Deficiência auditiva e surdez

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ESTUDOS SOBRE A DEFICIÊNCIA AUDITIVA E SURDEZ Brasília-DF.

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Estudos sobrE a dEficiência auditiva E surdEz

Brasília-DF.

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Elaboração

Maria Aparecida Cormedi

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração

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SUMÁRIO

aPrEsEntaÇÃo ..................................................................................................................................... 4

orGanizaÇÃo do cadErno dE Estudos E PEsQuisa ................................................................................. 5

introduÇÃo ......................................................................................................................................... 7

unidadE i

SISTEMA AUDITIVO .................................................................................................................................. 9

caPítulo 1

SISTEMA AUDITIVO ................................................................................................................... 11

unidadE ii

PERDA AUDITIVA E SURDEZ ...................................................................................................................... 25

caPítulo 2

COnCEITOS. TIPOS DE PERDAS AUDITIVAS E

DIfEREnTES CAUSAS. ............................................................................................................... 27

unidadE iii

PREVEnçãO ......................................................................................................................................... 45

caPítulo 3

A PREVEnçãO E fATORES DE RISCO DA PERDA AUDITIVA .................................................................. 47

unidadE iv

POlíTICAS PúblICAS ............................................................................................................................. 61

caPítulo 4

DIfEREnTES AbORDAgEnS E O ATEnDIMEnTO EDUCACIOnAl ESPECIAlIZADO ....................................... 63

Para (nÃo) finalizar ......................................................................................................................... 77

rEfErências ..................................................................................................................................... 78

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APRESENTAÇÃO

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade. Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

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ORGANIZAÇÃO dO cAdERNOdE ESTUdOS E PESQUISA

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos básicos, com questões para refl exão, entre outros recursos editoriais que visam a tornar sua leitura mais agradável. Ao fi nal, serão indicadas, também, fontes de consulta, para aprofundar os estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Pensamentos inseridos no Caderno, para provocar a reflexão sobre a prática da disciplina.

Para refletir

Questões inseridas para estimulá-lo a pensar a respeito do assunto proposto. Registre sua visão sem se preocupar com o conteúdo do texto. O importante é verificar seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. É fundamental que você reflita sobre as questões propostas. Elas são o ponto de partida de nosso trabalho.

Textos para leitura complementar

Novos textos, trechos de textos referenciais, conceitos de dicionários, exemplos e sugestões, para lhe apresentar novas visões sobre o tema abordado no texto básico.

abc

Sintetizando e enriquecendo nossas informações

Espaço para você, aluno, fazer uma síntese dos textos e enriquecê-los com sua contribuição pessoal.

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Sugestão de leituras, filmes, sites e pesquisas

Aprofundamento das discussões.

Praticando

Atividades sugeridas, no decorrer das leituras, com o objetivo pedagógico de fortalecer o processo de aprendizagem.

Para (não) finalizar

Texto, ao final do Caderno, com a intenção de instigá-lo a prosseguir com a reflexão.

Referências

Bibliografia consultada na elaboração do Caderno.

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INTROdUÇÃO

.

O termo “surdo” se refere à pessoa com surdez, com perda auditiva e o termo “Surdo” corrobora com a concepção bilíngue de ensino da Língua de Sinais como primeira língua e a Língua Portuguesa como segunda língua na modalidade escrita.

A história da educação de pessoas surdas remete à diferentes abordagens educacionais, de habilitação e de reabilitação. Em uma análise da linha de tempo dessa história, constata-se desde o entendimento de que o surdo precisa aprender a ouvir e a falar para desenvolver-se e aprender até as abordagens que referendam a língua de sinais como instrumento de cultura, de identidade pertencente à um grupo que domina a mesma língua.

Neste processo histórico da educação do surdo encontramos posições fi losófi cas, teóricas e práticas desde as mais radicais até às posições fl exíveis e de aceitação da diferença.

Na década de 1960, a educação da criança surda seguia o modelo terapêutico, clínico, de reabilitação pela qual, a única possibilidade para essa criança era aprender a falar. Na verdade, naquela época, a abordagem para qualquer defi ciência era do ponto de vista da reabilitação e visava trazer o defi ciente para a normalidade. Esta posição foi defendida por especialistas baseados na concepção desenvolvimentista, pela qual se considera as escalas de desenvolvimento baseadas em parâmetros de crianças sem defi ciências, parâmetros estes, considerados regras e normas para todos os outros, independente da vivência e experiências em diferentes ambientes, culturas e contextos históricos e sociais.

Nesta concepção de reabilitação, denominada clínico-patológica, a pessoa com surdez é considerada com defi ciência auditiva, com defi cit sensorial-auditivo, que precisa ser compensado pela recuperação da audição, da estimulação auditiva para que tenha acesso à língua oral e se comunique pela fala, pois é considerada a única forma de comunicação e interação social. E mais ainda, houve momentos em que se acreditou que o desenvolvimento congênito só se daria pela possibilidade de oralização, e que pela falta desta, o surdo era considerado até com defi cit cognitivo.

O conceito de surdo como pessoa com defi ciência passou a ser combatida pela comunidade surda, porque esta considera a pessoa com surdez como diferente e não defi ciente. Diferente, pela questão perceptual, pois o mundo para o surdo é eminentemente visual, oposto do mundo do ouvinte que é absolutamente sonoro. Portanto, a modalidade visual do surdo leva à uma comunicação que valoriza esse potencial visual, logicamente, os sinais.

Assim, as pessoas surdas não se denominam defi cientes auditivas, porque não acreditam que sejam defi cientes, e sim, acreditam nas diferenças entre os indivíduos.

Identifi cada a pessoa com surdez, esta tem direito ao acesso a língua natural, que é a de sinais, aprendida junto a adultos da comunidade surda e professores que dominam a Língua de Sinais e a Língua Portuguesa.

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Ainda restrita a alguns locais, a escola bilingue para surdos tem sido implementada pouco a pouco e isto é uma vitória da comunidade surda e dos pesquisadores da área, que ao longo dos últimos 30 anos, vêm lutando a favor do reconhecimento do surdo como sujeito que tem direito a uma identidade construída por meio da língua de sinais, depositária do conhecimento cultural, entendendo a surdez como diferença e não como deficiência independentemente do grau de perda auditiva.

“Surdo” é aquela pessoa diferente na forma de receber os estímulos do ambiente, pois a predominância é visual e, portanto, a forma linguística de comunicação privilegia a modalidade visual e não auditiva. Então, o contexto cultural do surdo é diferente do contexto cultural do ouvinte, nem melhor, nem pior, apenas diferente.

Voltando à questão, da mesma forma que profissionais que atuam na área da surdez ainda têm a visão clínica de que a perda auditiva deve ser compensada sob qualquer recurso cirúrgico, de adaptação de aparelho de amplificação sonoro ou de implante coclear, há aqueles da comunidade surda que rejeitam qualquer proposta de uso de recursos tecnológicos para estimulação auditiva e se posicionam contrários à pessoa com surdez que opta pelo uso destes recursos, pois acreditam que a língua de sinais e a cultura surda devem ser preservadas a qualquer custo.

Radicalismos à parte, as perdas auditivas existem e são definidas e organizadas segundo critérios estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde (OMS).

O profissional que se dispõe a atuar na educação, habilitação e reabilitação de pessoas com surdez precisa ser conhecedor do funcionamento auditivo e reconhecer os diferentes tipos de perdas e suas consequências. É necessário, também, conhecer os fatores de risco que causam a surdez e as medidas de prevenção além de conhecer as diferentes abordagens da educação do surdo.

Esta disciplina tem, portanto, como temática o “Estudos sobre a Deficiência Auditiva e Surdez” e abordará a deficiência auditiva sob a luz das perdas de audição, considerando-se a identificação das perdas para prevenção, fatores de risco e diagnóstico precoce. A surdez será abordada pela visão da abordagem bilíngue, realmente respeitando e considerando a cultura surda e a língua de sinais.

objetivos

» Compreender o funcionamento auditivo identificando os tipos de perdas auditivas e suas consequências no desenvolvimento e aprendizagem da pessoa com surdez.

» Conhecer os fatores de risco que causam a surdez identificando as medidas de prevenção e diagnóstico precoce.

» Conhecer as diferentes abordagens na educação de pessoas com surdez.

» Reconhecer a pessoa Surda como pertencente a um grupo cultural próprio cuja língua de sinais é o instrumento cultural e de identidade social.

» Conhecer os pressupostos do atendimento educacional especializado para pessoas surdas e a proposta de escola bilíngues.

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UNIdAdE IsistEMa auditivo

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cAPíTUlO 1Sistema auditivo

Toda pessoa com surdez não ouve? Ou existem pessoas consideras surdas que ouvem alguma coisa? O que é ouvir? As consequências das perdas auditivas podem ser devastadoras à maiorias das crianças surdas. As crianças surdas constituem um grupo relativamente homogêneo, cuja variabilidade individual é semelhante à das crianças ouvintes? De que forma ouvimos?

O sistema auditivo humano capta a informação sonora do ambiente, identifi ca a fonte sonora, reconhece o estímulo sonoro, discrimina os diferentes sons, interpreta os diferentes sons e atribui signifi cado a cada um deles. Então, a informação sonora que o ouvido humano recebe do ambiente, precisa além de ser “ouvida”, ser “transmitida” e depois ser “compreendida”.

A recepção de informações sensoriais pela visão assume papel primordial para o surdo e a sua maior difi culdade será com a língua oral. A limitação ou ausência de percepção sensorial dos estímulos sonoros acarreta imensa difi culdade na compreensão e na expressão da língua oral.

A audição é o sentido relacionado diretamente à aquisição da língua oral e consequentemente as defi ciências auditivas, estão diretamente relacionadas com os distúrbios da fala.

A audição é o sentido que possibilita a aquisição da língua oral. É o sentido que estrutura a noção de tempo, e a língua oral é por consequência, uma sequência de sons organizados no tempo. Os sons se acabam no tempo, só podendo ser repetidos ou reproduzidos por gravação.

A audição é o sentido de alerta para o ouvinte, a mínima movimentação será o alerta para o surdo. O mundo para a pessoa surda é espacial. A mínima movimentação dos objetos e pessoas tem para o surdo, fundamental importância.

A audição é o sentido responsável pela recepção dos sons.

Segundo Machado (2003, p. 32), “a audição é um sistema funcional que serve para receber as vibrações sonoras e convertê-las em sinais apropriados para a transmissão ao longo das fi bras nervosas do cérebro”.

Na visão clássica o sistema auditivo compõe-se de três partes: sistema receptivo periférico; vias auditivas que transmitem e integram os sinais acústicos e estrutura cortical na qual a mensagem é decodifi cada.

O sistema receptivo periférico, recebe os estímulos sonoros e os transforma em impulsos elétricos, que são transmitidos pelas vias auditivas até o cérebro que por sua vez interpreta aquilo que ouvimos, ou seja dá o signifi cado do que se ouve.

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Nota
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O cérebro recebe informações sonoras constantemente e seleciona os estímulos. Por exemplo, quando estamos conversando com um amigo e ao mesmo tempo em que caminhamos por uma rua no centro da cidade, com barulhos de carros, ônibus, apitos, buzinas somos capazes de selecionar os ruídos do ambiente para prestar atenção à voz do amigo e compreender o que é falado. Pela audição, o homem se mantém informado do que acontece à sua volta e, principalmente o que acontece à distância, por isso a audição é o sentido de alerta e defesa.

O sistema auditivo humano capta a informação sonora do ambiente, identifica a fonte sonora, reconhece o estímulo sonoro, discrimina os diferentes sons, interpreta os diferentes sons e atribui significado a cada um deles.

Veremos, então, que o sistema auditivo divide-se em: periférico, vias auditivas e estrutura cortical.

sistema auditivo periférico

O sistema auditivo periférico é formado por:

1. Orelha externa – pavilhão auditivo e meato acústico;

2. Orelha média – tímpano, ossículos da orelha (martelo, bigorna e estribo), tuba auditiva;

3. Orelha interna – canais semicirculares, cóclea ou caracol e nervo vestibular.

Veja a figura:

Figura 1.Sistema Auditivo Periférico: Orelhas externa, média e interna.

http://biologiaconcursos.blogspot.com.br/2011/05/labirinto-anatomia-da-orelha.html. Acesso em 31/3/2012

O sistema auditivo periférico tem a função de permitir a influência de um fenômeno físico. Recebe a informação sonora do meio ambiente, transformando-a em energia mecânica, que por sua vez é transformada em impulsos nervosos.

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Pesquisas indicam que o feto tem seu sistema auditivo periférico totalmente formado na 20a semana de gestação, então é capaz de ouvir os batimentos cardíacos da mãe e a voz materna durante os quatro meses que antecedem seu nascimento. Ou seja, existe informação auditiva intraútero.

a orelha externa

Formada pelo pavilhão auricular ou pavilhão auditivo e meato acústico externo que termina no tímpano.

A orelha externa tem as seguintes funções: proteger a membrana timpânica contra danos mecânicos; captar e encaminhar a onda sonora para a orelha média e realçar a sensitividade para determinados sons.

O pavilhão auricular é uma cartilagem elástica recoberta pela pele, ligamentos e músculos. Tem por função, a localização da fonte sonora.

O meato acústico externo faz a comunicação entre o meio ambiente e a orelha média. No meato observa-se a presença de folículos pilosos, glândulas sebáceas e glândulas ceruminosas.

O meato acústico externo tem cerca de 2,5 cm de comprimento e 1,25 cm de largura. A orelha externa, ao captar os sons numa área grande, os transmite para uma área vibratória menor. Com isso, o sinal é amplificado, otimizando-se a pressão sonora incidente no tímpano,

orelha média, ou cavidade timpânica

A cavidade timpânica está escavada no osso temporal é preenchida por ar e contém: os ossículos da audição – martelo, bigorna e estribo; os ligamentos; os músculos e a membrana timpânica.

A membrana timpânica é uma estrutura translúcida, uma membrana de pele muito fina, que separa a orelha externa da orelha média. O tímpano fecha o fundo do canal externo do ouvido, divindindo-o com a orelha externa. Pode ser comparado à membrana de um tambor que vibra, segundo as diferentes frequências, especialmente àquelas que estão entre 2500 a 3000Hz, ou seja, que correspondem à frequência dos sons da fala. A membrana timpânica é acinzentada e sua tensão é regulável graças às fibras concêntricas que lhe conferem elasticidade e às fibras radiais responsáveis pela resistência mecânica.

A cadeia ossicular, ou seja os três ossinhos, martelo, bigorna e estribo, unem meios de densidades diferentes: ar (do meio externo) e líquido (da orelha interna) e tem a função de reduzir a reflexão do som para o mínimo ao mesmo tempo que faz a transmissão máxima do som.

Segundo Frota (2003), a tuba auditiva comunica a cavidade timpânica com a parte nasal da faringe e tem a função de arejar a orelha média e equalizar a pressão de ar externo com a pressão de ar da orelha média, protegendo-a de mudanças rápidas de pressão e mantendo a mucosa em bom estado.

A tuba auditiva é fechada e tem uma única comunicação com o fundo do nariz que se abre periodicamente, por isso quando assoamos o nariz às vezes sentimos o ar ir para o ouvido e ele fica um tempo tampado. Também sentimos o efeito da pressão do ar e o funcionamento da tuba auditiva quando viajamos de avião e sentimos o ouvido ficar tapado quando o avião faz aterrizagem.

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A tuba auditiva tem a função de manter o arejamento das cavidades da orelha média, o que é assegurado pela sua abertura intermitente O equilíbrio entre a pressão atmosférica e a do ar contido na cavidade timpânica é indispensável para que a unidade tímpano-ossicular vibre sem obstáculos.

Pode-se dizer que a orelha média é a ponte entre a orelha externa (meio aéreo) e a orelha interna (meio líquido). Essa ponte inicia-se na membrana timpânica, passa pela cadeia ossicular e termina na janela oval.

orelha interna

A orelha interna também chamada de labirinto é formada pelo labirinto ósseo e membranoso. Em outras palavras, a orelha interna constitui-se pelos sistemas coclear e vestibular.

O labirinto ósseo formado pela cóclea, vestíbulo e canais semicirculares, são preenchidos por perilinfa, substância com alta concentração de sódio.

O labirinto membranoso está contido dentro do labirinto ósseo, que é um sistema fechado de ductos que se comunicam entre si e estão preenchidos por endolinfa.

A endolinfa é uma substancia com alta concentração de potássio e baixa concentração de sódio. O labirinto membranoso tem a função de transdução do estímulo mecânico em impulso nervoso (MACHADO, 2003).

Em termos gerais podemos afirmar que a orelha interna é formada pela cóclea, labirinto e canal auditivo interno.

A cóclea é o órgão sensorial responsável pela decodificação dos sons e evoca o sentido da audição. O sistema vestibular é constituído pelos canais semicirculares, sáculo e utrículo e informam o Sistema Nervoso Central (SNC) sobre a posição e movimentos da cabeça.

Na cóclea estão localizadas as células receptoras ciliadas que são as células sensoriais da audição, divididas em células ciliadas internas e externas. As células ciliadas internas produzem uma mensagem elétrica codificada que é enviada pelas vias nervosas ao lobo temporal. São receptoras de sons mais intensos, de frequência fina.

As células ciliadas externas não são células receptoras, ou seja, não codificam a mensagem sonora, e funcionam como um sistema de amplificação sonora aumentando em até 50 dB a intensidade do estímulos sonoros.

As células ciliadas são assim chamadas, porque são formadas por cílios que se deslocam acompanhando o movimento da endolinfa e da perilinfa. O deslocamento dos cílios provoca variações alternadas do potencial elétrico que por sua vez estimula os terminais nervosos do nervo coclear que estão em contato com as células ciliadas desencadeando o potencial de ação, que é registrado nas fibras do nervo coclear. Quando o som penetra pela janela oval por meio da movimentação do estribo, forma-se uma onda na perilinfa, que segue pela cóclea transmitindo sua vibração até a janela redonda pela movimentação dos cílios.

Em termos gerais, podemos afirmar que a partir da cóclea sai o nervo auditivo que vai pelo canal auditivo interno até o cérebro. Neste canal interno, que é de osso também, passa o nervo facial (responsável pela

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movimentação de músculos da face) e o nervo vestibular (responsável pelo equilíbrio). Este canal tem ligação direta com a cavidade dentro de nossa cabeça onde está o cérebro.

No sistema vestibular periférico encontram-se os canais semicirculares, também chamados de labirinto, que são estruturas localizadas na orelha interna que não participam do processo de audição. Nos canais semicirculares estão os receptores que informam sobre equilíbrio da cabeça, aceleração linear do movimento e posicionamento da cabeça no espaço. São responsáveis pelo equilíbrio e sensação de deslocamento, ou seja, as funções do sentido vestibular.

Cada canal semicircular termina em uma saliência, a ampola, onde estão localizadas células sensoriais ciliadas, imersas em uma massa gelatinosa, que detectam movimentos e enviam ao cérebro impulsos nervosos. Com o movimento da cabeça, o fluido de cada canal pressiona a massa gelationosa, estimulando os cílios sensoriais que enviam os impulsos nervosos ao cérebro, onde são interpretados. Como resposta, há uma adequação motora para se restabelecer e manter o equilíbrio corporal. Para um equilíbrio corporal perfeito é necessária a ação conjunta de três sistemas: vestibular, proprioceptivo e visual.

Figura 2. Sistema Auditivo periférico. Canais semicirculares

Figura disponível em <http://www.infoescola.com/anatomia-humana/audicao/>. Acesso 31/3/2012

Quando movimentamos a cabeça, o líquido se desloca dentro dos canais, com isso, estimula nervos específicos, que enviam ao cérebro informação sobre a posição do nosso corpo em relação ao ambiente. O nosso cérebro interpreta a mensagem e comanda os músculos que atuam na manutenção do equilíbrio do corpo.

Por isso, alguns tipos de perda de audição podem estar associados a desconfortos de equilíbrio.

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Mecanismo da audição

O som se espalha por meio de uma vibração pelo ar. Esta vibração é captada pela orelha externa (pavilhão auditivo e canal externo do ouvido), atinge a membrana do tímpano, que funciona como se fosse uma membrana de um tambor muito sensível. Estas vibrações fazem a membrana timpânica vibrar. Na membrana do tímpano encontra-se fixado um pequeno osso chamado martelo. O martelo está articulado em outro osso chamado bigorna que por sua vez articula-se no estribo. Este conjunto de pequenos ossos se movimentam com a vibração da membrana do tímpano e amplificam esta vibração como um sistema de “roldanas” transmitindo esta vibração a uma pequena membrana que se encontra encostada no estribo e oclui o canal da cóclea. O canal da cóclea é cheio de um líquido e tem a forma em espiral como de um caracol. Com a vibração da cadeia de ossinhos que consequentemente faz vibrar a membrana da cóclea, este líquido se movimenta dentro da espiral coclear.

A espiral é revestida internamente de células que tem cílios, que ficam embebidos neste líquido e se movimentam com a movimentação do líquido. Para melhor compreensão, seria como uma plantação de trigo, que se movimenta com o vento em várias direções. Esta movimentação gera uma pequena energia elétrica que é transmitida ao cérebro pelo nervo da audição onde será decodificada e gerar a compreensão dos sons.

Fonte: <http://surdez.org.br/como_escutamos.asp. Acesso em 31/3/2012>.

Entenda melhor o funcionamento da audição analisando a fi gura 3.

Figura 3. Funcionamento da audição.

<http://www.amigosdaaudicao.com.br/>. Acesso em 31/3/2012

1. Meato acústico 6. Janela redonda2. Membrana timpânica 7. Tuba auditiva3. Martelo 8. Cóclea4. Bigorna 9. Nervo auditivo5. Estribo

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Resumidamente explicamos o mecanismo da audição como as ondas sonoras que fazem vibrar a membrana timpânica. A cadeia de ossículos recolhe as vibrações projetadas no tímpano e as conduzem até o ouvido interno por meio da janela oval. Assim, as ondas sonoras passam do meio aéreo para o meio líquido. O estribo vibra contra a janela oval fazendo com que o fluido do ouvido interno vibre, estimulando os cílios da membrana tectória da cóclea, que ao se deslocarem produzem um processo eletroquímico resultando em estímulos nervosos que serão transmitidos ao córtex temporal no cérebro.

Figura 4. Sistema Auditivo

<http://www.amigosdaaudicao.com.br. php/>. Acesso em 31/3/2012

Na função auditiva há dois componentes diferentes e complementares:

1. Transmissão do som, da origem ao órgão de Corti (processo mecânico).

2. Percepção do som, da origem dos impulsos nervosos no órgão de Corti até o córtex cerebral.

Vimos até aqui o processo de recepção do som até a cóclea, que é o processo mecânico e a percepção do som pelas células ciliadas da cóclea e a origem dos impulsos elétricos.

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Para que haja a recepção e a percepção adequada dos sons é necessário:

» conduto auditivo externo permeável;

» tímpano íntegro;

» equiparação de pressão (pressão atmosférica = caixa do tímpano);

» integridade e mobilidade relativa dos ossículos;

» pressão correta dos líquidos labirínticos;

» integridade de células sensoriais, vias nervosas e centros superiores.

vias auditivas

Compostas pelas fibras nervosas que partem do núcleo coclear e seguem pelo tronco cerebral, as vias auditivas têm a função de transmitir e integrar os sinais acústicos.

Algumas fibras seguem pelo mesmo lado do ouvido (direito e esquerdo), enquanto a grande maioria das fibras segue cruzada.

Aquelas fibras provenientes da orelha direita seguem para o hemisfério esquerdo e as fibras provenientes da orelha esquerda seguem para o hemisfério direito.

A maioria das informações sonoras da orelha direita é processada no hemisfério esquerdo e a maioria das informações sonoras da orelha esquerda é processada no hemisfério direito. No entanto, o hemisfério direito recebe informações da orelha direita tanto quanto o hemisfério esquerdo recebe informações da orelha esquerda.

Figura 5. Sistema Auditivo

http://www.portalterceiraidade.com.br/dialogo_aberto/saude_equilibrio/siemens/coluna0004.htm. Acesso 31/3/2012

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Estrutura cortical

A estrutura cortical é responsável pela decodificação da mensagem, ou seja, pelo reconhecimento e identificação do som, discriminação, análise, interpretação e significado.

Os hemisférios direito e esquerdo recebem os sinais acústicos das vias auditivas que passam no tronco cerebral. Existem áreas primárias e secundárias.

É importante salientar a interação dos dois hemisférios, e eles são complementares porque interagem pelo corpo caloso, que é a base da relação inter-hemisférica. Isso significa que a representação de cada ouvido se dá nos dois hemisférios, não havendo representação completa no hemisfério contralateral.

As áreas primárias recebem os sinais acústicos, prolongam e estabilizam a transmissão para as áreas secundárias. As áreas secundárias também são responsáveis pela função de reconhecimento e associação sonora.

Pesquisas indicam que na área secundária direita são processados sons ambientais e musicais e a área secundária esquerda é responsável pelo processamento dos sons da fala.

O hemisfério direito é dominante para reconhecer contornos como a música e informações do todo.

Segundo Machado (2003), o hemisfério esquerdo é dominante para o reconhecimento e processamento das informações sequenciais, ou seja, os sons da fala e a linguagem.

A audição é então muito mais do que captar os sons do ambiente e localizar a fonte sonora. Ouvir implica em perceber, compreender, localizar, dar atenção, analisar, armazenar e memorizar a informação sonora, habilidades essas realizadas pelo sistema nervoso central.

distúrbio de Processamento auditivo central

Segundo Machado (2003), o processamento auditivo se refere à capacidade de detectar e interpretar os eventos sonoros e as habilidades envolvidas nos processos de localização da fonte sonora, reconhecimento, compreensão, memória e atenção seletiva aos sons que dependem da capacidade biológica inata e da experiência acústica no meio ambiente. Para esta autora, processar uma informação significa que os sinais que atingem os órgãos sensórios serão identificados, reconhecidos e memorizados... A percepção é o resultado do processamento, uma vez que envolve funções mentais, linguagem e cognição.

Processar auditivamente uma informação sonora significa que os sinais que atingem o sistema auditivo serão identificados, reconhecido e memorizados.

Há crianças que não apresentam perdas auditivas, porém tem dificuldades em processar a informação sonora.

Distúrbios de processamento auditivo central podem afetar 5% das crianças em idade escolar e pode ser definido como uma alteração na forma de como o cérebro reconhece e interpreta os sons, principalmente os sons sequenciais da fala.

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Cada criança precisa ser avaliada individualmente, porque as manifestações de identificação, reconhecimento e memorização e são diferentes para cada criança.

O sistema auditivo pode estar intacto, mas o cérebro não reconhece, não interpreta e consequentemente não processa a informação auditiva e uma característica mais frequente encontrada em crianças com distúrbios de processamento auditivo central pode ser a audição inconsistente no dia a dia.

As causas de distúrbios de processamento auditivo central na maioria das vezes são desconhecidas mas podem estar relacionadas com:

» traumas;

» infecções de ouvido crônicas;

» associada a outras deficiências no caso de crianças com deficiência múltipla e surdocegueira;

» anoxia;

» síndrome do álcool fetal;

» lesões no nervo auditivo;

» lesões no tronco cerebral;

» lesões no córtex cerebral.

É importante frisar que o diagnóstico de distúrbio de processamento auditivo central só pode ser feito por testes que detectam a compreensão dos sons da fala e do sistema funcional auditivo.

O que observamos nas crianças com distúrbios de processamento auditivo central:

» dificuldades em prestar atenção quando em atividades em grupo;

» dificuldade de não entender ou não ouvir mensagens, por isso, algumas vezes, diagnosticados inadequadamente com perda auditiva;

» facilidade em se distrair quando em ambiente ruidoso;

» atenção curta, se cansando em atividades longas;

» dificuldade em localizar a fonte sonora;

» dificuldades com instruções longas, e demonstrando desinteresse por histórias;

» demonstração de reações mais lentas; tempo de processamento mais lento;

» dificuldades na leitura;

» frequentemente repetem o que foi dito;

» dificuldade em memorizar instruções verbais;

» dificuldade me decorar sequências do dia a dia: dias da semana, meses do ano;

» dificuldade em compreender piadas e trocadilhos;

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» Dificuldade em lembrar palavras e isolar o som dentro da palavra.

» reconhecimento de melodias facilmente;

» Repetição de perguntas frequentemente;

» Dificuldades em entender instruções pela fala quando em ambiente ruidoso;

» Dificuldades em falar ao telefone e selecionar o estímulos;

» reconhecer melodias facilmente.

» acompanhar ritmos;

» preferencias por sons musicais, mas nem sempre reconhecem os significados da letra da música.

As crianças com distúrbios de processamento auditivo têm dificuldades em:

» analisar sons;

» entender sons;

» lembrar sons;

» localizar fonte sonora;

» selecionar sons que se quer ouvir.

As pessoas ouvintes podem ter dificuldades em entender a complexidade dos distúrbios de processamento auditivo central porque as experiências auditivas são diferentes. O educador precisa compreender a diferença entre ouvir e interpretar o que se ouve. A dificuldade da criança é compreender o significado da informação sonora muito mais do que ouvir o som.

Estratégias a serem utilizadas pelo educador

» dar instruções repetidas e sistemáticas para memorizar e processar a informação;

» o educador precisa adequar-se ao ritmo de processamento do aluno e respeitar o ritmo de aprendizagem do aluno;

» dar ordens em estruturas sintáticas simples e repetição da ordem;

» dar pistas visuais e é necessário considerar o resíduo visual e as adaptações de contrastes, cores e ambientes;

» dar informações claras e precisas;

» usar frases curtas e manter a mesma estrutura sintática;

» repetir a informação;

» evitar ambientes ruidosos nos momentos de atenção e aprendizagem.

SISTEMA AUDITIVO | unidadE i

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Com base nos estudos efetuados realize os exercícios 1 e 2 porpostos, marcando a informação correta:

1. O Sistema auditivo é composto de:

a. sistema periférico, vias auditivas e cérebro.

b. sistema periférico, vias auditivas centrais e estrutura cortical.

c. sistema periférico, vias auditivas e estrutura cortical.

d. orelha média, orelha interna e orelha externa.

2. A função da orelha externa é:

a. proteger a membrana timpânica contra danos mecânicos.

b. captar e encaminhar a onda sonora para a orelha média.

c. realçar a sensitividade para determinados sons.

d. todas as alternativas anteriores.

3. Assinale a informação correta:

a. A orelha média pode ser considerada a ponte entre a orelha externa e a orelha interna. Essa ponte inicia-se na membrana timpânica, passa pela cadeia ossicular e termina na janela redonda.

b. O tímpano é uma membrana de pele muito fina, que fecha o fundo do canal externo do ouvido e divide este canal do ouvido interno. Esta membrana é muito móvel e vibra como se fosse uma membrana de um tambor.

c. Trata- se de uma “bolsa” preenchida por ar, comunica-se com a nasofaringe por meio da tuba auditiva. Possui em seu interior a cadeia ossicular, composta por: martelo (em contato direto com a membrana timpânica); bigorna e estribo (em contato coma cóclea através da janela oval).

4. Assinale a alternativa incorreta:

a. A membrana timpânica é uma estrutura translúcida que separa a orelha externa da orelha média e vibra segundo as diferentes frequências.

b. Martelo, bigorna e estribo são três ossículos da orelha interna e unem meios de densidades diferentes: ar (do meio externo) e líquido (da orelha interna) e tem a função de reduzir a reflexão do som para o mínimo ao mesmo tempo que faz a transmissão máxima do som.

c. A tuba auditiva comunica a cavidade timpânica com a parte nasal da faringe.

unidadE i | SISTEMA AUDITIVO

nina
Realce
nina
Nota
propostos
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d. A orelha média é a ponte entre a orelha externa (meio aéreo) e a orelha interna (meio líquido).

5. Marque a resposta correta:

a. Na cóclea estão localizadas as células receptoras ciliadas que são as células sensoriais da audição, divididas em células ciliadas internas e externas.

b. As vias auditivas são compostas pelas fibras nervosas que partem do núcleo coclear e seguem pelo tronco cerebral.

c. A e B estão corretas.

d. Somente A está correta.

6. Assinale a afirmativa incorreta:

a. O hemisfério esquerdo é dominante para reconhecer contornos como a música e informações do todo e o hemisfério direito é dominante para o reconhecimento e processamento das informações sequenciais, sons da fala e a linguagem.

b. Existe uma interação entre os dois hemisférios, portanto, eles são complementares porque interagem pelo corpo caloso, que é a base da relação inter-hemisférica.

c. A representação de cada ouvido se dá nos dois hemisférios, não havendo representação completa no hemisfério contralateral.

d. A estrutura cortical é responsável pela decodificação da mensagem, ou seja, pelo reconhecimento e identificação do som, discriminação, análise, interpretação e significado.

7. Assinale a informação correta indicando a letra correspondente ao texto a ser complementado:

Na cóclea estão localizadas as células receptoras ciliadas que são as células sensoriais da audição, divididas em células ciliadas ______________( ) As células ciliadas internas produzem uma mensagem elétrica_________( ) que é enviada pelas vias nervosas ao ____________( ). São receptoras de sons mais intensos, de frequência _____( ).

a. codificada.

b. lobo temporal.

c. fina.

d. internas e externas.

SISTEMA AUDITIVO | UNIDADE I

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8. Assinale a alternativa correta:

a. As células ciliadas externas não são células receptoras, que codificam a mensagem sonora, e funcionam como um sistema de amplificação sonora aumentando em até 50 decibéis a intensidade do estímulos sonoros.

b. Quando o som penetra pela janela oval por meio da movimentação do estribo, forma-se uma onda na endolinfa, que segue pela cóclea transmitindo sua vibração até a janela redonda pela movimentação dos cílios.

c. A orelha interna é constituído por um complexo de membranas que formam canais e cavidades, cheios de endolinfa, que flutuam dentro da perilinfa, que por sua vez as separam e protegem da carapaça óssea situada na intimidade do osso mais duro do corpo humano, o osso temporal.

d. No sistema vestibular periférico encontra-se os canais semicirculares, também chamados de labirinto que são estruturas localizadas na orelha interna que também participam do processo de audição.

UNIDADE I | SISTEMA AUDITIVO

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UNIdAdE IIPErda auditiva E surdEz

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cAPíTUlO 2Conceitos. Tipos de perdas auditivas e diferentes causas.

Em muitos casos, o diagnóstico médico consegue identificar a causa mais provável da perda auditiva, mas nem sempre isso é possível. A ocorrência de gestações e partos com histórico complicado, bem como a manifestação de doenças maternas no período próximo ao nascimento da criança, podem inviabilizar a identificação dessa causa. Por isso mesmo, em cerca de 50% dos casos, a origem da deficiência auditiva é atribuída a “causas desconhecidas”. Quando se consegue descobrir a causa, o mais frequente é que ela se deva a doenças hereditárias, rubéola materna e meningite. O conhecimento da história de cada pessoa – época em que ocorreu a surdez e grau de prejuízo; tipo de atendimento reabilitacional recebido, oral ou oral com sinais/gestos; estimulação feita para a aquisição da linguagem; aproveitamento dos resíduos auditivos – , bem como o trabalho com a família, auxiliando-a a aprender a lidar com a diferença do filho, têm contribuído para que a pessoa com surdez ocupe seu lugar na sociedade.

Todas as mulheres devem ser vacinadas contra a rubéola, que constitui uma das principais causas de surdez congênita em nosso País.

A criança jamais deve tomar remédio sem receita médica; um antibiótico, por exemplo, pode conter aminoglicosídeo, substância que geralmente prejudica a audição de forma irreversível.

REDONDO, Maria Cristina da Fonseca. Deficiência auditiva-/ Maria Cristina da Fonseca Redondo, Josefina Martins Carvalho. – Brasília : MEC. Secretaria de Educação a Distância, 2000.

As pessoas com surdez apresentam diferentes graus de perda auditiva, desde de surdez leve, passando por aqueles que com auxílio de próteses readquirem a capacidade auditiva e surdos profundos que não conseguem ou não desejam adquirir a língua oral e só se comunicam por meio da língua de sinais. Além disso, existem surdos congêntos a e aqueles que adquirem a surdez: antes ou depois de adquirir a língua oral.

.

A perda auditiva pode ser de vários graus de forma que a pessoa pode ainda ter resíduo auditivo, percebendo sons mais intensos ou ter uma perda profunda que impede a percepção da maioria dos sons. Quando a pessoa nasce com a perda auditiva o impacto desta na aquisição de língua oral será fundamental. O que fazer? Qual a possibilidade de comunicar-se por sistemas linguísticos?

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definições e conceitos

A Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, aprovada em Assembleia Geral das Nações Unidas, ONU, em 2006, e ratificado pelo Congresso Nacional em 2008, definiu em seu artigo 1o que pessoas com deficiências são “aquelas que têm impedimentos de longo prazo, de natureza física, mental, intelectual ou sensorial, os quais, em interação com diversas barreiras, podem obstruir sua participação plena e efetiva na sociedade em igual igualdades de condições com as demais pessoas”.

A perda da audição é considerada uma deficiência sensorial.

O Decreto no 5.296, de 2/12/2004, que trata da acessibilidade de pessoas com deficiências, definiu a deficiência auditiva como “perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais, aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz, 2.000Hz e 3.000Hz”.

Vamos, então, compreender com o é feita a “medida da audição” de uma pessoa para entendermos o significado de perda auditiva.

A audição humana é medida em decibéis, um valor relativo, que significa a menor intensidade possível de ser ouvida e a sensação de intensidade é diferente de pessoa para pessoa. O limiar de audibilidade para a maioria das pessoas encontra-se em 20 dB (nível de audição), ou seja é o limite mínimo de detecção do som que a maioria das pessoas sem perda auditiva conseguem perceber. Assim, quanto maior for o valor dos decibéis, maior será a intensidade do som.

Já o conceito de frequência, significa a oscilação da onda sonora em um intervalo de tempo e dá a característica do som grave o do som agudo.

A relação de frequência e decibéis colocada em um gráfico representa a curva de audição relacionada com os limiares de sons que uma pessoa pode ouvir em cada frequência, desde as mais graves, 250 Hz até as mais agudas 4000 a 8000 Hz, passando pelas frequências da maioria dos sons da voz humana, 500, 1000 e 200 Hz.

As perdas auditivas podem ser classificadas em:

Audição normal: 0 - 20 dB Perda leve: 21- 40 dB Perda moderada: 41-70 dB Perda severa: 71- 90 dB Perda profunda: acima de 95 dB

Figura 5. Audiograma de sons familiares

Figura disponível em: .<http://cfq8.wordpress.com/category/8%C2%BA-ano/som-e-luz/>. Acessado em: 23/3/2012

unidadE ii | PERDA AUDITIVA E SURDEZ

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Figura 6. Audiograma. Grau de perda auditiva

Figura disponível em: <cfq8.wordpress.com>. Acessado em: 23/3/2012.

Figura 7. Audiograma e classificação da perda auditiva

<http://artdentalcentre.com/modules/com_gcalendar/?audiograma-1286>. Acesso em 31/3/2012.

As perdas auditivas podem ser monoaural ou binaural, ou seja, podem acometer um ouvido ou ambos, e ainda podem ser de diferentes graus, ou seja, mais intensa em um ouvido e mais leve em outro. Isto acarreta a heterogeneidade das pessoas com deficiência auditiva, desde aquelas com perdas leves até pessoas com perdas auditivas profundas. O símbolo “O” se refere à orelha direita e o símbolo “X” se refere à orelha esquerda.

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | unidadE ii

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Uma pessoa com perda auditiva é considerada com deficiência auditiva. Cabe aqui discutirmos os termos “deficiência auditiva” e “surdez”. Podemos ter a ideia de que “surdez” significa uma perda profunda ou ausência da percepção de sons. No entanto, o conceito de “surdez” é muito mais amplo e envolve questões culturais da comunidade de pessoas surdas.

Do ponto de vista clínico, médico, biológico e segundo a Organização Mundial de Saúde, a pessoa com perda auditiva é realmente considerada com deficiência auditiva, classificada segundo o grau da perda: leve, moderada, severa ou profunda.

Devido ao impacto da perda auditiva na aquisição de linguagem e da língua oral, a possibilidade linguística para a pessoa com perdas severas e profundas será a língua de sinais. Mas, mesmo com perdas leves de audição, a fala pode estar comprometida e a pessoa pode optar por comunicar-se pela língua de sinais.

Referendado em Moura (2000) o conceito de surdo, é aquele indivíduo com perda auditiva que não quer ser caracterizado pela deficiência auditiva, mas sim pela sua condição de pertencer a um grupo minoritário de pessoas com uma cultura própria, com uma língua própria, a de sinais, e que querem ser respeitados pela sua diferença. Portanto, a comunidade surda não que ser chamada de deficiente auditivo.

E foi a comunidade surda que por meio de protestos, eventos, publicações, nos últimos 15 anos, que reformulou a educação de surdos Brasil, discutindo leis e deliberações e hoje temos escolas bilíngues para surdos, com o ensino da língua de sinais como primeira língua e a Língua Portuguesa, na modalidade escrita, como segunda língua.

tipos de perdas auditivas – classificações

As perdas auditivas podem ser classificadas segundo o local da lesão, pela idade em que elas ocorrem e quanto ao grau da perda.

de acordo com o grau da perda, podem ser

Audição normal: 0 - 20 dB; Perda leve: 21- 40 dB; Perda moderada: 41-70 dB; Perda severa: 71- 90 dB; Perda profunda: acima de 95 dB.

Ministério da Educação do Brasil, em 2005, publicou a seguinte classificação:

Surdez leve – de 16 a 40 dB. Nesse caso, a pessoa pode apresentar dificuldade para ouvir o som do “tic-tac” do relógio, ou mesmo uma conversação silenciosa (cochicho).

Surdez moderada – de 41 a 55 dB. Com esse grau de perda auditiva, a pessoa pode apresentar alguma dificuldade para ouvir uma voz fraca ou o canto de um pássaro.

Surdez acentuada – de 56 a 70 dB. Com esse grau de perda auditiva, a pessoa poderá ter alguma dificuldade para ouvir uma conversação normal.

unidadE ii | PERDA AUDITIVA E SURDEZ

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Surdez severa – de 71 a 90 dB. Nesse caso, a pessoa poderá ter dificuldade para ouvir o telefone tocando ou ruídos de liquidificador na cozinha.

Surdez profunda – acima de 91 dB. Nesse caso, a pessoa poderá ter dificuldade para ouvir o ruído de caminhão, de discoteca, de uma máquina de serrar madeira ou, ainda, o ruído de um avião decolando.

de acordo com o local de lesão

Perda auditiva condutiva é assim denominada quando a lesão encontra-se na orelha externa ou média.

Perda auditiva ou surdez neurossensorial se refere à lesão na cóclea e ou no nervo auditivo (VIII par).

A surdez central acontece quando localizada nas vias auditivas centrais e ocorre se as vias auditivas de ambos hemisférios estão comprometidas.

Assim, as perdas auditivas podem ser de diferentes graus sendo a lesão que ocasiona a perda localizada em diferentes partes do sistema auditivo. É importante diagnosticar as perdas auditivas neurossensoriais porque são irreversíveis devido à lesão na cóclea e ou VIII par.

O mesmo se aplica para a surdez central, no entanto, localizar a lesão na maioria das vezes não é tarefa bem sucedida, pois as lesões do córtex auditivo são muito difíceis de serem localizadas anatomicamente.

Podem ocorrer perdas mistas, de caráter neurossensorial agravado por uma perda condutiva. Perda auditiva ou surdez mista se refere à lesão na cóclea e ou nervo auditivo e também na orelha média e ou externa.

Pela época de aquisição

As perdas auditivas podem ser congênitas quando ocorrem antes ou durante o nascimento. As perdas auditivas adquiridas são aquelas que acontecem após o nascimento. Aqui, há que se ressaltar as perdas auditivas na infância. O fator determinante será o nível de linguagem e o quanto a criança foi exposta à língua oral até o momento da perda auditiva.

Portanto, considera-se como perda auditiva congênita aquela adquirida antes da aquisição da língua oral, que antecede o aparecimento das primeiras palavras e frases. Atualmente, utiliza-se a classificação de perda pré-lingual para antes da aquisição da língua e pós-lingual quando acontece após a aprendizagem da língua oral.

causas das perdas auditivas e da surdez

Perda auditiva condutiva

O problema está localizado na orelha externa e/ou orelha média.

Quando localizada na orelha externa é uma perda frequentemente reversível, que podem ocasionar dor e desconforto como otite externa, corpos estranhos e rolhas de cera. Podem acontecer mal formação do conduto auditivo externo e mal formação do pavilhão auricular.

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | unidadE ii

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Veja a informação sobre a importância da cera no ouvido e porque é um mecanismo de defesa.

A cera é uma produção normal da pele do canal externo de nosso ouvido. Ela serve para proteger a pele fina que reveste o canal do ouvido contra germes e substâncias que podem contaminá-la ou ferí-la. A cera de dentro do canal não deve ser retirada, cera não é sujeira. Devemos somente retirar com uma toalha, por exemplo, a cera que aparece na orelha na parte de fora por estética. Não devemos introduzir nada dentro do canal do ouvido (hastes flexíveis com algodão, cotonetes ou similares), pois além de tirar o revestimento normal de cera, ainda podemos empurrá-la mais para o fundo do ouvido, onde normalmente não tem cera e entupir o canal auditivo.

Existem pessoas que produzem muita cera a vida toda ou em algumas fases da vida e chega a formar um tampão que impede a passagem do som. Este tampão ou “rolha” de cera deve ser removida por médico. Não faça lavagem ou remoções em farmácias ou com pessoas não habilitadas que podem causar problemas graves como perfuração no tímpano ou infecções.

Fonte: http://surdez.org.br/conteudo.asp?id=2

Quando localizada na orelha média, a perda auditiva pode ser devido a uma otite média caracterizada por uma infl amação que pode ter ou não origem infecciosa, porque a cavidade timpânica está obstruída por líquido, secreção ou pus. Geralmente é acompanhada por sinais de dor, febre e infecção e acompanhadas de quadros respiratórios. O tratamento é farmacológico e reversível.

Quando as otites são muito frequentes e reincidentes, então pode acarretar em uma perda auditiva permanente.

Perda auditiva neurossensorial

Quando a lesão auditiva está localizada no ouvido interno, na cóclea ou nervo coclear, são perdas auditivas irreversíveis, porque há uma impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da cóclea ou do nervo auditivo. Podem ser genéticas, hereditárias, associadas às síndromes, mal formações, traumas e por causas infecciosas como meningite e rubéola.

surdez central

A surdez central, não necessariamente, signifi ca diminuição da sensitividade auditiva, mas sim, manifesta-se por diferentes graus de difi culdade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral.

A difi culdade principal, na surdez central, é com o processamento da informação sensorial. Pode acontecer em casos de síndromes genéticas, prematuridade e lesão no sistema nervoso.

A problemática da surdez central diz respeito ao processamento da informação sonora, à interpretação daquilo que se ouve e envolve difi culdades auditivas quanto à atenção, memória, reconhecimento, discriminação, análise e atribuição do signifi cado.

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As causas das perdas auditivas também podem ser classificadas segundo a época da lesão podendo ser pré-natal; perinatal e pós-natal.

causas pré-natais

São aquelas que acontecem antes do nascimento

desordens genéticas ou hereditárias:

Cerca de 60% das perdas auditivas pré-linguais são de origem genética. Este dado explica a maioria dos casos de surdez irreversíveis que acontecem antes do nascimento e que muitas vezes não é identificada a alteração genética responsável pela perda auditiva.

A surdez hereditária pode ter origem sindrômica e não sindrômica, sendo esta última responsável por cerca de 70% dos casos consequentemente é mais frequentemente encontrada.

Uma em cada oito pessoas surdas transporta um gene recessivo da surdez, portanto o aconselhamento genético é indicado para se saber as probabilidades de transmissão.

Cerca de 60 a 70% dos casos de surdez hereditária são autossômico recessivo e 2% estão ligadas ao cromossomo X.

A surdez autossômica dominante (AD), em geral, é evolutiva e ocorre mais tardiamente.

A surdez autossômica recessiva (AR), geralmente, é não evolutiva e mais grave, ou seja, as perdas são classificadas como severas e profundas.

causas relativas ao fator rh

Decorrente da incompatibilidade do fator Rh– do sangue materno com o do feto Rh+.

Na maioria dos casos, vem acompanhado de lesões no sistema nervoso, e associado a quadros de encefalopatia não evolutiva infantil (paralisia cerebral).

causas relativas a doenças infectocontagiosas.

Rubéola

A síndrome da rubéola materna, quando a gestante contrai rubéola pode desencadear perda auditiva associada ou não a outros comprometimentos. A rubéola causa surdez bilateral, nas frequências médias de intensidade que pode ser de moderada a severa. Quando a doença ocorre no primeiro trimestre de gestação, pode levar mais frequentemente à catarata, surdez, mal formação cardíaca, microcefalia e baixo peso do bebê.

A rubéola se caracteriza por uma infecção benigna, causada por vírus, com sintomas de febre leve, glândulas levemente inflamadas e exantema róseo, máculo-papular e puntiforme que tem início na cabeça,

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | unidadE ii

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indo em direção aos pés. É discreto, excepcionalmente confluente e apresenta máxima intensidade no segundo dia, podendo desaparecer no sexto dia.

A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) se refere às consequências para o feto quando a gestante contrai a rubéola. Segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, houve um surto de rubéola entre 1999 e 2001, sendo relatados por volta de 200 casos de SRC neste período. No ano de 2003, foram confirmados cerca de 20 casos.

Os recém-nascidos cujas mães contraíram rubéola na gestação podem apresentar: baixo peso, hepatoesplenomegalia, osteíte e púrpura. As seguintes malformações são frequentes: cardiopatia, microcefalia e catarata. Como consequência, os recém-nascidos poderão apresentar surdez, retardo mental, diabete, autismo, cegueira e degeneração do sistema nervoso.

É importante ressaltar que nessa publicação do Ministério da Saúde, os termos “retardo mental” e “autismo” são notificados. Isto se deve ao fato de como são solicitados os informes. Na realidade, a consequência não é o autismo, mas sim comportamentos de isolamento pela ausência de informação sensorial. A deficiência intelectual poderá ser uma consequência da lesão neurológica pela rubéola, ou consequência da privação sensorial visual e auditiva.

As campanhas de vacinação contra a rubéola tem surtido efeito e o número de casos de surdez por Síndrome da Rubéola Congênita tem diminuído.

Outro dado importante das pesquisas anteriormente mencionadas apontou que bebês que nasceram com SRC podem expelir e transmitir o vírus depois do nascimento. Um em cada três bebês, na faixa etária de seis meses de idade, continuou a transmitir o vírus. Por volta de um ano de idade, um cada dez bebês continuaram a expelir o vírus. Por isso, o Ministério de Saúde indica que os bebês que nasceram com SRC sejam isolados no berçário e que se proceda a vacinação preventiva nos familiares.

De acordo com o Ministério da Educação (BRASIL, 2005), no ano de 2003, foi estabelecida a meta de eliminação da rubéola e da SRC nas Américas até 2010. Para isso, é fundamental fortalecer o atendimento de crianças com infecções congênitas e outras malformações compatíveis com SRC para detectar os casos suspeitos, realizar exames diagnósticos e realizar as intervenções mais precocemente.

Sífilis, citomegalovírus, toxoplasmose, herpes

São infecções que podem acometer gestantes causam, geralmente, perdas auditivas associadas a outros comprometimentos como dificuldades motoras, deficiências visuais e baixo peso.

Ingestão de remédios ototóxicos

Isso ocorre quando a gestante contrai infecções que necessita tomar altas doses de antibióticos.

Ingestão de drogas ou alcoolismo materna

Também pode causar perda auditiva associada a outros comprometimentos como transtornos globais do desenvolvimento, microcefalia e déficit intelectual.

A desnutrição, carência alimentar da gestante, exposição à irradiação e diabetes também podem levar á perda auditiva do bebê.

unidadE ii | PERDA AUDITIVA E SURDEZ

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causas perinatais

Podem ocorrer devido à prematuridade, falta de oxigênio (anoxia) ou insuficiência de oxigênio (hipóxia) no parto ou até mesmo por infecção hospital que acomete o recém-nascido.

As causas que levam um bebê a nascer prematuro são especialmente as relacionadas ao aparelho genital feminino, alterações placentárias (placenta prévia e descolamento prematuro) e excesso de líquido amniótico. Outros fatores incluem: a idade materna, com maior incidência em mães mais jovens, infecções maternas e primiparidade. Porém, na maioria dos casos, a causa é desconhecida. O parto pré-termo é definido como àquele cuja gestação termina entre a 20ª e a 37ª semanas.

A surdez pode ser consequência da prematuridade associada ao uso de drogas ototóxicas na incubadora que precisam ser administradas em altas doses devido à infecções que podem acometer o recém-nascido prematuro.

As causas perinatais podem vir associadas a comprometimentos adicionais como problemas visuais, neurológicos ou físicos, porque a perda de oxigênio durante o parto pode trazer consequências associadas.

No caso de infecção hospitalar durante o parto ou logo após o nascimento, o recém-nascido pode ter perda auditiva devido à própria infecção como meningite, ou então adquirir a surdez porque lhe forma administrados altas doses de drogas ototóxicas para debelar a infecção.

causas pós-natais

Meningite, sarampo, caxumba

A meningite é uma das principais causas da deficiência auditiva profunda e causa sérios comprometimentos no órgão da audição, pois o agente infeccioso penetra no ducto coclear ao longo dos vasos e do meato acústico interno.

A meningite é considerada uma doença endêmica porque ocorre ao longo de todo o ano, principalmente no inverno, com a ocorrência de surtos e epidemias ocasionais. É causada por diversos agentes infecciosos como bactérias, vírus, parasitas e fungos. As meningites bacterianas e virais são as mais importantes do ponto de vista da saúde pública, pela sua magnitude e capacidade de ocasionar surtos.  Entre as meningites bacterianas a Doença Meningocócica (DM), é mais frequente entre as crianças menores de cinco anos de idade.

Após a implantação da vacina contra meningite no Brasil,  incluída no calendário básico de vacinação da criança a partir de 1999, foi observada redução superior a 90% dos casos de meningite.

Os principais sinais e sintomas são: (crianças acima de um ano de idade e adultos) febre alta que começa abruptamente, dor de cabeça intensa e contínua, vômito, náuseas, rigidez de nuca e manchas vermelhas na pele (petéquias).

Em crianças menores de um ano de idade, os sintomas descritos acima podem não ser tão evidentes, devendo-se atentar para a presença de moleira tensa ou elevada, irritabilidade,  inquietação com choro agudo e persistente e rigidez corporal com ou sem convulsões.

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | unidadE ii

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O tratamento das meningites bacterianas tem de ser introduzido sem perda de tempo, porque a doença pode ser letal ou deixar sequelas, como surdez, dificuldade de aprendizagem, comprometimento cerebral.

Já o sarampo pode causar otite média suporativa e labirintite que chega a destruir o ouvido interno e pode também causar perda auditiva neurossensorial de grau moderado a profundo.

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, grave, transmissível e extremamente contagiosa, muito comum na infância. A viremia, causada pela infecção, provoca uma vasculite generalizada, responsável pelo aparecimento das diversas manifestações clínicas, como febre alta, tosse, conjuntivite, manchas de Koplik (pequenos pontos brancos que aparecem na mucosa bucal), exantema caracterizada pela vermelhidão no corpo. Além disso, as complicações infecciosas contribuem para a gravidade do sarampo, particularmente em crianças desnutridas e menores de um ano de idade. A vacinação contra o sarampo faz parte do calendário infantil de vacinas.

A caxumba é causa frequente de perda auditiva unilateral, do lado acometido. A caxumba é uma doença viral aguda, caracterizada por febre e aumento de volume de uma ou mais glândulas salivares, geralmente a parótida e, às vezes, glândulas sublinguais ou submandibulares.

Os sintomas da caxumba são: febre, aumento do volume das glândulas salivares localizadas na região da boca, principalmente, a parótida. Podem estar presentes outros sintomas como dor no corpo, dor de cabeça. Em homens adultos, pode ocorrer inflamação nos testículos (orquite) e, em mulheres acima de 15 anos, inflamação nos ovários (ooforite).

É relativamente comum, nos casos de caxumba, o comprometimento do sistema nervoso central, conhecido por meningite asséptica, e pancreatite. Não existe tratamento específico. São indicados repouso, uso de medicamentos analgésicos e observação de possíveis complicações. No caso de orquite (inflamação nos testículos), o repouso e o uso de suspensório escrotal são fundamentais para o alívio da dor.

remédios ototóxicos, em excesso ou sem orientação médica

Bebês prematuros ou que nascem com infecções que necessitam tomar doses altas e frequentes de antibióticos, por um largo período de tempo, podem vir a ter perda auditiva devido à dosagem do antibiótico, se a prescrição continuar após as primeiras semas de vida.

Exposição contínua a ruídos ou sons muito altos

É causa frequente de perda auditiva em adultos e associada à patologias ocupacionais, aquelas relacionadas à atividade laboral com exposição contínua ao ruído.

traumatismos cranianos: por quedas e acidentes

surdez súbita

Geralmente unilaterais caracterizadas por pressão no(s) ouvido(s) ou “estalos” que podem atingir níveis elevados em poucos dias. A surdez súbita é acompanhada de “estalos” intensos, podendo haver vertigem ao mesmo tempo.

UNIDADE II | PERDA AUDITIVA E SURDEZ

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Causas mais frequente da surdez súbita:

» lesões na cóclea ou no nervo auditivo;

» formação de coágulos nos vasos sanguíneos que irrigam a cóclea, geralmente associados à hipertensão;

» processos infecciosos como sarampo;

» alergias, como reação a soros, vacinas, picadas de abelha ou comidas;

» tumor no nervo auditivo;

» doenças autoimunes - quando o mecanismo de defesa do organismo ataca as células sensórias da cóclea identifi cando-as como corpo estranho;

» excesso de ruído e exposição intensa ao ruído;

» infecção bacteriana nos canais semicirculares - labirinto;

» traumatismos do osso temporal.

Entre as síndromes que causam a surdez é importante esclarecer sobre a Síndrome de Usher, onde a pessoa surda pode vir a perder a visão a partir da pré-adolescência, na forma mais frequente.

A importância desse conhecimento está diretamente relacionada com a comunicação. Se a pessoa surda tem a língua de sinais como língua primeira e, portanto tem a modalidade visual espacial para receber informação do mundo, à medida em que perde a capacidade visual, esta modalidade de comunicação será diretamente afetada.

síndroME dE usHEr

Grupo heterogêneo de doenças, de natureza hereditária, caracterizadas por Retinose Pigmentar (RP) e Surdez Neurossensorial. A heterogeneidade é clínica e genética, sendo identifi cados vários genes responsáveis e as manifestações fenotípicas que produzem.

A Síndrome de Usher (SU) é a causa mais frequente de surdocegueira em adultos estima-se que 3 a 6% de crianças surdas tenham SU (DAVENPORT, 1997). Portanto, trata-se de uma dupla perda sensorial: visual e auditiva que compromete sobremaneira as possibilidades de comunicação.

Há quatro tipos cuja heterogeneidade clínica se relaciona com a heterogeneidade genética de acordo com localização dos genes e cromossomos.

» SU tipo I;

» SU tipo II;

» SU tipo III;

» SU tipo IV.

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síndroME dE usHEr tiPo i

» Surdez neurossensorial severa e profunda bilateral, congênita.

» Ausência de respostas a estímulos calóricos e rotatórios (resposta vestibular ausente).

» RP aparece ao redor dos 10 anos, é progressiva, bilateral, com degeneração da função dos cones e bastonetes da retina, resultando em restrição do campo visual.

» Cegueira noturna durante a infância.

» É a causa mais comum de surdez e cegueira em países desenvolvidos.

síndroME dE usHEr tiPo ii

» Surdez neurossensorial congênita, não progressiva, entre moderada e severa.

» As respostas vestibulares são normais.

» Sintomas da RP aparecem ao final da adolescência.

» A função visual se conserva até a quinta ou sexta década de vida.

síndroME dE usHEr tiPo iii

» Perda auditiva pós-linguística progressiva, disfunção vestibular variável, sintomas de RP com diminuição do campo visual e perda de acuidade visual central, geralmente na segunda década de vida.

» Ocasionalmente comprometimentos neurológicos e retardo mental.

» É rara e corresponde a 3% dos casos de Usher.

síndroME dE usHEr tiPo iv

» Surdez profunda e RP.

» Fenotipicamente é igual ao tipo I, porém com retardo mental associado.

» Embora não aceito por todos, a SU tipo IV pode ser por herança ligado ao cromossomo X. São estudos baseados na observação de quatro irmãos relatados por Davenport et al (1978).

A perda auditiva é neurossensorial podendo chegar a perdas mais profundas perda auditiva bilateral e simétrica como na síndrome de Usher tipo 1.

No caso da Síndrome de Usher tipo 3, a surdez tem características progressivas e no tipo 2, a perda auditiva pode ser de moderada a severa.

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A Retinose Pigmentar caracteriza-se inicialmente cegueira noturna, dificuldade de adaptação ao escuro e diminuição do campo periférico. Mais tarde podem aparecer os sintomas mais comuns que são a diminuição da visão central e cataratas. No exame de fundo de olho pode se ver os típicos pontos ósseos, a diminuição da vascularização e a palidez da papila.

A retinose pigmentar caracteriza-se pela perda de campo visual periférico, dificuldades de adaptação com claro e escuro. A perda é progressiva pela degeneração das células da retina.

A retina é a camada interna do olho sensível à luz, situada no fundo do globo ocular. É formada por diferentes células que articuladas umas às outras transmitem a informação visual para o cérebro. Na retina as células fotorreceptoras são estimuladas e produzem uma imagem fiel do objeto, porém invertida e de menor tamanho. As células fotorreceptoras são de dois tipos: cones e bastonetes.

conEs - 6 milhões

» contém iodopsina;

» necessitam de muita luz para serem estimulados;

» responsáveis pela percepção de cores e formas detalhadas;

» estão concentrados na região da mácula de onde partem as fibras do nervo óptico.

bastonEtEs - 110-130 milhões

» contém o pigmento rodopsina;

» são sensíveis a presença de pouca luz;

» responsáveis pela percepção do claro e escuro;

» localizados por toda a área periférica da retina, fora da região da mácula.

Portanto, a degeneração dos cones e bastonetes trazem sérias consequências como a restrição do campo visual e a deterioração da percepção de detalhes e contrastes.

Na Retinose Pigmentar, os bastonetes se deterioram incialmente, por isso os sintomas de perda de campo periférico aparecem primeiramente.

Até o momento não há tratamentos de cura da Síndrome da Usher, portanto o acompanhamento genético para crianças surdas é aconselhável.

Importância do estudo genético:

1. conhecimento dos tipos clínicos da síndrome;

2. conhecimento da forma de herança genética;

3. conhecimento dos mecanismos genéticos envolvidos;

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | unidadE ii

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4. exploração clínica da família;

5. exploração genética da família;

6. realização de exames oft almológicos;

7. realização de exames audiológicos;

8. realização de provas vestibulares – exames neurológicos;

9. encaminhamento de orientações educacionais para adaptações de recursos ópticos, comunicação, ambiente, materiais e mobilidade.

1. Assinale a afirmativa incorreta:

a. As perdas auditivas podem ser monoaural ou binaural, ou seja, podem acometer um ouvido ou ambos, e ainda podem ser de diferentes graus, ou seja, mais intensa em um ouvido e mais leve em outro.

b. Surdez é um conceito amplo e envolve questões culturais da comunidade de pessoas surdas.

c. Organização Mundial de Saúde, a pessoa com perda auditiva é realmente considerada com deficiência auditiva classificada segundo o grau da perda: leve, moderada, severa e profunda.

d. Devido ao impacto da perda auditiva na aquisição de linguagem e da língua oral, a possibilidade linguística para a pessoa com perdas severas e profundas poderá ser a língua de sinais. Mas mesmo com perdas leves de audição a fala pode estar comprometida e a pessoa pode optar por comunicar-se pela língua de sinais.

2. Assinale a alternativa correta:

1. Perda auditiva condutiva é assim denominada quando a lesão encontra-se na orelha externa.

2. Perda auditiva ou surdez neurossensorial se refere à lesão na cóclea e ou nervo auditivo (VIII par).

3. A surdez central acontece quando localizada nas vias auditivas centrais e ocorre se as vias auditivas de um hemisfério está comprometida.

a. Alternativa 1 e 2 corretas.

b. Alterativas 2 e 3 corretas.

c. Alternativa 2 correta.

d. Alternativa 1 correta.

e. Todas as alternativas corretas.

unidadE ii | PERDA AUDITIVA E SURDEZ

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3. Assinale a alternativa correta:

1. As perdas auditivas neurossensoriais porque são irreversíveis devido à lesão na cóclea e ou VIII par.

2. Perda auditiva ou Surdez mista se refere à lesão na cóclea e ou nervo auditivo e também na orelha média e ou externa.

3. A perda auditiva localizada na orelha externa é frequentemente reversível que podem ocasionar dor e desconforto como otite externa, corpos estranhos e rolhas de cera.

a. Alternativa 1 e 3 corretas.

b. Alterativas 2 e 3 corretas.

c. Alternativa 1 e 2 correta.

d. Todas as alternativas corretas.

e. Todas as alternativas incorretas.

4. Assinale a alternativa correta:

1. Quando localizada na orelha média, a perda auditiva pode ser devido à uma otite média caracterizada por uma inflamação que pode ter ou não origem infecciosa, porque a cavidade timpânica está obstruída por líquido, secreção ou pus.

2. O tratamento das perdas auditivas condutivas farmacológico e irreversível.

3. Quando as otites são muito frequentes e reincidentes, então pode acarretar em uma perda auditiva permanente.

a. Alternativas 1 e 2 correta e 3 incorreta.

b. Alterativas 2 e 3 corretas e 1 incorretas.

c. Alternativas 1 e 3 corretas e 2 incorreta.

d. Todas as alternativas corretas.

e. Todas as alternativas incorretas.

5. Quanto à surdez de origem central, assinale a afirmativa que não se aplica:

a. A problemática diz respeito ao processamento da informação sonora, à interpretação daquilo que se ouve.

b. Envolve dificuldades auditivas quanto à atenção, memória, reconhecimento, discriminação, análise e atribuição do significado.

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | UNIDADE II

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c. Pode estar acompanhada de diminuição da sensitividade auditiva, mas sim, manifesta-se por diferentes graus de dificuldade na compreensão das informações sonoras. Decorre de alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no tronco cerebral.

d. A dificuldade principal é com o processamento da informação sensorial. Pode acontecer em casos de síndromes genéticas, prematuridade e lesão no sistema nervoso

6. As principais causas de perdas auditivas de origem genética podem ser:

1. de origem sindrômica e não sindrômica, sendo esta última responsável por cerca de 70% dos casos consequentemente é mais frequentemente encontrada.

2. Decorrente da incompatibilidade do fator Rh- do sangue materno com o do feto Rh.

3. A Síndrome da Rubéola Congênita (SRC) que se refere às consequências para o feto quando a gestante contrai a rubéola.

a. Alternativas 1 e 2 incorreta e 3 correta.

b. Alterativas 2 e 3 incorretas e 1 incorretas.

c. Alternativas 1 e 3 incorretas e 2 correta.

d. Todas as alternativas corretas.

e. Todas as alternativas incorretas.

7. Quanto às causas perinatais, assinale a afirmativa que não se aplica:

a. Prematuridade pode causar perda auditiva.

b. Se durante o parto, faltar oxigênio ao bebê, este pode vir a ter perda auditiva associada ou não a outros comprometimentos.

c. Infecções hospitalares podem ser controladas por antibióticos sem causar danos à saúde auditiva do bebê.

d. As causas perinatais podem vir associadas a comprometimentos adicionais como problemas visuais, neurológicos ou físicos, porque a perda de oxigênio durante o parto pode trazer consequências associadas.

8. Quanto às causas da surdez pós-natais, pode-se afirmar que:

1. Podem ser infecciosas e dentre estas, a meningite é a mais frequente

2. Em adultos, a causa mais frequente é a perda auditiva por exposição ao ruído e sons altos.

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3. A rubéola causa surdez bilateral, nas frequências médias de intensidade que pode ser de moderada a severa. Quando acontece no primeiro trimestre de gestação, pode levar mais frequentemente à catarata, surdez, mal formação cardíaca, microcefalia e baixo peso.

a. Alternativas 1 e 2 correta e 3 incorreta

b. Alterativas 2 e 3 incorretas e 1 corretas

c. Alternativas 1 e 3 incorretas e 2 correta

d. Todas as alternativas corretas

e. Todas as alternativas incorretas

PERDA AUDITIVA E SURDEZ | UNIDADE II

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UNIdAdE IIIPrEvEnÇÃo

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cAPíTUlO 3A prevenção e fatores de risco da perda auditiva

As alterações auditivas congênitas ou adquiridas precocemente, decorrentes de comprometimento coclear (perda auditiva sensorial), restringem a experienciação auditiva no início da vida, alterando o desenvolvimento auditivo e de linguagem e interferindo no desenvolvimento mental, social e educacional da criança. A partir da 26a semana de vida, o feto pode detectar sons, discernir a voz materna. A privação precoce dos estímulos auditivos interfere no desenvolvimento das estruturas neurais ligadas à audição (PEDROSA; GOMES; FRANCO, 2008,p. 547).

No Brasil, o período de tempo entre a suspeita da família e o diagnóstico audiológico é muito longo. Geralmente, a suspeita ocorre no primeiro ano de vida e o diagnóstico somente entre o segundo e terceiro ano de vida, perdendo assim o período crítico de aquisição e desenvolvimento de linguagem citado anteriormente (ISAAC; MANFREDI, 2005).

Quanto mais precoce o diagnóstico da perda auditiva, menor será o impacto da surdez na aquisição de linguagem. Consequentemente, a exposição à língua de sinais, considerada a primeira língua para a pessoa surda, deverá ocorrer o mais precocemente também.

Nascer surdo signifi ca ter imensas difi culdades em compreender o mundo sonoro da fala e por consequência, difi culdades de acesso à língua oral falada pela comunidade ouvinte. Quanto mais cedo for a perda auditiva, mais precoce deve ser à exposição à língua de sinais.

Ficar surdo após ter aprendido a língua oral, ou ter aprendido a ler e escrever signifi ca passar a ter imensas difi culdades de convivência social com indivíduos falantes, que por sua vez não adequam as formas comunicativas para incluir a pessoa surda.

.

Nos países desenvolvidos, as perdas auditivas de origem genética correspondem a 60% dos casos. Já em nosso meio, as causas mais frequentes de perda auditiva ainda estão relacionadas às causas infecciosas, como meningite e às causas de origem neonatal, como problemas do parto, acarretam falta de oxigênio para o neonato.

No caso do adulto, as perdas auditivas adquiridas estão relacionadas à exposição a ruídos intensos.

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Prevenção e diagnóstico da perda auditiva

Estudos comprovaram que cerca de 50% das perdas auditivas poderiam ser evitadas se ocorressem precocemente medidas de identificação, diagnóstico e reabilitação. E as medidas preventivas estão diretamente relacionadas com as causas das perdas da audição.

A surdez por rubéola pode ser evitada com vacinação de crianças e mulheres em idade fértil. Cabe ressaltar que a mulher grávida não pode receber a vacina da rubéola sobre o risco de contrair a doença e causar sequelas ao feto.

Os exames pré-natais e o acompanhamento gestacional por meio de serviços de saúde previnem muitas das causas de perdas auditivas: toxoplasmose, meningite, citomegalovírus, fator Rh, desnutrição materna, riscos de drogas.

O diagnóstico precoce da perda auditiva permite identificar as ações de intervenção e o ideal é que esse diagnóstico aconteça nos primeiros seis meses de vida, devido ao impacto da perda auditiva no desenvolvimento de linguagem, da aprendizagem, emocional, social e linguístico da criança.

Pelo diagnóstico é possível saber o tipo de perda auditiva, o local da perda e o grau, bem como a origem e o momento em que ocorreu o problema auditivo. De posse destes dados se pode identificar as diferentes ações de intervenção porque as recomendações para crianças com alterações neursensoriais serão diferentes daquelas recomendações para uma criança com alterações condutivas ou centrais.

O Comitê Brasileiro de Perdas Auditivas na Infância (CBPAI) refere que a incidência de perda auditiva bilateral significante em neonatos saudáveis é estimada entre 1 a 3 neonatos em cada 1000 nascimentos e em cerca de 2 a 4 em 1000 nos provenientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI). Portanto, outro fator preventivo é o acompanhamento de bebês prematuros e a realização de testes audiológicos.

O CBPAI recomenda não somente os testes auditivos em prematuros, mas sim a triagem auditiva universal no período neonatal, ou seja, abrangendo todos os recém-nascidos.

Embora existam testes comportamentais para a avaliação auditiva, os exames ideais são os objetivos, tais como as emissões otoacústicas e os (EOA) potenciais evocados auditivos de tronco cerebral, pois são exames eletrofisiológicos que não dependem da participação da criança, sendo úteis em recém-nascidos e crianças pequenas.

As emissões otoacústicas tem sido as mais indicadas para a triagem neonatal pela rapidez, por não necessitar de eletrodos, por não ser invasivo e por detectar perdas leves de 25 dBNA. Os equipamentos são de fácil transporte pode ser usados nos berçários. Este teste avalia a função da cóclea e capta a recepção de sons de duas frequências sonoras próximas.

A triagem auditiva neonatal é composta, então, de emissões otoacústicas, avaliação comportamental do bebe para a reação a sons e pesquisa do reflexo cocleopalbebral presente quando na estimulação de sons de alta intensidade.

A triagem neonatal auditiva pode ser acrescida pelo exame do BERA - audiometria do tronco cerebral. As emissões otoacústicas avaliam a função coclear e BERA avalia a função auditiva até o tronco cerebral por meio de potenciais evocados, registrando a transmissão do estímulo sonoro pela via auditiva: cóclea, nervo auditivo e tronco cerebral.

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Há três importantes razões para a realização da triagem neonatal:

1. Impacto da perda auditiva na aquisição de linguagem e da língua oral.

2. Alta prevalência da perda auditiva: 3 em cada 1000 nascidos.

3. Diagnóstico da perda auditiva tardio no Brasil, em torno dos três anos de idade, nas populações sem programa de detecção precoce.

fatores de risco para a perda auditiva

Baseado em Pedrosa, Gomes e Franco (2008), o Comite Brasileiro sobre Perdas Auditivas na Infância (2001) e Isaac e Manfredi (2005) seguem os principais indicadores de risco de perdas auditivas para recém-nascidos e lactentes.

» História familiar de perda auditiva congênita, ou seja, permanente na infância.

» Infecção congênita ou neonatal (sífilis, toxoplamose, rubéola, citomegalovírus e herpes).

» Meningite bacteriana.

» Sinais faciais sugestivos de síndromes (malformações de pavilhão auricular, meato acústico externo, ausência de filtrum nasal, implantação baixa da raiz do cabelo).

» Peso ao nascimento inferior a 1500g.

» Hiperbilirrubinemia – transfusão – hipertensão pulmonar persistente associada à ventilação mecânica.

» Medicação ototóxica por mais de 5 dias (aminoglicosídeos ou outros, associados ou não aos diuréticos de alça).

» Boletim Apgar de 0-4 no 1o minuto ou 0-6 no 5o minuto.

» Ventilação mecânica por período mínimo de 5 dias.

» Sinais ou síndromes associadas à deficiência auditiva condutiva ou neurossensorial.

» Traumatismo crânio-encefálico acompanhado de perda de consciência ou fratura de crânio.

» Otite média de repetição/persistente, com efusão por pelo menos três meses.

» Deformidades anatômicas e outras desordens que afetam a função da tuba auditiva.

» Desordens neurodegenerativas.

» auditiva condutiva ou neurossensorial.

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Nas crianças de um mês até dois anos de idade, são os seguintes os fatores de risco para a surdez:

» atraso de fala ou de linguagem - aos sete meses ele já deve imitar alguns sons; com um ano já deve falar cerca de dez palavras e com dois anos o vocabulário deve estar em torno de cem palavras;

» ocorrência de meningite bacteriana ou virótica;

» trauma de cabeça associada à perda de consciência ou fratura craniana medicação;

» ototóxica - uso de antibióticos do tipo aminoglicosídeos que podem afetar o ouvido interno; 

» outros sinais físicos associados à síndromes neurológicas infecção de ouvido persistente ou recorrente por mais de três meses - otites.

É importante considerar, também, os INDICADORES ADICIONAIS de risco para a surdez:

» Consanguinidade materna;

» Crianças pequena para a idade gestacional;

» Alcoolismo materno e uso de drogas psicotrópicas na gestação;

» Hemorragias ventricular;

» Convulsões neonatal;

» Permanência na incubadora por mais de sete dias

O diagnóstico e a intervenção precoces possibilitam indicação adequada de medidas de intervenção e minimizam o impacto da perda auditiva no desenvolvimento de linguagem, emocional, social, cognitivo e aquisição de língua seja oral ou por sinais.

o impacto da surdez na infância e na idade adulta

A audição é o sentido de alerta para o ouvinte e a mínima movimentação dos objetos e pessoas será o alerta para o surdo. A recepção de informações sensoriais pela visão assume papel primordial para o surdo e sua maior dificuldade será com a língua oral. A limitação ou ausência de percepção sensorial dos estímulos sonoros acarreta imensa dificuldade na compreensão e na expressão da língua oral.

Segundo Sacks (1998), os surdos são capazes de falar porque possuem aparelho fonador idêntico a pessoa ouvinte, mas o que falta ao Surdo é a capacidade de ouvir a própria fala e, portanto, de monitorar com o ouvido o som da sua própria voz. Por isso, os surdos congênitos não dispõe de imagem auditiva, de como é realmente o som da fala, não tendo a noção da correspondência entre som e significado. O mundo do surdo congênito é eminentemente visual. A língua de sinais é a resposta dos surdos para a problemática de comunicação, é o instrumento cultural alternativo – uma língua que foi criada por eles e para eles, porque a língua de sinais é uma sequência de movimentos no espaço.

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Que a língua de sinais é a resposta linguística da comunidade surda, é fato incontestável. A aprendizagem da língua de sinais pelo surdo é o que o constituirá como sujeito cultural, pertencente à essa cultura. A surdez será uma diferença e não uma defi ciência.

A problemática para os surdos congênitos está diretamente relacionada com a aprendizagem da língua de sinais. O que acontece, é que a maioria das crianças com surdez são fi lhas de pais ouvintes que não sabem a língua de sinais e utilizam a língua oral para comunicar-se com seus fi lhos surdos. Diferentemente das crianças ouvintes que chegam à escola falando a língua oral, as crianças surdas, fi lha de pais ouvintes, chegam à escola comunicando-se por palavras isoladas e alguns sinais, sem conteúdo linguístico oral ou de sinais.

A criança surda, fi lha de pais ouvintes, só poderá adquirir a língua de sinais se for exposta à ela, por meio da convivência com adultos surdos que as insiram no universo cultural e em todo arcabouço gramatical da língua de sinais, obrigando os pais ouvintes a serem bilíngues, tendo a língua de sinais como segunda língua. Sem isso, a criança surda fi cará restrita de interações sociais para adquirir os valores do contexto cultural, social que está inserida. Terá limitações de interação social, de aprendizagem e de identifi car-se com pares e fazer parte de um grupo social, pois terá difi culdades em brincar, ouvir histórias, de participar de conversas prazerosas. Muitas das crianças surdas, fi lhas de pais ouvintes não convivem com outros surdos e não frequentam escolas para surdos e, portanto, fi carão restritas ao convívio com ouvintes que não dominam a língua de sinais. Ao chegar na idade de alfabetizar-se não terá embasamento linguístico para suportar a aprendizagem da escrita.

No caso da surdez adquirida ou pós lingual, ou seja em idade após a aprendizagem da língua oral, a questão da língua de sinais passa a ser uma opção.

A pessoa que perde a audição após a aquisição da língua oral tem uma estrutura linguística baseada nos sons, ou seja, é falante de uma língua oral caracterizada pela sequência de sons no tempo. Por meio de mecanismos de intervenção e reabilitação poderá manter a fala, mas terá que aprender a captar a fala dos interlocutores por outros meios, como a leitura labial.

Caberá ao indivíduo que se tornou surdo, defi nir as melhores formas de comunicação e as adequações pertinentes ao seu melhor desempenho linguístico. A língua de sinais poderá ser uma opção e não a língua primeira.

Prevenção da ocorrência de deficiências

O que é possível fazer para prevenir a ocorrência de deficiências.

Antes de engravidar:

» Vacine-se contra a rubéola. Na gravidez, ela afeta o bebê em formação, causando surdez, catarata e problemas cardíacos.

» Procure um serviço de aconselhamento genético (principalmente quando houver casos de deficiência ou casamentos consanguíneos na família).

» Faça exames para detectar doenças e verificar seu tipo sanguíneo e a presença do fator Rh.

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Page 52: Deficiência auditiva e surdez

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Durante a gravidez:

» Consulte um médico obstetra mensalmente.

» Faça exames de controle.

» Só tome os remédios que o médico lhe receitar.

» Faça controle de pressão alta, diabetes e infecções.

» Faça uma alimentação saudável e balanceada.

» Não se exponha ao raio X ou outros tipos de radiação.

» Evite o cigarro e as bebidas alcoólicas.

» Evite contato com portadores de doenças infecciosas.

Depois do nascimento:

» Exija que sejam feitos testes preventivos em seu bebê, como o APGAR por exemplo.

» Tenha cuidados adequados com o bebê, proporcionando amparo afetivo e ambiente propício para seu desenvolvimento.

Fonte: <http://www.deficientesemacao.com/deficiencia-auditiva>.

Identificação de crianças com surdez

DO NASCIMENTO AOS TRÊS ANOS DE IDADE:

» o recém-nascido não reage a um forte bater de palmas, numa distância de 30 cm;

» o recém-nascido desenvolve-se normalmente nas áreas que não envolvem a audição, quando propriamente estimulado.

DOS TRÊS AOS SEIS MESES DE IDADE:

» a criança não procura, com os olhos, de onde vem um determinado som;

» a criança não responde à fala dos pais;

» a criança pode interagir com os pais, se a abordagem for visual.

DOS SEIS AOS DEZ MESES DE IDADE:

» a criança não atende quando é chamada pelo nome, não atende a campainha da porta ou à voz de alguém;

» a criança não entende frases simples como “não, não”, ou “até logo”;

» a criança pode entender o que as pessoas estão “falando” com ela, se for utilizada a língua de sinais.

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DOS DEZ AOS QUINZE MESES DE IDADE:

» a criança não aponta objetos familiares ou pessoas quando interrogada em língua portuguesa oral;

» a criança não imita sons e palavras simples;

» a criança não reage ao “não, não”, ou ao nome, a menos que veja quem está falando;

» a criança não mostra interesse por rádio;

» a criança aponta objetos familiares ou pessoas quando interrogada em língua de sinais.

DOS QUINZE AOS DEZOITO MESES DE IDADE:

» a criança não obedece a instruções faladas, por mais simples que sejam;

» as primeiras palavras da criança, como “até logo”, “não, não”, não se desenvolvem;

» a criança obedece a instruções dadas em língua de sinais;

» a criança inicia sua linguagem gestual, sinalizada.

DOS DEZOITO MESES AOS TRÊS ANOS E MEIO DE IDADE:

» não há enriquecimento vocabular (via oral);

» em vez de usar a fala, a criança gesticula para manifestar necessidades e vontades;

» a criança observa intensamente o rosto dos pais, enquanto eles falam;

» a criança não gosta de ouvir histórias;

» a criança tem histórico de dores de cabeça e infecções de ouvido;

» a criança parece desobediente a ordens dadas em língua portuguesa oral;

» a criança desenvolve a língua de sinais, comunica seus desejos e necessidades, gosta de histórias narradas em língua de sinais e gosta de desenhos.

Educação infantil: saberes e práticas da inclusão: dificuldades de comunicação esinalização: surdez. [4. ed.] / elaboração profª Daisy Maria Collet de Araujo Lima – Secretaria de Estado da Educação do Distrito Federal... [et. al.]. – Brasília: MEC, Secretaria de Educação Especial, 2006.

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1. Assinale a alternativa incorreta:

a. A mulher grávida não pode receber a vacina de rubéola sobre o risco de contrair a doença e causar sequelas no feto.

b. O diagnóstico precoce da perda auditiva permite identificar as ações de intervenção e o ideal é que esse diagnóstico aconteça no primeiro ano de vida devido ao impacto da perda auditiva no desenvolvimento de linguagem, de aprendizagem, emocional, social e linguístico da criança.

c. Pelo diagnóstico é possível saber o tipo de perda auditiva, o local da perda e o grau, bem como a origem e o momento em que ocorreu o problema auditivo.

d. As medidas preventivas estão diretamente relacionadas com as causas das perdas da audição e 50% delas poderiam ser evitadas se houvessem medidas preventivas precoces de identificação, diagnóstico e reabilitação.

2. Assinale a correta

1. O Comitê Brasileiro de Perdas Auditivas na Infância (CBPAI) informa que a incidência de perda auditiva bilateral significante prematuros é estimada entre 1 a 3 neonatos em cada 1000 nascimentos.

2. O CBPAI recomenda os testes auditivos em prematuros para diagnóstico precoce.

3. As recomendações para crianças com alterações neursensoriais serão diferentes daquelas recomendações para uma criança com alterações condutivas ou centrais.

a. Alternativa 1 e 3 corretas e 2 incorreta.

b. Alterativas 2 e 3 corretas e 1 incorreta.

c. Alternativa 1 e 2 incorretas e 3 correta.

d. Todas as alternativas corretas.

e. Todas as alternativas incorretas.

3. Quanto a triagem auditiva neonatal podemos afirmar que:

1. O acompanhamento de bebês prematuros é fator preventivo e recomendado pelo Comitê Brasileiro de Perdas Auditivas na Infância .

2. O CBPAI recomenda também a triagem auditiva universal no período neonatal, ou seja, abrangendo todos os recém-nascidos.

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3. Avalia-se o reflexo do bebê para sons de alta intensidade, chamado reflexo cocleopalbebral.

a. Alternativa 1 e 2 corretas e 3 incorreta.

b. Alterativas 2 e 3 incorretas e 1 correta.

c. Alternativa 1 e 2 incorretas e 3 correta.

d. Todas as alternativas corretas.

e. Todas as alternativas incorretas.

4. Das afirmações a seguir, quais se referem aos fatores de risco para recém-nascidos e lactentes:

1. Atraso de fala ou de linguagem.

2. Ventilação mecânica por período mínimo de 5 dias.

3. Peso ao nascimento inferior a 1800g.

4. Meningite bacteriana.

a. Alternativa 1 e 3.

b. Alterativas 2 e 3.

c. Alternativa 1 e 2.

d. Alternativa 2 e 4.

e. Todas as alternativas corretas.

5. Ainda quanto aos fatores de risco, assinale a alternativa incorreta:

a. A consanguinidade materna é um fator de risco adicional.

b. Drogas ototóxicas é um fator de risco neonatal e importante quando considerado até dois anos de idade.

c. Otite média de repetição/persistente, com efusão por pelo menos seis meses.

d. História familiar de perda auditiva congênita.

6. Não faz parte da triagem auditiva neonatal essencial:

a. Emissões otoacústicas.

b. Avaliação comportamental do bebe para a reação a sons.

c. Pesquisa do reflexo cocleopalbebral presente quando na estimulação de sons de alta intensidade.

d. Audiometria de troco cerebral.

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7. Os exames ideais para a triagem auditiva neonatal são:

1. Emissões otoacústicas.

2. Potenciais evocados auditivos de tronco cerebral.

3. Avaliação comportamental.

4. Reflexo cocleopalpebral.

a. Alternativas 2 e 3 corretas.

b. Alternativas 1 e 2 corretas.

c. Alternativas 1, 2 e 3 corretas.

d. Todas as alternativas corretas.

Infecções no ouvido. As infecções do ouvido que causam problemas de surdez de condução podem ser:

1. Da pele do ouvido externo (canal do ouvido). Chamada de “otite externa”. Normalmente são causadas por traumas com hastes flexíveis e outros instrumentos que são usados para coçar o ouvido como tampas de canetas ou similares ou por entrada de água contaminada.

2. Da membrana do tímpano ou ouvido médio.. Otite média secretora ou serosa.

É uma doença que ocorre quando permanece um catarro ou secreção dentro do ouvido médio. Isto pode acontecer por um mal funcionamento da tuba auditiva, quando a gente está resfriado ou gripado e vai catarro para o ouvido e não consegue sair ou quando a gente submete o ouvido a diferenças importantes de pressão

Para entendermos melhor vamos ver como é a tuba auditiva e como ela funciona. A tuba auditiva é canal de aproximadamente 2 cm estreito que comunica o ouvido médio e a chamada rinofaringe, que é a comunicação entre o nariz e a garganta, por onde passa o ar que respiramos. A abertura do canal é logo no fundo do nariz. A tuba funciona como uma válvula que serve para igualar as pressões do ouvido médio (que é preenchido por ar) e do ar exterior e para drenar secreções que normalmente são formadas dentro do ouvido médio. Ela é a única comunicação que o ouvido médio tem com o exterior. Quando ela está funcionando normal, ela periodicamente se abre por algumas frações de segundo (aproximadamente uma vez cada 3 minutos), sempre quando engolimos algo (saliva por exemplo) ou bocejamos ou mastigamos. Outras manobras não naturais podem fazer a tuba abrir como aquela que fazemos ao mergulhar fundo ou quando estamos descendo ou subindo alguma serra ou em avião, em que forçamos a entrada do ar no ouvido tampando o nariz e a boca e tentando assoprar. Este ar que tem que periodicamente entrar no ouvido, é absorvido pelo tapete mucoso de revestimento do ouvido

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médio. Qualquer coisa que interfira neste mecanismo de válvula resultará em problemas de audição ou em outros sintomas no ouvido.

A obstrução ou “entupimento” da tuba vai resultar em pressão negativa dentro do ouvido médio com retração da membrana do tímpano que é muito fina e mole. Este acontecimento no adulto se apresenta como uma sensação de desconforto no ouvido ou sensação de “ouvido cheio” ou pressão no ouvido (acontece por exemplo quando há mudanças bruscas de altitude ou gripes). Esta sensação pode levar a uma diminuição da audição e/ou um barulho dentro do ouvido (normalmente tipo chiado).

As crianças podem não apresentar nenhum sintoma, pois elas muitas vezes não são capazes de contar esta sensação, mas a família ou na escola percebem que ela está distraída ou aumenta o volume da televisão ou fala alto

Se este “entupimento” da tuba permanece, a secreção que é formada no ouvido não tem por onde drenar e fica dentro do ouvido médio causando uma doença chamada “otite secretora ou otite serosa”. Em crianças, esta condição é bem comum quando há associado infecções de vias aéreas superiores (gripes, amigdalites, otites, rinites, faringites).

Em outros casos ocorre o contrário, isto é, a tuba abre mais que o necessário, ou permanece aberta. Isto é mais raro do que a situação anterior, porém os sintomas são de infecções frequentes do ouvido pois as secreções do nariz podem ir para o ouvido.

Otite média serosa é o nome que se usa para descrever uma coleção de líquido ou catarro dentro do ouvido médio. Isto pode ser agudo ou crônico. Os sintomas são aqueles que descrevemos acima.

A otite serosa aguda é geralmente resultado de um bloqueio da tuba auditiva devido a uma infecção tipo gripe ou uma crise de alergia. Esta secreção pode se infectar com uma bactéria ou um vírus e se tormar uma otite média aguda. Se nào ocorrer a infecção este líquido ou catarro pode ser absorvido ou drena pela tuba auditiva para a garganta e a situação se resolve.

A otite serosa crônica é resultado de um bloqueio permanente ou por um “engrossamento” do líquido virando quase uma cola e que não vai por isso ser absorvido ou drenado pela tuba. Esta condição geralmente leva a uma diminuição da audição, pode ter fases de dor de ouvido, quando este catarro se infecciona. Felizmente a otite média pode permanecer por muitos anos sem produzir nenhuma sequela importante no ouvido, mas se houver infecções frequentes estas infecções podem levar a sequelas.

A otite serosa é muito comum na criança entre 2 a 8 anos e pode prejudicar o desenvolvimento da fala pois nesta faixa etária é muito importante que a criança ouça bem para falar bem e aprender. Muitas crianças com mal desenvolvimento

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escolar ou distraídas foram rotuladas como crianças problema, com alterações psicológicas e tinham na verdade uma otite serosa e não escutavam bem, por isso adotavam aquele comportamento.

As causas da otite serosa podem ser congênitas, devido a infecções, devido a alergias ou por bloqueio da tuba auditiva por adenoides. Todas estas causas se referem a alterações no funcionamento da tuba auditiva.

O tratamento da otite serosa aguda é médico, seu médico vai poder escolher melhor dependendo do caso. Pode ser antibióticos, antialérgicos, descongestionantes ou sprays nasais. Outra coisa útil é incentivar a mastigação (que faz a tuba abrir) usando chiclets por exemplo. Assoprar enchendo aqueles balões de festa também ajuda. Seu médico poderá também fazer algumas manobras assoprando ar com uma seringa pelo nariz para forçar a abertura da tuba. Estas manobras não devem ser feitas quando se está gripado, pois secreção da gripe pode entrar na tuba auditiva. Às veses seu médico pode fazer um pequeno furo na membrana do tímpano (se chama paracentese ou “lancetar” o ouvido) e com isso aliviar os sintomas.

O tratamento da otite serosa crônica além de incluir os tratamento médicos descritos acima quando não se resolve pode necessitar de cirurgia. Seu médico otorrinolaringologista vai poder orientar seu caso. Esta cirurgia consiste em fazer uma pequena incisão na membrana do tímpano e colocar um dreno para entrar ar no ouvido. Este dreno chama-se tubo ou tubinho de ventilação. Ele é de plástico e tem a forma aproximada de um “carretel” de linha de costura.

Em adultos isto pode ser feito no consultório.

Em crianças precisa ser feita uma anestesia geral e normalmente se tira também as adenóides, que podem estar provocando a doença. Esta cirurgia é muito simples e requer somente internação diurna e um ou dois dias depois a criança estará normal.

Otite Média Aguda

O que é otite média aguda?

É uma inflamação do ouvido médio, que pode ocorrer de uma infecção. Pode ocorrer em um ou nos dois ouvidos. A otite média é o diagnóstico mais frequente na criança pequena. Ocorre mais nos meses do outono e do inverno.

É sério?

Sim é sério, pois a dor é muito forte e pode levar a perda de audição, porém se tratada rapidamente não deixa nenhum problema posterior.

Ela pode também se espalhar para estruturas próximas como a mastoide e até para a meninge.

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Quais são os sintomas?

Em crianças pequenas, preste atenção se:

» Ela puxa ou mexe muito no ouvido;

» Se chora e fica muito irritada;

» Febre;

» Vômitos;

» Secreção saindo do ouvido.

Em crianças jovens, adolescentes e adultos preste atenção em:

» Dor de ouvido;

» Sensação de pressão no ouvido ou ouvido “cheio”;

» Tonturas, náuseas ou vômitos;

» Secreção saindo do ouvido.

Febre

O que causa a otite média aguda? Uma infecção causada por um germe, uma bactéria ou um vírus.

Tratamento

O seu médico otorrinolaringologista vai poder orientar cada caso. O tratamento pode incluir, antibióticos, antialérgicos, analgésicos e até mesmo a realização de um paracentese ou lancetar ou ouvido ( fazer um pequeno furo no tímpano) para drenar a secreção.

Perfuração Timpânica – Otite Média Crônica

Uma perfuração na membrana do tímpano pode acontecer por um trauma causado por objeto enfiado no canal do tímpano, ou por algo que causa uma pressão no canal do ouvido (tapa, mergulho ou até mesmo um beijo no ouvido). A perfuração pode também ser causada por uma infecção que levou a uma ruptura da membrana do tímpano e não houve cicatrização. A membrana do tímpano é feita de pele.

Quando a pessoa tem uma perfuração no tímpano ela tem uma otite média crônica que por vezes faz o ouvido infeccionar e vazar pus. Há também uma surdez e pode também se complicar com infecções em regiões vizinhas (meninge, cérebro ou no nervo da face causando paralisia facial-LINK).

A infecção pode afetar os ossinhos do ouvido e pode até resultar em um crescimento de um tumor chamado colesteatoma.

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Quando você tem uma otite média crônica não pode deixar entrar água no ouvido. Quando o ouvido estiver vazando você deve procurar o médico otorrinolaringologista que lhe orientará.

A perfuração timpânica e a otite média crônica tem tratamento cirúrgico.

O seu médico otorrinolaringologista vai poder orientar qual a mais adequada.

Tipos de Cirurgia

Timpanoplastia

Ela tem como objetivo restaurar a membrana do tímpano que está perfurada e se possível melhorar a audição restaurando os ossinhos (martelo, bigorna ou estribo) que estejam alterados.

A cirurgia pode ser feita com anestesia geral ou anestesia local e sedação.

Dependendo do tamanho da perfuração no tímpano pode ser feita por meio do canal auditivo, por um pequeno corte no canal ou por um corte atrás da orelha.

Para reparar o tímpano pode ser usado uma membrana que recobre um músculo ou que recobre uma cartilagem da orelha. O tempo de permanência no hospital normalmente é de um dia.

Excerto abaixo extraído da Disciplina de Otorrinolaringologia da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Acesso em 31/3/2012 <http://surdez.org.br/conteudo.asp?id=2>.

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cAPíTUlO 4Diferentes abordagens e o atendimento educacional especializado

Segundo Damázio (2007), a abordagem educacional por meio do bilinguismo visa capacitar a pessoa com surdez para a utilização de duas línguas no cotidiano escolar e na vida social, quais sejam: a língua de sinais e a língua da comunidade ouvinte. As experiências escolares, de acordo com essa abordagem, no Brasil, são muito recentes e as propostas pedagógicas nessa linha ainda não estão sistematizadas. Acrescenta-se a essa situação, a existência de trabalhos equivocados, ou seja, baseados em princípios da comunicação total, mas que são divulgados como trabalhos baseados na abordagem por meio do bilinguismo.

“As práticas pedagógicas constituem o maior problema na escolarização das pessoas com surdez. Torna-se urgente, repensar essas práticas para que os alunos com surdez, não acreditem que suas dificuldades para o domínio da leitura e da escrita são advindas dos limites que surdez lhes impõe, mas principalmente pelas metodologias adotadas para ensiná-los (DAMÁZIO, 2007)”.

Apesar da abordagem bilíngue e da aceitação da língua de sinais, da cultura surda, muitos professores ouvintes, que ensinam crianças surdas não dominam o conteúdo linguístico desta língua e, portanto, não são fluentes e mesclam a língua oral com a de sinais ao ensinar seu aluno surdo.

concepção clínico-patológica

Nesta concepção, o surdo é visto como deficiente, como portador de uma deficiência auditiva, uma patologia. Portanto, são indicados os aparelhos de amplificação sonora individual e mais recentemente o implante coclear.

O fator terapêutico é preponderante nesta concepção. À medida que a surdez é uma deficiência e aquisição de linguagem será a maior dificuldade, cabe então, aos terapeutas, a tarefa de minimizar a deficiência buscando igualar o surdo ao ouvinte, treinando a comunicação oral. Assim, o surdo pode também falar, e isto o aproxima do ouvinte, da normalidade. A educação, por sua vez, assume e incorpora os valores terapêuticos.

Denominar os surdos de deficientes auditivos é fator comum na abordagem clínico-terapêutica que vê o desenvolvimento de linguagem oral fundamental para o desenvolvimento cognitivo da criança, portanto ouvir é necessário para o melhor desempenho intelectual. Por sua vez, o educador pode subvalorizar o aluno surdo pensando que a surdez é causa do deficit de aprendizagem por si só.

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A concepção do oralismo que a integração do surdo na comunidade ouvinte pertence à visão clínico-patológica, pois o objetivo do oralismo é ensinar o surdo a falar. A surdez é vista como um problema, uma deficiência que isola o surdo do mundo na medida em que o impossibilita de falar. A única opção para o surdo é oralizar-se a qualquer custo.

Publicações do Ministério de Educação explicaram a concepção clínico-terapeutica como (<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000429.pdf>):

» A surdez é uma diminuição da capacidade de percepção normal dos sons, que traz ao indivíduo uma série de consequências ao seu desenvolvimento, principalmente no que diz respeito à linguagem oral.

» Considera-se surdo o indivíduo cuja audição não é funcional na vida comum e, parcialmente surdo, aquele cuja audição, ainda que deficiente, é funcional com ou sem prótese auditiva. A competência auditiva é classificada como: normal, perda leve, moderada, severa e profunda. A surdez severa e profunda impedem que o aluno adquira, naturalmente, a linguagem oral.

» Por decorrência dessa dificuldade em desenvolver normalmente a linguagem oral, os indivíduos surdos podem apresentar um atraso intelectual de dois a cinco anos, dificuldades de abstração, generalização, raciocínio lógico, simbolização, entre outros.

» Essa incapacidade de se comunicar, da mesma forma que as demais pessoas, atua de modo significativo em sua personalidade, fazendo com que manifeste tendências de introspecção, imaturidade emocional, rigidez de juízos e opiniões, prejudicando o desenvolvimento do sujeito em sua globalidade.

» A fim de que estes problemas sejam evitados é aconselhável que a criança surda seja encaminhada o mais cedo possível a uma escola especializada, para que possa receber estimulação auditiva e oral adequada, adquirindo um desenvolvimento próximo aos padrões de normalidade.

» O domínio da linguagem oral irá permitir sua plena integração na sociedade, uma vez que essa é a forma usual de comunicação entre as pessoas.

» O desenvolvimento do processo ensino-aprendizagem está subordinado ao aprendizado da linguagem oral.

Podemos afirmar que o fator positivo dessa abordagem clínico-patológica foi o estudo detalhado dos tipos de perdas auditivas, os aspectos da prevenção e os fatores de risco da surdez. Atualmente, as pesquisas sobre implantes cocleares relatam inúmeros sucessos de pessoas surdas implantadas satisfeitas com as possibilidades de audição recuperadas em diferentes níveis.

No entanto, o modelo clínico-terapêutico foi e é amplamente questionado e discutido principalmente por não considerar a língua de sinais.

A comunidade surda que a partir da década de 1980, se posicionou e passou a reivindicar seus direitos, e propôs medidas educacionais que valorizassem a língua de sinais considerada a possibilidade de língua para os Surdos independentemente do grau de perda auditiva.

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Nota
A concepção do oralismo entende que
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A comunidade surda que não se considera deficiente auditiva porque não se reconhece como deficiente oral e acabam afastando os surdos que se tornam oralizados, dos surdos que não são oralizados. A não aceitação da diferença e a exaltação demasiada da língua oral cria um processo de exclusão mesmo entre os próprios sujeitos surdos.

concepção socioantropológica

Valoriza o potencial da pessoa surda, consequentemente valoriza a comunicação por sinais, modalidade visual-gestual. Nesta concepção, o surdo é considerado como sujeito diferente pertencente a uma minoria linguística com uma cultura própria.

A concepção socioantropológica surgiu em meados dos anos 1960, quando professores que trabalhavam com alunos surdos constataram que somente a exposição á língua oral e ensinar os surdos a ouvir não os levavam ao domínio da língua oral em nível suficiente para suportar a aprendizagem da leitura e escrita bem como a própria comunicação com os ouvintes por meio da fala. Assim, os educadores voltaram-se para a língua de sinais, porém naquela época usada como apoio à educação do surdo e apoio para a comunicação concomitantemente com a oralização. Foi o início da abordagem da comunicação total.

A concepção socioantropológica é facilmente justificada quando entendemos as modalidades da língua oral e da língua de sinais: as crianças ouvintes inevitavelmente aprenderão a língua oral, pois recebem e reproduzem sua língua por meio do som, usando, para tanto, seu sentido da audição. As crianças surdas têm a visão como sentido prioritário, pois o mundo é visual, logicamente é o seu modo natural de acesso à língua. Sendo assim, só poderão aprender uma língua pela visão, logo a de sinais que á a sequência de movimentos no espaço. Portanto, a visão de que o surdo precisa aprender a falar deixa de ter sentido, uma vez que só poderá aprender pelo que lhe resta, pelo seu potencial, que é visual.

Cabe ressaltar que a visão socioantropológica não considera a língua de sinais somente como a língua natural dos surdos, como meio para o aprendizado da língua português escrita. Esta concepção considera a língua de sinais como o instrumento cultural de uma comunidade capaz de atribuir uma identidade á pessoa surda que pode atuar como sujeito social com diferentes papéis dentro do grupo a que pertence.

A língua está intrinsecamente ligada à cultura, porque ela é adquirida pelas interações sociais e inúmeros processos culturais e portanto, a língua de sinais é a única capaz de oferecer uma identidade ao surdo.

Este modelo carrega uma forte questão ética por acreditar que o acesso à língua de sinais não deve deixar de ser oferecida de modo algum à criança surda. Isso exige que pais, familiares e educadores aprendam a língua de sinais para poder comunicar-se com a criança surda e muito mais: reconhecer o direito da criança surda em ter acesso à língua natural, pertencente à uma cultura de forma a reconhecer-se junto a outros surdos, compreendendo que é apenas diferente e que não carrega uma deficiência. A língua de sinais não pode ser ensinada ao surdo somente com objetivo de ensinar o português escrito.

O Ministério da Educação chamou de Perspectiva Pedagógica e Social a abordagem que considera a língua de sinais e a identidade da pessoa surda (<http://www.dominiopublico.gov.br/download/texto/me000429.pdf>):

» A surdez é uma experiência visual que traz aos surdos a possibilidade de constituir sua subjetividade por meio de experiências cognitivo linguísticas diversas, mediadas

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nina
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retirara 1960. o correto é 1980
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por formas alternativas de comunicação simbólica, que encontram na língua de sinais, seu principal meio de concretização.

» A surdez é uma realidade heterogênea e multifacetada e cada sujeito surdo é único, pois sua identidade se constituirá a depender das experiências socioculturais que compartilhou ao longo de sua vida.

» Os surdos têm direito a uma educação bilíngue, que priorize a língua de sinais como sua língua natural e primeira língua, bem como o aprendizado da Língua Portuguesa, como segunda língua.

» O desenvolvimento de uma educação bilíngue de qualidade é fundamental ao exercício de sua cidadania, na qual o acesso aos conteúdos curriculares, leitura e escrita não dependam do domínio da oralidade.

» A língua portuguesa precisa ser viabilizada: enquanto linguagem dialógica/ funcional/ instrumental e enquanto área do conhecimento (disciplina curricular).

» A presença de educadores surdos, é imprescindível no processo educacional, atuando como modelos de identificação linguístico cultural e exercendo funções e papéis significativos.

abordagens de intervenção e educação

Na histórica do surdo, abordagens educacionais foram propostas desde àquelas que referendavam a aprendizagem da língua oral, enfatizando-se o uso aparelhos de amplificação sonora individual até àquelas que propõe a língua de sinais identificam e reconhecem a cultura surda.

o oralismo

A primeira abordagem refere-se ao oralismo, pelo qual o surdo deve aprender a língua oral, a leitura labial utilizando-se de pistas táteis e visuais. Para tanto, são usados recursos tecnológicos de ampliação sonora individual e coletivos que ampliam os sons do ambiente.

As crianças com perdas leves e moderadas são aquelas que podem se beneficiar, porém para com a crianças com surdez profunda, esse método trabalha exatamente com a dificuldade, ou seja o deficit auditivo que deve ser compensado com uso de aparelhos e não valoriza o potencial do surdo de captar o mundo pela visão.

A abordagem oralista acredita que a fala, a língua oral é a única forma desejável de comunicação para o sujeito surdo, e a língua de sinais deve ser evitada a todo custo porque atrapalha o desenvolvimento da oralização.

O ideal do oralismo é buscar buscando estratégias de ensino que poderiam desenvolver a fala e tornar realidade o desejo de ver os sujeitos surdos falando e ouvindo. Foram, então, criados estratégias de treinamento auditivo, leitura labial e desenvolvimento de fala.

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A proposta educacional estava diretamente direcionada somente para a reabilitação de fala aos sujeitos surdos que eram triados e avaliados clinicamente com a indicação de aparelhos auditivos e reabilitação da fala.

A proposta educacional se mescla à proposta de reabilitação e chegam até a tornar-se única porque a educação incorpora a reabilitação quando também enfatiza:

» Desenvolvimento da fala por meio de os exercícios para a mobilidade e tonicidade dos órgãos envolvidos na fonação, lábios, mandíbula, língua, respiração e relaxamento.

» Leitura labial para treinar a identificação da palavra falada, obrigando o surdo a ler os lábios quando decodifica os movimentos de língua e lábios de quem fala.

» O treinamento auditivo pela estimulação auditiva para reconhecimento e discriminação de ruídos, sons ambientais, instrumentais e de fala com uso constante de aparelho de amplificação sonora individual e nas classes de surdos, o uso de aparelhos de amplificação coletivos.

comunicação total

Com o fracasso das técnicas e da abordagem oralista detectada pelos profissionais que trabalhavam com surdos, houve, por parte destes profissionais, a proposta de se unir os gestos e sinais ao mesmo tempo em que se oralizava ou se estimulava a comunicação pela língua oral.

A comunicação total foi muito aplicada nos anos 1970 e 1980 e tinha por premissa utilizar todas as formas e recursos possíveis de comunicação: língua oral; amplificação sonora individual e coletiva; alfabeto manual a e língua dos sinais. Por esta abordagem, nenhum método ou sistema de comunicação com a criança surda poderia ser omitido ou enfatizado, porque todos os recursos devem ser usados e assim todas as formas de comunicação são oferecidas: auditiva; visual e manual.

O fator positivo da abordagem da comunicação total foi a aceitação dos sinais, por parte da comunidade científica, que atuava com crianças surdas e a abertura para a comunidade surda ser ouvida e reivindicar a língua de sinais,

Embora pautada também no potencial do surdo com a língua de sinais, e, portanto pode ser considerada como princípio de uma abordagem socioantropológica, a comunicação total revelou-se, na prática, o uso de duas modalidades, a gestual e a oral, pelo uso de uma só língua oral. Na realidade, a comunicação total faz o Surdo sinalizar na estrutura linguística da língua oral, pois os sinais estão organizados na ordem sintática que a comunidade falante se organiza.

Essa modalidade de uso concomitante oral e gestual na estrutura sintática da língua oral é denominada bimodalismo ou comunicação bimodal referendado primeiramente por Schlessinger (1978) (MOURA, 2000; PEREIRA, 2005).

Capovilla (2001), ao se referir sobre as crianças surdas que foram expostas aos sinais e à fala, portanto sinalizavam, ao mesmo tempo em que oralizavam, chamou-as de hemilíngues, porque usavam as duas línguas sem limites entre uma e outra.

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a cultura do surdo e a educação bilíngue

Com a aceitação do uso dos sinais para e pelas pessoas surdas, houve um incremento de estudos linguísitcos sobre a língua de sinais, para comprovar que é mesmo uma língua natural.

Os estudos sobre aquisição da língua de sinais como primeira língua dos Surdos, como a sua língua natural, e a necessidade de aprendizagem da escrita pelo surdos, levaram à concepção atual do bilinguismo.

Para Capovilla (2001, p. 1486): “no bilinguismo o objetivo é levar o surdo a desenvolver habilidades, primeiramente em sua língua sinais natural e, subsequentemente, na língua escrita do país a que pertence”.

Cabe ressaltar que o bilinguismo não significa biculturalismo, ou seja, não é uma bi-identidade, mas sim o respeito A identidade surda pela sua cultura e a possibilidade do acesso ao mundo da leitura e escrita.

A criança surda deverá entrar em contato com a língua de sinais o mais precocemente possível, conviver com adultos surdos e assimilar as estruturas sintáticas e morfológicas desta língua. Precisará ter embasamento linguístico que suporte a aprendizagem da leitura e escrita, por isso a língua de sinais será sempre majoritária em relação à língua escrita da comunidade falante.

A concepção bilíngue necessariamente requer o profissional ouvinte também fluente em língua sinais, caso contrário corre-se o risco deste profissional sinalizar na estrutura linguística do português ou mesclando as duas línguas que por princípio são diferentes entre si.

A escola bilíngue para surdos enfrenta, então, seu primeiro desafio: o preparo do grupo de professores e profissionais.

o aEE – atendimento Educacional Especializado para a pessoa com surdez

A Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva, de 2008, traduz em seus objetivos e diretrizes essa orientação, ou seja, a garantia do acesso à escolarização na sala de aula comum do ensino regular e a oferta do atendimento educacional especializado complementar, aos alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação.

O Ministério de Educação do Brasil referenda: “O atendimento educacional especializado deve ser organizado em salas de recursos multifuncionais ou centros de atendimento educacional especializado, no contra - turno do ensino regular, disponibilizando recursos pedagógicos e de acessibilidade que eliminem as barreiras para a participação e aprendizagem, considerando as necessidades específicas dos alunos, conforme Decreto no 6.571, de 17 de setembro de 2008. O Decreto Legislativo no 186, de 9 de julho de 2008, ratifica com status de emenda constitucional a Convenção da ONU sobre Os Direitos das Pessoas com Deficiência, traz em seu artigo 24 que “os Estados Partes devem assegurar sistemas educacionais inclusivos em todos os níveis”.

As salas de recursos multifuncionais são equipadas com materiais pedagógicos e de acessibilidade, para a realização do atendimento educacional especializado, complementar ou suplementar à escolarização. A intenção é atender com qualidade alunos com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas habilidades/superdotação, matriculados nas classes comuns do ensino regular.

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A Convenção da ONU sobre Os Direitos das Pessoas com Deficiência, assinado pelo Brasil, entre 100 países em 30 de março de 2007, foi ratificado pelo Congresso Nacional em junho de 2008, e hoje regulamenta os Princípios e Diretrizes de Políticas do Programa de Ação Mundial para as Pessoas com Deficiências propondo Normas para a Equiparação de Oportunidades para pessoas com Deficiências.

Por esta convenção, “a deficiência é um conceito em evolução e que a deficiência resulta da interação entre pessoas com deficiências e as barreiras devidas às atitudes e ao ambiente que impedem a plena e efetiva participação dessas pessoas na sociedade em igualdade de oportunidade com as demais pessoas para corrigir as profundas desvantagens sociais das pessoas com deficiência e para promover sua participação na vida econômica, social e cultural, em igualdade de oportunidades, tanto nos países em desenvolvimento como nos desenvolvidos”.

A seguir, reportaremos o artigo da 24a Convenção da ONU sobre Os Direitos das Pessoas com Deficiência que trata sobre a educação.

» Assegurar sistema educacional inclusivo.

» Não exclusão do sistema educacional geral sob a alegação da deficiência.

» Acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário em igualdade de condição com as demais pessoas.

» Adaptações razoáveis.

» Apoio necessário no âmbito do sistema educacional geral.

» Medidas de apoio individualizadas.

» Facilitar a plena e igual participação no sistema de ensino e na vida em comunidade.

› aprendizado em braille;

› escrita alternativa;

› comunicação aumentativa e alternativa;

› orientação e mobilidade;

› apoio e aconselhamento de pares;

› língua de sinais;

› identidade linguística para a comunidade surda;

› para crianças cegas, surdocegas e surdas – línguas e modos de comunicação adequados.

Entendemos, então, as diretrizes internacionais e nacionais sobre a educação inclusiva e o atendimento educacional especializado.

A Convenção prevê a identidade linguística para os surdos por meio da língua de sinais, cabendo aos sistema educacional assegurar esse direito pela implementação de leis e principalmente cumprindo as leis.

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O Atendimento Educacional Especializado - AEE - para a criança surda (DAMÁZIO, 2007) realizado no contraturno da escola regular prevê:

» ambiente bilíngue: em que todos os conhecimentos dos diferentes conteúdos regulares, são explicados por um professor preferencialmente surdo para os alunos com surdez;

» aulas de Língua Brasileira de Sinais – Libras realizada por um instrutor de Libras, preferencialmente surdo e pelo professor;

» ensino da Língua Portuguesa todos os dias, para os alunos surdos, feito por um professor de Língua Portuguesa, preferencialmente graduado na área da surdez;

» planejamento do AEE realizado em conjunto por professores de Libras, professor de classe comum e professor de Língua Portuguesa;

» o objetivo do AEE é desenvolver a competência linguística e textual para que as pessoas com surdez sejam capazes de produzir textos com sequencias gramaticais organizadas e bem formadas;

» organização didática do espaço escolar com muitos recursos visuais;

» a escola comum deve ter professores de Libras e intérpretes de sinais;

» intensa comunicação entre escola regular e atendimento educacional especializado no contraturno para a elaboração conjunta do plano educacional do aluno surdo;

» o atendimento educacional especializado deve ser em Libras;

» criação de sinais para termos científicos: caso não existam sinais para designar alguns termos científicos, os professores de Libras avaliam a criação dos termos segundo a estrutura linguística da Libras, por analogia aos conceitos já existentes;

» o ambiente educacional bilíngue respeita a estrutura da Libras e da Língua Portuguesa;

» o professor de Língua Portuguesa ensina os níveis morfológicos, sintáticos e semânticos, atribuindo significados às palavras e a organização destas nas frases e em textos de diferentes contextos, levando os alunos surdos a perceberem a estrutura da Língua Portuguesa e incoprar as regras gramaticais da escrita nesta língua.

» o AEE deve estar organizado para aqueles alunos surdos que optaram por aprender a Língua Portuguesa na modalidade oral.

» o professor que ministra aulas em Libras deve ser qualificado para não aplicar o bimodalismo, ou seja, misturar as duas modalidades, oral e gestual na estrutura do português;

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» A avaliação do aluno é processual.

Quanto ao ensino da Língua Portuguesa, o atendimento educacional especializado preconiza (DAMÁZIO, 2007):

› o Atendimento Educacional Especializado para aprendizagem da Língua Portuguesa exige que o profissional conheça muito bem a organização e a estrutura dessa língua, bem como, metodologias de ensino de segunda língua;

› o uso de recursos visuais é fundamental para a compreensão da Língua Portuguesa, seguidos de uma exploração contextual do conteúdo em estudo;

› o atendimento diário em Língua Portuguesa, garante a aprendizagem dessa língua pelos alunos;

› para a aquisição da Língua Portuguesa, é preciso que o professor estimule, permanentemente, o aluno, provocando-o a enfrentar desafios;

› o atendimento em Língua Portuguesa é de extrema importância para o desenvolvimento e a aprendizagem do aluno com surdez na sala comum;

› a avaliação do desenvolvimento da Língua Portuguesa deve ocorrer continuamente para assegurar que se conheçam os avanços do aluno com surdez e para que se possa redefinir o planejamento, se for necessário.

O decreto no 5.626, de 22 de dezembro de 2005, legitimou a formação profissional de tradutores e intérpretes de Libras e Língua Portuguesa, garantindo a obrigatoriedade do ensino da Libras nos cursos de graduação em Fonoaudiologia e Pedagogia, portanto as escolas bilíngues para surdos devem contemplar em sua grade de profissionais, os intérpretes de Libras.

A inclusão da disciplina de Libras nos cursos de graduação em Pedagogia e Fonoaudiologia obrigam as instituições universitárias a adequarem a grade curricular até 2015, prazo estabelecido pelo Decreto no 5.626.

Voltando à questão da educação inclusiva e da abertura de escolas bilíngues para Surdos cumpre mencionar a proposta do município de São Paulo sobre a criação e regulamentação de escolas bilíngues na rede regular de ensino. A portaria nº 5.707, de 12 de dezembro de 2011, regulamentou o Decreto no 52.785 de 10/10/2011 que criou as escolas de educação bilíngue para surdos.

O referido decreto prevê:

Educação bilíngue que respeite sua identidade e cultura, na qual a LIBRAS é a primeira língua e, portanto, língua  de instrução e a Língua Portuguesa é a segunda, sendo objeto de ensino da escola a modalidade escrita.

A LIBRAS como língua de instrução e comunicação será  utilizada no processo de ensino e aprendizagem proporcionando condições didáticas e pedagógicas, para acesso ao currículo.

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A LIBRAS integrará o Quadro Curricular como componente curricular  da parte diversificada e deverá possibilitar aos alunos  surdos o acesso ao conhecimento, a ampliação no uso social da língua bem como a reflexão sobre a sua gramática, sobre o funcionamento da língua nos diferentes usos e o conhecimento da cultura surda.

A aquisição  da LIBRAS  dar-se-á na interação com instrutores, preferencialmente, surdos e/ou professores bilíngues.

As aulas de LIBRAS serão ministradas pelo professor bilíngue regente acompanhado pelo Instrutor de LIBRAS, preferencialmente surdo.

A Língua Portuguesa, como segunda língua, deve contemplar o ensino da modalidade escrita que é considerada fonte necessária para que o aluno surdo possa construir seu conhecimento, para uso complementar e para a aprendizagem das  demais áreas do conhecimento.

O ensino da Língua Portuguesa, referido no  parágrafo anterior, deve ser oferecido utilizando-se a metodologia de ensino de segunda língua para surdos.

São considerados profissionais especializados no atendimento aos alunos surdos, nos termos da presente Portaria:

I - Professor de Educação Infantil;

II - Professor de Educação Infantil e Ensino Fundamental I;

III - Professor de Ensino Fundamental II e Médio;

IV - Instrutor de LIBRAS;

V - Intérprete de LIBRAS;

VI - Guia-intérprete.

O que diferencia a proposta de atendimento educacional especializado e escola bilíngue para surdos está fundamentalmente relacionado com o professor bilíngue e com a exposição à língua de sinais mais intensamente.

» No modelo do AEE, o aluno surdo frequenta escola regular, onde a maioria dos professores regentes não dominam a Libras e, portanto, o intérprete de sinais é fundamental.

» Na escola bilíngue, o professor regente é bilíngue, portanto domina língua oral e língua de sinais.

» O aluno surdo na escola regular não vivencia a Libras em tempo integral, pois a maioria de seus amigos não dominam a Libras.

» Na escola bilíngue todos usam Libras, portanto a aprendizagem desta língua pode se dar pela imersão dentro do contexto linguístico da Libras.

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O excerto a seguir faz parte de São Paulo (SP). Secretaria Municipal de Educação. Diretoria de Orientação Técnica. Orientações curriculares e proposição de expectativas de aprendizagem para Educação Infantil e Ensino Fundamental: Libras / Secretaria Municipal de Educação – São Paulo: SME / DOT, 2008.

O estabelecimento de expectativas de aprendizagem para crianças

surdas não pode deixar de considerar que, por ter perda auditiva,

a pessoa surda compreende e interage com o mundo por meio de

experiências visuais, manifestando sua cultura principalmente pelo

uso da Língua Brasileira de Sinais – Libras (Brasil, 2005). O fato de ter

acesso ao mundo pela visão e não pela audição, caracteriza as pessoas

surdas como diferentes e não deficientes em relação às ouvintes. Esta

diferença deve ser contemplada na educação de crianças, adolescentes

e adultos surdos, razão por que se considera hoje a língua de sinais a

língua de instrução dos alunos surdos, ou seja, aquela que vai ser usada

para explicar todos os conteúdos escolares para os alunos surdos. O

Decreto Federal no 5626, de 22 de dezembro de 2005, estabelece que

os alunos surdos devam ter uma educação bilíngue, na qual a Língua

Brasileira de Sinais é a primeira e a Língua Portuguesa, na modalidade

escrita, a segunda. Neste modelo, a Língua Brasileira de Sinais é a língua

de instrução no sentido de que vai possibilitar o acesso ao conteúdo

de todas as disciplinas, inclusive de Língua Portuguesa. Para isso, ela

deve ser adquirida pelas crianças surdas o mais cedo possível, o que,

em geral, vai se dar na escola, preferencialmente na interação com

interlocutores surdos, usuários da Língua Brasileira de Sinais. Além de

ser língua de instrução, no modelo bilíngue, a Língua Brasileira de Sinais é

uma disciplina que vai possibilitar aos alunos surdos tanto conhecimento,

ampliação e aprofundamento no uso da língua, quanto reflexão sobre a

sua gramática e sobre o funcionamento da língua nos diferentes usos:

coloquiais, literários, formais e informais, entre outros.

Há que destacar, ainda, que a interação com interlocutores surdos vai

permitir aos alunos surdos, além da aquisição da Língua Brasileira de

Sinais, conhecerem as diferenças culturais decorrentes do fato de terem

acesso ao mundo pela visão, bem como constituírem uma autoestima

positiva, o que vai contribuir para que se identifiquem como diferentes,

mas não como deficientes em relação à maioria ouvinte.

A proposta da escola bilingue para surdos tem sido discutida desde a década de 1990 e modelos bilíngues de escolas pouco a pouco têm sido implementados. São poucas, ainda, as realizações. O que deve ficar claro é que:

Ainda prevalece a preocupação de se alfabetizar o surdo, com o ensino

de letras, conjugadas em frases e pequenos textos. O que precisa ser

discutido é o conceito desta alfabetização para a concepção da prática

do letramento que dá importância à construção da escrita como prática

social e modalidade. O que tem se observado é muitos sujeitos surdos

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capazes de identificar palavras e significados isolados nas frases e são

capazes de estruturar sentenças, porém não conseguem fazer o uso

efetivo da língua portuguesa (PEREIRA, 2010).

As escolas bilíngues para surdos exigem, por pressuposto, um corpo diferenciado de profissionais. Não basta o professor surdo e o intérprete de sinais, é preciso que todos os professores e profissionais da escola bilíngue dominem a língua de sinais. Isto se refere desde o professor, coordenador, até auxiliares administrativos, porteiros, qualquer pessoa que trabalhe na escola bilíngue.

Outrossim, o aspecto da participação familiar é evidente. Os pais precisam conhecer a língua de sinais e ser fluentes nela. Cabe lembrar que a maioria das crianças surdas tem pais ouvintes e portanto tem a língua oral como primeira língua.

A implementação da escola bilíngue vem de encontro aos anseios da comunidade surda e representa um avanço educacional e mudanças de paradigmas da educação especial.

1. Marque CP para a concepção clínica-patológica e marque SA para a concepção socioantropológica:

1. É aconselhável que a criança surda seja encaminhada o mais cedo possível a uma escola especializada, para que possa receber estimulação auditiva e oral adequada.

2. As crianças Surdas têm a visão como sentido prioritário, pois o mundo é visual.

3. A surdez é uma realidade heterogênea e multifacetada e cada sujeito surdo é único.

4. À medida que a surdez é uma deficiência e aquisição de linguagem será a maior dificuldade.

a. 1. SA – 2. SA-3. CP – 4. CP.

b. 1. CP – 2. CP – 3. SA – 4. SA.

c. 1. CP – 2. SA – 3. SA – 4. CP.

d. 1. CP – 2. CP – 3. SA – 4. SA.

2. A abordagem da comunicação total tem alguns princípios do socioantropológico. A afirmação é verdadeira porque considera:

a. todas as modalidades de comunicação: auditiva, visual e manual.

b. o uso dos sinais como forma principal.

c. o potencial da pessoa surda.

d. o uso concomitante gestual e oral.

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3. A comunicação total recebeu críticas porque utilizava o uso concomitante de sinais e oralização, portanto, o uso simultâneo das duas línguas significa:

a. Essa modalidade de uso concomitante oral e gestual na estrutura sintática da língua oral é denominada bimodalismo e é um apoio para o letramento da criança surda.

b. O surdo sinaliza na estrutura linguística da língua oral e na estrutura da língua de sinais pois os sinais estão organizados na ordem sintática que a comunidade falante se organiza.

c. O uso dos sinais foi aceito, por parte da comunidade científica.

d. Que os surdos são hemilíngues quando se sinaliza o oraliza sem limites entre uma língua e outra.

4. O atendimento educacional especializado - AEE - para a criança surda realizado no contraturno da escola regular prevê o ambiente biligue. Assinale o que não se refere ao ambiente bilíngue:

a. Intérprete de sinais que ministra a aula de Libras.

b. Professor de Língua Portuguesa preferencialmente graduado em surdez.

c. Professor de classe fluente em Libras.

d. Instrutor de Libras e professor surdo.

5. A partir das afirmações sobre o atendimento educacional especializado, assinale a alternativa correta:

1. O ambiente educacional bilíngue respeita a estrutura da Libras e da Língua portuguesa

2. O professor surdo ode praticar o bimodalismo.

3. O professor surdo oferece melhores condições que o professor ouvinte porque as crianças surdas terão contato direto com quem é fluente em Libras.

4. O ensino da Libras acontece na sala de aula comum com o professor da classe

a. 1 e 2 corretas e 3 e 4 incorretas.

b. 2 e 4 corretas e 1 e 3 incorretas.

c. 1 e 2 corretas e 3 e 4 incorretas.

d. 3 e 4 corretas e 1 e 2 incorretas.

e. Todas afirmativas corretas.

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6. O objetivo do AEE é desenvolver a competência linguística e textual para que as pessoas com surdez sejam capazes de produzir textos com sequencias gramaticais organizadas e bem formadas, portanto é necessário:

1. A escola comum com professores de Libras e intérpretes de sinais.

2. Professor de Língua Portuguesa preferencialmente especializado em surdez.

3. Ensino frequente da Língua Portuguesa no contraturno.

4. A Libras como língua de instrução.

a. Apenas 1, 2 e 3 corretas.

b. Apenas 2 e 3 corretas.

c. Apenas 1, 3 e 4 corretas.

d. Apenas 1, 2 e 4 corretas.

e. Todas corretas.

7. Assinale o profissional que não está relacionado com a escola bilíngue:

a. Professor de Língua Portuguesa especializado em Surdez.

b. Professores regentes bilíngues.

c. Instrutor de Libras preferencialmente surdo.

d. intérprete.

8. A Convenção sobre os Direitos as Pessoa com Deficiência, estabeleceu no seu artigo 4º:

1. Assegurar sistema educacional inclusivo.

2. A possibilidade das escolas especiais.

3. Acesso ao ensino primário inclusivo, de qualidade e gratuito, e ao ensino secundário em igualdade de condição com as demais pessoas, seja nas escolas regulares ou nas escolas especiais.

4. Apoio necessário no âmbito do sistema educacional geral.

a. 1, 2 e 3 estão corretas.

b. 2 e 3 corretas.

c. 3 e 4 corretas.

d. 1 e 4 corretas.

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PARA (NÃO) FINAlIZAR

Os conceitos gerais sobre surdez estudados aqui, envolvendo classifi cações, técnicas e métodos de avaliação, caracter´sticas e tipos de surdez foram fundamentais para um melhor entendimento da defi ciência auditiva.

Vimos a complexidade do tema e temos a certeza de não haver esgotado todas as possibilidades de conhecimento. Sugerimos a continuação dos estudos e da pesquisa para atendimento as necessidades futuras.

Continue se atualizando.

nina
Realce
características
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REFERÊNcIAS

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<http://portal.saude.gov.br>

<http://www.surdo.org.br/>

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