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Dezembro de 2006 l Nº 10 l Ano III ISSN - 1809-0915 ISSN - 1809-0915 12 Sapiência, dezembro de 2006 Estudo químico e farmacológico de plantas do Piauí Embora 80% das espécies vegetais exis- tentes no planeta tenham sido estudadas mor- fologicamente pelos botânicos, classificando- as pela forma do caule, da folha, da flor e do fruto, apenas 5% destas espécies foram es- tudadas quimicamente e, com relação à ativi- dade farmacológica, o número de espécies es- tudadas diminui consideravelmente. Considerando-se que, historicamente, os metabólitos secundários de plantas vêm sen- do utilizados pela humanidade, como medi- camentos, desde o início de nossa civilização, e que, nos dias atuais, mesmo com o grande desenvolvimento de drogas obtidas por sín- tese orgânica, eles continuam desempenhan- do um papel de destaque na saúde pública, torna-se fundamental o conhecimento da quí- mica e farmacologia das plantas utilizadas para estes fins. Dentro deste contexto, os Departamen- tos de Química, Bioquímica e Farmacologia, Microbiologia, Biofísica e Fisiologia e Biolo- gia da Universidade Federal do Piauí vêm de- senvolvendo, desde 1981, parcerias no senti- do de contribuir para o conhecimento da cons- tituição química e da ação farmacológica de plantas do cerrado piauiense, utilizadas na medicina popular e, desta forma, propõem a continuidade deste estudo, através de colabo- rações de pesquisadores de outras Universi- dades do Nordeste. Os pesquisadores, através do Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-Graduação, de- ram início à criação de uma base de pesquisa em Química e Farmacologia de Produtos Na- turais que tem por objetivo realizar levantamen- to etnobotânico de plantas do cerrado piaui- ense; extrair, isolar e identificar constituintes de óleos essenciais e investigar seu potencial anti- microbiano, antiinflamatório, pró-inflamatório e sobre o Sistema Nervoso Central; verificar se o uso popular de plantas medicinais do cer- rado, como antiinflamatórias, analgésicas e an- timicrobianas é validado, através de testes far- macológicos com seus extratos hidroalcoóli- cos, além de realizar estudo sistemático sobre alguns componentes minerais e vitamina C pre- sentes nas várias espécies. Além do caneleiro (veja página 5), outras espécies de plantas estão em fase avançada de estudos pelos pesquisadores da UFPI. Foto: Acácio Véras

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Caneleiro

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Dezembro de 2006 l Nº 10 l Ano III

ISSN - 1809-0915ISSN - 1809-0915

12 Sapiência, dezembro de 2006

Estudo químico e farmacológicode plantas do Piauí

Embora 80% das espécies vegetais exis-tentes no planeta tenham sido estudadas mor-fologicamente pelos botânicos, classificando-as pela forma do caule, da folha, da flor e dofruto, apenas 5% destas espécies foram es-tudadas quimicamente e, com relação à ativi-dade farmacológica, o número de espécies es-tudadas diminui consideravelmente.

Considerando-se que, historicamente, osmetabólitos secundários de plantas vêm sen-do utilizados pela humanidade, como medi-camentos, desde o início de nossa civilização,e que, nos dias atuais, mesmo com o grandedesenvolvimento de drogas obtidas por sín-tese orgânica, eles continuam desempenhan-do um papel de destaque na saúde pública,torna-se fundamental o conhecimento da quí-

mica e farmacologia das plantas utilizadas paraestes fins.

Dentro deste contexto, os Departamen-tos de Química, Bioquímica e Farmacologia,Microbiologia, Biofísica e Fisiologia e Biolo-gia da Universidade Federal do Piauí vêm de-senvolvendo, desde 1981, parcerias no senti-do de contribuir para o conhecimento da cons-tituição química e da ação farmacológica deplantas do cerrado piauiense, utilizadas namedicina popular e, desta forma, propõem acontinuidade deste estudo, através de colabo-rações de pesquisadores de outras Universi-dades do Nordeste.

Os pesquisadores, através do ProgramaNordeste de Pesquisa e Pós-Graduação, de-ram início à criação de uma base de pesquisa

em Química e Farmacologia de Produtos Na-turais que tem por objetivo realizar levantamen-to etnobotânico de plantas do cerrado piaui-ense; extrair, isolar e identificar constituintes deóleos essenciais e investigar seu potencial anti-microbiano, antiinflamatório, pró-inflamatórioe sobre o Sistema Nervoso Central; verificarse o uso popular de plantas medicinais do cer-rado, como antiinflamatórias, analgésicas e an-timicrobianas é validado, através de testes far-macológicos com seus extratos hidroalcoóli-cos, além de realizar estudo sistemático sobrealguns componentes minerais e vitamina C pre-sentes nas várias espécies.

Além do caneleiro (veja página 5), outrasespécies de plantas estão em fase avançadade estudos pelos pesquisadores da UFPI.

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2 Sapiência, dezembro de 2006

Informativo Cientiífico da FAPEPI

Nº 10 * Ano III * Dezembro de 2006 / ISSN - 1809-0915

Presidente da FAPEPIAcácio Salvador Véras e Silva

Conselho Editorial: Acácio Salvador Véras eSilva, Francisco Laerte Juvêncio Magalhães(UFPI) e Welington Lage (AESPI)

Editora-Chefe: Márcia Cristina

Textos: Márcia Cristina (Mtb-1060) e Thais LoiolaFotos: Acácio Véras, Márcia Cristina e Thais LoiolaRevisão: Assunção de Maria Sousa e Si lvaEditoração Eletrônica: Invista Publicações & Editora Ltda.86 3221-0215 / 9974-4821Tiragem : 6 mil exemplares

EDIT

OR

IAL

Críticas, sugestões e contatos: [email protected] • Fones: (86) 3216.6090 / 3216.6091Fax: (86) 3216.6092 • www.fapepi.pi.gov.br

Informativo produzido pelaFundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Piauí

(FAPEPI) (86) 3216-6090 Fax (86) 3216-6092

n À FAPEPI:  Que teve força para participar da construção de um Piauí melhor desenvolvido, sustentada na ciência, nofazer e no produzir conjunto de tantas pessoas com conhecimento, vontade e esforço construindo bases, linhas, metas enovos rumos em busca de uma sociedade melhor. Parabéns!Profa. do Depto. de Nutrição da UFPI / Maria Rosália Ribeiro Brandim n Quero, antes de tudo, parabenizar a FAPEPI por ter enfrentado as incertezas do projeto da Residência Agrária (MDA-INCRA) e executado a complexa e ingrata tarefa a que se dispuseram (gerenciamento das bolsas).  Sem vocês  (Só tivecontato com o Fábio Nóbrega) a coisa não andaria! Seremos eternamente gratos pela disposião da parceria, independen-temente dos rumos que a Educação do Campo tomar.Parabéns a todos vocês! Nosso país conta agora com mais este “tijolo” da construção da cidadania brasileira e especialmen-te, do campo.Que Deus ilumine sempre o magnânimo povo do Piaui!Prof. Fabio Nolasco / UNEMAT - Cáceres - MT n Recebemos o v.3  n.7 de 2006 e tão logo o expomos em nossa biblioteca a aceitação foi imediata por nossa comunidade,que nos solicitou os demais  números publicados pela FAPEPI. Parabenizamos o nível e a qualidade do informativoSAPIÊNCIA.cordialmente,Claudia Malena P. Vieira Gaspar / Bibliotecária - Chefe / Biblioteca Central do CCMN/UFRJ

Recebemos

José Milton Elias de Matos*

A palavra metátese é uma com-binação das palavras gregas meta (tro-ca) e tithemi (lugar). Em gramática, sig-nifica transposição de fonemas ou sí-labas do lugar próprio para outros, ge-rando uma outra palavra com signifi-cado distinto (ex: toga ® gato). Emquímica, reação de metátese refere-seà troca de átomos ou grupos entre duas moléculas. Tratando-se de olefinas, ocorre a troca dos átomos de carbono queformam a dupla ligação, sendo que esta reação ocorre napresença de um catalisador.

Embora sejam conhecidos desde meados do séculopassado, os estudos sobre a reação de metátese de olefinastiveram um avanço significativo a partir da década de 1990,devido ao desenvolvimento de novos catalisadores. Dentrodeste contexto, destacam-se catalisadores de metais per-tencentes ao grupo da platina, em particular o Rutênio.Estes catalisadores têm apresentado reatividade e seletivi-dade superiores aos catalisadores derivados de titânio, tun-gstênio e molibdênio. São ativos em solventes polares oupróticos, tais como álcoois, água, fenóis e ácidos fortes,como por exemplo, ácido tricloroacético. São tolerantes agrupos funcionais contendo heteroátomos tais como O, N,P, Cl, e Br, ampliando o número de substratos que podemser usados. São ativos à pressão ambiente e a temperaturasabaixo de 100 oC. Além das reações poderem ser conduzi-das em solventes comuns sem prévia purificação, os catali-sadores podem ser estocados por semanas em atmosferaambiente sem substancial decomposição. É ainda, de gran-de importância que estes novos catalisadores continuemativos no fim da reação, podendo então ser usados em umnovo ciclo de reação.

A metátese de olefinas proporciona a síntese de umavariedade de olefinas especiais, como civetona, que é umimportante constituinte de diversos perfumes. Encontram-se vários trabalhos sobre reações de metátese aplicada àoleoquímica (com uso de óleos comestíveis). Aplicaçõesestas voltadas principalmente para a produção de civetona.

A metátese de olefinas envolve cinco tipos principaisde reações químicas, sendo elas: ROMP - “Ring OpeningMetathesis Polymerization”, RCM - “Ring Closing Meta-thesis”, ADMET - “Acyclic Diene Metathesis”, ROM -“Ring Opening Metathesis” e CM – “Cross-Metathesis”.Destas reações, chamamos atenção para a RCM (metátesepor fechamento de anel), que é muito empregada na síntesede fármacos (como o antibiótico everninomicina 13.384-1) efragrâncias (como a civetona, fragrância de perfumes musk).Outro tipo de metátese muito importante é a ROMP (Poli-merização via metátese por abertura de anel), que hoje en-contra importante aplicação em polimerização sobre super-fícies semicondutoras para utilização como dispositivos ele-trônicos.

Poucos Grupos de pesquisa no Brasil têm se dedica-do ao estudo de reações de metátese de olefinas e ao desen-volvimento de catalisadores para este tipo de reação. Den-tre estes grupos, destacamos o grupo do Professor Benedi-to (IQSC/USP), onde a pesquisa focaliza aspectos na quí-mica de metátese dentro do desenvolvimento e caracteriza-ção de sistemas catalíticos, observando-se reações indivi-duais que sejam etapas chaves no ciclo catalítico ou que oatuem como iniciadores nas reações de metátese.

No Brasil, encontram-se ainda outros poucos gruposdedicados a pesquisas na área de metátese. Mas, todosesses grupos estão voltados mais para o desenvolvimentode catalisadores, com pouca dedicação à aplicação ou de-senvolvimento tecnológico.

É importante salientar que, em outubro de 2005, ospesquisadores Richard R. Schrock (Massachusetts Instituteof Technology), Robert H. Grubbs (California Institute ofTechnology) e Yves Chauvin (Institut Français du Petrole)receberam o premio Nobel de Química, na área de metátesede olefinas. Isto mostra a importância de pesquisas nestecampo da química, haja vista que esta é uma área que aindaestá em ascensão e que encontra aplicações diversas.

De maneira geral, apesar de as pesquisas na área demetátese terem avançado bastante, tem-se muito, ainda, aser feito, principalmente na área de oleoquímica e nanotec-nologia. E para todas essas aplicações, o estudo de novoscatalisadores encontra um vasto campo.

* Doutor em Química - Pesquisador DCRProf. Departamento de Química da [email protected]

Metátese de Olefinas: da síntese defármacos aos dispositivos eletrônicos

Encerramos o ano com o nº 10 donosso Informativo Científico Sapiência.Um informativo que, consoante sua natu-reza, aborda temática multidisciplinar dapesquisa científica piauiense.

A pesquisa científica exige, cada vezmais, uma especialização crescente e o seufruto tecnológico passa por diversas áre-as do conhecimento como é o caso da pro-dução de um fármaco, seja de origem na-tural ou sintética.

Para ilustrar como o processo quese efetiva, podemos imaginar, por exem-plo, um profissional de ciências humanasque recolhe em suas pesquisas informa-ções do saber popular sobre o uso de de-terminada planta que tem uma finalidadeterapêutica. O saber popular deve ser res-peitado, valorizado, no entanto legitima-do pelo crivo científico. A identificaçãobotânica da espécie, o seu depósito emherbário é o primeiro passo para aprofun-dar o estudo. A etnobotânica que estudaos usos tradicionais dos vegetais pelo ho-mem é uma ciência multidisciplinar queenvolve a botânica e a antropologia. Iden-tificado a espécie botânica, o químico daárea de produtos naturais vai prepararextratos sobre os quais serão feitos ensai-os farmacológicos e fisiológicos para veri-ficar se aquela atividade terapêutica, atri-buída pela cultura popular, ocorre de fato.Comprovada a atividade terapêutica, oquímico de produtos naturais separa, pu-rifica e identifica os constituintes quími-cos. Eles devem ser separados e purifica-

dos para que novos testes farmacológicos e fisiológicospossam ser feitos para identificar exatamente quais as subs-tâncias químicas que agiam naquele extrato. Identificandoeste constituinte químico, sua atividade terapêutica e suainocuidade, estaremos diante de um potencial fármaco quepode vir a ser lançado no mercado.

Estudo ArticuladoNeste ponto não podemos fazer uma história line-

ar, pois o agrônomo pode usar sua competência técnicapara construir Farmácias Vivas, agregando valor ao conhe-cimento botânico e farmacológico. O farmacêutico podeaplicar protocolos de testes e propor aos órgãos regulado-res e ao mercado fitoterápicos com o mesmo rigor científicocom que é lançado um medicamento por uma grande indús-tria farmacêutica.

A indústria farmacêutica trabalha em grande escala e,na maioria das vezes, não compensa extrair o constituintequímico que apresenta atividade, mas apenas descobrir asua estrutura química. Então é a vez de convocar químicosda área de síntese orgânica para descobrir uma rota sintéticaa fim de produzir em quantidade e com grande grau depureza, aquele mesmo composto que apresenta atividade eque está misturado com outros na natureza.

Mesmo após passar em todos os testes clínicos e sercolocado no mercado, não se pára a pesquisa sobre deter-minado fármaco. Há sempre efeitos colaterais que devemser minimizados e ações que podem ser potencializadas.Neste ponto, entra o químico teórico que procura uma rela-ção matemática entre a estrutura química da droga e suaatividade farmacológica. Uma vez que esta relação estejaestabelecida, se pode propor um grande número de com-postos alternativos ao fármaco em questão, procurandoaquele que tenha maior potencial terapêutico e com menorefeito colateral que o existente no mercado. Das diversasalternativas apontadas pelo estudo teórico, as mais interes-santes são objeto de estudo, através de síntese e testesfarmacológicos e clínicos.

Outras alternativas de estudos científicos podem serpropostas, como a modificação genética de plantas paraaumentar a produção de uma substância química. Mas, oque nos interessa é mostrar, neste Sapiência, a existência depesquisadores piauienses, trabalhando em quase todas asetapas desta grande cadeia e produzindo conhecimento queengendra do popular para depois retornar à sociedade pelocrivo da ciência.

Feliz 2007

Acácio Salvador Véras e Silva

Sapiência, dezembro de 2006 11

RESUMOS DE TESESPreparação e caracterização de pós e filmes finoscerâmicos de titanato de chumbo e estrôncioobtidos por método químico

Envelhecimento do trabalhador no tempo do capital:problemática social e as tendências das formas deproteção social na sociedade brasileira contemporânea

A tese teve como objetivo apresentar o movimentotropicalista como provável diferenciador no processo demodernização da canção popular brasileira. Para isso, a pes-quisa buscou recuperar, sincrônica e diacronicamente, mo-mentos de relevância modernizadora na história da músicapopular brasileira contemporânea, destacando a Tropicáliacomo recorte caracterizador. A partir da investigação sobre aforma da canção e seus desdobramentos, chegou-se aos con-ceitos de ‘assimilação e expansão’ aplicados à experiênciaestética do tropicalismo, conceitos extraídos dos estudos se-mióticos da canção empreendidos por Luiz Tatit, que possuilarga pesquisa acadêmica em torno do tema no Brasil. Alémde Luiz Tatit, a pesquisa também buscou investigadores dacanção, enquanto fenômeno estético e comunicacional, en-tre os quais, Mário de Andrade, José Miguel Wisnik, CelsoFavareto, aliando seus campos de análises a teóricos da cultu-ra, da literatura e da comunicação, como Roberto Schwarz,Paul Zumthor, Edgar Morin, Renato Ortiz, Milton Santos,dentre outros. C omo corpus de análise, a pesquisa centrou-seno fenômeno estético da Tropicália, que teve sua presençahistórica nos anos de 1967 e 1968, e as implicações extensi-vas à cultura brasileira, observando as replicações e as trans-formações do ambiente cultural em torno do paradigma dacanção brasileira e da criação da cultura em ambiente globali-zado e interativo. Sob uma denominação geral de “ressonân-cias”, a pesquisa procurou provar que os propósitos estéticosda Tropicália não só não estão esgotados como se manifes-tam nas obras de artistas contemporâneos como Tom Zé e omovimento manguebeat, mesmo que, sob novas circunstân-cias, essas novas experiências dialogam com a herança esté-tica tropicalista. Como resultado, a pesquisa verificou que, nocenário musical brasileiro contemporâneo, percebemos res-sonâncias, desdobramentos da Tropicália; que as intençõesestéticas e culturais deste movimento estão disseminadas, e apresença foi notada pela avaliação de canções produzidas poralguns artistas, aqui colocados como portadores de modos defazer musical, delineados e inaugurados pelos tropicalistas.

A principal questão desta tese diz respeito a quaisrepresentaçõ es foram utilizadas por distintos prod utosculturais para construir as categorias do Ocidente e doOriente, após os atentados terroristas de 11 de Setembro de2001, justamente num momento em que se intensificaram,na produção cultural industrializada, as referências aos paísesdo Oriente Médio e aos Estados Unidos. Portanto, estapesquisa tem a pretensão de discutir a formação da identidadede árabes e americanos, destacando as representações quemais apareceram em diversos produtos culturais. Para isso,definiu-se como co rte crono lógico o perí odo entre oatentado terrorista de 11 de setembro de 2001 e a 2a Guerrado Golfo, em 2003. A amos tra da pesquisa comportoudiversos produtos culturais (como comics de super-heróis eliteratura de cordel), incluindo também alguns produtosjornalísticos (revistas Veja e The New Yorker), ainda que, atí tulo de ilustração, o autor tenha também mencionadoalguns vídeos, cartoons, livros e outros. Como técnica depesquisa, empregou-se a análise de conteúdo temática, nosentido de verificar quais os temas que mais prevaleceramquando à construção da identidade de árabes e americanospelos produtos citados. As categorias temáticas definidas eanalisadas foram as seguintes: heróis, super-heróis versusanti-heróis e vilões; o Bem versus o Mal; a pátria versus oestrangeiro; comunidade versus império. As constatações aque chegou o trabalho de investigação estão centradas naidéia de que, no período aludido, ao invés de somente serepetirem as construções polarizadas do Eu e do Outro,confirmando a hipótese do ‘Choque de Civilizações’; houvetambém uma troca e um intercâmbio de elementos dematrizes culturais distintas, caracterizando o ambiente dehibrid is mo cultural tão prop alado p elas teorias pó s-modernas.

Estudo das propriedades farmacológicas da resina deProtium heptaphyllum (Aubl.) March. e de seus princi-pais constituintes, mistura de a-e-amirina

A agroindústria do caju tem como principal produto eco-nômico a amêndoa da castanha e, atualmente, utiliza o impac-to aleatório como princípio de decorticação, com perdas de 40a 50% de amêndoas inteiras. O desenvolvimento de mecanis-mos mais adequados para a ruptura da casca e liberação deamêndoas inteiras, exige conhecimento e aplicação de parâ-metros associados às propriedades mecânicas do material. Estetrabalho investigou algumas destas propriedades da castanha‘CCP 76’, tais como: variações nas dimensões características,massa e volume, microestrutura, fragilidade do endocarpo erigidez da amêndoa. Investigou-se também, a deformação es-pecífica limite como parâmetro tecnológico para a aberturadas castanhas, através de ensaios de impacto. Com os resulta-dos obtidos nestes estudos, desenvolveu-se um protótipo de-corticador de cilindros rotativos que utiliza o princípio da com-pressão combinado com um impacto direcionado. Utilizou-sea metodologia de superfície de resposta para avaliar os resulta-dos dos ensaios mecânicos e de desempenho do protótipo pro-posto, com castanhas tratadas em diferentes níveis de umidifi-cação e tratamento térmico. Os resultados obtidos evidencia-ram alterações nas dimensões características, na massa e volu-me das castanhas, como também, na microestrutura do endo-carpo. Os resultados do ensaio de cisalhamento do endocarpoe resistência da amêndoa apontaram diferenças entre materialin natura e o tratado termicamente. Nos ensaios de impacto,obteve-se 77,55% de abertura das castanhas com liberação daamêndoa inteira, utilizando a deformação específica limite de19%, aplicada ao longo da largura. O protótipo decorticadorproposto apresentou desempenho de 67,35% para ruptura to-tal da casca e amêndoa inteira liberada, com apenas uma passa-da pelos cilindros, utilizando a rotação combinada de 1150-1750rpm. A preparação das castanhas, através do efeito com-binado do tempo de umidificação e tratamento térmico, nãoafetou o desempenho do protótipo na faixa de variação utili-zada, mas apontou a região de tendência onde as respostas sãomais adequadas.

Com o objetivo de analisar tanto os determinantes daproblemática social do envelhecimento do trabalhador, naordem do capital, sob práticas temporais regidas por essalógica, quanto as formas de respostas do Estado e da sociedade,mediante as propostas e iniciativas pioneiras de trabalhosocial com idosos; de segmentos da burguesia brasileira e doEstado, por meio de programas sociais para a “terceiraidade”e da legislação social contemporânea que inclui PolíticaNacional do Idoso e Estatuto do Idoso; buscou-se configuraro desenho e as tendências da polí tica social contemporâneade resposta a esse problema social. Mediante procedimentosmetodológicos essenciais à pesquisa documental, como aanálise de conteúdo de documentos, sistematizações e análisesde dados estatísticos oficiais, efetivaram-se os referidosobjetivos. Os resultados do processo investigativo reforçama centralid ad e d o envelhecimento d o trabalhado r naconstituição da “problemática social”, da relação capital/trabalho como fundamento comum ou da exacerbação eagravamento d a questão so cial, materializad as nasdeterminações e na configuração das condições de vida defrações da classe trabalhadora que envelhece, em especial,os de baixa renda. Demonstram, ainda, o reforço da culturaprivacionista nas formas de trato dessas mazelas sociais,que é corolário dos mecanismos de enfrentamento da questãosocial na atualidade e das novas simbioses entre “público” e“privado” que o capital promove, de modo a ocultar essadimensão privacionista. Essa cultura se exterioriza tantonas formas de assunção ou divisão de responsabilidades sociaiscom a proteção social para a sociedade civil, quanto noreforço do individualismo nos modos de intervenção socialque transmutam problemas sociais em problemas individuais,expresso nas terapias de ajustamento, de valorização, deinserção social, dentre outras, cujo foco é o indivíduo,mantendo intactas as estruturas geradoras de desigualdadessociais. Conclui-se que as formas de respostas à problemáticaso cial do envelhecimento mascaram a centralid ade doenvelhecimento do trabalhador na constituição do problemasocial e reforçam o modelo liberal de trato dessas mazelassociais.

Realizou-se a síntese de pós e filmes finos cerâmicosde titanato de chumbo e estrôncio com concentração deestrôncio variando de 0 a 100% em mol, utilizando-se ummétodo de síntese química - o dos precursores poliméricosbaseado em Pechini. Esse método permite a síntese emmeio aquoso, ao ambiente, com a utilização de reagentesfacilmente disponíveis. Para isto, otimizou-se as condiçõesde síntese, de modo a eliminar a presença de fases interme-diárias e/ou sencundárias. Os pós-cerâmicos tratados termi-camente em diferentes temperaturas sob atmosfera ambi-ente foram estudados por calorimetria diferencial explora-tória (DSC), difração de raios X (DRX), espectroscopia noinfravermelho (FTIR), espectroscopia micro-Raman (FT-Raman), microscopia eletrônica de varredura (MEV) e mi-croscopia eletrônica de transmissão (MET), que permiti-ram a identificação das fases cristalinas, parâmetros de redee tamanho médio dos domínios de coerência cristalográfica(cristalitos). A transição de fase tetragonal para cúbica foiobservada nesse sistema com o aumento da concentraçãode estrôncio no sistema (Pb1-xSrx)TiO3. Uma fase pseudo-cúbica foi observada para x=0,5, indicando completa asolubilidade no sistema. Além disso, foi realizado um estu-do do efeito da atmosfera de síntese no processo de crista-lização desses pós-cerâmicos. Filmes finos foram obtidospela técnica “spin coating” por deposição da solução po-limérica em substratos de Pt/Ti/SiO2/Si rotacionados a 7600rpm por 30 s e calcinação a 600°C por 4 h. Foi discutido oefeito do íon substituinte na microestrutura e morfologiadesses filmes, através de um estudo sistemático e detalha-do utilizando-se DRX, FTIR, microscopia óptica e mi-croscopia de força atômica (AFM); onde se verificou que aintrodução de estrôncio na matriz de titanato de chumboresulta em uma diminuição do tamanho médio de grãosdesses filmes.

Ressonâncias da Tropicália. Mídia e Cultura naCanção Brasileira

Matrizes de Cultura e Identidade: árabes eamericanos após o 11 de Setembro

Caracterização mecânica da castanha de caju (Ana-cardium ocidentale l .) para fins de beneficiamento edesenvolvimento de decorticador de cilindros rotati-

Feliciano José Bezerra Filho.Professor da Universidade Estadual do Piauí.Defesa: Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, [email protected].

Gustavo Fortes SaidProfessor de Comunicação Social da UFPIDefesa: Universidade do Vale do Rio dos Sinos –UNISINOS, 2006.Email: [email protected]

Max César de AraújoProfessor do DEAS/CCA/ UFPIDefesa: Universidade Estadual de Campinas, [email protected]

Sérgio Henrique Bezerra de Sousa LealProfessor e Pesquisador da UFPIDefesa: Universidade Federal de São Carlos, [email protected]

Solange Maria TeixeiraProfessora da Universidade Federal do PiauíDefesa: Universidade Federal do Maranhão, 2006.Email: [email protected]

O trabalho investigou os efeitos tóxicos e farmacológicos daresina (R) e da mistura de triterpenos a- e b-amirina (a,b-amir). Naavaliação dos efeitos tóxicos utilizamos camundongos e Artemia sp.Quanto aos efeitos sistêmicos, avaliamos a atividade antiinflamatóriade R (edema de pata por carragenina-Cg, granuloma por “pellets” dealgodão e permeabilidade vascular por ácido acético) e de a,b-amir(edema por histamina-HIS, serotonina-SER, dextranaT40 e COM48/80). Examinamos as atividades gastroprotetora e antisecretória de R(lesões gástricas pelo EtOHabs e acidificado e secreção ácida pela liga-ção pilórica) e as atividades gastroprotetora (lesões gástricas peloEtOHabs em animais dessensibilizados por capsaicina-C), antiprurigi-nosa (dextranaT40; COM48/80 e desgranulação de mastócitos), anti-nociceptiva (capsaicina subplantar-CS, intracolônica-CIC e respostahipotérmica) e hepatoprotetora (lesões por acetaminofeno-AAF e GalN/LPS) de a,b-amir. Apenas a,b-amir mostrou toxicidade para Artemiasp. Na permeabilidade vascular e granuloma, R demonstrou efeitoantiinflamatório, exceto no edema por Cg. R preveniu as lesões gástri-cas por EtOHabs e acidificado, depleção de GSH e efeito antisecretório.a,b-amir exibiu gastroproteção, envolvendo neurônios sensoriais sen-síveis à C. a,b-amir apresentou atividade antiedematogênica, excetopor SER. Foi observada atividade antipruriginosa, redução da desgra-nulação de mastócitos e efeito antinociceptivo, além da inibição danocicepção por CS ou CIC. A antinocicepção pelos triterpenos (C) nãofoi alterada pelo vermelho de rutênio, mas foi inibida pela naloxona,sugerindo mecanismo opióide. A participação a2-adrenérgica foi elimi-nada, visto que a ioimbina não reverteu a antinocicepção visceral dea,b-amir (C). Os triterpenos bloquearam a hipertermia (C), mas nãoreverteram a hipotermia, sugerindo participação do receptor vanilóide.a,b-amir reduziu o aumento sérico de ALT/AST, restabelecendo aGSH hepática, diminuindo as alterações histopatológicas (AAF) epotencializando o tempo de sono (PBS), indicando inibição do CITP-450. A mistura protegeu os animais da mortalidade por GalN/LPS,reduzindo as lesões hepáticas e os níveis de ALT, mas não de AST ouGSH hepáticos, sugerindo efeito neuroimunomodulatório. Os triter-penos, não manifestaram efeitos sedativos/incoordenação motora. R ea,b-amir possuem baixa toxicidade e atividades antiinflamatória egastroprotetora. a,b-amir exibiram atividade antipruriginosa, antino-ciceptiva e hepatoprotetora, cujos efeitos envolvem, em parte, osneurônios aferentes sensoriais primários.

Francisco de Assis OliveiraProfessor da UFPI /Depto de Bioquímica e Farmacologia/NPPMDefesa: Universidade Federal do Ceará, [email protected]

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Sapiência, dezembro de 2006 3

ARTIGOS

Mariana Helena Chaves*

A utilização de plantas para finscurativos se iniciou junto com a civiliza-ção humana e por longo período foi ex-tremamente relevante no tratamento desuas enfermidades. No final do séculoXIX, ocorreu o declínio da utilização di-reta dos produtos naturais e em parte se deupela substituição paulatina dos extratos totais pe-las substâncias ativas isoladas, os chamados prin-cípios ativos.

O interesse pelas drogas de origem vege-tal tem crescido bastante e atualmente, apesardo grande desenvolvimento da síntese orgânicae de novos processos biotecnológicos, 25% dosmedicamentos prescritos nos países industriali-zados são originários de plantas e 44% de todasas novas drogas têm envolvimento de produtosnaturais. De acordo com Hostettmann (2003),dos medicamentos atualmente prescritos, 56%são produtos sintéticos, 24% são derivados deprodutos naturais, 9% são produtos sintéticos mo-delados a partir de produtos naturais, 6% sãoprodutos naturais e 5% biológicos.

O isolamento de constituintes farmacolo-gicamente ativos responsáveis pelas proprieda-des medicinais da planta é essencial para a elu-cidação estrutural, modificação estrutural e es-tudo do modo de ação das drogas, seus efeitoscolaterais, toxicidade, etc. Para realização des-tas investigações são necessárias quantidadessuperiores a 1g da substância de interesse, e parasua obtenção, o processo não é simples, sobre-tudo considerando que as plantas podem contercentenas de constituintes diferentes, na maioriadas vezes presentes em quantidades pequenase frequentemente uma única substância ou umasérie de substâncias relacionadas são responsá-veis pelas propriedades farmacológicas, obser-vadas em extratos brutos.

Os processos envolvidos na obtenção deum constituinte puro, farmacologicamente ativosão bastante longos e tediosos, além de reque-rerem uma abordagem multidisciplinar envolven-do botânicos, farmacognosistas, químicos, far-macologistas e toxicologistas. Esta pesquisa, ape-sar de empírica, pois cada planta representa umamatriz diferente, portanto com uma constituiçãoquímica na maioria das vezes bastante diversifi-cada, é desenvolvida em linhas gerais, seguindoos seguintes passos:

1.Escolha da planta a ser estudada. Estadeverá ser feita por indicação do seu uso popu-lar, identificando-se qual a parte usada (folha,casca, raiz, semente), porém, esta não é a únicaforma de escolha, podendo ser feita também con-siderando as relações quimiotaxonômicas, ouseja, através do conhecimento pré-existente dotipo de substância com suas respectivas açõesfarmacológicas obtidas de outras espécies do

Plantas medicinais:importância e desafios

gênero ou família botânica. Além dis-to, a escolha da planta para estudo quí-mico-farmacológico poderá ser feita deforma aleatória. Contudo as possibili-dades de sucesso na obtenção de umasubstância farmacologicamente ativasempre são maiores quando se partede uma planta com indicação de uso

popular.2.Coleta da planta e identificação botânica

(nome científico e família), esta etapa é funda-mental em função do nome popular variar deacordo com a região.

3.Preparação de extratos e análise croma-tográfica preliminar, esta pode envolver desdemétodos mais simples como a cromatografia emcamada delgada ou métodos mais sofisticadoscomo a cromatografia líquida de alta eficiência.

4.Realização de ensaios farmacológicos pre-liminares do extrato bruto para verificação daindicação do uso popular e também com a fina-lidade de impulsionar ou não o processo de iso-lamento do(s) princípio(s) ativo(s).

5.Isolamento do(s) princípio(s) ativo(s), oqual inclui vários passos consecutivos de sepa-ração cromatográfica, onde cada fração deveser submetida à bioensaios resultando em umfracionamento biomonitorado.

6.Identificação e/ou elucidação da estrutu-ra molecular das substâncias isoladas por méto-dos físico-químicos e químicos.

7.Isolamento em grande escala para reali-zação de ensaios farmacológicos e toxicológi-cos.

8.Preparação de derivado-análogos dassubstâncias farmacologicamente ativas e reali-zação de biensaios para investigação da relaçãoestrutura atividade e até mesmo a redução depossíveis efeitos tóxicos.

9.Realização de síntese total ou parcial. Estaetapa tem como finalidade a disponibilidade doprincípio ativo em grande escala para a produ-ção do medicamento com custos mais acessí-veis. Evidentemente quando isto não é possível,devido à alta complexidade estrutural, recorre-se aos conhecimentos agronômicos e de biolo-gia molecular para o cultivo do vegetal e atémesmo o desenvolvimento de uma variedadecapaz de produzir o princípio ativo em quantida-des mais expressivas.

Convém ressaltar que, somente através deuma abordagem multidisciplinar, é possível se ob-ter êxito no estudo de plantas medicinais, mesmoassim uma pesquisa completa para se disponibili-zar no mercado uma nova droga de origem natu-ral gasta em média entre 10 a 15 anos.

* Doutora em Química atuando na área deQuímica de Produtos NaturaisProfª Associada do Dpt. Química da [email protected]

Dilcio Guedes*

Graças à expe-riência clínica e in-vestigações multicul-turais, verifica-se quecertas pessoas emi-tem co mportamen-tos coerentes com asrep resentaç ões deap ego aprendid ascom seus cuidadoresem relação aos com-portamentos afetivos com seus parceiros amo-rosos. Bowlby (1969, 1973) nos ensina que aconstrução dessas representações advém da ne-cessidade de obter uma base de segurança. Aexperiência de segurança (ou sua ausência) cons-tituirá, a partir dos estágios das representaçõessimbólicas, a estrutura de conhecimento e decompreensão sobre os sinais emitidos pelas pes-soas, indicadores da possibilidade ou da impos-sibilidade de formar e manter o apego.

A compreensão desta dinâmica permitiuque estudiosos propusessem categorias de tipos de apego, se-gundo o modelo internalizado. Por exemplo, o estilo segurocaracterizaria os indivíduos que procuram o reconforto e apoiode suas figuras de apego, quando se encontram em situação deestresse (i.e., separação, ou outra origem de ameaça real daruptura do laço), mas que retornaram ao estado de homeosta-se, quando a figura de apego se apresenta e fornece suporte.Esta condição de permite ao sujeito voltar sua atenção e seusinteresses a outros domínios.

O estilo ansioso-resistente caracterizaria os indivíduosque procuram o conforto e apoio de suas figuras de apego deforma compulsiva, com demandas excessivas de atenção,mesmo em circunstâncias onde não existe ameaça real deruptura do laço e estes indivíduos não retornam ao estado dehomeostase, quando a figura de apego se apresenta e os apóia.Tais aspectos podem explicar porque eles permanecem ansi-osos quanto a qualquer possibilidade de ruptura: isso pode lhesimpedir de se voltar para outro domínio de interesses.

O estilo evitante caracterizaria os indivíduos que ini-bem os comportamentos de demanda de atenção e reconfortoe apoio de suas figuras de apego. Quando eles se encontramem situação de estresse, tendem a não expor (ou não deixarexplícita) suas demandas. Então, os indivíduos evitantes fo-calizam sua atenção aos outros domínios exteriores, manifes-tando alto grau de auto-suficiência e relativa desconfiançainterpessoal.

E, finalmente, o estilo desorganizado caracterizaria aque-les que não sabem qual estratégia empregarem, seja porque asrepostas de suas figuras de apego exprimem fragilidade emoci-onal, seja porque as respostas, emitidas por estas figuras, ge-ram medo, como, por exemplo, nos casos de sujeitos queestão ligados a pessoas muito agressivas e outras que sofremde problemas psicopatológicos graves ou pós-traumáticos.

No campo teórico, nós compreendemos que as reaçõesante as situações de estresse vividas nas relações amorosasestão intimamente ligadas a fatores da personalidade e derepresentações, construídas no ambiente familiar. Tais aspec-tos influenciariam outras dimensões do funcionamento psí-quico dos sujeitos (por exemplo, as relações interpessoais nafamília, com seus pares, no contexto de trabalho, da educaçãodas crianças, etc).

Alguns estudos mostram que os sujeitos têm tendênciasa utilizar estratégias de gerenciamento de situações de estressecom seus pares, moderando os comportamentos de negocia-ção e de enfrentamento (coping) do estresse. Nossos resulta-dos com casais brasileiros que vivenciaram a ruptura de suasrelações demonstraram que a ativação do luto estava correla-cionada negativamente com a segurança com a mãe e forte-mente correlacionado com a segurança vivida com parceiroamoroso mais recente. Pessoas que apresentaram um lutoinibido utilizaram mais da negação e da planificação. Aquelesque tinham o luto resolvido apresentaram mais estratégias deaceitação que aqueles que apresentaram um luto inibido ouhiperativado. As pessoas que apresentaram um luto hiperati-vado procuravam mais o suporte emocional que aquelas quetinham um luto inibido ou resolvido.

Como conclusão, a hipótese segundo a qual quanto maisa relação com as figuras de apego é segura, mais o sistema deapego é ativado e, portanto, mais elaborada e completa é aexperiência de luto não pôde ser confirmada para todas asfiguras de apego (apenas para parceiros). Na experiência desegurança com estes, observou-se o mesmo fenômeno. A hi-pótese, segundo a qual a relação com as figuras de apego ésegura, menos se utiliza de estratégias de negação e de desape-go, de busca de suporte emocional e de ativação da culpabili-zação. Quando da ruptura de uma relação amorosa com osparceiros mais recentes, mostrou-se verdadeira, à exceção dasestratégias de desapego e de auto culpabilização que não sediferenciam em relação ao tipo de representação de apego.

* Professor Assistente I da UESPIDoutorando em Psicologia do Desenvolvimento pela Uni-versité Paris X

Experiências de rupturade relações amorosas

10 Sapiência, dezembro de 2006

O semi-árido piauiense:vamos conhecê-lo?Autoras: Iracildes Maria de Moura Fé Lima e IrlaneGonçalves de AbreuR$ (a definir)143 pá[email protected] Neste livro professores dialogam com estudantes sobreo dia-a-dia no semi-árido, destacam as belezas e riquezasde nossa terra e discute com os jovens do semi-árido arealidade local, visando incentivar o surgimento de solu-

ções criativas para problemas antigos dos moradores do semi-árido. O livro fazuma amostragem do clima, do ambiente, relevo, vegetação e também explica otrabalho das primeiras comunidades do local, passando pelos índios, portugueses,africanos, a formação das vilas e cidades, chegando à atualidade.

Tópicos em Bioética

Autor: Pedro Mendes RibeiroR$ 20,00232 páginasContato: (86) 9981-5132

A 2ª edição ampliada do livro pode ser considerada aúnica gramática do repente escrita no mundo. A forma de

se fazer poesia com todos os gêneros de cantoria e do repente é a proposta dolivro, que mostra ainda que a métrica utilizada pelo violeiro é a mesma utilizadapor nomes como Camões, Victor Hugo, Castro Alves e Gonçalves Dias. A obrarevela todos os gêneros usados pela literatura de cordel. O autor organizou o livroa pedido de pesquisadores da Universidade de Sorbonne, França.

Nos Caminhos do Repente

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Organizadores: Sérgio Costa, Malu Fontes e Flávia SquincaR$ 15,00176 pá[email protected]

O livro reúne 10 artigos de profissionais especializados emBioética, em Teresina. No Norte e Nordeste do Brasil, otema vem crescendo em razão da necessidade das priorida-des relacionadas ao desenvolvimento regional e às políticas

públicas de saúde. “Experimentação animal”, “Aborto por anencefalia”, “pesquisacom embriões extra-uterinos”, “fim da vida”, “deficiência”, dentre outros sãoquestões abordadas com transparência. O propósito da obra é a consolidação daBioética e apresentar idéias desenvolvidas por alunos do Curso de Especialização,idealizado pelo Instituto Camilo Filho e NOVAFAPI.

Piauí Projetos Estruturantes

Autor: Cid de Castro DiasR$50,00300 pá[email protected] Nesse trabalho, o autor aborda projetos executados ouem execução que mais se destacam por inovações tecno-lógicas, pela importância das obras dentro do contextoeconômico, urbanístico e social ou se caracterizam pormarcantes mudanças estruturais, como é o caso da trans-

ferência da Capital de Oeiras para Teresina, com profundos reflexos na vidaadministrativa e política do Estado. O objetivo é oferecer subsídio à pesquisa sobreprojetos e obras executadas em nosso Estado, consideradas as imensas dificuldadesencontradas por engenheiros, arquitetos, professores e estudantes.

Plantas Medicinais: do resgate ao reconhecimentoAs plantas medicinais têm sido um importante

recurso terapêutico desde os primórdios da Antigüi-dade até os dias atuais. No passado, representavama principal arma terapêutica conhecida. Atualmente,mesmo com a modernidade, as plantas medicinaisainda são muito utilizadas por pessoas de todas asclasses sociais. No entanto, para se chegar a ummedicamento feito a partir de uma planta medicinal,são necessários anos de pesquisa, dedicação e com-petência para um resultado satisfatório.

E é esse o trabalho da professora Roseli FariasMelo de Barros, que é Doutora em Taxonomia Vege-tal pela Universidade Federal Rural de Pernambuco –UFRPE e especialista em Etnobotânica, a ciência queestuda a interação de comunidades humanas com omundo vegetal, em suas dimensões antropológica,ecológica e botânica.

A Etnobotânica busca o conhecimento geradoatravés do resgate do saber popular com ações queviabilizem e garantam o uso desses recursos pela po-pulação. Já os estudos em Taxonomia Vegetal são es-senciais ao conhecimento da biodiversidade e ao in-ventário da flora brasileira, já que fornecem subsídiospara outras áreas da Botânica e áreas do conhecimen-to afins, além de embasar programas de conservação.

O conhecimento popular e a constatação cien-tífica de determinados fins terapêuticos são fortesindícios da eficácia de uma planta medicinal. A pes-quisa é feita inicialmente através de entrevistas coma população, que indica quais plantas são utilizadascom fim terapêutico. Depois de coletada é feita a iden-

tificação taxonômica da planta e também o seu nomecientífico. “Depois, esse material é incorporado aoHerbário e está pronto para ser publicado em revis-tas científicas”, afirmou.

Roseli trabalha há mais de 10 anos com a Etno-botânica e no Piauí já fez estudos inclusive em Qui-lombos, buscando não somente as plantas usadas poreles, mas também toda a vegetação existente no entor-no dessas comunidades. “Já fizemos trabalhos em doisquilombos: o Olho d’água dos Pires e o Quilombo dosMacacos. As categorias encontradas são as mais va-riadas: tem as plantas de uso melífera, medicinal, forra-

geiro, aquelas que servem de vegetação para cobrircasas e até mesmo algumas necessárias para fazer car-vão. Tudo que eles utilizam na vida deles, nós resga-tamos e distribuímos em categorias de uso”, destaca.

A pesquisadora explica que somente em Olhod’água dos Pires foram encontradas mais de 100 es-pécies medicinais, sendo que muitas das plantas in-vestigadas já são conhecidas pela população. Noentanto, a pesquisadora alerta sobre o mau uso des-sas plantas. “Um exemplo que podemos citar é o IpêRoxo que é muito conhecido por possuir substânci-as anti-cancerígenas. O chá da casca do Ipê possuipropriedades que, se utilizadas corretamente, ajudama prevenir o câncer. Entretanto, não se pode divulgarisso sem um estudo e formas corretas de utilizaçãodas plantas. Não pode ser disseminado que o IpêRoxo combate a doença, já que as pessoas passari-am a coletar erroneamente a planta e acabar com aspoucas espécies existentes no mundo”, alerta.

Segundo Roseli Barros, apesar da enorme ri-queza em termos de flora, as plantas medicinais ain-da são pouco estudadas no Estado. “O Piauí é umverdadeiro oásis. Existe aqui muita riqueza em plan-tas medicinais que merece ser estudada”, pontuou apesquisadora.

TROPEN – Núcleo de Referência em CiênciasAmbientais do Trópico Ecotonal do Nordeste (86) [email protected]

Profa. Dra. Roseli Barros

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Autora: Claudete Maria Miranda Dias200 páginasR$ 15,[email protected]

O título do livro representa as numerosas indagações, inter-pretações, análises e questionamentos que se podem fazer àhistória, seja ela social, polí tica, econômica, cultural, religi-osa, ideológica, enfim todas as variadas tendências, corren-

tes, parâmetros, conceitos, opiniões e estudos que existem no mundo acadêmico.Grande parte dos artigos é resultado de estudos e pesquisas em História social dacolonização e da independência do Brasil e do Piauí, do passado, do presente e docotidiano, escondida há séculos sob os escombros da memória ou vista apenas sobo ângulo tradicional das elites dominantes.

Que História é Essa?

História, Pensamento e Ação

Organizador: Antônio Carlos dos SantosR$ 35,00426 pá[email protected]

Este livro é resultado dos trabalhos apresentados no IIIColóquio Nacional de Filosofia, realizado em 2005, naUFS. O mesmo reúne vários artigos e um deles é do prof.

Dr. da UFPI, Helder Buenos Aires de Carvalho. Os objetivos do Colóquio foramtrês. Primeiro, promover o intercâmbio entre os pesquisadores; segundo, reuni-los para debaterem problemas ligados à Filosofia da História e terceiro adensar areflexão crí tica já apreendida por grupos de pesquisas da Filosofia.

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4 Sapiência, dezembro de 2006

Pesquisadores da UFPI avançam noestudo de plantas medicinais

O estudo de plantas medicinais no Piauí foi apro-fundado há cinco anos, depois que uma equipe mul-tidisciplinar de pesquisadores da Universidade Fe-deral do Piauí se organizou e conseguiu desenvolverprojetos e angariar recursos com perspectivas dedesenvolver produtos fitoterápicos, fitofármacos oucosmecêuticos. Por enquanto, os estudos com plan-tas medicinais estão em nível avançado com pelomenos cinco espécies vegetais: (Cenostigma macro-phyllum - caneleiro, Protium heptaphyllum - alméce-ga, Terminalia brasiliensis – catinga de porco, Qua-lea grandiflora – pau terra da folha larga e Combre-tum leprosum - mufumbo). Essas espécies têm tidomais interesse científico por apresentarem alto po-tencial farmacológico, comprovando seu uso popu-lar no tratamento de várias doenças.

Fazendo um retrospecto, o estudo de plantasutilizadas na medicina popular no Piauí teve início noano de 1981, quando um grupo de pesquisadores daUFPI propôs ao Conselho Nacional de Desenvolvi-mento Tecnológico-CNPq um projeto de pesquisasobre a atividade biológica de plantas medicinais deuso popular no trópico semi-árido do Piauí. Este pro-

jeto foi aprova-do com financi-amento obtidoatravés de con-vênio celebradoentre a UFPI e oC N P q / B I D(PDCT-NE). Osrecursos desteProjeto permiti-ram a constru-ção de um Nú-

cleo de Pesquisas em Plantas Medicinais - NPPM(400 m2) e aquisição de alguns equipamentos. Comoparte das metas científicas do projeto, ações farma-cológicas de chás de algumas plantas medicinais fo-ram investigadas.

Em 1997, o grupo de pesquisadores, entãooriundos dos Departamentos de Química, Biologia,Biofísica e Fisiologia, Parasitologia e Microbiologia, eBioquímica e Farmacologia, ao retornarem de cursosde Pós-Graduação, aprovaram junto ao CNPq, atravésdo Programa Nordeste de Pesquisa e Pós-Graduação,

um projeto de criação de uma base de pesquisa emQuímica e Farmacologia de Produtos Naturais (Vigên-cia 1997-1999). Esta base teria o objetivo de realizarlevantamento etnobotânico de plantas do cerrado piau-iense; extrair, isolar e identificar constituintes de óleosessenciais e investigar seu potencial farmacológico;validar o uso popular de plantas medicinais do cerra-do, além de realizar estudo sistemático sobre algunscomponentes minerais e vitamina C presentes nasvárias espécies. Este projeto foi realizado na região decerrado do município de Nazaré do Piauí. Paralelamen-te, os pesquisadores participaram do Projeto “Grupoemergente para implantação do Mestrado em Quími-ca”, que resultou na implantação do mesmo, tendocomo uma das áreas de concentração a Química Orgâ-nica e subárea Produtos Naturais.

Posteriormente, o grupo deu continuidade aoestudo de plantas medicinais, com o desenvolvimen-to das atividades programadas no Projeto “Estudoquímico e farmacológico de plantas do Estado doPiauí”, financiado pelo CNPq, através do ProgramaNordeste de Pesquisa e Pós-graduação (segundafase), com vigência até agosto de 2001.

Financiamentos promoveram a capacitaçãoe estruturação de laboratórios

O fortalecimento das pesquisas com plantas me-dicinais no Piauí se deu quando o grupo participou daedição do PROCAD (Programa Nacional de Coopera-ção Acadêmica - 2001-2005) em parceria com a Univer-sidade Federal do Ceará (UFC). Este programa favore-ceu o estreitamento da troca de conhecimentos entreos dois centros de pesquisa, contribuiu para a forma-ção de um professor doutor na área de Farmacologia eum mestre na área de Química de Produtos Naturais,assim como foi responsável pelo treinamento de pes-quisadores e alunos de Iniciação Científica da Univer-sidade Federal do Piauí. O PROCAD proporcionouainda a aprovação de sua reedição (2006-2009) e aaquisição de novos equipamentos e materiais de cus-teio. Paralelamente, outros projetos foram propostosindividualmente por pesquisadores do grupo e apro-vados, tais como: CNPq-Universal e FAPEPI.

O financiamento mais expressivo ocorreu com aaprovação, em 2004, do Projeto de Pesquisa em Plan-tas Medicinais do Piauí, que é coordenado pela Pro-fa. Dra. do Departamento de Química da UFPI, Mari-ana Helena Chaves. Este projeto, ainda em andamen-to, é objeto do convênio mantido entre FAPEPI/FI-NEP. Os recursos do convênio são de R$ 365.000,00e com a contrapartida da UFPI chegam ao valor totalde R$ 482.462,81. Esse montante já possibilitou aaquisição de equipamentos de maior porte, amplia-ção e climatização do NPPM (200 m2) e está progra-mada a construção do Biotério Setorial do NPPM(124 m2). Os benefícios alcançados com a infra-estru-tura física e de equipamentos fortaleceram a área deconcentração Química Orgânica, subárea ProdutosNaturais, do Mestrado em Química da UFPI e deusuporte à criação de um programa de pós-graduaçãoem nível de Mestrado Acadêmico em Farmacologia(Subárea Farmacologia de Produtos Naturais), cujaproposta foi recentemente aprovada pela CAPES, einiciará no primeiro período de 2007.

A UFPI conta atualmente com uma massa críticade pesquisadores qualificados nas áreas de Microbio-

logia (02), Bioquímica (02), Imunologia (01), Farmacolo-gia (04), Fisiologia (01) e Química de Produtos Naturais(04), com forte atuação em programas de iniciação cien-tífica (PIBIC-CNPq/UFPI e PIBIC/UFPI) e pós-gradua-ção, seja como orientadores (Mestrado em Química/UFPI e Doutorado da Rede Nordeste de Biotecnologia- RENORBIO) ou co-orientadores (Mestrado em Pro-dutos Naturais e Sintéticos Bioativos/UFPB).

As linhas de pesquisa em desenvolvimento inclu-em: (I) Isolamento e elucidação estrutural de produtosnaturais de plantas e própolis; Análise de misturas com-plexas: óleo essencial e ácidos graxos. (II) Avaliação deatividades farmacológicas de produtos naturais (antimi-crobiana, fungitóxica, antinociceptiva, antioxidante, an-tiinflamatória, hipolipemiante, hipoglicemiante, efeitossobre a reprodução, Sistema Nervoso Central, Cardio-

vascular e Digestivo, citotoxicidade em diferentes tiposcelulares, mecanismos de ação de princípios ativos).

A implantação do novo Programa de Pós-Gra-duação permitirá a formação de recursos humanosqualificados na área de Farmacologia de ProdutosNaturais, que juntamente com o Programa de Pós-Graduação em Química contribuirão para o conheci-mento da composição química e ação farmacológicade plantas medicinais da flora piauiense, seu apro-veitamento racional e o desenvolvimento científico etecnológico da região.

Laboratório de Produtos naturais – LPN – UFPIFone: (86) [email protected]

Profa.Dra. Mariana Helena Chaves verifica extratos no Rotaevaporador, equipamento do Laboratório de Produtos Naturais

Profa. Dra. Fernanda Almeida

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Núcleo de Tecnologia Farmacêutica desenvolvemedicamento genérico contra a esquizofrenia

O projeto da produção dogenérico da Olanzapina teráduração de 24 meses e, aofinal deste, espera-se que o

mesmo possa ser maisacessível à população

brasileira. Essa é uma dasmetas perseguidas pelo

Ministério da Saúde

Em Teresina, o Núcleo de Tecnologia Far-macêutica (NTF) da UFPI foi instituído em 19de setembro de 1980, com a finalidade de pro-duzir medicamentos com segurança, qualidadee eficácia. Atualmente, o projeto de maior des-taque é a produção de um medicamento gené-rico para tratamento da esquizofrenia. O NTFintegra hoje a Rede Brasileira de ProduçãoPública de Medicamentos (RBPPM), criada emdezembro de 2005. Essa rede é formada peloslaboratórios farmacêuticos oficiais do Brasil etem por finalidade a produção de medicamen-tos para atender as diretrizes da política nacio-nal de saúde.

Dentre os projetos em execução no Núcleoestá o de “Medicamentos Excepcionais: desen-volvimento farmacotécnico e controle de quali-dade de Olanzapina Comprimidos”. O projeto éfinanciado pelo CNPq e ao final da sua execu-ção é esperado o posterior registro de um medi-camento genérico (equivalente farmacêutico ebioequivalente), junto a Agencia Nacional de Vi-gilância Sanitária - Anvisa, implicando na ampli-ação do acesso da população brasileira a medi-camentos eficazes, seguros e de reconhecidaqualidade, que é uma das metas perseguidas peloMinistério da Saúde. Em última análise, espera-se disponibilizar ao setor público um medicamentoexcepcional de alto valor agregado e que atual-mente é produzido e fornecidoao país por uma única empre-sa de origem estrangeira.

Desde 1º de Janeiro desteano, os pesquisadores do NTFse propõem a desenvolver ummedicamento genérico daOlanzapina, na forma farma-cêutica comprimido, com teo-res de 5mg e 10mg. A equipede pesquisa é coordenada pelafarmacêutica, professora doutora Antônia Mariadas Graças Lopes Citó e pelos professores dou-tores José de Arimatéia Dantas Lopes, CleideMaria Leite de Souza e Graziela CiaramellaMoita. Participam também os professores mes-tres Lívio César Cunha Nunes, Maria das Gra-ças Freire de Medeiros, Eilika Andréa FeitosaVasconcelos e o farmacêutico Marcio dos San-tos Rocha.

A Olanzapina é um medicamento excepci-onal produzido atualmente no Brasil por apenasum laboratório farmacêutico privado. O Progra-ma de Dispensação de Medicamentos de Ca-ráter Excepcional tornou-se, no Brasil, um gran-de desafio para os gestores em saúde, no quediz respeito ao atendimento da crescente de-manda frente à escassez de recursos públicos,aliada à falta de concorrência entre laboratóri-

os produtores, decorrente do fato de que algunsmedicamentos são importados ou possuem ape-nas um fabricante no Brasil.

A Olanzapina está sob patente do NTF até2007 e como faz parte do programa de medica-mentos excepcionais, todas as secretarias desaúde do país são obrigadas a comprá-lo. Noranking nacional, é o medicamento de maiorimpacto dos recursos financeiros em folha dasSecretarias de Saúde, vindo a ocupar a quintaposição deste ranking. “Baseado nisso, é queolhamos a necessidade de desenvolvê-lo. Ana-

lisamos dados que mos-travam que a SecretariaEstadual de Saúde doPiauí gastava por mês R$57 mil só com este medi-camento sintético e alopá-tico”, informou a profes-sora Maria das GraçasFreire de Medeiros.

É por conta dessa ne-cessidade de redução de

impacto nos recursos que o desenvolvimentoda Olanzapina está sendo desenvolvido pelo Nú-cleo de Tecnologia Farmacêutica. “Queremoster a Olanzapina produzida aqui no Piauí, regis-trada no Ministério da Saúde. Esse registro vaicoincidir com a conclusão do prédio do NTF e,assim, o Núcleo poderá fazer parte da rede delaboratórios oficiais do Ministério da Saúde ap-tos a produzir este medicamento e atender àssecretarias de saúde do Estado”, explica Mariadas Graças Medeiros.

“Acredito que a todos estes laboratórios serádada infra-estrutura para a produção de medi-camentos que atendam a demanda do SistemaÚnico de Saúde em todos os Estados”, explicoua coordenadora do Núcleo, Dra. Graça Citó. Deacordo com ela, o NTF está sendo reformado,ampliado e modernizado para atender às novas

resoluções vigentes da Anvisa. “Estamos crian-do uma outra divisão do NTF, porque lá já exis-tem várias divisões: temos a coordenadoria ge-ral, a coordenadoria de controle de qualidade, deprodução, de garantia de qualidade e agora estásendo criada uma Farmácia-Escola que é umadivisão de manipulação”, explicou.

O projeto da produção do genérico da Olan-zapina terá duração de 24 meses e, ao final des-te, espera-se que o mesmo possa ser mais aces-sível à população brasileira. Essa é uma dasmetas perseguidas pelo Ministério da Saúde. ONTF possui quatro medicamentos já registra-dos junto à ANVISA (Benzoato de Benzila, AAS,Dipirona e Paracetamol). Além dos medicamen-tos alopáticos, o NTF também desenvolve pes-quisa em medicamentos fitoterápicos e apiterá-picos (oriundos de produtos da colméia).

Outros ProjetosNo NTF também são desenvolvidos pro-

jetos com plantas. A professora Graça Citó tra-balha com óleos essenciais. Já a professoraMaria das Graças Medeiros está desenvolven-do a sua tese de doutorado baseada no estudode uma planta conhecida por Lippia Origa-noide, cujo óleo possui uma potente ação anti-microbiana. Os testes realizados com o óleo es-sencial de Lippia forneceram maior atividadedo que o antibiótico Vancomicina, contra umacepa de bactérias multiresistentes. “O resulta-do foi excelente”, define Medeiros.

No futuro, a coordenadora do Núcleode Tecnologia Farmacêutica diz que a pro-posta é usar a estrutura do mesmo paraprodução de fitoterápicos. “Isso vai depen-der da pesquisa química das plantas commaior potencial de reatividade farmacoló-gica e a partir deles desenvolvermos o pro-duto farmacotécnico”, disse Graça Citó.

De acordo com a professora Maria dasGraças Medeiros, a intenção é que o NTF dêforma farmacêutica às pesquisas desenvolvi-das no Departamento de Química da UFPI.“Aqui são identificados os compostos, no nú-cleo de plantas medicinais, eles identificam asatividades e, no NTF, criamos as formas far-macêuticas para essas substâncias extraídasde plantas ou substâncias sintéticas, como é ocaso da Olanzapina. E neste ponto fica claraa importância do NTF frente a estas pesqui-sas: o Núcleo dá forma a elas”, finaliza.

Departamento de Química – UFPINúcleo de Tecnologia Farmacêutica – NTF(86) [email protected]

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Profa. Dra. Antônia Maria das Graças Lopes Citó

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NPPM e LPN comprovam potencialidadesterapêuticas do caneleiro

A C. macrophyllum é popularmenteconhecida como caneleiro, canela-de-

velho, fava do campo e maraximbé. Elaocorre nos Estados do Mato Grosso,Pará, Rondônia, Tocantins, Goiás,

Minas Gerais, Maranhão, Ceará, Per-nambuco, Bahia e Piauí. É uma árvoreque pode atingir até 20 metros, com asuperfície do caule provida de sulcos.

Sua floração ocorre de agosto a fevereiroe frutifica entre fevereiro a junho. O

fruto é um legume plano e achatado, asflores são amarelas, discretamente

perfumadas, reunidas em inflorescênci-as, com uma pétala inferior mediana

menor, lembrando uma orquídea. Devidoa estas características a espécie é exten-sivamente utilizada como ornamental

em Teresina, o que a tornou plantasímbolo da cidade.

Núcleo de Pesquisas em Plantas Medicinais– NPPM/UFPI(86) 3215-5872 – [email protected] [email protected]ório de Produtos Naturais/Departa-mento de Química/UFPI

O estudo da espécie Cenostigma macro-phyllum Tul. var. acuminata Teles Freire vemsendo realizado na Universidade Federal do Piauídesde 1997 pelo Núcleo de Pesquisas em Plan-tas Medicinais através da avaliação de suaspropriedades farmacológicas e desde1998 o trabalho transcorre em cola-boração com o Laboratório de Pro-dutos Naturais do Departamentode Química da mesma institui-ção, responsável desde en-tão pela avaliação da com-posição química da espé-cie. No NPPM, as pes-quisas são comandadaspela Profa. Dra. Fer-nanda Regina de Cas-tro Almeida. NO LPN,a pesquisa é coordena-da pela Profa. Dra.Mariana Helena Cha-ves.

A Cenostigmamacrophyllum é umaangiosperma perten-cente à família Legumi-nosae, subordinada àsubfamília Caesalpinioide-ae e incluída na tribo Cae-salpinieae que possui 47 gêne-ros, entre os quais se inclui o Ce-nostigma Tul; constituído de qua-tro espécies de hábitos arbóreos e ar-bustivos distribuídas nas formações de mata, cer-rado e caatinga das regiões Norte, Nordeste,Centro-Oeste e Sudeste do Brasil. Das quatroespécies identificadas, Cenostigma tocantinumDucke, Cenostigma gardnerianum Tul., Ce-nostigma macrophyllum Tul., Cenostigma scle-rophyllum, somente a última, que ocorre no cha-co paraguaio, não é exclusivamente brasileira.

Considerações botânicas e fitoquímicas dafamília Leguminosae foram revisadas e os da-dos demonstram que esta família é particular-mente rica em flavonóides e compostos bioge-neticamente relacionados como rotenóides e iso-flavonóides, representando esta última classe,95% dos isoflavonóides já identificados em to-das as plantas já estudadas. Alcalóides, terpe-nóides e esteróides são exemplos de outras clas-ses de metabólitos secundários presentes emmuitos representantes da família. Os taninos,todavia, têm freqüência muito baixa se compa-rada aos flavonóides, tendo sido relatadas ape-nas três ocorrências em Caesalpinioideae.

Do ponto de vista farmacológico, muitasplantas da família Leguminosae são utilizadaspopularmente como antidiarreicas, laxativas,adstringentes das gengivas e no tratamento deferimentos, tendo sido comprovado em extratosbrutos, diversas atividades entre as quais anti-úlcera, hipoglicemiante e antimicrobiana.

Dentre as espécies com estudo em anda-mento pelo grupo de Química e Farmacologia

de Produtos Naturais da UFPI, a C. macro-phyllum foi a mais estudada, reunindo diversosresultados promissores. Foram isolados e iden-

tificados triterpenos pentacíclicos, esteróideslivres e glicosilados, tocoferóis e bi-

flavonas do extrato etanólico dasfolhas. Do extrato etanólicodas cascas do caule foram iso-

lados e identificados esterói-des livres, glicosilados e es-terificados com ácidosgraxos, um triterpenopentacíclico, ferulatos de

alquila, ácidos graxos, áci-do elágico e quantidade sig-nificativa de uma substânciafenólica de ocorrência rara,d e -nominada dilactona do

ácido valoneico.O perfil dos ácidos

graxos do óleo das se-mentes, determinado por

cromatografia gasosa, en-quadra esta Leguminosacomo uma fonte importan-te de ácidos graxos po-liinsaturados, especial-mente o ácido linoléico,além disso, o óleo mos-trou-se ainda rico em to-coferóis e carotenóides.

Tais constatações abrempossibilidades diversas de apli-

cação prática do óleo especial-mente na cosmecêutica, uma vezque, o ácido linoléico exerce gran-de influência sobre os mecanismos

de regeneração celular em tecidos superficiais.O extrato das folhas e das cascas do cau-

le do caneleiro apresenta excelente ativida-de seqüestradora de radicais livres determi-nado, principalmente, pela dilactona do áci-do valoneico e o ácido elágico. Estas subs-tâncias poderão ser candidatas ao desenvol-vimento de um antioxidante natural, após ava-liação toxicológica. Outra possibilidade deaproveitamento do caneleiro trata-se do óleoda semente, que é rico em ácido linoleico,tocoferóis e carotenos. Além deste, as bifla-vonas presentes em quantidades significati-vas nas folhas poderão ser aproveitadas notratamento de complicações crônicas do di-abetes. Pode-se concluir que os resultadosobtidos abrem perspectivas para que no fu-turo se possa contribuir para a produção debioprodutos a partir do caneleiro.

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Comprovadas ações terapêuticas daplanta do Gênero Protium

“Verificamos as suas ativida-des no combate à inflamação,

atividades gastrintestinais,analgésicas e hepáticas e

constatamos que o princípioativo realmente mostrouefeito farmacológico”

Das espécies de p lantas conhecidas pelouso popular medicinal no Piauí e que vêm sen-do estudadas pela Universidade Federal doPiauí – UFPI, a Protium heptaphillum (alméce-ga) tem apresentado importantes propriedadesde f ins terapêuticos. Da família Burseraceae,que compreende 16 gêneros e mais de 800 es-pécies tropicais e subtropicais, o gênero Pro-tium é o mais representativo com cerca de 136espécies. Dela se extrai uma resina oleosa eamorfa, cu jas aplicações gerais vão desde a fa-bricação de vernizes e tintas, na calafetagemde embarcações a cosméticos e repelentes deinsetos. Na parte terapêutica, a espécie se apre-senta como cicatrizante e expectorante, assimcomo ações antiinflamatória e antimicrobiana.Na medicina popular, gomas de óleo de resinade espécies Prot ium são usadas para váriosfins, como, por exemplo, estimulante, antiulce-roso e antiinflamatório.

Os estudos com a planta foram iniciados noDepartamento de Fitoquímica da UFPI que extraiua resina usada popularmente no combate a todasas indicações terapêuticas ci-tadas acima. Com a resina, apesquisa vem sendo aprofun-dada pelo Departamento deBioquímica e Farmacologia/NPPM da UFPI, com coorde-nação do Prof. Dr. Franciscode Assis Oliveira.

Há poucos relatos naliteratura acerca de estudosquímico e fa rmacológicocom espécies do gênero Prot ium. Sabe -seque, a partir de incisões feitas no tronco daespécie, obtém-se um óleo-resina aromático ,de coloração amarelo-clara, solid ificador emcontato com o ar e inflamável. A resina é u ti-lizada na medicina popular ainda como balsâ-mica e analgésica.

É uma árvore de grande porte, propícia a ter-

renos arenosos, úmidos ou secos, com altura quevaria de 10 a 20 metros, encontrada em todo Bra-sil, fornece excelente madeira para a construçãocivil. Além de almécega, é conhecida na Amazô-nia como almecegueira, breu-branco-verdadeiro,

almecegueira cheirosa,almecegueira de cheiro,almecegueira vermelhae almecegueiro bravo.

Atu a lm en te , o sp es q uis ad o res d oNP PM des env olv emprojetos relacionadosao estudo químico-far-macológico dessa es-pécie, com o intuito de

aprofundar as investigações dos efeitos do óleoessencial e do seu constituin te majoritário emmodelos experimentais contra inflamação, dore úlcera gástrica. “Da resina, conseguimos ob-ter o princípio ativo fixo, que são os terpenói-des. Fizemos uma avaliação toxicológica e far-macológica tanto da resina, quanto do princí-

pio ativo. Verif icamos que a resina não apre-sentou toxicidade, assim como as substânciasfixas”, informou o Dr. Francisco Oliveira.

Nos exames para avaliar a toxicidade da plan-ta, os testes foram bastante positivos e a espéciefoi considerada segura neste quesito. “A Protiumnão demonstrou efeito tóxico até uma dose acei-tável, de confiança. Por exemplo, utilizamos atécinco gramas por quilo, via oral, em animais expe-rimentais, o que é considerada uma concentraçãomuito alta de substâncias tóxicas, mas não ocor-reram alterações da fisiopatologia ou mesmo mor-te”, afirma o pesquisador, esclarecendo que nohomem ainda não foram realizados testes, masdiante dos resultados com ratos, já se pode pre-dizer que há uma perspectiva de segurança para anão toxicidade.

Num segundo passo, o Dr. Francisco Oli-veira explicou que foram avaliadas as potenciali-dades da planta quanto ao uso popular. “Verifi-camos as suas atividades no combate à inflama-ção, atividades gastrintestinais, analgésicas e he-páticas e constatamos que o princípio ativo real-mente mostrou efeito farmacológico, ou seja, con-seguimos comprovar, através de experimentospré-clínicos, que as indicações populares podemser validadas”.

Para o Dr. Francisco Oliveira, a perspecti-va quando se estuda um produto com efeito far-macológico é que chegue a ser, no futuro, um me-dicamento fototerápico ou fitofármaco. “O passoinicial que realizamos foi de toxicidade e farmaco-lógica pré-clínicas, que é em animais de laborató-rio. A partir daí, com esses dados, é possível infe-rir, dar continuidade ao estudo em seres huma-nos”. Segundo Oliveira, o próximo passo seriabuscar, junto a empresas, a possibilidade de co-mercialização desses princípios na forma de me-dicamentos, de preferência, mais acessíveis àpopulação.

Depto. de Bioquímica e Farmacologia – UFPI(86) 3215-5872 e [email protected]

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Prof. Dr. Francisco de Assis Oliveira

Folha e semente da Almécega

Resina do gênero Protium bruta e preparada no Laboratório de Produtos Naturais

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Sapiência – Como partiu a idéia de cria-ção do Projeto Farmácia Viva?

Dr. Matos - Pouco depois de aposentado, fizum retrospecto de minha atividade ao longo 20 anos,como professor e pesquisador em regime de Dedi-cação Exclusiva na UFC, nas áreas de farmacog-nosia e de química orgânica, especialmente comprodutos naturais. Numerosas comunicações emcongressos, trabalhos publicados no Brasil e noexterior, muitos dos quais sobre estudos, envolven-do as áreas da taxonomia botânica, química de pro-dutos naturais secundários e farmacologia, realiza-dos em equipes de plantas medicinais em ocorrên-cia no Nordeste tinham aí a justificativa de suaspropriedades. Isto, mais a minha participação no

O cientista cearense Francisco José de Abreu Matos e professor emé-rito da Universidade Federal do Ceará (UFC) tem meio século dedicadoao estudo das plantas. Aos 82 anos, conquistou reconhecimento nacional einternacional pelo desenvolvimento de estudos com plantas medicinais noBrasil e por ser o pai do Projeto Farmácia Viva.

Farmacêutico-químico, graduado pela UFC,, em 1945, especializou-se em Farmacognosia na USP, em 1958, e alcançou o doutorado na mesmaespecialidade através do concurso para professor Catedrático da UFC, em1960. No mesmo ano conquistou a Livre-Docência. Matos trabalha na UFCdesde 1970, onde estuda a fitoterapia, uso de plantas medicinais em tra-tamento de saúde. Há 21 anos, criou e coordena o projeto Farmácias Vi-vas, presente em aproximadamente 40 municípios cearenses e mais seisestados brasileiros: Rio Grande do Norte, Paraíba, Piauí, Distrito Fede-ral, São Paulo e Rio de Janeiro.

Com trabalhos publicados no Brasil e no exterior, muitos dos quaissobre estudos envolvendo as áreas da taxonomia botânica, química de pro-dutos naturais secundários e farmacologia, ele publicou vários livros entreeles: Farmácias Vivas (1998), Plantas Medicinais: guia de seleção e em-prego de plantas usadas em Fitoterapia no Nordeste do Brasil (1998),Plantas Medicinais do Brasil (2002), Óleos Essenciais de Plantas do Nor-deste (1981), Constituintes Químicos Ativos de Plantas Medicinais Brasi-leiras (1991), Introdução à Fitoquímica Experimental (1997) e O Formu-lário Fitoterápico do Professor Dias da Rocha (1997).

A idéia do ‘Farmácia Viva’ ganhou o Brasil, ao propor algo tão sim-ples quanto desafiador: unir o conhecimento popular ao científico. Segun-do ele, “é importante o trabalho de determinação da eficácia terapêuticadas plantas usadas pelo povo. No Nordeste são mais de 600 espécies edessas somente cerca de 100 têm determinadas, muitas vezes, só parcial-mente sua eficácia e segurança”.

Programa de Pesquisas de Plantas Medicinais, oPPPM, idealizado e coordenado pela antiga Cen-tral de Medicamentos do Ministério da Saúde(CEME), formaram a base para a criação do Pro-jeto Farmácias Vivas, com o objetivo de promo-ver a substituição de plantas usadas empiricamen-te por outras com a garantia de eficácia e segu-rança disponíveis na região. Havia chegado à horade retribuir para o povo o que recebi em muitosanos de estudos como aluno da escola pública, doginásio até a universidade.

 Sapiência - Esse projeto é de suma im-

portância porque auxilia no tratamento desaúde de comunidades mais carentes. Porém,

não existem incentivos e nem políticas públicasque o fortaleça. Esses são os principais entra-ves para que ele seja ampliado?

Dr. Matos – Em parte sim. Apesar de ter sidouma idéia que deu certo e tem demorado muito aser assumida pelos cursos da área de saúde das uni-versidades, mesmo tendo sido aprovada em con-curso promovido pela Fundação Banco do Brasilcomo uma tecnologia social efetiva. Conseqüente-mente não se alcançou número mínimo necessáriode profissionais das áreas da saúde e de agronomiapara a ampliação do projeto. Espera-se que a recen-te aprovação por Decreto Presidencial da PolíticaNacional de Plantas Medicinais e Fototerápicos di-

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recione recursos para formação de pessoal e pes-quisas e permitam a ampliação dessa metodologiae sua implantação a cada região do país.

Sapiência - O Brasil concentra pelo me-nos 22% das espécies de plantas floríferas co-nhecidas e catalogadas hoje na natureza. Dascerca de 120 mil espécies de plantas cataloga-das no Brasil pela OMS, apenas duas mil sãoutilizadas como medicinais e, destas, apenas10% são pesquisadas, de forma que, no futu-ro, se descubram eficácias terapêuticas. Porque a ciência não deu, até agora, a devida im-portância no âmbito das pesquisas químico-far-macológicas?

Dr. Matos – Pesquisas químico-farmacoló-gicas são desenvolvidas habitualmente pelas gran-des empresas farmacêuticas dos países do pri-meiro mundo com gastos de vários milhões dedólares na busca de novas moléculas biologica-mente ativas, que viram patentes. Essas pesqui-sas no Brasil são realizadas a uma velocidade bemmenor proporcional ao volume de recursos apli-cados pelo Governo. Mais rendoso seria o traba-lho de determinação da eficácia terapêutica dasplantas usadas pelo povo. No Nordeste, são maisde 600 espécies, somente cerca de 100 têm deter-minadas, muitas vezes, só parcialmente sua eficá-cia e segurança.

Sapiência – A região dos cerrados possuiuma fonte de riquezas incalculável com rela-ção a plantas medicinais, a maioria ainda nãoestudada. Porém, há poucas leis ambientaisque protegem esse ecossistema, como ocorrenas Florestas Amazônica e na Mata Atlântica.É possível, assim, que boa parte dessas espé-cies, que ajudam no desenvolvimento da fito-terapia, venha a ser extintas?

Dr. Matos – Sim, tanto no cerrado como nacaatinga várias espécies estão sob risco, inclusivealgumas usadas nos programas municipais de fi-toterapia como a Aroeira do Sertão e a Imburanade Cheiro ou Cumaru do Nordeste. Com a ampli-ação do consumo, cresce o mercado de cascas eaumenta o risco de extinção da espécie. Este éoutro aspecto da exploração de plantas para a fi-toterapia.

Sapiência – Os pesquisadores do Núcleo

de Pesquisas de Plantas Medicinais (NPPM) eDepartamento de Química da UFPI estão de-senvolvendo estudos em parceria. Projetosaprovados pelo CNPq contribuem até para acriação do Laboratório de Produtos Naturais ea criação do mestrado na área pode virar umarealidade. Como o Senhor analisa essa dinâ-mica do fazer pesquisa no Nordeste? De queforma as pesquisas em rede beneficiam deter-minada região?

Dr. Matos – Em todo o Nordeste, existemtão bons pesquisadores quanto nos estados maisricos do Centro-Sul. A parceria é uma boa formade reunir boas cabeças de um lado e boas instala-ções de outro, além de acelerar o processo de ca-pacitação dos grupos. Por outro lado, cria a opor-tunidade de estudo das plantas nordestinas muitopouco estudadas.

Sapiência – Como a população pode se be-neficiar dos resultados de estudos com plan-tas medicinais?

Dr. Matos – O projeto Farmácias Vivas e aPolítica Nacional de Plantas Medicinais já demons-tram os benefícios deste estudo. A experiência temmostrado que é possível controlar 80% dos malesde uma comunidade com fitomedicamentos pre-parados com apenas 15 espécies do elenco seleci-onado pelo Projeto Farmácias Vivas.

Sapiência – O que falta para transformaros artigos científicos oriundos das teses e disser-tações na área de plantas medicinais em paten-tes ou medicamentos fitoterápicos no Brasil?

Dr. Matos – Patentes requerem sigilo duran-te as pesquisas o que é incompatível com os estu-dos feitos por professores cujo apoio dos órgãosfinanciadores depende da produção científica dopesquisador. Para aproveitamento das pesquisasna criação de fitoterápicos há necessidade de umametodologia aplicada a esse objetivo.

Sapiência – Que avaliação pode ser feitasobre o potencial farmacológico da nossa florae o desenvolvimento de pesquisas nessa área?

Dr. Matos - O potencial é fantástico, especi-almente na região amazônica. Mesmo no Nordes-te é também muito grande, mas tempo para torná-lo realidade depende de mais investimentos empessoal e material adequadamente dirigido, o que

está previsto no documento que divulga a PolíticaNacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos.Seria muito bom que todos os interessados assis-tissem atenciosamente ao excelente videoclipe “Oproblema dos fitoterápicos” produzido sob os aus-pícios do CNPq e da Fiocruz.

Sapiência – Há uma crítica sobre o conhe-cimento da Botânica disseminado na socieda-de: o homem de hoje praticamente não conhe-ce/identifica mais as plantas como no passado.Isto é decorrente da urbanização ou do despre-zo à natureza em nome da tecnologia? Comoisto afeta a pesquisa em plantas medicinais?

Dr. Matos – Isto acontece principalmente nomeio urbano onde as pessoas se desligam da na-tureza, forçadas pela luta pela sobrevivência e qua-se que hipnotizadas pela propaganda do “tomeisso”, “beba aquilo”, compre, compre, compre.

Sapiência – Amantes da natureza ideali-zam as virtudes dos produtos naturais, inclu-indo as plantas. Essa afirmativa é correta?Qualquer produto, por ser natural, é bom?

Dr. Matos – Ser natural não significa ser bom.O chá de espirradeira indevidamente usado parainterromper uma gravidez não desejada, muitasvezes mata também a própria mãe. Um supositó-rio de babosa usado pelo povo para tratar crisesde hemorróidas pode provocar grave intoxicaçãorenal se contiver quantidade apreciável do sumoamarelo das folhas.

Sapiência – Qual produto ou planta quevem sendo objeto maior de suas investigaçõescientíficas atualmente?

Dr. Matos – Duas plantas se constituem obje-to maior de minhas atenções no campo da fitotera-pia: o açafrão-da-índia (Curcuma longa L.) ou Aça-froa no Ceará, e o Agrião-do-brejo (Eclipta erectaL.). A primeira atua como normalizador dos níveisde triglicérides e colesterol no sangue, ação anti-PAF, antiinflamatória, antidispéptica e protetora dointestino contra o câncer de cólon. A segunda, porsuas atividades imunoestimulantes, potencialmentecapaz de diminuir a freqüência das infecções opor-tunísticas dos portadores do vírus HIV e sua açãohepatocitoprotetora, potencialmente útil no contro-le do bem-estar de pacientes em tratamento antitu-moral com os potentes quimioterápicos.

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