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, Goiânia. 2020, v. 6:e8135 1-13 Resumo: o Subúrbio Ferroviário expandiu sem planejamento e apropriando-se de áreas livres, transformando-se em local carente, com concentração de habitações irregulares, precariedade em infraestrutura urbana e serviços básicos. O objetivo deste artigo é identificar fatores que contribuem com a degradação ambiental, atra- vés da análise da infraestrutura sanitária dos domicílios do bairro São Tomé de Paripe, em Salvador-Bahia, utilizando-se da revisão bibliográfica e da análise de dados secundários. Foi realizada a caracterização da população residente do bairro de São Tomé e seus domicílios. Os resultados obtidos contribuem para afirmar que o processo de urbanização e a infraestrutura sanitária do bairro, colaboram com contaminação ambiental. Deste modo, tornando a população local suscetível a ad- quirir doenças de veiculação hídrica e sofrerem com animais peçonhentos. O artigo evidencia que degradação ambiental produz impactos negativos, não contidos em um único local, mas fazem parte do contexto da cidade e tornam-se heranças para as gerações futura. Palavras-chave: São Tomé de Paripe. Degradação Ambiental. Infraestrutura Sanitária. SANITATION AND ENVIRONMENTAL DEGRADATION: AN ANALYSIS OF THE RAILROAD SUBURBAN OF SALVADOR-BA Abstract: Subúrbio Ferroviário expanded without planning and appropriating free areas, becoming a poor place, with concentration of irregular housing, precarious urban infrastructure and basic services. The objective of this article is to identify factors that contribute to environmental degradation through the analysis of the sanitary infrastructure of households in the São Tomé district of Paripe, in Salvador- Bahia, using bibliographic review and secondary data analysis. It was carried out the characterization of the resident population of the district of São Tomé and their households. The obtained results contribute to affirm that the urbanization process and the sanitary infrastructure of the neighborhood collaborate with environmental Leonardo Silverio Gonçalves de Santana, Mariane Reis Vila Verde, Renato Barbosa Reis SANEAMENTO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL: UMA ANÁLISE DO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO DE SALVADOR(BA)* eISSN: 2448-0460. DOI 10.18224/baru.v6i1.8135 A R T I G O

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Resumo: o Subúrbio Ferroviário expandiu sem planejamento e apropriando-se de áreas livres, transformando-se em local carente, com concentração de habitações irregulares, precariedade em infraestrutura urbana e serviços básicos. O objetivo deste artigo é identificar fatores que contribuem com a degradação ambiental, atra-vés da análise da infraestrutura sanitária dos domicílios do bairro São Tomé de Paripe, em Salvador-Bahia, utilizando-se da revisão bibliográfica e da análise de dados secundários. Foi realizada a caracterização da população residente do bairro de São Tomé e seus domicílios. Os resultados obtidos contribuem para afirmar que o processo de urbanização e a infraestrutura sanitária do bairro, colaboram com contaminação ambiental. Deste modo, tornando a população local suscetível a ad-quirir doenças de veiculação hídrica e sofrerem com animais peçonhentos. O artigo evidencia que degradação ambiental produz impactos negativos, não contidos em um único local, mas fazem parte do contexto da cidade e tornam-se heranças para as gerações futura.

Palavras-chave: São Tomé de Paripe. Degradação Ambiental. Infraestrutura Sanitária.

SANITATION AND ENVIRONMENTAL DEGRADATION: AN ANALYSIS OF THE RAILROAD SUBURBAN OF SALVADOR-BA

Abstract: Subúrbio Ferroviário expanded without planning and appropriating free areas, becoming a poor place, with concentration of irregular housing, precarious urban infrastructure and basic services. The objective of this article is to identify factors that contribute to environmental degradation through the analysis of the sanitary infrastructure of households in the São Tomé district of Paripe, in Salvador-Bahia, using bibliographic review and secondary data analysis. It was carried out the characterization of the resident population of the district of São Tomé and their households. The obtained results contribute to affirm that the urbanization process and the sanitary infrastructure of the neighborhood collaborate with environmental

Leonardo Silverio Gonçalves de Santana, Mariane Reis Vila Verde, Renato Barbosa Reis

SANEAMENTO E DEGRADAÇÃO

AMBIENTAL: UMA ANÁLISE

DO SUBÚRBIO FERROVIÁRIO

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contamination. In this way, making the local population susceptible to acquiring waterborne diseases and suffering from venomous animals. The article highlights that environmental degradation produces negative impacts, not contained in a single location, but are part of the city’s context and become inheritance for future generations.

Keywords: São Tomé de Paripe. Ambiental degradation. Health Infrastructure.

SANEAMIENTO Y DEGRADACIÓN AMBIENTAL: UN ANÁLISIS DEL SUBURBANO FERROVIARIO DE SALVADOR-BA

Resumen: Subúrbio Ferroviário se expandió mediante la planificación y apropiación de áreas libres, transformándose en una ubicación deficiente, con una concentración de habitaciones irregulares, infraestructura urbana precaria y servicios básicos. El objetivo de este artículo es identificar la fatiga que contribuye a la degradación ambiental, a través del análisis de la infraestructura sanitaria de dos hogares en Santo Tomé de Paripe, en Salvador-Bahía, utilizando la revisión bibliográfica y el análisis de datos secundarios. Esto se hizo como una caracterización de la población residente del barrio de Santo Tomé y sus hogares. Los resultados obtenidos contribuyen a afirmar que el proceso de urbanización y la infraestructura sanitaria delbarrio, colaboraron con la contaminación ambiental. De esta forma, la población local es susceptible de adquirir recursos hídricos y sufrir con animales venenosos. Es evidencia de que la degradación ambiental produce impactos negativos, no contenido en un solo local, pero es parte del contexto de la ciudad y el futuro para las generaciones futuras.

Palabras clave: Santo Tomé de Paripe. Degradación ambiental.Infra estructura sanitaria.

A revolução industrial desencadeou o turbilhão demográfico e uma complexida-de do perfil urbano, regido pela expansão urbana acelerada e desordenada que abrangeu o surgimento da segregação espacial e socioeconômica urbana. Ao lon-

go do período, sobretudo, o mais recente, o processo de urbanização no Brasil apresenta--se com inúmeros reflexos negativos que podem ser verificados atualmente nas metrópo-les brasileiras como: desigualdade social, segregação sócioespacial, degradação ambiental, habitações em locais irregulares e precariedades nos serviços de infraestrutura sanitária básica, que refletem na qualidade de vida e saúde da população local (MARICATO, 1996; SANTOS, 2009; VILLAÇA, 2003).

Na década de 1980, intensifica-se o processo de expansão da cidade, delimitada por três vetores: Orla Marítima, área nobre marcada pela especulação imobiliária, o Miolo, o “centro geográfico” ocupado pela classe média baixa, e o Subúrbio, que teve a sua ocupação impulsionada por conta das linhas férreas. A expansão e ocupação habitacional do Subúrbio Ferroviário é marcada pela ocupação irregular, sem controle do poder público, portando, sem atender as leis e normas urbanísticas vigentes na cidade (CARVALHO, 2008).

O subúrbio ferroviário, composto por quinze bairros incluindo três ilhas, é mar-cado pelas “invasões” presentes em toda cidade, resultante da falta de planejamento, da ausência de dinamismo e das especulações imobiliárias. Os bairros que o compõe sempre foram vinculados à problemas sociais, marcados pela escassez de serviços, habitações ir-regulares, infraestrutura deficiente, precariedades nos serviços públicos essenciais, como saneamento, educação, saúde e segurança (GORDILHO, 1990).

Análises históricas apontam que as localidades de Paripe e São Tomé de Paripe antecedem a fundação da cidade de Salvador. Devido a distância, a área foi considerada como povoado de administração independente, intitulada “Comarca de Paripe”, até o século XVIII ainda não havia sido legalmente integrada a capital baiana. Devido a sua

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beleza natural, o bairro inicialmente foi ocupado por casas de veraneio e chácaras (FUN-DAÇÃO GREGÓRIO DE MATTOS, 2019).

São Tomé de Paripe pertence ao distrito de Paripe, englobado ao Subúrbio Ferro-viário, região que sofreu denso processo de ocupação entre as décadas de 1960 e 1970, consequência dos avanços das atividades da Petrobras, da instalação da Companhia de Cimento Salvador (COCISA), do Centro Industrial e da Base Naval de Aratu, além de outros equipamentos que impulsionaram ocupação do bairro (FONSECA, 1992).

As disparidades socioeconômicas e culturais são características comuns das metró-poles brasileiras e fomentam grandes discussões no campo das ciências sociais e do plane-jamento urbanístico contemporâneo. Tendo como aporte este cenário apresentado, o artigo tem como objetivo identificar os domicílios que contribuem com a degradação ambiental, a partir da análise da infraestrutura sanitária dos domicílios do bairro São Tomé de Paripe.

Para atender o objetivo, metodologicamente, a pesquisa foi realizada em duas etapas, revisão bibliográfica e análise dos dados secundários dos setores censitários, fornecidos pelo IBGE. A pesquisa bibliográfica foi realizada através da elaboração do referencial teóri-co, tendo como base conceitos pertinentes ao tema do artigo, como: urbanização, infraestru-tura sanitária, degradação ambiental, contaminação do corpo hídrico e saúde urbana.

Visando evitar falhas na análise dos dados, o estudo foi desenvolvido com a com-patibilização das delimitações espaciais utilizadas pela Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) com os dados dos censos fornecidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fonte de estudo fundamental para a caracte-rização da população, dos domicílios e da infraestrutura.

Desconsiderando um setor cuja maior porção da área pertence ao bairro vizinho de Paripe e outro setor cuja totalidade de sua área pertence à Marinha do Brasil, para efeito desse artigo, considera-se a delimitação do bairro de São Tomé de Paripe distribuída em dez setores censitários, adotando uma poligonal similar à definida pela Conder. A poligonal que delimita o bairro de São Tomé de Paripe pertence ao subdistrito de Paripe, conforme a Figura 1.

Figura 1: Poligonal do bairro de São Tomé de Paripe com seus 10 setores censitáriosNota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico, 2010).

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Pontuados os aspectos de estudo, resta salientar que, além da introdução apresentada e da conclusão, o artigo encontra-se estruturado em três momentos. O primeiro momento é apresen-tado às características da população residente do bairro: evolução da população, escolaridade e renda, com base no censo. No segundo são explanados os domicílios e um comparativo entre os censos quanto à situação do fornecimento de água, esgotamento sanitário e destino dos resíduos sólidos, em Salvador e no bairro estudado. E no terceiro momento são identificados os locais que indicam maior vulnerabilidade ambiental e os reflexos para o bairro.

CARACTERIZAÇÃO DA POPULAÇÃO DE SÃO TOMÉ DE PARIPE

Visando compreender a evolução da população do bairro de São Tomé de Paripe, foi elaborada uma análise comparativa entre o censo do ano 2000 e 2010. De acordo com o censo de 2000 (IBGE, 2000), o bairro possuía 6.875 habitantes, estratificados entre a população do sexo masculino com 3.522 pessoas e sexo feminino com 3.353 pessoas, 51% da população total composta pelo gênero masculino. No ano de 2010 (IBGE, 2010), o bairro possuía 9.522 habitantes, a população aumentou em aproximadamente 39%, com uma taxa de crescimento populacional de 3,21% ao ano, participando de aproximadamente 1% do crescimento da po-pulação do Subúrbio e 0,08% da cidade de Salvador (BAHIA, 2016; IBGE, 2010).

Em relação à distribuição por gênero, em Salvador 53% eram mulheres e 47% eram homens, no bairro de São Tomé de Paripe verifica-se uma divisão aproximada entre os sexos, sendo 49,5% homens e 50,5% mulheres, correspondendo a 4.717 homens e 4.805 mulheres (IBGE, 2010). Verificando maior prevalência de homens e mulheres na mesma na faixa etária de 10 a 14 anos, correspondendo respectivamente, 10% e 9% (IBGE, 2010) (Figura 2).

A pirâmide etária do bairro possui características similares à pirâmide etária do Bra-sil, conforme o IBGE (2010). Verifica-se na Figura 2 uma predominância da população jovem em direção à adulta, indicando um aumento da faixa nos próximos anos. Conforme os dados, a maior concentração da população de São Tomé de Paripe encontra-se distri-buída nos grupos de 10 a 19 anos (19%), seguida pelo grupo de 30 a 39 anos (18%) e de 0 a 09 anos (17%).

Figura 2: Pirâmide etária da população do bairro de São Tomé de Paripe, Salvador(BA)Nota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico, 2010).

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Os moradores do bairro de São Tomé de Paripe se auto declararam predominante-mente pardos (61%) e pretos (24%), correspondendo a 85% da população total residente. Os percentuais menos expressivos são vistos nas pessoas que se auto declararam branca (13%), amarela (2%) e indígena (0,07%) (IBGE, 2010).

Segundo Carvalho (2008), a desigualdade se faz presente na região metropolitana de Salvador e destaca que as áreas vistas como precárias no Miolo da cidade e no Subúr-bio Ferroviário são afetadas por diversas carências, inclusive altos índices de analfabetis-mo, constatando que os trabalhadores com apenas o primeiro grau incompleto eram vistos com maiores frequências no Subúrbio Ferroviário (78%).

Ao analisar o índice de moradores do bairro de São Tomé de Paripe acima de 15 anos que não foram alfabetizadas, os dados do IBGE (2010) demonstraram que repre-senta 7% da população total, ao estratificar por sexo a diferença praticamente não existe, sendo equilibrado o índice de analfabetismos entre os homens e mulheres do bairro. Re-lacionando os responsáveis por domicílios com pessoas não alfabetizadas, demonstrou que em 2010 (IBGE, 2010), das 2.744 pessoas responsáveis pelo domicílio, 9% não eram alfabetizadas.

A População Economicamente Ativa (PEA), que segundo o IBGE (2019) é com-posta por pessoas de 10 a 65 anos de idade, no bairro de São Tomé de Paripe, de acordo com o censo 2010 (IBGE, 2010), corresponde a 78% da população total, porém somente 20% auferem rendimento, somando 1.904 pessoas.

A distribuição dos salários no bairro, com base no censo 2010 (IBGE, 2010), de-monstra que o maior grupo aufere um rendimento de meio salário mínimo a um salário mínimo, correspondendo a 41% da população e o segundo maior grupo aufere de um a três salários mínimos com 22%. Estratificando por sexo, averiguou-se que o sexo mascu-lino aufere mais renda, correspondendo 1.231 homens (65%). Dentre a população total de 9.522 habitantes, 29% são responsáveis pelo domicílio, sendo os homens (56%) o maior grupo responsável (IBGE, 2010).

DOMICÍLIOS E INFRAESTRUTURA DO BAIRRO

De acordo com os dados do IBGE, o censo de 2000 e 2010, no período de 10 anos, o número dos domicílios particulares teve um aumento de 55%, a quantidade de domicílios no ano 2000 (IBGE, 2000) era de 1.765 e em 2010 (IBGE, 2010) este número aumenta para 2.737 unidades habitacionais. Em relação à quantidade de moradores por domicílio, o IBGE (2010), demonstrou que 25% dos domicílios possuem em média três moradores, 21% quatro moradores e 20% somente dois moradores (Figura 3).

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Figura 3: Distribuição dos domicílios particulares em relação ao número de moradores – São Tomé de Paripe, Salvador(BA)Nota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico, 2010).

Em relação ao tipo de moradia, 96% das unidades habitacionais eram casas (2.623 casas), 3% que corresponde a 75 habitações são casas de vila ou em condomínio e exis-tiam em 2010 somente 12 apartamentos (IBGE, 2010). As habitações do bairro têm no máximo três pavimentos, sendo que na orla só são encontradas habitações com um ou dois pavimentos. Ao caracterizar os domicílios do bairro quanto à situação da proprieda-de do imóvel, verificou-se que 88% dos imóveis eram próprios e quitados, 7% estavam alugados e o menor índice foi vistos em imóveis próprios em aquisição, correspondendo a somente 11 habitações (IBGE, 2010).

Ao tratar sobre ao acesso à infraestrutura básica, a cidade de Salvador apresenta uma grande evolução, ao comparar os censos de 2000 e 2010. Tendo como aporte o censo 2000, os dados demonstraram que a cidade era bem servida pelo serviço de abastecimento de água pela rede geral canalizada, atendendo 97% dos domicílios e no ano de 2010 esses números evoluem para 99% (BAHIA, 2016).

As habitações do bairro de São Tomé de Paripe, de acordo com o censo 2000 (IBGE, 2000), tinham 86% dos domicílios servidos pelo abastecimento de água pela rede geral canalizada, no ano de 2010 (IBGE, 2010) esses números ampliam para 97% e 77 habi-tações responderam utilizar água de poço e outras formas de abastecimento (Figura 4).

Figura 4: Formas de abastecimento de água no bairro de São Tomé de Paripe – Salvador(BA)Nota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico, 2000; 2010).

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Tendo como base o censo 2000, a cidade de Salvador atendia 75% das habitações com a rede geral de esgotamento sanitário e no ano de 2010 esses números ampliam e demonstram uma grande evolução neste serviço para cidade que passar a atender 91% dos domicílios (BAHIA, 2016).

No bairro de São Tomé de Paripe, conforme o censo 2000 (IBGE, 2000), somente 19% dos domicílios tinha acesso à rede geral de esgotamento sanitário, no ano de 2010 (IBGE, 2010) esses números ampliam para 66%, porém 9% das unidades habitacionais afirmaram fazer o despejo do esgotamento sanitário em fossas sépticas, 9% em valas, 7% em rios e lagos, 5% em fossa rudimentar e 1% em escoadouros (Figura 5).

Figura 6: Formas de descarte dos resíduos sólidos no bairro de São Tomé de Paripe – Salvador(BA)Nota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico,2000; 2010).

Figura 5: Formas de esgotamento sanitário no bairro de São Tomé de Paripe – Salvador(BA)Nota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico,2000; 2010).

Em relação ao destino dos resíduos sólidos da capital baiana o censo 2000, demons-trou que 93% eram coletados pelo serviço de limpeza da cidade e no ano de 2010 esses números ampliam para 97% (BAHIA, 2016).

No bairro de São Tomé de Paripe, o censo 2000 (IBGE, 2000) apresenta que 64% dos domicílios tinham resíduos sólidos coletados pelo serviço de limpeza da cidade, no ano de 2010 (IBGE, 2010) esses números ampliam para 86%, 43% dos domicílios fazem o descarte em caçambas e 43% a coleta passa na porta das residências, porém 11% fazem o lançamento dos resíduos em terrenos baldios e 3% o queimam (Figura 6).

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IDENTIFICAÇÃO DE FATORES DE RISCOS E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL

No ano de 2001, o percentual de cobertura vegetal do bairro de São Tomé de Paripe era de 50,58%, já em 2009 o percentual aferido foi 47,92%. No mesmo período, o estudo constatou uma redução de 5,3% da camada vegetal no bairro, uma redução aproximada de 248 mil m², o que pode ser atribuído ao aumento do número de residências, que confor-me os últimos dois censos do IBGE houve um crescimento de 55% (IBGE, 2000; IBGE, 2010; BAHIA, 2016).

Buscando identificar os setores censitários que mais contribuem com a contamina-ção ambiental no bairro, foi realizada a espacialização dos dados do censo 2010, com as variáveis de esgotamento sanitário e descarte dos resíduos sólidos.

Considerando o número de residências com destino de esgoto sanitário inadequado, somatório das casas dotadas de fossa rudimentar, esgoto despejado em vala, rio, lago, mar e outras formas de escoadouro, têm a distribuição conforme Figura 02. Percebe-se que todos os setores contribuem com a contaminação ambiental, sendo o setor B, área da Orla, com o menor índice, e destacando a margem da BA-528 como área circundante dos setores com os piores índices de degradação.

Figura 7: Espacialização das variáveis do esgotamento sanitário no bairro de São Tomé de ParipeNota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico, 2010).

Considerando o número de residências com descarte irregular de resíduos sólidos, somatório das casas ondo o lixo é queimado, enterrado, jogado em terreno, lançado em rio, lago, mar e outros, temos a distribuição conforme Figura 8. Neste quesito, destaca-se

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novamente o setor da Orla, com todas as residências integradas a rede de coleta de lixo, e os piores índices registrados nas áreas que compõem o “miolo” do bairro, setores D, F, G e H.

Figura 8: Espacialização do descarte dos resíduos sólidos no bairro de São Tomé de ParipeNota: elaboração do autor com dados do IBGE (Censo Demográfico, 2010).

Os dados explanados apontam que a população residente do bairro contribui com a degradação ambiental e contaminação das águas e solo. Segundo o livro “Caminho das Águas” (SANTOS, 2010), as águas da bacia de drenagem natural de São Tomé de Paripe encontram-se com a qualidade duvidosa por conta do lançamento de esgotos sanitários de domicílios e de habitações que não dispõem de solução para o destino dos dejetos huma-nos e resíduos sólidos.

De acordo com Adailton (2018), durante 52 semanas do ano de 2017, o Instituto de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Inema) realizou o relatório de balneabilidade com amostras das águas de 35 praias da cidade de Salvador. As análises demonstraram que neste período a praia de São Tomé de Paripe esteve 22 semanas impróprias e 30 semanas próprias para banho. Ratifica-se que a instabilidade quanto à qualidade das águas é dire-tamente influenciada pela presença de fontes poluidoras, existência de córregos afluindo ao mar, ausência de rede coletora dos despejos domésticos gerados nas proximidades, como também, afluência turística, índice pluviométrico, fisiografia da praia e condições da maré.

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O ecossistema de manguezal presente na formação do litoral de Salvador é visto na orla de Patamares e no bairro de São Tomé de Paripe. Santana (2014), afirmou que esse tipo de vegetação na cidade encontra-se ameaçada perante degradação por desmatamen-tos, poluição e contaminação pela ausência de esgotamento sanitário e destino indevido dos resíduos sólidos. No bairro de São Tomé, inclusive, a dinâmica deste ecossistema encontra-se ameaçada, os principais impactos são vistos na redução da área verde, flo-resta remanescente de Mata Atlântica próxima a Base Naval, e no desaparecimento de espécies.

Um estudo sobre contaminação na Baía de Todos os Santos aponta a exposição e contaminação de metais nos locais mais críticos, incluindo a Baía de Aratu e suas re-giões portuárias. Alertando que os mariscos apresentam maior acumulação de metais em relação aos crustáceos e peixes, oferecendo um risco mais elevado, quando consumidos diariamente em grande quantidade (ROCHA, 2012). O impacto ambiental pode ser fa-cilmente percebido ao observar o aterramento de toda uma região para ocupação da área com habitações, portos e indústrias. Em destaque a construção da Estrada do Criminoso que asfaltou parte do manguezal dando acesso ao atual Porto Cotegipe (Figura 9).

Figura 9: Principais pontos do bairro de São Tomé de Paripe – Salvador(BA)Nota: elaboração do autor com dados doGoogle Maps (2019).

Tal situação torna-se o ambiente contaminado propício ao aparecimento de ani-mais peçonhentos e doenças. Brazil (2009) afirmou que no bairro de São Tomé de Pari-pe, existe a presença do escorpião mais perigoso da América do Sul, o Tityusserrulatus. A presença do animal ocorre por conta das características particulares existentes no bairro e pela situação socioeconômica dos residentes. Uma das características apontadas por Brazil (2009, p.40) e que a “alta densidade demográfica, crescimento desordenado, falta de saneamento básico, acúmulo de lixo e de material de construção”, criam um ambiente favorável para a procriação, refúgio e alimentação desses animais peçonhentos no local.

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Outro problema é a disseminação de doenças negligenciadas que está associada à baixa condição socioeconômica e a precariedade ou o déficit de saneamento básico (WHO, 2015). O contato dos residentes as águas e solos contaminados os tornam sus-cetíveis a contrair doenças de veiculação hídricas como: cólera, febre tifoide, hepatite, amebíase, esquistossomose e principalmente leptospirose. E sendo os sintomas primários comuns, febre, vômitos, náuseas, dores no corpo e diarreia, não sendo diagnosticados e tratados com brevidade podem levar a óbito (MARICATO, 1996; SAÚDE, 2017).

Buscando identificar outra questão ambiental significativa, debruçou-se sobre a questão do lixo industrial. Santos (2010), afirmou que a contaminação da Baía de Aratu por efluentes e resíduos industriais contribuíram significativamente com a contaminação das águas da Baía e dos mares, sedimentos e do próprio manguezal com metais pesados e hidrocarbonetos. O documentário “Aratu sem Azul – A Agonia do Mangue” é uma de-nuncia a poluição do ecossistema local e demonstra o impacto da degradação ambiental na vida da comunidade, principalmente naqueles que tinham como sustento a atividade como pesca e mariscagem (ROCHA, 2018).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os crescimentos dos bairros soteropolitanos, em destaque aos periféricos, expandiram sem qualquer assistência do poder público e leis de ordenamento do uso e ocupação do solo. As construções irregulares, a carência de transporte público, saneamento básico improvisado e a violência, se fazem presentes tanto nas regiões periféricas e nos centros urbanos, tendo em vista que o processo de migração e ocupação da cidade foi e continua sem equilíbrio, expandindo-se no vetor populacional e consequentemente nas ocupações irregulares.

A segregação socioespacial na cidade apresenta também um cenário de diferença na aplicação de recursos, em destaque, as obras de saneamento. Tornou-se comum em épocas de grandes índices pluviométricos, a mídia apresentar manchetes de enchentes e alagamentos. Isso ocorre perante nosso processo de urbanização que expandiu sob o território sem planejamento, impermeabilizando o solo em ampla escala e tendo os rios comprometidos com esgotamento sanitário, ocasionando em transbordamento.

As habitações irregulares contribuem com a insalubridade, com a ausência ou pre-cariedade das infraestruturas sanitárias que suportem o grande adensamento, demonstram que as leis regentes de planejamento urbano aumentam a exclusão social, na qual, atende os anseios da especulação imobiliária e despreza sem assistência, os locais ocupados pela população mais carente.

Ao analisar os dados da situação da infraestrutura sanitária dos domicílios do bairro de São Tomé de Paripe, demonstrou que todos os setores contribuem de alguma forma com a contaminação ambiental, ou pelo lançamento de esgotamento sanitário indevido ou pelo destino dos resíduos sólidos. Esse reflexo é visto ao traçar um estudo sobre iden-tificação de fatores de riscos e degradação ambiental, demonstrando ser uma comunidade suscetível a adquirir doenças de veiculação hídrica e sofrerem com animais peçonhentos.

A urbanização, suprimiu, desmatou e contaminou o meio ambiente, as ações an-tropogênicas refletem diretamente, não só na saúde da população, mas também na sua

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subsistência, autoestima e qualidade de vida. Na medida em que a degradação ambiental produz impactos visíveis e invisíveis, a médio e a longo, percebe-se que tais aspectos negativos não estão contidos em um único local, mas fazem parte do contexto da cidade e viram heranças para as gerações futuras.

REFERÊNCIAS

ADAILTON, F. Cinco praias de Salvador concentram maiores níveis de poluição. A Tarde, jan. 2018. Disponível em: https://atarde.uol.com.br/bahia/salvador/noticias/1927744-cinco-praias-de-salvador-concentram-maiores-niveis-de-poluicao. Acesso em: 21 jul. 2019.

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Recebido em: 13.03.2020. Aprovado em: 15.05.2020

LEONARDO SILVERIO GONÇALVES DE SANTANAMestrando em Desenvolvimento Regional e Urbano (PPDRU) pela Universidade Salvador (Uni-facs). Comunicólogo habilitado em Publicidade e Propaganda pela Faculdade de Tecnologia e Ciências. Discente no PPDRU – Bolsista CNPq Brasil. E-mail: [email protected].

MARIANE REIS VILA VERDEDoutoranda em Desenvolvimento Regional e Urbano pela Unifacs.Mestre em Desenvolvimento Regional e Urbano pelaUnifacs. Arquiteta e Urbanista pela Universidade Salvador (Unifacs). E-mail: [email protected].

RENATO BARBOSA REISDoutor em Biotecnologia, Saúde e Medicina Investigativa - Fundação Oswaldo Cruz. Professor no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional e Urbano daUnifacs. Membro do Grupo de Pesquisas em Turismo e Meio Ambiente – GPTURIS. E-mail: [email protected]