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167 REVISTA PORTUGUESA DE CIÊNCIAS VETERINÁRIAS ARTIGO DE REVISÃO Agonistas adrenérgicos ß 2 e produção animal: II - Relação estrutura-actividade e farmacocinética ß 2 - Adrenergic agonist and animal producti II - Structure-activity relationship and pharmacokinetic Fernando Ramos* e Maria Irene Noronha da Silveira Centro de Estudos Farmacêuticos da FCT - Laboratório de Bromatologia, Nutrição e Hidrologia Faculdade de Farmácia - Universidade de Coimbra 3000 - 295 Coimbra Resumo: O presente trabalho constitui a segunda parte de uma revisão sobre agonistas adrenérgicos ß 2 e produção animal e nele são apresentados a relação estrutura-actividade dos referidos fármacos, bem como a sua farmacocinética. Na relação estrutura-actividade é analisada a importância da cadeia lateral e do anel aromático, bem como dos diferentes substituintes, quer em relação à potência de cada um dos fármacos, quer em relação à sua selectividade para os receptores ß. As etapas de absorção, distribuição, metabolização e elimi- nação constituem o objecto da revisão efectuada quanto à far- macocinética. A absorção, após administração dos fármacos por via oral, é especialmente estudada ao nível das diferentes par- tes do tracto gastro-intestinal. Os tempos de semi-vida dos agonistas adrenérgicos ß 2 e a repartição destes pelos diferen- tes tecidos e órgãos são relacionados na etapa de distribuição, enquanto que na metabolização se dá especial atenção aos metabolitos de fase II, ortometilados, glucoronoconjugados e sulfoconjugados. A fase de eliminação, especialmente por via renal, conclui este artigo de revisão, sendo dado particular destaque à influência da acção simultânea de fármacos de outros grupos na velocidade de eliminação dos agonistas adrenérgicos ß 2 . Summary: This paper is the second part of a review on ß 2 - adrenergic agonists and animal production. Structure-activity relationship of the referred drugs is described as well as their pharmacokinetic. Aromatic ring and lateral chain drug struc- ture as well as different substitutes are described in order to know its structure-activity relationship, mainly selectivity and potency for ß-receptors. Absorption, distribution, meta- bolisation and elimination steps are the main subjects of the pharmacokinetics review. Absorption studies in the different parts of gastro-intestinal tract are related as a consequence of oral drugs administration. ß-agonists half-life and its tissues and organs repartition are studied on distribution step. Phase II metabolites, namely derivatives of O-methylation, glucuro- nidation and sulphation are described on metabolisation step. Finally, special attention is done for the influence of different drugs simultaneous action in the ß-agonists kidney elimination. especial, levanta um conjunto de preocupações rela- cionadas com a sua segurança/toxicidade, concreta- mente quanto à presença dos seus resíduos na carne e vísceras. Nesse sentido, e após abordagem, num primeiro artigo, do mecanismo de acção dos agonistas adre- nérgicos ß 2 (Ramos e Silveira, 2000), o presente trabalho constitui a segunda parte da revisão sobre o referido grupo de medicamentos e nele são apresen- tados a sua relação estrutura-actividade e a sua farmacocinética, por forma a contribuir para um melhor conhecimento dos fármacos em estudo. Relação estrutura-actividade As moléculas que actuam como agonistas adrenér- gicos ß 2 apresentam uma estrutura essencialmente constituída por duas partes: o anel catecol base ou modificado e uma cadeia lateral com o grupo etano- lamina. Como atribuições primárias das suas acções é conferido ao anel uma importância ligada à potência, enquanto à cadeia lateral é imputada a selectividade (Dove e Franke, 1991; Morgan, 1990). Os mecanismos químicos envolvidos na potência ficam a dever-se, principalmente, a ligações de hidrogénio e a transferência de cargas ou seja, no fundo, a interacções promovidas por electrões. A afinidade para os receptores ß depende fundamental- mente das propriedades hidrofóbicas e/ou estereos- selectivas da cadeia lateral aminada. Estas propriedades podem ser também devidas ao anel aromático e vice-versa (Dove e Franke, 1991; Witkamp e van Miert, 1992). Assim, verifica-se que para uma feniletanolamina ter actividade biológica ao nível dos referidos recep- tores é necessário que apresente um anel aromático substituído, uma amina carregada positivamente na cadeia lateral com um substituinte volumoso e um grupo hidroxilo no carbono ß em posição levógira, conforme esquematicamente se representa na figura 1 (Guimarães, 1994; Ruffolo et al., 1995; Smith, 1998; Witkamp e van Miert, 1992). As substituições no anel aromático têm uma *Correspondente: e-mail: [email protected] Introdução A quantidade de fármacos utilizada na produção animal tem vindo a crescer exponencialmente, sobretudo devido às novas formas de pecuária inten- siva. O uso desses fármacos como promotores do crescimento, e dos agonistas adrenérgicos ß 2 em

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R E V I S TA P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

ARTIGO DE REVISÃO

Agonistas adrenérgicos ß2 e produção animal: II - Relação estrutura-actividade e farmacocinética

ß2 - Adrenergic agonist and animal productiII - Structure-activity relationship and pharmacokinetic

Fernando Ramos* e Maria Irene Noronha da Silveira

Centro de Estudos Farmacêuticos da FCT - Laboratório de Bromatologia, Nutrição e HidrologiaFaculdade de Farmácia - Universidade de Coimbra 3000 - 295 Coimbra

Resumo: O presente trabalho constitui a segunda parte deuma revisão sobre agonistas adrenérgicos ß2 e produção animale nele são apresentados a relação estrutura-actividade dosreferidos fármacos, bem como a sua farmacocinética. Narelação estrutura-actividade é analisada a importância dacadeia lateral e do anel aromático, bem como dos diferentessubstituintes, quer em relação à potência de cada um dosfármacos, quer em relação à sua selectividade para os receptoresß. As etapas de absorção, distribuição, metabolização e elimi-nação constituem o objecto da revisão efectuada quanto à far-macocinética. A absorção, após administração dos fármacos porvia oral, é especialmente estudada ao nível das diferentes par-tes do tracto gastro-intestinal. Os tempos de semi-vida dosagonistas adrenérgicos ß2 e a repartição destes pelos diferen-tes tecidos e órgãos são relacionados na etapa de distribuição,enquanto que na metabolização se dá especial atenção aosmetabolitos de fase II, ortometilados, glucoronoconjugados esulfoconjugados. A fase de eliminação, especialmente por viarenal, conclui este artigo de revisão, sendo dado particulardestaque à influência da acção simultânea de fármacos deoutros grupos na velocidade de eliminação dos agonistasadrenérgicos ß2.

Summary: This paper is the second part of a review on ß2-adrenergic agonists and animal production. Structure-activityrelationship of the referred drugs is described as well as theirpharmacokinetic. Aromatic ring and lateral chain drug struc-ture as well as different substitutes are described in order toknow its structure-activity relationship, mainly selectivityand potency for ß-receptors. Absorption, distribution, meta-bolisation and elimination steps are the main subjects of thepharmacokinetics review. Absorption studies in the differentparts of gastro-intestinal tract are related as a consequence oforal drugs administration. ß-agonists half-life and its tissuesand organs repartition are studied on distribution step. PhaseII metabolites, namely derivatives of O-methylation, glucuro-nidation and sulphation are described on metabolisation step.Finally, special attention is done for the influence of differentdrugs simultaneous action in the ß-agonists kidney elimination.

especial, levanta um conjunto de preocupações rela-cionadas com a sua segurança/toxicidade, concreta-mente quanto à presença dos seus resíduos na carnee vísceras.

Nesse sentido, e após abordagem, num primeiroartigo, do mecanismo de acção dos agonistas adre-nérgicos ß2 (Ramos e Silveira, 2000), o presentetrabalho constitui a segunda parte da revisão sobre oreferido grupo de medicamentos e nele são apresen-tados a sua relação estrutura-actividade e a suafarmacocinética, por forma a contribuir para ummelhor conhecimento dos fármacos em estudo.

Relação estrutura-actividade

As moléculas que actuam como agonistas adrenér-gicos ß2 apresentam uma estrutura essencialmenteconstituída por duas partes: o anel catecol base oumodificado e uma cadeia lateral com o grupo etano-lamina. Como atribuições primárias das suas acçõesé conferido ao anel uma importância ligada à potência,enquanto à cadeia lateral é imputada a selectividade(Dove e Franke, 1991; Morgan, 1990).

Os mecanismos químicos envolvidos na potênciaficam a dever-se, principalmente, a ligações dehidrogénio e a transferência de cargas ou seja, nofundo, a interacções promovidas por electrões. Aafinidade para os receptores ß depende fundamental-mente das propriedades hidrofóbicas e/ou estereos-selectivas da cadeia lateral aminada. Estaspropriedades podem ser também devidas ao anelaromático e vice-versa (Dove e Franke, 1991;Witkamp e van Miert, 1992).

Assim, verifica-se que para uma feniletanolaminater actividade biológica ao nível dos referidos recep-tores é necessário que apresente um anel aromáticosubstituído, uma amina carregada positivamente nacadeia lateral com um substituinte volumoso e umgrupo hidroxilo no carbono ß em posição levógira,conforme esquematicamente se representa na figura1 (Guimarães, 1994; Ruffolo et al., 1995; Smith,1998; Witkamp e van Miert, 1992).

As substituições no anel aromático têm uma*Correspondente: e-mail: [email protected]

Introdução

A quantidade de fármacos utilizada na produçãoanimal tem vindo a crescer exponencialmente,sobretudo devido às novas formas de pecuária inten-siva. O uso desses fármacos como promotores docrescimento, e dos agonistas adrenérgicos ß2 em

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entanto, mantendo o H na posição 3, a ocupação daposição 5 por Cl, Br, CF3, OCH3 (metoxi) ouCONH2 (carbonilamina) provoca uma diminuição dapotência, continuando a tomar o clembuterol comoreferência. Quando os dois Cl são substituídos pordois F há um aumento de potência, diminuindo essamesma potência quando a substituição é feita pordois Br, I ou CN (Asato et al., 1984).

A selectividade para os receptores ß2 pode seraumentada, segundo Brès et al. (1985), fazendo-se asubstituição do anel benzénico por um anel piridínico,como acontece com o pirbuterol, figura 3.

No que respeita à amina secundária na cadeia late-ral, e como se referiu atrás, figura 1, se o agonistaadrenérgico ß2 não se apresentar sob a forma iónicanão terá actividade biológica ao nível do receptor.Tal facto, porém, é impossível de ocorrer uma vezque, mesmo que os fármacos em análise fossemadministrados sob a forma livre, o pH do estômago,ainda que de herbívoros, ou do sangue, logo promo-veriam a sua protonação, atendendo ao pKa da aminada cadeia lateral (fenoterol - 10,0; salbutamol - 9,3;clembuterol - 9,7 e terbutalina - 10,1) (Smith, 1998)e ao facto de para valores de pH iguais ou inferioresa pKa – 2, cerca de 99% das moléculas se encontra-rem carregadas positivamente (Ramos et al., 1996)

O tipo de substituintes da amina da cadeia lateralcondiciona a actividade dos fármacos, parecendoesta aumentar com o tamanho daqueles, pelo menosaté certo volume (Brès et al., 1985; Hochhaus eMöllmann, 1992; Witkamp e van Miert, 1992). Nasérie de substituintes monociano ou clorociano noanel aromático consegue-se mesmo estabelecer umefeito decrescente da acção ß2 ao nível bronquiolarda seguinte ordem: terbutil > isopropil > terpentil >ciclobutil > ciclopropil > ciclopentil, conforme o

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influência preponderante na vida dos agonistas adre-nérgicos ß2, quer em mamíferos, quer em aves, bemcomo ao nível da eficácia no receptor. A actividadedas substâncias que apresentam um ou mais gruposfenol no anel aromático (A, B ou C, figura 1) estárelacionada com a “visibilidade” desse(s) grupo(s),sendo conseguida através de ligações por pontes dehidrogénio entre o fenol e o grupo hidroxilo da seri-na existente no receptor. Na figura 2 encontra-seesquematizada uma das melhores formas de exem-plificar o que atrás fica dito: o bambuterol (x),pró-droga da terbutalina (z), necessita de ser hidroli-sado por uma estearase, no caso a butirilcolinesterase,para ser activo ao nível dos receptores ß2 (Lindberget al., 1989; Morgan, 1990).

Por outro lado, o núcleo catecol permite uma rápidadesactivação através da metilação na posição 3 pelaCOMT, catecolamina orto-metil transferase, o quelimita o efeito destas substâncias. Os grupos resorcinol,terbutalina e fenoterol, ou simples fenol na posição4, salmeterol e salbutamol, não são substractos daCOMT e por isso não são inactivados por esse meca-nismo (Hochhaus e Möllmann, 1992; Smith, 1998;Morgan, 1990; Witkamp e van Miert, 1992). Paraevitar a inactivação, resultante quer da sulfatação,quer da glucoronoconjugação, como veremos mais àfrente, sintetizaram-se compostos com substituintesde átomos de halogéneo em vez de hidroxilos, deque o clembuterol e análogos são exemplo. Osátomos de halogéneos, sendo compatíveis com aligação ao receptor, previnem a rápida desactivaçãometabólica que ocorre com os grupos hidroxilo doanel aromático. As substituições por halogéneosaumentam a lipofilia da porção aromática em relaçãoaos agonistas adrenérgicos hidroxilados, prolongando,assim, a duração da sua acção (Brès et al., 1985;Morgan, 1990; Smith, 1998).

Asato et al. (1984) afirmam que a substituição deum dos cloros do clembuterol por fluor (F), trifluor-metil (CF3) ou ciano (CN) resulta num aumento depotência, o que só é confirmado para o CN por En-gelhardt (1984). Contudo, este efeito é fortementeatenuado se substituirmos o segundo cloro porbromo (Br) ou por outro ciano (Engelhardt,1984).Um aumento de potência é, também, referidoquando o cloro na posição 3 é substituído por hidro-génio (H) e o outro, na posição 5, por F ou CN. No

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Figura 1 - Esquema de feniletanolamina com actividade noreceptor ß2.

Figura 2 - Fórmulas estruturais do bambuterol (x) e da terbuta-lina (z).

Figura 3 - Fórmula estrutural do pirbuterol.

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substituinte da amina da cadeia lateral (Engelhardt,1984).

Um grupo N-aril-alquil na cadeia lateral parecefavorecer a especificidade para os receptores ß3,conforme o afirmam Ruffolo et al. (1995) e Grandiet al. (1998), assegurando estes últimos, ainda, que asubstituição na posição 3 do anel aromático afecta aafinidade para os referidos receptores chegandomesmo a definir a seguinte ordem decrescente, Cl >OCH3 > NO2 >> H, o que parece sugerir que acapacidade lipofílica é importante na afinidade parao receptor ß3, uma vez que o cloro é o mais lipófilodos substituintes ensaiados.

Finalmente, verifica-se que o grupo hidroxilo dacadeia lateral ligado ao carbono ß em relação à amina,nomeadamente a sua configuração estereosselectivalevógira (Hieble et al., 1995; Smith, 1998), éimprescindível quer para a potência, actividadeintrínseca, quer para a afinidade, propriedade extrín-seca (Brès et al., 1985; Dove e Franke, 1991; Wi-tkamp e van Miert, 1992).

Farmacocinética

A farmacocinética, definida genericamente comoestudo quantitativo do comportamento dos fármacosno organismo, enquadra-se, tradicionalmente, emquatro etapas: Absorção, distribuição, metabolizaçãoe eliminação.

Absorção

A absorção, chegada do fármaco ao sangue,depende, fundamentalmente, da via de administração.

Os agonistas adrenérgicos ß2 são bastante utilizadospor via inalatória em medicina humana, uma vez quepara o fim a que mais frequentemente se destinam,acção a nível bronco-pulmonar, é a que apresentamais vantagens, apesar das diferenças de indivíduopara indivíduo (Hocchaus e Möllmann, 1992).

A utilização dos fármacos referidos em medicinaveterinária, e sobretudo como promotores do cresci-mento animal, recorre, principalmente, à via oral,onde o pH do tracto gastro-intestinal influencia olocal de absorção. O pH do estômago, independente-mente da espécie ou da idade do animal, favorece aformação de um catião na amina alifática, enquantoa natureza mais neutral do duodeno, jejuno e íleo,principalmente estes dois últimos, promovem a reduçãoda extensão da ionização e aumentam a absorçãopassiva através da mucosa intestinal (Smith, 1998).Yuge et al. (1984), num estudo com ratos, demons-traram o que atrás se disse provando que o mabuterol,administrado oralmente, não é absorvido no estômago,sendo, no entanto, facilmente absorvido no intestinodelgado.

A absorção gastro-intestinal do mabuterol noHomem é, também, completa (Anónimo, 1987), omesmo se verificando para o clembuterol que seconsegue determinar no plasma vinte minutos após asua administração oral (Meyer e Rinke, 1991), atin-gindo um máximo de concentração plasmática 2 a 3

horas após a toma (Boenisch e Quirke, 1992).Witkamp e van Miert (1992), num artigo de revisão,

referem que a absorção humana de agonistas adre-nérgicos ß2, após administração oral, varia entre10 - 20% para a terbutalina, 30% para ritodrina, 40- 50% para salbutamol, 80 - 90% para clembuterol e90% para mabuterol, permitindo estes dados concluirpela utilização de clembuterol e de mabuterol quandose pretende a via oral para administração. Na figura4 podem ser observadas as fórmulas estruturais declembuterol, mabuterol, salbutamol e ritodrina.

A nível parenteral, importa chamar a atenção parao caso da terbutalina onde a via sub-cutânea permiteuma muito mais rápida absorção do que a via oral ecom uma biodisponibilidade praticamente total, oque, como já foi referido, não acontece com a viaoral (Morgan, 1990).

Distribuição

A distribuição, como o nome indica, está relacio-nada com os movimentos dos fármacos desde o san-gue até aos mais diversos sítios, sejam eles de acção,metabolização, eliminação ou, mesmo de armazena-mento.

A actividade plasmática dos agonistas adrenérgi-cos ß2 mostra tempos de semi-vida (t1/2ß) bastantevariáveis. A título de exemplo, refira-se que no Ho-mem, o tulobuterol, cuja estrutura química se repre-senta na figura 5 juntamente com as do formoterol edo salmeterol, apresenta um tempo de semi-vida de2,4±0,4 horas (Chasseaud e Wood, 1986), o salbuta-mol 5 horas, o formoterol 8 a 12 horas, o salmeterol12 horas (Löfahl, 1990), enquanto clembuterol (Ya-mamoto et al., 1985) e mabuterol (Anónimo, 1987)apresentam um período mais longo, cerca de 30 ho-ras. O clembuterol apresenta, ainda, uma semi-vidaque pode ser de 10 ou 24 horas, respectivamente emcoelhos e em ratos (Yamamoto et al., 1985), vinteem avestruzes (van der Merwe et al., 1998) e cerca

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Figura 4 - Fórmulas estruturais de clembuterol, mabuterol, salbu-tamol e ritodrina

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de três (Dave et al., 1998) ou dezoito (Meyer eRinke, 1991), em bovinos. O cimaterol em bovinos eo fenoterol em ratos não vão além de 1 e 2 horas,respectivamente, implicando, nestes últimos doiscasos, a administração oral frequente para manter onível plasmático necessário à produção do efeitodesejado (Byrem et al., 1992). Na figura 6 represen-tam-se as fórmulas estruturais do cimaterol e dofenoterol.

A distribuição dos agonistas adrenérgicos ß2 atra-vés de ligação às proteínas plasmáticas é baixa oumesmo quase nula, excepção feita naturalmente aclembuterol e outros mais lipossolúveis. Estapropriedade explicará que, a nível sanguíneo, apresença deste tipo de fármacos ocorra durantecurtos períodos de tempo, podendo-se, em contra-partida, encontrar a sua presença mais prolongadaem quase todos os outros tecidos (Morgan, 1990;Morgan et al., 1986; Price e Clissold, 1989).

O mabuterol pode ser encontrado, sobretudo, nofígado, pulmões e rins, quando a administração éoral, ou pulmões, rins e orgãos secretores, como assuprarrenais e o pâncreas, quando a administração éendovenosa (Yuge et al., 1984).

A maior parte do salbutamol administrado a bovi-nos pode ser encontrada nos tecidos, fígado, rim,músculo, pulmão, baço e cérebro, sob a forma livre.Apenas no coração parece haver mais salbutamolsulfatado que livre (Montrade et al., 1992).

Saux et al. (1986) estudaram a distribuição doclembuterol e do salbutamol, em diversos tecidoscaninos, administrados por via endovenosa nas con-centrações de 5 e 50 µg/kg, respectivamente. Oclembuterol e, em menor grau, o salbutamol apre-sentam boa difusão pulmonar e brônquica, 3 a 4vezes ou 1,5 a 2 vezes melhor que no plasma,respectivamente. O clembuterol, mais lipossolúvel,tem pouca difusão no músculo cardíaco, 0,6 vezesquando comparado com o plasma, enquanto o salbu-tamol apresenta uma difusão elevada no miocárdio,2,5 vezes, tomando o plasma como referência.

A pele preta de vitelos contém cerca de seis vezesmais clembuterol que a pele branca e a nível ocular airis e a retina/coróide concentram a grande maioriade resíduos deste agonista adrenérgico ß2, ficando adever-se esta fixação de clembuterol à quantidade detecido pigmentado que possuem o pêlo negro e aretina, sobretudo (Dürsch et al., 1993; Howells etal., 1994; Meyer e Rinke, 1991; Sauer e Anderson,1994). Pulmão, fígado e rim são os tecidos, paraalém dos já referidos, aqueles onde, a seguir, seencontra mais clembuterol (Smith, 1998; Smith ePaulson, 1997).

A passagem da barreira hemato-encefálica é umacapacidade atribuída ao clembuterol (Bareille et al.,1997; Lafontan et al., 1988; Saux et al., 1986), veri-ficando-se que o salbutamol é referido como quasenão sendo capaz de ultrapassar a supracitada barreiraem cães (Saux et al., 1986) ou como conseguindopenetrá-la no Homem (Lulich et al., 1986; Price eClissold, 1989), fixando-se, contudo, mais ao nívelda glândula pineal e da pituitária do que no cérebropropriamente dito (Caccia e Fong, 1984). Por outrolado, Fernandes (1995) avança com a hipótese deuma paralisia dos membros posteriores de suínosatribuída a agonistas adrenérgicos ß2 (Lafontan etal., 1988) poder, também, corroborar a passagem dabarreira hemato-encefálica, uma vez que tal paralisiaseria resultante de uma perturbação da actividadedos neurónios, devida aos citados fármacos.

Curiosamente, na circulação fetal humana, pareceexistir uma protecção a elevadas doses na circulaçãomaterna, nomeadamente de terbutalina, salbutamol efenoterol, que não são observáveis no feto, o quepossibilita que não seja necessário eventuais ajustesterapêuticos ao nível da dose durante a gravidez(Hochhaus e Möllmann, 1992; Price e Clissold,1989).

O mabuterol, apesar de mais lipófilo que osanteriores, também não apresenta uma passagem sig-nificativa da barreira placentária (Anónimo, 1987;Yuge et al., 1984) o que permite alargar a conclusãoanterior aos agonistas adrenérgicos ß2 no geral.

Metabolização

As catecolaminas fisiológicas adrenalina e nora-drenalina são, em geral, inactivadas por dois passosmetabólicos importantes, nomeadamente aorto-metilação fenólica do anel aromático viaCOMT e a desaminação oxidativa da cadeia lateralatravés da MAO, monoaminoxidase, conforme se

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Figura 5 - Fórmulas estruturais de tulobuterol, formoterol esalmeterol

Figura 6 - Fórmulas estruturais de cimaterol e fenoterol

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pode observar na figura 7 (Guimarães, 1994; Gustinet al., 1989).

Acresce que, embora tal não seja evidente na figura7, a adrenalina sofre principalmente os efeitos daCOMT, sendo os seus principais metabolitos, paraalém do VMA (3), metadrenalina (2) e MOPEG (5),enquanto a noradrenalina sofre preferencialmente adesaminação, originando, para além do VMA (3),metabolito final das duas catecolaminas, normeta-drenalina (2) e DOPEG (4), sendo os aldeídos e o áci-do di-hidroximandélico apenas metabolitos detransição para qualquer dos casos (Guimarães, 1994).

A metabolização dos agonistas adrenérgicos ß2,enquanto derivados das catecolaminas fisiológicas,tenderá a seguir os mesmos passos. Contudo, e comojá se verificou anteriormente, outros aspectos há aconsiderar. Assim, dada a presença de muitos gruposOH na estrutura dos fármacos em estudo, as reacçõesde fase I, oxidação, hidroxilação ou desalquilação,por exemplo, que têm como principal objectivoaumentar a polaridade das moléculas com vista à suaeliminação, não são, geralmente, observáveis (Saueret al., 1996).

As reacções de metabolização serão, portanto,sobretudo de fase II, conjugação dos grupos polaresiniciais através de derivados ortometilados, glucoro-noconjugados ou sulfoconjugados, dando origem ametabolitos normalmente desprovidos de actividade(Brès et al., 1985).

Os fármacos que não apresentam estrutura catecol,mas apresentam grupos hidroxilo no anel aromático,sofrem metabolização por glucoronconjugação ousulfoconjugação, sendo o fígado e o tracto digestivoos locais privilegiados para a sua efectivação (Peyrinet al., 1986; Smith, 1998; Witkamp e van Miert,1992). As enzimas que promovem a conjugação dosagonistas adrenérgicos ß2 são a PST, fenolsulfo-transferase, que cataliza a reacção de esterificaçãoentre um OH fenólico e um grupo sulfato, sendo asposições passíveis de sulfoconjugação a 3 e a 4 doanel aromático, embora esta última seja a preferida(Peyrin et al., 1986; Morgan, 1990; Smith, 1998;Witkamp e van Miert, 1992). A UDPGT, uridinadifosfato glucoroniltransferase, é a enzima responsávelpela glucoronoconjugação (Peyrin et al., 1986).

A sulfoconjugação é predominante em bovinos(Montrade et al., 1992) e em humanos (Brès et al.,1985; Hochhaus e Möllmann, 1992; Lin et al., 1977;Price e Clissold, 1989), ocorrendo nestes últimos, nocaso de administração oral, logo ao nível da paredeintestinal, antes, por isso, da absorção, dando origema esteres sulfúricos bastantes estáveis.

A glucoronação parece ter um papel de menorimportância, pelo menos em humanos, onde só pareceacontecer com ritodrina usada como tocolítico, veri-ficando-se a existência, neste caso, de conjugadosglucorónicos e sulfatados, em partes iguais, que nãoparecem possuir actividade farmacológica (Morgan,

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Figura 7 - Principais etapas de biotransformação das catecolaminas (Adaptado de Guimarães, 1994).

Legenda:1 - Adrenalina(R = CH3) / Noradrenalina (R = H) 2 -Metadrenalina(R=CH3)/Normetadrenalina(R=H)3 - Ácido 3-metoxi 4-hidroximandélico (VMA)4 - Di-hidroxifeniletilglicol (DOPEG)5 - 3-metoxi 4-hidroxifeniletilglicol (MOPEG)

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1990; Witkamp e van Miert, 1992). Porém, Delahautet al. (1993) afirmam que o salbutamol na urina debovinos aparece sobretudo sobre a forma de gluco-rónido, enquanto Hochhaus e Möllmann (1992),no coelho e no rato, atestam a importância da gluco-roconjugação sobre a sulfoconjugação.

Não se pense, porém, que a falta de grupos hidro-xilo no anel aromático é sinónimo de ausência debiotransformação.

O tulobuterol, figura 5, sem qualquer função OH esem substituintes nas posições 3, 4, 5 e 6 do anelaromático, é metabolizado pelo Homem e pelo ratoatravés de uma reacção de fase I, hidroxilação noanel aromático, com formação de 4-hidroxitulobuterole 5-hidroxitulobuterol, sobretudo, mas também dedois metabolitos menores, o 3-hidroxitulobuterol e o4-hidroxi-5-metoxitulobuterol (Brès et al., 1985).

Os estudos da metabolização do tulobuterol emcaninos, ratos, coelhos e cobaias demonstraram queeste fármaco apresentava metabolitos hidroxiladosque poderiam vir a sofrer conjugação posterior oumesmo a acção da COMT, sobretudo na posição 3(Matsumura et al., 1982).

Schmid e colaboradores, citados por Boenish eQuirke (1992) e por Smith (1998), num estudo comcaninos, demonstraram que o clembuterol tambémera sujeito a metabolização por conjugação glucoró-nica do ß-hidroxilo e da amina alifática e sulfataçãoda amina aromática.

No entanto, quer o estudo citado no parágrafoanterior, quer os realizados por Horiba et al. (1984)com mabuterol em ratos e por Zalko et al. (1996)com clembuterol em bovinos e em ratos, demonstra-ram que a via oxidativa era a mais importante e queoriginava, sobretudo, transformações na cadeia lateral.O mesmo grupo (Zalko et al., 1998) num estudomais recente com ratos, encontrou um metabolitoimportante resultante da oxidação da amina primáriado clembuterol, (Z) da figura 8, ao mesmo tempoque deparou com diferenças de metabolização entremachos e fêmeas.

Na figura 8 podemos observar os diferentes passosde metabolização anteriormente referidos, sendopossível esclarecer que, independentemente dofármaco em questão, o metabolito principal é semprea droga-mãe (ß) que, segundo Sauer et al. (1996)para o caso concreto do clembuterol se estima, nomínimo em 93% da quantidade inicial administrada.

Os metabolitos A, B, C, D e E são descritos comopodendo ser originários de qualquer um dos medica-mentos (Boenisch e Quirke, 1992; Horiba et al.,1984), enquanto os compostos 1 e 2 são referidoscomo tendo o mabuterol por percursor (Horiba et al.,1984) e os S, T, U, V, W, X, Y e Z como possuindo asua base no clembuterol (Boenisch e Quirke, 1992;Zalko et al., 1998).

Como se verifica, enquanto nos casos do mabuterole do clembuterol se encontram, especialmente, meta-bolitos com origem na cadeia lateral, nos agonistasadrenérgicos ß2 com grupos hidroxilo no anel aro-mático encontram-se, sobretudo, conjugados gluco-rónicos e sulfatados.

Eliminação

A eliminação de agonistas adrenérgicos ß2 estádependente da via de administração. Assim, a admi-nistração por via parenteral leva, fundamentalmente,à excrecção renal sem qualquer modificação da dro-ga-mãe, enquanto por via oral a metabolizaçãoprévia surge quase como inevitável na maioria doscasos (Morgan, 1990).

Vários estudos demonstram a afirmação anterior,como por exemplo:

A eliminação do salbutamol, após administraçãooral, faz-se preferencialmente sob a forma conjugada,48,2%, enquanto que sob a forma livre se encontraapenas 31,8% do fármaco administrado. Quando aadministração é endovenosa, acontece precisamenteo contrário, 64,2% de salbutamol é excretado inalte-rado e só 12,0% é eliminado sob a forma conjugada(Morgan et al., 1986);

O mabuterol, 24 horas após a administração, sejaper os, seja por via endovenosa, é eliminado pelosratos na urina em cerca de 60% e 22 a 26% nas fezes(Anónimo, 1987; Yuge et al., 1984). No Homem,porém a excreção faz-se, sobretudo, por via urinária,80%, com a via fecal a ser apenas de 3% (Anónimo,1987);

A eliminação de clembuterol em bovinos, tal comoem coelhos, caninos e ratos, ocorre fundamental-mente por via urinária e sob a forma de compostoinalterado (Boenisch e Quirke, 1992);

A nível da excreção pelas fezes verifica-se, também,que o clembuterol em bovinos apresenta uma elimi-nação reduzida com valores inferiores a 2,5% daquantidade global administrada (Smith e Paulson,1997) e que em ratos essa quantidade não pode serignorada, já que atinge percentagens de 20 e 30%,respectivamente para machos e fêmeas (Zalko et al.,1998);

O cimaterol, 8 horas após administração oral emvitelos, é apenas recuperado em 18,3% na urina(Byrem et al., 1992).

No que diz respeito à excreção biliar de agonistasadrenérgicos ß2 ou dos seus metabolitos, ela pareceser específica de cada espécie e de cada compostoem particular.

Por exemplo (Morgan, 1990; Smith, 1998): A ractopamina, figura 9, em perus e ratos tem uma

elevada excreção biliar, 35 a 60%, enquanto em suí-nos a sua eliminação é predominantemente urinária,88%;

A eliminação biliar do salmeterol é importante emcães e ratos, 42 a 72%;

A terbutalina em ratos tem uma excreção biliarsubstancial, 30%, mas bastante menor em humanos eem cães, aproximadamente 2%.

A terbutalina, por sua vez, foi encontrada no leitede mulheres que amamentavam em concentraçõessimilares às que existem biodisponíveis no plasma,logo muito pouco, o que originaria, em média, umadose equivalente a cerca de 1% da do adulto, nãotendo sido observados quaisquer efeitos adversosnos lactentes (Morgan, 1990). O salbutamol e oclembuterol, para além da terbutalina, foram

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também encontrados em leite de vaca (Smith, 1998),admitindo-se, ainda, que o mabuterol possa sereliminado pelo leite da mulher que amamente (Anó-nimo, 1987).

Diversos estudos têm sido realizados com o objecti-vo de avaliar a influência de vários medicamentos,quando administrados simultaneamente, na excreçãode agonistas adrenérgicos ß2. Stevenson et al. (1990)fizeram o estudo da influência da furosemida na eli-minação de diversos fármacos do plasma e da urina,

incluindo clembuterol, em cavalos de corrida. Se emrelação ao plasma, os autores não conseguiram deter-minar o clembuterol, com ou sem furosemida, em re-lação à urina determinaram uma diminuição da suaconcentração, embora a atribuissem a um efeito de di-luição provocado pelo aumento da quantidade de uri-na devido à furosemida e não a nenhuma alteração naexcreção urinária do clembuterol propriamente dita.Witkamp et al. (1996), num estudo com salbutamolem ratos, confirmaram este efeito da furosemida.

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Figura 8 - Etapas do metabolismo do clembuterol e do mabuterol (adaptado de Boenisch e Quirke, 1992 eHoriba et al., 1984)

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Atendendo que a excreção do clembuterol se fazpreferencialmente por via renal e sob a forma catió-nica, seria de prever que as substâncias capazes deinfluenciar o transporte catiónico renal interferissemnaquela excreção urinária. Assim, a eliminação declembuterol, num estudo com vitelos, foi reduzidapara cerca de 35%, 80% ou 85% quando houveadministração simultânea, respectivamente, de tri-metoprim, famotidina ou probenecide. Contudo,mesmo aquando da administração de trimetoprim,probenecide ou pirazinamida, conseguiu-se determinaro clembuterol, pelo que a sua utilização não pode ser“mascarada” pelos medicamentos referidos (Gleix-ner et al., 1996 e 1997).

A cimetidina, pelo contrário, quando administradasimultaneamente com o clembuterol, aumenta para500% a eliminação renal deste (Gleixner et al., 1997),enquanto a dexametasona, nas mesmas condições quea cimetidina, diminui a excreção fecal do agonista emcausa (Groot et al., 1998). Já quanto ao probenecide eao salbutamol, nas primeiras oito horas após a admi-nistração, Witkamp et al. (1996), verificaram umaumento da concentração de salbutamol na urina,num valor de cerca de 2 vezes superior ao grupo decontrolo, que atribuíram à diminuição da quantidadede urina excretada provocada pelo probenecide.

Também o pH urinário pode afectar a reabsorçãotubular dos agonistas adrenérgicos ß2 tendo em aten-ção o valor do pKa do grupo amina da cadeia lateral(9 -10) o que nos leva a concluir que quanto maiselevado for o pH da urina maior reabsorção haverá(Guimarães, 1994; Witkamp et al., 1996). Nos resul-tados obtidos com bicarbonato de sódio e cloreto deamónio, substâncias co-administradas com salbutamola ratos, não houve alteração significativa do pH daurina, quando comparada com o grupo de controlo(Witkamp et al., 1996).

No mesmo estudo (Witkamp et al., 1996), o feno-barbital, medicamento capaz de induzir a metaboli-zação através de oxidação ou de conjugação, foi oúnico dos fármacos ensaiados que provocou umaligeira diminuição do salbutamol excretado na urina,sobretudo a partir do segundo dia de administração.

Duma forma geral, podemos então dizer que aeliminação dos agonistas adrenérgicos ß2 se fazmais rapidamente no plasma e na urina do que nostecidos, com o clembuterol a ser eliminado maislentamente que o salbutamol (Witkamp e van Miert,1992), parecendo ser a truta o animal em que maislentamente é excretado (Smith, 1998).

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Figura 9 - Fórmula estrutural da ractopamina

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Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. Apartado 202. 5001-911 Vila Real Codex. Portugal.

A identificação, caracterização e registo de estadospatológicos de suíno em matadouro constitui uma fonte dedados importante para o controlo da condição sanitária dasexplorações. Para tal, existem actualmente vários sistemas declassificação das lesões encontradas em matadouro, de formaa que a informação resultante seja organizada, de formaobjectiva, precisa e minuciosa, permitindo a sua eficienteutilização. A aplicação deste sistema de monitorização pelosveterinários responsáveis pela sanidade animal nas explora-ções, constitui uma ferramenta válida para o controlo emelhoria do perfil sanitário das explorações pelas quais sãoresponsáveis. O presente trabalho descreve, de uma formaresumida, alguns dos sistemas de classificação de lesões e/ouestados patológicos que podem ser encontradas em matadouro,nomeadamente Pneumonia enzoótica, Pleurisia, Rinite atrófi-ca, Hepatite parasitária ( , Nefrite interstic i a lmultifocal, Sarna sarcóptica ( ) e A r t r i t e s .

Disease surveillance in slaughterhouse it’s an im-portant source of data for health condition control of the pigs’herds. For this purpose there are several classificationsystems of the lesions found in slaughterhouse, enabling toorganise, with precision and in detail, the information found.Only in this way, this information can be efficiently used bythe veterinary responsible for the animal health status. T h emain aim of this work is to help these veterinarians to imple-ment this slaughter-monitoring system, using it as a robusttool to improve sanitary conditions of the herds for whichthey are responsible. To reach the aim of this work, it will besuccinctly described some of the classification systems of le-sions or pathologies that could be found in the slaughter-hou-se, such as Enzootic pneumonia, Pleurisy, Atrophic rhinitis,Ascarid liver lesions ( , Multiples interstitialnephrites, Sarcoptic mange ( ) and Arthritis.

uma vez que permite identificar a ocorrência de doen-ças subclínicas nos efectivos, estimar a prevalência equantificar a gravidade de lesões que representammanifestações de doenças. Permite, ainda, avaliar osbenefícios obtidos pela implementação de novaspráticas de maneio, alterações no ambiente e esquemasterapêuticos e imunoprofilácticos, bem como definirprioridades de acções no serviço de assistência técnicae identificar factores de risco associados a doenças.

O registo e classificação das patologias no mata-douro é uma das componentes do Sistema Integradode Controlo de Qualidade, no qual o matadourodesempenha um papel central possibilitando o registoorganizado das lesões observadas nos animais abati-dos, tendo em consideração a sua exploração deorigem (GIL, 2000). Para tal, existem actualmentevários sistemas de classificação das lesões encontra-das em matadouro que permitem sistematizar ainformação recolhida. Esta informação deve serrecolhida para uma ficha organizada para o efeito,como por exemplo a apresentada na figura 1.

O presente trabalho descreve, de uma forma resu-mida, sistemas de classificação para algumas daslesões e/ou patologias encontradas em matadouro,nomeadamente Pneumonia enzoótica, Pleurisia,Rinite atrófica, Hepatite parasitária ( ,Nefrite intersticial multifocal, Sarna sarcóptica eArtrites.

As lesões características de Pneumonia enzoótica( ) surgem como áreasde consolidação (hepatização) do parênquima pul-m o n a r, principalmente a nível dos lobos apicais ecardíacos (Fig. 2) (TAYLOR, 1986 e POINTON

., 1992).Quando se avalia o significado da pneumonia em

suínos, deve considerar-se paralelamente a influên-cia de determinadas patologias e infecções secundá-rias. Por exemplo, sabe-se que o aumento daprevalência de Rinite atrófica e de Ascaridiose estáassociado a um concomitante aumento de pneumoniae que existe uma correlação positiva entre a preva-lência de pneumonia e a de pleurisia, sugerindo que*Correspondente: e-mail: [email protected]

Existem muitos estados patológicos que compro-metem negativamente os índices de produtividade ea rentabilidade das suiniculturas, os quais podem sermonitorizados em matadouro, através do exameperiódico de um número de animais representativodo efectivo (MORÉS ., 2000). Segundo POIN-TON . (1992) e MORÉS . (2000) este sistemade monitorização assume uma importância r e l e v a n t e ,

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178

Neste sistema, as lesões de hepatização pulmonarsão classificadas utilizando-se a graduação apresen-tada no Quadro 1.

o controlo da primeira reduza a incidência da segun-da. De salientar também que a prevalência e o graude lesão de pneumonia é um excelente indicador dascondições de exploração dos animais, como porexemplo uma deficiente ventilação (POINTON

, 1992).Existem inúmeros sistemas de classificação das

lesões de pneumonia enzoótica. Neste trabalho, fare-mos referência ao sistema de classificação descritopor MORÉS . (2000), o qual avalia independen-temente cada lobo pulmonar, sendo este dividido emquatro partes iguais, correspondendo cada uma a25% do lobo (Fig. 3).

et al

Exemplo de uma ficha para a recolha de dados no matadouro

Pulmão com focos de hepatização nos lobos apical e cardíaco.(Fonte: AFIS: Arquivo Fotográfico de Inspecção Sanitária - UTA D ) .

Divisão dos lobos pulmonares para classificação daslesões. (Adaptado de MORÉS ., 2000).

Sistema de classificação das lesões de pneumoniaenzoótica (Adaptado de MORÉS . 2000).

Segundo POINTON . (1992) a natureza daslesões (aguda ou crónica) deve ser também avaliadae registada.

Segundo POINTON . (1992) e CUBERO . (1997) alguns dos agentes etiológicos primários

responsáveis pela pleurisia, associada ou não à infla-

APICALESQUERDO

APICALDIREITO

CARDIACOESQUERDO

CARDIACODIREITO

ACESSÓRIO

DIAFRAGMÁTICOESQUERDO

DIAFRAGMÁTICODIREITO

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pode verificar-se a existência de focos característicosde necrose no parênquima pulmonar, os quais podemestar encapsulados e abcessos pulmonares. Podemo b s e r v a r-se ainda pleurisia e pericardite fibrinosacom aderências (SOBESTIANSKY ., 1999).

Os prejuízos que advêm da pleuropneumonia são,para além da elevada mortalidade na forma aguda, ofraco desenvolvimento dos animais na forma crónicae as rejeições no matadouro (TAYLOR, 1986; POIN-TON ., 1992; SOBESTIANSKY ., 1999).

As lesões de rinite atrófica (Fig. 4), provocadaspor e estirpes toxigénicasde , podem ser classificadasrecorrendo aos sistema proposto por ITP (1994), noqual, cada concha nasal, assim como o tabique nasal,são avaliados entre 0 e 4, segundo os critérios des-critos nos Quadros 3 e 4.

A classificação final, obtida pela adição dos valo-res obtidos para cada uma das quatro conchas e parao tabique, fica compreendida entre 0 e 20.

Para avaliar o grau das lesões é necessário seccionartransversalmente o focinho a nível do 1º pré-molar(Fig. 5).

Sistema de classificação das lesões de rinite atrófica refrentes à deformação sofrida pelo tabique nasal (Adaptado de ITP, 1994).

179

mação de outras serosas, são ,, ,

, e. Julgamos importante acrescentar

que quando a inflamação de várias serosas não éacompanha de artrite, será pouco provável que osresponsáveis etiológicos sejam

e , uma vez que estes doisagentes apresentam uma elevada afinidade pelas ar-ticulações (POINTON ., 1992).

A classificação adoptada neste trabalho, descritano quadro seguinte, prevê a presença ou ausência delesão, a localização da pleurisia (costal e/ou visceral)e o seu carácter agudo ou crónico.

Quando a pleurisia apresenta lesões característicasda infecção por ,ainda que não seja classificada separadamente, deveser registada como pleuropneumonia.

Esta pleuropneumonia, é uma entidade clínicaindependente, normalmente restrita à cavidade torá-cica, na qual os lobos diafragmático e cardíaco direitossão envolvidos com maior frequência e a pleuraadjacente às lesões pulmonares está, invariavelmente,afectada (POINTON ., 1992).

Nos casos agudos, que conduzem a uma elevadamortalidade, as lesões encontradas são áreas deconsolidação pulmonar de aspecto hemorrágico,recobertas por espessa camada de fibrina, para alémde exsudação serofibrinosa e fibrino-sanguinolentanas cavidades pleural e pericárdica. Na forma crónica,aquela que surge mais frequentemente em matadouro,

et al

Sistema de classificação das pleurisias (Adaptado dePOINTON ., 1992 e MORÉS ., 2000).

Lesão de rinite atrófica (Adaptado de ITP, 1994)

Sistema de classificação das lesões de rinite atrófica para cada concha nasal (Adaptado de ITP, 1994).

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A monitorização destas lesões pode ser usada paracontrolar a eficácia dos programas de desparasitação.Para além dos custos directos da infestação por ascaris,existe um potencial efeito indirecto desta parasitoseno aumento do índice de conversão e na exacerbaçãodas patologias respiratórias devido às migrações lar-vares. Os prejuízos que advêm das rejeições dosfígados no matadouro devem ser igualmente consi-derados (TAYLOR, 1986; BERNARDO ., 1990;P O I N TON ., 1992; SOBESTIANSKY . ,1999; MORÉS ., 2000).

A importância do registo das lesões de nefriteintersticial multifocal resulta destas poderem estarassociadas à leptospirose (BAKER ., 1989).P O I N TON . (1992) referem o isolamento deLeptospira em 83% de 42 rins reprovados na inspecçãosanitária por presença de nefrite intersticial mult i f o-cal. Estas lesões podem ser classificadas utilizando-se agraduação apresentada no Quadro 6.

180

et al

Local de secção do focinho para avaliar as lesões dasconchas nasais e apresentação esquemática do corte transversal dofocinho (Adaptado de ITP, 1994).

Representação esquemática de vários graus de lesãode rinite atrófica e sua respectiva classificação (Adaptado de ITP,1994).

A Figura 6 apresenta, de uma forma esquemática,alguns exemplos de vários graus de lesão de riniteatrófica segundo o sistema anteriormente mencionado.

(

O fígado parasitado pode ser avaliado de acordocom o número de focos de hepatite intersticial pro-vocadas por ("manchas leitosas"), uti-lizando-se a graduação referida no Quadro 5.

Classificação das lesões de hepatite intersticial pro-vocadas por (Adaptado de MORÉS . 2000).

Hepatite intersticial multifocal compatível com(“manchas leitosas”) (Fonte: AFIS).

Classificação das lesões de nefrite intersticial multi-focal (Adaptado de POINTON, , 1987)

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et al

Nefrite intersticial multifocal (Fonte: AFIS).

As lesões de dermatite por hipersensibilidade aoácaro var agente etiológicoda sarna sarcóptica, podem ser classificadas utilizan-do-se a classificação apresentada no Quadro 7, e quese encontra representada na Figura.

Classificação das lesões de dermatite (Adaptado dePOINTON ., 1992 e MORÉS ., 2000).

Representação esquemática de vários níveis de severi-d a d e de sarna (Adaptado de MORÉS ., 2000).

Segundo CARGILL e DOBSON (1979) cit. porP O I N TON . (1992) a sarna sarcóptica podecomprometer a produção por uma redução na taxade crescimento e um aumento no índice de conver-são devido à hipersensibilidade aos ácaros.

As artrites purulentas (Fig. 11) e as poliartrites (Fig.12), representam uma das principais causas de re-provação dos suínos. Tal facto foi comprovado porCUBERO . (1997), os quais concluíram que apoliartrite foi a principal causa de reprovação de 661

- Lesões compatíveis com hipersensibilidade a sarna(Nível 1) (Fonte: AFIS).

Artrite purulenta (Fonte: AFIS).

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exploração, os quais, em colaboração no matadouro,possam utilizar a inspecção sanitária como uma fon-te de dados mais objectivos e precisos relativamenteàs lesões e estados patológicos encontrados, factorimportante para monitorizar o estado sanitário dasexplorações, caminhando assim para o que se enten-de por inspecção integrada.

Agradecemos à Dra. Alexandra Campos a sua con-tribuição em material fotográfico que muito serviupara enriquecer a apresentação deste trabalho.

BAKER, T. F.; McEWENS, S.A.; PRESCOTT, J. F. (1989).

. Cn. J. Vet. Res.,53, 290-294.

BERNARDO, T. M.; DOHOO, I. R.; DONALD, A. (1990

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CUBERO MARTIN, G.; YA N G U E L A M A RTINEZ, J.; HER-RERA MARTEACHE, A. (1997).

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POINTON, A. M.; MERCY, A. R.; BACKSTROM, L.; DIAL,G. D. (1992). In: Diseases ofSwine, Chapter 79, 7ª edição, Editores: A. D. Leman, B. E. Straw,W. L. Mengeling, S. D’Allaire e D. J. Taylor, Iowa State Univer-sity Press (Ames, Iowa, U. S. A.), 968-985.

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TAYLOR, D. J. (1986). ; 4ª edição. The BurlingtonPress Ltd. (Great Britain), 113-121, 139-143, 179-181.

et al

182

Poliartrite (Fonte: AFIS).

suínos inspeccionados em matadouro. A i m p o r t â n c i ado reconhecimento desta entidade lesional no mata-douro deve-se à sua associação a determinados agentesinfecciosos, nomeadamente

, , s p p . ,e e ao facto de estar asso-

ciada a um elevado número de reprovações emmatadouro.

Uma vez que na bibliografia consultada nãoencontramos nenhum sistema de classificação paraas artrites, sugere-se que para graduar este tipo delesão se tenha em conta a fase evolutiva da inflamação(artrite aguda ou crónica), assim como o número dearticulações afectadas.

A actual inspecção sanitária praticada pelos M é d i-cos Veterinários Oficiais nos matadouros, regida p e l alegislação vigente, permite conhecer as principais cau-sas de reprovação total ou parcial das carcaças e suasvísceras, transparecendo, apenas, a prevalência daslesões e/ou patologias mais evidentes, carecendo es-tas de uma classificação (grau de lesão) objectiva(quantitativa e qualitativa). Perante tais factos deve-ria existir uma conjugação de esforços entre o Vete-rinário Inspector Sanitário e o responsável pela

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R E V I S TA P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

RPCV (2001) 96 (540) 183-189

Efeito da Ribavirina na replicação do vírus da peste suína africana

Effect of Ribavirin on the African swine fever virus replication

M. Luísa Valdeira

Departamento de Microscopia Electrónica do Laboratório Nacional de Investigação Veterinária, Estrada de Benfica, 701, 1500 Lisboae Centro de Genética e Biologia Molecular da Faculdade de Farmácia de Lisboa. Av. das Forças Armadas, 1600 Lisboa.

Resumo: Foi estudado o efeito de diferentes concentraçõesde Ribavirina na infecção pelo vírus da peste suína africana(VPSA) em células CV1. Os resultados indicam que a infec-ciosidade do VPSA é inibida a concentrações de Ribavirinasuperiores a 15 µg/ml que não são tóxicas para a célulahospedeira. Estudos de incorporação de timidina, uridina emetionina radioactivas em células infectadas na presença dadroga indicam que a síntese do RNA e das proteínas viraissão afectadas, enquanto que o DNA viral se mantém inaltera-do. A observação por microscopia electrónica de célulasinfectadas a vários tempos, em presença da Ribavirina, mos-tra que a morfogénese do vírus se processa de igual modo nascélulas infectadas sem qualquer tratamento, no entanto o apa-recimento de estruturas aberrantes e de unidades de membranade forma irregular nas áreas de replicação viral é relevante,quando as células são tratadas com o antiviral. O possívelmecanismo inibidor será discutido.

Summary: The effect of different concentrations of Ribavi-rin was studied in CV1 cells infected with African swine fevervirus. Ribavirin inhibits the infectivity of ASFV at a concen-tration of 15 µg/ml, that is not toxic for the host cells. Incor-poration studies of radioactive tymidine, uridine andmethionine in infected and drug treated cells indicate that theviral RNA and protein synthesis are inhibited, but viral DNAis made in the same extend. Samples of infected cells, at dif-ferent times post-infection, treated with Ribavirin, werefixed, processed and observed by electron microscopy. Theresults indicate that the morphogenesis of the virus is done inthe same way in presence or absence of the drug. However,in the first case, we could observe more aberrant structuresand irregular unit membranes inside replication areas. Thepossible inhibitor mechanism will be discussed.

infectados cronicamente ou em espécies animaisresistentes ao vírus não neutralizam o vírus (DeBoer, 1967), assim todos os esforços para produziruma vacina têm falhado. Por esta razão é importantea pesquisa de compostos com actividade antiviralque possam ser úteis como agentes profiláticos outerapêuticos.

A Ribavirina (1- ß- D- ribofuranosido - 1,2,4- tria-zol- 3 - carboxamida) é um ribonucleósido purínicosintético (Wikowski et al., 1975) que é actualmenteusado como fármaco de excelência para o tratamen-to de várias infecções virais. É um antiviral de largoespectro com baixa toxicidade que raramente causaresistência a vírus DNA e RNA (Sidwell, 1980 e DeClercq, 2001). Pode ser administrado por via oral,intravenosa ou em forma de nebulizador. Assim, estáa ser administrado a doentes para o tratamento dasinfecções respiratórias causadas pelo vírus sincicialrespiratório (Shigeta, 2001), em combinação com ointerferão-alfa para infecções crónicas de hepatites Be C (Carreno et al., 2001 e Fang et al., 2001), deadenovírus (McCarthy et al. 1995 e Bordigoni et al.,2001), de Hantavirus (Rodriguez-Rodriguez, e Ra-mirez-Ronda, 1995 e Murphy et al., 2001), do vírusMachupo da família Arenoviridae (Kilgore, 1997) edo vírus La Crosse (McJunkin et al. 1997). Igual-mente são descritas inibições pela Ribavirina do ví-rus herpes por Hahn et al. (2001), do vírus da febrehemorrágica por Fisher-Hoch et al. (1995), do vírusWest Nile por Jordan et al. (2000), dos enterovíruspor Rawlinson (2001) e do vírus Nipah por Chong etal. (2001).

Vários Autores têm estudado o mecanismo deacção deste antiviral. Streeter et al. (1973) e Fran-chetti e Grifantini (1999) descrevem uma inibiçãodirecta na inosina-5’-monofosfato desidrogenase(IMP-DH) impedindo assim a conversão do IMPatravés da xantina-5’-monofosfato a guanosina-5’-monofosfato (GMP), levando à depleção dos níveisintracelulares de GTP e dGTP. Mas outros mecanis-mos têm sido propostos, tais como a inibição datranscrição e/ou elongação do RNA (Fernandez-Larsson et al., 1989; Toltzis et al., 1988; Jordan etal., 1999; Rankin et al., 1989), a inibição da forma-ção de um “cap” no extremo 5’ do mRNA viral pelamRNA guaniltransferase para o mRNA do vírus davacina (Goswami et al., 1979) ou um efeito potencia-

Introdução

O vírus da peste suína africana (VPSA) é um vírusDNA icosaédrico com invólucro que replica no cito-plasma de células infectadas. Morfologicamente émuito semelhante aos iridovírus que infectam verte-brados (Carrascosa et al., 1984), mas a estrutura doseu DNA lembra a do genoma dos poxvírus (Viñuela,1987). Sendo assim, o VPSA é o único membro deuma nova família, Asfarviridae, género Asfivirus.

O VPSA é responsável por uma doença infecciosae grave no suíno doméstico que causa grandesprejuízos económicos (Costa, 1990). Um dos aspe-ctos mais surpreendentes é que os anticorpos especí-ficos contra o VPSA detectados em suínos

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Materiais e métodos

Células e vírusAs células CV1 obtidas de rim de macaco “African

Green” (Cercopithecus aethiops) foram mantidas emmeio de manutenção Eagle (MEM) com 10% desoro de vitela recém-nascida (NCS) proveniente daGibco, Scotland e gentamicina (50 µg/ml). A estirpeLisboa 60 do VPSA (Manso Ribeiro e Rosa Azevedo,1961) adaptada a crescer em células de macaco foiproduzida nestas células (Valdeira et al., 1990).

Compostos químicosA amostra utilizada de Ribavirina foi cedida

gentilmente pelo Dr. W. Kirkpatrick da ICN Pharma-ceuticals (Covina, Califórnia). As soluções a estudarforam preparadas na altura, por dissolução da drogano meio MEM.

Ensaios de citotoxidadeLamelas com 5x105 células em tubos de Leighton

foram tratadas com as diferentes concentrações deRibavirina durante 24, 48 e 72 horas. Ao fim destetempo o meio com a droga foi removido, as célulaslavadas com novo meio, e coradas com azul tripanoa 0,1% em tampão PBS-A. As células que coravam(não viáveis) foram contadas para cada concentraçãodo inibidor em 200 células distribuídas por 2 lamelasdiferentes.

O efeito citotóxico também foi determinado fazendoo exame microscópico das culturas celulares tratadascom a Ribavirina durante 4 dias, utilizando um mi-croscópio invertido de contraste de fase.

Efeito de diferentes concentrações de ribavirinana replicação do VPSA

Titulação pelo método de Reed e Muench (1938)do vírus produzido em presença do inibidor

5x106 células em monocamada celular recém-con-fluente foram inoculadas com 10 pfu/célula durante2 h a 4 °C com agitação frequente. Decorrido estetempo, o vírus foi removido e as células foram lava-das e incubadas com novo meio MEM com ou sem adroga. O vírus extracelular foi colhido, clarificado etitulado, quando as células testemunha, infectadas esem tratamento, apresentavam efeito citopático totalà observação microscópica.

Incorporação de timidina, uridina e metioninanas células infectadas

Usaram-se culturas infectadas com 10 pfu/célulaem presença de 15 µg/ml de Ribavirina. A diferentestempos post-infecção o meio foi removido para seradicionado novo meio com 5% de NCS dialisadocontendo 10 µCi/ml de [metil-3H]-timidina (Amers-ham, 50-60 Ci/mmol), 10 µCi/ml de [5 -3H]-uridina(Amersham, 25-30 Ci/mmol) ou meio contendo 5%da concentração normal de metionina com 1 µCi/mlde [35S] - metionina (Amersham, >800 Ci/mmol).

Foram feitos pulsos de marcação de 30 min, adiferentes tempos de infecção, com os diferentes

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dor de análogos dos nucleósidos das purinas queimpedem a replicação dos vírus da Imunodeficiênciahumana e dos vírus herpes (Hartman et al., 1991;Neyts et al. 1998). Contudo, o efeito observado amaioria das vezes foi a depleção intracelular de GTPe dGTP.

Quanto à sua farmacocinética, sabe-se que apósadministração oral de 1 g/dia de Ribavirina, o picode concentração ocorre após 2,5 horas da ingestão. Aconcentração plasmática varia entre 1,7–5,3 mM,com a concentração média de 3,1 mM. A eliminaçãoda ribavirina é renal, e apenas uma pequena percen-tagem é de eliminação fecal. A meia-vida de elimi-nação é de aproximadamente 24 horas. Estudos emhumanos e animais mostraram acumulação do fár-maco nos tecidos, especialmente nos eritrócitos.Relativamente à sua toxicidade, tem-se investigado asua actividade teratogénica em animais de experi-mentação. A alta frequência de mal formaçõescongénitas ocorre em ratos, com susceptibilidadepara diferentes órgãos e sistemas. Têm sido observa-dos alguns defeitos crânio-faciais. A embriotoxicida-de pode ocorrer quando a via de administração é aoral, possivelmente devido à activação do complexoatravés do tracto gastro-intestinal ou do metabolismohepático. No entanto, quando foram dadas váriasdoses de ribavirina a embriões de camundongosdurante estádios diferentes da sua organogénese foimostrado que a dose de 10 mg/kg não tem nenhumefeito tóxico. Todos os embriões sobreviveram aotratamento sem malformações ou redução do pesocorporal fetal após 18 dias de gestação. Por outrolado, a dose de 200 mg/kg foi altamente letal e umagrande parte dos embriões não sobreviveram, exceptoaqueles em estádios avançados de desenvolvimento.Entretanto, doses entre 50 e 150 mg/kg produziramaumento progressivo na frequência de malformações.A dose de 175 mg/kg produziu atraso de crescimento(Harnden, 1985; Fields, 1996).

Diferentes estudos descrevem que a replicação doVPSA é inibida pela 5 - iodo - 2’- deoxiuridina (Gil -Fernández et al., 1979), rifampicina (Dardiri et al.,1971; Valdeira e Alves de Matos, 1981), ácido fosfo-noacético (Moreno et al., 1978 e Villinger et al.,1990), drogas lisossomotrópicas, inibidores de prote-ases e da síntese de lípidos (Geraldes e Valdeira,1985; Valdeira et al., 1998; Bernardes et al., 1998).Ácidos gordos tais como oleico, linoleico e álcoollinolénico (Sola et al., 1986a) e análogos daadenosina (Gil Fernández e De Clerq, 1987) têm sidoreferidos como inibidores selectivos da replicaçãodeste vírus. A adsorção do VPSA também é inibidapela suramina (Sola et al., 1986b). Recentemente,apenas foram descritos efeitos virucidas contra oVPSA com desinfectantes como: hipoclorito desódio, sais de amónio quaternário e compostos comiodo (Shirai et al., 2000) e Fabregas et al. (1999)demonstraram o efeito inibidor de extractos de microalgas marinhas contra este vírus.

Deste modo, e na tentativa de encontrar antiviraiseficientes no combate a esta doença, estudamos oefeito da Ribavirina na replicação do VPSA em célu-las em cultura por diferentes metodologias.

Valdeira, ML

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isótopos radioactivos, que foram terminados poradição de 2 volumes de PBS-A gelado às culturas.As monocamadas celulares foram raspadas para tu-bos contendo o mesmo tampão gelado e sedimen-tadas a 1500 g. O sedimento foi ressuspenso emtampão hipotónico (20 mM Tris-HCl pH 7.5, 10mM KCl, 5 mM MgCl2 e 1 mM EDTA) com 0,5%NP40 para lisar as células. O sobrenadante - frac-ção citoplasmática - foi colhido e precipitado comácido tricloroacético (TCA) a 10% (p/v) durante 30min a 0 °C tendo sido previamente adicionada albu-mina sérica bovina (BSA) na concentração final de 1mg/ml. O sedimento, contendo os núcleos - fracçãonuclear - foi ressuspenso em PBS-A e precipitadoigualmente com TCA. Os precipitados foram ressus-pensos em TCA a 5% (p/v) para serem filtrados emfiltros de fibra de vidro (Whatman GF/C). Os fil-tros foram lavados 2 vezes com TCA a 5% frio du-rante 5 min à temperatura ambiente e 2 vezes comálcool-éter (1:1). Depois de secos, os filtros foramcolocados em frascos de cintilação e contados em 5ml de cintilador de tolueno [0,4% (p/v) de PPO e0,01 % (p/v) de dimetil - POPOP em tolueno] e a ra-dioactividade foi lida num contador de cintilaçãoBeckman LS - 100.

Microscopia electrónicaCélulas CV1 sub-confluentes foram infectadas com

VPSA (10 pfu/célula) em presença de 15 µg/ml de Ri-bavirina para uma adsorção de 2 h a 4 °C. Findo estetempo, o vírus foi removido e colocado meio DMEcom 2% de NCS com a mesma concentração do inbi-dor e as células infectadas foram incubadas a 37 °C.

Para o estudo da morfogénese do vírus em presençada Ribavirina foram colhidas amostras a vários tem-pos post-infecção. As amostras foram fixadas com3% de glutaraldeído e 2% de paraformaldeído emtampão cacodilato de sódio 0,1 M pH 7,3 durante 2horas. Posteriormente foi feita uma pós - fixaçãodurante 60 min com 1% de tetróxido de ósmio nomesmo tampão e o “block staining” com 1% deacetato de uranilo em tampão ácido acético-acetatode sódio 0,1 M pH 5. Todos estes passos foramfeitos à temperatura de 4 °C.

As células foram infiltradas em Agar e pequenosfragmentos foram desidratados numa série deconcentrações crescentes de etanol para seremimpregnados em EPON - ARALDITE.

Secções finas foram contrastadas em acetato deuranilo e citrato de chumbo e observadas nummicroscópio electrónico Jeol 100 C a 80 kv.

Resultados

Citotoxidade da ribavirinaO Quadro I mostra o efeito da Ribavirina nas células

CV1 durante 72 horas de tratamento. A citotoxidadeé mínima na concentração de 50 µg/ml da droga,mas o número de células não viáveis aumenta com aconcentração de 100 µg/ml.

Durante 4 dias as culturas celulares tratadas com adroga foram examinadas num microscópio invertido

de contraste de fase, e classificadas pelo grau deefeito citotóxico usando uma escala de 0 (célulasnormais) a 6 (células mortas), Quadro II. Depois de2 dias de tratamento, as células não mostraram alte-rações morfológicas a concentrações de Ribavirinaiguais ou inferiores a 50 µg/ml, embora a droga mos-trasse um ligeiro efeito citostático. Pelo contrário, aconcentrações de 80 µg/ml ou superiores, as célulasarredondavam e destacavam-se do vidro, mostrandogranulações no seu interior e o número de célulasmortas e degeneradas aumentava depois de 24 horasda presença do inibidor. Depois de 3 dias a maioriadas células estava morta com a concentração de 160µg/ml. Estes resultados e os do teste de viabilidadecom o azul de tripano, indicam que deve ser usada aconcentração máxima de 50 µg/ml nos ensaios deactividade antiviral.

Inibição da produção viral em presença daribavirina

Como se pode verificar (Fig. 1) a Ribavirina reduziua replicação viral a partir da concentração de 20µg/ml. Entre 20 e 30 µg/ml a multiplicação do VPSAé inibida 94%, enquanto às concentrações de 35 e 50µg/ml as inibições do “yield” viral atingem os 99 e100 % respectivamente.

Efeito da ribavirina nas sínteses de ácidosnucleicos e proteínas

Como se pode observar (Fig. 2) foram quantificadasas incorporações de [3H]-timidina, [3H]-uridina e[35S] - metionina em células infectadas com o VPSAem presença da droga e os resultados indicam que asíntese de RNA e das proteínas (Figs. 2 B e C) éafectada pela presença do inibidor, enquanto a síntesedo DNA não mostra alterações significativas (Fig. 2A). A quantidade da incorporação de uridina às 9 hpié reduzida a 50%, mas a incorporação de metioninaà mesma hora pós infecção é inibida 60%.

As inibições referidas em presença da Ribavirinasão específicas, porque em células não infectadas(resultados não mostrados) tratadas com a droga, assínteses das proteínas e dos ácidos nucleicos sãoidênticas ao controle, sem qualquer tratamento.

Efeito da ribavirina na morfogénese do VPSAAs observações ao microscópio electrónico de

células infectadas em presença da Ribavirina,

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Cada valor (média ± desvio padrão) representa o nº de células nãoviáveis, em presença da Ribavirina, sendo calculado de contagensde 200 células, para cada tempo de incubação e concentração doinibidor.

Quadro I - Citotoxidade da Ribavirina

Ribavirina

(µg/ml)

Tempo de incubação (h)

24 48 72

0

25

50

100

0,23±0,4

0,24±0,34

0,25±0,37

0,48±0,49

0,63±0,23

0,22±0,37

0,78±0,83

2,58±0,25

0,36±0,49

0,21±0,25

0,54±0,51

1,48±0,58

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indicam que este inibidor interfere com a replicaçãodo VPSA nas fases tardias de infecção, visto que nostempos precoces da infecção (adsorção e descapsidação)as imagens observadas indicam que estes estádios seprocessam de modo igual ao controlo, sem qualquertratamento.

Na Fig. 3 A, podem ser observadas áreas do cito-plasma perto do núcleo com material floculento efibrilar onde se vêem numerosos ribossomas. À voltadessas áreas, as fábricas de vírus, estão as mitocôn-drias, os lisossomas, porções do retículo endoplás-mico e vesículas. Dentro dessas áreas tambémexistem membranas poligonais abertas ou fechadas epartículas virais. Alguns destes viriões têm umnucleóide central e denso.

A Fig. 3 B, mostra o efeito da Ribavirina nas células

infectadas com o VPSA às 12 hpi. Nestas condiçõessó muito raramente são visualizadas partículas viraiscompletas e parece que o número de ribossomasdentro da fábricas virais é superior à testemunha. Noentanto, aparecem estruturas aberrantes e unidadesde membrana de forma irregular, sendo o seu aspectogeral idêntico ao que se observa nas células infectadassem tratamento no que respeita ao material membra-nar, fibrilar e floculento que originará os futuros viriões.

Discussão

Os resultados aqui apresentados mostram que aRibavirina inibe a multiplicação do VPSA numa fasetardia do ciclo replicativo viral em células CV1 emcondições nas quais, as células não infectadas etratadas com a droga, não apresentam alterações nassínteses das proteínas e ácidos nucleicos. As concen-trações usadas, entre 5 e 50 µg/ml, são semelhantesàs usadas por outros Autores no estudo da actividadeantiviral deste inibidor.

Inibições selectivas como esta são descritas poroutros investigadores (Byhan et al., 1978, Rankin etal., 1989 e Murphy et al., 2001) que concluíram queas inibições dos vírus que estudaram (vírus domosaico do tabaco, reovírus e Hantavirus) tambémapresentam inibições dos mesmos componentesvirais.

O modo de acção da Ribavirina na replicação doVPSA parece ter pontos comuns relativamente aoutros vírus. A inibição do RNA do VPSA não resultada falta de nucleótidos da guanosina, como foi pro-posta para os sistemas celulares animais, quandoforam tratados com esta droga, pois não se observouinibição da síntese do RNA da célula hospedeira. Ainibição do VPSA pode resultar da impossibilidadeda guanilação do “capping” do mRNA viral, tal comofoi demonstrado para o vírus da vacina (Goswami et

Quadro II - Observação microscópica das culturas celulares tratadas com diferentes concentrações de Ribavirina, durante 4 dias.

Para cada concentração foram observadas três culturas celulares.A citoxidade foi registada em alterações morfológicas (2), em efeito citóstático (3), granulação (3), efeito rounded-up (5) e morte celular(6). +, positivo;-, negativo.

Fig. 1 - Inibição da replicação do VPSA por várias concentra-ções de Ribavirina. Células CV1 foram infectadas com 10 pfu/célula durante 2 h a 4 °C. Depois da adsorção foi adicionado meiocom o inibidor nas concentrações indicadas e as células infectadasforam incubadas a 37 °C durante 24 h, após o que o vírus foicolhido e titulado. Cada valor representa a média de duas experi-ências independentes.

Concentração de Ribavirina (µg/ml)

Títu

lo v

iral (

ID50

/ml x

104 )

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Fig. 2 - Efeito da ribavirina na incorporação de [3H]-timidina, [3H]-uridina e [35S] - metionina. A vários tempos post - infecção,células CV1 foram incubadas com 10 µCi/ml de [3H]-timidina (A), 10 µCi/ml de [3H]-uridina (B) ou 1 µCi/ml de [35S] - metionina (C).As células foram solubilizadas com SDS e os citoplasmas foram isolados. A radioactividade TCA-precipitável incorporada na fracçãocitoplasmática foi lida nas células tratadas (•) ou não (o) com 15µg/ml de Ribavirina. Cada valor representa a média de duas experiênciasindependentes.

Fig. 3 - Morfogénese do VPSA em presença da ribavirina. Células CV1 foram infectadas com VPSA (10 pfu/célula). Depois da adsorçãodurante 2 h a 4 °C em presença ou não da droga, as células foram incubadas a 37 °C durante 12 h com ou sem inibidor. Nas célulasinfectadas com a Ribavirina (b) podem ver-se estruturas aberrantes (seta longa) e unidades de membrana de forma irregular (cabeça deseta). Nas células infectadas na ausência do inibidor (a) o aspecto das fábricas do VPSA. A barra representa 0,4 µm.

RPCV (2001) 96 (540) 183-189Valdeira, ML

al ., 1979), visto que a síntese proteica do VPSA foimais sensível à Ribavirina do que a síntese do RNA.

A morfogénese do VPSA é feita em presença daRibavirina dum modo semelhante à testemunha semtratamento, mas apresenta estruturas aberrantes eunidades de membrana de forma irregular. Resultadosidênticos foram observados por Moss et al. (1971)com o vírus da vacina quando foi inibido pelaRifampicina. Neste caso, foram vistas ao microscó-pio electrónico membranas acumuladas nas áreas dereplicação viral em células infectadas com o vírus davacina em presença desta droga. A acção da Rifampi-cina foi discutida, sendo o bloqueio explicado pelainibição da síntese proteica causada pela droga oupor uma acção mais directa no processo de morfogé-nese, visto que depois da remoção da droga os viriõesmaduros eram formados. O VPSA é inibido pela Ri-fampicina (Dardiri et al., 1971; Valdeira e Alves deMatos, 1981) e o mecanismo de acção proposto por

esta droga parece ter certas semelhanças com a acti-vidade da Ribavirina, portanto é possível propor umamesma explicação para o efeito ultrastrutural desteinibidor nas células infectadas com o VPSA.

Os resultados apresentados podem servir de basepara estudos mais completos relativamente a estadroga no ciclo replicativo do VPSA, visto que está aser usada no tratamento de várias infecções virais,nomeadamente nos doentes infectados com o HIV-1(Bernier et al., 1997; Puoti et al., 2001) e com outrosvírus como já foi referido na introdução.

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R E V I S TA P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

RPCV (2001) 96 (540) 191-195

Campylobacter em granja avícola

Campylobacter in a poultry farm

Carvalho1, A.C.F.B.; Lima2, V.H.C.; Pereira, G. T3; Schocken-Iturrino, R.P.4

1 Docente da Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias- Unesp, Câmpus de Jaboticabal - Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Reprodução Animal - DMVPRA, Via de Acesso Prof. Paulo Donato Castelane s/n CEP 14984-900, Jaboticabal,SP, Brasil,

e-mail [email protected] 2 Discente estagiário no DMVPRA da FCAV- Unesp, Campus Jaboticabal, bolsista da FAPESP

3 Docente da FCAV- Unesp, Câmpus Jaboticabal- Depto de Ciências Exatas4 Docente da FCAV- Unesp, Campus Jaboticabal – Depto de Patologia Veterinária

Resumo: Com o objetivo de investigar a disseminação deCampylobacter em granjas avícolas, pesquisou-se a presençadeste agente em 192 amostras de zaragatoas cloacais, 170amostras de camas, 170 amostras de rações, 170 amostras deágua, 34 “pool” de fezes coletados na camada superficial dascamas e 7 amostras de fezes de rato em duas granjas comer-ciais de frango, situadas na região de Ribeirão Preto-SP., Bra-sil, durante o período de 6 ciclos diferentes e cuja criação decada ciclo era de 45 dias. Foram isolados Campylobacterjejuni em 32 (16,7%) amostras de zaragatoas cloacais, 3(1,8%) amostras de camas, 1 (0,6%) amostra da ração e 6(17,7%) nos “pool” das fezes da cama, totalizando 42 (5,6%)isolamentos. A presença de Campylobacter foi detectada emquatro lotes a partir do 28º dia nas zaragatoas cloacais, 35ºdia no “pool” das fezes e do 42º dia na cama e ração, entre-tanto um dos lotes de cada granja foi negativo para o agentedurante o período de um ciclo. Na aplicação do teste exactode Fisher as amostras foram comparadas entre semanas, ten-do as diferenças entre o número de amostras positivas a partirdas zaragatoas cloacais sido estatisticamente significativas(p<0,05 e p<0,01) a partir do dia 35 para um dos lotes e apartir do dia 42 para dois lotes, quando comparado com assemanas anteriores.

Palavras-Chave: Campylobacter, avicultura

Summary: The objective of this work was to investigate thedissemination of Campylobacter in the poultry farms. It wascollected 192 cloacal swabs, 170 poultry litter, 170 feed, 170water samples, and 34 faeces “pool” from the surface layer ofthe litter and 7 mice faeces samples. All samples came fromtwo commercial farms, from the region of Ribeirão Preto-SP,Brazil, and were analysed during 6 different cycles of 45days each. Campylobacter jejuni were isolated in 32 (16.7%)cloacal swabs samples, 3 (1.8%) in poultry litter, 1 (0.6%) infeed and 6 (17.7%) in the “pool” of faeces from the litter res-pectively totalling 42 (5.6%) isolaments. The presence ofCampylobacter was detected in four lots from the 28th day inthe cloacal swab, 35th day in faeces “pool” and in 42nd day inthe poultry litter and feed, on the other hand one of the lots ofeach farm was negative for this agent during one cycle. Theapplication of Fishers test showed that the cloacal swabs pre-sented statistical difference (p<0,05 and p<0,01), beginningin day 35 for one of the samples and beginning in day 42 fortwo samples, when compared with the previous weeks.

Key-Words: Campylobacter, poultry raising.

Introdução

Nos últimos anos têm-se reconhecido Campylo-bacter jejuni como uma causa comum de gastroente-rite e enterocolite em humanos, principalmente nospaíses em desenvolvimento (Saleha et al., 1998), oqual vem se destacando como um dos microrganis-mos emergentes de origem alimentar em diversaspartes do mundo (Aquino et al., 1995; Skirrow,1977).

Evidências epidemiológicas têm sugerido os pro-dutos de origem animal, especialmente os produtosavícolas, como principal veículo para infecção hu-mana (Harris et al., 1986; Machado et al., 1994;Rampling et al., 1989), uma vez que o trato intestinaldas aves domésticas tem sido demonstrado como oprincipal reservatório de Campylobacter jejuni (Ma-chado, 1992) e que aproximadamente 30 a 100% dasaves transportam este agente no intestino (Doyle,1988).

Campylobacter jejuni tem sido detectado a partirde fezes de frangos em 83% (Grant et al., 1980),86,8% (Jaramilo et al., 1983) e 90% (Blaser et al.,1980) das amostras examinadas. Desta maneira, du-rante o processamento de abate, as carcaças e vísce-ras comestíveis podem se contaminar e o agente serdetectado no produto acabado e pronto para o consu-mo (Almeida e Serrano, 1987; Sakuma et al., 1992;Carvalho e Costa, 1996; Carvalho, 1998).

De acordo com Bailey (1993), na granja as princi-pais fontes de contaminação dos lotes, podem ser aração contaminada, a transmissão horizontal e o am-biente de criação contaminado, envolvendo vetorescomo roedores, insetos, pássaros silvestres, animaisdomésticos e o homem.

Rodrigues et al. (1998) pesquisaram Campylobac-ter nas fezes de rato preto com taxas de isolamentode 57,45% (31/54), demonstrando a importânciadestes como reservatório do agente.

A cama também deve ser considerada como umaprovável fonte de disseminação (Bailey et al., 1991;Genigeorgis, 1987). O papel da cama na transmissão

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192

pesadas. Para cada 5 gramas das amostras, adicio-nou-se 45 ml de caldo tioglicolato pH 7,2 mantendo-se por 12 horas à temperatura de 5 ºC.

As amostras de fezes, obtidas na camada superfici-al da cama das aves e as dos roedores, foram recolhi-das em sacos plásticos estéreis, transportadas para olaboratório, retirando-se 1 g de cada uma para o es-tudo. A esta 1 g de fezes foi adicionado 5 ml de cal-do tioglicolato pH 7,2 mantendo-se por 12 horas àtemperatura de 5 ºC.

Decorrido o período de 12 horas em geladeira, asamostras cloacais, da cama, ração e das fezes foramsemeadas em meio seletivo para Campylobactercomposto por agar brucella adicionado de suplemen-to FBP (0,025% de sulfato ferroso, 0,025% piruvatode sódio e 0,025% metabisulfito de sódio), acrescidode 2 ml de uma mistura de antibióticos composta porcefalotina (15µg/ml), trimetoprim (5µg/ml), anfoterici-na B (5µg/ml), vancomicina (10µg/ml), polimixina B(2,5 UI/ml) e meio básico com pH final 7,2 (Carva-lho, 1992) e incubadas a 42 ºC por 48-72 horas, emjarras para cultivo em anaerobiose com atmosferade microaerofilia, obtida pelo método de lã de aço,conforme técnica descrita por Magalhães et al.(1982). Ao final do período de incubação as colôniasforam examinadas, selecionando-se as que apresen-taram características similares às descritas paraCampylobacter (Smibert, 1974). As colônias típicasou suspeitas do gênero foram confirmadas através damorfologia microscópica pela coloração de Gram,observando-se a presença de bacilos Gram negativoscom formas típicas em S, asa de gaivota ou cedilha,a motilidade observada pela técnica de Bryner eFrank (1955), pelas reações da oxidase e catalase epelos teste culturais segundo Smibert (1974).

As amostras de água foram colhidas em frascos de100 ml, mantidas em caixas isotérmicas com gelo eprocessadas imediatamente após chegada ao labora-tório, através da técnica de contagem de bactériasdescrita por Barrow e Tucker (1986). De cada amos-tra de água, após homogeneizada, foi retirado umaalíquota de 1 ml e esta diluída em PBS pH 7,4 pro-cedendo-se a diluição decimal em tubos de ensaiocontendo 0,9 ml de PBS pH 7,4. De cada diluição,0,1ml foi retirado e pingado em agar seletivo paraCampylobacter. O resultado obtido consistiu em uni-dade formadora de colônias (UFC/ml) da amostra.

Análise estatística

Aplicou-se o teste exacto de Fisher aos resultadosobtidos, realizando-se comparações entre o númerode isolamentos por lote entre os diferentes dias decoleta e o tipo de amostra analisada.

Resultados

As tabelas 1, 2 e 3 apresentam os resultados obti-dos no presente trabalho. Podemos verificar que das743 amostras colhidas nas duas granjas comerciaisestudadas, 42 (5,6%) foram positivas para Campylo-

RPCV (2001) 96 (540) 191-195

e no estabelecimento perpétuo da infecção porCampylobacter jejuni foi demonstrado por Montroseet al. (1985) em aves de capoeira, através da infec-ção artificial das aves, detectando o agente na camapelo menos 63 dias após a infecção.

Fatores responsáveis pela introdução e dissemina-ção de Campylobacter jejuni em aves de produçãocomercial foram estudados por Kazwala et al.(1990) e Berndtson et al. (1996), sugerindo a cama,pés dos tratadores e água como os principais veicu-ladores do agente.

Tendo em vista a importância do Campylobacterem saúde pública e baseado nos dados encontradosna literatura de que as aves obtidas em nosso comér-cio apresentam-se constantemente contaminadas poresse agente, sentiu-se a necessidade de realizar umestudo sob as nossas condições de criação, objeti-vando estudar o nível de contaminação dos lotes (ra-ção, água dos bebedouros, zaragatoa cloacal, fezesda camada superficial da cama e dos roedores e acama das aves) e sua evolução, para que medidasprofiláticas possam ser tomadas minimizando assimo problema.

Materiais e métodos

O estudo foi realizado em duas granjas comerciaisde frango localizadas na região de Ribeirão Preto-SP, Brasil, envolvendo 6 lotes de aves, cujo ciclo decriação era de 45 dias, e o número de aves por pavi-lhão variava entre 1500 (para a granja A) a 20000(para a granja B). O nº de pavilhões era de 8 e 32respectivamente. Nos pavilhões, a água clorada erafornecida por bebedouros do tipo pendular e a camacomposta por maravalha virgem, com troca a cadatérmino de ciclo. Os lotes 1 e 3 foram acompanha-dos na granja A e os lotes 2, 4, 5 e 6 na B, sendo oslotes provenientes de pavilhões diferentes.

Para o isolamento do Campylobacter foram colhi-das semanalmente, nos dias 7, 14, 21, 28, 35 e 42, 5amostras de cama das aves ao redor dos bebedourose próximo das áreas ensolaradas, totalizando 170amostras; 5 amostras da ração em diferentes pontosdos comedouros tipo semi-automático e automático,perfazendo um total de 170 amostras; 5 amostras deágua dos bebedouros, obtendo então 170 amostras; 5amostras cloacais colhidas através de zaragatoa,somando-se ao final 192 amostras; 1 amostra defezes da cama (de um “pool” de 5 amostras colhidassobre a cama), totalizando 34 amostras e 1 amostrade fezes de roedores (colhida na forma de “pool” de5 amostras) ao redor e dentro dos pavilhões, finali-zando em 7 amostras em virtude da desratizaçãoocorrida na granja, de forma que ao final do experi-mento totalizaram-se 743 amostras.

As amostras cloacais, foram colhidas através dezaragatoas estéreis diretamente das cloacas e imedia-tamente depositadas em tubos contendo 5 ml de cal-do tioglicolato pH 7,2, mantendo-as em geladeira atemperatura de 5 oC por 12 horas.

As amostras da cama e da ração foram recolhidasem sacos plásticos estéreis, levadas ao laboratório e

Carvalho et al.

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193

tipos de amostras revela em alguns lotes uma pro-gressiva contaminação do meio ambiente (tabela 4).

Tabela 4 - Tipo de amostras onde se obtiveram isolamentos, porlote e por semana

Realizaram-se comparações estatísticas entre o nú-mero de isolamentos obtidos por lote e tipo de amos-tra, entre os diferentes dias de coleta (tabelas 5 e 6),a fim de verificar se haveria diferença significativana instalação do agente nos pavilhões a partir do 21ºdia de vida das aves, uma vez que, a literatura men-ciona que o isolamento raramente ocorre antes das 3- 4 semanas de vida.

Tabela 5 - Níveis mínimos de significância (p) obtidos (1) no tes-te exacto de Fisher aplicado entre os dias de coleta para os lotes 2e 3 nas amostras das zaragatoas cloacais.

*p < 0,05: significativo a 5%**p < 0,01: significativo a 1%(1) Níveis acima da diagonal referem-se ao lote 2 e abaixo ao lote 3

No lote 2 encontraram diferenças significativasentre os isolamentos a partir de amostras de zaraga-toas cloacais colhidas no 35º e 42º dia, quando com-paradas com as do 21º dia da colheita.

Tabela 6 - Níveis mínimos de significância (p) obtidos (2) no tes-te exacto de Fisher aplicado entre os dias de coleta para os lotes 5e 6 nas amostras das zaragatoas cloacais

*p < 0,05: significativo a 5% **p < 0,01: significativo a 1%(2) Níveis acima da diagonal referem-se ao lote 5 e abaixo ao lote 6

A diferença do número de isolamentos do agenteno 35º dia da coleta foi estatisticamente significativapara o lote 5, quando comparado com os 21º e 28ºdias, enquanto que no lote 6, a diferença significati-va de isolamento ocorreu quando foi comparado odia 42 com os 21º, 28º e o 35º dias da colheita.

A mesma análise estatística foi aplicada para asamostras das camas, “pool” das fezes e da ração,sendo o resultado não significativo entre os diascomparados.

bacter jejuni, sendo 32 amostras (16,7%) provenien-tes dos zaragatoas cloacais, 3 (1,8%) das camas, 1(0,6%) da ração e 6 amostras (17,7%) do “pool” defezes colhidas sobre a cama. As amostras de fezes deratos e as amostras das águas dos bebedouros foramnegativas.

Tabela 1 - Número e freqüência total de isolamentos de Campy-lobacter segundo os tipos de amostras processadas.

Das 193 amostras colhidas na granja A, foram iso-lados 3 (1,5%) Campylobacter jejuni, sendo 2 emzaragatoa cloacal e 1 na cama (tabela 2), o que ocor-reu ao 42O dia e ambos provenientes do lote 3.

Tabela 2 - Número e freqüência de isolamentos de Campylobac-ter segundo os tipos de amostras processadas na Granja A (lotes 1 e 3).

Das 550 amostras colhidas na granja B, 39 (7,1%)foram positivas para Campylobacter jejuni (tabela 3).

Tabela 3 - Número e freqüência de isolamentos de Campylobac-ter, segundo os tipos de amostras processadas na Granja B (lotes2, 4, 5 e 6).

*: Desratização do local

Em relação ao período em que ocorreu o isola-mento de Campylobacter, destacamos que no lote 2este se deu ao 28º dia para as amostras das zaragato-as cloacais, ao 35º dia no “pool” das fezes e tam-bém nas zaragatoas cloacais, enquanto que no 42ºdia o isolamento ocorreu no “pool” das fezes, naszaragatoas cloacais e na cama. No lote 4 não houveisolamento, entretanto no lote 5 o isolamento foi de-tectado aos 28o dia nas zaragatoas cloacais; aos 35ºdia no “pool” das fezes e nas zaragatoas cloacais eaos 42º dia no “pool” das fezes, zaragatoas cloacais,ração e camas e no lote 6 estes ocorreram aos 35º e42º dia no «pool» das fezes e nas zaragatoas cloa-cais. A sequência de isolamentos obtidos nos vários

RPCV (2001) 96 (540) 191-195Carvalho et al.

Lotes2

3

5

6

28O

Cloaca

-

Cloaca

-

35O

CloacaFezes

-

CloacaFezes

Cloaca

42O

CloacaFezesCamaCloacaCamaCloacaFezesRaçãoCamaCloaca

Tipo de AmostraZaragatoa cloacal

CamaRaçãoÁgua

«Pool» das fezesFezes de Rato

TOTAL

Número de amostras192170170170347

743

C. jejuni (%)32 (16,7)3 (1,8)1 (0,6)

06 (17,7)

042 (5,6)

Tipo de AmostraZaragatoa cloacal

CamaRaçãoÁgua

«Pool» das fezesFezes de Rato

TOTAL

Número4245454597

193

C. jejuni (%)2 (4,8)1 (2,2)

0000

3 (1,5)

Tipo de AmostraZaragatoa cloacal

CamaRaçãoÁgua

«Pool» das fezesFezes de Rato

TOTAL

Número15012512512525*

550

C. jejuni (%)30 (20)2 (1,6)1 (0,8)

06 (24)

39 (7,1)

Dias de coleta21283542

21º

0,220,001**

28º0,22

0,220,001**

35º0,001**0,03*

0,03*

42º0,090,500,09

Dias de coleta21283542

21º

0,22

28º0,23

0,22

35º0,03*0,28

0,22

42º0,0076**

0,120,50

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194

Discussão

Verificou-se neste estudo uma maior freqüência deCampylobacter jejuni nas amostras de “pool” das fe-zes (17,7%) em relação aos outros tipos de amostras.Pela análise estatística aplicada, apenas as amostrasdas zaragatoas cloacais (16,7%) é que obtiveram di-ferenças estatisticamente significativas na compara-ção do número de isolamentos entre semanas,podendo as mesmas serem consideradas como o fa-tor responsável pela contaminação dos lotes 2, 5 e 6a partir de 21º dia de povoamento.

Os resultados observados quanto ao isolamento doagente nos lotes a partir do 28º dia de vida das avessão coincidentes com os descritos na maioria da lite-ratura consultada, e principalmente com os resulta-dos observados por Jacob-Reitsma et al. (1995) ePokamunski et al. (1986).

As amostras referentes ao lote 1 e ao 4 foram ne-gativas para Campylobacter durante o ciclo estuda-do, resultados negativos em alguns lotes de granjascontaminadas foram observados por Jacob-Reitsmaet al. (1995). Tendo em vista tais resultados não po-demos descartar a possibilidade de que nestes lotesas aves poderiam não estar colonizadas com Campy-lobacter, uma vez que o mecanismo de colonizaçãointestinal por parte dos microrganismos pode sofrerinfluência de fatores imunológicos, aliados às diver-sificações da dieta alimentar durante a criação e as-sim afetar a colonização e a disseminação do agente(Bailey, 1987; Machado, 1992). Associado a este fa-tor, operações como limpeza, desinfecção de rotina,bom manejo e manutenção do vazio sanitário, po-dem contribuir para eliminação da bactéria na insta-lação (Giessen et al. 1992; Berndtson et al. 1996).

Os isolamentos de Campylobacter jejuni obtidosnas zaragatoas cloacais da presente pesquisa foraminferiores aos encontrados por Pokamunski et al.(1986), os quais obtiveram isolamentos ao redor de46,3% para as zaragatoas cloacais e de 53,7% noconteúdo cecal, demonstrando a elevada prevalênciade Campylobacter nas fezes de frangos, entretantoestatisticamente significativo, demonstrando destamaneira que este tipo de amostra pode ter sido aprincipal responsável pela contaminação dos lotes 2,5 e 6, a partir do 21º dia do povoamento dos pavilhões.

Jacob-Reitsma et al. (1995), lembram que as avescontaminadas podem eliminar de 106 a 109 UFC/gde fezes, indicando as fezes como potencial fonte deintrodução e disseminação do agente dentro do lote.Aliado a estes fatores, o hábito coprofágico das avesauxilia na rápida disseminação do Campylobacter nolote (Sterne et al.,1988) e, uma vez isolado no ban-do, a propagação é rápida e elevada proporção deaves excretará Campylobacter até ao abate (Doyle,1988), como pode ser observado na presente pesquisa.

Embora o “pool” das fezes colhidas sobre a camanão tenha apresentado significância estatística nacomparação entre os dias de coleta, não devemosdescartar a possibilidade das fezes serem um meiode disseminação do agente entre as aves.

No que diz respeito à ração, o isolamento do agen-te ocorreu apenas nas amostras provenientes do lote

5, e que o mesmo se deu somente no 42º dia da co-lheita. Contudo deve-se levar em consideração que apositividade ocorreu no final do ciclo de vida dasaves, sendo as mesmas abatidas com 45 dias, o quenão permitiu uma melhor análise do fator raçãocomo potencial veiculador do agente.

Com relação à água, há fortes evidências que osprocedimentos de cloração da água efetivamente sãoeficazes na inativação do Campylobacter jejuni(Blaser et al. 1986, Bjerklle, 1999), sendo este pro-cedimento normalmente adotado nas granjas comer-ciais estudadas. Apesar dos roedores terem sidosugeridos como possíveis fontes de transmissão ho-rizontal (Evans,1992; Shane 1992; Rodrigues et al.,1998), não foi isolado o agente nas amostras de fe-zes de rato uma vez que a granja B sofreu o processode desratização de suas instalações durante o períodode pesquisa, dificultando assim a continuidade dascolheitas.

A detecção de resultado positivo para as amostrasde camas nos lotes 2, 3 e 5, ocorrida aos 42 dias deidade, impossibilitou o melhor acompanhamento dacama como uma possível fonte de disseminação,concordando com Doyle e Romam (1982) e Smi-therman et al. (1984), os quais justificam a baixataxa de isolamento em conseqüência da elevada sen-sibilidade desta bactéria para as condições adversasda cama. Por essa razão, as amostras de cama nãosão recomendadas para monitorizar a infecção comCampylobacter, segundo Bhatia et al. (1979).

Perante os resultados encontrados e discutidos,pode-se chegar à conclusão de que as aves contami-nadas constituem a principal fonte de contaminaçãonas granjas comerciais estudadas, não descartando,no entanto, a possibilidade da contaminação dos lo-tes por outras vias horizontais, através da cama e ra-ção. Os diferentes mecanismos de colonização e aenorme variedade de origens destes microrganismospatogênicos associado com diferentes fatores queafetam a susceptibilidade do hospedeiro para a colo-nização, indicam a complexidade de pesquisas ne-cessárias para o controle de Campylobacter durantea produção avícola.

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RPCV (2001) 96 (540) 191-195Carvalho et al.

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197

R E V I S TA P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

RPCV (2001) 96 (540) 197-199

Ixodídeos (Acari: Ixodidae) parasitas de aves silváticas em Portugal *

Ticks (Acari: Ixodidae) ectoparasites from wild birds in Portugal

M.M. Silva1 **, P. Formosinho1, P. Melo2, A. Santos1, A.R. Filipe1

1 Centro de Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas, Instituto Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, 2965 Águas de Moura, Portugal. 2 Parque Natural da Ria Formosa, Instituto da Conservação da Natureza, Quelfes, 8800 Olhão, Portugal.

Resumo: Entre 1999 e 2001, foram realizadas colheitas deixodídeos em aves silváticas, capturadas na região Sul dePortugal. Os resultados obtidos permitiram identificar seis es-pécies ixodológicas em aves. Deste modo assinalamos pelaprimeira vez a presença de Hyalomma marginatum em Bubobubo (Bufo-real), Saxicola torquata (Cartaxo-comum), Falconaumanni (Peneireiro-das-torres), Acrocephalus scirpaceus(Rouxinol-pequeno-dos-caniços) e Alcedo atthis (Guarda-rios--comum) e de H. lusitanicum, Ixodes canisuga, Rhipicepha-lus sanguineus, R. turanicus e R. pusillus em Bubo bubo.Este estudo constitui o primeiro registo conhecido na Penín-sula Ibérica do parasitismo destas aves por ixodídeos.

Summary: From 1999 through 2001 ticks were collectedfrom wild birds caught in Southern Portugal. The resultsobtained report the presence of six species of ticks parasitingwild birds. We refer for the first time the presence of Hya-lomma marginatum at Bubo bubo (Eagle Owl), Saxicolatorquata (Stonechat), Falco naumanni (Lesser Kestrel),Acrocephalus scirpaceus (Reed Warbler), Alcedo atthis(Kingfisher) and H. lusitanicum, Ixodes canisuga, Rhipice-phalus sanguineus, R. turanicus and R. pusillus at Bubobubo. New host records by ticks at Iberian Peninsula are pro-vided in this study.

são apresentados os resultados do primeiro estudoefectuado na região Sul do País.

Material e métodos

Foram pesquisadas aves capturadas entre Marçode 1999 e Maio de 2001 na Reserva Natural deSanto André (38º 01’N, 08º 49’W), no Parque Naturaldo Vale do Guadiana (37º 32’N, 07º 31’W) e no Par-que Natural da Ria Formosa (37º 01’N, 07º 48’W).

As aves foram capturadas no decurso de operaçõesde anilhagem, de acordo com a metodologia seguidapelo ICN (CEMPA/ ICN,1995) ou provieram decentros de recuperação de aves. Após a identificaçãoespecífica, estas foram examinadas tendo especialatenção à região frontal do crânio, com incidêncianas zonas, periocular, periauricular, cera e bico, paraa detecção de artrópodos. Os ixodídeos removidoscolocaram-se em tubos individuais, tendo sido en-viados para o Laboratório de Entomologia Médicado CEVDI. Os ixodídeos foram identificados, com oauxílio de uma lupa binocular (Olympus modeloSZH), com base nas características morfológicasexternas (Nuttall et al., 1911; Neveu-Lemaire, 1938;Hoogstraal, 1956; Tendeiro, 1962; Gil Collado et al.,1979; Cordas et al., 1993; Dias, 1994; Estrada-Peña,2000; Walker et al., 2000). As ninfas com classifi-cação ambígua, foram mantidas em condiçõesadequadas à muda de fase evolutiva (Silva & Filipe,1998) para posterior confirmação da diagnose espe-cífica.

Resultados

Das aves pesquisadas (N=604) foram detectadas15 parasitadas, pertencentes a 5 das 39 espécies orni-tológicas identificadas (Quadro1), tendo sido obtidoum total de 64 ixodídeos, (17 ninfas e 47 adultos).Deste modo, assinalamos pela primeira vez naPenínsula Ibérica, a presença de Hyalomma margi-natum em Bubo bubo (Bufo-real), Saxicola torquata(Cartaxo-comum), Falco naumanni (Peneireiro-das-torres), Acrocephalus scirpaceus (Rouxinol-pequeno-dos-caniços) e Alcedo atthis (Guarda-rios-comum) e

* Trabalho apresentado no VII Congresso Ibérico de Parasitolo-gia, 18 a 21 Setembro 2001, Porto ** Correspondente: Telef. 265912222; Fax 265912155; [email protected]

Introdução

O estudo dos ixodídeos parasitas de aves reveste-sede grande importância, quer para a inventariação dasespécies ixodológicas existentes, quer para a pesquisade agentes patogénicos que a estas possam estarassociados (Filipe, 1979; Hoogstraal e Aeschlimann,1982).

Em Portugal, a informação existente sobre esteassunto é escassa havendo apenas registos pontuaisde duas espécies de ixodoideos a parasitar aves:Ixodes frontalis (Dias, 1990) e Ornithodoros mariti-mus (Guiguen et al., 1984). Assim, no âmbito doconhecimento da ixodofauna das aves estabeleceu-seum projecto de colaboração entre o CEVDI (Centrode Estudos de Vectores e Doenças Infecciosas) e oICN (Instituto da Conservação da Natureza) do qual

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Caeiro et al., 1997; Caeiro, 1999). Assim, os resultadosapresentados neste estudo permitiram ampliaros conhecimentos existentes sobre a ixodofauna eseus hospedeiros na Península Ibérica (Dias, 1994;Osacar-Jimenez, 1998).

Verificou-se que H. marginatum é a espécie preva-lente nas aves estudadas, já que foi observada emtodos os exemplares parasitados. Estes resultadosestão de acordo com o descrito por diversos autoresque referem que estes hospedeiros são frequente-mente encontrados com estados imaturos de H. mar-ginatum (Hoogstraal, 1961; Hoogstraal, 1979;Hoogstraal & Aeschlimann, 1982; Cornet, 1995;Doby & Bigaignon, 1997; Baker, 1999). Todas as es-pécies de aves parasitadas são migradoras, emboraapenas Falco naumanni e Acrocephalus scirpaceusse desloquem a Portugal para a nidificação anual.

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de H. lusitanicum, Ixodes canisuga, Rhipicephalussanguineus, R. turanicus e R. pusillus em Bubo bubo(Quadro 2).

Dos resultados obtidos destacamos ainda que emtodas as aves parasitadas foram encontradas ninfasde Hyalomma marginatum. Verificou-se também queBubo bubo, para além de ser a única ave a apresentarvárias espécies ixodológicas, foi também a que apre-sentou o maior nível de infestação por ixodídeos,com 51 exemplares.

Discussão

As aves capturadas na região Sul de Portugal esta-vam parasitadas por ixodídeos, já detectados emoutros hospedeiros observados em território nacionale no país vizinho (Dias et al., 1994; Dias, 1994;

Silva, MM et al

Quadro 1 - Espécies de aves pesquisadas e parasitadas por ixodídeos

Quadro 2 - Espécies ixodológicas capturadas em aves

f: fêmea; m: macho; n: ninfa

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199

As restantes são consideradas migradoras ocasionais(Melo, comunicação pessoal). Desta forma, temos aconsiderar que os ixodídeos capturados possam terorigem no nosso país ou terem sido importados pe-los movimentos de migração destas aves. A confir-mar-se esta última situação, tornar-se-á consistente ahipótese da introdução no nosso país de artrópodosportadores de novos agentes patogénicos. Convémainda referir a este propósito, que H. marginatumtem sido associado noutros países à transmissão deinúmeros vírus com importância em Saúde Pública,destacando-se o vírus da febre hemorrágica Crimeia--Congo e o vírus West Nile (Hoogstraal, 1979; Fili-pe, 1993).

Outras espécies de ixodídeos, considerados nãoespecíficos de aves como é o caso de I. canisuga, H.lusitanicum, R. sanguineus, R. pusillus e R. turani-cus, foram detectados em Bubo Bubo. Todaviapensamos que esta observação se deve ao contactoda ave com habitats e hospedeiros susceptíveis deestarem parasitados por estes ixodídeos. Com efeito,durante a nidificação e a procura de alimento Bubobubo pisa o solo frequentemente, tendo como presaspreferidas ratos, coelhos e outros mamíferos depequena dimensão. Assim, a detecção destes ar-trópodos nesta ave tem implicações na sua dispersão,facto particularmente importante se atendermos aopapel que algumas destas espécies ixodológicasrepresentam como vectores de agentes patogénicosem Portugal. Destaca-se neste contexto R. sangui-neus pela transmissão de Rickettsia conorii, agenteetiológico da febre botonosa ou escaro-nodular,vulgarmente designada por febre da carraça. Nonosso país, esta é a principal doença associada aixodídeos ocorrendo em média 1000 casos/ano(Bacellar, 1996; Bacellar, 1999). Deste modo podeatribuir-se às aves um papel preponderante nadisseminação de ixodídeos e estabelecimento denovos focos endémicos de agentes por estes trans-mitidos.

Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio dos técnicos do Ins-tituto Nacional da Conservação da Natureza: VictorEncarnação, Carlos Carrapato e Nuno Ventinhas,cuja colaboração técnica foi fundamental para a rea-lização do presente trabalho.

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RPCV (2001) 96 (540) 197-199Silva, MM et al

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201

Departamento de Aquicultura, Instituto de Investigação das Pescas e do MarAvenida de Brasília, 1449-006 Lisboa, PORTUGAL

O presente trabalho assinala a primeira ocorrênciade amiloodiniose em pregado, Psetta maxima (L). Descre-vem-se as alterações comportamentais observadas, bemcomo o quadro sintomatológico associado à parasitose. O di-agnóstico foi estabelecido com base em esfregaços a fresco,biópsias das brânquias e pele e no exame histológico dasbrânquias, o que permitiu identificar os trofontes e observaras alterações histopatológicas do epitélio branquial. Foramimplementadas terapêuticas utilizando o sulfato de cobre e operóxido de hidrogénio numa tentativa de controlar a infesta-ção.

Doença parasitária, Amyloodinium ocella -tum, Psetta maxima.

This is the first report of amyloodiniosis in Psettam a x i m a (L.). Behavioural changes are described as well asthe clinical signs caused by the parasite. Definite diagnosiswas made by the identification of trophonts in wet mounts ofskin and gills and histopathological section of gills with para-site. Copper sulphate and hydrogene peroxid were used astreatments to control the parasitosis.

Parasitic disease, Amyloodinium ocellatum,Psetta maxima.

A amiloodiniose (“marine velvet disease”, “coralfish disease”) é uma doença parasitária cujo agenteetiológico é o dinoflagelado

De distribuição cosmopolita (Lom e Dyková,1992), este dinoflagelado termofílico e eurialino foiencontrado em inúmeras espécies de peixes selva-gens estuarinas e marinhas (Sinderman, 1990;Southgate, 1993), sendo um dos poucos parasitasque pode infestar quer os elasmobrânquios (tubarõese raias) quer os teleósteos (Lawler, 1980). Em esta-bulação, a sua proliferação pode originar elevadamortalidade (Needham e Wootten, 1978). As áreasatingidas incluem o Mediterrâneo, Mar Ve r m e l h o ,Golfo do México, etc. (Southgate, 1993). As princi-pais espécies comerciais de maricultura mais atingi-das, são o robalo em Israel (Paperna, 1980) e Itália(Ghittino , 1980; Christofilogiannis, 1993) e adourada em França (Paperna e Baudin Laurencin,1979), Israel (Paperna e Baudin Laurencin, 1979;Paperna, 1980), Itália (Barbaro e Francescon, 1985)

e Jugoslávia (Paperna, 1983). Em Portugal a amiloo-diniose foi observada em robalo na Lagoa de Óbidose Estuário do Sado (Menezes, 2000) e na mesmaespécie e em dourada em piscicultura (Menezes,1994).

O é um parasita que atin-ge principalmente as brânquias (Brown, 1934;Brown e Hovasse, 1946; Sinderman, 1990; Noga,1996) e também a pele (Lom e Dyková, 1992). Aocorrência de epizootias deste dinoflagelado emaquário tem servido de base ao estudo morfológicodo parasita, do seu ciclo biológico (Brown, 1934;Brown e Hovasse 1946), a estudos ultra-estruturaisdas células branquiais infestadas e ao maior conheci-mento sobre o efeito patogénico do parasita (Lom eLawler, 1973 cit. Eiras, 1994). Paperna (1980) suma-riou toda a informação sobre a biologia e patogenici-dade do e recentementeestudou-se a resposta imunitária e a resistênciaadquirida à reinfestação em peixes que sobreviveramà infestação parasitária inicial, usando o método deE L I S A (enzyme-linked immunosorbent assay)(Smith ., 1994; Cecchini , 2001). A resistên-cia à infestação pelo e n v o l v eas imunidades inata e adquirida (Dickerson e Clark,1996; Woo, 1996). Lawler (1980) e Paperna (1980)referiram que algumas espécies de peixes adquiremimunidade ao mediada poranticorpos específicos após uma exposição sub-letala este parasita. É o caso da tilápia (O re o c h ro m i saureus) (Smith ., 1994), do “tomato clown fish”(Amphiprion fre n a t u s) (Cobb ., 1998), do“hybrid striped bass” (M o rone saxatilis X M.c h ry s o p s) (Smith ., 1994) e do robalo (D i c e n -trarchus labrax) (Cecchini , 2001).

Num ensaio laboratorial de crescimento, os prega-dos encontravam-se divididos em 4 lotes (A, B, C, eD), cada um com 9 indivíduos (peso médio 27 g)mantidos em pequenos circuitos fechados, com re-circulação, constituídos por um tanque de fibra devidro com aproximadamente 70 litros de água e umfiltro biológico. Em três deles (A, B, e C) a água era

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aquecida por uma resistência, sendo as temperaturasde 27, 25 e 23 ± 1 ºC respectivamente. No tanque Da água estava à temperatura ambiente (20-22 ºC). Asalinidade era de 34 ± 1 ‰ em todos os tanques.

A presença de foi inicial-mente revelada pela observação ao microscópio óp-tico de trofontes nas brânquias de um pregado quetinha morrido no tanque A, 17 dias após a introdu-ção. Para o estabelecimento do diagnóstico definiti-vo, realizaram-se esfregaços a fresco e biópsias dasbrânquias e pele, bem como o exame histopatológicodas brânquias. As brânquias foram fixadas em for-mol salgado neutro a 10 %, processadas rotineira-mente e incluídas em parafina. Realizaram-se cortescom 5 µm e colorações com hematoxilina e eosina(H&E).

Após a morte do último indivíduo dos tanquesaquecidos (no dia 28 após a introdução e pertencenteao lote C), foi efectuado um pequeno ensaio terapêu-tico na tentativa de controlo do parasita com os pre-gados do lote D, os quais se encontravamparasitados. Dividiram-se em três grupos de três in-divíduos. O grupo 1 serviu de testemunha não lhesendo aplicado qualquer tratamento, o grupo 2 foisujeito a um banho de sulfato de cobre (0.1 ppm) du-rante 10 dias e ao grupo 3 foi aplicado um banho deperóxido de hidrogénio (100 ppm) durante 30 minu-tos, com repetição 5 dias depois. Relativamente aolote tratado com sulfato de cobre, uma vez que o iãocobre é muito tóxico e dada a dificuldade em mantera sua concentração na solução, optou-se por renovardiariamente o banho de tratamento.

Os primeiros sinais observados revelaram altera-ções no comportamento, nomeadamente respiraçãorápida e superficial, aglomeração dos peixes juntodos arejadores, no fundo dos tanques, movimentosnatatórios erráticos em torno das paredes do tanque eperda progressiva do apetite.

Inicialmente, os sintomas eram subtis mas, com aevolução do processo, observaram-se alterações dapigmentação da pele tais como o aparecimento demanchas de despigmentação/hiperpigmentação (Fig.1), congestão e erosão das barbatanas, hipersecrec-ção mucosa cutânea e dilatação do ventre, culminan-do com a morte dos indivíduos.

Verificou-se a existência de associação entre oagravamento da sintomatologia e a temperatura daágua dos tanques, com evolução da infestação maisrápida e mortalidade precoce nos tanques de tempe-ratura mais elevada.

O exame ao microscópio óptico das preparações afresco de esfregaços da pele e brânquias permitiuobservar hipersecrecção de muco, congestão do epi-télio branquial e identificar morfologicamente asformas parasitárias que constituem o ciclo de vidado (Fig. 2).

Observou-se a presença de trofontes, inicialmentenas brânquias (Fig. 3) e posteriormente na pele dospregados. De forma arredondada (quando presos ao

epitélio branquial) ou ligeiramente oval, estas célu-las únicas, que são imóveis por não disporem de fla-gelos, encontravam-se envolvidas numa membranadensa, exibiam um grande núcleo esférico rodeadopor grânulos refringentes e possuíam, no seu pólom e n o r, um disco de fixação. Este, com um pedúnculobastante curto irradiando projecções filiformes, os ri-zóides, evidenciavam uma formação semelhante aum tentáculo móvel, o estomatópode (Fig. 2-A). Fo-ram observados quistos de forma arredondada ouoval (Fig. 2-B) e em diversas fases de multiplicação:bipartição (Fig. 2-C), tetrapartição (Fig. 2-D) e mul-tiplicações sucessivas (Fig. 2-E). Posteriormente aparede do quisto rompeu-se e foram libertadas as cé-lulas filhas (dinosporos), flageladas (Fig. 2-F), mó-veis e menores que a célula mãe.

O exame histopatológico permitiu observar hiper-plasia do epitélio branquial com fusão das lamelasbranquiais acompanhadas de edema, levando ao des-tacamento das células de suporte das brânquias (Fig.4). Observaram-se ainda alterações degenerativas,necrose das células do epitélio branquial e depleçãodas células mucosas.

No presente estudo verificou-se, que o lote teste-munha morreu na totalidade após 48 horas, enquantoque os pregados tratados sobreviveram. Nos esfrega-ços efectuados após os tratamentos não foram en-contrados parasitas.

As formas observadas em exame a fresco e corteshistológicos, apresentam as características do

descritas por Brown (1934),Brown e Hovasse (1946), Kudo (1960), Lom eDyková (1992), Cheung (1993) e Eiras (1994) queconstituem o ciclo de vida trifásico do

( A m l a c h e r, 1970; Cobb , 1998):fase parasitária (trofontes), fase de divisão ou multi-plicação (quistos) e fase infestante (dinosporos),idêntico ao ciclo de vida do ciliado

(Noga, 1996).A presença de trofontes na pele e brânquias foi

também observada por Paperna (1980) na dourada,contrariamente às observações de Noga . (1991)

202

Ramos, P. e Oliveira, J. M.

Pregados infestados por

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203

Ramos, P. e Oliveira, J. M.

A

B

C

D

E

F

Ciclo de vida trifásico do em .Trofonte - fase parasitária (A). (aprox. X 150)Tomonte - fase de divisão ou de multiplicação (B; C e D aprox. X 150) e (E)Dinosporo - fase infestante (F). (aprox. X 750)

Brânquia infestada por trofontes de (aprox., X 40).

Corte histológico de uma brânquia de infestada por Tronfonte entre aslamemas branquias. e Edema epitelial. (aprox. x100; H&E)

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A diminuição da temperatura da água do tanque(Brown, 1934; Anónimo, 1988; Noga, 1996) e a re-dução da iluminação (Kabata, 1985; A n ó n i m o ,1988) podem ser utilizadas para atrasar o ciclo devida do parasita e assim prolongar a vida do peixe.De realçar que, embora as infestações não surjam amenos de 17 °C (A. Colorni cit. Noga, 1996), umavez que os tomontes páram de se dividir a baixastemperaturas, podem vir ser produzidos dinosporosquando colocados a 25 °C, mesmo após quatro me-ses a 15 °C (C.E. Bower cit. Noga, 1996). Os dinos-poros permanecem infestantes durante pelo menosseis dias a 26 °C (Bower, 1987 cit. Noga, 1996).

Embora haja pouca resposta aos tratamentos quí-micos, o uso do sulfato de cobre tem revelado algu-ma eficácia no tratamento do A m y l o o d i n i u mo c e l l a t u m ( A m l a c h e r, 1970; Ghittino , 1980;Barbaro e Francescon, 1985; Noga , 1991;Southgate, 1993; Scott, 1993; Reed e Floyd, 1994;Montgomery ., 1999; Cecchini ., 2001),sendo mesmo usado como profiláctico (Ghitino

., 1980). Porém, o sulfato de cobre tem um efeitoaltamente adstringente no epitélio branquial e tóxicopara o fígado (Scott, 1993). Outros produtos têmsido ensaiados: azul de metileno (Kabata, 1985;Anónimo, 1988), formalina (Paperna, 1983), acrifla-vina (Amlacher, 1970; Kabata, 1985) e peróxido dehidrogénio (Montgomery ., 1999). Este últimofoi usado com sucesso no tratamento do Mugil ce -p h a l u s (Montgomery-Brock, 2000) e no P o l y d a c t i -lus sexfilis (Montgomery ., 1999).

Embora não haja medidas de controlo específicaspara esta situação, algumas regras de maneio decarácter geral, podem ser úteis no controlo das viasde infestação diminuindo, mas não eliminando, orisco de introdução do parasita: a quarentena e avigilância do peixe que entra na piscicultura (Amla-cher, 1970), com uma duração de 14 (Kabata, 1985)a 20 dias (Noga, 1996); o controlo da qualidade daágua que entra na piscicultura (Kabata, 1985).

Os tratamentos implementados revelaram-se apa-rentemente eficazes sendo no entanto de ressalvarque os resultados obtidos deverão ser tomados ape-nas como indicadores, em virtude do reduzidonúmero de exemplares utilizados.

Este estudo tendo decorrido em condições experi-mentais particulares em que as temperaturas favore-ceram o ciclo de vida do parasita, a infestação emboracom um carácter acidental revestiu-se da maior im-portância, pois trata-se da primeira referência numaespécie relativamente importante em piscicultura.Esta espécie é neste momento objecto de estudos quevisam a implementação da sua cultura em Portugal,em tanques de terra, no âmbito da diversificação eincremento da produtividade neste tipo de sistema.

Os autores agradecem ao Dr. Jaime Menezes a re-visão do texto e a Augusta Moledo, Constança Pasa-das, Luís Belo e Rui Silva pela colaboração prestadana execução do trabalho.

em “hybrid striped bass” infestado com este parasita.Paperna e Laurencin (1979) referem que as infesta-ções da pele são raramente observadas, mesmo emtanques maciçamente infestados, com excepção daslarvas de robalo e de dourada em que a pele é o localpreferido de fixação do parasita (Paperna, 1980). Porsua vez, Montgomery . (1999) referem as brân-quias como sendo o local de infestação primária no

Cheung . (1981) regista-ram a presença de trofontes em locais pouco usuaiscomo sejam a submucosa, músculo e tecido conjun-tivo da faringe e rim anterior do

(L.).Dispondo de condições ambientais favoráveis

como temperatura elevada e constante (Brown,1934; Eiras, 1994) e luminosidade intensa que pare-cem ser os factores que mais influenciam a reprodu-ção (Eiras, 1994), o ciclo evolutivo é normalmentecompletado no substrato do fundo do tanque ou nopróprio peixe (Sinderman, 1990), como observadono presente caso em que a hipersecrecção de mucoreteve as formas de multiplicação.

As imagens histopatológicas observadas porPaperna (1980) em robalo e dourada foram igual-mente observadas no pregado.

Uma vez feito o diagnóstico, é essencial umaintervenção rápida na implementação de um trata-mento eficaz contra o e se-guro para o peixe, de forma a prevenir uma perdarápida do “stock”. Embora a forma livre (dinosporo)seja susceptível à quimioterapia, a forma vegetativa(trofonte) e os estadios de esporulação (tomonte) sãoresistentes, o que torna a erradicação difícil (Lawler,1980; Paperna, 1983), quer por exigir tratamentosprolongados de modo a permitir que todos os trofon-tes e tomontes formem dinosporos (Noga, 1996),quer por exigir o controlo periódico de reinfestaçãoe ainda, pela limitação da sua aplicação quando opeixe se destina ao consumo humano (Anónimo,1988). Se a estes factores acrescentarmos a elevadataxa de multiplicação do parasita, um ciclo de vidacurto (Paperna , 1981), uma grande tolerância àsvariações ambientais (Schwarz e Smith, 1998) e ofacto das infestações serem assincrónicas (Noga,1987), o é o protozoárioectoparasita mais patogénico e difícil de controlar,constituindo uma séria preocupação para os piscicul-tores (Eiras, 1994).

Schwarz e Smith (1998) referem métodos de con-trolo da amiloodiniose de natureza física e de nature-za química. Os primeiros, através da renovação efiltração da água, lavagem e desinfecção dos circui-tos, visam minimizar o grau de infestação do Amylo -odinium ocellatum, removendo fisicamente ostomontes enquistados antes da libertação dos dinos-poros e evitam a reinfestação (Paperna ., 1981).Há referências ao uso de banhos em água doce du-rante alguns minutos para desalojar os trofontes an-tes de implementar qualquer tratamento (Kabata,1985; Bruno ., 1997), embora seja “stressante”para o peixe (Montgomery ., 1999). Uma vez li-bertados, os dinosporos podem ser mortos com radi-ações ultra-violetas (Lawler, 1977 cit. Noga, 1996).

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1 Instituto de Investigação das Pescas e do Mar (IPIMAR). Avenida de Brasília. 1449-006 Lisboa.2 Faculdade de Medicina Veterinária (Universidade Técnica de Lisboa. Rua Professor Cid dos Santos. 1300-477 Lisboa.

Descreve-se um caso de hiperplasia da tiróideobservado num exemplar de . O exame clí-nico permitiu observar uma tumefacção branquial projectan-do-se sob o opérculo direito e provocando o seu afastamento.Paralelamente, o exame anátomo-patológico permitiu obser-var a presença de uma massa hiperplásica na região branquialventral direita bem como na região branquial dorsal/ bucal. Aobservação ao microscópio óptico dos cortes realizados nasdiferentes estruturas afectadas permitiu observar que, emboraa unidade estrutural básica fosse o folículo da tiróide, a estru-tura microscópica não era uniforme, variando quer no tama-nho, forma e presença das células foliculares, quer ainda nariqueza do estroma interfolicular. O diagnóstico diferencialentre lesão hiperplásica e neoplasia teve como critérios osaspectos histológicos observados, a ausência de figuras demitose e o facto de não se ter identificado tecido ectópico.Faz-se o estudo comparativo com outros casos clínicos obser-vados nesta e em outras espécies. O texto inclui sob a formade quadro, uma compilação dos processos patológicos datiróide observados em peixes.

The present work reports a case of thyroid hyper-plasia in . The affected fish exhibited a red-dish large mass protruding beyond the right operculum andpreventing the complete closure of the gill chamber. A tnecropsy a large mass on the left side and along the floor ofthe pharynx was observed. Microscopically, the mass consis-ted mainly of thyroid follicles of varying size, several ofwhich follicles lacked a lumen. The amount of interfollicularstroma was variable. In many teleosts it is difficult to diagnosethyroid tumours because of the unencapsulated and heterotopic thyroid, which makes it difficult to distinguish whetherlesions are neoplastic or hyperplastic. The thyroid tumor des-cribed here was classified as a thyroid hyperplasia. T h i sconclusion was based on the tumour’s benign microscopicappearance, the fact that the tissue was encapsulated and nomitotic figures or metastases were identified. This conditionis discussed in comparison with similar cases reported in thesame and other species in the literature. A table summarisingspontaneous thyroid tumours is also included.

gação sobre o desenvolvimento anormal da tiróide,em diversas espécies de peixes marinhos e de águadoce, selvagens (Leatherland ., 1989) ou estabu-lados, durante um determinado período de tempo(Schlumberger & Lucké, 1948; Gorbman & Gordon,1951; Nigrelli, 1952; Lightner & Meineke, 1975;Conroy & Santacana, 1979). Contudo, os tumores datiróide são raros na natureza (MacIntyre, 1960 Snieszko, 1972), sendo a sua frequência superior empeixes estabulados e mais nos de água doce do quenos de água salgada (MacIntyre, 1960 Harada

., 1996).O primeiro foco epizoótico de bócio em peixes,

reconhecido em Portugal, data de 1969 e ocorreunum viveiro de trutas arco-íris,

, na Serra da Estrela (Cruz, 1969). Posterior-mente, registaram-se alterações da tiróide no

(Freitas ., 1986), no (Freitas, 1990) e, com carácter epizoótico em lingua-dos, (Ramos, 1998; 1999).

A interpretação e classificação das lesões prolife-rativas observadas na tiróide nem sempre reuniramconsenso, o que levou a confusões consideráveis noseu diagnóstico (Tabela 1). Esta controvérsia ter-se-ádevido a uma característica anatómica da grandemaioria dos peixes teleósteos que é a ausência deglândula tiróide encapsulada como nos mamíferos.As excepções são o espadarte ( ) (Hazon &Balment, 1998; Capen, 2000), o atum ( )e o peixe-papagaio ( ) (Leatherland, 1994).Nos teleósteos, os folículos da tiróide apresentamuma distribuição anatómica difusa no tecido conjun-tivo das zonas subfaríngica e parafaríngica (Gorb-man, 1969), ao longo da aorta ventral (Lagler .,1977) e segundas e terceiras artérias branquiais(Ashley, 1975). Podem ser observados folículos emtorno do olho, veias hepáticas, tecido hematopoiéticorenal (Ellis 1978; Endo, 1995), baço e coração(Leatherland & Ferguson, 1997) correspondendo atecido ectópico normal. Esta dispersão dos folículosda tiróide dificulta a sua localização tornando-osdifíceis de estudar, mesmo por microscopia electró-nica (Leatherland ., 1978). Embora haja umagrande variação na localização e distribuição dosfolículos da tiróide entre as diferentes espécies devertebrados (Capen, 2000), a glândula tiróide dospeixes e dos ciclóstomos partilha com eles duas

Segundo Gaylord & Marsh (1912), o primeiroregisto de alterações patológicas da tiróide em pei-xes, deve-se a Bonnet (1883), embora a natureza doprocesso não tenha então sido identificada. Esteinvestigador alemão descreveu um surto que vitimoumais de três mil trutas, d e u m apiscicultura (Schlumberger & Lucké, 1948). Desdeentão, publicaram-se inúmeros trabalhos de investi-

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Sinopse dos processos patológicos da tiróide.

(*) cit. Mawdesley-Thomas, 1975.

(**) cit. Blasiola et al., 1981

Nota: A Classificação Taxómica apresentada foi revista pela Base de Dados electrónica do ficheiro www.fishbase.org.

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cm de largura (Fig. 2). Na região branquial dorsal/bucal, ao nível do istmo (zona de confluência dos 1º,2º e 3º arcos branquiais), observou-se a presença deuma massa hiperplásica trilobada, de cor rosa-claro,com 1 cm de largura e 0,8 cm de comprimento, pro-jectando-se a meio da face dorsal da faringe, quaseatingindo dorsalmente o céu da boca (Fig. 3). Todosos órgãos internos foram observados, não se regis-tando lesões macroscópicas aparentes.

A observação ao microscópio óptico dos cortes re-alizados nas diferentes estruturas hiperplásicas bran-quiais ventrais (direita e esquerda) e dorsal/ bucal,permitiu observar que, embora a unidade estruturalbásica fosse o folículo da tiróide, a estrutura micros-cópica dos tecidos hiperplásicos não era uniforme.

Na região branquial ventral direita, que correspon-dia à massa hiperplásica visível exteriormente, o te-cido hiperplásico era menos denso que nas outrasestruturas. Nesta zona os folículos surgiam separa-dos por amplos espaços claros de tecido conjuntivolaxo, constituídos por uma fina estrutura fibrosa desuporte, na qual era possível identificar cavidadescom revestimento endotelial (Fig. 4). Algumas des-sas cavidades continham hemáceas, correspondendoa capilares sanguíneos, em estreito contacto com ascélulas foliculares. A pequena ampliação, estes espa-ços claros assemelhavam-se mesmo a tecido adiposo.Observou-se alguma heterogeneidade relativamenteao tamanho dos folículos bem como na coloração docolóide interfolicular. Pequenos folículos constituídospor células cilíndricas e repletas de colóide forte-

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características, a unidade estrutural básica, o folículo,e a capacidade deste tecido para captar e incorporariodo inorgânico nas hormonas que sintetiza (Matty,1985).

O caso em estudo, observou-se num exemplar de, vulgarmente conhecido por “Ser-

rano” ou “Ferreiro”. Este exemplar foi mantido numaquário de água salgada, onde coabitou com outrospeixes selvagens da mesma espécie e de espéciesdiferentes, durante um período de dois anos. A s u aalimentação consistiu essencialmente em “camarinha”e “berbigão”. O controlo dos parâmetros físico-quí-micos da água foi feito através da avaliação semanalde nitritos, nitratos e amónia. A adição de águasalgada era esporádica, apenas para compensar asperdas normais por evaporação.

O exemplar em causa não manifestava alteraçõesde comportamento nem alimentar. O exame clínicopermitiu observar uma tumefacção branquial de co-loração avermelhada, projectando-se sob o opérculodireito e provocando o seu afastamento (Fig. 1).Apenas um outro exemplar da mesma espécie apre-sentou idêntica sintomatologia, mas morreu sem quetivéssemos tido oportunidade de o observar.

A occisão foi realizada imediatamente antes da ne-crópsia com uma sobredosagem do anestésico Feno-xietanolmonofenileter.

O material colhido para exame histopatológico foifixado em formol salgado a 10 % e tamponado,incluido em parafina e os cortes com 5 µm foramcorados com hematoxilina e eosina (H&E), segundoa metodologia descrita por Lillie & Fullmer (1976).

O exame anátomo-patológico do sistema bran-quial, permitiu registar a presença de uma massatecidular hiperplásica de consistência firme e aspec-to nodular. Na região branquial ventral direita, amassa tecidular, com dimensões aproximadas de 1 X1 cm, era visível exteriormente enquanto que no ladoesquerdo, a massa tecidular era difusa, com dimen-sões aproximadas de 1 cm de comprimento por 0,5

Exemplar de . Observar uma tume-facção projectando-se da região sub-opercular direita.

O exemplar da figura anterior, observado num planoaxial.

Formação hiperplásica na zona faríngica, projectando-se para o interior da cavidade bucal.

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mente eosinofílico, foram identificados entre grandesestruturas quísticas (Fig. 5). Estas estruturas quísticaseram constituídas por células foliculares cúbicas, porvezes apresentando contornos irregulares (Fig. 6). O lú-men continha material eosinofílico heterogéneo, compequenas gotículas e ocasionalmente hemáceas. No ci-toplasma das células foliculares, observou-se a presen-ça de gotículas eosinofílicas, semelhantes ao colóide.

Na região branquial ventral esquerda, a imagemhistológica dominante, consistia na presença deestroma ricamente vascularizado no qual se encon-travam folículos da tiróide repletos de colóide forte-mente eosinofílico e constituídos por célulasepiteliais cilíndricas.

Histologicamente, a estrutura hiperplásica na re-gião branquial dorsal/ bucal, caracterizou-se pelapresença de massas compactas de folículos da tiróide(Fig. 7), evidenciando alguma heterogeneidadequanto ao tamanho e forma (microfolículos, folícu-los alongados e quistos repletos de colóide heterogé-neo), separadas por trabéculas de tecido conjuntivolaxo. Observou-se a presença de gotículas eosinofílicasno citoplasma das células foliculares (Fig. 8).

Por último, um aspecto interessante a referir, é ofacto de, apesar de as estruturas hiperplásicas nãoserem encapsuladas, apresentavam uma periferiar e g u l a r, sob o epitélio que revestia as estruturas ana-tómicas anexas.

Da observação histológica dos órgãos colhidos,destaca-se a presença de inúmeros centros melano-macrofágicos (CMM) no baço que ocupavam grandeparte do parênquima, bem como a presença degranulomas (reacção inflamatória crónica) rodeadospor CMM. No miocárdio do também foiobservada a presença de CMM. As brânquias apre-

Massa hiperplásica na região branquial ventral direita.Folículo quístico repleto de colóide esosinofílico com hemáceas.Observar folículos pequenos e amplos espaços claros de tecidoconjuntivo laxo. (H&R, x20).

Massa hiperplásica na região branquial ventral direita.Folículos pequenos repletos de colóide. Observar os amplos espa-ços claros nos quais se identificam cavidades de revestimento en-dotelial, contendo hemáceas. (H&E, x 50).

Formação hiperplásica na região branquial dorsal/bucal. Massa compacta de folículos da tiróide de tamanho variado.(H&E, x 20).

Folículo quístico de contornos irregulares resultantesda pressão exercida pelas estruturas vesiculosas dos amplos espa-ços claros. (H&E, x 50).

Formação hiperplásica na região branquial dorsal/bucal. Presença de gotículas eosinofílicas no citoplasma das célu-las foliculares. (H&E, x 100).

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sentavam alterações de natureza hiperplásica e fusãodos filamentos branquiais. Não foram identificadasfiguras de mitose nem a presença de tecido tiroideuectópico, nos órgãos observados.

Em Portugal, uma alteração patológica da tiróidena mesma espécie, foi anteriormente referida porFreitas (1990). Em termos anátomo-patológicos, oexemplar do caso mencionado, apresentava umamassa hiperplásica unilateral esquerda, não havendoreferência a estruturas hiperplásicas projectando-seda faringe para dentro da cavidade bucal, comoobservado no caso em estudo e em outras espéciestais como: (Blasiola . ,1981), (Moccia ., 1981),

(Gorbman & Gordon,1951), (Ramos, trabalho nãopublicado) e (Gaylord & Marsh,1912). No caso presente, a conformação corporalfusiforme de permitiu identificarfacilmente a hipertrofia da tiróide devido ao afasta-mento dos opérculos, comparativamente com asituação registada em ( R a m o s ,1998). Associado à localização anatómica das estru-turas hiperplásicas da tiróide, tem sido descrito umquadro sintomatológico, não observado neste exem-plar, e que inclui disfagia e dificuldade respiratória.

Da descrição histológica das lesões observadas porFreitas (1990) em , destacam-sedois aspectos estruturais: o grande número de folículosde tamanho variado, a maioria contendo colóide noseu interior, e a presença de neovasos. Estas duasimagens histológicas constituem igualmente a basedas alterações por nós observadas. No presente caso,a imagem histológica dos amplos espaços claros detecido conjuntivo laxo observados na massa hiper-plásica visível do exterior, foi igualmente descritanuma lesão tumoral da tiróide localizada na regiãobranquial dorsal/ bucal de (Gorbman & Gordon, 1951). Não foram identifica-das figuras de mitose, contrariamente ao descritorelativamente à patologia da tiróide em

(Blasiola ., 1981), em (Harada ., 1996) e em (Freitas,1990). A pesquisa de tecido tiroideu ectópico no sis-tema branquial, revelou-se negativa tanto no casopresente como no relatado por Freitas (1990), con-trastando com a exuberância proliferativa de tecidotiroideu, nos filamentos branquiais referida em

, (Ramos, 1998, 1999) e ainda em(Lightner & Meineke, 1975),

em (Gorbman & Gordon,1951; Aronowitz ., 1952), em

(Blasiola ., 1981) e em (Nowak & Harshbarg e r, 1999). Folículos da

tiróide ectópicos foram ocasionalmente observadosno baço, intestino e glândula coróide de

(Backer ., 1955) e (Hoover, 1984); no intestino de salmonídeos

(Gaylord & Marsh, 1912); no estômago de

(Ramos, 1999); no rim de todos osexemplares anteriores e ainda em (Harada 1996), em e em

spp. (Bond, 1996); no miocárdio doe/ou dos ventriculos de

(Ramos, 1999), (Hoover, 1984)e em (Blasiola 1 9 8 1 ) ;no fígado, pâncreas, gordura mesentérica e ovário de

( H o o v e r, 1984). No exemplarem estudo não foram identificados folículos da tiróideectópicos. As massas tecidulares hipertrofiadas apre-sentavam imagens histológicas sugerindo uma res-posta variável dos folículos à hiper-estimulação.

O diagnóstico diferencial entre lesões h i p e r p l á s i c a se neoplasias da tiróide é frequentemente difícil. Aausência de verdadeira cápsula envolvente da tiróidenão permite avaliar, com rigor, se ocorreu invasãodos tecidos vizinhos, como seria de esperar emprocessos neoplásicos. Por outro lado, estimar aocorrência de difusão metastática torna-se parti-cularmente difícil dada a existência de tecido ectópicoda tiróide em vários órgãos (Budd & Roberts, 1978;Smith, 1993; Leatherland, 1994).

Usando como critério de diagnóstico os aspectoshistológicos observados (Sonstegard & Leatherland,1976; Leatherland & Sonstegard, 1981; Ham & Cor-mak, 1983) designadamente a semelhança entre ascélulas foliculares da tiróide alterada e as do mesmoórgão na maioria dos vertebrados, a coloração e he-terogeneidade do colóide dos folículos, a ausênciade figuras de mitose, a ausência de invasão dos teci-dos vizinhos e o facto de não se ter identificado teci-do ectópico, permitem concluir que as alteraçõesobservadas no exemplar de em es-tudo correspondiam a hiperplasia da tiróide e não aum processo de natureza neoplásica. A h i p e r p l a s i apoderá ter sido devida a estimulação anormal, cujaetiologia não é possível esclarecer com os dados dis-poníveis, nomeadamente os relativos à possível defi-ciência em iodo do meio ambiente.

À Técnica Profissional de Laboratório, A u g u s t aMoledo (D.A.Q.) a colaboração no exame histopato-lógico e a Constança Pasadas (D.D.C.T.- Laboratóriode Fotografia) a macrofotografia.

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1 Clínica das Espécies Pecuárias, DEMOC, CIISA, Faculdade de Medicina Veterinária, UTL, Rua Professor Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa

2 Companhia das Lezírias, Samora Correia

A clinical case with a 5 days old, deceased,stallio n is discussed. In 0.2 – 1 % of the newborn foals a rup-ture of the urine bladder occurs. This pathological situationleads to the accumulation of urine in the abdominal cavity.This is the start of a cascade of pathological alterations andclinical signs. The differential diagnoses are discussed. If apractitioner is confronted with a patient suffering this dis-comfort, the first thing to be done is to stabilise the electrolyteimbalances, in particular the hyperkaleamia because it canlead to life-threatening arrhythmias. In fact, some foals diebefore surgery, probably from cardiac arrest partially due toelevated potassium levels. Surgery consists in the closure ofthe urine bladder and the washing of the abdominal cavity.When diagnosed quick, in general, the prognosis is favoura-ble: about 80-90% patients survive.

Descreve-se um caso clínico referente a um poldrode 5 dias de idade que morreu por rotura da bexiga. Isto ocor-re em 0,2 a 1% dos poltros nascidos. Esta situação leva à acu-mulação de urina na cavidade abdominal responsável porvárias alterações patológicas e sinais clínicos. Os diagnósti-cos diferenciais são referidos. No caso de um clínico depararcom um paciente com este problema deve em primeiro lugarcorrigir os desequilíbrios electrolíticos, em especial a hiper-calémia visto poder originar arritmias. De facto, alguns pol-dros morrem antes da cirurgia por paragem cardíaca devidoaos elevados níveis sanguíneos de potássio. A cirurgia consis-te na sutura da bexiga e na lavagem da cavidade abdominal.Quando esta situação clínica é diagnosticada precocemente, oprognóstico é bastante favorável: cerca de 80 a 90% dos paci-entes sobrevivem.

remove 10 litres of a yellowish, bad smelling fluid,obviously urine, before we could diagnose the courseof the dead of this foal: the urine bladder ruptured.

Is this something that could be prevented? How doyou recognise it?

Ruptured urinary bladder is the most commonbladder disorder in neonatal foals. The incidence is0.2 to 1 % (Baerveldt and Klein, 1991). It occursmost often in colts less than 1 week of age, but canalso occur in fillies and older foals. There is noknown breed predilection.

Bladder rupture is a tear or leak in the urinarybladder that results in uroperitoneum. Uroperito-neum, the accumulation of urine in the peritoneal(abdominal) cavity, can also result from disruptionof other parts of the urinary tract. It is difficult topredict when bladder ruptures might occur; thus,they are difficult to prevent. Although they can occurin adult horses, usually from urinary tract obstructi-on, the vast majority of bladder ruptures occurs infoals. Here, the rupture usually occurs in the bladderitself, but can also occur in the urachus. The urachus,a structure in the foetus, which lies between the tipof the bladder and the umbilical cord, allows the ex-cretion of urine. This structure is normally closed atbirth, and over several weeks contracts to a thickband of tissue.

Most bladder ruptures in foals occur during partu-rition (Baerveldt and Klein, 1991; Hardy, 1998). It isthought that the increased abdominal pressure thefoal experiences during birth can lead to rupture of afull bladder if urine cannot be easily voided. T h eanatomy of the male pelvis and the longer length ofthe male urethra tend to predispose the male foal tothis problem more often than the female. However,the condition can also be caused by any type of trau-ma such as kicks or rough handling. Congenital de-fects of the bladder have also been reported(Richardson and Kohn, 1983). Finally, bladder rup-ture can occur secondary to septic omphalitis. T h einfection may extend to the bladder resulting innecrosis and weakening of the wall, predisposing itto rupture.

In April 2001, our clinic received a request to do apost-mortem examination on a 5 days old foal thatwas found dead in the pasture. Because this was thesecond dead foal within 1 week, the veterinarian atthe farm was worried about possible infectiousdiseases among the herd. The foal was bornnormally and didn’t look ill during the first days oflife. The only abnormal finding observed was that itlooked as if he was urinating frequently without pro-ducing urine. After day 3 the foal was drinking lessf r e q u e n t l y, recognisable by the udder of the mareleaking milk. Very mild colic signs were seen in theevening of day 4.

The necropsy revealed a foal with a normal build.The only remarkable finding was a dilated abdomen.After opening the abdominal cavity, we first had to

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bladder is observed in radiographs, and the defectmay be visible with contrast imaging. Ultrasono-graphy is rapid, non-invasive, and allows defect lo-cation. A l a rge amount of abdominal fluid may beobserved by ultrasound, and the collapsed, flaccidbladder is visible.

Ancillary tests that can be performed are: themethylene blue test (inject sterile dye into urinarycatheter and observe its flow into the abdomen) orheat the abdominal fluid to detect ammonia.

The list with differential diagnosis contains: colic(especially meconium impaction), ureteral defects,urachal rupture and intestinal atresia.

Ureteral defects and urachal rupture can cause uro-peritoneum with similar signs to bladder rupture.

The immediate concern is to correct the electrolyteimbalances, particularly the hyperkalemia, whichcan lead to life-threatening arrhythmias. In fact,some foals die before surgery can be performed, pro-bably from cardiac arrest partially due to elevatedpotassium levels. To alleviate that risk, the abdomenshould be drained (at least partially) and intravenousfluids (without potassium) should also be administe-red. Intravenous NaCl is often enough to correctimbalances, with or without dextrose. Sodium bicar-bonate can be administered in order to correct acidosis.Insulin (and glucose) is also helpful in resolvingsevere hyperkalemia by driving K+ into cells (Baer-veldt and Klein, 1991; Hardy, 1998; Richardson andKohn, 1983).

The foal must be metabolically stable beforesurgery to avoid anaesthetic complications. The pla-cement of a urinary catheter is controversial amongpractitioners and may or may not be performed.

The surgical steps are the following: after a caudalmidline incision around umbilicus the bladder isexteriorised. The surface of the rupture location isdebrided. The abdominal cavity is emptied by suctionand after that cleaned by lavage with huge amountsof fluid. The bladder is closed with a double inver-ting suture. At the end the urachus is resected andthe incision is closed.

Laparoscopic surgery is an alternative to conventi-onal surgical treatment. It is less invasive and allowsbetter visualisation, but also requires specialisedequipment and expertise (Baerveldt and Klein, 1991;H a r d y, 1998; Johnson, 1970; Kablack , 2000;Richardson and Kohn, 1983).

During the pre-operative period there is a chanceof urachal trauma with haemorrhage of umbilicalartery. In worse cases, the foal may die due to severemetabolic disturbances.

214

Early clinical signs are subtle and the foal mayappear normal at birth. Typical early signs are non-specific and include depression, inappetence, tachy-cardia, and tachypnea. The foal’s appetite is mosteasily determined by observation of how full the ma-re’s udder is. Most male foals urinate within 6 hoursof birth, and if urination has not been observed andthe above non-specific signs are evident, rupturedbladder should be considered. Clinical signs pro-gress to mild abdominal pain, increased abdominaldistension, scrotal accumulation of urine, and respi-ratory distress due to abdominal pressure. Most foalswith a ruptured bladder show frequent straining tourinate, although some appear to urinate normally. Itis important to differentiate straining to urinate fromstraining to defecate due to a meconium impaction.Severe electrolyte imbalances due to bladder rupturemay result in neurological signs, severe arrhythmias,and death (Baerveldt and Klein, 1991).

Uroperitoneum can also develop in neonates withdebilitating problems or systemic infection. Leakingof urine into the abdomen might occur through tearsin the bladder or the urachus. These foals do not rup-ture the bladder at birth. Infection might not prima-rily involve the urachal area, but can adversely affectit. Consequently, the tissue in the area becomesswollen and inflamed, loses integrity, then starts se-parating and leaking. This probably accounts forabout 30% to 40% (Hardy, 1998; Richardson andKohn, 1983) of registered uroperitoneum cases. Theclinical signs seen in these foals are similar to thosementioned earlier, except these foals have someother disease process present. Most of these clinicalsigns will occur somewhere between four and 12days of age.

Confirmation of a suspected case requires labora-tory data, diagnostic imaging techniques, and ancil-lary tests.

The results of the laboratory data, in special theclinical pathology, will show a patient with an azote-mia (elevated blood urea nitrogen and creatinine).There might be a hyponatremia, a hypochloremiaand a hyperkalemia. Most affected foals have a me-tabolic acidosis (Baerveldt and Klein, 1991).

Urine is high in potassium and low in sodium andchloride. As it passes into the abdomen it equilibra-tes with the plasma, causing the above metabolicdisturbances.

Analyses of the abdominocentesis will show anabdominal /serum creatinine > 2:1. Calcium carbo-nate crystals are sometimes observed. Secondary toa septic omphalitis there might be a peritonitis diag-nosed, but uroabdomen alone does not normally cau-se peritonitis. An elevated urea nitrogen level mayalso be observed, but this equilibrates quickly withthe plasma and is therefore not a reliable test. Creati-nine is a larger molecule and equilibrates moreslowly, making it a more reliable parameter.

Using diagnostic imaging, there is the choose bet-ween plain abdominal radiograph, contrast radio-graphy and ultrasonography. A flaccid, folded

et al

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215

After surgery some problems can occur: recurren-ce of the uroabdomen due to leakage from the sutureline in the bladder; a failure to close all of defect;complications from the incision or adhesions.

Post-operative treatment consists of antibioticsand anti-inflammatories for at least a few days. Theadministration of other compounds depends on thecondition of the foal.

In general, the prognosis is favourable; about 80-90% of primary bladder rupture patients survive. Fo-als that are sick for other reasons and developuroperitoneum have a poor prognosis, i.e., about50% survive. Some of those foals are in marg i n a lcondition, and they will not survive (Baerveldt andKlein, 1991; Hardy, 1998; Johnson, 1970).

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R E V I S TA P O R T U G U E S ADE

CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

CASO CLÍNICO

Síndrome do rúmen vazio

Rúmen void syndrome

George Stilwell

Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade Técnica de Lisboa, Rua Professor Cid dos Santos, 1300-477 Lisboa

Resumo: Uma das afecções mais frequentemente confundi-das com deslocamento de abomaso à esquerda em bovinosadultos é a síndroma do rúmen vazio. Neste trabalho são re-vistos alguns aspectos clínicos desta síndrome e são apresen-tadas as formas mais frequentemente utilizadas para efectuaro diagnóstico diferencial entre as duas situações.

Summary: Some clinical features than characterise the rú-men void syndrome are presented. Because this situation issometimes mistaken with left abomasum displacement, someeasily performed techniques for the differential diagnosis aredescribed.

Uma das afecções de bovinos que mais se têm evi-denciado nestes últimos 15 anos, em termos denúmero de casos diagnosticados e de referências, é a“deslocação de abomaso à esquerda” (DAE). Estapopularidade advém de três factores principais: umaumento real na prevalência, provavelmente relacio-nado com novos sistemas alimentares ou com carac-terísticas genéticas involuntariamente seleccionadas;uma etiologia incerta e confusa quer quanto às causasdeterminantes como às predisponentes; e uma evoluçãosignificativa nas técnicas de cirurgia cujo perfeitoconhecimento passou a ser obrigatório a todos aque-les que se preparam para fazer clínica de bovinos.

No entanto, e apesar de se ter criado a ideia de queo diagnóstico da DAE é fácil e directo, há uma outrasíndrome que apresenta sinais clínicos que podemconfundir uma pequena percentagem de casos. É aSíndrome do Rúmen Vazio (ou Colapsado).

O colapso do rúmen, como o nome indica, resultade um esvaziamento excessivo deste compartimentogástrico dos bovinos. A causa determinante é umaanorexia durante um largo período de tempo, essen-cialmente devido a um dos seguintes factores: a) do-enças infecciosas e inflamatórias graves geralmenteacompanhadas de toxémia – mastites, metrites, peri-tonites e outras (Rebhun, 1995); b) doenças metabó-licas do pós-parto – fígado gordo, cetoses etc...; c)problemas podais graves – animais não se levantamou aguentam muito pouco tempo em estação; d) de-ficiente oferta de alimento – quer em quantidadequer em qualidade (dieta muito pobre ou constituídaapenas por fibra muito grosseira). Esta possibilidadeé mais frequente em animais de raças de carne empastagens muito pobres ou em explorações com gra-ves problemas económicos.

Qualquer uma destas causas só será verdadeira-mente eficiente em provocar o colapso do rúmen seo processo não for diagnosticado e tratado conveni-entemente e a tempo. No entanto, como muitas ve-zes estas doenças também se encontram na géneseda DAE, a história da sua presença não é muito útilpara o diagnóstico diferencial.

No colapso do rúmen, o saco dorsal do estômagodescai e fica assente sobre o saco ventral que, geral-mente, ainda apresenta algum ingesta. O quadranteesquerdo do abdómen fica assim vazio e delimitadopelo rúmen em baixo, o diafragma à frente, a paredeabdominal atrás, a parede costal à esquerda e o rimesquerdo e o omento à direita (Smith, 1996).

À auscultação desta área – espaço debaixo dasapófises transversas lombares, ao longo da fossa pa-ralombar e a área debaixo das últimas 4 ou 5 últimascostelas, do lado esquerdo – podemos ouvir um somtimpânico muito semelhante àquele que se ouve nocaso de DAE. Esse som pode ocupar o terço ou mes-mo a metade dorsal da parede abdominal esquerda.Não é ainda conhecida a razão porque se origina estesom já que, em princípio, não deveria existir aí ar ououtro gás. Até agora nenhum autor conseguiu expli-car a razão deste som quando o rúmen colapsa.

Outras afecções que poderão confundir o observa-dor menos atento ou menos experiente incluem –pneumoperitoneu, peritonites e meteorismo ruminalsub-agudo (Rebhun, 1995).

De seguida enunciam-se os principais sinais clíni-cos e as provas complementares que permitem fazero diagnóstico diferencial entre DAE e o rúmen co-lapsado. O diagnóstico preciso é muito importantepois a cirurgia num animal com Síndrome do RúmenColapsado será sempre uma intervenção perigosadevido ao estado avançado de debilidade orgânica,para além de tornar o tratamento desnecessariamenteoneroso. Se bem que o diagnóstico de alguns casosseja bastante evidente, existem situações em que énecessário um exame mais minucioso devido à am-biguidade de grande parte dos sinais clássicos. Infe-lizmente não são assim tão raros os relatos delaparotomias destinadas à resolução de DAE quevieram a encontrar um rúmen colapsado!

- A primeira pista resulta da anamnese e de umexame físico bem feito – houve doenças que origina-ram anorexia nas últimas semanas? Ainda há vestí-gios dessa doença? O animal apresenta uma magreza

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acentuada? O animal claudica? Há um abatimentomuito acentuado? Como é efectuado o maneio naexploração? Em que estado estão as companheiras?Há comida e água à descrição? Qual é o estado daspastagens?

- A simples observação da fossa paralombaresquerda também poderá indiciar qual a situaçãopresente: colapso do rúmen – concavidade acentua-da; DAE – convexidade principalmente evidentejunto à ultima costela; meteorismo e pneumoperito-neu – convexidade mais ou menos evidente em todoo cavado do flanco. Dependendo do grau de cada umdestes processos poderá existir variações que dificul-tam a definição.

- No rúmen colapsado há ausência de sons delíquido a chocalhar quando se efectua sucussão comauscultação (ballotement) e também ausência de ruí-do de gorgolejo devido à deslocação de bolhas de arnum meio líquido (Rebhun, 1995). Se bem que noscasos típicos de DAE estes ruídos sejam muito evi-dentes, surgem situações dúbias devido ao pouco gásque existe em certas deslocações.

- Palpação rectal – denota-se um espaço vazio noquadrante esquerdo do abdómen e por vezes orúmen colapsado e mais ou menos compactado naporção ventral (Rebhun, 1995). Em situações nãoextremas, a dimensão deste espaço não é muito evi-dente. Nas DAE encontramos o rúmen mais ou me-nos cheio mas na sua posição normal. Só em casosde dilatações muito grandes (e para operadores combraços muito compridos) será possível palpar por viatransrectal o abomaso entalado entre o rúmen e aparede abdominal esquerda. Na peritonite normal-mente sentimos crepitação e temos mesmo dificuldadeem introduzir todo o braço no recto. No meteorismoconseguimos palpar o saco dorsal do rúmen bem dis-tendido e ocupando todo o hemisfério dorsal esquerdo.

Convém referir que não é impossível desenvolver-se mais do que uma destas afecções ao mesmo tem-po o que dificulta ainda mais o seu diagnóstico.

De seguida apresentam-se dois exames comple-mentares muito fáceis de realizar, que podem aclarardúvidas que sobrem mesmo após o exame físicocompleto:

1 - Entubação oro-esofágica ou naso-esofágica(prefiro esta ultima por várias razões) com tubo deplástico. Uma vez certificado que a extremidade estáno interior do rúmen, pedir a um ajudante que soprecom força pelo tubo enquanto se ausculta a zona dasúltimas costelas. No caso de DAE o som do ar aentrar e borbulhar no interior do rúmen não será nítido

ou estará bastante abafado. No caso de colapso dorúmen o som será bastante evidente por ser próximoda parede costal e porque o conteúdo do órgão émais líquido.

2 – Abdominocentese a nível do 8º ou 9º espaçointer-costal esquerdo com agulha de calibre 14 Gbastante comprida (punção sob anestesia local ecumprindo todas as regras de assépsia indicadas paraeste tipo de intervenção). Utilização de papel medi-dor de pH no líquido (ou mesmo gás) que se obtiverespontaneamente ou após aspiração com seringa. Seexistir DAE encontraremos um pH de 3 com origemno abomaso, enquanto que se for puncionado orúmen o pH será sempre superior a 5.

Na tabela 1 referem-se alguns casos de colapso dorúmen e a forma utilizada para o seu diagnóstico. Os6 casos diagnosticados representam pouco mais de1% dos cerca de 500 casos de DAE diagnosticadospelo autor durante o período de observação a que serefere este trabalho. De realçar o facto de, mesmoapós a utilização dos outros métodos de diagnóstico,poderem subsistir dúvidas e por isso ser aconselhadaa laparotomia (2 casos).

Na tabela apresentam-se os métodos usados para odiagnóstico destes 6 casos de colapso do rúmen: emdois casos foram suficientes os sinais clínicos, en-quanto que nos outros 4 casos foi necessário recorrerà punção e à intubação. Em dois destes últimos ca-sos as dúvidas subsistiram sendo necessário proce-der-se a uma laparotomia exploradora.

Como se denota pelos números avançados, esta éuma síndrome pouco frequente. No entanto e porqueem alguns casos a distinção com o deslocamento deabomaso à esquerda pode não ser muito fácil, julgoser bastante útil possuir o conhecimento das melho-res formas de esclarecer os casos mais duvidosos.

Bibliografia

REBHUN, W.C. (1995), Diseases of Dairy Cattle, 1ª edição.Editor: Carol Cann, Williams & Wilkins. 121 – 122.

SMITH, J.A. (1996). Large Animal Internal Medicine, 2ª edi-ção. Editor: Bradford P. Smith, Mosby.

Método de diagnóstico Nº casos (Total = 6)

Anamnese + sinais clínicos 2

Punção + Intubação 4

Laparotomia exploradora 2 (após punção + intubação)

RPCV (2001) 96 (540) 216-217Stilwell, G

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