Texto Aula 6

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A sociedade de corpos dóceis? Uma Perfeita Metáfora! Claudinéia da Silva Barbosa 1 [email protected] As notáveis considerações feitas por Michel Foucault no capítulo Corpos dóceis em Vigiar e Punir (1987) apresenta um organismo vivo e potencial que ainda reconhece pouco sobre si mesmo. O Ser Humano. Mas que ao longo de sua jornada no orbe terrestre, e entre outros seres, desenvolveu uma historicidade que causa à destinação de sua existência. Criou responsabilidade sobre si mesmo, sobre os outros e ao meio onde vive, pois desenvolveu e ainda desenvolve conhecimentos e mecanismos de controle em relação a estes, instituindo o panoptismo. Importantes reflexões sobre a historicidade humana, na trajetória evolutiva junto ao orbe terrestre, merecem no campo das explicações metafísicas considerações sobre o que é a “realidade” tal qual a humanidade ainda estar por perceber, mostrando através de um olharatento as experiências empíricas, uma vez que pretendo nesta discussão demonstrar precisa capacidade de interpretar o que existe e o que é vislumbrado nos micro-espaços e para além deles. E estimular a arte de pensar sobre por que o ser humano existe e para que é dotado de potencialidades, das quais a maioria ainda latentes por falta de reconhecimento do próprio ser humano. Que condicionado por uma educação de controle, não os permitiram pensar em si mesmos enquanto seres em evolução. O que se convencionou a chamar de progresso, no período da industrialização, ou desenvolvimento social de uma consciência coletiva, na realidade construída pelas sociedades do século XXI, pode não significar evolução para a liberdade da consciência do ser na sua individualidade. Os seres humanos nascem, desenvolvem algumas habilidades, e geograficamente são condicionadas a aprender sobre uma realidade limitada. Que não lhes permite compreender as dimensões existentes, e nem as infinitas 1 Graduanda do Curso de Pedagogia Habilitação, Docência e Gestão dos Processos Educativos, cursando VIII semestre na Universidade do Estado da Bahia Desp. de Educação Campus XIII (UNEB - DEDC- XIII) Itaberaba - BA. Trabalho orientado pela docente Climério Moraes, Professor da UNEB - DEDC- XIII 2012. Universidade do Estado da Bahia UNEB Departamento de Educação Campus XIII

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filosofia do corpo e educação física, notas de ensino

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  • A sociedade de corpos dceis? Uma Perfeita Metfora!

    Claudinia da Silva Barbosa1

    [email protected]

    As notveis consideraes feitas por Michel Foucault no captulo

    Corpos dceis em Vigiar e Punir (1987) apresenta um organismo vivo e

    potencial que ainda reconhece pouco sobre si mesmo. O Ser Humano. Mas

    que ao longo de sua jornada no orbe terrestre, e entre outros seres,

    desenvolveu uma historicidade que causa destinao de sua existncia.

    Criou responsabilidade sobre si mesmo, sobre os outros e ao meio onde vive,

    pois desenvolveu e ainda desenvolve conhecimentos e mecanismos de

    controle em relao a estes, instituindo o panoptismo.

    Importantes reflexes sobre a historicidade humana, na trajetria

    evolutiva junto ao orbe terrestre, merecem no campo das explicaes

    metafsicas consideraes sobre o que a realidade tal qual a humanidade

    ainda estar por perceber, mostrando atravs de um olhar atento as

    experincias empricas, uma vez que pretendo nesta discusso demonstrar

    precisa capacidade de interpretar o que existe e o que vislumbrado nos

    micro-espaos e para alm deles. E estimular a arte de pensar sobre por que o

    ser humano existe e para que dotado de potencialidades, das quais a maioria

    ainda latentes por falta de reconhecimento do prprio ser humano. Que

    condicionado por uma educao de controle, no os permitiram pensar em si

    mesmos enquanto seres em evoluo.

    O que se convencionou a chamar de progresso, no perodo da

    industrializao, ou desenvolvimento social de uma conscincia coletiva, na

    realidade construda pelas sociedades do sculo XXI, pode no significar

    evoluo para a liberdade da conscincia do ser na sua individualidade. Os

    seres humanos nascem, desenvolvem algumas habilidades, e geograficamente

    so condicionadas a aprender sobre uma realidade limitada. Que no lhes

    permite compreender as dimenses existentes, e nem as infinitas

    1 Graduanda do Curso de Pedagogia Habilitao, Docncia e Gesto dos Processos Educativos,

    cursando VIII semestre na Universidade do Estado da Bahia Desp. de Educao Campus XIII (UNEB - DEDC- XIII) Itaberaba - BA. Trabalho orientado pela docente Climrio Moraes, Professor da UNEB - DEDC- XIII 2012.

    Universidade do Estado da Bahia UNEB Departamento de Educao Campus XIII

  • possibilidades para a sua manifestao existencial e progressiva nestas

    dimenses.

    Boa parte dos indivduos contemporneos do homem moderno foi, por

    exemplo, condicionados a pensar que s existe vida na Terra. Ou ignoram a

    sua essncia, a que sobrevive para alm de seus corpos fsicos. A comea o

    controle. Refletindo sobre o controle das sociedades, Gilles Deleuze (p.226)

    menciona Muitos jovens pedem estranhamente para serem motivados, e

    solicitam novos estgios e formao permanente; cabe eles descobrir a que

    esto sendo levados a servir, assim como seus antecessores descobriram, no

    sem dor, a finalidade das disciplinas.2 Seria preciso ir muito antes dos nossos

    antecessores. Alm das leis que regem a realidade tridimensional. preciso

    compreender o plano onde a conscincia humana elabora-se para

    operacionalizar na construo da realidade fsica. E questionar-se: Para que

    existimos. O que quebraria esse crculo vicioso3 que contagiou a humanidade.

    O preciso olhar desconfiado sobre a histria forjada por alguns

    poucos que no sobreviveram alm de suas lendas, como uma voz que

    alerta e me incentiva a insistir na seguinte pergunta: Qual a verdadeira

    realidade? A geografia o limite? Est na nossa essncia alm do nvel de

    conscincia ou nas aberraes da convivncia material efmera? No posso

    me convencer que seja to mnima, to fraca, to efmera, que se perca com

    uma ao perversa do poder disciplinar.

    As reflexes que proponho vo mais alm. Nutre crebro, fora os

    neurnios, levam minha mente a pensar em alguma coisa alm do bvio. Afinal

    a nossa Era impulsiona a ver alm A considerada Era da Luz, pelos

    hindustas; ou Era de Aquarius, pelos espiritistas; esse movimento que os

    intelectuais denominam de era da comunicao, do conhecimento, da

    globalizao. A temporada de investigaes cientficas nunca feitas antes, das

    polticas internacionais, rede global de informaes, uma exploso de sistemas

    e tcnicas que invade tempo e espao; colocando a humanidade ou pelo

    menos parcela da mesma, interconectados. O milagre ciberntico e eletrnico,

    informatizando, recriando possibilidade para o nosso maravilhoso mundo azul,

    quem sabe logo, logo prateado!

    Eis o contato com a quarta dimenso, deixando todos estonteados.

    Uns loucos, sedentos pelo poder econmico, a glria do domnio da ordem

    mundial; outros dbeis, completamente ignorantes sobre a apotetica jornada.

    E criando todo tipo de mecanismos possveis para sobreviverem a humanidade

    terrestre fala de globalizao. Um surto de tcnicas e sofisticadas engenharias

    eletrnicas levam os indivduos humanos a maquinar as possibilidades de

    controle do mundo, causando uma verdadeira avalanche histrica nos seus

    2 Gilles Deleuze Post-Scriptum Sobre As Sociedades de Controle Conversaes: 1972-1990. Rio de

    Janeiro: Ed. 34, 1992, p. 219-226.Traduo de Peter Pl Pelbart. 3 Desejo de dominao que gera dominantes e dominados.

  • aspectos scio-econmicos, culturais, polticos, familiares e at crise

    identidade.

    Todos esses sistemas desenvolvidos pelos grupos humanos ao longo

    de suas geraes esto agora se desarticulando por conta deste desequilbrio

    no/do ciclo evolutivo. Quem sabe para qu? Criar mais um novo aspecto que

    caracterize os grupos humanos para estudos e pesquisas? Se for, apostaria na

    subjetividade! Assim se configura o descontrole do espao. Ao mesmo tempo

    em que todos so vigiados, todos se auto controlam.

    A convergncia do momento mostra fascinante metafsica, e quando

    os despertos para o tempo dito real relacionam com o conhecimento do

    acontecer do outro, a simultaneidade do acontecimento, a comunicao ou

    pode ser - um sinal de que percebem a relatividade do tempo claro que ainda

    muito condicionado grade terrestre. Mas ento, o mundo se acelera em

    funo de um motor nico coincidentemente com a fase do capitalismo? Ou

    esse quem provoca isso? A humanidade criando, recriando estratgias,

    avano, eficincia, mais, mais e mais... Para qu? Porque o mundo precisa

    passar por uma acelerao histrica? Ser que tem algum conseguindo

    registrar compreendendo o todo? Quem controla?

    Pensando no que acontece de fato, existe uma fora que parece

    impulsionar o desejo insacivel pelo progresso gerado pela competitividade e

    ambio a mais valia - produto da conscincia coletiva que faz mover a

    vontade. preciso considerar que h fatores empricos (causas e efeitos)

    tambm envolvidos ao todo. A situao de competitividade impulsionada pela

    mais valia gera, por exemplo, duas vertentes: A evoluo dos processamentos

    dos diversos setores do meio social a partir da tecnologia sofisticada e em

    contra partida a mecanizao do material humano seguida da neutralizao do

    seu potencial4. E refletindo com Michel Foucault (p. 125) [...] o soldado tornou-

    se algo que se fabrica; de uma massa informe, de um corpo inapto, fez-se a

    maquina de que se precisa [...]5.

    O mundo comea a ficar unificado pelas tcnicas, sua rede

    comunicativa a que mais se destaca, mas o atual sistema ideolgico produz

    uma histria fragmentada, pois no respeita seu principal agente o humano -

    configurando-se num modelo considerado perverso e imoral. Pois os valores e

    a sensibilidade tambm so desconsiderados. Os sistemas de informaes, por

    exemplo, funcionam como uma forma de manipulao, e funciona com eficcia,

    pois grande parte da humanidade no est preocupada em se encontrar, em se

    perceber no grande plano existencial. A percepo fragmentada das certas

    pessoas e o desejo de ser igual, tm tornado grande parte num bando de

    4 Neste caso o desvio de sua conscincia sobre si mesmo enquanto ser livre.

    5 FOUCAULT, Michel. Vigiar e Punir: nascimento da priso; traduo de Lgia M. Pond Vassallo. Petrpolis, Vozes,

    1987. 280p

  • zumbis com um micro chip no bolso, e esqueceram o endereo de si mesmas.

    Esqueceram-se que so organismos potenciais.

    O empobrecimento das cincias humanas ser a morte das mesmas,

    se no houver quem estude o ser humano considerando sua subjetividade e/ou

    ao menos as possibilidades de sua alma, compreend-lo como um ser que se

    move para o progresso independente da sua vontade. A VONTADE um fator

    que jamais estudado, sequer mencionado nas classes de formao de

    educadores. Talvez seja limitao controladora dos micros espaos de ensino

    formal. Eis a nossa falha! A viso despreparada, a alma despreparada, forjada

    apenas no estimulo capitalista, ser mestre, doutores, especialistas, ser bom

    profissional e ganhar bem; Ser, ser, servir! efmero demais para o potencial

    irreconhecvel latente no humano. Seria ideal despertar o SER aliado a tudo. O

    resultado isso a, um mundo despreparado para nos receber.

    Por isso no confio em quem insiste em dizer que Atlntida um mito.

    Ningum sabe a verdade e nem localiza a realidade. H apenas em cada

    poca, fase, ciclo terrestre, era ou minuto, uma histria sendo forjada para

    satisfazer aos que aspiram ao poder. Assim como nos conceitos de

    verticalidade e horizontalidade em relao ao tempo ou temporalidade

    demonstram mais uma vez que o indivduo pode, quando quer forjar

    realidades, controlar, a partir de suas funes no meio social e seus interesses.

    Qual o limite dessa perversidade?

    O que seria o tempo real para a maioria da humanidade? Novamente

    nos cai sobre a cabea a insistente questo: o que a realidade? Como essa

    dimenso se configura para cada um de ns? Apesar de tanta discusso sobre

    o controle, a unidade que cada um de ns nesta diversidade, tambm fator

    importante pouco discutido As carncias e as vicissitudes de alguns grupos,

    os - assolam; a riqueza de outros poucos, tampam seus sentidos essenciais;

    mas a vida planetria mesmo sofrendo esse srio atraso, segue seu curso. A

    velha roda continua a girar e a humanidade mesmo ainda na infncia, trilha o

    caminho que deve reger o destino coletivo. E Milton Santos descreve:

    Lembremo-nos da lio de A. Schmidt (The Concepto f nature in Marx, 1971)

    quando dizia que a realidade , alm disso, tudo aquilo em que ainda no nos

    tornamos, ou seja, tudo aquilo que a ns mesmos nos projetamos como seres

    humanos, por intermdio dos mitos, da escolhas, das decises e das lutas.

    (p.168)6.

    Essa uma percepo confortvel, ao deixar subentendido que a

    utopia no existe, o que h a potencialidade humana vislumbrando para

    posterior materializao atravs de aes e trabalho, a construo na

    dimenso fsica, sendo o agente do reino da vontade manifestando-se na

    possibilidade da realidade que pode criar conflitar, lutar, decidir, atuar,

    manipular, viver, etc. Trazer dos seus diferentes nveis de conscincia

    sugestes para essa dimenso em que se faz presente.

    6 SANTOS, Milton. Por uma outra globalizao: do pensamento nico conscincia universal / Milton Santos. 3a

    ed. Rio de Janeiro: Record, 2000

  • Com essa viso sobre a nossa histria, sugiro uma nova apreciao

    filosfica frente vida em grupo enquanto sociedade. Um olhar interior ou

    como diria os Espritas, uma reforma ntima. A busca do ser integral. curioso

    pensar sobre isso, imaginar que nossa gerao vem realizando um minucioso

    trabalho em seus caracteres gentico, para a formao de novos portes

    fisiolgicos para darem base formao e organizao fisiolgica das

    geraes futuras, portadoras de potencialidades que sero melhor

    externalizadas que a nossa.

    Eu diria que se parssemos para perceber as mudanas sutis que j

    esto ocorrendo; se parssemos ao menos por um dia sequer, para silenciar e

    observar as ondas que ocorrem nossa volta, parados sem nos envolver,

    somente observando, sentiramos os acontecimentos sutis, tambm a nvel

    global, um leve e forte movimento contrrio ao pessimismo, uma coleo de

    personalidades silenciosas. Destruidoras de sistemas que comeam por forar

    a educao a mudar; que exigem de suas famlias, o mnimo de estabilidade

    emocional, afetiva, intelectual e financeira; tudo muito sutilmente.

    Personalidades que em seu movimento silencioso, nos olham nos olhos e sem

    palavras nos dizem muito. Como os pesquisadores norte-americanos

    descrevem:

    Explique sempre a eles o motivo de lhes dar uma ordem. [...] Se for

    algo do tipo: porque eu estou mandando, mude o formato da ordem.

    Eles respeitaro sua tentativa e aguardaro. Mas se derem a eles

    ordens ditatoriais e sem um motivo justo eles iro simplesmente

    ignor-las, no obedecero e ainda lhe daro uma lista de motivos

    pelos quais elas no fazem sentido. CARROL E TOBER (2005, p. 62)7

    necessrio precisa ateno, esprito de pesquisa e base nas cincias

    humanas sem perder de vista que somos seres tm alma e que muitos entre

    ns, vivemos a dimenso quintessenciada ainda aqui na terceira dimenso.

    Porm para os que vivem na correria cotidiana da atualidade, basta observar o

    comportamento da nova gerao. Como se abraam como alguns so

    silenciosos. Perceba as suas atitudes prticas, observe detalhadamente seus

    objetivos, sua moral. Quem so? A que vieram?

    Representamos a transio para o mundo que estes iro dominar o

    capitalismo, qualquer forma de globalizao, epidemias, evoluo cientfica e

    antiga ou nova ordem mundial, no pode nos desviar do foco de sermos

    humanos, e de que todas as coisas criadas, recriadas estaro a servio do ser

    humano. Uma outra globalizao essa ideia de conscincia livre que Milton

    Santos define como algo que parte do pensamento nico conscincia

    universal, e que se desdobra com base na reciprocidade humana.

    7 Crianas ndigos. Lee Carrol, Jan Tober; Traduo Yma Vick. So Paulo:Buteterfly Editora, 2005