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Felipe Gabrich (da redação) pequi stação NOS TRILHOS Apesar do fracasso da audiência pública realizada em Montes Claros, a ferrovia Belo Horizonte-Candeias/BA, passando por vários municípios do Norte de Minas, inclusive Montes Claros, vai ser implantada. Não deixa de ser um resgate do chamado trem do sertão da Rede Ferroviária Federal, desavada, em 1994, sem quê nem pra quê pelo governo Fernando Henrique dentro de seu programa de priva- zação de empresas públicas. Só que o projeto atual não prevê o retorno do trem de passageiro, privilegiando, como a conces- sionária sucessora da RFF no trecho entre Montes Claros e Monte Azul , a Centro-Atlân- ca, apenas o transporte de carga. Contra- riando o movimento encetado pela ONG Amigos do Trem, a nova estrada de ferro não vai atuar no trecho da anga Central do Brasil entre Montes Claros-Monte Azul e tampouco terá a finalidade de transportar gente. Que neste país, infelizmente, connua sendo tratado como “detalhe”. foto Geraldo Vasconcelos EM FAVOR DA VIDA O número de acidentes, a maioria com vímas fatais, na BR- 251, entre Francisco Sá e Salinas, vem clamando há tempos por providências urgentes. Ainda não se encontrou, por exemplo, solução para a serra da morte, em Francisco Sá, apesar de seguidas promessas do DNIT / Ministério dos Transportes. São dos mais justos os recentes manifestos populares bloqueando a passagem nas estradas do Norte de Minas e reivindicando melhorias, principalmente o asfaltamento, mas é recomendável para não dizer salutar que a opinião pública regional faça seus protestos em favor do referido trecho rodoviário. Afinal de contas, a serra da morte connua matando. Até quando? DO OUTRO LADO DO FATO FATO TRÂNSITO CAÓTICO Que o trânsito de Montes Claros é caóco, todo mundo sabe. Falta a sinalização nas ruas, tanto a convencional quanto a elétrica (semáforos). Mas o que incomoda mesmo é a falta de educação de motoristas de carros, taxistas, motoqueiros e ciclistas. Desrespeito total à fraca sinalização existente e desobediência às mínimas regras dos códigos e normas do setor. Enquanto isso, a famigerada MCtrans, que é responsável pelo trânsito na cidade, finge que introduz novas técnicas e aperfeiçoa o sistema. Bobagem! Na verdade, os fiscais públicos não têm coragem nem de multar os infratores! TUIA

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TUIA 01

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Felipe Gabrich (da redação)

pequistação

NOS TRILHOSApesar do fracasso da audiência pública

realizada em Montes Claros, a ferrovia Belo

Horizonte-Candeias/BA, passando por vários

municípios do Norte de Minas, inclusive Montes

Claros, vai ser implantada. Não deixa de ser um

resgate do chamado trem do sertão da Rede

Ferroviária Federal, desa�vada, em 1994, sem

quê nem pra quê pelo governo Fernando

Henrique dentro de seu programa de priva-

�zação de empresas públicas. Só que o projeto

atual não prevê o retorno do trem de

passageiro, privilegiando, como a conces-

sionária sucessora da RFF no trecho entre

Montes Claros e Monte Azul , a Centro-Atlân-

�ca, apenas o transporte de carga. Contra-

riando o movimento encetado pela ONG

Amigos do Trem, a nova estrada de ferro não vai atuar no trecho da an�ga Central do Brasil entre Montes Claros-Monte

Azul e tampouco terá a finalidade de transportar gente. Que neste país, infelizmente, con�nua sendo tratado como

“detalhe”.

foto Geraldo Vasconcelos

EM FAVOR DA VIDAO número de acidentes, a maioria com ví�mas fatais, na BR-

251, entre Francisco Sá e Salinas, vem clamando há tempos por

providências urgentes. Ainda não se encontrou, por exemplo,

solução para a serra da morte, em Francisco Sá, apesar de

seguidas promessas do DNIT / Ministério dos Transportes. São

dos mais justos os recentes manifestos populares bloqueando

a passagem nas estradas do Norte de Minas e reivindicando

melhorias, pr incipalmente o asfaltamento, mas é

recomendável para não dizer salutar que a opinião pública

regional faça seus protestos em favor do referido trecho

rodoviário. Afinal de contas, a serra da morte con�nua

matando. Até quando?

DO OUTRO LADO DO FATO FATO

TRÂNSITO CAÓTICOQue o trânsito de Montes Claros é caó�co, todo mundo sabe.

Falta a sinalização nas ruas, tanto a convencional quanto a

elétrica (semáforos). Mas o que incomoda mesmo é a falta de

educação de motoristas de carros, taxistas, motoqueiros e

ciclistas. Desrespeito total à fraca sinalização existente e

desobediência às mínimas regras dos códigos e normas do

setor. Enquanto isso, a famigerada MCtrans, que é

responsável pelo trânsito na cidade, finge que introduz novas

técnicas e aperfeiçoa o sistema. Bobagem! Na verdade, os

fiscais públicos não têm coragem nem de multar os

infratores!

TUIA

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FUTEBOL DE LÁGRIMAS O estádio João Rebelo está de fazer dó. Tomado por mato e ervas daninhas, o logradouro, palco de emoções do futebol de Montes Claros, principalmente, através do glorioso Ateneu, está moribundo e reclama por socorro da população. Antes de inves�r fortunas em estádio gigantesco é preciso urgentemente que as autoridades municipais revejam a situação de penúria das grandes associações futebolís�cas da cidade. A lamentável situação a que chegou o campo do glorioso alvinegro do bairro São José está provocando lágrimas. Ou a cidade não tem uma secretaria de esporte?

SAÚDE: DOENÇA TERMINALE a saúde neste País? Os médicos estão nas ruas contra a importação de profissionais para o interior do país. E contra a exigência da prestação de serviços em hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS), por dois anos após a graduação. O fato é que ninguém quer ir para a conchichina. Todo mundo prefere permanecer nas grandes cidades depois de formado. O grande e secular problema da saúde pública no país é que o setor está em pandarecos: não há leitos disponíveis e os hospitais públicos não têm a necessária infraestrutura técnica para funcionamento, pois falta tudo, do simples bisturi ao sofis�cado aparelho de tomografia. Por isso mesmo, o setor, um dos mais importantes da a�vidade da gestão pública, con�nua gravemente enfermo. Isto é, a saúde do país sobrevive ao risco iminente de morrer.

Wilson Medeiros/Gariton Ramos

Rua Santo Antônio, 406 Sala 202 - Todos os Santos - Montes Claros -MG

Projetos Arquitetônicos,

Complementares e Interiores

38 3216-0935

DO OUTRO LADO DO FATO

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RAIMUNDO OSÓRIO * Uma Ví�ma Montes-clarense da Ditadura Militar

Da Redação MUNDO VASTO MUNDO

Raimundo Osório Cardoso, 79 anos, foi uma ví�ma montes-clarense anônima da Ditadura Militar. Em 1971 ele foi preso em Montes Claros pela Polícia Militar, entregue ao DOPS e levado para Belo Horizonte.A acusação? Ele havia escrito um ar�go com o �tulo “Jus�ça Traba-lhista de Montes Claros é cavalo de aluguel”. Publicou-o em forma de panfleto, imprimiu uma parte e solicitou a um menino que os distribuísse no centro da cidade; enquanto imprimia a segunda parte em uma pequena gráfica �pográfica em sua casa. Foi preso pela polícia. “Fui preso por uma equipe coman-dada pelo capitão Aírton, que depois se tornaria comandante do 10º Batalhão da PM e hoje é coronel reformado, fazendeiro em Jura-mento”, disse Cardoso.Ficou preso durante 12 dias, quatro em Montes Claros e oito em Belo Horizonte. “Só não fui torturado porque estava com problemas de saúde, na época, e apresentei ao delegado de polícia de Montes Claros, o Major Miguel Abdo de Araújo, o atestado médico em vigor naqueles dias”, afirma ele. O ar�go, segundo Raimundo, foi escrito como forma de demonstrar a sua indignação contra a ação ten-denciosa da Jus�ça do Trabalho local que não garan�u os direitos tra-balhistas dos ex-funcionários do Gazeta do Norte. O jornal teria sido ex�nto pelo seu dono sem que este cumprisse com as obrigações traba-lhistas. A ex�nção do jornal teria ocorrido em virtude de um editorial cri-�cando o fato de que uma placa que homenageava Darcy Ribeiro havia sido re�rada da Escola Normal (Escola Estadual Professor Plínio Ribeiro) em represália à postura ideológica do homenageado. O editorial teria sido in�tulado “Darcy sem o direito à placa”. “Não vou dar trabalho para comunistas!”,foi a

jus�fica�va do proprietário para acabar com o Gazeta do Norte -referindo-se aos funcionários da empresa. Cardoso era um dos funcionários, trabalhava como chefe da oficina.Preso e processado pela Jus�ça Militar, ele disse que seu processo foi julgado por uma Junta Militar da ID4

em Juiz de Fora, que o absolveu da acusação de “subversão”. Ele afirma que na prisão a sua maior dificuldade era com a alimentação: “A comida era horrível, intragável; muitas vezes eu �ve que pedir para que me comprassem comida fora da prisão. Quem comprava era um velho amigo, de Porteirinha, chamado Ailson Mendes Brito (Dr Binha), que ali cumpria pena e �nha regalias para sair da prisão e comprar coisas para policiais e alguns presos”.De volta da prisão trabalhou em sua casa com uma impressora �po-grafica. Ainda hoje faz panfletos, blocos, cartões, etc. Porém, há alguns anos abandonou a �pografia e agora trabalha com impressão em off set.Em 2006 Raimundo Osório Cardoso

entrou com uma ação junto à Comissão da Anis�a do Ministério da Jus�ça requerendo indenização pela prisão injusta que sofrera e as conseqüências que dela resultaram. Em 2011 teve o julgamento favorável da Comissão de Anis�a que obrigou o Governo do Estado de Minas Gerais a lhe pagar indenização de 30 mil reais e o Governo Federal a pagar 15 mil reais. “A indenização foi uma vitória, mas o valor pago não resolveu o problema; eu havia gastado tudo que �nha custeando advogados, além dos problemas rela�vos ao desconforto e sofrimento meu e da minha família em virtude da minha prisão; são coisas que não há dinheiro que pague; até hoje as lembranças daqueles tempos ainda estão presentes e nos incomodam”, afirma com um certa expressão de amar-gura.Cardoso d iz ter s ido um dos

fundadores do Par�do dos Traba-

lhadores em Montes Claros no início

dos anos 80. Disse que na época em

que foi preso não militava poli�-

camente nem teve essa intenção ao

escrever o ar�go: ”Foi um ato sem

pretensão polí�ca. A intenção era

apenas demonstrar a minha indigna-

ção pelo descaso da Jus�ça do

Trabalho em relação a nossa demis-

são do jornal”, avalia. Disse que conheceu pessoas que foram presas em Montes Claros por serem militantes de esquerda, como Por�rio, Adãozinho e outros; que conheceu também militantes que desapareceram aqui, como é o caso de um sindicalista chamado Dionísio, da construção civil, que “ninguém nunca soube que fim tomou”.Quanto à polí�ca atual ele a vê com descontentamento e com uma certa dose de indiferença: “O PT cresceu e está caindo, está cavando a própria sepultura; não dá pra saber se hoje ele é um par�do de esquerda ou de direita”.

Raimundo Osório recebia comida naprisão comprada pelo Dr. Binha

TUIA

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AMAMS quer Norte e Vale no semiárido brasileiro

O Norte de Minas que é composto de 89 municípios enfrenta outro drama, além da es�agem prolongada que se abate sobre a região: o não reconhecimento de 35 cidades no semiárido brasileiro. Para reajustar esta situação, considerada injusta e que vem provocando sérios prejuízos econômicos e sociais à região, dificultando o acesso dos municípios às várias polí�cas públicas des�nadas ao semiárido brasileiro, a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene - AMAMS vem trabalhando na inclusão de novos municípios do Norte de Minas e do Vale do Jequi�nhonha.Segundo o presidente da en�dade, Carlúcio Mendes Leite, municípios pertencentes ao semiárido brasileiro se apresentam como um elemento fundamental para alavancar o desenvolvimento e pela busca de instrumentos para convivência com a seca nessas duas regiões do Estado.

Internet

Ampliação da área depende do rezoneamento do semiárido, o que é feito com base em caracterís�cas fisiográficas regionais

Os ministros do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, da Integração Nacional, Fernando Bezerra, e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade, são favoráveis ao pedido da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene – Amams, ao pedido da inclusão de 55 municípios das regiões do Norte de Minas e do Vale do Jequi�nhonha no semiárido brasileiro.Caso isso ocorra, deverá garan�r o acesso a recursos e programas emergenciais do combate à seca, incen�vo à atração de inves�mentos e juros menores para os produtores rurais.Eles admi�ram a hipótese em encontro realizado no úl�mo dia 11 de setembro, em Brasília/DF, com prefeitos e deputados representantes da região. Documento com a proposta foi entregue aos ministros pelo presidente da Amams, Carlúcio Mendes Leite, prefeito de Mirabela pelo PSB.

ESTUDOConforme estudos realizados pela EMATER-MG, proposta esta que caracteriza a região mineira do Polígono da Seca dos atuais 165 municípios componentes da Área Mineira da Sudene, apenas 85 integram o rearranjo da região semiárida.Neste sen�do, a Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene – Amams apóia e busca alterna�vas para que todos os municípios componentes da área mineira façam parte do semiárido brasileiro.Esta mobilização vem sendo ar�culada pela Amams em parceria com a Emater-MG e visa o reconhecimento como pertencente à região do semiárido dos 55 municípios mineiros, sendo 35 destes localizados no Norte de Minas e 20 no Vale do Jequi�nhonha.O projeto ganhou o nome de “Ação Con�nuada pelo Reconhecimento dos Municípios da Associação dos Municípios da Área Mineira da Sudene (e do Jequi�nhonha no Semiárido Brasileiro)”.DOCUMENTOA par�r de reuniões foi formalizado documento que foi levado a Brasília, pelos 55 prefeitos que es�veram em caravana na capital federal, e que foi entregue aos ministros da Integração Nacional, Fernando Bezerra; do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Fernando Pimentel, e da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Antônio Andrade, além da presidente da República, Dilma Rousseff.

Divulgação

Encontro em Brasília foi prestigiado

Divulgação

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CENTRO DE CONVIVÊNCIAO professor Expedito José Ferreira da UNIMONTES, diretor do Centro de Convivência com a Seca, está reunindo em um trabalho único, que ganhará um site, toda documentação e estudos sobre a seca na área delimitada de 188 municípios da Secretaria de Desenvolvimento dos Vales do Jequi�nhonha e Mucuri e do Norte de Minas - SEDVAN, e que considera este movimento proposto pela AMAMS e en�dades parceiras como “fantás�co e perfeitamente fac�vel”. Ele ressalta que muitas inicia�vas e projetos para a região encontram sérias dificuldades como: informações dispersas, acesso a pesquisas e disseminação de informações.

MINISTROSPara o ministro Antônio Andrade, esta é uma reinvidicação mais do que justa, porque estes municípios também precisam receber atenção especial, já que também passam por situações climá�cas semelhantes a dos municípios já inclusos no semiárido. A ampliação da área de abrangência depende, entretanto, do rezoneamento do semiárido, o que é feito com base em caracterís�cas fisiográficas regionais. De acordo com o ministro Fernando Bezerra, a úl�ma revisão foi feita em 2005, por meio de decreto presidencial. A próxima está prevista para 2015.Bezerra defendeu a formação de um grupo de trabalho formado por geólogos, meteorologistas, representantes da Sudene, dos municípios e das bancadas parlamentares para analisar a possibilidade de antecipação desse prazo. “A irregularidade dos regimes de chuva, acentuada pelo aquecimento global, pode nos levar a propor a antecipação desse prazo de revisão desde que amparados por estudos técnicos”, disse.

BRASÍLIAPara ir à Brasília, os representantes do Norte de do Vale do Jequi�nhonha mobilizaram a par�cipação das en�dades, deputados mineiros e os municípios interessados para a apresentação da Proposta de Reconhecimento dos Municípios no Semiárido Brasileiro, levando também documentários, projetos e estudos desenvolvidos pela Emater-MG, Unimontes, Ins�tuto Vidas Áreas e outros órgãos do estado sobre a situação dos municípios.

Uma outra agenda neste mesmo sen�do foi desenvolvida também em amparo aos municípios junto ao Governo do Estado propondo polí�cas públicas compensatórias.Os 55 municípios do Norte de Minas e Vale do Jequi�nhonha que aguardam o reconhecimento no semiárido brasileiro são: Bocaiúva, Botumirim, Brasília de Minas, Buri�zeiro, Campo Azul, chapada Gaúcha, Claro dos Poções, Coração de Jesus, Engenheiro Navarro, Francisco Dumont, Glaucilandia, Guaraciama, Ibiai, Icaraí de Minas, Itacambira, Jequitaí, Juramento, Lagoa dos Patos, Lassance, Luislândia, Mirabela, Montes Claros, Olhos D’Água, Pintópolis, Pirapora, Ponto Chique, Riachinho, Santa Fé de Minas, são Francisco, São João da Lagoa, São João do Pacuí, São Romão, Ubaí, Urucuia e Várzea da Palma.JEQUITINHONHA - Angelândia, Aricanduva, Capelinha, Carbonita, Couto de Magalhães de Minas, Datas, Diaman�na, Felício dos Santos, Gouveia, Itamarandiba, Leme do Prado, Minas Nova, Palmópolis, Presidente Kubitschek, Rio do Prado, Santo Antônio do Jacinto, São Gonçalo do Rio Preto, Senador Modes�no Gonçalves, Turmalina e Veredinha.Além dos 55 municípios beneficiários no reconhecimento do Semiárido, 35 do Norte de Minas e 20 do Jequi�nhonha outros ainda par�ciparão da proposta: Riachinho, Serro, Rio Vermelho e Malacacheta..

Geraldo Humberto

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Inves�mentos para Montes Claros

Renato Lopes

Com a interlocução que tem junto ao governo da presidente Dilma Rousseff, o deputado Paulo Guedes vem conseguindo colocar Montes Claros na condição que merece como município polo e um dos mais importantes de Minas Gerais - segundo estado mais rico da federação.A cidade, que completou 156 anos no úl�mo dia 3 de julho, comemorando uma história marcada pelas conquistas, se fortalece na linha de frente do desenvolvimento regional com a liderança forte do parlamentar.“Os desafios da maior cidade do Norte de Minas são muitos, mas é preciso transformá-los em oportunidades e avançar. Com o apoio do Governo Federal, temos conseguido feitos importantes”, diz Guedes. Ele se refere aos inves�mentos nas áreas de saúde, educação, desenvolvimento social, infraestrutura e saneamento.Segundo ele, há mo�vos para comemorar. O deputado cita, por exemplo, a renovação de mais de 90% da frota do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da

macrorregião Norte de Minas. Das 40 novas ambulâncias doadas pelo Ministério da Saúde – inves�mento de quase R$ 5 milhões -, seis foram para Montes Claros, sendo quatro unidades de suporte básico (USB) e duas unidades de suporte avançado (USA).Guedes relata também as conquistas no setor de habitação. Lembra que no bairro Cidade Industrial, 495 famílias receberam novas moradias. “As casas foram construídas por meio do programa Minha Casa, Minha Vida, cujos inves�mentos somam R$ 20 milhões”, frisa.Outra razão de comemoração pela população montes-clarense, segundo Paulo Guedes, é o prolongamento da Avenida Sidney Chaves, que liga o Distrito Industrial à Avenida Deputado Esteves Rodrigues. “A obra, que recebeu inves�mentos de R$ 8 milhões do governo federal, beneficia importantes bairros da cidade, como o Renascença, Edgar Pereira, Amazonas, entre outros”, relata.Para as ações de combate aos efeitos da seca em Montes Claros, conforme Guedes, foram des�nados R$ 90 milhões. Os recursos são para a construção de pequenas barragens, instalação de cisternas, sistemas cole�vos de abastecimento de água e kits de irrigação.A barragem de Congonhas, “reivindicação histórica de toda a região e que irá garan�r o abastecimento de Montes Claros para os próximos 100 anos, está pronta para ser licitada”, frisa o deputado.“É assim, com trabalho e resultado, que Montes Claros vai caminhando a passos largos para se consolidar como líder do processo de desenvolvimento de uma das regiões de maior potencial de Minas”, acredita Paulo Guedes.

Cidade recebe vários recursos do governo federal

Trabalho resulta na melhoria do serviço de urgência em Montes Claros

Casas levam dignidade para centenas de famílias de Montes Claros

DivulgaçãoAssessoria SAMU

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Convivência com a seca

Capitão Enéas abre poços tubulares e fornece tubos para captação de água a moradores e pequenos produtores

A seca cas�ga o município de Capitão Enéas, mas a situação poderia ser pior se não fosse um plano de ação elaborado e colocado em prá�ca pelo prefeito César Emílio para minimizar os efeitos da falta de chuvas. Em setembro, especialmente, esse trabalho foi intensificado, com o obje�vo de reduzir os danos ao homem do campo.“Não podemos ficar de braços cruzados esperando a chuva chegar. Temos que fazer nossa parte, que é buscar recursos para que o nosso povo consiga superar esse

período di�cil, muito comum em nossa região”, disse César Emílio. Uma das medidas adotadas está sendo a capacitação de pequenos agricultores para o enfrentamento da seca, u�lizando as alterna�vas oferecidas pela Prefeitura. O curso foi ministrado em parceria com o Ins�tuo de Desenvolvimento do Norte e Nordeste de Minas Gerais (Idene), Agência de Desenvolvimento da Região Norte de Minas Gerais (Adenor) e Secretaria do Estado de Desenvolvimento dos Vales do Jequi�nhonha e Mucuri e do Norte de Minas (Sedvan).As parcerias nesse sen�do também contam com o apoio do Ministério da Integração Nacional, Secretaria de Desenvolvimento Regional e Ruralminas. Com isso, a cidade foi contemplada com a construção de barreiros - pequenos açudes que armazenam de forma mais eficaz a água da chuva. A inicia�va faz parte do Programa “Água Para Todos”, viabilizado para Capitão Enéas graças às gestões do prefeito junto ao Governo Federal.Cada barreiro tem capacidade para atender cinco famíliasA Secretaria Municipal de Agricultura e o Conselho Municipal de Desenvolvimento Rural Sustentável (CMDRS) já fizeram todo o planejamento e divisão para a construção dos barramentos. As obras se iniciaram no dia

23 de setembro na comunidade Malhada Real. A medida vai melhorar a vida dos agricultores, pois propicia ao homem do campo água de qualidade para consumo e até a produção de alimentos. Os agricultores de oito comunidades rurais (Nova Malhada, Malhada do Meio, Baixada, Malhada Real, Barreiro de Dentro, Sí�o Novo, Mucambo e Barra do Córrego) foram capacitados para uso correto dos barreiros, incluindo a ampliação do plan�o e manutenção das barragens. Além do Água Para Todos, com recursos próprios a Prefeitura atende agricultores de várias regiões do município com a construção e ampliação de barragens. Mário Oliva, de 76 anos agricultor, morador na região do Córrego, é um dos beneficiados. “Desde que moro aqui ninguém olhou pela nossa gente. Nenhum outro prefeito fez nada por nós, estou muito contente por vocês abrirem minha barragem. Agora é só esperar a chuva chegar”, disse emocionado. “Juntos, vamos construir uma cidade cada vez mais de todos, desde o homem do campo até o morador da cidade”, destacou César Emílio..

Curso capacitou agricultores para bom uso da água

acumulada nos barreiros

Barragem sendo ampliada para aumentar a quantidade e

qualidade da água armazenada

Barreiro é mais uma alternativa para enfrentar os efeitos da estiagem

fotos Netto Rodriguez

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Indignado com a votação secreta que manteve o

mandato do deputado Natan Donadon, condenado e

preso por crimes de peculato e formação de quadrilha,

o deputado federal Humberto Souto (PPS-MG)

solicitou ao Supremo Tribunal Federal que mande a

mesa diretora da Câmara dos Deputados abrir o voto

dele favorável à cassação do referido parlamentar de

Rondônia. Para isto, Humberto Souto impetrou no STF um

mandado de segurança, cujo relator é o ministro Marco

Aurélio Mello. ”Sou a favor do voto aberto, votei pela

cassação de Donadon e entendo que é um direito de

todos os brasileiros saberem como cada parlamentar

votou. De forma oficial e que não deixe dúvida”, explica

Souto.No dia 28 de agosto, o plenário da Câmara dos

Deputados votou a Representação 20/2013, que pediu

a cassação do mandato de Donadon por quebra de

decoro parlamentar. Para isto era necessário o mínimo de 257 votos, mas,

apenas 233 votaram sim, a favor da cassação. Outros

131 deputados votaram pela manutenção do mandato

do polí�co preso desde o dia 28 de junho passado e 41

se abs�veram. Humberto Souto pediu a palavra e

declarou seu voto ainda na sessão. Depois, Souto pediu

uma cer�dão de presença e impetrou o mandado de

segurança no STF para que sua posição favorável à

cassação do deputado presidiário seja oficialmente

divulgada pela mesa diretora da Câmara dos

Deputados.

REPERCUSSÃOA manutenção do mandato

de Donadon teve ampla

repercussão nega�va. No

d ia 2 de setembro, o

ministro Luiz Roberto

Barroso suspendeu os

efeitos da decisão da

Câmara até o julgamento

de mandado de segurança

pelo plenário do STF, mas,

não cassou o mandato de Donadon, sob o enten-

dimento de que compete à mesa diretora da Câmara a

declaração de perda automá�ca de mandato do

deputado condenado em regime fechado. Por sua vez,

sob pressão popular, no dia 3 de setembro, a Câmara

dos Deputados aprovou, por unanimidade, a Proposta

de Emenda Cons�tucional (PEC) 349/01, que acaba

com o voto secreto no Legisla�vo, inclusive nas esferas

estaduais e municipais. A proposta seguiu para o

Senado, onde foi aprovada pela Comissão de

Cons�tuição e Jus�ça na quarta-feira (18), mas,

enfrenta resistências e pode não obter o mínimo de 49

votos necessários para sua aprovação em dois turnos.

VOTO ABERTO

Divulgação

STF pode abrir voto secreto favorável à cassação de Donadon

Agência Brasil

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O que deveríamos ser!

Somos uma cidade vocacionada ao desenvolvimento. Não por vontade dos governos mas muito mais por nossa posição

geográfica estratégica, e pelo povo que habita aqui desde o princípio.

Hoje, gozamos da feliz ideia de quem nos posicionou, diz a história, foram as bandeiras paulistas. Mas existem duvidas

pois quando chegaram por aqui já encontraram os povos do norte que cul�vavam as vazantes dos rios Vieiras e Canoas. A

terra das formigas já era habitada por indios botucudos e baianos.

O Rio São Francisco, a nossa primeira grande "estrada", foi o caminho usado pelos baianos para chegar até aqui.

Posteriormente a coroa portuguesa doou à familia de Fernão Dias as terras da região, o que caracterizou o

"descobrimento" pelos paulistas.

O atraso tecnológico brasileiro, por aqui, foi atacado e perseguido desde a metade do século dezenove. Deixamos de ser

uma grande fazenda, região dos currais, frequentada por viajantes, jogadores e raparigas, para sermos esta bela cidade

revolucionária nas letras, com imprensa livre e pungente, universidades, comercialmente autônoma,

agroindustrialmente grande, com indústria exportadora, fru�cultora e estratégica para o País e o mundo.

Não fosse o clima perverso, talvez es�véssemos melhor colocados, mas foi exatamente este clima que forjou o espirito

do povo que habita Montes Claros, povo lúdico e empreendedor.

O que somos é o fruto do trabalho deste povo.

Quando Benedito Valadares editou o primeiro plano de desenvolvimen�sta de Minas Gerais, deixou o Norte fora.

Alegava dificuldades pela distância do litoral e culpava as montanhas para não fazer estradas.

Existe uma grande distância entre o que é esta cidade, que teve suas polí�cas de desenvolvimento traçadas fora do eixo

estado-município. Por isto mesmo ela se distanciou tanto dos prefeitos e governadores.

O desenvolvimento da cidade se deu- e con�nuará acontecendo - sem a ajuda destes atores? É o que nos parece!

O que salta aos olhos e espanta a população é a falta de quadros novos para serem subme�dos ao crivo da eleição de

2016. Tudo que temos ou é requentado ou remendado. O prefeito que entrar não fará nenhuma diferença ao que vai sair.

O povo ficará carente de esperança e na poli�ca este é o principal combus�vel do eleitor.

Os par�dos polí�cos são fechados a membros que têm opinião, e escolhem, cirurgicamente, os seus membros, com a

finalidade de manter as coisas como estão.

A mudança atrapalha as prá�cas corriqueiras de nepo�smo, empreguismo e diversos outros vícios herdados dos currais

coronelistas e dos tempos de chumbo da Revolução de l964.

Devemos reagir e resolver o que queremos ser.

Eu gostaria de algo justo, belo e verdadeiro, algo como as asas das garças que habitam as lagoas do Rio Verde.

VOCAÇÃO AO DESENVOLVIMENTO Flávio Corrêa Machado

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Fábio Marçal

Bebida e violênciaA proposta de redução do horário de funcionamento dos bares e similares como forma de ajudar a combater a violência em Montes Claros, não conseguiu sensibilizar os setores responsáveis pela segurança pública. Eles preferem manter a vigilância policial. E a própria sociedade, ví�ma maior da violência, limita-se a inves�r em instrumentos de defesa, quando deveria também cobrar das auto-ridades, com rigor, ação preven�va mais eficaz. A restrição ao consumo de bebidas a lcoól icas, mediante o encurtamento do horário de fun-cionamento daqueles estabeleci-mentos, seria um dos itens mais importantes.

Internet

Cidade dos BuracosA questão dos buracos nas ruas de

Montes Claros é tão complicada, que se

torna di�cil iden�ficar a paternidade

deles. Aliás, filho feio não tem pai. E, às

vezes, até nem mãe. É o caso! Eles

apenas existem. E proliferam nem

sempre que chuvisca...

Sinônimo de hones�dadeO saudoso advogado João Avelino fez de sua vida simples um instrumento de defesa e busca da jus�ça social.Ele nasceu, cresceu e viveu em seu torrão natal. Foi ligado às raízes e tradições. Seu ideal era a defesa dos mais fracos. Coerência e re�dão o definiram.João Avelino foi presidente do Cassi-miro de Abreu; presidente e um dos fundadores do MDB ; presidente do PT; diretor local da SETAS; foi secretário Municipal de Administração e de Segurança Pública, além de presidente da ESURB. Homem público na acepção do termo, admirado pelos que o conheceram e privaram de seu pro�cuo convívio e, infelizmente, mal com-preendido por alguns segmentos da elite citadina - notadamente a em-presarial e rural. Como advogado, jamais defendia patrões, mas, sempre, a parte mais fraca da relação capital-trabalho – o trabalhador.

Magda Avelino

População acuadaA população de Montes Claros anda assustada mesmo com a ação de mar-ginais de toda sorte. Há bairros na cidade em que as casas foram cercadas de altos muros ou cercas elétricas. O cidadão comum vem sendo assaltado por coisas banais à luz do dia em plena via pública de tráfego razoável de pessoas. Até para se deslocar para a escola, em determinadas áreas, está perigoso para crianças, rapazes e moças. Isso não é um problema apenas de se aumentar o número de policiais pelas ruas da cidade. O que a sociedade está esperando para reagir?a

lma

na

qu

e

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pequistação

Parentes rev ivem agonia em v is i tas ao Pres íd io Reg iona l de Montes C laros

“Não há dor maior para uma mãe do que perder um filho.

A vida acaba!

E foi isto que aconteceu comigo.

Perdi dois dos meus quatro filhos.

Perdi para o crime. Para o tráfico de drogas.

E hoje, o meu calvário é ir todos os finais de semana visitá-los.

Vou não por obrigação, pois mesmo os tendo perdido, tenho a

esperança, muito pequena, de tê-los de volta”.

Gissele Niza

C.R.S., 60 anos

O OUTRO LADO DAS GRADES

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Esta declaração da aposentada C.R.S., 60 anos, foi feita na cozinha do seu pequeno barracão, localizado em um dos becos de um dos maiores aglomerados na área central de Montes Claros. Ela preparava pães, frutas e sucos naturais para levar para seus dois filhos B., 27 anos, e C., 30 anos. Ambos presos por tráfico de drogas no Presídio Regional de Montes Claros. O mais novo está preso pela terceira vez. Além das acusações de tráfico e associação para o tráfico, também pesa sobre ele a suspeita de envolvimento com homicídios. Já o mais velho, está na unidade prisional pela segunda vez. Responde pelos mesmos crimes. Há cerca de um ano e meio, a ro�na da aposentada é a mesma. Passa a semana “juntando” as economias para levar o melhor para os filhos, na esperança de que eles retornem a sociedade e dêem exemplo para seus irmãos de 15 e 18 anos, que a mãe suspeita estar iniciando no crime. Tudo pronto, sigo com a senhora até o ponto de ônibus aonde ela irá ao centro para apanhar outra condução até Bairro Jaraguá II. Ao entrar no ônibus ela observa: “viu como tudo está boni�nho. É feito com muito amor e muito carinho. Quanto chegar às mãos dos meus filhos, estará pior que lavagem. Sei que é praxe olhar tudo para evitar entrar qualquer �po de droga lá. Mas para mim é uma humilhação! Uma pontada no peito a cada corte feito nos alimentos. Mas tenho fé em Deus e não posso desis�r dos meus filhos”, relata a aposentada. Após 50 minutos ela chega ao presídio, onde fica por pelo menos três horas, sob o sol quente, sem banheiro, sem se quer um toco de madeira para descansar as pernas. Esta não é uma ro�na apenas da aposentada. Mas de pelo menos mais 600 mães, esposas e irmãs da maioria dos 920 presos recolhidos atualmente no presídio . Todo final de semana o cenário se repete para estas mulheres que sofrem não apenas por terem seus filhos encarcerados na unidade prisional, não só pelas dificuldades financeiras encontradas no dia a dia para sustentar os demais familiares, na maioria filhos dos detentos. Mas principalmente, pelo constrangimento que passam até chegar ao familiar. Sol quente, o mínimo de três horas em pé, em um local pra�camente deserto onde o que se vê é apenas um emaranhado de telas que cercam nove pavilhões do Presídio Regional de Montes Claros, onde atualmente estão recolhidos 952 presos, quando o suportável seria 592. O relato que segue é da camareira J.A.L., 46 anos, que há seis meses viu seu filho ser preso pela terceira vez por acusações de tráfico de drogas. “É o pior momento da minha vida. Tudo que passo lá fora, para cuidar de meus netos, gêmeos de quatro anos, que estão comigo desde a prisão de meu filho (ele tem 24 anos), é mínimo, diante da vergonha e da dor que sinto ao passar na revista ín�ma. Não sou bandida, sou uma trabalhadora. Entro no serviço às dez da noite. Saio às seis, sete da manhã. E só dá tempo

de passar em casa e pegar o que preparei para levar. Não durmo, sequer cochilo. Fico neste sol, em pé, o que for preciso. Mas me sinto como um lixo ao passar pela revista. Não consigo entender. Jamais esquecerei cada toque. Cada humilhação. Levarei isto para o resto da minha vida”, diz J. A camareira não desiste do filho mesmo diante de todas as adversidades. E é firme ao acrescentar: “ele é inocente! Das outras duas vezes que foi preso por tráfico e por porte de arma, vivi toda esta batalha. Ele estava limpo, queria voltar à vida normal. Um dia, quando estava sentado na porta de casa, a polícia o prendeu novamente. A droga não estava com ele. Estava em um lote vago. Mas como ele já �nha sido preso, trouxeram para cá. Tem seis meses que ele está preso e até hoje não teve nenhuma audiência. Tenho medo. Tenho pena dele. E choro todas as noites ao pensar que pode faltar algo para ele. Hoje sofro calada, mas não abandono meu filho. Sei que ele, desta vez, é inocente. Hoje, vim aqui trazer um rádio para ele ouvir música. Para passar o tempo. E lembrar que eu estarei aqui novamente”.

O OUTRO LADO DAS GRADES

J.A.L 46 anos - Jamais esquecerei cada toque. Cada humilhação

952 presos estão recolhidos no Presídio, quando o suportável seriam 592

fotos TUIA

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Para o chefe da equipe de assistência social do Presídio,

Leonardo Ribeiro Silva, este sen�mento da camareira é

comum. A maioria das mães, esposas e irmãos que vão ao

presídio para visitas, acreditam na inocência dos filhos.

“Elas sofrem, às vezes, quando vem aqui pela primeira vez.

Chegam às vezes, em estado de choque. E sempre tem a

esperança de seus filhos serem adolescentes”, relata Silva. Leonardo trabalha no presídio regional há três anos com

uma equipe que conta com mais cinco assistentes sociais.

Entre as diversas tarefas que tem diariamente a principal é

o trabalho de reaproximação dos presos com seus

familiares. Muitos deles não recebem visitas. A maioria,

por ser de outras cidades, e o deslocamento ser mais

di�cil. Outros, por não desejarem ver suas mães e esposas

passando pelo constrangimento da revista. “O trabalho com os presos de outras cidades é mais

complexo, no que diz respeito à família, pois, existe a

distância e os custos financeiros, que tornam inviáveis tais

visitas”. Há outros casos, em que os próprios detentos

pedem as famílias para não visitá-los, pois sabem das

regras do sistema prisional na revista in�ma. E não

desejam que as mães e esposas passem por estes

constrangimentos. E há ainda aqueles presos que não

recebem mais visitas da família. Eles relatam que a família

desis�u dele. “Já sofreram demais com meus problemas,

me abandonaram”, dizem. Tem também aqueles presos que, já carregam uma

trajetória criminal desde a sua adolescência. E a família

acostumou com o fato dele estar ali. “É aquele sair e voltar

para o crime e, consequentemente, voltar para a

unidade”, frisa o assistente social. Após ser preso, o detento só tem contato com a família

depois de 15 dias. Devidamente cadastrados, os familiares

tem um dia de visita. As esposas, um dia de visita in�ma,

pré-agendada. Silva pontua que nos anos dedicados a ressocialização dos

detentos, o que ainda choca é presenciar os presos com

histórico evolu�vo no crime. Para eles estar no sistema

prisional é normal. “Ele entra, sai e volta. Acaba levando

esta vida naturalmente. E até para a família parece

comum. A pessoa não tem mais aquele impacto. Como ser

humano, quando vim trabalhar no sistema prisional desci

ao pavilhão para atender na própria cela. No primeiro

momento �ve um choque, eu quanto pessoa, deparar

com outras pessoas que necessitam estar encarceradas.

Foi uma situação muito ruim”, finaliza. Ter um irmão preso, trabalhar com barraquinhas em festas

em cidades vizinhas nos finais de semana tornam a vida da

autônoma J.F.C. 31 anos, ainda mais árdua. Isto porque as

visitas no presídio são apenas durante um dia, no final de

semana, no sábado, ou Domingo. Ela tem outras irmãs, mas nenhuma delas vai ao encontro

do preso de 30 anos. A mãe mora em São Paulo e tão pouco tem condições de vê-lo. “Temos mais irmãos, mas a

única que vem sou eu. E quando posso. Nos finais de semana tenho que lutar pelo ganha pão da família. Já

solicitei a jus�ça para que eu possa visitá-lo durante a

semana, mas não consegui. No final de semana que venho

vê-lo, perco meu ganha pão, porque, mesmo chegando

cedo, passo horas na fila esperando para entrar. Lá dentro,

a gente fica isolado, perde a noção do tempo, e quando

saímos o dia já acabou”, relata J. O diretor geral do Presídio Regional de Montes Claros,

Wanderson Fabiano de Souza, reconhece as dificuldades

enfrentadas pelos familiares dos presos em dia de visita.

Ele afirma que, quanto às revistas, a unidade segue as

regras do sistema prisional que tem como obje�vo evitar

que objetos ilícitos cheguem aos detentos. Já quanto à falta de estrutura para que os familiares

aguardem a entrada na unidade ele diz que “tem projeto

junto à prefeitura para a construção de um ponto de apoio

à família. Mas isto depende de recursos. Em curto prazo, já

conseguimos banheiros químicos, que serão instalados

para minimizar este problema”. Souza ainda deixa um

conselho aos familiares: “o trabalho da família é muito

importante na recuperação do preso.

Alguns presos se acostumam e fazem do presídio uma extensão do seu lar, diz Silva

Lá dentro, perdemos a noção do tempo - J.F.C

O OUTRO LADO DAS GRADES

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Souza: trabalho da família é importante

A família tem que ter esta consciência, tem que chegar e acompanhar seu filho durante todo este tempo que ele esta preso. Aconselhar e estar junto. Se a família distancia, fica pior. Até a convivência do preso que tem visitas freqüentes melhores. A família tem que ter aquele lado posi�vo, que é aquele de incen�var, de dizer a ele para sair daquele mundo do crime que vive. Tem que dar bons exemplos”, finaliza o diretor.

Faixa etária: 18 a 25 anos

Crimes: Tráfico de drogas e crimes contra o

patrimônio

Visitas: Mães, esposas e irmãs

Situação familiar: a maioria não tem pai

declarado ou os pais são separados

Pais: a figura paterna está ausente na maioria

da vida dos presos. Poucos são os pais que vão

à unidade prisional. Uns por vergonha, outros

por não aceitar a condição dos filhos.

* 90% dos presos estão ali por crimes ligados

direto ou indiretamente com o tráfico de drogas

PERFIL DOS PRESOS:

Quando o amor de mãe já não é mais incondicional

Há uma máxima de que amor de mãe é incondicional. E esta máxima é reconhecida pelos profissionais que trabalham no Presídio de Montes Claros. Porém, segundo o assistente social Leonardo Silva, há casos, que não são raros em que as mães, cansadas da vida pregressa no crime, desistem de visitá-los. A reportagem de TUIA foi ao encontro de uma destas mães. E o relato a seguir, é mais do que apenas cansaço das idas e vindas da unidade prisional. É um desabafo de quem não agüenta mais sofrer. Dona Maria (*) fez o trajeto entre o Centro de Internação de Adolescentes Nossa Senhora Aparecida e o Presídio Regional de Montes Claros por cinco anos. Desde a adolescência do filho, que hoje tem 22 anos. Há poucos meses ela tomou uma decisão. Não irá mais cumprir com seu 'dever' e sim orar a Deus, para que a sua luta acabe.“Lutei por anos para ver meus filhos crescerem, estudarem, formarem uma família e serem alguém na vida. Mas para meu desgosto, não �ve sorte com nenhum. Minha moça hoje namora com traficante e meu filho, meu amado filho, a única coisa que sobrou de um amor insano, vivido há muitos anos, a minha jóia rara, meu pequeno, hoje se transformou em um demônio. Sei que muitos irão me julgar, mas não desejo para o meu pior inimigo, se é que os tenho ter um filho bandido. Isto mesmo, meu filho é bandido! Nem mesmo meu amor, todos os esforços que não medi para tentar trazê-lo ao caminho do bem foram suficientes para livrá-lo deste mundo. Hoje, todos os dias ao dormir rogo a Deus que o leve logo, antes que ele saia da cadeia e �re a vida de outras pessoas e destrua outras famílias como a minha foi destruída”.“Os problemas começaram logo que o pai faleceu. Com as dificuldades financeiras �vemos que mudar para um bairro mais simples, mas onde o terreno é nosso, não pagamos aluguel. As companhias mudaram. Dos coleguinhas de colégio que pensavam em ser bombeiros, médicos, e até mesmo policiais, isto mesmo, meu Júnior queria ser policial, passou a andar com meninos que passavam o dia na porta da rua, que não se importavam com estudos, que brigavam com as mães, falavam mal as irmãs e achavam bonito andar sem camisa, com o peito estufado e fingindo ser superior aos outros. Não demorou, o meu Junior também passou a chegar em casa tarde, com voz al�va e arrogante. Não mais respondia aos meus ques�onamentos com aquele temor por ser sua mãe. O tempo passou e num fim de tarde me pego cercada por policiais na porta de casa. Era lá que supostamente estavam guardadas drogas e armas de um conhecido traficante da cidade. Neste momento meu mundo caiu. Foi di�cil acreditar, mas naquele momento �ve a certeza de ter perdido meu filho. Mas o coração de mãe não desiste.

(*) Nome fictício

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Mesmo estrangulado de dor, queria meu filho de volta. Meu filho que quando pequeno falava que seria policial para me proteger de todo mal. Mas eu não pude protegê-lo do mal do mundo. Meses se passaram e ele estava de volta. De volta aos meus braços? Não! De volta aos braços do crime. E quase considerado um herói por não ter entregado a gangue que ele protegeu naquele final de tarde. Ao invés de voltar para o seio da família, ele foi abraçado pelo crime. Esta foi a segunda vez em que percebi que ou eu tomava uma decisão drás�ca - ou meu des�no seria passar noites em claro esperando meu filho chegar. Ou simplesmente esperar uma no�cia que aquela época achava a pior do mundo: sua morte”.“Os anos foram passando e seu envolvimento com o crime foi crescendo cada dia mais. Ele ficou maior, agora seu des�no seria o Presídio Regional. Não esqueço nunca minha primeira visita. A mulher que até então nunca �nha ficado totalmente nua, nem em frente ao seu amado, se vê tocada por pessoas desconhecidas. A mulher que se preparou para ser mãe de doutor está ali, após quatros horas escaldantes no sol, sem banheiro, sem água, sem um local para se sentar, a poucos metros do seu filho amado, que declararia não estar arrependido e que retornaria para o crime. Após quatro anos tentando trazê-lo de volta ao mundo civilizado, desis�. E o pior: penso que o melhor seria que ele fosse aos braços do pai”. “Hoje, rogo a Deus todos os dias para que Ele leve meu filho para junto de Ti. Sei que na cadeia ele não poderá ficar para o resto da vida. Tenho a certeza de que, aqui fora ele destruiria outras vidas e suas famílias. Então o melhor seria o repouso eterno. Assim eu teria um pouco de paz”, finalizou a mãe do jovem traficante, pedindo para encerrar a conversa.

Preso há um ano e um mês por tenta�va de assalto, E. de 34 anos, é natural de Várzea da Palma, onde cometeu o crime. Após ser condenado ele agora se converteu ao evangelho e só pensa em retornar à família. “Foi um abalo terrível. Eu já vinha dando trabalho por causa da bebida. Bebia demais e logo entrei nas drogas. Ai, foi o fim! Um dia tava bêbado demais... Eu não peguei nada, mas como já dava trabalho a culpa veio para mim. Prenderam-me, fui condenado e aprendi muito aqui. Hoje vivo para servir o Senhor. Tem gente aqui que fala

que era feliz e não sabia. Eu falo, que hoje eu sou feliz. Espero o perdão de minha mãe, de minha esposa que perdi por causa das drogas e peço que a sociedade não me julgue. Assim como diz a Bíblia 'não julgueis para não ser julgado'.

Daqui um mês, o carreteiro, L. de 32 anos, sairá da cadeia. Condenado por tráfico de drogas ele chegou ao presídio regional de Montes Claros com 129 kg. Hoje pesa 79 kg. L. diz que a perda de peso foi devido aos dois anos e quatro meses de lágrimas e sofrimento por ter sido preso injustamente. Seu pensamento: abraçar sua mãe, sua esposa, seus dois filhos e voltar a trabalhar e mostrar a sociedade que ele não é bandido. L. conta que trabalhava há três anos em uma empresa, de carteira assinada. Naquele dia, estava de férias. Era um domingo. Recebeu uma ligação da empresa solicitando que buscasse um caminhão em São Paulo. Foi. E ao voltar, foi parado em uma rodovia próximo a Montes Claros. Foi preso ali, com 20 kg de maconha que estavam no caminhão, e ele diz não saber. “Naquele momento �ve a certeza que minha vida acabou. Nunca �nha visto droga na minha vida. O próprio policial falou: a casa caiu. Minha mãe sofre até hoje. Minha mãe acabou, minha esposa acabou. Isso destruiu minha família. Elas nunca deixaram de vir me visitar, e é por elas e para dar uma sa�sfação a sociedade que vou sair de cabeça erguida. Pronto para voltar a trabalhar”, afirma L.

E.: Vou sair de cabeça erguida

L.: Voltar a trabalhar

Presídio de Montes Claros

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HistóriaFábio Marçal, o fotógrafo oficial da

municipalidade ao tempo em que

Mário Ribeiro era prefeito, está com

um livro com inúmeras fotografias do

alcaide acompanhado de Darcy

Ribeiro e outras pessoas, num verda-

deiro estudo fotográfico dos dois

irmãos. Alguns amigos dos dois, entre os quais

o advogado Genival Tourinho e o

jornalista Reinine Canela se mani-

festam sobre o estudo que tem como

�tulo “Dois Irmãos”O livro está pronto, mas falta marcar a

data do lançamento.

Prêmio à organizaçãoQuando uma promoção é bem

organizada, o sucesso é garan�do.

Assim estão se gabando os realiza-

dores da Expomontes que, em sua

trigésima nova edição, realizada em

julho, superou todas as expecta�vas.

Foram dias de muitas atrações ar-

�s�cas e bons negócios para os par-

�cipantes. Cerca de 260 mil pessoas

passaram pelo Parque de Exposições

João Alencar Athayde.

Divulgação

Wilson Medeiros

Márcio em profundidadeMárcio Antunes sempre foi apai-

xonado por imagens. Primeiro, na

infância, fazia desenhos simples e

pueris. Mais tarde, beirando e cres-

cendo nas redações dos jornais,

captava as imagens através de uma

máquina fotográfica possante. Agora,

aparece autodidata como sempre,

expressando seu interior através de

pinturas maiúsculas em todos os

sen�dos. Um ar�sta o tempo todo. Os

trabalhos de Márcio Antunes são

indica�vo de boa arte, de bela vida,

como frisa o jornalista Benedito Said.alm

an

aq

ue

Tempo de filaEsperar mais de 20 minutos na fila de supermercados pode estar com os dias contados em Minas Gerais. Isso, se o projeto de lei (PL) 3.248/12, que trata do tempo de atendimento nesses estabelecimentos, for aprovado na Assembléia Legisla�va de Minas Gerais. Para o autor, o deputado Arlen San�ago (PTB), é tempo razoável de atendimento ao usuário no setor de caixas até dez minutos em dias normais e no máximo 20 do dia 30 de cada mês até o dia 10 do mês seguinte. Arlen diz que as sanções para infração con-templam multa e suspensão da a�vidade.

Gazeta

Wilson Medeiros

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SEM POLÍTICAS PÚBLICAS EFICIENTES, PROTETORES, HOSPEDEIROS E DEFENSORES LUTAM COMO PODEM PELOS ANIMAIS

Claudia Cólen Quem ama cuida

Montes Claros tem quase 400 mil habitantes. É possível falar que pra�camente todos já se depararam com cães, gatos, cavalos e bois vagando pelas ruas da cidade. Equinos e bovinos, embora nem sempre escapem dos maus tratos, pelo menos têm dono. Mas assim como as ma�lhas de cães que passeiam famintas, até mesmo em áreas próximas ao centro, cavalos e bois pastam pelos jardins e terrenos alheios, caminham lentos pelas vias públicas. São alvos e causas de acidentes.As Pet Shops “pipocam” pelos quatro cantos da cidade e tudo leva a crer que somos também uma sociedade que adora seus bichos de es�mação, disposta a gastar cada vez mais com eles. E haja coleiras Scalibor e vacinas para proteger os animais domés�cos das molés�as que os “sem dono” ou maltratados andam a disseminar.De quem é a culpa? Dos gestores de saúde pública? Da falta de consciência e preparo dos cidadãos para tomar medidas preven�vas ou exigi-las? Por que há ainda tanta gente insensível ao sofrimento dos

animais?Por um lado absorvemos uma cultura an�quada que ainda faz muita gente apreciar rodeios, vaquejadas, touradas, espetáculos de circo com animais, caçadas por diversão ou por esporte, criar bichos acor-rentados e educá-los através da violência. Por outro, estamos sendo acordados para uma nova percepção de que há necessidade de mais conscien�zação e de ações sustentáveis e é�cas no manejo de animais para consumo e de prá�cas mais humanas na convivência com eles. Pesquisas de marke�ng apontam que nas próximas décadas crescerá s ign ifica�vamente o número de c idadãos vegetar ianos, mi l i tantes da causa animal, preocupados com a procedência dos alimentos e ar�gos que consomem. Além disso, serão mais exigentes com o cumprimento das leis de preservação ambiental. “Primeiro foi necessário civilizar o homem em relação ao próprio homem. Agora é necessário civilizar o homem em relação à natureza e aos animais ”. * Victor Hugo

«Muita gente diz que gosta dos animais, mas na verdade gosta apenas dos seus e não dos abandonados...», diz Américo Mar�ns.

FOTOS TUIA

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Se dependesse do esforço de alguns bravos montes-clarenses, amantes e protetores de animais e suas lutas incessantes para acolher, resgatar e cuidar de cães e gatos abandonados, a “Terra de Figueira” – como refere o cronista Raphael Reys à nossa cidade – seria um celeiro de gente sensível à causa e de animais felizes. Segundo Reys, o lendário TUIA �nha o hábito de conversar com os cavalos de carga em dia de feira, no an�go Mercado Municipal.

O fazendeiro Américo Mar�ns abriga duzentos gatos e cento e noventa cães numa área de 5.000m² no bairro Jaraguá II . Gasta cerca de R$ 3.500,00 por mês só para alimentá-los. Além de manter os animais do sí�o, doou um terreno na mesma região a uma protetora que também resgata animais abandonados. Ele acredita que a Administração Municipal economizaria se oferecesse an�concepcionais aos donos de animais e facilitasse o acesso à castração. Ele próprio distribui an�con-cepcionais aos donos de animais da região. “A injeção an�concepcional custa cerca R$ 4 e tem duração de seis meses. Seria muito mais barato para o Centro de Controle de Zoonoses, do que recolher cães para eutanásia. Evitaria a proliferação de animais nas ruas, a disseminação de doenças e o abandono. Mas isso não dá voto”, diz Américo, que há 21 anos não come nenhum produto de origem animal. “Muita gente diz que gosta dos animais, mas na verdade gosta apenas dos seus e não dos abandonados... Gosto tanto dos bichos como gosto dos seres humanos. Tenho amor por todos os seres vivos. Os cães, principalmente, nos ensinam a lidar com as perdas. São seres que sentem, se emocionam, ajudam os cegos, as equipes de resgate em acidentes naturais como terremotos e, além de demonstrar sabedoria, são úteis na recuperação de doentes”. O amor pela natureza o levou a fazer uma parceria da sua fazenda em Urucuia (Noroeste de Minas) com a prefeitura

local, onde não se derruba árvores, os animais pastam livres e não se destrói sequer um formigueiro. Lá funciona uma escola comunitária, cercada por mata na�va preservada. No sí�o do Jaraguá, reservou uma área para enterrar os animais.Foi no cemitério do sí�o de Américo Mar�ns, que o criador da ONG Amigo do Bicho, Marcelo Barbosa Figueiredo, enterrou um dos seus cães de es�mação. Trabalhando há cinco anos com a ONG, centenas de animais foram salvos pelas ações coordenadas com outras organizações. “Usando o an�go Orkut e o facebook, conseguimos realizar resgates em outros estados e cidades como São Paulo, Embu das Artes/SP, Brasília/DF, Teresina/PI, Manaus/AM. Infelizmente, sofremos algumas perdas. De 15% a 20% dos animais não resistem porque damos preferência a animais doentes, em situações de risco de morrer” conta Marcelo. Em Montes Claros, segundo ele, todos os dias há denúncias de abandono, crueldade e de maus tratos a animais. São casos chocantes como o de um Pinscher queimado com óleo fervente, cuja ferida aberta foi tomada por larvas, causando uma infecção mortal. Há ainda muitos casos de mu�lação ou prá�cas cruéis de zoofilia e outras prá�cas hediondas como queimar filhotes recém-nascidos vivos. Sobre o diálogo e o trabalho junto à Administração Municipal e à Câmara dos Vereadores, Marcelo reconhece o interesse e o respeito de alguns pela causa animal, mas relata, “quando encaminhamos o Projeto de Lei para a Câmara que proibia a instalação em Montes Claros de Circos com animais, o vereador Silveira, atual Presidente da Câmara Municipal, apresentou emenda ao projeto excluindo desta proibição circos com equinos, bovinos, dromedários, ovinos, caprinos e cães adestrados. (Lei Municipal 4.152/2009)”. Muitos manifestantes que saíram às ruas nas recentes manifestações em Montes Claros, reivindicaram polí�cas efe�vas da Administração para combater o abandono, doenças, maus tratos e controle de natalidade de cães e gatos na cidade.

“Os animais são seres sencientes. E les sentem

fome, frio, medo e solidão * Marcelo B. Figueiredo

do do

“Os animais nos ensinam a l idar com nossas perdas”* Américo Mar�ns

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Para a nutricionista Anne Almeida, colaboradora, até 2012, da en�dade Apelo Canino, “a maior dificuldade é que na maioria das vezes a administração pública não entende o problema, encara-o como secundário e não tem interesse em procurar uma solução. Os protetores por sua vez não entendem a complexidade administra�va e a polí�ca da prefeitura. Há pouca ar�culação conjunta para falar diretamente com o chefe do execu�vo e acabam rotulando a administração pública como vilã”. Budista e vegana, Anne par�cipou em junho de uma audiência pública para tratar do problema que considera imediato, que são as esterilizações gratuitas de animais domés�cos e resgatados. Havia outros projetos que previam a criação de 16 postos veterinários municipais, “mas no contexto polí�co atual e por uma questão técnica, o único projeto possível de ser implantado é o da parceria com a Faculdade de Veterinária da Funorte”, ressalta. Com uma dose de realismo, ela defende que os protetores verdadeiramente comprome�dos com a causa devem abraçar qualquer projeto que o prefeito decida implementar, desde de que dê resultado. “A cidade está com muitos animais errantes, muitos filhotes estão nascendo nas ruas e sendo abandonados. Os protetores estão sobrecarregados e muitos se sen�ndo impotentes diante do desafio”. E se a saída é também a conscien�zação das pessoas, as redes sociais estão sendo ferramentas poderosas. “O Facebook é bom demais. Não apenas para agrupar os defensores (e protetores) de animais. Está unindo pessoas para os protestos. Excelente canal. Não é o suficiente

ainda, mas tem sido de grande ajuda”, comemora a escritora e membro da Academia Feminina de Letras de M. Claros, Virgínia Abreu de Paula. Filha do médico e historiador Hermes de Paula – com quem diz ter aprendido a amar e respeitar os bichos - ela se lembra de quando mudou para a Chacrinha (residência campestre da família), da vaca Cravina com seu bezerrinho, do cavalo Brinquedo, o casal de pavões, o cachorro Buque e a cadela Chimbica e seus filhotes Veludo e Vesúvio. Mais tarde, outro, o Fritz, a gata Mar�nha... “No meu livro “Chacrinha – 50 anos”- falo muito sobre todos os animais que moraram aqui e os que ainda moram conosco. Meu pai se importava com o bem estar deles. Quando ganhou um sofrê engaiolado nos revelou ser contra pássaros presos. Aceitou porque aquele não saberia mais viver solto. E quando ganhou um tucano logo procurou um local onde pudesse viver melhor com mais espaço. Gostava de declamar, não oficialmente, o Pássaro Ca�vo, de Olavo Bilac. Como médico laboratorista teve de usar animais em testes, o que o deixava muito aborrecido. Até deixou de fazer os testes por causa disso. Minha mãe o ajudou a tomar essa decisão para salvar os sapos. A propósito, ele adorava sapos.”

Tínhamos um cururu no jardim. Devo ter h e r d a d o d e l e a i n d i g n a ç ã o a o v e r crueldade”. Hoje ela tem um cachorro e muitos gatos (não sabe quantos são) e re-conhece que a “lota-ção está esgotada”. Militante a�va e divul-gadora do trabalho de várias en�dades que trabalham contra a crueldade e exploração dos animais, Virgínia tem esperança de que a s n o va s ge ra çõ e s consigam fazer o que a dela não conseguiu. “No entanto, eu penso que temos ainda muito a fazer antes que os mais jovens entrem em ação. Educação é a palavra”. Defende que é preciso promover a guarda responsável de animais domés�cos e os programas de conscien�zação nas escolas. “Se faltar real interesse dos órgãos governamentais, temos o Facebook,

“ O despertar da consciência exige sen�mentos c o m o c o m p a i x ã o e s o l i d a r i e d a d e q u e s ã o essencialmente espirituais” .* Anne Almeida

“ É maravilhoso ver tantos jovens se interessando pela causa dos animais. Mas tem que ser um movimento que defenda todos animais e não apenas cachorros e gatos". Virgínia A. de Paula

Quem ama cuida