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Surdez A perda da audição é uma deterioração desta função. A surdez é uma perda auditiva profunda. Costuma-se não perceber a importância da audição em nossas vidas, a não ser quando começa a faltar a nós próprios. A audição é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo e a comunicação humana é um bem de valor inestimável. A história da educação do surdo data de cerca de 300 anos, sendo que nos seus primórdios havia pouca compreensão da psicologia do problema, e os indivíduos deficientes eram colocados em asilos. A surdez, e a conseqüente mudez, eram confundidas com uma inferioridade de inteligência. É verdade porém, que a ausência da linguagem influi profundamente no desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Felizmente, o deficiente auditivo pode aprender a se comunicar utilizando a língua dos sinais, ou a própria língua oral. A compreensão da fala através da forma motora dos sons nos lábios e movimentos da face, implícitos na produção de elementos fonéticos, aliada à utilização dos resíduos auditivos, fazem parte das diversas metodologias de oralização. Adquirindo a língua oral, o indivíduo pode se integrar melhor à sociedade a que pertence, e melhor desenvolver suas potencialidades. Para compreender melhor a surdez é necessário conhecer como escutamos:

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Surdez

A perda da audição é uma deterioração desta função. A surdez é uma perda auditiva profunda.

Costuma-se não perceber a importância da audição em nossas vidas, a não ser quando começa a faltar a nós próprios. A audição é o sentido que mais nos coloca dentro do mundo e a comunicação humana é um bem de valor inestimável.

A história da educação do surdo data de cerca de 300 anos, sendo que nos seus primórdios havia pouca compreensão da psicologia do problema, e os indivíduos deficientes eram colocados em asilos. A surdez, e a conseqüente mudez, eram confundidas com uma inferioridade de inteligência. É verdade porém, que a ausência da linguagem influi profundamente no desenvolvimento psicossocial do indivíduo. Felizmente, o deficiente auditivo pode aprender a se comunicar utilizando a língua dos sinais, ou a própria língua oral. A compreensão da fala através da forma motora dos sons nos lábios e movimentos da face, implícitos na produção de elementos fonéticos, aliada à utilização dos resíduos auditivos, fazem parte das diversas metodologias de oralização. Adquirindo a língua oral, o indivíduo pode se integrar melhor à sociedade a que pertence, e melhor desenvolver suas potencialidades.

Para compreender melhor a surdez é necessário conhecer como escutamos:

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A orelha é dividida basicamente em três partes: orelha externa, média e interna.

A orelha externa é a parte visível, compreende a orelha e o canal externo do ouvido e termina no tímpano (membrana do tímpano).

A orelha média compreende o tímpano, os ossinhos do ouvido (martelo, bigorna e estribo) e a parte chamada mastóide, que são pequenas cavidades ósseas cheias de ar como um “queijo suíço”.

Todo este espaço é fechado tendo uma única comunicação com o fundo do nariz que se abre periodicamente, que é a tuba auditiva ou trompa de Eustáquio, por isso que quando assuamos o nariz às vezes sentimos o ar ir para a orelha e ela fica um tempo tampada. O tímpano é uma membrana de pele muito fina, que fecha o fundo do canal externo da orelha e divide este canal da orelha média. Esta membrana é muito móvel e vibra como se fosse uma membrana de um tambor.

A orelha interna corresponde à cóclea, labirinto e canal auditivo interno.

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Da cóclea sai o nervo auditivo que vai pelo canal auditivo interno até o cérebro. Neste canal interno que é de osso também passa o nervo facial (responsável pela movimentação de músculos da face) e o nervo vestibular (responsável pelo equilíbrio). Este canal tem ligação direta com a cavidade dentro de nossa cabeça onde está o cérebro.

O som se espalha através de uma vibração pelo ar. Esta vibração é captada pela orelha externa (pavilhão auditivo e canal externo do ouvido), atinge a membrana do tímpano que funciona como se fosse uma membrana de um tambor muito sensível. Estas vibrações fazem a membrana timpânica vibrar. Na membrana do tímpano encontra-se fixado um pequeno osso chamado martelo. O martelo está articulado em um outro osso chamado bigorna que pôr sua vez articula-se no estribo. Este conjunto de pequenos ossos se movimenta com a vibração da membrana do tímpano e amplificam esta vibração como um sistema de “roldanas” transmitindo esta vibração a uma pequena membrana que se encontra encostada no estribo e oclui o canal da cóclea. O canal da cóclea é cheio de um líquido e tem a forma em espiral como de um caracol. Com a vibração da cadeia de ossinhos que conseqüentemente faz vibrar a membrana da cóclea este líquido se movimenta dentro da espiral coclear.

A espiral é revestida internamente de células que tem cílios, que ficam embebidos neste liquido e se movimentam com a movimentação do líquido. Para melhor compreensão é como uma plantação de trigo que se movimenta com o vento em várias direções. Esta movimentação gera uma pequena energia elétrica que é transmitida ao cérebro pelo nervo da audição onde será decodificada e gerar a compreensão dos sons.

Perda da audição e surdez

A perda da audição pode ser causada por um problema mecânico no canal auditivo ou na orelha média que obstrui a condução do som (perda condutiva de audição) ou por uma lesão na orelha interna, no nervo auditivo ou nas vias do nervo auditivo no cérebro (perda neuro-sensorial da audição). Os dois tipos de perda da audição podem ser diferenciados comparando como uma pessoa ouve os sons conduzidos pelo ar e como os ouve os sons conduzidos pelos ossos.

A perda auditiva neurosensorial denomina-se sensorial quando afeta a orelha interna, e neural quando afeta o nervo auditivo ou as vias do nervo auditivo localizadas no cérebro. A perda auditiva sensorial pode ser hereditária, pode ser provocada por ruídos muito intensos (trauma acústico), por uma infecção viral da orelha interna, por certos fármacos ou pela doença de Ménière. A perda auditiva neural pode ser causada por tumores cerebrais que também danificam os nervos circundantes e o tronco cerebral. Outras causas são as infecções, várias perturbações cerebrais e nervosas, como um acidente vascular cerebral, e algumas doenças hereditárias como a doença de Refsum. Na infância, o nervo auditivo pode ficar danificado pela parotidite, pela rubéola, pela meningite ou por uma infecção do ouvido interno. As vias do nervo auditivo no cérebro

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podem ser lesionadas pelas doenças desmielinizantes (doenças que destroem a bainha dos nervos).

Diagnóstico

Os testes auditivos com um diapasão podem ser feitos no consultório médico, mas a melhor forma de testar a audição é uma câmara insonorizada e com um audiometrista (especialista na perda da audição), utilizando um dispositivo eletrônico que produz sons em tons e volumes específicos. A condução do som por via aérea nos adultos mede-se colocando um diapasão que esteja a vibrar perto da orelha, com o fim de fazer o som viajar pelo ar até chegar ao ouvido. Uma perda de audição ou um limiar de audição subnormal (o menor som que possa ser ouvido) podem indicar a presença de um problema em qualquer parte do aparelho auditivo (o canal auditivo, a orelha média , a orelha interna, o nervo auditivo ou os canais do nervo auditivo no cérebro).

Nos adultos, a audição por condução óssea mede-se encostando contra a cabeça a base de um diapasão que esteja a vibrar. A vibração propaga-se pelo crânio, incluindo o caracol ósseo da orelha interna. O caracol contém células ciliadas que convertem as vibrações em impulsos nervosos, que se transmitem pelo nervo auditivo. Este teste contorna a orelha externa e a orelha média e avalia apenas a orelha interna, o nervo auditivo e as vias do nervo auditivo no cérebro. Utilizam-se os diapasões com diversos tons (frequências) porque algumas pessoas podem ouvir sons a certas frequências, mas não a outras.

Se a audição por condução aérea estiver reduzida mas a audição por condução óssea for normal, a perda é condutiva. Se a audição por condução tanto aérea como óssea estiver reduzida, então a perda de audição é neuro-sensorial. Em certos casos, a perda de audição é tanto condutiva como neuro-sensorial.

A audiometria mede a perda de audição de forma precisa com um dispositivo eletrônico (um audiometro) que produz sons a frequências específicas (tons puros) e a volumes determinados. O limiar auditivo para uma variedade de tons é determinado pela redução do volume de cada tom até que a pessoa já não o possa ouvir. Sujeita-se um ouvido de cada vez a este teste. Para medir a audição por condução aérea utilizam-se capacetes, bem como um dispositivo vibratório aplicado contra o osso localizado por trás da orelha (apófise mastóide) para medir a audição por condução óssea. Como os tons altos que se emitem ao pé de uma orelha também podem chegar a outra, o teste de tons faz-se emitindo um som diferente, geralmente um ruído, ao pé a orelha que não está a ser submetido ao teste. Desta forma, a pessoa ouve o tom do teste só na orelha examinada.

O limiar de audiometria verbal mede em que tom têm de ser pronunciadas as palavras para serem compreendidas. A pessoa ouve uma série de palavras de duas sílabas acentuadas da mesma maneira (como clara, cama e casa) ditas em volumes específicos. O volume ao qual a pessoa pode repetir corretamente metade das palavras (limiar de repetição) é o que se registra.

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A discriminação, a capacidade de ouvir as diferenças entre as palavras que soam de forma semelhante, testa-se pronunciando pares de palavras monossilábicas parecidas. O índice de discriminação (a percentagem de palavras repetidas corretamente) em geral encontra-se dentro de parâmetros normais quando a perda de audição é condutiva, é menor que o normal quando a perda de audição é sensorial e muito menor que o normal quando a perda de audição é neural.

A timpanometria, um tipo de audiometria, mede a impedância (resistência à pressão) da orelha média. Utiliza-se a fim de contribuir para determinar a causa da perda de audição condutiva. Este procedimento não requer a participação ativa da pessoa examinada e normalmente utiliza-se nas crianças. Coloca-se no canal auditivo, de forma ajustada, um dispositivo que contém um microfone e uma fonte de som contínuo. O dispositivo detecta a quantidade de som que passa pela orelha média e a quantidade que é refletida à medida que se provocam alterações de pressão no canal auditivo. Os resultados deste teste indicam se o problema se deve a um bloqueio da trompa de Eustáquio (o tubo que liga a orelha média à parte posterior do nariz), à presença de líquido no ouvido médio ou a uma fratura na cadeia dos três ossículos que transmitem o som através da orelha média.

A timpanometria também detecta as alterações na contração do músculo estapediano, que está ligado ao estribo, um dos três ossículos da orelha média. Este músculo, normalmente, contrai-se em resposta aos ruídos intensos (reflexo acústico), reduzindo a transmissão do som e protegendo assim a orelha interna. O reflexo acústico altera-se ou reduz-se se a perda auditiva for neural. Quando o reflexo acústico diminui, o músculo estapediano não pode permanecer contraído durante uma exposição contínua a ruídos intensos.

A resposta auditiva do tronco cerebral é outro exame capaz de diferenciar entre a perda auditiva sensorial e neural. Mede os impulsos nervosos do cérebro que derivam da estimulação dos nervos auditivos. A amplificação, por computador, produz uma imagem do padrão de onda dos impulsos nervosos. Se a causa da perda auditiva parecer localizar-se no cérebro, pode-se fazer um exame de ressonância magnética (RM) à cabeça.

A eletrococleografia mede a atividade do caracol e do nervo auditivo. Este exame e a resposta auditiva do tronco cerebral podem ser utilizados para medir a audição de quem não pode ou não quer responder voluntariamente ao som. Por exemplo, estes exames são utilizados para descobrir se os bebês e as crianças têm uma perda auditiva profunda ou, então, se uma pessoa está a fingir ou a exagerar a perda de audição (hipoacusia psicogénica). Por vezes, os exames podem ajudar a determinar a causa da perda auditiva neuro-sensorial. A resposta auditiva do tronco cerebral também pode ser utilizada para controlar certas funções cerebrais nas pessoas em estado de coma ou nas que são submetidas a uma cirurgia cerebral.

Alguns testes de audição podem detectar perturbações nas áreas de processamento auditivo do cérebro. Estes testes medem a capacidade de interpretar e de compreender a fala distorcida, de compreender uma mensagem apresentada a uma orelha quando outra mensagem está a chegar a orelha oposta, de ligar mensagens incompletas recebidas em ambos as orelhas e formar uma mensagem coerente e de determinar de onde provém um som quando chegam sons a ambos as orelhas ao mesmo tempo.

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Como os canais nervosos de cada orelha se cruzam para o outro lado do cérebro, uma anomalia num dos lados do cérebro afeta a audição no lado contrário. As lesões no tronco cerebral podem prejudicar a capacidade de ligar mensagens incompletas para formar uma mensagem coerente e determinar de onde provém o som.

Graus de surdez:

Nos casos de perda auditiva de grau leve as pessoas podem não se dar conta que ouvem menos; somente um teste de audição (audiometria) vai revelar a deficiência. Quando a perda auditiva passa a ser moderada para severa, os sons podem ficar distorcidos e na conversação as palavras se tornam abafadas e mais difíceis para entender, particularmente quando têm várias pessoas conversando em locais com ruído ambiental ou salas onde existe eco. O som da campainha e do telefone torna-se difíceis para serem ouvidos; o deficiente auditivo pede a todo momento que falem mais alto ou que repitam as palavras.

Recém-nascidos com surdez severa e profunda não se assustam com sons altos. Crianças com problemas de audição, sem a devida assistência, têm dificuldades no desenvolvimento da linguagem. Se chegam à idade escolar sem que a surdez tenha sido diagnosticada, o aprendizado será difícil, simplesmente porque essas crianças ouvem mal o que está sendo ensinado.

Em alguns casos de surdez existem sintomas adicionais, como por exemplo, zumbido e vertigem na doença de Menière. Na infecção do ouvido médio a surdez vem acompanhada de dor e febre.

Pode-se dividir a perda auditiva em 5 categorias + Anacusia.

(conforme Decreto nº 3.298, de 20 de dezembro de 1999)

Surdez leve: perda auditiva entre 25db e 40db  

Surdez moderada: perda auditiva entre 41db e 55db  

Surdez acentuada: perda auditiva entre 56db e 70db  

Surdez severa: perda auditiva entre 71db e 90db

Surdez profunda: perda auditiva acima de 91db  

db=decibéis

Anacusia: este termo significa falta de audição, sendo diferente de surdez, onde existem resíduos auditivos.

Audição Considerada Normal - perda entre 0 a 24 db nível de audição.

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Tipos de surdez

Deficiência Auditiva Condutiva:

A perda auditiva pode ser de condução quando existe um bloqueio no mecanismo de transmissão do som, desde o canal auditivo externo até o limite com a orelha interna..

Algumas causas importantes de surdez de condução:

Obstrução por acúmulo de cera ou por objetos introduzidos no canal da orelha; Perfuração ou outro dano causado no tímpano;

Infecção na orelha média;

Infecção, lesão ou fixação dos pequenos ossinhos (ossículos) dentro da orelha médio.

Deficiência Auditiva Neurosensorial: 

Também conhecida como perceptiva. Ocorre na orelha interna devido à deterioração de umas terminações nervosas denominadas células ciliadas, que conduzem os impulsos sonoros até ao cérebro. Este tipo de perda pode ser congénita ou hereditária, mas o mais frequente é que ocorra gradualmente com a passagem dos anos, o que se conhece como presbiacúsia.

A maior parte dos casos não tem solução médica nem cirúrgica, mas é conveniente ir sempre ao médico especialista.

As frequências agudas são as mais afetadas numa perda neurosensorial; frequentemente, existem grandes problemas para diferenciar as consoantes, especialmente o f, o s e o z. Tem-se a sensação de "ouvir mas não perceber". Também custa ouvir a campainha do telefone ou da porta. A adaptação de um audiofone pode restaurar a audição de acordo com as necessidades de cada usuário..

Algumas causas importantes de surdez de percepção ou neurosensorial:  

Ruído intenso é causa freqüente de surdez. Intensidades de som acima de 75 decibéis podem causar perdas auditivas induzidas pelo ruído (PAIR). As lesões na orelha interna podem ocorrer após uma exposição simples ao ruído ou após exposições prolongadas de meses ou anos. Exemplos de ruídos mais comuns causadores de perdas auditivas: máquinas industriais, armas de fogo, motocicletas, máquinas de cortar grama, música em volume alto, estouro de foguetes.

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Infecções bacterianas e virais, especialmente rubéola, caxumba e meningite, podem causar surdez de percepção.

Certos medicamentos, especialmente alguns antibióticos, podem lesar as estruturas neurossensoriais causando surdez.

Infecção, lesão ou fixação dos pequenos ossinhos (ossículos) dentro da orelha média.

Idade. A perda auditiva gradual devido ao fator idade, denominada presbiacusia, é uma ocorrência quase habitual nos idosos. A deficiência auditiva abrange cerca de 30 por cento nas pessoas acima de 65 anos e 50 por cento acima de 75. A presbiacusia é a causa mais comum de surdez e provavelmente resulta de uma combinação de vulnerabilidade genética, doenças e/ou distúrbios metabólicos (diabete, por exemplo) e exposição a ruídos. É um processo degenerativo de células sensoriais da orelha interna e fibras nervosas que conectam com o cérebro.

Surdez congênita. Quando uma criança nasce surda a causa pode ser hereditária (genética) ou embrionária (intrauterina). Entre as causas intrauterinas mais freqüentes estão a rubéola, sífilis, toxoplasmose, herpes, alguns tipos de vírus e certos medicamentos usados na gestante.

Variação de pressão no líquido da orelha interna pode ocasionar perda gradativa da audição; esta alteração é chamada doença de Menière e vem acompanhada, em sua forma clássica, de vertigem e zumbido.

Tumores benignos e malignos que atingem a orelha interna ou a área entre a orelha interna e o cérebro podem causar surdez, como por exemplo, o neurinoma, colesteatoma, hemangioma, glomus, carcinoma.

Deficiência Auditiva Mista:

A surdez é mista quando existe problema em ambos os mecanismos. Ocorre quando há uma alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associado à lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo. O audiograma mostra geralmente limiares de condução óssea abaixo dos níveis normais, embora com comprometimento menos intenso do que nos limiares de condução aérea.

Deficiência Auditiva Central, Disfunção Auditiva Central ou Surdez Central:

Este tipo de deficiência auditiva não é, necessariamente, acompanhado de diminuição da sensitividade auditiva, mas manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral (Sistema Nervoso Central).

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Surdez súbita:

Era uma patologia pouco conhecida há 40 ou 50 anos, apresentando-se atualmente com maior freqüência. Manifesta-se com uma repentina diminuição da capacidade auditiva, sem causa aparente, usualmente, unilateral. É habitual aparecerem, na anamnese, problemáticas de difícil solução, principalmente no plano psíquico (emocional) e também no plano físico, sendo importante haver orientações e colaborações do médico para melhor compreensão da presente situação existencial do paciente.

Surdez Infantil:

A surdez infantil pode ter as mais diversas causas, sendo algumas delas hereditárias, outras adquiridas, podendo em ambos os casos ser ou não congênitas (a síndrome de Down é um exemplo de doença congênita, por vezes associada à surdez).

No que diz respeito às causas adquiridas, existem diversos fatores que podem ser responsáveis por este problema. Durante a gravidez o fator mais conhecido talvez seja o vírus da rubéola, mas muitas infecções a vírus, quando ocorrem no primeiro trimestre da gravidez, podem provocar lesões da orelha interna, explica o Dr. António Larroude, otorrinolaringologista. Existem também alguns medicamentos que são tóxicos para a orelha interna, podendo, portanto provocar lesões irreversíveis, principalmente quando tomados no início da gravidez.  Durante o parto, a causa mais freqüente é a anóxia, que consiste na má oxigenação da criança. A icterícia grave é também uma causa de surdez infantil, refere este médico.

Já durante a infância, a causa mais freqüente de surdez são as infecções da orelha média (otites).

O rastreio da surdez infantil, nas suas diversas formas, é a única forma de diagnosticar precocemente este problema e tratá-lo, quando possível, evitando assim, em muitos casos, importantes atrasos do desenvolvimento da linguagem da criança.

Este especialista dá alguns exemplos:  Em alguns países, como a Inglaterra e os Estados Unidos, este rastreio começou por ser feito apenas em recém-nascidos de risco, tendo mais tarde sido estendido a todos os recém-nascidos, cabe assim uma responsabilidade acrescida aos médicos pediatras e de família na detecção e orientação destas crianças.

Atualmente o rastreio não envolve custos elevados, podendo ser feito quer no berçário quer na incubadora com um exame chamado pesquisa de otoemissões acústicas, através do qual se pode saber se a criança ouve bem ou não. Caso este exame esteja alterado, então sim, tem que se efetuar outros tipos de exames para melhor esclarecer a situação.

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Depois de diagnosticada uma surdez, a mesma deverá ser corrigida o mais rapidamente possível, quer através de tratamento médico/cirúrgico, quer através da adaptação de próteses auditivas.

É preciso compreender que uma criança que tenha problemas auditivos contínuos até aos três ou quatro anos de idade apresentará problemas do desenvolvimento da linguagem, irá necessitar de apoio de terapia da fala e poderá vir a ter dificuldades na sua escolaridade», defende António Larroude.

Com os atuais conhecimentos médicos, quase todos os casos de surdez são corrigíveis, existindo, para alguns casos mais graves, desde há alguns anos, os implantes cocleares, no entanto, o seu elevado custo para os doentes e a dificuldade em obter do serviço social governamental impede sua utilização, lamenta este médico.

Como a surdez evolui?

A evolução da surdez depende da causa e da gravidade da lesão. Por exemplo, se houver uma perda auditiva devido a uma exposição a ruídos, acima do limite tolerável (75 decibéis), a audição pode retornar ao normal em 24 horas. Entretanto, se essa exposição for repetitiva, a lesão causada na orelha interna poderá ser definitiva e a surdez, portanto, será irreversível. Em crianças com infecção na orelha média (otite média) vai haver acúmulo de secreção atrás do tímpano que, na maioria das vezes, é absorvida pelo organismo e a audição tende a normalizar em algumas semanas. Na presbiacusia (surdez do idoso) e na perda auditiva por medicamentos de uso contínuo, a surdez, em geral, aumenta gradativamente.

Como é o tratamento?

O tratamento da surdez depende da causa.  

Se a perda auditiva for devido a um grande acúmulo de cera no canal do ouvido, o médico simplesmente fará a remoção usando o instrumental do consultório.

Nas perfurações timpânicas e nas lesões ou fixação dos ossículos (martelo, bigorna, estribo) o tratamento é cirúrgico.

Nos casos de secreção acumulada atrás do tímpano (otite secretora) por mais de 90 dias, sem melhora da audição, a cirurgia também está indicada.

Na doença de Menière o tratamento é clínico e, às vezes, cirúrgico. Em casos de tumores, o tratamento indicado pode ser essencialmente cirúrgico,

radioterápico ou radiocirúrgico. Muitos pacientes têm indicação de aparelhos auditivos (aparelhos de surdez),

cuja função é amplificar os sons.

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Para aqueles pacientes com surdez severa e profunda que não se beneficiam com esses aparelhos está indicado o uso do implante coclear. Os implantes cocleares são sistemas eletrônicos implantados cirurgicamente, que têm a função de transmitir estímulos elétricos ao cérebro através do nervo auditivo. No cérebro esses estímulos elétricos são interpretados como sons.

Implante Coclear

O implante coclear, ou mais popularmente conhecido como ouvido biônico, é um aparelho eletrônico de alta complexidade tecnológica, que tem sido utilizado nos últimos anos para restaurar a função da audição nos pacientes portadores de surdez profunda que não se beneficiam do uso de próteses auditivas convencionais. Trata-se de um equipamento eletrônico computadorizado que substitui totalmente a orelha de pessoas que tem surdez total ou quase total. Assim o implante é que estimula diretamente o nervo auditivo através de pequenos eletrodos que são colocados dentro da cóclea e o nervo leva estes sinais para o cérebro. É um aparelho muito sofisticado que foi uma das maiores conquistas da engenharia ligada à medicina. Já existe há alguns anos e hoje mais de 100.000 pessoas no mundo já o estão usando.

O implante coclear é composto por duas partes: uma unidade interna e outra externa.

A unidade interna

É implantado cirurgicamente dentro da orelha do paciente. Esta unidade possui um feixe de eletrodos que será posicionado dentro da cóclea (órgão da audição com formato de caracol). Este feixe de eletrodos se conecta a um receptor (decodificador) que ficará localizado na região atrás da orelha, implantado por baixo da pele. Junto ao receptor fica a antena e o imã que servem para fixar a unidade externa e captar os sinais elétricos.

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A unidade externa

A unidade externa é constituída por um processador de fala, uma antena transmissora e um microfone. A unidade externa é a parte do implante que fica aparente e pode ser de dois tipos: retroauricular ou tipo caixa. A antena transmissora possui um imã que serve para fixá-lo magneticamente junto a antena da unidade interna ( que também possui um imã).O microfone capta o som do meio ambiente e o transmite ao processador de fala. O processador de fala seleciona e analisa os elementos sonoros, principalmente os elementos da fala, e os codifica em impulsos elétricos que serão transmitidos através de um a cabo até a antena transmissora. A partir da antena transmissora o sinal é transmitido através da pele por meio de radiofreqüência e chega até a unidade interna. Na unidade interna temos o receptor estimulador interno, que está sob a pele. O receptor estimulador contém um "chip" que converte os códigos em sinais eletrônicos e libera os impulsos elétricos para os eletrodos intracocleares estimulando diretamente as fibras no nervo auditivo. Esta estimulação é percebida pelo nosso cérebro como som. Desse modo, o paciente recupera parte da audição e pode voltar a se comunicar com as pessoas.

Pacientes que se beneficiam com o Implante Coclear

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O paciente candidato ao implante coclear é aquele que possui surdez severa a profunda bilateral, que fez uso de prótese auditiva, mas não obteve resposta satisfatória (resultados mínimos satisfatórios).Nós dividimos os pacientes em dois grupos que apresentam indicação e resultados diferentes.Existem aqueles pacientes que ouviam e por algum motivo perderam a audição, denominados de pacientes pós-linguais. E existem também aqueles pacientes que são surdos desde o nascimento ou perderam a audição muito cedo antes mesmo de aprenderem a falar, que são denominamos de pacientes pré-linguais.

Critérios básicos de indicação do implante coclear:

Pacientes pós-linguais:

Deficiência auditiva neurosensorial bilateral de grau severo a profundo que não se beneficiarem do aparelho de amplificação sonora individual (AASI), ou seja, apresentarem escores inferiores a 40% em testes de reconhecimento de sentenças com o uso da melhor protetização bilateral possível.

Não existe limite de tempo para a realização do implante coclear neste grupo, porém quanto maior o tempo de surdez, piores serão os resultados.

Pacientes pré-linguais:

Deficiência auditiva neurosensorial bilateral de grau severo a profundo, com reabilitação fonoaudiológica efetiva há pelo menos 6 meses (crianças de 0 a 18 meses) ou desde a realização do diagnóstico (crianças maiores de 18 meses), que não se beneficiarem do aparelho de amplificação sonora individual (AASI).

Neste grupo a idade do paciente é importante Nas crianças, a idade ideal é entre 1 ano e 5 anos de idade, sendo que quanto

mais precocemente o paciente é implantado, melhores serão os resultados A partir dos 5 anos os pacientes também podem ser implantados, porém os

resultados dependerão de outros fatores como o grau de desenvolvimento da linguagem já adquirida e do trabalho de estimulação auditiva prévia, como uso de prótese auditiva e capacidade de realização de leitura orofacial e linguagem de sinais.

Avaliação fonoaudiológica

Uma das etapas para a realização do implante é a avaliação pela fonoaudióloga, que realizará uma série de testes auditivos e de linguagem, assim como exercícios que

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prepararão o paciente para receber o implante coclear.A avaliação da fonoaudióloga pode ser demorada e depende muito de cada caso e da motivação do paciente, esta avaliação é composta por:

Avaliação do grau de surdez: temos que ter certeza que a surdez é mesmo profunda.

Avaliação da adaptação do paciente com a prótese auditiva convencional: temos que ter certeza que uma prótese convencional já não seria suficiente para atender a necessidade do paciente.

Avaliação de linguagem emissiva (fala, uso de língua de sinais e escrita - em pacientes já alfabetizados) e receptiva (realização efetiva de leitura orofacial, uso de língua de sinais e escrita).

Quando algum destes aspectos não é satisfatoriamente atendido o paciente pode ser encaminhado para reabilitação fonoaudiológica por período determinado, e posterior retorno para avaliação. Neste período poderá ser necessário:

Treinamento em leitura orofacial para crianças maiores e adultos: Este treinamento é essencial na fase pré implante e muda muito o resultado final quando bem realizado.

Treinamento auditivo (melhorando muitas vezes o desempenho do paciente com prótese convencional, ou o resultado final com implante)

Terapia de estimulação de linguagem.

Implantes diretos no nervo auditivo

A cirurgia de implante auditivo em tronco cerebral é indicada em pacientes que não apresentam a via auditiva central íntegra, isto é, o nervo auditivo orelha interna (cóclea), que impede a implantação pelo cirurgião de um implante coclear. Os principais beneficiados são os pacientes que apresentam tumores do nervo auditivo de ambos os lados, pacientes com má formação congênita de cóclea, ou pacientes com ossificação completa da cóclea como comumente ocorrem na surdez por meningite, causa bastante freqüente de perda de audição no Brasil", informa Dr. Luiz Ubirajara Senes, presidente da Fundação Otorrinolaringologia.

No implante auditivo de tronco cerebral, os eletrodos responsáveis pela estimulação elétrica do som são implantados no tronco cerebral, diferentemente do implante coclear, tecnologia disponível pelo SUS há alguns anos, com mais de 250 pacientes no Hospital das Clínicas, onde os eletrodos são implantados na cóclea, isto é, no próprio ouvido do paciente.

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A idéia de implantar minúsculos aparelhos auditivos eletrônicos na orelha interna de pessoas com surdez profunda tem cerca de 30 anos - uma idéia radical para a época, quando a miniaturização da eletrônica dava seus primeiros passos.

Agora, cientistas da Universidade de Michigan, Estados Unidos, estão sugerindo um passo ainda mais radical para o tratamento de casos de surdez muito graves: implantar um dispositivo diretamente no nervo auditivo.

O implante auditivo de tronco cerebral foi desenvolvido para restaurar alguma audição útil em pacientes que apresentam ausência de nervo coclear bilateralmente. Foi desenvolvido primeiramente com um eletrodo monocanal no House Ear Institute (HEI), em Los Angeles, Califórnia. Este primeiro modelo foi utilizado em 25 pacientes entre 1979 e 1992 com resultados clínicos precários. A partir desta experiência foi desenvolvido o implante multicanal, em uma parceria do HEI, da Cochlear Corporation (Englewood, Colorado) e a Huntington Medical Research Institute (Pasadena, Califórnia). Apesar de a primeira cirurgia para implantação de um eletrodo auditivo em tronco cerebral datar de 1979, apenas em outubro de 2000 houve aprovação para seu uso clínico.

O conceito de implante auditivo de tronco cerebral é semelhante ao do implante coclear disponível atualmente, com a diferença de configuração do eletrodo, desenhado para ser introduzido ao nível do nervo coclear e não na rampa timpânica da cóclea. Beneficiam-se deste tratamento pacientes que por motivos anatômicos ou funcionais não possam receber estímulos elétricos pela orelha interna.

Terapia Fonoaudiológica:

A terapia fonoaudiológica tem como objetivo desenvolver na criança surda a modalidade oral e escrita da Língua Portuguesa através de recursos específicos. Para a obtenção do sucesso desejado é necessário uma estimulação auditiva intensa. A grande maioria dos surdos possuem resíduos de audição que podem ser estimulados na terapia com auxílio de instrumentos específicos, provocando uma melhora na discriminação auditiva e possibilitando ao surdo compreender sons e seqüências de fala previamente trabalhadas. Com a utilização da audição residual e da leitura orofacial, a criança surda poderá iniciar uma comunicação com seus interlocutores e desenvolver a linguagem. Este, no entanto, é um processo bastante longo durando em torno de 10 anos.

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Mesmo com uma surdez apenas parcial, a fala costuma ser prejudicada, sendo necessário auxílio de especialistas para corrigir os distúrbios decorrentes. As perdas leves e moderadas, por exemplo, provocam danos específicos na fala, tais como as trocas, omissões e distorções de fonemas. Já as perdas severas e profundas provocam uma grande dificuldade em todo o processo de aquisição da linguagem.

A sensibilidade do ouvido recolhe do mundo a sua volta os sons e os conduz aos centros medulares que os codifica numa diversidade de representações neuronais. A audição é um sentido que funciona de forma ininterrupta, colocando o indivíduo em constante contato com o meio. É o principal canal para a aquisição da linguagem na modalidade oral.

A aquisição da linguagem ajuda a criança a desenvolver seus conceitos sobre o mundo e está interligada ao desenvolvimento das capacidades mentais. Além disto, a educação auditiva depende das inter-relações sociais, culturais e emocionais da criança surda.

Bibliografia:

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