Tese de Mestrado Sobre Osteoartrite (Tramento Ortokine)

138
UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA Faculdade de Medicina Veterinária AVALIAÇÃO DAS ALTERAÇÕES CLÍNICAS E ECOGRÁFICAS DE ARTICULAÇÕES DE EQUÍDEOS ACOMETIDOS POR OSTEOARTRITE, E A SUA RELAÇÃO COM A EVOLUÇÃO APÓS O TRATAMENTO MARIANA DA SILVA MIRANDA CONSTITUIÇÃO DO JÚRI ORIENTADORA Doutor Luis Miguel Alves Carreira Doutora Raquel Yvonne Arantes Baccarin Doutor José Paulo Pacheco de Sales Luís Doutora Paula Alexandra Botelho Garcia CO-ORIENTADOR De Andrade Pimenta Tilley Doutora Raquel Yvonne Arantes Baccarin Doutor José Paulo Pacheco de Sales Luís 2012 LISBOA

Transcript of Tese de Mestrado Sobre Osteoartrite (Tramento Ortokine)

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    AVALIAO DAS ALTERAES CLNICAS E ECOGRFICAS DE ARTICULAES DE EQUDEOS ACOMETIDOS POR OSTEOARTRITE, E A SUA RELAO COM A

    EVOLUO APS O TRATAMENTO

    MARIANA DA SILVA MIRANDA

    CONSTITUIO DO JRI ORIENTADORA

    Doutor Luis Miguel Alves Carreira Doutora Raquel Yvonne Arantes Baccarin

    Doutor Jos Paulo Pacheco de Sales Lus

    Doutora Paula Alexandra Botelho Garcia CO-ORIENTADOR

    De Andrade Pimenta Tilley

    Doutora Raquel Yvonne Arantes Baccarin Doutor Jos Paulo Pacheco de Sales Lus

    2012

    LISBOA

  • UNIVERSIDADE TCNICA DE LISBOA

    Faculdade de Medicina Veterinria

    AVALIAO DAS ALTERAES CLNICAS E ECOGRFICAS DE ARTICULAES DE EQUDEOS ACOMETIDOS POR OSTEOARTRITE, E A SUA RELAO COM A

    EVOLUO APS O TRATAMENTO

    MARIANA DA SILVA MIRANDA

    DISSERTAO DE MESTRADO EM MEDICINA VETERINRIA

    CONSTITUIO DO JRI ORIENTADORA

    Doutor Luis Miguel Alves Carreira Doutora Raquel Yvonne Arantes Baccarin

    Doutor Jos Paulo Pacheco de Sales Lus

    Doutora Paula Alexandra Botelho Garcia CO-ORIENTADOR

    De Andrade Pimenta Tilley

    Doutora Raquel Yvonne Arantes Baccarin Doutor Jos Paulo Pacheco de Sales Lus

    2012

    LISBOA

  • ii

    minha Me

    A quem devo tudo o que sou, tudo o que alcancei e tudo o que ainda quero alcanar

    Obrigada por me incentivares a sonhar

  • iii

    AGRADECIMENTOS

    minha orientadora, a Professora Raquel Yvonne Arantes Baccarin, por me ter dado a

    oportunidade de construir esta tese, e que mesmo a milhares de quilmetros de distncia

    me apoiou tanto. Mil vezes obrigada pela confiana, ajuda e pacincia.

    Ao Professor Jos Paulo Sales Lus, pela sua dedicao na co-orientao neste trabalho.

    Aos Professores Fernando Ferreira e Jos Prates, pela disponibilidade na correco dos

    termos anatmicos e bioqumicos utilizados neste trabalho.

    Professora Isabel Neto, pela sua disponibilidade na correco da estatstica desta

    dissertao.

    Ana Paula Moraes e Tamie Guibu, pela sua pronta ajuda durante a recolha de dados, e

    pelas imensas palavras de encorajamento nos dias de desespero.

    Ao David, pelo apoio e dedicao constantes, por enfrentar os meus problemas como se

    fossem seus, e por partilhar as minhas alegrias como se fossem suas.

    Aos meus avs, porque com eles dei incio minha aprendizagem enquanto criana e

    novamente com eles partilhei a vida, ao longo do ensino superior. Obrigada por acreditarem

    tanto em mim.

    Ao Victor, por ser o melhor Pai que poderia desejar.

    Ao Nuno, por me distrair tanto e me inspirar com o seu carcter inteligente e descontrado.

    A todos os amigos que fiz no Hospital Veterinrio de Equinos da FMVZ-USP, foi um prazer

    aprender e conviver convosco.

    Aos meus amigos, pela presena, apoio e nimo constantes, que so to importantes na

    minha vida!

  • iv

    Avaliao das alteraes clnicas e ecogrficas de articulaes de equdeos acometidos por osteoartrite, e a sua relao com a evoluo aps o tratamento

    Resumo

    A osteoartrite (OA) responsvel pela grande maioria das claudicaes em equdeos e pelo

    final precoce da vida desportiva de muitos deles. O seu diagnstico e tratamento constituem

    ainda hoje um enorme desafio. Muito frequentemente o equdeo chega para atendimento

    veterinrio aps algum tempo de evoluo da doena, tornando mais difcil a teraputica e o

    estabelecimento de um prognstico.

    Com esta dissertao procurou-se, alm de construir uma reviso bibliogrfica concisa e

    actual acerca da OA equina, efectuar um estudo retrospectivo. Para tal foi utilizada, como

    populao de estudo, os equdeos atendidos no Servio de Clnica Mdica de Equinos do

    Hospital Veterinrio da Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de

    So Paulo, Brasil, no perodo de Janeiro de 2007 a Janeiro de 2012. Foi analisado o perfil

    de 98 equdeos (equinos e muares), com um total de 135 articulaes com OA, 94 das

    mesmas avaliadas ecograficamente. O objectivo foi relacionar dados do exame clnico,

    ecogrfico e da teraputica instituida, para posteriormente fornecer informao suplementar,

    de forma a que prognsticos mais precisos acerca dos casos de OA possam ser efetuados.

    Para cada tipo de articulao foram registadas as seguintes variveis: nome, membro

    afectado, calor, dor, aumento de volume, grau de claudicao, tratamento efectuado e

    resposta ao tratamento. Foi efectuada uma avaliao das imagens ecogrficas, a fim de se

    estabelecer uma graduao ecogrfica para cada articulao com OA.

    Verificou-se que a maioria dos equdeos pertencia espcie equina, com idade mdia de

    8,7 anos, das raas Mangalarga Marchador, Quarto de Milha e Brasileiro de Hipismo,

    pesando em mdia 450 kg. A anlise dos dados demonstrou no existir relao entre a

    graduao ecogrfica e os parmetros: grau de claudicao, dor e calor articular, raa,

    membro afectado (torcico ou plvico) e articulao acometida. Contudo, a presena de

    aumento de volume articular est associado a graduaes ecogrficas maiores, podendo

    este ser utilizado para estabelecer ndices prognsticos.

    O tratamento indicado para as diferentes articulaes com OA foi independente do nmero

    de alteraes ecogrficas presentes, contudo dependeu do tipo de articulao acometida. A

    obteno, ou no, da melhoria no dependeu do tratamento escolhido.

    Este estudo pode constituir um ponto de partida para investigaes futuras de relao entre

    parmetros ecogrficos, clnicos e teraputicos, com vista a um maneio cada vez mais

    adequado desta doena, assim como a um melhor diagnstico e prognstico da mesma.

    Palavras-chave: articulao, osteoartrite, ecografia articular, claudicao, tratamento,

    equdeo.

  • v

    Evaluation of the clinical and ultrasonographic changes in joints of equides with

    osteoarthritis, and its relation with the post treatment evolution

    Abstract

    Osteoarthritis (OA) is characterized by a molecular inflammation, and it is responsible for

    most lameness in horses and for the early retirement of sport horses worldwide.

    Osteoarthritis diagnosis and treatment are still, a massive clinical challenge.

    Frequently, the equide starts to be treated only some time after the outbreak of the disease,

    which makes both treatment and the establishment of prognosis more difficult.

    The purpose of this study is to do a retrospective study, along with a current and precise

    research about equine OA. The target population were the horses examined in the Internal

    Medicine Service of the Veterinary Hospital of the College of Veterinary Medicine and Animal

    Science of So Paulos University, Brazil, from January 2007 to January 2012. The clinical

    profile of 98 equides was analysed, as well as 135 joints. In 94 of them an ultrasonographic

    examination was performed. The purpose was to relate data from the clinical examination,

    ultrasound examination and treatment, so that extra information might be provided to the

    clinicians, for a better prognosis.

    For each joint, the following parameters were registered: name, limb, pain, heat,

    enlargement, lameness degree, treatment performed and treatment response. An evaluation

    of the ultrasonographic pictures was performed, in order to establish an ultrasonographic

    score of each joint with OA.

    It was possible to verify that most of them were equines, with an average age of 8,7 years,

    from Mangalarga Marchador, Quarter Mile and Sport Brazilian breeds, weighting around 450

    kg.

    The statistical analysis did not show any relation between the ultrasonographic score and the

    following parameters: lameness score, joint pain and heat, breed, affected limb and affected

    joint. But the presence of joint enlargement was associated with higher ultrasonographic

    scores, and it may be used to establish prognosis parameters.

    The treatment performed in the different joints was independent from the amount of

    ultrasonographic changes, but it was dependent on the type of joint affected. The clinical

    improvement was not associated with the type of treatment applied.

    Key words: joint, osteoarthritis, joint ultrasound, lameness, treatment, equide.

  • vi

    ndice Geral

    I RELATRIO DE ESTGIO .............................................................................................................................. 1

    1. ACTIVIDADES REALIZADAS....................................................................................................................... 1

    1.1. UNIVERSIDADE DE SO PAULO ................................................................................................... 1

    1.2. CLNICA AMBULATRIA DE EQUINOS PORTUGAL .......................................................................... 6

    1.3. DUBAI EQUINE HOSPITAL .......................................................................................................... 7

    1.4. CASUSTICA TOTAL ..................................................................................................................10

    II REVISO BIBLIOGRFICA ...........................................................................................................................11

    1. INTRODUO .........................................................................................................................................11

    2. BREVE NOTA SOBRE CLASSIFICAO, ESTRUTURA E FUNO ARTICULAR ..............................................13

    3. ETIOLOGIA E MECANISMOS FISIOPATOLGICOS DA OSTEOARTRITE ......................................................17

    3.1. FACTORES ETIOLGICOS ...........................................................................................................17

    3.2. CLASSIFICAO ......................................................................................................................18

    3.3. O PAPEL DO OSSO SUBCONDRAL, SINVIA E CARTILAGEM ARTICULAR .................................................19

    3.4. MOLCULAS ENVOLVIDAS NA FISIOPATOLOGIA DA OSTEOARTRITE .....................................................20

    4. SINAIS CLNICOS DE OA ..........................................................................................................................24

    5. DIAGNSTICO .........................................................................................................................................25

    5.1. EXAME CLNICO ......................................................................................................................25

    5.1.1. ANAMNESE E EXAME OBJECTIVO EM REPOUSO ..............................................................................25

    5.1.2. EXAME DINMICO ..................................................................................................................26

    5.1.3. TESTES DE FLEXO ..................................................................................................................26

    5.1.4. BLOQUEIO ANESTSICO PERINEURAL E INTRA-ARTICULAR .................................................................28

    5.2. ANLISE DO LQUIDO SINOVIAL ..................................................................................................29

    5.3. MTODOS IMAGIOLGICOS ......................................................................................................31

    5.3.1. EXAME RADIOGRFICO ............................................................................................................31

    5.3.2. EXAME ECOGRFICO ................................................................................................................32

    5.3.3. CINTIGRAFIA NUCLEAR .............................................................................................................37

    5.3.4. RESSONNCIA MAGNTICA .......................................................................................................38

    5.3.5. TOMOGRAFIA COMPUTORIZADA ................................................................................................40

    5.4. ARTROSCOPIA ........................................................................................................................41

    6. TRATAMENTO ........................................................................................................................................41

    6.1. TRATAMENTO MDICO ............................................................................................................42

    6.1.1. ANTI-INFLAMATRIOS NO ESTERIDES (AINES) .........................................................................42

  • vii

    6.1.2. CORTICOSTERIDES INTRA-ARTICULARES .....................................................................................43

    6.1.3. CIDO HIALURNICO ..............................................................................................................44

    6.1.4. TERAPIA INTRA-ARTICULAR COMBINADA ......................................................................................45

    6.1.5. GLICOSAMINOGLICANOS POLISSULFATADOS .................................................................................46

    6.1.6. PENTOSAN POLISSULFATADO .....................................................................................................47

    6.1.7. SUPLEMENTOS ARTICULARES ORAIS ............................................................................................48

    6.2. NOVAS TERAPIAS ...................................................................................................................50

    6.2.1. INIBIDORES DE METALOPROTEINASES ..........................................................................................50

    6.2.2. INIBIDORES DE INTERLEUCINA-1.................................................................................................50

    6.2.3. CLULAS MESENQUIMAIS .........................................................................................................52

    6.2.4. PLASMA RICO EM PLAQUETAS (PRP)...........................................................................................52

    6.2.5. FISIOTERAPIA E TERAPIA POR ONDA DE CHOQUE ............................................................................53

    6.2.6. BIFOSFONATOS ......................................................................................................................54

    6.3. TRATAMENTO CIRRGICO .........................................................................................................54

    6.4. NEURECTOMIA.......................................................................................................................55

    III ESTUDO RETROSPECTIVO .........................................................................................................................57

    1. OBJECTIVOS ............................................................................................................................................57

    2. MATERIAL E MTODOS ...........................................................................................................................58

    2.1. VARIVEIS.............................................................................................................................59

    3. RESULTADOS ..........................................................................................................................................62

    3.1. ESTUDO POR ANIMAL ..............................................................................................................62

    3.2. ESTUDO POR ARTICULAO.......................................................................................................68

    3.3. RELAES ENTRE VARIVEIS ......................................................................................................77

    3.3.1. GRADUAO ECOGRFICA, RAA E ACTIVIDADE .............................................................................77

    3.3.2. GRADUAO ECOGRFICA E PRESENA DE CALOR, DOR E AUMENTO DE VOLUME ..................................79

    3.3.3. GRADUAO ECOGRFICA E GRAU DE CLAUDICAO ......................................................................81

    3.3.4. GRADUAO ECOGRFICA E MEMBRO LOCOMOTOR .......................................................................85

    3.3.5. GRADUAO ECOGRFICA E ARTICULAO ...................................................................................87

    3.3.6. GRADUAO ECOGRFICA E TRATAMENTO ...................................................................................88

    3.3.7. GRADUAO ECOGRFICA E MELHORIA .......................................................................................89

    3.3.8. TRATAMENTO E MELHORIA .......................................................................................................90

    3.3.9. TRATAMENTO E ARTICULAO ...................................................................................................91

    4. DISCUSSO DE RESULTADOS ..................................................................................................................92

    5. CONCLUSO ......................................................................................................................................... 101

    BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................................... 102

    ANEXOS ........................................................................................................................................................ 118

  • viii

    ndice de Ilustraes

    ndice de figuras

    FIGURA 1: CLNICA MDICA DE EQUINOS (A); REA DE RECEPO DOS ANIMAIS COM TRONCO (B); BOXES (C); PASSADEIRA DE EQUINOS NO LABORATRIO DE MEDICINA EQUINA (LAMEQ) (D) DO DEPARTAMENTO DE CLNICA MDICA DA FMVZ USP. ............................................................................................................... 3

    FIGURA 2: PREPARAO DA ZONA ARTICULAR PARA ECOGRAFIA, NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET FMVZ USP................................................................................................................... 4

    FIGURA 3 - BOXES DA UNIDADE DE CUIDADO INTENSIVO, DUBAI EQUINE HOSPITAL. ............................................ 8

    FIGURA 4 - ZONA DE EXAME CHEGADA DO DUBAI EQUINE HOSPITAL............................................................... 8 FIGURA 5 - ESQUEMA DE UMA DIARTROSE/ARTICULAO SINOVIAL (ORIGINAL DA AUTORA). .................................13

    FIGURA 6 - ESQUEMA DA CARTILAGEM ARTICULAR, EVIDENCIANDO AS VRIAS CAMADAS E CONSTITUINTES (ADAPTADO DE MCILWRAITH, 2002). ................................................................................................................15

    FIGURA 7 - TESTE DE FLEXO DA REGIO PROXIMAL DO MEMBRO POSTERIOR, TAMBM DENOMINADO TESTE DE FLEXO DO CURVILHO (FOTOGRAFIA ORIGINAL). ............................................................................................27

    FIGURA 8 - ANESTESIA DIAGNSTICA DA ARTICULAO TARSO-METATRSICA (FOTOGRAFIA ORIGINAL). ...................28

    FIGURA 9 - REALIZAO DE EXAME RADIOGRFICO DA EXTREMIDADE DISTAL DE MEMBRO PLVICO DE EQUINO (FOTOGRAFIA ORIGINAL). ................................................................................................................32

    FIGURA 10 - DIAGRAMA DA LIBERTAO DE MMPS, AGRECANASES E PGE2 ATRAVS ACTIVAO DOS RECEPTORES DE IL-1 (MODIFICADO DE MCILWRAITH, 2012)........................................................................................51

    FIGURA 11 - IMAGEM ECOGRFICA ILUSTRANDO ATRAVS DE SETAS: IRREGULARIDADE SSEA (A E B), AUMENTO DO LQUIDO SINOVIAL/DISTENSO DA CPSULA ARTICULAR (LQUIDO ANECICO COM MATERIAL AMORFO - C) E HETEROGENEIDADE DO LQUIDO SINOVIAL (D). .....................................................................................74

    FIGURA 12 - EQUINOS DA RAA MANGALARGA MARCHADOR (FOTOGRAFIAS ORIGINAIS). ...................................121 FIGURA 13 - EQUINO DA RAA MANGALARGA MARCHADOR, MONTADO, NO ANDAMENTO "MARCHA" (FOTOGRAFIA

    ORIGINAL). .................................................................................................................................121

  • ix

    ndice de Grficos

    GRFICO 1 - CASUSTICA DO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS HOVET FMVZ USP, NO PERODO DE 01 DE OUTUBRO A 31 DE DEZEMBRO DE 2011. ........................................................................................ 5

    GRFICO 2 - CASUSTICA DAS AFECES MSCULO-ESQUELTICAS DO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET FMVZ - USP, NO PERODO DE 01 DE OUTUBRO A 31 DE DEZEMBRO DE 2011. ............................. 5

    GRFICO 3 - FREQUNCIA (%) DAS ESPCIES DOS ANIMAIS (N=98) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. ........................62

    GRFICO 4 FREQUNCIA (%) DOS EQUDEOS (N=98) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012, EM RELAO AO SEXO. ...........63

    GRFICO 5 RAA DOS EQUINOS (N=86) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. ..........................................63

    GRFICO 6 - IDADE DOS EQUDEOS (N=96) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. ..........................................64

    GRFICO 7 - PESO MDIO (KG) DOS EQUDEOS (N=89) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. ..........................................66

    GRFICO 8 - ACTIVIDADE EXERCIDA PELOS EQUDEOS (N=98) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. .....................................67

    GRFICO 9 FREQUNCIA DO NMERO DE ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA POR ANIMAL, NOS EQUDEOS (N=98) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. ..............................................................................................................67

    GRFICO 10 FREQUNCIA DE ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA POR MEMBRO LOCOMOTOR, NA TOTALIDADE (N=135) E COM EXAME ECOGRFICO EFECTUADO (N=94) ......................................................................68

    GRFICO 11 NMERO DE ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA, NA TOTALIDADE (N=135) E COM EXAME ECOGRFICO EFECTUADO (N=94). .....................................................................................................69

    GRFICO 12 - GRAU DE CLAUDICAO CAUSADO PELAS ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA (N=135). ..................70

    GRFICO 13 - GRADUAO ECOGRFICA DAS ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA (N=94)..................................70

    GRFICO 14 - NMERO DE ARTICULAES (N=128), CONSOANTE A PRESENA OU AUSNCIA DE CALOR, DOR E AUMENTO DE VOLUME....................................................................................................................72

    GRFICO 15 - NMERO DE ARTICULAES APRESENTANDO CADA ALTERAO ECOGRFICA, AO EXAME ECOGRFICO ARTICULAR. ..................................................................................................................................75

    GRFICO 16 - NMERO DE ARTICULAES CONSOANTE O TIPO DE TRATAMENTO EFECTUADO (N=126). ..................76

    GRFICO 17 - FREQUNCIA(%) DA GRADUAO ECOGRFICA ARTICULAR DAS ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA, CONSOANTE A RAA. ......................................................................................................................77

    GRFICO 18 - FREQUNCIA DA GRADUAO ECOGRFICA ARTICULAR DAS ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA, CONSOANTE A ACTIVIDADE (N=84). ...................................................................................................78

  • x

    GRFICO 19 FREQUNCIA DA PRESENA OU AUSNCIA DE CALOR NAS ARTICULAES COM OA, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA (N=87). ....................................................................................................79

    GRFICO 20 - FREQUNCIA DA PRESENA OU AUSNCIA DE DOR PALPAO NAS ARTICULAES COM OA, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA (N=87). .................................................................................................80

    GRFICO 21 - FREQUNCIA DA PRESENA OU AUSNCIA DE AUMENTO DE VOLUME NAS ARTICULAES COM OA, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA (N=87). ................................................................................80

    GRFICO 22 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES, CONSOANTE O SEU GRAU DE CLAUDICAO E GRADUAO ECOGRFICA (N=94). .....................................................................................................................81

    GRFICO 23 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES METACARPOFALNGICAS, CONSOANTE O SEU GRAU DE CLAUDICAO E GRADUAO ECOGRFICA. ............................................................................................................82

    GRFICO 24 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES TBIO-TRSICAS, CONSOANTE O SEU GRAU DE CLAUDICAO E GRADUAO ECOGRFICA................................................................................................................83

    GRFICO 25 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES METATARSOFALNGICAS, CONSOANTE O SEU GRAU DE CLAUDICAO E GRADUAO ECOGRFICA. ............................................................................................................84

    GRFICO 26 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES FEMOROTBIOPATELARES, CONSOANTE O SEU GRAU DE CLAUDICAO E GRADUAO ECOGRFICA. ............................................................................................................84

    GRFICO 27 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES INTERFALNGICAS, CONSOANTE O SEU GRAU DE CLAUDICAO E GRADUAO ECOGRFICA................................................................................................................85

    GRFICO 28 - - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES, DE MEMBRO TORCICO OU PLVICO, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA. ................................................................................................................................85

    GRFICO 29 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES DO BOLETO E INTERFALNGICAS, DE MEMBRO ANTERIOR E POSTERIOR, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA. ...........................................................................86

    GRFICO 30 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA. ...............................87

    GRFICO 31 - NMERO DE ARTICULAES, CONSOANTE O TRATAMENTO E A GRADUAO ECOGRFICA (N=61). .......88

    GRFICO 32 - FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES EXAMINADAS ECOGRAFICAMENTE, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA E A MELHORIA CLNICA. ..................................................................................................89

    GRFICO 33 - NMERO DE ARTICULAES, CONSOANTE O TRATAMENTO E A MELHORIA CLNICA. ...........................90

  • xi

    ndice de tabelas

    TABELA 1 TIPOS DE CONSULTAS ACOMPANHADAS PELA AUTORA NO ESTGIO EM CLNICA DE EQUINOS DE 1 DE FEVEREIRO A 1 DE ABRIL DE 2012. ..................................................................................................... 6

    TABELA 2 - CASUSTICA DO ESTGIO NO DUBAI EQUINE HOSPITAL .................................................................... 8

    TABELA 3 - EXAMES COMPLEMENTARES DE DIAGNSTICO EFECTUADOS AO LONGO DO ESTGIO NO DUBAI EQUINE HOSPITAL. .................................................................................................................................... 9

    TABELA 4 - CASUSTICA TOTAL DOS 3 ESTGIOS EFECTUADOS PELA AUTORA. ......................................................10

    TABELA 5 - ALTERAES POSSVEIS DE ENCONTRAR EM EXAME ECOGRFICO DE ARTICULAO COM OA (ORIGINAL DA AUTORA) .....................................................................................................................................36

    TABELA 6 - DEZASSEIS ALTERAES ECOGRFICAS CONSIDERADAS NESTE ESTUDO PARA COMPOSIO DA GRADUAO ECOGRFICA CONSOANTE SUAS PRESENA (1) OU AUSNCIA (0). .............................................................59

    TABELA 7 RAA DOS EQUINOS (N=86) ATENDIDOS NO SERVIO DE CLNICA MDICA DE EQUINOS DO HOVET/FMVZ/USP, NO PERODO DE JANEIRO DE 2007 A JANEIRO DE 2012. ..........................................64

    TABELA 8 - PARMETROS DE MDIA, DESVIO PADRO, MNIMO E MXIMO DA IDADE DOS EQUDEOS EM ESTUDO, CONSOANTE A RAA. ......................................................................................................................65

    TABELA 9 - NOME DAS ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA, NA TOTALIDADE (N=135), E COM EXAME ECOGRFICO EFECTUADO (N=94). ......................................................................................................................69

    TABELA 10 - MEDIANA DA GRADUAO ECOGRFICA NAS DIFERENTES ARTICULAES (N=94) ...............................71

    TABELA 11 - NMERO E FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES (N=128), CONSOANTE A PRESENA OU AUSNCIA DE CALOR, DOR E AUMENTO DE VOLUME. ................................................................................................71

    TABELA 12 - NMERO DE ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA, CONSOANTE A RAA DO PACIENTE. .......................72

    TABELA 13 - NMERO DE ARTICULAES ACOMETIDAS POR OA, CONSOANTE A ACTIVIDADE PRATICADA PELO PACIENTE. .................................................................................................................................................73

    TABELA 14 - NMERO DE ARTICULAES POR INTERVALO DE GRADUAO ECOGRFICA (N=94). ...........................78

    TABELA 15 - NMERO E FREQUNCIA (%) DE ARTICULAES DE BOLETO E INTERFALNGICAS, DE MEMBRO TORCICO E PLVICO, CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA. ...............................................................................86

    TABELA 16 - TRATAMENTO EFECTUADO, CONSOANTE O TIPO DE ARTICULAO ACOMETIDA (N=83) ........................91

  • xii

    ndice de anexos

    ANEXO 1 - DA ARTICULAO, SIGLA, E NMERO DE ARTICULAES CORRESPONDENTE. .......................................118

    ANEXO 2 - TRATAMENTOS EFECTUADOS NESTE ESTUDO, SIGLA DOS MESMOS, E NMERO DE ARTICULAES TRATADAS. ...............................................................................................................................................119

    ANEXO 3 - TRATAMENTO EFECTUADO E A RESPECTIVA MELHORIA CLNICA (NMERO DE ARTICULAES). ...............119

    ANEXO 4 - NMERO DE ARTICULAES CONSOANTE A GRADUAO ECOGRFICA E O GRAU DE CLAUDICAO. ........120

    ANEXO 5 - O CAVALO MANGALARGA MARCHADOR ....................................................................................120

  • xiii

    Lista de abreviaturas

    AA - Anglo-rabe

    AAEP - American Association of Equine Practitioners

    AH - cido hialurnico

    AINEs - anti-inflamatrios no esterides

    ARG - Argentino

    ART - artroscopia

    AT - American Trotter (Trotador Americano)

    BEL - Belga

    BH - Brasileiro de Hipismo

    C - carpo

    CAMP - Campolino

    CMs - clulas mesenquimais

    CORT - corticosterides

    COX - ciclo-oxigenase

    CS condroitina sulfatada

    DAD - Doena Articular Degenerativa

    DMOADs - frmacos modificadores da doena osteoartrtica (Disease-modifying

    osteoarthritic drugs)

    DMSO - dimetilsulfxido

    EU - articulao escpulo-umeral

    FTP - articulao femorotbiopatelar

    FMVZ - Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia

    GAGs - glicosaminoglicanos

    GAGP - glicosaminoglicanos polissulfatados

    HAN - Hannoveriano

    IFDP - articulao interfalngica distal de membro plvico

    IFDT - articulao interfalngica distal de membro torcico

    IFPP - articulao interfalngica proximal de membro plvico

    IFPT - articulao interfalngica proximal de membro torcico

    IGF - factores de crescimento tipo insulina (insulin growth factors)

    IL - interleucina

    IL-1ra - antagonista dos receptores de interleucina 1

    ITD - articulao intertrsica distal

    LS - lquido sinovial

    M - Mangalarga

    MANG - Mangolino

  • xiv

    MCF - articulao metacarpofalngica

    MM - Mangalarga Marchador

    MMPs - metaloproteinases

    MP - membro plvico

    MPD - membro plvico direito

    MPE - membro plvico esquerdo

    MSM - metilsulfonilmetano

    MT - membro torcico

    MTD - membro torcico direito

    MTE - membro torcico esquerdo

    MTF - articulao metatarsofalngica

    NEUREC - neurectomia

    NO - xido ntrico (nitric oxide)

    OA - osteoartrite

    OCD - osteocondrite dissecante

    PGE2 - prostaglandina E2

    PGs - proteoglicanos

    PRP - plasma rico em plaquetas

    PSA - Puro Sangue rabe

    PSI - Puro Sangue Ingls

    PSL - Puro Sangue Lusitano

    PSP - pentosan polissulfatado

    PT - protenas totais

    PUFAs - cidos gordos poli-insaturados

    QM - Quarto de Milha

    RM - ressonncia magntica

    SRD - Sem Raa Definida

    TC - tomografia computorizada

    TGFs - factores de crescimento de transformao (transforming growth factors)

    TM - articulao tarsometatrsica

    TNF - factor necrtico tumoral (tumor necrosis factor )

    TOC - terapia por onda de choque

    TT - articulao tibiotrsica

    US - ultrassonografia (ecografia)

    USP - Universidade de So Paulo

  • 1

    I Relatrio de Estgio

    O estgio curricular decorreu em So Paulo Brasil, no perodo de 01 de Outubro a 31 de

    Dezembro de 2011, perfazendo um total de 500 horas, no Servio de Clnica Mdica de

    Equinos do Departamento de Clnica Mdica, vinculado ao Hospital Veterinrio da

    Faculdade de Medicina Veterinria e Zootecnia da Universidade de So Paulo (FMVZ-USP),

    sob a superviso da Prof. Dr. Raquel Yvonne Arantes Baccarin, onde foram recolhidos os

    dados para a realizao da presente dissertao.

    No perodo de 1 de Fevereiro a 3 de Abril de 2012, foi realizado um estgio com o Dr.

    Henrique Cruz na sua actividade profissional em Clnica Ambulatria de Equinos, na zona

    de Cascais, perfazendo um total de 320 horas.

    No perodo de 1 a 31 de Junho de 2012 foi realizado um terceiro estgio, no Dubai,

    Emirados rabes Unidos, no Dubai Equine Hospital, perfazendo um total de 300 horas.

    No total foram efectuadas 1120 horas de estgio.

    1. Actividades realizadas

    1.1. Universidade de So Paulo

    O estgio decorreu no Hospital Veterinrio (HOVET) da Faculdade de Medicina Veterinria

    e Zootecnia (FMVZ) da Universidade de So Paulo (USP), no Servio de Clnica Mdica de

    Equinos do Departamento de Clnica Mdica, nos meses de Outubro, Novembro e

    Dezembro de 2011.

    O Departamento de Clnica Mdica um dos seis Departamentos da FMVZ-USP, sendo os

    restantes: Cirurgia, Medicina Veterinria Preventiva e Sade Animal, Reproduo Animal,

    Nutrio e Produo Animal, e Patologia Animal. O Servio de Cirurgia de Grandes Animais

    (Departamento de Cirurgia) e o Servio de Clnica Mdica de Equinos (Departamento de

    Clnica Mdica) funcionam em conjunto no atendimento de equdeos encaminhados ao

    HOVET USP, embora possuam reas de exame e internamento separadas. O Servio de

    Clnica Mdica de Equinos responsvel pelos primeiros socorros, atendimento dos

    equdeos, internamento de casos mdicos e encaminhamento de casos especficos para os

    Servios de Cirurgia de Grandes Animais, Reproduo Animal e Patologia Animal.

    O Servio de Clnica Mdica de Equinos constitudo por trs docentes, cinco residentes,

    que se dividem rotativamente pelo Servio de Clnica Mdica (atendimento e internamento),

    Cirurgia de Grandes Animais, e Anestesia, um enfermeiro veterinrio, estagirios de

  • 2

    Medicina Veterinria de diferentes anos da graduao, Mdicos Veterinrios em formao e

    vrios tratadores e funcionrios de limpeza.

    Em relao a infra-estruturas, o Servio de Clnica Mdica de Equinos possui: um pavilho

    com 15 boxes, 3 troncos de conteno, uma sala de exames especiais com tronco de

    conteno adicional, uma sala de atendimento, uma sala de medicamentos, dois

    laboratrios, uma sala de estudos, um anfiteatro, um quarto para acomodao dos

    estagirios e residentes em turno de noite, um laboratrio de medicina desportiva equina

    com uma passadeira de equinos (figura 1) e uma rea externa constituda por 3 paddocks,

    um redondel e uma manga de embarcao de animais com uma balana.

    Foi possvel presencear as reunies efectuadas na sala de conferncias, semanalmente,

    para apresentao e discusso de casos clnicos e temas de interesse (apresentao por

    parte dos residentes) e participar activamente nas reunies efectuadas mensalmente com

    todos os estagirios, para apresentao e discusso de casos clnicos (a autora focou-se na

    artrite sptica e na OA nas suas apresentaes).

    Durante este perodo foi possvel participar em vrios servios do HOVET tais como

    imagiologia, internamento, consulta e cirurgia, auxiliando os residentes do Hospital em todos

    os procedimentos efectuados e assumir a responsabilidade pelo tratamento e monitorizao

    de todos os equdeos internados. Foram efectuados turnos de noite para tratamento e

    monitorizao de casos ps-cirurgicos gastro-intestinais e de animais em condio instvel

    com necessidade de vigia e cuidado constante, e turnos de feriados e fins-de-semana para

    monitorizao e tratamento de todos os equdeos internados.

    No que concerne ao internamento e consultas, a actividade como estagiria compreendeu a

    administrao dos vrios medicamentos necessrios aos animais, a execuo dos mais

    variados tratamentos aos equdeos internados, a colheita de sangue para anlises

    laboratoriais, a execuo de hematcrito para acompanhamento clnico, o auxlio em

    exames complementares de diagnstico, a aferio dos parmetros vitais dos equdeos

    internados e em atendimento e a colaborao em todos os restantes procedimentos da

    rotina diria.

  • 3

    Foi possvel acompanhar todos os exames complementares de diagnstico realizados, que

    incluram radiografias (principalmente do sistema msculo-esqueltico), ecografias

    (articulares, tendneas, musculares, trans-cuneais, reprodutivas, gastro-intestinais e

    oculares) (Figura 2), endoscopias (gastroscopia, colonoscopia e broncoscopia) e exame de

    fisiologia do exerccio em passadeira.

    Figura 1: Clnica Mdica de Equinos (A); rea de recepo dos animais com tronco (B);

    Boxes (C); Passadeira de equinos no laboratrio de medicina equina (LAMEQ) (D) do

    Departamento de Clnica Mdica da FMVZ USP.

  • 4

    Foi possvel ilustrar a casustica do Servio de Clnica Mdica de Equinos HOVET FMVZ

    - USP neste perodo, evidenciando as reas de estudo em que se enquadram os

    diagnsticos principais dos vrios equdeos atendidos. No Grfico 1 verificou-se que a

    maior parte dos casos atendidos possui como principal sistema lesionado o Msculo-

    esqueltico. As afeces do sistema msculo-esqueltico foram classificadas e divididas em

    fracturas sseas, doenas articulares, leses tendinosas e ligamentares e miopatias, para

    uma melhor compreenso do trabalho efectuado.

    Na Classificao Doenas Articulares foram consideradas as afeces articulares

    presentes nos equdeos atendidos nos trs meses referidos, que foram as seguintes: artrite

    sptica, sinovite e bursite traumtica, osteocondrite dissecante (OCD) e OA. Nesta anlise

    possvel verificar que a grande maioria das afeces msculo-esquelticas pertencia

    categoria das doenas articulares (Grfico 2).

    Figura 2: Preparao da zona articular para ecografia, no

    Servio de Clnica Mdica de Equinos do HOVET FMVZ

    USP.

  • 5

    42%

    12%

    11%

    8%

    8%

    5%

    5%

    4%

    2%

    2%

    1%

    0% 10% 20% 30% 40% 50%

    Ortopedia

    Gastroenterologia

    Pneumologia

    Oncologia

    Reproduo

    Infecciologia/Parasitologia

    Odontologia

    Cardiologia

    Endocrinologia

    Dermatologia

    Oftalmologia

    Frequncia (%)

    re

    a d

    e es

    tud

    o

    20%

    40%

    26%

    14%

    Fracturas sseas

    Doenas Articulares

    Leses Tendinosas e Ligamentares

    Miopatias

    Grfico 1 - Casustica do Servio de Clnica Mdica de Equinos HOVET FMVZ USP, no perodo de 01 de Outubro a 31 de Dezembro de 2011.

    Grfico 2 - Casustica das afeces msculo-esquelticas do Servio de Clnica Mdica de Equinos do HOVET FMVZ - USP, no perodo de 01 de Outubro a 31 de Dezembro de 2011.

  • 6

    1.2. Clnica Ambulatria de Equinos Portugal

    De 1 de Fevereiro a 1 de Abril de 2012, foi efectuado um estgio em Portugal, com o Mdico

    Veterinrio, Dr. Henrique Cruz, onde foi possvel acompanhar a sua actividade em clnica

    ambulatria de equinos, na zona de Cascais. O estgio consistiu em acompanhar todo o seu

    trabalho, e auxili-lo em todos os exames e procedimentos efectuados.

    As consultas integraram vrias reas da Medicina Veterinria, como mostra a Tabela 1.

    Na rea de Medicina Interna foram acompanhadas consultas no mbito da profilaxia

    (medicina preventiva), nomeadamente vacinao, colheita de sangue, desparasitao e

    exame em acto de compra.

    Foram efectuadas consultas nas reas de: ortopedia, oftalmologia, dermatologia,

    odontologia, endocrinologia, traumatologia, neurologia, oncologia, gastroenterologia,

    cardiologia, pneumologia, ginecologia e obstetrcia, neonatologia, cuidados intensivos e

    parasitologia.

    Foi possvel acompanhar vrias consultas de exame reprodutivo para diagnstico de

    gestao, controlo e induo da ovulao e inseminao artificial.

    Foi efectuado o acompanhamento das consultas, realizando o exame fsico e prestando

    auxlio aquando da realizao de qualquer procedimento ou exame complementar de

    diagnstico.

    A rea de Imagiologia compreendeu a realizao de exame radiolgico e ecogrfico

    (msculo-esqueltico e obsttrico).

    Tabela 1 Tipos de consultas acompanhadas pela autora no estgio em Clnica de Equinos de 1 de Fevereiro a 1 de Abril de 2012.

    Tipo de Consulta Nmero

    Dentistria 5

    Exame de Claudicao 19

    Vacinao 15

    Exame Cardaco 2

    Exame Pulmonar 2

    Exame Dermatolgico 2

    Exame Oncolgico 2

    Exame Endocrinolgico 1

    Tratamento de feridas 3

    Exame Reprodutivo 15

    Exame em acto de compra 1

    Total 67

  • 7

    1.3. Dubai Equine Hospital

    De 1 a 30 de Junho de 2012, foi efectuado um estgio no Dubai, Emirados rabes Unidos,

    no Dubai Equine Hospital/Hospital de Equinos do Dubai.

    O Dubai Equine Hospital responde de vrias formas s grandes exigncias da indstria de

    equinos dos Emirados rabes Unidos e mais especificamente do Dubai:

    Em termos de infra-estruturas o Hospital conta com:

    o Um total de 35 boxes de internamento regular, estando as mesmas divididas

    em 3 locais diferentes: uma unidade de tratamento intensivo para os casos

    com necessidade de superviso constante (Figura 3), e dois estbulos

    independentes. Para internamento de cavalos em necessidade de

    quarentena existe um estbulo com essa finalidade, com 6 boxes. Para

    internamento de casos infecciosos existe um estbulo de internamento, com

    as devidas infra-estruturas divididas em zonas de conspurcao decrescente,

    com 4 boxes. Conta ainda com estbulos exteriores, vrios paddocks, e um

    picadeiro circular.

    o Uma sala de enfermagem onde se encontra grande parte de todo o stock de

    medicamentos, instrumentos necessrios e vrios computadores e livros para

    consulta.

    o Duas salas de cirurgia.

    o Um corredor de areia para execuo dos exames de claudicao, no exterior.

    o Uma rea de acolhimento com trs troncos de exame, balana, ecgrafo,

    endoscpio e restantes instrumentos necessrios aos diferentes tipos de

    consulta (Figura 4).

    o Uma sala de exame radiogrfico, uma sala de cintigrafia e uma infra-estrutura

    anexa zona central do hospital para ressonncia magntica.

    Em termos de Profissionais, a Unidade conta com a ajuda de vrios Clnicos, dentro

    e fora do Hospital. A trabalhar nas infra-estruturas, existem dois cirurgies gastro-

    intestinais, um cirurgio ortopdico, um anestesista, um mdico internista, um

    especialista em claudicaes, dois internos, um estagirio, um enfermeiro

    veterinrio, e vrios assistentes nas diferentes zonas do hospital. Fora das

    instalaes, o Hospital emprega Mdicos Veterinrios que so responsveis pelos

    vrios estabelecimentos de treino de equinos do pas e os mesmos referenciam para

    o Hospital todos os casos que necessitam de cuidado intensivo, cirurgia, tratamento

    especializado ou exames complementares de diagnstico especficos.

  • 8

    O estgio determinou a responsabilidade pela monitorizao e tratamento de todos os

    equinos internados e o auxlio em todas as consultas, procedimentos, exames

    complementares, cirurgias e urgncias.

    Foram acompanhados vrios casos em diferentes reas da Medicina Veterinria, com

    nfase nas afeces gastro-intestinais, que tambm constituram a grande maioria das

    cirurgias efectuadas. A Tabela 2 ilustra a casustica do estgio.

    Tabela 2 - Casustica do estgio no Dubai Equine Hospital

    rea de estudo Nmero de casos

    Gastroenterologia 32

    Ortopedia 11

    Infecciologia 5

    Oftalmologia 4

    Dermatologia 5

    Pneumologia 3

    Neonatologia 6

    Reproduo 4

    Cardiologia 5

    Total 75

    Figura 3 - Boxes da Unidade de Cuidado Intensivo, Dubai Equine Hospital.

    Figura 4 - Zona de exame chegada do

    Dubai Equine Hospital.

  • 9

    Em relao aos exames complementares de diagnstico, foram acompanhados vrios

    exames radiogrficos (estes essencialmente de aparelho msculo-esqueltico), ecografias

    (essencialmente abdominais, mas tambm de sistema musculo-esqueltico e umbilicais),

    cintigrafias, ressonncias magnticas, endoscopias (gastroscopias e broncoscopias) e

    exames oftalmolgicos. A Tabela 3 expe os diferentes exames complementares

    efectuados durante o estgio.

    Tabela 3 - Exames complementares de diagnstico efectuados ao longo do estgio no Dubai Equine Hospital.

    Exames Nmero

    Cintigrafia 4

    Ressonncia Magntica 4

    Ecografia 38

    Exame ocular 10

    Radiografia 15

    Gastroscopia 15

    Endoscopia Respiratria 5

    Total 91

    A nvel de cirurgias, foram assistidas 27 cirurgias, sendo 18 gastro-intestinais, 5 ortopdicas,

    2 oftalmolgicas e 2 reprodutivas.

    A etiologia das cirurgias gastro-intestinais foi variada: deslocamentos de clon maior,

    tores de clon maior, impactao de clon maior, hrnias inguinais, hrnias incisionais e

    encarceramento nefro-esplnico.

    Com uma mdia de 300 horas de estgio, e casustica bastante variada e elevada, foi

    possvel autora praticar e aperfeioar o raciocnio clnico.

    1.4. Casustica Total

    Foram efectuados trs estgios diferentes e para uma melhor compreenso da casustica

    geral, a Tabela 4 ilustra a relevncia de cada rea da medicina, exibindo a casustica

    encontrada em cada local de estgio, e a casustica total.

  • 10

    Tabela 4 - Casustica total dos 3 estgios efectuados pela autora.

    rea de estudo Brasil Portugal Dubai Total

    Ortopedia 36 19 11 66

    Gastroenterologia 10 2 32 44

    Pneumologia 9 2 3 14

    Oncologia 7 2 0 9

    Reproduo 7 14 4 25

    Infecciologia/Parasitologia 4 2 5 11

    Odontologia 4 5 0 9

    Cardiologia 3 2 5 10

    Endocrinologia 2 2 0 4

    Dermatologia 2 2 5 9

    Neonatologia 1 1 6 8

    Oftalmologia 1 3 4 8

    Total 86 56 75 217

  • 11

    II Reviso Bibliogrfica

    1. Introduo

    A claudicao frequentemente responsvel pela reduo do trabalho e pelo encerramento

    precoce da vida desportiva dos equinos (Kawcak, Frisbie & McIlwraith, 2011). A causa mais

    comum de claudicao a OA, aproximadamente 60% das claudicaes em cavalos esto

    relacionadas com esta doena (National Health Monitoring Systems, 2000; Caron &

    Genovese, 2003).

    A OA pode ser definida como um conjunto de alteraes articulares que determinam uma

    fase final comum: a deteriorao progressiva da cartilagem articular, acompanhada por

    alteraes sseas e dos tecidos moles da articulao (McIlwraith, 2002), tratando-se

    segundo alguns autores de uma desordem maioritariamente no inflamatria das

    articulaes mveis (Caron, 2011), iniciada por factores mecnicos, biolgicos e

    bioqumicos (Laverty, 2010).

    Clinicamente, esta doena caracterizada por dor articular e perda de funo da articulao

    atingida. Tambm utilizado o termo Doena Articular Degenerativa DAD, como

    sinnimo de OA (McIlwraith, 2002), mas segundo Loeser (2005) esta afeco no deve ser

    nomeada como uma doena degenerativa, uma vez que no resulta meramente de um uso

    excessivo e prolongado de uma articulao, mas antes de uma inflamao complexa,

    iniciada por uma alterao a nvel molecular.

    A avaliao ecogrfica articular constitui uma ferramenta diagnstica cada vez mais

    utilizada, de bastante utilidade para a explorao no invasiva articular. O seu principal

    benefcio, comparativamente a uma avaliao radiolgica, a sua superioridade

    relativamente visualizao de tecidos moles, lquido sinovial (LS), cpsula articular e

    ligamentos intra-articulares e periarticulares (Smith, 2008; Caron, 2011).

    Em muitos casos, o exame radiogrfico no revela ainda alteraes, mas o diagnstico de

    OA pode ser feito por ecografia (tambm pode ser utilizado o termo ultrassonografia), uma

    vez que leses ligamentares, capsulares, sinoviais, periarticulares e de menisco podem

    estar presentes e serem assim evidenciadas. E, mesmo quando existem achados

    radiogrficos com alteraes relevantes, a ecografia como meio de diagnstico

    complementar ao primeiro, fornece informaes adicionais de tecidos moles e superfcies

    articulares, o que consequentemente torna possvel uma avaliao mais completa da

    articulao acometida (Denoix, 2009).

    Em estudos mais recentes, foram efectuados exames radiogrficos e ecogrficos de

    articulaes lesionadas, antes das mesmas serem submetidas a artroscopia (diagnstica ou

  • 12

    teraputica), tendo sido concludo que a avaliao ecogrfica de leses articulares

    demonstrou uma maior preciso que a avaliao radiogrfica das mesmas (Hinz & Fischer,

    2011).

    Em relao ao tratamento, este continua a constituir um enorme desafio na clnica equina,

    que se traduz num importante impacto econmico na indstria dos cavalos de deporto

    (Frisbie, Kawcak & McIlwraith, 2009).

    Os estudos sobre leses articulares, tanto na medicina humana quanto na medicina

    veterinria, so mais focados no diagnstico precoce da afeco do que na determinao do

    prognstico do animal quanto vida ou funo atltica. Contudo, com bastante frequncia o

    animal chega para atendimento veterinrio aps algum tempo de evoluo da OA, sendo

    necessria do clnico uma actuao objectiva para estabelecer as reais possibilidades do

    animal recuperar o seu potencial atltico.

    Com esta dissertao procurou-se, alm de efectuar uma reviso bibliogrfica concisa e

    actual acerca da OA equina, efectuar o estudo retrospectivo de cinco anos de uma

    populao de equdeos do Hospital da FMVZ-USP, com vista a relacionar dados do exame

    clnico, do exame ecogrfico e de teraputica instituida, com o intuito de fornecer dados

    suplementares aos clnicos para que prognsticos mais precisos acerca dos casos de OA

    possam ser efectuados.

  • 13

    2. Breve nota sobre classificao, estrutura e funo articular

    Um bom conhecimento anatmico to importante quanto a experincia do operador, para

    que a informao correcta possa ser recolhida, contribuindo para um diagnstico assertivo e

    consequentemente recomendando o tratamento mais adequado (Minshall, 2010).

    As articulaes podem ser classificadas de acordo com a sua amplitude de movimento e,

    dessa forma, existem sinartroses (articulaes imveis), anfiartroses (articulaes com

    ligeira amplitude de movimento) e diartroses (articulaes mveis) (McIlwraith, 2002).

    As articulaes presentes no crnio so sinartroses, em que as diferentes peas sseas

    esto firmemente ligadas por elementos fibrosos ou cartilaginosos. As anfiartroses tendem a

    manter-se por toda a vida do animal e permitem movimentos mais apreciveis, sendo

    caracterizadas pela presena de discos fibrocartilagneos que conectam as superfcies

    articulares articulaes intervertebrais (Getty, 1986; McIlwraith, 2002).

    Nas diartroses existe uma cavidade articular a separar as peas esquelticas, e a

    mobilidade existe mas difere de articulao para articulao (Getty, 1986; McIlwraith, 2002).

    Legenda: a Membrana fibrosa; b Membrana sinovial; c Cpsula articular; d Cartilagem articular; e Ligamento colateral; f Lquido sinovial; g Osso subcondral.

    Tendo em conta um outro tipo de classificao, baseado nas formas de tecido de ligao

    presente, existem sidesmoses (tecido de ligao fibroso) e sincondroses (tecido de ligao

    cartilaginoso) nas articulaes imveis ou ligeiramente mveis respectivamente. Nas

    articulaes mveis diartroses, existe uma cavidade articular delimitada por uma

    Figura 5 - Esquema de uma diartrose/articulao sinovial (Original da autora).

  • 14

    membrana sinovial e preenchida por LS, sendo classificadas como articulaes sinoviais. As

    articulaes sinoviais possuem duas funes principais: permitir o movimento e gerir a carga

    (McIlwraith, 2002).

    A OA uma doena que afecta predominantemente as articulaes sinoviais/diartroses

    (McIlwraith, 2009). As articulaes sinoviais so estruturas complexas, que podem ser

    simples se formadas por duas superfcies articulares, ou compostas se formadas por vrias

    superfcies articulares (Getty, 1986). Estas articulaes possuem vrios constituintes, como

    possvel verificar na Figura 5. Existem as superfcies articulares sseas onde se visualiza

    o osso subcondral, que so revestidas pela cartilagem articular e ligadas por uma cpsula

    articular (que por sua vez constituda pela membrana fibrosa e pela membrana sinovial) e

    por ligamentos (ligamento colateral) e uma cavidade articular entre estas estruturas que

    contm o LS (Getty, 1986).

    A cpsula articular composta pela membrana fibrosa que se encontra mais externamente,

    e pela membrana sinovial, mais internamente. Uma importante propriedade da cpsula

    articular o grau de mobilidade que esta permite (McIlwraith, 2002). A membrana fibrosa,

    tambm denominada ligamento capsular, possui uma espessura varivel e em certos pontos

    chega a estar ausente (Getty, 1986).

    A membrana sinovial, por sua vez, reveste a cavidade articular, excepto sobre as cartilagens

    articulares, sendo uma delgada membrada de rica inervao nervosa e sangunea (Getty,

    1986), histologicamente constituda por importantes clulas os sinovicitos. Os

    sinovicitos de tipo A assemelham-se a macrfagos, os de tipo B a fibroblastos (McIlwraith,

    2002) e os de tipo C parecem constituir uma forma intermdia entre os anteriores (Caron,

    2011). Como tal, as principais funes da membrana sinovial so a fagocitose, a regulao

    dos constituintes do LS e a regenerao (McIlwraith, 2002), sendo que as clulas B

    sintetizam vrias macromolculas importantes, entre estas o cido hialurnico (AH) e o

    colagnio (Caron, 2011). A viscoelasticidade do LS devida sua constituio rica em AH,

    e esta molcula o principal lubrificante dos tecidos moles sinovais (Caron, 2003).

    Frequentemente, esta membrana forma pregas e vilosidades (vilosidades sinoviais) que se

    projectam para dentro da cavidade articular e estas apresentam, em muitos pontos, massas

    adiposas que preenchem vrios interstcios articulares (Getty, 1986), que podem proliferar

    devido a traumatismos ou outros insultos (McIlwraith, 2002). relevante notar que os

    sinovicitos produzem tambm uma grande variedade de mediadores implicados na

    patognese da OA, tais como citoquinas (IL-1 por exemplo), prostaglandinas e proteinases

    (Caron, 2011).

    Os ligamentos fornecem estabilidade entre as peas sseas, os denominados ligamentos

    colaterais esto situados nos lados de cada articulao. Em muitos pontos, os msculos,

    tendes e espessamento da fscia funcionam como ligamentos e aumentam a segurana da

  • 15

    articulao. Portanto os tecidos moles periarticulares incluem msculos, tendes, ligamentos

    e a cpsula articular (Getty, 1986; Caron, 2011).

    Do ponto de vista de uma doena articular, o componente mais importante a cartilagem

    articular ou hialina, composta por um arranjo organizado de proteoglicanos (PGs) e

    colagnio, permitindo simultaneamente o movimento e o suporte de peso. Mais

    especificamente, a cartilagem articular composta por gua, colagnio, PGs e condrcitos,

    nas propores de, respectivamente, 65% a 80%, 10% a 30%, 5% a 10% e menos de 2%

    (Caron, 2011).

    Legenda: a Condrcitos; b Fibras de colagnio em corte longitudinal; c Fibras de colagnio em

    corte transversal; 1 Camada superficial ou tangencial; 2 Camada intermdia ou de transio; 3

    Camada profunda ou radial; 4 Camada calcificada.

    Histologicamente, a cartilagem articular constituda por condrcitos dispostos de forma

    diferenciada em camadas e por uma matriz extracelular complexa de colagnio

    (essencialmente do tipo II), PGs, glicoprotenas e gua (McIlwraith, 2002; Trumble, 2005).

    Os PGs consistem em protenas centrais s quais se ligam molculas de AH e molculas de

    glicosaminoglicanos (GAGs), formando-se assim grandes cadeias de PGs entre as fibras de

    colagnio (Trumble, 2005).

    Figura 6 - Esquema da cartilagem articular, evidenciando as vrias

    camadas e constituintes (Adaptado de McIlwraith, 2002).

  • 16

    Como possvel visualizar na Figura 6, a cartilagem articular possui 4 camadas distintas: a

    camada superficial ou tangencial, na qual os condrcitos so alongados e orientados

    paralelamente superfcie articular; a camada intermdia ou de transio, na qual os

    condrcitos so redondos e distribudos aleatoriamente; a camada profunda ou radial, onde

    os condrcitos esto orientados perpendicularmente superfcie e a camada calcificada,

    onde os condrcitos se encontram em cristais de hidroxiapatite (Caron, 2011) .

    Os GAGs so polissacridos que consistem em dissacridos alternados com cido

    glucurnico e N-acetil-galactosamina (Hardingham, 1998; Hardingham & Fosang, 1992). O

    GAG mais abundante na cartilagem articular a condroitina sulfatada (CS). A maioria dos

    resduos de N-acetil-galactosamina so sulfatados, o que conduz formao de um

    polianio. Esta carga negativa consegue atrair gua, que, quando combinada com a rede de

    colagnio, confere cartilagem articular a sua resistncia compresso para permitir a

    distribuio biomecnica igual, do peso, ao longo da articulao (Trumble, 2005).

    O osso subcondral possui duas funes principais: a absoro do choque/stresse e a

    manuteno da estrutura articular, sendo mais abundante do que a cartilagem articular

    (Kawcak, McIlwraith & Park, 2001)

    O osso subcondral histologicamente e bioquimicamente semelhante aos ossos

    encontrados em qualquer outra localizao, mas a organizao da placa subcondral

    diferente (Hvid, 1988). A placa subcondral constituda por osso cortical que varia em

    espessura, dependendo da articulao. Com o exerccio, occorre remodelamento e a

    quantidade de osso cortical denso pode aumentar, pelo menos a nvel das articulaes do

    carpo e do boleto, mas h grande variao em equinos (Kawcak, McIlwraith, Norrdin, Park &

    Steyn, 2000).

    A organizao do osso esponjoso subcondral varia entre as articulaes, reflectindo as

    foras biomecnicas predominantes e a adaptao ao exerccio (Simkin, Heston, Downey,

    Benedict & Choi, 1991).

    A capacidade de deformao da camada cortical do osso subcondral e do osso trabecular

    epifisrio muito superior do eixo diafisrio cortical e tem uma importante funo na

    atenuao das foras exercidas sobre a articulao. Assim, a esclerose que pode estar

    presente no processo de OA, contribui para a progresso da doena (Dequeker, Mokassa &

    Aerssens, 1995).

    O LS um componente vital para o estado hgido articular, possui funes muito

    importantes, actuando como um lubrificante entre superfcies cartilagneas opostas e como

    agente condroprotector (Henson, Getgood, Caborn, McIlwraith & Rushton, 2012).

  • 17

    3. Etiologia e mecanismos fisiopatolgicos da osteoartrite

    A OA pode ser diagnosticada utilizando-se somente o exame fsico, porm, importante que

    os Mdicos Veterinrios entendam os mecanismos celulares e moleculares envolvidos no

    processo patolgico, para que adoptem uma melhor abordagem teraputica nos pacientes

    osteoartrticos (Carmona & Prades, 2009).

    3.1. Factores etiolgicos

    A OA uma doena dolorosa e debilitante cujo desenvolvimento pode ser rpido (quando

    secundrio a traumatismo, por exemplo), ou lento (meses a anos), consoante a etiologia

    (Oke, 2009). Esta uma afeco comum a todos os tipos de equinos, sendo que tende a

    acometer articulaes de maior amplitude em cavalos de desporto e de menor amplitude em

    cavalos de lazer (Whitton, Hodgson & Rose, 2000).

    Existe uma grande variedade de factores etiolgicos descritos para esta doena, incluindo

    traumatismo, hereditariedade, OCD, fracturas intra-articulares, pequenos traumatismos

    crnicos e artrite sptica, mas ainda assim em muitos casos no foi encontrado qualquer

    factor predisponente. Em muitos equinos a OA desenvolve-se, provavelmente, devido a uma

    agresso crnica de grau reduzido que ocorre como resultado de: instabilidade articular,

    alteraes capsulares ou ligamentares, m conformao ou como resultado de muitos anos

    de actividade desportiva (Higgins & Snyder, 2006).

    Vrios mecanismos patognicos so referidos aquando da descrio do desenvolvimento de

    OA, desde sobrecarga do osso subcondral, instabilidade articular, sinovite/bursite, hipxia,

    ndice de massa corporal e hereditariedade (Carmona & Prades, 2009), sendo que Caron

    (2011) concluiu que o microtraumatismo repetido provavelmente o factor patognico mais

    comum na OA.

    Independentemente da ampla gama de possveis factores iniciadores, assim que a

    cartilagem articular se altera, um ciclo comea, com vrias alteraes que incluem perda de

    elasticidade cartilagnea, diminuio do seu contedo de PGs e libertao de enzimas de

    degradao (Higgins & Snyder, 2006).

    A sobrecarga articular e especialmente do osso subcondral, produz microtraumatismo,

    remodelamento e desvio da linha osteocondral (Pool, 1996). O osso subcondral um

    importante atenuador de choque e o stresse mecnico resulta em microfracturas do mesmo

    (Caron, 2011). Ainda assim, a OA afecta tambm articulaes no sujeitas a stresse

    mecnico e cargas elevadas, pelo que esta teoria no explica totalmente a origem das

    leses (Carmona & Prades, 2009).

  • 18

    A instabilidade articular pode ser devida a laxido de ligamentos, uma ruptura ou

    estiramento ligamentar, fraca condio muscular ou ainda como resultado de uma sinovite

    intensa e deve ser sempre considerada como potencial causa de OA em equinos. A sinovite

    pode ser um fenmeno primrio ou uma consequncia de traumatismo articular. Na OA e na

    artrite reumatide existe uma expresso exagerada e degradao limitada de dois factores

    de induo da hipxia, pelo que a hipxia se trata de uma evidncia consistente no

    desenvolvimento desta doena (Carmona & Prades, 2009).

    Segundo Hough (1997) existem trs mecanismos patognicos para a OA: uma cartilagem

    articular de propriedades biomecnicas deficitrias, mudanas fsicas no osso subcondral e

    foras mecnicas que causam leses na cartilagem articular.

    Esta doena foi evidenciada em quase todas as espcies animais e apesar de ser amide

    referida por alguns autores como forma no inflamatria de artrite, por no se tratar de uma

    inflamao clssica com influxo de clulas inflamatrias para a articulao (como acontece

    na artrite reumatide), a OA caracterizada por uma inflamao, inicialmente a nvel

    molecular (citoquinas, factores de crescimento, etc). Esta inflamao , por sua vez, dirigida

    por processos biomecnicos que danificam os tecidos articulares, por activao de

    processos catablicos (Loeser, 2005).

    Tal como nos seres humanos, a OA no consiste numa doena singular, ela reflecte uma

    resposta dos tecidos articulares a um determinado nmero de factores causais, mas as

    contribuies e interaces especficas dos vrios factores mecnicos e biolgicos que

    contribuem para o desenvolvimento de OA, ainda no so claras (Caron, 2011).

    3.2. Classificao

    Entre as espcies domsticas, a OA particularmente prevalente em ces e cavalos. Esta

    doena, cuja incidncia aumenta com a idade, existe em duas formas: primria ou idioptica

    e secundria. A OA primria ocorre sem uma causa predisponente, pelo que muitas vezes

    aqui atribudo um peso significativo possibilidade do factor hereditariedade; enquanto que

    a secundria a causa mais comum de claudicao em ces, gatos e cavalos e pode

    resultar de uma fora normal em articulaes anormais ou de uma fora anormal em

    articulaes normais (Goggs, Carter, Tanzil, Shakibaei & Mobasheri, 2003).

    J foram propostas vrias teorias para explicar a origem desta doena, mas

    independentemente da causa inicial, o desenvolvimento de OA est constantemente

    associado a uma cascata de processos bioqumicos mediados por citoquinas, enzimas

    proteolticas e outras substncias pro-inflamatrias (prostaglandinas, leucotrienos, xido

    ntrico). Estes mediadores so responsveis pelas entidades patolgicas da doena:

    ostelise, esclerose do osso subcondral, osteofitose, eroso da cartilagem subcondral e

    espessamento da membrana sinovial (Pool, 1996).

  • 19

    De forma a facilitar o entendimento da complexa OA equina, McIlwraith (2002) dividiu-a em

    4 entidades:

    1 OA Aguda, que afecta tipicamente equinos de desporto e articulaes de maior

    movimento como as metacarpofalngicas e metatarsofalngicas (boletos);

    2 OA Insidiosa, associada a articulaes pouco mveis, tais como as interfalngicas e

    inter-trsicas (esparavo sseo), devido a uma intensa carga sobre as mesmas.

    3 OA Acidental ou Eroso da cartilagem articular no progressiva. Este tipo de leso da

    cartilagem articular pode ser comparada s leses verificadas em articulaes do homem,

    em geral de idade avanada.

    4 OA Secundria a outros processos, tais como fracturas intra-articulares, feridas, artrite

    sptica, OCD ou ruptura de ligamentos.

    3.3. O papel do osso subcondral, sinvia e cartilagem articular

    A perda progressiva da estrutura e funo da cartilagem articular e as alteraes do osso

    subcondral e da sinvia (membrana sinovial) que lhe esto associados, so processos

    integrais do sndrome clnico da OA (Buckwalter & Mankin, 1998).

    O osso subcondral desempenha um papel fundamental na patognese da OA em cavalos e

    seres humanos (Kawcak, McIlwraith & Park, 2001) e alteraes macroscpicas podem ser

    evidenciadas no mesmo, tais como aumento da densidade e rigidez, alteraes erosivas

    como microfracturas e quistos subcondrais e formao de osteocondrfitos que podem

    aparecer na periferia da articulao ou na insero da cpsula articular (neste caso devem

    ser denominados entesifitos) (Mortellaro, 2003).

    Ambos, condrcitos e sinovicitos, encontram-se na origem de vrios mediadores

    inflamatrios e enzimas de degradao, pelo que, apesar de vrios estudos j efectuados

    acerca do papel da sinvia e da sua funo, a sua contribuio exacta no desenvolvimento

    das leses ainda no est concludo (Caron, 2011).

    A cartilagem articular, desprovida de irrigao nervosa e sangunea, o primeiro tecido a

    ser danificado na OA (Mortellaro, 2003) e, apesar desta doena afectar todos os tecidos

    articulares, a degenerao da matriz extracelular cartilagnea e a sua perda consequente

    so considerados os fenmenos centrais da mesma (Caron, 2011). Esta estrutura alvo de

    alteraes morfolgicas e estruturais graves e sequenciais, denominadas

    condrodegenerao. Estas alteraes do-se a nvel de contorno (gradualmente mais

    irregular e spero), espessura (cada vez menor), cor (de branco amarelada a acastanhada)

    e consistncia (amolecimento ou condromalcia) (Mortellaro, 2003). A cartilagem de uma

    articulao osteoartrtica identificada por alteraes bioqumicas e perda da matriz

    extracelular, hipocelularidade da matriz (particularmente nos estadios mais avanados da

  • 20

    doena) e por uma diminuio fsica do prprio tecido cartilagneo (Clegg & Mobasheri,

    2003) e considera-se que as alteraes metablicas dos condrcitos desempenham um

    papel fundamental nos fenmenos fisiopatolgicos que culminam na degradao

    cartilagnea (Caron, 2011).

    A actividade metablica dos condrcitos a explicao da condrodegenerao em si, pois

    fisiologicamente a sua funo manter o equilbrio entre a sntese e a degradao da matriz

    extracelular (Caron, 2011; Montellaro, 2003; Loeser 2005) e este equilbrio mantido por

    uma complexa interaco entre condrcitos, citoquinas e estmulo mecnico (Platt, 1996).

    Esta actividade metablica controlada pela produo local de factores anablicos e

    catablicos e no desenvolvimento da doena existe, na fase inicial, um aumento de ambos

    os factores at que, numa fase mais tardia, a actividade catablica predomina, resultando na

    destruio da matriz extracelular (Loeser, 2005).

    3.4. Molculas envolvidas na fisiopatologia da osteoartrite

    Apesar da sntese de PGs ser superior ao normal numa fase inicial da doena, a destruio

    da matriz suficiente para o resultado ser a diminuio da mesma e a cartilagem assim

    progressivamente destruda (Caron, 2011). Portanto, a inflamao pode ser iniciada por

    processos bioqumicos que culminam na destruio dos tecidos articulares, atravs da

    activao de vias catablicas (Loeser, 2005).

    As molculas catablicas so as seguintes: citoquinas pr-inflamatrias, enzimas de

    degradao da matriz extracelular, eicosanides e xido ntrico (NO - nitric oxide). As

    molculas anablicas compreendem os factores de crescimento e as citoquinas anti-

    inflamatrias.

    As citoquinas pr-inflamatrias importantes na OA so a interleucina-1 (IL-1) e o

    factor necrtico tumoral- (TNF) (Caron, 2011) e estes desempenham um papel

    fundamental no incio e desenvolvimento da doena, pois controlam a degenerao

    da matriz da cartilagem articular, o que os torna alvos primrios nas estratgias

    teraputicas (Kapoor, Martel-Pelletier, Lajeunesse, Pelletier & Fahmi, 2011). A IL-1 ,

    na verdade, uma famlia constituda por trs citoquinas: IL-1, IL-1 e a protena

    antagonista de receptores de IL-1 (IL-1ra); sendo a IL-1 uma das citoquinas

    catablicas de maior importncia no desenvolvimento de OA (Platt, 1996). Foi

    demonstrada a capacidade de secreo desta citoquina pela membrana sinovial e a

    IL-1 foi encontrada na sua forma activa na membrana sinovial, LS e na prpria

    cartilagem (Pelletier, Cloutier & Martel-Pelletier, 1995). A IL-1 promove a expresso

    de um factor de transcrio que, por sua vez, vai participar na regulao gentica

  • 21

    havendo produo posterior de outras interleucinas, metaloproteinases (MMPs),

    prostaglandina E2 (PGE2), e NO (Carmona & Prades, 2009). A IL-1 pode ainda

    contribuir para os fenmenos proliferativos da OA, pois a osteofitose pode ser

    causada, pelo menos em parte, pela estimulao de clulas osteoblsticas por parte

    desta citoquina (Caron, 2011). Vrios estudos citados por Caron (2011) vm

    confirmar ainda mais o envolvimento da IL-1 na OA, uma vez que demonstram o

    efeito protector de uma protena antagonista do receptor de IL-1, bloqueando muitos

    dos fenmenos catablicos provocados por esta citoquina in vitro.

    O TNF secretado por macrfagos, condrcitos, sinovicitos e osteoclastos

    (Carmona & Prades, 2009) e tal como a IL-1, esta citoquina estimula a sntese de

    enzimas que degradam a matriz extracelular e inibe a sntese de PGs e colagnio

    pelo condrcito, mas parece representar um papel menos importante (Richardson &

    Dodge, 1997; Richardson & Dodge, 2000; Caron, 2011). As citoquinas pr-

    inflamatrias, produzidas pelos sinovicitos e clulas mononucleares, possuem uma

    importncia significativa na regulao da expresso gentica das MMPs (Fernandes,

    Martel-Pelletier & Pelletier, 2002).

    As enzimas de degradao da matriz extracelular compreendem as MMPs, as

    agrecanases e as serino-proteinases, sendo que as MMPs desempenham o papel

    mais importante nesta degradao, uma vez que possuem a capacidade de destruir

    a maior parte dos componentes da matriz extracelular (Caron, 2011). As MMPs

    pertencem a um grupo de endopeptidases, dependentes de zinco e podem ser

    secretadas por sinovicitos, condrcitos, macrfagos e neutrfilos (Carmona &

    Prades, 2009). Apesar dos mecanismos que levam destruio da cartilagem

    articular no serem totalmente entendidos, muita importncia foi atribuda ao papel

    das MMPs, pois nveis aumentados destas enzimas foram detectados em

    atriculaes com OA, tanto no LS como na prpria cartilagem (Thompson, Clegg &

    Carter, 2001). Existem vrios tipos de MMPs com expresso em tecido articular, nas

    quais se incluem as colagenases (MMP-1, MMP-8, MMP-13), gelatinases (MMP-2,

    MMP-9) e estromelisinas (MMP-3, MMP-10, MMP-11), que esto envolvidas na

    fisiopatologia da OA e possuem substractos cartilagneos distintos pelo que, o seu

    alvo de degradao difere (Caron, 2011; Carmona & Prades, 2009). As agrecanases

    fazem a clivagem do ncleo proteico do agrecano, fazendo parte da fisiopatologia da

    OA e sendo a sntese de algumas destas molculas regulada pela IL-1 (Carmona &

    Prades, 2009). A famlia das serino proteinases constituda por vrias molculas,

    entre elas a plasmina, tripsina, catepsina G e elastase e existem evidncias de que a

    IL-1 pode promover a aco destas enzimas (McIlwraith, 1996).

  • 22

    Os eicosanides, tais como as prostaglandinas, tromboxanos e leucotrienos, so

    metabolitos do cido araquidnico produzidos por clulas inflamatrias, condrcitos e

    sinovicitos (Carmona & Prades, 2009). A PGE2 possui efeitos nocivos no processo

    inflamatrio uma vez que causa vasodilatao, reduz o limiar da dor e promove a

    degradao de PGs, mas ao mesmo tempo possui efeitos anti-inflamatrios por

    aumentar a expresso de citoquinas anti-inflamatrias e diminuir a das citoquinas

    catablicas e MMPs (McIlwraith, 1996). Mais, a PGE2 causa inflamao sinovial e

    pode contribuir para a eroso da cartilagem e do osso subcondral (Caron, 2011).

    O NO um radical livre citotxico altamente reactivo, produto da oxidao de L-

    arginina em citrulina, reaco esta catalizada por um grupo de enzimas denominadas

    sintetases de NO (Caron, 2011). Este tem sido caracterizado como um importante

    mediador biolgico da OA, sendo que a sua produo por parte dos condrcitos

    significativamente superior numa cartilagem com OA e relaciona-se directamente

    com a gravidade da mesma (Hashimoto, Takahashi, Ochs, Coutts, Amiel & Lotz,

    1999). Trata-se de um mediador inflamatrio sintetizado por vrios tipos de clulas

    em articulaes e diminui a deposio de sulfato nas cadeias de GAGs, reduz a

    sntese de colagnio e interfere na regulao positiva do IL-1ra (McIlwraith W. ,

    2005). A sintomatologia de OA parece ser precedida de nveis de expresso de NO,

    nitrato, nitrito e sintetases de NO elevados (Clegg & Mobasheri, 2003). Os

    condrcitos produzem grande quantidade de NO, atravs da sintetase de NO,

    quando estimulados pela IL-1 (Stadler, Stefanovic-Racic, Billiar, Curran, Mcintyre,

    Georgescu, Simmons & Evans, 1991). Tambm se cr que o NO medeie, em parte,

    o aumento de expresso e activao das MMPs, assim como a diminuio da

    sntese da IL-1ra (Caron, 2011). Existem evidncias de que o NO pode promover a

    apoptose em algumas clulas, assim como inibi-la noutras (Chung, Pae, Choi, Billiar

    & Kim, 2001) e a apoptose parece ser uma razo para a grande perda de clulas

    observada nas cartilagens com OA (Adams & Horton, 1998).

    Durante o desenvolvimento da OA, uma grande variedade de factores de crescimento e

    citoquinas so produzidos para contrariar os efeitos catablicos exercidos primariamente

    pelas molculas descritas anteriormente. Mas, infelizmente, e como foi j referido, os efeitos

    das molculas catablicas predominam, resultando num grave desenvolvimento da doena

    (Carmona & Prades, 2009). Os factores de crescimento so pptidos multifuncionais com

    efeitos anablicos e proliferativos nos condrcitos. Dos muitos factores de crescimento

    identificados no estudo da etiopatogenia da OA, os mais importantes so os factores de

    crescimento tipo insulina (IGFs - insulin growth factors) e os factores de crescimento de

    transformao (TGFs - transforming growth factor) (Carmona & Prades, 2009).

  • 23

    O IGF-1 uma importante citoquina anablica circulante, mediadora do

    desenvolvimento da cartilagem articular e do crescimento dos ossos longos

    (Malemud, 2010). Apesar da IGF-1 ter uma expresso elevada em cartilagem de

    equinos jovens, o seu nvel de expresso diminui significativamente em equinos de

    idade mais avanada (Nixon, Brower-Toland & Sandell, 1999). A IGF-1 possui vrios

    efeitos benficos, como o aumento do tempo de vida celular e a melhoria da

    qualidade da matriz celular, atravs de efeitos anablicos na sntese de PGs e no

    aumento da produo de colagnio tipo II (Goodrich et al., 2006).

    O factor de transformao (TGF-) possui efeitos anablicos e proliferativos na

    cartilagem articular e antagoniza os efeitos catablicos da IL-1, ainda assim o TGF-

    possui uma menor importncia do que o IGF-I ou IGF-II (Nixon, Brower-Toland &

    Sandell, 1999). Em relao sua aco contra a IL-1, o TGF- possui um papel

    particularmente importante pela sua capacidade de modificar a supresso da sntese

    do colagnio tipo II da cartilagem articular por parte da IL-1 (Malemud, 2010).

    A terapia gentica baseia-se na funo de pptidos anablicos e o seu objectivo aumentar

    a expresso dos mesmos em clulas como os condrcitos e sinovicitos (Goodrich at al.,

    2006).

    Existem vrias citoquinas anti-inflamatrias produzidas como uma resposta aos efeitos

    catablicos das citoquinas pr-inflamatrias, e entre as mais importantes esto a IL-1ra, IL-

    4, IL-10 e IL-13 (Carmona & Prades, 2009). Uma vez mais, os conhecimentos acerca

    destes factores anablicos foram usados na pesquisa de um tratamento para esta doena e,

    segundo Frisbie et al. (2005), o uso de soro rico em Il-1ra melhorou significativamente a

    claudicao e a aparncia histopatolgica da membrana sinovial nos animais tratados

    (Frisbie, Kawcak & McIlwraith, 2005).

  • 24

    4. Sinais clnicos de OA

    Os sinais clnicos variam consoante o tipo e grau de OA presente. Em articulaes com

    elevada amplitude de movimento e com inflamao aguda, vo existir dados clnicos como

    claudicao, aumento de temperatura, dor ao teste de flexo e aumento de volume da zona.

    No caso destas mesmas articulaes, mas com leses de maior cronicidade, o aumento de

    volume articular vem associado a uma deposio de tecido fibroso e eventualmente

    osteofitose. Neste tipo de articulaes usual e importante notar a diminuio da amplitude

    do movimento. J em articulaes de menor amplitude de movimento, os sinais clnicos

    mais comuns so o aumento de volume articular e o teste de flexo positivo da articulao

    (McIlwraith, 2002).

    Podem, desta forma, ser sumarizados os sinais clnicos presentes em equinos com OA, que

    so os seguintes (Higgins & Snyder, 2006; Caron, 2011; McIlwraith, 2011):

    Claudicao;

    Efuso Articular (visualiza-se um aumento de volume que pode ser devido a

    aumento do LS, aumento de espessura da cpsula articular, edema ou aumento dos

    tecidos peri-articulares);

    Dor palpao;

    Aumento da temperatura local;

    Diminuio da amplitude de movimento;

    Dor no teste de flexo (teste de flexo positivo).

    A claudicao apresentada pelos cavalos com OA , normalmente, uma claudicao

    progressiva e de grau reduzido. Quando uma fractura ou outra leso aguda lhe estiver

    associada, a claudicao pode apresentar-se mais grave (Higgins & Snyder, 2006).

    Ao efectuar o teste de flexo, deve ter-se alguma ateno, pois a resposta dos equinos aos

    mesmos, varia muito com a presso aplicada, pelo que um teste de flexo positivo deve

    sempre ser comparado com a resposta do animal ao teste de flexo do membro contra-

    lateral (McIlwraith, 2002).

    A diminuio da amplitude de movimento um achado comum em equinos com OA e

    causado por uma combinao de factores, tais como: defesa do animal contra a dor que

    sente no movimento da articulao, edema e efuso sinovial, fibrose periarticular

    progressiva, contractura das estruturas peri-articulares ou anquilose articular (Caron, 2011;

    McIlwraith, 2002).

  • 25

    5. Diagnstico

    A OA uma das causas mais comuns de claudicao, sendo de extrema importncia

    encontrar exames diagnsticos que possam ser usados para identificar alteraes

    patolgicas na fase mais precoce possvel, de forma a alcanar um diagnstico mais

    preciso, melhorando a monitorizao e terapia da afeco articular no equino atleta

    (Kawcak, Frisbie, Werpy, Park & McIlwraith, 2008).

    A anamnese deve, sempre que possvel, constituir a fase inicial do exame clnico, pois

    importante saber quando ocorreu o incio da leso ou da claudicao e a progresso da

    doena. comum a diminuio do desempenho dos cavalos de desporto, s vezes sem

    uma claudicao bvia. Um exame fsico detalhado imprescindvel. Os exames

    complementares de diagnstico imagiolgicos incluem a radiografia, a ecografia, a

    cintigrafia, a ressonncia magntica (RM) e a tomografia computorizada (TC). A anlise do

    LS e de biomarcadores (osteocalcina, MMPs, fosfatase alcalina de especificidade ssea,

    etc.) podem ser um complemento de diagnstico interessante, mas a artroscopia ainda o

    gold standard para a visualizao precisa das leses da cartilagem articular (McIlwraith,

    2010b; Frisbie, 2011)

    5.1. Exame clnico

    5.1.1. Anamnese e exame objectivo em repouso

    A informao colhida pelo Mdico Veterinrio na anamnese dividida em duas categorias: a

    informao bsica, que necessria para todos os cavalos e a informao especfica,

    retirada das respostas s perguntas efectuadas pelo Mdico acerca daquele cavalo em

    particular. A informao bsica consiste em raa, sexo, idade, histria do problema,

    durao, alteraes ao longo do tempo, problemas anteriores e medicao prvia. A

    informao especfica refere-se ao tipo de desporto praticado e nvel de competio. O

    Mdico Veterinrio deve saber exactamente qual a raa, uso e nvel de competio de cada

    cavalo e entender o que isso significa, uma vez que o prognstico varia muito, consoante o

    tipo de cavalo de desporto (Ross, 2011a).

    Deve ser efectuado um exame cuidadoso, com visualizao e palpao do membro em

    estao e em flexo. Este exame objectivo implica a avaliao do equino em repouso, para

    que possam ser detectadas alteraes de conformao corporal, aprumos, integridade das

    estruturas articulares e tendneas, feridas e alteraes de casco. A visualizao e a

    palpao de todas as estruturas musculo-esquelticas devem ser efectuadas de forma

    sistemtica, no sentido distal para proximal (Ross, 2011c).

  • 26

    5.1.2. Exame dinmico

    O equino deve ser observado numa superfcie dura, a passo e a trote em linha recta,

    seguindo-se um exame do mesmo, num crculo de 10 a 20 metros, para as duas mos.

    Depois do piso duro, deve ainda ser observado no piso mole em crculo, a passo e trote,

    tambm para as duas mos (Caron, 2011; Ross, 2011d).

    A claudicao presente em equinos com OA devida principalmente ao envolvimento dos

    tecidos peri-articulares e do osso subcondral, pois so relativamente bem inervados. Apesar

    das alteraes nestes tecidos e a claudicao estarem relacionadas, os cavalos com fibrose

    peri-articular substancial, demostram um grau de claudicao inferior ao esperado.

    Referente ao osso, o peristeo muito bem inervado e a sua irregularidade, causada pelos

    ostefitos peri-articulares, constitui uma fonte de dor articular e, consequentemente, de

    claudicao (Caron, 2011).

    muito importante quantificar a gravidade da claudicao e para isso existem escalas

    padronizadas de 0 a 5 e de 0 a 10. O sistema adoptado pela Associao Americana de

    Mdicos Veterinrios de Equinos (AAEP - American Association of Equine Practitioners)

    bastante utilizado e o seguinte:

    Grau 1 - Difcil de observar e no consistente, independentemente das

    circunstncias (crculo, piso duro, piso inclinado);

    Grau 2 Difcil de observar a passo ou trote em linha recta, mas consistente em

    certas circunstncias (crculo, piso duro, piso inclinado);

    Grau 3 Consistentemente observado a trote em todas as circunstncias;

    Grau 4 Claudicao bvia com marcado movimento de cabea, anca, ou

    encurtamento da passada;

    Grau 5 No existe p