Sobpressão #27

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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011 ANO 8 N° 27 Hip-hop das ruas aos palcos COLETIVO. Você sabe o que é Marco Re- gulatório? São os marcos legais e sociais que os meios de comunicação – mídia impressa, televisiva e radiofônica - de 10 países obedecem Coletivo Páginas 3 e 4 CADERNO ESPECIAL Viva sem pressa. Você já pensou em desacelerar o seu ritmo de vida? De acordo com os adeptos, a cultura hip-hop não pode ser consumida; tem que ser vivida. É um estilo de vida, uma ideo- logia a ser seguida. O grafite e o breakdance são duas manifes- tações bastante fortes em Forta- leza. Muitas academias de dan- ça na cidade estão aderindo ao estilo. Surgida nas ruas, a dança hip-hop tem muitas referências urbanas que vão desde o estilo da roupa dos dançarinos até as gírias e apelidos dos pratican- tes. A exposição dos desenhos super coloridos e espalhados pelos muros, viadutos, caixas telefônicas e postes da cidade demonstram o sentimento de liberdade e inquietação daque- les que o praticam. Grafiteiros defendem a arte social que in- tegra até as pessoas que não fazem parte dela, com as cores e seu convite à contemplação. Sobpressão Páginas 4 e 5 Máquinas analógicas lomográ- ficas viram febre em Fortaleza. Com design arrojado e boas produções, elas são as queridi- nhas dos estilistas e jovens fo- tográfos. Descubra vários mo- delos das lomos, aplicativos e releituras com a digitalização. Veja ainda opiniões de profis- sionais sobre o assunto. Sobpressão Página 8 e 9 A febre das câmeras lomos Universitários sob o mesmo teto Importado ou nacional ? Você já parou para pensar como e onde os anões compram suas roupas? Nas lojas dos shop- pings de Fortaleza talvez não seja fácil achar essas respostas. Conversando e pesquisando sobre esse mercado, acabamos por nos deparar com mais uma pergunta: será que realmente existe moda para anões? Sobpressão Página 6 e 7 Tradicionalmente masculino, o rugby conquistou o público feminino cearense. O Iracema Rugby Clube é um time que tem o diferencial de ser forma- do apenas por mulheres. Elas conquistaram o 3º lugar na última competição, em Recife, e querem mais. A meta agora é participar do Campeonato Brasileiro de Rugby, em São Paulo. Fôlego Página 1 Sair da casa dos pais para dividir o mesmo teto com outros univer- sitários exige muita responsabili- dade. Ao contrário do que parece, viver em uma república não é só festa. Estudantes contam como é o cotidiano de uma residência desse tipo. Classificado Página 1 Elas jogam Rugby Moda criativa para anões Comprar um carro impor- tado de segunda mão pode ser uma vantagem ou não. Dificuldade de encontrar peças, custo alto de manu- tenção, além da dificuldade de revenda são aspectos negativos apontados na hora da compra desse tipo de veículo. No entanto, há quem acredite que o con- Dança e grafite: quebrando qualquer rótulo de postura mal-encarada ou da imagem associada ao tráfico de drogas, os adeptos do estilo hip-hop fazem denúncias sociais em mixagens, gírias, repetições e uma batida dançante FOTO: ARQUIVO PESSOAL forto e a tecnologia ofereci- dos por um carro importado compensam o valor gasto. Classificado Páginas 4 e 5 Que atire a primeira pedra a primeira mulher que não sonhou em casar de véu e grinalda, na igreja, com pa- dre, daminhas etc. É, mas esse é um sonho do passado. Hoje em dia, o casamento vai de acordo com a moda. E a moda é inventar e rein- ventar cerimônias cada vez mais originais, organizadas de acordo com a personali- dade dos noivos. Sobpressão Páginas 12 e 13 Casamentos fogem dos rituais tradicionais FÔLEGO Wesley Matos está entre os seis atletas brasileiros de triathlon que pre- tendem disputar três vagas para a Olimpíada que acontece em Lon- dres, em 2012 Fôlego Páginas 4 e 5

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Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da UNIFOR - 2011.1

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JORNAL-LABORATÓRIO DO CURSO DE JORNALISMO DA UNIVERSIDADE DE FORTALEZA SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011 ANO 8 N° 27

Hip-hop das ruas aos palcos

COLETIVO. Você sabe o que é Marco Re-gulatório? São os marcos legais e sociais que os meios de comunicação – mídia impressa, televisiva e radiofônica - de 10 países obedecem Coletivo Páginas 3 e 4

CADERNO ESPECIAL Viva sem pressa. Você já pensou em desacelerar o seu ritmo de vida?

De acordo com os adeptos, a cultura hip-hop não pode ser consumida; tem que ser vivida. É um estilo de vida, uma ideo-logia a ser seguida. O grafi te e o breakdance são duas manifes-tações bastante fortes em Forta-leza. Muitas academias de dan-ça na cidade estão aderindo ao estilo. Surgida nas ruas, a dança hip-hop tem muitas referências urbanas que vão desde o estilo da roupa dos dançarinos até as

gírias e apelidos dos pratican-tes. A exposição dos desenhos super coloridos e espalhados pelos muros, viadutos, caixas telefônicas e postes da cidade demonstram o sentimento de liberdade e inquietação daque-les que o praticam. Grafiteiros defendem a arte social que in-tegra até as pessoas que não fazem parte dela, com as cores e seu convite à contemplação. Sobpressão Páginas 4 e 5

Máquinas analógicas lomográ-fi cas viram febre em Fortaleza. Com design arrojado e boas produções, elas são as queridi-nhas dos estilistas e jovens fo-tográfos. Descubra vários mo-delos das lomos, aplicativos e releituras com a digitalização. Veja ainda opiniões de profi s-sionais sobre o assunto.Sobpressão Página 8 e 9

A febre das câmeras lomos

Universitários sob o mesmo teto

Importado ou nacional?

Você já parou para pensar como e onde os anões compram suas roupas? Nas lojas dos shop-pings de Fortaleza talvez não seja fácil achar essas respostas. Conversando e pesquisando sobre esse mercado, acabamos por nos deparar com mais uma pergunta: será que realmente existe moda para anões?Sobpressão Página 6 e 7

Tradicionalmente masculino, o rugby conquistou o público feminino cearense. O Iracema Rugby Clube é um time que tem o diferencial de ser forma-do apenas por mulheres. Elas conquistaram o 3º lugar na última competição, em Recife, e querem mais. A meta agora é participar do Campeonato Brasileiro de Rugby, em São Paulo. Fôlego Página 1

Sair da casa dos pais para dividir o mesmo teto com outros univer-sitários exige muita responsabili-dade. Ao contrário do que parece, viver em uma república não é só festa. Estudantes contam como é o cotidiano de uma residência desse tipo. Classifi cado Página 1

Elas jogam Rugby

Moda criativa para anõesComprar um carro impor-

tado de segunda mão pode ser uma vantagem ou não. Dificuldade de encontrar peças, custo alto de manu-tenção, além da dificuldade de revenda são aspectos negativos apontados na hora da compra desse tipo de veículo. No entanto, há quem acredite que o con-

Dança e grafite: quebrando qualquer rótulo de postura mal-encarada ou da imagem associada ao tráfi co de drogas, os adeptos do estilo hip-hop fazem denúncias sociais em mixagens, gírias, repetições e uma batida dançante Foto: arquivo Pessoal

Hip-hop das ruas aos palcos

peças, custo alto de manu-tenção, além da dificuldade de revenda são aspectos negativos apontados

forto e a tecnologia ofereci-dos por um carro importado compensam o valor gasto.Classifi cado Páginas 4 e 5

Rugby Clube é um time que tem o diferencial de ser forma-do apenas por mulheres. Elas conquistaram o 3º lugar na última competição, em Recife, e querem mais. A meta agora é participar do Campeonato Brasileiro de Rugby, em São Paulo. Fôlego Página 1

Que atire a primeira pedra a primeira mulher que não sonhou em casar de véu e grinalda, na igreja, com pa-dre, daminhas etc. É, mas esse é um sonho do passado. Hoje em dia, o casamento vai de acordo com a moda. E a moda é inventar e rein-ventar cerimônias cada vez mais originais, organizadas de acordo com a personali-dade dos noivos.Sobpressão Páginas 12 e 13

Casamentos fogem dos rituais tradicionais

FÔLEGO Wesley Matos está entre os seis atletas brasileiros de triathlon que pre-tendem disputar três vagas para a Olimpíada que acontece em Lon-dres, em 2012 Fôlego Páginas 4 e 5

FÔLEGO Wesley Matos está entre os seis atletas brasileiros de triathlon que pre-tendem disputar três vagas para a Olimpíada que acontece em Lon-

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 20112

A beleza nas mãos de quem escreve

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A NATUREZA NA UNIFOR: Eis que o estudante de Jornalismo Farley Aguiar, consegue capturar esta imagem na Lagoa da Unifor, dentro da Área de Preservação Ambiental que fica dentro do Campus, junto ao Parque do Cocó. A foto despertou o interesse de ambientalistas que não sabiam da existência desse tipo de pássaro identifcado como Martin-Pescador, aqui na capital. Pois bem para quem não conhecia, a ave alimenta-se principalmente de peixes. Para pescá-los utilizam um poleiro baixo, rente à água rasa, e daí capturam os pequenos peixes que surgem na superfície. Foto: Farley aguiar

Jornal-laboratório do Curso de Jornalismo da Universidade de Fortaleza (Unifor) Fundação Edson Queiroz - Diretora do Centro de Ciências Humanas: Profª Erotilde Honório - Coordenador do Curso de

Jornalismo: Prof. Wagner Borges - Disciplina: Projeto Experimental em Jornalismo Impresso (semestre 2011.1) - Reportagem: Carolina Benevides, Isabelle Leal, Jaqueline Nóbrega, Joicy Muniz, Jullie Scott,

Lívia Lopes, Marina Maia, Ravelly Marques, Renata Frota, Suzane Saldanha e Viviane Sobral - Projeto gráfico: Prof. Eduardo Freire - Suporte Técnico: Aldeci Tomaz - Professor orientador: Janayde Gonçalves -

Coordenação de Fotograf ia - Júlio Alcântara - Revisão: Profª. Solange Maria Morais Teles - Conselho Editorial: Wagner Borges, Janayde Gonçalves, Alejandro Sepúlveda - Supervisão gráf ica: Francisco Roberto

- Impressão: Gráf ica Unifor - Tiragem: 750 exemplares - Equipe do Laboratório de Jornalismo (Labjor) - Estagiário de Fotograf ia: Farley Aguiar, Rhaiza Oliveira, Jivago Soares e Thalyta Martins - Estagiário de

Produção Gráfica: Bruno Barbosa, Fernanda Carneiro, Camille Viana - Estagiários de Redação: Jussara Holanda, Jéssica Costa, Marília Pedroza e Renata Frota.

“Eu digo e ela não acredita, ela é bonita demais”Dona da minha cabeça / Geraldo Azevedo

“Não me amarro a dinheiro não, mas formosura, dinheiro não, beleza pura, dinheiro não”

Beleza Pura / Caetano Veloso

Fernanda Carneiro

O Sobpressão já rendeu vá-rios prêmios ao curso de Jorna-lismo que, agora em outubro comemora 10 anos.

Na primeira década do sé-culo 21 aconteceram fatos mar-cantes para a História. E por que não destacar a formação de centenas de humanistas pelo curso de Jornalismo da Uni-versidade de Fortaleza? Daqui certamente tem saído grandes jornalistas, que através da bele-za de suas produções, em muito contribuem para a construção da realidade social.

A atividade diária de cole-tar, redigir, editar e publicar informações faz dos nossos es-tudantes bons ensaistas para o retrato de um mundo mais belo e colorido, cheio de boas histó-rias para contar.

Foram quatros meses de produção e muitos são os en-volvidos no fechamento desse jornal-laboratório. Esperamos que ele reflita não somente o talento dos estudantes que por aqui passam, mas o de toda a equipe que trabalha para a cria-ção e distribuição do mesmo.

Esta edição do Sobpressão tem beleza e arte como temáticas transversais em várias maté-rias. O jornal mostra que os anões são muito bonitos e não se sentem nem um pouco en-vergonhados em escolher rou-pas nas sessões infantis.

O Hip-Hop, movimento que congrega dança, música e arte plástica, inspira meninos e me-ninas a exibirem, nos muros e em festivais, críticas e denún-cias: aspectos tão evidentes e pulsantes desse estilo. Numa reportagem bem ilustrada fica-mos sabendo em que pé estão os líderes e grupos de Hip Hop e o que eles tem organizado pela cidade.

Numa página nova e privi-legiada, a sétima arte ganha amplo espaço no jornal pela primeira vez. Além de resenhas de filmes, trazemos um Quiz sobre filmes, com perguntas elaboradas pelos estagiários e professores do Laboratório de Jornalismo (Labjor).

Devagar e sempre, o jor-nalista e escritor Carl Honoré viajou o mundo investigando

histórias sobre desaceleração do trabalho, da alimentação, a educação dos filhos, o sexo e os cuidados com a saúde.

Reunidas num livro reporta-gem que foi lido e discutido pela turma, as experiências foram trabalhadas de forma regional e descobrimos aqui em Fortaleza, empresários e estudantes adep-tos do slow food e slow sex.

Para explorar ainda mais as alternativas do movimento Slow Life, elaboramos um ca-derno especial, que entre mui-tas curiosidades e peripécias, traz o Teste da Tartaruga. Do li-vro aos corredores da Unifor, a iniciativa homenageia o tempo natural da vida.

O ritmo do mundo parece estar acelerando. Ainda assim, aqui e acolá surgem coletivos interessados em mudar essa realidade: a ong A Cura do Pla-neta é um bom exemplo disso. Duas páginas foram dedicadas a apresentar essa inciativa, que rendeu uma praça permacultu-ral numa área nobre da cidade, e um restaurante interessante de conferir.

Opinião

“Parece que foi ontem, a alegria de estar a frente de um curso de Jornalismo, um novo curso na cidade de Fortaleza. Antes a gente tinha apenas o curso da UFC, local da minha formação e de tantos outros colegas. Estar a frente do curso da Unifor era começar uma nova etapa, com uma perspec-tiva já delimitada: de que a co-municação era parte de todo um desenvolvimento regional e vinha exatamente atender a essa exigencia desse mercado e dessa comunidade. Dez anos depois, o fruto mais desejado e saboroso é ver os nossos alunos profissionais do Jornalismo nas redações dos jornais impressos, na televisão e no rádio, e na contempora-neidade o salto para o domínio das novas tecnologias que a cada momento nos surpreen-de. Vida longa”.

Erotilde Honório, jurássicaCoordenadora do CCH

“Estudar jorna-lismo na Unifor é um privilégio. Aqui temos uma biblioteca com uma grande di-versidade de títulos! Também podemos experimentar o que queremos dentro do universo jornalístico: existe a TV Unifor, com estúdios e cinegrafistas à nossa disponibilidade; a Rádio Web, que tem vários projetos; estúdios fotográficos para fa-zer ensaios, também o Labo-ratório de Jornalismo (Labjor) que é incrível, pois podemos aprender simulando estar em uma redação de verdade. E aqui temos estrutura para isso: tanto física, pois temos um ótimo espaço disponível no Laboratório, como também de pessoal: professores disponí-veis a nos guiarem na profis-sionalização. Com isso, não há dúvida, esta é uma grande chance. Que nos próximos dez anos outros estudantes pos-sam comemorar novamente.

Giselle Nunes , 23 anosEstudante de Jornalismo

10 anos do curso de Jornalismo

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011 3

É proibido proibir! É vedado vedar! Liberem as paixões!Partner (1968), de Bertolucci. por Manoela Cavalcanti

O diretor Bernardo Bertolucci é conhecido pela exploração de temas que circundam política, perenidade do tempo, conflitos existenciais e sociais. Baseado no livro O Duplo, de Dostoievski, Partner, de 1968, é um mix não organizado disso tudo e mar-cado fortemente pela experimentação. O personagem principal, Jacob, vivido pelo ator francês Pierre Clementi, contradiz sua percepção através de seu discurso. É de uma confusão tão insuportável dentro de si mesmo que sua personalidade se divide em duas. Há um embate lite-ralmente corporal entre Jacob e seu “duplo”. A briga tem direito a socos, pontapés e berros teatrais, perturbando até os cachorros, que para au-mentar a algazarra começam a latir. Às vezes o sósia está num espelho, às vezes numa sombra na parede, às vezes dentro dele mesmo.

O filme não é apenas um retrato de solidão ou da confusão existen-cial pela qual a grande maioria das pessoas passa na juventude - ou de um esquizofrênico em crise. Mas é o grito da geração 68, em que as palavras de ordem são “É proibido proibir! É vedado vedar! Liberem as paixões!”.

Da covardia de Jacob, depreende-se o opressor peso social. Cheio da coragem de seu novo eu, percebe lucidamente que a arte é uma das vias que conduzem o homem à realidade. Enquanto expressa suas idéias libertárias, as atuações adquirem teores teatrais. É como se o fil-me fosse produto da mente do protagonista; como se não fosse sufi-ciente que assistíssemos, mas que sentíssemos em nossa própria pele a dualidade e a confusão.

A provocação ao telespectador chega a ser explícita – em um dado momento, o personagem principal fala diretamente à câmera: “Vamos abrir um parênteses: eu prometo que não entenderam nada. Porém é muito evidente. Basta que olhe ao redor. Perto de vocês ou duas filas adiante, ou atrás de suas costas, pronto a espiá-los, está ele: o seu Jacob. Porque vocês também tem um. É o que vocês gostariam de ser. Por isso têm medo dele e o evitam, negando-lhe a existência.”

Somos lembrados que a realidade é muito subjetiva de se conceitu-ar através da falta de norte do roteiro. Não é um filme fácil. E é contra-in-dicado a pessoas muito afeiçoadas a “começo, meio e fim”. Mas fora isso, é uma ótima oportunidade para discussão da arte. Acaba deixando o gosto da nossa confusão humana.

A volta dos que não foram, ou de quem não deveria ter sido chamado

Capitão América (2011)por Jefferson Botelho

Nada contra as aventuras de Steve Rogers, na pele de seu alterego Capitão América, combatendo os nazistas nos fronts da Se-gunda Grande Guerra – nada contra, afora o exacerbado patriotismo estadunidense arraigado no herói, desde seu surgimento nos quadrinhos da Marvel, em 1941. Po-rém Capitão América – O Primeiro Vinga-dor merecia mais da Paramount Picutres, produtora responsável por gastar um or-çamento milionário, de mais de U$S 100 milhões. A começar por Chris Evans, o galã que estragou o Tocha Hu-mana no Quarteto Fantástico vem para igualmente estragar o Capitão América. Sua atuação sugere uma boa dose de falta de conhecimento da personalidade e do espírito de liderança de Steve Rogers. O que se vê no filme de 124 minutos é um garotão afim de brigar com os caras maus do bando do nazista Red Skull, líder de uma facção denominada Hidra, surgida em plena ocupação da Europa, pelas tropas do Fürher.

Chris, no papel do Capitão América, nem de longe mostra o líder que o super-herói demonstrou ser ao longo de toda a sua trajetória nos quadrinhos. E isso, convenhamos, é decepcionante para os fãs do Capi-tão. Hugo Weaving também não repete suas melhores atuações inter-pretando o vilão Red Skull. Quem recordar dos filmes Priscila, a Rainha do Deserto e V de Vingança, certamente não o reconhecerá em Capitão América. Sobre o personagem, o que não gostei, primordialmente, foi como ele, Red Skull, sucumbe facilmente à força do Capitão, à agilidade do Capitão e à inteligência do Capitão. Um verdadeiro ultraje à saga de ambos nos quadrinhos da Marvel.

Foto: internet

Foto: internet

Jéssica Costa

Internet, redes sociais, Ipho-ne, Ipad´s, tablet´s: com esses instrumentos vemos que tudo no mundo parece acontecer muito rápido. Hoje o que é no-vidade, em dois ou três meses já está ultrapassado. Assim também é com o cinema.

Primeiro, assistíamos às telonas maravilhados, depois veio a novidade dos cinemas 3D´s que permitem a intera-tividade. E eis que surgem os 6D´s, filmes em 3D polariza-

Além dos tradicionais áudio e vídeo, novas salas de cinema oferecem sensações de proximidade e profundidade Foto: Divulgação

Cinema 6D promete mais emoção

A cabine esquisita do Cine 6D chama atenção e reúne curiosos. A promessa é de imersão no filme, com direito a vento, pingos de água e até cheiro

Aqui você encontra um pequeno questionário com cinco alterna-tivas, através do qual você pode avaliar seu conhecimento e obter respostas sobre o cinema. Elas foram elaboradas a partir de sugestões da redação do Labjor.Professores e estagiários escolhe-ram filmes novos e antigos para você se divertir.

Ação1. Quem é o protagonista do atual filme Conan - O Bárbaro?a) Arnold Schwarzeneggerb) Jason Mamoac) Bruce Willisd) Brad Pitte) Matt Damon

Épico2. Qual a profissão do prota-gonista do filme “A montanha dos sete abutres?”a) Arquitetob) Jornalistac) Detetived) Médico e) Psicólogo

Drama3. Em que país foram gravadas as cenas do filme “Sempre ao seu lado”?a) Japãob) Rússiac) Françad)Alemanhae) Estados Unidos

Biografia4. “Gandhi” concorreu ao Os-car com Blady Runner. Qual o nome do protagonista do filme sobre o pacifista indiano?a) Pablo Escobarb) Harrison Fordc) Ben Kingsleyd) Wagner Mourae) Antônio Fagundes

Suspense5. Quem dirigiu o filme Cisne Negro?a) Pedro Almodovarb) Carlos Saurac) Mel Gibsond) Natalie Portmane) Darren Aronofsky

Comédia6. De que década é o filme “Tempos Modernos”, dirigido por Charlie Chapplin?a) 1930b) 1940c) 1950d) 1960e) 1920

Terror7. Quantas sequências possui o filme Psicose de Alfred Hi-tchcock?a) Duasb) Trêsc) Quatrod) Cincoe) Seis

Ficção Científica8. Em qual destes filmes, famo-sos em 1980, Arnold Schwar-zenegger não atuou?a) Exterminador do Futuro Ib) O Predador Ic) Running Mand) Ramboe) Exterminador do Futuro II

Teste seu conhecimento sobre cinema

Respostas: 1. b) 2. b) 3. a) 4. c) 5. e) 6. a) 7. b) 8. d)

dos, onde o público utiliza ócu-los especiais, já conhecidos, que oferecem sensação de pro-ximidade e profundidade.

Além disso, ainda há a mo-vimentação dos acentos em sincronia com os movimentos do filme, as sensações de ven-to, vapor, água e a presença de aromas, como o do chocolate, por exemplo.

O mercado é promissor. Afi-nal, não basta fantasiar sensa-ções, mas também sentí-las. “Você consegue se imaginar dentro do local do filme. Dá até para sentir o cheirinho de chocolate. O ruim é que dá logo vontade de comer”, revela a universitária Rafaela Braga, que assistiu a uma sessão do filme Fábricas de Chocolates.

Mas há quem reclame. “É muito rápido, quando a gente

começa a se acostumar com a ideia, acaba.”, explica a dona de casa Bruna Castro, que le-vou o filho Nathan, 5, para ver a Ilha dos Dinossauros. O curta faz passeio à pré-história.Além de ver os répteis gigantes sain-do da tela, os espectadores vi-sitam uma cachoeira e sentem a água respingar. Nathan ado-rou a experiência: “Gostei da parte que molha e quando o di-nossauro ficou perto de mim”.

Segundo a assistente de Mar keting do North Shopping, Cristiana Glaudma, o público pode escolher entre seis fil-mes: Trem Fantasma, Fábrica de Chocolates, Guerra nas Es-trelas, Mundo Submarino, Ilha dos Dinossauros e Mina de Ouro. A alegria é breve: “Cada filme tem duração média de cinco minutos”, explicou.

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Grafitti: Tonny Lima: (85) 8770-0867 Emerson Pereira – Tubarão: (85) 8849-1597Dança: Johnne: (85) 86324067Joana Saunders: (85) 88232100

Joana Saunders, 24 anos, formada em Educação Física, atua como personal trainner e ministra aulas de hip-hop Freestyle Foto: arquivo Pessoal

Ravelly Marques e Carolina Benevides

De longe, Johnnatha Rocha é mais um adolescente típico de sua idade. Calça jeans, tênis, blusa básica, cordão de prata, a barba por fazer e por trás da ca-beleira, Boogaloo John – como é conhecido no mundo do hip-hop– não esconde seu estusiasmo em falar dessa cultura que está presente em seu falar, agir, vestir e como ele mesmo defi ne, seu es-tilo de vida.

Foi com 14 anos que John-natha teve o primeiro contato com a dança. Um dançarino de Juazeiro fez uma apre-s e n t a -ção na c i d a d e onde ele m o r a v a , Maracanaú, e confessa ter se encan-tado logo no primeiro dia. “Eu quero aprender esse negócio”. Foi assim que o

As batidas sonoras do hip-hop, o rebolado do break-dance e as cores do grafi te formam um con-junto artístico que extrapolou os muros da periferia

adolescente diz ter se iniciado na cultura hip-hop.

A honra maior veio em 2007, quando ele foi o único nordestino a ir para o Workshop de Dança em São Paulo, com o Campbello-ck Jr e Sugar Pop, os coreógrafos do super astro Michael Jackson. “Eu meti as caras, fui atrás de aprender tudo, aperfeiçoar, trei-nar!”, fala com empolgação sobre a experiência que teve no evento.

Boogaloo explica que a ori-gem do nome hip-hop veio de uma gíria jamaicana que signi-fi ca festa e que não existe bem um criador, mas sim pessoas que deram sentido ao termo, como o jamaicano Africa Bam-baataa. Apesar de já ter sofrido preconceito, até mesmo da pró-pria família, que dizia: “Isso não presta. Saia disso!”, o jovem está feliz e realizado em ministrar au-las de dança à comunidade pelo projeto “Cuca Barra”, apoiado pela Prefeitura de Forta-leza. “É uma forma de

propagar a cultura do hip-hop e ocupar

os jovens da

O hip-hop teve seu pontapé inicial na Jamaica, na década de 60 do século passado. Mas foi no Sul de Nova Iorque, mais precisamen-te no Bronx, que o movimento tomou força. Com o passar do tempo, foi dividido em quatro pi-lares: o canto, o rap, a breakdance e o grafi te. Ao pé da letra hip-hop signifi ca sacudir o quadril e foi as-sim que a cultura se espalhou em todo o mundo, principalmente no subúrbio nova-iorquino.

Sobre o movimento

Johnnatha Boogaloo orgulha-se de ter passado por diversos festivais nacionais e batalhas de dança Foto: arquivo Pessoal

rua”, esclarece. As aulas são gratuitas e abertas ao público de qualquer idade. Além disso, Johnnatha tem um grupo que se chama Ritmo Soul-To, que faz trabalhos para a agência de pu-blicidade Dizpensar dançando em diversos eventos.

Segundo o dançarino, a mí-dia às vezes distorce a realidade da cultura hip-hop, associando-a quase sempre a homens margi-nais que estão sempre cercados de mulheres “boazudas”. As fes-tas que unem as manifestações artísticas eram palco para as cha-madas “batalhas” de dança, nas quais os negros resolviam suas intrigas, lutavam contra o racis-mo e as negligências, ao invés de recorrerem à violência. Que-brando qualquer rótulo de pos-tura mal-encarada ou imagem associada ao tráfi co de drogas, o hip-hop faz denúncia social em mixagens, gírias, repetições e uma batida dançante.

Falando sempre com entu-siamo e largo sorriso no ros-

to, os olhos de Johnnatha brilham quando peço para

ele defi nir o que o hip-hop representa para ele: “Amor!”, de-clara. E continua: “Foi no meio dessa cultura que aprendi a ter respeito com o próximo, a dia-logar, a ter estilo próprio”. Ele

explica também, que o uso de roupas folgadas é mais adequa-do à dança devido ao conforto que proporciona para realizar os passos. Depois de já ter passado por diversos festivais nacionais e batalhas de dança, o jovem se prepara para o Festival Nacional de Dança de Joinville e para o festival Passos de Arte, aqui em Fortaleza. Incansável e sonha-dor, John diz que o maior sonho é montar grandes espetáculos mundo a fora e iniciar a gradu-ação em dança na Universidade Federal do Ceará.

E quem disse que hip-hop era coisa só de homem? Joana Saunders, 24 anos, é formada em Educação Física, atua como per-sonal trainner e ministra aulas de hip-hop Freestyle. Para a jovem, o hip-hop é o fruto da manifestação popular como forma de expres-são de um grupo a ser ouvido. “Um modo de viver no meio de tanto preconceito, exclusão e falta de oportunidades, uma cultura”, comenta. Joana explica que essa cultura vem crescendo em dife-rentes segmentos, seja na forma de se vestir, falar e expressar, seja por meio da dança. O primeiro contato dela com o estilo foi quan-do tinha 12 anos. Desde então não parou de praticar. Fez diversos cursos em outras cidades e parti-cipou de festivais, mas conta que o amadurecimento em relação à cultura veio com o aprofunda-mento na relação com pessoas que viviam o hip-hop. Joana fez parte de uma Companhia de Dança de Rua por dois anos e revela que o mais importante é entender o real

Jovens dançarinos mostram mais que roupas folgadas e gírias

Foi com 14 anos que John-natha teve o primeiro contato com a dança. Um dançarino de Juazeiro fez uma apre-s e n t a -ção na c i d a d e onde ele m o r a v a , Maracanaú, e confessa ter se encan-tado logo no primeiro dia. “Eu quero aprender esse negócio”. Foi assim que o

feliz e realizado em ministrar au-las de dança à comunidade pelo projeto “Cuca Barra”, apoiado pela Prefeitura de Forta-leza. “É uma forma de

propagar a cultura do hip-hop e ocupar

os jovens da

associada ao tráfi co de drogas, o hip-hop faz denúncia social em mixagens, gírias, repetições e uma batida dançante.

Falando sempre com entu-siamo e largo sorriso no ros-

to, os olhos de Johnnatha brilham quando peço para

ele defi nir o que o hip-hoprepresenta para ele: “Amor!”, de-clara. E continua: “Foi no meio dessa cultura que aprendi a ter respeito com o próximo, a dia-logar, a ter estilo próprio”. Ele

signifi cado dessa cultura e adaptá-la ao cotidiano. “É uma forma se manter conectado e compreender valores e não banalizá-los como apenas um mercado pop”, con-fi rma. Ao ser questionada sobre o preconceito, Joana nos conta que nunca passou por nenhum, po-rém conhece casos de pais que he-sitam em matricular os fi lhos na dança por falta de conhecimento, mas que ao longo do tempo isso vem sendo quebrado. A jovem revela o porquê do encantamento com o hip-hop: “Esta foi a dança que mais me encantou pela raça, forma como cresceu, pela auto-afi rmação que ela permite o aluno desenvolver e pela riqueza”.

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Durante esses 12 anos, ele aprendeu vários estilos e técnicas. E apesar de mui-tas pessoas confundirem os grafiteiros com pichadores, essa confusão não o incomo-da. “Apesar de viver em uma cidade grande, ainda existem muitas pessoas ignorantes e que se recusam a evoluir mentalmente e acabam nos confundindo. A diferença é que a pichação é 100% van-dalismo, e não passa coisa al-guma para quem vê. O grafi-te deixa a cidade muito mais bonita, colorida e ainda dei-xa mensagens que procuram mostrar a paz, os problemas sociais e o não as drogas”, explica.

Professor de grafite em al-gumas academias da cidade de Fortaleza, Tonny revela

De acordo com os adeptos da cultura, o hip-hop não pode ser consumido, tem que ser vivido. É um estilo de vida, uma ideologia, uma cultura a ser seguida. Tonny Ferreira, 28, começou a praticar a arte do grafi te em 1999.

Desde pequeno começou a desenhar uns bonequi-nhos distorcidos que o pai dele chamava de “capiongo”. Quando cresceu, Tonny não parou de desenhar e grada-tivamente foi melhorando o traço. Segundo ele, a desco-berta do grafite foi bastante impactante. “Foi muito im-portante, pois nunca tinha visto aquela arte. Logo de-pois fui convidado a ajudar na execução da pintura e a partir daquele momento não parei mais”, comenta.

As paulistanas do Pink Ladies estavam entre as atrações mais aguardadas no festival Foto: Divulgação

Um dos criadores do 1º Fes-tival Cearense de hip-hop, An-dres Perdomo, percebeu que o movimento, no Ceará, acon-tecia de forma muito tímida e com ações isoladas.

Daí surgiu a ideia de realizar um evento que abrangesse to-dos os estilos e manifestações da cultura hip-hop. Em par-ceria com os orgãos represen-tantes desse movimento aqui no Ceará como a CUFA Brasil, O Fórum Cearense de Hip-Hop e o MH2O e objetivando lutar por um fortalecimento das polí-ticas de incentivo a essa cultura, foi criado o festival que abrange vários segmentos da cultura. “Apesar dos diferentes estilos e manifestações, queremos a mesma coisa: o benefício de todos, se lutarmos juntos”, co-menta. O evento tem como car-

Com o grafi te, artistas promovem a refl exão. Usando muita cor e criatividade eles mudam a paisagem dos centros urbanos Foto: DaviD viera

Pela primeira vez, um festival genuíno do Ceará

Acabam nos confundindo, mas a diferença é que a pichação é 100% vandalismo, já o grafi te deixa a cidade bonita, colorida e ainda deixa mensagens que procuram mostrar a paz, os problemas sociais e o não às drogas..

Professor de grafi te

que algumas oficinas tiveram apoio tanto do Governo do Estado, no Projeto Talentos da Cultura em 2004, quan-to da Prefeitura de Fortaleza no Projeto Cidade Grafite em 2005.

O objetivo da arte parece simples, mas revela os sen-timentos dos artistas. Tonny explica que a exposição dos desenhos super coloridos e espalhados pela cidade visam a exprimir o que o grafitei-ro está sentindo. “Nos meus grafites, eu tento colocar nos muros o que eu estou viven-do naqueles dias. Alegria ou indignação, paz ou guerra”, finaliza.

Emerson Pereira, 28, mais conhecido como Tubarão, começou a arte, também, em 1999. Aprendeu primeiro

com a pichação, fazendo al-guns rascunhos nas folhas do caderno da escola, e, como ele mesmo diz, aprendeu com os erros. “Em 1997, eu vi pela primeira vez um grafite aqui em Fortaleza e percebi que aquilo não era tão distan-te. Comecei a me informar e a conhecer os grafiteiros da época através da cultura hip- hop, e daí fui conhecendo e me interessando a cada dia e nunca mais parei”, conta.

Emerson acredita que embora muitas pessoas sem conhecimento, confundam o grafite com o a pichação, as duas artes são bem diferen-ciadas. “Enquanto a pichação é uma arte restrita ao mundo dela mesma, o grafite é uma arte social que integra mes-mo as pessoas que não fazem parte dela, com as cores e com os objetivos sociais”.

O grafite tem envolvimen-to total com o hip-hop por-que faz parte de um dos qua-tro elementos da cultura.

Com o grafite, Emerson promove a cultura nas pe-riferias para levar a arte até as regiões mais carentes. E é através da pintura nas pa-redes de vários cantos da ci-dade que ele transmite senti-mentos.

Atualmente, ele trabalha ministrando oficinas, traba-lhos comerciais, palestras, workshops e, claro, colorin-do muito a nossa cidade. “O grafite tem me proporciona-do muitas experiências ri-cas e grandes oportunidades como: conhecer novos esta-dos, abrir a cabeça para no-vas culturas e amigos, além de fazer grandes amizades”, destaca.

E é com a ideia de levar cada vez mais os objetivos da cultura hip-hop para a popu-lação, que conversamos com duas pessoas que, através do breakdance, levam a mensa-gem de paz e união do hip- hop para muitas pessoas.

artistas promovem a refl exão. Usando muita cor e criatividade eles mudam a paisagem dos centros urbanos Foto: DaviD viera

com os objetivos sociais”.

to total com o que faz parte de um dos qua-tro elementos da cultura.

promove a cultura nas pe-riferias para levar a arte até as regiões mais carentes. E

Arte nos muros é um dos elementos da cultura hip-hop

ro chefe a dança em suas várias modalidades como: locking, pipping, waaking, house, fre-estyle, beaking e vouge, além de diversas intervenções de outras manifestações culturais do hip-hop como o rap, o beat box – que são ritmos e batidas produzidas com a boca, Clown e Ofi cinas de Grafi te.

O Festival foi realizado em junho, no Anfi teatro do Centro Cultural Dragão do Mar. Du-rante o curso, os participantes tiveram a oportunidade de fa-zer ofi cinas de grafi te.

Com a ideia de lutar por me-lhorias no incentivo às mani-festações artísticas e pensando na sociedade como um todo, o evento foi criado para abranger muitos bairros da cidade, valo-rizando a expressão artística do movimento hip-hop.

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 20116

Os pequenos

notáveis

Danças, canções e oralidades foram conservadas entre as tribos, apesar do mito do desaparecimento Foto: raPhael villar

Um dia de compras no shopping é um desejo de várias mulheres. Mas para algumas pessoas esse ato pode não ser prazeroso, diante dos modelos de beleza impostos pela sociedade. Mas o que fazer quando não se está dentro deles?

No primeiro desfile da estilista Carina Casuscelli, em São Paulo, a modelo Priscila Menucci apresenta peça da coleção inspirada nos cabarés Foto: Divulgação

Felipe Rodrigues vai ao shopping para comprar roupas e acredita que o preconceito

era bem maior antigamente.

Foto: BárBara sena

Existe “moda-anão”?

“O que existe é uma tentativa ain-da insuficiente de mostras para estes grupos, que é pos-sível haver uma roupa para eles. Os ensaios são muitos, mas ainda sem muita expressão”

Ascânio WanderleyEstilista

“Não vou mudar o conceito do traba-lho para conseguir enquadrar o proje-to em editais para desfi le. Vou continuar a peregrina-ção com estas mulheres reais”

Carina CasuscelliEstilista

Estilistas defendem seus pontos de vista sobre a existência ou não do novo seguimento para a moda. Enquanto um acredita que sim, o outro não.Caio Castelo e Raquel Maia

Os portadores de nanismo, pessoas de 70cm até 1,40m de altura, ou seja, os anões, são exemplos de como tarefas sim-ples do cotidiano, podem ser missões árduas. Atravessar a rua, fazer uma ligação em um telefone público ou até mesmo comprar roupa são atividades que podem dar uma dimensão das barreiras que essas pesso-as enfrentam no dia a dia. Por falta de opção, a maioria dos portadores de nanismo com-pram roupas infantis ou man-dam fazer sob medida.

A inclusão social é neces-sária também no segmento da moda, e para satisfazer esse público que também tem po-der de compra, Carina Casus-celli, única estilista que atua na área no Brasil, também pensou nesses baixinhos e criou a co-leção de roupas para mulheres com nanismo, intitulada “A moda está em baixa”. Todas as peças são feitas para pessoas com aproximadamente 1 me-tro de altura - estatura média das “pequenas”, como algumas das anãs preferem ser chama-das. E foi justamente o fato de ter amigas com difi culda-de para comprar roupas, que há 12 anos, Carina começou a se interessar pelo tema. Antes mesmo de cursar moda, ela produziu alguns fi gurinos para as companheiras. “Quando en-trei na faculdade já pensei logo nelas, acompanhando de perto todo o sacrifício para encon-trarem peças bacanas e recor-rendo sempre a costureiras. Então comecei a criar peças exclusivas para cada uma, en-tender a ergonomia, errando, acertando”, conta a estilista.

Segundo a estilista, já exis-te uma abertura no mercado. Alguns profi ssionais estão

despertando o olhar para este público em potencial, criando desfi les e seminários que têm o tema como foco. “Me preo-cupo em celebrar a diferença, a beleza de cada corpo, seja da mulher gordinha, da baixinha ou da defi ciente física. Sempre acreditei na potencialidade das meninas, que são lindas, vaido-sas e não têm muitas opções. O problema é que o pessoal tem medo de ir contra a maré, de sair dos padrões”, relata.

A comercialização das peças é realizada com propaganda entre amigos, eventos cul-turais, porque ela ainda não abriu uma loja própria. “Não vou mudar o conceito do tra-balho para conseguir enqua-drar o projeto em editais para desfi le. Vou continuar a pere-grinação com estas mulheres reais”, conclui

Ascânio Wanderley tam-bém é estilista. Conhecido em Fortaleza por atuar na área de representação social e moda. Mas diferente de Carina, ele acredita que não há moda para anões, nem para defi cientes, nem para gordos. “O que exis-te é uma tentativa ainda insu-fi ciente de mostrar para estes grupos, que é possível haver uma roupa para eles. Os en-saios são muitos, mas ainda sem muita expressão”, afi rma. Para Ascânio, essa preocupa-ção deve enfatizar o conforto e a autoestima, pois eles vivem em um mundo de exclusão so-cial, onde é difícil encontrar roupas que atendam a suas ne-cessidades.

E com relação ao re-aproveitamento ou customiza-ção de roupas feitas para anões, o pro-fessor e Mes-tre em Design

e Marketing da Faculdade Ca-tólica do Ceará vai além. “Não dá pra adaptar uma roupa an-tiga ou infantil para um anão, isto é tapar o sol com a peneira. E neste caso, as roupas infantis jamais devem ser usadas por adultos, pois foge do estilo e do design da peça”, explica.

O fato de não existir um seg-mento na moda exclusivo para os portadores de nanismo, se-gundo Ascânio, não deve ser encarado como um proble-ma. “Antes de tudo, é preciso analisar se este mercado tem potencial para absorver tal produção, ou eles iriam pen-sar que mais uma vez estariam sendo excluídos, por não com-prarem uma roupa de alguma marca famosa, pelo fato dela não trabalhar com roupas para

anões”, conclui.

Baixinhos glamourososCom cabelos bem

penteados, olhos verdes e cílios de causar inveja em qualquer um, o estu-dante e assistente admi-

nistrativo, Felipe Rodri-gues, de 21 anos e 1.31m, faz sucesso por onde passa.

Em casa, com móveis de ta-manhos normais, o estudante utiliza um banquinho para su-bir em locais mais altos e pegar roupas e acessórios.

Desde os 15 anos, Felipe já ia sozinho aos shoppings para comprar roupas. Antigamente, sentia que o preconceito era bem maior, mas afi rma que as pessoas acabam se acostu-mando ou mudando a maneira de agir e pensar com o tempo. Apesar disso, ele acredita que ainda há muita gente com ce-gueira moral. “Quando vejo al-guém falando ou olhando pra mim de uma maneira diferente encaro como uma brincadei-ra, me sinto a estrela, famoso como o Brad Pitt. Tem que encarar assim, porque se não, acaba me afetando e me dei-xando triste”, desabafa.

Felipe também lamenta que em Fortaleza não existam lojas específi cas para os baixinhos. “Na maioria das vezes, compro roupas maiores e ainda gasto mais com a costureira, para fazer os ajustes necessários. Quando vou aos departamen-tos infantis tenho difi culdade pra encontrar algo que sirva em mim. Algumas peças chegam a ser infantis demais”, revela.

Não é difícil perceber a di-fi culdade para encontrar algo que agrade ao Felipe, pois observando o seu arsenal de roupas, podemos notar em seu estilo o que se chama popular-mente de “playboy”. Isso mes-mo. Marcas e grifes são o que não faltam no guarda-roupa desse anãozinho descolado e exigente. Seu estilo varia en-tre o casual e o esportivo, de-pendendo da ocasião. “O que é mais fácil de encontrar são

os sapatos, pois calço 35 e tem uma maior opção no mercado”. Ufa! Pelo menos isso.

Ao comentarmos sobre al-gumas lojas que adequam as roupas ao tamanho das pes-soas sem custos adicionais, Felipe estampou em seu rosto um semblante de surpresa e de felicidade.

Aproveitando que ele já estava bem mais à vontade conosco, era hora de abrir li-teralmente o guarda-roupa e pousar para as nossas lentes com os mais diferentes looks, desde o casual fi no ao moda praia. De uma maneira bem desinibida, comentou que, se tivesse a oportunidade de par-ticipar de um desfi le, aceitaria numa boa e ainda revelou o segredo de sua simplicidade e bom-humor: “Nunca liguei pro comentário dos outros. Só me preocupo com o meu modo de ver as coisas e só faço aqui-lo em que me sinto bem. Meu espelho são as pessoas certas”, conclui o estudante, de forma positiva e encorajadora.

Já a bancária Michelle, 29 anos, 1,05m de altura, acha inviável um mercado só para anões, devido às várias pro-porções de corpos de cada um. Vestindo manequim P, a ban-cária diz que não se sente nem um pouco envergonhada em escolher roupas nas sessões infantis. Mesmo optando pelas menores peças, ainda tem que customizar. Ela também acei-tou abrir o guarda-roupa. “Não abro mão das coladas, que va-lorizam meu corpo”, respondeu com um sorriso largo. Shorts curtos, regatas de várias cores revelam a personalidade auto-confi ante e bastante vaidosa.

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Danças, canções e oralidades foram conservadas entre as tribos, apesar do mito do desaparecimento Foto: raPhael villar

No primeiro desfile da estilista Carina Casuscelli, em São Paulo, a modelo Priscila Menucci apresenta peça da coleção inspirada nos cabarés Foto: Divulgação

E para viver um dia de compras nada convencional e sentir na pele – em escala reduzida – o que os anões sentem ao sair para comprar roupas e sapatos, fomos ao maior shopping da cidade. Frequentamos diferen-tes espaços, que atendem aos mais variados gostos e bolsos. E, antes mesmo de começar-mos a nossa pesquisa, fomos temerosas por achar que não encontraríamos nenhum local específi co para eles.

Antes de entrar na primeira loja, hesitamos: “Será que vão estranhar ou rir da gente?” Ima-gine, se a missão de achar mo-delos em tamanhos reduzidos foi difícil, à principio, para nós, imagine para os portadores de nanismo, o preconceito deve ser ainda maior.

A primeira parada foi na He-ring, departamento de moda infantil, masculina, feminina e fi tness. Um leve sorriso deno-tando surpresa foi estampado no rosto da vendedora que se disponibilizou em ajudar e ou-viu atenta a nossa explicação. Nos apresentamos como estu-dantes de jornalismo, e explica-mos que estávamos escreven-do matéria sobre moda para anões. A resposta veio em tom de suspresa. “Eu nunca vi um anão aqui”, disse a vendedora.

Logo pensamos, essa missão não vai ser nada fácil. Mas, para nosso alívio, a gerente nos in-formou que a loja trabalha com a linha básica e que as roupas infanto-juvenis são pratica-mente cópias das roupas adul-tas. Então, muitas peças do dia a dia, como camisetas, blusas de gola pólo, shorts jeans, ves-tidos e até as peças de inverno podem vestir anões também.

Fomos aos cabides e olha-mos cada peça, e nossa sur-presa foi enorme. Foram ine-vitáveis os comentários: “Olha, menina! Essa daqui cabe até na gente e é de 12 anos!”. Não perdemos tempo e fotografa-mos todas as combinações de looks que compusemos. Na se-gunda parada, outras surpre-sas nos esperavam. Desta vez, nada de sorriso de deboche... Quem nos recebeu foi a geren-te da Manotropo, Nilda Olivei-ra, que de imediato, se revelou curiosa pelo tema, e achou que fôssemos estudantes de estilis-mo. “Fiquem à vontade. Podem vasculhar a loja. Nossa menor numeração é o 38, mas, se vier uma anã, ela pode escolher a roupa, que fazemos todos os ajustes necessários”, explicou. E quando fomos nos despedir, ela fez questão de ressaltar a disponibilidade da loja para re-ceber as portadoras de nanis-mo: “Tragam a entrevistada de vocês aqui. Ela será bem vinda!”, comentou.

Bom, as coisas estavam me-lhorando... Na próxima parada,

o público-alvo era adulto mes-mo; nada de roupas improvisa-das. O estilo esporte fi no era o forte da Agnelli, loja exclusiva-mente masculina. Só que a loja tem alfaiate próprio, que tira as medidas na hora da compra e faz os ajustes necessários. Me-nos um custo para os baixi-nhos!

Agora, como uma portadora de nanismo se arruma para um casamento ou um evento mais sofi sticado? Ao andar mais um pouco e bisbilhotar cada vitri-ne, nos deparamos com a loja de vestidos Oittava Estação, que caiu à nossa frente como uma resposta.

Quando perguntamos se te-riam opções para anãs, as ven-dedoras se entreolharam como se não soubessem o que res-ponder. Mas aí, uma delas, foi a voluntária. Carla Oliveira mos-trou alguns vestidos que pode-riam facilmente ser ajustados.

Ela explicou que os melhores tecidos para essa clientela são os tafetás porque possibilitam um corte reto e não estragam o modelo. Outra opção, são os vestidos em duas partes, o bus-to feito e depois costurado ao corte da saia. Os vestidos mais elaborados, como os franzidos ou bordados com paetês e pe-drarias, são os mais difíceis de serem ajustados, porque, de-pendendo do tamanho de cor-te, muitos dos seus detalhes serão desfeitos. Assim, apesar da loja também disponibilizar o serviço de corte e costura, será mais vantajoso mandar

fazer. Depois de encontrar as roupas, formos à procura dos sapatos. Na loja Jelly, onde en-contramos calçados da marca mundial Melissa, existem san-dálias infantis que são réplicas fi éis dos modelos adultos., com números do 17 ao 25. Só que a atendente não nos levou mui-to a sério. Explicamos do que se tratava e fi camos aguardando.

Depois de vinte minutos es-perando, uma de nós dirigiu-se ao caixa para perguntar o motivo da demora. E a respos-ta foi breve: “Ah, me desculpa, eu esqueci completamente de vocês”. Seguimos em frente e descobrimos que para os ho-mens a sistemática é a mesma: a compra dos modelos infantis que são cópias dos modelos adultos é a melhor opção.

Na sapataria Casa Pio, mui-to popular na cidade, também encontramos tênis, sapatênis à chinelos que acompanhavam a linha “tal pai, tal fi lho”.

Com a sensação de que ain-da faltava alguma loja mais apropriada aos diferentes gos-tos e tamanhos dos anões, eis que nos deparamos com uma vitrine bem chamativa.

As roupas expostas eram o que a gente realmente estava procurando. Ao entrarmos, fi ca-mos encantadas com o número de opções de roupas, calçados e acessórios infanto-juvenis, que se adequavam perfeita-mente ao estilo dos nossos in-teressantes entrevistados.

A supervisora da loja Laliló, Mércia Martins, comentou que a loja já recebeu anões e que tinha clientes fi éis desse por-te. Além de nos acompanhar em todos os setores, sugeriu alguns das combinações mais transadas para que pudésse-mos registrar. Até sapato social de número bem menor pude-mos encontrar desta vez, e sen-tir o alívio de que a tarefa hou-vera sido cumprida.

As percepções foram diver-sas ao longo do trajeto que fi zemos no shopping. A cada estabelecimento que entráva-mos, novos sentimentos e im-pressões, tanto por parte dos vendedores, quanto por nós. Olhares desconfi ados ou um ar de interesse foram algumas das reações que provocamos.

À procura da medida perfeita

A customização pode dar um toque pessoal e único a uma peça. Dá pra criar modelos inu-sitados ou transformar o que já existe em algo novo. E, para que possa praticá-la, é preciso fi car atento às seguintes dicas bási-cas para escolher o melhor tipo de tecido para fazer mudanças e controlar a junção de materiais:

- Não se pode misturar algo que desbote e manche o outro tecido;

-Deve-se reunir tecidos que não tenham um caimento parecido;

- No caso dos anões, que po-dem apresentar anomalias mais perceptíveis, é importante ade-quar modelagem e tecidos, através de cortes e recortes que valorizem seus corpos. Para estes casos, os tecidos devem ser 98% naturais, de algodão e linho e 2% elas-tano, para proporcionar mais conforto. Depois, é só soltar a imaginação.

É interessante que, na junção de peças an-tigas para a construção de uma nova, sejam usadas peças do mesmo tecido. Dependendo da malha, vale transformar vesti-do em saia ou blusa, ou uma ca-miseta maior em vestido, no caso de anãs, e aí é só dar o toque fi -nal, a fi m de torná-la mais pare-cida com o gosto e a personali-dade de cada um. Além de criar uma nova modelagem na peça, adaptando, é valido usar tecidos ou acessórios que fazem dife-rença nos detalhes, como couro, lantejoulas e linhas de cores di-

versas, que podem ser aplicados manualmente ou na máquina.

Customizar é algo livre. Dá pra utilizar desde tintas a pedrarias para elaborar os mais diferentes bordados. Signifi ca transformar uma peça em um link de outra. O importante é ser fi el a si mesmo e manter o estilo, agregando à peça reinventada um valor próprio.

Confi ra algumas dicas para customização

Kyara Azevedo

-Deve-se reunir tecidos que não tenham um caimento parecido;

- No caso dos anões, que po-dem apresentar anomalias mais perceptíveis, é importante ade-quar modelagem e tecidos, através de cortes e recortes que valorizem seus corpos. Para estes casos, os tecidos devem ser 98% naturais, de algodão e linho e 2% elas-tano, para proporcionar mais conforto. Depois, é só soltar a imaginação.

É interessante que, na junção de peças an-tigas para a construção de uma nova, sejam usadas peças do mesmo tecido. Dependendo da malha, vale transformar vesti-do em saia ou blusa, ou uma ca-miseta maior em vestido, no caso de anãs, e aí é só dar o toque fi -nal, a fi m de torná-la mais pare-cida com o gosto e a personali-dade de cada um. Além de criar uma nova modelagem na peça, adaptando, é valido usar tecidos ou acessórios que fazem dife-rença nos detalhes, como couro, lantejoulas e linhas de cores di-

Como uma portadora de nanismo se arruma para um casamento? Quando perguntamos se teriam opções para anãs, as vendedoras se entreolharam como se não soubessem o que responder...

Repórter

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Cores saturadas, divertidas sobre-posições e efeitos que remetem a fotos antigas. Conheça a lomografia, que tem conquistado novos adeptos e desbravadores em Fortaleza

Fisheye: (olho de peixe em português) está entre as lomos favoritas, a câmera faz fotos em ângulos de 170 graus, com um lúdico efeito de círculo Fotos: arquivo Pessoal

Jacqueline Nóbrega, Suzane Saldanha

e Viviane Sobral

Para gravar um acontecimento, não é preciso mais que um sim-ples clique; porém, para inovar, vale apostar em alguns acessó-rios, como uma lente diferente ou boa luz. A lente que vem se desta-cando é a conhecida “olho de pei-xe”, uma boa pedida para os fãs das câmeras lomográficas, uma das mais famosas analógicas.

Uma câmera fotográfica na mão e um desafio: registrar os 36 cliques de um filme. Não vale apagar se não gostar, não tem como visualizar a foto na hora e não tem cabo que transfira as fo-tos para o computador. O jeito é levar o filme para a loja de revela-ção mais próxima.

Esse resgate da rotina analógi-ca pode até parecer estranho em meio a lançamento de aparelhos digitais com dezenas de mega pi-xels, novos tablets e desenvolvi-mento de novas tecnologias.

O editor de fotografia do Diá-rio do Nordeste, Eduardo Quei-roz, explica que as câmeras ana-lógicas são “exatamente iguais” às digitais. “O que muda é o suporte para a construção da imagem. A primeira usa a celulose como base e uma emulsão sensível a luz. E a segunda, sensores elétricos que recebem a luz e depois transfor-mam, pela movimentação das cargas elétricas, esta luz em uma imagem digital”, esclarece.

Eduardo conta que em casa possui vários modelos analógi-cos. Como ele também é profes-sor, sempre que pode, aproveita para apresentar aos seus alunos trabalhos realizados com filmes, que posteriormente foram digi-talizados. Com relação ao fotojor-nalismo, Eduardo trabalhou de maneira analógica entre os anos de 1978 e 2005.

No exercício da profissão, ele opina que as analógicas tinham uma vantagem sobre as digitais quanto ao tamanho. “Eram me-nores, portanto, mais discretas para maioria das fotos”, compa-ra. Mas também indica a van-tagem das digitais na rotina da profissão. “No fotojornalismo, a principal diferença é a velocida-de de disponibilização das fotos, para publicação, pelos repórteres fotográficos”.

E a lomografia? Essa denomi-nação em Fortaleza ainda se limi-ta a poucos fotógrafos e alguns amadores curiosos, mas está cada vez mais disseminada e atrai pela capacidade de experimentação. O resultado?

A estudante de publicidade e fotógrafa Camilla Leite, 21 anos, teve seu primeiro contato com uma câmera na infância. “Desde pequena pegava a câmera aqui da minha casa. Lembro que minha mãe colocava um filme na câmera e eu gastava as 36 poses em uma única manhã.”, ela relembra.

O primeiro contato da estu-dante com uma câmera digital foi durante a adolescência. O mode-lo, adquirido com sacrifício, foi uma Canon 400D, que ela possui até hoje.

“Eu não entendia nada, que-ria tirar fotos e botar no fotolog. Fazia algumas fotos, postava e recebia comentários do tipo ‘belo macro’ ‘que dof’ e não entendia absolutamente nada. Recebia elogios de uma foto que eu não dava nada por ela, então acabei lendo e aprendendo. Eu já não largava a câmera, imagina lendo um manual e procurando coisas na Internet, né?”

A oportunidade de comprar uma câmera lomo veio no come-ço do ano. Acostumada a acom-panhar as novidades do mundo da fotografia pela Internet, Ca-milla não pensou duas vezes e adquiriu a sua “Olho de peixe” quando foi inaugurada, em For-taleza, uma loja que disponibili-zava as câmeras (Ver coordenada ao lado). “Cheguei na loja para comprar e eram tantos modelos, que fiquei meio perdida. Me aju-daram bastante na escolha e não me arrependo de ter começado nas analógicas com o modelo Fi-sheye 2 (cuja lente simula o efeito de um olho mágico)”.

Camilla, que iniciou a carreira já no domínio de aparelhos digi-tais, relata a sensação de poder ver as fotos só depois de alguns dias. “Ir deixar o teu filme pra re-velar e ficar na expectativa de sa-ber como as fotos ficaram me en-canta. Poder escolher um tipo de filme também são um fator que me chama atenção nas câmeras analógicas, em especial na lomo” As 36 poses disponíveis no filme também é um fator interessante, segundo a estudante de publi-cidade, que agora apreendeu a se policiar e pensa com cuidado quais momentos vai registrar.

A vontade de utilizar uma câ-mera analógica em algum traba-lho profissional existe, mas até então só tem usado como diver-são. “Deve ser uma experiência

Lomos :estilo retrô, cores vivas

maravilhosa. Fazer um trabalho fotográfico e só depois de algum tempo conferir o resultado. Criar aquela expectativa e torcer pra que tenha saído do jeito que você imaginava.”, conclui.

A paixão pela fotografia analó-gica também pode ser percebida na opinião de profissionais com grande destaque no cenário pro-fissional. “É uma mídia contem-porânea que nos permite olhar o mundo de uma maneira bem pes-soal”, avalia o editor de fotogra-fia do jornal Diário do Nordeste. Para Eduardo Queiroz, a lomo é moda. “Acredito ser uma estraté-gia de marketing para acabar de-finitivamente o estoque de filmes existente no mercado”.

Para economizar, vale digitalizar antes de ampliar Os gastos com filmes são um dos problemas percebidos por Érika Aragão, estudante do curso de Publicidade e Propaganda.

Para não ter nenhuma sur-presa ao revelar seu filme, a apaixonada por fotografia pre-fere digitalizar as fotos antes de revelar.“Revelo na própria loja onde comprei minha câmera. Eu pre-firo digitalizar todas por R$ 12 e depois escolher a que revelarei. Assim evito surpresas.”, relata após citar que até o momento já revelou três filmes.

Em Fortaleza, existem lojas de revelação que resistiram à pro-liferação das câmeras digitais, o que poderia ter diminuído o inte-resse por esse tipo de serviço. Se-gundo Camila Nunes, funcioná-

Aplicativos de celulares reproduzem efeitos retrô

Instagra.amJá ultrapassou a marca de 1 milhão de usuários e toda semana ganha em média 100 seguidores. A ideia do aplicativo é uma rede social de fotos.

HipstamaticDisponibiliza efeitos mais pro-fissionais, em especial os efeitos que uma câmera lomográfica produz em suas fotos. Além dos efeitos, os usuários podem esco-lher modelos diferentes de lente, flash e filme.

TooncameraÉ voltado para os amantes de quadrinho. O aplicativo transforma imagens e vídeos em cenas de quadrinho, ins-pirados em HQ da Marvel.

PocketboothÉ inspirado nas cabines que encontramos no exterior, onde a pessoa faz várias poses e recebe as fotos em uma tirinha. O diferencial do Pocketbooth é que o usuário pode compartilhar as tirinhas instantaneamente nas redes sociais.

Para os que não abrem mão da tecnologia e se encantam com os efeitos de uma câmera analógica, uma alternativa são os aplicativos de celulares como o Iphone. É só baixar e escolher um filtro para editar sua imagem e pronto, sua foto vai ficar com um ar mais retrô.

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No Brasil, a primeira loja a ven-der câmeras lomográficas foi a fi-lial da famosa marca “Lomogra-phy”, no Rio de Janeiro. A loja foi inaugurada em outubro de 2009, e foi a primeira da marca na America Latina. Já em For-taleza, a percussora e até então única loja é a My Okie Dokie.

Diana e Holga são alguns dos sucessos das prateleiras do esta-belecimento da Capital cearen-se. “Estava procurando marcas para a Okie Dokie e pensei que seria um ‘acessório’ bacana, óti-mo para presentear”, conta a só-cia Flávia Castro sobre a chega-da do produto na multimarcas. “Também conheço pessoas que já tinham lomos antes da inau-guração da loja e sempre estão em busca de um acessório ou outra câmera com outro efeito inovador. Assim, unimos o dife-rencial do produto com o retor-no comercial”.

Sobre o estilo de quem busca esse tipo de produto em Fortale-za, Flávia explica que não há um perfil específico. “Registramos um público bastante diferencia-do, desde pessoas mais jovens

Em Fortaleza, preços das câmeras vão de R$ 100 a R$ 460

Fisheye: (olho de peixe em português) está entre as lomos favoritas, a câmera faz fotos em ângulos de 170 graus, com um lúdico efeito de círculo Fotos: arquivo Pessoal

“Diga xíííís”: A sócia proprietária da loja My Okie Dokie posa com sua câmera lomográfica Foto: Flávia Castroí

Brinquedo engraçado

Artigo

Pode ser divertido um breve passeio no adorável trimotor Junker 52 que a Lufthansa mantém voando na Alemanha para fins turísticos e promocionais. Entretanto, ninguém pensaria seriamente em realizar uma viagem de verdade em uma máquina dos anos 30 que, já em 1940, os seus pi-lotos a consideravam desesperadoramente lenta.

Estamos na mesma situação quando nos vemos diante do falso problema: o que é melhor, a fotografia digital ou a fotografia química, impropriamente definida como analó-gica? Ambas são analógicas. Diferem em essência porque enquanto a primeira tem por unidades mínimas os pixels, rigorosamente ordenados, a segunda tem os grãos – cris-tais de compostos de prata – aleatoriamente distribuídos. Afora isso, a discussão não faz sentido. A imagem que se convencionou chamar de analógica, se reproduzida, será inevitavelmente digitalizada. Em monitores, será um agru-pamento de pixels, mas se impressa, de pixels será, como sempre foi no fim da linha, convertida em pontos de retí-cula. Só será o que é mesmo, grãos de prata, em álbuns de família ou exposições de índole artística.

A evolução rápida da tecnologia digital e instantânea já não deixa nenhuma margem para os filmes, revelado-res úmidos, banheiras, ampliadores e papéis fotográficos com prazo de validade aflitivamente limitado. As vanta-gens remanescentes da fotografia com emulsões sensíveis já se dissiparam diante das últimas gerações de câmeras digitais. Da mesma forma, o antigo laboratório escuro não chega nem perto dos seus substitutos em eficiência e pos-sibilidades, os editores de imagens dos quais o Photoshop é o mais popular, mas não o único.

A Lomo russa, analógica descartável de desenho pop retrô lançada recentemente no mercado, é um brinquedo engraçado, tanto quanto um passeio nostálgico pelo rio São Francisco a bordo de um gaiola a vapor empurrado por uma roda d’água na popa. É a reminiscência de um mundo que já se foi. Como meio de expressão, produzindo ima-gens de aparência envelhecida ou de cores forçadamente saturadas, não oferece nada que não se possa obter rapi-damente com uma câmera digital comum através da mani-pulação em qualquer editor de imagens. É um mero objeto de decoração, se tanto.

Professor de Fotografia do Curso de Comunicação Social

que nunca tiveram contato com câmeras analógicas, até pessoas mais velhas, que veem nas lo-mos a oportunidade de resgatar essa experiência, essa expectati-va de revelar filme e se surpre-ender com as imagens registra-das”, conta.

A curiosidade, portanto, é um dos aspectos notados por Flávia na rotina da loja. “Recebemos clientes curiosos em saber como elas funcionam e também quem já as conhece e já trabalha pro-fissionalmente, tanto com as lo-mos quanto com as digitais”.

Os preços variam de R$ 460 a R$ 100. Além da Diana e Hol-ga, dois dos modelos mais co-nhecidos por quem já desbra-vou esse universo, a Okie Dokie geralmente disponibiliza outros modelos, embora haja variação na quantidade de câmeras. “Fa-zemos periodicamente os pedi-dos das câmeras de acordo com a popularidade e a aceitação de-las entre o público cearense”, explica Flávia.

Também são comercializados acessórios, como porta-retratos, cortadores de fotos tiradas com

Fisheye, filmes, lentes, flashes, fotclips e caixa para mergulho.

A quem interessar, a Okie Dokie também trabalha com serviços de revelação, tanto em papel fotográfico quanto digital, onde os negativos são escanea-

dos e passados para CD. A reve-lação em papel fotográfico custa R$ 2 por imagem.

Já a digitalização, R$ 14 (fil-me 35 mm) e R$ 16 (120 mm). O filme simples (35 mm) custa R$ 10,90 (24 poses) e R$ 12 (36

poses). Ainda conforme a pro-prietária, são comercializados kits de filmes especiais da lomo que fazem fotos com efeitos, como sépia e preto e branco, e 120 mm. Os preços vão de R$ 39 a R$ 75.

ria da Dry Photos, que possui três lojas em Fortaleza, mesmo com a tecnologia cada vez mais avança-da das digitas, as pessoas ainda procuram o serviço para revelar filmes de câmeras analógicas. “Geralmente são pessoas mais

velhas, mas todos os dias é cer-teza ter uma pessoa, pelo menos, para revelar um filme”, explica.

Apesar dos custos obrigatórios com a revelação, Érika conta que o interesse por câmera lomográ-fica nasceu da paixão por fotogra-

fia e pelo estilo que remete a fotos antigas. “Eu adoro fotografia e as lomos, além de serem lindas, tem todo o charme vintage. Porém, o fator principal da escolha foi o fato da lente ser olho de peixe, lente que eu sempre quis ter”.

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Elaine Quinderé, Jaqueline Longatie

Marília Pedroza

Com data certa para começar e acabar, a Praça da Cura existiu durante um ano num endereço bastante cobiçado de Fortaleza. O local é a avenida Senador Vir-gílio Távora, num quadrilátero cercado por lojas. Observar toda aquela área verde ao lado de pré-dios e mais prédios era mesmo perceber um contraste. Ao che-garmos lá, deparamos-nos com um ambiente não convencional: uma área grande, com planta-ções, lagos e construções feitas de sucata. Pneus, barro, madeira reutilizada, garrafas pet e vidro na estrutura dessas construções. Dentro, também encontramos uma lojinha que, além da ven-da de produtos ecologicamen-te corretos, como camisetas e absorventes, possui um teto de grama.

A Praça foi um projeto da ONG A Cura do Planeta, cujas propostas são práticas ecológi-cas e promoção da sustentabi-lidade com uma nova visão de consumo. Bruno Setúbal, dire-tor operacional da Organização, falou-nos um pouco mais dela e de onde vem sua renda. Ele explicou que a ONG tem uma parceria com uma rede de su-permercados de Fortaleza (que ele preferiu não revelar o nome) e que boa parte do dinheiro d’A Cura vem da gestão de todo o lixo reciclável desses supermer-cados. Foi esse grupo comercial que cedeu, durante um ano, o es-paço para a Praça da Cura.

Seguindo a lógica e a linha verde, ali se incentivava o cultivo de plantas e quem quisesse pode-ria ajudar, desde que atendesse a uma condição: levar a primeira semente. O diretor operacional conta que eles orientavam como fazer o plantio, indicavam o tipo de planta e o cultivo mais ade-quado para ela.

O espaço também foi usado como uma unidade demonstra-tiva da permacultura, método no qual a ONG se baseia (veja quadro ao lado). Isso quem nos contou foi Otalibas Rocha, dire-tor executivo da Entidade. Con-versamos com ele em setembro, quando o terreno outrora ocu-pado pela Praça já estava vazio. “Longe de estarmos tristes, nós estamos muito felizes com os re-sultados da Praça da Cura. Nós estamos cada vez melhor, foi uma grande oportunidade”.

Danças, canções e oralidades foram conservadas entre as tribos, apesar do mito do desaparecimento Foto: raPhael villar

Praça da Cura deixa bons frutos mesmo após ser desmontada

Com um nome pretensioso, a ONG A Cura do Planeta colhe os frutos da Praça da Cura, que já nasceu com prazo de validade, mas permanece viva na memória

Otalibas afirma que o modelo de construção por eles empre-gado foi aprovado, além deles terem sido contratados para re-plicar o serviço, pois a Prefeitu-ra Municipal de Fortaleza apro-vou a construção de uma praça

ecológica na Sabiaguaba. E tudo isso só foi possível graças à vi-sibilidade trazida pela Praça da Cura. “O pessoal conhece o nos-so trabalho. Somos bem vistos na comunidade”, afirma satisfei-to o diretor executivo.

Outra consequência positi-va da Praça é que agora a po-pulação também sabe o que é A Cura do Planeta, que foi bem definida pelo diretor Bruno. “A Cura do Planeta é uma ONG que tem como propósito principal

a difusão de práticas voltadas para uma vida sustentável, com o mínimo de impacto negativo no ambiente onde você habita. E dentro desse conceito a gente desenvolve várias atividades. A gente tem aulas de yoga, capoei-ra, dança circular. Isso na parte de arte e corpo”.

Durante alguns fins de sema-na, aconteceram mutirões de arte e permacultura. Várias pes-soas voluntariaram-se, levando conhecimento sobre arte. Nestes momentos eram feitas pinturas em painéis, além troca de ideias. A presença de grafiteiros garan-tiu a reprodução de mensagens da Cultura de Paz no muro den-tro da Praça. Além de pintura, aconteceu a criação do Espaço Mão na Terra, local de plantio durante a visitação de escolas.

No entanto, com o seu des-montamento oficial iniciado em 19 de setembro, as atividades passaram a ser realizadas na sede da Organização.

Fundada em 2010 por um grupo de 30 amigos, A Cura do Planeta é parte integrante da As-sociação Sócio-cultural Univer-sos, uma ONG com o objetivo de estimular o acesso da comunida-de cearense à cultura e à arte. Ao mesmo tempo, A Cura do Plane-ta atua como uma cooperativa de prestadores de serviços que têm como diferencial a consci-ência ecológica.

Um dos pilares da ONG é a prá-tica da permacultura. Segundo Bruno Setúbal, os 30 idealizado-res da organização estudaram o método e é ele quem fundamen-ta a estrutura da Praça da Cura.

A permacultura surgiu na Austrália, na década de 70, por meio de um grupo de ecologis-tas que trabalhavam com agri-cultura natural. Eles viram que o processo de manejo com a agri-cultura ia muito mais além da relação homem-terra: “era muito mais do que você simplesmente abrir um buraco na terra, botar a semente e fazer nascer a ter-ra. Era bem mais que isso. Então eles conseguiram, dentro dos es-tudos deles, formatar esse con-ceito de cultura permanente, o que é muito bom, considerando a cultura dos descartáveis que vi-vemos hoje”.

Bruno esclarece ainda que a cultura permanente é o conjun-to de saberes, informações, téc-

nicas e teorias baseadas numa ética que diz o seguinte: cuidado com as pessoas, cuidados com as coisas, cuidado com o planeta, partilha dos excedentes e mane-jo consciente dos espaços habi-tados. A permacultura possui um instituto internacional na Aus-trália, que é a sede de discussão sobre essa temática no mundo. É de lá que são gerados cursos de capacitação em permacultura.

E foi dentro desse formato que grande parte dos que trabalha-ram no processo de elaboração da Praça se capacitaram.

Bruno declara que, além da permacultura, outros pilares sus-tentam as bases da Praça e da ONG, como a cultura de paz, a ecopedagogia e agroecologia. Além de culinária vegana e da fabricação de produtos de lim-peza e higiene pessoal.

Entenda o que é permacultura

Reconhecimento: Prefeitura Municipal de Fortaleza aprova modelo de construção sustentável da ONG A Cura do Planeta Foto: tuyuka aimirim

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011 11

Onde fica a Praça da Cura

Restaurante de portas abertasVeganismo: a comida do restaurante O Vegano é de origem 100% vegetal Foto: tuyuka aimirim

ONG A Cura do Planeta - Av. Senador Virgílio Távora, 867, casa 58 Telefone: 3023-1234http://www.acuradoplaneta.orgbr/

A ONG A Cura do Planeta sur-giu em 2010 e junto com ela nasceu o restaurante O Vegano. O nome faz alusão ao veganis-mo, “uma vertente do vegeta-rianismo que não usa produtos de origem animal, nem queijo, nem leite. Inclusive nossa pi-zza é com queijo vegetal”, ex-plica Bruno Setúbal.

A carne é de soja, o arroz é integral. Do prato principal aos sucos e sobremesas, tudo é de origem exclusivamente vegetal. E não pense que devido a esse posicionamento o restaurante atrai menos clientes. Das 11:30 às 14:30, até 80 pessoas almo-çam por lá diariamente. Para os adeptos do veganismo, infeliz-mente, o local só funciona nesse horário.

Ele nasceu com o objetivo de ajudar a difundir as propostas da ONG de uma vida sustentável, o que inclui também uma alimen-tação sustentável. Por isso, a cultura vegana é aplicada e até o mais famoso prato brasileiro, a feijoada, ganhou uma versão nesse tipo de alimentação. A re-feição já virou tradicional e está entre as mais pedidas. As que também estão no ranking são o

gnocchi vegano e a lasanha, que pode ser de abobrinha ou de be-ringela.

Mas para a jornalista Jussa-ra Holanda, o melhor quitute do local é o Petit Gateau feito com chocolate vegano e açúcar cris-talizado. Ela ficou sabendo do restaurante por amigos e hoje é cliente fiel. “Gosto porque, além de fazerem uma comida saudá-vel, eles também usam alimen-tos sem agrotóxicos. E achar um restaurante assim é mui-to difícil”, declara. A jornalista também destaca sua preferência pelo suco de limão com capim santo: “É muito bom!”

Desde nossa visita ao local até chamadas telefônicas, as pesso-as que trabalham n’A Cura do Planeta sempre foram solícitas e hospitaleiras. Esse esmero com o atendimento chega a todos os frequentadores do restaurante: Jussara contou que recebe um e-mail com o cardápio diário.

Além dos pratosEsse mesmo conteúdo tam-

bém está no facebook d’O Ve-gano, que atualiza sua página diariamente com links para do-cumentários, citações explica-

tivas sobre o vegetarianismo e o veganismo, a proposta da se-gunda-feira sem carro e outros assunto relacionados a uma vida sustentável.

Ali eles também divulgam a parceiria com a Feira agroeco-lógica no Benfica, uma iniciativa de consumo responsável de pro-dutos de qualidade, e a oficina de alimentos vivos, na qual se dispõem a desvendar o potencial nutritivo dos alimentos crus e germinados.

Os adeptos do vegetarianismo acreditam que alimentos gemi-nados, como rebentos de soja e de feijão fornecem mais nutrien-tes que qualquer outro.

Além do self-service, de se-gunda à sexta-feira, o Vegano oferece ainda a opção do pra-to feito por sete reais. E, para quem quer levar as iguarias para casa ou para um aniversário, por exemplo, o restaurante tem o serviço de buffet externo.

Existia também, na Praça da Cura, uma pizzaria que seguia os mesmos princípios do vega-nismo, com pizzas feitas sem nenhum ingrediente de origem animal. Mas, com o fim da Pra-ça, a pizzaria também acabou.

Skye Riquelme é permacultor e fundador do Instituto de Permacultura do Cerrado/Pantanal (IPCP) Campo Grande/MS, onde vem desenvol-vendo trabalhos juntamente a comunidades indígenas e quilombolas do Cerrado. Em entrevista ao Sobpressão fala sobre a plicação do conceito em ambientes urbanos

Sobpressão - Para uma pessoa que está aprendendo Permacultu-ra e mora em apartamento, quais são as atividades mais fáceis de executar?

Skye - Existem duas atividades principais disponíveis. Dentro do apartamento mesmo, eles podem reciclar seu lixo e ate fazer com-postagem no balcão e produzir alguns temperos e legumes. Obvia-mente não será um lugar com fileiras de alfaces, por exemplo, mas plantas mais perenes como pimenta, tomate e ate frutíferas de for-ma enxertada e a anão é possível, e obviamente todas os temperos e plantas medicinais.

Melhor ainda: formar um grupo com os vizinhos e contratar um produtor orgânico no campo, ele terá clientes permanentes e as pessoas nos apartamentos receberão alimentos de qualidade. Eles pagam menos e o produtor recebe mais! Comprar dos mercados lo-cais produtos mais ecológicos. Com seus vizinhos formar grupos de suporte, cuidando das crianças, auxiliando os idosos, compartilhan-do ferramentas..Instalar placas solares no estacionamento também é uma solução. SP - Como as escolas podem trabalhar com Permacultura? Você co-nhece alguma que já trabalhe com essas técnicas pra crianças em al-guma cidade?

Skye- Várias escolas estão começando a adotar uma abordagem mais integral e menos dispersa. Especialmente em outros países o currículo das escolas são mais compreensivo e integram a aprendi-zagem com o meio ambiente. No Brasil, especialmente as escolas pú-blicas são décadas por atrás esse movimento, mas algumas escolas particulares estão desenvolvendo praticas mais racionais/holísticas. Eu conheço pessoas em São Paulo e Santo/SP com trabalhos muito bons nas escolas primárias. Depende muito da vontade e animação dos professores...as escolas e os autoridades não reconhecem esse trabalho... então sera por dedicação dos próprios professores. CP- Como podemos usar a Permacultura num ambiente fechado como um escritório?

Skye - Como os apartamentos, um escritório significa um poder econô-mico significante, e pode ser enorme. Unindo as pessoas podem usar esse poder para dá suporte umas famílias de produtores resultando em alimentação melhor por eles e renda melhor pelos produtores. E eles podem usar esse poder em todas áreas das compras...unindo para negociar preços melhores...por produtos mais ecológicos. Hoje, em várias partes o mundo existe muitos projetos onde o pla-nejamento dos escritórios são mais ecológicos, resultando em um meio ambiente mais cômodo que resulta em maior produção e me-nos gastos. O famoso “Empire State Building” em Novo Iorque, re-centemente faz um retrofit bem extensivo.E o resultado é que eles estão pagando bem menos por eletricidade, e os funcionários são mais feliz (ler mais produtivos e menos trocar do pessoal) e por isso os donos conseguiram subir o taxa de aluguel 25%!!!! Nas áreas mais urbanas existe muito espaço não utilizado ou sub-utilizado. Arqui-tetos na Inglaterra estão falando que cidades como Leeds podem produzir ate 35% seu consumo de alimentos usando os espaços va-zios que agora existe!!! E também melhorar o meio ambiente e a am-biente para o povo. CP- Quais as dificuldades de divulgação da Permacultura?

Skye- Em outros países o povo demonstra estar entendendo os desafios que os seres humanos estão enfrentando e começando a reagir. Basta observar o crescimento do movimento das Transition Towns (Cidades em Transição) em 4 ou 5 anos...na Inglaterra, Euro-pa, Austrália, EUA. Por outro lado, aqui no Brasil, percebo que ainda estamos bem desinformados. a mídia trata questões importantes tais como mudanças climáticas de maneira bem superficial, e igno-ram totalmente o Pico do Petróleo, quase não se vê matéria sobre o assunto. Isso também leva a tona a politicagem e interesses particu-lares das elites do Brasil, do governo e da Petrobrás. Mas a desigual-dade econômica está ficando mais cruel a cada dia e agora pessoas estão buscando outras propostas. O interesse em Permacultura nos últimos dois anos está aumentando muito.

Por Jusssara Holanda

Como aplicar a permacultura em casa

Skye RiquelmeEntrevista

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 201112

Marina Sávia e Renata Frota

Desde 1999, o brasileiro nun-ca casou tanto, como em 2010. São cerca de um milhão de casa-mentos por ano. É o que aponta o estudo Síntese de Indicadores Sociais do ano passado, divul-gado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, IBGE. De acordo com a pesquisa, esse crescimento está relacionado a fatores como a melhoria no acesso a serviços judiciais, prin-cipalmente no registro da união, e a elevação do número de reca-samentos.

E, com tanta gente querendo oficializar a união, não é à toa que a Associação dos Profissio-nais, Serviços para Casamentos

Casamentos fogem do ritual tradicional Os casais oficializam a união e

os matrimônios são um espetácu-lo à parte. A originalidade, a diver-são e o inusitado são as caracterís-ticas da nova geração

Personalidade e irreverência são alguns dos principais ingredientes na hora de oficializar a união. Dependendo da cerimônia, o custo pode ser alto.tanto que o mercado matrimonial faturou cerca de R$ 10 bilhões em 2011 Foto: arquivo Pessoal

Em Fortaleza, Ana Santiago e Maricélio Marinho deixa-ram a criatividade fluir e op-taram pelo casamento ao ar livre, no zoológico Eco Point em dezembro de 2008. A ideia surgiu após um passeio com crianças carentes que fa-zem parte de um projeto so-cial desenvolvido pelo casal. “Quando meu noivo entrou lá, se encantou com a beleza do jardim e a partir de então não queria mais ver nenhum outro lugar. Depois, eu fui co-nhecer também e achei muito lindo!”, explicou a noiva.

Noivos queriam casamento ecológico

Noivos resolveram casar no zoológico por causa da beleza do jardim. A organização da festa levou um ano e meio Foto: arquivo Pessoal

e Eventos Sociais, a Abrafesta, comemora. O mercado de fes-tas e cerimônias de casamento está aquecido. Segundo o estudo que a Associação realizou no ano passado, aqui no Brasil movi-mentam-se cerca de 10 bilhões de reais ao ano. A cerimonialista Liduina Figuereido confirma o que os dados mostram. “A pro-cura por casamento aumentou. O fluxo maior deixou de ser no mês de maio. Pelo menos para mim, nos meses de julho e de-zembro, organizei mais cerimô-nias, porque os casais acreditam que tem mais gente de férias e assim, a família pode partici-par,” revela.

Com tanto dinheiro fluin-do assim, é claro que já se pode ver de tudo nas cerimônias. Mas nem todas as pessoas podem pa-gar para ter uma festa criativa.

Atualmente, a originalidade e a diversão são alguns dos in-gredientes essenciais para ofi-cializar a união de casais apaixo-nados. Sendo assim, tem gente que topa tudo! Alianças tatuadas

como símbolo da união, fanta-sias ao invés do vestido branco e do fraque, a tão conhecida valsa, trocada por coreografias inusita-das como o funk; a marcha nup-cial bastante antiga, por uma en-trada bem mais divertida. Tem noiva que até usa tênis na hora da festa! Enfim, cada vez mais a personalidade dos noivos tem se tornado regra para quem esco-lhe esse tipo de celebração, um tanto exótica.

Mas nem tudo são flores. Os casais que desejam oficializar a união de maneira inusitada, podem encontrar dificuldades e realizar uma cerimônia exótica, ainda é um obstáculos impostos pela Igreja Católica.

O matrimônio é entendido pela instituição religiosa como um evento destinado a conferir sacralidade a certos momentos e situações da vida cristã. Diante disso, “A Igreja não realiza casa-mento exótico. O matrimônio só acontece dentro dos templos tra-dicionais”, justifica o padre Jo-simar Pires, da Paróquia Jesus

Maria José, da cidade de Guai-úba, a 40 km da capital cearen-se. Ainda segundo o pároco, “se uma pessoa quer casar, quer ter uma vida séria, ela deve seguir as orientações da Instituição”, adverte o padre.

Em Fortaleza, muitos casais desejam se casar na beira da praia, sentindo a brisa do mar e assis-tindo ao pôr-do-sol. Mas apesar de bastante poético, esse sonho só pode ser realizado com bençãos, e não com o ritual tradicional da Igreja Apostólica Romana.

Empresas especializadasPensando no desejo de inova-ção dos noivos, muitas empresas têm oferecido pacotes de casa-mentos fantásticos que já que-bram a rotina do matrimônio desde a troca de alianças. Numa pesquisa rápida pela Internet, encontram-se inúmeros desti-nos: Havaí, Disneylândia, Las Vegas, Taiti, Paris, Caribe, Cali-fórnia, México, Miami...

E as celebrações são para to-dos os gostos. Desde os mais ro-

mânticos, como uma recepção de até seis horas a bordo de um Iate no Rio Sena, aos mais descolados como uma cerimônia na capela do Elvis Presley, guiada pelo só-sia do cantor e até aos mais aven-tureiros, como uma festa dentro de uma zona arqueológica.

Isso sem falar das lembranci-nhas... Até mesmo a moda das havaianas com o nome dos noi-vos já passou. Atualmente, uma das ideias mais utilizadas são as fotos dos convidados com os noivos. Impressas no local, fi-cam prontas antes do final da festa. Na hora da saída são ex-postas perto da porta para que cada convidado passe e pegue a sua. Outra novidade são os mo-nóculos com uma foto do casal, a lembrança perfeita para quem quer eternizar o momento, já que a foto não estraga.

Além destas, há ainda a op-ção de entregar uma caixinha com doces sortidos (e não com os tradicionais bem-casados), para o convidado levar, repartir e comer quando quiser.

O pedido de casamento aconteceu durante um final de semana romântico pelas praias de Lagoinha, Mundaú e Flecheiras, no litoral oeste cearense. “Na primeira pa-rada, alugamos um quadrici-clo e fomos passear, levando um champanhe e dois copos arranjados numa barraca de praia. “Lá pelas tantas, ele parou, a gente desceu do veí-culo e ele disse que tinha uma surpresa. Tirou as alianças do bolso e fez aquela pergun-ta... (risos)”, se emociona.

A partir deste episódio,

os preparativos da união es-tavam apenas começando e Ana não hesitou em orga-nizar todo o casamento. “O primeiro de tudo foi fechar a lua-de-mel, que foi um cru-zeiro até Fernando de No-ronha. Depois, junto com a cerimonialista, procuramos orçamentos de alguns pro-fissionais”. A organização

do casamento durou um ano e meio. “Minha maior pre-ocupação era que não cho-vesse na hora do casamento, pois o local da cerimônia era todo ao ar livre”, revela an-gustiada. Ana confessa que a distribuição de convites foi a parte mais trabalhosa do en-lace, mas a troca de alianças, momento mais marcante da

união, fez tudo valer a pena.Segundo Ana Santiago,

a compensação pelo esfor-ço em fazer a festa mais ro-mântica e agradável para os convidados, veio com a su-peração das expectativas. “ O melhor de tudo era o jar-dim, que deu um efeito todo especial para o cenário do casamento”.

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Tradição é reinventada a cada celebração

Há paixões como aquelas dos filmes do Almodóvar, meio “Mulheres à beira de um ataque de nervos”. A criatura pode ser a mais bem sucedida profissionalmente e adorar um cafajeste, mas não há psicoterapia e Simone de Beauvoir que dê jeito. Da-miana era assim. Conheceu Maurício. Charmoso, morava no Meireles, adorava bons vinhos, boa música e leitura. Cara influente , gerente de empresa, inteligente e todos os adjetivos imagináveis terminados em ente. Mas era um canalha conhecido. Ela apaixonou-se pela conver-sa mole dele. Iniciaram um namoro desenfreado. Viam-se diariamente, e a vida íntima era impecável. Damiana ha-via encontrado o famigerado “homem da sua vida”. As ami-gas advertiam sobre a fama do rapaz. Mas ela ficou des-lumbrada com o comporta-mento do partidão. Frequen-tavam bons restaurantes, viajavam para Jericoacoara em luas-de-mel antecipadas. Esqueceu tudo o que havia aprendido com os relatos das amigas, e, mesmo nunca ten-do ido ao apartamento dele, aceitou casar-se.

Maurício deixou de apare-cer com a frequencia costu-meira e, por fim, sumiu por mais de um mês. Damiana caiu doente. Aconselhavam: “Mulher, esquece esse cara. Presta não”. O conhecimento empírico, por vezes, é mais influente que as pesquisas do Ibope e do Datafolha. E quan-do as amigas falam, então, é lei. Geniosa e determinada , a apaixonada foi contra todos os conselhos e, escondida, investigou a vida dele. Desco-briu tudo. Casado com uma Amélia e dois lindos filhos pequenos. Ao comprovar a suspeita, o corpo da moça gelou, mas ela não derramou uma lágrima. Esboçou um sorriso e, friamente, esperou a chegada do marido.

Ele usou desculpas, disse que havia viajado a trabalho. Disfarçou. Foram à casa dela, no Benfica. Perfumou-se toda com uma colônia nova e pos um lindo vestido. Ele deitou-se no sofá. Damiana matou por amor. Cinco faca-das no tórax. Dizem que ela esqueceu Simone de Beau-voir e inspirou-se em Nelson Rodrigues.

Camila Holanda Estudante do 7º semestre de Jornalismo

Aceitou casar e matar simplesmente por amor

No Brasil, o novo Código Civil estabelece a união estável e re-conhece declarações como do-cumentos de união consensual. Basta estar vivendo há seis me-ses com uma pessoa debaixo do mesmo teto para ser reconhe-cido pela justiça como cônjuge.

A advogada Manoela Praxe-des enfatiza que nem mesmo os seis meses são necessários. Se o casal tem filhos, se tem convivência, se moram juntos, se tem conta conjunta também são reconhecidos pela justiça. “O que importa é a durabilida-de, a manifestação de interesse de ambos em permanecerem de fato casados, morando jun-tos e, principalmente, se ma-nifestam a vontade de ter uma família. O tempo não impor-ta, se são três ou seis meses, se há esses requisitos, a união estável está caracterizada”

De fato, as relações con-jugais ganharam novas ca-racterísticas e mesmo quem opta por cerimônias, ade-re a algumas adaptações.

Aos poucos, o véu foi sen-do deixado de lado, a mar-cha nupcial sendo substitui-da por músicas populares e ao invés de jogar buquê, noi-vas jogam um sapo de pelúcia.

Existe até quem queira casar em estádio de futebol. Neste mês de outubro, o time Forta-leza Esporte Clube será ho-menageado por um casal que optou por realizar a celebração matrimonial no dia do aniver-sário do time. Quando o “Leão” (como o clube é conhecido po-

pularmente) completa 93 anos, o casal de torcedores adentrará o Estádio Alcides Santos, situ-ado no bairro do Pici. “Quan-do o time fez 91 anos, eu decidi que queria casar na missa de aniversário do cçube e vamos realizar isso”, disse Dannytza Serra Gomes, em entrevista ao jornal Diário do Nordeste.

Renovação necessária Mas porque essas festas inu-sitadas têm chamado a aten-ção daqueles que desejam se-lar a união? De acordo com o sociólogo Élcio Batista, isso

ocorre porque, além do ma-trimônio ter entrado no “sis-tema moda”, a celebração “segue sendo atualizada pelas novas gerações. Ao longo do tempo, alguns aspectos são substituídos por outros con-siderados mais ‘contemporâ-neos’”. Como no caso do vesti-do da noiva, que nem sempre foi na cor branca ou quanto à velha questão do dote que o pai da futura esposa ofere-cia para a família do noivo.

Para o sociólogo, “essa atualização é fundamen-tal para manter o ritual

vivo. Se não há renovação, a tendência é desaparecer.”

Ainda de acordo com Él-cio Batista, revistas de moda, programas de televisão, com-portamento de pessoas públi-cas, tudo exercerá influência na hora de decidir que tipo de cerimônia se deseja realizar. E para os casais que estão pla-nejando a festa, aqui vai uma dica: “o casamento real inglês muito provavelmente influen-ciará os novos casamentos”, prevê o sociólogo, se referin-do a cerimônia do Príncipe William e Kate Middleton.

As histórias de casamento narradas nas telas de cinemaSe não fossem as histórias que narram o drama do divórcio e confli-tos familiares, o cinema seria, das sete artes, a que geralmente encara o matrimônio como grande tema. A entrada na igreja é uma cena

Inspirados em personagens de um filme infantil, noivos celebram casamento de forma inusitada e criativa Foto: Divulgação

2008Vestida para CasarElenco: Katherine Heigl, James Marsden, Edward Burns e Malin Åkerman. Jane ama casamentos e sente um prazer incrível em ser acompanhante nupcial. No entanto, na sua vida afetiva a feli-cidade já não é a mesma. Jane nutre um amor platônico pelo chefe, George. Mas, a situação só

tende a piorar quando Tess, sua irmã mais velha, chega na cidade e envolve seu patrão. A química entre os dois foi tanta que logo decidiram se casar e, óbvio que Jane foi escolhida para dama de honra. A jovem então se divide entre agradar a irmã e agradar ao próprio sentimentos. A presença do jornalista Kevin, só tornará esses sentimentos ainda mais confusos.

1999Noiva em FugaElenco: Julia Roberts, Richard Gere, Joan Cusack, Hector Elizondo e Rita Wilson. Maggie Carpenter não consegue casar. Das três tentativas, não hou-ve uma na qual não desistisse. Sempre que se via diante do altar, simplesmente fugia. Ao saber da história curiosa da noiva fujona, o jornalista ma-

chão, Ike Graham, decide publicá-la na coluna que possuí, porém perde o emprego por não provar veracidade do fato antes da pu-blicação. Sendo assim, ele decide viajar até a cidade Maggie para recuperar o trabalho e comprovar a história. O que ele não imagina é que essa matéria pode envolvê-lo muito mais do que espera.

2002Casamento GregoElenco: Nia Vardalos, John Corbett, Michael Cons-tantine e Lainie Kazan. Toula Portokalos tem 30 anos, grega e ao contrário do desejo de seu pai, pouco pensa em casar com alguém de seu país. Na verdade ela quer algo mais que a vida pos-sa oferecer, como um bom emprego. Ela passa a

trabalhar na agência de viagens da tia, onde conhece o professor de inglês Ian Miller. Os dois acabam se apaixonando, e a principio mantém o relacinamento em segredo, já que Ian não é o partido ideal. Ele não é grego. A confusão começa quando a família de Toula descobre o romance. O pai da moça não aprova e o professor, ainda assim, faz de tudo para entrar de vez para a família, até mesmo pedir Toula em casamento.

comum, especialmente nas comédias românticas. E ela quase sempre acontece como um prêmio ou uma grande recompensa ao fim da histó-ria. Selecionamos alguns filmes para quem quer casar e inspirar-se

1997Casamento do meu melhor amigoElenco: Julia Roberts, Dermot Mulroney, Cameron Diaz e Rupert Everett. O laço de amizade de Julianne e Michael sempre foi muito forte. Tanto que fizeram um pacto: caso chegassem aos trinta e ainda não tivessem um compromisso sério, casariam-se. Mas, quando a data finalmente chegou Julianne recebe

uma ligação de Michael, contando que vai se casar e a convidando para ser a madrinha. Julianne então percebe que sempre fora apai-xonada por Michael e vai tentar de tudo para conquistá-lo.

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SETEMBRO/OUTUBRO DE 201114 SETEMBRO/OUTUBRO DE 2011

Quando andamos por Fortale-za, nos deparamos com grandes esculturas e que muitas vezes se confundem com o cenário da ci-dade, não imaginamos o fator in-serção e não perguntamos quem as projetou e imaginou colocá-las ali. Apenas passamos, ás vezes olhamos, outras vezes nem temos tempo para olhar quanto mais re-fl etir sobre cada uma delas.

Alguns das esculturas espa-lhadas por Fortaleza foram ide-alizadas por Sérvulo Esmeral-do, artista de grande projeção internacional,que tem como característica o geométrico em suas principais obras. Segundo o artista, cada escultura dele que pode ser encontrada pela cidade tem um projeto que busca in-teragir com a paisagem inicial. Nada é por acaso, tudo é estuda-do e só então realizado.

O artista tem origem no interior do Ceará. Nascido no Crato, Sérvu-lo veio para Fortaleza ainda meni-no, a fi m de concluir seus estudos.

Aqui na cidade, seu gosto pe-las artes plásticas ganhou forma e tomou as rédeas da sua vida. A arte o conquistara ainda no in-terior quando já moldava suas primeiras esculturas,bonecos de argila e ferro fundido. Sobre a sua iniciação na arte Sérvulo tem uma convicção que ele carrega por toda a vida.“ Você não des-cobre que é artista, é a arte que o descobre, o assume. A gente res-pira arte, dorme com a arte, enfi m é a nossa vida!”

Nos anos 70, Sérvulo foi convi-dado a criar sua primeira escultura urbana, o “Monumento ao Sanea-mento Básico de 1977”. Obra que até hoje é lembrada e conhecida pelo apelido de “chifre do prefeito”, a escultura, que chega aos 34 anos e sem nenhuma conservação, está

Monumento ao Saneamento Básico: Localizada na Beira-mar, a obra é alvo constante de pichações Foto: Carlos Castelo BranCo

Obra de Sérvulo Esmeraldo completa 34 anos e mostra a falta de reconhecimento da população e o descaso do poder público na valorização das artes urbanas

localizada na Avenida Beira Mar e revela o descaso da Prefeitura na manutenção de obras urbanas.

Ao visitarmos algumas escul-turas, nos deparamos com obras pichadas de uma ponta a outra, sem identifi cação, sem história pra contar.

Quem passa por ali, se for da cidade e lembrar da época em que a obra foi instalada, sabe dizer que foi para simbolizar o sanea-mento da cidade. Mas, a maioria continua dizendo que ouviu falar que era o cifre do prefeito.

Os turistas acham bacana ba-tem foto e se divertem dizendo

Monumento ao Jangadeiro: Escultura situada no Mucuripe, ao lado do mercado de peixes Foto: Carlos Castelo BranCo

Sérvulo Esmeraldo é autor de dezenas de obras públicas ou integradas à arquitetura no Bra-sil, grande parte delas localiza-das em Fortaleza, onde o artista reside e trabalha desde 1980. Na nova exposição estão qua-tro obras inéditas: “Ocupação do espaço”, composta de cinco esculturas; “Cônicas”, conjunto de cinco esculturas; “Prisma” e “Cubo”, relevos virtuais; e mais quatro relevos recentes, reali-zados entre 2008 e 2010. À ex-ceção de dois trabalhos, todos os demais são executados em aço inoxidável. Síntese do pen-samento do artista cuja obra é marcada pela precisão, a expo-sição explora a relação do volu-me e do espaço, questão sempre presente na obra de Esmeraldo. Núcleo central da mostra, a sé-rie “Ocupação do Espaço” abor-da a questão dispondo cinco volumes (tetraedros regulares) de diferentes dimensões num espaço delimitado.

Conciso, o autor ressalta no trabalho artístico. “O ato da cria-ção é muito próximo do absurdo. Se lida neste momento com a in-consistência. Transformar a fra-gilidade da ideia em matéria é o que chamamos de arte”. E ques-tiona: “O que sabemos da arte nós, os artistas? Somos antenas? Recebemos o quê, de onde? Nosso ´saber´, nossa linguagem é um aprimoramento empírico. O talento é uma conjunção des-ses dados. Trabalhamos com o subjetivo, sem o compromisso da aplicação imediata. O que fa-zemos hoje é fruto de um pensa-mento muito anterior”.

Sérvulo Esmeraldo

que é o “chifre do prefeito de For-taleza”. É o caso do Edilson Lopes de Brasília, que já veio algumas à Fortaleza e se diverte tirando fo-tos no chifre do prefeito.

Outra obra urbana que tam-bém está localizada na Beira Mar e que também foi projetada por Sérvulo, é o “o Monumento ao Jangadeiro” de 1992. Ela fi ca bem em frente ao mercado dos peixes, perto da antiga 50 sa-bores no fi nalzinho da avenida. Quando fomos procurá-la tive-mos um pouco de difi culdade de localizá-la. Então surgiu a idéia de perguntar aos guardas que trabalham lá todos os dias.

A resposta foi impressionan-te. Eles não sabiam da existên-cia da obra. Um até que lembrou que viu uma vez, mas que acha-va que havia sido retirada de lá durante a reforma do calçadão. Para nossa surpresa, quando chegamos ao fi nal da avenida lá estava a obra, onde sempre es-teve, mas um pouco deteriorada pelo tempo.

O estrago em relação à primei-ra obra era bem menor, já que

pouco existe pichações, mas a fer-rugem toma conta do monumen-to. Os peixeiros que também estão ali em frente à escultura todos os dia não souberam dizer de quem era, o que simbolizava e quem ti-nha colocado ali. Eles acham que foi a prefeitura. Já que não existe placa descrevendo o monumento, fi ca difícil quem passa por ali sa-ber o que ela representa.

De acordo com a coordenação do departamento da Prefeitura de Fortaleza responsável pela manutenção das obras de arte urbana da Cidade, a conserva-ção das esculturas não é realiza-da pela prefeitura.

Mas, segundo Dodora Guima-rães, esposa do artista, toda a con-servação e identifi cação das obras é de total responsabilidade da prefeitura. “Quem deveria dar a manutenção era a prefeitura, pois estão na cidade. Mas, infelizmen-te não cuidam.” afi rma.

Perguntado sobre as duas principais obras urbanas, as da avenida Beira Mar, Sérvulo dis-se que as encomendas partiram de dois órgãos diferentes. A do saneamento básico, obra que marca o início das esculturas ur-banas do artista, foi encomenda-da pelo Governo do Estado.

Já as jangadas que fi cam na praça dos pescadores, foram en-comendadas pela Fundação de Cultura, Esporte e Turismo (Fun-cet), e deveriam ser de responsa-bilidade da prefeitura. Sabemos que além de ter um apoio da Ci-dade para manter as esculturas, a população também deve contri-buir não destruindo o patrimônio desse cearense de tanto talento.

Porém, quando vemos a falta de zelo e de conservação das obras, notamos que nem a prefeitura, e muito menos a sociedade se im-portam com a preservação dos moonumentos e artes urbanas da Cidade. O que deveria aproximar a sociedade das artes acaba se tor-nando alvo de vandalismo.

Quem deveria dar a manutenção era a prefeitura, pois estão na cidade. Mas, infelizmente não cuidam.

Esposa do artista Sérvulo Esmeraldo

Obra de Sérvulo Esmeraldo completa 34 anos e mostra a falta

Desinformação e vandalismo

Carlos Augusto e Tainá Nobre

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A primeira manifestação de exposições de objetos de que se tem notícia vem de muitos séculos atrás. Ela aconteceu por intermédio do então Papa, Pio XI. Tratava-se de um acervo composto por artefatos religio-sos da Europa.

Até hoje, em Roma, existem inúmeros objetos antigos que ilustram verdadeiras relíquias da fé cristã. Muitos deles po-dem ser vistos no Museu do Vaticano.

No Brasil, o destaque do pio-neirismo vai para o Museu Pau-lista, em 1890. Com exposições divididas nas áreas iconografi a , objetos e documentação textu-al, a Entidade oferecia a oportu-nidade de conhecer um pouco mais sobre a História do Brasil.

O Museu do Ceará foi a pri-meira instituição museológica ofi cial do Estado, criada por de-creto em 1932, mas aberta ao público ofi cialmente em janei-ro de 1933.

Museus em Evidência

De encontro com o passado e o presente O museu de outrora, o espaço

sério e antiquado das mentes das pessoas, está mudando. Mas qual o lugar do museu na cultura cotidiana do cearense?

A estrutura do prédio já fala por si. No meio de tantas lojas, pra-ças e ruas repletas de buracos, encontramos o Museu do Ceará, situado no centro de Fortaleza. Em quinze minutos, cerca de 8 pessoas e um grupo de aproximadamente quinze alunos entra-ram no histórico local. “Fotografias, curiosidade, atenção!” Pede a professora que guia e responde todos os questionamentos dos alunos.

Fazer com que jovens se interessem pela arte é um desafio, mas não é impossível. Segundo Cristina Holanda, o público do museu é em grande parte escolar. Para ela isso é uma vitória, visto que a criança vai crescendo e alimentando esse hábito. “Se você vai ao museu desde criança, irá para o resto da vida”, afirma. Resta aos museus chamarem sempre a atenção do pú-blico, e é justamente aí que entra a semana do museu. Jeferson Costa visita o local pela segunda vez com sua namorada, Már-cia, por pura curiosidade de conhecer a história da cidade. Ele confessa que foi por conta própria, já que não estava sabendo da semana do museu. O historiador Leandro Tavares, de Tere-sina, acredita que o trabalho de campo possibilita aos alunos saírem da teoria. “Parece que as pessoas têm medo de conhe-cer sua história. Se não é isso, é por puro comodismo e falta de atrativos”.

Ir a um museu não significa se limitar a ver objetos expos-tos, até porque se fosse apenas isso, fotos bastariam. Como explicar o fato de pessoas que trabalham ao lado do museu nunca terem sequer pisado no local? A razão para isso está no costume, nos atrativos que o lugar oferta. A semana do mu-seu é uma iniciativa que merece aplausos, mas merece tam-bém mais recursos, mais olhares, mais, mais, mais, muito mais. “Boas ideias precisam de recursos para se materializarem. Es-ses últimos oito anos foram muito bons pra área dos museus. Desde a criação do IBRAM, que criou editais de incentivo e com isso estimulou que outras empresas criassem, os museus tiveram mais acesso aos recursos.

Estamos achando ótimo, mas a gente quer mais, porque ainda é um investimento pequeno, precisamos de mais”, conclui Cristina. O acesso à cultura ainda é precário, mas tem melhorado, a semana do museu tem colhido bons resulta-dos, mas não o suficiente. No país do “faça sua parte” care-cemos também do interesse. Você mesmo já aproveitou para visitar um museu essa semana?

Por que as pessoas frequentam os museus?

Joicy Muniz

No Brasil, o destaque do pio-neirismo vai para o Museu Pau-lista, em 1890. Com exposições divididas nas áreas iconografi a , objetos e documentação textu-al, a Entidade oferecia a oportu-nidade de conhecer um pouco mais sobre a História do Brasil.

O Museu do Ceará foi a pri-meira instituição museológica ofi cial do Estado, criada por de-creto em 1932, mas aberta ao público ofi cialmente em janei-ro de 1933.

Julie Scott e Joicy Muniz

O Ceará conta, atualmente, com 115 museus espalhados pelos seus 184 municípios, segundo o Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). Eles abrangem desde exposições históricas até acervos automobilísticos e história natu-ral. Os objetos a mostra passam por séculos da história local: ar-tefatos pré-históricos, armas, roupas, obras de artes, artigos religiosos e até um bode empa-lhado. Na maioria dos museus a entrada é franca. Em outros é cobrada apenas uma taxa simbó-lica. Até porque vários deles não têm apoio direto do governo e sobrevivem de doações e incen-tivos da iniciativa privada. Mes-mo assim, o ramo museológico está esperançoso e em expansão, principalmente depois da cria-ção de órgãos como os Sistemas Estaduais de Museus, em 2006, e o Ibram, em 2009.

No caso dos museus locais, eles ainda estão distantes de se-rem a programação mais pro-curada, inclusive pelos próprios cearenses. No geral, as pessoas esquecem que aqui mesmo exis-tem instituições que guardam obras da nossa própria história e cultura. Mas quem se interessa por isso?

O Ceará tem o segundo maior número de museus das regiões Nordeste, Centro-Oeste e Norte do Brasil. Só perde para a Bahia. Um pesquisa do Minsistério da Cultura (MinC) feita em con-vênio com o IBGE, entre 2003 e 2006, mostra que 92% da po-pulação brasileira nunca visitou um museu. E 93,2% jamais viu uma mostra de arte. “Não visitar museus é um problema cultural tanto quanto não ir ao cinema, ao teatro ou ler um livro. As esta-tísticas do Ministério da Cultura em relação à recepção dos bens culturais pela população brasi-leira são muito preocupantes. As pessoas não vão ao museu, como não vão ao teatro, como também não lêem”, diz Cristina Holanda, diretora do Museu do Ceará.

Em Fortaleza, segundo Clélia Lustosa, Coordenadora do Patri-mônio Cultural da Secretaria de Cultura do Município, o que a

Cristina Holanda “As pessoas não vão ao museu, como não vão ao teatro, como também não leem” Foto: Julie sCott

Museu do Ceará: Rua S Paulo, 51 - Centro - Fortaleza- CE / tel: (85) 3101.2606 - http://www.secult.ce.gov.br/equipamentos-culturais/museu-do-ceara/museu-do-ceara

Serviço

Prefeitura da cidade está fazen-do para mudar esta realidade é investir em museus comunitá-rios, em particular nos projetos do Titanzinho e Vila do Mar. “Criado a partir da demanda da população, o museu comunitário leva em conta o que é discutido dentro da comunidade e como aquele público irá receber aque-la exposição, aquele acervo. Esta é uma forma de integrar o que a Prefeitura disponibiliza para eles e o que eles, de fato, terão interesse em ver” conta Cristina.

Outra medida é a promoção da Semana Nacional do Museu. Com o tema “Museu e Memória”, proposto pelo Conselho Interna-cional de Museus (ICOM), o ob-jetivo da ação é chamar atenção para o simples fato da existência destes espaços históricos e cul-turais. “Grande parte dos mais de 3 mil museus cadastrados

no IBRAM já percebeu que eles são centros culturais que devem ser dinâmicos e ter uma progra-mação variada para atrair uma audiência diversifi cada. Então a proposta é sempre a mesma: que, em torno destas temáticas, as entidades articulem suas pro-gramações, divulguem ao gran-de público e aproximem mais as pessoas dos museus”.

A antropóloga e socióloga Samara de Paula acredita que a melhor solução seria aumentar a interatividade nesses espaços, já que isso atrai públicos de to-das as faixas etárias e proporcio-na mais interesse às exposições. Exemplos disso são o Museu da Língua Portuguesa e o Museu do Futebol, ambos em São Pau-lo. Eles apresentam programas radiofônicos, fi lmes históricos e exposições digitais. Para a antro-póloga, recursos de ambientação e iluminação teatral tornam os objetos e documentos atraen-tes. Além disso, museus que possuem em seu entorno áreas de conforto e de lazer (restau-rantes, lanchonetes, cafeterias, brinquedoteca, jardins) fazem com que o visitante permanece-ça mais tempo e tenha o interes-se de voltar.

No entanto, apesar de tudo o que tem sido feito para essas en-tidades se tornarem mais atrati-vas, o antropólogo cultural José Nilton Costa fala da difi lculdade enfrentada, particularmente en-tre os nordestinos. “Não é que ele não dê valor à sua cultura, porque ele dá. Eles são bastan-te orgulhosos de suas origens. O que acontece é que estas já são características tão in-trínsecas do povo, que eles não sentem a necessida-de de ir a um local auste-ro, onde não podem tocar, comprar ou interagir com o que estão vendo. Eles preferem ver uma expo-sição no calçadão de uma praia, num shopping ou num centro cultural” fi na-liza José Nilton.

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Quadrinista de sucesso

Isabelle Leal e Lívia Lopes

É difícil não se contagiar pela paixão com que o quadrinista e ilustrador Daniel Brandão fala de seu ofício. A curiosidade para ver as histórias por ele criadas é imediata. Formado pela Joe Ku-bert School, uma das mais pres-tigiadas escolas de desenho dos Estados Unidos e dono de um estúdio que leva seu nome desde 2001, espera-se que Daniel faça excelentes quadrinhos. Porém, basta ver alguns desenhos para descobrir a característica mais forte de seu trabalho: a versatili-dade de seu traçado surpreende. De cantoras pop a clássicos hé-rois, o artista se diverte e passeia por todos os universos possíveis que os quadrinhos permitem sempre que começa a criar.

A sensação de entrar no estú-dio é mesmo a de estar em um mundo à parte. Um mundo em que o tampo das mesas é inclina-do e tem um vidro no meio com uma luz fl uorescente embaixo; um mundo em que a imaginação é o primeiro pré requisito. Quem ali entra para fazer um dos cur-sos - mangá, desenho ou quadri-nhos -, sabe que o futuro pode estar na ponta do lápis. Cinco meses de dedicação podem dar um novo rumo àqueles aprendi-

Mulher gato desenhada a lápis, borracha e nanquim, uma tinta especial para retocar desenhos feitos a lápis antes de irem para a arte fi nal ilustração: Daniel BranDão

Desde 1995 trabalhando profi s-sionalmente com quadrinhos, Daniel Brandão conseguiu chegar a um lugar para poucos: viver disso e ainda ter sua arte reconhecida

zes, enveredando pelos quadri-nhos ou outras ilustrações.

Mais uma vez volta-se a aten-ção para Daniel, dono do espaço e totalmente integrado a ele. Con-versando sem pressa, lembra que esqueçeu uma folha no scanner e pede licença. “Acabei de terminar uma página e deixei aqui. Se fi -car, vai amassar e não desamassa mais”, explica enquanto repousa o papel sobre a mesa onde os traços ganharam vida. Depois disso, as únicas pausas feitas são para ela-borar uma ou outra resposta.

Jornalista formado pela Uni-versidade Federal do Ceará (UFC), Daniel não chegou a exer-cer a profi ssão. No primeiro ano do curso de Direito, em 1995, des-cobriu a Ofi cina de Quadrinhos da UFC e mudou para a comunicação social. Um ano e meio depois co-nheceu o cartunista Mino em um jantar e mostrou-lhe seu trabalho. Logo Daniel recebeu a missão de montar uma equipe para produ-zir tirinhas do Capitão Rapadura, personagem criado por Mino. Ao lado dos amigos J. J. Marreiro e Geraldo Borges, lançou-se profi s-sionalmente nos quadrinhos.

No entanto, engana-se quem pensa que o ilustrador só vislum-brou essa opção quando entrou na faculdade. “Eu me considero um privilegiado porque, diferente de muita gente, eu já tinha ideia do que queria ser quando crescer há muito tempo”. Mas o menino que devorava histórias da Turma da Mônica e dos Trapalhões não podia imaginar que, anos mais tarde, seria um dos artistas brasi-leiros convidados a participar do projeto MSP 50, um livro em que cinquenta quadrinistas brasilei-

ros emprestaram seus traços para criar histórias da Turma da Môni-ca em uma homenagem ao meio século de carreira do consagrado Maurício de Sousa.

De jeito simples e fala clara, Daniel parece escolher as pala-vras com o mesmo cuidado com que desenha cada traço. No espa-ço que criou, o artista fi ca comple-tamente à vontade, principalmen-

te por estar cercado dos desenhos que o inspiraram e dos de sua pró-pria autoria. “Devo ler quadrinhos há quase 30 anos. Mas quando eu tinha nove fui apresentado a uma revista chamada ‘Super Aventura Marvel’. Foi quando saltei para o mundo dos super-herois e conhe-ci alguns nomes que me infl uen-ciam e estão até hoje ao lado da minha mesa”, fala enquanto põe a mão sobre a pilha de revistas ao seu lado assinadas por no-mes como John Byrne.

O dia a dia no trabalho é calmo, mas só até o momen-to em que os alunos chegam.

Professor há mais de uma déca-da, o ilustrador sabe reconhecer talentos. Há cerca de três anos Blenda fez um curso de mangá com ele e nunca mais deixou o es-túdio, que atualmente frequenta como professora. Todo semestre os alunos produzem uma revista em quadrinhos. Na última lança-da, nem o professor deixou de ser retratado.

Apaixonado, mas não iludido, Daniel é consciente das difi culda-des da profi ssão. “Nem nos pio-res dias eu penso em fazer outra coisa”, confessa ele, que é pai da pequena Liz. As travessuras da fi lha o inspiraram a ponto de ela se tornar um personagem. As ti-rinhas já estão sendo publicadas em vários veículos por todo o país, sendo que algumas são assi-nadas em conjunto com a própria protagonista das histórias.

Sem conseguir pensar em uma solução para a desvalorização da arte que estampa até mesmo a camiseta que usa, Daniel torce para que empresários abram a mente e invistam nessa mídia. O lançamento de quadrinhos e ga-mes, estratégia usada por Mau-rício de Souza, é apenas uma das muitas opções para o carente pú-blico-leitor de publicações nacio-nais na área. Graças à Internet, o ilustrador vê a maior parte de seus trabalhos serem publicados em outros estados e países. Ainda segundo ele, o Ceará é um celei-ro de bons quadrinistas, um feito natural e sem explicação.

“Entrar no mercado e se man-ter”, são as maiores difi culdades apontadas por Daniel para aque-les que querem trabalhar profi s-sionalmente com quadrinhos. Ele considera que todo mercado é difícil, mas o dos quadrinhos tem um agravante: trata-se de um mercado mundial. A desva-lorização do quadrinho também difi culta a criação de um merca-do local forte. “Tem gente que me procura, não sei se por pura de-sinformação ou por preconceito mesmo, para fazer histórias em quadrinhos oferecendo preços ri-síveis. Pior que tem gente inician-do que é muito jovem e inexpe-riente e acaba fazendo por aquele valor e as pessoas acham que tem que ser baixo mesmo”.

Para Daniel, à medida em que o quadrinho vai sendo criado e os desenhos começam a ganhar vida própria, o autor morre e “a história voa sozinha”. Ele diz ain-da que o ofício se assemelha ao de diretor de cinema e necessi-ta do domínio de vários campos do conhecimento. “Dá um traba-lho muito grande e é consumido muito rápido. Mas vale a pena porque às vezes são 20 minutos que marcam a vida de uma pes-soa”. Para se ter uma noção, uma página de quadrinhos leva em média de três a quatro dias para ser fi nalizada. Nesse ritmo, uma história de 12 páginas, colorida, letrada, diagramada e pronta para ser enviada à gráfi ca demo-ra um mês para ser feita.

Mesmo assim, o artista conti-nua desenhando diariamente na esperança de que o quadrinho ainda seja tão valorizado quanto as outras artes.

O quadrinho dá um trabalho muito grande e é consumido muito rápido. Mas vale à pena porque às vezes são 20 minutos que marcam a vida de uma pessoa

Quadrinista e ilustrador

Oficina de Quadrinhos da UFCAv. da Universidade, 2.762http://oficinadequadrinhosufc.blogspot.com/ Estúdio Daniel BrandãoAv. Santos Dumont, 3131A, sala 817, Torre Comercial do Del Paseo Telefone: (85) 3264-0051http://www.estudiodanielbran-dao.com/ Gibiteca de FortalezaHorário de funcionamento: de segunda à sexta, das 8h às 21h, e aos sábados das 09h às 12h e das 13h às 17h.Fica dentro da biblioteca Dolor Barreira, na Av. da Universidade, 2572 – Benfica. Telefone: (85) 3105.1299 http://gibitecadefortaleza.word-press.com/