Terra Livre 42

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TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL BOLETIM Nº 42 FEVEREIRO DE 2012 Contra o fórum taurino Médico veterinário escreve ao Presidente do Governo regional dos Açores e aos deputados da ALRA Não aos OGM A Liberdade segundo agostinho da silva

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Boletim do CAES

Transcript of Terra Livre 42

TERRA LIVRE PARA A CRIAÇÃO DE UM COLECTIVO AÇORIANO DE ECOLOGIA SOCIAL

BOLETIM Nº 42 FEVEREIRO DE 2012

Contra o fórum taurino

Médico veterinário escreve ao Presidente do Governo regional dos Açores e aos deputados da ALRA

Não aos OGM

A Liberdade segundo agostinho da silva

Lagoa (eutrofizada) das Furnas, Agosto de 2011

2

Tendo em conta que nos seus princípios, o CAES

defende que é modelo actual de produção e

consumo o responsável pela violação dos direitos

humanos e ambientais da maior parte da

humanidade, sendo também responsável pelo

sofrimento infligido aos animais;

Considerando que é fundamental o respeito do

homem para com os restantes animais domésticos

e selvagens, sendo imprescindível promover uma

educação, cultura e legislação que garantam os

direitos dos animais;

Considerando que a sociedade que defende não

pode aceitar espectáculos onde se torturem

animais, como as touradas;

O CAES subscreve o “Apelo dos Açores que

abaixo transcreve:

MANIFESTAÇÂO DE DESAGRADO E

REPÚDIO

Entre os dias 25 e 28 de Janeiro de 2012 realiza-se o II

Fórum da Cultura Taurina, na ilha Terceira (Açores).

A iniciativa da Tertúlia Tauromáquica Terceirense é

apoiada pelo Governo Regional dos Açores e pelas

Câmaras Municipais da ilha, Angra do Heroísmo e

Praia da Vitória.

Atendendo que as touradas são eventos cruéis e

indignos de nações civilizadas, tendo já sido abolidas

da maioria esmagadora dos países do mundo;

Atendendo a que as touradas não criam riqueza para os

povos, apenas beneficiando um pequeno número de

empresários tauromáquicos;

Atendendo a que a realização de eventos da natureza

do mencionado Fórum apenas vem manchar o bom

nome dos Açores, junto da comunidade internacional;

Atendendo a que, tal como já aconteceu no passado, o

referido invento é uma primeira etapa no caminho de

mais uma tentativa de aumentar a barbaridade do

tratamento dados aos touros e aos cavalos através da

legalização da sorte de varas, primeiro passo para a

introdução de touros de morte nos Açores;

Atendendo à crise em que está mergulhada a Região

Autónoma dos Açores, tal como todo o país, com o

aumento de desempregados, com cortes em sectores

fundamentais como a saúde e a educação, com

reduções nos vencimentos, com o agravamento dos

impostos, etc.;

Vimos manifestar a nossa estranheza e repúdio pelo

apoio, através do uso de dinheiros dos impostos de

todos os cidadãos, que é concedido a um evento que

em nada dignifica a condição humana e animal e que

em nada contribui para o reconhecimento internacional

dos Açores como região turística merecedora de ser

visitada.

Açores, 15 de Janeiro de 2012

CAES- Colectivo Açoriano de Ecologia Social

CAES CONTRA APOIO AO II FÓRUM DA CULTURA TAURINA

2

Foram várias as associações que manifestaram o

seu desagrado/repúdio pela realização, entre 25 e 28

de Janeiro, do II Fórum da Cultura Taurina, com

destaque para a Liga Portuguesa dos Direitos dos

Animais, para a Animal e para o MATP.

Atendendo ao facto de a posição desta última

organização ter partido do seu núcleo dos Açores,

abaixo transcrevemos na íntegra o texto que a

mesma enviou à comunicação social.

O MATP-AÇORES E O II FÓRUM DA CULTURA TAURINA Como é do conhecimento público, vai realizar-se,

com o apoio da Secretaria Regional da Economia,

do Governo Regional dos Açores, e das Câmaras

Municipais de Angra do Heroísmo e da Praia da

Vitória, entre os dias 25 e 28 de Janeiro se o II

Fórum da Cultura Taurina, na ilha Terceira

(Açores).

O MATP, associação nacional sem fins lucrativos

que tem por objecto a defesa dos direitos dos

animais, vem publicamente manifestar o seu apoio

ao apelo lançado por um grupo de açorianos que

está preocupado com o sofrimento infligido aos

touros nos vários tipos de touradas,

nomeadamente nas de praça, e com o uso indevido

de dinheiros públicos para fomentar a

deseducação e a insensibilidade para com o

sofrimento de todos os seres vivos sencientes.

O MATP, que luta por uma sociedade mais

harmoniosa, considera que já é tempo de acabar

com a tauromaquia, tradição retrógrada e

sangrenta já abolida na maioria dos países do

mundo, que existe apenas para satisfazer o “ego”

de alguns que se divertem em observar o

sofrimento e nalguns casos a morte dos touros e a

ganância de outros que lucram com uma

actividade que não cria riqueza para o povo

açoriano.

O MATP, que luta por uma sociedade mais justa e

evoluída, lamenta a insensibilidade do Governo

Regional dos Açores que continua, a pretexto do

interesse turístico, a apostar numa actividade que é

cada vez mais repudiada a nível mundial e que

poderá levar a que haja uma fuga de visitantes

para outras paragens, onde espectáculos

degradantes como as touradas não existem, de que

são exemplo os outros arquipélagos da

Macaronésia, Cabo Verde ou Canárias.

Açores, 20 de Janeiro de 2012

Pelo MATP- Movimento Anti-touradas de

Portugal (AÇORES)

ASSOCIAÇÕES MANIFESTAM-SE CONTRA O FÓRUM TAURINO

3

Está anunciado o II Fórum da Cultura Taurina

com especialistas de 9 países que se reúnem

durante 3 dias na Ilha Terceira, a campeã da

“aficcion” no Arquipélago.

Os efeitos do fórum serão evidentes, visto que a

tauromaquia é uma modalidade que assenta em

primeira linha na exploração violenta e cruel do

touro, sempre, e do cavalo nos programas em que

ele é utilizado como veículo do actor

tauromáquico e obrigado a tornar-se “cúmplice”

da lide, sofrendo ansiedade e esgotamento e

arriscando ferimento e morte.

O fórum está a ser considerado como um

momento de reflexão, de prestígio para os Açores,

de promoção da atractibilidade da Região e como

reforço do turismo.

Considero que, quanto à influência sobre o

turismo, as vertentes serão duas e opostas:

Poderá atrair aficcionados, gente que sob a

designação de arte, aprecia a violência e as fases

impressionantes do massacre do touro e as

arrancadas e as fintas do cavalo dominado pelo

cavaleiro. Poderá também atraír gente tornada

curiosa pela publicidade enganosa da organização.

Por outro lado, irá afastar turistas conscientes e

compassivos, que vão preferir outros destinos,

onde tal espectáculo de massacre não seja

permitido.

Quanto à influência sobre o prestígio dos Açores,

só pode ser muito negativa, porque publicita o

facto de que a Região Autónoma, parte de

Portugal (que também é atingido), pertence ao

retrógrado grupo dos únicos 9 países do Planeta,

onde touros e cavalos são massacrados

legalmente.

Falta referir-me ao momento de reflexão, que bem

necessário é e para o qual eu pretendo contribuír

com muito empenho, argumentando

resumidamente com o que a Ciência Médico-

Veterinária, a Etologia e a minha experiência

profissional e desportiva me ensinaram.

A ciência, fundamentada na investigação

anatómica, fisiológica e neurológica dos animais

MÉDICO VETERINÁRIO ESCREVE AO PRESIDENTE DO GOVERNO

REGIONAL DOS AÇORES E AOS DEPUTADOS

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usados na tauromaquia, confirma o que o senso

comum revela: touros e cavalos sofrem antes,

durante e depois dos espectáculos tauromáquicos.

O touro é o elemento sempre massacrado da

tauromaquia, desde intensa e prolongada

ansiedade a partir do momento em que é retirado

do campo, seguindo-se repetidos e dolorosos

ferimentos, esgotamento anímico e físico e quase

sempre a morte em longa agonia.

O cavalo, dominado e violentado pelo cavaleiro

tauromáquico é o elemento obrigado a arriscar

tudo e a sofrer perante o touro, desde ansiedade,

ferimento físico até a morte.

Animais são seres dotados de sistema nervoso

mais ou menos desenvolvido, que lhes permitem

sentir e tomar consciência do que se passa em seu

redor e do que é perigoso e agressivo e doloroso.

Este facto leva-os a utilizar mecanismos de defesa

e de fuga para poderem sobreviver. Sem essas

capacidades não poderiam subsistir.

Portanto, medo e dor são essenciais e condição de

sobrevivência.

É testemunho da maior ignorância ou intenção de

ludíbrio, o afirmar-se que algum animal em

qualquer situação possa não sentir medo e dor, se

for ameaçado ou ferido.

A ciência revela que anatomia, fisiologia e

neurologia do touro, do cavalo e do homem são

extremamente semelhantes. Os ADN são quase

coincidentes.

As reacções destas espécies são análogas perante a

ameaça, o susto e o ferimento.

O especismo é uma atitude que, arrogantemente,

coloca o Homem numa posição de superioridade,

que lhe permite dispor sobre os animais, como

quiser.

A compaixão selectiva visa tratar bem certas

espécies (em geral cães e gatos) e menos bem,

outras, quase consideradas como objectos.

Os animais não humanos são considerados menos

inteligentes do que os seres humanos. Podem estar

mais ou menos próximos e mais ou menos

familiarizados connosco, mas eles são tanto ou

mais sensíveis do que nós ao medo, ao susto e à

dor.

É, portanto, nosso dever ético não lhes causar

sofrimento desnecessário.

"A compaixão universal é o fundamento da ética"

- um pensamento superior do filósofo alemão

Arthur Schopenhauer.

5

A tauromaquia está eivada de especismo sobre o

touro e sobre o cavalo.

O homem faz espectáculo e demonstração da sua

"superioridade" provocando, fintando, ferindo

com panóplia de ferros que cortam, cravam,

atravessam, couro, músculos, tendões, órgãos

vitais, esgotam, por vezes acabam por matar o

touro, em suma lhe provocam enorme e

prolongado sofrimento para gaúdio de uma

assistência que se diverte com o sofrimento, a

agonia e morte de um animal.

Isto é comparável aos espectáculos de circo

romano, há muito considerado espectáculo

bárbaro, onde escravos e cristãos eram obrigados a

lutar e a matarem-se uns aos outros ou eram

atirados aos leões para serem devorados.

O cavalo é dominado com ferros castigando as

gengivas bucais e a língua e por esporas mais ou

menos agressivas, até cortantes, no ventre.

Esta montada é posta em risco de mais ferimento e

de morte, pelo cavaleiro tauromáquico, que o

utiliza como veículo para combater e vencer o

touro.

O sofrimento do cavalo soma-se aqui ao do touro.

Na tauromaquia, touro e cavalo são excluídos de

qualquer compaixão, antes pelo contrário, estão

completamente submetidos à violência e ao

sofrimento.

E o espectáculo é ainda legal em Portugal e mais

oito países, publicitado e mostrado na

comunicação social, aclamado, fonte de negócio,

de prosa e de poesia. Que tristeza.

Tauromaquia é a “arte” de dominar e massacrar

touros e cavalos e organizar com isso espectáculos

para recreação de aficionados ou de simples

curiosos.

Mas nesta “arte” não são somente touros e cavalos

que sofrem.

São muitas as pessoas conscientes e compassivas,

que por esta prática de violência e de crueldade se

sentem extremamente preocupadas e indignadas e

sofrem solidariamente e a consideram anti-

educativa, fonte de enorme vergonha e atentatória

da reputação internacional de Portugal, obstáculo

dissuasor do turismo de pessoas conscientes, que

se negam a visitar um país onde tais práticas, que

consideram "bárbaras", acontecem! Porque fazem

sofrer os animais os chamados “artistas”? Dar-

lhes-à isso algum gozo?

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Será isso admirável, corajoso, heróico.

Com certeza que existem boas e inócuas

alternativas para os aficionados, para os

trabalhadores tauromáquicos, para os "artistas",

para os campos e para os touros e cavalos.

Os campos podem ser utilizados de outro modo.

A raça pode ser mantida sem a cruel tauromaquia.

Os trabalhadores, campinos e ganadeiros podem

continuar o seu trabalho.

Os forcados, cujo papel só surge depois do touro

ter sido massacrado e esgotado previamente,

podem dedicar-se a actividades ou desportos leais

e entre iguais, onde valentia, luta corpo a corpo

são fulcrais, como o boxe, a luta livre e outros e

que exigem espírito de equipa, como o rugby por

exemplo, considerado desporto de cavalheiros.

Aconselho, pela sua mensagem, alguns vídeos

extremamente informativos, muito influentes no

processo que teve lugar no Parlamento da

Catalunha de que resultou a votação que levou à

proibição de corridas de touros naquela região

autónoma espanhola, facto que está tendo enorme

repercussão mundial.

Fundamentado no acima exposto, anseio pelo

proibição das corridas de touros em Portugal e no

mundo. Não quero nem posso admitir que

qualquer região ou nação seja vergonhosamente

conhecida no seu trato aos animais como sendo

uma região ou nação bárbara, retrógrada e cruel.

Na certeza de que V. Exas. tomarão em

consideração esta minha mensagem, assino-me

Vasco Manuel Martins Reis, médico veterinário desde

1967, actualmente aposentado em Aljezur.

Permitam-me o seguinte curto extracto do meu

curríulo, o qual ilustra alguma da minha experiência

prática que dita muitas das minhas opiniões:

Trabalhei 7 anos na Suíça, 10 anos na Alemanha, 3

anos nos Açores (na Praia da Vitória, Ilha Terceira,

onde existe aficcion e onde tive de intervir

obrigatoriamente no acompanhamento dos touros nas

touradas na minha qualidade de médico veterinário

municipal) e 21 anos em Portugal Continental.

Trabalhei sempre, entre outras espécies, com bovinos e

cavalos.

Fui cavaleiro de concurso hípico completo e detentor

de dois cavalos polivalentes.

Conheço bem os cavalos, a sua personalidade e as suas

aptidões.

Fui entusiástico jogador de rugby durante três anos.

Vasco Reis

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“É melhor dizer certas coisas e criar

antipatias a não dizer nada e viver de

aparências.” (Manoel Nascimento)

Na passada quinta-feira, pelas cinco horas da

manhã, talvez fruto das conversas e da troca de

correspondência que havia mantido com algumas

pessoas que se sentem com coragem para contar

as suas dificuldades, nomeadamente as ameaças,

ainda veladas que recebem, acordei depois de um

sonho/pesadelo. No mesmo, estava a ser

perseguido por um touro bravo numa canada e

tendo-me escondido atrás de uns arbustos fui

surpreendido por outro que entretanto surgiu do

nada.

O que se passou no sonho, que me fez levantar

mais cedo e escrever este texto, está a acontecer

na realidade com alguns cidadãos que decidiram

por manifestar o seu descontentamento pela

realização do II Fórum da Cultura Taurina que

conta com o apoio do Governo Regional dos

Açores e das duas Câmaras Municipais da ilha

Terceira. Com efeito, as pessoas em causa

sentiram-se encurraladas e abdicaram da sua

liberdade de exprimir os seus sentimentos a favor

da ditadura do medo.

Mas, mas em que se manifesta o que eu denomino

de ditadura?

Em primeiro lugar, no silêncio de quase todos os

que independentemente do seu credo religioso,

nem uma palavra pronunciam sobre o apoio

escandaloso da Direcção Regional de Turismo no

valor de 75 mil euros para a realização do

mencionado fórum, acrescidos de mais 5 mil euros

para a realização de uma tourada à corda

promovida pela Casa de Pessoal da RTP, já não

sei se é Açores, enquanto, às maiores festas

religiosas dos Açores, apenas concede o apoio de

28 mil euros.

Todos nós sabemos que os governos gostam de

estudos. É, portanto, a hora de se exigir a

divulgação de todos os apoios concedidos à

A DITADURA ESTÁ A PASSAR POR AQUI

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tauromaquia pelo menos nos últimos dez anos e a

realização de um estudo para provar ou não se

houve algum retorno do uso dos nossos impostos

no apoio a touradas em termos do aumento do

número de turistas na ilha Terceira.

Se ficarmos pelo número de pessoas vindas de

fora da região que se deslocaram para o Fórum

taurino e as que se chegam anualmente a São

Miguel para assistir às festas do Senhor Santo

Cristo, não temos quaisquer dúvidas e não será

necessário gastar mais dinheiros com estudos.

Em segundo lugar, queria mencionar a confusão

que pela segunda vez, pelo menos no que diz

respeito a touradas, a ALRA- Assembleia

Legislativa da Região Autónoma dos Açores, fez

relativamente a um conjunto de e-mails que

recebeu.

Será que a ALRA não consegue distinguir, um

texto de protesto ou de sensibilização para uma

injustiça social, como é o caso do uso de dinheiros

dos impostos para benefício de poucos e mau trato

de animais, de uma petição que deve obedecer a

um conjunto de regras previamente definidas?

Será que a a ALRA tem legitimidade para

transformar uma coisa na outra?

Ou pretende a mesma, como já aconteceu

anteriormente, depois chegar à conclusão de que a

suposta petição não obedece às regras e que,

portanto, os subscritores não sabem o que estão a

fazer e tão incompetentes são que nem sequer

conseguem promover uma petição digna de ser

discutida em plenário?

Ainda a propósito dos e-mails enviados, por que

divulgou a ALRA a notícia de que os supostos

peticionários não queriam ser ouvidos, quando

não houve petição nenhuma e por que razão a

RDP, não sei se ainda é Açores, escreveu que os

peticionários alegaram que no fórum iria ser

aprovada a sorte de varas…?

Má jornalismo ou distorção propositada do texto

para ridicularizar todas as pessoas que tiveram a

coragem de enviar e-mails. Digo coragem pois

nesta terra se não há censura imposta, silêncios

cúmplices abundam e auto-censura é o pão-nosso

de cada dia.

Nos Açores é cada vez mais difícil dar a cara de

tal modo que, a propósito dos e-mails enviados à

ALRA, o jornalista António Gil, no facebook

escreveu o seguinte: “Recebi desabafos de alguns

dos nossos membros [Info Açores] relativamente a

esta questão, e ao receio que sentem em assumir

na ALRA as suas opiniões. Nem todos se podem

dar a esse luxo…”

Já agora e antes de ser acusado de não entender

nada de tauromaquia pois nunca entrei numa praça

de touros, aqui vai informação pertinente. Vivi

três anos na ilha Terceira, assisti a uma tourada de

praça, a uma tourada dos estudantes e a várias

touradas à corda. Foi na ilha Terceira que aprendi

a detestar touradas de praça, pela brutalidade com

que o touro é tratado, e na ilha Graciosa que

aprendi a desprezar as touradas à corda, depois da

morte de um jovem numa delas.

T.B.

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Pensei escrever sobre a já muito badalada pressão

exercida por dirigentes do mais poderoso país do

mundo para que, a meia dúzia de agricultores dos

Açores, seja permitido o cultivo de transgénicos.

Contudo, como o repúdio que tal tentativa (?) de

mandar em casa alheia suscitou foi quase

unânime, vou aproveitar a oportunidade para

abordar assuntos de menor importância.

1- Eu é que sou o Presidente da Junta

De vez em quando sou confrontado com

afirmações que não correspondem à verdade, de

que o exemplo mais comum é a reivindicação da

autoria de determinada iniciativa ou o cantar

vitória em determinada “batalha”.

Para não cansar os leitores e por estar

directamente envolvido em muitas situações,

limitar-me-ei a dois exemplos.

Há alguns anos, estava eu a caminhar pelas ruas

de Ponta Delgada quando encontro uma antiga

aluna minha que, a meio de uma conversa de

circunstância, me diz: “Professor, tenho-o visto,

de vez em quando, na televisão, a falar como

representante dos Amigos dos Açores que é a

associação que foi criada pelo meu sogro …”. Por

não ter pedido autorização para tal não vou

divulgar aqui o nome do fundador da referida

associação. Apenas sei que o mesmo não tem,

nunca teve e não se prevê que venha a ter qualquer

nora.

Durante um dos governos liderados pelo PPD-

PSD houve a tentativa de instalação de uma

fábrica de plásticos na ilha de São Miguel que iria

“tratar” plásticos importados. Depois de várias

associações se terem manifestado contra a

presença da referida fábrica, a mesma não foi

avante, segundo creio, por falta de credibilidade

dos seus promotores. Conhecida a notícia, logo

uma das associações veio cantar vitória, alegando

que tal havia acontecido devido à pressão por ela

exercida.

2- Quem é o pai da criança?

Há alguns meses, se não me falha a memória, duas

associações dos Açores, uma da ilha de São

Miguel e outra da ilha Terceira, lançaram uma

petição, solicitando a proibição da introdução, no

Arquipélago dos Açores, de variedades vegetais

geneticamente modificadas e apelando para que a

A PROPÓSITO DE ORGANISMOS GENETICAMENTE

MODIFICADOS

10

Região Autónoma dos Açores fosse declarada

zona livre de cultivo de variedades de OGM.

Mas, a iniciativa que é de louvar, pois nos Açores

não há o bom costume de associações diferentes,

sobretudo de duas ilhas que muitas vezes estão de

costas voltadas, unirem esforços por uma causa

comum, levantou logo dúvidas acerca da sua

paternidade.

Embora o facto de a iniciativa ter surgido seja

mais importante do que saber quem são os

progenitores aqui vão três “momentos” que

poderão contribuir para por alguns pontos nos ii.

Ao longo dos tempos foram várias as tentativas

para fazer algo relacionado com os OGM. Assim,

foi em Junho de 2008, aquando da visita de José

Carlos Marques, editor do livro “Pensar como

uma Montanha”, de Aldo Leopold, que, então, na

minha qualidade de presidente dos Amigos dos

Açores fiz o último esforço para trazer, a São

Miguel, a Professora Auxiliar da Universidade

Católica Portuguesa, Margarida Silva, que é

familiar do referido editor, autora do livro

“Alimentos Transgénicos - Um guia para

consumidores cautelosos”.

A 26 de Setembro de 2008, poucos dias antes de

falecer, o Veríssimo (Borges) fez-me chegar um

texto intitulado “Classificação dos Açores em

TERRA como “Zona Livre de Transgénicos” e no

MAR como “Santuário de Cetáceos”, no qual

escrevia o seguinte: “Nos Açores, sendo ilhas

isoladas, o único interesse das multinacionais será

a instalação de campos experimentais de casos

realmente perigosos, ao ponto de terem medo da

perda de controlo e fuga para a natureza nos seus

próprios países. [….] Neste contexto surge o

interesse objectivo e subjectivo de decretar todas

as ilhas açorianas como “Região Livre de

Transgénicos” e abandonar os projectos

peregrinos, existentes na gaveta, de tornar a breve

trecho a Graciosa em campo experimental.” Penso

que este texto terá sido publicado no Correio dos

Açores, pelo menos era a intenção do seu autor.

Mas, se efectivamente se quiser encontrar o pai da

criança, embora se aguardem os testes de ADN,

aqui vai o seu nome: Fruter. Com efeito, aquela

cooperativa terceirense, através do seu líder Siuve

de Menezes, em Março de 2008, apelou ao

Governo Regional dos Açores para que declarasse

os Açores região livre de transgénicos, tal como já

acontecia com a Madeira e com as Canárias.

Teófilo Braga

(Correio dos Açores, 18 de Janeiro de 2012)

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Foi hoje revelado pela Agência Lusa que a Embaixada

Americana em Lisboa pressionou a Ministra da

Agricultura, a Assembleia Legislativa e o Governo

Regional dos Açores no final de 2011 para que não

seja criada a zona livre de transgénicos já anunciada

pelo executivo regional. A Plataforma Transgénicos

Fora condena este lóbi oficial a favor dos interesses

privados de algumas empresas americanas e apela ao

governo açoriano para que avance de imediato para a

concretização da zona livre no arquipélago.

Esta iniciativa americana não surpreende, uma vez que

os telegramas diplomáticos americanos revelados pelo

WikiLeaks mostram um padrão de interferência

generalizada nas políticas europeias sobre OGM, desde

a França à Itália, à Hungria e até ao Vaticano, entre

outros. (1)

Os responsáveis americanos chegaram inclusivamente

a ver a subida dos preços dos alimentos como uma

oportunidade de garantir mais autorizações de

transgénicos para a Europa. (2)

O objectivo assumido, tal como refere uma publicação

oficial americana, é "educar" os europeus para os

méritos dos alimentos transgénicos e evitar

"precedentes com implicações". (3)

Mas a posição americana agora revelada no telex da

Lusa mostra que a embaixada não conhece os factos.

- O embaixador Allan Katz pretende que os

agricultores açorianos tenham acesso aos transgénicos,

mas isso já acontece desde 2005 e nunca esses

produtores mostraram qualquer interesse em os semear

(à exceção de um único campo em 2011, de índole

"experimental", segundo o governo regional).

- Os transgénicos são apresentados como inócuos, mas

a própria agência de regulamentação alimentar

americana, FDA, se escusa a atribuir qualquer selo de

segurança aos transgénicos que circulam no país.

- Os transgénicos são também apresentados como um

avanço agrícola mas de facto, entre 2007 e 2008, cerca

de metade dos agricultores portugueses no continente

que os usaram por sua iniciativa no primeiro ano já os

tinham abandonado no ano seguinte.

- A proibição de cultivo por países e regiões é

precisamente um dos direitos já reconhecidos pela

Comissão Europeia, que aceitou oficialmente a criação

da zona livre da Madeira.

- A utilização de transgénicos na agricultura tem

acarretado tal contaminação que o cultivo de sementes

convencionais e biológicas já foi posto em causa em

vários países, incluindo os próprios Estados Unidos.

Essa evolução representaria uma perda real e

irreversível para a diversidade açoriana, algo que o

embaixador opta por não considerar.

Se os transgénicos fossem assim tão vantajosos para os

portugueses, como o embaixador refere, não seria

necessário vir cá tentar forçar o seu uso.

Notas

(1) Ver por exemplo http://www.euractiv.com/global-

europe/us-lobbied-eu-back-gm-crops-wikileaks-news-

500960

(2)

http://foodfreedom.wordpress.com/2010/12/14/leaked-

cable-bubble-gmo-eu/

(3)

http://gain.fas.usda.gov/Recent%20GAIN%20Publicati

ons/How%20to%20Influence%20EU%20Public%20O

pinion%20about%20Agricultural%20Biotechnology_

Rome_Italy_1-11-2010.pdf

__ A Plataforma Transgénicos Fora é uma estrutura integrada

por onze entidades não-governamentais da área do ambiente

e agricultura (AGROBIO, Associação Portuguesa de

Agricultura Biológica; CAMPO ABERTO, Associação de

Defesa do Ambiente; CNA, Confederação Nacional da

Agricultura; Colher para Semear, Rede Portuguesa de

Variedades Tradicionais; FAPAS, Fundo para a Proteção

dos Animais Selvagens; GAIA, Grupo de Ação e

Intervenção Ambiental; GEOTA, Grupo de Estudos de

Ordenamento do Território e Ambiente; Associação IN

LOCO; LPN, Liga para a Proteção da Natureza; MPI,

Movimento Pró-Informação para a Cidadania e Ambiente e

QUERCUS, Associação Nacional de Conservação da

Natureza) e apoiada por dezenas de outras. Para mais

informações contactar [email protected] ou

www.stopogm.net

Mais de 10 mil cidadãos portugueses reiteraram já por

escrito a sua oposição aos transgénicos.

Plataforma Transgénicos Fora

www.stopogm.net

GOVERNO DEVE REJEITAR FIRMAMENTE PRESSÃO

AMERICANA PRÓ - TRANSGÉNICOS

12

“Para que possa compreender Deus,

para que possa, melhorando-se,

melhorar também outros, o homem

precisa de ser livre; as liberdades

essenciais são três: liberdade de cultura,

liberdade de organização social,

liberdade económica. Pela liberdade de

cultura, o homem poderá desenvolver

ao máximo o seu espírito crítico e

criador; ninguém lhe fechará nenhum

domínio, ninguém impedirá que

transmita aos outros o que tiver

aprendido ou pensado. Pela liberdade de

organização social, o homem intervém

no arranjo da sua vida em sociedade,

administrando e guiando, em sistemas

cada vez mais perfeitos à medida que a

sua cultura for alargando; para o bom

governante, cada cidadão não é uma

cabeça de rebanho; é como que o aluno

de uma escola de humanidade: tem de

se educar para o melhor dos regimes

possíveis. Pela liberdade económica, o

homem assegura o necessário para que

o seu espírito se liberte de preocupações

materiais e possa dedicar-se ao que

existe de mais belo e de mais amplo;

nenhum homem deve ser explorado por

outro homem; ninguém deve, pela posse

dos meios de produção e de transporte,

que permitem explorar, por em perigo a

sua liberdade de Espírito ou a liberdade

de Espírito dos outros. No Reino

Divino, na organização humana mais

perfeita, não haverá nenhuma coacção

de governo, nenhuma propriedade. A

tudo isto se poderá chegar gradualmente

e pelo esforço fraterno de todos.”

(Extraído de Doutrina Cristã, in “A

Batalha”, nº 247, Nov - Dez de 2011)

A Liberdade segundo Agostinho da Silva

Editorial Este número do boletim Terra Livre

é dedicado à luta contra a

tauromaquia nos Açores bem como

aos OGM.

Uma vez mais, uma actividade

promovida por uma indústria

decadente, o II Fórum da Cultura

Taurina, mereceu o apoio financeiro

do Governo Regional dos Açores e o

silêncio cúmplice de muitas

associações, inclusive das que se

dedicam à protecção animal, mas

que têm uma visão especista da

questão, pois não incluem entre as

vítimas dos maus tratos animais os

cavalos e os touros.

Para nós uma sociedade só poderá

ser mais justa e evoluída se tiver em

consideração o respeito pelos direitos

humanos e dos restantes animais.