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JÚLIO ROMÃO Afro-descendentes ainda sofrem com a falta de inclusão social Págs. 4 e 5 Estratégias de lutas contra o racismo Págs. 8 e 9 ISSN - 1809-0915 TERESINA - PI, MARÇO DE 2008 • Nº 15 • ANO V

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Júlio Romão

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JÚL IO ROMÃO

Afro-descendentes aindasofrem com a faltade inclusão socialPágs. 4 e 5

Estratégias de lutascontra o racismoPágs. 8 e 9

ISSN - 1809-0915

TERESINA - PI, MARÇO DE 2008 • Nº 15 • ANO V

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2008

22222 OPINIÃO

ISSN - 1809-0915

Informativo produzido pelaFundação de Amparo à Pesquisa

do Estado do PiauíFAPEPI

Fone: (86) 3216-6090Fax: (86) 3216-6092

Diretor EditorialAcácio Salvador Véras e Silva

Conselho EditorialAcácio Salvador Véras e Silva

Francisco Laerte J. MagalhãesWelington Lage

EditoraMárcia Cristina

Reportagens e fotosMárcia Cristina (Mtb-1060)Roberta Rocha (Mtb-1856)

Revisão GramaticalAssunção de Maria S. e Silva

Projeto Gráfico e Editoração Eletrônica

Cícero Gilberto(86) 8801.9069

ImpressãoGrafiset - Gráfica e editora Rêgo

Ltda. - (99) 3212.2177

Tiragem 8 mil exemplares

Críticas, sugestões e contatos:[email protected] -

[email protected] • Fones: (86) 3216-6090 / 3216-6091

Fax: (86) 3216-6092 •www.fapepi.pi.gov.br

Nº 15 * Ano V* Março de 2008

Governador do EstadoWellington Dias

PresidenteAcácio Salvador Véras e Silva

Alexis Leite*

Racismo e política públicaLembro das

palavras do Adro-aldo: “-Você é bran-quinho, não te in-comodam comolhares de estra-nheza que fechamas portas aos di-versos tipos de re-lações sociais como emprego, escola, na-moro, amizade. Enfim, aquilo que se esperade uma sociedade que diz incorporar umavisão multirracial”. Estava eu diante deuma pessoa de pele negra, negra, negra,negra, portadora de 2,15m de altura por 80centímetros de largura. Um gigante, o quecomumente se chama de “um armário”. Lá-bios de “gamela”, nariz achatado, olhosavermelhados e cabelo pixaim (lembro doJorjão: “Quem disse que cabelo de nêgoé ruim...”). Adroaldo, à época, uns dezanos atrás, era diretor do Sindicato dosGaris de Salvador. Estávamos conver-sando no Clube dos Diários, à noitinha,tomando uma cerveja após a nossa lidadiária. Ele estava aqui para ajudar nacompreensão da trama do momento po-lítico brasileiro, juntamente com outrossindicalistas locais.

As palavras do Adroaldo serviram parame fazer entender que talvez nunca sinta euo ultraje que um portador ou portadora de

tais características venha sentir. Mas possoentender facilmente o que seja preconceitoracial, a partir da fala simples do Adroaldo.

O preconceito racial existe? Claro queexiste, não tão claro para mim que venhode família com traços raciais tão diferen-tes: Avós índios, negros e brancos. O quesou? Sou brasileiro e a minha tendência écompreender o Brasil como multirracial.Mas, para Adroaldo o Brasil é racistano olhar, no emprego, na saúde e naeducação, na amizade, no namoro etc.Ele está em desvantagem patente comos “branquinhos” que fazem o meu tipoe mais ainda com relação às pessoascom os olhos claros e a pele branca.

Entendo, pois, que políticas públicaspodem e devem ajudar a corrigir essas dis-torções decorrentes dos preconceitos. Ima-ginemos o que seria um “poço dos precon-ceitos” onde pessoas com as característicasdo Adroaldo estariam na parte mais profun-da e a política pública visaria a colocá-las empatamares cada vez mais próximos da super-fície, lugar que supostamente todos estari-am sujeitos aos mesmos preconceitos. Se-ria um lançar de “cordas” que facilitaria asubida para uma igualdade com aquelesque se encontram em situação semelhan-te, mas não são objeto de preconceito?Seriam condições diferenciadas para quesubissem mais rápido do que os outros?

Ora, o tempo todo falamos de pobreza,lugar comum a milhões de pessoas que so-

frem ou não preconceito racial. Pobreza nãoé crime, mas o preconceito racial é. Declararpobreza um crime seria responsabilizar o Es-tado pela pobreza decorrente das faltas decondições estruturais para cada pessoa etoda a sociedade. É do cerne do sistema deprodução capitalista gerar desigualdadese preconceitos diversos para “justificar”o insucesso da maioria da sociedade.

É “bom” para o sistema vigente noBrasil “lançar cordas” diferenciadas quepouco, ou quase nada, resolve em termosefetivos de combate real à pobreza. Nempode. No entanto, fica a ilusão de que resol-vemos as coisas combatendo simplesmen-te o preconceito racial. Ou a sociedade avan-ça como um todo ou continuaremos a mas-carar os problemas reais com soluções fictí-cias. O racismo, como todo preconceito, épresença constante em todos os sistemasde produção. Ele “justifica” fundamental-mente a exploração humana. O capitalismomascara as suas perversidades afirmandoser proibido o preconceito racial, o precon-ceito contra os judeus etc. Contudo, a mai-oria, se não a totalidade, do povo brasileiroé multirracial, assim como o “branquinho”que sou, de miseráveis, analfabetos, semsaúde, sem emprego. A discussão BRAN-CO/PRETO no Brasil é um dos maioresdisfarces do momento para a nossa misé-ria. Espraia o teu olhar ao longo de cincoséculos sobre o nosso povo e diz se não é.

*Professor de Filosofia da [email protected]

Da escuridão à “Bandeira da liberdade”Um dos maiores pesqui-

sadores de África, o embaixa-dor, historiador e escritor Al-berto da Costa e Silva, no pre-fácio de seu livro “A manilha eo libambo A África e a escravi-dão, de 1500 a 1700”, apontaque o termo escravidão não

fora por ele adjetivado no referidolivro, pois “o nome já traz em si, ain-da não cicatrizados, os lanhos da ini-qüidade, da violência, da humilha-ção e do sadismo” (SILVA, 2002,p.10) O fenômeno da escravidão noBrasil deixou marcas indeléveis naestrutura social e nas relações soci-oculturais que se formaram duranteo processo histórico. Se por umlado, o Brasil de hoje reafirma a con-tribuição dos africanos e afro-bra-

sileiros na construção da nação, poroutro traduz uma sociedade aindamarcada pelo racismo e a discrimi-nação racial que alimentam a exclu-são e a invisibilidade da pessoa ne-gra nas diversas esferas sociais.

Os índices estatísticos do IPEAe do IBGE, quanto à realidade da pes-soa negra no Brasil, indicam que hámuito ainda por fazer para que as de-sigualdades sócio-raciais sejam, pelomenos, diminuídas. Há mais brancosque negros nos cursos superiores demaior valorização econômica; comotambém mais brancos na esfera depoder econômico e mais negros nossubempregos, desempregados ounas profissões de baixo poder aqui-sitivo. Diante disso, as universida-des brasileiras, e, por conseguinte,

as piauienses, estimulam e promo-vem pesquisas e teses sobre os fe-nômenos étnico-socioculturais, embusca de provocar uma qualificadainserção dos sujeitos afro-brasilei-ros na sociedade.

Acompanhando o que vem sen-do desenvolvimento no campo dosestudos étnico-raciais, o Sapiênciaprivilegia, nessa edição, o que pes-quisadores (as) negros (as) piauien-ses vêm desenvolvendo como refle-xão sobre o fenômeno da escravidãoe seus desdobramentos, a relaçãoeducação e movimento negro orga-nizado, a cultura afro-brasileira, as-sim como sobre os avanços e os re-cuos provocados pelas medidas deações afirmativas e políticas públicasque atualmente vigoram no país.

RecebemosParabenizo a última edição do informativo, SAPIÊNCIA, excelentes matérias, principalmente a que fala da obesidade. A título desugestão, seria interessante uma reportagem sobre aminas no leite, que tem uma referência nesse último informativo, assunto novo quemerece uma melhor divulgação para os neonatologistas e, de forma geral, que fala sobre amamentação. Parabéns para todos.Assessoria de Comunicação da Fundação Municipal de Saú[email protected]

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ARTIGO 33333

A representação social do negro na escolaMaria do Rosário de Fátima Biserra Rodrigues*

A represen-tação social donegro na escolatem reproduzidoos estereótipospresentes na soci-edade brasileira,no que se refereàs pessoas ne-

gras, o racismo. Mas quem é negro noBrasil? A concepção do que é ser ne-gro abrange aspectos como os relati-vos à cor, ao posicionamento político,econômico, social e ao fenótipo. Hámuitas classificações como pretos, par-dos, morenos, mulatos e outras varia-ções destas categorias sócio-étnico-raciais para referir-se aos negros. En-tão será considerado negro na defini-ção de Boakari (1994), como sendo“aqueles indivíduos que têm uma he-rança explicitamente africana (fenóti-po) e/ou mostram alguns traços dis-tintamente africanos como lábios, na-riz e cabelos”.

A representação social do negrona escola pode ser analisada, a partirde aspectos como: currículo escolar eprática pedagógica (livro didático/ for-mação dos professores), processo deconstrução da auto-estima, através dalinguagem utilizada nos eventos esco-lares e a socialização das crianças eadolescentes estudantes negros, en-volvendo a família, entre outros. A abor-dagem será a socialização como um pro-

cesso de transmissão de valores pre-sentes na família e na escola. A escola,como espaço do aprendizado e dos sa-beres acumulados, de promoção do serhumano e de estímulo à formação devalores, hábitos e comportamentos, étambém um dos lugares sociais ondeas pessoas convivem com as diferen-ças e com situações de racismo, pre-conceito e discriminação. A famíliacomo uma das primeiras instâncias so-cializadoras é importante para os indi-víduos ou grupos, pela existência devínculos afetivos, vínculos de apoio epela possibilidade de construção devalores. Essa instância encontra difi-culdades para transmitir valores e ati-tudes que fortaleçam os filhos para en-frentarem essas situações, pois a famí-lia é também marcada por estes com-ponentes. Os espaços familiar e esco-lar, portanto, interagem no processo desocialização, tendo de um lado os filhos/alunos e os pais e, de outro, os profes-sores que representam a vivência deduas instituições atuando de forma di-ferenciada na disseminação de valores.

No Brasil, segundo Élio Ferreira(2003), “era vetado ao escravo o direi-to de freqüentar escolas ou de ser alfa-betizado e a seus filhos se interditavaa chance de ascensão social”. Essa éainda a realidade brasileira, que passa-dos cento e vinte anos do fim da es-cravatura, ainda admite que o “lugardo negro” não é na escola, mas em es-paços onde exercem papéis de subal-ternidade. A herança escravocrata mar-

cou profundamente para o negro o es-tabelecimento de suas relações soci-ais, constituindo-se como fator paradisseminação de uma imagem negati-va dessa população.

Imagem negativa historicamen-te assimilada pela sociedade, que emsua maioria, os considera pessoas in-feriores, incapazes intelectualmente e,por causa disso, tem lhe destinadofunções de baixa qualificação, como deempregados domésticos, faxineiros, ze-ladores, engraxates, lavadeiras, entreoutros. Tal constatação possibilita aesse grupo ser tratado, na maioria dosespaços sociais, de forma preconcei-tuosa e discriminatória, fazendo emer-gir o racismo, embora velado. Racismoaqui entendido, segundo MUNANGA(2004), como “um comportamento, umaação resultante da aversão, por vezesdo ódio, em relação a pessoas que pos-suem um pertencimento racial obser-vável através de sinais tais como: corda pele, tipo de cabelo, formato do olhoetc”. As pessoas, entretanto, não nas-cem racistas, este é um componenteconstruído nas relações que se esta-belecem na sociedade e que têm con-tribuído secularmente para o baixoacesso da população negra à educa-ção, à saúde, ao emprego, ao ensinosuperior entre outros.

A sociedade brasileira caminha deforma a construir uma postura diferen-te nas relações étnico-raciais, apesardas incompletudes. Desde a promul-gação da Constituição de 1988, o Bra-

sil procura efetivar a condição de umestado democrático de direito com ên-fase na cidadania e dignidade da pes-soa, mesmo ainda marcado por postu-ras subjetivas e objetivas de precon-ceito e discriminação aos afrodescen-dentes, que enfrentam dificuldadespara o acesso e permanência nas esco-las. Pessoas negras têm menor númerode anos de estudos em relação às pes-soas brancas ( 4,2 anos para negros e6,2 para brancos), na faixa etária de 14a 15 anos. O índice de pessoas negrasnão alfabetizadas é 12% maior que depessoas brancas na mesma situação.

Há um esforço oficial no sentidode propor mudanças partindo da legis-lação educacional, como a promulga-ção da Lei N° 10.639, de 09/01/2003, re-gulamentada pela Resolução n° 01, de17/06/2004 do Conselho Nacional deEducação, que institui as “DiretrizesCurriculares Nacionais para a Educa-ção Étnico-Raciais e para o Ensino deHistória e Cultura Afro-Brasileira e Afri-cana”, e igualmente ações concretas,por parte das entidades de defesa daspessoas negras, com apoio de setoresda sociedade como as Políticas de Afir-mação, que reivindica, por exemplo,cotas para negros em instituições deensino superior, objeto de contradi-ções e de conflitos na sua aplicação.

* Ouvidora Geral do EstadoEconomista e Mestre em Educaçã[email protected]

Francisca Trindade: nossa história, nosso orgulhoSônia Terra*

Uma chuvafina caía sobre Te-resina, na manhãde segunda-feira,31 de março de2008. Não era umamanhã qualquer. Ocenário era a Pra-ça da Liberdade,palco de tantas manifestações políticase onde, mesmo diante da chuva persis-tente, reuniram-se significativas repre-sentações políticas e sociais do meu Es-tado. O motivo? Fazer uma homenagem,através de uma estátua de bronze, à piau-iense Francisca Trindade.

Nascida na periferia de Teresina,nos movimentos de jovens já manifes-tava consciência crítica. Trilhou admi-rável caminho assumindo-se mulher,identificando-se como negra, posicio-nando-se como militante dos movimen-tos sociais e ousando enveredar pela

política partidária, tornar-se vereado-ra, deputada estadual e a mais bemvotada deputada federal da história doPiauí – trajetória intensa que durouquase toda a sua existência, até que,em pleno discurso, foi vítima de umaneurisma cerebral em 27 de julho de2003, com 37 anos.

Naquela manhã de segunda-fei-ra –– aí está o inusitado ––, mais doque a instalação de uma estátua, pelaprimeira vez no Piauí é homenageadadessa forma uma mulher nascida dopovo negro, testemunhando os novosrumos da história e imprimindo um mar-co da democracia no 31 de março, umcontraponto a ditadura institucionali-zada em 1964.

Trindade é reconhecida como de-fensora incansável dos direitos huma-nos dos oprimidos, excluídos, injustiça-dos e esquecidos, principalmente da co-munidade negra. Enfrentou a violênciado racismo e do machismo, desafiandouma burguesia que teimava em dizer que

aquele não era o seu lugar. Ousou que-brar paradigmas, calar as dores aos ini-migos e tantas vezes chorou com osamigos a dor de carregar na alma tantasFranciscas trabalhadoras deste país.

A homenagem naquela praça e na-quele dia, quando se completam 120anos da Lei Áurea foi, para nós, povonegro, sinal de liberdade, mostra con-tundente de uma Abolição feita por nóse em construção permanente, até queos princípios da verdadeira Igualdade eda Paz governem o Brasil e o mundo.

Ao relembrar essa história, soutomada pela emoção e pelo orgulho deter convivido com essa mulher tão ne-gra quanto eu e as muitas, reconheci-das ou anônimas deste País, e me vemà mente a incalculável dívida socialluso-brasileira para com o povo negro,contraída sob o olhar complacente dahumanidade, surda aos clamores dassenzalas e dos quilombos. Ocorre-meque tal dívida é agravada por todas aslinhas não escritas em nossa história

* Presidente da Fundação Cultural doEstado do Piauí[email protected]

de mulheres negras, nós que carrega-mos na alma a força das ancestrais,aquelas que mantiveram a altivez dian-te das chicotadas, que tiveram a cora-gem de renunciar à vida para não vive-rem mortas; rebelar-se, fugir, pra nãose entregar, e ter ainda a doçura de aca-lentar nos peitos fartos de leite aque-les que não eram seus filhos.

São memórias que precisamosretomar todos os dias e noites, paravalorizar cada conquista e fazer valera luta pela liberdade, cidadania e res-peito.

Salve, guerreira Trindade, amiga desempre e para sempre!

Salve a força negra que, mesmoquando a alma sangra pela violênciado racismo, nos mantém altivas e ou-sadas!

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REPORTAGEM44444

Estudos desmistificam o conflito das relações raciais no Piauí

As pesquisas sobre africanida-des não são uma temática que tenhamuita fortaleza na academia piauien-se, principalmente pesquisas que re-montam ao passado dos negros, sejano Piauí, seja em âmbito global. O queexistem são pesquisas pontuais de es-tudiosos que vêm buscando revirararquivos para estudar fatos históri-cos e explicar as raízes e as herançasculturais do legado negro no Piauí.

Os estudos existentes sobre atemática étnico-racial, e mais especi-ficamente sobre a escravidão, podemser divididos em duas gerações de es-tudiosos: a primeira, que tem comoprecursores os escritores Odilon Nu-nes e Monsenhor Chaves, atém-sesobre o passado do negro brasileiro,a escravidão, base do processo deinadequações posteriores que dificul-taram ao longo de quatro séculos ainclusão social dos afro-descenden-tes no país. Destacando-se tambémo escritor Júlio Romão da Silva, hojecom 90 anos, que tem um importantelegado sobre o negro em seus diver-sos livros e artigos, bem como sobreo índio brasileiro - povo que tambémsofre com o processo de marginaliza-ção social. Estes autores são os pre-

cursores de estudos sobre as raízesdo negro na sociedade piauiense e, emseus escritos, o que se refere a negrose índios aparece aliado a outros temas,como a pecuária, por exemplo.

Em se tratando de escravidãonegra no Piauí, Nunes e Chaves lan-çam teorias enraizadas em boa parteda historiografia precedente que afir-ma a inexistência da discriminação ra-cial na sociedade piauiense, pautadano argumento de que, peculiarmente,a escravidão no Estado foi branda emarcada pelo paternalismo e pela au-sência de discriminação, comuns aoambiente pecuarista e que, portanto,dispensava o trabalho escravo. O es-cravo possuía a sua capacidade detrabalho pouco explorada, resultan-do assim em laços escravistas frou-xos (ausência de vigilância ou con-trole e pouca violência) marcados pelapresença peculiar do paternalismo,sobretudo nas fazendas nacionais.Complementando esta idéia, Chavesafirma que o escravo no Piauí conhe-ceu dois tratamentos, um mais violen-to correspondente ao início da ocu-pação do território piauiense, e outro,“menos árduo e violento, com trata-mento cuidadoso com os escravos”,que corresponde ao período após 1850(fim do tráfico), momento em que a mão-de-obra escrava torna-se escassa.

A segunda geração tem-secomo referências acadêmicas os pro-fessores Solimar Oliveira Lima, Alce-bíades Filho, Ana Beatriz Gomes(UFPI), Élio Ferreira de Sousa (Ues-pi/UFPI), Algemira de Macedo Men-des (Uespi), entre outros, com estu-dos que discutem temas como escra-vidão, movimentos negros e educa-ção e produções literárias de afro-brasileiras e diáspora negra. Mesmocom pouca produção, os pesquisado-res doutores da UFPI e UESPI vêmprovocando reflexões profícuas nocampo acadêmico e motivando o sur-gimento de novas pesquisas. ParaSolimar Oliveira Lima, Dr. em História,

professor do Depto. de Ciências Econô-micas e membro do Ifaradá, muito ain-da precisa ser revelado sobre o ne-gro. “Precisamos estudar mais, pes-quisar mais. Por isso mesmo nós, en-quanto pesquisadores dessa temáti-ca, precisamos motivar, sobretudoalunos da graduação e da pós-gradu-ação para a certeza de que se envol-ver com esse tema além de ser umanecessidade para o conhecimento donosso povo é t ambém um obje -to , uma fon te p razerosa de co-nhec imento” , reconhece .

Além do grande incentivo doIfaradá, a UFPI concentra dois pólosde discussão e pesquisa: o Programade Pós-Graduação em Educação(CCE) e o Mestrado de História doBrasil (CCHL); mais recentementevem começando a surgir estudos noPrograma de Pós-Graduação em Polí-ticas Públicas. Solimar Oliveira afir-ma que é importante o estudo das et-nias na pós-graduação em função dassuas várias funções sociais. “É nomestrado que surgem pessoas maisaptas ao fortalecimento da temática.Na educação, é muito forte o estudosobre as relações étnico-raciais, es-pecialmente nas escolas ou em mate-rial didático. Na História, trabalha-sea questão da resistência, pesquisasobre acomodação de espaços. O Ifa-rádá também, como núcleo do Progra-ma de Políticas Públicas, começoumais recentemente a trabalhar a ques-tão das relações e precarização dotrabalho envolvendo esse recorte ét-nico-racial”, frisou.

Partindo do estudo étnico-raci-al, vários países já discutem há algu-mas décadas o tema cotas raciais efoi a partir desses estudos, por exem-plo, que nos Estados Unidos foi im-plantado pela primeira vez o progra-ma de cotas, como forma de políticaafirmativa de reparação social das in-justiças contra negros na sociedade.

Na UFPI, diferentemente de ou-tras Instituições Públicas de Ensino

Superior, não foi implantado ainda osistema de cotas para negros, somen-te as cotas sociais, nas quais os es-tudantes comprovadamente pobresconseguem o acesso à universidade;na UESPI, recentemente houve o IISeminário Institucional sobre cotascom a participação de segmento da-quela universidade, como o NEPA -Núcleo de Estudos e Pesquisa Afro/UESPI, e da sociedade piauiense, comoo movimento negro de Teresina, quan-do se criou uma comissão que atual-mente elabora a proposta de implanta-ção de cotas naquela instituição.

“No Brasil, a questão chegamais tarde, mas ganha corpo, a partirdo movimento negro e, evidentemen-te, se fortalece com o comprometi-mento de pesquisadores, em sua mai-oria negros, tomando a academiacomo espaço de politização do deba-te. No Piauí, acontece pela mesma via,o movimento negro é que pauta, apartir das décadas de 60, 70 e 80. Eisso vai chegar também na academia,através de professores e estudantes,quando foi fundado, na década de 90,o Ifaradá. Então, a pesquisa serve aosmovimentos para qualificar o discur-so. A produção científica é importan-te para que nós militantes possamosmelhorar o nosso olhar da reali-dade e a nossa intervenção. Umadas temáticas que têm aparecidocom muita fortaleza é o das cotasraciais”, ressaltou Oliveira.

Cientificamente é comprovadoque não existem raças diferentes, ape-nas a humana, e quando os estudoscaracterizam raça negra ou branca éreferente à construção política soci-al, explicou Solimar Oliveira. “Enquan-to construção de política social, o ne-gro é colocado como esse grupo depessoas que historicamente foi exclu-ído desse processo, entre eles da edu-cação”, frisou.

Prof. Solimar Oliveira*

Políticas Públicas para promover a igualdade étnico-racialEm novembro de 2006, o Governo do

Estado, por meio da Secretaria Especial dePolíticas de Promoção da Igualdade Racial,ligada à Secretaria da Assistência Social eCidadania – SASC encomendou o Plano Es-tadual da Política de Promoção da Igualda-de Étnico-Racial. O Plano é pautado na con-

cepção de políticas públicas implementadaspelo Governo Estadual e Governo Federal.O documento visa à construção da cidada-nia dos negros, de reconhecimento de suahistória, de valorização de diferentes for-mas de expressão e manifestações de re-sistência e da visibilidade para os afro-

descendentes. O relatório aponta que opreconceito e o racismo fortalecem as de-sigualdades sociais e as precárias condi-ções de vida de pretos e pardos.

O documento afirma que as políticaspúblicas podem e devem promover a igual-dade étnico-racial pela parceria Estado e so-

ciedade. O Governo do Estado conta comum plano executivo integrando a Coorde-nação de Questões Étnicas e contra a Dis-criminação e a Coordenação Estadual dasComunidades Negras Rurais e Quilombo-las. O plano integra ainda a instalação daDefensoria Pública do Núcleo em Defesa

*Prof. Dr. do Depto. de CiênciasEconômicas e Diretor do Ifaradá - [email protected]

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2008

55555REPORTAGEM

O 6 de setembro pode ser umadata comum para muitos, mas paraos movimentos negros do Piauí émais que especial, pois, por lei, é co-memorado o Dia Estadual da Cons-ciência Negra, instituída em 1998,com o apoio da então deputada es-

Carta de Esperança Garcia motiva criação demovimentos e lei estadual da consciência negra

tadual negra, Francisca Trindade (jáfalecida). O motivo é bastante provi-dencial, uma vez que foi neste dia,no ano de 1770, que a escrava negrapiauiense Esperança Garcia escreveu,senão a primeira, uma das mais antigascartas de denúncia de maus-tratos con-tra escravos no Brasil. É o primeiro do-cumento escrito que se tem notícia deuma mulher escrava no Brasil. Esperan-ça Garcia entregou a carta ao governa-dor da Província do Piauí, na qual rela-tava a violência sofrida por parte dofeitor da fazenda para onde foi levadapara trabalhar como cozinheira. Apesarde nunca um pesquisador local ter tidocontato, fala-se que a carta original en-contra-se em Portugal e uma cópia foidescoberta no arquivo público doPiauí pelo pesquisador e historiadorbaiano Luiz Mott, que a consideroude rara importância. O achado passoua simbolizar o ideal de liberdade dosafrodescendentes piauienses, moti-vando grupos como o Coletivo deMulheres Negras Esperança Garcia

Para o Prof. Dr. da UESPI/UFPI, Élio Ferreira de Sousa, que es-

tuda a temática do negro na literatu-ra, “Esperança Garcia é uma exceção,porque era proibida a leitura para es-cravo; quem fosse flagrado ensinan-do escravo a ler era preso e/ou pro-cessado. Ela escreveu a carta um anodepois que os jesuítas, de quem eraescrava, foram expulsos do Brasil porMarquês de Pombal. Esperança Gar-cia foi levada à força da FazendaAlgodões, perto de Floriano, para umafazenda em Nazaré do Piauí. Ela contaque juntamente com o filho eram tortu-rados e espancados; que o feitor a pe-ava, como animal, e que uma vez caiudo penhasco e quase morreu, estandoamarrada; que foi proibida de batizar ofilho e de se confessar, assim como suasamigas. Na condição de escrava, usoua questão da religião como estratégiapara que seus opressores fossem pu-nidos, porque a religião oficial era a ca-tólica”, ressaltou o pesquisador, acres-centando que era comum nas fazendaslocais, os negros fazerem levantes con-tra os desmandos, já naquela época.

Élio Ferreira informou que fezuma leitura textual da carta, no qual

das Pessoas Negras, Homossexuais e Pes-soas Portadoras de Deficiência; a Delega-cia de combate às práticas discriminatóri-as e em defesa dos direitos humanos; oSelo Etnia, com premiação a empresas queadotam ações afirmativas para a comuni-dade negra piauiense; o decreto de dispo-nibilidade de cotas para alunos de esco-las públicas na Universidade Estadual doPiauí; e o decreto de criação do MemorialZumbi dos Palmares para preservação evalorização da memória e cultura negra.

Todas essas ações se fazem neces-sárias, na medida em que pesquisas com-

provam e situam os negros em posi-ção de inferioridade, como, por exem-plo, na educação, no trabalho e aténas necessidades primeiras de umcidadão, que é a alimentação.

Através de dados bibliográficos, asmulheres negras, por exemplo, dos séculosXVIII e XIX, eram trabalhadoras sujeitas àsmais precárias condições de vida, num sis-tema econômico cuja lógica visava a dimi-nuir os custos e aumentar os lucros do pro-prietário. Assim sendo, mal vestidas, malalimentadas, violentadas, elas ainda esta-vam sujeitas a duras jornadas de trabalho

com instrumentos insuficientes e precári-os, o que resultava em maior esgotamentofísico. Entretanto, segundo historiadores,a escrava no Piauí não se sujeitava passi-vamente aos maus tratos que vitimaram asmesmas e para impor limites à dominação,utilizavam-se dos mais variados recursos,como fugas, denúncias, assassinatos desenhores e seus familiares, entre outros.

Dados do IBGE, de 2004, apontaramque 81,5% da população negra do Piauí vi-vem com insegurança alimentar moderada ougrave (GRÁFICO 1). Insegurança alimentar équando o indivíduo não consegue ter as três

refeições mínimas do dia em quantidade e di-versidade necessárias. “Esse dado é impor-tante para situar o quanto o negro está margi-nalizado no Piauí, porque quase a maioria nãoconsegue se alimentar direito. Muitas famíli-as negras têm duas ou apenas uma refeiçãopor dia, sendo ela com pouca qualidade nutri-cional. Isso é muito grave”, alerta Solimar Oli-veira. Fora isso, o IBGE também apontou quea população branca ocupada do Estado temmais anos de estudo e rendimento médiomensal salarial superiores à negra(GRÁFICO 2), além de apresentaremmenor índice de analfabetismo (GRÁFICO 3).

*Prof. Dr. do Depto. de Letras-Uespi eProf. Convidado do Mestrado de Letras-UFPI. LÍder do [email protected]

considera que Esperança Garcia uti-lizou uma linguagem poética, comrecursos como a metáfora. “Sabe-seque ela fugiu com o filho da fazendae não se tem registro dela depoisdisso. Apesar de não ter contadotodos os detalhes na carta, supo-nho que a fuga tenha se dado por-que houve tentativa de estupro, oque era comum com as escravas.Afinal, o que justificaria tirá-la domarido, se já naquela época era proi-bida a separação de casais negrosescravos e também de filhos?”, re-flete, afirmando que, por outro lado,a estratégia de separar parentes erautilizada por alguns fazendeirospara evitar mobilizações e rebeliões.

A UESPI avança em termos deestudos sobre a cultura afrodescen-dente. Desde 2005, existe o NEPA –Núcleo de Estudos e PesquisasAfro, que no momento prepara umprojeto pedagógico de uma especi-alização Lato Sensu em Literaturae História Afro-Brasileira e Africa-na, prevista para iniciar em agostode 2008. O curso será direcionadoaos professores de português, li-teratura, história e áreas afins, le-vando em conta a Lei n° 10.639,sancionada pelo presidente LuísInácio Lula da Silva, em 2003, queestabelece a obrigatoriedade da in-clusão, no currículo oficial da Redede Ensino, da temática “História eCultura Afro-brasileira”. Além dis-so, o NEPA prepara um semináriointernacional de história e literatu-ra afrodescendente previsto paraacontecer em setembro de 2008. Hátambém na instituição, uma comis-são, com a participação de segmen-tos da universidade e do movimen-to negro, para levantamento e es-tudo em busca da implementaçãodo percentual de 25% de vagaspara negros e índios. Para ÉlioFerreira, essa reparação é impor-tante, pois a escravidão tirou vá-rios direitos dos negros e índios,dentre eles o direito à educação.

Prof. Dr. Élio Ferreira de Sousa*

Palestra A escravização dos afrodescendentes no Brasil, Centro Educacional Integrado “Angelim”, educador militante do ÌFARADÁ

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O escritor piauiense Júlio Romão da Silva é um dos notáveis da nossa literatura. Aos 90 anos, seorgulha de ter escrito 42 livros, alguns populares, outros acadêmicos, e ainda consta de lucidez suficientepara concluir mais dois, em breve. O piauiense nascido em Teresina, no dia 22 de maio de 1917, perdeu opai Luis Quirino da Silva quando tinha 4 anos de idade. O nome Romão foi dado em homenagem a PadreCícero. Pesquisador na área de etno-linguística indígena, bacharel em Letras, em História e Geografia pelaFaculdade de Filosofia do Rio de Janeiro, para onde foi aos 13 anos tentar uma vida melhor. Nessa idadejá tinha uma profissão, a de marceneiro no Centro de Educação Tecnológica e também no ofício na capitalSão Luís.

Júlio Romão foi o primeiro piauiense a ter o diploma de comunicador social, no Rio de Janeiro. Aindajovem iniciou sua vida de comunicador, fundando em Teresina o Jornal Artífice, em 1936, e o Jornal TerraMafrense, editado no Rio de Janeiro, com divulgação dos fatos de sua terra natal. A sua primeira publica-ção em grande jornal foi um artigo na revista ‘Vamos Ler’, Rio de Janeiro, no dia 14 de maio de 1942, napágina 10. No texto, Romão conta a história do escultor mineiro Aleijadinho. Antônio Francisco Lisboa,nascido em Ouro Preto, no ano de 1730, filho de mãe crioula (Isabel) e, segundo conta Romão, Izabel eraescrava de Manoel Francisco Lisboa e da união de ambos nasceu o mestiço Aleijadinho, assim como ospoetas Machado de Assis, Lima Barreto e Luís Gama.

Foi um dos fundadores do IBGE, órgão pelo qual se aposentou como técnico em comunicação. Mem-bro da Academia Piauiense de Letras, ele se destacou pela cultura que raia quase a uma enciclopédia.Participou do projeto de construção da Usina Hidrelétrica de Boa Esperança (Guadalupe, Piauí). Cidadãocarioca e fluminense, onde possui uma rua em sua homenagem, é detentor dos prêmios Filosofia e JoãoRibeiro, da Academia Brasileira de Letras - ABL. Recebeu algumas comendas, como o Mérito CulturalConselheiro Saraiva, no Piauí. É um personagem altamente comunicativo, palavra fácil, que não perde aoportunidade de um diálogo em torno de temas culturais, artísticos, científicos, políticos ou outros de suapredileção. A Mensagem do Salmo, uma de suas mais importantes obras, publicada pela primeira vez em1967, e reeditada por mais três vezes, mereceu aprovação da Lei A. Tito Filho de incentivo cultural daFundação Cultural Monsenhor Chaves, da Prefeitura Municipal de Teresina e é leitura obrigatória emuniversidades do Rio de Janeiro. O livro foi inserido no roteiro do vestibular da UESPI.

Para Romão, um de seus principais escritores é Luis Gama, poeta satírico em função das idéiasabolicionistas e republicanas e por ser afro-descendente. Gama nasceu depois da lei do Ventre Livre. “Paramim é o poeta mais coerente”. Tanto o é que Romão lançou o livro “Luis Gama – o mais conseqüente poetasatírico brasileiro”.

Com seus 90 anos de luta por dias melhores para o negro brasileiro e pelo seu mérito em várias áreasdo conhecimento, é que escolhemos Julio Romão da Silva como o nosso entrevistado desta edição.

Sapiência – De retirante pobre,negro e nordestino a lavador de latrinano Rio de Janeiro, o Sr. conseguiu o seuespaço e reconhecimento em um paíspreconceituoso, segundo o Sr. mesmodiz. Como avalia a participação do ne-gro na sociedade atual?

Júlio Romão – Essa questão hojeé de ordem social. Antigamente, o ne-gro não tinha espaço na televisão, anão ser como escravo ou nas cozinhas,não era o artista principal, era um troçoqualquer. Jorge Amado certa vez medisse: “Romão, depois da abolição todobranco pobre é negro”. Ele estava cer-to, porque hoje o problema é de ordemsocial e quanto menos se tem, menosse vale.

Sapiência – O Sr. foi um dos pio-neiros nos movimentos pela busca daigualdade racial, nos anos 40, inclusiveparticipou de algumas frentes com pes-soas importantes, como Luís Carlos Pres-tes. Como eram esses movimentos e arepresentação do negro em busca deseus direitos?

Júlio Romão – Tornei-me esquer-dista e engajei-me na luta pela minharaça. Houve um movimento no Brasiltodo. Quando eu cheguei no Rio, li emum jornal: ‘Procura-se: empregado queseja branco e de boa aparência’. Issome chocava muito. Essas questões le-varam-me a fazer parte da Frente Iguali-tária Brasileira. Os movimentos eram for-tes e organizados, tivemos muitos alia-dos brancos, conscientes, como Nie-meyer e Jorge Amado. O enfrentamentoera organizado. Eu trabalhava na Colu-na Aberta, no Jornal Correio da Manhã,e eram organizadas frentes no ComitêDemocrático Afro-brasileiro nas repar-tições. Criamos células comunistas noperíodo de repressão e depois do expe-diente a gente discutia mudanças; quan-do chegavam os policiais, a gente mu-dava o discurso para “Viva Getúlio Var-gas, vivo o governo”, burlávamos a vi-gilância (risos). Porém, sempre tive sor-te. Na Faculdade de Filosofia da Uni-versidade do Rio de Janeiro, tive a opor-tunidade de me formar; convivia commoças brancas e ricas, mas nenhuma me

via como um coitado e elas não tinhampena de mim, tinham satisfação de verum negro na faculdade.

Sapiência – Como analisa as atu-ais políticas de governo voltadas para onegro brasileiro?

Júlio Romão – Os meus colegasforam o início dessas mudanças e essaconscientização que “vocês” conhecem,de, por exemplo, estarem aqui me entre-vistando, é que faz com que haja menosintolerância. É uma tendência natural. Erabem pior. O Lula sofreu preconceito por-que é um operário; a ascensão das clas-ses não ricas ao poder provoca mudan-ças sociais. O Lula oficializa a igualdadee o movimento negro deve ter como basea Revolução Francesa. A luta não é só donegro, mas de todo o país, do contrário,estaremos só invertendo o jogo. Os mo-vimentos é que levaram o negro JoaquimBarbosa a ministro. Mas é preciso inves-tir mais em educação. Para mim, o bolsa-família é um programa assistencialista. Oimportante é educar e também é erradoproibir criança de trabalhar, pois impede

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que ela valorize as conquistas. A criançatrabalha para viver desde o útero da mãe.Outra coisa errada são as pessoas esta-rem separadas por causa de siglas parti-dárias. Uma sigla não pode impedir umaluta conjunta.

Sapiência – Como poeta, o Sr. temvários escritos de estudos literários so-bre alguns negros ilustres da nossa his-tória. Cite alguns e o que eles fizeram derepresentativo?

Júlio Romão – Negros importan-tes estão marcados na história literária,como Luis Gama; Teodoro Sampaio, au-tor de “O Tupi” e mestre de Euclides daCunha, com o qual eu me habilitei; DomSilvério Pimenta, negro que chegou abispo em Minas Gerais; André Rebou-ças; Solano Trindade, pernambucano,meu colega e um dos pioneiros do movi-mento negro no Brasil; Machado deAssis, um negro autodidata, nascido nomorro, que chegou a fundar a ABL. In-clusive, negam que Machado teve in-fluência na campanha abolicionista, maseu estou escrevendo a biografia dele,

na qual provo que ele teve influência,porém discreta.

Sapiência – Algumas de suasobras têm inspirado produção cinema-tográfica e peças teatrais, como ‘A men-sagem do Salmo”, encenada e adaptadaao cinema mexicano. O Sr. poderia citaroutras formas de visibilidade que seuslivros conquistaram?

Júlio Romão – Considero que to-dos os meus livros tiveram visibilidade.Sempre fui perseguido pela polícia porescrever com muita tática. Portanto, apro-veitei as palavras de Cristo para xingaros militares e fui interrogado por isso. Useio salmo como poesia para criticar o queacontecia na ditadura, num período queocorria a hegemonia entre Rio e São Pau-lo. A peça foi produzida e estreada no Riode Janeiro e Rio Grande do Sul, com adireção de Aldo Calvet. Inspirei-me nosimbolismo das parábolas de Cristo e re-meti para o nosso tempo verdades eter-nas trazidas ao mundo há mais de doismil anos pelo esperado Rei dos Judeus.A obra foi oficializada pelos poderes pú-

blicos para que sua montagem seja feitatodos os anos, por ocasião da Páscoa,no Teatro João Paulo II, em Teresina, aexemplo do que ocorre no espetáculo deNova Jerusalém, em Pernambuco.

Sapiência – O Sr. não acha que aAcademia deveria dar-lhe o devido re-conhecimento de se tornar um membroefetivo, já que por algumas oportunida-des o Senhor perdeu a chance da glóriade tornar-se um ‘imortal’?

Júlio Romão – Eu chego à ABL esou considerado um acadêmico. Sou mui-to estimado lá. Mas a distância atrapalhoua conquista da vaga, infelizmente. Quan-do a minha carta de inscrição chegou lá,na quarta vez, a eleição já tinha ocorrido enão obtive a vaga. Em outra vez, Ledo Ivopediu tanto que a Academia se cansou e oelegeu no meu lugar; eles queriam se li-vrar da insistência dele (risos). Todos pen-savam que eu era acadêmico, porque euvivia com eles (acadêmicos). Naquele tem-po e ainda hoje, a gente vivia o regressoamargo e nebuloso das injustiças. Mas eunão tenho mágoas e nem vaidades. Eu

mantenho uma instituição de caridade, oAbrigo Menino Jesus, com recursos pró-prios e com ajuda de alguns amigos. Eununca recebi ajuda do governo. Isso é umaglória. Só não tenho uma cadeira, mas te-nho o meu espaço lá. Na ABL, não temnegro, tem mestiço. O Cineas Santos seconsidera um negro. Isso de fingir que nãoé negro é uma bobagem, pois mestiço éfilho de negro, portanto é negro. E quantoà ABL, ninguém é imortal e a Academia Piau-iense reluta com essa denominação. O im-portante é o espírito acadêmico. Eu dei aulaem faculdades até no exterior, na Argenti-na. Fui e sou amigo de muita gente impor-tante do meio literário e político, tem umarua com meu nome no Rio de Janeiro. Fuieleito por unanimidade na Academia Piaui-ense de Letras e nunca pedi um voto paraninguém. Eu sou um negro guerreiro, aindaaos 90 anos escrevendo. A conscientiza-ção que deve existir é que somos todosiguais e o homem que é sapiente não mataseu semelhante, como o animal não ataca ode sua própria espécie. Até hoje, continuolutando pela valorização dos que merecem,independente de cor.

“A conscientização que deve existiré que somos todos iguais e o homemque é sapiente não mata seusemelhante, como o animal nãoataca o de sua própria espécie”.

Júlio Romão, nesta entrevista.

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Dra. Ana Beatriz Sousa Gomes*

O ingresso na militância do Mo-vimento Negro é um processo muito pes-soal e corajoso que envolve, muitas ve-zes, vivências conflituosas dentro dasociedade. Ou seja, a militância é resul-tado de uma inquietação e revolta emrelação às condições de preconceito ra-cial enfrentadas no cotidiano.

O motivo que levou a pesquisa-dora Doutora Ana Beatriz Sousa Gomes*à militância no Movimento Negro foiobservar que seu filho enfrentava difi-culdades no processo de integração so-cial e tratamentos diferenciados ao ini-ciar a vida escolar. Em 2001, Ana Beatrizdesenvolveu a pesquisa “O Movimen-to Negro e Educação Escolar: estratégi-as de luta contra o racismo”, cujo proje-to foi selecionado no II Concurso “Ne-gro e Educação”, promovido pela Asso-ciação Nacional de Pós-Graduação ePesquisa em Educação – ANPED e AçãoEducativa, financiado pela FundaçãoFord. Tanto o estudo realizado no cursode mestrado, como a pesquisa desen-volvida por intermédio do concurso,

evidenciaram que o sistema educacionalnão está bem preparado para atender adiversidade étnica e cultural presente nasescolas, e o Movimento Negro vem in-terferindo nesse processo na divulgaçãoda história e da cultura afrodescendentee na formação de profissionais para aeducação das relações interéticas.

Partindo deste pressuposto, apesquisadora prosseguiu suas pesqui-sas com a tese de doutorado intitulada“A pedagogia doMovimento Negroem instituições deEnsino em Teresina,Piauí: as experiênci-as do NEAB IFARA-DÁ e do CentroAfrocultural “Coisade Nêgo”, defendi-da na UniversidadeFederal do Ceará emsetembro de 2007.

O estudoanalisou a práticapedagógica doseducadores do IFA-RADÁ e do CentroAfrocultural “Coisade Nêgo” - entida-des do MovimentoNegro de Teresina –no contexto das ins-tituições de ensino,identificando as es-tratégias metodoló-gicas, as concep-ções pedagógicas eevidenciando as contribuições ao pro-cesso de ensino e aprendizagem. A es-colha desses grupos do MovimentoNegro deu-se em razão do tempo de exis-tência, do tipo de organização das ativi-dades e, principalmente, pelo fato de se-rem as entidades consideradas mais re-presentativas que realizam trabalhos naárea da educação escolar na capital.

Os principais campos de pesqui-sas foram estabelecimentos de ensinoque solicitaram trabalhos dos dois gru-pos e apresentaram projetos mais dura-douros e sistematizados. As experiênci-as analisadas foram dos colégios “Li-ceu Piauiense” - instituição pública, e“Madre Deus” – instituição privada. Apesquisa durou dois anos na intençãode compreender os modos de inserçãorealizados pelo Movimento Negro no

contexto escolar. Apesquisadora fezuso de teorias, pro-postas e interven-ções pedagógicasvoltadas para a di-versidade étnico-cultural existentenas escolas, como oMulticulturalismona Educação, a Pe-dagogia Interética ea Pedagogia Multir-racial.

Ao t ra ta rdas iniciativas doGoverno, a Douto-ra Ana Beatriz en-fatiza que a práti-ca pedagógicacurricular, há al-gum tempo, estásendo um dos fo-cos de atenção dapolítica educacio-nal brasileira. ALei 4.024/61 reco-

nheceu a necessidade de um traba-lho para contemplar as diferençasde raça, credo e de classe socialexistentes nas escolas. Diante da de-fasagem do ensino dos conteúdosrelacionados à população afrodes-cendente, junto ao empenho de mi-litantes do Movimento Negro, ocor-reu a edição da Lei n. 10.639, de 09

de janeiro de 2003, que altera o pa-rágrafo 4º, Art. 26 da Lei n. 9.394, de20 de dezembro de 1996, estabele-cendo as Diretrizes e Bases da Edu-cação Nacional, para incluir no cur-rículo oficial das escolas, públicase privadas, nos Ensinos Fundamen-tal e Médio de todo o país, a obri-gatoriedade da temática História eCultura Afro-Brasileira, O Art. 26declara que nos estabelecimentosde ensino fundamental e médio, ofi-ciais e particulares, torna-se obriga-tório o ensino sobre História e Cul-tural Afro-Brasileira.

“A tese foi realizada justamentepara afirmar que o movimento negro temuma pedagogia diferenciada, no qualse trabalha as questões relacionadasaos conteúdos históricos e culturaisafricanos e afro-brasileiros que é o quea Lei 10.639 obriga: a intervenção curri-cular nas escolas, e que o movimentonegro já vinha fazendo”, acrescentaAna Beatriz. Assim, o Movimento Ne-gro confirma que é uma forma de orga-nização social para a luta dos afrodes-cendentes; procura articular o desen-volvimento da democracia e da cidada-nia da sociedade brasileira, bem como

O Núcleo de Pesquisa sobre Africanidades e Afrodescendência da Universidade Federal do Piauí –IFARADÁ foi criado em 1993 por um grupo de professores e alunos negros. O Ifaradá (palavra oriunda dalíngua africana Iorubá, significa resistência pelo conhecimento), foi criado com este nome pelo Conselho dePesquisa e Extensão da Universidade Federal do Piauí - UFPI e funciona no Centro de Ciências Humanas eLetras - CCHL.

O IFARADÁ tem como objetivo a discussão, investigação e divulgação de trabalhos relativos àsAfricanidades e Afrodescendência, propondo assessorar diretamente os diversos cursos da UFPIem suas atividades de ensino, pesquisa e extensão e de outras instituições referentes à suatemática de estudo; fomentar um espaço propício à produção de conhecimento e de troca deexperiências; organizar atividades de divulgação dos trabalhos realizados e estabelecer contatocom órgãos financiadores de estudos, com a finalidade de manter informações atualizadas eobter recursos para execução de projetos. Hoje, o Núcleo funciona como fomentador depesquisas e é composto por docentes e alunos da UFPI e de outras instituições, formando umconjunto de pesquisadores em vários estágios acadêmicos. O grande lema do IFARADÁ é “Anossa resistência negra é através do conhecimento”.

A Pedagogia do Movimento Negro contra o racismo- um fato social e educacional em instituições de ensino

IFARADÁ – Núcleo de Pesquisa sobre Africanidadese Afrodescendências da UFPI

“Desde 2003, nota-seuma mudança

significativa emrelação à inserção donegro, com a criaçãoda Coordenadoria da

Pessoa Negra, doConselho do Negro, oMemorial Zumbi dos

Palmares e váriasoutras entidades, além

de pessoas domovimento negro naesfera governamental

que demonstram apreocupação e um

avanço na questão donegro”

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a formação de cidadãos conscientes ecombatedores das desigualdades soci-ais e étnicas.

Por outro lado, Ana Beatrizdeclara que o estudo confirma osresu l tados de ou t ras pesqu isasque criticam o sistema educacio-nal quanto à ausência de conteú-dos relativos à cultura e à histó-ria africana e afrodescendente noscurrículos e as dificuldades paraa inclusão de tais conteúdos e quenão há mui to apo io do Es tadopara s is tematização de prát icaspedagógicas inclusivas. “Desde2003, nota-se uma mudança signi-ficativa em relação à inserção donegro com a criação da Coorde-nadoria da Pessoa Negra, do Con-selho Estadual da Pessoa Negra,o Memorial Zumbi dos Palmares ede várias outras entidades, alémda inserção de pessoas do movi-mento negro na esfera governa-mental , o que demonstram umacerta preocupação e um avançonas questões do negro relaciona-das aos afrodescendentes. Entre-tanto, falta sensibilização e incen-tivo às iniciativas e valorizaçãodas pesquisas dentro do próprioEstado. Queremos uma inserção mai-or nas questões relacionadas as afri

canidades e afrodescendências”.“Apesar de a LDB instituir a

discussão sobre a questão do negro,ela dá autonomia para a escola, tor-nando-se uma faca de dois gumes,pois ao mesmo tempo em que exige,também dá autonomia de poder ou nãodesenvolver, e essas pedagogiasacompanhadas pelas questões cultu-rais podem ser utilizadas no dia-a-dia.Para não dizerem que somos afrocen-tristas, o trabalho do movimento ne-gro serve para lembrar às escolas nãosó as questões do negro,mas de gru-pos discriminados como homossexu-ais, mulheres, pobres e portadores dedeficiência física.Queremos que a es-cola seja aberta e sensível à diversi-dade”, afirma.

“A partir dos resultados dessapesquisa, pode-se confirmar a neces-sidade e a importância de desenvol-vermos pesquisas nessa área sobre oproblema em foco, porque conhecer anatureza e as condições de trabalhodo movimento negro nessa realidadeé de fundamental importância, tantopara as escolas que, a partir dos re-sultados dessa pesquisa, poderãocompreender melhor as questões ét-nicas e pedagógicas que vêm interfe-rindo no processo de educação esco-lar; como para órgãos de estudo e

O Centro Afrocultural “Coisa de Nêgo” foi fundado em 1990, por pessoas ligadas à causaafro-descendente, na maioria vindos de sindicatos, do meio artístico e de partidos políticos de esquerda.O centro é uma associação civil autônoma, de caráter político-cultural, sem fins lucrativos, com sede na RuaBarroso no centro de Teresina.

O “Coisa de Nêgo” é composto por professores, artistas, adolescentes e jovens de diversos bairros dacapital e a organização do grupo é resultado de um trabalho de resgate cultural, da identidade e da auto-estimanegra. Para tanto, congrega, sem distinção de etnia, sexo, gênero, convicção política, religiosa ou filosófica, grau deinstrução e classe social, toda e qualquer pessoa comprometida com a preservação da história da cultura afro-brasileirae com o combate a toda forma de exploração e discriminação, que esteja de acordo com o seu estatuto e com asresoluções do conjunto dos associados.

Fórum Estadual de Educação e Diversidade Étnico-Racial, em Teresina, com apresentaçãodo “Coisa de Nêgo”

Centro Afrocultural “Coisa de Nêgo”

* Professora adjunta da UFPI ecoordenadora do IFARADÁ[email protected]

pesquisas da área social e educacio-nal que buscam embasamento parafundamentar as políticas públicas dedesenvolvimento sócio-educacional-do país”, acrescenta.

Diante desse contexto, a pes-quisadora revela, ainda, que na rea-lidade social e educacional de Tere-sina existem trabalhos de interven-ção pedagógica e constantes de-mandas das instituições de ensinopara a discussão de temas relacio-nados à história e à cultura dos afro-descendentes e da educação das re-lações étnico-raciais para os gruposdo Movimento Negro, mas ainda hámuito a ser feito.

“Muitos dos alunos que ti-nham vergonha de ser negro passa-ram a se identificar com a questãoporque estavam sendo valorizados,melhorando a auto-estima e a iden-tidade. Puderam ver que o negropode chegar onde ele quiser, por-que tem força e valor. A tese mostraque é possível mudar a concepçãode pessoas racistas e preconceitu-osas, utilizando a metodologia ade-quada, dinâmica e motivadora e umdiscurso que promova a conscien-tização dos alunos e professores,pois dentro da escola é enraizadomuito preconceito. O racismo é umfato social e este trabalho vem como objetivo de enfraquecê-lo e com-batê-lo”,finaliza.

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A estratégia de controle mais eficiente da mancha-angulardo feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), causada pelo fungoPhaeoisariopsis griseola (Sacc.) Ferraris, é o empregoda resistência genética. Esta estratégia requer o entendi-mento dos níveis de variabilidade e o conhecimento pré-vio da estrutura populacional do patógeno. Os objetivosdeste trabalho foram: i) investigar a variabilidadepatogênica entre isolados de P. griseola coletados noEstado de Minas Gerais; ii) estudar a diversidade genéti-ca e a estrutura genética de populações entre isolados deP. griseola coletados nos estados de Minas Gerais e Goiás,por meio de marcadores RAPD e iii) identificar a varia-ção entre isolados do fungo P. griseola, coletados noestado de Minas Gerais, por meio de grupos deanastomoses. Foram identificados 10 patótipos diferen-tes entre os 48 isolados de P. griseola, evidenciando aelevada capacidade de variação patogênica deste fungoem Minas Gerais. Os patótipos 55-15, 63-15, 63-25 e63-27 não haviam sido detectados neste estado. Ospatótipos 63-31 (25%) e 63-63 (47,92%) foram identifi-cados em maior freqüência. Foram constatadas pontesde anastomose em forma de H, entre os 20 isolados estu-dados. Este é o primeiro relato da ocorrência deanastomose entre hifas para o fungo P. griseola. Foi cons-tatada elevada variabilidade para a ocorrência deanastomoses entre hifas e a ausência de agrupamentoentre os isolados para a formação de anastomose de-monstra a existência de variabilidade genética para oslocos envolvidos com o controle deste caráter. A similari-dade genética, calculada utilizando-se informação demarcadores RAPD, entre os 70 isolados de P. griseola,variou de 0,301 a 0,993, com média de 0,746. Existe ten-dência de diferenciação dos isolados por cidades de ori-gem. A diferenciação genética entre as populações estuda-das foi de 0,1979 (G

ST). Portanto, 80,21% da variação

devem-se à variação dentro das populações. A AMOVAdemonstrou que 77,51% da variação está contida dentrode cidades e 22,49% entre cidades. Foram obtidos valoresde desequilíbrio gamético significativos para as popula-ções estudadas, mostrando que P. griseola mantém umaestrutura genética consistente com a reprodução assexual.

Variabilidade entre isoladosde Phaeoisariopsis griseola

Kaesel Jackson Damasceno e SilvaPesquisador Embrapa Meio-NorteDefesa: Universidade Federal de Lavras - UFLA, [email protected]

O trabalho foi identificar peptídeos imunorreguladoresderivados da proteína de choque térmico de 60 kDa hu-mana (Hsp60), e investigar sua habilidade de direcionaruma resposta imune reguladora após interação com célu-las dendríticas (DC) humanas. Proteínas de choque tér-mico são chaperonas celulares que asseguram dobramentocorreto de proteínas garantindo, assim, o bom funciona-mento celular. Por serem essenciais às células estas pro-teínas são altamente conservadas. Por que fazem parteda composição protéica de microorganismos, estas pro-teínas são alvos de ataque pelo sistema imune do hospe-deiro. A resposta imune adaptativa é realizada porlinfócito T e B que, para serem ativados, precisam deuma célula apresentadora de antígeno profissional,notadamente das células dendríticas (DC). Nós levanta-mos a hipótese de que a interação de alguns fragmentosda Hsp60 com DC levaria à regulação da resposta imu-ne, ao invés de imunidade. Para testar esta hipótese nósgeramos DC in vitro, a partir de monócitos de indivídu-os saudáveis, estimulamos estas DC com peptídeos sin-téticos da Hsp60 humana e avaliamos o efeito dessacombinação sobre a resposta de linfócitos T. Nós anali-samos este efeito seguindo duas estratégias diferentes:(i) medindo a expressão de um painel de genes inflamató-rios e reguladores nos linfócitos cultivados; (ii) avaliando,pela incorporação de timidina tritiada [H+], a capacidadedestes peptídeos de induzir auto-reatividadelinfoproliferativa bem como de inibir uma resposta autólogadirecionada a DC não estimulada. Nós mostramos quealguns peptídeos da Hsp60 são capazes de induzir pro-fundas modificações na expressão de ambos os grupos degenes, reguladores e inflamatórios, em linfócitos T. Alémdisso, encontramos um peptídeo (N7) derivado da re-gião aminoterminal da Hsp60 que induziu modificaçõesgênicas predominantemente reguladoras e que foi capazde inibir as respostas linfoproliferativas autólogas em90% dos casos testados. Nossos resultados apontampara o peptídeo N7 da Hsp60 como um potencial regu-lador do sistema imune e o consideramos um candidato aser testado em protocolos para indução de tolerância.

Papel das células dendríticas no direcionamentofuncional da auto-reativiadade celular à Hsp600,no sistema humano

Adalberto Socorro da SilvaPesquisador do LIB-UFPIDefesa: Lab. de imunologia do InCor-HC-FMUSP, [email protected]

O objetivo deste trabalho foi avaliar a viabilidade econô-mica da irrigação do feijão-caupi no estado do Piauí. Apartir de dados diários de precipitação pluviométrica,obtidos em 165 locais, e de valores diários deevapotranspiração de referência estimados para os mes-mos locais pelo método de Thornthwaite (1948), reali-zou-se balanços hídricos de cultivo em escala diária paratodos os anos das séries de dados pelo método deThornthwaite & Mather (1955), considerando-se o cul-tivo irrigado (CIrr) e de sequeiro (CSeq) do feijão-caupi,para três níveis de capacidade de água disponível no solo(CAD), 20 mm, 40 mm e 60 mm, para doze datas desemeadura, sendo estas fixadas no primeiro dia de cadamês. Estimou-se as lâminas brutas de irrigação necessá-rias (Lb) durante o ciclo da cultura para a condição doCIrr e, através do déficit de evapotranspiração relativa,obteve-se os rendimentos relativos(Yr) para todas ascombinações de cultivo, local, CAD e data de semeadu-ra. Utilizando-se o método de Monte Carlo foram simu-lados valores de Yr e Lb, para o cultivo irrigado, e valo-res de Yr, para o CSeq, para as mesmas combinações delocal, data de semeadura e CAD. A partir dos dadossimulados foram estimados valores de Yr e Lb , para asdiversas situações, considerando-se os níveis de risco,25%, 50% e 75%, sendo as receitas líquidas (RL) esti-madas para estas mesmas situações e posteriormenteespacializadas para o estado do Piauí e representadaspor meio de mapas temáticos de RL. O CIrr do feijão-caupi mostrou-se economicamente viável no estado doPiauí, independentemente da data de semeadura, CAD egrau de risco utilizados. As RL variaram para as diversasregiões do Estado, em função da época de semeadura,CAD e nível de risco, especialmente para o CSeq. OCSeq do feijão-caupi mostrou-se viável para algumascombinações de local, data de semeadura, CAD e risco,estando mais condicionada à escolha dos locais e épo-cas de cultivo mais adequados, devido à variabilidadeespacial e temporal das chuvas. Considerando-se umaestratégia de planejamento em nível estadual, a se-meadura em 1º/fev foi a que se mostrou mais favorá-vel, tanto para o CIrr quanto para o CSeq, pois pro-porcionou a obtenção de maiores valores de RL, bemcomo maiores áreas do Estado ocupadas por estes.

Viabilidade econômica da irrigaçãodo feijão-caupi no Estado do Piauí

Fco. Edinaldo Pinto Mousinho - Prof. da UniversidadeFederal do Piauí - Defesa: Universidade de São PauloEscola Superior de Agricultura Luiz de QueirozESALQ/USP, 2005 - [email protected]

O objetivo da pesquisa é o estudo da mobilidade dotrabalho em suas diferentes formas no processo de mo-dernização, em que a rede social aparece como um pro-duto e suporte para o desencadeamento desse processo.Para tal, estudamos a migração de nordestinos para ametrópole de São Paulo e em especial uma grande redesocial de piauienses. Esse último grupo de migrantesnordestinos vai se inserir no mundo do trabalho na con-dição de carregadores no terminal de abastecimento daGrande São Paulo, conhecido como CEAGESP. Assim,esses nordestinos demarcam a sua territorialidade, ex-pressa na relação de trabalho, na sua origem e na suaresidência. A Companhia de Entrepostos e ArmazénsGerais do Estado de São Paulo - CEAGESP – possuientre outros equipamentos um entreposto terminal deprodutos hortifrutigranjeiros e pescado. Este entrepostoestá instalado desde 1966, na Vila Leopoldina, localiza-do na Zona Oeste da cidade de São Paulo. Ele é umgrande Mercado de Trabalho, em que a mobilidade dotrabalho está materializada sob diversas formas ocupa-ção tanto na área interna, como no seu entorno. Asformas de trabalho desse Mercado estão inseridas nosdois circuitos da economia urbana. Atualmente, exis-tem 3 400 carregadores cadastrados pela administra-ção, sendo 2 900 oriundos da mesma região do Piauí.Esses trabalhadores migrantes foram mobilizados como suporte de sua rede social. Estabelecendo um víncu-lo entre o Estado do Piauí, como fornecedor de forçade trabalho e São Paulo, como área de atração.

O Território de Trabalho dos CarregadoresPiauienses no Terminal da CEAGESP:Modernização, Mobilização e a Migração

Sueli de Castro GomesDefesa: Universidade de São Paulo, [email protected]

Mudanças sociais constituem expressão comum nos dias dehoje. Decorrem dos avanços científicos e tecnológicos. Comoinevitável, essas mudanças atingem nossa vida individual,social e profissional. Dentre as profissões que tendem a semodificar está o jornalismo. O denominado jornalismo defonte aberta (JFA) expande-se. Designa a possibilidade dosindivíduos “comuns” difundirem suas idéias graças à filoso-fia de publicação aberta: veiculação de informações no espaçovirtual, automaticamente, por meio de computador conectadoà internet. A referência máxima do JFA, na atualidade, é oIndependent Media Center (IMC). Conseqüentemente, éobjetivo desta pesquisa analisar o CMI Brasil, ramificação doIMC. A partir daí, são objetivos operacionais: � analisar arelação entre o JFA e o exercício da cidadania na produção deeditoriais do CMI Brasil; � confrontar os editoriais produzi-dos frente ao paradigma do gatekeeping; � confrontar oseditoriais com os critérios de noticiabilidade, a partir da hipó-tese do newsmaking; � discutir a evolução do jornalismo naRede. O referencial teórico incorpora visão panorâmica dojornalismo brasileiro ao longo dos séculos até alcançar owebjornalismo e o JFA. Em termos metodológicos, trata-sede pesquisa quali-quantitativa, que conjuga a técnica de ob-servação não participante, questionário misto aplicado a pro-fissionais que atuam no CMI e análise de conteúdo dos 24editoriais coletados, 1 a 31 de agosto de 2007. Além de ques-tões macros, como a sobrevivência do jornalismo enquantoprofissão; o predomínio do anonimato no CMI; e influênciasdos meios convencionais e alternativos para estabelecimentoda agenda setting, os dados coletados constatam que o CMIcumpre a função central do JFA, enfatizando os temas deinteresse social e fortalecendo o sentimento de cidadania.Mantém critérios de noticiabilidade, dentro do previsto nonewsmaking e o gatekeeping subjaz à política editorial ex-plícita, o que permite inferir que o JFA contribui para mu-danças significativas do jornalismo contemporâneo.

Jornalismo de fonte aberta e seu enfrentamentoàs teorias do jornalismo: o caso do Centrode Mídia Independente Brasil.

Maria das Graças TarginoUniversidade Estadual do PiauíDefesa: Universidad de Salamanca, Salamanca, 2007(Pós-Doutorado) - [email protected] o crescimento de caprinos até 196º dia de idade

por meio de análises de funções de covariâncias, relativas aospesos corporais de caprinos da raça Anglo-Nubiana, criadosem regime semi-intensivo e pertencentes à Empresa Estadu-al de Pesquisa Agropecuária da Paraíba (EMEPA-PB), vi-sando a determinar a modelagem mais adequada para a traje-tória média de crescimento, ajustar diferentes estruturas paramodelar a variância residual e comparar funções de diferentesordens para ajustar as mudanças nas variâncias dos diferen-tes efeitos aleatórios considerados na análise. Todos os mo-delos de análise incluíram o efeito de grupo contemporâneo,sexo e tipo de nascimento como fixo e a idade da mãe comocovariável. As regressões fixas e aleatórias foram ajustadaspor meio de polinômios de Legendre de diferentes ordens,em análises unicaracterísticas, com auxílio do programa má-xima verossimilhança restrita livre de derivadas - DFREML.A melhoria mais expressiva no ajuste da curva média decrescimento ocorreu até a ordem quatro, sugerindo que estafoi suficiente para modelar a curva média de crescimento dapopulação em estudo. Pouca influência sobre a estimativados parâmetros genéticos foi observada com adoção de fun-ções superiores à cúbica. Polinômios com pelo menos ordemquatro devem ser empregados para representar a curva mé-dia de crescimento dos caprinos em modelos de regressãoaleatória. Os modelos com funções de variâncias residuaisforam aparentemente melhores do que aqueles que conside-ravam classes de variância. Entre os polinômios testados, opolinômio ordinário de terceira ordem apresentou melhoresresultados do que os demais. Maior eficiência na seleção parapeso pode ser obtida, considerando os pesos próximos ao70° dia de idade, período em que as estimativas de variânciagenética e herdabilidade foram maiores. Um modelo de re-gressão aleatória empregando função cúbica para a curvafixa, uma função de variância de ordem três para o resí-duo e funções com as ordens três, três e quatro, respec-tivamente, para os efeitos genéticos direto e materno eambiente permanente do animal, permitiram descrevereficientemente as covariâncias relacionadas à curva decrescimento da população de caprinos em estudo.

Avaliação do crescimento de caprinos da raçaAnglo-Nubiana usando-se regressão aleatória

José Ernandes Rufino de Sousa - Professor Adjuntodo Campus Professora Cinobelina Elvas/UFPIDefesa: Universidade Federal de Minas Gerais, [email protected]

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2008

REPORTAGEM 1111111111

L I V R O S

Autora: Maria do Rosário de Fátima Biserra Rodrigues199 páginasR$ 15,[email protected]

O livro busca compreender a participação dos pais na construção e formação daidentidade do ser negro de seus filhos e filhas, através do processo de socialização queocorre na família e na escola. A pesquisa foi realizada com um grupo de famílias, mães,pais e adolescentes negro(a)s, estudantes do ensino fundamental, em escolas públicase particulares de Teresina. Traz algumas reflexões críticas e práticas necessárias para aconstrução de uma sociedade respeitosa com aqueles étnica e racialmente diferentes.

Alguma prosa ensaios sobre literaturabrasileira contemporânea

Org. Giovanna Dealtru, Masé Lemos e Stefania ChiarelliR$20,00206 pá[email protected]

Chega às livrarias tradicionais e online essa coletânea de dezesseis ensaios quealia reflexão teórica a uma linguagem que se afasta de certos conservadorismosacadêmicos, buscando novas formas de diálogos com a literatura contemporânea,sem perder o refinamento crítico. Sobre vários romances contemporâneos, inclui-seo ensaio “Ponciá Vivêncio, memórias do eu rasurado”, da Profa. Assunção Sousa,do Curso de Letras da Universidade Estadual do Piauí.

As multifaces da pobreza:formas de vida erepresentações simbólicas dos pobres urbanos

Autor: Antônia Jesuíta de LimaR$ 25,00395 páginase-mail: [email protected]

O livro reproduz a tese de Doutorado em Ciências Sociais pela PUC/SP. Surgiu dointeresse em compreender a pobreza em Teresina - Piauí, examinando os significadosque se produzem entre a condição social em que se situam os pobres e as suas visõesacerca dessa experiência. Foi lançando o olhar sobre a organização da cidade, sobrea presença marcante desses segmentos, as práticas e os acontecimentos que fazem oseu cotidiano, que tentamos captar as mediações simbólicas produzidas na vivênciada pobreza que os leva a atribuir sentidos múltiplos ao mundo social em que vivem.

Cidades Brasileiras:atores, processos e gestão pública

Antônia Jesuíta de Lima (org.)284 páginasR$ 35,[email protected]

O livro reúne trabalhos de autores locais e nacionais de distintas formações profissionais(arquitetos, historiadores, geógrafos, sociólogos, assistentes sociais e antropólogos),constituindo, portanto, leituras e olhares diversos sobre dimensões da cidade. Discute osnovos signos e os dilemas da cidade contemporânea (espaços privados e autosegregados,fragmentação social), e a intervenção pública no espaço urbano. Trata da vida na metrópolee nos grandes centros urbanos, como no Rio de Janeiro e em Teresina, dos modos de vivere estar na cidade, traçando um painel bastante representativo das cidades brasileiras.

O Cérebro Violento: Neurobiologia,Complexidade e Ética

Autora: Ana Clélia de FreitasR$ 25,0088 pá[email protected]

Esta obra tem por objetivo estudar e situar a violência e o comportamento agressivona complexidade da vida social, através do papel dos neurotransmissores. Esses afetamo comportamento humano e tornaram-se uma das chaves para desvendar ofuncionamento cerebral. O problema da criminalidade e a agressão pode ser diminuídospelo entendimento das raízes da violência, analisando-se a neurobiologia da agressãohumana junto com os demais fatores criminogênicos relevantes. Este livro é defundamental importância na análise da violência social em nossos dias.

Socializando para ser negro: os embates dafamília, da escola e do adolescente

Envelhecimento, uma problemática social, é tema detese premiada pela Capes

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* Professora Solange Maria Teixeira

*Coordenadora do departamento deServiço social da [email protected]

A professora Solange Maria Teixei-ra, coordenadora do curso de Serviço So-cial da Universidade Federal do Piauí, con-quistou o “Grande Prêmio Capes de TeseCelso Furtado”, concedido pela Coorde-nação de Aperfeiçoamento de Pessoal deNível Superior – Capes e que seleciona amelhor tese em cada uma das áreas deconhecimento com o objetivo de outor-gar distinção às teses de doutorado de-fendidas e aprovadas nos cursos reconhe-cidos pelo MEC, considerando os quesi-tos originalidade e qualidade. Cada autorvencedor recebeu certificado, medalha ebolsa de pós-doutorado internacional.

Solange Teixeira defendeu suatese em 2006, pelo Programa de Pós-Gra-

duação em Políticas Públicas da Univer-sidade Federal do Maranhão - UFMA econcorreu com outras 417 teses nas áre-as de Administração/Turismo, Arquite-tura e Urbanismo, Ciências Sociais Apli-cadas, Direito, Economia, PlanejamentoUrbano e Regional/Demografia, ServiçoSocial/Economia Doméstica, Antropolo-gia/Arqueologia, Educação, Ensino deCiências e Matemática, Filosofia/Teolo-gia, Geografia, História, Artes/Música eLingüística e Letras de diversas insti-tuições de ensino superior do país.

“É motivo de orgulho tanto para aUFPI e UFMA, que possuem conceito 5,terem uma aluna e um programa do Nordes-te conquistando um prêmio com doutoresde diversas instituições do país e mostropara qualquer pesquisador que é possívelfazer um bom trabalho com dedicação, es-forço e orientação em um programa de qua-lidade. Sinto-me honrada com o prêmio noqual dediquei muitas lágrimas, num proces-so muito extenso de pesquisa, que resultounum produto bem elaborado”, declarou adoutora. A pesquisadora revela ainda quedará continuidade ao estudo tentando ana-lisar o modelo brasileiro e o português, devi-do à semelhança dos modelos sociais.“Pretendo ir para Lisboa e já entrei em con-tato com algumas instituições de pesqui-sa para dar continuidade ao meu estudo,pois o prêmio conquistado foi por méritodo nível de problematização e das críticas,na perspectiva de criar questões novas”.

O estudo premiado foi intitulado “En-velhecimento do trabalhador no tempo docapital: problemática social e as tendênciasdas formas de proteção social na sociedadebrasileira contemporânea” e teve como obje-tivo analisar tanto os determinantes da pro-blemática social do envelhecimento do traba-lhador quanto às formas de respostas do Es-tado e da sociedade, mediante as propostas einiciativas pioneiras de trabalho social comidosos; de segmentos da burguesia brasileirae do Estado, por meio de programas sociaispara a “terceira idade” e da legislação socialcontemporânea que inclui a Política Naci-onal do Idoso e o Estatuto do Idoso.

A pesquisadora trabalhou numa pers-pectiva de classe dando ênfase ao trabalha-dor, considerando que o envelhecimento nãoé um problema de desgaste físico, mas quefrações de classes são marcadas pela exclu-são e exploração que incluem os idosos, porconcentrarem menor renda, problemas de saú-de e de forma marginal, os limitarem ao setorinformal acarretando sua desvalorização.“Quando uma pessoa produtiva se vê na imi-nência da aposentadoria, vários problemassão desencadeados, o principal é o empobre-cimento, pois fica suscetível a aceitar o valorpago pelo INSS ou políticas assistencialistas.Além disso, vem o isolamento social e a exclu-são familiar, enfim, vários problemas são de-sencadeados por conta da falta de valorizaçãocomo ser humano”, disse a pesquisadora.

Os resultados do processo investiga-tivo desta pesquisa demonstram, ainda, o re-

forço da cultura privacionista nas formas detrato dessas mazelas sociais, dos mecanis-mos de enfrentamento da questão social naatualidade e das novas simbioses entre “pú-blico” e “privado” que o capital promove.Essa cultura se exterioriza tanto nas formasde elevação ou divisão de responsabilidadessociais com a proteção social para a socieda-de civil, quanto no reforço do individualismonos modos de intervenção social,mantendo intactas as estruturas gera-doras de desigualdades sociais.

A pesquisadora conclui que as for-mas de respostas à esta problemática masca-ram a centralidade do envelhecimento do tra-balhador na constituição do problema sociale reforçam o modelo liberal de trato dessasmazelas sociais. “Apesar dos avanços para aproteção social, como a previdência e assis-tência social, observa-se uma limitação, à me-dida que se firmam certos direitos sociais, masnão se criam condições de viabilizá-los comoé o dever do Estado, ou seja, a tendência é adivisão de deveres da sociedade civil e doEstado, o que significa uma desresponsabili-zação e repasse do seu encargo para o tercei-ro setor em forma de parcerias. É preciso umEstado forte, não só normatizador, mas quetenha responsabilidade na execução, fiscaliza-ção e efetivação dos direitos dos idosos comodo cidadão em geral, pois a tendência é quenão ocorram modificações nesta realidade emcurto prazo”, acrescenta Solange Teixeira.

Piauí através da História e da Geografia

Autor: Maria José Oliveira FormigaR$ 52,80146 pá[email protected] e [email protected]

Este livro discute a importância do conhecimento das ciências, geografia e históriano dia-a-dia de cada um, refletindo que através dessas ciências, é possível compreendero processo de ocupação e formação do espaço geográfico do Piauí, analisando suaorganização política e administrativa, bem como suas condições naturais e influênciasócioeconômica na vida do povo piauiense.

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Algemira de Macedo Mendes,Profª. Drª. de Letras da Uespi e da [email protected]

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TERESINA - PI, MARÇO DE 2008

A produção literária da primeira romancistaafro-brasileira rompe o esquecimento

Um dos poucos registros de Maria Firmina,encontrado na biblioteca pública de São Luís - MA

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