Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

44
1 TRABALHO MONÓTONO E REPETITIVO

Transcript of Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Page 1: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

ÍNDICE

1

TRABALHO

MONÓTONO

E

REPETITIVO

Page 2: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

INTRODUÇÃO ..................................................................................... 3

1. TRABALHO REPETITIVO ................................................................ 4

2. TRABALHO MONÓTONO / MONOTONIA NO TRABALHO .... 4

3. CAUSAS DO TRABALHO MONÓTONO ........................................ 5

3.1. FACTORES EXTERNOS .................................................................... 5

3.2. FACTORES INTERNOS ..................................................................... 6

4. EFEITOS PSICOLÓGICOS DO TRABALHO MONÓTONO E

REPETITIVO ........................................................................................6

5. LESÕES PROVOCADAS POR MOVIMENTO REPETITIVO ..... 8

6. IMPACTO NO MUNDO LABORAL/SOCIAL DESTAS LESÕES 8

7. LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER) ......................... 10

8. DOENÇAS QUE PODEM SER DESENCADEADAS OU

AGRAVADAS POR ESFORÇO REPETITIVO ...............................11

9. DESCRIÇÃO DE ALGUMAS DOENÇAS ........................................ 12

10. CLASSIFICAÇÃO DAS LER ............................................................. 17

11. COMO PREVENIR AS LER ............................................................... 20

12. A GINÁSTICA LABORAL ................................................................. 23

CONCLUSÃO ....................................................................................... 29

BIBLIOGRAFIA ................................................................................... 31

INTRODUÇÃO

2

Page 3: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

A noção que certas profissões podem induzir doença, não é recente.

Efectivamente à trezentos anos, em 1700, Bernardino Ramazzini,

considerava que estas em condições adversas, originava doença e

aconselhava períodos de repouso no trabalho, exercício e posturas

correctas, o que três séculos depois é flagrantemente actual.

1. TRABALHO REPETITIVO

3

Page 4: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Sempre que para a realização de qualquer trabalho, seja necessário

recorrer ao mesmo movimento, durante mais de duas horas por dia ou

de uma hora sem interrupção, estamos perante trabalho repetitivo.

Isto acontece em muitas profissões dos mais variados tipos de

actividade. Por exemplo, uma empregada de caixa executa durante a

maior parte do dia a mesma sequência de movimentos: estende a mão

para um produto, segura-o, levanta-o, fá-lo deslizar diante do leitor

óptico e larga-o. Esta sequência de movimentos repete-se para cada

produto.

Os movimentos definem-se repetitivos não apenas quando são

exactamente os mesmos mas também quando são semelhantes e

solicitam mais ou menos do mesmo modo os mesmos músculos e os

mesmos nervos.

Este tipo de trabalho leva a que as pessoas estejam perante situações

de trabalho demasiado uniformes em que existe pouca variedade e que

para agravar a situação muitos deles nem sequer apresentam estímulos

ou então muito poucos.

Todas estas situações levam a que os organismos humanos reagem sob

a forma de monotonia.

2. TRABALHO MONÓTONO/MONOTONIA NO TRABALHO

Monotonia é a forma como o nosso organismo reage perante situações

demasiado uniformes, acaba por ser um estado de actividade psíquica

diminuta. Perante um trabalho monótono e repetitivo, este último

4

Page 5: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

definido no ponto anterior e monótono porque se caracteriza como

sendo pobre em estímulos e com poucas variações de estímulos.

Como exemplo podemos apontar os condutores de longo curso que

após algum tempo de condução, apresentam os primeiros sinais de

fadiga ou monotonia, o que leva a uma diminuição de vigilância e a

uma diminuição da precisão da condução. Isto é acentuado se for

durante a noite e nos auto-estradas.

3. CAUSAS DO TRABALHO MONÓTONO

As causas da monotonia que se encontraram, depois de feitas já várias

análises ao longo de alguns anos, têm por origem quer factores

externos quer factores internos do trabalhador.

3.1. FACTORES EXTERNOS

Em relação aos factores externos podemos apontar algumas condições

que desencadeiam a monotonia, tais como:

- Actividade prolongada repetitiva e simples de executar, sem

possibilidade do espírito se libertar totalmente do trabalho;

- Trabalho de vigilância (inspecção, observação) prolongada com

uma fraca frequência de estímulos, mas com a obrigação de uma

atenção constante.

Podemos ainda apontar alguns factores que aumentam o risco da

monotonia, tais como:

- Curta duração de um ciclo de operação;

- O espaço de trabalho limitado;

5

Page 6: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

- Locais de trabalho na penumbra;

- Locais de trabalho com temperaturas elevadas;

- Locais de trabalho isolados, onde não existe quaisquer contactos

com colegas.

3.2. FACTORES INTERNOS

No entanto ao contrário do que é comum pensar-se não são os factores

externos que conduzem à monotonia, existem também pessoas com

pré-disposições que são também uma das grandes causas dos aspectos

psicológicos da monotonia, tais como:

- O cansaço;

- O trabalho nocturno, quando o trabalhador não se encontra

adaptado a esse turno;

- A falta de motivação;

- Pessoas com capacidades intelectuais para outro tipo de

trabalho;

- Pessoas que têm prazer com a actividade e com o rendimento no

trabalho.

4. EFEITOS PSICOLÓGICOS DO TRABALHO MONÓTONO

E REPETITIVO

As actividades de longa duração que exige manipulação simples mas

repetitivas podem levar ao aparecimento de fenómenos de saturação,

6

Page 7: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

aumento de tensão nervosa (stress), mal estar e até mesmo de rejeição

da actividade que é sentida como desinteressante.

Estes efeitos sentidos acabam por trazer alguns impactos no mundo

laboral, tais como:

- A saturação ; uma pessoa quando se encontra num estado de

saturação (entende-se um estado de excitação e de rejeição da

actividade que provoca a monotonia), apresenta-se como um

estado de “deixar andar” chegando a tratar-se de um estado de

conflito interior, opondo o “dever de trabalhar” e o “desejo de

parar de trabalhar”, devido a este conflito, as pessoas

apresentam uma tensão interna cada vez maior.

- Desmotivação para o trabalho ; pode ser vista como uma

diminuição da satisfação do trabalhador, que se pode considerar

uma etapa anterior à da saturação psicológica.

- Vigilância ; o trabalho monótono e repetitivo leva à diminuição

da vigilância, pois neste tipo de trabalho, não existe ou existem

poucos estímulos a que o trabalhador deve reagir.

Entende-se por vigilância a capacidade de manter, durante muito

tempo um dado nível de atenção.

- Stress ; as pessoas passam muito tempo a trabalhar, a exercer

sempre a mesma função o que pode levar a uma grande tensão

nervosa e quando estão sob esta tensão as pessoas irritam-se

com muita facilidade e por vezes têm comportamentos

conflituosos.

7

Page 8: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

5. LESÕES PROVOCADAS POR MOVIMENTO REPETITIVO

Os movimentos repetitivos podem causar uma série de perturbações

sobretudo nas mãos, pulsos, braços, ombros e pescoço. Em termos

médicos fala-se, por exemplo, de síndroma do túnel corpal,

paratendite, afecção cérvico-braquial, paritendinite, epicondilite. Estas

afecções são designadas geralmente por “LER”. Todas as

perturbações causadas por LER dizem respeito a afecções dos

músculos, tendões, tecidos conjuntivos e ligamentos, incluindo os

nervos correspondentes.

Podemos então dizer que estes são as consequências físicas que se

manifestam lentamente, após meses ou anos de trabalho repetitivo.

Estas afecções atravessam fases diferentes e começam na maior parte

das vezes com uma ligeira dor no momento de executar determinada

actividade, até ao ponto de sentir dores insuportáveis e alguns casos

extremos de perda de funções. Esta perda pode ser temporária ou

permanente.

6. IMPACTO NO MUNDO LABORAL/SOCIAL DESTAS

LESÕES

8

Page 9: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Como é do conhecimento de todos, o impacto das actividades

profissionais na saúde das pessoas tem uma expressão elevadíssima,

mesmo que se não tenha em consideração o facto das estatísticas não

retractarem fielmente a realidade, pecando por defeito.

Se os cerca de 1,1 milhões de indivíduos que, anualmente, morrem

devido a acidentes de trabalho ou doenças profissionais são a face de

um problema de grande magnitude, não é menos verdade que as

lesões constituem um outro flagelo quer para trabalhadores quer para

as empresas.

Embora o problema não seja novo - já Ramazinni, o “pai” da

Medicina de Trabalho, descrevia em pleno século XVII, as doenças

causadas por “movimentos violentos e irregulares e posturas anti-

naturais do corpo” – o que é certo é que o problema tem vindo a

aumentar estendendo-se cada vez a maior número de profissões,

aparentemente imune à progressiva introdução de equipamento

facilitador da actividade humana e com uma expressão económica

assustadora: um estudo americano de 1989 calculava em 8300

dólares/caso a indemnização média por problemas da coluna lombo-

sagrada.

Podem definir-se as perturbações musculo-esqueléticas como “aquelas

lesões ou doenças que afectam os sistemas musculo-esquelético,

nervoso periférico ou neuro-vascular que são ocasionadas ou

agravadas pela exposição ocupacional a riscos ergonómicos”.

Naturalmente, muitas lesões encontradas em muitas actividades

exercidas por não-profissionais tais como o desporto (cotovelo de

9

Page 10: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

tenista ou de golfista), a dança (“hallux-valgus” das bailarinas);

todavia, é a sua relação com o trabalho que as coloca na mira dos

profissionais da saúde ocupacional.

Muito embora este trabalho trate de lesões relacionadas com o

trabalho repetitivo, não é de todo descabido abordar neste ponto as

lesões musculo-esquelécticas uma vez que estão habitualmente

associadas à repetição de determinados gestos, e considerarem-se estas

doenças como “patologia dos gestos repetidos”, e que na sua génese se

pensa estarem traumatismos cuja repercussão no organismo não foi

convenientemente reparada.

Depois de analisar os vários géneros de perturbações musculo-

esqueléticos, tirei por conclusão que a maioria é provocada por gestos

repetidos, pois qualquer gesto individual e esporádico não leva à

doença, e desta forma só terei de excluir situações como as lombagias

agudas ou as entorses.

7. LESÕES POR ESFORÇOS REPETITIVOS (LER)

O termo lesão por esforços repetidos vem da sigla inglesa RSI

(Repetitive Strain Injury) e engloba todas as doenças secundárias a

actividades profissionais que envolvem movimentos ou esforços

repetidos.

As profissões mais afectadas são os operários da indústria alimentar,

os operários das linhas de montagem (aparelhos electrónicos,

automóveis), os empregados de terminais de computadores, os

bancários, os escriturários e outros.

10

Page 11: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Estas lesões são mais frequentes no sexo feminino, com uma

incidência máxima entre os 25 e os 45 anos de idade.

Clinicamente as lesões predominantes ao nível da coluna cervical e

dos membros superiores, traduzem-se por dores, tendinites, fasceites,

ligamentites e lesões musculares.

- As lesões inflamatórias causadas por esforços repetidos já eram

conhecidas desde a antiguidade sob outros nomes, como por

exemplo, na Idade Média, a “Doença dos Escribas”, que nada

mais era do que uma tenossinovite, praticamente desaparecendo

com a invenção da imprensa. Já em 1891, De Quervain

descrevia o “Entorse das Lavadeiras”.

- As LER são doenças progressivas e, em muitos casos ,

irreversíveis. Muitas vezes voltar à mesma função nas mesmas

condições torna-se impossível.

- As LER são de tal forma preocupantes que desde o ano 2000

lhes foi dedicado o último dia do mês de Fevereiro. Desde então

para cá esse dia é considerado Dia Internacional das Lesões por

Esforços Repetitivos. Trata-se de um marco de extrema

relevância, pois pela primeira vez na história uma doença

profissional (LER) passou a ser considerada como questão de

saúde pública mundial.

8. DOENÇAS QUE PODEM SER DESENCADEADAS OU

AGRAVADAS POR ESFORÇO REPETITIVO

• Tenossinovites (inflamação do tecido que reveste os tendões);

11

Page 12: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

• Tendinite ( inflamação dos tendões);

• Miosites (inflamação dos músculos);

• Epicondilite (inflamação das estruturas do cotovelo);

• Bursite (inflamação dos bursos);

• Síndroma Túnel do Carpo ( compressão do nervo mediano ao

nível do punho);

• Síndroma do Canal Guyon;

• Síndroma do Desfiladeiro Torácico;

• Síndroma do Pronadar Redondo.

“Evidentemente qualquer lesão osteoarticular, até mesmo fracturas

(fracturas de stress) podem ser causadas por um esforço exagerado ou

repetitivo e, por este motivo, existe uma enorme variação de possíveis

LER.

Na realidade, as “LER” são apenas um novo nome para velhas

doenças”.

9. DESCRIÇÃO DE ALGUMAS DOENÇAS

a) Síndroma do Túnel do Carpo

É o nome que se dá quando um nervo que possa na região do punho (o

chamado nervo mediano) fica submetido a uma compressão contínua,

pelas estruturas do próprio punho. Muitas vezes relacionado com as

LER.

12

Page 13: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

É muito comum entre mulheres na faixa dos 35 aos 60 anos (em

aproximadamente 2/3 dos casos existir em ambas as mãos), podendo

ocorrer com menor frequência fora dessas faixas etárias, e também

algumas vezes em homens.

Pode ocorrer de modo transitório durante a gestação.

Os sistemas típicos são a dormência e o formigueiro nas mãos,

principalmente nas extremidades dos dedos. Esses sintomas ocorrem

ou pioram durante a noite, fazendo com que as pessoas se levantem

pelo incómodo proporcionado; algumas vezes pode surgir dor em

todo o membro superior. O quadro pode prolongar-se por meses ou até

anos, e tende a ser progressivo. Nos casos mais avançados pode haver

perda de força para segurar objectos com a mão. O diagnóstico do

Síndroma do Túnel do Carpo é baseado nos sintomas característicos e

na comprovação do nervo por um exame chamado

eletroneuromiografia, o qual constata um atraso na condução de

estímulo eléctrico pelo nervo mediano ao nível do punho.

Qual é a causa ?

Na maioria dos casos a compressão sofrida por este nervo nesta região

deve-se a um estreitamento no canal por onde ele passa, uma espécie

de túnel na região dos ossos do carpo (o Túnel do Carpo), muitas

vezes devido a uma inflamação crónica não específica de tendões que

também passam por esse canal, e de ligamentos da região. Em outros

13

Page 14: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

casos com menor frequência podem existir doenças associadas

comprimindo o nervo.

É importante ressaltar que mulheres grávidas podem ter sintomas da

doença ocasionados por edema próprio da gravidez, sendo que na

maioria das vezes os sintomas tendem a melhorar ou desaparecer após

o parto.

Qual é o tratamento ?

O tratamento para os casos de compressão leve pode ser inicialmente

feito através de imobilização. Os remédios, anti-inflamatórios ou

"anti-neuríticos", podem também ser utilizados, podendo trazer alívio

ou até mesmo a remissão dos sintomas em alguns casos.

Quando o tratamento clínico não obtém sucesso, ou naqueles que o

exame eletroneuromiográfico revela compressão mais grave do nervo,

pode ser realizado o tratamento cirúrgico. O objectivo da cirurgia é

abrir o canal por onde passa o nervo, resolvendo o problema

definitivamente na maioria dos casos. Quando o nervo permaneceu

comprimido por muito tempo antes da cirurgia pode haver sequela

definitiva tanto de sensibilidade como motora (atrofia do músculo do

polegar, com falta de força para a oponência do polegar - movimento

de "pinça" dos dedos), por isso não se deve retardar demasiadamente

uma cirurgia caso outras formas de tratamento comprovadamente não

derem resultado.

14

Page 15: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

A cirurgia pode ser facilmente realizada sob anestesia local, em

regime ambulatorial (não existe necessidade de internamento em

Hospital).

o nervo mediano o Túnel do Carpo, e o local da incisão cirúrgica

a abertura do Túnel do Carpo final da cirurgia

15

Page 16: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Observação: figuras com corte transversal ilustrativo ao nível do

punho.

b) Epicondilite

Provocadas por ruptura ou estiramento dos pontos de inserção dos

músculos flexores ou extensores do carpo no cotovelo, ocasionando

processo inflamatório local que atinge tendões, fáscias musculares,

músculos e tecidos sinoviais. No epicôndilo lateral inserem-se

especialmente os músculos extensores, e no epicôndilo medial os

músculos flexores. Na epicondilite medial pode haver

comprometimento do nervo ulnar; na epicondilite lateral pode haver

comprometimento do nervo radial. Em ambos os casos o

acometimento é devido à proximidade dos citados nervos aos

epicôdilos.

c) Síndroma do Canal de Guyon

Equivalente à Síndroma do Túnel do Carpo, porém mais rara,

atingindo o nervo ulnar, na sua passagem através do Canal de Guyon

ou túnel em torno do osso pisiforme.

d) Síndroma do Pronador Redondo

Ocorre pelo compressão do nervo mediano abaixo da prega do

cotovelo. Essa compressão pode acontecer entre os dois ramos

16

Page 17: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

musculares do músculo pronador redondo, ou da fáscia do bíceps, ou

na arcada dos flexores dos dedos.

e) Síndroma do Desfiladeiro Torácico

É devida à compressão do plexo braquial em sua passagem pelo

chamado desfiladeiro torácico, formado pela clavícula, primeira

costela, músculos escalenos anterior e médio e fáscias dessa região,

que determinam um estreito canal, que pode tornar-se ainda mais

exíguo quando encontramos pequenas alterações anatómicas ou outras

alterações decorrentes de traumas locais, vícios de postura e factores

ocupacionais, tais como carregar carga pesada nos ombros ou

trabalhar com a cabeça elevada, ou também de utilização do membro

superior em situação de elevação, perto de 180 graus, quando os

nervos do plexo braquial são comprimidos.

10. CLASSIFICAÇÃO DAS LER

As classificações mais usuais são feitas conforme a evolução e o

prognóstico, classificando a "LER" baseando apenas em sinais e

sintomas. Classificações:

Fase 1 - Apenas queixas mal definidas e subjectivas, melhorando com

repouso.

Fase 2 - Dor regredindo com repouso, apresentando poucos sinais

objectivos.

17

Page 18: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Fase 3 - Exuberância de sinais objectivos, e não desaparecendo com

repouso.

Fase 4 - Estado doloroso intenso com incapacidade funcional (não

necessariamente permanente)

Em 1984, a classificação de Browe, Nolan e Faithfull divide a LER

em estágios:

Estágio 1 - Dor e cansaço nos membros superiores durante o turno de

trabalho, com melhora nos fins de semana, sem alterações no exame

físico e com desempenho normal.

Estágio 2 - Dores recorrentes, sensação de cansaço persistente e

distúrbio do sono, com incapacidade para o trabalho repetitivo.

Estágio 3 - Sensação de dor, fadiga e fraqueza persistentes, mesmo

com repouso. Distúrbios do sono e presença de sinais objectivos ao

exame físico.

Dennet e Fry, em 1988, classificaram a doença, de acordo com a

localização e factores agravantes:

Grau 1 - Dor localizada em uma região, durante a realização da

actividade causadora do síndroma. Sensação de peso e desconforto no

membro afectado. Dor espontânea localizada nos membros superiores

ou cintura escapular, às vezes com pontadas que aparecem em carácter

ocasional durante o tempo de trabalho e não interferem na

produtividade. Não há uma irradiação nítida. Melhora com o repouso.

É em geral leve e fugaz, e os sinais clínicos estão ausentes. A dor

18

Page 19: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

pode-se manifestar durante o exame clínico, quando comprimida a

massa muscular envolvida. Tem bom prognóstico.

Grau 2 - Dor em vários locais durante a realização da actividade

causadora da síndroma. A dor é mais persistente e intensa e aparece

durante o tempo de trabalho de modo intermitente. É tolerável e

permite o desempenho da actividade profissional, mas já com

reconhecida redução da produtividade nos períodos de exacerbação. A

dor torna-se mais localizada e pode estar acompanhada de

formigamento e calor, além de leves distúrbios de sensibilidade. Pode

haver uma irradiação definida. A recuperação é mais demorada

mesmo com o repouso, e a dor pode aparecer, ocasionalmente, quando

fora do trabalho durante outras actividades. Os sinais, de modo geral,

continuam ausentes. Pode ser observado, por vezes, pequena

nodulação acompanhando bainha de tendões envolvidos. A palpação

da massa muscular pode revelar hipertonia e sofrimento. Prognóstico

favorável.

Grau 3 - Dor desencadeada em outras actividades da mão e

sensibilidade das estruturas; pode aparecer dor em repouso ou perda

de função muscular; a dor torna-se mais persistente, é mais forte e tem

irradiação mais definida. O repouso em geral só atenua a intensidade

da dor, nem sempre fazendo-a desaparecer por completo, persistindo o

sofrimento. Há frequentes paroxismos dolorosos mesmo fora do

trabalho, especialmente à noite. É frequente a perda de força muscular

e paralisias. Há sensível queda da produtividade, quando não

impossibilidade de executar a função. Os sinais clínicos estão

presentes, sendo o edema frequente e recorrente; a hipertonia

19

Page 20: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

muscular é constante, as alterações de sensibilidade estão quase

sempre presentes, especialmente nos paroxismos dolorosos e

acompanhadas de manifestações como palidez, hiperemia e sudorese

das mãos. A mobilização ou palpação do grupo muscular acometido

provoca dor forte. Nos quadros com comprometimento neurológico

compressivo a eletromiografia pode estar alterada. Nessa etapa o

retorno à actividade produtiva é problemático.

Grau 4 - Dor presente em qualquer movimento da mão, dor após

actividade com um mínimo de movimento, dor em repouso e à noite,

aumento da sensibilidade, perda de função motora. Dor intensa,

contínua, por vezes insuportável, levando o paciente a intenso

sofrimento. Os movimentos acentuam consideravelmente a dor, que

em geral se estende a todo o membro afectado. Os paroxismos de dor

ocorrem mesmo quando o membro está imobilizado. A perda de força

e a perda de controle dos movimentos se fazem constantes. O edema é

persistente e podem aparecer deformidades, provavelmente por

processos fibróticos, reduzindo também o retorno linfático. As

atrofias, principalmente dos dedos, são comuns. A capacidade de

trabalho é anulada e os actos da vida diária são também altamente

prejudicados. Nesse estágio são comuns as alterações psicológicas

com quadros de depressão, ansiedade e angústia.

11. COMO PREVENIR AS LER

São vários os aspectos da saúde nas pessoas que realizam actividade

ocupacional sedentária. Podemos dizer que a consciencialização e a

20

Page 21: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

compreensão da prevenção, podem ser considerados um dos primeiros

passos para que se estabeleça um processo de modo a enfrentar os

problemas oriundos dessas relações de trabalho.

As LER têm sido, na área da saúde, pauta de discussão e debates

buscando soluções tanto para prevenir, como para tratar as pessoas

que já adquiriram alguma patologia.

Algumas dicas para prevenir as LER:

a) Minimizar a quantidade de movimentos repetitivos

- São de evitar tanto os períodos prolongados de inactividade estática

como os de elevada frequência de movimentos; aconselha-se a

repartição dos movimentos por intervalos mais amplos e a solicitação

dos diversos grupos musculares.

- Diversificação da actividade: a integração de mais tarefas na

actividade diminui a repetitividade e aumenta a variedade dos

movimentos executados, o que pode inclusivamente fazer aumentar a

flexibilidade.

b) Mecanizar

Os meios mecânicos de auxílio substituem o esforço muscular

humano e podem baixar a repetitividade (atenção aos novos riscos:

solicitação estática, segurança,etc.).

c) Automatizar

21

Page 22: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Principalmente quando haja actividades extremamente repetitivas.

d) Organização do trabalho

- Rotação: permitir a rotatividade dos trabalhadores por diversas

tarefas aumenta as alternativas e diminui a repetitividade e a

monotonia e, consequentemente, também a probabilidade de

patologias devidas a esforço excessivo; esta alternância pode trazer

para alguns uma melhor disposição psicológica perante o trabalho em

causa; contudo deve ter-se em conta que:

1. A rotação exige uma formação satisfatória em novas

competências;

2. A rotação enfrenta frequentes resistências:

- Os trabalhadores de outras divisões não querem passar para

a divisão de «risco»;

- O acréscimo do número de tarefas pode aumentar a pressão

psicológica; a rotina dá a alguns trabalhadores uma sensação

de segurança;

- Os responsáveis têm de aceitar uma quebra inicial na

produção.

- Intervalos: para limitar o esforço físico e mental, é mais eficaz fazer

pausas curtas e frequentes do que um ou dois grandes intervalos.

e) Formação; informação

22

Page 23: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

- Os trabalhadores devem ser informados sobre uma correcta

organização e técnica de trabalho. A responsabilidade compete à

entidade empregadora.

- Os novos trabalhadores devem ser formados desde o início na

técnica de trabalho correcta.

f) Exercícios compensatórios

A mobilização regular das articulações e grupos de musculares mais

solicitados na actividade, tem um efeito compensador da sobrecarga

postural, o que tem justificado a adopção pelas empresas de

programas de exercícios compensatórios no local e durante o horário

de trabalho. A realização de exercícios de aquecimento e alongamento

contribui para prevenir as possíveis LER, associados aos trabalhos

repetitivos.

12. A GINÁSTICA LABORAL

É mais uma ferramenta disponível dentro da ergonomia, no sentido de

prevenir doenças ocupacionais, contribuindo para melhorara qualidade

de vida dos trabalhadores. Hoje produzir mais e melhor, sem

desenvolver danos à saúde dos trabalhadores, não se trata de uma

utopia.

Como o próprio nome indica, ginástica laboral, caracteriza-se por uma

actividade desenvolvida no local de trabalho, actuando de forma

preventiva e terapêutica, através de exercícios que vão compensar as

estruturas utilizadas durante a função e activar outras que têm sido

23

Page 24: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

solicitadas. Durante este trabalho o objectivo maior é prevenir as LER.

A grande campeã de afastamentos de trabalhadores das empresas,

desenvolvidos pela fadiga decorrente da tensão e repetitividade dos

movimentos, prejudicando as articulações, músculos, nervos, etc.

Aqui ficam alguns exercícios considerados clássicos, que devem ser

adoptados quando não existe um profissional de saúde dentro da

empresa que nos aconselhe.

- Todos os exercícios devem ser feitos na posição sentada, com os pés

bem apoiados no chão.

- A coluna deve estar afastada do encosto ou espaldar e erecta.

- A duração de cada exercício é de 30 segundos e devem ser repetidos

3 vezes para cada membro.

Exercícios de alongamento

Pescoço - Ficar na posição sentada, sem encostar a coluna, mantendo-a recta. Inclinar a cabeça para o lado, puxando-a com uma das mãos. Manter o outro braço esticado e com a mão em extensão.

24

Page 25: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Ombro - Puxar com uma das mãos o cotovelo até sentir alongar a região posterior do ombro.

Exercícios de alongamento

Extensores de Punho - Manter um dos braços estendidos. Dobrar o punho para baixo com o auxílio da outra mão. Repetir o mesmo com a outra mão.

25

Page 26: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Punho - Flexionar o polegar e segurá-lo com os dedos e realizar um movimento de desvio para baixo.

Exercícios de aquecimento

Relaxe os músculos do pescoço - Incline a cabeça para a esquerda, para a direita, para frente e para trás. Mantenha cada posição por alguns segundos.

Rolagem de Ombro - Com os braços soltos e com as mãos apontadas para baixo, execute um movimento giratório nos ombros para frente, por três vezes, e para trás, por três vezes.

Exercícios de aquecimento

26

Page 27: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Rotação de Antebraço - Levante os braços esticados, com as palmas das mãos voltadas para cima, até a altura dos ombros. Gire os braços lentamente para dentro até que o dorso das mãos fiquem de frente um para o outro. Gire os braços novamente, retornando-os à posição inicial.

Rotação dos punhos - Com os braços rectos e para os lados, gire lentamente as mãos em círculo, trabalhando os punhos.

Exercícios de aquecimento

Alongamento e compressão dos dedos - Com as mãos para frente e as palmas voltadas para baixo, estique os dedos tanto quanto puder, mantenha-os nessa posição por alguns segundos; em seguida feche as mãos com força.

27

Page 28: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

Flexões das pontas dos dedos - Com a mão direita estendida, dedos juntos e palma voltada para baixo, force os dedos contra a palma da mão esquerda, mantenha a posição por alguns segundos e solte-os suavemente. Repita as flexões nos dedos da outra mão e assim por diante.

CONCLUSÃO

Nos países industrializados, cerca de 20% dos trabalhadores

desenvolvem a sua actividade em locais e sectores com exigências

musculares, já que, apesar da redução do número de actividades

convencionadas com grande esforço físico, muitas outras se tornaram

mais estáticas, assimétricas e standartizadas, o que faz com que o

trabalho muscular de toda a natureza esteja ainda muito generalizado.

As estatísticas referem como principais constrangimentos à

manutenção da saúde dos trabalhadores da União Europeia, o elevado

número de acidentes de trabalho, sendo que em 1996, cerca de 6000

foram fatais, e os restantes significaram a perda de 100 a 200 milhões

de dias de trabalho; a baixa qualificação dos trabalhadores em alguns

dos Estados Membros da União Europeia; 30 a 50% dos trabalhadores

28

Page 29: Trabalhos_Monótonos_e_Repetitivos

dos países industrializados com queixas relacionadas com a

sobrecarga mental e stress, associadas a perturbações do sono e

depressões; generalização das actividades monótonas e rotineiras,

relacionadas com o cada vez maior impacto dos problemas músculo-

esqueléticos.

Em pleno século XXI, com uma tendência generalizada de

agravamento dos problemas de saúde do foro mental e músculo-

esquelético, reflexo dos hábitos, comportamentos e estilos de vida

modernos, ainda falamos de necessidade de abordar a segurança e a

higiene, mas deeveríamos referir sobretudo os aspectos relacionados

com a qualidade de vida, a saúde e o bem-estar, com as oportunidades

de crescimento e desenvolvimento profissional e pessoal.

Para podermos virar esta página, temos que investir em prevenção e

em alguns pontos chaves como a consciencialização não só para

empregados, mas principalmente para os empregadores e governo,

pois vale a pena investir na prevenção porque dá retorno.

29