TOPONIMIA_2009

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[email protected] Linguística/USP Teologia/ Assunção A TRANSCENDÊNCIA MÍTICA DOS NOMES BÍBLICOS Gênesis 1-11 OS PRIMÓRDIOS

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Apresentação da aluna Beatriz Buganeme para o curso de Etnolinguística (profa dra. Maria Vicentina do Amaral de Paula Vick), USP, 2009,

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A TRANSCENDÊNCIA MÍTICADOS NOMES BÍBLICOS

Gênesis

1-11

OS PRIMÓRDIOS

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Objetivo:

Esta apresentação pretende discutir a partir dos nomes dos principais personagens de Gênesis (“os primórdios”) as relações existentes entre esses nomes próprios, o contexto bíblico em que aparecem e as características sociais dos indivíduos/personagens apresentados nos relatos bíblicos.

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• Muitos acreditam que a história da criação foi exatamente como está escrita na Bíblia. Outros veem nessa narrativa apenas um amontoado de contradições. E há quem faça apenas uma leitura ingênua e infantil.

• No entanto, um olhar mais atento nos revela que os textos bíblicos são repletos de um dinamismo discursivo e poético.

• Esta apresentação visa mostrar um pouco da riqueza de Gênesis 1-11, através de uma leitura dos antropônimos bíblicos e de sua formação mítica.

Justificativa:

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• Os nomes refletem uma visão de sociedade, um estar no mundo, um pensar religioso.

• Diversos saberes emanam dos topônimos bíblicos: religioso, social, geográfico, antropológico etc.

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• Maria Vicentina Dick, em seu artigo ‘’Os nomes como marcadores ideológicos’’, na ‘’Revista Internacional de Semiótica e Linguística’’, cita PAZ (1993, p.15) apontando que a palavra

• “como signo de uma saber codificado favorece a expansão de outros signos conseguintes, que podem ser considerados representações de experiências particulares e coletivas: ‘’a linguagem não é só um fenômeno cultural como constitui, simultaneamente, o fundamento de toda sociedade, e a expressão social mais perfeita do homem”.

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Origem e Formação da Bíblia

1100 a.C.

ou

1200 a. C.

100 d.C

O livro mais antigo, talvez:

Cântico de Débora, em Juízes, 5.

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Contextualização

• Quando os hebreus vão para Canaã, séc. XIII, já existia o alfabeto fenício.

• Histórias são contadas na tradição oral judaica.

• Os mais jovens, no entanto, querem saber mais. “E antes?”

• Daí a história sai dos Patriarcas até a CRIAÇÃO.

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• Vejamos o que descreve o livro do Gênesis: Canaã (atual Palestina) pertencia aos cananeus (descendentes de Cam, filho de Noé.

• Os hebreus, povo nômade liderado por Abrão (semita da Mesopotâmia - hoje Iraque, descendente de Sem, outro filho de Noé), invadiram Canaã porque, segundo Abrão, aquela era a terra prometida por Deus.

• Abrão é pai de dois povos: dos árabes, através de seu filho Ismael, já que ele se relacionou com Hagar (serva egípcia do casal, que foi oferecida por sua esposa Sara); e dos judeus, através de Isaac, seu filho com Sara.

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• Devido à uma grande seca na Palestina, os judeus deixam o local e vão para o Egito, ou seja, abandonam Canaã.

• Depois de 400 anos, liderados por Moisés (aquele que abriu o Mar Vermelho) e Josué (líder da invasão), apoderam-se da Terra Prometida (que era habitada por vários povos, inclusive os hoje denominados árabes) e reconquistam o local.

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TRADIÇÕES BÍBLICAS

• Há pelo menos 4 tradições

tradições

JAVISTA

ELOÍSTA

DEUTERONÔMICASACERDOTAL

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• Até DAVI, existia apenas a tradição oral.

• A primeira tradição a ser escrita foi a JAVISTA – séc.IX, em Judá.

• 50 anos mais tarde, escreveu-se a tradição ELOÍSTA – em Israel.

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• Em 721 a.C. houve a divisão dos reinos.

SAMARIA é destruída, e os sacerdotes do norte migram para o sul, levando a tradição ELOÍSTA.

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• Assim, as 2 tradições são compiladas num só escrito.

• A tradição sacerdotal é a compilação de catequeses antigas de Israel – séc. VI a.C.

• A tradição deuteronômica foi encontrada em 622 a.C.

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• As 4 tradições foram compiladas em 5 volumes.

PENTATEUCO

Redação: ano 388 a. C.

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GÊNESIS

I. As Origens do Mundo e da Humanidade1-11

II. História de Abraão12-25,18

III. História de Isaac e de Jacó25,19- 37,1

IV. História de José37,2-50

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Resumo1-11

• História da criação do mundo e do homem. Gn 1-3.

• O primeiro criminoso e o primeiro justo. Gn 4,1-6,4.

• O dilúvio. Gn 6,5-9,17.

• A origem dos povos. Babel. Gn 9,18-11,12.

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ANTROPÔNIMOS• DEUSDEUS – hebr. elohim: plural de El, “DEUS” =

divindade• IAHWEHIAHWEH – “o senhor” – outra tradição? Haia,

que significa “ser”. “Eu sou o que sou”. Adonai = meu senhor.

• IHWH – tetragrama – pronúncia?• No hebraico, escreviam-se apenas as

consoantes, ao passo que as vogais foram inseridas somente por volta do final do século I d.C. Nessas consoantes, os sábios judeus introduziram não as vogais adequadas, mas, sim, as da palavra adonai: I aH oW aH

• JEOVÁ

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• EVAEVA – hebr. hawwah• “O homem chamou sua mulher Eva”. 3,20

• hebraico: vida – hayah- viver; a mãe de todos os seres viventes.

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• ADÃO ADÃO – hebr. adam• “O homem conheceu Eva, sua mulher”. 4,1

• “Adão conheceu sua mulher”. 4,25

• hebraico: homem.• Adão é tanto nome próprio como de

gênero; “ser humano” 5,1

• Gn 2,19-20: No mundo antigo, dar o nome era um índice de autoridade.

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ADÃO EVA

CAIM ABEL

SET

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• CAIM CAIM – hebr. qayin

• Hebraico: artífice, ferreiro.

• Epônimo antepassado dos quenitas.• “Adquiri um homem com a ajuda de

Yaweh”. 4,1

• Kanîti’ish- “tive um filho homem”.

• Fundador da primeira cidade Henoc (?)

• Enoc = “fundação”

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• ABELABEL – hebr. hebel

• Hebraico: sopro, insignificância, nulidade.

• Deriva do acádico aplu, “filho” – origem mesopotâmica da narrativa.

• Abel é um herói da civilização pastoral, tendo sido o primeiro pastor. Em outra tradição esse feito é creditado a Jabel.

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• HENOCHENOC – hebr. hαnôk – “fundar”, “consagrar” - (filho de CAIM)

• Viveu 365 anos; “Deus andou com ele”; “Deus o arrebatou”.

• J. Chaine: semelhanças entre Enoc e En-men-dur-Anna, um dos reis prediluvianos da mesopotâmia.

• En-men-dur-Anna foi o sétimo rei, assim como Enoc é o sétimo depois de Adão. Era rei de Sippar, a cidade de Shamash, o deus-sol.

• A idade de Henoc, 365 anos, o número de dias do ano, talvez uma referência solar.

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• Irad>Maviael>Matusael>Lamec*Irad>Maviael>Matusael>Lamec*

Ada e SelaAda e Sela

Jubal JabelJubal Jabel Tubalcaim NoemaTubalcaim Noema

Genealogia de Henoc

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• Tubalcaim: Tubalcaim: “aquele que forjava os objetos de todos os laminadores de cobre e de ferro”.

• História da mineralogia: cobre antes do ferro.• A primeira parte de seu nome refere-se ao

lugar chamado Tubal ou Tabal, em Anatólia, que na Antiguidade foi um importante centro metalúrgico.

• Caim significa “ferreiro”.

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• Caim/Henoc representam a cidade e a agricultura, com as figuras de Jabal, Jubal e de Tubalcaim, que residiam na estepe, portanto fora das cidades, coloca-se a primeira divisão do trabalho nos começos da civilização.

• NOEMANOEMA: hebr. “agradável”, “charmosa” – ancestral da prostituição ?ancestral da prostituição ?

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ADÃO EVA

CAIM ABEL

SET

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GENEALOGIA DE SET

• ADÃO>SET>ENÓS>CAINÃ>MALALEEL>JAREDHENOC>MATUSALÉM>LAMEC>NOÉ SEM , CAM , JAFÉ.

• SET: “substituto” – “porque Deus me concedeu outra descendência no lugar de Abel, que Caim matou” Gn 4,26.

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• CAM: Cam, vendo seu pai embriagado e nu contou aos seus irmãos o que viu e, por isso, foi amaldiçoado por Noé. A maldição estendeu-se a Canaã, seu filho, e aos descendentes deste, os cananeus.

• SEM: Filho dedicado e respeitoso com o pai. Ele, junto com Jafé, cobriu Noé que dormira embriagado, nu e descomposto. Por suas qualidades morais e por sua sincera crença em Javé, Sem foi abençoado por Noé e tornou-se o patriarca dos “Semitas”, dos quais nasceram as principais figuras bíblicas.

• JAVÉ: Ante a nudez e a embriaguês de Noé cobriu-o e, por isso, foi abençoado pelo pai. Porém, a sua descendência sempre ocupou um lugar inferior em relação à de Sem.

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“Tábua das nações” Gn 10

• A lista de 70 nomes em Gêneses 10 é frequentemente chamada de Tábua das Nações porque cada um dos homens mencionados foi o ancestral original de um grupo étnico que cresceu até se tornar uma nação de pessoas.

• Por exemplo, Magogue foi o 2º filho de Jafé, um dos três filhos de Noé, e gerou os filhos que, a seu tempo, se tornaram conhecidos no mundo antigo como os Scitas. Eles viviam na Ásia Central e crê-se que tenham sido os pais dos Russos modernos. Mais de 130 referências históricas apóiam esta perspectiva.

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Mas de onde saiu esta "Tábua das Nações“?

• Na verdade se trata de um velho catálogo de povos e nações composto no século X a.C., quando o rei Davi começou a organizar o seu Reino.

• Ao estabelecer relações comerciais e diplomáticas com seus vizinhos, os Israelitas descobriram a enorme diversidade de povos que habitavam o já dilatado mundo daquele tempo.

• Resolveram, então, classificá-los para colocar um pouco de ordem naquela multiplicidade e criaram esta "Tábua das Nações".

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• Na composição deste elenco de povos, o autor agrupou as nações de acordo com 3 categorias:

• 1) aqueles povos com os quais Israel mantinha relações amistosas, seja por razões históricas, comerciais ou étnicas, foram colocados como descendentes de ShenShen;

• 2) o segundo grupo era formado pelas nações inimigas de Israel, que foram colocadas como descendentes de ChanChan, o filho maldito de Noé (Gen 9,22 - 25);

• 3) finalmente, todas as outras raças e nações que lhes eram indiferentes ou neutras foram colocadas como filhas de JafetJafet. Deste modo se obteve um mundo divido em 3 partes que, geograficamente, ficavam: ao norte e ao oeste de Israel, isto é, toda região da Ásia Menor e das Ilhas do Mediterrâneo, habitadas pelos descentes de Jafet; ao sul, isto é, o Egito e sua zona de influência, filhos de Chan; e o grupo oriental, Mesopotâmia e arredores, terra de Shen.

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Abraão

• Abrão ou Abraão: ‘abrahan.

• Variante dialetal do nome dialetal ‘abran, ‘abiran = o pai (Deus) é exaltado.

• A etimologia explicada em Gn 17, 5, onde se fala da mudança de nome, é uma tradição popular.

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Referências:

• A BÍBLIA DE JERUSALÉM, Edições São Paulo: Paulinas, 1986.

• JOSEFO,Flávio. A palestina no tempo de Jesus. São Paulo: Paulinas, 1986.

• KRAUSS, Heinrich. As origens: um estudo de Gênesis 1-11, São Paulo: Paulinas, 2007.