SALVAÇÃO E LIBERTAÇÃO o problema da história 1ª Sessão: questões bíblicas, teológicas e...
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SALVAÇÃO E LIBERTAÇÃOSALVAÇÃO E LIBERTAÇÃO
o problema da históriao problema da história
1ª Sessão: questões bíblicas, teológicas e filosóficas atuais1ª Sessão: questões bíblicas, teológicas e filosóficas atuais
Primeira tese
O problema da história se constitui
como nova tarefa para a eclesiologia,
para a teologia...
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As várias formulações teológicas até o advento da Modernidade
não colocavam a relevância e a contundência da questão da história
para a reflexão teológica. Parecia que as grandes questões
teológicas encerravam-se em si mesmas: tinham seu fim nelas
próprias.
A recuperação da história, sob um novo enfoque, constituiu-se no
século XX, em especial na teologia católica, uma reviravolta no
fazer teológico, uma vez que esta noção era estranha para teologia
escolástica predominante até então.
“O esforço filosófico contemporâneo, de Hegel a Marx e até
Bergson, colocou-a [a história] no centro do pensamento moderno.
Ora a noção de história é estranha ao tomismo” (GIBELLINI, p. 262).
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Questão
Se a tese acima se sustenta, a saber, que até o advento da Modernidade a história não
se constituía como um problema relevante (fundamental) para a teologia,
o que foi que provocou a emergência do problema da história como tarefa para a
teologia?
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Razões da constituição da historicidade como tema, problema ou tarefa da teologia:
Na teologia européia: - A questão pós-guerra.
- O tempo como categoria filosófica fundamental.
- A influência do marxismo.
- Progresso humano: sujeito da história.
Na teologia da libertação:- O clamor do povo oprimido: num mundo de exploração, opressão, marginalização somente faz sentido falar em salvação se esta alcança uma dimensão histórica.
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Depois de uma matematização do pensamento moderno por
Descartes, em que a historicidade é algo que impede a clareza e a
evidência e de uma centralização do pensamento humano na
teoria do conhecimento justificado na relação de sujeito e objeto,
sendo que nenhum serve para contemplar o conceito e a
acontecência da História, Kant dá um sentido novo para a história.
É com Kant que se inicia a História da Filosofia, e também a
história de qualquer área do pensamento. A história passa a ser
um elemento determinante do pensamento humano, sobretudo, na
área das ciências humanas, em que a filosofia e a própria teologia
tem destaque.
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O elemento central da história, o tempo, recebe uma compreensão
nova. Não é algo em que alguma coisa acontece e vai marcando
uma história como uma sucessão de fatos.
O tempo é o elemento central donde a sensibilidade e o
entendimento são possíveis. O conhecimento, a verdade, o
pensamento se dão na temporalidade.
Toda a tradição, contudo, que provém desde a época clássica,
inclusive a teologia, coloca a verdade como a que atravessa a
temporalidade, estando para além de toda temporalidade; o que na
história muda ou transforma é concebido como desvios.
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Segunda tese
A valorização histórica excessiva do aspecto quantitativo/extensivo da salvação representou um problema para seu aspecto
qualitativo/intensivo.
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-Aspecto quantitativo/extensivo da salvação expresso na
fórmula milenar: “Fora da Igreja não há salvação”, tendo como
grande questão teológica: como uma pessoa que está fora do
alcance da graça depositada na Igreja pode conseguir a
salvação?
-Com a predominância, na teologia católica, da concepção de
Igreja como Sociedade perfeita, a noção “fora da Igreja não há
salvação” sempre recebeu grande destaque. Pois tal concepção
compreende que a Igreja reúne em si todos os meios
necessários para alcançar a salvação.
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-Compreendida dentro de um conceito de Cristandade, possibilita
associar a idéia de missão como conquista de todos os ainda não
membros para dentro da Cristandade. São as noções que tiveram
sua expressão mais acentuada no Concílio de Trento, justamente
no contexto da polêmica com a emergência do luteranismo.
-A emergência da problemática histórica estendeu a compreensão
da noção de salvação para o aspecto qualitativo/intensivo, isto é,
valorização da ação do ser humano na história, portanto, para
além das barreiras visíveis da Igreja: “Fora da salvação não há
Igreja”, ou, ainda, “Fora dos pobres não há salvação”.
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Schillebeeckx vai dizer que fora do mundo não há salvação: o mundo e
a história, enquanto criação de Deus, é o lugar no qual Deus leva a
cabo sua obra salvífica em e através das mediações humanas.
À medida que a universalidade da salvação vai ganhando terreno, o
nexo entre salvação e historicidade é intensificado, com conseqüências
teológicas profundas.
O documento Lumen Gentium do Concílio Vaticano II vai expressar:
“os homens já aceitam em parte a comunhão com Deus, mesmo
quando não chegam a confessar explicitamente a Cristo como seu
Senhor, na medida em que, movidos pela graça (...) renunciam ao
próprio egoísmo e procuram criar uma autêntica fraternidade entre os
homens” (LG 16).
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Terceira tese
Há uma diversidade de pressupostos, pontos de partida, desenvolvimentos e enfoques da teologia da história, destacando-se, entretanto, duas vertentes:
escatologismo e encarnacionismo.
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Cullmann: Deus se revela em uma história da salvação.
Situa os fatos salvíficos num contexto temporal, da criação à parusia, sendo Cristo o centro.
Tem como pressuposto uma concepção de linha ondulada do tempo e da história (ondulada porque podem ocorrer logos desvios). A salvação transcorre na história, numa tensão entre o “já” e o “ainda não”.
Na TdL esta tensão terá um grande alcance: o Reino de Deus conhece desde já realizações, mas elas não são a chegada do Reino, nem toda a salvação. São antecipações (já), com todas as ambivalências, de uma plenitude que se só se dará para além (ainda não) da história.
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Daniélou: há uma “escatologia iniciada”.
Critica Cullmann por reduzir o “já”, isto é, por dar pouca ênfase
ao tempo da Igreja e à sua ação sacramental. Reino de Deus é
entendido por Daniélou no âmbito cultual.
“Cullmann, por sua vez, acusa a teologia católica de reduzir a
‘tensão’ para o ‘ainda não’ em favor do ‘já’, que fica sendo um
corolário do modo católico de viver a experiência da Igreja” (GIBELLINI, p. 263).
A verdadeira história é a história sagrada. Há uma
descontinuidade entre as duas histórias.
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Bouyer: transcendência e dualismo.
Converter o mundo redunda numa conversão ao mundo.
Relação de oposição entre a história sagrada e a profana.
“O Novo Testamento oferece, em sua visão da história que-está-por-
vir, uma intransponível dualidade” (GIBELLINI, p. 263).
Não vê continuidade entre Reino e esforço humano. “Não somos nós,
mediante nossos esforços, mesmo quando sustentados pela graça, que
iremos mudar o mundo a partir de seu interior para fazer dele o Reino”,
pois entende, ao inverso, “a nova criação é a morte da antiga”
(GIBELLINI, p. 264).
A eternidade de modo algum seria um fruto do qual o tempo presente
seria a flor.
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Malevez: A eternidade é um fruto da flor do presente.
“Sem o dom do verão radioso que desce do céu, não existe
nenhuma maturação no outono, mas isso não significa que a o
fruto maduro não estivesse contido e sendo elaborado na
florescência da primavera” (GIBELLINI, p. 268).
O Reino de Deus vem do alto (graça - “verão radioso) e cresce a
partir de baixo (esforço humano - “primavera”).
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Thils: Qual é o sentido da história para o cristianismo?
Relação entre Evangelho e mundo (cultural): reflete
teologicamente as realidades terrenas enquanto cultura,
civilização, técnica, arte, trabalho. O Espírito atua na realidade
cultural e social.
Distingue três tipos de cristãos: liberal, adapta-se ao mundo; de
encarnação, transforma o mundo; de transcendência, nega o
mundo.
Transcendência e encarnação: transcendência do Reino e seu
crescimento na história.
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Cullmann A salvação transcorre na história, numa tensão entre o “já” e o “ainda não”.
Daniélou A verdadeira história é a história sagrada. Há uma descontinuidade entre Reino de Deus e progresso humano.
Bouyer Relação de oposição entre a história sagrada e a profana. A eternidade de modo algum seria um fruto do qual o tempo presente seria a flor.
Malevez A eternidade é um fruto da flor do presente.
Thils O Espírito atua na realidade cultural e social. Transcendência do Reino e seu crescimento na história.
Pannenberg
Deus se auto-revela por intermédio dos fatos históricos.
TdL Há apenas uma realidade na qual intervém Deus e o ser humano.O Reino de Deus já presente na história, ainda não alcança nela seu pelo cumprimento.
Lutero Irredutível conexão entre graça e imperativo ético.
Ellacuría e Gutiérrez
Os fatos salvíficos, reveladores e comunicadores de Deus, realizam-se na história.
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Quarta tese
A revelação se refere à totalidade da história.
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Pannenberg parte do pressuposto de que Deus se auto-revela
(idéia hegeliana da auto-manifestação do absoluto) por intermédio
dos fatos históricos.
E se Deus se revela na história, esta revelação deve referir-se à
totalidade da história, com sentido de universalidade. “A
revelação histórica está aberta a quem tem olhos para ver, e tem
caráter universal” (ELLACURÍA, p. 351).
Pannenberg pretende enfrentar os problemas levantados pelo
iluminismo, a saber, o questionamento da autoridade da revelação
bíblica.
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Deus não se auto-revela diretamente por sua palavra endereçada
ao ser humano, e sim indiretamente, por meio de suas
intervenções na história. Não é a história como tal que é a
revelação de Deus (Hegel - história como revelação), mas sim a
revelação acontece em fatos históricos, em fatos realizados por
Deus na história (revelação como história).
“Isso só pode ser obtido por meio da história, que está aí diante
dos olhos de todos. Portanto, revelação como história, e não
revelação como palavra autoritária de Deus; teologia da história
como alternativa pós-iluminista à teologia da palavra” (GIBELLINI, p.
275).
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Quinta tese
Há apenas uma realidade na qual intervêm Deus e o ser humano.
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Há apenas uma realidade na qual intervém Deus e o ser humano.
“A história da salvação é a própria entranha da história humana” (GUTIÉRREZ, p. 205).
“Pode-se separar Deus da história, porém não se pode separar de
Deus a história” (ELLACURÍA, p. 326).
A história se apresenta com o lugar pleno da transcendência: a
salvação não chega a sua plenitude caso não se alcance a
dimensão histórica da mesma.
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“Uma sadia e fecunda teologia da libertação”, vai dizer Gutiérrez, “se situa no contexto de uma teologia do Reino de Deus [...] Já presente na história, ainda não alcança nela seu pelo cumprimento” (p. 238).
A história da salvação não chega a sua plenitude caso não alcança sua dimensão histórica. A transcendência se apresenta como histórica e a história se apresenta como transcendente. Alguns exemplos:
1 – Jesus Cristo: mistério transcendente de sua humanidade.
2 – Igreja: histórica (palpável) e mistério (sacramento).
3 – Livros sagrados: ação do homem e presença de Deus.
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Transcendência e história nem se reduzem (monismo) nem se contrapõem (dualismo) uma à outra, mas constituem uma unidade estrutural.
Obs.: O fato de separar, didaticamente, por uma questão de procedimento epistemológico, para apontar as distinções e especificidades de dimensões constitutivas da história (sagrada, profana, cultural, política, social, econômica), não significa que se esteja operando com realidades diversas, isto é, com histórias distintas.
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Sexta tese
Os fatos salvíficos bíblicos são históricos e os fatos históricos são salvíficos.
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“A fé bíblica é, antes de tudo, uma fé em um Deus que se revela
em acontecimentos históricos. Em um Deus que salva na
história” (GUTIÉRREZ, p. 206).
Tanto Gutiérrez quanto Ellacuría fundamentam suas
compreensões teológicas sobre salvação/libertação a partir do
caráter salvífico dos fatos históricos.
Entendem que os grandes fatos salvíficos, reveladores e
comunicadores de Deus, realizam-se na história. Exemplos
bíblicos:
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1 – A saída do povo de Deus do Egito:
a) como fato histórico; b) como fato salvífico de fundamental importância para o plano de Javé em relação ao seu povo.
2 – Moisés:
a) homem que utiliza meios e artimanhas para realizar o fato histórico-salvífico; b) apesar da ação de Moisés, o povo de Deus acredita ser Javé que está liderando a saída.
Von Rad, ao fazer as descobertas dos credos históricos, já acenava para a relevância dessa perspectiva. E apontava para alguns eixos que perpassam os textos bíblicos, tais como, Aliança, Conflito, Êxodo, Utopia, e que sinalizam essa articulação entre a salvação e a história.
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