Socrates - O Primeiro Terapeuta
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goraFrum pblico ateniense, onde se reuniam os
cidados para realizar seus negcios e outras
atividades. Era um espao onde havia muitas
feiras livres, mercados e, principalmente,
Idias
Scrates: o primeiro terapeutaA atividade filosfica do pensador tinha como objetivo o cuidado com a alma e a busca pelo
autoconhecimento.Por Joo Ibaixe Jr.*
A partir do sculo 5, em razo de situaes de mudanas
sociopolticas ocorridas na Grcia, incluindo-se as Guerras
Mdicas (dos gregos contra os persas) e do Peloponeso
(de Esparta contra Atenas), o foco da Filosofia acabou por
voltar-se a Atenas, cujo formato das dimenses poltica,
financeira, educacional e social encontrava- se melhor
estruturado. Foi o perodo alto da chamada democracia
ateniense, que tinha frente a figura de Pricles e a
herana de idealismo dos textos legais deixados
principalmente por Slon. Dentre o iderio que se construa
e, ao mesmo tempo, renovava-se, fez-se presente o valor
da educao, considerada como formao cvica, ou seja,
como meio de edificao do homem inserido no ambiente
da cidade.
Todas estas turbulncias no seio urbano, que geraram
fatos sociais novos, acompanhados de outros anseios,
desejos e perspectivas individuais, alteraram o
comportamento da vida ativa dos cidados e, via de
consequncia, modificaram a prpria atividade contemplativa em seu modo de ser. Com efeito, alm do deslocamento
geogrfico, nasceu um novo foco nas investigaes, havendo maior preocupao com temas e assuntos voltados para o
homem. Ocorreu inflexo da pergunta filosfica, antes ocupada da physis e agora dirigida para o universo humano.
Passou-se, assim, da pesquisa da natureza para a da poltica, e esta fez-se
acompanhar de maior interesse na indagao sobre o indivduo e sua relao com a
comunidade que o cerca e na qual ele est inserido. Concentraram-se os olhares
para as dimenses do viver prtico, do cotidiano, das relaes ocorridas dia a dia
pelas quais o cidado sofre e produz efeitos no espao urbano que ocupa. O ponto
central era o questionamento sobre a poltica e a tica, tendo por eixo a eudaimonia
(felicidade), dimenses bsicas da filosofia prtica.
neste perodo que se d a existncia de Scrates, cujo nascimento ocorreu
provavelmente no ano de 469 a.C. Filho de um escultor chamado Sofronisco e de
uma parteira, Fenarete, teve vida moderada, embora tivesse alguns recursos, e
jamais saiu de Atenas, salvo em viagens de campanhas militares, nas quais
reconhecidamente lutou com bravura e denodo em defesa de seus companheiros e
de sua cidade. Teve filhos e foi casado, ao que parece, em segundas npcias com
Xantipa, considerada mulher bastante geniosa, o que, segundo dito pelo prprio
Scrates, teria colaborado muito na construo de sua postura filosfica. Tambm
ao que parece, cuidava muito de sua sade e do corpo, por meio de atividades
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prdios pblicos. Smbolo da democracia, o
local era celeiro de discusses polticas e de
cidadania.
SofistasA expresso "sofista" hoje apresenta
caractersticas pejorativas, pois qualifica
como significado principal o autor de
sofismas, o qual realiza, normalmente por
m-f, raciocnios com premissas
verdadeiras, mas chega a concluses falsas,
por distores das regras lgicas, ao
preservar apenas aspectos formais da
argumentao e guardar aparncia de
perfeio.
ProtgorasImportante sofista da Grcia, cuja frase "o
homem a medida de todas as coisas"
tomou fama atemporal, sendo objeto de
numerosas e inesgotveis interpretaes,
possibilitando do mais amplo relativismo ao
mais profundo subjetivismo, que perdura at
os dias atuais.
fsicas comuns poca, dando valor especial dana, apesar de ser
fisionomicamente muito feio, sendo at mesmo ironizado por isto, fato o qual ele no
dava qualquer relevncia.
Discpulo de Arquelau (que, por sua vez, o era de Anaximandro), nunca escreveu
nada, ao que consta, de textos filosficos e seus ensinamentos eram transmitidos
oralmente aos seus discpulos e outros cidados com os quais conversava em praa
pblica ou na gora.Durante toda sua existncia, sempre foi bem considerado, a no ser no fim da vida,
quando foi acusado de corrupo da juventude e condenado morte por isso. Pouco
tempo depois da morte de Scrates, ocorrida em 399 a.C., seus acusadores foram
punidos pela falsidade de suas acusaes e foi erguida em homenagem ao filsofo
uma esttua nas proximidades do centro de Atenas, passando ele a ser considerado
um de seus filhos mais profcuos e valorosos. Scrates viveu e morreu conforme e
por causa de suas aspiraes, suas convices, suas concepes, enfim, seus
ideais.
A questo das fontes
Bastante divulgado o fato de Scrates nada ter escrito e terem seus ensinamentos
sido transmitidos pela "oralidade dialtica", como acima mencionado. Seus
pensamentos so divulgados por testemunhos, os quais, quando se analisam as
fontes, muitas vezes so discordantes e at mesmo opostos.
Todavia, um ponto fundamental e os estudos modernos demonstram isto: a
pesquisa socrtica no trata de estabelecer fontes confiveis ou combinaes
eclticas, mas sim de examinar o critrio que pode ser definido como "a perspectiva
do antes e do depois de Scrates".
Com efeito, nota-se evidncia que a literatura filosfica modificou-se, registrando
uma srie de novidades de alcance bastante considervel, as quais permaneceram
no esprito grego posterior de forma indelvel como irreversveis e de constante
referncia. Tais novidades - e isto pacfico e explcito - foram todas elas trazidas
ao ambiente filosfico pelo modelo socrtico de pesquisa. Scrates foi o autor
inegvel de outro modo de apresentao, enfoque e destinao das perguntas sobre
o pensar e o conhecer, alterando para sempre a cultura e a postura dos pensadores
subsequentes. Sendo um homem de seu tempo, Scrates acompanhou o
questionamento sobre o homem e deu a ele tonalidades permanentes quanto forma
e mtodo de indagao, porque alcanou o fundo do problema que , para o filsofo,
encontrar o ser do indivduo em todas suas dimenses; nisto superando os ento
chamados sofistas, contemporneos dele e tambm preocupados com a questo
humana, mas atentos a outros aspectos como se ver a seguir.
O pensamento de Scrates passvel de reconstruo por sua conjuntura e, por essa perspectiva, pode-se verificar o
peso decisivo do filsofo na elaborao e desenvolvimento da tradio grega posterior.
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Os Sofistas
No se pode falar de Scrates sem antes se referir a um grupo de pensadores, contemporneos dele, que ficou
conhecido como Sofistas. Na Antiguidade, o contedo semntico era totalmente outro. O sentido original do termotraduzia o significado de "sbio", "especialista em saber", "possuidor de saber", portanto, bem ao contrrio de
atualmente, era algo absolutamente positivo.
Fulcro de toda a questo o fato dos sofistas pretenderem saber e ensinar tudo e certamente qualquer coisa, sob
qualquer ngulo, seja como tese ou anttese. Para o sofista, a verdade tudo aquilo que falado, porque o falado
pensado e, logo, ser. Pensar a sntese de toda atividade humana e, como no importa mais a physis, mas a
eudaimonia e esta referente ao homem, o pensamento falado o pice da felicidade, a qual, por sua vez, realiza-se
na comunidade e, portanto, desenvolve e fortalece a democracia. Falar livremente todo o pensado o gesto poltico
mais importante, porque configura a mais alta expresso da sabedoria, desde que o falar siga as regras do discurso
retoricamente perfeito, justamente a matria que os sofistas melhor dominavam.
A sofstica move-se num mbito meramente retrico, mas eficaz, porque importava apenas o "dizer bem" (eu leguin),
ao puramente humana, assim, "o homem a medida de todas as coisas", como disse Protgoras.Os sofistas no eram considerados por Scrates como filsofos, porque destes s tinham a aparncia e no o contedo
real. Aparentavam os sofistas ser o que jamais foram nem nunca seriam, porque no eram movidos pelo exclusivo ideal
do filsofo: o amor incondicional sabedoria, sem a certeza de algum dia alcan-la.
Scrates era o inimigo nmero um dos sofistas e foram estes os arquitetos de sua acusao e morte, porque no
puderam suportar a essncia da humildade socrtica, a efetiva e nica via da verdade real: saber-se que nada se sabe.
Ao ter cincia de que nada sabia, Scrates acabava por saber mais que os sofistas, pois trabalhava pelo amor
consciente e racional, porm, ao mesmo tempo, apaixonado e sentimental, na constante e eterna busca da sabedoria,
atividade que era trabalhosa e remunerada, no por pecnia, mas pelo prazer recndito de, a cada passo, aproximar-se
mais e mais do conhecimento de si mesmo.