SERÁ A ESTRUTURA DO SONO VULNERÁVEL A … · 2018. 6. 15. · da estrutura do sono, nomeadamente...

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METODOLOGIA Amostra: 9 homens; Critérios de inclusão : idade entre os 25 e 40 anos; saudáveis; sem coabitação com crianças com idade inferior a 5 anos; sem problemas do sono; não-fumadores; residência na área da Grande Lisboa. Monitorização da QAI: Quantificação dos valores médios dos parâmetros microbiológicos (fungos e bactérias) num volume de ar de 250L, utilizando um amostrador MAS-100 TM (medições no início da noite e pela manhã). Monitorização do sono: Polissonografia do sono (PSG) de nível II; Realização da PSG em duas noites seguidas durante os dias de semana, sendo apenas considerados os dados da segunda noite; Aplicação das regras da American Academy of Sleep Medicine (2017). Análise estatística Análise descritiva dos dados; Coeficiente de Pearson e de Spearman; SPSS versão 22.0 (SPSS Inc., Chicago, IL); α = 0.05 e α = 0.05-0.1, para um nível de significância fraco. SERÁ A ESTRUTURA DO SONO VULNERÁVEL A CONTAMINANTES MICROBIOLÓGICOS DO AR INTERIOR? J. Belo (a,b) , M. Picado (a) , J. Lage (c) , T. Faria (a,d) , Paula Macedo (a) , M. Meira e Cruz (e,f) , N. Canha (c,g) , S. Cabo Verde (c) , C. Alves (g) , C. Viegas (a,d,h) , S.M. Almeida (c) (a) ESTeSL-IPL - Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa, Lisboa, Portugal; (b) H&TRC - Centro de Investigação em Saúde e Tecnologia , ESTeSL-IPL, Lisboa, Portugal; (c) C 2 TN - Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; (d) GIAS - Grupo de Investigação Ambiente e Saúde, ESTeSL-IPL, Lisboa, Portugal; (e) APCMS - Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, Portugal; (f) Centro Cardiovascular e Instituto de Fisiologia, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; (g) CESAM - Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, Departamento do Ambiente, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal; (h) CISP - Centro de Investigação em Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal INTRODUÇÃO Os humanos passam um terço da sua vida a dormir, sendo do conhecimento geral que o sono desempenha um papel fundamental no bem-estar e desempenho físico e cognitivo 1 . Nas últimas décadas, o estudo do impacto da qualidade do ar interior (QAI) na saúde dos ocupantes tem aumentado significativamente, porém, a investigação nesta área tem sido direcionada principalmente para microambientes onde os indivíduos realizam as suas atividades durante o dia 2 . Apesar de limitadas, existem algumas evidências relacionadas com o impacto da QAI nalguns parâmetros do sono, no entanto, estudos com uma caracterização abrangente dos contaminantes ambientais, nomeadamente microbiológicos, são ainda inexistentes 3,4 . O presente trabalho tem o objetivo de avaliar os efeitos da exposição microbiológica na estrutura do sono. AGRADECIMENTOS: Instituto Politécnico de Lisboa Projeto IPL/2017/E2SLEEP/ESTeSL/711030, pela bolsa de inves:gação atribuída ao projeto. Pulmocor – Equipamentos Médicos, SA, pelo emprés:mo do polígrafo do sono, nível II (SOMNOscreen™ plus). CONCLUSÃO A exposição a contaminantes microbiológicos tem sido relacionada com efeitos adversos na saúde, nomeadamente ao nível de reações alérgicas, infeções, reações tóxicas e inflamatórias 5 . Os resultados do presente estudo revelam a possível existência de uma associação também ao nível da estrutura do sono, nomeadamente no que concerne à fase 2 do sono REM e ao índice de complexos k. Durante uma noite normal de sono, os indivíduos devem passar 50% do tempo na fase 2 do sono NREM, pelo que uma diminuição nesta fase poderá comprometer a função reparadora do sono 6 . O papel funcional dos complexos K é ainda motivo de debate, mas diversos autores consideram este evento neurofisiológico como uma reação que pode ser motivada por estímulos internos e externos, associada a uma ativação do sistema nervoso autónomo 7 . Estudos semelhantes e aplicados numa amostra mais significativa poderão contribuir para uma melhor compreensão dos efeitos da exposição ambiental neste período específico. RESULTADOS REFERÊNCIAS 1. Krueger J. et al. (2016) Sleep function: Toward elucidating an enigma. Sleep Med Rev 28, 46–54. 2. Bruce N. et al. (2002)The health effects of indoor air pollution exposure in developing countries. Geneva World Heal Organ Rep WHO/SDE/OEH/0205,1–40. 3. Fang S. et al. (2014) Traffic-related air pollution and sleep in the Boston Area Community Health Survey. J Expo Sci Environ Epidemiol 25, 451–6. 4. Zanobetti A. et al. (2010) Associations of PM10 with sleep and sleep-disordered breathing in adults from seven U.S. urban areas. Am J Respir Crit Care 182, 819–825. 5. Bush R.K., et al. (2006) The medical effects of mold exposure. J Allergy Clin Immunol 117(2), 326–33. 6. Kryger M et al. (2005) Principals and Practice of Sleep Medicine. 5 th ed. Missouri, Elsevier. 7. Forget D. et al. (2011) The Role of the Spontaneous and Evoked K-Complex in Good-Sleeper Controls and in Individuals with Insomnia. Sleep 34(9), 1251–60. 8. Portaria nº 353-A/2013. 2013. Ministério do Ambiente, Ordenamento do Território e Energia, da Saúde e da Solidariedade, Emprego e Segurança Social (Portugal). Bactérias (UFC.m -3 ) Fungos (UFC/m 3 ) Noite Manhã Noite Manhã TTS (min) n.s. n.s. n.s. n.s. ES (%) n.s. n.s. n.s. n.s. LS (min) n.s. n.s. n.s. n.s. WASO (min) n.s. n.s. n.s. n.s. N1 (%) n.s. n.s. n.s. n.s. N2 (%) n.s. n.s. r s =-.650; p=. 058 r s =-.763; p=. 017 N3 (%) n.s. n.s. n.s. n.s. REM (%) n.s. n.s. n.s. n.s. Fusos (/h) n.s. n.s. n.s. n.s. Complexos K (/h) n.s. r s =.733; p<.05 n.s. r s =.732; p<.050 ES – Eficiência do sono; LS – Latência do sono; TTS – Tempo total de sono; WASO – Acordar após o início do sono; N1 – Fase 1 do sono NREM; N2 – Fase 2 do sono NREM; N3 – Fase 3 do sono NREM; n.s – Não significativo. 80 82 84 86 88 90 92 94 96 98 100 1 2 3 4 5 6 7 8 9 % Participantes 0 100 200 300 400 500 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Minutos Participantes 0 5 10 15 20 25 30 35 40 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Minutos Participantes LS (min) WASO (min) Índice de complexos K e fusos do sono Correlações entre os parâmetros microbiológicos e da estrutura do sono PROMOTOR DO PROJETO PARTICIPANTES APOIO Bactérias 0 100 200 300 400 500 600 700 C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 UFC.m -3 Amostra Noite Manhã Fungos 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9 UFC.m -3 Amostra Noite Manhã * * * * * * * * * * * * * Concentrações > exterior + 350 UFC.m -3 (Portaria nº.353-A/2013) 8 * Concentrações > exterior (Portaria nº.353-A/2013) 8 * * * * * * * * Latência do sono e Acordar após o início do sono Tempo total de sono Valor limite Eficiência do sono Valor limite 0,00 25,00 50,00 75,00 100,00 125,00 150,00 175,00 1 2 3 4 5 6 7 8 9 Índice (/h) Participantes Fusos Complexos K

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METODOLOGIA Amostra: •  9 homens; •  Critérios de inclusão: idade entre os 25 e 40 anos; saudáveis; sem

coabitação com crianças com idade inferior a 5 anos; sem problemas do sono; não-fumadores; residência na área da Grande Lisboa.

Monitorização da QAI: •  Quantificação dos valores médios dos parâmetros microbiológicos

(fungos e bactérias) num volume de ar de 250L, utilizando um amostrador MAS-100TM (medições no início da noite e pela manhã).

Monitorização do sono: •  Polissonografia do sono (PSG) de nível II; •  Realização da PSG em duas noites seguidas durante os dias de

semana, sendo apenas considerados os dados da segunda noite; •  Aplicação das regras da American Academy of Sleep Medicine (2017).

Análise estatística •  Análise descritiva dos dados; •  Coeficiente de Pearson e de Spearman; •  SPSS versão 22.0 (SPSS Inc., Chicago, IL); α = 0.05 e α = 0.05-0.1,

para um nível de significância fraco.

SERÁ A ESTRUTURA DO SONO VULNERÁVEL A CONTAMINANTES MICROBIOLÓGICOS DO AR INTERIOR?

J. Belo(a,b), M. Picado(a), J. Lage(c), T. Faria(a,d), Paula Macedo(a), M. Meira e Cruz(e,f), N. Canha(c,g), S. Cabo Verde(c), C. Alves(g), C. Viegas(a,d,h), S.M. Almeida(c)

(a) ESTeSL-IPL - Escola Superior de Tecnologia da Saúde de Lisboa, Instituto Politécnico de Lisboa, Lisboa, Portugal; (b) H&TRC - Centro de Investigação em Saúde e Tecnologia , ESTeSL-IPL, Lisboa, Portugal; (c) C2TN - Centro de Ciências e Tecnologias Nucleares, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; (d) GIAS - Grupo de Investigação Ambiente e Saúde, ESTeSL-IPL, Lisboa, Portugal; (e) APCMS - Associação Portuguesa de Cronobiologia e Medicina do Sono, Portugal; (f) Centro Cardiovascular e Instituto de Fisiologia, Universidade de Lisboa, Lisboa, Portugal; (g) CESAM - Centro de Estudos do Ambiente e do Mar, Departamento do Ambiente, Universidade de Aveiro, Aveiro, Portugal; (h) CISP - Centro de Investigação em Saúde Pública - Escola Nacional de Saúde Pública, Universidade Nova de Lisboa, Lisboa, Portugal

INTRODUÇÃO Os humanos passam um terço da sua vida a dormir, sendo do conhecimento geral que o sono desempenha um papel fundamental no bem-estar e desempenho físico e cognitivo1. Nas últimas décadas, o estudo do impacto da qualidade do ar interior (QAI) na saúde dos ocupantes tem aumentado significativamente, porém, a investigação nesta área tem sido direcionada principalmente para microambientes onde os indivíduos realizam as suas atividades durante o dia2. Apesar de limitadas, existem algumas evidências relacionadas com o impacto da QAI nalguns parâmetros do sono, no entanto, estudos com uma caracterização abrangente dos contaminantes ambienta is , nomeadamente microbiológicos, são ainda inexistentes3,4. O presente trabalho tem o objetivo de avaliar os efeitos da exposição microbiológica na estrutura do sono.

AGRADECIMENTOS: •  Instituto Politécnico de Lisboa Projeto IPL/2017/E2SLEEP/ESTeSL/711030,pelabolsadeinves:gaçãoatribuídaaoprojeto.•  Pulmocor–EquipamentosMédicos,SA,peloemprés:modopolígrafodosono,nívelII(SOMNOscreen™plus).

CONCLUSÃO A exposição a contaminantes microbiológicos tem sido relacionada com efeitos adversos na saúde, nomeadamente ao nível de reações alérgicas, infeções, reações tóxicas e inflamatórias5. Os resultados do presente estudo revelam a possível existência de uma associação também ao nível da estrutura do sono, nomeadamente no que concerne à fase 2 do sono REM e ao índice de complexos k. Durante uma noite normal de sono, os indivíduos devem passar 50% do tempo na fase 2 do sono NREM, pelo que uma diminuição nesta fase poderá comprometer a função reparadora do sono6. O papel funcional dos complexos K é ainda motivo de debate, mas diversos autores consideram este evento neurofisiológico como uma reação que pode ser motivada por estímulos internos e externos, associada a uma ativação do sistema nervoso autónomo7. Estudos semelhantes e aplicados numa amostra mais significativa poderão contribuir para uma melhor compreensão dos efeitos da exposição ambiental neste período específico.

RESULTADOS

REFERÊNCIAS 1. Krueger J. et al. (2016) Sleep function: Toward elucidating an enigma. Sleep Med Rev 28, 46–54. 2. Bruce N. et al. (2002)The health effects of indoor air pollution exposure in developing countries. Geneva World Heal Organ Rep WHO/SDE/OEH/0205,1–40. 3. Fang S. et al. (2014) Traffic-related air pollution and sleep in the Boston Area Community Health Survey. J Expo Sci Environ Epidemiol 25, 451–6. 4. Zanobetti A. et al. (2010) Associations of PM10 with sleep and sleep-disordered breathing in adults from seven U.S. urban areas. Am J Respir Crit Care 182, 819–825. 5. Bush R.K., et al. (2006) The medical effects of mold exposure. J Allergy Clin Immunol 117(2), 326–33. 6. Kryger M et al. (2005) Principals and Practice of Sleep Medicine. 5th ed. Missouri, Elsevier. 7. Forget D. et al. (2011) The Role of the Spontaneous and Evoked K-Complex in Good-Sleeper Controls and in Individuals with Insomnia. Sleep 34(9), 1251–60. 8. Portarianº353-A/2013.2013.MinistériodoAmbiente,OrdenamentodoTerritórioeEnergia,daSaúdeedaSolidariedade,EmpregoeSegurançaSocial(Portugal).

Bactérias (UFC.m-3) Fungos (UFC/m3) Noite Manhã Noite Manhã

TTS (min) n.s. n.s. n.s. n.s. ES (%) n.s. n.s. n.s. n.s. LS (min) n.s. n.s. n.s. n.s. WASO (min) n.s. n.s. n.s. n.s. N1 (%) n.s. n.s. n.s. n.s. N2 (%) n.s. n.s. rs =-.650; p=. 058 rs =-.763; p=. 017 N3 (%) n.s. n.s. n.s. n.s. REM (%) n.s. n.s. n.s. n.s. Fusos (/h) n.s. n.s. n.s. n.s. Complexos K (/h) n.s. rs =.733; p<.05 n.s. rs =.732; p<.050

ES – Eficiência do sono; LS – Latência do sono; TTS – Tempo total de sono; WASO – Acordar após o início do sono; N1 – Fase 1 do sono NREM; N2 – Fase 2 do sono NREM; N3 – Fase 3 do sono NREM; n.s – Não significativo.

80 82 84 86 88 90 92 94 96 98

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LS (min) WASO (min)

Índice de complexos K e fusos do sono

Correlações entre os parâmetros microbiológicos e da estrutura do sono

PROMOTOR DO PROJETO

PARTICIPANTES APOIO

Bactérias

0 100 200 300 400 500 600 700

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9

UFC

.m-3

Amostra

Noite Manhã

Fungos

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000

C1 C2 C3 C4 C5 C6 C7 C8 C9

UFC

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Amostra

Noite Manhã

* *

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* Concentrações > exterior + 350 UFC.m-3 (Portaria nº.353-A/2013)8 * Concentrações > exterior (Portaria nº.353-A/2013)8

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Latência do sono e Acordar após o início do sono

Tempo total de sono

Valor limite

Eficiência do sono

Valor limite

0,00 25,00 50,00 75,00

100,00 125,00 150,00 175,00

1 2 3 4 5 6 7 8 9

Índi

ce (/

h)

Participantes

Fusos Complexos K