TREINAMENTO EM SIMULADOR DIRECIONADO AOS FATORES …

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA RICARDO ADARILLO DOS SANTOS TREINAMENTO EM SIMULADOR DIRECIONADO AOS FATORES HUMANOS Palhoça 2017

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

RICARDO ADARILLO DOS SANTOS

TREINAMENTO EM SIMULADOR DIRECIONADO AOS FATORES HUMANOS

Palhoça

2017

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RICARDO ADARILLO DOS SANTOS

TREINAMENTO EM SIMULADOR DIRECIONADO AOS FATORES HUMANOS

Monografia apresentada ao Curso de gra-duação em Ciências Aeronáuticas, da U-niversidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel.

Orientador: Prof. Helio Luis Camões de Abreu, Esp.

Palhoça

2017

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RICARDO ADARILLO DOS SANTOS

TREINAMENTO EM SIMULADOR DIRECIONADO AOS FATORES HUMANOS

Esta monografia foi julgada adequada à obtenção do título de Bacharel em Ciên-cias Aeronáuticas e aprovada em sua forma final pelo Curso de Ciências Aero-náuticas, da Universidade do Sul de San-ta Catarina.

Palhoça, 04 de Novembro de 2017

__________________________________________ Orientador: Prof. Helio Luis Camões de Abreu, Esp.

__________________________________________ Prof. Cléo Marcus Garcia, MSC

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Dedico este trabalho à minha família, e a todos que acreditam na importância do Fator Humano para a Segurança de

Voo.

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RESUMO

O presente trabalho teve como tema o estudo do treinamento em simulador direcio-

nado aos Fatores Humano. Assim sendo, o objetivo geral da pesquisa foi apresentar

as principais características do LOFT – Line Oriented Flight Training e sua importân-

cia como ferramenta para a prevenção da ocorrência de acidentes e incidentes ae-

ronáuticos. Objetiva-se também identificar os pontos importantes na elaboração des-

te treinamento para a construção de uma cultura de segurança, além de expor a ex-

periência de diversos órgãos na implantação do LOFT, reconhecendo sua contribui-

ção na formação do piloto de linha aérea. Caracteriza-se como uma pesquisa explo-

ratória com procedimento bibliográfico na coleta de dados através do levantamento

teórico de pesquisas realizadas por outros autores. A abordagem utilizada foi quali-

tativa pois a análise dos dados permite identificar que todos os operadores que rea-

lizam esse treinamento de forma eficiente atestam sua efetividade no aumento da

segurança de voo. Ao finalizar a pesquisa, conclui-se que com a correta elaboração

e utilização do treinamento LOFT temos como resultado aviadores devidamente trei-

nados para um gerenciamento mais eficiente dos recursos de cabine, além de pre-

pará-los para lidar com o erro de forma mais assertiva mitigando seus riscos e con-

sequências.

Palavras-chave: Fatores Humanos. LOFT. Acidentes Aeronáuticos. Treinamento.

Gerenciamento. Segurança de Voo.

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ABSTRACT

The present work had as its theme the study of the training in flight simulator device,

directed to the Human Factors. Therefore, the general objective of the research was

to present the main characteristics of LOFT - Line Oriented Flight Training and its

importance as a tool to prevent the occurrence of aeronautical accidents and inci-

dents. It also aims to identify the important points in the elaboration of this training for

the construction of a safety culture, besides exposing the experience of several or-

gans in the implementation of the LOFT, recognizing its contribution in the formation

of the airline pilot. It is characterized as an exploratory research with a bibliographic

procedure in the data collection through the theoretical survey of researches pre-

formed by other authors. The approach used was qualitative because the analysis of

the data allows to identify that all operators that carry out this training efficiently attest

their effectiveness in increasing flight safety. At the end of the research, we conclude

that with the correct elaboration and use of LOFT training we have as a result well

trained aviators for a more efficient management of cabin resources, as well as pre-

paring them to handle the error more assertively by mitigating their risks and conse-

quences.

Keywords: Human Factors. LOFT. Aeronautical Accidents. Training. Management.

Flight safety.

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LISTA DE SIGLAS

CAA CRM DAC ETOPS FAA FOQA ICAO LOE LOFT MEL NASA RBAC RVSM SOP SPOT USAF

Civil Aviation Authority Crew Resource Management Departamento de Aviação Civíl Extended Twin Engine Operations Federal Aviation Authority Flight Operational Quality Assurance International Civil Aviation Organization Line Operational Evaluation Line Oriented Flight Training Minimum Equipment List National Aeronautics and Space Administration Regulamento Brasileiro da Aviação Civil Reduced Vertical Separation Minima Standard Operational Procedures Special Purpose Operational Training United States Air Force

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.... ...................................................................................................9

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA .............................................................................10

1.2 OBJETIVOS ......................................................................................................10

1.2.1 Objetivo geral ...............................................................................................10

1.2.3 Objetivos específicos ...................................................................................10

1.3 JUSTIFICATIVA ................................................................................................11

1.4 METODOLOGIA ...............................................................................................12

1.4.1 Natureza e tipo de pesquisa ........................................................................12

1.4.2 Materiais e métodos .....................................................................................12

1.4.3 Procedimento de coleta de dados ..............................................................12

1.4.4 Procedimento de análise de dados.............................................................12

1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO .....................................................................13

2 REFERENCIAL TEÓRICO ...................................................................................14

2.1 LINE ORIENTED FLIGH TRAINING (LOFT) .....................................................14

2.2 DESENVOLVIMENTO DO CENÁRIO ...............................................................15

2.2.1 Cenário ..........................................................................................................15

2.2.2 Realismo .......................................................................................................16

2.2.3 Comunicação aberta ....................................................................................16

2.2.4 Nível de dificuldade ......................................................................................16

2.2.5. Briefing e debriefing....................................................................................17

2.3 CARACTERISTICAS DO TREINAMENTO LOFT .............................................17

2.4 PERFORMANCE E FEEDBACK .......................................................................18

2.4.1. Instrutor LOFT .............................................................................................19

2.4.2 Debriefing e feedback ..................................................................................19

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................21

REFERÊNCIAS .......................................................................................................24

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1 INTRODUÇÃO

Já é sabido, dentro da comunidade aeronáutica que a maior causa dos

acidentes aéreos refere-se aos Fatores Humanos. Fato comprovado em números de

acordo com a “World Aircraft Accident Summary 2015 mostra que aproximadamente

70% dos acidentes aéreos ocorrem devido a ações ou omissões por parte do ser

humano. Com o intuito de reduzir o número de acidentes relacionados à ação do

homem, diversas ferramentas foram criadas para mitigar essas ocorrências. O “Crew

Resource Management (CRM)”, criado a partir de um estudo realizado na década de

1980 em uma parceria entre a “National Aeronautics and Space Administration NA-

SA”, “USAF, United States Airforce” e “Federal Aviation Authority FAA”, (Cooper,

White, & Lauber, 1980), mostrou que diversos acidentes ocorridos até então tinham

como causa principal o erro de julgamento por parte da tripulação técnica (pilotos),

além de expor a necessidade de um treinamento direcionado ao gerenciamento do

voo.

O treinamento teórico de CRM é essencial, porém, para que seja real-

mente efetivo na construção de uma cultura de segurança é necessário que este

seja aplicado associado a outros treinamentos de forma sistemática.

Diversas ferramentas como o “Line Oriented Flight Training LOFT”, “Line

Operational Evaluation LOE”, “Special Purpose Operational Training SPOT”, entre

outras, podem ser consideradas como um aprimoramento do CRM e são, juntamen-

te com outras iniciativas de órgãos governamentais e não governamentais, nacionais

e internacionais, responsáveis pela redução ano a ano no número de fatalidades

ocorridas nos acidentes aéreos, tendo como foco os fatores humanos.

O treinamento LOFT, realizado em simulador, tem como objetivo simular

um voo em tempo real, replicando a operação realizada no dia a dia pela companhia

aérea, incluindo situações anormais onde habilidades de liderança, gerenciamento,

comunicação, trabalho em equipe, entre outras deverão ser utilizadas para que se

complete o voo de forma segura.

Diferentes cenários são criados para que os tripulantes aprendam a ge-

renciar a operação de rotina, bem como, situações anormais e condições de emer-

gência. Dentro dessa simulação o piloto tem a oportunidade de colocar em pratica

os elementos aprendidos no CRM.

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Elevar a desempenho da tripulação através da pratica de habilidades téc-

nicas e não técnicas (CRM) é o objetivo principal do LOFT, e por consequência, pre-

venir à ocorrência de incidentes e acidentes durantes as operações aéreas.

O conceito de LOFT iniciou-se em 1989, a partir da circular ICAO 217

AN/132 ´Human Factors Digest No.2.

O LOE é uma avaliação das operações da linha aérea, sendo sua função

principal avaliar a proficiência técnica individual e a utilização das habilidades de

CRM apropriadas de acordo com o cenário proposto.

Já o SPOT, é uma ferramenta mais direcionada, utilizada sempre que

uma performance coordenada da tripulação é requerida. Nesse treinamento podem

ser abordadas fases especificas do voo como, por exemplo, operação ETOPS,

RVSM e LOW Visibility, operações com baixa visibilidade.

Este trabalho se propõe a apresentar os pontos principais do LOFT e re-

forçar a importância desse treinamento, bem como, servir como fonte de informação

devido a pouca quantidade de literatura em língua portuguesa sobre o tema.

1.1 PROBLEMA DE PESQUISA

Quais as principais características do treinamento Line Oriented Flight

Training direcionado para o Fator Humano dentro do cockpit?

1.2 OBJETIVOS

1.2.1 Objetivo geral

Demonstrar a importância do treinamento LOFT, e apresentar os pontos

importantes a serem considerados na criação de um cenário para treinamento.

1.2.3 Objetivos específicos

a) apresentar as bases necessárias para o desenvolvimento eficiente

desse tipo de treinamento

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b) demonstrar os benefícios deste tipo de treinamento para o aumento da

segurança nas operações aéreas;

c) listar os tipos de treinamento de CRM atualmente utilizados na aviação,

direcionados a operação no cockpit;

1.3 JUSTIFICATIVA

Segurança de voo é o maior objetivo da International Civil Aviation Orga-

nization ICAO. Progressos contínuos são realizados na busca de uma maior segu-

rança na aviação, ainda assim os fatores humanos são responsáveis pela maioria

dos acidentes.

O treinamento de CRM nada mais é do que a aplicação de conceitos de

gerenciamento moderno, tanto na cabine de pilotagem como em outras atividades

operativas e administrativas que interferem no voo. (DAC IAC 060-1002, 2005, p.2).

LOFT é reconhecido como um meio altamente efetivo de desenvolver e

praticar o CRM. Devido ao papel do CRM em questões relacionadas às causas de

acidentes aéreos, ficou evidente a necessidade de desenvolver um treinamento que

vise desenvolver a proficiência do piloto tanto na parte técnica quanto em habilida-

des de CRM. (FAA ADVISORY CIRCULAR 120-35D, 2015, p.4).

Dessa forma, este estudo tem por objetivo reforçar a importância desse

treinamento, bem como, apresentar pontos importantes na criação de cenários para

que o LOFT seja realmente efetivo na criação de uma cultura de segurança opera-

cional.

Cabe salientar que este estudo serve de base para aprofundar o conhe-

cimento dos aviadores acerca dos procedimentos utilizados para o treinamento de

fatores humanos utilizando a ferramenta o simulador de voo e também para a pes-

quisa em Ciências Aeronáuticas, podendo servir como referencia para futuros estu-

dos no meio aeronáutico.

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1.4 METODOLOGIA

1.4.1 Natureza e tipo de pesquisa

A pesquisa apresenta um caráter exploratório pois, segundo Oliveira

(2014) é definida pelo objetivo de reunir informações sobre um determinado assunto,

ou seja, trata-se de um tema onde o pesquisador deseja se aprofundar teoricamen-

te.

1.4.2 Materiais e métodos

O desenvolvimento deste trabalho foi realizado baseando-se em livros, artigos e

outras pesquisas anteriormente realizadas por diferentes autores.

1.4.3 Procedimento de coleta de dados

O procedimento foi o bibliográfico, pois diversos órgãos reguladores de

aviação internacionais como, por exemplo, o FAA, CAA e CASA, possuem instru-

mentos que servem de guia para que operadores aéreos possam elaborar e validar

seu treinamento LOFT evidenciando a importância desta ferramenta para o treina-

mento dos pilotos em seus respectivos países.

1.4.4 Procedimento de análise de dados

A abordagem da pesquisa foi quantitativa por se basear nos conhecimen-

tos adquiridos por diferentes órgãos responsáveis pela aviação civil no mundo que,

realizam estudos aprofundados e emitem normas e regulamentos a fim de incentivar

e regulamentar os treinamentos direcionados aos fatores humanos na aviação.

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1.5 ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO

A primeira parte do trabalho apresenta a introdução, seu objetivo é levar o

leitor a ter uma visão geral do tema a ser discutido. Este capítulo divide-se em pro-

blema de pesquisa, objetivos, justificativa e metodologia.

O Referencial Teórico, segunda parte do trabalho, propõe-se a esmiuçar o

tema principal “LOFT”, esclarecendo a importância desta ferramenta para o treina-

mento dos pilotos, a forma de criação de cenários para que se obtenham resultados

efetivos, além de suas características principais.

Sobre seu Desenvolvimento aprestam-se os motivos para a escolha deste

tema, bem como a necessidade de se preencher uma lacuna, devido a pouca quan-

tidade de artigos sobre o tema em língua portuguesa, além de seu objetivo principal,

a construção de uma cultura de segurança no meio aéreo.

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2 REFERENCIAL TEÓRICO

2.1 LINE ORIENTED FLIGH TRAINING (LOFT)

Segundo o CAP 720 CAA (2002) o LOFT pode ter um impacto significati-

vo na segurança das operações aéreas, através de um treinamento especifico e va-

lidação de procedimentos operacionais. LOFT apresenta cenários da operação diá-

ria de uma empresa aérea, com dificuldades razoáveis e realistas, com a introdução

de situações de emergência para prover treinamento e avaliação das técnicas de

gerenciamento dos pilotos.

LOFT refere-se a um treinamento da tripulação técnica que envolve a si-

mulação de uma missão completa com situações as quais representam a operação

de rotina com especial ênfase a situações que envolvam comunicação, gerencia-

mento e liderança. CAP 720 CAA (2002)

De acordo com esse mesmo documento emitido pela autoridade aeronáu-

tica inglesa, CAA Civil Aviation Authority o LOFT não deve ser utilizado como méto-

do de avaliação da performance individual de cada piloto. Deve sim servir como for-

ma de validar os programas operacionais e de treinamento aplicados pela compan-

hia aérea.

É muito importante que a seção de simulador LOFT não seja interrompi-

da, exceto em situações extremas. Reposicionar a aeronave em determinado ponto

do voo ou repetir a manobra realizada é totalmente inconsistente com o que preco-

niza o LOFT que busca que busca criar um ambiente o mais próximo possível da

realidade.

É de vital importância a criação de um ambiente de realidade no voo simu-

lado.

O maior benefício do uso desta ferramenta é a avaliação feita por parte do

próprio aviador. Quando estes se mostram capazes de interpretar os resultados da

missão sejam eles positivos ou negativos.

Diversas fontes de informação podem ser utilizadas para a criação de um

cenário que visa o treinamento em fatores humanos.

A criação e desenvolvimento do cenário de um programa LOFT exigem

uma atenção com relação às necessidades especificas da companhia.

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Dados obtidos através do “Flight Operational Quality Assurance FOQA”,

Flight Safety Report (relatórios relativos à segurança de voo), além das recomenda-

ções de segurança emitidas pelos órgãos oficiais de aviação, se mostram como fon-

tes importantes para a elaboração desses cenários.

O treinamento LOFT deve traduzir as necessidades da empresa, pois

permite o gerenciamento das ameaças internas da seguinte forma.

a) testar e validar novos procedimentos antes que estes sejam introduzi-

dos na operação da empresa aérea;

b) identificar pontos específicos no treinamento de pilotos que precisam

ser revisados em prol da segurança;

c) trabalhar e corrigir erros cometidos de forma recorrente por parte dos

pilotos

O LOFT não deve ser utilizado como um método de avaliação individual

do piloto, porem, da mesma forma que o aviador recebe um feedback sobre seu de-

sempenho técnico, é necessário que tenhamos um referencial para quando as habi-

lidades tidas como ‘não técnicas’ são testadas.

2.2 DESENVOLVIMENTO DO CENÁRIO

2.2.1 Cenário

O cenário deve se mostrar como um bom teste para as habilidades técni-

cas e de CRM da tripulação, especialmente no que se refere à tomada de decisão e

resolução de problemas. Para tanto deve ser desenvolvido simulando problemas e

situações vividas durante o voo devendo ser operacionalmente relevante.

É necessário que haja flexibilidade na apresentação das manobras para

que os resultados desejados quanto ao gerenciamento dos recursos de cabine se-

jam atingidos.

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2.2.2 Realismo

O máximo de realismo deve ser empregado na confecção das manobras.

Tarefas de pré voo, avaliação minuciosa da documentação necessária para a opera-

ção, consulta de manuais, a e a necessidade de uma comunicação efetiva devem

ser introduzidas no cenário.

2.2.3 Comunicação aberta

O cenário deve ser pensado para que um ambiente de comunicação aber-

to dentro da cabine seja praticado. Esta se torna uma ferramenta essencial para en-

corajar o tripulante a prover informações necessárias, no momento adequado, pro-

movendo a participação de todos os membros da tripulação no processo decisórios,

aumentando o nível de assertividade.

2.2.4 Nível de dificuldade

É errado pensar que o LOFT deve possuir inúmeros elementos com o in-

tuito de elevar ao extremo a carga de trabalho da tripulação. Na verdade, esse fator

pode acabar por minar a efetividade do treinamento ao suprimir a realidade ocorrida

nos voos do dia a dia. É necessário que o cenário forneça um desafio adequado pa-

ra que a tripulação possa praticar e desenvolver suas habilidades gerenciais.

Um cenário que permite a tripulação diferentes cursos de ação se mostra

extremamente eficiente no que se refere ao gerenciamento do voo, lembrando que

temos que manter o máximo de realismo e permitir que independentemente da deci-

são tomada pelos pilotos o problema enfrentado possa ser resolvido e a aeronave

possa retornar ao solo com segurança.

Problemas e anormalidades devem ser escolhidos com o intuito de atingir

objetivos específicos. Tanto problemas simples (aqueles que não causam impacto

ao voo desde que identificados e corrigidos), quanto os problemas mais complexos,

(aqueles que devem ser gerenciados durante todo o voo) podem ser utilizados.

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Cenários com múltiplas falhas apresentadas de forma simultânea não de-

vem ser propostos, lembrando que eles podem sim ocorrer como resultado de uma

ação não apropriada por parte da tripulação.

Procedimentos e práticas contidos nos manuais e “Standard Operational

Procedures SOP”, que comumente são esquecidos ou não praticados pela tripula-

ção podem ser adicionados ao cenário.

Itens como interpretação da lista mínima de equipamentos requeridos pa-

ra a realização do voo “Minimum Equipment List MEL”, situações envolvendo passa-

geiros, tripulantes de cabine, análise do peso e balanceamento e abastecimento da

aeronave, condições relacionadas à meteorologia, análise de notificações direciona-

das aos aviadores “Notice to Airman NOTAM, cargas perigosas embarcadas na ae-

ronave, entre outros, são itens a serem incluídos no cenário.

2.2.5. Briefing e debriefing

A efetividade deste treinamento começa com um briefing, instruções bem

executadas por parte do facilitador que vai aplicar a seção, explanando os objetivos

do LOFT.

O debriefing, observações do instrutor após o término do treinamento ser-

vem para examinar a performance demonstrada pela tripulação durante o voo simu-

lado.

Uma ferramenta importante a ser utilizada no debriefing é a gravação em

vídeo de toda a seção para que os pontos observados pelo facilitador sejam expos-

tos aos tripulantes como ferramenta de auto avaliação.

2.3 CARACTERISTICAS DO TREINAMENTO LOFT

Algumas características especificas diferem o LOFT das demais formas

de treinamento em simulador.

a) O LOFT consiste de uma combinação de uma simulação de alta fideli-

dade da operação de uma aeronave agregada a uma simulação de alta fidelidade do

ambiente de linha aérea;

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b) O LOFT envolve uma tripulação completa, cada um dos membros ope-

rando como um indivíduo e como um membro de uma tripulação exatamente como

requerido em uma operação de linha aérea;

c) O LOFT envolve incidentes e ocorrências reais em tempo real. Simi-

larmente, as consequências das decisões e ações tomadas pela tripulação irão refle-

tir e impactar o restante do voo de uma maneira realista;

d) O LOFT é baseado em estudos de caso. Alguns problemas não têm

uma solução simples aceitável, ou seja, lidar com os mesmos é um problema de jul-

gamento. Desta maneira, o LOFT é um treinamento focado no julgamento e proces-

so decisório;

e) O LOFT exige uma efetiva interação e utilização de todos os recursos

disponíveis: hardware, environment, software e liveware, ou seja, todos os recursos

provenientes do modelo SHELL. Um cenário de LOFT exige o exercício de conheci-

mentos acerca do gerenciamento das fontes de informação;

f) O LOFT consiste em treinamento. É uma experiência de aprendizado

no qual os erros irão provavelmente acontecer, não é um voo de cheque.

2.4 PERFORMANCE E FEEDBACK

Conforme citado no CAP 720 CAA (2002), o LOFT é tido como um treina-

mento "no jeopardy" o que significa dizer que não apresenta o conceito de "aprova-

do" ou "reprovado".

A medida que o treinamento é conduzido de forma contínua, sem interrup-

ções, cria-se a oportunidade para que a tripulação aprenda com a experiência e com

os resultados das decisões que foram tomadas.

Ações que produzam resultados indesejados não indicam falha do treina-

mento pois servem como aprendizado com a experiência vivida.

Dentro desse conceito de "no jeopardy", é necessário enfatizar a importân-

cia do papel do instrutor na seção LOFT que difere da responsabilidade do instrutor

de linha.

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2.4.1. Instrutor LOFT

Destacam-se as responsabilidades do instrutor durante o LOFT pois este atua

como um facilitador.

O facilitador deve estar familiarizado com o SOP (Standard Operational

Procedures) adotado pela empresa. Desta forma o instrutor pode perceber e avaliar

de forma adequada as situações ocorridas durante a seção.

Deve ser treinado em CRM permitindo a este observar e criticar as ações

relacionadas aos conceitos de CRM.

O facilitador atua como moderador durante todo o treinamento. Dever ter a

ciência de que não tem o papel de instrutor tradicional nessa seção, estando prepa-

rado para aceitar e gerenciar a condução da missão de acordo com as ações e to-

madas de decisão da tripulação.

Quando atuando como facilitador o instrutor deve permanecer o mais neu-

tro possível, não podendo interceder de forma alguma em nenhuma situação ou o-

corrência.

Tem o dever conduzir as comunicações, tal qual durante a operação diária

fazendo o papel de todos os setores que interagem com o piloto, a citar, manuten-

ção, controle de tráfego aéreo, tripulação de comissários, entre outros.

Quando disponível o facilitador deve lançar mão da opção de gravar toda a

seção, desde a preparação inicial da aeronave até o término do voo simulado. Du-

rante o debriefing esta gravação será revista e os principais itens discutidos com ên-

fase à performance da tripulação no que se refere à utilização do CRM no gerencia-

mento do voo.

2.4.2 Debriefing e feedback

Finalizado o treinamento um debriefing deve ser realizado analisando todos

os aspectos da operação. O NASA Loft Debiefings An Analysis of Instructor Techni-

ques and Crew Participation, (1997) recomenda que o briefing deve ser iniciado com

uma análise feita por parte dos próprios pilotos, seguido dos comentários do instrutor

acerca da missão realizada.

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O debriefing deve ser visto como uma das partes mais importantes da seção

nele o facilitador deve incentivar a autocrítica por parte dos aviadores como forma e

fixar o conhecimento e principalmente o aprendizado com as suas próprias ações.

Deve conter os aspectos positivos e negativos da seção, além da perfor-

mance individual e em grupo dos pilotos, destacando os pontos a serem melhora-

dos.

É importante concertar o debriefing no campo do CRM, ressaltando como

foi o gerenciamento, comunicação e tomada de decisão e como as ferramentas que

o CRM nos fornece foram ou poderiam ter sido utilizadas de maneira mais em busca

de uma operação segura.

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3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os únicos documentos emitidos pela ANAC (Agencia Nacional de Aviação

Civil) que versam sobre o LOFT são a instrução de aviação civil (IAC 060-1002A)

emitida em 14 de abril de 2005 e o RBAC 121 Emenda 03 (Requisitos operacionais:

Operações Domésticas de Bandeira e Suplementares) emitido em 04 de julho de

2014.

Referida IAC e RBAC não explicam como esse treinamento deve ser rea-

lizado, tão pouco seus objetivos e sua importância na criação de cenários que tes-

tem as habilidades dos pilotos no que se refere ao gerenciamento do voo.

O intuito desta pesquisa foi o de trazer à luz a importância deste tipo de

treinamento coletando informações de diversas fontes de renomado conhecimento

em fatores humanos para divulgar os estudos disponíveis e seus resultados servindo

de referencia para a elaboração eficiente do LOFT por parte dos operadores.

O LOFT é o aprendizado por experiência, as quais incluem erros e acer-

tos, por isso é essencial que seja entendido por todos, tripulantes e facilitadores co-

mo uma seção aberta onde todos têm a oportunidade de aprendizado.

Dentro deste contexto, porém, cabe um importante questionamento, co-

mo determinar que o treinamento LOFT alcançou seu objetivo?

Essa pergunta é respondida com a seguinte afirmação: O quanto a tripu-

lação aprende com o LOFT e leva esse conhecimento para a operação em linha de-

pende da efetividade com que foi realizado o debriefing que se segue a seção LOFT

(Helmreich & Foushee, 1993).

Com essa afirmação fica clara a importância do instrutor, neste caso o

facilitador como ferramenta de aplicação e fixação dos conceitos do LOFT.

Percebe-se claramente que todos devem estar devidamente preparados

para a seção de simulador. A tripulação deve estar ciente de que terão suas habili-

dades de gerenciamento testadas e o mais importante, terão a oportunidade de co-

locar em prática o gerenciamento do erro em um ambiente aberto, livre de punições.

Durante o debriefing espera-se que o facilitador encoraje a tripulação a

fazer uma auto avaliação da seção com relação a sua performance. Ao invés da

simples explanação das ações corretas e incorretas realizadas por eles, o instrutor

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deve promover a autocrítica por parte da tripulação.(Butler,1993; Hawkins ,1987;

Smith, 1994).

O intuito dessa auto avaliação é fazer com que esse aviador leve esse concei-

to para operação de linha, tanto os preceitos do CRM como o costume de avaliar

sua própria performance sempre que seu gerenciamento é colocado em prova.

Os conceitos e valores do CRM já estão claramente difundidos no meio aé-

reo, entretanto não esta claro se as tripulações pensam de forma consistente e pra-

ticam o CRM durante a operação em linha.

O LOFT vem então para preencher essa lacuna dando a oportunidade do

treinamento e fixação desses conceitos, sempre na busca pelo aumento nos índices

de segurança na aviação.

O desenvolvimento deste estudo possibilitou uma maior compreensão sobre a

importância do treinamento dedicado ao fator humano em simulador e como este

pode contribuir para o aumento nos níveis de segurança operacional das empresas

de linha aérea.

Ao realizar esta pesquisa verificou-se a necessidade de um conhecimento

mais apurado sobre a criação e aplicação dos cenários a serem executados em usa

seção LOFT, na busca pela correta utilização desta ferramenta e principalmente ob-

tenção de um resultado eficiente na criação e manutenção da cultura de segurança

da organização.

Os documentos utilizados como base para esta pesquisa permitiram observar

nossa carência de literatura sobre o tema, bem como, a necessidade de uma prepa-

ração minuciosa com objetivos claramente definidos para que a seção LOFT tenha

êxito.

A pesquisa realizada permitiu além de apresentar os conceitos básicos do

LOFT como impacto na segurança de voo, criação e desenvolvimento de cenários,

deixou claro que se não a utilizarmos de forma eficiente ela perde seu valor.

O VALOR do LOFT é tamanho que diversas autoridades aeronáuticas no

mundo o colocam como obrigatório para a qualificação do piloto que ingressa na

empresa aérea. Nesse sentido todo operador aéreo deve lançar mão de todos os

recursos disponíveis para que este treinamento seja devidamente estudado e elabo-

rado com vistas a suprir as necessidades de cada empresa aérea na busca dos

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mais elevados níveis de segurança, pois seus resultados não se traduzem apenas

em números, mas sim em números de acidentes e incidentes aéreos evitados.

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REFERÊNCIAS

BRASIL, Departamento de Aviação Civil. Instrução de Aviação Civil 060-1002A: Treinamento em Gerenciamento de Recursos de Equipes (CRM), 2005.

BRASIL, Agência Nacional de Aviação Civil, Regulamento Brasileiro da Aviação Civil, nº 121, Emenda 03, 2010

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