os observamos ao estarmos diante deles. desejvel preservar essa nuana da noo, exceto, qui, se no dispormos de uma definio mais plausvel o que, conforme sugiro em seguida, no o caso.

    A segunda dificuldade que a definio de Dretske parece enfrentar a de acabar contando como comportamentos processos desenvolvimentais em geral, como o desenvolvimento de unhas, penas, bicos e escamas. Pois esses processos possuem causas estruturadoras (como a seleo natural, em um nvel distal, e os genes do organismo, em um nvel menos distal) e tambm coisas que se qualificam como causas disparadoras, j que eles dependem ou so influenciados por fatores tais como a nutrio e a regulao hormonal do organismo. Entretanto, conforme anteriormente apontei, pelo menos muitos processos desenvolvimentais no contam como comportamentos.

    (X) A definio de Levitis et al. Em Levitis et al. (2009), a seguinte definio (disjuntiva) de comportamento proposta: Comportamento : as

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    respostas internamente coordenadas (aes ou inaes) dos organismos vivos inteiros ... a estmulos internos e/ou externos, excluindo respostas mais facilmente entendidas como mudanas desenvolvimentais (p. 108). Diferentemente das definies previamente examinadas, esta pretende explicitamente abranger (i) e (iii) ao mesmo tempo; mas, como meu foco neste trabalho em (i), no a avaliarei com respeito sua plausibilidade quanto a (iii).

    Uma possvel dificuldade dessa definio introduzir o conceito de ao (e de inao) no definiens; a saber, como sinnimo de resposta internamente coordenada do organismo vivo inteiro. Por isso, ela pode ser acusada de falhar quanto a desiderato (c). A prpria introduo do conceito de resposta no definiens problemtica, pois frequentemente ele utilizado como sinnimo de comportamento.

    Porm, essa definio admite ser entendida sem circularidade. Para tanto, ela no pode pressupor a introduo do conceito de ao no definiens, bastando fazer duas coisas: primeiro, deixar de lado a equiparao entre ao (e inao) com resposta internamente coordenada do organismo vivo inteiro; e, segundo, entender o termo resposta no definiens como sinnimo de algo como alterao no organismo. Obtm-se, ento, o enunciado de que comportamento consiste em: alteraes no organismo vivo como um todo internamente coordenadas e causadas por estmulos externos ou internos, excetuando mudanas desenvolvimentais.

    A expresso internamente coordenadas, no entanto, no esclarecida por Levitis et al. (2009). Intuitivamente entendida, ela parece ter o papel de evitar que coisas que acontecem por simples fora do ambiente externo presente contem como comportamento. Alm disso, o significado intuitivo dela exclui a ideia de que qualquer coisa que um organismo faa conte como um comportamento, j que no diramos que coisas como cair e tropear de modo incidental sejam coordenadas internamente. Qui, ento, seja natural entender a referida expresso como sinnima de coordenadas por fatores internos ao corpo.

    Poder-se-ia julgar que a definio de Levitis et al., assim entendida, enfrenta um problema relacionado ao fato de que muitos dos movimentos feitos pelo organismo em uma caminhada ou corrida consistem em alteraes coordenadas por fatores

    internos (neurofisiolgicos). Deveria haver, no caso, mudanas desse tipo (excetuando mudanas desenvolvimentais, como querem os autores) que so provocadas por estmulos externos ou internos, mas que no contam como comportamentos. Porm, no vejo casos satisfazendo todas essas condies e, portanto, contraexemplos proposta que questionam sua adequao com respeito ao desiderato (a).

    No entanto, penso que h nela uma dificuldade com respeito ao desiderato (d); ou seja, que ela no suficientemente informativa. Pois a definio exclui mudanas desenvolvimentais da extenso do definiendum como que por fiat. Ou seja, ela no autoelucidativa a respeito de por que mudanas desenvolvimentais no contam como comportamentos. Como j salientado, no mnimo muitas dessas atividades deveras no merecem ser denominadas de comportamentos. Todavia, de maneira a exclu-las da extenso do definiendum, a definio em pauta apenas estabelece o critrio de que as mudanas do organismo no podem ser desenvolvimentais, sem, antes, possuir um critrio a partir do qual se elucidasse por que isso o caso. Logo, pelo menos se dispormos de um critrio mais bsico para tanto como julgo que sim, como j sugeri , ela no se mostra suficientemente plausvel.

    (XI) A definio de Millikan. Millikan sugere a seguinte definio de comportamento:

    Um comportamento , sugiro, pelo menos o seguinte:1. [sic.] uma mudana ou atividade externa exibida por um organismo ou por parte externa de um organismo.2. Ela tem uma funo no sentido biolgico.3. Esta funo , ou seria normalmente, realizada via intermdio do ambiente ou via alteraes resultantes na relao do organismo com o ambiente. (Millikan 1993a, p. 137)

    Restringindo comportamentos ao mbito das mudanas ou atividades externas, a condio 1 procura distinguir comportamentos de processos fisiolgicos (e.g., secrees endcrinas), dado que processos fisiolgicos ocorrem no interior do corpo.

    A condio 2 estabelece que as mudanas ou atividades que so comportamentos so entidades que possuem funes; em particular, funes no sentido biolgico (as quais a autora tambm chama

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    Definies de comportamento

    de teleofunes ou funes prprias). O termo biolgico utilizado por Millikan em um sentido alargado, podendo englobar traos que no so geralmente tidos como biolgicos. Millikan (1984, 1989) tem uma teoria a respeito das funes (uma verso da teoria etiolgico-histrica), mas, por questo de brevidade, no poderei me ater a ela aqui. Seja o suficiente dizer que, em linhas gerais, funes so entendidas pela autora como sendo razo de histrias seletivas envolvendo: variao entre um conjunto de entidades, algumas, em razo da posse de uma ou mais propriedades C1...Cn, realizando uma funo F, enquanto outras, sem ter C1...Cn, no realizando F; interao dessas entidades com o ambiente, aquelas que realizaram F tendo um sucesso diferencial sobre aquelas que no a realizaram; e reteno das primeiras, por meio de um mecanismo de cpia e de replicao (Millikan 1984, p. 17ss; cf. tambm Artiga 2010, p. 198; Lazzeri 2013a). Ou seja, para utilizar a terminologia de Skinner (1981), um item possui uma funo, falando de modo simplificado, se ele tem origem a partir de seleo pelas consequncias de itens passados semelhantes (como ocorre, e.g., com as ocorrncias de padres operantes). Alguns itens tm funes derivadas de mecanismos que tm a funo de produzi-los sob certas circunstncias. Por exemplo, a mudana de pigmentao de um camaleo tem como uma funo a de camuflagem, derivada do dispositivo de rearranjamento de pigmentao, a qual tem a funo de produzir mudana de pigmentao dadas certas condies do ambiente (e.g., no caso de mudana para verde escuro, presena de vegetao verde escura) e, assim, camuflar o organismo.

    Um aspecto importante da condio 2 da definio de comportamento de Millikan que uma condio que procura representar o carter teleolgico dos comportamentos. Essa condio exclui que a produo de coisas meramente incidentais e coisas que um organismo faa por inteira fora de objetos ou eventos do meio externo imediato contem como comportamentos. O que individua o comportamento so as funes que possuem; por exemplo, no comportamento do rato de pressionar alavanca, a funo de acionar liberao de alimento; no comportamento predatrio do leo, funes relacionadas obteno da presa.

    Por fim, com a condio 3, Millikan declara pretender excluir da extenso do definiendum coisas

    tais como o organismo excretar suor, excretar gs carbnico na atmosfera, aumentar ou diminuir a respirao em uma corrida, dentre outras, tomadas por si mesmas (Millikan 1993a, p. 138). Tais fenmenos so exibidos no exterior do corpo e tm funes, assim satisfazendo as condies 1 e 2 da autora; mas no so comportamentos, de modo que se faz necessrio um critrio para exclu-los. No totalmente claro o que a autora quer dizer com a condio 3, mas bastante claro que essa condio, como a 1, se cinge influncia de aspectos externos ao corpo.

    Discordo das condies 1 e 3, apesar de, mutatis mutandis, concordar com a condio 212. Discordo da condio 1 porque penso que a exterioridade das mudanas e atividades (tomada por si) no constitui um critrio de comportamento. Desde que algo que o organismo faa no interior do corpo exemplifique os mesmos parmetros daquilo que ele faz exteriormente e que conta como comportamento, no h por que no dizer que se trata de algo que consiste igualmente em comportamento. Sabe-se, por exemplo, que h ocorrncias de reflexos, tanto incondicionados como condicionados, que se do de tal maneira que no podemos contempl-las pela simples observao do exterior do corpo. Esse caso, por exemplo, da secreo de saliva pelo co dada a presena de alimentos (como estmulos incondicionados) ou sons condicionados, dentre vrios outros casos. Ou seja, esses eventos so como aqueles que podemos observar pela contemplao do que se passa no exterior do organismo e que contam como comportamentos. Tomar a internalidade deles como critrio suficiente para exclu-los da extenso do definiendum falha, a meu ver, quanto ao desiderato (b). Podemos negligenciar seu carter de comportamento meramente pelo fato de, em geral, no os vermos, ou s vezes pelo fato de ignorarmos que obedecem aos mesmos princpios causais, o que irrelevante, ontologicamente falando13.

    H uma problema anlogo ao da condio 1 com a condio 3. Pois no se deve excluir fatores internos ao corpo como podendo ser influncias do 12 Isso no significa, no entanto, que concorde com pormenores

    da viso de Millikan sobre as aes como subclasse dos comportamentos. Sobre a perspectiva de Millikan acerca das aes, cf. Millikan (1993b).

    13 possvel que essa ideia envolva uma ligeira reviso conceitual. Caso isso ocorra, trata-se de uma que considero justificada pelo argumento que acabo de oferecer.

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    ambiente relevantes para comportamentos (cf., e.g., Skinner, 1953). Uma condio corporal interna (e.g., dano em algum msculo provocado por uma queda) pode funcionar como um estmulo para alguns comportamentos (e.g., comportamentos que tenham a funo de amenizar o dano).

    (XII) A definio de J. Moore. Segundo J. Moore (2008), comportamento um evento no qual uma relao causal existe entre (A) o funcionamento de um ou mais sistemas neurais ou musculares do organismo responsveis pelo [seu] movimento ou postura (incluindo permanecer imvel); e (B) o ambiente (p. 66)14. O funcionamento dos referidos sistemas pode estar em qualquer ponto ao longo de um contnuo rotulado como central ou perifrico (Moore 2008, p. 66), o que permite aparentemente evitar uma acusao (como aquela contra a definio de Dretske) de que no observamos comumente comportamentos. Outro pormenor importante o de que Moore considera que o ambiente no apenas o que est fora do corpo, mas tambm o que est dentro dele, isto , considera que o ambiente pode corresponder a variveis externas ou internas a ele (Moore 2008, p. 66-67). Por uma relao causal, o autor entende uma relao funcional, no sentido de uma correlao probabilstica que podemos estabelecer entre variveis referentes a (A) e a (B). Porm, Moore entende que contam como comportamentos apenas eventos que exibem relaes funcionais entre (A) e (B) de certos tipos, apesar de no estabelecer isso de uma maneira explcita no definiens. O autor toma como relaes funcionais relevantes apenas aquelas que podemos estabelecer conforme regras operacionais que permitem classificar se algo x conta como ocorrncia de um tipo de padro de comportamento (Moore 2008, p. 67-68, p. 81ss). Essas regras so: (1) apresentar possveis estmulos eliciadores, consequncias reforadoras ou punitivas, ou estmulos discriminativos; (2) verificar se processos semelhantes a x ocorrem, ou tendem a ocorrer, com maior ou menor probabilidade depois disso; e, esse sendo o caso, (3) determinar se esses processos ocorrem efetivamente em razo das mudanas ambientais efetuadas em (1) ou se por outras mudanas previamente no detectadas (Moore 2008, p. 82). Essas operaes permitiriam determinar 14 Moore utiliza os smbolos (a) e (b), ao invs de (A) e (B).

    Fiz a substituio de (a) e (b) por (A) e (B) porque utilizei os primeiros para designar os desideratos estabelecidos na seo 2.

    se x ocorrncia, por exemplo, de um reflexo, de um padro modal de ao ou de um operante; e, ipso facto, se se trata de um comportamento. Eventos frequentemente considerados apenas sob o ngulo fisiolgico so considerados como comportamentos em determinados casos, a saber, quando se trata de eventos que possuem relaes funcionais relevantes com o ambiente.

    Penso que essa definio, ao ser interpretada em termos estritamente das referidas regras operacionais, no se mostra satisfatria o bastante, porque, nesse caso, falha quanto ao desiderato (a). Considere-se, por exemplo, o evento de uma pessoa cair incidentalmente. Podemos, a princpio, estabelecer uma correlao probabilstica entre presena de determinados objetos no meio e determinadas mudanas no funcionamento de um ou mais sistemas neurais ou musculares do organismo responsveis pelo movimento ou postura envolvidas na queda da pessoa. Inclusive, podemos estabelecer essa correlao em cada membro da espcie humana. Operacionalmente, isso corresponderia ocorrncia de um reflexo. Porm, como j apontei anteriormente, tais mudanas envolvidas na queda no constituem necessariamente um comportamento.

    Entretanto, a definio de Moore admite ser interpretada de uma maneira alternativa e sob a qual ganha plausibilidade. Com efeito, interpretando a anlise funcional como identificao da etiologia do comportamento e sem a imposio de regras ope-racionais muito restritivas, a definio de Moore aproxima-se daquela de Millikan. A etiologia dos comportamentos, para Moore, assim como para Millikan, jaz, em grande parte, em histrias interativas de seleo na filognese ou ontognese ou ambas. As mudanas ocorridas no organismo ao cair, tomadas por si, no contam como comportamento por no possurem uma etiologia relevante. O prprio Moore, no fundo, deseja expressar isso, como transparece ao dizer:

    Uma pessoa A empurra a pessoa B, a qual cai. Quando a pessoa B cai, esse evento um comportamento? [O] movimento da pessoa B no comportamento. A queda no se desenvolve [sic.] ao longo da histria da espcie ou do indivduo . Portanto, o sentido de comportamento relevante aquele de uma interao entre o organismo e o ambiente que pode ter-se desenvolvido filogentico ou ontogeneticamente .... (p. 67-68)

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    Definies de comportamento

    Se a histria ontogentica e filogentica de um comportamento considerada de maneira suficientemente distante, somos capazes de excluir da extenso do definiendum coisas que acontecem ao organismo por inteira fora do ambiente externo imediado, bem como aquelas que correspondem produo de meros resultados incidentais. As mudanas ocorridas no organismo ao cair, tomadas por si prprias, no contam como comportamento porque sua etiologia envolve meramente o ambiente externo imediato, no envolvendo seleo na filognese ou na ontognese. Para tomar outro exemplo, quando um animal, ao forragear, provoca sombras no solo, seu provocar as sombras no conta como comportamentos porque no se trata da produo de uma consequncia reforadora, isto , o que ele est fazendo no razo de ter, em algum momento em sua ontognese, produzido sombras; e tampouco se trata de uma consequncia em razo da qual o que o organismo est fazendo tenha sido selecionado filogeneticamente.

    Outra modificao que considero dever ser feita na definio de Moore de maneira a se tornar plausvel tirar do definiens a meno a tipos especficos de substratos responsveis pelos movimentos e a postura do organismo, posto que do contrrio no engloba comportamentos de seres vivos que no possuem neurnios ou msculos. Mais do que isso, sugiro que no seja feita meno a substratos responsveis por movimentos e postura do organismo. Um critrio que acredito manter as atividades desenvolvimentais e os eventos fisiolgicos que no contam como comportamentos (e.g., desenvolvimento de dentes, escamas, penas e bicos; processes fisiolgicos como o batimento regular do corao, a respirao regular, a transformao dos alimentos no estmago) fora da extenso do conceito (como j salientei antes) o de que os eventos ambientais aos quais Moore se refere com (B) sejam eventos que afetem sensorialmente o organismo, seja em seu exterior (como estmulos exteroceptivos) ou em seu interior (como estmulos proprioceptivos ou interoceptivos).

    Duas definies de comportamento

    Concluo propondo (com apoio em minha argumentao nas sees anteriores) duas definies de comportamento. No afirmo que elas sejam

    inteiramente satisfatrias (elas podem eventualmente ser aprimoradas), mas sugiro que so as mais plausveis em comparao com as outras definies que encontrei na literatura relevante. So formulaes baseadas, respectivamente, nas de Millikan e de Moore. A primeira definio que proponho a seguinte:

    (D.1) Comportamento aquilo que um organismo faz que possui uma ou mais funes (que devem ser entendidas, resumidamente falando, em termos de histrias de seleo filogentica ou ontogentica) e cuja etiologia envolve parcialmente fatores do ambiente presente como estmulos sensoriais.

    A segunda definio que proponho a seguinte:

    (D.2) Comportamento aquilo que um organismo faz cuja etiologia envolve (em parte) processos seletivos na filognese ou na ontognese do organismo e (em parte) fatores do ambiente presente atuando como estmulos sensoriais.

    (D.2) expressa um contedo similar a (D.1), diferindo em no fazer uso explcito do conceito de funo. Antes, (D.2) substitui a terminologia de funes pela de histrias ontogenticas ou filogenticas do organismo, em termos da qual funes so entendidas em (D1).

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