Superinteressante-Carro Voador - Julho de 1999

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ONDE NASCEU A ESCRITA? Descobertas no Egito as letras mais antigas do mundo Na pedra de cima está escrito leste e, na de baixo, oeste SKYCAR CHEGA A 600 KM/H E 8 0 0 0 METROS DE ALTITUDE Um dos melhores engenheiros americanos começa a testar um \ automóvel que \ V andanoar Aí 0 MITO: SEUS NEURONIOS NUNCA PARAM DE NASCER Esqueça prótons, nêutrons e quarks. A matéria é feita de cordas mo o laser remove cáries sem dor Conheça o oceano de água doce enterrado no Brasil

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Revista superinteressante com reportagem sobre o carro voador.

Transcript of Superinteressante-Carro Voador - Julho de 1999

ONDE NASCEU A ESCRITA? Descobertas no Egito as letras mais antigas do mundo

Na pedra de cima está escrito leste e, na de baixo, oeste

SKYCAR CHEGA A 600 KM/H E 8000 METROS DE ALTITUDEUm dos melhores

engenheiros americanos começa a testar um

\ automóvel que\ V andanoar

Aí 0 MITO: SEUS NEURONIOS NUNCA PARAM DE NASCER

Esqueça prótons, nêutrons e quarks. A matéria é feita de cordas

mo o laser remove cáries sem dor Conheça o oceano de água doce enterrado no Brasil

JTARTA AO LEITOR

Debate inteligente

No mês passado a redação recebeu, com enorm e alegria, um a enxurrada de comunicações vindas dos

leitores. Quase 5 500 fa la ram conosco por te le fone, carta ou e-m ail. Cerca de 8 000 partic iparam da votação aberta na SUPER on-line sobre se os videogam es violentos fazem mal (acima de 70% acharam que sim e quase 30% disseram que não). Outros 2 400 já haviam respondido à pesquisa encartada na edição especial Emoção e inte ligência!, que continuava nas bancas, e mais de 1 200 preencheram um questionário de avaliação da revista na In ternet. Claro que nem todos os que se m anifestaram o fize ram para elogiar. Assuntos polêmicos com o o com portam ento do pit buli e o perigo dos videogam es ultraviolentos — tem a das duas últim as capas da SUPER — suscitam opiniões veem entes e opostas. Q uem der uma olhada no fó ru m que abrimos on-line para discutir o problem a dos games vai verificar que algumas das 165 opiniões lá registradas (a té o fecham ento desta edição) defendem com paixão os games violentos, enquanto a m aioria os condena. Tam bém entre os que se m anifestaram a respeito do pit buli, um a parte quer a esterilização e a outra repudia com veem ência a idéia.Em m eio aos debates, houve quem criticasse as nossas reportagens por julgá-las injustas com os games e os pit bulis. Não concordamos, mas prestamos toda atenção a essas observações. V irou lugar-com um , hoje em dia, dizer que a unanim idade é burra. Mas, nesse caso, o clichê lem bra algo que é m uito caro à SUPER: a origem da inteligência. O m étodo científico nos ensina que só há luz quando há debate . Por isso, querem os que você se m anifeste cada vez mais, seja para fazer reparos, seja para elog iar a sua revista. Sabemos que só assim ela se tornará cada vez mais in te ligente e, portanto , do seu agrado.

A n d r é S inger D ir eto r de Re d a ç ã o

andre.singer®abril.com.br

MEDICINA ------------0 milagre da multiplicação dos neurôniosCai um mito. As células do sistema nervoso são capazes de gerar novos neurônios.

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ARQUITETURAUma tenda geladaA SUPER dormiu num iglu. Quase congelamos.As casas dos esquimós são geniais mas gélidas.

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Z O O L O G IA -----------------A grande marcha vermelha0 espetáculo da invasão de uma ilha

Oceano Índico por 80 milhões de caranguejos.

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FÍSICA -------------------------A lira da FísicaUm grupo de físicos quer provar que o Universo é feito de cordas que vibram como num instrumento musical.

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ONDE NASCEU A ESCRITA? Descobertas

Milhões de caranguejos invadem uma ilha da Austrália

as letras mais antigas do mundo

0 SKYCflR CHEGA A 600 KM/H E 8 000 METROS DE ALTITUDE

^ Um dos melhoresengenheiros americanos

\ começa a testar um _ automóvel que

\ \ anda no ar

CA) 0 MITO: SEUS NEURÔNIOS NUNCA PARAM DE NASCER

protons, neutrons e quartes. A maténa e feita de cordas

Conheça o oceano de água doce enterrado no Brasil

SAÚDE - < ---------Dentista sem dorNo lugar da broca, cada vez mais o laser. Cáries pequenas já são limpas e :uradas sem sofrimento.

TECNOLOGIAPor debaixo do panoTecidos high-tech, resistentes à sujeira, ao suor e até ao fogo, começam a chegar às vitrines.

TECNOLOGIA

Tá com pressa? Passa por cima!Com tecnologia de dar inveja a qualquer Boeing, o carro voador está prestes a decolar.

Veja mais sobre a história do Skycar na SUPER ON-LINE: www.superinteressante.com.br

GEOLOGIATem uma esponja aqui dentroUm reservatório gigantesco repousa sob o Brasil. É água doce que não acaba mais.

SEÇÕESSUPERNOTÍCIAS

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SUPERINTRIGANTE

18

UNIVERSO

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TEMPO LIVRE

76

SUPERDIVERTIDO

82

2+2

85

0 LEITOR É SUPER

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DITO E FEITO

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ARQUEOLOGIA -------------------0 primeiro dia da HistóriaArqueólogos revelam que a escrita nasceu em três lugares ao mesmo tempo.Talvez no Egito primeiro.

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S Marcelo Zocchio 2 Jürgen Freund 3 Luiz Iria 4 Calo Vilela 5 Paulo son 6 Marcelo Zocchio 7 Newton Verlangieri 8 Fotomontagem sobre foto

:? Ljis Veiga e ilustração de Newton Verlangieri 9 Sipa Press J U L H O 1 9 9 9 SUPER 5ÍS3a I jstraçâo: Newton Verlangieri Foto fundo: Tony Stone

Marcas na lam a seca m ostram

que dinossauros da Groenlândia

andavam de um je ito m uito

parecido com as aves atuais.

Há 210 milhões de anos

Mistério desvendado0 computador mostra como os dedos do dinossauro afundavam na lama.

Ao iniciar a passada, a prim eira p arte da pata a en tra r no barro eram os dedos da frente .

PALEONTOLOGIA

O enigma do dedo desaparecido

A s trilhas fossilizadas, de 210 milhões de anos,

achadas na Groenlândia há alguns meses guardavam um segredo. Se, como se acreditava, elas pertenciam a terópodes — dinossauros carnívoros e bípedes — , por que as pegadas mais rasas não mostravam o quarto dedo, chamado hálux, que deveria existir na parte posterior da pata? O mais estranho é que nas marcas profundas, feitas na lama mole, parecia haver um hálux entrando, mas não saindo do barro. O time chefiado por Stephen Gatesy, da Universidade Brown, em Rhode Island, resolveu o enigma: achou o dedo perdido e, ainda por cima, confirmou que os terópodes tinham um andar parecido com o das aves atuais. Analisando em computador o molde das trilhas mais profundas, Gatesy descobriu o caminho percorrido pelos dedos dentro do barro. Surpresa: os terópodes encolhiam o hálux ao retirar a pata do chão, feito os perus (veja os quadros ao lado).Daí o hálux desaparecia das pegadas. "Apesar de não ser nosso objetivo principal,o trabalho reforça a relação entre terópodes e aves", disse Gatesy à SUPER."Essa é a primeira evidência tão clara desse tipo de movimento entre os terópodes", avalia Fernando Novas, do Museu Argentino de Ciências Naturais, em Buenos Aires. ■

© 1 NewtonVerlangíeri 2Nature 3 Rogério Maroja

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E por que, nas marcas maisfundas, feitas na lama moleo quarto dedo aparecia entrando e não saindo do barro?

Os terápodes de 210 milhões de anos eram dinossauros bípedes,

carnívoros, cujo tamanho não ultrapassava 1,5 metro de altura.

A esse bando pertenciam jL f os Coelophysis, como oI k - representado ao lado.

Falta um pedaçoPara confirm ar que as pegadas achadas na Groenlândia oertenciam a terópodes,?ra preciso achar mais uma impressão digital.

1 Por que, nas pegadas rasas, não aparecia o quarto dedo que o teropode deveria ter na parte posterior da pata?

SUPER O N - L I N E : w w w . s u p e r i n t e r e s s a n t e . c o m . b r J U L H O 1 9 9 9 SUPER 9

& S U P E R N O T Í C I A S

Oabalone, um molusco comum nos mares do

mundo todo, tem uma das conchas mais resistentes que se conhecem. Físicos da Universidade da Califórnia descobriram que o segredo da fortaleza está numa proteína que cola os cristais de carbonato de cálcio, que constituem a cobertura.As moléculas dessa proteína, chamada conchonita, têm a forma de espirais e funcionam como mola. Quando a concha é forçada elas se estendem, afastando os cristais e evitando que eles se partam.

A sonda Lunar Prospector, da Nasa,

que circula em torno da Lua desde janeiro de 1998, está prestes a acabar sua missão. No dia 31 deste mês, ela mergulhará em direção à superfície do satélite terrestre. Mas vai trabalhar até o útimo momento. Os especialistas escolheram a dedo o ponto onde a Prospectorvai se espatifar. Trata-se de uma cratera eternamente escura no pólo sul lunar. Eles esperam que, ao se chocar com o solo, a nave levante uma nuvem de vapor d'água que poderá ser detectada por telescópios aqui da Terra. Se tudo der certo, estará provada a existência de água na Lua.

10 SUPER J U L H O 1 9 9 9© 1 David Sweet 2 Rogério Maroja

Caleidoscópio feito de bolas de Natal

Pegue quatro esferas espelhadas — aquelas bolas de árvore de Natal.

Empilhe-as como balas de canhão, sobre um pano colorido (veja ao lado). Agora, com uma lanterna, jogue um facho de luz por um dos vãos entre elas. Você vai ver um incrível desenho colorido, como fractais num caleidoscópio. A té parece brincadeira, mas a experiência é um trabalho de Física. Pesquisadores da Universidade de M aryland. nos Estados Unidos, m ontaram a engenhoca para estudar como os fótons, partículas da luz, podem seguir um tra jeto caótico.Esse fenôm eno, chamado espalham ento, não ocorre só com a luz. "Pode acontecer quando um corpo é lançado contra outro, seja átom o contra á tom o ou estrela contra estrela", explicou à SUPER * David Sweet, um dos autores do experim ento. ■ • J Ê

0 caniinho caotico seguido pelosfotons — que sào

particulas de luz — cria fractais nas frestas

da pilha de bolas espelhadas.

As bolas devem ser em pilhadas como balas de canhão, aqui vistas do alto

SAÚDE

Mapa para a caça ao hantavírus

Ohantavírus — um microrganismo que

causa insuficiência respiratória e pode levar à m orte em poucos dias — é transmitido por roedores, entre eles os que vivem no mato. Diagnosticar a doença a tem po não é fácil, já que os sintomas se parecem com os de uma gripe forte.O pesquisador Luís Eloy Pereira, do Instituto A dolfo Lutz, em São Paulo, deu uma contribuição im portante para c combate do mal. Ele fez o primeiro mapeamento da incidência de hantavírus no Brasil (veja ao lado)."O mapa alerta os médicos e a população, principalmente a rural, para a existência, nessas regiões, de animais transmissores do vírus", avalia Luiza Madia de Souza, diretora do serviço de Virologia do Ado lfo Lutz. ■

Zona de ataqueDesde 1993, foram registrados vinte casos no país inteiro. Veja onde eles estão.

RIO GRANDE DO SUL Viadutos: 1 Três Arroios: 1 Vacaria: 1 Gramado: 1

SÃO PAULO Juquitiba:3 Araraquara: 1 Franca: 1 Tupi Paulista: 1 Nova Guataporanga: 1

Guariba: 2 Cotia: 1Jardinópolis: 1 Santa Mercedes: 1 Caiabu:1

BIOFÍSICA

Quem sobrevive mais tempo

Uma equipe m ultidisciplinar do Instituto de Tecnologia de Massachusetts, em Boston,

descobriu que o tem p o de existência de um anim al depende da eficiência do seu sistema circulatório.Ou seja, quanto mais rápido os nutrientes e compostos essenciais ao funcionam ento das células fo rem distribuídos pelo corpo, mais tem po o ser sobrevive. Por isso é que os organismos mais complexos tendem a te r m aior longevidade.'A evolução deu a eles artérias e veias cheias de ramificações", disse à SUPER Andrea Rinaldo, do MIT. "Por elas, o sangue chega facilm ente até os pontos mais escondidos, enquanto, nos seres mais simples, isso é bem mais custoso." ■

SUPER O N-LINE: w w w .superinteressante.com .br

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SERIE V E S T IB U L A N D O- LÍNGUA P O R TU G U E S A (28 FITAS)- M ATEM ATICA (10 FITAS)- G E O G R A FIA (10 FITAS)- H ISTÓ R IA (7 FITAS)- FÍSICA (10 FITAS)- Q UÍM ICA (10 FITAS)- B IOLOGIA (10 FITAS)- IN G LÊS (5 FITAS)SÉRIE D ID Á T IC A- GLO B A LIZA ÇÃO E M E R C O SU L (4 FITAS)

A STR O N O M IA (5 FITAS)A LF A BETIZA Ç Ã O (7 FITAS)

- ANATOM IA C O R P O H UM ANO (12 FITAS)- E D U C A Ç Ã O S EX UA L (5 FITAS)

CIÊN CIA S (7 FITAS)B IOLOGIA (6 FITAS)LÍNGUA P O R TU G U E S A (12 FITAS)L ITER A TU R A P O R TU G U E S A (12 FITAS) L ITER A TU R A BRASILEIRA (7 FITAS)H ISTÓRIA G E O G R A FIA M ATEM ÁTICA FÍSICA (8 FITAS)QUÍM ICA (6 FITAS)

SÉRIE A U T O C O N H E C IM E N T O- C O M O V E N C E R A TIM IDEZ

M EGAM EM ÓRIA LEITU R A DINÂMICA

- IN TELIGÊN CIA EM OCIONAL- É T IC A (2 FITAS)- A D M INISTR AÇÃO DE C O N F LITO S SÉRIE A T IV ID A D E S F ÍS IC A S- ED. FÍSICA: VO LEIBO L (2 FITAS)- ED. FÍSICA: N A TAÇ ÃO (2 FITAS)- ED. FÍSICA: H A N DEBO L (2 FITAS)- ED. FÍSICA: FU TS A L (2 FITAS)- ED. FÍSICA: B A S Q U E TE B O L (2 FITAS)- ED. FÍSICA PARA 3* IDADE (3 FITAS)- TAI CHI CH U A N

G IN Á S TIC A TE R A P Ê U TIC A (2 FITAS)- M ASSAGEMSERIE IIMFORIVIÁTICA- FR O N T PAGE 8.0 (3 FITAS)- VISUAL BASIC 4.0 (6 FITAS)- P H O TO S H O P 4.0 (2 FITAS)- C O R E L DRAW 8.0 (3 FITAS)-A U T O C A D R .13 (6 FITAS)

BORLAND DELPHI 4.0 (6 FiTAS)SERIE E D U C A Ç A O A R T ÍS T IC A- C A R TÕ E S AR TESANAIS- TÉ C N IC A S DE E N C A D ER N A Ç Ã O- H ISTÓ R IA DA A R TE (4 FITAS)- E D U C A Ç Ã O A R TÍS TIC A (7 FITAS)- B ALÕ ES M ÁG ICO S (3 FITAS)

GUIR LAN DA C O M B ALÕ ES- CAIXAS EM M IC R O O N D ULA D O (2 FITAS)- D E S E N H O A MÃO LIVRE (3 FITAS O U CD) SÉRIE C D -R O IV ls D ID Á T IC O S 2 o G R A U- MATEM ÁTICA- FÍSICA- QUÍM ICA- LITER A TU R A- G LO BALIZA ÇÃO- P R O FES SO R E LE TR Ô N IC O

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S U P E R N O T I C I A S

i m ü M i 1 As autoridades de Nova York estão se

preparando, junto com especialistas de diversas áreas, como recursos marinhos, hidrologia, saúde e agricultura, para as mudanças climáticas esperadas para os próximos 25 ou trinta anos. Uma das preocupações é a subida do nível dos mares, que já está carcomendo a costa da cidade. Os americanos temem que, se o oceano começar a invadir o Rio Hudson, a água potável possa ser comprometida pelo excesso de sal.

O Tiranossauro rextinha um faro mais apurado

do que a vista e a audição.É o que pensa uma equipe de especialistas do Museu Field, em Chicago. Eles chegaram a essa conclusão depois de examinar Sue — o maior fóssil desse animal, coletado em 1990, no Estado americano de Dakota do Sul. A equipe liderada pelo geólogo John Flynn viu que o bulbo ottatório de Sue é do tamanho de uma toranja (ou grapefruit) e reúne um imenso feixe de nervos que partem do focinho do animal. Se isso é certo, os personagens do filme Jurassic Park não poderiam se esconder do dino assassino apenas ficando imóveis.

ancestral comum(desconhecido)

Aqui, na passagem evolutiva entre o erectus e o sapiens, deve ter ocorrido um desastre que eliminou parte da variedade genética

EVOLUÇÃO

O homem quase foi à extinção

O biólogo Pascal Gagneux, da Universidade da

Califórnia, descobriu que, perto dos chimpanzés e gorilas, a humanidade é pouco original. Pelo menos em termos de genes. Apenas entre os membros de uma população de 55 chimpanzés da África Oriental, os genes variam duas vezes mais do que entre todos os 6 bilhões de humanos."Devemos ter perdido nossa diversidade devido a alguma doença, mudança ambiental ou até guerra quedeixaram nossos ancestrais à beira da extinção", disse ele à SUPER. Para Gagneux, isso ocorreu há 200 000 anos, quando o Homo erectus sumia e surgia o Homo sapiens. ■

MICROSCOPIA

Um diamante visto de perto, muito perto

Pesquisadores do Laboratório Nadonal Lawrence Livermore, na Califórnia, bateram

um recorde. Fotografaram os átomos de carbono de um diam ante, graças a um novo miscroscópio eletrônico que enxerga detalhes de apenas 0,89 angstrôm (1 angstrôm é 1 m ilímetro dividido 10 milhões de vezes). "Identificar elementos leves assim é m uito difícil", disse à SUPER Christian Kisielowski, líder da equipe. É que um microscópio eletrônico percebe um átom o ao lançar sobre ele feixes de elétrons. Quando passa perto do núcleo atômico, os elétrons do fe ixe são desviados. Só que, se o núdeo é m uito leve, esse desvio é pequeno demais para mostrar onde o átom o se encontra. ■

Catástrofe pré-históricaA humanidade pode ter perdido sua variedade genética há 200 000 anos.

gorilaha 8 milhões de anos

chinwanzéhá 6 milhões de anos

Australopithecus(como o afarensis e o africa nus)

%

m »• Wê-

Isto é uma lasca de diamante. Cada mancl clara é um átomo de carbono, 10 milhões i vezes menor que 1 milímetro

12 SUPER J U L H O 1 9 9 9© 1 Luiz Iria 2 Lawrence Berkeley National Labora

r S U P E R N O T Í C I A S

Para cada cor, uma altitudeA sonda Mars Global Surveyor mostra surpresas na topografia marciana.

ASTRONOMIA

Marte mais conhecido do que a Terra

O que aparece com o manchas e sombras

nas fo tos normais são, na verdade, profundos abismos e altíssimas montanhas. Assim é M arte, v isto em três dimensões pela nave Mars Global Surveyor, da Nasa. As imagens coloridas que você vê nestas páginas são o resultado da m ontagem de 27 milhões de medições feitas entre1998 e 1999, por um a ltím etro a laser a bordo da sonda, cham ado Mola.0 raio laser é lançado contra a superfície do planeta e re fle tido de volta, com precisão, para o detector.Os dados são tão precisos que m ostram diferenças de apenas 13 metros na altura entre dois pontos.No a rtigo publicado na revista científica americana Science, a equipe liderada por David Smith, do Centro do Vôo Espacial Godard, a fim a que agora conhecemos a topogra fia marciana m elhor do que a de m uitos continentes terrestres. "Só no ano que vem terem os um a ltím etro tão avançado circu lando em órb ita da Terra", disse Smith à SUPER. Nestas páginas, você vê o mapa topográ fico de M arte e, tam bém , alguns detalhes impressionantes do cenário, fo tog ra fados em luz visível. ■

Monte Olimpo Monte Ascraeus

Monte Pavonis

Monte Atsia

Altitude, em quilômetrosacim a de 8

0 (altura média)

m ,■abaixo de ■ 8

Vulcões em Tarsis0 Monte Olimpo, o maior deles, tem 500 quilômetros de diâmetro na base e eleva-se 27 quilômetros acima da altitude média marciana. Os outros três montes ao seu lado, Ascraeuj Pavonis e Arsia, têm altura superior a 15 quilômetros.As manchas brancas queaparecem sobre os vulcões são nuvens, comuns naquela área no meio das tardesmarcianas.

14 SUPER J U L H O 1 9 9 9© NASA

Vale Marineris0 imenso cânion no equador de Marte tem quase 5 000 quilômetros de extensão. O altímetro a bordo da Mars Global Surveyordescobriu diferentes profundidades ao longo da fenda. O ponto mais

fundo fica no centro do vale. Os especialistas desconfiam que a água que um dia encheu

o Marineris tenha brotado da terra, ali mesmo. Na foto acima, você

vê o detalhe de uma das escarpas do Marineris.

%

'Bacia HellasEsta imensa depressão, criada pela queda de um bólido há bilhões de anos, tem mais de 2 000 quilômetros de diâmetro e 9 quilômetros de profundidade. Ali dentro caberia, inteirinho, o Monte Everest, o mais alto da Terra, com 8 848 metros, e ainda sobrariam uns 200 quilômetros de borda.

Mesetas da Planície ElysiumEsta região, próxima ao equador, é relativamente baixa, mas povoada por pequenos montes com o topo achatado.Os cientistas acham que esses morrotes, de pouco mais de 1 quilômetro de diâmetro, são o que restou da erosão no solo da região. A área coberta pela imagem ao lado tem 3 quilômetros de largura.

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SUP E R O N - L I N E : w w w . s u p e r i n t e r e s s a n t e . c o m . b r J U L H O 1 9 9 9 SUPER 1 5

M í

A I N T R I G A N T E

i Socorro, alguém desligou a luz!

Sem o Sol, a Terra não seria

mais do que um a bola

gelada, sem nuvens com

cada vez m enps água líquida.

O que aconteceria com a vida na Terra se o Sol

se apagasse de repente?

| Para com eçar, isso não■ pode a co n tec er assim,

de u m a .h o ra pa ra o u tra . Os a strô n o m o s calcu lam qu e só d a q u i a cerca d e 7,5 b ilhões de anos o Sol co­m eçará a m orrer. Ele s o fre ­rá um a g ra n d e e xp lo s ão e dará o rig e m um a estre la m enor, q u e c o n tin u a rá a b rilh a r tê n u a m e n te .

M as, supondo que isso acontecesse, os e fe itos da escuridão repentina seriam

catastróficos. "A espécie hum ana estaria condenada, em b ora pudesse a té resistir por alguns anos, d ep en d en ­do da qu an tid ad e de en er­g ia que fosse capaz de pro­d u z ir a rtific ia lm ente", esti­ma o b ió logo José M arian o Am abis, da Universidade de São Paulo (USP).

Os prim eiros a m o rrer seriam os veg eta is , q u e precisam de luz para fa z e r fo tossín tese. Depois, sem com ida, iriam para o be le - léu os an im ais herb ívoros. “O cenário seria s em e lh an ­te ao que causou a è x tin -

çáo dos dinossauros", a v a ­lia o pesquisador. Ele se re­fe re à h ip ó tese d e q u e os rép te is m o rreram depois da q u e d a de um aste ro id e q u e lev an to u um a n uvem de p o e ira , b lo q u e a n d o a luz so lar p o r meses.

O u tro prob lem a grave se­ria o resfriam ento do p lane­ta . "O v apor da atm osfera- v iraria gelo, in terrom p endo o ciclo da água", a firm a o f í­sico José Vanderle í M artins, ta m b é m da USP. Sem H20 lí­qu ido , é m u ito difícíl im agi­nar que a lgu ém conseguis­se sobreviver. ■ •_ -*>

Lar, gelado larEste poderia ser o.aspecto da Terra se o Sol apagasse

A escuridão to m a ria conta.Seria m uito mais fác il ver as estrelas, já que nem mesm o a Lua, que é ilum inada pelo Sol, dariaTis-caras.

A água em fo rm a . ®de vapor condensaria, deixando o céu lim po d e nuvens. Em p o u c o . tem po, rios e m ares congelariam .

Combustíveis estocados no subsolo gera riam energia, mas nào durariam para sempre. Econom izar seria a palavra de ordem .

Sem entes m uito resistentes a té poderiam sobreviver, mas nunca b ro tariam

24 horas sem derramar sangue? Impossível"y H ouve a lgum dia de m p a z no século XX?

| Nenhunzinho. Em qualquer■ um dos 35 935 dias entre 10 de janeiro de 1901 e 10 de ju­lho de 1999, pelo menos um ser humano fo i m orto em conflito. Tudo indica que vai continuar assim até o final do século. Seria otim ismo demais

Pablo Picasso (1881-1973) pintou um dos mais terríveis momentos do século: o bombardeio da cidade de Guemica. durante a Guerra Civil Espanhola, em 1937.

acreditar que todas as trinta guerras hoje em andamento possam term inar até 2001.

Nestes 99 anos, houve cer­ca de 500 conflitos. " Pelo me­nos 200 milhões morreram em combates” , chuta baixo o historiador Duncan Anderson, da Academia M ilitar de Sand­hurst, Inglaterra, que pesqui­sou cada dia do século. Para a

Academia de Sandhurst, uma guerra é definida como qual­quer conflito envolvendo gru­pos organizados, desde movi­mentos terroristas, como os promovidos pelo Exército Re­publicano Irlandês, até as guerras mundiais.

Só na Segunda Guerra, houve 70 milhões de baixas. O país mais afetado pelos

massacres fo i, disparado, a Rússia, onde pereceram 50 milhões. Os anos 90 ficam bem atrás dos anos 10 e dos 40 no quesito perdas hum a­nas em conflitos militares. Mesmo assim, é uma década mais sangrenta que as de 60, 70 e 80, graças às dezenas de brigas étnicas na África, na Ásia e até na Europa. ■

Os dias em que os hormônios enlouquecem

Como se explica a tensão pré-m enstrual, m conhecida como TPM ?

| Não é à toa que as mulheres ficam com os nervos à■ flor da pele por um certo período todo mês. A cada trinta dias mais ou menos, uma dança de hormônios as prepara para uma possível gravidez. Nos dias que antecedem a menstruação (a perda natural de san­gue, quando a mulher não engravida) a quantidade de dois desses hormônios — a progesterona e o estro- gênio — diminui muito, gerando um monte de efeitos colaterais, como irritação, dores de cabeça e choro fá­cil. Os sintomas têm sido relacionados à retenção de líquidos no organismo e à queda da quantidade de neurotransmissores — as substâncias químicas que transmitem os sinais entre os neurônios. "Mas as cau­sas ainda não são totalmente conhecidas", ressalta o ginecologista Edmund Baracat, da Universidade Fede­ral de São Paulo. "Fatores como o estresse podem pio­rar significativamente as sensações.n ■

Dos pés à cabeça0 efeitos das alterações hormonais no organismo da mulher antes da menstrução.

A diminuição da quantidade de neurotransmissores, como a serotonina, causa irritação, sensibilidade, depressão e dor de cabeça.

0s seios aumentam de tamanho e ficam doloridos devido ã retenção de líquidos, provocada pelos baixos níveis do hormônio progesterona.

0 acúmulo de líquidos também favorece a distensão do abdome, dando a sensação de barriga inchada, que desaparece assim que a progesterona volta ao normal.

© 1 Rodrigo Cruz 2 Gamma 3 Rogério MarojaJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 19

I N T R I G A N T E

Nada passa desapercebido

* Como as aves m enxergam , se têm

um o lho de cada lado da cabeça?

| É estranho, mas elas vêem■ tudo m uito bem. Um olho capta o que se passa à direita e o outro não deixa escapar nenhum detalhe à esquerda. Algumas conseguem saber até o que está acontecendo às suas costas (veja o infográ- fico abaixo). "Elas têm uma visão panorâmica que pode chegar a 360o", explica Eliza­beth Hõfling, ornitó loga da Universidade de São Paulo (USP). Aves quase sempre são pequenas, o que as faz vulne­

ráveis. Daí a importância de saber o que ocorre à sua volta e perceber a movimentação de um possível predador. “ Em compensação, elas têm pouca visão estereoscópica", diz Hõfling, referindo-se à ca­pacidade de enxergar com perspectiva. Isso só é possível quando se olha com os dois olhos para o mesmo ob je to , com o fazem os mamíferos, inclusive os seres humanos. Nessas condições, o cérebro compara as duas imagens e nos diz a que distância elas estão. As aves quase sempre vêem chapado, em duas d i­mensões, com o se fosse uma fo tog ra fia . ■

P(iniiiimm)prazer em conhecê-luuuuu

O que significam os ruídos que ouvim os■ quando nos conectamos à In ternet?

| A q u ilo é o seu m odem se apresen tando para o mo-■ dem do o u tro lado da linha. "É o que cham am os de h and shake, a p e rto de m ão e m ing lês", d iz o c ientista da com putação Douglas V ie ira , que adm in is tra a rede do In s titu to de M a te m átic a da U n ivers idade d e São Paulo. Só que, em vez de d ize r "m u ito p razer" , o ap are ­lh o passa in form ações fu n d am en ta is para possib ilita r a com unicação. Ele in fo rm a qual sua veloc idade de c ap ta ­ção de dados, para que o o u tro não perca te m p o tran s ­m itin d o ráp ido dem ais, o que to rn a r ia a m ensagem in ­com preensível. O irr ita n te baru lh o ta m b é m serve para d ize r "Sim, eu sou um m odem , e não um fa x ou um a li­gação te le fô n ica co m u m *. ■

Cada um vê o que precisaCompare a visão dos humanos com a de três tipos de ave.

olho direito

visão em perspectiva

1 Nossos dois olhos estão virados para o Jh mesmo lado. Isso faz com que tenhamos um campo de visão pequeno, mas um grande senso de perspectiva. Somamos, no cérebro, as duas imagens do objeto.

2 A maioria dos pássaros tem olhos muito separados, com vasto campo de visão. Eles até conseguem ver com perspectiva, se olharem bem de frente, pois há uma pequena zona onde os dois olhos se encontram. Além disso, percebem movimentos em quase toda a sua volta.

olho direito

visão em perspectiva

Os gaviões são uma exceção. Seus dois olhos ficam à frente, como os dos homens É que eles não se preocupam com surpresas pelas costas. Querem é calcular a distância das presas lá embaixo.

olho direito

esquerdo

4 0 pombo é um olho direitocaso engraçado.Como passa boa parte do tempo ciscando, com o nariz no chão, sua visão traseira é melhor que a dianteira. Assim, evita que alguém o surpreenda durante a refeição.

visão em perspectiva

olho esquerdo

20 SUPER J U L H O 1 9 9 9© 1 1nfográfico Rogério Maroja sobre fotos de Luiz Gomes.

Sílvio Ferreira. Roberto Loffel e Antônio Costa

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Negócios ou Informatizando sua Casa

I N T R I G A N T E

J S e o hom em não■ existisse, que an im al

dom inaria o m undo?

| A lguém que adotasse uma■ tática prudente de sobre­

vivência: os ratos, por exem­plo. Quando os dinossauros se extinguiram , há 65 m i­lhões de anos, os nossos an­cestrais eram pequenos qua­drúpedes que passavam qua­se o tem po todo enfiados em buracos ou em copas de ár­vores. Não eram m uito d ife­rentes dos roedores atuais. Com iam de tudo, desde so-

Um dia, o mundo poderá ser dominado por ratões bípedes de 1,80 metro.

bras de caça até insetos e ma­to. "Por isso, fo ram poupa­dos da extinção", diz Reinal­do Bertini, da Universidade Estadual Paulista. Nos tempos difíceis, ser pouco exigente é um bom negócio. Nossos ta- taravós se fartaram com a carniça de répteis até pode­rem sair da toca, livres dos predadores. Daí acabaram-se as vacas magras e eles foram se tornando mais altos. Deu no que somos hoje. "Se os humanos desaparecessem, os ratos usariam a mesma es­tra tég ia", diz Bertini. "Eles sairiam dos buracos e fica­riam maiores. Poderia surgir uma civilização roedora." Isso se as baratas, outro fo rte can­didato ao trono vago, não ocupassem o espaço antes.B

Às vezes, é melhor ser rato que homem

Computador calcula o caminho dos astrosy C o m o é possível p re v e r■ os eclipses solares?

| O princípio é simples. Os astrônomos, depois de anos de ob- a servação, já sabem a posição exata do Sol, da Lua e da Terra.Conhecem tam bém qual o caminho que cada um deles percor­re ao redor do outro e a velocidade com que se m ovim entam .Também sabem como a força da gravidade puxa os astros de um lado para outro. É só colocar tudo num com putador e des­cobrir o m om ento em que a Lua vai passar bem entre o Sol e a Terra, bloqueando a luz. 'O btem os precisão to tal. Dá para sa­ber o segundo em que vai começar", gaba-se o astrônomo Thyrso Villela, do Instituto Nadonal de Pesquisas Espaciais, de São José dos Campos, São Paulo. Difícil mesmo era antes, quan­do povos antigos, incluindo egípcios e maias, conseguiram pre­ver eclipses só de olhar para o céu. Eles observaram os movi­mentos do Sol e da Lua ao longo de gerações, a té chegarem a saber a hora em que os dois se cruzariam no firm am ento. ■

© 1 Luigi Mamprin 2 Rogério Maroja 3TimGraham/Sygma22 SUPER J U L H O 1 9 9 9

Cuidado com o papel do chocolate^ Por que, quando m temos uma obturação

no dente, sentimos um choque ao m order um papel-alum inio?

I Porque você está transfor-■ mando sua boca em urna pilha. Uma bateria é feita de dois metais diferentes mer­gulhados em um líquido áci­do. 0 líquido tem cargas que roubam os elétrons de um metal e os jogam no outro. " Pois é exatamente isso que

acontece quando você en­costa a liga metálica da o b tu ­ração, geralmente fe ita de prata, cobre e estanho, no alumínio, ambos molhados de saliva, que é ác ida", expli­ca o quím ico T ibor Rabocz- kay, da Universidade de São Paulo. O alum ínio se trans­form a no pólo negativo da pilha. Seus elétrons passam para a saliva e de lá para a ob­turação. Ou seja, surge uma corrente elétrica que chega até o dente. U uu i' ■

Envie sua pergunta pelo correio para: SUPERINTRIGANTE Av. das Nações Unidas, 7221,14" andar, CEP 05425-902,São Paulo, SP. Se preferir, mande por e-mail para o endereço eletrônico [email protected]

Se a sua pergunta for selecionada, você receberá em casa uma camiseta. Os assinantes do UOL ou da SUPER podem mandar perguntas exclusivas para a versão on-line da revista, que está no endereço www.superinteressante.com.br

A SEGUIR, OS AUTORES DAS PERGUNTAS ESCOLHIDAS NESTA EDIÇÃO.Camila Martin Docal Élver Nogueira e Silva Marcos Laércio São Paulo, SP Pouso Alegre, MG Belém, PA

Colégio Cecília Caçapava Conde Caçapava, SP

Gleice F. Silva Paula Lagoa Santa, MG

Karla Laiss Resende Pires do Rio, GO

Paulo Roberto Torres Ji Ribeirão Preto, SP

Viviane M. Campos São Paulo, SP

0 dente possui term inações nervosasque informam ao cérebro que você está tomando um choque — sutil, mas o suficiente para incomodar.

Boca em alta tensãoEm contato com o ácido da saliva, os metais conduzem eletricidade.

A carga negativa do líquido da boca serve de ponte para os elétrons do a lum íniopassarem para a liga metálica da obturação.

Uns sangues são mais azuis que outros" y O que significam os m títu los d e nobreza?

| Desde o século XII a té o finalzinho do século XVII, no-■ bre era quem controlava a lgu m territó rio . No início do século XVIII, principalm ente durante o reinado de Luís XIV na França, os monarcas começaram a distribuir os t í ­tulos em troca de favores. Os nobres passaram então a te r papéis políticos.

Apesar das diferenças de uma monarquia para outra, algumas regras eram claras. O rei m andava. O príncipe o sucedia e ficava de papo para o ar, à espera da sua vez de subir ao trono. O duque cuidava do controle m ilitar do território, promovendo guerras quando era necessário. O marquês zelava pelas fronteiras. O conde era um tipo de diplom ata, com a atribuição de resolver conflitos.

Hoje, ainda existem nobres. "Nos países de tradição monárquica, como a Inglaterra, eles continuam com al­gum a influência política, mas quem controla o Estado é o Parlamento", ressalta o historiador Osw aldo M unteal Filho, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro. Ou seja, te r sangue azul já não é mais a mesma coisa. ■

SUPER J U L H O 1 9 9 9 23

7 ARQUITETURA.

Umatenda gelada

A SUPER foi até o Ártico e dormiu num iglu, a tradicional casa de gelo dos esquimós.

Foi uma noite gélida, que passamos batendo os dentes.

Po r C r is t ia n a M e n ic h e l u , de Iq a l u it , Ca n a d á

Fo t o s d e C a io V ilela

Um dos participantes do festival anual de iglus de Iqaluit no Canadá, o inui Simon Takpaungai, dentro da cabana. Ele disse è SUP1 que aprendeu a fazer iglus com seu pai. Esse, por sua t aprendeu com o pai dele

A temperatura em Iqaluit (pro- nucia-se Icáluit), um vilarejo de 4 500 habitantes na Ilha de

Baffin, no nordeste do Canadá, chega aos 30 graus Celsius negativos brin­cando. Se caísse mais 9 graus, o ter­mômetro pararia de registrar porque o mercúrio congelaria. Já pensou? Mesmo assim, a região, e todo o norte do continente, do Alasca à Groenlân­dia, é habitada por indígenas. São, co­mo os brancos colonizadores os bati­zaram, os esquimós, palavra indígena cujo significado original se perdeu. E- les preferem se chamar de inuit.

Os inuit só existem graças à mara­vilha arquitetônica do iglu, uma casi­nha de água congelada com cerca de 2 metros de diâmetro. “O gelo é um excelente isolante térmico”, explica o físico Cláudio Furukawa, da Universi­dade de São Paulo. “Segura o calor 100 vezes mais do que o alumínio.” Por isso, enquanto lá fora os termô­metros endurecem, no interior faz “confortáveis” 3 graus negativos. Com fogareiros a óleo de foca acesos, todos dormem abraçados aos cães.

Quer dizei; dormiam. Hoje em dia ninguém mora em iglus. As casas de madeira com lareira chegaram à re­gião no século XVn. Foi um sucesso! Hoje, os inuit de Iqaluit celebram o início da primavera todo ano com um festival de construção de iglus.

Nós, da SUPER, tentamos dormir na cabana vencedora. Depois de 3 ho­ras de cochilos e tremedeiras, perce­bemos que estávamos congelando. Voltamos para casa a pé, em plena madrugada, caminhando 3 quilôme­tros contra o vento, sob 25 graus Cel­sius negativos. Olha, sinceramente: país tropical é uma delícia. ©

Faça você mesmoAcompanhe, passo a passo, a construção da casa gelada.

No dia seguinte à noite maldormida no iglu, o fotógrafo Caio e a repórter Cristiana continuavam a tremer

1 Um inuit serra blocos de 12 quilos do chão. A temperatura tem que estar abaixo dos 20 graus negativos.Senão o gelo fica muito mole.

Calor que sustentaA temperatura mais quente no interior mantém o iglu em pé.

é preciso haver uma pessoa ou um fogareiro dentro, para produzir calor. A altura, de pelo menos 1,70 metro, impede que a chama derreta o gelo. Assim, o ar aquecido fica mais leve e sobe com a umidade.

vedação

A umidade passa entre os blocos, congela em contato com o frio de fora e acaba cimentando, constantemente, as frestas. Sem isso, os blocos deslizariam uns nos outros e o iglu acabaria desabando.

frio

© Infográfico Maurício Lara2 metros

1,70 metro

2 Com serrotes e facões, bons construtores conseguem encaixar os tijolos de água congelada de forma a deixar o mínimo possível de frestas. Mesmo os mais experientes não terminam de construir a cabana em menos de 2 horas

3 0s blocos são posicionados em forma de espiral, inclinados para dentro. Assim, um se apóia no outro e o iglu não desaba, llm buraco no teto garante a circulação de ar.

fonte de calor

Depois, é só cavar a portinha

TECNOLOGIA

Tá com pressa?

PassaComeça a ser testado nos Estados Unidos o Skycar, carro voador que pretende substituir o automóvel como veículo de passeio.E mudar o seu dia-a-dia.Po r C a r l o s D ia s e G a b r ie la A g u er r e ,COM IVANI VASSOLER,de W a s h in g t o n

MAIS LEVE QUE 0 AR 0 Skycar tem oito motores em quatro turbinas. Apesar disso, pesa o mesmo que um Gol, graças à fuselagem, feita de fibra de carbono, leve e resistente.A autonomia de vôo é de 1 300 quilômetros

cima i■

Desde 2046, quando a Ni­géria conquistou o tetra- campeonato mundial de

futebol e se construíram no Ma­racanã mais quatro estaciona­mentos verticais— os vertiportos — , dia de clássico nacional como Juventus x Bangu tem sido um inferno. Os torcedores de São Paulo saem todos do trabalho 1 hora antes da partida, chegam ao Rio quando o jogo já vai come­çar e ainda querem estacionar no andar de acesso ao estádio.

O cenário não tem nada de bizarro. É perfeitamente factível, daqui a uns cinqüenta anos, se a invenção do engenheiro ameri­cano Paul Moller decolar. Ele de­ve fazer este mês o primeiro tes­te do Skycar; o equivalente aéreo de um automóvel de passeio: le­va quatro pessoas, pode ser guar­dado numa garagem, é guiado pelo dono e faz 8 quilômetros com 1 litro de gasolina comum.

As semelhanças com um car­ro param aí. O protótipo foi feito para decolar e aterrissar na verti­cal, como um helicóptero, e voar como um jato, subindo a 8 000 metros de altitude e voando a 600 quilômetros por hora. “O Skycar um dia vai levá-lo da sua casa para onde você quiser quando você bem entender”, disse Moller à SUPER. Pegue uma carona e imagine nas próxi-

1 mas páginas como isso vai ser.

© 1 Fotomontagem Newton Verlangieri sobre foto de Klaus Werner 2 National PicturesJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 27

TECNOLOGIA

Solte o cinto, o piloto sumiuControlado por computador, o Skycar pousa e decola na vertical.

fluxo de ar para trás

J

1 Como um beija-flor■ Paul Moller inventou um sistema

de decolagem e pouso verticaisbaseado em defletores,__________"persianas" instaladas dentro das turbinas. Quando elas se fecham, o ar produzido pelas turbinas é empurrado em direção ao solo para fazer o carro levantar vôo.

Transição no arSempre controlados por computador, os defletores vão se abrindo à medida que o veículo sobe. Dessa forma, parte do vento impulsiona o veículo para a frente e outra parte o faz subir.Na altitude desejada, o ja to de ar é impulsionado totalmente para trás para aumentar a velocidade.

Se você acha que carro voad parece história de ficção científii é compreensível. Afinal, houve ui infinidade de tentativas do ti neste século, protagonizadas j cientistas com perfil de Profes: Pardal. Mas esse não é o caso Paul Moller. “Ele não é um mecâ co de fundo de quintal, mas um c melhores engenheiros ame canos”, declarou à SUPER Den Bushnell, cientista-chefe do lal ratório de Langley, o principal o tro de pesquisas da Nasa.

Ele não é o único entusiasr do com o projeto. “É o melhor c já vi em toda minha vida”, diss SUPER o engenheiro de sisten Henry Lahore, executivo Boeing. Os dois acompanham anos o trabalho de Moller e o cordam: o invento tem uma sc cão científica plausível para tcx os obstáculos técnicos que im d iam a sua viabilidade, inclus segurança. O mais crucial de era a necessidade de ter um p

Com a cabeça nas nuvens e os pés no chãc

28 SUPER J U L H O 1 9 9 9

Direita, volverSem as longas asas de um avião comum, o Skvcar m anobra e faz curvas no ar acelerando mais de um lado.Como num barco a remo, mais força do lado esquerdo faz o aparelho virar à direita.

potencianormal

Equilíbrio sem asasA 200 quilômetros por hora, as pequenas asas traseiras respondem por 28% da sustentação no ar. O restante é gerado pela força dos motores (10%), pelo fluxo de vento que passa sobre as tu rb inas (46%) e pela fuselagem do aparelho (16%)

maiorpotência

fissional no comando. “A revolu­ção da tecnologia está reduzindo drasticamente os requisitos de pi­lotagem”, diz Bushnell. “Daqui a algum tempo, o vôo poderá ser totalmente automático.”

A tecnologia para isso já existe. Falta aperfeiçoá-la. A idéia é colocar em órbita um conjunto de satélites que cubra toda a superfície do planeta Cada Skycar enviará um sinal constante para o espaço. O sa­télite recebe a informação e a devol­ve à aeronave, indicando posição, al­titude, velocidade e rota adequadas. O computador de bordo apenas obe­dece. O dono só precisará ligá-lo e dizer para onde quer ir.

A criação de Moller supera ou­tros empecilhos técnicos, como pe­so, tamanho, e combustível. Com pouco mais de 5 metros de compri­mento e 3 de largura, ele é prático porque cabe em qualquer lugar. Um avião Cessna, por exemplo, tem 12 metros de asa a asa. O Skycar pesa 1 tonelada — menos do que um Gol — e tem dois tan­ques de combustível em que cabem 227 litros de gasolina comum. O protótipo custou 1 milhão de dóla­res. Moller, porém, acredita que a produção em escala derrubaria o preço para 60 000 dólares.

42 centímetros

Pouso suavePara descer, os m otores diminuem avelocidade e os defletores se fecham.

0 ar jogado para baixo forma um colchão de ar para a aterrissagem.No solo, o Skycar deixa a desejar.

Com três rodas e sem suspensão, faz apenas trajetos curtos,

de até 30 quilômetros, a baixa velocidade.

Pequeno notável0 carro voador tem oito motores como o que você vê ao lado. Cada uma dessas maravilhas, embora pese apenas 34 quilos, tem potência de 90 HP, praticamente a mesma que um Gol 1.6. Mas com cerca de 25% do seu peso.

© Infográfico Newton Verlangieri

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 29

TECNOLOGIA

Os passos do carro voadorA trajetória do criador e da criatura ao longo de 35 anos.

0 primeiro automóvel fe ito no Brasil, o fusca, começou a rodar em 1960. Naquele ano, Paul Moller já estava desenhando o seu veículo voador. Tomou tempo. Professor de Engenharia Mecânica e Aeronáutica da Universidade da Califórnia de 1963 a 1975, ele sempre conciliou a profissão com os delírios criativos. Hoje, aos 62 anos, é um empresário bem-sucedido. Sua empresa, a Moller International, tem contratos com a Força Aérea dos Estados Unidos e a Nasa. Seu principal produto é o Aerobot, um pequeno robô que voa sozinho. Ele é usado para localizar vítimas de acidente em áreas de difícil acesso para equipes de resgate.

É desse negócio que saiu boa parte da dinheirama gasta ao longo de mais de trinta anos para desenvolver o Skycar. "Foram investidos cerca de 100 milhões até hoje", conta. Segundo ele, uma parte substancial do projeto está sendo financiada por vários parceiros, entre eles a indústria eletrônica sukoreana Samsung.

Doutor em Aeronáutica, Moller já registrou 42 patentes, além do Skycar

1964 — FUNDO DE QUINTAL 0 primeiro protótipo em tamanho real foi construído na garagem de Moller

Os obstáculos no caminho do Skycar

Se você agora mudou de idéia e já está imaginando um desses, da sua cor preferida, reluzindo na sua gara­gem, contenha-se. O teste que deve ser realizado este mês é o primeiro de uma série infindável de demons­trações exigidas pelo govemo ameri­cano antes de autorizar o vôo de qualquer novo tipo de aparelho aé­reo. “O Skycar parece ser uma inte­ressante idéia, mas o projeto expõe uma série de questões para as quais ainda não há resposta”, disse à SU­PER Bill Shumann, porta-voz da Fe­deral Aviation Administration (FAA), o órgão do govemo americano res­ponsável por toda a aviação no país. “Todos os testes necessários consti­tuem um longo processo, que levará anos para ser concluído.”

Se o carro voador fosse autoriza­do a decolar amanhã, seria necessá­rio ter brevê para pilotá-lo. O compu­tador que tomaria o vôo automático ainda está sendo desenvolvido para as Forças Armadas dos Estados Uni­dos. Vários anos passarão até chegar à aviação civil. Outro requisito básico é o controle de tráfego aéreo por saté­lites, que pressupõe uma rede de cen­trais em órbita conectada aos compu-

tadores de todos os carros voadores. “A engenharia de trânsito ainda é fei­ta com radares terrestres”, explica Shumann. “Mas o govemo america­no já está analisando esses novos sis­temas.”

Um novo mundoProjetos como o Skycar de Paul

Moller não aparecem todos os dias. Mas muita gente tentou chegar perto. “O caso mais comum é de inventores que tentaram combinar as facilidades do vôo à comodidade de um carro”, conta Paulo Soviero, professor de ae­rodinâmica do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (TIA), em São José dos Campos, interior de São Paulo. Os resultados não foram muito ani­madores. O veículo Arfíbio (mistura das palavras ar e anfíbio), do ameri-

30 SUPER J U L H O 1 9 9 9

1966 — 0 PRIMEIRO VÔO 0 XM-2 voou com um passageiro.A turbina era um anel ao redor da cabint

Em 1892, o pintor francês Albert Robida (1848-1929) já imaginava Paris tomada por táxis aéreos

1974 — PARA DOIS O XM-4 comportava dois passageiros. Tinha oito motores de 20 HP

1989 — VIABILIDADE O M200X fez 150 testes oficiais, comprovando o sistema de decolagem vertical

1999 — SALTO TECNOLÓGICO Batizado de M400, o Skycar incorpora oito motores leves e pequenos. Segundo Moller, eles poluem dez vezes menos que um automóvel. Se todos falharem ao mesmo tempo, o veiculo dispõe de um conjunto de pára-quedas

cano Robert Fulton Jr., em 1945, foi o primeiro desses a aparecer. Tinha ca­ra de aeroplano, só que podia andar na terra também. Em terra, não pas­sava de 90 quilômetros por hora. A 300 metros de altitude, praticamente dobrava a velocidade. Seu principal problema era o trabalhão que dava para recolher as asas e a cauda.

Embora imperfeito, o Ariíbio ins­pirou o engenheiro americano Molt Taylor a construir no ano seguinte o Aerocar. Era literalmente um carro com asas, só que mais frágil e mais apertado. No aj; tinha um desempe­nho pior que o de um monomotor. “Sair voando e levar junto suspensão e caixa de câmbio não é algo muito inteligente”, comenta Soviero. Pesa­va muito. Aprovado pela FAA, vendeu apenas cinco unidades.

Quase cinqüenta anos depois, o Skycar faz comer poeira os demais inventos que apareceram. “Ele é tecnicamente viável”, disse à SU­PER Nicola Getschko, professor de Mecânica da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. “Mas isso não basta. Será preciso uma infra-estrutura até agora não ima­ginada.” Segundo ele, se o projeto de Moller der certo, o mundo mu­dará. Vai mudar tanto que os filhos dos seus filhos vão arregalar os olhos quando você contar que pas­sava horas e horas preso no trânsi­to. E o pior: no chão.

0S NÚMEROS DA M A Q U IN AComprimento: 5 metros Largura: 3 metros Peso: 1 tonelada Velocidade máxima: 600 km/h Altitude máxima: 8 000 metros

© 1 Cortesia Moller International 2 National Pictures 3 Um quartier embriollé, de Albert RobidaJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 31

TECNOLOGIA

0 futuro, segundo MollerComo a popularização de veículos voadores transformaria o mundo.

EstacionamentoMoller imagina cidades repletas de vertiportos, estacionamentos verticais, onde o veículo poderia ser abastecido e até consertado. Ele pousaria como helicóptero, desceria pela rampa e pararia numa vaga.

Comodidade"0 mundo do homem tem o tamanho do quanto ele pode viajar num dia", diz Moller. Se o Skycar se popularizar, será normal trabalhar na capital e morar na praia, a 300 quilômetros do escritório.Tempo de viagem: meia hora.

Estradas no céuSerá possível ter filas de Skycars a 300 quilômetros por hora, no céu. Isso sem riscos de acidentes, mesmo à noite ou com neblina, graças ao controle de tráfego aéreo por satélites.

Tempo livreTrabalhar em São Paulo, ver um jogo de futebol no Rio e depois voltar para casa em Parati pode se tornar rotina. Tempo total de viagem entre os três lugares: 1 hora e 30 minutos.

© Infográfico Newton Verlangieri

Pronto-socorroAlguém que tenha um infarto, por exemplo, pode ser socorrido com ambulâncias voadoras. Hoje, um hospital a 100 quilômetros de distância é longe. Com o Skycar, o tempo de viagem é de 10 minutos.

Via satéliteO controle do fluxo de carros voadores deverá ser feito com o auxílio de satélites.0 computador do veículo envia um sinal para centrais em órbita, que administram todo o trânsito. O sinal é analisado e devolvido, estipulando velocidade, rota e altitude.

SAÚDE

DentistaNovas armas da Odontologia

prometem paz nos consultórios.A principal é o laser, que dará

mais silêncio e menos sofrimento durante o tratamento dentário.

Por Ivo n ete D . Lucírio

sem dor

A broca, com ponta feita de diamante, arranca pequenos pedaços do dente, produzindo calor e barulho

© 1 Marcelo Zocdiio 2V. Steger

0 laser retira a cárie com a mesma eficiência, mas sem ruídos ou outros desconfortos

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 35

vasos sanguíneos

^ impulso da dor

da broca

E causa

e s m a lte

Um raio benigno na cárie

Quem tem medo de dentista sabe muito bem. A dor parece que começa na sala de espera. É só ouvir o barulho do motorzinho. Bem, essa aflição vai acabar. A Odontologia está se arman­do até os dentes para aliviar o sofri­mento dos pacientes — inclusive o psicológico. O laser, como substituto da broca de alta rotação, é o princi­pal instrumento desse arsenal.

As cáries menores já podem ser tratadas sem anestesia com o laser de érbio— um raio que usa as pro­priedades concentradoras do ele­mento químico érbio para pene­trar no dente profundamente (ve­ja o infográfico). Ele atravessa a estrutura, desintegra as molécu­las da cárie e limpa tudo para a restauração — ou obturação.

Só que ainda vai demorar uns dez anos para o laser se populari­zar mesmo. O raio também pode ser usado em cirurgias e obturações de resina, mas não nas metálicas, que usam limalha de prata e mercú­rio, indicadas para as cáries profun­das nos dentes de trás. Aí, a broca con­tinua indispensável.

“Dependendo da profundidade da lesão, 70% do tratamento pode ser feito sem anestesia”, diz o diretor do grupo de laser da Associação Paulista dos Cirurgiões-Dentistas, Aldo Brug- nera Júnior. ‘Ao contrário do motoi; o laser tem ruído baixo, não vibra e dá segurança total de descontaminação.”

O problema é que o equipamento custa 110 000 reais, 100 vezes mais que o motorzinho comum. Por isso, não chega a vinte o número de consul­tórios que contam com um deles. O preço do tratamento também sai um tanto salgado — o bastante para fazer o paciente se perguntar se realmente compensa trocar uma dor por outra. A do dente pela do bolso.

SAÚDE

A cárie abre um buraco no esmalte, que è e escudo do dente, e expõe a dentina, a área interna. É bem aí que a broca age. Ela é fon por um anel que gira rapidam ente, arrancar minúsculos pedaços do tecido cariado.

A den tina é cheia de canais preenchidos com líquido. Esses dutos conduzem à pulpa, o n d e *o nervo do dente. Por m eio do liquido, o calor provocado pelo a tr ito e pela trep idação prodL pelo m otorzinho chegam rap id am en te a té ele.

D A única função desses nervos é perceber a d o r.: levam a inform ação para o cérebro à velocidad-

1 m etro por segundo. As term inações nervosa que indicam ao dente que força usar na

mastigação ficam do lado de fora.

dentina

0 massacre

O nervo sente a pressão e a trepidação provocadas pelo motorzinho.

dor no dente

36 SUPER J U L H O 1 9 9 9

A luz da salvaçãoO laser poupa o paciente da dor porque esquenta pouco e não vibra.

impulso da dorAo contrário da broca, o laser não

arranca pedaços. A energia produzida por ele desin tegra as m oléculas do tec ido cariado e a inda m ata as bactérias da região, lim pando a cavidade que será obturada.

dentina esmalte

O laser é um a luz em itid a por pulsos m uito rápidos, com duração de m ilissegundos.Por isso, e le produz m uito menos calor e trep idação, sem a lte ra r o eq u ilíb rio do liquido dentro dos canais da dentina.

Já que o liquido dos dutos é pouco ating ido , o nervo nem chega a sentir. Assim, a dor é m enos intensa ou até inexistente.

© Pauio Niison/lvonete Lucfrio/Maurício Lara

Além do buracoO laser tem diversos usos na Odontologia.

Há fachos de luz com quantidades diferentes de energia. Desse modo, é possível usar cada um deles com fins diferentes e não apenas para retirar a cárie.

Corte precisoO chamado

laser de C 0 2 (gás carbônico), mais antigo, é apropriado para cortar a gengiva. Ele esquenta a água que existe dentro das células e as faz explodir feito milho de pipoca. Assim, abre incisões para a cirurgia na gengiva com a eficiência de um bisturi.

Anestesia localO laser de arseneto de gálio alivia

a dor. Ele aumenta o fluxo sanguíneo na região, d im inuindo a inflamação e estimulando a produção de endorfina, um analgésico natural.É empregado depois da extração de um dente ou antes da anestesia convencional, para que o paciente não sinta a picada.

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 37

SAÚDE

O terror chega pelo ouvido

O pesquisador Harvey Wigdor, da Universidade Noroeste de Chi­cago, nos Estados Unidos, desen­volveu, em 1997, um trabalho para descobrir o que aliviaria os pacientes de dentistas. Depois de entrevistar 100 indivíduos, con­cluiu que o principal desejo deles não era só se livrar da dor. O trau­ma, mesmo, era o barulho incó­modo do motorzinho.

Para pôr fim a dois temores com uma técnica só, boa parte da indústria odontológica pesquisa formas de aposentar de vez a bro­ca. Além do laser, os outros can­didatos a substituto são um gel para dissolver a cárie, que deve chegar ao'Brasil no início do pró­ximo ano, e um jato de ar, já dis­ponível em vários consultórios (veja no infográfico).

Embora silenciosas, as duas técnicas não são totalmente à prova de dor. Se a cárie tiver atin­gido uma região próxima ao ner­vo, o incômodo vai aparecer. “Nesses casos, não se deve dis­pensar a anestesia”, afirmou à SUPER o cirurgiâo-dentista José Tadeu Tesseroli Siqueira, do Hos­pital das Clínicas da Universida­de de São Paulo.

As substâncias anestésicas de hoje são bastante seguras e, na úl­tima década, a espessura da agu­lha encolheu três vezes. Ou seja, a picada também já não incomoda tanto. “Se o paciente tiver certeza de que o tratamento não vai doer, fica mais relaxado e isso facilita tudo”, diz Siqueira. “Para tanto, estuda-se também o uso de hipno­se e até acupuntura em consultó­rios dentários.” Com todas essas armas, o medo do dentista está com os dias contados. ©

Silêncio no consultórioAlém do laser, duas novas técnicas vão diminuir o uso do motorzinho.

© Paulo Nilson

Cárie dissolvidaO gel é uma mistura

de aminoácidos e hipoclorito de sódio (parecido com água sanitária). Em contato com o dente, dissolve a cárie sem afetar a parte sadia. Depois, a mistura é retirada com um pequeno instrumento de metal e a cavidade está pronta para ser obturada.

Rajada de ventoParece um

m otorzinho, mas da sua ponta sai ar a alta pressão, fazendo só barulho de spray. Junto com ele vai óxido de alumínio em pó. Com a pressão, as partículas do óxido, dirigidas para a cáries, chocam-se com o dente e arrancam somente a parte estragada.

SUPER J U L H O 1 9 9 9

EURONIOSDepois de um século pensando o

contrário, os cientistas descobriram que novos neurônios nascem

também em adultos. Agora sonham com a cura de lesões na espinha, derrames, Parkinson e Alzheimer.

Pode, sim!Os pesquisadores descobriram que células nervosas brotam, sim, no cérebro' de gente grande. Pelo menos em uma região, cuja atribuição é formar memórias. Agora, estão procurando um jeito de fazê-las nascer em outros lugares.

Po r D enis R u s s o B u r g ie r m a n

C élula difícil taí. É a estrela do organismo, complicada que só ela. Tem centenas de ligações

a solicitando ao mesmo tempo. Car­rega na bolsa substâncias químicas cujos sutis efeitos os cientistas ainda não entendem bem. Como sempre acontece, essa condição de prima-do- na vem acompanhada de um péssimo temperamento. Ao ser afetada por qualquer mal, sua recuperação vira um drama. Por fim, como toda cele­bridade, ela é insubstituível.

Era. Em junho, uma equipe da Universidade Rockefellei; em Nova York, anunciou que outra célula, cha­mada astrócito, consegue gerar no­vos neurônios em pelo menos uma região do cérebro. Melhor ainda: os astrócitos são muito abundantes no sistema nervoso. Ou seja, o potencial de restauração é gigantesco (veja na página 42). A descoberta vem no ras­tro de uma outra, tão surpreendente quanto. Em novembro do ano passa­do, um sueco e um americano toma­ram realidade o sonho de dez em ca­da dez neurologistas. Eles concluí­ram que neurônios de adultos se re­generam, sim. Agora, pesquisadores do mundo todo estão tentando do­mar as indóceis estrelas e convencê- las a voltar ao trabalho depois de uma falta de ar ou um tropeção qual­

quer. Como você vai ver nas próxi­mas páginas, os resultados são

promissores.

Infográfico Luiz Iria/Denis Russo Burgierman/Alceu Ch. Nunes

J U L H O 41

Os borracheiros fazem a festa As garras dos caranguejos furam os pneus dos carros que os atropelam

Muitos adultos desenvolvidos acabam mesmo é na panela

J U L H O 1 9 9 9 SUPER

do cérebro

De todas as células cerebrais, as mais numerosas são os astrócitos, que podem ser os geradores de novas células nervosas, como se descobriu no mês passado.

célula-tronco

marcador

3 MistérioPara surpresa de todos, as células novas eram neurônios (foto). Só que neurônios não se dividem. Quem poderia então tê-los gerado? Descubra a seguir.

ProntaNo final, surgiu uma célula nervosa igualzinha às outras, encontrada depois pelos médicos no hipocampo. Até hoje, julgava-se que o cérebro era incapaz de produzir uma dessas depois da fase embrionária, mas a nova descoberta derrubou o mito.

4 M am ãeA única explicação possível para o surgimento de neurônios novos é que eles fossem filhos das chamadas células-tronco. Elas são corpos não especializados à espera de comandos químicos para se transformar em outras células. Ao se dividirem, elas teriam absorvido o marcador.

ObedienteO cérebro, então, enviou uma ordem química para a célula-tronco recém- dividida. Ele avisou que precisava de neurônios novos e mandou que ela se transformasse em célula nervosa. As substâncias químicas, então, fizeram com que ela se especializasse.

é feito o cérebro. Praticamente todo o resto do espaço é ocupado por diferentes células.

divisão celular

neurônio

Boa notíciaA cabeça pode estar cheia de células-tronco.

Nem só de neurônios

Recém-nascidasDepois que os pacientes morreram, os médicos abriram seu cérebro e encontraram o marcador — prova de que havia células novas.

MEDICINA

O mecanismo da cura está desligado

Embora esteja provado que os neurônios são capazes de se multipli­car, sabe-se que eles não o fazem natu­ralmente em quantidade suficiente. Caso contrário, danos no tecido ner­voso cicatrizariam como cortes na pe­le. “Animais mais primitivos fazem is­so”, diz o neurologista Ciro da Silva, um brasileiro da Universidade de São Paulo que está entre os principais pes­quisadores da área. “Ao longo da evo­lução, nosso cérebro foi se tomando mais complexo e ficou tão especializa­do que deixou de se consertar.” Ou se­ja, a enorme quantidade de substân­cias e a grande variedade de conexões que cada célula teve que dominar quando os humanos ficaram mais es­pertos tomou-as difíceis de substituir.

A boa nova é que o mecanismo de cura não foi perdido. Está só desliga­do, à espera de substâncias químicas que o reativem. É justamente essa a área mais promissora da pesquisa e aquela à qual se dedica Ciro — a bus­ca dos chamados fatores de cresci­mento. Ou seja, as substâncias certas que vão induzir as células-tronco cer­tas a se transformar nos neurônios certos e se ligarem aos vizinhos do jei­to certo. “Já foram identificados doze diferentes fatores”, diz Ciro. “Sabe­mos que os remédios serão combina­ções entre eles.”

Da teoria à práticaUm dia, os cientistas poderão reti­

rar células-tronco, possivelmente as- trócitos, do pedaço do cérebro que quiserem repopular, portanto prontas para substituir os neurônios daquela região. Depois, bastará submetê-las a fatores de crescimento, deixar que elas se multipliquem e implantá-las de volta. Um grande passo para trans­formar essa teoria em uma terapia eficaz foi dado pelo russo Valery Ku-

kekov, da Universidade do Tennes- see, Estados Unidos. Em abril, ele anunciou que tinha conseguido culti­var células-tronco em laboratório.

“Quando os cirurgiões realizam uma lobotomia, que é a separação dos hemisférios cerebrais de pacientes graves de epilepsia, retiram células cerebrais”, contou Kukekov à SUPER, por telefone. “O que fizemos foi pegar esse material, estimulá-lo com fatores de crescimento e gerar novas células- tronco.” Só que, depois disso, elas ten­dem a continuar se multiplicando. No cérebro, esse crescimento desenfrea­do geraria um tumor. “Conseguimos, então, induzi-las a começar a se trans­formar em neurônios, perdendo a ca­pacidade de multiplicação”, diz ele. Ou seja, reproduziram-se células do próprio cérebro, portanto sem risco de rejeição, e elas ficaram no ponto para o implante. “Acredito que esse será um tratamento corriqueiro em uma ou duas décadas”, exultou o russo.

As boas notícias não param aí. Pesquisas com ratos demonstram que neurônios imaturos sabem o que fazer quando colocadas nò cérebro.

A vizinhança lhes envia sinais quími­cos que indicam onde ficar e para que lado estender conexões. O tche­co Hynek Wichterle, da Universidade Rockefeller, injetou células em co­baias com danos cerebrais e obser­vou que elas migravam para o lugar onde eram necessárias. “Aparente­mente, elas começaram a restabele­cer as conexões nervosas perdidas”, contou, animado.

Fazendo segredoO sueco Eriksson também está

tendo resultados excelentes tratando roedores com derrame, a mais com­plicada de todas aquelas doenças, porque mata uma quantidade enor­me de neurônios diferentes em vários lugares do cérebro (veja infográfico ao lado). “Conseguimos o retomo de funções perdidas”, cochichou à SUPER. “Mas não posso dar mais de­talhes porque a pesquisa não termi­nou.” “As coisas estão acontecendo muito rápido”, empolga-se Wichter­le. Tudo converge para a cura do que sempre se julgou incurável. A teimo­sa estrela está cedendo.

De aborto não podeFunciona, mas é ilegal.

Uma alternativa viável para transplante de células-tronco é retirá-las de embriões. Só que há um problema ético envolvido: os fetos usados para tal fim seriam resultado de abortos. Na maioria dos países católicos, inclusive o Brasil, essas pesquisas estão proibidas.

Vamos fazer neurônios?Assim será a técnica para refazer o tecido nervoso.

TiraCélulas-tronco, possivelmente astrócitos, depois de extraídas com microcirurgia da região do cérebro que está doente, seriam cultivadas em laboratório.

44 SUPER J U L H O 1 9 9 9© 1 1nfográfico Luiz Iria/Denis Russo Burgjerman/Alceu Ch. Nunes 2 Milton Rodrigues Alves

Cada doença uma sentençaQue lesões poderão ser curadas quando multiplicarmos células nervosas.

Derram eUm derrame é o rompimento ou o entupimento de uma artéria, geralmente a cerebral média. Falta oxigênio em algumas células e muitas outras morrem envenenadas pelas substâncias liberadas pelas primeiras. A quantidade e a variedade de neurônios mortos tornam difícil a cura total.

M al de ParkinsonEssa doença, de causa desconhecida, mata apenas um tipo de célula em um lugar específico, o mesencéfalo. Para tratá-la, é preciso semear novos neurônios nesta região. M al de Alzheim er

Aqui as coisas ficam mais complicadas, porque os estragos são em diversos tipos de neurônios espalhados pelo córtex, a camada superficial do cérebro. 0 tratamento, embora possível, é mais difícil

Lesões na espinha A medula espinhal é bemmenos complexa que o cérebro, aqui visto de baixo. Há menor quantidade de células e menos conexões. Deve ser a primeira cura a ser alcançada, ainda na próxima década.Bota

As células-tronco se transformariam em neurônios ainda pouco diferenciadose seriam introduzidas na mesma área do cérebro.

Dentro do cérebro

Deixa ficarOs cientistas esperam que elas saibam o que fazer daí para a frente. O ambiente as induziria a estabelecer conexões e a começar a funcionar.

MEDICINA

Paraplégicos vão voltar a andar

Antes mesmo que os cientistas consigam controlar o ajuste fino do processo de multiplicação de células e convencer nossa insubmissa celebri­dade a ajudar um pouquinho, muitos pacientes já começarão a se beneficiar das pesquisas. “Os fatores de cresci­mento serão empregados em breve, talvez nos próximos dois ou três anos”, diz Ciro da Silva. “Não para fa­zer neurônios novos, mas para conser­tar os já existentes que sofreram da­nos”, conta, enquanto observa ao mi­croscópio um ratinho morto cujo ner­vo cortado voltou a crescer.

Uma lesão na espinha inutiliza cé­lulas nervosas sem matá-las. E que, dentro do osso, passam apenas seus prolongamentos, os axônios, levando sensações do corpo todo ao cérebro e comandos de movimento no sentido inverso. Esses axônios são imensos, têm mais de 1 metro. Quando o pro­longamento se rompe, o corpo celular, lá longe, pode ser poupado.

Vários pesquisadores, incluindo Ciro, estão conseguindo fazer que cé­lulas nervosas danificadas de ratos se reconectem. Os axônios, banhados num gel de fatores de crescimento, voltam a crescer e retomam sua fun­ção. “O melhor é que estamos perce­bendo que um retomo estrutural de apenas 10% já garante a volta da sen­sibilidade e dos movimentos.” Ou se­ja, um ganho enorme para tetraplégi­cos e paraplégicos.

Estimulando ratosOs pesquisadores também perce­

beram que os fatores de crescimento podem proteger as células. Durante um derrame, por exemplo, a morte de um grupo de neurônios acaba liberan­do substâncias que matam milhares de outros, ao longo de semanas. O uso dos fátores logo após a internação in­

terrompe essa reação em cadeia.Um outro trabalho recente e in­

crível, cujos resultados deverão ser sentidos logo, relaciona a criação de novos neurônios aos estímulos do meio ambiente. A neurologista ame­ricana Elizabeth Gould, da Universi­dade de Princeton, provou que ratos presos em jaulas mais desafiadoras, com mais brincadeiras e labirintos, produzem mais neurônios.

Aparentemente, estímulos exter­nos acionaram o mesmo mecanismo que os pesquisadores querem ativar

com injeção de substâncias. Mais uma prova da capacidade do cérebro de se autoconsertar. “Resta saber se o mesmo se aplica a humanos”, ressal­tou Gould à SUPER. De qualquer for­ma, os tratamentos de fisioterapia e de reabilitação de vítimas de derra­me deverão mudar, inspirados pelos resultados com cobaias.

É. Parece que, afinal de contas, a célula nervosa não é uma estrela tão antipática quanto insinuavam os cientistas. Faltava apenas tratá-la com mais compreensão. ©

Nossa, ele sarou!Pesquisas conseguem reabilitar células lesionadas, mas ainda vivas.

CondenadasQuando os axônios são rompidos, as células param de transmitir informações e preparam-se para crescer. Como não têm as substâncias necessárias, não conseguem se consertar e podem morrer.

Se liga AA injeção de fatores de crescimento promove a

recuperação do neurônio,que começa a estender de

novo seu axônio. A conexão se restabelece. Voltam a

sensibilidade e o movimento.

GrandõesNeurônios que passam pela espinha têm mais de1 metro de comprimento. Uma lesão ali pode cortar suas conexões,acabando com a transmissão de impulsos. Mas o corpo celular pode estar vivo lá no cérebro.

espinha

axonioscortados

46 SUPER J U L H O 1 9 9 9© Infográfico Luiz Iria/Denís Russo Burgíerman/Alceu Ch. Nunes

Durante dois meses, 80 milhões de caranguejos invadem a Ilha Christmas,

no Oceano Índico. í"tot' * Ocupam estradas,

devoram a vegetação e entram nas casas.Parece pesadelo, mas não éP o r A n d r é S a n t o r o

ZOOLOGIA

A grande marcha

Eles são ultrapontuais. Todo ano, no início de novembro, milhões de caranguejos dei­

xam as tocas na floresta tropical e ru­mam para a praia na Ilha Christmas. O lugar, um território australiano com 134 quilômetros quadrados, no Oceano Índico (equivalente a cinco vezes o Arquipélago de Fernando de Noronha), 360 quilômetros ao sul da Indonésia, é o cenário de um es­petáculo único. Pelo menos 23 espé­cies de crustáceos participam da mar­cha. Os mais velhos partem na frente. Levam duas semanas para chegar à

praia, onde cavam milhões de buracos na areia e cruzam. Aí, os machos vol­tam para a floresta e deixam as fê­meas com os ovos. Duas semanas de­pois, elas levam as larvas para o mar. Mais três semanas e nascem milhões de filhotes, parecidos com camarões. Os que escapam dos peixes, das aves e das correntes marítimas instintiva­mente tomam o caminho da mata. Nesse momento, ultrapassam 80 mi­lhões. Oito milhões morrem pelo ca­minho, atropelados por carros e trens ou devorados por garças. Mas nin­guém dá pela feita.

AUSTRÁLIA

SH IP

OCEANO ÍNDICO r ' ' ,

INDONÉSIA

Ilha Christmas

© 1 Jürgen Freund 2 Rogério Maroja J U L H O 1 9 9 9 SUPER 47

ZOOLOGIA

Um eido etemo de reprodução e fertilização

Há 5 000 espécies de caranguejos no mundo. Só no Brasü, elas são 300. Eles integram a classe dos crustáceos, grupo ao qual também pertencem a lagosta e o camarão, e são velhíssi­mos. Surgiram no mai; no período ju­rássico, há 160 milhões de anos. Fo­ram os ciclos de glaciação do planeta que os empurraram para a terra.

“No fim dos últimos períodos ge­lados, o nível dos oceanos subiu mais do que o normal e depois re­cuou”, explica o biólogo Gustavo Augusto de Melo, do Museu de Zoo­logia da Universidade de São Paulo. “Na terra, ficaram algumas espécies que tiveram chance de evoluir para sobreviver também fora da água. Uma delas foi o caranguejo.”

Hoje, eles migram para lançar ovos no mar. No viveiro da Ilha Christ- mas, a maré vermelha deixa um rastro impressionante. Onde passa consome folhas, frutos e flores, animais mortos e até guimbas de cigarro. Mas, até ho­je, nunca atacaram gente.

Predomina na ilha a espécie Gecarcoidea natalis (ao lado). Com as chuvas, os bichos deixam as tocas e partem para o mar. Caminham duas semanas As fêm eas levam 100 000 ovos no abdome, cada uma

48 SUPER J U L H O 1 9 9 9Jürgen Freund

Na praia, os machos cavam buracos na areia e atraem as fêm eas para a cópula. Depois, abandonam-as incubando os ovos já fertilizados Em duas semanas, eles são lançados no mar

Depois de formados, os pequenos anim ais nadam para o fundo

Por fim, m ilhares iniciam o caminho instintivo para a floresta. As rochas da praia ficam cobertas por um tapete vermelho-vivo

O paraíso é úmido e congestionado

Apesar dos transtornos, o vai-e- vem dos animais já foi incorporado à rotina dos 2 000 habitantes da ilha. Virou atração turística. O cli­ma úmido do lugar é um paraíso para a espécie.

“A região possui uma estação chuvosa dilatada, que vai de no­vembro a maio, ideal para a repro­dução dos bichos”, conta à SUPER o biólogo Steve Morris, da Univer­sidade de Sydney, na Austrália. “No resto do ano, o clima é seco mas eles se escondem na mata, onde sempre há água.”

Para buscar a umidade, cavam poços de até 60 centímetros de pro­fundidade no chão. Na floresta, não lhes falta alimento, pois comem fo­lhas, flores e frutas.

O intrigante é que a marcha tem uma importante função ecológica: além de renovar o solo com as esca­vações, os excrementos dos bichos fertilizam a terra, garantindo a ma­nutenção do ecossistema da ilha. Tanto que, para protegê-los, 65% do território da ilha foi convertido em parque de proteção ambiental. ©

50 SUPER J U L H O 1 9 9 91 Jürgen Freund 2 Sipa Press

Os borracheiros fazem a festa As garras dos caranguejos furam os pneus dos carros que os atropelam

M uitos adultos desenvolvidos acabam mesmo é na panela

J U L H O 1 9 9 9 SUPER

ARQUEOLOGIA

O m m ■ mprimeiro diaDescobertas arqueológicas de textos no

Egito e no Paquistão põem em dúvida a crença de que a escrita tenha

surgido primeiro na Mesopotâmia.Po r D enis Russo B u r g ie r m a n

Os três berços da escritaUm pouco antes de 3 000 a.C., três povos aprenderam simultaneamente a registrar suas idéias com marcas feitas em tijolos de argila.

Tudo começou quando um homem empunhou um graveto para rabiscar sinais numa placa de argila ainda mole. Depois que a peça endureceu, ele leu os

riscos que havia feito como letras de uma palavra— a pri­meira escritura produzida pela humanidade. Nesse in­stante, terminou a Pré-História, nome que se dá ao perío­do anterior à invenção da escrita, e começou a História.

Até o ano passado, acreditava-se que esse momento de transição teria ocorrido há cerca de 5 000 anos, na Mesopotâmia, atual Iraque. A região era ocupada pelos sumérios, que já cavavam canais de irrigação para fazer agricultura em grande escala. “Depois que aprenderam a controlar a produção de alimentos, eles foram os primei­ros a se agrupar em cidades com uma administração central. Isso os forçou a criar um modo de organizar a so­ciedade”, conta o maior especialista brasileiro em escrita mesopotâmica, Emanuel Bouzon, da Pontifícia Universi­dade Católica do Rio de Janeiro. “Para tanto, aprende­ram a escrever antes que os outros.”

Desde o ano passado, porém, a história da escrita está sendo reescrita. Novos achados arqueológicos, a milhares de quilômetros dos sumérios, sugerem que a idéia ocorreu a diversos povos ao mesmo tempo. Um deles foi anuncia­do no Egito, em dezembro de 1998, pelo arqueólogo Gün-

M ar N egro

M ar M editerrâneo

Abidos

EGITO

Rio TigreM ar Cáspio

MESOPOTAMI

Rio Eufrates

Egito, 3 400 a.C.Em dezembro de 1998, o alemão Günter Dreyer surpreendeu o mundo com fotos de 180 etiquetas de barro com inscrições feitas por egípicios há pelo menos 5 400 anos. Encontrou-as em Abidos, na beira do Rio Nilo, 400 quilômetros ao sul do Cairo, na tumba de um rei chamado Escorpião. Até então, os mais antigos hieróglifos do Egito eram de, no máximo, 5 000 anos.

da História

INDIAHarappa

ter Dreyei; do Instituto Arqueológico Alemão. Escavando uma tumba real na margem do Nilo, em Abidos, ele desen­terrou 180 placas de barro com formas rudimentares de hieróglifos, a escrita dos faraós. Elas podem ter sido grava­das há até 5 400 anos — três séculos antes das sumérias.

Em maio de 1999, os americanos Jonathan Kenoyer, da Universidade de Wisconsin, e Richard Meadow, da Universidade Harvard, jogaram ainda mais lascas na fo­gueira. Encontraram, no atual Paquistão, pedaços de va­sos com garranchos modelados há 5 300 anos pelo povo dravda, os construtores de Harappa, umas das grandes cidades da índia antiga.

Ainda não há consenso sobre as descobertas. “Mas a importância dos achados é incontestável”, afirma à SUPER o egiptólogo John Baines, da Universidade de Oxford, na Inglaterra Ele desconfia que os manuscritos egípcios não são mais antigos que os mesopotâmicos. Apesar disso, in­dicam que a arte de registrar palavras por sinais estava sendo desenvolvida em mais de um lugar na mesma épo­ca. Os grafites paquistaneses, embora também contesta­dos, reforçam essa conclusão. O dia mais importante da História tanto pode ter acontecido às margens do Nilo

quanto no deserto iraquiano ou, H t ainda mais longe, nos vales da Ásia.

fndia, 3 300 a.C.Já havia divergência e polêmica suficientes entre os especialistas antes de uma equipe americana encontrar em Harappa, na antiga índia, atual Paquistão, em maio de 1999, este caco de 5 300 anos. 0s arqueólogos alegam que estes símbolos com forma de tridente usados pelo povo dravda aparecem, também, em textos mais recentes (de 2 500 a.C.) dessa cultura. Condui-se que são "letras" da língua harappana.

Golfo Pérsico

Mesopotâmia, 3 100 a.C.Antes de Dreyer, a escrita mais arcaica era a das tábuas de argila do povo sumério, encontradas em 1913, em Uruk, no atual Iraque. Não há uma que possa ser considerada a mais antiga de todas, já que I as datações não são confiáveis. Mas, em geral, considerava-se o ano de 3 100 a.C., há 5 100 anos, como a data inaugural do uso da escritura na região e no mundo.

M ar Vermelho

TanltrNilsoa - l üunter ureyer7 D ÍU liúu j'Aechãologissches Institut Kairo 3 Margret Nissen 4J.M . Kenoyer

n

'#• r• r-rl .

SUPER1 9 9 9

ARQUEOLOGIA

©3

índiaA primeira língua da região é totalmente desconhecida, porque foi suprimida por invasores no terceiro milênio antes de Cristo. Restaram só os cacos encontrados nas duas principais cidades da região, Harappa e Mohenjo Daro. Por isso, é muito difícil estudar e traduzir a escrita dravda.

Em busca do texto perdido

Nenhum dos sinais gráficos encontrados no final do ano passado no Egito ou na índia pode ser lido ou inter­pretado ainda. Ninguém sabe exatamente o que querem dizer. Mas está claro que não são meros desenhos. Os cientistas não têm dúvida de que representam, realmen­te, palavras gravadas na argila. No caso dos símbolos egípcios, é possível imaginar até que teriam sido proto- hieroglifos, ou seja, precursores dos hieróglifos — a escri­ta que usa figuras estilizadas no lugar das letras, adotada pelos faraós. Desde 1822, graças à descoberta da Pedra da Rosetta (veja na página 57), é possível traduzir as fra­ses hieroglíficas, que, de fato, lembram as marcas recém- encontradas perto do Rio Nilo, inscritas em 180 retângu­los de barro secos ao sol.

Cada placa retangular mede 3 centímetros de altura por 2 de largura e tem um furinho no canto, como se fos­se uma etiqueta moderna. Assim, podiam ser pendura­das num vaso por meio de um cordão. Foram achadas, junto a cacos de cerâmica, no túmulo de um soberano chamado Escorpião. Na sua época, o Egito ainda não era um império unificado. Escorpião era o mandachuva de um dos vários reinos independentes. O posto de faraó ainda não existia.

“As placas contêm uma grande variedade de sinais e, pela maneira como estão dispostas, deduzimos que formam palavras”, diz Dreyer. O egiptólogo brasileiro Antonio Brancaglion, da Universidade de São Paulo, que já foi a Abidos e sabe ler hieróglifos, concorda com o alemão. “Os sinais já se parecem com os que se­riam usados séculos depois. Reconheci vários deles.” Brancaglion especula que as etiquetas serviriam para identificar a cidade de origem de mercadorias possi­velmente guardadas nos vasos de cerâmica. Também

54

Quem foi o primeiro?As primeiras escritas do planeta surgiram quase ao mesmo tempo, mas apresentam características muito diferentes.

M esopotam iaBem antes de escreverem com caracteres cuneiform es(feitos por cunhas ou estiletes), os sumérios contavam usando fichinhas desenhadas. Dez fichas com cabeça de carneiro significavam um rebanho de dez carneiros. Esse sistema precursor da escrita reforça a idéia de que foram eles os primeiros escribas.

Até o ano passado, todos os conhecidos eram tão complexos, e não

havia sinal de uma grafia mais primitiva, que alguns historiadores achavam que eles

não haviam sido inventados no Egito, mas importados prontos. Teriam sido

apropriados dos mesopotãmicos e aperfeiçoados. Mas a descoberta dos

textos de Abidos enfraquece essa tese.

A função do escritorO autor dos primeiros registros provavelmente se parecia com um destes indivíduos.

M esopotâm ia0 escriba era o responsável pela distribuição dos bens da lavoura e dos rebanhos

entre os cidadãos que não produziam comida. Com o tempo, isso foi lhes conferindo

um poder imenso, principalmente porque ninguém mais, nem mesmo o rei, sabia

decifrar os registros.

© 1 Giraudon 2 Sipa Press 3 J. M. Kenoyer 4 Paulo Nilson 5 Gíinter Dreyer / Deutsches Aechãologissches Institut Kairo

poderiam ser uma espécie de recibo para indicar quais cidades já teriam pago tributo ao rei morto.

O problema com as descobertas feitas no Paquistão é mais complicado. Primeiro porque, ao contrário dos hieróglifos, a língua do povo dravda, que habitou a índia e o Paquistão naquele período, não foi decifrada até hoje. Quase nada se sabe sobre a sua cultura, o que toma ainda mais difícil identificar e compreender os achados. Os restos arqueológicos recém-descobertos não ajudam muito. Na verdade, não passam de cacos de cerâmica que Richard Meadow e Jonathan Kenoyer ti­raram das ruínas da cidade de Harappa, a mais impor­tante daquela região, no passado. Dois dos fragmentos têm 5 300 anos. Os outros, cerca de 5 000 anos.

Por um galhoOs americanos se intrigaram com um símbolo grava­

do nos estilhaços. Trata-se de uma imagem semelhante a um galho, ou a um tridente, que já havia sido vista em peças que integram textos bem mais recentes da civiliza­ção harapana, de 2 500 a.C., que se supunham os mais antigos da índia até então. É esse rabisco em forma de ramo que a dupla de arqueólogos acredita ser a mais an­tiga mensagem gravada pela civilização indiana-paquis- tanesa. Talvez a mais antiga do mundo se a datação das inscrições de Abidos não for comprovada.

Muita gente discorda. “Eu não acredito que a ‘escri­ta antiga’ deles sequer seja escrita”, demole Gregory Possehl, da Universidade da Pensilvânia. “São simples símbolos isolados, que não têm significado e não se combinam.” A crítica é pesada. Mas não desanima a equipe de Harappa. “Achamos que ainda vamos conse­guir evidências mais firmes, talvez no próximo ano”, disse à SUPER o americano Kenoyer, por telefone. “Ain­da temos 90% da cidade para escavar. Isso é só o come­ço”, afirma. Como ninguém jamais pesquisou períodos tão antigos de Harappa, a chance de êxito é boa.

- — " "Dá para ver claramente que há símbolos conectados nos vasos.

©3 Não tenho dúvidas de que éescrita e a mais antiga já

encontrada. É um dos achados mais importantes dos 23 anos em que trabalho na região." Jonathan Kenoyer (à esquerda) e Richard Meadow (à direita), arqueólogos americanos que encontraram as inscrições dravdas no Paquistão.

n p m m p n "Quando abrimos o túmulo achamos belas K È Ê ír e muito interessantes etiquetas. Mas, só

depois de meses no laboratório estudando J seu significado e determinando a datação.

* ^ percebi que era a descoberta maisemocionante desde que comecei a escavar no Egito, em 1973. Seus sinais são muito

.. complexos e não tenhodúvidas sobre a idade."

------------—------' Giinter Dreyer, do Instituto©5 ■ f e r v * l - Arqueológico Alemão do

B S j j arcaicos em Abidos, Egito.

Egito0 primeiro escritor daqui também foi um comerciante ou funcionário do Estado.

Depois, eles viraram uma classe de sábios,

detentores do conhecimento.Pela lei egípcia,

o faraó era necessariamente um escriba também.

índiaPouco se sabe sobre os escribas da antiga (ndia. Os textos mais antigos foram gravados em vasos ou carimbados neles com ajuda de um molde.Isso indica que seus autores podiam ser artesãos ou comerciantes.

ARQUEOLOGIA

Ninguém gosta de perder dinheiro

Escrevei; para os egípcios antigos, era uma ação nobre. Eles acreditavam que a palavra falada era criadora e que as letras haviam sido inventadas pelos deuses com a íun- ção sagrada de perpetuar a construção do Universo, que nunca teimina. Cada sentença registrada em pedra ou pa­piro, a cada novo dia, era um pouco do Cosmo nascendo.

Mas os arqueólogos contemporâneos estão descobrin­do que as letras surgiram por um motivo bem mais mun­dano: grana. Até recentemente, as inscrições egípcias mais antigas conhecidas louvavam deuses e os faraós. Mas não as peças desenterradas em Abidos. “Tudo indica que a fun­ção das etiquetas nos vasos era a de administrar a circula­ção de produtos e o pagamento de tributos”, diz Dreyer.

Já se suspeitava que a economia estava por trás tam­bém dos primeiros textos da Meso-

otâmia. “Desde o começo, eles ajudaram na adminis­tração do governo”, diz Emanuel Bouzon. As mais antigas tábuas de argila su- mérias trazem anotações de quantidades de produ­tos (veja a fo to à esquer­da). Bouzon explica que elas apareceram justa­mente quando surgiram as primeiras cidades, co­mo Uruk, no atual Iraque, que é do quarto milênio antes de Cristo. “Aí, tor­nou-se necessário um fun­cionário que registrasse tu­do para contabilizar a pro­dução e distribuí-la entre os cidadãos.” Com a agri-

-3 i>Este é o núm ero 5seguido da expressão p o te de cerveja .A tábua traz receitas para fazer a bebida, cujo registro era provavelmente uma função administrativa de um funcionário do Estado.

Faça as contas em sumério0 historiador Peter Damerow, do Instituto Max Planck, da Alemanha, traduziu esta tábua mesopotâmica de 3 000 a.C.

Uma bolinha seguida de jarrinhas indica frações de um pote de grãos, possivelmente cevada. Duas jarrinhas significam metade; três, 1/3; quatro, 1/4 e assim por diante.

queria escrever a fração 1/2, mas errou.Em vez de desenhar uma bolinha, fez uma tijela grande (o número 1) seguido por dois jarrinhos. Será que deu confusão?

Este é um número bem complicado. 0 símbolo à esquerda significa 1 200 (dois números 60, somados, com uma bolinha no meio, que indica multiplicação por 10).Os outros dez pequenos símbolos são números 60 (10 vezes 60 é igual a 600).A soma de tudo, portanto, é 1 800. Difícil, não?

Aqui o escriba

Esta é a palavra "grande". Junto com os dois símbolos

anteriores, quer dizer: “ 5 potes grandes de cerveja"

56 SUPER J U L H O 1 9 9 9© 1 Margret Níssen 2 Harlingue -Viollet/Keystone 3 Coll. Es

4 Sipa Press 5 Keystone/Sygma 6 Jp. Courau/Explorer

cultura, o homem abandonou o nomadismo e sedentari- zou-se, criando aldeias permanentes que deram origem a cidades e novas relações comerciais e sociais.

Ou seja, a escrita foi inventada para organizar uma so­ciedade que se tomou complexa. O achado de Dreyer confirma isso — a unificação do grande império dos fa­raós se deu só dois ou três séculos depois do reinado de Escorpião, onde já havia proto-hieroglifos. “Quanto mais antigas as inscrições, toma-se mais claro que elas surgi­ram simultaneamente à civilização das cidades”, diz Brancaglion. No caso da índia, fica difícil afirmar, porque ninguém ainda entende o significado das possíveis letras. Mas também lá as datas coincidem com o aparecimento dos primeiros centros urbanos.

Será coincidência?Isso explica por que povos tão distantes acharam solu­

ções tão parecidas. “Eles chegaram à mesma idéia ao mesmo tempo porque tinham as mesmas necessidades”, especula Bouzon. Só que nem todos os pesquisadores concordam. “A idéia de escrever pode ter sido transmiti­da”, diz o egiptólogo Baines. “Não que um povo tenha co­piado a escrita do outro em detalhes. Afinal não há ne­nhum sinal em comum entre eles. Mas acho que há cone­xões entre os sistemas da Mesopotâmia, do Egito e da índia.” Comerciantes que cruzavam os desertos da Ásia em caravanas podem ter visto a novidade, achado bacana e contado a alguém em casa.

Alguns séculos depois, no terceiro milênio antes de Cristo, os antigos perceberam que a nova ferramenta, além de facilitar as contas, era o melhor jeito de se dirigir aos deuses, guardar a História e fazer poesia. Daí para os livros sagrados, papiros, enciclopédias, CD-ROMs, jornais e revistas, como a SUPER, foi só um passo. ©

P A R A S A B E R M A ISLendo o Passado, J.T Hooker (org.), São Paulo, Edusp, 1996. NA INTERNET www, harappa. com

A pedra que desvendou o EgitoHá 200 anos, uma fantástica descoberta chamou a

atenção da ciência para as escritas antigas. Em 1799, durante a ocupação do Egito pelas tropas francesas do imperador Napoleão, um tenente do Exército comandava a demolição de um muro na cidade de Rashid, chamada de Rosetta pelos europeus. Estava cavando uma trincheira mas acabou desenterrando uma pedra com três escrituras diferentes.

Na Pedra de Rosetta grafou-se um mesmo decreto real do ano 196 a.C. em hieroglífico, em demótico egípcio (a língua dominante entre os séculos V e VII a.C.) e em grego antigo. Comparando os sinais já conhecidos dessas duas últimas, decifraram-se os até então misteriosos hieróglifos. O historiador francês Jean-François C ham pollion (1790-1832) levou 23 anos para dar conta da missão, em Paris.

HIER0GLIF0 Até 1822, ninguém fazia idéia de como traduzir esses estranhos sinais.

DEMÓTICO EGÍPCIO Inventado pelos gregos, é um modo mais simples de escrever em egípcio.

GREGOComparando figuras do egípcio com palavras já conhecidas em grego, o mistério foi desfeito.

©3

Chineses e maias também inventaram letrasAo longo da História, a escritura surgiu no Extremo Oriente e na América.

© 6

m«a *

300 a.C.Sem contato com a Ásia e a Europa, os olmecas, zapotecas e maias, do México e da América Central, criaram sua própria forma de registrar. Usavam muitas figuras e poucas letras.A tradução dessas línguas está longe de ser completada.

* 8

1 mRS

‘ Rs3 200 a.C.Surgem os primeiros escritos, no Egito, na índia ou na Mesopotâmia. A maioria dos pesquisadores tende a aceitar esta última como o berço inaugurai, mas a confirmação das novas descobertas pode mudar tudo.

1 500 a.C.Não há registro de que os chineses tivessem qualquer contato com as escritas do Oriente Médio. Mesmo assim, eles criaram seu próprio sistema, totalmente diferente, e depois o transmitiriam ao Japão.

J U L H O 1 9 9 9 SUPCR 57

TECNOLOGIA

Por deba ixo do pano

Escondida nas fibras dos tecidos, a tecnologia promete transformar os hábitos dos consumidores. Vêm aí roupas que repelem a sujeira e até combatem bactérias.Po r G a b r ie la A g uer r e

Prepare-se. Seu guarda-roupa vai mudar. Meias que não chei­ram mal depois de usadas, ca­

misetas que repelem o cheiro do suor e calças que não sujam são algumas novidades que a indústria têxtil vai pôr no armário do brasileiro nos pró­ximos meses. Não se trata, porém, de novas fibras sintéticas. “A novidade é o acabamento. Os tecidos vão rece­ber um tipo de tratamento incrível", afirma Davi Constantinidis, químico da Clariant, a empresa suíça resul­tante de fusão de duas gigantes do setor, a Hoechst e a Sandoz.

A camiseta-desodorante é feita de malha comum. O que ela tem de

diferente só aparece num microscó­pio (veja a foto maior). Desenvolvi­das na França, as fibras do tecido contêm minúsculas cápsulas re­cheadas com substâncias antitrans- pirantes que impedem a formação do suor ou carregam perfume.

Os tecidos inteligentes estão che­gando às vitrines depois de terem conquistado o mercado de roupas funcionais. “Eles já são muito usados em uniformes e revestimentos”, ex­plica o químico Evaldo Maluf, do Ins­tituto de Pesquisas Tecnológicas da Universidade de São Paulo (IPT). É o caso dos tecidos resistentes a fogo, vi­tais para bombeiros, mas pouco ma-

leáveis e, portanto, ainda inadequa­dos para as passarelas.

“Esses panos especiais podem de­terminar as tendências para a evolu­ção da indústria têxtil”, ressalva Ma­luf. De fato, cedo ou tarde as desco­bertas tecnológicas acabam sendo aprimoradas e aplicadas no dia-a- dia. Foi o que aconteceu com a roupa de cama dos hospitais e os jalecos dos médicos, feitos de tecido antimi­crobial, que cria um ambiente im­próprio para microrganismos causa­dores de infecções. Depois dos hos­pitais, o tecido está chegando às lo­jas. Vêm aí as meias antichulé, capa­zes de manter os pés cheirosos.

58 SUPER J U L H O 1 9 9 9© 1 1.T.FJ Eurelios 2 Marcelo Zocchío

2 Com a ajuda de um microscópio, um tecido desodorante fica assim. Os fios entrelaçados são as fibras e as bolinhas são cápsulas especiais

3 Cada cápsula é inserida depois que o tecido está pronto. Dentro dela existe um líquido, que pode ser perfume ou desodorante

1À primeira vista, as peças parecem comuns. As qualidades das novas roupas não são visíveis a olho nu

TECNOLOGIA

Pano de fundoOs tecidos inteligentes funcionam como um cenário para uma série de reações químicas.

1 Anti-sujeira* Gotas e pó deslizam como

óleo em uma frigideira.

A mesma substância que impede que um ovo frito grude na frigideira faz com que um tecido fique imune a sujeira e a gotas de óleo ou água. É o fluorcabono.

0 pano possui uma carga elétrica negativa muito grande e, como um ímã às avessas, forma uma espécie de rede acima do tecido, repelindo essas partículas.

Por esta rede, as moléculas de água não passam, apenas deslizam na superfície.As partículas de pó também escorregam como uma gota de óleo em uma panela antiaderente.

A cobertura faz toda a diferença

Imagine uma roupa que não en­sope na chuva nem encharque de suor no calor — e ainda por cima não fique empoeirada. Pode parecer figurino de ficção científica, mas is­so já é quase realidade. Depois de 90 minutos de um jogo de futebol, a camisa de um atleta pode pesar 1 quilo a mais, só de suor. Mas hoje já existem tecidos hidrofilizados (veja infográfico) que retêm apenas 200 gramas de líquido. O restante eva­pora rapidamente sem se acumular.

Para que a roupa funcione co­mo uma capa de chuva — e ao mesmo tempo não deixe a poeira

grudar — , a técnica utilizada é ou­tra: aplica-se no tecido uma subs­tância chamada fluorcarbono, co­nhecida popularmente por uma de suas marcas comerciais, o teflon, que impede a gordura de grudar na panela. Ela já é usada em guar­da-chuvas e estofamentos para carro. O problema é que o pano fi­ca sem nenhuma flexibilidade, in­cômodo demais para ser vestido. Mas a tecnologia para torná-lo mais confortável já surgiu, empre­gando fibras maleáveis e elásticas. Agora é possível aproveitá-la no vestuário. “No próximo século, to­da a pesquisa têxtil vai se voltar para o conforto”, prevê Maluf.

Seu guarda-roupa não perde por esperar. A tecnologia aplicada à moda ainda vai dar muito pano para manga.

60 SUPER J U L H O 1 9 9 9 © 1 Rogério Maroja 2Marcelo Zocchio

Anti-suorProcesso químico faz tecido sintético virar quase natural.

Ahidrofilizaçâosóvale para tecidos sintéticos.Nesse processo, centenas de moléculas de poliéster são reunidas em polímeros, que são aglomerados de moléculas. Eles criam ondulações entre as fibras que deixam a chuva e o suor escorrer com facilidade. Assim, um tecido sintético como o poliéster fica tão permeável quanto o algodão natural. 0 líquido não fica retido no pano.

Como você pode ver na imagem ao lado, uma fibra natural possui várias ramificações irregulares.É no meio desses veios que a água desliza com facilidade.

As fibras sintéticas são lisas feito berinjela. Por isso, a água, ao atingir um tecido sintético não- hidrofilizado, fica praticamente parada e demora para ser absorvida. Ela não dispõe de dutos para escorrer.

3 AntibactériaAs roupas antibichos também evitam mau cheiro.

Microrganismos precisam de umidade e nutrientes para proliferar. O tecido antimicrobial recebe um revestimento que impede a fixação de bactérias. Cria um ambiente inóspito para a multiplicação dos micróbios.

Idéia luminosaPesquisador japonês insere gene

fluorescente no bicho-da-seda.

O fio de seda se desfaz com um sopro mais forte. Foi pensando em como diminuir essa fragilidade que pesquisadores do Instituto

de Tecnologia de Kyoto, no Japão, resolveram interferir na etapa inicial do processo de criação da seda. Ou seja, eles foram mexer direto com o bicho-da-seda. A experiência, divulgada em março deste ano, consistiu em injetar um gene que cria uma substância fluorescente na lagarta.

Deu certo. O gene foi aceito. "Ele não produziu seda fluorescente, mas o bicho ficou brilhante, o que significa que o animal aceitou o gene",

contou à SUPER o biólogo Hajime Mori, que participou da pesquisa.0 resultado alentador estimula a manipulação

genética para se obter seda especial diretamente com o produtor.

0 bicho-da-seda a olho nu

A foto, feita com luz ultravioleta, mostra as glândulas produtoras de seda fluorescentes

Um produto conservado como segredo industrial pela fabrica Clariant, mas à base de sais de fósforo, cria uma camada de proteção na superfície do tecido. Essa substância eleva o ponto de carbonização do pano, isto é, a temperatura em que ele queima.

A AntifogoFórmula secreta corta propagação da chama.

JULHO 1 9 9 9 SUPER 61

GEOLOGIA

uma

Não parece, mas a pequena pe­dreira nos arredores da cida­de de Araraquara, no interior

do Estado de São Paulo, é bem mais do que uma jazida de arenito para a fabricação de lajotas. O chão poei­rento é um afloramento — uma por­ta através da qual a chuva é absorvi­da terra adentro para formar, lá em­baixo, o maior reservatório de água do planeta: o Aqüífero Guarani.

Não se trata exatamente de um mar subterrâneo, ou de um lago, mas sim de uma vasta camada de pedra porosa encharcada de água — uma espécie de esponja rochosa. A pedreira é uma ponta dessa massa. Com uma área maior que a da Fran­

ça, Espanha e Portugal juntos, e uma profundidade entre 50 e 1 500 me­tros, o aqüífero contém 50 quatri- lhões de litros de uma das águas mais puras do planeta. O suficiente para abastecer a população do mun­do inteiro por uma década. Para se ter uma idéia do exagero, por todos os rios do globo correm, ao longo de um ano, 43 quatrilhões de litros.

Só que essa preciosida­de pode estar sendo contaminada pelos agrotóxicos aplica­dos nas lavouras.Por isso, a Empre­sa Brasileira de Pesquisa Agrope-

©

cuária (Embrapa) começou a mapear todas as lavouras existentes sobre o reservatório no território brasileiro e nas nações vizinhas. “Se os riscos fo­rem grandes, algumas áreas poderão até ser proibidas à agricultura”, afir­ma o geólogo Marco Antônio Ferreira Gomes, chefe do projeto. A reserva tem de ser preservada.

Newton Veriangíerí

62 SUPER J U L H O 1 9 9 9

— ,«p »iW Ü a,e' Volume do Vazão anual dos Vazão anual do Guarani rios do mundo Rio Amazonas

ARGENTINAURUGUAI

entro

No subsolo da América do Sul há um Imenso reservatório de água pura, com mais líquido do que o existente em todos os rios do mundo. Essa fonte valiosa precisa ser protegida para servir ao futuro.Po r D enis Ru s s o B u r g ie r m a n , de A r a r a q u a r a

O maioral em litrosO Guarani tem mais água que todos os rios do mundo.

Mercosul molhadoO Aqüífero Guarani ocupa uma área maior que a da França, Espanha e Portugal juntos.

PARAGUAI

O manto de rocha porosa embebida em água tem 1,3 milhão de metros quadrados. Ela corre por baixo de oito Estados brasileiros e mais três nações vizinhas: Paraguai, Uruguai e Argentina.

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 63

GEOLOGIA

Dinossauros tomaram banho aqui

Quando você aperta um pedaço de arenito na mão, ele se esfarela. Resta só uma poeira fina feito talco. Uma olhada pelo microscópio expli­ca por quê. A rocha é areia compac­tada e seus grãos são redondos, sem as quinas naturais da areia das praias. Por isso, escorregam fácil. “Imagine uma caixa cheia de boli­nhas de gude”, compara o geólogo aposentado Fernando Almeida, de 83 anos, um dos pioneiros no estudo do Guarani, na década de 50. “As es­feras são os grãos e o espaço entre elas, os poros do arenito.”

É exatamente porque esses poros existem que o aqüífero tem tamanho poder de absorção. A água que entra

escorre lentamente e permanece lá no fundo por eras e mais eras, até va­zar para os rios. Nas partes mais fun­das, que estão 1 500 metros abaixo da superfície, o líquido acumulado chega a ter mais de 100 milhões de anos — o que significa que, antes de mergulhar na terra, banhou os di­nossauros da região de Araraquara.

Essa esponja natural só existe porque, um dia, a região foi um de­serto. “Há 200 milhões de anos, não havia um pingo de água lá”, conta Almeida. “Toda a área era ocupada por dunas castigadas pelos ventos, como o Saara de hoje.” Foram justa­mente os ventos desse deserto que empurraram os cristais de areia, fa­zendo com que eles se chocassem en­tre si e se lapidassem até ficarem re­dondos. Mais tarde, o areal foi sepul­tado por lava lançada em sucessivas erupções vulcânicas, num dos maio­res eventos geológicos da história do

planeta. A lava secou, virou basalto, e os grãos de areia esmagados sob a pesada lápide se agregaram. Sobra­ram apenas alguns afloramentos, co­mo a pedreira de Araraquara, por onde o líquido entra (veja o quadro na página ao lado).

Os mesmos locais por onde o aqüí­fero é alimentado pelas chuvas po­dem servir de entrada para poluentes clandestinos. “Esses pontos devem ser protegidos”, diz Ferreira Gomes. Fe­lizmente, “as partes do Guarani mais profundas e mais distantes dos aflora­mentos estão seguras”, garante o hi- drogeólogo Aldo Rebouças, da Uni­versidade de São Paulo. Antes de con­seguir descer 100 metros de rocha, os agrotóxicos se degradam e perdem o poder de veneno. “Mas precisamos saber o que pode acontecer em qua­renta ou cinqüenta anos”, adverte Ferreira Gomes. Essa água pode ser preciosa no futuro.

Uma bacia cheia e gigantescaEmpurrado pelo peso das rochas vulcânicas, o centro do aqüífero afundou.

Além do Guarani, sob a superfície de São Paulo, há outro reservatório, chamado Aqüífero Bauru, que se formou mais tarde.Ele é muito menor, mas tem capacidade suficiente para suprir as necessidades de fazendas e pequenas cidades.

Bahia

0 metro G oiâs

i------- ' '*■sedimentos

M inas G erais

São Paui

4 0 0 -m e tro sLdepósito de basalto (lava dura)

0 líquido escorre muito devagar pelos poros da pedra e leva décadas para caminhar algumas centenas de metros. Enquanto desce, ele é filtrado. Quando chega aqui está limpinho.

metros arenito

Aqüif*ro Gu> '

64 SUPER J U L H O 1 9 9 9

De deserto a oceanoFoi assim que o Guarani se formou.

200 milhões de anos atrásA região era um imenso areal, com 2 milhões de quilômetros quadrados. Na época, América do Sul e África eram um só continente.

lava

fissuras

130 milhões de anos atrásQuando nos soltamos da África, abriram-se fissuras no chão por onde subiu muita lava. Ela recobriu e compactou a areia até formar a rocha arenito.

Nas margens do aqüífero, a erosão expõe pedaços do

arenito. São os chamados afloramentos. É por aqui

que a chuva entra e também por onde a contaminação

___________pode acontecer.

A cada 100 metros de profundidade, a temperatura do solo sobe 3 graus Celsius.

Assim, a água lá do fundo fica aquecida. Neste ponto

________ela está a 50 graus.

Newton Verlangieri

120 milhões de anos atrásA lava endureceu e virou a rocha basalto, cujo manto chega a ter 1 quilômetro de espessura em alguns pontos. Ele começou a afundar a crosta terrestre.

Hoje0 arenito está espremido debaixo do basalto. Só as bordas, corroídas pela erosão, aparecem na superfície, na forma de afloramentos. É por eles que a água da chuva entra.

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 65

basalto

Esponja de pedraVeja como o arenito tem alto

poder de absorção.

A SUPER recolheu este pedaço de arenito do afloramento em Araraquara, Interior de São Paulo. Repare como,

mergulhada num pote, ela chupa quase toda a água. É assim com a chuva.

GEOLOGIA

Como usar bem para usar sempre

O incrível é que, reconstituída pe­las chuvas, a reserva não vai jamais se­car. “O volume absorvido em um ano daria para abastecer trinta vezes os 15 milhões de cidadãos que moram so­bre o Guarani”, vibra o geólogo Ge- rôncio Albuquerque Rocha, do Depar­tamento de Águas e Energia Elétrica do Estado de São Paulo (DAEE).

Por ora, pouca gente se beneficia desse dilúvio natural. Existem 15 000 poços artesianos cavados em todo o aqüífero. É pouco, se comparado com as 7 000 perfurações existentes só na cidade de São Paulo. De todos os mu­nicípios que estão sobre ele, apenas um com mais de 500 000 habitantes utiliza exclusivamente a água do Gua­

rani: Ribeirão Preto (SP).Não é à toa que seus moradores se

gabam de produzir uma das melhores cervejas do Brasil. A vantagem são os jorros do aqüífero, tão puros que dis­pensam qualquer tratamento à base de produtos químicos. Neles não exis­tem bactérias, simplesmente porque elas não têm nada para comer lá em­baixo. Isolado do restante do solo pe­la rocha arenosa, nem sais minerais o líquido tem. Enquanto a água tratada que você bebe tem, em média, 1 gra­ma de sais por litro, 1 litro do manan­cial profundo tem no máximo 200 mi­ligramas — um quinto do normal.

Em outros lugares, o depósito é fonte de lazer. As cidades de Salto, no Uruguai, Francisco Beltrão, no Para­ná, e Araçatuba, em São Paulo, abri­ram poços com mais de 1 000 metros de profundidade para encher piscinas quentes de balneários. Até os lavrado­res das zonas ameaçadas de desertifi-

cação, como o oeste do Rio Grande do Sul e o cerrado goiano, podem usu­fruir do aqüífero. “Ali, onde os rios es­tão lentamente secando, vítimas das agressões ao ambiente, os poços po­derão garantir safras maiores”, sonha Ferreira Gomes, da Embrapa.

Ah, em tempo: a água de Arara- quara, que também sai do Guarani, é realmente deliciosa. A SUPER foi lá, bebeu e aprovou. “Sob o perímetro urbano, temos o suficiente para mais de 500 anos de abastecimento”, con­ta José Luiz Galvão de Mendonça, geólogo do DAEE local. A não ser, é claro, que o reservatório seja carre­gado de agrotóxicos. ©

P A R A S A B E R M A ISO G ran d e M a n a n c ia l d o C one Sul, Gerôn- cio Albuquerque Rocha, Revista Estudos Avançados, volume 30. Instituto de Estudos Avançados, Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997,

© 1

66

Profundidades do Aqüífer

Uma reserva para o futuroReceita para utilizar e proteger a bênção fluida.

Esta pedreira, em Araraquara, é um afloramento do Guarani. 0 arenito daqui é retirado para fabricar lajotas e pisos.Mas isso não afeta o aqüífero

Balanço do desequilíbrioO desperdício de quem tem demais.

Uns com tanto, outros com tão pouco. No planeta, 97,3% da água está nos oceanos, 2% nas calotas polares e no vapor d'água da atmosfera, inacessíveis, e os 0,7% restante nos rios, lagos e aquíferos que nos abastecem. Enquanto os povos do Oriente Médio penam por algumas gotas, o brasileiro tem 20% do total de volume de água disponível na Terra. E não corre o risco de esgotamento. Isto é, desde que o Brasil adquira a competência necessária para preservar suas fontes murmurantes e aprenda a manejar a abundância com parcimônia. O nosso desperdício chega a ser criminoso: na Região Sudeste, as companhias de abastecimento perdem em média 30% da água já tratada em vazamentos. No Nordeste, a perda chega a 60% ! "Se isso não mudar, pode haver muita água no país, mas um dia vai faltar na torneira", diz o geólogo Aldo Rebouças.

7 flrI m .

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Afloram entosPara impedir a contaminação pelo derrame de agrotóxícos, um dia a agricultura que utiliza fertilizantes e pesticidas poderá ser proibida nestas regiões.

Aquecim entoEm regiões onde o aqüífero é profundo, as fazendas poderão aproveitar a água naturalmente quente para combater geadas. Ou para reduzir o consumo de energia elétrica em chuveiros e aquecedores.

IrrigaçãoUsar água tão boa para regar plantas é um desperdício.Mas, segundo os geólogos, essa pode ser a única solução para a lavoura em áreas em risco de desertificação, como o sul de Goiás e o oeste do Rio Grande do Sul.

AquedutoTransportar líquido a grandes distâncias é caro e acarreta perdas imensas por vazamento. Mas, para a cidade de São Paulo, que despeja 90% do seu esgoto nos rios, sem tratamento nenhum, o Guarani poderá, um dia, ser a única fonte.

Invasão das profundezasVeja como os poços artesianos são construídos e como devem ser protegidos para não poluírem o reservatório subterrâneo.

________ A boca do poço deveser tampada. Isso evita contaminação por cima,

B em caso de enchente.

0 revestim ento das

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paredes, feito de metal, não dura mais que trinta anos. Depois disso, o poço é abandonado. Mas, antes, deve ser vedado.

A parte mais difícil é perfurar o duro basalto. Abrir um buraco de cerca de 1 000 metros de profundidade, com brocas de aço, exige quase um ano de trabalho.

Ao longo do duto são instalados filtro s para retirar grãos de areia que por acaso escapem da rocha. Quanto mais fundo o poço entrar no arenito, maior será a vazão d'água.

O peso da camada de basalto que está sobre a esponja subterrânea étão grande que o líquido é espremido para cima. Quando se cava um poço, a água pode jorrar até sem a ajuda de bombas.

1 Ornar Paixão 2 Newton VerlangieriJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 67

FÍSICA

De perto, cordas em vez de pontosQuanto mais se mergulha na matéria, menor ela fica.

MUNDO MICROSCOPICO Tudo o que você conhece — seja sólido, líquido ou gasoso — é matéria, composta por pedaços menores. A ciência sempre quis saber qual era a unidade mínima da matéria 1 Átom o

Ainda na Antiguidade, o grego Demócrito (460-B70 a.C.) filosofava que a matéria era formada por partículas indivisíveis que ele chamou de átomos. Passaram-se milênios até que a ciência descobrisse que um átomo mede1 décimo de milionésimo de milímetro, ou seja, é 100 milhões de vezes menor que uma maçã.

L otação esgotada. O Strings 99 vai ser o maior suces­so da temporada. Não se trata de um concerto de rock, mas de um encontro de 400 físicos e matemá­

ticos no Instituto Max Planck, na cidade de Potsdam, na Alemanha, entre os dias 17 e 24 deste mês. Eles vão dis­cutir a essência do Universo. Esses cientistas compõem a orquestra que toca a chamada Teoria das Supercordas. Eles desafiam o conhecimento atual ao propor que tudo o que existe é composto de cordas microscópicas que vi­

bram como as de um violão ou de uma lira.O baile é fechado a amadores. Integram-no ape-

■k nas mestres de cálculos complicadíssimos usados para amarrar os intricados passos da teoria nu­

ma partitura harmoniosa. O maestro é o ameri-

© 1 Fotomontagem Marcelo Zocchio com produção Daniela Santili2 Infográfico Paulo Nilson68 SUPER JULHO 1999

FísicaUm grupo de físicos afirma estar prestes a provar uma teoria que vai mudar nossa visão do mundo. Para eles, o Universo é orquestrado por cordas minúsculas. São elas que arranjam elétrons, prótons, nêutrons e quarks numa melodia harmoniosa.Po r A lessand ro G reco

4 QuarksEm 1964, o físico americano Murray Gell-Mann propôs a idéia de que os prótons e os nêutrons são formados por subpartículas chamadas quarks, 10 000 vezes menores que as partículas nucleares.

’ * ' V

cano Murray Gell-Mann, vencedor do Prê­mio Nobel de Física de 1969 e criador da teoria, hoje comprovada, segundo a qual ca­da partícula, próton ou nêutron, é composta de três outras subpartículas, chamadas quarks.

Por enquanto, as supercordas só existem no papel. Ninguém as viu vibrando no coração da matéria. Idem para o seu “super”, que vem de supersimetria, isto é, do pressuposto teórico de que cada partícula elemen­tar tem uma supersósia, um par igual. Entre os físicos americanos, a supersymmetry já está ficando popular, identificada apenas pelas iniciais carinhosas: Susy.

Tudo ainda é hipotético e terá de ser demonstrado. Para provar que as supercordas estão lá, é preciso des-

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troçar prótons num poderosíssimo acelera­dor de partículas. Essa é uma das missões do

acelerador do CERN (sigla para Conselho Eu­ropeu de Pesquisa Nuclear, em francês), que es­

tá sendo construído nas proximidades de Genebra, na Suíça. Trata-se de um túnel hi-tech subterrâneo, de 27 quilômetros de extensão, no qual as partículas rece­bem um empurrão alucinado e viajam a velocidades próximas à da luz. Ao colidirem umas com as outras, elas se arrebentam e, aí, mostram a sua alma. “Acredito que o acelerador do CERN nos dará indicações fortes de que a teoria está certa”, disse à SUPER outro maestro, o americano Edward Witten, do Instituto de Estudos Avançados, em Princeton.

ElétronEm 1898, o físico inglês J.J. Thomson (1856-1940) descobriu o elétron. Um elétron é 100 milhões de vezes menor que o átomo. Só para imaginar: se um átomo tivesse o diâmetro da Terra, um elétron teriao tamanho de uma

3 Prótons e nêutronsEm 1911, o inglês Ernest Rutherford (1871-1937) definiu a estrutura atômica, segundo a qual dentro de cada átomo há um núcleo com carga elétrica positiva. Foi ele também quem, em 1919, chamou de próton a partícula que dá a carga ao núcleo. Em 1932, o também inglês James Chadwick (1891-1974) descobriu que dentro do núcleo existe outra partícula, o nêutron, sem carga elétrica.Ambas são 100 000 vezes menores que um átomo.

5 CordasEm 1970 o japonês Yoichiro Nambo, o alemão Holger Nielsen e o americano Leonard Susskind anunciaram que ainda não se havia chegado à essência da matéria. Segundo eles, tudo o que existe — elétrons e quarks — é formado por cordas infinitamente pequenas, em constante vibração. Tão minúsculas que, se um elétron tivesse o tamanho de Júpiter, uma corda seria 10 000 vezes menor que 1 milímetro.

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 69

FÍSICA

As afinações da matériaUma mesma corda emite diferentes sons, como um instrumento musical.

Num instrumento musical, uma corda solta emite determinada nota ao vibrar — digamos um dó. No mundo subatômico, essa vibração corresponde a uma partícula — um próton, por exemplo.

Ao se mudar o comprimento da corda, a lira muda sua freqüência de vibração e emite outro som, lá, ré ou sol. Dentro da matéria, quando a supercorda muda de vibração, gera uma nova partícula — um nêutron.

© 2

No fundo, tudo é uma questão de freqüência

Como a idéia de cordas vibrantes muda a compreen­são do Universo? É que, segundo a teoria, a gente pára de vez de imaginar o mundo composto por diversas partícu­las. Elétrons, prótons, nêutrons e quarks seriam apenas di­ferentes feições de uma mesma corda. O jeito como essa corda vibra é que muda. Ou seja, não importa qual a nota tocada na música universal, por trás dela sempre haverá uma corda vibrando (veja o infográfico adma).

Se você pensa que tudo isso é maluquice, prepare-se. A julgar pelo entusiasmo dos pesquisadores, estamos

prestes a testemunhar uma nova transformação do co­nhecimento humano, tão dramática quanto a provocada pela Teoria da Relatividade, de Albert Einstein, em 1906, e a Teoria Quântica, de Max Planck, em 1900. “Se conse­guirmos confirmar a existência das cordas no acelerador de partículas do CERN, em 2005, teremos um marco na História da humanidade”, vibra John Schwarz, do Insti­tuto de Tecnologia da Califórnia (Caltech).

Foi Schwarz quem afirmou, em 1974, que as super- cordas constituiriam a teoria unificadora sonhada por Einstein para explicar como todas as forças do Universo funcionam, interligadas. Ou seja, como as partículas são formadas, alteradas e destruídas. E como interagem, usando as quatro forças da natureza: a forte, a fraca, a

70 SUPER J U L H O 1 9 9 9

0 choque de freqüênciasVeja como a corda muda de cara ao trombar com outra.

1 Uma corda vibrando na forma de elétron vem de um lado. Outra corda que vibra como um pósitron (o antielétron) vem de outro lado.

elétron pósitron

2 Quando as duas partículas colidem, as cordas interagem e passam a vibrar de um modo diferente.

3 Elas se fundem. Nasce uma nova partícula, como um fóton, que constitui a luz.

fóton

A A A A A A

4 A corda do fóton vai liberando energia até que as duas cordas originais se separam novamente. Ressurgem o elétron e seu par, o pósitron.

elétron pósitron

eletromagnética e a gravitacional (veja quadro à direita).No Brasil, as supercordas têm ainda poucos estudio­

sos — não mais do que quinze. Mas, nos Estados Unidos, o interesse pelo assunto não pára de crescer. “Entre 1994 e 1999, foram publicados mais de 1 000 artigos técnicos a cada ano — mais que o dobro do período anterior”, completa Schwarz.

O fato é que, mais cedo ou mais tarde, as leis atuais que fazem o arranjo da natureza — do macroscópico ao microscópico — podem ser substituídas por uma única teoria geral. Para Steven Weinberg, Nobel de Física de 1979, essa teoria colocará um ponto final na ancestral busca do homem pelos princípios essenciais que consti­tuem a matéria e a energia. ©

O poder das vibraçõesToda a m atéria e toda a energia interagem com quatro forças fundamentais.

FORÇA NUCLEAR FORTEAmarra os quarks dentro dos prótons e dos nêutrons e prende estes dentro do núcleo. Só é quebrada em aceleradores quando partículas atômicas são jogadas umas contra as outras, a velocidades próximas à da luz.

FORÇA NUCLEAR FRACAResponsável pela interação de algumas subpartículas, em itindo radioatividade. Ela é a base das reações nucleares que ocorrem no coração do Sol.

O FORÇA ELETROMAGNÉTICAExerce atração e repulsão entre as partículas com carga elétrica. É a força que faz o pólo positivo de um ímã atrair o pólo negativo de outro.

FORÇA GRAVITACIONALProvoca a atração entre as partículas que possuem massa. É a força que mantém os planetas girando em torno do Sol e os objetos presos à superfície da Terra.

© 2

P A R A S A B E R M A ISThe Search for Superstrings, Symmetry and the Theory of Everything,John Gribbin, Ed. Little, Brown and Company, Nova York, 1998 The Elegant Universe, Brian Greene, Ed.W. W. Norton & Company, Nova York, 1999 NA INTERNET: www.superstringtheory.com

© 1 Foto Marcelo Zocchio com produção Danieia Santíli 2 Infográficos Paulo NilsonJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 71

UNIVERSO

Por Jo ã o Steiner

P r o fe s s o r de A s t r o f í s i c a d o I n s t i t u t o A s t r o n ô m ic o e G e o f ís ic o d a USP

Buracos negros não são monstrosSim, eles destroem e engolem tudo o que se aproxima. Mas só o que passa perto demais da sua potente rede gravitacional.

Com freqüência ou­ve-se falar do peri­

go dos buracos negros. Eles são descritos comom áquinas m ortíferas, ca­pazes d e devorar tu d o e todos. Na prática, não é bem assim: os astros escu­ros só en g o lem o q u e che­ga m u ito p erto deles. A í, realm en te , a lgo q u e toca a sua superfície não con­segue mais sair. Vam os fa ­zer um a hipótese. Supo­nha que o Sol fosse um buraco negro . Com isso, to d a a sua massa imensa fic a ria c o n ce n trad a n u ­m a esfera d e altíssim a densidade , d e apenas 1 q u ilô m e tro d e ra io . Seria um a tran s fo rm aç ão ra d i­cal, mas, apesar disso, a m udança não a fe ta r ia a v iz in h an ça — nem mes­m o o p la n e ta M e rcú rio , q u e , a 58 m ilh ões d e q u i­lôm etros , é o m ais p ró x i­m o d o Sol. Ele só perce­beria a d ife re n ça se esti­vesse a um a distância 100 vezes m enor, a 6 00 0 0 0 q u ilô m etro s d a estrela. Nesse caso, M e rc ú r io ta m b é m c o rreria riscos. Ele p oderia ser p a rtid o ao m eio pela g rav id a d e con­centrad a d o h ip o té tico buraco negro .

C o n h e c e m - s e ,a t u a l - m ente, sete buracos ne­gros na V ia Láctea, a g a lá ­xia e m q u e fica o Sistema Solar. Seis deles fo ram criados pela explosão d e

um a grande estrela ao m orrer e tê m massa que varia d e cinco a dez vezes a do Sol. O mais p róxim o está a cerca d e 10 000 anos-luz da Terra, ou seja, a 95 quatrilhões d e q u ilô ­m etros (1 a n o -lu z m ede 9 ,5 trilhões d e q u ilô m e ­tros), d istância mais do q u e sufic iente para g a ­ran tir — isso eu posso a fir­m ar — que a Terra não se­rá a tra íd a por sua m ed o­nha força gravitacional.

O sétimo buraco ne­gro é muito espe­

cial, pois está bem no centro da Galáxia esua massa é 3 m ilh õ es d e vezes m a io r q u e a d o Sol. N in g u é m sabe d iz e r c om o e le nasceu. A lg u n s pensam q u e te r ia surg i­d o ju n to com o U n iv e r­so, d u ra n te o Big B ang. Seja c o m o fo r, apesar d e te r u m a massa tã o g ra n ­de , esse g ig a n te escuro só é capaz d e tr a g a r m a ­té r ia q u e esteja a cerca de1 b ilhão d e qu ilôm etros

VIA LACTEA

Sistema Solar

d e sua superfície. Com o e le se encon tra a um a dis­tânc ia quase 10 000 vezes m aio r q u e isso, a cerca de 30 0 00 anos-luz daqui, vo ­cê pode d o rm ir tran q ü ilo .

Só estrelas q u e g iram p e rto d o c en tro galáctico p o d e m , ocas ionalm ente , v io la r o lim ite d e perigo , cair em d ireção ao b u ra ­co n e g ro e acabar d estro ­çadas p o r sua g rav id a d e c oncentrada . M as um a catás tro fe desse tip o nunca fo i d e te c ta d a . Se ocorresse, seria fa c ilm e n ­te vista pelos astrô n o ­mos. Os telescópios cap­ta r ia m d e im e d ia to a g ra n d e q u a n tid a d e de raios X e in fraverm elhos liberados na destru ição estelar. D e fa to , a ra d ia ­ção chegaria à Terra com e n e rg ia su fic ien te a té pa­ra e le trific a r lev em e n te a atm o sfera . M as n ada ca­paz d e t ira r o nosso sos­sego, pois a p ertu rb ação n ão te ria fo rça para a tra ­vessar o a r e causar danos aqu i na superfície . ■

buraco negro

Fotografado em dezembro de 1998, o ponto branco (no circulo, à direita) é a primeira imagem do buraco negro no centro da vastidao da Via Lactea

© Stsci / Telescópio Espacial HubbleJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 73

16 jul

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15 ju l

14 jul ' ■1 i • Venus i• Regulus

OESTE

UNIVERSOde OLHO NO CEU

Um segredo atrás do outroA Eta Carina não pára de intrigar os astrônomos. A última surpresa da estrela é um súbito brilho exagerado.

E la é cheia d e caprichos. A estrela Eta, da Conste­

lação d e C arina, já recebeu o títu lo de m aio r astro doCosmo, pois sua massa é 100 vezes maior que a do Sol. Aí estava seu primeiro mistério. Ninguém entendia como um corpo tão grande se mantinha inteiro, sem se estraçalhar sob seu próprio peso. O astrofísico Augusto Damineli, do Institu­to Astronômico e Geofísico da Universidade de São Paulo, matou a charada. Ele desco­briu que a Eta é formada por duas estrelas, uma girando em torno da outra, ambas

imersas num imenso envelope de gás e poeira resultante de uma explosão observada aqui da Terra há 150 anos. A iden­tidade da dupla só fo i des­mascarada em janeiro de 1998, quando os dois corpos se alinharam. Nesse momen­to, uma estrela escondeu a ra­diação emitida pela outra. Fi­cou claro assim que ali exis­tiam duas companheiras. Agora surgiu um novo enig­ma: de 1995 até hoje, o brilho aparente da Eta dobrou de in­tensidade. Damineli tem nova explicação. Como toda estre­la, as irmãs tam bém lançam

constantemente partículas ao espaço, na form a de vento es­telar. Quando elas se encon­traram, em 1998, os ventos trombaram e se condensaram numa parede de poeira (veja abaixo). "Essa parede agora está por trás das estrelas, re­fle tindo a luz como um espe­lho", explicou ele à SUPER. O astrofísico aposta nessa teo­ria, mas sabe que a superes- trela deve, logo, logo, propor novo enigma. "É o astro mais matreiro que conhecemos", brinca Damineli. ■

Por T h er e z a V e n tu r o l i

Espelho p o e ire n toVeja como uma parede de poeira aum enta o brilho aparente da estrela dupla.

No centro desta imensa nuvem, existem duas estrelas girando uma em torno da outra

Em janeiro de 1998, as duas irmãs ficaram muito próximas. As partículas lançadas por elas colidiram violentamente e formaram uma parede de poeira.

A medida que a estrela maior continuou seu caminho em torno da irmâ, a parede foi sendo arrastada.

Hoje a parede está atras dos dois astros, refletindo mais luz em direção a Terra. Por isso Eta Carina parece mais brilhante.

M A P A DO CEUde ju lho de 1999, 19 horas em B ras ilia \

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COMO USAR 0 MAPA DO CÉU

O Vire-se de frente para onde o Sol se pôs. Assim, você estará voltado para o oeste. Q Se-

a página do mapa do céu na

Sosição normal de lei- ) Verifique que o céu

logo acima do horizonte equivale à parte de baixo do mapa. Assim, o centro do mapa mostra a região bem sobre sua cabeça.

O Ao * virar de frente para outros pontos cardeais (norte, leste ou sul), gire o mapa. Exemplo: para ver o céu sobre o horizonte sul, volte-se para a esquerda e gire ao mesmo tem­po a revista, como se fosse a di­reção de um carro.

FASES DA LUA

Dia Hora Fase

6 jul 8h58 • Quarto Minguante

12 jul 23h25 Nova

20 jul 6h02 QuartoCrescente

28 jul 8h26 Checa

5 ago 14h28• Quarto

Minguante

1 STSci /Telescópio Espacial Hubble 2 IlustraçõesNewtonVerlangieri einfográficos LuizIria/Thereza'VenturoliJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 75

k TEMPO LIVRE

N a veg ar é preciso. M as não se esqueça d e levar o g u ia q u e

a SUPER p rep a ro u para você. N este mês,

a v ia g e m pela In te rn e t inclui um a

a v e n tu ra num a m o n ta n h a g e lad a

e a busca por ex tra te rre s tre s .

INTERNETHU P ág inas 7 6 e 7 7

GAMESP ág in a 7

LIVROSP á g in a 8 0

LOGa 8 1 O

"Caí numa armadilha. Agora só vou competir com humanos."

Garry Kasparov, enxadrista russo, após ser derrotado pelo com putador Deep Blue, em 1997

Alugue seu micro para a ciência

Você pode se juntar aos mais de 500 000

voluntários espalhados pelo mundo que estão auxiliando a Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos, a procurar vida inteligente no Universo. Basta ir ao site do projeto Seti@home e copiar

um programa.

lada quase real ao K2

Está a fim de encarar uma escalada ao K2,

no Paquistão, a segunda maior montanha do mundo? Brrr... Que frio !Se essa fo i sua reação, não desanime. Dá para ir lá sem sair do aconchego de casa. 0 alpinista paranaense Waldemar Niclevicz, que quer atingir o topo do K2 este mês, incluiu em seu equipamento uma máquina fotográfica digital, um notebook e um telefone via satélite. Assim, ele * . alimenta diariamente sua página na Internet com informações e fotos da aventura. ■ www.sagarmatha. com. br/ portugueslk2on-line99.htm

Os pesquisadores enviarão ao seu micro, via Internet, um pacote de informações captadas no espaço por um dos maiores radiotelescópios do mundo, o de Arecibo, em Porto Rico. São ruídos que podem ou não ter sido transmitidos por seres extraterrestres. Toda vez que você parar de usar o computador e o protetor de tela entrar em ação, o programa começará a analisar os dados. Quando terminar, ele devolve o resultado para a universidade, que manda outro pacote. O problema é que, se a sua máquina descobrir o sinal de algum ET, você nunca vai ficar sabendo, pois as informações são confidenciais. ■ [email protected]. berkeley.edu

7 6 SUPER J U L H O 1 9 9 91 llkka Uimonen/Gamma 2 Newton Verlangieri

3 Rogério Maroja 4 Maurício Lara

i> E a r th w a ts h

Consulta periódicaQ uem te m dificu ldade com Quím ica sabe como

é duro lidar com a tabe la periódica e todas aquelas abreviaturas de elem entos químicos. Para a jud ar quem quer aprender, o D epartam en to de Quím ica da Universidade de Sheffie ld, na Inglaterra, criou uma tabe la mais am igável e a colocou na In te rn e t. Ao clicar sobre qua lquer elem ento, o in te rn au ta é levado a uma página especial, com várias inform ações, de nom e, núm ero e peso atôm ico a descrição e uso. Tem a té um arquivo de som para ensinar a pronúncia correta — só que em inglês. ■ w w w .shef.ac.uk/chem istry/w eb-elem ents

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Som na caixa virtual

Música pela Internet virou nos últimos meses uma

verdadeira febre. Com o mais recente programa de som disponível na rede, o Real Jukebox, você ouve e reproduz músicas de todo form ato, como o mp3, o real audio e o wave, permitindo que se monte uma coleção particular de canções, armazenadas no computador ou em CDs graváveis. Essa popularização só se tornou possível graças à invenção do mp3, que gera arquivos dez vezes menores que os de um CD comum e torna viável a transmissão pela ainda lenta Internet. Há centenas de páginas que oferecem músicas nesse formato. A versão para testes do software é grátis. ■ vwvw.real.com/products/ realjukebox/

M o n g ó l ia

Dís ík t o d í Gost

Grande rede de amigos da natureza

O site do Instituto Internacional Earthwatch

— uma instituição americana de proteção ambiental, sem fins lucrativos — merece ser visitado. Primeiro, porque oferece um vasto material de pesquisa sobre culturas e biodiversidade. Segundo, por promover excursões — virtuais ou não — para acompanhar antropólogos e paleontólogos em campo.E, finalmente, porque tem imagens lindíssimas de lugares incríveis, como as ilhas filipinas ou o Deserto de Gobi, na Mongólia. Confira. ■ www.earthwatch. org

Novo hit musicalSaiba como montar sua discoteca na internet.

1 Vá até a página do Real Jukebox e copie o programa

2 Depois procure sites que tragam músicas digitais Uma dica é visitar a página realguide. real. com, que tem listas imensas.

3 Copie o arquivo e abra-o no programa.

m v ® o o ® ® ® ® a >*7

i.

VtHV

Há mais de dez anos, o infectologista Drauzio Varella realiza com sucesso um trabalho voluntário de prevenção

da Aids na Casa de Detenção, em São Paulo. Sem dúvida, ele tem muitoo que ensinar aos internos. Mas o que os presos ensinaram a ele é o que está no livro Estação Carandim, da Companhia das Letras (011-866-0801). Na obra, Varella revela grande sensibilidade ao relatar histórias e experiências dentro do maior presídio brasileiro.

Se você abrir a página www.mamamedia.com, coloque na frente do computador uma criança com menos de

1 ano de idade e ela aprenderá rapidamente o que fazer. Isso é o que esperam os criadores do süe Mamamedia, em que um bebê pode criar uma história apenas clicando em icones com a mesma habilidade com que brinca com bonecos ou peças de encaixar.

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 77

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4 TEMPO

HRHBSST&F̂BR ' Lançado há pouco mais de um mês, o AliAdvantage, um provedor de acesso à Internet dos Estados Unidos, paga aos

usuários. Isso mesmo. 0 cliente recebe 50 centavos de dólar por hora navegada. E, se conseguir novas assinaturas, recebe ainda um pouco mais: 10 centavos por hora que seu amigo navegue. Como nada é de graça, o usuário tem de instalar no seu programa de navegação uma barra permanente com propaganda. A empresa diz que já conseguiu 1,2 milhão de associados, mas alerta que o limite é de 20 dólares mensais. Senão, vira festa.

78

L I V R EH H r t h f * i l i f *a 1 ..Í8Í *■' I {«§ *• 'T l P ^ É ; I ; l l P Õ p f f i

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7 OOO anos de conquistasD esmarque seus

compromissos antes de instalar no seu PC o jogoCivilization: Call to Power, que chega agora às lojas, em português. Quando começar, você não vai querer abandoná- lo. O objetivo é construir cidades e conquistar civilizações do ano 4 000 a.C. a té 3000 d.C. No futuro , em vez de explorar somente o território, você tem a chance de colonizar o oceano e o espaço — e aí são mais outras tantas horas de jogo. ■ Preço: 92 reaisElectronic Arts: 011-5505-3713

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WÊÊÊÊm

T«m a manha de enfrentar o Guga?

A Coleção Caminhos da Ciência (Editora

Scipione: 011-239-1700), que já tem cinco títulos publicados, lança agora os volumes Franklin e a Eletrostática e Pastear e os Microorganismos. Eles contam, respectivamente, a biografia do cientista americano Benjamín Franklin (1706-1790), inventor do pára-raios, e do químico francês Louis Pasteur (1822-1895),°Paida —microbiología.

cinematográficos. Como no filme, o Alien escala paredes e o Predator fica invisível. Só que a única coisa que eles fazem no jogo é atirar, atirar e atirar — o que, definitivamente, não tem a menor graça. ■Preço: 82 reais Electronic Arts: 011-5505-37

Encontro de estrelas de cinema

Eu ma pena que dois personagens famosos da

ficção científica tenham caído em uma trama tão sangrenta quanto a de Aliens X Predator. Tudo bem, o jogo tem lá sua graça, pois os personagens incorporam as características dos originais

Dos simuladores de esportes, o de tênis parece

ser o mais banal. Você sabe: um bate de lá, o outro rebate de cá. Mas o Actua Tennis é diferente, pois reproduz partidas do GrandSlam, a reunião dos quatro torneios mais importantes do mundo — entre os quais o de Roland Garros, na França, vencido em 1997 pelo brasileiro Gustavo Kuerten, o Guga. Ele está entre os adversários desse game, assim como o americano Andre Agassi, que levou o troféu deste ano. ■ Preço: 59 reais MSD: 011-5677-7087

TEMPO LIVRE

A VIDA N O IN ÍC IO DO PRIMEIRO MILÊNIO

ROBERT UCEYI; DANNY DANZIOER

O cotidiano inglês, 1 000 anos atrás

Os anglo-saxões do século X eram tão altos

quanto os ingleses de hoje, mas viviam menos. Vestiam túnicas coloridas em tons brilhantes, atadas por fivelas

e cordões. Mediam o tem po com um calendário parecido com o nosso, d ivid ido em doze meses. Falavam uma Ifngua híbrida, mistura do inglês com o norse, dos nórdicos. Tudo isso e mais pode ser aprendido na belíssima obra O A n o 1000 - A Vida no Início do Primeiro M ilênio, do

Um mundo admirávee no

Quando õfis ico Freeman Dyson,

da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, arrisca previsões I sobre o futuro, é bom prestar atenção, pois ele é muito bem informado. Em seu livro mais recente — The Sun, the Genome and the internet (O Sol, o Genoma e a Internet) — , ele sustenta que a energia solar, os avanços na engenharia genética e a onipresença da Internet vâo ajudar a promover no próximo milênio um mundo melhor, dim inuindo a distância entre pobres e ricos. ■ Preço: 22 dólares Oxford Univesity Press: 001-880-451-7556

0*VYVO*« os m o r lp *

jornalista inglês Robert Lacey. Para reconstituir o cotid iano da Inglaterra no ano 1000, Lacey contou com a ajuda de mais de trin ta historiadores e arqueólogos. ■ Preço: 22 reais Editora Campus: 0800-265-340

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As lições deixadas por fantasmas

O je ito com que as diferentes sociedades

no decorrer dos tempos encaram a morte diz muito a respeito delas. Quinze séculos depois, os quadros que retratam os mortos e os relatos escritos sobre fantasmas na Europa medieval revelam parte do cotidiano e do imaginário do homem daquela época. O livro Os Vivos e os Mortos, do historiador francês Jean- Claude Schmitt, analisa cuidadosamente o papel do fantasma naquela época. O resultado é curioso — e

Mestre de Física ensina sem firulas oe

Para atrair os calouros do curso de Física nos anos de

1961 a 1963, a direção do Instituto de Tecnologia da Califórnia (Caltech) pediu a Richard Feynman (1918-1988), um dos maiores físicos do século, que elaborasse algumas palestras

especiais. O resultado pode ser lido no livro Física

em Seis Lições,

SICAE m S e is L i ç o £ s

que as transcreve melhoradas pelo próprio Feynman. A obra comprova que o Prêmio Nobel de1965 tinha um je ito m uito gostoso de ensinar, sem as complicações de fórmulas e termos técnicos. ■Preço: 17,50 reais Ediouro: 021-560-6122

não dá um pingo de medo. ■ Preço: 29 reais Companhia das Letras: 011-866-0801

Um morto aparece nos sonhos de um poeta adormecido, em gravura anônima do século XV, no final da Idade Média

80 SUPER J U L H O 1 9 9 9

- V __________

JuSMIIHEÍComputador dá uma mãozinhaD ois novos produtos prom etem chacoalhar o m undo

dos computadores. São os palmsize PCs Jomada 420 e Aero 2100 . 0 primeiro, da Hewlett-Packard, te m m onitor colorido, pesa 250 gramas e m ede 13 centímetros por 8 centímetros. Com ele, dá para escrever (com caneta sensível ou um tedadinho acoplado) e checar e-mails sem modem nem telefone, graças a um sistema semelhante ao dos pagers. O outro, da Compaq, tem medidas iguais mas uma qualidade a mais: um dispositivo perm ite 1er com ou sem luz no ambiente. Mais cedo ou mais tarde um desses vai estar no seu bolso. ■Preço: 4 4 9 dólares (cada um)Compaq: 0800-153015 HP: 011-7297-8000

0 Jornada 420 {acima) eo Aero 21001ao lado) cabem

palma da mão

Mouse dispensa bolinha

Visto de fora, o mouse é uma invenção criativa.

Por dentro, porém, já têm cara de velharia. Quando a bolinha emperra, a seta não se mexe na tela e você perde a paciência. Esse incômodo está chegando ao fim.0 IntelliMouse, da Microsoft, funciona com um sensor que emite sinais digitais. E ele nunca suja. Chega nos Estados Unidos em setembro e não tem previsão ainda de ser vendido por aqui. ■Preço: 74,95 dólares Microsoft: 011-822-5764

0 sensor envia 1 500 informações por segundo para um processador interno, que traduz os movimentos e os cliques

Os botões são reprogramáveis. Servem para navegar na Internet e jogar

DESLIGAIridiumQuando surgiu, parecia a glória. Um telefone por satélite que recebe e envia chamadas de e para qualquer lugar do mundo.0 preço, nas alturas.

DVD0 DVD tem capacidade de armazenar até 5 gigabytes. Isso é sufidente para gravar um longa-metragem inteiro.

PortaisÓtimo para o lazer, péssimo para trabalhar. Sites que seivem como ponto de partida para a navegação, oferecendo serviços, de horóscopo a compras.

LIGARoamingAs empresas de telefonia celular oferecem um serviço para receber chamadas no seu aparelho mesmo estando no exterior.É só pagar uma taxa extra.

HD-ROMSurge um novo disco que temo mesmo tamanho de um CD mas guarda até 165 gigabytes de dados.

VortaisRuins para o lazer, mas um passaporte para a eficiência no trabalho. Sites da Internet que servem exclusivamente como fonte de informações profissionais.

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© 1 Reprodução 2 DivulgaçãoOs mais recomendados pelos dentistas.

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Para tirar de letra

Experimente três variantes do conhecido nim que utilizam palavras em vez de palitos de fósforo. E divirta-se treinando o vocabulário.

V ocê se le m b ra do n /m ? Falam os d e um a

v a r ia n te d e le na ed ição d e m arço. Só p ara re le m ­brar, esse célebre passatem­po consiste simplesmente em algumas fileiras de pali­tos. Cada jogador pode re­mover quantos quiser de ca­da uma delas. Vence quem retirar o últim o. Parece fácil? Nem tanto . E ele pode ficar ainda mais complexo se tro ­carmos os fósforos por le­tras. Quer ver?

Escreva numa folha o alfa­beto, mas sem nenhuma vo­gal. Depois de sortear quem começará a partida, os ad­

versários se alternarão fo r­m ando uma palavra por

vez. Cada uma delas pode ter qualquer nú­

mero de consoantes e usar livremente qualquer vogal, repetida ou não.

Depois de propor um vo­cábulo, o jogador deve ir

riscando as consoantes utilizadas, e lim inando-

as da lista e, portan to , pro ib indo seu uso pelo adversário. Vence o ú lti­m o a propor uma pala­

vra — seja porque em pre­gou as últimas letras dispo­

Luiz D al M onteA rquiteto e designer

DE JOGOS E BRINQUEDOS níveis, seja porque o opo­nente não conseguiu fazer mais nada com elas dentro do lim ite de tem po com bi­nado. Aliás, nesse tip o de jogo — com o em quase to ­dos os que envolvem o uso de vocabulário — , convém estipular um prazo para ca­da jogada.

Vejamos um exemplo: o prim eiro jogador propõe ca­m inho, riscandoc, m, n, e h . O segundo diz pagode e eli­mina p, g e d. A palavra se­guinte poderia ser veloz, cancelando v, I e z, enquan­to o outro acrescenta queijo, riscando o q e o j. Com o que sobra, o prim eiro esco­lhe bifes, deixando somente três consoantes para o ad­versário — r, t e x — , que vence com tórax, acabando de vez com o estoque. Se ele propusesse rota, o ou tro po­deria vencer com xá.

Ou tra v a r ia n te consis­te e m escrever to d o o

a lfa b e to e ir cancelando as le tras p e la o rd e m emque aparecem, à medida que vão sendo usadas pelos participantes. Digamos que um deles escreva abóbada. Nesse caso, deveriam ser eli­minadas somente o a e o b. O d permaneceria, pois o c não fo i utilizado. Se a pala­vra fosse cabide, seriam eli­minadas a, b, c, d e e de uma só vez. O oponente po­

deria responder com decodi­ficar, cancelando c, d, e e f. A lternando-se desse modo, vai-se cam inhando para o fi­nal do a lfabeto (ou para o começo, de acordo com o sentido adotado). O perde­dor é aquele que fo r obriga­do a fazer a últim a palavra. Outra forma de definir o ven­cedor é pelo maior número de letras empregadas, inde­pendentemente de quem fi­zer a última jogada.

Um outro je ito de brincar com as palavras pode ser o seguinte: cada um dos parti­cipantes escolhe dois vocá­bulos quaisquer, que são anotados numa folha. O pri­meiro jogador, então, utiliza essas letras para form ar uma quinta palavra. Depois de ris­car as que usou, o oponente faz o mesmo com as restan­tes, também cancelando as suas. Os dois vão se alternan­do até que um deles não con­siga m ontar mais nenhuma. Quando isso acontecer, o ou ­tro será declarado vencedor.

Vamos ver um exemplo na prática. Suponha que os vocábulos escolhidos te­nham sido cidade, girar, no­ta e bola. Uma primeira pala­vra poderia ser contabilida­de. Só que ela seria um mau negócio, pois, se o adversá­rio montasse agarro, estaria usando todas as letras res­tantes e deixando, portanto, o oponente sem lance. ■

* ? 99 W iM i s Fácil Médio Difícilp»>j ^

n7 Homens com HDona Eulália tem somente três filhos. Metade deles é de homens.Como isso é possível?

9 9 9 Damas sem par0 aficionado de quebra-cabeças possivelmente conhece o clássico problema de colocar oito damas sobre um tabuleiro de xadrez, sem que nenhuma esteja ao alcance de outra. Neste caso, o problema é um pouco diferente: colocar dezesseis damas sobre o tabuleiro, de modo que cada uma ataque exatamente três outras, seguindo a regra normal do jogo, isto é: as damas movem-se qualquer número de casas na horizontal, na vertical ou diagonalmente.

97 Contas na águaPedro tem um peixe a menos que Lúcia. Ela tem um a menos que a prima, que tem o dobro de Pedro. Quantos peixes tem cada colecionador?

m7 7 Quadrados desfeitosQuantos palitos, no mínimo, têm de ser removidos da figura ao lado para que não reste nenhum quadrado?

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J U L H O 1 9 9 9 SUPER 8 3

O Teorema de Meneses

Por Luiz BarcoP ro fesso r d a Es c o l a de C o m u n ic a ç õ e s e A rtes d a U n iv e r s id a d e de Sã o Pa u l o

Há q u e m d ig a q u e o m al d o p ró x im o sécu­

lo será a solidão. N ão o u ­saria discordar, e m b o raache que uma bem adminis­trada dose dela não faz mal a ninguém. Triste mesmo é o tédio, capaz de abater qual­quer um, mesmo quando cercado por uma multidão. Vários leitores têm me pro­vado, no entanto, que a M a­temática pode ser um exce­lente antídoto contra o abor­recimento. Vou provar isso para vocês.

Na edição de fevereiro des­te ano, apresentei um pe­queno problema, demons­trando que o sucessor do produto de quatro números inteiros, positivos e consecu­tivos, é sempre um quadrado perfeito. Ou seja: 1 x 2 x 3 x 4 + 1 = 25, que é o quadrado de 5, pois 52 = 25. Outro exemplo: 3 x 4 x 5 x 6 + 1 = 361, que é o quadrado de 19, pois 192 = 361.

Leitor da SUPER demonstra por a + b que a M atem ática é uma ótim a receita contra o tédio.

Confesso que não espera­va tamanha repercussão. Venho recebendo desde en­tão um grande núm ero de cartas, ora resolvendo o pro­blema de outra form a, ora com pletando a dem onstra­ção, além de algumas com comentários. Uma das que mais me chamaram a aten­ção veio do leitor Francisco Meneses, de São Paulo. Pelo je ito, ele deve gostar m uito de M atemática, mas quase nada de escrever. Lacônico, Francisco datilografou sobre uma fotocópia do artigo no­ve breves linhas com uma nova e criativa conclusão al­gébrica para o mesmo pro­blema, que resolvi batizar de Teorema de Meneses.

Segundo ele, 4 x 5 x 6 x 7 + 1 é um quadrado perfeito, pois é sempre igual a (4 x 7 + 1 )2 . O mesmo se pode di- zer de 5 x 6 x 7 x 8 + 1, por­que o resultado é sempre igual a (5 x 8 + 1)2. M atem a­ticam ente, isso significa que o sucessor do produto de quatro números inteiros po­sitivos e consecutivos é sem­pre igual ao quadrado do sucessor do produto do pri­meiro pelo ú ltim o desses quatro números. Vamos tra­duzir isso para o português: multiplicar, um pelo outro, quatro números de uma se­qüência, e somar 1, dá na mesma que m ultip licar o prim eiro e o ú ltim o da série, acrescentar 1 e elevar o re­sultado ao quadrado.

© Ilustração Luiz Iria

Coincidência? Q u e nada.Isso não existe e m M a ­

tem ática . Se um a situação com o essa se re p ete sem ­pre, pode ter certeza de que há por trás uma lei da Álge­bra, com uma fórmula, uma equação, que a demonstre. Procure me acompanhar. Va­mos chamar de "x " o primei­ro número de qualquer se­qüência. Você há de concor­dar comigo, portanto, que os seguintes são x+1, x+2 e x+3. Conseqüentem ente, o su­cessor do p rodu to desses números se escreveria assim: x(x+1)(x+2)(x+3) + 1.

Os exemplos dados por Meneses mostram que isso é igual a {x (x+3)+1}2. Se você efetuar a multiplicação, vai descobrir que o resultado é (x2+3x+1)2. Mas e daí? Daí que essa equação é exata­mente o resultado da outra: x (x+1) (x+2) (x+3)+1. Fazen­do a multiplicação, chega-se a x4+6x3+11x2+6x+1. A fa- toração desse polinóm io dá exatamente (x2+3x+1)2.

Agradeço ao Francisco M e­neses pelo simpático teore­ma. Gostaria de falar mais so­bre ele, mas não posso.Depois de apresentar-se como assinante da SUPER e leitor as­síduo da coluna "2 + 2 ", ele nada mais disse. Sua carta, porém, é o bastante para con­cluir que se trata de um ho­mem sem tédio, pois sabe ex­trair prazer de brincar com os números — como, aliás, que­ríamos demonstrar. ■

J U L H O 1 9 9 9 SUPER 85

0 LEITOR É SUPER

A s s u n to s c o n tro v e rs o s Números que você faz PesquisaSUPER

A rep o rtag em A natureza da fera,sobre os cachorros p it buli, publicada

na edição de m aio, suscitou eno rm e interesse. Recebemos inúm eras cartas e em ails com críticas, elogios e com entários. A lém disso, vários le itores especializados f ize ram observações sobre a confusa gen ea log ia do p it buli, tem a quase tã o polêm ico q u a n to a idéia de esterilizar esses cães. Fomos obrigados a levar a d ian te a pesquisa e verificam os que, de fa to , havia erros na nossa m aneira de apresentar a o rigem da raça.Na página ao lado, publicam os um in fo gráfico que resum e aqu ilo que

apuram os. A vig ilância de vocês é a m elhor garan tia de que a

qua lid ad e das inform ações da SUPER vai m elhorar sem pre.

Re g in a Pereira

ATENDIMENTO AO LEITOR

No mês de maio recebemos:2 631 e-mails

1 976 telefonemas

682 cartas

Veja abaixo as reportagens mais comentadas, por e-m ail e por carta:

A natureza da fera ....................55

Cabo de guerra..........................16

Universo? Qual deles?.............15

Meu gene, meu bem,meu mal.......................................14

No mês de maio, 408 leitores responderam à pergunta:

Você é a favor da esterilização de pit bulis e outros cães ferozes?

290 (71% ) | são contra."N ão devemos exterm inar

uma raça em função de criado­res que fazem de seu animal uma 'máquina m ortífera '."

Flávia Batista de Araújo Campo Grande, RJ

" A fe roc idade desses cães é mais um a invenção do h o ­m em e invenções não prec i­sam ser ex tin tas, mas sim m elhoradas."

Fernanda Raghiante Uberlândia, MG

1 18(29% ) I são a favor."É impossível fiscalizar to ­

dos os criadores do país."Leonardo Vicenzi

Curitiba, PR

"Sou a favo r da esteriliza­ção dupla, cão e proprie tá rio irresponsável."

Sandro Hadyme Várzea do Poço, BA

FALE COM A SUPER0 8 0 0 14 1311Av. das Nações Unidas, 7221 Pinheiros CEP 05425-902 - São Paulo, SP

super.atleitor@ abril.com.brSe vocé é assinante da SUPER ou do UOL, visite nosso site w w w .superinteressante.com .brPara assinar a revistaSão Paulo (011) 3990 2112Em outros Estados - 0800 55 2112

O que você gostaria de ver mais na SUPER: Astronomia, Tecnologia, História ou Saúde?

Opine por telefone, por e-mail ou carta.

Se a sua carta ou mensagem for publicada nesta seção, vocé recebera em casa uma camiseta da SUPER.

86 SUPER J U L H O 1 9 9 9

Cocker doente?

C onsta na re p o rta g e m A n a tu r e z a d a fe r a queo cocker d o u rad o sofre de u m a "d o en ça g e n é tic a ” .Q uem disse isso? Que da­do c ie n tifico a com prova?

Eduardo Henriques São Paulo, SP

A veterinária Hannelo- re Fuchs, especialista em com portam ento animal, comenta:

Essa "doença" do Coc­ker Spaniel de pêlo dou­rado consiste em um q u a d ro de ag re ss iv i­dade ligado à cor, trans­m itido geneticam ente e que aparece em alguns exemplares da raça. 0 cão m orde independen­te d o estímulo desenca- deador. Provavelmente, esse traço com porta- m enta l é derivado de cruzamentos p o r m o ti­vos estéticos.

O dono é o culpado

0 te x to de A n a tu r e z ad a fe ra esclareceu o m o ti­vo do co m p o rta m e n to dos p it bu lis e de ou tras raças de cães. A culpa da fe ro c i­dade deles é, na m a io ria das vezes, causada po r donos irresponsáveis.

Alexandre N. de Uma Rio Largo, AL

Mordida desconhecida

Q ua n to à fo rça da m o r­d ida do ro ttw e ile r e do p it bu li, c itada na reportagem A n a tu re z a d a fe r a (n ú ­m ero 5, ano 13), c ien tifica ­m ente nada fo i m ensurado até hoje. ISe o r o t t w e i le r te m 2 to n e la d a s d e fo rçad a m o rd id a e o p it b u ll .2 0 0 q u ilo s , o r o t t w e i le ré d e z v e ze s m a is fo r te q u e o pit?1

André Bento, médico-veterinárío

Rio de Janeiro, RJ

O professor da Faculda­de de Medicina Veterinária e Zootecnia da Universida­de de São Paulo, Marco Antonio Gioso, especializa­do em odontologia animal, comenta: "Uma experiên­cia desenvolvida na Univer­sidade de Nantes, França, m ediu a força da mordida de cães militares. O melhor resultado fo i ob tido p o r um p a s to r a lem ão que alcançou 1120 Newtons, ou seja, 112 quilos de for­ça, aproximadamente. Se pensarmos que o p it bu li tem físico m enor que o pastor alemão, mas, p ro ­porcionalmente, tem mais potência na mordida (uma das mais eficientes entre os cães), ele, provavelmente, alcançaria um valor aproxi­mado ou talvez m aior que o pastor alemão, quando testado. Já o ro ttew eiler tem o físico m aior que o pastor e, p o r isso, é mais potente. É possível que nu­ma experiência semelhan­te, ele alcance resultados iguais ou superiores ao pastor alemão.

ANTIGO BULDOGUEINGLESBem diferentes dos modernos, como se vê acima, eram cães usados em lutas contra touros até meados do século XIX. Hoje ele está extinto.

TERRIERS DE RINHACachorros, hoje extintos, menores que o buldogue. Usados na arena para perseguir ratos e texugos.

STAFFORDSHIRE BUli TERRIERResultado do cruzamento do antigo buldogue com terriers de rinha. Foram levados para os Estados Unidos após a proibição das lutas na Inglaterra.

t f

ANTIGO BULDOGUE INGLESSem as rinhas, o velho buldogue acabou indo para a América também. Lá cruzou com o Staffordshire, que já era seu descendente.

n 1

AMERICAN PIT BULL TERRIERSurgiu do cruzamento entre o Staffordshire e o buldogue antigo. Multo usada nas rinhas, a raça foi se depurando e adquirindo características de força e resistência.

A ligação de outras raças com o pit

© 1 Marcelo SoubhiaJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 87

Cosmo ilimitado

Quando comecei a ler U n ive rso ? Q u a l deles?(número 5, ano 13) não pa­rei. Imaginava que o Cosmo tinha fim , mas não que existissem outros universos.

Leonardo Rezende Ribeirão Preto, SP

A ciência nos quadrinhos

A re p o rta g e m U n iv e r ­so? Q u a l d e le s ? p rovou que certas revistas em quadrinhos não estão tão longe da realidade q u a n ­do fa la m em universos para le los. Que o d iga Flash G ordon '

Francisco Henrique Assis Itabira, MG

Teorias reprovadas

Achei sem fundam en to as idéias do m atem ático am ericano Alan Guth cita­das na reportagem U n i­verso ? Q u a l de le s ? Já não sou m u ito a favo r da teoria do Big Bang e agora aparece um querendo d i­zer que existe mais de um universo. Ele chega ao cú­m u lo de ad ic ionar mais um m eio am bien te , o tal de falso vácuo.

José Guilherme Marcon Caxias do Sul, RS

Na realidade e na ficção

O m ilho transgênico mos­trado em M e u g e n e , m eu b e m , m eu m a l (núm ero 5, ano 13) tem algo semelhante ao film e Colheita Maldita. Por trás das espigas perfeitas po ­de estar uma grande m ald i­ção para a humanidade.

Alexandre Elias dos Santos Belo Horizonte, MG

O destino em poucas mãos

As informações da reporta­gem M e u g e n e , m eu bem ,m eu m al me trouxeram des­conforto. Apesar de ser uma questão que envolve todos nós, só alguns poucos decidi­rão o que irá para as prateleiras dos supermercados.

Cristiane Reina Soriani Londrina, PR

Os gaúchos não querem

Ao ler M e u g e n e , m eu bem , m eu m al fiquei saben­do que o Brasil vai produzir vegetais geneticamente m o­dificados e adorei. Só achei um absurdo os gaúchos proi­birem a entrada dos transgê- nicos no Rio Grande do Sul.

Cláudio A. de Matos Diadema, SP

A polêmica no site

Os alim entos transgênicos tam bém foram com entados no site da SUPER (www. supe- rinteressante. com.br). Lança­mos a pergunta:

Se você encontrar no super­mercado um p roduto com ró­tu lo "transgênico", vai com- p rá -lo? Veja o que os inter- nautas responderam:

Pesquisa

Be voc* encontrar no supermercado um produto com o rótulo "transgânico”. vai comprá-lo?

Total de votos até o momento; 231

Nâo

Sim

136 58,995 41.1

Quem vai ser réu?

Fiquei pe rp lexo após ler C a b o -d e -g u e r r a (número 5, ano 13) e saber do núm e­ro de vezes que a OTAN er­rou seus alvos, m atando as­sim centenas de inocentes. O Sr. S lobodan M ilosevic será levado a ju lgam ento por cri­me de guerra. Mas e a OTAN, conduzida pelo pode­roso Tio Sam, não será res­ponsabilizada por nada?

Irineu Bemardino São Paulo, SP

Transplante polêmico

Na ed ição de m a io p u b lica m o s ca rta da le ito ra A lice Costa, de Jusc im eira (M T) c o ­m e n ta n d o o tra n s ­p la n te de m ão da re ­p o rta g e m Com o um a lu v a (n ú m e ro 3, ano 13). Ela não ap rovou a técnica, mas teve g en ­te que não g o s to u do seu com entá rio :

A le ito ra A lice Costa se in d ig n o u com o tra n sp la n te . Im ag ine se ela fosse v ítim a de um tu b a rã o e tivesse suas mãos decepadas. Será que co n tin u a ria 'eno jad a ' com o disse?

Erw in Von-Rom m el Belém, PA

Albaneses e sérvios suspenderam o cabo-de-guerra pelo Kosovo mas estão muito longe da paz

O verdadeiro interesse

Não faz sentido os países da OTAN gastarem tanto dinheiro em uma província que possui 5 bilhões de dólares em reser­vas de chumbo, zinco e carvão, como está em C abo-de-guer- ra. É óbvio que Kosovo repre­senta interesses militares estra­tégicos na região. Os albaneses receberão uma província inde­pendente mas passarão a vida dependendo dos americanos.

Marco Arroyo Santo André, SP

A codorna não choca

Na seção S uperin trigante de maio, vocês utilizaram a fo to de uma codorna com o exem plo de ave que choca ovos. Só que ela não faz is­so. Em m inha criação eu u tilizava chocadeiras, g a li­nhas e até pom bos para realizar essa tarefa.

Vítor Hugo M uller Porto Alegre, RS

O b ió logo Luiz Francisco Sanfilipo, da Fundação Zoólo- gico de São Paulo, comenta:

"Realmente a codorna co­nhecida n o Brasil, dom esti­cada há p e lo m enos 2 0 0 anos, perdeu a característica

de incubar ovos. Entretan­to, p o r m eio de seleção ge­nética adquiriu a capacida­de de b o ta r todos os dias. Por isso não é interessante fazê-la passar 18 dias cho­cando e, assim, p a ra r de produzir. Já as codornas selvagens, que não tem os no país, não passaram p o r essas m odificações. Essas ainda chocam ."

Lembrançasbem-vindas

Agradeço à SUPER e aos his­toriadores pelo apoio à recu­peração do Arquivo Nacional, mostrado em O Brasil sai da g a v e ta (número 5, ano 13). Sem dúvida, ele é uma fon te magnífica de conhecim ento neste país tão sem memória.

Eduardo de Almeida Rocha Bonsucesso, RJ

Confirmaçãodocumentada

A reportagem O Brasil sai d a g a v e ta confirm ou uma das conclusões de minha tese de mestrado sobre casamento de escravos, apresentada no Departam ento de História da Universidade de São Paulo. O m atrim ônio de índios aparece mais como escravização ilegíti­ma do que como sacramento.

Eliana Goldschmidt São Paulo, SP

CORRENTENa página 24 (número 5, ano 13) foi dito que a corrente de água quente que sai do Indico vai até quase o Alasca. O correto é até o Canadá.

PRESSÃONo infográfico da página 18 (nú­mero 6, ano 13) está escrito que numa profundidade de 1 500 me­tros a pressão equivale a 501 at­mosferas. Na verdade, é 151.

LLULLAILLACONa notícia da página 12 (número 5, ano 13) está escrito que as mú­mias foram encontradas no Monte Lluliaillaco, nos Andes, a mais de 7 000 metros de altitude. O certo é acima de 6 000, já que o monte tem 6 723 metros de altura.

SUEO site citado na página 55 (núme­ro 5, ano 13) está incorreto. O cer­to é www.sbpcnet.org.br/forum8 /f orum8.htm

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© 1 N«wtonVerlangieri 2MardoSimdi 3 Steia AlvesJ U L H O 1 9 9 9 SUPER 89

DITO

Apesar dos avanços da neuro log ia , m uito

do que acontece no cérebro hum ano

ainda não é com preend ido.

Processos com o a consciência

e a in teligência perm anecem

la rgam en te desconhecidos.

.:

l á Se as fibras nervosas do cérebro fossem esticadas uma ao lado da outra, alcançariam a Lua e voltariam à Terra. É por não estarem assim que o homem chegou lá. O emaranhado dentro de nossa cabeça é que nos faz humanos.

C olin B lakem ore55 anosFisiologista inglês

A disposição sistemática pela qual nossa faculdade de entender lida com o mundo é uma capacidade tão profundamente oculta na alma humana que dificilmente conseguiremos conjeturar o truque secreto que a natureza utiliza. Im m a n u e l K an t (1724-1804)Filósofo alemão

Se meu "e u " é um simples feixe de instintos de núm ero conhecido e dimensões exatas, então perm itam -m e amarrar esse feixe bem apertado. Charles Raven (1885-1964)Teólogo inglês

Com o aconteceu com todos os mistérios anteriores, há muitos pensadores que insistem — e esperam — que nunca haverá uma desmistificação da consciência.D an ie l D e n n e tt 57 anosFilósofo americano

Um pescoço curto é sinal de inteligência.Com um cam inho menor, as mensagens chegam mais rápido até o cérebro. M u rie l Spark 81 anosEscritora escocesa

A música é o esforço que fazemos para explicar a nós mesmos com o os nosso cérebro funciona.

Escutamos Bach extasiados porque isso é ouvir uma mente humana.Lew is Tho m as(1913-1993)M édico americano

Se é por causa da mente que pesquisamos o cérebro, então supomos que ele é m uito mais que uma central te lefônica. Supomos que o cérebro é uma central telefônica com os usuários. Charles S cott S h e rrin g to n (1857-1952)Fisiotogista inglês

O cérebro é o aparato com o qual nós pensamos que pensamos.A m b ro s e Bierce(1842-1914)Escritor americano

Insônia criativaAté 1920, a ciência desconhecia como o impulso nervoso se transmitia de um nervo a outro. Em 1921, no sábado anterior ao domingo de Páscoa, o fisiologista alemão Otto Loewi (1873-1961) acordou de madrugada sobressaltado com uma idéia que lhe havia ocorrido em sonho: os neurotransmisso- res, agentes que acionam os impulsos nervosos, só podiam ser substâncias químicas. Rabiscou as idéias num pedaço de papel e voltou a dormir. Às 6 horas despertou de novo. Mas, para seu desespero, não entendeu os próprios garranchos. Foi um dia horrível e ele acabou indo dormir arrasado. Na madru­gada de domingo, entretanto, abriu os olhos e lembrou-se de tudo. Dessa vez, correu para o laboratório e fez, na hora, ex­periências no coração de um sapo. Trabalhou todo o dia e, à5 horas da segunda-feira, provou que uma enzima, a coli- nesterase, era capaz de reduzir o efeito do neurotransmissor acetilcolina, diminuindo a freqüência cardíaca do animal. Graças à insônia, Loewi ganhou o Prêmio Nobel de Medicina de 1936, junto com o fisiologista inglês Henry Dale.

© 1 Arquivo pessoal 2 Luís Ricardo Almeida