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INSTITUTUM SAPIENTIAE ORDINIS CANONICORUM REGULARIUM

SANCTÆ CRUCIS

CURSUS THEOLOGIAE

Rodrigo Silva Demetrio

A CARTA A DIOGNETO

Patrologia

D. Athanasius Schneider, ORC

Anápolis

2009

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PARTE INTRODUTÓRIA:

1. Indicação bibliográfica de uma das edições criticas do texto original:

PG 2, 1167-1186.

SC 33: A Diognète.

2. Indicação bibliográfica da edição da tradução usada:

A Carta a Diogneto, Tradução pelas monjas beneditinas da Abadia de Santa

Maria de São Paulo, Introdução e notas de Frei Fernando Figueiredo, OFM. Vozes,

Petrópolis, 1984.

3. Breve resumo da vida do autor:

O autor da Carta é desconhecido. O autor se propõe a responder algumas questões

ao pagão Diogneto, personagem desconhecida da história, sobre o cristianismo.

Chegou a se atribuir o escrito a são Justino, considerando-se que Diogneto seria

um título dado ao imperador. Mas o estilo da carta é muito distinto do de Justino.

O escrito data de meados do século II, provavelmente é pouco posterior a 150 d.C.

O autor refere-se a si mesmo como “discípulo dos apóstolos” e “mestre dos gentios”1.

Em relação à data de composição da carta, nada impede que o autor tenha tido contato

com algum dos apóstolos. Mas este termo pode também indicar que o autor transmite

com fidelidade a doutrina dos apóstolos.

Houve um único manuscrito, encontrado em 1436 em Constantinopla, com

diversos escritos apologéticos. A carta a Diogneto era o último de um grupo de cinco

atribuídos a São Justino. Essa cópia acabou sendo levada à Biblioteca municipal de

Estrasburgo, onde foi encontrada em 1843 por Von Otto, o qual a incluiu em sua edição

crítica das obras de são Justino. Duas recensões desse manuscrito foram feitas; porém,

em 1870, a Biblioteca se incendiou após um bombardeamento da artilharia prussiana, e

o manuscrito se perdeu, juntamente com vários outros documentos.

1 A CARTA A DIOGNETO, XI.

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PARTE ANALÍTICA

1. Exposição do conteúdo e da estrutura do texto:

I. Motivo da carta

O autor explica que o motivo da carta é responder a Diogneto em seu desejo de

conhecer melhor os cristãos e o modo como eles cultuam a Deus.

II. Porque os cristãos não adoram os ídolos

Os ídolos são feitos de matéria corruptível, como ouro, prata, ferro ou argila, e

podem ser roubados ou se corromper, e nada diferem dos utensílios humanos. Eles não

possuem vida.

Na verdade, os pagãos desprezam seus deuses pelo modo como os cultua: é uma

zombaria adorá-los oferecendo-lhes honras, sacrifícios e odores que os homens não

aceitariam de bom grado.

III. Os judeus também pensam ter Deus necessidade desses sacrifícios

Os cristãos não cultuam Deus igual aos judeus. Os judeus estão mais certos que

os pagãos porque cultuam o Deus verdadeiro, mas fazem isso de modo errado: Deus não

tem necessidade de sacrifícios, pois é o Criador de todas as coisas e não carece de nada,

e não necessita de sacrifícios de sangue e odores.

IV. Culto inadequado

Os cristãos não aceitam as prescrições judaicas acerca de alimentos, sábados,

jejuns, circuncisão e outras superstições.

Deus criou todas as coisas como boas, e não convém se abster de algumas delas

por vaidade. É insensatez não fazer o bem por ser dia de sábado, a circuncisão como

sinal de eleição ou acomodar as disposições de Deus às inclinações próprias e às

estações do tempo.

V. Vida dos cristãos

Os cristãos não se distinguem dos demais homens por nenhum aspecto exterior,

mas consideram a vida passageira e buscam a vida eterna.

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Várias antíteses são usadas para mostrar a realidade dos cristãos em contraste

com a vida dos pagãos. São odiados e perseguidos, mas amam a todos, e os que os

perseguem não sabem o motivo do ódio.

VI. A alma no corpo, os cristãos no mundo

“O que é a alma no corpo, são no mundo os cristãos” 2.

Os cristãos encontram-se no mundo como alma, mas este mundo é sua morada

passageira. Eles foram postos no mundo em um posto muito mais elevado em relação

aos outros homens.

VII. Deus enviou o próprio Filho ao mundo

Deus enviou seu próprio Verbo aos homens, para habitar em seus corações. O

Verbo é o criador e artífice de todas as coisas, e a quem todos os seres inanimados

obedecem.

O Filho veio ao mundo como Deus, Salvador e não-violento.

Mas Ele ainda virá mais uma vez para julgar o mundo. E essa vinda já se

manifesta na perseverança dos cristãos, entre as perseguições e as dificuldades.

VIII. Miséria do gênero humano, antes da vinda do Verbo.

Nenhuma das criaturas é Deus. Nenhum homem o conheceu verdadeiramente,

mas foi Ele mesmo quem se revelou.

Ele se manifestou através da fé, pela qual se pode ver a Deus, e se fez amigo dos

homens. Ele não foi descuidado de nós enquanto preparava o seu plano de salvação, o

qual apenas o Filho conhecia. Ele o revelou através de seu Filho, conforme sua

disposição.

IX. O Filho tardou a fim de que os homens se reconhecessem indignos da vida

Deus deixou os homens entregues ao pecado, não porque fosse de seu agrado,

mas para que se convencessem pelas próprias obras que eram indignos de viver, e que

pela bondade divina se tornassem dignos.

Deus entregou seu Filho em resgate de nós e para justificar nossos pecados.

2 A CARTA A DIOGNETO, VI,1.

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X. Os bens que Diogneto obterá com a fé

É necessário conhecer a Deus, o seu amor ao ponto de enviar seu Unigênito

pelos homens. Aqueles que o conhecem, serão repletos de alegria e de amor a Deus, e

imitarão sua bondade.

A felicidade verdadeira não esta em ser superior aos outros, mas em servir. Os

que aderem à fé cristã conhecem a verdadeira vida no céu e a admirarão os que padecem

nessa vida pela eternidade.

XI. Importância da doutrina do Verbo encarnado

O autor afirma que transmite o que lhe foi confiado pelos que se fizeram

“discípulos da verdade” e se declara “discípulo dos apóstolos” e “mestre dos gentios” 3.

O Verbo ensinou aos seus discípulos, enquanto os homens o desprezavam, e foi

anunciado por eles às nações. O homem que é amigo de Deus deve procurar saber com

maior exatidão o que Ele falou aos seus discípulos.

Ele é eterno, e se faz recém-nascido no coração dos santos, e é Ele quem

enriquece e sustenta a Igreja.

XII. A verdadeira ciência, na Igreja, pela vida unida à caridade

A ciência verdadeira não mata, mas sim a desobediência. A vida é inseparável da

ciência, e a ciência deve se fundar na verdade.

A ciência deve ser acompanhada do conhecimento verdadeiro, que se obtém da

caridade.

2. Temas principais e secundários:

Principais:

A finalidade específica do autor é apologética, ou seja, defender o Cristianismo

perante a religião pagã. De modo bastante original, apresenta a Diogneto a fé cristã em

três pontos principais, dentro dos quais desenvolve vários outros:

1. O culto cristão: o culto dos cristãos é o culto verdadeiro, apesar de

permanecer oculto aos pagãos. A Deus não se deve adorar por meio de ritos puramente

3 A CARTA A DIOGNETO, XI, 1.

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exteriores, mas o verdadeiro culto é espiritual. O autor não fala diretamente da Santa

Missa, pois o seu destinatário é um pagão e não convinha falar sobre o mistério

eucarístico a ele. Mas há referência à Santa Missa como o culto a Deus que permanece

invisível 4.

2. Os cristãos no mundo: os cristãos não diferem dos outros homens em nenhum

aspecto exterior específico, mas pelo seu comportamento moral e pela prática da

caridade. Apesar de perseguidos e odiados, retribuem com amor.

3. O Filho de Deus: o Filho, o Verbo, claramente participa da mesma natureza

divina do Pai. Ele desceu ao mundo por amor aos homens, e habita no coração daqueles

que o aceitam. Ele nos justificou através de sua vinda, e é somente através dele que

podemos alcançar esta justificação.

Secundários:

O autor apresenta algumas ideias, sem, contudo, aprofundá-las.

1. Deus é distinto do mundo. Ao contrário do que pensam os pagãos, Deus é

uma realidade distinta de qualquer outra perceptível neste mundo. Ele ultrapassa esse

mundo; o mundo é corruptível e mortal, mas Deus é incorruptível, imortal e criador de

todas as coisas. Apesar de não desenvolver o conceito de transcendência, o autor da

carta apresenta a Diogneto que Deus não pode ser alguma coisa criada, mas diferente

delas; além disso, Ele é uma pessoa, à qual não podemos oferecer um culto a que uma

pessoa rejeitaria; mas o seu culto é espiritual.

2. O homem pode imitar Deus. Ao criar o homem, Deus fê-lo à sua imagem e

semelhança. Através do amor, da bondade e do serviço ao próximo o homem se torna

imitador de seu Criador.

3. A felicidade está em servir e em amar. Ao contrário do pensamento corrente

na época, a verdadeira felicidade e alegria estão em servir o próximo. Zelar pelos mais

desfavorecidos, praticar a caridade é imitar a Deus: é assim que o homem é feliz5.

4. A ciência é uma realidade que leva a Deus. Deus é o Criador de duas árvores:

da ciência e da vida. Uma está ligada à outra de tal maneira que é impossível existir uma

sem a outra.

4 Cf. A CARTA A DIOGNETO, VI, 4. 5 Cf. A CARTA A DIOGNETO, X.

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3. Expressões e conceitos significativos e freqüentes:

Cristãos: o autor se afirma cristão, isto é, seguidor de Cristo. Sofre injúrias e

perseguições em seu nome, mas se comporta igual a Jesus: perdoa e ama àqueles que os

persegue, desprezando a própria morte. O cristão é o imitador do próprio Deus.

Imitar: o homem é imagem de Deus, e deve imitá-lo. Essa imitação se dá através

da bondade e da caridade, em “fazer-se um deus para os que o recebem” 6.

Alma: tratada amplamente no capítulo VI, é apresentada em oposição ao corpo.

É de uma substância diferente do corpo, pois é espiritual, não provém do corpo,

encontra-se em cada membro, é invisível, ama a carne que a odeia, é imortal.

Ciência: é inseparável da vida, e deve estar a serviço desta e vice-versa. É

regulada pela verdade e pela caridade. Aquele que a possui sem a caridade corre o

grande risco de “inchar-se” (isto é, ensoberbecer-se). É essencial para a fé a “ciência do

Pai” 7.

Vida: apresentada junto com a ciência, o autor apresenta o cenário do capítulo

segundo do livro do Gênesis, onde aparecem as árvores da vida e da ciência do bem e

do mal. Os cristãos desprezam a vida terrena: há duas vidas, e eles buscam a vida

verdadeira. Os cristãos a alcançam com a morte 8. A vida é a própria Palavra, o Logos9.

Amor: é um dos conceitos usados mais amplamente pelo autor. É a atitude

própria dos cristãos perante aqueles que os perseguem e procuram matar; é também o

motivo pelo qual Deus criou todas as coisas. E, se Deus amou-nos, devemos nós

também amá-lo. É pelo amor que os cristãos podem imitar a Deus e é por ele que se

edificam na verdade e na ciência.

6 Cf. Ibidem, X, 5. 7 Ibidem, X, 1. 8 Cf. A CARTA A DIOGNETO, V, 12. 9 Cf. Ibidem, XII, 7.

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PARTE SINTÉTICA:

1. O ensinamento que o autor queria transmitir:

O autor da carta a Diogneto pretendia transmitir a um pagão uma visão mais

clara e específica sobre os cristãos, seu estranho modo de vida, vista por um pagão, o

motivo de se distinguirem dos judeus e pagãos.

Os cristãos não se ligam ao culto dos falsos deuses pagãos, visto serem obras da

mão humana; e não partilham das superstições e cultos exteriores judaicos.

O cristão está inserido no mundo pagão, não como ameaça a este, mas como

princípio de verdadeira vida na sociedade, como a alma está no corpo; mas o mundo

pagão não os aceita, pois seus ensinamentos são contrários à mentalidade da época.

Apesar disso, o cristão ama quem os persegue, a exemplo do próprio Deus, de

quem é imagem e semelhança. Busca ser imitador de Deus através do amor.

O próprio Filho, que é Deus de mesma natureza do Pai, inclusive chamado de

Criador, se fez homem para habitar nos corações humanos. Por meio desta vinda, Ele se

revelou aos homens, os quais são incapazes de conhecer a Deus por si mesmo.

Mas o autor não quer somente defender a fé perante um pagão. Ele também quer

oferecer-lhe acesso a essa doutrina que ele expõe.

2. O conceito específico que o texto faz do ponto de vista doutrinário ou

moral ou disciplinar no conjunto da tradição católica:

Talvez o conceito mais importante que a carta traga seja o de amor: o cristão

deve amar, mesmo a quem os persegue. Ele é chamado a imitar Cristo, o qual amou até

mesmo aqueles que O matavam. Apesar das dificuldades e perseguições no mundo, ele

não deve desanimar, mas imitar Deus.

A realidade de imitar Deus só é possível porque Deus se fez homem, e portanto,

tornou-se um modelo acessível ao homem.

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3. Importância e atualidade da Carta a Diogneto:

A atualidade da carta é indiscutível, especialmente dentro do contexto da

sociedade atual. O autor apresenta uma definição de cristão como alguém inserido no

mundo para salvá-lo, apesar das dificuldades que possam ser encontradas. Não é

diferente na sociedade atual. Os cristãos são chamados a serem testemunhas em um

mundo que muitas vezes lhes é hostil e que tenta seduzi-los e afastá-los de Deus.

O cristão deve ser essa ponte entre o mundo hostil e Deus, e ser o sinal de Cristo

no mundo. É natural que o mundo rejeite os cristãos e o cristianismo, pois isto o

próprio Cristo já havia predito. Cabe aos cristãos resistir com fortaleza, e não se sujeitar

ao espírito deste mundo, mas, antes, lutar para levá-lo a Deus.

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BIBLIOGRAFIA:

ALTANER, Berthold; STUIBER, Alfred. Patrologia: vida, obra e

doutrina dos Padres da Igreja. São Paulo: Paulus3, 2004.

DROBNER, Hubertus. Manual de Patrologia. Petrópolis: Vozes, 2003.

A CARTA A DIOGNETO, Tradução pelas monjas beneditinas da Abadia de

Santa Maria de São Paulo, Introdução e notas de Frei Fernando Figueiredo, OFM.

Vozes, Petrópolis, 1984.

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SUMÁRIO PARTE INTRODUTÓRIA: ............................................................................... 1

1. Indicação bibliográfica de uma das edições criticas do texto original: ........ 1

2. Indicação bibliográfica da edição da tradução usada:.................................. 1

3. Breve resumo da vida do autor: .................................................................. 1

PARTE ANALÍTICA ........................................................................................ 2

1. Exposição do conteúdo e da estrutura do texto: .......................................... 2

2. Temas principais e secundários: ................................................................. 4

Principais: .................................................................................................. 4

Secundários: o autor apresenta algumas ideias, sem, contudo, aprofundá-

las. ........................................................................................................................ 5

3. Expressões e conceitos significativos e freqüentes: .................................... 6

PARTE SINTÉTICA: ........................................................................................ 7

1. O ensinamento que o autor queria transmitir: ............................................. 7

2. O conceito específico que o texto faz do ponto de vista doutrinário ou moral

ou disciplinar no conjunto da tradição católica: ......................................................... 7

3. Importância e atualidade da Carta a Diogneto: ........................................... 8

BIBLIOGRAFIA: ................................................................................................... 9

SUMÁRIO ......................................................................................................... 10