Trabalho semi-escravo é denunciado em Itapeva - SP. · 2013-02-02 · alguns sindicatos,...

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Trabalho semi-escravo é denunciado em Itapeva - SP. Em Julho passado trabalhadores da Fazenda Corujas, município de Itapeva-SP, procuraram os sindica- tos locais para denunciar o não pagamento de seus salários e as condições desumanas a que estavam sendo submetidos. Em 29 de Julho membros de alguns sindicatos, juntamente com o vereador Israel Antunes de Almeida e a representante do Conselho Tutelar de Defesa do Menor, dirigiram-se para a Fazenda Corujas, onde puderam constatar a miséria e o total abandono em que estavam viven- do os trabalhadores daquela fazenda. Famílias inteiras, inclusive crianças, eram contratadas para ganhar em tomo de 30 reais por quinzena (valor pago para que toda a família trabalhasse). Constatou-se ainda a falta de qualquer condição mínima de higiene e moradia para os trabalhadores. Homens, mulheres e crianças trabalhavam na extração de resi- na, sem nenhum tipo de equi- pamento de segurança, o que ocasionava freqüentes queima- duras, queda de cabelos (pelo uso de ácidos), inclusive em crianças. Trabalhando das 6:30 ás 18:30, as famílias ainda eram obrigadas a pagar pelas ferramentas de trabalho e estavam com o pa- gamento atrasado em dois meses. Constatou-se ainda o caso de várias pessoas que haviam sofrido acidentes de trabalho e não tinham recebido qualquer tipo de in- denização ou ajuda. Mães sem ter o que dar de comer a seus bebês estavam sendo obrigadas a alimen- tá-los com café durante semanas, sendo que elas próprias ali- mentavam-se de "coquinhos e palmito" encontrados na mata. Os casos de desnutrição agudas eram inúmeros. Abordado pelos visitantes, o Sr. Benedito, residente ali com a mãe, a esposa e mais seis filhos, mal conseguia falar pois estava a quatro dias sem ter o que comer, sendo que o resto da família havia saí-do para procurar mandioca para comer. existirem prática de trabalho escravo 1 \ além decrimecontraodireito das crian- ças, que pelas circunstâncias, desde pequenas são es- cravizadas e con- denadas á igno- rância pela falta de escola, falta in- clusive de lazer pois estão desde 6:30 horas da manhã junto ás árvores, estri ando. Estão tipificados no caso em tela, e inclusive prova- dos pelos depoi- mentos de pessoas filmadas, inúme- ja o Órgão do Ministério Público, aprofundar as diligências e fazer cumprir a lei, não exigindo san- ção àqueles criminosos, mas o ressarcimento do direito à vida àqueles que estão sendo vítimas da crueldade e falta de humanidade. É o que pretendemos que seja cumprido." Após a entrada do pedido de inquérito, o que constatou-se foi que as famílias que se encontra- vam na Fazenda Corujas foram removidas para outras fazendas da região, sendo que atualmente a Fazenda Corujas está praticamen- te desativada. Os proprietários preferiram parar de produzir na- quela fazenda ao invés de melhorar as condições de vida daquelas famílias. Segundo novas denún- cias as mesmas prát i cas constatadas em Julho/Agosto continuam a exis- tir, que agora em outras fazendas próximas. Os responsáveis por esta barbárie são: o Sr. Generci, proprietário da empresa Re- sineves; o Sr. Elizandro Lopes Proença, proprietário da empre- sa Itaipú e o Sr. Ariovaldo Ma- noel Calim Abud, proprietário da Fazenda Corujas. Depois de realizarem mais algumas visitas à Fazenda, várias entidades sindicais, juntamente com a CPT, a OAB, o Conselho Tutelar do menor e do Adoles- cente e o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente elaboraram um documento no qual, após descrever tudo o que foi constatado conclui: "Assim, é que afirmamos ^ »v-»-*»'V !

Transcript of Trabalho semi-escravo é denunciado em Itapeva - SP. · 2013-02-02 · alguns sindicatos,...

Trabalho semi-escravo é denunciado em Itapeva - SP. Em Julho passado trabalhadores

da Fazenda Corujas, município de Itapeva-SP, procuraram os sindica- tos locais para denunciar o não pagamento de seus salários e as condições desumanas a que estavam sendo submetidos.

Em 29 de Julho membros de alguns sindicatos, juntamente com o vereador Israel Antunes de Almeida e a representante do Conselho Tutelar de Defesa do Menor, dirigiram-se para a Fazenda Corujas, onde puderam constatar a miséria e o total abandono em que estavam viven- do os trabalhadores daquela fazenda.

Famílias inteiras, inclusive crianças, eram contratadas para ganhar em tomo de 30 reais por quinzena (valor pago para que toda a família trabalhasse). Constatou-se ainda a falta de qualquer condição mínima de higiene e moradia para os trabalhadores.

Homens, mulheres e crianças trabalhavam na extração de resi- na, sem nenhum tipo de equi- pamento de segurança, o que ocasionava freqüentes queima- duras, queda de cabelos (pelo uso de ácidos), inclusive em crianças.

Trabalhando das 6:30 ás 18:30, as famílias ainda eram obrigadas a pagar pelas ferramentas de trabalho e estavam com o pa- gamento atrasado em dois meses.

Constatou-se ainda o caso de várias pessoas que haviam sofrido acidentes de trabalho e não tinham recebido qualquer tipo de in- denização ou ajuda. Mães sem ter o que dar de comer a seus bebês estavam sendo obrigadas a alimen- tá-los com café durante semanas, sendo que elas próprias ali- mentavam-se de "coquinhos e palmito" encontrados na mata. Os casos de desnutrição agudas eram inúmeros.

Abordado pelos visitantes, o Sr. Benedito, residente ali com a mãe, a esposa e mais seis filhos, mal conseguia falar pois estava a quatro dias sem ter o que comer, sendo que

o resto da família havia saí-do para procurar mandioca para comer.

existirem prática de trabalho escravo1 \ além decrimecontraodireito das crian- ças, que pelas circunstâncias, desde

pequenas são es- cravizadas e con- denadas á igno- rância pela falta de escola, falta in- clusive de lazer pois estão desde 6:30 horas da manhã junto ás árvores, estri ando. Estão tipificados no caso em tela, e inclusive prova- dos pelos depoi- mentos de pessoas filmadas, inúme-

ja o Órgão do Ministério Público, aprofundar as diligências e fazer cumprir a lei, não só exigindo san- ção àqueles criminosos, mas o ressarcimento do direito à vida àqueles que estão sendo vítimas da crueldade e falta de humanidade. É o que pretendemos que seja cumprido."

Após a entrada do pedido de inquérito, o que constatou-se foi que as famílias que se encontra- vam na Fazenda Corujas foram removidas para outras fazendas da região, sendo que atualmente a Fazenda Corujas está praticamen- te desativada. Os proprietários preferiram parar de produzir na- quela fazenda ao invés de melhorar as condições de vida daquelas famílias. Segundo novas denún- cias as mesmas prát i cas constatadas em Julho/Agosto continuam a exis- tir, só que agora em outras fazendas próximas.

Os responsáveis por esta barbárie são: o Sr. Generci, proprietário da empresa Re- sineves; o Sr. Elizandro Lopes Proença, proprietário da empre- sa Itaipú e o Sr. Ariovaldo Ma- noel Calim Abud, proprietário da Fazenda Corujas.

Depois de realizarem mais algumas visitas à Fazenda, várias entidades sindicais, juntamente com a CPT, a OAB, o Conselho Tutelar do menor e do Adoles- cente e o Conselho Municipal da Criança e do Adolescente elaboraram um documento no qual, após descrever tudo o que foi constatado conclui:

"Assim, é que afirmamos ^ »v-»-*»'V!

Solidariedade DEZEMBRO/94 - 2

Meu nome é: Neonazismo

"Como a ave Fênix que renasce das cinzas, o nazismo e o fascismo voltam afazer ecoar seus hinos de guerra e o ruído de suas botas sobre o asfalto das ruas em todo o mundo, diante da

apatia de governos e cidadãos comuns." Eles tem entre 14 e 30 anos,

possuem as cabeças raspadas, exaltam os valores nacionais, rejei- tam tudo o que vem de fora, desprezam os políticos, a democra- cia e seu objetivo é consertar (enten- da-se dominar) o mundo, Para isso eles cultuam o físico e partem pára uma guerra santa contra tudo o que acham que está deteriorando o mun- do. Eles são chamados de' 'carecas" no Brasil, e sâo a versão nacional dos neo-nâzistas que se organizam no mundo todo

Apoiados por partidosde extrema- direita eles crescem por toda a Euro- pa e também no Brasil, onde suas ações vem aumentando de ano para ano, desde o seu surgimento no ini- cio da década de 70 Em 92 foram registrados três ataques, em 93 fo-

nazisías na América deve-se, com certeza, ao apoio e abrigo conce- dido aos chefbes nazistas, logo após o fim da guerra, para que pudessem auxiliar na luta contra os países socialistas, recentes aliados e futu- ros inimigos da "democracia americana"

Apesar de seu ainda pequeno po- der político e militar, o neo-nazisrao cresce no seu habitat natural: a crise econômica e social que se aprofun- da cada vez mafs, como era o caso da Alemanha e da Itália pré-nazís- mo nos anos 20. Sob a liderança de pol ítícos e partidos de extrema-di rei

quando disputou as eleições para governador em 89, dizendo a- penas o seu nome, este ano teve uma votação expressiva e preocupante, pots, se por um ladoseus votos foram votos de protesto pela atual forma com que se faz política em nosso país, por outro lado fo-

ta eles voltam a marchar pelas ruas, ram votos dados a uma proposta como os famigerados Corpos Li- muito próxima daquelas pregadas iyres (grupos paramilitares que originaram os temíveis SSn&zistas) da Alemanha de Hítler, espalhando

ram 15 e no início de 94 já haviam a violência por onde passam, den- ocorrido seis ataques, cujos alvos tro de uma visão simplista da foram negros, judeus, nordestinos, punks e homossexuais.

A historiadora da Universidade de Tel Aviv, Israel, Dina Porat, em recente visita ao Brasil, alertou as autoridades ocidentais de que exis- te uma articulação mundial do extremismo de direita. A seu ver o neonazismo está, hoje, muito mais articulado do que sua versão origi- nal, o nazismo: "O neonazismo é um movimento internacional, com veteranos no comando, muitos dos quais da época de Hítler, especialmente na América Latina, Canadá e Estados Unidos. Eles usam fax e outros recursos modernos para divulgar suas idéias, transferem dinheiro de um país para outro e trocam informações."

A ala nazista dos Carecas brasileiros sabe disto e está integra- da a este sistema internacional, conforme informações de um agente federal que prefere não se identifi- car e que afirma ainda que líderes Carecas do Brasil participaram de algumas manifestações pró-nazismo nos EUA e Europa no ano passado.

O grande número de veteranos

sociedade, na qual seu papel é destruir aquilo que consideram os males da sociedade, e entre estes males estão os imigrantes (nordestinos, estrangeiros), os políticos fracos, a democracia, os partidários de esquerda, etc.

A história nos mostra que quando a crise econômica e social se agudi- za, começam a surgir propostas das mais diversas, inclusive propostas que no passado causaram a morte de mais de 40 milhões de seres humanos, como o nazismo e o fascismo. Em nosso país estas propostas vem tomando corpo atra- vés dos inúmeros grupos neo- nazistas, separatistas e por políticos que começam a despontar pregan- do a necessidade de um "Estado forte, acima das disputas entre as classes sociais, que seja capaz de unir interesses de empresários e trabalhadores com o objetivo de formar um Estado poderoso, capaz até quem sabe de vir a dominar ou- tras nações", como foi o caso do candidato a presidência Enéas Carneiro, do desconhecido PRONA.

Enéas, que ficou conhecido

por Mussolini ou Hítler no pas- sado. Se com poucos minutos na TV Enéas conseguiu tantos votos, com certeza se tivesse a mídia a seu favor, teria grandes chances de se eleger, como foi o caso do magnata Sílvio Berlusconi (dono de três canais de TV), eleito primeiro-ministro em maio deste ano na Itália, apoiado por uma coalizão de extrema-direita, da qual fazia parte a neo-fascista Aliança Nacional, cujos membros comemoraram a vitória desfí lando pelas ruas de Vicenza (norte da Itá-lia), com suas cabeças

raspadas, jaquetas e botas de couro, repetindo a coreografia fascista do passo-de-ganço, o braço estendido e as pala-vras de ordem do velho Duce (Mussolini). Berlusconi desarticulou o combate ao crime organizado na Itália, acabando com a operação que ficou conhecida como "Opera- ção Mãos Limpas".

O neo-nazismo atenta contra to- dos os direitos humanos e deve ser combatido e denunciado permanentemente, pois a história já nos mostrou ao que leva as ditaduras nazi-fascistas. Se não possuímos meios legais de comba- ter a ideologia neo-nazista, por ou- tro lado podemos denunciar os cri- mes de discriminação racial, bem como de formação de quadrilhas e todo tipo de agressões físicas.

Assassino dos irmãos Canutofoge em Belém PA, O ex-PM José Ubiratam Matos

Ubirajara, 26 anos, condenado em 28 de Abril a 50 anos de prisão pelo assassinato de José e Paulo Canuto e por tentativa de assassinato de Or- lando Canuto (ver matéria "Conde- nado ex-policial militar pistoleiro" - Solidariedade de Maio/94), fiigiu, no dia 24 de Outubro, da prisão cen- tral de Belém, onde cumpria a pena.

José Ubiratam é mais um na lista dos foragidos, condenados por crimes contra trabalhadores rurais e sin- dicalistas no Norte do país.

Tal como o fazendeiro Darci, mandante do crime de Chico Mendes e dos assassinos do Padre Josimo, Jo-

sé Ubiratam é mais um que consegue escapar do cumprimento de sua pena.

E triste constatar que nas raras vezes em que assassinos como estes são condenados, acabam não ficando presos por muito tempo. Parece que a impunida- de precisa ser mantida a qualquer custo pelos latifiindiários, pois ela é um incen tivo para que pistoleiros continuem a ma- tar sem medo de ter de pagar por seus crimes.

É evidente o envolvimento do Poder Público neste tipo de acontecimento. Voltamos a exigir todo o empenho da po- lícia na captura desse assassino e que, de uma vez por todas, comece á existir justiça neste pais

Solidariedade DEZEMBRO/94 - 3

MÍ£l vílÜ

rei Henri Des Roziers Frei Henri Burin des Roziers, nascido e criado na França onde cursou Direito, já há muitos anos deixou a terra natal e veio para o Brasil com o objetivo de

continuar o trabalho que considera o seu ideal de vida: a luta contra as injustiças e a defesa dos menos favorecidos. Hoje como assessor jurídico da CPT (Comissão

Pastoral da Terra) no sul do Pará, onde advoga dia e noite na defesa dos trabalhadores rurais e sofre as agruras de uma vida verdadeiramente evangélica,

ele tem seu nome em destaque na lista dos i( marcados para morrer,' e não poderia ser de outra forma, pois se existe alguém incomodando os poderosos da

região, este alguém é Frei Henri, um lutador incansável!

Sol. - O que fez com que o Sr. vies- se a trabalhar no Brasil?

Frei Henri - Antes de vir ao Brasil, trabalhava numa região do Sul da Fran- ça na defesa dos direitos dos trabalhadores estrangeiros, princi- palmente árabes vindos da Argélia, Tunísia e Marrocos. Apesar de ter pela lei os mesmos direitos do que os franceses, eram vítimas de muitas discriminações raciais earbitrariedades por parte dos patrões, das autoridades e da polícia.

Isso me sensibilizou bastante com a situação do terceiro-mundo. Nos anos 70 chegaram nos nossos conventos da França (sou frei dominicano), vários frades dominicanos do Brasil perseguidos pela ditadura militar e que tinham de se exilar, entre outros o frei Tito de Alencar que em 73 morreu em conseqüência das torturas do Comando Fleury. Os encontros com esses frades brasileiros, as sugestões de alguns deles, me decidiram a vir ao Brasil trabalhar com os dominicanos deste país.

SoL - Que tipo de trabalho o Sr. exerce na CPT?

Frei Henri - Sou assessor jurídico. Como advogado acompanho os lavradores e os posseiros, através de suas organizações, sindicatos, associações para defender seus direitos, a terra e a vida.

Por isso sou advogado em vários processos possessórios, i.e defendo os lavradores a ficar nas suas terras. Mas nesses últimos tempos estou atuando principalmente nos processos criminais defendendo os lavradores contra as arbitrariedades e violências da polícia, detenções arbitrárias, torturas, as- sassinatos nas delegacias. E também como assistente de acusação nos processos contra os assassinos dos

lavradores e líderes sindicais. Estou acompanhando por exemplo, como assistente de acusação junto com outros advogados, 6 processos criminais na Comarca de Rio Maria contra os auto- res, mandantes, intermediários, pis- toleiros dos homicídios e tentativas de homicídios de 6 sindicalistas, todos da direção do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rio Maria, inclusive de dois presidentes, João Canuto, assassinado em 1985 e Expedito Ribeiro de Souza assassinado em 1991.

Sol. -A que o Sr. atribui a violência no campo brasileiro?

Frei Henri - A concentração da terra nas mãos do latifúndio e a ausência ou conivência do Estado em suas diversas instâncias: governo federal (INCRA - IBAMA) governo estadual (Secretaria de Segurança Pública), f)oder judiciário e poder legislativo.

O fator fundamental é a não realização de uma reforma agrária efe- tiva que, pelo menos contemplasse a demanda dos trabalhadores que não tem terra. Como é uma questão de sobrevivência, surgem os conflitos. Ai, mais uma vez a ausência do Estado: não impede a violência dos fazendeiros e pistoleiros, ao contrário até ajuda através dos despejos realizados por policiais, das perseguições, violências, arbitrariedades, prisões de posseiros.

Também um fator fundamental é a impunidade dos grandes fazendeiros que mandam matar posseiros, sin- dicalistas, etc.

Nesta região do sul do Pará, onde 190 lavradores foram assassinados nesses últimos 10 anos, nenhum fazendeiro mandante desses crimes foi julgado.

Em 16.12.94 vai ser julgado pelo Tribunal de Júri de Belém, Jerônimo Alves de Amorim, mandante do

assassinato de Expedito Ribeiro de Souza, pre- sidente do STR de Rio Maria. Vai ser a primeira vez que um fazendeiro mandante de crime contra lavrador e sindicalista por questões de terra no Sul do Pará vai ser julgado. Mas provavelmente ele não vai comparecer no júri porque uma prisão preventiva foi decretada contra ele nessas últimas semanas, por outros crimes por ques- tões de terra, e ele está foragido. Se for o caso não vai ser julgado, por que no Brasil não se julga a revelia!

A respeito da impunidade teria que destacar também o escândalo das fugas programadas dos raros pistoleiros ou mandantes condenados no Brasil. Lembrem-se da fuga do fazendeiro Darci mandante do crime de Chico Mendes, dos pistoleiros do assassinato do Padre Josimo, e recentemente do pistoleiro José Ubiratan Matos Ubira- jara assassino dos irmãos Canuto em Rio Maria, condenado em 28.04.94 a 50 anos, e que fugiu da prisão central de Belém em 24.10.94!

SoL - Nesses anos todos lutando a Jdvor dos oprimidos qual o balanço que o Sr. jaz a respeito da violência agrária no Brasil?

Frei Henri - Infelizmente ela não diminuiu. Posseiros, lavradores, peões em regime de trabalho forçado, sindicalistas, advogados, religiosos continuam a ser assassinados, ameaçados de morte, perseguidos.

SoL - Quais atitudes devemos tomar para ajudar a mudar essa situação?

Frei Henri - A possibilidade de mudança depende essencialmente da organização- da sociedade civil para cobrar e pressionar as autoridades

responsáveis; polícia, promotores, juizes, prefeitos, vereadores, deputa- dos, governadores, a cumprir seu papel, sua função, suas OBRIGAÇÕES.

Neste sentido o trabalho de infor- mação, de denúncia, de apoio, de solida- riedade, dos movimentos e organizações de direitos humanos, como a "Solida- riedade Popular" é fundamental.

A solidariedade internacional é também de fundamental importância

SoL - Sabendo que o Sr. está na lista dos ' 'marcados para morrer'', quais as precauções a tomar?

Frei Henri - Pessoalmente acho que nossos inimigos mais do que atentar fisicamente contra a minha vida, tentam, por todos os meios complicar e inviabilizar o meu trabalho. Mas com a proteção de Deus, não vão conseguir. Para o Pe. Ricardo (Ricardo Rezende Figueira, ver Solidariedade de Abril/94) é diferente, é muito mais perigoso.

Mas o apoio nacional e internacional é o melhor respaldo e.proteção.

Sol. - Quem são essas pessoas ou grupos que confeccionam estas listas?

Frei Henri - Sem nenhuma dúvida os grandes fazendeiros da região e suas organizações, sindicatos rurais (pa- tronais) e UDR. É a razão pela qual o fazendeiro Jerônimo Alves de Amorim, e José Luiz de Freitas, presidente do Sindicato Rural de Xinguara, estão com prisão preventiva decretada.

SoL - O que o Sr. pensa delas? Frei Henri - Já aconteceu na História

que perseguidores dos pobres, daqueles que lutam pela justiça e da Igreja se convertessem.

Solidariedade DEZEMBRO/94 - 4

O Círculo dos Povos Há cada 3 anos é realizada uma

reunião do chamado "G-7", ou os Sete Grandes, como são conhecidos os países mais ricos do mundo. Este ano os chefes de Estado dos EUA, Japão, Alemanha, França, Itália, Inglaterra e Canadá, reuniram-se de 5 a 9 de Julho na cidade de Napoli, na Itália. Paralelamente a esta reunião ocorreu, também na cidade de Nápoli, um evento de contravértice, de- nominado "O Círculo dos Povos", onde participaram simbolicamente representantes de 7 povos do Terceiro Mundo: índia, África do Sul, México (Chiapas), Colômbia, Somália, Brasil e também um indígena do Texas (EUA).

O Círculo dos Povos foi integrado por cerca de 50 en- tidades ligadas ás questões sociais e grupos pacifistas da Itália. Participa- ram do evento mais de 300 pessoas, que trataram do tema "Trabalho, democracia e desigualdades na economia mundial''. Ocorreram ainda muitas palestras realizadas por militantes e estudiosos envolvidos no referido tema. A representante do Brasil, Ana de Souza Pinto, da Comissão Pastoral da Terra (CPT) na região do Araguaia, uma das regiões onde os conflitos agrários atingem sua maior expressão de violência, abordou a questão do trabalho es- cravo em nosso país.

Segundo Ana de Souza, os representantes dos "7 povos" além de participarem da plenária e de

exposições, tiveram uma programação intensiva na região de Nápoli, onde realizaram visitas a sindicatos operá- rios, fábricas e grupos de imigrantes. Participaram ainda de reuniões e manifestações públicas promovidas por grupos pacifistas e de direitos huma- nos. Destas atividades merece desta- que a visita feita a um acampamento de 1500 imigrantes africanos, localizado na

Vila Litemo, distante cerca de 20 km.de Nápoli. Estes imigrantes trabalham há dois anos e meio na plantação de toma- tes, recebendo baixíssimos salários e não tendo acesso a nenhum tipo de serviço público, pois perante a lei são clandestinos. Durante a visita foram constatados casos de malária, sem nenhuma assintência médica, sendo que os doentes estavam morrendo. As condições de vida e de moradia eram péssimas, não havendo nem água, nem luz, muito semelhantes, ou piores, que as favelas e periferias brasileiras. Para os representantes dos'' 7 povos'' foi muito chocante e revoltante constatar esta situação que não é específica da Itália, mas está presente nos diversos países do primeiro mundo.

INTERCÂMBIO

Solidariedade Popular PORTO FELIZ - SP Rua Gastào Vidigal, 41 CEP -18540-000

REDENÇÃO - PA Caixa Postal 87 CEP 68550-970

SÃO PAULO - SP Rua Coatinga,126 - Jardim Umaizal CEP 05756-340

SÃO JOÃO DO MERITI - RJ Rua Mahatma Gandhi Lt.06 Qd.58 CEP 25555-180

(fatâcimcôx c Áiéentaçàa Porque 20 de Novembro é considerado Dia Nacional da Consciência Negra Enão 13 de Maio, o "Diada Libertação"? Revendo o passado, a História, Temos uma explicação:

Corria o ano de J597, quando. Em Pernambuco, 40 escravos fugiram E, após 20 dias de dura jornada Fizeram de uma seita sua morada.

Era mais um Quilombo Num lugar cheio de palmeiras: "QUILOMBO DOS PALM ARES"

Anos se passaram, Palmares cresceu Ali a fome era coisa esquecida E a escravidão jamais se deu

Muitas expedições foram enviadas: Voltavam arruinadas Quando o povo sabe porque iutâ A vitória é acertada

30 mil pessoas era o povo dô Palntares Entre eles um negro Que já nasceu livre E conturbou osarçs.

Era 1653 Quando Zumbi (priança) foi raptado Por uma «xpôdtçâO, entregue a um soldado; Do soldado p^sou |!Éra um padre Que de Francisco o chamou: Cora este o raoteque até 15 anos ficou.

Com 23 anos Chega ao poder em Paimates Lutou com seu povo Contra tropas regulares.

Para acabar com o "mau exemplo" Dos negros no Quilombo Chamou-se um Bandeirante Que de crueldade, dava assombro.

Domingos Jorge Velho, Mameluco cor de genipapo.

Viu nessa oportunidade Sua vez de sair do buraco: Pediu terras, armas, negros capturados. Roupas, dinheiro e anistia à seus soldados.

Tudo lhe foi dado, tudo lhe foi perdoado. Contanto que exterminasse o negro aquilonbado,

O sentinela dormiu Vigiandoa fortaleza; O exército aproveita E entra com dureza.

Ãtnda nàofoi dessa vez Que Zumbi viu a morte; Com alguns guerreiros Peto precipício saiu com sorte.

Dividiysea bando: Começou novamente A guerra do mato Com 39 anos, era 1694:

Um dos seus bandoiM emboscado Por muito tempo torturado Somente assim Zumbi Pode ser eitmtnado

Ao se encontrar com o amigo Zumbi se preparou para um abraço Seus olhos devem ter brilhado De estupor e desalento Ao sentir a lâmina em sua barriga Sua vida teve fim naquele momento.

Teve 15 furos de bala E inumeráveis de punhal Perdeu o olho, a mão, Foi castrado como animal

A cabeça, em sal fino, Foi levada para Recife. Num pau foi espetada Para que muito tempo se visse

Era 20 de Novembro de 1695: Dia de morte; morte pela luta. Melhor que 13 de Maio, Dia da Liberdade Fajuta.

Andréa - SoL Popular - 02.12.94

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E*articipe, denuncie, apoie, contribua finan- eiramente depositando qualquer quantia o BANESPA - As. 168 c/c-13-00611-3

Boletim da Solidariedade Popular; Para assinar envie cheque nominal em nome da Solidariedade Popular End: Rua Venezuda,451 - RBarcelona Sorocaba - SP CEP 18025-190 Nome: Endereço: ^_ CEP Cidade: Estado MPRESSO