Trabalho Final - Teo Lit

download Trabalho Final - Teo Lit

of 8

description

Trabalho

Transcript of Trabalho Final - Teo Lit

Anlise do livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector

Enredo

O livro A Hora da Estrela, de Clarice Lispector, conta, simultaneamente, a histria da nordestina Macaba e a do escritor Rodrigo S. M., criador da primeira que ao longo da narrativa, reflete sobre a personagem e sobre sua vida; e descreve este processo de construo de uma narrativa sobre a personagem pobre e simplria.

Os desvios do rumo da histria pelo narrador do a narrativa uma caracterstica aparentemente no linear. O narrador vai ao passado buscar informaes, para com isso poder construir a histria.Como o livro conta mais de uma histria, ou seja, tem um enredo aberto, os limites da estrutura tradicional da narrativa no so to demarcados. Nas primeiras pginas, o narrador conta como escrever um livro, e conta sobre sua prpria histria.A histria de Macaba, s comea depois de algumas pginas e apresenta uma estrutura narrativa um pouco mais clssica.

Embora o narrador j tenha mostrado no decorrer do texto algumas caractersticas de Macaba, ele resolve fazer uma breve exposio da personagem e de sua histria: Ele inicia com uma apresentao da personagem e comea a histria com Macaba no banheiro aps ter sido demitida. Apesar da apresentao, por enquanto ele a deixa no anonimato, sem nome.

Rodrigo S. M. s revela o nome da moa quando ela conhece Olmpico:E, se me permite, qual mesmo a sua graa?

_ Macaba. (p.43)Olmpio significa para Macaba, de certa forma, uma identidade, pois, seu aparecimento na histria torna a moa conhecida. Macaba e Olmpio comeam a namorar, entretanto, evidente a oposio de personalidade entre os dois.O relacionamento persiste at que Olmpico troca Macaba por Glria, a melhor amiga da nordestina. A separao do casal marca o incio da complicao do enredo.

Esse desapontamento leva Macaba a procurar uma cartomante, indicada por Glria. A visita cartomante ponto crucial do enredo e da vida de Macaba, ou seja, o clmax da histria. com a visita que ela acha esperanas e comea a pensar num futuro antes inimaginvel. Na sala de vaticnio, e com a predio, h uma transformao na personagem. A profecia de futuro feliz e prspero da cartomante convence de tal forma a personagem, que esta sai alucinada ao encontro do seu futuro promissor.

Entretanto, o desfecho real de sua histria revela-se quando ela sai da cartomante e atropelada por um Mercedes Amarelo, como o da profecia.

Antes de seu atropelamento, ela nunca fora percebida pelos outros, mas com sua morte que passa a ser notada. Esta se torna para Macaba a hora da estrela, realizando, assim, o seu sonho de brilhar como uma estrela hollywoodiana.... Pois na hora da morte a pessoa se torna brilhante estrela de cinema, o instante de glria de cada um... (p. 29)A morte uma soluo para vida miservel e sem expectativa de Macaba. E assim, num gran finale, Macaba sai de cena.PersonagensA protagonista da histria Macaba, uma alagoana de 19 anos, rf que vivia com tia at que esta morreu e ela veio para o Rio de Janeiro onde passou a dividir um quarto num velho sobrado colonial perto do Cais do Porto com mais quatro moas, datilgrafa (cometia vrios erros de digitao), tinha os ombros curvos, era magra, feia, plida, virgem, tinha maus hbitos de higiene, sem graa, inocula, no fazia falta a ningum, ignorante, doente, triste, ingnua, raramente entende o que acontece ao seu redor, vive em completa alienao. No dormia a noite por causa de uma tosse persistente (que virou uma tuberculose), azia e fome, pois no se alimentava direito tomava toda noite um gole de caf gelado. Gostava de ouvir a Rdio Relgio, colecionar anncios de jornais e revistas, pintar as unhas rudas de vermelho e da Marilyn Monroe. Tinha por luxo beber Coca-Cola e comer cachorro quente.

Juntamente com Macaba temos o narrador Rodrigo S. M. que tambm um personagem que passa toda a histria entre amores e desafetos com a personagem principal. Usa a personagem para tentar se conhecer e se descrever de forma indireta.

Os personagens secundrios que tem uma participao ativa na histria da Macaba Olmpio de Jesus, ou como ele gosta de se chamar, Olmpio de Jesus Moreira Chaves. Inventava esse sobrenome porque no tinha sobrenome do pai. Foi criado pelo padrasto que lhe ensinou a ser polido e saber como se aproveitar das pessoas e a conquistar as mulheres. Trabalhava numa metalrgica, porm ao invs de se denominar operrio se denomina metalrgico. Era paraibano e antes de sair de l matou um homem, ambicioso, orgulhoso, possui um dente de ouro e sonha um dia ser deputado, mas seu verdadeiro sonho ser toureiro, porque gosta muito de sangue. Teve um namoro estranho com Macaba, mas se achava superior a ela e no a respeitava como pessoa.

A tia da Macaba era beata e lhe criou desde os 2 anos de idade, quando seus pais morreram, batia nela, era cheia de supersties e tabus.

A colega Glria trabalhava com Macaba, era estengrafa, atenta ao mundo. Carioca da gema tinha sangue portugus e africano, branca de cabelo crespo pintado de loiro e raiz escura, era cheia de corpo e esperta. Roubou o namorado da colega, pois seu pai era aougueiro e Olmpio como queria melhorar de vida achou nela um caminho mais rpido.

Como personagens secundrios de menor citao na histria h as quatro Marias que moravam com Macaba no Rio de Janeiro, Maria da Penha, Maria Aparecida, Maria Jos e Maria. Elas trabalhavam nas Lojas Americanas e uma vendia p de arroz Coty. Uma delas emprestava o rdio para que Macaba pudesse escutar seu programa.

Raimundo Silveira, patro da Macaba, gostava de leitura e tinha uma firma de roldanas. Tinha por muito tempo vontade de despedir a Macaba, pois ela errava muito e sempre sujava o papel de gordura. Mas tinha certa pena e enrolou um pouco antes de fazer isso.

O mdico, quando Macaba se deu ao luxo de procurar um, foi atendida por um que no gostava de trabalhar para e com pobres, era gordo e suava muito, possua um tique nervoso de repuxar os lbios de tempos em tempos, era desatento e trabalhava somente por dinheiro.

Carlota, a cartomante, enxundiosa, pintava a boca rechonchuda com vermelho vivo e tinha na face duas rodelas de ruge, foi prostituta e juntou um dinheiro para montar um prostbulo, depois foi para essa vida de cartomante. uma enganadora e foi a primeira pessoa que tratou Macaba com carinho. Foi ela que mudou o destino de Macaba, infelizmente, deu a ela a falsa iluso de um futuro melhor, porm equivocadamente.

Tempo

A histria de Macaba data do incio da dcada de 60, caracterstica evidenciada pelo contexto social brasileiro, e por algumas manifestaes artsticas da poca, retratadas no enredo. Embora no haja uma preciso temporal no enredo do livro, de acordo com narrador, o tempo da narrativa o mesmo dos acontecimentos e ocorre na mesma poca da escrita.O encontro de Macaba com Olmpico, 7 de maio, a nica referncia de tempo da narrativa. O tempo da narrativa apresenta certa linearidade, apesar de o embarao do narrador que preferiria comear pelo final:

... S no inicio pelo fim que justificaria o comeo... porque preciso registrar os fatos antecedentes (p. 12)Depois das muitas divagaes do incio do livro, em que o narrador mais se narra do que faz progredir a ao narrativa, enfim ele inicia pelo meio, quando a moa nordestina recebe o aviso de despedida do emprego e vai refugiar-se no banheiro. Assim, o narrador projeta respeitar o tempo do relgio, como se a narrativa fosse sendo construda simultaneamente leitura.

O narrador usa de flashbacks para fazer um intercmbio entre presente e passado da histria de Macaba.

possvel, ento, perceber que A Hora da Estrela est inserida tanto no tempo cronolgico, quando do tempo psicolgico.

Ambiente

Em sua obra, Clarisse Lispector retrata o subrbio do Rio de Janeiro e dividide-o em dois ambientes: um o ambiente do narrador, Rodrigo, que est completamente integrado ao espao intelectual urbano; o outro o ambiente da personagem, um lugar pobre e limitado pela ignorncia.

A histria de Macaba se passa na Rua do Acre e na Rua do Lavradio, no quarto barato dividido, na casa da cartomante, no escritrio onde trabalha e no jardim Zoolgico. H ainda a casa onde Macaba viveu sua infncia com a tia, lugar que, de certo modo, teve grande influncia na viso de mundo da personagem. A atmosfera de religioside fez com que a personagem vivesse do mesmo modo como rezava: automaticamente e sem qualquer conscincia. O ambiente marca o desalento de Macaba, sua falta de esperana, ou f, e seu conformismo diante de sua situao de excluda. Narrador

A posio do narrador no livro A hora da estrela de narrador personagem, que aquele que alm de narrar histria em primeira pessoa, tambm participa. No entanto, no livro em analise, com o decorrer do enredo, h momentos em que a histria contada em terceira pessoa e outros que se utilizado a primeira pessoa, sendo a ltima opo mais comum s caractersticas do narrador em questo.

Com o desenvolver do enredo do livro, surgem perodos em que o narrador passa por conflitos com seus pensamentos e com o desenrolar dos fatos ligados ao personagem protagonista, Macaba. A todo o momento ''Rodrigo'', mantm estreito contato com o leitor e transmite seus sentimentos, pensamentos e at suas leves alternncias de humor, que se do com o decorrer da histria. Os pontos anteriormente relatados, o nome fictcio Rodrigo S. M. que destinado ao narrador, os desvios de assunto e, o fato dele morrer junto com Macaba Macaba me matou (p. 86), justificam a afirmativa de que o mesmo desempenha o papel de personagem tambm, e expressa ao leitor seus pensamentos, anseios, duvidas e opinies acerca da histria.Tema Assunto MensagemO romance trata-se da histria de Rodrigo S. M., o narrador, que constitui um dos personagens centrais da narrativa. Ao mesmo tempo em que cria e narra a vida de Macaba, identificando-se com ela, mesmo quando a agride com suas descries.

Macaba alagoana veio para o Rio de Janeiro com uma tia que cuidara dela desde os dois anos de idade. Quando a tia morre, Macaba muda-se para um quarto que divide com quatro moas.Num dia em que chovia muito, Macaba encontrou Olmpico de Jesus, metalrgico, paraibano. Mas por no terem a ambio em comum, Macaba perde-o para sua amiga de trabalho (e nica), Glria, a qual possua os atrativos materiais que ele cobiava.

Por conselho de Glria, Macaba vai procurar ajuda em uma cartomante. A vidente prev que a vida da nordestina mudaria a partir do momento em que sasse de sua casa, disse que seria outra, de que seria feliz e de que encontraria seu prncipe. Mas ao sair da um passo para atravessar a rua, e atropelada por um carro. Com ela morre tambm o narrador, identificado com o romance, que neste instante se acaba.

A Hora da Estrela traz a mensagem da vida dura dos nordestinos, que sofrem preconceito. Macaba um retrato de um povo inteiro, um povo sofrido que sobrevive porque forte, e deixa a seca pra ter uma vida melhor. Clarice representou essa parte do pas que muitos fingem no ver e cuja face pensam que empobrecem as paisagens de uma grande capital. Um povo, sem auto-estima, que acha que menos do que as outras pessoas, porque no pde aprender as noes de igualdade. Podemos dizer que o livro trata, principalmente do sentimento de inferioridade e vida ftil vivido por Macaba.

DiscursosNo que diz respeito ao tipo de discurso utilizado no livro A hora da Estrela, pode-se concluir que existe a presena do Discurso Direto, que se caracteriza pela reproduo fiel da fala do personagem com o uso de travesses, dois pontos e da fala direta entre as personagens. como se o personagem surgisse, por meio de suas palavras, aos olhos do leitor, comprovando os dados relatados imparcialmente pelo narrador.

O autor conta a histria em 3 pessoa e, s vezes, permite certas intromisses narrando em 1 pessoa. Ele conhece tudo sobre os personagens e sobre o enredo, sabe o que passa no ntimo das personagens, conhece suas emoes e pensamentos. Ele capaz de revelar suas vozes interiores, seu fluxo de conscincia, em 1 pessoa.

Quando isso acontece, o narrador faz uso do discurso indireto livre o qual no existe dilogo entre as personagens, diretamente, mas o prprio narrador faz-se o intrprete delas, transmitindo ao leitor o que disseram ou pensaram.Opinio Crtica

A Hora da Estrela alcana uma reflexo singular acerca da sociedade brasileira, da conscincia e da capacidade ou incapacidade do ser humano de questionar o mundo sua volta. No decorrer da histria, Clarice Lispector d vida a personagens que retratam um tipo de organizao social que divide os indivduos entre si com diferenas econmicas e intelectuais preestabelecidas, ao mesmo que promove uma tentativa de dilogo entre estes indivduos que, inevitavelmente, dividem o mesmo espao.

A protagonista Macaba , sobretudo, o retrato do desamparo: rf, ingnua, virgem, desprovida de beleza e talentos, sozinha na cidade do Rio de Janeiro; a jovem datilgrafa alagoana pouco falava, nada questionava e se confortava com quase nada. Acreditava que ter gosto era pecado mortal. Como expressa o prprio narrador, flor murcha. Em outras palavras, Macaba era oca. A personagem representa a condio indigente da massa popular brasileira no contexto histrico da poca. Expe, sobretudo, a alienao das classes menos favorecidas diante da organizao social.A Hora da Estrela, ltimo livro escrito por Clarice Lispector, data da Terceira Fase do Movimento Modernista no Brasil, perodo posterior aos romances regionalistas caracterizado por uma abordagem literria intimista, autoanaltica e realista. Nesta fase, uma das grandes tendncias em termos de prosa era a sondagem do mundo psicolgico dos personagens na inteno de captar sua essncia.

A obra foi publicada em 1977, pouco antes da morte da autora. Clarice, que sofria de uma doena irreversvel, incorporou em Rodrigo S. M. e Macaba questes e conflitos existenciais vividos por ela mesma: a fragilidade humana, a efemeridade da vida, o grande desafio de escrever, as angstias do ser escritor, questionamentos sobre a existncia humana e, crucialmente, o prenncio da morte. Este ltimo ponto o que vincula Macaba, Rodrigo e Clarice numa circunstncia comum:Macaba me matou. Ela estava enfim livre de si e de ns. No vos assusteis, morrer um instante, passa logo, eu sei porque acabo de morrer com a moa. (p. 86)8