SILVA, J. H. Construção Da Autoria Discente

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Anais do XVI Seminário de Pesquisa - ISSN: 2176-5545 Programa de Pós-Graduação em Educação, UNESP-Marília, SP A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO E DA AUTORIA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE JOSÉ HELDER DA SILVA (DOUTORANDO) DAGOBERTO BUIM ARENA (ORIENTADOR) INTRODUÇÃO Independentemente da atividade exercida e do nível de escolaridade, a escrita está presente no dia a dia de todos nós, no entanto esta atividade é mais presente no cotidiano de quem está envolto no mundo acadêmico, sejam professores ou alunos, tanto na posição de produtores de texto como de leitores. Mas esta relação com a escrita não se torna mais confortável por se estar entre aqueles que, supõe-se, têm muito tempo de convivência com o texto escrito, principalmente quanto se estar a produzir textos. Infelizmente, a nível universitário, já se tornou rotineiro o fato de encontrarmos alunos pouco familiarizados com a leitura e a produção textual. Construir-se como sujeito na escrita é uma dificuldade perceptível na produção científica dos alunos dos cursos superiores, certamente oriunda da prática de se escrever apenas para ser avaliado, já que mesmo na condição de universitário, quase sempre, produz textos científicos somente para se submeter à banca examinadora do trabalho de conclusão de curso, por exigência do próprio currículo do curso ao qual está matriculado. Não se pode esperar que um aluno se constitua como um sujeito-autor, se a ele não é dada uma formação acadêmica que o possibilite construir textos dotados de expressividade e dialogismo, pois o que caracteriza um discurso desejável por sua qualidade (um bom texto) é a marca da heterogeneidade (ou polifonia), o que consequentemente resultará numa concepção de discurso em que o sujeito é o autor, mas não é unitário, e sim coletivo. Esta perspectiva da constituição do texto e do autor está presente em uma vertente da Linguística denominada Análise do Discurso, a qual fundamentada nas teorias de Vygostky (1988), de Bakhtin (1997; 2003) e de Pecheux (1993; 1995), torna possível compreender a linguagem, seja em sua manifestação oral ou escrita, enquanto instrumento mediador da interação dialética entre o ser humano e o meio

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SILVA, J. H., ARENA, D. B.A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO E DA AUTORIA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE, 2014. (Seminário,Apresentação de Trabalho)Referências adicionais : Brasil/Português; Local: CAMPUS MARÍLIA; Cidade: MARÍLIA - SP; Evento: XVI SEMINÁRIO DE PESQUISA DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCACAÇÃO DA DA UNESP - CAMPUS US MARÍLIA; Inst.promotora/financiadora: Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

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A CONSTRUÇÃO DO SENTIDO E DA AUTORIA NA PRODUÇÃO CIENTÍFICA DISCENTE

JOSÉ HELDER DA SILVA (DOUTORANDO) DAGOBERTO BUIM ARENA (ORIENTADOR)

INTRODUÇÃO

Independentemente da atividade exercida e do nível de escolaridade, a escrita está

presente no dia a dia de todos nós, no entanto esta atividade é mais presente no

cotidiano de quem está envolto no mundo acadêmico, sejam professores ou alunos,

tanto na posição de produtores de texto como de leitores. Mas esta relação com a

escrita não se torna mais confortável por se estar entre aqueles que, supõe-se, têm

muito tempo de convivência com o texto escrito, principalmente quanto se estar a

produzir textos. Infelizmente, a nível universitário, já se tornou rotineiro o fato de

encontrarmos alunos pouco familiarizados com a leitura e a produção textual.

Construir-se como sujeito na escrita é uma dificuldade perceptível na produção

científica dos alunos dos cursos superiores, certamente oriunda da prática de se

escrever apenas para ser avaliado, já que mesmo na condição de universitário,

quase sempre, produz textos científicos somente para se submeter à banca

examinadora do trabalho de conclusão de curso, por exigência do próprio currículo

do curso ao qual está matriculado.

Não se pode esperar que um aluno se constitua como um sujeito-autor, se a ele não

é dada uma formação acadêmica que o possibilite construir textos dotados de

expressividade e dialogismo, pois o que caracteriza um discurso desejável por sua

qualidade (um bom texto) é a marca da heterogeneidade (ou polifonia), o que

consequentemente resultará numa concepção de discurso em que o sujeito é o

autor, mas não é unitário, e sim coletivo.

Esta perspectiva da constituição do texto e do autor está presente em uma vertente

da Linguística denominada Análise do Discurso, a qual fundamentada nas teorias de

Vygostky (1988), de Bakhtin (1997; 2003) e de Pecheux (1993; 1995), torna possível

compreender a linguagem, seja em sua manifestação oral ou escrita, enquanto

instrumento mediador da interação dialética entre o ser humano e o meio

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sociocultural, concebendo-a como atividade, como processo, e não apenas como

um sistema, um produto pronto e acabado. Esta visão da linguagem vai possibilitar

entender a interação entre sujeitos mediada pela linguagem como um contínuo

processo dialógico em que vozes se inter-relacionam numa constante relação de

encontros e confrontos.

Sendo a linguagem vista com um processo e mediadora de interação social, sua

análise não pode se pautar exclusivamente no texto, mas no discurso, pois “todas as

manifestações da criação ideológica – todos os signos não-verbais – banham-se no

discurso e não podem ser nem totalmente isoladas nem totalmente separadas dele”

(BAKHTIN, 1997, p. 38).

No entanto, segundo Bakhtin (2003), são através dos gêneros do discurso que o

nosso discurso se organiza e são nos gêneros que formulamos enunciados para nos

manifestarmos nas mais diversas situações concretas de interação social, pois os

gêneros discursivos “não são uma forma da língua, mas uma forma típica do

enunciado” (op. cit., p. 293). Na proposta de Bakhtin, os gêneros são divididos em

dois grupos, primários e secundários, sendo estes últimos predominantemente

escritos, por serem resultantes de condições de um convívio cultural mais complexo

e relativamente muito desenvolvido e organizado. Desta forma, podemos enquadrar

a monografia como gênero do discurso secundário e, portanto, possível de ser

compreendido como discurso social.

Segundo Fiorin (1988, p.39), “o texto é individual, enquanto o discurso é social”. Por

esta óptica, enquanto o discurso é a materialização das formações ideológicas,

sendo, portanto, determinado por elas; o texto é unicamente um lugar em que o

sujeito organiza os elementos de expressão que estão a sua disposição para

veicular seu discurso.

Se partirmos do princípio de que “o sujeito é lingüístico-histórico, constituído pelo

esquecimento e pela ideologia” (ORLANDI, 199, p.91), podemos entender que o

discurso não é apenas uma produção linguística mas uma produção social,

produção do imaginário. O discurso será então uma estrutura subjacente ao texto

constituída a partir de uma ideologia, sendo consequentemente constituído

historicamente, e, assim, o texto é apenas uma estrutura de superfície — é elemento

de superfície. “A ideia básica é a de que é nos textos que se tem a erupção do

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discurso: os “sentidos” são produzidos a partir de uma ideologia” (FIGUEIREDO,

1998, p.39).

Isto comprova que o texto não surge do nada. Haverá sempre, segundo Foucault

(1986), um sujeito que fala de algum lugar, onde existem formações discursivas. É o

sujeito do discurso que tem capacidade de criar sentidos; no entanto os sentidos

existem nas sociedades, circulam nos lugares da sociedade e são concretizados em

textos através de discursos que repassam, assim, o ideológico.

Consequentemente o sujeito, ao estar inserido em lugares sociais e, sofrendo

coerções de práticas discursivas, é “dominado pela formação discursiva na qual se

insere seu discurso” (GREGOLIN, 1988, p.127).

Segundo Brait (1994, p.10), por ser “dominado pela formação discursiva”, o sujeito é

constituído segundo as formações discursivas e ideológicas relacionadas com sua

posição no processo sócio-histórico e sua fala “é recorte das representações de um

tempo histórico e de um espaço social” (BRANDÃO, 1995, p.49), o que o faz

reproduzir discursos historicamente já constituídos. Sob esta perspectiva, o texto é

visto como objeto de comunicação em que o sujeito “fala” de uma cultura cujo

sentido depende do contexto sócio-histórico. Não se pode, portanto, conceber o

sujeito sem considerar o inconsciente, sua classe social e sua ideologia.

Os sujeitos estão, portanto, inseridos numa determinada classe social com seu

conjunto de representações, de ideias que revelam a forma de compreensão que

essa classe tem do mundo — o que se chama formação ideológica.

Se a realidade e as ideias são expressas pelos discursos e se são eles que

materializam as representações ideológicas, então as formações ideológicas só

ganham existência nas formações discursivas. Portanto, no interior de uma

formação social, o sujeito sempre apresenta, através de seus discursos

manifestados em textos diferentes, a produção de uma identidade ideológica. Isto se

faz por meio de temas e figuras que são responsáveis pela configuração da “visão

de mundo” do sujeito. A linguagem, assegura Fiorin (1988, p.42), condensa,

cristaliza e reflete as práticas sociais, ou seja, é governada por formações

ideológicas.

Ao dar ao sujeito a ilusão de que o discurso reflete o conhecimento objetivo que tem

da realidade, sustentando-se sobre o já-dito, os sentidos institucionalizados; a

ideologia não oculta sentidos (conteúdos), mas realiza o que podemos chamar de

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“apagamento de sua constituição”, portanto, todo e qualquer discurso é constituído a

partir de um esquecimento do já-dito, o qual “só funciona quando as vozes que se

poderiam identificar em cada formulação particular se apagam e trazem o sentido

para o regime do anonimato e da universalidade” (ORLANDI, 1996, p. 72).

Uma vez que em um mesmo texto encontram-se várias formações discursivas e o

sujeito se desdobra em vários papéis segundo as várias posições que ocupa,

teremos, portanto, uma heterogeneidade que é constitutiva do discurso e que é

produzida por essas várias posições assumidas pelo sujeito, segundo Brandão

(1998, p.43), “heterogeneidade não marcada na superfície, mas possível de ser

definida pela interdiscursividade, pela relação que todo discurso mantém com outros

discursos”.

Para Courtine e Marandim (apud BRANDÃO, op. cit., p.75), o interdiscurso é “um

processo de reconfiguração incessante” no qual uma formação discursiva é

conduzida a incorporar ou provocar a lembrança ou o apagamento de elementos

produzidos no exterior ou no interior dela própria. Assim sendo, podemos concluir

que qualquer discurso, implícita ou explicitamente, estará sempre em diálogo, ou em

interdiscursividade, com outros discursos, em uma relação parafrástica

(reivindicando-os) ou polêmica (recusando-os, rejeitando-os).

Por conseguinte, depreende-se que ao se a interdiscursividade e a polifonia

irrompem inevitavelmente nos discurso ao mesmo tempo em que se constituem

marcas do uso de manobras discursivas constitutivas do dialogismo interacional

necessário à construção do sentido do texto e que permitem ao enunciador se

constituir como “sujeito” autor do seu texto.

Podemos considerar então que, mesmo sendo o texto um lugar de manipulação

consciente, em que o homem organiza, da melhor maneira possível, os elementos

de expressão que estão a sua disposição para veicular seu discurso; infelizmente,

no nível discursivo, o homem está preso aos temas e às figuras das formações

discursivas existentes na formação social em que está inserido. Por esta óptica,

apropriar-se do discurso para construir um texto, exige a inserção deste sujeito na

dialogicidade e na interdiscursividade inerente a este mesmo discurso.

Infelizmente todos estes aspectos da constituição do sentido e da autoria não são

estimulados durante o processo de produção textual nos cursos das instituições de

ensino superior do Brasil, principalmente no momento em que mais se exige textos

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que devem apresentar um grau razoável de inovação, os Trabalhos de Conclusão

de Curso. Apesar de, nestes cursos, a grade curricular contemplar todas as

disciplinas consideradas necessárias à uma adequada formação acadêmica às

necessidades do mercado de trabalho, tais disciplinas não têm fornecido ao aluno o

instrumental teórico que o permita reescrever, relacionar e dar novas perspectivas

ao discurso relatado, como proposto por Marcuschi (2011).

O aluno lê muitos textos apenas para fazer provas e trabalhos em que se solicita

apenas que ele reproduza fielmente o que está contido no texto, muitas vezes sem

nem precisar demonstrar compreensão dos conteúdos veiculados em tais textos,

mas nunca para entender as ideias neles contidas para utilizar em situações de

resignificação e retextualização.

No texto, podemos, portanto, recorrer a mecanismos de gerenciamento de vozes, os

quais podem permitir a possibilidade de reconfiguração dos discursos já-ditos,

redefinindo-os, resignificando-os, parafraseando-os, tal como Marcuschi (2001)

propôs-nos em sua obra, proposta que ele denomina de retextualização.

A tarefa de retextualizar pode ser compreendida como produzir um novo texto a

partir de textos que serviram de base para o escritor, recorrendo-se a operações

linguísticas, textuais e discursivas, com as quais se busca gerenciar vozes que

manifestam do discurso do outro. Geralmente tais operações envolvem mecanismos

já conhecidos pelo aluno desde o ensino fundamental, mas não visto como

instrumental para a retextualização, tais como: citação, alusão, evocação, discurso

direto, discurso indireto e discurso indireto-livre, modalizações, reformulações,

imitação e paráfrase.

Devido a perspectiva limitada da atividade leitora que geralmente se desenvolve ao

longo de toda a vida acadêmica dos instituições de ensino superior no Brasil, toda

esta formação acaba se demonstrando insipiente na produção textual em temas dos

quais o aluno supostamente deveria ser um conhecedor e um escritor profícuo e, por

isso, não condizente com a realidade do processo de construção do conhecimento

científico. Sendo essa formação inadequada e insuficiente para os objetivos

relacionados com o desenvolvimento da habilidade da produção científica discente,

pois desenvolvem apenas algumas habilidades específicas e isoladas (domínio de

conteúdos específicos do programa da disciplina em avaliações, por exemplo), as

propostas curriculares dos nossos cursos superiores não atendem nem

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desenvolvem as habilidades para estruturar textos científicos dotados de coerência e

adequação contextual, haja vista a produção científica discente das universidades

brasileiras serem parcas e de pouca relevância no cenário internacional.

Faz-se, portanto, necessário repensar os resultados das propostas curriculares dos

cursos superiores no Brasil, de modo a fornecer subsídios para que o aluno conceba

a construção do conhecimento científico como um ato dialógico e heterogêneo entre

os diversos campos do conhecimento humano. Nesta perspectiva, a análise das

reais dificuldades encontradas pelo aluno universitário na produção de sua

monografia enquanto Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) pode servir de ponto

de partida e se tornar um elemento essencial e imprescindível na compreensão ao

cotidiano das nossas instituições de ensino superior.

Posto isto, nossa proposta é de, a partir da análise da produção textual científica dos

alunos de um curso de graduação, pretender identificar a quais manobras

discursivas o aluno de graduação pode recorrer em sua produção textual científica,

especificamente em monografias, que possam ser consideradas constitutivas do

dialogismo interacional necessário à construção do sentido do texto e que lhe

permitam se constituir como “sujeito” autor do seu texto.

OBJETIVO

3.1 OBJETIVO GERAL Reconhecer quais manobras discursivas utilizadas nos Trabalhos de Conclusão de

Curso em cursos de graduação possibilitam identificar a construção de sentido e de

autoria na produção científica discente.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS a) dentificar, a partir do ponto de vista de professores que já integraram bancas

avaliadoras de monografias, quais produções textuais dos concludentes do curso de

graduação que comporá a amostra desta pesquisa apresentam em sua produção

científica maiores índices de originalidade e de individualização discursiva.

b) elimitar quais manobras discursivas utilizadas na produção textual científica

discente possibilitaram a constituição do sentido e da autoria.

c) erificar em que aspectos as manobras discursivas constitutivas do sentido e da

autoria em produções do gênero monografia podem servir para elaboração de

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proposta político-pedagógica para melhoria da produção textual dos discentes de

cursos de graduação.

METODOLOGIA

4.1 MÉTODO DE ABORDAGEM E COLETA DE DADOS

Como partiremos do pressuposto que toda produção textual é uma forma de

concretização do discurso, sendo este pertencente a uma formação discursiva ligada

a uma formação ideológica, a análise das produções científicas discentes requer a

adoção de uma concepção histórica da realidade e, por conseguinte, a adoção da

abordagem dialética. O presente trabalho também se caracteriza como sendo uma

pesquisa exploratória de abordagem qualitativa e do tipo documental.

Recorrendo-se à técnica de entrevistas, serão consultados os professores que já

participaram de bancas avaliadoras de Trabalho de Conclusão Curso (TCC) e

estejam atualmente atuando no Curso de Licenciatura em Educação Física do

Campus de Juazeiro do Norte do Instituto Federal de Educação Ciência e

Tecnologia do Ceará, o qual exige a elaboração de uma monografia enquanto TCC,

com o intuito de definir um grupo de 10 produções discentes que apresentem

maiores índices de originalidade e de individualização discursiva.

No entanto, a definição das 10 produções a serem analisadas dependerá também

de os discentes produtores de monografias selecionadas estarem dispostos a

participarem de entrevistas sobre como se deu a sua atividade de produção textual.

Faz-se necessário, portanto, entrevistar esses também alunos, para que seja

possível traçar seu perfil e compreender como caminharam para a constituição da

autoria. Além da análise documental, de fundo, esse será um dos instrumentos de

pesquisa que ajudará a gerar dados necessários para explicar as marcas e os traços

de autoria.

Sendo assim a definição dos traços e marcas de autoria, será resultante da análise

das entrevistas relacionadas à análise de discursos das produções textuais dos

discentes. Nesta análise, ao considerarmos o autor como o sujeito que,

historicamente constituído, detém o domínio de certas manobras discursivas que o

permitem construir uma forma individualizada de constituição do seu dizer, da sua

interpretação, resultando, portanto, na constituição histórica do sentido, recorremos

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a identificação de processos e mecanismos de constituição dos sujeitos e dos

sentidos, que insere o sujeito enunciador como autor histórico em seu texto, por ser

estimulado ao processo de criação textual em atividades de reconfiguração

(redefinição, resignificação, paráfrase) de percursos temáticos e figurativos ligados a

formações discursivas presentes em outros textos (principalmente os lidos pelo

aluno durante sua pesquisa para a elaboração do percurso teórico de seu TCC),

que, ao serem deslocados para a perspectiva da formação discursiva em que o

aluno se insere, traz, no seu dizer, novos valores ideológicos que refletem sua

inserção em uma formação ideológica e, conseqüentemente, em uma formação

social.

Devido à necessidade de organizar a análise do corpus numa estrutura

metodológica que permitisse a compreensão da influência isolada de cada uma das

manobras discursivas caracterizadoras da autoria no processo de constituição do

sujeito e do sentido da enunciação, efetuaremos a análise de cada uma destas

manobras separadamente. No entanto, como a construção do autor sempre reflete o

uso simultâneo de tais manobras, sendo praticamente impossível a ocorrência do

uso de apenas uma delas isoladamente, dedicamos parte da análise para

demonstrar que é o conjunto destas manobras discursivas, formado pela

interdiscursividade, pela historicidade e pelo jogo polifônico enunciativo, que,

imbricados, possibilitam a constituição de uma maneira particular do sujeito construir

sua interpretação, de individualizar sua autoria.

4.2 ANÁLISE E INTERPRETAÇÃO DE DADOS

Na execução da respectiva atividade de análise, toda a produção escrita

selecionada será analisada à luz dos princípios de gênero discursivo, subjetividade,

polifonia, intertextualidade, historicidade e heterogeneidade discursiva, as quais

serão tomadas nesta pesquisa a priori enquanto marcas constitutivas da construção

do sentido e da autoria, para demarcar quais manobras discursivas demonstram que

o aluno se posicionou discursivamente no seu texto enquanto sujeito e autor do seu

texto, manobras que irão o objeto de estudo desta pesquisa, as marcas constitutivas

do sujeito e da autoria na produção científica discente.

Nesta análise, espera-se que a forma como cada um dos alunos se constituiu como

sujeito em seus textos possa estabelecer um conjunto de manobras discursivas

influenciáveis pela sua formação acadêmica, sua formação cultural e seu entorno

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social, permitindo identificar até que ponto este meio propiciou ao aluno

oportunidades de estímulo à compreensão e aplicação dos recursos conteudísticos,

argumentativos e estilísticos presentes na produção textual de caráter científico, até

que ponto aprimorou seu potencial de se constituir “escritor” de textos científicos, de

construir manobras discursivas que escondam um “autor” por trás desta modalidade

de texto.

Com os resultados obtidos das entrevistas e amostras, tencionamos também

identificar se a forma como o aluno utilizou manobras discursivas que o constituíram

como “autor” de seu texto permite vislumbrar diretrizes para a construção de uma

nova proposta curricular para cursos de graduação que propicie condições mais

favoráveis para estimular a instrumentalização do aluno para a produção textual

científica.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BAKHTIN, M. Marxismo e Filosofia da linguagem. 8.ed. Tradução Michel Lahud e Yara Frateschi Vieira. São Paulo: Hucitec, 1997. ________. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BRAIT, Beth. Análise do discurso: balanço e perspectivas. In: NASCIMENTO, E. M. F. S., GREGOLIN, M. R. F. V. (Orgs.) Problemas atuais da análise do discurso. SérieEncontros. Ano VIII, N° 1. Araraquara: UNESP/CAr, 1994. BRANDÃO, Helena H. Nagamine. Introdução à análise do discurso. Campinas: Unicamp, 1995. FIGUEIREDO, Ivone de Lucena. Fiando as tramas do texto: a produção de sentidos no atelier de leitura e produção textual. 1998. 291f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 1998. FIORIN, José Luiz. Linguagem e ideologia. São Paulo: Ática, 1988. FOUCAULT, M. A arqueologia do saber. 2. Ed. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1986. GREGOLIN, M. R. F. V. As fadas tinham idéias: estratégias discursivas e produção de sentidos. 1988. 351f. Tese (Doutorado em Letras) – Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, Araraquara, 1988. MARCUSCHI, L. Antônio. Da fala para a escrita: atividades de retextualização. São Paulo: Cortez, 2001.

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CRONOGRAMA

01 - Elaboração do projeto definitivo: jan. 2013 a jun. 2014.

02 - Revisão do projeto definitivo: jun. 2014 a out. 2014.

03 - Aplicação de entrevistas aos docentes participantes de bancas avaliadoras de

TCCs: set. 2014 a fev. 2015.

04 - Aplicação de entrevistas aos discentes dos TCCs selecionados: out. 2014 a jun.

2015.

05 - Análise da produção discente: nov. 2014 a fev. 2016.

06 - Organização dos dados: nov. 2014 a fev. 2016.

06 - Elaboração da tese: jan. 2015 a fev. 2016.

07 - Pré-defesa da tese: jun. 2016.

08 - Revisão da tese: jun. 2016 a set. 2016.

09 - Defesa da tese: out. 2016.

10 - Revisão final da tese: out. 2016.

11 - Resumo para divulgação em periódico: nov. 2016 a dez. 2016.